Violao 15

October 1, 2017 | Author: Guto Domingues | Category: Guitars, String Instruments, Classical Guitar, Orchestras, Pop Culture
Share Embed Donate


Short Description

revista...

Description

+

Camilo Carrara A visão diferente do músico publicitário

VIOLAO

Ano 2 - Número 15 - Novembro 2016 www.violaomais.com.br

E mais:

Quarteto Maogani

A história da viola de 12 cordas Arpejos, aproximação cromática e notas alvo “Odara”, de Caetano Veloso, para você tocar Software: Sibelius e seus sucessores Aspecto sonoro dos intervalos

Sonoridade diversificada e consolidada

52 PEÇAS FACEIS O roteiro de estudo de Paulo Porto Alegre

editorial

Já está chegando o Natal? Estou parecendo aquele cara que fica olhando a vida e falando: olha, como passou rápido! Pois é, nem deu para sentir este mês! Em um ano difícil, cheio de acontecimentos no Brasil e no mundo, temos que celebrar a vida e a música. Violão+ número 15 traz em sua capa o quarteto Maogani, fomado há mais de vinte anos por estudantes da UFRJ. Com carreira sólida e vários trabalhos registrados em CD, são de uma qualidade impressionante, com arranjos muito bem cuidados e execução absolutamente perfeita, sem deixar de ser emocionada. A entrevista deles é fantástica, revelando, inclusive, um disco gravado há mais de sete anos, que só será lançado no ano que vem! Na seção Retrato, trazemos Camilo Carrara, que é, definitivamente, um cara diferente. De técnica impressionante como violonista, é também arranjador, compositor, professor... Até aí, tudo bem. Mas estudar linguística e marketing, isso não tinha visto ainda! Sua entrevista está cheia de visões diferentes da que um músico normalmente tem. Trazemos também Paulo Porto Alegre, nos oferecendo um trabalho incrível para quem procura novos materiais para lecionar e para quem está começando a tocar violão a sério: ele nos faz uma análise das suas 52 Peças Fáceis para violão. O detalhe: esse material ele oferece gratuitamente. Outro presente nos dá Junior da Violla, com a história da viola de seis ordens e 12 cordas, rara, mas de sonoridade e extensão maravilhosas! Na seção Você na V+, Micael Chaves, jovem violonista, já com carreira consolidada, seguindo os mestres da família Assad. Na seção Em Pauta, você fica sabendo dos principais lançamentos, novos trabalhos e shows de grandes artistas. Nossas colunas técnicas não deixam por menos: cada vez melhores. Leia! Comente! Compartilhe! Violão+ é para você. Espero que goste! Luis Stelzer Editor-técnico

+

VIOLAO Ano 2 - N° 15 - Novembro 2016

Os artigos e materiais assinados são de responsabilidade de seus autores. É permitida a reprodução dos conteúdos publicados aqui desde que fonte e autores sejam citados e o material seja enviado para nossos arquivos. A revista não se responsabiliza pelo conteúdo dos anúncios publicados.

Editor-técnico Luis Stelzer [email protected] Colaboraram nesta edição Eduardo Padovan, Fabio Miranda, Felipe Coelho, Junior da Violla, Paulo Porto Alegre, Reinaldo Garrido Russo, Ricardo Luccas, Samuca Muniz, Saulo Van der Ley, Valéria Diniz e Thales Maestre

índice 4 Você na V+

55 Iniciantes

6 Em Pauta

60 Tecnologia 70 Viola Caipira 74 De Ouvido 30 Quarteto Maogani 40 Especial

44 Em Grupo

10 Retrato

49 Sete Cordas

78 Flamenco

20 História

52 Siderurgia

80 Coda

Publisher e jornalista responsável Nilton Corazza (MTb 43.958) [email protected] Gerente Financeiro Regina Sobral [email protected] Diagramação Sergio Coletti [email protected]

Foto de capa Silvana Marques Publicidade/anúncios [email protected] Contato [email protected] Sugestões de pauta [email protected]

Rua Nossa Senhora da Saúde, 287/34 Jardim Previdência - São Paulo - SP CEP 04159-000 Telefone: +55 (11) 3807-0626

você na violão+ Edição 14 Parabéns a toda a equipe da Violão+ pelo maravilhoso trabalho. A cada mês espero ansioso pela revista, matérias, entrevistas de excelente qualidade, obrigado pela dedicação. Só me resta apreciar este material! (Thiago Campos, por e-mail) A revista para quem gosta de ouvir e tocar violão. O Brasil sempre teve e tem grandes e influentes violonistas. Aqui, esse instrumento é tocado de forma diferente. Já começa pelo nome: nada de guitarra, aqui é VIOLÃO! Abram, conheçam a revista, é fácil, bonita, bemfeita, digital e grátis. (Norma Nacsa, em nossa página no Facebook) Excelente a matéria sobre Henrique pinto. Parabéns! (Miriam Bemelmans, por e-mail)

Mostre todo seu talento! Os violonistas do Brasil têm espaço garantido em nossa revista. Como participar: 1. Grave um vídeo de sua performance. 2. Faça o upload desse vídeo para um canal no Youtube ou para um servidor de transferência de arquivos como Sendspace.com, WeTransfer.com ou WeSend.pt. 3. Envie o link, acompanhado de release e foto para o endereço [email protected] 4. A cada edição, escolheremos um artista para figurar nas páginas de Violão+, com direito a entrevista e publicação de release e contato. Violão+ quer conhecer melhor você, saber sua opinião e manter comunicação constante, trocando experiências e informações. E suas mensagens podem ser publicadas aqui! Para isso, acesse, curta, compartilhe e siga nossas páginas nas redes sociais clicando nos ícones acima. Se preferir, envie críticas, comentários e sugestões para o e-mail [email protected] 4 • VIOLÃO+

você na violão+

seguindo os mestres Micael Chaves é de Santo André, cidade do ABC paulista. Começou a estudar com Jorge Assad, patriarca de uma família de músicos - pai de Sérgio e Odair, mais conhecidos como Duo Assad, e Badi. Estudou harmonia com José Roberto Vital e violão com Henrique Pinto. Depois, ingressou no Conservatório de Tatuí, onde concluiu curso ministrado por Geraldo Ribeiro. Fez turnê pela Alemanha com a orquestra de Violões & Cia., também to-

cou em um concerto solo no “Junge Gitarrensolisten de Heidelberg”. O trabalho eclético de Chaves é um diferencial. Atualmente, toca em musicais pela cidade de São Paulo e outros estados. Participou, em 2015, do I Festival Assad, tocando em trio com o próprio Duo Assad. É professor de violão da prefeitura de São João da Boa Vista, cidade natal dos Assad, onde se realiza o festival. Também é professor de violão e bandolim.

VIOLÃO+ • 5

EM PAUTA

CROWNDFUNDING

O violonista argentino radicado no Brasil Conrado Paulino está lançando o projeto A Canção Brasileira, que será realizado por meio de crowndfunding. A palavra é complicada, mas, atualmente, essa é uma das formas de viabilizar novos trabalhos: o financiamento coletivo. O crowndfunding é a troca de fundos por produtos e serviços, e quem apoia a iniciativa pode receber de CDs gravado a shows particulares. Para participar, basta clicar no ícone.

6 • VIOLÃO+

EM PAUTA Quem também está viabilizando novo trabalho pelo crowndfunding é Diego Salvetti, violonista italiano radicado no Brasil. O álbum O Brasil Me Pegou apresenta músicas compostas pelo próprio artista homenageando cidades, estados ou paisagens típicas dos estados brasileiros. Clique no ícone para apoiar o projeto.

MAIS CROWNDFUNDING FESTIVAL E DOCUMENTÁRIO Um documentário sobre a carreira e o novo projeto, Hora Certa, de Felipe Coelho, abre o Festival de Música de Foz do Iguaçu, no fim de novembro. Coelho, um de nossos novos colaboradores, é um virtuose do violão, possui domínio técnico fantástico e é grande pesquisador. Utiliza técnicas da música erudita, popular, flamenco e jazz, com extrema fluência, compondo e arranjando, com a mesma qualidade, para violão solo, pequenas formações, orquestra e trio. Além do documentário e de se apresentar em recital, Felipe coelho ministrará oficinas dos dias 23 a 27.

VIOLÃO+ • 7

EM PAUTA

PARA ENTENDER DILERMANDO O violonista professor da UNICAMP Gilson Antunes irá dissertar sobre a vida, a obra e o legado de Dilermando Reis, um dos principais nomes da história do violão no Brasil. A obra de Dilermando é constantemente executada tanto por músicos clássicos quanto populares, já tendo sido revisitada por instrumentistas como Raphael Rabello, Turíbio Santos, Baden Powell e muitos outros. Com imensa discografia, na qual imortalizou obras

8 • VIOLÃO+

de autores como Américo Jacomino “Canhoto” e Mozart Bicalho, além de ter gravado com músicos de renome como Francisco Petrônio e até com orquestras sinfônicas, Dilermando Reis é um dicionário perpétuo sobre o violão brasileiro. A palestra será realizada no dia 21 de novembro, no Centro de Pesquisa e Formação do Sesc, em São Paulo e as inscrições devem ser feitas antecipadamente neste link.

EM PAUTA

CATAMARÃ Recentemente lançado, o CD Catamarã, do violonista, arranjador, multi-instrumentista e compositor André Siqueira, é realmente muito diferente. Segundo suas próprias palavras, uma tentativa de releitura do modernismo dos anos 1920, flertando com as técnicas de composição do século 20 e a cultura brasileira de matriz rural. Clique na capa do álbum para conhecer o trabalho.

L’Arpeggiata A musicista Christina Pluhar criou, no ano 2000, o conjunto vocal e instrumental L’Arpeggiata que, em uma década e meia de atividades, se consolidou como um dos mais importantes e interessantes com base na música antiga. Construída em torno das cordas dedilhadas, a sonoridade do grupo revive repertório do início do século 17. O conjunto, sediado na França, reúne artistas de diversas origens musicais e estará se apresentando em São Paulo nos dias 30 de novembro e 1º de dezembro, no SESC Bom Retiro. VIOLÃO+ • 9

Camilo Carrara

10 • VIOLÃO+

Por Luis Stelzer © Tiago Sormani

RETRATO

RETRATO

Uma visão diferente O violonista Camilo Carrara fala sobre música, carreira, publicidade, marketing, mercado e muito mais Camilo Carrara é um daqueles casos em que você se cansa só de olhar para o currículo. Já fez muita coisa! Tocou, ganhou concurso, compôs, improvisou, tocou com orquestra, arranjou, trabalhou como produtor musical, estudou muito, gravou muito, acompanhou cantores, escreveu para outros instrumentos, compôs para orquestra, deu aulas em tudo o que é lugar... Não para um segundo! Nessa agitação toda, além do violão e da música, foi estudar linguística e... marketing! Com toda essa correria, um cara amável, disposto, colaborativo. Como ele lida com tudo isso, a gente sabe agora, neste papo bem legal

FFLCH-USP. Sempre tive interesse pelo universo das letras e tenho muito orgulho de ter estudado lá. Uma pena não ter conseguido me formar. Faltou tempo para conciliar o volume de trabalho com o estudo. Tive aulas com nomes como Adélia Bezerra de Menezes, Luiz Tatit, José Miguel Wisnik e Alfredo Bosi, apenas para citar alguns. Dessa época, trago a paixão desses mestres pela tradição que aborda a importância e a beleza da linguagem, da forma como a poesia se manifesta em todas as artes, da reflexão sobre a Comunicação em seus vários níveis. A especialização em marketing foi mais recente e fez parte de uma mudança no meu eixo de atuação. Em 2010, Chama a atenção um músico ter passei a focar na área da Comunicação, formação em marketing e em trabalhando em produtora de som para linguística, além do bacharelado. publicidade e senti necessidade de mais Como tudo isso colabora para todas conhecimento nessa área. Percebi que as suas atividades? era uma lacuna na minha formação. Sempre fui interessado e curioso por Por conta disso, fiz um MBA em Gestão outras áreas e sinto que, no fim das de Marketing Estratégico na FEAcontas, tudo vai se complementando. USP. O curioso é que o que realmente Depois que me formei em música pelo me motivou a estudar marketing foi Departamento de Música da ECA-USP, descobrir o “sound branding” ou “music ingressei no curso de Linguística, na branding”. Meu trabalho de conclusão foi VIOLÃO+ • 11

RETRATO

justamente sobre essa disciplina que trata da identidade sonora das marcas e a sua influência no desempenho das organizações. Procurei mostrar de que forma a integração dos sentidos humanos - visão, audição, tato, olfato e paladar - foi incorporada às estratégias de comunicação das marcas. Só para ter uma ideia, os estudos apontam que é possível moldar a percepção de um “bem” ou de um “serviço” por meio de estímulos sensoriais, evidenciando tanto aspectos positivos quanto negativos das marcas. Ou seja, em grande medida, a “utilização consciente” dos sentidos configurase como um artifício de diferenciação 12 • VIOLÃO+

competitiva, sobretudo para as marcas cujos atributos físicos, as características técnicas ou os preços são facilmente imitáveis. É uma área muito interessante para nós músicos e tenho dado consultoria nesse campo. Também pretendo abrir uma empresa de marketing sensorial. Suas atividades extrapolam em muito o que normalmente se espera de um violonista. Como faz para dar conta de tamanha agenda? Às vezes fico sem dormir e ganho uns novos cabelos brancos, mas, de forma geral, aprendi a priorizar alguns projetos mais valiosos.

RETRATO ainda não estava muito aberto para esse universo. Só queria saber de clássico. Ouvia, sem parar, John Williams, Julian Bream, Los Romeros, irmãos Assad, Duo Abreu, entre outros. Depois de alguns anos, caiu a ficha do quanto foi importante estudar com o Valdo. Logo na sequência, fui estudar com o Paulo Porto Alegre, no Conservatório do Brooklin. Aí foi muito marcante. O ambiente do Conservatório era fora de série e o Paulo mudou a minha vida em vários sentidos. Lembro da primeira aula: “Fantasia X”, de Mudarra. Além de toda a parte técnica, som, postura, ele fez uma análise formal da peça, algo que nunca tinha visto. Dali em diante levei o violão muito a sério. Com ele, aprendi a organizar o tempo e ter método de estudo; me ajudou a abrir a cabeça, ter menos preconceito e a ser menos careta. Quando decidi fazer música Quais foram os professores que mais na faculdade, por exemplo, ele sentou marcaram a sua vida? Pode falar um comigo e fez um superplanejamento. O pouco deles, no que cada um foi Paulo foi um paizão, devo muito a ele. importante? Por fim, meu último professor regular de Minha primeira professora, Célia Trettel, violão clássico foi o Edelton Gloeden, foi incrível. A aula era muito leve. na USP. Eu já tinha estudado com o Lembro que ela tocava as peça novas Edelton durante o CIVEBRA, Festival pra ver se eu gostava e daí me pedia para ler. Com ela, também aprendi a ter respeito pelo instrumento. Sabe aqueles pequenos gestos que fazem a diferença: lavar as mãos antes de tocar, limpar o violão, guardar bem guardado. Ela me apresentou a música de forma muito lúdica. Depois de alguns anos, minha família voltou para São Paulo e tive aula por seis meses com o Valdo Luir, no CLAM. O Valdo começou a introduzir o violão popular, a me fazer tocar de ouvido. O maluco é que, nessa época, © Tiago Sormani

Como foi a sua trajetória inicial na música? E o violão, quando chamou sua atenção? Comecei a estudar música com 10 anos, em Itu, no interior de São Paulo. Minha família é de São Paulo, mas vivemos lá por quatro anos. Nessa época, meu pai resolveu que todos em casa deveriam estudar algum instrumento. Eu queria tocar bateria, mas como não tinha no conservatório da cidade, optei pelo violão, que era o instrumento escolhido pelo meu vizinho e melhor amigo! Ou seja, foi totalmente sem querer! Tive a sorte de ter sido aluno de violão da Célia Trettel, que, por sua vez, era aluna do Pedro Cameron. Comecei tocando o repertório clássico e lendo partitura. Fui pegando gosto e, com três anos de violão, ganhei um concurso nacional, o Marcelo Tupinambá.

VIOLÃO+ • 13

RETRATO

© Tiago Sormani

de Música em Brasília, em 1983. Foi marcante. Aliás, foi lá que decidi ser músico profissional. O Edelton também foi fundamental na minha formação. Com ele fiz uma super-reestruturação técnica. Foram anos aprimorando o som e a postura da minha mão esquerda. Com ele aprendi a colocar a música acima do instrumento. Também desenvolvi o gosto pela música da câmara, além de ampliar o tipo de repertório. O Edelton é reconhecido no meio pela sua cultura musical vastíssima. E também por ser um paizão. Muita sorte a minha! Na área do violão popular, meu grande mestre foi o Conrado Paulino. Estudei anos com ele e aprendi tudo: montar e inverter acorde, escala, improvisação, levadas, tocar de ouvido. Dele, trago o rigor com a harmonia e na escolha das notas pra improvisar. Também frequentei muitos cursos avulsos com grandes nomes do violão como Turíbio Santos, Ulisses Rocha, Ralph Towner, Orlando Fraga, Paulo Bellinati, Marco Pereira, Marcus Llerena, Giacomo Bartoloni, Jaime Zenamon. Destacaria também meus professores de guitarra e improvisação: Fernando Corrêa, Paulo

14 • VIOLÃO+

Hidelbrand, Nelson Faria. Trago um pouco de todos eles. Você tem trabalhos com grandes cantores. No que difere o trabalho de música instrumental para o cantado? Quais são as principais diferenças para o violonista, se existem? Tive a sorte de acompanhar grandes cantores e cantoras e isso fez toda a diferença na minha formação como intérprete. De fato, vejo que os cantores têm outra relação com a música, comparando com os instrumentistas. Vejo isso na importância que eles dão ao texto das canções, na respiração das frases e mesmo na postura de palco. Os cantores estão mais próximos dos atores com relação ao respeito pelo palco como um lugar especial. Musicalmente falando, acho que uma das coisas mais importantes é de assumir ser parte da “cozinha”. Segurar uma bela base. Essa é a grande qualidade do acompanhador. Você tem um sólido trabalho como professor, atuando inclusive no exterior. A veia de ensinar sempre esteve presente ou foi uma consequência dos trabalhos realizados? É verdade, gosto muito de ser professor. O curioso é que demorei para começar. Não me sentia preparado. Foi na faculdade, durante o Festival de PradosMG, em que os alunos da USP iam pra tocar e dar aulas, que me arrisquei pela primeira vez. Ali, peguei gosto! Sinto que é uma forma de transmitir o legado que aprendi e tenho a obrigação de repassar. Coisa minha. Em se tratando especificamente de pedagogia musical,

o meu grande mestre é o Ricardo Breim, que foi o responsável pela área de música dos PCNs (os Parâmetros Currilulares Nacionais, do Governo Federal). Com ele, aprendi a refletir profundamente sobre pedagogia musical. Aplico cada conhecimento que aprendi com ele. O Ricardo é fora de série, um dos nossos principais pedagogos. No meio musical, você é elogiadíssimo não só em sua performance, impecável e original, mas também como diretor e produtor musical. Conte sobre alguns de seus principais trabalhos como diretor ou produtor musical. Aos poucos, fui abrindo essa frente na minha carreira. Comecei a fazer direção musical para teatro e a compor trilhas para dança. Com o tempo, investi em tecnologia de áudio. Aprendi a trabalhar com editores de partitura, primeiro com o Encore, depois com o Sibelius e, na sequência com o Logic, programa de gravação e produção de áudio. Hoje, é o meu programa do dia-a-dia. Posso dizer que domino muito bem esse software. Com essas ferramentas, posso cobrir todas as etapas para realização de um CD ou de um espetáculo, por exemplo. Ou seja, faz parte do meu escopo: criar, arregimentar músicos e estúdios, gravar, editar, mixar e masterizar. Comecei fazendo arranjos para bandas como Meas Palavras (nos anos 80 e 90), Kibe Kru, Café com Menta. Fiz direção musical do Projeto Nascente (Prêmio Abril, da USP). Produzi a cantora Fortuna, a Carmina Juarez. Compus para cinema “Além das Horas”, curta-metragem de Eliane Coster, que ganhou o prêmio Crônicas da Cidade,

© Tiago Sormani

RETRATO

da Prefeitura de São Paulo, e do 19º Cinérail d’Or du Documentaire, no Festival Cine-Rail, em Paris, França. Na área da dança, destaco meus trabalhos com a bailarina e diretora Susana Yamamuchi. Compus a trilha de Wabi Sabi e Pedrinho Brasilândia, sobre Petruska de Stravinsky. Nos últimos cinco anos, tenho produzido o Natal do Palácio Avenida, em Curitiba. Sou responsável pelo CD e pela trilha do espetáculo, considerado um dos maiores branded contents do Brasil. Reúne mais de 400 mil pessoas todo ano e, atualmente, é realizado pelo Bradesco. É uma forma das marcas gerarem conteúdo para se conectar afetivamente com seus consumidores. E os trabalhos com Orquestra? Para muitos, é o ápice da carreira. Como é para você? O que muda em uma apresentação instrumental com banda para tocar com uma orquestra? Quais foram os seus principais concertos? Tocar com orquestra é um sonho. É uma delícia ouvir aquela profusão de sons e sentir a energia que acontece ali entre VIOLÃO+ • 15

