Vida Breve de Auta de Souza: 1876-1901

November 20, 2022 | Author: Anonymous | Category: N/A
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Luís D A C Â M A R A c A s c u D o

Vida Breve d e Auta d e S o u z a c o L ê ç A o c à M A n A c A s c u o o z am cn â rm s

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Há quem considere a biografia Vida b r e v e

d e /luta d e Souza o ponto alto d a atuaç ão d e (Í (Íâm âmar ara a (Ías (Íascud cudo o como biógrafo. É v i s i v e l o envolvimento emocional d o n o t á v e l e s c r i t o r , cuja m ã e e r a a m i g a d a m a i s importante poetisa potiguar. O texto é d e n s o d e lirismo e d e p r e c i o s a s informações.

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Diff' COLEÇ ÃO C ÁM A R A C A SC UD O _ MEMORIA E BIOGRAFIAS

Esta coleção traz d e volta a o mundo editorial potiguar obras capitais para a n o s s a cultura, a o enfocarem a tra v és do estilo notável d e Luis d a Câmara C a s c u d o , 0 n os s o m a i s importante escritor, a s figuras notáveis d e Pedro Velho, Auta d e Souza e Henrique C a s t r i c i a n o . () memorialista C a s c u d o e le próprio - também é contemplado com O Têm/10 e Eu. E a coleção tem como fecho d e ouro a reedição d a premiada biografia d e Ca Cascu scudo do esc escrit rita a por Amé mérico rico d e Oliveira Co s ta .

 

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L uís D A cÃ1vu-uta c A s c U D o

(1898/ 1986) n a s c e u , viveu toda a s u a vida e m Natal e , n e s s a c i d a d e , produziu

u m a o b r a c uujja repercussão c o n t i n u a a ocorrer a t é fora d o país. Poligrafo,

d e s ta t a c ou o u -s - s e e s c r e v e n d o livros d e História, Etnografia, Crítica, Biografias, M e m ó r i a s , Artigos e , sobretudo, Folclore. N e s t e lançamento editorial anos simbólica dt eosm 5a0força d a UFRN,d es uuampresença r e to r n o à instituição q u e ajudou a criar. Aqui estão O Tempo e E u ( M e m ó r i a ) e a s biografias V i d a B r e v e de/luta d e Souza, Nosso A m i g o Castriciano e V i d a d e Ped r o Velho. T a m b é m surge c o m o o biografado d e A m é r i c o d e Oliveira Costa e m Viagem a o U n iver s o d e C â m a r a Cascudo.

Foto d e capa: M A X P ER EIRA

 

Vida B r e v e d e Auta d e S o u zzaa 1876-1901

 

Luís d a C â m a r a C a s c u d o

Vida B r e v e d e

A u t a d e Souza 1876-1901

A c o to t o v iiaa m í s t iicc a d a s r i m a s Francisco P a l m a

Coleção C â m a r a Cascudo: M e m ó r i a e Biograñas 5 0 A nos d a U niv ersidade F e d e r a l d o R io G r an d e d o Norte

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idflora d a IJFIN

 

N a t a l , 2008

 

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R eitor: José lvonildo d o R êgo

Vice-Reltora: À n e l a Mar ia Paiva C ruz

Diretor d a EDUFRN: H e r c u la la n o R i c a rrdd o C a m po s Editor: F r a n c isis c o A llvv e s d a Costa Sobrinho Capa e pro projjeto grá gráffico: Afonso M a rtins Coordenação d e revisão: Risoleid e Rosa e Nelson Patriota Revisão: Iacqueline Rodrigues e Júlia F a gu n d e s

Editoração eletrônica: M arc u s V in íciu s Devito Mar t in es Supervisão editorial: Alva Medeiros d a C os os ta ta . _ rá fifi c a : F r a n c i s c o S upervzsao g rá G u ilh er me d e S a n ta n a

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Catalog Catal ogação ação da publ publicação icação na Fonte. U F R N / Biblioteca C e n t r a l Zila M a m e d e Divisão d e Serviços Técnicos

Cascudo, Luis d a C â m a r a .

Vi da breve d e Auta d e Souza: 1876-1901 / Luís d a C â m a r a C ascudo. - Natal, R N : EDUFRN - E d :tora d a U F R N , 2008. ' 1 9 6 p. - (Coleção C â m a r a Cascudo: M em ó r i a e Biograñas) ISBN 978-85 -7273-438-7

1 . Literatura brasileir a . 2 . Souza, Auta, 1876-1901 - Biografia. 3 . Ensaio.

I. Titulo.

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Todos os direitos desta e d i ã o r e s e r v a d o s à EDUFRN - Editora d a U F R N C a m p u s Universitário, s l n - Lagoa Nova - 59.078-970 - N a ta l / R N - B ras i l e - m a i l : edui`[email protected] - www.editora.uírn.br -3 2 3 6 - F a x: T elef o ne: 8 4 3 2 1 5 -3 x : 8 4 3215-3206

 

Sumário

o s : C oom m e m o r a ççãã o e Resgate Editorial U F R N 5 0 A n os Apresentação

Prefácio

A sombra d e Auta Datas E ssenciais A p r e s e n t o Félix Iosé d e Souza, Félix d o Potengi P e q u e n o ,

Co i t é e s e u F ran c i s c o Pedro B an d ei ra d e Melo, senhor do Coi genro, Fabrício G o m e s Pe dr oza , padrinho d e M a c a í b a . A menina C o s m a , Tatá. N a s c e u Eloy Castriciano d e Souza. C a ssaa d e G u a r a p e s . F r a n c i s c o d e P aul a R odrigu es. Silvina Maria d a Conceição, anjo d a g u a r d a . C a s a m e n t o d e Eloy c o m H enr ique i que t a Leo ppoo lldi di na n o Recife. N a s c e u o primogênito Eloy. F i x a m - s e n a povoação d e M a c a í b a , R i o G r a n d e d o Nort e . N a s c e H e n r i q u e Castr ician o. N a s c e Irineu. N a s c e , D i a d e Sa nta A u t a , A u t a d e S ou ou za za . Paula, Eloy& Companhia. Morre Henriqueta Leopoldina. Au t a e os irmãos n o Arraial, Recife. Morre o pai. Infância n a chácara. Morre vovô Paula. Morre q u e i m a d o o jovem Irine u. Educação d e Au ta . Colégio. A m i g as . V í v ac i d ad e. Os três irmãos m e n i n o s . A c o m e t i d a pela tuberculose. Voltam para a cidade d e Macaíba.

I n s ttaa la l a ççãã o . A u ttaa , m e n i n a m o ç a . A m b i e n t e social. R o m a n c e d e a m o r . lá e r a poetisa. A “presença” inseparável. P o e m a s inéditos.

 

83

IV Defendendo-se d a tuberculose. Rastro d e versos. A m o r e f é . Dhalias q u e s e transforma no H orto or to..

99

V

109

VI Simpatia coletiva. Último “ ass ustado . Os derradeiros m e s e s e os últi os . S e rree n a mort e . úl tim m os v e r s os

117

VIII A tentati va p a ra a lápide e m 1 9 4 3 . Carta d e H . Castriciano. VI Atitude d a A c a d e m i a Norte-rio-grandense d e Letras e m

C u l t u r a l i s m o crítico. Le itura s e formação d e Au t a . Personalidade literária.

1951. 127

VIII Pinto d a Rocha, a n ot a d or d o Horto.

133

e snucai as paisagem Intee rpre ta çõ I X Horto s e n t i m e n psicológica. t a i s . Delicadeza Auets.a T ran s ferê graça. simbolista?

155

X

1 73

XI A u t a e a tu bercu lose. Falsa influência. V er s o s d o c u m e n -

P s e u d o m i s t i c i s m o d e Auta d e Souza. Aproximação i m p o s s í v e l c om o m D e s bboo r d e s --VV a llm m o r e . F é religiosa. Instinto m a t e r n a l incomparável. O s p o e m a s i nc o m p letos, restituídos a o original. A grande poetisa cristã. tais. S a u d a d e e c r e n ç a . P r e c o n c e i t o d e cor. R e s i s t ê n c i a à moléstia. Possíveis origens. Impossíveis recalques. Psicologia d o tuberculose, v e r s o e a n v e r s o . Olhares e beijos literários. R o m a n t i s m o . A m i s s ã o fiel. O v ô o

libertador. 1 93

Referências.

 

U F R N 50 A n o s Comemoração e Resgate Editorial

C o m o s q uinz e títulos o r a colocados à disposição d o leitor, a U n i v e r s i d a d e F e d e r a l d o R i o G r a n d e d o Nor te ac res c en t a a o s festejos d o C i n q ü e n t e n á r i o um aporte editorial d e extraordinária importância. Afinal, trata-se d e um co nj unto d e obras d e ca pita l importânc i a para a cu ltu ra potiguar, a l g u ma s esgotadas h á dezenas d e an o s e com r e m o t a s possibilidades d e reedição, agora distribuídas e m três coleções: História Potiguar; C â m a r a Cascudo: M e m ó r i a e Bi o gr afi as e T alento & P o l ê m i c a , reunindo alguns d o s m a i s importantes a u t o r e s

d o estado. P a ra r a q uuee fosse possível viabil iz art al e m p r e e n d i m e n t o , tornou-se imprescindível à U F R N contar c om o m p a r c e iirr o s cujo i n t e r e s s e refletisse a n ec es s á ri a sensibilidade para avali ar a v e r d a d e i r a d i m e n s ã o d o l a n ç a m e n t o d a s o b r a s c iti t a d a s . E n ã o terá sido u m a m e r a co incidência q u e ta tall parceria v i e s s e a ocorrer c o m a COSERN. P o r q u e o i n t eres s e e o e n t u s i a s m o revelados p o r essa e m p r e s a ~ cu ja j a i n se rç rçãã o n o movimento cultural d o e s t a d o n e m é n e c e s s á r i o r e s s a l t a r - foram i m e d i a t o s e i n c o n d i c i o n a i s , traduzindo-se n o apoio a o projeto edi torial. E, a s s i m , n o ensejo d a s c o m em o raç õ es d o Cinqüentenário, d a m o s se q ü ê n ci a à ativid ad e edi tori al q u e é m a r c a d a s ati vi dades d a instituição d e s d e q u e o R e i t o r O n o ffrr e Lopes cri ou a I m p r e n s a Univ e rsitária .

I u n t a m e n t e c o m outros l a n ç a m e n t o s já realizados e vários q u e estão s e n d o p r ep ar ado s , pode-se a v a l i a r a e n o r m e contribuição q u e v e m s e n d o d a d a à s atividades a c a d ê m i c a s e à c ul t ura d o estado pela Edit Editoo ra U niv e rsit rsitár árii a . E o esforço é em b lem áti c o n a perspectiva d e u m a u m e n t o d a s u a ca p a ci d a d e d e produção. E m processo d e

 

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re e s t ru ttuu ra ção, ção, com a gradativa aquisição d e novos e q u i p a me n t os v i s a n d o a r eati var o s e u parque gráfico, a Editora d a U F R N , e m pouco tempo, imprimirá n o v o r i t m o à divulgação d a inteligência potiguar. P o r d e v e r d e justiça, faço questão d e m e n c i o n a r o trabalho d e duas pessoas, f u n d a m e n t a i s para q u e t a l l a n ç a m e n t o o co rrr r e sse , e m n o m e d a s quais reconheço todo o grupo d e profissionais envolvidos n o projeto. A p r i m e i r a é o professor Her culan o Ri ca rd o Campos que, o r d e n o u t o d o o processo editoà frente d a Editora Universitária, c o or rial d e q u e resultou o presente l a n ç a m e n t o . A s eg un d a é o designer Afonso M a r t i n s , q u e imprimiu u n i d a d e estética a o projeto e u m a i n v u l g a r beleza n a concepção gráfica d e c a d a u m d o s v o l u m e s q u e c o m p õ e m a s coleções.

Espero q u e o leitor possa e n c o n t r a r n a s páginas d e C â m a r a Cascudo, A m é r i c o d e Oliveira Costa, Edgar Barbosa, E s m eral d o Siqueira, Floriano Cavalcanti, A l v a m a r F u r t a d o d e M e n do n ça , Paulo Pinheiro d e Viveiros, I t a m a r d e Souza - q u e d e r a m o m e lh o r d a s u a o c e n ttee s d a U n i v ers i d ad e Federal inteligência també m à s atividades d oc d o R i o G r a n d e d o Norte - e d e T a vvaa rree s d e Lyra, Iosé Augusto e Iosé Bezerra G o m e s (cujas obras nela r ep er c utem pela n a t u r a l afinidade), n ã o apenas deleite para o s e u espírito, m a s a d em o n s t raç ã o d e u m a justificada h o m e n a g e m a os cin q ü en ta anos d a instituição q u e resul-

t o u desse im po rta nte resgate editorial.

Iosé Ivanildo d o Rêgo Reitor

 

Apresentação

É c o m satisfação e orgulho q u e a COSERN s e alia à U n i v e r s i d a d e F e d e r a l d o R i o G r a n d e d o Norte n a s c o m e m o r a çõ e s d o s 5 0 anos dessa r c e rrii a q u e v e m Instituição. A i n d a m a i s q u a n d o s e trata d e u m a p a rc p re se n t e a r o estado c o m estas três coleções, tota to ta llii za nd o quinze títulos lo s q u e h á m u i t o s e e n c o n t r a v a m fora d o al c an c e d o s a d m i r a d o r e s d a b o a literatura potiguar. A U F R N p ro m o v e, c o m este l a n ç a m e n t o , biográf ográficos icos d e p er s o nali dades o resgate d e textos históricos e perfis bi q u e m u i t o influíram n a v i d a i n t e l e c t u a l d o e s ttaa ddoo . E a COSERN, pela s eg un d a vez, patrocina u m a coleção d e livros d e g r a n d e v a lloo rr..

A p r im im e iirr a fo i Letras Potiguares, c o m obras escritas p o r d e z autores norte-rio-grandenses, p atr o c i nada e m 2003, p o r m e i o d a L e i C â m a r a C a s c u do d e I n c e n t i v o à Cultura. N e s s e n o v o projeto, a primeira coleção intitula-se História Potiguar e , c o m o o próprio n o m e diz, s e debruça sobre a v i d a no rte- r io- gr an d en se. É f o r m a d a pelos seguintes v o l u m e s : História d o rit a p e lloo ex-governador T a v a r e s d e Lyra; A R io G r a n d e d o Norte, e sc rit República Velha n o R io G r a n d e d o N o r t e , d e I t a m a r d e Souza, i m p o r sobre a infl uênc ia d o s A lb uquer que M a r a n h ã o n a v i d a tan História d a A v iiaa ççãã o n o R io io G rraa nndd e d o Nort e , d e políte pol í t icicestudo a pot potii guar; Paulo Viveiros, q u e traça u m p a n o r a m a q u e v a i d o s p r i m e i r o s a v i a dores a a m e r i s s a r n a fo z d o Potengi a té a t r a n s f o r m a ç ã o d e N a t a l e m T r a m p o l i m d a Vitória, d u r a n t e a Segunda G u e r r a ; História d e u m a C a m p a n h a , d e Edgar Barbosa, repara u m a injustiça c o m esse m i n u c i o s o trabalho, q u e retrata a criação d o P a r t id id o P o ppuu llaa r n o Estado; e , p o r f i m , O R iioo G ra r a n d e d o Norte n o S e n a d o d a República, d e Iosé A ugus to B ez erra d e Medeiros, q u e trata d o s g ran d es h o m e n s públicos potiguares q u e a t u a r a m c o m d es t aq ue n a q u e l a c a s a d o Congresso Na ci on a l .

 

10

A s e gu g u n d a c ol o le çã ç ã o c h a m a - s e C â m a r a Cascudo: Me m ó ri a e Biografias. I nt el ect ual mul t if acet ad o, Luís d a C â m a r a Cascudo par. ticipou d a fundação d a U F R N , onde lecionou n o c u r s o d e Direito. Os livros a b o r d a m a vida d o m e s t r e d a literatura potiguar e o olhar o n hhee c e u . E m V i d a d e Pedro Velho, Cascudo dele sobre pessoas q u e c on a p re se n t a o perfil d o principal líder d a República V e lh l h a , c om o m dest a q u e p e la l a s u a elogiada atuaç ã o n o Sen ad o . Vida~Breve d e A u t a d e Souza traça u m retrato afetivo d a poetisa potiguar q u e m o r r e u ainda j o v e m . N o sso A m i g o C a s t r i c i a n o é um b e m - h u m o r a d o tributo a o int el ect ual q u e Cascu do considerou u m m e s t r e . O m e m o r i a l i s m o é a t ônic a d e O T e m p o e E u , e m q u e o Prínc ipe d o Tirol e v o c a a própria i n f â n c i a . Viagem a o U n iivv e rrss o d e C â m a r a C a s c u d o é um im po rta nte e n s a i o literário e scrito po porr A m é r i c o d e Oliveira Costa, esgotado h á m a i s de 30 ano s. A t e r c e i r a c o le le ç ããoo , T a llee n t o & P ol o lê m i c a , reforça o c ar áter d a U F R N c o m o c a s a d e idéias, r e a v i v a n d o a l e m b r a n ç a d e escritor e s e i ntelectu ai s q u e e x e r c e r a m a crítica e o u s a r a m ir d e e n con t ro a o s e n s o c o m u m . O primeiro livro trata d o d i s c u r s o d e p o s se se de Alvamar F u r t a d o n a A c a d e m i a N o rt r t e --RR io i o - G r a n d e n s e d e Letras, intitulado José d a P e n h a : u m r o m â n t i c o d a República. O texto n a r r a a trajetória d o político d e A n g i c o s e e v o c a a c h a m a d a Belle Époque

potiguar. E m Antônio Marinho: esboço biográfico e crítico, o disc u r s o d e posse n a ANR L d o e d u c a d o r Flori ano C a v a l c a n t i focaliza a trajetória d o p o l e m i s t a Antônio Marinho, n u m a obra q u e retrata XIX X para o X X n o estado. E s m e r a l d o Siqueira a passagem d o século XI e s c r e v e U m boêmio i n o l v i d á v e l sobre o poeta J u v e n a l A n t u n e s , q u e saiu d e C e a r á - M i r i m para o A c r e , m o s t r a n d o c o m o a obra poética d O e scrito r foi s u b e s t i m a d a p o r s u a f a m a d e b o ê m i o . N o perfil Retrato d e Ferreira Itajubá, Iosé B e z e r r a G o m e s investiga a trajetória d o princ i p a l n o m e d o r o m a n t i s m o potiguar. F i n a l m e n t e , a coleção resgata m ia d e o d i s c u r s o d e posse d e A m é r i c o d e Oliveira Costa, n a A c aadd eem

 

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Letras d o Estado, intitulado Aurélio Pinheiro: tentativa d e estudo crítico e biográfico, n o q u a l e le analisa a trajetória d o grande romancista d e Mac au. to e d i C o m o s e v ê , todos estes l a n ça me n t os rep res en t am u m fe i to torial d e gr ande significado para o R io i o G rraa n ddeodsot eNorte, q u a l i d a d e d o s autores c o m o pela relevância m a s a tanto bboo r ddaa dpela ooss . P o r esses m o t i v o s , a COSERN, r e c o n h e c i d a m e n t e a e m p r e s a q u e

m a i s i n v e s ttee e m cu ltu ra n o R io G r a n d e d o Norte, aposta n o projeto. A U F R N e a COSERN c o n s e g u e m , c o m a s coleções História Potiguar, C â m a r a Cascudo: M e m ó r i a e Biografias e Talento & Polêmica, ilumin a r a i n d a m a i s o p a n o r a m a c ul t ural d o nosso E stado st ado..

Iosé Ro b er to Bez er r a d e Me de i ro s Pr e s i de nte d a COSERN

 

Prefácio

 

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Avida b r e v e q u e f o i canção

Au t a d e Souza con he ci d a e r a c o m o u m p e r f u m e d e n o v e n a trazido num sopro d e familiaridade lír lírica ica.. Menina Menina e m o ç a , le v a d a d e c a s a p a r a o colégio, e s v a i u - s e e m ver s o s . Plantou um jasmineiro e deixou um livro d e s a uudd aadd eess q u e é o c anc i o nei r o geral d a s nossas tristezas. A época e o m e i o e m q u e e la la n a s ccee u d e s m e n t i a m aquel e c o n c e i t o d e Rilke, s e g u n d o o q u a l ver s o s n ã o s ão s e n t i m e n t o s , e s i m e x p e r i ê n c i a s . P oe o e s ia ia e ra r a um c u r s o d e s o f r i m e n t o e t o d o p o e ttaa um últitim m o quar tel d o  es c o llhh id id o , n a li n g u a g e m v e r llaa i n iiaa n a . A i n d a n o úl século XIX, e r a doce m o r r e r e m poesia, chegados a os v inte a n o s. Á lvar es d e A z ev ed o , I u n q u e i r a Freire, C as i m i r o e tantos outros tinham a c a ba ba d o a s s iim m , vítimas d o voluntário desgosto importado d e Paris po i e t iiss m o n a c io i o n a llii z a d o porr G o n ç a l v e s d e Magalhães. U m q u ie c o nt a g i a v a o s espíritos e um s e n t i m e n t o religioso, d e ação moraliz a n t e , vindo d e r e m o t a influência d e F e ne l on, d e n u n c i a v a , n o s e u a s c e tit i s m o m o d e rraa d oo,, o m i s t i c i s m o estético. O R o m a n t i s m o , d e s e m b a r c a d o já agonizante n o Brasil, a i n d a I

tivera forças p a r a anunciar o a d v e n t o d e u m a e ra r a n oovv a , a a u t o n o m i a literária exigida pelo orgulho nati vo e , a o m e s m o t e mp o, a eclosão

d o milênio utópico, d e igualdade i n t e l e c t u a l c o m a Europa, c o n f o r m e s o n h a v a m os in con fid en tes. O m i s t i c i s m o n a t u r i s t a havia e n c o n trt r a d oo,, c o m o j a m a i s e n con t ra ra desde Platão e Rousseau, u m a pátria ideal. A i m p r e n s a na s c e , a s a c a d e m i a s a ggii t a d a s e o púlpito d e Mo ntes A l v e r n e e s ta t a v a m p r e ppaa r a d ooss para satisfazer os apetites m a , n a s u a exaltação r o m a n e s c a p e llaa v i r t u d e disciem o ti vo s d a a llm cl ogas as e d o b u c o l i s m o d o plinadora d a erótica neoplatônica. D as éclog Setecentos, evoluímos para o s hinos panteístas e para a s queixas d o a m o r a u se n t e , pe rdido o u con tr ar iad o. M e s m o s e n d o c a u s a d e u m

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m i s ter i o s o s e n t i m e n t o d e m e l a n c o l i a , m e s c l a d o d e volúpia, o a m o r d a t a d o d e 1830 n ã o par ecia outra c oi o i s a q uuee u m a distração d a triste realidade d a v i d a . O p ró r ó p rir i o m i s t iicc i s m o religioso, i n s p i r a d o n a s d o u t r i n a s platõni-

c a s , sublimou l e ire le i reAsca s do século A paixão se es sme naommoer ,pela o e n ética em XIII. c o n t rdoams acortes r c a d ocan ov acéu. s cantigas q u e primeiro balbuciou a língua portuguesa foram en t o ad as pelos

t rov a d ore s dessas cortes, o s avós longínquos d o s n o s s os o s “ S u s ppii r os os poéticos e saudades”. = Í= ä k *

A q u e título n o s o co rre m essas digressões, q u a n d o s e trata d a poetisa d o Horto e deste belo livro d e Luís d a C â m a r a Cascudo? Iustifico-me: é q u e s o f i s t i c a m e n t e A u t a , depois d e morta, e m pre sto u- lh e papéis e d estin os q u e e la n u n c a i m a ggii n oouu represe n t a r. S e u c o m e ç o e s e u fim, c ar r egado s d e névoas românticas, t i v e r a m para n ós a força obsessiva d e estribilho d e Poe. E , p o r i s s o , M a r c e l i n e De sbord e s- Va l more , a elegíaca d a frustração, estaria n o Horto; e t a m b é m E lili z a b e tthh B a r r e t t B r o w n i n g , a inglesa d os sonet o s a o estilo português; e talvez Chri sti na Rossetti, m u r m u r a n d o 0 ã o a q ue u e la la e s t r a n h a Marie Bashkirtseff, s e u R e m e m b e r ; e p o r q u e n ão tísica e m i m p a c i e n t e d e sp e d i d a , q u e b e m poderia t e r legado à Auta a s a m a r g u r a s d o s seus Cahiers i n tit i m e s ? P a rraa outros, a colegial d e Macaí ba teria sor vid o os v e n e n o s d o i n t e n c i o n a l desespero q u e O S pais d a s u a geração foram b u s c a r n a q u e l e s desditosos sonetos d e G é ra rd d e N e r v a l , q u e c o m e ç a m : Ie suis le ténébreux, le veuf, l'inconsolé, Le Prince d'Aquitaine à la tour abolie. . .

M a seule étoile e s t m o r t e , e t m o n luth constellé P or o r te te le s o le le i l n o i r dela melancoliel...

 

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A u ta r o m â n t i c a , p a r n a s i a n a , simbolista. A v e ferida, adejando o s e u c a n s a ç o entre o s céu s d a natureza e d a morte. P r e t e n d e m o s dar-lhe u m a escola e fazê-la m a t r i c u l a r - s e e m u m a classe. E p e r d e m o - n o s , a s s i m , p r o c u r a n d o diferentes Au ta s , a m ís ti c a, a d esilud id a, a angus ti ada, todas a s q ue u e e s ttaa v a m e m no s s a s concepções literárias o u n o s d e v a n e i o s d e cer to s a d i s m o i n t e l e c t u a l q u e s e c o m p r a z e m torturar a s m e n s a g e n s m a i s h u m a n a s . * * ls * lt

Luís d a C â m a r a C a s c u d o e s ta v a p r e d e s t i n a d o a resti tu i r-nos a m a i s pura e dolorosa poetisa d o Br as i l, ta tall c o m o A u t a existiu, m e n i n a , m o ç a e t a m b é m m u l h e r , n a v i v ê n c i a d a soci e d a d e e n o livro n ã Éo ué mu am revelação, t e rt na emcpi mo ue cnot ou md oas bseus. a v i d a r o mc aonmcoe ab de am, ne en m iioo ggrr a Este ffii a analítica. diz o a u to t o rr,, q u e “não fere, nem d e l e ve , o espírito d a poetisa, porque a p e n a s a fa z r e g r e s s a r a o ritmo e a m b i e n t e e m q u e respirou e viveu Com m a s s u a s m ã o s febris d e e n c l a u s u r a d a , Auta poderia abrir [...]”. Co este livro e e n c o n t r a r , e m v e z d o s e u retrato oficial, “hirto e fácil, a s u a v e r a efígie, i m p r e s s a c o m fidelidade se r e n a , n o m a n t o p o é t i c o d a V e r ôônn i c a . *k #2

A o espírito afeito à indagação e à i n q u i e t u d e de s in te r e s s a da s , a obra d e Luís d a C â m a r a C a s c u do surge, c o m o um d o s poucos e x e m p lo s n o B r a s iill, d e vitória d a paixão i n t e l e c t u a l sobre o i m e d i a t i s m o e a frieza p r o v i n c i a n a . Historiador, etnógrafo, professor d o s m a i o r e s q u e p o s s uím o s , s e u périplo c o n t i n u a , depois d e q u a r e n t a anos d e ra n d e d o cir cun avegaç ão i nc ans ável, v o ltlt a d o p a r a a terra d o R io G ra N o r te. Aqui está s e u promont ório d e Sagres, s u a gr ande escola e s u a nobre v i d a d e b o m gigante. N ã o s e i d e ningué m e m n o ssa provínc ia q u e n ã o te nh a i d o a C a s c u do perguntar, orientar-se e saber. Os m o r t o s lhe lh e d e v e m q u a s e t ant o q u a n t o o s vivos, n u m a t erra o n d e a arte,

 

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c o m o fixação d a beleza, n ã o p rod uz m o n u m e n t o s duradouros. Luís d a C â m a r a Cascudo t r a n s m u d a e e nrique ce e s s a s a v a n a e m c i ê n _ d e e poesia. N ã o é s e m intenção q u e le m bro o titulo d a s cia, e m v e rrdd a de confissões d e Goethe. ilflk*

A esta altura, é i mp o s s í vel fa la l a r --ss e e m p r e ffáá c io i o . O poeta Luís d a C â m a r a C a s c u d o ( e n ã o é a p r i m e i r a v e z q u e lh e d ou o u e s s e invejável n o m e ) chorou e calou-se n o s braços d e A u t a , n a inútil, m a s incessante m a t e r n i d a d e d o colo d e A u ta. E e le m e s m o n o s explica e s t e livro d e poesia e v e r d a d e .

Olhando a jornada e m companhia d a sombra d e Auta d e Souza, lembrei-me d e intitulá-la  solilóquio'I porque r e a lm lm e n te fo rraa monólogo pensado e vivido e m tantos m e se s e s d e abstração e c on o n v í v iioo r oom m â n t i c o . Mas, a vida breve, q u e fo i canção, c o m o n a m ú s ic a d e Manuel d e Falla, p a r e c e --m m e s iigg n ifi i fi c a r , simbólica e nostálgica, a presença d e Auta d e Souza e nesta a homenagem sexagenária d e q u e m , c o m u m a n o d e i d a de de , a d o r m e cera a o e m b a l o d a s u a v o z e n a t e ppii d e z d o s seus braços m el ancól ico s.

Edgar B a r b o s a

 

A sombra de Auta

drugada d e 1 2 d e s e t e m b r o d e 1958. D i a d e Santa A ut a, virgem M e márt ir. Toda a noite, trabalhei n u m a exposição d e sistemática etno g ráf rá fi ca . Ol Olho ho 'o e r n ooss o n d e g u a r d e i a s 'oss livros, q u a d ros, m a p a s , c a d er notas d a s viagens, grutas, m u s e u s , leituras n a s bibliotecas d i s t a n tes. P a r a l e l a m e n t e , a s o m b r a d e A u t a a tr a v e s s a minha tarefa c o m u m a doce obstinação d e p e n s a m e n t o a m o r o s o . A u t a , Santa A u t a é para mim A u t a d e Souza, cujo an iver sár io natalício ocorre ignora d o p o r todos. H á 82 anos, n a sci a n a povoação d e Mac aíb a. U m a Macaíba p e q u e n i n a e palpitante d e v i d a . N o a n o s e gguu in in te t e , s e rrii a vila d o I m pério. pério. N o a n o d a República, c i d ad e. Q u a n d o A u t a fechou o s olhos n a c id i d a ddee d o Natal, a povoação d e Macaíba e r a o quádruplo d a q u e vira n a s u a infância , i n f â n c i a d e catorze anos, c o m tosse seca, febre vesper tin a e e s c a r r o d e púrpura . Esse é r e a l m e n t e um personagem à pr ocur a d e autor. N ã o o busq u e i e m e n o s d ed uz o q u e o houvesse p e n s a do c o m o m o t i v o feito d e tantas pesquisas, deduções e p e r titi n á c iiaa s i n t e r pprr e ttaa t iivv a s . N i n g u éém m, quase n i n g u é m , r e c o r d a a c r i a t u r a h u m a n a q u e e sc s c re r e vvee u v ers o s e m o r r e u n um u m a m a d r u g a d a d e fevereiro d e 1900, primeiro a n o d o século X X . Resta à poetisa, o livro Horto n a s suas três edições, a p e q u e n i n a s ér é r ie ie d e artigos q u e provocou os estudos d e Olavo Bilac, l c e u A m o r o s o L i m a e a recorNestor Victor, Jackson d e Figueredo, A lc d a çã çã o d o ir mão, H e nrique Castriciano, m o r t o e m 1 9 4 7 . Q u a n d o s e ç a p o éétt i c a , a m í s t i c a , a fala e m A u t a d e So Souz uza, a, sabesabe-se se q u e é a m o ça

noiva d e Iesus, a filha d e Mar ia, c h o r ando e re za n d o a o p é d o altar n o ' inte rv a lo d a s hemoptises.

 

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Está c o n d e n a d a a s e r um tranqüilo f a n t a s m a doméstico, lembrado c o m sa u d a d e e c a d a v e z m a i s di s tante, dissipando-se n o tempo a s linhas físicas d o s e u corpo, a m e m ó r i a d e s u a v i d a d e m o ç a sentim e n t a l , o r a n d o n o m ê s m a r i a n o , e s c re r e v e nd n d o e m fran c ê s , querendo no i var , casar, t e r s u a casa, rebelada co ntra a tuber culose, sofrendo a frustração a m o r o s a , le v a n ddoo p a ra r a Deus s u a a m a r g u r a desiludida, transfigurando à lo divino o s a s s u n to lhee to s q uuee outrora o a m o r lh

sugerira.

Fico p e n s a n d o n a s t a r d e s e m q u e ouvia Eloy d e Souza, o i r m ã o f i el, ev ocar-l ocar-lhe he o espírito, m a i s pró próxi xim m o à lu z s u a v e d a poesia q u e à fisio no m ia fra te rna q u e m e i n t eres s av a. E a s n o itit e s e m q u e liliaa e relia to , c o m os originais d o Dhalias (1893-1897), t r a n s f o r m a d o s e m H o r to a s produções d e 1893 a 1899. E a s v ia i a ggee n s lo n ggaa s n a s fontes esquecidas, A República, a partir d e 1896, O á s isi s d e 1896, A Tribuna, d e 1 8 9 7 , R e vi v i s ta ta d o R iioo G ra r a n d e d o N oorr t e , d e 1898, Oito d e S e te te m b r o, o, d e 1 8 9 7 , v e n d o os versos, co nfro nta ndo - o s c o m os originais e c o m a redação definitiva d o Horto d e 1900.

A u t a d e Souza f o i u m a presença obsessiva. Q u a n d o t e r m i n a v a u m a tarefa, sentia-lhe os olhos negros, p e r g u n t a n d o m u d a m e n t e p e la la d e m o r a d a atenção a o d e r r e d o r d o s e u n o m e , d a poesia, n a t u reza, religiao, sonho d a existência breve e triste. ~

N a solidão d o m e u trabalho n o t u r n o , noites vagarosas n a cidade a d o r m e c i d a e c a l m a , A u t a d e Souza fo i u m a c oom m p a n hhii a silenciosa e v i v a . Dizia p er c ep ti velm ente, o V er lai ne q u e e la ignorou. O m o n Dieu,vous m'avezblessé d'amour E t la blessure e s t en c o r e v ibrant e O m o n Dieu, vous m'avezblessé d'amour

Vejo-a pálida, magra, pequenina, c o m s e u terço n o pulso, a s s i n a n d o - s e F . d e M a r i a , c o m o ofez, debaixo d o n o m e , n a c a r r i n h a à s u a a m i g a Iulieta M a s c a r e n h a s , d a t a n d o d o B a r rroo V e r m e llhh o , arredores

 

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d e Natal, 1 4 d e m a r ç o d e 1990, e o Horto prestes a circular. E t a m b é m o s e u r o m a n c e , r om o m a n c e m i s te t e r iioo s o e rápido q u e n ã o r eper cutiu n a tradição, m a s deixa, dolorosas e fu n d a s, a s cicatrizes e moci on a i s. S e m esse r o m a n c e , outra seria A u t a d e Souza. O e n c o n t r o senti-

s sonoridades, m a i s vibrantes e c o m o v e do r a s , à ms ueanst ea ns l t riob ui lxi dea nd oe .v aMaior m ág o a, m a i s d esal ent o , maior d e s e s p e r o e

m a i s , m u i t o m ai o r , poesia

O buquê d o son ho d e n oiva é desfeito flor a flor, n o sacrário, s ub li m ado e m versos devotos, ungidos pelo óleo votivo d a l â m p a d a

sacrificial.

Todas a s m i n h a s horas livres e a s fur tad as a os encargos, d e d i quei-as à s u a v i d a , t ot a l me n t e , c o m a m i n ú c i a , a fidelidade, o c a r i n h o

c i u m e n t o e t e n a z d o s n a m o r a d o s antigos. E m princípios d e 1900, A u t a fo i visitar s u a a m ig i g a D o n a n a, a, c a s a d a c o m o t en en t e Cascudo, d o Batalhão d e Segurança, à ca si n ha d e porta e janela n a R u a d a s V i r g e n s . S u s p e n s o a o o m b r o d e minha m ã e , e u chorava s e m consolo, i m p ac i ente pelo leite q u e a goma d e a r a r u t a engrossava. Minha m ã e equilibrava o papeiro n o fogão d e três bocas, a t u r d i d a pelo berreiro disfônico. A uta segurou-me, acom o d o u- m e, fa l a n d o- me , p a sse a n d o n o corredor. O choro m u d o u d e t o m , espaçou-se, desapareceu. Olh ando a j o rna da e m c o m p a n h i a d a sombra d e Au t a d e Souza, l e m b r e i - m e d e intitulá-la “solilóquio , p o rq r q u e r e a llm m e n t e fora m o n ó logo p e n s a d o e vivido e m tantos m e s e s d e abstração e con ví vio r o m â n t i c o . M a s , a v i d a breve, q u e fo i canção, c o m o n a m ú s i c a d e M a n u e l d e Falla, p a r e c e - m e significar, simbólica e nostálgica, a presença d e A uta d e Souza e n e st a a h o m e n a g e m sexagenária d e q u e m , c o m u m a n o d e ida de , a d o r m e c e r a a o em b al o d e s u a v o z e n a tepidez d e seu s braços melancólicos. M as , s u a poesia é natural e toda poesia c o n s trt r u íídd a , e r gguu id id a p e la la m e c â n iicc a d a inteligência, planejada pela técnica c o m o um

 

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ar r anh a-c éu, é q u e precisa s e r i nter p r etada, exp explli ca da, exp expondo-se ondo-se õe s le t rraa d a s , à s à q u í m i c a d a s combi n a çõe s psicológicas, à s i n t e n ç õe finura s milagrosas d a realização e q u e n e m s e m p r e é percebida p o r tratar-se d e m e l o d i a infra o u supra-sônica. E d u a rd o P r a d o dizia q u e Deus posto e m retórica. é perdeu mm ua istsoo m b r o d e inutilidadeUermudi poeta ainda ta. É“explicado” u m a padronização para mim asfixiante, j u s t a m e n t e n o c a m p o m a isis l u m i n o s o e livre q u e é o d a r e a çã çã o d o leitor. N e s s a doce m a r c h a , a n d a n t e cu m ƒu o cco , a m ú s i c a t a m b é m terá os “ c a n a iiss c oom m p e te t e n ttee s ” para a s u a audição. V e r e m o s  ex pl pli c ad a , c o m o cálculo d e resistência d e m ater i ai s , a s inspirações d a m ú s i c a e h av erá u m t é c n ic i c o p a r a ajustar a o s nossos ouvid os a s r m i n a d a direção. Essa m ú s i c a significa isto e c o n c h as d e u m a d e ttee rm m a i s a q u i l o , n o m e e m a i s n o m e , c iitt a çã çãoo e m e n o s cit ci t a ç ããoo . Onde fi c a r á a m ú s i c a ? Onde está fican d o a poesia agenciada? O v e r s o t e m s e u des ti no n o plano d a compreensão. P or o r q uuee n ã o deixá-lo seguir, s e m obrigá-lo a virar a s turb ina s i l u m i n a d o r a s d a no to r i edade d o e n g e -

nh e iro éxplicador?

É u m ponto d e vista pro v incia no .

A q u i é a história d e u m a v i d a rápida d e poetisa e t a m b é m a história d e s u a poesia. N e n h u m a t ent at iva d e justificá-la, explicá-la, interpretá-la.

Sobre a criatura h u m a n a A u t a d e S o u zzaa , sa bía mos a s d a t a s d e s e u n a s c i m e n t o e m o r t e e a s rápidas notícias e scri t a s p o r H . Castriciano, n a “No ta ” à 2 a edição d o Horto. D o li v r o , r e t iri r a v a m a s flores para an áli áli s e o ral r al.. N e n h u m a pesquisa. N e n h u m a c ur i o s i dade, n e n h u m a in for maç ao. ~

F u i leitor m i n u c i o s o d e todas a s r e v is i s t a s c o llaa b oorr a d a s p e llaa p o e tisa. Li q u a n d o e la publicou prosa, r a r í s s i m a , e versos, a b u n d a n t e s . ga r eess o n d e e la P r o c u r e i e o u v i suas a mi g a s d e Mac aíb a, olhei o s lu ga v i v e ra , n a p a is i s a ggee m imutável. Obtive a recordação s e m p r e límpida d o i r m ã o Eloy d e Souza. Tinha no tas largas d e c o n v e r s a s horas e

 

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horas, c o m Hen r iq ue; Horto, in fâ n cia, predileções, a m e n i n a m o ç a. M o n s e n h o r S e v e r i n o B e z e r r a e m o n s e n h o r Expedito Medeiros,vigários d e Macaíba e Sã Sãoo Paulo d o Potengi (onde está o ar qui vo d a extinta paróquia d e Sã Sãoo Gonçalo, a qual, a té 1883, pertencia Macaíba), padre e M a n u e l Procópio d e Sãoo Iosé Sã d e Mipibu, s , vigárioe md eNatal, AMo n t ur ô na,i odBoarro 1 ° Cartório foram d e inestimávelauxílio. A rever e n d a irmã Motta F . C . e n v i o u notícias d o des aparec i do Col Coléé g i o d a Estância, t r a n s f o r m a d o n u m orfanato, n o Recife. S r . Geleno Iapiassu Correia G r a ra r a n áá,, d a a d m i n i s t r a ç ã o d o Cemitério d e Santo A m a r o , n o Recife, r e m e t e u d oocc u m e n t ooss . A r o n M e n d a , d e Porto Alegre, rearticulou-se c o m o velho a mi g o Ari M a r t i n s e este m a n d o u o r e s u m o biográfico d e Artur Pinto d a Rocha, a n o t a d o r d o Horto, episódio d e q u e n i n g u é m tivera a m e n o r notícia. A n d r a d e Muricy, n o R i o d e

Janeiro, localizou u m a crítica d e Ne st or Vic t or sobre Au t a , lida n u m a m i s c e l â n e a d e H e n ri q u e , s e m data e origem d a publicação. Pude c o n sultar a p r i m e i r a edição d o Horto, e x e mp l a r q u e p e rt e n ce ra a M a n u e l Da n t a s e q u e está n o Instituto Histórico. Viajei p el elas as coleçõ coleções es d e A República, n a colheita fortuita d e registros. F i z co nfro nto d a s três edições c o m os p o e m a s publicados n a s revistas e escritos, n a s font e s m a n u s c r itit a s , c oom m a letra d e Au t a . D a í v i e r a m versos r e a l m e n t e inéditos (alguns c o m esse título n a 2 * edição já tinham c i r c u l a d o elaa aut ora o ra q u e n ã o m a i s impressos) e u n s p u b llii c a d o s p a r c i a l m e n t e p el desejava m antê -lo s n o m e s m o espírito d a primitiva inspiração.

Para a c o n fif i g u r a ç ããoo r e a llíí s t icic a d a poetisa, e r a i n d i s p e n s á v e l reunir o m a t e r i a l esparso e ajustá-lo à s linhas d a n o r m a l i d a d e es pirit ual d e A u t a . E r a preciso a c o m p a n h a r s u a v i d a , a s tr an sfer ên cias s e n t i m e n t a i s , a s modificações posteriores a o s e u r o m a n c e d e a m o r , doloroso e bre v e para o c or o r a ççãã o . P e n s e i n a n e c eess s iidd a ddee d e fixar a primeira poetisa d e minha provínc ia n a fidelidade d e s u a e moçã o e n a v e rraa c iidd a ddee d a f i si sion on om i a doce e r o m â n t i c a . C o m o e x a t a m e n t e fora, poetara e v i v e ra , e n f i m , A ut a, q u e s e f u n d a m e n t a m a t e r i a l m e n t e e m de ze n a s e de ze n a s d e p o e m a s claros, nítidos, i n s o f i s m á v e i s . Restitui-la a o m o v i m e n t o d a v e r d a d e . N ã o um uma a

 

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p s ici c a l g i a i r r e s p o n s á v e l pelo sofrimento i ngêni to, m a s um tempe¡a_ m e n t o q u e reag e, pela v oz o z d o v e r s o , d a n d o coloração e f o r m a à s u a amargura posi ti va. E s t u d a n d o um uma a d as a s c a uuss a s d ebil it ad oras d o con ceito clássico d o

segredo profissional, o p rof rofes es sor G regóri regórioo M a r a ño ñ o n i n d i c a o caráter

científico d a medicina m o d e r n a , b a s e a d a , e m g r a n d e par te, sobre a exibição d e casos clínicos e d e s ua u a s histórias. Inconveniente o u lícito, o p r o c es s o é diário e c o n t í n u o , c o m u m e m todas a s práticas. Limita-o e x c l u s i v a m e n t e 0 d e l i c a d o t e r r e n o d o i n te t e r e s s e moral le gíti gítim m o. Arevelação, pois d e revelação s e tra ta , d a vida d e A u t a d e Souza n ã o fere, a o d e le v e , o espírito d a poetisa, porque a p e n a s a fa z regress a r a o ritmo e a m b i e n t e e m q u e respi rou e v i v e u . U m a A u t a mística

e s t r a n h a , a l h e a d a à pa isa ge m d o social, s e m alegrias d e m o ç a , s e m s o n h o s d e do nze la , s e m d eess e jjoo s h u m a n o s , estátua o r a n ttee , m o d e lloo d e imóvel cariátide d e altar b a r r o c o , n ã o existiu. S e tivesse existido outro, e b e m outro, ser ia o Horto, c o m su a s angú s ti as , desilusões e vigílias. Devia s e r este e n s a i o o q u e r e a l m e n t e é: u m a exposição d o s m o tit i v o s s e n t i m e n t a isi s q u e expli cam o Horto e humanizam s u a autora s e m materializá-la. N ã o sugere, d e d u z , supõe, m a s i n f o r m a , registra,

expõe... O s v e r s o s , agora pu b li cados pela primeira vez, f oram e n c o n t r a d o s intactos e m s u a caligrafia ágil e f i na, n o v o l u m e e n c a d e r n a d o q u e Auta des ejo u, e v i d e n t e m e n t e , guardar e s a l v a r d a d estr uiç ao. Documentário d e e x c e p c i o n a l valia e x p re ssi v a , n ã o modifica, m a s a c e n t u a a se nsib ilida de , a graça, a natural argúcia d a poetisa. A p e n a s ap r es enta-a num p l a n o m a is i s h u m a n o , m a i s íntimo, m a i s f e m i n i n o . Nenhuma p r e t e n s ã o d e elucidar e e s c l a r e c e r a psicologia d o H O T Í O . m a s historiar a s etapas s uc es s i v as d e u m a e x i s t ê n c i a m a r c a d a p e los l os si ggnn os d a inteligência e d a a m a r g u r a .

 

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N ã o será r etr ato oficial, hirto e fácil d e A u t a d e S oouu zzaa , m a s a s u a v e r a efígie, i m p r e s s a c o m fidelidade se r e n a , n o m a n t o p o é t i c o d a Verônica. Conta-se a história d a vi agem s e m imposição d o itinerário. Versos d e 1893 a 1899, escritos p o r u m a m o ç a q u e m o r r e u e m 1 9 0 1 . Versos q u e e r a m escritos pela imposição i r r e p r i m í v e l d a inspio n ttaa d e o u p o r t e r e n c o n t r a d o u m m o tit i v o b o n iitt o . ração e j a m a i s d a v on Vinha a hora e o relógio batia s u a nota infalível. N ão ã o e rraa possível de ixa r d e escrever. Os motivos estão todos c i r c u l a n d o n o p e q u e n o a m b i e n t e e m q u e e la la v i v e u . T a m b é m os re cu rsos para e s c r e v e r os versos s ão p equeni no s e d a í graciosos e s im i m p le s e m s u a n atur alid ad e. Aquelas exigências d a  f  for orm m a , q u e e r a m a s s u p r e m a s razões críticas d e 1900-1920, d i ssol v e ra m- se n o a r . P as a s sa s a ra ra m d a m o d a . C e r t a m e n t e voltarao.

