TUDO O QUE VOCÊ SEMPRE QUIS SABER SOBRE AS TESTEMUNHAS DE JEOVÁ MAS TINHA MEDO DE PERGUNTAR

July 17, 2018 | Author: thiago.msnbr2591 | Category: Tetragrammaton, Apostasy, Bible, Bible Student Movement, Jesus
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TUDO SEMPRE QUIS SABER SOBRE AS TESTEMUNHAS DE JEOVÁ MAS TINHA DE PERGUNTAR

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A Sentinela de 15 de julho de 2003, página 22.

Milhões que Agora Vivem Nunca Morrerão , 1920, página 16.

A Verdade Que Conduz à Vida Eterna, pá gina 13.

Provérbios 18:13.

Atos 17:11.

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Índice Capítulo

Página

Nota do autor .............................. ........................................................ ............................. 05 01 - Conhecendo melhor .................................................................................................. 09 02 - O começo de tudo ..................................................................................................... 38 03 - Milhões que agora vivem jamais morrerão ........................................................ 59 04 - O tempo apropriado para Deus agir ..................................................................... 69 05 - A geração que não passará ..................................................................................... 83 06 - A destruição de Jerusalém ocorreu realmente em 607 AEC? ............................ 100 07 - O que diz a Bíblia sobre os “últimos dias”? ...................................................... 121 08 - Quem é a “imagem da fera”? ................................................................................ 133 09 - A questão do sangue .............................................................................................. 145 10 - Outros assuntos médicos ...................................................................................... 181 11 - Uma luz que clareia mais e mais ......................................................................... 206 12 - Uma religião de sucesso ........................................................................................ 216 13 - Watchtower S/A ............................................................. ....................................... 236 14 - O nome de Deus ...................................................................................................... 244 15 - Proíbe Deus a celebração de aniversários natalícios? ..................................... 291 16 - A Bíblia e a desassociação ................................................................................... 308 17 - Origens ocultistas .................................................................................................. 316 18 - Jesus morreu numa estaca ou numa cruz? .......................................................... 371 19 – Lealdade a Deus ou a uma organização? .......................................................... 383 20 - Há cristãos que não são “filhos de Deus”? ........................................................ 397 21 - Quem são os verdadeiros cristã os? ......................................... ........................... 422 22 - Perguntas respondidas ...... ........................................................ ........................... 442 Apêndice ..................................... ........................................................ ............................ 465

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ste livro não se destina a fomentar a intolerância religiosa nem a exaltar uma denominação religiosa em detrimento das demais. A liberdade de culto está prevista na Constituição do Brasil. Tampouco visa denegrir a imagem dos adeptos do movimento religioso sob enfoque. De fato, a maioria das Testemunhas de Jeová, enquanto indivíduos, é composta de pessoas decentes e sinceras, tendo sido a busca de Deus que motivou seu ingresso à religião. Mas é também verdadeiro que isto se aplica aos adeptos de quaisquer outras religiões cristãs. E também é verdade que em nossos dias, no intuito de manter a fidelidade de seus membros, facções religiosas ou seitas têm, a exemplo dos regimes totalitários, feito uso de técnicas de cerceamento de liberdade e informação, bem como isolamento psicológico, método este que alguns estudiosos classificam como ‘lavagem cerebral’, enquanto outros preferem usar um termo mais suave, como por exemplo ‘técnicas de sedução’. Independentemente do termo que melhor descreva esta situação, o ponto em questão é que tais técnicas tem tido uma eficácia muito grande no processo de controle mental exercido em nome da religião. A História mostra que das tiranias que sobrevieram à humanidade, as do tipo religiosas estiveram entre as piores. Assim, em nome da liberdade religiosa, de expressão e do direito à informação (informação esta que é freqüentemente obscurecida ou ocultada aos membros de uma religião) é que trago tais assuntos a público. Religião é coisa séria e ao tomar o importante passo de ingressar em um novo credo, é mister que a pessoa não o faça sob o impulso da emoção, mas que esteja ciente de todo o contexto histórico da fé que está abraçando, pois uma escolha equivocada poderá ter (e amiúde, tem tido) conseqüências trágicas para ela e sua família. Em uma seção intitulada De nossos Leitores, na revista Despertai! de 22/12/1984, pág. 28 (publicada pelas Testemunhas de Jeová), respondendo à pergunta de um leitor que protestava contra as severas críticas contra a Igreja Católica, feitas em uma outra revista da organização, a resposta foi: “Qualquer organização que assuma tal posição [ser o caminho da salvação] deve estar disposta a ser esmiuçada e criticada. Todos os que criticam tem a obrigação de ser verdadeiros na apresentação dos fatos e justos e objetivos na avaliação dos mesmos.”

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Creio que tal regra aplica-se também à religião das Testemunhas de Jeová e creio que os fatos que aqui apresento são demonstrados com honestidade e “objetivamente” por meio de evidências documentais. Convido a própria Testemunha de Jeová a averiguar por si mesma a veracidade e precisão das citações que aqui faço, principalmente aquelas extraídas da própria literatura da religião (especialmente a mais antiga). Talvez descubra fatos inusitados que certamente teriam tido efeito significativo sobre sua decisão de dar o importante passo do batismo caso fossem de seu conhecimento tempos atrás. Penso que pessoas nesta situação tinham direito a tais informações. Ocultá-las ou minimizar sua importância não me parece justo. Contudo, temo que a obediência das Testemunhas de Jeová às instruções de seu Corpo Governante, no sentido de jamais examinar os argumentos em contrário, as impeça de fazer tal investigação. Na edição da revista A Sentinela de 15/05/1964, pág . 304 diz: “Não é forma de perseguição religiosa alguém dizer e mostrar que a religião de outrem é falsa. Não é perseguição religiosa uma pessoa informada expor publicamente uma religião falsa, permitindo assim que outros vejam a diferença entre a falsa religião e a verdadeira”.

Da mesma forma, na edição da revistaDespertai! 0 8/09/1997, pág. 6 é declarado o seguinte: “Não é errado a pessoa tentar refutar os ensinos e as práticas de um grupo

religioso que ela julgue ser incorretos”. Concordo com as palavras acima e creio que, com base nelas, estou absolvido de qualquer acusação de perseguição religiosa. Todavia, diversos artigos publicados pela Sociedade Torre de Vigia (órgão central representante das Testemunhas de Jeová) têm feito ataques morais às pessoas a quem classifica como “apóstatas”, ou seja, aqueles que não concordam com seus ensinos e decidem deixar a religião, fechando-lhes a porta a qualquer saída honrosa e ao mesmo tempo fechando a mente de seus adeptos aos argumentos em contrário, próprios de qualquer democracia. Por exemplo, na edição de 01/07/1994 da revista A Sentinela, págs. 11-13, compara-se dar ouvidos aos argumentos dos dissidentes a “comer à mesa de demônios”. Adic ionalmente, acusa genérica e indistintamente os dissidentes de: (1) Esperteza; (2) Inteligência arrogante; (3) Falta de amor e (4) Diversas formas de desonestidade. Apesar de não

apresentar concretas acusações, rotula assim de milhares de pessoas noprovas mundo inteiro de quetaissimplesmente exerceram o iníquas direito humano renunciar a uma religião. O preço pago por tal generalização tem sido alto.

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Não é sem razão que as Testemunhas de Jeová sinceras e desejosas de terem a aprovação da organização recusem-se sequer a cumprimentar alguém que deixa a religião. Isto é mais aflitivo ainda quando existem laços familiares ou de amizade. Eu, pessoalmente, tenho testemunhado por anos diversos dramas desta natureza. A reação de uma Testemunha de Jeová, ao bater à sua porta, leitor, sendo confrontada com esta matéria que agora apresento, é bastante previsível. Dificilmente admitirá os fatos aqui delineados, até porque, na verdade, não está a par de todos eles. Bastante surpresa, talvez busque abreviar a conversa ou dispersar a atenção para outro tema. Na melhor das hipóteses, caso admitaalguns dos fatos aqui expostos, dirá se tratar de “coisas passadas” (costumeiramente chamadas de “verdade passada” ou"velha luz") e que nada tem a ver com o ensino presente da religião (costumeiramente chamado de “verdade presente” ou "nova luz"). Como base de sustentação para essa tese, as Testemunhas costumam recorrer a uma interpretação equivocada da passagem bíblica emProvérbios 4:18, a qual, segundo o consenso dos teólogos, faz meramente uma comparação entre as trajetórias de vida dos sábios e dos tolos, nada tendo que ver com mudanças doutrinais. A história mostra que diversas mudanças desse tipoocorreram entre as Testemunhas com o passar das décadas e elas costumam evocá-las como evidência de progresso espiritual em sua organização. Todavia, entendo que tal juízo benevolente deverse-ia estender igualmente às outras religiões que também mudaram ao longo do tempo, mas cujo passado é constantemente relembrado nas revistasA Sentinela e Despertai! Ainda concernente à reação das Testemunhas de Jeová diante de denúncias feitas contra sua religião, o leitor poderá presenciar outra atitude bem típica, a pessoa se mostrará espantada e indisposta a refutar as evidências que aqui apresento com provas documentais oriundas da própria literatura da religião, até por que a Testemunha é estimulada a destruir, sem ler, toda literatura que traga idéias contrárias às suas convicções (A Sentinela de 15/03/1986, pág. 12 e 01/11/1984, pág. 32). A pessoa fará acusações genéricas ou dirá que se trata de uma campanha de perseguição religiosa por parte de “apóstatas” mentirosos e amargurados, que as citações estão fora de contexto ou adulteradas e que tudo não passa de mentiras ou meias-verdades. Atacando a fonte da informação, ao invés da própria informação, talvez apele para o seu texto bíblico predileto para estas ocasiões, Provérbios 11:9 onde se diz: “Pela boca é que o apóstata arruína seu próximo...” (TNM) Ou, quem sabe, cite as passagens bíblicas que mencionam os cristãos como “pessoas odiadas por todas as nações” ou “perseguidos” (Mateus 24:9 e João 15:20) . Esta, pelo menos, tem sido a política da Sociedade Torre de Vigia até o dia de hoje, conforme expressa em sua criticadas. literatura. Sei que tais argumentos tem sido típicos a diversas religiões quando

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Deixo ao espírito do leitor julgar se há aqui algum indício de amargura ou desonestidade de minha parte. Convido-o a pesquisar as fontes bibliográficas mencionadas. Todavia, é preciso que se diga, a Testemunha não age assim por má fé. Simplesmente age como foi treinada para agir e o faz crendo que está obedecendo a Deus. Peço a compreensão e benevolência do leitor para com a Testemunha de Jeová à sua porta. Ela não é culpada. Ela julga estar cumprindo o dever sagrado de Mateus 24:14, a saber, pregar as “boas novas”.Ela representa o produto final de um insidioso e persuasivo processo de doutrinação que suprimiu gradualmente seu senso crítico e sua capacidade de pensar por si mesmo. Sugiro, na verdade insisto que a trate com bondade. Este é o único modo de ajudá-la. Não sou nem pretendo ser ‘dono da verdade’, atitude típica de alguns líderes de seitas. Meu intuito é revelar fatos desconhecidos à maioria das pessoas, acontecimentos que têm forte repercussão sobre a vida de milhões de seres humanos. Minha responsabilidade é para com eles. Estou aberto a críticas ou sugestões, desde que bem fundamentadas. Escrevi este livro, fruto de meses de pesquisa, com a consciência reconfortada. Espero que ao terminar de lê-lo você possa entender com profundidade esta religião que tanto tem influenciado a vida de milhões de pessoas. Certo de que cumpri meu dever como cidadão lembro as palavras que iniciam o filme “JFK”:

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o ser mencionado o nome “Testemunhas de Jeová”, écomum vir à mente da maioria de nós a imagem daquelas pessoas bem trajadas, geralmente gentis e sorridentes que batem às nossas portas nas manhãs de domingo, dizendo-se proclamadores de “boas novas”, usualmente chamando nossa atenção para algum aspecto da problemática mundial e oferecendo sua literatura, as revistas “A Sentinela” e “Despertai!”. É provável que você, leitor, já tenha sido visitado por elas ou possua um parente próximo ou amigo que é membro deste exótico movimento religioso. É igualmente digna de nota a persistência com que as Testemunhas de Jeová nos convidam a conhecer melhor sua organização e suas crenças, oferecendo aos moradores estudos bíblicos domiciliares. Fora deste aspecto, as únicas outras coisas com que costumamos associar este grupo religioso são suas crenças incomuns, as quais, às vezes, ocupam espaço na imprensa, tais como sua recusa em receber transfusões de sangue (a mais polêmica de todas) mesmo ao custo de suas vidas, sua recusa em servir às forças armadas e a abstinência de algumas celebrações populares, tais como oNatal ou aniversários . À parte deste panorama superficial, quase ninguém têm acesso ao conhecimento do mecanismo de funcionamento interno da entidade, sua estrutura hierárquica, sua história, evolução doutrinária e a metodologia de seus líderes. O mais curioso é que, caso se faça indagações a uma Testemunha de Jeová sobre tais temas, as respostas serão superficiais e sob uma ótica piedosa, contendo freqüentemente termos estranhos ao leigo, tais como “o escravo fiel e discreto”, “os ungidos” ou “a grande multidão”, que pouco acrescentam de realmente significativo ao que já se sabe. O objetivo deste livro é tornar disponível ao leitor, de forma sucinta e direta, uma síntese da história deste movimento religioso e de seus ensinos ao longo dos anos, alguns dos quais causariam surpresa até aos próprios adeptos. De fato, algumas destas informações não estão disponíveis às próprias Testemunhas de Jeová sinceras em nossos dias. Acredito que, uma vez tendo acesso a estas informações, o leitor passará a ter uma visão ampla da organização. Cada informação fornecida neste livro será, sempre que possível, seguida da fonte bibliográfica, obtida em sua maior parte, da própria literatura da religião (com nome, data e página). Incrível como possa parecer, após esta leitura, o leitor provavelmente estará mais familiarizado com as contradições da instituição do que a própria Testemunha de Jeová mediana. Primeiro haverá uma seção de perguntas e respostas e depois um resumo das principais doutrinas e declarações da religião, desde sua fundação até hoje. É uma leitura deveras, fascinante.

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O movimento religioso começou na cidade deAllegheny (Pensilvânia, Estados Unidos da América) por volta de 1870. Seu criador chamava-se Charles Taze Russell, um comerciante, nascido naquela cidade a 16 de Fevereiro de 1852. Ele fora criado como Presbiteriano, mas afiliou-se à Igreja Congregacional. Desapontado com as religiões, perdeu sua fé na Bíblia. Uma noite, um em 1869, a um culto em uma Igreja Adventista e recuperou sua fé. Formou grupoassistiu independente de estudo e em 1877 associou-se aNelson Barbour, um Segundo Adventista, com o qual passou a produzir publicações, separando-se dele (por divergências de ponto de vista) cerca de dois anos depois. Em 1879, começou a publicar a revista Watch Tower, a qual, mais tarde, se tornaria à bem conhecida “A Sentinela”. O Pastor Russell, entre outras coisas, era adepto da piramidologia, simpatizante da maçonaria e extraiu alguns de seus conceitos da astrologia e dos cálculos de um inglês chamado John Acquila Brown sobre o “fim do mundo”. Ele escreveu diversos livros durante sua vida, entretanto, seus escritos não são recomendados para leitura e não são mais publicados pela própria editora que ele fundou e aparelhou com seu próprio dinheiro. Os seguidores do Pastor Russell chamavam-se inicialmente ‘Estudantes da Bíblia’, tendo adquirido o nome ‘Testemunhas de Jeová’ apenas a partir de 1931. Estudiosos de religião consideram o movimento ‘Testemunhas de Jeová’ como derivado do Segundo Adventismo e do ‘Millerismo’ do século 19. Fonte: Testemunhas de Jeová – Proclamadores do Reino de Deus(1993) páginas 42-60 e página 201; Apocalypse Delayed – M. J. Penton (1985) parte I.

Apesar de a religião existir há mais de um século, conta com apenas 7.659.019 (sete milhões, seiscentos cinqüenta nove mil, dezenove) membros no mundo inteiro, o equivalente a 3,5% da população do Brasil e 0,1% da população mundial, espalhados por umas 230 terras. São batizados por ano uma média de 260.000 novos adeptos, porém seu crescimento gira em torno de 2,5%, isto indica que em média 100.000 pessoas saem da religião todos os anos. Todavia, suas publicações já atingiram 294 línguas. Fonte: Anuário 2012 e Testemunhas de Jeová – Proclamadores do Reino de Deus(1993), pág. 520.

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Sim, desde o início do movimento religioso até a década de 50, foram formadas mais de 30 seitas dissidentes, algumas existentes até o dia de hoje. Eis o nome de algumas: Russellitas, Rutherfordistas, “Instituto de Piramidologia” (1920), “Movimento Missionário da Casa do Leigo” (1918), “Associação dos Estudantes da Bíblia da Epifania” (1955), “Vigias da Manhã” (1937), “Movimento Missionário da Casa Laodicense” (1957), “Associação dos Estudantes da Bíblia da Aurora” (1932), “Associação dos Estudantes da Bíblia Intransigentes” (1918), “Os Servos de Jah” (1925), “Sociedade do Anjo de Jeová de Bíblias e Tratados” (1917), “Estudantes da Bíblia Associados” (1917, nome inicial das TJ), “Testemunhas Cristãs de Jeová”, “Verdadeiras Testemunhas de Jeová” e diversas outras. Fonte: http://www.geocities.com/osarsif/estudantes.htm

Após aceitar uma revisita em seu lar, a pessoa é convidada a fazer um estudo ‘bíblico’ por meio da publicaçãoO que a bíblia realmente ensina (2005). Neste ínterim, ela é constantemente estimulada a freqüentar as reuniões nos chamados “Salões do Reino” e a participar delas e do serviço de pregação de porta em porta. O batismo é realizado por imersão em água, por ocasião das chamadas ‘Assembléias de Circuito’ ou do ‘Congresso de Distrito’, no caso são realizadas duas Assembléias e um Congresso por ano. Para habilitar-se ao batismo, a pessoa não precisa ser maior de 18 anos de idade, deverá ter concluído, pelo menos, o estudo da publicação já mencionada e deve fazer certos “ajustes” em sua vida, como, por exemplo, recusar o serviço militar (caso a pessoa seja do sexo masculino e tenha 18 anos) por meio de um documento de eximição (que no Brasil, causa à perda [cassação] dos direitos políticos) e deixar o emprego, caso este tenha algum vínculo direto com as forças armadas ou instituições políticas e religiosas. Além disso, a pessoa não poderá participar de comemorações de aniversário, páscoa, nem qualquer tipooude festa religiosa (a não ser as promovidas pelas natal, próprias Testemunhas de Jeová) cerimônia patriótica.

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A pessoa deverá freqüentar 5 reuniões semanais, além do estudo ‘pessoal’ e do serviço de pregação, geralmente nos fins de semana. Deve, sempre que possível, fazer proselitismo no trabalho, escola etc. Ela deverá prestar um relatório mensalà organização, informando o total de horas gastas na pregação a cada mês, bem como o total de revistas, livros e brochuras distribuídos ao público. Além disso, deverá tomar parte regularmente em demonstrações e discursos. Os varões são incentivados a atingir os ‘cargos’ de ‘servo ministerial’ ou de ‘ancião’ (pastor). Para ser um membro aprovado da religião, a pessoa deve aceitarsem questionar, todos os ensinamentos da organização e evitar pensamentos independentes: “A associação aprovada com as Testemunhas de Jeová requer a aceitação de toda a série dos verdadeiros ensinos da Bíblia, inclusive as crenças bíblicas singulares das Testemunhas de Jeová”.

- A Sentinela de 1/4/1986, pág. 31 “Evite idéias independentes ....Como se manifestam tais idéias independentes? Um modo comum é questionar o conselho provido pela organização visível de Deus ”.

- A Sentinela de 15/7/1983, pág. 22

Tanto o transgressor moral como o dissidente são submetidos a uma audiência a portas fechadas (sem a presença de observadores, exceto se forem testemunhas do caso) perante um grupo composto normalmente por 3 ‘anciãos’ (pastores), denominado ‘comissão judicativa’, que tem poderes para1) apenas admoestar privadamente 2) suspender certos ‘privilégios’ (tais como proferir discursos)3) censurar publicamente (o anúncio é feito diante de todos na reunião semanal) ou4) ‘desassociar’ a pessoa (excomunhão). Aquele que desejar simplesmente deixar a religião sem ser desassociado, pode fazê-lo por entregar uma carta de renúncia ou por declarar publicamente não mais ser uma Testemunha de Jeová. A partir daí, a pessoa é considerada ‘dissociada’, um eufemismo na verdade, já que o tratamento dispensado à pessoa é o mesmo dos desassociados(A Sentinela, 15/12/1981, p. 19). Nos casos anteriores, a organização mantém um registro documental com os dados sobre a pessoa e o motivo da desassociação, através dos formulários S-77 e S-79, os quais são remetidos e arquivados na sede da instituição (no caso do Brasil, em Cesário Lange-SP). Os demais membros da religião devem cortar relações pessoais

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tanto com o desassociado como com o dissociado, desaconselhando-se inclusive o simples cumprimento. Ainda que se trate de parente próximo (pais, filhos ou cônjuge), recomenda-se reduzir o contato ao mínimo possível (A Sentinela, 15/4/1988, p. 28). Caso descumpra esta norma, este membro também estará sujeito a ser desassociado.

"Se um publicador se recusa a fazer isto e ignora a proibição de se associar com o desassociado, esse publicador está a rebelar-se contra a congregação de Jeová, e ”rebelião é o pecado de bruxaria, e teimosia é como idolatria e terafins". Ele deve ser fortemente admoestado, ficando impressionado com os fatos de que, por se associar com o desassociado ele é partícipe da iniqüidade e que pelo seu modo de proceder ele está a separar-se da congregação para estar com o malfeitor. Se, depois de suficientes avisos, o publicador persistir em se associar com a pessoa desassociada, em vez de se alinhar com a organização de Jeová, ele também deve ser desassociado". - A Sentinela, 1/10/1955, p. 607 (em inglês) Aquele que consultar literatura crítica às crenças das Testemunhas de Jeová ou der ouvidos aos argumentos dos dissidentes, poderá igualmente receber a mesma disciplina. A edição de A Sentinela de 1/10/1993, pág. 19, referindo-se aos dissidentes (normalmente chamados 'apóstatas') diz:

"Alguns apóstatas professam conhecer e servir a Deus, mas rejeitam ensinos ou requisitos delineados na Sua Palavra. Outros afirmam crer na Bíblia, mas rejeitam a organização de Jeová e tentam ativamente obstaculizar a sua obra. Quando eles deliberadamente escolhem maldade depois de conhecerem que é correto,oquando mal se torna tão entranhado que tal se torna parte inseparável de suaoconstituição, cristão oprecisa odiar (no sentido bíblico da palavra) os que se agarraram inseparavelmente à maldade...sentem aversão...”. Tal 'ódio santo' fora definido cerca de 40 anos antes:

"Temos de odiar no sentido mais verdadeiro, que é encarar com extrema e ativa aversão, considerar como uma abominação, odioso, nojento, detestar”. - A Sentinela de 1/10/1952, pág. 599 (em inglês) Comissão Judicativa - Tribunal Eclesiástico das Testemunhas de Jeová Fonte das informações: A Sentinela dee 15/12/1981, págs. 20, 21 e Revista 25; 15/4/1988, págs. 27 28; 1/7/1994, págs. 11-13.

