voce e a reencarnacao - hernani guimaraes andrade.pdf

January 23, 2019 | Author: gmotta4 | Category: Reincarnation, Elijah, Purgatory, John The Baptist, Pythagoras
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VOCE E A REEN CARNAÇÃO Ia Edição - Outubro de 2002 5.000 exemplares

Agradecimentos O autor declara-se profundamente grato às pessoas adiante nomeadas, cuja preciosa ajuda contribuiu decisivamente para â concretização desta obra: Dra. Maria das Graças de Souza, Dra. Edna Jorge Ribeiro e Profa. Suzuko Hashizume pelo inestimável auxílio no preparo e revisão dos originais deste livro; Eng. Luiz Carlos Bojikian pelo eficiente suporte técnico na composição das páginas digitalizadas desta obra. Aos componentes da Comissão Editorial do CEAC, pela eficiência e atenção dispensada à presente obra; Ao prezado amigo Richard Simonetti pelo prefácio que muito contribuiu para valorizar este trabalho. Bauru, Outono de 2002. Hernani Guimarães Andrade

Ao casal amigo e respeitável modelo de honestidade, amor ao trabalho e abnegação: Sr. Yonetaro Hashizume e Excelentíssima Esposa Sra. Chihoyo Hashizume, com imensa admiração, carinho e estima dedico esta obra.

Sumário A Pedra Filosofal e a Imortalidade Capítulo I

.

15

Reencarnação - conceito, resumo histórico, religiões e povos que a adotam .

.19

Capítulo II Reencarnação - significado e aceitação

.30

Capítulo III Cristianismo e a reencarnação

—. * • • • • • -43

Capítulo IV A reencarnação é uma lei natural

58

Capítulo V Os animais e a reencarnação

69

» Capítulo VI Qs Drusos e a reencarnação

76

Capítulo VII Reencarnaçaò e a lei de Causa e efeito . Capítulo VIII Como está a pesquisa da reencarnação? Capítulo IX Homossexualismo e reencarnação *68

‘10°

Capítulo X Reencarnação, uma lei biológica?

119

Capítulo XI Evidências que comprovam a reencarnação

.129

Capítulo XII O caso Armed x Charlab



139

Capítulo Xffl O caso Gustavo . . . .

.149

. Capítulo XIV Onde estariam os pais de Mariana?

•••

162

Capítulo XV Pitágoras e a reencarnação

171

Capítulo XVI Reencarnação e aumento populacional

• .183

Capítulo XVÏÏ A certeza da sobrevivência e da reencarnaçao mudará o nosso comportamento?

.• y

Capítulo XVIII Intermissão entre reencarnações

206

Capítulo XIX Reencarnação - palavras finais Referências Bibliográficas

• * 2^2

• • •• -220

A PEDRA FILOSOFAL E A IMORTALIDADE

O

s alquimistas medievais, precursores dos químicos, manipulavam

substâncias variadas, buscando a fórmula ideal, a decantada Pedra Filosofal, que permitiria transmutar metais menos nobres em ouro. De quebra, conferiria ao seu portador a imortalidade. Gente importante andou envolvida com o assunto, destacando-se Paracelso (1493-1541), Francis Bacon (1561-1626), Robert Boyle (1627-1691), Isaac Newton (1643-1727). Bem, leitor amigo, no aspecto científico o propósito dos alquimistas foi concretizado pela física moderna. É possível transmutar os elementos, a partir de aceleradores atômicos. O problema é a inviabilidade econômica. Os gastos para produzir uma pepita de ouro, do tamanho de uma cabeça de alfinete, a partir do chumbo, equivalem ao preço de muitos quilos do precioso metal. Já no aspecto existencial, envolvendo a imortalidade, a Pedra Filosofal está à nossa disposição, desde sempre, prontinha, sem outro custo que do bomsenso para nos beneficiarmos. Refiro-me à reencarnação. Admitindo que já vivemos antes, estaremos assumindo nossa imortalidade, já que, obviamente, para que o Espírito reencarne, é preciso quê sobreviva à morte física. Podemos demonstrar essa realidade a partir das pesquisas que hoje se desdobram em inúmeros países, particularmente nos Estados Unidos, na Europa e na índia. Dentre os cientistas dedicados ao assunto, destaca- se, no Brasil, nosso querido amigo Hernani Guimarães Andrade, à frente do IBPP - Instituto Brasileiro de Pesquisas Psicobiofísicas - que possui em seu acervo dezenas de casos, envolvendo as reminiscências espontâneas de vidas anteriores. Atento

aos rigores da investigação científica, que permite superar fantasias e superstições, evidencia que mergulhamos na carne vezes sem conta, atendendo à dinâmica da evolução espiritual. , É algo perfeitamente lógico para quem “tem olhos de ver”, como ensinava Jesus. Se Deus, na Oficina da Natureza, gastou milhões de anos para elaborar a vestimenta que usamos no trânsito pela came, como demonstra Charles Darwin (1809-1882], por que o Espírito, infinitamente mais complexo, haveria de surgir num átimo, num passe de divina magia? A ideia da reencarnação é irresistível, permitindo- nos entender os mecanismos da Vida, envolvendo as diferenças sociais, culturais, físicas, intelectuais, morais e econômicas, que fazem a perplexidade daqueles que admitem a justiça e a bondade de Deus.

Nestas páginas temos reflexões valiosas, vazadas no bom senso, sob òs aspectos filosófico, científico e religioso da reencarnação, que fatalmente repercutem em nossa vida, na medida em que nos compenetremos de que somos viajores da eternidade em estágios repetidos de aprendizado no educandário terrestre, até que aprendamos as lições da Vida, habilitando-nos a viver em planos mais altos do Infinito. É, portanto, a Pedra Filosofal da imortalidade que o nosso Hernani está lhe oferecendo nestas páginas, amigo leitor. Sinta a maravilhosa certeza de que você viverá para sempre e que, sejam quais forem os percalços que enfrenta no presente, o futuro será sempre promissor. E como o viajante que, confiante, atravessa áridos desertos, sustentado pela certeza de que mais adiante a paisagem se modificará, descortinando promissores oásis, em gloriosa destinaçõo! Bauru, outono de 2002. Richard Simonetti

CAPÍTULO I REEN CA RN A ÇÃ O - CON CEITO, RESUMO HISTÓRICO, RELIGIÕES E POV OS QUE A A DOTA M “Antes de nascer, a criança já viveu; e a morte não é o fim. A vida é um evento que passa como o dia solar que renasce. J> (Muller, 1970, p. 21)

CONCEITO Reencarnar significa voltar à came novamente, tomar a nascer. Reencarnação equivale a renascimento. Usa-se outro termo também: palingenesia (ou palingênese) que etimologicamente provém dó grego: palin g 1 de novo, e gignomai = gerar, isto é: novo nascimento. Uma palavra empregada impropriamente no mesmo sentido é metempsicose, a qual deriva do grego, metempsykhosis, e foi levada do Egito para a Grécia por Pitágoras. Seu significado, entretanto, é um tanto diferente, pois supõe ser possível a transmigração das almas, após a morte, de um corpo para outro, sem ser obrigatoriamente dentro da mesma espécie. Alguns

filósofos gregos aceitavam esta crença. Plotino (205-270 a.D.) e Orígenes (185-254 a.D.) contestaram a propriedade semântica do termo metempsicose. Plotino sugeriu que se o substituísse por metensomatose, uma vez que haveria, na realidade, mudança de corpo (soma), e não de alma (psykhé). Entretanto, parece não haver nenhuma evidência observacional em apoio a essa suposição. O renascimento deve ocorrer exclusivamente dentro da mesma espécie, conforme o que se tem observado até agora.

NA ANTIGUIDADE - EGITO Há indícios de que algumas tribos paleolíticas acreditavam na sobrevivência da alma após a morte do corpo físico. O culto do fogo ligado ao das imagens antropomórficas e das pedras, bem como os cuidados com os cadáveres, são evidências a favor desta hipótese. (Wemert, 1948,1 vol, pp. 73-88). Alguns antropólogos e historiadores concordam com a tese de que os paleantropídeos alimentavam a esperança de um renascimento após a morte. Por exemplo, Mircea Eliade (Universidade de Chicago) diz o seguinte: “Por outro lado, nada impede que a posição curvada do morto, longe de denunciar o medo de ‘cadáveres vivos' (medo atestado em alguns povos), signifique, ao contrário, a esperança de um renascimento conhecem-se, com efeito, vários casos de inumação intencional em posição fetal.” (Eliade, 1978, Tomo I, vol. 1, p. 27). A crença na reencarnação é antiquíssima e bastante difundida. Ela sempre constituiu o dogma básico da maioria das religiões primevas. Louis Jacolliot assim se expressa: ■Pi mito da transmigração das almas é talvez o primeiro sistema filosófico

que se há produzido no mundo, sobre a imortalidade da alma e a origem do homem: liga-se intimamente com aquele da encarnação da divindade, nas crenças hieráticas da índia antiga.” (Jacolliot, 1892, p. 457). É possível que a fonte mais primitiva das crenças religiosas seja o Manarva Dharma-Sastra, mais conhecido como o “Código do Manu”. Este Código já era citado no Rig-Veda, há cerca de 1300 anos a.C., como sendo, então, muito antigo. No Livro XII, Manu o Legislador refere-se, nestes termos, ao destino das almas daqueles que morrem: “Após a morte, as almas dos homens que cometeram más ações tomam um outro corpo, para a formação do qual concorrem os cinco elementos sutis, e que é destinado a ser submetido às torturas das zonas inferiores. Quando as almas revestidas desse corpo sofreram as penas purificadoras, penetram nos elementos grosseiros, aos quais se unem para retomar novo corpo, voltar ao mundo e concluir sua evolução.” (Jacolliot, opus. cit. p. 461462). O sacerdote sebenita Manethon afirmava que a reencarnação era também dogma fundamental da religião egípcia. O Papiro Anana (1320 a.C.) diz o seguinte: “O homem retoma à vida várias vezes, mas não se recorda de suas prévias existências, exceto algumas vezes em um sonho, ou como um pensamento ligado a algum acontecimento de uma vida precedente. Ele não consegue precisar a data ou alugar desse acontecimento, apenas nota serem-lhe algo familiares. No fim, todas essas vidas ser-lhe- ão reveladas.” 0 livro de Fontane, sobre o Egito, menciona uma referência ainda mais antiga acerca da palingênese (3.000 a.C.): “Antes de nascer, a criança já viveu; e a morte não é o fim. A vida é um evento que passa como o dia solar que renasce.” (Muller, 1970, p. 21). Parece que o antiquíssimo autor desta sentença colheu seus

conhecimentos a respeito da reencarnação, observando as recordações de vidas passadas manifestadas por crianças. Este é o método básico usado pelo Prof. H. N. Banerjee, pelo Dr. Ian Stevenson e pelos investigadores do Instituto Brasileiro de Pesquisas Psicobiofísicas - IBPP.

A GRÉCIA Ferecides de Siros (Pherekydes) e seu discípulo Pitágoras (Pythagoras) - contemporâneos de Buddha - foram os principais veículos das ideias reencarnatórias que fluíram do Egito para a Grécia. De acordo com Cícero, Ferecides foi o primeiro filósofo grego a ensinar a imortalidade da alma. Pitágoras sêu discípulo afirmava recordar-se de várias encarnações pregressas. Eis algumas, a título de ilustração e por ordem de antiguidade: 1) Prostituta na Fenícia; 2) Esposa de um comerciante lojista na Lídia; 3) Agricultor na Trácia; 4) Hermotimus - Profeta que foi queimado vivo pelos seus rivais; 5) Euphorbus - Guerreiro troiano que lutou durante a guerra de Tróia; Pitágoras ao ver a couraça que havia servido a esse guerreiro, reconheceu-a imediatamente; 6) Pitágoras de Samos (580-496 a.C.) filósofo e matemático grego. (Stuart, 1977, p. 134).

Sócrates (469-399 a.C.) segundo Platão (427-347 a.C) ensinava a imortalidade da alma e a reencarnação. No diálogo entre Sócrates e Cebes, há uma passagem assim: “Efetivamente, Cebes, retoma Sócrates, nada é mais verdadeiro, segundo creio, e nós não nos enganamos em o reconhecer. E certo que há um retorno à vida, que os vivos nascem dos mortos, que as almas dos mortos existem (e que a sorte das almas boas é melhor, aquela das más é pior.)” (Platão, 3 tomo, Phedon, p. 134, XVII d).

O EPISÓDIO DE ER No livro X da República, 614-620b, há uma das mais fascinantes passagens acerca da reencarnação, descrita juntamente com um caso de OBE (Experiência fora do corpo). Trata-se do episódio de Er, filho de Armênio, originário da Panfília. Er foi tido por morto em uma batalha. Dez dias depois, quando eram colhidos os cadáveres já em putrefação, o seu foi encontrado intacto. Levaram-no para casa para ser cremado, mas no décimo segundo dia, quando já se achava estendido sobre a pira, retornou à vida. Após recobrar os sentidos, contou o que viu do lado de lá. Er explicou detalhadamente a sua caminhada juntamente com outros que haviam também morrido, até o local em que as almas dos mortos são julgadas por juízes divinos e depois selecionadas, seguindo as boas em direção às regiões celestiais, e as más às regiões infernais. A ele os juízes recomendaram que se mantivesse ali, para observar tudo e relatar aos homens o que viesse presenciar a seguir.

Logo mais, Er assistiu à chegada àquele local, das almas que já houveram passado anteriormente pelo céu e pelo inferno, e que retornavam para, mais tarde, seguirem novo destino. Segundo ele soube, as recompensas e as penas duravam em média o equivalente a mil anos terrestres. Alguns sofriam mais tempo, devido à maior gravidade de suas faltas. De um modo geral, as penas eram aplicadas na razão de dez por um. Aqueles que, ao contrário, haviam feito o bem ao redor de si, que haviam sido justos e piedosos, obtinham a recompensa na mesma proporção. Depois de estagiar na planície, por sete dias, cada grupo levantava o acampamento e viajava quatro dias, após o que chegava a um sítio de onde se avistava uma coluna de luz que atravessava todo o céu e a terra. Após mais um dia de marcha, chegava-se ao centro da referida luz, onde se acha o liame entre o Céu e a Terra. Ali estava suspenso o imenso fuso da Necessidade que faz girar todas as esferas (planetas). O próprio fuso gira sobre os joelhos da Necessidade. No topo de cada círculo encontra-se uma Sereia que gira com ele, emitindo um som único, de uma nota apenas; e essas oito notas compõem, em conjunto, uma só harmonia (a harmonia das esferas, de Platão). Três outras mulheres, sentadas a intervalos iguais e ao seu redor, cada uma sobre um trono, as filhas da Necessidade, Lachesis, Clotho e Atropos, cantam acompanhando a harmonia das Sereias. Elas representam: Lachesis o passado, Clotho o presente, Atropos o futuro. Quando as almas chegam àquele lugar, devem apresentar-se a Lachesis. E, então, um hierofante coloca-as em ordem; depois, tomando de

sobre os joelhos de Lachesis diversos modelos de vida, sobe em um estrado elevado e fala assim: “Declaração da virgem Ixichesis, filha da Necessidade: Almas efêmeras, vós ireis começar uma nova carreira e renascer na condição mortal. Não será jamais um gênio quem vos determinará a sorte, sereis vós mesmas que escolhereis o vosso gênio. Que a primeira designada por sorteio escolha em primeiro lugar a vida à qual será ligada pela necessidade. A virtude absolutamente não tem mestre: cada uma de vós, conforme a honre ou a desdenhe, tê-la-á ou mais ou menos. A responsabilidade pertence àquele que escólhe. Deus não será em absoluto o responsável. ” (Platão, 4 tomo, República - 617er); Em seguida, o hierofante deita a sorte para que cada qual obtenha o devido lugar na escolha do seu destino. Depois disso ele expõe diante das almas ali presentes os modelos de vida, em número muito superior ao dos candidatos. Escolhidos os tipos de vida desejados, todas aquelas almas dirigiram-se a Lachesis, na ordem que se lhes fixara por sorte. Lachesis deu a cada uma o gênio que fora preferido, para servir-lhe de guardião durante a existência e fazer cumprir seu destino. Depois os respectivos gênios as conduziram a Clotho, o qual, sob o turbilhão do fuso, fixou o destino de cada uma. Em seguida, passaram pela trama de Atropos, para tomar irrevogável o que foi fixado por Clotho. Então, sem retomar, cada alma passou sob o trono da Necessidade; e quando todas se reuniram do outro lado, seguiram para a planície do

Lethes, onde faz um calor terrível que queima e sufoca, porque essa planície é nua e desprovida de vegetação. Chegada a tarde, aquelas almas acamparam às margens do Rio Ameles, cuja água não pode ser colhida por nenhum vaso. Cada alma é compelida a beber certa quantidade daquela água. Devido à sede, muitas bebem mais do que se deve. Mas, bebendo, perde-se a lembrança de tudo, sobrevêm o esquecimento do passado. ER não bebeu daquela água; haviam-lhe proibido de fazê-lo, pois deveria conservar a memória de tudo o que testemunhara, para relatar aos seus companheiros, mais tarde. Dessedentadas, as almas procuram dormir para descansar. Porém, em meio à noite, um súbito estrondo se fez ouvir, seguido de um terremoto. Cada alma foi repentinamente lançada em uma direção diferente nos espaços superiores, rumo ao lugar de seu renascimento, e tombaram sobre a Terra como estrelas cadentes. Quanto a ET, sua alma retornou ao corpo que se achava sobre a pira prestes a ser cremado, despertou e logo relatou aos seus companheiros a sua excitante aventura.

ORIENTE E OUTROS POVOS As religiões predominantes na índia são o Hinduismo forma moderna do Brahmanismo, e o Jainismo, que segue as diretrizes de Mahavira (540 a.C.). Ambas são reencarna- cionistas. Outra religião muito difundida no Oriente é o Buddhismo, fundada por Siddartha Gautama -o Buddha (560-480 a.C.) -que nasceu em Kapilavastu, índia, nas faldas

do Himalaia, e pertencia à tribo dos Sákyas. A reencarnação e a lei do Karma constituem os postulados básicos do Buddhismo. O objetivo primacial da “Doutrina Buddhista” consiste na libertação do Samsara círculo vicioso das reencarnações sucessivas mediante a prática das virtudes prescritas na 4a. Nobre Verdade Ariyo Atthangiko Maggo ou o nobre caminho das oito sendas. O Buddhismo teve uma enorme difusão. Os principais países onde ele floresce há muitos anos são: índia, Ceilão, China, Vietnã, Coreua, Japão, Birmânia, Tibet, Camboja, Indonésia, Mongólia e Tailândia. Mencionaremos apenas de passagem mais outros povos e religiões que aceitam a crença na reencarnação. Pérsia - hoje Irã -Zoroastrismo, ou Mazdeismo, fundado por Zoroastro (500 a.C.), cujo livro sagrado é o Zend Avesta, ensinava a reencarnação. Os Celtas, Druidas e Teutões eram reencarnacionistas quando César os encontrou. Na Inglaterra, a Feitiçaria ensinava a reencarnação, antes do advento do Cristianismo. Na França, os Cátharos (Século XI e XII d.C.) adotavam a crença na reencarnação. Na Africa, os Bagongos e Bassongos, bem como outras tribos localizadas próximo do. Rio Congo, não só creem na reencarnação, como fazem referência às marcas-de- nascença reencarnatórias (“birthmarks”). No Alasca, os índios Tlingit e os Esquimós são reencarnacionistas. O mesmo se dá com os Peles-Vermelhas Winnibagos e os índios Chippeway. Outros países como a Thrquia e o Líbano possuem grande número de Drusos, os

quais aceitam a reencarnação como crença religiosa. (Stevenson, 1966).

JUDAÍSMO E CRISTIANISMO Os antigos judeus admitiam o renascimento. A Cabala ensina a reencarnação. Flavius Jasephus (37 a 95 a.D.), intelectual :e historiador judeu, em sua famosa obra De Bello Judaico, faz a seguinte advertência aos soldados judeus que preferiam desertar, suicidando-se: “Não vos recordais de que todos os espíritos puros que se encontram em conformidade com a vontade divina vivem nos mais humildes dos lugares celestiais, e que no decorrer do tempo eles serão novamente enviados de volta para habitar corpos inocentes? Mas que as almas daqueles que cometeram suicídio serão atiradas às regiões trevosas do mundo inferior?,\ (Josephus, 1910). No Velho e Novo Testamentos há várias passagens em que se notam alusões à crença na reencarnação, cultivada pelos primitivos adeptos do Judaísmo e do Cristianismo. Ei- las: Velho Testamento: Job, 1:21; Jeremias, 1:5; Malachias; 1:2- 3. Novo Testamento: Matheus, XI-.7-15; XVI:13-14, XVILlO- 13; Marcos, VIII:27-28, IX:11-13; Lucas, 1:17, VII:2428, IX:18-19; João:l-13, VIL56-58, IX:l-3; Efésios, 1:3-5. *** Nem todas as descobertas empíricas ou teóricas foram imediatamente aceitas e incorporadas ao sistema dominante dos conhecimentos científicos. Pelo contrário, algumas chegaram a ser energicamente combatidas. A reencarnação evidentemente é uma das crenças mais antigas da humanidade» Ela parece apoiada nos fatos observados empiricamente pelos nossos antepassados, em todos os tempos e lugares.

Entretanto, somente agora, ela começa a conquistar o título de verdade científica e a ganhar o seu reconhecimento como lei natural. Cremos que a maioria das pessoas admitirá a suma importância desse fato, talvez o mais signifícante no que concerne à natureza do homem e à sua destinação dentro do contexto cósmico.

CAPÍTULO II REENCARNAÇÃO ACEITAÇÃO

-

SIGNIFICADO

E

“Naître, mourir, renaître encore et progresser sans cesse, telle est la loiM . Allan Kardec (1804-1869)

SIGNIFICADO E ACEITAÇÃO Reencarnar significa, simplesmente, nascer de novo em um outro corpo em formação. Nas doutrinas do Oriente é mais usado o termo renascimento, em lugar do vocábulo reencarnação. Há outra palavra de raiz grega que significa reencarnação também: palingenesia; (palin = repetição, de novo; gignomai = gerar); ou seja novo nascimento. Há outro termo que geralmente é confundido com a reencarnação. E a metempsicose. O significado desta palavra inclui o renascimento em outras espécies inferiores ou em outros reinos além do reino animal, como o mineral e o vegetal. Esta possibilidade é excluída, por não ter nenhum apoio em observação de caráter científico realizada até agora. A metempsicose, ao que parece, fazia parte de ensinamentos exotéricos transmitidos aos não iniciados. Seu escopo seria conter os impulsos criminosos das massas humanas incultas, empregando-se a “ameaça” de um renascimento doloroso na forma de um vegetal ou de um

animal, sujeito a sofrimentos e humilhações. Equivale à condenação às penas eternas do inferno, prometida aos ímpios por algumas religiões do Ocidente. A ideia da reencarnação é encontrada praticamente em quase todos os sistemas religiosos do mundo, mesmo entre as tribos selvagens mais afastadas umas das outras e em todos os continentes da Terra. Essa disseminação de uma crença tão uniforme é observada também entre os povos muito antigos. Este fato faz supor que a causa da crença na reencarnação deve ter-se originado de um mesmo acontecimento constatado localmente em diversas regiões e em épocas também diferentes. Ao que parece, a ideia do renascimento não resultou apenas da propagação de ensinamentos transmitidos de úm para outro grupo humano. Ela deve ter-se originado da observação dos mesmos fatos surgidos em variadas épocas e locais. Isto não exclui a possibilidade de haver também sido ministrada como ensinamentos de uma religião ou de indivíduos iniciados em conhecimentos ocultistas, avançados para aquelas épocas e, eventualmente, para a atualidade. Quanto à antiguidade da crença na reencarnação, o Dr. Karl E. Muller diz o seguinte: “As tradições egípcias são provavelmente mais antigas. Picone-Chiodo cita o livro de Fontane sobre o Egito, um texto pretensamente datado de 3.000 anos a. C.: Antes de nascer, a criança viveu e a morte não é o fim. A vida é um evento que passa como o dia solar que nasce” (Muller, K.E., 1978, p.23). Os “Ka-nomes” dos dois primeiros reis da XX Dinastia Egípcia têm significados claramente relacionados com a ideia da reencarnação: Amonemhat, significa: Aquele que repete os nascimentos. Sensusert, significa: Aquele cujos nascimentos vive. N'a XIX Dinastia, o “Ka-nome” de Setekhy I significa: O repetidor

de nascimentos. (Murray, 1984, p.174). Todas as grandes religiões são reencarnacionistas. Por exemplo: o Hinduismo; o Jainismo; o Sikismo (fundado: por Nanak, em Punjab, no Século XVI); o Budismo; o Mazdeismo (uma facção, os Parsis, aceita individualmente a reencarnação); o Maniqueismo (de onde derivam os Cátaros ou Albigeneses, do Século X ao Século - XIV quand® foram dizimados pela Inquisição); o Judaísmo (na Cabalada reencarnação está claramente expressa no livro Zohar);i o Cristianismo (inicialmente reencarnacionista, tendo abdicado a esta crença ao transformar-se em Catolicismo e Protestantismo); o Islamismo (Sura 2:28 é Sura 25:5-10-6); o Sufismo (é um ramo do Islamismo surgido um ano após a Hégira; o Sufismo ensina a reencarnação). (Lacerda, 1978). Mencionamos essas breves informações, extraídas resumidamente da excelente obra de Nair de Lacerda, referida acima, apenas para dar uma ideia acerca das religiões às quais nos reportamos. Entretanto, reconhecemos que o simples fato da reencarnação ser objeto de crença das maiores e mais antigas religiões, com pouquíssimas exceções como o Catolicismo e o Protestantismo por exemplo, não constitui nenhuma evidência ponderável a favor da doutrina do renascimento. Parece-nos também válido o argumento recíproco, isto é: o fato de algumas poucas religiões não aceitarem a ideia da reencarnação também não tem valor algum como

evidência contra a doutrina do renascimento, especialmente se a refutação basear-se apenas em dogmas e opiniões de autoridades. Nesta questão, o que deve considerar-se válido é apenas a evidência dos fatos.

CATEGORIAS DAS EVIDÊNCIAS Para maior facilidade de estudo e pesquisa, as evidências de apoio à ideia da reencarnação podem dividir- se em seis categorias principais a saber:

1 Recordações espontâneas de uma ou mais vidas anteriores, surgidas na infância. Estas lembranças iniciam-se, mais comumente, no começo da fase elocutória.isto é, quando a criança passa a expressar-se verbalmente. Nesta ocasião o paciente costuma referir-se a fatos de uma vida anterior, fornecendo, em alguns casos, informações precisas sobre a personalidade prévia, o local onde viveu, o modo como morreu, o nome dos pais, etc. etc.. Esse período de revelações dura em média seis a sete anos. A fase de maior intensidade costuma ocorrer entre os dois e quatro anos de idade. O declínio inicia-se aos cinco anos e as recordações podem desaparecer mais ou menos aos sete anos de idade., Todavia, há variantes quanto à duração das recordações reencarnatórias. Há pessoas que conservam as lembranças íntegras ou parte delas, por toda a sua existência. E um dos casos de recordação em adultos, que faz parte do grupo seguinte. Em alguns indivíduos, mesmo após haver-se extinguido a memória dos fatos da sua anterior encarnação, podem surgir, em algumas ocasiões, surtos de lembrança de alguns episódios que já haviam sido aparentemente apagados da memória. Quase

sempre, estes lampejos mnemônicos ocorrem em virtude da associação de ideias ou da contemplação de ocorrências semelhantes às vividas anteriormente. Parece que o esquecimento atinge apenas o nível da consciência do paciente, porque há outros tipos de lembranças que se manifestam sob a forma de comportamentos inconscientes. São as fobias, os maneirismos, as habilidades adquiridas na existência prévia, inclusive manifestações de xenoglossia, gostos alimentares e outros.

2 Recordações em adultos: As recordações reencarnatórias em adultos podem ocorrer em diversas circunstâncias, conforme segue: .1) Recordações iniciadas na infância e que persistiram, em parte ou totalmente, durante a vida do paciente ( ver o item anterior). .2) Lembranças de episódios de vidas passadas reveladas sob forma de sonho. Pode ocorrer um sonho apenas, ou ter-se vários sonhos repetidos. .3) Visões em estado de vigília, reveladoras de cenas do passado. * .4) Recordações espontâneas, sem motivo qualquer. .5) O “déjà vu”, isto é, o reconhecimento de um lugar ou cena que nunca foram contemplados antes na presente existência. .6) Reconhecimento de uma pessoa com a qual nunca se teve relacionamento de espécie alguma nesta existência, nem direta nem indiretamente. 2.7) Recordação de eventos ocorridos em vida anterior, provocada por associação com fatos presenciados na vida atual.

2.8) Lembranças de episódios vividos previamente, provocadas por doenças, estado febril, enfraquecimento excessivo, no momento de morrer, etc. 2.9) Memórias de vidas anteriores, despertada por ativação espontânea de faculdades paranormais. 3) Por informação: 3.1) Sonhos anunciadores; podem ser produzidos pela própria entidade que está reencarnando e que avisa aos parentes; podem ser de outra entidade que informa aos parentes quem está reencarnando. 3.2) Informações fornecidas por desencarnados, revelando quem foi a pessoa na vida anterior. 3.3) Informação fornecida por pessoas dotadas de faculdades paranormais especiais. 3.4) Informação do próprio indivíduo, antes de morrer, prometendo voltar como filho ou filha" de determinada pessoa. 4) Por características inatas: 4.1) Genialidade. 4.2) Alguns sinais ou defeitos congênitos (marcas reencarnatórias de nascença). 4.3) Qualidades boas ou más, aptidões, etc. de nascença (sankhârâs).

5) Por investigação experimental, ou por outras causas eventuais. 5.1) Psicanálise muito profunda. 5.2) Casos de obsessão. 5.3) Hipnose ocasionando regressão de idade e daí a regressão a vidas passadas. Terapia de Vidas Passadas - TVR 5.4) Ação das drogas. 5.5) Experiências fora do corpo - EFC. 5.6) Choques traumáticos violentos. 5.7) Estados pré-agônicos. 6) Por experiências místicas: 6.1) Meditação. 6.2) Êxtase, “saínadi”, “satori”, etc. Convém esclarecer que não é sempre que tais estados ou experiências se mostram capazes de revelar algo relativo a uma ou mais vidas progressas. Porém, pode ocorrer que tais circunstâncias sejam propícias a tal revelação. Elas foram aqui alinhadas porque têm-se registrado casos em que algumas pessoas mediante semelhantes condições obtiveram informações acerca de suas vidas progressas e que puderam ser comprovadas. A rigor, deveriamos apresentar pelo menos um exemplo concreto de cada espécie das categorias atrás enumeradas. Todavia ultrapassaríamos os justos limites da paciência do caro leitor. Por isso, iremos mencionar apenas um caso, indicando depois as fontes bibliográficas onde o leitor mais interessado poderá encontrar um número maior de relatos enquadráveis nessas categorias.

Vamos escolher um caso da primeira categoria, isto é, de crianças que se recordam de vidas passadas. Os casos desta espécie são muito numerosos. Apresentaremos um da coleção do maior investigador da reencarnação, o Dr. Ian Stevenson, Professor de Psiquiatria da Escola de Medicina da Universidade de Virgínia, nos EE.UUV g)

O CASO DE BISHEN CHAND KAPOOR Bishen Chand, nasceu em 1921, na cidade de Bareilly, Uttar Pradesh, índia. Seu pai era o Sr. B. Ram Ghulam Kapoor, untderroviário, e sua mãe a Sra. Kunti Devi. Desde a tenra idade de dez meses, logo que começou a pronunciar, ainda mal, algumas palavras, sua família ouvia- o dizer: pilivit ou pilibhit. Pilibh.it é o nome de uma grande cidade situada cerca de 50 Km a noroeste de Bareilly. Entretanto, a família de Bishen Chand não tinha nenhuma ligação com pessoas de Pilibhit e esse nome não representava nada de especial para seus parentes. Mas à medida que o menino passou a expressar-se melhor, ele começou a revelar que tivera uma vida anterior em Pilibhit. Deu diversos detalhes bem precisos desta vida prévia, inclusive que seu nome era, então, Laxmi Narain, bem como se referia a um homem que considerava como seu “tio”, chamado Har Narain. Disse mais que seu pai era um “zamindar” (latifundiário, coletor de impostos). Quando Bishen Chand estava aproximadamente com quatro anos de idade, seu pai levou-o juntamente com seu irmão mais velho, Bipan Chand, a um passeio, até Golda, uma outra cidade situada além de Pilibhit. Então ele pediu para descer do trem, dizendo que “ele morava ali”. Seu pedido foi negado; por isso ele chorou durante todo o trajeto de volta até Bareilly.

Aproximadamente um ano e meio mais tarde B. Ram Ghulam o pai de Bishen Chand ocasionalmente relatou o caso de seu filho a um outro homem. Este por seu turno contou o fato ao advogado K. K. N. ; Sahay que, por coincidência, achava-se justamente naquela ocasião verão de 1926 investigando o caso de seu próprio filho, Jagdish Chandra. K. K. N. Sahay interessou-se pelo caso de Bishen Chand também. Tendo ido visitar Bishen Chand para escrever sobre mais este episódio, ele persuadiu o pai do garoto a levá-lo para visitar Pilibhit e assim conferir as suas revelações acerca de uma vida anterior naquela cidade. Em Io de agosto de 1926, Bishen Chand, seu irmão mais velho, o pai dos garotos e o Dr. Sahay foram a Pilibhit. Em Pilibhit, Bishen Chand reconheceu vários lugares e fez declarações adicionais a respeito de sua vida anterior. As declarações e reconhecimentos coincidiram precisamente com os fatos ocorridos em vida de um jovem chamado Laxmi Narain, que morrera em 1918, um pouco mais que dois anos antes do nascimento de Bishen Chand. Grande parte dos detalhes deste caso foram supridos pelo advogado K. K. N. Sahay e posteriormente verificados pelo Prof. Ian Stevenson . pessoalmente. Em sua análise do presente caso, Stevenson levantou 51 itens contento as declarações e reconhecimentos feitos pelo menino Bishen Chand, em sua quase totalidade plenamente confirmados. Entre os episódios marcantes mencionaremos, a título de exemplo, o encontro de Bishen Chand com a mãe de Laxmi Narain (a identificada personalidade anterior): Por ocasião do encontro entre a mãe de Laxmi e o garoto Bishen, apresentou-se um quadro de evidente afinidade entre ambos. Bishen Chand respondeu com impressionante precisão às perguntas

formuladas pela genitora de Laxmi Narain. Por exemplo, detalhes como o nome correto do criado pessoal de Laxmi Narain, a descrição do seu tipo humano, inclusive a casta à qual o criado pertencia. Para finalizar, ele declarou que gostava mais da mãe de Laxmi Narain do que de sua própria genitora. Outro fato notável foi o menino Bishen Chand ter indicado com precisão onde se encontrava um tesouro em moedas de ouro, que havia sido escondido pelo pai de Laxmi Narain antes de morrer. Ninguém da família conhecia o local onde o tesouro estava ocultado, a não ser o falecido Laxmi Narain. Com as informações de Bishen Chand foi possível encontrar o referido tesouro e assim recuperá-lo para a família. (Stevenson, L, índia Cases of the Reuncarnation Type Volume I Ten Cases in índia-, Charlottesville: University Press of Virginia, 1975, pp.176205).

A PESQUISA ATUAL DA REENCARNAÇÁO Podem distinguir-se duas áreas distintas da pesquisa sobre a reencarnação:

1) Pesquisa direta das evidências: Neste tipo de investigação buscam levantar-se os casos de recordações reencarnatórias, sem visar outra finalidade a não ser o melhor conhecimento das leis que regem o fenômeno do novo nascimento. O método mais seguro e usado com bastante êxito consiste na pesquisa dos casos de lembranças de vidas anteriores manifestados em crianças. Esta preferência não prejudica a investigação das demais categorias de evidência, desde que elas, à semelhança dos casos de memória reencarnatória em crianças, propiciem seguras comprovações dos episódios, lugares e pessoas envolvidas no histórico das lembranças

reveladas pelo paciente.

2) Investigação indireta das evidências, com vistas a outros objetivos: Neste caso, a obtenção dos detalhes de uma ou mais vidas passadas visa uma outra finalidade. A mais comum seria sua aplicação terapêutica no tratamento de psicopatologias refratárias aos métodos convencionais. De maneira geral, distinguem-se dois processos fundamentais para alcançar as informações acerca dos eventos ocorridos em vidas pregressas. Supõe-se naturalmente que tais acontecimentos, geralmente traumáticos, estariam ocasionando os sintomas psicossomáticos da atual existência. Então tenta-se descobri-los. Os dois métodos usados são:

1) A hipnose regressiva, ou “regressão cronológica”: Neste processo faz-se a hipnose prévia do paciente. Em seguida tenta-se levá-lo a regredir na idade, cronologicamente, até passar a uma vida anterior. Durante a regressão, o terapeuta sonda cuidadosamente os fatos de cada idade, a fim de descobrir quais os acontecimentos que poderiam ter implicações com os sintomas psicopatológicos do paciente. Isto é importante porque, às vezes, os distúrbios psíquicos podem ter-se originado na vida atual da pessoa. Mas a investigação de possíveis traumas em vidas anteriores pode resultar em êxito no tratamento das perturbações. Vejamos o segundo método.