A uta d e Souza t e m s u a h u m i l d e m elo di a perene para certos ouvidos. A s grandes te m p e s ta de s sonoras e s t r o n d a m , a t u r d e m e p a s s a m . N a s e r e n ida de , vo ltam o s a e n t e n d e r o fifioo dolente d a fl auta c a m p e s tre, l e m b r a n d o os t e m a s d e a m o r e mágoa. Outra rajada m a g n é t i c a dispersa atenções e a m o r e s . T e m p o s d e ppoo i s , a v e n t a n i a a m a i n a e t a , o bbss ttii n a d a a tranqüila, c o m a doçura d e s u a tristeza ouve-se a fl a u ta familiar. E a s s i m , e n q u a n t o h o u v e r mundo e poetas, n ã o morrem, d e todo, furacões e flautistas.

Q u e r o c o n t a r o q u e con se g u i saber sob sobre re A uta d e S oouu zzaa . Q u a n t o p es qui s ei sobre o Horto, publicado n a c i d ad e d o N a t a l e m junho d e 1900, i m p r e s ssoo n a tipografia d e um jorn jornal al d a terra e c o m um pr efácio d e O la v o B i llaa c , o m a i s inútil d e todos o s prefácios q u e o poeta (ÊSCIGVGLI.

R e c e d a n t vetera, n o v a s i n t o m n i a , disse S a n to to T o m á s d e A q u i n o

an t es d e q u a l q u e r outro a t r e v i m e n t o : para trás o velho, r e n o v e - s e t u d o . H á el em en t o s irrenováveis e m s u a p er p etui dade. D e f e n d e m - s e f u n c i o n a l m e n t e , e x isis ttii n d o , r e s iiss ttii n d o , d u r a n d o. o . Muitos d e sse s

 

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e l e me n t os estão n a poesia. N ã o h á força para suprimi-los o u desviálos. Seg Seguem uem a n d a n d o , v ida e m fora. H ab ent s u a fata...

A minha geração e m N a ttaa l,l, aqueles q u e c o m e ç a r a m a e s c r e v e r a o r e d o r d e 1 9 1 8 , rec eb eu A u t a d e Souza c o m o a “poetisa mí stica d o Brasil”. N e n h u m d e n ós sabia o q u e v i n h a a s e r m i s t i c i s m o , o título e r a son or o e orgu lhador par a o n o s s o provincianismo s e d e n t o d e n o t o r i e d a d e , Olavo B ilac e N es to r V i c t o r d i z i a m - n a “m í stica ”. P o d i a m resolver. Tinham a u t ori d a d e . Estávamos todos e n g a n a do s . Eles e nós.

A u t a d e Souza n ã o é u m a poetisa m ís ti c a. É u m espírito profund a m e n t e religioso, a l m a c r e n te t e , d e v oott a , fielmen te ligada a o corpo d e Cristo e m s u a igreja, ligada pela d o u t r i n a d o c a t e c i s m o e d a “imiespecialmente a N ão q u e haja tação”. místico, gr ande d e Iesus. Autalido S a n t a T e r e s acreio e s táu m muito m a i s próxima à s soluções da “ im im i ta t a ção” q u e a o s e n t e n d i m e n t o s d a m e s t r a Ávila. E m t o d o o Horto, n ã o h á u m a s ó página q u e d e n u n c ie i e t e n d ê n c iiaa mí stica d e s u a autora. A m ú s i c a q u e s e evola é d o s órgãos e serafinas e n ã o a h a r m o n i a d o s anjos, per cebid a n o s arroubos. N ã o h á s e n t i m e n t o d e êxtase e s i m r e m i n i s c ê n c i a s a morá v e i s d o c o nvívi o d e Cristo-hóstia, a c o m u n h ã o r e p a r a d o r a e sa ntifica do ra d o s pecados v e n i a i s , os ú n icos q u e A u t a d e Souza c o n h e c e u n e st e m u n d o . E v i d a , v i d a h u m a n a c o m seus i n t eres s es , diária e n o r m a l . I u s t a m e n t e o i n v e r s o d o mí stico. C a d a n o m e v e n c e 0 tem p o , tr azen d o el em en t o s d a s regiões atrav e s s a d a s . H á u m a espécie d e d e s ggaa s ttee e d e ampliação. Desgaste pelo atrito d a s a d m i r a ç õ e s q u e m o d i f i c a m , m e s m o l e v e m e n t e , o s e n s o i n t r í n s e c o d a criação já r ealiz ealiz ad a, aj ajus us tan do --aa à s f o r m as as s i m i lado r a s d o d e v o t a m e n t o . A jibóia deglute o cibo n a d iiss p ooss iç i ç ã o digerível. A m p l i a ç ã o porque esse halo d e sd obra a per son alid ad e n a extensão luminosa d a simpatia.

A o d e r r e d o r d e c a d a livro clássico, h á d u a s perspectivas inevitáveis. O livro e m s i.i. Os juí uízz o s , c o m en t ári ár i o s , julgamen tos,opin iões q u e

 

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le m o s , v e m o ss,, o u v i m o s e c on o n s c iiee n ttee o u i n c o n s c i e n t e m e n t e inco rp ora mos a o livro e m s i c o m o u m a preparação, introdução, m o l d u r a inseparável d o nosso c o n h ec im i m en t o .;.; N ã o c rei reioo possívelque a m i n h a i mp re ssã o sobre Vic t or Hugo, Sheiley, Walt W h i t m a n seja le gíti gítim ma i d a d e , r e v e llaa d o rraa d a e p u r a m e n t e pessoal, m i n h a , e m s u a a u t e n tit i c id sensação estética. Haverá, forçosamente, dezenas e dezenas d e i m a gens m o r t a s o u s e m iv iv a s , gravitando n a m i n h a percepção. I m a g e n s d e leituras, conversas, viagens. Pe n sa m e n t o s “idos e vividos”.

A s s i m , A uta d e S oouu zzaa trouxe, c om o m o e s ttrr e llaa cadente, u m a longa, ofuscante e enleadora cauda, explicávelpela s u a viagem n o t e m p o , d e 1 9 0 1 , q u a n d o m o r r e u , a té m e u s olhos d e rapaz n o A n o d o Centenário, p i n i õõee s a n t e r iioo re re s 1922. S ó s e r ia i a p o s s íívv e l e n x e r ggáá - la n o q u a d r o d a s o pi d e críticos, jornalistas e p o e ta ta s . N ã o tinha e u o t e m p o , t e m p o psicológico, p a r a d e t e r - m e junto à mocinha d e M a c a í b a , e ficar, m e s e s , a c o m p a n h a d o - a pela v ida d e 2 4 anos vi vi do s . E r a i n d i s p e n s á v e l a quarta d i m e n s ã o p a r a vê-la, vê-la d e v a g a r , s e m pressa, c o m carinho d e q u em e m q u eerr a m i z a d e e procura e n t e n d e r o am i g o c o m o e le é e n ã o c o m o julgam q u e seja. Difícil p a r a a i d a d e a p r e s s a d a sintonizar o p ho h o n e t iicc s t rraa t u m , a célula c r i a d o r a q u e d e v e f isiol isiologi ogicc am en te existir e m c a d a criação espiritual.

Todo livro é n o v o para c a d a i d a d e . O t e m p o é u m revelador, valo-

rizador, re n ov a d or. M a s tud o isso e m fórmulas sucessivas, v i v e n d o e olhando. O m e u H o m e r o d o s 25 anos e o d o s 60 ... O d e s l u m b r a m e n t o c o m os poetas e historiadores gregos e latinos, lidos n a tar de d a v i d a . A s s i m , v a m o s e n c o n t r a n d o n o s espíritos u m a sintonia, u m a fis ionomia i n e sp e ra d a e à s vezes c o i nc i dente a o q u e p e n s a m o s . Um poeta, u m r o m a n c i s t a , u m pintor, u m m ú s i c o s ão s e m p r e a s v í t i m a s d o j u l g a m e n t o coletivo consagrador, fe i ttoo c o m o m o s a i c o d o s lugar e s c o m u n s lustrosos. F ix am o gabarito e a e st a t u ra s e m a n t é m , b e m pode ser, d i v e rsa d a r ealid ad e interior. É um e n c a n t o q u a n d o v i a j a m o s n o s livros e des c o b r i m o s , c o m o Ponce d e L e o n , a llgg o d e n u e v o onde havia forma definitiva e passada e m julgado. Outra visão e

 

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sentido inapreciável. Do homem q u e viu Verlaine n o Café P rocope

a t é a S a g e s s e , q u e le m o s e m c a s a , f u m a n d o , longe d a petrificação n o “critério”. Lógico é q ue u e e xxii s ttee muito q ue u e n ããoo p e rc r c e bbee m o s e m e s m o q u e o criador n ã o pretendia ou d e s e j a v a incluir tal alve vez z nem nem tenha enha p e n s a d o . Creo q u e e n c a d a cosita q u e Dios c r ió ió h a y m á s d e lo q u e s e

e n t ie ie n d e , p e n s a v a Santa T e r e sa d e Jesus: E m toda criação espi ri tu al o s limites s ão i m p r e v i s í v e i s . T a m b é m é d e ad ver tir - se q u e a i n t e n tágg i os equ i po pollen tes. Muita coisa p e n s a d a e m ç ã o n ã o d e t e r m i n a con tá v e r s o e prosa é infravermelho o u u ltravi oleta. I m p e r c e b í v e l pelos sen tid os hon e st os.

A s s i m , a A u t a d e S oouu zzaa q u e e s t u d e i d e v e s e r outra. M a s é a m i n h a . P a r a aqueles q u e c r ê e m , c o m o e u , n ã o h á di f i cu ldade n a c om om pr e e n s ã o d a poetisa, d a m o ç a q u e a m o u e fo i fiel a o s e u De u s. F e z c o m lágrimas e v e rsos daphistória m o d eTset re n i n a ,Santa m a l , n a paisagem _ c 9 t _ i _ d i a _dn eq . uEmn tae nv diiddi aq upee rqeupeetira rae,sno a dr-e

Jesus n o c o n s e llhh o a D. Teuton io d e B rag an ç a: Procure Vuestra Señoria a l g u n a s veces, c u a n d o s e v e apretado, irse a d o n d e v e a cielo [...].

Ci d a d e d o N a t a l .

S e t e m b r o - n o v e m b r o d e 1958.

Luís d a C â m a r a C a s c u d o

 

Datas Essenciais

1828 - N asce e m Goiana, P e r n a m b u c o , Silvina Maria d a Conceição,

depois dona Silvina d e Paul Paulaa Rodr Rodrii gues, a v ó m a t e r n a e m ãe d e criação d e Au t a de S o u zza; a; a inesquecível D in d in ha.

z e m b r oo,, n o Po ttee n g i Pequeno, então m u n i c í 1842 - Nasce a 1 ° d e d e ze

p i o d e S ã o Gonçalo, R io G r a n d e d o Norte, El Eloy oy Castriciano de S o u zza. a.

iq u e t a L e o ppoo lldd in in a , 1852 - N a s c e n o Recife, a 1 9 d e m a i o , H e n r iq filha d e F ran c i s c o d e Paula Rodrigues e Silvina Mar ia d a Conceição. 1872 - C a s a m , e m junho, n a igreja d o Arraial, Francisco d e Paula

Rodrigues e S ililv in i n a M a rrii a d a Conceição, pela m a n h ã . A t a r d e , c a s a m Eloy C a s t r i c i a n o d e Souza e H e n r i q u e t a Leopoldina.

1873 - N a s c e a 4 d e m a rç d e azulejos d o Arraial, o , n o sobrado primogênito Eloyr çCastriciano d e Souza. Senior, r, espo esposa sao Eloy Senio

e filho fixam-se n a povoação d e Macaíba, R io Gr a n d e d o

Norte. 1874 - Nasce Henrique Castriciano d e Souza a 1 5 d e março.

i n e u Leão Rodrigues d e Souza. 1875 - N asce a 28 d e j u n h o I r in 1876 - N asce a 1 2 d e setembro Auta d e Souza.

1877 - N a s c e a 2 0 d e outubro João Cânc i o Rodrigues d e Souza.

 

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1878 - D o n a He Henriq nriquet ueta a Leopo eopold ldina ina va vaii a Recife c o n s u l t a r

m édi c o s . 1879 - N o e n g e n h o J u n d i a íí,, a r r e d oorr e s d a vila d e Macaíba, falece a

29 d e junho H e nrique ta L eopol eopoldd in a, com 27 anos. 1881 - Falece e m Macaí ba, a 1 5 d e janei ro, Eloy C a s t r i c i a n o d e

Souza, c o m 3 9 anos, um m ê s e 1 5 dias d e i d ad e. Au t a , c o m o s ir mãos Eloy, Hen r iq ue, Irineu e João Câncio, a c o m p a n h a o s avós m a t e r n o s para a re si d ê n ci a n o A r r a i a l , Recife. 1882 - F al ec e a 29 d e ou tu b ro F r a n c i s c o d e P aula Rodrigues,

a v ô m a t e r n o d e A u t a . A a v ó Silvina d e Paula Rodrigues, Dindinha, a s s u m e a r espon sabilid ad e d e v i d a e educação d o s c i n c o netos órfãos.

1887 - Morre q u e i m a d o n u m a explosão d e c a n d e e i r o d e querosene, a 1 7 d e fevereiro, I r i n e u , c o m 1 2 a n o s. J á es c rev i a versos.

1888 - A u t a n o Colégio d e S ão V i c e n t e d e Paula, n a Estância, Recife, dirigido pelas religiosas fran c es as . Diretora irmã Savignol.

A u t a é a primeira a l u n a , o b tendo q uas e a totalidade d o s prêm i o s escolares.

la tuberculose a os 1 4 anos. 1890 - Au ta é a c o m e ttii d a p e la

Dindinha

volta vol ta p ara a ci dade d e Macaíba c o m o s quatro netos. 1892 -

Henrique Castriciano publica Iriações, versos, tipografia d e A República, p o e m a s d e 1889 a 1892.

1893 -

Intensa atividade poética d e A u t a . P e r c or o r re r e agreste e sertão

1894 -

p r o c u r a n d o r e c u p e r a r a s a ú de . Auta inicia s u a colaboração n a revista Oásis, Natal.

I  

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1895 -

Viaja a o Recife, regressando n o m e s m o ano.

1896 - Colaboração e m A República.

e m A Tribuna. Re úne a s produções, d e 1 8 9 3 a 1 8 9 7 , s ob o título Dhalias.

1897 - Escreve as s id uament e

1898 - H . Castr ician o publica o livro d e v e rrss ooss R u íínn a s , prefácio d e

Rodrigues d e Carvalho, i m p r e s s o e m F o rrtt a llee zzaa , Ceará. A u t a d e Souza colabora n o Oito d e Setembro e n a Revista d o R io G r a n d e d o N or o r te te , a m b o s e m Natal. D e n o m i n a Horto s e u futuro livro. 1899

-

o p o e m a Natal. H . C a stipografia “Mãe”,Olavo prefácio t r i c i a n o publica Bilac, d e A República, Bilacd ee sOlavo creve o prefácio d o Horto (outubro). O escritor gaúcho Artur Pinto d a Rocha lê os originais, a n ot a n d o- os c o m elogios.

1900 - Circula a 20 d e junho o H o rt r t o , i m p r e s s o e m A República,

Biblioteca d o G r ê m i o Polimático, 2 3 2 páginas. Prefácio d e Olavo Bilac. A C o m p a n h i a Ferreira d a Silva r ep r es enta e m N a t a l a 1 0 d e julho o d r a m a d e H. Castriciano, O Enjeitado.

1901 - Falece e m N a ttaa l,l, à u m a hora e quinze minutos d a m a d r u g a d a p u lltt a d a n o C e m itério d o d e 7 d e fevereiro, A uta d e Souza. S e pu

Alecrim.

C a s tri c i a n o publica Vibrações, prefácio d e Clóvis Beviláqua, tipografia d e A Gazeta d o Comércio, Natal.

1903 - H .

1904 - É en cen ad a, n a inauguração d o Teatro Carlos G o m es , a 2 4 d e

março, a peça d e H. Castriciano A Promessa.

 

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A u t a d e Souza s ão trasladados d o Cemitério d o Alecrim para o jazigo d a f a m í l ia n a Matriz d e Macaíba, onde se e n c o n t r a m .

1906 - Os restos d e

1908 - Falece e m N atal, a 1 1 d e d e ze mbro, d o n a Silvina d e Paula

Rodrigues, D i n d i n h a . 1909 - Eloy d e Souza publica s u a con fer ên cia “ C o s t u m e s Locais”,

tipografia d e A República.

ilustração d e D. O . Widhopff, Aillaud, Al v e s & Cia., Paris. Inclui “O s primeiros versos”, dois p ó s t u m o s e u m a “ Nota” d e H. Ca s t ririci ci a n o. De cre t o e s t a d u a l n . 255, d e 1 9 d e outubro, cria um G r up o Escolar e m Macaíba

1911 - S e g u n d a edição d o Horto,

e d e n o m i n a - o A u t a d e S o u zzaa . H . C a stricia no publica s e u

e s t u d o A Educação d a Mulher n o Br as i l, origem d a Escola Doméstica d e Natal.

1925 - Fundação, a 1 2 d e s e t e m b r o , d o G r ê m i o Lí te ro - m usica l A uta

d e Souza, n a Escola Doméstica. 1930 - R u a A u t a d e S o u zzaa , e m N a t a l,l , p e llaa le i municipal n . 1 4 , d e

3 0 d e agosto, p r e ffee iti t o O m a r O ' G r a d yy.. Sugestão d o Instituto Histórico, pela comissão: des. A n t ô n i o Soares, N e s t o r L i m a , C â m a r a C as c ud o . Eloy d e Souza publica s u a con fer ên cia “ A l m a e Poesia d o Litoral d o Nord e st e ”, tipografia d e S ã o B e n e d i t o , R i o d e Janeiro.

1933 - Falec e e m S ã o José d o Mipibu, a 9 d e d e z e m b r o , João

Cânci o Rodrigues d e Souza. F o i o único d o s irmãos a deixar d es c end ênc ia. 1936 - T e rc e i ra edição d o H o rrto to,, pr pree ffáá c i o d e Alc e u A m o r o s o

L i m a (Tristão d e Ataíde), tipografia Batista d e S o u zzaa , R io

 

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d e Janeiro. M es e s m o t e xxtt o d e 1 9 1 1 . Instalação d a A c a d e m i a N o r t e - r i o - g r a n d e n s e d e Letras e m 1 4 d e n o v e m b r o , c o m a poltrona X X d e d i c a d a à A uta d e Souza. P a l m i r a W a n d e r l e y é a p r i m e i r a titular. za publica Calvário d a s S e c a s , prefácio d e Luís d a 1938 - Eloy d e S oouu za

C â m a r a Cascudo, tipografia d a I m p ren r en s a Of Ofii c i al al,, Natal.

1947 - Falece e m Natal, a 2 6 d e julho, Hen r iq ue Castriciano.

r a J a n d iirr a Car valho publica e m Fortaleza, Ceará, 1950 - A e s c r iitt o ra 1 2 d e s e t e m b r o , um e n s a io i o s oobb r e A u t a d e S o u zzaa , t o m a n d o p o s s e d a poltrona c o m esse n o m e n a A la F e m i n i n a d a Casa

J uv en al Galeno. 1954 - Reorganização, e m 1 4 d e abril, d o G r ê m i o Literário A u t a d e

Souza, no Col Coléé g i o Estadual, seção f e m i n i n a . N ã o c o ns egui a d a t a d a fundação.

1956 - E m 2 0 d e ju nho, Eloy d e Souza c o m e ç a a e s c r e v e r a s s u a s

M e m ó r i a s d e u m Velho. 1959 - Falece e m Natal, a 7 d e outubro, Eloy Castr ician o d e S o u zzaa ,

o i r m ã o m a i s velho.

 

I

Apresento-lhes Félix José d e Souza, Félix d o Potengi P e q u e n o , m u n i c í p i o d e S ão Gonçalo e depois d e Macaíba, R i o G r a n d e d o Nort e , v a q u e i r o d e F r a n c i s c o P e d r o B a n d e i r a d e Melo, u m r e i a cavalo, c o m toda a c i ê n c i a d a equitação m a t u t a e os segredos d e a m a g o t a r e g u i a r o gado. P e r t e n c e u a o t e m p o e m q u e o s h o m e n s e rraa m h o m e n s e a n d a v a m a cavalo, whem m e n were m e n a n d rode o n horses,como s e c a n t a v a a o s Pioners d o Wild West n o r t e - a m e r i c a n o .

Diziam q u e Félix d o Potengi P e q u e n o tinha “pauta c o m o Cão” porque touro n ã o fugia d a m ã o n e m m a r r u á d es ap arec i a n a s erra. Trazia o lote u n i d o e m a n s o n o d o m í n i o d o a b oi oi o q u e s e d e se n rol a v a n o a r c o m o u m a fita m e l ó d i c a d e s u ggee s ttãã o ma g n é t i ca . N o coice o u n a guia d a boiada, n i n g u é m o igualava. g r o, o , e n x u ttoo , ágil, gato d o m a t o para saltar E r a baixo, escuro, m a gr o m o p e iixx e e m c i m a d e u m a sela e c o r r e r n o limpo e n o fechado, c om re v ira n a água. Passou d u a s t e r ççaa s partes d e s u a v i d a “ e n c o u r a d o ” d e s d e m a d r u g a d a , t i v e sse o u n ã o ser viç o d e c a m p o , p e r n e i r a s , guarda-peito, gibão, o guante n a m ã o direita, o chapéu d e abas c u r tas, c o m o um e l m o d e ouro velho, finca do n a cabeça r e d o n d a . T o d o s e u a m o r m a t e r i a l e r e a l polarizava-se n o s d o isis e le l e m e n t ooss vitais q u e lh e e n v o llvv e r a m a existência. S u a ativid ad e reduzia-se, i n t r í n s e c a e e x t r i n s e c a m e n t e , e m pe rso na liza r n u m a f un ção lógica ógica o v e lh í ssim o v e rs r s o d o s e rrtt ã o pastoril: F u i moço. Hoje s o u velho. Morro q u a n do Deus quiser. T iivv e d ooii s gostos comigo: Cavalo b o m e mulher

 

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V i v e u m a i s d e s eett e n ttaa a nnoo s s e r v i n d o estes dois a m o r e s : cavalo b o m e m u l h e r , d a m e s m a categoria. N a s c e r a n o F e r r e i r o T or o r ttoo , e n ggee n hhoo já velho n o t e m p o d os holandeses.

D o P oten gi P e q u e n o, batia serrote e capoeirão, tabuleiro e c ar r as c al, d a n d o c a m p o , d e ddoo n o ouvido, aboiando, caçando vaca a m o j a d a n o i n v e r n o e r ê s fracateada n a s estiagens longas.Foi a o Piauí c o m p r a r novilhos. E r a n a e s trtr a d a d a s boiadas, corrente, v a r a n d o o Ceará, n a pista d o norte para o C a m p o Maior, trilha misteriosa onde r a r os o s v a q u e i r os o s sabiam a s paisagens me l hore s e c o m o evi tar a s “trav e s s ia ia s ” s e m água. G u y a u dizia q u e la d e m o c r a t i e t u e l'art. N ão ão m a ttaa , m a s

substitui. J á n ã o s e v a i m a is i s b u s c a r t o u ro r o s e poldros d e r e m o n t a n o Piauí. D e s a p a r e c e u a figura d o p as s ad o r d e gado, v a q u e i r o dono d o s e u d e st i n o; b r uac a tinindo d e m o e d a s d e ouro, m a c a c a n o pulso, espor ã o d e roseta n o ca l ca n ha r, garrucha d e dois can os, fog ogoo central, n a c i n t u r a , g a lo lo p e e m c i m a d a m ã o , i n d o para a s fazendas gerais q u e Do m ingo s Afon so M a f r e n s e d eix ar a a os jesuítas e estes a El-Rei. Estradão,pousos, encruzilhadas, v e n d a s d e garrafa enforcada a n u n c i a n d o c ac h aç a d e a l a m b i q u e d e barro, s o m b r a para mastigar o “comboieiro” d e c arne picada e farinha solta, arrancho p ara do dormir, rmir, agrupados n a c on o n v e rrss a , b r a s a a s s a n d o alcatra, r o m a n c e s , povoados, vilas, ci d a d e s, c an t ad o res , cangaceiros, furtos d e m o ç a donzela, e n f o r c a m e n t o d e ladrão, d e r r a m e d e f a m a s , m u i t a coisa n a s c e u d e s s a s j o r n a d a s . Juntava-se a v a q u e i r a m a d e q u a t r o províncias, a o s magotes, n a ajuda d e passar, voltando, o s á lv e o s la m a c e n t o s , molhad o s n o e n x u r r o d a s p r i m e i r a s águas, lavour a b ab ujando d e v e rrdd e a e s tr a da s e m f i m .

 

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Félix d o Potengi Pequeno, n o m e d e h o m e m e n o m e d a terra, como barão feudal, e r a u m a d e s s a s memórias, u m orgulho, vencedor d a s lonjuras, guia d a s boiadas, fiança d e Deus F ran c i s c o Pe d r o B a n d e i r a d e Melo, p e r n a m b u c a n o , à roda d e 1 8 3 5 estava situado n a m a r g e m esquerda d o R i o Jundiaí, senhor d a s terras d o Coité. A gadaria espalhava-se e m fazendas incontáveis, m a s Souz uzaa era o prim e iro vaqueiro. C o m a filha d e Francisco Félix J o s é d e So Pedro, D a m i a n a Maria, s e casou Fabrício G o m e s Pedrosa, Fabrício Velho (1809-1872), paraibano d o B r e jjoo d e Areias, q u a n d o e n v iiuu v oouu d e dona Maria d a Silva d e Vasconcelos. F r a n c is c o Pedro e r a agricultor e criador. O genro na s c e r a para n e go g o c ia i a n t e . F iixx o u -s - s e n a m a r g e m d o J u n dia íí,, o n de a s casinhas d e

taipa e ranchos d e palha d a v a m u m a nota d e a r r u a d o e , e m 1 8 5 0 , Coité e r a povoação, s e d u to to r a c oom m o vício novo. Ficava n a boca d a s e s trtr ad a d a s q uuee g an h av am o Seridó e p el eloo val valee d o Ceará-Mirim alcançava-se o oeste. E m 1 8 5 5 , plantou n o s e u q u i n t a l u m a Macaíba, c o m festa d e beber e comer, e Coité foi fo i sendo c h a m a d a Macaíba. E m 1 8 5 9 , i m e iri r a desceu para a boca d o Jundiaí e Potengi, escolhendo a c o lili n a c im r m a zzéé n s , n a m a r d e Guarapes e a í ergueu casa-grande, capela, a rm ge m d a ág u a v e r de d e , cais d e d e se m b a r q u e e barracões d e depósito. e os, o r io s navios vindos e gLiverpool Ae tvéi n1 h8 7a 2m, ocarregar M apeles n c h e setedeixar r subiam açúcar aç úcar,, dal alg odã odãoo , cour couros, tecidos, enxadas, foices, machados, facões, sapat sapatoo s, perfumes, jóias baratas, espelhos, louça, pó-de-pedra e porcelana inglesa, toda a pacotilha industria l d a época. A libra e s te r lili n a c o m o relevo bojudo d a rainha Vitória circulava c o m a n orma l i d a d e d e u m a nota d e dois mil réis. A guerra d e S e c e s s ã o , N o rtr t e c o n ttrr a S u l ( 1 8 6 1 - 1 8 6 5 ) , q uei m o u o s algodoa is a m e r ic a n o s e o al algg odão odão do B ras i l apareceu, disp disputado utado.. Macaíb Macaíbaa ficou sendo a capital e co n ô m i ca d a província d o R io Grande d o Norte e n ã o a cidade d o N a t a l que, a i n d a e m 1 8 7 1 , o presidente Henrique Pereira d e Lucena, futuro barão d e Lucena, dizia s e r “ u m a vila insignificante e atrasadíssima d o interior”. Comerciantes d e Pernambuco,

 

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e s p e c i a l m e n t e , m o n t a v a m “ f i n a n c i a m e n t o s ” pa ra a s safras c a n a v i e i r a s e algodão d o s vales d o C a ppii ó , Cajupir an ga, Maxar anguap e, C e a r á - M i r i m , a té a p r o x i m i d a d e d e C a n g u a r e t a m a a o s u l e A ç u a oeste, r e c e b e n d o o s produtos q u e iam e m ba rca ça s vagarosas o u o s n a v i o s d e três m a s trt r os o s , a n c o rraa d o s e b alanç ado s e m G u a r a p e s , para

Inglaterra. Félix d o Potengi P e q u e n o , h o m e m d e F r a n c i s c o Pedro, trabalhou, v e z e outra, para o genr o poderoso, “seu Frabrício d e Guarapes”, i ndo a Recife v e n d e r bois e c o m p r a r e n c o m e n d a s , F r a n c i s c o Pedro deliber o u premiar t a n t a d e d i ca çã o es p o n t â n ea. Tinha u m a filha natur al, a m e n i n a C os ou zzaa , vaqueiro-rei. o s m a . C a s oouu -a - a c o m Félix José d e S ou N o d i a 1 ° d e d e z e m b r o d e 1842, h a v ia choro d e “ m e n i n o novo” n a c a s a d e Félix d o Potengi P e q u e n o. o . E rraa “ m e n i n o m ac h o ” . M a n d o u p e r g u n t a r o “ s anto d o d iaia , m a r c a d o n a folhinha. Er am dois, Santo Eloy e Santo Castr ician o, bispo d e Milão. O primeiro e r a padroeiro d o s our ives e fora tesour eir o d o r e i Dagoberto. P a r a n ã o desgostar o preterido, delib erou-se d a r a o m e n i n o o n o m e d o s dois santos. Ficou s e n d o Eloy C as tr i c i ano . E o Souza, paterno.

Agora Félix s eg e g u e s uuaa v i d a c o m a pacien te C o s m a , T a tá tá, q uuee chega a o ponto d e criar seus bastardos. Eloy Castr ician o d e Souza é m e n i n o d e fazenda, e s q u i p a n d o e m ca v a l o d e p a u , c a v a llgg a n d o p o logoo depoi depoiss d e en gatin har , a p r e n d e n d o a c o n t a r pelos d e d os d os d r o log p és e d as a s m ããoo s , c a ç a n d o d e b o d ooqq u e , p e s c a n d o d e covo, c o rren d o c o m o v e a d o q u e o u vvee c h u m b o . D e professor m e s m o teve padre J o s é d e Paula, vigário d e S ão Gonçalo, q u e lh lhee e n s i n o u r u d i m e n t o s d a líng u a m a t e r n a , q u a t r o espécies d e con t a s e u m a s ti ntas suficientes d o c a t e c i s m o , e n s i n a n d o a a m a r e a t e m e r a Deus.

Q u a n d o Fabrício G o m e s Pedroza fundou G u a r a p e s , o m e n i n o Eloy, 1 7 anos, fo i p a ra r a lá e Guarapes constituiu s e u c u rs r s o u n iivv e r sitário, olhos, o u v i d o s , m e m ó r i a . Al Sm ith , q u e fo i g ov e rn a d or d o Estado d e Nova Iorque e candidato à presidência dos E stado stadoss Unidos,

 

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q u a n d o perguntavam onde tivera s e u c u rs r s o r e s ppoo n d iiaa , r ooss n a n d o , risonho e baixo: “Fish's Market”. E r a n o Merc ad o de Pei Peixx e, onde trabalhara, q u e a p re n d e rá a s coisas deste m u n d o . E m G uarap es , E lo lo y C a s t r iicc i a n o c o n h e c e u F r a n c i s c o d e Paula Rodrigues. Esse Paula Rodrigues é p e r n a m b u c a n o d e G o ia ia n a , a lltt o , e s ppii gado, falador, p e r p e t u a m e n t e inquieto, farej arejad ad o r, an d e jo , i n c a p a z d e sentar-se m e i a hora e e s t a r c a l a d o d e z m i n u t o s . É o tipo d o n e ggoo ciante clássico, n o c or o r te te i n ggllê s c oom m o s e u s a v a , sobrecasaca d e p a n o preto, c a lç lç a s c la la r a s , colete s e m abas, gravata d e seda, c a r to t o llaa r e lluu zente. Pel Pelaa posição desta, e m casa sabiam-lhe o e s ta ta ddoo d o espírito. Posta d e lado, m a u h u m o r . Equilibrada e tesa, excelente disposição

para o dia. A o a m a n h e c e r , estava barbeado, ba n ha d o, escovado, pronto para e n f r e n t a r os con corre n t e s d o bairro d o Recife. Ali e m Guarapes, c o n v e r s a v a c o m Fabrício Velho q u a n d o este lh lhee m o s t r o u o auxiliar valioso. A m o d a llii d a d e d e F r a n c i s c o d e Paula Rodrigues motivara-lhe o apelido d e Chico Lateja. E m v e z d e zangar-se, m a n d o u imprimir cartões c o m o n o v o n o m e q u e s e desfez. N o s anos subseqüentes, Chico Lateja observou o m o ç o Eloy i o V e lh o descia a c u r v a d o esgotaCastriciano. A saúde d e F a b rír í c io e ir-se para a corte, m r ece notbor.arFalava a s otarifas forçasr eopue tmi doarmr eern tdee secma nlargar s a d o dtud alfandegárias e e m b a r q u e s d e açúcar. F o i o q u e fe z e m 1 8 7 2 , i ns talando -s e n u m palacete e m Santa T e r e s a , d e onde v i a o R io d e Janeiro c o m o u m cosm o r a m a . V e r para m o r r e r , porque m o r r e u n e s s e m e s m o ano. M a s estava rico, farto, poderoso, proprietário n a capital d o Império.

Eloy Castriciano d e S ou ou za za e r a u m rapaz diferente. Sério, grave, l a v r a t e m substância h u m a n a q u e n ããoo taciturno, e n t e n d i a q u e a p a la s e renova e s ó a empregava para opinar e d e c i d i r . M e d i a n o , franzino, e r a v o z ouvida e m G u a r a p e s e já eleitor d e paróquia, i nf lu ênci a n o Partido Liberal, acatado, procurado, c o m p r e e n d i d o . Repugnava-lhe

 

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o r u m o r d os convívios álacres, festas ruidosas, cava lgatas, jantares i n t e r m i n á v e i s c o m br in d es d e r r a m a d o s , c o m o e r a d e b o m t o m n a aristocracia rural, e m cujo seio vi vi a e e r a tido c o m o participe. Usava barba c e r r a d a , m o l d u r a n d o - l h e o rosto para fingir u m a idade q u e nãopossuía. Os olhos negros,aveludados, olhos d e moçárabe, relampejavam n a i r a , i n s t a n t â n e a , i r re r e s i s títí v e ll,, d o m i n a d o rraa . Sonhava, c o m a s ec onomias poupadas, estabelecer-se e m Macaíba c o m u m a c a s a d e f i n a n c i a m e n t o agrícola logo q u e Fabrício Velho deixasse a chefifiaa d e G u a r a p e s . Paula Rodrigues estava, p o r m u i t a s razoes, c o m a s m e s m a s i d ééii a s , p u x a n d o os pêlos d a “passa-piolho”.

Chico Lateja, a i n d a e m G o i an a, e n c o n trt r a r a S iillv iinn a Maria d a Conceição, n o m e coletivo d a s m o ç a s d o povo a n ô n i m o , desejosas d e u m a m i s s ã o d e sacrifício s o b o pretexto amoroso. U m a tarefa d e a m a r , s e r v i n d o , s e m pr êmio, s e m r e c o m p e n s a , s e m realce, toda a v i d a . U m a dessas grandezas i m p er c ep tívei s , d e s m e s u r a d a s n a s u a co tidia nida de generosa, a l i m e n t a n d o - s e d a própria e s s ên ê n c iiaa e m o c i o n a l q u e a m o v i m e n t a e satisfaz. U m a dessas servidões jubilosas q u e F r e u d n ã o c o n h e c e u e n ã o explicaria n a tabela d o s valores m a t e riais e fisiológicos q u e criou para justificar a dedicação n o amor. Silvina M a ria d a Conceição a c o m p a n h o u Chico Lateja a vida inteira. Deu-lhe filhos, a mbi e n t e , coragem, saúde, cuidados, tranqüilidade, e engrandecem q u e e s t i m u l a me fort con o a mfian s u a irrestibilidade a d oç,a.c oF novi eunmc ae ndessas d o - o d eforças una. Silvina M a r i a d a Conceição, todas a s noites, m a n s a , t í m i d a , doce, fazendo o jantar, dando-lhe a sopa, perguntando astu tamente pelos ângulos m a is i s s im i m p á t i c o s d o s e m p r e e n d i m e n t o s , r e f a zia ,r e n o v a v a , fortalecia F ran c i s c o d e Paula Rodrigues.

E r a u m a criaturinha p e q u e n a , fraca, m o r e n a , cabelo e m a r a n h a d o . N u n c a permitiu q u e a e n s i n a s s e m a ler. N u n c a s e fotografou.

Hazlitt m u i t o e s c re r e v e u s oobb r e a ignorância d o s áább i o e a s d e s com co m pen saç saçõões d a erudição. Muitas vezes, a d e n o m i n a d a “cultura”

 

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“ enf r aquec e toda a força i n t e r n a d o p e n s a m e n t o Ii. F ab a b r e e rraa m a i s explícito: E n bien d e s cas, il e s t excellent d 'ignorer: l'esprit garde s a liberté d'investigation e t n e s'egare p a s e n d e s voires s a n s issue, suggerées p a r la lecture. S ili lv in i n a ja m a is i s possuiu o c o n h e c i m e n t o alheio, agenciado, e n s i n a d o , i m ó v e l d o s livros. Todas a s soluções foram resultados d e elaborações p er s o nalís s i m as d e s u a lógica. E r a cultura , m a s cultura t rad ic ional , popular, m i l e n a r , t r a n s m i t i d a pela oralidade, b o m s e n s o q u e i n d e p e n d e d a s lógicas sucessivas q u e ca d a século consagra e m s u a dialética oficial. Coube-lhe a tarefa d e e d u c a r c i n c o netos, todos poetas, t e n d o dois chegado a o Legislativo e a o Executivo: H e n r i q u e C as tr i c i ano nove anos c o m o vi c e-go ver nado r oi to legi egislaturas slaturas federais e d o Estado, e Eloy d e S oouu zzaa , d ep ut ad o e m oito duas vezes s e n a d o r d a República. Q u a n t o estes e s t u d a r a m n o s livros, cursos e viagens as s en t o u sobre o e s m a l te indelével d a n o r m a inic ial .Avel ha Silvina, D i n d i n h a , analfabeta, d e m o n s t r o u saber m u i t o m a i s o r i e n t a r e f o r m a r o m e c a n i s m o d a m o r a l prática q u e m u i t a u n ivi v e r si s i d a d e , e m i n e n t e e orgulhosa. O q u e houve, m o r a l m e n t e , d e p e r m a n e n t e n a c o n d u t a e aferição d e valores sociais, fo i he ra n ça daquela velha s e m letras, apagada e gloriosa, c o m a posse d o espírito q u e sopra o n d e quer. .

Q u a n t o a o n ã o q u e r e r fotografar-se, n ã o o fazia i n t e i r a m e n t e pela mod é st i a . Era, n a i n t i m i d a d e d e s u a psicologia, u m a presença iniludível e poderosa d e s u a velha raça, sábia po porr i n tui tuiçã çãoo e arguta pelos milên ios. Perde-se m u i t o d a a l m a q u a n d o a fisionomia é reproduzida pela m á q u i n a o u p elo el o desenho. O retrato é a posse d o duplo à disposição d e todos. A m ult ultip ipllica ção d a s fotografias, n o s p r oc oc e s s o s popularizadores d o s h o m e n s d o m u n d o , acaba desbotando, a m a r e la n d o , g a s t a n d o a todos eles. N e n h u m “primitivo c o n t e m p o r â n e o ” a d m i t e fotografar-se. E o u r pri mi ti vo contemporaries t ê m toda razão. Cada re tra to c i r c u l a n t e é u m a raspagem d e puas d e a ç o n o rosto exposi osiçç ão d e forma , m o n s t r u a l i z a , d e sdivulgado. A i n s is i s ttêê n c iiaa da exp figura. U m a c o r d ili l h e iirr a m u iti t o fotografada t e r m i n a , m o r a l m e n t e , planície c o m o c e n t r o d e interesse. Silvina g u a rd a v a u m a imposição

 

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religiosa e secretíssima. Pedia q u e os netos a gravassem n a l Embra n ça . N a d a m a i s .

N a volta d e 1871, Paula R o dr i gues e Eloy C as tr i c i ano formo. l a v a m o plano d e u m a f i r m a , Paula, Eloy 8 : Cia, financiadora d o e e algodão c o m doeponto u c o , farinha m e r c a d o r iaçúcar a s v i n d avse dn ed ePnedr on ae mm bMacaíba, m a n ddistribuidor, i o c a , arroz, mi lho. O v e lh l h o C hhii c o Lateja con seguiu u m a visita d o futuro sócio à s u a v i v e n d a d o A rra ia l, n o Recife, sobrado d e azulejos, cercado d e árvores e g u a rd a d o p o r u m jardim.

F o i a ssi m q u e Eloy C a s t r i c i a n o d e Souza c o n h e c e u a m e n i n a H e nrique ta Leopoldina, sin há- moç a d e v i n t e an o s incompletos, d e p ren d as domésticas, lida e m livros, m o r e n a c o r d e jambo, pele macia cabeleira cesplêndida, o m o c a m b rsaeduz s u b moi snsda o ss ea nlábios o ro s a, torneados i a , olhos i ndo pelas s cachos, e l a d a sddeo am e excitantes, f i n d a n d o n a p e q u e n i n a fivela d e ouro, luzindo. Eloy estava n a terceira década, fase i d e a l d o m a t r i m ô n i o , realizado e m ju nho d e 1872, n a igreja d o A r r a i a l , c o m a s exigências d a sociedade e alegrias indizíveis d e cônjuges e sogros. Compareceram a s famílias vizinhas d o A r r a i a l , Casa A m a r e l a , Mont eiro, Entroncamento, o s i m p o r t a n t e s shipchandlers d a R u a d o B o m Jesus e d o Cais d a Lingüeta e os comissários d e a ç ú c a r d o C a i s d o Apolo e d a R u a d o ' Brum. E v i t a n d o q u e He Henriq nrique ueta ta Leopo eopoldin ldina a fosse notória e ofic i a l m e n t e “filha natural” n a s lei tu ras d o s “ b a n h o s ” n a s missas conventuais e registrada dessa forma q u a n d o d o c aass aam m e n ttoo s o l e n e , Paula Rodrigues ca sa r a , n a m a n h ã d o d i a d o m a t r i m ô n i o d a filha, c o m Silvina M a r i a d a Conc eiç eição ão,, é g i de silenciosa d e s u a tranqüili d a d e , fa zzee n d o -a - a d o n a Silvina d e P a u la la R o d r ig ig u e s . A m u d a n ç a d e estado civil e m n a d a a ltl t e r oouu , para a esposa, m o d o , rec at o e abnega-

çã o habituais. Continuou servindo. Servindo a t é a os oitenta a n o s ção q uand o fal alec ec eu e m Natal, dezemb ro d e 1908, órfã d a neta qu quee vo voara ara o s a n ttee s . s e t e a n os

 

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F i c a r a m algum t e m p o n o A r r a i a l , Eloy e sogro, ultimando c o m b i naç õ es práticas. A firma Paula, Eloy 8 : Cia. f u n d a v a - s e d a id en tid ad e d o s interesses associados e m d e fe fe s a d ooss d e s c e n d e n t e s comuns. E m m a r ç o d o a n o seguinte, 1873, n a s c e u o primogênit o. O s eg un d o E lloo y Castriciano d e Souza depõe c o m o v i d o : N a s c i a 4 d e m a r ç o d e 1 8 7 3 , n o v e l h o sobrado d e azulejos, situado entre T am ar in eir a e Mangabeira d e Baixo, estação d a Estrada d e Ferro sub suburb urbana ana do Recife q u e então t e r m i n a v a n o M on o n t e irir o, o , r a m a l d o Arraial. D o E n t r o n c a m e n t o a té o Monteiro e r a então o único s o brado d e a zu z u llee jjoo s q u e havia. A o lado q u e d a va para a Estrada d e Ferro e r a o jardirn, jardim i m e n s o c o m a s m u i t a s roseiras d o tempo, Rosa Amélia, Rosa d e Alexandria e posteriormente Paul Nerón e Bola d e Ouro. M e u avô, F rancisco d e Paula Rodrigues, tinha escravos e e r a m eles q u e tratavam e aguavam o jard im , trabalho q u e depois d o s m e u s 8 anos e r a para mim

u m a ocupação incomparável.Batizei-me e m oratório privado quando tinha oito dias. Foram m e u s padrinhos o s a v ó s maternos,Francisco de Pa ul u la Rodrigues e Silvina d e Paul Paulaa Rodrig Rodrig ues. Ap e s a r d e t e r n as c id o n o d ia do doss santos santos Casimiro e Lucio, tive o n o m e inteiro d e

m e u Pail.

m

1

1 °. d e u m velho,quase concluídas, Eloy fo n te ted ep rSouza, e c io io s a Memórias d e informação, r e m i n iiss c cap. ê n c ia i a , Dessa te n h o q u e é saudosa r e tit i r a d o m u iitt a notícia para esta parte d o e n s a io io . Bien choisir p a r m i l e s vieilles c h o s e s , c'est presque inv ent er d e s c h o s e s nouvelles.

 

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A s s i m q u e Eloy J ú n iioo r e n d u rree c e u o pescoço, o c a s a l deixou o sobrado d e azulejos e viajou pa ra M a c a í b a , para a R u a d a Praia, o lh a ndo o J undia í vagaroso. N a R u a d a P ra r a ia i a , son or a d o s e m b a r q u e s e d e s e m b a r q u e s d e

c ar a r g a s n aass barcaças razeiras e insaciáveis, passava e repassava a fila d e es c rav o s c o m sacos à cabeça n a re gula rida de d e u m friso p a n a t e n á i c o o u d e um formigueiro, c o m e m b a r c a d i ç o s joviais e barul hent os , e s p a l h a n d o o cheiro d o s m a n g u e s q u e a s m a r é s lavav a m . Eloy e H e n r i q u e t a viviam c o m o Deus c o m os anjos. Eloy e r a sóbrio, sisudo, n ã o s a i n d o à n o iti t e s o zi z i n h o . N ã o tinha v íc í c io ios . N e m o cigarro. N e m um copo r a r o d e v i n h o . U m joguinho, à s vezes, seduzia-o, n a volta d o s am i go s i g u a l m e n t e e n c a n ta ta d ooss c oom m as m a n h a s d o s oollo o u d o voltarete, c o m os ganhos o u p erd as totais d e 15$000 a 20$000 p o r noite, distra í da e c o n v e r s a d a . A residência teve u m n o m e . E r a a Casa d o Porto. N a Casa d o Porto, n a s c e r a m H e n r i q u e Ca st ri ci a n o a 1 5 d e m a r ç o d e 1874 e , n o d i a d e Santo I r i n e u , 2 8 d e junho d e 1875, Irineu Leão ' Rod r igues d e S oouu zzaa .

Eloy Senior estava fa ze n d o s u a c a s a n a R u a d o Comércio, a m a i s próxima, perpendicular à R u a d a P rraa iiaa . É c a s a g r a n d e , arejada› quintal d e áer vnoor pelas oito janelas aberb e an doopae qviração tas. Portacheio t rr ae d, ab epar u e n o jardim. É a residência de a o lado, h o m e m abastado, d e influência política, p r o c u r a d o p e lloo s a m i g o s e fregueses, d i s c u t i n d o eleições e traças para d e r r u b a r o c o n s e r v a do r n o poleiro a d m i n i s t r a t i v o .