© Tiago Sormani

RETRATO

os músicos. É um privilégio. Tenho uma história longa de participações, não apenas como solista, mas, principalmente, como músico convidado ou “músico extra”. Comecei tocando bandolim na 7ª Sinfonia de Mahler, com regência do Eleazar de Carvalho. Por conta da minha leitura e do meu treinamento em música clássica, tenho sido chamado pelas orquestras para tocar todos os instrumentos de cordas dedilhadas quando precisam. Assim como os compositores usam o piano na orquestra, não como solista, mas como uma “cor” a mais, vários deles incluíram bandolim, banjo, guitarra elétrica, violão e até serrote! Com isso, 16 • VIOLÃO+

já toquei sob a batuta de nomes como Eleazar de Carvalho (Brasil), Filip Rathe (Bélgica), Gennady Rozhdestvensky (Rússia), Gil Jardim (Brasil), Guga Petri (Brasil), Heinz Holliger (Suiça), Ira Levin (EUA), Isaac Karabtchevsky (Brasil), João Maurício Galindo (Brasil), Jamil Maluf (Brasil), John Neschling (Brasil), Julio Medaglia (Brasil), Marcos Sadao Shirakawa (Brasil), Marin Alsop (EUA), Olaf Henzold (Alemanha), Peter Maxwell Davies (Inglaterra), Ricardo Bologna (Brasil), Richard Rosenberg (EUA), Roberto Duarte (Brasil), Roberto Farias (Brasil), Wagner Politschuk (Brasil) e Yan Pascal Tortelier (França). Vale destacar duas turnês com a

RETRATO

Como você tem visto o panorama do ensino do violão e da música, no Brasil e no exterior? Está melhor do que quando você começou? E o advento da internet, das aulas online, você vê isso tudo como contribuição ou como confusão de informações? De forma geral, o nível aumentou muito. Só para ficar no âmbito do violão, é impressionante o que as novas gerações estão tocando. Eu sou fã de tecnologia, penso que quando é bem usada só traz vantagens. De fato, a oferta de informação pode ser um problema para quem não tem critério. Só temos que trabalhar nisso: separar o joio do trigo. Se bem que um pouco de trash não faz tão mal assim. Acho até bom! Como é seu trabalho de compositor e arranjador? Como é trabalhar para campanhas e agências de publicidade? Sempre gostei muito do universo da

criação e ao mesmo tempo demorei para começar a colocar a mão na massa. Boa parte da minha formação musical foi centrada na interpretação e tinha muita insegurança nesse campo. Com o tempo, fui me arriscando e aproveitando o conhecimento adquirido com professores como a Vera Cury, com quem aprendi contraponto, por exemplo. Foi na faculdade que comecei a compor e arranjar com mais frequência, em grande parte por conta do estímulo de professores-compositores como Willy Correia de Oliveira, Gilberto Mendes, Mario Ficarelli, Gil Jardim, Olivier Toni e Aylton Escobar. Depois, estudei por muito tempo com o Claudio Leal Ferreira, que foi um divisor de águas nessa área. Também devo muito ao Ricardo Rizek e ao Ricardo Breim. Falei desses professores, pois trago um pouco de cada um deles na forma de pensar a criação musical. Hoje, não consigo me ver sem o desafio de partir de uma página em branco e construir algo novo depois de um tempo, seja lá para o que for! É muito gratificante. Também gosto muito de escrever para outros instrumentos. Já tive a chance de escrever algumas vezes © Tiago Sormani

OSESP. A primeira europeia, com o John Neschling, e uma brasileira, com Yan Pascal Tortelier (França). Também gravei com a OSESP e Neschling para o selo escandinavo BIS. Toquei o violão na Floresta do Amazonas, de Villa-Lobos, e bandolim nas Festas Romanas, de Ottorino Respighi. Como solista, destacaria o Concerto Carioca nº3, de Radamés Gnatalli, com a Jazz Sinfônica, sob a regência de João Maurício Galindo. Em 2012, compus uma peça chamada Cadência e Dança para Violão e Orquestra e estreei nos Estados Unidos sob a regência de Richard Rosemberg, com a Orquestra do National Music Festival.

VIOLÃO+ • 17

RETRATO para orquestra, para Banda sinfônica e grupos de câmara. Quanto ao trabalho na área da publicidade, desde cedo convivi com esse universo por conta do meu pai, Otoniel Santos Pereira, que foi redator e diretor de criação em algumas das principais agências. Apesar dele ser uma espécie de “antipublicitário”, pois era politicamente de esquerda, pouco ligado ao mundo dos negócios, cresci acostumado com as novidades, com os lançamentos de produtos, com os filmes premiados em festivais. Com ele, peguei gosto por direção de arte, pelo texto publicitário conciso e ao mesmo tempo sedutor e engraçado, por cinema e fotografia. Ele pertence à geração anterior a nomes como Washington Olivetto, Nizan Guanaes, Alexandre Gama e Marcello Serpa, citando apenas alguns dos atuais expoentes do segmento. Quando decidi trabalhar em produtora de som, entrei em contato com esse mundo que conhecia, em parte, da infância. Sinto que trabalhar nessa área significa pertencer à uma peça fundamental da engrenagem do sistema de produção: a indústria da Comunicação. Ela é gigante, com cargos, funções e hierarquias muito bem definidas. Falando em termos de nomenclatura de marketing, pra você ter uma ideia, a comunicação faz parte do composto ou mix de marketing, juntamente com “produto”, “local de venda” e “precificação”. São os “famosos” Quatro Ps: product, price, place, promotion, em inglês. São quatro elementos completamente interligados. E aplica-se o composto de marketing para absolutamente tudo que envolva troca. Troca por dinheiro, por tempo, o 18 • VIOLÃO+

que for. Em resumo, qualquer bem ou serviço precisa ser definido enquanto produto (nome, forma, garantia), ter um preço e ser encontrado em algum lugar. E precisa ser comunicado. As pessoas precisam saber da sua existência, quais valores representa etc. A publicidade é a comunicação que chama atenção, que atrai e seduz. De fato, a lógica da publicidade é bem diferente da arte. O som, nesse contexto, serve como parte da estratégia de comunicação. Às vezes tem muita relevância, às vezes quase não tem. Para quem é artista, pode ser um campo árido de atuação. Muita gente endurece, fica menos sensível. Da minha parte, acho que lido bem e consigo separar os universos. Quais são os projetos mais recentes? Meus últimos anos foram muito dedicados à publicidade e ao marketing. Paralelamente a isso, abri uma frente de atuação artística nos Estados Unidos. Há 5 anos, sou professor no National Music Festival, em Maryland. Por conta desse festival, gravei um CD com a cantora de jazz Sue Matthews e tenho feito shows e concertos por lá. Quero muito me dedicar ao duo com meu irmão Tiago Sormani, multi-instrumentista de sopro. Como temos nomes artísticos diferentes, muita gente não sabe de nosso parentesco. Meu nome completo é Camilo Sormani Carrara Santos Pereira. Por ironia do destino, cada irmão escolheu um sobrenome diferente pra usar...No ano que vem, abro o National Music Festival (EUA), como solista do Concerto Opus 8 de Carulli, com a Orquestra de Câmara de Cascais (Portugal) e regência de Nikolay Lalov (Bulgária).

história

Por Junior da Violla

Viola de 12 cordas Um panorama sobre o instrumento, suas origens, seu apogeu, decadência e sua existência no México, nos Estados Unidos e no Brasil

A guitarra - chamada aqui no Brasil de violão - no período que compreendemos como período clássico ou classicismo, que vai de cerca de 1750 a 1830, é a

20 • VIOLÃO+

guitarra de seis ordens de cordas ou 12 cordas dispostas em seis pares. Este instrumento está para o período clássico assim como a guitarra de quatro ordens está para o período do renascimento, a guitarra de cinco ordens está para o período barroco, a guitarra de seis cordas simples conhecida por viola francesa ou violão romântico está para o romantismo ou o violão moderno está para a música contemporânea do século 20. É um trabalho de garimpo encontrar informações sobre esse instrumento, pois trata-se de uma guitarra de transição entre a guitarra de cinco ordens barroca e o violão romântico. Por volta de 1790, era possível encontrar os três modelos sendo construídos e usados ao mesmo tempo: a de cinco ordens ainda reinava na Itália, a de seis ordens já reinava na Espanha e a de seis cordas simples se tornou xodó dos franceses. Por conta da complexidade de suas 12 cordas ante a simplicidade das seis cordas simples, o instrumento sucumbiu em pouco tempo na Europa, mas, assim como o instrumento de cinco ordens, também se tornou folclórico, principalmente no Brasil, onde chegou a ser fabricado por grandes marcas como Giannini, Di Giorgio e Casa Lira até a primeira metade do século 20. Em

história nossas terras, na época do classicismo, reinava absoluta a viola de dez cordas, divididas em cinco ordens, porém, a guitarra de 12 cordas foi também aceita no Brasil. Até hoje encontramos exemplares dessa viola feita nos mais afastados rincões do País. Se Bach tocasse guitarra, provavelmente tocaria uma barroca de cinco ordens. Já Mozart, provavelmente a de seis 6 ordens... A guitarra no período clássico Ao longo de toda a história dos instrumentos de cordas pinçadas em formato de 8, três instrumentos com seis ordens de cordas existiram em três períodos diferentes: a vihuela espanhola do século 16 e 17; a guitarra deseis ordens de cordas, que esteve em voga entre 1760 e 1830; e nossa atual guitarra (ou já nomeado como violão) de 12 cordas construída em sistema americano, também conhecido como folk. Poderíamos citar um quarto instrumento e, talvez, de todos, o que mais se assemelha a guitarra clássica de seis ordens: a raríssima viola brasileira de 12 cordas. E, porque não, um quinto instrumento, o bajo sexto mexicano. A vihuela espanhola foi um instrumento criado por volta de 1400 e tinha a clara intenção de ser um substituto do alaúde de influência moura, uma vez que, nessa época, os mouros perderam o poder na Espanha. Ou seja, estava mais para o alaúde do que para a guitarra em si, que nesta época já existia, porém com quatro ordens de cordas. A guitarra de seis ordens clássica nada tinha de influências da vihuela, não herdou seu repertório, apesar de que fisicamente fosse possível tocar o repertório do

instrumento quinhentista, por conta de ter o mesmo número de ordens e de ser possível aceitar a afinação de seu antecessor. Esta foi a evolução natural, da guitarra de quatro ordens quinhentista e depois da guitarra de cinco ordens barroca. Após o auge do século 18, na Europa, a antiga guitarra de cinco ordens, que reinou durante 200 anos, foi “substituída” pela de seis ordens. Dessa vez a ordem acrescentada foi o bordão, o par mais grave afinado em Mi. Alguns exemplares traziam cinco cordas duplas e uma simples ou duas simples e quatro duplas (como na Figura 2). Outros já traziam seis pares de cordas. A afinação chega finalmente à usada atualmente: Mi, La, Ré, Sol, Si e Mi, do grave para o agudo. Os pares, na maioria dos casos, eram afinados em uníssono. Raramente, algum guitarrista usava intervalos de oitava, como em um violão de 12 cordas moderno. A prática era idêntica à utilizada na época do instrumento de cinco ordens. A intenção da corda a mais era claramente aumentar a tessitura do instrumento. Já o violão de 12 cordas moderno, a princípio, não possui nenhum parentesco com a guitarra de seis ordens clássica,

Guitarra de seis ordens espanhola VIOLÃO+ • 21

história

Vihuela Renascentista, séculos 15 e 16

Guitarra de seis ordens do período clássico, fabricada entre 1760 e 1830

Violão moderno folk de 12 cordas americano

Viola de 12 cordas produzida no Brasil no século 20

tratando-se mais de uma modificação dos violões construídos nos Estados Unidos em fins do século 19. Além disso, possui uma forma de encordoar totalmente diferente dos instrumentos antecessores, sendo usado aço e tendo, no terceiro, quarto, quinto e sexto pares, cordas oitavadas, e no primeiro e segundo pares, cordas em uníssono. Mas há quem defenda que 22 • VIOLÃO+

há um parentesco longínquo que passa pelo bajo sexto mexicano. No Brasil, foram fabricadas no século passado, com maior intensidade na primeira metade do século, violas com 12 cordas divididas em seis ordens (não confundir com violas de 12 cordas divididas em cinco ordens). Sabemos que as violas brasileiras são herdeiras legítimas das guitarras de cinco ordens barroca. Não seria nenhum absurdo afirmar que estas violas de 12 cordas possam ser herdeiras diretas das guitarras de seis ordens clássicas, uma vez que são idênticas na construção, algumas exibindo escala “meia regra” (que vai somente até a 12ª casa) e outras já exibindo escala “regra inteira”, como feito atualmente. De todos os três exemplos, as violas brasileiras são as que mais se assemelham as guitarras clássicas de seis ordens. Dizer que a guitarra de cinco cordas foi “substituída” pela de seis ordens é um exagero, já que, ao mesmo tempo, tivemos três exemplares de guitarras sendo construídas na Europa. Na Itália, a guitarra de seis ordens não foi bem aceita e não conseguiu desbancar a guitarra de cinco ordens. Esta ganhou cordas de arame e até hoje é um instrumento típico da Itália, conhecido atualmente por guitarra batente. Apesar disso, é provável que a guitarra de seis ordens tenha nascido na Espanha, já que na segunda edição do método “Principios para tocar guitarra de seis órdenes”, de Federico Moretti, com segunda edição de 1799, o autor diz: “Ainda que eu utilize a guitarra de sete ordens simples, me pareceu mais oportuno adaptar estes Princípios para

a de seis ordens, por ser a que se toca geralmente na Espanha: esta mesma razão me obrigou a imprimi-los em italiano, no ano de 1792, adaptados à guitarra de cinco ordens, pois naquele tempo ainda não se conhecia a [guitarra] de seis [ordens] na Itália. (MORETTI, 1799).” Na Espanha, por volta de 1700, havia dois estilos distintos de se tocar guitarra: um citado por Gaspar Sanz em seu método de 1674, em que o autor denomina como “música ruidosa”, que consistia no modo como os plebeus tocavam, rasgueando seus instrumentos, muito semelhante ao violão popular, tocado com acordes e batidas rítmicas nos dias de hoje e, provavelmente, sendo a origem do que conhecemos hoje por música flamenca; e a “música da corte”, que consistia em composições refinadas para a aristocracia, tocada de forma dedilhada, semelhante ao nosso violão erudito atual. Talvez esteja aí o início da rivalidade entre flamencos e eruditos na Espanha. Referências para as técnicas de rasgueado, similares ou idênticas às usadas por guitarristas flamencos da atualidade, são citados em publicações para guitarra barroca. O desejo dos espanhóis, para tirar mais som de seus instrumentos em bares barulhentos, foi provavelmente uma das razões para a adição do sexto par à guitarra barroca de cinco ordens. No entanto, outra razão foi que o sexto par eliminou as inversões de acordes inábeis, exigidos na guitarra de cinco ordens. Há também quem defenda que a guitarra de seis ordens tenha nascido na Itália ou França, porém a observação feita por Moretti em 1799, em que não

se conhecia a guitarra de seis ordens na Itália em 1792, põe em dúvida essa teoria. Apesar de alguns indicarem que as guitarras de seis ordens já fossem fabricadas no início da década de 1750, o fato é que a informação mais antiga sobre o instrumento data de 1760 e vem por meio de um anúncio de venda de instrumentos na Casa Granadino, na Calle de Atocha, em Madri. O granadino Joseph Contreras (1710/1780) foi um famoso luthier de violinos, que fazia cópias de grande qualidade de Stradivarius e Guarnerius. É possível que tenha sido ele, um renomado luthier, o responsável por introduzir o sexto par na guitarra, apesar de não haver provas que atestem esta afirmação nem informações sobre a guitarra de seis ordens antes disso. Em 1799, apesar de já haver guitarras de seis cordas simples, principalmente na França, os espanhóis ainda optavam pelas guitarras de seis ordens. Outra prova irrefutável dessa afirmação é que

Exemplos da afinação utilizada tanto no método de Ferendiere quanto para o método de Moretti VIOLÃO+ • 23

Guitarra Lorenzo Alonso, ano de 1785, Madrid, Espanha

Guitarra Joseph Páges, ano de 1791, Espanha

Guitarra Benito Sánchez de Aguilera, ano de 1797, Espanha

Guitarra Joseph Guera, ano de 1798, Cadiz, Espanha

Guitarra Joseph Martinez, ano de 1800, Madrid, Espanha

Guitarra Joseph Páges, ano de 1802, Espanha 24 • VIOLÃO+

a maioria das guitarras de seis ordens que chegou até nossos dias tenha sido construída por luthieres espanhóis, principalmente de Madrid. O primeiro método para a guitarra de seis ordens foi escrito pelo gaditano Juan Antonio de Vargas y Guzmán, o “Explicación de la guitarra” (1773), seguido pelo “Obra para Guitarra de Seis Órdenes” (1780), de Antonio Ballesteros, e o italiano Federico Moretti em “Principios para tocar la guitarra de seis órdenes” (1792). Mas foi no ano de 1799 que, talvez, tenha acontecido o auge da guitarra de seis ordens. Nesse ano, foram escritos na Espanha os três métodos mais importantes sobre o instrumento: “Escuela para tocar con perfección la guitarra de cinco y seis órdenes”, dos portuguêses Antônio Abreu e Victor Pietro; “Arte, reglas y escalas armónicas para aprehender a templar y puntear la guitarra espanõla de seis órdenes según el estilo moderno”, de Juan Manuel Garcia Rubio; e “Arte de tocar la guitarra espanõla por música”, de Fernando Ferandiere, além da segunda edição de Principios para tocar guitarra de seis órdenes de Federico Moretti, esta sim para guitarras de seis ordens, ja que a primeira edição foi escrita em italiano para guitarras de cinco ordens. Em dois desses métodos, a afinação é idêntica a utilizada pelo violão atual, o que difere é a forma de encordoar o primeiro par e a afinação do sexto par: no método de Fernando Ferandiere (1799), o autor sugere o uso de corda simples no primeiro par e notas oitavadas para o sexto par. Já na segunda edição do método de Federico Moretti (1799), o autor sugere

tanto corda simples como duplas para o primeiro par e notas uníssonas para o sexto par. No método de Juan Manuel García Rubio, o mesmo também sugere a afinação de notas oitavadas para o sexto par, assim como Ferandiere. Até 1830, houve uma produção constante de guitarras de seis ordens. Podemos citar alguns exemplares que chegaram até nós, curiosamente todos feitos na Espanha, nas cidades de Madrid, Cadiz ou Servilha. A partir de 1830, não há nenhum registro sobre a fabricação dessas guitarras na Europa, onde o último modelo que encontramos data de 1830, uma Benedid, fabricada na Espanha. Algo muito importante que aconteceu nesse período foi a substituição da tablatura, sistema que vinha sendo utilizado desde a época dos vihuelistas espanhóis, pela notação moderna, em pauta, utilizando a Clave de Sol, assim como no violino. Muitos dos principais músicos de guitarra eram violinistas (o mais famoso deles era Nícolo Paganini, que tocava de forma assombrosa ambos os instrumentos). Provavelmente, este

fato tenha contribuído para a mudança de escrita. É algo contraditório imaginar que, logo após seu apogeu, a guitarra de seis ordens tenha rapidamente caído em desuso, primeiramente por conta da popularidade alcançada pela guitarra de seis cordas simples, mais fácil de manusear e com melhor definição sonora. Com o avanço do século 19, o violino e o pianoforte se adaptavam melhor às formas musicais dos novos tempos e, assim, a guitarra, em geral, entrou em decadência. O instrumento com seis cordas simples, que ganhou a denominação de guitarra espanhola na Europa e, em um primeiro momento, de viola francesa no Brasil, teve um período de enorme popularidade até por volta de 1830, onde guitarristas virtuosos desfilavam pelos salões e teatros europeus. Não encontramos nenhuma informação disponível sobre guitarras de seis ordens entre 1830 e 1890. O que aconteceu nesse período é ainda um mistério. Um fato que também ocorreu com a guitarra barroca de cinco ordens

