Uma Exposição Completa da Doutrina Bíblica da Santíssima Trindade

February 10, 2024 | Author: Anonymous | Category: N/A
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A DOUTRINA DA TRINDADE EXPLICADA E DEFENDIDA

BRUNO SUNKEY 2021

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Sumário PREFÁCIO .....................................................................................................................................5 1. APRESENTAÇÃO GERAL DA DOUTRINA DA TRINDADE .............................................................6 1.1 CONCEITOS TRINITÁRIOS ....................................................................................................6 1.1.2 Pessoa .........................................................................................................................7 1.1.3 Filiação Eterna do Filho e Procedência do Espírito ......................................................7 1.1.4 Subordinação Econômica ............................................................................................8 1.2 UNIDADE DE DEUS..............................................................................................................8 1.3 A DEIDADE ABSOLUTA DAS PESSOAS DIVINAS ...................................................................9 1.3.1 DEUS PAI ......................................................................................................................9 1.3.2 DEUS FILHO ...............................................................................................................10 1.3.4 DEUS ESPÍRITO SANTO...............................................................................................11 1.4 TÍTULOS DIVINOS..............................................................................................................11 1.4.1 DEUS ..........................................................................................................................11 1.4.2 SENHOR .....................................................................................................................12 1.5 A FÉ TRINITARIANA NO NOVO TESTAMENTO ...................................................................13 2. VERSÍCULOS BÍBLICOS QUE SUSTENTAM A DOUTRINA DA TRINDADE ...................................15 2. 1

Gênesis 1.26: ...............................................................................................................15

2.2 Deuteronômio 6.4: ...........................................................................................................15 2.3 João 1.1: ...........................................................................................................................16 2.4 João 8.58: .........................................................................................................................17 2.5 João 1.18: .........................................................................................................................17 2.6 João 15.26: .......................................................................................................................18 2.7 Mateus 28.19: ..................................................................................................................18 3. A TRINDADE NO ANTIGO TESTAMENTO .................................................................................22 3.1 UNIDADE DE DEUS............................................................................................................22 3.2 TRINDADE DE DEUS ..........................................................................................................23 4. JESUS CRISTO: O SENHOR JEOVÁ DO NOVO TESTAMENTO ....................................................27 5. ESBOÇO DO DESENVOLVIMENTO HISTÓRICO DA DOUTRINA DA TRINDADE .........................30 6. ARGUMENTOS ATANASIANOS E VITORINOS A FAVOR DA TRINDADE ....................................36 6.1 ARGUMENTOS ATANASIANOS ..........................................................................................36 6.1.1 ARGUMENTO METAFÍSICO ........................................................................................36 6.1.2 ARGUMENTO SOTERIOLÓGICO .................................................................................36 6.1.3 ARGUMENTO REVELACIONAL....................................................................................36

3 6.2 ARGUMENTOS VITORINOS ...............................................................................................37 6.2.1 ARGUMENTO DO PRINCÍPIO DO AMOR ....................................................................37 6.2.2 ARGUMENTO DO PRINCÍPIO DO AMOR A FAVOR DA TRINDADE ..............................37 6.3 ARGUMENTO DO PRINCÍPIO DO AMOR CONTRA A QUATERNIDADE ...............................37 7. A UNIDADE ABSOLUTAMENTE SIMPLES DA TRINDADE ..........................................................39 8. A DOUTRINA DA PERICORESE DIVINA ....................................................................................43 8.1 INTERPRETANDO OS DADOS BÍBLICOS .............................................................................43 8.2 IMPLICAÇÕES PRÁTICAS DA DOUTRINA DA PERICORESE DIVINA .....................................46 9. A GERAÇÃO ETERNA DO FILHO...............................................................................................47 9.1 TRINDADE ONTOLÓGICA, IMANENTE E ECONÔMICA .......................................................47 9.2 O PERIGO DO SEMI-MODALISMO .....................................................................................49 9.3 A PRIMEIRA PARTE DA REGRA DE RAHNER E A FILIAÇÃO ETERNA DE CRISTO..................49 9. 4 GERAÇÃO DA PESSOA E COMUNICAÇÃO DA ESSÊNCIA ...................................................51 9.5 SUBORDINAÇÃO ETERNA DO FILHO AO PAI .....................................................................52 9.5.1 ARGUMENTO A PARTIR DA UNIÃO HIPOSTÁTICA DE CRISTO ....................................52 9.5.2 ARGUMENTO A PARTIR DA PRIMEIRA PARTE DA REGRA DE RAHNER .......................53 10. A PROCESSÃO ETERNA DO ESPÍRITO SANTO ........................................................................55 10.1 BASE BÍBLICA ..................................................................................................................55 10.2 BASE HISTÓRICA .............................................................................................................56 10.3 BASE CONFESSIONAL ......................................................................................................56 11 FALÁCIAS ARGUMENTATIVAS DOS ANTITRINITÁRIOS ...........................................................58 11.1 FALÁCIA 1: ARGUMENTO DO SILÊNCIO: .........................................................................58 11.2 FALÁCIA 2: ARGUMENTO DA ADULTERAÇÃO .................................................................58 11.3 FALÁCIA 3: ARGUMENTO DA POSSIBILIDADE DE TRADUÇÃO .........................................58 11.4 FALÁCIA 4: EXIBICIONISMO CRONOLÓGICO ...................................................................59 11.5 FALÁCIA 5: PARALELISMO INDEVIDO DE PASSAGENS.....................................................59 11.6 FALÁCIA 6: INVALIDAÇÃO PRESSUPOSICIONALISTA .......................................................59 11.7 FALÁCIA 7: CONFUSÃO CONCEITUAL .............................................................................60 11.8 FALÁCIA 8: PAGANIZAÇÃO..............................................................................................60 11.9 FALÁCIA 9: ANTIFILOSOFISMO .......................................................................................60 11.10 FALÁCIA 10: ANTICATOLICISMO ...................................................................................61 11.11 FALÁCIA 11: CONFUSÃO ENTRE ECONOMIA E ONTOLOGIA .........................................61 12. EXPLICAÇÃO DOS VERSÍCULOS QUE SUPOSTAMENTE CONTRADIZEM A TRINDADE ............63 12.1 Deuteronômio 6:4 ..........................................................................................................63 12.2 Provérbios 8:22 ..............................................................................................................63 12.3 Miquéias 5:2 ...................................................................................................................64

4 12.4 Mateus 19:17 .................................................................................................................65 12.5 Mateus 24:36 .................................................................................................................65 12.9 Colossenses 1:15 ............................................................................................................68 12. 10: Apocalipse 3:14 ..........................................................................................................68 CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................................................70

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PREFÁCIO O objetivo deste “livro” é apresentar a doutrina da Trindade, explicando seu significado e considerando os argumentos bíblicos, históricos e filosóficos que a sustentam. Para isso, foi realizada uma abordagem completa do dogma trinitário, o que envolveu uma avaliação dos textos bíblicos que dão suporte à doutrina; do desenvolvimento histórico do dogma e dos argumentos filosóficos apresentados para defendê-la. Além disso, considerou-se de maneira exaustiva aspectos da doutrina da Trindade, tais como, a unidade de Deus, a pericorese divina, a geração eterna do Filho e a processão eterna do Espírito Santo. Por fim, este trabalho cuidou de responder as objeções levantadas pelos antitrinitários contra a doutrina.

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1. APRESENTAÇÃO GERAL DA DOUTRINA DA TRINDADE

“Trindade” é o nome que se dá a crença de que existe uma unidade substancial em Deus e uma trindade na Sua subsistência. Essa dedução é baseada em três pressupostos bíblicos:(1) Unicidade: O ensino de que há absolutamente um só Deus e que Deus é absolutamente um só (Deuteronômio 6.4; 1 Timóteo 2.5; Marcos12.32; 2 Samuel 7.22; Romanos3.30; Tiago 2.19); (ii) Deidade: A deidade do Pai, do Filho e do Espírito Santo é absoluta (1Coríntios8.6; Filipenses 2.11; João1.1; Hebreus1.8; Colossenses2.9; Judas.4; 2Coríntios3.17-18; Romanos8.9) e (iii) Distinção: Existe uma distinção subsistencial real entre o Pai, o Filho e o Espírito Santo (João8.17-18; Atos7.55; João 14.26; Mateus 3.16,17; 12.31-32). Outros conceitos também são importantes para compreender a doutrina:

1.1 CONCEITOS TRINITÁRIOS

1.1.1 Natureza divina Se refere ao conjunto dos atributos essenciais do ser de Deus, isto é, aquilo que Deus É em si mesmo, tais como Onipotência, Onipresença, Onisciência, Eternidade e Imutabilidade e das suas qualidades comunicáveis: amor, verdade, justiça, santidade, racionalidade dentre outras perfeições. Essa natureza é indivisível, isto é, não pode ser dividida entre três pessoas. A Bíblia fala da natureza divina em 1 Pedro 1.4 para dizer que os salvos participam nos atributos comunicáveis de Deus, e Paulo fala sobre sermos cheios

da

plenitude

divina

em

sentido

de origem,

discorrendo

especialmente do enchimento do crente da plenitude do amor de Cristo (Efésios 3.14-19), no sentido mais essencial se usa theotetos em Colossenses 2.9, apresentando, agora em sentido possessivo, para o fato de que Cristo reúne em Sua natureza os atributos essenciais da deidade.

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1.1.2 Pessoa Não se refere a um ser ou indivíduo em separado, mas tem um significado especial dentro da fórmula trinitária. O termo “pessoa” é usado para falar dos três distintos modos de subsistências pessoais (não manifestações) de Deus. É importante ter cuidado, portanto, para não confundir o termo pessoa com a ideia de indivíduo em separado. Deus existe como um único Indivíduo, mas subsiste em três Pessoas (Subsistentias) distintas. O termo "pessoa", portanto, se refere aos três modos ou formas em que a essência divina subsiste (Subsistenzweise). Em termos de predicação, o termo "pessoa" é aplicado a Deus em sentido analógico, querendo dizer que na essência divina subsistem três "quens" ou três "sujeitos" A distinção das pessoas divinas é constantemente ensinada nas Escrituras. O Conselho divino na Criação é descrito em termos plurais (Gênesis 1.26). Nessa ocasião o Filho estava para com (en pros ton) o Deus, com destaque para a distinção “o Deus” (ton Theon) com "Deus" (Theos) – João 1.1, a possibilidade de cometer pecado contra uma das pessoas somente (Mateus 12.32) e a apresentação da relação entre Jesus e o Pai como duas pessoas distintas (João 8.17-18; Atos 7.55). Essa distinção, fique claro, não é modal, formal ou meramente aparente e econômica, mas real. Porém não é uma distinção de separação e individualidade, mas apenas de subsistência. 1.1.3 Filiação Eterna do Filho e Procedência do Espírito

Jesus é chamado nas Escrituras de o Filho Unigênito (João 1.18) e Ele mesmo afirmou que Seu Pai: “concedeu ao Filho ter vida em si mesmo. ” (João 5.26). Ainda Colossenses 1.19 diz: “foi do agrado do Pai que toda a plenitude nele habitasse”. (Embora a palavra “Pai” seja apenas subtendida nesse texto). A geração do Filho é um ato eterno, isto é, acontece fora do tempo. Deus, o Pai gera eternamente a Pessoa (Subsistência) do Filho, mas não a essência. Portanto, o Pai é a base para gerar uma segunda pessoa e fazer habitar nessa pessoa a essência divina completa. Pode-se dizer que o Pai é “o Princípio” do Filho e que Ele concedeu ao seu Filho ter a vida inerente

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a Ele mesmo. Como essa geração é eterna e em relação a subsistentia, ela não implica uma subordinação ontológica, nem torna contingente a existência do Filho. Quanto ao Espírito Santo, entendemos que Ele procede do Pai e do Filho (João15.26). O Espírito Santo é, portanto, um “Dom comum” de ambos, ele sai do Pai não como gerado, mas como Dom. 1.1.4 Subordinação Econômica Se refere a hierarquia funcional (não ontológica) presente nas relações (não na natureza) das Subsistentias de Deus. Assim o Pai é maior que o Filho e o Filho é maior que o Espírito Santo economicamente. Alguns entendem que essa subordinação é baseada nas relações eternas entre as pessoas divinas e outros que essa subordinação é temporal. A subordinação do Filho ao Pai é evidenciada pelo fato de que Jesus chama o Pai de Deus, mas o Pai nunca chama o Filho de seu Deus (João 20:17; Apocalipse 3:12; Mateus 27:46; Marcos 15:34), as Escrituras afirmam que o Pai é maior que o Filho (Mateus 20.23; João 14.28; 1 Coríntios 11.3; 15.24-28), e descreve o Filho como Servo do Pai (Zacarias 3.8; Mateus 12.18; Lucas 22.42; João 4.34; 5.30. 6.38; 8.29). Também, em referência a humanidade, Jesus é menor em conhecimento (Lucas 2.52), e em poder (João 8.28). O Espírito Santo também é menor que o Pai e o Filho, isso fica claro em João 16.13-15: “Mas quando o Espírito da verdade vier, ele os guiará a toda a verdade. Não falará de si mesmo; falará apenas o que ouvir, e lhes anunciará o que está por vir. Ele me glorificará, porque receberá do que é meu e o tornará conhecido a vocês. Tudo o que pertence ao Pai é meu. Por isso eu disse que o Espírito receberá do que é meu e o tornará conhecido a vocês.



Não

obstante,

deve-se

tomar

cautela

para

não

confundir

essa

hierarquia econômica com subordinação ontológica. Essencialmente na Trindade não há maior, nem menor.

1.2 UNIDADE DE DEUS

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As pessoas divinas são claramente descritas como o Único. O Pai é o Único (João 17.3), o Filho é o Único (1 Coríntios8.6; Judas 1.4; Mateus 23.8, 10) e também o Espírito Santo (Efésios 4.4). Essa unidade não é composta, mas absoluta e simples. A unidade de Deus não pode ser dividida, separada ou repartida em três. Isso é importante, pois não existe ninguém que seja parte de uma Trindade, nem há qualquer forma de composição na natureza divina. Também, Deus é um só Ser ou Indivíduo. Não existem três seres em Deus, antes Deus é um só Indivíduo. Sua natureza, também, é absolutamente simples, sendo impossível ver nela outra coisa que não seja o uno. Ela não pode ser repartida entre três pessoas, nem pode abrigar em seu seio três substâncias, não pode haver na natureza divina nada que não seja a unicidade absoluta da divindade. Assim a distinção das pessoas divinas é a nível apenas da subsistência, não da essência. Ainda, Deus é o Único Ser absoluto que existe. Não existem outros “deuses” com Ele, nem mesmo “divindades menores”: “ Vejam agora que eu sou o único, eu mesmo. Não há deus além de mim. Faço morrer e faço viver, feri e curarei, e ninguém é capaz de livrarse da minha mão. ” (Deuteronômio 32:39). “Vocês são minhas testemunhas", declara o Senhor, "e meu servo, a quem escolhi, para que vocês saibam e creiam em mim e entendam que eu sou Deus. Antes de mim nenhum deus se formou, nem haverá algum depois de mim. ” (Isaías 43:10). “Pois mesmo que haja os chamados deuses, quer no céu, quer na terra, (como de fato há muitos ‘deuses’ e muitos ‘senhores’), para nós, porém, há um único Deus, o Pai, de quem vêm todas as coisas e para quem vivemos; e um só Senhor, Jesus Cristo, por meio de quem vieram todas as coisas e por meio de quem vivemos. ” (1 Coríntios 8:5,6). Não se deve pensar nessa unidade como relativa ao contraste com os ídolos, ou como uma espécie de "exclusividade superlativa", mas como uma realidade metafísica absoluta.

1.3 A DEIDADE ABSOLUTA DAS PESSOAS DIVINAS 1.3.1 DEUS PAI

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As evidências para a deidade do Pai são apresentadas claramente nas Escrituras: “Para nós, porém, há um único Deus, o Pai, de quem vêm todas as coisas e para quem vivemos; e um só Senhor, Jesus Cristo, por meio de quem vieram todas as coisas e por meio de quem vivemos. ” (1 Coríntios 8:6). “E toda língua confesse que Jesus Cristo é o Senhor, para a glória de Deus Pai. ” (Filipenses 2:11). “Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo! Conforme a sua grande misericórdia, ele nos regenerou para uma esperança viva, por meio da ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos,” (1 Pedro 1:3). 1.3.2 DEUS FILHO

A Bíblia também apresenta sólidas evidências para a deidade do Filho, tais como (i) A atribuição do papel de mediação e intercessão universal, que subtende o atributo de Onisciência e exercício de uma função divina (Hebreus7.26) (ii) Aceitação de adoração pela citação de Salmos 97.7 em Hebreus 1.6, pelo culto ao Cordeiro em Apocalipse 5.914, pelo fato de se dirigir-lhe orações (2Corintios12.8-9) (iii) Destaque de Cristo como de uma condição divina que lhe daria o direito de igualação funcional com o Pai (Filipenses2.6) (iv) Atribuição do título de eternidade "Primeiro e Último" (Apocalipse1.17; Isaías 44.6). (v) Atribuição de Onisciência (Apocalipse2.23, 1Reis 8.39) (vi) Ênfase em uma filiação divina em sentido único (João3.13, 16) (vii) Mudança de "nascer" (genésthai) para "ser" (eimí) em João 8.58, aduzindo ao Eu Sou (Egó eimi ho on) de Êxodo 3.14. Não pela identidade absoluta da construção, mas pelo significado do Existente (veja: Deuteronômio 32.39; Isaías 41.4; 43.10,13; 46.4; 48.12; 52.6) e (viii) Passagens inteiras que objetivam exaltar a deidade de Cristo ( João1.1-18; Hebreus1.114; Apocalipse1.12-20). Mal entendidos quanto a natureza do Filho ocorrem quando (i) confunde-se a geração do Filho pelo Pai com criação; (ii) a Subordinação econômica com Subordinação ontológica e (iii) Confunde-se as características de sua humanidade com os atributos de Sua natureza divina.