N e s s e casarão, 1 2 d e s e t e m b r o d e 1876, d i a d e Santa Auta, n a s c e u a ú n iicc a m e n iinn a entr e o s c i n c o filhos.

 

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Batizou-se doze di as depois, 2 4 d e s e t e m b r o , n a capela d e Mac aíb afi oficiando o p adr e B e r n a r d i n o d e Sena F er r eir a Lustoza. F ora m p a d r i n h o s T o m á s A n t ô n i o d e Melo e d o n a M a r i a A u g u s t a Pessoa d e Melo. t e n ttaa a n ooss s e r v i n d o esses d oi ois n a s “ P e n a s d e V i v e u m a i s d e s e te a r a ” , a o sabor d o s versos o P ulares: Q u a n d o e u nasci, n o telhado, U m a coruja cantou... Dizia a chorar: -coitado U m a n jo jo d o C éu voou.

N ão precisava s e r coruja, e m e s m o m o c h o d e M i n e r v a , para adi v i n h a r q u e u m anjo d e sce r a d o céu, para c a n t a r e sofrer...

2

A Freguesia d e Macaíba fo i criada pela Le i n . 8 7 6 , d e 1 7 d e m a r ç o d e 1 8 8 3 . Auta, c o m 6 anos d e idade, r e s id id ia i a n o Recife. A lenda d e fazê-la u m a d a s p rim eiras crianças b a ttii z a d a s e m M a c a íb íb a é insubsistente. E m face d a certidão, desaparece ta mbém a versão d e Auta t e r tido n o m e d e Maria A u ta o u A u t a M a r ia ia .

 

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II

Oa s c i m e n t o d e A u t a e n c a n t o u a todos. I n t e r r o m p i a a série d o s três m e n i n o s . E r a a  pr  prii n c es i n ha , a favorita d o s pais e avós. A p e n a s Eloy, c o m três a n o s, q u a n d o a irmã lh lhee fo i a p re r e s e n t a d a , c o n ffee s s o u : “Te m os olhos m u i t o vivos N ã o q u e ro b e m a ela” Seria o m a i s apai-

x on a d o d e todos. M a grinh a , calada, era, c o m o o m a n o Irineu, d e pele clara, um m o r e n o doce à vista c o m o v e l u d o a o tato. A m ã e a d oorr a v a --aa . M a s n ã o podia dar-lhe todo o t e m p o porque estava grávida e n o a n o s egui nte, 20 d e outubro d e 1 8 7 7 , d i a d e S ão João Câncio, n a s c e u o ú lti l tim m o, outro m e n i n o , João C â n c io i o R o d r iigg u e s d e Souza.

E r a o a n o d a seca, “ a s eecc a d o s dois sete”. Mac aíb a e r a o c a m i n h o d o s “ r e t i r a n t e s (0 vocábulo é deste ano) descidos d o s sertões d o Seridó e d o oeste, exaustos, sujos, f a m i n t os os , ta c itu r n o s , p r o c u la p r i m e i r a v e z água cor r en te r a n d o o refrigério d a s praias, v e n d o p e la e p e re r e nnee , m a s v er e r d ee,, salgada, inútil. I a m a o s m ag o t es para o R i o G r a n d e , s i n ô n i m o sertanejo d a ci d a d e d o Natal. A s obras para fixái s a d a s e e r a m distribuídos m a n t i m e n t o s , farinha d e los lo s e r a m i m p r o v is m a n d i o c a , mi lho, c a r n e d o Ceará, jabá, charque seca, d u r a , coriácea, t ã o d i v e rsa d a c a r n e d o g a d o crioulo, m a c i a , t e n ra , saborosa n a farofa leve e digestiva. EloyCastriciano d e Souza g o v ern av a a firma q u e e r a u m a p o t ê n c iiaa e c o n ô m i c a , a b a s te t e c i d a p e lo l o s c ereai s m a n d a d o s d o Recife pelo sogro e m barcaças p r óópp r iiaa s . U m a delas, a m a i s b oni ta, c h a m a v a - s e d o n a Silvina. Os con corre n t e s, Fabrício & Cia., Joaquim Inácio Pereira, n ã o podi am v e n c e r a violência d o êxito. Paula, Eloy 8 : Cia. tinha estrela. N ascera s o b o signo d a a b u n d â n c i a .

A m i g o , lugar-tenente d o c hhee ffee d o Pa rtido L iberal d a P r oví n cia, o d r . A m a r o Car n eir o B ez erra C a v a l c a n t i (1825-1890), Eloy C a s t r i c i a n o e r a o “ g o v e r n a d o r ” local.

 

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Os c i n c o partos consecutivos esgotaram Hen r iq ueta Leopoldina, fazendo-a pálida, fraca, tropeçando. F o i a o Recife consultar o s m é d i c o s . D e volta, o a v i so d o h o m e o p a t a Z a m b a , José F ran c i s c o - a c l i m a s e c o d o sertã A r e i a s Z a m b a , a c o n s e llhh oouu -a sertão. o. Er Eraa a tuberculose m a n i f e s t a d a . C o m os filhos Eloy e H e n r i q u e , m a i s velhos, fo i para a f az enda C a ra r a c a r áá,, n a ribeira d o Potengi, u m a d a s propriedades d o m a r i d o . Regressou s e m e s ppee rraa n ççaa s , in stalan d o- se n ã o n a residência s e n h o r i a l d a R u a d o Comércio, m a s n o e n g e n ho Jundiaí, arredores d a Vi la, n a ca sa - g ra n d e espaçosa e silenciosa. Aí v i v e u os m e s e s d e r ra r a d e i rroo s , o lh lh a d a p e lo l o m a r i d o c o m olhos d e s e s pe p e r a d ooss , c e rrcc a d a d e c u i d a d o s . A ú n iicc a distração e r a s e n tit i r u m a a m i g a p e n t e a r - llhh e a longa cabeleira lustrosa, negra, p e r f u m a d a . Eloy já estava e s t u d a n d o c o m o professor Rafael A r c a n j o G a rci a d a T r i n d a d e , tr an spor tad o n a

lu a d a sela d o e s c rraa v o Ambr ósio. N u m meio- d ia d e fogo, fo i m a n d a d o buscar. A m ã e m o r r i a a os 2 7 anos. N a tar de d e 29 d e junho d e 1 8 7 9 , d i a d e S ão Pedro, chaveiro d o céu, H e nrique ta Le o ppoo ldina ldina fechou o s g ran d es olhos l u m i n o s o s . O enter r o fo foii u m a ma n i fe st a çã o prestigiosa d a aristocracia rural, solidária e c o m p u n g i d a , m a s i n c a p a z d e r e n u n c i a r a o e s p a v e n to d o s cavalos d e luxo, a os arreios d e prata, a os piafás e a o s corcoveios d e a n i m a i s d e raça, e m fila, c e r c a n d o o v i úv ú v o t a c i t u r n o , depois d a c rir i s e d e choro q ue u e a s s oom m b r a rraa os seis anos d o m e n i n o Eloy, julgando o p a i n a o saber o u n a o pod er chorar. u

eu

F r a n c i s c o d e Paula Rodrigues e Dindinha e s t a v a m n a M i s s a d o 7° Dia. T e r m i n a d a a c e r i m ô n i a , l e v a r a m os c i n c o netos para Recife, para o sobrado d e azulejos d o Arraial. T o m a r a m a b a rrcc a ççaa n o R io J undi aí para Natal. Os m e n iinn ooss n u n ccaa m a i s e s q u e c e r a m o n o m e d a barca: “Dona Silvina”, n o m e d e Dindinha Agora a chácara d o Arraial s e povoa d e c i n c o c r i anç as , d e 6 a 2 anos. Dindinha agasalha-os c o m o presente d i v i n o . S u a história será a v i d a d os o s n e ttoo s .

 

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Eloy C as tr i c i ano e r a n e s te biênio (1878-1879)* d e p u t a d o p r o vincial. Reeleito para 1880-1881. De sv i a n d o a sa u d a d e d a m u l h e r , a ú n ica q u e con he ce rá n a s u a v i d a , s a c u d iu i u p a r a a política a e n e r gia gi a c o m p r i m i d a . E m 1880, derrotou o coron e l Bonifácio F r a n c i s c o do (1813-18 1813-1884) 84),, o ao rCnâomsaerua reduto, a C â m amr aa is iMs upno idcei prrooaslod echefe Pinheiro C on o n s e r v adddo Natal. EPartido le sozin h o gastou 8.000$000 e os outros 8.000$000 os correligionários d i v i d i r a m . V a r a n d o chuva, neblineiro, v e n t a n i a , j o r n a d a s e m botes e galopadas n o m e iioo d a noite, ganhou a eleição. M a s p e rd e u a v i d a . la r m a n ttee . Tuberculose. Resfriado r e n iti t e n ttee . P n e u m o n iiaa a la C o m 3 9 anos, u m m ê s e 1 5 dias d e idade, faleceu e m Macaíba, tarde d e 1 5 d e jan eir o d e 1 8 8 1 . N o Arraial, Dind inha ajustava os d e z pares d e m ã o zzii n h a s p a r a oração n o t u r n a pelos pais q u e e s t a v a m c o m Deus. O m u n d o infantil para A uta fo i o i m e n s o q u i n t a l d a chácara. Q u i n t a l c o m árvores e arbustos, bosques c o m t r e ppaa d e iirr a s , roseiras d e fe n d i d a s pelos v as a s ooss r a ssoo s d e barro, cheios d e água, a fa st a n d o o assalto d a s formigas, lagartixas n o m u r o c o n c o r d a n d o , v e r d e s

calangos rápidos v i s i t a n d o m o i t a s , a ra r a n hhaa s p a c iiee n ttee s e m teias i n t e r m i n á v e i s n o c a nntt o d o m u r o , a v o z rascante d o papagaio falante n o alp endr e d a cozinha, o assobio agudo d a graúna e o palreio teim o s o d o xexéu im ita do r. Ali a s coisas e r a m motivos essenciais para a criação m e n i n a . D a v a m f o r m a à s intenções i ma g i n a t i v a s. N a idade m á g i ca, exi existe ste s e m p r e o poder c o m u n i c a n t e d a vi da e n c a n t a d a sobre

  N a sessão d e 1 9 d e dezembro d e 1 8 7 8 , o deputado Eloy Eloy Castriciano d e Souza propunha atransferência d a sede m u n i c i p a l d e S ã o Gonçalo para aVila d e Macaíba. Durante todo o a n o d e 1 8 7 8 , n ão houve n ú m e r o para

O projeto tornou-se a Le i n . 832, d e 7 d e fevereiro d e 1 8 7 9 . S ã o deliberar. Gonçalo perdeu a sede e Macaí Macaíbb a g anhou anho u o p r ed ic am en to d e m u n i c í pio. Ninguém m a i s recorda q u e foi fo i o p a i d e Auta d e Souza o autor d a façanha.

 

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todos os objetos. Força irres is t ível para t r a n s f o r m a r o im utáv e l, d a n d o -lhe a f i si onomi a de s e j a da . F o i m e n i n a alegre, cur iosa, t r a q u i n a , b u llii ç o s a , d e s a r r u m a d e i r a d a s coisas qui etas , a m i g a d e c a r r e i r a s i m p r e v i s t a s c o m o gastando o saldo i n e v i t á v e l d e s u a c o n c e n t r a d a ener gi a. G o s t av a d e conversar, m e te t e rr - s e n ooss diálogos d e gente g r a n d e e t a m b é m falar sozinha. F a l a r sozinha e r a o processo natural para po v o a r o a m b i e n t e , d a n d o expressão, m o v i m e n t o , ação a o s jarros d e fl o r es , c a n t e i r o s d e jasm i n s , árvores, tr epad eir as, arbustos, bichos d o chão, d a s p ared es e d os o s a re r e s . Além d a s b o n ec as d e p ano , d e louça e d e barro. B r i n c a r d e d o n a d e c a s a . C o zinh a do d e b o n e c a , c o m folha picad a e água fria, s e r v i n d o a r e fe fe i ççãã o e m cacos d e p o rrcc e llaa n a , p a p e l p o r toalhado, n a obrigação d e fazer d e c o nta q u e s e c o m e e elogios a q u e m fe z o banq u e t e . V e z p o r outr a, havia u m a abstração in ven cí vel, ficar p a r a da , m ã o n o queixo, v i a j a n d o s e m s a i r d o lugar, son ha d o, c o m o George i s a ggee m v e rd r d e d o B e r rryy . S a n d e m N o h a n t , n a p a is O par ceir o i d e a l e r a João Câncio, quieto e obediente a o protocolo q u e A u t a d itava. H e n r i q u e a d o r a v a b r i n c a r , m a s p r e t e n d i a dirigir a et iq uet a e modificar o ritmo d a s o c i e d a d e inv isí v e l, am i go s e c o n m e n ttee e ra v i d a d o s q u e s oom r a m v isi s to t o s pelos olhos m a r a v i l h o s o s d a s c r i a n ç a s . Irineu e r a o c o m p a n h e i r o preferido, m a s fica v a calado,

d e s a j u d a n d o a conversação. Eloy e r a m a i s d e d i c a d o a o ser viç o d o jardim, aguar, visitar a s r os o s e i rraa s r e s pl p la n d e c e n t e s , c on o n v e r s a r c oom m os escravos lo qquu a zzee s , s u b m i s s o s à s s u a s m a n i a s e v o n t a d e s . A t é Dindinha à s vezes fazia parte d o ágape, m u i t o séria,gabando a c oz inheira e c r i t i c a n d o o asseio d a m e s a q u e n i n g u é m v i a .

C o m sete a n o s , A u t a lia e e s c r e v i a . O professor foi M a n o e l Vitorino, grande,vistoso, barbabranca e b e m cu i dada, q u e Henrique, q u a n d o e r a o e scrito r H . C a s t r i c i a n o , c o m p a r a v a - a à d e John Ru ski n . A mulher d o professor, d o n a H o rtê nsia , apaix on ar a- se p o r A u t a e o m a r i d o dizia-a genial.

 

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V o v ô P a u llaa , voltan d o d e Macaíba e m 1882, o n de fora fiscalizar afirma e a s propriedades agrícolas e m vários mun icí pios, a d o e ce u . U m a bronquite exasperou a velha a s m a q u e o sufocava e m acessos d e tosse angustiada. J á n ã o m a i s i a a o Recife. Ficava n o leito a té tarde, d e sc s c e nndd o d o a n d a r superior n u m a cadeira d e braços n o s pulsos d e Sabino e Felipe, os escravos d e estimação. E r a levado para debaixo d o s sapotizeiros d e s o m b r a espessa, perto d o l a r a n j a l d e p o m o s dourados, a parreira d e cachos d e a m e tis ta , a s m a n g u e i r a s d e v e r d e sombrio e ú m i d o . Passava o d i a n a rede, m i r a n d o o cenário familiar, a s vozes d e pássaros, o trabalho d e e s ccrr a v ooss , o sobrado d e azulejos, a figura d o s netos, a passagem d e Silvina, tud o quanto a m a v a n o m u n d o , n u m a m u d a despedida inadiável. Mor r eu q u a n d o os netos e s ta v a m n a escola, tinha 73 anos. V i r a m - n o i m ó v e l n o s e u caixão negro, a sobrecasaca d e rigor, os olhos fechados, indiferentes pela primeira vez. 2 9 d e outubro. Dindinha ficou sozinha p a ra r a d e ffee n d e r o s net o s e o s i n t e r e s s e s . B e m longe ficava M a c a í b a , a firma n a s m ã o s d o s sócios, c o m u m gerente v iivv o , a t iilla d o , i n t e lili g e n t e , absorvido, mastigado, dirigido pelonfeitiço político, dissipador d a s u a e alheia fortuna.

A uta sabe ler, escrever, contas, e risca s e u n o m e e m letras garrafais. A a v ó m a n d a - a e s t u d a r r u d i m e n t o s d e francês, vocabulário, c o m u m a s m o ç a s m u i t o p r e n d a d a s e bonitas q u e m o r a v a m e m Ponte d e Uchoa. A uta rec o rd av a essas moças, todas casadas e felizes, fechado o ciclo d o e n s i n o privado. E m 1 6 d e fevereiro d e 1 8 8 7 , veio outra tragédia. Dessa vez, c o m u m a presença inolvidável n o espírito d os irmãos espavoridos.

N u m a noite, Irineu subia para o a n d a r superior, c o m o c a n d e eiro d e querosene n a mão. O v en t o canalizado n a c h a m i n é provocou a explosão, co b rindo o m e n i n o c o m o s e u camisolão d e chita, d e pavor, c h a m a s envolventes. le a t i v a n d o Gr o iitan n c êdnod idoe pela d e fugiu slo ca çpara slo ããoo d oa chácara, a r . Correum ua té tiplicando extenuar-se e cair, esgotado d e forças, v e n c i d o pelas q u e i m a d u r a s .

 

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Q u a n d o Dindinha e o s e s c r a v o s c o n s e g u i r a m alcançá-lo, já o e n c o n traram irreconhecível e c o n d e n a d o . G e m e u d e zzoo i t o horas antes d o s u c u m b i r . 1 7 d e f e v e r e i r o d e 1887. E m junho, completaria 1 2 a n o s . Era, l e m b r a v a Eloy d e Souz

a o

1 ' I 1 p 1 ' E que s e c r e vatujadas i a v e r s o .s Srasgados mo sairmãos i s f o r m oesnoc od an tirramvaanmd aa sd efolhas is . J á e s gar u a m o r te fo i a “noite

d e a s s o m b r o , c o m o r e c o r d a v a , e m 1910, H . C a s ttrr icic ia ia n o . Em 1 8 9 7 , A u t a d e Souza e s c r e v i a , e m N oovv a C r u z , c o m a i m a g e m inesquecível d o s u p lílí c i o f r a t e r n o : Mas... a gaiola vazia, Q u e e u c o n s e r v o noite e dia, N ã o sabem? É o coração... É d e n t ro dele q u e m o r a , É d en t ro dele q u e chora,

A al m a d e m e u i r m ã o

A s m o ç a s d e Ponte d e U c h o a iam n o i v a n d o e casando. Dindinha, p a r a mudar o c e n á r i o e d a r m é t o d o a o s estudos d a n e ttaa , cercando-a, a o m e s m o t e m p o , d e um maior n ú m e r o d e m e n i n a s d a s u a i d a d e , matriculou-a n o Colégio d e S ão V i c e n t e d e Paulo, dirigido pela irmã Soeurs eurs de Charité o u S o e u r s Savignol, grupo d e professoras f r a n c e s a s , So d e S a i n t - V i c e n t d e P aul, estabelecido n o B a i r r o d a Estância e atraindo a s filhas d a s o c i e d a d e p e r n a m b u c a n a pela sedução d o s novos processos ed u c ac i o n ai s e n o vi d ad e d a cultura pedagógica.

A u t a c u r s o u 1888, 1889 e 1890. F o i a pr im e ir a aluna, o b t e n d o q u a s e todos o s prêmios e s c o l a r e s . R a p i d a m e n t e , assenhoriou-se d o idioma f r a n c ê s , falando f l u e n t e m e n t e , e s c r e v e n d o versos, l e n d o . Reci tava, c a n t a v a , a j u d a n d o a dirigir e planejar a s pequeninas f e s t a s a o Recife,q uceomH i m e1 1n1s9 a1 ' dd ou rcaosllééogmi ob.r eFaiiccdaav ad en áa r av oor t ur easl .RFuoai oDúo nmicBosco, o c u r s onregular Seguiu, m e s m o a s s i m , incompleto, m u t il a do pela doença d e e S ° ° 1 “ ” apli cada e c u r i o s a .

 

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N o colégio, A u ta conquistou a m i z a d e s , afeições espontâneas, popularidade d e s u a presença disputada entre colegas. J á e m 1 8 8 9 , o i r m ã o H e n r iiqq u e c o m e ç a a e scre v e r versos. Irineu, m a i s moço, t a m b é m o s fizera. P o r q u e Auta escaparia a o sortilégio c o n t a m i n a n t e ? D e v ia i a t e r c oom m p o s to t o a s p r i m e i r a s q u a d r a s , louvor d e m e s t r e s , graças à s c o m p a n h e i r a s , s a l e açúcar, m a l í c i a e fé.

Duas colegas ficaram n o s e u coração. U m a é A nt ô nia Tavar es d e A ra új o , filha d e s e n h o r d e e n g e n ho, c o m p a n h e i r a a m a d a d o s tem p o s d o colégio, a q u e m d e d i c a “Regina Coeli”, “Olhos d e santa”, “ D e lo n ge g e ” e “Crianças”. A n t ô n i a d e A r a ú jo j o fo i a se g u n d a esposa d o d r . M a n u e l N e t t o C a r n e i r o C a m p e l o (1866-1943), professor e m u i t o s an o s diretor d a F a c u l d a d e d e Direito d o R e ccii fe , d e p u t a d o f e d e r a l p o r P e r n a m b u c o . A outr a, E u g e n i n h a B a n d e i r a , e r a filha d o d r . r e iri r a B a n d e i rraa e d on a J ú llii a Moscoso, f a m í B e n jjaa m i m A r iiss tit i d e s F e r re lia vizinha d o A r r a i a l . D r . B a n d e i r a presidiu o T r i b u n a l d e Justiça d o A c r e . Dona Eugênia c as o u c o m d r . Arthur H . d e A lb uque rque Melo. E m m a i o d e 1896, e s ta v a c a s a d a e m ã e d e f i lhos. Au ta ofereceu-lhe “Teus anos”, “ A Eugênia”, “ N o álbum d e Eugênia” e “Saudade”, “ A ela, a Eugênia, a doce c r i a t u r a q u e m e c ha h a m a i r m ã ””.. N u m an iver sár io d a am i g a, m a n d a o coração felicitá-la: M a n d a - o entrar... E dize, ó doce a m a d a Q u e e le s e aqueça d e s s e olhar n o brilho... V a i d e tã tãoo longe te pedir pousada: Deixa-o ficar n o berço d e teu fililho. ho.....

S ão ver s o s d e A n g i c o s , 1896, n a b u sscc a a n s iioo s a pela s a ú d e

fugitiva.

Outros n o m e s c o n t i n u a m n o H o rtr t o , poesias d e d i c a d a s a u m a le n ççaa , q uuee seria c u n h a d a d o d r . João le m b r a n ç a f i e l,l , Carlota V a le Lindolfo C â m a r a (1863-1944), d u a s vezes d e p u ta ta d o p e lo l o R io G r a n d e d o Norte, e m i n e n t í s s i m o i n i m i g o d e todos os peculatários poderosos,

 

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J a e l Beltrão, Cecília Burle, Jesuína Sampaio, Zulmira R o s a , P o 1 m ¡ r Magalhães, M a r i a d a Glória P e n a , L aur a R a m o s , cujo i r m ã o Vitorina . ' 0 deputado d e Paula R a m o s , s e n a p o r Santa Catarina, Emília a . . e m outubro d e 1 9 5 8 . u n i c a q u e vivia f

z

Q u a n d o , e m 1900, imprimiu o Horto, dedicou-o também “ À s boas i r mã s d o Colégio d a Estância, e m Pernambuc o, almas f a m o s a s e s a n ta ta s q ue u e m e e d u c a r a m o coração e o espírito, ofereço o q u e h á d e m a i s puro nestes singelos versos”.* A o lado d a o f er enda v o tiv a , e s c r e v e u : “À m e m ó r i a d e m e u P a i , d e m i n h a M ã e e d e m e u irmão”. Eram o s seus mortos. O colégio e r a a v i d a n o plano d a evocação diária. Todo o s e u livro lhes pertencia.

Além d o s v o l u m e s d o c u r s o regular, A u t a lê a literatura francesa Choo i sies, si es, sel seletas etas antologias l a s p r of o fe s s o r a s , a s Pages Ch escolhida p e la pida da d a França. q u e d e r a m a visão d e p e r c u r s o d a poesia e prosa lí m pi I n d i s p e n s a v e h n e n t e , Bossuet, Fenelon, Chateubriand, alguma c o i s a m Victor Hugo, n a d e L a m a r t i n e , q u e s e co m ple to u e m M a c aaíí b a , c oom sortida biblioteca d o m a n o H e n rir i q u e L a m a rrtt i n e , o d o Harmonies p o ét ét i q ues et religieuses c o n q u i s to t o u --aa . C iitt a - o d u a s vezes n o Horto. E t a m b é m lê r o m a n c e s piedosos, q u e c ons t it uíam prêmios e s c o l a r e s , l a aluna estudiosa e vivaz. G o s t a v a quase s e m p r e c o n q u isis ttaa d o s p e la

contos d t , Perrault. r a d o s e ma Segur, m o d e lia , e nac oosn tescravos E mu i tcasa, e m vinfant o z altaispar HistóriaS chmi d e Carlos Magno e d o s Doze Pares d e F r a n ç a . O ambiente d o colégio seguiu-a se m p re . Re co rrda da v a --oo c om s a u dades. A s ir mã s tinha sabido fazer-se es ti mar . A s colegas foram ami gas q u e a c o m p a n h a r a m esp ir it ual ment e s u a alegria, s o n h o . mágoa, exílio simbólico, presentes n a s horas melancólicas. T a n t o s

4

O Colégio Sã Sãoo Vi c e nte d e Paulo f o i t r a n s ffoo rrm m a d o n u m orfanato e per' tence à Santa C a s a d e Misericórdia d o Recife.

 

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anos depois, escrevendo “ N a capelinha”, n ã o esqueceu a nota sentimental: “Lembrança d o Colégio”. Benditos n ós ós q uuee sofremos Varados po r mágoa atroz. . . Enquanto assim padecemos O s anjos pedem p o r n ó s . Os “anjos” e r a m a s m e n i n a s q u e re za v a m n a capelinha d o

colégio.

T í m i d a e t ei m o s a, u m a leve febrícula visitava-a todas a s tardes. E a tosse, inexplicável, perseguia s u a garganta, c o m acessos quintos os e estridentes. U m a rre p i a me n t o d e frio sacudia-lhe a s espáduas, fazendo-a dizer: “ A m o r te passou, Dindinhal”. A m ã e e o p a i tinham recebido essas visitas an un c i ad o ras e sinistras. Os cuidados redobrar a m e a a llii m e n t a çã çãoo t orn ou --se se m i nuc i o s a e c o m horário inflexível. A o e n ta r de c e r , abafava-se e v i t a n d o a friagem, o orvalho resfriador. Dind inha levou a n et a a os médicos d o Recife. N ã o e r a a tuberculose, m a s seus a n ú n ci os visíveis. Os pulmões estavam fracos e havia u m a possibilidade assustadora d a tísica. A s manifestações e r a m irrespondíveis. D i n d i n h a sabia deliberar c om o m r a ppii d e zz.. la c o m os netos p a r a M a c a ííbb a , para o agreste e sertão norte-rio-grandense, para a s fazendas d e c l i m a seco, recobrar a saúde, estabelecer, re e n t re g a r t u d ooss q uuee s e i n t e r r o m p e r a m . O bacilo d e Koch tinha oito Auta a os e s tu anos d e identificação. Problema. Eloy e Henrique prestaram e x a m e s d e “preparatórios”, p e n s a n d o n a Faculdade d e Direito. João C â n c io t e r m i n a v a o c u r s o ginasial. Para tud o h á r e m é d iioo , m e n o s para a m o rt e. E m Natal, completar-se-ia o “prepatório” n o A t e n e u N o r terio-grandense. João Câncio teria colégio. F e z a s despedidas. A u t a

abraçou a s c o m p an h ei ras . O portão d o sobrado d e azulejos fechou-se para se m p r e n a r i dente paisagem d o Arraial.

 

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N a barcaça, viajaram todos. Água n a velapara aproveitar o terral e ganhar v e n t o d e feição, n a linha d o m a r, r , r u m o d o norte. P a s s a m Olinda c o m s u a s coli nas c o ro a da s d e igrejas, tufos d e palmeiras g u a r d a n d o torres. T e r r a s d e G o i a n a o n d e Dindinha e vovô P a u l a tinham n a s c i d o . O a z u l circular d a B a ííaa Formosa.Estirão branco d a s p r a ia ia s n o rd r d e s t in in a s . C u r v a n o Mo rro d e Pirangi. N o fim d o horizonte a s o m b r a d o s Reis Magos, estrela d e p ed r a, o tenalhão mordido p e l o m a r d e três séculos. Água v e r d e d o Potengi, e m p u r r a n d o o Atlântico. A barcaça ladeia a Cabeça d e Neg r o e a P e d r a d a Bai x i n h a. Cidade d o Natal. Os olhos d e A u t a g a n h a v a m a terra, c or o r e ss,, m o v iim m e n ttoo s , a sce nsõ e s.

Subida pelo Potengi. Agora o Jundiaí,orlado d e m a n g u e s imóveis g a n d o açúcar e c o m o feitos d e bronze. O P or o r ttoo c om o m a s b a r c a s c a r rree ga algodão. Macaíba. Maior, b r an c a, acolhedora. Anoitecia. O s candeeir o s d a c a s a d a R u a d o C o m é r c i o e s t a v a m a c e s o s . Dindinha fiscalizou a bagagem. Soltou o s netos. Segurou A u t a d a mão, e n t r a n d o n a c a s a . F o i tratar d a ceia. Esquecida d e fadiga, d e v i a g e m , d e a m a rg r g u ra ra s . E r a 1890. A ut a d e Souza tinha 1 4 anos.

 

III

Hélas toujours u n h o m m e , hélas toujours d e s larmas

Musset

Eram m e a d o s d e 1890. Eloy d e Souza r e a v i v o u os estudos, prest a n ddoo , n o fim d o a no n o , e xxaa m e s n o A t e n e u N o r t e - r i o - g r a n d e n s e , c o nc lui ndo os “preparotórios”. E m 1 5 d e n o v e m b r o , primeiro a n i versário d a proclamação d a República, fe z o s e u p r i m e i r o d i scu rso, braço solto, e saiu-se b e m . O go ver nado r João G o m e s Ribeiro m a n dou-o c h a m a r a o Palácio, o casarão n a R u a d o Comércio,hoje Chile, e felicitou-o. Eloy, c o m 1 7 a n o s, ficou r a d i a n t e . Seguiu para Recife, r u m o à A c a d e m i a d e Direito. O s e u a m i g o d r . G a bri e l H e nrique d e Ara újo újo ho hospedou-o spedou-o.. J á n ã o existiam para e le a chácara d o A rra ia l, o sobrado d e azulejos, o laranjal, a latada d e parreiras, os sapotis visitados pelos morcegos cre p u scu l a re s. Eloy, aprovado, iniciou o c u r s o jur ídi c o ,vi vendo e m casa alheia, m a s cheio d e t en ac i d ad e s e r e n a . E m M a ca íba , H e n r i q u e , a d oe n t a d o, i a d e v a g a r n os o s e s ttuu d ooss , io d e v oorr av a v a o s rios d o Brasile a história d a s C ruz ad as . J o ã o C â n c io Dind inha tr atava d e A u t a , leite, leite, leite, repouso, d ef e fe ssaa d e resfriados, r espir ar b e m , m u i t a esperança. A s relações r e a t a v a m - s e e a m e n i n a e n c o n t r a v a , n a s u a graça i n ggêê n u a , a m i z a d e s r adi antes n a s m o c i n h a s d e tr an ç a e fita n o cabelo d e ébano.

H e n r iiqq u e C a s ttrr icic ia i a n o , muito n ov o, teve a paixão pelo livro. Septuagenário e d oe n t e , lia s e m p r e . V i v e u rodeado, m e r g u l h a d o , abafado d e livros. T e v e , a n o s e anos, a m é d i a d e u m livro p o r dia. L ia tudo. F o i u m a d a s cultura s gerais m a i s sedutoras e vivazes q u e

 

 

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c o nh ec i . V a le t u d iinn á r iioo , d is i s c u t iiaa terapêutica e higiene c o m o u m técnico. Suas longas viagens à Europa e à África foram cursos d e o m u n iicc a d ooss c oom m u m brilho simples e nítido. o bs bs e r v a çã çãoo a te n ttaa , c om J á e m 1890, 1 6 anos, possuía u m a g ran d e estante pesada d e livros. Poetas, r o m a n c i s t a s , viajantes. A ut a, dizia-me ele, fora a primeira freguesa d e s u a inicia nte biblioteca. Agora q u e ninguém policiava suas leituras, lia li a d e tudo, sentada, ba l a n ça n d o a ponta d o pé, m ui t o aplicada, n a cadeira d e balanço n a sala g r a n de , o janelório aberto, b eb en d o a s lufadas d o Jtmdiaí, d o cheiro d o m a r , d o s cajueiros, d o m a to t o d is i s ta t a n t e e oloroso. A uta submete-se à s prescrições m é dic a s , limitando-lhe a liberd a d e m e n i n a . N ão pode b rinca r “dona d e calçada” n e m olhar a lu a d o quintal. N a d a a o a r livre lhe lh e é permitido. Seus estudos particulares e n o Colégio d a Estância s ão julgados suficientes para u m a m o c i n h a e b e m m a i s superiores a o c o m u m . Conversa desembaraçada, escreve claro, sabe c o ntar e fala francês. Dindinh a , c o m leveza, inicia-a n a s p ren d as domésticas: bordar letras n u m lenço, abrir d e se n h o n u m a fe iti t a r m n bolo, colcha, pregar u m botão, fazer flores d e papel, c o n fe t r i n c h a r u m a galinha assada. ' Avida corre lenta, doce, r e gu gu la la r , c oom m o a s águas d o Jundiaí, verd e s e plácidas a o longo d a R u a d a P r a i a .

A saúde reequilibrava-se e a s cautelas d e Di ndi nha p a s s a m p a r a H e n r i q u e , t a m b é m fraco d o pulmão, e scr e v e n d o versos e lendo s e m parar a té altas horas d a noite, quando a a v ó obrigava-o a apagar a luz. Parecia o p o e m a d e A n t ô n i o Nobre.

Auta freqüentava a igreja, amiga d a s “zeladoras”, ajudando-aS n o ar r an jo d o s altares, disposição d o s r a m o s v o ttii v o s , a ze z e iitt e d a l â m pada d o Santíssimo e e s pe p e c iiaa lm l m e n t e c o m o grupo d a s “catequistas” o Cs aalunos ttee cism ci sm otinham . Preparou para várias Primeira t u r mcafé a s para C o m uo nehn ãs ion oe dseu “café gordo”, na c o ma bolos, c a s a d a R u a d o Comércio, h o m en ag em a o grande dia.

 

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Em 1892, Henrique Castriciano publicou s e u primeiro livro,

livrinho i m p r e s s o n a tipografia d e A República, c o n t e n d o p o e m a s enfáticos d e patri patrioti otism sm o d e c l a m a t ó r i o e lirismo e n sop a d o d e pess i m i s m o fatal, re síd u o d e leituras a c e s a s e m V i c t o r Hugo e G u e r r a

J u n q u e i r o , e n t ã o e s p a l h a d o r d e s o n o rir i d a d e s v e r bbaa iiss . Denominou-o Iriações e passou o resto d a v i d a a c aç ar os ex em p l ares e queimá-los, r o s n a n d o d e ira. Iriações s ão versos d e 1889 a 1892, 1 5 a o s 1 8 anos.

N ã o h á v ers o s d e A u t a d e Souza ne s s e período. Todos o s q u e c o n h e c e m o s , publicados o u r euni do s n o s dois v o l u m e s m a n u s c r i t o s , t raz em a d a t a d e 1893, q u a n d o tinha 1 7 anos, e m di ante. Torn a ra - se m o ç a , airosa, m o r e n a , esculpida e m polpa d e sapoti, “cheia d e corpo”, graciosa, m a i s baixa q u e alta, c o m u m a v o z i n e s -

q u e c í v e l d e do çura e m u s icic a llii d a d e . A tradição é u n â n i m e sobre a melodia v e la l a d a , e n v o llvv e n ttee , e n c a n t a d oorr a , d a v o z d e Auta. V o z d e foii a n j o , diziam. M e s m o n o s d e r r a d e i r o s m e s e s d a m o l é s t i a , nunca fo esquelética, feixe d e ossos, m u s a d e Rolinat.

N em retraída, merencória, neurastênica, desconfiada n u m a irritação p e r m a n e n t e c o n t r a a saúde d a s m o c i n h a s d e M a c a í b a . Bem a o contrário, convivia al aleg egre rem ment ente com com a s m o ç a s d e s u a c i d a d e , c o n v e r s a n d o , c o n f i d e n c i a n d o , a c o m p a n h a d o - a s n o s p a sseios (inclusive para v e r a s flores h u m i l d e s n a s tar des d e i n v e r n o , b o r d a n d o a s m a r g e n s d o rio), festinhas domésticas, o s “ as s us t ad o s ” c o m d a n ç a s , qua drilh a s, valsas e schottischs, s o b i n f a t ig ig á v e l p ia ia n o t oca d o p o r m ã o s c o n t errâ n eas . A o r e d o r d e 1894, f u n d o u - s e o f a m o s o Clube d o Biscoito, q u e fazia r euni õ es d a n ça n t e s n a s re si d ê n ci a s d o s associados, bailes a t é depois d o g a lo lo c a n t a r , c o m bolos, vinho d o Porto e ce rv e j a , esfriada e m areia m o l h a d a . T o c a v a m p i a n o Sinhá V i a n a (que s e c a s o u c o m o juiz d e direito Teotônio Freire), Nininha A n d r a d e , Iaiá Medei r o s , Ad e l e Lyra, t a n t a s. V e z p o r outra, a p a r e c i a o v e l h o A r s ê n i o C e le l e s t iinn o P iim m e n t e l,l , português d o s Al g a rv e s, m e s t r e d e p i a n o e c o m p o s iitt o rr.. U m a s u a valsa, “Cravos e rosas”, vei o a t é a s p r i m e i r a s dé c a da s d o século X X . O velho A r s ê ni o , exilado d a “Maria

 

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d e F on t e , e m Portugal, e r a o pa r o fe fe s s o r C e l e s t iinn o P i me n t e l , paii d o p ro m e s t r e d e t a n t a s gerações n o A t e n e u No rte - rio - gra nde nse . Entendia d e t u d o , d iizz i a - m e d on o n a S in in hháá Freire, q u e fora s u a a l m a .

A u t a participava d e s s a s fe stinh a s. D a n ç a v a a n i m a d a m e n t e . H a v i a m o m e n t o s d e re cita tiv o s. Rapazes e m o ç a s diziam versos a o s o m d a “Dalila” n o piano. A u t a d e c l a m a v a s e u s v ers o s . E d a n çava t a m b é m . Dindinha, q u a n d o o “a ssu st a d o” e r a e m casa, v i n h a ã o n o pescoço d a n e t a , v e r i f i c a n d o s e e s ta v a s u a n d o . A uta p ô r a m ão l i m i t a v a - s e a sorrir. N o s e u último a niv e rsário , 1 2 d e s e t e m b r o d e o rto, o, ho houu v e festinha e e la d a n ç o u . U m s e u p a r 1900, já publicado o H ort n a q u e l a noite, o e s t u d a n t e Luís T a v a r e s d e Lyra, d e 20 an os lé p i dos, hoje d e s e m b a r g a d o r aposentado, e v ocou o baile, o a m b i e n t e moço, luminoso d e esperanças, a s sinhás daquele t e m p o , a s m ú s i c a s q u e le s bals d' antan? n u n c a m a i s terão os m e s m o s bailarinos. O u s o n t les E r a t e m p o d a s do c ei r as d o m é s t i c a s inimitáveis n o p o d e r d a impr ovisaç ão d a s m e s a s cheias e s e d u to t o r a s . N ã o h a v ia o salgadinho. Doces, doces, d o ce s c o m o a v i d a n a q u e l e final d o século XIX, c o m o dizia a c o n d e s s a d'Arm a ililllé: Q u a n d o n s a v a i t vivre heureux, r od od, ,, .z » z. ,, .. p i a n d o e m “ V a r s o v i a n a , Sobre a s o n d a s , Mi L a u d , Q u a n t o o i u m a s a u da de ” . . .

C a d a do c e g u aArsd as ve an hum ab o r identificável, ciando o r a ss tinham a origem familiar. segredos p adr ea nausn gulodic e s i n c o m p a r á v e i s . N ã o s e r i a m feitos para v e n d a g e m c o m u m . Des ti nava-s e a o c o n s u m o afetuoso. Sabia-se q u e i a s er vi r -s e, sabor e a r o s pastéis d e n a t a , b o m - b o c a d o , m ã e s --bb e n ttaa s , d oocc e d e coco v e r d e , bolo Felipe, pão-de-ló torrado, colchão d e n o i v a , b ab ado d e m o ç a , bolo baeta, d e m a c a x e i r a , pudim d e milho, d o c e d e l aranja e m calda, d e goiaba e m b a n d i n h a , d e araçá i ntei ro, d e m a n ga g a bbaa m i ú d a , l e m b r a n ç a s d a s ca sa s- g ra n d e s sen hor iais, e o s p e q u e n i n o s , secos, pegados n a p o n ttaa d o s d e d o s , sequilhos, es q uec i d o s , r ai vas , alfenins, sonhos, suspiros, d o c es líricos, h e r a n ç a d e oiteiros poéticos, aba-

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dessados, re ce bi me n t os n a s grades d a Lisboa a m o r o s a e devota d o

seculo XVIII, d e D o m João V a Dona M a ria I.

A orquestra e r a o piano. R a r a m e n t e o quarteto esplendoroso, d e cla rine ta , r e q u in in t a , b o m b a r d in i n o e contra-baixo m a r c a d o r . N o s   assus tado tadoss , o pia no e r a d o m i n a n t e e d a í a insistência n a s resid ê n c i as onde havia o i n s t r u m e n t o , c o m p r a d o n o Recife e feito e m Paris. Os “assustados” n a c aass a d e A ut a o bbririgg av a m conjunto d e sopro, a r r a n j a d o pelos próprios convidados q u e s e en c arreg av am d e d e s cobrir e a r r a s t a r os músicos. C o m p r a v a m cerveja e v e r m u t e para os rapazes. Moça n ã o bebia “bebida d e h o m e m ” . F e st s t a s d e invenção e efeito, s e m p r e intercortadas p o r u m a poesia, rapaz atrás d a cadeira, t r e m e n d o d e emoção, “Dalila” vagarosa n o piano, p e d a l d e s u r d i n a . D a s m o ç a s , s o m e n t e A uta dizia versos. A s outras preferiam c an t ar, cant ca ntar ar modin modinhas has s e n t i m e n t a i s c o m o l u a r e s . C a s i m i r o d e A b r e u , Gonçalves Dias, Castro Alves, Junqueira Freire. Solfa, à s vezes, d e a m a d o r local, pe rdida para s em e m p rree . O u letras d e poetas d a terra, L ourival Açu c e n a ,Ar e ia s B a j ã o , depois d e 1 8 9 0 , Segundo Wanderley. E t a m b é m a n ô n i m a s , tradicionais, já c a n ta da s antes e depois d a G u e r r a d o Paraguai. P o r essas salas d e outrora e m M a c a ííbb a , Auta espalhava s u a preos versos n a s rporque sd ee nNatal. ç a romântica. E rvaaa. poetisa publicados evistas Imp rov i sa foram esquecidos Dezenasc odme versos ningué m os e s c r e v e u .

Os g ran d e s o lh lh ooss negros e r a m so m b re r e a d o s p e llaa s sobrancelhas espessas e os longos cílios a v iviv a v aam m , c ooaa n d o o olhar p enetr ante. O cabelo e r a repuxado para o alto,preso e m coque, p o r u m a fita, fivela o u broche d e ouro. A s m a n g a s d es c i am a os pulsos e a gola d o v eess tido recobria o fino e n erv o s o pescoço.Era precaução e e r a m o d a . Os olhos d o p a i e os lábios d a m ããee .

E m 1 8 9 3 , h á u m a r e c r u de s c ê n c ia d a tuberculose. A tosse, a febre, os arrepios r e a p a r e c e m , insistentes. O re mé d i o clássico, h e r d a d o d o

 

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Portugal e s e c u l a r n a Europa, e r a a m u d a n ç a d e ares. Viagem para 3 fazenda J a rd i m, a 1 4 léguas, n o m u n i c í p i o d e Macaíba, c l i m a seco, c éu é u c la la r oo,, noites serenas. Pelas m a d r u g a d a s v e r m e l h a s a s vacas d e leite g e m i a m n o cur r al, ba l a n ça n d o os ubres c o m o odres. r s ooss d a ttaa d ooss desse a n o . C i n c o d e J a r d i m . Q u a t r o d e H á v e rs Macaíba. U m , d e dezembro, “A o m a r ” , q ue u e s e rrii a i m p res s ã o d e Natal, olhan d o o Atlântico, n o verão tropical d a c iidd a ddee .

U m “ A volta d o se r ttãã o ””,, d e junho d e 1893, n ã o fo i r e u n i d o a o Horto. Mas, figura n a coleção d e n o m i n a d a D h a llii a s , versos d e 1 8 9 3 a 1 8 9 7 , f o r m a inicial d o v o l u m e publicado e m 1900: É t e m p o d e voltar. O l n v e m o fi n d a

A s av ezi ez i n has h as s e m u d a n d o estão. . . É p reciso reci so deixar deixar a terra linda, A s singelas casinhas d o s e r t ã o . É forçoso partir, embora, ain d a Si Sinta nta estal estalar ar d e d o r o coração, E a alma cheia d e saudade infinda

Sozinha chore e m .triste solidão.

Vamos, m e u peito, não sol soluces uces tanto. . . Oculta be m o te u sentidopranto, N ão tenhas pena d e quem fic a aqui.

Olhe. flmeflhã, quando inda fores perto, Alguém contente sorrirá d e certo E n e m sequer s e lembrará d e titi..

Alguém ficava e a poetisa n ã o confiava n a sa u d a d e fiel. Abria-se, lenta e delicada, flor e st ra n ha d e f o r m a i n e s ppee ra r a d a c oom m o u m a orquíd ea, a per tur bad or a presença d e e m o ç õ e s n o v a s . A m o r e m e d o .

 

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Dis s ipad o o r o m a n c e , q u e n ã o ul t rapas s ou a l e m b r a n ç a d a p e q u e n i n a c i d a d e , A u t a v e t o u todos os versos q u e e s c r e v e r a , a m o r o s a m e n t e , p e n s a n d o e sofrendo p o r ele. Salvou alguns, s ubs t it uind o a intenção t e r r e n a d o h o m e m pela ofe re n d a votiva a os seus m o r t o s o u a o s s e u s santos. N o s e u H o r to to , nã o haver ia lugar para q u e m a fizera sofrer n a ter r a. O an jo expulsou o a m o r te rre stre d a área sa g ra d a on d e o filho d o Deus v i v o s u a r a s a n g u e , es p eran d o , c o m e lala , o m a r tírio redencional.

M a s essa fase, i n t e n s a , v io i o llee n t a , s a c u d iri r a h u m a n a m e n t e a poetisa, a b r i n d o a o s s e u s olhos m í stico s o c la la r ão ã o o ffuu s c a d o r d o desejo, u m i n s t a n t e , um r elâm p ago , o n d e a n t e v i u lar, m a r iidd o , f i lh ooss , o u ttrr o d e s t i n o para s u a a l m a . T u d o passou de p r e s s a , fulminante, m a s a s

cicatrizes f i c a r a m , i n d e l é v e i s , n o p e q u e n i n o coração s e n t i m e n t a l . M a s v i v e u , v i b r a n t e m e n t e , o m o m e n t o i n e b r i a n t e , a hora al ad a, irresistível, m u s i c a l . M i nh a a lm lm a t r e m e c o m o a ma r i pos a , Q u e s e atira n a c ha h a m a , al ucinad a D e c a d a v e z q u e o m e u olhar s e pousa N o s olhos t e u s , ó criatu ra a m a d a E e m v e z d e s om o m b r a o n d e o olhar repousa, B u s c ar , fugindo d o fogo q u e dev ora, Minh'alma louca c o m o a ma r i pos a , S e atira m a i s à c h a m a q u e a e na m o r a .