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"Assim como Jeová revelou suas verdades, por meio da congregação cristã do 1º século, assim também ele o faz atualmente, por meio da atual congregação cristã. Por meio desta agência, faz com que se cumpra o profetizar em escala intensificada e sem paralelo. Toda esta atividade não é feita por acaso. Jeová é quem está por trás dela.” - A Sentinela de 15/12/1964, pág. 749 "Lá no ano de 613 AEC, Jeová... designou Ezequiel... para ser seu profeta...O mesmo se deu com as testemunhas ungidas e dedicadas de Jeová..." - As Nações Terão de Saber que Eu Sou Jeová, 1971, pág. 63 "...Quem é este profeta?... Este 'profeta' não era um só homem, mas um grupo de homens e mulheres. Era o grupo pequeno dos seguidores das pisadas de Jesus Cristo, conhecidos naquele tempo como Estudantes Internacionais da Bíblia. Hoje são conhecidos como testemunhas cristãs de Jeová." - A Sentinela de 1/10/1972, pág. 581 "... só a organização de Jeová, em toda a terra, é dirigida pelo espírito santo...Ela é a única para qual a Palavra Sagrada de Deus, a Bíblia, não é um livro lacrado ... a única organização que compreende as 'coisas profundas de Deus'!" - A Sentinela de 1/1/1974, p. 18 "...Ocupam uma posição similar a de Paulo e seus colaboradores, quando esse apóstolo falou sobre as maravilhosas verdades que Deus revela ao seu povo: ' É a nós que Deus tem revelado por intermédio de seu espírito'." - A Sentinela de 1/12/1982, pág. 13 “...o 'profeta' suscitado por Jeová não tem sido um único homem... mas uma classe. Os membros desta classe, iguais ao profeta-sacerdote Jeremias, estão plenamente dedicados a Jeová Deus... existe apenas um restante desta classe do 'profeta' ainda na terra ."

- A Sentinela de 1/5/1983, pág. 27

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"Nós apresentamos prova de que... a 'batalha do grande dia do Deus TodoPoderoso' (Rev. 16: 14)... terminará em 1914 A.D., com a vitória completa sobre o governo terrestre..." - Estudos das Escrituras III, 1905, editorial 26 (em inglês)

"...a completa destruição dos poderes... deste mundo maligno - político, financeiro, eclesiástico - por volta do fim do Tempo dos gentios, outubro de 1914." - Estudos das Escrituras IV, 1897, págs. 604,622 (em inglês)

"A 'batalha do grande dia do Deus Todo-Poderoso' (Rev. 16: 14)... terminará em 1915 A.D., com a vitória completa sobre o governo terrestre...... consideramos uma verdade estabelecida que o final dos reinos deste mundo , e o completo estabelecimento do reino de Deus, se cumprirão próximo do fim de 1915 A.D." - Estudos das Escrituras III, 1915, editorial 101 e 99 (em inglês)

"Parece conclusivo que as 'dores de aflição' da Sião Nominal estão fixadas na passagem de 1918... há razões para crer que os anjos caídos invadirão as mentes de muitos da igreja nominal, levando-os a umaenfurecidas conduta excessivamente comDeus sua destruição às mãos de massas ... Também, notola anoe culminando de 1918, quando destruir as igrejas e seus membros aos milhões..." - O Mistério Consumado, 1917, págs. 128,129 e 485 (em inglês) "Seja como for, há evidência de que o estabelecimento do Reino na Palestina será provavelmente em 1925, dez anos mais tarde do que nós uma vez tínhamos calculado [isto é, 1915]." - O Mistério Consumado, 1917, pág. 128 (em inglês) "Por conseguinte, nós podemos esperar confiantemente que 1925 marcará o retorno de Abraão, Isaque, Jacó e os profetas fiéis da antiguidade... um cálculo simples dos jubileus traz-nos a este importante fato." - Milhões que Agora Vivem Nunca Morrerão , 1920, págs. 88-90 (em inglês)

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"... os meses que restam antes do Armagedom." - A Sentinela de 15/9/1941, pág. 288 (em inglês) "Devemos presumir, à base deste estudo, que a batalha do Armagedom já terá acabado até o outono de 1975 e que o reinado milenar de Cristo, há muito aguardado, começará então? Possivelmente... A diferença talvez envolva apenas semanas, ou meses, não anos." - A Sentinela de 15/2/1969, pág. 115 "O apóstolo Paulo servia de ponta de lança na atividade missionária cristã. Ele também lançava o alicerce para uma obra que seria terminada em nosso século vinte ." - A Sentinela de 1/1/1989, pág. 12;As nações terão de saber que eu sou Jeová, pág. 200 Nota: Em 1929, as Testemunhas de Jeová construíram uma mansão em San Diego, Califórnia, EUA – chamada Beth-Sarim – destinada a servir de residência aos patriarcas bíblicos Abraão, Isaque e Jacó, cuja ressurreição havia sido prevista para 1925. Mas eles não apareceram para tomar posse. Quem residiu lá até 1942 – ano de sua morte – foi na verdade, o então Presidente da organização, J. F. Rutherford. Em 1939, foi construído um abrigo antiaéreo secreto em uma propriedade vizinha – chamada Beth-Shan. Pouco depois da II Guerra Mundial, a organização silenciosamente vendeu os dois imóveis. A publicação oficial das Testemunhas de Jeová, o livro Proclamadores, admite a existência de Beth-Sarim (pág. 76) – embora omita que a escritura da casa foi feita em nome dos patriarcas bíblicos – e silencia totalmente quanto à existência de Beth-Shan.

"Nunca se esqueça de que apenas a organização de Deus é que sobreviverá ao fim deste sistema moribundo. Portanto, aja sabiamente e faça planos para a vida eterna por construir seu futuro em harmonia com a organização de Jeová." - A Sentinela, 15/2/1985, pág. 31

"Apenas as Testemunhas de Jeová, os do restante ungido e os da Grande Multidão, qual organização unida sob a proteção do Organizador Supremo, têm esperança bíblica de sobreviver ao iminente fim deste sistema condenado, dominado por Satanás, o diabo." - A Sentinela de 1/9/1989, pág. 19

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“De modo que, em estrito sentido bíblico, Jesus é o mediador apenas dos cristãos Ungidos”.

- A Sentinela de 15/9/1979, pág. 32– Perguntas dos Leitores “Conseqüentemente, 1 Timóteo 2:5, 6 não usa “mediador” no sentido amplo , comum em muitas línguas. Não está dizendo que Jesus é mediador entre Deus e toda a humanidade... As pessoas de todas as nações que têm a esperança de vida eterna na terra se beneficiam mesmo agora dos serviços de Jesus. Embora ele não seja seu Mediador legal...”

- A Sentinela de 15/8/1989, pág. 31 -Perguntas dos Leitores “Jesus Cristo o Mediador toda ado humanidade . Ele é, o Mediador entrenão seué Pai Celestial, entre Jeová Jeová Deus,Deus e a e nação Israel espiritual a qual é limitada a apenas 144.000 membros,...”

- Segurança Mundial sob o ‘Príncipe da Paz’ (1986), pág. 10 par. 16 “Jeová e Cristo dirigem e corrigem o escravo [a organização] quando necessário, não a nós como indivíduos... Nós devemos seguir junto com a organização teocrática do Senhor e esperar por mais esclarecimento...”

- A Sentinela de 1/2/1952, págs. 79, 80 (em inglês) Nota: Para maiores informações sobre a equivocada doutrina das Testemunhas de Jeová de que os 144.000 descritos em Revelação (Apocalipse) 7:1-6 e 14:1-3 descrevem um número literal (na realidade trata-se de um número simbólico como

todo o restantemostram do livro) que e dese que a Grande simboliza uma classe terrestre (as evidências trata de umaMultidão classe celestial) veja o Capítulo 18 deste livro na pág. 326 com o tema “Há cristãos que não são filhos de Deus?”.

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“Os fatos históricos mostram que 1919 foi o ano em que o remanescente terrestre dos 144.000 herdeiros do Reino começaram a ser libertados de

Babilônia, acomeçou Grande.a ser Naquele mensagem de pelas Deus estabelecido pregada ano, de acasa em casado e Reino divulgado Testemunhas cristãs de Jeová de um modo destemido. Esta pregação do Reino como estabelecido em 1914 foi em cumprimento da profecia de Jesus em Mateus 24: 14.” - Caiu Babilônia, a Grande! (1963), pág. 515 (em inglês)

"Assim como as profecias bíblicas apontavam para o Messias, elas também nos encaminham ao unido corpo de cristãos ungidos das Testemunhas de Jeová, que serve atualmente qual escravo fiel e discreto. Todos os que desejam entender a Bíblia devem reconhecer que a 'grandemente diversificada sabedoria de Deus' só pode ser conhecida através do canal de comunicação de Jeová, o escravo fiel e discreto. - João 6:68" - A Sentinela de 01/10/1994, pág. 8

"A menos que estejamos em contato com este canal de comunicação usado por Deus, não avançaremos na estrada da vida, não importa o quanto leiamos a Bíblia." - A Sentinela de 01/08/1982, pág. 27

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"As igrejas Católica, Ortodoxa e, mais tarde, as Protestantes ... tornaram-se parte de Babilônia a Grande, o império mundial da religião falsa do diabo." - A Sentinela de 01/12/1991, pág. 13 “De modo que católicos mataram outros católicos com aprovação de seus líderes religiosos, e os protestantes fizeram o mesmo”.

- Poderá Viver para Sempre no Paraíso na Terra (1982), pág. 28 “Em vez de ajudar as pessoas na sua busca do Deus Verdadeiro, as numerosas seitas e denominações que surgiram em resultado do livre espírito da Reforma Protestan te apenas as dirigiram a muitas diferentes direções. De fato, a diversidade e a confusão levaram muitos a questionar a própria existência de Deus.”

- O Homem em Busca de Deus (1990), pág. 328

“...É verdade que a raça branca exibe algumas qualidades de superioridade sobre qualquer outra...” - Zion’s Watch Tower de 15/7/1902, pág. 3043 (reimpressão)

“Deus pode mudar a pele etíope [negra] no seu devido tempo.” - Zion’s Watch Tower de 15/7/1904, pág. 3320 (reimpressão)

"Eles [os negros] têm sido e são uma raça de serviçais... Não há no mundo um serviçal tão bom quanto um bom serviçal de cor, e a satisfação que ele obtém por prestar um fiel serviço é uma das mais puras satisfações que há no mundo." A Idade de Ouro de 24/7/1929, pág. 207 (em inglês)

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"Deus... evidentemente tem sido um respeitador das raças, e tem abençoado especialmente certos ramos da raça Ariana na Europa e América... a raça branca tem sido mais abundantemente abençoada com a luz das boas novas do que outras... a Igreja eleita provavelmente será composta principalmente da altamente favorecida raça branca.." A Bíblia versus a Teoria da Evolução (1898), págs. 30,31 (em inglês)

"As raças negra e latina provavelmente sempre serão inclinadas à superstição." Zion's Watch Tower de 1/4/1908, pág. 99

"...as diversas raças da humanidade provavelmente terão seus interesses espirituais como Novas Criaturas melhor preservados por alguma medida de separação." Estudos das Escrituras - Vol III (1904), pág. 490 (em inglês)

"EDUCAÇÃO DE NEGROS EM CINCINNATI - Negros por toda a cidade vão a esta escola por opção. Eles sentem que podem ter melhores oportunidades permanecendo em seu próprio grupo, e estão provavelmente certos... sob as condições imperfeitas presentes, uma sábia segregação é provavelmente uma vantagem para todos os envolvidos." A Idade de Ouro de 1/10/1919, pág. 8 (em inglês) "Hispânicos.. e outras raças retrógradas..." A Idade de Ouro de 30/11/1927, pág. 141(em inglês) "Cuidadosas observações em uma escola em Londres mostraram que as crianças davam suas melhores risadas, não com comédias 'pastelão', mas...olhando um mineiro negro comer um prato cheio." A Idade de Ouro de 1928, pág. 684 (em inglês)

Nota: Não seria correto afirmar que as Testemunhas de Jeová, hoje, constituem uma comunidade racista (pelo menos, não mais do que outras religiões ou culturas o são). Não obstante, não se pode deixar de perceber em seus artigos, tais como os acima transcritos, a representação do pensamento tradicional da época em que foram escritos, os quais não conseguem disfarçar, em seu teor, uma forma, por assim dizer, sutil e 'piedosa' de racismo.

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"Seja sabido, de uma vez por todas, que aqueles homens gananciosos, sem consciência e egoístas que se chamam Judeus, e que controlam a maior parte das finanças do mundo e os negócios do mundo, nunca serão dirigentes desta nova terra. Deus não correria o risco com tais homens egoístas em uma posição tão importante." A Idade de Ouro de 23/2/1927, pág. 343 (em inglês) “Os Judeus receberam mais atenção do que realmente mereciam.” - Vindicação (1932), pág. 258 (em inglês)

“...O Clero Protestante... com os rabis da organização religiosa judaica, seguem as direções da organização Católica Romana... todos eles praticam a religião, da qual o diabo é o autor.” - Inimigos (1937), pág. 212 (em inglês)

“Atualmente, os assim chamados ‘Protestantes’ e o clero Yiddish [judeu] cooperam abertamente e são controlados pelas mãos da Hierarquia Católica Romana, como simplórios palermas...”

- Inimigos (1937), pág. 222 (em inglês) “Entre os instrumentos que ela (a Prostituta de Babilônia) usa, estão os homens ultra-gananciosos chamados ‘Judeus’ que só procuram o lucro pessoal. - Inimigos (1937), pág. 281 (em inglês) Nota: De modo semelhante às questões sobre racismo, não seria correto atribuir às Testemunhas de Jeová, hoje, uma filosofia anti-semita. Por outro lado, também não podem passar despercebidas certas oscilações de pensamento daentidade com relação ao povo judeu, em função da época. Por exemplo, nas publicaçõesConforto para os Judeus (1925) e Vida (1929), a organização defende, a exemplo de seu fundador, idéias claramente sionistas. Subitamente, a partir da década de 30, época em que o anti-semitismo ganhou novo impulso mundial, é nítida a mudança no teor das publicações da Sociedade Torre de Vigia. Queira o leitor atentar para as datas em que as declarações acima foram feitas, coincidentes coma ascensão do nazi-fascismo na Europa.

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Quadro da película "Fotodrama da Criação" (1914), de C.T. Russell

“...refere-se à Grande Pirâmide, cujas medidas confirmam o ensino bíblico de que 1878 marcou o começo da colheita...” - A Sentinela de 1/10/1917, pág. 6149 (em inglês) “...a Pirâmide do Egito, permanecendo como uma testemunha silenciosa e inanimada do Senhor...” - A Sentinela de 15/5/1925, pág. 148 (em inglês)

"...quando se lançou a idéia segundo a qual a grande pirâmide é a 'Testemunha' de Jeová, cujo testemunho é de igual importância tanto para a verdade divina quanto para a ciência pura..." Thy Kingdom Come (1897), cap. 10, pág. 320

"...[a pirâmide] converteu-se em objeto de interesse crescente para cada cristão maduro no estudo da palavra de Deus; pois ela parece dar-nos de uma maneira notável, e de acordo com todos os profetas, um esquema do plano de Deus para o passado, presente e futuro." Thy Kingdom Come (1897), cap. 10, pág. 314

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"Então Satanás colocou o seu conhecimento na pedra morta [a pirâmide], que pode ser chamada Bíblia de Satanás, e não testemunha pétrea de Deus." - A Sentinela de 15/11/1928, pág. 344 (em inglês)

E mais: O livro Testemunhas de Jeová – Proclamadores do Reino de Deus (1993), pág. 201, admite a piramidologia como parte de seus ensinos primitivos, embora justifique isto por dizer que se tratava apenas de “um pensamento” do Pastor Russell, por cerca de 35 anos.

O pastor Russell em uma de suas visitas à pirâmide do Egito

Nota: Em 1912 - durante uma de suas visitas à pirâmide de Gizé o pastorRussell proferiu o célebre discurso "Uma Testemunha de Deus - A Grande Pirâmide do Egito". Uma evidência adicional do envolvimento da religião com piramidologia existe até hoje, na forma de um enorme monumento de pedra, em forma de pirâmide, que fica ao lado do sepulcro de Russell, no Cemitério Rosemont United (Pittsburgh, Pensilvânia, EUA). Recentemente no primeiro número de A Sentinela do ano 2000 (1/1/2000, páginas 9 e 10) a religião fez uma confissão mais pormenorizada de seu envolvimento com a piramidologia, embora não mencionasse que este envolvimento perdurou até 1928, durante a 2ª presidência da entidade e 9 anos após a suposta ‘aprovação’ do “Escravo Fiel e Discreto”, em 1919, por Jesus Cristo.

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Quadro do "Fotodrama da Criação" (1914), de C.T. Russell

“Nós questionamos seriamente todas as declarações da astrologia; ainda assim, o que se segue, qualquer que seja a fonte das sugestões, até mesmo do próprio adversário, parece marcadamente verdadeiro quanto às nossas expectativas baseadas na Palavra do Senhor. Apenas por essa razão nós o publicamos como segue: Saturno é o representante do grande poder motivador que tem dominado a mente humana até o presente momento... Júpiter, representando a lei, religião e a moralidade... Júpiter também deve transferir sua anterior lealdade ao ganancioso Saturno para o recentemente descoberto fator que defende a irmandade universal, isto é, Urano. Quando Urano e Júpiter se encontrarem no signo benigno de Aquário em 1914, a era há muito prometida terá tido um belo começo na obra

de libertar os homens na busca de suae própria salvação e assegurará realização final doso sonhos e ideais de todos os poetas sagas da História... Urano aestá preparando caminho para Netuno, o qual simboliza o amor em sua forma mais elevada - o cumprimento da lei. Em 1903, Júpiter estará no signo de Peixes..." - A Sentinela de 1/5/1903, págs. 127-131 ou págs. 3183 na reimpressão (em inglês) “Por esta razão tem sido feita a sugestão de que [a constelação de] Plêiades pode representar a residência de Jeová, o lugar de onde ele governa o universo.”

- A Sentinela de 15/6/1915, pág. 5710 (em inglês) “Mas a grandeza em tamanho de outras estrelas ou planetas é pequena quando comparada com Plêiades em importância, porque Plêiades é o lugar do trono eterno de Deus....Tem sido sugerido, e com bastante peso, que uma das estrelas do grupo [‘Alcyone’] é o local de habitação de Jeová.”

- Reconciliação (1928), pág. 14 (em inglês)

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E mais: Zions WT de 15/05/1895, pág. 1814 eCriação (1927), pág. 94 (em inglês) Nota: O entendimento sobre a estrela “Alcyone” e a constelação de “Plêiades” perdurou por 62 anos, de 1891 a 1953, 35 anos após uma suposta inspeção de Cristo à organização e 34 anos após a dita “aprovação” dele à organização, em 1919. (A Sentinela de 15/04/89, página7, parágrafo 9 e A Sentinela de 15/03/90, página 15, parágrafo 4)

“Uma verdade apresentada pelo próprio Satanás é tão verdadeira quanto uma verdade declarada por Deus.... Aceite a verdade onde quer que a encontre, não importa o que ela contradiga.”

- Zion’s Watch Tower, Julho de 1879, págs. 8 e 9 “Este verso (Revelação 8:3) mostra que, embora o Pastor Russell tenha transposto a cortina [ou morrido], ele ainda está dirigindo cada aspecto do trabalho de colheita... Nós sustentamos que ele supervisiona... o trabalho a ser feito”

- O Mistério Consumado (1917), págs. 144, 256 (em inglês) “Então nosso querido Pastor, agora em glória [morto], está, sem dúvida alguma, manifestando profundo interesse no trabalho de colheita, e Deus lhe permite exercer uma forte influência em razão disso.”

- A Sentinela de 1/11/1917, pág. 6161 (reimpressão)

Nota: O Pastor Russell faleceu em 1916– cerca de um ano antes do lançamento destes dois últimos artigos. Além disso, a religião já fez uso – como fonte de apoio para a sua tradução do texto bíblico de João 1:1 – dos escritos de dois médiuns espíritas: Johannes Greber e John S. Thompson – Ajuda ao entendimento da Bíblia (1969), pág. 1245, e Kingdom Interlinear Translation (1985), págs. 1139 e 1140

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Em 1914, o 'pastor' Russel lançou o célebre "Fotodrama da Criação" - um ambicioso projeto que combinava películas cinematográficas,slides e trilha sonora (Livro Proclamadores, págs. 56 a 60). As imagens destacavam, entre outras coisas, os signos do zodíaco, a pirâmide e a esfinge do Egito e, conforme se vê abaixo, o emblema dos Estudantes da Bíblia, o símbolo da cruz e da coroa - o mesmo que apareceria na capa das publicações da Sociedade Torre de Vigia até os anos 30.

Todos os volumes de Studies in the Scriptures (1886 – 1917) estampavam, na capa, o “disco alado” egípcio, símbolo pagão dodeus-sol Rah.

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A capa da revista A Sentinela (em inglês) apresentava, até 1931, o símbolo místico de ‘cruz e coroa’ (no alto, à esquerda), símbolo da Igreja da 'Ciência Cristã' e o elmo da armadura dos Cavaleiros Templários, 33º Grau da Maçonaria (no alto, à direita).

Fonte: Testemunhas de Jeová – Proclamadores do Reino de Deus (1993), págs. 88 e 201

“A vacinação é uma violação direta do pacto eterno que Deus fez com Noé após o dilúvio”.

- A Idade de Ouro de 4/2/1931, pág. 293 (em inglês) “Pessoas ponderadas prefeririam ter varíola em vez de serem vacinadas, porque as vacinas propagam as sementes da sífilis, cancros, eczema, erisipelas, scrofula, tuberculose, até a lepra e muitas outras doenças nojentas. Portanto, a prática da vacinação é um crime, um ultraje, e um engano.”

- A Idade de Ouro de 1/5/1929, pág. 502 (em inglês) “As vacinas nunca salvaram uma vida humana . Não previnem a varíola”.

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- A Idade de Ouro de 4/2/1931, pág. 294 (em inglês)

"Usem seus direitos como cidadãos Americanos para abolir para sempre a prática demoníaca das vacinas." - A Idade de Ouro de 12/10/1921, pág. 17(em inglês)

"Já se demonstrou conclusivamente que não existe tal coisa como a hidrofobia [raiva]!" - A Idade de Ouro de 1/1/1923, pág. 214 (em inglês)

"Nunca se provou que uma única doença seja devida a germes." - A Idade de Ouro de 16/1/1924, pág. 250(em inglês)

"As doenças são causadas por fermentação e calor... não por germes." - A Idade de Ouro de 25/8/1926, pág. 751(em inglês)

"Evite inoculações de soro e vacinas, pois elas poluem a corrente sanguínea com seu pus nojento." - A Idade de Ouro de 13/11/1929, pág. 106,107(em inglês)

"A questão da vacinação é algo que o indivíduo deve encarar e decidir por si próprio." - A Sentinela de 15/12/1952, pág. 764 (em inglês) "As vacinas parecem ter causado uma drástica redução das doenças.." - Despertai! de 22/8/1965, pág. 20 (em inglês) Nota: A revista A Idade de Ouro [Golden Age] – publicada de 1919 a 1937, pelas Testemunhas de Jeová – é considerada por certos autores como uma das fontes literárias mais prolíficas emaberrações científicas, ataques à medicina tradicional, endosso de terapias folclóricas – às vezes fatais – e charlatanismo em assuntos médicos. Os trechos extraídos acima - provavelmente srcinários da mente do editor da revista, Clayton Woodworth - parecem confirmar esta opinião.