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1.3.4 DEUS ESPÍRITO SANTO

O Espírito Santo, especialmente em Atos é retratado como Pessoa divina (1.6; 13.2; 15.28; 20.28; 21.11; 28.25). Ênfase especial em sua presença como pessoa real em relações de interpessoalidade: ‘’Enquanto adoravam ao Senhor e jejuavam, disse o Espírito Santo: ‘Separem-me Barnabé e Saulo para a obra a que os tenho chamado’. ’’ (13.2) e “Pareceu bem ao Espírito Santo e a nós não impor a vocês nada além das seguintes exigências necessárias” (15.28). Mal entendidos sobre a pessoalidade ou deidade do Espírito Santo ocorrem quando (i) ignora-se a revelação progressiva de Deus, em que o Espírito Santo ocupa a última etapa da plenitude da revelação trinitariana – isso acontece quando se levanta questões sobre a ausência do Espírito Santo em fórmulas binitárias ou sua aparente impessoalidade no contexto veterotestamnetário; (ii) se comete uma falácia etimológica: por atribuir com base nas palavras ruach e pneuma , impessoalidade ao Espírito divino; (iii) confusão quanto a figura de linguagens: isso se dá quando se entende textos históricos literais sobre o Espírito Santo como personificações e toma-se textos metafóricos como provas de sua impessoalidade, como quando se traz em mente seus símbolos e características como “derramar”, “ungir” e “encher”; (iv) cometer o erro de confundir teontologia divina com antropologia humana, quando se compreende o “Espírito Santo” como um elemento da natureza divina e (v) Confundir o Espírito Santo com o próprio Deus Pai, ignorando sua posição como uma terceira pessoa nas fórmulas trinitarianas e a sua apresentação distintiva nas Escrituras.

1.4 TÍTULOS DIVINOS 1.4.1 DEUS

A palavra Deus (elohim/theos) é usada em quatro sentidos nas Escrituras: (i) metafórico: para comparar a relação Deus-Profeta-Ouvinte com Moisés-Arão- Faraó (Êxodo 7.1); (ii) idolátrico: para se referir aos deuses falsos e ídolos adorados por

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humanos (2 Coríntios 4.4); (iii) representacional: para descrever as criaturas que recebem autoridade de Deus para servirem como seus agentes representantes (Salmos 82.6) e (iv) ontológico: para se referir ao único Ser que possui natureza divina (1 Coríntios 8.6). Em sentido ontológico o termo é obviamente empregado ao Pai (Filipenses 2.11), em sentido representacional e ontológico ao Filho, como aquele que é o agente que recebe toda autoridade do Pai e aquele em quem habita a plena natureza Deus. Que o termo Theos aparece em sentido ontológico ao Filho, isso é evidenciado pela construção ton Theón, kai Theós, que pela sequência das sentenças sugere uma unidade de significado para “Deus” (João 1.1), por Cristo revelar-se como transcendendo o sentido representacional (João10.34-37) e pelas Escrituras requerem que aqueles que assumem o sentido representativo prestem adoração a Jesus (Salmos 97.7; Hebreus 1.6). O Espírito Santo também é descrito como o Representante pessoal de Deus para a Igreja (Atos 5.34). 1.4.2 SENHOR

O termo “Senhor” (Adonai/Kyrios) também aparece em vários sentidos: (i) posicional: para descrever a posição de dominação de uma pessoa. (ii) pronominal: usado como um tratamento de respeito a uma pessoa importante e (iii) jeovístico: usado como sucedâneo do nome inefável de Javé. O nome Jeová é empregado várias vezes para falar de Deus, o Pai (Gênesis 15.2; Isaías 12.2; 25.8; 61.1; Ezequiel 36.23; Amós 6.9). Jesus é chamado de Senhor no sentido posicional (Atos 2.36), para falar da posição exaltada que o Pai lhe colocou após sua humilhação voluntária na Terra, mas também em sentido jeovístico como “Jeová” que criou por seu próprio poder o Universo (Hebreus 1.10 citando Salmos 102.25) e como o “um só Jeová” (1 Coríntios 8.6), em possível analogia com a Confissão do Shemá (Deuteronômio 6.4). Interessantemente, se no Antigo Testamento, Jeová aparece em destaque, no Novo Testamento, o jeovístico Kyrios em referência a Jesus assume esse lugar. Igualmente, o Espírito Santo é chamado de Jeová: “Ora Jeová (Kyrios) é o Espírito,

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e onde estiver o Espírito de Jeová ali há liberdade. E todos nós ao passo que com rostos desvelados refletimos como espelhos a glória de Jeová somos transformados de glória em glória, exatamente como feito por Jeová, o Espírito. ” (2Coríntios3.17-18).

1.5 A FÉ TRINITARIANA NO NOVO TESTAMENTO

Encontra-se no Novo Testamento credos cristológicos que destacam a centralidade jeovística de Jesus no coração da Igreja Primitiva (1 Coríntios 15.3-4; Romanos 1.3-7; 8.34; Filipenses 2.5-11; 1 Timóteo 3.16; 2 Timóteo 2.8; 1Pedro 3.18-22; 1 João 4.2-15). Também encontramos as fórmulas binitarianas que destacam a relação especial de filiação eterna entre Jesus e seu Pai (1Coríntios 8.6; 1 Timóteo 2.5-6; 6.13; 2 Timóteo 4.1). Destacando as relações no interior da deidade encontramos cinquenta fórmulas trinitarianas só no Novo Testamento (João 14.26; Mateus12.31-32. Mtateus 3.16,17; Mateus 28.19; Lucas 1.35; Lucas 3.21-22; Marcos 1.9-11; Lucas 4.1-12; João14.16-20; João15.7-26; João 20.21-22; Atos1.1-6; Atos2.31,32,38,39; Atos5.31-32; Atos7.55-56; Atos10.38, 46,47,48; Atos15.8-11; Atos20.23,24,28; Atos28.23,25,31; Romanos1.4; Romanos5.5-6; Romanos8.2,3,9,16,17; 1Corintios6.11; 1Coríntios12.4,5,6,12,13,18; 2Coríntios1.21-22; 2Coríntios13.14; Gálatas3.11,13,14; Gálatas4.6; Efésios1.2,3,13; Efésios2.18,20;

Efésios3.16,17,19;

Efésios4.4,5,6;

1

Tessalonissenses1.4,5,6;

2Tessalonissenseses 2.13; Tito3.4,5,6; Hebreus2.3-4; Hebreus6.4,5,6; Hebreus9.14; Hebreus10.10,12,15; 1Pedro1.2; 1 João3.21,23,24; 1João4.13-14; Judas.20-21).

FONTES: A

Conspiração

Adventista

-

Ev.

Luciano

Senna,

Artigo: Deus e o conceito de Pessoa - Bernada, Sesboüé. Bíblia de Estudo Pentecostal, CPAD Teologia Sistemática – Franklin Ferreira, Alyan Myatt, VIDA NOVA, 2007 Teologia Sistemática Vol 2 – Norman Geisler, CPAD, 2015 Tradução do Novo Mundo das Escrituras Sagradas com Referências

2014

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http://bereianos.blogspot.com.br/2013/09/franklin-ferreira-vs-wayne-grudem.html http://pontodevistacristao.weebly.com/o-messias-eacute-o-proacuteprio-deus.html http://israelitas.com.br/estudos/estudosVer.php?id=19 http://mcapologetico.blogspot.com.br/2015/12/falacias-argumentativas-dos.html https://pt.wikipedia.org/wiki/No_princ%C3%ADpio_era_o_Verbo http://brunosunkey.blogspot.com.br/2015/10/jesus-cristo-o-senhor-jeova.html http://mcapologetico.blogspot.com.br/2012/07/50-textos-biblicos-no-nt-queensinam.html http://www.academia.edu/14492317/EXPOSI%C3%87%C3%83O_DA_DOUTRINA_ DA_TRINDADE http://www.monergismo.com/textos/credos/cfw.htm

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2. VERSÍCULOS BÍBLICOS QUE SUSTENTAM A DOUTRINA DA TRINDADE As Escrituras são essencialmente trinitárias, mas a fim de não redigir um texto demasiadamente longo, foram selecionados sete versículos bíblicos que ajudam a raciocinar

2. 1

sobre

o

assunto:

Gênesis 1.26:

“Então disse Deus: ‘Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança. Domine ele sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu, sobre os animais grandes de toda a terra e sobre todos os pequenos animais que se movem rente ao chão’.” Logo no início das Escrituras encontramos uma descrição de Deus em termos plurais de modo que o Criador deve ser tanto uma unidade quanto uma diversidade. O texto diz: “E disse [singular - unidade] Deus [plural - diversidade]” (hebraico: wayyomer Elohim) Façamos (naaseh)

[plural] o

homem [unidade

- adam]

à nossa [plural] imagem (besalmenu) e à nossa [plural] semelhança (kiḏmuṯênu) “[1] e o verso seguinte (v.27) diz: “E criou [singular] Deus [plural] o homem [unidade – ha adam] à

sua [singular] imagem

(besalmow):

macho

(zakar)

e

fêmea

(uneqebah) [diversidade]”[2]. Desse modo, o texto faz um jogo entre singular (unidade)/ plural (diversidade), tanto em relação a Deus, quanto em relação ao homem criado semelhante a Deus. Deus cria uma só espécie (humana) com dois sexos distintos (macho e fêmea) a fim de refletir a unidade e a diversidade de Deus. Outras passagens veterotestamentárias também usam nomes e verbos plurais para falar de Deus (Gênesis 3.22; 11.6,7; Jó 35.10; Salmos 149.2; Isaías 54.5; Eclesiastes 12.1; Provérbios 9.10; 30.3; Josué 24.19). Em Isaías 6.3, 8 a apresentação de Deus em termos plurais aparece junto com a adoração tríplice “Santo, Santo, Santo”.[3] Considerar essas construções como plurais de majestade parece improvável pois se isso fosse assim deveríamos esperar encontrar o uso de plurais de majestade no contexto das monarquias de Israel e de Judá[4].

2.2 Deuteronômio 6.4: “Ouça, ó Israel: O Senhor, o nosso Deus, é o único Senhor.” O texto afirma inequivocamente a unidade absoluta de Deus: “Yahweh elohenu Yahweh ehad” (“O Senhor, nosso Deus, o Senhor é Um” [5]). Deus é nomeado como “Yahweh”, o Nome pactual do Senhor que o apresenta como um Deus de relacionamento

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e de Aliança. Yahweh é essencialmente um Deus de relacionamento pessoal e pactual[6]. Além de apresentar o Senhor como um Deus Pessoal, o nome Yahweh também carrega os significados de imutabilidade, eternidade e autoexistência (Êxodo 3.14) [7]. A palavra Um (ehad) significa uma unidade que pode admitir uma diversidade de pessoas (Gênesis 2.24)[8]. Assim, Yahweh é um Ser Pessoal não apenas ad extra, mas também em Sua própria essência, em Si mesmo Ele É um relacionamento pessoal e pactual. Provavelmente aduzindo a esta confissão do Shemá (“Yahweh é Um’’), o apóstolo Paulo declarou que a Igreja crê em “Um só Deus, o Pai”(Grego: Heis Theos ho Pater) e “Um só Senhor, Jesus” (Heis Kyrios Iesous)[9]. Isso é dito em um contexto no qual o apóstolo está tratando da questão dos sacrifícios aos ídolos. Paulo chama os ídolos de “deuses (theoi) e senhores (kirioi)”[10] e nega a existência real dessas divindades pagãs. Assim quando Paulo chama o Pai e o Filho de “único Deus e único Senhor”, ele está afirmando que a Igreja não cultua os deuses falsos, mas sim o único Deus Verdadeiro, o Pai e o Filho[11]. Kyrios é um sucedâneo do nome Yahweh, de modo que a confissão de Jesus como “um só Kyrios” reflete a confissão do Shemá do “um só Yahweh”[12]. De fato, o Pai e o Filho existem em uma unidade essencial e relacionam-se eternamente de maneira pessoal e pactual[13]. Paulo também identifica o Espírito Santo como Yahweh: “Ora, Jeová [Kyrios][14] é o Espírito, e onde está o Espírito de Jeová, ali há liberdade. E todos nós, ao passo que com o rosto descoberto refletimos como um espelho a glória de Jeová, somos transformados nessa mesma imagem, com mais e mais glória, exatamente como Jeová, o Espírito, o faz.”[15] Assim, há uma só essência divina autoexistente, eterna e imutável na qual existe um relacionamento pessoal entre o Pai, o Filho e o Espírito Santo.

2.3 João 1.1: “No princípio era aquele que é a Palavra. Ele estava com Deus, e era Deus.” Neste versículo o Filho é chamado de “Logos”, que no pensamento judaico se referia ao envolvimento e à presença ativa e pessoal de Yahweh no mundo [16].A expressão “No Princípio” aduz ao princípio de Gênesis 1.1 e está intimamente relacionada com o início da criação do espaço e do tempo. Desse modo, o Filho (a Palavra) é colocado junto com o Pai na “eternidade passada”, ou melhor, na atemporalidade. Isso é confirmado pelo verso 3 que diz que absolutamente nada veio a existência, senão através do Filho. Assim, se o Filho é temporal, algo teria vindo a existência antes dele, a saber, o espaço e o tempo. Outras expressões bíblicas usadas para descrever a “eternidade passada” são usadas com respeito ao Filho. Ele existe antes de todas as coisas (“pro pranton” – Colossenses

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1.17)[17] e por meio dele, Deus formou os tempos (“aionas” – Hebreus 1.2)[18]. O texto não diz que o Filho veio a existir no Princípio, mas que Ele era (En arché en ho Logos). O verbo “en - era” está no tempo imperfeito indicando uma ação contínua no passado, assim a Palavra existia na “eternidade passada” [19]. A Palavra estava com o Deus de modo que ela precisa ser outra Pessoa distinta que existe na eternidade com o Deus Pai. A Palavra não pode ser o próprio Pai. Isso é confirmado pelo fato do Pai ser chamado de “o Deus” (com artigo) e o Filho de “Deus” (sem artigo), o que insinua uma distinção entre eles. Por outro lado, os vocábulos “Deus” e “o Deus” são usados lado a lado (ton Theón, kai Theós[20]) sugerindo uma unidade semântica essencial: o Logos é Deus no mesmo sentido em que o Pai é Deus, embora eles sejam duas pessoas distintas. Assim, o Filho é eterno, atemporal e igualmente Deus com o Pai, embora seja outra Pessoa em relação ao Pai.

2.4 João 8.58: “Respondeu Jesus: ‘Eu lhes afirmo que antes de Abraão nascer, Eu Sou!’” É importante notar que Jesus não diz “antes de Abraão nascer, eu nasci”, nem, “antes de Abraão nascer, eu vim a ser”, mas “antes de Abraão nascer, ‘Eu Sou’” (Ego Eimi)[21], afirmando Sua eternidade. A expressão “Eu sou” , usada por Jesus, tem como plano de fundo as declarações “Eu Sou” de Yahweh no livro de Isaías (41.4; 43.10, 13, 25; 46.4; 48.12, 51.12; 52.6), note as construções “para que saibais que Eu Sou” e “para crerdes que Eu Sou” (João 8.24,28; 13,19 – Isaías 43.10). Ao se declarar como o “Eu Sou”, Jesus se identifica como Yahweh, o Deus Imutável, Eteno e Autoexistente (Êxodo 3.14) [22]. No Evangelho de João, a expressão “Eu Sou” é relacionada a sete metáforas redentoras: “Eu Sou” o Pão da Vida (6.35,48,51), a Luz do Mundo (8.12; 9.5), a Porta (10.7,9), o Bom Pastor (10.11,14), a Ressurreição e a Vida (11.25), o Caminho, a Verdade e a Vida (14.6) e a Videira Verdadeira (15.1,5)[23]. Essas e outras metáforas, tais como, Semeador, Diretor da Colheita, Rocha e Noivo, empregadas por Jesus para falar de si mesmo, têm como fundo as parábolas que o Antigo Testamento usa para descrever Yahweh, desse modo Jesus estava se identificando com Jeová [24].

2.5 João 1.18: “Ninguém jamais viu a Deus, mas o Deus Unigênito, que está junto do Pai, o tornou conhecido.”

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Jesus é o Filho Unigênito de Deus. Sempre que Cristo é chamado de “Unigênito”, isso é associado com o nascimento espiritual dos crentes (João1.12, 13,14,18; 3.6, 16, 18; 1 João 4.7, 9; 5.18)[25]. Desse modo, Jesus “nasceu espiritualmente” do Pai em um sentido único. Ele é o Verbo ou a Sabedoria que nasceu do Senhor na eternidade (Provérbios 8.22-26) e Sua origem está na eternidade (Miquéias 5.2). No ato da geração, o Filho recebe do Pai, por comunicação, “vida em si mesmo”, isto é, a essência divina completa e autoexistente (João 5.26). Assim, por ter a mesma essência do Pai, ele é a perfeita revelação do Deus invisível. Na medida em que essa geração é eterna, o Filho não veio à existência, Ele sempre existiu, existe e existirá sendo continuamente gerado do Pai em um ato eterno, porém sempre completo [26].