2) A “regressão cronotópica”,

seguindo a pista dos sintomas: Este processo é recomendado pela dupla, Dr. Morris Netherton e Dra. Nancy Shiffrin, que esteve em 1981, 1982 e 1986 em São Paulo, a convite do casal Eng°. Prieto Peres e Dra. Maria Júlia P. M. Prieto Peres, introdutores da Terapia de Vidas Passadas - TVP - em nosso país e em outros da América Latina. (Nota: A sigla TVP foi adaptada posteriormente para TRVP: -TRVPeres -pela Dra. Maria Júlia P. M. Prieto Peres fundadora do atual Instituto Nacional de Pesquisa e Terapia Regressiva Vivencial Peres). Os frequentes êxitos obtidos nesses tipos de terapia regressiva são outras tantas evidências de apoio à ideia da reencarnação. (Netherton, & Shiffrin, 1978). As terapias regressivas têm produzido um grande contingente de psicoterapeutas sinceramente convencidos da realidade da reencarnação. Entre os mais conhecidos colocamos a Dra. Edith Fiore que afirma: “A vida que vivemos agora não é nossa primeira vida; todos já passamos pelo mundo.” (Fiore, 1978). Outra notável psicóloga, Dra. Helen Wambach, colecionou mais de mil casos de recordações de vidas passadas. Tais fatos foram obtidos ao longo de muitos anos de clínica em que ela empregou largamente o método da regressão. Além de obter grande percentual de curas, ela pôde fazer interessantes estudos históricos, baseados nas informações de seus pacientes e em rigorosa análise estatística. (Wambach, 1981). Outro autor desse gênero é o Dr. Arthur Guirdham que, ocasionalmente em sua clínica psiquiátrica, descobriu que uma sua paciente tivera uma encarnação entre os Cátaros, no Século XIII. Há em português duas obras desse médico, Os Cátaros e a reencarnação, 1992, e Entre Dois Mundos, 1981, ambas editadas em São Paulo pela Ed.

Pensamento. * * *'

Uma vez comprovada a realidade da reencarnação, o corolário desse fato será necessariamente a certeza da sobrevivência da individualidade após a morte do corpo físico. O número imenso de casos de reencarnação já registrados e investigados está mostrando claramente que os seres vivos inclusive o homem possuem, além do corpo físico, uma contraparte não física, mas real, imperecível e portadora de consciência, à qual têm sido dados nomes diversos ao longo da história. Verifica-se, a cada dia que passa, que a aceitação dessa realidade não está mais na dependência de fatos que a comprovem e sim tão-somente da disposição em aceitá-la.

CAPÍTULO III CRISTIANISMO E A REENCARNAÇÃO “Não te maravilhes de eu te ter dito: Necessário vos é nascer de novo.” (João Dl - 7) “O que é nascido da carne é carne, o que é nascido do Espírito é Espírito. ” (João UI - 6) “O vento assopra onde quer, e ouve-se a sua voz; mas não se sabe donde vem, nem para onde vai; assim é todo aquele que é nascido do Espírito.” (João in - 8).

INTRODUÇÃO Reconhecemos a grande dificuldade que envolve a exegese das Escrituras. 0 maior problema reside na complicada trama de racionalizações que há muitos anos vem sendo urdida em torno das simples informações encontradas nos textos. Por outro lado, as análises exegéticas alcançam, às vezes, somente as traduções dos livros originais. Como todos sabem, a tradução pode conter imprecisões e até deturpações do verdadeiro sentido expresso no original. Entretanto, o que vamos apresentar a seguir constitui somente um complemento quase dispensável, que visa apenas satisfazer dúvidas de pequena parcela de leitores: aqueles que ainda se apegam às . tradições religiosas e aos dogmas estabelecidos pelos credos por eles professados. Não pretendemos fazer exegese* profunda. Apenas exporemos Os textos como são encontrados nas versões consideradas boas, como as da Tradução Brasileira, que é uma versão direta dos originais em grego e em hebraico, e a do Pe. João Ferreira D’Almeida. Para não nos estendermos desnecessariamente, limitar-nos-emos aos evangelhos de Matheus, Marcos e João, onde a ideia da reencarnação transparece

nitidamente em várias passagens. Não abordaremos o Velho Testamento, porque parece- nos demonstrado que os aptigos judeus aceitavam a reencarnação. Nas obras do historiador judeu Flavius Josephus há clara referência neste sentido. Ela é encontrada nas suas severas observações aos soldados judeus que preferiam suicidar-se em vez de se deixarem capturar pelos romanos. “Não vos recordais de que todos os espíritos puros que se acham em conformidade com a vontade divina vivem nos mais humildes dos lugares celestiais, e que no correr do tempo eles são de novo enviados de volta para habitar corpos inocentes Mas que as almas daqueles que cometeram suicídio são atiradas às regiões trevosas do mundo inferior “ (o grifo é nosso). (Josephus, 1900, De Bello Judaico). A tese dp renascimento foi condenada iiõ Concilio de Constantinopla, levado a efeito em 553 p.D. A não ser este, parece-nos que nenhum outro Concilio da Igreja tratou de matéria concernente àquele assunto. Por outro lado, o Concilio de Constantinopla não foi um Concilio geral ecumênico, portanto sua autoridade não deve ser universal. Na realidade, o Concilio de Constantinopla foi local, Além disso, ele não se reuniu para condenar propriamente a reencarnação e sim a heresia de Orígenes, que entendia terem todas as almas surgido no início da Criação, como espíritos angélicos; tendo elas pecado, apesar desta condição, foram obrigadas a* sucessivos renascimentos em corpos materiais, a fim de se purificarem. A doutrina de Orígenes, baseada na hipótese da preexistência daquelas almas é que foi objeto da condenação do Concílio de Constantinopla. Há outro ponto importante a ser considerado. Nem todas as resoluções dos concilies ou condenações locais da Igreja conseguiram perdurar

como verdades eternas. A Igreja romana, ao taxar de heresia a doutrina do heliocentrismo de Galileu, não conseguiu manter esta posição diante das evidências de caráter científico que deram apoio ao grande Sábio. Assim, poderiamos pensar com relação ao caso da reencarnação a favor da qual há fortes evidências observacionais, obtidas por métodos científicos rigorosos. A Ciência não é onisciente nem infalível, mas ainda é um bom método para aproximar-se da verdade; talvez o melhor, por enquanto.

OS EVANGELHOS E A REENCARNAÇÁO A simples leitura de algumas passagens do Novo Testamento faz ressaltar logo a naturalidade com que o renascimento era encarado pelos discípulos de Jesus, e por ele próprio. Vejamos algumas dessas passagens. Matheus é o evangelista que fez maior número de referências ao renascimento de João Batista. Segundo

Matheus, João Batista era a reencarnação de Elias: “Pois todos os profetas e a lei até João Batista profetizaram; e se quereis recebê-lo, ele mesmo é Elias que há de vir. O que tiver ouvidos, ouça. ” (Matheus, XI, 13 a 15). “Indo Jesus para as bandas de Cesareua de Felipe, perguntou a seus discípulos: Quem diz o povo ser o Filho do homem Responderam: Uns dizem: João Batista; outros: Elias, e outros: Jeremias ou algum dos profetas(Matheus, XVI13 a 14). Nesta passagem destaca-se a naturalidade com que se encarava, não só o retorno de Elias, mas também a possibilidade da reencarnação dos demais profetas. Transparece nesta passagem que tanto Jesus como seus discípulos tinham como coisa natural o fato de um profeta tornar a nascer e continuar sua tarefa de esclarecimento e orientação dos judeus. Deviam discutir tais questões, como pode ver-se pela seguinte passagem do mesmo evangelista: ' “Perguntaram-lhe os discípulos: Por que dizem, então, os escríbas que Elias deve vir primeiro? Respondeu ele: Na verdade, Elias há de vir, e restaurará todas as coisas: declaro- vos, porém, que Elias já veio\ e não o conheceram, antes fizeram-lhe tudo quanto quiseram. Assim também o Filho do homem há de padecer às suas mãos. Então os discípulos entenderam que lhes falava a respeito de João Batista/’ (Matheus, XVII, 10 a 13). Em Marcos podemos 1er a mesma passagem: “Então lhe perguntaram: Como é que os escríbas dizem que Elias há de vir primeiro? E respondendo ele disse-lhes: Em verdade Elias virá primeiro, e todas as coisas restaurará: e, como está escrito do Filho do homem, convém que padeça muito e seja aviltado. Mas digo-vos que Elias já veio, e fizeram-lhe tudo

quanto quiseram, como dele está escrito.” (Marcos, IX-, 9 a 13). Havia profecias anteriores, anunciando a vinda de Elias, mas não especificavam quem seria a reencarnação deste profeta. Somente depois do episódio de João Batista é que ficou esclarecida tal dúvida, por parte de Jesus. Aqui está, como exemplo, a profecia de Malaquias: “Eu vos enviarei o profeta Elias, antes que venha o grande e terrível dia de Jeovah.” (Malaquias, IV, 5). Referindo-se ao retorno de Elias, Lucas explica a missão de João Batista: “Ele irá adiante do Senhor no espírito e poder de Elias, para converter os corações dos pais aos filhos, e converter os desobedientes, de maneira que andem na prudência dos justos a fim de preparar para o Senhor um povo dedicado.” (Lucas, I, 17). Esta passagem evangélica tem servido aos adversários da ideia da reencarnação para oferecerem outra interpretação acerca do retomo de Elias. Tais exegetas acham que João Batista não era a reencarnação de Elias. Ele apenas usava o “espírito” e o “poder” de Elias, isto é, João Batista inspirava-se em Elias e pregava sua sabedoria ao povo, a fim de prepará-lo para o advento de Jesus. No entanto, o exame atento das demais passagens de Matheus, Marcos e Malaquias mostrará que a melhor interpretação é a do renascimento de Elias na personalidade de João Batista. Este possuía, não só o Espírito, como o poder daquele profeta. Tanto assim é que, em Lucas VII, 24 a 27: “E, tendo-se retirado os mensageiros de João, começou a dizer à multidão acerca de João: Que saístes a ver no deserto? Uma cana abalada pelo vento? Mas que saístes a ver? Um homem vestido de trajes delicados? Eis que os que andam com preciosos vestidos, e em delícias estão nos paços reais. Mas que saístes a ver? Sim, vos digo, e muito mais do que profeta. Este é aquele de

quem está escrito: Eis que envio o meu anjo adiante da tua face, o qual preparará diante de ti o teu caminho. ” Em seguida Jesus refere-se a João Batista como sendo o maior profeta até então surgido. Nesta passagem não é insinuado que João Batista veio para ser uma espécie de “médium” de Elias. Está explícito que ele era o próprio Elias de quem falavam as profecias e era esperado como o precursor. João Batista, pessoalmente, não parecia saber que ele próprio era Elias renascido, conforme Jesus atestava. Isto é natural, pois as recordações reencarnatórias não são tão comuns assim. Em João I, 21-25, há um episódio que mostra claramente que João Batista ignorava ser o próprio Elias reencarnado. Ali está expressoN que sacerdotes e levitas inquiriram-no para saber se realmente ele era Elias. Isto quer dizer que os doutores da lei acreditavam na possibilidade da reencarnação: - “Eperguntaram-lhe: Pois quê? És tu Elias? E disse: Não sou. És tu profeta? E respondeu: Não.” (João I, 21). “E perguntaram-lhe, e disseram-lhe: Por que batizas, pois, se tu não és o Cristo, nem Elias, nem o profeta?” (João I, 25) Como se vê, havia uma expectativa entre os sacerdotes e levitas acerca da vinda do Cristo e do profeta Elias como seu antecessor. A admissão da palingenesia como fato natural é bem \

visível na seguinte passagem: “Jesus, ao passar, viu um homem cego de nascença. Perguntaram-lhe seus discípulos: Mestre, quem pecou para que este homem nascesse cego, ele ou os seus pais? Respondeu Jesus: Nem ele pecou nem seus pais mas isto se deu para que as obras de Deus nele sejam manifestas." (João IX, 1 a 3). Como se vê, Jesus não corrigiu o fundamento básico da pergunta. O homem era cego de nascença. Os discípulos perguntaram a Jesus se o cego teria pecado para merecer aquele castigo. Logo admitiam a reencarnação e as consequências cármicas das faltas pretéritas. Como podería ter ele pecado antes para nascer cego depois, se não fosse admitida a hipótese da reencarnação Jesus não contrariou a ideia básica, apenas informou que o fato tinha outra razão de ser; nada mais.

NICODEMOS E A REENCARNAÇÃO Mas, de todas as passagens do “Evangelho Segundo João”, a mais esclarecedora acerca da reencarnação é a que se pode 1er em João III, la 13, cujo título é: Jesus instrui Nicodemos acerca do novo nascimento. A exegese desta passagem tem sido feita por outras religiões, forçando a interpretação no sentido de o novo nascimento ser equiparado à purificação pela água lustrai do batismo. Vamos tentar outra interpretação que nos parece mais em acordo com as crenças da época, as quais ressaltam das passagens anteriormente analisadas. Em São João, cap. 3, Jesus instrui Nicodemos acerca do novo nascimento, e é de tal clareza a explicação dada pelo

Mestre ao seu interlocutor que os reencarnacionistas teriam, nesta passagem do Evangelho, mais uma base em que apoiar a teoria por eles defendida. Todavia, os adeptos de alguns ramos do Cristianismo são de opinião que o versículo 5 por si só já esclarece bem a questão, uma vez que Jesus declarou: que aquele que não nascer da água e do Espírito, não pode entrar no reino de Deus.” E afirmam que, sem dúvida alguma, Jesus queria mostrar ser impossível a salvação sem o batismo, isto é, sem o novo nascimento pela água lustrai do batismo e pelo Espírito Santo. Os opositores à teoria da reencarnação citam apenas o versículo 5, que, tomado assim, separadamente, pode induzir outro significado. No entanto, os outros versículos esclarecem, completam e fecham sentido com o versículo 5. Vejamos: Jesus respondeu e disse-lhe: Na verdade te digo que aquele que não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus." (Vers. 3) (O grifo é nosso);; Vejam bem: está aí, meridianamente compreensível, que “aquele que não nascer de novo não pode ver o reino de Deus", isto é, não pode alcançar os níveis superiores da espiritualidade. Mas Nicodemos admirou-se e, para certificar-se melhor, objetou, como qualquer um o faria, diante de tão surpreendente revelação: “Disse-lhe Nicodemos: Como pode um homem nascer,

sendo velho? Porventura, pode tomar a entrar no ventre de sua mãe, e nascer?” (Vers. 4), ; Eis o que levava Nicodemos a não aceitar a tese: Ele somente entendia de maneira limitada a operação que possibilitaria um renascimento em tais condições. Nascer de novo, para Nicodemos, afigurava-se um retomo dentro do âmbito familiar e exclusivamente entre mãe e filho. O interlocutor parecia não ter capacidade para generalizar, para estender a um campo mais amplo a ideia do renascimento. Nicodemos pensava em termos de unidade, e Jesus veio ampliar tal conceito, mostrando sua universalidade no tempo e no espaço, encarando, nao unicamente a família de Nicodemos, mas sim toda a espécie humana. Daí o versículo 5: “Jesus respondeu: Na verdade, na verdade te digo que aquele que não nascer da água e do Espírito não pode entrar no reino de Deus.” Jesus não respondeu: Não, Nicodemos, não foi absolutamente desse tipo de nascimento que eu te falei! Foi do renascimento pela água lustrai do batismo e pela purificação daí advinda, seguida da descida do Espírito Santo. Corre, anda depressa a procurar João! Vai logo batizarte! De maneira alguma! Jesus foi claro e inequívoco. Não corrigiu a ideia fundamental de Nicodemos; completou-a, tornando-a universal. Esta universalidade encontra-se brilhantemente sintetizada em: “...aquele que não nascer da água e do Espírito ...” Mas, dirá você, meu caro leitor: “Então... água não é água?” “Então o cidadão terá de voltar à condição de protista, renascendo da água, como uma bactéria, um protozoário ou um ser primevo qualquer? Além disso, a geração espontânea já não caiu de moda? E as experiências de Pasteur?”

E aqui onde se encontra o ponto nevrálgico da questão. Precisamos saber o que os antigos entendiam por água; qual o significado desse vocábulo, quando usado naqueles tempos; em que sentido tê-lo-ia adotado Jesus que, naturalmente, o empregou à maneira tradicional, tal como era interpretado na época. Veremos, então, que a palavra água possuía um sentido hierático, que a colocava como a matéria primordial de todo o Cosmo. Assim o entendiam os Egípcios, de onde Moisés trouxe as primeiras ideias da formulação do Gênesis: “No início era Nun, massa líquida primordial, em cujas infinitas profundezas flutuavam confusos os germens de todas as coisas.” IQuando começou a brilhar o Sol, a Terra foi solidificada e as águas separadas em duas massas diferentes: uma engendrou os rios e os oceanos; a outra, suspensa no ar, formou a cúpula do céu, as águas do alto, nas quais astros e deuses, transportados por uma corrente eterna, puseram-se a navegar.” (Maspero Histoire Ancienne des Peuples de TOrient Classique. C. 27 Resumo de antigos papiros egípcios). Os gregos tinham ponto de vista semelhante com relação à água: “O oceano é o progenitor dos deuses, e Tétis, a mãe.” (Homero Ilíada, C. XIV 201-302). Homero era o eco da civilização pré-helênica (egea) e assinalava o mito comum a todas as grandes religiões das antigas civilizações orientais: babilônica, egípcia, hebraica, fenícia etc. para as quais o Cosmo derivava de um princípio úmido. Eis o que diz Aristóteles, o filósofo que inspirou os maiores doutores da Igreja Católica: Existem alguns, que viveram muito tempo antes da geração presente, os primeiros a cogitar dos deuses, que pensaram da mesma maneira, (que Thaïes)

com respeito à natureza. Admitiam que o Oceano e Tétis eram os progenitores da geração, e faziam jurar aos deuses pela água, chamada por seus poetas: ‘Estigia’. considerando-a a coisa mais venerável, ou seja, a mais antiga de todas. (Aristóteles A Metafísica, C. Ia. n.983, al. b) Ouçamos o que nos esclarece Damascio: “A teogonia de Herônimo e Helânico é narrada da seguinte forma: No começo existia somente a água que se endureceu, formando a Terra...’ (Damascio De Prima Principia V. 123). No Gênesis de Moisés, vemos que o conceito atribuído à água é o mesmo que o emprestado à matéria fundamental do Cosmo. “... e o Espírito de Deus movia-se sobre a face das águas. ” (Das versões populares em português). Por conseguinte, o vocábulo água tinha um significado mais amplo. Representava alguma coisa de primordial na origem do Cosmo: era o símbolo da matéria universal, primeva, da qual se originavam todos os seres, inclusive o próprio Nicodemos, que ignorava ter de renascer dessa água, desta matéria. E Jesus, sabedor disso, foi mais explícito, mais claro. Particularizou o termo água, aplicando-o ao caso em tese, mostrando a Nicodemos um dos significados daquele vocábulo genérico: “O que é nascido da carne, é carne, e o que é nascido do Espírito, é espírito.” (Vers. 6) Isto é, o que é carne só pode provir da carne. Lá está o velho aforisma da Biologia: “Todo ser vivo tem origem em outro ser vivo; por aquelas outras palavras: O que é nascido da carne, é carne..# A matéria, aqui, está caracterizada, particularizada e identificada com um estado bem definido: carne. E, talvez para ficar bem positivo, e sem deixar sombra de dúvida, ]esus frisou logo a seguir: “Não te admires de eu te dizer: Importa-vos nascer de novo.” (Vers. 7)

Haverá explicação mais clara? Até Nicodemos acabaria por entender o que Jesus tentava ensinar-lhe de forma tão didática. Como a vida pressupõe, também, a intervenção da alma, do Espírito, Jesus fez menção desta outra parte igualmente importante, distinguindo-a da matéria: "... o que é nascido do Espírito é espírito.” Nesta expressão caberia um aforisma semelhante ao que citamos com relação à Biologia: Todo espírito provém do Espírito, isto é, há dois princípios distintos, há um dualismo matéria-espírito, mas suas origens são diversas, e diversas são suas formas de evolução, como Jesus também fez questão de esclarecer de maneira bastante didática. Enquanto a matéria, figurada pela água e particularizada pela carne, teve sua lei genética claramente definida no imediatismo hereditário, o que é nascido da carne é carne, o espírito, por sua vez, originado do Espírito,

apresenta uma característica típica e inconfundível no concernente à hereditariedade, que o diferencia inteiramente da matéria. Ali está, no versículo 8, a revelação de uma das leis da reencarnação; o olvido, o esquecimento temporário das vidas anteriores: “0 vento assopra onde quer, e ouves a sua voz; mas não sabes donde vem, nem para onde vai; assim é todo aquele que é nascido do Espírito.” O Espírito originado do Espírito (grafado com E maiúsculo), não apresenta a peculiaridade da matéria viva que traz em si os caracteres hereditários dos seus progenitores. O espírito é como o vento, “assopra onde quer e ouves a sua voz”; ou seja, manifestasse onde se fizer necessária a sua manifestação. E ouvimos a sua voz, isto é> conhecêmolo pelas suas ideias e não pela forma física estereotipada na carne por ele animada ...” Mas não sabes donde vem, nem para onde vai:j”; sua origem imediata é ignorada, sua encarnação anterior está olvidada; nem sabemos qual será sua próxima experiência carnal, pois o espírito não se submete às leis biológicas. O Mestre fechou o versículo com chave de ouro, acrescentando: !?.. assim, é todo aquele que é nascido do Espírito.” Vê-se logo que o sentido dado por Jesus de forma alguma correspondia ao Espírito Santo do batismo. Senão vejamos: Como é que aquele que é batizado fica semelhante ao vento, “assopra onde quer e ouve-se a sua voz; mas não se sabe donde vem nem para onde vai,” E evidente que o Divino Instrutor se referia ao “espírito que é nascido do Espírito”, e não ao neófito que, em carne mais espírito, se submetia ao batismo de João. Mas Nicodemos recebia esses ensinamentos com o mesmo ânimo, com a mesma incompreensão daqueles que, votados unicamente às coisas da matéria, às aparências e às exteriorizações, não são capazes de

alçar vôo ainda que medianamente alto. Surpreendidíssimo Nicodemos respondeu, e disse-lhe: “Como pode ser isso?” Nicodemos era Mestre em Israel; por isso Jesus respondeu, e disselhe: “Tu és Mestre em Israel, e não sabes isto?” (Vers. 10) O Rabi admirava-se mui justamente da ignorância do Mestre Nicodemos, pois a reencarnação era assunto corriqueiro entre os doutores da lei, entre os rabinos cabalistas. E, certamente desanimado de meter no crânio do seu interlocutor verdades tão transcendentes, lançou mão do recurso comum, invocando seu próprio testemunho como o de pessoa absolutamente acima de qualquer suspeita: “Na verdade, na verdade te digo que nós dizemos o que sabemos e testificamos o que vimos; e não aceitais o nosso testemunho.” (Vers. 11) “Se vos falei de coisas terrestres, e não crestes, como crereis, se vos falar das celestiais” (Vers. 12) E, assim, Jesus mostrou a Nicodemos quão longe estava ele de perceber aquelas verdades sublimes, a lei da reencarnação, o dualismo matéria-espírito, as características fundamentais do renascimento, tanto da carne como do espírito, o esquecimento das encarnações passadas, as consequências morais, filosóficas e sociais disso tudo. Daí por diante Jesus entrou a ensinar-lhe, assim mesmo, outras grandes verdades, vers. 13-21, talvez, não para que seu discípulo as compreendesse profundamente, mas, quem sabe, para a posteridade; para aqueles que deixaram de ser Nicodemos, para aqueles que, sem ser mestres, tivessem a inteligência livre e o coração, aberto para as maravilhas da sua sublime doutrina.

CAPITULO IV A REENCARNAÇÃO É UMA LEI NATURAL O gênio é experiência. Alguns parecem julgar que seja um dom ou um talento, mas é o fruto de longa experiência em muitas vidas. Algumas almas são mais velhas do que outras e, por isso, sabem mais. (Henry Ford, entrevista publicada no San Francisco Examiner).

AS RECORDAÇÕES DE VANESSA Em 10 de setembro de 1973, D. Marcela escreveu ao Instituto Brasileiro de Pesquisas Psicobiofísicas IBPP uma extensa carta, da qual extraímos o seguinte trecho: “A minha neta Vanessa, quando estava com dois anos, veio morar comigo até os dezoito anos, época em que meu marido João faleceu, a 23 de outubro de 1970. Quando ela estava perto de completar três anos, uma tarde eu a banhava e ela me disse: ‘Vovó, eu já lhe banhei e penteei seus cabelos Então eu falei: Quando? Ela me respondeu: ‘Quando eu era a sua mãe’. Depois, passados uns dias, eu acabara de banhá-la e a levei para uma janela. Então ela me disse: ‘Vovó, eu já morei em um lugar assim Ela se referia a um sítio em frente, com muitas árvores. Tornei a perguntar: Quando? Ela me disse: ‘Quando eu era a sua mãe>.”, Minha mãe chamava-se Maria do Carmo. Ela faleceu no dia 2 de agosto de 1947, com 65 anos, vítima de diabetes. Sofreu também de asma, desde criança. Ligando os fatos, lembrei-me que minha mãe morou justamente em uma

casa, na Rua Agapito dos Santos, onde havia muitas árvores. Aí fiquei pensando: Será que minha mãe reencarnou-se na Vanessa? Vanessa gostava dos pais, mas não queria ir para casa, preferiu ficar comigo. Era muito obediente e amorosa... Um detalhe: Vanessa também sofreu de asma desde os dois anos até quase doze anos. Depois disso, somente quando está gripada é que ela sente um pouco de falta de ar. Vanessa nasceu perto de minha casa, no dia 8 de janeiro de 1952. Tem mais dois irmãos e uma irmã. Como eu vivia só, depois que meu marido morreu, Vanessa voltou a morar comigo logo que ela se casou.’

SERIA, VANESSA, A REENCARNAÇÁO DE SUA BISAVÓ? As ocasiões em que Vanessa pareceu expressar recordações reencarnacionistas foram apenas duas. Assim mesmo, achamos oportuno analisar este caso, por conter certos detalhes que apontam para uma interpretação favorável à hipótese de reencarnação. Comecemos pela primeira revelação; vamos repeti-la: “Quando ela estava perto de completar três anos, uma tarde eu a banhava e ela me disse: ‘Vovó eu já lhe banhei e

penteei seus cabelos.’ Então falei: Quando? Ela me respondeu: Quando eu era a sua mãe*.” Neste episódio, há um pormenor significante. Vanessa fora praticamente criada pela avó. Esta é quem tomava conta dela. Por conseguinte, a garotinha deveria relacionar os inúmeros cuidados recebidos, com a figura e a função da avó. Seria, então, mais natural que, ao ser indagada acerca de quando ela dera banho e penteara os cabelos de D. Marcela, ela respondesse, por analogia: “Quando eu era a sua avó”. E não: “Quando eu era a sua mãe.” Sendo uma criança de dois para três anos, ela teria aprendido que tais cuidados deviam ser tarefas da avó, pois era a D. Marcela quem diariamente a banhava e penteava os seus cabelos. É estranho e bem significante que Vanessa tenha dito: “Quando eu era a sua mãe” e não “quando eu era a sua avó”, o que deveria esperar-se da garotinha em semelhante circunstância. Possivelmente, o banho seguido do ato de pentear seus cabelos tenha, por associação de ideias, despertado em Vanessa a lembrança de um acontecimento de su a presumível encarnação anterior. Ela ter-se-ia recordado das inúmeras vezes que, como mãe de D. Marcela cu m pri ra aquele ritual doméstico: banhando e penteando os cabelos de sua filha. ” A segu n da rev el ação ocorreu ao ter si do l ev ada a u m a jan el a, após o ban h o. N esta ocasi ão el a decl arou qu e h ou v era m orado em u m l u gar sem el h an te àqu el e: “Vovó, eu já morei em um lugar assim.” Parece que a recordação de Vanessa foi despertada também por

associação de ideias. 0 arvoredo existente defronte à janela em que ela foi colocada, tê-la-ia feito recordar-se das inúmeras árvores que contemplara quando ela fora a D. Maria do Carmo, mãe de D. Marcela, e morara na Rua Agapito dos Santos. Nesta rua havia, também, um belo arvoredo. Ao ouvir Vanessa revelai; que havia morado em um lugar assim, D. Marcela indagou: Quando? E a resposta foi incisiva: “Quando eu era a sua mãe.” Parece que este último episódio sugere tratar-se de uma recordação reencarnatória de Vanessa, e que ela teria sido a mãe de D. Marcela. Entretanto, há ainda outras evidências relevantes relacionadas com esta hipótese inicial. Vejamos: Desde os dois até quase os doze anos de idade, Vanessa sofreu de asma. Depois desta fase, ainda tem alguns escassos surtos de falta de ar, quando está gripada. De acordo com o relatório de D. Marcela, sua mãe D. Maria do Carmo sofreu de asma durante toda a sua vida. A asma apresentada por Vanessa, entre os dois e os doze anos, podería ser hereditária. Mas podería também ser uma “marca-de-nascença reencarnatória.” Deve observar-se que a asma se manifestou em Vanessa, aos dois anos de idade, época em que geralmente afloram as lembranças de vidas passadas, nas crianças. Da mesma forma, o incômodo extinguiu-se aos doze anos de idade. É nesta idade que a maioria das crianças portadoras de recordações reencarnatórias perdem os últimos resquícios de tais lembranças. D. Marcela revelou que sua neta sempre mostrou preferência em morar com ela. “Vanessa gostava dos pais, mas não queria ir para

casa.”

Em 23 de outubro de 1970, após a morte do seu avô, Vanessa voltou para a casa dos pais. Ela estava, então, com dezoito anos. Logo se casou e tomou a ir morar com a avó. Este seu apego a D. Marcela faz pensar em uma afeição de mãe para filha, que Vanessa teria conservado de sua anterior encarnação. As características psíquicas transitam mais comumente de uma para outra encarnação. O amor materno deve ser suficientemente forte para passar de uma para outra existência. . Finalmente, devemos observar a extensão do período de intermissão. Chama-se de intermissão à fase em que o Espírito permanece desencarnado entre duas existências consecutivas. A duração média desta situação é de, aproximadamente, 250 (duzentos e cinquenta) anos, variando consideravelmente conforme as pessoas, raças, culturas, etc. Há casos de intermissões oscilando entre 0 (zero) e mais de mil anos. Mas a média de cerca de 250 anos é a mais comum. Esta é uma das razões pelas quais as pessoas, normalmente, não se recordam de suas vidas pregressas, com nitidez e segurança. O tempo é longo e o esquecimento é uma decorrência normal desse fato. Entretanto, o estudo dos casos de recordações reencarnatórias, surgidas em crianças, mostram que os períodos de intermissão desses pacientes são muito curtos. Variam de zero a poucas dezenas de anos, com média aproximada de 6 (seis) anos; bem reduzidos, como se vê. . Esta pequena duração da intermissão, verificada para estas crianças, explica a manutenção da memória de suas encarnações anteriores. A presumível personalidade prévia de Vanessa, sua bisavó D. Maria do Carmo, faleceu no dia 2 de agosto de 1947. Vanessa nasceu dia 8 de janeiro de 1952. A intermissão foi curta: 4 anos, 5 meses e 6 dias (sem descontar-se o período de gestação). Desta forma, a paciente está na categoria das crianças com probabilidade de terem recordações

reencarnatórias. Se D. Marcela tivesse insistido com sua netinha, naquela ocasião, talvez houvesse obtido mais informações sobre sua vida anterior, confirmando, assim, a suposição de ser ela a reencarnação de D. Maria do Carmo. Casos como esta existem aos milhares e estão despertando a atenção de vários investigadores, como o Dr. Ian Stevénson, da Universidade de Virgínia, nos EE. UU., que já coletou mais de 2600 (duas mil e seiscentas) ocorrências de memória reencarnatória em crianças, observadas no mundo todo. A semelhança dos modelos destes casos está conduzindo à conclusão de que a reencarnação é uma lei biológica, à qual todos nós nos achamos sujeitos.

OUTRAS FONTES DE EVIDÊNCIA DA REENCARNAÇÃO Além da pesquisa de casos de crianças com memória reencarnatória, há outras fontes de evidência que dão apoio à hipótese da reencarnação. São numerosas as circunstâncias que podem provocar o despertamento de lembranças completas ou fragmentárias, de episódios vividos em encarnações passadas. Uma forma um tanto comum é o sonho, especialmente o sonho recorrente (repetido), relacionado com um acontecimento geralmente traumático e carregado de fortes emoções. No livro de Karl E. Muller, Reencarnação Baseada em Fatos (São Paulo, Difusora Cultural, 1978, p. 99), há um relato muito curioso acerca de sonhos recorrentes, sugerindo um caso de reencarnação. Vamos transcrever o trecho que nos interessa. O título da ocorrência é A Dama de Yorkshire, e diz o seguinte:

“Certa mulher, conhecida de Shirley, tinha um sonho periódico, desde os 5 anos de idade. Sonhava que yivia numa antiga paróquia de Yorkshire, onde encontrava um menino; ao dar-lhe a mão, sentia que eram transportados a um grande planalto no cume de um morro, onde havia um casa de pedra, cinzenta, com grande portão de madeira. Descrevia a casa em detalhes. Juntos subiam por uma escada de madeira até o andar superior, onde brincavam. Ao fugir do companheiro, caía no saguão interior, sentindo-se esmagada contra os ladrilhos de mármore preto e branco. Então sobrevinha o esquecimento. Este sonho ocorria em intervalos,

especialmente quando sentia

aproximar-se alguma mudança na sua vida. Há algum tempo, convidaram-na para visitar uma casa mal- assombrada e ‘sentir' o fenômeno psíquico que causava transtornos aos moradores; descobriu que era a casa que via em sonhos! Disseram-lhe que, há dois ou três séculos, um menino e uma menina morreram ao cair da galeria superior, quando brincavam. Conseguiu recordarse do local, e, apontando para dois pequenos retratos, exclamou: iMeu pai e minha mãe. Verificou-se que eram os pais das crianças Neste

episódio

observam-se

dois

fatos

interessantes

concomitantes: a existência de uma assombração provocada

e

por Espíritos de pessoas vivas. Presumimos que o garoto que morrera juntamente com a menina também já estivesse reencarnado. O outro fato é o sonho recorrente da mulher conhecida de Shirley, e que foi denominada A Dama de Yorkshire. O seu sonho estava ligado a um trauma ocorrido em sua encarnação prévia, ou seja, à morte trágica devido à queda sofrida pela menina e seu irmãozinho. Ela fora a garota.

AS REGRESSÕES HIPNÓTICAS E A TERAPIA DE VIDAS PASSADAS O fato de o tempo de intermissão muito longo produzir o esquecimento das encarnações pregressas não significa que os eventos vividos nessas existências estejam definitivamente apagadas da memória espiritual. Muito pelo contrário; o nosso Espírito funciona como um domínio de informações, onde ficam armazenadas todas as minúcias das experiências adquiridas por ele no correr das suas inúmeras existências. O Espírito conserva, também, a memória de sua vivência fora do corpo, quando desencarnado. Certos processos de regressão da memória, por meio de técnicas especiais, tal como á hipnose, podem trazer à tona do consciente aquelas lembranças sepultadas no inconsciente profundo espiritual. Durante tais operações, o paciente submetido à regressão de memória, passa a reviver os episódios ocorridos em determinadas épocas históricas em que se localizam suas existências pregressas. Atualmente, inúmeros psicoterapeutas valem-se das terapias baseadas nas regressões às vidas passadas, para tratar certas neuroses rebeldes, algumas acompanhadas de sintomas fisiológicos, as quais

sugerem radiGações em dramas dolorosos ocorridos com o paciente em encarnações pretéritas. O fato de serem conduzidos ao consciente estes fatos passados, com seus traumas e momentos de intenso sofrimento, tem produzido bons resultados na cura dos pacientes.

NOSSO COMPORTAMENTO ATUAL É MUITO INFLUENCIADO PELAS NOSSAS VIDAS PASSADAS O estudo da reencarnação, seja pela pesquisa da memória manifestada espontaneamente em certas crianças, seja pelas recordações obtidas artificialmente em adultos por meio das técnicas regressivas, tem revelado que nosso comportamento e mesmo nossa saúde podem ser afetados por nossas vidas progressas. Há casos em que a influência das existências anteriores se manifesta de maneira a acarretar transtornos intensos ou a determinar inexoravelmente a nossa conduta e qualidades inatas. Um exemplo típico deste fato são as manifestações de genialidade. Outro exemplo são as “crianças-prodígios”, das quais podemos citar um impressionante caso: “Christian Heinrich Heinecken, chamado também a ‘maravilha de Luebeck’, nasceu na Alemanha em 1721. Aprendeu a falar, precocemente, aos 10 (dez) meses de idade. Aos 2 (dois) anos apenas, chegou a discutir as profecias bíblicas com teólogos de renome: Assimilou rapidamente os conhecimentos da época referentes à História e à Geografia, bem como aprendeu a falar o francês e o latim, tudo isso aos 3 (três) anos de idade. Daí até os 4 (quatro) anos aprendeu Matemática e Arquitetura; com apenas esta idade, ofereceu ao rei da Dinamarca, Frederico

IV, uma tese redigida em latim. Morreu antes de completar os 5 (cinco) anos, quando já havia iniciado seus estudos de Astronomia.” Casos semelhantes de crianças superdotadas existem aos milhares, levando certos países mais desenvolvidos a criar escolas adequadas a tais pequenos gênios. Infelizmente, em nosso país, ainda não cuidamos seriamente deste problema, visando aproveitar aqueles que já trazem uma bagagem de conhecimentos latentes e uma certa experiência, adquiridas em vidas anteriores. *

Os defeitos ou as qualidades, bem como os sofrimentos e as venturas registrados em nossas vivências pregressas, podem influir em nosso comportamento e na qualidade de vida atuais. É lógico admitir que também estamos preparando, através de nossa presente conduta, as nossas futuras existências, que se sucederão à atual. E nisso que consiste a evolução. Poderemos acelerar o processo, da mesma forma que chegaremos a retardá-lo, conforme o nosso comportamento seja bom ou mau. Estudos mais avançados, acerca da destinação espiritual dos homens, estão revelando que há vantagem em reduzir o número de encarnações necessárias para atingirmos a libertação da necessidade de renascer. Um dos métodos para alcançar este estágio de emancipação do Espírito consiste na prática das virtudes, no estudo e no cultivo do amor ao próximo. Muitas pessoas ainda se equivocam acerca da finalidade da vida; pensam que a conquista da felicidade se resume em usufruir egoisticamente as oportunidades materiais, no ganho fácil do dinheiro, no acúmulo exagerado dos bens terrenos. Estas pessoas revelam-se pouco inteligentes, pois estão prolongando desnecessariamente seu curso de aprendizado na matéria; estão perdendo tempo e esforço, inutilmente.