H á curtos p o e m a s c oonn d e n a d os os a o e s q u e c i m e n t o i m e r e c i d o e q u e i n t e r r o m p e a prescrição fatal. F o r a m escritos, sentidos, c o n f i d ê n c i a d e u m a hora d e mágoa e n a m o r a d a , c i ú m e , tristeza d o nã o - e nco ntro , arrufos, todos o s “ p e q u e n o s n a d a s d o a m o r , repetidos n o mundo pela te rra int eira.

 

T u fizeste d e m e u peito, Ó m e u a n j o , Ó m e u arnor U m ninho vasto e desfeito,

U m santuário d e dor... Desfolhaste a santa crença Q u e e u tinha n o c o r a ç ã o , Envolveste e m treva i m e n s a A m i n h a doce ilusão.

Meu p eit ei t o é hoje deserto Q u a l urna c e lala d e monge, Vivendo d e t i tã tãoo perto Parece q u e estás b e m longe. E t u deixaste isolado M e u s e i o , n u d e esperanças,

Co m o r u n ninh o abandonado, U m a c a s a sem c r i a n ç a s . P o r isso quero v oar Além, muito além, além.. .

P r a v e r s e acho u m lugar Onde nãoveja ninguém T a l v e z , e n t ã o , e u chorasse Vivendo longe d e titi,, M a s , q u e tinha s e encontrasse

A p a z q u e fugiu-me a q u i ? V ou sepultar dentro d'alma

A história d o m e u amor; Q u e r o s ó viver e m c a h n a , EIl1bâl¡':lI1d0 míllha ( 1 0 1 1

 

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Mais vale m n peito magoado, Chorando, sofrer a s ó s , Q u e v e r o ente adorado, Passar z o m b an d o d e nós. É a m e s m a m ã o zinh a q u e e s c r e v e “Desalento”, n a f az enda

I a r d i m , n a m e s m a época.

Q u a n d o m e u p e n s a m e n t o s e transporta A s p r a i a s d e além-mar, Sinto n o peito u r n a t r isis te t e za za im e n s a Q u e m e m a n d a chorar. É q ue u e v e jo jo m o r r e r e m , u m a a u m a , Santas aspiraç aspiraçoes, oes, E voa r e m c o m o pássaros saudosos A s m i n h a s ilusões...

N u n c a j ulguei q u e a terra fosse r u n túmu lo D e sonhos sonh os juvenis, Sorrindo ac r ed itei q u e aqui, n o m u n d o , Podia s e r feliz...

Enganei-me: - a tristeza, q u e m e oprime O c o ra r a ç ão ão s e m luz. . . C o m o d o Solo d er r ad eir o r aio Nos b raç raços os d e tuna Cruz...

A trêmula saudade que entri entristece stece E fa z desfalecer; E s s a agonia lenta q u e m e inspira Desejos d e morrer...

 

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T u d o m e d iz q u e a vida é o desengano, A m o rt e d a Ilusão, E o m u n d o r u n grande m a n t o d e tristezas Q u e enluta o coração.

Seria r e a l m e n t e a m a d a ? Os i r m ã ooss o p u n hhaa m - s e c oom m doce insist ê n ci a . A u t a e r a tuberculosa e o “ente” n ã o lhes m e r e c i a confiança. sofre re r m a i s ? O r o m a n ccee v eem m a 1894. Mais d e u m P a ra r a q u e fa zê --lla sof an o . Sessenta e q uatr o a n os o s d e ppoo i s , ouço a s con fid ên cias d e a m i ga s d e Au t a , saudosas d e s u a p e s s ooaa , distinguida s c o m s e u s v e rrss ooss . Afirmaram q u e a p o e titi s a a m o u de s e s p e r a da m e n te , m a s r e n u n c i a r a . R e n ú n c i a e n ã o olvido.

Outro p o e m a j a m a i s publicado, dessa época:

M e u coração M e u coraçao é c o m o a noite escura, Cercada s ó d e dores a d o n n i d a s , É c o m o u m negro t ú m u l o vazio O nde repousam esperanças idas.

M e u coração é c o m o um a fol olha ha m u r c h a Q u e o vento frio desligou d a flor, É c o m o um'ave q u e s e v ê sozinha S e m l ar , s e m pão, s e m vida e s e m amor.

M e u coraçao é c o m o a not notaa trtrii ste Q u e s e evola d os si sinos nos m ag agoado oados, s, Q u a n d o da Igrej rejaa n a s s e re re n a s torres A gemer, a g e m e r dobram finados. é c o m o a n u v e m negra M Q ueeu ccoração oobb r e a terra n a s manhãs geladas, É u m a p á li d a a n d o rrii n h a morta

N u m leito frio d e ilusões passadas.  

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E m 1894, n ã o d ei x a Macaíba e seus versos s ão d a ta ta d ooss d a c id i d a d ee.. N o Horto, h á duas q u a dr a s c o m o título “Adeus ” , q u e p r i m i t i v a m e n t e tinham n o m e d e “Partindo”. Sã Sãoo d e 1 8 9 4 : “Espera, e u voltarei? El Elee dizia (Q u a nto e r a triste o s e u olhar t ã o docei) Chorosa e t e m a a fala lh lhee tr e mi a C o m o s e a corda d e algum'ha1pa fosse. E e l a , a pá pálli da noiva es t r em ec i d a, Fitou n o a m a d o os grandes olhos seus, E m u r m u r o u , baixinho e com ov ida, Q u as e a chorar e m u i t o a m e d o : - A d eu s

É u m oar isto i sto legí egítitim m o. M a s os inéditos s ão m a i s v e e m e n t e s d e paixão e d e rebeldia a m o r o s a . Figuram n o Dhalias, m a s A u t a n ã o os inclui n o H o rtr t o . I n f a n d u m , regina, jubes renovare dolorem. A r a i n h a p o e s iiaa n ã o podia, c o m o Dido a Enéias, fazê-la r e n o v a r a d o r n a e v o -

caçao lacerante. «-

Extinto N ã o m e perguntes s e t e a m e i n e m qu a nto pobr bres es olho olhoss h ã o p o r ti chorando. M e u s po A i n ã o queiras saber s e foste a m a d o Entre sorrisos, s e d a d o r nopranto.

Não quei queiras ras não. Eu te adorava tanto, Q u e o m e u A m o r e m tempojá passado tã o sagrado Maior e r a q u e o M u n d o e tão C o m o a s o n d aass d o m a r sereno e santo.

Hoje n ã o te a m o m ais. Quero desfeito Todo m n passado q u e m e trouxe a o peito Dores etemas, lágrimas s e m fi m . . .

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Q u a nt o chorei p o r ti Às v e z e s penso lé m n o A z u l talvez 0 C éu i m e n s o Q u e a lé E m N o itit e s s e m luar n ã o chore as s i m

M a s esta “ R e m i n i s c ê n c i a inédita t a m b é m revela o lento proc e s s o d a sublimaç ão inic iad o, ironia a m a r g a d i t a d a pelo a m o r próprio s an g ran d o : R és é s tit i a d e s o l d o m e u a m o r desfeito, V e m aclarar o m e u v i v e r sombrio; M e u coração, um'ave q u e t e m frio. Pede chorando o ninho d o t e u peito. O pobrezinho triste e contrafeito,

Voga d o pranto n o n e v a d o rio... De suas ilusões 0 róseo fifioo A c hou partido, e m es til tilhaços haços feito. eito.

C o m o e le t r e m e s e m achar abrig abrig o A lu z procura desse olhar amigo, riste cont contra ra o s e i o teu... Aquece o t riste M a s não L em b r ei- m e: o t e u a m o r é morto, N ã o quero m a i s q u e t u m e d ê s conforto; -E u tenho m e d o d e q u e m já mor r e u i . . .

N e s s e 1894, Eloy d e Souza c o n c l u i o c u r s o d e Ciências Sociais e volta d e f i n i t i v a m e n t e para o Estado. O onipotente P e d ro r o V e llhh o (1856-1907), governador, chefe s u p r e m o d o R i o G r a n d e d o Norte, pedira-lhe q u e abreviasse o s estudos porque necessitava d o s serviços ço s d e d i ca d os d e g e n ttee m o ç a e lépida. o triênio E m n oev seemr biaiar loe,a fo d e pu p u ta t a Ed on t re e sgttaaa dv au ma l apara d o Governo. 1895-1897 d ei r eleito o s s e uuss 2 1 anosd ea os chefia política d o m u n i c í p i o d e Macaíba.

 

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Auta escreveu n o d i a d o s e u aniversário, 1 2 d e setembro, 1 8 anos, este “Hoje” ensopado d e presságios funérios: F iz anos hoje... Q u er o v e r agora S eee nãodeixa s t e sof sofrer rer que tanto lem bmrearatormenta a paz, o encanto, M A doce lu z d e m e u viver d e outrora.

T ão moça e mártir N ão conheço aurora, Foge-me a vida n o c or o r re r e r d o pranto, B em e m c om om o a nota d e choroso canto, Q u e a noite leva pelo espaço e m fora.

Minh'ahna v oa a os sonhos d o passado, E m b u s c a s e m p r e desse ninho a m a d o Onde pousava cheia d e alegria. Mas, d e repente, ntu n pavor d e morte, S e n t e cortar-lhe o v ô o a m ão d a sorte... Minha ventura s ó dtuou r u n dia.

M a s 1894 n ã o fo i a n o d e piora. Auta n ã o d e ix i x o u M a c a ííbb a p e lloo r e m a n s o cálido d a fazenda I a r d i m , v e n c e n d o o estirão m o n ó -

tono d o s oitenta e quatro quilômetros. Su a a m a r g u r a tinha outra germinação. ` S e r á q u e vale revelar o n o m e d e quem inspirou poemas e lágrim a s aAuta d e S o u z a ? P or s e u a m o r onome s e ilumina evem o s p as s ar o bacharel Ioão Leopoldo d a Silva Loureiro, paraibano, formado e m 1 8 9 2 , alto, esbelto, dizendo versos e da nça ndo valsas. Ac ad êmic o, fora pro prom m otor ot or pú públ blico ico e m Canguaretama ( 1 8 9 1 - 1 8 9 2 ) e d a í Macaíba ( 1 8 9 2 - 1 8 9 5 ) . Licenciara-se n e s s e último ano, d eix ei x and o Mac aíb aí b a e m

janeiro, n ão m a i s reas s umind o. Vida m a i s breve ai nda. Faleceu n u m a cidade d a Paraíba a 1 2 d e junho d e 1 8 9 7 . 1 8 9 7 é a data q u e

 

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fecha a primeira coleção d os versos d e Auta, d e n o m m a d a Dhalms Horto é n o m e q u e s e divulga n o a n o seguinte. O r o m a n c e fin d ar a. E m julho d e 1896, e scr e v e M r n h a l m a e 0 verso”, r e v i d a n d o o golpe, d e s v i a n d o o m o t i v o d o s e u lirismo, a razao

d a tristeza poética: N ão m e olhes m ais assim. . . Eu fico triste Q u a n d o a fitar-me o t e u olhar persiste Choroso e suplicante. . . J á n ão possuo a crenç crençaa qu quee conforta. V a i bater, m e u amigo, a u m a outra porta, r a m a isi s distante. E m t e r ra Cuidavas q u e e r a a m o r o q u e e u sentia Qu ando m e u s olhos, loucos d e alegria, S e m n u v e m d e desgosto, Cheios d e lu z e cheios d e esperança,

N u m a carícia ingenuamente m a n s a , Pousavam n o t e u rosto? E termina:

ê s . Meus sonhos amor, risonh NS ãão dar-te e m v os, o dposso a Poesia o s i deais ribsonhos, E m lagos d e ouro imersos. . . abrol olhh os, N ão sabias dourar o s m eus abr E e u procurava apenas n os o s t e u s olhos, Assunto para v e r s o s .

Q u a s e u m a n o depois, e m A República, d e 1 3 d g m a m d e 1987

Auta P U b 1 Í C a V fi “A b € Í 1 ' fi ' 1 T 1 a T que, n a t u r a l m e n t e , fo i excluído d o Horto:

 

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Q u a n t a s vezes n a a rree iiaa e m b r a n q u e c i d a D 0 M 2 1 1 3 t e u doce n o m e e s t r e m e c i d o A m i n h a m ão trtraço açou.. u.... Mas... este m e s m o n o m e , tã tãoo qu e r i do Q u a n t a s vezes u m a o n da d a en r aivec id a D a p r a ia i a n ã o levou?. . .

O “ m o t i v o ” persistia n o s versos.

Bilac, n ã o o poeta d e “ S a rrçç a s d e fogo” e “ A l m a inquieta”, m a s o s e r e n o e s ttee ta t a d e  T a r d e , diria a re n ú n ci a , o temor, o m e d o d e a m a r , Salutaris porta: Feliz o idflio q ue u e n ão ã o teve história S alv alv and oo-nos nos do tédio, 0 nosso m e d o F o i t u n a porta d e ouro para a glória

M a s a r e n ú n c i a d o a m o r n ã o exila a p e r m a n e n t e r e ccoo r d a ççãã o . Esta i n d e p e n d e d a revolta e resiste, profunda, a r d e n d o e v i b r a n d o , n u m a p e r e n i d a d e d e ú lclc e r a i n c u r áávv e l, cujo martírio é força pa ra a criação poética. Os g ra n d e s p o e m a s d o Horto i a m s e n d o escritos, m a s a m o ç a c e d e r a o a m a v i o d o c i ú m e e u m a produção, e s q u e c i d a e agora rev el ad a, escrita e m d e ze mbro d e 1894, talvez n a fase m a i s an gustiosa d o r o m a n c e , q u a n d o a in i n d a A u ttaa n ã o obe d e ce ra e Ioão Leopoldo d a Silva Loureiro r e c u a v a a n te a op oposiç osição ão da f a m í li a, m o s t r a a graça infantil n a e n a m o r a d a , os de n g u e s , coleios, p e r g u n t a s dolorosas q u e s e disfarçam c o m o s e fossem dirigidas a u m a c r i a n ç a hipotética. V e m e xxpp li c a r --m m e u m a cousa, Criança doce e formosa, P o r q u e ocultas a o ver-me A t u a face m i m o s a ?

 

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E , s e te olho p o r q u e m u d a s

Avista depressa a s s i m ? N ão fi t o c o m m a l d a d e , Anjo, n ão corras d e mirn.

A c a s o te aborreci, Quero m e digas e m q u ê , E s e n ã o , criança louca, porr q u ê ? P o r q u e m e f o g e s , po

T u q u e n ão ão t e m e s a o s m a u s , Q u e d e s a fi a s o s c éu éu s, S e r á possível q u e temas Fitar teus olhos n os m e u s ? P o r q u e m e odeias, criança, P o r qu e m e foges, p o r quê? Acaso te aborreci? Di zee-m m e, di dizzee-m m e em q u ê

Sã o versos d e colegial apaixonada e A u ta São t a já e r a poetisa a d m i r a da . O a m o r é , e m c eerr t a s a l m a s , retorno à m e n i n i c e . Devia s e r 0 p r i m e i r o a m o r , o ú ni c o q u e lhe lh e foi fo i d a d o e n tr e v e r a r e n u n c i a r para ` se m p r e . .

C o m esses versos d e de ze m b r o d e 1 8 9 4 , sente-se o d r a m a supremo, interior e secreto, calado e palpitante, q u e teria sido o a n o d e 1 8 9 5 , a n o d e am arg ura, d e sofrimento físico, d e lembrança alucin a n t e e j a ma i s confidenciada. Viaja para I ar di m . E m março, está e m M a c a í b a . V e m a Natal. Fixa-se algum te m p o e m Araçá, entre Iardim e Macaíba, propriedade d o c o m e n d a d o r Ioaquim Inácio Pereira. De s c re r e v e P aass s aann d o , q u e dedica a o d r . Celestino Wanderley Araçá e sc (1862-1942), o poeta d o A uro ras (Natal, 1 8 9 0 ) , q u e lh lhee destinara “A mort e d e Ceci”. O soneto é o s e u e s ttaa d o m e n ta l :

 

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Q u a n d o m e v ê e m passar risonha e c a l m a . S e m u m p e ssaa r q u e m e a nu vi e a fronte, Perdido o olhar n a curva d o horizonte, Cuidam q u e e u tenho o paraíson'alma. M e s m o e n c o n t r e i q u e m m e dissesse u m dia: “Invejo-te a existência descuidosa? C o m o s e espinhos n ã o tivesse a rosa, O u fosse a v id a isenta d e agonia Porém, en q uan to , desdenhosa, altiva, E u v o u passando, alegre o u pensativa. . . Arir, a rir, c o m o u m feliz d e m e n t e ,

M e u pobre coração d e n t r o d o peito -Triste d o en te a agonizar n o leito V a i soluçando dolorosamente. . .

N o Horto, h á o soneto “ À a l m a d e minha m ã e ” e a d a t a N atal, março d e 1895.A d a t a e o local estão cert o s, m a s o título foi modificação. N a coleção d e versos q u e e la d e n o m i n o u Dhalias, 1893-1897, está o s o n et o c o m a i n d i c a t i v a : “ A alguém...” e s em e m d aatt a . Fora r e a l m e n t e escrito e m m a r ç o d e 1895, m a s A uta dirigia-o a um “alguém” q u e e m 1900 substituiu pela clar id ad e chonsoladora d o e s p írír itit o m a t e r n o . N a o i s s e n ttii m e n ttoo s , o verso, a m b í g u o e doloroso, a m b i v a l ê n c i a d o s d oi se ririaa ob obllaçã açãoo lógica a q u a l q u e r u m deles. Partiu-se o fi o branco e delicado Dos sonhos sonhos d e minh'alma desditosa. . . E a s contas d o rosário assim quebrado Caírarn c o m o folhas d e urna rosa.

 

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Debalde e u a s procuro lacrirnosa, Estas doces relíquias d o Passado, Para guarda-las n a u m a perfumosa, D o m e u seio n o cofre imaculado. A i s e e u a o m e n o s u m a s ó pudesse Destas contas achar q u e m e fizesse L e m b r a r u m m u n ddoo d e alegr al egrii as doudas. . . Feliz seria... M a s mi nh'a l ma atenta E m v ão procura ur n a continha benta: Q u and o p arti art i st es m'as levastes todas

O des. Luís T a v a r e s d e Lyra i n f o r m a - m e q u e n a s e gguu n ddaa m e t a d e

d e 1895 a g ran d e a m i g a d e A ut a, A n t ô n i a T a v a r e s d e Araújo, e scr e v e ra-lhe d o R e c iiffe con vid an d o- a i n s i s t e n t e m e n t e para ir vê-la. Houve u m a conspiração d a f a m í l ia e d a s am i g as d e A u t a para q u e e la aceitasse o c o nvi te. F i n a l m e n t e , a poetisa aceitou e f i c o u a llgg u m t e m p o n o Recife. Meses. N ão h á versos datados d a ca pita l p e r n a m b u c a n a . D evia t e r r evisto a s c o m p a n h e i r a s d o sa u d o so Colégio d a E st â n ci a , a s religiosas q ueri d as , a capelin ha acolhedora e b r a n c a .

Q u a n d o voltou, s e r e n í s s i m a , e v e i o imediatamente p a r a Mac aíb a, a s a mi g a s c e r c a r a m - n a d e alegrias, p er guntas , c u r i o s i d a des, pla ne j a ndo festinhas. T u d o par ecia t e r f i n d a d o n a r ec o r daç ã o d a poetisa. É desse a n o “Lágrimas”. C o m e le encerrou o Horto (la edição). E u n ã o s e i o q u e tenho... E s s a tristeza Q u e u m sorriso d e a m o r n e m m e s m o aclara, Parece v i r d e alguma fonte amarga

O u d e u m r i o d e d o r na c oorr re r e nt e zzaa .

 

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Minh'alma triste n a agonia presa, N ã o c o m p r e e n d e esta v en t ura clara, Essa h a r m o n i a m a v io s a e rara Q u e o u vvee c a n t a r além, pela devesa. E u n ã o s e i o q u e tenho... E s s e martírio, Essa sa u d a d e roxa c o m o u m lírio, Pranto s e m fim q u e d o s m e u s o lh o s corre,

A i , d e v e s e r o trágico t o r m e n t o , O estertor prolongado, lento, lento, D o último a d e u s d e u m cor coraçã açãoo que m o r r e . . . Alembrança repelida e o b s t i n a d a d o a m o r i m p o s s í v e l volteava

a o d e r r e d o r d a d e v oç o ç ã o inteira, s u bli m a do ra d e todos o s s on o n ho h o s q uuee a vida n ã o c o n s e n t i r a realização. Afilha d e Maria d e v e amar u n i c a m e n t e a o n o i v o eter no , imóvel

n a cruz.

Aci catri z, p o r é m , m a r e j a v a s a n g u e . Nu Num m d o s sonetos s u p r e m o s , “A o p é d o tú m ulo”, (“Aos m eus” eus”.. ), d e 6 d e outubro d e 1 8 9 9 , t e r m i n a :

E m pranto e scr e v a m sobre a m i n h a lousa: “Longe d a mágoa, e n fi m, n o C éu repousa Q u e m sofreu m u i t o e q u e m a m o u demais...  

N ã o lhe satisf satisfizer izeram am o a pe p e lo lo . D e s e jjaa v a q u e s u a lápide d i s s e s s e a os olhares distraídos q u e a llii , d or o r m i a , p a r a s e m p r e , “q u e m sofreu m u i t o e q u e m a m o u d e m a i s . . .”. _

 

Au ta d e Souza e Ioão Câncio, o i r m a o m a i s novo, a q u e m dedicou “ Cami n h o d o Sertão”

 

IV

. . . em inent e e h u m i l d e Aut a d e Souza, a m a i s espiritual d a s poetisas brasileiras. A n d r a d e Mur icy 1896 fo i o g ra n d e a n o d e versos e d e t o rrtt u r a s . A f o rm r m aç ããoo c a t ó li c a e r a , e m A u t a , a própria natureza espiritual. Nunca duvidou nem c o n h ec eu outra solução para s u a fé, simples, inabalável, p e q u e n i n a e l u m i n o s a c o m o a f l a m a d a s l â m p a d a s d o Santíssimo, presentes n a discreta e con tí n ua c lar i dade tranqüila. A s oc o c ie ie ddaa ddee e m q u e e la v iv i v e u r e s iiss tit i u m u iti t o s anos à desagregação n i v e l a d ora . 1 9 0 1 a i n d a é uma um a hégira d e p u r e z a social. É o R io d e Ianeiro q u e Luís Edmundo evocou. Idade r o m â n t i c a q u e s e prolonga n u m a n e c e s s ida de m o r al.

A n t e s d e 1893, a fé seria a fonte ú n i c a d a inspiração interior, o diálogo d a a l m a e o m u n d o , Ariel e C a lili b a n , v e n c id id o s e m p r e . O a m o r lh e trouxe o ácido t r a n s fo fo rrm m a d o rr,, t o rrnn a n d oo-- a m a is i s v ib ra nte n o s o f r i m e n t o e m a i s s on o n oorr a n a r e c oorr ddaa çã ç ã o . Ti v e ra u m outro s e n x i s ttêê n c iiaa . M e s m o i n t e r r o m p i d a , para s e m p r e , a tido n o plano d a e xi visão radiosa ficou q u e i m a n d o , a r d e n d o s e m c o n s u m i r , a s sarças d o coração tropical. U m a e outra vez, sente-se q u e a c h a m a d a vela m í s tit i c a c r e pi p i t a e s e alteia n a a ra r a ggee m d o desejo, d o s on o n hhoo , d a â n s i a impossível. Sãoo Iosé d e A r e c r u d e s c ê n c i a d a moléstia levou-a à vila d e Sã Angicos, o sanatório t r a d i c i o n a l n o agreste, c o m o a serra d e Martins e r a o d o sertão. Fica todo o i n v e r n o e parte d o verão e m A ngi c o s . Março a outubro. E m n o v e m b r o está e m Macaíba, p e r m a n e c e n d o os primeiros m e s e s d e 1 8 9 7 .

 

84

E m Angicos, escreve u m d os p o e m a s m a i s divulgados, “A o luar”, luar d e inverno, jun h o f rio ri o d a s alegrias d e S ã o Ioão, d a s adivinhações d e ca sa m e n t o , d a s c ir a n da s a o d erred o r d a s fogueiras, d a s canjicas, pamonhas e milho a s s a d o . Auta publica “A o luar”, n o n . 4 8 d a O á s i s , d e 1 6 d e dezembro d e 1 8 9 6 .

Dedicou-o a Maria Fausta e a Mercês Coelho, P l 1 P i 1 fl S › filhas d e criação d e Tatá Tat á, s u a a v ó paterna, Cosma B a n d e i r a d e Souza. Astros celestes, d o c e m e n t e louros, G irir a m n o Espaço, e m luminoso bando;   Ouve-se a o longe u m violão plangente E , m a i s além, n u m soluçar dolente, Canções serenas,ao luar voando.

Q u a n t a tristeza tristeza pela pela noite clara Quantas saudades pelo Azul boiando Cuida-se ouvir, n u m dolorido choro, A s preces tristes d e u m magoado coro De almas penadas a o luar rezando. O Cé Céuu parece u r n a igrejinha antiga Q u e a lu a b r a n c a v a i alumiando. . . E e ss s s a s estrelas, mu i to além dispersas, S ã o rosas brancas n o Infinito imersas, Monjas benditas, a o luar chorando. O s pirilampos, pelas moitas tristes, Voam, calados calados e sutis, brilhando... Lem b r am descrenças, a bailar sombrias, Ilusões mortas d e esquecidos dias, A l m a s d e loucos, a o luar passando.

 

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Flocos d e n u v e n s pela Esfera adejam, Barcos d e n eevv e pelo Azul formando... Semelham preces q u e s e v ã o d a terra, A l m a s m i m o s a s , q u e este m u n d o e n c e r r a ,

D e cri crianc anc i nhas, a o luar sonhando. Eles p a r e c e m também velas brancas Soltas, à t o a pelo M a r vogando... Leves e tênues, a correr im ensas, Folhas d e lírios pelo A r suspensas, A v e s s a u do d o s a s , a o luar chalrando.

A i Q ue u e m m e d er a s e r também criança

e dera d a r t ainho AFazer i Q udeoms mastros m b é ammvaodaon,d o r u na nbarqu Nele v agar p o r todo o C éu dourado, A s m i n h a s dores a o luar cantandols

S u a a l m a já e n c o n t r a r a o d estin o. E m “Místico , (“Ao s a i r d a igreja depois d a C o m u n h ããoo ) , c iti t a a f órm u la sa l v a d ora , a dec i s ã o fervorosa: AChu va c a i d o c éu e o m u n d o é c o m o m n e n n o ,

U m d e s e r t o s e m fifim m d e onde emigrou a luz.. . Mas, q u e m e importa a treva, a escuridão s e m t e r m o , S e e u sinto dentro e m m i m quem fe z o S ol - Iesus?

  5

“A o luar” aparece n a l a , 2* e 3 * e d iç i ç õ e s d o H o rtr t o , c o m enganos visíveis, repetições d e r i m a s etc. L i os dois autógrafos d e Dhalias e d o Horto e o p o e m a publicado n a revista Oásis, restituindo-lhe a forma autên tic a, t al qual m ent e A u ta escrevera. Mus ic ad o o poem a, q u a n d o a poetisa n ã o

existia, canta-se n a s serenatas e festas familiares onde h á u m m o m e n t o d e evocação tradicional. Aut a modificou o p o e m a q u a n d o preparou a edição d o Horto. B as t a cotejar a versão publicada n a Oásis. A correção

“ c h alr alr an d o , n o último ve r s o d a sexta qu adra, n ã o fo i a te ndi da m e s m o n a 1 * edição, aparecendo “ chorando cho rando .  

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S ão versos d e 3 d e abril d e 1 8 9 6 , d e Macaíba. Seguiria a té o final a e s t r a d a d e Santiago, car teir o d e estrelas, v i a d o céu, n a r o m a r i a s e m retorno. L e m b r e m o - n o s q u e Auta fa z d a t a r d e julho o p o e m a   M i n h 'a 'a l m a e o verso” e m q u e d i z t e r o lh a d o a m o r ooss a m e n ttee c oomm o e os versos. Para a para da ppoetisa r o c u r aEdwiges n d o “ motivos” q u e m a n tinspira d e S á Pere ira ,,fifi p e r n a m b u c a n a ,“gentil i n h a cor-

r e s p o n d ê n c i a c o m A u t a , e n v i o u um “Cantai”, c o n f e s s a n d o n a s d u a s ú l t imas estrofes: E u também irei c a n t a n d o C o m o vós, m e u s pensamentos, Viv endo sempre sonhando S e m dores e s e m tonnentos. E , já q u e n ão tenho amores. E n e m embalo esperanças...

Canto o perfume d a s flores, Canto o riso d a s crianças.

M a s o fereceu à s d u a s a m i g a s í n t im im a s , I a iá i á ( O llíí m p i a ) e Maria L e o n o r M e d e i r o s , filhas d o C o r o n e l Aureliano M e d e iri r o s , c oom m erc i a n t e , político, r e s i d e n t e e m M a c a í b a , também d e 1896, 0 “Meu ao à se sonho o, qcoração? u e tanto dirigirá c éu q u a n t o terra. E m q u e di r eç ao voaria

  m 6

Edwiges d e S á Pereira (1885-1958) c o la la bo b o rraa va e m A Tribuna, N a t a l e ,

o Recife. cSeus ent e, n a s revistas jornais dcronista, livros s ão posteriornat e s ua ralm d e Auta.e Poetisa, o m notoriedade o falecimento por te r sido u m a p r e cu c u rs r s oorr a d o m o v i m e n t o fem inist a n o Brasil. Pert enceu à

A c a d e m i a P e r n a m b u c a n a d e Letras.

 

E u tenho u m sonho q u e n o C éu m o r a , Feito d e lu z e feito d e arnor, U m sonho róseo c o m o u m a aurora, U m sonho lindo c o m o t una flor. E e u v iv o s e m p r e , s em p r e sonhando, O m e s m o sonho d e noite e dia, O m e s m o sonho s u av e e b r a n d o D a m i n h a vida toda a alegria.

Q u a n d o soluço, q u a n d o m i n h ' a l m a , Cheia d e angústia, fi c a a chorar, O sonho a m a d o m e t r a z a c a l m a E , então, m inh ' al m a põe-se a rezar.

Q u a n d o , n a s noites frias d e inv erno, E u t e n h o m e d o d a t e m p e s ta ta d e , Ele, o m e u sonho, consolo e t e m o , T r a n s f o r m a a s som bras e m claridade. Q u a n d o , n o seio, choroso e louco, Palpita, i n c e r to to , m e u coração... O sonho doce v e m , pouco a pouco, T r az er - m e a gr aça aça d e u m a ilusão. E e u c a n t o e r io n a lu z dispersa Deste dilúvio d e fantasias...

Minh'alma v o a n o Azul irnersa B u s c a n d o a pátria d a s h ar m o n ias . Imagem doce, visão sagrada, Q u i m e r a excelsa d o s m e u s a m o r e s , Pérola branca, delícia a m a d a , Bálsamo puro d a s rninhas dores.

 

88

E llee , o m e u sonho, farol q u e encanta, G u ia- m e à pátria d a salvação. Sorriso ingênuo, relíquia santa, Do relicário d o coração

Desde 1 8 9 6 , Auta colabora e m A República, o j o rna l d o Governo, consagrador. Desde 1 8 9 4 , seus versos aparecem n a revista Oásis, órgão d o G r ê m i o Literário Le Monde Marcha. E m 1 8 9 7 , fundar-se-ia o Congresso Literário c o m A Tribuna e Auta pertenceria a o grupo, fes t i v am en t e recebida. N e s s e 1 8 9 7 , reú n e suas produções, copiadas c o m a letrinha esguia e c u ida da , n u m v ol u me q u e d á o n o m e d e D hal halii as, para respeitar s u a grafia, e a s datas, 1 8 9 3 e 1 8 9 7 .

E m ja n e i rroo , está e m Macaíba, m a s fica o inverno, a té agosto, n a fazenda Iardim. S e t e m b r o a princípios d e d e z e m b r o v a i para N o v a Cruz, n o agreste. E m dezembro sobe, c o m o irmão Ioão Câncio, para a Serra d a Raiz, n a Paraí Paraíbb a. Ficará n a Serra d a Raiz a té m a r ç o d e 1 8 9 8 . N a vila d a N o v a C rruu zz,, escreve “Agonia do coraç coração ão”” , outro p o e m a q u e s e d e r r a m o u e m reproduções m a n u s c r i t a s e n a i m p r e n s a d o norte. A n o s depois, o m a i o r violonista d a época, Heronides d e França (1860-1926), daria solfa d e irresistível popularidade pela penetrante beleza melancólica d a melodia.

A u t a d e d iicc o u “Agonia d o coração” a u m a amiga, Maria Carolina d e Vasconcelos, filha d e u m velho amigo d a família e pa drinh o d e c r i s m a d e Eloy, Ioão Avelino Pereira d e Vasconcelos. Carolina, Auta falecida, casou-se c o m Cláudio Duarte Machado, negociante português. lá n ã o existem todos. E s t r e l a s fulgem d a noite e m meio

Lem b r an d o círios louros a arder... E e u tenho a treva dent ro do seio seio.. . . Astros Velai-vos, q u e e u v o u m o r r er

 

Sãoo a l m a s puras A o longe c a n t a m . Sã C a n t a n d o a hora d o a d o r m e c e r . . . E o e c o triste sobe a s alturas... Moças N ã o c a n t e m , q u e e u v o u m o r r e r

A s m ã e s e m b a l a m o berço amigo, Doce e s pe p e r a n ça ça d e s e u viver... E e u v o u sozinha para o jazigo... Chorai, crianças, q u e e u v ou o u m o r rree r Pássaros t r e m e m n o n i n h o sant o P e d i n d o a graça d o alvorecer... E n q u a n t o e u parto desfeita e m p r a n t o. o. . . A v e s Suspirem, q u e e u v o u m o r r e r

D e lá d o c a m p o cheio d e r o s a s V e m u m p e r f u m e d e entontecer. . . M e u Deus Q u e m á g o a s t ã o dolorosas... Flores Fechai-vos, q u e e u v o u m o r r e r

D a j o r n a d a a ca v a l o para a Serra d a R a iizz , h á o “ C a m i n h o d o sert ã o , publicado n o n . 1 4 de/1 Tri bu n a , d e _ 2 5 d e d e z e m b r o d e 1897 N o   d o soneto divulgado orto, está a redação def i ni ti va, c o m alteraçoes porA Tr ibun a? É o m a i s c o n h e c i d o d e A u t a : “ A m e u i r m ã o Ioão C â n c i o ”

alcanço canço T ão longe a c a s a N e m sequer al Vê-la através d a m a t a N o s caminhos A sombra desce; e , s e m achar descanso, V a m o s n ós dois, m e u pobre irmão, sozinhos

Aut a e s c r e ve r a : “ Q u e e n s i n a a crença”, su bstitu indo para   Q u e a norte ensina”, m a i s expressivo e ágil. E m v e z d e “Turíbulo i m e n s o ” a poetisa

e s c r e ve r a “Turíbulo san to .  

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É noite já. já . C o m o e m feliz r e m a n s o , D o r m e m a s aves n o s pe qu e nos ninhos... V a m o s m a i s devagar... D e m a ns ns o e manso, Para n ã o a s s u s t a r o s passarinhos.

Brilham estrelas. Todo o c éu parece Rezar d e joelhos a chorosa prece Q u e a Noite ensina a o desespero e à dor... A o longe, a Lu a v e m d oouu ra r a n d o a treva. . . 'Turíbulo i m e n s o para Deus eleva O i nc e ns o ag agrest restee da j urem a e m flor.

A u t a de ixa S e rrr r a d a R ai z e m m a r ç o d e 1898. Muitos v e rsos e po uca m e l h o r a para seus p u l m õ e s . A t é agosto, e m Mac aíb a, e o re st o d o a n o e o s dois p r i m e i r o s d e 1899, n a povoação d e Utinga , n o e n tã tão município d e S ão Gonçalo. E s c rev e v ers o s s e m p r e . A T rir i b u n a , A República, Oásis, e , depois d e 1898, a Revista d o R i o G r a n d e d o No rte publicam c o m d es t aq ue e elogios. S ão tra nscrito s n o e x t r e m o nort e e n o Recife. A u t a sur pr een d er - se- ia c o m essa consagração subitânea? Está v a g a n d o , agreste e sertão, p r o c u r a n d o a s a ú de fugitiva c o m o , s e m q u e e la soubesse, um c o m p a n h e i r o d e d o e n ç a e s a u d a d e e m Portugal, Antônio N o b r e. D a Serra d a Raiz, fever eir o d e 1898, A u t a e s c r e v e “ P alavr as tristes”, ou tro p o e m a d e popular predileção. Seria i g u a l m e n t e m u s i c a d o p o r Heronides d e França e ainda, u m a v e z p o r outra, o ouço c a n t a r . Dedicou-o “ A o Nenenzinho”, q u e n ã o consegui identificar. Q u a n d o e u deixar a terra, a n j o in o c e n te , Ó m e u formoso lírio perfumado Reza p o r m i m , d e joelhos, d o c e m e n t e , Postas a s mãos n o seio imaculado. j o i n o c e n te . Q u a n d o e u deixar a terra, a n jo

 

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É s a estrela gentil d a s m i n h a s n o iitt e s la ro r o dia, N oi o i t e s q uuee m u ddaa s n o m a isis c la N ã o tenho m e d o a os gélidos açoites D a e s c u r i d ã o s e a t u a lu z m e guia,

O estrela gentil d a s m i n h as noites Q u a n d o e u deixar a terra, dá-me flores, B o i a n d o à tona d e um sorriso teu; Q u e os risos d a s crianças s ão andores Onde o s Anjos n o s levam para o Céu... Q u a n d o e u deixar a terra, quero flores

Flores e risos m e t e ce n d o o m a n t o , M a n t o celeste feito d e esperanças... Q u a n d o e u d a q u i m e for, n ã o q u e r o p r a n t oo,, S ó quero riso, preces d e criança: Flores e risos m e t e ce n d o r u n m a n t o

Anjo m o r e n o d e a lm lm a c oorr d e lírio,

Mais b r a n c a d o q u e a estrela d a Alvorada... M e u coração n a hora d o martírio Pede consolo d e u m a prece a m a d a ,

`

An jo m o r e n o d e a s a s c o r d e lítio Q u a n d o e u deixar a terra, anj anjoo i nocente, O m e u forrnoso lírio perfurnado Reza p o r m i m , d e joelh oelh os, docem ente, ã o s n o seio irnaculado. Postas a s m ão j o i n o ce n t e Q u a n d o e u deixar a terra, a n jo

Ou tro s o neto , d e evo c aç ã o religiosa, e m M a c a í b a , n a QuintaFeira Santa, 7 d e abril d e 1898, “ N o J a r d iim m d a s Oliveiras”, t e v e s e u m o m e n t o d e e m o ç ã o pelo N o r d e s t e . Re v i st a s e jornais divulgaram, c o m p a llaa v r a s c a r iinn h ooss a s à poetisa pro provincia vinciana, na, vivend vivendo o numa

c i d a d e i g n o r a d a e pobre.  

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“Minh'alma é triste a t é a morte.. . ” Doce, lesus falou... E o N a z a r e n o santo Chorava, c o m o s e a su'alma fosse U m a m a r i m e n s o d e ainargura e pranto. Depois, silen Depois, silen cioso, e le afastou-se E fo i rezar n o m a i s sombrio canto. Se u grande olhar formoso iluminou-se Fitando o etéreo e estrelejado m a n t o . “Pai, t e m piedade.. . ” E s u a v o z plangente Trernia, e n q u a n t o p elas elas t revas m u d a s Baixava m a n s o o triste olhar dolente.

Pobre J e s u s C o m o n u m sonho via: E m cada sombra a traição d e Judas, E m cada estrela os olhos d e Maria

E m U t i n g a , A u t a e m b e b e u - s e d a q u e l a poesia s e r e n a e merencória, Os c r e p ú s c u l o s s ão lentos e o horizonte a b r a s a d o te tem m as vag ar o s as m u t a ç õ e s d o rubro a o róseo. Ap e q u e n i n a cap el a, e n t ã o e m r u í n a s , d a v a a n o ta t a e m o c io i o n a l d e r e c o r d a çã ç ã o a b s ttrr a ttaa , uma mansa tristeza r e s i g n a d a e s e m fim fim,, nostalgia indefinida e p e n e t r a n t e . Auta

e scr e v e u  Crepúsculo , n o v e m b r o d e 1898, q u a d r o fiel d a paisagem s enti m ental. O Angelus s o a . Vagarosamente A noite desce, plácida e divina,

Ouço gemer m e u coraçao doente Chorando a tarde, a noiva peregrina. H á pelo Espaço u m ciciar dolente D e prece e m torno d a Igrejinha e m ruína... Pássaros voam compassadamente;

T r e m e n o galho a rosa purpurina...

 

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E e u sinto q u e a tristeza v e m suspensa Sobre a s asas d a noite e r m a e sombria... u d a de d e i r n e n s a, a, E que, n e s s a hora d e s a ud

R i n d o e c h o r a n d o d e s d e a o coração; T o d a a doçura d a me l a nc ol i a , T o d o o conforto d a recordação.

E m 1898, o irmão H e n r i q u e C a s t r i c i a n o publica o s e g u n d o v o l u m e d e p o e s iiaa s , R u íínn a s , prefácio d e R o d r i g u e s d e C a rv a lh o , par aiban o, poeta, q u e seria íntimo d o s irm ã o s pela v i d a int eira. F o i i m p r e s s o e m Fortaleza, o n d e H e nrique e Rodrigues d e Car valho c ur s a v a m Direito, i n t e r r o m p i d o pela d i s c us s ã o c o m o di retor d a escola.

H r i qi umeento , solidário c o m o am i go , deixou Fortaleza e n e s t a todos o s o feern ec s sedutores. J á então A u t a m u d a r a o título d e Dhalias para Horto, juntando a s poesias d e 1893 e m d i a n t e . Jornais e revistas a n u n c i a m o p r ó x i m o livro. N atal, n a q u e l e t e m p o , tinha c i n c o associações li t erárias erárias , c om I

fu

u

S E U S O1'gaOS lI`IlpI'€SSOS.

E m 1899, A u t a está e m M a c a í b a d e s d e abril, q u a n d o viaja t ã o e xxii s para u m a f a z e n d a n o município d e S ão Gonçalo, q u e e n tã tia, dividido p o s t e r i o r m e n t e entr e M a ca í b a e S ão Paulo d o Potengi. A f az enda, pela r e s i d ê n c i a numa elevação o n d e o p a n o r a m a s e a m p l i a v a , e m leque, a t é o s d istan tes horizontes s u a v e s , teve b a t i s m o novo, d a d o pela poetisa. D e n o m i n o u - a Alto d a S a u d a d e . Muitos poem a s estão datados dessa paragem r o mâ n ti c a. De m a i o a agosto, Au ta hospeda-se n o Alto d a S a u d a d e . Regressa então a M a ca í b a n a s alternativas d e febre e frio, d es engano e esperança.

D o Alto d a Saudade, n a s c e m versos inesquecíveis, plenitude d e expressão e d e v e e m ê n c i a lírica. Esta “Noite cruel” (“a (“ a m e u irmão Henriq ue”):

 

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Morrer... morrer... morrer... Fechar n a terra os olhos A t u do d o 0 q u e s e a m a , a tudo o q u e s e adora; E nt nica m a i s ouvir a m ú s ic a sonora Da i lusão a c a n t a r d a vida n o s refolhos...

Sentir o coraç coração ão ferireri r-se se nos escolhos hor a De tor me ntos o m a r , - pobre vaga q u e c ho E n o a r r a n c o fi n a l d a derradeira hora, Soluçando m o r r e r n t u n o c e a n o d e abrolhos.

N e m a o m e n o s beijar - ó s up rem r em o d es g os o s to A m ã o doce e fi e l q u e n o s e n x u ga ga o rosto éu s u s pen p en s o d e ur n a Cruz... Mostrando-nos o C éu E perguntar a D e u s n a a go go n ia ia e n a s t r e v a s ; Onde fica, Senhor, a terra a q u e n os o s levas, C o m a s mãos postas n o seio e os dois olhos s e m luz?

S e u livro inseparável é a I mitaç ao d e Cristo. .-

Q u a n d o m e u p o b r e coração doente. Cheio d e mágoas, desolado e aflito, Sinto bater d e s c o m p a s s a d a m e n t e ,

Abro este livro então: leio e me di to.

Viaja para Macaíba. Passa u m a s s e m a n a s e m Natal, es p alh ando versos. L e v a m - n a para u m a c a s a e m B a r r o V e r m e l h o , ar r edo r es d a cidade, r e c a n t o imóvel, d e g ran d es á r v or o r e s d e c o r a ttii v a s , velho pouso b o ê m i o d e fe sstt a s d o t e m p o d o I m péri pério, o, o n d e Lourival A ç u c e n a c a n t a r a e os g ra n d e s v io i o llõõ e s e s p a llhh a v a m a s solfas q u e viviam n a m e m ó r i a d e todos. Auta escreve se m pre . “Falando a o coração”, ofeà uta, s u a ami recido ga a poetisa Generosa agonia-l ago nia-luta, de spedindo-se, e a m a n d o Pinheiro, a i n d a : r e s u m e s u a agonia, '

 

 

N ã o vês? Minh'alma é c o m o a p e n a b r an an c a Q u e o v e n t o a m i g o d a poeira a r r a n c a E v a i c o m e llaa a s s iii i n , d e r a m o e m r a m o , i n hhoo gentil d e gaturamo... Para u m n in L e v a - m e , ó coração, c o m o esta pena, D e d o r e m dor, a t é a pa z s er en a.

H e n r i q u e Castr ician o julgava d o Alto d a Saudade, c o n s e q u e n t e m e n t e d e 1899, este “ A o c a i r d a noite”, i m a g e m d a doçura d a s tar des d e estio e n o es t ad o d e resignação m e r e n c ó r i a d e A u t a , t r a n q u r l i z a dora e se r e n a . N ão s e i q u e p a z i m e n s a

Envolve a N atrueza, Ness'hora d e tristeza, De d o r e d e pesar, M in i n h ''aa llm m a , r in in d o , p e n s a Q u e a s o m b r a é r u n gr a nde v é u Q u e a Virgem traz d o C éu N u m raio d e luar. E u junto a s m ã o s , s er en a,

contrita, u r m u r a rbendita AA m saudação D o A n j o d o Senhor; Enquanto a lu a plena N o A z u l f o r m o s a e casta, Um longo m a n t o a r r a s ta De lúrído esplendor.

 

Minhas s a u d a d e s todas S e v ã o m u d a n d o e m as tr o s . . . A m á g o a vai d e ra s tro s Morrer n a e s c u r i d ã o . . . A s amargrtras doudas F o g e m como u m lamento L o n ge ge d o p e n s a m e n t o Longe d o c o r a ç ã o . E a noite desce, desce C o m o u m soniso doce, Q u e e m s on o n ho h o desfolhou-se N a v o z cheia d e ainor, Da m ã e q u e e n si s i n a a Prece

A o filho pequenino, De olhar meigo e divino E lábio aberto e m flor.

A h C o m o a Noite encanta Parece r u n Santuário, C o m o lindo alampadário De estrelas q u e e la t e m

Recorda-me a lu z s a n t a , Imacrrlada e pura, D a grande noite escura D o olhar d e m i n h a Mãe O Noite e m b a l s a m a d a De c a s t a s ambrosias... N o m a r d a s ha r moni a s

M e u s e r deix deixaa boi oiar, ar,

Afasta, Ó Noite a m a d a , A dúvida e o receio, E m b ala- m e n o seio

E d e i xa xa - m e s o n ha ha r  

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NE S S E ' 1899, H . Castriciano publicou o p o e m a “Mãe”, prefácio d e 01flV0 BÍ1flC, impresso n a tipografia d e A República. A u t a fe z a e s c o lha ÕÊÍÍHÍÍÍVH C Í O S p o e m a s e r e m e t e u o original d o Horto à s m ã o s d o irmão Eloy, agora residente n o R i o d e Janeiro, d e s d e 1897 d e p u t a d o f e d e r a l . Ol a v o Bilac faria também o prefácio d o Horto, a i n d i ca ç ã o m a i s desn desnort orteant eante e entre entre o s dois t e m p e r a m e n t o s . Auta a pe p e n a s a c e ii-tou a s u g e s t ã o insistente d o irmão Henrique. Eloy d e Souza foi o porta por tado dorr cuidad cuidados oso o para para B i l a c , d e quem e r a a m i g o pessoal.