Guitarra espanhola, também conhecida na época no Brasil como “viola francesa” VIOLÃO+ • 25

explique a existência de violas de seis pares de cordas construídas por aqui na primeira metade do século 20. Acreditase que o instrumento tenha chegado junto com os imigrantes espanhóis. Calcula-se que, entre 1808 e 1822, cerca de 4.500 estrangeiros, em maioria Bajo Sexto mexicano espanhóis, desembarcaram no Rio de foi esse instrumento se enraizar no Janeiro. Mas, assim como ocorreu na folclore de colônias. No caso do Brasil, Europa, o instrumento não gozou de tivemos a inserção de instrumentos grande popularidade em nossas terras. portugueses no nosso folclore. Não há Aparentemente, não há nenhum registro nada que confirme, mas no México, de que esse instrumento era fabricado antiga colônia espanhola surgiu um no período do barroco brasileiro e nem instrumento de seis pares de cordas ao longo de século 19. Foi encontrada chamado bajo sexto. A história do bajo a foto de uma viola de 12 cordas feita sexto não é clara, mas há evidências de forma artesanal, o que atesta, assim de que o instrumento tenha sido levado como as violas de Queluz e as violas para o México pelos espanhóis. Este “meia-regra” feita por artesãos do interior instrumento possui, além dos seis pares paulista, a viola de 12 cordas também de cordas, a afinação em uníssono, foi fabricada fora das fábricas, porém, é muito semelhante à guitarra de seis claro, em bem menor número que as de dez cordas. Até o momento, podemos ordens clássica. Uma das teorias sobre o surgimento do citar três fabricantes de instrumentos violão de 12 cordas americano diz que musicais que se destacaram pela este nada mais é do que uma evolução produção desse instrumento no seculo do bajo sexto mexicano. O violão de 12 20: a Giannini, que denominava o cordas americano seguiu vida própria. instrumento como “viola portugueza”, a Além disso, possui uma forma de Di Giorgio e a Casa Lira. encordoamento toda própria, com cordas Os artesãos fabricavam violas de 12 de aço e pares oitavados. Atualmente, cordas, porém a maioria com cinco alguns fabricantes americanos se ordens, divididas em três pares e dedicam as “parlor guitars”, instrumentos dois trios. As primeiras informações com escala de 61 cm que em muito se concretas sobre violas de 12 cordas no assemelham às antigas guitarras de Brasil vêm de uma foto de 1917, em que seis ordens. Poderíamos dizer que se aparece o renomado violonista João a guitarra de seis ordens não tivesse Pernambuco de posse de uma viola de caído em desuso, elas teriam estas 12 cordas. Outra referência é do final da características encontradas nas parlors década de 1920, com a dupla Mandi e Sorocabinha, pioneiros da gravação de guitars nos dias de hoje No Brasil, a guitarra de seis ordens modas de viola em disco. Tanto Mandi também chegou, o que talvez se como Sorocabinha utilizavam violas de 26 • VIOLÃO+

12 cordas divididas em seis pares de cordas. A Giannini, importante fábrica de instrumentos musicais do Brasil, tem registrado em seus catálogos de 1950, 1954 e 1960 a inclusão do instrumento denominado “viola portugueza”, uma viola de 12 cordas, dividida em seis pares, com 92 centímetros de comprimento. No catálogo de 1954, inclusive, há também referência ao jogo de cordas para esse instrumento, que a Giannini fabricava. No catálogo de 1969, já não há referência a este modelo de viola de 12 cordas. Outra menção ao instrumento aconteceu em um festival de violeiros, ocorrido em algum ponto

da década de 1980 e televisionado pela extinta TV Manchete. Nesse festival, uma das duplas participantes se notabilizou por conta de seu violeiro, de pseudônimo Mineirinho estar de posse de uma viola de 12 cordas, inclusive o apresentador (Erwin Puller) chega a tecer um comentário sobre a raridade daquele instrumento. Atualmente, notamos um resgate desse instrumento nas mãos de violeiros como Heraldo do Monte (ex-integrante do Quarteto Novo), que utiliza uma viola de 12 cordas desde 2004. Zeca Colares, que utiliza o instrumento desde 2007, Ricardo Vignini, Thiago Paccola

João Pernambuco, o segundo sentado á esquerda com um chapéu, onde se lê “Guajurema”, segura uma viola de 12 cordas, em foto de 1917 VIOLÃO+ • 27

À esquerda, viola de 12 cordas na mão do violeiro Mandi da dupla Mandi e Sorocabinha, em foto feita em 1929. À direita, anúncio da Giannini, datado de 1950, sobre a viola portugueza

entre outros, usam também. Eu utilizo a viola de 12 cordas desde Março de 2013, quando meu primeiro protótipo feito pela Rozini ficou pronto. Como não tinha referência a seguir, apenas fotos, me guiei pela intuição na hora de sugerir o projeto à fabrica: utilizamos um corpo pequeno do modelo ponteio da Rozini, o braço do modelo RV151, um pouco mais largo e com a cabeça um pouco mais comprida, e as medidas, tanto do nut como do rastilho, seguiram as medidas do violão de 12 cordas moderno. Isso evitaria dores de cabeça na hora de trabalhar com piezos, já que a medida máxima que temos de piezos com pólo é 59 mm de abertura. Me surpreende e me causa estranheza saber que um instrumento tão rico e

Viola de 12 cordas Rozini, 2013, feita para Junior da Violla 28 • VIOLÃO+

tão completo tenha sido quase extinto. Posso falar pela minha experiência com ela: o instrumento me dá tanto a opção de pensar como um violeiro tradicional, com a mesma usando afinações convencionais de viola como cebolão (podendo afinar em Ré - DADF#AD, Mi Bemol – EbBbEbGBbEb ou mi – EBEG#BE ), quanto pensar como um violonista e entender o instrumento como um miniviolão de 12 cordas usando afinação natural (EADGBE ). Nos EUA, é fabricado um modelo de violão que eles chamam de “mini”: possui escala de 57,9 cm, muito semelhante aos 58 cm de escala de nossa viola. Dessa forma o instrumento me permite tocar todo o repertório destinado à viola caipira de dez cordas e também todo o repertório destinado ao violão de seis ou de 12 cordas. Atesto isso, pois utilizo o instrumento tanto em minhas aulas de viola, tocando repertório voltado ao cancioneiro caipira com afinação cebolão, como em meu bacharelado de violão, onde estudo obras de

Baden Powell, Dilermando Reis, João Pernambuco ou estudos de Carcassi e Carulli, com afinação natural (a mesma do violão moderno). Em todos os casos, o instrumento se mostra apto para fazêlo. O encordoamento é de aço. Utilizo para os cinco primeiros pares, cordas de viola. No sexto par, utilizo cordas 045 e 024, ambas encapadas. Diferese do violão de 12 cordas apenas no par 5, em que a corda lisa é de calibre mais grosso do que a utilizada na viola. Conclusão A guitarra de seis ordens é um instrumento misterioso, pois muito pouco se sabe, se discutiu ou se escreveu sobre ele. Foi um instrumento de transição. Seu auge durou muito pouco, 80 anos, se comparado à vihuela espanhola, que esteve em voga por cerca de 170 anos, à guitarra de cinco ordens, que esteve em voga por cerca de 200 anos, e o violão moderno que já dura 150 anos. Mas, é um instrumento fascinante, sendo o mais completo dos instrumentos de cordas duplas fabricados até 1800. Era

o único instrumento capaz de tocar toda a produção musical para instrumentos das famílias das guitarras e da vihuela, já que as guitarras de quatro e cinco ordens exigiriam adaptações. Talvez ainda sobreviva, tendo como herdeiros o bajo sexto mexicano, o violão folk de 12 cordas americano ou até mesmo na raríssima viola de 12 cordas brasileira.

Referências bibliográficas VIOLÃO E IDENTIDADE NACIONAL, Marcia Taborda, Ed. Civilização Brasileira, 2011 DOMINGOS FERREIRA - Um violeiro português em Vila Rica, Paulo Castagna, Maria José Ferro de Souza, Maria Tereza Gonçalves de Souza, 2012 EARLY ROMANTIC GUITAR: Gallery of Dated Instruments - http://www. earlyromanticguitar.com/erg/gallery.htm VIOLÃO IBÉRICO, Carlos Galilea, Trem Mineiro Produções Artísticas, 2012 THE GUITAR AND ITS MUSIC: FROM THE RENAISSANCE TO THE CLASSICAL ERA, James Tyler e Paul Sparks, OUP Oxford, 2007 A GUITARRA DO SÉCULO XIX EM SEUS ASPECTOS TÉCNICOS E ESTILÍSTICO-HISTÓRICOS A PARTIR DA TRADUÇÃO COMENTADA E ANÁLISE DO “MÉTODO PARA GUITARRA” DE FERNANDO SOR. Guilherme de Camargo, 2005 1799 – O ANO DOS MÉTODOS PARA GUITARRA DE SEIS ORDENS, Paulo César Veríssimo Romão, 2011

Junior da Violla Violeiro, professor, concertista, endorse das marcas Rozini (violas/violões) e Giannini (cordas).

Junior da Violla

VIOLÃO+ • 29

matéria de capa

Por Luis Stelzer

O quartet

to de três? © Silvana Marques

© Silvana Marques

quarteto maogani

O Maogani é um grupo consolidado. O quarteto de violões formado, atualmente, por Carlos Chaves, Paulo Aragão, Marcos Alves e Maurício Marques, também teve em sua formação Marcus Tardelli e o peruano Sérgio Valdeos. Estudantes da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), montaram o quarteto em 1995 e, já em 1997, gravavam seu primeiro disco. De lá para cá, muita história, muitos discos, muitas viagens, pelo Brasil e pelo exterior, muitos sons. A pesquisa incessante os levou a instrumentos com maior tessitura, para acomodar melhor os arranjos. Daí, chegaram os violões requinto (mais agudos), de 7 (mais graves) e de 8 cordas, que tem extensão ainda maior. O trabalho é muito intenso, 32 • VIOLÃO+

extremamente elaborado, sem solistas fixos, com muitos arranjos e também peças autorais. Uma vontade de tocar não apenas o repertório mais conhecido dos compositores, mas trazer o seu “Lado B” à tona. Também produz muito como grupo acompanhador, como é o caso do álbum e do show Canela, com o cantor Renato Braz, nos quais passeiam de maneira deliciosa sobre o repertório de música latino-americana. No Sesc Belenzinho, em outubro passado, foram pegos de surpresa por um contratempo que vitimou Marcos Alves, o impedindo de estar presente. O quarteto, então, teve que se desdobrar e virou, momentaneamente, um trio. Essa e muitas outras histórias eles contam aqui, com muito bom humor.

quarteto maogani Violão+: Como o Maogani foi criado? Aragão: A gente começou em 1995. Eu, o Carlos, o Marcos (que não está aqui hoje) e o Sérgio Valdeos (peruano, que fundou com a gente o grupo). Éramos alunos de violão da UFRJ, fazíamos aula com o Marco Pereira. Todos nós fazíamos violão clássico, que é o que tinha lá, não havia outra possibilidade. A aula de harmonia do Marco era a única voltada para a música popular. E todos nós já tínhamos experiência com música popular. Esse grupo começou como uma coisa de testar os arranjos, vendo o que estava sendo aprendido. Em 1996, a gente começou a fazer os primeiros shows, montamos repertório, começamos a mostrar para as pessoas. Algumas dessas pessoas foram muito importantes nesse começo. O Guinga foi uma delas: ouviu a gente através do Marcos, que era cliente dele (não podemos esquecer que o Guinga é dentista). Ele deu a maior força pra gente, pra escrever os arranjos. Chegando 1997, a gente foi consolidar

esse repertório para gravar o nosso primeiro CD, no final do mesmo ano. Aí, seguiu o barco, as coisas ficaram mais amarradas, ensaiamos bastante. Em 1999, o Sérgio Valdez foi embora para o Peru, e o Marcus Tardelli entrou no lugar. O Tardelli ficou cinco anos com a gente. Nesse período, a gente gravou dois discos, o Quadras Cruzadas e o Água de Beber. Em 2005, ele quis fazer carreira solo, estava com outras ideias. Então, a gente convidou o Maurício Marques. Com o Maurício gravamos o Impressão de Choro, em 2007. Em 2009 gravamos, nos Estados Unidos, um disco que não saiu até hoje. A gente quer lançar para o ano que vem, está inédito ainda... Violão+: Cada história que a gente encontra: um disco inédito há tantos anos gravado...há quanto tempo mesmo? Aragão: 2009! Marques: Na verdade, de 2006 a 2009. Aragão: Nós fomos para Los Angeles em

VIOLÃO+ • 33

quarteto maogani VIOLÃO+: Ele está bem encaminhado! Aragão: Pois é, em 2013 a gente lançou o Pairando e, em 2014, o Canela. Chaves: Na verdade, o Canela a gente gravou antes do Pairando, lá no Peru. O Pairando a gente gravou depois, aproveitando os 150 anos de (Ernesto) Nazareth. Mas lançamos o Canela depois. E o Canela, na verdade, foi gravado com cinco violões. VIOLÃO+: Foi com cinco? Aragão: Cinco violonistas, pois o Sérgio gravou também. O Sérgio é peruano fazendo um disco de música latino-americana. Ele foi mais que um quinto violonista, foi um diretor musical. A maior parte dos arranjos é dele. © Silvana Marques

2006. Gravamos uma demo de três músicas que acabaram valendo para o disco. Em 2009, voltamos para lá. Gravamos mais 10 músicas. O disco foi produzido pelo Sérgio Mendes, que gostou muito do nosso trabalho. Ele bancou esse disco, falou que queria lançar. Ele tinha o contato de uma gravadora que era quente. Mas foi justamente naquela época da grande crise das gravadoras americanas. De uma hora para outra, a gravadora não tinha mais dinheiro, o lançamento foi cancelado e o disco, ficou parado. Ano passado, a gente conseguiu pegar o master e deu uma força para lançar. Acho que vai se lançado no ano que vem.

34 • VIOLÃO+

quarteto maogani cuidadoso, a escolha do repertório... Marques: A gente ouviu muita coisa, foi se apaixonando, ouvia juntos a cada show. Uma imersão mesmo. A gente deu esse tempo, foi se maturando. Chaves: Ter gravado no Peru também fez grande diferença, pois o Sérgio nos levou para assistir a shows de música local. Foi sensacional! Fez diferença no resultado do nosso trabalho, e muita. Marques: Há uma coisa, diferente da questão técnica, da capacidade técnica VIOLÃO+: Nessa, entra o Renato de tocar ou de ler bem, de arranjar: quando (Braz). Como foi essa união, essa se reporta a outro idioma, você tem que combinação? entender e pensar na música. E aprender Braz: A gente já frequentava os shows a música requer essa maturação, apesar uns dos outros. E já faz um bom de a gente ter tocado há mais tempo com tempo, desde 2002, 2003. No meio o Renato outras músicas do repertório, dessas andanças, surgiu a ideia de houve essa demora na preparação. Um gravar, não sei bem de onde que veio. grande aprendizado para todo mundo, Eu também queria cantar o repertório eu acho. Achar o som. latino-americano. Aí, surgiu a ideia de fazer um trabalho todo dedicado à VIOLÃO+: Buscar 7, 8 cordas, violão música da América latina. requinto, como é que é essa história? Aragão: Isso foi em 2011. De lá para Chaves: Acredito que veio de uma cá, ficamos pesquisando uns dois necessidade, mesmo. No primeiro disco, anos. Não é a nossa praia, vamos dizer a gente gravou tudo com violões de 6 assim. Ficamos pesquisando esse cordas. Teve uma música que o Sérgio material. o Sérgio mostrando muita fez com o requinto, um improviso numa coisa pra gente. Levamos até mais faixa. A gente sentiu que era bacana, tempo do que o normal ensaiando, outra sonoridade. E a gente querendo descobrindo, porque era um idioma expandir a tessitura, tanto mais para diferente. Então, levamos dois anos o agudo quanto mais para o grave, até começarmos a gravar. acabou que, no outro disco, a gente já encomendou um violão requinto e um de VIOLÃO+: Esse trabalho toca muito 8 cordas. O requinto, no caso, o Tardelli na questão emocional, tanto pela voz tocava. O violão de 8, o Paulo assumiu. do Renato quanto pela integração de Aragão: O que acontecia era isso: com vocês! quatro violões, quatro instrumentos iguais, Aragão: Realmente ficamos muito felizes a gente tem que ficar buscando regiões e orgulhosos com o resultado desse para enriquecer o som. Na verdade, disco. Em todos aspectos, foi tudo muito esses instrumentos que trabalham mais VIOLÃO+: Ouvi no show que vocês falaram inclusive sobre acertos de andamentos... Aragão: Exatamente! Foi muito legal a gente ter gravado lá no Peru, foi uma coisa que ele sugeriu e foi o melhor para o trabalho. Chaves: Foi um mergulho na cultura latino-americana. Ter todo aquele ambiente musical perto faz toda a diferença.

VIOLÃO+ • 35

© Silvana Marques

quarteto maogani

Luizinho com Euclides Marques

no grave e mais no agudo facilitam os arranjos. Com os violões de 6, já era assim: muda a afinação da sexta corda para Ré, para Dó, para Si...ficava uma loucura, tudo muito complicado... Chaves: Sem contar que nem afinava direito. No fim da música, o Dó já estava quase um Ré (risos).

encomendou os violões do Lineu Bravo. Todos os violões usados pelo Maogani são feitos por ele. Dois de 8, um de 7, o Marquinhos ficou com o de 6, tem o requinto também.

VIOLÃO+: A exceção virou o violão de 6! (risos). Agora, vamos para o inusitado: vocês estão aqui, hoje, no VIOLÃO+: Todo mundo que trabalha Sesc Belenzinho (São Paulo), em um com arranjo gosta de ter mais quarteto de três. Como é essa história tessitura. E vocês, com todos esses e como lidar com um problema instrumentos diferentes, trabalham desses? com o mesmo luthier? Aragão: Mas todo mundo sabe que Aragão: Sim, desde 2006, 2007, a gente quarteto tem três pessoas! (risos). Só tu 36 • VIOLÃO+

quarteto maogani que não tá sabendo disso! Não sei o que tem de inusitado nisso...(risos) Maurício: Também é o teste para o Renato entrar para o quarteto como violonista!

pois o arranjo exige demais dos quatro violonistas, não teria como fazer. Chaves: Tivemos que trocar uma ou duas músicas, adaptamos o que dava para adaptar. Ontem ficamos adaptando, ensaiando, hoje também. VIOLÃO+: Renato, muito da sua Marques: Também essa convivência que carreira é com o violão no colo. E aí, temos ajudou muito: buscamos coisas tem jeito? antigas, revisitamos músicas de outros Braz: Pois é, mas nesse vestibular eu repertórios... não vou passar, eles tocam muito! Mas Aragão: Respeitamos ao máximo o eu me contento cantando, já está bom! repertório do disco Canela, mas a história É um lugar privilegiado. do Maogani ajudou a gente a montar o Aragão: Mas é verdade, inusitado show novamente. Então, é um pouco mesmo, em vinte e dois anos de carreira diferente, mas está sendo legal. A gente do grupo, nunca tinha acontecido isso. está quase ligando pro Marquinhos e Num outro tipo de trabalho, você pode falando: cara, foi legal, mas você dançou! chamar um “sub” (substituto), o cara lê e (risos) tal... O nosso trabalho não dá para ter sub, Marques: Então, a gente não sentiu porque é uma situação muito diferente. falta. (risos) Os arranjos são fechados, escritos, mas Chaves: a gente queria agradecer a sua a gente mexe muito neles. O que está na participação (risos). A partir de agora, partitura já não corresponde exatamente você é participação especial (risos). ao que tocamos. Braz: Coloquei no Facebook que o Marques: E também não é só a leitura: quarteto finalmente me aceitou como tem a respiração, a musicalidade...não violonista, tem gente me dando parabéns dá para ter sub. (risos). Aragão: Nossa sorte é que foi num show com a voz do Renato. Se fosse VIOLÃO+: Então, hoje, vamos ter: um totalmente instrumental, dificilmente dois violões de 8, um 7... conseguiríamos fazer. Com voz, a gente Aragão: Na verdade, eu e o Maurício, fica mais à vontade, pode mexer nisso que estamos com os violões de 8, nem ou naquilo de última hora. Mas quando é lembramos disso. Há músicas em que só com os violões, fica impossível. Tanto não utilizamos toda a extensão, mas que, das peças instrumentais previstas nem por isso vamos mudar para o para hoje, a gente vai fazer uma só. E violão de 6. tivemos que adaptar. A gente teve que Marques: Trocar de instrumento por isso mexer no repertório. Hoje vai ser um não faz sentido. Faz muito tempo que show diferente, apesar de a proposta de estou mais com o de 8. Há essa coisa fazer um show praticamente igual ao da espacial do violão: você se acostuma. Caixa Cultural. Uma das músicas com a S a música precisa só de 6 cordas, vou voz acabou tendo que ser substituída, no de 8 mesmo. Pensa: não vou usar VIOLÃO+ • 37

quarteto maogani passou pelo “Lado B”, a gente mergulhou, pesquisou. Já esse disco é um pouco diferente, porque tem clássicos, além VIOLÃO+: E sobre esse disco gravado de algumas músicas americanas. Era fora há tanto tempo, que vai finalmente um disco para penetrar no mercado chegar até nós? americano. Era para ser um cartão de Aragão: É um disco com um repertório visitas do Maogani por lá. É um disco mais conhecido. Gravamos clássicos da bem bacana. Ficou um resultado muito música brasileira, regravações de discos bom, o som está ótimo, o pessoal lá tem antigos, além de participações especiais os microfones, os equipamentos... muito bacanas: Hamilton de Holanda, Airto Moreira, Marcos Suzano... É um VIOLÃO+: E há previsão de quando disco bem diferente dos que a gente ele estará no mercado? tem feito. A gente gravou o Impressão Chaves: Acredito que no ano que vem. de Choro, gravamos coisas desde Aragão: Falta um acertinho de edição, Callado até Hermeto Pascoal, a gente mixar, masterizar e, fundamentalmente, fez um passeio por todo esse universo, arrumar dinheiro para finalizar o processo. com pouquíssimos clássicos. No disco Vamos ver, temos expectativa de que ele do Nazareth, a gente praticamente só saia em abril ou maio de 2017.