Devemos preparar-nos para nascer de novo, mas devemos fazê-lo de modo a não precisar mais repetir, indefinidamente, as mesmas experiências na ilusão da carne.

CAPITULO V OS ANIMAIS E A REENCARNAÇÃO “Desde o início de sua formação, goza o Espírito da plenitude de suas faculdades?” "... Não, pois que o Espírito, como o homem, tem também sua infância. Em sua origem os Espíritos não têm senão uma existência instintiva e possuem apenas consciência de si mesmos e de seus atos; eis que só pouco a pouco a inteligência se desenvolve.” (Kardec, Allan - Le livre des Esprits; Paris: Didier et Cie., 8a. edição, 1862, quesito 189, pp. 81 e 82 - nossa tradução.

ANIMAIS NO MUNDO ESPIRITUAL Em 1966, Harold Sharp publicou, através da “The Spiritual Association of Great Britain”, um interessante opúsculo intitulado “Animais in the Spirít World” (Animais no Mundo Espiritual). Nesse trabalho, Harold Sharp trata da questão da sobrevivência dos animais após a morte. Ele é um grande espiritualista, médium,’ conferencista e escritor inglês. Sua opinião é favorável à tese da sobrevivência dos animais após a morte. Entretanto, seu ponto de vista não é baseado apenas em mera crença pessoal. Apóia-se em fatos reais, em experiências por ele vividas durante seu contato com diversas pessoas. Além do testemunho individual, Harold Sharp tem, a respaldar suas convicções, um grande número de fatos registrados por observadores sérios de fenômenos paranormais, conforme iremos ver mais adiante. Logo no início de seu opúsculo, Sharp narra uma comovente história de uma senhora idosa e paralítica que estivera acamada por vários anos. Ele a visitava regularmente a fim de levar-lhe conforto espiritual. Numa dessas entrevistas, os dois conversavam, com toda a naturalidade, acerca do após-vida. Externando a sua opinião, aquela

senhora dirigiu a Sharp as seguintes palavras: "Bem, o senhor sabe disse ela eu nunca pude admitir a ideia usual de um Céu de flores douradas, com portões cravejados de pérolas e harpas ao seu redor; isto sempre me pareceu muito artificial. Se eu pudesse ter o meu velho fumbo ali, eu seria perfeitamente feliz.” O velho Jumbo a que ela se referia era um fiel cão pastor que, durante seis anos de sua enfermidade, foi a sua constante e dedicada companhia. Ela devia ter amado muito o seu Jumbo. Este certamente amou-a também carinhosamente. Quando o cão já bem idoso morreu, este fato deve ter sido seguramente o prelúdio do desencarne daquela senhora. Harold Sharp prossegue relatando que, algum tempo mais tarde, ele estava tendo uma sessão espírita com a conhecida médium londrina Mrs. Neville. Entre várias coisas, ela disse: “Está aqui uma mulher que aparenta cerca de 60 anos de idade. Ela está dizendo ‘Chester” - que é provavelmente seu nome ou o nome da cidade onde ela viveu. Ela tem um cão

grande e peludo consigo, ao qual chama de Jumbo. Está vestida com um traje de lã macia com fios de várias cores e acha-se justamente fora para um passeio com seu cão. Na minha opinião, eles formam um par muito unido. ” (Opus. cit. p.5) Certamente a venerável senhora a quem Sharp se referiu em seu trabalho encontrou, ao morrer, o “céu” que ela anelou com tanta esperança. Reunir-se outra vez ao seu fiel amigo: o velho Jumbo. Quantas pessoas têm tido, nos animais domésticos, os seus melhores e mais sinceros amigos! O animal de estimação, adotado ou criado desde pequenino, toma-se um membro da família e retribui com muita sinceridade o afeto e os bons tratos recebidos de seus donos. Em alguns casos, tomam-se quase seres humanos em seu relacionamento conosco. Por isso, há pessoas que não se conformam em perder seu animal doméstico, como o caso daquela senhora paralítica a quem nos referimos. Por outro lado, há inúmeros fatos verídicos de animais domésticos que sucumbiram à perda de um de seus donos, negando-se a tomar o alimento ou insistindo em permanecer junto à cama ou ao túmulo daquele a quem amaram em vida. Esta ligação afetiva pode permanecer no plano astral, como o episódio que acabamos de narrar, pois há inúmeras evidências de que os animais, como nós, também sobrevivem após a morte. Eles certamente possuem um Espírito em evolução.

OUTRAS FONTES DE EVIDÊNCIA H. Dennis Bradley foi um autor inglês, nascido em 1878. Desenvolveu a sua mediunidade de “voz direta” com o célebre médium americano George Vallintine. Comunicações em “voz direta”, obtidas através de Dennis Bradley, informaram que os animais selvagens, após sua morte, têm seus Espíritos confinados em uma espécie de reino animal espiritual, para serem reciclados em novas encarnações na Terra. Os animais capazes de amor e lealdade, como os

domésticos, vivem com os Espíritos humanos em seus planos; os cães são os mais sujeitos a esse tipo de sobrevivência. • A tal respeito, o filósofo, poeta e erudito, ex-presidente da Society for Psychical Research (1911). Andrew Lang (1843-1912), afirmou o seguinte: K "Conhecendo os casos em que fantasmas de cães foram vistos e ouvidos coletivamente por várias pessoas simultaneamente, eu tendo a concordar com as tribos de “North-West Central Queensland”, que os cães, como os homens, possuem khol - têm Espírito.” (Fodor, 1946, p.4).

MATERIALIZAÇÕES DE ANIMAIS As ocorrências de materialização de animais em sessões espíritas de ectoplasmia são numerosíssimas. Os três médiuns poloneses, Eranek Kluski, Jan Guzik e Burgik, tornaram-se famosos devido à peculiar faculdade de produzir materializações de animais. Guzik materializava cães e diversos outros animais, alguns bem estranhos. Kluski ectoplasmava uma grande ave de rapina, pequeninos animais selvagens, um leão e um antropóide. 0 periódico Psychic Science, abril de 1926, relata as seguintes ocorrências observadas nas sessões de Kluski: , “A ave foi fotografada e, antes da exposição, um esvoaçar como o ruflar de asas de um enorme pássaro, pôde ser ouvido, acompanhado por ligeiras lufadas de ar, como se um grande abanador estivesse sendo usado... Hirkill (um afegane) materializou-se... Acompanhando-o, sempre havia um animal selvagem, do tamanho de um cão avantajado, de uma cor castanho-amarelada, com pescoço esbelto, boca cheia de grandes dentes, olhos que fulguravam na escuridão como os de um gato, o qual fazia lembrar a companhia de um leão sem juba. Ele era ocasionalmente selvagem em seu comportamento,

especialmente se as pessoas mostrassem medo dele, nenhuma aparição humana nem animal era mais bem recebida pelos assistentes... O leão, como podemos denominá-lo, gostava de lamber os presentes à sessão, com uma língua úmida e espinhosa, exalava o odor de um grande felino, e mesmo depois da sessão, os assistentes, e especialmente o médium, ficavam impregnados desse aroma acre, como se eles houvessem feito um longo estágio em um covil entre feras selvagens. " (Fodor, opus cit.p.227) 0 Tenente Coronel E. R. Johnson publicou um artigo na revista Ught de 11 de novembro de 1922, relatando uma sessão com Mrs. Wriedt: “Era extremamente comum as pessoas encontrarem-se com os seus cães já falecidos. Eu tive um desses, um terrier bem pequeno, colocado sobre os meus joelhos. Ele permaneceu ali por cerca de um minuto, e tanto o seu peso como sua forma eram perfeitamente reconhecíveis. Ele não foi tirado fora, mas pareceu evaporar-se ou dissolver-se gradualmente. Dois outros, um grande cão de caça e um terrier de tamanho médio, vieram diversas vezes, e todos os três latiam com suas próprias vozes e maneiras. Outros assistentes viram, ouviram e foram por eles tocados. Todos os três haviam morrido na índia cerca de trinta anos antes.” (Fodor, Opus cit. pp.227-228). A lista de casos de materialização de animais que já morreram é longa e variada, incluindo focas, feras e até um pitecantropo que se manifestava com o médium Kluski. Estes fatos, geralmente bem comprovados e testemunhados por pessoas dignas de crédito, apoiam fortemente a tese da sobrevivência dos animais após a morte. Vejamos, ainda, outras fontes de evidência.

INFORMAÇÕES VIA MEDIÚNICA O famoso médium americano Arthur Ford era muito amigo da

também notável médium Ruth Montgomery. Quando Arthur Ford faleceu, em 4 de janeiro de 1971, Ruth sofreu bastante com sua perda, mas pouco tempo depois ele se comunicou com sua velha amiga e passaram a escrever um livro fascinante: A Vida no Além-Túmulo (título original A World Beyond). Esta obra foi lançada em 1973, pela Editora Record, Rio de Janeiro. Vamos transcrever um trecho desse trabalho: “Eu quis saber se os animais alcançam a imortalidade e Ford respondeu: O tempo aqui não tem significado. Nós não temos idade, pois existimos desde o princípio e somos sem fim... Nada morre. Quero frisar isso muito bem. Nada morre. Não existe a morte. Toda a matéria existe desde o início da

criação, e nada perece, mas tudo é transformado em vários estados, assim como uma lagarta se toma uma borboleta e depois se desintegra em sua forma física quando o espírito passa para ainda outro estado de ser... Assim, a mosca que matamos em sua forma física emerge em outro estado mas não perde sua personalidade de mosca.” “0 mesmo ocorre com um cão que é atropelado por um carro. O corpo físico volta à forma terrena, enquanto o espírito existe tão perpetuamente quanto qualquer outro espírito, para renascer várias vezes. Esta é uma lei imutável...”(Opus cit. p.83). O conhecido espiritualista e escritor inglês Anthony Borgia escreveu, inspirado pelo Espírito de Monsenhor Robert Hugh Benson, a obra Life in the World Unseen, traduzida e publicada em português pela Editora Pensamento, São Paulo, 1974, sob o título: A Vida nos Mundos Invisíveis. Em suas descrições acerca do mundo dos Espíritos, Anthony Borgia focaliza inúmeros aspèctos de raro interesse, entre eles a existência de animais como os pássaros, árvores e flores nos diferentes planos do Além. Vejamos um pequeno extrato dessa obra. "... Mas a principal característica do lugar era a quantidade de árvores, nenhuma alta, mas todas de vigoroso desenvolvimento. Viam-se nos galhos os mais belos pássaros, cuja plumagem era uma orgia de cores. Alguns voavam, outros passeavam majestosamente pelo chão. E não se atemorizavam conosco...”(Opus cit. p. 89). Francisco Cândido Xavier (Chico Xavier) psicografou a coleção ditada pelo Espírito André Luiz, cujo primeiro livro intitula-se Nosso Lar. Vamos colher desta obra os seguintes trechos em que se fazem referências a animais existentes no mundo espiritual: “Seis grandes carros, formato diligência, precedidos de matilhas de cães alegres e barulhentas, eram tirados por animais que, mesmo de longe me

pareceram iguais aos muares terrestres. Mas a nota mais interessante era os grandes bandos de aves, de corpo volumoso, que voavam a curta distância, acima dos carros, produzindo ruídos singulares." (Opus cit. p. 183). Entretanto, a informação mais curiosa é a seguinte: “Os cães facihtam o trabalho, os muares suportam cargas pacientemente e fornecem calor nas zonas onde se faça necessário, e aquelas aves - acrescentou, indicando-as no espaço - que denominamos ibis viajores, são excelentes auxiliares dos Samaritanos, por devorarem as formas mentais odiosas e perversas, entrando em luta franca com as trevas umbralinas." (Opus cit. p. 184). Não faltam, nas regiões além-túmulo, particularmente nas zonas do Umbral, formas animais monstruosas e apavorantes. Em Obreiros da Vida Eterna, há uma referência a tais seres: “Verificou-se, então, o imprevisto. Certamente as entidades em súplica permaneciam jungidas ao mesmo lugar, mas figuras animalescas e rastejantes, lembrando sáurios de descomunais proporções, avançaram para a nossa caravana, ausentando-se da zona mais funda dos charcos. Eram em grande número e davam para estarrecer o ânimo mais intrépido..." (Opus cit. p. 84). Seriam, tais seres, os remanescentes dos primitivos sáurios que habitaram a Terra nos períodos Triássico e Jurássico? Mas, vejamos o que nos ensina Allan Kardec, a respeito da sobrevivência dos animais após a morte.

O ESPIRITISMO E A SOBREVIVÊNCIA DOS ANIMAIS O capítulo IX do Livro dos Espíritos, de Allan Kardec, trata dos “Três Reinos” ^ os minerais e as plantas - os animais e o homem -

metempsicose. Vamos direto às questões 597 e 598 pertencentes a esse capítulo: 597 - Uma vez que os animais têm uma inteligência que lhes dá uma certa liberdade de ação, existe neles um princípio independente da matéria? “Sim, e sobrevive ao corpo, Este princípio é uma alma semelhante àquela do homem? É também uma alma, se quiserdes: isto depende do sentido que se atribui a esta palavra; mas ela é inferior àquela do homem. Há entre a alma dos animais e a do homem tanta distância como entre a alma do homem e Deus.” 598 - A alma dos animais conserva, após a morte, sua individualidade e a consciência de si mesma? | “Sua individualidade, sim, mas não a consciência do seu eu. A vida inteligente fica em estado latente■ O quesito 607 esclarece acerca do destino dos animais, revelando que eles também evoluem, passando por transformações especiais que, finalmente, os tornam aptos a ingressar no reino hominal: . "... É, de certo modo, um trabalho preparatório, como o da germinação, por efeito do qual o princípio inteligente sofre uma transformação e se toma Espírito. É então que começa para ele o período de humanidade, e com ele a consciência do seu futuro, a distinção entre o bem e o mal, e a responsabilidade de seus atos; como o da adolescência, depois a juventude, e enfim a idade madura... > (Opus cit. questão 607). De acordo com as informações dos Espíritos a Allan Kardec, os animais estão destinados a fazer parte de futuras humanidades, após um

longo

período

preparatório

e

mediante

certos

tipos

de

transformação. Certamente o mecanismo deste processo evolutivo estará baseado na lei da reencarnação.

* * *

Como pudemos ver, a sobrevivência dos animais é um fato bastante evidente e comprovado por inúmeras fontes de informação. Aqueles que possuíram animais de estimação e vieram a perdê-los podem ter a esperança de eventualmente vir um dia a reencontrá-los no mundo espiritual. Quando nada, já é um consolo saber que não desapareceram definitivamente, e que prosseguem como todas as criaturas vivas, em permanente evolução, demandando níveis progressivamente mais altos de expressão da consciência.

CAPITULO VI OS DRUSOS E A REENCARNAÇÃO “Ter coragèm de dizer a verdade é, às vezes, o mais arrojado ato de heroísmo e santidade. Essa atitude era uma das grandes virtudes dos hereges que, por esse motivo, tornaram-se mártires da mentalidade atrasada da humanidade de ontem* (Chaves, José Reis, 2000, p.10 - A Face Oculta das Religiões)

QUEM SÃO OS DRUSOS Os Drusos formam uma comunidade religiosa que vive principalmente na Síria, no Líbano e na Jordânia. Esse povo compõe-se, aproximadamente, de 900.000 indivíduos que se espalham por inúmeras cidades ou pequenas aldeias. Crê-se que os Drusos são originários de outra região fora dos atuais territórios onde vivem presentemente, tendo se instalado ali desde o século XI da Era Cristã. Hoje em dia falam o árabe mas, primitivamente, usavam outro idioma, o qual foi abandonado. Os Drusos são basicamente monoteístas, e pode dizer- se que professam uma mistura de judaísmo, cristianismo, islamismo e neoplatonismo. Todavia, a crença na reencarnação é aceita pelos Drusos como dogma básico. Eles creem na “tanasukh”, ou seja, na transmigração das almas, isto é: sempre que um Draso morre, nasce outro Druso, a alma do moribundo entra no corpo de uma criança que está nascendo. Embora alguns autores aleguem que os Drusos acreditam na metempsicose, o Prof. Ian Stevenson afirma que tal informação é falsa. (Stevenson, 1980, pp.4-6). Talvez seja essa crença generalizada na reencarnação uma das causas da existência, entre os Drusos, de tantos casos de crianças que

afirmam recordar-se de uma vida anterior. Em uma de suas obras, intitulada Lebanon and 71irkey Cases of the Reuncarnation Type, Dr. Ian Stevenson refere-se à abundância de casos de crianças que alegam recordar-se de suas encarnações anteriores, encontrados no seio da comunidade drusa. Comentando este fato, ele diz o seguinte: “Embora meus companheiros e eu tenhamos, até agora, investigado setenta e sete casos do tipo reencarnação, no Líbano e Síria, existem motivos para acreditar que mais casos serão ali encontrados, do que em qualquer outra parte do mundo, quando financiamentos e pesquisadores forem suficientes para ideiitificâ-los e investigá-los.” (Stevenson, 1980, p.8). É importante que se observe o fato de a crença na reencarnação, entre os Drusos, ser uma espécie de dogma fundamental e não um conhecimento

científico

resultante

de

investigação

metódica.

Naturalmente, essa crença tem sido reforçada pela abundância das ocorrências de casos de crianças com memória reencarnatória. Em vista disso, os adultos estimulam a manifestação desse tipo de memória por parte das crianças. Não havendo um fator inibitório, as crianças falam mais livremente acerca de suas recordações de vivências pretéritas, facilitando assim o aparecimento de maior número de casos. Entretanto, o fato de tal dogma resultar de um conhecimento exclusivamente empírico, faz com que a crença na reencarnação, entre os Drusos, contenha alguns tópicos diferentes daquilo que se tem como regras já verificadas na prática e aceitas por outras seitas reencarnacionistas. O primeiro tópico a ser considerado é a crença entre os Drusos de que o reencarne ocorre logo após o desencarne do indivíduo. Assim

sendo, não haveria um intervalo de tempo entre um e outro acontecimento. Equivaleria a dizer que o período de intermissão não se verifica entre a morte e o renascimento. Neste caso, o recémdesencarnado passaria imediatamente para o corpo de um recémnascido. Outros pontos de destaque seriam os seguintes: Um Druso nasce exclusivamente como um Druso e sempre do mesmo sexo. Daí acreditarem que o número dos Drusos existentes no mundo seja sempre o mesmo. Comentando este aspecto da crença dos Drusos a respeito da “reencarnação instantânea”, Dr. Stevenson observa que tal crença se assemelha à dos Jains da India. A diferença entre elas é o fato de os Jains acreditarem que a transferência da alma do moribundo se efetua por ocasião da concepção do novo corpo da criança que irá nascer. Aqui ainda persiste a crença da não existência do período de intermissão. Entretanto, há casos em que a criança se refere a uma vida “intermediária”, que podería ser interpretada como a intermissão. Para tais ocorrências, os Drusos têm uma explicação: “A criança está se referindo a uma curta encarnação entre uma anterior mais longa e rica de fatos lembrados e a atual.” A propósito, o Dr. Stevenson comenta que entre sua coleção de casos, realmente ocorreram alguns exemplos de pacientes que se recordavam de mais de uma encarnação, por exemplo, Swarnlata na índia. (Stevenson, 1971, pp.105-127).

UMA EXPLICAÇÃO NECESSÁRIA Em 1994, na cidade de Londres (Inglaterra) foi lançado o primeiro número de uma revista cujo nome era Reencarnation International Magazine. Embora os espiritualistas ingleses tenham a fama de não

aceitar a realidade da reencarnação, aquela revista poderia ser considerada uma das melhores do mundo, no gênero. De fato, Reuncarnation International Magazine era um periódico de alta qualidade, não só na apresentação gráfica impecável como no conteúdo, cujos artigos primavam pela oportunidade e real valor científico. Em 1999, a Diretoria da referida revista resolveu mudar o nome da mesma para Life & Soul, o qual atenderia melhor à ampliação da variedade de assuntos tratados em suas páginas. Atualmente, Life & Soul cobre, além da reencarnação, ampla matéria versando sobre mediunidade, experiências místicas, ensinamentos espiritualistas, consciência, imortalidade, parapsicologia, curas, potencial humano, aparições, experiências de quase morte, etc. Não obstante, a qualidade da Life & Soul permanece a mesma que era observada em sua antecessora, a Reuncarnation

International Magazine. Este rápido preâmbulo serve para explicar a origem da informação que segue mais adiante. O Editor da Ufe & Soul é um dos nossos bons amigos do exterior. Ele é inglês e, assim que nos relacionamos, ele gentilmente nos enviou alguns números da Reencarnation International já publicados e, daí em diante, continua a enviar-nos gratuitamente os números que vão sendo editados. Isso por conta de uma espontânea simpatia mútua que existe entre nós. Creio que já fomos muito amigos em encarnações anteriores pois, por incrível que possa parecer, ainda não tivemos a oportunidade de encontrar-nos pessoalmente. O nome desse simpático inglês é Roy Stemman, e ele ocupa o cargo de Editor da Life & Soul Magazine. Mas, vamos ao que nos interessa e que se relaciona com os Drusos.

UMA VIAGEM À TERRA DOS DRUSOS Nós nos referimos às revistas do nosso amigo Roy Stemman, porque, no 15 número das já publicadas, há um artigo de sua autoria versando sobre uma visita que ele fez ao Líbano, no intuito de investigar pessoalmente os casos de reencarnação existentes na comunidade dos Drusos. Esse trabalho ocupa as páginas de 11 a 22 do mencionado número e último da primeira série intitulada Reuncarnation International, de junho de 1998. Como normalmente ocorre com as revistas de Roy Stemman, o citado trabalho é muito bom e impecável na sua diagramação. Contém informações completas em linguagem simples, precisa e equilibrada, onde figuram os dados reais

por ele colhidos, bem como as opiniões a favor e contra, concernentes à interpretação dos fatos. O leitor fica livre para julgar e escolher. Seria impossível resumir, neste capítulo, toda a riqueza do material encontrado no referido trabalho de Roy Stemman. Por isso, limitar-nos-emos a focalizar apenas o episódio da garota Haneen AlArum: Assim que aprendeu a falar e a por-se em pé na janela, a garotinha Haneen Al-Arum chamava por alguém cujo nome devia ser parecido com.“Radi, Radi”. Mais tarde, quando aprendeu a pronunciar melhor as palavras, o nome tornou- se mais preciso: “Riad". O pai e a mãe de Haneen, como eram Drusos, supuseram que talvez a filha estivesse se recordando do nome de alguma pessoa que ela conhecera antes, em outra encarnação. O próprio pai de Haneen, o Sr. íàris, quando criança, recordava-se de sua vida prévia, na qual ele falecera junto com mais seis outros em um poço e fora reunido com sua filha daquela vida. Assim, ele começou perguntando à Haneen, que não havia ainda completado três anos, quem era Riad: Ela respondeu: “Eu sou de Bchamoun. Eu sou da família Eid.” Haneen estava dando aos seus pais as primeiras informações. Mais tarde, quando passou a falar melhor, toda a sua história veio à tona: “Eu sou Safa, eu sou Safa", começou ela a dizer. Safa Eid fora uma professora de Árabe, casada e mãe de cinco filhos. Foi uma das muitas vítimas do encouraçado americano New Jersey, quando esteve ancorado nas proximidades de Beirut, em 17 de janeiro de 1983, e começou à bombardear as posições dos Drusos nas montanhas. Prosseguindo em suas informações, aos 3 anos e 2 meses de idade Haneen disse que, naquela ocasião, as cortinas do vizinho pegaram

fogo quando uma granada explodiu, e o marido dela, Ajaj, correu para ajudar a tirá-las fora. Ela o seguiu no intuito de avisá-lo para tomar cuidado. Caíram mais granadas,, um estilhaço atingiu-lhe o pescoço e ela morreu na ocasião. Prosseguindo em seu relato, Haneen falou: A primeira coisa de que eu me lembrei foi de Riad (seu filho na anterior encarnação). Então lembrou-se também de Shahira, sua filha; depois, de Nehlita e Adia. Recordou-se também de um velho que dirigia uma carroça e da mulher que pegava o barril de petróleo. A primeira vez que deram a Haneen a foto antiga de um grupo da família de Safa, ela apontou um a um os seus parentes, mencionando os seus respectivos nomes e reconheceu também Ajaj Eid que havia sido o seu esposo naquela vida anterior. Por iniciativa de Shahira que fora sua filha na encarnação anterior e que soube do caso de Haneen, finalmente deu-se o encontro das duas famílias. Foram momentos de emoção e plena certeza de que Haneen é realmente a reencarnação de Safa Eid.

CAPÍTULO VII REENCARNAÇÃO E A LEI DE CAUSA E EFEITO “Quem faz dano àquele que não faz dano a ninguém, ao homem purificado, desenvolvido, sem mácula, sua falta recairá sobre a cabeça como o pó atirado contra o vento. 1’ (Dhammapada, 306) AS ORIGENS Segundo Alexandra David-Neel (1868-1969), a doutrina do carma (Karman) era comum a quase todas as filosofias orientais, anteriores à época de Buda. Traduzido literalmente, carma significa ação; uma ação

continuada, uma espécie de causalidade. Antes do advento dó Budismo diz Alexandra David-Neel a doutrina do carma suscitou longas e sutis controvérsias entre os brâmanes. Consta que o ensino da doutrina do carma, inicialmente, era esotérico, isto é, transmitido ocultamente entre iniciados. O povo ínscio atribuía à vontade dos deuses os acontecimentos notáveis que ocorriam no mundo, bem como aqueles menos importantes que afetavam os indivíduos em particular. Assim, as qualidades ou defeitos congênitos, o bom ou mau caráter de uma pessoa eram resultados dos caprichos dos deuses. A prosperidade ou a miséria, os sucessos ou insucessos, a felicidade ou a desgraça, conforme essa crença, dependiam da vontade divina. As razões que levavam os deuses a assim procederem eram inexplicáveis e misteriosas. Entretanto, não se mostravam absolutas e inabaláveis. Os deuses podiam enternecer-se ou mudar de desígnios para atenderem às súplicas, à lisonja e às ofertas sacrificiais. Daí surgiram os cultos, os rituais e uma clerezia especializada nestes afazeres. * A doutrina do carma era, pois, um conhecimento secreto, posse de uma elite de pensadores, os quais deixavam de ensiná-la abertamente. O Budismo popularizou-a e tomou-a a base de seu ensinamento, proclamando: “Ye dharmâ hetu prabhavâ”, isto é, “todas as coisas provêm de uma causa.” (David-Neel, 1936).

REENCARNAÇÃO E CARMA Ensinada há vários milênids, a doutrina do carma, como já explicamos linhas atrás, era anteriormente apanágio de um limitado número de iniciados, passando a ser ensinada ao povo, graças ao Budismo. Todavia, seu estudo e interpretação continuaram a ser objeto

de refinadas discussões entre os intelectuais brâmanes e budistas. Desse modo, quando se quer dar uma visão clara e inteligível acerca do carma, arrisca-se a incidir em falhas, relativamente a esta ou aquela opinião dos doutos especializados nas filosofias orientais. Entretanto, preferimos correr o risco e tentar uma explicação que, embora sujeita a imprecisões, possa ser inteligível aos mais

simples e menos exigentes. A nosso ver, o carma está ligado à lei dareencarnação. E a sncessão das vidas que forma o encadeamento de causas e efeitos, que caracteriza a nossa vivência ordinária. Assim, cada existência será mais ou menos feliz, mais ou menos desditosa, em função dos atos que praticarmos em vidas anteriores. Não se trata, propriamente, de uma espécie de “pena de talião”, tipo “olho por olho, dente por dente”. Muitas pessoas têm esta falsa ilusão acerca do carma; pensam assim: “Se eu mato, roubo ou injurio alguém nesta existência, na próxima encarnação serei morto, roubado ou injuriado também.” O carma não é nada disso, absolutamente. Sem ser direta e especificamente punido em função de cada falta praticada, o malfeitor nem por isso deixará de expiar carmicamente os erros e crueldades cometidos. Mas ele o fará sem aquele aspecto que teria uma vingança imediata prescrita pela lei de talião. A Doutrina Espírita nem sempre se refere nominalmente à lei do carma, porém sua moral inclui as características desta lei, com muita propriedade e exatidão. Vejamos os esclarecimentos de Emmanuel, o sábio mentor de Ghico Xavier:

Pergunta 246 - Qual a diferença entre provação e expiação? Resposta - “A provação é a luta que ensina ao discípulo rebelde e preguiçoso a estrada do trabalho e da edificação espiritual. A expiação é a pena imposta ao malfeitor que comete um crime." (Xavier, EC., 1940, p. 138). No mesmo item, Provação, desenvolvido na obra citada, Emmanuel esclarece que, à semelhança do comportamento da justiça humana, há casos de comutação das penas para aqueles que se regeneram sinceramente. “A inflexibilidade e a dureza não existem para a misericórdia divina...’ diz ele.

O conhecimento exato e seguro dos processos reencarnatórios dará como resultado uma perfeita compreensão do que seja o carma.

O CARMA EXPLICADO NA OBRA - AÇÁO E REAÇÁO O livro, Ação e Reação, de autoria do Espírito André Luiz e psicografado por Chico Xavier, é todo ele praticamente um tratado sobre o carma. Nessa obra, no Cap. VII, intitulado “Conversação Preciosa”, há uma dissertação especificamente sobre o carma, feita pelo Ministro Sânzio. Respondendo a uma pergunta inicial sobre o que seja o carma, formulada por André Luiz, Sânzio principiou sua monumental resposta, com estas palavras: "Sim, o ‘carma’, expressão vulgarizada entre os hindus, que em sânscrito quer dizer ‘ação’, a rigor, designa ‘causa e efeito’, de vez que toda ação ou movimento deriva de causa ou impulsos anteriores. Para nós expressará a conta de cada um, englobando os créditos e os débitos que, em particular, nos digam respeito. Por isso mesmo, há conta dessa natureza, não apenas catalogando e definindo individualidades, mas também povos e raças, estados-e instituições.’’ (Xavier, 1957, p. 83) O sábio instrutor Sânzio, entre os inúmeros esclarecimentos prestados a respeito do carma, explicou a André Luiz que, assim como as faltas perpetradas quando estamos encarnados nos acarretam débitos cármicos, aquelas que cometemos no estado de desencarnados igualmente aumentam as nossas dívidas. Desse modo, mesmo depois de desencarnados podemos contribuir para o alívio ou o agravamento do nosso carma. Este aspecto é de suma importância e deve ser lembrado aos Espíritos sofredores, obsessores ou levianos que se comunicam durante as sessões mediúnicas. E bom que se lhes digam

essas verdades, para alertá-los. André Luiz formulou ao Ministro Sânzio uma pergunta final, indagando acerca do resgate de débitos cármicos contraídos há muitos séculos e dos quais não mais se tem lembrança, mas que apenas foram sepultados no esquecimento graças à misericórdia divina. André Luiz terminou sua indagação destacando um fato que deveria preocupar a todos nós: “Sinto, por exemplo, que tenho da retaguarda imensos débitos para ressarcir, dos quais não me lembro agora." Sânzio

deu

a

seguinte

resposta,

sobre

a

qual

conviria

meditássemos profundamente, tal a sua importância e clareza: iSim, sim... explicou ele a questão é de tempo. A medida que nos demoramos aqui na organização períspirítica, no fiel cumprimento de nossas obrigações para com a Lei, mais se nos dilata o poder mnemônico. Avançando em lucidez, abarcamos mais amplos domínios da memória. Assim é que, depois de largos anos de serviço nas zonas espirituais da Terra, entramos espontaneamente na faixa de recordações menos felizes, identificando novas extensões de nosso ‘carma’ ou de nossa ‘conta’ e, embora sejamos reconhecidos à benevolência dos Instrutores e Amigos que nos perdoam o passado menos digno, jamais condescendemos com as nossas próprias faltas e fraquezas e, por isso, vemo-nos impehdos a sohcitar das autoridades superiores novas reencarnações difíceis e proveitosas, que nos reeduquem ou nos aproximem da redenção necessária. Compreenderam?” (Xavier, 1957, p.93). Por esta sábia resposta, aprendemos que os mesmos débitos cármicos acionam automaticamente todos os meios necessários ao seu total resgate, pois, em um estágio mais avançado do processo evolutivo,

nós nos tomamos nossos únicos juizes, providenciando de “motu próprio” a liquidação das nossas dívidas todas, sem exceção.

COMO SE INICIA O CARMA? Muitas pessoas ficam intrigadas, procurando saber como se inicia essa roda viva do carma, a qual, segundo Buda, ocasiona o círculo vicioso das reencarnações sucessivas ou (“Samsara”). Este foi um dos objetos de indagação do próprio Buda, há dois mil e quinhentos anos. O conhecimento da causa, ou causas, do sofrimento advindo com as vidas sucessivas seria um primeiro passo para a solução do problema da dor. Tendo Buda esgotado todas as suas tentativas de encontrar nos ensinamentos dos sábios daquela época a solução para o enigma do sofrimento, pôs-se a meditar sob a copa de uma figueira que se encontrava em um bosque onde ele passara a viver sozinho. Depois de sete semanas de profunda confabulação interna e de uma série de perturbações provocadas por Espíritos obsessores, sobreveio-lhe a iluminação. Ele, finalmente, atingiu a solução do problema da dor. Sua doutrina está resumida na Arya Satiani ou as Quatro Verdades. Eis as duas primeiras: Ia) A Dor: Ensina que não pode haver vida sem sofrimento. O mundo é o império da dor: “Eis aqui óh Bhikkhus, a nobre verdade concernente ao sofrimento: o nascimento é dor; a velhice é dor; a doença é dor; a morte é dor; estar ligado ao que se detesta é dor; estar separado do que se ama é dor; não realizar o que se deseja é dor. Em suma, os cinco elementos que constituem o nosso ser são sofrimentos.” 2a) A Origem da Dor: Esta Segunda verdade ensina qual a origem da dor. Ela está no ponto de partida da vida: é o desejo que nasce da

ignorância; é o desejo que conduz de renascimento em renascimento, acompanhado da avidez, da ânsia de prazer, da sede de existência ou de impermanência. Esta verdade é a coluna mestra da concepção de Buda. A exposição teórica

desta

verdade

toma,

na

teoria

budista,

o

nome

de

paticcasamuppâdo, em pâli, ou pratityasamútpâda, em sânscrito. A tradução podería ser: produção continuada, ou dependência das origens, ou ainda, encadeamento das causas e efeitos. Eis esta sucessão de causas e efeitos: Da ignorância (avijjâ] provêm as formações [Sankhârâs

ou

samskhârâ}; das formações provém o conhecimento (vinnâna); do conhecimento provêm o nome e o corpo (nâma e rûpa); do nome e do corpo provêm os seis domínios [salâyatana), isto é os seis sentidos; dos domínios provém o contato (phasso), isto é, o contato entre os sentidos e os objetos; do contacto provém a sensação (vedanâ); da sensação provém o desejo (tahhâ); do desejo provém o apego à existência (upâdâna); do apego à existência provém a própria existência [bhava], da existência provém o nascimento (jâtí); do nascimento provêm a velhice ijarâ), a morte [maranam), o sofrimento, o pranto, a dor, a angústia e o desespero. Tal é a origem de todo o império da dor. (Oldenbeig, 1921, pp. 219 e seguintes)'. * A sequência mencionada linhas atrás compõe o que se chama os doze nidânas. Analisando-se com atenção os doze nidânas vê-se que eles obedecem a uma sequência lógica perfeita, que descreve com exatidão a origem e a evolução da vida em nosso planeta. No paticcasamuppâdo está compreendido, também, todo o processo sequencial em que se resume uma existência, mostrando que, na realidade, a vida é um caminho necessário à evolução, mas não a finalidade precípua do Espírito em

tarefa de aperfeiçoamento. Ela começa com a ignorância [avijjâ). Daí surgem as formações (sankhârâs). Este é o ponto nevrálgico do processo que gera o carma [karman). Sankhârâ significa, mais precisamente, uma espécie de herança espiritual de qualidades, que transita de uma existência para outra existência, no mecanismo reencarnatório. As qualidades auto-herdadas pelo indivíduo é o que lhe determinará os sucessos ou insucessos da sua nova existência, suas alegrias e sofrimentos, seu bom ou mau relacionamento, etc., enfim, o seu carma. Atualmente, com as pesquisas acerca da reencarnação, poderíam distinguir-se duas categorias de sankhârâs: os sankhârâs subjetivos e os sankhârâs objetivos. Os primeiros, os sankhârâs subjetivos, dizem respeito sobretudo à herança psicológica reencarnatória do indivíduo que, aliada à hereditariedade biológica, lhe define as tendências psíquicas, suas aptidões inatas, suas fobias, etc. Tais qualidades e defeitos, trazidos com o nascimento, irão influir no comportamento do indivíduo quando este enfrentar os problemas criados pelas suas relações com o meio em que ele crescer e formar o seu caráter. Os segundos, os sankhârâs objetivos, têm sido constatados nas pesquisas de casos que sugerem reencarnação. São bem evidentes nos renascidos portadores de marcas físicas de nascença de origem reencarnatória. O Dr. Ian Stevenson denominou-as simplesmente de “birthmarks” (marcas-de-nascença). São sinais, como cicatrizes, malformações, insuficiências fisiológicas, etc. resultantes de ferimentos graves, lesões por acidente, doenças, etc. existentes na personalidade prévia. Algumas dessas marcas-de-nascença poderão, também, ser consequência da ação psicocinética do próprio indivíduo, devido a uma ideia fixa. Um exemplo de defeito congênito proveniente de uma falta

grave cometida em existência anterior é o caso de Wijeratne, relatado pelo Dr. Ian Stevenson, em sua obra Vinte Casos Sugestivos de Reencarnação. (Stevenson, 1971 pp. 205-228). Vamos transcrever o trecho » do referido livro em que são mencionadas as primeiras declarações de Wijeratne: “Quando Wijeratne contava de dois a dois anos e meio de idade, começou a vaguear pela casa, de modo solitário falando consigo mesmo. Sua atitude chamou a atenção da mãe que escutava seus monólogos. Ela ouviu-o ocasionalmente dizer que seu braço era disforme, porque ele havia assassinado sua mulher na vida precedente. Mencionou uma série de detalhes relacionados com um crime do qual, até então, ela nada sabia. Inquiriu o marido a respeito das declarações do menino, e ele confirmou a exatidão do que o garoto dizia, pois de fato, seu irmão mais novo, Ratran Hami, havia sido executado em 1928, por ter assassinado a esposa.” (opus cit. p. 206). Wijeratne nascera com o ombro e o braço direitos atrofiados. A mão e os dedos deste lado, também apresentavam atrofia acentuada. Segundo ficou apurado, Wijeratne era a reencarnação do irmão mais jovem de seu pai. O nome da personalidade anterior de Wijeratne era Ratran Hami. Este, de fato, houvera assassinado a facadas sua esposa, em 14 de outubro de 1927. Em junho de 1928, Ratran H{nni foi julgado e condenado, tendo sido executado em julho do mesmo ano. Em 17 de janeiro de 1947, portanto, após cerca de 19 anos, Ratran Hami renasceu como Wijeratne, filho de H. A. Tíleratne Hami, irmão mais velho de Ratran Hami, o assassino. Como se vê por este caso, , de acordo com a pena de talião o criminoso já deveria ter resgatado sua falta, pois, após ter matado a esposa, ele foi também morto; executado pela justiça. Entretanto o. seu sankhârâ continuou, determinando-lhe o carma da sua nova existência.