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"Há alguma coisa na Bíblia contra se doar os olhos (após a morte) para serem transplantados numa pessoa viva? A questão de se colocar o corpo ou parte do corpo à disposição dos homens da ciência ou dos médicos, após a morte, para experiências científicas ou para transplantação em outros, não é vista com bons olhos por certos grupos religiosos. Entretanto, não parece haver nenhum princípio ou lei bíblica envolvida. É, po rtanto, algo que cada pessoa deve decidir por si mesma ." - A Sentinela de 1/2/1962, pág. Pág. 96

"Será que há alguma objeção bíblica a que se doe o corpo para uso na pesquisa médica ou que se aceitem órgãos para transplante de tal fonte?... Aqueles que se submetem a tais operações vivem às custas da carne de outro humano. Isso é canibalesco ...Jeová não deu permissão para os humanos tentarem perpetuar suas vidas por receberem canibalescamente em seus corpos a carne humana, quer mastigada quer na forma de órgãos inteiros ou partes do corpo, retirados de outros." - A Sentinela de 1/6/1968, pág. 349,350

"Embora milhares de transplantes de córnea sejam realizados cada ano...Há aqueles, como as testemunhas cristãs de Jeová, que consideram todos os transplantes entre humanos como canibalismo..." - Despertai! de 8/12/1968, págs. 21,22

"...as Testemunhas de Jeová se opõem em sã consciência a todos os transplantes como sendo mutilação desnecessária de seus corpos criados por Jeová, e puro canibalismo." - Despertai! de 8/12/1968, pág. 30

"Deve a congregação tomar ação quando um cristão batizado aceita o transplante dum órgão humano, tal como a córnea ou um rim? No que se refere ao transplante de tecido ou osso humano para outro, é um caso de decisão conscienciosa de cada uma das Testemunhas de Jeová...É um assunto para decisão pessoal ." - A Sentinela de 1/9/1980, pág. 31 Nota: Entre os anos de 1968 e 1980, vários casos de morte por recusa religiosa de transplante foram registrados entre os membros das Testemunhas de Jeová. Entre esses se encontra o caso de Arvid Moody, 68 anos de idade, em Massachusetts EUA, que por volta de Junho de 1978, faleceu após recusar um transplante de rim.

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“...um dos médicos na emergência principal doou um quarto de seu sangue para transfusão, e hoje a mulher vive e sorri alegremente...”

- Consolação (25/12/1940), pág. 19 (em inglês) “...se, no futuro, ele persistir em aceitar transfusões de sangue ou em doar sangue...ele mostra que não se arrependeu realmente...e deve ser cortado [da congregação] por ser desassociado.”

- A Sentinela 1/12/1961, pág. 736 Nota: A edição de 15/06/2000 da revista A Sentinela (págs. 29-31) traz um curioso artigo, no qual agora se autoriza, por parte das Testemunhas, o uso de "frações" dos componentes "maiores" do sangue - plasma, hemáceas, leucócitos e plaquetas - os quais requerem doação, estocagem e processamento de grandes quantidades de sangue. Paradoxalmente, as Testemunhas continuam proibidas tanto de doar o sangue para a obtenção destas "frações" permitidas como dereceber tais componentes "maiores" integralmente.

“As Testemunhas são neutras nas guerras e lutas entre as nações, e mantêm-se livres de todo envolvimento político, nem mesmo votando...”

- A Sentinela 15/06/1978, pág. 14 “...Testemunhas de Jeová mantêm-se separadas de toda política, nem mesmo votando...”

- A Sentinela (WatchTower) 15/10/1973, pág. 627 (em inglês) “As Testemunhas... não tomam parte em votar nas eleições. Não transigem na sua posição de neutralidade em assuntos de política...; se forem às seções eleitorais e anularem o seu voto de algum modo, quer riscando-o quer anotando nele, por exemplo, as palavras 'Para o Reino de Deus' ”.

- A Sentinela 15/11/1964, pág. 692

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Nota: a posição intransigente da religião proibindo a aquisição da carteira de identidade do partido único do governo do país africano Malauí resultou, durante as décadas de 60 e 70, em perseguição, assassinatos e estupros de milhares de Testemunhas de Jeová naquele país. (Livro Proclamadores, página 674) Curiosamente, durante o mesmo período, a religião autorizava seus adeptos no México – país onde se registrou como entidade ‘ cultural’ e não religiosa – a pagar uma propina a funcionários públicos para receberem um documento militar (“cartilla”), no qual constava falsamente que a pessoa já havia prestado o serviço militar e agora fazia parteda ‘primeira reserva’ do Exército.

"Não deveria haver nada contra nossa consciência em entrar para o exército." - A Sentinela (WatchTower) 15/4/1903, pág. 120 (em inglês)

“Um exame dos fatos históricos mostra que as Testemunhas de Jeová não somente recusaram vestir uniformes militares e pegar em armas, durante o último meio século, ou mais, mas que também recusaram fazer serviços não-combatentes ou aceitar outro serviço militar.” - Unidos na Adoração do Único Deus Verdadeiro (1983), pág. 167

"Um irmão talvez ache agora que pode prestar conscienciosamente este serviço sem violar sua neutralidade cristã..." - A Sentinela de 15/8/1998, pág. 17

Nota: por cerca de 50 anos, a religião proibia a seus adeptos não só o serviço militar, como também o serviço alternativo, até 1996, ano em que a posição anterior

foi revista – somente aqueles países em que que tal serviço é coordenado por alguma entidade civilpara não religiosa. Vale ressaltar esta equivocada postura anterior representou, para muitas Testemunhas de Jeová no mundo inteiro, o encarceramento ou a morte. No Brasil, os jovens são instruídos a solicitar às forças

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armadas um ATESTADO DE EXIMIÇÃO , o qual custa-lhes seus direitos políticos– cassação – o que, na prática, significa que o jovemnão terá título de eleitor ou carteira de reservista, estando, por este motivo, impedido de prestar concurso público ou de adquirir passaporte . Todavia, diversas Testemunhas de Jeová (inclusive 'anciãos') exercem hoje cargos em repartições públicas e órgãos do governo, mesmo sendo eximidos, o que constitui uma violação clara das leis do país (passível de denúncia às autoridades), as quaissó concedem este privilégio àqueles em pleno gozo de seus direitos políticos . Estranhamente, a Sociedade Torre de Vigia, com seu silêncio diante desta situação, tem se mostrado, no mínimo, conivente com a ilegalidade, a despeito de recomendar seus membros ao público como "os cidadãos mais leais... que não procuram esquivar-se de leis inconvenientes a seus próprios lucros" e de afirmar que as Testemunhas precisam se "comportar honestamente em todas as coisas" (livro Proclamadores, pág. 196, linha 7 e pág. 178, parágrafo 4). Como prova documental da cassação a que os jovens estão sujeitos, publico esta cópia de um trecho do Atestado de Eximição, onde se declara expressamente que o jovem perdeu seus direitos políticos, em razão de convicção religiosa.

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"De acordo com a resolução do Congresso em 2 de Abril, e com a proclamação do Presidente dos Estados Unidos em 11 de Maio, sugere-se que o povo do Senhor em todos os lugares, faça de 30 de Maio um dia de oração e súplica . A Deus aprouve graciosamente fazer com que esta nação fosse formada e se desenvolvesse sob as mais favoráveis condições no mundo para a preservação da liberdade civil e religiosa." - A Sentinela de 1/6/1918, pág. 174 (em inglês)

"Um cristão, não desejando matar, talvez não tenha sido conscienciosamente capaz de comprar bônus [de guerra] do governo; mais tarde ele considera que grandes bênçãos recebeu sob este governo, e percebe que a nação está em apuros e encarando o perigo quanto a sua liberdade, e ele se sente conscienciosamente capaz de enviar algum dinheiro ao país, simplesmente do mesmo modo que ele o enviaria a um amigo em dificuldades." - A Sentinela de 1/6/1918, pág. 6268 (reimpressão em inglês)

"Desde que a Casa de Betel foi fundada, num canto da sala de visita tem sido preservado um pequeno busto de Abraham Lincoln, com duas bandeiras americanas hasteadas sobre ele...Nada vemos de impróprio para com o dever de um cristão." - A Sentinela de 15/5/1917, pág. 150 (em inglês)

"Todos na América deveriam ter satisfação em mostrar a bandeira Americana..." - A Idade de Ouro de 4/2/1931, pág. 293 (em inglês) Nota: o lançamento dos dois primeiros artigos acima, em 1918, causou uma imediata reação de repúdio entre muitos membros da Sociedade Torre de Vigia na época, ocasionando uma ruptura no movimento, da qual nasceu uma entidade de dissidentes - "Associação dos Estudantes da Bíblia Intransigentes" - os quais ficaram conhecidos como Standfasters. A própria Sociedade admite a quebra da 'neutralidade política' em seu livro Proclamadores, pág. 191, muito embora não transcreva o artigo sobre o "dia de oração e súplica" etampouco mencione a questão da compra de bônus de guerra. Karl Klein, antigo membro do Corpo Governante, em seu depoimento pessoal sobre aquela época -Despertai! de 22/9/1987, pág. 17 admite que os dissidentes Standfasters "viam esta questão com clareza", mas ao

mesmo otempo, uma questão "lealdade aos co-Estudantes da Bíblia", "correr risco" por e permanecer ao de lado da Sociedade, mesmo diante de tal decidiu violação clara do princípio da neutralidade.

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Em 25 de Junho 1933, na Alemanha, em pleno regime nazista– após ataques do governo à sede das Testemunhas de Jeová (‘Estudantes da Bíblia’),em Magdeburg – uma conferência de cerca de 5000 adeptos da religião foi secretamente realizada em Berlim. Nesta conferência foi redigida aquela que ficou conhecida como Declaração de Fatos (Erklärung) , bem como uma carta pessoal a Adolf Hitler, ambas contendo expressões de elogio aos ‘princípios’ do governo nazista e ataques ao povo judeu, aos Estados Unidos e à Grã-Bretanha. A própria Sociedade Torre de Vigia não nega a existência da ‘Declaração de Fatos’ . Uma transcrição da mesma foi publicada, em inglês, no ano seguinte ao de sua escrita, no Anuário das Testemunhas de Jeová de 1934, com conteúdo idêntico aos srcinais em alemão. Ainda hoje, podem-se encontrar cópias de tais documentos no Museu do Holocausto (EUA). Cerca de 40 anos depois, no Anuário de 1974 (1975 em português, pág. 110), a religião admite que o documento provocou um sério mal estar em muitos dos presentes à reunião. De modo lacônico, o artigo diz que o conteúdo da declaração havia sido "amainado" - um eufemismo, se considerarmos o seu teor anti-semita e o apoio expresso aos princípios nazistas. Mesmo assim, a declaração foi distribuída aos milhões. O artigo prossegue acusando o representante da sede alemã na época Paul ( Balzereit) de ser o responsável por uma alteração no conteúdo dos documentos, o que, na prática, corresponde a uma admissão de que seu conteúdo era, de fato, comprometedor. Mais recentemente, na revista Despertai! 8/7/1998 pág. 10-14, a religião admite que a acusação era inverídica, absolve o acusado e adota agora outra linha de defesa. Por mais incrível que pareça, elestentam justificar o conteúdo destes dois documentos. Além disso, mais de cinco décadas de separação entre este embaraçoso documento e avasta maioria das Testemunhas de Jeová na atualidade certamente contribuem para o obscurecimento da gravidade de seu conteúdo na mente delas. Assim sendo, transcreverei alguns dos trechos mais chocantes da Declaração de Fatos, precisamente aqueles que as publicações recentes das Testemunhas de Jeová normalmente omitem ou tentam justificar. Queira o leitor prestar atenção ao modo como a organização fala do povo judeu e de que forma ela se posiciona diante dos princípios do governo nazista:

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“O governo atual da Alemanha declarou -se enfaticamente contra os opressores do Grande Comércio e em oposição à influência religiosa errada nos assuntos políticos da nação. Essa é exatamente a nossa posição: ...Longe de estarmos contra os princípios advogados pelo governo da Alemanha, nós apoiamos sinceramente esses princípios e sublinhamos que Jeová Deus através de Jesus Cristo causará a realização completa destes princípios...” “Somos falsamente acusados pelos nossos inimigos de termos recebido dos judeus apoio financeiro para o nosso trabalho. Nada está mais longe da verdade. Até este momento, nunca houve a mínima quantia de dinheiro contribuída para o nosso trabalho pelos judeus. Nós somos os seguidores fiéis de Cristo Jesus e acreditamos Nele como sendo o Salvador do mundo, enquanto os judeus rejeitam inteiramente Jesus Cristo e negam enfaticamente que ele seja o Salvador do mundo enviado por Deus para o bem do homem. Por si só, isto devia ser prova suficiente em como nós não recebemos nenhum apoio dos judeus e portanto as acusações contra nós são maliciosamente falsas e só podiam vir de Satã, o nosso grande inimigo.” “Foram os homens de negócios Judeus do Império Anglo-Americano que estabeleceram e têm mantido os Grandes Negócios como um meio de explorar e oprimir os povos de muitas nações.... Este fato é tão manifesto na América que existe um provérbio a respeito da cidade de Nova Iorque que diz: “os Judeus são donos dela , os Católicos Irlandeses governam-na, e os America nos pagam os impostos.” “[Os] Estudantes da Bíblia estão lutando pelos mesmos objetivos e ideais elevados e éticos que o Reich alemão nacional proclamou a respeito do relacionamento do Homem

com Deus.... nãoaosexistem pontos de vista conflitantes ... mas estes antes,estão peloem contrário, no que diz respeito objetivos puramente religiosos e apolíticos... harmonia completa com... o Governo Nacional do Reich alemão .” O livro The Nazi State and the New Religions [O Estado Nazista e as Novas Religiões] de Christine King (1982), diz o seguinte sobre a ‘Declaração de Fatos’: “O documento é uma obra prima no gênero e digna das outras quatro seitas [os Cientistas Cristãos, os Santos dos Últimos Dias, os Adventistas do Sétimo Dia e os membros da Nova Igreja Apostólica], tendo todas elas apoiado, de uma maneira ou de outra, o estado Nazista. Tendo tentado assegurar às autoridades, pela Declaração de Fatos, que eram bons cidadãos, tendo interpretado e explicado os seus ensinos de um modo que, dadas as preocupações do regime, pretendia acalmar medos e oferecer uma certa medida de compromisso, as Testemunhas parecem ter esperado que daí em diante não teriam mais incômodos. Não tinham na declaração juntado aos Nazistas na condenação da Liga das Nações, não tinham descrito o Nacional Socialismo como estando contra as injustiças que os alemães tinham sofrido desde 1919 e não tinham terminado com um apelo pessoal ao ‘führer’?”

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Veja uma fotocópia da “Declaração de fatos”:

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O episódio em questão é mencionado na própria publicação de História Oficial das Testemunhas de Jeová, o livro Proclamadores, pág. 693. Curiosamente, o livro nada diz sobre o conteúdo destes documentos, embora mostre na íntegra diversos outros que lhe são favoráveis como o documento de renúncia à fé, redigido pelos nazistas. Recentemente, a entidade tem estado empenhada em uma campanha de ‘saneamento’ deste embaraçoso capítulo de sua história, por meio de sua literatura e de um site na Internet, intitulado “triângulos roxos”, onde descreve a bravura com que muitos Estudantes da Bíblia enfrentaram o confinamento nos campos de concentração. Embora, de fato, a maioria dos fiéis na Alemanha, durante a II Guerra Mundial (de modo semelhante aos membros de diversas outras religiões, cujo suplício o livro Proclamadores não menciona) tenham individualmente resistido à opressão nazista, também é fato que o líder da entidade à época,J. F. Rutherford (2º presidente e autor de diversos livros da religião) empreendeu, por meio da Declaração de Fatos e de uma carta pessoal, uma tentativa de compromisso com o führer Adolf Hitler. Todavia, diversas publicações das Testemunhas de Jeová fazem pesadas críticas às lideranças de outras denominações religiosas por terem tentado a mesma coisa. Por exemplo, a revista A Sentinela de 1/1/1989 (pág. 21, par. 13) acusa outras religiões de terem se comprometido “de forma lamentável” com o nazismo. Porém o Corpo Governante das Testemunhas de Jeová prefere esquecer tais fatos com relação à sua própria organização . Repare o leitor o que afirma um trecho da referida revista: “As religiões principais, tanto católica como protestante, comprometeram-se de forma lamentável em prestar honra ao nazismo, idolatrando o führer, saudando sua bandeira suástica e abençoando suas tropas enquanto estas partiam para massacrar seus irmãos de fé de nações vizinhas. Os assim chamados ‘cristãos’ de todos os credos – exceto as Testemunhas de Jeová – foram apanhados em fervor patriótico.”

Em vista dos documentos aqui apresentados, fica evidente que os líderes das Testemunhas de Jeová na época tentaram de todas as formas algum tipo de comprometimento com os nazistas. Obviamente, depois que todas estas tentativas de aproximação fracassaram e o nazismo começou a atacá-los, os dirigentes da Sociedade Torre de Vigia não tiveram alternativa, a não ser se voltar contra o nazismo. Apesar do Corpo Governante tentar de todas as formas ocultar ou minimizar estes fatos, provas documentais como “Declaração dos Fatos” e a carta pessoal a Hitler deixam isso bem claro.

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o princípio do século 19, um pastor batista de Nova Iorque, EUA, William Miller (nascido em Massachussets, 1782) dedicou-se ao estudo da escatologia estudo das profecias sobre o 'fim do mundo' - buscando prever a data da segunda vinda de Cristo. A partir da leitura de Daniel 8: 14, onde se diz, "...Até duas mil e trezentas tardes e manhãs; e o santuário será purificado", Miller reacendeu a discussão de um tema já bastante controvertido - a habilidade, com base na interpretação das Escrituras, de prever eventos futuros, iminentes e espetaculares. Estavam assim lançadas as sementes do que se convencionou chamarSegundo Adventismo. O movimento das Testemunhas de Jeová guarda estreita relação com esta corrente, de modo que temos de estabelecer aqui nosso ponto de partida. A interpretação dos livros bíblicos de Daniel e Apocalipse não era algo novo nos dias de Miller. Na verdade, estes textos tinham despertado o interesse de estudiosos de religião por séculos antes de ele ter nascido, o que acabou por gerar toda uma corrente (quase contínua) de teorias interpretativas, começando com aquelas do Judaísmo do primeiro século, na pessoa do rabino Akibah Ben Joseph (50 - 132 DC), e passando pelo Catolicismo medieval, a Reforma e, finalmente, o Protestantismo anglo-americano do século 19. O primeiro estudioso cristão a fazer especulações proféticas sobre a vinda do Messias, servindo-se dos mesmos métodos de cálculo dos rabinos do primeiro século, foiJoachim de Flora, no ano de 1195 DC. Não seria o único - do início século 12 ao início do século 19, cerca de35 autores continuariam a especular e propor dataspara o cumprimento das profecias bíblicas. De modo que Miller foi um continuador, não o criador domilenarismo - a corrente religiosa cujo cerne consiste nos preparativos para oReino de mil anos de Nosso Senhor, mencionado em Apocalipse 20: 4. Um longo desfile de especuladores sobre o "fim do mundo" - entre eles, Charles T. Russell - ainda se seguiria a Miller , anos no futuro, juntando-se a outras dezenas, antes dele. O conhecimento deste panorama histórico nos ajuda a compreender aquele que talvez seja o aspecto distintivo das Testemunhas de Jeová - a ênfase naescatologia milenarista - pois foi na efervescente atmosfera do período pós-millerismo do século 19 que o movimento teve seu berço.

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Não é objetivo deste livro descrever pormenorizadamente a história das Testemunhas de Jeová e as interpretações de profecias bíblicas quanto à 'Segunda Vinda de Cristo'. Mencionarei apenas aquilo que julgar relevante na nossa reconstituição do panorama histórico-religioso onde floresceu a entidade que é o alvo de nosso estudo. Para mais detalhes sobre o tema 'escatologia', inclusive aquela sustentada até hoje pelas Testemunhas de Jeová, e a história das Testemunhas de Jeová, recomendo a leitura das obras The Gentile Times Reconsidered [Os Tempos dos Gentios Reconsiderados], de autoria de Carl Olof Jonsson e Apocalypse Delayed [Apocalipse Adiado], de autoria de James Penton. Trata-se de obras sérias e profundas, produtos de mais de uma década de pesquisas. Submete tais temas ao escrutínio histórico e põe por terra mitos.

De volta aos trabalhos de Miller, ele utilizou o princípio do "dia-ano", mencionado explicitamente na Bíblia com referência apenas aos textos de Números 14: 34 e Ezequiel 4: 6. Tal método começou a ser aplicado por rabinos judeus a outras passagens e foi formalmente estabelecido como princípio pelo rabino anteriormente mencionado, Ben Joseph. Assim, Miller "calculou" que os 2.300 dias de Daniel 8: 14 representavam 2.300 anos. Tudo de que precisava, então, era um ponto de partida . Ele adotou como tal o ano de 457 AC , data do regresso de Esdras do cativeiro. Contando, pois, 2.300 anos a partir desta data, Miller chegou ao ano de 1843 como aquele que veria o retorno de Cristo a terra. A previsão fora feita no ano de 1818. Posteriormente (em 1842) ele publicaria um cálculo diferente, contando 2.520 anos, mas preservando a data-chave de 1843. Restava, portanto, pouco tempo antes que tal acontecimento extraordinário tivesse lugar. Qual o efeito de tais previsões sobre os contemporâneos de Miller? O impacto de levaram tal revelação foi bempor além do que Millersendo poderia diversas igrejas tal previsão demais a sério, queprever. muitosCrentes doaramde suas propriedades, abandonaram suas atividades cotidianas e prepararam-se para recepcionar Jesus Cristo. No entanto, a data chegou e o tão aguardado evento não

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se deu. Miller, então, revisou seus cálculos e concluiu que errara em um ano, marcando o acontecimento para o ano seguinte, ou seja,1844, mais especificamente para o mês de março. Tendo novamente decepcionado a si próprio e a seus seguidores (cerca de cem mil) Miller ainda faria uma última tentativa, marcando a vinda de Cristo para outubro daquele ano. Todavia, um novo desapontamento demoveu-o definitivamente da idéia de antever tal portentoso evento. Sobre isso, o próprio Miller escreve: "Acerca da falha da minha data, expresso francamente o meu desapontamento... Esperamos naquele dia a chegada pessoal de Cristo; e agora, dizer que não erramos, é desonesto! Nunca devemos ter vergonha de confessar nossos erros abertamente." (A História da Mensagem Adventista, pág. 410) Não se pode deixar de reconhecer humildade e candura nas palavras de Miller, ainda mais considerando que sua conduta, a partir de então, veio a corroborar suas palavras. Entretanto, involuntariamente, ele, por assim dizer, 'fez escola'. Miller acendeu um pavio que não podia apagar. Apesar de ter reconhecido seu erro, diversos de seus anteriores seguidores insistiram em marcar o dia para a vinda de Cristo, entre eles, os grupos liderados por Joseph Bates, Helen White e Hiram Edson, de cuja fusão nasceu a Igreja Adv entista do 7o. Dia . Como passou Miller a encarar a escatologia que se seguiu ao seu trabalho? Ele diz:

"Não tenho confiança al guma nas novas teorias que surgiram no movimento..." (A História da Mensagem Adventista, pág. 412) Por fim, morreu Miller, no ano de 1849, aos 68 anos de idade. Apenas três anos depois, em 16 de Fevereiro de 1852, em Allegheny-Pensilvânia, nascia Charles Taze Russell, filho do casal Joseph L. Russell e Anna Eliza Russell. O jovem Charles foi criado como presbiteriano e passou a maior parte de sua infância entre as cidades de Allegheny e Pittsburgh, no estado onde nasceu. Sua mãe o encorajou, na infância, a considerar o ministério Cristão, mas faleceu quando ele tinha apenas 9 anos de idade. Sua educação foi modesta, a partir de escolas públicas e suplementada por estudos com tutores particulares. Seu pai, um comerciante experiente, treinou o filho para ser seu sócio nos negócios, função esta que Charles passou a desempenhar já aos 11 anos, em uma loja de confecções masculinas. Nesta época, parecia demonstrar mais talento para o comércio do que para a religião. Por força das obrigações de trabalho, ele acabouabandonando os estudos aos 14 anos e tornou-se, nos próximos anos, um próspero empresário no ramo de confecções, ampliando o negócio do pai até tornar-se uma cadeia de lojas. Apesar de sua criação como presbiteriano, veio a filiar-se à Igreja Congregacional, por esta estar mais de acordo com seus conceitos na época.