© Silvana Marques

essa região aguda do piano, então corta o piano ali (risos).

38 • VIOLÃO+

classif icados Cursos de

Harmonia Arranjo Percepção Leitura Musical Violão Contrabaixo Reinaldo Garrido Russo Maestro regente e arranjador [email protected]

(11) 9.9251.2226

Anuncie aqui! Divulgue seu produto ou serviço para

um público qualificado! [email protected] Aulas • Escolas • Estúdios • Acessórios Luthieria • Livros • Métodos • Serviços

Valéria Diniz Revisão de textos Mtb 66736

(11) 3862.9948 (11) 9.9260. 4028 [email protected]

VIOLÃO+ • 39

ESPECIAL

Por Paulo Porto Alegre

52 peças fáceis para violão Incentivar o interesse pelo novo é a única maneira possível de progredir e espero com esta obra ter contribuído de alguma maneira para a formação de nossos alunos Este artigo tem por objetivo continuar a brilhante exposição que Thales Maestre fez sobre os meus 30 Duos Fáceis na edição anterior de Violão+. Thales tem toda a razão: os meus estudos anteriores - 28 Estudos por Posições, 12 Estudos Populares e 24 Estudos Modais - sempre foram considerados difíceis. Ainda que fossem normalmente tocados os 10 primeiros dos 28 Estudos Por Posições, “Solidão” (Estudo nº6), dos 12 Estudos Populares, e os estudos “Lídio” e “Eólio” dos 24 Estudos Modais, eles realmente são complicados, tanto tecnicamente quanto musicalmente. No mesmo ano em que compus os 30 Duos Fáceis, por encomenda de Jorge Elias, coordenador de violão do Projeto Guri na época, escrevi um Método de Violão com algumas ideias diferentes. Infelizmente esse método ainda não foi editado, mas escrevê-lo exigiu de mim uma reelaboração do conceito de “Estudo Básico” para violão. Daí nasceram as 52 Pecas Fáceis. A Obra As 52 Peças Fáceis têm por objetivo principal desenvolver no estudante 40 • VIOLÃO+

não só a técnica básica do instrumento como também fazê-lo desenvolver-se na linguagem da música atual. Estão todas escritas nas primeiras posições do braço do violão, o que simplifica não só a leitura como a compreensão imediata da obra. Sem jamais desvalorizar o material didático do passado (em especial aquele produzido na ‘Era de Ouro’ do violão, século 19), acredito que o trabalho com estudos modernos dirige mais facilmente o aluno no trabalho que o levará a abordar o repertório contemporâneo. Acho da maior importância tocar obras dos séculos 20 e 21, nossa época. Mas a discussão desse assunto poderá ficar para outra ocasião. Vamos nos deter nas 52 Peças Fáceis. A obra é dividida em seis partes: • Exercícios Introdutórios (1-7) • Elementos da Técnica Violonística (8-22) • Ostinatos (23-27) • Exercícios Melódicos (28-38) • Intervalos (39-45) • Formas Musicais (46-52)

ESPECIAL Exercícios Introdutórios (1-7) Estabelecido um princípio de postura no estudante, começo a trabalhar por meio destas peças a movimentação básica dos dedos da mão esquerda. Assim o “Exercício 1” utiliza apenas o dedo 1. Na mão direita, apenas pinho. Há uma alteração na fórmula de compasso, o que já acrescenta uma experiência nova para o aluno. Nada difícil. Nos próximos estudos, acrescentarei mais dedos gradativamente. Nos Exercícios 2 e 3, utilizo os dedos 1 e 2 e o anular da mão direita faz a sua aparição. No Estudo 4, dedos 1, 2 e 3 e uma alteração frequente de fórmulas de compasso podem assustar a princípio. Mas o Estudo está escrito de modo que não oferece nenhuma dificuldade adicional. Estudos 5, 6 e 7 trabalham os quatro dedos da mão esquerda nas disposições 14-23, 13-24 e 12-34. É importante fazer-se notar que temos na mão esquerda dedos vizinhos e alternados. O trabalho entre eles é de fundamental importância para o desenvolvimento da independência. Elementos de Técnica Violonística (8-22) Estes Estudos pretendem desenvolver os aspectos básicos de ambas as mãos na técnica do violão. Assim, são estudos que trabalham: polegar (8 e 18, este último, uma modinha), acordes (9 e 15), notas repetidas (10 e 17), ligados (11, 12, 13, 14, 19), contração de dedos (16), arpejos e suas inversões (19, 20, 21 e 22). Em todos esses estudos, continuo com a intenção de utilizar fórmulas de compasso não usuais para o aluno, uma sonoridade moderna (ainda que

não agressiva) e elementos técnicos na sua exata dificuldade para que não se trave a evolução técnica do estudante. Ostinatos (23-27) Considero o ostinato um elemento essencial para o desenvolvimento da independência de dedos. Normalmente com a repetição de um elemento melódico em uma das vozes, a outra voz pode desenvolver um contraponto em relação àquela. Nestes ostinatos, a repetição ocorre no grave (23 e 25), no agudo (24-26) e na voz do meio (27-neste exercício existe um contraponto muito simples entre o grave e o agudo. A terceira voz, a do meio, faz o ostinato). Exercícios Melódicos (28-38) No Exercício Melódico sempre existe a intenção de frasear uma melodia presente sobre um arpejo, acorde ou mesmo um contraponto. Utilizo a inversão de vozes (do agudo para o grave) com notas repetidas (28 e 29); uma pequena marcha ‘stravinskyana’, que utiliza o tom ascendente e descendente é o motivo do Estudo 30; o número 31 é um pequeno cânone que teria tudo para ser um mixolídio não fosse a omissão proposital da sétima; um blues com notas repetidas no meio e a melodia no agudo (34); melodia no baixo com acordes acompanhando (35);arpejos com melodia (36 e 37); e acordes repetidos com uma nota melódica no agudo (38). Intervalos (39-45) O Estudo de Intervalos é fundamental na técnica de qualquer instrumento. Trabalhá-los melodicamente ou VIOLÃO+ • 41

ESPECIAL harmonicamente é uma oportunidade de o aluno desenvolver-se de maneira expressiva. Saber digitá-los é imperioso! Vemos até hoje violonistas que por não terem trabalhado intervalos da maneira correta, utilizam uma digitação incoerente, com excessivas mudanças de posição e com dificuldades que poderiam ser muito menores se estivesse consciente pelo trabalho contínuo e dirigido. Nos Estudos, tons e semitons se alternam no nº39, alternando em ambas as vozes intervalos cromáticos e de tons inteiros. Chamo o nº40 de ‘tercinhas’, já que a ideia aqui é de terças acompanhando no grave melodias agudas e depois invertendo – terças agudas com melodia no grave. Um pouco irônico talvez... O Estudo de Quartas (41) é o mais dissonante e difícil. Exige perfeita postura da mão esquerda com relaxamento total a cada mudança de posição. O nº42 é sobre acordes em quintas, o que permite o estudo das separações de dedos da mão direita. Ironicamente, chamei o nº43 de ‘sextas picantes’ (revisitando Carcassi). Nele está presente integralmente o pequeno estudo em sextas de Matteo Carcassi com algumas notas cromáticas acrescentadas, provocando certa tensão. Talvez uma pequena vingança pela quantidade de vezes que já ouvi esse estudo em minha vida. O de sétimas (44) trabalha sétimas maiores, menores e diminutas. Finalmente, o estudo de oitavas tem um pedal de Sol, terceira corda solta, na voz central. Foge totalmente do trabalho de oitavas que se encontra habitualmente nos métodos tradicionais. 42 • VIOLÃO+

Formas Musicais (46-52) Aqui temos pequenas peças escritas em diversas formas: canção (46), bossa nova (47), prelúdio (48), baião (49), valsa (50), choro (51) e variações (52). Sem abandonar a ideia de estudos, essas peças são um final divertido para a série. Devem ser tocadas como obras independentes de seu comprometimento técnico, porque são bastante populares e melodiosas. Um início, talvez, para quem quiser futuramente dedicar-se à música instrumental popular, uma de nossas manifestações mais expressivas e importantes. Final Termino esta exposição dizendo que utilizo frequentemente as 52 Peças Fáceis com meus alunos. Essa obra tem se revelado bastante prática e completa para promover o crescimento dos nossos jovens violonistas. Foram pensadas para eles: durante meus 40 anos de magistério pude reparar como a falta de materiais modernos e eficazes tem se revelado danosa na formação dos jovens. Notamse frequentemente dificuldades em relação à música moderna (inclusive em aceitá-la) – com a música popular, idem – e a fixação em repertórios de baixa qualidade musical, que se valem apenas do malabarismo técnico, quando se alcança esse nível... É só ver o que é pedido normalmente no repertório musical de concursos, que tanto fascina a juventude pelo seu apelo mais atlético do que musical. Como disse, não tenho nada contra o material didático tradicional. É ótimo! Mas não deve ser ministrado como

ESPECIAL única referência musical. Estudar por muito tempo um repertório de qualidade duvidosa forma o gosto musical do aluno, distanciando-o de algo moderno ou mais interessante. Procurei dar a melhor qualidade musical a estes pequenos estudos. Todos sabem que escrever música fácil e com qualidade é muito difícil. Estou anexando o Estudo

           0 3 Valsinha

4

4

-4

2



        

5

3

4

2

   1 4

L

2 0

  4    3

3

1

 

L (Valsinha) como exemplo. A obra inteira está disponível gratuitamente no website: www.pauloportoalegre.com. Espero com estas 52 Peças Fáceis ter contribuído de alguma maneira para a formação de nossos alunos. Incentivar o interesse pelo novo é a única maneira possível de progredir. Afinal, é para frente que se anda... 25



           4

3

0

 





3

         3 4

4

4

2

    1 4

0

    4   0

17

2. 0

3

    01 

2

4

 

0

3      2

    4     1

13

2 

1



 

   4

 4    1

 

2

  4    3

2

3 4

-4



 1    0

4

1

3

1

2

3

1.

4



   2       1 4

        

 

3

3

1

9

  1   0

Paulo Porto Alegre

3

 

3



4  3    1 2

 



 

 



   1 2

4

21

3

VIOLÃO+ • 43

em grupo

Retratos Brasileiros Caríssimos leitores, este mês nos reserva um acontecimento especial. No próximo dia 27 de novembro, às 11h00, no Museu de Arte de São Paulo (MASP), teremos o concerto que celebrará o lançamento de Retratos Brasileiros, primeiro CD da Camerata de Violões Infanto Juvenil do Programa Guri Santa Marcelina. E um caderno com as partituras das doze obras que o integram também será lançado. Sem dúvida é um momento de imenso valor histórico para esse segmento de trabalho com grupos de violões. As gravações foram realizadas em dezembro de 2013 no estúdio Cantareira e, em 2016, viabilizaram-se as necessárias condições para que a produção fosse concluída. E nada melhor do que registrar na Violão+, revista que vem cumprindo papel relevante por causa da diversidade de conteúdos que aborda – todos valiosos documentos da nossa música – e já se consolida como importante fonte de pesquisa para os apaixonados pelas cordas dedilhadas. Tive o privilégio de conduzir a Camerata de Violões e venho expondo toda a estruturação acerca desse trabalho ao longo das últimas colunas. Destaquei, inclusive em edições recentes, algumas das obras originais feitas para a Camerata e que integram o CD. No mês de lançamento do trabalho, cedo este espaço para alguém que participou de todo o processo, o violonista sete cordas e pedagogo, Jorge Elias de Almeida, chorão de primeiríssima linha e educador de excelência. Na ocasião da gravação, ele integrava a equipe como supervisor pedagógico do programa Guri, participando ativamente de todo o processo sempre com olhar profundo diante da realização. Almeida estudou por uma década em Tatuí e integrou as cameratas de violões do renomado conservatório. Como supervisor do Programa Guri, liderou a equipe de professores das cordas dedilhadas, sabendo valorizar o potencial de todos e sempre com conduta moral irrepreensível. Além do trabalho com a camerata, colaborou no sentido de abrir portas para a criação de grupos infantojuvenis com caráter popular, entre eles a Big 44 • VIOLÃO+

Thales Maestre

[email protected]

em grupo Band e o Regional de Choro. É um desses camaradas que a vida nos proporciona a honra de conhecer e conviver. É momento de alegria! Momento de celebração! Momento de gratidão! Gratidão a todos os envolvidos! Aos que ele menciona em seu texto, e que eu corroboro, fazendo de seu agradecimento também o meu! Valeu, compadre! Com a palavra, Jorge Elias de Almeida: “Acredito que o CD Retratos Brasileiros, da Camerata de Violões do Guri Santa Marcelina, seja a síntese do trabalho das grandes formações de conjunto de violão realizado até então. Resultado de um minucioso processo artísticopedagógico, trata-se com a mesma relevância tanto os aspectos estéticos quanto os didáticos, fazendo que ambos dialoguem de tal forma que nos parece impensável que esse tipo de formação pudesse ser concebido de outra forma. A seleção do repertório para os arranjos, a escolha dos compositores para a encomenda das obras originais, a edição das partituras (com toda a digitação e padronização de timbres), o trabalho com os alunos durante os ensaios (para as apresentações e mais tarde para a gravação), a gravação e mais tarde a masterização, todo o processo foi muito bem arquitetado. Nesse trabalho, temos a satisfação de ouvir jovens violonistas executarem obras de grandes músicos – violonistas e amantes do violão – de forma tão sincera que não podemos deixar de sentir a comunicação entre as gerações, garantindo-se a perpetuação da escola do violão brasileiro, tão bem retratada neste CD.

VIOLÃO+ • 45

em grupo O CD faixa por faixa Paulo Porto Alegre é um poço de generosidade! Nós lhe pedimos uma peça e ele veio logo com três: “Samba Canção”, “Coral” e “Pentatônicas”, que formam as 3 peças para Camerata de Violões. Sempre com extremo bom gosto, Paulo escreve com a mesma maestria essas três peças tão distintas entre si. É incrível como o professor Geraldo Ribeiro lapida suas obras de forma a dar-lhes um brilho do mais lindo diamante. A “II Canção de Dezembro” evoca o clima introspectivo de fim de ano. Pela sua total clareza no discurso, torna-se uma peça que requer muito cuidado em sua execução. O professor Pietro Carlo Corrêa sempre traz em seus arranjos a preocupação de fazer que a peça seja divertida para tocar. Mesmo os trechos virtuosísticos apresentamse como um desafio saudável para o executante. Com “Da Noite para o Dia” não podia ser diferente. Escrita com urgência para um exame da faculdade, a obra se adaptou muito bem à Camerata de Violões. Douglas Lora é um desses grandes músicos que transita com tranquilidade entre a música clássica e a música popular. Isso fica nítido no “Baião Guri”: a tradicional música nordestina escrita com a rigorosidade da música

46 • VIOLÃO+

em grupo de concerto. Um parêntese: foi emocionante a presença do compositor no concerto de encerramento do ano, quando a Camerata executou o seu baião. Conversamos com o Celso Cintra num concerto em Uberlândia, onde, a convite de seus alunos Thales e Pietro, pôde ouvir a Camerata. Quando o convidamos a compor para o grupo, ele aceitou de pronto. E nos trouxe a linguagem da música contemporânea na obra “Branca”. Sua visita ao grupo nos trouxe ainda sábios conselhos, daqueles que mudam a nossa percepção do mundo. O “Choro Urbano” do maestro Edmundo Villani-Cortes foi a primeira peça que chegou em nossas mãos. E trazida pelo próprio! Estávamos com nossos afazeres na sede do Guri quando recebemos a ligação da recepcionista avisando que o compositor queria nos ver. O maestro nos mostrou sua adaptação para a Camerata de Violões, trazendo todos aqueles acordes invertidos típicos dos acompanhamentos dos choros. A “Lenda do Caboclo”, do mestre Heitor Villa-Lobos, cujos arranjos se tornaram um clássico na música de câmara para violão, já foi adaptado para duo, trio, quarteto, orquestra de violões e agora recebe esta belíssima versão de Thales Maestre para a Camerata de Violões com as suas cinco vozes explorando de forma magnífica a textura do grupo. Quando ouvi a Camerata ensaiando esta valsa do Américo Jacomino, “Primeiras Rosas”, disse ao Thales que sempre sentira falta das valsas seresteiras no repertório das cameratas de violões. Está tudo lá: o acompanhamento em pizzicato, o tremolo lembrando o bandolim, as “baixarias”… “Rosa Carioca” é um belo retrato da época da formação da linguagem do choro, quando este ainda não era um gênero, mas a maneira com a qual os músicos brasileiros interpretavam as danças vindas de fora. Nesse foxtrot de João Pernambuco, Thales tão bem traduziu, na percussão obtida na lateral e no tampo do violão, os passos dos dançarinos no salão. O “IV Centenário”, do sanfoneiro Mário Zan, figura no repertório da Camerata como um exemplo da época de ouro do rádio brasileiro, onde o violão tinha importante papel na constituição dos regionais. Muito tempo depois, descobrimos que a música estava presente VIOLÃO+ • 47

em grupo no pioneiríssimo trabalho de Alfredo Scupinari e o seu Sexteto Paulistano de Violões em disco de 1971! Um trabalho de muitas mãos Um trabalho como esse não seria possível sem a participação e colaboração de muitos. A princípio de todos os alunos da Camerata de Violões que, apesar da pouca idade, demonstraram, do início ao fim, um profissionalismo exemplar. Dos professores de violão do Programa em 2013, que tão bem orientaram seus alunos: Affonso Marques, Alexandre Ribeiro, Cristiano Petagna, Eduardo Meneses, Eric Corso, Felipe Guimarães, Fernando Poles, Flávio Fevereiro, Heloíse Ferreira, Leandro Sarmento, Luciano Morais, Paulo Caldas, Pedro Messias, Pietro Corrêa, Santiago Steiner, Siderlei Santos, Thales Maestre e Valdir Silva. Da gestão, coordenação pedagógica e coordenação do serviço social do Guri Santa Marcelina: Giuliana Frozoni, Ricardo Appezato, Valéria Zeidan e Marta Bruno, no total apoio a este trabalho, assim como toda a equipe técnica, pedagógica e social do programa pela impagável colaboração. Dos compositores que tão generosamente aceitaram nosso convite e nos deixaram estas obras--primas. Do professor do grupo Pietro Corrêa, que, além do valiosíssimo suporte pedagógico, atuou na sonorização da Camerata, realizou as gravações dos ensaios e participou da edição e masterização do CD. De André Mainardi, outro grande companheiro, responsável pela sonorização do grupo nos concertos, e que tão bem captou a ideia do trabalho. De Pedro Martins Pereira, no registro em texto e vídeo do grupo nesta temporada. De Ricardo Marui, nas audições dos alunos, onde se iniciou nossa parceria, que se estendeu por toda a gravação e masterização, tudo com impecável competência. E claro, o trabalho incansável de Thales Maestre, que organizou, escreveu e dirigiu todo este belíssimo projeto, enriquecendo ainda mais o legado do nosso tão querido violão. Para mim, basta ter presenciado isso tudo. Meus profundos agradecimentos a todos! 48 • VIOLÃO+

sete cordas

Arpejos, aproximação cromática e notas alvo

Samuca Muniz

[email protected]

Salve, salve, “setecordeanos” de plantão. No mundo do violão 7 cordas, são raros os materiais escritos sobre arpejos, aproximação cromática e notas alvo. Em geral, eles são vistos com frequência na prática dos músicos do samba e do choro, trazendo um intercâmbio principalmente entre os violonistas. Na construção de uma frase, deve-se observar sempre quais elementos deverão ser utilizados: divisão rítmica, técnicas de execução e notas escolhidas. Tudo precisa ser organizado de forma que não pareça jogado ou desperdiçado. Se esse pensamento não acontece, o erro geral cometido é uma sequência de notas sem sentido, porém, dentro de uma determinada tonalidade. Assim, devemos sempre levar em consideração o uso das notas alvo. “Notas alvo” é a definição dada às notas que serão utilizadas como o objetivo principal em uma frase, por exemplo. Elas finalizam a frase, onde acontece o repouso da mesma. Nos exemplos pensados para essa edição, utilizei da sequência de acordes seguidos de aproximação cromática, finalizando em uma nota alvo. Para começar, é necessário identificar as tríades e tétrades de cada acorde da sequência. Todas as frases que são construídas nos exemplos foram criadas em cima desse conceito: G6 (Sol, Si, Ré, Mi) E7 (Mi, Sol#, Si, Ré) Am7 (Lá, Dó, Mi, Sol) D7 (Ré, Fá#, Lá, Dó) VIOLÃO+ • 49

sete cordas No Exemplo 1 as aproximações cromáticas Dó# e Si antecedem a nota alvo Dó (3ªm) do acorde Am7. O mesmo conceito de aproximação cromática ocorre no Exemplo 2, mas de maneira diferente, quando utilizo o Em7 dentro do acorde de E7, caracterizando a blue note, que faz aproximação da 7ª Maior de Am7. Essas técnicas de aproximação também são aplicadas nos outros exemplos. Aproveite para analisar as frases e praticá-las em outros tons. Portanto, toda vez em que uma frase é concebida, cada nota deve ser pensada e encaixada no contexto utilizado: alturas, ritmo e técnica de execução precisam andar juntos, em parceria. Dessa forma, criamos sonoridades interessantes nos improvisos e solos.

