William Law - Um sério chamado a uma vida santa e devota.docx

February 8, 2017 | Author: vrmgodoy6599 | Category: N/A
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A Natureza da Devoção Cristã - Cap I William Law Devoção não é nem oração privada nem pública, mas ambas são partes da devoção. Devoção significa uma vida consagrada, ou dedicada a Deus. Devotado, portanto, é o homem que não vive para fazer a sua própria vontade, ou tendo a forma e o espírito do mundo, mas somente para a vontade de Deus, e que considera Deus em tudo, que o serve em tudo e que faz com que todas as partes de sua vida, sejam parte da piedade, por fazer tudo em nome de Deus, e sob as regras que são conformadas à Sua glória. Nós prontamente reconhecemos que apenas Deus é a regra e a medida das nossas orações; para que nelas estejamos olhando completamente para ele, e agindo totalmente para ele, e de modo que tudo pelo que orarmos seja apropriado para a Sua glória. Agora deixe que qualquer um descubra a razão pela qual ele deve ser assim estritamente piedoso em suas orações, e ele vai encontrar a mesma e forte razão, para ser tão estritamente piedoso em todas as outras partes de sua vida. Porque não há a menor razão, pela qual deveríamos fazer de Deus a regra e a medida de nossas orações, e orar de acordo com a sua vontade, e não fazer dele a regra e a medida de todas as outras ações de nossas vidas. Porque quaisquer formas de vida, e quaisquer empregos de nossos talentos, tempo, ou dinheiro, que não sejam estritamente concordes com a vontade de Deus, que não sejam para tais fins voltados para sua glória, são tão grandes absurdos e erros, como orações que não estão de acordo com a Sua vontade. Pois não há outra razão, pela qual nossas orações devem ser de acordo com a vontade de Deus, porque elas não devem ter nada em si, senão o que é sábio, e santo e celestial, não há outro motivo para isso, senão que as nossas vidas possam ser da mesma natureza, cheias da mesma sabedoria, santidade e ânimos celestiais, para que possamos viver para Deus no mesmo espírito com o qual oramos a ele. Se não fosse o nosso dever estrito viver pela razão, para se devotar todos os atos de nossas vidas a Deus, se não fosse absolutamente necessário andar diante dele em sabedoria e santidade e em conversação celestial, fazendo tudo em seu nome, e para a sua glória, não haveria excelência ou sabedoria nas orações mais celestiais. Não, tais orações seriam absurdas. Tão certo, portanto, que haja alguma sabedoria na oração no Espírito de Deus, tão certo é que estamos fazendo com que o Espírito seja a regra de todas as nossas ações; assim como é nosso dever olhar totalmente para Deus em nossas orações, assim também é o nosso dever viver totalmente para Deus em nossas vidas. Mas não podemos dizer que vivemos para Deus, a menos que vivamos com ele em todas as ações ordinárias da nossa vida, a menos que ele seja a regra e a medida de todos os nossos caminhos. Assim como um modo de vida é incorreto, seja no trabalho ou na diversão, quando consome o nosso tempo e o nosso dinheiro, assim são descabidas e absurdas da mesma forma as orações que são verdadeiramente uma ofensa a Deus. Por falta de conhecimento, ou pelo menos de considerar isso, é que nós vemos essa mistura de incoerência nas vidas de muitas pessoas. Você as verá participativas, algumas vezes nos

lugares de devoção, mas quando o culto da Igreja termina, eles são, senão como aqueles que raramente ou nunca estiveram lá. Em seu modo de vida, sua maneira de gastar seu tempo e dinheiro, em seus cuidados e medos, em seus prazeres e indulgências, em seu trabalho e divertimentos, eles são como o resto do mundo. Isso faz com que boa parte do mundo, geralmente, faça uma pilhéria com aqueles que se dizem devotos, porque vêm que sua devoção não vai muito além de suas orações. Júlio tem medo de faltar às reuniões de oração, e muitos pensam que ele ficaria doente caso não fosse à igreja. Mas se você lhe perguntasse por que ele passa o resto de seu tempo com chocarrices? por que ele é um companheiro de pessoas que em sua maioria são amantes de prazeres tolos? Por que ele está sempre pronto para cada entretenimento e diversão impertinentes? por que ele se dá a conversações de fofoca ociosa? por que ele se permite ter tolos ódios e ressentimentos contra as pessoas, sem considerar que deve amar a todos como a si mesmo? Se você perguntar por que ele nunca conversa sobre as verdades da Palavra de Deus, Júlio não terá o que responder, tanto quanto qualquer pessoa que viva impiamente. Porque todo o teor da Escritura repousa diretamente contra tal tipo vida, contra a luxúria e a intemperança: aquele que vive em tal curso de ociosidade e insensatez, não mais vive de acordo com a religião de Jesus Cristo, do que aquele que vive em glutonaria e intemperança. Se alguém dissesse a Júlio que não havia razão para ser tão constante nas reuniões de oração, e que ele poderia, sem qualquer dano maior para si mesmo, abandonar o culto da Igreja, enquanto mantivesse tal comportamento, Júlio pensaria que tal pessoa não é cristã, e que ele deveria evitar sua companhia. Mas se uma pessoa somente lhe dissesse, que ele poderia viver como a maior parte das pessoas do mundo costumam fazer, satisfazendo seus desejos e paixões, Júlio nunca suspeitaria que tal pessoa não fosse cristã, ou que estivesse fazendo o trabalho do diabo. E se Júlio fosse ler todo o Novo Testamento desde o início até ao fim, ele iria encontrar o seu modo de vida condenado em todas as páginas do mesmo. E, de fato , não pode nem ser imaginado nada mais absurdo em si mesmo, do que orações sábias e sublimes e celestiais, somadas a uma vida de vaidade e loucura, onde nem trabalho, nem entretenimentos, nem tempo, nem dinheiro, estão sob a direção da sabedoria e dos ânimos celestes de nossas orações. Se estivéssemos vendo um homem fingindo agir totalmente em conformidade com Deus em tudo o que fizesse, e ainda, ao mesmo tempo negligenciando totalmente a oração, tanto pública, quanto privada, não deveríamos estar espantados com tal homem, e nos maravilharmos de como ele podia ter tanto insensatez com tanta religião ao mesmo tempo? No entanto, isto é assim razoável, como para qualquer pessoa que finja ser estrita em devoção, ter o cuidado de observar os tempos e lugares de oração, e ainda deixar o resto de sua vida, seu tempo e trabalho, seus talentos e dinheiro, serem eliminados sem qualquer respeito a uma rigorosa regra de piedade e devoção. Por isso é tão grande absurdo tais supostas orações santas e petições divinas sem santidade de vida que seja adequada a elas, como supor uma vida santa e divina sem orações.

O ponto da questão é este, tanto a Razão e a Religião prescrevem regras e propósitos para todas as ações ordinárias da nossa vida, ou então ambas não existem em nosso viver; mas se existirem, então é necessário governar todas as nossas ações por essas regras, assim como para adorarmos a Deus. Porque se a religião nos ensina alguma coisa a respeito de comer e beber, ou gastar nosso tempo e dinheiro, se ela nos ensina como devemos usar e desprezar o mundo, se ela nos diz qual o tipo de ânimo que devemos ter na vida comum, como devemos nos relacionar com todas as pessoas, como devemos nos comportar em relação aos enfermos, aos pobres, aos velhos e necessitados, se ela nos diz que como devemos tratar com nossos superiores, aos quais devemos considerar com uma estima especial, se ela nos diz como devemos tratar nossos inimigos, e como devemos mortificar o pecado e negar a nós mesmos, deve ser muito fraco aquele que pode pensar que estas partes da religião não são para ser observadas com tanta exatidão, como quaisquer doutrinas que se relacionam às orações. É muito observável , que não há um mandamento em todo o Evangelho para o Culto Público, e, talvez, este é um dever que é o menos insistido na Escritura do que qualquer outro. (Há uma citação em Hebreus quanto a não se ter o costume de não congregar, apesar de ser omitido o como e o quando – nota do tradutor). Enquanto que a Religião ou Devoção, que deve governar todas as ações ordinárias da nossa vida, pode ser encontrada em quase todos os versículo da Bíblia. Nosso bendito Salvador e seus apóstolos são totalmente absorvidos em doutrinas que se relacionam com a vida comum. Eles nos chamam a renunciar ao mundo, e diferem em toda a sua forma de vida, do espírito e do caminho do mundo. Esta é a devoção comum que nosso Salvador ensina, a fim de torná-la a vida comum de todos os cristãos. Não é portanto, muito estranho, que as pessoas devam colocar tanta piedade no atendimento ao culto público, a respeito do qual não há um preceito preciso de nosso Senhor a seu respeito, e ainda negligenciarem esses deveres da nossa vida comum, que são ordenados em cada página do Evangelho? Eu chamo esses deveres de devoção de nossa vida comum, porque se eles devem ser praticados, devem ser feitos partes da nossa vida comum, pois eles não podem ser praticados em qualquer outro lugar, senão em nós mesmos. Se o desprezo do mundo e o afeto pela vida celestial, é uma condição necessária para o caráter cristão, é necessário que esse caráter apareça em todo o curso de suas vidas, em sua maneira de usar o mundo, porque ele não pode se manifestar em qualquer outro lugar. Se a auto-negação deve ser uma condição da salvação, tudo o que deve ser salvo, deve tomar parte de sua vida comum. Se a humildade deve ser um dever cristão, então a vida comum de um cristão, é um curso de constante humildade, em todos os seus tipos. Se a pobreza de espírito é necessária, este deve ser o espírito de cada dia de nossa vida. Se atender ao necessitado deve ser a caridade comum de nossas vidas, tanto quanto pudermos devemos nos tornar capazes de realizá-lo. Se devemos amar os nossos inimigos, nós temos que fazer a nossa vida comum ser de um exercício visível e demonstração desse amor. Se quisermos ser sábios e santos, como recém-nascidos filhos de Deus, não podemos ser assim sábios, senão renunciando a tudo o que é tolo e vão em todas as partes da nossa vida comum. Se devemos ser novas criaturas em Cristo, temos que mostrar que somos assim, por ter novas maneiras de viver no mundo. Se quisermos seguir a Cristo, isto deve ser nossa maneira comum de gastar todos os dias.

Mas ainda que seja assim, claro, que isso, e isso por si só é Cristianismo, uma prática uniforme aberta e visível de todas estas virtudes, ainda é muito claro, que há pouco ou nada disto para ser encontrado, mesmo entre o melhor tipo de pessoas. Você as vê muitas vezes na Igreja, e satisfeitas com pregadores refinados, mas olhe para suas vidas, e você as vê apenas como sendo o mesmo tipo de pessoas que as demais são, que não fazem nenhuma pretensa devoção. A diferença que você encontra entre eles, é apenas a diferença de seus temperamentos naturais. Eles têm o mesmo gosto do mundo, as mesmas preocupações mundanas e medos e alegrias, pois eles têm o mesmo tipo de mente, igualmente nulos em seus próprios desejos. Você vê o mesmo orgulho e vaidade no modo de se vestir, o mesmo amor-próprio e indulgência, as mesmas amizades insensatas, e ódios infundados, a mesma superficialidade de espírito, o mesmo gosto por entretenimentos, as mesmas disposições ociosas e maneiras de gastar seu tempo em visitas e conversações vãs, como o resto do mundo, que não se interessa por qualquer tipo de devoção santa. Não me refiro nesta comparação a pessoas aparentemente boas, e convictamente ímpias, mas entre pessoas de vidas sóbrias. Tomemos um exemplo de duas mulheres modestas: suponhamos que uma delas é cuidadosa com os momentos de devoção, e que os observa através de um senso de dever, e que a outra não tem qualquer preocupação saudável sobre isso, mas que frequenta a Igreja rara ou frequentemente. Agora é uma coisa muito fácil de ver qual é a diferença entre essas pessoas. Mas quando você tem visto isso, você pode encontrar qualquer outra diferença entre elas? você consegue achar que a sua vida comum é de um tipo diferente? Não são seus comportamentos e costumes diferentes? Elas vivem como se pertencessem a diferentes mundos, tendo pontos de vista diferentes em suas cabeças, e diferentes regras e medidas em todas as suas ações? Será que uma parece ser deste mundo, olhando para as coisas que são temporais, e a outra ser de outro mundo, olhando totalmente para as coisas que são eternas? Será que uma vive em prazeres, deleitando-se com as coisas mundanas, sem renunciar ao ego e sem mortificar o pecado? e que a outra considere a sua fortuna como um talento dado a ela por Deus, que deve ser melhorado religiosamente, e que não deve viver mais de modo vão. Para o que você deve olhar, para encontrar uma pessoa religiosa diferindo, desta forma, de uma outra que não o seja? E, ainda, se elas não diferem nessas coisas que estão aqui relacionadas, pode ser afirmado em qualquer sentido, que um é um bom cristão, e o outro não? Agora, ter noções e procedimentos corretos em relação a este mundo, é tão essencial para a religião, como ter noções corretas a respeito de Deus. E assim como é possível que um homem adore um crocodilo, e ainda ser um homem piedoso, a ponto de ter seus afetos definidos por este mundo, e ainda ser considerado um bom cristão. No entanto, se o cristianismo não tem mudou a mente e o temperamento de um homem com relação a essas coisas, o que podemos dizer que ele tem feito por ele? Porque, se as doutrinas do Cristianismo fossem praticadas, eles iriam fazer um homem tão diferente das outras pessoas como de todos os que são de disposições mundanas, e que vivem

em prazeres sensuais, e na soberba da vida, como um homem sábio é diferente de um natural; seria algo muito fácil conhecer um cristão por seu modo de vida, como agora é tão difícil de encontrar alguém que viva assim. Pois é notório, que os cristãos são agora não apenas como os outros homens em suas fraquezas, isso pode ser em algum grau desculpável, mas a queixa é, que eles são como pagãos em todas parte principais de suas vidas. Eles gostam do mundo, e vivem cada dia nas mesmas disposições, nos mesmos projetos, e indulgências, como fazem aqueles que não conhecem a Deus, nem esperam qualquer felicidade em outra vida. Todos que são capazes de alguma reflexão, devem ter observado, que este é geralmente o estado mesmo de pessoas devotas, sejam homens ou mulheres. Você pode vê-los como sendo diferentes das outras pessoas, quanto aos momentos e lugares de oração, mas, geralmente, vivem como o resto do mundo, em todas as outras partes das suas vidas. Ou seja, com a adição de devoção cristã a uma vida pagã. Eu tenho a autoridade de nosso bendito Salvador pela sua observação, na qual ele diz: Não andeis ansiosos, se referindo ao que devemos comer, beber, ou vestir. Porque os gentios procuram todas estas coisas. Mas se estar preocupado até mesmo com as coisas necessárias à vida, mostra que ainda não somos de um espírito cristão, mas somos como os pagãos, certamente desfrutar da vaidade e loucura do mundo como eles fizeram, como sendo os princípios governantes de nossas vidas, em amor ao ego e indulgência, em prazeres sensuais e diversões vãs, ou em quaisquer outras distinções mundanas, é um sinal muito grande de termos uma disposição pagã. E, conseqüentemente, aqueles que adicionam a devoção a uma vida assim, deve ser dito deles que oram como cristãos, mas vivem como pagãos.

Uma Chamada Séria a Uma Vida Santa e Devota – Cap II William Law

Tradução e adaptação feitas pelo Pr Silvio Dutra, do segundo capitulo do livro de William Law, em domínio público, intitulado Uma Chamada Séria a Uma Vida Santa e Devota. William Law, foi professor e mentor por vários anos de John e Charles Wesley, Geogre Whitefield – principais atores do grande avivamento do século XVIII, que se espalhou por todo o mundo Henry Venn, Thomas Scott e Thomas Adam, entre outros, que foram profundamente afetados por sua vida devotada, e sobretudo pelo conteúdo deste livro.

Uma inquirição sobre a traição - por que geralmente os cristãos se afastam tão longe da Santidade e Devoção do Cristianismo.

Isto pode ser razoavelmente indagado, como isto pode suceder ainda que ao melhor tipo de pessoas, que são, assim, tão estranhamente contrárias aos princípios do cristianismo?

Mas antes de dar uma resposta direta a isso, eu desejo que isto também seja inquirido: como isto pode ser um vício tão comum entre os cristãos? Isto é de fato ainda não tão comum assim entre as mulheres, pois é entre os homens. Entre os homens esse pecado é tão comum, que talvez haja mais de dois em cada três que são culpados do mesmo ao longo do curso de suas vidas, e com outros só de vez em quando como se fosse por acaso. Agora, eu pergunto como isto sucede, que dois em cada três homens sejam culpados de tão grosseiro e profano pecado? Não é nem a ignorância, nem a fraqueza humana que conduzem a isto: isto é contra um mandamento expresso, e contra o mais claro ensino de nosso bendito Salvador. Isto comprova que a maior parte das pessoas vivem de modo contrário ao cristianismo. Agora, a razão comum deste procedimento é esta: isso ocorre porque os homens não têm a intenção de agradar a Deus em todas as suas ações. Deixe que um homem tenha tanta piedade quanto a intenção de agradar a Deus em todas as ações de sua vida, como sendo a mais feliz e melhor coisa no mundo, e então ele nunca mais apostatará, será impossível para ele apostatar, enquanto sentir essa intenção em seu interior, uma vez que é impossível para um homem que tem a intenção de agradar o seu príncipe, elevar-se e abusar-lhe na face. Isto lhe parece, senão uma pequena e necessária parte da piedade, ter tal intenção sincera como esta; e que ele não tem motivos para olhar a si mesmo como um discípulo de Cristo, que não seja avançado em piedade. E, no entanto, é puramente por falta deste grau de piedade, que você vê essa mistura de pecado e insensatez mesmo nas vidas do melhor tipo de pessoas. É por falta dessa intenção, que você vê homens que professam a religião, mas vivem em apostasia e sensualidade; que você vê clérigos dados ao orgulho e à cobiça, e aos prazeres mundanos. É por falta dessa intenção, que você vê as mulheres que professam devoção, ainda vivendo na insensatez da vaidade de vestir, desperdiçando seu tempo na ociosidade e em prazeres. Mas deixe uma mulher sentir seu coração cheio desta intenção, e ela vai achar que é tão impossível deixar de retocar a maquiagem, quanto amaldiçoar ou perjurar, ela não terá mais o desejo de brilhar nos bailes e na congregações, ou fazer uma figura entre aquelas que são mais finamente vestidas, do que ela terá vontade de dançar em cima de uma corda para agradar os espectadores: ela saberá, que esta atitude está tão longe da sabedoria e excelência do espírito cristão, quanto a outra. Foi essa a intenção geral, que fez com que os cristãos primitivos fossem eminentes em piedade, que lhes fez viver em santo companheirismo, e todo o exército glorioso de mártires e confessores. E se você parar aqui, e se perguntar: por que você não é tão piedoso como os cristãos primitivos, o seu próprio coração vai lhe dizer que não é nem por ignorância, nem por incapacidade, mas simplesmente porque você nunca completamente pretendeu isto. Você observa o culto de adoração dominical como eles faziam, e você é estrito nisto porque é sua inteira intenção ser igual a eles. E quando você tem plenamente esta intenção de ser como eles em sua vida comum, quando você pretende agradar a Deus em todas as suas ações, você verá que é possível, ser rigorosamente exato no serviço da Igreja. E quando você tem essa intenção de agradar a Deus em todas as suas ações, como a coisa mais feliz e melhor do mundo, encontrará em você uma grande aversão a tudo o que é inútil e impertinente na vida comum, seja no trabalho ou no lazer, como você tem em relação a tudo o que é profano. Você

terá muito temor de viver de uma maneira tola, tanto quanto teme agora negligenciar o culto público de adoração. Agora, aquele que tem esta intenção sincera geral, pode ser contado como um cristão? E ainda se isto fosse achado entre os cristãos, isto iria mudar toda a face do mundo; a verdadeira piedade, e santidade exemplar, seriam tão comuns e visíveis, como a compra e venda, ou qualquer tipo de comércio na vida. Deixe um clérigo ser assim, piedoso, e ele vai conversar como se ele tivesse sido criado por um apóstolo, ele não vai mais pensar e falar de preferências refinadas, quer de alimento, de vestes ou de meios de transporte. Ele não mais reclamará das carrancas do mundo, ou da falta de um patrono, ou de qualquer necessidade. Deixe que ele apenas tenha a intenção permanente de agradar a Deus, em todas as suas ações, como a coisa mais feliz e melhor no mundo, e então ele conhecerá, que não há nada de nobre em um clérigo, senão um zelo ardente pela salvação das almas; e que não há nada pobre em sua profissão, senão a ociosidade e um espírito mundano. Ainda, deixe que um comerciante, tenha senão esta intenção, e isto fará dele um santo em sua loja, o seu negócio a cada dia será um curso de ações sábias e razoáveis, feitas em santidade para Deus, por serem feitas em obediência à sua vontade e agrado. Ele vai comprar e vender, trabalhar e viajar, porque ao fazê-lo poderá fazer algum bem para si mesmo e aos outros. Ele, portanto, não considerará, que as artes, ou os métodos, ou a aplicação irão torná-lo mais rico rapidamente e maior do que seus irmãos, ou removê-lo de uma loja para uma vida estável e prazerosa, mas ele considerará que as artes, os métodos e as aplicações podem tornar os negócios do mundo mais aceitáveis para Deus, e fazer da vida de comércio uma vida de santidade, devoção e piedade. Esta será a motivação e o espírito de cada comerciante; ele não pode parar o mínimo nestes graus de piedade, sempre que for sua intenção agradar a Deus em todas as suas ações, como a melhor e coisa mais feliz do mundo. E, por outro lado, quem não é deste espírito e disposição em seu comércio e profissão, e não conduzi-lo até onde seja possível à submissão a uma vida sábia, santa, e celestial, é certo que ele não tem essa intenção; e ainda sem ela, quem pode se mostrar que é um seguidor de Jesus Cristo? Ainda, deixe o cavalheiro rico por nascimento ter essa intenção de viver somente para agradar a Deus, e você verá como isto o levará a fugir de cada aparência do mal, por causa da piedade e santidade. Ele não pode viver de modo vão, em prazeres e fantasias, porque ele sabe que nada pode agradar a Deus, senão um sábio e regular curso da vida. Ele não pode viver na ociosidade e indulgência, em esportes e jogos, em prazeres e intemperança, em vãs expensas de uma vida elevada, porque estas coisas não podem ser transformadas em meios de piedade e santidade, nem podem se tornar partes de uma vida sábia e religiosa. Ele não pergunta, se é perdoável acumular, para se adornar com diamantes, e adquirir bens supérfluos, enquanto a viúva e o órfão, os doentes e os prisioneiros, necessitam ser aliviados, senão que ele pergunta, se Deus tem exigido essas coisas em nossas mãos, se seremos chamados para prestar contas no último dia por causa da negligência deles, porque não é a sua intenção viver de tal forma.