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A despeito de seu sucesso como comerciante, o jovem Russell manifestava fortes pendores para a religiosidade. Ainda garoto, era um devoto Calvinista, tendo chegado a ponto de afixar panfletos em lugares públicos, advertindo os infiéis sobre o fogo do inferno. Esperava, com isso, induzir os trabalhadores a mudarem seu estilo de vida. Agora, ao passo que Russell pertencia à Igreja Congregacional, seu pai voltara-se para o Adventismo. Aos 16 anos de idade, Russell passou a inquietar-se com relação a diversas doutrinas comumente aceitas em seu tempo. Ante a ineficácia de suas tentativas em converter 'infiéis' às suas crenças, acabou por perder a fé na Bíblia. Contudo, não conseguiria fugir por muito tempo daquilo que parecia ser seu talento natural. Uma certa noite, no ano de 1869, um acontecimento deu novo impulso em sua vida. Caminhando pela rua de uma de suas lojas, ouviu o som de um canto, um hino religioso, o qual atraiu-lhe a atenção. De onde provinha? De um culto Adventista. O pregador nesta noite era o pastor Jonas Wendell. O próprio Russell descreve o encontro assim:

"Como que por acaso, certa noite visitei uma sala poeirenta e mal-iluminada, onde eu ouvira dizer que se realizavam cultos religiosos, para ver se o punhado de pessoas que se reunia ali tinha algo mais sensato a oferecer do que as crenças das grandes religiões. Ali, pela primeira vez, ouvi algo sobre os conceitos dos Adventistas [Igreja Cristã do Advento], sendo o Sr. Jonas Wendell o pregador...Assim, reconheço estar endividado com os adventistas e com outras denominações. Embora a exposição bíblica feita por ele não fosse inteiramente clara,... foi o suficiente, sob a orientação de Deus, para restaurar minha abalada fé na inspiração divina da Bíblia..., embora o Adventismo não me tenha ajudado em nenhuma verdade específica , ajudou-me grandemente a desaprender erros , e assim me preparou para a Verdade." (Watchtower, 1906, reimpressão) Não se pode deixar de notar um certo paradoxo em que um sermão"não inteiramente claro" e que não continha "nenhuma verdade específica" pudesse servir de alicerce para a restauração da fé de alguém. A partir daí, Russell, com apenas 18 anos, formou seu próprio grupo independente de estudos, o qual acabou por formar um movimento à parte, elegendo-o, seis anos depois, como seu "pastor". Contudo, ele contou com a contribuição de outros dois adventistas, George Stetson e George Storrs. O primeiro era ministro do Adventismo Cristão e o segundo, ex-ministro da Igreja Episcopal e um dos fundadores do movimento 'União da Vida e do Advento' (com o qual veio a romper, tempos depois) e autor do periódico Bible Examiner [Examinador da Bíblia]. Destes dois, indubitavelmente foi Storrs o que mais influenciou as idéias de Russell. George Storrs tinha estado envolvido com o movimento de William Miller, já mencionado anteriormente, mas dele afastou-se após os sucessivos fracassos nas previsões para a volta de Cristo. A partir da leitura de um tratado, em 1837, elaborado por um ex-pastor batista, Storrs veio a tornar-se adepto do

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'condicionalismo' , a saber, a tese segundo a qual o homemnão possui uma alma imortal, mas os mortos estão inconscientes e à espera de ressurreição, sendo que imortalidade é um dom adquirido, sob a condição de que o ser humano o obtenha de Deus por meio de Cristo. Ele também advogava o ensino de que os mortos em ignorância, teriam uma oportunidade de se redimirem diante de Cristo por meio de uma ressurreição terrestre. Não é difícil, pois, saber de onde Russell obteve a matéria-prima para suas doutrinas da mortalidade da alma e da restauração do paraíso t errestre. É bem provável que Russell também tenha herdado de Storrs sua aversão por igrejas e organizações religiosas. Russell não seria o único a ser influenciado por Storrs. Há indícios que sua associação com diversos grupos religiosos - em especial, adventistas - tenha contribuído para que estes também tenham adotado a doutrina do 'condicionalismo'. De fato, ela está presente, até hoje, nas doutrinas da União da Vida e do Advento - fundada pelo próprio Storrs - da Igreja Cristã do Advento, da Igreja Mundial de Deus e, naturalmente, das Testemunhas de Jeová. Não se deve subestimar o grau de influência de Storrs sobre o movimento Adventista, pois, além dos aspectos mencionados, há ainda um último legado dele a Russell - a piramidologia . Em 1876, o professor C. Piazzi Smyth - um astrônomo e piramidólogo anglo-israelita - publicou um artigo sobre este tema no periódico de Storrs, Bible Examiner. Algum tempo depois, o próprio Storrs escreveu artigos sobre piramidologia no periódico Herald of Life and the Coming Kingdom [Arauto da vida e da Vinda do Reino]. Na seqüência, o "pastor" Russell, dedicaria, em 1897, um capítulo inteiro de uma de suas obras - o volume III deStudies in the Scriptures [Estudos das Escrituras] - ao significado das medidas daPirâmide de Gizé quanto ao cumprimento das profecias bíblicas. Não seria o único. Por esta época, tais crenças grassavam entre diversos seguimentos do Segundo Advento. É também digno de nota que o próprio Russell fala da convivência com George Storrs e Stetson como o tendo conduzido "passo a passo, a esperanças para o mundo, mais verdes e brilhantes" (Watchtower, 1906, pág. 3821). Em 9 de outubro de 1879, Stetson morreu e foi Russell quem realizou, a pedido, o sermão fúnebre. Seu falecimento mereceu, inclusive, menção na principal publicação de Russell, na qual ele se refere a seu colaborador e instrutor como"irmão de notável habilidade". Em 1876, Russell faria um derradeiro e decisivo contato, do qual importaria mais alguns conceitos-chave que, somados aos anteriores, formariam o arcabouço de sua teoria doutrinária e a bandeira de sua cruzada missionária. Trata-se de Nelson Barbour, que, assim como George Storrs, também fora um seguidor de William Miller, e que, agora, liderava um grupo independente em Rochester, Nova Iorque. Sua publicação, Herald of the Morning [Arauto da manhã], chegou às mãos de Russell numa manhã de Janeiro daquele ano. Os conceitos ali expressos eram:

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a) A vinda de Cristo seria invisível. b) Cristo já estava presente. c) Esta presença havia acontecido em1874. Nenhum dos conceitos era novo. Já no século dezessete, Sir Isaac Newton lançou a idéia de uma "vinda invisível". Em 1856, Joseph Seiss - um pastor luterano da Pensilvânia, adepto da piramidologia - "burilou" estes conceitos, dividindo a vinda de Nosso Senhor em duas etapas, uma visível e uma invisível - idéia defendida até hoje pelas Testemunhas de Jeová. Em continuação, o cristadelfiano Benjamin Wilson, em 1844, passou a traduzir"vinda" [parousia] por "presença", em sua tradução da Bíblia, conhecida como Emphatic Diaglott. Um leitor das publicações de Barbour chamou-lhe a atenção para este fato e, a partir daí, ele adotou esta doutrina definitivamente. Quanto a 1874, Barbour não deduziu tal data sozinho, mas com base em um artigo da obra Horae Apocalypticae, de autoria de Elliot, encontrada na biblioteca do Museu Britânico, em 1860. Mais adiante, examinaremos alguns pormenores deste assunto. Assim sendo, em 1876, Barbour, quase 30 anos mais velho - com a mente repleta de idéias aparentemente herdadas de seu antigo mestre, Miller - foi convidado a um encontro com Russell, o qual aconteceu pouco depois em Filadélfia. Sobre este encontro, Russell falaria, mais tarde: "... Ele veio e a evidência me satisfez". Assim, ao final da reunião, o mais velho, Barbour, conseguiu convencer o mais moço, Russell, da correção de seus cálculos escatológicos. A partir daí, Russell, que tinha segundo suas próprias palavras -"desprezado a cronologia por causa do uso errado dela pelos adventistas", ironicamente assumiu ele próprio, com base nas idéias de um adventista - Nelson Barbour - o "timão" do velho barco pilotado por William Miller, quase 60 anos antes dele, e naufragado há mais de 30 anos.

G. Storr s e N. Barbour - As maiores influências de Russell

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O encontro com Nelson Barbour constituiu, sem dúvida, um divisor de águas na carreira do jovem Russell. Anteriormente voltado para a questão doutrinária sobre o sacrifício de Jesus Cristo e algumas crenças básicas secularmente aceitas pelas igrejas "organizadas", como ele dizia, as quais supostamente impediam o retorno ao Cristianismo simples do primeiro século, Russell, a partir deste ponto, enveredou mesma trilhasido deatantos e depoistempo dele. aParadoxalmente, talvez esta pela mudança tenha maioroutros, força e,antes ao mesmo maior fraqueza de seu ministério. Debruçando-se sobre trechos distintos das Escrituras e aproveitando cálculos escatológicos já publicados - entre eles, o de John Acquila Brown, em 1823 e o de Nelson Barbour, em 1875 - Russell adotou o mesmíssimo princípio "dia-ano" dos rabinos do primeiro século, aplicando-os arbitrariamente a certas passagens bíblicas, até chegar a sua tríade de datas: 1799, 1874 e 1914. A esta altura, é útil reconstituir a trajetória de Nelson Barbour, posto que fora ele que, por assim dizer, "passara o bastão" da escatologia a Charles Russell. Como já vimos, ele fizera parte do movimento millerista, tendo dele se afastado após o fiasco de 1844. De modo que, desapontado, passou a buscar outros alvos em sua vida. Viajou para a Austrália, onde trabalhou por algum tempo como mineiro. Em 1859, durante uma viagem marítima para os E.U.A. - não resistindo à sua inclinação natural - começou a reler as profecias bíblicas e pensou terdescoberto o erro de

Miller ou seja,errado o ponto de anos partida paracorreta a contagem da Cristo profecia de Daniel, estaria em 30 . A data para a dos volta"dias" de Jesus seria 1874, e não 1844. Chegando a Londres em 1860, visitou a biblioteca do Museu de Londres e, lá, encontrou a obra Horae Apocalypticae e, nela, uma tabela com os cálculos do Reverendo Christophen Bowen, os quais levariam ao ano de 1874 como aquele que marcaria os 6.000 anos de criação do homem. Isto só reforçou as convicções de Barbour, no sentido de que seus cálculos, agora sim, seriam os corretos. Indiferente aos sucessivos fracassos daqueles que o antecederam, ele começou a divulgar seus achados, a partir de 1868 - época em que o jovem Russell vagava sem fé, um ano antes de assistir o sermão do pastorJonas Wendell, o qual mudaria sua vida, e dois anos antes dele formar seu grupo de estudos. Barbour publicou, então, diversos panfletos sobre sua teoria, incluindo o Evidences for the Coming of the Lord in 1873 [Evidências da Vinda do Senhor em 1873] , publicado em 1870, até o lançamento de uma publicação mensal,The Midnight Cry [O Grito da Meia-noite], em 1873, ou seja, apenas cerca Miller de umeano antesque da tão esperada data. Só que, assim como foi para William muitos o antecederam, a chegada de1874 nada trouxe, além de desapontamento .

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Todavia, o obstinado Barbour não se daria por vencido. Valendo-se da forma com que Benjamin Wilson vertia a palavra parousia (Mateus 24 : 37,39), referindose a Jesus Cristo, por "presença", e não "vinda", Barbour insistiu na correção de seus cálculos, não abrindo mão da data de 1874, masmudando apenas a forma com que Cristo retornaria - invisivelmente. Deste modo - sustentava ele - Cristo já estava "presente" desde 1874. Convicto da veracidade de tal evento, ao mesmo tempo espetacular e, paradoxalmente,despercebido pelo mundo inteiro, no ano seguinte, 1875, Barbour mudaria o nome de sua publicaçãoThe Midnight Cry [O Grito da Meia-noite] para outro mais apropriado,Herald of the Morning [Arauto da manhã], o mesmo que - no ano de 1876 - chegaria às mãos de Russell e motivaria o encontro entre os dois. Não se pode negar que, vistas por este ângulo, as coisas ficariam mais convenientes, afinal, uma presença "invisível" é algo difícil de se atestar ou contestar... Assim, ainda no ano de 1876, após o encontro com Barbour, Russell escreveu um artigo que foi publicado no periódico de George Storrs, ou seja, Bible Examiner, sob o título "Tempo dos Gentios: Quando Eles Terminam?". Neste artigo, ele defendia a tese de que os 2.520 "dias" da profecia de Daniel iam de606 AC a 1914 DC, data em que findariam os assim chamados "Tempos dos Gentios" (Lucas 21: 24). Tratava-se de uma previsão inédita? Absolutamente não. Nelson Barbour já havia publicado a mesmíssima previsão no ano anterior, em seu periódicoHerald of the Morning [Arauto da Manhã]. O ano de 1877 assistiu à fusão dos grupos dePittsburgh - liderado por Russell e de Rochester - liderado por Barbour. Os dois, com a cooperação de outro associado de Barbour - John Paton - iniciaram um trabalho de divulgação ombro-aombro, o qual se materializou na obra Three Worlds [Três Mundos], da autoria de Barbour, mas com o apoio intelectual e financeiro de Russell, o qual, também neste ano, publicaria o panfleto The Object and Manner of Our Lord's Return [O Objeto e Maneira da Volta de nosso Senhor]. Além disso, ele passou a aparecer como coeditor da publicação Herald of the Morning [Arauto da Manhã], ao lado de Barbour e Paton. Todavia, esta seria uma união que duraria pouco. Um dos pontos que o livro de Barbour destacava era que o ano de 1878 seria marcado pelo arrebatamento dos 'santos' ao céu. Quando tais esperanças não se materializaram, ocorreu o primeiro cisma no ministério de Russell, com muitos deixando o movimento. Ao passo que Russell permanecia apegado à teoria da 'invisibilidade' - adotada após o fiasco de 1874 - este novo desapontamento exerceria sobre Barbour um efeito igual ao que William Miller experimentara 34 anos antes. Não era de surpreender que fosse assim, já que se tratava daquinta desilusão religiosa em sua vida - 3 delas no seu tempo demillerista e 2 consigo próprio - coisa pela qual Russell, mais jovem e menos experiente, não passara. De modo que Barbour foi impelido em outras direções.

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Isto não tardou a produzir discordâncias doutrinais francas e abertas entre eles, o que culminaria com o rompimento da parceria. No ano de 1879 - em meio a uma troca de acusações - Russell retirou-se oficialmente da sociedade , acompanhado de Paton, com o qual também romperia, tempos depois. Agora o então 'pastor' Russell achava-se financeira e mentalmente pronto para lançar as bases de seu próprio movimento, por meio da criação de um periódico - Zion´s Watch Tower and Herald of Christ´s Presence [Torre de Vigia de Sião e Arauto da Presença de Cristo], datado de Julho de 1879. Esta publicação, anos à frente, passaria a se chamar simplesmente WatchTower [A Sentinela], a literatura mais popular das Testemunhas de Jeová. Cinco anos depois,Russell, registraria oficialmente aZion´s Watch Tower Tract Society [Sociedade Torre de Vigia de Tratados de Sião] , na Pensilvânia. Esta corresponde atualmente à Watchtower Bible and Tract Society [Torre de Vigia de Bíblias e Tratados], em Brooklyn, New York, além da sede na Pensilvânia.

Zi on' s Watch Towe r - o primeiro periódico de Russell

Durante o restante de seu ministério, até o ano de sua morte - 1916 - Russell apegou-se tenazmente à significância das datas1799, 1874 e 1914, as duas últimas aprendidas com seu ex-parceiro,Barbour. E quanto à primeira? Bem, até aqui, vimos que Russell, em seu encontro com Barbour, aceitara a tese da "presença" invisível de Cristo, desde 1874. Também vimos que, um ano depois de Barbour ter publicado tais doutrinas, ele reproduziu, em um artigo, a mesma tese, a qual apontava para 1914 como o fim dos "Tempos dos Gentios" . Quanto ao ano de 1799 - esta data foi altamente significativa para os estudiosos de profecias do século dezoito. Com quase um século de antecedência, o livroThe Rise and Fall of Papacy [Ascensão e Queda do Papado], de autoria deRobert Fleming, previa a queda da monarquia francesa e do poder papal para 1794 . Embora esta data não tenha sido de todo bem dentro como da Revolução (1789-1798), período aceito pela precisa, maioria caiu os historiadores um pontoFrancesa de virada na história humana. Em razão disso, durante a revolução, o livro foi reimpresso na Inglaterra e na América. Em 1798, deu-se um acontecimento espetacular:o Papa foi deposto e

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exilado pelas tropas de Napoleão Bonaparte , parecendo confirmar a previsão de Fleming. Em vista do significado do poder papal para os dissidentes da Igreja Católica e os estudiosos de profecias bíblicas, o movimento adventista adotou, então, a data de 1798 como o começo do "tempo do fim", sendomantida ainda hoje pelos Adventista s do 7o. Dia . Charles Taze Russell incluiu-se entre os que aceitariam este ponto da história como sendo biblicamente significativo, modificando ligeiramente a data para 1799. Assim, com ideais de renovação cristã na bagagem, mais o combustível da escatologia milenarista, estavam lançadas as bases da cruzada missionária de Russell, a qual atravessaria a virada do século vinte, até nossos dias.

Neste ponto, julgo conveniente expor uma ordem cronológica dos eventos até aqui estudados, de modo a que você, leitor, possa estabelecer uma relação de causa e efeito desde os primórdios do adventismo até o início do ministério de Charles Taze Russell, o fundador do movimento das Testemunhas de Jeová:

1782- Nasce, nos E.U.A., William Miller, o futuro idealizador do Segundo Adventismo; antes, porém, ele se tornaria um pastor batista. 1798- As tropas de Napoleão Bonaparte capturam e exilam o papa, parecendo confirmar a previsão de Robert Fleming, feita quase um século antes. No futuro , diversos líderes do Segundo Advento, incluindo Charles Russel, considerarão tal evento como biblicamente significativo - o início do "Tempo do Fim". 1818- Miller prevê a Vinda de Jesus Cristo para 1843; milhares tornar-se-iam seus seguidores. 1823- John Acquila Brown publica, em Londres, um cálculo escatológico pioneiro de 2.520 anos - partindo de 604 AC e chegando a 1917, como o fim dos "sete tempos" de Daniel, capítulo 4. Contudo, ele não relaciona tal data aos "Tempos dos Gentios" (Lucas 21: 24). Como seu cumprimento se situa quase um século à frente, não tem a mesma popularidade das idéias de Miller. Décadas no futuro, Nelson Barbour se servirá destes mesmos cálculos e, por sua vez, os transmitirá a Russell, que ainda nem nasceu.

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1837- George Storrs, um ministro da Igreja Episcopal, lê o tratado de um expastor batista (Henry Grew), e torna-se adepto da crença da alma mortal. Anos no futuro, ele exercerá forte influência sobre Russell - neste e noutros assuntos. 1842- William Miller publica suas previsões; Storrs torna-se seu seguidor ; Nelson Barbour também se juntaria ao movimento. 1843- A Vinda do Senhor não acontece eMiller refaz seus cálculos, transferindo a data para março do ano seguinte. Também neste ano,George Storrs cria o periódico Bible Examiner [Examinador da Bíblia]. Março de 1844- Novamente fracassa a previsão e Miller tenta, ainda mais uma vez, corrigir seus cálculos, marcando o retorno de Cristo para outubro daquele ano. Outubro de 1844- Um novo fracasso faz Miller desistir por completo de estabelecer datas para a volta de Jesus Cristo e o início do milênio. Nelson Barbour, George Storrs, assim como muitos outros - desapontados - deixam o movimento. O primeiro "perde sua religiosidade" e vai para a Austrália, trabalhar como mineiro. O segundo, associa-se com outros grupos adventistas, até fundar o seu próprio - 19 anos à frente. 1849- Morre William Miller, deixando atrás de si um movimento de especulações proféticas sobre o Advento do Senhor, o qual prosseguiria por toda a segunda metade do século 19, até nossos dias. 1852- Nasce, na Pensilvânia-E.U.A., Charles Taze Russell, aquele que, um dia, se tornaria o fundador do movimento Estudantes da Bíblia - primeiro nome das Testemunhas de Jeová. Desde a infância, fora educado como presbiteriano e, anos depois, se afiliaria à Igreja Congregacional. 1859- Em uma viagem marítima de volta aos Estados Unidos, Nelson Barbour começa a reler as profecias e os trabalhos deMiller e conclui que seu ex-mestre errou em 30 anos. 1860- Barbour visita a biblioteca do Museu Britânico e, lá, lê a obra Horae Apocalypticae, concluindo que à volta do Senhor se daria em 1874, o ano 6000 da criação de Adão. Nesta época,Russell era apenas uma criança de 8 anos. 1863- George Storrs funda o movimento The Life and Advent Union [União da Vida e do Advento]. Enquanto isso, a fusão de três grupos de ex-milleristas srcina o Adventismo do 7o. Dia. O pequeno Charles, com apenas 11 anos de idade, já trabalha junto ao pai em uma loja de confecções masculinas.

