Um Ministério Ideal - Charles Spurgeon

June 23, 2018 | Author: Enzo Gonçalves | Category: Faith, Prayer, Jesus, Saint, God
Share Embed Donate


Short Description

Download Um Ministério Ideal - Charles Spurgeon...

Description

C. J i. £p44/U2S(m

UM

w

fflllIIDFERIO EA l Em 1865 Spurgeon inaugurou a “ Conferência Anual” do Colégio de Pastores, a quai foram convidados todos os pastores que haviam sido preparados no Colégio. Essa reunião anual estava destinada a oferecer um laço de união permanente entre eles. Durante toda sua vida, Spurgeon pronunciou vinte e sete palestras presidenciais na Conferência; doze delas foram reimpressas após sua morte, das quais seis estão neste livro. Se havemos de entender atualmente porque o testemunho evangélico chegou a um nível tão baixo, é necessário que retrocedamos ao século dezenove e descubramos o que ocorreu. Este volume nos concede bastante luz adicional neste assunto, com as observações do fam oso pregador sobre a mudança de ênfase na pregação do evangelho, acerca dos aspectos da “ obra m issionária” moderna, no que se refere ao descuido da doutrina da soberania de Deus e a respeito da decadência geral da pureza doutrinária. “ Para serem pregadores eficazes devem ser teólogos autênticos.”

UM MINISTÉRIO IDEAL Volume 2

C onferências a ministros e estud antes

C. H. Spurgeon

PeS PUBLICAÇÕES EVANGÉLICAS SELECIONADAS Caixa Postal 1287 - 01059-970 - São Paulo, SP www.editorapes.com.br

T ítu lo original: An Ali R ound M inistry P rim e ira edição em português: 1990 Segunda edição em português: 2005 T radução do inglês: Edgard Leitão R evisor: A ntonio Poccinelli C o o p erador: Luís C hristianini C apa: W irley dos Santos Corrêa Im pressão: Im prensa da Fé

ÍNDICE In tro d u ção ....................................................................... 1. F é .................................... .............................................. 2. A Individualidade e o contrário d e la .................... 3. Como enfrentar os males da nossa é p o c a ............. 4. Os males de nosso tempo: nossos objetivos, necessidades e en co rajam en to s....................... 5. O poder do pregador e as condições para obtê-lo 6. O m inistro nos tem pos a tu a is .................................

INTRODUÇÃO E m b o ra C. H. S purgeon seja a in d a lem b rad o com o pregador popular, geralm ente se esquece que a influência exercida por ele sobre m in istro s e estudantes de teologia foi um fator ainda m ais im p ortante, talvez, do que o seu próprio m inistério. H oje é pouco conhecido o fato de que ele o rg a n iz o u um a in s titu iç ã o teológica, su p e rv isio n o u a p re p a raç ã o de m ais de 800 e stu d a n te s, p re s id iu um a conferência anual de m inistros, e considerou tudo isso como “o labor e deleite de m inha vida, em relação ao qual o resto do meu trabalho não é senão a plataform a; deleite superior ainda ao que me oferece meu êxito m inisterial” (Autobiografia, vol. 3, p. 127). Os pontos de vista de Spurgeon quanto ao ministério, especialmente com referência à educação teológica, têm recebido pouca atenção desde a sua m orte em 1892. A prim eira vista é difícil explicar tal coisa, quando recordam os que durante 37 anos Spurgeon pregou semana após semana a um a congregação de cerca de 5.000 pessoas. Será que em nossos dias, de tão evidente decadência no p o d er da pregação e freqüência às igrejas, as opiniões de um hom em como ele não valem a pena ser conhecidas? A m elhor ilustração dos pontos de vista de Spurgeon quanto à preparação para o m inistério é a histó ria do seu p ró p rio colégio teológico. Q uase desde o in íc io do seu m inistério em L ondres em 1854, para as vastas m ultidões, ele sentiu a carga da necessidade de m uito mais pregadores de enérgica posição evangélica. Sabia, como tantas vezes repetia, que os s e m in á rio s sem p re h av iam tid o p a p el v ita l no 6

Introdução provim ento de tais hom ens. “H onorato e C olum ba nos dias antigos, e tam bém Wycliffe, L utero e Calvino na época da R efo rm a, p re p a ra ra m os e x é rc ito s do S e n h o r p a ra sua missão. As escolas dos profetas são fator prim ário se se trata de m an ter vivo e propagar o poder da religião n u m país” (Ibid. p. 137). “Falamos de L utero e Calvino nos tem pos da Reforma, mas devemos recordar que esses hom ens chegaram a ser o que eram devido, em grande parte, a seu poder para gravar a sua im agem e sua influência sobre outros hom ens com os quais entraram em contato. Se alguém fosse a W ürtem burg, não via apenas L utero, mas tam bém o colégio de L utero, os hom ens a seu redor, todós os estudantes que estavam sen d o fo rm ad o s em o u tro s L u te ro s sob sua d ireção . O mesm o ocorria em G enebra. Q uanto deve a Escócia ao fato de Calvino ter instruído John Knox! Q uanto benefício têm alcançado outras nações, advindo da pequena república da Suíça devido ao fato de que C alvino teve o bom senso de perceber que um só hom em não podia esperar influenciar um a nação inteira a m enos que se m ultiplicasse e estendesse seus pontos de vista, escrevendo-os sobre as tábuas de carne dos corações de h om ens jovens e fervorosos! As igrejas p arecem te r esq u ecid o disso. A Ig reja d ev eria to m a r o colégio teológico o objeto p rin c ip a l dos seus c u id ad o s” (“Vida e O bra de C. H. Spurgeon”, G. H. Pike, vol. 4, p. 356). Inform a-nos Spurgeon que pouco depois de haver in ici­ ado seu m inistério em Londres, “vários jovens zelosos foram trazidos ao conhecim ento da verdade; e entre eles alguns cujas pregações ao ar livre foram abençoadas por D eus para a conversão de alm as” . O p rim e iro destes foi u m m oço cham ado M edhurst. Certos m em bros da igreja disseram ao pastor que o m encionado jovem não estava preparado para tal trabalho. Spurgeon então entrevistou o moço e recebeu a seguinte m em orável resposta: “ Sr. Spurgeon, eu tenho que 7

UM MINISTÉRIO IDEAL, Vol. 2 pregar, e continuarei pregando - a menos que o senhor me degole”. Isso induziu a Spurgeon à decisão prática de fazer algo a fim de preparar tais hom ens para o m inistério. Assim, no ano de 1855 (quando Spurgeon tin h a apenas 21 anos e havia m il pessoas que davam provas seguras de conversão e desejavam ser adm itidas na sua capela), M edhurst começou a freqüentar cada sem ana a casa de seu pastor, para receber várias horas de instrução teológica. Em 1857 surgiu outro estudante. Pouco tem po depois o núm ero aum entou para 8; a seguir 20 e finalm ente 70 a 100 alunos, que recebiam um curso de dois anos no que chegou a ser conhecido como o “Colégio dos P astores”. Em 1891 haviam sido preparados 845 hom ens. Deles, m uitos abriram novos cam pos e fo r­ m aram novas igrejas na In g laterra, porém m uitos outros levaram o evangelho aos confins da terra. Pode-se interrogar porque Spurgeon formava um novo colégio quando já havia tan tas in stitu iç õ e s de form ação teológica não-conform ista. M uitos criam ser tal iniciativa desnecessária e divisionista. A resposta dele era, essencial­ m en te, p o r não haver um sem in ário que satisfizesse às necessidades conform e ele percebia a situação. Além disso, ele se d istin g u ia das dem ais organizações existentes nos quatro seguintes aspectos: Prim eiro, quanto ao ingresso dos estudantes - Spurgeon possuía a convicção de que não devia aceitar um hom em que não estivesse apto para pregar e, até onde fosse possível discernir, vocacionado por Deus. N em a capacidade m ental nem os m éritos universitários podiam com pensar a ausência desses requisitos. “O grau in ferio r de piedade, a falta de entusiasm o, o fracasso na devoção particular e a ausência de consagração” eram fatores negativos intoleráveis em hom ens que aspirassem ser servos de C risto. C ategoricam ente ele afirm ou: “Nossa instituição tenciona im pedir que ocupem o encargo sagrado os que não são vocacionados p ara ele.

Introdução C onstantem ente estamos rejeitando candidatos p or duvidar­ mos de sua aptidão; nesse caso, nada lhes aproveita educação, dinheiro ou intercessão de parentes ou am igos”. Segundo, no que se refere ao plano de estudos da preparação teológica, havia ênfase especial à teologia bíblica. George Rogers, escolhido por Spurgeon para diretor do Colégio de Pastores, afirm ou: “D ia a dia cresce a convicção de que a teo lo g ia deve ser a m a té ria p rin c ip a l n u m a in s titu iç ã o teológica”. Spurgeon era cuidadoso ao declarar o que en ten ­ dia p o r Teologia B íblica. “A firm am os sem rodeios que a teologia do Colégio é puritana. Nossa experiência e leitura das E scrituras nos confirm am na crença das d o u trin as da graça, tão pouco em m oda; m inhas opiniões sobre o evan­ gelho e o m odo de preparar os pregadores são peculiares. Pregadores das grandes e antigas verdades do evangelho, m inistros adequados para transm iti-las às massas, podiam ser encontrados m ais facilm ente num a institu ição onde a pregação e a teologia eram as m atérias princip ais - e não os diplom as e outras láureas da erudição hum ana.” E m bora o próprio Spurgeon não ten h a recebido um a educação u n iv ersitária norm al, desde a infância recebera na g ran ja de seu avô um sólido fu n d am en to de teologia calv in ista , e q u an d o in ic io u sua pregação em L o n d re s, d em o n stro u novam ente o que a m aioria havia esquecido desde os dias de W hitefield - que nessa teologia reside o verdadeiro poder de um m inistério evangélico. Ele sem pre entendia haver um a relação, m uito mais íntim a do que os hom ens crêem , en tre a pregação de um m in istro e a sua teologia. O que o levou a p ô r a antiga teologia em lugar p ro em in en te no plano de estudos do seu colégio não era mero interesse teórico nas doutrinas. “Para serem pregadores eficazes devem ser teólogos autên tico s” era o axiom a que constantem ente repetia aos alunos. Terceiro, quanto à m aneira como devem ser preparados 9

UM MINISTÉRIO IDEAL, Vol. 2 os estudantes, Spurgeon sustentava com firmeza que a in stru ­ ção deve ser m inistrada de forma definida e dogmática. Os professores não devem e n sin a r de m odo vago e lib eral, a p re se n ta n d o d iferen tes “p o n to s de v ista ”, deix an d o ao aluno a escolha do que lhe convier; pelo contrário, precisam declarar de m aneira convincente e inconfundível a m ente de D eus e d e m o n stra r pred ileção re so lu ta pela teologia antiga, evidenciando-se saturados dela e dispostos a m orrer por ela. Falando em nom e de Spurgeon, George Rogers, diretor do Colégio de Pastores declarou: “A teologia calvinista deve ser ensinada dogm aticam ente. Não usamos essa palavra no sentido ofensivo do term o, e sim como o ensino indiscutível da Palavra de Deus. Não sim patizam os com nenhum a das m odernas distorções das grandes verdades do evangelho. Preferim os a teologia puritana à m oderna”. S p u rgeon, p o rém , d efen d ia que além do e n sin o ser verdadeiro, tam bém devia ser fervoroso. “Q ue espécie de hom ens devem ser os m inistros?” Precisam trovejar quando pregam , e relam pejar quando conversam ; devem arder na oração, b rilh ar na vida e consum ir-se no espírito. Se não são assim, que poderiam realizar? Se não forem Sansões espiritu­ ais, como poderão vencer o leão rugidor? Como podem as portas do inferno ser levantadas dos seus gonzos? “E n tretan to , m esm o conhecendo a verdade e estando confirm ados nela pela graça divina, não é trab alh o fácil difundir o tesouro celestial. C om unicar aos outros o ensino de D eus é serviço delicado e difícil. Temos de conhecer prim eiro a verdade em nossa própria alma a fim de transm iti-la eficazmente. Precisam os tam bém viver no desfrute cotidiano dela. Só quando o E spírito inunda a m ente de um hom em pode esse influir noutras m entes de form a correta. O espírito do evangelho deve estar nele tanto q u anto a sua doutrina.” 10

Introdução Q uarto, a posição de Spurgeon referente à preparação te o ló g ic a d iv e rg ia b a s ta n te do e n s in o c o n v e n c io n a l p red o m in an te. C onform e o seu en ten d er, o objetivo que devia controlar tudo era a formação de pregadores podero­ sos. D efendia ardorosam ente ser indispensável to rn ar cada alu n o da in s titu iç ã o teológica efic ien te no p ú lp ito . Ele com bateu o que denom inou “idolatria do intelecto” . N a sua época havia exagerado destaque ao prestígio acadêmico e à respeitabilidade cultural; m uitos dem onstravam ganância por alcançar diplom as universitários, havendo p or isso um a invasão do e sp írito m u n d a n o na Igreja, em p reju ízo da v erdadeira finalidade da preparação m in isterial. E m bora reconhecendo o valor e o devido lugar do cultivo da m ente, Spurgeon declarou: “H á um a erudição, que é essencial para um m inistério eficiente, a saber, a erudição de toda a Bíblia; c o n h e c e r a D e u s p e la o ra ç ão e a e x p e riê n c ia da Sua m isericórdia” . A inda que contrariasse as opiniões de m uitos, ele acrescentou em term os inconfundíveis: “Nossos hom ens não buscam diplom as universitários, nem títulos honorífi­ cos, em bora m uitos pudessem alcançá-los, mas pregar com eficácia, chegar ao coração das massas, evangelizar os perdidos; essa é a ambição deste colégio; isso, e nada mais. O desígnio do Colégio de Pastores desde o princípio tem sido ajudar aos pregadores, e não form ar eruditos. Que o m undo eduque os hom ens para os seus próprios propósitos, e que a Igreja instrua aos obreiros para o seu serviço especial. Aspiramos auxiliar aos hom ens a proclam ar a verdade de D eus, a expor as Escrituras, a atrair os pecadores e a edificar os santos”. Em 1865, Spurgeon inaugurou a “Conferência A nual” do Colégio de Pastores. Ele considerava a semana da Conferência como um a das m ais im p o rtan tes do ano; dedicava m uito tempo, pensamento, cuidado e oração ao preparo das mensagens que d irig ia às centenas de pasto res e e stu d a n te s que na ocasião se reuniam , vindos de toda parte do país. 11

UM MINISTÉRIO IDEAL, Vol. 2 Os últim os trin ta anos do século 19 presenciaram um a triste decadência do evangelismo, como escreveu Spurgeon em 1887: “Estam os descaíndo a um a velocidade vertiginosa”. A pesar de p ronunciadas há m ais de um século, estas m ensagens apresentam verdades que jamais envelhecem . Os fatores espirituais necessários a um m inistério poderoso são tão in d e p e n d e n te s do tem p o com o o eram nos dias de Crisóstom o, L atim er ou W hitefield. N um a hora em que estamos presenciando um crescente retorno à doutrina Reform ada, há necessidade im periosa de que os m in is tro s e e stu d a n te s re c o n sid e re m com o esta m ensagem deve ser pregada outra vez, com energia capaz de converter as massas. D ificilm ente poderia haver m elhor guia nessa questão do que C. H. Spurgeon. A bril de 1960 Iain M urray

12

1 FÉ Tendo chegado a hora em que devo falar a vocês, meus amados irm ãos, desejo que D eus mesm o seja quem fale por m eu interm édio. O tem a escolhido para esta palestra trata de fé. Como crentes em C risto, todos somos da linhagem da fé. H á duas linhas de descendência que afirm am ter direito à herança do pacto. U m a delas, encabeçada por Ismael, filho de Hagar, é o ram o da natureza, dos esforços hum anos e das obras. Não nos consideram os parentes dela. Sabemos que a mais elevada posição que pode alcançar o filho da carne só te r­ m in a com a ordem : “ L ança fora a escrava e o seu filho, porque de m odo algum o filho da escrava herd ará com o filho da liv re ” (Gál. 4:30). N ós, irm ãos, som os filhos da p rom essa, nascidos não segundo a carne, não segundo a energia da natureza, mas pelo poder de Deus. N ão atrib u í­ mos nosso novo nascim ento ao sangue, nem à vontade da carne, nem à vontade do hom em , mas unicam ente a Deus. Não devemos nossa conversão ao raciocínio do lógico nem à eloqüência do orador, nem tam pouco às nossas qualidades naturais ou esforços pessoais; somos, como Isaque, filhos do poder de D eus conform e a promessa. O ra, pertence-nos o pacto, pois foi decidido - e o apóstolo declara esta decisão em nom e de D eus - que “a Abraão foram feitas as prom essas, e à sua sem ente. Não disse: às sementes, como se falasse de m uitos, mas como de um : e a tua semente, a qual é C risto... E se sois de C risto, sois certam ente linhagem 13

UM MINISTÉRIO IDEAL, Vol. 2 de Abraão, e herdeiros segundo a prom essa” (Gál. 3:16,29). Somos totalm ente salvos pela fé. O dia mais lum inoso que já b rilh o u sobre nós foi aquele em que pela p rim eira vez “olham os para Ele e fomos ilum inados”. Tudo era obscuro até que a fé contem plou o Sol da Justiça. A aurora da fé foi para nós a m anhã da vida; unicam ente pela fé começamos a viver. D esde então tem os andado pela fé. Sem pre que temos sido tentados a sair da verdade da fé, nos tornam os como os insensatos gálatas e chegamos a sofrer p or nossa loucura. Espero que não tenham os “sofrido tantas coisas em vão” (Gál. 3:4). C om eçam os no E sp írito , e se ten tarm o s aperfeiçoar-nos pela carne, logo descobrimos estar navegando por um a rota errada e aproxim ando-nos dos escolhos. “O justo viverá pela fé” ; é um a verdade sem pre dem onstrada eficaz em nossa experiência, pois um a; e outra vez temos visto que em qualquer outro cam inho a m orte nos m ira de frente; portanto, “nós pelo E spírito aguardamos a esperança da justiça pela fé” (Gál. 5:5). Ora, irm ãos, visto que a nossa linhagem é a da fé, e nosso direito aos privilégios do pacto é o da fé, e nossa vida em seu princípio e sua continuidade é toda da fé, atrevo-me a dizer que o nosso m inistério é tam bém o da fé. Somos arautos aos filhos dos hom ens, não da lei do Sinai, e sim do am or do C alvário. D irig im o -n o s a eles, não com o m an d am en to : “Faze isto e viverás”, porém com a m ensagem : “Crê no Senhor Jesus Cristo e serás salvo”. Nosso é o m inistério da fé cheia de graça, e não segundo o hom em , nem conform e à lei de um m andam ento carnal. Não pregam os os m éritos hum anos, e sim a Cristo crucificado. O objetivo de nossa pregação, assim como a sua doutrina, é a fé; pois não pensam os haver feito nada pelos pecadores até que pelo poder do E spírito Santo os tenham os trazidos à fé; e só temos por útil nossa pregação aos santos quando os vemos crescer na fé. Assim como a fé é em nossa mão o 14

Fé p o d er com o qual sem eam os, e à m edida que a sem ente que semeamos é recebida por nós por fé, e em bebida na fé, assim tam bém a colheita que buscam os é ver a fé brotando dentro dos corações hum anos para louvor e glória de Deus. Portanto, entretecida com toda a nossa vida espiritual e com todo o nosso trabalho m inisterial, está a do u trin a e a graça da fé; por isso devemos ser m uito claros neste aspecto, o qual é negócio pequeno; e ser m uito fortes neste aspecto, o qual é negócio grande. E sobre esse tópico que lhes falarei, o ran d o fe rv o ro sa m en te que cada um seja com o A braão “fortalecido na fé, dando glória a D eus” e à sem elhança de Estevão, “cheio de fé e do E spírito Santo”. Nossa obra exige especialm ente fé. Se fracassarmos na fé, seria m elhor não havê-la iniciado; e a m enos que obtenham os fé à p ro p o rção que nos d edicam os ao serviço, logo nos cansarem os dele. A observação dem onstra sem pre que a eficá­ cia no trabalho do Senhor geralm ente está m uito em proporção à fé. Certam ente não está em proporção com a capacidade, nem sem pre segue paralela a um a exibição de zelo; mas é invaria­ velm ente conform e à m edida da fé, pois esta é, sem exceção, a lei do Reino: “ Seja-vos feito segundo a vossa fé”. E, pois, essencial que tenhamos fé se queremos ser úteis, e que tenhamos grande fé se almejamos ser extraordinariam ente úteis. Por m uitas outras razões além da u tilidade (a saber, inclusive para poder resistir aos inim igos da verdade e a fim de vencer as tentações que cercam o nosso encargo), é im perativo que tenham os abundante confiança no D eus vivo. N ós, mais do que todos os homens, necessitamos da fé que move m ontanhas, pela qual, na antiguidade, os hom ens de D eus “venceram reinos, praticaram a justiça, alcançaram promessas, taparam as bocas dos leões, extinguiram a violência do fogo, escaparam ao fio da espada, da fraq u eza tira ra m força, fizeram -se p oderosos na g u erra, p u seram em fuga os ex ército s dos estranhos”. 15

UM MINISTÉRIO IDEAL, Vol. 2 I. Inicialm ente considerem os, em relação ao assunto, pergunta. E M Q U E T E M O S FÉ , C O M O M IN IS T R O S , O U P E L O M E N O S G R A N D E N E C E S S ID A D E D ELA ? P rim eiram ente, temos/g' em Deus. Cremos que Ele “existe e é galardoador dos que o buscam ”. Não cremos que os poderes da natureza, operam por si mesmos independentem ente das constantes emanações de poder do G rande e Poderoso, que é o criador e sustentador de todas as coisas. Longe de nós banir D eus de Seu p ró p rio universo. Tam pouco crem os n u m a deidade m eram ente nom inal, como fazem os que pretendem que todas as coisas são D eus, pois concebemos o panteísm o sim plesm ente como outra forma de ateísmo. Conhecem os o Senhor como um a existência pessoal definida, um Deus real, infinitam ente mais real que todas as coisas que se vêem e se tocam , ainda mais real do que nós mesmos, pois não somos senão som bras; só Ele é o EU SOU, sem pre o mesmo pelos séculos dos séculos. Cremos num Deus de propósitos e planos, que não perm ite que um destino cego tiranize o m undo, e m uito menos que um a casualidade sem objetivo o leve daqui para lá. Nem somos fatalistas, nem duvidam os da providência e da predestinação. Somos crentes num Deus “que faz todas as coisas segundo o conselho da Sua vontade” . Não cremos que o Senhor tenha Se afastado do m undo, abandonando-o juntam ente com os seus h a b ita n te s; estam os convictos de que E le p resid e c o n s­ tantem ente todos os assuntos da vida. Pela fé percebem os a Sua m ão concedendo a cada fibra de erva um a correspondente gota de orvalho e a cada cria de corvo seu necessário alim ento. Vemos o poder de Deus presente no vôo de todos os pardais, e ouvimos Sua plenitude. Passamos por ela, não pelos dom ínios de satanás, onde não chega a luz, nem por um caos onde se desconhece a autoridade, nem por um m ar fervente onde as vagas irresis-tíveis do destino fazem caprichosamente naufragar os m ortais; pelo contrário, andam os audaciosam ente, tendo a 16

Fé D eus em nós e ao nosso redor, vivendo, m ovendo-nos e tendo o nosso ser nEle, e assim, pela fé, habitam os num tem plo da providência e da graça onde tudo fala da Sua glória. Cremos nu m D eus p resen te onde qu er que estejam os, que age e atua cum prindo Seus propósitos de m odo constante e seguro em todos os assuntos, lugares e m om entos; realizando Seus desígnios ta n to no que parece m au com o n aq u ilo que é m an ifestam en te bom ; em todas as coisas avançando em Seu carro eterno até a m eta escolhida pela sabedoria infinita, sem jam ais d im in u ir o passo nem aban d o n ar o controle, mas progredindo sem pre, sem pausa, conform e a fortaleza sem piterna que há nEle. Cremos que esse Deus é fiel em tudo que prom eteu, que não pode m e n tir nem m udar. O Deus de A braão é o D eus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, e é nosso D eus hoje. N ão crem os nas opiniões in co n stan tes sobre o Ser divino que estão sendo adotadas pelas diversas filosofias. O D eus dos hebreus, Jeová, Jah, o Poderoso, o Deus que cum pre o pacto é o nosso D eus - “este D eus é o nosso D eus para sem pre; Ele será nosso guia até à m orte”. Se somos néscios ou não por crer nesse Deus, o m undo o saberá um dia; e se é mais razoável crer na natureza, ou em poderes por si mesmo, deixaremos que a eternidade o decida. E ntretanto, para nós, fé em Deus não é apenas um a necessi­ dade da razão, e sim o fruto de um instinto infantil que não se detém a justificar-se a si m esm o por meio de argum entos, surgindo em nós com nossa natureza regenerada. Ao m esm o tem p o , nossa fé se c en traliza ferv en te e in ten sam ente no Cristo de Deus. N ossa confiança está em Jesus; cremos em tudo o que a história inspirada afirma a respeito de Cristo, não fazendo dEle nem de Sua vida um m ito, mas aceitando como fato que D eus habitou plenam ente entre os hom ens em carne hum ana, e que na cruz do Calvário lbi realm ente oferecida, pelo D eus encarnado, um a expiação. No e n ta n to , para nós, o S en h o r Jesus não é apenas um 17

UM MINISTÉRIO IDEAL, Vol. 2 Salvador do passado. C rem os que “ascendeu às altu ras” e “levou cativo o cativeiro” e que “vive sem pre para interceder pelos que por ele se chegam a D eus”. Na catedral de Turim vi um a vez algo m uito notável, a saber, o suposto sudário do S en h o r Jesus C risto, o qual é dev o tam en te adorado p o r m ultidões de católicos rom anos. Ao contem plar a relíquia, não pude evitar a reflexão de que os em blem as da m orte de Cristo eram tudo o que dEle possuía a igreja católica romana. Em vão m ostram a verdadeira cruz, pois O crucificam de novo; in utilm ente rezam no Seu sepulcro vazio, pois Ele não está ali, nem na igreja deles; em vão asseguram tratar-se do Seu sudário, pois conhecem apenas um C risto m orto. E n tretan to , am ados irm ãos, nosso C risto não está m orto, nem dorm indo; ainda “anda entre os candeeiros de ouro, e tem as estrelas na mão direita” . Nossa fé em Jesus é m uito real. Cremos naquelas Suas rem idoras feridas mais do que em qualquer outra realidade; para nós não há nada m ais seguro do que o fato de que Ele foi m o rto e nos re d im iu para D eus com o Seu precioso sangue. Cremos no resplendor da Sua glória, pois nada nos parece tão certo, como justa recom pensa que fosse coroado de glória e de honra Aquele que foi obediente até à morte. Por essa razão tam bém , crem os num Cristo verdadeiro que ainda há de vir pela segunda vez, assim como subiu aos céus; e em b o ra não in terro g u em o s m in u cio sam en te no que se refere aos tem pos e às épocas, sem dúvida estamos “esperando e apressando-nos para a vinda do dia de D eus”, em cujo dia aguardam os a manifestação dos filos de Deus e a ressurreição dos seus corpos da tum ba. Cristo Jesus não é ficção para nós; podem os cantar com o Dr. W atts: “Enquanto os judeus em sua própria lei confiam, e se orgulham os gregos da sabedoria, Nós amamos o mistério encarnado e nossa confiança pomos nele. ” 18

Fé Temos igual confiança, irm ãos amados, no Espírito Santo. C rem os im p licitam en te em Sua deidade e personalidade. Falam os de Suas influências, p o rq u e as possui, m as não esquecem os de que é um a Pessoa de quem em anam tais influências; cremos em Suas funções, porque possui funções, mas nos alegramos na Pessoa que as realiza e as to rn a efetivas p a ra o n o sso b e m . C ad a u m de n ó s q u is e r a a firm a r devotamente: “Creio no Espírito Santo”. Não obstante, irmãos, vocês crêem no E spírito Santo? “ Sim !” dizem unânim es, espontânea e enfaticam ente. “Sim”, tam bém o afirm o; porém não fiquem tristes se lhes interrogo um a vez m ais se ver­ d ad eiram en te e com certeza crêem nE le, pois há m uitas m aneiras de crer. Posso acreditar num hom em , crendo nele com um a base m uito frágil, sem arriscar nenh u m a parcela de m inha substância; mas posso crer nele de outra forma, isto é, por estar certo que seria capaz de confiar-lhe m in h a p ró­ pria vida, seguro de que me seria fiel e que se dem onstraria um ajudador eficiente e bem disposto. Teríamos esse tipo de confiança no Espírito Santo? Acaso cremos que neste instante Ele pode revestir-nos de poder como fez com os apóstolos no dia de Pentecoste? Será que acreditam os que através de nossa pregação m il almas poderiam nascer de novo num dia m ed ian te o Seu poder? Se todos crem os assim , podem os considerar-nos felizes por fazermos parte de tal grupo, pois se apenas doze pessoas exclamassem, depois de ouvir um sermão: “Que devemos fazer para ser salvos?”, a m aioria dos cristãos diria exatam ente como os judeus incrédulos. “Estes hom ens estão cheios de m osto.” C ondenaria o evento como sendo o resultado de excitação perigosa; nunca im aginaria que fosse atuação do Senhor. Por esta razão, lam ento não existir na Igreja a fé no Espírito Santo que deveria haver; e, no entanto, tendo ouvido a voz que diz: “O poder pertence a 1)eus” como também a voz divina do Filho afirmando: “Credes cin D eus, crede tam bém em m im ”, igualm ente é certo que 19

UM MINISTÉRIO IDEAL, Vol. 2 a terceira Pessoa na Trindade bendita tem direito à nossa carinhosa confiança. E ai de nós se O entristecerm os com nossa incredulidade! Q uando tivermos plena fé no Deus Trino, então seremos “ fortalecidos no Senhor, e na força do Seu poder” . A lém disso, q u eridos irm ãos, vocês e eu crem os nas doutrinas do evangelho. Temos recebido as certezas da verdade revelada. Estas são coisas m uito cridas entre nós. Não nos inclinam os ante as teorias dos hom ens acerca da verdade, nem adm itim os que a teologia consista em “pontos de vista” e “opiniões”. Declaram os que há certas verdades essenciais, perm anentes, eternas, das quais é perigoso desviar-se. Estou profundam ente entristecido ao escutar tantos m inistros falarem como se a verdade de Deus fosse um a quantidade variável, u m assunto de formação cotidiana, um a espécie de nariz de cera a que se dá form a nova constantem ente, ou algo seme­ lhante à nuvem levada pelo vento. Não é dessa m aneira que creio! Tenho sido criticado como sendo um m ero eco dos puritanos, mas prefiro antes ser o eco da verdade, que a voz da falsidade. Talvez seja a falta de capacidade intelectual que nos im pede de afastar-nos do antigo bom cam inho; mas ainda isso é m elhor que a falta de graça, a qual é a razão porque os hom ens abandonam e m udam constantem ente suas crenças. Podem ter a certeza de que não há nada novo em teologia, exceto o que é falso, e que os fatos da teologia autêntica são hoje em dia o que eram há dezoito séculos atrás. Em nossos dias, porém , os que a si mesmos se denom inam “hom ens de progresso”, que iniciaram pregando o evangelho, degeneram à medida que avançam, e sua teologia, à semelhança dos caracóis, se derrete com o passar do tempo. Espero que nunca seja assim com nenhum de nós. Tenho com parado a carreira de certos teólogos com o percurso de um barril de vinho rom ano desde a vinha até à cidade. Começa saindo do lagar como suco de uva puro; mas na prim eira parada, os condutores do carro precisam acalmar a sede; e quando chegam 20

Fé a um a fonte, põem água a fim de com pensar o vin h o que beberam . No povoado seguinte, vários am antes do vinho pedem ou com pram um pouco, e o discreto carreteiro adiciona outra porção de água. Esta operação se repete várias vezes, de tal m odo que, ao entrar em Roma, o líquido é notavelm ente d ife re n te do que saiu da v in h a . H á um a m a n e ira bem sem elhante a isso de “ad m in istrar” o evangelho. O m ite-se um pouco da verdade, logo depois o u tra p arte, e os hom ens preenchem o vazio com opiniões, inferências, especulações e sonhos, até que seu vinho está m isturado com água, sem vantagem algum a para a água. Com am argura afirm o que m uitos pregadores constroem um a to rre de especulações teológicas sobre a qual se sentam, como Nero, tocando a música de sua própria filosofia, enquanto o m undo está em chamas devido ao pecado e à m iséria. D ivertem -se com os joguetes das especulações enquanto as almas dos hom ens perecem. G rande parte da sabedoria hum ana é m era fachada para encobrir a ausência de piedade vital. Na Itália viajei em vagões de p rim e ira classe que estavam cobertos com b o rd ad o s preciosos, e pensei, a princípio, que aquilo era um privilégio para os passageiros, posto que sem dúvida mãos delicadas haviam confeccionado tão luxuoso adorno; mas logo descobri que aqueles revestim entos enfeitados serviam sim plesm ente para en co b rir a graxa e a sujeira do tecido que havia por baixo. G rande parte do precioso sentim entalism o e da religio­ sidade que m uitos pregam é um m ero bordado para encobrir heresias detestáveis já rechaçadas há m uito tem po, as quais não ousavam surgir novam ente sem um disfarce para sua deform idade. Com palavras de sabedoria h u m an a e espe­ culações de invenção própria, os hom ens disfarçam a falsidade e enganam a m uitos. D emos ao povo o que Deus nos dá. Seja cada um de vocês como Micaías, que declarou: “Tão certo como vive o Senhor, que o que o Senhor m e disser, isso falarei”. Se c insensatez ater-nos ao que está nas Escrituras, e se é loucura 21

UM MINISTÉRIO IDEAL, Vol. 2 crer na inspiração verbal, propom o-nos c o n tin u ar sendo néscios até o fim, e esperamos encontrar-nos entre os néscios do m undo, que Deus escolheu para confundir os sábios, “para que nenhum a carne se glorie na Sua presença”. Irm ãos, nossa fé, descansando sobre as d o u trin as do evangelho e sobre o Deus do evangelho, abarca também o poder da oração. Crem os no poder das súplicas. Receio que esta crença está caindo de moda no chamado m undo cristão. A teoria de alguns é que a oração nos é útil, porém não pode afetar a D eus; e m uito tem sido dito sobre a im possibilidade dos propósitos divinos serem alterados e sobre a absoluta im probabilidade de que um ser finito possa afetar a Deus são invariáveis; mas, que diremos, se a oração faz parte do Seu propósito, e se Ele ordena que Seu povo ore quando Se propõe abençoá-lo? A oração é um a das rodas necessárias na m aquinaria da providência. O oferecim ento de orações é tão eficaz nos negócios do m undo e na produção de acon­ tecim entos, como o levantam ento das dinastias ou a queda das nações. Cremos que Deus realmente escuta as vozes dos homens. Q uanto a m im , se alguém disser: “Deus não ouve orações; essa idéia é supersticiosa”, eu responderei com plena convicção que o Senhor tem escutado e respondido m inhas orações dezenas e centenas de vezes, que as respostas vêm de m aneira tão constante e singular que não podem ser meras coincidências. N ão devem os professar sem pre nossa capacidade de dem onstrar verdades bíblicas aos ímpios, pois m uitas destas verdades ultrapassam o seu entendim ento. Jam ais tentaria convencer um cego que a erva é verde e o céu azul, pois ele não pode ter idéia da proposição que estou provando. Em tal caso, argum entar é loucura para ambas as partes. Para nós, em todos os aspectos, a oração não é coisa vã; recolhem o-nos ao nosso aposento, crendo que ao orar estam os efetuando uma operação elevada e real. Não dobramos os joelhos simples­ m ente por um dever e um exercício espiritual louvável; mas 22