2.6 João 15.26: “Mas, quando vier o Consolador, que eu da parte do Pai vos hei de enviar, aquele Espírito de verdade, que procede do Pai, ele testificará de mim.” “É importante notar que diferente dos verbos no futuro usados para falar do envio do Espírito (João 14.26), o verbo “procede” (grego: “ekporeuetai”) está no presente, isto é, a emanação do Espírito do Pai é contínua e estava acontecendo no momento em que Jesus estava falando. A ideia é que Jesus enviará o Espírito da parte do Pai no tempo (economia) porque na eternidade (imanência) o Espírito procede do Pai. O Filho diz que ele é quem enviará o Espírito, de modo que o Espírito também deve proceder do Filho. Levando em conta a primeira parte da Regra de Rahner (“A Trindade Econômica é a Trindade Imanente”) que diz que a revelação da Trindade no tempo reflete aquilo que Deus é na eternidade, o envio do Espírito da parte do Pai pelo Filho corresponde a uma relação de emanação do Espírito do Pai e do Filho na eternidade.” [27] Assim, o Espírito Santo procede eternamente do Pai e do Filho. Ele é apresentado como o outro Paracleto que viria para substituir o Paracleto Jesus (1 João 2.1), de modo que temos um Intercessor Divino na Terra (o Espírito Santo – Romanos 8.26 – 27) e um Intercessor Divino nos Céus (Jesus Cristo – Hebreus 7.25) e ele também é chamado pelo pronome neutro ekeinos (“Ele”) o que o revela como um Ser Pessoal[28].

2.7 Mateus 28.19: “Portanto, vão e façam discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo,”

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Este versículo faz parte dos 50 padrões trinitários do Novo Testamento [29]. Eles são importantes, não pelos simples fato de mostrar as três pessoas divinas juntas, mas porque são padrões que geralmente aparecem associados com as obras da Divindade, como por exemplo, a salvação (Efésios 1.3-14; 2.13-14; 1Pedro 1.2), a expiação (Hebreus 9.14), a adoção (Gálatas 4.6) e a distribuição de dons espirituais (1 Coríntios 12.4-6). A bênção apostólica, por exemplo, provavelmente tem como plano de fundo a tríplice bênção araônica, o que identifica os membros da Trindade com Yahweh (2 Coríntios 13.13; Números 6.24-26). O nome, no contexto bíblico, está fortemente relacionado com a identidade de um indivíduo. O Nome de Deus o identifica como o Eterno e o Imutável “Eu Sou”, que é uma só Essência una e indivisível. “Nome”, aqui, aparece no singular, ainda que o texto mencione três pessoas (Pai, Filho e Espírito), ressaltando a unidade da essência divina. Ao mencionar cada membro da Trindade o texto repete “(e) do” de modo a distinguir cada Pessoa. Esta distinção evita a falsa ideia do “Pai”, “Filho” e “Espírito Santo” como designações de uma mesma Pessoa. Assim o texto fala de três Pessoas distintas (Pai, Filho e Espírito) designadas por um só Nome, isto é, que compartilham de uma e a mesma Essência [30].

[1]

http://biblehub.com/interlinear/genesis/1-26.htm http://biblehub.com/interlinear/genesis/1-27.htm [3] http://brunosunkey.blogspot.com.br/2016/10/cristao-ao-ler-as-escriturasdevepartir_9.html [4] SILVA, André de Aloísio de Oliveira da. A Trindade Imanente: Unidade de essência e diversidade de pessoas como igualmente fundamentais em Deus. Teresinha: Seminário Teológico do Nordeste Memorial Igreja Presbiteriana da Coreia – Monografia, 2014, p. 80. [5] http://biblehub.com/interlinear/deuteronomy/6-4.htm [6] Revista do Professor – Nossa Fé – Os Patriarcas, p. 18. [7] SILVA, André de Aloísio de Oliveira da. A Trindade Imanente: Unidade de essência e diversidade de pessoas como igualmente fundamentais em Deus. Teresinha: Seminário Teológico do Nordeste Memorial Igreja Presbiteriana da Coreia – Monografia, 2014, pp. 77-79. [8] http://www.teologiabrasileira.com.br/teologiadet.asp?codigo=140 [9] http://biblehub.com/interlinear/1_corinthians/8-6.htm [10] http://biblehub.com/interlinear/1_corinthians/8-5.htm [11] SILVA, André de Aloísio de Oliveira da. A Trindade Imanente: Unidade de essência e diversidade de pessoas como igualmente fundamentais em Deus. Teresinha: Seminário Teológico do Nordeste Memorial Igreja Presbiteriana da Coreia – Monografia, 2014, p. 94. [12] http://brunosunkey.blogspot.com.br/2015/10/jesus-cristo-o-senhor-jeova.html [2]

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Existe um Pacto Eterno entre o Pai e o Filho chamado “Aliança da Redenção”, confira: BERKHOF, L. (2012). Manual de doutrina cristã. São Paulo: Cultura Cristã, pp. 115-118. [14] http://biblehub.com/interlinear/2_corinthians/3-17.htm [15] 2 Coríntios 3.17-18 adaptado da Tradução do Novo Mundo: https://www.jw.org/pt/publicacoes/biblia/nwt/Nomes-e-ordem-dos-livros/2Cor%C3%ADntios/3/ [16] Neves, Itamir. Comentário Bíblico de João. São Paulo: Rádio Trans Mundial, 2011. (Série Através da Bíblia), pp. 28-29. [17] http://biblehub.com/interlinear/colossians/1-17.htm [18] http://biblehub.com/greek/165.htm [19] SILVA, André de Aloísio de Oliveira da. A Trindade Imanente: Unidade de essência e diversidade de pessoas como igualmente fundamentais em Deus. Teresinha: Seminário Teológico do Nordeste Memorial Igreja Presbiteriana da Coreia – Monografia, 2014, p. 105. [20] https://pt.wikipedia.org/wiki/No_princ%C3%ADpio_era_o_Verbo [21] http://biblehub.com/interlinear/john/8-58.htm [22] SILVA, André de Aloísio de Oliveira da. A Trindade Imanente: Unidade de essência e diversidade de pessoas como igualmente fundamentais em Deus. Teresinha: Seminário Teológico do Nordeste Memorial Igreja Presbiteriana da Coreia – Monografia, 2014, pp. 107-108. [23] Neves, Itamir. Comentário Bíblico de João. São Paulo: Rádio Trans Mundial, 2011. (Série Através da Bíblia), p. 21. [24] GEISLER, N. (2015). Teologia Sistemática 1. Rio de Janeiro: Casa Publicadora das Assembleias de Deus, p. 794. [25] SILVA, André de Aloísio de Oliveira da. A Trindade Imanente: Unidade de essência e diversidade de pessoas como igualmente fundamentais em Deus. Teresinha: Seminário Teológico do Nordeste Memorial Igreja Presbiteriana da Coreia – Monografia, 2014, p. 100. [26] BERKHOF, L. (2012). Manual de doutrina cristã. São Paulo: Cultura Cristã, p. 63. [27] Como já havia analisado este versículo em outro artigo, apenas copiei sua análise: http://brunosunkey.blogspot.com.br/2016/11/a-processao-eterna-doespirito.html [28] FERREIRA, F. & MYATT (2007). Teologia Sistemática - VIDA NOVA, pp. 682 684. [29] Estes padrões podem ser encontrados em: João 14.26; Mateus12.31-32. Mtateus 3.16,17; Mateus 28.19; Lucas 1.35; Lucas 3.21-22; Marcos 1.9-11; Lucas 4.1-12; João14.16-20; João15.7-26; João 20.21-22; Atos1.1-6; Atos2.31,32,38,39; Atos5.31-32; Atos7.55-56; Atos10.38, 46,47,48; Atos15.8-11; Atos20.23,24,28; Atos28.23,25,31; Romanos1.4; Romanos5.5-6; Romanos8.2,3,9,16,17; 1Corintios6.11; 1Coríntios12.4,5,6,12,13,18; 2Coríntios1.21-22; 2Coríntios13.14; Gálatas3.11,13,14; Gálatas4.6; Efésios1.2,3,13; Efésios2.18,20; Efésios3.16,17,19; Efésios4.4,5,6; 1 Tessalonissenses1.4,5,6; 2Tessalonissenseses 2.13; Tito3.4,5,6; Hebreus2.3-4; Hebreus6.4,5,6; Hebreus9.14; Hebreus10.10,12,15; 1Pedro1.2; 1 João3.21,23,24; 1João4.13-14; Judas.20-21 - http://mcapologetico.blogspot.com.br/2012/07/50-textosbiblicos-no-nt-que-ensinam.html [30] SILVA, André de Aloísio de Oliveira da. A Trindade Imanente: Unidade de essência e diversidade de pessoas como igualmente fundamentais em Deus. Teresinha: Seminário Teológico do Nordeste Memorial Igreja Presbiteriana da Coreia – Monografia, 2014, pp. 90. 123. [13]

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Para uma análise de versículos bíblicos geralmente e equivocadamente utilizados contra a Trindade, confira: http://brunosunkey.blogspot.com.br/2016/01/10-versiculosbiblicos-contra-trindade.html [32] http://www.monergismo.com/textos/credos/cfw.htm

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3. A TRINDADE NO ANTIGO TESTAMENTO Todo cristão ao ler as Escrituras deve partir do pressuposto de que a Trindade se faz presente na manifestação dos atos da Deidade, na revelação do ser divino e na apresentação dos dogmas cardeais da fé cristã. Devemos ter em mente que a Bíblia é essencialmente trinitária, e que ela só pode ser compreendida corretamente a partir dos óculos hermenêuticos de uma cosmovisão trinitária. Isso é óbvio quando se leva em consideração que nosso entendimento sobre Deus é o conceito central da visão básica da qual uma pessoa parte para compreender a realidade [1]. Sendo a Bíblia essencialmente trinitária é errado supor que a revelação do Deus Triúno seja apenas um fenômeno neotestamentário, ao contrário, a Trindade é o fundamento do Velho Testamento. Isso não significa que os autores veterotestamentários tivessem pleno conhecimento da triunidade de Deus, não obstante, ao se lançar a luz da Cosmovisão Trinitária, completada a posteriori com a revelação mais plena do Novo Testamento, o “rico mobiliário trinitário” do Antigo Testamento, antes parcialmente iluminado, se faz percebido com mais nitidez [2].

3.1 UNIDADE DE DEUS [3] A premissa trinitária de que “Há absolutamente um só Deus e Deus é absolutamente um só” é ensinada de maneira clara nas páginas das Escrituras Hebraicas. Exortando o povo à obediência, Moisés declarou: “A ti te foi mostrado para que soubesses que o Senhor é Deus; nenhum outro há senão ele.” (Deuteronômio 4.35). Com estas palavras Davi dirigiu-se a Yahweh: “Portanto, grandioso és, ó Senhor Deus, porque não há semelhante a ti, e não há outro Deus senão tu só, segundo tudo o que temos ouvido com os nossos ouvidos.” (2 Samuel 7.22). De modo similar, seu filho Salomão orou dizendo: “Para que todos os povos da terra saibam que o Senhor é Deus, e que não há outro.” (1 Reis 8.60). Com isso concordam também os profetas, vaticinando o reino vindouro do Messias, escreveu o filho de Berequias: “E o Senhor será rei sobre toda a terra; naquele dia um será o Senhor, e um será o seu nome.” (Zacarias 14.9). Contrariando aqueles unitaristas que a fim de admitir a existência de “divindades secundárias” querem diminuir o peso dessas declarações, o profeta messiânico não deixa dúvidas quanto ao fato de que a inexistência de deuses fora de Yahweh é uma verdade absoluta e atemporal, não mero exclusivismo superlativo [4]: “Vós sois as minhas testemunhas, diz o Senhor, e meu servo, a quem escolhi; para que o saibais, e me creiais, e entendais que eu sou o mesmo, e que antes de mim deus nenhum se formou, e depois de mim nenhum haverá.” (Isaías 43.10).

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A Bíblia não só insiste na existência de um só Deus, como também que esse Deus é essencialmente um. Deus possui “Ser” ou uma essência autoexistente, pessoal, eterna e imutável. Em uma Teofania na forma do Anjo de Yahweh, Deus Filho disse a Moisés: “EU SOU O QUE SOU. Disse mais: Assim dirás aos filhos de Israel: EU SOU me enviou a vós.” (Êxodo 3.14). Outra declaração interessante sobre a unicidade de Deus é encontrada no Shemá: “Shemá Israel YHWH Eloheinu YHWH ehad.” – “Ouve, Israel, Yahweh nosso Deus, Yahweh é Um” (Deuteronômio 6.4)[5]. Alguns advogam que “Um” (‘ehad) designa a essência de Deus como uma unidade composta, mas essa ideia pode sugerir uma espécie de “tripartidismo” na natureza divina. Não é esse o caso, visto que Deus em seu Ser é absolutamente simples, sem partes ou composições [6]. Outros, como os adventistas, concebem o ‘ehad quase que como uma “união”, mais do que como uma unidade ontológica indivisível [7]. Outros afirmam que tanto o termo ‘ehad, quanto o termo ‘yachid aqui, não faria a mínima diferença, e assim tomam “um” num sentido unitarista que exclui qualquer possibilidade de pluralidade em Deus [8]. Minha posição é a de que ‘ehad, de fato significa uma unidade absolutamente simples, sem quaisquer partes ou composições. No entanto, ‘ehad pode admitir em si uma pluralidade de pessoas, sujeitos ou “quens” (Gênesis 2.24; Êxodo 24.3). Assim, a afirmação ontológica que podemos abstrair da confissão do Shemá é a de que a essência divina é uma unidade absolutamente simples na qual pode coexistir uma pluralidade de pessoas [9].

3.2 TRINDADE DE DEUS [10],[11] O Antigo Testamento insinua diversas vezes que Deus é plural ou que existe algum tipo de diversidade em Deus. No Antigo Testamento, o nome plural “Elohim” literalmente ‘Deuses’ ocorre milhares de vezes. Outras construções plurais para Deus também são: “‘Osay” – literalmente ‘Fazedores’ - (Jó 35.10; Salmos 149.2; Isaías 54.5), “Boḥuroṯeḵā” – literalmente ‘Criadores’ - (Eclesiastes 12.1) e Qedhoshím – literalmente ‘Santos’ (Provérbios 9.10; 30.3) ou ainda Elohim Qedhoshím – literalmente ‘Deuses Santos’ (Josué 24.19)[12],[13]. No entanto, tais expressões não devem ser tomadas como significando uma pluralidade de “Deuses”, mas como plurais que denotam a majestade e a excelência de Deus e que insinuam sua diversidade. O Antigo Testamento contém diversas outras insinuações da pluralidade de Deus: “Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança” (Gênesis 1.26); “Então disse o Senhor Deus: Eis que o homem se tem tornado como um de nós, conhecendo o bem e o mal. Ora, não suceda que estenda a sua mão, e tome também da árvore da vida, e coma e viva eternamente.” (Gênesis 3.22); “E disse: Eis que o povo é um e todos têm uma só língua; e isto é o que começam a fazer; agora não haverá restrição

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para tudo o que eles intentarem fazer. Eia, desçamos, e confundamos ali a sua linguagem, para que não entenda um a língua do outro.” (Gênesis 11.6,7) “Depois disto ouvi a voz do Senhor, que dizia: A quem enviarei, e quem irá por nós? Então disse eu: Eis-me aqui, envia-me a mim.” (Isaías 6.8). Não só a pluralidade é insinuada, como o Antigo Testamento também insinua que essa pluralidade é uma triplicidade. Tais insinuações plurais são claramente contrárias às heresias unicistas que defender um monoteísmo monopessoal: • • • •

Teofania Trinitária - Gênesis 18 – 19 Bênção Trinitária - Números 6.24-26 Adoração Trinitária - Isaías 6.3 Construções Trinitárias - Genesis 1.1-3 (Deus, Palavra, Espírito) Isaías 63.9,10 (Deus, o Anjo de Yahweh e o Espírito Santo); Isaías 61.1 (Yahweh, 'Mim' e o Espírito); Isaias11.1-2 (Yahweh, o Messias e o Espírito); Isaías 48.16 (Deus, 'Mim', Espírito), Salmos 45.6-7 (o Deus do Messias, o Deus Messias e a ‘Unção’), Salmos 33.6 e Salmos 147.18 (Yahweh, a Palavra e o ‘Sopro de Yahweh’). Na medida em que o Pai é a Fonte ou o Princípio da Deidade, as referências a Deus no Antigo Testamento aplicam-se por eminência a Ele, mas o mesmo designativo também é comum ao Filho. Existem muitas evidências veterotestamentárias da deidade de Cristo. As teofanias de Cristo na forma do Anjo de Yahweh testemunham a respeito de Sua Divindade (Gênesis 16.7-13; 32.22-32; Êxodo 3.2; 14.19). Também lemos a respeito do Messias: “O teu trono, ó Deus, subsiste pelos séculos dos séculos; cetro de equidade é o cetro do teu reino” (Salmos 45.7); “Porque um menino nos nasceu, um filho se nos deu; e o governo estará sobre os seus ombros; e o seu nome será: Maravilhoso Conselheiro, Deus Forte, Pai Eterno, Príncipe da Paz.” (Isaías 9.6); “Nos seus dias Judá será salvo, e Israel habitará seguro; e este é o nome de que será chamado: O SENHOR JUSTIÇA NOSSA.” (Jeremias 23.6) [14]. Quanto a este último versículo, Calvino refuta os antitrinitários dizendo: “Mas, de fato, resta ainda um debate maior em torno de outra passagem de Jeremias [33.16], onde Jerusalém é mencionada com esses mesmos títulos: ‘Este é o nome com que a chamarão: o Senhor, Justiça Nossa.’ Esta referência, porém, está mui longe de contrapor-se à verdade que estamos a defender; aliás, ainda mais, a confirma. Ora, como Jeremias havia já antes testificado que Cristo é o verdadeiro Jehovah de quem promana a justiça, declara agora que a Igreja de Deus haverá de sentir isto verdadeiramente, de tal modo que se haverá de se gloriar no próprio nome. Daí, na passagem anterior, referese a Cristo como a fonte e causa da justiça; nesta, adiciona-se o efeito disso”. (As Institutas I.XIII.9)[15]