E m outubro d e 1899, Bilac d e v o l v e u o s originais c o m o prefácio marulhento que Jackson d e Figueiredo diria “inqualificável”. Eloy residia n o G r a n d e Hotel d a Lapa e s e u qua rto e r a freqüentado pelos d e p u t a d os d e todos o s p a r ttii d o s . U m d o s c o m p a n h e i r o s d a C â m a r a m a i s assíduos e r a d e p u ta i o G rraa n ddee d o Sul, Artur Pinto d a t a d o p e lo l o R io

Rocha, q u e e s t u d a r a e m C o i m b r a , poeta, ensaísta, h o m e m d e jornal. Pint o d a R o c h a d e p a r o u o s originais d o Horto e levou-os para ler. A o entregá-los a Eloy, a n o t a r a , c a r i n h o s a m e n t e , a m a i o r parte d o v o l u m e . R e c u p e r a n d o s e u livro, A u t a at en d eu, e m b o a proporção, a os r epar os d e Pinto d a R o c h a q ue, d e s s a m a n e i r a , fo i o primeiro e ú n i c o c e n s o r d e um livro d e v ers o s d o N o rd es t e.

A tipografia d e A R e p úúbb l i c a c o m e ç o u a c o m p o r . O G r ê m i o Polimático, d e q u e e r a órgão a Re v i st a d o R i o G r a n d e d o Norte, fe z q ue u e s ttãã o d e q u e Horto figuras s e c om o m o p e rtr t e n c e n d o à s u a biblioteca. Hen r iq ue C a s t r iicc i a n o a ju j u d o u n a revisão. E r a um d o s piores revisores.

A 20 d e junho d e 19 1900 0 , o Horto circulou. Auta estava e m Natal, e m B a r r o V e r m e l h o . Foi-lhe e n v i a d o u m exemplar p o r u m “próprio” a cavalo. L e m b r a n ç a d o auxiliar J o s é Ma ri a n o Pinto ( 1 8 7 4 - 1 9 3 8 ) . Auta desfez o envólucro. Olhou o s e u livro. Disse, alto, c o m o n u m c e r i m o nial, o título Horto Depois apertou-o n o coração. m a sd,ecuomm ao 2 gpáginas, b a, ntar az l e iiaasimples, m a brolivro ch u ra n e n hEur am uoutro n ordte-r tee-r2 3iioo-g r an d e n se a história

 

98

a l m a convulsa d e a m o r e d e piedade, a m o r esparso para todos o s e n t e s , piedade q u e s e cristalizara n a perfeição d o equilíbrio, serena e triste.

N o e s asi, p o r vent ura, toda serenidad?, perguntava A m a d o Nervo.

 

V

... não era u m a profissional, porque a n t e s d e t u d o lh lhee faltava a perfeição d a técnica, q u e s ó tuna forte cultura pode proporcionar. Nestor Wctor Auta d e Souza viveu e m pl eno domínio d o Cul t ural is mo. N ã o e r a a int el igênc ia, co com m s u a s v a cila çõ e s geniais, a b r i n d o c a m i n h o , tatea n do , o r i e n t a d a pela sugestão m i s t e r i o s a d a intuição, o v i v a e m s i, o f e n ô m e n o intelectual q u e i m p r e s s i o n a v a exegetas e críticos. O essenc i a l indispensável e r a o conhecimento q u e a leitura capitalizara, s ú m u l a d e experiências e m e n s a g e n s q u e podiam p e r f e i t a m e n t e

i n d e p e n d e r d a s di sposi çõ es pessoais d o le i to t o r , t r a z e n d o para s u a percepção unicamente a s i m a g e n s d e a t i v i d a d e s s e m e l h a n t e s o u paralelas, s e m c ont at o, s e m influência, s e m projeção. O d o g m a e r a

s a be be rr-- s e a técnica. D e c o m o vestiam a s m u s a s . D e n t r o d o v e s t i d o e s ta v a a p o e s iiaa , m a s n ão ã o i n te t e rree s sa s a v a sen tir - se a palpitação, n u a e cálida, d a c r ia i a çã ç ã o in d e pe n d e n te . Muito depoi s é q u e a e s s ê n c i a poética ser ia e s s e n c i a l e n ã o a apresentação. E m 1918 é q u e M a n u e l B a n d e iri r a g r a v a rrii a n o friso d o

“Oss sapos a s á tit i r a i n o llvidá “O vidá ve l: C l a m e a saparia

E m criticas céticas: N ã o h á m a i s poesia M a s h á artes poéticas...

 

1 00

E r a q u a n d o “sabia-se” d a inspiração d o s poetas d a Inglaterra le n d o --ss e , n ã o os seu s p o e m a s, m a s o Books which have i n fl u e n c e d m e . A beleza tinha proporções estáticas e linhas i n t r a n s p o n í v e i s , c o m o c a n ta t a v a A m é d ééee P o m m i e r , falando d a saia-balão: La f e mi ne d e v i e n t Yaccessoire, La robe e s t tout, la fe m m e r i e n ;

A técnica, c o m o espartilho d e ferro, p a d r o n i z a v a o s bustos, u n i f i c a n d o saliências e a lil i s a n d o c o n ttoo r n ooss . O i n d i s p e n s á v e l e r a a “ m e d i d a ” . Disciplina, c a d ê n c i a , inflexível a c e n t o q u e a tudo valorizava pela audiçao. N ã o e r a b e m  o u v i r , m a s s aabb e r “contar” s í l a b a s . R e g r a s imóveis, n or o r m a s , m o d eello s , c oom m o q u e m “prova” um v e s t i d o o u m e d e u m a candidata a Miss. O poeta tinha o cuidado d e indicar livros, caminhos alheios, soluções e st ra n ha s. N e n h u m a flor tinha o direito a o perfume a n t e s d a classificação binomínal d e Lineu.

rs )

A cu ltu ra é f e n ô m e n o i n t e i r a m e n t e di ver s o d a criação poética. b fi à e m z â o s Havia, c o m o u m a superstição t e i m o s a a o cientificismo d o século XIX, a d e p e n d ê n c i a fatal e n t r e espírito e f o r m a , e esta, c o m o n a História N a t u r a l,l, fo rn r n e c ia i a a s “ p e r m a n e n t e s ” m a t e r i a i s d a classificação.-Cada poeta e r a obrigado a possuir feição i m u t á v e l e m s u a poesia e alinhar-se, s u b m i s s a m e n t e , n u m a fila d e e n t i d a d e s e n q u a d r a d a s m e n c la la tu t u ra r a . E produzir n o s p a d r õõee s e s ttaa bbee le d e n t r o d e u m a n oom le cidos s o b p e n a d e n ã o s e r um p o e ta t a , m a s um e n t e d e s e n c a r n a d o , o a n d o e n ttrr e p a ssa re i ra s e s e m c a b e r o u r e c e bbee r abrigo e m infixo, v oa n e n h u m a , e s pe pe rn r n e a n ddoo n o astral. 'A cultura n ã o e r a um auxílio, m a s constituía, n a s u a participação, o cerimonial para a s e r v i d ã o literária. Tinha d e o b e d e c e r a o s m o d e lo lo s . V e s t irir -s -s e d e a c o r d o c o m o figurino d e s u a classe. Era, noutro c a m p o , a guerra contra o chap é u d o Chile, d e Oswaldo Cruz, e a crítica feita a o ministro d a Justiça

 

U n r v e r s l d a d e F e d e r a l d o R io G r a n d e d o - N o r t e BIBLIOTECA CENTRAL 'ZILA M A M E D E ' 1 01

T a v a r e s d e Lyra. p 0r 0 r q u e a u t o rrii z a r a a os funcionários a presença c o m t raj rajes es c laro l aro s , a i n d a e m 1907.

D a í a confissão p r e c a v i d a d e H . C as tr i c i ano , t ã o a d m i r a d o r e a m Í g ° daÍ1`mã› a pr p r e s s a n d oo-- s e e m informar d e s u a cultura reduzida, c o m o s e Horto n ã o fosse suficiente para u m a bastante apresentação. A justificação d a a s a é o vôo. Na q u e l e t e m p o e r a a espécie ornitológica.

E m Portugal, Cesário V e r d e e A n t ô n i o Nobre d i s p e n s a r a m o b a n d o para v oa r. V o a r a m sozinhos. N o B r a s iill, esse a t r e v i m e n t o n a s c e u m u i t í s s i m o depois. d ê n c iiaa d o hemistíquio. Auta contava a s sílabas e e s p r e i t a v a a c a dê

Podia falhar, m a s e r a r e s p e i t o s a m e n t e u m a a l u n a aplicada e séria.

N e n h u m crítico d o Horto, n a época d e suas p r i m e i r a s edições, ressaltou a valorização lírica, a energia tranqüi la, a d e lil i ca d e za v e rba ll,,

d a q u e l a mocinha d e 2 4 a n o s , e s c r e v e n d o v e r s o s n a província d o R i o G r a n d e d o N orte, o n d e , c o m o diria o poeta Iorge F e r n a n d e s , “a lu z elétrica d o m e u t e m p o vinha c o m a L u a Cheial”.

H. C a s t r i c i a n o , q u e tanto c o n h e c e r a a i r m ã , c o n c e d e depoim e n t o , escr ito e m Paris, 4 d e agosto d e 1 9 1 0 , n a  Nota , t ã o en s o p ad a d e t e r n uurr a , e m q u e e v o c a a poetisa m o r t a h á n o v e anos. N ã o t e v e cultura literária vasta. R e c o r d a n d o c e n a s d a m e n i n i c e , vejo-a neste m o m e n t o , a os oito anos, cu i v a d a sobre a s páginas d a lo s M a gn g n o , outrora m u i t o popular n a s História d e C a r lo fa zzee n d a s d o N oorr te te , livro cheio d e façanhas inverossím e i s , s e m m e d i d a , s e m arte, escrito n o pior d os estilos, m a s delicioso p a r a q ue u e m o conheceu n a infância.

Lia-o Au t a n o campo, o s olhos in g e n u a m e n te m a r a vilhad os, para o m a i s i ngê nuo d o s auditórios, composto d e mulheres d o povo e d e velhos escravos,

 

todos lilhos d e s s e formoso s e r t ã o q u e e x e r c e u e m s e u espírito t ã o salutar influência. D e p o i s , c h e g o u a v e z d a s Primaveras, d e Casimiro d e Abreu.

U m po uco m ai aiss t a r d e , n o c o l é g i o , n ão le u outra coisa q u e o s compêndios d e estudo e a s o bras de prêmio, d e feição religiosa e sentimental.

foii u m r o m a nc e N e s s e tempo, o s e u livro predileto fo profundamente triste, Tebsima, episódio d a primeira Cruzada. A o sair d o intemato, o n d e a pr p r e n d e ra r a b e m a s linguas francesa e inglesa e adquirira b o a s n o çõ çõ e s d e m ú s ic a e de desenho desenho , começou a le r alguns autores brasileiros, especial especi alm m ente Gonçal Gonçalves ves D i as e Luís Murat. Estes dois grandes sonhadores, porém, n ã o tiver a m ação decisi decisiva va sobre sobre s e u espí espíririto to.. Não s e i m e s m o c o m o e l a , q u e detestava a feitura clássica d e certos e s tilos, podia le r c o m satisfação crescente o poeta d o s T iim m b i r a s. s . N u n c a m e explicou também o m o t iv o p o r q u e o s versos tumultuosos d e Luís M u r a t constituíam v e rd r d a d e irir o e n c an a n to t o p a rraa a s u a alm a tã tãoo meiga, t ã o

cheia d e religiosa t e m u r a . N o s últimos anos, a s h o r a s q ue u e podia dispensar a o convívio d o s au to to r es , c on o n s agr ag r av a-as a- as a os místicos, a Thomas d e Kempis, a Lam ar tin e, a S a n ta ta T e re re s a d e J e s u s . A estes associava Mar c o Aurélio, cujos Pensamentos m u i t o concorreram para a u m e n t a r a tolerância e a s im i m p a ttii a c oom m q u e e n ca c a ra r a va v a os se r e s e a s coisas. T a l é a história d a s u a formação intelectual.

 

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N 0 H0rt0, h á p ou ca s citações: H. Castriciano, duas vezes Luís Mllfflfi du a s Vezes L a m a r t i n e , I. Estáquio d e A ze z e v e d o , G o n ççaa llvv e s C f € 5 P 0 › García R9Cl0I1d0, Santa T er e r e ssaa d e Ie ssuu ss,, Castro Alves ( 0 trec ho final d a  [)ed¡¢ató¡ia , d g E s p u m a s Plutuantes) e m e s m o G u e r r a Junqueiro, n o d e D. Ioão :

“Morte

O m ã e s q u e ten d es filh filh os o s , m ã e s piedosas Q u a n d o eles m o r r e r e m criancinhas, etc.

N o p o e m a  M a r , h a v i a u m a d e Tobias B arret o : “A m o r t e é bela n a m a n h ã d a vid a” , q u e A u t a n ã o c o n s e r v o u . M as a s le rraa , e v i d e n t e noites es . C a s t r i c i a n o e s qu m ent e, “Dias e noit q u eecc e u q uuee Fagundes Varela, Junqueira Freire e Álvar es d e A z e v e d o foram conhecidos. Muito Iosé d e Alencar, Joaquim d e RaulPompéia. o ealcdhe aMd aocde ed oA se ssioƒlteneu, N ã o e n c o n t r e i ras t roMdaen M i s q u ee,, d iigg a -s - s e a v e r da de , n u n c a consti tu i u leitura r e g u l a r n as a s m o ççaa s e rapazes d e outrora. la v o B i la c , s e u prefaciador, Alberto d e Oliveira, Indubitavelmente, O la Guimarães Passos e outros foram leituras e m revistas literárias q u e Henrique recebia o u Eloy d e Souza m a n d a v a d o R io d e Ianeiro. N ão é possível q ue u e d e s c oonn hhee c e s s e V i c t o r Hugo e talvez Musset. D o s portug u e s e s , pela velha livraria d o i r m ã o , sabia d e Ioão d e Deus, Soares d e P a s s o s , Bulhão Pato. T er i a e n c o n t r a d o os sonetos d e A n t e r o d e

Quental? Ignoraria o   S ó , d e A n t ô n i o N o br br e , n a e d iç i ç ã o lisboeta d e 1 8 9 8 ? Sabemos q u e A u t a d e S o u zzaa lia d i a r i a m e n t e e n ã o se ri a m os m esm o s livros, e x c e t u a n d o a “I “Im m ititaa ção” e os Evangelhos.

Esses n o m e s determinariam o Horto? E x p l i c a m - n o ? F u n d a m e n t a m o q u e A u t a e n t e n d i a c o m o expressão, ritm o , técnica? Dirigiram, o r ie ie n t a ra r a m , e d u c a ra r a m a poetisa? V i s i v e l m e n t e não. S e Auta tivesse lido o s simbolistas franceses modificaria s u a m a n e irir a d e s e n t i r e fazer versos? Os n o m e s c om o m m a iiúú s c u la la s aparec e m n o Horto, d a n d o f o r ç a à presença s ub s tanc i al d o vocábulo, Azul,

 

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l a n col colii a . .... Te ririaa m m a i o r n ú m e r o . Creio E 5 P a Ç 0 › N O I Í G , Coração, M e la que somente.

Fazer versos e e sp e ci a l me n t e publicá-los era, a in i n d aa,, e m 1900, um atestado d e p er s o nali dade. N a p e q u e n i n a provínc ia d o R i o G r a n d e d o Norte, A u t a n ã o estava sozinha. Oásis e A Tr ibun a divulg a m dezenas d e p o e m a s f e m i n i n o s , c o n c o r r e n d o n o m e s m o plano d e no to r i edade. Ge n e r o sa P in i n h e i rroo , C a r o llii n a N a n n i n g u e r , Maria Carolina Caldas Wa n d e rl e y e A n a L i m a e r a m a s m a i s a s síduas. Para A uta de So Souz uza, a, i a m a s h o m e n g e n s d o p r i m e i r o plano. P e r t e n c i a a todas a s associações. F r a n c i s c o P a l m a (1875-1953) d e n o m i n a r a - a , num so net o “A u ta d e Souz Souzaa , (A T r i b u n a , n . 1 4 , d e 8 d e n o v e m b r o d e 1898),   a cotovia m í s t i c a d a s r i m a s ” . O n o m e tivera rep ercussã o , e m b o r a j a m a i s c i t a s s e m a autoria d o poeta. Gil P i m p ã o (E zequiel Lins W a n d e r l e y , 1872-1933), emA T r i b u n a (n . 2 2 , d e 1 9 d e m a r ç o d e 1899), r e c e n s e a n d o “ O s Poetas d a I m p r e n s a Poti Potiguar guar , c o m e ç a a série: A U T A DE SOUZA - t u pr i ma s Pelo invejável talento, ó coto v ia d a s r i m a s ó águia d o p e n s a m e n to to

T u é s d'um c éu d e alabastro O m a i s de s l u mbr a nte astro, N a pátria d e Miguelinho, Q u a n d o a lira t u a cant a P e n s o trinar a garganta D'inspirado passarinho

E m N a t a l , n o Recife, e m M a c a ííbb a , Au t a p o ssuía L u n i m e n s o grupo d e am i g as fervorosas, diárias n a c o m p a n h i a , c i u m e n t a s d o convívio. E r a m a s primeiras m o ç a s d a s famílias ilustres. C r i a r a - s e num colégio gi o d e p r i m e i r a classe. O i r m ã o e r a d e p u t a d o federal. Todos os chefes

d o E s ta t a d o beijavam-lhe a m ã o r e v e re r e n ttee s . P e d r o Velho dizia-se s e u

 

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P a l e m - A °°f jamais determinaria a mais longínqua restrição a o a m b i e n t e C ‹ 1 1 0 1 '0' 0 S 0 E m q u e v i v e u . N e m m e s m o a o q u e p a re re c e A u t a o   Í A . sentiudlstancla entre a s p e s s o a s d e s u a e s t i m a , o s p o e t a s , e s c r i t o r e s , J0l'I1‹'=111SÍ3S, politicos, todos u n â n i m e s n o s e u louvor. filha , a r a a s primeiras d am a mo ar as .mAa té tiés idmopn oa nNila, E m d o“minha s e n a d or o r P e d rroop Velho, q u e e r a a s enh esposa ente d e todo o Estado, a d e m a i s difícil acesso, g u a r d a v a para A u t a o privilégio d e um d o s r a r o s sorrisos acolhedores. Do na Alexandrina B a r r e t o F e r r e i r a C h a v e s , c a s a d a c o m o des. Ioaqu i m Fer r ei r a Chaves, então g o v e r n a d o r , e r a a p a i x o n a d a pela poetisa. T ã o ap ai xo nada q u e chegou, num a n i v e r s á r i o d e A u t a , a presentear-lhe seis passar in hos d a s u a c o le le ç ããoo s e m fim. Do na A l e x a n d r i n a e r a a minha madrinha d e batismo, madrinha d e v e l a , e c o n t o u - m e o episódio q u e di vu lgu ei .

A uta a g r a d e c e u muito, escolheu seis pássaros e , a b r i n d o a portinha d a s gaiolas, libertou-os. Minha madrinha ficou desolada, m a s n u n c a r a q u e desse u m a d e suas aves, e s q u e c e u d e c o n t a r o gesto d e A u t a . P a ra e r a pre ciso um amor q u a s e s o b r e n a t u r a l . Todos a q u e l e s q u e a c o n h e c e r a m e v o c a m a i n t e lil i g ê n c i a p r oonn t a e a c o n v e r s a ç ã o v a r i a d a , brilhante, fácil, d e sp re t e n si osa , c o r r e n t e , e n v ol v e n t e .

A u t a tinha o pudor d a mol é s t ia. À s a m i g a s e pessoas d e s u a s relações, n ã o s e q u e i x a v a . . N ã o lamuriava. Po uc as fra se s sobre o e s ta do atual d a s a ú d e . N a d a m a is i s . P r e ffee r iiaa narrar a s longas jornad a s a c avalo , c o m d e s c a n s o s e “ a r r a n c h o s ” n o m e i o - d i a e n s o l a r a d o . Auta m o n t a v a e s p l e n d i d a m e n t e . E r a “ u m a a m a z o n a ” , g ar an te- me m o sa b e m o s, n o R i o G r a n d e d o s e u i r m ã o Eloy d e Souza, q u e fo i , c oom N orte, u m Mari alv a. G u a r d o u a feminidade típica d a m o ç a brasileira d o t e m p o p a ssado. T in h a m e d o d e trovão, d e relâmpago, d e rato, d e baratavoadora, d e borboleta n e g r a . Minha m ã e , q u e foi s u a a m i g a , e n c o n t r a v a - a à s r o V e r m e llhh o , vezes a jo j o e lh l h a d a e m cima d a c a m a , n a c as i n h a d o B a r ro

 

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receos 2 1 d e baratas e d e c a m u n do n g o s . Estava rezando, contrita, . m as . . . . o r a d o olho ' i- av a a possibilidade olho vig vigi d o s ap arec i. m en t o s fortuttos. Religiosa, a mi g a d o terço, d a c o m u n h ã o freqüente, d e orações pledosas, tinha o sentido d a súplica, o e m b e v e c i m e n t o q u e orçava a o extase. Suas orações e r a m longas e m a i s 'de m o r a v a m a s meditações, olhar vago e lábios sussurrantes, n a comu n i ca çã o inefável. '

De s u a i n d e p e n d ê n ci a m e n t a l , resta-nos u m fa to q u e m e fo i n a r ra d o pelo s e u i r m ã o H. Castriciano. Os “literatos” d e N a t a l e n v i a r a m moções d e solidariedade e protesto a Emile Zola, p ro c es s ad o n a questão Dreyfus. A ut a, dizia-me Henrique, e s p o n t a n e a m e n t e d era s u a as s i n at ura. L i u m a dessas moções, a d o C oonn ggrr e sso Literário e m m a r ç o d e 1898. N ã o consta o n o m e d e A uta q u e p o d iiaa t e r figurado numa o u t r a . Dreyfus e r a j u d e u e Zola pe r s ona n o n grata p a r a a S a n t a Sé.

L e r G u e r r a Iunqueiro já e r a um uma a atitude d e independência f e m i n i n a . “A Morte d e D. Ioão” é j u s t a m e n t e u m d o s p o e m a s m a i s a ud u d a ze ze s e m linguagem. Auta cita-lhe versos, n o s e u p o e m a  Sílvio , con sol a n d o u m a m ã e pela m o r t e d o p e q u e n i n o filho. Sabia magoar-se,reagir, repelir. Os dois sonetos “Never m o r e ” (“A (“ A u m a falsa a m i g a ) - publicados e m A Tribuna, n . 1 0 , d e 1 2 d e s e t e m b r o d e 1899 - m o s t r a m essa repulsa, fixada e m versos q u e e r a m , para ela, a f o r m a instintiva d a expressão.

E m A Tribuna (1899-1900), u sou d e p se u d õn i mos, Id a Salucio e Hilário d a s N e v e s , que, e m m ã o psicanalítica, d a r i a m r e n d i m e n t o imprevisto.

C o m e ç a e f i nda u m a pesquisa pelo a m b i e n t e f a m i l i ar. Todos e s c r e v i a m v e r s o s n a i r m a n d a d e . Irineu e r a poeta a os 1 2 a n o s e Hen r iq ue divulgou s e u p r i m e i r o livro d e p o e m a s a os 1 8 , já rebelado, p e s s i m i s t a , e n s o p a d o d a fatalidade e m b r i a g a d o r a d e s u a geração. Eloy, v o c a c i o n a l m e n t e político, publicou e m A República m u i t o s e

bons sonetos, o q u e d ev i a es c andali z ar os correligionários gr a v e s d o

 

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i o poetava e tocava piano. D i n d i n h a , s e n a d o r P e d r o V e l h o . I o ããoo C â n c io 0 0 1 1 1 Sell b0ITl Senso a d m i r á v e l , n u n c a p u se ra ob obst st áácu cu llos os à s e x p a n sões d o s netos. A n t e s f i c a v a o rrgg u lh lh o s a deles e dela. A partir d e 1 8 9 7 , Eloy é d e pu p u ta t a d o f e d e r a l e fica n o R i o d e Janeiro. V e m a o Estado n a s “ fé r ia o m p r e e n sHíívveenlr ipqaurea, oosleparlaia satuais, p a r llaa mp ee nr pt aerteusa”m, efrase IDBIIÍHIBS n t e eimn c trabalho. tra do profissional d a família, freqüente colaborador d e revistas e jornais, lhee e n c o n t r o i n fl u ê n c i a . é o c o m p a n h e i r o d a irmã poetisa. M a s n ããoo lh B e m n o v o montou o c a v a l o d e p a u evolucionista e nele sobrevoou o hipermundo d a im a gina çã o , p i n t a n d o - a d e negro, ru b ro e ouro. T a m b é m t uberc ul os o, q u e s e c u r o u r e s p i r a n d o os ares d e Angicos, H e n r i q u e , a o contrário d a resignação d e A ut a, desesperou-se e r e a g i u , d e s c r e n d o , d e s p o v o a n d o o c éu d o s anjos e santos q u e e n c h i a m o firmamento infantil, c o n f i d e n c i a d o pela v o z m a n s a d e D i n d i n h a . E m n a d a alterou a fé o b stina da e tranqüila d a i r m ã . N e m m e s m o lh e incutiu o gosto pelas leituras m a c i a s , dissolventes e a gr g r a ddáá v e isi s d o r o m a n c e f r a n c ê s . A u t a escolhera, abrira e seguira s e u c a m i n h o , a té a morte.

D e tudo q u a n t o é possível de duzir, l e n d o Horto e o u v i n d o a s am i g as d e A u t a , r e v e n d o seus originais n ã o totalmen te aproveitados, é q u e a cultura d a poetisa e r a b e m m a i o r d o q u e p a re ce ra a o irm ã o . E n ã o havia d e s e r f u n d a m e n t o para u m a ob obra ra feit eitaa d e sensibilidade e t e r n u r a , s o f r i m e n t o e m e l a n c o l i a , c o m a s a u d a d e d a te rra e a n o s -

talgia d o céu.

Q u a n d o e u morrer, v o u assim: Sustendo m e u coração... S a u ddaa d e d a terra? Sim Saudade d a vida? Não

 

VI

L e m o n d e e s t fait ainsi: lo i s u p r ê m e e t fu n e s t e C o m m e l'om bre d'un songe a u bout d e p e u d'instants, C e q u i c h a r m e s'en v a , c e q u i fait peine reste: La rose vit u n e heure e t le cyp cy p rès c e n t ans. Théophile Gautier A s s i m , n ã o m o r r e r e i , p o r q u e sofri

O la v o B i l a c

E m 1899, A u t a d e Souza v iv i v e u o u ttrr o m o m e n t o d e p o e sia sia . E scr scree v e u i n t e n s a m e n t e . Muitos p o e m a s d e s a p a r e c e r a m e m cópias. O v o l u m e d o H or o r to t o c o m p leto uu-ss e d e f i n i t i v a m e n t e . N a última hora, a i n d a A u t a c o n s e r v a v a o título d e Dhalias. Substituiu o doce n o m e floral pela a m a r gguu r a e v a n g é li c a . N e s s e a n o , b e m p o s s i velm ente, plantou n o q u i n t a l d a c a s a e m M a c a í b a o s e u ja s m i n e i r oo,, ja s m i n e i r oo-- la r a n ja , o “ j a s m i n e i r o d e Auta”, hoje i m e n s a fronde, copada e d e n s a q u e s e cobre d a n e v e olorosa d a s fl or es incontáveis.” Deixaria, vivos, o livro e a árvore.

A s associações literárias d isputavam- lhe colaboração. A Tribuna, órgão d o Congresso Literário, publicou a r evista n . 1 0 , j u s t a m e n t e n o ani ver s ár i o d a poetisa, 1 2 d e s e t e m b r o , a b r i n d o a primeira página n u m a saudação c a r i n h o s a e laudatória. “Auta d e Souza é u m a a r ttii s ta ta s i n g u l a r m e n t e d o t a d a ; e o s e u n o m e , hoje n a c i o n a l , at rav es s ará , cada v e z m a iiss a pplla u d iidd o , a s gerações po rv indo ura s . A s s i n a v a Z . A .,

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M u r r a y a exotica L.

 

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Zeferino A r r u d a , p s e u d ô n i m o d e A lb l b e r ttoo M a r a n h ããoo (1872-1944), stado ado.. E s s e e r a o clima. Ninguém lh e d is i s pu pu governador eleito do E st tava o título d e “ p r i m e i r a poetisa” e p r i m e i r a n a fila d o s m a i o r e s provincianos. Alguns a diziam o prim e iro tal talen en to po poéé tico tico d o Estado. Seus versos e r a m transcritos, d ec l am ad o s n a s festas, c an t ad o s n a s serenatas e m e s m o n a s igrejas, c o m o louvores a Nossa Senhora. A saúde fazia-a peregrinar d e Macaíba para o Alto d a Saudade e íbaa e u m b r e v e sa lltt o a Natal. d a í p a ra M a ca íb N e n h u m a alteração d e s u a alegria composta, c o m uni c ab i li dade espontânea, graças simples e a c o lh lh e do rraa . Ap e n a s o sofrimento, filtrado pela oração, pela renúncia e p e llaa o bs b s t iinn a ç ã o sublimadora à fisionomia m o r e n a u m a gravidade meiga e triste d e c o n dera-lhe formação inalterável.

V e m p a r a N a t a l e m 1 9 00 00.. Fica e m B a r r o V e r m e l h o , m a s visita a s a m i g a s , e s c r e v e n d o e r e ce b e n d o cartas, fiel a os versos. E m 20 d e junho, o Horto ci r cu lo u .

E m setembro, Auta está u m a s s e m a n a s e m M a c a íb íb a . O d e s . Luís T avares d e Lyra encontrou-a, ce r ca d a d e amigas, c u r v a d a n o parapeito d a ponte, olhando a s águas do Iundiaí. Lembrou-a q u e e r a 1 2 d e s e t e m b r o , s e u aniversário. A s a m i g a s s u g e r i r a m um  ass u st ado , b e m i m p r o vi s ado e legítimo. Luís Lyra fo foii c o n v i d a r os rapazes e a r r a n j a r a m ú s i c a . A s m o ç a s ar r eb anh ar am a s colegas i n um erá v ei s . Dindinh a , c o m u m batalhão d e servas voluntárias, bateu ovos e m e x e u bolos, e n c h e n d o a m e s a à s 8 horas, à lu z d o s c a n de e ir o s familiares. A s d a n ça s foram divertidas, valsas, polcas, schottischs, c o m a s inevitáveis quadrilhas imper iais. Ceia e depois versos e m e s m o m o d i n h a s e cançonetas c ô m i c a s q u e já n ã o fazem rir, e e r a m i r rree s i s ttíí v e i s . Para findar, u m a quadrilha s e m f i m , t e r m i n a n d o a quinta parte p o r u m a polca b e m puxada e sacudideira. Seria um último a ni v e r s á r i o ; o d e r r a d e i r o “ a s s u s t a d o ” e m q u e

dançaria.

 

111

E m outubro, volta a Natal. A o redor d e Auta, h o u v e s e m p r e s i m p a t i a , c o m p r e e n s ã o , q u a s e orgulho. N u n c a sofreu o s c o n t r a c h e q u e s d a inveja. Os i rmã os, espec i alm ente Eloy d e S ou o u zzaa , e r a m p o lílí t i c o s , c o m b a t e n d o e combatidos. N u n c a p a s s oouu pela cabeça d e um adver s ár i o ferir o deputado feder a l diminuindo o valor poético d a irmã. O e n c a n to t o m e iigg o d a m o ç a tuberculosa e r a um m a n s o e p e r m a n e n t e d o m í n i o em o c i o nal. S u a saúde e r a objeto d e c u r i o s i d a d e ap i ed ad a. Inimigos políticos d e Eloy d e t i n h a m - n o p a r a perguntar pelo e s ta ta d o d a poetisa. A u t a e r a u m vértice d e ângulo, o n d e s e encontravam t o d a s a s ternuras d e s i n t e r e s s a d a s e c l a r a s . E la s e n t i a profundamente o a m b i e n t e sentimental q u e a c e r c a v a . P o r isso, a f i r m a v a n ã o t e r s a u d a d e s d a v i d a e s i m d a

terra, d a s c r i a t u r a s h u m a n a s q u e t a n t o a q u e r i a m . N ã o c o nh eç o versos d e s s e 1900, m a s n ã o é possível t e r d e i x a d o d e escrevê-los. N o fim d o a nnoo , h á piora sensível, a l a r m a n t e , assustadora, s a c u d i n d o Dindinha n u m a o n d a d e pavor.

R e si s i d ia ia m n a R u a o u T r a v e s s a Dou tor B a r a t a , tre ch o d a a t u a l A v e n i d a R io B r a n c o n o s e u final. Os m u r o s d a Vila B a r r e t o c o r t a v a m a R io B r a n c o . A c a s a e r a a m p l a . E n t r a d a pelo portão. U m terraço corria toda a f rente interior, p o r qquu e p a r a a r u a d a v a m a p e n a s a s janelas. Essa c a s a está p r e s e n t e m e n t e dividida e m d u aass r e s iidd ê n ccii a s . E r a então o n . 1 5 e n e s s e ou tu b ro d e 1958 c o r r es p o nde a os n . 4 4 1 e 445. N a d o n . 441, es t av a 0 ap o s ento o n d e A u t a faleceu. A A c a d e m i a N o rte - rio - gra nde nse d e Le tra s p ô s um uma a placa c o m e m o r a t i v a e m 1 2 d e s e t e m b r o d e 1948, oferta d e I oã oãoo Carl Carlos os d e Vasconcelos, falan d o a poetisa P a l m i r a W a n d e r l e y q u e o c u ppaa n a A c a d e m i a a c adei r a “Auta d e Souza”.

A í v i v e u A u t a s e u s últimos m e s e s . E m j a n e i r o d e 1901, e s c r e v e u “Fio partido :

 

L

Fugir à mágoa terrena E a o sonho, q u e fa z sofrer, Deixar o m u n d o s e m pena, Será m o r r er ? Fugir n e s te te a n s e io io i n fi n d o A treva d o anoitecer, B u s c a r a aur o ra r a s o rrr r in in d o , Será m o r r er ? E a o grito q u e a d o r a r r a n c a E o coração faztremer, V o a r Luna pomba branca,

Será m o r r er ? II

Lávai a p o m ba v oando. Livre, através d o s espaços... Sacode a s asas cant ando: “Quebrei m e u s laçosl”

Aqui, Q u e mn'amplidão - m e os passos? pode d eter liberta, Deixei a prisão deserta, Q u e b r e i m e u s laços Ies u s , es te te v ô o i n fi n d o H á d e a m p a r a r - m e n o s braços, E n q u a n t o e u direi, sorrindo Q u e b r e i m e u s laços

 

113

N a m a o d e F r e u d , esse p o e m a d a r i a um re síd u o r ep ugnante. O s poetas t l veram c o m a ca n çã o d o l i b e r t a m e n t o a â n s i a volitiva d e alar-se para o i n e b r i a m e n t o divino. É , r e a l m e n t e I u m traço mí stico “deixar o m u n d o s e m pena”. Nesse 1901' A n a LÍma(1882'1913) estava e m pleno idílio poético. seus V e r S ° S e m A Th-buna espelhãvflm a s graças d o s e n t i m e n t a l i s m o nesfálgíee e d e e e - M e n i n a d o A ç u , t erra d e vates, con q uistar a a capit a l d a província a i n d a n a c i d a d e se rt a n e j a , d e Qnde saíra e m 1 3 9 9 _ E r a conhecida, ci t a d a , a d m i r a d a . T i n h a p o r A u t a d e S gguu zzaa u m Culto votivo. A uta a n i m a v a - a i n s i s t e n t e m e n t e . A n a L i m a publicaria nesse m e s m o a n o o s e u único livro d e versos, Verbenas (tipografia d e A República, 1 24 p. Prefácio d e P e d r o A veli no . Biblioteca d o Congresso

Literário). m a sAcon chegaria A u t aA nn aã oLima seus 1 9 anos. “ c ohe ttoo ci vi viaaa mtodas í s tic tic aa s composições. e s ta v aa le n ors Verbenas, escreveu seus d e r r a d e i r o s versos p e n s a n d o n a m i m o s a poetisa A n a L i m a . “Luz e sombra” é d e 4 d e fevereiro d e 1901, t r ê s d iiaa s a n t e s d e Auta falecer. V a m o s seg uind o pela m e s m a estrada, E m bu s c a d a s paragens d a Ilusão; Aa h n a tranqüila para o C éu voltada,

Suspensa a lira sobre o coração. R is e eu sol soluço uço...... (Lo Louca uca s pereg peregririna na sl) E e m t o d a p a r ttee , e n f im , onde passamos, Deixo chorando os olhos d a s m e n i n a s , Deixas c a n t a n d o os pássaros n o s ramos.

Porque elas a m a m t u a v o z canora, Ó delicado sabiá d a Mata E e u lembro triste a juriti q u e chora E a v o z dorida e m lágrimas desata.

 

1 14

Go s tam d e ver-te 0 rosto d e criança, Limpo d a s névoas d e u m m a r ttíí r io io vago O lábio e m riso, d e s m a n c h a d a a trança, N o olhar sereno a candidez d o lago.

A té p e r gguu n ta t a m q u a n d o sobre a areia E m q u e t u pisas v ão nascendo r o s a s : “ B ela cri crianç ança, a, tímida s e r e i a , I r m ã d o s sonhos d a s m a n h ã s radiosas. Porqu e trilhando a terra d os caminhos, Onde o t e u passo faz fa z brotar m i l flores, Esta velhinha v a i d eix an d o espinhos E u m longo rasto d e saudade e dores?” Não lhes respondas... Pela m e s m a estrada Sigamos sempre e m busca d a Ilusão; A alma tranqüila para o C éu voltada, Suspensa a lira sobre o coração. Vam o s; desprende a doce v o z canora, Q u e e la afugenta d a tristeza o açoite; E , enquanto e le le v aass o t e u hino à aurora,

Eu v o u rezando a s orações d a noite...

A u ta, q u e passara tra n q ü i la m e n te o d i a e parte d a noite d e 6 d e fevereiro, e n t r o u e m crise à s 1 0 horas d a noite. Os irmãos cercav a m - n a . Dindinha v e l a v a n o d e se sp e r o d e s an t a q u e n ã o pode fazer o milagre ansioso. N u m a pausa d a agonia, disse, rouca, estertórica: “o padre . . . . E r a o velho vigário Ioão Maria Cavalcanti d e Brito ( 1 8 4 8 1905), haloado d a s a n t i d a d e q u e lh e d a r i a depois a cotídianidade d e u m culto popular a o d e r r e d o r d o s e u busto d e bronze.

 

115

P a dr e Io ã o Maria vei o c o m a r apid ez c o m q u e atendi a a os cham a d o s p a r o q u i a n o s . D e u a e x t r e m a - u n ç ã o . Os santos óleos n a s pálpebras, n o s o u v i d o s , n o nariz , n o s lábios, n a s m ã o s e n o s pés, veículos m a t e r i a i s q u e l e v a m a o p ec ad o . M e u Deus Pecados d e A u t a sorDe u a olhando-a, u s e g u r a nddaoviajant --llh e a me ãdoe, sp riso d eabsolvição. e d i d a . Os nguram n d e s q u e m sabeF iicoc ocaminho olhos d e A u t a n ã o refletiam pavor, m a s u m a s e r e n i d a d e triste, d e q u e m olha d o alto d a a m u r a d a os q u e f i c a m . Agora q u e a sufocação agito tou, u, r ep eti etida da s vezes, a s du a s m ã o s n o a r , a t o m a v a , s a c u d i n d o - a , agi n u m gesto d e a d e u s, s u p r i n d o pelo a c e n o a v o z q u e s e apagara para sempre. E fechou, l e n t a m e n t e , os olhos límpidos.

T i n h a 2 . 4 a n o s, 4 m e s e s e 26 d i as . U m a hora e quinze m i n u t o s d a m a n h a d e 7 d e fever eir o d e 1901. Todas a s flores d a c iidd ad a d e a c o m p a n h a r a m - n a a o C e m itério d o Alecrim.

o m o v e n ttee . D u a s A República, d e 9 d e fevereiro, registra: “ N o t a c om criadas, velh as e a l q u e b r a d a s , q u e s e r v i a m A u t a d e Souza d e sd e o s e u n a s c i m e n t o , a c o m p a n h a r a m o féretro a t é o cemitério, b a n h a d a s e m lágrirnas”. N o ce m itério , falaram P e d ro r o A v e li n o , pelo G r ê m i o Polimático. Ezequiel Wa n d e rl e y , pelo C o n g res s o L iitt e r á r iioo , M a n u e l Da n t a s porA República, Lima Filho (Galdino),pelo L e M o n d e M arc h a. O Congresso Literário d e d i c o u à poetisa u m n ú m e r o e sp e ci a l d e A Tribuna, e m 2 7 d e fe v e re iro , c o m a colaboração d e todos os e scri tores d a c i d a d e .

Oásis p r e s ttoo u h o m e n a g e m sentida, publicando grande clichê e notas cheias d e s a u d a d e , e m 1 6 d e fever eir o d e 1901. Q u a s e toda a i m p r e n s a d o norte d o B r a s i l referiu-se a o falecimento d e A u t a d e S o u z a , salientando o s méritos d a grande poetisa.

 

V II

 

E m p r a n t o e s c r e v a m sobre a m i n h a lousa. A u t a d e Souza E j a n e i r o d e 1943, estive e m Macaí ba e vis it ei n a Matriz o jazigo

d a família d e Eloy C a s t r i c i a n o d e S oouu zzaa . A p e n a s essa indicação. Ali d e v e m e s t a r o s ossos d e E lo lo y C as trtrii c i ano , falecido e m 18 18881, e d e s u a m u l h e r , H e n r i q u e t a Leopoldina, falecida e m 1879, d e A u t a , 1 9 0 1 e d e Silvina d e Paula Rod r igues, 1908, con fu sos, i r m a n a d o s , dispersos, na comunidade material da morte.

F i q u e i triste c o m o d e s t i n o d e A u t a d e Souza negar-lhe um túm ulo , um “doce abrigo”, par a o q u a l e s c r e v e r a lá p i d e n o soneto “ A o p é d o t ú m u lo l o , d a t a d o d e Mac aíb a, 6 d e outubro d e 1899 e publicado ib u n a , n . 1 2, d e 22 d o m e s m o m ê s e an o . A u t a a s s i n a r a c o m e m A T r ib s e u p s e u d ô n i m o Hilário d a s N e v e s . D e d i c a r a “Aos M eus ” . minha d e túmulo fevereirop adrea A1943, iq uei D i uermn aA” ,República, seçãoPubl “Acta u m a c r ô n i cdae, 23 “U m u t a dnea Souza”. Crônica cheia d e e n g a n o n a s d at as e o m is s õ e s , m a s c er ta q u a n t o a o sentido d o apelo e s p o n t â n e o e si n ce ro.

Au t a d e S oouu zzaa faleceu e m N a ta l à s 7:15 d a m a n h ã d e 7 d e m a i o d e 1901 [o certo é 1 , 1 5 d a m a n h ã d e 7 d e fevereiro] n a c a ssaa n . 1 5 [hoje 445, q uan d o é 4 4 1 1 , d a A v e n i d a R io B r a nc n c o o n d e residiam seus i rm ã o s E lloo y d e Souza, Henrique Castriciano e Ioão Câncio. Tinha vinte e c i n c o anos, sete m e s e s e cinco dias d e idade

[tinha r e a l m e n te 2 4 ano anos, s, 4 m e s e s e 26 dias].

 

Sepultou-se n a t a rd r d e d o m e s m o d iia. a. P ed ro r o Velho beijou-lhe a face m o r t a , cobrindo-a d e lírios. Falaram n o cemitério G a l d i n o L i m a , P ed ro r o A v eli eli n o e Ezequiel W a n d e r l e y [faltou m e n c i o n a r M a n u e l D antas]. Todos Todos já d e s a p a r e c e r a m .

Auta d e Souza, e m 1900, publicara s e u livro d e v e r s o s , 1910 10 [ 1911 1911]] e H o rtr t o , c o m u m a s eg un d a edição e m 19 outra e m 1936. N ão pode h a v e r du as opiniões sobre Auta d e S o u z a . É a m a i o r poetisa m í s tit i c a d o Brasil. [Era o título]. N ã o é m e n o r lírica. A paisagem, a l m a , sentimentos,

paixões t e m aes originalidade. m a r av a v iillh o s a m e n te te foram tratados, ec otristezas m elevação, clareza E m 1 9 0 6 , e xi u na r a m seus restos mor ta i s d o Cemitério d o Alecrim e l e v a r a m para a Matriz d e Macaíba. C o l o c ar am o s ossos n o jazigo d a família. A u ta d e Souza está lá. lá .

N a o figura a s letras d o s e u n o m e n a lápide. N ão merec e u u m epitáfio. N ão possui u m túmulo. Faço omalistas m apeloAàos salmmeasm bd er obos ad vontade. e a os upoetas. a A c a d e mA ioas jNorte-riograndense d e Letras. A d on o n a P a lm lm i r a W an d er ley d e França, titular d a cadeira a c a d ê m i c a d e q u e Auta d e Souza é a égide pa tr oní mi c a . Faço u m apelo a todos o s brasileiros residentes n a s terras d o R io G r a n d e d o

Norte. T od o d os os q u e a m e m a beleza invisível d a poesia s ão convidados para e s s a c a m p a n h a serena e generosa. É preciso doar-se u m túmu lo à m a i o r poetisa mística d o Brasil. U m túmulo, apenas.

 

119

Deixo aq ui este soneto onde Auta d e Souza escreveu o próprio epitáfio. E is o d e s c a n s o e t e m o , o doce abrigo

D a s a lm lm a s tristes e despedaçadas; E i s o repouso e n f i m ; e o sono am ig o lá v e m c e r r a r - m e a s pálpebras c an s ad as

A m a r g u r a s d a terra E u m e desl deslii go Para s e m p r e d e vós... A l m a s a m a d a s Q u e s o lu lu ça ç a i s p o r m i m , e u v o s bendigo, Ó a l m a s d e m i n h ' a l m a abençoadas. jo s d a guarda, Q u a n d o e u d a q u i m e for, a n jo Q u a n d o v i e r a m o r t e q u e n ão ã o tarda R o u b a r - m e a vida para n u n c a mais...

E m p r a n t o e s c r e v a m sobre a m i n h a lousa: “Longe d a mágoa, e n f i m , n o C éu repousa Q u e m sofreu m u i t o e q u e m a m o u demais.”

N o m e s m o 23 d e fevereiro, r e c e b i c a r t a d e Hen r iq ue Castriciano, d i s c o r d a n d o formalmente d a minha sugestão. A u t a tinha o t ú m u l o q u e ped ira e n u n c a um outro. Natal, 23 d e fevereiro d e 1943.

M e u caro C â m a r a Cascudo, Auta está sepultada entre o s s e u s , n o a n o n im a to coletivo q u e s e m pprr e desejou e pediu. O s q u e conheceram be m q uuee n t m c a sonhou, d e perto essa doce criatura s a be

n a s u a h u m i l d a d e cristã, senão a felicidade d a morte n a s e p u lltt u r a c o m u m d o s q u e lh lhee foram caros.