Fé porque cremos que ao tran sm itir ao D eus eterno as nossas necessidades, Seu ouvido está ligado ao coração que pulsa por nós e à mão que age em nosso favor. Para nós a oração genuína é verdadeiro poder. O utro ponto que creio ser essencial para a fé exercida por um m inistro é que cremos em nosso encargo de pregar o evangelho. Se algum irm ão não está seguro de sua cham ada ao m inistério, que aguarde até alcançar essa convicção. Aquele que duvida que foi enviado por Deus, vacila; mas aquele que está certo da sua vocação do alto, exige um público e o orienta; não se escusa por sua existência nem por suas palavras, porém desem penha seu labor como um hom em , e fala corajosam ente a verdade de D eus em nom e do Senhor. Tem um a m ensagem a proclam ar, e sente ardente necessidade de transm iti-la, pois ai dele se não anunciar o evangelho! A nte os ritualistas que se ufanam de possuir, unicam ente eles, a sucessão apostólica, declaramos ter a incum bência genuína, enquanto as pretensões deles são falsas. Não tem em os subm eter nossas afirmações à prova que o Senhor m esm o in stitu iu : “Pelos frutos os conhecereis”. Cremos que D eus nos ungiu para pregar o evangelho, e o p re­ gamos realm ente; mas, quem testificará que esses “sacerdotes” ao m enos conhecem o evangelho? Sob nosso m in isté rio o E spírito de D eus regenera os hom ens, porém não atua da m aneira por meio dos farsantes. N em sequer com preendem o que significa a regeneração, renova a natureza e consola a alma; todavia, podem esses hipócritas fazer o m esm o com os seus encantam entos? Se são apóstolos, que nos m ostrem os sinais. A firm am os que somos os m inistros do Senhor, e nossas cartas de recom endação estão escritas em m uitos corações. Ora, havendo detalhado os pontos salientes da nossa fé, perm itam -m e que lhes diga, irm ãos, que cremos que por causa de tudo isso, não obstante as lim itações dos nossos recursos, o Grande Pastor das ovelhas nos concederá uma suficiência total com que alimentar a Seu povo. C rendo no D eus Todo-suficiente, 23

UM MINISTÉRIO IDEAL, Vol. 2 esperam os ver a m u ltiplicação dos nossos pães e peixes. Por conseguinte, não nos reservamos nada; damos agora tudo o que tem os. Em R om a vi um a fo n te que re p re se n ta v a um hom em sustentando um barril, do qual m anava cons­ tantem ente copioso fluxo de água. N unca havia m uita água no barril de m árm ore, mas o líquido corria continuam ente há quatrocentos ou quinhentos anos. Portanto, derram em os de nossa própria alma tudo o que o Senhor nos concede. Faz mais de vinte anos que transm ito tudo o que sei até esgotar-me cada vez, e, no entanto, meu coração ainda transborda cheio de boas coisas. Conheço irm ãos no m inistério comparáveis ao grande tonel de H eidelberg quanto à capacidade, porém o povo não recebe tanta verdade evangélica através deles como recebe de pregadores com aptidões inferiores, os quais cultivam o hábito de dar tudo o que possuem. Cremos que o Espírito de Deus em nós será um a fonte de água que salta para a vida eterna, e agimos de acordo com esta convicção. Não ambiciona­ mos arm azenar m uitos bens para m uitos anos; mas, da maneira como vivemos do pão cotidiano, assim tam bém alim enta­ mos o nosso povo de provisões continuam ente renovadas. D esprendam o-nos dos recursos mofados, pastos dos vermes, do m aná de ontem , e busquem os dia a dia nova provisão. Irm ãos, nossa fé percebe ao nosso lado um a ação invisível. Enquanto estamos trabalhando, Deus tam bém está agindo. Não considerem os que as forças operando a nosso favor se confinem ao púlpito; sabemos que, durante toda a semana, D eus, e o consolo, está preparando o povo para receber o que Ele nos encarregou de ensinar-lhe. Contem plam os as nossas congregações, e talvez nos inclinam os a clam ar em nossa incredulidade: “M estre, que faremos?” Mas nossos olhos são abertos e vemos cavalos e carros de fogo em torno do profeta do Senhor; influências m isteriosas estão cooperando com o m inistério da graça. Q uando se estava construindo o túnel do m onte Cenis, um grupo de técnicos trabalhava do lado italiano 24

Fé durante seis anos, esperando que, no final daquele período, veriam um a estrada aberta atravessando a m ontanha. Sabiam que, na velocidade em que trabalhavam , o esforço requeria pelo menos doze anos, mas ao mesm o tem po estavam certos de que o concluiriam em apenas seis porque havia outro grupo do lado francês, trabalhando para reunir-se com eles; e efetivam ente, no tem po determ inado, se encontraram p re­ cisam ente no ponto program ado. Não posso entender esses milagres da técnica, e não sei como dois grupos de perfuradores de túneis conseguem en co n trar-se no coração dos Alpes; igualm ente ignoro como é possível que a atuação do Senhor nas consciências dos hom ens se alie ao m eu esforço, mas estou absolutam ente certo de que isso ocorrerá, e portanto, p o r fé prossigo no m eu trabalho com todas as m inhas forças. A fé nos leva a confiar que mesmo as dificuldades concorrem para o êxito. Pelo fato de crerm os em Deus e no Seu Santo Espírito, acreditam os que as dificuldades serão em grande medida santificadas para nós, e que se transform am em degraus para atingirm os resultados mais im portantes. M eus irm ãos, cremos nas derrotas; cremos em retroceder com o estandarte m anchado pelo lodo, persuadidos de que este pode ser o cam inho mais seguro para o triunfo duradouro. Cremos na espera, no pran to e na agonia; acreditam os que a falta de êxito nos habilita a executar um trabalho maior e mais elevado, para o qual não estaríam os aptos a m enos que a angústia houvesse afinado a nossa alma. Cremos em nossas fraquezas e até nos gloriam os nelas; damos graças a Deus de não sermos tão eloqüentes quanto desejaríam os ser, e de não possuirm os toda a capacidade que alm ejaríam os, porque assim conhece­ mos que a excelência do poder será de D eus, e não de nós. A fé nos capacita a nos regozijarm os no Senhor, po rq u an to nossas fraquezas se convertem em plataform as para dem ons­ tração da Sua graça. Cremos que mesmo nossos inim igos, nas mãos de D eus, servem aos nossos interesses mais sublim es; 25

UM MINISTÉRIO IDEAL, Vol. 2 estão atrelados ao carro de Deus. Talvez, de todos os poderes que realizam os propósitos divinos no m undo, nenhum o efetua mais do que o próprio diabo. Ele é apenas um serviçal na cozinha do Eterno; sem querer, realiza grande parte do trabalho que Deus não daria a Seus próprios filhos, tarefas essas tão necessárias quanto as executadas pelos serafins. Não pensem que o mal é um a potência rival de idêntico poder ao nosso bom Deus. Não, o pecado e a m orte, à sem elhança dos gibeonitas, são cortadores de lenhas e tiradores de água para os propósitos divinos; e quando os inimigos do Senhor mais deli­ ram e se zangam, cum prem Seus propósitos eternos para louvor e glória da Sua sabedoria e graça - mesmo que não o saibam. Ainda, irmãos, cremos no evangelho como poder de Deus para salvar. Sabem os que para q u a lq u er caso de en ferm id ad e espiritual temos uma cura infalível; não precisam os dizer a nenhum homem: “Não temos boas notícias de Deus para você”. Creio que há um a m aneira de chegar a todos os corações. H á um a fenda na arm adura de todo pecador, ainda que seja um Acabe, e podem os retesar o arco confiadam ente, rogando que o Senhor dirija a flecha a fim de que penetre por essa brecha. Se cremos em D eus, nada pode ser dem asiadam ente difícil nem excessivamente pesado para nós. Se confio tão-som ente em m im m esm o, então sinto que um pecador endurecido poderia recusar convencer-se dos meus raciocínios e talvez seja com ovido ante os m eus afetuosos discursos; mas se confio no Espírito Santo, creio que Ele pode conseguir ser ouvido e pro d u zir convicção na consciência dele. Irm ãos, crem os no p o d er da verdade. N ão esperam os que toda a hum anidade ame a verdade; nem que o evangelho chegue a ser popular entre os grandes e os eruditos, pois recordam os as palavras do apóstolo: “Não m uitos sábios segundo a carne, nem m uitos poderosos, nem m uitos nobres, são cham ados”; mas não cremos que o evangelho tenha entrado em decadência devido sua velhice. Q uando os néscios sabichões deste século 26

Fé m en o sp rezam o evangelho a n tig o , estão re n d e n d o um a hom enagem inconsciente ao seu poder. Não acreditam os que nosso grande castelo e refúgio tenha tom bado e caído ao solo, porque os hom ens assim o declaram . Recordem os Rabsaqué, e como ele desafiou ao Senhor; não obstante, aconteceu ao rei da Assíria conform e o Senhor havia dito: “Não entrará nesta cidade, nem lançará nela flecha algum a, não virá perante ela com escudo, nem há de levantar trincheiras contra ela. Pelo cam inho por onde vier, por esse voltará; mas nesta cidade não e n trará, diz o S en h o r” . Temos visto tantas filosofias volverem “ao pó vil de onde brotaram ”, para saber que toda a sua espécie é da natureza da aboboreira de Jonas. N ós, portanto, esperamos em confiança, aguardando pacientem ente, seguros da vitória no tem po oportuno. Se o nosso evangelho é verdadeiro, prosperará e Deus agirá por nós; portanto, estamos “firm es e constantes, cres­ cendo sem pre na obra do Senhor” . Se não vemos almas salvas no presente, prosseguirem os trabalhando. Nosso labor não se com para à tarefa ingrata de Sísifo, rolando a pedra m onte acim a, pedra que depois rolaria sobre ele, nem tam pouco sem elhante à ocupação das filhas de Danao, que conduziam um vaso sem fundo. Nosso trab alh o talvez não seja mais prontam ente visível do que as ilhas que os zoófitos de coral estão construindo sob as ondas azuis do m ar austral. Mas o e sc o lh o c o n tin u a s u b in d o , e m b o ra m u ito a b a ix o do fundam ento da estrutura maciça, de onde sobem as paredes até à superfície. Estam os trabalhando para a eternidade, e não calculamos o nosso serviço pelo que cresce cada dia, como os hom ens m undanos m edem o deles; é a obra de D eus, e deve ser m edida conform e as Suas norm as. Assegurem -se de que quando o tem po, as coisas criadas e tudo quanto se opõe à v erd ad e do S en h o r te n h am d esaparecidos, to d o serm ão fervorosam ente pregado, toda oração persistente dirigida e toda a form a de serviço cristão fielm ente desem penhado 27

UM MINISTÉRIO IDEAL, Vol. 2 perm anecerão incrustados na poderosa estrutura que Deus desde a eternidade resolveu erigir para Sua própria honra. II.

E agora, irm ãos, nossa segunda pergunta é: O QUE É

QUE A NOSSA FÉ OPERA EM NÓS? Prim eiram ente, produz em nós uma gloriosa independência do homem. Estam os contentes de ter fervorosos ajudantes, mas podem os passar sem eles. Somos gratos por nossos excelentes diãconos, mas não ousamos fazer com que a carne seja o nosso braço. Temos satisfação se Deus levanta irmãos noutras igrejas que m a n te n h am laços fraternos conosco, porém não nos apoiam os neles. O hom em que crê em D eus, em Cristo e no E spírito Santo, se apoiará unicam ente no Senhor. Ele não deseja ser um solitário nem pretende distinguir-se, mas pode por si m esm o contender por seu M estre; mesm o que tenha a m áxim a ajuda hum ana, ainda se esforça diligentem ente em esperar com paciência em Deus. Se você se apoiar em seus auxiliares quando os tem , é possível que experim ente o terrível significado daquelas palavras de Jerem ias: “M aldito o varão que confia no hom em , e põe a carne por seu braço, e seu coração se aparta do Senhor” . Como diz o apóstolo: “O que resta é que, os que possuem m ulheres sejam como se não as tivessem ” ; assim podem os afirm ar que nós que tem os cooperadores zelosos sejamos como se não os possuíssem os, e que nossa confiança em D eus seja tão simples, e nós mesmos tão livres de toda a confiança carnal, como se, à sem elhança de A tanásio, tivéssemos de enfrentar o m undo sem ninguém que pronunciasse um a palavra favorável sobre nós ou que levasse um a parte da nossa carga. D eus é suficiente para sustentar o firm am ento sem colunas. Ele sozinho m antém as nuvens nos céus. A cende as lâm padas n o tu rn a s e dá ao sol sua cham a de fogo. Só D eus é suficiente para nós, e em Seu poder alcançaremos o propósito do nosso ser. A dem ais, a verd ad eira fé nos dá coragem em todas as 28

Fé circunstâncias. Q uando o jovem N elson voltava à casa depois de um a expedição em busca de ninhos, sua tia o repreendeu por chegar tão tarde, e observou: “A dm iro-m e de que o medo não te fizesse regressar mais cedo” . “O m edo?” respondeu o adolescente - “não o conheço.” Essa é a m aneira adequada de um crente expressar-se, quando está trabalhando para Deus. “O m edo?” - “não o conheço.” Q ue significa? “O Senhor está do nosso lado; que tem erem os?” “ Se D eus é por nós, quem será contra nós?” Se Deus tem algo a dizer através de você, Ele sabe qual a tro m b eta m ais a p ro p riad a para Seu uso. Q ue im p o rta os tipos de ouvintes que vão escutar? Pode acovardar-se diante de D eus? Jam ais. A convicção de que tem um m andato de D eus, e de que o E spírito do Senhor está sobre você o tom ará m uito ousado. A fé em D eus fará que h o n re m o s nosso cham ado a tal p o n to que não nos atreverem os a profaná-lo com nossa covardia. A verdadeira fé em D eus nos fará tam bém abundantes em boas obras. O capítulo onze de H ebreus é dedicado ao e n altecim en to da fé; todavia, eu afirm o que tam bém dá te ste m u n h o das boas obras dos santos. P o d e ria alguém contradizer-m e? Não seria igualm ente um testem u n h o de obras tanto como de fé? Sim, porquanto onde existe m uita fé, haverá sem dúvida abundância de boas obras. D esconheço fé genuína que não produza boas obras, sobretudo no prega­ dor. D u v ido que satanás te n h a na terra, com o canais de co n d en a ç ão , in s tru m e n to s m ais aptos p a ra fo m e n ta r a incredulidade e fazer que os hom ens condenem o evangelho com desprezo, do que os que professam crer nele, e logo atuam como se sua crença fosse algo sem im portância. H á filantropos que sem pre nos dizem o que deve ser feito, no entanto, não o fazem: qual a sua fé e qual a sua fila n tro p ia ? Com o que a farem os sem e lh a n te ? Faz me lem brar de um naufrágio ocorrido na costa toscana alguns anos atrás. O guarda-costas toscano inform ou a seu governo

29

UM MINISTÉRIO IDEAL, Vol. 2 de te r h a v id o um la m e n tá v e l d e s a s tre n a su a á re a, acrescentando: “Apesar de eu ter prestado à tripulação do barco toda a ajuda possível por meio do meu megafone, lam ento in fo rm ar que na m anhã seguinte apareceu na praia certo nú m ero de cadáveres”. E stupendo, não é m esm o? E sem dúvida, este é o tipo de ajuda que m uitos que professam ter fé prestam às pessoas. Oferecem-lhes o auxílio da retórica, as flores da dicção, as citações poéticas; porém os hom ens persistem na im penitência. Não há verdadeiro am or pelas alm as. O serm ão foi pregado, mas não houve oração em secreto pelo povo; os hom ens não foram buscados como se procuram as coisas preciosas. Não se chorou por eles; certa­ m ente não houve interesse por eles. Afinal, era a ajuda do megafone, e nada mais. Contudo, nossa fé nos faz abundantes em boas obras. Posso dizer-lhes: se já estão fazendo tudo que podem por Cristo, que se esforcem ainda mais? Creio que um cristão geralm ente tem razão quando está fazendo mais do que pode; e quando vai até mais longe, ultrapassando aquele ponto, estará ainda mais perto de ter razão. Quase não há lim ites para as possibilidades de nosso serviço. M uitos hom ens que estão agora fazendo pouco, poderiam , com o m esm o esforço, realizar o dobro m ediante um a coordenação sábia e um a iniciativa decidida. Necessitamos, como os apóstolos, lançar-nos ao m ar alto, ou do contrário nossas redes jamais apanharão grande quantidade de peixes. Se apenas tivéssemos o ânim o de sair de nossos esconderijos para enfrentarm os o inim igo, logo alcançaríamos êxitos imensos. Precisamos de m uito mais fé no Espírito Santo. Ele nos abençoará se confiarm os inteiram ente nEle. A fé em Deus nos capacita a suportar muitas dificuldades e a exercer a abnegação, e ao m esm o tem po a perseverar no m inistério. M eu coração se alegra por m uitos irm ãos aqui, os quais Deus tem feito ganhadores de almas. Q uisera acrescentar que estou firm em ente persuadido que as privações que têm 30

Fé sofrido e o zelo que dem onstram no serviço de seu Senhor, em bora não hajam recebido a recom pensa de um sucesso externo, são cheiro suave a Deus. A verdadeira fé faz que um hom em experim ente que é bom ser um sacrifício vivo para com Deus. Só a fé podia m anter-nos no m inistério, pois nossa vocação não é das que são acompanhadas de um salário elevado; não é um cham ado que os hom ens que am bicionam honras e vantagem seguiriam. Temos que suportar toda espécie de males, tão num erosos como os que Paulo incluiu em seu famoso catálogo de provas; e posso acrescentar que nos espreitam certos perigos que ele não m enciona, a saber, os perigos das reuniões de igreja, os quais são provavelm ente piores que os perigos de ladrões. M al pagos e pouco apreciados, sem livros e sem c o m p a n h e iro s ad eq u ad o s, m u ito s p re g a d o res ru ra is do evangelho m orreriam com os corações quebrantados, se sua fé não os cingisse de fortaleza do alto. Bem, irm ãos, para resum ir m uitas coisas num a só, a fé significa para nós uma ampla dilatação de nossas almas. Os q ue se n te m u m a â n sia m ó rb id a de p o s s u ir u m cred o c o eren te - o qual eles possam co m p o r até fo rm a r um a figura quadrada, à sem elhança de um quebra-cabeça - podem m u ito facilm en te d im in u ir a capacidade de suas alm as. Im aginando que toda a verdade pode ser abarcada em meia dúzia de fórm ulas, rejeitam , como sem valor, toda a declaração d outrinária que não possa apresentar-se de m aneira simples. Os que só querem crer naquilo que podem com preender, necessariam ente deixarão de aceitar grande parte da revelação divina; sem sabê-lo, estão seguindo a linha dos racionalistas. Os que recebem pela fé tudo que se acha nas E scrituras, acolherão duas verdades, v in te verdades e até v in te m il verdades, ainda que não possam construir um a teoria que harm onize todas elas. Esse processo da formação de teorias e um a insensatez custosa; a invenção de m eios term os é uni desperdício de engenho; seria m uito m elhor crer nas 31

UM MINISTÉRIO IDEAL, Vol. 2 verdades e deixar que o Senhor m ostre sua harm onia. Além disso, os que crêem firm em ente, são os hom ens fortes para o serviço. Porventura já viram a famosa estátua do rapaz sentado tirando um espinho do pé? Faz v in te anos que o vi, e há pouco o contem plei novam ente, e continuava tentando extrair o seu pequeno atormentador. Conheço irmãos desse tipo no m inistério, sempre ocupados em extrair espinhos; têm dúvidas acerca disto, escrúpulos a respeito daquilo... mas aquele que diz: “Sei em quem tenho crido, e sei o que experi­ m entei”, é o hom em que pode atender às ordens do Senhor. A fé tam bém é nosso refrigério. Nossa fé em Deus nos alivia o cansaço. M esmo a fadiga natural é superada pela fé. Por certo, o abatim ento do espírito não precisa de m elhor reconstituinte do que a confiança em Deus. Junto ao Coliseu estão as ru ín a s de um a an tiga fonte de b an h o cham ada M eta Sudans. Para lá se dirigiam os gladiadores que escapa­ vam com vida dos combates do anfiteatro; cobertos de sangue, lavados de suor e sujos da poeira da arena, m ergulhavam no b an h o e experim entavam deliciosa restauração. A fé em Deus opera de igual m odo em nossos corações.

III. M inha pergunta final será: QUE NOS DIZ NOSSA FÉ NESTE MOMENTO? Em prim eiro lugar, ela afirma estar bem fundamentada. Desejo perguntar-lhes em palavras m uito sim ples: seria o Deus vivo digno de confiança? Seria a onipotência digna de sua dependência dela? Seria justo que creiam na onisciência? Seria correto confiar na im utabilidade? Se eu trouxesse aqui o m elhor dos hom ens, cujo nom e fosse para vocês sinônim o da virtude, e se tivesse de aconselhar-lhes que lhe confiassem suas vidas, teria de falar com alento entrecortado, pois quem confiaria no ser hum ano? Ainda mais, se aqui estivesse Gabriel, o angélico mensageiro de Deus, e nos dissesse que nos iria defender zelosamente, é possível que eu vacilasse antes de 32

Fé afirmar: “Filhos dos hom ens, repousem na força dos anjos e confiem no zelo dos serafins!” M as quando me refiro ao Pai, ao Filho encarnado e ao eternam ente bendito Espírito, quem se aventuraria a sugerir um lim ite à nossa confiança em D eus? Q ue arrazoador nos acusará de insensatez p o r confiar na Trindade D ivina? Com o passar dos anos, sinto-m e mais e mais seguro das coisas que creio, não m eram ente - como alguns insinuariam porque me acostum o a dizê-las e p ortanto penso que as creio, mas p o rque concordam com as m elhores experiências da m inha alma. As vezes leio algumas das produções do gênio relacionadas com a frívola religião do pensam ento m oderno; no entanto, quando m eu corpo está enferm o ou o espírito se acha abatido, nada me satisfaz senão o evangelho do Senhor Jesus Cristo, que para nossos pais foi a própria verdade de Deus; e creio que a doutrina que a experiência mais íntim a de um hom em confirm a no dia da provação, e do m om ento em que mais se aproxim a de D eus, é para ele, sem qualquer dúvida, realm ente a verdade de Deus, totalm ente digna de sua confiança. Q uando me encontro com intelectuais, que me reputam m ero pregador de palavras ocas, nunca tenho a im pressão de que tenham direito a fazê-lo. Não lhes concedo m inha submissão nem por um a hora. Tenho de reprim ir a propensão de olhá-los com superioridade em vez de sen tir qualquer complexo de inferioridade. Para nós, as verdades do evangelho são certezas absolutas para as quais não desejamos tolerância, mas que exigimos submissão. Q uando lhes disserem que um sábio fez um a descoberta que contradiz as Escrituras, não se alarmem . Não pensem que se trata realm ente de um grande hom em , porém creiam que é apenas um idiota educado ou um néscio presunçoso. Se vocês dispuserem de tem po para ler as obras dos céticos e ru d ito s, logo d esco b rirão que suas afirm ações não são 33

UM MINISTÉRIO IDEAL, Vol. 2 fidedignas, suas deduções não são lógicas, suas inferências são m on stru osas e suas especulações loucas. Se alguém julga q u e m e e x p re sso de m o d o d e m a s ia d a m e n te e n é rg ic o , responderei que deve ser assim, pois creio que digo o que D eus mesm o avaliaria. Ele não aplicava term os suaves aos incrédulos jactanciosos. Q uando os considera, é para taxá-los de néscios. A expressão que sem pre usou, tanto no Velho Testam ento como no Novo, com referência aos ím pios, é: “D izendo-se sábios, tom aram -se loucos” . E quando ouço ao Pai celestial afirm ar que um hom em é insensato, não me atrevo a p ensar que ele seja p ru d en te. N ão pensem os de m aneira diferente da de Deus. M esmo que possamos ser confundidos em argumentações, não podem os ser contestados na experiência, nem nos afastar daquilo que temos provado e confirm ado da boa Palavra de Deus. Tampouco somos confundidos em nossa fé. Sabemos que está bem fundam entada, e portanto ouvimos o que ela nos diz: “Não me trate como se eu fosse um sonho. Não proclam e sua m e n sa g e m com a le n to e n tre c o r ta d o . A p re se n te -a audazm ente, pois o que a contradiz é um em busteiro!” Se é de D eus, deve ser verdadeira. Não somos adeptos de um a igreja infalível que funde sua fé em sua própria autoridade, ou de um papa infalível que se reputa a imagem da verdade; se nos gloriássemos nisso, o m undo teria razão em rir-se de nós; mas havendo aprendido a verdade de D eus por revelação d iv in a, desafiam os o desprezo do m u n d o , e nem sequer dizemos: “Com sua perm issão, cavalheiros?” Não, mas com sua perm issão ou sem ela, anunciam os o que Deus revelou. E m seg u n d o lu g a r, n o ssa fé nos d irig e a s e g u in te p e rg u n ta : “Já enganei algum a v e z a um de vocês?” Vou estender a interrogação. D eus apresentou a seu antigo povo a questão: “Tenho sido solidão para Israel?” Perm itam -m e que lhes interrogue: “O Senhor já lhes tem falhado? Tem-lhe dado as costas no dia da calamidade? Q uando se apoiaram 34

Fé no Seu braço, Ele tem Se revelado insuficiente?” Se Deus tem falhado, se Sua verdade se to m o u em m e n tira para q u alq u er um de vocês, testifiq u e-o , diga o que sucedeu. Mas se vocês não podem acusar ao Senhor de infidelidade porque detestam tal pensam ento, devido sua experiência negar isso, en tão , irm ãos, sigam cren d o , e creiam m ais firm em ente; descansem mais im plicitam ente no seu Deus sem pre fiel. Em terceiro lugar, a fé tam bém afirm a: “D á-m e maior margem. Confiem muito mais em seu D eus”. Até agora apenas en tram o s na superfície da fé; a água só nos chegou aos tornozelos. Julgávam os que estava m uito fria quando nos aventuram os a entrar tem erosam ente; mas havendo chegado até ali, a achamos boa e agradável. Avancemos até que nos chegue ao peito, e ainda mais profundam ente. Bem-aventurado o hom em que chega até o fundo, nadando na corrente onde não existe outra esperança senão o seu D eus, e nem um a outra confiança nem ajudador senão o Invisível que sustenta todas as coisas. A fé clama: “Ponha em m im sua confiança, filho m eu, para que eu lhe faça pregar m elhor. Seja mais e m p re e n d e d o r e m ais o u sad o . N ão p eleje sua p ró p ria b a ta lh a nas re u n iõ e s de ig reja; deixe-o com seu D eu s; deposite confiança nE le em todas as coisas. N ão tem a ir fa la r à q u ele h o m e m in s o le n te ; eu lh e d a re i a p a lav ra oportuna para dizer-lhe. Confie em m im e aja com prudência, com o, tam bém com zelo, e vá aos antros dc vícios m ais tenebrosos. Busque os piores hom ens e procure levá-los à salvação. Não há nada que você não possa fazer se tão-som ente confiar em D eus”. Se fracassar, teu fracasso se origina em sua fé. O ar diz à águia: “P o n h a sua confiança em m im ; estenda as longas asas; eu lhe sustentarei até chegar ao sol; so m en te p o n h a sua c o n fian ça em m im . R e tire o pé da rocha que está tocando debaixo de você. D istancie-se dela, e d eix e-se s u s-te n ta r pelo e lem en to in v isív e l” . Irm ão s, 35

UM MINISTÉRIO IDEAL, Vol. 2 e rg a m -se ta m b é m às a ltu ra s , p o is D eu s lh es co n v id a. Subam ! N ão têm nada a fazer senão confiar nE le. U m a glória desconhecida descansa sobre Ele, e Seu, resplendor rep o u sará sobre os que a p ren d em a co n fiar p len am en te nEle. E a fé acrescenta (e com isto term ino): “Alimentem-me! alim entem -m e!” A fé tem sido tudo para vocês; alim entem -se com o pão do céu. Ela se a lim e n ta de C risto. C erto dia observei um grupo de preciosos fetos num a gruta, do teto da qual c o n tin u a m e n te d estilav a um a chuva c rista lin a , fresca e clara; aqueles fetos estavam sem pre viçosos e belos, p o rq u e as suas fo lh as estav am sem p re b a n h a d a s pelas gotas re fre sca n te s. M esm o e sta n d o na época em que o verde era escasso, aqueles fetos perm aneciam com um a cor de b e lez a a d m irá v e l. C o m e n te i com o a m ig o q u e m e acom panhava que eu desejava viver sob o gotejar incessante da graça, perpetuam ente banhado e regado na com unhão transbordante de Deus. Isso faz com que um hom em esteja cheio de fé. N in g u ém indaga se M oisés po ssu ía fé, pois perm aneceu q uarenta dias no m onte com D eus; e se nós m anterm os com unhão com Ele, jamais duvidarem os; pelo c o n trá rio , crerem os. A lim en tem a fé com a v erd ad e de D eus, mas especialm ente com Aquele que é a Verdade. R ogo ao S e n h o r que e n ch a o C olégio dos P asto res dessa fé. Que sejamos confirm ados e estabelecidos; consoli­ dados com as bênçãos do pacto da graça, e estabelecidos na rocha. L em brem -se que dependem os agora inteiram ente da nossa fé; é dem asiado tarde para desistirm os. Estam os na situação do peregrino de B unyan - temos que avançar. H á m uitos perigos diante de nós; aproxim am o-nos do vale da so m b ra da m o rte ; as flechas dos in im ig o s passarão em abundância p erto de nós ao atravessarm os os lugares escuros. E penoso prosseguir, porém não podem os re tro ­ ceder, pois não tem os proteção para as costas. Suponham os 36

Fé que recorrêssem os ao raciocínio hum ano, renunciando aos fundam entos da nossa fé; que nos restaria? De m in h a parte, não teria outra alternativa senão tom ar a corda de Judas e pôr fim à vida desgraçada, pois só m inha fé a tom a digna de ser vivida. Se não tivesse fé, p e d iria p erm issão para m o rrer; perecer seria m elhor do que viver se todas estas coisas, afinal, fossem um a ilusão enganosa. U rge avançar, p o rq u an to o m ais arriscado para os irm ãos deste Colégio seria pensar em tom ar atrás. A lguns se separaram de nós; não posso ju lg ar seus corações, m as receio que tam b ém se afastaram de D eus. N ão vou dizer m ais do que isso p o ré m n ão d u v id o q u e se ria m as ú ltim a s p esso as que in v e ja ría m o s, se co nhecêssem os to d a a sua h is tó ria . Se existem hom en s que p o ssu em , m esm o nesta vida, o evidente sinal da reprovação divina, têm que ser os que conhecem a verdade e a defendem , e depois, por am bição de lucro ou vantagem , a abandonam . Tudo que eu poderia dizer a seu respeito é: “D eus tenha m isericórdia deles!” B em , irm ã o s, estam o s c o m p ro m e tid o s a c o n tin u a r avançando sem cessar; não podem os retroceder, nem jamais nos desviarmos para a direita ou para a esquerda. Q ue faremos, pois? Cairem os ou nos desesperarem os? Nunca! No nom e do Senhor levantem os novam ente o estandarte real de Jesus, o crucificado. Toquemos alegrem ente as trom betas, e pros­ sigamos a m archa, não com o andar vacilante dos que sabem que participam de um a em presa m aligna, mas com o passo galhardo de hom ens cuja causa é divina, cuja guerra é um a cruzada. Coragem, irmãos, eis que os anjos de Deus cam inham à nossa frente, e o D eus eterno em pessoa conduz a caravana. “O Senhor dos Exércitos está conosco; o D eus de Jacó é o nosso refúgio.” Portanto, “não tem erem os, ainda que a terra seja rem ovida, ou se transportem os m ontes para o fundo do m a r” . O fé b em -av en tu rad a! Q ue D eus nos conceda mais dela, por am or a Cristo. Amém. 37

2 A INDIVIDUALIDADE E O CONTRÁRIO DELA N osso tem a h o je é d u p lo , e n v o lv en d o a defesa da personalidade, ou melhor, a individualidade e o contrário dela . Para isso não encontrei a palavra adequada. Quero dem onstrar que cada um de nós é um hom em isolado; e tam bém que ninguém está com pletam ente só. Nossa individualidade e nossa com unhão, nossa personalidade e nossa união com o Senhor, nossa existência separada e nossa absorção em Cristo; estes são os temas que procurarei desenvolver. Por certo meu pensam ento será mais claro ao citar o texto de 1 Cor. 15:10, que diz: “Trabalhei mais do que todos eles, mas não eu”. “Eu trabalhei, mas não eu” - eu em toda a extensão da palavra, eu completo: Paulo, noutros tem pos o fariseu, o blasfem o, o perseguidor, chamado agora para ser apóstolo, que m e regozijo de que esta graça me seja dada para pregar entre os gentios as insondáveis riquezas de Cristo; eu que em nada sou inferior aos principais dos apóstolos; mas não eu, pois não me considero ser coisa algum a, nem sequer m enos do que nada, p o rq u an to C risto é tudo em todos. Portanto sou eu, mas não eu.