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Quanto ao Espírito Santo, o Antigo Testamento o apresenta como tendo um papel ativo na criação (Gênesis 1.2; Jó 26.13; Salmos 33.6) e como o Autor da Vida (Gênesis 2.7; Jó 27.3; 33.4; Salmos 104.30). Aliás, o Espírito Santo é o próprio Autor divino das Escrituras (Números 11.29; 2 Samuel 23.2; Miquéias 3.8) [16]. FONTES: [1] Horrel, J. S. Uma Cosmovisão Trinitária. Disponível em: http://www.ecristianismo.com.br/teologia/trindade/uma-cosmovisao-trinitaria.html [2 ] Warfield apud Ferguson, S. B. O Espírito Santo.São Paulo: Os Puritanos, p.36 citado por Silva, A. A. O.. A Trindade Imanente: Unidade de essência e diversidade de pessoas como igualmente fundamentais em Deus. Teresinha: Seminário Teológico do Nordeste Memorial Igreja Presbiteriana da Coreia – Monografia, 2014, p.74. [3] SILVA, A. A. O. A Trindade Imanente: Unidade de essência e diversidade de pessoas como igualmente fundamentais em Deus. Teresinha: Seminário Teológico do Nordeste Memorial Igreja Presbiteriana da Coreia – Monografia, 2014, pp.75 – 79. [4] Alguns unitaristas dizem que a Bíblia diz que há um só Deus apenas no sentido de que Deus é único quando comparado aos demais deuses que existem, já que Jeová seria “o Deus Todo-poderoso”, enquanto os demais seriam apenas “deuses poderosos”, confira: A Verdade é Lógica. A Trindade é um ensinamento bíblico? – Refutação João 1.1 – Norman Geislere Thomas Howe, tempo 15:40ss. [5] Filho, V. Pergunte à Bíblia: Quantos Deus “é”? Disponível em: http://www.unitarismobiblico.com/1/?p=362 [6]

Confira: Queiroz, B. A unidade absolutamente simples da Trindade. Disponível em: http://brunosunkey.blogspot.com.br/2015/12/a-unidade-absolutamente-simplesda.html [7] A Igreja Adventista do Sétimo Dia ensina que a Trindade é uma unidade composta por três seres individuais tangíveis e corpóreos. Confira: Monn, J. Ellen White e a compreensão da Trindade. Disponível em: http://brunosunkey.blogspot.com.br/2015/12/a-unidade-absolutamente-simplesda.html; Sétimo Dia, Os pioneiros adventistas e a Trindade. Disponível em: https://setimodia.wordpress.com/2011/11/03/os-pioneiros-adventistas-e-atrindade/ Para uma análise crítica reformada do trinitarianismo adventista, confira: Sena, L. A Conspiração Adventista, pp. 102 -133 e Sena, L. Avaliação Teológica do “NeoTrinitarianismo” Adventista. Disponível em: http://mcapologetico.blogspot.com.br/2016/03/avaliacao-teologica-do-neo.html [8] Queruvim, Echad e Yachid o que REALMENTE DIZ o hebraico em Deut.6:4 ? Disponível

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em: https://traducaodonovomundodefendida.wordpress.com/2010/08/29/echad-eyachid-o-que-realmente-diz-o-hebraico-em-deut-64/ [9] Peterlevitz, L. R. A Trindade no Antigo Testamento. Disponível em: http://www.teologiabrasileira.com.br/teologiadet.asp?codigo=140 [10] SILVA, A. A. O. A Trindade Imanente: Unidade de essência e diversidade de pessoas como igualmente fundamentais em Deus. Teresinha: Seminário Teológico do Nordeste Memorial Igreja Presbiteriana da Coreia – Monografia, 2014, p.79 – 91. [11] Timm, A. R. A Trindade sem Mistério I. Disponível em: http://centrowhite.org.br/perguntas/perguntas-e-respostas-biblicas/a-trindade-semmisterio-i/ [12] Para a consulta das palavras hebraicas foi usada a ferramenta “Bible Hub”, disponível em: http://biblehub.com/ [12]

Tradução do Novo Mundo das Escrituras Sagradas com Referências As Institutas Vol. I – João Calvino, pp. 136 - 138. Disponível em: http://www.protestantismo.com.br/institutas/joao_calvino_institutas1.pdf [15] Ibidem. p. 137. [16] Estudo: O Espírito Santo no Antigo Testamento em Stamps, D. C. (1995). Bíblia de [14]

Estudo Pentecostal. Rio de Janeiro: Casa Publicadora das Assembleias de Deus.

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4. JESUS CRISTO: O SENHOR JEOVÁ DO NOVO TESTAMENTO

As controvérsias cristológicas caracterizadas pelo embate entre a ortodoxia cristã trinitária e as crenças heterodoxas em torno da natureza de Cristo, ora envolveu a luta contra as heresias que negavam a plena humanidade de Cristo (como no caso do docetismo gnóstico), ora contra as que rejeitavam sua plena divindade (a exemplo do arianismo). Hoje essas crenças ainda ecoam em muitas seitas que não possuem uma visão ortodoxa da união hipostática de Cristo. O Novo Testamento, no entanto, é claro tanto em enfatizar a plena natureza humana de Cristo (“O Verbo se fez carne”), quanto sua natureza absolutamente divina (“O Verbo era Deus"). Afim de afirmar a plena deidade do Filho de Deus, o Novo Testamente constantemente se refere a Cristo sob o título de “o Senhor”:

Na tradução grega dos Livros do Antigo Testamento, o nome inefável sob o qual Deus Se revelou a Moisés , YHWH, é traduzido por « Kyrios» («Senhor»). Senhor tornase, desde então, o nome mais habitual para designar a própria divindade do Deus de Israel. É neste sentido forte que o Novo Testamento utiliza o título de «Senhor», tanto para o Pai como também – e aí é que está a novidade – para Jesus, assim reconhecido como sendo Ele próprio Deus. O próprio Jesus veladamente atribui a Si mesmo este título, quando discute com os fariseus sobre o sentido do Salmo 110, e também, de modo explícito, ao dirigir-Se aos Apóstolos. Ao longo de toda a vida pública, os seus gestos de domínio sobre a natureza, sobre as doenças, sobre os demónios, sobre a morte e o pecado, demonstravam a sua soberania divina. Muitíssimas vezes, nos evangelhos, aparecem pessoas que se dirigem a Jesus chamando-lhe «Senhor». Este título exprime o respeito e a confiança dos que se aproximam de Jesus e d'Ele esperam socorro e cura. Pronunciado sob a moção do Espírito Santo, exprime o reconhecimento do Mistério divino de Jesus. No encontro com Jesus ressuscitado, transforma-se em adoração: «Meu Senhor e meu Deus» (Jo 20, 28). Assume

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então uma conotação de amor e afeição, que vai ficar como típica da tradição cristã: «E o Senhor!» (Jo 21, 7). Ao atribuir a Jesus o título divino de Senhor, as primeiras confissões de fé da Igreja afirmam, desde o princípio, que o poder, a honra e a glória, devidos a Deus Pai, também são devidos a Jesus, porque Ele é «de condição divina» (Fl 2, 6) e o Pai manifestou esta soberania de Jesus ressuscitando-O de entre os mortos e exaltando-O na sua glória. Desde o princípio da história cristã, a afirmação do senhorio de Jesus sobre o mundo e sobre a história significa também o reconhecimento de que o homem não deve submeter a sua liberdade pessoal, de modo absoluto, a nenhum poder terreno, mas somente a Deus Pai e ao Senhor Jesus Cristo: César não é o «Senhor». «A Igreja crê... que a chave, o centro e o fim de toda a história humana se encontra no seu Senhor e Mestre» . A oração cristã é marcada pelo título de «Senhor», quer no convite à oração: «O Senhor esteja convosco», quer na conclusão da mesma: «Por nosso Senhor Jesus Cristo», quer ainda pelo grito cheio de confiança e de esperança: «Maran atha» («O Senhor vem!») ou «Marana tha» («Vem, Senhor!») (1 Cor 16, 22): «Amen, vem, Senhor Jesus!» (Ap 22, 20). (CIC, 446-451)

Tentando diminuir o peso significativo desse título divino, duas objeções têm sido levantadas:

(I)

O título Senhor pode ser apenas um pronome de tratamento: No entanto uma leitura do Novo Testamento nos revelará a profundidade do significado do nome Senhor quando aplicado a Cristo. Jesus é chamado de “o Senhor da glória” (1Coríntios2.8), o “único Senhor” (1Coríntios8.6) e o “Senhor que no princípio fundou a terra, e cujos céus são obras de suas mãos” (Hebreus1.10). Além disso, profecias referentes a “Jeová” no Antigo Testamento, são aplicadas ao “Senhor”, referente a Jesus Cristo. Deste modo, o Novo Testamento emprega claramente o título de "Senhor" para Cristo num sentido absolutamente divino, como um sucedâneo do nome Jeová.

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(II)

Foi o Pai quem tornou Jesus, “Senhor” - Atos2.36: Todavia se esse texto diz que Deus fez Jesus se tornar Senhor, é evidente que o termo está sendo usado em sentido funcional, e não ontológico. Significa apenas que Jesus reassumiu a sua posição de soberania, após sua humilhação voluntária na Terra.

Assim a fé cristã declara, como o fizeram os primeiros apóstolos e reafirmam nossas confissões, que Jesus Cristo é o Nosso Senhor, e isso significa que Ele é o próprio Senhor Jeová:

O Filho de Deus, Segunda pessoa da Trindade Santa – sendo o próprio Deus eterno, o resplendor da glória do Pai, da mesma essência e igual ao Pai - ,Ele fez o mundo, sustém e governa todas as coisas que criou. Quando veio a plenitude do tempo, Ele tomou sobre si a natureza humana, com todas as suas propriedades essenciais e fraquezas comuns – porém, sem pecado. E foi concebido pelo Espírito Santo, no ventre da Virgem Maria (pois o Espírito Santo desceu sobre ela, e o poder do Altíssimo a envolveu). Foi nascido de mulher, da tribo de Judá, da descendência de Abraão e de Davi, segundo previam as Escrituras. Desse modo, duas naturezas completas, perfeitas e distintas foram inseparavelmente unidas, em uma única pessoa, sem conversão, composição ou confusão. E essa pessoa é verdadeiramente Deus e verdadeiramente homem; no entanto, um só Cristo, o único mediador entre Deus e os homens. (Confissão de Fé Batista de Londres de 1689)

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5. ESBOÇO DO DESENVOLVIMENTO HISTÓRICO DA DOUTRINA DA TRINDADE Relaciono algumas uma lista de ideias (tanto ortodoxas, como heréticas) acerca da doutrina da Trindade desenvolvidas ao longo da história. Como esta lista é apenas um esboço, coloquei apenas uma frase que sintetiza alguma ideia ou contribuição de cada pensador (ou concílio, etc.). Este esboço se baseia em um resgate histórico feito por Silva (2014):

Inácio de Antioquia (35 – 107): O Filho preexistia antes dos séculos. Justino de Roma (100 – 165): O Filho é a Potência gerada pelo Pai. Teófilo de Antioquia (116 – 186): Foi o primeiro a usar o termo grego para Trindade. Irineu de Lyon (130 – 202): O Filho e o Espírito Santo são as “mãos” de Deus. Atenágoras de Atenas (133 – 190): O Espírito é a emanação do Pai. Tertuliano (160 – 220): O Filho e o Espírito são porções procedentes da substância total do Pai. Orígenes (185 – 254): O Filho é Eterno, mas não é Deus em si mesmo. Alexandre de Alexandria (250 – 326): O Pai sempre foi Pai do Filho e o Filho sempre foi Filho do Pai. Ário (256 – 336): Houve um tempo em que o Filho não existia. Concílio de Niceia (325): O Filho é consubstancial com o Pai. Miahipostáticos (325): Grupo que afirmava que Deus é uma Hipóstase em uma Substância. Arianos (325): Grupo que afirmava que o Filho é diferente do Pai em Hipóstase e em Substância.

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Homoiousianos (325): Grupo que afirmava que o Filho é de substância semelhante ao Pai. Homoianos (325): Grupo que afirmava que o Filho é semelhante ao Pai. Homoousianos (325): Grupo que afirmava que o Filho é da mesma substância que o Pai. Marcelo de Ancira (285 – 374): O Reino do Filho teria um fim quando Ele entregasse o Reino ao Pai. Atanásio de Alexandria (296 – 373): O Filho é o Deus Eterno e Salvador, consubstancial com o Pai. Gregório de Nazianzo (329 – 390): O Espírito Santo é consubstancial com o Pai e com o Filho. Basílio de Cesareia (330 – 379): O Espírito Santo é um ser Onisciente, Onipresente e Onipotente. Agostinho (354 – 430): O Espírito Santo é o Amor que une o Pai e o Filho. Concílio de Constantinopla (381): O Filho é consubstancial com o Pai e o Espírito procede do Pai. Boécio (480 – 525): Cada Pessoa da Trindade é uma substância individual de uma natureza racional. João de Damasco (676 – 749): O Espírito Santo procede somente do Pai e repousa no Filho. Anselmo de Cantuária (1033 – 1109): O Espírito Santo procede do Pai e do Filho por uma espiração única. Roscelino (1050 – 1125): As três Pessoas da Trindade são três seres em um só nome.

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Gilberto de Poitiers (1070 – 1154): Faz uma distinção entre “Deus” e “Divindade”, sendo a Divindade aquilo que faz Deus ser Deus. Bernardo de Claraval (1090 – 1153): Deus não tem Divindade, Ele é a Divindade e a Divindade é Deus. Pedro Lombardo (1100 – 1160): O Pai gera o Filho na medida em que é distinto das outras pessoas em termos de relação Ricardo de São Vítor (1110 -1173): Só a Trindade pode ser a expressão suprema do amor perfeito. Joaquim de Fiori (1135 – 1202): O Pai gera o Filho na medida em que é idêntico com a substância divina. Concílio de Latrão (1215): Na geração e na procedência há comunicação de essência. Boaventura de Bagnoregio (1217 – 1274): Na Trindade há duas procedências, uma ativa (geração) e uma passiva (espiração). Tomás de Aquino (1225 – 1274): Cada Pessoa da Trindade é uma relação subsistente no Ser de Deus. Concílio de Lião (1274): Declara como dogma a crença de que o Espírito procede do Pai e do Filho. Gregório de Palamas (1296 – 1357): O Espírito procede somente do Pai no nível da essência, mas procede do Pai e do Filho no nível da energia. Concílio de Florença (1439 – 1442): O Filho recebeu do Pai que o Espírito dele proceda. João Calvino (1509 – 1564): A essência divina do Filho não é comunicada pelo Pai, mas é adverbialmente autoexistente. Zacarias Ursino (1534 – 1583): A essência do Pai é comunicada ao Filho de modo que oFilho não tem a essência divina de simesmo.

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Lucas Trelcatius (1542 – 1602): O Pai dá ao Filho, não a essência, mas o modo de ser. François Turrenti (1623 – 1687): O Filho é Deus de si mesmo com respeito a sua essência e não com respeito a sua pessoa. Confissão de Fé Belga (1561): Embora as pessoas da Trindade sejam distintas, Deus não está dividido em três. Segunda Confissão Helvética (1566): Condena os antitrinitários como hereges. Johannes Maccovius (1588 – 1644): O Filho é gerado intraessencialmente, não para fora do Pai. Confissão de Fé de Westminster (1648): Apresenta as distinções entre as pessoas divinas em termos de relações de origem. George Bull (1643 – 1710): Só Deus Pai é autoexistente. Alex Röell (1653 – 1718): O Filho é autoexistente e autosubistente, não sendo gerado pelo Pai. Friedrich Schleiermacher (1768 – 1831): Jesus possui essência divina, não no sentido de ele ser Deus, mas no sentido de que ele, desde o início, tinha consciência de Deus. Georg Hegel (1770 – 1831): A Trindade é uma dialética, na qual o Pai (a tese) em conflito com o Filho ( a antítese) produz o Espírito (a síntese) que se materializa na História. Charles Hodge (1797 – 1878): Existe uma subordinação entre as pessoas divinas no modo de subsistência e operação. Archibald Hodge (1823 – 1886): A ideia de comunicação de essência do Pai ao Filho parece mais uma explanação de um fato revelado do que um fato revelado. Benjamin Warfield (1851 – 1921): Jesus é chamado “Filho de Deus” apenas no sentido de ser igual a Deus.

