Wendt

September 13, 2022 | Author: Anonymous | Category: N/A
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UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JÚLIO DE MESQUITA FILHO”  FACULDADE DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS  SOCIAIS  DOCENTE: Prof. Dr. Samuel Alves Soares DISCENTE: Lívia Peres Milani RA: 4100810 DISCIPLINA: Teoria das Relações Internacionais II CURSO: Relações Internacionais –  Internacionais –  2º  2º ano (Noturno) WENDT, Alexander. Anarchy is what states make of it. Resumo Crítico: Crítico: International Organization, v 46, n.2, 1992.

Alexander Wendt nasceu em 1958, estudou Ciência Política e Filosofia no instituto  Macalester College  College  e obteve seu doutorado em Ciência Política pela Universidade de Minesota, em 1989. Wendt foi professor nas Universidades de Yale e Chicago e atualmente leciona na Universidade de Ohio. Entre suas publicações encontram-se encontramse vários artigos e o livro “Social Theory of International Politics .1  ”



Em seu artigo “ Anarchy is what states make of it  , Wendt inicia o texto apresentando e posicionando-se no debate entre a concepção neo-realista e a neoliberal das Relações Internacionais. O autor argumenta que as duas concepções discordam com relação à influência da estrutura na ação estatal, sendo que os realistas a privilegiam sobre o processo e os liberais entendem que o processo é mais relevante que a estrutura. Wendt também privilegia o processo e, portanto, posiciona-se próximo aos liberais.  Neste texto, o autor tem como finalidade f inalidade apresentar o construtivismo como uma nova forma de conceber as Relações Internacionais e traçar uma ponte entre este e a teoria neoliberal. O autor busca alcançar tal objetivo a partir de uma argumentação construtivista que demonstre, assim como defendem alguns liberais, que o processo  pode transformar identidades e interesses através de instituições internacionais. Neste sentido, a estratégia do autor é refutar a concepção neo-realista de que a auto-ajuda é uma conseqüência necessária da anarquia, argumentando que a política de poder é resultante do processo, não da estrutura. Wendt escreve o texto, e busca atingir os objetivos citados acima, guiado pela indagação sobre a mutabilidade de algumas características que marcam o sistema internacional contemporâneo. Desta forma, procura responder se a política competitiva de poder e a auto-ajuda são conseqüências necessárias da anarquia. Como resposta a tais

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 Disponível

em < http://en.wikipedia.org/wiki/Alexander_Wendt>.. Acesso em 19/09/2011. 

 

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 perguntas, Wendt apresenta a tese de que a auto-ajuda e a política de poder não são resultantes da anarquia, e que se hoje tais características existem é porque foram construídas pela interação entre os Estados. Dessa forma, nenhuma característica do sistema internacional é um resultado necessário da anarquia, mas da forma pela qual os Estados interagem. Para demonstrar que a política de poder não é resultante da anarquia, mas da interação entre estados, foi necessário que Wendt definisse alguns conceitos, como o de identidade. A identidade refere-se à percepção que os Estados têm de si mesmo e dos outros e é construída socialmente, sendo impossível a existência de identidade antes da interação. A importância da identidade refere-se ao fato de que esta é a base do interesse, sendo que quando há indefinição de identidade, os interesses também se tornam confusos. O conceito de instituição para o autor refere-se também à identidade, sendo que esta é definida como uma estrutura de identidades e interesses. Apesar de poderem constranger os atores e mudar interesses, estas instituições são uma função do que os atores sabem coletivamente e da forma como interagem. A soberania e a auto-ajuda são exemplos destas instituições. A partir destes conceitos, Wendt divide sua argumentação em duas partes. Na  primeira, o autor demonstra que a auto-ajuda e a política de poder são constructos sociais desenvolvidos sob a anarquia. Na segunda parte, são explanadas como as instituições, a soberania, a cooperação e certos esforços intencionais podem transformar identidade e os interesses em uma situação de anarquia. Primeiramente, autor argumenta que os Estados não podem ser naturalmente egoístas, porque não há identidade anterior à interação. Assim, a auto-ajuda não é natural porque no estado de natureza há a vontade de sobreviver, mas não há identidade egoísta porque o ‘eu’ ainda não foi definido. definido . Neste estado natural também há indefinição de ameaça, pois estas não são naturais, são socialmente construídas de forma intersubjetiva a partir de significados comuns. Para demonstrar estes aspectos, Wendt argumenta que certos elementos abstraídos do neorrealismo afetam as relações interestatais dentro da anarquia. Esta é a situação das relações de amizade e inimizade. Pode-se perceber que os Estados agem de forma diferente com relação a inimigos e amigos, porque estes últimos não são ameaçadores. Desta forma, a ação dos atores é influenciada por estruturas construídas com base em significados comuns.