I. Inicialm ente, perm itam -m e que lhes fale de NOSSA INDIVIDUALIDADE. Queridos irmãos, que cada um de nós esteja tão distante quanto possível de tudo que se assemelhe ao egoísmo, que é odioso em sumo grau. Esperemos que a 38

A Individualidade e o Contrário dela vaidade seja rara entre os m inistros, porquanto é o vício dos principiantes, e pode ser m ais facilm ente tolerável nos jovens estudantes do que em m estres da Palavra. A experiência, se vale a pena, exterm ina a vaidade do hom em ; mas sua natureza é tão perversa que pode aum entar seu orgulho se se trata de um a ex periência suavizada pelo êxito. Seria d ifícil dizer qual é o m aior pecado, a vaidade ou o orgulho; mas sabemos qual o mais néscio e o mais ridículo. Um hom em orgulhoso pode ter certo peso, mas um hom em vaidoso, é tão leve como o ar e não influencia ninguém . Oxalá sejamos guardados destes egoísmos, pois ambos nos são prejudiciais e odiosos perante Deus. A introm issão m uito freqüente do eu é outra form a de egoísmo que precisam os evitar. Espero que nossos sermões jamais sejam daquele tipo dos que eram publicados em certa im prensa, onde o com positor p rin c ip a l teve de solicitar ao gerente um a quantidade suplem entar das letras que com põem a palavra “eu” ! O “eu” tende a p redom inar sobre todos nós. M esmo os que buscam a hum ildade difi­ cilm ente podem escapar a essa tendência. Q uando o eu é sacrificado n u m a form a, surge n o u tra ; lam entavelm ente, existe o fenôm eno de sentir orgulho da própria hum ildade, e de jactar-se de estar livre de toda a jactância. Espero, irm ãos que por mais úteis que D eus nos torne em nossos diversos locais de trabalho, não nos considerem os a nós m uito im portantes, pois o certo é que não o somos. O galo era de opinião que o sol saía cada m anhã para ouvi-lo cantar; m as sabemos que não era assim. Nem a terra dá voltas, nem o sol brilha, nem a luz faz o seu percurso, nem as estrelas resp lan d ecem em beneficio especial de q u a lq u er pessoa aqui, por m ais adm irável que possa ser quando está em seu p ró p rio cam po; tam pouco existe o cristian ism o para que tenham os púlpitos, nem nossa igreja particular a fim de que tenham os um a congregação e um a receita financeira; nem sequer existe um crente para que possa apresentar-se como 39

UM MINISTÉRIO IDEAL, Vol. 2 nosso único consolo e honra. Somos bem insignificantes para possuir dem asiada im portância no vasto universo de D eus; Ele pode operar conosco ou sem nós, nossa presença ou ausência jamais alterará Seus planos. N ão o b sta n te , a p esa r de tu d o isso, nosso tem a é a in d iv id u a lid a d e , e esperam os que cada um reco n h ecerá e m a n terá de m odo honroso sua p ersonalidad e. O recon hecim en to adequado do EU é um tem a digno de nossa atenção. O “egotismo” é orgulhoso, enfatuado e prejudicial; mas há um tipo de “egoísm o” vinculado à h u m ild ad e, à responsabilidade e à honradez que resolve subm eter-se a Deus e fazer o m elhor possível para Sua glória. Nesta época em que as m ultidões seguem a seus líderes e quando hom ens audazes facilm ente atraem seguidores; quando os rebanhos não sabem mover-se sem guias e a independência se tom a tão rara, convém que sejamos homens emancipados e cabais, não m eras p a rte s de um org an ism o ; m a n te n d o -n o s na integridade de um pensam ento, um a consciência, m aneira e ação pessoais. H oje os m o n o p o lizad o res e x p u lsam o com erciante indiv id u al do m ercado; os m em bros de um partido apresentam a madeira como o único m aterial para a co n strução da casa do Senhor, e os m em bros de o u tra seita defendem com igual zelo o seu feno e a sua palha. A pesar de todos os seus esforços p ara in d u z ir-n o s, não seremos levados a cessar de construir com as poucas “pedras preciosas” que o Senhor nos confiou; nem sequer nossos irm ãos, que tão admiravelmente am ontoam “ouro e prata”, poderão persuadir-nos a desprezar nossas ágatas e carbúnculos. Cada um deve edificar com o material que possui; se a obra é sincera e honrada, não devemos censurar a outros nem condenar-nos a nós mesmos porque o nosso labor é de caráter próprio. Q uanto ao tema individualidade, notem os prim eiram ente a necessidade de um fervoroso sentido de nosso interesse pessoal 40

A Individualidade e o Contrário dela no evangelho que pregamos. N unca pregarem os o Salvador dos pecadores de m odo m ais eficiente do que quando nos sentim os os pecadores que Ele veio salvar. U m p ro fu n d o sentim ento de culpa pelo pecado nos torna aptos a anunciar o arrependim ento. B unyan afirm ou: “As vezes eu pregava a outros detentos como um hom em encarcerado, sentindo o peso dos m eus p ró p rio s grilhões, en q u an to m e dirigia àqueles que experim entavam a angústia de encarcerados” . Os sermões que brotam de corações quebrantados tornam -se o m eio de c o n so la r às alm as d e se sp e ra d a s. B om é dirigir-se ao púlpito enquanto clamamos intim am ente: “O Deus, tem m isericórdia de m im , pecador”. A lguns afligidos jam ais se aleg rarão até que vejam ao p re g a d o r fe rir o próprio peito e o ouçam confessando seu sentim ento pessoal de indignidade. No entanto, não será conveniente que perm aneçam os em terreno tão baixo, pois pregam os, não a lei, e sim o evangelho. Portanto, temos de alegrar-nos porque sentim os o poder do sangue de Jesus em nossas próprias consciências, dando-nos paz e perdão. Nossa alegria dará vida à nossa m ensagem . Temos saboreado o mel da com unhão com Cristo; se não na mesm a m edida como alguns dos nossos Sansões, pelo menos como Jônatas, tocando-lhe com o nosso cajado e nossos olhos se aclararam de m odo que os ouvintes perceberam e p e r­ cebem, o brilho ao dizer-lhes quão precioso é Jesus. Isso dá ênfase ao nosso testem unho. Q uando falamos como m inistros e não com o hom ens, como pregadores e não com o p e n i­ tentes, como téologos e não como discípulos - fracassamos; q u a n d o in c lin a m o s a cabeça d e m a s ia d a m e n te so b re o com entário e insuficientem ente sobre o peito do Salvador; q uando com em os excessivam ente da árvore da ciência e d e m a sia d a m e n te pouco da árv o re da vid a, p e rd e m o s o poder do nosso m inistério. Eu mesm o sou pecador, em bora lavado no sangue e liberto da ira vindoura, pelos m éritos

41

UM MINISTÉRIO IDEAL, Vol. 2 de m eu Senhor e M estre; tudo isso deve estar bem nítido em nossas mentes. A piedade pessoal nunca deve arrefecer-se em nós. N ossa p ró p ria justificação pessoal na justiça de C risto, nossa santificação pessoal pelo poder do E sp írito em nó s, nossa u n ião v ital com C risto e a esp eran ça da glória nEle, assim como nosso progresso na graça em vista de nossa própria decadência -tu d o isso devemos conhecer bem e considerar profundam ente. Jam ais devemos pregar a outros com voz afetada, n arran ­ do e x p e riê n c ia s q u e não tiv e m o s; se de a lg u m m o d o retro ced em o s, devem os c ita r a falha c o rre sp o n d e n te ou expressar-nos como penitentes desde o ponto onde realm ente estamos. Por outro lado, se crescemos na graça, é ím pio ocultar o que sentim os, por falsa hum ildade. O que devemos fazer é anunciar o que Cristo nos ensinou. Precisamos falar cheios do Espírito e de conhecim ento em vez de tom arm os em prestado de outrem ; é m elhor calar-nos do que agir dessa forma. E preciso que sejamos sinceros quanto à nossa condição pessoal d ian te de D eus, pois talvez Ele p erm ita que o estado de coração dos seus m in istro s varie a fim de que os passos vacilantes os possam levar ao descobrim ento das suas ovelhas desgarradas. As vezes tenho atravessado um a parte da senda do peregrino por meios não desejáveis, e tenho gem ido em m in h a alma: “ Senhor, por que isso me acontece?” Tenho pregado de modo a que sou obrigado a perm anecer no pó, tem endo que o Senhor não havia falado através de m im , e todo o tem po Ele m e co n d u zia pela mão sem que eu o soubesse, para o bem dos Seus. Pouco depois, surgia um daqueles aos quais Ele determ inara abençoar, e que havia sido alcançado p re c isa m e n te pelo serm ão que ta n to m e custou e que decorreu de um a experiência tão extrem am ente amarga. O profeta Ezequiel disse: “A mão do Senhor esteve sobre m im , e me levou no Espírito do Senhor e me pôs no meio 42

A Individualidade e o Contrário dela de um cam po cheio de ossos” ; estas coisas, que ocorrem freq ü e n te m en te , são m otivos de louvor. N ão ta n to para nosso próprio bem ou edificação, como para benefício do nosso próxim o, somos conduzidos aos vales de ossos secos e a câmaras de fantasia. É preciso que observemos estas fases da alma e sejamos leais aos im pulsos divinos. E u m esm o não pregaria sobre o gozo do Senhor quando me sentisse com o coração quebrantado, nem dissertaria sobre um profundo sentim ento de culpa em nós enquanto estivesse desfrutando dum a plena experiência da purificação pela Palavra. Devemos orar para que o Espírito Santo eleve e m antenha nossa vida individual vinculada ao nosso m inistério. Devemos lem brar sem pre que não estamos pregando doutrinas que são boas tão-som ente para os demais, mas verdades preciosas que já provaram ser boas para nós mesmos. Precisamos dem onstrar pelos nossos rostos que p articip am o s do m esm o tip o de alim ento que oferecemos aos fam intos. Irm ãos, se tem os bem arraigada em nossa m ente esta personalidade da vida em Cristo, será bom que não esqueçamos jamais nosso encargo pessoal de pregar o evangelho, pois espero que cada um de vocês tenha recebido esse encargo e tenha certeza do mesmo. A bandonem o m inistério, se não o têm recebido do Senhor. Do contrário, o que estão fazendo aqui? Atrevo-m e a dizer que prego porque não posso fazer outra coisa; não posso conter-m e; arde-m e nos ossos um fogo que me consum iria se me calasse. Todo m inistro cristão enviado por D eus é tão cham ado a pregar o evangelho como o foi o apóstolo a quem A nanias falou no tocante ao “ Senhor Jesus, que te apareceu no cam inho”. Isto torna a nossa pregação um assunto solene. Suponham os que nesta m anhã, descendo pelas escadas deste Colégio, um anjo encontrasse com vocês e pusesse a mão sobre vocês, dizendo: “O Senhor D eus Todo-p o d ero so m e en v io u p ara lhes e n ca rre g a r de p re g a r o evangelho de agora por d iante”. Sentiriam um peso sobre 43

UM MINISTÉRIO IDEAL, Vol. 2 vocês, e ao mesmo tem po um a confiança e um entusiasm o renovados. Mas não é a mão de um mero anjo que lhe tocou, irm ão; o próprio Senhor Jesus, que o redim iu com o Seu precioso sangue, pôs esta “necessidade” sobre você; a mão traspassada que lhe concedeu salvação, o cham ou para o serv iço do S e n h o r e o to rn o u um vaso e sco lh id o p a ra levar o Seu nome. Escute novam ente o Seu m andam ento: “Apascenta os meus cordeiros” e “Apascenta as minhas ovelhas” (João 21:15-16). Q ue essa vocação perm aneça clara em sua mente. Q uem se levantará para opor-se à sua pregação, se o Senhor lhe enviou a pregar? Q uem d itará sua m ensagem ou te n ta rá mudá-la, se a Sabedoria encarnada lhe ensinou o que deve dizer? Está bem equipado para anunciar as boas novas se pode afirmar, verazmente, como Paulo: “Pois não o recebi nem o aprendi de hom em algum , senão pela revelação de Jesus C risto”. Amados irm ãos, é precisam ente isso o que devemos sentir. Os reis afirm am rein ar pela graça de Deus. Talvez seja assim . D eus tem suficiente graça para p e rm itir que alguns deles reinem . M as de um a coisa estou certo: todo v erdadeiro m in istro é um defensor da fé. “Pela graça de D eu s sou o que so u ”, ta n to com o c re n te q u an to com o m in istro . Pode haver dúvidas q uanto à legitim idade dos m onarcas, mas se tem os o testem unho do E spírito Santo em nós, nosso reino perm anece inabalável e nossa eleição jamais pode ser contestada. Em relação à nossa individualidade, irmãos, deveríamos sen tir grande respeito por nosso próprio campo de trabalho. C om o p astores, vocês têm sido postos não apenas como guardiães de almas, mas para cum prirem essa tarefa em locais específicos. Como conjunto, têm de ir a todo o m undo pregar o ev an g elh o , p o ré m cada um de vocês deve a lim e n ta r aquela parte do reb an h o sobre a qual o E spírito Santo o constituiu bispo. Ali precisa desenvolver seu labor principal, 44

A Individualidade e o Contrário dela pois aí estão suas re sp o n sa b ilid a d e s m ais im p o rta n te s. Quisera que todo irm ão pensasse de m odo mais elevado acerca da posição em que D eus o colocou. Se sou um sentinela, posto para guardar o exército em determ inado ponto, sei que cada um dos postos é im portante; entretanto nem devo sonhar que o m eu seja m enos. Se fosse assim , poderia sentir-m e inclinado a dorm ir, e o inim igo su rp reen d eria o acam pa­ m ento no local onde eu devia vigiar. Tenho de agir como se a segurança de todo o acam pam ento dependesse de m im ; pelo m enos, preciso ser tão zeloso e vigilante como se assim o fosse. O bservem os elos de um a c o rre n te ; cada um a é absolutam ente necessária à sua segurança. Im aginem os que um deles dissesse: “Não im porta que eu me enferruge; há m uitos elos que são fortes”. Não m eu irm ão, a eficiência da corrente depende de todos os elos; assim tam bém , para que a obra da Igreja seja com pleta a fim de que a edificação do corpo de C risto seja p erfeita, repousa sobre cada um grande peso de responsabilidade. A dm ito que tenho grande re s p o n sa b ilid a d e , m as cada um tem a sua p a rte e não pode transferi-la para os om bros dos outros. A inda que o resto do m undo fosse abençoado, o avivam ento geral não re p re se n ta ria gozo n e n h u m p a ra vocês no caso de que sua negligência houvesse tornado a sua vinha um a exceção à regra. Que cada um se dedique ao seu trabalho. Se eu me sentisse vocacionado para ser evangelista a fim de ir por toda parte pregando a Palavra, não perm aneceria no pastorado, porque seria injusto para com as pessoas que me têm como seu pastor. Regozijo-me quando vejo obreiros m uito úteis viajando em todas as direções, mas lam ento ver suas igrejas abandonadas, m ortas de fom e, espalhadas. H á um a triste confissão da esposa no livro de Cantares: “Fizeram -m e guarda de vinhas, mas da m in h a vinha não cu id ei”. Se não puderm os fazer as duas coisas, seria m elhor não intentarm os. Não desejo 45

UM MINISTÉRIO IDEAL, Vol. 2 desestim ular os irmãos nos seus. esforços; q u a n to , mais longe puderem ir, melhor, pois a sua paróquia é o m undo inteiro; m as isso n ão p o d e se r re a liz a d o em p re ju íz o do seu pastorado. Q uando descobrirem qual seja a parte da obra do Senhor que Ele lhes confiou, dediquem -se a ela de corpo e alma. Certa vez vi um artista pintando um jarro famoso. Olhei-o, m as ele não o lh o u p a ra m im ; seus o lh o s e stav am tão ocupados que não se d istra íra m com a p resen ça de um e stra n h o . H avia o u tra s pessoas atrás de m im e to d as o contem plavam , fazendo diversos com entários, mas o olhar daquele m estre não se desviou da sua tarefa. Ele se concen­ trava unicam ente no seu trabalho. Que nisso o im item todos os que se dedicam ao serviço do Senhor. “U m a coisa faço.” U ns criticam , outros zom bam , mas “um a coisa faço”. Alguns acham que poderiam fazer m elhor, mas eu “um a coisa faço” . A m aneira como o fariam, poderá ser assunto deles, porém não meu, certam ente. Lem bre-se, querido irm ão, que se se entregar ao trabalho que lhe foi confiado, não im porta que ele pareça de pouca im portância, pois tanto se dem onstra habilidade na confecção de um relógio pequenino quanto noutro de grandes pro p o r­ ções. A qualidade é algo mais im portante que a quantidade. Jam ais devemos pensar que, devido a tarefa a ser executada parecer insignificante, não podem os nem devemos fazê-la com e sm ero . P re c isa m o s da a ju d a d iv in a p a ra p re g a r adequadam ente mesm o que seja a um a só pessoa. Se algo é digno de ser feito, deve ser bem feito. H á m in istro s que a lc a n ç a m ê x ito e p ro m o v e m a g ló ria de D e u s n u m a congregação hum ilde, enquanto outros, à frente de grandes igrejas, em bora iniciem como grande sonido de trom betas, te rm in a m no silêncio e na tristeza do fracasso absoluto. C onheçam seu trabalho, observem -no atentam ente, pondo nele seu coração e sua alma; seja grande ou pequeno, haverão 46

A Individualidade e o Contrário dela de louvar a D eus por toda a eternidade, se forem achados fiéis nele. Colegas, sejam boas ou más as circunstâncias, m antenham suas posições. Alguns procuram disfarçar a própria negligên­ cia pondo a culpa na época. Q ue temos a ver com a época? A época sem pre é má para os que possuem tem peram ento mórbido. Prossigam no seu trabalho, não obstante as condições desfavoráveis. Carlos X II, da Suíça, estava ditando ao secre­ tário quando, atravessando o telhado, um a bom ba caiu na casa vizinha. O pobre hom em , alarm ado, deixou cair a pena, pelo que o rei exclamou: “Que fez você?” O outro balbuciou: “M ajestade, a bom ba!” O m onarca respondeu: “Q ue tem a ver a bom ba com o que eu estou dizendo?” D irão que a vida do secretário estava em perigo. Está certo, mas vocês estão seguros porque juntos a Jesus n um serviço santo, e mal algum os pode atingir. Sigam vigiando e prossigam trabalhando, até o final. D eixem nas m ãos do S enhor os tem pos e as épocas e co n tin u em no seu trabalho. Carlyle m enciona o grilo que co n tin u a cantando enquanto soa a tro m b eta do arcan jo . Q uem e n c o n tra m o tiv o s de c en su ra ? Se D eu s transform asse você, irm ão, num grilo e lhe ordenasse que cantasse, não poderia fazer m elhor do que cu m p rir a Sua ordem . P osto que Ele o fez p regador, persev ere em sua vocação. M esm o que a terra fosse rem ovida ou as m ontanhas lançadas ao mar, acaso tal coisa alteraria seu dever? Não o creio. Cristo nos enviou a pregar o evangelho; e se a obra de nossa v ida não está - te rm in a d a , e re a lm e n te não está, c o n tin u e m o s tr a n s m itin d o a m e n sa g e m em to d a s as circunstâncias até que a m orte nos faça calar. Tam bém devem os considerar nossa adaptação pessoal, desejando m antê-la sem pre no m elhor nível possível. Não som ente há um trabalho ordenado para cada um , mas cada um deve e sta r e q u ip ad o p a ra o seu tra b a lh o . Se som os vasos para uso do M estre, não devemos escolher que tipo 47

UM MINISTÉRIO IDEAL, Vol. 2 de vaso podem os ser. H avia um cálice na mesa da com u­ nhão quando o Senhor comeu a Páscoa com os discípulos, e p o r certo o cálice foi h o n ra d o ao ser po sto nos Seus lábios. Q uem não gostaria de ser aquele cálice? Mas havia tam bém um a bacia que o M estre tom ou, pôs água e lavou os pés dos discípulos. Asseguro-lhes que não posso escolher entre ser cálice ou bacia. D e boa vontade seria o que o Senhor quisesse, contanto que Ele me desejasse usar. No entanto, um a coisa é clara: o cálice não serviria para ser usado como bacia, nem a bacia era apropriada para a festa de comunhão. Cada m in istro será usado precisam ente naquilo para que foi equipado. Um não pode im ita r o outro. Não sejamos meros copistas. D igam o que Deus lhes disser, e digam -no a seum odo, e a seguir supliquem pessoalm ente que o Senhor o abençoe. Q ue sua adaptação ao trabalho seja do mais alto nível possível. N ão te n h am ta n ta pressa em fazer, a p o n to de d escu id arem de ser; tão solícitos em dar, que não fique tem po para receber. O velho L uiz tinha um a enorm e pilha de m adeira para serrar, e começou a trabalhar ativam ente a fim de concluir o serviço. M as utilizava um a serra pouco afiada, e o trabalho se tomava m uito penoso. Um vizinho se aproxim ou e perguntou: “L uiz, p o r que não m anda afiar a serra?” Ele replicou: “N ão me incom ode; tenho m u ita m adeira para serrar, e não posso interrom per o serviço para afiar a serra”. A lição da anedota é bem clara: privar-se do estudo, da oração secreta e da devida preparação para o seu m inistério, é perda de tem po, e não economia. Estejam devidam ente adaptados, especialm ente na área espiritual. Temos mais m otivos para orar e ler a Bíblia que os demais crentes. O que se ocupa em fornecer a água aos o u tro s p recisa de ir m u ito m ais vezes à fo n te a fim de abastecer-se; ele usa vasilhas maiores. Essa é precisam ente a nossa condição. Tendo de levar a água viva aos sedentos, 48

A Individualidade e o Contrário dela isso re q u e r que v o ltem o s à fo n te fre q ü e n te m e n te com recipientes de m aior capacidade. Cuidai, pois, do vigor de sua piedade pessoal e orem para que sejam “cheios de toda a p lenitude de D eus” . Uma vez mais, recordem nossa responsabilidade pessoal. Não vou aprofundar-m e m uito nesta questão, mas cada irm ão deve lem brar-se de que, por mais que os outros façam seu trabalho bem ou mal, isso não tem qualquer efeito em rela­ ção à nossa própria responsabilidade pessoal perante Deus. Alguns censuram os outros, julgando que com essa atitude estão louvando a si mesmos, pois se criticam os os métodos adotados por outros irm ãos, estamos inferindo que os nossos são melhores. Mas raciocinem os, irm ãos: é possível que os demais não sejam sábios, são doentios espirituais ou mesmo fanáticos e errados; porém , que têm vocês com eles? A nte seu M estre perm anecerão de pé ou cairão, e a graça de D eus pode fazer que perm aneçam ; contudo, sua suposta sabedoria, que os leva a censurá-los, pode transform ar-se em arm adilha para fazer-lhe cair. Vocês ainda têm de apresentar sua própria obra perante Deus a fim de ser provada no fogo. Almas lhes foram confiadas, pelas quais terão de dar contas. Deus não p re te n d e abençoar essas alm as p o r m eio de o u tro s; elas devem ser levadas à conversão por meio de vocês. Estariam vivendo, agindo e pregando de tal m odo que D eus possa convertê-las m ediante seu m inistério? Essa é um a pergunta que cada um precisa considerar. Deveremos sentir nossa responsabilidade pessoal agora, pois naquele dia já será dem asiadam ente tarde. Q uando prostrados num leito de enferm idade, talvez tenham os de recordar o que fizemos ou deixamos de fazer, e isso, quem sabe, não nos trará m uita satisfação. Haverá partes do nosso m in isté rio pelas quais louvarem os a D eus p o r havê-las realizad o com coração p u ro e v isan d o à Sua g ló ria, as quais Ele abençoou, pelo que haverem os de cantar; mas tão 49

UM MINISTÉRIO IDEAL, Vol. 2 logo tenham os concluído o louvor, lem brarem os de outras partes quando fomos negligentes ou omissos, e terem os de chorar, tentando obter outra oportunidade para executá-las novam ente. O irm ãos, nossa m orte já se aproxim a. H oje nos vemos uns aos outros em plena saúde, porém chegará o m o m en to quando outro s nos contem plarão em nossos ataúdes, sem que possamos corresponder aos seus olhares. P o u co im p o rta rá , e n tã o , q u em nos o b se rv e ; m as te rá im p o rtân cia etern a a m aneira com o executam os o nosso trabalho durante toda a vida. “Pesado na balança, e achado em falta” - será esse o terrível veredicto sobre alguns de nós quando tiverm os de com parecer diante do O nipotente que prova os corações e sonda o íntim o dos filhos dos hom ens? Seu fogo está em Sião e Seu fo rn o em Je ru sa lé m . Seu zelo é m ais feroz para os que estão m ais perto dE le; Ele não tolera o pecado nos Seus servos preferidos, pois feriu a N adabe e Abiu quando ofereceram fogo estranho no altar, e fez dos falsos profetas um m onum ento eterno de escárnio. Oxalá sejamos guardados em fidelidade pela graça, ou do contrário serem os pulverizados pela própria resp o n sab ili­ dade que recai sobre nós. Se nos conscientizarm os devidam ente de nossa própria responsabilidade, nos absterem os de julgar aos outros. Todos somos tendentes a sentar-nos na cadeira de juiz. Um condena ao com panheiro por ser escasso o núm ero de conversões na sua igreja, taxando-o de m inistério frio ou deficiente. Por outro lado, acho que com m ais freqüência os irm ãos que conseguem poucas conversões julgam aos que alcançam m uitas, dizendo: “Tais conversões tão num erosas não podem ser genuínas!” Isso desapareceria se cada um conhecesse seu próprio m ister e tivesse gozo em seu próprio trabalho em vez de sentir inveja dos outros. Se servimos todos ao mesmo Senhor e nos ocupam os na mesm a tarefa, por que acalentar suspeitas e ressentim entos? 50

A Individualidade e o Contrário dela Às vezes chego a pensar que quando há poucas conversões é por haver em nós certo grau de incredulidade. Não posso julgar, mas parece que certos irm ãos atraem pecadores de m an eira tão le n ta p o rq u e d e m o n stram algum te m o r no quese refere ao poder da graça salvadora para alcançar a m uitos. De qualquer m odo, faremos bem em refletir mais dem oradam ente nossa posição, hum ilhando-nos ao reconhecer nossa própria necessidade a fim de buscar a indispensável ajuda divina. Nossa individualidade, pela graça de D eus, nos im pedirá de invejar a outros, que é um defeito repugnante e destruidor. C o n h e c i p esso as a q u em n ão lh e s im p o rta v a p ro f e rir sentim entos que as condenavam , contanto que injuriassem a o u tro s. Com o Sansão, não lhes preocupavam p e re ce r se podiam derrubar a casa por cim a dos demais. Jam ais façamos tal coisa. Se seu v iz in h o é h o n ra d o p o r D eus, louve ao Senhor por isso; se não você é honrado na mesm a m edida, hum ilhe-se e ore mais fervorosam ente. Se não lhe chega a bênção, alegre-se ainda com a felicidade do seu próxim o. Por outro lado, este sentido da in d iv id u alid ad e deve im pedir-nos de depreciar aos outros. As vezes nos chega aos lábios a pergunta a respeito do irm ão mais fraco ou menos dotado: “ Senhor, e quanto a este?” E a resposta é: “Que te im porta? Segue-m e tu !” H á m aneiras m uito m elhores de em pregar o tem po do que censurar ou m enosprezar o irmão. A judar aos fracos e alentar os abatidos é por certo ocupação bem mais nobre.

II. C hegam os agora ao CONTRÁRIO DA INDIVI­ DUALIDADE. O que tenho a dizer não é bem um a antítese, mas um com plem ento. Reconheçam os que, em bora cada um tenha um trabalho a realizar e esteja equipado para fazê-lo, não somos os únicos obreiros no mundo. Irm ão, você não é a única lâm pada para 51

UM MINISTÉRIO IDEAL, Vol. 2 ilu m in ar as trevas da terra; não é o único sem eador a lançar a boa sem ente no campo do m undo; não é a única trom beta através da qual Deus proclam a Seu jubileu; sua mão não é a única que Deus está usando para alim entar às m ultidões. Você é apenas um m em bro do corpo m ístico, um soldado do grande exército. Este pensam ento deve alentá-lo, aliviando o d esesp ero que a so lid ão p ro d u z . Q u an d o D eu s en v io u moscas, piolhos e gafanhotos para destruir o Egito, Faraó p o d eria ter rid icu larizad o a q u alquer daqueles in sig n ifi­ cantes guerreiros, dizendo: “Que pode fazer este gafanhoto? D esafio a Jeová e a Seus g afan h o to s!” M as o gafanhoto contestaria: “Cuidado, ó rei, porque somos milhões! Viemos em exércitos poderosos e cobrirem os toda a terra. Em bora sejamos débeis um a um , o Senhor m ostrará a Sua onipo­ tência pela m ultiplicação deste n ú m ero ”. Assim foram os prim eiros dias do cristianism o. Os cristãos chegaram a Roma sendo apenas uns pobres judeus, e habitaram no gueto, na obscuridade; logo havia m il. E ntretanto, uns haviam ido à Espanha, e em pouco tempo aum entou seu núm ero; uns poucos alcançaram a G rã-Bretanha e tam bém aum entaram . As nações, irritadas com essa invasão, decidiram destruir aquelas pragas da sociedade, as quais transtornavam o m undo. Passaram a torturá-los, queimá-los e destrui-los; mas continuavam a viver como enxames, e em bora m ortos sem m isericórdia, sem pre havia outros. Os inim igos de Deus não podiam resistir àquele vasto exército que avançava: “O Senhor deu a Palavra; grande era o exército dos que anunciaram as boas novas” . Assim continua sendo hoje. Não estão sozinhos a entoar os louvores de Cristo: vossa voz é um a das m uitas que form am a poderosa o rq u e stra . O m u n d o in te iro está cheio dos lo u v o res de D eus. “Por toda a terra saiu a sua lin h a e aos confins do m undo a sua palavra.” Não pensam os apenas na Igreja m ilitante; erguem os o o lh a r p a ra além do firm a m e n to e c o n te m p la m o s um a 52

A Individualidade e o Contrário dela com panhia ainda mais gloriosa, pois a honra e a glória do M estre não estão nas mãos dos obreiros terrenos, cansados e fatigados. Sua glória ressoa em harpas que nunca se rom pem , dedilhadas p o r mãos que jam ais se m ancham . P articipam daquelas hostes de companheiros sempre recordados, formosos de caráter como flor escolhida, indom áveis na perseverança, dignos de m onum entos de pedras preciosas, incansáveis na causa do M estre. Ao relem brarm os os que escalaram alturas tão sublim es, aspiram os ser tão fiéis quanto eles. Form am os um a gloriosa co m p an h ia com todos que p reg aram Jesus Cristo. Agora não são mais pregadores, mas ainda continuam a glorificar a D eus, e de m aneira m ais nobre. Refrigera o m eu coração pensar naqueles cuja batalha term in o u e que agora são vencedores para sempre. Irm ãos, não estam os sozinhos. Legiões de anjos nos cercam. H ostes de espíritos gloriflcados nos contem plam . Estam os rodeados de um a poderosa com panhia de auxiliares. Em to rn o de nós existe g ran d e nuvem de te stem u n h a s. P ortanto, “deixem os todo o em baraço e o pecado que tão de p erto nos rodeia, e corram os com paciência a carreira que nos está proposta, com os olhos fixos em Jesus, autor e consum ador da fé”. U rge ainda lem brar que, em bora sejamos indivíduos e necessitem os de preservar nossa personalidade, somos apenas instrumentos para a realização dos propósitos divinos. Separados de D eus, não somos absolutam ente nada. B endito seja Deus, não estam os afastados dE le. E p ro v e ito so qu e, vez p o r outra, nos deixemos cair de sim ples cansaço sobre a grande verdade da predestinação divina. Para alguns é um leito de ociosidade; para nós deve constituir-se um apoio onde achar novas forças. D epois de tudo, a vontade de D eus se cumpre. Seus propósitos, insondáveis, eternos e im utáveis, se vão realizando. O furor do inferno e a inim izade dos hom ens não podem deter o curso dos decretos eternos. D eus faz o 53

UM MINISTÉRIO IDEAL, Vol. 2 que quer, não apenas entre os exércitos dos céus, como entre os habitantes deste m undo inferior. Ele faz com que a ira do hom em redunde em Seu louvor e do próprio m al tira o bem. A oposição organizada contra o verdadeiro m inistro de Cristo serve apenas para dem onstrar que enquanto o inim igo conta com a força hum ana, conosco está ilim itado poder do braço onipotente e eterno cujas forças sustentam o céu e a terra. Não devemos, pois, temer. A presença de D eus nos concede a ousadia. Im item os o cavaleiro das guerras antigas. Valente, m ontando o cavalo veloz, atravessava as águas inimigas, correndo sem cessar e sem temor, percorre aldeias espantando a todos e entra na cidade infundindo temor. Por que é tão audaz? Q u an d o alguém in d ag a qual a causa de ser tão ousado, responde: “Vem um exército atrás de m im ” . D e igual m odo devem os ser cavaleiros do S enhor Todo-poderoso. Jamais devemos recear, porquanto “o Deus eterno é a nossa retaguarda”. Aquele que ordenou: “Fazei discípulos de todas as n a ç õ e s”, g a ra n tiu : “ E sto u convosco to d o s os d ia s” . C o n te m p lan d o -n o s com o Seus soldados, com o que nos ordena: “Vençam em m eu nom e”. Vão até aos povos e os despertem - às cidades e apelem a que se rendam . D irijam -se aos grandes centros e anunciem às pessoas: “C risto exige que L h e e n tre g u e m seus c o ra çõ e s” . F açam isso, e Ele concederá eficácia à sua pregação. Relacionado com o tem a da individualidade, é ú til que estejamos conscientes de que temos o Espírito de Deus em nós. Sou o que sou; m as sou m u ito m ais do que sou, porque dentro de m im reside o Santo de Israel. Não um a residência p ro v isó ria onde alguém passa breve te m p o rad a; nossos corpos são o templo do E spírito Santo. O que fazemos sob a influência do E spírito de D eus não é algo débil como de outro m odo seria. O nde opera o E spírito há energia para o cum prim ento dos Seus propósitos. E preferível pronunciar 54

A Individualidade e o Contrário dela seis palavras pelo E sp írito d iv in o que seis m il sem Ele. U m serm ão n ão p o d e ser ju lg a d o p elas p a la v ra s, p o is alma e vida dele decorrem de sua força interior; o juízo de D eu s q u a n to ao serm ão d e p e n d e rá de q u a n to h av ia da verdadeira flor e fruto do E sp írito em butido sob a form a do mesmo. O nde D eus decide habitar há um palácio; Sua presença glorifica o lugar da Sua m orada. Nossos corpos foram feitos tem plos do Espírito. E preciso que tenham os Cristo em nós, esperança da glória, o E spírito habitando em nós - a vida p u ra que não cessa de flu ir; do c o n trá rio nossas vidas fracassarão. C oncluindo, posso afirm ar que é um a coisa agradável s e n tir que toda a obra que estamos realizando é a obra do Senhor Jesus Cristo. Todas as ovelhas que temos de pastorear são Suas; as alm as q u e h a v em o s de c o n q u is ta r fo ram com pradas pelo Seu precioso sangue; a casa espiritual que há de ser c o n stru íd a é para que Ele a hab ite. Tudo L he pertence. D eleito-m e em servir m eu Senhor e M estre, porque sin to um a b e n d ita com unhão de interesse com Ele. Não é minha a Escola D om inical, é do m eu Senhor; Ele m andou: “A lim enta a meus cordeiros”. N ão é minha a Igreja, mas é dEle, porquanto Ele ordena: “Apascenta às minhas ovelhas”. As m inhas são Suas, e as Suas são m inhas; sim , todas são Suas. Senhor Jesus, como me atrevo a ter a im pertinência de re iv in d ic a r coisas que são Tuas? N o e n tan to , quando contem plo a Tua Igreja, sou Teu servo de m odo tão com pleto, e tão p le n am en te absorto em T i, que a c o n sid ero com o coisa m inha tanto como Tua, e me disponho a servir àqueles que Tu amas. Vem conosco, Senhor, pela Tua m isericórdia. Am ém .