50 • VIOLÃO+

sete cordas

VIOLÃO+ • 51

siderurgia

Tríades

Eduardo Padovan [email protected]

Olá, leitores de Violão+! Nesta coluna, trago mais duas sonoridades de tríades para os nossos estudos: as aumentadas e as diminutas. Conforme já observado em edições anteriores, as tríades são as três notas que formam os acordes sem extensões (sétimas, décimas-primeiras, décimas-terceiras etc.). Assim, quando estudamos as sonoridades aumentadas e diminutas, estamos aprimorando nossos conhecimentos sobre os acordes de mesmo nome. Tríades aumentadas Uma tríade aumentada é formada pela estrutura de intervalo Tônica, Terça maior e Quinta aumentada. Perceba que é uma estrutura que se assemelha à tríade Maior, com a diferença de tipos de quintas. Uma tríade de Dó Aumentado, por exemplo, possui as seguintes notas: Dó, Mi e Sol# – e sua cifra é C+. Uma observação importante sobre as tríades aumentadas é o fato de elas serem simétricas. Observe comigo as notas que formam a tríade de Mi Aumentado: Mi, Sol# e Si#. Considerando que as notas Si# e Dó são enarmônicas – são nomes diferentes para o mesmo som – podemos dizer que as tríades de C+ e E+ possuem o mesmo som e são tocadas nas mesmas casas/trastes do violão. Junto a essas tríades, temos a tríade de G#+, Sol Aumentado, que tem as notas Sol#, Si# e Ré x (dobrado sustenido). Se usarmos enarmonias, teremos Sol#, Dó, e Mi, as mesmas notas de C+ e E+. Portanto, uma tríade aumentada é ao mesmo tempo três. Tríades diminutas Já a outra sonoridade que vamos estudar, as tríades diminutas, não possui essa simetria. Elas têm uma estrutura de intervalos mais próxima à estrutura das tríades menores. Sua formação consiste em: Tônica, Terça menor e Quinta diminuta. Mais uma vez, os tipos de quintas diferenciam as tríades menores e diminutas. Para 52 • VIOLÃO+

siderurgia tocarmos a tríade de Lá Diminuto, por exemplo, devemos tocar as notas Lá, Dó e Mi bemol. Ciframos essa tríade A°. Encontramos a tríade diminuta em diversos campos harmônicos, como no Campo Harmônico Maior, em que ela é o sétimo grau. Para a parte prática de nosso estudo, decidi manter o Dó como tônica em comum e explorar as possibilidades dessas tríades em toda a extensão do braço do violão. Em cada pequeno trecho delimitado por ritornelos, estou mapeando as notas da tríade naquela região. Leia e observe com atenção a localização das notas, a qual formato de acorde (shape) se assemelha. Repita quantas vezes for necessário. Sem pressa. Aproveitem sem Tríades Aumentadas e Diminutas moderação! Abraço!

Tríades Aumentadas e Diminutas Tríades Aumentadas e Diminutas

Tríade Aumentada:

4   44 C+ (shape  de C)   44       4    1  1  3 22 1 11  3 2 1

Tríade Aumentada: C+ (shape de C) Tríade Aumentada: C+ (shape de C)

Violão Violão Violão Violão Violão Violão 3 3

Viol. 3 Viol. Viol. Viol. Viol. Viol. 5 5

Viol. 5 Viol. Viol. Viol. Viol. Viol. 8 8

Viol. 8 Viol. Viol. Viol.

     

3

C+ (shape de A) C+ (shape de A) C+ (shape de A)

        3  3  3

      7 7

6 6

   5 5 5

      0

4

0

4

0

4

      5 5 5

   0 0 0

  

   1 1 1

8

  

4

8

4

4

8

4

4

4

   1 1 1

   5 5 5

  

4

   0

  

4

0

4

     

4

0

4

5

7

2 2 2

5 5

  3 3        3     3                3        3   3   3      3   3   3       3      3   8 3 35 9 35 9 9 5  5 5 5  8   8 7 66 5 55 99 8 99 55 5 66 7 8 7 66 5 55 99 5 5 7 7   8 7 6 5 8 6 6  37 3 3 3  3 7 8 37 8  (shape de E) C+ 3  3 3 3 3   3 3 3     (shapede E)   3 3  3 3  3   3 3 3   C+   3    (shapede E) C+    3    3         3   3   3        3 3 8 312 8 3 9 9 3   9 9 8 12 8 7

6

C+ (shape de G) 3 C+ (shape de G) 3 C+ (shape de G)

      3 3 3

6 6

   7

   3

4

3 3

      3 3

7

3

      

   3

4

3

4   3     3  3   3       3    8 3 6

      

4

3

         9 5  5 8 6 9 5  5 7 8 8 6 9 5  5 7 8 6  7 3 3  8    3 3 3      3     3 3       3   3  3      3 3   VIOLÃO 8 12 39 38 9+ • 53 9

8

12

8

 

  

    

8  8  3 3 3         5 9 9 5 5 9 9 5 5  5 5         6 5 6  6  7 6 8 7  8 7 7 3 3 3 3 8 3

3 C+ (shape de G) 3

siderurgia  5

Viol.

Viol. Viol.

8

8

Viol.

Viol. Viol.

8 12 8 3 3 9 3 3 9      9 9 3   10    7 11 10   8      3 3 3 3 3 3 3   3  9 8 12      9 10    9     10

10

3

Viol.

3

3

   

3 35 9 8 93 5  3 3 35 9 8 93 5 3        3 5 de E)   5 5 5  C+ 3 6(shape 3    6 6   7 6   7    7 7        8    8 8 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3  3    C+ 3 (shape de E)   8 12 8  3 3  9 8 12 8 9    9 9      9       10 9       10 9 10 7 11 11 7 7 11 3 3 3 3 3 8 8

10

Viol.



  4 



9

7

3

10

3

54 • VIOLÃO+

11

8

7

11

3

11

7

8

3

3

3

7

11

3

10

3

9

9

8

3

3

12

3 93  3  39 7 11 10 11 7    8 3 3 3 8 3  3 9  9    10 8

11

3

8

93

3

9

7

8

3

10

11

3

7

8

12

8

3

3

9

    

iniciantes

“Odara” Olá a todos. Encerrarei por ora a coluna Iniciantes com alguns exercícios para a mão direita e uma nova leitura musical. Creio que tivemos, juntos neste período, muitas trocas e procurei dar dicas para colaborar com as maneiras de encarar o primeiro contato com o instrumento e com a música, assim como a superação de alguns obstáculos que surgem no decorrer do processo de aprendizagem. Lembro, enfatizando o que já abordamos diversas vezes: organizem a rotina de estudos, dividam o tempo entre exercícios de aquecimento, técnica e repertório. Sempre é possível dar uma arrumadinha na agenda. Precisamos focar no que é importante para nós e, com certeza, se você está lendo e acompanhando a revista até aqui, a música é para você. Dessa forma, garanto: arrume seu tempo e terá um processo muito mais prazeroso. Também indico que procurem um professor, pois muitas vezes o olhar de uma pessoa especializada vai enriquecer e acelerar o processo de aprendizagem. Abordaremos a técnica para mão direita com mais alguns exercícios de coordenação com foco na prática diária, que envolve a rotina de desenvolvimento da sonoridade, precisão rítmica, clareza de ataque e velocidade. Vamos começar tocando lentamente e, gradativamente, aumentando a velocidade sem perder a sonoridade e sem tensionar a mão.

Ricardo Luccas [email protected]

Técnica Para Mão Direita (Arpejos) 44 ««« ««««ˆ «««ˆˆ ««« ««««ˆ «ˆ«ˆ« ««« ««««ˆ ««« ˆ«««« ˆˆ««« ««« «««ˆ« «ˆ«ˆ« ««« ««««ˆ «««« ˆ«««« ˆˆ««« «««« «««ˆ« «ˆ«ˆ« «««« ««««ˆ «««« ««««ˆ «««ˆˆ «««« «««ˆ« ˆˆ««« «««« ««««ˆ ««« _ _««« l _««« ««« _ _««« l _«« ««« _ _««« l _««« ««« _ _««« ={” l & “ { __«««ˆ . ============================ _ _ _ _ . « a __J»œˆ«« __»œ _ _ _J»œˆ»« _»œ» _«ˆ»œ» _««J»œˆ» _ _««ˆ»œ» ” _«ˆ»œ«» . _»œ» _ l __»œˆ»»«« . l_ l • “ p »œ«»» i ma p_ˆ«J»œ»» i_»œ»» m p_ˆ»œ»»« i l _»œˆ«»» » » » »» »» _««ˆ»œ»» » » » » ” l l l “ l 0 0 0 0 0 0 0 0 ” l l l lT “ 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 l 0 l A “{ 0 0 0 0 0 0 l 0 0 0 0 0 0 l 0 {” ” l0 l l lB “ 0 0 0 0 0 1]

«« ««« ««« «« «« «« ««« «« «« «« « « « « « « « « « « « « « « « « « « « « 2] « «ˆ « « «ˆ ««« ˆ«« «« «« «ˆ« ««« ˆ«« «« «« ˆ«« ««« ˆˆ««« ««« «« «ˆ«ˆ« ««« «ˆ« ««ˆ« «« a «ˆ« ««« ˆ« « ˆ« « « ˆ « ˆ « « « « « œ œ»» ={”• 55 » « » œ » œ ˆ ˆ « « « ˆ « « « m « « VIOLÃO+ » »»» l _«« l & “ { _«««» . a _»«« __œ» __»œ i »»» _««« . ============================ « « « « » _ »»» _ _ _ _ _ _ _ _ « _ « « « » _ _ _ _ _ _ _ œ _ œ œ » » _ « _ « _ œ ˆ _ ˆ œ _ ˆ œ _ ˆ » » • « « i « « » _ » _ _ » _ _ _ » » » » » i » _ _ » » ˆœ»« œ» œ» » ” »«œˆ œ» œ» » »«œˆ . l “ » m » » p» » » » » l œˆ»« .

0 lT “ 0 0 A l “{ iniciantes lB “ 0

0

0

0 0 0

0

l l l

0

0

0 0 0

0

0 0 0

0

l l l

0 0

0 0

0 0

0 0

0 0

l l l

0 0

0 0

0 0

0 0 0

” 0 ”{ ”

«« ««« «« «« «« «« ««« ««« «« «« «« «« «« «« «« «« ««« ««« «« ««« ««« ˆ«« «« ««« ˆ«« ««« ˆ«« «« ««« «ˆ« ««« ««ˆˆ «« ««« a ˆ«ˆ« ««« ˆˆ««« ««« ««« «ˆ«ˆ« ˆ« « ˆ« œ»»» ={” œ»»» _««« ˆ« ˆ«« _««« ˆ« l & “ { __ˆœ««««» . a «ˆ __««««œˆ» m__œ» __»œ i »»»»œ __«««œˆ»« . ˆ« __ˆ««««œ» __œ» __»œ œ»»»» l __«««« ˆ« __«««« __ _ ============================ _ _ _ _ˆœ»»««« _ _««»«»œˆ . _œ»» »»»» ” _iœˆ««»» _œ»» _ »» »» »» »» l _«œˆ»«» . _œ»» _ _œ»» »»»» _ l • “ p »» m i p»» »» p »» »» »» » » » » » » » » l ” l “ 0 0 0 0 0 0 0 0 l ” lT “ 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 l l A “{ 0 0 0 {” 0 0 0 0 l 0 ” lB “ 0 0 0 0 0 2]

«« ««ˆ «« «« «« «« «« « « « « ««« ««« «««« ˆ««« «« ««ˆ «« «« «« «« «« « « « « ««« ««« «««« «««ˆ « ˆ ˆœ» ˆ« «ˆ « « ˆ« ˆ« «ˆ «ˆ« «ˆ« «« « «« «« ««ˆ ««»»ˆœ «ˆ «»»»ˆœ ={” ============================ l & “ { i _ m i mˆ ˆ«i mˆ«« ˆ««« _««««» ˆ««« œˆ«««»» mˆ«« œ«ˆ»»»» i m« «»»»» i m l _ ««»« «ˆ »«»œˆ »» ˆ« _ »»» _ ˙ _ ˙ _ œ ˆ _ ˆ œ » » • » » i » » » » » » » » » » l » ” » l “ p» p» m » i l ” l “ 0 l 0 0 ” lT “ 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 l l A “{ 0 0 0 0 0 0 0 {” 0 0 l 0 ” lB “ 3]

««« ˆ««« ˆ««« ˆ««« «« «««ˆ ˆ««« «««ˆ ««« «««ˆ «««ˆ ˆ««« ««« «««ˆ «««ˆ «««ˆ ««« «««ˆ «««ˆ «««ˆ «« ««ˆ« ˆ««« ««ˆ« ««« «««ˆ «««ˆ «««ˆ ««« «««ˆ «««ˆ «««ˆ ««« ««« « «ˆœ»» « ««ˆœ» ˆ œ « « » « ˆ œ « « » » l l & “ { _«« ============================ ={” « » » » » œ « « ˆ ˆ œ » » » » __««ˆ»œ » » « _ œ ˆ » • » a m i » l »» ” l “ p »» l ” l “ 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 l 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 ” lT “ 0 0 0 0 l 0 l A “{ 0 0 0 {” l ” lB “ 4]

Crie seus próprios arpejos:

l& ll l ============================ =” l • ll l ” lT ll l ” lA ll l ” lB ll l ”

Sugiro que executem a princípio em cordas soltas para ter todo o foco na mão direita (na esquerda para quem é canhoto). À medida em que adquirirem segurança no arpejo, podem testar sobre uma progressão harmônica como, por exemplo, I-II-V. Se tocarmos em Sol Maior, teremos G, Am e D7. Se tocarmos em Dó Maior, teremos C, Dm e G7. Em Lá Maior, A, Bm e E7. Indico estas para vocês experimentarem os arpejos. No fim, há uma pauta e 56 • VIOLÃO+

iniciantes uma tablatura em branco para que você crie o seu arpejo. Faça sem se preocupar se está certo ou errado. Invente, experimente, grave e envie – estarei aguardando. “Odara” Vamos a mais um tema para exercitar a leitura musical. Nesta edição, temos a música “Odara”, de Caetano Veloso, em duas versões: melodia para leitura e com melodia acompanhada de baixos. Segue a versão do tema para leitura. O MIDI tem acompanhamento e você pode experimentar tocá-lo também. Se for o caso, use o arpejo P I MA I, sendo: polegar nos bordões (polegar deve ser tocado na corda que tem a bolinha abaixo da cifra), indicador na corda 3, médio e anular juntos nas cordas 2 e 1 respectivamente e novamente o indicador na corda 3. Esse arpejo deve ser tocado duas vezes por compasso. Veja os acordes abaixo.