Ele não vai, portanto, olhar para a vida dos cristãos, para aprender como ele deve gastar suas posses, mas ele vai olhar para as Escrituras, e fazer de cada doutrina, preceito ou instruções, que se relacionam aos homens ricos, uma lei para si mesmo no uso de sua propriedade. Este princípio o transportará infalivelmente para o topo do coro celestial, e lhe tornará incapaz de se afastar deste procedimento. Eu escolhi explicar este assunto, apelando para esta intenção, porque torna o caso muito claro, e porque todo mundo que for razoável, pode vê-lo numa luz mais clara, e senti-lo de maneira mais forte, só de olhar para o seu próprio coração. Porque é muito fácil para todas as pessoas saberem, se elas têm a intenção de agradar a Deus em todas as suas ações, como qualquer servo pode saber, se é esta a sua intenção para com o seu mestre. Todo mundo também pode facilmente dizer como ele aplica o seu dinheiro: se ele considera como agradar a Deus nisto. Aqui, pois, devemos julgar a nós mesmos sinceramente; não vamos nos contentar com as fraquezas comuns da nossa vida, a vaidade de nossas despesas, a insensatez de nossos entretenimentos, o orgulho de nossos hábitos, a ociosidade de nossas vidas, e o desperdício de nosso tempo, imaginando que estas são as imperfeições que nos levam a cair em fraqueza inevitável e fragilidade da nossa natureza; mas teremos a certeza, que esses distúrbios da nossa vida comum são devido a isso, que não temos tanto cristianismo, como a intenção de agradar a Deus em todas as ações de nossa vida, como a melhor e mais feliz coisa no mundo. E se alguém perguntasse a si mesmo, como é possível que ele despreze alguns graus de sobriedade, quaisquer práticas de humildade que ele necessita, quaisquer métodos de caridade que ele não segue, as regras de uso do tempo que ele não redime, o seu próprio coração lhe dirá que é porque ele nunca tencionou ser assim tão exato nesses deveres. Esta doutrina não supõe, que não temos necessidade da graça divina, ou que está em nosso próprio poder nos fazer perfeitos. Ela somente supõe, que, pela falta de uma sincera intenção de agradar a Deus em todas as nossas ações, nós caímos em tais irregularidades da vida, como pelos uso dos meios ordinários da graça, nós teremos o poder evitá-las. Isto somente nos ensina que a razão pela qual você não vê nenhuma mortificação, ou autonegação, ou nenhuma caridade eminente, nem humildade profunda, nenhuma afeição celestial, nenhum verdadeiro desprezo do mundo, nenhuma mansidão cristã, nenhum zelo sincero, nem piedade eminente nas vidas comuns dos cristãos, isto é porque eles não tencionam ser exatos e exemplares nessas virtudes. Uma Chamada Séria a Uma Vida Santa e Devota – Cap III William Law

Tradução e adaptação feitas pelo Pr Silvio Dutra, do terceiro capitulo do livro de William Law, em domínio público, intitulado Uma Chamada Séria a Uma Vida Santa e Devota. William Law, foi professor e mentor por vários anos de John e Charles Wesley, Geogre Whitefield – principais atores do grande avivamento do século XVIII, que se espalhou por todo o mundo -

Henry Venn, Thomas Scott e Thomas Adam, entre outros, que foram profundamente afetados por sua vida consagrada a Deus, e sobretudo pelo conteúdo deste livro.

Do grande erro e insensatez, de não tencionarmos ser mais eminentes e exemplares quanto possamos, na prática de todas as virtudes cristãs.

Apesar de a bondade de Deus e as suas ricas misericórdias em Cristo Jesus, serem uma garantia suficiente para nós, que ele será misericordioso para com as nossas inevitáveis fraquezas e enfermidades, quando estas são causadas por ignorância ou por algo inesperado, no entanto, não temos nenhuma razão para esperar a mesma misericórdia para com aqueles pecados nos quais temos vivido, por falta de intenção de evitá-los. Por exemplo, o caso de um blasfemo, que morre nessa culpa, parece não ter direito à misericórdia divina, porque ele não pode mais alegar qualquer fraqueza ou enfermidade como desculpa, do que o homem que escondeu o seu talento na terra, poderia se desculpar por sua falta de força para mantê-lo fora da terra. Mas agora, se isto é o raciocínio certo, no caso de um blasfemo, que seu pecado não é para ser contado como uma fraqueza perdoável, porque ele não tem como desculpar tal fraqueza, por que então não levar esta forma de raciocínio para sua verdadeira dimensão? Por que não temos condenado tanto todos os outros erros da vida, para os quais não temos desculpas como no caso da blasfêmia? Porque, se isto é uma coisa ruim, que pode ser evitada, se tivermos uma sincera intenção em fazê-lo, não devem, então, todos os demais modos de vida serem considerados culpados, se vivermos neles, não por meio de fraqueza e inabilidade, mas porque nunca sinceramente tencionamos evitá-los? Por exemplo, você talvez não tenha feito nenhum progresso nas mais importantes virtudes cristãs, por ter parado no meio do caminho em humildade e caridade, agora se o seu fracasso nessas tarefas é puramente devido à sua falta de intenção de realizá-las em qualquer grau verdadeiro, você não está tanto sem desculpa quanto o blasfemo? Por que, então, você não inculca essas coisas em sua consciência? Por que não pensa nisso como sendo perigoso para você viver em tais defeitos, assim como está em seu poder evitálos, tanto quanto é perigoso para um blasfemo viver na violação desse dever, que está em seu poder observar? Não é a negligência, e a falta de uma intenção sincera em agradar a Deus, tão condenável em um caso, como no outro? Você, pode estar, tão longe da perfeição cristã, como o blasfemo em relação a guardar o terceiro mandamento; você não está, portanto, tão condenado pelas doutrinas do Evangelho, quanto o blasfemo pelo terceiro mandamento? Você talvez dirá que todas as pessoas ficam aquém da perfeição do Evangelho, e, portanto, você está satisfeito com as suas falhas. Mas isso não responde ao propósito. Porque a questão

não é se a perfeição do Evangelho pode ser plenamente alcançada, mas se você procura se aproximar dela, com uma intenção sincera, e inteligência cuidadosa para fazê-lo. Se você está fazendo progresso na vida cristã, tanto quanto os seus melhores esforços possam lhe permitir, então você pode justamente esperar, que as suas imperfeições não serão lançadas em sua conta, mas se os seus defeitos em piedade, humildade e caridade, são devidos à sua negligência, e falta de intenção sincera, para ser mais eminente quanto possa nestas virtudes, então você se acha sem desculpa, como aquele que vive no pecado de blasfêmia, por causa da falta de uma intenção sincera de se afastar dele. A salvação de nossas almas é apresentada nas Escrituras como uma coisa difícil, que exige toda a diligência, que deve ser trabalhada com temor e tremor. Nos é dito que a porta é estreita, e apertado o caminho que leva à vida, e poucos há que a encontrem. Que muitos são chamados, mas poucos escolhidos. E que muitos não acharão a salvação por não se esforçarem para entrar pela porta estreita. Aqui nosso bendito Senhor nos ordena a nos esforçarmos para entrar, porque muitos irão falhar, porque somente procuram entrar mas não se esforçam para entrar. Por que nós somos claramente ensinados que a religião é um estado de trabalho e esforço, e que muitos não se salvarão porque eles não se esforçam e se importam o suficiente, pois somente procuram, mas não se esforçam para entrar. Cada cristão, portanto, deve também analisar a sua vida por estas doutrinas, como pelos Mandamentos. Porque estas doutrinas são as marcas claras de nossa condição, assim como os mandamentos são as marcas claras do nosso dever. Porque, se a salvação somente é dada para aqueles que se esforçam para isso, então é razoável considerar, se o meu curso de vida é um curso de luta para obtê-la, como considerar se eu tenho guardado qualquer um dos mandamentos. Se a minha religião é apenas um cumprimento formal daqueles modos de adoração, que estão na moda onde eu moro, se ela não me custa dores e tribulações, se ela não me coloca sob regras e restrições, se não tenho pensamentos cuidadosos e reflexões sóbrias sobre isto, não é grande fraqueza pensar que eu estou lutando para entrar pela porta estreita? Se eu estou procurando tudo o que pode agradar os meus sentidos, e os meus apetites; gastar meu tempo e dinheiro em prazeres, em diversões e alegrias mundanas, e ser um estranho para vigílias, jejuns, orações e mortificações do pecado, como pode ser dito que eu estou trabalhando a minha salvação com temor e tremor? Se não há nada na minha vida e conversação, que me mostre ser diferente dos pagãos, se eu uso o mundo, e os prazeres mundanos, como a maioria das pessoas fazem agora, e têm feito em todas as épocas, por que eu deveria pensar que eu estou entre aqueles poucos, que estão andando no caminho estreito para o céu?

E, ainda, se o caminho é estreito, se ninguém pode andar por ele, mas aqueles que se esforçam, não é assim necessário para mim considerar, se o caminho em que eu estou é estreito o suficiente? A soma desta questão é a seguinte: A partir do mencionado acima, e muitas outras passagens das Escrituras, parece claro, que a nossa salvação depende da sinceridade e da perfeição de nossos esforços para ser obtida e mantida. (A salvação é de fato obtida somente pela graça, mediante a fé, e não por nossas boas obras, mas é por um efetivo exercício na piedade que mantemos o nosso estado equivalente ao de todos aqueles que estão vivendo na condição que corresponde às características dos que estão desfrutando as virtudes do reino dos céus – nota do tradutor.) Homens fracos e imperfeitos podem, apesar de suas fraquezas e defeitos, serem considerados, como tendo agradado a Deus, se eles têm feito o máximo para agradá-lo. (É reputado como tendo um coração puro neste mundo todos aqueles que se esforçam sinceramente em viver do modo que é ordenado por Deus nas Escrituras, porque estes, quando falham são cobertos por suas misericórdias e perdão – se confessarmos e deixarmos nos nossos pecados então o Senhor nos acolherá em comunhão com ele, mas se não andamos na luz não podemos ter tal comunhão com Deus e com os demais crentes que andam na luz – nota do tradutor). As recompensas de caridade, piedade e humildade, serão dadas àqueles, cujas vidas têm tido um trabalho cuidadoso de exercer as virtudes num tão alto grau quanto possam. Não podemos oferecer a Deus o serviço dos Anjos, não podemos lhe obedecer como o homem em um estado de perfeição poderia fazê-lo, mas os homens caídos podem fazer o seu melhor, e esta é a perfeição que se exige de nós; é apenas a perfeição dos nossos melhores esforços, um trabalho cuidadoso para ser o mais perfeito possível. Mas se pararmos aquém disto, por qualquer coisa que nós conhecemos, nós nos excluímos da misericórdia de Deus, e nada temos para pleitear nos termos do evangelho. Porque Deus não fez nenhuma promessa de misericórdia para o preguiçoso e negligente. Sua misericórdia é apenas oferecida para as nossas fraquezas e imperfeições, caso nos esforçamos para praticar todos os tipos de justiça. A medida do nosso amor a Deus, na justiça parece ser a medida de nosso amor por todas as virtudes. Devemos amá-las e praticá-las com todo o nosso coração, com toda a alma, com toda a nossa mente, e com toda a nossa força. E quando deixamos de viver com essa observância à virtude, vivemos abaixo da nossa nova natureza, e em vez de sermos capazes de pleitear o perdão de nossas fraquezas, ficamos sujeitos à cobrança da nossa negligência. É por esta razão que somos exortados a trabalhar a nossa salvação com temor e tremor; porque a menos que o nosso coração e paixões estejam ansiosamente inclinados para a obra da nossa salvação, a não ser que em nossos temores sejamos animados por nossos esforços, e guardemos nossas consciências estritas e ternas sobre cada parte de nosso dever, constantemente examinando o modo como vivemos, há toda uma probabilidade de cairmos num estado de negligência, e nos acomodarmos em tal curso de vida, o qual nunca nos conduzirá às recompensas do céu.

E aquele que considera, que um Deus justo só pode fazer tais exigências como sendo adequadas à sua justiça, que todas as nossas obras devem ser examinadas por um fogo santo, achará o temor e o tremor que são apropriados para aqueles que estão perto de um tão grande julgamento. E, de fato, não há probabilidade de que alguém possa fazer todo o dever que se espera dele, ou faça progresso na piedade, na santidade e justiça que Deus requer dele, senão aquele que está constantemente com temor de ficar aquém disso. Agora, não se pretende com isso, manter as mentes das pessoas com uma ansiedade escrupulosa, e descontentamento no serviço de Deus, mas para enchê-los apenas com um temor de viverem em preguiça e ócio, e na negligência de tais virtudes, pois eles irão faltar no dia do Juízo. Isto é para estimulá-los a um exame sincero de suas vidas, para tal zelo, cuidado, e preocupação com a perfeição cristã, como eles usam em qualquer assunto que ganhou seu coração e afeições. (Nosso Senhor ordenou que devemos ser perfeitos assim como o Pai é perfeito – nota do tradutor) Isto é apenas por desejar que eles sejam tão apreensivos quanto ao seu estado, sendo humildes na opinião de si mesmos, de modo sincero, tencionando atingir maiores graus de piedade, e assim virem a temer ficarem aquém da bem-aventurança, como o grande apóstolo Paulo, quando assim escreveu aos filipenses: “Fil 3.12 Não que eu o tenha já recebido ou tenha já obtido a perfeição; mas prossigo para conquistar aquilo para o que também fui conquistado por Cristo Jesus. Flp 3:13 Irmãos, quanto a mim, não julgo havê-lo alcançado; mas uma coisa faço: esquecendome das coisas que para trás ficam e avançando para as que diante de mim estão, Flp 3:14 prossigo para o alvo, para o prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus. Flp 3:15 Todos, pois, que somos perfeitos, tenhamos este sentimento; e, se, porventura, pensais doutro modo, também isto Deus vos esclarecerá.” Mas agora, se o apóstolo considerou isto necessário para aqueles que estavam em seu estado de perfeição, a serem assim, de mente, isto é, aspirando por maiores graus de santidade, aos quais eles não haviam ainda chegado, com certeza é muito mais necessário para nós, que nascemos nos fins do tempo, e que trabalhamos sob grandes imperfeições, que nos esforcemos para atingir esses graus de uma vida santa e divina, que ainda não tenhamos alcançado. A melhor maneira para que alguém saiba, o quanto ele deve aspirar pela santidade, é considerar, não o quanto ela vai tornar a sua vida presente fácil, mas indagar a si mesmo, o quanto ela vai tornar fácil, a hora da morte. Agora, qualquer homem que ousar ser tão sério, a ponto de colocar esta questão para si mesmo, será forçado a responder, que no momento da morte, todo mundo desejará que tivesse sido tão perfeito quanto pudesse ser.

Não é isto, portanto, suficiente, para nos fazer não somente desejosos, mas também trabalhar para a perfeição, de cuja falta lamentaremos? Não é excessivamente insensato, se contentar com tal curso de piedade, do qual já sabemos que não podemos nos contentar com ele, no momento em que necessitaremos dele, nada mais tendo para nos consolar? Como podemos trazer uma condenação mais severa contra nós mesmos, do que crer, que na hora da morte, nós teremos para nos assistir as virtudes dos Santos, e daqueles que foram servos de Deus, antes de nós, e ainda assim não nos empenharmos para chegarmos ao auge da piedade deles, enquanto estamos vivos? Embora seja um absurdo que podemos facilmente passar isto por alto no presente, enquanto a saúde de nossos corpos, as paixões de nossas mentes, o barulho, a pressa, e prazeres, e os negócios do mundo, nos levam a ter olhos que não veem, e ouvidos que não ouvem, no momento mesmo da morte, isto será fixado diante de nós numa magnitude terrível, e irá nos assombrar como um fantasma santo, e nossa consciência nunca permitirá que desviemos os nossos olhos dele. Quando consideramos a morte como uma desgraça, somente pensamos na mesma como uma separação miserável dos prazeres desta vida. Nós raramente choramos por um homem velho que morre rico, mas lamentamos a perda dos jovens, que são levados quando progrediam em fazer fortuna. Esta é a sabedoria de nossos principais pensamentos. E que loucura das crianças mais tolas é tão grande como esta? Porque o que há de miserável ou terrível na morte, senão a consequência da mesma? Quando um homem está morto, o que pode qualquer coisa significar para ele, senão o estado no qual ele se encontra então? Se eu estou indo agora para a alegria de Deus, poderia haver qualquer razão para lamentar, que isso aconteceu comigo antes que eu tivesse atingido quarenta anos de idade? Poderia ser uma coisa triste ir para o céu, antes que eu tivesse mais algumas pechinchas? E se eu fosse contado entre os espíritos perdidos, poderia haver alguma razão para estar contente, que isso não aconteceu comigo até que estivesse velho e cheio de riquezas? Se os bons anjos estavam prontos para receberem a minha alma, poderia ser qualquer tristeza para mim, que eu estava morrendo em cima de uma cama de pobre num sótão? E se Deus me entregou para os maus espíritos, para ser arrastado por eles para locais de tormentos, poderia haver qualquer conforto para mim, que eles me encontraram em cima de uma cama de ouro? Quando você está tão perto da morte como eu estou, você sabe, que todos os diferentes estados da vida, seja da juventude ou da idade avançada, da riqueza ou da pobreza, da grandeza ou pequenez, nada mais significam para você, do que se você morresse em um apartamento pobre, ou imponente. A grandeza das coisas que seguem a morte, faz tudo o que veio antes se afundar em nada.

Agora este julgamento é a próxima coisa que eu procuro, e sempre que a felicidade última, ou miséria é chegada tão perto de mim, todas as alegrias e prosperidades da vida parecem tão vazias e insignificantes, e nada mais têm a ver com a minha felicidade, do que as roupas que eu usava antes que eu pudesse falar. Mas, meus amigos, como estou surpreso, que eu nem sempre tenho tido esses pensamentos? Porque o que há nos terrores da morte, nas vaidades da vida, ou nas necessidades da piedade, senão o que eu posso ter fácil e totalmente visto em qualquer parte da minha vida? Que coisa estranha é, que um pouco de saúde, ou os pobres negócios de uma loja, deveriam nos manter tão insensíveis destas grandes coisas, que estão vindo rapidamente sobre nós! Ó meus amigos! bendigam a Deus por vocês não serem desse número, que vocês tenham tempo e força para se empenharem em tais obras de piedade, que possam lhes trazer paz no final. E guarde isso com você, que não há nada além de uma vida de grande piedade, ou uma morte de grande estupidez, que possa mantê-lo fora destas apreensões. Nos negócios desta vida terrena eu usei de prudência e reflexão. Eu tenho feito tudo por regras e métodos. Eu tenho tido prazer em conversar com os homens de experiência e julgamento, para encontrar as razões pelas quais alguns fracassam, e outros têm sucesso em qualquer negócio. Eu não dei nenhum passo no comércio, senão com muito cuidado e prudência, considerando todas as vantagens ou os perigos envolvidos. Eu sempre tive meu olho sobre o fim principal do negócio, e estudava todas as formas e meios para ser um ganhador em tudo que empreendi. Mas qual é a razão de não ter trazido nenhuma destas disposições para a religião? Qual é a razão que eu, que tenho até muitas vezes falado da necessidade de regras e métodos, e diligência nos negócios do mundo, nunca tenha pensado em todo esse tempo em quaisquer regras ou métodos, ou gerências, para me conduzirem numa vida de Piedade? Você acha que qualquer coisa pode surpreender e confundir um homem como este na hora da morte? Que dor que você acha que um homem deve sentir, quando sua consciência coloca toda essa insensatez em sua conta, quando deveria ter se mostrado regular, exato, e sábio, como tem sido em pequenas coisas, que já passaram como um sonho, e quão estúpida e insensivelmente ele tem vivido, sem reflexão, sem quaisquer regras, em coisas relativas à eternidade, como nenhum coração pode suficientemente concebê-las? Se eu tivesse apenas minhas fragilidades e imperfeições para lamentar neste momento da morte, eu deveria estar aqui humildemente confiando na misericórdia de Deus. Mas, infelizmente! Como posso chamar um desrespeito geral, e uma completa negligência de toda melhoria religiosa, de fragilidade ou imperfeição; quando estivera ao máximo ao meu alcance ter sido exato, prudente, e diligente num curso de piedade, como fui no negócio do meu comércio.

Eu poderia ter procurado ajuda, ter praticado o maior número de regras, e ser ensinado em tantos métodos corretos para uma vida santa, como fiz para prosperar em meu negócio do mundo, mas eu não pretendi e desejei isso. Oh meus amigos! uma vida descuidada, despreocupada e desatenta aos deveres da religião, é tão sem qualquer desculpa, tão indigna da misericórdia de Deus, como uma vergonha para o sentido e a razão de nossas mentes, que mal posso conceber uma punição maior, do que um homem ser lançado no estado em que eu estou, para refletir sobre ele. Um penitente estava partindo aqui, mas tinha a boca paralisada por uma convulsão, que não permitiu que nada mais falasse. Ele convulsionou por cerca de doze horas, e, em seguida, entregou o espírito. Agora, se cada leitor, imaginasse este penitente tendo algum conhecimento específico em relação à sua condição, e imaginasse que ele viu e ouviu tudo o que está aqui descrito, que estivera junto da sua cabeceira, quando seu pobre amigo estava em tal aflição e agonia, lamentando a insensatez de sua vida passada, iria, com toda a probabilidade, ensinar-lhe tal sabedoria como nunca estivera antes em seu coração. Se para isso, ele considerasse quantas vezes ele próprio pode ter sido surpreendido no mesmo estado de negligência, e feito um exemplo para o resto do mundo, esta reflexão dupla, tanto sobre o sofrimento de seu amigo, e da bondade de Deus que, lhes tinha preservado disto, teria, muito provavelmente amolecido seu coração em santas disposições, e teria transformado o restante de sua vida em um curso regular de piedade. Isto, portanto, sendo tão útil para a meditação, vou deixar o leitor aqui, como espero, seriamente engajado na mesma. Uma Chamada Séria a Uma Vida Santa e Devota – Cap IV William Law

Tradução e adaptação feitas pelo Pr Silvio Dutra, do quarto capitulo do livro de William Law, em domínio público, intitulado Uma Chamada Séria a Uma Vida Santa e Devota. William Law, foi professor e mentor por vários anos de John e Charles Wesley, Geogre Whitefield – principais atores do grande avivamento do século XVIII, que se espalhou por todo o mundo Henry Venn, Thomas Scott e Thomas Adam, entre outros, que foram profundamente afetados por sua vida consagrada a Deus, e sobretudo pelo conteúdo deste livro.

Nós não podemos agradar a Deus em nenhum estado ou empenho de vida, senão por intenção e devoção de tudo fazer para sua honra e glória.

Tendo declarado no primeiro capítulo a natureza geral da devoção, e mostrado, que não implica qualquer forma de oração, mas uma certa forma de vida, que é oferecida a Deus, não

em quaisquer momentos ou lugares determinados, mas onde e em tudo que eu vou descer agora descer a alguns detalhes, e mostrar como devemos dedicar nosso labor, emprego, tempo e dinheiro para Deus. Como um bom cristão deveria considerar todos os lugares como santos, por ser propriedade de Deus, então ele deve olhar para cada parte de sua vida como uma questão de santidade, porque é para ser oferecida a Deus. A profissão de um clérigo, é uma profissão sagrada, porque é um ministério em coisas sagradas, para atender ao altar. Mas o negócio do mundo deve ser feito santo ao Senhor, por ser feito como um serviço para ele, e em conformidade com a sua vontade divina. Porque, assim como todos os homens e todas as coisas do mundo, pertencem de fato a Deus, como quaisquer lugares, coisas ou pessoas que se dedicam ao serviço divino, assim todas as coisas são para serem usadas, e todas as pessoas são para atuarem em seus diversos estados e empregos para a glória de Deus. Os homens de negócios do mundo, portanto, não devem olhar para si como tendo liberdade de viver para si mesmos, porque o seu trabalho é de uma natureza mundana. Mas deve-se considerar que, assim como o mundo e todas as profissões do mundo, pertencem a Deus, assim pessoas e coisas que são dedicados ao altar, e por isso é tanto o dever dos homens em negócios do mundo viver totalmente para Deus, como é o dever daqueles que se dedicam ao serviço divino. Assim o mundo inteiro é de Deus, de modo que o mundo inteiro deve agir para Deus. Assim todos os homens têm a mesma relação com Deus, como todos os homens têm todos os seus poderes e faculdades de Deus, assim todos os homens são obrigados a agir para Deus, com todos os seus poderes e faculdades, e todos serão julgados pelo uso que deles fizerem. Assim todas as coisas são de Deus, de modo que todas as coisas devem ser utilizadas e consideradas como pertencentes a Deus. Porque abusarem os homens das coisas na terra, e viverem para si próprios, é a mesma rebelião contra Deus, como os anjos abusaram das coisas no céu, porque Deus é o mesmo Senhor de todos na terra, como ele é o Senhor de todos no céu. As coisas podem, e devem diferir no seu uso, mas ainda assim elas todas devem ser usadas de acordo com a vontade de Deus. Os homens podem , e devem diferir em seus empregos, mas ainda assim todos eles devem agir para os mesmos fins, como servos obedientes de Deus, no desempenho correto e piedoso de seus diversos chamados. Os clérigos devem viver totalmente para Deus, de uma forma particular, isto é, no exercício de cargos santos, no ministério da oração e da Palavra, e na ministração zelosa de boas obras espirituais.