Talvez a sequência cármica não se extinga aí. O verdadeiro resgate virá ainda além da deformidade, até ele sanar totalmente a falta cometida, por meio de uma reparação completa. É possível que seu carma prossiga através de outras existências. Mas, acontece que o carma não depende de um único ato bom ou mau; ele resulta do encadeamento de atos que se sucedem em uma sequência interminável de causas e efeitos.

Os resultados da Terapia de Vidas Passadas têm revelado que, surpreendentemente, os sofrimentos experimentados em vidas progressas constituem-se em sankhârâs, que podem produzir um carmcf doloroso para certos pacientes. Tais sankhârâs acarretam-lhes neuroses e até psicoses graves que determinam um carma indesejável, continuando v* seus sofrimentos, sob forma de verdadeiras sequelas. Há casos em que lesões corporais infligidas aos pacientes, em vidas anteriores, podem surgir carmicamente na presente existência, sob as mais variadas formas. Estas constatações alteram profundamente o conceito de carma, no caso de que, para alguns houvera sido encarado exclusivamente sob o prisma de falta e punição. Na realidade, o carma deve ser considerado sob o ponto de vista do Budismo, que o define corretamente como a sequência de causa e efeito, simplesmente. Desse modo, vê-se que o carma se iniciou com o primeiro passo dado pela vida, isto é, quando principiamos, em passado remotíssimo, a nossa existência. Então éramos, como seres espirituais ligados à matéria orgânica primordial, simples e ignorantes. “Da Ignorância (avijjâ) provêm as formações (sankhârâs)...’

COMO ZERAR O CARMA? Até agora analisamos apenas duas das Quatro Verdades contidas na Árya Satiani. Essas duas primeiras verdades dizem respeito sobretudo à origem da dor. As duas verdades seguintes referem-se à supressão do sofrimento que sistematicamente acompanha a vida. Eis as duas últimas verdades:

3a) A Destruição da Dor. Ensina, esta verdade, que é possível destruir a dor, através da aniquilação do desejo de renascer, do apego à existência. Não se trata de pôr termo à própria vida, por meio do suicídio. O processo é outro. Consiste na libertação da necessidade de reencarnar obtida pela ruptura das cadeias que prendem o homem ao samsara ou círculo vicioso das reencarnações sucessivas. Esta liberação não pode ser obtida nem pelo sacrifício voluntário, nem pela devoção religiosa, nem pela cessação de toda e qualquer atividade ou pensamento como ensina Sankhia Kapila. A destruição da dor, a nobre liberação, só é possível pela notável concepção de Buda, da quarta verdade ou do nobre caminho das oito sendas. 4a) O Nobre Caminho das Oito Sendas: Este caminho consiste em uma lista de preceitos que, segundo Buda, levam seguramente à ruptura das amarras que nos prendem ao círculo vicioso dos renascimentos sucessivos [samsara). A princípio, tais recomendações parecem simples e facilmente realizáveis. Mas uma análise cuidadosa das mesmas revela a profundidade de seu conteúdo e a enormidade do esforço exigido para cumpri-las. Aqui estão as oito sendas do nobre caminho traçado por Buda: Fé perfeita; vontade perfeita; palavra perfeita; ação perfeita; meios de existência perfeitos; aplicação perfeita; memória perfeita; meditação perfeita. Segundo Buda, a aplicação deste caminho aniquilará o carma pela gradual extinção dos doze nidanas e conseguinte cessação do samsara. Buda enfatizava a pouca importância da vida, à qual todos se apegam, retomando reiteradas vezes ao palco da existência. E preciso que se compreenda que, de forma alguma, Buda prescrevia a autoaniquilação pelo suicídio ou por meio de mortificações que pudessem levar ao abreviamento da vida individual. Isso porque, assim

procedendo, a pessoa voltaria outra vez a nascer de novo, sem nunca libertar-se da roda da vida, pois a sede de existência não se extinguiria desta forma. Somente o Nobre Caminho das Oito Sendas seria capaz de libertar-nos do samsara; só o aperfeiçoamento pela prática das virtudes prescritas conseguirá romper as teias do carma. E escusado dizer das dificuldades em trilhar tal caminho. Por isso, continuaremos a renascer por séculos a fio, mas sempre com a esperança de chegar, um dia, à meta final que é a libertação da necessidade de reencarnar. Na composição do carma, podem distinguir-se dois fatores: um fator intrínseco, próprio do indivíduo e que ele traz consigo das encarnações anteriores (sankhârâs); o outro é um fator extrínseco, representado pelo meio que o circunda, particularmente aquele formado pelas pessoas, encarnadas, com as quais há débitos a saldar, ou créditos a receber. Vê-se por aí que a maior òu menor felicidade de uma existência também está na dependência de terceiros. Podemos achar-nos perfeitamente regenerados moralmente, cheios de virtudes e boas qualidades, mas dependentes, carmicamente, daqueles com os quais contraímos dívidas no passado; tanto quanto podemos contar com a colaboração daqueles a quem felicitamos em existências anteriores. 0 carma inclui também a ação e a reação concernentes ao meio em que nos encontramos. O Cristianismo primitivo admitia a reencarnação. Isto pode ser perfeitamente verificado em passagens do Evangelho; por exemplo: Matheus XI: 7-15, XVE13-14, XVII: 10-13; Marcos VIII: 27-28, IX:11-13; Lucas 1:17, VII: 24-28, IX:18-19; João III: 1-3, VIII: 56-58, IX: 1-3; Aos Romanos IX: 13 (ver Malachias 1:2-3); Aos Efésios I: 3-5. Por conseguinte, os primeiros cristãos deviam conhecer a lei do carma. Talvez, por isso, o

Cristianismo deu especial importância à caridade. De fato, desde que a prática da caridade implica o perdão das ofensas recebidas, a compreensão para com o próximo, a solidariedade humana, o altruísmo, etc., ela por si só contribuiría para o abrandamento do carma, tanto o individual quanto o coletivo. E, sem dúvida, a maior das virtudes capazes de romper as cadeias que nos prendem ao samsara, ao círculo vicioso das reencarnações sucessivas. Ao que nos parece, não basta apenas o auto- aperfeiçoamento individual. E preciso que contribuamos para o melhoramento do nosso meio tanto humano como material. A evolução não deve ser apenas individual; ela precisa ser coletiva também, em todos os sentidos. De nada nos adiantaria resgatar nosso carma pessoal, sem que isto se desse com relação ao resto da humanidade. Somos seres coletivos e não seremos totalmente felizes senão coletivamente. O nosso carma inclui o de todas as criaturas, sem exceção.

CAPÍTULO VIII COMO ESTÁ A PESQUISA DA REENCARNAÇAO? “Na longa história do empenho fiumano para entender seu próprio ambiente'e governar seu próprio destino, existe uma falha ou omissão tão singular que sua simples menção tem o ar de um paradoxo. Ainda é estritamente verdadeiro dizer que o homem não tem até agora aplicado os métodos da moderna ciência para o problema que mais profundamente interessa a ele - se ou não, sua personalidade envolve algum elemento que possa sobreviver à morte do corpo físico. ” (Myers, 1843-1901;

A MAIS RECENTE OBRA DO DR. IAN STEVENSON Na

Primavera

de

1997,

o Dr.

Ian

Stevenson,

conhecido

investigador de casos de reencarnação, lançou, pela Editora Praeger, a que poderia ser considerada sua “obra prima”. Esse monumental trabalho, concluído em 1996, está compreendido em três volumes, a saber: •Where Reencarnation and Biology Intersect: A Synopsis. (Stevenson, 1996). •Reencarnation and Biology: A Contribution to the Etiology of Birthmarks and Birth Defects. Volume I:

Birthmarks, [1200 páginas).. Volume II: Birth Defects and Other Anomalies, (1100 páginas) (Stevenson, 1997). O Dr. Ian Stevenson é médico psiquiatra, nascido na cidade de Montreal, Estado de Quebec, no Canadá, em 31 de outubro de 1918. Suas credenciais são as seguintes: “Carlson Professor de Psiquiatria” e “Diretor da Divisão de Estudos da Personalidade na Universidade de Virgínia”, EE. UU. Entre suas numerosíssimas publicações, destacamse: “The Explanatory Value of the Idea of Reuncarnation” (Stevenson, 1977a, pp. 305-326) e “The Evidence of Maris Survival After Death” (Stevenson, 1977b, pp. 152-170). Em 1961, após haver tomado conhecimento acerca de casos de crianças indianas que, desde a fase elocutória, se referiam com precisão a fatos, pessoas e locais, vividos em uma suposta existência anterior, Dr. Stevenson embarcou para a índia, decidido a estudar e resolver o estranho enigma que tais ocorrências propunham. Seu primeiro trabalho, de cunho rigorosamente científico, concernente a esses casos foi publicado em 1966, pela “American Society for Psychical Research”, como o volume XXVI, do mês de setembro dos “Proceedings” daquela Sociedade. O título do referido relatório é 7Wenty Cases Suggestive of Reuncarnation, que compreende um substancioso volume de 15cm x 23cm, com 362 páginas sem contar as 10 páginas introdutórias do prefácio do Prof. C. J. Ducasse e mais os agradecimentos do autor. O referido trabalho do Dr. Ian Stevenson foi lançado em idioma português pela Editora Difusora Cultural, em 1970, graças ao esforço e dinamismo do nosso saudoso companheiro de Doutrina Espírita, Frederico Gianini, em primorosa tradução de Agenor de Mello Pegado e Sylvia Melle Pereira da Silva, ambos atualmente desencarnados. O

título escolhido para a edição portuguesa o: Vinte Casos Sugestivos de Reencarnação. Depois de passados trinta e oito anos, a pesquisa e estudo da reencarnação revelaram, sem dúvida, um avanço apreciável. Dr. Ian Stevenson conseguiu levantar cerca de 2.600 (Dois mil e seiscentos] casos. Depois do Twenty Cases Suggestive of Reencarnation, Stevenson publicou mais uma série de 4 volumes editados pela “University Press of Virginia” (Stevenson, 1975, 77, 80 e 81) além da 2a. edição revisada e aumentada âo Twenty Cases Suggestive of Reuncarnation (1974). Em 1987, ele deu a lume mais uma obra de fôlego: Children Who Remember Previous Lives, sempre pela mesma editora da Universidade de Virgínia. Este livro é de suma importância para aqueles que desejam aprofundar-se melhor no conhecimento da reencarnação. Nele o Dr. Stevenson expõe sua vasta experiência sobre a reencarnação, colhida no mundo todo e enriquecida pelos seus profundos conhecimentos de psicologia e psiquiatria. No início do prefácio, ele aponta o rumo e declara qual o objetivo da obra: “Este livro visa apresentar ao leitor comum um balanço da minha pesquisa sobre os casos sugestivos de reencarnação. Ele não oferece evidências detalhadas da reencarnação. Antes, ele oferece um resumo do caminho ao qual tenho conduzido minha pesquisa, dos mais importantes resultados obtidos, e das minhas atuais conclusões.-’ Em janeiro de 1988, quando recebemos um exemplar remetido pelo próprio Dr. Stevenson, procuramos logo interessar algum editor a publicar uma versão em português desse importante trabalho. Mas nosso esforço foi em vão. Infelizmente as editoras brasileiras nem sempre se arriscam â investir dinheiro em obras que tratem de assuntos dessa categoria. Se o assunto for reencarnação, logo será classificado como

“espiritismo...” e o negócio entala mesmo. Por outro lado, as editoras espíritas não enfrentam uma obra dessas, em inglês e que “cobram” direitos autorais além do custo da versão. Infelizmente, o nosso saudoso e valoroso Frederico Gianini já havia falecido.

Agora estamos frente aos últimos trabalhos do Prof. Ian Stevenson, citados no início deste artigo. Quando serão vertidos para o português e lançados aqui no Brasil? Talvez isso demore muito tempo ainda. São 2300 páginas de minucioso material de pesquisa, com inúmeras ilustrações! Consideramos essa importante obra um marco na história da investigação da natureza do homem. Para nós é uma resposta à indagação de Myers no primeiro parágrafo do capítulo I do seu clássico Human Personality and Its Survival of Bodily Death:..” se ,ou não sua personalidade envolve algum elemento que possa sobreviver à morte do corpo físico. (Ver a frase toda, na epígrafe deste artigo) A fortíssima evidência a favor da reencarnação tem como corolário irrefutável e lógico a da sobrevivência de “algum elemento” que se perpetua após a morte corporal. Assim, a obra toda de Stevenson, que culmina com seu último trabalho Reencarnation and Biology, traz-nos a certeza de que, após a morte, a vida ainda continua. Este fato vem apoiar, de maneira cientificamente rigorosa, todas as afirmações do Espiritismo neste sentido, contidas não só na Codificação Kardeciana, como nas subsequentes obras elucidativas ou mediúnicas sérias que têm surgido, particularmente as psicografias do nosso grande médium Chico Xavier.

A REPERCUSSÃO Um acontecimento de tamanha importância para a humanidade deveria ter tido uma repercussão enorme. Já não digo na “mídia”, cuja preocupação principal é a divulgação de fatos totalmente opostos, mas

pelo menos no âmbito da Parapsicologia bem como no das religiões. O Espiritismo que, além do seu aspecto religioso, possui o científico cujo objetivo é justamente o conhecimento das leis que regem os fenômenos do Espírito o impacto deveria ter sido maior ainda. Porém, ficamos surpresos pelo silencio que observamos em torno da notícia acerca do lançamento da monumental obra do Prof. Stevenson, em 1997. Em parte justifica-se tal fato, pois a divulgação do trabalho do Prof. Stevenson foi feita de forma discreta e geralmente em inglês; por exemplo: o Journal of the Society for Psychical Research, de Londres, pp.463-464, onde há uma sóbria apreciação dos últimos livros do Prof. Stevenson. (Stevenson, 1998). Conseguimos detectar uma notícia mais detalhada sobre o último trabalho do Prof. Stevenson na excelente revista inglesa: Reuncarnation International, n.13, October 1997, pp. 9 a 15 (Stemman,1997). Não demos imediatamente a informação, porque estávamos tentando adquirir a obra para melhor conhecê-la, antes. Nesse meio tempo, recebemos uma carta do Prof. Stevenson, avisando-nos de que havia remetido os dois volumes do seu trabalho Reuncarnation and Biology. Infelizmente os dois volumes dessa remessa foram enviados, inadvertidamente, para o nosso antigo endereço em São Paulo e retornaram para o remetente. Finalmente vieram recentemente às nossas mãos. Aqui no Brasil, considerado o país onde o Espiritismo é mais praticado atualmente no mundo, parece-nos ter passado despercebido o importante lançamento da última

obra do Prof. Stevenson. Seria louvável que, em futuros conclaves organizados pelas federações espíritas, se abordasse, ainda que ligeiramente, a matéria contida na importantíssima, consistente e séria pesquisa daquele cientista. O mesmo sugerimos aos editores de periódicos espíritas que* às vezes, preenchem suas páginas com banalidades ou inúteis polêmicas e ataques a representantes inexpressivos de outros credos. Até agora, limitamo-nos a focalizar unicamente o auspicioso acontecimento concernente à edição do último trabalho do Prof. Stevenson. Entretanto, convém lembrar que o estudo e a pesquisa científica acerca da reencarnação prosseguem também em outras categorias de atividade. Tais investigações estão detalhando o processo da reencarnação, no que tange às diferentes modalidades do comportamento e das atividades da pessoa humana. As implicações da reencarnação ultrapassarão as meras conjeturas de cunho doutrinário e religioso que formam a maioria dos atuais discursos e debates a seu respeito. É provável que, além das mudanças que estão ocorrendo nas áreas da Psicologia e da Psiquiatria, a ideia da reencar- nação seja incorporada à Biologia, e particularmente à Genética como uma lei natural. Este aspecto já está implicitamente sugerido no título da última obra do Prof. Stevenson: Reuncarnation and Biology: A Contribution to the Etiology of Birthmarks and Birth Defects. (Reencarnação e Biologia: Uma Contribuição à Etiologia das Marcas-de-Nascença e Defeitos de Nascença).

CAPÍTULO IX HOMOSSEXUALISMO E REENCARNAÇÂO “A homossexualidade, também hoje chamada transexualidade, em alguns círculos de ciência, definindo-se, no conjunto de suas características, por tendência da criatura para a comunhão afetiva com uma outra criatura do mesmo sexo, não encontra exphcação fundamental nos estudos psicológicos que tratam do assunto em bases materialistas, mas é peifeita- mente compreensível, à luz da reencarnação.” (Xavier, 1970, p. 89) Espírito Emmanuel

UMA EXPLICAÇÃO INICIAL Em setembro de 1972, na então sede do Instituto Brasileiro de Pesquisas Psicobiofísicas IBPP , em São Paulo, após várias reuniões de estudo acerca do fenômeno do homossexualismo, resolveu-se abordar essa questão sob a óptica da reencarnação. Éramos quatro pessoas: a Sra. Carmen Sílvia Maciel Marinho, professora de “ballet”, as psicólogas Dra. Julika Kiskos e Profa. Andrée Samuel, e nós. Das nossas reuniões, resultou um plano de pesquisas ao qual demos o nome de Projeto Sankhârâ. Escolhemos este nome Sankhârâ, tirado do Budhismo, devido a parecer-nos a palavra mais adequada para significar

aquilo que visávamos investigar como sendo uma das causas fundamentais do fenômeno homossexualismo. De acordo com o Professor da Universidade de Kiel, H. Oldenberg, (1921) o vocábulo Sankhârâ provém da doutrina ensinada por Budhã, sobre a Dor e sua Libertação. Buddha chegou à conclusão de que a dor (sofrimento) era uma condição inseparável da vida (existência). A primeira condição para começar-se a existir como um ser vivo seria a “total ignorância” (avijjâ o não conhecimento). Dessa ignorância resultariam as “formações” (Sankhârâ). Devido ao fato de não existir, segundo Oldenberg, uma correspondência exata entre as palavras do idioma usado por Budha e as dos idiomas do nosso mundo ocidental, podemos atribuir àquele vocábulo o seu significado original, que é: preparar, predispor-se (Oldenberg, 1921, p.242). No caso da reencarnação e de acordo com os nossos atuais conhecimentos a respeito do processo do novo nascimento, Sankhârâ pode ser também interpretado como: tendências, qualidades ou predisposições anteriores e que poderão influir no comportamento da última personalidade. Seria uma espécie de herança reencarnatória. Naquela ocasião podíamos ter certa facilidade de contactar vários homossexuais que, devido ao relacionamento de D. Carmen nos cursos de “ballet”, visitavam-na frequentemente. Contávamos também a nosso favor, com algumas boates, em São Paulo, costumeiramente frequentadas por homossexuais, tanto do sexo masculino como do sexo feminino. Restava-nos, então, traçar o nosso plano de pesquisa e levar a efeito a realização do mesmo. Começamos por nos informar acerca dos estudos elaborados e as teoria existentes acerca do homossexualismo. Aliás já vínhamos fazendo isso há algum tempo, procurando

preferencialmente trabalhos, monografias e livros mais recentes para aquela época. Entregamos essa tarefa aos cuidados das psicólogas, Dra. Julika Kiskos e Profa. Andrée Samuel, naquela ocasião, ainda no início de suas atividades profissionais.

PEQUENO RELATO DOS PRIMEIROS PASSOS Ao ser por nós informada da nossa intenção de deixar registrado o episódio daquela nossa tentativa de investigar as causas do homossexualismo, a Dra. Julika Kiskos, espontaneamente, passou-nos um “e-mail” com rápido relato dos primeiros passos efetuados pelo grupo. Como se trata de um excelente e substancioso resumo, permitimo-nos transcrever um trecho do mesmo: "... Mas, vamos ao nosso projeto de 28 anos gtrás. Já que o perfil doida homossexual era por nós desconhecido, iniciamos uma série de entrevistas exploratórias com homens e mulheres, além da aplicação de testes psicológicos, para verificar traços de personalidade em comum que nos servissem de base para as regressões. Embora a amostra fosse pequena, os entrevistados se referiam a outros conhecidos seus, o que de certa forma ampliava o nosso conhecimento sobre a dinâmica de personalidade do grupo homossexual. Não encontrávamos contudo os elementos em comum para fundamentar a tese de troca de sexo de uma encarnação para a outra e assim podermos iniciar a fase seguinte. Naquela ocasião, fiz um levantamento exaustivo, de biblioteca em biblioteca, de todos os trabalhos que haviam sido publicados em “Journals” e livros sobre homossexuais, nos quais também havia a busca pelo “perfil psicológico”. A conclusão que se desenhava era clara:

quando se encontravam traços psicológicos que fugiam à norma de população, estes mesmos traços eram encontrados em mexicanos, católicos, judeus, etc. etc. que estivessem vivendo como minoria, em determinado local. A consequência do preconceito produzia o que denominaram de “traços de vitimização”. Em 1974, a Associação Americana de Psiquiatria retirou o homossexualismo de sua lista de patologias. Neste mesmo ano, estando em New York, fui ao consultório do Dr. Harry Benjamin, um senhor de idade, atrás de seu livro que não encontrava em livrarias mas que vinha sendo citado: The Transexual Phenomenon. Gentilmente me foi dado o livro e outros artigos sobre o assunto. Aí a coisa fechou na minha cabeça. Lembrando o Relatório Kinsey que apontava pelo menos 16 tipos de tendências de comportamento sexual e lendo naquele hotel de New York a distinção psicológica entre homossexuais, travestis e... transexuais (termo que ele cunhou, a não ser que minha memória falhe), entendi o porquê de não estarmos encontrando o perfil desejado. Na verdade era o transexual que estávamos buscando, mas isto é como procurar agulha no palheiro. A questão do transexual se torna transparente quando lembramos das fitas que transcrevemos sobre “aquele personagem” já falecido”.

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A nossa amostra refletia aquilo que era mais genérico em termos de perfil: bissexuais e homossexuais de todos os tipos. Ou seja, seu “sexo” psicológico batia com ,( seu sexo biológico”, não ocorrendo a dissonância típica dos transexuais entre um e outro.” Nesse pequeno trecho da informação da Dra. Julika, que acabamos de transcrever, ficou bem clara a razão de nosso interesse na pesquisa a que visávamos. Aliás, para aquela época, um estudo dessa natureza constituiría um certo risco para a nossa reputação e até mesmo uma ameaça para a iniciante carreira das abnegadas psicólogas. Como apoio a esta observação, transcreveremos mais um pequeno episódio lembrado no precioso relato da Dra. Julika. Aqui está: “... Apenas como curiosidade ou piada, enquanto estava nos EUA encontrei um livro sobre a cirurgia dos transexuais que estava sendo feita na John Hopkins University e, evidentemente, o livro traz fotos das cirurgias e das “partes”. Pois bem, ele foi retido no Correio Central, lá na Avenida São João, aonde tive que comparecer e comprovar que não se tratava de pornografiaParece piada, mas não é. Isso apenas reflete o grau de preconceito e intolerância que reinava no Brasil naquela ocasião. Enquanto aqui no nosso país ainda imperava violenta discriminação contra os homossexuais, lá nos EUA já se praticava a cirurgia dos transexuais, na John Hopkins University. ” A mesma defasagem ainda reinava na conceituação a respeito do comportamento anômalo dos homossexuais, ainda hoje denominados, pejorativamente, “bichas” e “sapatões”. Generarizadamente atribuía-se tal comportamento a problemas psíquicos resultantes do erro de educação, anomalias congênitas, viciações, degradação moral, etc. etc. Nós acreditávamos que não seria só por aí que iria encontrar-se a “causa eficiens” do homossexualismo. Nossa hipótese incluía as leis da

reencarnação como o principal fator, embora não o único, do intrigante comportamento denominado, genericamente, homossexualismo.

POR QUE REENCARNAÇÁO? Em outubro de 1969, tomamos contacto com o primeiro caso de reencarnação por nós investigado, a pedido do Dr. Ian Stevenson. Daí em diante passamos a levantar e a investigar outros mais, por nossa própria iniciativa. Desse modo, em 1972, já nos encontrávamos familiarizados com essa área de pesquisa. A leitura de diversas obras versando sobre a reencarnação e suas pesquisas científicas consolidou ainda mais a nossa crença de que, talvez, a reencarnação fosse uma das causas do homossexualismo, se não a única. Entre os autores que consultáramos figuravam: Muller (1970), Banerjee (1964,1965) e Stevenson (1966)^K Mas, naquela ocasião, não era só a explicação das causas do homossexualismo que visávamos descobrir. Na realidade, esperávamos obter também mais uma forte evidência de apoio à ideia da reencarnação. O plano inicial era, partindo da investigação por meio da regressão de memória, chegar à causa do comportamento homossexual do paciente. Seria uma explicação do homossexualismo e, ao mesmo tempo, uma evidência da reencarnação.

Outro ponto importante era fornecido pela pesquisa direta de casos de reencarnação efetuados por nós, com evidências da possibilidade de troca de sexo, e sustentados em base de relatos de casos semelhantes de outros investigadores. Tudo apontava em direção à validade da nossa hipótese de trabalho. Em suma, a nossa suspeita de que a troca de sexo de uma encarnação para outra talvez fosse, em certas circunstâncias, a principal causa do homossexualismo, mas não a única, espeçialmente a do transexualismo parecia emergir cada vez mais clara.

EXISTEM TRÊS MODALIDADES DE HOMOSSEXUAIS Para o leitor ainda pouco familiarizado com a questão do homossexualismo, lembramos que, basicamente, distinguem-se três modalidades de homossexuais: 1-0 homossexual genérico, cuja característica fundamental é a atração sexual por pessoas do mesmo sexo. 0 homossexual possui o impulso erótico dirigido para indivíduos de seu próprio sexo. No heterossexual esse impulso parece não depender exclusivamente da carga hormônica no organismo. 0 indivíduo castrado geralmente perde o apetite sexual, mas não muda a direção da atração pelo outro sexo. No homossexual, embora muitos deles possuam órgãos sexuais normais, bem como cargas hormonais suficientes e com atividade sexual normal, verifica-se a impulsão erótica em direção aos indivíduos do, mesmo sexo. Nestes casos, o homossexualismo pode ter-se desenvolvido em razão de outros fatores que não a troca de sexo proveniente da reencarnação.

Tais fatores podem ser os familiares e educacionais. Há também os circunstanciais, resultantes de situações especiais como, por exemplo: promiscuidade em cárceres, internatos, conventos, comunidades místicoreligiosas, iniciações em seitas esdrúxulas, etc. etc. Os homossexuais podem formai’ pares (casais) em que um deles exerce o papel ativo nas relações sexuais. No caso do sexo masculino, esta diferenciação torna-se mais definida. 2-0 travesti é aquele indivíduo que procura assumir a aparência dos de sexo oposto. Nem todo travesti é sistematicamente homossexual, assim como nem todo homossexual é obrigatoriamente travesti. 3 - 0 transexual é a modalidade mais típica do' homossexualismo. Neste caso, o indivíduo se sente uma pessoa de determinado sexo, ocupando um corpo físico do sexo oposto; uma mulher em um corpo masculino, ou um homem em um corpo feminino. 0 transexual sugere fortemente a intervenção da reencarnação em sua ocorrência. No transexual podem ocorrer alterações inatas fisiológicas e cromossômicas. Permitimo-nos deixar sem comentário esse aspecto, para não estender excessivamente o presente capítulo.

“SANKHÂR” E HOMOSSEXUALISMO Finalizando este capítulo, pedimos licença para transcrever parte do Cap. X, do livro Espírito, Perispírito e Alma. "... A realidade do Sankhârâ”, revelada nos casos que sugerem reencarnação, favorece a hipótese de que pelo menos o transexualismo seja motivado por uma herança reencarnatória. Neste caso, se um indivíduo, quepse reencarnou reiteradas vezes com um determinado sexo, vem a renascer com um sexo oposto, ele provavelmente sofrerá problemas do gênero transexualismo. Pelo menos há grande possibilidade de isto ocorrer. A troca de sexo de uma encarnação para outra pode não ser

exclusivamente a causa do homossexualismo, pois vários fatores educacionais poderíam contribuir para despertar no indivíduo as tendências sepultadas nas profundezas de seu inconsciente espiritual. Deve ter-se em conta, também, outras variáveis que possam influir na equação que define o homossexualismo em função do “Sankhârâ”. Assim, por exemplo, apontamos duas imediatamente evidentes: 1) o tempo que o indivíduo passou desencarnado (intermissão): 2) o número de vezes que ele renasceu e viveu tendo um determinado sexo. A intermissão muito prolongada apaga muitos “Sankhârâs”, especialmente aqueles que poderiam gerar as “birthmarks” resultantes de ferimentos, malformações, moléstias graves, etc. É possível que as fortes características sexuais se atenuem com uma demorada intermissão. Por outro lado, a reiterada repetição de um mesmo tipo de sexo pode contribuir para acentuar as tendências do indivíduo a determinado comportamento sexual. Se, em sucessivos renascimentos, ele alternou os sexos, talvez seu comportamento sexual venha a depender sobretudo da educação recebida durante a infância e juventude. Isto porque ele é portador aproximadamente de igual carga de sexualidade masculina e feminina. Talvez seja este o motivo pelo qual o número de homossexuais parece aumentar à medida que o meio social se toma mais tolerante e menos repressivo. Os indivíduos com maior tendência em relação a um dado comportamento sexual e que poderíam proceder normalmente, serão estimulados pelas facilidades do meio social a mudar de atitude. Antigamente a educação muito rígida e repressiva contribuía para enquadrar o indivíduo ambisséxuo, em seu sexo natural. 0 homossexualismo não deve, pois, ser classificado como uma psicopatia ou como um comportamento merecedor de discriminação ou medidas repressivas. O homossexual, especialmente o “transexual”, merece toda a nossa compreensão e ajuda, para que ele possa vencer sua luta de adaptação ao novo sexo adquirido com o renascimento. Alguns homossexuais poderão ser reorientados, de maneira a se comportarem normalmente dentro dos padrões impostos pelo meio

social. Entretanto, igual reorientáção é necessária aos que se dizem normais para que se compenetrem da necessidade de respeitar e aceitar fratemalmente os homossexuais” (Andrade, 1984, pp. 227-229). (*) Notas sobre as psicólogas mencionadas no texto: 1Dra.

Andrée Samuel - Psicóloga clínica, psicoterapeuta com formação em Psicossíntesé, coordenadora de cursos de formação em Psicossíntese e grupos de autoconhecimento. Presidente-fundadora do Centro de Psicossíntese de São Paulo. Membro do Instituto de Psicossíntese, Firenze, Itália, Centro de Bologna, Membro da AAP - Association for the

Advancement of Psychosynthesis, MA, USA; membro do Institute of Noetic Sciences, Sausalito, CA; Conselheira do GMNE - Grupo de Meditação para a Unificação do Planeta, São Paulo. Practioner e trainer do Bach Centre, Mount Vemon, Oxfordshire UK. 2

Dra. Julika Kiskos, psicóloga, formada pela USP (1974). Atividade clínica em consultório (SP). Doutora “Honoris Causa” pela “The Open International University for Complementary Medicines”, órgão ligado à Organização Mundial de Saúde (Atenas, 1989). Medalha “Mérito Alvorada”, outorgada pelo Governo do Distrito Federal por contribuição ao estudo e desenvolvimento das práticas alternativas (Brasília, 1987). Fundadora da AITA - Associação Internacional de Terapias Avançadas (1985). Organizadora do I e II Congressos Internacionais de Terapias Alternativas (1985 e 1988), em São Paulo, e consultora do I Congresso de Medicina Integral, em Buenos Aires (1989). Conferencista internacional com vários trabalhos publicados no Brasil e Exterior.

CAPÍTULO X REENCARNAÇÃO, UMA LEI BIQLOGICA? “Não te maravilhes de eu te dizer: E-vos necessário nascer de novo.”

SORRISOS DE IRONIA Em 1961, o médico e professor catedrático de Psiquiatria da Universidade de Virgínia, EE. UU., Dr. Ian Stevenson partia rumo ao Oriente. Naquela ocasião, ele levava um projeto de pesquisa então considerado um autêntico absurdo, uma insensatez sob o ponto de vista do “establishment” científico vigente. Dr. Stevenson visava investigar “supostos” casos de... reencarnaçãol Está claro que, na despedida, alguns de seus colegas não conseguiram conter discretos sorrisos de ironia devido ao forte cepticismo suscitado pelo sistema de ensino superior americano. Passadas três décadas apenas, muitas ideias sofreram profundas mudanças, principalmente na Ciência e na Tecnologia. Percebe-se que novos paradigmas estão surgindo, na maneira de encarar a nossa realidade subjacente. Os “sistemas” antes considerados irrefutáveis começam a tornar-se discutíveis. Por exemplo, ouçamos o que nos diz o Dr. Roger J. Woolger, segundo ele próprio, “um céptico que se dépara com vidas passadas”: *Quando me formei na Universidade de Oxford, em meados dos anos 60, saindo com um diploma de Psicologia behaviorísta e outro de Psicologia analítica, eu não sabia que minha inteligência fora colocada numa camisa-deforça muito bem feita. Se alguém me tivesse sugerido, então, algo como recordação de vidas passadas, teriadescartado a ideia em si como uma contradição em termos. A recordação implica alguém que recorda, eu teria dito, e só uma pessoa tem acesso às minhas lembranças, a saber, eu mesmo.

Logicamente, “eu” não posso recordar as lembranças do homem sentado à minha frente no ônibus.” ' A seguir, o Dr. Woolger prossegue mostrando qual teria sido a conclusão do seu raciocínio baseado no ensino materialista reducionista, que lhe fôra inoculado na,mente durante o seu aprendizado universitário. (,Com

mais alguns golpes linguísticos e estocadas lógicas, faria meu amigo reencarnacionista atrapalhar-se em busca de uma definição satisfatória que fizesse frente à minha esgrima filosófica. Atrás de mim soavam as grandes vozes do racionalismo e do empirismo. A Metafísica está morta’, dissera o professor A. J. Ayer, e aquilo foi a pá de cal. Descansem em paz Platão, Aristóteles e Hegel?” (Woolger, 1994, p.17). Hoje o Prof. Stevenson e o Dr. Woolger teriam sobejas razões para um discreto sorriso de ironia, diante de algum colega que se declarasse definitivamente convencido de que a reencarnação é uma ilusão ou um dogma religioso sem apoio em qualquer evidência observacional. Os tempos mudaram...

PROVAS OU EVIDENCIAS? Um provérbio zen-budista diz assim: “O dedo serve para apontar a Lua; o sábio olha para a Lua, o ínscio olha para o dedo.” Esta máxima vem a propósito de muitos cépticos que,- diante da afirmação de que a reencarnação é uma realidade baseada em fatos, logo exigem: “Prove, então, que a reencarnação é uma verdade! E um não senso exigir-se a “prova” daquilo que já tem sido sobejamente constatado através de fatos. Em semelhante circunstância, jamais alguém podería provar qualquer verdade, por evidente que fosse. Além disso, é preciso que se enfatize que nem tudo aquilo que

pode ser provado constitui uma verdade, tanto quanto nem tudo o que é verdadeiro pode ser cabalmente provado. * As evidências que apoiam a crença na reencarnação são numerosíssimas. São fatos. Para serem bem evidenciados, esses fatos dependem de uma pesquisa trabalhosa e paciente, bem como exigem análise serena, criteriosa, sem preconceitos rígidos e apriorísticos. A aceitação de semelhantes fatos, naturalmente, dependerá da atitude do observador. Entretanto, é preciso ter-se em mente que a aceitação ou a recusa por parte de alguém apenas afetará o julgamento e a conclusão do próprio céptico. A verdade real do fato em si não será jamais atingida pela opinião pessoal do interlocutor arvorado em julgador. Por isso, é aconselhável que, diante dos casos que sugerem reencarnação, se “olhe para os fatos” e não para os “pressupostos doutrinários”; em outros termos, é melhor “olhar para a Lua e não para o dedo.”