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Herman Bavinck (1854 – 1921): A doutrina da comunicação da essência do Pai ao Filho é fundamental para a criação. Surgei Bulgakov (1871 – 1944): O Filho é gerado do Pai e do Espírito. Louis Berkhof (1873 – 1957): O Pai é a base da subsistência pessoal do Filho e comunica ao Filho a essência divina completa. Karl Barth (1886 – 1968): A Trindade é a base da revelação, sendo o Pai, o Revelador, o Filho, a Revelação e o Espírito, a Revelatura. Cornelius Van Til (1895 – 1987): Uma vez que Deus é um Ser pessoal, Deus é tanto três pessoas como uma Pessoa. Karl Rahner (1904 – 1984): A Trindade Econômica é a Trindade Imanente e a Trindade Imanente é a Trindade Econômica. Thomas Torrance (1913 – 2007): O Espírito Santo procede da substância da Trindade, de modo que é correto dizer tanto que o Espírito procede do Pai e do Filho, quanto que Ele procede do Pai através do Filho. Jürgen Moltmann (1926 -): A Trindade é uma família, cuja unidade se baseia, não numa essência, mas é constituída pelo Pai, centrada no Filho e iluminada pelo Espírito. Thomas Smail (1928 – 2012): O Filho é eternamente gerado do Pai através do Espírito. Robert Jenson (1930 - ): A Trindade é um evento de três identidades. George Knight III (1931 - ): Embora iguais em essência, o Filho é eternamente submisso ao Pai na Trindade Imanente. Bruce Ware (1953 - ): Por causa da ordem das pessoas na Trindade, a oração só é corretamente dirigida ao Pai. Brannon Ellis (2012): A essência e as pessoas são igualmente fundamentais em Deus.

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Fonte: SILVA, André de Aloísio de Oliveira da. A Trindade Imanente: Unidade de essência e diversidade de pessoas como igualmente fundamentais em Deus. Teresinha: Seminário Teológico do Nordeste Memorial Igreja Presbiteriana da Coreia – Monografia, 2014.

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6. ARGUMENTOS ATANASIANOS E VITORINOS A FAVOR DA TRINDADE Abaixo estão sistematizados alguns argumentos baseados em Atanásio (296 – 373), defensor da fé nicena e no escolástico Ricardo de São Vitor (1010 – 1173). A preocupação de Atanásio está em defender a consubstancialidade do Pai e do Filho, enquanto a de Ricardo de São Vitor está em apresentar a Trindade como a expressão suprema do amor perfeito.

6.1 ARGUMENTOS ATANASIANOS 6.1.1 ARGUMENTO METAFÍSICO

1. Deus é Imutável em sua natureza (isto é: sempre foi e será o que é)

2. Deus é por natureza o Pai do Filho.

3. Logo, o Pai sempre foi, é e será Pai do Filho (por implicação: O Filho é eterno)

6.1.2 ARGUMENTO SOTERIOLÓGICO

1. Somente Deus pode salvar. 2. O Filho salva. 3. Logo, o Filho é Deus.

6.1.3 ARGUMENTO REVELACIONAL 1. Apenas Deus pode revelar Deus de maneira perfeita. 2. O Filho é a verdadeira revelação de Deus 3. Logo, o Filho é Deus.

As conclusão dos argumentos atanasianos de que o Filho é o Deus Eterno e Salvador, exige que a Divindade do Filho seja considerada em sentido absoluto, assim como se

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considera o termo “Deus” em relação ao Pai. Desse modo, esses argumentos têm como propósito fundamentar a crença na consubstancialidade (homoousis) do Pai e do Filho.

6.2 ARGUMENTOS VITORINOS 6.2.1 ARGUMENTO DO PRINCÍPIO DO AMOR 1. Para o amor existir é necessário haver pelo menos duas pessoas que se amam. 2. Aquele que é amado deseja que alguém mais possa ser amado. 3. Logo, a mais excelente forma de amor exige uma terceira pessoa.

6.2.2 ARGUMENTO DO PRINCÍPIO DO AMOR A FAVOR DA TRINDADE 1. Conforme demonstrado no argumento acima, a mais excelente forma de amor exige uma terceira pessoa. 2. Deus é a expressão suprema do amor perfeito. 3. Logo, Deus precisa ser uma Trindade (Três Pessoas)

6.3 ARGUMENTO DO PRINCÍPIO DO AMOR CONTRA A QUATERNIDADE 1. Existem quatro possibilidades em relação a dar/não dar e receber/não receber amor: (i) dar e receber; (ii) dar e não receber; (iii) não dar e receber; (iv)não dar nem receber. 2. Uma pessoa que não dá nem recebe amor (iv) não pode compartilhar do amor perfeito. 3. Logo, Deus não pode ser uma quaternidade que inclua (iv), mas somente uma Trindade de amor entre (i), (ii) e (iii).

Os argumentos vitorinos apresentam a Trindade divina como a expressão da forma mais suprema de amor. O amor intertrinitário se dá entre o Pai que dá, mas não recebe amor, sendo plenamente gracioso; o Filho que dá e recebe amor, sendo plenamente gracioso e grato e; o Espírito Santo que não dá, mas recebe amor, sendo plenamente grato. O Pai é a plenitude do amor gracioso, o Filho é a plenitude do amor grato e gracioso e o

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Espírito Santo é a plenitude do amor grato. Ou seja, somente a Trindade apresenta um fundamento metafísico para as três formas possíveis de compartilhar amor. Isso pode ser melhor visualizado no quadro abaixo:

FONTE: SILVA, André de Aloísio de Oliveira da. A Trindade Imanente: Unidade de essência e diversidade de pessoas como igualmente fundamentais em Deus. Teresinha: Seminário Teológico do Nordeste Memorial Igreja Presbiteriana da Coreia – Monografia, 2014.

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7. A UNIDADE ABSOLUTAMENTE SIMPLES DA TRINDADE

Muitos trinitários e neotrinitários* têm argumentado a favor da ideia de um Deus composto. Geralmente a base para esse tipo de argumentação se encontraria nas distinções das palavras hebraicas iachid e echad, tendo por base a ideia de que a natureza divina seria composta por três pessoas. Diferente de alguns unitaristas que muitas vezes acabam tendo que assumir uma pluralidade de divindades, por ter de ensinar que Jesus é “divino”, mas não é Deus ou do modalismo que reduz às pessoas divinas a meras manifestações, o trinitarianismo ortodoxo preserva tanto a ideia de individualidade absoluta da deidade, quanto da pluralidade de pessoas na divindade. De fato a doutrina da Trindade é uma fórmula que reconhece de maneira absoluta a unidade de Deus, seja por afirmar que há um só ser divino, diferente do que faz muitos unitaristas, seja por afirmar que a natureza divina é absolutamente una, diferente do que faz alguns neotrinitarios:

Existem duas palavras para “UM”, “UNO” ou “ÚNICO”: uma é “YACHID” e a outra “ECHAD”...a palavra hebraica usada para “uma” [em Gênesis 2.24] foi “echad”, que significa uma UNIDADE COMPOSTA: duas pessoas diferentes, marido e mulher se unem e formam UMA só carne...Deus é uma UNIDADE COMPOSTA de TRÊS PESSOAS...(Fernando Iglesias – Revista Princípios, p.92) Há um erro nessa ideia de um Deus composto. Isso porque não existem três pessoas diferentes e separadas em Deus, mas sim distintas. E também o termo “pessoa” na Trindade não tem o sentido de seres individuais que se unem, como no caso do casamento. Além disso, Deus é trino apenas na subsistentia, sua substantia é absolutamente una. Ainda, o termo echad também é usado no sentido de unidade individual (Eclesiastes 4.8). Por outro lado, não é incorreto afirmar, com base em Gênesis

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2.24, que o termo echad admita o sentido de uma unidade que admita uma diversidade de pessoas. O trinitarianismo afirma também claramente a unidade absoluta da natureza divina. O concílio de Lateranense IV diz que a Trindade é "uma só essência, uma só substância ou natureza absolutamente simples". A Confissão de Fé de Westiminster declara que a Trindade é "uma mesma substância, poder e eternidade". A Confissão Belga também afirma: "cremos em um só Deus, que é um único ser". O dogma da Trindade sempre afirmou a unicidade de Deus como absolutamente Um em essência, uma unidade absoluta, não composta por partes. A Confissão Belga diz claramente que "Deus (não) está dividido em três". O Dr. Norman Geisler, no volume 1 de sua Teologia Sistemática, embora utilize do argumento do echad/yachid, mostra claramente a base histórica para a simplicidade de Deus. Ele cita Agostinho (“Pois Deus é o Ser Absoluto”, “Esta Trindade é indivisível”), Tomás de Aquino (“Deus...deve ser puro ato”), Irineu (“Ele é um Ser simples, nãocomposto, sem membros diversos”), Clemente de Alexandria (“Pois o Um é indivisível”), Orígenes (Deus... é uma natureza intelectual não-composta”), Apolinário (“o espírito divino... é um, de forma simples, substância simples, indivisível”), Gregório de Nazianzeno (“natureza primeira e não – composta”), Gregório de Nissa (“livre de toda natureza composta”), Anselmo (“A Natureza de Deus de forma alguma é composta”), Calvino (“Deus se entende uma essência única e simples”). O argumento para a simplicidade de Deus também pode ser exposto filosoficamente, como aparece mesmo em Geisler sobre o Teísmo tomístico: (i)

Existe uma multiplicidade de seres.

(ii)

Os seres finitos se diferenciam quando suas potencialidades são atualizadas.

(iii)

Mas nenhuma potencialidade é capaz de atualizar por si própria.

(iv)

Logo precisa haver algo que é Pura Atualidade.

(v) diferenciar.

Seres simples não são compostos de nenhuma forma ou matéria para se

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(vi)

Não há multiplicidade se não há diferença.

(vii)

Portanto só existe um Ser Simples (Deus).

O argumento conclui a existência de um Deus simples, sem potencialidades ou componentes. A existência de um só Deus e a unidade absoluta simples da Trindade também é ensinada nas Escrituras:

Ouça, ó Israel: O Senhor, o nosso Deus, é o único Senhor. - Deuteronômio 6:4 Porque há um só Deus, e um só Mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo homem.1 Timóteo 2:5 E o escriba lhe disse: Muito bem, Mestre, e com verdade disseste que há um só Deus, e que não há outro além dele; - Marcos 12:32 Quão grande és tu, ó Soberano Senhor! Não há ninguém como tu nem há outro Deus além de ti, conforme tudo o que sabemos. - 2 Samuel 7:22 Visto que Deus é um só, que justifica pela fé a circuncisão, e por meio da fé a incircuncisão. - Romanos 3:30 Jeová será rei sobre toda a terra; naquele dia um só será Jeová, e um só o seu nome. – Zacarias 14.9 Ao único Deus, sábio, seja dada glória por Jesus Cristo para todo o sempre. Amém. Romanos 16:27 Ora, o mediador não o é de um só, mas Deus é um só. - Gálatas 3:20

Ao único Deus, nosso Salvador, por Jesus Cristo nosso Senhor, glória, majestade, domínio e poder, antes de todos os séculos, e agora, e para todo o sempre. Amém. – Judas 1.25

É dito do Pai como sendo “o Único Deus Verdadeiro” (João 17.3). Ainda Jesus Cristo é retratado como o Único: Único Senhor (1 Coríntios8.6), Único Soberano (Judas

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1.4), Único Mestre (Mateus 23.8, 10). Também é dito que o Espírito de Deus é o Espírito de Cristo (Rm8.9) e que “Há um só Espírito” (Efésios 4.4). De acordo com o Concílio de Florença (1442): ““Por causa desta unidade, o Pai está todo inteiro no Filho, todo inteiro no Espírito Santo; o Filho está todo inteiro no Pai, todo inteiro no Espírito Santo; o Espírito Santo está todo inteiro no Pai, todo inteiro no Filho”. Cremos e confessamos, portanto, que há absolutamente um só Deus e que Deus é absolutamente um só. No entanto, essa crença firme na unidade de Deus não deve nos levar a pensar que a unidade é mais importante que a diversidade em Deus. Há uma distinção real entre as pessoas divinas, que não são meros modos de Deus se manifestar. Os membros da Divindade são sujeitos reais e verdadeiramente distintos que se relacionam entre si. Afirmar o contrário é cair na heresia do modalismo. Deus nos guarde disso!

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8. A DOUTRINA DA PERICORESE DIVINA A Igreja sempre orou a Deus Pai, ao Filho e ao Espírito Santo, bem como a Trindade toda. O que justifica que a prática comum da Igreja em todo tempo seja orar às três pessoas diretamente? Hoje vemos cristãos compondo hinos que se dirigem às três pessoas e uma boa Teologia não pode ignorar as verdades que emergem da prática comum e natural dos cristãos. Além disso, o que Jesus quis dizer com “Quem vê a mim vê o Pai” ou ainda "Eu estou no Pai e o Pai está em mim”? O que essas palavras misteriosas revelam? Além disso, que unidade é essa que faz Jesus dizer que quem crê nele, crê no Pai e quem honra o Filho está honrando o Pai. Tais expressões foram interpretadas pelos hereges para justificar o modalismo. Mas se o Modalismo é uma heresia, que tipo de unidade na Trindade quis nosso Senhor ensinar com essas palavras?

8.1 INTERPRETANDO OS DADOS BÍBLICOS Há uma Unidade muito profunda em Deus, veja o que diz a Confissão de Fé do Shemá: “Ouça, Israel, Jeová, nosso Deus, é um só Jeová” – Deuteronômio 6.4 Infelizmente, alguns teólogos modernos têm lido essas palavras como: “Ouça, Israel, a Trindade é uma unidade composta”. Essa leitura destrói a unidade divina. É verdade que echad significa mais que uma unidade absoluta, pois inclui uma pluralidade de pessoas (Gênesis 2.24), é correto ler Deuteronômio 6.4 como “Ouça, Israel, a Trindade é uma unidade de pessoas”. A primeira razão para não se pensar em unidade composta, é que isso insinua que cada Pessoa da Trindade é uma parte de Deus. Isso não é Trindade, mas tripartidismo. Os cristãos, ao longo da História, têm entendido Deus como uma unidade simples, no sentido de que nele não existem partes. Veja o que os cristãos ao longo da História dizem sobre Deus: Agostinho (“Pois Deus é o Ser Absoluto”, “Esta Trindade é indivisível”), Tomás de Aquino (“Deus...deve ser puro ato”), Irineu (“Ele é um Ser simples, não-composto, sem membros diversos”), Clemente de Alexandria (“Pois o Um é indivisível”), Orígenes (Deus... é uma natureza intelectual nãocomposta”), Apolinário (“o espírito divino... é um, de forma simples, substância simples,

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indivisível”), Gregório de Nazianzeno (“natureza primeira e não – composta”), Gregório de Nissa (“livre de toda natureza composta”), Anselmo (“A Natureza de Deus de forma alguma é composta”), Calvino (“Deus se entende uma essência única e simples”).” “O concílio de Lateranense IV diz que a Trindade é "uma só essência, uma só substância ou natureza absolutamente simples". A Confissão de Fé de Westiminster declara que a Trindade é "uma mesma substância, poder e eternidade". A Confissão Belga também afirma: "cremos em um só Deus, que é um único ser"... "Deus (não) está dividido em três". [1] Que Deuteronômio 6.4 é uma referência à unidade entre as pessoas da Trindade, isso fica claro, não só pelo termo echad que indica uma pluralidade de pessoas., mas, também, pela repetição tríplice do nome de Deus: “Ouça, Israel, Jeová, nosso Deus é um só Jeová”. No Novo Testamento, Paulo faz alusão ao Shemá dizendo que: “Há um só Deus, o Pai, e um só Senhor (Jeová), o Filho” e que “O Senhor (Jeová) é o Espírito... o Senhor (Jeová), o Espírito” (1 Coríntios 8.6; 2 Coríntios 3.16-17). “Deve interessar ao leitor saber que o livro judaico mais sagrado, o Zohar, faz comentário a Deuteronômio 6.4. ‘Ouve, Israel, Jeová nosso Deus, Jeová é uno’, dizendo ‘Que necessidade haveria de mencionar três vezes neste versículo, o nome de Deus?’. Seguese a resposta. ‘O primeiro Jeová é o Pai celestial. O segundo é o rebento de Jessé, o Messias que há de vir da família de Jessé, através de Davi. E, o terceiro é o que está em baixo (significando o Espírito Santo, que nos mostra o caminho) e estes três são um’...” (The Trinity in the Old Testament, pg.3 e 4). [2] Este é o mistério de Deuteronômio 6.4: O Pai, o Filho e o Espírito Santo são três pessoas reais e distintas, mas ao mesmo tempo eles são uma Unidade simples. Se a unidade é simples, eles não podem ser separados, estão unidos como se estivessem dentro um do outro. E é exatamente isso o que o Novo Testamento ensina: Disse-lhe Filipe: Senhor, mostra-nos o Pai, o que nos basta. Disse-lhe Jesus: Estou há tanto tempo convosco, e não me tendes conhecido, Filipe? Quem me vê a mim vê o Pai; e como dizes tu: Mostra-nos o Pai? Não crês tu que eu estou no Pai, e que o Pai está em mim? As palavras que eu vos digo não as digo de mim mesmo, mas o Pai, que está em mim, é quem faz as obras. Crede-me que estou no Pai, e o Pai em mim; crede-me, ao menos, por causa das mesmas obras. - João 14.8-11

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Tendo em vista esta verdade, o Concílio de Florença declarou: “Por causa desta unidade, o Pai está todo inteiro no Filho, todo inteiro no Espírito Santo; o Filho está todo inteiro no Pai, todo inteiro no Espírito Santo; o Espírito Santo, todo inteiro no Pai, todo inteiro no Filho” (Concílio de Florença, em 1442, DS 1331). O nome que se dá ao fato de que cada pessoa da Trindade habita mutuamente uma nas outras é pericorese divina. Mais um argumento a favor da pericorese divina vem de João 17.22-26: E eu dei-lhes a glória que a mim me deste, para que sejam um, como nós somos um. Eu neles, e tu em mim, para que eles sejam perfeitos em unidade, e para que o mundo conheça que tu me enviaste a mim, e que os tens amado a eles como me tens amado a mim. Pai, aqueles que me deste quero que, onde eu estiver, também eles estejam comigo, para que vejam a minha glória que me deste; porque tu me amaste antes da fundação do mundo. Pai justo, o mundo não te conheceu; mas eu te conheci, e estes conheceram que tu me enviaste a mim. E eu lhes fiz conhecer o teu nome, e lho farei conhecer mais, para que o amor com que me tens amado esteja neles, e eu neles esteja. Embora o cristão participe em certo sentido da unidade da Trindade por meio da união mística com Cristo, que é misteriosa e inexplicável, a unidade entre as pessoas da Trindade é ainda mais profunda do que qualquer união. Se a Bíblia diz que o casal forma “uma só carne” pelo amor conjugal (eros) e que o cristão é um com Cristo pelo amor gracioso (ágape) de Deus, como um ramo ligado à videira, que unidade ainda mais profunda deve existir no amor eterno e imutável que une as três pessoas da Trindade! Podemos argumentar assim: 1. A forma mais excelsa de amor é aquela que aproxima as pessoas ao máximo possível. 2. Deus é a forma mais excelsa de amor. 3. Logo, as pessoas divinas estão tão próximas o máximo possível uma das outras. 4. As Pessoas divinas são próximas o máximo possível uma das outras. 5. O máximo possível que uma pessoa pode estar da outra é habitando totalmente dentro dela. 6. Logo, as pessoas divinas habitam-se mutuamente.