Mas os homens de outros empregos, estão também em suas maneiras particulares obrigados a agir como servos de Deus, e viverem totalmente para ele em seus diversos chamados. Esta é a única diferença entre clérigos e pessoas de outros chamados. Quando isto puder ser visto, que os homens possam ser vaidosos, avarentos, sensuais, mundanos, ou orgulhosos, no exercício de seus negócios do mundo, então será permitido aos clérigos serem também indulgentes com o mesmo comportamento em sua profissão sagrada. Porque embora esse comportamento seja mais odioso e criminoso em clérigos, que além do seu voto batismal, têm se dedicado uma segunda vez a Deus, para serem seus servos, e não nos serviços comuns da vida humana, mas no serviço espiritual da maioria das coisas sagradas e santas, e que são, portanto, para manterem os mesmos como separados e diferentes da vida comum de outros homens, ainda que todos os cristãos são, por seu batismo dedicados a Deus, e professores de santidade, de modo que são todos eles chamados a viverem como pessoas santas; fazendo tudo na sua vida comum apenas em tal forma, para que isto possa ser recebido por Deus, como um serviço feito a ele. Porque as coisas espirituais e temporais, sagradas e comuns, devem, tanto para homens quanto para anjos, tanto para o céu e para a terra, serem todas para a Glória de Deus. Como há um só Deus e Pai de todos, cuja Glória dá luz e vida a tudo o que vive, cuja presença preenche todos os lugares, cujo poder suporta todos os seres, cuja providência domina todos os acontecimentos, por isso tudo o que vive, seja no céu ou na terra, sejam tronos ou principados, homens ou anjos, devem todos com um só espírito, viver totalmente para o louvor e glória deste único Deus e Pai de todos. Anjos como anjos, em suas ministrações celestes, mas os homens como homens, as mulheres como mulheres, pastores como pastores, diáconos como diáconos; alguns com as coisas espirituais, e alguns com coisas temporais, oferecendo a Deus o sacrifício diário de uma vida sensata, com ações sábias, em corações purificados, e com afetos santos. Este é o negócio comum de todas as pessoas neste mundo. Isto é não deixar que todas as mulheres do mundo gastem seu tempo nas loucuras e impertinências de uma vida moderna, nem a quaisquer homens se entregarem a preocupações mundanas. Isto é não deixar os ricos satisfazerem as suas paixões nas indulgências e na soberba da vida, nem quanto aos pobres, para maltratar e atormentar seus corações com a pobreza de seu estado, mas homens e mulheres, ricos e pobres, devem, com os pastores e diáconos, andarem diante de Deus no mesmo espírito sábio e santo, na mesma negação de todos os temperamentos vãos, e na mesma disciplina e cuidado das almas, não somente porque todos eles têm a mesma natureza racional, e são servos do mesmo Deus, mas porque necessitam da mesma santidade, para lhes fazer aptos para a mesma felicidade, a que todos são chamados. Por isso, é absolutamente necessário para todos os cristãos, quer homens ou mulheres, se considerarem como pessoas que são dedicadas à santidade, e assim ordenarem suas formas comuns de vida, por tais regras da razão e piedade, e assim possam transformar isto em contínuo serviço ao Deus Todo-Poderoso. Agora, para fazer o nosso trabalho, ou empenho, um serviço aceitável a Deus, devemos conduzi-lo com o mesmo espírito e disposição, que são necessários para a doação de esmolas,

ou qualquer obra de piedade, porque, quer comamos ou bebamos, ou façamos qualquer outra coisa, devemos fazer tudo para a glória de Deus, se quisermos usar este mundo como se não usássemos; se quisermos apresentar os nossos corpos em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus; se formos viver pela fé, e não por vista, e ter uma conversação santa, então é necessário, que a maneira comum de nossa vida em todos os estados, seja para glorificar a Deus. Porque, se nós somos de mente mundana em nossos empenhos, se eles forem realizados com desejos vãos, e avareza, apenas para nos satisfazer, não pode ser dito de nós que vivemos para a glória de Deus, mais do que os glutões e bêbados podem dizer, que comem e bebem para a glória de Deus. Como a glória de Deus é uma e a mesma coisa, assim o que nós fazemos para ele, deve ser feito com um e o mesmo espírito. Esse mesmo estado e temperamento de espírito, que torna nossa esmola e devoções aceitáveis, deve também fazer o nosso trabalho, ou empenhos, uma oferta adequada para Deus. A maior parte dos empregos da vida são em sua própria natureza lícitos, e todos aqueles que são assim, podem ser feitos uma parte substancial do nosso dever para com Deus, se nos engajarmos neles somente para os fins apropriados para aqueles que devem viver acima do mundo, por todo o tempo que viverem nele. Esta é a única medida da nossa aplicação em qualquer negócio mundano, seja ele qual for, ou onde for, ele não deve ter mais de nossas mãos, de nossos corações, ou do nosso tempo, do que seja consistente com uma fervorosa preparação diária, cuidadosa de nós mesmos para uma outra vida. Porque, assim como todos os cristãos, como tais, têm renunciado a este mundo, para prepará-los por devoção diariamente, e santidade universal, para um eterno estado de outra natureza, eles devem olhar para os empenhos mundanos, como para necessidades mundanas, e enfermidades físicas; coisas não desejáveis, mas apenas para serem suportadas e sofridas, até que a morte e a ressurreição no conduzam a um estado eterno de real felicidade. Ora, daquele que não olha para as coisas desta vida neste grau de pequenez, não pode ser dito quer sinta ou creia nas maiores verdades do cristianismo. Porque, se ele pensa que qualquer coisa é grande ou importante nos negócios humanos, não pode ser dito dele, que sinta ou creia naquelas Escrituras que representam esta vida, e as melhores coisas da vida, como bolhas, vapores, sonhos e sombras. Se ele pensa que fama e glória mundana, são adequadas para a felicidade de um cristão, como pode ser dito dele que creia nesta doutrina: “Bem-aventurados sereis quando os homens vos odiarem, e quando vos expulsarem da sua companhia, e vos injuriarem, e rejeitarem o vosso nome como mau por causa do Filho do Homem.”? Porque, certamente, se houvesse qualquer verdadeira felicidade na fama e glória mundana, se estas coisas merecessem nossos pensamentos e cuidado, não poderia ser assunto da mais alta alegria, quando somos arrancados deles por perseguições e sofrimentos? Se, portanto, um homem vai viver assim, como pode ser visto que ele crê nas doutrinas fundamentais do cristianismo, de que ele deve viver acima do mundo?

O lavrador que lavra a terra, é empregado em um negócio honesto, o qual é necessário à vida, e muito capaz de ser feito um serviço agradável a Deus. Visões orgulhosas e desejos vãos, em nossas atividades seculares, são tão verdadeiros vícios e corrupções, quanto a hipocrisia na oração, ou orgulho nas esmolas. Aquele que trabalha e serve a um chamado, para que possa ser visto pelo mundo, e deslumbrar o olhar das pessoas com o esplendor de sua condição, está tão longe da humildade de um cristão piedoso, como aquele que dá esmolas para que possa ser visto pelos homens. Pela razão de que o orgulho e a vaidade em nossas orações e esmolas, as tornam um serviço inaceitável a Deus, não é porque haja alguma coisa especial em orações e esmolas, que não possam permitir o orgulho, mas porque o orgulho é, em nenhum aspecto, nem em nada, feito para o homem; ele destrói a piedade de nossas orações e esmolas, porque destrói a piedade de tudo o que ele toca, e torna cada ação que ele governa, incapaz de ser oferecida a Deus. Assim que, se pudéssemos nos dividir deste modo, sendo humildes em alguns aspectos, e orgulhoso em outros, a humildade seria de nenhum serviço para nós, porque Deus exige que sejamos verdadeiramente humildes em todas as nossas ações e propósitos, como devemos ser verdadeiros e honestos em todas as nossas ações e propósitos. E assim como um homem não é honesto e verdadeiro, porque ele é assim em relação a um grande número de pessoas, ou em várias ocasiões, mas porque a verdade e a honestidade é a medida de todas as suas relações com todos; de modo que o processo é o mesmo em relação à humildade, ou qualquer outra virtude, que deve ser o hábito norteador geral de nossas mentes, e estender-se a todos as nossas ações e projetos, antes que isto possa ser imputado a nós. Nós, na verdade, por vezes, falamos, como se um homem pudesse ser humilde em algumas coisas, e orgulhoso em outras; humilde em suas vestes, mas orgulhoso de sua aprendizagem; humilde em sua pessoa, mas orgulhoso em seus pontos de vista e desígnios. Mas embora isso possa passar no discurso comum, onde poucas coisas são ditas de acordo com a verdade estrita, não pode ser permitido, quando examinamos a natureza de nossas ações. É muito possível que um homem que vive de enganos, seja muito pontual em pagar o que ele compra, mas, então, todos percebem que não o faz por qualquer princípio de honestidade. Portanto, assim como todos os tipos de desonestidade destroem nossas pretensões de um princípio honesto da mente, assim todos os tipos de orgulho destroem nossa pretensão de um espírito humilde. Ninguém se surpreende que essas orações e esmolas, que procedem do orgulho e ostentação, são odiosas a Deus, mas ainda assim quão fácil é ver, que o orgulho é assim perdoado lá como em qualquer outro lugar, por pessoas que não fazem uma avaliação segundo a verdade. Se pudéssemos supor que Deus rejeita o orgulho em nossas orações e esmolas, mas suportá-lo orgulho em nosso modo de vestir, em nossas pessoas, ou posses, seria a mesma coisa que supor que Deus condena a falsidade em algumas ações, mas a permite em outras.

Ainda, se o orgulho e ostentação são tão odiosos, que destroem o mérito e valor das ações mais razoáveis, certamente devem ser igualmente odiosos nessas ações, que somente são fundadas na fraqueza e enfermidade de nossa natureza. Assim como esmolas são ordenadas por Deus, como excelentes em si mesmas, como verdadeiros casos de uma disposição santa, mas as roupas são permitidas somente para cobrir nossa vergonha, certamente, portanto, deve pelo menos ser tão odioso um grau de orgulho, de ser vaidoso em nossas roupas, como ser vaidoso em nossas esmolas. Ainda, somos ordenados a orar sem cessar, como um meio de tornar nossas almas mais elevadas e santas, mas estamos empenhados em juntar tesouros sobre a terra, e podemos pensar que não é tão ruim, ser vaidoso desses tesouros, que juntamos, que consideramos inúteis essas orações, que somos ordenados a fazer. Todos estes casos são apenas para nos mostrar a grande necessidade de uma piedade regular e uniforme, se estendendo a todas as ações de nossa vida comum. Agora, a única maneira de chegar a esta devoção de espírito, é trazer todas as suas ações para a mesma regra que as suas devoções e esmolas. Você sabe muito bem o que é, que faz a piedade de suas esmolas ou devoções; agora as mesmas regras, a mesma relação a Deus, deve tornar tudo o mais que você faz, um serviço aceitável a ele. Uma Chamada Séria a Uma Vida Santa e Devota – Cap V William Law

Tradução e adaptação feitas pelo Pr Silvio Dutra, do quinto capitulo do livro de William Law, em domínio público, intitulado Uma Chamada Séria a Uma Vida Santa e Devota. William Law, foi professor e mentor por vários anos de John e Charles Wesley, Geogre Whitefield – principais atores do grande avivamento do século XVIII, que se espalhou por todo o mundo Henry Venn, Thomas Scott e Thomas Adam, entre outros, que foram profundamente afetados por sua vida consagrada a Deus, e sobretudo pelo conteúdo deste livro.

Pessoas que estão livres da necessidade de trabalhar em empregos específicos devem se considerar como devotadas a Deus em maior grau.

Grande parte do mundo está livre das necessidades de trabalhar em empregos, e têm o seu tempo e dinheiro à sua própria disposição. Mas, como ninguém deve viver em seu trabalho de acordo com a sua própria vontade, ou para fins como o de agradar suas próprias extravagâncias, senão fazer todos os seus negócios de tal forma, como se fizesse um serviço para Deus, por isso aqueles que não têm emprego especial, estão muito longe de serem deixados em maior liberdade para viver para si mesmos, para

satisfazer suas próprias vontades, e gastarem seu tempo e dinheiro no que quiserem, eles estão sob uma maior obrigação de viver totalmente para Deus em todas as suas ações. A liberdade de sua condição os coloca numa maior necessidade de sempre escolher, e fazer as melhores coisas. São aqueles, de quem muito será exigido, porque muito lhes é dado. Um escravo só pode viver para Deus, de uma forma particular, isto é, pela paciência e submissão religiosa em seu estado de escravidão. Mas todas as formas de vida santa, todas as instâncias, e todos os tipos de virtude, estão abertos para aqueles que são mestres de si mesmos, de seu tempo e dinheiro. É portanto, o dever dessas pessoas, fazerem um uso sábio de sua liberdade, para se dedicarem a todos os tipos de virtudes, aspirarem a tudo o que é santo e piedoso, se esforçarem para serem eminentes em todas as boas obras, e para agradarem a Deus na forma mais elevada e mais perfeita; isto é seu dever, tanto serem sábias na condução de si mesmos, quanto ampliarem seus esforços por santidade, como é dever de um escravo se resignar a Deus em seu estado de escravidão. Você não é um trabalhador, comerciante, nem soldado, considere-se, portanto, como sendo colocado numa condição, guardadas as devidas proporções, como a dos anjos bons, que são enviados para o mundo como espíritos ministradores, para o bem geral da humanidade, para ajudar, proteger e servir em favor daqueles que hão de herdar a salvação. Como você está mais livre das necessidades comuns dos homens, você deve imitar as perfeições mais elevadas de anjos. Fosse você Serena, sendo obrigada pelas necessidades da vida, a lavar roupas para fora, para a sua manutenção, ou servir algum patrão que exigisse todo o seu trabalho, isto seria, então, o seu dever de servir e glorificar a Deus, por essa humildade, obediência e fidelidade, como para poder adornar essa condição de vida. Deveria então ser recomendado ao seu cuidado, melhorar esse talento à sua maior altura. Para que quando chegasse a hora, que a humanidade deveria ser recompensada por seu trabalho pelo grande Juiz dos vivos e dos mortos, você pudesse ser recebido com um “muito bem servo bom e fiel... entra no gozo do teu Senhor.” Mas, como Deus lhe deu cinco talentos, como ele colocou você acima das necessidades da vida, como ele o deixou nas mãos de si mesmo, na liberdade de escolher os meios mais exaltados e felizes da virtude, como ele lhe enriqueceu com muitos dons da fortuna, e não deixou nada para você fazer, senão fazer o melhor uso da variedade de bênçãos, para tirar o máximo de uma vida curta, para operar a sua própria perfeição, para a honra de Deus, e para o bem do seu próximo; por isso agora é seu dever imitar os maiores servos de Deus, e saber como os santos mais eminentes viveram, e estudar todas as artes e métodos para a perfeição, e não estabelecer limites para o seu amor e gratidão ao Autor generoso de tantas bênçãos.

Agora, é seu dever transformar seus cinco talentos, em mais cinco, e considerar como o seu tempo, e lazer, e saúde, e dinheiro, podem ser feitos meios felizes de purificar sua própria alma, melhorando seus semelhantes nos caminhos da virtude, e lhe conduzindo finalmente para as maiores alturas da glória eterna. Deleite-se com o seu serviço, e implore a Deus para adorná-lo com cada graça e perfeição. Alimente isto com boas obras, tenha paz na solidão, obtenha forças na oração, torne-se sábio com a leitura, ilumine-se por meditação, torne-se terno com amor, adoçado com humildade, humilhando-se com penitência, animando-se com salmos e hinos, e se confortando com reflexões frequentes sobre a glória futura. Mantenha-se na presença de Deus e aprendendo a imitar aqueles anjos guardiões, que apesar de participarem em assuntos humanos, bem como com os mais baixos da humanidade, sempre veem a face de nosso Pai que está nos céus. Isto, Serena, é a sua profissão. Porque tão certo como Deus é um só Deus, tão certo é que ele tem apenas um comando para toda a humanidade, sejam eles escravos ou livres, ricos ou pobres, e que devem atuar até a excelência da nova natureza que ele lhes deu, para viver pela razão, para andar na luz da religião, para usar tudo com sabedoria, para glorificar a Deus em todos os seus dons e dedicar todas as condições de vida a seu serviço. Este é um comando único e comum de Deus para toda a humanidade. Se você tem um emprego, você deve ser, portanto, razoável, e piedoso, e santo, no exercício do mesmo, se você tiver tempo e dinheiro, você é obrigado a ser assim razoável, e santo, e piedoso, no uso de todo o seu tempo, e todo o seu dinheiro. O uso religioso correto de tudo e de todos os talentos, é o dever indispensável de todo o ser, que é capaz de conhecer o certo e o errado. Porque a razão pela qual devemos fazer alguma coisa, como que para Deus e no que diz respeito ao nosso dever, e sua relação com ele, é a mesma razão pela qual devemos fazer tudo para Deus, e tendo em conta o nosso dever, e sua relação com ele. Esta que é uma razão para o nosso viver sábio e santo, no cumprimento de todos os nossos negócios, é a mesma razão de nosso viver sábio e santo no uso de todo o nosso dinheiro. Como temos sempre as mesmas naturezas, e somos em todos os lugares servos do mesmo Deus, e como tudo é igualmente o seu dom, por isso devemos sempre agir de acordo com a razão de nossa natureza, devemos fazer todos as coisas como servos de Deus, devemos viver em qualquer lugar, como em sua presença, devemos usar tudo, como deve ser usado como pertencente a Deus. Se, portanto, algumas pessoas imaginam, que devem ser sérias e solenes na igreja, mas podem ser tolas e frenéticas em casa, que eles devem viver de acordo com alguma regra no domingo, mas podem gastar os outros dias ao acaso; que eles devem ter alguns momentos de oração, mas podem gastar o resto de seu tempo como bem entenderem, que eles devem dar algum dinheiro na caridade, mas podem desperdiçar o restante conforme lhes der na mente, essas pessoas não têm considerado adequadamente a natureza da religião, ou as verdadeiras razões da Piedade .

Porque aquilo que nos princípios da razão pode ser dito que é bom ser sábio e santo de espírito na Igreja, pode ser dito também que é sempre desejável ter a mesma condição em todos os outros locais. Aquele que verdadeiramente sabe por que ele deveria gastar todo o tempo bem, sabe, que nunca é permissível jogar fora qualquer momento. Aquele que acertadamente entende a razoabilidade e excelência da Caridade, saberá, que nunca pode ser desculpável perder qualquer parte do nosso dinheiro no orgulho e insensatez, ou em quaisquer despesas desnecessárias. Porque cada argumento que mostra a sabedoria e excelência da Caridade, prova também a sabedoria de gastar todo o resto do nosso dinheiro. Todo argumento que comprova a sabedoria e razoabilidade de ter momentos de oração, mostra a sabedoria e a razoabilidade de não perder nenhuma parte do nosso tempo. Se alguém pudesse provar que não precisamos sempre agir como na presença divina, que não precisamos considerar e usar tudo, como dom de Deus, que não precisamos viver sempre pela razão e fazer da Religião o fundamento de todas as nossas ações, os mesmos argumentos provariam, que nunca precisamos agir como que na presença de Deus, nem fazer da religião e da razão a medida de qualquer de nossas ações. Se, portanto, temos que viver para Deus, em qualquer momento ou em qualquer lugar, devemos viver para ele em todos os momentos e em todos os lugares. Se devemos usar qualquer coisa como um dom de Deus, devemos usar tudo como seu dom. Se devemos fazer qualquer coisa por regras estritas da razão e piedade, devemos fazer tudo da mesma maneira. Porque razão, e sabedoria, e piedade, são as melhores coisas em todos os momentos e em todos os lugares, porque são as melhores coisas, em qualquer momento, ou em qualquer lugar. Se é a nossa glória e felicidade ter uma natureza racional, que é dotada de sabedoria e razão, que é capaz de imitar a natureza divina, então deve ser a nossa glória e felicidade, melhorar a nossa razão e sabedoria, para atuar até a excelência da nossa natureza racional, e para imitar a Deus em todas as nossas ações, até o máximo do nosso poder. E os que confinam a Religião a tempos e lugares, e a algumas pequenas regras de reclusão, pensam que isto é muito estrito e rigoroso para trazer a religião à vida comum, e fazem disto leis para todas as suas ações e formas de vida, aqueles que pensam assim, não somente erram, mas confundem toda a natureza da religião. Porque, certamente, eles confundem toda a natureza da Religião, porque pensam que podem fazer qualquer parte de sua vida mais fácil, por ser livre dela. Deles pode muito bem ser dito que confundem a natureza de toda a sabedoria, porque não pensam que é desejável, ser sempre sábios. Aquele que não aprendeu a natureza da piedade, pensa muito pouco em ser piedoso em todas as suas ações. Aquele que não entende suficientemente qual é o motivo, não pode desejar sinceramente viver em tudo de acordo com isto. Se tivéssemos uma religião que consistisse em superstições absurdas, que não levasse em conta a perfeição de nossa nova natureza, as pessoas poderiam bem estar contentes de ter alguma parte de sua vida para ser excluída da mesma.

Mas, como a Religião do Evangelho é o refinamento e elevação exaltação das nossas melhores faculdades, pela operação regeneradora e renovadora do Espírito Santo; uma vez que requer uma vida de maior razão, uma vez que somente nos obriga a usar deste mundo, pela razão pela qual deve ser usado, a viver em tal comportamento digno da glória de seres inteligentes, para andar em sabedoria para a prática da piedade. Além disso, como Deus é um só e o mesmo ser, sempre agindo como em si mesmo, em conformidade com a sua própria natureza, por isso é o dever de todo ser que ele criou à sua imagem e semelhança, viver de acordo com a nova natureza que ele lhe deu, e sempre agir de acordo com a mesma. Portanto, é uma lei imutável de Deus, que todo ser racional deve agir razoavelmente em todas as suas ações, não em determinado tempo ou lugar, mas em todas as ocasiões e em todos os lugares (Tanto que os que se opuserem a isto serão condenados por Deus a uma perdição eterna – nota do tradutor). Esta é uma lei que é como a imutabilidade de Deus, e que nunca pode deixar de existir, tanto quanto Deus não pode deixar de ser o Deus de sabedoria e ordem. Quando, pois, qualquer ser que é dotado de razão, faz uma coisa irrazoável, em qualquer momento, ou em qualquer lugar, ou na utilização de qualquer coisa, ele peca contra a grande lei da sua natureza, abusa de si mesmo, e peca contra Deus , o criador dessa natureza. (Isto demonstra a condição de profunda miséria em que nos encontramos, naturalmente falando, em razão do pecado original, quando o homem deixou de fazer um uso adequado da razão, e do qual pode ser resgatado para a renovação da sua mente, apenas e exclusivamente pela graça de Jesus Cristo – nota do tradutor). Aqueles, portanto, que defendem as indulgências ao pecado e vaidades, para qualquer modas tolas, costumes e comportamentos do mundo, se rebelam contra a própria natureza para a qual foram criados (a de serem santos e perfeitos) e se rebelam portanto contra Deus, que nos deu razão para nenhum outro fim, senão a de fazê-la a regra e a medida de todos os nossos modos de vida. Quando, pois, você é culpado de qualquer tolice ou extravagância, ou de qualquer comportamento vão, não o considere como uma questão pequena, porque pode parecer assim, se comparado a alguns outros pecados, mas o considere, como uma ação contrária à sua natureza, conforme o propósito de Deus relativo à mesma, e então você vai ver que não há nada pequeno, que não é razoável. Porque todas as formas irracionais são contrárias à natureza de todo ser racional, sejam homens ou anjos. Nenhum deles pode ser agradável a Deus, a menos que ajam de acordo com a a razão e a excelência de suas naturezas. (O autor usa simplesmente a palavra natureza, mas temos usado a expressão nova natureza, em algumas partes, uma vez que é um claro ensino bíblico que a velha natureza está corrompida pelo pecado, e necessitamos de uma nova natureza, adquirida na conversão, pela fé em Cristo, e por ação do Espírito Santo, e esta sim, está perfeita em todas as suas partes, e necessita apenas ser desenvolvida, amadurecida – nota do tradutor).