ALGUNS FATOS No livro de Fielding Hall, The Soul of a People, 1908, p.295 há o seguinte relato: “Os gêmeos, Maung Gyi e Maung Ngé, nasceram em 1886, em Okshitgon, Birmânia. Pouco depois, seus pais mudaram-se para Kabyu. Quando os meninos já sabiam falar, notou-se que usavam nomes diferentes entre si,'sendo um de menina. Esses nomes eram idênticos aos de um\casal que morrera (ambos) no mesmo dia em Okshitgon, um pouco antes da época em que os gêmeos nasceram. Esse par era constituído por pessoas vizinhas, nascidas no mesmo dia, existindo entre elas verdadeira afeição. Para fins de comprovação, os gêmeos foram levados para Okshitgon, onde reconheceram tudo, inclusive ruas, casas e pessoas. Lembraram-se mesmo das roupas que costumavam usar. O mais novo dos gêmeos (que fora a mulher j recordou-se de ter pedido emprestado duas rúpias a Ma Thet e que não as tinha devolvido. Ao ser inquirida, Ma Thet confirmou o fato. Pouco tempo depois, Fielding Hall falou com os gêmeos, Tinham então pouco mais de seis anos. O mais velho, que anteriormente fora o marido, era baixinho e gordo. O mais novo era ainda menor e tinha um olhar curioso e sonhador, mais parecido com o de uma menina. Contaram muito a Hall sobre as suas vidas anteriores e como, após a sua morte, viveram certo tempo sem corpo, movendo-se no ar ou escondendo-se nas árvores, até que, depois de alguns meses, renasceram. O mais velho declarou: Antes, eu conseguia lembrar-me de tudo, mas agora está se

tornando cada vez menos e menos nítido e já não consigo mais recordar como o fazia anteriormente/1 (Muller, 1970, p.43). Tivemos o privilégio de conhecer pessoalmente o Prof. Hemendra Nath Banerjee (1931-1985). A última vez que nos encontramos em São Paulo, pouco tempo antes do seu falecimento, ele nos revelou que havia levantado mais de mil casos do tipo recordações de vidas passadas manifestadas em crianças, como o episódio que acabamos de relatar acima. Dentre os inúmeros casos relatados pelo Prof. Banerjee, escolhemos o da menina Swamalata Mishra. Filha de um comerciante em Chatarpur, índia, Swamalata nasceu em agosto de 1949. Quando Swarnalata já estava com 3 anos e meio de idade, foi com seu pai à cidade de Katni. Ali chegando, talvez por uma associação de ideias as lembranças de sua vida passada foram despertadas. Então passou a relatar episódios de uma vida anterior supostamente passada em Katni. Swarnalata revelou ao seu pai, Sri M.L. Mishra, que se chamava Kamlesh, era casada com Hira Lai Pathak e tivera dois filhos. Segundo a informação da garota, seu marido era um empreiteiro e perto de sua casa havia uma escola para moças. Seu pai não prestou muita atenção às suas revelações, pensando tratar-se de fantasias da criança. Entretanto, um ano mais tarde a mãe de Swamalata assustou-se quando viu a filha, espontaneamente, cantar em uma língua estranha, acompanhando seu cântico com uma dança que ela não houvera jamais aprendido. A princípio, a mãe da menina não entendia a língua em que ela cantava. O

idioma falado pela mãe era o hindu. Logo mais, identificou- se a língua em que a menina cantava: uma misturados idiomas bengali e de Assam. Preocupada com o fato, a mãe de Swarnalata levou-a a um curandeiro, imaginando que ela estivesse sendo atuada por algum Espírito, Mas foi constatado que não era esta a causa do comportamento da menina. O Prof. Banerjee soube deste caso e interessou-se em investigá-lo. Levada por ele a Katni, em julho de 1959, Swarnalata reconheceu os irmãos da personalidade anterior, chamando-os pelos nomes próprios. Identificou outros parentes, amigos e antigos servidores da sua casa. O esposo da personalidade prévia, então com 62 anos de idade, também foi reconhecido. Para ter-se mais certeza de suas identificações, Swarnalata foi submetida a uma entrevista a sós com o que fora seu esposo, o qual convenceu-se de que, realmente, ela havia sido sua falecida mulher, tais os incidentes íntimos de sua vida conjugal que ela revelou conhecer. O caso de Swarnalata tem características inusitadas, porque na realidade a personalidade que vivera em Katni entre 1900 e 1930 chamava-se Biya, ou Bindi Devi, e não Kamlesh conforme Swarnalata afirmava. Bindi Devi morrera de um ataque cardíaco e não de um acidente de automóvel como, também, ela declarou. Na realidade, Swarnalata fazia confusão com outra recordação reencarnatória de uma breve existência anterior em que tivera o nome de Kamlesh, em Shilit, ou Shilhatte, do Assam. Seus pais, segundo ela, eram Ramesh (genitor) e Sashimata (mãe). Eram brâmanes. Sua morte

resultou de um acidente de carro, tendo falecido entre 8 e 9 anos de idade. Os intervalos entre morte e nascimento para os dois casos foram muito curtos, aproximadamente dezoito meses. Daí a confusão. Casos como esses desafiam as explicações reducionistas baseadas em/teorias psicológicas materialistas e demandam interpretações mais consentâneas com os próprios fatos. Expostos assim de forma tão resumida, não dão a mínima ideia do rigor da minuciosa investigação que normalmente precedem à sua simples divulgação. É preciso que se compulsem os estudos e as monografias elaboradas por investigadores como o Prof. Banerjee, para ter-se uma correta avaliação da precisão, segurança e honestidade com que são tratados tais casos. Outro investigador, também nosso conhecido pessoal, é o Prof. Dr. Ian Stevenson. Pode ser considerado o mais proeminente especialista em casos de reencarnação. Sua imensa coleção desses casos mais de 2.500 tem permitido obter conhecimentos precisos acerca do processo da reencarnação. Este notável parapsieólogo tem publicado inúmeros livros e artigos - sobre casos e detalhes concernentes à reencarnação e suas características até agora pouquíssimo conhecidas e ainda inéditas. O elevado conceito de que atualmente goza o Dr. Stevenson abriulhe as portas para vários periódicos de renome nos meios científicos, tais como o Journal of Anthropological Research, o Journal ofNervous and Mental Disease, o Journal ofAsian and African Studies, o American Journal ofPsychiatry e o Journal of the American Society for Psychical Research. Graças ao esforço, seriedade e incansável atividade de

cientistas autênticos como o Dr. Ian Stevenson, a reencarnação vai conquistando o seu lugar no conjunto das leis já conhecidas da Biologia e, consequentemente da Psicologia e Antropologia. Esperamos que seu reconhecimento e aceitação pela Ciência Oficial ocorra antes do término deste Século XXI.

E NO BRASIL? Aqui no Brasil a reencarnação não é novidade. O Espiritismo encarregou-se de popularizá-la. Porém, esta divulgação foi realizada em forma filosófica. O Livro dos Espíritos categoriza a reencarnação como sendo um dogma, fundamentado-a apenas na “justiça de Deus e a revelação.” (Opus cit. Cap. IV, vers. II, questão 171). Outras fontes de divulgação seriam a Teosofia, o Esoterismo, a Antroposofia, as seitas budistas e outros núcleos fílosófícos-religiosos de menor porte, que fazem parte do atual movimento mundial da chamada “New Age”. A pesquisa científica baseada nas recordações de crianças, nos moldes em que se realiza na India e EE. UU. conta com um contingente de investigadores ainda pequeno em nosso país. (Andrade, 1986). A maioria dos adeptos do Espiritismo tem-se mostrado indiferente diante de casos de recordação reencarnatória em crianças. Talvez a demasiada confiança nos ensinamentos da Doutrina Espírita tenha contribuído para esse desprezo pela pesquisa científica dos casos de reencarnação desse tipo. Paradoxalmente, há um interesse generalizado, tanto da parte dos próprios espíritas como dos não espíritas, mas reencarnacionistas, em tentar

descobrir o que foram em outras encarnações. Esta curiosidade, até certo ponto pueril, talvez tenha sido uma das causas da grande procura de outra área de pesquisa científica da reencarnação: ‘A Terapia Regressiva a Vivências Passadas TRVP.” No Instituto Nacional de Pesquisa e Terapia Regressiva Vivencial Peres (INPTVP) a terapia é feita com finalidade terapêutica e atualmente também como pesquisa científica; jamais para atender a outros fins. Quem iniciou, aqui no Brasil, essa modalidade de terapia psíquica foi o casal Dm. Maria Júlia Pereim Momes Príeto Peres e Eng. Ney Príeto Peres. O prefácio do Ehg. Ney R Peres à edição brasileira da obra Vidas Passadas em Tempia (Netherton, 1984) traz um rápido histórico da implantação da TRVP em nosso país. A iniciativa começou em 1979 quando o Eng. Ney P Peres e sua esposa Dra. Maria Júlia descobriram, em uma livraria no centro de New York, o livro do Dr. Morris Netherton, lançado naquele ano, intitulado Past Uves Thempy. Depois de uma série de iniciativas, o referido casal trouxe ao Brasil, em 1982, o Dr. Morris Netherton. Foi o ponto de partida para a implantação da ideia aqui. Atualmente, o casal Peres dirige o Instituto Nacional de Pesquisa e Tempia Regressiva Vivencial Peres INPTVP onde, a par da atividade clínica, o Instituto promove pesquisas de casos de Reencarnação e formação de terapêutas em TRVPeres. *** Voltando ao nosso tema central, a reencarnação, vemos multiplicâr-se no mundo todo o interesse por este fenômeno, principalmente na área da terapia regressiva a vidas

passadas, cujos resultados têm sido dignos de atenção. A pesquisa dos casos de lembranças espontâneas de encarnações anteriores prossegue em ritmo mais lento, devido às suas próprias características que a tornam mais demorada e onerosa. Por outro lado, a evidência que resulta da terapia regressiva a vidas passadas está se generalizando de tal maneira que, dentro de pouco tempo, a reencarnação será encarada com a mesma naturalidade com que aceitamos a existência dos átomos. Mais ainda, a reencarnação íSerá reconhecida como uma lei biológica, certamente a mais importante de todas elas.

CAPÍTULO XI EVIDÊNCIAS QUE COMPROVAM A REENCARNAÇÃO “Se um asiático me pedisse uma definição da Europa, eu seria forçado a responder-lhe: É aquela parte do mundo completamente dominada pela'extravagante e incrível ilusão de que o nascimento do homem é o seu começo e que ele é. criado para o nada.”,,(Schopenhauer - Parerga und Parahpomena, 1891, p. 395).

AS PESQUISAS DA REENCARNAÇÃO As primeiras investigações acerca da reencarnaçãq, no Ocidente, foram tentadas pelo método de regressão da idade. Tal sistema se deve às descobertas de Franz Anton Mesmer 733-1815), que inspiraram a prática do magnetismo animal e do hipnotismo descoberto pelo marquês Armand Marie Jacques Chastenet de Puységur (1751-1825). , Em 1887, na Espanha, Fernando Colavida experimentou, obter informação acerca de vidas anteriores, por meio da regressão. Em 1894, na França e sem conhecer o processo usado por Colavida, o Cel. Eugène Auguste Albert D’Aiglun De Rochas (1837-1914) fez inúmeras investigações sobre a reencarnação, publicadas em 1911 no livro intitulado Les Vies Successives. Em 1924 o francês Gabriel Delanne publicou uma obra intitulada Documents Pour Servir à l’Étude de la Reuncarnation. Este livro foi traduzido pelo saudoso Dr. Carlos Imbassahy e lançado pela FEB, com o nome de A Reencarnação. O referido trabalho é riquíssimo em informações sobre a reencarnação, contendo no Capítulo I uma ótima súmula histórica a respeito da crença na palingenesia, entre os povos antigos. Além disso, a obra de Gabriel Delanne oferece cerca de meia

centena de casos que sugerem o renascimento. Embora apresentados sob forma anedótica, tais casos representam forte evidência de apoio à hipótese da reencarnação. (Delanne, 1924). Em 1931, o italiano Dr. Innocenzo Calderone lançou em Milão um livro intitulado La Reencarnazione, Inchiesta lntemazionale. Este trabalho relata os resultados de uma pesquisa internacional de opinião pública acerca da reencarnação, contendo diversos casos de lembranças reencarnatórias ocorridos no Oriente e no Ocidente. Em 1946, George B. Brownell publicou, em um livro editado em Santa Bárbara, Califórnia, Estados Unidos, os relatos acerca de casos que sugerem reencarnação, contidos em cartas enviadas ao jornal Sunday Express, em 1935. Mas o número de pesquisadores e de obras versando sobre o problema da reencarnação é atualmente grande demais para ser alinhado em um simples capítulo. Vamos referir-nos unicamente àqueles que dizem respeito às pesquisas atuais.

Procuraremos

mencionar as áreas de investigação recentes e mais bem enquadradas no método indutivo, que é o preferido pela Ciência oficial. Lembramos que o método indutivo é aquele que, partindo da observação dos fatos, procura formular as hipóteses de trabalho e as leis gerais que permitam uma explicação causal-racional para os referidos fatos observados. O método indutivo leva vantagem sobre algumas intuições “a priori” que normalmente servem de embasamento às teorias criadas pelo método oposto, o dedutivo, o qual pode, eventualmente, resvalar para o terreno movediço das hipóteses metafísicas. Inicialmente era este último o aspecto das proposições reencarnacionistas. Não íam além de afirmativas dogmáticas, baseadas

nas tradições filosófico-rehgiosas ou em silogismos muito bem elaborados, mas passíveis de contestação também lógica. Desta forma, a aceitação da hipótese reencarnacionista era optativa. Dependia da disposição do indivíduo.

INÍCIO DAS PESQUISAS SISTEMÁTICAS NO ORIENTE A partir das primeiras décadas do Século XX, na índia, iniciaramse pesquisas sistemáticas sobre a reencarnação, baseadas na existência de crianças que, desde o início da sua fase elocutória, afirmavam ter vivido em uma encarnação anterior, sob a forma de outra personalidade. Tais declarações eram tomadas a sério pela maioria das famílias dessas crianças, devido à aceitação generalizada, entre os povos orientais, das doutrinas reencarnacionistas. Desta forma, a criança não era inibida em suas primeiras declarações e fornecia maiores e mais precisos detalhes,

revelando os nomes dos locais e dos parentes relacionados com sua anterior existência. Tal fato ocorre mais raramente no Ocidente, devido sobretudo às ideias vigentes e à incompreensão dos pais, bem como das pessoas relacionadas com a família, chefes religiosos, educadores, psicólogos e psiquiatras. Por falta de informação adequada, passam a considerar as declarações das crianças, acerca de sua vida pregressa, como produtos da imaginação infantil. Desta forma, as ^crianças que eventualmente manifestam a lembrança de suas vidas anteriores são inibidas logo no início das declarações. Normalmente, a emersão dessas recordações reencarna- tórias surge na primeira infância, atinge seu ponto máximo entre os dois e quatro anos de idade, decrescendo rapidamente até os ^ sete ou oito anos mais ou menos. Alguns indivíduos conservam a memória dos fatos pregressos, durante a vida toda, mas são raros. Isto explica por que, aqui no Ocidente, são tão pouco comuns os casos que sugerem reencarnação. A nossa cultura não aceita a ideia da reencarnação. Em razão disto, as evidências são negligenciadas, quando não ridicularizadas ou enquadradas em categorias psicológicas estabelecidas por sistemas baseados, alguns deles, em intuições apriorísticas e metafísicas. Para os que desejarem tomar conhecimento de inúmeros e variados fatos que evidenciam o fenômeno da reencarnação, ocorridos no mundo todo, principalmente no Oriente, recomendamos a leitura do livro do Dr. Karl E. Muller: Reencarnation Based on Facts. (Muller, 1970). Ao referir-nos às investigações sistemáticas iniciadas na índia, não queremos afirmar que no Ocidente, também, não se tenham feito pesquisas nesta área e há muitos anos.

0 livro do Dr. Karl E. Muller contém uma rica informação neste sentido, relatando um número considerável de casos de reencarnação levantados também no Ocidente e por meio dos mais variados métodos. Todavia, o sistema empregado na investigação das recordações reencarnatórias ocorridas em crianças, ao qual nos referimos, é o que melhores evidências tem fornecido a favor da realidade do fenômeno da reencarnação.

CRIANÇAS QUE SE LEMBRAM DE VIDAS ANTERIORES Em 1954, ò Prof. Hemendra Nath Banerjee (1929- 1985), Diretor do Departamento de Parapsicologia da Universidade de Rajasthan, índia, iniciou uma série de investigações acerca de diversos casos de crianças que se lembravam de suas vidas anteriores. Tais casos são numerosos na índia, bem como em diversos países do Oriente: Burma, Líbano, Sri Lanka, Turquia e outros. Em 1979, quando do lançamento de um de seus livros, The Once and Future Life, Banerjee afirmou que, até então, já houvera colecionado cerca de 1.100 (mil e cem) casos que sugerem 2

reencarnação. (Banerjee, 1979).. . ? Na relação bibliográfica, no final deste artigo, damos uma lista de obras publicadas pelo Professor Hemendra Nath Banerjee, que são de nosso conhecimento. Seus livros apresentam os casos em forma de reportagens escritas em linguagem destinada ao público de cultura média. Entretanto, ele editou monografias de rigor científico, contendo minucioso levantamento de dados positivos acerca dos fatos registrados por ele e sua equipe. (Banerjee, 1964 e 1965).

Em dezembro de 1967, o Eng. Ney Prieto Peres teve a oportunidade de visitar o Prof. Banerjee, em Jaipur, índia, no Departamento de Parapsicologia da Universidade de Rajasthan, onde ele exercia o cargo de diretor. Naquela ocasião, o Eng. Ney Prieto Peres convidou o Prof. Banerjee a visitar o Brasil. Em dezembro de 1970 ele veio pela primeira vez ao Brasil, onde cumpriu um amplo programa de conferências e entrevistas. Posteriormente, retomou ao nosso país mais duas vezes, em uma das quais foi à Argentina também.

A ENORME COLEÇÃO DE CASOS DE REENCARNAÇÃO DO PROFESSOR DR. LAN STEVENSON Outro investigador de casos de crianças que se lembram de vidas anteriores é o médico, Dr. Ian Stevenson, (“Carlson Professor de Psiquiatria” e “Diretor da Divisão de Estudos de Personalidade”), na Universidade de Virgínia, em Charlottesville, Virginia, EE. UU. Em 1961, Dr. Ian Stevenson seguiu para a índia, a fim de verificar pessoalmente alguns casos de criançâs que pareciam manifestar recordações de fatos ocorridos em vidas passadas. Inicialmente, céptico acerca : da possibilidade de ocorrer openascimento de uma pessoa já falecida, o Dr. Ian Stevenson procurou descobrir eàinvestigar os casos desse tipo, frequentemente reportados em noticiários de jornais e revistas, bem como em trabalhos de pesquisadores locais, na índia e em alguns outros países. Desse modo, esse dinâmico e paciente pesquisador, visitou não só a índia, como também Burma, Tailândia, Ceilão, Turquia, Líbano,-Sri Lanka, no Oriente, e outras regiões do Ocidente: Alasca, Canadá, Brasil, etc.

O resultado foi o levantamento de cerca"de 2.600 (dois mil e seiscentos) casos do tipo reencarnação, colhidos até o presente em quase todo o mundo. Devido à cautela científica, ao rigoroso método empregado e à alta qualidade dos casos selecionados e divulgados pelo Dr. Ian Stevenson, ele conquistou o respeito e o crédito de grande parcela da comunidade pertencente à Ciência Oficial e interessada nos fenômenos psicológicos e também paranormais. Assim, os seus livros e artigos têm tido acolhida em editoras e periódicos tradicionalmente sérios e exigentes no tocante ao rigor científico; por exemplo: American Journal of Psychiatry; Journal of the American Society for Psychical Research; Journal of Society for Psychical Research (Londres); Proceedings of thê Parapsychological Association, (USA); International Journal of Comparative Sociology; Journal of Nervous and Mental Desease; Journal of Asian and African Studies e Journal of the American Medical Association. A |University Press of Virginia^ órgão da Universidade de Virgínia, em Charlottesville, EE. UU., tem editado os livros do Dr. Ian Stevenson, todos eles de inegável importância e rigor científico. (Stevenson, 1966, 1970, 1974, 1975,1977,1980,1983). Deixamos de mencionar outros investigadores que fazem pesquisa dos casos de pessoas que se recordam de vidas anteriores, para não alongarmos demasiadamente este modesto capítulo. Porém, na relação bibliográfica apontaremos algumas obras que tratam da pesquisa da reencarnação em geral.

AS TERAPIAS REGRESSIVAS A VIDAS PASSADAS As experiências de Fernando Colavida em 1887, e as de Albert De Rochas em 1894, foram repetidas na década de cinquenta por Morei

Bernstein. O livro de Bernstein, The Search for Brídey Murphy, publicado em 1956, teve o efeito de despertar o interesse e a curiosidade a propósito da possibilidade de existir realmente a lei da reencarnação. Geralmente, tais fatos costumam suscitar controvérsias, tornando-os amplamente conhecidos e, algumas vezes, até matéria de programas para cinema e televisão. Daí surgirem outros investigadores e respectivas obras como o caso do Sr. Arnall Bloxham e seu livro Who WisArm Ockenden, lançado em 1958. (Bernstein, 1956). No mundo todo começaram, então, a aparecer psicoterapeutas que experimentaram, com êxito, o método da regressão, no tratamento de determinadas psicopatologias resistentes aos sistemas convencionais. Atualmente contam-se às centenas o número de obras publicadas sobre tal assunto e é elevado o contingente de psicoterapeutas que aderiram ao método da regressão a vidas passadas. No Brasil distingue-se, entre os inúmeros psicoterapeutas que adotam o método da terapia regressiva, a Dra. Maria Júlia E Morais Prieto Feres que, juntamente com seu esposo Eng. Ney Prieto Feres, introduziu em nosso país a Terapia de Vidas Passadas (TVP). Em 1980 o Eng. Ney Prieto Feres publicou na Fblha Espírita, nos números 77, 78, 79,80 e 81, uma série de artigos comentando o livro Fast Lives Therapy, de Morris Netheiton, Ph D., e Nancy Shiffrin. Estes artigos suscitaram amplo interesse entre médicos, psicólogos e educadores, levando a ‘Associação Médico-Espírita de São Paulo” a realizar, em março de 1981, uma série de seminários para o estudo e debate acerca desse novo método de tratamento psicoterápico. Resultou daí a sua divulgação no Brasil. (Netherton & Shiffrin, 1978 e 1984). Apesar das reações negativas contra a prática da Terapia de Vidas Passadas, esta vem conquistando a aceitação e aprovação de grande parte dos psicoterapeutas, bem como a de enorme parcela de pacientes beneficiados com a cura ou a melhora considerável de seus problemas

psicossomáticos. Todavia, ou por sincera convicção, ou por cautela, nem todos os psicoterapeutas afirmam que seus pacientes vivenciam realmente episódios de reencarnações anteriores, durante o transe regressivo. Assim mesmo a TVP tem-se revelado uma fonte de evidências a favor da palingenesia, especialmente sob o ponto de vista do pragmatismo. ***

À semelhança do que se passou com as afirmativas de Aristarco de Samos (300 a.C.), de Nicolau Copérnico (1473- 1543), de Giordano Bruno (1550-1600) e de Galileu’ Galilei (1564-1642), acerca da esfericidade e movimento da Terra e dos planetas ao redor do Sol, a teoria da reencarnação também será aceita como uma lei da natureza. Pelos nossos cálculos, este evento ocorrerá até mais ou menos o ano de 2010.

CAPITULO XII O CASO ARMED X CHARLAB “Aqueles que não despertaram para a verdade do ‘renascimento' não podem ser a isso forçados por argumentos, e aqueles que ‘creem’ na verdade dele não necessitam de argumentos.” Ramacharaka (Indian Journal of Farapychological Research - vol. 7, Ns. 1 a 4, 1965-66, p. 57).

UMA VISITA No dia 16 de outubro de 1987, achavamo-nos em nosso escritório quando, às 14h30 min tivemos a grata surpresa da visita de nosso estimado e ilustre amigo, Dr. Eurípedes Barsanulfo Pereira. Ele viera de Campo Grande, Mato Grosso do Sul, para participar de diversas atividades em São Paulo, entre as quais como a de convidado especial do “III Simpósio Brasileiro de Parapsicologia, Medicina e -Espiritismo SIBRAPAME . Logo entabulamos animadíssima troca de ideias. No decorrer da conversa, Dr. Barsanulfo comunicoù-nos que ele soubera de um ótimo caso de reencarnação: "O caso é muito forte” disse ele “mas foi-me relatado por um antigo professor que me exigiu absoluto sigilo acerca de seu nome e dos nomes dos demais protagonistas; todos eles seus parentes. Daí eu preferir que se usem pseudônimos em lugar dos nomes verdadeiros, caso este fato venha a ser divulgado.” Prometemos ao Dr. Barsanulfo o máximo í cuidado neste particular. E adiantamos, desde já, ser inútil qualquer tentativa para descobrir-se a verdadeira identidade das pessoas envolvidas na presente narrativa.

O VELHO PROFESSOR Solicitado, por nós, para expor o caso, Dr. Barsanulfo, com a fluência que lhe é peculiar, iniciou seu relato, informando-nos a respeito do venerável informante epèu velho ex-professor: “O caso em questão foi-me relatado pelo meu antigo mestre, Dr. Helmut Nizian, que foi o meu professor de Botânica”, começou ele, a narrativa. "O professor Nizian é de nacionalidade libanesa, tendo nascido perto de Beirute, no início deste século. Fez seus estudos secundários e bacharelou-se em Biologia em uma universidade americana, em sua terra natal. Emigrou para o Brasil, na década de 30. Instalou-se em nosso país, trazendo posteriormente sua esposa, também libanesa, e aqui constituiu família. Trabalhou por mais de 30 anos no magistério, inclusive como professor universitário. Por sua vida dedicada ao trabalho e à família, a honestidade e honorabilidade do professor Nizian já foram há muito reconhecidas pela sociedade brasileira. ” Perguntamos ao Dr. Barsanulfo se o prof. «Nizian possuía registros escritos, acerca do caso que iria ser-nos relatado:

“Infelizmente não” respondeu-nos o Dr. Barsanulfo “por isso muitos detalhes se perderam da memória do prof. Nizian, porém alguns fatos marcantes não se apagaram. O citado Professor é uma pessoa reservada, evitando comentar sobre esse caso, com receio de não ser compreendido e ser levado ao ridículo. Particularmente, tem plena convicção da verdade dos relatos, porque aconteceram no seio de sua família e ele próprio presenciou um deles. Estas informações que se seguirão foram-me dadas quando, em um encontro informal que tivemos, referí-me ao meu interesse pelo estudo de casos que sugerem reencarnação, como os relatados pelos investigadores Stevenson, Banerjee e Andrade. Fui aluno do prof. Nizian, no curso científico, há vinte anos, e mantenho com ele um forte laço de amizade. Somente agora, depois de todos esses anos, confiou-me essas informações, no intuito de colaborar com o avanço das pesquisas nessa área e na condição de, se vierem a ser divulgadas, que se mantenha sigilo relativo aos nomes das pessoas envolvidas no episódio, príncipalmente o de seus parentes além do seu próprio”. Garantimos então, ao Dr. Barsanulfo que, na hipótese de considerarmos o caso digno de estudo e divulgação, seria respeitado o sigilo solicitado, e substituídos por pseudônimos os verdadeiros nomes dos protagonistas. Após esta nossa declaração, o Dr. Barsanulfo prosseguiu, relatando o que ouvira do seu velho professor e amigo.

ARMED NIZIAN X CHARLAB ALVATAR “Contou-me

o prof. Nizian que, enquanto residiu no Líbano, desde

criança veio tendo a chance de ouvir de seus

parentes, em inúmeras oportunidades, referências acerca de fatos inusitados a respeito de um seu primo de nome Armed Nizian. Como eu disse, pelo menos um deles o prof Nizian testemunhou pessoalmente.” Dr. Barsanulfo fez uma ligeira pausa para consultar suas anotações e, logo a seguir, prosseguiu em sua narrativa: “Na década de 10, nasceu Armed Nizian, no pequeno povoado de Alayh, perto de Beirute. Quando começou a pronunciar as primeiras frases, passou a falar insistentemente para sua mãe Selem, que em uma vida anterior havia tido o nome de Charlab Alvatar, vivera muito tempo em Qumat, a centenas de quilômetros de Alayh, onde moravam sua esposa chamada Natir e seus dois filhos, Georges e Mitchel Alvatar. Nessa época o então pequeno Armed, nunca havia saído de sua cidade natal. No entanto, informou que tinha sido pedreiro, havia emigrado para o Brasil e fora ah assassinado, na cidade de Belém do Fará. Em razão da insistência do menino nessas afirmações, sua família resolveu levá-lo até a cidade de Qumat para satisfazê-lo & j

O RECONHECIMENTO DA FAMÍLIA A narrativa do Dr. Barsanulfo agora prendia-nos intensamente a atenção. Interrompemo-lo, peiguntando: Encontraram a família de Armed, em Qurnat? Como foi o encontro? “Sim” respondeu-nos o Dr. Barsanulfo “Quando chegaram a Qumat, Armed conseguiu orientar seus pais até a rua e a casa dos Alvatar. Em lá chegando, dirigiu-se à Sra. Natir, dizendo-lhe que ela havia sido sua esposa. Na presença dos irmãos Georges e Mitchel, identificou-os como seus filhos, referindo-se a Georges como seu primogênito, embora a diferença de estatura dos irmãos fosse muito pequena. Geoiges tinha, então, 12 e Mitchel 11 anos”.

E como foi a reação da família? Indagamos interessado. “A Sra. Natir, a princípio, ficou perplexa com a riqueza dos detalhes fornecidos pelo garoto, acerca da sua vida e a de » seus filhos, assim como sobre a residência onde moravam. Ela achou tudo aquilo muito estranho. Mas, a partir daí, a amizade passou a unir as duas famílias e, de tempos em tempos, Armed era levado até Qumat para visitar sua “outra família”. Com o tempo, ambas as famílias passaram a encarar aquelas afirmativas de Armed como lembranças reais de uma outra vida, em razão das inúmems provas de veracidade fornecidas com seus relatos.” Indagámos do Dr. Barsanulfo se ele teria sido informado de algum fato notável a respeito das recordações de Armed, e capaz de aduzir maior evidência comprobatória a favor de suas afirmações. “Sim” Respondeu o entrevistado “Posso relatar o caso do lençol de água. Eis o episódio:

O PROBLEMA DO LENÇOL DE ÁGUA “Logo após o seu casamento, o prof. Helmut Nizian foi com sua jovem esposa visitar o primo Armed, que agom morava em Qumat. Nessa ocasião o casal foi levado pelo primo para hospedar-se na casa dos irmãos Georges e Mitchel. ” “Encontrando-se certa manhã reunidos na cozinha o

prof. Nizian e Armed, eis que começa a sair ao lado do cano de esgoto da pia, rente ao piso, um líquido escuro, problema este que há algum tempo vinha ocorrendo e para o qual não encontravam solução. Um dos irmãos chamou a atenção de Armed para o defeito. Para a surpresa do prof Nizian, Armed afirmou que, quando construíra aquela casa em sua outra vida, havia detectado uma mina de água nas fundações da construção. Na época, colocara um cano feito de pedras e cal enterrado pelo terreno abaixo, até além dos limites da propriedade, para dar escoamento àquela água proveniente do lençol freático ali encontrado. Admitiu que, como havia sido construída uma rua mais tarde após o limite inferior do terreno, por ocasião do calçamento da mesma podería ter havido a oclusão do encanamento que dava vazão àquela mina de água. ” “Armed, chamando o prof Nizian e os irmãos Alvatar para a calçada dos fundos da casa, começou a fazer tentativas para localizar, batendo com os pés no chão, o possível trajeto do citado encanamento que havia construído. 0 interessante é que a posição no terreno não coincidia absolutamente com a tubulação do esgoto para o qual a pia da cozinha descarregava e que era conhecida dos donos da casa. Depois de mais algumas batidas com os pés, localizou um ponto perto da rua, no qual o som era diferente. Aberto, a seu pedido, um buraco no chão, para espanto do prof Helmut Nizian começou a jorrar com certa pressão um líquido escuro, semelhante ao que estava se infiltrando no assoalho debaixo da pia! Ali foi encontrada realmente uma tubulação desconhecida dos próprios irmãos donos da casa, com todas

as características, inclusive a direção do escoamento, previamente reveladas por Armed.” Confessamos ao Dr. Barsanulfo que este episódio era realmente uma boa evidência a favor da hipótese da reencarnação de Charlab na pessoa de Armed. Entretanto, os adversários desta hipótese poderíam argumentar que Armed, sendo engenheiro, podería ter assistido ao calçamento da rua e ali observado o anterior escoamento da água da mina. Posteriormente, alertado pelos irmãos Alvatar para o problema da infiltração deságua no piso sob a pia, ele teria estabelecido uma correlação entre os dois fatos, resolvendo, então, o problema, conforme foi relatado pelo prof. Helmut Nizian. “De fato” respondeu o Dr. Barsanulfo “Este argumento podería ser aventado pelos que não admitem a reencarnação. No máximo podería invalidar o testemunho direto do episódio narrado pelo prof. Helmut Nizian. Todavia não há uma justificativa para uma farsa dessas, pois durante sua vida toda Armed já tinha dado provas de sobejo de que era a reencarnação de Charlab. Não seria necessário lançar mão de um expediente desses para aumentar a convicção daqueles que já não duvidavam mais da realidade dos fatos. Para quê? Mesmo porque ele houvera demonstrado a sua identificação com Charlab Alvatar, em inúmeras outras oportunidades. Por exemplo, o prof. Helmut Nizian relatou- me outro episódio muito mais convincente do que este, em que Armed decidiu a vitória dos irmãos Alvatar numa pendência judicial. Vou contar a história como aconteceu.”

A QUESTÃO JUDICIAL "Os irmãos Georges e Mitchel herdaram de seu pai Charlab Alvatar um terreno na cidade de Qurnat. Depois de vários anos, foi construído um colégio no terreno ao lado. 0 primitivo dono deste terreno, antes de vendê-lo ao proprietário do colégio, levantara um muro na divisa entre as duas propriedades. Posteriormente, os irmãos Alvatar descobriram que o citado muro na reahdade invadira vários metros de sua propriedade. Reclamaram do proprietário do colégio. Este alegou que houvera adquirido o imóvel naquela situação. Na impossibilidade de haver um, acordo, constituíram um advogado e a questão foi levada à justiça. Georges e Mitchel, agora com mais de trinta anos de idade, em vista das dificuldades em levar a bom termo o contencioso judicial, lembraram-se de consultar seu “pai”, o amigo Armed, na ocasião já formado em engenharia. 1 “Quando Armed Nizian foi vistoriar o terreno disse ter constatado a irregularidade e que tería condições de prová-la perante o juiz. Foi então marcado o encontro das partes em litígio, no local, com seus respectivos advogados e as autoridades judiciais “Na presença do juiz, Armed declarou que se lembrava nitidamente de que, quando fora Charlab Alvatar, houvera feito a demarcação do terreno com várias estacas, as quais deveríam estar cobertas pelo calçamento posteríormente construído. Aduziu que, em determinado lugar, enterrara algumas ferramentas usadas. Ao chegarem ao local do terreno, Armed indicou a região onde as ferramentas deveríam estar enterradas. No ato, mandou cavar e, para surpresa de todos, foram

■ encontrados, a vários centímetros de profundidade alguns objetos de ferro bastante deteriorados, com sinais de que haviam sido sepultados ali há muitos

anos. Continuando mandou perfurar num determinado local. Ali foi achado um marco com o aspecto de haver sido cravado muito tempo antes. Ordenou para perfurarem exatamente a uma distância de 5 metros, o que revelou tratarse de um local onde havia um velho calçamento. Foi aí encontrado um outro marco e, assim por diante, vários deles distanciados de 5 metros um do outro. Desta maneira, para a peiplexidade de todos, a demarcação completa do terreno foi restabelecida”. “A causa dos irmãos Alvatar estava ganha, as provas achavam-se ali aos olhos de todos. Em vista do ocorrido, o dono do colégio reconheceu a versão de Armed e prontificou- se a restituir a área invadida. Demonstrando frente aos circunstantes muito temor, levantava as mãos para o alto e batia no peito, jurando por Deus que não sabia daquela invasão. Temia que algum castigo dos céus pudesse cair sobre seus filhos, uma vez que era uma pessoa muito mística.” “Naquele momento, os irmãos Alvatar, também impressionados com o ocorrido, resolveram doar ao colégio a referida área, pois ficaram bastante emocionados com o fato de o amigo Armed, naquele local, haver demonstrado objetivamente conhecer um fato ignorado por todos. Para eles não havia nenhuma dúvida: Armed Nizian, na realidade, fora o seu falecido pai Charlab Alvatar... “ Conhecendo a honorabilidade do Dr. Eurípedes Barsanulfo Pereira, conceituado médico da cidade de Campo Grande e professor na Faculdade de Medicina daquela capital, nós também nos sentimos convencidos da autenticidade do fato por ele narrado. Este caso contém fortes evidências sugerindo que Armed Nizian é a reencarnação de Charlab Alvatar.