 

N ã o está s e m túmulo; continua apenas entre 0 5 s e u s , junto a o s quais descansa aquela avozinha para q u e m c o n s t r u i u o Horto, essa c a m p a d e ouro e m q u e principahnente a a v ó e a n e t a ja ze z e m unidas para sempre. O s o s s o s d e ambas, o s o s s o s d e toda afarnília, a c h a m - s e confundidos n a m e s m a poeira. Para q u e perturba-los, s e já sabem m el h o r d o q u e n ós o q u e é o n a d a d av id a? Esta seria a interrogação d e qu e m traçou para s i o e p i » táfio q u e Você le m b r a n o s e u belo e generoso artigo:

“Longe d a m á g o a , enfim n o c éu repousa

Q u e m sofreu m u i t o e q u e m a m o u demais.” S e u fa le l e c i m e n t o o c oorr re r e u n o d ia 7 d e fevereiro a u m a hora e quinze m i n u t o s d a m a d r u g a d a e n ão e m m ai o c o m o está registrado n o s e u piedoso artigo.

Aceite, m e u c aarr o C âm â m a r a Cascudo, u m grande e sincero a br b r a ço ço d o velho am ig o e a d m i r a d o r

H. Castriciano.

N a o publiquei a ca rt a . N o m e s m o d i a respondia a Henrique. Natal, 23.2.43.

M e u c a r o H. Castriciano, afeRecebi s u amlinda m v e j o smuoa dautoridade tiva e real, a s n ão ãcarta. o m e Bé epossível i fi c a r o desejo,

em bo bora ra i rreal rrealii zá závv e l ante s e u veto.

 

1 21

p u ltlt a d a e n t re r e os S u f p r e e n d e - m e q u e “Auta esteja s e pu S G U S . n o a n o n i m a t o coletivo q u e s em e m pr p r e d es e s ej e jo u e pediu? O q u e li n o s e u “A o pé d o túmuldj dedicado 'Aos m e u s ' I é j u s t a m e n t e o contrário, r u n pedido claro, expresso d e Sepultura e m e s m o , c o m todas a s letras, Luna epígrafe

sepulcral:

E m pranto e s c r e v a m sobre a m i n h a lousa: “Longe d a mágoa, en f im , n o C éu repousa Q u e m sofreu m u i t o e q u e m a m ou o u demais? N ã o fui d o n ú m e r o d o s q u e a c o n h ec er am d e perto. V i v a , s e nhor a d o s e u p e n s a m e n t o , es c r ev eu e publize n a s d e versos e m jo m ais e revistas, c o u d e z e n a s e d e ze a s s i na ndo-os , d ed icand o -o s à s amigas, n u m desejo expresso d e perpetu idade n a lem b r an ç a. V i v e u u m a n o a i n d a depois d o Horto, ma gní fi c a e m e r e c i d a m e n t e festejada pelos registos críticos. E squ ecim ent o e a n o n i m a t o s ão d i a m e t r a l m e n t e opostos a o s livros publicados. N e n h t u n m e l i n d r e s e insultou n a p o e titi s a c o m essa notoriedade. N e m m e s m o a h u m a n i d a d e cristã s e ofende c o m a colheita d o s justos frutos. O t ú m u l o d o m a i s h u m i l d e d o s h o m e n s , Sã Sãoo Fr a n c is c o d e Assis, é t u n a catedral.

P o r q u e s e agravará a sensibilidade ideia] d a poetisa c o m a inscrição d o s e u n o m e n u m a placa d e mármore funerário? N ã o e s c r e ve u s u a m ã o o epitáfio, expressivo e fiel? estãão , avó e neta, n a s paragens U n i d a s para sempre est lh e parece distânluminosos, entre estrelas e hinos. S e lhe cia, d e u m para outro sepulcro, a homenagem d a neta à saudade d a a v ó , n a separação d os o s s o s conftmdidos

a tu t u a llm m e n ttee , e m q u e constituiria perturbação a lápide

 

 

c o m o n o m e d e Auta d e S o u z a , dispensável p a r a a g l ó r ia d a p o e tit i s a , m a s urgente para a s a t i s f a ç ã o d o n o s s o desvanecimento? P o r q u e n ã o será permitido a o R io Grande d o Norte et isa? Quem m o s t rar a sepultura d e s u a m ai o r po eti explicará, n o futuro, a história d o m e u pedido e a s e r e nidade d a oposição fraterna?

N ão constituirá u m a forma, elevada e s i d e r a l , d e e g o ísmo, esse c i ú m e , essa restrição a u m m o v i m e n t o espontâneo d e quantos a m e m o s versos m arav ilh ilhosos osos d e Auta?

lh e p ert Auta lhe ertence ence . E la e o túmulo d a família. O n a d a d a vida n ã o explicará j a ma i s Horto n e m Aboio. O s criadores desses ritmos acreditaram v e n c e r a morte, ultrapassando os limites e s c ur u r os os d e u m cemitério.

E n fi m , m e u c a ro r o H . Castriciano, tenho u m a forma e u m outro processo d e adm irar. N ão m e pemiite q u e seja realizado. Faça-se a s u a v ont ade e n ão a minha. Co r d ialm en te,

Luís d a C â m a r a Cascudo.

Oito a n o s d e ppoo iis, s, p o r proposta d o então presidente d a A c a d e m i a Norte-rio g r a n d e n s e d e Letras, Paulo Pinheiro d e Viveiros, Auta d e Souza teve n o jazigo familiar u m a lápide, aposta solenemente e m 1 7 d e ju nho d e 1 9 5 1 n a Matri z d e Macaíba, repetindo-se os dois versos: Longe d a mágoa, e n fi m n o C é u . repousa Q u e m sofreu m u i t o e q u e m a m ou o u demais?

 

1 23

E m 1893, A u t a e s c r e v e r a u n s v ers o s e m o i t a v a r i m a , “Visita a um túmulo”, d e d i c a n d o - o s à s u a tia p a t e r n a M a r i a Concórdia d e S oouu zzaa . E r a o t ú m u l o n a Matriz o n d e e s t a v a m o s o s s ooss d e s e u s pais.

E s s a s três oitavas dirão d o e s ttaa ddoo e m o c i o n a l d a poetisa. Tinha

então 1 7 anos. N u n c a foram pub lica da s.

Q u a n d o cheguei a o pé d a Igreja entrei Pela porta q ue u e e n ttãã o m o s t ro u- m e abrigo, O S o l e m b a l a d o e m leito d e ouro Parecia chorar t a mbé m comigo... E de s c i a e de s c i a p'ra Poent e, Olhando a s tristes b r u m a s d o O rir i e n t e . Ajoelhei-me e ntão perto d a lousa, N e la l a p o u s e i os lábios convulsivos... A i Adoc e fiiez d a q u e l a c a m p a E m mim a c h a v a ecos expressivos... E r a t ã o fria e m s u a s an ta c a l m a Q u e m e gelou todas a s fibras d'ahr1a. E rezei pelas d u a s v id as justas Q u e a li dormiam 0 s o n o d errad eiro ; Minha Mãe U m ' a l m a cristalina

M e u pai U m astro q u e passou ligeiro, E chorei porque v e i o- me à lembrança Doss bei Do beijjos q u e m e d e ra r a m e m criança.

 

1 24

É ali, n ' “a doce friez daquela c a m p a ”,”, q uuee Auta d e Souz Souzaa ficou... icou...

I a m a i s p e n s a r i a e s t a r d e s c r e v e n d o e olhando s e u próprio sepulcro.”

« orte- rir i oo-gg rande nse d e Letras ignorou o apelo d e 2 3 d e A A cade m i a N ortefevereiro d e 1 9 4 3 . A carta d e H. Castriciano e m i n h a resposta ficaram,

a té agora, inéditas. N ã o a s divulguei n a “Acta D i u r n a q ue u e e n tã tão m a n t i n h a e m A República.

 

H e n r i q u e C a s t r i c i a n o (1874-1947) o s e g u n d o i r m ã o

 

 

VIII

Eloy d e Souza obteve d a Escola Do m éstica o e m p r é s t i m o d o s origin a isis d e A u t a d e Souza, p r e s e n t e a d o s po porr H e n r i q u e Castr ician o. Sã o dois v o l u m e s , e n c a d e r n a d o s . O primeiro c o m v e rsos d e São 1893-1897, intitulado Dhalias. O ou tro, m a i s v o l u m o s o , t a m b é m m a n u s c r i t o , te tem m o n o m e d e Horto e a s d a t a s 1893-1898, c o m um 9 sobreposto a o 8, l e n d o - s e 1899. P o r baixo d a faixa d e papel o n d e está escrito Horto, a i n d a s e d i s t i n g u e , p e r fe fe i ttaa m e n t e , D h a llii a s . Vê-se ítulo ulo primit primitivo ivo “Dh q u e a poetisa c o n s e r v o u muito t e m p o o tít “Dhaa lias , c o m o e la e s c r e v i a , e n ã o “Dahlias”, e s e d e c i d i u q u a s e e m vésperas d e r e m e t e r o volume p a r a Olavo B il ac p o r i n t e r m é d i o d o s e u i r m ã o Eloyde Souza, r e s i d e n t e n o R i o d e Ianeiro.

F i q u e i todo o s e t e m b r o d e s s e 1958 c o m o Horto e o Dhalias, lendo, e s t u d a n d o , c o m p a r a n d o . N o Horto, e r a v i s í v e l q u e alguém lera e a n ot a ra , a lápis, o v o l u m e , s uger i ndo , criticando, e l o g i a n d o . C on o n d e nnaa v a q uuaa d rraa s i n t e i r a s . M a n d a r a mudar v e r s o s . Indicava r u m o s . S e mp re nu num m pl ano c a r i n ho h o s o d e c o m p r e e n s ã o e alen to.

N u n c a m e c o n s t a r a q u e alguém tivesse corrigido A u t a . Era, e m s u a s u a v i d a d e , voluntariosa e s us p i c az . A q u e m t e r iiaa c o n fifi a d o a tarefa d e c e n s u r a r o Horto? A l e t rraa n ã o e r a a d e H e n r i q u e Castriciano, muito m i n h a c o n h ec i d a. E a poetisa aceitara, e m b o a proporção, a s sugestões. Alguém c o m a u t o r i d a d e afetuosa. Q u e m teria sido? Excluía-se naturalmente o pr efaciad or .

 

1 28

erfeieiEloy d e Souza, n o m o m e n t o , n ã o recordava. Lem b rava-se perf ta m e n te d e t e r entregue o v o l u m e a Olavo Bilac q u e o devolvera u m m ê s depois c o m o prefácio, outubro d e 1 8 9 9 .

N u m a m a n h ã , b a t e u 0 t e l e f o n e p a r a m i m . i n f o rm rm a n d o : - lá s e i q u e m anotou o Horto. Er a u m amigo m e u , d e putado pelo R io Grande d o S u l , culto, letrado, p o e t a . Formara-se n a Un iver s id ad e d e Coimbra. Ia muito a o Hotelver-me. Encontrou o livro,folheou e ficou encantado. Levou-o para c a s a s em em qu e m e o p e d i s s e , q u a s e . Voltou c o m o v o l u m e anot ado e disse a s palavras mais carinhosas para Auta. Er Eraa o Pinto d a R o c h a l . -A r t h u r Pinto d a Rocha?

- Perfeitamentel...

A í está u m a n o v ida de . O livro d a norte-rio-grandense s ó conhec e u u m censor e este fo i d o R i o G r a n d e d o Sul. Q u e m n ã o o conheceu n o Estado gaúcho? G u i l h e r m i n o César evoca-o excelentemente. A r i Martins fe z u m r e s u m o biobibliográfico n o s e u indispensável e inexplicavelmenteinédito Dicionário d e Escritores Sul-rio-grandenses d e q u e teve a b o n d a d e d e e n v i a r p a r a mim 0 r e s p e c t i v o verbete, ad ian te transcrito e m “ N oott a ”.” . S ã o estas a s anotações: Cantigas: N ã o pode s e r m a i s perfeito. T e us u s a n ooss : O p ron ome está a o lado d a 6* acentuada.

R egi na Coeli: Muito bela.

Mater : Estes dois versos [n a 5 ° q uad ra] valem toda a poesia. Carlota: U m belo m a d r i g a l qui nh enti s ta.

 

1 29

C eles te: Detestável. Duro. Este v e r s o n ã o cr eio q u e seja d a m e s m a poetisa q u e e s c r e v e u o i m e d i a t o [Auta c o n s e r v o u o verso.]. Desalentoz [Que m e m a n d a chorar, t e m a corr corree çã ção. o. “ q u e m a n d aa-nmdea” .. ]A. s s i m n a s três edições d o Horto. N o original está: “ Q uuee m e m Ao luar: [ N a 4 ” quadra] Belíssima quintilha [ A o final] Um

encanto

Místico: Felicito a r d e n t e m e n t e a poetisa. N o templo: [ N a 1 * quadra] Q u e beleza i n g ê n u a [ A o final] Esta poesia é um mimo incomparável Ao clarão da lua: [Advertiu e n g a n o s d e rima. Auta suprimiu a

quadra.].

A o mar: [A co nse lh o u terminar a poesia e m d e t e r m i n a d a q u a d ra. A u t a obedeceu.]. Flo re s: [ Auta s u p r i m e u m a q u a d r a e termina o p o e m a o n d e o a n o t a d o r sugeriu.]. Lídia: Cabe n e st e son e t o a a l m a d e u m a m ã e

A o m e u bom a n j o : B e l í s s i m a poesia

M o r e n a : B e l a canção Simbólicas: [ N a 2 3 q u a d r a ] B e l í s s i m a [A o fin ina al] Muit Muito o boa

poesia.

Agonia d o c oraç ão: B a l a d a b e m feita

V e r s o s ligeiros: Q u e bela coisa Um s o n h o : [ N a 6* q u a d r a ] A d m i r á v e i s

P a s s a n d o : B e l o soneto

 

130

Caminho do sertã sertão: o: Delicios elicioso o cromo

N a c a p e l i n h a : [N a 4 * q u a d r a ] Belíssimo. [ N a 7 8 ] Bo ni to [N a 1 0 s ] Belo [ N a 1 3 a ] Magnífico Soneto: Belo Morta: [Sugere substituições.]. Loli: B e l í s s i m a , muito se n t i d a , m u i t o i ngê nua e boa. Sancta virgo virginum: [Sugere o subtítulo “Prece”. A u t a

aceita.].

Mãos d e Clar isse: Outro f o r m o s o m a d r i g a l . Parabéns.

F o r a m a s notas m a i o r e s . Pinto d a Rocha c u i d a v a d e s ali entar à poetisa a justeza d a r i m a , d o g m a i nf alível para aferição inte le ctua l e m 1899. A u t a vivia n e s s e c l i m a e m q u e a rima e r a o verso. Liberto d o s e u fastígio, o velho Filinto Elisio, n o exílio d e Paris, desabafava: A r i m a é u m cascavel q u e o s Trovadores certaa prosa ro sa i nsul nsulsa. sa. Punham n a cauda a cert Ignorantes d o v e r s o h a r m o n i o s o

E pé péss c a d e n t e s d o s p o e m a s nossos

M a is d e m e i o século passara e o prefaciador d o Horto e r a O la v o Bilac. O c u i d a d o a m i s t o s o d e Pinto d a Rocha justificava- se.

O q u e n ã o s e c o m p r e e n d i a e r a a escolha d e Bilac, a idéia d e levar para o Horto o poeta d o “Sarças d e fogo” e d a “ A l m a inquieta”...

 

isi

NOTA Artur P i n t o d a Rocha “Dicionário d e Escritores Su l- rio- grandensesl (Inédito) Gentileza d o s e u autor.

Ari Mart ins (Porto Alegre)

Filho d a c i d a d e d e R iioo G ra r a n de d e , o n d e n a s c e u a 26 d e d e ze mbro d e 1860, t e n d o falecido n o R io d e Ianeiro, a 1 8 d e julho d e 1930. F e z os estudos preparatórios o iesr ps ida a r a de P odrrtteu Coimbra, ggaa l,l , o n d e nconcluiu a antiga oCorte, u i n dnoa dUenpivoi cursosdeeg leis e m 1884. R e t o m a n d o m a i s tarde a o Brasil, lecionou n a F a c u l d a d e d e Direito d o R io d e Janeiro e , po porr algum Alegr egre. e. Ex Exerceu erceu o m a n d a t o d e d e tempo, n a d e Porto Al putad o fed e ral p elo el o R io G r a n d e d o Sul. E m 1910, fo i gr e , d a G aazz e ttaa d o Comércio e redator, e m Porto A llee gr t a m b é m d e AFederação. N o R i o d e Ianeiro, p e r t e n c e u à redação d o Diário d e N o títí c ia ia s . N o m e a d o m i n i s t r o

d o S u p r e m o T r i b u n a l Militar, fi x o uu - se e m defiriitivo n a capital da Re pú púbb li ca. F o i i n n d o s primeiros presidentes d a S oocc ie i e d a d e Brasileira d e Autores Teatrais (SBAT) e o orador oficial d a A c a d e m i a d e Letras d o R io G ra r a n ddee d o Sul, e m s u a la fase. Orador apreciadíssimo, poeta, conferencista, historiógrafo e teatró teatróllogo. ogo. Perten ce m à s u a bagagem literária a s seguintes obras: A S a m a rir i t a n a , d r a m a d e R o s t an d , tradução, Pelotas, 1905; Talita, d r a m a e m verso, c o n s ag rad o através d e várias r e p res en t aç õões es p ela el a artista Maria Castro, Porto Alegre,

1908; “Visão d e Colombof p o e m a dramático, Porto Alegre, 1908; A Farça, d r a m a ; A Serenata d a s Flores,

 

a t o e m verso; A v e M a r i a , i d e m ; Contrastes, i d e m ; Históri Hi stóriaa Dipl Di plom om át ática ica d o Brasil, Rio, 1916; A Política Brasileira n o P rat a a té té a G ue u e rrrr a contra R o s a s , Rio, 1917 19 17;; O Alfaiate d e Senhoras, comédia d e Feydeau,

Evolluç ução ão,, tradução; O Dilema, d ram a; O júri e sua Evo conferência n o Instituto d a Ordem d o s Advogados, R i o , 1 9 1 9 ; Entre DoisBerços, drama;AEstátua, drama; Sonho d e Zagala, fantasia; A R u i Barbosa,discurso; A C a m p a n h a Militarista, conferência n o Teatro Lírico, d o Rio; CartasAbertas, réplica e tréplica a o d r . Conrado a m po s , R io i o Grande, 19 Miller d e C am 1902 02;; AsInfluências do Espírito juridico F r a n c ê s n o Direito Civil Brasileiro, conferência proferida n a Sorborine; O B a r ã o d o R io B r a n c o , c o n fe fe r ên c ia i a ; O T rat ado d e Condomi ni o d a Lagoa Mirim e R io Jaguarão, i d e m ; U m H o m e m d e Plutarco, conferência,Porto Alegre, 1 9 0 8 ; ORegicídio, i d e m ; Lições d e Direito Civil; A E n fe fe r m e iri r a , novela; Pão, Água, Vinho e Doce, conferência sob sobre re assuntos assuntos portugueses; P o r Montes e V a l e s , versos portugues e s ; P a m p a , versos; Vera Cruz, poem a c am o n ian o ; Portrtug uguesa uesa no Brasil, confeHistória d a Colonização Po rência, R io d e Ianeiro, 1 9 2 4 ; Testamento d o Passado, Er a h o m e m culto, d e conferênc i a, Coi conferênc Co i m b ra, 1 8 8 7 e t c . Era m a n e ir a s fidalgas, apurado n os m o d o s e n o trajar.

 

IX

O u r s weetes t songs a r e those t h a t t e llll of s a d d e s t thoughts. Shelley A t o r m e n t a s e desfizera a o p é d o t ú m u l o ;

e d o naufrágio e m q u e s e abismou esta singular existência, resta o Horto, livro d e urna santa.

H Castriciano

Horto ci rcu lou a 20 d e junho d e 1900, 1 1 4 poesias n u m a broc hura d e 23 2 páginas, além d e índice e e r r a t a s . E m Natal, o registro d a pequenina i m p r e n s a foi unânime e dois artigos e x a m i n a r a m , c o m simpatia, o v o l u m e q u e s a c u d i a a tranqüilidade lo c a l, a r t ig ig o s d e Antônio d e Souza (1867-1955) n o s e u p s e u d ô n i m o P o llii c a r p o Feitosa, e Sebastião F e r n a n d e s , este e s t u d a n t e d e Direito, poeta (1880-1941). O crítico, c o m todos o s prejuízos d a saturação evolucionista e exibiç ã o livresca, e r a r e a l m e n t e A n t ô n i o M a r i n h o (1878-1902), m e n i n o

predestinado, a tre v i do e brilhante, q u e a t u be b e r c u lloo s e m a ttoo u e m Angicos c o m 2 4 anos, ten d o o c u r s o g inasial e apenas u m folheto publicado, m a s d e feitio n o v o e o r igi iginn a l, fi xa n do a paisagem literár ia d o R io G r a n d e d o Norte, m o t i v o j a m a i s repetido. O p e q u e n i n o e s t u d o d e An tô n i o M a r i n h o fo i divulgado q u a n d o d a m o r t e d e A u t a . A p e s a r d o prefácio d e Olavo Bilac, o u p o r isso m e s m o , Horto n ã o m e r e c e u algumas linhas d o s “gra n de s ” n o R io d e Ianeiro, A rari p e

lúnior, Sílvio Romero, Iosé Veríssimo.

 

134

A pe ne tra çã o espalhou- se l e n t a m e n t e e os primeiros leito-

r e s no S u l foram o s amigos d e Eloy d e S oouu za za e d o poeta H e n r i q u e Castr ician o. A edição, d e mil v o l u m e s , esgotou-se e m d o i s m e s e s e es p er ar i a d e z a n o s para ren o v ar- s e. Em 1910, H . Castriciano, e m P a r i s , preparou a s e g u n d a edição,

publicada e m princípios d o a n o i m e d i a t o . H e n r i q u e m o difico u l i g e i r a m e n t e a disposição d o s v ers o s d a primeira edição. Incluiu 1 5 poesias publicadas e outras inéditas, “ P r i m e i r o s Versos” e duas es c r i tas depois d o Horto, u m a d e j a n e i r o e outra d e m a r ç o d e 1 9 0 1 .

As últimas.

E s c rev eu o que, n o s e u hab i tu al b o m gosto discreto, d e n o m i n o u  N ota ot a , Paris, 4 d e agosto d e 1 9 1 0 , a m a i s deliciosa, clara e sugestiva

i n f o r m a ç ã o q u e p o s s uím o s sobre A u t a d e Souza. O p o e m a inicial, d e n o m i n a n d o o v o l u m e , p a re ce t e r sido si do escri escritt o e m 1899 e é o q u e m a i s v i v a m e n t e r e s u m e a e s s ê n c ia e m o c i o n a l d a poetisa, s u a técnica e o s e l e m e n t o s “ c o n s t a n t e s ” e m t o d o o livro. A i n s p i r a çã ç ã o r e lili g i o s a a c o m p a n h a a i m a g e m familiar d o s irmãos e d a Dindinha t ã o a m a d a , a “ v o v o z i n h a ” a m i g a e m ã e i n c o m p a r áávv e l.l . D e d i c o u “ A m e u s ir mãos” . É a m a i s típica d a s composições d e Auta, a sua forma: O r o d e joelhos, Senhor, n a terra Purífficada pel Purí peloo t e u pranto... Minh'alma triste q u e a d o r aterra Beija os teus passos, Cordeiro santo

E u tenho m e d o d e tanto horror... Reza comigo,doce Senhor Q u e noite negra, cheia d e sombras, N ão fo foii a noite q u e aqui p a s s a s t e ?

Ó noite imensa... p o r q u e m e assombras, T u q u e n a s trevas m e sepultaste?

 

J e s u s a m a d o , reza comigo... Afasta a noite, d i v i n o amigol”

E u disse... e a s s o m b r a s s e dissiparain, Jesus d e s c ia i a s o br br e o m e u Horto... Estrelas lindas n o C éu brilhararn, Voltou-me o riso, já qu ase m o rt o . E a s u a boca falou t ã o doce, C o m o s e a corda d e um'harpa f o s s e :

“Filha adorada q u e o t e u g e m i d o Ergueste n'asa d e u m a oração, N a treva escura sempre envolvido, P o r q u e s o lu lu ça ç a t e u coração?

L e v a n t a o s o llhh os o s p ara o m e u rosto, Q u e à vista d'el d'elee foge oge o Desgosto.

N ão tenhas m e d o d o sofrimento, E le é a escada d o Paraíso... Contempla os astros d o F i r m a m e n t o , Doces reflexos d e m e u sorriso.

N ão pensa e m dores n e m canta mágoas, A garça nívia fitan d o a s águas. Sigo-te os passos p o r toda parte, V i v o c o n ttii g o c o m o u m irmão, A c a s o posso de s a m p a r a r - te Q u a n d o m e trazes n o coração?

N a s oliveiras d o m e s m o H o r t o , Enquanto orares, terás conforto.

 

go. . . Jesus a m a d o , reza com i go. Afasta a noite, d i v i n o amigol” E u disse... e a s s o m b r a s s e di s s i pa r a m, Jesus d es c ia sobre o m e u Horto... Estrelas lindas n o C éu brilharam, Voltou - me o riso, já qu ase morto. E a s u a boca falou tão tã o doce, C o m o s e a co rd a d e u m ' h a r p a fosse:

“Filha a d o r a d a q u e o t e u g e m i d o Ergueste n'asa d e u m a oraçao, N a t rev a e s c u r a s e m p r e envolvido, -»

lu ça ç a t e u coração? P o r q u e s o lu

Levanta os olhos para o m e u rosto, Q u e à vista d' d'el elee foge oge o Desgosto. N ão tenhas m e d o d o sofrimento, Ele El e é a escada d o Paraíso... Contempla os astros d o F i r m a m e n t o , D oces refl reflexo exoss d e m e u sorriso.

N ão pensa e m dores n e m canta mágoas, A garça nívia fitando a s águas. Sigo-te o s p assos p o r toda parte, V iivv o c oonn ttii g o c oom m o u m irmão, Acaso posso desamparar-te Q u a i i d o m e trazes n o coração?

NEnquanto a s oliveiras d o mterás e s m oconforto. Ho r ttoo , orares,

 

Olha a s e s t r e l a s . . . n o Cé Céuu escuro escur o Parecem sonhos amortalhados... as d o m u n d o i m p u r o , Assim, n a s t r e v as Brilliam a s a l m a s d os desolados.

M e s m o d a s noites a mais sombria Sempre conduz-nos à lu z d o d i a . ” Ergui os olhos para o C éu lindo: Vi-o boiando n u m m a r d e l u z . . . E , então, minh'alma, n u m gozo infirido, Chorando e rindo, d i s s e a J e ssuu ss:: “Guia o m e u passo, n o s bons caminhos, N a longa estrada cheia d e espinhos.

Dá-me n a s noites, negras d e dores, U m a Cruz sant santaa para odorar, E e m dias claros, cheios d e flores, U m a criança para beijar. Junta os m e u s sonhos, n o A z u l dispersos, Desce os teus olhos sobre o s m e u s versos E vós, amigos tã tãoo carinhosos,

Irmãos queridos q u e m e a d or or aaii s E n os espinhos tã tãoo dolorosos De m i n h a estrada também pisais...

Velai comigo,longe d a luz, Q u e já levantam a m i n h a Cruz.

A hora triste já v e m chegando De nossa longa s e p a r a ç ã o . . .

Q u e lança aguda v a i traspassando De lado a lado m e u coração

 

N ão a d o r m e ç a m . m e u s b e m a m a d o s , J á vejo os cravos ensangüentados. Longe, b e m longe, naquele m o n t e , N ã o brilha u m a s trtr o d e lu z divina? É o d i a d e m a d e m i n h a fronte, É a esperança q u e m e i lum i na

A Cruz bendita, q u e aterra o vício, Foguei Fog ueira ra arden t e do sa crif crifíício cio.. A deus, d a vida sagrados laços... A deus, ó lírios d o m e u sacrário A Cruz, n o m o n t e , m o s t r a - m e os braços E u v o u s u b i n d o para o Calvário.

Ficai n o vale, pobres irmãos, D a v o v o zzii n h a b ei jjan an d o a s mãos. E s e e l a , i n q u i e ttaa , c o m a v o z t r e m e n t e , Ouvindo a s aves pela m a n h ã ,

interrogar-vos ansiosamente: “Que é d o sorriso d e vossa irmã?” Dizei, alegres: “Foi passear... F o i collier fl ores ores p ara o Altar. E , q u a n d o a tarde v i e r deixando N o s láb ábio ioss todos to dos saudosos ais, E a pobre santa falar chorando: “A m i n h a neta n ã o volta m a i s?”

Dizei, s e m prantos: “A tarde é linda... o s c a m p ooss , b r i n c a n d o ainda.” A n d a n os

 

m

138

su'al alm m a do frio açoite Livrai su' Da s v e n t a n i a s q u e traz o InveI'I10.-Cerrai-lhe o s olhos, n a g r a n d e noite. N a noite i m e n s a d o sono eterno.

A njo d a guarda, d e rosto a m e n o , Mostra-me o trilho d o Nazareno... nnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnn o n n n l lI I I II I OI I l

l

adeus, ó lírios d o m e u sacrário, Q u e e u v o u su bbii n d o para o Calvário

Ja c kkss oonn d e F iigg u e i rree d o, e m 1924, l e m b r a v a q u e “com ra ríssi ma s exceções, a poesia f e m i n i n a , e n t re nós, t e m m o s t r a d o s e m p r e n ã o t e r d o m u n d o outra concepção senão a rudimentar concepção q u e o s sentidos podem dar”. N o Horto, os planos d e evocação e x c e d e m essa n o r m a l i d a d e psicológica. Entre 0 a m o r e a m o r t e , A u t a c o m p ô s s u a cançao diversa e alta. Podia, a l a d a e familiar, p e n s a r uma “Cantiga” com a s insistências sônicas q u e l e m b r a m a s sugestões simbolistas. M e u sonho dou r a do e leve, Q u e b u sc s c a s t u a voar? U m n in i n hhoo b r an c o d e n e v e O nde m e deixem cantar. E e m busca d a s n u v e n s belas Lá v a i m e u sonho a cantar... M e u sonho c o r das estrel estrelas, as, M e u sonho c o r d o luar.  

 

Pergunto a o sonho, chorando, Porque foges a cantar? E e le responde, cantando: P or or qu q u e n ããoo q uuee r o chorar. E e m busca d a s nuvens belas Foi-se m e u sonho a cantar... M e u sonho c o r d a s e s t r e l a s ,

M e u sonho c o r d o luar.

Mas, e m “Página Azul”, oferecida a Zulmira Rosa, s u a c o m pan heir a n o Colégio d a E s tâ t â n c iiaa , m a n e j o u o a le xa ndrino , n u m a i d a d e m u s iicc a ll:: orquestração v ib ra nte e m á s c ul a, d e i n t e n s id N o pa ís ís d e mi nh'a l ma h á u m r i o s e m mágoas, U m r i o cheio d e ouro d e tanta h ar m o n ia, Q u e s e cuida e s c u t a r n o m a r u l h a r das águas D o sussurro d e u m beijo a doce m elo d ia. Este r io é o m e u sonho, i n n sonho azul e puro, C o m o u m c a nt n t o d o Céu, c o m o u m b r a ço ço d o M a r Loira réstia d e s ol ol a rebiilhar n o escuro,

Casta lu z q u e cintila e m to m o d e i n n a l t a r . D e u m altar q u e palpita e q u e sofre e q u e sonha, Soletrando a cantar a linguagem d o Amor. Do altar d o Coração, a paisagem risonha Onde brotam sorrindo a s ilusões e m flor.

V e m beber, m e u amor,neste r io q u e é fonte, E fonte d e esperança e lago d e quirnera... ho r iz iz onte , V e m m o r a r n u m país q u e n ã o te m hor chora Onde n ã o o Inverno e s ó há Primavera.

 

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Dois s o neto s , “ T u d o passa”, fixam o t e m a inarredável d o s e u coração. Motivo literário e c o m u m , para o s le iitt o re r e s d a capital, confid ê n c i a dolorosa para a s a m i g a s fiéis d e Mac aíb a: A q u e l a m o ç a graciosa e bela Q u e passa s e m p r e d e ve s ti do escuro, E traz n o s lábios u m sorri sorriso so p uro uro,, Triste e f o r m o s o c o m o os olhos dela...

D i z q u e su'alma tímida e singela J á n ã o t e m coração... q u e o m u n d o i m p u r o Para s e m p r e matou-o... e o s e u futuro Foi-se ntun sonho, d e s m a i a d a estrela.

E la n ã o sabe q u e o desgosto passa N e m q u e d o orvalho a a be nçoa da graça F a z r e v i v e r a planta q u e em ur c h ec e... Flávia N a s a l m a s juvenis, formosas, B e r ç o sagrado d e j a s m i n s e rosas, O coração n ã o m o r r e : e le ad o n n ec e... II

O coração n ã o m o r r e : e le adormece... coraçãoo traído, tr aído, E a n t e s m o r r e s s e o coraçã Mulher q u e choras t e u a m o r perdido, A m o r primeiro q u e n ã o m a i s s e esquece

Q u a n d o va i s rezar, q u a n d o a noi te c e , Beijas a s contas d o colar partido... E o coração n'um t rê mu l o g em i d o V e m p e r t u r b a r a p a z d e t u a p r ec e.

 

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R e z a baixinho. ó noiva desolada E q uan d o , à tarde, p e llaa m e s m a estrada Chorando fores e s s e i m e n s o amor...

G e m e d e m a n s o , juriti dolente Vais acordar o coração doente... N ão o d e s pe pe r ttee s p a ra r a n oovv a dor. O a m o r s e despersonalizara, v i v e n d o e m pe rturb a do ra influênc ia espiritual, i n f o r m e e persistente, deb i lm ente e v o c a n d o o m o t i v o h u m a n o e físico q u e o provocara, m a s con tí n uo e v i v o n a e x c iitt a ç ããoo

lírica.

A í m e r e s t le gr a nd point, qu'importe la maitresse? 'o n a iitt l'ivresse? Qu'importe le fl ac o n , pou rvu q u 'o

C o m o p e n s a v a M us s et . N ã o amor-inspiração literária, “ m o t i v o para versos , m a s r a zzãã o d e s e r d e em o ç ã o e d e realização cultural. E r a raiz, f u n d a m e n ttoo , c iim m e n to to a r t i c u l a d o r de p e n s a m e n t o s , i m a gens, expressão fatal d a c o m o ç ã o í n t i m a . E r a o c r i s t a l d a s pupilas videntes do m u n d o . O m i l a g rree i n t e llee c t u a l é q u e A u ta t a r e pprr im im e o soluço a u d í v e l e pro-

longado e o t r a n s f o r m a n i u n a di af anei dade me l ód i ca , num apelo e m q u e a p r ec e lírica s e d e r r a m a , difusa e l u m i n o s a , n u m a a n s i e d a d e o n d e a e s p e r a n ç a palpita a i n d a , n u m a obstinação d e v i d a p e r e n e . Música q u e podia s e r sonora e tempestuosa, d e fl u i ser en a e m a n s a , e m s u r d i n a , smorzando, vaga, precisa, tranqüila, d e i mp r es s i o n adora beleza s e n t i m e n t a l . E s s e “Falando a o coração” é escrito n o B a r r o V e r m e l h o , ar r ed o r e s d e Natal. S ó podia t e r sido d e 1 8 9 9 . É u m d os poemas m a i s amplos,

sacudidos p o r todas a s ventanias d a a m a r g u r a , m a s ouvido c o m o u m

c a n t o a o longe, cantiga d e n i n a r crianças, a criança d o s e u coração dolorido, resignado à solidão e à mo r te inevitável.

 

Desperta coração V a m o s m o r a r N t un a casiriha branca, a o pé d o Mar... Q u e seja linda c o m o é linda a Lu a Q u e e m n ooii t e s santas pelo Azul flutua;

Imaculada c o m o a lu z d o A mor, Alva d e n e v e c o m o u m sonho e m flor. Q u a n d o a Noite vier... s e , n o m e u seio, Estremeceres cheio de recei receioo , -T e m e n d o a s ombr a q u e arnortalha o D ia E cobre a Terra d e me l a nc ol i a , Longe d o m u n d o e d a desesperança Hei-de embalar-te c o m o t una criança.

Quero q u e escutes o g e m e r profundo D o M a r q u e chora a p e q u e n e z d o m u n d o E ouças c a n t a r a doce barcarola D a noite i m e n s a q u e s e desenrola D a n d o perfiune a o coração d o s lírios, Trazendo sonhos para o s m e u s maitírios. E q u a n d o o S o l nascer... Q u a n d o , formosa

C o m o u m a garça br a nc a e misteriosa, B a t e n d o a s asas c o r d e n e v e , a Auro ra V i e r c a n t a n d o pelo m u n d o afora... Rufla a s a s a s também... e , forte então, T u podes palpitar, m e u coração. Ac o r d a para a Vida e c a n t a e c a n t a , O S ol d a terra -iltuninada e santa Deixa o t e u sonho d e s a uudd a de d e s e dores D o r m i r n o seio virginal d a s flores... E foge e foge pelo Espaço, a toa ,

Pom ba e x ilila d a q u e a seus lares voa

 

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Esquece a louca e pálida amargura Q u e h á tantos anos m e u v i v e r tortura... Canta o t e u hino d e i lusão queri querida, da, Esquece tudo o q u e n ã o seja a Vida, E , para o C éu d a s alegrias ma ns a s , Conduz n a s a s a s m in h a s esperanças... N ã o vês? Minh'alma é c o m o a p en a br a nc a Q u e o v e n to amigo d a poeira arranca E v a i c o m e la assirn, d e r a m o e m r a m o, o, Para u m ninlio gentil d e gaturamo... Leva m e , o coraçao, c o m o esta pena, De d o r e m d o r a té a pa z serena.

Desperta, coração, v a m o s m o r a r N u m a c a s i nha branca, a o pé d o Mar... Q u e ro r o q ue u e escutes, a so nh ar comigo, A queixa e te r na d o O c e a n o a r n ig igo E ouças o c a n t o triunfal d a A u rora B a t e n d o a s asas pelo M a r afora...

A u t a d e Souza, menina d e M a c a í b a , n ã o t e m o direito d e p e n s a r s e m e l h a n t e m e n t e a u m a inglesa q u e v i v e u e m F l orenç a c o m o Elizabeth Barrett Browning o u u m a poetisa q u e s of o fr e u n a F ra n ça e morreu e m Par i s , c h a m a d a Marceline Felicité Josephe Des b o r des -V alm o r e. E já seria t e m p o d e a b a n d o n a r - s e o c o m p l e x o ta s o u a f a n o s a d a c o m p ar aç ã o e d a s te nta tiv a s d e s i m i l i t u d e s f o r ttuu i ta m e n t e c o i n c i d e n t e s . M a s , a B a r r e t t B r o w i n g e a Des b o r des -V alm o r e, t ã o d istan tes d e A u t a , n ã o lhe lh e f oram superiores n a s soluções líricas q u e o espírito inspirou para seus sofrimentos d e a m o r e d e m o r t e . U m a m o r afastado pela d e t e r m i n a ç ão doméstica e compreensão pessoal e u m a m o r te te a n u n c ia i a d a pela tuberculosa q u e n ã o e r a f ing iment o lite-

rário c o m o a d e A n t ô n i o Nobre q u a n d o e scre v e u e publicou o “Só”.

 

e u A m o r o s o L i m a , n o prefácio à 3 * edição (Rio d e Ianeiro sente q u e A uta fora poetisa espontânea e destituída d e u m a

F e z v e r s o s po ssii a , po a m o r tocante, a m o r de anpãoo epara por puríssimo, por d a rpoesia a praur m ecer ou comunic a r u m a m e n s a g e m . F e z versos para s ie p a r a a q u e l a s q u e mais d e perto a c e r c a v a m . Nunca s o n h o u c o m a glória literária. N e m m e s m o c om om e s s e e c o q u e s ó d e pois d e morta veio encontrar n o c o r a ç ã o d o s s i m p l e s , onde toda u m a parte d o s s e u s p o e m a s e n c o n t r o u a m a i s t e m a repercussão. E e s s e sentimento d e a b s o lluu t a pureza é o qu e ma i s e n c a n t a n o s s e u s p o e m a s . A u t a d e Souza viveu e m estado d e graça e o s s e u s v e r s o s o r e v e la m d e m o d o evidente. Da í o g r a n d e l u g a r q u e o c u p a cuja cordil cor dilhei heira ra s e m p r e h á e m nossa poesia cristã, em cuja d e s e r i n n do doss al altt os m a i s puros e mais solitários.

Ne st or Victor, c o m e n t a n d o e m 1 9 1 1 o Horto, coincidia n a s conclusoes [...] quanto escreveu a n t e s , e s cr c r e v e u p a ra ra s í e p a r a

s e u s amigos d o q u e para concorrer à c o n q u i s t a d e u m n o m e perante o grande público d e s e u p a í s . P o b r e d o n zela enferma, vivendo invariavehnente n a c a r i n h o s a atmosfera d o la r o u entre a l m a s a m i g a s d a s o c i e d a d e provinciana e m q u e decorrerain s e u s b r e v e s d i a s , e la poetava p o r simples e m e r o p r a z e r .

N ã o s e i c o m o especificar a destinação familiar d o q ue s e publica e m jornais e r e v isi s ta t a s p e lo l o e n v i o d o a u to to r . O q u e s e to m a público, a o publico pertence. Verso e m jornal é denúncia irrespondível d e

notoriedade N ã o c o m p r e e n d o c o m o a llgg u ém é m desdenha d o r e n o m e

 

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r e u n i n d o p o e m a s , corrigindo-os, fazendo-os p r e f a c i a r p o r um poeta c o m o Olavo B ilac, imprimindo-os e m v o l u m e , mil e x e m p l a r e s , e permitindo circulação. Difícil c o n c e b e r a f a s t a m e n t o , r e n ú n c i a jo h u m a n í s s i m o d e vulgarização, d e publicidade, a u s ê n c i a d o d e ssee jo desde q u e o a u t o r colecion a, copiadas, c u i d a d a s , l i m p a s , suas produções. M e s m o q u e n ã o publique, o s i m p les fato d a col e t â n e a é um indício, um indício “ v e e m e n ttee , d o propósito,remoto o u próximo, d a impressão e c o m esta o ciclo d a no to r i edade. Q u e m n ããoo q u e r s e m e a r deixa a s e m e n t e n o celeiro, g u a r d a d a , e scon d i d a , n o e s qquu e c iim m e n to to proposital. S e m e n t e a t i r a d a à t erra é es p eran ç a d e s eeaa ra r a , d e colheita, d e repercussão prod ut ora.

Q u a s e a totalidade d o s v ers o s d o H or o r to t o f o rraa m divulgados n a s

revistas m a iiss c oonn hhee c id i d a s d e N a t a l e e m A República, órgão oficial, p a llhh a d o p e lloo B r a s ilil, pord e m a i o r circulação, o m a i s lido, m a i s e s pa q u e p e r m u t a v a c o m a i m p r e n s a d o Sul, d o No rte e d o C e n trt r o . E m A T r i b u n a , c o l a b o r a v a m o s poetas e escritores m a i s fa mosos d o Nord e st e . A u t a d e Souza e n v i a v a se u s v ers o s c o m de dica tó ria s, agradecia c a r t a s , p r e p a r a n d o , c a r i n h o s a m e n t e , a edição. N ã o c o n sigo e n t e n d e r c o m o r e n u n c i a r a s e r c o n h e c i d a , a d m i r a d a , t r a n s c r i t a , ci t a d a , o n d e fo s ssee m a s p u bblli c a ç õõee s c o m s e u n o m e . N ã o consigo admitir c o m o a ro se ira abre a flor e n ã o q u e r sobre v i v e r n a espécie...

V i v e n d o n a c i d a d e d e Macaí ba, a p o e ttii s a d e d iicc a seu s v e r s o s à s a mi g a s d o Recife e d a t erra o n d e v i v e . S e m e l h a n t e m e n t e , o c or o r rree c o m todos o s poetas d o m u n d o . Q u i d e terra e s t , d e t erra loquitur. Dedicatórias e m e s m o m o titi v o s t e m á t i c o s n u n c a constituíram front eiras i n t r a n s p o n í v e i s à expansão literária. Os “motivos” d e A u t a d e Souza s ã o h u m a n o s , n a t u r a i s , vivos n a s a l m a s d e qualquer ra ça , e n t e n d i m e n t o , m o m e n t o d e v i d a . N ã o h á

egi geog á f i ca oe fmr aenncoêss ,aiiin áf p e c u l a r i d a ddea restrita ole r aão d u zgeogr i d o s r para nnggldlêa sa, naom l emmaãllioi a, psicológica c r i a d o r aà .r Tegião

italiano, e spa nh o l, q u a l q u e r p o e m a d e A u t a d e Souza é u m a solução

 

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lírica dentro d a s soluções líricas daqueles idiomas. A penas p enas ex exii ste st e a época e m q u e v i v e u e o te m p o e m q u e seja lida. N a d a m a i s . Le r o s poemas f em i ni no s d e 1 8 9 9 é situar Auta d e Souza na paisag ai sagem em intelectual brasileira, a m e r i ca n a , européia, sem esf esfoo rço rço d e acomodação. E m q u e Millevoye é superior a Casimiro d e Abreu? A n t o in in e A lb l b alat (Souvenir d e la V ie Littéraire, Paris, 1 9 2 1 ) conta q u e o poeta Moreas q u a n d o ia a o restaurante achava tudo “infecto”. O g a r ço ç o m r e c oonn d u zzii a a costeleta infecta à cozinha e voltava c o m ela. M o r ea e a s r es e s m u n ga ga v a aplacado, à la bonne h e u r e , e saboreava-a, déliciado. . O s fenômen os d a assimilação t ê m certas exigências misteriosas. Para a m e n i n a - m o ç a d e Macaíba, acei aceitt aa-se se qu quee tenha escrito versos compreensiveis, v iv e n do ( 1 8 9 0 - 1 9 0 1 ) e m ter terra ra p rovinci ro vinciana ana . A o m e n o s voava cantando, c o m o a cotovia de Shel Shellley, ey, a o nível, n ão d os claros céus tropicais, m a s d a cidadezinha humilde e m qu quee resiresidia, lendo francês, olhando o r i o lento, tãovelho, topograficamente, c o m o o T a m i sa o u o S e n a .

Auta n ão permitiu a inclusão d e n e n h u m poema d o s e u romance d e a m o r n o Horto. Levou à censura minuciosa o s versos d e 1 8 9 4 e m diante, m a s a “presença e r a inevitável e sensível.” N o Dhalias, está “À lu z d e t e u olhar”, c o m u m a citação d e Luiz Guimarães júnior: “ N a d a m e digas, olha-me somente”.

10

O poema “ A E u g ê n i a ” , n o Horto, n o Dhalias e r a   A ti... . N ão é crível q u e a amiga, c a s a d a e c om filhos, inspirasse versos assim:

risonho, Criatura inocente, an jo risonho, Q u e m e ensinaste a amar

Minha camélia, m e u sorri sorriso so louro, ouro, A m o r d e m e u a m or.

 

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Cheios d e treva e lu z teus olhos t ê m a c o r Da s noites s e m luar, m e u prometido A m o r E e u a m o tanto a s ombr a e o brilho doce e puro D o s grandes olhos teus, ó lu z d e m e u fu tu tu r o C o m o adora m i n h ' a l m a os rútilos clarões D o bando virginal d e s u a s ilusões. N ã o vês? É noite e o C éu éu n o s m o s tr a ta nta lu z Q u e olhando para c i m a e u cuid o q u e Iesus A s estrelas f o n no u d e lúridos novelos Do s r aio ai o s i d ea i s d o s o l d e seus cabelos... E assim n o t e u olhar, tã tãoo negro, m e u j a s m i m U m a estrela s e fe z d o nosso a m o r s e m fim.

a estrela estrela, Deixa loura e m a n s a , Q u e n obrilhar s há d ea guiar à pátria d a Esperança.