Nosso bendito Salvador tem claramente voltado nossos pensamentos para este caminho, por fazer esta petição uma parte constante de todas as nossas orações: “Seja feita a tua vontade assim na terra como ela é feita no céu. Uma clara prova, que a obediência dos homens é imitar a obediência dos anjos, e que os seres racionais na Terra, devem viver para Deus, como os seres racionais no Céu que habitam com ele. Quando, portanto, você imaginasse em sua mente, como os cristãos devem viver para Deus, e em que graus de sabedoria e santidade eles devem usar as coisas desta vida, você não deve olhar para o mundo, mas você deve olhar para Deus, e para a sociedade dos anjos, e pense que sabedoria e santidade se destinam a prepará-lo para tal estado de glória. Você deve olhar para os mais elevados preceitos do Evangelho, você deve examinar a si mesmo pelo espírito de Cristo, você deve pensar como os homens mais sábios no mundo viveram, você deve pensar como almas que partiram viveram, você deve pensar nos graus de sabedoria e santidade que você desejará ter quando você estiver saindo do mundo. Ora, tudo isso não é alongar o assunto, ou propor a nós mesmos, qualquer perfeição desnecessária. É, senão quase o cumprimento do conselho do apóstolo, onde ele diz: “Finalmente, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é respeitável, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se alguma virtude há e se algum louvor existe, seja isso o que ocupe o vosso pensamento. O que também aprendestes, e recebestes, e ouvistes, e vistes em mim, isso praticai; e o Deus da paz será convosco.”, Fil 4.8,9. Porque ninguém pode chegar perto da doutrina desta passagem, senão aquele que se propõe a si mesmo fazer tudo nesta vida como um servo de Deus, para viver pela razão, em tudo o que ele fizer, e para fazer da sabedoria e da santidade do Evangelho, a regra e a medida de seus desejos e ações, e de cada dom de Deus. Uma Chamada Séria a Uma Vida Santa e Devota – Cap VII William Law

Como o uso imprudente de um estado corrompe todas as disposições da mente e enche o coração com paixões pobres e ridículas ao longo de todo o curso da vida, como representado no caráter de Flávia.

Já foi observado que um prudente e religioso cuidado deve ser usado, na forma de gastar o nosso dinheiro ou propriedade, porque a maneira de gastar nossas posses é uma grande parte da nossa vida comum, e é muito o negócio de cada dia, que, conforme sejamos sábios ou imprudentes, a este respeito, todo o curso de nossas vidas, será ou muito sábio, ou muito cheio de insensatez.

Pessoas que são afetadas de forma positiva com a religião, que recebem instruções de piedade com prazer e satisfação, muitas vezes se maravilham como pode ocorrer, que elas não façam maiores progressos nessa Religião que eles tanto admiram. Agora, a razão disso é esta, é porque a religião vive apenas em sua cabeça, mas algo mais tem a posse de seus corações áridos, portanto, eles continuam ano após ano como meros admiradores da piedade, sem nunca chegarem à realidade e perfeição de seus preceitos . Se for perguntado, por que a religião não obtém a posse de seus corações, a razão é esta: não é porque eles vivam em grosseiros pecados, ou intemperanças, porque seu respeito à religião lhes preserva de tais desordens. Mas é porque seus corações estão constantemente empenhados, equivocados, e mantidos em um estado errado, pelo uso indiscreto de coisas que são lícitas de serem usadas. O uso e desfrute de suas posses é lícito, e portanto, nunca entra em suas cabeças, imaginarem qualquer grande perigo nisto. Eles nunca refletem, que existe um uso vão e imprudente de suas posses, que, apesar de não destruir como os pecados grosseiros, todavia desordenam o coração, e o conduzem a sensualidade, mornidão, orgulho e vaidade, como também o torna incapaz de receber a vida e o espírito da piedade. Porque nossas almas podem receber uma mágoa infinita, e serem achadas incapazes de todas as virtudes, apenas pelo uso de coisas inocentes e lícitas. O que é mais inocente do que o descanso e ainda o que é mais perigoso, do que a preguiça e ociosidade? O que é mais lícito do que comer e beber, e no entanto o que é mais destrutivo de toda a virtude, o que mais estimula todos os vícios de sensualidade e indulgência? Quão legítimo e louvável é o cuidado de uma família? E no entanto, quão certamente são muitas pessoas tornadas incapazes de toda virtude, por um temperamento mundano e solícito? Agora, é por falta de exatidão religiosa no uso destas coisas inocentes e lícitas, que a religião não pode tomar posse de nossos corações. E é no gerenciamento correto e prudente de nós mesmos, quanto a essas coisas, que todas as artes de uma vida santa consistem principalmente. Pecados grosseiros são claramente vistos, e facilmente evitados por pessoas que professam religião. Mas o uso indiscreto e perigoso de coisas lícitas e inocentes, uma vez que não choque e ofenda nossas consciências, por isso é difícil fazer as pessoas de todo sensíveis ao perigo disto. Um cavalheiro que gasta todo o seu dinheiro em esportes, e uma mulher que coloca todo o seu dinheiro em cima de si mesma, dificilmente podem ser convencidos que o espírito da religião não pode subsistir em tal modo de vida. Estas pessoas , como tem sido observado, podem viver livres de intemperanças, podem ser amigos da Religião cristã, até o ponto de louvá-la e falar bem dela, e admirá-la em sua imaginação; mas não podem governar seus corações, e ser o espírito de suas ações, até que

mudem seu modo de vida, e deixem a Religião dar as leis para o uso e os gastos de suas posses. Porque uma mulher que ama as vestes de forma abusiva, que não poupa custos para se adornar, não parará nisto; porque esta disposição atrai milhares de outras loucuras juntamente com ela, e tornará todo o curso de sua vida, seu negócio, sua conversa, suas esperanças, seus medos, seus gostos, seus prazeres, e lazeres, se adequarem a isso. Flávia e Miranda são duas irmãs solteiras, que dispõem, respectivamente, de duzentas libras anuais. Elas sepultaram os seus pais, há vinte anos atrás, e desde então gastam as suas posses como lhes agrada. Flávia tem surpreendido todos os seus amigos, pela sua excelente gestão, na forma moderada como usa o dinheiro. Várias senhoras que têm o dobro de suas posses, não são capazes de serem sempre tão gentis e constantes em todos os lugares de prazer e despesa. Ela tem tudo o que está na moda, e está em todo lugar onde haja qualquer entretenimento. Flávia é muito ortodoxa, ela fala calorosamente contra os hereges e cismáticos, está geralmente na igreja, certa vez elogiou um sermão que era contra o orgulho e a vaidade no vestir. Se alguém pedir a Flávia para fazer alguma coisa em caridade, se ela gosta da pessoa que fez a proposta, ela contribui. Mas passado algum tempo, ao ouvir um outro sermão sobre a necessidade de caridade, ela acha que a pregação foi boa, que é um assunto muito apropriado, mas ela nada aplicou a si mesma, porque se lembrou de quando deu esmolas algum tempo atrás, e se arrependeu depois porque poderia ter poupado o dinheiro. Quanto às pessoas pobres, ela admitirá não ter nenhuma queixa da parte deles; ela é muito positiva que eles são todos falsos e mentirosos; e nada dirá para aliviá-los, e, portanto, deve ser um pecado encorajá-los em seus maus caminhos. Você pensaria que Flávia tinha uma consciência terna no mundo, se você visse, quão escrupulosa e apreensivo ela é da culpa e perigo de errar. Ela compra todos os livros sobre inteligência e temperamento, e fez um coleção cara de todos os nossos poetas ingleses. Porque ela diz, que não se pode ter um verdadeiro gosto por qualquer um deles, sem estar muito familiarizado com todos eles. Às vezes, ela lê um livro sobre Piedade, se for curto, ou muito elogiado por estilo e linguagem. Flávia é muito ociosa, e ainda gosta muito de um fino trabalho, que a faz frequentemente se sentar para trabalhar na cama até meio-dia, de modo que eu não preciso lhe dizer, que as suas manhãs de devoções nem sempre são corretamente executadas. Flávia seria um milagre da Piedade, se assim fosse, mas não é tão cuidadosa de sua alma, quanto ela é de seu corpo. O surgimento de uma espinha em seu rosto, a picada de um mosquito, fará com que ela se mantenha em seu quarto dois ou três dias. Ela é tão ansiosa quanto à sua saúde, que ela nunca acha que está bem o suficiente, de modo que faz gastos excessivos com toda a sorte de medicamentos preventivos. Se você visitar Flávia no domingo, você sempre a encontrará em boa companhia, você saberá o que está ocorrendo no mundo, ouvirá a última sátira, saberá quais são as peças de teatro da

semana, qual é a canção mais refinada na ópera, e quais são os jogos que se encontram na moda. Flávia pensa que são ateus os que jogam cartas no domingo, mas ela lhe dirá com minúcia sobre todos os jogos, que cartas ela segurou e como as jogou, e a história de tudo o que aconteceu no jogo, tão logo ela venha da Igreja. Eu não afirmarei que é impossível que Flávia seja salva, mas, muito pode ser dito, que ela não tem fundamentos das Escrituras para pensar que está no caminho da salvação. Porque toda a sua vida está em oposição direta a todos as disposições e práticas, que o Evangelho faz necessárias para a salvação. Se você estivesse lhe ouvindo dizer, que ela tinha vivido toda a sua vida como Ana, a profetisa, que não se afastava do templo, servindo a Deus em jejuns e orações, noite e dia, você olharia para ela como sendo muito extravagante, e ainda esta não seria uma extravagância maior, do que ela dizer que ela tem se esforçado por entrar pela porta estreita, ou fazer qualquer doutrina do Evangelho, a regra de sua vida. Ela pode muito bem dizer, que ela viveu com o nosso Salvador, quando ele esteve sobre a terra, como ela tem vivido na imitação dele, ou que fez seu cuidado viver qualquer parte de tais disposições, como ele tem requerido de todos aqueles que são seus discípulos. Ela pode verdadeiramente dizer, que tem a cada dia lavado os pés dos santos, como ela tem vivido na humildade e pobreza de espírito cristão. Ela tem tanta razão para pensar, que ela tem sido uma sentinela em um exército, assim como ela tem vivido em vigilância e abnegação. E pode dizer que ela vivia com o trabalho de suas mãos, ao qual ela tinha dado toda a diligência para fazer a sua vocação e eleição. E aqui isto pode ser bem observado, que a pobreza, a irreligião, a insensatez e a vaidade de toda esta vida de Flávia, é tudo devido à forma de utilizar suas posses. É isto o que tem formado seu espírito, que deu vida a cada disposição ociosa, que apoiou toda paixão insignificante, e que a privou de todos os pensamentos de uma vida prudente, útil e devota. Quando seus pais morreram, ela não tinha pensado nas suas duzentas libras anuais, mas que não tinha tanto dinheiro para fazer o que ela faria com tal quantia, para gastar consigo mesma, e comprar os prazeres e gratificações de todas as suas paixões. Ela poderia ter sido humilde, séria, devota, uma amante de bons livros, um admiradora da oração, remindo o seu tempo, sendo diligente em boas obras, cheia de caridade e do amor de Deus, mas o uso imprudente de suas posses forçou todo tipo de disposições contrárias sobre ela. Agora, porém o espírito insignificante irregular desse personagem pertence, eu espero, senão a poucas pessoas, mas muitos podem aprender algumas instruções aqui, e talvez veja algo de seu próprio espírito nisto. Se desejarmos portanto, fazer um progresso real na Religião cristã, devemos não somente abominar pecados graves e notórios, mas temos que regular as partes inocentes e lícitas do

nosso comportamento, e colocar as ações mais comuns e permitidas da vida, sob as regras da discrição e da piedade.

Tradução e adaptação feitas pelo Pr Silvio Dutra, do sétimo capitulo do livro de William Law, em domínio público, intitulado Uma Chamada Séria a Uma Vida Santa e Devota. William Law, foi professor e mentor por vários anos de John e Charles Wesley, George Whitefield – principais atores do grande avivamento do século XVIII, que se espalhou por todo o mundo Henry Venn, Thomas Scott e Thomas Adam, entre outros, que foram profundamente afetados por sua vida consagrada a Deus, e sobretudo pelo conteúdo deste livro. Uma Chamada Séria a Uma Vida Santa e Devota – Cap VIII William Law

Como o uso sábio e piedoso de nossas posses, naturalmente nos trazem grande perfeição em todas as virtudes da vida cristã; representado no caráter de Miranda.

Qualquer piedade regular de qualquer parte da nossa vida, é de grande vantagem, não somente por sua própria conta, como também por isto nos levar a viver por regras, e pensar no governo de nós mesmos. Um homem de negócios, que tem trazido parte de seus cuidados sob determinadas regras, deve ter o mesmo cuidado em relação às demais coisas. Então, aquele que trouxer qualquer parte de sua vida sob as regras da religião cristã, pode ser ensinado a estender a mesma ordem e regularidade às demais áreas de sua vida. Se alguém é tão sábio a ponto de pensar que seu tempo é precioso demais para ser gasto ao acaso, e permitir que ele seja devorado por qualquer coisa que aconteça em seu caminho; se ele fica subjugado por uma certa necessidade observando como todos os dias passam por suas mãos, e obriga a si mesmo a uma certa ordem de tempo no seu negócio e devoções, é difícil de ser imaginado, em quanto tempo tal conduta iria reformar, melhorar e aperfeiçoar todo o curso da sua vida. Aquele, portanto, que sabe o valor, e colhe a vantagem de uma época bem ordenada, não demorará muito para ser um estranho ao valor de algo mais que seja de algum interesse real para ele. Uma regra que se relaciona até mesmo à parte menos importante de nossa vida, é de grande benefício para nós, simplesmente porque é uma regra. Porque, como diz o provérbio, aquele que começou bem, tem feito a metade; então aquele que começou a viver pela regra, tem um longo caminho para percorrer para a perfeição de sua vida.

Por regra, deve aqui ser constantemente entendido, uma regra da religião cristã, observada como um princípio de dever para com Deus. Porque, se alguém deve se obrigar a ser moderado em suas refeições, apenas no que diz respeito ao seu estômago, ou se abster de beber, apenas para evitar a dor de cabeça, ou ser moderado durante o sono, por ter medo de uma letargia, ele poderia ser exato nessas regras, sem ser tornado em tudo um homem melhor por elas. Mas quando ele é moderado e regular em qualquer uma dessas coisas, por um sentido de sobriedade cristã e abnegação, para que ele possa ofertar a Deus uma vida mais razoável e santa, então isto é, que a menor regra deste tipo, se torne naturalmente, o início de uma grande piedade. Porque a menor regra nesses assuntos é de grande benefício, uma vez que nos ensina alguma parte do governo de nós mesmos, uma vez que mantém uma ternura de espírito; apresenta Deus muitas vezes aos nossos pensamentos, e traz um sentimento de religião para as ações ordinárias de nossa vida comum. Se um homem, quando estivesse na companhia, onde todas pessoas perjuraram, conversaram lascivamente, ou falaram mal do seu próximo, tomasse esta regra para si mesmo, de reproválas gentilmente, ou, se isso não fosse adequado, então, deixar a companhia tão decentemente quanto pudesse, ele acharia esta pequena regra, como sendo um pouco de fermento escondido em uma grande quantidade de farinha, que iria se espalhar e se estender de todas as formas em sua vida. Se um outro devesse se obrigar a se abster no Dia do Senhor de muitas coisas inocentes e lícitas, como viajar e discorrer sobre assuntos mundanos, como comércio e assim por diante, se ele devesse dedicar o dia, além do culto público, para uma maior leitura da Palavra, para a devoção, e obras de caridade; embora possa parecer uma coisa pequena, ou uma minúcia desnecessária, exigir de um homem que se abstenha de tais coisas que podem ser feitas sem configurar um pecado, mas quem quiser experimentar o benefício de tão pequena regra, talvez encontre por este meio uma grande alteração feita em seu espírito, e um grande gosto pela piedade se levantando em sua mente, para o qual ele era um completo estranho antes. Seria fácil demonstrar, em muitos outros casos, como poucos e pequenos assuntos são os primeiros passos, e começos naturais de grande perfeição . Mas as duas coisas, que mais do que todas as demais, devem estar sob uma regra rígida, e que são as maiores bênçãos tanto para nós mesmos quanto para outros, quando são usadas corretamente, são o tempo, e o nosso dinheiro. Esses talentos são meios contínuos e oportunidades de fazer o bem. Aquele que é piedosamente estrito, e exato na gestão prudente de qualquer um destes, não pode ignorar por longo tempo o uso correto do outro. E aquele que está feliz no cuidado religioso de ambos, já subiu vários degraus na escada da perfeição cristã. Miranda (a irmã de Flávia) é tanto uma cristã sóbria e razoável; quanto uma boa administradora do seu tempo e dinheiro, que era seu primeiro pensamento, como poderia

melhor cumprir tudo o que Deus exigia dela no uso deles, e como ela poderia fazer um melhor e mais feliz uso desta vida curta. Ela depende da verdade que nosso bendito Senhor tem dito, que há apenas uma coisa necessária e, portanto, fez dela o trabalho continuo de toda a sua vida. Ela tem apenas uma razão para fazer, ou não fazer, gostar ou não gostar de nada, e isto é, a vontade de Deus. Miranda pensa muito bem, para evitar ser chamada pelo mundo de dama refinada, ela renunciou ao mundo para seguir a Cristo no exercício de humildade, caridade, devoção, e afeição santa, e é nisto que ela deseja ser refinada. Enquanto ela estava debaixo de sua mãe, ela foi forçada a viver em cerimônias, a se deitar tarde da noite, para estar na loucura de cada moda, e sempre fazer visitas vãs, e ir à igreja com trajes caros e chamativos, a dançar em locais públicos, onde almofadinhas poderiam admirar a delicadeza de suas formas e a beleza de seus movimentos. A lembrança desse modo de vida, faz com que ela tenha um cuidado extremado em se despojar de tudo isto, por um comportamento contrário. Miranda não divide seu dever entre Deus, seu próximo, e ela mesma, mas ela considera tudo como devido a Deus, e assim faz tudo em seu nome e por causa dele. Isso faz ela considerar o seu dinheiro como um dom de Deus, que é para ser usado como tudo o mais deve ser, que pertence a Deus, para a sábia e razoável finalidade de uma vida cristã e santa. Portanto, seu dinheiro é dividido entre si mesma, e várias outras pessoas pobres, e ela tem apenas dele a sua parte de alívio. Ela acha que é a própria insensatez se saciar com coisas supérfluas, gastos inúteis, para si mesma, como para outras pessoas que agem da mesma forma. Se as necessidades de um homem pobre são uma razão pela qual ela não deve gastar o seu dinheiro à toa, certamente as necessidades dos pobres, a excelência da caridade, que é recebida como sendo feita ao próprio Cristo, é uma muito maior razão por que ninguém deve gastar o seu dinheiro com vaidades. Porque, se agir assim, desperdiça aquilo para o qual é procurado um uso mais nobre, e que o próprio Cristo está pronto para receber de suas mãos. Miranda usa vestes baratas, mas que traz sempre rigorosamente limpas e arrumadas. Tudo nela reflete a pureza de sua alma, e ela está sempre limpa, porque ela é sempre pura por dentro. Todas as manhãs são iniciadas com suas orações, ela se alegra no início de cada dia, porque começa todas as suas regras piedosas de uma vida santa, que lhe trazem o fresco prazer de repeti-las. Ela parece ser como um anjo da guarda para aqueles que habitam com ela, com suas vigílias e orações abençoa o local onde ela habita, e fazendo intercessão junto a Deus por aqueles que estão dormindo. Suas devoções têm tido alguns intervalos, e Deus ouviu várias de suas orações particulares, antes que a luz da manhã penetrasse o quarto de sua irmã. Miranda não sabe o que é ter um dia maçante, ao retornar de suas horas de oração, e seus exercícios religiosos.

Quando você a vê no trabalho, você vê a mesma sabedoria que governa todas as suas outras ações, ela ou está fazendo algo que é necessário para si, ou necessário para outros, que necessitam ser assistidos. É difícil encontrar uma família pobre no bairro, que não tenha recebido uma coisa ou outra do trabalho de suas mãos. Sua mente sábia e piedosa nem quer a diversão, nem pode suportar a loucura de trabalho ocioso e impertinente. Ela não pode admitir nenhuma loucura como esta durante o dia, porque ela deve responder por todas as suas ações durante a noite. Quando não há sabedoria para ser observada no emprego de suas mãos, quando não há nenhum trabalho útil ou de caridade para ser feito, Miranda não trabalhará mais. Em sua mesa, ela vive estritamente por esta regra da santa Escritura, quer comais, quer bebais, ou façais qualquer outra coisa, fazei tudo para a glória de Deus. Isso faz ela começar e terminar cada refeição, como ela começa e termina cada dia, com atos de devoção. As Sagradas Escrituras, especialmente do Novo Testamento, são a o seu estudo diário; estas ela lê com uma atenção vigilante, constantemente lançando um olhar sobre si mesma, e provando-se, por cada doutrina da Palavra. Quando ela tem o Novo Testamento em sua mão, ela se considera aos pés de nosso Salvador e seus apóstolos, e faz tudo o que ela aprende deles, faz as leis da sua vida. Ela recebe suas palavras sagradas com o máximo de atenção e reverência, como se ela visse as suas pessoas e sabendo que elas lhes vieram do céu, com o propósito de ensinar-lhe o caminho que conduz a ele. Ela pensa que examinar a si mesma todos os dias pela doutrinas da Escritura, é o único caminho possível para estar pronta para seu julgamento no último dia. Ela está, por vezes, temerosa em gastar muito dinheiro com a compra de livros, porque ela não vacila em comprar livros práticos, especialmente os que ensinam como entrar no coração mesmo da religião, e que descrevem a santidade interior da vida cristã. Mas de todos os escritos humanos, a vida de pessoas piedosas e de santos eminentes, são o seu maior prazer. Nestes ela procura como num tesouro escondido, na esperança de encontrar algum segredo de uma vida santa, algum grau incomum de piedade, que ela possa fazer sua própria. Por estes meios Miranda tem sua cabeça e seu coração abastecidos com todos os princípios de sabedoria e santidade, ela é tão cheia do assunto principal da vida, que ela acha difícil conversar sobre qualquer outro assunto, e se você está em sua companhia, quando ela acha adequado falar, você será feito melhor e mais sábio. Relacionar a sua caridade, seria descrever a história de cada dia durante vinte anos; por tanto tempo tem gasto todo o seu dinheiro dessa forma. Ela sustentou quase vinte comerciantes pobres que tinham falhado em seus negócios, e salvou a muitos da falência. Ela educou várias crianças pobres, que foram apanhadas nas ruas, e as colocou numa condição de trabalharem num emprego honesto. Assim que qualquer trabalhador fique confinado em casa por causa de doença, ela lhe envia, até que ele se recupere, o dobro do valor de seu salário, para que possa sustentar sua família, como de costume, e para fornecer as coisas convenientes para o tratamento da sua doença.