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Essa habitação mútua é, em um certo sentido estática, porque o amor de Deus é Imutável. Ao aspecto estático da pericorese divina, dá-se o nome de circumsessio. No entanto, a Trindade precisa ser compreendida em termos aliancistas. Na realidade, o Conselho da Trindade é uma Aliança eterna entre Três Pessoas. Nessa Aliança eterna de Três Pessoas há uma relação pactual amorosa entre o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Nesse Conselho Eterno, o Pai e o Filho interagiram entre si no que se chama Pacto da Redenção, que traçou o plano de Deus para a criação de um mundo que glorificaria o atributo divino de justiça, pela condenação de alguns e o atributo de amor, pela salvação dos eleitos. Assim, a Trindade também é, em certo sentido, uma relação dinâmica de amor eterno. Ao aspecto dinâmico da pericorese divina, dá-se o nome de circumcessio. [3]

8.2 IMPLICAÇÕES PRÁTICAS DA DOUTRINA DA PERICORESE DIVINA As implicações práticas da pericorese divina são as colocadas no início do artigo. Sendo que as três pessoas estão numa relação indivisível, não podemos separá-las uma das outras, embora não possamos também confundi-las, como fazem os modalistas. Por causa da Pericorese divina, crer de verdade em qualquer uma das pessoas da Trindade é crer na Trindade toda (João 14.1), adorar genuinamente qualquer uma das pessoas da Trindade é adorar a Trindade toda (João 5.23) e receber sinceramente no coração qualquer uma das pessoas da Trindade é receber a Trindade toda no coração (João 14.19-23). Por outro lado, negar qualquer pessoa da Trindade é rejeitar a Trindade toda (1 João 2.22-23). Quando as Testemunhas de Jeová, por exemplo, negam que Jesus é Deus e ensinam que o Espírito Santo é mera força ativa, estão rejeitando automaticamente também a Deus, o Pai. Há uma implicação bela da doutrina da Trindade. A habitação mútua das pessoas divinas nos ensina a adorá-las igualmente, a oração é uma forma de adoração. Estaríamos diminuindo a dignidade das pessoas divinas se ensinássemos que só se pode orar diretamente ao Pai. Se a Bíblia dá sinais de que se pode orar diretamente a Jesus (João 14.14; Atos 7.59; 1 Coríntios 1.1; 12.8-9)[4] , não parece estranho concluir que podemos orar diretamente ao Espírito Santo também. *** [1] Bruno Queiroz. A Unidade Absolutamente Simples da Trindade. [2] Loraine Boettner. A Trindade, pp.22-23. [3] Confira: André Aloísio Oliveira da Silva. A Trindade Imanente: Unidade de essência e diversidade de pessoas como igualmente fundamentais em Deus, pp. 41, 42, 135, 136 e 137. [4] Bruno Queiroz. Pode-se orar a Jesus? - Trinitariano.

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9. A GERAÇÃO ETERNA DO FILHO Muitos cristãos têm descartado ou ignorado a crença trinitária clássica na geração eterna do Filho de Deus. Essa doutrina é ratificada pelas confissões reformadas e pelos quatro primeiros concílios ecumênicos da Igreja reconhecidos pelos protestantes. Este artigo busca retomar essa verdade como importante para uma cosmovisão trinitária e até mesmo para a práxis cristã.

9.1 TRINDADE ONTOLÓGICA, IMANENTE E ECONÔMICA Willian Lane Craig, negando a doutrina da geração eterna do Filho, afirma que acha que seria: “útil distinguir entre a Trindade ontológica e a Trindade econômica. A Trindade ontológica é a Trindade conforme existe por si mesma à parte da relação de Deus com o mundo. A Trindade econômica está relacionada aos diferentes papéis interpretados pelas pessoas da Trindade com relação ao mundo e, especialmente, com relação ao plano da salvação. Na Trindade econômica há subordinação (ou, talvez seja melhor dizer, submissão) de uma pessoa à outra, assim como o Filho encarnado faz a vontade do Pai e o Espírito fala, não por sua própria conta, mas em nome do Filho. A Trindade econômica não reflete diferenças ontológicas entre as pessoas; pelo contrário, é uma expressão da amorosa condescendência de Deus em prol da salvação. O erro da cristologia do Logos está em combinar a Trindade econômica com a Trindade ontológica, introduzindo a subordinação na natureza da própria Divindade. ” A Regra de Rahner por outro lado diz o contrário: “A Trindade ‘econômica’ é a Trindade ‘imanente’ e a Trindade ‘imanente’ é a Trindade ‘econômica’”. Quem estará correto Craig ou a Regra de Rahner? Creio que as duas visões se complementam. Não pode haver subordinação ontológica na Trindade. Pai, Filho e Espírito são iguais em essência, glória, força e poder. Entendo que o Filho não tem uma existência contingente, ele não pode não-ser. Desse modo Craig acerta ao dizer que economia e ontologia não são a mesma coisa. De fato, as pessoas da Trindade se relacionam numa ordem econômica, mas são iguais ontologicamente. Discordo assim, da segunda parte da Regra de Rahner “A Trindade ‘imanente’ é a

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Trindade ‘econômica’”, se isso for entendido no sentido de que o Deus Triúno é somente Deus em relação à Criação. Neste caso, temos o risco de pensar em Deus somente como imanente, destituindo-o de Sua transcendência. Por outro lado, proponho ampliar um pouco a noção de economia, para pensar nas relações da Trindade imanente. Se entendermos “economia” como a relação da Trindade com a Criação, consequentemente teríamos de admitir que as distinções pessoais das pessoas divinas não são reais, mas apenas autodistinções que aparecem nas funções, papéis e atos interpretados pelo Divino. Corremos aqui o risco de uma espécie de modalismo, no qual as distinções entre as pessoas em Deus só são relativas às suas funções, mas não às suas propriedades. Neste caso, Deus seria uma só Pessoa na sua transcendência, mas que na medida em que se relaciona com o Universo se apresenta em uma triunidade de funções que permite-nos estabelecer uma distinção. Assim, estamos diante de dois perigos. Se assumimos a posição de que a Trindade econômica nada tem a ver com a ontológica, podemos cair num modalismo que destrói as distinções reais das pessoas divinas, por outro lado, se assumimos que a Trindade econômica e a Trindade imanente são uma e a mesma coisa, podemos cair numa visão ariana ou semiariana e no subordinacionismo ontológico. Minha proposta é usar três termos para falar da Trindade. O primeiro seria a “Trindade ontológica”, como se referindo ao que Deus é em sua essência, isto é, uma unidade absolutamente simples, na qual não há maior, nem menor. Já ontologicamente, Deus é um Ser individual pessoal autoconsciente. O segundo seria a “Trindade econômica”, isto é, as relações das Pessoas divinas com a criação, o que estabelece uma distinção e uma subordinação funcional e temporal entre as Pessoas da divindade. A terceira seria a “Trindade Imanente”, isto é, as relações metafísicas das pessoas divinas na atemporalidade, ou estado eterno, estabelecendo uma distinção de propriedades e uma subordinação nas relações eternas (não na ontologia) das Pessoas divinas. Neste caso, fugimos do subordinacionismo ontológico, afirmando a igualdade essencial entre as pessoas divinas e ao mesmo tempo nos protegemos contra a redução das distinções à economia, o que poderia levar a uma espécie de modalismo. A discussão que pretendo chegar aqui é afirmar a primeira parte da regra de Rahner para pensar na geração eterna do Filho. “A Trindade ‘econômica’ é a Trindade

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‘imanente’”. Isto é, as relações econômicas de Deus na criação refletem as relações eternas que nEle existem na atemporalidade.

9.2 O PERIGO DO SEMI-MODALISMO Como já observado, a negação da geração eterna do Filho, se levada às últimas consequências conduziria ao modalismo, isto é, à crença de que Deus, em si mesmo, é uma única Pessoa e que Pai, Filho e Espírito são distintos apenas economicamente. Para que um sujeito seja distinto de outro é preciso que se dê a ele predicações distintas de outro sujeito do qual ele se distingue. Em Deus há numericamente uma só substância ou essência indivisível e absolutamente simples. Isso significa que o que se predica de forma essencial aos três sujeitos que compartilham dessa mesma substância é idêntico. Logo, não há como diferenciar as pessoas divinas em termos do que se predica sobre elas em relação à substância. Por outro lado, Deus não tem acidentes, de modo que as pessoas divinas não podem se diferir em termos de características acidentais. Em que se distinguem então as pessoas divinas? Há um tipo de predicação dada a Deus que não é nem essencial, nem acidental, mas de relação. Chamamos Deus de "Criador", "Senhor", etc. Logo, as pessoas divinas devem se distinguir entre si pela relação. Se há relações de distinção em Deus só no que diz respeito à Trindade Econômica, logo as pessoas divinas não seriam realmente distintas entre si. Assim, é necessário que haja relações mútuas dentro da Divindade para que se possa de fato afirmar que a Trindade é constituída por três pessoas realmente distintas. Aqueles que negam as relações mútuas na Divindade (geração eterna do Filho e procedência eterna do Espírito) correm o risco de cair numa espécie de semi-modalismo por não ter no que distinguir as pessoas divinas na Trindade Imanente.

9.3 A PRIMEIRA PARTE DA REGRA DE RAHNER E A FILIAÇÃO ETERNA DE CRISTO Levando em conta a primeira parte da regra de Rahner, podemos crer que a relação econômica de geração do Filho por Deus Pai reflete as propriedades divinas de paternidade e filiação. As Escrituras falam da economia trinitária em relação à Criação fazendo claras referências à geração do Filho. Isso é dito relacionado à Ressurreição: “Nós lhes anunciamos as boas novas: o que Deus prometeu a nossos antepassados ele

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cumpriu para nós, seus filhos, ressuscitando Jesus, como está escrito no Salmo segundo: ‘Tu és meu filho; eu hoje te gerei’” (Atos 13.32 - 33). O autor aos Hebreus fala de vários momentos econômicos em que Jesus foi reconhecido como Filho de Deus relacionando isso a questão da geração: “O Filho é o resplendor da glória de Deus e a expressão exata do seu ser, sustentando todas as coisas por sua palavra poderosa. Depois de ter realizado a purificação dos pecados, ele se assentou à direita da Majestade nas alturas, tornandose tão superior aos anjos quanto o nome que herdou é superior ao deles. Pois a qual dos anjos Deus alguma vez disse: ‘Tu és meu Filho; eu hoje te gerei’? E outra vez: ‘Eu serei seu Pai, e ele será meu Filho?’” (Hebreus 1.3-5). Na economia trinitária, o Antigo Testamento vaticina que o Messias recebe por herança as nações, tendo esse direito assegurado pelo decreto da filiação: “’Eu mesmo estabeleci o meu rei em Sião, no meu santo monte’. Proclamarei o decreto do Senhor: Ele me disse: ‘Tu és meu filho; eu hoje te gerei. Pede-me, e te darei as nações como herança e os confins da terra como tua propriedade. ’” (Salmos 2.6-8). Aquele que é declarado “Filho” no cumprimento de seus atos econômicos, o é por Sua Filiação Eterna na Trindade Imanente. O Filho é gerado pelo Pai antes de todos os tempos. Desse modo, a geração do Filho não é um ato concluído, mas necessário e eterno, continuando sempre, mas sempre completo. Cristo é identificado como

μονογενὴς

(Unigênito, único gerado – João

1:14, 18; 3.16, 18; 1Jo 4.9). A ideia é de que Cristo é o único Filho de Deus literalmente gerado dele. “Gerar” significa ser origem de um “da mesma espécie” (Gênesis 1.11-12; 21-25), e assim como “gatos” geram “gatos” e “cachorros” geram “cachorros”, o Pai gerou o Filho da mesma espécie, “Deus Verdadeiro de Deus Verdadeiro”, “O Nascido de Deus” (1 João 5.18), conforme P75 e P66 “o Deus Unigênito” (João 1.14). Essa geração se deu antes de todos os tempos: “...e cujas origens são desde os tempos antigos, desde os dias da eternidade.” (Miquéias 5.2). “Antes que os montes se houvessem assentado, antes dos outeiros, eu fui gerada.” (Provérbios 8.25). De modo que nunca houve um tempo em que o Pai fosse Pai sem Filho e o Filho fosse Filho sem Pai: “E agora glorificame tu, ó Pai, junto de ti mesmo, com aquela glória que tinha contigo antes que o mundo existisse. Pai, aqueles que me deste quero que, onde eu estiver, também eles estejam comigo, para que vejam a minha glória que me deste; porque tu me amaste antes da fundação do mundo.” (João 17.5, 24). Quando as Escrituras chamam Jesus de “Filho de Deus”, isto não é uma simples metáfora para querer trazer a ideia de “igualdade”, ou

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apenas uma questão encarnacionista e econômica. Jesus de fato é o Filho de Deus desde sempre e para sempre.

9. 4 GERAÇÃO DA PESSOA E COMUNICAÇÃO DA ESSÊNCIA A geração é o ato pelo qual o Pai é o Princípio que serve de base para um segundo modo de existência dentro do ser divino. Não é a natureza ou a essência o que é gerado, mas sim a Pessoa. Desse modo, a natureza ontológica é numericamente uma só, absolutamente uma. Preserva-se assim também todos os atributos da essência divina, incluindo sua unidade absoluta e sua existência necessária não-contingente. Desse modo, o Filho tem a essência divina de si mesmo como Deus, não sendo portanto contingente ou dependente, isso porque a essência divina do Filho, embora comunicada do Pai, não é derivada de outra essência, e por isso é “em si”, absoluta e necessária. Por comunicação se pretende dizer que, no ato da geração, o Filho recebe do Pai a essência divina completa e autoexistente. O Filho continua, portanto, sendo “Deus de si mesmo”, mesmo Sua essência fluindo do Pai. Interessantemente, a própria Escritura se utiliza dessa linguagem aparentemente paradoxal: “Porque, como o Pai tem a vida em si mesmo, assim deu também ao Filho ter a vida em si mesmo.” (João 5.26). Ainda Paulo escreveu: “Porque foi do agrado do Pai que toda a plenitude nele habitasse” (Colossenses 1.19). Tudo o que o Filho recebe, pensando mesmo na primeira parte da Regra de Rahner, quer no âmbito da economia, quer da imanência, Ele o recebe do Pai: “Mas Jesus respondeu, e disse-lhes: ‘Na verdade, na verdade vos digo que o Filho por si mesmo não pode fazer coisa alguma, se o não vir fazer o Pai; porque tudo quanto ele faz, o Filho o faz igualmente. Porque o Pai ama o Filho, e mostra-lhe tudo o que faz; e ele lhe mostrará maiores obras do que estas, para que vos maravilheis. Pois, assim como o Pai ressuscita os mortos, e os vivifica, assim também o Filho vivifica aqueles que quer. E também o Pai a ninguém julga, mas deu ao Filho todo o juízo; Para que todos honrem o Filho, como honram o Pai. Quem não honra o Filho, não honra o Pai que o enviou. ... Porque, como o Pai tem a vida em si mesmo, assim deu também ao Filho ter a vida em si mesmo; E deu-lhe o poder de exercer o juízo, porque é o Filho do homem. ... Eu não posso de mim mesmo fazer coisa alguma. Como ouço, assim julgo; e o meu juízo é justo, porque não busco a minha vontade, mas a vontade do Pai que me enviou. Se eu testifico de mim mesmo, o meu testemunho não é verdadeiro. Há outro que testifica de mim, e sei que o

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testemunho que ele dá de mim é verdadeiro. ” (João 5:19-32). Se nos atos econômicos temporais da Trindade há uma relação de subordinação, adotando a primeira parte da regra de Rahner, me parece haver uma boa base para afirmar uma subordinação eterna não – ontológica nas relações (não na essência) das pessoas divinas. Condeno, porém, como herege, qualquer que ensine em termos ontológicos qualquer espécie de subordinacionismo do Filho ao Pai.