Olha-me s e m p r e assim... n o t e u olhar formoso, Minha noite e m e u sol,ó Q u e r u b i m piedoso E u q u e r o v e r à toa, e u q uer o v e r boiar, -C o m o s e fosse u m lago o t e u formoso olhar, T o d o u m m u n d o s e m fim d e sonhos e q u i m e r a , Lírios de s a br oc ha ndo a o s o l d a P r i m a v e r a .

N o Horto, o p o e m a r e a p a r e c e , d e n o m i n a d o “Olhos d e Santa , oferecido à s u a a m i g a A n t ô n i a Araújo, c o m p a n h e i r a d o Colégio d o Recife. Con fr on tan d o- se, é d e n o t a r o processo d e t r a n s f e r ê n c i a s , a lo d iv i v in i n o , e m q u e A u t a expulsou d o s e u oratório o anjo i n s u b m i s s o e saudoso: Cheios d e treva e luz uz,, teus olhos t ê m a c o r Da s noites s e m lu a rr,, ó m e u divino a m o r E e u a m o t a n t o a sombra e o brilho doce e puro Doss grandes olhos teus, ó lu z d o m e u futuro, Do

C o m o adora minh'alma o s rutilos clarões D o b an d o virginal d e suas ilusões,

 

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Olha-me sempre e sempre... E m t e u olhar formoso, Minha noite e m e u sol sol, ó Querubim piedoso Eu quero v e r à t o a,eu q u e r o v e r boiar, - C o m o s e fosse u m lago o t e u for orm m oso ol olhar har Todo L u n m u n d o s e m lim li m d e sonhos e quimera: Lírios desabrochando a o s ol d a Primavera N ão v ê s ? É noite, e o C éu n o s mostra tanta lu z Que, olhando para cima, e u cuido q u e Iesus As est estrel relas as formou d e lúridos novelos D os raios rai os ideais d o s o l d e seus cabelos. cabelos... . E assim n o t e u olhar, doce c o m o u m j a s m i m , U m a estrela s e fe z d o nosso a m o r s e m fi m , Deixa brilhar a estrela loura e m a n s a , Q u e n o s h á d e guiar à T e rrr r a d a Esperança. Este “Cores”, d e N o v a Cruz, s et em b ro d e 1 8 9 7 , dedicado à Cecília B u rl e , o u trtr a c o m p a n h e iirr a d o colégio, expressa a delicadeza e graça ori gi nal d e s u a inspiraçao. Enqu a nto a gente é criança T e m n o seio u m doce n i n h o O n d e v ivi v e u m passarinho, F orm oso c o m o a Esperança. El Elee canta noite e d i a Porque s e c h a m a : Alegria. Depois... vai-se a Primavera... É o t e m p o e m q u e a gente cresce... O riso s e m u d a e m prece,

alm a n ão canta: espera

E a o ninho d o Coração Desce outra ave: a Ilusão,

 

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M a s e s t a , c o m o a Alegria, N o s f o g e . . . E fi c a deserto O coração, n a agonia D o In v ern o q u e j á v e m perto. N a s ruínas d a Mocidade É q u a n d o pousa a Saudade... S e e m “Santa Vi rgo Virginum” (Nova Cruz, n o v e m b r o d e 1897), n u m esto d e hiperdulia, h á um apelo t ã o prof u ndo e d e h u m a n a

resignação: Envolve n o t e u v é u Am i n h a triste sorte, E mostra-me na morte Aporta d e t e u Céu

Faz, n o “Versos ligeiros” (Macaíba, 1897), u m final d e leve e graciosa m a l í c i a : É v e r d a d e q u e n ã o fa z M a l n e n h u m fitá-la assim...

Mas, Deus, s e e u fosse rapaz O q u e diriam d e m i m ? E n o “ P e n a s d e garça (Versos d o povo, se t e mbro d e 1899):

R esponde-me, ó juriti, A o q u e t e v o u perguntar: Porque é q u e o D ia sorri E a Noite vive a chorar?

 

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N ã o s a b e s ? N u m sonho brando O D ia ri q u a n d o qu er; E a Noite vive chorando So m en te porque é m ulh er . N a s noites d e lu a cheia O C é u parece sonhar... A Lu a é c o m o a sereia B o i a n d o de ntr o d o Mar.

Era, c o m o Iu le le s Lenôtre dizia d e P a u l V erl ai n e: - C e t e n f a n t a u n e m u s i q u e d a n s l'âme.... c a ssoo , entr e os M u s i c a i s c o m o estes versos, escolhidos, a o a ca poemas: De u m favo t ã o doce C o m o o t e u olhar... S e espalha n o lábio S em g o s to t o d e fel, O doce resábio D e u m favo d e m e l .

O lh lh a q u e e u tenho m e d o D a escuridão... Vamos: termina cedo T u a oração. Ó moça faceira, Do s olhos escuros, T ão lindos, tã tãoo puros,

Q u a l noite fagueira

 

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N essa idade, para q u e S e reza... (saberei eu?) A g e n t e r e zzaa porque T a m b é m s e reza n o Céu. E deslizaram s e m c a l m a A s bagas p o r s u a t e zz..

N o d e sco n so sollo d e u m 'a h n a Q u e chora a primeira vez.

U m caixãozinho funéreo, -A b i s m o d e nossas dores Conduzido ao cemitério

C o m o u m a cesta d e flores. E en q uan t o assim a os pé péss d o R e d e n t o r Choviam m e u s la m e n t ooss .... . l á n o T em p l o d e todo s e extinguia A lu z d o s círios bentos. E enquanto cismo, respondem O s astros, b r a n c o s a r m i n h o s : N ós s o m o s b e r ço ço s q u e e s c o n d e m A s a l m a s d o s p assarinh o s.

Q u a n d o m e vires chorar, Q u e s o u infeliz n ã o c r e i a s ; E u choro porque n o M a r N e m s e m p r e c a n t a m sereias.

Do lábi ábioo o consolo santo É o riso q u e v e m cantando... O riso d o olhar é o pranto:

M e u s olhos riem chorando.

 

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A u t a foi u m a simbolista? U s o u , pelo m e n o s , d a t é c n iicc a i n c o n fund ível , m a i ú s c u l a n o s substan tivos, p e r s o n a l i z a n d o o s apelativos, da ndo - lh e s v e r t i c a l i d a d e , c o n t e ú d o sugestivo, Sonho, Noite, Desejo, L u a r , Treva... Seria u m a v i s í v e l i n t e n ç ã o d e fixar e l e m e n t o i d e a l e m o tivo e transmiti-lo a o leitor n a s i m p l e s i deograf i a. P r o m o v e r a letra inicial minúscula a m a i ú s c u l a . O s r . Otto Maria C a r p e a u x observa:

“ D o car áter sim bolista bolista d a poesia d e A u t a d e Souza pode-se d u v i d a r ; está, n o e n t a n t o , ligada a o s i m b o l i s m o , m a i s q u e a q u a l q u e r outro m o v iim m e n t o l i t e r áárr io i o , pelo e s p i r i t u a l i s m o religioso. D a í o fato d e q u e A u t a d e Souza fo i descoberta pelos críticos católicos.”

A u t a a m o u materializar p e n s a m e n t o s e c o m p a r a ç õ e s , o “lírio Oféé li a, c o m roxo d o m e u coração”, todo o s o neto  D oe o e n t e , a Lua, Of “seu b r a n c o roupão, n oiva gelada”, “ a luz d e um puro a m o r h á d e brilhar c o m o u m a Igreja e m festa”, a L u a “turíbulo i m e n s o para Deus eleva o i n c e n s o agreste d a j u r e m a e m flor , “ g e m e r o círio e soluçar a flor , o poema “ A o luar o n d e o s c la l a r o s d e c a s s í l a b ooss fixam um longo p r o c e s s o associativo d e i m a g e n s , solução d e raro efeito, literário e m u s i c a l , t ã o dista nte d a ironia d e F ag uet s o b re o s sim b o lista s: Q u a n d l 'art littéraire d e v i e n t imprécis, ilfaut qu'on d e v i e n n e m u s i c a l pour rest e r quelque chose. v e a o s precedidos M a sd ea “Adt escober Iackson, ta” n Gã oo ms eedseforam “críticos católicos”. Tristão a í d e , Perilo por Olavo Bilac, N e s t o r V i c t o r , H . C a stricia no , Antônio d e Souza (Policarpo Feitosa),

Antônio Marinho, Marinho, Sebastião F e r n a n d e s , n ã o católicos e todos d e v o t o s d a poetisa. E m e s m o , p o s i t i v a m e n t e , a “permanente” n a poesia d e A u t a n ã o é a rel igios id ad e, m a s o lirismo, e s p o n t â n e o , p e r e n e , legítimo pelas p r o f u n d a s fontes e m o c i o n a i s . N ã o h á , c o m o notou u t a , m a s existe, C a r p e a u x , u m › “ c a r á t e r simbolista” n a p o e s iiaa d e A ut s e n s í v e l e notóri a, um uma a vocaç ão, um uma a tendê endênci ncia a simbolista, um matiz q u e a distingue e r e a llçç a . M a s o simbolismo s e m a fórmula

enigmática, s e m o hermetismo q u e d a v a a o movimento o halo

 

1 53

misterioso d e r es tif 1- o - . . aosiniciados Au 3 S G C Y B Í O , d e magi a irradiante, c o m u m c á v e l a n s a rê ' ' . o s p o. e. m a se d o Horto h o s p e d a m d p0 S ' mngm, ohs mo apenasdlafaneldade o s traços d e dperm1t1da ' hmpldezi discreta o r i l' n a h'd a d e suficien do P . . t e s Para dlstanciá-la d o n i v e l c o m u m _ ' a m a s l a n l s m o ainda onipot ente. -

 

X

C on o n p a llaa bbrr a s se n t i m o s. Miguel d e U n a m u n o

b s or o r çã çã o d a a l m a po porr De u s, Onexprimível misticismo n ã o é a a bs m a s a c o n q u i s t a d e D e u s pela a l m a , num a t o d e c i s i v o d e v o n t a d e c o n s c i en t e. É um uma a s u p r e m a batalha d o livre arbítrio para libertar-se d e s u a onipotência perigosa. A s a lv l v a ç ããoo d a a l m a n ã o m e p a r e c e s e r a finalidade absoluta e , s i m , um m a i s a l é m , e n e b r i a m e n t o , gozo i n e f á v e l d e conhecer e penetrar, s e m perda d a personalidade aníz í v e l, i n t r a d u z ív ív e l m i c a , a s u p r e m a e s s ê n c i a . É p o s s ível a fruição i n d i zí e m a r a v i l h o s a d e s s e e s t a d o d e co nta to , porq ue Deus e a a l m a n ã o conffundem undem,, guarda uardando ndo o s limites es pec ífic os s u b s t a n c i a i s , s e con e m b o r a perdiéndose a s i d e s i, c o m o d e s c r e v i a S a n t a T e r e sa . Cer to é q u e a prec is ão vocabular ja jam mais foi su f i ci ente para a c o n f i d ê n cia. E l e n t e n d im i m i e n t o, o , s i s e e n t i e n d e , n o s e e n t i e n d e c ó m o e n t i e n d e ; al m e n o s , n o p u e d e c o m p r e n d e r n a d a d e lo q ue u e e n ttii e n d e . A mi n o m e parece q u e e n t i e n d a , por q ue, c o m o digo, n o s e e n t i e n d e : y o n o a c a b o d e e n t e n d e r esto S a n t a T e r e s a e r a m e s t r a . A t é a í fo i o r e c u r s o d o s e u

vocabulário.

O “ m a i s além” d a s a lv lv a ççãã o d a a l m a , resumiu U n a m u n o : “ A r e c o m p e n s a d o homem h á d e s e r o próprio D e u s e n ã o o s s e u s

benefícios.” A c o m p r e e n s ã o i n d a g a d o r a é d i s p e n s á v e l n o m í s t i c o . Só i n s e -

parável d a v o n t a d e d e   p e r s e g u iri r a Deus é o a m o r . Malón d e Chaide explicava n o d e p o i m e n t o fiel:

 

156

A s coisas q u e v al em m a i s d o q u e nós, m e l h o r é ama-las q u e c ompr e e ndê -l a s , porque a m a n d o - a s ad quirim o s um s e r m a is i s p e r ffee iti t o , p o i s q u e o a m o r n o s u n e c o m o a m a d o , e c o m p r e e n d e n d o - a s p a re r e c e q u e p erd em s ê n ci c i a e d e v a lo lo r,r , pois a s aj us tam o s e en taalgo d e e s sê l h am o s s eg un d o o n o s s o e n t e n d i m e n t o ; s e porém s ão d e m e n o s v a l o r q u e nós, m e l h o r é c ompr e e ndê -l a s , q u e amá-las.

Fora d e De u s e d a a l m a n ad a d a m a isis existe para o mí stico. N a d a m a i s pode s e r su sce t ív e l d e percepção. Os próprios s e n tit i d ooss n ããoo s ão veículos d e aproximação e s i m f o r m a s p r i m á r i a s d e captação sensit iva, infinitamente inferiores à s n e c e s s i d a d e s d a q u e l a ação ansiosa d a alma e m frente a o s e u criador. Á g u a s q u e buscam n ã o o mar n a fo z i m e n s a , m a s a fonte d a velocid ad e n a t u r a l , eliminando u m a a u m a a s i m p u r e z a s q u e d i f e r e n c i a m v o l u m e e cor, a d q u i r i d a s n o perc u r s o t e r rree n o , através d o p e c a d oo.. T o d a s a s “ p r es enç as ” e s t r a n h a s a essa m e c â n i c a d e a s c e n çã o s ã o passos m o r t o s , c h u m b o d a a s a , forças d e g r a v i d a d e a t r a i n d o i m p l a c a v e l m e n t e para o seio d a ter r a, v i d a q u e finda n o s c e m i t é l a n c óóll i c o d e castigo o u rios e a l m a s v ot a d a s a um ciclo h u m i ld e , m e la

e s q u e c i m e n t o d e Deus. A s coisas “ c r i a d a s ” e c o n t i n g e n t e s n ã o p o d e m existir para o místico q u e s e libertou d e todas a s leis físicas e s u a jornada espi ri ela r az azãã oo.. O s m i s t ééririos os d a tual é m a i s impelida pela v o n t a d e d o q u e p ela i m p r e c i s ã o definitória para os c on o n te t e ú d ooss d a V o c a ççãã o e d a Intuição a c o m p a n h a m e defendem das compreensões vulgares e h u m a n a m e n t e c u r i o s a s n o p l a n o d a “utilidade” 0 ca cami minho nho lumino luminoso so d o místico. A i m a g e m poética d a c r i a n ç a morta q u e a p a r e c e à m ã e

inc ons ol ável , q u e i x a n d o - s e d e n ã o a l c a n ç a r o C é u porq ue a s lágri-

m a s m a t e r n a s m o l h a m suas asas, fixa, e m plano m a i s amplo, a s g r a n d e s a s , a s potên cias q u e r e t a r d a m , dificultam o u impossibilitam o v ô o p a r a D e u s , o D eus d o s Místicos, d a s a l m a s q u e s e p r e n d e m ,  

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i m pe rc e pti v e lm e n te , a o s e l e m e n t o s d a T e rrr r a , p a iiss a ggee m , s aud ad e, lembrança, r e m i n i s c ê n c i a s d e i nteresses isoladores d o Infinito. A u ta d e Souza está comp l et a e t o t a l m e n t e alheia a q ual q uer angústia de sse pro blema d o M i s t i c i s m o . Seus “ pr o bl e m a s ” s ão outros, torturantes, implacáveis,diários, c o n s e c u t i v o s , m a s terrenos, humanos , n o r m a i s , d e n t r o d a cot id ianid ad e dessas relações d e a l m a e corpo. O s e u a m o r n ã o é a “ s a u ddaa d e d o Céu”, o grito d e s e s pe pe r a ddoo d a m a d r e carmelita n o s e u arroubo i n c o m p a r á v e l : V i v o s i n vivir e n mi y d e t a l m a n e r a espero, qu e m u e r o po r qu e n o m u e r o . O a m o r d e A u t a , “ q u e m so fre u muito e q u e m a m o u d e m a i s ” , é diverso, próximo d o s s e n t i d o s e s e a mortificou é porque, c o m o dizia frei T om o m é d e Ie su s: “Amor q u e n ã o mortifica n ã o m e rree c e t ã o divino

nomel

S e u r o m a n c e é a m o ç a a m o r o s a , c o m divina vocação m a t e r n a l , c o n d e n a d a à solidão interior, à renúncia pela m ol olésti éstiaa e c o m o c o n solo d a prática religiosa.

lc a n ç a f o r m a e x c e p c i o n a l d e v o c a A reli gi osi dade d e A u t a n ã o a lc o r v e n ttee . F o i a m o ç a c rir i s tã t ã , d e v oott a d a çã çãoo o u prática minuciosa e a b s or e fiel, t e n d o a s al egrias d e um culto q u e vivia, integral e co m ple to , todas a s n e c e s s i d a d e s d a a l m a . N u n c a d u v i d o u . E n ã o exigiu s e n ã o o q u e e n c o n t r a v a n a liturgia diária e n a s c o m p e n s a ç õ e s m e n t a i s trazidas pelos d e v o c i o n á r i o s pre fe rido s. N a o r a ççãã o e n a c o m u n h ã o , n a assistência à M i s s a e a o s N o v e n á r i o s , n a s p r e ggaa ççõõ e s q u a r e s m a i s , n o exercício d a conf i ssão libertadora e d a s “o rie nta çõ e s” o u “ e n s i n o s ” d o con fe ssor, culturalmente inferior à p e n i t e n t e , e s t a v a m todos o s

“ r e m é d io i o s , s o lluu ç õõee s e con solos p a r a s u a a ngústia feminina e lírica. _ u

-

_

H . Castriciano e s c r e v e u , e m 1910. E la n a o c o n h e c e u os o b s táculos q u e encheram d e tormento a e x i s t ê n c i a d e Marceline  

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D e s bboo r d e s --VV a llm m o r e ””.. N u n c a , e b e m n a t u r a l m e n t e , c o m p a r o u u m a a out ra. Seria a p e n a s de spa utério e m p a r e l h a r os “ m o t i v o s ” poéticos e a s v i d a s d e s s e m e l h a n t e s d a s d u a s poetisas, postos e m ten tativa unificadora. A o vel ho s ab o r d a s “ v i d a s paralelas”, a i n d a seria crível a r e s s u r r e i ç ã o . N e s t o r Victor, l e n d o à s p res s as , d e d u z i u à s a v e s sas. E s c r e v e u : “ N a s u a feição literária, e la fa z l e m b r a r L u c i e n n e d e V a l m o r e , c o m o indica d e p as s agem Henrique C a stricia no , i r m ã o d a poeti sa brasileira, n a sóbria e c o m o v e n t e 'Nota' q u e a d u z à 2* t a a r rrii s c a r se-ia a s e r e d i ç a o d o Horto”. D e e n g a n o e m e n g a n o , A u ta a D e s b o r d e s - V a l m o r e brasileira.” Q u a n d o D e s b o r d e s - V a l m o r e pergunta:

  m 11

M a r c e l i n e Felicité I o s éépp h e D e s b oorr d e s --VV a llm m o rree , D o uuaa ii,, 30-VI-1785,

P a r i s , 23-VII-1859, filha d e um pintor heraldista q u e a Revolução traba balho, lho, reduzindo-o reduzindo-o à m i s é r i a , órfã d e pai, F r a n c e s a impossibilitou d e tra Marceline Marce line viajo viajou u c o m a m ã e p a r a G u a d a l u p e , n a e s p e r a n ç a d e recolher umas h e r a n ç a s d a s t i a s . A s lu t a s lo c a i s haviam d e s t r u í d o o patrimônio. 1799. V o ltlt o u a i n d a m a i s pobre e s e m m ã e , falecida n o regresso. E m 1 8 0 1 , para n ã o morrer d e f o m e , fez-se atriz, e s t r e a n d o e m Lille. Vida e r r a n t e , d e vila e m vila, cidade e m c i d a d e . S e n s í ve l , s o n h a d o r a , d e s e j a n d o a r d e n t e m e n t e um m o t i v o valorizador para suas angústias, atravessou fases d e int enso lla p r eme neds ãíoo, o-, r o moa. nEcme s1 8d1e7 ,aemnoc ro, nt terromui ne amd Bo rsupxe s ent a ba ndono, so frim xee la laa si nucmo mator cre, Franç o is-P ro sp erLanch ant in, d i t V a l m o r e , q u e a desposou. A té 1 8 2 3 , a i n d a D e s b o r d e s - V a l m o r e e s t e ve n o palco, t r a b a l h a n d o . Retirou-se, e n f i m , v i v e n d o para a f a m ília ília q u e a d o r a v a . Lutos, dificuldades ec o n ô m i c a s , m o lé lé s ttii a s , infortúnios í n t i m o s foram a paisagem m o r a l o n d e v i v e u a poetisa. Resistiu e enfrentou , c o m s e r e n i d a d e , o d o m í n i o d a d or or , el ev and o -a n o s seus p o e m a s q u e t i v e r a m acolhida simpática, e depois d e s u a m o r t e , c a lor l oros os a , Sa inti nt-BB e u ve (1870), V i ct o r Hugo, Vigny, Balzac, B rizeu x, A llee xxaa n d rree D u m a s pai, B é r a n g e r foram s eu s a d m i r a d o r e s ferv o ro r o s os o s . D e s d e 1 8 1 8 , c o m e ç o u a publicar s u a s elegias, e m livros qu e, c o m q u a s e n e n h u m a n o t o r i e d a d e n o m o m e n ttoo , obtiveram elogios já

q u a n d o a poetisa n ã o podia beneficiar- se deles. C o m intuição e força c r i a d o r a d o próprio espírito, s e m e s t í m u l o s , c e r c a d a d e d ec ep ç õ es , D e s b o r d e s - V a l m o r e e s c r e v e u os p o e m a s q u e transmitem a o s nossos

 

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O h q u e l e s t d o n c l'obj e t d e m e s v agu ag u es d és és iri r s ? le l'ignore e t le cherche a v e c inquiet ud e. S i , pour m o i , le b o n h e u r n'était pa s la gaité, Ie n e trouve plus d a n s la me l a nc ol i e ;

Mais s i je c r a i ns le s p le u r s a u ttaa n t q u e la folie, O i i trouver la felicité?...

A u t a d e Souza n ã o v a cila e m a f i r m a r , n u m p o e m a , “Agnus Dei , q u e e s c r e v e u n o s e u c u i d a d o s o fra n cê s d o colégio: Écoute, m o n Sauveur, le s soupirs trés a r d e n t s Q u i f a i t voler v ers to toii m a p a uv u v re r e â m e ulcerée, Qu'auprès d e te s autels je passe le s m o m e n t s

De m a v ie d'exilée

N ã o e r a religião m a q u i n a l e servil. A u t a e n c o n t r a v a n a oração os m o m e n t o s d e e s q u e c i m e n t o e a coragem para sofrer. Sofrer a m o lés tia. Sofrer a s con se q ü ê n ci a s q u e a c o n d e n a v a m a o a m o r i d e a l m e s m o n o p la n o t e r r e n o .

A lc l c e u A m o r o s o Lima (1936) e s c r e v e f i xando e x c e l e n t e m e n t e o espírito d e A u t a : S u a poesia alcançou u m a intensidade d e s en t i m en t o cristãoque a té hoje n ã o envelheceu... S e u c a m in h o m í s tico ainda s e encontrava, portanto, n o plano inic ial N ã o

dias s u a história dolorosa e sim ples. ples. T odos odo s os m o t iv o s d e s u a inspiração çã o foram d a própria existência, m a s a s recordações e r a m m u i t a s , d e v iagem , a m o r , c i ú m e , ab an d o n o , desespero, d est ino d o s filhos, p erd a d e amigos.e mA certos fé n ã o mlhe s er en a. desconlhoemaparece Antes é buscada, e n t o s , nnuamfunção a â n s iaiaguiadora o n d e há etimidez,

fiança, desilusão d e s u a eficácia, m e d o d e m a i s u m a fr u s trt r a ççãã o cruel. Comparar Desbordes-Valmore à Auta d e Souza explica-se u n i c a m e n t e c o m e n g a n o d e citação.  

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s e d es p r en d er a n e m dos afeto afetoss n e m d o s encantos terrenos. Vivia, isso s i m , e m p le n a angelitude. T u d o v ia s ob o v é u d e u m a v iri r gi gi n d a d e d e a l m a absolutamente c â n dida e sensível à s m a i s delicadas sensações d e alegria e  

d e sofrimento,sobretudo d e s s a s últimas. Ma s am ava a vida e v ia n o desfolhar precoce d e todos o s s e u s s o n h o s , u m a privação dolorosa q u e a e nc hi a d a m a i s t e m a e pura m el anco l ia. E toda s e voltava, então, para Aquele q u e veio a o m u n d o , c o m o escreveu Claudel - “não para suprimir o sofrimento, m a s p a ra r a s ooffr e r c o n o s c o ? Auta d e Souza sofria u n i d a à Cr u z d o Salvador.

Exatamente. Maria M a d a l e n a A n t u n e s Pereira” r evela o n o m e d e A u t a n o Colégio d a E s t â n c i a : “Lírio do Col Coléé g io . Um místico n ã o m a i s “ s e n t e ” os p r o b l e m a s d a te rra e m e n o s a s r e la la ç õõee s a fe f e t iivv a s , n o p l a n o m a te t e r ia i a ll.. Está d espr ovid o d e órgãos r e c e pt p t i v o s p a r a a s o n d a s s e n s i t i v a s horizontais. Para o alto, para cima d e todos a s estrelas é q u e olha, a v i d a m e n t e , r e e n c o n t r a n d o o i c a m e n ttee i n v óóll u c rroo d a célula h ipe re m o tiv a caminho. O c orpo é u n ic e e o r i e npela q u e sligado t a p acroama pDr ei vei nn sdãa od eparticipativa , e m função caonnse tante n h u m dtotal. está o s m oIáti nvoã os q u e sonorizam o s p o e m a s d e A u t a d e Souza, q u e s ão c o nteú do e i n t e r e s s e d a s c o n t i n g ê n c i a s h u m a n a s , v i v i d a s , a n s i a d a s , desejadas,

sofridas pela poetisa.

A u t a d e Souza sabia p a d e c e r e e s p e r a r n o c é u a s r e c o m p e n s a s d a resignação. Recorria a Deus pela oração.

  í _

12

Oiteiro: m e m ó r i a s d e u m a S iinn h á M ooçç a (36, R i o d e Ja n e iri r oo:: Pongetti, 1958): [...] e a m e n i n a n o Colégio d a E st ância, o n d e e r a conhecida pelo n o m e d e “Lírio d o Colégio”, ta tall s u a angelical co nd ut a e aplicação a os estudos.

 

1 61

N o C éu s e anoitece, N i ng u é m v ê o Sol... Mas, q u e importa? A Prece É u m rouxinol. Também canta amores U m ' a l m a s e m luz... N u n c a viste flores A o s pé péss d e u m a Cruz?

A fé, n e s s e s v e rsos d e sabor popular, n ã o af ugentava a i m a g e m obstin ad a q ue u e a ggoo r a vivia r e s i g n a d a a consti tu i r-se s o m b r a , u m a sombra fiel. E u s ó a d o r o n a terra D a c r i a n c i n h a o sorriso. U m a c a s i n h a n a Serra E um ninho n o Paraíso.

Repousa lá m i n h a fronte Despindo d a m á go a o véu; Q u em e m m o rraa e m c i m a d o m o n t e Está m a i s perto d o Céu. Q u e m d e ra r a q u e e u fosse lírio, Ó minha V i r g e m Maria A o m e n o s este m a r t í r i o D u r a v a s o m e n t e u m dia.

“ Q u a n d o e u m o r r e r ” , v ers o s prováveis d e 1899, reflete o son ho d e aproximar-se, n a m o r t e , d a s crianças e toda m a te ri a li da de física t r a n s f o r m a r - s e e m oblação religiosa:

 

Q u a n d o e u morrer... ( Q u e m m e d e r a q u e fosse n u m d i a assim, n'um d i a d e p r i m a v e r a c h ei ran d o a cravo d e I a s m i m i )

...transformem m e u coraçao -sacrário azul d e esperanças nimi p e q u e n m o caixao para e n t e rra r a s crianças. pv

D e m e u s olhos façam círios, d e m e u sorriso um altar, ch eio d e rosas e lírios t ã o doce c o m o o luar - ; e , g u a r d e m n ele, e n t r e flores,

longe, b e m longe d a terra, a Virgem s a n t a d a s Dores lá d a Igrejinha d a Serra.

D a q u e llee s o n hhoo formoso q u e m i n h ' a l m a tanto a dor a , façam u m tiu'ib'lo piedoso q ue u e i n c e n s e os p és d a Senhora... E a s s a u d a d e s or va l ha da s ,

- d e m e u a m o r triste enleio t ra n sforme m n a s sete espadas d e d o r q u e e la t e m n o seio S e deste repouso santo

e m q u e m e u c or o r ppoo a d oorr m e c e v i e r perturbar o e n c a n t o o choro d e q u e m padece:

e u q uero a s g o t a s d e pranto t o d as m u d a d a s e m prece...

 

Prece q u e leve, cantando, II1i 1ill1h' 1h 'ahna ao celeste m n h o , c o m o u m pássaro ruflando a s a s a s brancas d e arm i n h o

N a noite d o N a t a l d e 1896, e m M a c a ííbb a , u m p o e m i n h a Rezando e m q u a d r a s leves, a d o r a m o Deus M e n i n o , figura infantil q u e pedia, n a v e n e r a ç ã o m a t e r n a l , a con che g o e defesa, inert e n a i n o c ê n c i a recem-nascida: Róseo m e n i n o Feito d e luz, Lírio divino, Santo Iesus

M e u c r a v o olente, C or de m a r fi m , Pobre i noc e nte , Branco jasmim Entre a s palhinlias, Pequeno amor,

Da s criancinhas T u és a flor.

C o m o e u t e a d oorr o , Pequeno assim Iesus, e u choro, T e m dó de m i m . E m t i espero, M o s t r a - m e a luz...

L e v a - m e , e u quero Ver-te, Iesus

 

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N a S e rrr r a d a Raiz, e m j a ne iro d e 1 8 9 8 , o “Senhor d o B o m Fim”, n a s u a c r u z d e sacrifício, inspira ca n t o diverso: T u é s m e u amigo,

M e u sol, m i n h a luz Reparte comigo O p e s o d a C rruu zz.. B e m v ê s quanto choro, T e m p en a d e m i m A T i s ó adoro S e n ho ho r d o B o m F i m .

A solução é p r o c u r a r n a prece a di s tânc i a d o s p e n s a m e n to s tena ze s e s o n had h ad o res , fo n ttes es d e dor: Enquanto, m a n s a , pousar APrece n o s lábios teus, E soub eres m u r m u r a r C o m a s m ã o s u n i d a s : - m e u Deus N ã o digas q u e à lu z vieste Para ch o rar e sofrer, E c o m o a plantinha agreste Sonhar u m d i a e. . . morrer...

N ã o digas, pobre qu e r i da M e s m o s e a d o r te magoa... É sempre feliz n a vida A a l m a q u e é pura e boa.

C as an d o - s e pod eria coincidir c o m Elisabeth L e s e u r o u , le m

b r a n d o p e q u e n i n a estr ela d a t a r d e p o tit i g u a r , A n g e llii n a M a c e d o (1875-1906), a m a n d o , c a s a n d o , e s c r e v e n d o v ers o s melan cólicos e

 

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resignados e m o r r e n d o t uberc ul os a n o A ç u. Iulgara, d e c i f r a n d o o e n i g m a matrimonial, t e r v e n c i d o a e s fif i n ggee q u e a m a t o u .

A r e llii g i o s iidd a d e d e A u t a d e Souza é pro funda , s in c e r a , m e d u l a r , m a s n ã o ascética, m o r t i f i c a n t e , m í s t i c a . O s e u a m o r a Iesus Cristo, a Nossa Senhora, a o a nj o d a g u a r d a n ã o a d i s t a n c i a m d e todos os sonhos lógicos d a s d on o n zzee la l a s , a m o r , lar, filhos, m i s s ã o m a t e r n a l . N a d a fo i p o s s íívv e ll,, m a s o s p o e m a s d e A u t a , claros e doces, r e v e l a m c a n d i d a m e n t e essa frustração. A g r a n d e figura h u m a n a para e la é a m ã e , a m ã e e m b a l a n d o o filho, afeição s a g r a da , “doce es p eran ç a d o s e u v iv i v e r ””.. A m a i o r i a d o s p o e m a s d o Horto está cheia d e cri a n ça s, v i v a s (“Celeste”,  R e n at o , “Versos ligeiros”,  Sone to , 'N o álbum d e Eug i ú m e , “Fefa , Eugên ên ia ,  C iú “ M i m o d e a n o s ,   Oswa ldo , “A o p é d e um berço ,  A d e u s , “ G e n til ,  C r ia t e s ,  R im i m a s , “Gentil ) o u m o r t a s i a n ç a s , “ P a llaa v r a s t r isis te Mort a , “Loli ,  An tonieta (“Angelina ,  Mistério ,   Morta to nieta , “ Z iirr m a , “Dadá ) e a i n d a c o n s o l a n d o a s m ãe  Lídia dia , “Sílvio” ã e s q u e p e r d e r a m filhos,  Lí etc.

A i m a g e m d e a b a n d o n o , tristeza e d e sa l e n t o é u m a “casa s e m crian cri an ças : M e u peito é triste, isolado, Vazia, n u d e esperanças, C o m o u m ninho abandonado, U m a casa s e m crianças. Para Ester (Martins d e A lb uque rque Melo, q u e p er der a a p e q u e n i n a Lídia), A u t a d e f e n d e o ponto d e vista n a d a popular d e q u e a felicidade d a s c r i a n ç a s é v i v e r n a ter r a. “ O q u e irás tu fazer n a e t e r n i d a d e ? ” , pergunta, c o n tra ri a n do a tradição folclórica e s e m i u n i v e r s a l

velóórios ri os em q u e o c ad áver infantil é festejado, porque é m a i s u m d o s vel anjo n o céu. Esse “egoísmo” é u m a atitude legítima d e a m o r m a t e r nal. “Lídia :

 

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Feliz d e quem s e v a i n a t u a idade, M u r m u r a aquele q u e n ão ã o c r ê n a v ida, E n ã o p e n s a s e qu q u e r n a m ã e qu erida Q u e te contempla cheia d e s a u d a d e . Pobre i noc e nte S e alegrar q u e m há-de C o m t u a sorte,rosa empalecida B r a n c a a ç u c e n a , i n d a e m botão, caída, O q u e irás t u fazer n a eternidade? Foges d a terra e m busca d e v ent u ras? Mas, m e u a m o r , s e conseguires tê-las, De certo, n ã o será nas sepu sepullt uras.

Fica e ntr e nós, i r m ã d a s a ndor i nha s ; Deus fe fezz d o C éu a pátria d a s estrelas, D o olhar d a s m ã e s o C éu d a s c r i a nc i nha s .

“Cabe n e s t e s o neto a a l m a d e u m a m ã e , a no to u Pinto d a Rocha.

N o p o e m a “ O coração e o beijo , a poetisa sintetizou a fórmula d e s u a t r a n s f e r ê n c i a d o s sonhos d o a m o r p a ra r a 0 afeto à s cri a n ça s. “Pobre c r i a n ç a é o s e u coração e este s e consola q u a n d o a v ê beijar “ u m a c r ia i a n ç a li n d a , “beijar-lhe o s p e q u e n i n o s lábios . M e u c o raç r aç ão ão c h or or ava e e u lh lhee dizia: Porque choras as s i m , pobre criança? E 0 triste a soluçar, m e r e s ppoo n d iiaa : Ninguém pode v i v e r s e m Esperança. -T u ten s a F é . -A F é? Mas, o q u e é dela

S e m da E sp speranç erançaa a s ilusões serenas?

U m c éu à noite s e m n e n h i u n a estrela, U n fah n a e m fl o r s e m u m sorriso apenas...

 

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-M a s tens a Caridade. -A Caridade? A h , sirn O v inh o q ue u e e m b r ia ia ggaa a dor. M a s e u n ã o amo... Pois, n ã o é v e r d a d e Q u e a Caridade é o q u e s e c h a m a -A m o r ?

Nisto passava u m a c rian ri an ç a li n d a , Botão d e lírio, i m a c u l a d o e santo. M e u coração q u e soluçava a i n d a Sorriu a o v e r o nielinclroso encanto. E foi be ijijaa r-l r-lllie os p e q u e n i n os lábios,

Folhas d e r o s a ab r i ndo d e m a n h ã , Onde a de j a v a m místicos resábios

D o s beijos d e Luna m ã e e d e u m a irmã... C o m p r e e n d e u , então, o desolado A linguagem sublime desse harpejo: N e s t e mundo d e lág ágririm m as povoado, A Caridade pode estar n u m beijo

Para s u a afilhada Maurina G o m e s , e m 2 6 d e agosto d e 1899, oferece versos:

U m beijo d e criança, C a in in d o e m m i n h a s dores, É c o m o o S o l n a s flores, O pálio d a Esperança. E en q uan t o , ó lírio, v o a A ti m e u coração, B e i j a n d o a m i n h a mão, És t u q u e m m e abençoa...

E m “Ad eus , Gentill (Alto d a Saud ad e, 1 4 d e m a i o d e 1899):

 

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Hóstia loura e formosa, Ó m e u sonho dourado A çu cena d o Céu, arcanjo im ac ulad o Q u e a s a s a s virginais desdobras sobre a terra... Longe d e ti, choro ro,, ass i m c o m o n a s e rrrr a ti , e u cho e O Q udoce a n d ojuriti o S oql vu ae i soluça m o r r e n dpadece, o e qu ando a Noite desce.

Adeus, m e u colibri Adeus, m i n h a saudade Criancinha q u e e u a m o , Ó fl o r d e c a s titid a d e M i mos o lirio puro,inocente e gracil, Camélia desbrochada a o s o l d o m ê s d e abril

G e n t iill, lo u rroo , airoso, anjo d e Botticelli, festejado p o r toda a cidade, e r a filho d o padeiro d e Macaíba, Te i xei xeira ra B ol olachi achinha. nha. E m a i s esta c o n fifi s s ã o e n llee v a da n a s horas tristes d e 1 8 9 9 :

Q u e o m e u Verso te l e v e , açucena bendita, N a s a s a s d e cristal, a s brancas e s p e r a n ç a s . . . E o afeto sagrado e a te r nu r a infinita Q u e mi nh'a l ma consagra a todas a s crianças.

Sentia~se v a g a m e n t e  m ã e daqueles grupos q u e a seguiam, fas-

c in i n a d o s p e la la e n c a n t a d oorr a m o r e n a . A s crianças fugiam d a escola d e d o n a M a r i a Leopolda d e Brito G u e r r a para a c o m p a n h a r , procurar, c e r c a r a poetisa. O n de A uta estivesse, f atalm ente h a v ia i a c r iiaa n ç a p o r perto. O n o m e q u e lhe lh e v i n h a n a t u r a l m e n t e à linguagem afetiva e r a  criança , s i n ô n i m o d e filho, anjo, protegido,amparado pela s u a graça tr ans b o r dante. E r a inco ntido desejo d e prolongar n o s entes queridos, a s a m i g a s q u e e r a m m o ç a s o u senhoras casadas e c o m filhos, a o próprio s e u a m o r distante o u próximo, m a s sempre vedado, a s virtudes

votadas à s crianças, meiguice, bondade, alegria, fidelidade, pureza

de cor coraç açãã o, limpidez d e f é , gratidão, inocência dovício, devoção d e v i r t u d e s , d e s t i n o d e salvação e t e r n a . A m p l i a v a - s e n u m a intenção

 

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recôndita d e m a t e r n i d a d e ideal, g u i a n d o e d efen d en d o , e s t e n d e n d o 0 m a n to to d o afeto n o ine fáv e l complex o d a proteção i nc o ns c i ente e profunda. E s s e a m o r à s c r i anç as e r a u m a a f i r m a t i v a d e perp etuidade n o tempo. Dizia t a m b é m a presença visí vel d o futuro, 0 p o r v e n i r q u e e l a s r e p r e s e n ta v a m . S u a a m i z a d e e r a u m a antecipação afetuosa d a

eternidade. U m a m e c â n i c a d e compensação.

N o p o e m a “ R e c u e r d o , d e d i c a d o à s u a a m i g a Chiquinha Pinheiro, t ã o s u a a m i g a q u e a a c o m p a n h a v a n a s viagens à pro cura d e mellioras, a a m b i v a lê l ê n c iiaa s e n t i m e n t a l é d e snorteante. O personag e m q u e fala t ant o pode s e r um anjo d o c é u c o m o u m a enti dade d a t e r r a , ambos confusos n a sid er alid ad e d a evocação am o ro s a.

Auta e s c r e v e u 1 4 v ers o s , m a s s ó publicou os três prim e iro s. A o 89 9 (o s versos s ão p o s s i velm ente d e fim fi m d a terceira q u a d r a , e m 1 89 1 8 9 5 ) , a letra fina e firme d a poetisa risco u u m def i ni ti vo f i m , a n u lando a s onze q u a d r a s r e s t a n t e s , e m n aadd a indigna s d e publicidade, m a s rev el an d o um m o m e n t o d a a l m a q u e n ããoo m a i s desejava v e r notório e m a n i f e s t a d o à v u l g a r i d a d e d o s leitores. F i n d a v a o m ê s d e Maio envolto e m preces, O doce m ê s d a s orações formosas... la m c o m e le a s encantadas messes D o s p e r f u m e s , d o s sonhos e d a s rosas.

Er a m u i t o à tardinha; a s a v e s m a n s a s Voavam todas, e m formosos pares, C o m o s e fossem garrulas crianças Q u e aiidassem, rindo, a percorrer os a r e s E e u m u r m u r e i a o v e r assim v o a n d o Aquelas aves para os brandos ninhos: “Ahl q uem m e dera s ó a n d a r cantando,

Sempre criança, c o m o o s passarinhosl”

 

E e n q u a n t o estava n e s s e ledo e n c a n t o A o c o n t e m p l a r a noite q u e descia, E n q u a n t o preso d e iun delírio sant o T o d o o m e u s e r chorava e est rem ecia,

V i q u e chegavas para m i m , criança, T e n d o n o s olhos inn l am p ejo doce, E m e dizias n u m a v o z tão tã o m a n s a C o m o s e o e c o d e u m suspiro f o s s e : “ E m q u e t u pen s as , m e u a m o r d o Céu Q u e mágoa f u n d a n o t e u seio existe? O m u n d o i n t e iirr o v e n d o o pesar t e u S e e nvol ve e m s o m b r a e v a i ficand o triste

E m q u e t u cismas? V ê s ? A t é a s flores P e d e m a o c é u q u e lhe lh e c o n c e d a orvalho, Para s e n t i r a s tuas grandes dores E v ã o c h o r a n d o a t r e m u l a r n o galho. N a o p e n s e s n a tristeza... A s tardes belas L e v a m n o seio todos os abrolhos... E ergue a cabeça e deixa q u e a s estrelas

V e n h a m brilhar n a noite d e t e uuss olhos. O q u e vale n a vida Lun Lu n sonho a m a d o O q ue u e v a llee n a terra tuna ilusão Sonha, querida, e q u e este sonho alado Erga n a s a ssaa s o t e u coração...

E t e cal calast aste. e. A o longe s e extinguia D o S o l poente o derradeiro raio.

M e u D e u s C o m o e r a triste esta agonia,

O último a d e u s d o d e s oolla d o Maio

 

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E e u vi d e s c e r pelo t e u rosto a r d e n t e C o n v u l s o o choro e m copioso fio... E tive p e n a deste olhar dolente, B a n h a d o e m pranto, a tiritar d e frio...

Lírio Celeste O pranto d e tu'alma F o i para m i m u m raio de E sp speranç erança. a. D e m i n h a s mágoas n a tristeza ca lm a E le s e m e l h a mn a r c o d e aliança.

Deixa c a i r o t e u o llhh a r b e n d i t o Sobre mirih'alma, c o m o t u n pálio aberto. Q u e importa a dor? M e u coração aflito V ê n o s te u s olhos u m futuro certo. E q u a n d o u m d i a e u m e a u s e n t a r d a terra, Q u e r o - t e jimto a m i r n , triste a chorar... Aagonia d a Morte n ã o m e aterra Se e u vir o C é u n a lu z d e t e u olhar.

A p a i s a g e m , i n s e p a r á v e l d a poesia d e Au t a , r a r a m e n t e impunha u m a v isã o única d o s e u a s ppee c ttoo . U m a n ooii t e d e luar, a lu z b r a n d a e cobrindo d e o con d ã o d e inspirar-lhe, e m o Iundiaí, atépida g o s to go t o d e 1898, um prata q u a d r o b e m r a rteve d e s u a s composições. o n o ritmo

Noites a m a d a s Ó noites claras d e lu a cheia E m vosso seio, noites chorosas, Minh'alma ca n t a c o m o a sereia, V iv i v e c a n ttaa n d o n u m m a r d e rosas;

 

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Noites queridas q u e Deus prateia C o m a lu z d os sonhos d a s nebulosas, Ó noites claras d e lu a cheia, C o m o e u v os amo, noites formosas Vós soi Vós so i s u m r i o d e lu z s a g r a d a Onde,sonhando, p a s s a embalada Minha Esperança,de mágoas nua...

luaa plena Ó noites claras d e lu Q u e encheis a terra d e pa z serena, Como e u v os amo, noites d e lua

M a s a n a t u re za , p o r s i s ó , n ã o d e t e r m i n a v a e m A uta o motivo estético. E r a m o l d u r a , clara e linda , a o s e u p e n s a m e n t o , p e n a s d e a m o r , m á g o a v i v i d a , sofr imen to físico, pr en ú n cios d a morte, pássaros, cri a n ça s, m o ç a s, m ã e s , a lem b r anç a c r u e l d a felicidade i m p o s s ível traziam-lhe à s r i m a s a s fi g uras i ne vit vitáveis áveis d a movimentaçao tem áti c a. 4-

I l u m i n a v a a todos a l u mi n osi d a d e tranqüila d e s u a fé, profunda e doce, t u d o q u a n t o Dind inha lhe lh e ensinará. N a o p e r d e u n a v i d a um uma a s ó d a s jóias d o s e u tesouro religioso. Jackson d e Figueiredo, e m 1 9 2 4 , r e s u m i a a leitura d o Horto, afirm a n d o q u e essas “constantes” d e refúgio n a oração e n a fé “levam a a p r e s e n t a r A u t a d e Souza c o m o a m a i s alta expressão d o n o s s o m i s t i c i s m o , pelo m e n os o s , d o s e n t i m e n t o cristão, p u r a m e n t e cristão,

poes es i a brasil brasileira eira . n a po

 

XI

Y e t I feel t h a t I shall s t a n d h encefo rward in t h y shadow.

Elizabeth B a r r e t Browing E d e n t r o e m pouco, b r a n c o d e n ev e v e, e, Verão o esquife d a pobre tísica.

A u t a d e Souza Emoléstia, a D a m a B r a n c a , colaborou n a p o e s ia ia d e A uta d e Souza?

Filha d e tub e rculo so s, do ente a o s 1 4 anos, A u t a teve a D a m a B r a n c a n u m c o n v í v i o i n s e p a r áávv e l, e n t r e a c a l m i a s e rec rud es c ê n c i as .