Não há nada no caráter de Miranda para ser mais admirado, que este temperamento. Porque esta ternura de afeto para com os pecadores mais necessitados, é a mais alta instância de uma alma santa e semelhante a Deus. Miranda nunca tem falta de compaixão, mesmo aos mendigos comuns; especialmente para aqueles que estão velhos ou doentes, ou cheios de feridas ou com falta de membros. Ela ouve suas queixas com ternura, dá-lhes uma prova de sua bondade, e nunca os rejeita com palavras duras, ou reprovação, por temer acrescentar aflição aos seus semelhantes. Pode ser, diz Miranda, que muitas vezes posso dar àqueles que não merecem, ou que vão fazer um mau uso das minhas esmolas. Mas o que fazer? Não é este o próprio método da bondade divina? Será que Deus não faz nascer o seu sol sobre maus e bons, justos e injustos? Não é este o bem que é recomendado a nós na Escritura, que, o imitando, possamos ser chamados filhos de nosso Pai que está nos céus, que faz chover sobre os justos e sobre os injustos? E hei de reter um pouco de dinheiro, ou comida, de meu semelhante, por temer que não seja bom o suficiente para recebê-lo de mim? Eu imploro a Deus para lidar comigo, de acordo com o meu mérito, senão segundo a sua própria grande bondade, e devo ser tão absurdo, a ponto de reter a minha caridade de um pobre irmão, porque ele não pode, talvez, merecer? Além disso, onde tem a Escritura feito do mérito a regra ou medida da caridade? Pelo contrário, a Escritura diz: Se teu inimigo tiver fome, dá-lhe de comer, se tiver sede, dá-lhe de beber. Talvez você diga que , desta forma incentivamos as pessoas a serem mendigos. Mas a mesma objeção impensada pode ser feita contra todos os tipos de instituições de caridade, por poderem incentivar as pessoas a dependerem delas. O mesmo pode ser dito contra o perdoar nossos inimigos, pois pode incentivar as pessoas a nos ferirem. O mesmo pode ser dito até mesmo contra a bondade de Deus, por derramar suas bênçãos sobre maus e bons, sobre justos e injustos, a serem encorajados em seus maus caminhos. O mesmo pode ser dito contra vestir o nu, ou administrar medicamentos aos doentes, para que não se encoraje as pessoas a serem negligentes e descuidadas com a sua saúde. Mas quando o amor de Deus habita em você, quando dilatou o seu coração, e o encheu com entranhas de misericórdia e compaixão, você não fará mais objeções como estas. Se, como nosso Salvador nos assegurou, é mais abençoado dar do que receber, devemos olhar para aqueles que pedem esmolas, como amigos e benfeitores, que nos vêm fazer um bem maior do que eles possam receber de nós, que vêm para exaltar nossa virtude, para ser testemunha da nossa caridade, para ser monumento de nosso amor, para ser nosso defensor junto a Deus, para nos colocar no lugar de Cristo, quando aparecer para nós no dia do julgamento, e para nos ajudar a uma bem-aventurança maior do que aquela que as nossas esmolas possam conceder a eles. Este é o espírito, e essa é a vida da devota Miranda; e se ela viver mais dez anos, ela terá gasto entre cinquenta e cem libras em caridade, pois o que ela permite a si mesma, pode razoavelmente ser contado entre suas esmolas.

Quando ela morrer, ela brilhará entre os apóstolos e santos, e mártires; ela estará entre os primeiros servos de Deus, e será gloriosa entre aqueles que lutaram o bom combate, e completaram a carreira com alegria.

Tradução e adaptação feitas pelo Pr Silvio Dutra, do oitavo capitulo do livro de William Law, em domínio público, intitulado Uma Chamada Séria a Uma Vida Santa e Devota. William Law, foi professor e mentor por vários anos de John e Charles Wesley, George Whitefield – principais atores do grande avivamento do século XVIII, que se espalhou por todo o mundo Henry Venn, Thomas Scott e Thomas Adam, entre outros, que foram profundamente afetados por sua vida consagrada a Deus, e sobretudo pelo conteúdo deste livro. Uma Chamada Séria a Uma Vida Santa e Devota – Cap XI William Law

Mostrando como uma grande devoção encherá nossas vidas com a maior paz e felicidade que podem ser desfrutadas neste mundo.

Algumas pessoas talvez objetem que todas essas regras de vida santa diante de Deus em tudo o que fazemos, são uma grande restrição sobre a vida humana; e que também produzirão um estado ansioso, por introduzirmos esta relação com Deus em todas as nossas ações. E que, por nos privar de tantos prazeres aparentemente inocentes, transformarão nossas vidas em algo sem graça, inquieto, e melancólico. A isso pode ser respondido: Em primeiro lugar, que estas regras são prescritas para uma finalidade muito contrária a isto. Que em vez de tornar as nossas vidas maçantes e melancólicas, elas vão torná-las cheias de conteúdo e fortes satisfações. Que por essas regras, somente trocamos os nossos contentamentos infantis de nossas paixões vãs e doentias, por alegrias sólidas, e verdadeira felicidade de uma mente sã. Em segundo lugar, que, assim como não há fundamento para o conforto nos prazeres da vida, mas na certeza de que um sábio e bom Deus governa o mundo, portanto, quanto mais descobrimos Deus em tudo, quanto mais nos aplicamos a ele em todos os lugares, mais nós olhamos para ele em todas as nossas ações, mais nos conformamos à sua vontade, mais agimos de acordo com a sua sabedoria, e imitamos a sua bondade, pois quanto mais podemos desfrutar de Deus, participamos da sua natureza divina, e aumentamos tudo o que é feliz e confortável na vida humana, porque acharemos na pessoa do próprio Deus o nosso consolo e alegria, que são imutáveis, porque Deus é imutável, diferentemente das alegrias mundanas. Em terceiro lugar, aquele que está se esforçando para dominar, e erradicar de sua mente todas aquelas paixões de orgulho, inveja e ambição, às quais a religião se opõe, está fazendo mais para se fazer feliz, mesmo nesta vida, do que aqueles que estão maquinando meios para saciá-los.

Porque essas paixões são as causas de todas as inquietações e vexações da vida humana: são os edemas e febres de nossas mentes, que nos vexam com falsos apetites, e inquietam com ânsias por coisas que não necessitamos, e estragam o nosso gosto pelas coisas que nos são adequadas. Imagine que você viu em algum lugar ou outro, um homem que propôs a razão como a regra de todas as suas ações, que não tinha desejos senão pelas coisas como a natureza da religião requer e aprova, que era tão puro de todos os impulsos de orgulho, inveja e cobiça, assim como de pensamentos mórbidos, que nesta liberdade das paixões mundanas, ele tinha uma alma cheia de amor divino, desejando e orando para que todos os homens possam ter atendidas as suas necessidades das coisas do mundo, e ser participantes da glória eterna na vida por vir. Imagine um homem que vive desta maneira, e sua própria consciência vai imediatamente lhe dizer que ele é o homem mais feliz no mundo, e que não está no poder da mais rica imaginação, inventar alguma felicidade maior no presente estado de vida. E, por outro lado, se você imaginar que ele seja em qualquer grau menos perfeito, se você supor que ele está se sujeitando a uma afeição tola ou paixão vã, sua própria consciência voltará a lhe dizer, que ele diminuiu sua própria felicidade, e se furtou da verdadeira alegria das suas demais virtudes. Tanto isto é verdade, que quanto mais vivemos pelas regras da religião, mais pacífica e feliz tornaremos nossas vidas. Ainda, assim como isto aparece, a verdadeira felicidade está apenas em ser obtida de maiores graus de piedade, de maiores negações de nossas paixões, e das regras mais rígidas da religião, de modo que a mesma verdade será vista em consideração à miséria humana, porque, se olharmos para o mundo, e visualizarmos as inquietações e angústias da vida do ser humano, veremos que todas elas são devido às nossas paixões violentas e irreligiosas. Agora todos os problemas e mal-estar se baseiam na falta de uma coisa ou outra; que nós, portanto, para conhecermos a verdadeira causa de nossos problemas e inquietações, precisamos descobrir a causa do nossa necessidade, porque o que cria e multiplica nossas necessidades, no mesmo grau cria e aumenta nossas preocupações e inquietações. O Deus Todo-Poderoso nos enviou ao mundo com muito poucas necessidades; comida, bebida, e vestuário, são as únicas coisas essenciais e necessárias para a manutenção da vida, e como estas são apenas as nossas necessidades atuais, assim o presente mundo está muito bem equipado para suprir essas necessidades. Mas se a tudo isto se acrescentar, que esta vida curta, assim provida com tudo o que necessitamos na mesma, é apenas uma curta passagem para a eterna glória, em que seremos vestidos com o brilho dos anjos, e entraremos no gozo de Deus, poderíamos ainda mais razoavelmente esperar, que a vida humana deve ser de um estado de paz, e alegria, e prazer em Deus. Assim, certamente seria, se a boa razão tivesse seu poder total sobre nós. Mas, infelizmente! se Deus, a natureza, e a razão, fazem portanto a vida humana, livre de necessidades, e tão cheia de felicidade, ainda assim nossas paixões, em rebelião contra Deus,

contra a natureza e a razão, criaram um novo mundo de males, e preencheram a vida humana com necessidades imaginárias, e inquietações vãs. O homem orgulhoso tem mil necessidades, que somente o seu próprio orgulho criou, e estas o tornam tão cheio de problemas, como se Deus lhe houvesse criado com mil apetites, sem criar tudo o que fosse apropriado para satisfazê-los. Inveja e ambição têm também as suas necessidades sem fim, que inquietam as almas dos homens, e por seus impulsos contraditórios, os tornam tão estupidamente miseráveis, como aqueles que querem voar e rastejar ao mesmo tempo. Se a humildade é a paz e descanso da alma, então ninguém tem tanta felicidade provinda da humildade, como aquele que é o mais humilde. Se a inveja excessiva é um tormento da alma, aquele que mais se livra deste tormento é o que mais perfeitamente extingue cada centelha de inveja. Se há alguma paz e alegria, em fazer qualquer ação de acordo com a vontade de Deus, aquele que traz a maior parte de suas ações para essa regra, mais do que todos aumenta a paz e a alegria de sua vida. E assim se dá em relação a todas as virtudes, se você agir de acordo com cada grau da mesma, mais felicidade você terá a partir dela. E assim, de cada vício, se você apenas diminuir seus excessos, você faz, senão pouco por si mesmo, mas se rejeitá-lo em todos os graus, então você sentirá a verdadeira leveza e alegria de uma mente reformada. Como por exemplo: se a religião somente restringe os excessos de vingança, mas permite que o espírito de vingança ainda viva dentro de você, na melhor das hipóteses, a sua religião pode ter feito a sua vida um pouco mais decente exteriormente, mas não o fez em tudo mais feliz. Mas se você tem uma vez sacrificado todos os pensamentos de vingança, em obediência a Deus, e está determinado em tornar o bem por todo o mal que tiver recebido, em todos os momentos, para poder se tornar mais semelhante a Deus, e para manifestar a sua misericórdia no reino de amor e glória, esta é uma elevada virtude, que fará você se sentir feliz. Em segundo lugar, essas satisfações e prazeres, que uma piedade exaltada requer de nós por negarmos a nós mesmos, não nos privam de nenhum conforto real da vida. Porque, primeiro, a Piedade não requer que renunciemos a qualquer modo de vida, onde podemos agir razoavelmente, e oferecer o que podemos fazer para a glória de Deus. Todos os modos de vida, todas as satisfações e prazeres, que estão dentro destes limites, não nos são de modo algum negados pelas regras mais rigorosas da piedade. Tudo o que você pode fazer ou desfrutar, como na presença de Deus, como seu servo, como sua criatura racional, que tem recebido razão e do conhecimento dele, tudo o que você pode realizar em conformidade com a natureza racional, e com a vontade de Deus, tudo isso é permitido pelas leis da piedade. E você acha que a sua vida vai ser desconfortável, a menos que você possa desagradar a Deus, sendo um tolo, e louco, e agindo de forma contrária à da razão e da sabedoria que ele implantou em você? E quanto àquelas satisfações, que não se atrevem a oferecer um Deus santo, que somente são inventadas pela loucura e corrupção do mundo, que inflamam as paixões, e afundam as nossas

almas em grosseria e sensualidade, e nos tornam incapazes do favor divino, seja aqui ou no futuro, certamente não pode ser nenhum estado desconfortável de vida que possa ser resgatado pela religião de tal suicida, e para ser tornado capaz da felicidade eterna. Se a religião proíbe todas as formas de vingança, sem qualquer exceção, é porque toda vingança é da natureza do veneno, e embora não tomemos tanto a ponto de por fim à vida, ainda se tomamos algum, ele corrompe todo o sangue, e faz com que seja difícil sermos restaurados à nossa saúde anterior. Se a religião ordena uma caridade universal, amar o nosso próximo como a nós mesmos, para perdoar e orar por todos os nossos inimigos sem qualquer reserva, é porque todos os graus de amor são graus de felicidade, que fortalecem e sustentam a vida divina da alma e são tão necessários à sua saúde e felicidade, como o alimento é apropriado e necessário para a saúde e felicidade do corpo. Se a religião tem leis contra ajuntar tesouros na terra, e nos ordena a nos contentarmos com alimento e vestuário, é porque cada outro uso do mundo, está abusando disto para nossa própria vexação, e para transformar todas as suas conveniências em laços e armadilhas para nos destruir. É porque esta clareza e simplicidade de vida, nos protege das preocupações e dores de orgulho inquieto e de inveja, nos torna mais mansos para manter a estrada em linha reta, que vai nos levar para a vida eterna. Se a religião nos chama a uma vida de vigilância e oração, é em razão de vivermos entre uma multidão de inimigos, e estamos sempre necessitados da ajuda de Deus. Se devemos confessar e lamentar nossos pecados, é porque tais confissões aliviam a mente e a restauram, como fardos e pesos que são retirados dos nossos ombros. Se devemos ser constantes e fervorosos em petições santas, é para nos manter constantes na visão de nosso verdadeiro bem, e que nunca possa faltar a alegria de uma fé viva, uma esperança de regozijo, e uma bem fundamentada confiança em Deus. Se a religião nos ordena a viver totalmente para Deus e para fazer tudo para a sua glória, é porque todos os outros modos de viver, estão totalmente contra nós mesmos, e terminarão em nossa própria vergonha e confusão de rosto. Como tudo é escuro se Deus não iluminar, como todas as coisas são sem sentido, quanto não têm sua parcela de conhecimento dele; como nada vive, senão participando da vida dele, como nada existe, senão porque ele ordena que seja, por isso, não há glória, ou grandeza, senão o que é para a glória ou grandeza de Deus.

Tradução e adaptação feitas pelo Pr Silvio Dutra, do décimo primeiro capitulo do livro de William Law, em domínio público, intitulado Uma Chamada Séria a Uma Vida Santa e Devota. William Law, foi professor e mentor por vários anos de John e Charles Wesley, George Whitefield – principais atores do grande avivamento do século XVIII, que se espalhou por todo o mundo - Henry Venn, Thomas Scott e Thomas Adam, entre outros, que foram

profundamente afetados por sua vida consagrada a Deus, e sobretudo pelo conteúdo deste livro. Uma Chamada Séria a Uma Vida Santa e Devota – Cap XIV William Law

Como devemos melhorar nossas formas de oração, e como aumentar o espírito de devoção.

Tendo mostrado nos capítulos anteriores, a necessidade de um espírito devoto, ou hábitos espirituais em todas as partes da nossa vida comum, no desempenho de todos os nossos negócios, no uso de todos os dons de Deus; vou considerar agora aquela parte da devoção, que se refere aos tempos de horas de oração . Eu tenho isto como algo garantido, que cada cristão, que é saudável, se levanta cedo pela manhã, porque é mais do que razoável supor que se levante cedo, porque ele é um cristão, tanto quanto se ele é um trabalhador ou um comerciante, ou que tenha outros negócios aguardando por ele. Nós, naturalmente, temos alguma aversão a um homem que está na cama, quando ele deveria estar no seu trabalho, ou em seu negócio. Nós não podemos pensar nada de bom dele, que é como um escravo da sonolência, assim como negligencia seus deveres por causa disso. Isto portanto, nos ensina quão odiosos devemos parecer aos olhos do céu, se estamos na cama, calados nas trevas do sono, quando deveríamos estar louvando a Deus; e somos não apenas escravos do sono, como negligenciamos nossas devoções a ele. Porque, se deve ser responsabilizado como um preguiçoso, aquele que escolhe a indulgência do sono, e deixa de realizar a sua parte adequadamente nos negócios do mundo, quanto mais aquele que permanece em sua cama, e que não eleva o seu coração a Deus em atos de louvor e adoração? A oração é a maior forma de aproximação a Deus, e o modo de ter o maior desfrute dele, que somos capazes de ter nesta vida. Ela é o exercício mais nobre da alma, o uso mais exaltado de nossas melhores faculdades, e a máxima imitação dos bem-aventurados habitantes do céu. Quando nossos corações estão cheios de Deus, enviando santos desejos para o trono da graça, então estamos em nosso estado mais elevado, estamos na maior altura da grandeza humana, não estamos diante de reis e príncipes, mas na presença e audiência do Senhor de todo o mundo, e não pode haver mais alto privilégio e honra, até que a morte seja tragada em glória. Por outro lado, o sono é o mais pobre, o mais maçante refrigério do corpo, que está muito longe de ser concebido como um prazer, porque somos forçados a recebê-lo.

O sono indolente é um estado tão estúpido da existência, que, mesmo entre os animais, nós desprezamos aqueles que são mais sonolentos e indolentes. Aquele, portanto, que escolhe, ampliar a indulgência indolente do sono, ao invés de levantar cedo, para as suas devoções a Deus, opta pelo refrigério mais maçante do corpo, antes do mais elevado, mais nobre emprego da alma. Talvez você dirá, que embora você se levante tarde, todavia é sempre cuidadoso com suas devoções quando está acordado. Pode ser assim. Mas o que dizer então? É um bom ato acordar tarde, porque você ora, quando se levanta da cama? É perdoável desperdiçar grande parte do dia na cama, pois algum tempo depois fará suas orações? É tanto o seu dever se levantar para orar, como orar quando você está acordado. E se você está atrasado em suas orações, você tem para oferecer a Deus as orações de um adorador preguiçoso e ocioso, que sobem como orações, assim como servos ociosos se levantam para executar o seu trabalho. Além disso, se você gosta de ser cuidadoso em suas devoções, quando está acordado, apesar de ser o seu costume se levantar tarde, você engana a si mesmo, porque não pode executar as suas devoções como deveria . Porque aquele que não pode negar a si mesmo esta indulgência sonolenta, senão passar boa parte da manhã na mesma, não está mais preparado para a oração quando está acordado, do que está preparado para qualquer outra auto-negação. Porque dormir assim indolentemente, transmite uma ociosidade a todos os nossos comportamentos, e nos torna incapazes de apreciar qualquer coisa, senão aquilo que se adapte a tal estado de mente, e que gratifique nossos gostos naturais, como faz o sono. Ora, aquele que transforma o sono em uma indulgência ociosa, faz tanto para corromper e desordenar a sua alma, para torná-la uma escrava dos apetites do corpo, e mantê-la incapaz de toda devoção de um comportamento santo, assim como aquele que transforma as necessidades de alimentação, num curso de indulgência. Uma pessoa que come e bebe muito, não sente os efeitos disto, como aqueles que vivem em casos notórios de gula e intemperança, mas ainda o seu curso de indulgência, embora não seja escandaloso aos olhos do mundo, nem atormente sua própria consciência, é um grande e constante obstáculo para sua melhoria em virtude, porque isto lhe dá olhos que não veem, e ouvidos que não ouvem, que cria uma sensualidade na alma, aumenta o poder das paixões corporais, e lhe torna incapaz de alcançar o verdadeiro espírito da religião cristã. Agora este é o caso daqueles que perdem o seu tempo durante o sono; isto não desordena suas vidas, ou fere suas consciências, como os atos notórios de intemperança, mas como qualquer outro curso imoderado de indulgência, silenciosamente, e por graus menores, desgasta o espírito da religião, e afunda a alma num estado de dolência e sensualidade. Se você considerar a devoção apenas como um certo momento de oração, você talvez a cumpra, apesar de viver neste indulgência diária: Mas se você considerá-la como um estado do coração, como um vivo fervor da alma, que é profundamente afetada com um senso de sua

própria miséria e fraquezas, e sua necessidade do Espírito de Deus, mais do que todas as coisas do mundo, você vai achar que o espírito de indulgência, e o espírito de oração, não podem subsistir juntos. Uma mortificação de todos os tipos, é a própria vida e alma da piedade, mas aquele que não tem o menor grau disto, de modo que não começa desde cedo suas orações, não pode ter nenhuma razão para pensar que ele tomou a sua cruz , e que está seguindo a Cristo. Se o nosso bendito Senhor costumava orar antes de iniciar o dia, se ele passou noites inteiras em oração, se a devotada Ana estava dia e noite no templo, se Paulo e Silas, à meia-noite, cantaram louvores a Deus, se os cristãos primitivos, por vários anos, além de suas horas de oração ao meio-dia, se reuniam publicamente nas Igrejas à meia-noite, para se juntarem nos Salmos e Orações, não é certo que estas práticas mostram qual era o estado do seu coração? Não são provas claras da completa mudança de suas mentes? E se você vive em um estado contrário, perdendo grande parte de cada dia com o sono, pensando muito pouco sobre as orações; não é igualmente certo, que esta prática tanto mostra o estado de seu coração, e a inclinação de sua mente? De modo que , se esta indulgência é o seu modo de vida, você tem muita razão para acreditarse destituído do verdadeiro espírito de devoção, como você crê que os apóstolos e santos da Igreja Primitiva eram verdadeiramente devotos. Porque, assim como o seu modo de vida foi uma demonstração da devoção deles, de igual modo, um caminho contrário de vida, é uma forte prova de falta de devoção. Quando você lê as Escrituras, você vê uma religião que é toda vida e espírito, e de alegria em Deus, que supõe a nossa alma subindo acima dos desejos terrenos, e das indulgências corporais, para se preparar para outro corpo, um outro mundo, e outros prazeres. Mas quem pode ter pensado ter essa alegria em Deus, esta aspiração pela eternidade, esse espírito vigilante, se não tiver zelo suficiente para se levantar para as suas orações? A primeira coisa que você deve fazer, quando você estiver sobre os seus joelhos, é fechar os olhos e, com um breve silêncio deixe a sua alma se colocar na presença de Deus, ou seja, você deve usar isso, ou algum outro método melhor, para se separar de todos os pensamentos comuns, e fazer seu coração tão sensível quanto você possa da presença divina. Agora, se esse recolhimento em espírito é necessário, quem pode dizer que não é? então, quão pobremente devem realizar suas devoções, aqueles que estão sempre com pressa? Para continuar, se você pudesse usar (tanto quanto possível) sempre o mesmo lugar para orar, se você pudesse reservar esse lugar para a devoção, este tipo de consagração do mesmo, como um lugar de devoção, teria um efeito em sua mente , e lhe disporia a estar animado para a sua devoção. Porque ter um lugar assim, sagrado em seu quarto, faria com que estivesse sempre no espírito da religião, quando lá estivesse, e lhe encheria com pensamentos sábios e santos. O seu próprio quarto elevaria em sua mente, tais sentimentos que você temeria pensar ou fazer qualquer coisa que fosse tola nesse lugar, que é o lugar de oração, e santificado para Deus.