CAPÍTULO XIII O CASO GUSTAVO “A resistência às ideias novas aumenta em função do quadrado de sua importância.” (Russel, E. W. Reencarnação O Mistério do Homem; 1972, p. 13j£^i

PRELIMINARES O presente caso foi reportado pelas tias do paciente, uma das quais é professora e a outra psicóloga clínica. Esta última residiu junto à família do garoto, possuindo um bom relacionamento com o paciente. Ambas se interessaram pelo comportamento de Gustavo, desde o início de suas estranhas manifestações de aparente recordação reencarnatória. Anotaram sucintamente os fatos mais marcantes e dispuse- ram-se a comunicá-los ao Instituto Brasileiro de Pesquisas Psicobiofísicas-IBPP. Juntamente com seu relatório sumário, forneceram fotografias do paciente e de seus pais. Além disso, encaminharam, para estudo, vários desenhos feitos espontaneamente pelo menino, entre os 4 e 6 anos de idade. Apenas impuseram uma condição: a de ser mantido o sigilo sobre a identidade do paciente e familiares, tendo em vista a forte oposição do genitor do garoto, relativamente a esse gênero de pesquisa. Por esta razão, estamos usando pseudônimos, em lugar dos nomes reais, inclusive os das informantes. Dra. Rosa, a tia que é psicóloga, foi algumas vezes entrevistada pessoalmente por nós, quando esteve em São Paulo. Por seu intermédio, ficamos ocasionalmente sabendo do caso de Gustavo. Devido à posição antagônica do pai do menino, não pudemos entrevistá-lo diretamente. Entretanto, o material fornecido pela Dra. Rosa e também pela Profa. Amélia, a outra tia de Gustavo, é suficiente

e cobre praticamente os episódios mais marcantes do caso. Gustavo não revelou o nome que teve em sua presumível encarnação na Áustria ou na Alemanha. Todavia seu comportamento revelou inequivocamente que ele deveria ter vivido em um daqueles países durante a última guerra mundial. Seus desenhos infantis são, sem exceção, todos baseados em temas bélicos. Seus primeiros balbucios expressaram algumas palavras germânicas. Desde pequenino, já demonstrava sua preferência por música vienense e, embora seja nascido em meio baiano e de pais nordestinos, revelava tendências para dançar à moda germânica, austríaca ou semelhante. Outro fato notório é a sua aparência física: cabelos castanhos bem claros, tez muito branca, e conformação da cabeça e do rosto aparentemente europeua. Os pais são morenos e do tipo nordestino. Com a idade, os cabelos de Gustavo escureceram um pouco, mas seu aspecto geral é diferente e tende para o europeu. Entre alguns casos que sugerem reencarnação, já se registrou fato semelhante (ver Andrade, H. G. Reencarnação no Brasil; 1988, pp. 286-330). Ao que parece não se trata de presumível mutação genética, mas talvez de uma influência fenotípica provocada pelo Modelo Organizador Biológico (MOB) do Espírito que se reencarnou. (Andrade, H. G.,

1984). Esta influência podería ter favorecido a atuação de caracteres genéticos recessivos existentes nos pais. Outra hipótese seria haver ocorrido uma coincidência de associação de genes herdados de antepassados de raça nórdica, europeia, por parte dos pais. Sabemos que, no passado, houve invasores europeus no Nordeste. É comum encontrarem-se brasileiros de cabelos loiros ou ruivos, e mestiços de olhos azuis ou verdes, oriundos do Norte e Nordeste. Esta, naturalmente, seria a explicação mais de acordo com a Genética. Apresentamos as duas hipóteses, tendo em vista a possibilidade

de futuras ajustagens se ficar bem evidenciada a influência do MOB na formação do fenótipo, como se tem observado em alguns casos de marcas-de-nascença reencarnatórias. (Andrade, H. G., 1988, pp. 237285). Gustavo nasceu em Salvador, capital do Estado da Bahia, no dia 19 de janeiro de 1969. Provavelmente a personalidade prévia desencarnou durante o período de 1939 a 1945. Pelos seus desenhos tem-se a impressão de que, quando a personalidade anterior morreu, a II Guerra Mundial ainda estava em plena atividade. Talvez em sua vida pregressa ele tenha pertencido à aviação ou à marinha germânicas, pois seus desenhos contêm predominância de figuras de aviões de combate e de navios de guerra. O período de intermissão (tempo durante o qual permaneceu desencarnado) é suficientemente curto para permitir a reminiscência de alguns episódios vividos pelo paciente. Entretanto, é um tanto longo (24 a 30 anos) para favorecer lembranças muito nítidas. Daí, possivelmente, não haver mencionado seu nome anterior e outros detalhes mais precisos.

OS DESENHOS DE GUSTAVO Os desenhos de Gustavo, aos primeiros anos dé idade, impressionam pela constância dos motivos bélicos. Representam, com frequência, navios de guerra sendo atacados por bombas lançadas de aviões ou por torpedos submarinos. Sua tia, Dra. Rosa, anotou em vários desenhos tras informações dadas por Gustavo quando inquirido acerca do significado das figuras. Como exemplo, vamos transcrever algumas delas. A Desenho de 12 de junho de 1973; idade: 4 anos.

Figura muito elementar esquemática onde o paciente f tenta representar um avião francês de guerra. No desenho ele faz figurar dois faróis e a cauda do avião. Na mesma folha de papel, aparecem diversas outras figuras. Algumas delas receberam as seguintes denominações: carro de canhão; outro carro; bomba de guerra, etc. Desenho de 6 de outubro de 1974; idade: 5 anos. Figura bem feita, representando um navio de guerra sendo atacado por bombas atiradas por aviões, dos quais saem cortinas de fumaça. Os dizeres anotados pela tia psicóloga, são os seguintes: 1 “bombas” no casco do navio; 2 - “navio de guerra”, “aperta-se um botão e elas atacam por ar e pela água.” Estas anotações foram ditadas pelo garoto. Desenho de 6 de outubro de 1974; idade: 5 anos. Novamente a figura de um navio de guerra sendo atacado pelo ar, por bombas e, pelo mar, por torpedos. Os desenhos das bombas aéreas mostram-nas guarnecidas de aletas; os torpedos também estão dotados de aletas, mas neles veem-se os propulsores e, na frente, o detonador. Outro desenho, feito na mesma data, repete idêntico tema anterior. Desenho de 3 de maio de 1975; idade: 6 anos. Neste desenho, as figuras são mais caprichadas e representam bombas voadoras. Inquirido pela tia, o paciente denominou-as foguetes de guerra. Desenho de 12 de dezembro de 1951; idade: 6 anos. A figura é muito bem feita e representa um couraçado armado de canhões, atirando granadas. O título dado pelo paciente é: navio de guerra da Espanha. Outro desenho da mesma data representa quatro carros de polícia, todos com metralhadoras à vista. Na mesma folha há as anotações da psicóloga, em forma de diálogo:

P — “Que é isso?” G — “Carros da polícia, que vão acabar com a guerra.” P — “Onde?” G — “Aonde tem guerra.” P — “Onde tem guerra?” G — “Na Alemanha.” P — “Como você sabe que tem guerra na Alemanha?” G — “Porque eu vi!” Outros desenhos de dezembro de 1975; idade: 6 anos. Em uma folha há notável cena muito movimentada, na qual está representada uma batalha aéronaval desenrolando- se entre um couraçado e diversos aviões. A belonave atira contra os aviões e estes atacam com bombas.

Dois outros desenhos, feitos em dezembro de 1975, representam couraçados em plena ação, despejando obuses pelos seus canhões de tombadilho. Finalmente, também em 1975 (sem indicação do mês e do dia), há bonita figura de um típico avião de bombardeio, de grande porte, soltando inúmeras bombas e sendo atacado, por terra, por uma espécie de canhão antiaéreo montado em uma casamata.

0 interessante dos desenhos é o fato de representarem os engenhos de guerra do tempo da II Guerra Mundial. Por exemplo, as bombas voadoras são representadas tendo aletas laterais, como eram as famosas V-l e V-2 atiradas pelos alemães contra a Inglaterra.

OBSERVAÇÕES FEITAS PELAS TIAS DE GUSTAVO Vamos passar às anotações feitas pelas tias de Gustavo. São registros resumidos, tomados ao acaso e nos momentos em que elas surpreendiam um ou outro evento mais notável. O referido documento tem o seguinte título: “Registro de Ocorrências que Sugerem Reencarnação”. Sujeito: Gustavo Registradoras: Amélia e Rosa. 1 - Linguagem 1.1 - Balbucio: “nem”. 1.2 - Números; começou a contar, dizendo o primeiro número em alemão: “ein”, dois, três, etc., embora sua mãe o éusinasse em

português, corrigindo o “ein”. 1.3 I Entre 1 ano e cinco meses e 2 anos, Amélia chegando na casa do garoto perguntou: -“Onde está o Gustavo?” Resposta do menino, chegando na sala: - “ich?” (Em alemão: Eu?) 1.4 - Até os 2 anos de idade, para ele o Papai Noel era “Sankt Klaus” ou em sua pronúncia “S. Culaus”. Por mais que se ensinasse o nome certo, em português, insistia na denominação acima. 1.51 Indagado sobre algumas gravuras, etc. respondeu: —>ïschon”. (Em alemão: -bonito). 1.6 - Copo; referia-se a este objeto, designando-o pela palavra alemã “glas”. 1.7 - Em vez de mamãe, chamava “mutter” (no início do domínio da linguagem). 2 - Música 2.1 - “Danúbio Azul”; demonstrava gostar desta música, através dos seguintes comportamentos: 1) Antes de 1 ano - agitação dos braços, etc. e calma (parava de chorar, etc.) 2) Depois de 1 ano, identificava o disco. 3) No cine Tupy, no filme a “Grande Valsa”, dançou no meio do cinema, em plena projeção. 2.2 - Na cidade de Cipó, durante o carnaval de 1972, ao invés de sambar, em uma roda de samba de crianças, dançou o que a Profa. Amélia identificou como dança semelhante à camponesa alemã, austríaca ou similar. 3 - Outros

3.1 - Desenho - Tema: “Cruz Suástica”; locai: à beira-mar, perto de sua casa, Gustavo desenhou na areia o- símbolo nazista. Ao ser perguntado, pela tia, quem lhe ensinara a fazer aquele desenho, respondeu rindo: “O coração”. 3.2 - Super-valorização de braçadeira, brinde da Revista Recreio. Era uma braçadeira da Polícia Militar. 3.3 - Em abril de 1974 encontrava-se zangado em casa da Profa. Amélia, na hora do jantar. Estava-se falando de fatos variados (e também acerca de seu mau humor) e, diante da frase dita para ele, “para você, Deutschland uber alieno garoto sorriu prazeirosamente. Foi o único momento em todo o jantar, em que Gustavo, que estava emburrado, concedeu um sorriso. 4 - Aviões e militares. 4.1 - Desde os primeiros meses de vida sempre reagiu, com medo, ao ruído de aviões. 4.2 - Ao ver a Esquadrilha da Fumaça, na TV, pôs as mãos sobre a cabeça e saiu agachado, bastante amedrontado. 4.3 - Sucessivamente em 2 de julho (data cívica da Bahia) e 7 de setembro (com 2 e 3 anos de idade), teve tanto medo das paradas militares, principalmente dos carros blindados, que precisou ser retirado do desfile, pela tia. Procurou “refugiar- se” na casa da avó, perto do local do desfile. 4.4 - Preferência por brinquedos de identificação com militares. 5 - Novas ocorrências 5.1 - No dia 12 de maio de 1974, preparávamo-nos para viajar até Cipó. Enquanto àrmmávamos a bagagem, Gustavo

conversava, principalmente sobre o Marcelo, presumivelmente um colega de escola. A tia, distraída, perguntou-lhe: -“Quem é Marcelo?” Gustavo respondeu, com uma pronúncia; extraordinária (a observadora nunca conseguiu imitá-la):' “Johann” minha tia... 5.2 - Em 13 de julho de 1974, Gustavo estava, almoçando com a tia quando, de repente, virou-se e exclamou: -“Eu corria para buscar comida.” —“Onde ?” (perguntou a tia) -”Em ‘Baka’ (?). Lá no matò tinha o mapa.” -“E por quê você corria?” -“Por causa dos aviões.” 5.3 - Em 21 de julho de 1974, Gustavo estava ajudando a tia a carregar livros, do escritório para o quarto dos fundos, quando perguntou à tia se queria vê-lo dizer as letras do alfabeto e disse: ; -“A, B, C, Dó, Ré, Mi, G,... “ Achando estranho, a tia veio a saber que as letras do alfabeto são usadas para denominar as notas musicais, nas línguas anglogermânicas: A = lá; B = si; G = dó; D - ré; E = mi; F = fá; G = sol. 5.4 - Em 24 de julho de 1974, brincando de jogar futebol com a tia de sua mãe, Gustavo gritou: Gol da Alemanha! A Alemanha está ganhando de 3 x 0... 5.5 - Em outubro de 1975, sentido com a mãe, devido a qualquer reclamação desta, disse-lhe: -“Minha mãe não era você, não! Era outra! A tia perguntou-lhe como era a outra: -“Loura, de olhos azuis.” 5.6 - Descendo a ladeira da Barra, perguntou quando é que ali iria cair neve.

5.7- Pediu à tia para fazer-lhe um papagaio (pipa] de papel, com o seguinte argumento: - “Tia, mesmo no inverno, com gelo, ele pode subir porque tem vento gelado.” 5.8 - Em caminho para a escola, dirigiu-se à tia, dizendo: i - “Tia, me leve para Itaparica. ”u Ante a resposta de que aguardasse o “verão” porque não havia chuva, confundiu-o com o “inverno” que não existe na Bahia e retrucou: Bjr “Mas no verão não serve porque a água fica gelada e o navio não passa.” A noite desse mesmo dia, assistiu ao programa Fantástico na TVGlobo. Ao ver, no vídeo, paisagens da Áustria sob o fundo musical do “Danúbio Azul”, ficou excitado e/Tegeu” com a maior alegria. ; 5.9 ^ No dia 06 de setembro de 1974, ao ser levado à escola, disse à tia: - “Olhe tia, na Alemanha os alemães falam o alemão, outros falam o inglês; aqui se fala uma língua “comum”, não é? 5.10 - Em 7 de setembro de 1974, Gustavo foi assistir ao desfile militar. Ao ver um helicóptero militar sobrevoando a cidade, teve muito medo e agarrou-se à tia dizendo: - “Tenho medo porque mata.” Ao ver carros militares desfilando, indagou: -“Vai ter guerra, tia?” -“Por quê?” -“Olhe aí os carros com soldados.”

-“Por que você tem medo da guerra?” -“Porque mata”! 5.11 - Diante de uma estampa colorida de uma enciclopédia, com as bandeiras dos países, a tia aproveitou o ensejo e perguntou-lhe: —“Dessas todas, qual á a bandeira mais bonita e qual a que você gosta mais?” Gustavo mostrou a da Alemanha Ocidental e a da Alemanha Oriental. Então, a tia perguntou-lhe: -“De onde são?” Ele respondeu: -“Do Brasil... I A tia logo fez a correção. ie 1e ★

Deixamos de aplicar a este caso qualquer espécie de análise crítica normalmente usada para eventos desta categoria. Preferimos apresentálo assim em forma anedótica, deixando ao leitor o trabalho de analisá-lo e julgá- lo a seu critério. Temos consciência de que muitos preferirão explicá-lo de forma normal. Considerarão que todo o comportamento de Gustavo não é, senão, o produto de mera fantasia infantil, alimentada pelos espetáculos assistidos na TV e no cinema. As duas tias de Gustavo, uma professora e a outra psicóloga clínica, não adotam a explicação anterior. Elas são de opinião que seu sobrinho apresenta

um

tipo de

comportamento que

sugere

recordações

reencarnatórias, de alguém que teria vivido na Áustria ou na Alemanha, durante o período da II Guerra Mundial. Talvez tenha servido na Aviação ou na Marinha, tendo perecido em algum combate, naquela ocasião. Pela nossa experiência, concordamos com esta hipótese.

CAPÍTULO XIV ONDE ESTARIAM OS PAIS DE MARIANA? “A teoria da reencarnação marca' o começo de uma nova época na história da humanidade.” (Niètzche)

AS RECORDAÇÕES DE LUCILA Lucila é apenas o pseudônimo que, por questões éticas, o Instituto Brasileiro de Pesquisas Psicobiofísicas IBPP adotou para ocultar a verdadeira identidade de uma formosa garotinha de cinco anos de idade. Mas, que se passa com Lucila, de modo a atrair a atenção dos pesquisadores do IBPP? Em dezembro de 1986, tendo apenas três anos de idade, Lucila achava-se viajando de carro junto com seus pais. Iam a passeio ao Rio Grande do Sul, onde residem os seus avós. Em dado momento, Lucila dirigiu-se à sua mãe, D. Eulina, e disse-lhe: - “Eu já fiz muitas viagens assim, com a minha outra mãe...“ Surpreendida e curiosa, D. Eulina (a atual genitora) perguntoulhe:

-“Que outra mãe?”;'E Lucila prontamente respondeu: -‘A outra minha mãe chamada Leila.” (Este foi o nome real fornecido pela garota). Logo a seguir, contou que possuía um cachorrinho, o qual era levado junto com ela quando viajavam. Declarou, ainda, que seu pai se chamava Roberto. (Nome também real fornecido pela menina). As recordações reencarnatórias estão sujeitas às mesmas leis que regem os processos mnemônicos capazes de provocar o afloramento de reminiscências. Uma dessas regras é a associação de fatos e ideias. Por isso, achando-se novamente em viagem com seus pais, Lucila voltou a rememorar alguns episódios de sua presumida vida anterior. Nesta ocasião, dirigiam-se de automóvel a um sítio próximo da Capital. A garotinha passou a falar acerca daquele que fora seu pai na encarnação passada referiu-se também à outra mãe, confirmando os nomes de ambos Roberto e Leila. Disse que tinha mais duas irmãs, uma delas chamada Gabriela. A outra não foi ainda identificada pelo nome. Referiu-se a uma prima órfã, que morava junto com a família, em sua casa, e era criada pelos pais da personalidade anterior de Lucila. O nome da prima era Carolina. (Esses nomes são os realmente fornecidos pela menina). Pelo que foi apurado das revelações de Lucila, ela se chamava Mariana e estava com 11 (onze) anos de idade quando faleceu, vítima de um desastre de automóvel. Daremos mais adiante os detalhes desse episódio. Morava, então, em São Paulo, em uma casa ampla, bonita e toda ajardinada, possuindo uma bela varanda. Um detalhe assinalado pela menina era a existência, no jardim, de uma árvore de “dormideira”.

Duas empregadas e um jardineiro compunham o quadro de serviçais da mansão. É provável que os pais de Mariana (a personalidade anterior de Lucila) ainda estejam vivos, conforme iremos relatar a seguir: Uma certa ocasião, Lucila contou aos pais como morrera quando ela era a Mariana. Fora durante uma viagem de carro. Ela não soube precisar com exatidão para onde se dirigiam Mariana e seus parentes. Devia ser para o Rio de Janeiro, ou para Santos; mais provavelmente para esta última localidade. Iam ao sítio dos avós. Mariana ocupava, juntamente com sua prima Carolina, o banco traseiro de um cario dirigido por sua tia Edith (nome real fornecido por Lucila). Ao lado de D. Edith, no banco dianteiro, encontrava- se o esposo desta senhora, portanto o tio de Mariana. Este casal não tinha filhos. Por esta razão, votavam particular estima às crianças, carregando-as em sua companhia, sempre que possível, quando viajavam. Em outro automóvel que seguia à frente, encontravam-se os pais de Mariana, Sr. Roberto e D. Leila, suas duas irmãs e seus avós. Lucila lembra-se que, ao tentar ultrapassar o veículo que seguia à sua frente, a tia Edith conduziu o automóvel por ela dirigido, à pista contramão. Naquele instante, surgiu um grande caminhão em sentido contrário. O resultado foi uma violenta colisão frontal dos dois veículos. “Neste acidente - disse a menina - faleceu a tia Edith, a prima Carolina e a personalidade anterior, Mariana. O tio de Mariana escapou com vida. Com o choque dos veículos, as duas garotas foram atiradas fora do carro em que se achavam,- vindo ambas a falecer logo mais tarde. Mariana teve as pernas fraturadas. Lucila recorda-se de que o tio de Mariana gritava desesperado, chamando pela esposa: ‘Edith, que aconteceu?’ Talvez pensasse* que sua mulher estivesse ainda viva e

apenas desmaiada devido à violência do impacto. Segundo as. informações da garotinha, o acidente teria ocorrido aproximadamente às 3 horas, mas ela não soube precisar se foi durante o dia ou de madrugada. Entretanto, parece mais provável que tenha sido à tarde, pois o caminhão e seu grande porte foram identificados e mantiveramse gravados na memória extracerebral de Lucila. Além dessas informações principais, Lucila forneceu mais alguns detalhes da vida de Mariana (a personalidade anterior). São minúcias que assumem grande importância em uma pesquisa deste gênero. Vamos enumerar as que foram apuradas até agora: 1 : - Lembra-se de que estudava em um colégio muito J grande, onde havia muitos alunos. 2 - Afirma haver possuído várias bonecas, mas confunde as atuais com as que a personalidade anterior teria possuído. 3 - Recorda-se sempre do cãozinho que possuira quando fora a Mariana. 4 - Ao nascer, apresentou uma pequena mancha vermelha no rosto (mangioma) que desapareceu mais tarde. 5 - Queixa-se muito de dores nas pernas, especialmente se corre um pouco mais durante as brincadeiras do dia. Quando isso acontece, diz lembrar-se de haver quebrado as pernas no acidente que vitimou a personalidade anterior. Temos aqui um dos fatos comuns em casos que sugerem reencarnação. São as chamadas “marcas-de-nascença reencarnatórias”, tecnicamente denominadas “birthmarks”. A mancha vermelha no rosto (mangioma) pode ser um resquício de ferimento na face sofrido pela personalidade anterior. Estas marcas, nesses casos que sugerem renascimento, podem ser efêmeras, desaparecendo ;com a idade do paciente. Outras perduram por um tempo mais ou menos longo, como no caso registrado

pelo IBPP e denominado “Patrícia x Alexandra” (Andrade, H.G., Reencarnação no Brasil, 1988, pp. 237-285). As doresmas pernas, das quais se queixa a Lucila, parecem ser sintomas físicos restantes das fraturas sofridas por Mariana durante o desastre que a vitimou. Embora Lucila não apresente marcas visíveis desses ferimentos, em seus membros inferiores, ela pode ter conservado, ainda, os sintomas (dores) ocasionados pelas fraturas. Com o tempo, é provável que desapareçam parcial ou totalmente. Mostra-se inibida e até mesmo irritada, quando é solicitada a falar sobre sua vida anterior. Suas revelações, como é natural em tais casos, têm sido espontâneas e resultantes de livres associações como, por exemplo, durante as refeições, a sós com os pais, por ocasião de viagens de carro, etc. De um modo geral, Lucila evita contar episódios de sua presumida vida anterior, quando na presença de estranhos. Lucila, algumas vezes, declara que os seus pais da vida anterior eram muito melhores do que os da sua presente existência. Não se relaciona muito bem com o seu atual genitor. Entretanto afirma que se harmonizava bem mais satisfatoriamente com o anterior [Roberto).

0 pai da personalidade anterior era muito ocupado com os negócios do banco onde trabalhava. Por esta razão, ela era levada pela mãe aos passeios recreativos. Nesta Ocasião eram conduzidas de carro por um motorista particular. Assim, Lucila faz constantes paralelos e comparações entre a presente e a anterior situação. Ela nasceu de oito meses, mediante uma cesariana. É agitada quando dorme. Nos primeiros sete ou oito meses de vida, chorava muito durante a noite. Reluta em alimentar-se pela manhã. Não obstante, seu aspecto é bom e aparenta ótima saúde. Há uma peculiaridade interessante entre as informações de Lucila: ela costuma mencionar a Rua Santa Cruz. Esta rua fica no bairro de Vila Mariana, em São Paulo. No entanto, ela e seus pais residem em uma rua situada no bairro de Vila Gumercindo, também em São Paulo. E significante este fato, pois a Rua Santa Cruz é caminho da Vila Mariana para a cidade de Santos. Teria, esta particularidade, relação com a viagem em que ocorreu o acidente que matou Mariana a personalidade anterior? Teria ela morrido em algum trecho da estrada que liga São Paulo a Santos? D. Eulina, mãe de Lucila, contou-nos um episódio que se passou com sua filha, sem dúvida, bastante significativo: Em uma ocasião, durante uma viagem efetuada por estrada sem pavimentação, Lucila e seus pais foram surpreendidos por forte chuva. O genitor de Lucila dirigia o carro em que viajavam. Devido ao aguaceiro, a estrada tornou-se escorregadia, resultando daí, em certo trecho, uma ligeira derrapagem do veículo. Naquela ocasião, Lucila

entrou em pânico. Gritando apavorada, exclamava: “Não deixe o carro bater!” E, apesar do frio que fazia na ocasião, ela transpirava intensamente!

A POSIÇÃO DESTE CASO Na fase em que se encontra o presente caso, ele oferece boas evidências favoráveis a uma interpretação reencarna- cionista. Todavia tais evidências são ainda insuficientes para suportar o inevitável criticismo daqueles que se colocam em posição antagônica à ideia da reencarnação. A interpretação mais imediata seria a de que se trata de um episódio forjado pela fantasia infantil de Lucila. Ou então, um caso de imaginação fértil da mãe da garota, desejosa de afirmar sua crença na sobrevivência e na reencarnação. Digo da mãe, porque o pai é descrente e contrário às ideias desta categoria, chegando mesmo a oporse à investigação do caso da filha. Devido às razões expostas anteriormente, embora cautelosamente, estamos tentando descobrir onde se encontram os pais da falecida Mariana, visando auxiliar a equipe do IBPP. Se forem encontradas estas pessoas, o caso assumirá maior consistência, embora os opositores da reencarnação possam imaginar inúmeras outras explicações para invalidar a tese reencarnacionista. Os dados fornecidos pela garotinha, como é natural, não oferece muitas pistas seguras para uma investigação fácil e imediata. Por isso, precisamos trabalhar as informações obtidas e enriquecê-las um pouco mais. Assim, por exemplo, seria importante avaliar-se o ano, aproximadamente, em que Mariana faleceu. Este dado reduziría o

número de variáveis a serem enfrentadas em uma busca no noticiário dos jornais ou em registros oficiais. Para o cálculo da época (ano) provável do falecimento da personalidade anterior, temos de partir do ano do nascimento de Lucila: 1983. De acordo com levantamentos feitos sobre casos de lembranças reencarnatórias registrados em crianças, pelo Dr. Ian Stevenson, Dr. Karl Muller e IBPP, a média do tempo de intervalo entre a morte e o renascimento (reencarnação) desses pacientes é de 6 ( seis) anos. Pára o Brasil, a média encontrada foi 8 (oito) anos. A variação, entretanto, pode ser de O a 32 anos. Admitindo que a reencarnação de Mariana tenha ocorrido de acordo com as médias encontradas, os anos mais prováveis da sua morte seriam: 1983 - 6 = 1977 (pela média geral 1983 - 8 = 1975 (pela média do Brasil) Considerando-se, porém, as variações possíveis, teríamos as seguintes datas: 1982, 1981, 1980, 1979, 1978, 1977,1976,1975,1974,1973,1972 e 1971. São estes os anos em que se deve, inicialmente, fazer a pesquisa de noticiário ou registro oficial. Os outros dados precisos fornecidos por Lucila são os seguintes: Local do acidente que vitimou a personalidade anterior: Estradas para Santos, Imigrantes ou Anchieta. Ou estradas para o Rio de Janeiro, Marginais do Tietê ou Via Dutra. Parece mais provável o caminho para Santos. Nome das vítimas do acidente: Mariana, Carolina e Sra. Edith. Hora presumível do acidente: 3 horas; mais provável 15 horas. Nome dos pais de Mariana: Sr. Roberto e Sra. Leila.

entrou em pânico. Gritando apavorada, exclamava: “Não deixe o carro bater!” E, apesar do frio que fazia na ocasião, ela transpirava intensamente!

A POSIÇÃO DESTE CASO Na fase em que se encontra o presente caso, ele oferece boas evidências favoráveis a uma interpretação ïeencarna- cionista. Todavia tais evidências são ainda insuficientes para suportar o inevitável criticismo daqueles que se colocam em posição antagônica à ideia da reencarnação. A interpretação mais imediata seria a de que se trata de um episódio forjado pela fantasia infantil de Lucila. Ou então, um caso de imaginação fértil da mãe da garota, desejosa de afirmar sua crença na sobrevivência e na reencarnação. Digo da mãe, porque o pai é descrente e contrário às ideias desta categoria, B chegando mesmo a opor-se à investigação do caso da filha. Devido às razões expostas anteriormente, embora cautelosamente, estamos tentando descobrir onde se encontram os pais da falecida Mariana, visando auxiliar a equipe do IBPP. Se forem encontradas estas pessoas, o caso assumirá maior consistência, embora os opositores da reencarnação possam imaginar inúmeras outras explicações para invalidar a tese reencarnacionista. Os dados fornecidos pela garotinha, como é natural, não oferece muitas pistas seguras para uma investigação fácil e imediata. Por isso, precisamos trabalhar as informações obtidas e enriquecê-las um pouco mais. Assim, por exemplo, seria importante avaliar-se o ano, aproximadamente, em que Mariana faleceu. Este dado reduziría o

número de variáveis a serem enfrentadas em uma busca no noticiário dos jornais ou em registros oficiais. Para o cálculo da época (ano) provável do falecimento da personalidade anterior, temos de partir do ano do nascimento de Lucila: 1983. De acordo com levantamentos feitos sobre casos de lembranças reencarnatórias registrados em crianças, pelo Dr. Ian Stevenson, Dr. Karl Muller e IBPP, a média do tempo de intervalo entre a morte e o renascimento (reencarnação) desses pacientes é de 6 ( seis) anos. Para o Brasil, a média encontrada foi 8 (oito) anos. A variação, entretanto, pode ser de O a 32 anos. Admitindo que a reencarnação de Mariana tenha ocorrido de acordo com as médias encontradas, os anos mais prováveis da sua morte seriam: 1983 - 6 = 1977 (pela média geral) 1983 - 8 = 1975 (pela média do Brasil) Considerando-se, porém, as variações possíveis, teríamos as seguintes

datas:

1982,

1981,

1980,

1979,

1978,

1 9 7 7 , 1 9 7 6 , 1 9 7 5 , 1 9 7 4 , 1 9 7 3 , 1 9 7 2 e 1971. São estes os anos em que se deve, inicialmente, fazer a pesquisa de noticiário ou registro oficial. Os outros dados precisos fornecidos por Lucila são os seguintes: Local do acidente que vitimou a personalidade anterior: Estradas para Santos, Imigrantes ou Anchieta. Ou estradas para o Rio de Janeiro, Marginais do Tietê ou Via Dutra. Parece mais provável o caminho para Santos. Nome das vítimas do acidente: Mariana, Carolina e Sra. Edith. Hora presumível do acidente: 3 horas; mais provável 15 horas. Nome dos pais de Mariana: Sr. Roberto e Sra. Leila.

UM APELO AOS LEITORES DESTE LIVRO Ajudem-nos a encontrar os pais de Mariana. Qualquer informação que possa levar a descobrir-se os pais ou parentes de Mariana poderá ser encaminhada ao Instituto Brasileiro de Pesquisas Psicobiofísicas - IBPP, em Bauru, à Av. Nossa Senhora de Fátima, 11-31 (Bairro Jardim América) Cep 17017-040 ou pelo E-mail: [email protected] ou telefone *** (14) 224-2498. Esperamos a colaboração, particularmente dos espíritas, tendo em vista o seu interesse acerca da reencarnação.

CAPÍTULO XV PITÁGORAS E A REENCARNAÇÃO "Conhece-te a ti mesmo e conhecerás ' o Universo e os Deuses^” “Aquele que não trouxer as suas mãos puras, não se acerque daqui. ” (Inscrições na entrada do Templo de Delfos)

OS ORÁCULOS Os Oráculos constituíram a marca característica da dFècia antiga e achavam-se disseminados por todo o país. De origem muito antiga, os Oráculos preenchiam importante função social e religiosa naqueles primitivos tempos. Tanto os cidadãos comuns, como os próprios dirigentes de Estado, corriam pressurosos a consultar os Oráculos, na ânsia de conhecer o futuro e, também, na esperança de obter a ajuda e os favores dos deuses para a solução de seus problemas cotidianos. A adivinhação, a profecia e o auxílio eram, portanto, a finalidade fundamental dos Oráculos e, durante vários séculos, funcionaram eficientemente em benefício da população. Um corpo de sacerdotes, sacerdotisas e pitonisas exercia as funções de atendimento à numerosa clientela. As pitonisas ou pífias eram, mais propriamente, as sacerdotisas do Oráculo de Delfos, consagrado a Apoio e situado nas Vertentes Sulinas do Parnaso. O deus Apoio era também cognominado Pítio, por haver matado a serpente Piton que perseguira sua mãe Latona. A serpente, depois de morta, foi esfolada e sua pele serviu para cobrir a trípode sobre a qual se sentava a Pitonisa de Delfos. As pitonisas atendiam às consultas, achando-se em um estado de transe natural ou obtido por diversos meios: intoxicação pelas emanações oriundas das brechas vulcânicas no solo, ou produzidas artificialmente por meio da fumaça originada pela queima de ervas

apropriadas; pela ingestão de bebidas minerais; por meio de sinais ou objetos- alvos de psicometria; e pelos sonhos. Os Oráculos mais famosos foram os de Delfos, Dodona, Epidaurus, e o de Trofônius. Entretanto, seu número era muito maior e encontravam-se espalhados por todo o país. O de Delfos era procurado por príncipes e pessoas famosas, heróis e gente de outras nações, que faziam longas jornadas para consultar a Pítia. Esta, depois de intoxicada pelos gases emanados do solo vulcânico, caía em transe e de sua boca espumarenta jorravam as palavras, abundantemente. Os sacerdotes interpretavam e davam sentido às comunicações assim obtidas, transmitindo-as em seguida aos consulentes postados diante do altar.

O ORÁCULO PRENUNCIA PITÁGORAS Um rico negociante de Samos e sua jovem esposa chamada Pártenis, efetuaram uma viagem e foram a Delfos para consultar o Oráculo. A Pítia respondeu-lhes: “Tereis um filho que será útil a todos os homens e em todos os tempos Em seguida, recomendou-lhes que seguissem para Sidon, na Fenícia, a fim de que o filho prenunciado fosse concebido, formado e dado à luz longe das influências perturbadoras de sua pátria. Antes mesmo de seu nascimento, aquela criança predestinada foi consagrada pelos pais a Apoio. Aproximadamente no ano 580 a. C., nasceu daquele casal um formoso menino. Quando ele completou um ano de idade, a conselho dos sacerdotes de Delfos, foi conduzido por sua mãe ao templo de Adonai, em um vale do Líbano, para ali ser abençoado pelo Patriarca. Depois disso, a família regressou a Samos. O filho de Pártenis era excepcionalmente belo, brando de gênio e moderado. Em seus olhos

brilhava a inteligência e seus atos revelavam uma secreta energia. A História não revela com segurança o nome que este singular menino teve em sua infância. Entretanto ficou, mais tarde, a conhecido mundialmente pelo seu cognome: Pitágoras.

A LIBERTAÇÃO PELA MATEMÁTICA Desde cedo, Pitágoras revelou intensa inclinação para adquirir o conhecimento científico daquela época. Depois de uma fase mítica, a partir do Século VI a. C., nas colônias gregas da Ásia Menór eclodiu uma nova forma de pensamento racional baseado nas realidades apreendidas da experiência humana diária. Como consequência da progressiva valorização da “medida humana” e da popularização da cultura efetuadas pelos gregos, surgiu uma nova mentalidade. Este novo aspecto do pensamento consistiu na coordenação racional dos dados da experiência sensível, visando à sua integração numa visão compreensiva e

globalizadora. Desse modo, surgiram na Jônia as primeiras concepções científicas e filosóficas da cultura ocidental. Conforme as mais antigas tf adições gregas, Thaïes de Mileto teria sido o primeiro filósofo. Segundo Aristóteles, foi Thaïes quem inicialmente atribuiu a origem do Universo a uma causa material. Elo afirmava que a água era a origem de todas as coisas. Foi, portanto, a partir do Século VI a. C. que eclodiram as primeiras formulações filosóficas e científicas do Ocidente e floresceram os grandes pensadores de Mileto, de Samos e de Éfeso. E Pitágoras encontra-se justamente incluído entre os primeiros gênios daquela fase da cultura jônica. Nesse mesmo Século VI a. C., ocorreu uma revivescência da religiosidade em certas regiões da Grécia. Este movimento fora, inclusive, estimulado pelos tiranos, com o objetivo de enfraquecer a influência da antiga aristocracia que se intitulara descendente dos deuses. Os cultos populares ou estrangeiros eram, assim, os mais favorecidos pelos tiranos. Tais religiões de mistérios tinham o caráter iniciático, f isto é, o candidato, independentemente de sua origem ou categoria social, após uma triagem preliminar era submetido a uma iniciação progressiva, durante a qual estava sempre sujeito a ser eliminado. Seu crescimento era feito por etapas, durante as quais conquistava níveis sucessivos de aperfeiçoamento moral e intelectual. Dentre estas religiões iniciáticas, destaca-se o culto de Dioniso, originário da Trácia. Este culto converteuse no núcleo do Orfismo, religião fundada por Orfeu, que teria recebido primeiro a revelação de certos mistérios. Estes foram transmitidos a iniciados, sob a forma de poemas musicais. O Orfismo era, por conseguinte, uma religião essencialmente esotérica, isto

é, transmitida em forma secreta e exclusivamente a iniciados. Os adeptos dessa religião acreditavam, entre outras coisas, na imortalidade da alma e na metempsicose, ou seja, na reencarnação. Entretanto, a metempsicose parecia admitir a possibilidade da transmigração da alma humana para os corpos de outras espécies vivas. Mediante a metempsicose, a alma alcançaria paulatinamente a sua purificação, até retornar à sua verdadeira pátria que seriam os níveis da espiritualidade superior. Para alcançar sua libertação do ciclo das reencarnações, o homem precisaria da ajuda de Dioniso. As práticas ensinadas pelo culto deste deus proporcionariam os meios para alcançar a libertação. Pitágoras de Samos, que era um iniciado, introduziu profundas modificações no Orfismo. Em lugar da via prescrita pela doutrina de Dioniso, Pitágoras colocou a Matemática como a via para a libertação. Mas a Matemática ensinada por Pitágoras diferia inteiramente da que conhecemos em nossos dias. Era um conjunto de conhecimentos, que pretendiam revelar a verdadeira natureza do homem e do Cosmo, associados a noções de Geometria e Física ainda incipientes e próprias daqueles tempos primitivos. Quem pode fornecer-nos uma ideia mais clara acerca da ciência desenvolvida e ensinada por Pitágoras aos seus discípulos é Edouard Schuré em seu clássico: Os Grandes Iniciados. “Essa ciência dos números era conhecida, sob diversos nomes, nos templos do Egito e da Ásia. Como ela fornecia a chave de toda a doutrina, escondiam-na cuidadosamente aos olhos do vulgo. As cifras, as letras, as figuras geométricas, ou as representações humanas que serviam de sinais nessa álgebra do mundo oculto, só pelo iniciado eram compreendidos. Este não lhe descobria o sentido, senão depois de ao adepto ter sido deferido o juramento do silêncio. Pitágoras formulou essa ciência, em Mvro escrito pelo seu próprio

punho, intitulado: Hieróslógos, a palavra sagrada. Dele nada chegou até nós; mas os escritos posteriores dos pitagóricos, Filolau, Arquitas e Hiérocles, os Diálogos de PlatãOy ou tratados de Aristóteles, de Poifirio e Jâmblico, tomamnos conhecidos os seus princípios. Se se têm conservado letra morta para os filósofos do nosso tempot é que se não pode compreender o seu sentido e o seu conteúdo, senão pela comparação de todas as doutrinas esotéricas do Oriente.” (Schuré, Edouard, Os Grandes Iniciados, 1952, II Tomo, pp. 57-58).