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1868- Barbour começa a divulgar suas idéias sobre oano de 1874; nesta época, o jovem Russell, com apenas 16 anos, perambulava, sem fé. Não obstante, toda a estrutura doutrinária e escatológica que ele, um dia, abraçaria, já estava formada - a partir das idéias de clérigos luteranos, batistas, metodistas, cristadelfos e adventistas. 1869- Após anos de sucessivos desapontamentos religiosos, os quais o tinham levado à perda de sua fé, o jovem Russell, então com 17 anos, reencontra sua espiritualidade, depois de assistir o sermão do pastor Jonas Wendell, em um culto adventista, improvisado em uma pequena sala de reuniões, na rua de sua loja. 1870- Barbour publica o panfleto Evidences for the Coming of the Lord in 1873 [Evidências da Vinda do Senhor em 1873] e The Midnight Cry [O Grito da Meianoite]. Enquanto isso, Russell, então com 18 anos, forma seu grupo independente (Pittsburgh). 1871- George Storrs rompe com o próprio movimento que criou, aUnião da Vida e do Advento. Por volta desta época Russell faria contato com ele e absorveria diversos de seus conceitos, entre eles, a mortalidade da alma e a ressurreição terrestre. 1874- A previsão de Barbour não se cumpre e ele - diferentemente de seu antigo mestre, Miller - decide insistir com a data, alterando apenas a "forma" do "cumprimento" de sua previsão - "invisível". 1875- Nelson Barbour publica, em seu periódico Herald of the Morning [Arauto da Manhã], seus cálculos, partindo de 606 AC e chegando a 1914 como o fim dos "Tempos dos Gentios". Até hoje, a maioria das Testemunhas de Jeová supõe que fora Russell o pioneiro desta doutrina. 1876- Piazzi Smyth escreve um artigo sobre piramidologia no periódico Bible Examiner [Examinador da Bíblia], suscitando o interesse de George Storrs no assunto, o qual compartilhará seus achados com Russel. Ainda neste ano, um número do periódico de Barbour chega às mãos de Russell e eles se encontram. Deste encontro, eles se associam e passam a defender as mesmas idéias.Russell - que, até então, não se mostrava interessado em cronologia - publica, também no periódico deStorrs , uma matéria reproduzindo o mesmíssimo cálculo queBarbour publicara um ano antes. 1877- É lançado o livro Three Worlds [Três Mundos], de autoria de Nelson Barbour, com apoio de Russell. O livro proclama a esperança do arrebatamento celestial dos 'fieis' para 1878. Russel publica The Object and Manner of Our Lord's Return [O Objeto e Maneira da Volta de nosso Senhor].

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1878- O tão esperado arrebatamento não acontece eBarbour, frustrado, desiste de novas previsões e revê a doutrina do resgate de Cristo. Russell discorda dele e insiste na teoria da 'invisibilidade'. 1879- Morre George Storrs. Também neste ano, Russell e Barbour se desentendem e a parceria chega ao fim; Russell cria o periódico Zion´s Watch Tower and Herald of Christ´s Presence [Torre de Vigia de Sião e Arauto da Presença de Cristo]. A partir deste ponto, ele segue seu ministério sozinho. 1884- Russell funda oficialmente a entidade Zion´s Watch Tower Tract Society [Sociedade Torre de Vigia de Tratados de Sião]. A piramidologia e as datas 1799, 1874 e 1914 farão parte de suas pregações até sua morte, em 1916.

A esta altura, é apropriado perguntar: foram Nelson Barbour ou Charles Russell pioneiros em suas especulações?Não. Só entre os anos de 1823 e 1916, nada menos que 28 autores (a maioria de Londres) fizeram previsões escatológicas, incluindo os dois já mencionados. São eles:

Autor

Ano da Publicação

Data Inicial

Data Final

1) John Acquila Brown

1823

604AC

1917

2) H. Drummond

1827

722 AC

1898

3) G. Faber

1828

657 AC

1864

4) Alfred Addis

1829

680AC

1840

5) William Digby

1831

720AC

1893

6) W. Holmes 7) M. Habershon

1833 1834

685AC 677AC

1835 1843

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8) John Fry

1835

677AC

1843

9) William Pym

1835

670AC

1847

10) William Miller

1842

677AC

1843

11) Th. Birks

1843

606AC

1843

12) Wm. Cuninghame

1847

606AC

1847

13) J. Frere

1848

603AC

1857

14) E. Bickersteth

1850

602AC

1918

15)E.Elliot

1851

727AC

1893

16) R. Shimeall

1859

652AC

1868

17) J. Phillips

1865

652AC

1867

18) J.M.N.

1865

647AC

1873

19) W. Farrar

1865

654AC

1866

20) Joseph Baylee

1871

623AC

1896

21) P.H.G.

1871

649AC

1871

22) Edward White

1874

626AC

1894

23) Nelson Barbour

1875

606AC

1914

24) Charles T. Russell

1876

606AC

1914

25) E. Tuckett

1877

650AC

1880

26) M. Baxter

1880

620AC

1900

27) H. Guinness

1886

606AC

1915

28) W. Blackstone

1916

587AC

1934

Nota: diversos destes autores fizeram mais de uma tentativa de previsão

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A partir da relação acima, gostaria de chamar a atenção do leitor para os seguintes aspectos: a) A maioria das previsões era feita para um futuro próximo, perfeitamente alcançável pela geração dos autores . Que interesse despertaria uma previsão para séculos à frente? b) A diversidade de pontos de partida demonstra claramente a impossibilidade de estabelecer uma data precisa e um acontecimento específico para o início da contagem. c) A diversidade dos períodos abrangidos também demonstra claramente a impossibilidade de definir, com certeza,qual o número de "dias" proféticos a ser aplicado em cada caso. d) Nenhuma das previsões se cumpriu (pelo menos visivelmente). Em vista do acima exposto, é apropriado perguntar - vale a pena, em nossos dias, insistir com tais cálculos?

Uma pausa para examinar a condição pessoal tanto de William Miller como de seus sucessores talvez nos ajude a compreender melhor o perfil destes "profetas" modernos. Não se pode negar que as profecias bíblicas sobre a Segunda Vinda de Cristo - acompanhada de eventos cataclísmicos - tenham exercido um fascínio sobre o intelecto humano através das eras, especialmente em períodos turbulentos da história , quando as pessoas - aflitas e impotentes - tendem a se voltar para o sobrenatural em busca de respostas. Foi assim durante a Revolução Francesa e, no século vinte, durante a I e II Guerras Mundiais. Provavelmente será assim no futuro, pois esta é uma inexorável peculiaridade do ser humano. Pode-se demonstrar que praticamente durante toda a história, a pirotecnia profética sempre esteve presente, com previsões surgindo aqui e ali. Tal realidade está registrada nas próprias escrituras - "Então se alguém vos disser: 'Eis que aqui está o Cristo!', ou: 'Ali!', não o acrediteis." (Mateus 24: 23) Vistos sob esta ótica, Miller, Barbour e Russell são símbolos de seu tempo, emergentes de uma cultura onde as especulações proféticas eram objeto de interesse de muitos intelectuais e religiosos (especialmente os clérigos protestantes anglo-americanos do século dezenove). Eram, pois, visionários e, acima de tudo,

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indivíduos carismáticos e apaixonados por aquilo que faziam. Nestas circunstâncias não era difícil que outros se sentissem estimulados a seguí-los em suasesperanças e, igualmente, em seus desapontamentos. Consideremos alguns aspectos: a) William Miller era um devoto pastor batista e - como tantos outros acalentava a perspectiva do 'arrebatamento' dos fiéis para "encontrar o Senhor no ar" (1Tessalonicenses 4: 17). Era, pois, natural que - em meio às expectativas e especulações de sua época - ele próprio buscasse um meio de antever o evento pelo qual ansiava tão fervorosamente. Se ele não o fizesse,alguém, em algum lugar, o faria. Neste afã, entretanto, é bem provável que ele e outros passassem por alto as costumeiras armadilhas em que caem aqueles que se entregam a tais empreitadas. Assim foi que, do alto de seus 36 anos, Miller começou a especular sobre a data de 1843. Aos 60 anos, ainda teve fôlego para enfrentar três decepções - a primeira previsão e as outras duas - até finalmente desistir do ofício de "profeta". b) Nelson Barbour tinha menos de 20 anos quando se tornou seguidor de Miller, o qual, por sua vez, era cerca de 40 anos mais velho - e, naturalmente mais experiente - do que ele. Após se refazer das 3 frustrações comomillerista, Barbour faria nova tentativa por volta dos 35 anos de idade - até que, de modo semelhante a Miller, desistisse de lançar datas para o "fim do mundo", depois de ver suas previsões se desfazerem em datas que nada traziam de extraordinário. c) Charles Russell era quase 30 anos mais jovem do queBarbour - tinha apenas 24 anos quando se deixou convencer pelas idéias dele. Aqui, mais uma vez vemos a natural impetuosidade e o otimismo de um jovem em contraste com o cansaço de um homem que, desde os 20 anos de idade já experimentara os dissabores de expectativas sucessivamente frustradas. Era tão-somente natural que ele, após mais de 50 anos de vida e na quinta desilusão, buscasse outro rumo para sua espiritualidade. Ao passo que Russell estava em ascensão, Barbour estava em declínio. Da análise acima, podemos comparar as trajetórias destes três homens Miller, Barbour e Russell - a uma modalidade olímpica de corrida em grupo, onde cada corredor, após percorrer exaustivamente uma certa distância, passa um bastão ao seguinte, o qual igualmente consome suas energias até à exaustão e repete o gesto do anterior. Assim, ao final, cada um foi ao limite de suas energias. Todos eles lideraram a peleja por um percurso e deixaram sucessores. A corrida, porém, foi contínua. O alvo perseguido era a Vinda de Cristo e o bastão, a escatologia. Infelizmente, esta era uma corrida cujo ponto de chegada ninguém podia determinar e cujo preço foi alto demais para milhões de seguidores. Muitos perderam, não apenas as esperanças, mas também a fé.

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A maioria dos adeptos de religiões fundamentadas na escatologia - entre elas, as Testemunhas de Jeová - não está familiarizada com os complexos cálculos envolvidos nas especulações proféticas que foram ensinadas a defender como verdade divinamente revelada. Ainda assim, estas pessoas mostram-se credulamente dispostas a defender o resultado de tais cálculos, a despeito de sua pouca familiaridade com eles e da ausência de oevidências lhes dêem sustentação. Este, indubitavelmente, tem sido caso dos claras atuais que defensores da cronologia de Russell, ou do que restou dela. É muito raro encontrar, nestes dias, uma Testemunha de Jeová que saiba explicar os fundamentos da cronologia dele - hoje totalmente alterada por seus sucessores. De fato, as datas de 1799 e 1874 não têm mais hoje qualquer significado no movimento. Da antiga tríade, apenas uma - 1914 - restou, provavelmente por aquele ano ter assistido a eclosão da I Guerra Mundial, algo, sem dúvida, notável, porém bem diferente do que se esperava. Do contrário, certamente teria naufragado - como tantas outras - no mar das previsões fracassadas. O ano de 1914 não trouxe Jesus Cristo nas nuvens nem o arrebatamento da igreja nem o Armagedom . Trouxe, isto sim, 4 anos de conflito armado, em lugar dos 1000 anos de paz que prometera. Isto deveria nos induzir à reflexão... infindável listacomumente de autores eatônito de previsões, desde os primeirosdeséculos atéDiante nossosda dias, o leigo fica diante da multiplicidade datas apontadas como biblicamente significativas, bem como dos cálculos escatológicos sobre os quais elas supostamente se apóiam. Especialmente considerando que a maioria dos autores reclamou para si, em maior ou menor grau, o reconhecimento de que eram portadores da revelação divina. Neste respeito, Charles T. Russell não foi diferente. Com o propósito de esclarecer o leitor quanto à futilidade de se tentar, à base do exame acadêmico das Escrituras, inferir esta ou aquela data como sendo o ponto de convergência das profecias, passo a expor algumas das passagens bíblicas de interesse, bem como as diversas interpretações dadas a elas ao longo dos séculos pelos escatologistas, entre eles,Russell.

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Texto

Daniel 7: 25

período

interpretação

"um tempo, tempos e metade de um tempo"

1 + 2 + 0.5 = 3,5

3,5 x 360 = 1260 anos Daniel 8: 14 Daniel 9: 24-27

"2300 tardes e manhãs"

2300 anos

"70 semanas"

70 x 7 = 490 anos

Daniel 12: 11

"1290 dias"

1290 anos

Daniel 12: 12

"1335 dias"

1335 anos

Daniel 4: 16, 32

"7 tempos"

7 x 360 = 2520 anos

Apocalipse 11: 3

"1260 dias"

1260 anos

Nota: alguns autores aplicaram um período de 50 'jubileus', chegando há 2450 anos, ao invés de 2520.

Pergunta-se: onde se apóiam tais cálculos? Em lugar nenhum, exceto naintuição dos escatologistas, os quais fizeram - por conta própria - umageneralização sistemática do princípio dia-ano, explicitado nas Escrituras apenas emNúmeros 14: 34 e Ezequiel 4:6, referindo-se à peregrinação do povo hebreu no ermo . Dá as escrituras qualquer indicação de que tal princípio aplicar-se-ia a todas as passagens proféticas onde a palavra "dia" aparece? Não, em parte alguma da Bíblia há qualquer indício de que tal equação escatológica constituísse a chave para o entendimento das figuras proféticas. Vemos, pois, que tais previsões assentam-se sobre uma base muito frágil. E o mais importante,jamais - ao longo de quase 20 séculos de especulações - tal fórmula levou à concretização de qualquer um dos eventos apocalípticos. Assim, vemos que, ao lado de outras dificuldades - as quais analisaremos adiante - o escatologista precisa reconhecer queninguém pode inferir com certeza o significado matemático das dezenas de passagens proféticas que falam de dias, meses e anos. E quanto aos pontos de partida? Mesmo que alguém supostamente conseguisse decifrar o significado da dimensão de um período profético, seria, provavelmente aqui - no ponto inicial da contagem - que se encontraria a primeira grande dificuldade. Para provar meu ponto, passarei a tecer alguns comentários sobre os diversos pontos de partida já adotados por especuladores ao longo dos séculos.

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Se contarmos desde o século 12 quando o primeiro autor cristão,Joachim de Flora, começou a fazer cálculos escatológicos até o século 20, verificamos que foram adotadas, como pontos históricos de partida, mais de 50 datas distintas! Considerando apenas estas datas e os períodos destacados na tabela acima, chegamos à conclusão que são possíveismais de 350 combinações! Em qual delas acreditará você, leitor? Precisa ainda ser dito que haveria - ao lado da questão dos algarismos - uma dificuldade adicional: a interpretação dos textos. Este é um dos pontos mais controvertidos. Enquanto existe consenso em relação a algumas passagens bíblicas, outras permanecem obscuras. Há quase tantas interpretações quanto há teólogos e historiadores! À guisa de exemplo, consideremos a previsão pioneira deJohn Acquila Brown, consistindo de um período de 2.520 an os, partindo de 604 AC - ano da ascensão ao trono de Nabucodonosor da Babilônia - até1917 DC. Olhando atentamente para o ano de 1917, haveria algum evento que pudesse ser classificado como historicamente relevante? Houve, no mínimo, dois - a revolução comunista ('bolchevique') , na Rússia, em outubro daquele ano, e - mais importante - a assim chamada declaração Balfour de 2 de Novembro, pela qual o governo britânico, após tomar Jerusalém do império turco, declarou-se favorável ao estabelecimento da comunidade judaica na Palestina . Este segundo acontecimento foi, inclusive, apontado como biblicamente significativo por algumas comunidades religiosas, entre estas, a comunidade dos 'Estudantes da Bíblia' - nome das Testemunhas de Jeová, na época. Todavia, pode-se assegurar que Jesus Cristo, ao falar do sinal de sua Vinda, se referia especificamente a qualquer destes dois eventos? A resposta obviamente é não! Outro exemplo: a previsão de W. Blackstone, partindo de 587 AC e chegando a 1934 DC, a qual tem (diferentemente da previsão de Nelson Barbour e Charles Russel) pelo menos, o mérito de partir de uma data bem estabelecida historicamente. Neste caso, pergunta-se: houve, em 1934, algum evento historicamente relevante? Pode-se dizer que sim, pois, naquele ano, com a morte do idoso Marechal Hindenburg, Adolf Hitler assumiu o posto de Chefe de Estado da Alemanha, muito embora tivesse sido nomeado para o cargo de Chanceler no ano anterior, 1933. Este foi um fato decisivo na dramática seqüência de acontecimentos que culminariam na II Guerra Mundial. Entretanto, pode-se assegurar que Jesus Cristo, ao profetizar sobre sua vinda, se referia especificamente a este evento? Novamente, a resposta obviamente énão!

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De modo comparável, o cálculo escatológico deBarbour - mais tarde adaptado por Russel - quando examinado à luz das evidências históricas, deixa bastante a desejar, tanto por apresentar um ponto de partida (607 AC) totalmente órfão de comprovação histórica, quanto por coincidir com um evento(a guerra de 1914) que, a exemplo de outros, absolutamente nada de positivo trouxe à já tão sofrida humanidade, algo que certamente seria de se esperar, pelo menos emalgum momento da vinda do Senhor e do estabelecimento de seu Reino de Mil anos. Ademais, como nos casos anteriores, pode-se assegurar que era a I Guerra Mundial que Cristo tinha em mente ao profetizar sobre sua volta? Mais uma vez, a resposta obvia é não! Adicionalmente, uma curiosidade: considerando que as palavras de Cristo, em Mateus capitulo 24 (versículos 15 em diante), parecem referir-se claramente a um tempo futuro, alguém poderia perfeitamente adotar, como ponto de partida da profecia, o ano da destruição de Jerusalém pelas tropas romanas - 70 DC - e, partindo daí, contar 2520 anos e cair no ano de2590 - mais de quinhentos anos no futuro - como sendo aquele que marcará a volta do Senhor. Dificilmente uma previsão para um futuro tão distante despertaria algum interesse na geração atual. Contudo, se estivéssemos no século 26, é muitíssimo provável que tal data já estivesse sendo cogitada pelos movimentos religiosos alicerçados na escatologia, entre eles sem dúvida as Testemunhas de Jeová. Assim, conforme vemos, a partir desta simples análise, qualquer data pode probabilisticamente coincidir com um fato histórico relevante, já que tais fatos acontecem, em maior ou menor grau, praticamente emtodos os anos. Todavia, se considerarmos a famosa passagem bíblica de Apocalipse capítulo 6 (os 'quatro cavaleiros') vemos que, ao passo que os escatologistas costumeiramente apontam para o 'cavalgar' da guerra, da fome e da morte como evidência da precisão de seus cálculos e datas, estranhamente, eles não fornecem nenhum sinal claro e incontestável do 'cavalgar' do "rei vitorioso" desta mesma profecia, considerado símbolo de Jesus Cristo entronizado. Ante a falta de tais evidências, alguns, como Barbour e Russel, viram-se forçados a recorrer ao artifício de propor uma 'presença' invisível! Depois da morte de Russel, seus sucessores continuaram apontando datas para o fim do mundo. 1918, 1925, 1941, 1975, 2000, “a geração que não passará” entre outras, foram sendo apontadas como datas certas. Tais datas foram amplamente divulgadas de maneira insistente e enfática. Aqueles que não demonstravam fé nestas predições foram acusados de serem pessoas cegadas pelo diabo, sem discernimento espiritual, relapsas, indignas de serem seguidoras de Cristo. Além disso, quando tais datas passavam e nada acontecia, eles nem se davam ao trabalho de publicar um pedido desculpa (tipo desculpemnossa falha), reconhecendo seu erro. Muito pelo contrario, eles arrogantemente jogavam a culpa nos seus próprios

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seguidores, dizendo que tais datas surgiram de especulações pessoais deles, movidos por expectativas precipitadas. Mais à frente neste livro mostrarei detalhes sobre tais previsões fracassadas e a atitude covarde e arrogante de tais lideres religiosos diante destes fiascos. Mas até aqui, diante do que foi exposto, volto a perguntar: vale a pena insistir com tais cálculos? Devem os cristãos exercer sua religião com tais previsões em mente? Será que o 'estar vigilante', argumento costumeiramente utilizado pelos autores de tais previsões fracassadas justificaria tais aventuras escatológicas e suas temíveis conseqüências?

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ão satisfeitos com as diversas datas fracassadas que Charles Taze Russel proclamou em vida, seus seguidores continuaram insistindo na marcação de datas para o fim do mundo. Apesarna de presidência Russel ter morrido frustrado comde suas dataso não concretizadas, seu sucessor da Sociedade Torre Vigia, Juiz Joseph Franklin Rutherford começou uma nova era de predições fracassadas na história dos Estudantes da Bíblia (como eram conhecidas as Testemunhas de Jeová na época). Nascido em 8 de novembro de 1869 no Missouri e criado na pequena fazenda dos seus pais Batistas, Rutherford era um homem muito diferente de Russell. Em vez de crescer numa atmosfera de grande cidade sob a orientação amorosa de um pai próspero e benevolente, Rutherford teve de trabalhar muito e duramente, quase na pobreza. Graças a um grande esforço pessoal, ele estudou direito sob o velho sistema de aprendizado então muito comum nos Estados Unidos e passou nos seus exames de advogado em 1892. Em algumas ocasiões serviu como juiz substituto. Provavelmente em resultado destas experiências iniciais, e de um compromisso com os ideais populistas de William Jennings Bryan, ele desenvolveu uma forte personalidade, simpatia sincerapelo embora raramentepelos exteriorizada oprimidos, e umuma desprezo completo alto comércio, políticos e,pelos mais tarde, pelo clero.

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Tal como Russell, Rutherford era um homem alto que, só pela sua presença, impunha respeito. Ele tinha uma voz alta, estrondosa, e parecia mesmo um senador americano de um Estado do Sul ou de perto das fronteiras. Ao lidar com amigos ele podia ser despótico; ao lidar com inimigos, implacável. A história oficial da Sociedade Torre de Vigia, no livro As Testemunhas de Jeová no Propósito Divino, descreve-o como “um tipo de pessoa enérgica e direta' com uma 'frontalidade na abordagem de problemas ao lidar com os seus irmãos que fazia com que alguns ficassem ofendidos ”. De fato, ele era mal-humorado e por vezes brusco até a ponto da grosseria, tendo um temperamento explosivo que podia ocasionalmente exaltálo até chegar à violência física. Também tinha um sentido de autojustificação que o levava a encarar qualquer pessoa que fosse contraria a ele como sendo do Diabo. Mais curioso ainda é o fato de que apesar de em alguns aspectos ele ser um Puritano dos Puritanos, em outros era completamente dissoluto. Usava linguagem vulgar, sofria de alcoolismo e foi certa vez acusado publicamente por um dos seus associados mais próximos de ter assistido a um espetáculo grotesco de nus, em companhia de dois anciãos e uma jovem mulher Estudante da Bíblia numa noite de quarta-feira antes da celebração do Memorial da Ceia do Senhor. Rutherford entrou em contato com os Estudantes da Bíblia pela primeira vez em 1894. Em 1906 ele foi batizado e pouco depois se tornou um peregrino. Depois de algum tempo, ele tornou-se bastante popular entre os seus companheiros de crença porque, como advogado, travou batalhas em tribunal para limpar o nome de Russell, debateu publicamente em defesa das doutrinas dos Estudantes da Bíblia e em 1915, escreveu uma apologia em benefício de Russell, intituladaA Great Battle in the Ecclesiastical Heavens [Uma Grande Batalha nos Céus Eclesiásticos] . Assim, foi à habilidade de Rutherford, a sua retórica dinâmica e a sua disposição de lidar com os adversários dos Estudantes da Bíblia como um Jeremias do século 20 que fez dele um sucessor lógico de Russell. Conseqüentemente, apenas dois meses depois da morte de Russell, Rutherford foi eleito como presidente da Sociedade Torre de Vigia e seus órgãos associados, embora Russell não o tivesse designado como seu herdeiro espiritual. Muito pelo contrario, segundo a história oficial da Sociedade Torre de Vigia, no livro Testemunhas de Jeová, Proclamadores do Reino de Deus (página 65, nota de rodapé) , Russel colocou em seu testamento orientações expressas para que o conteúdo da revista The Watch Tower (A Sentinela em Português) fosse decidido por cinco membros de uma Comissão Editorial. Entre os cinco nomes que Russel determinou em seu testamento para compor esta Comissão, não se encontrava o nome de Rutherford . De fato, Russell esperava que a sua posição como principal porta-voz para os Estudantes da Bíblia fosse assumida por uma liderança coletiva.