55

3 COMO ENFRENTAR OS MALES DA NOSSA ÉPOCA Até onde posso lem brar, cada ano tem sido um período extrem am ente crítico; e pela observação da história, cada seis m eses alguém escreve a resp eito da “ solene crise destes m om entos.” Há pessoas que crêem sem pre no perigo im inente do universo em geral e da Igreja de Deus em particular, e conseguem a d q u irir grande p o p u larid ad e clam ando sem cessar: “Ai de nós!” Não nos atrevemos a fechar os olhos aos m ales que nos rodeiam , mas podem os perceb er o p o d er divino sobre nós e dentro de nós, realizando os propósitos graciosos de Deus. Repetim os o que o Senhor disse a Josué: “Não tem as nem te espantes, porque Jeová teu D eus será contigo p o r onde qu er que fores.” Temos posto a nossa confiança no Deus vivo, que concederá a vitória final à Sua própria causa. No entanto, é sábio adm itir que nossos dias têm seus perigos e provas peculiares. O caleidoscópio varia; as cenas que se apresentam aos nossos olhos vão m udando, sejam para o bem ou para o m al; o bem possui infin itas varie­ dades, e tam bém o mal. Não estamos aflitos, como os nossos antepassados, os puritanos, pela perseguição e a opressão que nos privariam de nossos direitos civis e nossa liberdade de adorar a Deus. O mal assum iu entre nós uma form a m uito d iferen te, e é necessário que o enfren tem o s da m an eira como se nos apresenta. A frente de batalha é outra, mas não creio que o conflito seja m enos grave. Espero um a lu ta 56

Como Enfrentar os Males da Nossa Época mais feroz do que qualquer outra antes conhecida, e convém que nos preparem os para a batalha. Q uando Ele cin g ir a espada e aparecer no Seu cavalo b ran co , pod em o s estar certos de que ferirá com energia, e Suas flechas voarão em grande núm ero e velozm ente, enquanto por outro lado os inim igos lutarão furiosos. E n tre os m a le s da ép o ca é p re c is o q u e n o te m o s in icialm ente o retorno da superstição. O ritu alism o b ro to u entre nós e se estende como as ervas daninhas. M uitos se apegam a um cristianism o nom inal e aparente, com seus ritos e cerimônias. Fervorosos na defesa de suas idéias, percorrem m ares e terras para fazer um prosélito e até se sacrificam pela causa que abraçaram . Tal sistem a está em h arm o n ia com a idolatria inata do coração hum ano; satisfaz à vista e ao gosto, apresenta um m inistro visível e sím bolos externos, pelos quais o hom em n a tu ra l anela. P ro p õ e p o u p a r aos hom ens a necessidade de pensar, p o r oferecer um culto externo e apresentar um substituto que pratique a religião em lugar deles, mas, lam entavelm ente, afasta a criatura do real e espiritual, tentando dar-lhe consolo sem regeneração e o estim ula a oferecer-lhe esperanças sem que haja entrega à justiça de Cristo. O segundo m al, que considero igualm ente terrív el, é o aumento da incredulidade. N ão m e re firo à q u ele tip o de in c re d u lid a d e d eclarad a que zom ba das E sc ritu ra s e blasfem a do nom e do Senhor nosso D eus. N ão há m u ita m alícia neste tip o de d iabo; claram e n te se revela com o e sp írito do inferno! A tu a lm e n te anda solto um e sp írito mais perigoso, que se in troduz nas igrejas, sobe aos púlpitos e perverte de m odo notável o testem u n h o de alguns que lêm em alta conta, considerados como líderes em face da vasta c u ltu ra e da osten siv a in te le c tu a lid a d e . M acaulay dizia acertadam ente que a teologia é im utável; todavia estes liom ens contradizem tal opinião de m aneira prática, pois 57

UM MINISTÉRIO IDEAL, Vol. 2 seus ensinos variam tanto como o vento. Riem dos lim ites d o u trin ais e depreciam os ensinam entos precisos. Falam sem pre de “progresso”, e tem os ouvido isso até à náusea. Jam ais negarem os que os hom ens precisam p ro g red ir no c o n h ec im e n to da v erd ad e, e esse é e x atam en te o nosso alvo, pois confiam os que pelo estudo e através do ensino do E sp írito Santo, vam os p ro g red in d o . M as as palavras p recisam ser definidas. Q ue se e n ten d e p o r “p ro g resso ” nesse caso? Em que direção se move? Freqüentem ente é um progresso que se afasta da verdade, o qual pode ser cham ado “avançar para trás”. Falam de um pensam ento mais elevado, mas é “um subir para baixo”. E preciso que eu use seus term os, e fale de progresso; mas o p ro g resso deles c o n siste em d ista n c ia r-se do lu g a r que desejam sem jamais atingi-lo. M ostram -se por algum tem po atrativ as, pois há pessoas que são atraíd as p o r q u alq u er novidade, mesm o que seja falsa, porém após breve período, p o r falta de poder, não conseguem m an ter as pessoas. A falta de firm eza e segurança na apresentação da d o u trin a leva ao desastre, pois nada existe pior do que a vacilação no tocante à verdade. M uitos desses m estres conseguem adeptos entre os que p o r falta de firm eza são facilm en te arrastad o s, m as não exercem in flu ên c ia sobre os que lêem suas B íblias, que possuem experiência cristã e h ab ilid ad e para “p ro v ar os espíritos”. N u n ca apareceu ta n ta palha m olhada com o o que se p u b lic a hoje em dia em oposição à fé o rto d o x a ; o que ocorre é que vem acom panhada de erudição de tal m odo que a sua o b scu rid ad e dá a im pressão de p ro fu n d id ad e. Se dedicarm os tem po e paciência na le itu ra dos escritos dos pensadores m odernos, logo se decepcionarão do seu palavreado, da repetição das heresias antigas que pretendem passar por pensam entos originais, e de suas astúcias enganosas. 58

Como Enfrentar os Males da Nossa Epoca Basta um hom em de poder para quebrá-los como vasos de oleiro. “M ostrem -nos um hom em a quem valha a pena seguir”, dizemos, “e então não o seguirem os, mas lutarem os com ele. Por enquanto não é provável que abandonem os a Calvino, a Paulo e a A gostinho, para segui-lo.” A conselham -nos in ­ sistentem ente a renunciarm os as “crenças antiquadas” dos nossos antepassados por causa das supostas descobertas da ciência. Que é ciência? Em m uitos casos é o m étodo através do qual alguém procura ocultar sua ignorância. Não deveria ser assim, mas o é. Irm ãos, não devem ser dogm áticos em teologia porque é coisa ím pia; contudo para os cientistas, é correto. Vocês não devem afirm ar as coisas com m u ita veemência, porém os cientistas podem afirm ar ousadam ente o que não conseguem dem onstrar - e até exigir um a fé m uito mais confiável do que a que possuím os. C ertam ente o que devemos fazer é tom ar nossas Bíblias e adaptar nossas crenças às variadas teorias dos p retensos cientistas. Q ue loucura seria essa! Ora, a m archa da “falsam ente cham ada ciência”, em todo o m u ndo, consiste em enganos desm ascarados e c o n ceito s a b a n d o n a d o s. E x p lo ra d o re s a n tig o s, o u tro ra adorados, são agora objeto do ridículo; a contínua exposição de falsas hipóteses é um assunto universalm ente notório. E possível saber onde acam param pelo re síd u o de suas suposições que nelas deixam coisas im prestáveis. Como os charlatães que governaram o m u n d o da m ed icin a n u m a determ inada época passam a ser o escárnio da época seguinte, assim tem ocorrido e sem pre ocorrerá com esses sábios e pretensos cientistas ateus. D e todos os modos eles apontam fatos. N ão se envergonham ain d a de usar estas palavras? “Patos” m aravilhosos, forjados segundo a vontade deles a fim de desvirtuar os verdadeiros fatos que a Palavra de Deus já registrou! E ntretanto, as bolhas se desfazem e surgem outras; esperam que creiamos em qualquer coisa e, que, boquiabertos, nos im p re ssio n e m o s com o que surge. M as jam ais nos 59

UM MINISTÉRIO IDEAL, Vol. 2 ajoelharem os para adorar a estátua da sabedoria hum ana, apesar das flautas e harpas, dos jornais e revistas balofos, ou da propaganda de professores jactanciosos. Mostrem-nos um homem de ciência digno desse nome, e m e sm o a ssim o repudiarem os se se atrever a opor-se à verdade revelada. T odavia, a p o n tem -n o s um em quem a geração seg u in te possa crer - um que se possa com parar com Isaac N ewton e outros gênios que reverenciavam as Escrituras, temos que contender com a incredulidade, científica e não-científica, e devemos enfrentá-las em nom e do Senhor. O terceiro mal m anifesto em nosso tem po é um que, não só é grave, porém extrem am ente prejudicial; refiro-m e ao espírito de desintegração que envenena certas áreas da Igreja de D eus, causando m uita am argura e discórdia em vários setores. E natural que, após a conversão, a pessoa procure a ig reja com a qual está de acordo com a c o m u n id a d e cristã. O u tro s, no e n ta n to , se recusam re u n ir-se com os demais, mas preferem prom over reuniões em casa, alegando que rep u d iam o sectarism o e defendem a un id ad e cristã. D eixando de colaborar com um a organização reconhecida, p o r ser d e n o m in a cio n a l, passam a form ar um a p eq u en a denom inação própria. Não podemos im pedir a esses irm ãos, p o rq u e não p a rtic ip a m conosco, p o rém é in eg áv el que agindo dessa form a, isolados, p rejudicam a si m esm os e enfraquecem nossas igrejas, privando-as de cooperadores que lh e s seriam ú te is . R eceio que a lg u n s d e fe n d e m o conceito de que o trabalho fora da igreja é mais proveitoso do que os program as norm ais; mas espero que um pouco de experiência os ensinará melhor. O serviço cristão, desvin­ culado da igreja, é como semear e colher sem ter o celeiro onde arm azenar os frutos da colheita; é útil, mas incom pleto. A lguns irm ãos que “p en sam de si m esm os ser algo não sendo nada” procuram a oportunidade de achar um a esfera de a tiv id a d e o n d e p ro v a v e lm e n te nos cau sarão m en o s 60

Como Enfrentar os Males da Nossa Época dificuldades do que se perm anecessem nas igrejas. Q uanto m ais possam falar, se n te m -se m ais felizes; a g ra d a-lh es ouvirem a si m esm os. Sentem -se bem no am b ien te onde conseguem predom inar. Temos de enfrentar essa realidade, que não raro provoca pesar a m u ito s o breiro s que desse m odo são atingidos no mais profundo da alma. O quarto m al para o qual desejo cham ar a atenção de m odo especial é o crescimento da impiedade no país, p articu ­ larm en te de duas form as que não devem os ignorar. U m a delas é o acentuado mundanismo entre os que professam ser cristãos. Entregam -se a várias extravagâncias: costum es, vestes e d iv ersõ es lu x u o sas em que g astam as e co n o m ias das q u ais fo ram feito s m o rd o m o s. Vemos d e m asiad o gasto ostentoso, em pregado em prazeres m undanos e diversões duvidosas. E preciso que sejam os cuidadosos, sábios e ao m esm o tem po decididos no trato com esse m al crescente, pois do c o n trá rio perderem os toda a e sp iritu a lid ad e nas igrejas. A outra form a é o aumento do pecado da embriaguez em todo o país. Acaso não o têm notado com horror? O bservem a cifra a stro n ô m ica do d in h e iro dissipado com b eb id as, re s u lta n d o n u m a q u a n tid a d e in c a lc u lá v e l de v ic ia d o s, acidentes, crim es, enferm idades e m ortes. A que devemos atrib u ir tal consum o sem pre crescente? Esse m al é verda­ d e ira m e n te aterra d o r. E u c o n sid e ro a lei que fa c ilita o com ércio de bebidas alcoólicas um a das mais m alignas da legislação m oderna. P o rv en tu ra nossos com p atrio tas vão tornar-se o escárnio da hum anidade por causa da em briaguêz? O m undo m enosprezará a Igreja Cristã se não fizermos algo a respeito. C onsiderem o sofrim ento e a pobreza que são fruto do dinheiro gasto nesse vício, e o crim e que ine­ v itav elm en te o acom panha. O país está sendo d e stru íd o diante do Senhor, e corrom pido devido este pecado. Se os cristãos não se esforçam para deter o mal, quem o fará? Se 61

UM MINISTÉRIO IDEAL, Vol. 2 os m inistros não procuram com todas as suas forças aplicar um rem édio, o m undo pensará que o clam or deles contra a in cred ulidade e outros m ales não é sincero. O que não clama contra o lobo certam ente não está em luta contra o leão. F o ram apontados os m ales. Vejamos agora qual seja O R EM ÉD IO . Q ue havem os de fazer para en fren tar esta s u p e r s tiç ã o , in c r e d u lid a d e , d e s in te g ra ç ã o , c re s c e n te m undanism o e vícios avassaladores? Só tenho um rem édio a receitar, é que preguem os realm ente o evangelho do nosso Senhor e Salvador Jesus C risto em toda a sua extensão e larg u ra de d o u trin a, preceito, espírito, exem plo e poder. Indicar um só rem édio para m uitas enferm idades do corpo é tarefa de curandeiro, porém isso não acontece no que se refere às mazelas da alma, pois o evangelho foi divinam ente com posto para sanar todos os m ales da hum an id ad e, por mais que difiram uns dos outros. Temos apenas de anunciar o evangelho vivo, todo o evangelho, para debelar os males da época. O evangelho, se plenam ente recebido em toda a terra, extirparia toda a escravidão e toda a guerra, elim inaria toda a em briaguês e os dem ais males sociais; de fato, não se pode conceber um a m aldição m oral que o evangelho não possa sanar, inclusive os males físicos, m uitos dos quais in cid e n talm en te se originam do pecado, seriam b astan te m itig a d o s, com o o u tro s até e x tirp a d o s p a ra sem p re. O espírito do evangelho, aplicado a tudo que se refere ao bem-estar do nosso próxim o, fo m en taria reform as san itárias e sociais, e assim as folhas da árvore, que “servem para a saúde das nações”, alcan çariam seu p ro p ó sito benéfico. D ivulguem o evangelho, irm ãos, e estarão aplicando o único p ro p ó sito u n iv e rsal e in falív el. D êem o pão da v id a às m u ltid õ e s n e c e ssita d a s, e as e n fe rm id a d e s e m ales da h u m a n id a d e caída serão d iv in a m e n te elim in ad as. E stou certo disso. 62

Como Enfrentar os Males da Nossa Época Temos suficientes provas de que o evangelho se defronta eficazm ente com a superstição. Lem os no livro do Apocalipse: “Caiu B abilônia”, e a vemos lançada como pedra de m oinho na correnteza. Acaso não era, como lemos em capítulo 14, versículo 6: “vi outro anjo voar pelo meio do céu, o qual tin h a o evangelho e tern o p ara pregá-lo aos que m oram na te rra ” ? E n tre o vôo do anjo e a queda de B ab ilô n ia há um íntim o relacionam ento. Se tivessem de en trar num a casa a rru in a d a , e não p u d essem s u p o rta r a g rita ria das corujas e a presença dos morcegos, desejando dispersá-los, bastaria que fizessem resplandecer a luz bendita nos lugares ab an d o n ados, e os m orcegos e as corujas logo fugiriam . Q u a n d o as to c h as b rilh a re m em to d o s os re c a n to s , as criaturas das trevas abandonarão a cena. Q uerem term inar com a regeneração batism al, a m en tira entre as m entiras? P roclam em a regeneração e sp iritu a l pelo E sp írito Santo e exaltem a atuação do E spírito do Senhor. Vocês desejam que as pessoas reconheçam o engano do sacerdócio rom ano? A nunciem o sacerdócio eterno do nosso grande M elquised eq u e. Se q u e re m d e s tr u ir a c re n ç a nos sa c ra m e n to s, proclam em a substância, da qual as ordenanças são apenas som bra. Verão que se puserem alim ento sólido d iante das pessoas, elas se apartarão das cascas, estando D eus com vocês para dar-lhes sabedoria a fim de discernir en tre as coisas que são distintas. Em relação à incredulidade, irm ãos, dou-lhes testem unho de que a exposição do evangelho serve para enfrentá-la. Certo tipo de pregação, que oferece pom bais aos que possuem as pom bas da dúvida, atrairá a m uitos, como às aves as suas janelas favoritas. Preguem as doutrinas da graça, irm ãos, e os que re je ita m o seu S e n h o r serão tra n s fo rm a d o s ou m udarão de pregador. A nunciem o evangelho de m odo bem decidido e firm e, não im portando o que outros digam contra, e D eus será com vocês. Alguns gostariam que tratássem os a 63

UM MINISTÉRIO IDEAL, Vol. 2 Bíblia como se ela fosse o som de um sino de igreja, que toque aquilo que gostam os; mas nós proclam am os a v er­ dade das E scrituras como a trom beta, que em ite um som determ inado, a fim de que as pessoas com preendam o seu significado. Adapta-se aos progressistas o lema: “Sempre aprendendo”. O rgulham -se de estar sem pre aprendendo. Aceitem -no, se o q uiserem , m as usem -no de m odo com pleto: “A p ren d em sem pre, sem jamais chegar ao conhecim ento da verdade” (2 Tim. 3:7). Eles mesmos confessam que não chegaram a um co n h ecim en to d efin id o , pois sem pre dizem que pregam hoje o que talvez rejeitem am anhã... P reguem a verdade com todo o seu coração à m edida que Deus lhes ensina, e anularão a influência da praga. Q uanto à desintegração, não conheço outra m aneira de m an ter unido o povo de D eus como dar-lhes abundância de alim ento espiritual. Certo pastor hum ilde afirmava que segurava às suas ovelhas por meio dos dentes, pois lhes dava tão bom alim ento que não podiam achar outro m elhor, de m odo que perm aneciam com ele. Seja este o nosso m étodo, com a aju d a do E s p írito Santo. A tuem os ta m b é m , p o r m eio da nossa pregação, para que a com unhão na igreja seja mais real. Sempre estamos falando de amados irm ãos e irm ãs, m as, observando bem , quanta fratern id ad e v erd a­ deira existe na m aioria das igrejas? Não é de se estranhar que pessoas iniciem pequenas reuniões particulares, num a tentativa de m anterem m aior com unhão. Esforcem -se por fazer que a com unhão na igreja seja cheia de vida e de amor, pregando e vivendo o evangelho do am or e da fraternidade. Sejam para o seu povo como um pai para os filhos ou um irm ão mais velho para os m ais novos, tom ando-se bênção para eles, e ao mesmo tem po lutando eficazm ente contra o mal da desintegração. Q uanto ao terrível tema da embriaguez, creio que há m uitos 64

Como Enfrentar os Males da Nossa Época alívios para a enferm idade, porém estou igualm ente certo de que não existe cura com pleta e universalm ente aplicável fora do evangelho. A m elhor m aneira de conseguir tom ar um hom em sóbrio é levá-lo a C risto. E p ru d e n te usar os recu rso s que os m o v im en to s p ró -te m p e ra n ç a d iv u lg am am plam ente, usando-os como seus aliados. Sejam os seus hábito pessoais do tipo que vence o mal. Que o assunto e o tom da sua conversa sejam sem pre afáveis em referência àqueles que lutam contra esse inim igo, ainda que não venham à sua plataform a, pois o adversário é tão forte e destruidor que não devemos dispensar n en h u m a ajuda honesta. Mas sobre tu d o , o evangelho é a arm a especial no co n flito . M esm o se todos os hom ens fizessem prom essas de a b sti­ n ência to tal, não se to rn a ria m sóbrios por m u ito tem po, p o rq u e eles não têm forças p ara c u m p rir as prom essas. C o n tu d o , se seus corações são m udados ao se to rn a re m crentes no Senhor Jesus C risto, então pela graça divina a co n stitu ição m en tal será fortalecida, as prom essas serão cum pridas e os vícios abandonados. Até aqui tenho conduzido os irm ãos pelo cam inho da verdade em geral, m as agora lh es a p re se n ta re i alg u m as exortações práticas. O antigo evangelho precisa ser pregado, e da m e lh o r m a n e ira possível. Com a b ên ção de D eus tem os de tra b a lh ar de tal m odo na igreja que, tan to nós com o os co m p an h eiro s da co m u n id a d e, co n firm em o s o testem u n h o do evangelho e estejam os unidos de coração para divulgá-lo. Em prim eiro lugar, épreciso que tenhamos mais conhecimento do evangelho. N em todos os m inistros entendem o evangelho; m uitos deles que conhecem suas partes elem entares, nunca chegaram a com preender e a pregar o todo, e mesmo o que mais o conhece precisa ainda entendê-lo melhor. A omissão de um a d o u trin a, de um a ord en an ça ou de um preceito, pode re s u lta r em sério prejuízo. M esm o aqueles p o n to s 65

UM MINISTÉRIO IDEAL, Vol. 2 que alguns julgam triv iais, não o são p ara quem encara seriam ente o m inistério. A inda que à prim eira vista possa p a re c e r com o se n ão tiv e sse im p o r tâ n c ia o m itir um a doutrina secundária, não o façam; o Senhor que a incluiu n a P alav ra é in fin ita m e n te sábio e, p o rta n to , não será prudente aquele que a omite. C um pram toda a sua missão: “ E n sin a n d o -o s a g u a rd a r tu d o que vos foi m a n d a d o .” Preguem o evangelho por toda parte, porém assegurem -se bem de que proclam am todo o evangelho da m aneira que Deus lhes revelou, e não preguem outra coisa. P ara alcançar isso, som os obrigados a e sq u a d rin h a r e p e sq u isa r a fim de c o n h e c e r m ais e m ais da P alav ra in sp irad a. P o rv en tu ra já descobriram que o evangelho é sem elhante a um a caverna em que precisam en trar levando a tocha do Espírito Santo, o qual é o único que lhes pode revelar todas as coisas? Acaso não ficaram surpreendidos ao chegar à prim eira câm ara e ver sua luz prateada? O bser­ v aram os teso u ro s ao re d o r, p o is as p a re d es são com o lingotes de prata e o teto como se estivesse pendurado por um a filigrana desse m etal precioso? Ao exclam arem “A chei!” cheios de alegria, um ser resplandecente lhes disse: “Vem cá, e lhes m ostrarei coisas maiores do que estas.” Passaram por um portal não percebido antes e perante seus olhos se abriu outra câmara, mais espaçosa que a anterior, com solo, teto e demais partes de ouro puro, sem elhante a cristal transpa­ rente. Então concluíram : “Agora entrei no santuário mais recôndito da verdade.” No entanto, havia m ais para con­ tem plar, pois de novo aquele ser resplandescente os tocou e logo se abriu outra porta secreta, e se encontraram num vasto salão onde passaram a ad m irar pedras preciosas de to d as as form as que b rilh a v a m com o m il firm a m e n to s repletos de estrelas. Agora, talvez, tendo contem plado tais tesouros, pensam que nada m ais resta; todavia, n e n h u m m ortal jamais viu plenam ente a glória de D eus, e o Espírito 66

Como Enfrentar os Males da Nossa Época divino espera levar-nos pelo estudo e pela oração a um a visão ainda mais clara das coisas profundas de Deus. P a ra p re g a r bem o e v a n g e lh o p re c is a m o s te r ta l conhecim ento dele que nos tornem os competentes na nossa pregação. E indisp en sáv el que o ten h am o s no coração, e tam bém , como se diz vulgarm ente, na flor dos lábios. Temos de ser abastados para poderm os espalhar tesouros. P rec i­ sam os ser escrib as bem in s tru íd o s para p o d e r e n sin ar. N inguém m enospreze o estudo privado e a com unhão com Deus. Podem lançar mão da provisão acum ulada, mas logo se esgotará. Recolham o m aná fresco cada m anhã, d ireta­ m ente do céu. A regra de D eus é que cada um encha sua própria vasilha. Recorram ao a u x ílio dos livros, se o desejam; mas não preguem livros, e sim a Palavra viva. A dquiram m uitos conhecim entos espirituais e os adm inistrem ao seu povo. E m seg u n d o lugar, é preciso que procuremos ter uma relação mais profunda e mais experimental com o evangelho. Referim o-nos àquilo que é produto da experiência. Acaso alguém conhece realm ente um a verdade antes de conhecê-la por experiência? Esta é a razão pela qual os servos de D eus têm de passar por tantas provas, a fim de que realm ente consigam a p re n d e r m uitas verdades que de o u tro m odo não po d eriam assim ilar. Será que aprendem os m u ito em dias favoráveis? N ão nos são m u ito m ais proveitosos os tempos adversos? Já descobriram que enferm idades, aflições e depressões do e sp írito lhes têm in s tru íd o em m u ita s coisas que a tranqüilidade e os deleites jamais transm itiram ? Deveríam os aprender tanto no gozo como na tristeza, mas é uma lástim a que isso não ocorra; precisa vir a aflição para que aprendam os por meio de açoites. O m inistro que maneja a Palavra de Deus como quem a conhece e experim enta, logo é reconhecido pela congregação. Mesmo o incrédulo reconhece a capacidade do hábil cirurgião 67

UM MINISTÉRIO IDEAL, Vol. 2 de alm as. H á um m odo de com unicar o evangelho, seus p rivilégios e seus deveres, num estilo que não chega ao coração. E preciso que tenham os um a experiência pessoal das coisas de D eus. Q uanto à nossa p ró p ria depravação, precisamos senti-la e lam entá-la; e quanto ao glorioso poder da graça de D eus e as m aravilhosas riq u ezas de C risto , tem os que senti-los operando em nossas alm as, cada vez m ais, se é que desejam os preg ar com p o d er e co m b ater os males da época. Em te rc e iro lugar, é preciso apegar-nos ao evangelho mais consistentem ente. P e rm ita m -m e d e s p e rta r as su as m en tes esclarecidas. Já te n d o estas coisas, co n cito -o s a desenvolvê-las. C onstantem ente deverem os tra n sm itir os simples rudim entos do evangelho. E incrível que depois de ta n ta pregação havida no país, tão pouco do evangelho é en tendido pelas massas. São ainda m eninos, e precisam de que se lh es re p ita o ABC do e v an g e lh o de C risto . Apeguem-se a estes temas que levam à salvação, os que são p ra tic am en te úteis ao povo. N ão se separem da cruz de Cristo. D estaquem continuam ente o sacrifício expiatório e a d o u trin a da justificação pela fé, as quais, quando co rreta­ m en te p ro clam ad as jam ais serão p rivadas da aprovação divina. Todas as verdades são im portantes; que cada um a tenha seu devido lugar; mas não consintam que nenhum a verdade secundária os separe das principais. Aristóteles, em sua História Natural , tão m aravilhosa porém pouco natural, nos inform a que na Sicília existe uma planta dos campos e dos bosques que possui tal fragrância que os cães perdem o rastro da presa e deixam de caçar. Tenhamos cuidado com essas ervas. Em nossas m entes sentim os grande fascínio pela p o esia, a v e rd a d e ira ciên cia, a m etafísica e o u tra s coisas sem elh an tes; mas que esses perfum es jam ais nos impeçam de alcançar os pecadores que precisam os conduzir a Cristo.

Como Enfrentar os Males da Nossa Época C erta m ulher estava m uito atarefada tentando retirar da casa incendiada os quadros e móveis de mais valor. Fazia tempo que se esforçava para salvar seus pequenos tesouros quando, de repente, observou que faltava um dos m eninos. Ele ficara na casa in cen d iad a e quando a m ãe p ro cu ro u trazê-lo, a h ab itação havia sido d e stru íd a pelas cham as e a criança perecera carbonizada. Em desespero indescritível, a pobre m ulher contorcia as mãos nervosam ente e gemia lam entando a sua loucura, pois ao preocupar-se em conservar os objetos, p e rd e ra algo de v a lo r in f in ita m e n te m aio r. D e m o d o sem elhante, todas as curiosidades da ciência, os discursos pom posos e os conceitos filosóficos que puderem salvar do fogo, não farão senão acusar sua consciência se perm itirem que as almas dos hom ens pereçam . Epreciso que as salvemos; não d e sp e rd ic e m o s as dezenas de d o m in g o s q u a n d o as almas preciosas estão à espera das boas novas de m isericórdia. Ao ouvir determ inados serm ões, interrogam os qual o objetivo do pregador ao prepará-los, e a única resposta é que desejava exibir-se. Conta-se que o famoso B ernardo certa vez pregou dem onstrando maravilhosa eloqüência e dicção poética, deixando o auditório extasiado, mas depois se retirou inquieto e foi ao deserto, onde passou a noite só, jejuando p o r causa de sua tristeza. No dia seguinte, apresentou outro lipo de mensagem , e, ao ouvi-lo, as pessoas refinadas que o haviam escutado no dia anterior, não se im pressionaram , inas os hum ildes entenderam suas palavras e as beberam . Apesar de ouvir críticas, o pregador retirou-se com o rosto sorridente e foi alim entar-se com o coração cheio de gozo. Q uando alguém lhe perguntou a causa, respondeu: “O ntem preguei Bernardo; mas hoje preguei Jesus Cristo.” Assim, irmãos, nos sem iremos felizes q u an d o p regarm os C risto . P o rta n to , apeguem -se mais e mais ao evangelho. Preguem Cristo, e só Cristo. Saciem as pessoas, m esm o que alguns os considerem exagerados, pois isso está de acordo com a m ente do Senhor. 69

UM MINISTÉRIO IDEAL, Vol. 2 Q uero acrescentar que, em nossa pregação, é preciso que sejamos cada vez mais ativos e práticos. Tem os de p reg ar como hom ens a hom ens, não como teólogos ante o clero e a nobreza. Pregar diretam ente para eles. Não convém disparar o fuzil na direção do céu quando o objetivo é p erfu rar o coração dos hom ens. Sua m issão é a tin g ir diretam en te o coração e a consciência. D isparem no p ró p rio centro do inim igo. Busquem o efeito - efeito sobre a consciência e o coração. Q uantos pregadores têm a habilidade m aravilhosa de falhar! Um deles disse: “Não tem am ; nunca personalizo.” Tranqüilize-se, amigo, porque o m inistro já praticou m uito e sabe como evitar qualquer dano com o uso de verdades dem asiadam ente pessoais! Irm ãos, cultivem essa arte, se desejam ser rep rovados, e que seus o u v in tes se percam tam bém ; mas se querem ser instrum entos de salvação para si e para os que os ouvem , clam em ao S enhor p ed in d o -L he fidelidade, senso prático e autoridade para realm ente comover os corações. Q ue p ro v eito haverá em falar acerca do evangelho? Preguemos o evangelho mesmo. Não esperem alarm ar o inim igo descrevendo um canhão, mas utilizem sua artilharia e abram fogo. Não se contentem em descrever a paz que alcançam os que crêem , porém anunciem a verdade através da qual os homens, crendo, obtenham a paz que descrevem. Necessitamos mais da pregação “ativa” e m enos da “discursiva”. Lançem -se à tarefa com firm eza, m esm o que te n h a m de agonizar. M ostrem -lhes seu pecado e roguem ao E sp írito que lhes abra os olhos. O uvim os d iscursos nos quais o m in istro rogava a Deus que salvasse almas, mas não era possível ao Todo-poderoso usar tais discursos para tal propósito, pois consistiam em meros jogos de palavras ou um a exposição de opiniões insignificantes acerca de sistem as filosóficos. Cham em ao Senhor que salve os seus ouvintes e dirijam -se 70

Como E nfrentar os Males da Nossa Época a eles como se vocês mesmos pudessem salvá-los. Confiem em D eus e ao m esm o tem po em preguem argum entos tão lógicos que convençam o entendim ento, e apelos tão práticos que com ovam o coração de tal m aneira que, se os efeitos dependem das causas, tais efeitos sejam alcançados, um a vez que a mão de D eus está com vocês. Apenas preciso acrescentar que é necessário que sejamos mais e mais simples e claros na apresentação do evangelho. As vezes os jovens são fascinados por algum famoso pregador cujo estilo é g ran d iloqüente, sublim e ou com plicado. Eles observam o m agnífico resultado, m aravilham -se e chega o m om ento em que tentam experim entar aquele estilo; colocam a bota de sete léguas e a conseqüência é rid ícu la e, p io r ainda, e sp iritu a lm e n te in ú til. Q u a n d o alguém tra ta de ser su ­ blim e à base de frases rebuscadas, dicção pom posa e m aneiras exageradas, o fracasso será inevitável. Também há entre os jovens a tendência de usar excessivam ente citações poéticas. Irm ãos, esse estilo é m u ito form oso, mas não se deixem seduzir por ele. Tanto quanto possível, evitem toda oratória artificial e a falsa eloqüência. Falem com o coração e não se p reo cu p em com tais artifícios. N ão im item os o radores, porém dem onstrem o verdadeiro am or pelas almas e terão a g en u ín a eloqüência. Os pecadores que estão perecendo não p recisam de suas poesias, e sim de C risto. O que o m inistro necessita fazer é ser o m eio para salvar alm as; não esqueçam disso. Se os soldados podem vencer um a batalha e ao mesmo tem po cantar m elodias, que não deixem de fazê-lo; m as se, p e n sa n d o na h a rm o n ia , d eix am de a tac a r eficazm ente o inim igo, que cessem os cantos im ediatam ente. Jovem guerreiro, m onte em seguida em seu cavalo, considere o púlpito o seu corcel e lançe-se à batalha ferindo à direita e à esq u erda com zelo indom ável. Ao regressar, terá m ais h o n ra de seu M estre do que aquele que fico u em casa polindo a arm adura para depois sair em busca de admiração. 71

UM MINISTÉRIO IDEAL, Vol. 2 Apresso-me a observar que, se o evangelho há de enfren­ tar os males da época, é indispensável que o exemplifiquemos em nossas vidas quando não estamos no púlpito. Que a m ensagem que pregam os seja ilustrada nas vidas através da abnegação e sacrifício de si mesmos. Que a graça divina seja m ostrada no zelo, paciência, renúncia e confiança em Deus. Avante, irm ãos, em nom e do Senhor. Não sofrerão m ais do que o necessário. Se for o caso, aceitem o sofrim ento com gozo. Se n ão p o d e m o s v e n c e r sem p e rd e r a lg u n s h o m e n s , não v acilem os nem um m o m en to . Se não fo r p o ssív el tom arm os a posição inim iga sem encher a trin c h e ira de corpos m ortos, saltemos dentro. Não recuemos jamais ante a pobreza, o vitupério ou o trabalho duro; mas determ inem os que a antiga bandeira seja levada até o ponto m ais alto da fortaleza, e em nom e do Senhor Jesus C risto o erro seja pisado como a palha. Nossa causa é digna do m áxim o zelo; se pudéssem os d erram ar nosso sangue em m il m a rtírio s cada dia, a causa o m ereceria. E sta é a causa de D eus, a causa de Cristo, a causa da hum anidade. Irm ãos, preguem o evangelho, p reg u em -n o de m odo com pleto, m e d ia n te o E sp írito Santo enviado do céu, e a in d a serão o m eio de ajudar a salvar este m undo que perece; mas que Deus lhes dê graça para viver no espírito do evangelho, ou do contrário fracassarão inevitavelmente. D igna de elogio é a atitude do obreiro que está disposto a perm anecer ou a retirar-se para outro campo, se percebe que será mais útil noutra parte. N unca devem ser movidos p o r m otivos egoístas; m as estejam sem pre p ro n to s para atender à cham ada do seu Capitão. Que cada um possa dizer com sincera convicção: “foi o E sp írito de D eus que m e trouxe para cá, e nunca me irei daqui a não ser que Ele me indique.” O nde quer que estejam, o im portante é que cum ­ pram fielm ente a sua missão e glorifiquem a Deus. Sejam santos, revestidos da graça, orando sempre, desinteressados; 72

Como Enfrentar os Males da Nossa Época sejam com o o S en h o r Jesu s; só assim suas v id as serão consistentes com o evangelho que são cham ados a anunciar. U m a coisa mais. Tratem os de saturar-nos do evangelho. Posso pregar m elhor quando consigo absorver o m eu texto. D eleito-m e em achar um texto e descobrir o seu significado; após haver-m e m ergulhado nele, logo me rendo a ele e deixo que me encha. Então o texto m e quebranta, me fortalece e produz em m im o necessário; só então posso falar a respeito dele. Não é necessário que sejam m uito m eticulosos acerca das palavras e frases se o espírito do texto os encheu; os pensam entos surgirão. Saturem -se de bons aromas e eles os perfum arão; doce fragrância em anará de vocês em todas as direções; nós a denom inam os unção. Acaso não nos encanta escutar a um irm ão que sem pre está em com unhão com o Senhor Jesus? M esmo que seja por uns poucos m inutos, um hom em assim nos restaura, pois, à sem elhança do seu M estre, suas veredas destilam gordura. Perm aneçam na verdade e perm itam que a verdade esteja em vocês. Encham -se do seu espírito e influência para que possam tran sm itir tudo isso aos outros. Se não crêem no evangelho, não o preguem , pois carecem das capacidades essenciais; mas ainda que o creiam , não o anunciem até que o tenham absorvido como a m echa absorve o azeite. P ara m im , o evangelho é algo mais que assunto de fé; está de tal m odo identificado com m euser que se tom ou p arte da m in h a consciência, p arte integral da m inha m ente, a qual jamais poderá ser arrancada. A fé no antigo credo ortodoxo não é para m im assunto a escolher. D izem -se freqüentem ente que teria de exam inar a fundo os diversos pontos de vista m odernos que sem pre estão surgindo. D eclino o convite; posso cheirá-los e com isso ten h o bastante. N ada percebo neles que glorifique a Deus ou exalte a Cristo, e sim m uito que serve para envai­ decer a natureza hum ana. Espero que as verdades do evangelho se tenham tornado 73

UM MINISTÉRIO IDEAL, Vol. 2 a razão da nossa vida; a experiência as tenha incorporado em nosso ser. Prostrados pela dor, nada lhes bastará senão as realid ad es da graça. E n ch am de filosofia u m coração enferm o, e digam -m e se aliviará sua agonia. Tomem um trago de pensam ento m oderno, e vejam se cura o desespero. Vão à cabeceira dos m o rib u n d o s, ao se aproxim arem da eternidade, e digam -m e se os princípios da m oderna escola teológica podem ajudar aos enferm os a m orrer em triunfo. Irm ãos, exorto-os a se apegarem ao evangelho, deixando que suas almas se encham dele, e oro para que possam arder com ele. Q uando a m echa estiver saturada, apliquem a chama. O fogo do alto c o n tin u a sendo a necessidad e da época. Q uando o fogo alcança a vasta floresta, tudo que está seco ou m urcho desaparece ante o seu terrível avanço. Que Deus mesm o, que é um fogo consum idor, arda sem pre em vocês como na sarça de H orebe. Em igualdade de condições, o que tiv e r m ais fogo div in o é o que realizará m ais. Esse elem ento sutil e m isterioso cham ado fogo, quem sabe o que é? E um a força de poder inconcebível. Talvez seja a força m otriz de todas as forças, pois a luz e o calor do sol são a alm a da energia. Não há dúvida de que o fogo, tal como está em D eus, ao descer sobre os Seus servos, torna-se um a energia onipotente. Talvez a cham a consagrada os consum a, devorando a saúde corporal pelo excesso de ardor da alma, do m odo com o a espada afiada desgasta a b a in h a; m as, que im porta? O zelo da casa de Deus consum iu o nosso M estre, e não m e ad m ira se tam bém devorar a Seus servos. Se, pelo excesso do trab alh o , m orrem os antes de alcançar a idade de outros hom ens, desgastados no serviço do M estre, glória a D eus, porque se tiverm os pouco tem po na terra terem os bem mais no céu! Se formos insultados, depreciados ou difam ados por causa de C risto, glória a D eus, porque tivem os um a reputação para perder por Sua causa, e bendito seja o Senhor, que nos considerou por dignos de perdê-la! 74

Como Enfrentar os Males da Nossa Época Ardam intim am ente em consagração a D eus, e logo b rilharão com fulgor no púlpito. Eu lhes apontei os males, irm ãos; não os esqueçam. M as só existe um rem édio para eles. P reguem Jesus C risto, e façam isso cada vez mais. Em qualquer circunstância e em todos os lugares, preguem os a Cristo. Escrevam livros, se gostam , e façam tudo o que lhes estiver ao alcance; m as ainda que não possam realizar outra coisa, preguem Cristo. Se não puderem sem pre visitar as pessoas, em bora espero que não falhem neste aspecto do m inistério, não deixem de pregar o evangelho. O diabo não pode agüentar a pregação do evangelho; nada o incom oda e preocupa tanto. Os falsos mestres não a toleram ; coisa algum a os angustia tanto como a pregação. A pregação é nossa arm a; usemo-la constantem ente. A pregação é o aríete do Senhor, com o qual as m uralhas da antiga Babilônia são sacudidas até os fundam entos. Preguem , irm ãos, preguem e continuem pregando até que não possam mais, e então sigam para entoar os louvores de D eus no céu e proclam ar aos anjos as m aravilhas da graça redentora.