AS VIAGENS Pitágoras fora estimulado pelos seus pais a adquirir a cultura daquela época, para o que ele demonstrara viva inclinação desde a infância. Por esta razão, pôde conviver em sua juventude com sacerdotes e com os sábios de Samos, que fundaram na Jônia as primeiras escolas onde eram ensinados os princípios da Física. Entre os dezoito e vinte anos de idade já teria absorvido os ensinamentos de Hermódamas de Sàmos, de Ferécides de Siros, de Thaïes e Anaximandro de Mileto. Entretanto, Pitágoras não se sentia ainda satisfeito. Sua alma aspirava a adquirir conhecimentos mais profundos, que o levassem sem contradições a encontrar a verdade absoluta. Achando-se, certa ocasião, mergulhado em profunda meditação, buscando a solução para os problemas com os quais seu cérebro ainda jovem lutava para resolver, Pitágoras recordou-se do episódio em que ele fora levado ao vale do Líbano, ao templo de Adonai. Reviu-se como uma criancinha no colo de sua mãe, Pártenis, entre montanhas colossais e densa floresta de onde se contemplava um rio cujas águas tombavam em um desnível, formado belíssima cascata. Colocada de pé em uma espécie de terraço assombreado por grandes árvores de cedro, sua mãe tinha à frente um majestoso sacerdote aureolado por ampla barba branca e alvos cabelos rodeando a elevada fronte calva. O hierofante

sorridente pronunciava palavras graves que ele, ainda muito novo, não entendia. Sua mãe, porém, sempre lhe relembrava as frases do sacerdote de Adonai, ditas naquela ocasião: j

“Ó mulher da Jônia, o teu filho será grande pela sabedoria, mas lembrate de que os gregos ainda possuem a ciência dos deuses; a ciência de Deus só se encontra no Egito.” Ao virem à sua memória estas palavras em mistura com a lembrança daqueles momentos, Pitágoras teve uma compreensão nítida do seu sentido. Decidiu-se, então, a ir para o Egito em busca da ciência de seus sacerdotes. O tirano de Samos, Polícrates, deu-lhe uma carta de recomendação ao faraó Amásis. Este apresentou Pitágoras aos sacerdotes de Mênfis, mas eles relutaram em recebê-lo. Os sábios egípcios tinham os gregos como levianos e inconstantes, por isso desconfiavam dele. Submeteram-no às mais duras provas iniciáticas, mas Pitágoras venceu-as todas, demonstrando uma firmeza, uma coragem e uma resistência que surpreenderam os hierofantes egípcios e terminaram por levá-lo a conquistar o mais elevado nível do sacerdócio de Mênfis. Quando Pitágoras se dispunha a voltar à Grécia, depois de haver absorvido todo o saber da ciência egípcia, viu o Egito ser invadido por Cambises, o déspota persa* Assistiu ao massacre do povo egípcio, à humilhação do faraó Psamético e de toda a sua corte. Os sacerdotes foram presos e levados para a Babilônia. Pitágoras foi junto com eles, por ordem de Cambises. Na ocasião em que Pitágoras chegou à Babilônia, três diferentes religiões ali conviviam no alto Sacerdócio babilônico: a dos antigos sacerdotes caldeus; o culto mágico persa; e o da elite judaica em

cativeiro, cujo profeta Daniel foi primeiro ministro, sucessivamente, de Nabucodonosor, Baltasar e Ciro. Em meio a este ambiente, Pitágoras ampliou ainda mais os seus conhecimentos e sua já vastíssima experiência. Como diz, ainda, Edouard Schuré: 1‘Após a sua iniciação egípcia e caldaica, o filho de Samos sabia bem mais que os mestres de Física e que nenhum grego, padre ou laico do seu tempo. Conhecia os princípios eternos do universo e as suas aplicações. A natureza abrira-lhe os seus abismos; os espessos véus da matéria rasgavam-se sob os seus olhos para lhe mostrarem as esferas maravilhosas da natureza e da humanidade espiritualizadas. ” (Opus cit. p. 23).

O REGRESSO Após trinta e quatro anos de ausência, dos quáis os últimos doze anos como prisioneiro dos babilônios, Pitágoras logrou sua libertação.

Demócedes, seu amigo e médico do rei dos persas, obteve-lhe a permissão para voltar a Samos. Todo mundo acreditava-o morto, exceto sua mãe. Esta nunca duvidara do oráculo de Delfos. Tinha a certeza de que seu filho voltaria transformado em um sábio e grande benfeitor, capaz de iluminar os homens com a sua divina ciência. Todavia, pouco tempo podería ficar em Samos. Sua terra estava oprimida por um sátrapa tirano que a reduzira à miséria e à decadência total. Por isso Pitágoras e sua mãe, Pártenis, fugiram de lá, levando os seus haveres. Foi para a Grécia onde, após peregrinar por todos os templos, dirigiu- se a Delfos e ali conviveu um ano instruindo seus sacerdotes e a pitonisa Teocléa. Aconselhado pelo oráculo de Apoio, Pitágoras seguiu para Crotona. Ali fundou uma Ordem e ensinou sua doutrina, inicialmente

com grande êxito.

O HOLOCAUSTO Pitágoras viveu em Crotona durante os trinta últimos anos de sua vida. Casou-se com uma jovem discípula de nome Teano. Exerceu uma profunda e benéfica influência sobre os cidadãos de Crotona, onde era considerado um semideus em razão de sua sabedoria e poderes sobrenaturais. Organizou uma Escola iniciática, da qual obteve os elementos para formar o Conselho dos Trezentos, cujo objetivo era orientar, religiosa, científica e politicamente o governo de Crotona. Dentre os inúmeros candidatos à Escola Pitagórica, havia um indivíduo que, devido ao seu gênio violento e impetuoso, não logrou ser admitido à confraria pitagoriana. Seu nome era Cilo. Vendo-se preterido, revoltou-se contra o Mestre e passou a votar-lhe profundo rancor. Cilo, por meio de ardis excusos, vis intrigas e falsas acusações conseguiu levantar os ânimos dos crotonenses contra Pitágoras e seus discípulos. Segundo a versão de Diógenes de Laércio, em uma tarde em que quarenta discípulos da Ordem se encontravam reunidos na residência de Milo, viram-se cercados por uma turba enfurecida e açulada por Cilo. Achando-se o Mestre em companhia dos quarenta, estes procuraram defendê-lo, barricando as portas. Dirigidos pelo feroz Cilo, os assaltantes incendiaram a casa. Pitágoras e mais trinta e oito de seus discípulos pereceram no incêndio e nas mãos dos agressores. Só dois escaparam e lograram fugir: Arquipo e Lisis. Outros discípulos, além dos quarenta

sacrificados, fugiram e espalharam-se pela Sicília e pela Grécia, levando para toda a parte os ensinamentos do grande Mestre. Lisis legou-nos um poema imortal denominado os Versos Dourados dos Pitagoreanos, verdadeira maravilha de sabedoria e orientação segura para a libertação do Homem. Estes versos contêm a súmula dos sublimes ensinamentos de Pitágoras. Em 1813, FabreD’Olivet publicou sua tradução francesa, diretamente do grego, sob o título: Les Vers Dorés de Pythagore.

METEMPSICOSE E REENCARNAÇÂO O costume predominante das Escolas iniciáticas da antiguidade era proporcionar dois tipos de ensinamento: um

o esóteríco, ministrado aos discípulos graduados, à medida em que íam sendo promovidos às sucessivas categorias. O outro era destinado aos profanos e iniciandos; era o exotérico. O ensino esotérico continha as verdades reais e corretas, fruto de uma sabedoria secular que era passada, sob estrito segredo, de mestre a discípulo. Seus detentores chamavam-se iniciados. O ensino exotérico continha

um

aspecto

impreciso

e

aproximado,

quando

não

propositalmente adulterado, das verdades esotéricas e era ensinado ao vulgo ignorante. Assim, veio até nós a palavra metempsicose, levada por Pitágoras à Grécia. O ensino esotérico acerca da metempsicose era o mesmo que hoje conhecemos com o estudo da reencarnação. Seu significado implica a evolução biológica através do mecanismo das vidas sucessivas em progresso contínuo, sem retrocesso. Daí decorre que as espécies vivas seguem uma trilha evolutiva, em que as menos aptas são sucedidas pelas melhor aparelhadas, para sobreviverem e se reproduzirem em contínuo processo seletivo. Desse modo, o Homem deve proceder de espécies vivas ancestrais e primitivas, biologicamente menos evoluídas. Pela lei da reencarnação deduz-se que o Espírito humano deve ter peregrinado ao longo do trajeto evolutivo biológico, tendo animado certas espécies animais mais primitivas que precederam o surgimento do Homem atual. De acordo com esta proposição, o Espírito humano, ao reencarnarse, não pode voltar a animar corpos de espécies biológicas inferiores. Tal fato contrariaria a lei da evolução biológica. Os iniciados sabiam disso, sem dúvida alguma.

Sabiam que, embora o Espírito humano houvesse passado pelas fases evolutivas da animalidade ancestral, ele não podería mais regredir, animando as espécies inferiores. Era este o significado esotérico da palavra Metempsicose, ensinado aos iniciados. Ao vulgo, ao povo ínscio, ensinava-se também a reencarnação, sob o rótulo de metempsicose. Entretanto omitia-se a chave que conferia à palavra metempsicose o seu correto significado. Ensinava-se exotericamente que a metempsicose implicava a possibilidade do Espírito que animou uma pessoa vir a renascer como um animal irracional e até mesmo como vegetal. Esta metempsicose regressiva era, inclusive, invocada à guisa de admoestação, para conter os excessos de certos indivíduos faltosos. O temor dessa espécie de metempsicose foi, mais tarde, substituído, nas religiões judaico-cristãs, pelo medo do A inferno. . k * *

Atualmente, o termo metempsicose caiu em desuso devido à sua conotação exotérica , a única conhecida da maioria. Em seu lugar usa-se internacionalmente a palavra reencarnação, que corresponderia ao significado esotérico de metempsicose, certamente ensinado por Pitágoras aos seus iniciados.

CAPÍTULO XVI REENCARNAÇÃO E AUMENTO POPULACIONAL “Senso comum é o conjunto de preconceitos sedimentados na mente antes da idade dos dezoito anos.” Albert Einstein

UMA PERGUNTA CONSTANTE

Uma das indagações mais comuns feitas por pessoas leigas, embora inteligentes, quando se fala acerca da reencarnação, é a seguinte: “de onde provêm os Espíritos que estão se reencarnando atualmente, umá vez que a população mundial sofreu um aumento enorme, do passado para cá, e continua aumentando em ritmo acelerado?” Mesmo alguns espíritas, que naturalmente se acham familiarizados com as ideias reencarnacionistas, costumam formular a pergunta acima referida. De fato, pode parecer, à primeira vista, estranho que o fluxo crescente de nascituros ainda não tenha “esgotado” a reserva de Espíritos disponíveis para as reencarnações em processamento. Como um exemplo do crescimento populacional, vamos apontar os dados referentes aos anos de 1650 e 1987: Em 1650, a população mundial era cerca de 470 milhões de habitantes em 1987 já havia atingido aproximadamente 5.026 bilhões, ou seja, quase 11 (onze) vezes a população no ano de 1650. (The 1988 Information Please Almanac; New York, 1988, p. 139). Antes de 1650, a população mundial provavelmente teria sido menor ainda, pois as guerras, os cataclismos, as epidemias aliadas à carência de saneamento e de medicamentos eficazes, assim como os morticínios devidos à ignorância, à falta de higiene e ao fanatismo; religioso, deviam ter contribuído para conter o exagerado aumento populacional. Consultando-se as estatísticas mundiais, observa-se que o crescimento demográfico vem realmente assumindo uma rápida aceleração. No ano 2.000, já atingimos cerca de 6 bilhões, de habitantes em todo o mundo! Como pode ver-se, a pergunta a respeito de onde estão provindo os Espíritos indispensáveis para suprir o vultoso aumento populacional é, sem dúvida, muito razoável e pertinente. Tentaremos respondê-la, a seguir:

PRIMEIRA FONTE - A EVOLUÇÃO DAS ESPÉCIES A primeira fonte de produção dos Espíritos humanos deve ter sido a evolução das espécies animais. Segundo os dados mais confiáveis, resultantes das pesquisas palean- tropológicas, os primitivos prímatas que teriam, muito mais tarde, dado origem ao homem surgiram há cerca de 70 milhões de anos, no Eocenò. Foram necessários 25 milhões de anos para que eles chegassem a atingir o nível do Farapithecus (inonos) e do Aegyptopithecus (macacos) , do Oligoceno. Um intervalo de mais 10 milhões de anos possibilitou a esses macacos atingirem, no Mioceno, o nível do Dryopithecus e do Ramapithecus. Este último perdurou evoluindo por mais milhões de anos, passando pelo Plioceno, até atingir o Pleistoceno inferior, cujo início é estimado em 14 milhões de anos antes da nossa era atual. No Pleistoceno inferior, entre 4 e 1 milhão de anos atrás, surgiram, por evolução do Ramapithecus, os primeiros hominídeos: o Sterkfontein, o Zinjanthropus, o Australo- pithecus africanus, o Australopithecus robustus, o Homo habilis e, provavelmente, o Homo erectus. Estes “macacoshomens” começaram outra fase evolutiva mais rápida, graças à ação seletiva dos glaciários que tiveram início no começo do Pleistoceno médio, há 1 milhão de anos atrás. Os glaciários de Gunz, Mindel e fíiss duraram cerca de 850 mil anos, compreendendo todo o Pleistoceno médio. Durante este longo período o Homo erectus atingiu o nível do Neanderthalense que, durante 80 mil anos, se dedicou a lascar a pedra para fabricar suas armas e utensílios de caça. Este espécimen viveu ao longo da primeira parte do Pleistoceno superior, durante o interglaciário que separa a glaciação de Riss da de Wurm.

Durante o glaciário de Wurm, iniciado há 70.000 anos, surgiu o Homo sapiens a cuja espécie nós pertencemos. (Wachterm 1977)

Extraído de John Waechter (1977) - Prêhistoríc Man; Quanj Bay, Hong Kong: Mandarin Publishers Ltd. (modificado).

Uma reflexão mais profunda revelar-nos-á a maneira como, durante cerca de 70 milhões de anos, a natureza conseguiu transformar os antiquíssimos primatas do Eoceno nos homens do Pleistoceno Superior. Se pensarmos no número enorme de criaturas que proliferaram durante esse imenso período de tempo, poderemos compreender a existência de bilhões

de

Espíritos

ainda

disponíveis

nos

planos

espirituais,

alimentando o atual, fluxo reencarnatório. Segundo o respeitável guia de Chico Xavier, o Espírito Emmanuel, a informação a este respeito é a seguinte: -Maís de vinte bilhões de almas conscientes desencarnadas, sem nos reportarmos aos bilhões de inteligências sub-humanas que são aproveitadas nos múltiplos serviços de progresso planetário, cercam o domicílio terrestre, demorando-se noutras faixas de evolução f (Xavier, F.C., 1952, Roteiro - Cap. IX). De acordo com a informação de Emmanuel, em 1952 existiam em disponibilidade 20 bilhões de Espíritos desencarnados. Em 1950, a população do mundo era 2.513 bilhões. Em 1960, já se contavam 3.027 bilhões de encarnados. Em base destas cifras, podemos estimar em 2.616 bilhões a população da Terra em 1952, contra 20 bilhões de Espíritos disponíveis nos planos espirituais. De 1952 a 1989, a população passou a 5.2 bilhões. Portanto restam ainda cerca de 17,5 bilhões de Espíritos em disponibilidade para reencarnar. Esta cifra enorme de pretendentes à

vida neste planeta poderá provocar a temida superpopulação prevista para o ano 2030, quando a terra teria de abrigar cerca de 14 bilhões de criaturas humanas, segundo os estudos de Ulrich Schippke:

Futuro,

Imagem do Mundo de Amanhã (Schippke, 1979).

SEGUNDA FONTE - A IMIGRAÇÃO INTERPLANETÁRIA Esta seria uma segunda fonte de abastecimento de Espíritos para alimentar o crescente fluxo reencarnatório. A imigração interplanetária, desde que demonstrada, poderia ter dois aspectos diametralmente opostos: 1) Ela ajudaria a explicar a manutenção do constante aumento populacional da Terra. 2) Justificaria a possibilidade de um futuro expurgo planetário, decorrente dos inconvenientes de uma superpopulação, ou como consequência de posterior colonização de alguns planetas do nosso sistema solar. Nesta alternativa, a Terra teria de suprir a. necessidade de habitantes desses noyos domicílios planetários. Se isto ocorrer futuramente, a Terra irá reduzir a sua atual população tanto encarnada como desencarnada. De acordo com algumas fontes informativas, por enquanto não consideradas válidas sob o ponto de vista científico, a Terra teria sido visitada, em certa época do passado, por seres inteligentes extraterrestres. O objetivo desses alienígenas aqui aportados seria o preparo da transferência para nosso planeta, de grande número de Espíritos expulsos de um mundo semelhante ao nosso e pertencente a outro sistema solar. A análise atenta dessas informações leva à conclusão de que algumas missões de “especialistas” em engenharia genética e outras

técnicas aqui estiveram com o fito de preparar raças humanas adequadas aos Espíritos que deveríam reencarnar-se em nosso planeta. Provavelmente, esse preparo genético teria sido realizado por meio .de cruzamentos controlados, entre os espécimens humanos autóctones e os do mundo distante. Talvez estivessem táo adiantados tecnicamente, ao ponto de efetuarem inseminações artificiais e outras operações que já sabemos realizar, atualmente, neste início do Século XXI. Algumas tradições encontradas em povos de origem muito antiga mencionam visitantes vindos dos céus, aos quais denominam de anjos ou deuses. Entretanto, pelo comportamento desses supostos anjos, tem-se a impressão de tratar-se de “cosmonautas” que vieram para cá com alguma missão bem definida. Um exemplo de referência a esses presumíveis visitantes vindos à Terra, oriundos de um mundo ou mundos mais adiantados, é o Livro de Enoch. Este livro foi retirado do conjunto de livros que compõem a Bíblia, por ser considerado apócrifo. Até o Século XVIII, o nome de Enoch era citado apenas em alguns trechos do Velho e do Novo Testamentos; exemplos: Gênesis IV: 17, 18 (Ia referência a esse nome, como filho de Caim), Gênesis V: 18, 21, 22 e 24 (2a referência a Enoch, dado como. filho de Jared e pai de Methuselah, provavelmente o verdadeiro Enoch, cujo livro relata a visita de extraterrestres); Lucas 111:37; Hebreus XI: 5; e a Epístola Universal de S. Judas, vers. 14. Um viajante inglês, de nome Bruce, descobriu uma versão etíope do Livro de Enoch, que se encontrava desconhecida até o mencionado Século XVIII. Em 1821 foi lançada a sua tradução para o inglês e, daí, inúmeras outras em francês e alemão foram publicadas. A versão brasileira foi obtida do Tomo 23, do Dictionnaire des Apocryphes, 1856, Ab. Migne. [O Livro de Enoch, trad., por Márcio Publiesi e Norberto de

Paula Lima; São Paulo: Hemus, 1977). No capítulo VII, de O Livro de Enoch, leem-se os seguintes versículos iniciais: 1 - “Quando os filhos dos homens se multiplicaram nesses dias, sucedeu que suas filhas eram elegantes e belas.” 2 - “E assim que os anjos, Os filhos dos céus, as viram, tomaram-se enamorados delas e se disseram uns aos outros: escolhamos mulheres da raça dos homens e tenhamos filhos com elas.” Os versículos seguintes contam como Samyaza, o chefe desses “Anjos filhos dos céus”, a princípio se sentiu temeroso em permitir que seus subordinados realizassem a desejada aventura. Finalmente ele cedeu sob a pressão de seus comandados, os quais se comprometeram; através de um pacto mútuo, a dividir entre si a responsabilidade dos seus atos. Os referidos “anjos” deviam ser uma espécie, de “cosmonautas”, pois, conforme explica o versículo 7, “eles eram em número de duzentos, que desceram em Aradis, lugar situado nas vizinhanças do Monte Armon”. Esta montanha recebeu este nome de Armon, para perpetuar a lembrança do pacto que fizeram entre si sob juramento. Esses estranhos visitantes tinham por chefe geral o referido Samyaza. Por sua vez, este último partilhava o comando com os seguintes subchefes: Urakabarameel, Akibeel, Tamiel, Ramuel, Danei, Azkeel, Sarakmyal, Asael, Armers, Batrnal, Anane, Zavebe, Samsaveel, Ertael, Turel, Yomyael e Arazael. Pelas descrições, a designação de anjos foi-lhes dada porque eles teriam vindo dos céus em naves espaciais. Deviam ser semelhantes aos homens e feitos de carne e osso como nós, tendo em vista o seu comportamento expresso no versículo 10: 10 “Escolheram cada um u’a mulher, e se aproximaram e coabitaram com elas; ensinaram-lhes a feitiçaria, os encantamentos, e as propriedades das raízes e das arvores.” Ao que parece, a missão desses expedicionários cósmicos devia ter objetivos mais sérios e talvez se destinasse ao preparo prévio de uma

raça híbrida que pudesse servir à reencarnação de Espíritos emigrados de seu planeta de origem. Entretanto, a falta cometida por eles ao agirem incorretamente teve consequências desastrosas. Os filhos nascidos dessa hibridagem descontrolada eram de porte gigantesco. E possível que fossem animados por Espíritos de hominídeos ainda não bem humanizados e ferozes, que tendo reencarnado em corpos fortes e agigantados, com cérebros melhores, passaram a cometer toda a série de violências e barbaridades, inclusive a antropofagia. O problema tornou-se gravíssimo, ao ponto de suscitar medidas repressivas bastante enérgicas, por parte do “Governo” do mundo de onde vieram os referidos expedicionários rebeldes. No Velho Testamento da Bíblia, em Gênesis VI, podem encontrar-se notícias desses estranhos visitantes aqui aportados e denominados “filhos de Deus”. Por exemplo: 1 - “Quando os homens começaram a multiplicar-se sobre a Terra e lhes nasceram filhas”. 2 - “Viram os filhos de Deus que as filhas dos homens eram formosas, e tomaram para si mulheres de todas as que escolheram... etc/’ Alguns sinais de grandes proporções, bem como construções e monumentos ciclópicos encontrados5 em diversas partes do mundo têm sugerido hipóteses favoráveis à crença em visitantes alienígenas vindos à Terra, no passado, e detentores de técnicas avançadas. Esses extraterrestres talvez tenham deixado tais sinais como marcas típicas de sua presença aqui, em remotas eras. Alguns exemplares desses sinais poderiam ser os seguintes: As marcas no solo rochoso da planície de Nazca, no Peru; os achados de Tiahuanaco; as grandes pirâmides do Egito; as estátuas da Ilha da Páscoa; os mapas de Piri Reis; etc. (Dàniken, Erich von, 1970). Finalmente, o Espírito Emmanuel, forneceu-nos, através da psicografia de Chico Xavier, um relato minucioso acerca da vinda para o nosso planeta Terra, de grandes levas de Espíritos exilados de um dos orbes do “sol Capela” (uma estrela da Constelação do Cocheiro). Eis um

trecho da impressionante revelação de Emmanuel, intitulado “Um Mundo em Transições”: “Há muitos milênios, um dos orbes da Capela, que guarda muitas afinidades com o globo terrestre, atingira a culminância de um de seus extraordinários ciclos evolutivos. “As lutas finais de um longo aperfeiçoamento estavam delineadas, como ora acontece convosco, relativamente às transições esperadas no Século XX, neste crepúsculo de civilização. “Alguns milhões de Espíritos rebeldes lá existiam, no caminho da evolução geral, dificultando a consolidação das penosas conquistas daqueles povos cheios de piedade e virtudes, mas uma ação de saneamento geral os alijaria daquela humanidade, que fizera jus à concórdia perpétua, para a edificação dos seus elevados trabalhos. “As grandes comunidades espirituais, diretoras do Cosmos, deliberaram, então, localizar aquelas entidades, que se tornaram pertinazes no crime, aqui na Terra longínqua, onde aprenderíam a realizar, na dor e nos trabalhos penosos do seu ambiente, as grandes conquistas do coração, e impulsionando, simultaneamente, o progresso dos seus irmãos inferiores.” (Xavier, 1938). Parece que há uma certa congruência em todos os aspectos examinados até agora, concernentes à possibilidade de ter havido, em certas épocas do passado, uma imigração de seres humanos vindos de outro mundo habitado, para o nosso planeta. Este fato explicaria, inclusive, o aparecimento um tanto rápido da espécie “Homo sapiens”. Como procuramos demonstrar, não parece constituir um argumento eficaz contra a ideia da reencarnação a aparente escassez de Espíritos para atender ao crescente aumento populacional. Entretanto, a observação mais ponderável neste sentido está no

fato de não haver ainda ocorrido uma interrupção significante dos nascimentos de bebês humanos, registrada em qualquer parte do mundo. Os que negam a realidade da reencarnação estão baseados apenas em opiniões que, embora respeitáveis, não se apoiam em pesquisas científicas sérias. 0 mesmo não ocorre com aqueles que aceitam a lei da reencarnação biológica; estes estão solidamente alicerçados em evidências observacionais dos fatos positivos.

CAPÍTULO XVII A CERTEZA DA SOBREVIVÊNCIA E DA REENCARNAÇÃO MUDARÁ O NOSSO COMPORTAMENTO? “Temos a religião apenas suficiente para fazer com que nos odiemos mutuamente, mas não suficiente para fazer com que nos amemos uns aos outros.” Swift

OS SORRISOS DE INCREDULIDADE Em 1961, o médico e professor catedrático de Psiquiatria na Universidade de Virgínia, EE. UU„ Dr. Ian Stevenson partiu rumo ao Oriente, levando um programa de pesquisa aparentemente absurdo para a época e para o meio acadêmico ao qual ele pertencia, Esse eminente médico e parapsicólogo objetivava investigar cientificamente os relatos de crianças que afirmavam recordar-se de presumíveis vidas anteriores. Em suma, o Dr. Ian Stevenson visava tirar a limpo as inúmeras informações recebidas da índia, Burma, Tailândia, Ceilão, Turquia, Líbano, Sri Lanka e outros países, acerca de casos que sugeriam fortemente a possibilidade da reencarnação. Em fevereiro de 1972, o Dr. Ian Stevenson veio ao Brasil, a fim de estudar alguns casos de reencarnação aqui em São Paulo. Nesta ocasião ele nos contou, em conversa informal, dois episódios bem significantes ocorridos no início das suas investigações. Ei- los: Quando, em 1961, ele resolvera partir para a índia, em busca dos casos que sugeriam reencarnação, os seus colegas, ao se despedirem dele, não conseguiram disfarçar certo sorriso de incredulidade ou ironia. A

reencarnação, para eles, soava como um absurdo, um não-senso ou mera crendice sem qualquer apoio na realidade dos fatos positivos. Ao chegar à índia, ele procurou entrevistar-se com um dos inúmeros sábios autênticos lá existentes. Recebido por um deles, ambos entretiveram cordial colóquio durante algum tempo. Indagado pelo “Guru” acerca dos motivos que levaram o Dr. Stevenson a interessar-se pela reencarnação, este declarou que uma das razões seria a “possibilidade de melhoria do comportamento dos americanos, caso ficasse cientificamente demonstrada a realidade do renascimento após a morte dos indivíduos”. Seria, além disso, íima evidência fortíssima a favor da sobrevivência. Isto provavelmente contribuiria para a melhoria dos seus concidadãos, no concernente ao caráter. A esta altura, Dr. Stevenson surpreendeu-se ao ver o sábio indiano esboçar um sorriso, mostrando também um ar de incredulidade: — “Não se iluda Professor: Aqui na índia, quase todos creem na reencarnação, e nem por isso os indianos têm um comportamento melhor do que o dos americanos.” Foram estes os sorrisos de incredulidade suscitados pela ideia da reencarnação. O primeiro, esboçado pelos colegas do Professor Stevenson quando este lhes revelou que pretendia pesquisar um fenômeno inexistente para eles. O outro sorriso foi esboçado pelo sábio indiano, cuja longa experiência lhe demonstrou a ineficácia da crença na reencarnação, no sentido de promover a melhoria do comportamento dos indivíduos. - Vamos refletir sobre esta questão e tentar obter uma resposta para a indagação contida no título deste artigo.

A CIÊNCIA MUDOU RADICALMENTE A NOSSA VISÃO DA REALIDADE O modelo da possa concepção acerca da realidade vem sofrendo contínuas mudanças. Inicialmente os homens acreditavam que a Terra era plana e que fosse o centro do Universo. O mundo fora criado por um Deus único ou por vários deuses co-criadores regidos por um deles considerado o mais poderoso. Após a morte, sobrevivería uma outra parte do indivíduo, cuja sorte boa ou má dependería do bem ou do mal que ele houvera praticado durante a sua existência. Algumas culturas acreditavam em um julgamento da alma sobrevivente, seguido de recompensa ou castigo. Por outro lado, certos sistemas, religiosos, principalmente os orientais, admitiam o renascimento após um período de intermissão, durante o qual a parte sobrevivente sofreria as consequências dos atos praticados na última existência. Estes resultados poderíam continuar ao longo das encarnações seguintes, sob a forma de uma espécie de “Carma”. Havia diferentes maneiras de conceber-se o castigo ou a recompensa, de acordo com o mau ou o bom comportamento do indivíduo. Estas regras eram ensinadas pelas elites religiosas e visavam conter os procedimentos criminosos daqueles mais inclinados à prática do mal. Assim por exemplo, fazia-se crer às pessoas ignorantes que o renascimento poderia ocorrer em outras espécies animais inferiores, e até mesmo em outros reinos. Era a metempsicose, muito vulgar no antigo Egito, e ensinada na Grécia por Pitágoras (580 a.C.). A visão do mundo e da nossa realidade subjacente, adquirida após a conquista do método científico, sofreu profundas modificações. A Terra deixou de ser o centro do Universo. Este adquiriu proporções inimagináveis. Sua criação, provavelmente, teve início há cerca de 15

bilhões de anos, tendo surgido de uma tremenda explosão cósmica, o denominado “big bang”. Aparentemente não houve um ato Èk divino da criação do mundo e de seus componentes. Parece mais certo que a infinidade de seres vivos e H objetos inanimados, existentes na Terra, e eventualmente em W outros orbes, surgiram por obra e graça de leis naturais evolutivas. O homem, que se acreditava ter sido o alvo final da criação de Deus, foi colocado pela Ciência em modesto ramo da árvore genealógica dos demais seres vivos. Os sucessos do método científico na produção de recursos materiais capazes de aliviar o trabalho manual, aumentar a produção de bens de consumo, dominar grande parte das epidemias, facilitar o transporte e a comunicação, enfim promover a recente e bem-sucedida revolução tecnológica e industrial, fizeram com que a maioria das pessoas acreditasse mais na Ciência positivista e materialista, do que nas doutrinas religiosas e espiritualistas. Ainda no Século XX, tivemos ã remanescente pregação das religiões judaico-cristãs, acerca das “penas eternas” para aqueles que transgredissem os divinos mandamentos mosaicos. Algumas dessas punições mostram-se muito mais terríveis e severas do que as perspectivas de um “Canna” expiatório, preconizado pelas filosofias religiosas reencarnacionistas do Oriente. Entretanto, nenhuma das perspectivas, colocadas em uma inexorável justiça após a morte, conseguiram frear os maus instintos, a rapinagem e a crueldade dos homens, inclusive daqueles que pregaram as tais presumidas “verdades”. Quando 0 ser humano se entrega ao domínio das paixões, dos vícios, das ambições e da maldade, nenhuma ameaça ou certeza das piores consequências consegue detê-lo. Será que a “certeza científica positiva”; 1 da sobrevivência e da

reencarnação conseguirá realizar aquilo que a “fé pregada por pseudorepresentantes de Deus” não logrou efetivar, apesar das apavorantes intimidações de um “fogo eterno” e sem esperanças de perdão? Se analisarmos cuidadosamente esta questão, iremos descobrir que 0 comportamento humano depende de um maior número de fatores, e não de apenas uma sorte de crença, ou até mesmo de uma sólida convicção originada, por exemplo, pelo conhecimento científico positivo da reencarnação. A ciência mudou, de fato e profundamente, a nossa visão da realidade. Esta mudança foi seguida por outras modificações no nosso comportamento, muito mais profundas do que teria ocorrido se houvesse acontecido apenas uma alteração em nossas crenças acerca da sobrevivência. Os povos do Oriente atravessaram milênios, crendo na reencarnação. Os do Ocidente passaram séculos acreditando na sobrevivência após a morte, tendo o céu, o inferno e o purgatório como o destino certo dos que morrem. Entretanto, somente depois do advento do método científico, inaugurado há cerca de trezentos anos e-seguido pelo concomitante desenvolvimento tecnológico, é que passamos a ter mais conforto, mais facilidades na comunicação, no transporte, nos bens de consumo, na habitação, na saúde, na higiene, no saneamento, etc. E isso, sim^; mudou imensamente a nossa vida e o nosso comportamento. E verdade que muitos outros problemas têm surgido, tais como a poluição, o superpovoamento, a criminalidade, as drogas, as guerras, as crises políticas e econômicas. Mas há esperanças de, com o tempo, acertarmos essas desarmonias.

OS ESPÍRITOS MALÍGNOS Antes de prosseguirmos, a partir deste subtítulo, queremos tornar claro que estamos cientes da eventualidade de algum leitor materialista

interessar-se pela sua leitura. Tendo em vista o respeito e a consideração a que os materialistas têm direito, queremos esclarecer rque a existência dos Espíritos poderá ser encarada por esses dignos leitores, como uma hipótese de trabalho. A Física tem, com sucesso, lançado mão de modelos hipotéticos, na pesquisa teórica dos fenômenos naturais. Um dos mais P antigos modelos desse tipo foi o de Leucipo e Demócrito (460- 370 a.C.), Somente em 1808, Dalton (1766-1844)

publicou sua obra intitulada Novo Sistema de Filosofia Química, em que expunha as evidências de apoio à crença nos átomos dos elementos químicos. Entretanto, a hipótese do átomo foi muito útil e fecunda, mesmo antes de sua evidenciação através dos fatos. E importante assinalar que, durante todo esse tempo, os átomos se mantiveram invisíveis. Sua existência e forma dependeram apenas de evidências indiretas. Ainda hoje em dia, a forma exata dos átomos é deduzida de equações matemáticas desenvolvidas por raciocínio abstrato, e não o resultado de uma observação visual direta. O microscópio eletrônico tem permitido obter-se fotografias de moléculas complexas, em cuja estrutura cristalina podem distinguir-se imagens difusas e pouco precisas de onde estariam os seus átomos componentes. Com os Espíritos tem ocorrido algo semelhante ao que se deu com os átomos. As tradições religiosas e, ultimamente, a experiência das transcomunicações mediúnicas (TCM) e instrumentais — TCI (Transcomunicação Instrumental) — têm revelado a existência de Espíritos devotados a vinganças e a todas as demais práticas do mal. Grande número dessas entidades mostra-se esclarecido acerca das leis espirituais. Pbr conseguinte, além da própria experiência de haver sobrevivido após a morte, tais Espíritos conhecem a lei da reencarnação e a lei do carma. Não obstante esse conhecimento direto de semelhantes realidades, as referidas entidades persistem e se deleitam com a prática do mal. Alguns espíritos malignos contam dezenas de anos e até séculos de existência no Astral, sem modificar o seu comportamento. Quando reencarnados, poderão eventualmente continuar suas atividades danosas, até mesmo se, por acaso, chegarem a aceitar alguma religião, ou travar conhecimento com Espíritos do mesmo nível de evolução.

Logo, a melhoria de um indivíduo nem sempre ocorre devido à sua convicção acerca da reencarnação, ou da sobrevivência após a morte do corpo físico. De fato, conhecemos inúmeras pessoas totalmente descrentes, materialistas sinceros, cujo comportamento serviría de magnífico modelo a muitos religiosos praticantes, inclusive a nós, espíritas convictos e bem-informados acerca da Doutrina. Por conseguinte, não basta o conhecimento puramente científico positivo da realidade da sobrevivência e da reencarnação. Precisamos conquistar novos modos de vivência e educação.