VIOLÃO+ • 57

44 «ˆ« «ˆ« «ˆ« «˙« «ˆ« ˆ« ˆ« ˆ« «ˆ« Œ ∑ ∑ ======================== l& “ { Em l ”{“ { Am £ l DCAETANO l VELOSO £ £ • # ODARA 0« 2« 0« 2« 0« 1« 3« 1« 0« « iniciantes « 44 ˆ « « « « ˆ« cor- «ˆ«po fi-«ˆ« «ˆ« euˆ«dan-«˙«çar Œ proˆ« meu ˆ ∑ ∑ « Deixe Am D CAETANO VELOSOl ======================== l& “ { Em l { ” “ { l £ £ £ ODARA « • # 0« 2« 0« 2« 0« 1« 3« 1« 0« “Odara” «ˆ« cor44 ˆ« «ˆ«po fi-«ˆ« « « «ˆ« meu «ˆ« euˆ«dan-«˙«çar Œ CAETANO ˆ ∑ ∑ « Deixe pro VELOSOl ======================== l& “ { Em l ”{“ { Am £ l D£ £«Veloso « Caetano • # Em « D 0« 1 3« 1 0« Am 0« 2« 0« 2« £««ˆ«po fi-«ˆ« «ˆ« «cor£ 4 ˆ « « « « « « ˆ ∑ ˆ ˆ ∑ Œ « « « 5 « Deixe eu dançar pro meu ˆ ˙ « « ««{ Am«« £ «« «« «« l D ««£ «ˆ« «ˆ« «ˆ«£ «« l « ======================== l & # 4 ««ˆ«“ { Em l { ” “ ««ˆ« ˆ««« ««j ŒD ˆ«0« 1« 3«« 1« 0ˆ«« ∑ ˆ ˆ ˆ « j « « « ˆ « ˆ ˆ . . « « ˆ « « « • # « « 0 2 0 2 Em Am l& 4 l l «ˆ« « «ˆ« « l Œ £«ˆ« «ˆ« ˆ« £«ˆ« «ˆ« l ======================== ∑ ∑ cor-1«po 0fi0« meu 1« 3« «« ˙«2««çar l pro «« l ======================== l 5&• # 42««“ { 0« 2«« «« 0« l ”{“0««{ Dei-2«« xeˆ« 0««eu dan« « « ˆ « « ˆ ˆ « « car O- ˆ da- j ra. Mi∑ ˆ 0nha ˆ« 0 j ˆ« 2raˆ« . ŒD mi-ˆ«0 nha1 cu-3 ca1 fi-0ˆ« « « « • ˆ ˆ « ˆ « « « 2 ca« ˆ ˆ « Em Am l& l l Dei- xe eu dan- çar l pro l ======================== £ £ meu corpo fi5• 0« 2« 0« « 2« 0« 1« 3« 1« 0« # 2«« 0«« 2«« «« 0« « « « « ˆ « « « « « ˆ ˆ« fi-«ˆ« « « Œ « ∑ ˆ ˆ ˆ ˆ j « « « « car Odara Minha cara minha cuca ˆ ˆ ˆ « ˆ « j ˆ . . « « « « ˆ ˆ « l & Em l l Am l D £ l ======================== £ 5• 2« 0 2 « 0 0« 2 0« « 2« 1« 0« Am D 0« 1« 3« # Em « £ « « « «ˆ«« fi-«ˆ« £ « « ˆ « « « « « £ £ « « ˆ « « « « £ « « ∑ ˆ ˆ ˆ Œ ˆ « j « « « « car Odara Minha cara minha cuca 9 « « ˆ ˆ ˆ « ˆ ˆ j . . « « « «« «« «« «« D « « « « « Am ˆ«« l ««ˆ« ˆ««« ˆ««« ««j ======================== l 5& # Em l l £ˆ«« «ˆ« l ˆ « « £ ˆ « Œ ∑ ˆ ˆ ˆ « « « « « ˆ ˆ ˙ . « « « « «« 2« « 0ˆ«« l «« 2«« l D 0«« 1«ˆ« 3«ˆ« 1«£ˆ« 0«« l 2« 0ˆ 0« 2« 0« Am l &• # Em l ======================== « « « « « « «ˆ«O- ˆ2«da- j ∑ ˆ0£« nha ˆ«0£« j ˆ«2 raˆ« . Œ mi-0ˆ«£« nha1« cu-3« ca1« fi-0ˆ«« « « ˆ ˆ « ˆ « « £ car ra. Mica• ˆ « 9 2 0 0 2 ======================== l & # «« « «« «« « l l « «« « «« l « «ˆ« «ˆ« «ˆ« « l car Odara Deixe eu cantar que0ˆ é pro Œ ∑ « « « « l • ˆ ˙ « j . « « « « 2ˆ 0« 2ˆ 0« 0ˆ 2ˆ 0ˆ 2 1 mun3 1do fi0ˆ « ˆ ˆ « Am D l & Em l l l ======================== £« fi£ car O- dara Minha cara minha cuca £ £ £ « 9• « 2« 0 2« « 0 0« 2« 0« 2« 0« 1 3« 1 0« # car «ˆ« mun« « ˆ« «ˆ«do fi-«ˆ« « « « «ˆ« «ˆ«O- ˆ«da- «j « ra. Deixe« eu cantar que« é pro ∑ ˆ ˆ Œ ˆ « « « « ˆ ˆ ˙ « « « ˆ« l D ======================== l & Em l Am l l £ £ £ £ b 9• 2«#m 0 2« « 0 0« 2£« 0« 2« 1£« 0« Cmaj Bm E 0£« 1« 3« £ # Ccar « £ « « « « « ˆ « « « « « « « « ˆ ˆ « « « « « « « «ˆ« Odara Deixe eu cantar que é pro mundo fiŒ « ∑ ˆ ˆ ˆ « « « 13 « « ˆ ˆ ˆ ˆ ˙ j . « « « « « « « « « « « « « D « ˆ « nˆ « «« ˆ««« «« «« ˆ««« l Œ «ˆ« «ˆ« ˆ« «ˆ« «ˆ« l #ˆAm ˆ « « « « « ======================== l 9& # Em l l £ « ˆ ˆ « « « £ ˆ ˆ « j . « « £ £ Œ « ˆ ˆ « £ « ˆ«« 0ˆ«« . lCmaj « ˆ« 1«£« 0«« l 0« 2« 0« 2« 1« 3« Bm E b 0« l &• # C2ˆ«««#m #ˆ0««« ˆ2««« j l l ======================== £ £ « « « £« « ∑ « « « Deiˆ ˆ « « « « « Œ ˆ ˆ ˆ ˆ«« « « « « « « ˆ ˆ ˆ ˆ ˙ j . « « « « car Odara xe eu cantar que é pro mundo fi« « • « ˆ ˆ « 13 « « « « « 2 1 2 1 1 3 0 3 1 2 0 2 0 3 0 1 0 3 « « « « « l & # car«« «O- ««da- «« «ra l Pra«ˆ« fi-«ˆ« carˆ« tu-«ˆ« do«ˆ« l jól Qual-quer ======================== nˆ« saˆ« que«ˆ« l « ˆ « « « « « ˆ « « ia rara coi#ˆ ˆ ˆ « j . « « Œ « 0 2 ˆ« l EŒ b 0 1 3 1£ 0 l ˆ« 0«ˆ« . lCmaj «#m #ˆ0«« ˆ2« j 2ˆ 0 2ˆ Bm ======================== l &• Ccar l £ « mun£« £ « O- dara Dei- xe eu can- tar que«é pro do fi« « « • 13 « « « « « « 2 1 2 1 1 3 0 3 1 2 0 2 0 3 0 1 0 3« « « « « « # car«« «O- ««da- «« «ra nˆ « « « «ˆ« « « ˆ ˆ ˆ « « « « « « « ˆ ˆ « ˆ « « « Pra ficar tudo jóia rara« Qual-quer coi- sa que « ˆ ˆ #ˆ ˆ ˆ j . « « « « Œ Œ « « ˆ ˆ « « ˆ« ˆ« . lCmaj Bm E b £ £ ======================== l & Cˆ«#m #ˆ« ˆ« j l l l £ £ « « « « 13• 2« 1 2« « 1 0« 3« 1« 2« 0« 2« « 0« 3« 0« nˆ 1« 0« 3« Am Em D 1« 3« # car « « « « « £ ˆ ˆ ˆ « « « « « « « « « « £ ˆ ˆ « ˆ ˆ« « « « « Odara Pra ficar tudo jóia rara Qual-quer coisa que « ˆ ˆ #ˆ ˆ ˆ « j . « « « « « « « b Œ Œ « « ˆ ˆ « « # 17 « « ˆ ˆ ˆ j . « « « « « C m Cmaj Bm E #ˆ « ˆ « £ « « £ £ « « « « l 13& # «ˆ« ««ˆ« ˆ«« «j l l l l £ ======================== ˆ « « « « ˆ ˆ « « « « « « ˆ Œ ˆ ˆ Ó ∑ « « « « « « « ˆ ˆ . j . « « «ˆ« 0«ˆ« 3««ˆ« 1«« l Em « ˆ« 3«ˆ« ”{ « « nˆ 2« 1« 2« « 1« 3« 2« 0ˆ 2« 0« 3« 0« 1« 0« Am D 1« ======================== l &• # car l l « ˆ « « « « ˆ « « ˆ«£ fi-1« car3« tu-1£« do0ˆ« jó#ˆ«2 ia0ˆ« ra-ˆ« j ˆ« ra«ˆ . ŒQual-quer coi- sa que «ˆ« #ˆ2««O- ˆ0««da- «j Œ « ra. Pra ˆ « • ˆ « 17 0 2 0 «« e«ˆ« dan-«ˆ« ço«ˆ« que«« l da-«« rá« «« «« ra«« l Can-to l & # se«« so-«« nhal l ======================== ŒD 1ˆ« 3 0 3 1ˆ« Em ˆ ˆ Ó « « • « ˆ . . « « 2ˆ 1ˆ 2« j 1ˆ 2j 0« 2 0 3 0∑1 0 3 ˆ « Am ======================== l & car O- da- ra l Pra£ fi- car tu-£ do l jó- ia ra- ra l Qual-quer coi- sa que ”{ Agora, vamos tocar2 uma versão 17• 0« 2« 0« 0« 1« com 3« 1« acompanhamento 0« 2« 0 # « « « « « « « ˆ « « « « « «ˆ« nha« dan- çoˆ«dequeˆ«cada «j «ˆ« . osŒCan-to seˆ sora eˆ dará de baixos. Eles marcam 4 ˆ«tempos compasso « ˆ ˆ ∑ j « « ˆ« «ˆ« . Ó Am Em D le & l l l ”{ ======================== a melodia vai dançando em cima£ conforme o ritmo £ 17• 0« « 2« 0« 1« 3« 1« 0« 2« 0 # se0««ˆ noso-2«« vídeo. « explicado « « « ˆ « « « « « « « « « nhara Can-to eˆ dan- çoˆ que dará« . Œ ˆ ˆ ˆ ˆ Ó ∑ « j « « « « « ˆ ˆ ˆ j . « « Am Em ˆ Dmandem as gravações « Boa diversão! Quero que para l 17& l £ « « £« l l ”{ ======================== que• possamos trocar Abraços! # 0««ˆ 2«« 0ˆ«««dar««ˆ dicas, 2« 0« 1« ideias. 3« 1« 0« 2« 0« Estou ˆ « « « « dan- çoˆ« queˆ« da-«j «ˆ« . ŒCan-to ˆ ∑ « « se« sonha- j ra eˆ à disposição. « ˆ l& l l ˆ« r᫈« . Ó l ”{ ======================== 58 • VIOLÃO • +0 2 0 2 0 1 3 1 0 2 0 7

7

7

7

7

7

7

7

7

7

7

7

7

7

7

7

7

7

7

7

7

7

7

7

7

7

7

7

7

7

7

7

7

7

7

7

7

7

7

7

7

7

7( 9)

7

7

7

7

7

7( 9)

7

7

7

7( 9)

7

7

7

7( 9)

7

7

7

se

7

7

7

7

7( 9)

7

7

7

7

7

7

7

7

7

7

7

7

so- nha-

ra

Can-to e dan- ço que

da-



ODARA ODARA ODARA ODARA ODARA

iniciantes

££ « « ££« ££ ## 4 «ˆ ««£ ««ˆ« «« ««ˆ£ ˆ«« «ˆ« £«ˆ« «ˆ« « ∑ ∑ Œ ## 44 “ { _ _ ∑∑_ _ l œ»»œ œ»» ∑∑_»œ _ {”“ { _««ˆ««ˆ ˆ««ˆ«££ _ «ˆ««ˆ _˙««˙« _ l œ»»ŒŒ ««ˆ««ˆ££ œ»» «ˆ«ˆ «ˆ«ˆ«œ»» ££«ˆ«ˆ œ»» ««ˆ««ˆ=l l============================ ============================ & ll »œ» œ» ∑_»œ» __»œ» {{””““ {{ __««ˆœ»œ»» «ˆ«ˆ« __»œ»»œ ««ˆ __»œ»»«˙«˙«œ __»œ»»œ ll »œŒ ««ˆ œ» «ˆ«« ˆ«œ«» «ˆ«« œ» ««ˆ= ll & ll _ _ _ 44 ““ {{ _ _ _ _ _ # œ œ » œ œ » » » ∑ ============================ & = œ » œ œ œ œ œ » » » » ll & 4 ““ { ___»»œ ___»»œ ∑___»»œ ___»»œ ll »œ»» »œ»» ∑__»œ»œ ___»»œ {””““ { ___«ˆ«»œ» «ˆ« ___»œ» «ˆ« ___«˙«»œ» ___»œ» ll Œ»œ»» «ˆ« »œ»» ˆ« ˆ«»œ»» ˆ« »œ»» «ˆ«=ll ============================ ============================ ll T& “ { ____»œ»»œ» ____»œ»»œ» ____»œ»»œ»œ ____»œ»»œ»œ ll »œ»» »œ»» _»»œ»» ___»»œ»»œ» {””““ { ___»œ»»œ»0 ___»œ»»œ» 0 ___»œ»»œ» ___»œ»»œ» ll »œ»» 0 »œ»» 1 »œ»»3 1 »œ»» 0=ll “ ““ »0 2 » 0 2» » ll 0 1 3 1 0 ll ll T ““ »œ»» »œ»» »»» »»» ll » ” ” l AT “{ l2 0 l 0 0 0 1 03 1 0 0 l {”“ { 0 2 0 2 Em77 Em Em7 Em7 Em7

CAETANO VELOSO CAETANO VELOSO D77CAETANO VELOSO D CAETANO VELOSO D7CAETANO VELOSO D7 D7

Am77 Am Am7 Am7 Am7

ll ATBAT ““ { 0 0 0 0 ll 22 00 22 3 {””““ { 00 22 00 00 2020 00 ll 00 00 00 11 3030 11 00 00 ll ll BABA ““ {{{ 00 00 00 00 ll 22 00 22 33 {{{””““ {{{ 00 2 00 020 00 ll 00 00 00 00 ll ££ D £ 3 ”Am 2 0 0 0 0 « “ l l 55BB # Em l “« 00« « 00 « 00« 00 l £ Em Am D « « « « « « « 3 « « « « « £ « ˆ « « « « « Am D £ˆ« ˆ« « ˆ« ˆ« «ˆ« . «ˆ« «ˆ «ˆ« «j ## Em ˆ««ˆ «ˆ«« ˆ««ˆ j ∑∑ ˆ Œ « « . ˆ « 5 ˆ Em Am D £«ˆ ˆ«« «ˆ £««ˆ ˆ«=l « ˆ « « Œ j « « « « œ l============================ l » ============================ l l ˆ ˆ ˆ ˆ j ˆ . . 5& œ » œ » £«ˆ« œœ»»» «ˆ=l « « ˆ « ˆ _ _ _ _ » _ _ _ _ _ _ Em Am D £«ˆ œ»» «ˆ «ˆœ»«» « « » œ » » « « « « « « ˆ ∑ ˆ j Œ ˆ « « œ l============================ l l l _ œ _ _ » _ œ _ _ _ œ _ œ » » » 5& # _ . ˆ ˆ ˆ ˆ . j ˆ œ œ œ œ » « « » œ » » » » » « ˆ « « « « « ˆ ˆ _ _ » _ _ _ » » » ˆ ˆ«ˆ« »œ «ˆ««=ll « « « « « œ __»»œ ll __ˆ««»œ __œˆ«»« ˆ«« __j # _œ»œˆ«»« _«»œ«»ˆœ« ˆ«« _»œj « œ » » ∑ ˆ Œ ˆ « « « œ l============================ » l l œ _ œ « » » . ˆ ˆ . « « œ » œ œ œ » » » ˆ « « « « » » ˆ _ _ » _ ll & l l ˆ « « « » œ » » » » »œ»» ˆ«=l œ œ ∑ _»»œ __»œ» l __ˆ«»œ» __ˆ«»œ» ˆ« __j ˆ ˆ Œ « « « » » » » œ » & _ œ _ _ _ _ œ » » . ˆ ˆ ˆ « ˆ . j « « « œ » œ œ œ » » » ˆ « ˆ « l l _ » _ _ _ _ » » » » » » œ œ » œ œ » » » ============================ ll T& ____»»œ» ____»»œ» ____»»œ» ____»»œ» ll »œ»» œ»»» _»»œ» ___»œ»»œ ll ___»œ»»œ»0 ___»œ»»œ» 0 ___»œ»»œ» ___»œ»»œ» ll œ»»» 0 œ»»» 1 œ»»»3 1 œ»»» 0=ll » »» l »0 »2 0 » 2 » l »œ »œ»»0 2 »œ»» 0 »œ»» l ll T l 0 1 3 1 0 l 2»» l l l ll ATAT ll 00 220 00 0 22 0 ll 00 00 00 11 3030 11 00 00 ll l 22 00 2 2 0 2 0 l 2 0 2 0 0 0 2 0 0 0 ll BATBA ll 22 00 22 33 ll 00 0220 0 00 22 00 ll 00 0 00 1 030 1 00 0 ll 2 0 0 0 2 0 2 0 0 0 0 0 l BAB Em l 2 0 22 33 l Am l 0D £ 0 0 £ 0 l 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 £ £ £ l 99B # Em l Am l l D £« «« ««ˆ ££«« « l « « 0« 0 « 0« « 0 3 £ £ £ « « « «ˆ«£ «£ˆ «ˆ«£ «˙ Am D £«ˆ ˆ« « ˆ« «ˆ ## Em «ˆ« «ˆ« «ˆ« «j ∑∑ Œ « . ˆ 9 ˆ « Em Am D £«ˆ «ˆ« ˆ«« £ˆ« «ˆ«=l « « « £ £ ˆ « Œ ˆ « l============================ l œ l l » ============================ £ « . ˆ « « « ˆ ˆ ˆ j ˙ « 9& œ » œ » « « « « ˆ ˆ _ _ _ _ » _ _ _ _ _ _ Em Am D £««ˆ œ»» ˆ«« «œ»«»ˆ £««ˆ œ»» «ˆ«=l « « « « « £ £ » œ » » « ˆ ∑ ˆ Œ « « « l============================ l œ l l £ _ _ œ _ » » _ _ œ _ _ œ _ œ » » » « « « « 9& # _ . ˆ j ˙ ˆ ˆ ˆ œ « œ » œ » » » « « « ««ˆ« œ»œ» ˆ«« ˆ«œ»«ˆ«»œ ˆ«« œ»œ» ««ˆ«=l « ˆ ˆ _ _ » » » » «»œj « « œ « # __«»œˆ«»«œ _ « œ » » » œ«ˆ«»«œ «ˆ«« _ » ˆ ∑ Œ ˆ « œ l============================ l l l » _ _ œ _ œ _ œ _ œ » » » » . ˆ ˆ ˙ « « « œ » œ œ » « « » » » ˆ « _ _ _ » _ _ _ _ _ _ ll & l l l «œ»j »œ»» ∑ _»œ»»œ __»œ l __ˆ«»œ» «ˆ« __»œ» ˆ« __«˙«»œ» __»œ» l Œœ»»» ˆ« »»œ» ˆ« œ»»» ˆ« »»œ» ˆ«=ll œ « » » » œ » & _ _ _ _ . ˆ ˆ « ˆ « « ˆ « ˆ « l _ » _ _ _ ============================ ll T& ____»œ»»œ» ____»œ»»œ» ____»œ»»œ» ____»œ»»œ» ll œ»»» »œ»» _»»œ» ___»»œ»»œ ll ___œ»»»œ»0 ___»œ»»œ» 0 ___»œ»»œ» ___»œ»»œ» ll »œ»» 0 »œ»» 1 »œ»»3 1 »œ»» 0=ll » »» l »0 2 » 0 » 2 » l »œ »œ»»0 2 »œ»» 0 »œ»» l ll T l 0 1 3 1 0 l 2»» l l l ll ATAT ll 00 22 0 00 220 0 ll 00 00 00 11 3030 11 00 00 ll ll 22 00 2 2 0 2 0 2 0 2 0 0 ll ABTBA ll 22 00 22 33 ll 00 22 00 0 0202 00 ll 00 0 00 1 030 1 00 0 ll 2 0 2 0 0 0 0 0 0 0 2 2 0 l BAB C00##m 00 00 00 lCmaj l l l 2 £ 3 0 0 0 0 2 £ 0 0b £ 0 0 £ 0 « Bm E £ 3 2 0 0 0 0 « « « b l 1313B # C0«#m «0 « 0« « 0 lCmaj ««££ ««ˆ «ˆ« «£«£ˆ 3 «« l Bm«« « «« «« « l E b ««ˆ££ «ˆ« nˆ«« «ˆ«£ ««ˆ l «ˆ« .. «ˆ« ˆ««ˆ j Cmaj EŒ b «£ «ˆ nˆ« «ˆ£ « ˆ««j #ˆ ˆ««ˆ£ «ˆ «ˆ« «ˆ£ ˆ««ˆ Bm «ˆ«#mm #ˆ« «ˆ« «j Œ « « ˆ . « 13 # C ˆ C Cmaj Bm EŒ b ˆ«£ «ˆ« nˆ«« «ˆ«£ ˆ«=l ˆ #ˆ « ## #C_««ˆ»œ#m #ˆ_«»œ« «ˆ« _«j « « « « ˆ ˆ Œ l============================ l ============================ & l l £ ˆ « « « « « « ˆ « . 13 £ ˆ«««= ˆ ˆ ˆ«ˆ« _ « « « « ˆ «« ««ˆ _ _ œ _ _ _ _ œ _ œ _ _ œ _ œ _ œ » » » » » » Cmaj Bm E_ « « ˆ j . ˆ ˆ #ˆ « ˆ « « « « œ œ œ œ » » » » nˆ « « « « « Œ ˆ ˆ Œ « l============================ l & l l ll _ _ _ _ » » » » » » » » ˆ ˆ « « « « « « 13 ˆ ˆ ˆ j . « » » » » ˆ ˆ ˆ « « « « « ˆ #ˆ _ œ _ _ _ œ _ œ _ _ œ # _ œ _ _ œ _ œ _ œ « « « « _ « « « _ _ _ » » » » » » » » ˆ #ˆ ˆ ˆ ˆ j . « « « œ œ œ œ nˆ # « « « « « œ œ œ œ » » » » » » » » Œ « ˆ Œ ˆ « « « & = l============================ l l l ˆ ˆ ˆ « « « « « « « « ˆ j . ˆ ˆ « « « ˆ ˆ ˆ ˆ « « « « « « « « » » » » ll & ##__»œ«»œ»ˆ« #ˆ#ˆ__»œ»œ«»« «ˆ« __«»œ»jˆ«»œ ˆ«ˆ« . __»œ»»œ ll __»œŒ»»œ ˆ« __»œ»œ» __»œ»»œ __»œ»œ» ˆ« ll #ˆ__«»œ»»œ __ˆ«»œ»»œ ˆ« __jˆ«»œ»»œ ˆ« . __»œ»œ ll ___Œœ» ___œ» ___œ» ___œ» =ll ============================ ll T& #_»»œ»» _»»œ»» _»»œ»» _»»œ»» ll _»œ»»» 1 _»»œ»» 3 _»œ»»»00 3 _»»œ»» 1 ll _»œ»2» _»»œ»0 2 _»»œ» 0 _»»œ»» ll ____»œ»»œ» 3 ____»œ»»œ» 00 ____»œ»»œ»11 00 ____»œ»»œ» = l l 3 l œ œ œ œ » » » » » » » » ll T l l l » » » » 2 1 2 1 ll 11 33 00 33 11 ll 22 00 22 00 ll » 33 » 00 »11 00 » 33 ll ll ATAT 2 1 2 1 l ll 0 33 0 0 10 0 0 33 ll 4 3 1 3 3 03 3 3 1 l 2 2 14 2 4 1 4 02 2 2 0 2 4 4 4 4 3 1 3 3 3 3 3 1 l 2 20 2 2 0 2 ll BATBA l 2 1 2 1 4 ll 33 33 33 33 ll 22 22 22 22 ll 00 00 00 00 ll 2 14 2 4 1 4 l ABB 4 4 4 4 Em 0 0 0 0 4 4 4 4 3D £ 3 « «3 ££« 3 2 2 2 2 l 1717B # Am l l l l £ Am D Em « « «Am « « 0 0 0 0 « « « « « « « £ ˆ « « « « « «ˆ« . «j ∑∑ ÓÓ ˆ««j ˆ««ˆ «ˆ« ˆ««ˆ j ŒŒDD ££ˆ««ˆ ˆ««ˆ ««ˆ« £ˆ««ˆ ˆ««ˆ l Em « . ˆ 17 # Am ˆ Em « # ˆ « œ » l============================ ============================ & = {{” l l « . « ˆ ˆ « . ˆ j 17 œ » œ œ œ œ » » » » £ « « « ˆ « ˆ _ _ _ » _ _ _ _ _ _ _ £ Am D Em « « « « « ˆ « ˆ « « » œ » » » » » # « ∑ Ó ˆ ˆ ˆ ˆ œ j Œ ˆ « l============================ l & = l l ” _ _ » _ _ _ œ _ œ _ œ _ œ _ » » » » «ˆ««ˆ .. _»œ» l œ»Œ «ˆ« œ» «ˆ«« ˆ«œ»« «ˆ«« œ» «ˆ« l _«j œ 17 . ˆ » œ » » « ««»ˆœ» _«ˆ«»«œ»ˆ «ˆ«« _«»j ˆ _ _ _ _ « œ # « œ » » œ » œ » » œ » ∑ Ó ˆ « « œ » _ l============================ & = { l œ _ « » ll & ___ˆ«»œ» ___«ˆ«»œ» ˆ« ___«jˆ«»œ» «ˆ« . ___»œ» ll œ»»œ»»Œ «ˆ« œ»»œ»» ˆ« œ»»œ»»ˆ« ˆ« œ»»œ»» «ˆ« ll ___»jˆœ»«jˆ« ˆ««ˆ« .. ___»œ» ___»Óœ» ___»œ» ll »œ»» œ»»œ»» ∑ __»œ»»œ ___œ»»œ ={””” ============================ ll T& ___»œ»0»œ» ___»œ»»œ» 0 ___»œ»»œ» ___»œ»»œ» ll »œ»» 0 »œ»» 1 »œ»»3 1 »œ»» 0 ll ____»œ»»œ» ____»œ»»œ» ____»œ»»œ» ____»œ»»œ»œ ll œ»»» »œ»» _»»œ»» ___»»œ»»œ» ={”” ll T l »œ 0 »œ»» »œ»» »»» ll »0 »2 0 » 2 » ll » ” 0 1 3 1 0 l 2»» ”” ll ATAT l l 2 0 2 0 0 0 1 30 1 0 0 l 2 0 2 0 0 { ll 00 00 00 11 0330 11 00 00 ll 220 00 0 0 0 ll 22 00 22 3 {”” 0 20 0 0 2 0 ll BTABA 20 0 0 2 0 0 {{” 02 0 0 0 0 3 l 0 0 2 0 2 l l 0 0 0 0 2 0 20 B l AB l 0 0 0 0 l 00 00 00 00 l 2 0 22 33 ”{ 0 0 0 0 0 0 0 0 l l ” lB l 7 7 7 7 7