9.5 SUBORDINAÇÃO ETERNA DO FILHO AO PAI

“Quero, porém, que entendam que o cabeça de todo homem é Cristo, e o cabeça da

mulher é o homem, e o cabeça de Cristo é Deus.” – 1 Coríntios 11.3

Letham apresenta dois argumentos a favor da subordinação eterna do Filho, um a partir da união hipostática e outro a partir da primeira parte da Regra de Rahner:

9.5.1 ARGUMENTO A PARTIR DA UNIÃO HIPOSTÁTICA DE CRISTO 1. O sujeito de todas as ações de Jesus, mesmo aquelas feitas em razão da sua natureza humana, é a Pessoa divina do Logos (“...um só e mesmo Filho Unigênito, Deus Verbo, Jesus Cristo Senhor” – Declaração de Calcedônia) 2. Jesus, de sua encarnação até a sua morte, se humilhou em subordinação ao Pai. 3. Logo, foi a Pessoa divina do Filho quem se subordinou ao Pai.

Estabelecido que quando o Credo Atanasiano afirma que Jesus se subordinou "segundo a carne" (31. "...menor do que o Pai com relação à sua humanidade." ) isso implica, por causa da união hipostática, que não só a natureza humana, mas a “pessoa divina” (não a natureza divina! - o que seria subordinacionismo) se subordinou ao Pai,

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poderia se dizer corretamente que “Deus Filho se subordinou a Deus Pai”. Dessa conclusão caminharíamos à primeira regra de Rahner:

9.5.2 ARGUMENTO A PARTIR DA PRIMEIRA PARTE DA REGRA DE RAHNER 1. Deus Filho se subordinou ao Pai na Trindade Econômica 2. “A Trindade ‘econômica’ é a Trindade ‘imanente’”, isto é, as relações econômicas de Deus na criação refletem as relações eternas que nEle existem na atemporalidade. 3. Logo, uma subordinação eterna do Filho ao Pai na Trindade Econômica seria a base para a subordinação temporal do Pai ao Filho na Trindade Econômica.

Letham afirma que se não foi contrário à divindade do Filho que ele se subordinasse ao Pai na Trindade Econômica, não deveria ser contrário à sua divindade que Ele se subordinasse ao Pai na Trindade Imanente, visto que quem se subordinou foi a "pessoa divina" do Filho. A subordinação eterna do Filho ao Pai é defendida por Charles Hodge, A. Strong, Wayne Grudem, Robert Letham,John Dahms, Peter Schemm, Bruce Ware, J. Scott Horrell, Andreas J. Köstenberger, Scott R. Swain e me parece que também Norman Geisler (cf. TS1, p.801: "Uma palavra final sobre a natureza e duração dessa subordinação na divindade. Não é somente temporal e econômica; é essencial e eterna"). A maneira como a Confissão de Fé de Westminster anuncia as pessoas divinas já me parece sugerir ou insinuar (mas sem afirmar) a eternidade dessa subordinação, por dois motivos: (1) Ela coloca as três pessoas numa ordem, primeiro o Pai, depois o Filho e depois o Espírito e em seguida afirma as propriedades eternas das pessoas como base das distinções entre elas (CFW II.III); (2) Ela usa a numeração “Segunda Pessoa da Trindade” em relação ao Filho (CFW VIII.II), sugerindo uma ordem entre as pessoas da Trindade. Agora, não restam dúvidas de que o subordinacionismo ontológico (a ideia de que a natureza divina do Filho é inferior à do Pai ou que alguma pessoa da Trindade é essencialmente menor ou maior do que outra) é uma heresia ("E nessa Trindade nenhum

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é primeiro ou último, nenhum é maior ou menor." Credo Atanasiano, 24), mas afirmar uma subordinação nas relações eternas não é o mesmo que afirmar um subordinacionismo na essência divina.

FONTES: Além dos credos e confissões citados ao longo texto, foram usados como referências gerais diluídas ao longo do artigo: Berkhof, Louis. Manual de doutrina cristã. São Paulo: Cultura Cristã, 2012. Teologia Sistemática – Franklin Ferreira, Alyan Myatt, VIDA NOVA, 2007 Geisler, N. (2015). Teologia Sistemática 1. Rio de Janeiro: Casa Publicadora das Assembleias de Deus Heber Campor. A Doutrina da Filiação Eterna. Disponível em: http://www.mackenzie.br/fileadmin/Mantenedora/CPAJ/revista/VOLUME_VIII__2003 __1/v8_n1_heber_campos.pdf John Mcarthur. Reexaminado a Filiação Eterna. Disponível em: http://www.monergismo.com/textos/cristologia/filiacao_eterna_macarthur.htm Lee Irons. A Eterna Geração do Filho. Disponível em: http://www.ecristianismo.com.br/teologia/cristologia/a-eterna-geracao-do-filho.html Luciano Sena. Franklin Ferreira vs Waune Grudem. A Subordinação do Filho. Disponível em: http://bereianos.blogspot.com.br/2013/09/franklin-ferreira-vs-waynegrudem.html William Lane Craig. Deus Pai é causalmente anterior ao Filho? Disponível em: http://www.reasonablefaith.org/portuguese/deus-pai-e-causalmente-anterior-ao-filho

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10. A PROCESSÃO ETERNA DO ESPÍRITO SANTO As Escrituras ensinam que o Filho é gerado eternamente do Pai e recebe dele, por comunicação, a essência divina autoexistente no próprio ato da geração (Provérbios 8.2226; Miquéias 5.2; João 5.26; Colossenses 1.19). Se a base para uma segunda Pessoa na Divindade é a geração do Filho pelo Pai, o princípio de um terceiro modo de subsistência em Deus se dá na processão eterna do Espírito do Pai e do Filho.

10.1 BASE BÍBLICA [1] O Filho disse a respeito do Espírito: “Mas, quando vier o Consolador, que eu da parte do Pai vos hei de enviar, aquele Espírito de verdade, que procede do Pai, ele testificará de mim.” (João 15.26). É importante notar que diferente dos verbos no futuro usados para falar do envio do Espírito (João 14.26), o verbo “procede” (grego: “ekporeuetai”[2]) está no presente, isto é, a emanação do Espírito do Pai é contínua e estava acontecendo no momento em que Jesus estava falando. A ideia é que Jesus enviará o Espírito da parte do Pai no tempo (economia) porque na eternidade (imanência) o Espírito procede do Pai. O Filho diz que ele é quem enviará o Espírito, de modo que o Espírito também deve proceder do Filho[3]. Levando em conta a primeira parte da Regra de Rahner (“A Trindade Econômica é a Trindade Imanente”) que diz que a revelação da Trindade no tempo reflete aquilo que Deus é na eternidade, o envio do Espírito da parte do Pai pelo Filho corresponde a uma relação de emanação do Espírito do Pai e do Filho na eternidade. Paulo escreveu: “Vós, porém, não estais na carne, mas no Espírito, se é que o Espírito de Deus habita em vós. Mas, se alguém não tem o Espírito de Cristo, esse tal não é dele.” (Romanos 8.9). Aqui, o Espírito é relacionado tanto a Deus Pai (grego: “Pneuma Theou”), quanto a Cristo, o Filho (grego: “Pneuma Christou”)[4], de modo que se pode dizer corretamente que o Espírito Santo procede de ambos. A filioque (procedência do Espírito “do Filho”) também é confirmada [5] em Gálatas 4.6: “E, porque sois filhos, Deus enviou aos vossos corações o Espírito de seu Filho, que clama: Aba, Pai.” O texto diz que Deus Pai “envia” (grego: “exapesteilen” – “enviado para e a partir de” [6]) o Espírito. Como já dito, essa manifestação econômica é um reflexo da processão eterna do Espírito a partir do Pai. Mas o Espírito procedente do Pai também é chamado “Espírito de Seu Filho” (grego: “Pneuma tou Huiou” [7]), de modo a proceder dele também. Esse texto faz parte dos 50 padrões trinitárias do Novo Testamento, e, portanto revela a relação das três Pessoas da Trindade [8]. Em linguagem simbólica lemos no Livro de Revelação: “E mostrou-me o rio puro da água da vida, claro como cristal, que procedia do trono de Deus e do Cordeiro.” (Apocalipse 22.1). Se a “água da vida” nesta passagem é um símbolo do

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Espírito Santo (confira: João 7.39), então o texto apresenta o Espírito como procedendo (grego: ekporeuomenon) do (grego: “ek”) [9] Pai e do Filho. A expressão “do” (“ek”) tem o sentido de algo que “sai das profundezas da fonte e estendendo seu impacto sobre o objeto” [10]. Aqui, o Pai e o Filho são apresentados em um único trono, de modo que não há duas procedências e dois princípios, uma a partir do Pai e outra a partir do Filho, mas uma mesma procedência do Pai e do Filho.

10.2 BASE HISTÓRICA [11] O desenvolvimento histórico da doutrina da processão eterna do Espírito pode ser visualizado neste pequeno esboço: Irineu de Lyon (130 – 202): O Filho e o Espírito Santo são as “mãos” de Deus. Atenágoras de Atenas (133 – 190): O Espírito é a emanação do Pai. Tertuliano (160 – 220): O Filho e o Espírito são porções procedentes da substância total do Pai. Gregório de Nazianzo (329 – 390): O Espírito Santo é consubstancial com o Pai e com o Filho. João de Damasco (676 – 749): O Espírito Santo procede somente do Pai e repousa no Filho. Anselmo de Cantuária (1033 – 1109): O Espírito Santo procede do Pai e do Filho por uma espiração única. Gregório de Palamas (1296 – 1357): O Espírito procede somente do Pai no nível da essência, mas procede do Pai e do Filho no nível da energia. Thomas Torrance (1913 – 2007): O Espírito Santo procede da substância da Trindade, de modo que é correto dizer tanto que o Espírito procede do Pai e do Filho, quanto que Ele procede do Pai através do Filho.

10.3 BASE CONFESSIONAL De acordo com o Credo niceno-constantinopolitano, devemos confessar "O Espírito Santo, Senhor e Vivificador, que procede do Pai e do Filho”. [12] O Credo Atanasiano ordena a todos os que quiserem ser salvos que confessem: “O Espírito Santo procede do Pai e do Filho, não feito, nem criado, nem gerado, mas procedente.” [13] De acordo com a Confissão de Fé de Westminster: “o Espírito Santo é eternamente procedente do Pai e do Filho.” [14] O Catecismo Maior de Westminster diz que: “o Espírito Santo procede do Pai e do Filho, desde toda à eternidade.” [15] Creio que esses

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símbolos de fé apresentam de maneira exata e bíblica a relação do Espírito com o Pai e o Filho. FONTES: [1]

SILVA, A. A. o. (2014). A Trindade Imanente: Unidade de essência e diversidade de pessoas como igualmente fundamentais em Deus. Teresinha: Seminário Teológico do Nordeste Memorial Igreja Presbiteriana da Coreia – Monografia, pp. 118, 120, 143. [2] http://biblehub.com/interlinear/john/15-26.htm [3] GEISLER, N. (2015). Teologia Sistemática 1. Rio de Janeiro: Casa Publicadora das Assembleias de Deus, p. 1142. [4]

http://biblehub.com/interlinear/romans/8-9.htm

[5]

BERKHOF, L. (2012). Manual de doutrina cristã. São Paulo: Cultura Cristã, p. 64. http://biblehub.com/greek/1821.htm [7] http://biblehub.com/interlinear/galatians/4-6.htm [8] http://mcapologetico.blogspot.com.br/2012/07/50-textos-biblicos-no-nt-queensinam.html [6]

[9]

http://biblehub.com/interlinear/revelation/22-1.htm http://biblehub.com/greek/1537.htm [11] http://brunosunkey.blogspot.com.br/2016/11/esboco-desenvolvimento-historicoda_9.html [12] http://www.monergismo.com/textos/credos/credoniceno.htm#_ftn2 [13] http://www.monergismo.com/textos/credos/credoatanasio.htm [10]

[14]

http://www.monergismo.com/textos/credos/cfw.htm http://www.monergismo.com/textos/catecismos/catecismomaior_westminster.htm [16] A Trindade, 5.15; 5.6; 5.8; 5.15 citado por: FERREIRA, F. & MYATT (2007). Teologia Sistemática - VIDA NOVA, pp. 181 – 182. [15]

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11 FALÁCIAS ARGUMENTATIVAS DOS ANTITRINITÁRIOS 11.1 FALÁCIA 1: ARGUMENTO DO SILÊNCIO:

Defende que para uma doutrina ser bíblica ela precisa aparecer de maneira explícita nas Escrituras. Assim é comum vermos antitrinitários perguntando: “Onde a palavra “trindade” aparece na Bíblia?’’, ou ainda “só acredito na Trindade se você me mostrar o verso que diz ‘o Pai, o Filho e o Espírito Santo são um só’”. Evidentemente, como a Bíblia não é um tratado de teologia sistemática, não se deve esperar encontrar nela a palavra trindade, mas sim seu conceito e textos sobre as quais está embasada.

11.2 FALÁCIA 2: ARGUMENTO DA ADULTERAÇÃO

Argumenta que se um texto apoia a Trindade, ele foi adulterado. Ainda que não haja argumentos sólidos e consistentes, e até mesmo fortes evidências contrárias, atribuem adulterações a textos como Mateus28.19 e Isaías 9.6. No entanto as credências desses textos estão acima de qualquer contestação séria. Geralmente, os antitrinitários preferem o duvidoso Textus Criticus do que o tradicional Textus Receptus, comumente cometendo uma falácia cronológica, como se a veracidade de um manuscrito fosse determinada por sua antiguidade.

11.3 FALÁCIA 3: ARGUMENTO DA POSSIBILIDADE DE TRADUÇÃO

Textos como Tito 2.13 e Romanos 9.6 podem ser traduzidos tanto se referindo a divindade do Filho, quanto do Pai. Na realidade as duas possibilidades de tradução não só não contrariam a Trindade, como a apoiam. É importante ressaltar que uma possibilidade de tradução que ignora o contexto pode levar ao erro, a exemplo de traduções equivocadas de João 1.1 “um deus” e Hebreus 1.6 “prestar homenagem”, quando o contexto favorece mais a tradução “Deus” e “adorar”.

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11.4 FALÁCIA 4: EXIBICIONISMO CRONOLÓGICO

Afirma que a Trindade é falsa porque foi desenvolvida e sistematizada após o término da escrita bíblica. No entanto, embora tenha sido sistematicamente formulada tempo depois do término da escrita bíblica, a Trindade sempre esteve presente nas Escrituras. Desde o início do Cristianismo tinha-se a noção de que o próprio Cristo, enquanto Logos, era Deus absoluto (Jo1.1), em Paulo ele preexiste na forma de Deus (Fp2.6), em hebreus, Ele é o Senhor que no princípio fundou a Terra (Hb1.10). Nas cartas paulinas os Três são vistos como constituindo um só, “Jeová é o Espírito” (2Co3.17), e o Espírito de Deus é o Espírito de Cristo (Rm8.9). A Trindade foi espiritualmente revelada nas Escrituras, mas precisavase de tempo e distância para chegar-se a uma formulação dos conteúdos revelados. A Trindade está presente espiritualmente, desde os primeiros tempos da Igreja, e seria pura questão de palavras insistir que a Trindade só foi descoberta tempo depois.

11.5 FALÁCIA 5: PARALELISMO INDEVIDO DE PASSAGENS

Deve-se tomar muito cuidado com o método comparativo e o paralelismo textual. Nem sempre uma expressão ou construção textual de uma passagem tem o mesmo sentido da de outra. Não é porquê “deus” se refere a Moisés e juízes num sentido que deverá ter o mesmo sentido para Cristo. Nem que “espírito” por poder se referir a um aspecto antropológico humano ou a um elemento impessoal, que terá o mesmo sentido ao se referir ao Espírito Santo. Palavras em contextos diferentes tem significados diferentes.

11.6 FALÁCIA 6: INVALIDAÇÃO PRESSUPOSICIONALISTA

Existem três pressupostos básicos na fórmula trinitária: (i) Unidade; (ii) Divindade e (iii) Distinção. (para mais detalhes clique aqui). A falácia 6 argumenta que uma pressuposição da Trindade invalida a outra. Assim pensa-se que o primeiro pressuposto (unidade),

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contraria os outros dois. Assim é comum vermos antitrinitários citando textos que falam que “há um só Deus”, no entanto isso não é argumento contra a Trindade, mas sim a favor. Além do mais o pressuposto primeiro não invalida os outros dois, pois estes se referem a hipóstase, e aquele a essência.

11.7 FALÁCIA 7: CONFUSÃO CONCEITUAL

Alguns confundem a Trindade com o modalismo, e assim querem refutar a Trindade mostrando que o Pai, o Filho e o Espírito Santo não são a mesma pessoa, enquanto é justamente isso que a Trindade ensina. Outros confundem também com tríade, e assim alegam que a Trindade é um politeísmo disfarçado, ou “três deuses” ou ainda com tripartidismo, e assim acham que a Trindade ensina que existem três seres divinos em um só Deus, ou ainda que Jesus é parte de uma Trindade, ou que para a Trindade Deus é uma unidade composta, que Jesus é uma pessoa separada de Jeová, ou mesmo que a Trindade ensina um Deus com divisões e separações.

11.8 FALÁCIA 8: PAGANIZAÇÃO

Ensina que a Trindade é pagã por usar termos filosóficos ou por haver conceitos semelhantes em culturas pagãs. O erro desse argumento é esquecer-se da Revelação Geral de Deus, da origem comum das culturas e geralmente se baseia numa confusão conceitual dos pressupostos da Trindade ou em um uso equivocado do método históricocomparativo.