75

4 OS MALES DE NOSSO TEMPO: NOSSOS OBJETIVOS, NECESSIDADES E ENCORAJAMENTOS In icialm en te esclareço qu e nossa dispu ta não é contra hom ens, e sim contra um outro evangelho, que não é outro, com o qual m u ito s nos p e rtu rb a m . D eixem os de person alism os, mas contendam os fervorosam ente pela fé um a vez dada aos santos. Talvez não seja fácil fazer distinção en tre as pessoas e suas opiniões, mas esforcem o-nos para a lc a n ç a r esse o b je tiv o . R ed u z a m o s a fa ls id a d e ao pó, porém desejemos do m ais íntim o de nossa alma o bem do que são enganados p o r ela. N ão lutam os c o n tra carn e e san g u e , m as tã o -s o m e n te c o n tra o e rro m o rtífe ro que procura dominar. D esejo falar-lhes de tal m odo que possam cin g ir-se p ara a b a ta lh a c o n tra todo o pecado e falsa d o u trin a , e p re p a ra r-se para seg u ir seu d iv in o S en h o r em to d o s os Seus santos com bates. Q ue possam receber in sp iração e e stím u lo p ela c o m u n h ã o com o S e n h o r e u n s com os outros. Q ue D eus m e ajude a expressar-m e de m aneira a dar um tom saudável à nossa comunhão! Nosso tem a nos exorta a dar-nos conta da época em que vivemos. Vamos exam iná-la, procurando descobrir se nela prevalece um espírito sadio ou um coração m au e incrédulo.

76

Os Males de Nosso Tempo. M eu assunto é:

OS MALES DE NOSSOS DIAS N inguém pode discutir que há males que são constantes através de todos os tem pos; por outro lado, há certas febres interm itentes que só aparecem de vez em quando. H á males para todas as estações: males de inverno, males de verão, males de outono, males de prim avera. M ales que se desenvolvem neste período especial, mas que não nos eram tão conhecidos há vinte anos. A tualm ente nos defrontam os com o erro e com o pecado, em formas que não costum avam m anifestar-se nos anos iniciais do nosso m inistério. A verdade é um a só e a m esm a em todas as épocas, mas a falsidade m uda de forma, vindo e desaparecendo como as m odas de vesrir. Para as coisas más tam bém há um a ocasião, e um tem po apropriado para toda doutrina que não vem do céu. Talvez vocês ten h am se d e fro n ta d o em seu tra b a lh o p asto ral com o grande m al de pôr em dúvida as verdades fundamentais. E n tre m inistros tem sem pre surgido divergên­ cias em pontos secundários, e não tem sido incom um nos reunirm os para debater assuntos de doutrinas, baseando-nos nas Escrituras. Todos estávamos de acordo que era decisivo aquilo que as E scrituras afirm assem ; apenas desejávam os d e sc o b rir o que o S enhor revelara. M as agora há o u tra form a de discussão: hom ens põem em dúvida as Escrituras m esm as. A lguém chegou a d iz e r com re fe rê n cia a um a doutrina: “A inda que a Bíblia dissesse, não o creria” . Isso é algo novo em nosso Israel. P ara alguns o en sin o bíblico não é de autoridade definitiva; sua consciência íntim a, sua cultura ou algo desconhecido é seu ponto de referência, se é que o possuem . A fonte da inspiração já não está na Bíblia nem no E spírito Santo, mas na própria inteligência hum ana. Já não é: “Assim diz o Senhor”, mas “Esta é a opinião do pensam ento m oderno”. 77

UM MINISTÉRIO IDEAL, Vol. 2 Antes havia debates sobre a redenção particular ou geral, porém agora m uitos põem em dúvida se há redenção digna desse nom e. O utrora discutíam os sobre qual o aspecto da expiação a ser m ais destacado, m as todos aceitávam os o sacrifício vicário. Chegou o tem po em que se nega a substi­ tuição e se refere à doutrina da purificação do pecado através do sangue de C risto com o algo vergonhoso. N o passado descrevíam os a justificação pela fé de m aneiras diversas; atu alm en te m uitos rejeitam o assunto p o r com pleto. H á pouco, certo pregador declarava que mesmo que um pecador se arrependesse e cresse no leito de m orte, haveria de sofrer por um período de tem po no outro m undo. Dessa m aneira, a salvação pela fé transform a-se num a espécie de purgatório! Isso não é divergir quanto à fé, mas repudiá-la por completo. Não sei o que desejam afirm ar nossos irm ãos ao negarem o predom ínio geral da incredulidade. Será que estão obsti­ nadam ente surdos e cegos? Vivem no lado obscuro da lua? Jornais divulgam apologias do m aom etism o e do budism o, exaltando essas religiões às expensas do cristianism o; isso é sinal dos tempos. Vozes se levantam exigindo “progressos na teologia” . Replicamos que m udam os hom ens, mas a verdadeira fé p er­ manece im utável. A m enos que tenham os im utabilidade em alguns pontos, a fé é impossível. O nde se há de edificar um a fé firm e se não há um a rocha, porém apenas areia movediça? Q uanto a nós, encontram os a infalibilidade nas E scrituras do Velho e Novo Testam entos, e nosso único desejo é que o E spírito Santo no-las abra ao nosso espírito. Que inventem um evangelho m utável aqueles que quiserem , mas nós cremos em Jesus Cristo - “o mesmo ontem , hoje e eternam ente”. Nestes tem pos somos postos à prova pela m aneira em que m u ito s atacam a verdade, apresentando-a fa lsa m en te ou distorcendo-a de maneira ímpia. Os q u e nos c o m b a te m ap eg am -se a u m a d o u trin a 78

Os Males de Nosso Tempo. particu lar como se fosse a única coisa em que crem os, ou pelo m enos o aspecto p rin c ip a l dos nossos en sin o s. Por exem plo: apenas m encionei a d o u trin a do castigo eterno na atual controvérsia,* mas os defensores do “pensam ento m oderno” tentam realçá-la em todas as ocasiões, no entanto sem pre apresentando o lado incorreto dela, esforçando-se para tom ar-nos objeto de crítica perante a opinião pública. Todavia, isso não nos im p o rta m u ito , pois não abafam os a verdade por nos parecer terrível. D e fato, ela nos m ostra o tipo de pessoas que nos fazem oposição. O m esm o ocorre com o u tras d o u trin a s que tam b ém d efen d em o s; são o b jeto c o n sta n te de evasivas, ou pelo m enos, de falsas interpretações. Se nossos oponentes apresen­ tassem o caso devidam ente, não nos im portaria; mas isso não serv iria a seus p ro p ó sito s. D ias atrás um afirm ava: “D e testo o te x to que diz: A m ei a Jacó, m as ab o rre ci a Esaú”. “Por que?”, interrogou um amigo, “que dificuldade você e n co n tra? ” A resposta foi: “N ão posso ver p o r que Deus aborrecesse a Esaú”. Nosso amigo acrescentou: “Não me surpreendo em nada que D eus aborreceu a Esaú; mas sim m u ito m e adm iro de que D eus am asse a Jacó. Isso é certam ente um a m aravilha da graça; no outro caso não é mais do que a aplicação da justiça” . Se é certo que anunciam os “o terror do Senhor”, posso dizer que “persuadim os aos hom ens” com todo o carinho. Não levamos hom ens a Cristo à força, mas com m uita m ansidão e paciência nos esforçamos em atraí-los com am or e im pulsioná-los m ed ian te copiosas lágrim as. Temos vivas apreensões quanto à ira vindoura, portanto encaram os o assunto com enorm e seriedade. Não nos alegremos em que pereçam; causanos pesar o pensam ento de que m orram em seus pecados. Mas não é justo cham ar-nos cruéis por sermos sinceros em Controvérsia entre Spurgeon e a União Batista da Inglaterra

79

UM MINISTÉRIO IDEAL, Vol. 2 interp retar as ameaçadoras admoestações das Escrituras. E n tr e ta n to , e rrô n e a s c o m p re e n sõ e s e falsificaçõ es constituem um mal que temos de enfrentar constantem ente. P rocuram debilitar nossos testem unhos, confundindo aos instáveis e trazendo incredulidade a m uitas m entes. Nosso evangelho é idôneo para lutar contra essas dificuldades. Não deixemos de confiar nele; mas, ao mesmo tempo, não fechemos os olhos ao fato de que esta forma de mal surge entre nós, e havemos de combatê-la em nom e do Deus da verdade. O utro mal com um é a falta de decisão em favor da verdade entre os homens verdadeiramente bons; os quais são nossos irm ãos na fé em C risto, porém que se m ostram indecisos quanto a separar-se do erro. Estão a favor da paz! Perm ane­ cer neutros parece posição cômoda entre os que professam ser cristãos. Estão sentados, por certo incom odam ente, “em cim a do m uro”. Jam ais pude assum ir posição sem elhante, e portanto não sinto por eles profunda sim patia. H á teólogos que procuram agradar ambos os lados, mas isso é experiência perigosa. Afinal de contas, os neutros não obtêm o respeito de nenhum grupo; e, com toda a segurança, podemos afirm ar que eles são o problema em todas as controvérsias. Sem pre haverá dificuldades nas igrejas por haver tem or de denunciar o pecado e o erro. Certo pregador africano dizia que quando estava com o seu rebanho, evitava cuidadosa­ m ente de pregar contra o costum e de roubar galinhas porque cria que isso estorvava a com unhão fraternal. Alguns obreiros tocam m uito suavem ente no tem a da em briaguez, porque alguns dos que os sustentam são “parte interessada”. Não seria certo que m uitas vezes são suprim idas as verdades quando parecem pouco saborosas? Não seria verdade que m uitos são infiéis quanto aos pecados que os rodeiam ? São “tudo para todos”, mas não com o intuito de “salvar, alguns”. Tenho ouvido susurrar que é para poder “salvar certas som as” para os cofres da igreja. Acaso eles não consultam dem asiad am en te às 80

Os Males de Nosso Tempo.. pessoas im portantes? Não seria verdade que dão mais valor à posição dos hom ens do que a sua piedade? H averia sufici­ ente fidelidade à verdade e a C risto, haja o que houver? Irm ãos, necessitam os de graça para poderm os dizer: “Sei ser pobre; sei tornar-m e objeto de ridículo; sei ser insultado; mas não sei ser falso para com m eu Senhor”. Observo que o espírito de transigência entre a santidade e o pecado, a verdade e o erro, prevalece dem asiadam ente. Tal a titu d e n ão p ro c e d e do E s p írito de D e u s, m as do espírito m undano. Sempre e m ais sábio e m elhor dem onstrar um a decisão clara nos p ontos fundam entais. Precisam os tra ç a r u m a lin h a d iv isó ria de m odo bem v isív el e em seguida ater-nos a ela. Não alterem seu rum o devido aos ventos ou correntes. Não tentem to rn ar as coisas agradáveis a todos em redor. Não im item aquele hom em que encontrou um viajante fatigado que lhe interrogou acerca da distância de determ inado local. A resposta foi: “D ez m ilh as” ; mas ouvindo ao estranho queixar-se por estar m uito cansado da viagem , suspirando: “N ão resisto à cam inhada, tem endo desm aiar”, o com padecido inform ador conserta: “Não sabia que estivesse tão esgotado; sendo assim , deixo p o r sete m ilhas”. Tal m udança de palavras não d im in u iu a d istân ­ cia real. M as esse é o m étodo de algum as alm as afáveis; am enizam a verdade, esquecendo que isso não altera os fatos. Tal obrigação é bastante séria; convém relaxá-la um pouco. A quela d o u trin a é d e m asia d am en te grave; p ro c u re m o s um aspecto mais benigno. Esta tentativa de agradar a todos a qualquer preço é o estilo da época. Se a antiga teologia verberava contra o pecado, depravação hum ana, etc., então recorram os à nova e suavizemos as coisas. Se o castigo dos im penitentes alarm a dem asiadam ente aos hom ens, tratem os do assunto superficialm ente ou m odifiquem o-lo de m odo engenhoso. Q uem desejaria alcançar conversões p o r meio do tem or? Sim; “deixemos por sete” . Mas, de que aproveitam 81

UM MINISTÉRIO IDEAL, Vol. 2 palavras suaves? Apesar da m entira, a distância é a mesm a; e quando o ludibriado perceber o engano, certam ente não os abençoará. Que o Senhor nos livre da condenação dos que enganam as almas! Que sejamos atalaias, e lim pos do sangue de todos! D ecidam vocês m esm os, e então, como hom ens firm es, poderão ajudar a outros cujos pés m anquejam . O utro dos grandes males da época é o anseio insaciável por diversões. N inguém pode negar que precisam os de repouso do trabalho e temos de desfrutar de distrações que refrescam a m ente e o corpo. D entro dos lim ites adequados, o recreio é necessário e proveitoso; mas nunca foi dever da Igreja Cristã o ferecer diversões ao m u n d o . C ongregações p ro m o v em reu n iõ es sociais, d issipando horas com diversões tolas e espetáculos im próprios a am bientes de adoração. Asseguro-lhes que a pregação de C risto desaparece quando surgem tais frivolidades. Temos de lutar duram ente contra tais coisas, pois m u itos estão enlouquecidos p o r estas vaidades. Não estamos aqui para divertir-nos, porém para que os perdidos sejam alcançados para C risto e alcancem a glória eterna. Ante a solenidade da m orte, do juízo e da eternidade, rogo-lhes que resistam às loucuras e vaidades do nosso tempo. Temos notado como a “sabedoria deste m undo” e suas loucuras parecem ser com panheiros da fortuna, e precisam os afastar-nos de ambos com a mesm a aversão. Parte de nossas dificuldades é ocasionada pela ausência de piedade intensa em muitas igrejas. Bom núm ero de irm ãos e irm ãs vivem em grau elevado para a glória de Deus. D ou graças ao Senhor pelo fato de haver tanta atividade santifi­ cada e tanta consagração íntim a como noutros períodos da história da Igreja Cristã. H á entre nós hom ens e m ulheres cujos n om es p assarão à p o ste rid a d e com o exem plos de devoção. D eus não tem Se deixado sem testem u n h o . Por outro lado, como está a religião nos lares? Não seria certo que a devoção fa m ilia r está m u ito lo n g e do d esejado? 82

Os Males de Nosso Tempo. Sabemos de m em bros que jam ais p articipam de culto de oração. Por certo são mais solícitos em adorar ao seu deus favorito. E xistem pessoas que não assistem aos cultos de oração devido estarem presas a outras atividades. Interesses pessoais ou eventos sociais se to rn a m m ais im p o rta n te s p ara m u ito s do que o ferecer adoração a D eus. Isso re ­ p re sen ta lam entável sinal de decadência. Igrejas podem causar m u ita tristeza aos pastores, m as, infelizm en te, na m aioria dos casos, eles m esm os se desviaram tanto que já não im portam com isso. Com referência aos m inistros, m uitos m em bros de igreja são indiferentes no que tange à piedade pessoal do pregador; o que desejam é talento ou inteligência. Não im porta o que prega; há de a tra ir a m ultidão ou satisfazer à elite, e isso é su ficiente. P regue a verdade ou o erro, o h om em será adm irado contanto que saiba falar com loquacidade e con­ serve a fama de orador. Se houvesse mais piedade genuína en tre os m em bros da igreja, logo os farsantes teriam de procurar outros mercados. Coisa lastimável! Vejo que tem h a v id o g ra n d e d escu id o na ad m issão de m e m b ro s nas igrejas, pelo que tem decaído o nível espiritual e desaparecido os b o n s fu n d a m e n to s devido à in flu ê n c ia das multidões mistas no m eio das quais toda classe de m ales e n co n tra ab rig o acolhedor. In feliz o líd e r em cujo acam p am en to aparece um Acã! M elhor fora que Dem as nos abandonasse, e não que perm anecesse em nosso am biente, trazen d o o m undo para dentro da igreja! Q uantos m inistros são débeis para a guerra por não estarem apoiados por um a congregação piedosa, e suas mãos não estão sendo - ajudadas por irmãos que oram! Para não prolongar demais m inha jeremiada, m encionarei apenas m ais um dos tristes m ales da época - a dureza de coração das pessoas face à pregação do evangelho. Com parando-se com o que ocorrera outrora, agora é difícil conseguir 83

UM MINISTÉRIO IDEAL, Vol. 2 atenção para a Palavra de Deus. Antes eu costum ava pensar que bastava pregar o evangelho e as pessoas acudiriam e pressurosas a ouvi-lo. L am ento ser necessário corrigir essa impressão. C ontudo, se o evangelho não atrair os hom ens, nada os atrairá; isto é, nada que lhes faça bem. Não tenho razões para duvidar do poder atrativo do evangelho antigo; no entanto, alguns dos m eus irm ãos que o anunciam fielm ente não conseguem ter um rebanho num eroso. Todos tem os a im pressão de que há um processo de e n d u recim en to nas massas. Espalhadas nos bairros das grandes cidades m ultidões vivem totalm ente divorciadas da adoração a D eus. M uitos seguem suas tradições e se apegam apenas a formalismos. G ra n d e p o rcen tag em do povo d e m o n stra desagrado pelos cultos norm ais no santuário. O utros são influenciados pelas tendências sensacionalistas; e à m edida que aum enta esse la m en táv el a p etite, m a io r satisfação ele p ro c u ra , e finalm ente chega o tem po em que é im possível satisfazer suas exigências. Os que in troduziram em seus cultos toda espécie de atrações levam a culpa de que a congregação deixe de lado os seus ensinos do tipo m ais sóbrio e exija, cada vez m ais, coisas ruidosas e singulares. Com o a um viciado em álcool, a sede de excitação aum enta. A princípio, é possível acalm ar o espírito agitado, porém depois se torna quase impossível evitar os excessos. Não desejo condenar a n in g u é m , m as m e sin to p ro fu n d a m e n te a m arg u rad o ao co n tem p lar algum as das novidades in tro d u zid as no m eio evangélico nos últim os dias. A lém d e ste se n sa c io n a lism o e m b ria g a d o r, h á u m a espécie de peso no am biente. Porventura vocês não a sentem ? O povo evangélico alemão enfrentou essa crise há tem pos; as pessoas m ais hum ildes das províncias participavam , da adoração pública, mas os habitantes das grandes cidades foram vencidos pelo ateísmo prático. Grande culpa cabe aos m inistros que afastaram o povo da fé simples nas Escrituras, levando-o 84

Os Males de Nosso Tempo. a duvidar. O m ais m aligno servo de satanás que conheço é o m inistro infiel do evangelho, o qual não apenas duvida em seu próprio coração, mas propaga a incredulidade nas m entes dos demais por meio de suas críticas, insinuações e palavre­ ado. A lguns m in istro s m eram en te acreditam que não há nada digno de crédito. A consciência deles está cauterizada. Sua faculdade de crer se extinguiu. As coisas não são agora como no início do nosso m inistério; de m aneira veloz o erro se tem expandido assustadoram ente. M uitos defendem o u n iv e rsa lism o , a salvação após a m o rte, um p e río d o de p ro v a d ep o is d e sta , vida. O uço falar de m in is tro s que desdenham do sangue de Cristo. Tristes realidades chegam ao nosso conhecim ento e nos esm agam o coração. N ossa época está desconjuntada. Q ue o atual furacão passe com rap id ez. R econhecem os que a nave da Igreja está sendo a ço itad a p o r v en to s c o n trá rio s, sendo n ecessário que o Senhor venha, e ordene aos ventos e às ondas que se acalmem. Até aqui lhes apresentei “o peso do Senhor”. Nestes tem pos maus, entretanto, temos

UM OBJETIVO PERMANENTE Q ualquer que seja a estação, o lavrador ainda tem a terra a cultivar. No verão e no inverno seu trabalho pode variar, mas o objetivo é o mesmo. Assim acontece com os servos do Senhor Jesus. Não im porta a atitude dos dem ais, nós já levantam os a mão para o Senhor, e não devemos retroceder. Somos im p u lsio n ad o s pelo m esm o pro p ó sito in ic ia l que nos trouxe ao m inistério; não podem os olhar para trás após ter lançado mão ao arado. Qual o alvo da vida? Qual a nossa missão? Em que nos ocupamos?A única resposta é: “Nossa finalidade principal é glorificar a D eu s” . Não acham os que a nossa tarefa m ais im portante seja converter pecadores ou edificar os santos, e sim a de glorificar a Deus. Se pregam os a verdade de D eus e 85

UM MINISTÉRIO IDEAL, Vol. 2 tem havido salvação de almas, continuam os sendo “o bom cheiro de Cristo para D eus”. A proclamação de Jesus Cristo é perfu m e suave ante o tro n o de D eus, sendo co n stan te oferenda aceitável ao Senhor. O sacrifício de Jesus é o que torna o m undo tolerável ao Deus santo, e a pregação daquele holocausto é cheiro suave perante Ele. E sta é a p ed ra de to q u e para p ro v ar a q u alid ad e de qualquer doutrina: “Ela glorifica a D eus?” Se não glorifica ao Senhor, não é evangelho genuíno; não beneficiará a nós nem aos ouvintes. Com pete-nos apegar-nos ao nosso único objetivo, haja o que houver. O pescador sai com as redes num dia tranqüilo e lum inoso de verão. Alguém sugere: “Agora, barqueiro, tonla a guitarra. A banque-se no barco e deleita-nos com uma boa música”. Ele responde: “Não sou músico, sou pescador”. Em noite prenunciadora de torm enta, o céu obscurece e chegam chuva e nevoeiro. “Agora, barqueiro, deixe de trabalhar; arranje as coisas e divirta-se.” Ele sorri e responde: “Não sou nenhum tu rista em viagem de recreio, mas vim para pescar e é isso que farei”. E lança as redes. Nossa sagrada pescaria se realiza m elhor na tem pestade do que na calmaria. Q uando as águas estão quietas, os peixes tam bém parecem d o rm ir e se ocultam em profundidades silenciosas além do nosso alcance. A torm enta pode transform ar-se em nossa m aior ajuda. A controvérsia desperta os pensam entos e através deles ocorre a transform ação divina. D e qualquer forma, é preciso que pesquemos almas. H aja o que houver, tem os a obrigação de buscar os hom ens a fim de conduzi-los a Jesus. Precisam os insistir no arrependim ento e na fé; o novo nascim ento, com sua aversão ao pecado, há de ser constantem ente apresentado perante a congregação. Para isso nascemos e com esse propósito fomos enviados ao m undo, para que pudéssem os dar testem unho das grandes 86

Os Males de Nosso Tempo.. verdades que salvam a alma, a fim de que pelo conhecim ento destes fatos D eus possa ser glorificado entre os hom ens. Além disso, temos o intenso desejo de edificar a Igreja; eu estou convencido de que para atingir essa m eta, é absoluta­ m e n te n ecessário que c o n tin u e m o s p re g a n d o sem p re o m esm o ev an g elh o . N ão d e v eria h a v er p ro g re sso ? Sim , dentro da pauta da verdade revelada, porém não deve haver desvio dos princípios fixos. O escolar inicia com o prim eiro livro de aritm ética; no devido tem po, precisará de outro. Mas suponham os que o segundo livro posto em suas mãos con trad iga o p rim eiro - em que situação ficará o aluno? Suponham os que alguém diga que a tábua de m u ltip lica­ ção já não vale, e que os hom ens agora superaram o ensino de que duas vezes dois são quatro. Q ue avanço ele poderia fazer? U m m inistério consistente, realizado com a proclam a­ ção da m esm a verdade durante m uitos anos, há de produzir, com a bênção de D eus, resultados na congregação. A construção de um edifício é possível quando as paredes são le v a n ta d a s, file ira de tijo lo após file ira , so b re um fu n d am en to firm e. Q ue resultados poderiam p ro d u z ir os que con stantem ente m odificam seus ensinos? O que con­ seguem realizar aqueles que “estão sem pre ap ren d en d o e nunca chegam ao conhecim ento da verdade” ? O progresso genuíno é im possível quando tudo se m ovim enta, tanto o cam inho como o carro. Se, como construtores prudentes, edificam os realm ente a Igreja, temos de ser cuidadosos quanto ao fundam ento a ser iniciado; é necessário que sobre ele prossigam os a construir até ao fim. Se tivesse de escolher algo novo, seria a adoção de novos m étodos para fom entá-lo; mas as verdades que prom overam a glória de D eus no passado, ainda produzem id ê n tic o s re su lta d o s. L u ta m o s v isan d o ao m esm o fim , co n fiam os n o m esm o p o d er, p o r isso não m o d ificam o s nossos ensinos. 87

UM MINISTÉRIO IDEAL, Vol. 2 Prosseguindo, irm ãos, passo a falar de

NOSSAS NECESSIDADES URGENTES Se desejam os se g u ir nossa sa n ta vocação de m odo satisfatório, precisamos ser homens melhores. Pessoalm ente, creio que à proporção que os tem pos pioram , devo suplicar a Deus por mais graça a fim de enfrentá-los valorosamente. S em p re p o d em c o rta r um o b je to d u ro se d isp õ em de ferram enta mais dura ainda. Os Alpes de granito podem ser perfurados com o aço. O h, como desejamos a graça de estar à altura de enfrentar a situação mais difícil que se nos apresente! Tudo que já possuímos de habilidade ou aptidão é dom do S en h o r; Ele pode co n ced er-n o s m u ito m ais. Q uem nos concedeu vida é capaz de outorgá-la mais abundantem ente. A capacidade de alguém, quando Deus o tom a pela mão, não há de calcular-se pelo hom em , senão por Deus mesmo. A bênção vem som ente do Senhor, não quando permanecemos ociosos, acomodados ou indolentes, mas sem pre em resposta a súplicas ardentes e como recom pensa à real consagração. O cupem o-nos principalm ente em ser, de modo bem pessoal, m ais santos, m ais revestidos da graça, e po rtan to m elhor a d ap ta d o s ao nosso tra b a lh o . O h, com o desejam os te r aspirações elevadas! Avaliemo-nos pela m edida do Senhor e não co m p aran d o -n o s com o u tro s co m p an h e iro s; assim evitarem os o orgulho, porém a esperança será natural. Somos capazes de coisas m uito maiores; tentemos realizá-las. Estamos envelhecendo; é hora de vivermos. Em face disso, tenham os idéias mais claras a respeito do que cremos. Ouvi referência a um bêbado que chegou em casa de m adrugada sem saber onde estava. O “pensam ento m oderno” é um a espécie de bebedeira que ignora onde se encontra. Sabe onde vivia ontem , mas seria difícil determ inar onde vive hoje. H á m uitos ciganos espirituais; acampam detrás de qual­ quer cerca, mas não têm residência perm anente em nenhum a

Os Males de Nosso Tempo. parte, sua teologia consiste nalguns retalhos. Rasga-se com facilidade, todavia é igualm ente fácil pôr-lhe um rem endo. Pessoas com essa teologia preferem entreter-se com a busca da verdade a encontrá-la. E evidente que tal busca não é m uito real, pois o hom em em questão se satisfaz em que a presa se lhe escape continuam ente. Nos tem pos antigos, o profeta era um vidente; mas atualm ente ele é tão culto que nada vê. O hom em que declara ter tanta luz que não pode dizer com certeza que vê um a coisa, é o predileto de certos ouvintes intelectuais. “Cri, por isso falei”, declarou Davi. O ra, que tipo esquisito! Nossos “pensadores” atuais falam porque duvidam , e não porque crêem! O utra coisa de im portância para a presente época é que tenhamos mais fé. E preciso que creiamos mais intensam ente em D eus, para confiar nEle de forma prática e com m enos dúvidas. As coisas que cremos devem chegar a ser mais reais para nós. Receio que freqüentem ente usamos palavras sem observarm os seu verdadeiro significado. Isso é terrível. E um a espécie de assassinato prem editado su p rim ir a alm a de frases piedosas, e ao mesmo tem po continuar usando-as. Sejamos honestos com as coisas de D eus; levemos a sério tudo que dizemos. E repugnante que alguém m encione toda espécie de temas relativos ao evangelho, à graça e à santificação, sem tom á-los a sério. Receio que nossos púlpitos não estejam isentos de tais vendedores de palavras a granel. Não demos meras som bras à congregação, mas fatos positivos. Ouvi falar de um a anciã escocesa que estava redigindo o seu testam ento. Deixava m il libras a este, quinhentas libras àquele, etc. Ao ser interrogada pelo escrivão se possuía tanto dinheiro, respondeu: “Não, não tenho, mas isso lhes m ostrará a generosidade das minhas intenções”. É de lamentar que muitos pregam doutrinas evangélicas, não porque crêem nelas, porém para agradar aos evangélicos. Isso nunca servirá de nada. Jam ais nos expo­ nham os a tais suspeitas. Que as verdades que declaram os 89

UM MINISTÉRIO IDEAL, Vol. 2 sejam tão am adas por nós com o a nossa vida, e tão reais como nossa própria carne e ossos. Cremos que as Escrituras são v erd ad eiras. Q u an d o a B íblia afirm a que o hom em está perdido, acreditam os que essa perdição é real e terrível. Céu e inferno são realidades para nós, m esm o que outros os considerem sonhos. Para nós C risto é real; o E spírito Santo dentro do hom em produz vida real dentre os m ortos. Se não p reg am o s re a lid a d e s, peço a D eu s que sejam os afastados do m inistério, no qual só estamos entesourando ira para o dia da ira. N ecessitam os tam bém mais amor pelas almas. N unca salvarem os m ais até que am em os m ais. Ilu stre m o s: um h om em caiu acid e n ta lm e n te soterrado p o r um a b a rre ira que desabara. M uitos estavam cavando energicam ente para desenterrá-lo. N o local estava alguém ind iferen te, apenas contem plando o dram a, quando foi inform ado: “E teu irm ão quem está lá dentro”. Essas poucas palavras operaram nele um a im ediata m udança; no m esm o in stan te pôs-se a tra ­ balhar febrilm ente para resgatá-lo. Se realm ente desejamos salvar nossos ouvintes da ira vindoura, é preciso que sin ta­ mos sim patia, compaixão e ansiedade; num a palavra, paixão e am or ardente. Que D eus nos conceda tais sentim entos! E necessário haver também um espírito mais completo de sacrifício próprio. A respeito disso tenho de falar com ternura, pois m e vejo cercado de irm ãos que levam um a vida de sacrifício constante no sentido pecuniário. Tendo apenas o su ficien te para viver, prosseguem tra b a lh a n d o ano após ano sem p ro fe rir um a queixa. Se pudessem g a n h ar cem vezes m ais do que estão ganhando n o u tra atividade, não ab an d o n ariam o p ú lp ito e o pastorado. A obra de C risto significa para eles mais do que o alim ento de que necessitam. Graças a D eus, o m in istério está provido de hom ens que têm tu d o p o r perda pela excelência do conh ecim en to de C risto Jesus seu Senhor. Mas, irm ãos meus, é indispensável 90

Os Males de Nosso Tempo. u m s a c rifíc io c o n tín u o p a ra q u e p o ssa m o s m a n te r a a b u n d ân c ia do nosso serviço. T am bém nisso m u ito s se destacam . N ão são folgazões, m as trab a lh ad o res. O que passa bem no m inistério aqui, estará mal quando tiver de com parecer no ajuste de contas. R enunciem os a indiferença e vivamos intensam ente para o Senhor. No entanto, além de renunciar a com odidade, precisamos estar dispostos a abandonar tudo o mais: nome, reputação, am izades, relacio n am en to s; devem os re n u n c ia r todas as coisas sem reservas, se a causa de C risto o requer. A ntes que negar a verdade torna-se necessário que abandonem os honras, estimas merecidas e toda a som bra de boa reputação. N a luta pela verdade deixem que a com odidade pessoal e sua reputação se percam se é necessário. Não creiam que o sacrifício precisa ser pensado duas vezes. A fraqueza de m uitos hom ens é que pensam tan to tem po que não fazem nada. O sangue dos m ártires é escasso em nossos dias. Nossos m in istério s serão destruídos se com eçarm os a p en sar no custo da honestidade. Se por consideração hum ana im pedi­ mos nossa fidelidade, passamos a ofender a D eus. Irm ãos, não tem am os perda algum a, porque nada temos a perder, pois tu d o que possuím os já p erten ce ao Senhor. O D eus, por T i me regozijarei em ser o “ refugo de todos”, a fim de ser achado fiel a Ti e à Tua verdade até ao fim. A gora lhes darei alguns conselhos úteis n estes dias. Gostaria de recom endar-lhes a confrontar muito cuidadosamente os seus ouvintes com as verdades fundamentais. A m aioria das pessoas não conhece os p rin cíp io s básicos do evangelho. Enganam o-nos ao supor que o auditório entende a verdade que anunciam os. E im possível a alguém ler q u an d o não conhece as letras. Recordem as verdades elem entares perante o povo. D êem -lhe a conhecer os princípios básicos da fé. Isso não fatigará aos ouvintes, mas os abençoará, e m uitos deles se deleitarão. Somos semeadores; sejamos generosos com a 91

UM MINISTÉRIO IDEAL, Vol. 2 sem ente. O utros estão difundindo a má sem ente; convém que “saiamos a sem ear” . R epitam verdades já m encionadas, se necessário. Paulo escreveu aos filipenses: “Não me aborreço de escrever-vos as mesmas coisas, e é segurança para vós”. Além disso, lutem claramente para a salvação imediata dos seus ouvintes. E preciso que alcancemos as pessoas cada vez que nos dirigim os a elas. Precisam os cuidar da aplicação de cada sermão. Temos grande necessidade de ser m uito específicos na aplicação das verdades aos ouvintes. M esmo com referência às desagradáveis ao paladar, devemos apresentá-las não apenas em term os gerais, porém urge que as a d m in istrem o s em doses adequadas a cada indivíduo. Sob a direção do Espírito, essa deve ser nossa tarefa diária. Q uerem os que nossos ou­ vintes sejam salvos, e sem dem ora; com tal objetivo, devemos prosseguir com todas as forças. Inculquemos com todas as nossas energias a prática da santidade. A santidade é o aspecto visível da salvação. N unca considerei ser m au sinal quando a pregação da santidade atingiu certos extrem os. Temia a causa do fanatism o, mas dava graças a D eus pelo fervor de onde procedia. A spirem os ao máximo grau de santidade. As doutrinas da graça devem ser acom­ p an h ad as p o r um a ética do tip o m ais p u ro . Temos sido claros quanto ao fato de que as boas obras não são a causa da salvação; sejamos igualm ente claros com referência à verdade de que elas são o seu fru to necessário. P ara que servem nossas igrejas se não são santas? Para que servimos nós, se não somos santos? A santidade é ortodoxia prática, e deve seguir de mãos dadas com a ortodoxia doutrinária. Não som ente p re c isa m o s te r um a m o ra lid a d e elev ad a, m as ta m b ém consagração, avivada pelo Espírito de Deus; e isso é santidade. Com este fim, exorto-os a ser cuidadosos na admissão de novos membros na igreja. Sem dúvida há em nossas fileiras alguns que não deviam estar ali. Isso concorre para perda deles mesm os, desonra para o Senhor Jesus e prejuízo para a 92

Os Males de Nosso Tempo.. igreja. M em bros não convertidos rebaixam o nível geral da igreja. Até que ponto esse nível tem descido, que o digam os m in istro s esp iritu ais. Se os m em bros da co m u n id ad e fossem co n vertidos, logo se liv rariam de seus m in istro s infiéis; contudo, as congregações são como os seus líderes. A d o u trin a d etu rp ad a e a vida relaxada sem pre cam in h am juntas. O h, como desejamos ter um a m em bresia mais pura com a qual colaborar! Por mais que nos esforcemos, sem pre surgirá um Judas; mas não o convidem os. N unca façamos que um traidor facilm ente se sinta bem entre nós. M esclar a ig re ja com o m u n d o é um c rim e. A tra i u m h o rrív e l anátem a e atua sobre a piedade como a nevada. Q ue a porta da igreja esteja aberta a todas as alm as sin ceras, p o rém fechada a todos aqueles cujos corações estão no m undo. Não é nem sequer para o bem da alma m undana, o ter a forma de piedade divorciada do seu poder. Se amam os ao Senhor e conhecem os o valor das almas, zelemos bem a entrada da igreja. Q uanto a vocês m esm os, recom endaria separação total daqueles que provavelmente prejudicariam sua vida espiritual. N ão c o n sid e ra ria m e lh o r asso ciar-m e com alg u ém que negue a fé do que com um bêbado ou um ladrão. Desejo guardar o espiritual tanto quanto o moral. U m hom em leal não se sente bem na co m p an h ia de traid o res. H á certas associações com ím pios que tem os de aceitar, a m enos que nos sep a re m o s to ta lm e n te do m u n d o ; m as o u tra s são opcionais, e nesses casos tem os de ser escrupulosos. Um piedoso m in istro afirm ou em certa ocasião, referindo-se a d e te rm in a d o p re g a d o r: “N ão p e rm itiria que tal pessoa su b isse a m eu p ú lp ito . Sou tão zeloso de m eu p ú lp ito como de m in h a cam a” . Não creio que fosse dem asiada­ m en te ríg id o . D evem os g u a rd a r-n o s de c o m p ro m e te r a verdade de Deus, associando-nos com os que não a sustentam , sobretudo num a época como a nossa. 93

UM MINISTÉRIO IDEAL, Vol. 2 Além disso, é preciso que nos unamos mais estreitamente, procurando ajudar-nos uns aos outros e a todos que são da mesm a convicção no Senhor. As divisões denom inacionais desaparecem na presença da verdade de Deus. A m eu ver, a grande distinção a observar atualm ente se acha nas doutrinas evangélicas, das quais o sacrifício substitucionário de Cristo é o ponto central. O nde observem os irm ãos fiéis lutando, apressem o-nos a ajudá-los, pois com certeza estão sendo objeto de inveterada oposição. Os am antes da fé antiga devem lutar om bro a om bro, para elim inar as injustiças do passado a frustrar a oposição futura. O combate que nos aguarda é feroz; economizemos a todo custo nossas forças por meio da união. Finalm ente, perm itam -m e dirigir-lhes algumas

PALAVRAS DE ALENTO Os tempos são maus, mas já o foram antes. Tem os de lu ta r c o n tra A p o lio n , m as m u ito s já e n fre n ta ra m este a rq u iin im ig o a n te s de nós. C in jam os lo m b o s do seu entendim ento e estejam firm es, porque o Senhor é m aior do que as épocas. Os dias são maus, mas são seguidos de dias bons. A história se repete, e este é um dos aspectos em que a história é bem persistente. Permitam-me ler para vocês um trecho muito alentador de W itherspoon: “N ada é impossível para o poder de Deus. Os períodos m ais notáveis de avivam ento da religião vieram im ediatam ente depois de tempos da m aior apostasia, quando “a verdade” parecia ter “tropeçado na praça”. Este era o caso im ediatam ente antes de 1638. A corrupção da doutrina, o relaxam ento dos costum es, a submissão servil na política... C ontudo, em pouco tem po tudo se m odificou totalm ente. P o rtan to , que n e n h u m cristão ceda aos p en sam en to s do desespero. D efendam os a causa que finalm ente vencerá. A religião se levantará dentre as ruínas; e seu estado oprim ido atual não apenas deve estim ular-nos a orar, mas tam bém deve anim ar-nos a confiar no acelerado avivam ento dela”.