A PRESUMÍVEL RAZÁO DAS REPETIDAS MENSAGENS EVANGÉLICAS Temos ouvido, algumas vezes, reparos acerca do “excessivo evangelismo” contido nas mensagens espíritas recebidas pelos nossos médiuns confiáveis. Alguns críticos mais exigentes chegam a deplorar esta “perda” de tempo, de material gráfico e de oportunidade para maiores esclarecimentos científicos a respeito do Além e demais detalhes acerca da vida depois da morte. Tais reclamações têm ocorrido até da parte de espíritas já engajados no movimento há algum tempo. Antes de prosseguir, queremos esclarecer que a expressão “excessivo evangelismo” tem aqui o significado de super-abundantes recomendações ou repetidas exortações à prática do bem, das virtudes, do amor ao próximo, da humildade, etc. De fato, ninguém pode negar a existência do aparente “excesso de evangelismo” a que aludimos. Entretanto, parece-nos oportuno fazer algumas considerações acerca das proporções numéricas que devem ser avaliadas criteriosamente, quando desejamos criticar sensatamente semelhantes questões. Tomemos como ponto de partida da obtenção de informações de

caráter científico acerca dos Espíritos, do Plano Espiritual e da fenomenologia

hoje

denominada

genericamente

paranormal,

a

fundação da “London Dialectical Society” em 1867. Portanto este. evento ocorreu há mais de um século. De lá para cá, milhares de trabalhos, compreendendo livros e artigos, têm sido publicados a propósito do aspecto científico da extensa fenomenologia paranormal. Em sua maioria, todo este acervo de importantes informações veio sendo rejeitado pelos céticos, por chefes religiosos e por cientistas, sob várias alegações. Inicialmente, evocou-se a fraude por parte dos médiuns; depois, os conchavos entre estes últimos e seus comparsas interessados em convencer e explorar os néscios; finalmente, como último recurso, lançou-se mão de “explicações” paralelas reducionistas, quando as demais hipóteses não conseguiam anular as evidências registradas. Ao

qu e

n os

parece,

as

m en sagen s

portadoras

de

“ev an gel i sm o” são m ai s recen tes e, em com paração com o en orm e v ol u m e do m ateri al ci en tí fi co já recebi do dos Espí ri tos, são rel ati v am en te pou co n u m erosas. A l ém di sso, tai s m en sagen s v êm m escl adas, em m u i tas obras psi cográfi cas, com preci oso e abu n dan te m ateri al i n form ati v o a respei to das caracterí sti cas, as m ai s v ari adas, dos di feren tes “Pl an os da Espi ri tu al i dade”. Tom o com o u m dos m el h ores exem pl os a séri e N osso Lar, psi cografada por Ch i co Xav i er (Fran ci sco Cân di do Xav i er). Ocorre, porém, que os inúmeros problemas de ordem material na maioria das vezes impedem o estudo sério e a reflexão demorada a respeito dessas obras. Naturalmente, torna-se mais ameno assistir diariamente aos programas de TV, que não exigem esforço mental e

satisfazem melhor a nossa necessidade de saber frivolidades, ou divertir-nos com banalidades. Quando não a TV, temos os jornais e revistas repletos de novidades e belas fotografias coloridas, que não cansam o cérebro e ajudam a dissipar o tempo, sem causar tédio. Mas, as Inteligências Espirituais não veem a realidade sob o nosso limitado ângulo. Elas devem saber que nós precisamos mais do “excessivo evangelismo”, do que novidades científicas. Claro que sim, pois sempre que nos informam a respeito das realidades espirituais, recebem em troca o nosso ceticismo sistemático, ou a nossa indiferença preguiçosa. E quando chegamos, a muito custo, a convencer- nos de certos fatos como a sobrevivência do Espírito e a reencarnação, continuamos a proceder como se a vida se limitasse ao curto lapso entre o berço e o túmulo. A certeza da sobrevivência e da reencarnação certamente contribuirá para melhorar o comportamento dos homens. Entretanto, tal influência será pequena e dependerá de outros fatores coadjuvantes, como a educação, a saúde, a habitação, a higiene, facilidade dos transportes e da comunicação, enfim todos os benefícios oriundos do progresso científico e tecnológico. Naturalmente, todos esses bens deverão ser acessíveis igualmente a todas as pessoas sem exceção; sem a miséria em convívio com a opulência; sem a carência ao lado do desperdício. Para que ocorra semelhante situação, é preciso que a assimilação da convicção acerca da sobrevivência do Espírito e da reencarnação se faça juntamente com a indispensável “evangelização” das pessoas.

CAPÍTULO XVIII INTERMISSÃO ENTRE REENCARNAÇÕES “Mais de vinte bilhões de almas conscientes desencarnadas, sem nos reportarmos aos bilhões de inteligências sub-humanas que são aproveitadas nos múltiplos serviços de progresso planetário, cercam o domicílio terrestre, demorando-se noutras faixas de evolução.” (Xavier, F.C. - Roteiro, ditado pêlo Espírito Emmanuel, la. edição; Rio de Janeiro: FEB, 1952, Cap. IX, p. 39).

VIDA E MORTE, UM MESMO RESULTADO POR DOIS PROCESSOS DIFERENTES Neste capítulo, iremos tratar de uma questão de grande interesse para os estudiosos do Espiritismo, particularmente sob o ponto de vista da reencarnação. Tentaremos responder 1 indagação seguinte: “Em média, quanto tempo (terrestre) passamos desencarnados, entre duas encarnações sucessivas?” Por outras palavras, qual será a duração média da intermissão, isto é, do tempo que permaneceremos “mortos”, vivendo entretanto no mundo espiritual, antes de voltarmos à vida novamente, mediante uma outra encarnação? A solução deste problema é possível, através de dois métodos: 1) Diretamente, compulsando os dados disponíveis, que já se possuem graças aos trabalhos dos que se dedicam à pesquisa da reencarnação. Embora as informações aproveitáveis ainda sejam escassas, elas podem fornecer-nos elementos seguros e com satisfatória aproximação. 2) Indiretamente, partindo de algumas avaliações estatísticas acerca do crescimento populacional do mundo, das variações da vida média humana e da informação fornecida pelo Espírito Emmanuel, em 1952, na obra, Roteiro, psicografada pelo médium Sr.

Francisco Cândido Xavier (Chico Xavier). Ao fazer os cálculos pelos dois métodos atrás mencionados, observamos, com surpresa, que os resultados são razoavelmente semelhantes. Mais adiante, iremos estudar pormenorizadamente os casos de lembranças reencarnatórias observadas em crianças. Desses estudos irá ressaltar a explicação para este fenômeno singular, uma vez que, normalmente, a maioria i das pessoas ignora os fatos de suas existências progressas. 1 Como se sabe, podem também ocorrer, excepcionalmente, as revivescências em adultos, de cenas passadas em outras encarnações. Estas exceções permitiram obter-se os dados de que nos servimos para as avaliações que serão apresentadas no decorrer deste trabalho.

RECORDAÇÕES EM ADULTOS OBTIDAS POR REGRESSÃO HIPNÓTICA Inicialmente, vamos examinar três casos individuais obtidos por regressão hipnótica. Este método consiste em submeter o paciente a uma hipnose e levá-lo, sucessivamente, a recordar-se de fatos cada vez mais remotos, a partir da presente existência. Desse modo, alguns bons pacientes chegam a rememorar eventos ocorridos em várias vidas progressas, fornecendo, inclusive, referências históricas que permitem localizar no espaço e no tempo as cenas relatadas por eles. Tais regressões são geralmente realizadas emsdiversas sessões seguidas. São todas elas cuidadosamente registradas em gravadores eletrônicos e, posteriormente, analisadas em suas minúcias. Foi este o processo empregado por Morey Bernstein e que deu origem ao famoso caso Bridey Murphy, nome da personagem que fora, na Irlanda, a encarnação prévia da Sra. Simmons (pseudônimo da Sra. Virgínia Burns Tighe, nascida em Iowa, EE.UU., em 1923). Ela submeteu-se a seis

sessões, de 1952 a 1963, as quais, após terem sido gravadas e devidamente analisadas, deram origem a um livro, que causou muita polêmica quando foi lançado. (Bernstein, M; (1956) - O Caso de Brídey Murphy, tradução de Leônidas G. de Carvalho; São Paulo: Pensamento). Vamos examinar os três casos em questão. Io Caso: - A investigadora foi a Dra. Helen Wfambach. O paciente foi o Sr. Robert Logg. Os dados resumidos são os seguintes: Número de intermissões apurado = 14 Tempo total das 14 intermissões = 3765 anos. Variação dos* tempos de intermissão = O a 1200 anos. Tempo médio de cada intermissão = 269 anos. (Wambach, 1981, pp. 59 a 65).

Observações: Os períodos levados em conta foram aqueles para os quais havia dados concretos acerca das épocas. Ocorreram mudanças de sexo: 10 do sexo masculino e 5 do sexo feminino. A regressão atingiu até o ano 2.000 a. C., no Egito. 2o Caso: - O investigador foi o Dr. Amall Bloxham. Neste caso mantevese o anonimato do paciente. O resumo dos dados é o seguinte: Número apurado de períodos =10. Tempo total dos 10 períodos = 3.000 anos. Média de cada período = 300 anos. Observações: Não foram discriminadas as durações das intermissões por período. Tomando-se, como tempo de vida média, 50 anos por existência, tem-se cerca de 500 anos de vida terrena total durante os 10 períodos. Descontando-se, do total de 3.000 anos, os 500 anos de vida terrena, temos o total das 10 intermissões = 2.500 anos. Isto dá u’a média de 250 anos por intermissão. 3o Caso: - O investigador é o mesmo do caso anterior, Dr. A Bloxham. A paciente é a Sra. Jane Evans. Resumo do caso: Número apurado de intermissões = 6. Tempo total das 6 intermissões = 1.459 anos. Variação dos tempos de intermissão = 19 a 844 anos. Tempo médio de cada intermissão = 243 anos. Observações: Em todas as existências exploradas, a paciente revelou ter sido do sexo feminino.

Se calcularmos a média do tempo de intermissão desses três casos, iremos encontrar 254 anos por intermissão. Isto significa que os pacientes investigados nos três casos anteriores, passaram em média 254 anos no Mundo Espiritual, entre cada duas encarnações sucessivas. Entretanto, os tempos reais de intermissão variaram entre 0 a 1200 anos. Outro fato digno de nota e observável nos dados constantes dos aludidos casos, é a variação da grandeza dos tempos de intermissão. Nota-se, em todos eles, que òs tempos de intermissão das épocas mais remotas são muito maiores do que os das mais recentes. Assim, por exemplo, no caso do paciente Robert Logg, pesquisado pela Dra. H. Wambach (lcaso) as variações dos tempos de intermissão foram as seguintes: 2000 a.C. - 1300 a.C. = 700 anos; 1300 a.C. - 400 a.C. = 900 anos; 400a.C. + 100 d.C. = 500 anos (2 encarnações) = 250 anos (média); 1300 - 100 = 1200 anos; 1450 -1300 = 150 anos; 1500 -1450 = 50 anos; 1590 -1500 = 90 anos ; 1715 - 1618 = 97 anos (2 encarnações) = 48,5 anos (média); 181011790 = 20 anos; 1870 - 1870||i0 anos; 1900 - 1870SP 30 anos; 1930 - 1902 = 28 anos.

Observam-se alguns valores discrepantes, mas a regra é o decréscimo dos tempos de intermissão, à medida que se aproxima da época atual. Iremos, logo mais adiante, ter uma explicação para este fato, quando fizermos o estudo da intermissão, baseando-nos no método dedutivo.

RECORDAÇÕES REENCARNATORIAS EM DIVERSOS PACIENTES ADULTOS Da obra do Dr. Karl Muller, Reuncarnation Based on Ricts, (1978), retiramos os dados necessários para esta avaliação. Trata-se de 16 casos de pacientes diversos, cujas recordações reencarnatórias foram obtidas mediante processos vários, tais como sonhos recorrentes, recordação

espontânea, “déjà vu”, reconhecimento de pessoas, hipnose, etc.

Resumo dos dados obtidos: Número de intermissões apurado = 16. Tempo total das 16 intermissões = 3969 anos. Variação dos tempos de intermissão = 28 a 600 anos. Tempo médio por intermissão = 248 anos. Considerando os casos anteriores todos,, mais esses do Dr. Karl Muller, obteremos a média geral: 269 + 250 + 243 + 248 = 1010 anos; média geral = 253 anos Este valor médio sugere que se têm cerca de 4 encarnações por milênio. Entretanto, os tempos de intermissão podem variar aproximadamente entre 0 e 1200 anos. Isto significa que algumas pessoas poderão ter um número maior ou menor do que as quatro^ encarnações constituintes da média geral. Passemos, agora, ao segundo método, ou seja, o cálculo por dedução, do tempo médio de intermissão.

TEMPO MÉDIO DA INTERMISSÃO PELO MÉTODO DEDUTIVO Lamentavelmente não dispomos de valores mais exatos para levar a cabo os nossos cálculos. Entretanto, lançaremos mão dos que possuímos, embora pouco precisos. Vamos começar pelo montante aproximado da população humana, a partir do Século XVII para cá. Não incluímos as cifras anteriores devido ao fato de a população mundial terse mantido com crescimento pequeno antes do Século XVII. O aumento populacional começou a sofrer maior aceleração após o Século XX, devido à elevação da vida média por pessoa, resultante da melhoria

das condições de higiene e conforto que influíram nas taxas de mortalidade. Vamos compor uma tabela, levando em

consideração o dado fornecido por Emmanuel (Ver epígrafe). Este Espírito informou, em 1952, que a população desencarnada atingia cerca de vinte bilhões de entidades. Admitamos que este número já existia antes do Século XVII e se manteve constante até 1952, quando foi dada a informação de Emmanuel. Daí em diante, devido ao rápido aumento populacional, o estoque de Espíritos humanos passaria a sofrer decréscimo. Com esses dados podemos calcular a relação entre o número de desencarnados e o número dos encarnados (D/E): Séculos

Encarnados

Desencarnados

D/E 1

XVII

500.000.000

20.000.000.000

40

XVIII

750.000.000

20.000.000.000

27

XIX

1.000.000.000

20.000.000.000

20

1952 m

2.000.000.000

20.000.000.000

10

1965

2.500.000.000

19.500.000.000

7,8

1975

3.000.000.000

19.000.000.000

6.3

1980

4.000.000.000

18.000.000.000

4.5

1987

5.000.000.000

17.000.000.000

3.4

2000 6.000.000.000 16.000.000.000 (*) Informação do Espírito Emmanuel

2.7

Vamos aplicar os coeficientes D/E à tabela de vida média terrena dos indivíduos encarnados, a fim de obter o tempo de intermissão correspondente. Obs: D = Espíritos desencarnados existentes no espaço espiritual. E |=rEspíritos ainda encarnados no mundo material. ÉPOCA VIDA MÉDIA X COEF. D/E g (*)

TEMPO PROVÁVEL INTERMISSÃO

XVII

50 anos x 40

1 a- 2.000 anos

XVIII

55 anos x 27

~

1.485 anos

de

XIX

58 anos x 20

1.160 anos

1952

60 anos x 10

' £ 600 anos

1965

63 anos x 7,8

£

491 anos

1975

65 anos x 6,3

£

409 anos

1980

66 anos x 4.5

£

297 anos

1987

70 anos x 3,4

£

238 anos

2000

80 anos x 2,7

|

216 anos

Tirando-se a média dos últimos 35 anos, isto é, de 1952 até 1987, teríamos: (600 -I- 491 + 409 + 297 + 238) 5 = 407 anos. Esta cifra é superior à média (253 anos) obtida pelo primeiro método. No entanto, a média dos últimos 7 anos (267 anos) aproxima-se bem da média geral obtida pelo primeiro método: (297 -I- 238) 2 267 anos.

Embora os dados utilizados sejam imprecisos, pode observar-se nitidamente o decréscimo do tempo de intermissão, à medida que nos aproximamos dos tempos

atuais. Esta lei já foi assinalada, nos dados obtidos diretamente dos casos de regressão hipnótica. Quer dizer que, à medida que se recua para as épocas mais remotas, os tempos de intermissão tornam-se maiores. A explicação para este fato ressalta dos cálculos feitos. Vê-se que três fatores contribuem para esta variação: o tempo de vida média terrena, a população encarnada e a quantidade de Espíritos desencarnados. Esta última cifra foi-nos fornecida por Emmanuel e dispomos apenas de um número fixo para o ano de 1952: vinte bilhões. Os povos primitivos deviam passar, em média, mais tempo desencarnados do que os povos atuais. Além disso, a duração da vida média era menor; por exemplo: Neanderthal 33 anos; Idade da Pedra 31 anos; Idade do Cobre 36 a; Idade do Bronze 40 anos; Tempo do Cristo 36 anos. Este maior espaçamento do período de intermissão teria sido vantajoso, pois permitiría melhor restabelecimento do perispírito. Naqueles tempos as mortes violentas eram mais comuns. Se a intermissão fosse muito curta, talvez ocorresse maior número de defeitos corporais congênitos. Vamos examinar, agora, os casos de crianças portadoras de lembranças reencarnatórias.

RECORDAÇÕES REENCARNATÓRIAS EM CRIANÇAS As recordações reencarnatórias surgidas em crianças, reveladas a partir da época em que começam a falar, têm fornecido extenso e consistente material de apoio ao estudo da reencarnação. Para nossa investigação concernente ao tempo de Você e a

Reencarnação intermissão, extraímos os dados necessários, de três fontes informativas: 1) Casos pesquisados pelo Dr. Ian Stevenson; 2) Casos relatados pelo Dr. Karl Muller (Reencarnaçõo Baseada em Fatos); 3) Casos extraídos da coleção do Instituto Brasileiro de Pesquisas Psicobiofisicas IBPP Eis os resultados da apuração feita por nós, desse material disponível: Casos do Dr. Ian Stevenson Número apurado de casos = 26. Tempo total das intermissões =1 3 3 anos.. Variação dos tempos de intermissão = O a 11 anos. Tempo médio de cada intermissão = 5 anos. Observações: Não foram computados alguns pouquíssimos casos que sugerem não ter-se cumprido o tempo normal de gestação. Nos casos apurados, não se descontaram os 9 f meses de gestação. Casos do Dr. Karl Muller V Número apurado de casos = 13. |m Tempo total das intermissões = 78 anos. Variação dos tempos de intermissão^ O a 20 anos. Tempo médio de cada intermissão 16 anos. Observações: As mesmas anteriores. Casos do Instituto Brasileiro de Pesquisas Psicobiofisicas - IBPP Número apurado de casos = 10. Tempo total das intermissões = 82 anos. Variação dos tempos de intermissão = 0 a 32 anos. 0 Tempo médio de cada intermissão s 8 anos. Observações: As mesmas anteriores. A média geral dos três grupos de casos será: (5+6+8) * 3 ■ 6 anos por intermissão.

A variação total dos tempos de intermissão é: 0 a 32 anos. DISCUSSÃO Os valores numéricos obtidos anteriormente sugerem algumas conclusões de inegável importância: O tempo de intermissão observado para os casos de crianças com lembranças reencarnatórias, é notoriamente mais curto do que aquele assinalado para os adultos. As recordações das vidas pregressas afloram espontaneamente nas crianças. As lembranças de vidas prévias, nos adultos, são raras e quase sempre se manifestam mediante condições ou processos especiais: os sonhos recorrentes, o “déjà vu”, as revelações, os estados alterados de consciência, a regressão hipnótica, a terapia de vidas passadas, etc. Normalmente, a grande maioria das pessoas ignora os fatos de seu passado reencarnatório. Esta diferença está na extensão do tempo de intermissão. Enquanto a média geral é da ordem de 250 anos, com variações entre 0 e 1200 anos (observados nos casos levantados), as crianças com memória de vidas anteriores assinalam uma intermissão média de 6 anos, com variações entre 0 e 32 anos. Isto quer dizer que a intermissão muito prolongada produz o esquecimento das vidas pregressas. A intermissão muito curta explica por que certas crianças conservam a memória de suas vidas passadas. A medida que recuamos para as épocas mais remotas, os tempos de intermissão mostram-se maiores. Conclui-se daí que os homens primitivos demoravam mais tempo no estado de desencarnado, do que os homens atuais. Isso sugere que, futuramente, os casos de lembranças reencarnatórias poderão ser mais numerosos. Do mesmo modo, os homens do futuro reencarnar-se-ão mais rapidamente do que os de

agora; para eles a morte durará menos tempo. Quais poderíam ser as consequências

de

tal

situação?

Seríamos

mais

espiritualizados,

futuramente? Nas avaliações feitas até aqui, cuidamos apenas dos casos normais. Entretanto há casos anômalos, em que o período dé intermissão é menor do que um ano; outros há em que a intermissão é menor do que os nove meses de gestação. ic is *k

Os resultados por nós obtidos neste estudo mostraram que os homens têm passado mais tempo em estado de morte do que de vida. A tendência é reduzir a extensão do tempo em que passamos desencarnados e, também, aumentar a longevidade terrena. Os prognósticos feitos por estudos acerca do nosso futuro preveem uma vida média de 100 anos para o Século XXI. No ano 2.005, provavelmente seremos 7 bilhões de encarnados contra 15 bilhões de desencarnados. Estas cifras permitem prever-se uma intermissão média de cerca de 214 anos apenas.

É o quanto durará a morte no ano 2.005, se a humanidade conseguir sobreviver até lá. Entretanto, as mesmas previsões dizem que, no ano 2.030, seremos 14 bilhões, se não conseguirmos um meio eficiente de controlar a natalidade. Será que, se escaparmos do Apocalipse atômico, não iremos soçobrar sob o impacto da bomba populacional? Aí então, talvez passemos a viver, outra vez, mais tempo como desencarnados.

CAPÍTULO XIX REENCARNAÇÃO PALAVRAS FINAIS A CONDENAÇÃO DAS IDEIAS DE ORÍGENES Em 1994, na cidade de Belo Horizonte, Minas Gerais, foi lançada pela Editora Martin Claret a obra do teólogo, Professor José Reis Chaves, A Reencarnação Segundo a Bíblia e a Ciência. No ano 2000, surgiu a 5a edição desse importante livro. Começamos este último capítulo do nosso presente trabalho, mencionando a notável obra do nosso amigo e mestre José Reis Chaves, porque ela veio preencher uma k importante lacuna acerca da reencarnação, especialmente » aqui no Brasil onde predominam as religiões judaico-cristãs, W todas elas fortemente fundamentadas na Bíblia. Em países como o nosso querido Brasil, onde a cultura ainda está deficitária, especialmente no que tange às noções fundamentais acerca da Ciência e seus valores epistemológicos, a maioria dos leitores se apega sobretudo a dados de natureza doutrinária, especialmente às opiniões de líderes religiosos e até políticos, para apoio de suas crenças tanto religiosas, como científicas. Outro livro muito, importante, do mesmo autor, A Face Oculta das Religiões, veio completar o notável trabalho de esclarecimento acerca do valor das afirmações bíblicas, particularmente no caso da ideia da reencarnação. Muito embora a ideia da reencarnação se torne simpática a grande número de pessoas, até mesmo às de outros credos religiosos, incluídos

alguns católicos, um vasto contingente de indivíduos não aceita a reencarnação, alegando que a Bíblia é contrária à mesma. Algumas traduções bíblicas também estão eivadas de imprecisões e, até mesmo, de adulterações propositais, visando afastar, cada vez mais, seus adeptos das ideias reencarnacionistas e de outras propostas pelo avanço científico atual. Esse fato é muito grave, porquanto contribui para aumentar mais as crenças errôneas que pululam nos meios malinformados acerca da Ciência. A História tem mostrado os péssimos resultados advindos do fanatismo ignorante e, na maioria das vezes, autoritário. Muitas vidas preciosas foram sacrificadas no passado. Tais condenações à morte eram, então, precedidas de torturas inomináveis e aplicadas pelo simples “crime” de pensar-se contrariamente ao que se afirmava como dogma divino, revelado pela “palavra de Deus”. Sugerimos, também, a leitura do livro de autoria dó filólogo, Prof.' Severino Celestino da Silva, intitulado: Analisando as Traduções Bíblicas, publicado pelo Núcleo Espírita “Bom Samaritano”, de João Pessoa, Paraíba, em março de 2000, atualmente, em sua segunda edição. Essa obra é igualmente importante para demonstrar que muitas pessoas pensam estar refletindo apoiadas em sólidos elementos informativos, quando, na realidade, foram erroneamente informadas por «indivíduos e obras cujos autores ignoram a realidade dos fatos. Atualmente, qualquer pessoa que saiba acessar a Internet, poderá obter informações, inclusive, de documentários históricos sobre diversos assuntos, até há pouco, interditados à análise devido à sua antiguidade e raridade como obras ou registros dos mesmos. Por exemplo: O Quinto Concilio Ecumênico Constantinopla II, 553 da nossa era; este Concilio é muito importante, porque foi nele que se lançaram os fundamentos do

dogma anti- reencarnacionista que predomina nas religiões judaicocristãs do Ocidente. Por esse documentário, acessível a qualquer pessoa, fica-se sabendo que tal Concilio não devia ter validade universal, pois não foi convocado pelo Papa Vigilius que, na ocasião, achava-se prisioneiro do Imperador Justiniano I. Vamos, por curiosidade, transcrever o início da introdução histórica desse célebre Concilio, contida na obra “Hefele, History ofthe Councils, Vol. IV, p.289”: “In accordance with the imperial command but M without the assent of the Pope, the synod was opened on the H 5th of May A.D. 553, in the Secretarium of the Cathédral W Church at Constantinople. Among those présent were the Patriarchs, Eutychius of Constantinople, who presided, Apollinaris of Alexandria, Domninus of Antioch, three bishops as représentatives of Patriarch Eustochius of Jérusalem, and 145 other metropolitans and bishops, of whom many came also in the place of a sent colleagues.” [De acordo com ordens do Imperador mas sem o consentimento do Papa, o Sínodo foi aberto em 5 de maio de 553 da nossa era cristã, na Secretaria da Igreja Catedral em Constantinopla. Entre os presentes achavam-se os Patriarcas Eutichius de Constantinopla, quem presidiu, Apollinaris de Alexandria, Domninus de Antióquia, três bispos como representantes do Patriarca Eustochius de Jerusalém, e 145 outros bispos metropolitanos e bispos, dos quais vários vieram também em lugar de colegas ausentes.) Um dos objetivos desse Concilio foi a condenação da heresia de Orígenes, entre cujas afirmativas encontra-se a asserção da preexistência das almas. Devido à extensão das atas que compõem o documento em questão, permitimo-nos ficar neste ponto, sugerindo aos demais interessados uma consulta ao site da Encyclopaedia Britânica. É

importante que se diga ainda que a Encyclopaedia Britânica define Orígenes como “o mais distinto e ilustre entre todos os teólogos da antiga Igreja”, Orígenes ensinava a preexistência da alma, segundo a ideia Platônica. Os outros que tiveram a mesma ideia (de Platão e Hermes Trismegisto) foram Agostinho e Clemente, também Pais da Igreja. Resumindo: no Século VI, o Imperador Justiniano I, chefe do Império do Oriente declarou guerra aos discípulos de Orígenes. No Sínodo de 553, em Constantinopla, os seus ensinos foram condenados. Em 553, foram também publicados os anátemas contra Orígenes e sua doutrina da preexistência da alma. Ficou claro que o V Concilio Ecumênico: Constantinopla II, 553 fói promovido pelo Imperador Justiniano e conduzido por bispos orientais manobrados pelo próprio Imperador Justiniano, sem nenhum representante de Roma. É estranho que a Igreja católica e, mais tarde, a protestante hajam adotado as mesmas ideias, ao que parece, sem razões fortes para semelhante adoção.

A PESQUISA DA REENCARNAÇÁO É RIGOROSAMENTE CIENTÍFICA Muitas pessoas podem pensar que a ideia da reencarnação não passa de mero dogma, adotado por antiquíssimas filosofias religiosas. Outras acreditam, por ouvir dizer, que o dogma da reencarnação é característico das religiões do Oriente. A sua aceitação representaria uma heresia, se realizada por algum crente de uma das religiões judaico-cristãs atuais. (Catolicismo, Protestantismo e seitas derivadas). Entretanto, a reencarnação está sendo, desde o ano de 1960 investigada por cientistas legítimos e isentos de crenças religiosas quaisquer. Seria impossível alinhar, nas páginas deste livro, todos os estudos e reflexões já publicados acerca da reencarnação. Os resultados desta investigação rigorosíssima que vem sendo levada a efeito está, a cada dia que passa, demonstrando de maneira insofismável que não só a criatura humana mas tudo o que é vivo acha-se sujeito à lei da reencarnação. Além disso, as consequências deste estudo tendem a esclarecer muitos enigmas biológicos, inclusive o porquê da evolução biológica. Aos que desejarem por-se a par de uma parte das discussões e avanços nesse campo de investigações parapsicológicas, sugerimos a leitura do trabalho de James G. Matlock: “Past Life Memory Case Studies”, constante do Vol. VI, da publicação Advances in Parapsychology Research, editado por Stanley Krippner Saybrook Institute, San Francisco, California; Mc Farland & Company, Inc. ,

Publishers; Jefferson, N, C. & London, 1990, pp, 185 a 267. Nesse estudo de casos de reencarnação investigados pelo Prof. Ian Stevenson e inúmeros outros cientistas, inclusive alguns associados ao professor Stevenson, o leitor encontrará uma extensa análise e avaliação a respeito do renascimento, feitas por rigorosos críticos e competentes pesquisadores acerca das evidências da reencarnação. Não se trata de banais discussões em tomo de crenças, opiniões e histórias mal narradas. As discussões e argutas críticas varrem um extenso espectro de tentativas para explicar-se, de forma científica e positiva, o estranho fenômeno de crianças que se recordam, com precisão, de vidas anteriores por elas vividas. São recordações rigorosamente registradas e criteriosamente testadas mediante investigações, tanto da parte daqueles que formam o elenco dos parentes e amigos do paciente, quanto por parte da personalidade que o paciente alega haver sido. Incluem-se a sua parentela e pessoas que foram seus amigos e conhecidos. Quando o paciente apresenta marcas-de-nascença, esta pesquisa toma-se ainda mais rigorosa, implicando na análise e investigação das causas físicas de tais marcas-de-nascença, que teriam sido observadas na personalidade anterior. A propósito dos casos de reencarnação em que se observam marcas-de- nascença nas crianças que se recordam da sua vida anterior, sugerimos ao leitor uma nova leitura do capítulo VIII deste mesmo livro,

cujo título é “Como está a pesquisa da

reencarnação?” Ali, no referido capítulo, fornecemos informações precisas sobre a mais recente obra do Dr. Ian Stevenson, cujos títulos são os seguintes: 1 ) Where reuncarnation and Biology Intersect: A Synopsis. (Stevenson, 1996). 2) Reuncarnation and Biology: A Contribution to the Etiology of Birthmarks

and Birth Defects. Volume I: Birthmark, (1200 páginas). Volume II: Birth Defects and Other Anomalies, (1100 páginas, (Stevenson, 1997). Conhecemos pessoalmente o Prof. Stevenson e tivemos a honrosa oportunidade de participar com ele do estudo e investigação de um caso de reencarnação com marcas-de-nascença, Desse modo, fomos testemunha pessoal do rigor, imparcialidade e seriedade com que esse Cientista trata dos casos que sugerem reencarnação. E preciso que se tenha o convívio pessoal com essas pessoas dedicadas a estudos de fenômenos que dizem respeito à criatura humana. São indivíduos, como no caso de Ian Stevenson, absolutamente isentos de preconceitos e votados unicamente à descoberta da verdade. De um modo geral são criaturas discretas que evitam afirmar peremptoriamente, sem achar-se solidamente apoiadas em fatos repetidamente observados e discutidos com profundidade e isenção de qualquer crença ou interesse material. Um bom exemplo de modificação de opinião acerca da reencarnação, obtida pelo convívio com o pesquisador durante sua tarefa de levantar casos de renascimento, é aquilo que o premiado jornalista Tom Shroder relata em seu fascinante livro Almas Antigas — A busca de evidências científicas da Reencarnação, publicada pela Editora Sextante (GMT Editora Ltda.) Rio de Janeiro, (2001). Esse livro de Tom Shroder deveria ser lido por todos aqueles que

se preocupam com os problemas da vida após a morte e a possibilidade do renascimento, através da reencarnação. Não digo só aqueles que “creem” na reencarnação, mas principalmente aqueles que se preocupam em negá-la. E bom que se saiba, antecipadamente, que Tom Shroder não acreditava na possibilidade da reencarnação. Como jornalista ele buscava, antes, dar uma notícia, favorável ou desfavorável, acerca da reencarnação. Para isso, inteligentemente e de acordo com a boa praxe do jornalismo, Shroder procurava o “sim” ou o “não” a respeito dessa crença e da sua fundamentação racional e

empírica. Para ter-se uma ideia do comportamento do Prof. Ian Stevenson, como afirma a obra em questão, o seu autor Tom Shroder “levou muitos anos para convencer o professor Stevenson, agora com oitenta anos, a permitir-lhe acompanhar sua pesquisa de campo primeiro no Líbano, depois na índia e, finalmente, no sul dos Estados Unidos, tornando-se o primeiro jornalista a desfrutar de tal privilégio." (Opus cit. Primeira orelha do livro, la edição, traduzida no Brasil por Simone Lemberg Reisner.)

A TERAPIA DE VIDAS PASSADAS A terapia de vidas passadas, tal como nós a entendemos atualmente, começou a ser implantada aqui no Brasil a partir de 1979, quando o casal Feres tomou conhecimento dos trabalhos do Dr. Morris Netherton, cujo livro foi lançado em 1979 nos EE. UU., época em que o referido casal achava-se naquele país. Atualmente a terapia de vidas passadas está difundida em todo o mundo além do Brasil, onde ela encontra boa acolhida entre os psicólogos e o público. Embora a terapia de vidas passadas seja estritamente usada como uma terapêutica e não como uma forma de satisfazer a curiosidade de quem teria sido o paciente em uma vida anterior, ela poderá representar uma evidência da reencarnação. É preciso que se saiba que a terapia de vidas passadas não é unanimemente aceita como uma recordação de fatos vividos pelo paciente em uma encarnação anterior. Por conseguinte ela podería ser apbcada por um psicólogo inteiramente materialista, ou não reencarnacionista. Do mesmo modo, ainda que o paciente não acredite na reencarnação, a referida terapia podería ter êxito assim mesmo,

desde que “fantasias” sejam “recordadas” como se fossem traumas do passado implicados nos sintomas mórbidos do presente. Alguns casos de cura já têm ocorrido nessas condições. Este fato, por conseguinte, diminui a força dessa terapia, como evidência da reencarnação. Entretanto, sua validade no sentido de apoio à ideia da reencarnação poderá ocorrer, se houver possibilidade de comprovar as afirmativas do paciente. Tal comprovação deveria ser feita, rigorosamente, comparando-se os fatos, os locais e as datas mencionadas, durante o transe, pelo paciente, com idênticos dados obtidos em sondagens feitas a propósito. Tais operações, como pode verse, não são facilmente realizáveis na prática comum de uma terapia.

A IMPORTÂNCIA DO RECONHECIMENTO DA REENCARNAÇÃO COMO IDEIA E FATO REAL

Seria importante que todos nós tivéssemos a prova científica da reencarnação como fato real e incontroverso? Essa pergunta podería estar sendo feita por Você, neste momento, caro leitor. Sem dúvida, seria muito importante, especialmente quando paramos um pouco para refletir, em meio ao turbilhão de ideias e informações, que nos envolve a cada instante, na tumultuária época em que vivemos. Ora são fatos inesperados que atingem diretamente a nossa saúde, os nossos negócios, os nossos relacionamentos; ora são perdas bruscas de parentes e amigos, que desaparecem de um momento para outro, muitas, vezes precedidas de sofrimentos físicos que ferem duramente nossa sensibilidade. Há momentos em que, chocados por todos os lados e ao mesmo tempo, aturdidos, não sabemos o que fazer, qual o rumo a tomar. Nessas ocasiões, precisamos urgentemente de acalmar- nos para refletir e escolher as solução para os nossos problemas graves, para os nossos desesperos e dores aparentemente sem alívio a curto prazo. Algumas pessoas lançam mão até de remédios ou drogas que as “desliguem” momentaneamente dos problemas, a fim de ganhar tempo e poder, mais tarde refletir, buscando solução para os mesmos. E, ao correr dos numerosos acontecimentos diários, bem como nos momentos de impacto com os maus sucessos que nos surpreendem, às vezes, nas ocasiões mais difíceis de nossa vida, que precisamos estar preparados para refletir serenamente, para não perdermos totalmente a esperança de encontrar uma saída para nossas dificuldades. A certeza absoluta de que ninguém morre definitivamente e de que outras vidas e outras oportunidades sempre surgirão no futuro, assim como já vivemos antes e superamos nossos problemas, certamente contribuirá para nos acalmar. A certeza da reencarnação é equivalente à expectativa de um socorro que chegará infalivelmente e nos salvará. Só esse fato já

justificaria a busca pela certeza da reencarnação, certeza esta que já estamos adquirindo mediante os rigorosos métodos da Ciência positiva. No passado, inúmeros outros pensadores: filósofos, religiosos, intelectuais, etc. deixaram o seu testemunho pessoal acerca da realidade da reencarnação. Infelizmente interpretações equivocadas deram origem a dogmas anti- reencarnacionistas prejudicando um sem-número de adeptos, bem como favorecendo a indiferença dos cientistas para uma questão tão importante. Atualmente, vemos que o conhecimento das leis da reencarnação poderá também trazer subsídios importantes para a Ciência, mediante um melhor conhecimento da natureza do homem. Um dos pontos que nos parecem interessar mais de perto são os problemas da genética, principalmente o mecanismo, ainda pouco conhecido, da correlação entre a forma do ser vivo e a sua composição cromossômica. No campo da psiquiatria e da psicologia, acreditamos que o conhecimento das leis da reencarnação trará imensos benefícios e poderá ajudar bastante na cura das doenças psicossomáticas. Talvez se esclareçam os casos de tendências para a genialidade, a homossexualidade, senso artístico em geral, assim como as manifestações de inclinação para um comportamento criminoso. Aguardemos a época em que tudo isso e muito mais decorrerá como benéfico e ajuda para a felicidade das criaturas humanas, consolo para a perda de entes amados, partindo de um melhor conhecimento das leis que governam kO renascimento. Finalmente, teremos, na certeza da reencarnação, a resposta para o grande enigma de qual é o nosso destino após a morte e da nossa finalidade no Universo; se somos ou não imortais...

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Notas [←1] Dra. Julika Kiskos reporta-se a um caso de homossexualismo implicado com reencarnação, que havíamos pesquisado naquela época. Por questões de ética, ainda não podemos revelar a identidade do paciente.

[←2] Prof. HEMENDRA NATH BANERJEE (1929-1985). Foi diretor do Departamento de Parapsicologia da Universidade de Rajasthan, índia. Iniciou uma série de investigações acerca de diversos casos de crianças que se lembravam de suas vidas anteriores. Em 1979, já possuía uma coleção de 1100 (mil e cem ) casos que sugerem reencarnação. Faleceu em 1985, nos EE. UU.

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