11.9 FALÁCIA 9: ANTIFILOSOFISMO

Afirma que a Trindade é falsa por usar termos filosóficos gregos em sua formulação. Esquecem-se da Revelação Geral de Deus e ignoram que a Trindade é derivada primariamente das Escrituras e não da filosofia. A realidade é que por influência da filosofia grega pagã, argumentos neoplatônicos foram usados para defender tanto a

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trindade como o unitarismo, nas discussões de Atanásio e Ário, por exemplo. Ário, um antitrinitário fez uso da filosofia platônica da ideia de Monas. Vários elementos da filosofia grega invadiram o Cristianismo, e foram usados tanto para defender doutrinas bíblicas como antibíblicas. Existe uma falsa ideia, entre aqueles que querem 'purificar' o Cristianismo do paganismo, segundo a qual tudo o que possui influência da filosofia grega é heresia. É um equívoco de nossa parte achar que a filosofia grega não trouxe nenhuma contribuição positiva para o pensamento cristão. O próprio apóstolo Paulo não ignorou a literatura grega (At17.28).

11.10 FALÁCIA 10: ANTICATOLICISMO

Há por parte de alguns, um ódio contra tudo que possa remeter às palavras, “pagã” e “católico”, de modo que qualquer dogma que supostamente tenha alguma ligação com essas palavras são atacadas com todas as forças. Alguns só negam a Trindade por amor ao judaísmo e ódio ao catolicismo, e não por apreço a verdade. É comum vermos pessoas levantando fatos históricos como a inquisição para invalidar a Trindade. Ignoram que quem revelou a doutrina da Trindade foi Deus e não a Igreja Romana.

11.11 FALÁCIA 11: CONFUSÃO ENTRE ECONOMIA E ONTOLOGIA

Por economicamente o Pai ser maior que o Filho e o Filho maior que o Espírito, acreditam que isso também seja válido ontologicamente. Boa parte das críticas levantadas contra a Trindade erra justamente neste ponto, apresentado a hierarquia funcional como argumento contra a igualdade essencial das Pessoas da Trindade. Esse equívoco se vê por aqueles que insistem em provar que o Pai é maior que o Filho e o Espírito menor que o Filho e que assim a Trindade é invalidada. É comum insistirem, a partir daí, que um sabe mais que o outro, que há diferença de poderes entre Eles, etc.. Tais argumentos acabam por confundir função com essência e por isso conduzem a essas conclusões desastrosas. Uma compreensão clara da hierarquia funcional entre as hipóstases da divindade e da

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igualdade essencial entre elas eliminaria muito dos argumentos falaciosos levantados contra a Trindade.

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12. EXPLICAÇÃO DOS VERSÍCULOS QUE SUPOSTAMENTE CONTRADIZEM A TRINDADE

Muitas objeções têm sido levantadas contra o ensino bíblico da Santíssima Trindade, algumas delas apelam para textos da Bíblia que supostamente ensinariam que Deus não é trino, que Jesus é inferior ao Pai e que o Espírito Santo é o poder de Deus em ação. Tratemos dessas passagens:

12.1 Deuteronômio 6:4

“Ouça, ó Israel: O Senhor, o nosso Deus, é o único Senhor. ” Segundo este versículo Deus é Um e não Três. De fato, o texto ensina que há um só Deus e que Deus é um só. Mas é exatamente nisso que creem os trinitários. Temos o cuidado de distinguir as “pessoalidades” da “natureza”. Deus é Três apenas em relação às pessoalidades, no entanto em relação a natureza Deus é absolutamente Um, uma unidade absoluta, não composta por partes, nem dividida entre três pessoas. É falsa a ideia que se propaga por aí de que os trinitários negam que há um só Deus e que Deus é um só. A doutrina da Trindade entende que só existe um único Ser que possui natureza divina e que essa natureza é uma unidade absolutamente simples.

12.2 Provérbios 8:22 “O Senhor me criou, como primícia de suas obras, desde o princípio, antes do começo da terra. ” Alega-se que a Sabedoria Personificada neste texto seja Jesus, que apresenta-se como a primeira criatura de Jeová. No entanto lendo o contexto (Provérbios 8 – 9) fica claro que não se pode aplicar todas as propriedades da Sabedoria personificada a Jesus: “A personificação do divino atributo da sabedoria começa no capítulo 1: “Grita na rua a sabedoria, nas praças levanta a sua voz” (v. 20). No capítulo 3, é-nos dito que ela “mais preciosa é do que pérolas” e “os seus caminhos são... paz” (vs. 15 e 17). No capítulo 7 ela

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é chamada “irmã” (7:4); e no capítulo 8, a sabedoria mora junto com a prudência (8:12).”1 Provérbios 9 ainda diz que a Sabedoria construiu uma casa, ergueu sete colunas, matou animais e preparou uma refeição (vv.1-2). Com isso não se nega que o texto se aplique homileticamente a Jesus, o que se está em questão é que como o texto faz uso de uma figura de linguagem, alguns elementos são puramente metafóricos e aplicam-se apenas a uma personificação de uma manifestação específica de um atributo divino. Isso também fica claro pelo fato da Sabedoria de Deus não poder ter sido criada, pelo contrário a sabedoria é um atributo eterno de Deus (cf. Isaías 40.28). Desse modo, o texto pode estar apenas apresentando “uma manifestação específica da eterna sabedoria de Deus em Cristo na obra da criação” 2. O texto também não indica necessariamente que a Sabedoria foi criada, de acordo com o teólogo Wayne Grudem: “A palavra hebraica que geralmente significa "criar" (bãrã') não é usada no versículo 22; a palavra é qãnãh, que ocorre oitenta e quatro vezes no Antigo Testamento e quase sempre significa "obter, adquirir". A Almeida Revista e Atualizada é mais clara aqui: "O Senhor me possuía no início de sua obra" (Semelhante Á Versão King James; repare esse sentido da palavra em Gn 39.1; Ex 21.2; Pv 4.5, 7; 23.23; Ec 2.7; Is 1.3["possuidor"]. trata-se de um sentido legítimo e, se a sabedoria for compreendida como uma pessoa real, significaria apenas que Deus Pai começou a dirigir e a fazer uso da potente ação criadora de Deus Filho no momento do início da Criação: o Pai convocou o Filho a trabalhar com ele na obra da criação. A palavra "gerado" nos versículos 24 e 25 é um termo diferente, mas poderia carregar significado semelhante: o Pai começa a dirigir e a fazer uso da potente ação criadora do Filho na criação do universo.”3

12.3 Miquéias 5:2 “Mas tu, Belém-Efrata, embora sejas pequena entre os clãs de Judá, de ti virá para mim aquele que será o governante sobre Israel. Suas origens estão no passado distante, em tempos antigos. ” - Miquéias 5:2 Esse texto claramente mostra Jesus como tendo uma origem antiga, num passado distante – indica isso que ele foi criado a muito tempo? Algumas traduções sugerem que

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o texto esteja dizendo que o menino Jesus que nasceria em Belém teria uma origem genealógica que remontaria a tempos antigos. No Evangelho de Lucas a genealogia do menino Jesus vai até Adão e Deus (Lucas 3.23-38). Assim Miqueias 5.2 pode perfeitamente estar se referindo às origens humanas, isto é genealógicas de Jesus, já que o texto fala do nascimento dele em Belém. A Tradução Interconfessional mostra o sentido genealógico: "ele descende duma família, cuja origem vem dos tempos mais antigos." Esse sentido é fortalecido pelo contexto que fala de nascimento (v.3). Assim é provável que o texto fale da origem genealógica de Jesus, que é descendente de Davi. Essa interpretação é ainda mais reforçada pelo fato do texto apresentá-lo como aquele "que será governante em Israel" (v.2). Apesar disso, alguns têm entendido essa passagem como uma referência à geração eterna do Filho.

12.4 Mateus 19:17 “Por que me perguntas a respeito do que se deve fazer de bom? Só Deus é bom. Se queres entrar na vida, observa os mandamentos. ” Está aqui Jesus negando ser o Bom Deus? De forma alguma! Ele apenas convida o jovem rico a pensar nas implicações de suas palavras. “Em resposta, temos de observar que aqui Jesus não negou que Ele fosse Deus, Ele lhe pediu que examinasse as implicações do que estava dizendo. Jesus estava lhe dizendo: ‘Percebes o que estás dizendo quando me chamas de bom? Percebes que isto é algo que tu deves atribuir somente a Deus? Tu estás dizendo que sou Deus? ’ O jovem não percebeu as implicações do que ele estava dizendo. Portanto, Jesus forçou-o a um dilema incômodo. Ou Jesus era bom e era Deus, ou então ele era ruim e era homem. Um Deus bom ou um homem ruim, mas não um homem bom”4

12.5 Mateus 24:36 “Quanto ao dia e à hora ninguém sabe, nem os anjos dos céus, nem o Filho, senão somente o Pai. ”

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De acordo com esse texto nem o Filho, nem o Espírito Santo sabem a data do fim deste sistema de coisas – como podem então os três serem o mesmo Deus Onisciente? Só precisamos entender essa passagem a luz do seu contexto histórico: “Na cultura Judaica antigas, o casamento era quase sempre arranjado. Depois do casamento ter sido arranjado, o noivo fazia os preparativos na casa de seu pai, onde ele e sua esposa iriam viver. O costume dizia que o pai do noivo iria decidir quando os preparativos estavam terminados e a casa pronta para o jovem casal se mudar para la. O que significa que apenas o pai sabia quando seria o tempo do noivo se juntar a sua noiva. Mas isso não significa que o noivo não sabia o tempo certo. O casamento era um grande evento na época, bem maior do que atualmente, era um grande evento em comunidade. Isso significa que as pessoas tinham que se preparar antecipadamente para o evento, e reservar um tempo de seu trabalho diário. O dia tem que ser conhecido semanas antes, para que as pessoas pudessem ajustar seus horários para o casamento. Preparativos, como reserva de comida, também tinha que ser preparado com antecedência, já que não havia refrigeração ou supermercado. Todos sabiam quando o casamento estava chegando, no entanto, era costume em respeito ao pai e ao noivo dizer que apenas o pai sabia quando o noivo ficaria com sua noiva. Com isso em mente, um novo entendimento de Marcos 13.32 e Mateus 24.36 aparece. Jesus não estava dizendo que ele e o Espírito Santo não sabiam quando os eventos de sua volta aconteceriam, estava explicando com o que a tribulação seria parecida. Onde todos sabiam o tempo do casamento, mas apenas o Pai diria quando aconteceria”5 Também é admissível a interpretação que vê neste texto um contraste entre a natureza humana limitada de Jesus (“o Filho do Homem”v.37) e a natureza divina ilimitada do Onisciente (“o Pai”v.36).

12.6 João 14:28 “Vocês me ouviram dizer: Vou, mas volto para vocês. Se vocês me amassem, ficariam contentes porque vou para o Pai, pois o Pai é maior do que eu. ” Como o Filho e o Pai podem ser iguais em essência, se Jesus disse que o Pai é maior que Ele? É importante distinguir ontologia de economia quando se lê esse e outros textos

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similares. Jesus é igual ao Pai em natureza, mas menor que Ele em função. O apóstolo Paulo esclarece isso melhor: “... [Jesus] sendo Deus, não considerou usurpação ser igual a Deus, mas esvaziou-se a si mesmo, vindo a ser servo e tornando-se semelhante aos homens. ” (Fp2.6-7). Mesmo tendo o direito de ser igual a Deus, tanto essencialmente quanto funcionalmente, o Filho decidiu cumprir a humilde função de Servo (Isaías 42.1), se tornando, até mesmo, menor do que os discípulos (Lucas 22.26-27). O Servo de Jeová exerceu o papel de Filho obediente (Hebreus 5.8; Filipenses 2.8) enviado pelo Pai (João 8.42; 12.49; 17.3). Como Homem limitado se fez instrumento nas mãos de Deus, o Pai (Jo5.19). E nessa posição pode chamar o Pai de seu Deus (Jo20.17). Tal submissão não se restringiu ao ministério terreno de Cristo: “Mas quando tudo for dominado por Cristo, então o próprio Cristo que é o Filho, se colocará debaixo do domínio de Deus, que pôs todas as coisas debaixo do domínio dele. Então Deus reinará completamente sobre tudo.” (1Coríntios 15.28). “Jesus lhes disse: ‘Certamente vocês beberão do meu cálice; mas o assentar-se à minha direita ou à minha esquerda não cabe a mim conceder. Esses lugares pertencem àqueles para quem foram preparados por meu Pai. ’” (Mateus 20:23).

12.7 João 17:3 “E a vida eterna é esta: que te conheçam, a ti só, por único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste. Ensina esse texto que só o Pai é Deus, e portanto o Filho e o Espírito Santo não são Deus? Não, a Bíblia também diz que só Jesus é Mestre, Senhor e Soberano (Mateus 23.8, 10; 1 Coríntios 8.6; Judas 1.4), significa isso que o Pai não é Mestre, Senhor nem Soberano? Não, antes que tanto o Pai, como o Filho como o Espírito Santo são um Deus Único.

12.8 Atos 2:4 “Todos ficaram cheios do Espírito Santo e começaram a falar noutras línguas, conforme o Espírito os capacitava. ”

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A Bíblia fala do Espírito Santo como sendo “derramado” e como algo que “enche” as pessoas – como ele pode então possuir pessoalidade? O livro de Atos claramente apresenta o Espírito Santo como uma Pessoa divina (Atos 1.16; 13.2; 15.28; 20.28; 21.11; 28.25). Uma leitura desses textos deixa evidente que eles tratam de relações interpessoais reais, e não de meras personificações. Pode-se facilmente perceber que expressões “derramar”, “encher” e “ungir” são necessariamente figuradas quando aplicadas ao Espírito Santo. Ora, nem se crêssemos em sua impessoalidade poderíamos literalizar essas expressões, e assim são injustos aqueles que recorrem a essas expressões para despersonalizar o Santo Espírito. Por outro lado insistir que em Atos, numa narrativa histórica de inter-relação pessoal clara, devemos tomar o Espírito como personificado, é no mínimo absurdo.

12.9 Colossenses 1:15 “Ele é a imagem do Deus invisível, o primogênito de toda a criação” “O termo ‘Primogênito’ é um título, e não se refere a origem, mas sim a posição de Jesus, como Rei Soberano da Criação. Primogênito em Jesus significa ‘Soberano’, como mostra Salmos 89.27, em que Davi tipifica a Jesus como o Rei dos reis: ‘E eu farei dele o primogênito, O maior dos reis da terra. ’”6 Note que Davi não 'nasceu' primogenito, mas sim que ele se 'tornaria' por ocupar uma posição de rei supremo. O próprio contexto favorece o sentido posicional para Cristo (v.18). A Bíblia claramente mostra Jesus como Eterno: Aquele que é antes de toda a Criação, inclusive do tempo, sendo portanto Atemporal (Eterno) (João1.3; Colossenses 1.16-17). Ele é chamado de "o Primeiro e o Último" (Apocalipse 1.17), expressão baseada em Isaías 44.6 que usa o termo para significar que só Jeová é o Deus Eterno.

12. 10: Apocalipse 3:14 “E ao anjo da igreja de Laodicéia escreve: Isto diz o Amém, a testemunha fiel e verdadeira, o princípio da criação de Deus”

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Jesus é chamado de o Princípio da Criação de Deus, significa isso que Ele é a primeira criatura? Não, isso simplesmente significa que é em Jesus que todas as coisas criadas encontram seu Princípio. Mesmo o Pai é chamado de “o Princípio” em sentido semelhante (Apocalipse 21.6).

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http://anaturalterapeutica.weebly.com/a-trindade.html http://centrowhite.org.br/perguntas/perguntas-e-respostas-biblicas/jesus-e-a-sabedoriamencionada-em-proverbios-8/ 3 http://www.ocalvinismo.com/2010/11/deus-em-tres-pessoas-wayne-grudem.html 4 Geisler, N. (2015). Teologia Sistemática 1. Rio de Janeiro: Casa Publicadora das Assembleias de Deus 5 http://olharunificado.blogspot.com.br/2014/10/por-que-jesus-e-o-espirito-santonao.html 6 http://brunosunkey.blogspot.com.br/2015/10/o-que-biblia-realmente-ensinacapitulo.html 2

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CONSIDERAÇÕES FINAIS A Trindade é a doutrina que se baseia em três pressupostos: (i) unicidade: Deus é uma unidade absoluta; (ii) deidade: o Pai, o Filho e o Espírito Santo são absolutamente divinos; (iii) distinção: Pai, Filho e Espírito Santo são três pessoas distintas. Além desses pressupostos essenciais, a doutrina da Trindade envolve: (a) a geração eterna do Filho: o Pai gera eternamente a Pessoa do Filho e comunica a Ele sua essência; (b) a processão eterna do Espírito Santo: o Espírito Santo é eternamente procedente do Pai e do Filho. A doutrina da Trindade é o dogma central do Cristianismo, pois é o único dogma religioso capaz de conter em si todos os princípios fundamentais que formam a base de tudo. Primeiro, porque ela concilia em si a unidade e a diversidade, o uno e o múltiplo. Segundo, porque ela funda toda relação sujeito e objeto. Terceiro, porque em seu interior se dá a base originária de toda processão. A Trindade é a pedra de toque, o critério pelo qual distinguimos o cristão ortodoxo (aquele que crê na Trindade) de um não-ortodoxo (aquele que rejeita a Trindade).

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