7 7 7 7 7

7 7 7 7 7

7 7 7 7 7

7 7 7 7 7

7 7 7 7 7

7 7 7 7 7

7 7 7 7 7

7 7 7 7 7

7 7 7 7 7

7 7 7 7 7

7( 9) 7( 9) 7( 9) 7( 9) 7( 9)

7 7 7 7 7

0

0

0

0

3

VIOLÃO+ • 59

tecnologia

Sibelius 7 e seus sucessores Desde a sua versão reduzida, o Sibelius First - descontinuada quando a AVID assumiu a distribuição do produto -, o Sibelius tem sido atualizado de forma um tanto complicada, o que começou a gerar uma debandada de usuários para outros editores de partituras e tablaturas, tão úteis aos violonistas. O software é bastante completo e vale a pena entender seu funcionamento para fazer uma opção antes de escolher entre vários editores. O Guia de Referência é um caminho completo para todos os recursos do Sibelius. Para explicações sobre os recursos básicos do software - e quando se familiarizar com o programa - você, provavelmente, vai achar que é mais fácil usar os tutoriais encontrados em File -> Help dentro do software. O Guia de Referência existe como PDF e como impresso opcional, que pode ser comprado na loja online da Avid, no seu distribuidor ou em algumas livrarias (como a Amazon.com). Todas as formas do Guia de Referência são idênticas. Os capítulos e tópicos O Guia de Referência está dividido em onze capítulos, correspondentes às onze abas no topo da janela do Sibelius, contendo subtemas. Você vai encontrar uma lista de todos esses tópicos em Contents, além encontrar no Index informações sobre áreas específicas do programa. Confira o Visual Index se você sabe qual é sua dúvida, mas não sabe como é chamado o assunto. O Glossary explica termos musicais e técnicos. Referências na tela Para iniciar o Guia de Referência na tela do Sibelius, clique no botão no final do lado direito da barra superior, ou no Help na guia File, ou digite um dos atalhos F1 (Win) ou ⌘? (Mac). Qualquer que seja o seu aplicativo de computador para visualizar arquivos PDF, normalmente será aberto o Adobe 60 • VIOLÃO+

Saulo Van der Ley

[email protected]

tecnologia Reader no Windows e o Preview no Mac. Assim, o Guia de Referência com as instruções aparecerá na tela. Para navegar pelo guia na tela de referência, você pode usar os bookmarks Edit -> Find, funcionalidades incorporadas ao Adobe Reader e ao Preview. Bookmarks são como uma tabela de conteúdo que você pode ter aberta ao lado do documento que está lendo, permitindo saltar para qualquer capítulo, tópico ou até mesmo subtópicos no Guia de Referência. Para mostrar os bookmarks: • No Adobe Reader, escolha View -> Navigation Panels -> Bookmarks: um painel como o mostrado na Figura 1 (à esquerda) aparecerá no lado esquerdo da sua tela; • Na visualização no Mac, selecione View -> Sidebar -> Show Sidebar: um painel como o mostrado na Figura 2 deslizará para fora do lado direito da janela. Para pesquisar dentro do guia na tela de referência, use Edit -> Find ou, alternativamente: • No Adobe Reader, você pode simplesmente digitar na caixa Find na barra de ferramentas mostrada na Figura 3 e, em seguida, usar os botões próximo e anterior de resultados para saltar para frente e para trás; • No Preview do Mac, você pode digitar na caixa Search,

Figura 2

Figura 1

Figura 3

Figura 4

VIOLÃO+ • 61

tecnologia mostrada na Figura 4 e clicar na lista de resultados para avançar e retroceder. Tipografia e referências cruzadas Os nomes das teclas do computador, menus e diálogos são escritos assim (negrito). A principal forma em que se encontram comandos no Sibelius é na ribbon (fita), uma faixa larga de botões de comando que aparece no topo da tela quando você clica em uma guia como File ou Home. Cada guia descreve um conjunto relacionado de comandos (Note Input, Notations, Text, Layout etc.). Quando você clica em uma guia, a ribbon muda para mostrar os botões que permitem que você use esses comandos. Cada guia da ribbon contém um número de grupos de comandos relacionados. Como uma forma rápida de descrever o acesso a um determinado comando, o Guia de Referência usa o seguinte formato: “escolher Home -> Instruments -> Add or Remove”, o que significa “clique na guia Home, procure o grupo Instruments, e clique no botão Add or Remove.” A ribbon é explicada em mais detalhes nas páginas seguintes. Por isso, se tudo ainda soa misterioso para você, não se preocupe. O Sibelius é meio temperamental… 📖 9.1 Working with parts significa: “ver o tópico Working with parts no início do capítulo 9 do Guia de Referência.” Terminologia básica A maior parte da terminologia de computador usada no Guia de Referência será compreendida por quase todos os leitores, mas foi aqui incluída no caso de um ou dois dos termos serem desconhecidos:

62 • VIOLÃO+

tecnologia Observe como é um pouco confusa a tecla Ctrl (ou Control, de acordo com o modelo do seu teclado), que no Mac não é o mesmo que a tecla Ctrl do Windows. Atalhos do Mac usando Ctrl são muito raros em Sibelius, mas onde eles aparecem são escritos usando o símbolo ^ (como aparece em menus etc.) para evitar confusão para os usuários do Windows. O Sibelius é quase idêntico no Windows e Mac, mas onde há diferenças, principalmente em atalhos de teclado, a convenção do Windows está listada em primeiro lugar. Para mais informações sobre as diferenças entre Mac e atalhos de teclado do Windows, use os Keyboard shortcuts no final do Guia de Referência, que listam todos os atalhos de teclado disponíveis. • “Digitar Ctrl+A ou ⌘A” significa manter pressionada a tecla Ctrl (Windows) ou ⌘ (Mac) e digitar A. Mesmo que A seja escrito como uma letra maiúscula, não digite Shift - a menos que seja explicitamente dito para fazê-lo. Da mesma forma, para os atalhos padrão, como Ctrl+? ou ⌘? onde ambos os caracteres / e ? existem na mesma tecla, você deve digitar Ctrl+/ ou ⌘/ sem usar Shift. • Da mesma forma, “Alt+click ou ⌘-click” significa pressionar as teclas Alt (Windows) ou ⌘ (Mac) e clicar. • “Click” em algo significa mover a seta do mouse sobre este algo e clicar com o botão esquerdo do mouse. “Right-click” em algo significa apontar para o algo com o mouse e clicar com o botão direito do mouse. Se você estiver usando um MacBook ou outro Mac portátil, para fazer o equivalente a um clique com o botão direito segure a tecla Ctrl e clique no trackpad. • Para “Drag” (arrastar) algo significa apontar para este algo com o mouse e clicar, segurando o botão esquerdo do mouse enquanto o move. Para terminar de arrastar apenas solte o botão do mouse. • Um “Dialog” é uma janela com botões. Alguns diálogos são divididos em várias páginas e têm abas rotuladas no topo ou uma caixa de listagem no lado esquerdo em que você pode clicar para alternar entre as páginas da caixa de diálogo. • O teclado numérico é um retângulo de números e outros caracteres no lado direito do teclado do computador. Computadores (notebook ou laptop) geralmente não têm VIOLÃO+ • 63

tecnologia teclado numérico separado. (Veja Keyboard shortcuts para obter mais informações.) • “Return” é a grande tecla à direita das teclas de letras. Em alguns teclados é identificado com “Enter” ou um símbolo de seta especial, mas no Sibelius vamos sempre chamá-lo de Return. • “Enter” é a grande tecla na parte inferior direita do teclado numérico. Em alguns teclados é sem rótulo, mas ainda significa Enter. • Mais sobre terminologia menos conhecida está no Glossary, no final do guia. Inglês americano e britânico Sibelius e seu guia usam o inglês americano, mas, para benefício dos leitores de outros países, alguns termos não americanos, como “crotchet (semínima)”, estão incluídos entre parênteses. Leitores britânicos podem estar interessados em saber que, nos Estados Unidos, tanto “bar” quanto “measure” são usados (mas no Sibelius optou-se por “bar”) e “staff” significa, no britânico, “stave”. Quaisquer leitores britânicos que se sintam ofendidos com a ortografia americana de “center”, “color” e assim por diante só terão que usar uma caneta para alterar a ortografia no livro ou (menos eficiente) na tela... A Ribbon (fita) A fita é a grande faixa de botões de comando que aparece na parte superior da janela do Sibelius, abrigando todos os recursos do programa organizados de acordo com a tarefa. Além da fita, cada janela de documento Sibelius também contém outros controles úteis. A janela do Sibelius A Figura 5 mostra uma janela típica Sibelius para que você possa ver onde está a fita e vários outros controles úteis nas partes superior e inferior da mesma: Aqui está uma viagem rápida pela janela do Sibelius, começando no topo e seguindo para baixo: • Quick Acess Toolbar (somente no Windows): tem três botões importantes: Save, Undo e Redo. Os botões Undo e Redo também têm menus que lhes são inerentes, 64 • VIOLÃO+

tecnologia o que lhe permite desfazer ou refazer a qualquer momento, desde que você trabalhe rapidamente. No Mac essas opções são encontradas nos menus File e Edit respectivamente. • Title bar: mostra o nome do arquivo do documento e o nome da parte dinâmica atual ou a versão que está sendo vista (se aplicável). No Windows você verá um asterisco (*) após o nome do arquivo, se ele tiver alterações não salvas. No Mac você verá, em vez de um asterisco, um ponto preto no interior do botão de fechar vermelho no canto superior esquerdo da janela. • Window buttons: contém um conjunto de botões para trabalhar com a janela atual. No Windows, esses botões aparecem no canto superior direito; no Mac eles aparecem no canto superior esquerdo. Minimize é o primeiro dos três botões no Windows - e o do meio dos três no Mac. Clique nele para fazer sua janela desaparecer da tela sem fechar o arquivo. Restore down/Maximize (chamado de zoom no Mac) é o segundo dos três botões no Windows - e o terceiro dos três botões no Mac. Esse botão redimensiona a janela do documento. Ao clicá-lo se alterna entre a janela no tamanho máximo ou o seu tamanho anterior. Close é o terceiro dos três botões no Windows - e o primeiro no Mac. Como o nome sugere, clicá-lo fecha a janela atual.

Figura 5 VIOLÃO+ • 65

tecnologia • Findbox: digite uma ou mais palavras-chave nesta caixa para ver uma lista de controles sugeridos das guias da fita, muito útil para encontrar alguma coisa se você não consegue lembrar exatamente onde ela está. Conforme você digita, o Sibelius mostra uma lista de controles correspondentes: use setas acima e abaixo para escolher o que você precisa e em seguida digite Return. O Sibelius destaca o controle para você. • MinimizeRibbon: a fita gasta uma quantidade razoável de espaço vertical. Se você quiser ver mais de sua partitura, clique neste botão. Quando o fizer, a fita desaparece, deixando apenas as guias da faixa na parte superior da tela. Para reexibir a fita, clique no botão novamente para fazer a fita reaparecer de forma permanente, ou simplesmente clique na guia o que você deseja usar para fazer a fita reaparecer até que você tenha terminado de fazer uma escolha - e neste ponto ela desaparece novamente. • Help: clique no botão ? para abrir o Guia de Referência em sua forma na tela. Você pode encontrar mais ajuda na guia File da fita. • The ribbon: mais detalhes na última parte desta matéria. • Document tabs: você pode abrir múltiplas janelas do mesmo documento - por exemplo, o arranjo inteiro e as partes dos instrumentos individuais - dentro de uma única janela e alternar entre elas usando essas guias. Quando você inicia uma nova partitura, apenas uma guia será mostrada, rotulada de Full Score. Você pode abrir novas abas usando o botão + ao lado direito da barra de guia do documento ou por outras opções para mudar a visão (por exemplo, teclar W entre a Full Score e uma parte correspondente à seleção atual). Você pode reordenar as abas simplesmente arrastando-as e pode “arrancar” uma guia ou parte para abrir em uma nova janela do seu próprio arquivo: clique e segure uma guia e arraste-a para cima ou para baixo; um ícone do Sibelius aparece sob o ponteiro do mouse. Solte o botão do mouse e uma nova janela é criada onde você deixou estiver com o ícone do Sibelius. • Open new tab: este botão + permite abrir uma nova aba com uma outra visão da partitura atual, incluindo partes que estão sendo trabalhadas e versões salvas. Você 66 • VIOLÃO+

tecnologia



• •





também pode escolher uma nova janela, que abre a guia atual em uma nova janela. Você não precisa clicar no botão para abrir o menu: basta usar o botão direito do mouse em qualquer lugar ao longo da barra de guias de documento para fazer a mesma coisa. Switch tabs: se tiver muitas abas abertas ao mesmo tempo, pode não ver claramente na barra de tabs. Clique nesse botão para mostrar um menu listando todas as abas abertas na janela atual, que lhe permite alternar rapidamente para qualquer um deles. Status bar: rola no fundo abaixo da janela, dá informações sobre o documento atual e tem alguns botões úteis para acesso rápido. Information read-outs: à esquerda da Status bar há uma série de informações úteis. Da esquerda para a direita: a página atual e o número total de páginas; o número total de compassos; o instrumento da seleção corrente, se houver; o tamanho da seleção atual, se houver; o timecode da seleção atual; as afinações das notas selecionadas (ou a primeira nota ou acorde de uma passagem, se você tem uma série de músicas selecionadas); a harmonia do acorde composto por todas as notas selecionadas no início da seleção exibida como um símbolo de acorde; uma descrição da operação atual (por exemplo, Edit Passage ou Edit Text); se a visão atual é ou não exibida “in concert” (sem transpor), ou já transposta; se Layout -> Hiding Staves -> Focus on Staves está ligada; se o Magnetic Layout está ou não ativado ou desativado para os objetos selecionados e/ou o tamanho da fonte e o ponto do objeto de texto selecionados. Zoom controls: do lado direito da Status bar está um slider com botões de + e de - que permitem alterar o nível de zoom da visão atual de forma rápida e fácil. À esquerda do controle deslizante há uma leitura do nível de zoom atual em percentagem. * Document view buttons: à esquerda dos controles de zoom está um conjunto de botões que permite alternar entre diferentes tipos de visão rapidamente, por exemplo, entre mostrar as páginas de sua partitura estabelecidas horizontalmente e a visão Panorama. Esses botões também são encontrados na guia View da fita. VIOLÃO+ • 67

tecnologia As abas da fita A fita é dividida em 11 abas. A primeira aba, File, é diferente das outras guias: clicar nela esconde a partitura completamente e mostra uma visão especial, chamada Backstage, que contém tudo o que você pode querer fazer com um arquivo (ao contrário do que você pode fazer no arquivo, o que as outras 10 fazem). Na aba File você pode criar, abrir, salvar e fechar arquivos, importar e exportá-los em diferentes formatos, imprimir, acessar os recursos especiais de ensino e aprendizagem, obter ajuda detalhada e muito mais. O primeiro capítulo deste guia é dedicado às operações que podem ser executadas a partir da guia File. As outras 10 abas são ordenadas de acordo com a ordem em que você costuma executar tarefas enquanto trabalhava em uma partitura, de modo que faça o seu caminho a partir do início de um projeto para o seu fim, normalmente trabalhando através de mais de uma das abas da fita a partir da esquerda para a direita. Este guia é também ordenado de acordo com a ordem das guias. Essas 10 abas contêm os seguintes tipos de comandos: • Home: setup da partitura básica, como a adição ou remoção de instrumentos e compassos e operações de edição chave, incluindo operações da área de transferência e filtros poderosos de Sibelius; • Note Input: os comandos relativos a input alfabético, em step-time e Flexi-time e operações de edição de notas, ferramentas de composição como expandir/reduzir, transformações como retroceder, inverter e assim por diante;e. • Notations: todas as outras marcações que não sejam notas, pausas e textos, incluindo claves, armaduras de clave e barras de compasso, linhas de compasso especiais, linhas, símbolos, tipos de cabeça de nota etc; • Text: controles de estilos de fonte e tamanhos, escolhas de estilos de texto, letras, cifras, marcas de ensaio e opções de numeração de páginas e compassos; • Play: escolha de configuração de reprodução, mixagem, controles de transporte (na reprodução), Live Tempo, Live Playback, as opções de como o Sibelius deve interpretar a sua partitura durante a reprodução e os recursos para escrever música para vídeo; 68 • VIOLÃO+

tecnologia • Layout: opções do documento como tamanho da página e pautas, espaçamento entre pautas, claves ocultas, opções de layout magnético e controles de formatação; • Appearance: opções que afetam a aparência visual de sua partitura, incluindo a escolha do estilo padrão, espaçamento de notas, formato do nome do instrumento e comandos para redefinir ou alterar o design ou a posição dos objetos em sua partitura; • Parts: opções relativas a partes de instrumentos; • Review: adicionar e revisar comentários de revisão, criar e gerenciar várias versões da mesma partitura, comparar revisões e acessar vários plug-ins de leitura; • View: alterar o layout e tamanho das músicas na tela, mostrar ou ocultar várias coisas “invisíveis” e outras marcações que fornecem informações úteis sobre a sua partitura, ocultar ou exibir painéis extras para operação avançada e organizar ou alternar entre o espaço aberto de janelas de documentos. Como podem observar, trata-se de um editor de partituras bem diferente dos outros, não pelas funções, mas pela maneira como estão dispostas. Vou confessar que, ainda que reconhecendo muitos pontos positivos do Sibelius, fiquei meio decepcionado pela forma de gerenciamento que seu atual distribuidor adotou. Cheguei a entrar em contato com a AVID para saber por que meu Sibelius First não poderia mais ser utilizado, posto que foi uma compra, um direito adquirido. Gentilmente responderam que agora (na ocasião) o foco é na versão 7, 7.5 e mais recentemente a 8. Tenho a versão 7.5, e até para fazer o upgrade para a 8 é cobrado um valor. Mas, como costumo dizer aos alunos dos cursos de computer music, “toda problemática tem sua solucionática”. E com o leque de opções que temos quanto a programas de edição de partituras, pode ser que você prefira um que tenha a “cara” mais parecida com as de outros programas com menus mais amigáveis. Na próxima edição vou abordar o Notion 6, recentemente lançado pela PreSonus, que foi a minha solucionática para o caso do Sibelius. É o segundo caso em que a AVID, ao assumir a distribuição de um produto, favorece a concorrência. O primeiro foi o Pro Tools, que vai sendo substituído em muitos estúdios. Business as unusual… VIOLÃO+ • 69