Quando você começar suas petições, use várias expressões dos atributos de Deus, que podem fazê-lo mais sensível da grandeza e poder da natureza divina. Embora, a oração não consista em belas palavras, ou expressões estudadas, ainda assim as palavras falam à alma, como elas têm um certo poder de elevar os pensamentos na alma, por isso, aquelas palavras que falam de Deus da maneira mais elevada, e que mais plenamente expressam o poder e a presença de Deus, e que elevam pensamentos na alma mais adequados à grandeza e providência de Deus, são as mais úteis e mais edificantes em nossas orações. Quando você dirigir qualquer uma de suas petições para o nosso bendito Senhor, poderá usar algumas expressões deste tipo: Oh Salvador do mundo, Luz da luz, tu que és o brilho da Glória do Pai, e a expressa imagem da sua Pessoa; tu que és o Alfa e o Ômega, o Princípio e Fim de todas as coisas, tu que tens destruído o poder do diabo, e que tens vencido a morte, tu que és celebrado no Santo dos Santos, que estás à mão direita do Pai, que a estás acima de todos os tronos e principados, que intercede por todo o mundo, tu que és o juiz dos vivos e dos mortos, tu que virás depressa na tua Glória para recompensar todos os homens segundo as suas obras, seja tu a minha luz e a minha paz. Porque essas expressões, que descrevem tantos caracteres do nosso Salvador, sua natureza e poder não são apenas os próprios atos de adoração, mas, se forem repetidas com alguma atenção, encherão os nossos corações com os mais altos fervores da verdadeira devoção . Ainda, se você pedir alguma graça especial de nosso bendito Senhor, que seja de alguma maneira como esta: Oh santo Jesus, Filho do Deus Altíssimo, tu que foste açoitado, pendurado e pregado numa cruz, pelos pecados do mundo, una-me à tua cruz, e enche a minha alma com o teu santo, humilde e sofredor espírito. Oh Fonte de misericórdia, tu que salvaste o ladrão na cruz, salvame da culpa de uma vida pecaminosa, tu que expulsaste sete demônios de Maria Madalena, expulsa do meu coração todos os maus pensamentos, e comportamentos maus . Oh Doador da vida, tu que ressuscitaste Lázaro de entre os mortos, levanta a minha alma da morte e da escuridão do pecado. Tu que deste a tua força aos apóstolos sobre os espíritos imundos, dáme poder sobre meu próprio coração. Tu que apareceste a teus discípulos, quando as portas se fecharam, apareça no aposento secreto do meu coração. Tu que limpaste os leprosos, curaste os doentes, e deste vista aos cegos, limpa meu coração, cura as doenças da minha alma, e encha-me com a luz celestial. Agora esses tipos de apelos têm uma dupla vantagem: primeiro, como eles são muito apropriadamente atos de nossa fé, pelos quais não somente mostramos a nossa crença nos milagres de Cristo, como também os transformamos ao mesmo tempo em muitas instâncias de culto e adoração. Em segundo lugar, como eles fortalecem e aumentam a fé de nossas orações, ao apresentarem à nossa mente tantos casos daquele poder e bondade, que apelamos para a nossa própria assistência.

Porque o que apela a Cristo, como quem tem o poder de expulsar demônios, e ressuscitar os mortos, então tem um motivo poderoso em sua mente para orar sinceramente, e depender fielmente da sua assistência. Mais uma vez, a fim de encher as suas orações com excelentes meios de devoção, pode ser de utilidade que você observe mais esta regra: Quando, em qualquer momento, quer na leitura da Escritura, ou de qualquer livro de Piedade, você se encontra com uma passagem, que mais do que o normal afeta a sua mente, e parece como se fosse dar ao seu coração um novo impulso em direção a Deus, você deve tentar transformá-lo numa forma de petição e, então, dar-lhe um lugar em suas orações. Por este meio você poderá, muitas vezes, melhorar suas orações e se equipar com formas apropriadas, para fazer os desejos do seu coração conhecidos diante de Deus. Em todas as horas determinadas de oração, será de grande benefício para você, ter algo fixo, e algo em liberdade, nas suas devoções. Você deve ter algum tema fixo, que deve ser constantemente o principal motivo de sua oração naquele momento em particular, e ainda ter liberdade para adicionar outras petições, como a sua condição pode então exigir. Por exemplo, como a parte da manhã é para você como o início de uma nova vida; assim como Deus então, lhe deu um novo regozijo em si mesmo, e uma renovada entrada para o mundo, é altamente adequado, que suas primeiras devoções sejam um louvor e ação de graças a Deus, por esta nova criação, e que você deve oferecer e dedicar corpo e alma, tudo o que você é, e tudo o que você tem, a seu serviço e glória. Receba, portanto, todos os dias, como uma ressurreição da morte, como uma nova apreciação da vida; receba cada sol nascente com tais sentimentos da bondade de Deus. Deixe, portanto, que o louvor e ação de graças, e a oferta de si mesmo para Deus, sejam sempre o assunto fixo e certo de sua primeira oração pela manhã, e então tome a liberdade de adicionar as outras devoções, como a diferença acidental de sua condição ou de seu coração, e tudo o mais que seja mais necessário e conveniente para você. Porque um dos maiores benefícios de devoção privada, consiste na adaptação de nossas orações a essas duas condições, relativas à diferença de nosso estado, e à diferença dos nossos corações. Por diferença do nosso estado, me refiro às mudanças de nossas condições externas, como doença, saúde, dores, perdas, decepções, problemas, misericórdias ou juízos de Deus, todos os tipos de bondades, lesões ou reprovações de outras pessoas. Agora, como estes são grandes partes do nosso estado de vida, como eles fazem grande diferença nele, mudando continuamente, por isso a nossa devoção será feita duplamente benéfica para nós, quando se destina a receber e santificar todas essas mudanças do nosso estado, e transformá-los numa aplicação mais especial a Deus.

A próxima condição, para a qual devemos sempre adaptar algumas partes de nossas orações, é a diferença de nossos corações; em relação ao amor, alegria, paz, tranquilidade; doçura e aridez de espírito, ansiedade, descontentamento, inveja, ambição, tristeza e pensamentos desconsoladores, ressentimentos, e toda sorte de sentimentos e disposições impertinentes. Agora, como esses comportamentos, em razão da fraqueza de nossa natureza, terão sua sucessão mais ou menos, mesmo nas mentes piedosas, deste modo devemos fazer constantemente o estado atual do nosso coração, o motivo de alguma petição específica para Deus. Se estamos na calma prazerosa de doces e suaves sentimentos de amor e alegria em Deus, devemos, então, oferecer o tributo de ações de graça, pela posse de tanta felicidade, agradecendo e lhe reconhecendo como sendo o Doador de tudo isto. Se, por outro lado, nos sentimos sobrecarregados e oprimidos, com ansiedade de espírito e mal-estar, devemos então olhar para Deus em atos de humildade, confessando nossa indignidade, contando os nossos problemas a ele, rogando-lhe para diminuir o peso das nossas fraquezas, e para livrar-nos de tais sentimentos que se opõem à pureza e à perfeição de nossas almas. Agora, por observarmos isto, e atendermos ao estado atual de nossos corações, e adequando algumas de nossas petições exatamente à sua necessidade, devemos não somente estar bem familiarizados com os distúrbios de nossas almas, mas também ser bem exercitados no método de curá-los. Embora o espírito de devoção seja dom de Deus, e não atingível por qualquer mero poder propriamente nosso, todavia é principalmente dado e nunca retido, para aqueles que por um uso sábio e diligente uso de meios adequados, se preparam para a recepção do mesmo. E é incrível ver, quão ansiosamente os homens empregam a sua sagacidade, tempo, estudo, aplicação e exercício; quando alguma coisa se destina a atender suas intenções e desejos em assuntos mundanos, e quão negligentemente e tão pouco eles usam sua sagacidade e habilidades, para elevar e aumentar a sua devoção! Para corrigir esse comportamento, e encher um homem com um espírito bastante contrário a isto, não parece haver nada mais necessário, do que a nua fé da verdade do cristianismo. Para concluir este capítulo, Devoção nada mais é do que certas apreensões e afeições corretas para com Deus. Todas as práticas, portanto, que aumentam e melhoram as nossas verdadeiras apreensões de Deus, todas as formas de vida que tendem a nutrir, levantar, e corrigir nossas afeições sobre ele, devem ser contadas como meios de ajuda para nos encher de devoção. Como a oração é o combustível adequado desta chama sagrada, por isso devemos usar todo o nosso cuidado e artifício para dar à oração todo o seu poder, como por esmolas, abnegação, retiros, e as leituras sagradas, e observando horas de oração; mudando, improvisando, e adequando nossas devoções à condição de nossa vida, e ao estado dos nossos corações.

Aqueles que têm mais tempo livre, parecem ser mais especialmente chamados a uma observância mais eminente dessas regras sagradas de uma vida devota. E aqueles que pela necessidade de seu estado, e não através de sua própria escolha, que têm pouco tempo para empregar na devoção, devem fazer por esta razão, o melhor uso do pouco que têm. Pois este é o caminho certo de fazer a devoção produzir uma vida devota.

Tradução e adaptação feitas pelo Pr Silvio Dutra, do décimo quinto capitulo do livro de William Law, em domínio público, intitulado Uma Chamada Séria a Uma Vida Santa e Devota. William Law, foi professor e mentor por vários anos de John e Charles Wesley, George Whitefield – principais atores do grande avivamento do século XVIII, que se espalhou por todo o mundo Henry Venn, Thomas Scott e Thomas Adam, entre outros, que foram profundamente afetados por sua vida consagrada a Deus, e sobretudo pelo conteúdo deste livro. Os Benefícios da Oração de Intercessão William Law

Uma Chamada Séria a Uma Vida Santa e Devota – Cap XXI

A necessidade e benefício da intercessão, considerada como um exercício de amor universal. Como todas as categorias de homens devem orar e interceder junto a Deus uns pelos outros. Como tal intercessão pacifica e reforma os corações daqueles que a utilizam. Que a intercessão é uma grande e necessária parte da devoção cristã, está muito evidente nas Escrituras. Os primeiros seguidores de Cristo, parecem ter se suportado em amor, e mantido todas as suas relações e correspondência, através de orações mútuas. Paulo, seja escrevendo para as igrejas, ou a pessoas em particular, mostra sua intercessão permanente por eles, que era o assunto constante de suas orações. Assim, disse aos Filipenses: “Dou graças ao meu Deus por tudo que recordo de vós, fazendo sempre, com alegria, súplicas por todos vós, em todas as minhas orações,”, Fp 1.3,4. Aqui vemos, não somente uma contínua intercessão, mas executada com muita alegria, como também mostra que era um exercício de amor, no qual ele se regozijava altamente. Sua devoção teve também o mesmo cuidado por pessoas em particular; como aparece na seguinte passagem: “Dou graças a Deus, a quem, desde os meus antepassados, sirvo com consciência pura, porque, sem cessar, me lembro de ti nas minhas orações, noite e dia.”, II Tim 1.3.

Quão santo e amigável foi isso, como digno de pessoas que foram elevadas acima do mundo, e relacionadas entre si, como novos membros de um reino do Céu! Apóstolos e grandes santos não somente beneficiam e abençoam igrejas particulares e pessoas privadas, mas eles mesmos também recebem graças de Deus pelas orações dos outros. Assim diz Paulo aos Coríntios: “ajudando-nos também vós, com as vossas orações a nosso favor, para que, por muitos, sejam dadas graças a nosso respeito, pelo benefício que nos foi concedido por meio de muitos.”, II Cor 1.11. Esta foi a antiga amizade dos cristãos, unindo e cimentando os seus corações, não por considerações mundanas, ou humanas paixões, mas pela comunicação mútua de bênçãos espirituais, por orações e ações de graças a Deus. Foi essa intercessão santa, que levantou os cristãos a tal estado de amor mútuo, que excedeu tudo o que havia sido elogiado e admirado na amizade humana. E quando o mesmo espírito de intercessão estiver mais uma vez no mundo, quando o cristianismo tiver o mesmo poder sobre os corações das pessoas, então isto que tinha sido antes, estará novamente na moda, e os cristãos serão novamente a maravilha do mundo, por causa daquele excelente amor que possuírem mutuamente. Porque uma intercessão frequente a Deus, rogando-lhe com sinceridade para perdoar os pecados de toda a humanidade, para abençoá-los com a sua providência, iluminá-los com o seu Espírito, e trazê-los para sempre à felicidade duradoura, é o exercício mais divino em que o coração do homem possa estar engajado. Esteja portanto, diariamente, de joelhos, numa solene, e determinada execução desta devoção, orando pelos outros com a importunação e sinceridade que você usa para si mesmo; e encontrará todas as pequenas paixões e fraquezas naturais morrerem, o seu coração crescer grande e generoso, deleitando-se com a felicidade comum dos outros, assim como você usava apenas para deleitar a si mesmo. Porque aquele que ora diariamente a Deus, para que todos os homens possam ser felizes no céu, toma o caminho mais deleitável para fazê-lo desejar, e procurar sua felicidade na terra. E é quase impossível para você, implorar e rogar a Deus para fazer qualquer um feliz nos mais elevados deleites da sua glória por toda a eternidade, e ainda assim estar preocupado para vêlo desfrutar os menores dons de Deus, neste curto e baixo estado de vida humana. Quando, portanto, uma vez que você tenha habituado o seu coração para um sincero desempenho desta intercessão santa, você tem feito uma grande coisa, para torná-lo incapaz de rancor e inveja, e para fazer com que se deleite com a felicidade de toda a humanidade. Este é o efeito natural de uma intercessão geral por todos os tipos de homens. Apesar de estarmos tratando toda a humanidade, como vizinhos e irmãos, como qualquer ocasião oferece, ainda, já que somente podemos viver na real companhia de poucos, e somos em nosso estado e condição mais particularmente relacionados com uns do que com outros, por isso quando nossa intercessão é feita um exercício de amor para aqueles entre os quais a nossa sorte está caída, ou que pertencem a nós numa relação mais próxima, isto então traz o

maior benefício para nós mesmos, e produz seus melhores efeitos em nossos próprios corações. Se, portanto, você deve sempre mudar e alterar as suas intercessões, de acordo como as necessidades que seus conhecidos pareçam exigir; rogando a Deus para livrá-los de tais e tais males particulares, ou para lhes conceder este ou aquele dom especial, ou bênção, tais intercessões, além da grande caridade delas, teriam um efeito poderoso sobre o seu próprio coração. Seria mais agradável para você, ser cortês e condescendente com tudo o que se refira a você, e que não seja capaz de dizer ou fazer uma coisa rude, ou difícil para aqueles que têm sido o motivo de suas compassivas intercessões. Pois não há nada que nos faça amar mais uma pessoa do que orar por ela. Isto irá encher o seu coração com uma generosidade e ternura, que lhe darão um melhor e mais doce comportamento, do que qualquer coisa que se chama de bons modos. Ao considerar a si mesmo como um advogado junto a Deus, pelos seus vizinhos e conhecidos, nunca iria achar difícil estar em paz com eles. Seria fácil suportar e perdoar aqueles para os quais você implorou por misericórdia e perdão divinos. Tais orações como estas, entre vizinhos e conhecidos, iria uni-los uns aos outros pelos laços mais fortes de amor e ternura. Seria exaltar e enobrecer suas almas, e ensinar-lhes a se considerarem mutuamente num estado mais elevado, como membros de uma sociedade espiritual, daqueles que são criados para o gozo comum da bênçãos de Deus e que são coherdeiros da mesma glória futura. Se um pai estivesse fazendo diariamente orações a Deus, para que ele inspirasse seus filhos à verdadeira piedade, grande humildade e estrita temperança, o que poderia ser mais propenso a se fazer senão o próprio pai se tornar exemplar nessas virtudes? Quão envergonhado ele seria caso lhe faltasse essas virtudes, que ele considerava necessárias para os seus filhos? Assim que suas orações pela sua piedade, seria um certo meio de exaltar a elevação da sua própria devoção. Quão religiosamente um pai deveria conversar com seus filhos, a quem considerasse como seu pequeno rebanho espiritual, cujas virtudes ele formaria com o seu exemplo, incentivado por sua autoridade, nutrido seu conselho, e levado a prosperar por suas orações a Deus por eles? Quão temeroso ele estaria de todas as maneiras gananciosas e injustas de aumentarem o seu dinheiro, de se tornarem muito apreciadores do mundo, para que isto não os tornasse incapazes de receber as graças, que ele tão frequentemente rogava a Deus para concederlhes? Sendo estes os efeitos simples, felizes, desta intercessão, todos os pais, espero, que almejam o verdadeiro bem-estar de seus filhos no coração, que desejam ser seus verdadeiros amigos e benfeitores, e viverem entre eles no espírito de sabedoria e de piedade, não deveriam

negligenciar um meio, tanto de elevar a sua própria virtude, e para fazer um bem eterno àqueles amados que estão tão perto deles, pelos laços mais fortes da natureza. Este seria um triunfo sobre si mesmo, seria humilhar reduzir o seu coração à obediência e ordem, que o próprio diabo temeria tentá-lo novamente da mesma maneira, quando visse que a tentação se transformou em tão grande forma de mudar e reformar o estado do seu coração. E ainda, se em qualquer pequena diferença, ou mal-entendidos que você tenha tido com um parente ou vizinho, ou qualquer outra pessoa, então você deve orar por eles de uma forma mais específica, do que a forma comum, rogando a Deus que lhes dê toda a graça e bênção, e a felicidade que puder ser imaginada, e assim teria tomado a via mais rápida para reconciliar todas as diferenças e esclarecer toda incompreensão. Este seria o grande poder da intercessão cristã; em remover todas as paixões impertinentes, amolecer o seu coração para uma maior longanimidade, e para melhor julgar todas as diferenças que acontecerem entre você e qualquer um dos seus conhecidos. Os maiores ressentimentos entre amigos e vizinhos, na maioria das vezes surgem de pequenos erros, o que é um certo sinal de que sua amizade é meramente humana, não fundada em considerações religiosas, ou apoiada por tais orações mútuas, como os primeiros cristãos faziam. Porque tal devoção deve necessariamente destruir tais contendas, ou ser destruída por elas. Você não pode ter qualquer mau humor, ou mostrar qualquer comportamento indelicado para com uma pessoa pela qual você tem intercedido como seu advogado para com Deus.

Tradução, redução e adaptação feitas pelo Pr Silvio Dutra, do vigésimo primeiro capítulo do livro de William Law, em domínio público, intitulado Uma Chamada Séria a Uma Vida Santa e Devota. William Law, foi professor e mentor por vários anos de John e Charles Wesley, George Whitefield – principais atores do grande avivamento do século XVIII, que se espalhou por todo o mundo - Henry Venn, Thomas Scott e Thomas Adam, entre outros, que foram profundamente afetados por sua vida consagrada a Deus, e sobretudo pelo conteúdo deste livro Perigo do Chamado “Mundo Cristão” William Law

Uma Chamada Séria a Uma Vida Santa e Devota – Cap XVII

Quão difícil é a prática da humildade pelo mundo. Todavia o cristianismo requer que vivamos ao contrário do mundo.

Cada pessoa, quando se aplica ao exercício desta virtude da humildade, deve se considerar como um aprendiz, como fosse aprender algo que é contrário aos antigos hábitos e disposições da mente, o que somente pode ser obtido através de prática diária e constante. Isto não tem tanto a ver como aquele que tem que aprender alguma nova arte ou ciência, senão que tem muito também para desaprender, porque deve esquecer e deixar de lado o seu próprio ego, que tem tido por longo tempo formado a si mesmo, e também se esquecer e se afastar da abundância de paixões e opiniões, da moda em voga, e o espírito do mundo, que se fizeram naturais para ele. Ele deve deixar de lado o seu próprio ego, porque, como nós nascemos em pecado, por isso, o orgulho, que é tão natural para nós como o amor-próprio desmedido, e que continuamente brota do mesmo. E esta é a razão, porque o cristianismo é muitas vezes representado como um novo nascimento, e um novo espírito. Ele deve deixar de lado as opiniões e as paixões que tem recebido do mundo, porque a moda do mundo, pela qual temos sido conduzidos, como numa torrente, antes que pudéssemos fazer julgamentos corretos sobre o valor das coisas, é, em muitos aspectos, contrária à humildade; e assim precisamos desaprender o que o espírito do mundo nos ensinou, antes que possamos estar sujeitos ao espírito de humildade. O diabo é chamado nas Escrituras de o príncipe deste mundo, seja porque ele tem um grande poder no mesmo, ou porque muitas das suas regras e princípios são inventados por este espírito maligno, o pai de todos os enganos e mentiras, que nos separa de Deus, ou nosso retorno à felicidade. Agora de acordo com o espírito e moda deste mundo, cujo ar corrupto todos nós temos que respirar, há muitas coisas que se passam por grandes e honoráveis, e muito desejáveis, que estão muito longe de serem assim, que a verdadeira grandeza e honra de nossa natureza consiste em não desejá-las. Ter riquezas, belas casas, e roupas finas, ser belo fisicamente, ter títulos honoríficos, estar acima de nossos semelhantes, comandar e ser reverenciado por outras pessoas, ser olhado com admiração, superar nossos inimigos com poder, para subjugar todos os que se opõem a nós, e viver muito para comer e beber, e se deliciar na forma mais onerosa , estas são as grandes e desejáveis coisas para as quais o espírito do mundo atrai os olhos de todas as pessoas. E muitos homens têm medo de ficar parados, e não se engajarem na busca destas coisas, a menos que o próprio mundo lhes prive das mesmas. A história do Evangelho, é principalmente a história de Cristo e a sua vitória sobre este espírito do mundo. E os verdadeiros cristãos são apenas aqueles que, seguindo o Espírito de Cristo, têm vivido de modo contrário a este espírito do mundo. “Se alguém não tem o Espírito de Cristo, esse tal não é dele”, diz o apóstolo Paulo em Rom 8.9, e o apóstolo João em I Jo 5.4: “Todo aquele que é nascido de Deus, vence o mundo.” “Coloque suas afeições nas coisas do alto, e não nas que são da terra; porque morrestes, e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus.”, Col 3.2.

Esta é a linguagem de todo o Novo Testamento. Esta é a marca do Cristianismo, você deve estar morto , ou seja, morto para o ego e para as inclinações do mundo, e viver uma nova vida no Espírito de Jesus Cristo. Mas, não obstante a clareza e simplicidade destas doutrinas que nos ordenam renunciar ao mundo, todavia grande parte dos cristãos vivem e morrem como escravos dos costumes e disposições do mundo. Quantas pessoas estão inchadas com orgulho e vaidade, por essas coisas das quais não sabem qual é o valor afinal, mas que são admiradas no mundo? Quantas pessoas temem ter suas casas mal mobiliadas, ou a si mesmas mesquinhamente vestidas, por esta única razão: para que o mundo não as tenha como pessoas de baixa ou média condição? Quão frequentemente um homem tem cedido à arrogância e à má índole de outros, e mostrado um temperamento dócil, mas que não se atreveria a passar por um homem pobre de espírito, na opinião do mundo? Quantos homens, muitas vezes esquecem um ressentimento e perdoam uma afronta, mas que são temerosos que o mundo não lhe perdoasse? Quantos não praticariam a temperança e a sobriedade cristã em sua máxima perfeição, se não fosse a censura que o mundo passa em cima de uma vida assim? Outros têm intenções frequentes de viverem de acordo com as regras da perfeição cristã, mas ficam preocupados com a forma pela qual o mundo possa considerá-los. Assim, fazemos com que as impressões que temos recebido do mundo escravizem nossas mentes, e não ousamos tentar ser eminentes aos olhos de Deus, e dos santos anjos, por medo de sermos pouco estimados pelos olhos do mundo. A partir disto, surge a maior dificuldade da humildade, porque não pode subsistir em qualquer mente, caso não esteja morta para o mundo, e para todos os desejos de desfrutar de sua grandeza e honras. De modo que, a fim de ser verdadeiramente humilde, você deve desaprender todas essas noções, que tem aprendido por toda a sua vida desse espírito corrupto do mundo. Você não pode fazer qualquer oposição contra os assaltos de orgulho; e os ternos afetos de humildade não podem ter lugar na sua alma, até que você interrompa o poder do mundo sobre você, e resolva não dar uma obediência cega às suas leis. E uma vez que tiver feito progresso nisto, e que seja capaz de se levantar no meio da torrente das atrações e opiniões do mundo, e, examinar o mundo e o valor das coisas que são mais admiradas e valorizadas no mundo, você terá dado um grande passo para alcançar a sua liberdade, e ter uma boa base para a mudança do seu coração. Porque o poder do mundo é grande por ser construído em cima de uma obediência cega, e precisamos apenas abrir os nossos olhos, para nos livrarmos do seu poder.