C e r t a m e n te t e n ããoo h á u m a psicologia específica para o tub e rculoso e s e u e s t a d o mórbido a p e n a s excita ca ra ct e ríst i ca s funcio na is d o próprio t e m p e r a m e n t o . A moléstia n ã o d e t e r m i n a excepcionalidades artísticas n e m afina perspicácias intuitivas. D i s c u t í v e l a excitação erótica n o s tísicos o u a i rri tab i li dade, a agressividade perm a n e n t e . H á tísicos c o m a s gradações e n u a n ç a s t e m p e r a m e n t a i s c o m o toda a gente. A clássica i m a g e m d a i m p u l s i v i d a d e irre sistí v e l d o s epiléticos d i fi c i l m e n t e explicaria a gravidade triste d e Machado d e Assis. O tísico, o “ d o e n t e s e n t i m e n t a l ” a t é a p r i m e i r a dé c a da d o século X X , n ã o e st á diferenciado d o s d e m a i s d oe n t e s pela p r es enç a d o bacilo d e K o ch . A psicologia continua h u m a n a e r e a g i n d o a n t e a s excitações i n t e r i o r e s e e x te t e r iioo rree s c o m m a i o r o u m e n o r i n t e n s i d a d e ,

ta lq u a lm e n te ocorre n u m a criatura sadia e c o m u m . Existe, n u m a r esistên cia t e i m o s a , é a figura típica d o tuberculosojf* recriação literária, f o r m a imóvel n a imaginária popular, m a g r o , pálido, tossindo,

 

1 74

inapetente, irritante e irritado, d e s a j u s t a d o , egoísta, indignado com a idéia d e alg alguém uém ter s a ú d e junto a s e u sofrimento, nervos vibrantes

e c a p t a n d o sons q u e p a s s a m despercebidos a q u a l q u e r o u t r o s i s t e m a n e r v o s o . É o p r e d e s t i n a d o a um uma a a c u i d a d e e xce pcio na l. O q u e in ega-

velmente existe é o tuberculoso vivendo n o s sanatórios, com d e z e n a s d e c o m p a n h e i r o s , h o m e n s e m u l h e r e s , isolado, d i s t a n c i a d o d a n o r -

m a l i d a d e e x isi s t e n c i a l,l , e x iilla d o d o c o n t a t o social, es tab elec endo , pela i n t e r c o m u n i c a ç ão ã o d iá i á r ia i a , um cl clim ima a peculiar à s c o m u n i d a d e s s e m i cla ustra is, valorizando a s m i n ú c i a s d o c a s o pessoal, dramatizando s u a d o e n ç a porqu e é m a n e i r a única d e projetar-se n o g r u ppoo h oom m og ê n e o p e la l a a p rree c i a ççãã o a m p l i a d o r a d o e l e m e n t o individual. É d e sse “ s a n a t o r i a l q u e parte a d o c u m e n t a ç ã o m a i s v a s t a p a r a o s e st u d os, p e sq u i sa s, inquéritos sobre a psicologia d o t uberc ul os o, tu b ercu loso tornado m e m b r o d e um clã, participe o u chefe d e u m a tribo, c o m s erv o s , v as s al o s , vítimas e heróis, d e n t r o d a cotidianidade d a m a n s a tragédia b aci lar. S ã o e ssss eess o s p e r s o n a g e n s d e r o m a n c e s e pl anos e s q u e m á t i c o s , c o m a s fugas, refúgios, exaltações s u b l i m a d o r a s d a m e n t a l i d a d e d e c a d a u m . É o “pa tra que ”, d o e n t e v e t e r a n o d o s s a n a tórios, espécie d e c o n d e n a d o à prisão perpétua q u e n ã o c o n s e g u e a s s u n t o e ação fora d o s lirnites circunscritos pela s u a grilheta. É o “ v e t e r a n o d o P a r a gguu a i , i n c a p a z d e alhear - se à s r ecor d aç ões incom-

paráveis d a c a m p a n h a sofrida e q u e fa z convergir p a r a e s s e c e n t r o d e i n t e r e s s e a u n i v e r s a l i d a d e d os m o t i v o s o u v i d o s e p e n s a d o s . N a d a o c o r r e u c om o m A u ttaa d e Souza q u e s e m e l h a s s e a e s s e cenário. Nunca fo foii se g re g a d a . Nunca p e r d e u o âmbito familiar, d o m é s t i c o , afetuoso, n a solicitude d o s i r m ã o s , a v ó e a m i g a s . N u n c a fo i e v i t a d a , repel id a, d i s t a n c i a d a . N ã o s o uubb e o q u e e r a p n e u m o t ó r a x , f r e n i c e c t o m i a , t orac opl as t ia. Morreu q u a s e trinta a n o s a n t e s d o s antibióticos. E r a d o t e m p o d a c a r n e , ovos, leite, cre o so to , a r s ê n i c o , ca co dila to s,

de

de

ao

doscama,

fosfatos, c o m i d a eóleo c a l md ae . fígado N u n c ad ef obi acal i n t e rn rhnau. a d aFiel . C oanof di romgamd ao o diagnóstico, Dindinha trouxe-a p a r a M a c a í b a e assumiu o p a p e l d e m é d i c o - a s sisten te. T u b e r c u l o s e c u r a v a - s e , o u a t e n u a v a - s e , c o m a l i m e n t a ç ã o

 

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e o s “ares”. E ev it ar sol, sereno, friagem e contrariedade. Seriam a s paixões tristes, p r o f u n d a s e prolongadas d e q u e falava, e m 1826, o m e s t r e L a ëënn n e c . H a v iiaa , e m casa, u m a p e q u e n a f a r m á c i a para

en f r en tar os s i n t o m a s , tosse, febre, hemoptise, suores noturnos, anorexia. Fazer Auta t e r apetite e nã nãoo m ago ago arar-se se eram o s dois pontos básico si coss de D in din h a .

P o r esse m e i o , abriu a flor d o r o m a n c e d e a m o r q u e a e n c h e u d e a m a r g u r a , tristeza e s a u d a d e . A uta rea g i u p el elaa fé q u e lh lhee fortalecia a resignação. Resignação e n ã o e s q u e c i m e n t o . E a própria convicção, s u s s u r r a d a pela lógica d o tem p o , d e q u e m o ç a tísica n ã o podia, o u n ã o devi a c a s a r . E r a o c a s o d a g r a v id i d e zz,, s i n ô n i m o d e m o r t e de c r e tada. A s s u n t o a i n d a aberto e discutido e r a e s s e , m a s naquele t e m p o horrorizava a idéia d a tuberculose hereditária, fatal, indiscutível, v i n c u l a n d o o r e c é m - n a s c i d o a u m a cadeia d e mart írio, n a pista d o cemitério. Muito i n t i m a m e n t e , te nh o a i m p res s ã o q u e A uta n ã o d efen d eu s e u a m o r c o m m a iiss violência, porque pensava n u m filho tuberculoso. E la i a oferecer a u m a criança, a sua, a herança d os pulm õ e s c a v e r n o s o s e d a s tosses quintosas. F o i a s u p r e m a oblação. Sabe-se q u e o tuberculoso evita o n o m e tísica, tuberculose. H á, e m todos o s sa n a t ó r i o s d o m u n d o , um uma a sinoním sinonímia ia pitoresca, fugin-

do-se d e u s a r o vocábulo assustador. N om om e m , n uum m e m . Q uuee m fala m u i t o n u m a moléstia acaba sofrendo dela. O u piorando-a, p el elaa atração çã o verbal.

A u t a n ã o evi tava o n o m e triste. E m outubro d e 1 8 9 8 , e s c r e v e u “Doloras , e m o c i o n a n d o todos os leitores. Iá v ã o c a m i n h o d o cemitério Meus louros s on o n ho h o s e m visões n e g r a s , E sidéreo vão-se t o d os os n o A z u l

C o m o u m a n u v e m d e toutinegras.

 

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A noite d e o n t e m levei c h o r a n d o Todo o passado d e m e u s amores; E o d i a a iinn d a m e a c ho ho u r ez an d o N o i m e n s o terço d e minhas dores. Vejo n a vida longo deserto S e m doce oásis d e salvação. Dentro e m m i n llii 'a llrr n a , dou da, chorosa, D e pobre m oç oçaa titiii be r c u los los a , Cheio d e medo, trêmulo, incerto, Bate c o m força m e u coração. E assim m o r r e n d o , coitada, a os poucos,

Convulsa e fria, louca d e espanto, Solto suspiros, soluços roucos, Olhando a s cruzes d o C a m p o Santo; P or o r q u e m e l e m b r o q u e m u i t o breve L e v a - m e a e le tanta d o r física. E d e n t r o e m pouco, b r an c o d e n ev e, Verão o esquife d a pobre tísica.

oeti sa? Seria a t u bbee r c u lloo s e u m a “con st a n t e ” n a imagin aç ão da p oeti A s s i m c o m o Rodrigues d e A b r e u n a “Casa d e st e l ha d a o u A ugus to d o s Anjos n o   E u , e m b o r a n ã o tuberculoso? E r a u m a r eali dade c r u e l para e la e n ã o um m o t i v o d e criação literária c o m o a inspiração d e A n t ô n i o Nobre , s ad i o e lépido a o d e s c r e v e r n o p o e m a “Só a s agon i a s f a t a iiss d o “Males d e A n to . A D a m a B r a n c a segurou-o dois anos depois. A u t a a d o e c e u an t es d e fazer versos e an t es d e t e r q u a llqq u e r p e sa r profund o, prolongado e triste, exceto a m o r t e d o s pais, d e u m i r m ã o q u e i m a d o e d o a v ô m a t e r n o . O u s er i am esses m o t i v o s d a afli-

çãoo t o r n a d a infecção? A u t a p e n s a va çã v a s e m pr e n a D a m a B r a n c a ?

U m a i n a r r e d á v e l p res en ç a c o m o a m o r t e n a m ú s iicc a d e Chopin? O u o d e s t i n o e m B eet h o v en ? A D a m a B r a n c a fo i u m a c o m p a n h i a

 

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r q u e a ppaa r e c e u q u a n d o A u t a chegara a o s 1 4 anos e n ã o m a i s a fi e l p o rq ab an d o n o u. On z e anos d e convívio, n a lenta extensão d a tuberculose q u e e n c o n t r a a predisposição m a t e r i a l , a r r a n j o d e gerações para a hospedagem def i ni ti va. S ão escritos, e m p le n a crise, dispnéia, tosse, i n s ô n i a , febre e frio, estes dois sonetos, r e u n i d o s à s e gu g u n d a e d iiçç ã o (Paris, 1 9 1 1 ) .

Doente A lu a veio... foi-se... e e m b r e ve v e a in in d a , Há d e voltar, a doce lu a a m a d a , S e m q u e e u a veja, a m i n h a fada linda, S e m q u e e u a veja, a m i n h a b o a fada. E la h á d e vir, Ofélia d e s m a ia d a , S ob a s n u v e n s d o c éu n a a lv lv u ra r a infiiida D o s e u b r an c o roupão, noiva gelada, B o i a n d o à fl o r d e i n n r i o q u e n ã o finda. E la h á de vi r , s e m q u e e u a veja... Entanto, C o m q u e tristezas e s a u d o s o e n c a n t o Choro estas noites q ue u e p a s s a n d o vão... Ó lua Mo st ra-m e o t e u rosto a m e n o : Olha q u e m u r c h a à falta d e s e r e n o O lírio roxo d o m e u coração

B a r r o Vermelho, 1900 E r a a t e r a p ê u t i c a proibitiva d o s e r e n o , “ q u e d a d o orva lho , friagem d a noite q u e o luar regela, t e m p e r a t u r a s m a i s baixas, provoc ad o ras d e desequilíbrios, a fa st a n d o d e A uta a contemplação d a lua,

s u a devoção r o m â n t i c a ; “ C o m o e u v o s a m o , noites d e lual

N o “ S ú pplli c a ” , é o probl ema d a ap ar ente i m u t a b i l i d a d e d e s e u sofrimento ante a transformação rápida d a s coisas.

 

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S e tudo foge e tu do desaparece, S e tudo c a i a o vento d a Desgraça. S e a vida é o s o pr pr o q u e n o s lábios passa

G elando o a r dor d a d er r ad eir a prece; S e o sonho chora e geme e desfalece Dentro d o coração q u e o a m o r enlaça, S e a rosa m u r c h a ind a e m botão, e a graça D a m o ç a foge q u a n d o a id ad e cresce; S e Deus transforma e m s u a le i t a o pura A d o r d a s al m as q u e o I de a l torttua

N a d e m ê n c i a feliz d e pobres loucos...

S e a água d o r i o para o o c e a n o c or o r rree , S e tudo cai, Senhor P o r q u e n ã o m o r r e A d o r s e m fi m q u e m e devora a os poucos?

Essa “Oração d a N o i t e (Macaíba, 9 d e abril d e 1899) é o apelo a o

sono libertador d e realidades, pondo-as fora d o a l c a n c e d o p e n s a m e n t o . Numa i m a g e m f e lil i z , Auta c o m p a r a a “Oração” a o rouxinol, c a n t a n d o d e noite, e n ch e n d o d e mu si ca l i d a d e s consoladoras a s horas

silenciosas e opressivas. Agora o s on o n o e rraa o Desejado, apaziguad or d a s i n s ô n i a s q u e p o v o a m d e a s s o m b r o a s vigílias d o s tísicos. Ajoelhada, Ó m e u Deus, e a s d u a s m ã o s u n id id a s , ploro oro a t u a graça... Olhos fitos n a Cruz, im pl Esconde-me, Iesus D a t r e v a q u e esvoaça N a tristeza e n o horror d a s noites m a l dormidas.

Maria Virgem m ã e d a s a l m a s compuiigidas,

Sorriso conforto Recolhen eos prazer, e u s lábios passa s a oração q u e n oosnsamdesgraça... E m palavras d e fé n o t e u ainor imgidas.

 

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Anjo d e m i n h a guarda, Ó doce companheiro T u q u e levas d o berço a o porto derradeiro O lúrido batel d e m e u sonliar s e m fim, o n o q uuee traz o bálsamo a o tormento, Dá-me o s on Afoga o coração n o m a r do esqueci esquecim m ento ento.. .. Abre a s a s a s , m e u anjo, e estende-as sobre m i m .

U m m ê s depois ( 2 1 d e m a i o d e 1899), já n o Alto d a Saudade, A uta soube q u e Nininha A n d r a d e (Ana d e A n d r a d e L i m a , depois senhora Carlos Ribeiro Dantas), c o m p a n h e i r a d o s “assustados” e m q u e e r a u m a d a s pian istas, estava rez an d o u m a “ N o v e n a ” pelo s e u restabele c i m e n t o . E n v i a --llh e u m soneto onde sonha q u e o próprio coração suba a os Céus. “Obrigadal” E t u r e z a s p o r m i m Como agradeço Essa esmola gentil d e t e u carinho... C o m o a s torturas d e mi nh'a l ma esqueço N e s s a t u a oração, floco d e a r mi nho

E u t e bendigo, ó santa q u e estremeço, A l m a tão tã o pura c o m o a fl o r d o linho, É t u a prece à mágoa q u e padeço A s a d e p o m ba d e f e n d e n d o u m ninho

Reza, criança Junta a s mãos n ev ad as E cerra a s níveas pálpebras a m a d a s Sobre os teus olhos c o m o u m li n d o véu...

Depois n a s a s a s d e u m a prece ardente, Deixa cantar minlfahna docemente,

Deixa subir m e u coração a o Céu

elaa p el elee d a a m ig a , A insistê ncia d e a l v u r a , b r a n c u r a , sugerida p el a r m i n h o , linho, n í v e a s , n e v a d a s . U m d o s p s e u d ô n i m o s d e A uta

 

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a s N ev e v es e s . Inconsc e r a Hilário d as nconsciente iente sublimação sublimação d e s u a e p i d e r m e d e m a t i z escuro? Devia s e r r e a l m e n t e reação obscura d o s u b c o n s ciente, porque ja m a is i s A u ttaa d e Souza sofreu q u a l q u e r alusão a o s e u m e s t i c i s m o . E r a a primeira m o ç a d a c i d a d e e a primeira poetisa d o R io io G rraa n d e d o Norte. Disputada, q u e r i d a , a c l a m a d a . Os irm ã o s n ã o a d e i x a v a m n o i v a r porque e n t e n d i a m q u e A u t a n ã o d e v i a “ t o m a r estado”. O n a m o r a d o fo i a fa fa s ta t a d o . N ã o s e afastou. Talvez, i n t i m a m e n t e , a m o ç a esperava q u e e le lutasse p e la l a fe lil i c id id a d e , c o m obstinação m a i s d e c i d i d a . Insistira pouco. A u t a p e n ssaa ra r a m e re r e c eerr u m a batalha m a i s r e n h i d a e prolongada e n u n c a a r e n ú n c i a q uas e i m e d i a t a . Seria, c o m o um uma a razão dolorosa, oculta e terebrante, a orige m d a decepção.

A c o r n ã o estava n o debate. A ut a, entr etanto , deixa ap arec er, pela id o tão m o r e n a , reitera reit era çã çãoo po poéé tica tica , o desejo re côndito d e n ã o t e r n a s c id u m a morena-sapoti. A s i m a g e n s e comp a ra çõe s ligadas à c o r b r a n c a s ão c o n s t an t es n o s p o e m a s . O p s e u d ô n i m o é d e i r r e s p o n d í v e l relaçãoo d e n u n c i a n t e : Hilário d a s N e v e s , a l v u r a e alegria. çã Perde a m ã e c o m 3 a n o s. O p a i a os 5 . Irineu, o irmão q u e r i d o , m o r r e q u e i m a d o , e m so frim e nto s horríveis e m 1887. Tinha doze anos. J á escrevia versos. Auta estava n o s 1 1 . O a v ô m a t e r n o , vovô

Paula, cheio d e ter nur a, falecera e m 1882. E r a então A u t a menina d e r ó x iim m o , H e n r iiqq u e , e r a i n t e lil i g e n t e , v i v o , m a s 6 a n o s. O i r m ã o m a i s p ró d o e n te e t r i s t e . V i v e u s e m p r e c o m o um v a l e t u d i n á r i o . O irmão m a i s velho, Eloy d e Souza, ficou e s tu tu d an a n d o n o Recife, 1892 a 1894. E m 1 8 9 7 , fixou-se n o R io d e Janeiro c o m o deputado federal. João Câncio e r a t í m i d o e doce. Dindinha foi fo i a figura a n i m a d o r a , i r r a d i a n d o e spe sp e ra nça nça s, ra zzãã o da fortaleza. Auta teve u m a m b i e n t e d e afeto m a i s confortante, m a s melancólico. Teria e s s a série d e pesares a u m e n t a d o a predisposição d a m e n i n a ? D e 1 8 8 7 , m o r t e d o irmão Irineu, a

tubercu ercu lose, p ouco s e sabe d a v id a d e A u t a . 1890, manifestação d a tub “Foi s e m p r e f r a q u i n h a , dizia - m e H e n r i q u e C a stricia no , q u e s e m p r e v i v e u perto dela, exceto e m 1 8 9 8 , q u a n d o ficou e m Fortaleza,

 

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c u r s a n d o a A c a d e m i a d e Direito. Constituirão essas m o r t e s , m ã e , pai, avô, irm ã o , e l e me n t os probantes par a u m a d e t e r m i n a ç ã o n a etiologia d a e n f e r m i d a d e ? L a ë n n e c e n s i n a v a q u e e n t r e a s c a u s a s ocasionais d a tísica pulmonar e r a m a s m a i s precisas a s paixões tristes, sobretudo q u a n d o pro funda s e d e larga duração. M a u r i c e Porot ( Ps i col colog ogii a d e l Tuberculose, B u e n o s A i r e s , 1952)” cita d u a s observações d e Etienne B e r n a r d e u m a d e Lowys, c o n c l u i n d o : A ú n e n espacios cortos d e tiempo, la p as i ó n t r is i s te p u e ddee t e n e r repercusion e s molestas c u a n d o s e trata d e indiv iduo s sensibles yfrágiles, c o m o lo s niños. E essas a m a r g u r a s domésticas d e s a ba p o r ejemplo los b a m s oobb r e A u t a d e Souza e n t re os 3 e os 1 1 a n o s. Estaria e la r e a l m e n t e s adi a e m 1887 o u 1888? A t í s ic i c a é c o n s u m p ç ã o lenta. A e v i d ê n c i a manife s ttaa d a sintomatologia e m princípios d e 1890 n ã o autoriza cer ta a nte rio rida de mórbida? A floração bacilar n o t e r r e n o predisposto? Le s personnes d o n t l e s parents s o n t mort s d e la tuberculose, s o n t plus ƒ a c i l m e n t atteintes, n o n pa s qu'on naisse tuberculeux (cas très rare), m a i s l'on nait tub l h o G u i llee m o n a tt.. E r a a lição tuberculi erculisabl sable, e, es crev ia o v e lh d e Hipócrates. Os resfriados constantes, justificadores d a febre e d a tosse e alterações d e t e m p e r a t u r a , a i n c i d ê n c i a p n e u m ô n i c a , processos c o m u n s d o desgaste n a r e s is i s t ê n c iiaa o rg r g â n i c a , n ã o tinham o c o n d ã o d e alarmar avigilância familiar, l e v a n d o o p a c i e n t e a o e s pe - s e , a te n di diaa -s - s e , t r a ttaa v a --ss e e m casa, n a farmacopéia cialista. C u r a v a -s t r a d i c i o n a l d e c h á e suadouro.

M a s a v i v a c i d a d e d e A u t a m e n i n a n ã o i n d u z a o tipo langue e dengoso, d e atitudes arrastadas, e m c â m e r a le n t a , q u e o R o m a n t i s m o ado r o u. A s l e m b r a n ç a s d e suas am i g as e m Macaíba, sobretudo n o período 1893-1900, s ão u n â n i m e s n a evocação d e u m a m o ç a v iivv a zz,, b e m - h u m o r a d a , pelo m e n os o s “ n aass m o s t r a s d e fora , part ic ipand o e m e s m o t o m a n d o a i ni ci ati va d e todas a s festinhas sociais e religiosas

n a c id id a ddee d e Macaí ba. Q u a n d o piorava e d e v i a v i a j a r para a l g u m a 13

Devo o c o n h e c i m e n t o d o livro a o tisiólogo d r . Milton Ribeiro Dantas.

 

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fazenda o u vila, q u a se s e m p r e u m a a m i g a a c o m p a n h a v a - a escolhida entr e a s m u i t a s q u e s e ofe re ci a m. Onde podia n a s c e r a hipoestesia d o a fa st a me n t o, d a isolação, d o e v i t a m e n t o ? os

possíveis posição n cali aqhues sti ngu i a.d aCitá-la e nsocial t re a s d a p oContra e ttii s a , c u jja a c o n v i v êrec o n,r havia a v a e odielastério relações d e n u n c i a v a elevação e prestígio. T i n h a re cu rsos fina nce ir o s suficientes, r e s iidd in i n d o n u m a d a s melhor es e m a i s a mp l a s casas d a c i d ad e, irmã d e chefe político, a m i g o d o go ver nado r e d o proprietário d o parti do oficial, s e n a d o r P e d r o Velho, v e n d o seus versos e m todas a s revistas d a capital e n o próprio órgão d o G o v e r n o , onde e r a a ú n i c a figura f e m i n i n a n a classe d a colaboração regular. f e t u ooss a d e Auta mantinha poderosamente es s e halo A g r a ççaa a fe

p r e s ttii g i o s oo.. D o n a Iaiá M e de iro s e d o n a A m é l i a M o u r a afirmar a m - m e q u e e sstt a vvaa m d i a r i a m e n t e c o m a poetisa e n ã o e r a m a s ú n i c a s . F r e q ü e n t a v a m s u a casa e a poetisa retribuia a as s i dui dade c o m prazer. Os p av o res d a c o n t a m i n a ç ã o n ão ã o a trt r a v e ssss a v aam m as m u r a l h a s d a c o nvi vê nc i a fraternal. N ã o p i e d a d e e comi se ra çã o para a m o ç a doente (“ (“aa gente n e m s e l e m b r a v a d a s u a m ol olést éstii a , d iz- me d o n a Amé l ia Moura), m a s o brilho i n t e l e c t u a l d e A u t a , a s m a n e i r a s afáveis e n a t u r a i s , a projeção d o n o m e q u e iluminava o s e u grupo, d istan cian d o- o, con sa g ra n d o- o n a p r i m e i r a p lana. A tub e rculo se n ã o cria n e m d e t e r m i n a s e n t i m e n t o n ov o. A s longa s horas d e s ooss s e ggoo , a i m o b i l i d a d e pr escr ita, a vigilância m é d i c a disciplinadora d ã o u m a o po rtunida de causal, u m a disponibilidade v iv a para a introspecção, o d ev an ei o , a meditação, o e x a m e d e c o n s ciência e a floração c o n v u l s i v a d e desejos obscuros d e realizações ideais c o n s t i t u i n d o , n o s ansiosos e n o s e m o t i v o s , a s a t i t u d e s d e abnegação, c a r i d a d e , auxílio, socor r o s o c i a l humanitário. M a s o bacilo d e Koch, e m s i, n ã o t raz o gér m en desses s e n t i m e n t o s e s i m

o d e s e n v o l v i m e n t o d o processo d e s u a ter apêutica para o s d o e n t e s recolhidos n o s sanatórios. U m a observação justa e s e r e n a d e m o n s t r a a n o r m a l i d a d e d a s a titude s q u e o i s o l a m e n t o e a a u s ê n c i a d e

 

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materialização funcional e x p l i c a m . É q u a n t o s e d e d u z d a es p lê nd id a pesquisa feita p o r O r a c y N o g u e i r a e m 1944 n o s sa na tó rio s e pensões d e C a m p o s d o Jordão (“Vozes d e C a m p o s d o Jordão , S ão Paulo, 1950).

A r e s ttrr i ç ã o e c oonn ô m i c a q u e a c r e s c e e multiplica a angú s t ia d o tuberculoso pobre, ex asper an d o- lhe a i m a g i n a ç ã o , n ã o positiva n o s tipos letrados e ins pirat ivos , c o m o C r u z e Souza, u m a reação v e r b a l co ntra a moléstia e s i m u m a acerbação v i b r a n t e n o pl ano d a con struçã struçãoo po poéé titica ca . Verifica-se q u e a força hiperestésica d a revolta transfere-se para a criação m e n t a l u n i c a m e n t e n o c a m p o d a poesia, n a m i n ú c i a s i n o n í m i c a , n a m u s i c a l i d a d e d o ritmo, n o s c u i d a d o s d a onomatopéia, sugestões tenazes para transmitir, q uas e co nta gia r a o leitor, a s emoções estéticas se n t i d a s e fixadas. M a s a tísica é , q u a s e s e m p r e, e , a u ssee n ttee n ooss versos. S u a repercussão é m a i s c o m u m . A u t a d e Souza, doente d e rec urs o s e c e r c a d a pela atenção i n c o m p a r á v e l d e r o te t e t oorr a , j a m a i s p er c eb eu esse u m a a v ó q u e a s e gu g u iu iu c oom m o s o m b r a p ro ângulo irrad iant e d e angústias,tão dolorosas e r e a isi s n o gr ande C r u z e Souza, negro, tuberculoso, p a u p é r r i m o , c o n s c i e n t e d e s u a su p e rio rida de e sofre n d o a negação e evitação d a f a u n a literária d o s e u t e mp o. Os r aarr os os a m i g o s fiéis d o Poeta Negro, pela minoria e m b o r a m a i s fazia a v u l t a r a m a s s a d i s t a n c i a d a e d e s d e n ho ho s a q uuee brilhante, o fingia ignorar. C o m A u t a d e Souza n a d a o c or o r re r e s e m e llhh a n ttee m e n ttee . N i n g u é m a de s c o n h e c e , a nega, a fere, l i t e r a r i a m e n t e . U n a n i m i d a d e d e elogio, d e c a r i n h o , d e a d m i r a ç ã o c o m p r e e n s i v a , d e e s t í m u l o . A partir d e 1898 s e u n o m e e r a um orgulho para a p ro r o v ín í n c i a i n t e iri r a . A p r i m e i r a , a m a i o r , a p r e d e s t i n a d a , “cotovia m í s t i c a d a s r im im a s , o astro m e l a n c ó lico, a eleita, n om o m e n a c iioo n a l,l , v e n c e d o r a d o t e m p o e d a m o r t e .

É o q u e dizem d e p o i m e n t o s v e r b a i s e t o d a d oocc u m e n ttaa ççãã o

impressa.

 

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Todos os estudiosos d a psicologia d o t uberc ul os o ( algumas d e z e n a s fl u s t f e s l d e m o n s t r a m q u e a expansão d o t e m p e r a m e n t o P€SS0al n ã o é originária d a tísica e s i m d o a m b i e n t e propiciador d o s sanatórios, a s lo n ggaa s h o ra r a s d e imobil id ad e e silêncio, os a ssu n t os c o n c o r d a n t e s , a u n i d a d e nosológica predisponente à c o m p r e e n s ã o c o m u m d os i n t e r n a d o s . F o r m a - s e l e n t a m e n t e u m a a t m o s f e r a q u e f i e l m e n t e repercute e t r a n s m i t e a s expressões e atitud es t o r n a d a s m a i s vi vas e nítidas n o p e q u e n o a mbi e n t e n osocomial. A S pesquisas d e d u t i v a s d e M oo o o r m a n e v iidd e n c iiaa m q u e a m e s m a d oe n ça apresenta caracteres i n f i n i t a m e n t e d ifi fe r e n c ia ia d o s e n tr e s u a s m a i s e m i n e n t e s v í t i m a s , Shelley, Robert-Louis Stevenson, E m e r s o n . Tuberculosos foram os poetas C a s i m i r o d e A b r e u , Castro A l v e s e

F a g u n d e s V a r e l a , C r u z e Souza e G o n ç a lvlv e s D i a s , e a s coincidências s ã o explicadas pela cultura e sugestões literárias d a época, n a d a re ce be n d o, c om o m o e n e r ggii a propulsora, d a tuberculose. Hiperestesia, percepção a g u d í s s i m a , a m plia çã o d a s f a c u l d a d e s intelectivas radição improv improvad ada a e vaga s ã o h e r a n ç a s fundamentadas numa tradição ( M o o r m a n , Turkington, Tobey, Ustvetd). N ã o ha v e rá n u n c a a “const a n t e d a analgesia afetiva d e Minkovsky, d o “ o t i m i s m o ” d e L egr an d , a s “euforias d e Kollarits. N e s s e último, é no táv e l o e s t u d o sobre a euphorie m o m e n t a n é e , a on d a brusca d e alegria e pleni tu de d e e sspp e r a n ç a e n v o l v e n d o o tísico n u m halo d e júbilo efê m ero .

A u t a d e S oouu zzaa , tr atada e m casa, seguiu r e g i m e q u e n ã o podia s e r regu lar e severo. C u m p r i a a trtrad ad i ç ããoo t er a pêuti pêutica ca n o pl ano d o m é s t i c o e popular. N ã o o b ed ec eu a o relógio, horário, disciplina d e função, i m p l a c á v e l e rigorosa. Suas “horas d e d e s c a n s o e r a m m a isis o u m e n o s u m a sesta p r ol o lo n ggaa d a , c o m livro n a m ããoo s o b o olhar i n s e p a r á v e l d e Dindinha. I n d i s c u t i v e l m e n t e esses períodos d e re po uso , e s s a exigência d e sossego, essas horas d e tranqüilidade o f e r e c i a m opor-

t u n i d a d e (tão b e m e s t u d a d a pelos tisiólogos) para a introspecção, a v ia ge m i nteri or, o d e v a n e i o, a cr iaç i aç ão po poéé tica tica . A t uberc ul os e n ã o d e t e r m i n a essa g e r m i n a ç ã o poética n a q u e l e s q u e n a d a p o s s u e m d e

 

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p e n s a m e n t o o u p e n d o r literário. Alarga os horizontes para o s predesti nado s , para os poetas, pensadores, r e a l o u v i r t u a h n e n t e ligados a os e n c a n t o s e torturas d o espírito a rt íst íst ico. ico. Ce rtrtaa m e n t e esses m o m e n tSouza, o s d e mfedi ce ra m o p ant or i mvocabulário, ô n i o e m o c i onnaa sl ed lelee çAu çãã ot ad da es i z etaç r a mã -on ea nmriaqiusecuidadosa i m a g e n s , n a técnica d a s evocações c o m p arat i v as . O s e u p e q u e n i n o r o m a n c e dar-lhe-ia aquele s e n t i m e n t os a d 'incomplétude d e q u e fala al a I c h ookk . “ In c o m p 1 et ud e m e n o s d oollo r os pela assistência d a avó, d o s irmãos, d a s amigas í n t i m a s e afetuosas. ia n a psicologia d o B i s s o n n i e r es tudo u a projeção m o r a l d a f a m ílília tuberculoso. E s tu t u d oouu ju s ttaa m e n t e a a u s ê n c i a d e s s a influência: Le s P a r e n t s quand i ls s o n loin (1949). Ap r o x i m i d a d e , o d e v o t a m e n t o total d a família d e A u t a a s u a pessoa talvez expliquem a b e n i g n i d a d e , a d u r a ç ã o , o p r o l o n g a m e n t o s u a vvee d e s u a c o n d e n a ç ã o tísica. A m ã e paii so f r e r a m p o u c o m a i s d e um a n o . A u t a r e s iiss ttii u onze. Horto e 0 pa reflete a gratidão d a poetisa, d e d i c a n d o s e u s v e r s o s à avó, “ a l m a s a g r a d a , velhinha a m a d a , hóstia g u a r d a d a num cibório d e ouro , e a o s i r m ã o s , nominal e r e p e t i d a m e n t e : De q u e m e serve falar D o s h o m e n s c o m ditos vãos, Se e u v i v o p a r a a d o ra ra r Os olhos d e m e u s irmãos?

À s a m i g a s d o R e c iiffe e d e Macaíba, u m a a u m a , calorosamente, p a g a n d o - lh e s c o m a m o e d a d a s r i m a s a c o m p a n h iiaa fi e ll.. N o s ili lê n c iioo d o s e u coração é q u e a poetisa pensaria, repetindo frase d e Gabriel d'Annunzio q u e e la l a d e s c oonn hhee c e u : Avreifatto d e l m i o dolore la mi mia a gloria...

D o feitio e m o c i o n a l e r o m â n t i c o nota-se a persistência d e dois p o s e n ttoo u n a r e s e r v a : elementos q u e a p o e s iiaa c oonn te t e m p o r â n e a a po olhares e beijos. Os beijos n ã o e r a m desintegradores d a e c o n o m i a

 

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o r g â n i ca e o s olhares n ã o a l t e r a v a m o m e t a b o l i s m o basal. Beijos à s am i g as e à s cri a n ça s. M a s m u i t o s b eij eijos. os. Er Eraa a carícia d a s carícias sentimentais. Dá-me n a s noites, negras d e dores,

U m a Cruz santa para adorar, E e m dias claros, cheios d e flores, U m a c r ian ian ç a p ar a beijar. E u traiisformei m e u coração e m ninho: Nele repousa a t u a carta a m a d a E cant a o beijo a ária d o carinho. Neste m u n d o d e lágrimas povoado,

A Caridade pode estar n u m beijo O olhar d e r r a m a - s e n a maioria d o s p o e m a s ( “Mate r ,   Ca n t a n d o ,   Celeste , “ N o templo , “ Re z an do ,   Lídia ,  M o ren r en a , “Versos lig igee iros”, Ol Olhos hos azuis”,  Soneto , “Olhos d e S a n ttaa , “Versos a Inah”,  R im i m a s ,  Flor d o c a m p o ,  Sol  Soleda eda de , “Penas d e garça ,   A Júlia etc.). Será possível q u e t e m a s

Fitar teus olhos n o s m eus?

A agonia d a Morte n ão ão m e a te te rrr r a

S e e u vir o C éu n a lu z d e t e u olhar.

Deus fe z d o C éu a pátria d a s estrelas, Do olhar d a s mães o C éu d a s criancinhas.

O fácil encontro dessas expressões n o Horto d i z si mplesmente d a legitimidade d a s imagens d e poderosa significação afetiva.

Gustavo Adolfo Bécquer r e s u m e o r o m â n t i c o n a síntese d e suas “constantes” psicológicas:

 

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Ideas s i n palabras, Palabras s i n sentido, Cadencias que n o tienen N i ritmo s i c o m p ás , M em o ri as y deseos De cosas q u e n o existen, Accesos de al aleg egriria, a, Impulsos d e llorar

S e r i a m a valorização d o “e u” e o d e s l u m b r a m e n t o d a p a i s a g e m interior jo r n a d a s s e n ttii m e n ttaa iiss pela s a u d a d e , â n s i a , s o nh o , e n l e i a m e n t o c o n f u s o e l u m i n o s o . A n a t u r e z a física o r a m o l d u r a , ô m eiluno v o s í n t iim mnoas própria , fontes úgnriacnadsedzoa f ee nsim eliterário. n q u a d r aA m natureza e n t o par a nosã omsoe ttiijustifica minada pelo c a s o pessoal, princípio e fim d e todas a s inspirações. O

R o m a n t i s m o fo i u m a sublimação d o amor pr ópr io, q u e M o n t e s q u i e u dizia s e r a base d e todas a s coi coisas, sas, ato atoss e decisões h u m a n a s . Horto é história d e u m a s e n s iibb i l i d a d e , a lm l m a d e paixão e t e r n u r a , f e r iidd a d e morte, c o n s c i e n t e d a c o n d e n a ç ã o inapelável, d e i x a n d o n o s p o e m a s o d e p o i m e n t o d a e m o ç ã o pur a.

A tuberculose n ã o lh e d e u inspiração e m e n o s a ampliou. O s e u e s t a d o , a s u a condição d e tuberculosa é q u e possibilitou um uma a v i sã o m a i s d e m o r a d a e u m a análise m a i s lenta a o m u n d o q u e a c e r c a v a . A cer teza d e s u a moléstia, a s en t en ç a d o i s o l a m e n t o íntimo d e u m a alma n a s c id i d a p a r a a s alegrias d o lar, m a r i d o a moroso, filhos d e d i c a d o s , a resolução diária d o s p equeno s pr oblemas c as ei ro s q u e a t a r m a n ttii v e rraa m , n a c a rn r n e v i v a d e s u a s ens i b i li dade, deviam e n c a n ta

a q u e l e notório s e n t i m e n t d 'incomplétude e s t u d a d o p o r Ichok. A d e s v e l a d a a s s i s t ê n c i a d e Dindinha e a solicitude d o s i r m ã o s n ã o

equilibravam i n t e g r a l m e n t e a de ficiê ncia porque n ã o podi am funcionar n o t e r r e n o e m o c i o n a l o n d e esta s e v e r i f i c a r a . A m e c â n i c a d a c o m p e n s a ç ã o familiar n ã o tinha o m i l a g r e d e afastar-lhe d o espírito a figura m a t e r n a , t o r n a d a v i s í v e l q u a n d o a poetisa s e fe z

 

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m o ç a , haloada d e l e m b r a n ç a s q u e m a i s a d e s d o b r a v a m e a faziam querida: Q u a n d o beijares teus filhinhos, pensa O q u e seria deles s e m teus beijos

Escrevia, e m 1899, par a a s u a a m i g a Eugênia, esposa e m ã e . O a m o r impossível, a r e n ú n c i a d o matrimônio e d a m a t e r n i d a d e gloriosa q u e para e la e r a m m i s s õõee s s u pprr e m a s n o po te ncia l d e c a r i n h o e dedicação represado n u m a d i s po p o n iibb ilili d a d e inútil, diziam à s u a clara inteligência o s motivos d a i n d i s f a r s á v e l a m a r g u r a : Anoite d e o n t e m levei c hor a ndo

Todo o p a s s a d o d e m e u s a m o r e s ; E o d ia a iinn da d a m e a cchh o u rezando N o i m e n s o terço d e m i n h a s dores.

A formação, a convicção e o exercício d a fé lí m pi pida da e completa a n i m a v a m - n a av i v er, e s p e r a n do n o C éu a r e c o m p e n s a a “quem sofreu muito e q u e m a m o u d em ai s ” . A le m b r a n ççaa d o s sonhos e a oração faziam o c e n á r iioo m e r e n c ó r iioo e suave d e equilíbrio, trazendo-lhe: Toda a doçura d a melancolia, Todo o conforto d a recordação.

M a s a poetisa q u e a f i r m a v a  m e u s o lh o s riem c h o r a n d o ” n u n c a c o n s e n t í u c o m u n i c a r à s su as am i g as a tristeza, o d e s â n i m o , a s cores n e u t r a s d o desalento. E r a s e m p r e espirituosa, s e r e na , part ic ipand o d a s r e u n i õ e s s em e m r e ccuu ssaa s e restrições. A p e n a s o “lírio roxo d o c o raçãoo soluçava dolorosamente” n o s e u peito. çã

Essa f o rç r ç a c o n ttee n d o rraa d a expansão interior, religião e v o n t a d e i n c o m p a r á v e l levara-a n o s ú lti ltim m os t e mp os d a v i d a à tranqüi li dade r es i gnada q u e a todos c o m o v i a . H . Castr ician o rec o rd a:

 

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N o s últimos ver s o s , no t a-se a e s trt r a n hhaa s e rree n iidd a d e e sp i r i t u a l a q u e chegou n o s d e r r a d e i r o s dias, inspir a n d o a o s q u e a v i s i t a v a m a m a i s religiosa veneração. Via-se-lhe, então, a a l m a através os olhos brilhantes, m a s . N a q u e llee corpo desfeito, s e m torturas, s e m lá g r iim t ã o leve q u e t u n a c r ia ia n ç a p u d e r a (sic) co nd uzi uzir, r, h av iiaa agora um coraçao r e s i gna do d e mártir, s e n t i n d o prof t u i d a m e n t e o n a d a d a vi da , m a s s e m horror à m o r t e .

N e s s a página d e a ggoo s to t o d e 1910, e scrita e m Paris, a o s 3 6 a n o s , “sentindo o profundam profundamente ente o nada d a vida Henrique mostra a irmã “sentind e , a o s 69 69,, em Nata atal, na carta q u e m e dirigiu em fevereiro d e 1943, lembra q u e Auta e a a v ó   já s a b e m melhor d o q u e n ó s o q u e é o n a d a d a vid a” . P a r a a m b a s , a v i d a t i v e r a significação d i m e n s i o n a l q u e Henrique n ã o s e n t i u n a t r a g éédd i a n e g a t iviv i s ta t a d e s u a g e r a ççãã o . Dindinha, pela intuição, e A u t a , pelo conhecimento d a s leituras reliã o e s ttaa v a m d e ac o r do c o m o n e t o e o i r m ã o q uer id o. Avida giosas, n ão não é inútil, m a s indispensável à s almas q u e aqui cumprem, pela realização d o b e m o u d o m a l , per ceptí vel o u c o m p r e e n d i d a a p e n a s porr De u s, a s provas livres d e s u a justificação para a s a n t i d a d e , pa ra po a s a l v a ç ã o , para a companhia divina. O C é u s e p o v o a unicamente quem em viveu viveu.. A s e s s ê n c i a s puras d o s a n j o s , querubins, a r c a n j o s , d e qu p e r iê i ê n c i a s t e r r e n a s d a t e n t a ççãã o , n ã o s ão n a d a m a is i s a lléé m livres d a s e x pe d a s categorias excelsas d e m e n s a g e i r o s , porque Deus cri ou e pr ecisa d o s h u m a n o s para s u a glória. Glória r e l a t i v a m e n t e à espécie n a s c i d a p a r a desdobrá-la. Sacrificou s e u filho n a redenção. S e m a Morte n ã o h á e t e r n i d a d e . E n e m Céu...

O problema d o sofrimento s e m p r e incompreendido c o m o d i s p e n s á v e l e o d a morte tida p o r anormal e c r u e l t ê m horizontes

e r i a i sq ueeamp ec nr êa se iqnudei smp en nãsoácrê. adiametralmente vida terá t r a d u çopostos õ e s m a tpara v e i sS ae onsãsoe crê, ntid o s , s e n t i d o s d e relação, c o m u n i c a ç ã o física. I n e x p l i c a v e l m e n t e , n e s s e s q u e   s e libertam d e D e u s h á um o b s c u r o e t e i m o s o apelo

 

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div ino . Sentem também o incompleto e a incompletude d a vida. Estão nela apenas pela fisiologia orgânica. Sul l y Prud h o m m e confessava a François Coppée, s e r e no e m s u a fé infantil: A h C o p p é e om m e vous ê t e s heureux... A vida é o veículo para vous n e s av a v ez e z p a s c om alcançar-se Deus. O c a m i n h o d a santidade é n a vida q u e s e encontra. N ã o s e pode r e n u n c i a r a o sofrimento d e v i v e r pelo suicídio. É preciso o heroísmo d a obrigação cu mp ri d a , integral e justa. O  n a d a d a v i d a ” q u e Henrique Castriciano (bom, simples, generoso, cheio

d e ternura h u m a n a ) falava, c o m o expressão positiva d a s o m a total veriffi caçõ cações, es, nada teria d e c o m u m e n e m d e todas a s experiências e veri r e m o t a m e n t e d e próximo c o m o m u n d o religioso d e Auta de Souz Souzaa e d e dona Silvina d e Paula Rodrigues, a Dindinha querida. O s h o m e n s q u e perdem a estrada d a f é o u a direção divina fi c a m , c uri o s am en t e, r o n d a n d o o sobrenatural, atraídos, sedu zidos, subjugados pelo mistério q u e a f i r m a r a m n ã o existir. Ficarn, c o m o Renan, a vi da inteira a m a n d o e negando a J e s u s Cristo, n a ambivalência irresistível. P o dia m , n a lógica formal, esqu ecer o q u e abandonaram, m a s a r e n ú n c i a n ã o é comp a n he i ro d o olvido. Auta e Dindinha jamais c o m p r e e n d e r i a m o “ n a da d a v i d a q u e Henrique sen t i a, dol dolor orosaosam e n t e , c o m o terminação implacável q u e a limitação d os sentidos i m p u n h a à s u a inteligência.

Subindo s u a m o n t an h a, c a m i n h o d o Horto,Auta d e Souza sent i a a visão resplandecente d a mística cidade d e Deus, fifim m d a jornada. A travessia n ã o s e apresentou c o m o a viagem terrestre, difícil e dura, n u m T h e Pilgrimís Progress, d e B u n y a n , o peregrino a c o m p a n h a do pela esperança. Auta e r a c o m a fé a m e s m a entidade. Libertar-se d a materialidade d a vida e r a o v ô o seguro e reto para o c é u . J e s u s , e s t e v ô o infindo

Há d e amparar-me n os braços Enquanto e u direi sorrindo: Quebrei m e u s l a ç o s

 

A s u p lili c a n o sacrário e r a p e q u e n i n a e tranqüi la: Viens vite, ô douxlésus, habiter d a n s m o n â m e , Domie-lui d e gouter la douceur d e t a voix Montre-moi, g rand Di eu, la pure e t chaste flarnine Q u i e m b e l l i t la Croix . I

E N a p r i m e i r a página d a imitação d e Cristo” a v o z d i v i n a ressoa Carrega a t u a C ru r u z e v e m c omi go Pela e s trtr ad ad a d a Do r e d o T o r m e n t o . E u s e r e i t e u irmão, t e u sol, o arnigo Q u e e m lírios m u d a r á o sofrirnento.

V e n h o trazer a Paz... L o n ge g e d a terra A P a z habita... A o pé d o Santuário, Ó miriha filha, a doce p a z s e e n c e r r a Dentro d a Hóstia, de ntr o d o Sacrário. Felizes os q u e sofrem e n o m e u seio Recolhem suas queixas c o m o preces; Voltar o pesar a o C éu d e o n d e e le veio... Feliz, ó s i m Feliz t u q u e padeces

F o i e s s a a vida b r e v e d e A u t a d e S ou o u za za .

N a t a l , 6 d e n o v e m b r o d e 1958.

 

Re fe rên cia s

ARAÚJO, J . A . Correia d e . A u t a d e Souza e a s poesias d o Horto. Recife: Tipografia Freitas d e Azevedo, 1 9 1 5 . CA SCU DO, Luís d a C â m a r a . A u t a d e Souza, “Acta Diurna”, A República,

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loy C as tr i c i ano d e Souza e Os pais d e Au t a , E loy

D. H e n r iq i q u e t a L e o ppoo ld ld i n a Rodrigues d e Souza

 

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Oficinas Gráficas d a E D U F R N Editora d a U FR F R N, N , outubro d e 2008.

 

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