94

Os Males de Nosso Tempo.. Perseverem na oração até ao máximo. R ecentem ente recebi m uito conforto de amigos de vários lugares, ao m e in fo r­ m arem que n o ssa lu ta pela causa do e v an g e lh o é alvo c o n sta n te de suas orações. A p rá tic a da in te rc e ssã o do povo de Deus está a nosso favor. A oração é a arm a secreta. Seriamos mais prudentes se a usássemos mais e se a fizés­ semos com propósito mais específico. Em Nova Inglaterra, certa igreja havia escolhido um jovem chamado Stoddard para ser seu pastor. Depois de certo tem po, a congregação descobriu que o seu novo m inistro não era um verdadeiro cristão. Que fizeram? Começaram a propagar seus defeitos e a combatê-lo? Não, eram pessoas mais sábias que isso. N um dom ingo à noite, após as atividades norm ais, o jovem viu a congregação dirigindo-se ao templo. Surpreendido por ter vindo tão grande núm ero a um culto que ele mesmo não ia dirigir, interrogou: “Para que se reúnem ?” “ Senhor S to d d a rd ”, resp o n d eram , “para orar, p ed in d o que nosso m inistro seja convertido.” O jovem obreiro se dirigiu ao seu gabinete, orou e se entregou a C risto; e antes que seus irm ãos term inassem a reunião de oração no tem plo, o p a sto r se reuniu aos demais a fim de tran sm itir a boa nova. Não foi, p orv en tu ra, um a m aravilhosa obra da graça? Poderíam os alcançar mais vitórias nas batalhas se usássemos constante­ m e n te esta arm a da oração eficaz. O in fe rn o in te iro é d e rro ta d o quando o cren te d o b ra os joelhos em súplica o p o rtu n a. P o rtan to , am ados irm ãos, orem os. N em todos podem os argum entar, m as todos podem os prevalecer em oração. Preferiríam os hom ens poderosos diante de D eus a elo quentes p eran te os hom ens. A oração nos u n e fo rte­ m ente ao E terno, ao O nipotente, ao Infin ito ; p o r isso é o nosso recurso principal. Resolvam servir ao Senhor e ser fiéis à Sua causa, e então podem apelar audazm ente a Ele pedindo Seu socorro. Assegurem -se de que estão com Deus e poderão ter a certeza de que Ele está com vocês.

95

5 O PODER DO PREGADOR E AS CONDIÇÕES PARA OBTÊ-LO Irm ãos, desejamos fazer nosso trabalho corretam ente e com eficácia, e não podemos realizá-lo sem poder. Neste m undo não será efetuado nenhum serviço sem certo emprego de forças, e as energias em pregadas diferem conform e o trabalho de que se trata. O tipo de poder de que sentim os necessidade será determ inado pelo que pensam os do nosso trabalho; a quan­ tidade de poder que anelarem os dependerá da nossa idéia de como deve ser feita tal atividade. Dirijo-me a homens prudentes que se propõem usar o encargo diante de Deus; me convém e stim u la r suas m entes p u ras para que ju n to s reflitam os sobre o grande desígnio para o qual necessitamos de poder. Poderíamos ser m inistros, como alguns o são sem nenhum poder, quer natural ou adquirido. Celebram cultos form al­ m ente, o que não exige dons especiais. Q ualquer alto-falante poderia fazer o mesmo. Seus sermões e cultos são tão rotineiros e tão absolutam ente desprovidos de vida, que se descesse sobre eles o poder do alto, ficariam totalm ente perplexos. N inguém ficará satisfeito com cultos mecânicos, vazios de força m ental e espiritual. Desejamos realizar o trabalho do Senhor como deve ser realizado e portanto anelamos dons excelentes e graças ainda maiores. Esforcemo-nos em desem ­ p en h ar o m inistério não com o método desprovido de vida, mas com energia e poder que o tornem eficiente para seus sagrados propósitos. 96

O Poder do Pregador.. Sinto-m e na obrigação de afirm ar que nosso objetivo não é agradar a clientela, pregar para satisfazer à nossa época, acom panhar o progresso m oderno, nem agradar à m inoria culta. A obra da nossa vida jamais desfrutará de aceitação absoluta na terra; nossa folha de serviços está no alto, ou do contrário será escrita na areia. Não há necessidade algum a de que sejamos capelães do espírito m oderno, pois ela já dispõe de defensores dinâm icos. Seguram ente Acabe não precisa que M icaías lhe anuncie coisas benignas, p orque há q u a tro c e n to s p ro fe ta s dos b o s q u e s q u e o a d u la m suficientem ente. Tendo pessoas tão em inentem en te cultas em constante atividade com suas novas doutrinas, o m undo talvez se contente em perm itir que nosso pequeno grupo se atenha à fé antiquada, a qual ainda cremos ser a que um a vez foi dada aos santos. Essas pessoas tão su p erio re s e m aravilhosam ente avançadas, podem irritar-se que não nos unam os a elas, m as n u n ca será nosso p ro p ó sito p o r um m o m e n to seq u er e sta r em h a rm o n ia com o e sp írito da época nem concordam os com o dem ônio da d ú v id a que governa atualm ente. N ão p rocurarem os ajustar nossa B íblia a esta época; porém , pela graça de Deus, antes de encerrarm os nossa luta, ajustarem os esta época à Bíblia. Não cairem os no erro do m édico d istra íd o que tendo de coser um ovo, colocou o relógio na caçarola e ficou olhando atentam ente para o ovo. Não é o cronôm etro divino que há de m udar, e sim, o pobre ovo do pensam ento hum ano. Não vacilaremos; não seremos orientados pela congregação, mas terem os o olhar fixo na Palavra infalível de D eus e pregarem os segundo as suas instruções. N osso M estre está sentado no alto e não nas cadeiras dos escribas e dos doutores que regulam as teorias do século. Não nos deixaremos orientar por pessoas acomodadas, nem pelos nossos líderes, nem ainda por m inistros que nos precederam. 97

UM MINISTÉRIO IDEAL, Vol. 2 Q uantas vezes temos ouvido excusas em favor de here­ sias, apresentadas com o objetivo de im pressionar aos “jovens raciocinadores”. Os moços, sejam raciocinadores ou não, serão im pressionados pelo evangelho mais do que por outra coisa, e é lo u c u ra p e n sa r que q u a lq u e r pregação que o m ita a verdade seja adequada aos hom ens, quer jovens ou velhos. N ão podem os re n u n c ia r à P alavra para ag rad ar a quem quer que seja. Se alguém é inclinado a falsas doutrinas ou está sendo arrastado por m á orientação, tanto m ais precisam os ensinar-lhe melhor. Os hom ens se im pressionam mais com o evangelho antigo do que com especulações efêmeras. Se alguém deseja pregar m ensagem que seja agradável a nossa época, que o faça no poder do diabo, e não duvido que ele fazendo-se servo lhe fará o m elhor que pode. Se alguém se afasta da verd ad e e ad o ta nova teo lo g ia, não deve o ra r pedindo o poder divino a fim de proclam ar essa m aligna ilusão enganosa; se o fizer, tornar-se-á culpado de blasfêmia d estru tiv a. N ão, irm ão, nosso objetivo não é agradar aos hom ens; nosso desígnio é m uito mais nobre. Inicialm ente, nossa grande aspiração é dar testemunho da verdade. Creio - e esta convicção vai crescendo em m im - que c o n h ec e r a v erd ad e é dom da graça de D eu s, e am ar a verdade é obra do E spírito Santo. Refiro-me, não ao conhe­ cim ento natural, ou a um am or natural das coisas divinas, se é que existe tal coisa; falo de um conhecim ento experim ental de Cristo e um am or espiritual para com Ele. Essas coisas são tanto o dom de Deus no pregador como a obra da conversão tam bém é nos seus ouvintes. Desejamos conhecer tão com ­ pletam ente a verdade e amá-la de todo o coração a ponto de p o derm os declarar todo o conselho de D eus da m an eira como deve ser feito. Esta não é uma tarefa simples. Proclam ar todo o sistem a da verdade e dar a cada p arte sua devida proporção, não é de m odo algum serviço fácil. A presentar cada d o u trin a de acordo com a analogia da fé e p ô r cada 98

O Poder do Pregador.. verdade em seu devido lugar, é algo difícil. M ais fácil é apresentar um a caricatu ra do form oso rosto da verdade, o m itin d o um a d o u trin a e exagerando outra. C o n h ecer a verdade como deve ser conhecida, amá-la como há de ser amada e depois proclam á-la em espírito amoroso e em suas devidas proporções, não é atividade de pouca im portância para criaturas tão frágeis como nós. N esta grande e delicada tarefa, precisam os perseverar ano após ano. Que poder há de capacitar-nos para missão tão sublime? H avendo tantos que se queixam da m onotonia do evangelho antigo e sentem constante anseio por novidades, tal enferm idade pode infectar nossos próprios corações. Este é um mal contra o qual temos de lutar com todas as forças. Ao nos sentirm os fracos e em botados, não devemos im aginar que a verdade de Deus é assim; pelo contrário, enchendo-nos mais da Palavra do Senhor renovarem os nosso vigor. Continuar sempre firmes na fé, de modo que nosso testem unho seja sempre idêntico em substância ao prim eiro, porém mais profundo, mais sazonado, mais seguro e mais intenso - isso é labor tão árduo que para cum pri-lo precisam os do poder divino. Vocês não sentem isso? Se nos propom os ser genuínas testem unhas de D eus, nosso propósito é m uito glorioso; no en tan to , é indispensável que um a força sobren atu ral nos co n d u za a fim de serm os eficien tes no d e sem p en h o do difícil encargo. Nosso objetivo é apresentar um testem unho pessoal de m odo que por meio dele outros se convençam da verdade arraigada com tanta convicção em nossa alma. Surgem m uitas dificuldades, pois nossos ouvintes não estão ansiosos para crerem na revelação de D eus; aliás, alguns estão desejosos de não fazê-lo. No reinado de Elizabete foi decretado que todos fossem à igreja ao m enos um a vez aos dom ingos. Sendo a m aioria ainda católico-rom ana, era lhe repugnante participar do culto protestante. L i que quando os católicos 99

UM MINISTÉRIO IDEAL, Vol. 2 iam aos serviços religiosos determ inados p o r lei, pu n h am algodão nos ouvidos para não ouvir. No sentido m oral esta prática ainda está em voga. Os hom ens estão dispostos a escutar certas porções da verdade, mas outras partes lhes são desagradáveis e seus corações se m o stram e n d u recid o s. Sabemos como satanás tem cegado com grande eficácia a m e n te dos ím p io s , de m a n e ira q u e, p o r m ais sá b ia e p e rsu a siv a m e n te que falem os a v e rd a d e do ev an g elh o , nada senão um m ilagre pode convencer aos hom ens m ortos em pecados. R ealm ente, só um a obra m iraculosa da graça c o n s e g u irá p e r s u a d ir a lg u é m a re c e b e r o q u e é tão com pletam ente oposto à sua natureza. N ão poderei ensinar a um tigre as vantagens da dieta vegetariana; fazer isso seria co m o le n lsr co n ven cer a um hom em não regenerado das verdades reveladas p or D eus relativ as ao pecado, à ju stiça e ao juízo v in d o u ro . Tais realidades espirituais são repugnantes aos hom ens carnais e a m ente carnal não pode receber o que ê de Deus. A m en­ sagem do evangelho é d iam etralm en te oposta à n atu reza decaída. O ra, se não possuo um p o d er m u ito su p erio r à persuasão m oral e ao poder de m inhas próprias explicações e a rg u m e n taç õ e s, e n tão e m p re e n d i um a tarefa n a qual seguram ente serei derrotado. A m enos que o S enhor nos revista do poder do alto, nosso labor será em vão e nossas esperanças hão de term in ar em desapontam ento. Isso não é senão o início do nosso trabalho: nosso mais^ profundo anelo é reunir um povo que será a herança separada para o Senhor: surgiu ultim am ente um a nova teoria que apresenta como seu ideal um certo im aginário reino de D eus, o qual não é nem espiritual, nem bíblico, nem real. O antiquado sistem a de buscar as ovelhas perdidas um a por um a, lhes parece le n to ; dem anda tem po dem ais e exige reflexão e oração, não deixando suficiente espaço para política, esportes e prazeres m usicais. Sugere-se forçar as nações in teiras a 100

O Poder do Pregador.. e n tra r nesse rein o im aginário m ediante regu lam en to s de higiene, m elhoram entos sociais, sistemas científicos e legis­ lação adequada. Q ue agradem os ao povo, usando a palavra “d em o cracia” e em seguida d iv e rti-lo até que ch eg u e à m oralidade. Esta é a últim a moda. Segundo essas fantasias, o reino do Senhor há de ser, no final, deste m u n d o ; sem conversão ou novo n a sc im e n to , toda a população h á de chegar a um a teocracia terrena. Não obstante, não é assim. Parece que o S enhor vai seguir as norm as do Velho Testam ento, e que separará para Si um povo que será na te rra com o os reis e sacerdotes de Jeová, povo p ró p rio , zeloso de boas obras. Constata na Nova Aliança, ainda m ais da eleição graciosa, pela qual um povo é separado e consagrado ao Senhor. Por m eio dos escolhidos, m iihares e m íihares nascerão de Deus; mas, fora deles, não conheço outro reino. A eleição da graça, tantas vezes denunciada, é um fato contra o qual não é necessário que os hom ens falem , posto que não desejam ser eleitos. N unca posso entender porque um hom em deve sofismar pelo fato de outro ter sido escolhido quando ele mesmo não deseja ser escolhido. Se anseia ser eleito para o arrependim ento, se deseja a santidade, se anela ser do Senhor, e se tal desejo é verdadeiro, já é um escolhido. No e n tan to , se não deseja n ad a disso, p o r que se rebela contra outros que receberam tal bênção? Perguntem a um ím pio se está disposto a se hu m ilh ar, a ser m altratad o e perseguido por tornar-se seguidor de Cristo, e escarnecerá da id éia. Se lh e fosse possív el e sta r nessa situ ação p o r algum tempo, ele se apressaria a escapar dela. Prefere ir “a deriva” e pertencer à m aioria, porém subir contra a corren­ teza não é do feitio dele. Inclina para um a religião m undana, com farta provisão para a carne. Os prazeres m u n d an o s satisfazem a seus gostos; todavia, andar com Cristo, separado deste m undo e consagrado à obediência, não é sua ambição. Os irmãos não vêem nisso a necessidade que temos de 101

UM MINISTÉRIO IDEAL, Vol. 2 um poder extraordinário? Convocar os hom ens a um a verda­ deira separação do m undo, a um a genuína união com Cristo, p rescin dindo do poder de D eus, é esforço absolutam ente inútil. Eles não virão, não têm o m enor desejo de vir. Devido tal atitude o M estre advertiu aos judeus: “Não quereis vir a m im p ara terdes v id a .” L erão na B íblia: “E x am in ais as Escrituras porque julgais ter nelas a vida eterna”, mas mesmo assim não se disporão a vir ao Senhor. Isso seria dem asia­ dam ente espiritual para eles. A ordem “arrependei-vos e crede no evangelho” é m uito dura, penetrante e hum ilh an te para eles. N ão seria tu d o isso su fic ie n te p a ra o p rim ir-n o s ? O usaríam os prosseguir, a m enos que sejamos cingidos do poder celestial? Cuidado! Apenas iniciam os. São chamados; todavia há algo mais a ser feito por instrum entalidade do nosso m in is­ tério: nossos ouvintes têm de ser gerados de novo, feitos novas criaturas em Cristo, ou do contrário a pregação nada produzirá neles. Ah, meus amigos, entram os em águas profundas quando chegamos a este grande mistério! Acaso o hom em natural nada entende destas coisas? Perguntem aos doutores se entendem isso e eles tentarão esconder sua ignorância p o r m eio da zom baria. O u tras pessoas adm item que isso ocorra, mas pessoalm ente não com preendem . Pensemos na nossa enorm e tarefa. Quão sublim e privilé­ gio é o nosso de sermos, nas mãos de D eus, os progenitores espirituais dos homens! Não podem os criar nem um a simples mosca; m uito menos um coração novo e um espírito reto. Form ar um m undo seria coisa mais fácil do que produzir um a vida nova num hom em ím pio, pois na criação do m undo nada havia que se opusesse a Deus, enquanto na criação de um coração novo a velha natureza se opõe ao Espírito. Ientem realizar a regeneração de um a criança em sua Escola D o m i­ nical e se convencerão de haver chegado ao lim ite de seus recursos. Se nosso objetivo é a conversão dos nossos ouvintes, 102

O Poder do Pregador.. prostrem o-nos perante o Senhor conscientes da nossa total im potência, e não voltem os ao p ú lp ito até que possam os ouvir Sua resposta: “M inha graça te basta; m eu p o d er se aperfeiçoa na fraqueza”. Após esse passo, lem brem que os que são trazidos a Deus hão de ser guardados e preservados até ao fim, e aspirem que seu m in isté rio se to rn e o m eio de livrá-los de tropeços e de preservá-los no cam inho da justiça até o final. Porventura vocês propõem fazer isso por si mesm os? Que presunção! O bservem as tentações que infestam as grandes cidades. S u p o n h o q u e as seduções do m al são s e m e lh a n te s nas pequenas cidades, mesmo que variem nas formas. Seu nom e é legião, p o rq u e são m uitas. C onsiderem as ten taçõ es que assaltam nossos jovens m ediante a literatura m oderna. Não é de adm irar que tantos caíam. Contudo, isso é apenas uma das m uitas influências m ortíferas. Quão num erosas as perdas em nossas igrejas! M esm o os m inistros m ais fiéis lam entam o afastam ento de m uitos que pareciam correr bem, mas retrocederam e já não obedecem à verdade. Apesar de tudo, nos propom os ser, nas mãos de Deus, o meio de conduzir as ovelhas de Cristo a pastos verdes e a p rosseguir conduzindo-as até que venham a se alim en tar nas esferas celestiais, tendo o grande Pastor pessoalm ente no m eio delas. M as que responsabilidade assum im os! Como podem os guardá-las in contam inadas da Sodom a que nos rodeia? Como conseguirem os no final dizer: “Eis-m e aqui, e os filhos que D eus m e deu” ? E-nos absolu tam en te im ­ possível, irm ãos, mas D eus o pode, por meio de nós, pela energia da Sua graça. Se tem os meia dúzia de convertidos, como louvaremos a D eus se conseguirm os en trar com todos eles, já fora de perigo, pela porta de pérola! Aqueles que levaram grande nú m ero ao Salvador, necessitarão de poder in fin itam en te m aior para preservá-los até ao fim! Podem os anunciá-los 103

UM MINISTÉRIO IDEAL, Vol. 2 como nossos convertidos e nos sentirm os agradecidos por eles, todavia, podemos sofrer am arga decepção se se aparta­ rem de nós para a perdição. Que pena sermos considerados ricos no serviço e de repente perceber que nossos tesouros se dissipam porque, apesar das aparências, m uitos não haviam sido verdadeiram ente unidos ao Senhor Jesus! “Para isto, quem é idôneo?” Somos todos extrem am ente fracos. Se não houver a operação m iraculosa do poder divino, fracassaremos p o r com pleto. O cam inho é subm eter-nos à O nipotência para que ela opere p o r nosso in term éd io . A obra so b re­ natural exige um poder sobrenatural. Se não o possuím os, não tentem os trab alh ar só, para que não ocorra como no caso de Sansão, quando perdeu a força e se tornou joguete nas mãos dos filisteus. Esta força sobrenatural é o poder do Espírito Santo, a força de Jeová mesmo. E m aravilhoso que Deus condescendesse a realizar Suas m aravilhas de graça por meio de hom ens. E estranho que, em vez de ordenar com os próprios lábios: “Haja luz”, Ele transm ita as palavras ilum inadoras p o r meio de nossa boca. Em vez de criar novo céu e nova terra onde habita a justiça, por simples m andato do Seu poder, Ele Se une à nossa fraqueza e desse m odo realiza Seu propósito! Acaso não se m aravilham de que Deus tenha depositado Seu evangelho nestes pobres vasos de barro, realizando milagres por meio de mensageiros que pessoalm ente são tão incapazes de ajudá-10 nas partes essenciais de Sua obra celestial? Transform em sua adm iração em adoração e acrescentem um fervente clam or suplicando poder divino. Ó Senhor, opere através de nós para o louvor da Tua glória! Vejamos agora como alcançar o poder que tanto desejamos. N E C E SSIT A M O S D E S E N T I-L O EM NÓS Q U A N D O RECEBEM OS A M ENSAGEM . Para dem onstrar poder em público, temos de recebê-lo em secreto. Espero que nenhum 104

O Poáer do Pregador.. irm ão aqui se atreveria a tran sm itir à congregação algo que não ten h a recebido do Senhor, pois o feito por si m esm o, sem unção div in a, nada valeria. P alavras p ro ferid as p o r nossa conta, sem orientação divina, cairão no vazio. Antes de ir à p o rta receber o v isitan te, o porteiro in te rro g a ao senhor o que deve dizer. Somos servos em serviço na casa de D eus, devendo apenas com unicar o que nos foi ordenado. O Senhor concede a m ensagem para a salvação das almas e a reveste de poder; outorga-a a certa classe de pessoas, quando são observadas determ inadas condições. E n tre essas condições, observo inicialm ente simplicidade de coração. O Senhor se revela mais àqueles que estão mais vazios de si mesmos. Os que possuem m enos de si alcançarão mais de Deus. Ele pouco se preocupa se o vaso é de ouro ou de barro, contanto que esteja lim po e não dedicado a outros usos. Só então está preparada a taça para receber a água da vida. Se houvesse algo nela antes, adulteraria a água pura da vida; m esm o que houvesse algo p u ro , tam bém o cu p aria parte do espaço que o Senhor deseja para Sua própria graça. Portanto, o Senhor nos esvazia para que estejamos livres de preconceitos, auto-suficiências e conclusões preconcebidas q u a n to ao que deveria ser Sua verdade. Ele deseja que sejamos como crianças, que crêem no que o Pai lhes diz. E preciso que renunciem os a toda pretensa sabedoria. Alguns estão dem asiadam ente seguros de si mesmos para que Deus os possa usar. Ele não tolera o orgulhoso “eu”, o qual deve re d u z ir-se à m ín im a expressão, até que se to m e o m ais in sig n ific a n te que se possa conceber. O h, que D eus nos livre de nós mesmos! Oxalá pudéssem os deixar de pensar em nossa própria prudência! H á pregadores que se julgam pessoas im portantes. Assim, quando recebem a m ensagem de D eus, a corrigem , in te r­ calando suas próprias idéias; crêem que o evangelho antigo não se adapta à nossa época de progresso. Não só acrescentam, 105

UM MINISTÉRIO IDEAL, Vol. 2 como om item , julgando que certas verdades perderam o vigor com o passar dos anos. E entre as adições e as subtrações, pouco resta da pura Palavra de Deus. Os apóstolos são os prim eiros a serem rejeitados, como se o E spírito de D eus não houvesse falado através de Paulo com tanta autoridade como quando falou por meio de Cristo. O Senhor Jesus afirm ou: “A pala­ vra que ouvistes não é m inha, mas daquele que m e enviou”. Mas na grande oração intercessória rogou pelos que haviam de crer nEle m ediante testem unho dos Seus servos, signifi­ cando que, se não cressem por meio deles, não creriam de m odo algum. João, referindo-se a si mesm o e a seus com ­ panheiros de apostolado, declarou pelo E spírito Santo: “O que conhece a D eus, nos ouve; quem não conhece a D eus, não nos ouve. Por isto conhecem os o E spírito da verdade e o e sp írito do e rro ” . Irm ão s, que o S en h o r nos conceda grande humildade de mente! Não deve ser coisa extraordiná­ ria o aceitarm os o que D eus diz. N ão há necessidade de m uita h u m ildade para que pobres criaturas como nós se sentem aos pés de Jesus. D everíam os considerar como ele­ vação para nossos espíritos o jazer prostrados ante a sabedoria in fin ita. N ão há d ú v id a de que isso é o necessário para recebermos o poder que vem de Deus. A força divina reveste ao hom em junto com sua mensagem quando seu olho é simples. Deseja honesta e afanosam ente saber qual o pensam ento de Deus e aplica todas as faculdades a fim de receber a com unicação divina. E nquanto absorve a mensagem sagrada, através de um a entrega com pleta da alma, decide transm iti-la com toda a concentração de sua energia m ental e espiritual, visando à glória de Deus. A menos que tenha o olho simples e que o seu olhar contem ple a Cristo e Sua glória na salvação dos hom ens, D eus não o usará. H á certos defeitos que im pedem a alguém ser usado por Deus, e tudo que se pareça com um m otivo errado é um deles. Irm ãos, se seus objetivos são ganhar dinheiro, buscar 106

O Poder do Pregador.. com odidades, conseguir aplausos, ou alcançar posição, ou mesm o exibir talento oratório, não estão prontos para o uso do M estre. D eus não tolera que sejam os absorvidos p o r desígnios secundários. Q uão desprezível é a idéia de um m inistro que age dando a im pressão de tolo exibicionism o! Tem a incum bência de tra n sm itir a mensagem do Senhor, mas seu ideal é que a congregação com ente: “Q ue jovem tão agradável! Como fala corretam ente!” A exibição de si mesmo destrói o poder. Deus não pode abençoar a hom ens com idéias tão m esquinhas. Longe da dignidade do Senhor u tiliz a r um in s tru m e n to tão in e p to para Seus sublim es propósitos. Amados, observo que Deus confia Suas m ensagens aos que estão completamente submissos a Ele. Falando com certos irm ãos ou lendo seus escritos, pergunto a m im mesmo quem é o Senhor e quem é o servo, se o hom em , ou Deus. L am ento seus erros e aflijo-me ainda m ais pelo espírito dem onstrado. E claro que perderam a santa reverência para com as Escri­ tu ra s in d ic a d as p o r expressões com o “ Trem a da m in h a Palavra”. Em vez de trem erem , eles gracejam. A Palavra não é seu m estre, mas objeto de suas críticas. Para m uitos, a v erd ad e do S en h o r já não está en tro n iz ad a em lu g ar de honra, mas a tratam como se fosse um a bola, para dar-lhe patadas a seu gosto; os apóstolos são tratados como hom ens com uns, com os quais os sábios m odernos se colocam em pé de igualdade. O Senhor não pode operar p o r meio de alguém que se rebela co n tra Ele. E preciso que dem ons­ trem os atitude reverente, que nos tornem os “como m eninos” ou não entrarem os no reino dos céus. Q uando alguns hom ens estiverem na hora da m orte, a religião que idealizaram e inventaram para si não lhes p ro ­ duzirá m ais confiança que a do escultor católico-rom ano que, no seu leito de m orte, foi visitado pelo sacerdote que procurava confortá-lo: “Vai p a rtir desta vida”, e, erguendo 107

UM MINISTÉRIO IDEAL, Vol. 2 um formoso crucifixo, exclamou: “C ontem ple seu Deus que m orreu por você” . “Ai de m im ”, respondeu o m oribundo, “fui eu quem o fe z .” Não encontrava consolo na obra de suas próprias mãos; de igual m odo, não haverá conforto num a religião que alguém elabora. O que foi criado na m ente não pode satisfazer ao coração. Irm ãos, creio naquilo que eu não poderia ter inventado. Creio no que não posso entender. Creio no que Deus me obriga, e L he rendo graças por me in d icar um a rocha m ais alta do que eu. Se não fora m ais alta, não me serviria de refúgio. “Mas, apesar de tudo, diz alguém , é preciso que estude­ mos ativam ente a literatura da época, e a ciência do nosso tem po.” Sim, não disse que não o façam; mas que seja ejn subordinação à Palavra de Deus. Na lei cerim onial aparece instrutivo preceito que exclui para sem pre o uso de certos objetos no serviço do Senhor. Relem bro-os com verdadeiro tem or: “Não trarás preço de prostituta, nem preço de cães à casa de Jeová teu D eus”. Interrogo-m e se, ao citar deter­ m inados poetas e autores, não estamos desrespeitando tal estatuto. Q uando as vidas dos hom ens são im puras e m uitos dos seus princípios m undanos, deveríam os vacilar m u ito antes de citar sua linguagem . O blasfem ador do Deus vivo não deve ser nem m e n c io n a d o na casa do S enhor, p o r belas que pareçam ser as produções do seu coração rebelde. D e q u alq u er form a, tu d o que é do hom em , m esm o que seja o m elhor deles, há de ficar to talm en te su b o rd in ad o à Palavra do Senhor. Acrescento que, se Deus há de usar-nos, deve haver um a profunda seriedade de coração. Perm itam -m e lembrá-los do texto: “Para este olharei... o que trem e da m inha Palavra”. Habacuque descreve sua experiência: “Ouvi, Senhor, a tua palavra e tem i”. Q uando George Fox foi chamado tremedor porque tremia diante do nom e de Deus, o título foi um a honra para ele. Ele estava possuído por Deus de tal m aneira, que trem ia com todo o ser. 108

O Poder do Pregador.. Tal e x p e riê n c ia não é e s tra n h a ao v e rd a d e iro filh o de D e u s. D eu s ja m a is Se m a n ife sta a nós sem fa z e r-n o s trem er. Somos tão débeis e essas manifestações divinas são tão p o d ero sas, q u e p ro d u z e m nós um te m o r re v e re n te , não restando espaço para pensam entos levianos. Evitem , irm ãos, dissipar o tem po no preparo de sermões. Alguém diz que gasta m uito pouco tempo em prepará-los. Não se orgulhem disso; talvez seja seu pecado. Se acontece que um m in istro possa com por rapidam ente um serm ão, precisam os recordar que isso é o resultado de esforço de m uitos anos. M esmo aquele que, segundo dizem , sabe falar de im proviso, não o faz realm ente; apenas transm ite o que arm azenou durante longo período de tempo. O m oinho está cheio de trigo; p o rta n to , quando se põe o saco no lu g ar devido, fica cheio de farinha com rapidez. Não considerem a preparação para o púlpito algo de secundária im portância; não se lancem aos deveres sagrados sem se p re p a ra re m devotam ente para um culto santificado. Que a espera diante de D eus em oração se constitua um hábito em sua vocação, e ao mesm o tem po seu m ais elevado privilégio. C onsiderem gozo e h onra m anter um encontro com seu M estre. Até o m aná c h e ira m al se o g u a rd a rem m ais do que o tem po devido; po rtan to , recebam -no diretam ente do céu e então terá sabor e arom a celestiais. A crescentarei algo nesta divisão. O poder que ta n to necessitam os ao receber a m ensagem só virá quando houver afinidade com Deus. Sabem o que é sentir um a terna afinidade com D eus? Talvez nenhum de nós sabe o que seja afinidade perfeita com D eus; contudo, é necessário que estejamos em com unhão tão íntim a com Ele que sintam os que Ele nada possa d izer ou fazer que precisaríam o s questio n ar. N ão poderia duvidar de nenhum a verdade que Ele revele, nem discutir mesm o no íntim o do coração nada que Sua vontade decida. Se algo em nós não está em perfeito acordo com o 109

UM MINISTÉRIO IDEAL, Vol. 2 Senhor, julguem os isso um m al e gem am os desejando ser livres dele. Se algum a coisa em nós contende contra Deus, lutem os contra isso, pois somos um com Ele em intentos e desejos. Hoje em dia ouvimos falar a respeito da afinidade com o hom em , e, até certo ponto, estamos de acordo com tal coisa. Solidariedade com os caídos, os que sofrem, os perdidos; boa coisa é essa; mas m inhas afinidades estão sem pre com o Senhor m eu Deus. Seu nom e está sendo desonrado; Sua glória está sendo arrastada na lama. O mais m altratado de todos é o Seu amado Filho ensangüentado. Pensar que Ele haja am ado de tal m aneira, e não obstante, seja desprezado! Q ue um a beleza como a Sua passe despercebida, que tal redenção seja rejeitada e tal m isericórdia seja depreciada! Que são os hom ens, depois de tudo, com parados com Deus? Se são como eu, que pena que hajam sido criados! Q uanto a D eus, não enche Ele todas as coisas de bondade e essência? Para m im , o calvinism o significa colocar o Deus eterno à frente de todas as coisas. C ontem plo a tudo em sua relação com a glória de D eus. Vejo D eus em p rim eiro lugar, e o h o m em no ú ltim o lu g a r da escala. P ensam os d e m asia ­ d a m en te em D eus p a ra ser do agrado de no ssa época; mas não nos envergonham os. O hom em tem um a vontade e como a propaga! D izia alguém há pouco - e existe algo de v erd ad e n isto - “a trib u o um a espécie de o n ip o tê n c ia à v o n tad e h u m a n a ” . M as, tam b ém não p o ssu i D eus um a v o n ta d e ? Q ue a trib u e m a essa v o n ta d e ? N a d a tê m a d eclarar a re sp eito da Sua o n ip o tê n c ia? Será que D eus não tem escolha nem propósito ou soberania sobre Seus p ró p rio s dons? Se vivem os em a fin id a d e com E le, nos deleitamos em ouvi-lo dizer: “Eu sou D eus, e não há o u tro ”. Apenas posso expressar-lhes quanto valor atribuo a este entusiasm o por Deus. E preciso que estejamos em harm onia com todos os Seus desígnios de am or para com os hom ens, enquanto em secreto recebem os Sua m ensagem . C hegar a 110