Devemos considerar o comportamento que a profissão do Cristianismo requer de nós, no que diz respeito ao mundo. Isto está claramente revelado nas seguintes passagens bíblicas: “o qual se entregou a si mesmo pelos nossos pecados, para nos desarraigar deste mundo perverso, segundo a vontade de nosso Deus e Pai,”, Gál 1.4. “Eles procedem do mundo; por essa razão, falam da parte do mundo, e o mundo os ouve.”, I Jo 4.5. “Sabemos que somos de Deus e que o mundo inteiro jaz no Maligno.”, I Jo 5.19. “Eles não são do mundo, como também eu não sou.”, João 17.16. A grande vitória que os cristãos têm sobre o mundo está contida no mistério de Cristo na Cruz. Ele esteve lá, e dali, ele ensinou todos os cristãos como eles deveriam vencer o mundo, e tudo o que há no Evangelho é apenas a explicação, significado e aplicação deste grande mistério. E o estado do cristianismo implica nada mais, senão uma inteira conformidade absoluta a esse espírito, que Cristo mostrou no misterioso sacrifício de si mesmo na cruz. Cada homem é, portanto, um cristão, somente quando ele participa desse espírito de Cristo. Foi isso que fez Paulo apaixonadamente se expressar dizendo que Deus não permitisse que se gloriasse, senão na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo. Mas por que ele se gloriaria? Será porque Cristo sofreu em seu lugar, e lhe isentou do sofrimento? Não, de maneira nenhuma. Mas porque a sua profissão da fé cristã lhe havia chamado para a honra de sofrer com Cristo, e de morrer para o mundo sob censura e desprezo, como Ele havia feito na cruz. Porque ele imediatamente acrescenta, se referindo à cruz: “pela qual o mundo está crucificado para mim, e eu para o mundo.” Este, como você vê, foi o motivo de se gloriar na cruz de Cristo, porque ele lhe havia chamado para um estado como de morte e de crucificação para o mundo. A necessidade de tal conformidade a tudo o que Cristo fez, e sofreu em nosso lugar, é muito simples de entender segundo todo o teor da Escritura. Primeiro, quanto aos seus sofrimentos, esta é a única condição de evidenciar nossa salvação por meio deles - se sofremos com Ele, também reinaremos com Ele. Em segundo lugar, quanto à sua crucificação: “sabendo isto: que foi crucificado com ele o nosso velho homem, para que o corpo do pecado seja destruído, e não sirvamos o pecado como escravos;”, Rom 6.6. Aqui você vê, Cristo não é crucificado em nosso lugar, se o nosso velho homem não estiver realmente crucificado com ele – de outra forma a cruz de Cristo não nos beneficiará em nada. Em terceiro lugar, quanto à morte de Cristo , a condição é a seguinte: Se nós morremos com Cristo, cremos que também viveremos com ele, Rom 6.8; II Tim 2.11. Se, portanto, Cristo tivesse morrido sozinho, se nós não estivéssemos mortos com ele, podemos estar tão certos por esta Escritura, que não viveremos com ele.

Por fim, quanto à ressurreição de Cristo, a Escritura nos mostra que devemos participar do benefício da mesma: “Se ressuscitaste com Cristo, buscai as coisas que são de cima, onde Cristo está sentado à mão direita de Deus.” Assim você vê, quão claramente a Escritura apresenta o nosso bendito Senhor, como nosso representante agindo e sofrendo em nosso nome, vinculando-nos e obrigando-nos a estar conformes a tudo o que ele fez e sofreu por nós. Foi por esta razão, que Jesus disse a seus discípulos, e por eles a todos os verdadeiros crentes, que eles não são deste mundo, assim como ele não é deste mundo. Porque todos os verdadeiros crentes conformados aos sofrimentos, crucificação, morte e ressurreição de Cristo, não vivem mais segundo o espírito deste mundo, mas a sua vida está escondida com Cristo em Deus. Este é o estado de separação do mundo, para o qual todos os cristãos são chamados. Eles devem agora renunciar a toda disposição mundana, e serem regidos pelas coisas da outra vida, como para mostrar que eles são verdadeira e realmente crucificados, mortos e ressuscitados com Cristo. E isso é tão necessário para todos os cristãos - estar de acordo com esta grande mudança de espírito, para serem assim novas criaturas em Cristo, como foi necessário que Cristo padecesse, morresse, e ressuscitasse para a nossa salvação. Quão alto a vida cristã é colocada acima dos caminhos deste mundo, está maravilhosamente descrito por Paulo com estas palavras: “Assim que, nós, daqui por diante, a ninguém conhecemos segundo a carne; e, se antes conhecemos Cristo segundo a carne, já agora não o conhecemos deste modo. E, assim, se alguém está em Cristo, é nova criatura; as coisas antigas já passaram; eis que se fizeram novas.”, II Cor 5.16.17. Aquele que sente a força e o espírito destas palavras, dificilmente pode suportar qualquer interpretação humana delas. Daí em diante, ele diz; isto é, desde a morte e ressurreição de Cristo, o estado do cristianismo se tornou tão glorioso estado, que nem sequer se considera como Cristo estivesse na carne sobre a terra, mas como um Deus da glória no céu; nós nos conhecemos e não nos consideramos como homens na carne, mas como companheiros e membros de uma nova sociedade, que tem todo o seu coração, disposições e conversação no céu. Assim é que o cristianismo nos colocou para fora, e acima do mundo. Agora , uma vez que foi o espírito do mundo, que pregou o nosso bendito Senhor na cruz, por isso todo o homem que tem o espírito de Cristo, que se opõe ao mundo como ele fez, certamente vai ser crucificado pelo mundo de alguma forma ou de outra. Porque o cristianismo ainda vive no mesmo mundo que Cristo viveu; e estes dois serão inimigos até o reino das trevas ser inteiramente subjugado. Se você vivesse com nosso Salvador como seu verdadeiro discípulo, seria então, odiado como ele foi, e se você vive agora em seu espírito, o mundo será o mesmo inimigo para você agora, como foi para ele em seu ministério terreno.

“Se fôsseis do mundo”, diz nosso bendito Senhor, “o mundo, o mundo amaria o que era seu; como, todavia, não sois do mundo, pelo contrário, dele vos escolhi, por isso, o mundo vos odeia.”, João 15.19. Estamos aptos a perder o verdadeiro significado dessas palavras, por considerá-las apenas como uma descrição histórica, de algo que foi o estado de nosso Salvador e seus discípulos naquele momento. Mas essa é a leitura da Escritura como letra morta, porque descreve exatamente o estado de verdadeiros cristãos, até o fim do mundo. Porque, assim como o verdadeiro cristianismo não é nada mais, senão o espírito de Cristo, então se esse espírito comparecer na pessoa de Cristo em si mesmo, ou seus apóstolos, ou seguidores em qualquer época, é a mesma coisa, quem tem o seu espírito, será odiado, desprezado, e condenado pelo mundo, como ele foi. Porque o mundo sempre amará os que sãos seus, isso é tão certo e imutável, como a oposição entre luz e trevas. Você talvez dirá, que o mundo está agora se tornou cristão, pelo menos a parte dele em que vivemos, e por isso o mundo não deve ser considerado agora nesse estado de oposição ao Cristianismo, como quando era pagão. É concedido, que o mundo agora professa o cristianismo. mas alguém poderá dizer, que este mundo cristão é o espírito de Cristo? São seus temperamentos gerais os temperamentos de Cristo? São as paixões de sensualidade, o egoísmo, orgulho, cobiça, ambição, e vanglória, menos contrários ao espírito do Evangelho, agora que eles estão entre os cristãos, do que quando eles estavam entre os pagãos? Ou você dirá, que os temperamentos e paixões do mundo pagão estão perdidos e foram embora? Considere-se, em segundo lugar, que você está dizendo com o mundo. Agora isto é totalmente descrito por João: “porque tudo que há no mundo, a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida, não procede do Pai, mas procede do mundo.”, I Jo 2.16. Esta é uma descrição exata e completa do mundo. Agora você vai dizer, que este mundo se tornou cristão? Mas se tudo isso ainda subsiste, então, o mesmo mundo agora é o mesmo inimigo do cristianismo, que foi nos dias do apóstolo João. Foi esse mundo que João condenou, como não sendo do Pai; se, portanto, perseguiu abertamente o Cristianismo, ele ainda está no mesmo estado de contrariedade ao verdadeiro espírito e santidade do Evangelho. E de fato o mundo, professando o cristianismo, está tão longe de ser um inimigo menos perigoso do que era antes, porque ele tem destruído mais cristãos, do que nunca fizera antes por meio da perseguição mais violenta.

(De fato, o moderno cristianismo, que absorveu e incorporou os hábitos do mundo, inclusive no culto de adoração, tem impedido que a maioria dos cristãos vivam com o verdadeiro espírito de Cristo. E não se vivendo na fé genuinamente bíblica na vida, não se pode vencer o mundo, porque é somente esta fé que vence o mundo – nota do tradutor). Devemos, portanto, estar tão longe de considerar o mundo como num estado de menos inimizade e oposição ao cristianismo, do que fora nos primeiros tempos do evangelho, que é preciso precaver-se contra ele como sendo um maior e mais perigoso inimigo agora, do que fora naqueles dias antigos. É um inimigo maior, porque tem maior poder sobre os cristãos por seus favores, riquezas, honras, prêmios e proteções, do que tinha pelo fogo e fúria de suas perseguições. É um inimigo mais perigoso, por ter perdido a sua aparência de inimizade. A sua profissão do cristianismo faz com que não seja mais considerado como um inimigo, e, por conseguinte, a maioria das pessoas são facilmente persuadidas a se resignarem a serem regidas e dirigidas por ele e seus costumes. Não há nada, portanto, que um bom cristão deve ser mais desconfiado, ou mais se guardar constantemente contra, do que a autoridade do chamado mundo cristão. Os cristãos primitivos não tinham nada a temer do mundo pagão, senão o perder suas vidas, mas o mundo atual que finge ser seu amigo, torna difícil para os cristãos salvarem a sua religião. Enquanto o orgulho, sensualidade, cobiça e ambição, somente tinham autoridade sobre o mundo pagão, os cristãos eram por conseguinte, mais preocupados em ter as virtudes contrárias a isto. Mas quando orgulho, sensualidade, cobiça e ambição, têm autoridade sobre o Mundo Cristão, então os cristãos estão expostos a um maior perigo, não somente de ser envergonhados por tal prática, mas de perderem a própria noção da piedade do Evangelho. Não há, portanto, quase nenhuma possibilidade de salvar a si mesmo do mundo atual, senão, por considerá-lo como o mesmo ímpio inimigo a toda a verdadeira santidade, como ele é representado nas Escrituras; e se estando seguro de que é tão perigoso estar de acordo com as orientações e paixões do mundo, agora no mundo que se diz cristão, como quando ele era pagão. Espero, com estas reflexões, ajudar a romper as dificuldades, e resistir àquelas tentações, que a autoridade e a moda do mundo levantaram contra a prática da humildade cristã.

Tradução e adaptação feitas pelo Pr Silvio Dutra, do décimo sétimo capitulo do livro de William Law, em domínio público, intitulado Uma Chamada Séria a Uma Vida Santa e Devota. William Law, foi professor e mentor por vários anos de John e Charles Wesley, George Whitefield – principais atores do grande avivamento do século XVIII, que se espalhou por todo o mundo Henry Venn, Thomas Scott e Thomas Adam, entre outros, que foram profundamente afetados por sua vida consagrada a Deus, e sobretudo pelo conteúdo deste livro.

Os Benefícios da Oração de Intercessão William Law

Uma Chamada Séria a Uma Vida Santa e Devota – Cap XXI

A necessidade e benefício da intercessão, considerada como um exercício de amor universal. Como todas as categorias de homens devem orar e interceder junto a Deus uns pelos outros. Como tal intercessão pacifica e reforma os corações daqueles que a utilizam. Que a intercessão é uma grande e necessária parte da devoção cristã, está muito evidente nas Escrituras. Os primeiros seguidores de Cristo, parecem ter se suportado em amor, e mantido todas as suas relações e correspondência, através de orações mútuas. Paulo, seja escrevendo para as igrejas, ou a pessoas em particular, mostra sua intercessão permanente por eles, que era o assunto constante de suas orações. Assim, disse aos Filipenses: “Dou graças ao meu Deus por tudo que recordo de vós, fazendo sempre, com alegria, súplicas por todos vós, em todas as minhas orações,”, Fp 1.3,4. Aqui vemos, não somente uma contínua intercessão, mas executada com muita alegria, como também mostra que era um exercício de amor, no qual ele se regozijava altamente. Sua devoção teve também o mesmo cuidado por pessoas em particular; como aparece na seguinte passagem: “Dou graças a Deus, a quem, desde os meus antepassados, sirvo com consciência pura, porque, sem cessar, me lembro de ti nas minhas orações, noite e dia.”, II Tim 1.3. Quão santo e amigável foi isso, como digno de pessoas que foram elevadas acima do mundo, e relacionadas entre si, como novos membros de um reino do Céu! Apóstolos e grandes santos não somente beneficiam e abençoam igrejas particulares e pessoas privadas, mas eles mesmos também recebem graças de Deus pelas orações dos outros. Assim diz Paulo aos Coríntios: “ajudando-nos também vós, com as vossas orações a nosso favor, para que, por muitos, sejam dadas graças a nosso respeito, pelo benefício que nos foi concedido por meio de muitos.”, II Cor 1.11. Esta foi a antiga amizade dos cristãos, unindo e cimentando os seus corações, não por considerações mundanas, ou humanas paixões, mas pela comunicação mútua de bênçãos espirituais, por orações e ações de graças a Deus. Foi essa intercessão santa, que levantou os cristãos a tal estado de amor mútuo, que excedeu tudo o que havia sido elogiado e admirado na amizade humana. E quando o mesmo espírito de intercessão estiver mais uma vez no mundo, quando o cristianismo tiver o mesmo poder sobre

os corações das pessoas, então isto que tinha sido antes, estará novamente na moda, e os cristãos serão novamente a maravilha do mundo, por causa daquele excelente amor que possuírem mutuamente. Porque uma intercessão frequente a Deus, rogando-lhe com sinceridade para perdoar os pecados de toda a humanidade, para abençoá-los com a sua providência, iluminá-los com o seu Espírito, e trazê-los para sempre à felicidade duradoura, é o exercício mais divino em que o coração do homem possa estar engajado. Esteja portanto, diariamente, de joelhos, numa solene, e determinada execução desta devoção, orando pelos outros com a importunação e sinceridade que você usa para si mesmo; e encontrará todas as pequenas paixões e fraquezas naturais morrerem, o seu coração crescer grande e generoso, deleitando-se com a felicidade comum dos outros, assim como você usava apenas para deleitar a si mesmo. Porque aquele que ora diariamente a Deus, para que todos os homens possam ser felizes no céu, toma o caminho mais deleitável para fazê-lo desejar, e procurar sua felicidade na terra. E é quase impossível para você, implorar e rogar a Deus para fazer qualquer um feliz nos mais elevados deleites da sua glória por toda a eternidade, e ainda assim estar preocupado para vêlo desfrutar os menores dons de Deus, neste curto e baixo estado de vida humana. Quando, portanto, uma vez que você tenha habituado o seu coração para um sincero desempenho desta intercessão santa, você tem feito uma grande coisa, para torná-lo incapaz de rancor e inveja, e para fazer com que se deleite com a felicidade de toda a humanidade. Este é o efeito natural de uma intercessão geral por todos os tipos de homens. Apesar de estarmos tratando toda a humanidade, como vizinhos e irmãos, como qualquer ocasião oferece, ainda, já que somente podemos viver na real companhia de poucos, e somos em nosso estado e condição mais particularmente relacionados com uns do que com outros, por isso quando nossa intercessão é feita um exercício de amor para aqueles entre os quais a nossa sorte está caída, ou que pertencem a nós numa relação mais próxima, isto então traz o maior benefício para nós mesmos, e produz seus melhores efeitos em nossos próprios corações. Se, portanto, você deve sempre mudar e alterar as suas intercessões, de acordo como as necessidades que seus conhecidos pareçam exigir; rogando a Deus para livrá-los de tais e tais males particulares, ou para lhes conceder este ou aquele dom especial, ou bênção, tais intercessões, além da grande caridade delas, teriam um efeito poderoso sobre o seu próprio coração. Seria mais agradável para você, ser cortês e condescendente com tudo o que se refira a você, e que não seja capaz de dizer ou fazer uma coisa rude, ou difícil para aqueles que têm sido o motivo de suas compassivas intercessões. Pois não há nada que nos faça amar mais uma pessoa do que orar por ela. Isto irá encher o seu coração com uma generosidade e ternura, que lhe darão um melhor e mais doce comportamento, do que qualquer coisa que se chama de bons modos.

Ao considerar a si mesmo como um advogado junto a Deus, pelos seus vizinhos e conhecidos, nunca iria achar difícil estar em paz com eles. Seria fácil suportar e perdoar aqueles para os quais você implorou por misericórdia e perdão divinos. Tais orações como estas, entre vizinhos e conhecidos, iria uni-los uns aos outros pelos laços mais fortes de amor e ternura. Seria exaltar e enobrecer suas almas, e ensinar-lhes a se considerarem mutuamente num estado mais elevado, como membros de uma sociedade espiritual, daqueles que são criados para o gozo comum da bênçãos de Deus e que são coherdeiros da mesma glória futura. Se um pai estivesse fazendo diariamente orações a Deus, para que ele inspirasse seus filhos à verdadeira piedade, grande humildade e estrita temperança, o que poderia ser mais propenso a se fazer senão o próprio pai se tornar exemplar nessas virtudes? Quão envergonhado ele seria caso lhe faltasse essas virtudes, que ele considerava necessárias para os seus filhos? Assim que suas orações pela sua piedade, seria um certo meio de exaltar a elevação da sua própria devoção. Quão religiosamente um pai deveria conversar com seus filhos, a quem considerasse como seu pequeno rebanho espiritual, cujas virtudes ele formaria com o seu exemplo, incentivado por sua autoridade, nutrido seu conselho, e levado a prosperar por suas orações a Deus por eles? Quão temeroso ele estaria de todas as maneiras gananciosas e injustas de aumentarem o seu dinheiro, de se tornarem muito apreciadores do mundo, para que isto não os tornasse incapazes de receber as graças, que ele tão frequentemente rogava a Deus para concederlhes? Sendo estes os efeitos simples, felizes, desta intercessão, todos os pais, espero, que almejam o verdadeiro bem-estar de seus filhos no coração, que desejam ser seus verdadeiros amigos e benfeitores, e viverem entre eles no espírito de sabedoria e de piedade, não deveriam negligenciar um meio, tanto de elevar a sua própria virtude, e para fazer um bem eterno àqueles amados que estão tão perto deles, pelos laços mais fortes da natureza. Este seria um triunfo sobre si mesmo, seria humilhar reduzir o seu coração à obediência e ordem, que o próprio diabo temeria tentá-lo novamente da mesma maneira, quando visse que a tentação se transformou em tão grande forma de mudar e reformar o estado do seu coração. E ainda, se em qualquer pequena diferença, ou mal-entendidos que você tenha tido com um parente ou vizinho, ou qualquer outra pessoa, então você deve orar por eles de uma forma mais específica, do que a forma comum, rogando a Deus que lhes dê toda a graça e bênção, e a felicidade que puder ser imaginada, e assim teria tomado a via mais rápida para reconciliar todas as diferenças e esclarecer toda incompreensão. Este seria o grande poder da intercessão cristã; em remover todas as paixões impertinentes, amolecer o seu coração para uma maior longanimidade, e para melhor julgar todas as diferenças que acontecerem entre você e qualquer um dos seus conhecidos.

Os maiores ressentimentos entre amigos e vizinhos, na maioria das vezes surgem de pequenos erros, o que é um certo sinal de que sua amizade é meramente humana, não fundada em considerações religiosas, ou apoiada por tais orações mútuas, como os primeiros cristãos faziam. Porque tal devoção deve necessariamente destruir tais contendas, ou ser destruída por elas. Você não pode ter qualquer mau humor, ou mostrar qualquer comportamento indelicado para com uma pessoa pela qual você tem intercedido como seu advogado para com Deus.

Tradução, redução e adaptação feitas pelo Pr Silvio Dutra, do vigésimo primeiro capítulo do livro de William Law, em domínio público, intitulado Uma Chamada Séria a Uma Vida Santa e Devota. William Law, foi professor e mentor por vários anos de John e Charles Wesley, George Whitefield – principais atores do grande avivamento do século XVIII, que se espalhou por todo o mundo - Henry Venn, Thomas Scott e Thomas Adam, entre outros, que foram profundamente afetados por sua vida consagrada a Deus, e sobretudo pelo conteúdo deste livro.

Sobre o Modo de Louvar ”falando entre vós com salmos, entoando e louvando de coração ao Senhor com hinos e cânticos espirituais,” (Efésios 5:19) ”Habite, ricamente, em vós a palavra de Cristo; instruí-vos e aconselhai-vos mutuamente em toda a sabedoria, louvando a Deus, com salmos, e hinos, e cânticos espirituais, com gratidão, em vosso coração.” (Colossenses 3:16) Sobre cantar os Salmos em nossas devoções particulares. E sobre a excelência e benefício deste tipo de devoção, pelos grandes efeitos que ela tem sobre nossos corações. E sobre os meios de fazê-lo da melhor maneira. Você já viu no capítulo anterior, o que significa e quais são os métodos para aumentar e melhorar a sua devoção. Quão cedo você deve começar suas orações, e o que deve ser o objeto de suas primeiras devoções pela manhã. Há ainda uma coisa restante, que deve ser observada, e que não pode ser negligenciada, sem grande prejuízo às suas devoções. E isto é, que você deve começar todas as suas orações com um Salmo. Isto é tão certo, é tão benéfico para a devoção, porque tem muito efeito em nossos corações. Eu não quero dizer, que você deve ler um Salmo, mas que você deve cantá-lo. Deve ser considerada a importância de se cantar um Salmo no início de suas devoções, por ser algo que despertará tudo o que é bom e santo dentro de você, e que chamará o seu espírito ao seu dever apropriado, para ajustá-lo em sua melhor postura para o céu e

sintonizar todos os poderes de sua alma para a adoração. Pois não há nada que tão melhor limpe o caminho para suas orações, nada que tanto expulse a indolência de coração, nada que purifique a alma das paixões pobres e pequenas, nada que abra o céu, ou conduza o seu coração para tão perto dele, como essas canções de louvor. Elas criam um sentido e prazer em Deus, elas despertam santos desejos, e lhe ensinam a pedir, e prevalecem com Deus para atender suas petições. Elas acendem uma chama sagrada, e transformam seu coração em um altar, suas orações em incenso, e as conduzem como um doce aroma suave ao trono da graça. A diferença entre cantar e ler um Salmo, será facilmente compreendida, se você considerar a diferença entre ler e cantar uma canção comum que você goste. Enquanto você apenas a lê, você somente gosta da letra, e isso é tudo, mas assim que você a canta, então você a aprecia, você sente o prazer e a emoção dela, ela se apodera de você, suas emoções entram em ritmo com ela e você sente dentro de si o mesmo espírito que parece estar nas palavras. Se você tivesse que dizer a uma pessoa que tem essa canção, que ela não precisa cantála, que seria suficiente ler, ela iria querer saber o que você quis dizer, e achar que lhe pediu um absurdo, como se tivesse lhe dito que somente deveria olhar para a comida, para ver se era boa, mas não precisava comê-la; porque um cântico de louvor não cantado, é muito parecido com qualquer outra coisa boa da qual não se fez uso. Talvez você diga, que cantar é um talento especial, que pertence somente a determinadas pessoas, e que você não tem nem voz, nem ouvido para cantar qualquer música. Se você tivesse dito que cantar é um talento geral, no qual as pessoas diferem, como em todas as outras coisas, você teria dito alguma coisa muito mais verdadeira. Pois as pessoas diferem muito no talento de pensar, que não é somente comum a todos os homens, mas parece ser a própria essência da natureza humana. No entanto, ninguém deseja ser dispensado do pensamento, ou razão, ou discurso, porque ele não tem esses talentos, como algumas pessoas o possuem. Se uma pessoa viesse a deixar de orar, porque ela tinha um estranho tom em sua voz, ela teria uma boa desculpa para não cantar Salmos, por ter pouca voz. Em segundo lugar, esta objeção poderia ser de algum peso, se você fosse cantar para entreter outras pessoas, mas isto não é para ser admitido no presente caso, onde você só está obrigado a cantar os louvores de Deus, como uma parte de sua devoção privada. Todos os homens são cantores, da mesma forma como todos os homens pensam, falam, riem e choram. Cada estado do coração, naturalmente, coloca o corpo em algum estado que é adequado para ser mostrado a outras pessoas. Se um homem está com raiva, ninguém precisa lhe instruir como expressar essa paixão pelo tom de sua voz. O estado de seu coração o conduzirá ao uso adequado da sua voz. Se, portanto, existem, senão poucos cantores de músicas divinas, se as pessoas querem ser excluídas desta parte da devoção, é porque são poucos, cujos corações são elevados à altura da piedade, e que sentem impulsos de alegria e prazer nos louvores a Deus. Imagine a si mesmo, como se tivesse estado com Moisés quando ele conduzia o povo através do Mar Vermelho, e que você tivesse visto as águas se dividirem, e que estas caíssem sobre os seus inimigos depois de você tê-lo atravessado em segurança, então teria voz para cantar louvores a Deus juntamente com Moisés: “O Senhor é a minha força, e o meu cântico, e se tornou a minha salvação, etc”. Eu sei, e seu coração lhe diz, que todas as pessoas naquela ocasião devem ter entoado louvores. E isto, portanto, lhe ensina que é o coração que afina a voz para cantar os