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Portanto, embora Russell não tivesse tido qualquer intenção de passar a sua autoridade ou papel para qualquer sucessor individual, Rutherford tinha outras idéias. Rutherford era um autocrata que obviamente acreditava que para o bem da Sociedade (e de todos os Estudantes da Bíblia) ele devia governá-la com mão de ferro em vez de simplesmente se submeter às decisões de um corpo de diretores. Embora ele se recusasse a assumir o título de 'Pastor' em respeito à memória de Russell, usou o culto dos Estudantes da Bíblia por Russell como uma estaca para a sua própria autoridade. Usando seu poder de persuasão e conhecimento jurídico, Rutherford achou uma brecha nos estatutos da Sociedade Torre de Vigia para se estabelecer no poder. Estas manobras para garantir o poder causaram um grande cisma entre os membros da Sociedade em 1917. O próprio livro “Proclamadores” na página 66 descreve toda a confusão, obviamente sob um olhar benevolente, tentando justificar e minimizar a ferrenha luta pelo poder que houve. Depois de devidamente estabelecido no poder, Rutherford expulsou os dissidentes e começou a impor suas peculiares idéias. Uma das mais bizarras com certeza foi à campanha 'Milhões Que Agora Vivem Jamais Morrerão'. Pouco antes da sua detenção em 1918, o Juiz Rutherford tinha dado um discurso com esse título na Califórnia, mas não foi senão em setembro de 1920 que um livro com o mesmo nome foi publicado e anunciado por um grande programa de discursos e anúncios em jornais. O livro foi traduzido para onze línguas estrangeiras (incluindo yiddish, malaio e burmês) e tornou-se um best-seller. O que evidentemente suscitou tanto interesse, além do título da nova publicação, foi à sugestão de que o milênio começaria em 1925. Essa projeção, baseada nos cálculos do Ano do Jubileu srcinalmente publicados em Three Worlds (Três Mundos), levou Rutherford a especular que haveria uma 'restauração completa' da humanidade nesse tempo. Além disso, ele declarou: “podemos esperar em 1925 à volta desses homens fiéis de Israel [Abraão, Isaque e Jacó], ressurgindo da morte e completamente restituídos à perfeição humana, os quais serão visíveis e reais representantes da nova ordem das coisas na terra”.

Conseqüentemente, à medida que 1925 se aproximava, foi gerada grande excitação entre os Estudantes da Bíblia. Segundo relatos ainda circulados por pessoas que eram membros da comunidade dos Estudantes da Bíblia naquela época, muitos desistiram dos seus negócios, empregos e até venderam as suas casas na expectativa de em breve estarem vivendo num paraíso terrestre. Assim, quando o Juiz Rutherford admitiu naWatch Tower de 15 de fevereiro de 1925 que talvez se tivesse esperado demais para aquele ano, era tarde demais. Muitos agricultores Estudantes da Bíblia tanto no Canadá como nos Estados Unidos recusaram a semear os seus campos na primavera e ridicularizaram os seus irmãos que o fizeram.

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Assim, quando 1926 chegou sem o aparecimento de Abraão e dos outros 'notáveis da antigüidade', e sem sinais do paraíso, houve grande desapontamento. Embora Rutherford não admitisse qualquer culpa real sobre o assunto nas publicações da Sociedade, ele deu desculpas descaracterizadas em congressos. Evidentemente, ele também estava desgostoso. Num discurso público dado na Austrália no início de 1975, o futuro presidente da Sociedade Torre de Vigia, Frederick W. Franz, declarou que o juiz tinha admitido 'que fizera figura de asno em 1925'. No entanto, isto não o impediu de continuar a proclamar que o fim do mundo estava 'iminente' e que poderia ser esperado dentro de poucos anos ou até poucos meses. Próximo de sua morte ele escreveu o livro“filhos” onde afirmava o seguinte:

"Nenhum menino entrou na arca [de Noé] nem tão pouco nasceu algum ali, e, portanto, nenhum saiu da arca. Somente oito pessoas entraram e oito saíram da arca... Isso pareceria indicar ser próprio para aqueles que formarão a 'grande multidão' esperar até depois do Armagedom para gerarem filhos... Podemos bem adiar o nosso casamento até que a paz duradoura venha à terr a. " Livro Filhos, de 1941, pp. 241, 242, 283. Veja também Watch Tower [Torre de Vigia ou A Sentinela] 1 de Novembro de 1.938, p. 323. Depois do fracasso de 1925, Rutherford evitou apontar datas para o fim do mundo, porém, conforme vimos acima, ele insistia em afirmar que o fim estava muito próximo, chegando a ponto de dizer para os casais não terem filhos e para os solteiros não se casarem, deixando tais coisas para depois do armagedom. Veja só que absurdo! Imagine quantos casais que tinham um grande desejo de ter filhos deixaram de tê-los por confiarem que Deus falava através deste homem. Imagine quantos jovens apaixonados deixaram de casar-se, pensando que o fim era iminente. O clima de “fim muito próximo” era contagiante, a 2ª Guerra Mundial estava se alastrando por todo o globo, as palavras de Rutherford embalavam o imaginário de pessoas humildes e de boa fé que entendiam suas declarações como vindas do próprio Deus. Mesmo não apontando datas específicas ele indiretamente as sugeria, como você pode observar abaixo:

"Ao receberem o presente [o livro "Filhos", escrito por Rutherford] as crianças em fila o abraçaram, não como um brinquedo ou passatempo, mas como o instrumento provido pelo Senhor para a maior parte do trabalho efetivo nos meses que restam antes do Armagedom." A Sentinela, 15/09/1941, p. 288, em inglês. Veja livro "Proclamadores", página 86. Se você estivesse naquela época e lesse um artigo como este, a que conclusão chegaria? Se você considerasse a revista A Sentinela o canal de instrução da parte de Deus, como você reagiria diante de tal afirmação?

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Apesar de tantas decepções, Rutherford morreu na ilusão de que o fim realmente estava muito próximo. O fato de ele ter profetizado falsamente não mudou sua opinião sobre a campanha de pregação dos Estudantes da Bíblia. Ele morreu de câncer em 8 de janeiro de 1942 aos 72 anos. Apesar de ter atraído multidões com suas falsas profecias, ele não conseguiu nem mesmo converter seu único filho Malcolm que obviamente percebeu as sandices de seu pai e não quis segui-lo. Como os acontecimentos acabariam por mostrar, muitos Estudantes da Bíblia passaram a ter um sentimento semelhante ao de Malcolm. O fiasco de 1925, junto com o desapontamento de 1941 levaram milhares a sair do movimento nos anos seguintes.

Gostaria de aprender como transformar uma declaração embaraçosa numa pérola de sabedoria? A Sociedade Torre de Vigia é mestre em revisar sua história de modo a colocá-la em luz um pouco menos desfavorável. Aliás, a Sociedade consegue às vezes um pouco mais do que isso: Consegue transformar algototalmente embaraçoso em algo que evoca visão de futuro e por incrível que pareça, sabedoria. O que você vai ler a seguir é apenas um exemplo desta fantástica habilidade. As palavras acima, de Joseph Rutherford, têm sido repetidas inúmeras vezes desde que ele as pronunciou pela primeira vez lá em 1918. Mas o que entende você por estas palavras? Ao que estava ele se referindo? E, principalmente, como usa a Sociedade Torre de Vigia estas palavras hoje? Considere a seguir algumas referências àquele discurso de Rutherford nas publicações da Sociedade: *A Sentinela de 15/2/95 "Haverá Uma Ressurreição dos Justos" (Em apenas um parágrafo, note o uso das expressões “profetizou-se”, “o povo de Deus”, “foi entendido” etc):

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Apesar dos últimos avanços na medicina, a morte ainda reina até mesmo hoje. Embora isso não seja nenhuma surpresa, alguns talvez tenham ficado um tanto desapontados quando afinal se viram diante deste inimigo de longa data. Por quê? Bem, lá nos anos 20, a Sociedade Torre de Vigia proclamou a mensagem: "Milhões que agora vivem jamais morrerão”. Quem seriam esses milhões? As "ovelhas" mencionadas por Jesus nas suas observações sobre as ovelhas e os cabritos. (Mateus 25:31-46) Profetizou-se que essas pessoas que são como ovelhas surgiriam no tempo do fim, e que sua esperança seria a de ter vida eterna na terra paradisíaca. Com o passar do tempo, o povo de Deus obteve um entendimento melhor da posição que essas "ovelhas" têm nos propósitos de Jeová. Foi entendido que esses obedientes seriam separados dos obstinados "cabritos", e que, depois da destruição desses últimos, as ovelhas herdariam o domínio terrestre do Reino, preparado para elas. (sublinhado acrescentado) *A Sentinela 15/12/90 "Quem Ouve Diga: Vem!":

Por décadas este convite "vem!" tem sido feito a pessoas sedentas da "água da vida". Mesmo nos idos de 1918, a classe-noiva começou a pregar uma mensagem que dizia respeito em especial aos que teriam a oportunidade de viver na terra. Foi o discurso público intitulado "Milhões Que Agora Vivem Talvez Jamais Morram". Este apresentou a esperança de que muitos sobreviveriam ao Armagedom e depois ganhariam a vida eterna na terra paradisíaca sob o Reino messiânico de Deus. Mas, essa mensagem não mostrou em definitivo qual era a maneira de se alcançar esse privilégio de sobrevivência, exceto pela justiça em geral. (sublinhado acrescentado) *A Sentinela 1/1/90 "Não Nos Envergonhamos das Boas Novas":

A oração-modelo que Jesus ensinou a seus discípulos será atendida: "Nosso Pai nos céus, santificado seja o teu nome. Venha o teu reino. Realize-se a tua vontade, como no céu, assim também na terra”. (Mateus 6:9, 10) Quando isso acontecer, o nome de Jeová será reverenciado, santificado, não apenas por milhões que hoje vivem e que não precisarão morrer, mas também por bilhões dos da humanidade a quem ele chamará de suas sepulturas durante o seu governo do Reino, de mil anos. (sublinhado acrescentado)

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*A Sentinela 1/1/84 "Os Vivos com Fé Que Nunca Morrerão":

Homens e mulheres deste século 20 foram alertados a esta esperança notável no domingo, 24 de fevereiro de 1918, em Los Angeles, Califórnia, EUA. Ali, pela primeira vez, o então presidente da Sociedade Torre de Vigia de Bíblias e Tratados (dos EUA) proferiu o discurso público intitulado: "O Mundo Terminou . . . Milhões Que Agora Vivem Talvez Jamais Morram." Isto se deu no mesmo tempo em que a Primeira Guerra Mundial, que havia envolvido os Estados Unidos da América, estava chegando ao seu clímax. O prosseguimento com outros proferimentos dessa conferência bíblica que marcava época foi interrompido, especialmente quando pouco depois, em 8 de maio de 1918, o presidente desta Sociedade Torre de Vigia e sete dos seus associados na sede em Brooklyn, Nova Iorque, foram presos. (sublinhado acrescentado)

Como viu acima, de modo a confundir o leitor desatento, a Sociedade se refere ao discurso de Rutherford às vezes como "Milhões Que Agora Vivem Jamais Morrerão" e outras vezes como "Milhões Que Agora Vivem Talvez Jamais Morram", o que é uma sutil, mas Muitas significante e desonesta alteração título srcinal da brochura de J. capciosa, F. Rutherford! Testemunhas de Jeová hoje do jamais teriam a oportunidade de ver cópias das publicações antigas da Sociedade. Muitas delas têm sido destruídas pelo tempo ou foram retiradas de acesso ao público pela Sociedade. Com a Internet, porém, todo este quadro mudou. Existem várias cópias destas publicações por aí. Recentemente me deparei com uma cópia da brochuraMilhões Que Agora Vivem Jamais Morrerão (Millions Now Living Will Never Die) , publicada em 1920, e fiquei espantado, embora não surpreso, com o que li. Aqui estão alguns trechos dela com um 'scan' da página srcinal ao lado.

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O parágrafo em destaque ao lado diz o seguinte: "Com base nos argumentos até aqui apresentados, de que a velha ordem de coisas, o velho mundo, está acabando e por conseguinte passando, de que e adenova ordem é iminente, que 1925 marcará a ressurreição dos valiosos fiéis do passado, é razoável concluir que milhões de pessoas agora na Terra ainda estarão nela em 1925. Portanto, baseado nas promessas estabelecidas na Palavra divina, nós não podemos senão chegar à ositiva e indisputável conclusão de que milhões que agora vivem jamais

morrerão."

Muitas Testemunhas estão à par do fato de que a Sociedade proclamou o "Fim do Mundo" para acontecer em 1914. É dito a elas que devido a um "melhor entendimento" e a uma "luz que clareia mais e mais", "percebeu-se" que um ajuste precisava ser feito, e que embora 1914 ainda fosse um ano significativo, havia muito trabalho a ser feito na terra em proclamar as "boas novas" antes do fim chegar. Até aqui nada de muito espanto. Ocorre, contudo, que a Sociedadejá havia profetizado este mesmo evento para 1874, e então para 1914, e então para 1918 e agora, nesta brochura, para 1925! E como se isso não bastasse, os "fiéis dos tempos antigos" eram para serem

ressuscitados em 1925. foi O que Rutherford de fato defendeu em seu ediscurso, que depois virou brochura, que eles tinham chegado a uma "positiva indisputável conclusão" de que milhões jamais morreriam, porque o Armagedom era para vir em 1925!

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Observe a seguir algumas fotocópias do folheto “Milhões que agora vivem jamais morrerão” na sua versão em português:

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Para as Testemunhas de Jeová da época, o "juiz" Rutherford era o "escravo fiel e discreto". Os estudantes da bíblia esperavam que ele fornecesse o "alimento certo no tempo apropriado". Para elas, ele era aquele que atuava comoporta-voz de Jeová. Mas se for assim, como é que ele podia dizer tais coisas? Estaria Jeová o instruindo a alimentar o povo Dele com falsas informações, falsas profecias, mentiras? Isto é inimaginável! Você já deve ter concluído que o que o "juiz" Rutherford estava fazendo era simplesmente dar a sua opinião e oferecer suas interpretações para milhares de ludibriáveis seguidores, enquanto ele próprio ceifava a admiração e o estilo de vida proporcionado a ele pelas generosas contribuições de seus insuspeitos seguidores. Um outro impressionante fato que vêm à mente quando se pensa nisso, diz respeito aos "fiéis dos tempos antigos". O que é fantástico é que a Sociedade não apenas promoveu aquela idéia no começo dos anos 20, inclusive publicando instruções para as crianças quanto à como cumprimentar esses fiéis homens do passado, mas a Sociedade foi a ponto deconstruir uma enorme casa em San Diego , Califórnia, para eles. Ela foi chamada Beth Sarim (significando Casa dos Príncipes) e tinha os nomes dos "fiéis dos tempos antigos" na escritura. Sabemos que San Diego é um bonito lugar e que Abraão, Isaque, Jacó e Moisés amariam morar lá, mas, não morreram todos eles no Oriente Médio, Palestina? Por que seriam eles ressuscitados na Califórnia, EUA? Na verdade, a única pessoa a se beneficiar com a construção dessa casa foi o próprio Rutherford, que viveu lá, usufruindo o luxo desta residência espaçosa e bem mobiliada, bem como do uso de dois Cadillacs, ao passo que a grande maioria da população nos Estados Unidos, incluindo as Testemunhas de Jeová, lutava para sobreviver em meio à famosa Grande Depressão econômica que assolava o país na época.

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á se passaram mais de três décadas desde o ano de 1975. Havia pouco menos de 2,3 milhões de Testemunhas de Jeová ao final daquele ano fatídico, ao passo que hoje somam mais de 7 milhões em todo o mundo. Sem levar em consideração aqueles que eram Testemunhas na ocasião e já não o são ou já faleceram, usando aritmética simples, conclui-se que pelo menos algo em torno de 5 milhões de pessoas (talvez mais), conhecidas hoje como Testemunhas de Jeová, não o eram ainda naquela data e, muito provavelmente, pouco ou nada sabem sobre os acontecimentos que marcaram o ano de 1975. Justiça seja feita, a culpa desta ignorância sobre o assunto não lhes pode ser atribuída, simplesmente porque em primeiro lugar os dirigentes da Sociedade Torre de Vigiasepultaram o assunto em suas publicações. Segundo porque no meio das Testemunhas, mesmo entre aquelas que já o eram em 1975, este assunto é evitado o máximo possível, comportamento estimulado pela Sociedade por meio da ameaça velada de apostasia a quem insistir em apontar o seu erro. Nas publicações posteriores, a Sociedade trata do assunto de forma evasiva, sem maiores esclarecimentos dos motivos que levaram seus dirigentes a tomar as atitudes que tomaram e sem reconhecer que houve erro ou, como é mais politicamente correto dizer, que houve especulação profética de datas, por parte da própria Sociedade Torre de Vigia, para a esperada destruição deste sistema de coisas. Não é difícil colocar a culpa na ansiedade e na expectativa exagerada de algumas Testemunhas de Jeová da época, pois muitas delas deixaram a organização depois disso e suas vozes são consideradas manifestações apóstatas. Não usufruem o direito de expressar a sua posição e de defender-se das acusações. O que se ouve geralmente, e os que se tornaram Testemunhas nos últimos trinta anos fatalmente ouviram, é que “alguns” especularam que 1975 seria a data da vinda do Armagedom, mas não em publicações da Sociedade, não "oficialmente". As Testemunhas são levadas a acreditar que se tratou apenas de boatos repetidos bocaa-boca, a partir especulações pessoais feitassuperintendentes por um membroviajantes do Corpoe Governante em de discursos, e repetidas portalvez anciãos, publicadores pelo mundo. O que praticamente todas as Testemunhas de Jeová tem

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conhecimento hoje em dia, é que o Corpo Governante e a Sociedade Torre de Vigia nada tiveram a ver como as especulações. Será que isto é verdadeiro? Será que houve apenas boatos entre as Testemunhas sobre a data de 1975? Será que os dirigentes da Sociedade na época nada fizeram? Seria justo, mais do que isto, seria honesto que todas as Testemunhas soubessem a verdade e pudessem tirar as suas próprias conclusões. Seria também honesto permitir que as Testemunhas mais recentes pudessem pesquisar e perguntar sobre o assunto, sem serem logo tratadas como suspeitas. Pensando nisso, preparamos um cronograma dos acontecimentos que levaram ao clímax de 1975. Isso foi possível devido a um grande trabalho de pesquisa nas publicações da Sociedade Torre de Vigia publicadas no período e referentes ao assunto. Tudo começou nove anos antes, em 1966, quando foi lançado pela Sociedade Torre de Vigia o livro "Vida Eterna - Na Liberdade dos Filhos de Deus". Na página 27 do livro, o início do parágrafo 40 dizia: “Podemos assim relacionar a contagem do tempo pela Bíblia com a contagem do tempo pelo mundo até a presente data. Ao fazermos isso torna-se evidente que o homem se aproxima do fim de seis mil anos de sua existência."

Logo depois no parágrafo 41 é dito:

"Neste século vinte, realizou-se um estudo independente que não acompanha cegamente certos cálculos cronológicos tradicionais da cristandade, e a tabela de tempo publicada, resultante deste estudo independente, fornece a data da criação do homem como sendo 4026 AEC. Segundo esta cronologia bíblica fidedigna, os seis mil anos desde a criação do homem terminarão em 1975 e o sétimo período de mil anos da história humana começará no outono (segundo o hemisfério setentrional) do ano de 1975 EC." Até aqui tudo bem, apenas publica-se um outro ponto de vista sobre a cronologia bíblica em relação a contagem de tempo secular. Importante observar que é dito que o tal "estudo independente" é fidedigno e que aponta para um ano específico: 1975. Mas não ficou só nisso, a Sociedade queria dizer mais, como mostra a última frase do parágrafo 42 e o inteiro parágrafo 43:

"Assim, dentro de poucos anos em nossa própria geração atingiremos o que Jeová Deus poderia considerar como o sétimo dia da existência do homem." "Quão apropriado seria se Jeová Deus fizesse deste vindouro sétimo período de mil anos um período sabático de descanso e livramento, um grandioso sábado de

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jubileu para se proclamar liberdade através da terra a todos os seus habitantes! Isto seria muito oportuno para a humanidade. Seria bem apropriado da parte de Deus, pois, lembre-se de que a humanidade ainda tem na sua frente o que o último livro da Bíblia Sagrada chama de reinado de Jesus Cristo sobre a terra por mil anos, o reinado milenar de Cristo. Jesus Cristo, quando na terra há dezenove séculos, disse profeticamente a respeito de si mesmo: 'Porque Senhor do sábado é o Filho do homem.' (Mateus 12:8) Não seria por mero acaso ou acidente, mas seria segundo o propósito amoroso de Jeová Deus que o reinado de Jesus Cristo, o 'Senhor do sábado', correspondesse ao sétimo milênio da história do homem." Inicia-se aqui portanto, a especulação profética sobre o ano de 1975. Ao dizer-se "Quão apropriado seria...", "...muito oportuno...", "...segundo o propósito amoroso de Jeová...", tudo isto em conexão com uma data firmemente apontada: 1975. É claro que este livro foi o ponto inicial de um frenesi sobre o final deste sistema de coisas em meados da década de 70. Não se tratou de especulações pessoais oriundas de "irmãos ansiosos", mas sim, partiu de uma publicação da própria Sociedade Torre de Vigia, conseqüentemente, com a aprovação de seus dirigentes, o Corpo Governante. Ou algum livro poderia ser publicado sem que os responsáveis pela provisão do alimento espiritual no tempo apropriado estivessem a par de seu conteúdo? Não é provável, pois nos anos seguintes as especulações ganharam força à medida que as Testemunhas de Jeová, impulsionadas pela mola propulsora da visão de um paraíso ao alcance das mãos, passaram a trabalhar com ânimo redobrado, engrossando as fileiras de publicadores com mais e mais pessoas que passavam a compartilhar a esperança comum. NoMinistério do Reino de maio de 1968, uma parte chamava a atenção para o trabalho de pioneiro de férias, uma espécie de pioneiro auxiliar:

"Em vista do curto período de tempo que resta, desejamos fazer isso tão amiúde quanto as circunstâncias o permitam. Apenas pensem, irmãos, restam menos de noventa meses até que se completem os 6.000 anos da existência do homem na terra. Lembram-se do que aprendemos nas assembléias no verão passado? A maioria das pessoas que vivem atualmente estarão vivas provavelmente quando irromper o Armagedom, e não há esperança de ressurreição para os que forem destruídos então." Mais uma vez aponta-se para o ano em que pretensamente se completariam os seis mil anos de existência do homem. Aplica-se o tempo que falta "...menos de noventa meses..." como um chamamento a urgência, vinculado a palavra "Armagedom", uma associação bem explícita. A revista A Sentinela de novembro de 1968 consegue ser ainda mais explícita ao vincular o ano de 1975, quando seriam completados os seis mil anos, com o final do sofrimento da humanidade, sendo o ponto cronológico onde o reinado milenar de Cristo teria seu início. Conforme indicam partes dos parágrafos 5,6 e 7 nas páginas 659 e 660:

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"Assim, restam sete anos para se chegar aos inteiros 6.000 anos do sétimo dia. Sete anos a contar do outono setentrional de 1968 nos levariam ao outono setentrional de 1975, 6.000 anos completos do sétimo dia de Deus, seu dia de descanso." "Depois de 6.000 mil anos de miséria, labuta, dificuldades, doença e morte sob a regência de Satanás, a humanidade sente deveras a premente necessidade de alívio, de descanso. O sétimo dia da semana judaica, o sábado, bem prefiguraria o reinado final de 1.000 anos do reino de Deus sob Cristo, quando a humanidade será soerguida dos 6.000 anos de pecado e de morte. (Rev. 20:6)" "Por isso, quando os cristãos notam pela tabela cronológica de Deus o fim aproximador dos 6.000 anos da história humana, isso os enche de expectativas ." "O futuro imediato com certeza estará repleto de eventos climáticos, pois este velho sistema se aproxima de seu fim completo. Dentro de alguns a nos, no máximo, as partes finais da profecia bíblica relativa a estes 'últimos dias' terão cumprimento, resultando na libertação da humanidade sobrevivente para o glorioso reino milenar de Cristo." Estas linhas transcritas acima não permitem a menor sombra de dúvida sobre a srcem da especulação profética sobre o ano de 1975: Foi nas próprias publicações da Sociedade Torre de Vigia, em artigos cuidadosamente preparados pelo Corpo Governante para provocar expectativa e esperança entre as Testemunhas de Jeová. Conforme o tempo passava, mais matérias instilavam o sentimento de que o ano de 1975 era realmente um ano marcado. O parágrafo mostrado a seguir é o primeiro de um artigo publicado na A Sentinela de 15 de fevereiro de 1969, página 110, com o sugestivo título "Por Que Está Aguardando 1975?":

"O que há com toda esta conversa sobre o ano de 1975? Nos meses recentes surgiram repentinamente animadas palestras, algumas baseadas em especulação, entre sérios estudantes da Bíblia. Seu interesse foi suscitado pela crença de que 1975 marcará o fim de 6.000 anos da história humana desde a criação de Adão. A proximidade de tal data importante deveras estimula a imaginação e apresenta ilimitadas possibilidades para palestras." A mesma revista, na página 115, diz nas primeiras linhas do parágrafo 30:

"Devemos presumir, à base deste estudo, que a batalha do Armagedom já terá acabado até o outono de 1975 e que o reinado milenar de Cristo, há muito aguardado, começará então? Possivelmente , mas, nós esperamos para ver quão de perto oCristo, sétimoqueperíodo anos Se da este existência do homem coincideparalelamente com o reinado milenar de é com de ummil sábado. dois períodos decorrerem quanto ao ano calendar, não será por mero acaso ou acidente, mas será segundo os propósitos

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amorosos e oportunos de Jeová... A diferença talvez envolva apenas semanas, ou meses, não anos." Mais uma vez a ênfase em 1975, mais uma vez esta data associada com as palavras "Armagedom" e "reinado milenar de Cristo", bem como com a expressão "propósito de Jeová" e “a diferença talvez envolva apenas semanas, ou meses, não anos”. A especulação continua na revista A Sentinela, edição de 15 de abril de 1970, página 239, nas frases finais dos parágrafos 39 e 42:

"...os seis mil anos da vida da humanidade na terra terminariam nos meados da década de mil novecentos e setenta. Portanto, o sétimo milênio a partir da criação do homem por Jeová Deus começaria em menos de dez anos ." "Não seria então, o término dos seis milênios da escravização laboriosa da humanidade, sob Satanás, o Diabo, o tempo apropriado para Jeová Deus introduzir um milênio sabático para todas as suas criaturas humanas? Deveras seria! E seu Rei Jesus Cristo será o Senhor daquele sábado." A expectativa sobre o fim deste sistema de coisas em 1975 era constantemente alimentada. A Despertai!, 22 de abril de 1972 , nas páginas 26 e 27, trata do assunto dentro do mesmo padrão adotado nos artigos da A Sentinela já visto acima:

"Se aplicarmos a declaração bíblica de que, para Jeová, 'mil anos são como um dia', isto significaria que os seis mil anos da existência do homem são como apenas seis dias à vista de Deus. (Salmo 90:2 Pedro 3:8) O vindouro reinado milenar de seu Filho seria então um sétimo 'dia' após aqueles seis. Seria perfeitamente apropriado ao padrão profético de um período sabático de descanso seguir seis períodos de trabalho e labuta. Assim, ao nos aproximarmos do término de seis mil anos de existência humana, durante esta década, há emocionante esperança de que um grandioso Sábado de descanso e alívio se acha deveras às portas." Se o leitor é uma das Testemunhas de Jeová, provavelmente já deve ter ouvido falar sobre irmãos precipitados, que venderam suas propriedades e se desfizeram de seus recursos financeiros, muitas vezes doando-os para a "obra do Reino". Estes são normalmente acusados de terem se deixado levar pela ansiedade e, se deixaram a organização após 1975, também de falta de fé. Entretanto, vale a pena observar o que a Sociedade Torre de Vigia e seus dirigentes incentivaram no Ministério do Reino de julho de 1974 , nas páginas 3 e 4:

"Receberam-se notícias de irmãos que venderam sua casa e propriedade e que planejam passar o resto dos seus dias neste velho sistema de coisas empenhados no serviço de pioneiro. Este é certamente um modo excelente de passar o pouco tempo que resta antes de findar o mundo iníquo ."

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Com o ano de 1975 já em curso, mas ainda no início,A Sentinela de 15 de março, na página 189, reforça a "data especial":

"E agora, neste ano crí tico de 1975, pode -se perguntar: Será que o Deus Alt íssimo fez para si um nome? A resposta é óbvia: Sim! Por meio de quem? Não pela cristandade, nem pelo judaísmo, mas pelas testemunhas cristãs de Jeová". Uma pessoa que pesquise o assunto do ano de 1975 usando o CD-ROW e as publicações da Sociedade, vai se deparar com um número surpreendente de artigos onde aparece a menção do ano de 1975, embora a maioria das Testemunhas não se dê conta disso. Na mente das Testemunhas de Jeová a conexão 1975-Armagedom era feita quase que automaticamente. Vários desses artigos chegam até a assustar quando lidos em sua inteireza. Você já se imaginou no lugar de uma Testemunha de Jeová vivendo nos anos pré-1975, no calor da antecipação? O que teria você pensado? Como teria reagido? Que decisões do dia-a-dia teria tomado com base nas publicações lançadas? A associação 1975-Armagedom era feita, mas isto é importante? Especialmente se você for uma Testemunha de Jeová, sim. As Testemunhas de Jeová sempre foram interessadas, e botam grande ênfase, em cronologias. Se você não for uma Testemunha talvez fique surpreso se souber que uma das principais doutrinas delas é de que o primeiro estágio da segunda vinda de Cristo ocorreu em 1914, sendo esta uma data muito importante. Mesmo antes de 1914, já havia algumas datas com expectativas frustradas e após 1914 continuou a haver várias, das quais 1975 é apenas mais uma. 1975 foi pintado pela Sociedade comoum ano "crítico", daí nosso interesse em revisitá-lo. Outra razão por que isto é importante é que se conhece uma religião pelos antecedentes que ela têm; se ela não tem bons antecedentes, um escrutínio adicional é mais que apropriado. Agora considere como o processo de associação mental funciona, como foi explorado e o papel que desempenhou durante os anos pré-1975.

Apenas a título de ilustração considere o seguinte cenário: Imagine que você seja pai ou mãe de um filho em idade escolar e você faz uma promessa pra ele no início do ano, de que se ele passar na escola naquele ano letivo você vai levá-lo pra passar as férias de fim-de-ano nos parques temáticos da Flórida. Imagine também que durante ano liletivo vezes pra de eleTurismo coisas tais por exemplo,aquele 'Olha filho, uma você notíciafale hojevárias no Suplemento que como, os Estados Unidos estarão recebendo e instalando até o final do ano a última palavra em Montanha Russa' ou algo como 'de acordo com um expert em tempo e temperatura,

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o inverno Americano este ano será um dos melhores dos últimos 5 anos para a prática de turismo". O que você acha que o seu filho(a) pensaria ao ouvir isso? Que tipo de associação ele faria na mente ao ouvir declarações como esta? Ora, mesmo que você não tenha sequer mencionado palavras tais como "férias", "promessa", "parques", e nem mesmo a palavra "Flórida", não acha que a associação seria inevitável? Não acha que a expectativa dele sem dúvida aumentaria? Certamente que sim! Agora considere o que foi publicado pela Sociedade durante os anos pré1975. Vamos considerar apenas três pérolas, fenômenos da época:o tratado Boas Novas do Rein o No. 16 Esgota-se o Tempo Para a Humanidade? (em Inglês Is Time Running Out for Mankind?) publicado em 1973, o fenômeno do livro Fome – 1975! (em Inglês Famine – 1975!), e as declarações de um ex-Secretário de Estado americano Dean Acheson. Enquanto lê, imagine-se vivendo naquela época.

Se você é uma Testemunha, sabe que os tratados Boas Novas do Reino são para serem distribuídos através de uma campanha especial, e com este não foi diferente. Lançado em 1973, este tratado é uma verdadeira proclamação do caos. Ele pinta um quadro de catástrofes, anarquias e desassossego por mais da metade do seu texto– na outra metade ele pinta o Paraíso, é claro! Uma pessoa que hoje viva num lugar de relativa prosperidade e conforto, mas que era uma criança naquela época, teria dificuldades de imaginar quão caótico e anárquico o mundo era no começo dos anos 70 sesubtítulo, a situação pintada pela Sociedade fosse real. Veja alguns pontos. Já no primeiro lemos: *Fome em Massa Atinge Milhões "… já é tarde demais para evitar fomes que vão matar milhões, possivelmente antes de 1975. Meio bilhão de pessoas já estão morrendo de fome e um bilhão de outros estão mal nutridos" – Biologista P. Ehrlich. (grifo acrescentado) *O Crime Se Espalha, Se Torna Mais Violento Há enorme e sobrepujante evidência de que presenciamos uma escalada do crime. *Doenças e Poluição – Crescentes Ameaças à Sua Vida Poluição do ar aproxima-se de níveis alarmantes cidade após cidade. Doenças

do coração causam mais da- todas metade mortesproporções nos Estados Unidos. Câncer, doenças mentais e venéreas têmdas atingido epidêmicas.

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*Como Sabemos Que o Tempo se Esgota O que tudo isso significa? Que 1914 foi o começo do que a Bíblia chama de "os últimos dias". Como registrado em Mateus 24:34, Jesus respondeu: "Em verdade eu vos digo que esta geração de modo algum passará até que todas essas coisas ocorram." Esta geração que viu o começo dos "sinais" em 1914 está agora avançada em anos. O tempo está obviamente se esgotando! (ênfase é do texto srcinal) *Você Pode se Considerar Feliz de Que Resta Tão Pouco Tempo Soa isto entranho? Ainda assim as novas de que Deus vai em breve destruir este mundo corrupto deve fazer com que pessoas de coração sincero em toda parte jubilem.

Como você leu, já de saída chama-se a atenção para o ano de 1975 de forma bem explícita. O Armagedom não é mencionado, mas indiretamente, como mostramos acima, o efeito é alcançado na mente da Testemunha ou de qualquer pessoa que esteja familiarizada com o que se espera para aquele ano. Você se lembra ter ouvido qualquer coisa que se assemelhe ao caos e anarquia que a Sociedade apresenta como estando acontecendo na época? Será que você não ouvia rádio, ou via TV, ou lia jornais o suficiente? Por problemas de espaço aqui, não vamos publicar todo o texto do tratado mas você ficaria impressionado com outras afirmações na mesma linha das apresentadas acima, o que faria com que qualquer ser humano normal vivesse em pânico e pavor, se fosse realista o quadro apresentado. Naturalmente, problemas de poluição e crime existiam em 1973, como existem hoje, em muitos lugares. O tratado porém fala disso como acontecendo"numa cidade após a outra". Na verdade, atualmente em muitos lugares do mundo, se têm melhor qualidade de ar e água, e menos crimes, do que se tinha lá em 1973. Mas o objetivo da Sociedade foi atingido: Trouxe um pouco mais deestímulo para a expectativa do "crítico" ano de 1975 na mente dos irmãos e ainda fez uma série de novos conversos. (O texto em Português desse tratado não consta do CD-ROW da Sociedade. Os trechos citados neste artigo, são do texto srcinal do CD-ROW versão 1995 em Inglês. Em Português, procure a biblioteca do Salão do Reino). Agora considere um outro fenômeno pré-1975 que fica evidente para uma pessoa que faça uma pesquisa sobre o assunto usando o mecanismo de busca do próprio CD-ROW de publicações da Sociedade. Fome– 1975!

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Quando a Sociedade deu início à especulação sobre 1975, qualquer pessoa, qualquer livro, artigo de jornal, revista, qualquer estadista que dissesse qualquer coisa sobre 1975, era citado, e as vezes repetidamente, nos artigos e livros da Sociedade. Foi exatamente isso que aconteceu com o livro Fome– 1975! (título srcinal em Inglêsdois Famine – 1975!). livro foidelançado em 1967os por autores experts Este no campo alimentação: irmãos William e Paul Paddock. Não se sabe quão "expert" esses dois autores eram ou quão mal representados eles foram pela Sociedade. O que se sabe é que eles foram citados repetidamente nas publicações da Torre, desde 1967 até 1975. Ao todo este livro foi citado, só na Sentinela e Despertai!, em nossa conta, 13 vezes. Aqui está a declaração freqüentemente citada de Fome – 1975!:

"Antes de 1975 a falta de ordem civil, anarquia, ditaduras militares, inflação galopante, quebra d os serviços de transporte e caóti co desas sossego serão a ord em do dia em muitas das nações famintas – tudo porque estar faminto evoluirá para passar fome e passar fome evoluirá para fome generalizada. Uma fome que vai acontecer não importa o que se faça". Lembre-se porém que outros autores e "autoridades" no assunto também foram citados, formando um verdadeiro coro involuntário em defesa das teorias da Sociedade. Eis aqui uma lista das publicações que citam Fome– 1975!: w68 4/15 - What the Future Holds for You w68 12/15 - How We Know It Is Getting Near (par. 10) w69 2/1 - The Meaning of Present World Distress (debaixo do subtítulo Fulfillment Of "The Sign") w70 5/1 - Keep Close in Mind "The Conclusion of the System of Things" (par.21) g70 1/22 Will it Mean Food for Us to Eat? (debaixo do subtítulo Man's Efforts Disappointing) g71 10/8 - Is This the Way Out of the Pressure? (pág.11) g72 7/22 - Will the "Green Revolution" Be Enough? (pág.12 debaixo do subtítulo Was Malthus Right?) g73 6/22 "What to Are We to Eat?" (pág.3 debaixo do subtítulo The Famine That- Millions Was 'NotAsk: Supposed Happen') g73 7/8 - Watching the World g73 9/22 - Watching the World

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g73 10/8 - Where the Present Road Is Leading (pág.5 debaixo do subtítulo What Trend in the World's Food Supply) g74 12/22 - Watching the World (debaixo de Food Predictions) g75 2/22 - Watching the World (debaixo de Famine Update) A Verdade Que Conduz à Vida Eterna [4] g=Despertai!, w=A Sentinela (os artigos em Português têm datas de publicação diferentes)

Agora, novamente, coloque-se no lugar dum irmão lendo um artigo que não necessariamente diz que o Armagedom virá em 1975, mas que diz algo como "segundo os experts em alimentação William e Paul Paddock no livro Famine– 1975!…", justamente no contexto de uma consideração relacionadacom os "últimos dias", o que você pensaria? Não acha que isso é uma poderosa arma nas mãos de um escritor habilidoso, no sentido de manter acesa a expectativa? Certamente! Agora considere o fenômeno Dean Acheson.

Como explicado acima, qualquer pessoa eminente que involuntariamente dissesse qualquer coisae que pudesse usado em apoio crenças da Sociedade era citado nos livros revistas dela.ser Uma dessas pessoasàs foi o ex-Secretário de Estado americano Dean Acheson que em 1960 disse o seguinte:

"[os nossos dias] são um período de inigualável instabilidade, inigualável violência e mudanças revolucionárias... Eu sei o suficiente do que está acontecendo para lhe garantir que, daqui a 15 anos, este mundo será perigoso demais para se viver nele". Uma das coisas que têm de ser notado aqui é que é simples demais alguém que não mais ocupa uma posição oficial declarar coisas tais como esta. Teria ele dito tal coisa com tamanha segurança enquanto ainda era Secretário de Estado? Se o teria, por que não o fez? Teria sido ele mal-representado - ou mal-interpretado - pela Sociedade? A Sociedade não diz em que contexto ele disse isso ou em que publicação dele essa declaração se encontra. Foi esta declaração feita numa conversa casual? Não se ésabe. Mesmo esta declaração foi usada em desejado algumas publicações, não muitas verdade, masassim o suficiente para se obter o efeito como você verá. Veja a lista:

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w60 10/1 artigo "Get Out of Her, My People"!, debaixo do subtítulo Handwriting On The Wall Today w68 9/15 artigo Grand Blessings from God Near at Hand! debaixo do subtítulo Worldwide Change Near Embora a lista acima não seja longa, é interessante notar dois pontos: 1) na versão de 1981 do livro "Verdade" a expressão "daqui a 15 anos" foi simplesmente substituída por "em breve", numa clara demonstração de que a Sociedade tinha consciência do que esta expressão implicava. Esta substituição porém é feita sem que o leitor seja avisado dela. 2) Esta expressão encontra-se num livro-base de estudo para iniciantes. Este é o ponto mais importante nessa discussão porque você pode apenas imaginar quantas pessoas leram aquelas frases e quantas vezes. Este livro foi usado portantodurante 7 anos (68-75) com uma declaração cujo objetivo era induzir a Testemunha e o estudante à conclusão que a Sociedade desejava, embora de maneira não explícita, mas subliminar. Todas as vezes que se lia aquele parágrafo– e você pode apenas imaginar quantas vezes isso foi feito - essa associação era feita na mente da pessoa.

Dean Acheson faz o juramento de posse como Secretário de Estado.

Naturalmente o que acabamos de considerar não é uma exaustão do assunto, pois uma extensa consideração dele talvez exigisse um inteiro exemplo, não consideramos o artigo da Despertai! 8 de Novembro de 1974livro. com Por o título “Is This the Time to Have Children?” (Inglês, Em Português algo como É Esta a Época de Ter Filhos?). Este artigo não considera se é sábio ou não ter filhos, mas se aquela

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era a época de tê-los. O que teria você pensado? Que associação teria feito? Você ficará surpreso de saber o que aquele artigo dizia. Alguns meses depois o ano de 1975 chegou ao fim e com ele a falsa expectativa criada pela Sociedade Torre de Vigia. A espera ainda se prolongou por mais alguns meses, afinal quem sabe a cronologia estava errada em algumas semanas ou meses, mas não havia jeito, a especulação profética incitada pelos líderes das Testemunhas de Jeová demonstrava ser apenas isso:Especulação . Mesmo assim, com um erro monumental como este, os membros do Corpo Governante não se curvaram humildemente como homens pecadores comuns que são e reconheceram o engano. Em vez disso, as publicações posteriores a 1975, encontraram nas próprias Testemunhas, ou em algumas delas, os culpados pela desilusão, conforme mostrava A Sentinela de 15 de janeiro de 1977, página 56, parágrafo 11:

"Pode ser que alguns daqueles que têm servido a Deus planejaram sua vida de acordo com um conceito errôneo do que é que deveria acontecer em determinada data ou em certo ano. Por este motivo, eles talvez tenham adiado ou negligenciado coisas de que, de outro modo, teriam cuidado. Mas, eles desperceberam o ponto das advertências bíblicas a respeito do fim deste sistema de coisas, pensando que a cronologia bíblica revelasse uma data específica". Dois fatores são dignos de nota nestas palavras acima e de modo geral em todas as publicações posteriores que trataram do assunto. Primeiro, os dirigentes da Sociedade esquivam-se de assumir a responsabilidade do erro, que é somente deles, jogando a culpa nos "irmãos". Segundo, a menção do ano 1975 parece trazer algum tipo de transtorno, pois sempre é dito "determinado ano" ou "certo ano" e não mais o ano a que se referia a expectativa. Jogou-se uma pá de cal no assunto, responsabilizando alguns irmãos afoitos pelo ocorrido, como se eles tivessem sido guiados pelo seu próprio entendimento do assunto, como se as Testemunhas de Jeová comuns, espalhadas pelo mundo, pudessem de alguma forma desenvolver algum “conceito errôneo” ou “seu próprio entendimento” quer dizer, algum ensino ou pensamento contrário ao que é estabelecido pelo corpo governante. Qualquer um que se atreva a fazer isso é considerado uma pessoa fraca na fé, e se ele insistir em algum conceito diferente do que é ensinado pela Sociedade Torre de Vigia será classificado como um apóstata, um anti-Cristo, alguém desprezível que por fim será expulso da religião. Portanto é impossível alguém permanecer dentro da organização das Testemunhas de Jeová desenvolvendo algum conceito ou especulando algo que vá de encontro ao que tenha sido publicado pelo corpo governante.

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Para finalizar esta análise dos acontecimentos que envolveram uma das mais importantes especulações proféticas da Sociedade Torre de Vigia no século vinte, resta dizer que, apesar de ter produzido alguns milhares de decepcionados, a expectativa em torno de 1975 foi altamente lucrativa para a Sociedade Torre de Vigia. Não é engano dizer que a especulação sobre o ano de 1975 foi uma gigantesca catapulta, impulsionando como nunca antes as atividades das Testemunhas. No período de nove anos decorridos entre a publicação do livro "Vida Eterna - Na Liberdade dos Filhos de Deus", em 1966 e o clímax em 1975, mais que dobrou o número de Testemunhas de Jeová em todo o mundo, período em que mais de um milhão de pessoas aderiram aos ensinamentos providos pelo Corpo Governante. Como pouco menos de 70 mil desiludidos saíram, conforme o crescimento negativo publicado do anuário de 1979, o efeito da especulação em termos de ampliação no número de Testemunhas foi definitivamente positivo. O que não foi positivo foi o efeito devastador que tais previsões apocalípticas tiveram sobre milhões de pessoas que foram manipuladas e induzidas a crer numa ilusão.