O Poder do Pregador.. parecer m uito fervorosos no p ú lp ito , não significa grande coisa a m en o s q u e vivam os m u ito m ais in te n s a m e n te quando estam os a sós com D eus. O fogo do coração é o fogo genuíno. A esposa que m antém o hábito de p reparar seu p róprio pão, não quer que haja um a grande brasa na boca do forno. “D e m odo nenhum desejo que a lenha fique no in terio r do forno, para aquecê-lo devidam ente, pois só assim m e será ú til.” D e igual m odo, os serm ões não são aquecidos com fogo exterior; devem ser preparados com o calor do mais íntim o da alma. Essa preciosa Palavra, esse divino pão da proposição, há de ser assado no centro de n o ssa n a tu re z a pelo calor p ro d u z id o pelo E s p írito que habita em nós. O Senhor Se deleita em usar o hom em que esteja em perfeita solidariedade com Ele. D eus Se com praz na afini­ dade com Seus filhos. Se você está pesaroso até ao ponto de chorar, e seu filh in h o lhe diz: “Papai, não ch o re” ou pergunta: “Por que chora, papai?”, e então começa a soluçar tam bém , isso não o confortaria? Pobre criança, não entende o que se passa; mas você diz: “B endito seja, q u e rid o ”, e então o beija, e se sente consolado por ele. D e igual m odo o Senhor observa o pobre m inistro am argurado e clam ando na Sua presença: “ Senhor, não querem vir a Ti; não crêem na Tua Palavra. Correm atrás do mal, em vez de serem conver­ tidos a Ti. Se eu lhes oferecesse vaidades e divertim entos, viriam em grande núm ero; mas quando lhes prego o Teu amado Filho, não me escutam ” . O poderoso D eus começa a p a rtic ip a r das suas angústias, e acha um suave c o n ten ta ­ m ento no afeto do seu coração. Deleita-Se em acolher ao que se solidariza com Ele, e em dizer-lhe: “Vai, m eu filho, e opera em m eu nom e; pois posso confiar m eu evangelho em suas m ãos” . C hegue-se a Deus e Ele estará com você; abrace a Sua causa, e Ele defenderá a sua. Não pode haver dúvidas quanto a este fato. 111

UM MINISTÉRIO IDEAL, Vol. 2 A com panhem -m e, irm ãos, enquanto tratarei do PO D E R D E Q U E N E C E S S IT A M O S Q U A N D O E S T A M O S T R A N SM IT IN D O A M ENSAGEM . Se há de provir um resultado divino da Palavra de Deus, é indispensável que o Espírito Santo a use. Do mesmo m odo que Deus ia à frente dos israelitas quando separou as águas do M ar Vermelho e os conduziu através do deserto por meio da coluna de nuvem e de fogo, assim tam bém é preciso que a poderosa presença do Senhor acom panhe Sua Palavra a fim de ser abençoada. Como, pois, havemos de obter essa bênção inapreciável? As grandes forças naturais estão no m undo, e quando os técnicos desejam utilizá-las, agem de m aneira apropriada. Não podem criar a força por meio de m áquinas, porém conseguem usá-la ou controlá-la. Também podemos ser beneficiados utilizando certos métodos para reduzir ao m ínim o as influências deste m undo mau, com o qual esta­ mos inevitavelm ente em contato. A experiência de cada um dem onstrará a im portância de agir desse m odo. Como há um tipo de eletricidade produzida m ediante fricção, tam bém podem os receber força entrando em contato com D eus, e por meio do efeito espiritual da verdade quando ela opera sobre um coração bem disposto e obediente. Ser tocado pelo dedo de D eus, ou ao m enos alcançar a orla da túnica do M estre, é revestir-se da energia celestial. Aproxim em -se constantem ente de D eus em santo diálogo, perm itindo que lhes fale m ediante Sua Palavra enquanto se dirigem a Ele por meio de suas orações e louvores. Nisso serão fortalecidos. O m aior gerador de energias de que dispõe o hom em é o calor. Suponho não haver nada que produza tan to poder para uso hum ano como o fogo; de igual m odo, o elem ento ardente e consum idor do m undo espiritual é o segredo do desenvolvim ento da força espiritual. E preciso que sejamos absolutam ente ferventes e necessitam os sen tir a brasa de um zelo que nos consum a, ou do contrário terem os m uito 112

O Poder do Pregador.. pouca força. Precisamos diminuir; é necessário que ardam os se desejamos ser luzes que brilham . Não podem os salvar nossas vidas e salvar os demais; é preciso que haja um a crucificação do “eu” para que outros sejam salvos. Para que tenham os o Espírito Santo atuando em nós, é preciso que haja uma adesão muito íntima à verdade de Deus, com clareza, audácia e fidelidade na declaração da mesma. Não basta possuir um credo ou adotar uma “confissão de fé”. Se não existir crença firm e no coração quanto à verdade, esses preciosos docum entos se tornarão papéis inúteis. Tais declarações m encionadas podem ser com paradas a bandeiras, que se m o stram ú te is q u an d o c o n d u zid a s p o r soldados v a len tes, ou o rn a m e n to s rid íc u lo s se u sado s p a ra fins secundários. Certo professor num a ocasião m inistrava aula sobre p a trio tis m o e n a c io n a lid a d e . E sta n d o a b a n d e ira nacional pregada ao lado da sala, o m estre perguntou a um garoto: “Vejamos, que bandeira é essa?” “E a bandeira inglesa, senhor.” “E para que serve?” O sincero m enino respondeu: “Usa-se para encobrir o sujo da parede”. Não necessito in te r­ p retar a parábola. M uitos adotam ortodoxia apenas como pretexto a fim de encobrir o erro secretam ente defendido. Pelo contrário, amados, apeguem-se à verdade, pois ela não nos abandona. O nde quer que os conduza, sigam -na; por toda parte e em qualquer circunstância, acom panhem -na de perto, tem endo apenas afastar-se dela. A verdade divina é o m elhor dos hóspedes; sejam hospi­ taleiros para com ela, como o fez Abraão com referência aos anjos. Não meçam sacrifícios para apoiá-la; ela concede um a rica bênção aos que se negam a si mesmos por am or a ela. Mas não acolhem a nenhum a das invenções hum anas, pois os trairão, como Judas a Cristo com um beijo. Não se assom­ brem ante as caricaturas da verdade fabricadas por m entes maliciosas. Hoje em dia é norm a entre os hom ens deturpar as doutrinas do evangelho. Eles me lem bram de Voltaire, de 113

UM MINISTÉRIO IDEAL, Vol. 2 quem se disse ser capaz de tom ar qualquer livro nos tempos da perseguição: envolviam os cristãos em peles de urso, e em seguida lançavam os cães sobre eles para que os despedaças­ sem . M o ra lm e n te n o s tra ta m de ig u a l m o d o q u a n d o defendem os alguma doutrina pouco popular. Fiquem certos de que, como não podem vencer a verdade mesm a, fabricam um a im agem dela, a enchem de palha, e a queim am com euforia pueril. Que eles desfrutem de tais divertim entos o quanto desejarem. Irm ãos, não creio que D eus porá Seu selo sobre um m inistério que não se caracterize de estar estritam ente de acordo com a m ente do Espírito. N a proporção em que seja genuíno, Ele pode abençoá-lo, se as demais condições são as mesmas. G ostariam que o Santo E spírito aprovasse um a m e n tira ? Q u e reriam que E le reco m p en sasse o que não revelou, e confirm asse com sinais o que não é verdadeiro? E stou cada vez m ais persuadido de que se nos propom os ter D eus conosco, é preciso que nos cinjam os à verdade. E u m a re g ra quase in v a riá v e l, que q u a n d o os h o m e n s se afastam da verdade antiga, raram ente são eficazes em ganhar almas. Tenham uma fé genuína na Palavra de Deus e no seu poder para salvar: não subam ao p ú lp ito pregando a verdade e dizendo: “Espero que isto resulte nalgum bem”; pelo contrário, creiam firm em ente que não tornará vazia, mas realizará o eterno propósito de Deus. Não falem como se o evangelho talvez te n h a algum poder, ou talvez não te n h a n en h u m . Deus nos envia a operar milagres; portanto, ordenem aos que estão espiritualm ente aleijados: “Em nom e de Jesus Cristo, o N azareno, levantem -se e andem !” e eles serão restaurados! Mas se disserem : “Espero, am igo, que Jesus possa fazê-lo levantar e andar”, o Senhor franzirá o cenho ao ouvir palavras tão desonrosas; se rebaixarem Cristo e O fizerem descer ao nível de sua incredulidade, Ele jamais fará m aravilhas por 114

O Poder do Pregador.. meio de vocês. Falem ousadam ente; se falarem no poder do Espírito, não o farão em vão. Oxalá pudéssem os fazer com que nossos ouvintes cressem no que dizem os! C itaram -m e o caso de um a criança cujo pai, m inistro, lhe havia contado uma anedota, a qual perguntou: “Papai, isso é verdade ou é pregação?” Podem sorrir, mas é m elhor chorar quando se chega a su sp eitar que a pregação seja algo irreal. E algo lam entável que a congregação leia um a n otícia no jornal e dê-lhe créd ito , mas ao escutar um sermão, conclui: “E apenas um a opinião piedosa” . Isso ocorre por falta de fidelidade dos m inistros. Q u an to a nós, adotem os a n o rm a: “C ri, p o r isso fa le i”. Tenhamos confiança genuína em tudo quanto D eus revelou. C onfiem , não apenas na Sua verdade, porém tam bém no Seu poder. D em onstrem fé na absoluta certeza de que, se é pregado, Deus produzirá resultados gloriosos. C ingindo-nos estreitam ente à verdade por meio de um a fé tenaz, estam os em condições de esperar as bênçãos de Deus. Além disso, na pregação deve haver concentração do coração no trabalho a que nos dedicamos. N unca prosperarem os em nossa sagrada vocação se d ividim os as energias com outras atividades. O hom em que se dedica a m eia dúzia de coisas quase sem pre fracassa em todas. Não é de estranhar. N ão po ssuím os su ficien te água para m o v im e n ta r vários m o in h o s . A m e n sa g e m de D e u s m e re ce to d a a n o ssa capacidade. Se não estam os in te ira m e n te envolvidos no trabalho, não podemos esperar resultados satisfatórios. Temos de servir ao S enhor com toda a diligência, se realm ente esperam os ser eficazes em nossa santa ocupação. Se queremos que o Senhor nos acom panhe na transm issão de nossa mensagem , sejamos genuinamente fervorosos e cheios de um zelo vivo. Sermões estudados durante dias, anotados, lidos, relidos, corrigidos e em endados, correm grande perigo de serem dem asiadam ente rígidos e secos. Jamais alcançarão 115

UM MINISTÉRIO IDEAL, Vol. 2 boa colheita, se plantarem batatas cozidas. A m úsica que ouvimos pela m anhã na prim avera contém um a vivacidade que as aves prisioneiras não podem alcançar; está cheia de arrebatam ento e dem onstra variedade e sentim ento. E algo festivo escutar a um pregador local realm ente bom , expondo sua experiência de como chegou a Cristo, relatando-a a seu modo, cordialm ente e sem afetação. U m testem unho simples e sincero é sem elhante às uvas recém recolhidas da vinha; quem p re fe riria um p u n h a d o de passas? M u itas vezes o pregador refinado é ouvido com atenção pela sua inteligência e suas palavras são cuidadosam ente em pregadas, mas, apesar de tu d o , o re s u lta d o é n e g a tiv o , p ro d u z in d o um o d o r desagradável com o azeite rançoso. D êem -nos serm ões, e livrem -nos de ensaios! Se a vida do sermão se fortalece m ediante a preparação, preparem -no até onde for possível; mas se a sua alm a se evapora durante o processo, qual o bem produzido por tão penoso labor? E um a espécie de assassinato que com etem com o sermão, secando-o até que m orra. Não creio que Deus o Espírito Santo tenha em grande estim a o clássico de sua com posição; não acredito que o Senhor Se deleite em sua retórica, em sua poesia, ou mesmo naquela formosa peroração do fin al do discu rso , à sem elhança da exibição fin al de antigas diversões, quando um a profusão de fogos de artifício servia para concluir o festival. N em sequer tão m agnífica apoteose é usada pelo Senhor para produzir a salvação dos pecadores. Se no sermão há fogo, vida e verdade, o Espírito o perará p o r m eio dele, mas som ente em tal caso. Sejam fervorosos, e não necessitarão de ser elegantes. O Espírito Santo nos ajudará em nossa m ensagem quando existir em nós inteira dependência dEle. Em prin cíp io , todos aceitamos esta verdade. Entretanto, dependemos inteiram ente do Espírito? Ele não recom pensaria a ninguém que, subindo ao púlpito, falasse do que lhe viesse à m ente, sob a pretensão 116

O Poder do Pregador.. de dependência dEle. Não há dificuldades práticas em recon­ ciliar nossos p róprios esforços fervorosos com a h u m ild e dependência de D eus; mas é m uito difícil fazer que pareça lógico quando estamos tão-som ente discutindo um a teoria. E a antiga dificuldade em reconciliar a fé com as obras. Em tudo deve haver meio term o. Não oraria ao Senhor que me guardasse, ao mesm o tem po deixando de fechar a porta ou deixando a janela escancarada. Igualm ente não devo pedir a bênção do Espírito, subindo ao púlpito sem haver pensado cuidadosam ente no m eu texto. Mas se preparar os pensam entos e expressões tão m inuciosam ente que nunca, variasse a forma, m inha fé seria afogada por tantas obras, por assim dizer, que não perm itiriam liberdade de ação. Não vejo onde fica a oportunidade para o E spírito de ajudar-nos na pregação, se todos os jotas e tis estão previstos de antem ão. E nquanto estão pregando, creiam que Deus pode dar-lhes, naquela mesma hora, o que têm de falar; e pode fazer-lhes dizer algo em que não haviam pensado antes; e fazer com que as palavras sugeridas se tornem exatam ente aquela parte do discurso que vai alcançar p ro fu n d am en te os corações, em vez daquilo que tin h a m planejado. Não reduzam sua dependência do E spírito à m era frase; esforçem-se para que, cada vez mais, se torne realidade. Sobretudo, irm ãos, se alm ejam a bênção de D eus, man­ tenham-se em constante comunhão com Ele. Pode o cristão expor-se ao perigo de ficar fora desta com unhão? Nunca. Se andam os sem pre com D eus, e agimos para com Ele como um a criança em relação a um pai amoroso, de m odo que o espírito de adoção esteja sem pre em nós, e o espírito de am or em ane c o n stan tem en te de nós, pregarem os com p o d e r,'e D eus abençoará nosso m inistério; pois então conhecerem os e apresentarem os os pensam entos de Deus. A crescentam os que, se pretendem os desfrutar do poder divino, é preciso que manifestemos alto grau de santidade de vida. 117

UM MINISTÉRIO IDEAL, Vol. 2 Não pediria a nenhum irm ão que professasse ter vida mais elevada que os demais crentes; se o fizesse, suspeitaríam os não ter hum ildade suficiente. Não convidaria nenhum irm ão a declarar que tem mais santidade que os outros m inistros; se o dissesse, poderíamos tem er que ao colocar um letreiro externo sim plesm ente dem onstraria que a graça estava ausente. Mas é in d isp ensável que possuam os um a san tid ad e em nível elevado. Como pode Deus abençoar um a vida pouco santa? E lastim ável que os atos de transigência com o m undanism o sejam atu alm en te, não apenas tolerados, porém nalguns setores até elogiados como prova de m entalidade elevada. Pessoas m u n d an as observam com desdém costum es relaxados num pregador. Certo clérigo era viciado no jogo de cartas. Q uando um vizinho foi convidado a ir à igreja, cujo tem plo ficava próxim o da casa, respondeu que não iria ouvir um jogador de baralho. “Mas você tam bém joga”, disse-lhe seu amigo. “ Sim, contudo não confiaria m inha alma a um viciado. Quero que m eu guia espiritual seja m elhor do que eu.” Tal objeção se presta a m uitas críticas, mas contém forte dosagem de bom senso. Desse m odo é que o m undo julga as coisas. Ora, se mesmo os m undanos reconhecem que homens que dissipam o tempo com coisas frívolas não são dignos para seu trabalho, podem estar seguros de que o E spírito Santo não tem m elhor conceito sobre eles, estando penosamente ofendido de que haja intrusos pouco espirituais e pouco santos na sagrada função. Se somos capazes de m entir, nos revelamos pouco afáveis para com os familiares, se não pagamos nossas dívidas, se nos destacamos como superficiais ou não nos dedicamos à devoção, como podemos esperar bênção? “Purificai-vos, os que levais os vasos do Senhor.” Repetim os, Ele não olha se somos de m adeira ou de barro, mas exige que o vaso esteja limpo. Oh, como almejamos que Deus nos m antenha puros, e então nos tom e em Suas mãos para Seus propósitos! Igualmente, se temos de ser revestidos do poder do Senhor, 118

O Poder do Pregador.. é preciso que sintamos um intenso anelo pela glória de Deus e pela salvação dos filhos dos homens. M esm o que alcancem os êxito, temos de desejar mais. Se Ele nos tem concedido m uitas almas, devem os desejar ard e n tem e n te m il vezes m ais. E starm os satisfeito com os resultados obtidos será o princípio do fim do progresso. N enhum hom em é bom se julga que já não pode m elhorar. O que crê ser bastante santo, não possui santidade, o que pensa ser suficientem ente útil, não tem utilidade. O desejo de h o n ra r a D eus au m en ta à m edida que crem os. Sim patizam os com W elch, aquele santo m inistro de Suffolk, a quem viram sentado chorando, e alguém lhe perguntou: “Por que chora?” “Não posso dizer”, replicou. Todavia, quando insistiram m uito, ele respondeu: “Choro por não ser capaz de am ar m ais a C risto ” . Tal hom em era c o n h ecid o p o r to d a p a rte p o r sua p ro fu n d a dedicação ao M e stre , mas sen tia p ro fu n d am e n te p o r não p o d er consagrar-se ain d a m ais. O m in is tro m ais santo é o que clam a: “M iserável hom em que sou!” Os crentes com uns não suspiram assim. O pecado só chega a ser extrem am ente doloroso para os que são extrem am ente puros. A ferida do pecado, que para os tolerantes seria m enos que um a picada de alfinete, para eles significa um golpe de punhal. Se sentim os grande am or por Jesus, e p ro fu n d a com paixão pelos que perecem , não ficarem o s inchados com os grandes êxitos; senão que suspiram os e clamamos pelos m ilhares ainda não convertidos. O am or pelas almas influirá de vários m odos em nosso m inistério. E n tre outras coisas, nos fará sim ples no falar. Não devo em pregar um term o difícil que a alm a afligida não possa entender, pois ele não consegue transm itir-lh e alívio. E bonito co nstruir frases altissonantes, mas não passa de um divertim ento, e não serve para os nossos im portantes fins. Alguns tentam im pressionar os ouvintes pela profundidade dos pensam entos, revelando m ero apego às palavras formosas. O cultar coisas sim ples em frases obscuras é um jogo, porém

119

UM MINISTÉRIO IDEAL, Vol. 2 não serviço a Deus. Se amam m elhor aos perdidos, amarão m enos as frases. Q uando a mãe se dirige às crianças, em prega a linguagem mais simples, para que elas com preendam ; isso dem onstra bom senso e grande interesse por elas, pelas quais ela deseja todo o bem. O amor, quando se dirige aos homens, esquece a dignidade e os prim ores literários, e só pensa em transm itir o significado, em com unicar a bênção. Estender diretam ente o nosso coração sobre outro coração, é m elhor do que adorná-la com a p in tu ra e o verniz de brilhante fraseologia. H á um a acertada m aneira de tratar as pessoas, e essa arte se adquire através de um am or intenso. Como aprendem as jovens mães a criar os filhos? H averia alguma academia que ensine a ser mãe? Já fundaram algum grêmio de maternidade? Não; o amor é o grande mestre, fazendo com que a jovem m ãe alcance um en ten d im en to rápido do que é melhor para o filhinho. Cheguem a amar m uito a Cristo e às almas im ortais, e é m aravilhoso como sabiam ente adaptarão seus ensinos às necessidades dos que os rodeiam . M en cionarei m ais algum as coisas necessárias p ara o pleno desenvolvim ento do poder que regenera os pecadores e edifica os santos. Devemos prestar muita atenção aos que nos cercam. Não é tão fácil pregar num lugar nunca antes visitado como é na sua igreja, cercados de pessoas que os am am e oram por vocês. Q uando vamos a certas reuniões, frias como geladeiras, não nos sentim os felizes, observando que não existe atm osfera de avivam ento, orvalho restaurador nem sopro celestial. Como seu M estre, não podem fazer nada por causa da in c re d u lid a d e em volta. N ão há corações que correspondem aos seus. Observem um grupo sonolento ou um a sociedade de críticos. Sua fervorosa m ensagem não encontra o acolhim ento da boa vontade. Quando pessoas se aproximam com grande desejo de ouvir, dem onstrando intensas esperanças de receber a bênção, cada palavra tem o seu devido peso. Mas se a congregação nada 120

O Poder do Pregador.. espera, geralmente nada acha, ainda no m elhor dos pregadores. Q uando está disposta a dar a devida im p o rtân cia ao que ouve, sem pre ocorre receber o que vem buscar. Sem dúvida nosso trabalho é m uito afetado, para o bem ou para o mal, pelo estado da congregação, da igreja, dos líderes. Certas igrejas estão em tal condição que são capazes de frustrar qualquer m inistério. Se os líderes soubessem quão lim itado é o seu m inistro, o qual lhes pede para orar sem pre em seu favor, eles o fariam carinhosam ente. Isso nos deve levar à sábia m edida de preparar hom ens na prática da oração. Além disso, é provável que nos ouçam m elh o r depois de terem intercedido por nós. Como desejam os ser rodeados p o r um gru p o de hom ens cujos corações foram tocados pelo Senhor! Se tem os em torno de nós um a congregação santa, seremos mais capazes de pregar. U m povo santo, que vive o que prega, constitui a m elhor plataform a para um pregador cristão. Cristo subiu ao m onte e ensinou à m ultidão; quando tiverem ao seu redor um grupo de pessoas santas, subirão, por assim dizer, ao m onte, e dessa elevação adequada, falarão com o povo. N ecessitam os de um povo santo, mas infelizm ente não raro há um Acã no acam ­ pam ento. As capas babilônicas e os lingotes de prata estão em grande dem anda, e a fé fraca afirm a que não pode pres­ cin d ir dessas coisas. A política carnal sussurra: “Que faremos com as despesas da igreja, se o irm ão rico se retirar? Temos poucos abastados, e precisam os fazer um esforço especial para conservá-los conosco” . É assim que a m aldição tem o p o rtu n idade para m in ar nossas igrejas e d erro tar nossos m inistérios. Se essa peste infecta o ar, mesm o que preguem os até cair a língua, não ganharem os almas. U m hom em pode ter m ais poder para o m al que cinqüenta pregadores para o bem . Q ue D eus nos conceda um povo santo, que ora, a quem Ele possa abençoar! Se queremos grande bênção, precisamos manter a congregação 121

UM MINISTÉRIO IDEAL, Vol. 2 unida. O E spírito Santo não abençoa um grupo de professores em disputa. Os que estão sem pre contendendo, não pela fé, mas por diferenças m esquinhas e zelos familiares, dificilm ente atrairão à Igreja o Espírito da paz. A falta de unidade sempre dem onstra falta de poder. Sei que algum as igrejas falham n e s te s e n tid o ; m as c e rto s m in is tr o s n u n c a tê m u m a com unidade harm oniosa, em bora m udem constantem ente; receio que é porque eles mesmos são pouco afáveis. A menos que nós mesmos sejamos m oderados, não podem os esperar que a congregação esteja em boa harm onia. Como pastores, tem os de su p o rta r m u ita coisa; e qu an d o crem os haver suportado até o lim ite, e julgamos não poder suportar mais, precisam os começar novam ente e suportar o mesm o outra vez. F irm es n o amor, “que tudo suporta e tu do espera”, tem os de resolver tranqüilam ente não nos considerar ofendidos; e antes de m uito tem po haverá harm onia onde reinava a discórdia, e então podem os esperar bênção. Temos de suplicar a Deus que nossa congregação seja fervorosa completamente quanto à extensão da verdade e à conversão de pecadores. Quão feliz o m inistro quando se sente rodeado de irm ãos fervorosos e ativos! Que dano pode causar o obreiro frio e queixoso! O corre m uitas vezes que quando o m inistro desce do m o n te com a alm a a rd e n te por te r estado com D eus, recebe um a ducha de observação vulgar produzida por irm ãos que não sim patizam com ele nem com o seu tema. Isso se co n stitu i num a decepção para ele e im p ed im en to para o E spírito Santo que observa tais exemplos de conduta descortês e irreverentes. Que enorm e trabalheira a nossa! A menos que o Espírito de D eus venha santificar a atmosfera, quem poderá realizá-la? Necessitam os de ter um povo que ore realm ente. O rem m uito, e isso será mais eficaz do que c en su ra r ao povo p o rq u e não ora. O h, com o desejam os contar com um a congregação que interceda! A legião que ora se tornará vitoriosa. Uma das nossas necessidades mais

122

O Poder do Pregador.. urgentes é a oração fervorosa e im portuna. No entanto, além da cooperação em serviço, necessitam os que nossos irm ãos vão em busca dos perdidos. Cada vez que um estranho se aproxim a do tem plo, alguém deverá falar com ele. Toda ocasião que um a pessoa m ostrar-se interessada, precisa haver um irm ão fervoroso que a ajude. O nde quer que um coração se m ostre perturbado, convém que um a voz expe­ rim entada lhe transm ita palavras de consolo. Se fosse assim, nosso m inistério m ultiplicaria seu esforço e os resultados seriam surpreendentes. Oxalá nossas igrejas se tornassem em arm azéns de zelo e fervor cooperativos, onde não só um hom em , mas todos, estivessem trabalhando para Cristo! C oncluirei exortando a que cada um pense na responsabili­ dade que recai sobre si. A d o u trin a da re sp o n sa b ilid a d e se h a rm o n iz a com a d o u trin a da p re d e stin a ç ã o . C reio na p re d e stin a ç ão sem re co rtá-la nem m od ificá-la; a cred ito na re sp o n sa b ilid a d e sem a d u lte rá -la nem d e b ilitá -la . O hom em de D eus põe diante de vocês um a aljava cheia de flechas e lhes m anda disparar as flechas da libertação que provém do Senhor. Levantem -se e tom em o arco! Lem brem -se que cada vez que dispararem haverá vitória para Israel. In te rro m p erão na terceira flecha? O hom em de D eus se aborrecerá e ficará aflito se o fizerem, e dirá: “Cinco ou seis vezes deverias ferir os sírios até os destruíres” . Não seria certo que fracassam os em nossas pregações, n aq u ilo que vamos fazer e no desígnio que nos propom os realizar? Não o co rre que depois de term o s tra b a lh a d o um p o uco nos damos por satisfeitos? D esprendam -se de um contentam en­ to tão m esquinho! D isparem os m uitas vezes. E ncham -se de g ran d e am bição, não p o r vocês, m as p o r seu Senhor! E lev e m seu id e a l. N ão h á in c o n v e n ie n te em a p o n ta r para o próprio sol; assim dispararão mais alto do que se o ponto de m ira fosse um objeto rasteiro. Creiam em grandes coisas procedentes de um Deus onipotente. 123

UM MINISTÉRIO IDEAL, Vol. 2 R ecordem que seja qual for sua atitude, a sua respon­ sabilidade é grande. Não houve um a época mais inquieta que a nossa. O que está sendo feito agora afetará séculos vindouros, se o Senhor não voltar logo. Se andam os reta e resolutam ente diante de Deus hoje, faremos com que o futuro de m uitos res­ plandeça com o evangelho; mas a doutrina deturpada e m inada prejudicará a filhos ainda não nascidos, geração após geração. Não me preocupo em prim eiro lugar com o que acontece hoje, pois estas coisas têm relação com a eternidade. Q uanto a m im , estou disposto a ser devorado por meus inim igos pelos p ró ­ ximos cinqüenta anos, mas um futuro mais distante m e vindicará. Vivamos honradam ente perante o Deus vivo. Quem sabe se para isto viemos ao reino neste tempo? Se temos esta certeza, portem o-nos varonilm ente. Se D eus está em nós, podemos realizar maravilhas. Todavia, se não é assim, derrubado, abatido, m arcado com o selo da in u tilid ad e , serem os lançados no esterco feito dos fracassos dos covardes e das vidas mal em pre­ gadas. Que D eus nos livre, a vocês e a m im , de tal desgraça! Charles Wesley disse a seu irm ão João: “Nosso povo sabe m orrer bem !” N unca estive à cabeceira de algum enferm o da nossa congregação sem sentir-m e fortalecido na fé. A nte a gloriosa confiança deles, lu taria contra toda a terra sem jam ais d u v id a r in tim a m e n te do ev an g elh o do S enhor. M orrem gloriosam ente. H á pouco visitei um a irm ã com câncer debaixo do olho. Não se lam entava; pelo contrário, estava feliz, cheia de gozo, exultante com a esperança de contem plar a face do Rei em Sua formosura. Falei com um co m erciante nos seus últim o s in stan tes, observando-lhe: “Parece que não tem tem or”. “N ão”, respondeu com firmeza, “como posso tê-lo? O Senhor não nos ensinou coisas que produzem temor. Como haveria de tem er a m orte, se há trin ta anos me alim ento da carne sólida do reino de Deus? Eu sei em Quem tenho crido!” Tive um a experiência celestial com aquele hom em . Não posso usar um term o mais m oderado. 124

O Poder do Pregador.. Ele d em o n strav a um a alegria san ta na esperança de um traslado em breve para o m undo melhor. Perm itam -m e, irm ãos, um a últim a palavra. Vocês e eu m o rrerem o s em breve, a m enos que o S e n h o r reg resse antes. B em -aventurada coisa será se, enquanto perm anecem os no silêncio, e as noites se tornam longas, e nossas forças d im in u e m , possam os ap o iar-n o s no trav esseiro e d izer: “ Senhor, Te conheço desde a m inha juventude, e até aqui te n h o p ro clam ad o Tuas obras m arav ilh o sas; agora, que esto u a p o n to de p a rtir, não m e a b a n d o n e ” . Três vezes d itosos serem os, se pu d erm o s a firm a r fin alm en te: “N ão tenho deixado de anunciar-vos todo o conselho de D eus”. Amados irm ãos, já determ inei que, se Deus me ajudar, m e u n ire i àqueles que an d arão com o S enh o r de vestes brancas, pois são dignos. A respeito deles se diz que “não se contam inaram ”, os que não se aliaram a confederações que m ancharam as consciências e co n tam in aram os corações. Estes são os que se separaram por am or dEle, obedecendo à palavra: “ Saí do m eio deles, apartai-vos dos tais, e não toqueis o que é im undo” . H á um desfrute especial da adoção para a consciência que é fiel à senda separada e jam ais se degrada com a transigência. Creio que na fidelidade estará o seu poder. N ão podem os p e rm itir pequenas brechas na consciência p orque servim os a um D eus zeloso. Ele não p erm itirá naqueles a quem m uito ama o que consente em o u tro s. Q u a n to m a io r Seu am o r m ais a rd e n te seu zelo quando Seus escolhidos de algum m odo se afastam dEle. A inda um pouco e não estarei m ais com vocês. Q uando estiverem com entando: “O irm ão partiu; que vamos fazer?” Admoesto-os a que sejam fiéis ao evangelho do Senhor Jesus Cristo e à doutrina de Sua graça. Sejam fiéis até à m orte, e não perderão a coroa. Mas amados, que não m orra nen h u m de nós como luz obscurecida, term inando um m inistério sem poder, em trevas eternas! Que o Senhor mesm o os abençoe! Amém. 125

6 O MINISTRO NOS TEMPOS ATUAIS Nesta oportunidade desejo dizer algo adequado à nossa época. N unca preguei, segundo a expressão da m oda, aos nossos tem pos; no entanto, gostaria de falar sobre os nossos tem pos, crendo que um a palavra o p o rtu n a p ro n u n c ia d a agora pode ser benéfica tam bém no futuro. Nossos tem pos m e im pressionam de tantas m aneiras que eu preciso fazer um a abordagem rápida e tocar resum idam en te em várias m atérias, em vez de lim itar-m e a um só tema. Perm itam -m e que desta vez lhes fale desse modo. Inicialm ente, reflitamos sobre A POSIÇÃO DO SENHOR PARA CONOSCO. D efrontam o-nos com um aspecto que deve ser d e sta c a d o a u d a z m e n te em n o ssas p reg açõ es. Estam os certos de que não faremos bem às demais coisas se não p en sam o s c o rre ta m e n te nE le. Ao fo rm ar nosso sistem a de a stro n o m ia , o n d e colocam os o Sol? Se não estam os bem seguros neste po n to básico, o resto falhará. Se não descobrirm os a v erdadeira posição do Sol, pouco im p o rta onde ponham os Jú p ite r ou M arte. Q ue significa C risto no sistem a teológico de vocês? Que lugar encontra em seus pensam entos? Q ue posição ocupa com referência a vocês mesm os, a seu trabalho e a seus sem elhantes? Vários são os aspectos sob os quais temos de considerar o nosso divino Senhor, mas é preciso que sem pre concedam os a m aior proem inência ao Seu caráter salvador como Cristci nosso sacrifício e propiciação. Precisam os ser claros e veementes quanto a essa verdade. Não basta em pregar palavras e frases 126

O Ministro nos Tempos Atuais ortodoxas sobre o assunto como quem repete a linguagem de um a litu rg ia ; tem os de aceitá-la vital e in te n sam e n te e atualizá-la com toda a energia do nosso ser. Precisam os pregar m inuciosa, clara e enfaticam ente a realid ad e vital da expiação; do con trário , não tem os apren d id o a C risto corretam ente, nem o ensinarem os de m odo eficaz. Tentar anunciar Cristo sem Sua cruz é traí-10 com um beijo. Não aceitamos as teorias produzidas pela m ente hum ana, mas nos firm am os no testem unho infalível das Escrituras na apresentação dAquele “ que levou nossos pecados em seu corpo sobre o m ad eiro ”. M esm o que isso seja tachado de im oral, ainda crem os que “ao que não conheceu, pecado, Deus o fez pecado por nós para que fôssemos feitos justiça de D eus n e le ”, p o rq u a n to “o castigo que nos traz a paz estava sobre Ele”, visto que “o Senhor fez cair sobre Ele a in iq ü id a d e de todos n ó s”. F arem os bem em re c o rd a r os textos do Velho e Novo Testam entos que tratam desta verda­ de fundam ental; há m uitos deles e são decisivos. E inegável a d o u trin a b íb lica que podem os aproxim ar-n o s de D eus m ediante o Senhor Jesus Cristo, pois através do Seu sangue há perdão; com o resultado da satisfação vicária, a culpa é perdoada e o crente “aceito no A m ado” . Os que negam a expiação como satisfação pelo pecado e lim in a m ta m b ém a d o u trin a da ju stificação pela fé. E in ev itáv el. H á um elem ento com um que é essencial em ambas as doutrinas; se negam os um a, destruím os a outra. O pensam ento m oderno é um a tentativa de volta a intro d u zir o sistem a legal da salvação pelas obras. N ossa b a talh a é idêntica às lutas de L utero na Reforma. A nalisando p rofun­ dam ente a raiz de tudo, a graça é banida e em seu lugar in tr o d u z id o o m é rito h u m a n o . O ato da m is e ric ó rd ia divina ao perdoar o pecado é excluído e o esforço hum ano é tudo em todos, tanto no que se refere aos pecados passados quanto à esperança futura. Cada um tem que se apresentar 127