louvores de Deus; e que se você não pode cantar essas mesmas palavras agora com alegria, é porque você não está tão afetado com a salvação do mundo por Jesus Cristo, como os israelitas ficaram com a sua libertação no Mar Vermelho. Se você, então, despertar o seu coração, ele tão naturalmente cantará as palavras do Salmo, como ele ri quando ele está satisfeito. E este será o caso em cada música que tocar o coração. Se você puder dizer com Davi, meu coração está firme, ó Deus, meu coração está firme; será muito fácil e natural você adicionar a isto, como ele fez, eu vou cantar e louvar, etc. Em segundo lugar, vamos agora considerar uma outra razão para este tipo de devoção. Como o canto é um efeito natural da alegria no coração, por isso tem também um poder natural de tornar o coração alegre. A alma e o corpo são tão unidos, que têm cada um deles poder sobre o outro em suas ações. Certos pensamentos e sentimentos na alma, produzem tais e tais movimentos ou ações no corpo, e, por outro lado, certos movimentos e as ações do corpo, têm o mesmo poder de aumentar tais e tais pensamentos e sentimentos na alma. Porque, como o canto é o efeito natural da alegria na mente, por isso é tão verdadeiramente uma causa natural que eleva a alegria na mente, pois há aqui uma recíproca relação de causa e efeito. Como a devoção do coração faz surgir naturalmente atos de oração, de igual modo os atos de oração são meios naturais para elevar a devoção do coração. Como a raiva produz palavras de raiva, então palavras iradas aumentam a ira. Embora, a sede da Religião esteja no coração, mas uma vez que nossos corpos têm um poder sobre nossos corações, uma vez que as ações tanto procedem, quanto entram no coração, está claro que as ações externas têm um grande poder sobre essa Religião que está sediada no coração . Devemos, portanto, tanto usar ajuda externa, quanto interna em nossa meditação, a fim de gerar e corrigir hábitos de piedade em nossos corações. Esta doutrina pode ser facilmente levada longe demais, pois, se dependermos de muitos meios exteriores de adoração, isto pode degenerar em superstição; como, por outro lado, alguns têm caído no extremo contrário. Porque para provar a Religião sediada no coração, alguns têm exercido essa noção, até agora, como renúncia à oração vocal, e outros atos exteriores de adoração, como o louvor, e têm resumido toda a sua religião em um quietismo, ou relação mística com Deus em silêncio. Ora, estes são dois extremos igualmente prejudiciais à verdadeira Religião, e não devem ser achados quer no culto interno ou externo. Pois desde que não somos somente alma, nem somente corpo, por não serem nenhuma de nossas ações separadas da alma, ou separadas do corpo, sabendo que os hábitos são produzidos tanto em nossas almas quanto em nossos corpos , é certo, que, para se chegar a hábitos de devoção, ou prazer em Deus, devemos não somente meditar e exercitar nossas almas, mas devemos praticar e exercitar nossos corpos para todas aquelas ações externas, por serem conformes a esses temperamentos interiores, entre os quais podemos citar o hábito de cantar louvores. Se quisermos verdadeiramente prostrar nossas almas diante de Deus, devemos usar nossos corpos em posturas de humildade; se desejamos verdadeiro fervor de devoção, devemos fazer da oração o trabalho frequente de nossos lábios. Se quisermos banir todo o orgulho e paixão de nossos corações, nós devemos nos forçar a todas as ações exteriores de paciência e mansidão. Se quisermos sentir os movimentos interiores de alegria e prazer em Deus, devemos praticar todos os atos externos relativos a isto, e fazer as nossas vozes se ajustarem aos nossos corações. Agora, pois, você pode ver claramente que a razão e necessidade do cântico dos Salmos, é porque são necessárias ações externas para apoiar as disposições interiores, e,

portanto, o ato externo de alegria é necessário para aumentar e apoiar a alegria interior da mente. Toda oração e devoção, jejuns e arrependimento, meditação e retiros espirituais, a santa ceia e o batismos e todas as ordenanças, têm por alvo senão tornar a alma, assim, santa, e conforme à vontade de Deus, e para enchê-la com gratidão e louvor por cada coisa que vem de Deus. Esta é a perfeição de todas as virtudes; e todas as virtudes que não tendem a isso, ou que não procedam disso, são senão falsos ornamentos de uma alma não convertida a Deus. Você não precisa, portanto, agora perguntar, porque eu dou tanta ênfase à importância de cantar um Salmo em todas as suas devoções, pois você vê que é para encher o seu espírito de alegria e gratidão a Deus, que é a mais alta perfeição de uma vida divina e santa. Tradução e adaptação feitas pelo Pr Silvio Dutra, do décimo quinto capitulo do livro de William Law, em domínio público, intitulado Uma Chamada Séria a Uma Vida Santa e Devota. William Law, foi professor e mentor por vários anos de John e Charles Wesley, George Whitefield – principais atores do grande avivamento do século XVIII, que se espalhou por todo o mundo - Henry Venn, Thomas Scott e Thomas Adam, entre outros, que foram profundamente afetados por sua vida consagrada a Deus, e sobretudo pelo conteúdo deste livro. william Law

Sobre o Melhor Modo de Orar Como devemos melhorar nossas formas de oração, e como aumentar o espírito de devoção. Tendo mostrado nos capítulos anteriores, a necessidade de um espírito devoto, ou hábitos espirituais em todas as partes da nossa vida comum, no desempenho de todos os nossos negócios, no uso de todos os dons de Deus; vou considerar agora aquela parte da devoção, que se refere aos tempos de horas de oração . Eu tenho isto como algo garantido, que cada cristão, que é saudável, se levanta cedo pela manhã, porque é mais do que razoável supor que se levante cedo, porque ele é um cristão, tanto quanto se ele é um trabalhador ou um comerciante, ou que tenha outros negócios aguardando por ele. Nós, naturalmente, temos alguma aversão a um homem que está na cama, quando ele deveria estar no seu trabalho, ou em seu negócio. Nós não podemos pensar nada de bom dele, que é como um escravo da sonolência, assim como negligencia seus deveres por causa disso. Isto portanto, nos ensina quão odiosos devemos parecer aos olhos do céu, se estamos na cama, calados nas trevas do sono, quando deveríamos estar louvando a Deus; e somos não apenas escravos do sono, como negligenciamos nossas devoções a ele. Porque, se deve ser responsabilizado como um preguiçoso, aquele que escolhe a indulgência do sono, e deixa de realizar a sua parte adequadamente nos negócios do mundo, quanto mais aquele que permanece em sua cama, e que não eleva o seu coração a Deus em atos de louvor e adoração? A oração é a maior forma de aproximação a Deus, e o modo de ter o maior desfrute dele, que somos capazes de ter nesta vida.

Ela é o exercício mais nobre da alma, o uso mais exaltado de nossas melhores faculdades, e a máxima imitação dos bem-aventurados habitantes do céu. Quando nossos corações estão cheios de Deus, enviando santos desejos para o trono da graça, então estamos em nosso estado mais elevado, estamos na maior altura da grandeza humana, não estamos diante de reis e príncipes, mas na presença e audiência do Senhor de todo o mundo, e não pode haver mais alto privilégio e honra, até que a morte seja tragada em glória. Por outro lado, o sono é o mais pobre, o mais maçante refrigério do corpo, que está muito longe de ser concebido como um prazer, porque somos forçados a recebê-lo. O sono indolente é um estado tão estúpido da existência, que, mesmo entre os animais, nós desprezamos aqueles que são mais sonolentos e indolentes. Aquele, portanto, que escolhe, ampliar a indulgência indolente do sono, ao invés de levantar cedo, para as suas devoções a Deus, opta pelo refrigério mais maçante do corpo, antes do mais elevado, mais nobre emprego da alma. Talvez você dirá, que embora você se levante tarde, todavia é sempre cuidadoso com suas devoções quando está acordado. Pode ser assim. Mas o que dizer então? É um bom ato acordar tarde, porque você ora, quando se levanta da cama? É perdoável desperdiçar grande parte do dia na cama, pois algum tempo depois fará suas orações? É tanto o seu dever se levantar para orar, como orar quando você está acordado. E se você está atrasado em suas orações, você tem para oferecer a Deus as orações de um adorador preguiçoso e ocioso, que sobem como orações, assim como servos ociosos se levantam para executar o seu trabalho. Além disso, se você gosta de ser cuidadoso em suas devoções, quando está acordado, apesar de ser o seu costume se levantar tarde, você engana a si mesmo, porque não pode executar as suas devoções como deveria . Porque aquele que não pode negar a si mesmo esta indulgência sonolenta, senão passar boa parte da manhã na mesma, não está mais preparado para a oração quando está acordado, do que está preparado para qualquer outra auto-negação. Porque dormir assim indolentemente, transmite uma ociosidade a todos os nossos comportamentos, e nos torna incapazes de apreciar qualquer coisa, senão aquilo que se adapte a tal estado de mente, e que gratifique nossos gostos naturais, como faz o sono. Ora, aquele que transforma o sono em uma indulgência ociosa, faz tanto para corromper e desordenar a sua alma, para torná-la uma escrava dos apetites do corpo, e mantê-la incapaz de toda devoção de um comportamento santo, assim como aquele que transforma as necessidades de alimentação, num curso de indulgência. Uma pessoa que come e bebe muito, não sente os efeitos disto, como aqueles que vivem em casos notórios de gula e intemperança, mas ainda o seu curso de indulgência, embora não seja escandaloso aos olhos do mundo, nem atormente sua própria consciência, é um grande e constante obstáculo para sua melhoria em virtude, porque isto lhe dá olhos que não veem, e ouvidos que não ouvem, que cria uma sensualidade na alma, aumenta o poder das paixões corporais, e lhe torna incapaz de alcançar o verdadeiro espírito da religião cristã. Agora este é o caso daqueles que perdem o seu tempo durante o sono; isto não desordena suas vidas, ou fere suas consciências, como os atos notórios de intemperança, mas como qualquer outro curso imoderado de indulgência, silenciosamente, e por graus menores, desgasta o espírito da religião, e afunda a alma num estado de dolência e sensualidade. Se você considerar a devoção apenas como um certo momento de oração, você talvez a cumpra, apesar de viver neste indulgência diária: Mas se você considerá-la como um

estado do coração, como um vivo fervor da alma, que é profundamente afetada com um senso de sua própria miséria e fraquezas, e sua necessidade do Espírito de Deus, mais do que todas as coisas do mundo, você vai achar que o espírito de indulgência, e o espírito de oração, não podem subsistir juntos. Uma mortificação de todos os tipos, é a própria vida e alma da piedade, mas aquele que não tem o menor grau disto, de modo que não começa desde cedo suas orações, não pode ter nenhuma razão para pensar que ele tomou a sua cruz , e que está seguindo a Cristo. Se o nosso bendito Senhor costumava orar antes de iniciar o dia, se ele passou noites inteiras em oração, se a devotada Ana estava dia e noite no templo, se Paulo e Silas, à meia-noite, cantaram louvores a Deus, se os cristãos primitivos, por vários anos, além de suas horas de oração ao meio-dia, se reuniam publicamente nas Igrejas à meia-noite, para se juntarem nos Salmos e Orações, não é certo que estas práticas mostram qual era o estado do seu coração? Não são provas claras da completa mudança de suas mentes? E se você vive em um estado contrário, perdendo grande parte de cada dia com o sono, pensando muito pouco sobre as orações; não é igualmente certo, que esta prática tanto mostra o estado de seu coração, e a inclinação de sua mente? De modo que , se esta indulgência é o seu modo de vida, você tem muita razão para acreditar-se destituído do verdadeiro espírito de devoção, como você crê que os apóstolos e santos da Igreja Primitiva eram verdadeiramente devotos. Porque, assim como o seu modo de vida foi uma demonstração da devoção deles, de igual modo, um caminho contrário de vida, é uma forte prova de falta de devoção. Quando você lê as Escrituras, você vê uma religião que é toda vida e espírito, e de alegria em Deus, que supõe a nossa alma subindo acima dos desejos terrenos, e das indulgências corporais, para se preparar para outro corpo, um outro mundo, e outros prazeres. Mas quem pode ter pensado ter essa alegria em Deus, esta aspiração pela eternidade, esse espírito vigilante, se não tiver zelo suficiente para se levantar para as suas orações? A primeira coisa que você deve fazer, quando você estiver sobre os seus joelhos, é fechar os olhos e, com um breve silêncio deixe a sua alma se colocar na presença de Deus, ou seja, você deve usar isso, ou algum outro método melhor, para se separar de todos os pensamentos comuns, e fazer seu coração tão sensível quanto você possa da presença divina. Agora, se esse recolhimento em espírito é necessário, quem pode dizer que não é? então, quão pobremente devem realizar suas devoções, aqueles que estão sempre com pressa? Para continuar, se você pudesse usar (tanto quanto possível) sempre o mesmo lugar para orar, se você pudesse reservar esse lugar para a devoção, este tipo de consagração do mesmo, como um lugar de devoção, teria um efeito em sua mente , e lhe disporia a estar animado para a sua devoção. Porque ter um lugar assim, sagrado em seu quarto, faria com que estivesse sempre no espírito da religião, quando lá estivesse, e lhe encheria com pensamentos sábios e santos. O seu próprio quarto elevaria em sua mente, tais sentimentos que você temeria pensar ou fazer qualquer coisa que fosse tola nesse lugar, que é o lugar de oração, e santificado para Deus. Quando você começar suas petições, use várias expressões dos atributos de Deus, que podem fazê-lo mais sensível da grandeza e poder da natureza divina. Embora, a oração não consista em belas palavras, ou expressões estudadas, ainda assim as palavras falam à alma, como elas têm um certo poder de elevar os pensamentos na alma, por isso, aquelas palavras que falam de Deus da maneira mais elevada, e que mais plenamente expressam o poder e a presença de Deus, e que elevam pensamentos na alma mais adequados à grandeza e providência de Deus, são as mais úteis e mais

edificantes em nossas orações. Quando você dirigir qualquer uma de suas petições para o nosso bendito Senhor, poderá usar algumas expressões deste tipo: Oh Salvador do mundo, Luz da luz, tu que és o brilho da Glória do Pai, e a expressa imagem da sua Pessoa; tu que és o Alfa e o Ômega, o Princípio e Fim de todas as coisas, tu que tens destruído o poder do diabo, e que tens vencido a morte, tu que és celebrado no Santo dos Santos, que estás à mão direita do Pai, que a estás acima de todos os tronos e principados, que intercede por todo o mundo, tu que és o juiz dos vivos e dos mortos, tu que virás depressa na tua Glória para recompensar todos os homens segundo as suas obras, seja tu a minha luz e a minha paz. Porque essas expressões, que descrevem tantos caracteres do nosso Salvador, sua natureza e poder não são apenas os próprios atos de adoração, mas, se forem repetidas com alguma atenção, encherão os nossos corações com os mais altos fervores da verdadeira devoção . Ainda, se você pedir alguma graça especial de nosso bendito Senhor, que seja de alguma maneira como esta: Oh santo Jesus, Filho do Deus Altíssimo, tu que foste açoitado, pendurado e pregado numa cruz, pelos pecados do mundo, una-me à tua cruz, e enche a minha alma com o teu santo, humilde e sofredor espírito. Oh Fonte de misericórdia, tu que salvaste o ladrão na cruz, salva-me da culpa de uma vida pecaminosa, tu que expulsaste sete demônios de Maria Madalena, expulsa do meu coração todos os maus pensamentos, e comportamentos maus . Oh Doador da vida, tu que ressuscitaste Lázaro de entre os mortos, levanta a minha alma da morte e da escuridão do pecado. Tu que deste a tua força aos apóstolos sobre os espíritos imundos, dá-me poder sobre meu próprio coração. Tu que apareceste a teus discípulos, quando as portas se fecharam, apareça no aposento secreto do meu coração. Tu que limpaste os leprosos, curaste os doentes, e deste vista aos cegos, limpa meu coração, cura as doenças da minha alma, e encha-me com a luz celestial. Agora esses tipos de apelos têm uma dupla vantagem: primeiro, como eles são muito apropriadamente atos de nossa fé, pelos quais não somente mostramos a nossa crença nos milagres de Cristo, como também os transformamos ao mesmo tempo em muitas instâncias de culto e adoração. Em segundo lugar, como eles fortalecem e aumentam a fé de nossas orações, ao apresentarem à nossa mente tantos casos daquele poder e bondade, que apelamos para a nossa própria assistência. Porque o que apela a Cristo, como quem tem o poder de expulsar demônios, e ressuscitar os mortos, então tem um motivo poderoso em sua mente para orar sinceramente, e depender fielmente da sua assistência. Mais uma vez, a fim de encher as suas orações com excelentes meios de devoção, pode ser de utilidade que você observe mais esta regra: Quando, em qualquer momento, quer na leitura da Escritura, ou de qualquer livro de Piedade, você se encontra com uma passagem, que mais do que o normal afeta a sua mente, e parece como se fosse dar ao seu coração um novo impulso em direção a Deus, você deve tentar transformá-lo numa forma de petição e, então, dar-lhe um lugar em suas orações. Por este meio você poderá, muitas vezes, melhorar suas orações e se equipar com formas apropriadas, para fazer os desejos do seu coração conhecidos diante de Deus. Em todas as horas determinadas de oração, será de grande benefício para você, ter algo fixo, e algo em liberdade, nas suas devoções. Você deve ter algum tema fixo, que deve ser constantemente o principal motivo de sua oração naquele momento em particular, e ainda ter liberdade para adicionar outras

petições, como a sua condição pode então exigir. Por exemplo, como a parte da manhã é para você como o início de uma nova vida; assim como Deus então, lhe deu um novo regozijo em si mesmo, e uma renovada entrada para o mundo, é altamente adequado, que suas primeiras devoções sejam um louvor e ação de graças a Deus, por esta nova criação, e que você deve oferecer e dedicar corpo e alma, tudo o que você é, e tudo o que você tem, a seu serviço e glória. Receba, portanto, todos os dias, como uma ressurreição da morte, como uma nova apreciação da vida; receba cada sol nascente com tais sentimentos da bondade de Deus. Deixe, portanto, que o louvor e ação de graças, e a oferta de si mesmo para Deus, sejam sempre o assunto fixo e certo de sua primeira oração pela manhã, e então tome a liberdade de adicionar as outras devoções, como a diferença acidental de sua condição ou de seu coração, e tudo o mais que seja mais necessário e conveniente para você. Porque um dos maiores benefícios de devoção privada, consiste na adaptação de nossas orações a essas duas condições, relativas à diferença de nosso estado, e à diferença dos nossos corações. Por diferença do nosso estado, me refiro às mudanças de nossas condições externas, como doença, saúde, dores, perdas, decepções, problemas, misericórdias ou juízos de Deus, todos os tipos de bondades, lesões ou reprovações de outras pessoas. Agora, como estes são grandes partes do nosso estado de vida, como eles fazem grande diferença nele, mudando continuamente, por isso a nossa devoção será feita duplamente benéfica para nós, quando se destina a receber e santificar todas essas mudanças do nosso estado, e transformá-los numa aplicação mais especial a Deus. A próxima condição, para a qual devemos sempre adaptar algumas partes de nossas orações, é a diferença de nossos corações; em relação ao amor, alegria, paz, tranquilidade; doçura e aridez de espírito, ansiedade, descontentamento, inveja, ambição, tristeza e pensamentos desconsoladores, ressentimentos, e toda sorte de sentimentos e disposições impertinentes. Agora, como esses comportamentos, em razão da fraqueza de nossa natureza, terão sua sucessão mais ou menos, mesmo nas mentes piedosas, deste modo devemos fazer constantemente o estado atual do nosso coração, o motivo de alguma petição específica para Deus. Se estamos na calma prazerosa de doces e suaves sentimentos de amor e alegria em Deus, devemos, então, oferecer o tributo de ações de graça, pela posse de tanta felicidade, agradecendo e lhe reconhecendo como sendo o Doador de tudo isto. Se, por outro lado, nos sentimos sobrecarregados e oprimidos, com ansiedade de espírito e mal-estar, devemos então olhar para Deus em atos de humildade, confessando nossa indignidade, contando os nossos problemas a ele, rogando-lhe para diminuir o peso das nossas fraquezas, e para livrar-nos de tais sentimentos que se opõem à pureza e à perfeição de nossas almas. Agora, por observarmos isto, e atendermos ao estado atual de nossos corações, e adequando algumas de nossas petições exatamente à sua necessidade, devemos não somente estar bem familiarizados com os distúrbios de nossas almas, mas também ser bem exercitados no método de curá-los. Embora o espírito de devoção seja dom de Deus, e não atingível por qualquer mero poder propriamente nosso, todavia é principalmente dado e nunca retido, para aqueles que por um uso sábio e diligente uso de meios adequados, se preparam para a recepção do mesmo. E é incrível ver, quão ansiosamente os homens empregam a sua sagacidade, tempo, estudo, aplicação e exercício; quando alguma coisa se destina a atender suas intenções e desejos em assuntos mundanos, e quão negligentemente e tão pouco eles usam sua

sagacidade e habilidades, para elevar e aumentar a sua devoção! Para corrigir esse comportamento, e encher um homem com um espírito bastante contrário a isto, não parece haver nada mais necessário, do que a nua fé da verdade do cristianismo. Para concluir este capítulo, Devoção nada mais é do que certas apreensões e afeições corretas para com Deus. Todas as práticas, portanto, que aumentam e melhoram as nossas verdadeiras apreensões de Deus, todas as formas de vida que tendem a nutrir, levantar, e corrigir nossas afeições sobre ele, devem ser contadas como meios de ajuda para nos encher de devoção. Como a oração é o combustível adequado desta chama sagrada, por isso devemos usar todo o nosso cuidado e artifício para dar à oração todo o seu poder, como por esmolas, abnegação, retiros, e as leituras sagradas, e observando horas de oração; mudando, improvisando, e adequando nossas devoções à condição de nossa vida, e ao estado dos nossos corações. Aqueles que têm mais tempo livre, parecem ser mais especialmente chamados a uma observância mais eminente dessas regras sagradas de uma vida devota. E aqueles que pela necessidade de seu estado, e não através de sua própria escolha, que têm pouco tempo para empregar na devoção, devem fazer por esta razão, o melhor uso do pouco que têm. Pois este é o caminho certo de fazer a devoção produzir uma vida devota. Tradução e adaptação feitas pelo Pr Silvio Dutra, do décimo quinto capitulo do livro de William Law, em domínio público, intitulado Uma Chamada Séria a Uma Vida Santa e Devota. William Law, foi professor e mentor por vários anos de John e Charles Wesley, George Whitefield – principais atores do grande avivamento do século XVIII, que se espalhou por todo o mundo - Henry Venn, Thomas Scott e Thomas Adam, entre outros, que foram profundamente afetados por sua vida consagrada a Deus, e sobretudo pelo conteúdo deste livro. william Law

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