 

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O autor ainda argumenta que a auto ajuda é uma instituição que se desenvolve a  partir de círculos de interação que levam os atores a crer reciprocamente que o outro não é confiável. Neste caso, o ‘outro’ é visto como ameaçador e o ‘eu’ sente a necessidade de se proteger e agir de forma competitiva, tornando-se agressivo. Desta forma, os dilemas de segurança e auto-ajuda não são decorrentes da anarquia, mas uma vez institucionalizados, são difíceis de desconstruir. Assim, se surge um Estado predador, o qual ameaça todos os outros atores, estes  passam a agir de forma competitiva para garantir sua s ua segurança e isto leva ao sistema de auto-ajuda. Entretanto, uma vez que a defesa se dê de forma coletiva, com todos os atores lutando contra o predador, este não levará necessariamente a auto-ajuda, e o sistema de segurança poderá ser garantido. O autor argumenta que a auto-ajuda é produto da ação humana e tratá-la como um dado, assim como fazem os neo-realistas, é perigoso porque resulta em um processo de naturalização da história, no qual o mundo humano é tratado como algo separado das  práticas humanas que o construiu. Entretanto, mostrar que a política mundial é socialmente construída não significa dizer que esta é totalmente maleável. Por conseguinte, as instituições podem transformar as identidades apenas a partir de um  processo de prática estável e constante. Um dos exemplos que o autor aponta como uma instituição que mudou o caráter da anarquia é a soberania, pois esta fez com que os Estados tivessem seus territórios relativamente garantidos e respeitassem os direitos territoriais dos outros. Outro exemplo é a cooperação, já que esta leva a novos entendimentos e comprometimentos internacionais. Os ganhos comuns são uma condição necessária necessári a ao início da cooperação, mas uma vez institucionalizada e repetida inúmeras vezes, a cooperação muda os entendimentos comuns entre os atores e consequentemente as identidades. A cooperação muda identidades de forma lenta e gradual e de forma não intencional, entretanto as identidades e interesses também podem ser mudados a partir de esforços conscientes. Isto ocorre quando surge um novo contexto internacional e é mais vantajoso para certo Estado mudar sua identidade que mantê-la. Neste caso, a mudança de identidade só pode ter sucesso se o ‘eu’ conseguir convencer o ‘outro’ de suas novas intenções e desconstruir a percepção que este possuía. A política de Gorbatchev no final da Guerra Fria é um exemplo apontado pelo autor sobre como estes esforços conscientes podem mudar identidades.

 

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Após argumentar que a auto-ajuda não é um dado exógeno da anarquia, o autor conclui que as duas teorias que entendem que o processo pode mudar as identidades, os liberais e os construtivistas, poderiam contribuir muito para a teoria da política internacional se juntassem forças. Isso ocorre porque cada teoria tem suas próprias fraquezas, de forma que estas poderiam atuar de forma complementar. Entretanto, Wendt admite que isso apenas poderia ocorrer se as duas concepções conseguissem ultrapassar o problema de sua epistemologia ser diferente. O artigo de Wendt representa uma importante contribuição para as Relações Internacionais porque inclui em sua percepção alguns aspectos das relações sociais que ficavam negligenciados nas teorias realista e liberal da política internacional. Tratando as identidades e os interesses como elementos endógenos e que não podem ser abstraídos das relações entre os Estados, Wendt consegue entender de forma mais completa as interações entre os Estados, e consequntemente o sistema internacional. Ademais, Wendt escreve um texto convincente e demonstra de forma lógica como o sistema internacional foi construído pelos Estados. O autor consegue responder de forma satisfatória a todas as perguntas porque aponta as maneiras pelas quais as identidades podem ser transformadas. Outro aspecto que torna o texto lógico é a  presença de exemplos empíricos sobre como identidades foram transformadas, como foi o caso da União Soviética após Gorbatchev, que teve sua identidade redefinida. O caso da Alemanha também poderia ser satisfatoriamente explicado pela argumentação de Wendt, pois mostra como um Estado pode aprender e mudar sua identidade através da cooperação. Isto decorre do fato de que este país, que poderia ser considerado predador durante a Segunda Guerra Mundial, hoje coopera com os Estados da União Europeia e não representa mais uma ameaça aos seus antigos inimigos. Argumentando que o caráter da anarquia é dependente da ação dos Estados, o autor também demonstra que a construção de um sistema no qual haja menos competitividade e mais cooperação é possível e depende apenas das ações humanas. A importância disto é fazer os estadistas perceberem que o destino do sistema internacional não é um dado, mas que a construção de um sistema cooperativo depende das formas pelas quais estes irão interagir. Assim, a ideia de que a auto-ajuda é imutável, o que poderia inclusive contribuir para legitimá-la, é desconstruída.

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