UM MINISTÉRIO IDEAL, Vol. 2 agora como seu próprio salvador, e a expiação é arquivada como fraude piedosa. É doloroso como tantos apregoam tais distorções blasfemas da obra do Senhor Jesus Cristo. Não cessarei de pregar resoluta e claram ente o sacrifício e x p ia tó rio , e x p lic a n d o p o r que m e p ro p o n h o fazê-lo. P e s so a lm e n te não te n h o n em se q u e r u m a so m b ra de esperança de obter salvação n o utro lugar; se C risto não é m eu su b stitu to , estou p erd id o . Vejo-me condenado pela m inha transgressão e fico desesperado por não poder fazer ou tornar-m e aquilo, que Deus possa aceitar. E preciso que tenha um a justiça perfeita e divina; ao mesmo tem po, não te n h o a m ín im a capacidade de p ro d u zi-la. N o e n ta n to , encontro-a em Cristo; a Bíblia diz que pode ser m inha pela fé, e desse m odo me aproprio dela. Acaso não m e lem bro como, pela prim eira vez, olhei para Cristo e fui ilum inado? P o rv e n tu ra não m e re c o rd o que em in ú m e ra s ocasiões ten h o m e aproxim ado dEle com o pecador, con tem p lad o Suas feridas e crido novam ente para a vida eterna, passando a sen tir o gozo anterior restaurado? Portanto, irm ãos, não posso pregar outra coisa pois não conheço nada senão isso. Novos dogmas podem ser certos ou não; mas da veracidade desta d o u trin a estou convicto. A nuncio esta verdade com amor, de todo o coração. O elem ento do gozo na pregação desapareceu de m uitos púlpitos. Gostaria de erguer-m e da cama nos últim os cinco m inutos da m in h a vida para dar testem u nho do sacrifício divino e do bendito sangue que expia o pecado. Então repetiria aquelas palavras que falam m ais positivam ente da verdade da substituição, m esm o se alguns o u v in te s ficassem h o rro riz ad o s. N o céu m in h a s prim eiras palavras serão para a trib u ir m in h a salvação ao precioso sangue do Cordeiro; então como poderia lam entar q ue m eu ú ltim o ato na te rra foi de te r te s te m u n h a d o dessa verdade? S u ste n ta m o s tam b ém que o S en h o r Jesu s é o único 128

O Ministro nos Tempos Atuais Mediador e Sumo-Sacerdote. E isso nos faz repudiar com in d ig ­ nação as afirmações dos supersticiosos. Uns se arvoram de sacerdotes, defendem um a im aginária sucessão apostólica, indicam as ordenanças como canais seguros da graça. Nas mãos do sacerdote, o pão e o vinho sofrem um a alteração miraculosa. Tais ensinos, e m uitos outros semelhantes, realçam as tradições hum anas em detrim ento da pureza original do evangelho. Irm ãos, protestem os com a m áxima energia contra este avivam ento da superstição. Não tolerem os nada entre a alma e C risto. O nde quer que form os, deparam os com alguém que se apresenta como interm ediário; aos pecadores não é perm itido irem a Cristo diretam ente; apresenta-se um cam i­ nho de salvação que passa pelo sacerdote oficial. Com batam ativ am en te esse erro. M esm o que seja aco m p an h ad o de certa m edida de ensino evangélico, é mortífero. Nossa função de pastor m erece ser respeitada, e o será quando desem penhada devidam ente; mas devemos evitar a falha de exaltar-nos a nós mesmos. Prosseguindo, procurem os apresentar o Senhor Jesus Cristo como Mestre Infalível através da Sua Palavra inspirada. Não entendo a lealdade a Cristo aliada à indiferença pelas Suas palavras. A m enos que recebamos as palavras de Cristo, não podem os receber a Cristo; se não acolhemos as palavras dos Seus apóstolos, tam pouco recebemos a Cristo. E preciso que amemos e reverenciem os a todos os ensinos do Senhor; se não o fazemos, estamos construindo sobre a areia. E im portante conhecerm os a Cristo como a verdade; porém tam bém o é reconhece-10 como o cam inho da vida. A lguns excelentes irm ãos parecem pensar mais na vida do que na verdade; mas quando os advirto que o inim igo envenenou o pão dos filhos, respondem : “Q uerido irm ão, lam entam os saber disso; e para com bater o mal, abrirem os a janela e lhes daremos ar p u ro ”. Sim, abram a janela e forneçam atm osfera saudável por todos os meios. Não podem fazer coisa melhor, por vários m otivos;

129

UM MINISTÉRIO IDEAL, Vol. 2 mas ao m esm o tem po, deviam ter feito isso sem esquecer a outra coisa. Prendam os envenenadores e abram também as janelas. E n q u an to os hom ens prosseguem divulgando falsa d o u trin a , podem falar o que q u iserem sobre um a v id a e sp iritu a l p ro fu n d a , po rém fracassarão. E n q u a n to fazem um a coisa boa, não descuidem da outra. Em vez de afirm ar que a vida é m ais im portante que a verdade ou o cam inho, unam o-nos na firm e convicção de que cada um a destas é igualm ente im portante, e que nenhum a delas pode firm ar-se bem ou m archar sem as demais. A lg u n s a b a n d o n a m os e n sin o s de C risto p o r p u ra extravagância e am or pueril às novidades. Para os mais jovens, as doutrinas falsas são como um a espécie de enferm idade infantil, algo como um in evitável saram po espiritual. Desejo que se recuperem da doença e espero que ela não lhes deixe nenhum a seqüela. Com profunda ansiedade tenho observado as m en tes infectadas com essa v iru le n ta epidem ia e me alegro em ver como a rajada de incredulidade se distancia e o paciente diz: “Graças a D eus, nunca mais tornarei a passar por a í”. E pena que haja tantos que julgam necessário passar pelo cam inho lam acento que já m anchou a outros, mas os sábios se beneficiam da experiência dos demais. Alguns caem na dúvida por causa de um a sinuosidade in tern a. H á hom ens que iniciam novas igrejas ou criam d ife re n te s d o u trin a s n u m a te n ta tiv a de e n c o b rir suas próprias falhas. O nde há podridão, desenvolvem -se vários tipos de vermes. Segundo um a lenda, quando o elefante vai a um poço, e se vê refletido na água, fica tão desgostoso ante a p ró p ria fealdade, que passa a rem ovê-la im ediatam ente até turvá-la, a fim de não se ver. H á hom ens que se lhe assem elham na sua atitude. As santas Escrituras não estão de acordo com o que eles pensam ; portanto, pior para as Escrituras. Estas ou aquelas doutrinas não se adaptam a seus gostos, de m odo que é preciso deturpá-las ou negá-las. O que 130

O Ministro nos Tempos Atuais há no ín tim o do “pensam ento m oderno” é o coração irregenerado. Os hom ens são m odernistas em dou trin a porque nunca puderam revestir-se do puritanism o, porquanto lhes falta a renovação do entendim ento. Não duvido que alguns tentem rem endar os ensinos e o evangelho de Cristo com o in tu ito de produzir m aior bem. Nos “avivam entos” perm ite-se dizer e fazer algo que ninguém poderia justificar. Vocês já observaram como se apresenta o evangelho atualm ente? Não desejo pro n u n ciar juízos condenatórios sobre ninguém em particular, mas estou lendo constantem ente a exortação: “Entrega seu coração a C risto”. A exortação é boa, porém não p e rm ita m que su b stitu a a m ensagem evangélica: “Crê no Senhor Jesus Cristo e serás salvo”. O ensino na Escola D om in ical costum a ser: “Q ueridos m eninos, am em a Jesus”. Ora, isso não é o evangelho. O am or a Cristo vem como fruto, pois o evangelho ensina: “Crê no Senhor Jesus Cristo e serás salvo”. Se julgamos alcançar m aior bem su b stitu in d o o m andam ento do evangelho p or outra exortação, seremos envolvidos em graves dificuldades. Se por um m om ento nossas reformas parecem produzir um resultado m aior que o antigo evangelho, será no surgim ento de ervas daninhas, talvez venenosas - mas não no desenvolvim ento de árvores do Senhor. Fiquem os perto de Cristo como nosso M estre infalível nesta época perigosa e sejamos em extrem o zelosos pela verdade; do contrário, talvez sejamos seduzidos com drogas, como Pom peu enganou a certas cidades que não queriam abrir as portas às suas tropas, dizendo-lhes: “Não lhes peço que alojem m eus exércitos; mas tem os uns hom ens enferm os e feridos pelos quais suplico perm issão para que descansem entre vocês”. Q uando os portões foram abertos para os doentes, os soldados também seguiram e os habitantes foram dom inados facilm ente. Não perm itam a entrada de pequenos erros que pedem um pouco de tolerância; do contrário, sua cidadela será capturada antes que dêem conta do ataque. 131

UM MINISTÉRIO IDEAL, Vol. 2 Perm aneçam firm es na fé um a vez dada aos santos, e que ninguém os seduza com doutrinas enganosas e teorias vãs. C ontinuando, irm ãos, é preciso que insistam os cada vez mais em que Cristo é o único legislador e único governante da Igreja. Temos sistemas religiosos entre nós, nos quais a orga­ nização inteira é pura invenção; seria impossível descobri-la na B íblia; m as tem p o r costum e adaptar um texto como etiqueta. Temos vizinhos religiosos que dificilm ente tentariam d e m o n stra r que seu sistem a n u n c a foi san cio n ad o pelo S enhor e pelos apóstolos. C ontudo, é tão antigo que nos vemos obrigados a tolerar toda espécie de anom alias; mas tolerar não é o m esm o que aprovar ou im itar. Em nossas igrejas, entretanto, devemos ater-nos ao precedente apostólico e seguir o m andato de C risto em todas as coisas. N ão há hom em , por m ais respeitável que seja, que possua au to ri­ dade suficiente para justificar o afastam ento das Escrituras Sagradas. “A lei e ao testem unho!” Se um ensino ou alguma cerim ônia não está ali, será totalm ente rejeitada, pois nossa única autoridade é a Palavra do Senhor. A inda será m ais grave o erro se om itirm os p arte dos conhecidos m andam entos de Cristo. Como podem os pôr de lado ordenanças da Bíblia? Não somos censores dos ensinos e dos atos do Senhor. Não podem os cair em total descuido ou errar por desobediência obstinada. Se alguém dissesse: “Não vejo que isso seja m andam ento do Senhor”, com eteria pecado de ignorância; porém se adm ite um a ordem divina e se recusa a cum pri-la, transgride por desobediência volun­ tária. Que tipo de fé a que não opera pelo amor, mas faz sua própria vontade, opondo-se ao preceito de Cristo? Convém que sejam os fervorosos em p ra tic ar todos os aspectos do m andam ento sagrado. Reconheçam os a Cristo, não apenas como Salvador, mas como Senhor. Alguns são tentados a afastar-se da vontade do Senhor de outra m aneira. Q uando precisam tom ar resoluções referentes 132

O Ministro nos Tempos Atuais a assuntos im portantes da obra do Senhor, antes procuram sab er qual a o p in iã o dos que c o n trib u e m com g ran d es somas para a igreja. Se alguém age assim, podem os indagar: “Q uem é na verdade seu senhor: Judas com sua bolsa ou Cristo, a quem ele saudou com o beijo traidor?” Sejam fiéis, e atrevam -se a tudo. Se não fazem os assim , C risto não é legislador para nós. Rejeitem o suborno, m esm o encoberto, e renunciem a tudo por am or à verdade, se necessário. O Senhor está tam bém diante de nós como exemplo e modelo. Pregam os a graça de D eus e o sangue de C risto; mas se alguém supõe que não anunciam os Cristo como exemplo, ainda não conhece o nosso m inistério, pois insistim os em que a fé precisa obedecer à vontade do Senhor ao m esm o tem po que confia na Sua graça. Alguns entre nós se assemelham à velha escocesa que disse no térm ino do culto: “O sermão foi bom em tudo, com exceção dos deveres m encionados no final”. E possível que apresentem os os preceitos de tal m odo que despertem os a suspeita de serm os legalistas em espírito; é necessário que evitemos cuidadosam ente tal coisa. Desejamos apresen tar C risto como perfeito m odelo, a fim de que os santos aspirem tornar-se sem elhantes a Ele; é preciso que os hom ens tenham o E spírito de C risto, pois do contrário estão perdidos. Não se alcança o céu por m era justificação legal, divorciada de um a obra, espiritual dentro da alma, um a genu­ ína m udança de coração, um a renovação do entendim ento. Além disso, espero que sem pre tenham os Cristo como Senhor e Deus. A cim a de tudo que é para nós, é S enhor e Deus. P ortanto convém falar a respeito dEle e pensar nEle com a mais profunda reverência. A pessoa que joga com a Palavra de D eus e as coisas concernentes a C risto, é mais m aligna que as ações que produz. Cultivem os o m ais elevado respeito para com nosso divino Senhor e a m ais absoluta confiança em Seu poder e na Sua vitória final. Confiem sem reserva na mão com a qual Ele sustém o leme. Não tenham 133

UM MINISTÉRIO IDEAL, Vol. 2 a m e n o r som bra de d ú v id a de que Sua sabed o ria e Seu poder farão que tudo term ine bem. Avante pois, e falem em Seu nom e. Q uando te rm in a re m de expor um a d o u trin a, ordenem aos ouvintes, em nom e de Jesus, que creiam nela. Sejam o u sad o s em fazê-lo. D o m o d o que os a p ó sto lo s m andavam aos coxos que se levantassem, e aos m ortos que revivessem , em nom e de Jesus, o N azareno, ordenem aos pecadores que se voltem para Ele e vivam . Ele que lhes concede fé atenderá à Sua própria Palavra. P re s te m o s agora viva a ten ç ã o ao tem a de N O SSA POSIÇÃO PARA COM O SEN H O R. A posição do m inistro cristão para com Cristo é algo sobre o qual se poderia falar de várias m aneiras e durante m uitos dias; contudo, apenas tratarem os do assunto de m odo sucinto. U m dos aspectos m ais su rp re en d e n te s deste assunto surge-nos ao m editar sobre o fato de que, assim como Ele ocupou nosso lugar, também nós ocupamos a dEle. Podem os dizer em verdade aos nossos ouvintes: “R ogam o-lhes em nom e de C risto (em lugar de C risto): reconciliem -se com D eus”. O Senhor Jesus põe Suas mãos feridas sobre nossos om bros e diz: “Como o Pai me enviou, assim tam bém Eu vos envio”. Estam os encarregados de suplicar em lugar de Cristo, como Ele Se ocupa de rogar em nosso lugar. Em Seu lugar subim os ao púlpito para apontar à um a m ulher enferm a e simples o sangue da reconciliação. Nós O substituím os no púlpito a fim de falar a respeito de pecado, justiça e juízo vindouro. Ocupamos Seu lugar para clam ar: “Eis o Cordeiro de D eus que tira o pecado do m u n d o ”. A m ados irm ãos, estaríamos conscientes de que não apenas estamos trabalhando para Cristo, e sim, ocupando Seu lugar? Poderíamos apresentar alguns dos nossos serm ões como pregados su b stitu in d o a C risto ? N ão esp e ra ría m o s que nossas c o n sciên cias nos rep reen d eriam se fizéssem os tal afirm ação? Por certo há grande diferença se o Senhor Jesus falasse pessoalm ente; 134

O Ministro nos Tempos Atuais seria necessário que houvesse distinção no sentido de m enor autoridade e capacidade divinas; mas não deveria havê-la quanto ao propósito fiel e fervoroso. Precisamos apelar aos hom ens, lem brando que ocupamos o lugar de Cristo; isso im pedirá que sejamos parciais. Não pensarem os som ente num a m in o ria de ricos e educados; p o rém , com o C risto fez, nos d irig ire m o s às m u ltid õ e s. B usquem os p rim eiram en te aos pobres, aos enferm os, aos ignorantes - enfim aos mais necessitados. A proxim em o-nos dos pobres, dos desprezíveis, dos caídos, como Jesus fazia. Se estamos ocupando o lugar de Cristo, não forçaremos, mas procurarem os p ersu ad ir carinhosam ente. Sentirem os verdadeira solidariedade até às lágrimas, como se a ru ín a deles fosse nossa dor e sua salvação o nosso gozo. C horarem os por eles, pois Jesus o teria feito; dem onstrarem os paciência com eles, por causa de Sua divina longanim idade. Vigiaremos na espera das oportunidades e as em pregarem os com persistên­ cia, pois assim o teria feito Jesus. Trataremos a nossos ouvintes como o pasto r em relação à sua ovelha p erdid a, e jamais descansarem os até que a conduzam os ao lar sobre nossos om bros com intenso júbilo; dessa forma agiria o Senhor. Esta posição nossa, su b stitu in d o a C risto, im plica em grande responsabilidade; necessitam os de m uita graça para suportar o peso. Portem o-nos bem , pois levamos um grande N om e. Q ue ofensa tão cruel para o Senhor Jesus, quando um m inistro rude, orgulhoso e negligente afirm a que está atu an d o em substituição a C risto! D eus perdoe tam anha falsidade; é algo verdadeiram ente repugnante. Se estão em verdade substituindo a Cristo, que espécie de pessoas deviam ser! Q ue o S en h o r nos faça dignos da em baixada a que fomos enviados! Portanto, precisamos amar aos pecadores por causa de Cristo. N ão h av eria m u ito s em sua congregação aos q u ais não podem am ar p o r outra razão? Poderia o Senhor am ar vocês 135

UM MINISTÉRIO IDEAL, Vol. 2 por seus m éritos? Ele nos am ou, a vocês e a m im , por um a razão que encontrou em Seu próprio coração. Cristo “me amou e se entregou a Si mesmo por m im ” e se agora me ordena: “Ama aos outros e entregue-se a si mesmo por eles” porventura não deveria fazê-lo? E preciso expulsar de nós toda p re ­ disposição ao desprezo. E preciso que os caídos, os frívolos, os capciosos, os indiferentes e até os maliciosos participem do nosso amor. Temos de amá-los para conduzi-los a Jesus. Preci­ samos atraí-os com cordas de hom em e laços de amor. Nossa missão é perpetuar na terra a compaixão do Salvador. A inda mais, nosso relacionam ento com Cristo é de tal natureza que temos de cumprir o que falta das Suas aflições por Seu corpo, que é a Igreja. Seus pad ecim en to s expiatórios term inaram ; nenhum de nós pode pôr o pé naquele lagar. Todavia, aqueles sofrim entos através dos quais as almas são ganhas para Cristo estão longe de term inar. Toda a hoste dos m ártires derram ou o sangue e se sacrificou a fim de m anter viva a verdade com o objetivo de que chegasse a nós, para que por meio dela os hom ens possam ser atraídos a Jesus. Todo o que sofre suportando dor, difamação ou perdas, por am or de Cristo, está cum prindo a quantidade necessária de sofrim ento para re u n ir todo o corpo de C risto e edificar Sua Igreja escolhida. “Tenho sido tratado de modo realmente vergonhoso”, declara um m inistro. Sim, mas outros hom ens igualm ente dignos enfrentam idênticas hum ilhações; considera como o próprio Senhor “suportou tal contradição dos pecadores”. Q uando Alexandre conduzia seus hom ens até a Pérsia, tendo que atravessar um a autêntica m ontanha de neve e gelo, eles estavam a ponto de dar m eia volta, quando o famoso conquistador desceu do cavalo, tom ou um a ferram enta para cortar o gelo e avançou, às vezes coberto de neve até à cintura, p artindo os blocos de gelo e abrindo o caminho. Então os macedônios se certificaram de que seriam capazes de apossar-se da terra se o im perador fosse à frente deles. Tendo a Cristo 136

O Ministro nos Tempos Atuais seu Senhor abrindo o cam inho por meio das agonias da cruz, acaso não O seguirão por onde quer que vá, cu m p rin d o a medida que resta de esforço, labor e sofrimento, para a salvação daqueles a quem Ele quer redim ir com o Seu sangue? N ada há mais com ovedor em nossas súplicas que as orações dos que são terrivelm ente afligidos. Através do sofrim ento vem a b ên ­ ção. Q uando o Senhor deseja fornecer vinho à Sua casa, para que nossas festas sejam cheias de gozo, que fazEle? O rdena: “Enchei estas talhas de água”. E necessário que experim en­ tem os aflições até ao m áxim o. Temos de conhecer toda a provação de que somos capazes, e então Ele dirá: “Tirai agora”. Assim surgem Seus milagres; e m uitos de nós nos aleg ram o s. porque como aconteceu em Caná, tem ocorrido conosco. N o entanto, m uitas vezes com etem os equívocos quanto ao que seja bênção. Relacionado com a cura pela fé, a saúde é nos apresentada como se fosse aquilo que convém desejar acima de qualquer outra coisa. Será assim? A trevo-m e a dizer que a m aio r bênção te rre n a que D eus pode co n ced er a qualquer de nós é a saúde, com exceção da enfermidade. Esta tem sido freqüentem ente mais ú til que a saúde aos santos de Deus. Até onde eu vejo, se alguns fossem favorecidos com um mês de reum atism o, tal coisa, pela graça de D eus, os am a­ dureceria maravilhosam ente. N ecessitam de algo m elhor para p reg ar do que co m u m en te tra n sm ite m à congregação; é possível que o aprendessem no leito de dor. Não desejo para ninguém um período prolongado de enferm idade e dor - mas um a torcedura de vez em quando quase vale a pena pedi-la! U m a enferm idade na esposa, um a sepultura recém -aberta, a pobreza, a difamação, a depressão do espírito, ensinam lições que em nenhum a outra parte se aprende tão bem. As provações nos aproxim am das realidades espirituais. Nossas aflições se transform am em bênçãos, ainda que se apresentem num aspecto ameaçador. M uitas vezes a Provi­ dência, com mão rude, concede incontáveis benefícios em 137

UM MINISTÉRIO IDEAL, Vol. 2 form a de provas da fé, m u ito m ais preciosa que o ouro. B endito seja o Senhor, pois nossa contusão tem poral logo desaparece, e n q u an to o lucro esp iritu a l p erm an ece para sem pre. Em qualquer circunstância, a causa de C risto é a nossa causa, e estamos unidos a Ele num a com unhão que não pode ser interrom pida. Calculamos o custo e podemos dizer: “De agora em diante, ninguém me moleste. Sou escravo de Jesus, e m inha orelha está m arcada para Ele”. Nossa posição para com o Senhor será mais prática quando compreendemos o que Ele fe z por nós. Não creio que sem pre percebamos: com clareza o que Ele realm ente efetuou a nosso favor. Dizemos: “Somos pobres, mas Cristo nos faz ricos”. Por que não dizemos: “Somos ricos, porque Cristo nos tem feito tais?” Nossa pobreza term inou, e nos tomamos ricos em Cristo. “Ele nos tirou das trevas para a Sua maravilhosa luz.” Q uando pregam os sobre o texto, som os propensos a estender-nos dem asiadam ente sobre as trevas da natureza; não seria mais conveniente ser mais extensos ao descrevermos a “maravilhosa luz” ? “Por que damos tanta ênfase à expressão do apóstolo: “Q uando sou fraco?” Acaso não devemos destacar as palavras seguintes: “E ntão sou fo rte?” As bênçãos do S enhor são realid ad es, não fantasias; tratem o -las com o tais. “Bem -aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão fartos.” Por que empregar todo o tempo falando de fome e sede? Não somos fartos? Se não o somos, roguemos ao Senhor que nos encha. Mas se o somos, experim entem os e anunciem os a doçura do pão celestial, repartindo-a, de corações alegres, a nossos ouvintes. Proclam em os o aspecto lum inoso da nossa religião, e não estejamos sem pre repetindo o que somos em nós mesm os. “As trevas já passaram , e a verdadeira luz já alum ia.” Estam os agora em Cristo Jesus. Éram os miseráveis, mas fomos lavados e purificados. Q uanto desejamos o desfrute abundante das bênçãos atuais do pacto! Q uanto desejamos graça para anunciar o que encontram os! Como o servo de 138

O Ministro nos Tempos Atuais Abraão se ocupou em descrever am plam ente as riquezas do seu Senhor, apresentando os objetos valiosos que trouxera com ele, esforcem o-nos para co n q u istar os corações para nosso p o d ero so S enhor, m o s tra n d o quem E le é, o que possui e o que pessoalm ente conhecem os dEle. Faremos bem em estar diante de Cristo conscientes de Seu poder e presença. O Senhor está conosco. O mais im portante é que Ele está ao nosso lado realm ente e em verdade. Se estamos com Jesus e pregam os Sua verdade, não há dúvida de que Ele está conosco “todos os dias, até o fim ”. Esta prom essa não foi o bonito final de um poema: é certo de que está co­ nosco nesta hora. Creiamos nisso e atuem os de acordo. Se não sentim os sem pre a proxim idade da Sua luz, voltem o-nos, como as flores, em direção ao sol. Ao subirm os ao púlpito, m irem os e inclinem o-nos em direção a C risto. Q ue lugar tão m arav ilh o so é o p ú lp ito , q u an d o Jesus está ali! N o estudo, quando nos sentam os e começamos a im pacientar-nos, interrogando: “ Sobre que devo pregar?”, voltem o-nos p ara o Senhor, e orem os com a janela voltad a p ara Sua cruz e Seu trono. Oxalá possamos sentir sem pre um a influên­ cia que nos im p u lsio n e até C risto qu an d o a B íb lia está aberta diante de nós! Q uando isso acontece, toda a nossa fraqueza desaparecerá, pois Seu poder será evidenciado. Preparando-se para a grande luta contra o pecado, reunindo as forças que estão ao lado da justiça, lem brem -se de Jesus. Estão alistados, m as isso rep resen ta m enos do que nada. Contam com irm ãos fiéis que os apoiam ; em bora os estim em e lhes dediquem grande carinho, são tam bém como nada. Um grupo de amigos e obreiros intercedem por vocês; mas a soma total é apenas um a porção de cifras. A que se reduzem todos esses zeros? Sua desconfiança clama: “Aqui não tenho nada”. Q ue vão colocar diante de todos eles? O nde porão o Infinito? Cada zero colocado diante do UM usurpa Sua glória e O faz dim inuir. Mas se Ele é posto em prim eiro lugar, diante das 139

UM MINISTÉRIO IDEAL, Vol. 2 cifras, que soma tão enorm e obterão! Isso não é fantasia; é pura matem ática. Verifiquem como é idêntico na esfera espiritual. Ainda que impotentes quando sozinhos, o Senhor está conosco. Parece que alguns pregadores não crêem que o Senhor esteja com evangelho deles, p o rq u e, para a tra ir e salvar pecadores, sua mensagem é insuficiente e precisam acrescentar invenções h um anas; acham ser necessário a d icio n ar um suplem ento à simples pregação evangélica. Mas se a mensagem que vocês pregam não é capaz de atrair as pessoas para ouvi-los, e quando elas vêm, não as influenciam , então renunciem . Alguém contrapunha ser in ú til apelar a um pecador m orto que creia. Respondo que creio que D eus ordenou que assim o faça; transm ito a ordem em nom e do Senhor, e os pecadores m ortos crêem e vivem. Não acho que um hom em m orto em seus pecados possa viver, porém o evangelho tem poder de tran sm itir vida. Ora, se seu evangelho não conta com o poder do E spírito Santo, não podem pregá-lo com confiança, e serão tentados a utilizar métodos para atrair as pessoas às quais o Cristo crucificado não atrai. Se dependem de tais expedientes, estão degradando a religião que pretende honrar. Além disso, irm ãos, nossa posição quanto ao Senhor é de aguardar o Seu regresso. Não sei até que ponto vocês são ardorosos quanto à verdade da volta de C risto; espero que creiam nela e sejam vivificados pela fé nela. Essa grande esperança ganha terren o en tre os am antes da d o u trin a evangélica. A lguns m inistros se m ostravam tím idos na divulgação desse ensino, em face do fanatism o que pode produzir. C harlatães têm causado males ao fingirem saber o dia e a hora em que o Senhor virá. N ão nos foi dado conhecer tem pos e estações, mas o Senhor voltará. Ele já está a cam inho, pois declarou: “Eis que venho sem demora”. Sua vinda pode ocorrer brevemente; certos sinais avivam nossa esperança. O am or de m uitos esfria; o diabo está mais ativo do que nunca. Ele se esforça ao máximo, sabendo que lhe resta pouco tem po. No caso do m en in o 140

O Ministro nos Tempos Atuais endem oninhado, o derrubou, querendo destruí-lo; sabendo que ia ser expulso, fez o pior que pôde. O espesso véu dos céus só se reveste na parte mais obscura da noite que precede a aurora do dia. Quando foi duplicada a conta dos tijolos, surgiu Moisés; o m esm o acontecerá ao nosso L ibertador. Tenham os bom â n im o e esforcem o-nos; e n q u a n to exaltam os a C risto e glorificamos o Seu nom e, Ele está a cam inho para in terv ir na disputa do Seu pacto e desalojar definitivam ente os inim igos. F in a lm e n te , d u a s ou trê s p a la v ra s s o b re N O S S A PO SIÇÃO COM O IN D IV ÍD U O S. Q ue estas frases atuem poderosam ente em cada um. Aconselho-os a ser cabais. Desejo de todo o coração ter entre nós m aior núm ero de hom ens na plenitude do vigor espiritual e m en tal. O que m ais falta nesta época são h o m en s que conheçam o evangelho p o r si m esm os, que ten h am um a experiência pessoal do seu poder, que o tenham provado como se prova a prata no forno, e que o tenham em tal apreço que antes perderiam a vida do que renunciá-lo. H á m uitos que costum am ir para onde os conduzem e que nadam na direção certa quando a corrente é bastante forte para arrastá-los; isso é bom no caso do vento soprar para onde deve; mas se chega o m au tem po, são de pouca utilidade. N a atualidade precisam os dos capazes de en fren tar a correnteza e n ad ar rio acim a. N ecessitam os de heróis dispostos a m archar sozinhos, se necessário, que pensem por conta própria por terem com pre­ endido a verdade e a sentirem em suas almas, os quais não perm item que nada os afaste da esperança de sua vocação. São colunas na casa de D eus e perm anecem no seu posto. Necessitamos de capitães para o barco celestial, conscientes da área onde navegam, os quais sabem de onde vêm e a que porto se dirigem . Nosso C om andante precisa de batalhadores pela verdade para esta hora de luta. Tais hom ens são mais preciosos do que o ouro de Ofir. D ep en d er nesta época dos juízos hum anos é ser apenas meio hom em . Levantem o-nos ante o 141

UM MINISTÉRIO IDEAL, Vol. 2 Deus vivo em toda a integridade e não busquem os a proteção de pessoas ou de entidades. Receio que os que dependem de D eus são ainda poucos. Com a força e direção do Espírito cam inharem os seguramente. Tam bém é preciso que nestes tem pos ap ren d am o s a selecionar nossos companheiros. Se alguém anda na justiça, que não transija associando-se a pessoas que não possuem posição clara. Por que deixar-se arrastar e su b m erg ir por aproxim ar-se dos destroços do navio que está afundando? Estar em constante contato com os que não têm afinidade com as grandes verdades do evangelho, é correr constante perigo. Q uanto a m im , considero a aproximação com pessoas de posição relaxada como algo dem asiadam ente doloroso. Os de m e n ta lid a d e m u n d a n a são c o m p an h ia im p ró p ria para as m entes espirituais. Os que adotam pontos de vista m odernistas, hábitos licenciosos e conversação pouco espiri­ tual são igualm ente incôm odos como am igos, so bretudo se se arvoram de ortodoxos e ao mesm o tem po rejeitam a fé antiga. L ivrem -se de todo tipo de relacionam ento que prejudique sua fidelidade. Não podemos falar de separação do m al e m anter com unhão com ele. Sejam tão puros em seus re la c io n a m e n to s com o em suas p e sso a s, p o is do contrário só poderão esperar maus resultados. O utrossim , levem vidas santificadas. N ão podem os dar excessiva ênfase a isso. G ostaria de deixar este prego bem cravado. Sejam santos, pois servem a um Deus santo. Se alguém desejasse fazer um presente a um príncipe, não procuraria um cavalo coxo, nem ofereceria um livro do qual tivessem sido arrancadas algumas folhas ou um relógio cuja m áquina estivesse defeituosa. Aquele a quem vocês am am e querem ho nrar darão o m elhor do melhor. D ediquem o m elhor que possuem ao Senhor. Procurem estar nas m elhores condições possíveis quando pretendem servi-10, suplicando que lhes faça perfeitos em toda a boa obra a fim de cum prir a Sua vontade, 142

O Ministro nos Tempos Atuais e então apresentem -se a Ele como sacrifício vivo. Se tiverem de falar a um pequeno grupo de pessoas num a reunião simples em am biente rural, façam o m elhor que puderem . Nosso m elhor fruto é em si mesmo pobre. Nunca apresentem algo senão o melhor que podem dar. Reservem o m elhor e mais completo que possam produzir para Cristo; que suas vidas inteiras sejam o esforço mais nobre de que são capazes. O m inistro que pode fazer mais e não o realiza é um ocioso. Precisam os fazer tudo o que for possível e da m aneira mais perfeita que saibamos, pois do contrário somos negligentes. Sejam muito diligentes na ação. Preparem todas as fronteiras. Usem todas as faculdades para C risto. Estejam atentos às oportunidades e sejam rápidos em aproveitá-las. A m enor das esferas possui em si gloriosas ocasiões de desenvolvim ento. M esmo atuando no m eio de um povo pequenino, podem ser alcançados resultados infinitos. Se um lugar está evangelizado, avancem para outro, alm ejando cada vez m ais explorar o terreno. Jamais nos contentemos com o que fizemos se há ainda vastíssim a área a conquistar. O xalá alim entassem a seus rebanhos como pastores, e os aum entassem como evangelistas! Neste aspecto, sejam fecundos, m ultipliquem -se e encham a terra. E preciso que usemos todas as energias, e revelemos nestes tem pos um espírito aventureiro e laborioso a fim de que possamos neutralizar as atividades do príncipe das trevas. C o n c lu in d o , desejo d e sp e d ir-lh e s com as seg u in tes palavras em seus ouvidos e em seus corações: sejam confiantes em espírito. Não tolerem os sequer um pensam ento vacilante. Já fui acusado de ser pessoa petulante e jocosa; outros me julgam desesperado, pessim ista, amargo. H á pessoas cheias de am argura, desanim adas, derrotistas, as quais nunca sor­ riem e alardeiam horríveis catástrofes que jamais ocorrem. A firm o que sou alguém tão alegre q u an to m e p e rm ito . N unca perdi o senso de hum or, e se não vigiasse chegaria a ser dem asiadam ente brincalhão. 143

UM MINISTÉRIO IDEAL, Vol. 2 Alguns se preocupam pelo fato de eu com bater a tantos. M as podem tra n sfe rir essa preocupação aos outros. Não desejamos contender; porém se o fizermos, esperamos que os que necessitam de com paixão sejam aqueles co n tra os quais fazemos oposição. Estou satisfeito pelo que acontece in e v ita v e lm e n te ao o b re iro que p ro te s ta com a b so lu ta seriedade, isto é, estou pronto a ser objeto de críticas, mal entendim entos e incom preensões. O custo foi calculado há tem po, e de modo tão m inucioso que não há perigo de ser ultrapassado. “Sei em quem tenho crido, e estou certo que é poderoso para guardar m eu depósito até aquele dia.” Não há lugar para o tem or; pelo menos não vejo motivo de espanto se nos apegamos à verdade. N unca ouviram refe­ rência a um lobo do m ar p erturbado porque a m aré está baixando durante horas. Não! Ele aguarda confiadam ente a m udança das ondas, que na hora certa virá. D e igual, modo jamais haveremos de supor que o evangelho se tom e desa­ creditado ou a verdade eterna repudiada. Servim os a um Senhor todo-poderoso. Ao ser interrogado sobre o que faria se os inim igos o atacassem, Pom peu respondeu: “Se eu levantar a mão, toda a Itália se tornará um exército”. Desse m odo o guerreiro se orgulhava; mas não é jactância declarar que se o Senhor erguer a mão, pode conquistar para Si todas as nações da terra frente ao paganism o, ao m aom etanism o, ao agnosticism o, ao pensam ento m oderno e a todas as outras idéias errôneas. Quem é que pode prejudicar-nos, se seguimos ao Senhor Jesus? Como poderia ser a Sua causa derrotada? Ante o poder da Sua soberania, os convertidos serão atraídos à Sua verdade em tão grande núm ero como as areias da praia. Acaso não está escrito: “Teu povo o será de boa vontade no dia do teu poder, na form osura da santidade; desde o seio da aurora, tens o orvalho da tua juventude” ? P ortanto, tenham bom ânim o e prossigam neste cam inho cantando: “O Senhor dos Exércitos está conosco; nosso refúgio é o Deus de Jacó” . 144

View more...

Comments

Copyright ©2017 KUPDF Inc.
SUPPORT KUPDF