VIOLA caipira

Viola assombrada Há uns dias passamos por uma data que ficou conhecida no calendário do mundo todo como o Dia das Bruxas − foi o dia 31 de outubro. Numa pesquisa rápida pela internet, descobri que essa comemoração (que em inglês se chama Halloween, que significa “All Hallows Eve”, ou seja, “dia de todos os santos”) vem da mistura da crença cristã com os antigos rituais agrícolas na Europa que celebravam a época de colheitas importantes para a sobrevivência das pessoas. Depois de ler sobre a história dessa data, percebi o quanto ela se assemelha ao universo caipira brasileiro, com as festas de celebração de colheitas, com jogos e brincadeiras, pagamentos de promessas e reafirmações devocionais com santos de toda sorte. A figura dos tocadores de viola também intermedeia as forças sagradas e profanas, se comunicando com o sobrenatural para exercer o seu ofício. Não são poucas as histórias de assombração presentes no imaginário e na boca das pessoas do interior, onde as entidades do sobrenatural ainda estão à solta. Causos de violas que tocam sozinhas, espíritos de violeiros e assombrações como lobisomem, saci, curupira e corpo seco arrepiam os cabelos da cabeça de muita gente. É que lá não são apenas personagens de folclore, não: eles realmente existem e estão à solta convivendo com o mundo dos vivos, por vezes até enlouquecendo as pessoas. Basta ouvir o tanto de modas de assombração que tem no cancioneiro caipira e sertanejo! Ouça algumas aqui: “Casa assombrada” (Dino Franco / Ataide Gouveia) por Dino Franco & Mouraí “Pretinho aleijado” (Teddy Vieira / Luizinho) por Tião Carreiro & Pardinho 70 • VIOLÃO+

Fábio Miranda

www.fabiomirandavioleiro.com

VIOLA caipira “Romance das caveiras” (Alvarenga / Ranchinho / Chiquinho Sales) por Alvarenga & Ranchinho “Assombração” (Roque J. de Almeida) por Leôncio & Leonel

Muitos tocadores de viola, ávidos por se tornarem grandes violeiros, apelam pras forças demoníacas através de simpatias, receitas e até barganhas com forças mais “acessíveis” a fim de alcançarem seu objetivo. Recorrendo às entidades escusas em encruzilhadas, igrejas e cemitérios, alguns violeiros topam lidar com serpentes, espíritos e demônios para conseguir a habilidade definitiva de tocar o instrumento ou versejar com destreza na cantoria. O protagonista desse tipo de “parte” é, sem dúvida, o capeta, também conhecido como cão, capiroto, cujo, cramuião... A maioria dos violeiros diz já ter conhecido alguém que topou com o diabo, buscando aprender tocar com maestria, mas nenhum deles assume já ter feito o tal pacto. Segundo muitos tocadores, esse tipo de feito é balela, pois violeiro VIOLÃO+ • 71

VIOLA caipira tem ligação direta com forças divinas, é ajudado pelo santo, em especial São Gonçalo, protetor dos violeiros e santo das fertilidades. Mesmo assim não faltam receitas de simpatias bem estranhas para garantir a destreza do tocador. Uma dessas receitas conta que o aspirante a violeiro deve ir num cemitério onde esteja enterrado algum violeiro famoso, ir até sua sepultura e encostar as mãos na tumba do falecido. Contam que há orações tão poderosas que são capazes de despertar os espíritos dos falecidos e fazer com que agarrem as mãos do aprendiz, quebrando seus ossos e causando imensa dor e desespero. Mas aí que tá: isso tudo o violeiro tem que aguentar, pois segundo dizem, logo depois que o pactário vê suas mãos esmigalhadas, pingando sangue, ele deve esperar até o raiar do dia e assim que as primeiras luzes do sol surgirem, as mãos, como num passe de mágica, voltam ao normal como se nada tivesse acontecido. Mas é claro que algo aconteceu: o tocador, a partir de então, terá a destreza do finado violeiro, que passou seus dons ao corajoso diletante.

72 • VIOLÃO+

VIOLA caipira Muita gente não tem coragem de fazer essa simpatia, pois é muito assustadora e dolorosa. Conta-se que um violeiro que foi tentar, pra não sentir tanta dor levou uma garrafa de cachaça cheia. Antes de invocar o espírito do violeiro morto, secou a garrafa bebendo toda a marvada pinga só para garantir que não ia sentir nenhuma dor de tão bêbado que ia ficar. E de fato, torto de cachaça nas ideias, ele invocou o espírito e viu tudo acontecer diante de seus olhos: as mãos do defunto esmagando suas mãos como se fossem duas laranjas podres. E o aprendiz ali, firme, sem sentir nada, totalmente embriagado e anestesiado pela danada da cachaça. Ele até sorria por conta de sua esperteza e ainda tentava o espírito gritando “vai, difuntinho! aperta com força! tá fraco demais!” e dava risada até... de tão bebo, nem viu quando caiu pro lado em sono pesado, mas sua consciência estava tranquila, na certeza de que ia acordar como um supervioleiro (e talvez com um pouco de ressaca). Qual não foi o susto desse homem quando abriu o olho de manhã, viu que o sol já estava quase a pino e percebeu, em choque, que estava todo encharcado com o próprio sangue. Olhando para suas mãos, seu pesadelo foi confirmado: estavam totalmente esmigalhadas, cobertas de moscas e insetos. Na hora em que viu essa cena é que se deu conta da terrível dor, que apitou tão forte no seu juízo, que só deu tempo de soltar um grito desesperado que quase acordou os defuntos do cemitério. Sozinho entre os mortos o desespero do aprendiz de violeiro era assistido só por dois urubus carniceiros pousados numa cruz ali perto. Mas tirando esse caso, parece que a simpatia funciona mesmo! É praticamente garantido!

VIOLÃO+ • 73

de ouvido

Aspecto sonoro dos intervalos Nesta edição, o pontapé inicial da matéria será diferente. O leitor pode estranhar esta introdução, mas a intenção é provocar indagações a partir de uma ocorrência de muitos anos atrás. Eu era professor universitário e o coral da faculdade de música estava sob minha direção. Num evento importante no campus, o coral se apresentaria com quatro peças sob olhares e ouvidos de mais de três mil pessoas. Embora me sentisse preparado, e os alunos muito bem ensaiados para o evento, meu estado emocional era de terrível tensão – e o medo de que desse algo errado estava me aniquilando. Diante do intenso ruído local e do público, a primeira peça era um Negro Spiritual e não consegui ouvir a tonalidade em minha mente, mesmo com o diapasão vibrando em meus ouvidos. Foi quando um aluno e amigo, portador de ouvido absoluto, cantou a nota Mib, tônica da peça, que provocou em mim o alívio que precisava para afinar o coral e seguir com a apresentação. Depois disso, fiquei tranquilo e o coral se saiu muito bem. O que aconteceu com a minha percepção? Bem, a percepção auditiva é igual a qualquer outra, como o olfato, o tato etc. O nível de percepção está para o estado emocional em proporções milimétricas. Quanto mais intranquilo, mais nervoso, mais baixo é o nível com que percebemos o mundo sonoro interno e externo. Perdemos o controle do corpo e a lucidez tende a zero. Essa experiência, não rara, trouxe-me sérios questionamentos sobre os exames aplicados nas escolas para medir o grau de musicalidade dos alunos ou mesmo das provas de percepção auditiva. Deu-me inúmeras inquietações, que me fizeram ler e estudar sobre o assunto. Até que, num dos cursos de nível nacional que Henrique Pinto promovia, contratamos uma psicóloga especialista 74 • VIOLÃO+

Reinaldo Garrido Russo www.musikosofia.com.br [email protected]

de ouvido em relaxamento e controle mental para proporcionar tranquilidade aos alunos antes de suas apresentações. Na ocasião, aprenderam como comportar-se antes do primeiro toque ao instrumento na presença do público. Estávamos apenas começando; o alvo era o comportamento. Anos passaram até que nesta semana fui à sala 108 da Faculdade de Música da Universidade Estadual Paulista (UNESP) para ouvir uma espetacular palestra de um especialista no assunto, trazendo a técnica que leva seu nome: Método Rességuier. Eu o vi preparando, por alguns minutos, alunos da faculdade após uma primeira apresentação. Fiquei pasmado com a diferença entre o antes e o depois de estabelecer o preparo baseado no método. A técnica não abrange apenas músicos, mas serve também para desenvolver e aplicar uma espécie de super rapport (que Jean Paul Rességuier chama de “ressonância”) nos terapeutas para com seus clientes. Creio que pasmado é o único termo que me vem à mente para descrever o que vi e o que senti com o resultado exposto na palestra. Então, devo afirmar e reafirmar que para estudar, utilizar a percepção e tudo o que está ligado a ela, como tocar um instrumento ou cantar, são extremamente necessárias a tranquilidade, a paciência e a técnica – esta, em seu sentido pleno: o conjunto de procedimentos, caminhos, métodos que têm como objetivo obter um resultado inteligente, eficaz. Espero que este depoimento traga frutos para o aprendizado do leitor e sucesso em suas futuras apresentações em público. O intervalo e seu aspecto sonoro O leitor já percebeu que, ao ouvir o sinal de alerta do aeroporto ou do elevador, nos faz lembrar uma canção conhecida, apenas com os dois sons que formam um intervalo? Geralmente, nos aeroportos, ouvimos um intervalo de quarta descendente, e me vem à mente uma das canções de que mais gosto: “Chovendo na Roseira” do amado Tom Jobim. O sinal toca e eu canto: “O-lha, está chovendo na roseira”. Ou seja, o sinal de alerta que contém as duas notas contém também o intervalo de “O-lha”. Essa sensação provocada pela percepção não VIOLÃO+ • 75

de ouvido nos faz evocar o mesmo intervalo ascendente de quarta. Quando ele ocorre, me vem à mente as duas primeiras notas de nosso Hino Nacional: “Ou – vi...” (de “Ouviram do Ipiranga...”). Isso acontece porque o ouvido relativo, responsável pela percepção musical da maioria das pessoas, é contextual. Ouvimos conforme a canção, se gostamos ou não, e sua função no contexto. Um contexto complexo pode prejudicar a percepção do intervalo. Quanto mais simples, melhor. Fiz uma tabela onde cito alguns exemplos do universo da música popular que guardo em minha memória afetiva. Tenho muitos exemplos do universo da música clássica, mas comecemos com o mais popular. O leitor pode substituir os exemplos por outros que guarda em sua memória afetiva e completar a tabela. Levará um tempo estimado de trinta dias, se for dedicado. É um trabalho que valerá para o resto da sua vida musical. Portanto deverá ser feito com muita atenção e paciência. Algumas dicas sobre a tabela que você produzirá • Repare que há um espaço para o autor (ou autores) que serve apenas para identificar a canção no cancioneiro. Trata-se de uma referência própria. • As duas sílabas que correspondem às duas notas do intervalo estão sublinhadas e separadas; é importante saber se os intervalos contidos em sua memória e ligados à canção estão no início, no meio ou final. • As setas indicam os intervalos ascendentes ou descendentes. • Alguns intervalos são mais difíceis do que outros para serem encontrados nas canções do seu universo musical e talvez estejam em algum lugar da canção, e não tão obviamente nas duas primeiras notas que dão início à letra. • Lembre-se de que num contexto complexo, como um trecho muito rápido, é difícil a identificação. Bem, espero que a diversão seja grande neste mês. Trabalhe! Dedique-se e treine os intervalos associados às canções que escolheu. Elas estão em seu coração e é bom lembrar que a palavra “de cor” vem do latim – e quer dizer “de coração”. Até a próxima! 76 • VIOLÃO+

de ouvido Tabela de Intervalos Intervalo Canção 1

Nome

Autor

U

Pas sa rim quis cantar...

Passarim

T. Jobim

Início

2m5

Os so nhos mais lindos...

Fascinação

2m6

Tris te é viver na...

Triste

T. Jobim

Início

Hey Jude...

Hey Jude

Lennon/McCartney

Início

3M6

É pau, é pedra...

Águas de março

T. Jobim

Início

4j5

Ou viram do...

Hino Nacional

4j6

O lha, está...

Chovendo na Roseira

Quem acha...

Feitio de oração

Vadico / N. Rosa

6m5

A es trela D’Alva...

As pastorinhas

J. Barro / N. Rosa

6m6

Vai mi nha tristeza...

Chega de saudade

T. Jobim

6M5

Ma rina, morena...

Marina

Dorival Caymmi

Cla re ia, manhã...

Nascente

8 j5

Some where over the...

Over the rainbow

8 j6

Dei xa, deixa quem quiser... Deixa

e sentido 5(asc) 6(desc)

Início/meio/final

2M5 2M6 3m5 3m6 3M5

4#/5b5 4#/5b6 5j5 5j6

6M6 7m5 7m6 7M5 7M6 Baden/Vinicius VIOLÃO+ • 77

Flamenco e música brasileira

Rumba e baião Esta segunda aula para Violão+ segue a sequência da primeira aula, em que foram dados alguns movimentos básicos de técnicas flamencas. Agora, levaremos estes movimentos adiante. Ensinarei duas sequências rítmicas: uma para o ritmo de rumba, que é o “palo” mais popular do flamenco; outra, utilizando técnicas básicas para a execução do baião de forma percussiva. A rumba e o baião serão compreendidos de oito movimentos, sendo eles, na realidade, as oito colcheias de um compasso 4/4. Disponibilizarei o vídeo e esta legenda abaixo, dividindo os movimentos em 1, E, 2, E, 3, E, 4, E, sendo a letra “E” o contratempo. A princípio, esta sequência deve ser executada de forma pausada e mecânica. Uma vez memorizada, após alguns minutos, torna-se mais orgânica. Rumba 1 - golpe grave E - dedos para cima 2 - polegar percussão E - polegar percussão + dedos para baixo 3 - golpe grave E - dedos para cima 4 - dedos para baixo E - polegar para cima Uma opção interessante no tempo 3 pode ser apenas bater percussivamente nas cordas com a mão direita aberta, de forma a mutá-las, criando mais uma opção dinâmica.

78 • VIOLÃO+

Felipe Coelho

[email protected]

Flamenco e música brasileira Baião 1 - golpe grave E - polegar para baixo 2 - polegar para cima E - golpe grave 3 - polegar para baixo E - polegar para cima 4 - golpe agudo E - polegar para cima Até a proxima!

TODA A INFORMAÇÃO QUE VOCÊ QUER...

E NÃO TINHA ONDE ENCONTRAR!

• As notícias mais quentes do universo das teclas • Os mais importantes músicos em entrevistas exclusivas • Testes e reviews dos principais lançamentos do mercado • O melhor time de colunistas em aulas imperdíveis • Equipamentos e artistas que fizeram história • Educação, cultura e entretenimento

Gratu Multi ita mídia Suste ntáve

l

www.teclaseafins.com.br & AFINS

Teclas & Afins é compatível com computadores, tablets e celulares para que você possa ter acesso à informação onde e como desejar!

A REVISTA DIGITAL DE TODOS OS INSTRUMENTOS DE TECLAS AUDIO - PERIFERICOS - PRODUCAO - COMPOSICAO - ARRANJO E MAIS

VIOLÃO+ • 79

coda

Xiii...esqueci os cabos!

Luis Stelzer

Concerto da Orquestra de Violões que dirijo. Como é um grupo amador com aspiração a se tornar profissional, muito improviso rola na hora de se preparar para tocar em algum lugar. Não temos van, micro-ônibus, nada disso. Temos, sim, boa vontade dos componentes, que emprestam seus carros ou vão de metrô, ônibus, trem, a pé... Tudo pela música! Claro que, sem uma estrutura, ficamos mais expostos às falhas de planejamento: sou, digamos assim, um cara ao mesmo tempo cuidadoso e distraído. Portanto, suscetível a deixar as coisas extremamente arrumadas antes, levar quase tudo o que não é tão importante assim e deixar o essencial de fora. E assim foi, por várias vezes. Sempre damos um jeito, temos jogo de cintura: a Orquestra nunca ficou sem tocar por alguma falha ou esquecimento. Mas já passou por vários apuros. Este foi um deles. Um dia normal, fim de tarde, começo de noite em São Paulo. Tocaríamos na

80 • VIOLÃO+

Escola de Sociologia e Política de São Paulo. Ela fica na região central da cidade, próximo ao Mackenzie e ao Sesc Consolação, para localizar melhor. Um bom lugar, mas com um trânsito de horário de rush que nem é bom falar. Tentamos chegar o mais cedo possível. Alguns, foram direto de seus trabalhos. Outros, se encontraram no estúdio que eu mantinha no bairro do Paraíso, não muito longe do centro, mas o suficiente para causar uma bela confusão para quem está atrasado e com culpa no cartório. Já está dando para entender o que aconteceu, não é? Cheguei cedo ao estúdio. Arrumei tudo que era preciso: violões, equipamento de som, extensão para atingir as tomadas mais longínquas, mesa de som. Tudo certinho. Cordas reserva? Ok. Estantes de partituras? Ok. O setlist feito assim, de cabeça, afinal, não é tanta coisa assim. Para que uma frescura dessas de ter uma lista e bater item por item? Totalmente desnecessário! Será mesmo? A Raquel emprestava generosamente o carro para irmos. A Luisa estava estreando na Orquestra, pura excitação. Nos encontramos com os demais na porta

coda da faculdade. O local para tocar não era trânsito paulistano em busca dos cabos o mais legal do mundo: logo na entrada, esquecidos. naquele movimento todo de passagem A Raquel me emprestou o carro de novo. de alunos e professores. Nada de teatro. Lá fui eu, coração na mão. Levei 15 Tudo bem, pensamos. Aqui, a visibilidade minutos para pegar os cabos. Mais 15 é maior. Além do mais, estamos com os minutos para voltar. Estava só alguns violões amplificados! minutos atrasado. A Orquestra estava em Começamos a montagem. Enquanto pânico, pois o maestro saiu correndo e alguns me ajudam na arrumação de tudo, largou todo mundo ali, com cara de tacho. o que é um ritual um tanto complexo, Ao chegar de novo, vejo a Orquestra outros ficam afinando os instrumentos tocando, com o Miro regendo. Evento e esquentando os dedos. Até prefiro: não dá para atrasar. Eles tiveram que quem não tem habilidade com cabos começar acústico mesmo. Cheguei já e outras coisas, é melhor não ficar por colocando os cabos ao lado do Miro e da perto mesmo, pois pode até se enroscar Luisa. Enquanto eu pegava o microfone num destes cabos (este sim, estava lá e acabar caindo. com cabo e tudo), Cordas reserva? Ok. Estantes e conversava sobre Foi quando o Miro perguntou: “Stelzer, como era bom para de partituras? Ok. O setlist cadê os cabos, só nós estarmos lá, que feito assim, de cabeça, afinal, falta coloca-los nos o evento isso, que o não é tanta coisa assim. Para evento aquilo, Miro violões para fazer a passagem de som. e Luisa, como dois que uma frescura dessas Falta só meia hora ninjas, montaram de ter uma lista e bater para começar o todos os cabos evento”. e chutaram uma item por item? Totalmente Tranquilamente, fui regulagem de mesa. desnecessário! Será mesmo? A Luisa, técnica de pegar a sacola com os cabos e... Cadê? som que é, ficou ao Procura daqui, procura dali... Nada! A lado da mesa, ajustando em segundos o tranquilidade, em segundos, vira deses- som dos violões enquanto tocávamos a pero: esqueci todos os cabos no estúdio. segunda música do programa. E agora? O que fazer? Tocar acústico, Ao final, todos sãos e salvos, rimos muito. no meio de um barulho infernal, para não A Luisa, ainda por cima, só iria tocar a ser ouvido por ninguém? Ou correr para última música. Foi ao seu naipe, com seu o estúdio, pegar os cabos em voltar em violão, para estrear na Orquestra. Só menos de meia hora, bem no centro de fez um pedido: que eu subisse o volume uma cidade como São Paulo? A decisão: do canal do violão dela. Se posicionou, vou correr e pegar os cabos! O Miro, que tocou com todos, fez a sua estreia. também é maestro, ficaria com a Orques- Obviamente, esqueci de subir o volume tra, enrolando para começar, enquanto do canal dela. Mas, por que mesmo a eu voaria pelas ruas semiparadas do gente precisa se organizar? VIOLÃO+ • 81

View more...

Comments

Copyright ©2017 KUPDF Inc.
SUPPORT KUPDF