Já reparou como o assunto dos 6000 anos de existência humana na Terra foi simplesmente sepultado depois de 1975? De fato, na maioria das vezes que a Sociedade falou explicitamente de 1975 foi em conexão com os 6000 anos. Mas o que aconteceu afinal de contas com esta "momentosa" data na história humana? Isto é importante considerar porque segundo a própria Sociedade, Brooklyn empreendeu uma "pesquisa" independente, que os levaram a declarar 1975 como o ano que a humanidade completaria o sexto milênio de existência. Ora, naturalmente, nós imaginamos que as conclusões dessa pesquisa foram o resultado de um grande esforço envolvendo tempo e recursos. Você pode apenas imaginar a quantidade de livros antigos e recentes que foram lidos; fragmentos de documentos e objetos antigos que foram examinados; você pode apenas imaginar o número de visitas feitas a museus e bibliotecas nos Estados Unidos e Europa, etc. Se o objetivo da Sociedade não era provar em que ano viria o Armagedom, mas apenas determinar em que ano a humanidade completaria 6000 anos, seria de se esperar que a identificação desse ano fosse algo de enorme valor para a humanidade, ou pelo menos para as Testemunhas de Jeová. Bem, se você é uma Testemunha de Jeová, concordará que esta informação não tem hoje a menor importância, nem para as próprias Testemunhas. Isto têm tão pouca importância que a própria Sociedade Torre de Vigia simplesmente fez questão de esquecer esse assunto depois de 1975. Por que? Porque ela tem plena consciência do fator que expusemos acima: a capacidade que a mente têm de recordar e associar.

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Por exemplo, pode você imaginar a Sociedade lançando um artigo de estudo na revista A Sentinela com o tema 6000 anos– Um Importante e Momentoso Marco na História da Humanidade? Óbvio que ela não faria isso, não é mesmo? O que a Sociedade deseja é que você e eu esqueçamos completamente tudo isso. Isso é passado. E quanto mais no passado isso ficar, melhor. Voltar neste assunto traria à tona uma série de memórias que a pessoa fez questão de botar no fundo da mente e têm tentado esquecer de lá pra cá. A Sociedade têm em Brooklyn um grande departamento de redação, com homens que pela experiência, sabem não somente como usar um pedaço de informação para, num conjunto de artigos, pintar qualquer quadro que desejam, mas também sabem como induzir você às conclusões que eles desejam que você tire. Quando o mundo atravessa uma fase de sossego e prosperidade eles alertam contra o materialismo; quando o mundo passa por uma fase de recessão econômica e/ou desassossego, usam isso para provar suas teorias apocalípticas. Quando a pessoa está dentro da organização e tudo está dando certo em sua vida eles atribuem isto às bênçãos de Jeová, porém quando as coisas vão mal eles dizem que são testes de fé. Por outro lado, quando a pessoa esta fora da organização e tudo esta dando errado eles dizem que isto acontece porque a pessoa saiu da organização e como conseqüência perdeu a proteção de Jeová, porém quando as coisas vão bem eles atribuem isto a alguma maquinação do diabo. Portanto aconteça o que acontecer na vida de uma pessoa eles dão uma explicação de acordo com sua doutrina e adaptada a seus interesses. E assim as décadas passam, a vida das pessoas é afetada pelo que eles publicam, mas ninguém percebe que no fim das contas às pessoas tiram as conclusões que Eles desejam. Desta forma eles conseguem controlar e induzir milhões de pessoas na direção que melhor lhes convém.

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inegável o atrativo que os acontecimentos futuros despertam nas pessoas, dispostas muitas vezes a pagar para saber algo relacionado com este assunto, prognosticadores profissionais geralmente ganham fortunas se conseguem acertar algumas previsões, por mais absurdas que sejam. Desde o campo econômico, onde se antecipar às informações por apenas alguns minutos pode significar milhões de dólares de lucro, até aquele imenso contingente de pessoas que se sentam em frente à televisão para saber a previsão meteorológica do dia seguinte, o fascínio pelos acontecimentos futuros é impressionante. Claro que uma previsão para ser digna de confiança tem de ser acompanhada de dados concretos ou deuma data específica, fixada para o acontecimento. Por exemplo, alguém prever o fim do mundo sem colocar nenhuma data para isso, certamente não atrairia a atenção de ninguém, por outro lado, quando alguém prevê este mesmo fim, indicando uma data bem definida, provoca no mínimo a curiosidade de muitas pessoas, como se provou recentemente com as profecias de Nostradamus. A Sociedade Torre de Vigia usou extensivamente este artifício ao longo de sua história, e em momento algum ela se absteve de indicar para uma data à frente, diretamente ou veladamente, onde haveria algum evento relacionado com profecias bíblicas, principalmente o "final deste sistema de coisas".Diversas datas foram apontadas (como 1874, 1914, 1918, 1925 e 1975) e à medida que falhavam eram substituídas por outras sendo apontadas mais à frente, quer dizer, sempre as testemunhas de Jeová tinham uma data em que se basear para continuar acreditando no "paraíso em breve". As datas sempre foram lançadas por algum líder carismático e por isso mesmo, fáceis de ser negadas depois da falha, bastava dizer que era uma convicção pessoal ou então providenciar uma nova luz sobre o assunto e tudo estava resolvido. Nos últimos anos, porém, a Sociedade estava às voltas com um verdadeiro "nó profético”, apertando a corda em torno de seu "pescoço" e ameaçando sua credibilidade junto aos seus adeptos. Por que chamar de nó profético? Porque passagem tempo esgotava velozmente possibilidade da profecia vir aa se cumprir, do e principalmente por esta data estara amarrada com outras datas de profecias paralelas, todas estas fundamentais para a

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inteira doutrina da Sociedade Torre de Vigia, ou seja, diversas pontas numa única amarração formando um nó. A corda principal deste nó era a profecia sobre a última geração proferida pelo próprio Jesus e interpretada pela Sociedade Torre de Vigia como a geração que viu e entendeu os acontecimentos relacionados com o ano de 1914 e que estaria viva e lúcida para presenciar o fim deste sistema, chamado de Armagedom. Este conceito fazia parte da espinha dorsal da doutrina das testemunhas de Jeová, afinal ela indicava para o estabelecimento do Reino de Deus na terradentro do período de vida de um ser humano, algo fácil de cronometrar e certamente bastante atrativo para conquistar novos discípulos. Durante as décadas de 1950 e 1960, dentro do período em que Nathan Knorr e Frederich Franz foram respectivamente Presidente e Vice da Watchtower Society, ocorreu um acelerado crescimento no número das testemunhas de Jeová em todo o mundo. Naquele tempo era perfeitamente aceitável que alguém com 20 anos de idade em 1914 (que teria na época entre 60 e 70 anos) pudesse observar de forma lúcida aos dois acontecimentos, o estabelecimento do Reino de Deus primeiro nos Céus e depois na Terra conforme a concepção da Sociedade Torre de Vigia. No entanto, na década de 1990 isto já não era possível, pois aquela mesma pessoa já teria então quase 100 anos de idade e um grupo muito pequeno no mundo atenderia este requisito, além do que poucos deles com a lucidez mental necessária para cumprir as palavras de Jesus. Mesmo alterando sucessivamente para baixo a idade inicial ou a idade que deviam ter as pessoas que observaram os acontecimentos em 1914, mesmo assim, com o passar dos anos a situação ficava cada vez mais insustentável . Quem trabalhou no serviço de campo nesta época deve ter sentido como era complicado explicar para alguém, que uma criança de apenas 7 anos de idade podia entender o que estava acontecendo no mundo em 1914, sabendo que mesmo hoje, com todo o sistema de informação disponível, dificilmente uma criança consegue ter uma razoável noção do que está acontecendo à sua volta devido ao seu egocentrismo, quanto mais o que acontece no resto do mundo. Mesmo assim, era a única forma de aplicar a interpretação da Sociedade. O interessante é que apesar do nó profético em que se encontravam no final da década de 80 e inicio da década de 90, suas publicaçõescontinuavam a inundar a mente das Testemunhas de Jeová com artigos afirmando categoricamente que a geração de 1914 de modo algum passaria até a chegada do fim. Veja apenas alguns exemplos de como este ensino foi inculcado e introduzido de forma insistente , e reflita em como esta enxurrada de afirmações induziram milhões de pessoas a acreditarem numa mentira.

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*A Sentinela, 15 de Julho de 1982, pág. 11 (“Paz e segurança!” – Daí a “repentina destruição”):

Jesus predisse que alguns dos que estariam vivos quando os “últimos dias” começassem viveriam para ver o fim deste sistema. Já se passaram uns 68 anos desde que a “geração” de 1914 presenciou o começo dessas dificuldades. (Mateus 24:34) Portanto, quase já se esgotou o tempo desta “geração pervertida e deturpada”. (Filipenses 2:15) Dentro em pouco poderemos ser testemunhas oculares do cumprimento de muitas profecias bíblicas relacionadas com a ‘passagem deste mundo’. (1 João 2:17) E podemos ter plena confiança em que essas profecias se cumpram em cada pormenor. Jeová, “Aquele que desde o princípio conta o final”, Aquele que inspirou essas profecias, “jurou, dizendo: ‘Seguramente, assim como tencionei, assim terá de acontecer; e assim como aconselhei, deste modo se efetuará’”. Isaías 14:24; 46:10; 2 Pedro 1:20, 21. *A Sentinela, 01 de Maio de 1985, pág. 04 (Demora Deus Seu Julgamento?):

Assim, o julgamento de Deus precisa ser executado antes que a geração de 191 4 se extinga completamente. Ainda existe um número considerável dos dessa geração. Por exemplo, em 1980 ainda havia 1.597.700 pessoas vivas na República Federal da Alemanha que nasceram em 1900 ou antes. Esse número seria ainda maior se milhões dos seus cidadãos não tivessem sofrido a morte prematura durante as duas guerras mundiais. Ao prometer que “esta geração de modo algum passará”, Jesus usou as duas partículas negativas gregas ou e me. A Bíblia Companheira (em inglês) explica esse uso como segue: “As duas partículas negativas quando combinadas perdem seus significados distintivos, e formam e mais [afirmação]. numaé ocasião aemmais queforte parece que aenfática geraçãoasseveração poderia passar antes Somente que tudo agora, se cumpra, que as palavras de J esus, “de modo algum”, assumem verdadeiro significado. *A Sentinela, 01 de Maio de 1985, pág. 07 (Por Que Deus Ainda Não Executou Seu Julgamento):

Sabemos também que a geração de 1914 encontra-se numa fase bem adiantada do declínio de sua existência, restando assim pouco tempo para esta profecia ainda se cumprir. Mas sabemos também - para isso temos a promessa do próprio Jesus - que “esta geração de modo algum passará até que todas estas coisas aconteçam”. - Revelação 17:11; Marcos 13:30.

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*A Sentinela, 15 de Julho de 1985, pág. 28 (“O Tempo Que Resta É Reduzido”):

Além disso, também tem havido uma diminuição no número dos que pertencem a “esta geração” de 1914, que não passará até que se cumpra tudo aquilo que Jesus pred isse para o nosso tempo. (Mateus 24:34) Esse é outro indício claro de que está próximo o fim deste sistema. *A Sentinela, 15 de Fevereiro de 1986, pág. 05 (Apocalipse - Quando?):

Sim, como esta revista tem trazido à atenção de seus leitores ao longo dos anos, a evidência aponta para a geração de 1914 como sendo aquela a que Jesus se referiu. Assim, “esta geração de modo algum passará até que todas estas coisas [incluindo o apocalipse] ocorram”. *Despertai! 08 de Abril de 1988 pág. 14 (Os Últimos Dias - O Que Virá em Seguida?):

Do mesmo modo hoje, a maior parte da geração de 1914 já desapareceu. Todavia, há ainda milhões de pessoas na terra que nasceram naquele ano ou antes disso. E, embora o número delas esteja diminuindo, as palavras de Jesus se cumprirão, "esta geração não passará sem que tudo isto aconteça". Esse é mais um motivo para se crer que o dia de Jeová, que virá como um ladrão, está iminente. *A Sentinela, 01 de Outubro de 1988, pág. 07 (Tem Visto o Sinal?):

Milhões de pessoas, depois de examinarem o sinal à luz da história do século 20, convenceram-se de seu cumprimento. (Veja também Mateus, capítulo 24, e Marcos, capítulo 13.) A geração de 1914 é, sem dúvida, uma geração marcada. É a geração envolvida no segundo cumprimento das palavras de Jesus: “Esta geração de modo algum passará até que todas estas coisas ocorram.” (Lucas 21:32) “Todas estas coisas” incluem ficarmos livres dos desconcertantes problemas da humanidade. *A Sentinela, 01 de Junho de 1990 pág. 07 (Aproxima-se um Grandioso Milênio.):

Os acontecimentos mundiais desde 1914 indicam que estamos vivendo na "terminação do sistema de coisas". Jesus disse também que a geração associada a esses acontecimentos preditos ‘de modo algum passaria até que todas estas coisas ocorressem’.

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*A Sentinela, 15 de Outubro de 1990 pág. 20 (Sinta-se Grato - O Reino Messiânico de Jeová Domina.):

Assim como Jeová executou seu julgamento sobre Jerusalém, ele fará contra a antitípica Jerusalém infiel, a saber, a cristandade. E, assim como a geração que ouviu a mensagem de julgamento de Cristo alcançou com vida a destruição que ele predissera, a atual geração desde 1914 "de modo algum passará" sem que venha a predita "grande tribulação". Mateus 24:21, 22, 34. *A Sentinela, 15 de Abril de 1991 pág. 07 (Quando Virá Realmente a Paz Duradoura?):

Sim, as nações têm falado muito sobre paz e segurança. Mas está a situação mundial realmente indo nessa direção? Lembre-se do que Jesus disse sobre os que viveriam durante os últimos dias, a partir de 1914: "Deveras, eu vos digo que esta geração de modo algum passará até que todas estas coisas ocorram." (Mateus 24:34) Sim, a paz realmente virá nesta geração, mas não por meio dos esforços das nações. A paz firmemente estabelecida, imparcial e justa, prometida por Jeová Deus, só pode vir por meio do já próximo domínio do Príncipe da Paz, Jesus Cristo. — Isaías 9:7 *A Sentinela, 01 de maio de 1992 pág. 03 (1914 - O Ano Que Abalou o Mundo):

Durante décadas, A Sentinela tem explicado que a humanidade sofreu em 1914 o que é chamado de "princípio das dores de aflição". Esta expressão faz parte da grande profecia de Jesus Cristo sobre os eventos que precederiam ao fim do sistema iníquo do homem. — Mateus 8. Atualmente, uma pequena da humanidade ainda pode lembrar-se24:7, dos eventos dramáticos de 1914. Seráporcentagem que esta geração mais velha passará antes de Deus salvar a Terra da ruína? Não segundo a profecia bíblica. "Quando virdes todas estas coisas", prometeu Jesus, "sabei que ele está próximo às portas. Deveras, eu vos digo que esta geração de modo algum passará até que todas estas coisas ocorram". Mateus 24:33, 34. *A Sentinela 01 de Maio de 1992 pág. 07 (A Geração de 1914 - Por Que É Significativa?):

Antes de a geração de 1914 deixar de existir, a obra de pregação do Reino terá alcançado seu objetivo. "Então", predisse Jesus, "haverá grande tribulação, tal como nunca ocorreu desde o princípio do mundo até agora, não, nem tampouco ocorrerá de novo. De fato, se não se abreviassem aqueles dias, nenhuma carne seria salva; mas, por causa dos escolhidos, aqueles dias serão abreviados". — Mateus 24:21, 22.

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*A Sentinela, 15 de Agosto de 1992, pág. 09 (Hospital Histórico Transformado em Salão do Reino sem Igual) :

A revista agora conhecida como A Sentinela está livremente disponível aos visitantes. Desde 1879, esta revista tem aumentado em tiragem para mais de 15 milhões de exemplares quinzenais em 111 idiomas. Indica às pessoas a promessa bíblica de que alguns da geração de 1914 ainda estarão vivos para ver o restabelecimento da boa saúde física e espiritual da humanidade. (Isaías 33:24) *Despertai! 22 de Março de 1993 pág. 11 (Por Que Essa Expectativa Ansiosa do Novo Mundo?):

Jesus indicou também que esse sinal múltiplo seria concluído durante a vida da geração que viu seu começo em 1914. Em Mateus 24:32-34, ele disse: "Aprendei, pois, da figueira o seguinte ponto, como ilustração: Assim que os seus ramos novos se tornam tenros e brotam folhas, sabeis que o verão está próximo. Do mesmo modo, também, quando virdes todas estas coisas, sabei que ele está próximo às portas. Deveras, eu vos digo que esta geração de modo algum passará até que todas estas coisas ocorram." *Ministério do Reino 10/93 pág. 08 (Ofereçamos a Todos a Assinatura das Revistas em Outubro):

O objetivo de Despertai! é claramente expresso na página 4 de cada edição: "Esta revista gera confiança na promessa do Criador de estabelecer um novo mundo pacífico e seguro, antes que merece passe a amais geração que viu ospossível acontecimentos de 1914." Essa certamente ampla distribuição em nosso ministério de casa em revista casa! *Despertai! 08 de Novembro de 1994, pág. 10 (O Verdadeiro Significado de 1914):

Este tempo do fim, contudo, havia de ser um período relativamente curto — dentro do espaço de uma geração. (Lucas 21:31, 32 ) O fato de que estamos agora 8 0 anos além de 1914 indica que podemos esperar para breve a libertação que o Reino de Deus trará. Isto significa que veremos “o mais humilde da humanidade” — Jesus Cristo — assumir o controle completo do “reino da humanidade” e implantar um pacífico e justo novo mundo. — Daniel 4:17.

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Despertai! 08 de Novembro de 1994.

Num artigo na pág. 10 intitulado "O verdadeiro significado de 1914", esta revista diz: "Como diz na página 4: "Esta revista gera confiança na promessa do Criador de estabelecer um novo mundo pacífico e seguro, antes que passe a geração que viu os acontecimentos de 1914." Sem dúvida muitos de nossos leitores acham surpreendente esta declaração."

Nos Livros... *Livro Poderá Viver Para Sempre no Paraíso na Terra, edição 1985, pág. 154:

ApósJesus chamar a atenção para as de muitas quepassará assinalaram o período de 1914 em diante, disse: “Esta geração modocoisas algum até que todas estas coisas [incluindo o fim deste sistema] ocorram.” (Mateus 24:34, 14) A que geração se referia Jesus? Ele referia-se à geração de pessoas que viviam em 1914. As pessoas ainda remanescentes daquela geração são agora bem idosas. Contudo, algumas delas ainda estarão vivas de modo a presenciar o fim deste sistema iníquo. Assim, podemos ter certeza disto: Em breve haverá um fim súbito de toda a iniqüidade e de todas as pessoas iníquas, no Armagedom. *Livro Segurança Mundial Sob o “Príncipe da Paz”, 1986, pág. 16 (Capítulo 2 O “Príncipe da Paz” Defronta-se com o Armagedom) :

A geração de 1914 presenciou os significativos acontecimentos mundiais preditos por Jesus. (Mateus 24:3-14) Esta geração, disse Jesus, não passaria sem que todas essas coisas se cumprissem. Ela está agora já bem perto de seu fim . — Mateus 24:34.

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*Livro Verdadeira Paz e Segurança – Como Poderá Encontrá-la?, 1986, pág. 8384, parágrafo 28 (Capítulo 7 - Quando Virá a Predita Destruição Mundial?) :

“Acerca daquele dia e daquela hora”, disse Jesus, “ninguém sabe, nem os a njos dos céus, nem o Filho, mas unicamente o Pai”. Mas Jesus deu um indício útil do tempo ao dizer: “Esta geração de modo algum passará até que todas estas coisas ocorram.” (Mateus 24:34, 36) Assim, todas as várias particularidades do “sinal”, bem como a “grande tribulação”, precisam ocorrer dentro do período de vida de uma geração — a geração de 1914 . Isto significa que algumas pessoas que observaram os acontecimentos de 1914, quando começou a “terminação do sistema de coisas”, alcançarão com vida o fim deste, quando a “grande tribulação” irromper. Os que se lembram dos acontecimentos de 1914 estão agora com idade avançada. A maioria deles já faleceu. Mas, Jesus nos assegurou de que “esta geração de modo algum passará” antes de vir à destruição deste iníquo sistema de coisas. — Mateus 24:21. *Livro Raciocínios à Base das Escrituras, edição de 1989 Pág. 112:

Antes que os últimos membros da geração que já existia em 1914 desapareçam do cenário, todas as coisas preditas ocorrerão, inclusive a “grande tribulação”, na qual será eliminado o presente mundo iníquo. Pág. 419:

O atual sistema iníquo de coisas, que se estende mundialmente, entrou nos seus últimos dias em 1914, e alguns da geração que vivia então estarão também presentes para observar seu fim completo na “grande tribulação”.

Pág. 423: (A “geração” que estava viva no começo do cumprimento do sinal em 1914 está

agora bem avançada em idade. O tempo que resta deve ser muito curto. As condições mundiais fornecem toda a indicação de que este é o caso.) *Livro Testemunhas de Jeová - Proclamadores do Reino de Deus, 1993, pág. 716:

Mas não perdem a fé nas palavras de Jesus: “Deveras, eu vos digo que esta geração de modo algum passará até que todas est as coisas ocorram.” (Mat. 24:34) A expressão “estas coisas” refere-se aos vários aspectos do “sinal” composto. Esse sinal está em evidência desde 1914 e culminará na “grande tribulação”. (Mat. 24:21) A “geração” que estava viva em 1914 está minguando rápido. O fim não pode estar distante.

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A Sociedade Torre de Vigia tinha de agir, mesmo com a diminuição da idade inicial, a tal "geração 1914" estava fazendo água por todos os lados, faltou muito pouco para afirmar-se que um bebê poderia entender acontecimentos mundiais. A atitude fatal foi tomada em 1995. Num pequeno parágrafo da revista A Sentinela foi desintegrado o ensino que durante anos foi o tema principal da pregação da maioria das testemunhas de Jeová. Quem participou na pregação de casa em casa nas décadas anteriores, certamente usou diversas vezes a conta da "última geração" para indicar a proximidade do Armagedom, todavia, aquela importante interpretação profética não mereceu nem um digno reconhecimento do erro. O quadro abaixo retrata bem a situação:

"Ainda há muitos milhões dessa geração vivos. Alguns deles 'de modo algum assarão até que todas estas coisas ocorram'. Lucas 21:32. Desde 1914 já atravessamos duas guerras mundiais e muitos outros grandes conflitos, além de fomes, terremotos, pestilência e coisas desse tipo. (Lucas 21:10, 11) Mas Jesus disse: “Esta geração de modo algum passará até que todas estas coisas ocorram.”(Mateus 24:34)" (grifo adicionado) "Sim, poderá viver para ver esta rometida Nova Ordem, junto com os sobreviventes da geração de 1914 - a eração que não passará." A Sentinela 15 de Novembro de 1984

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"O povo de Jeová... às vezes tem especulado sobre quando irromperia a “grande tribulação”, até mesmo relacionando isso com cálculos sobre a duração da vida duma eração desde 1914." (grifo adicionado) "Em vez de estabelecer uma regra para a medição do tempo, o termo “geração”, conforme usado por Jesus, refere-se principalmente a pessoas contemporâneas dum certo período histórico, com as características identificadoras delas. Não precisamos conhecer de antemão a data disso." A Sentinela 1.º de Novembro de 1995

A Sociedade Torre de Vigia (Watchtower Society nos E.U.A.) ensinou durante anos a fio aos seus seguidores que a "última geração", mencionada por Jesus em Mateus 24: 33, 34, era a geração daquelas pessoas que viram e puderam entender os acontecimentos relacionados ao ano de 1914, o início da Primeira Guerra Mundial e suas conseqüências para o mundo moderno. Não apenas algumas vezes, mas inúmeras e incontáveis vezes, nas revistas, nos livros e outras publicações; em esboços de discursos públicos, em assembléias e congressos. Tantas vezes a tal "geração de 1914" foi citada que, se todas as citações fossem ajuntadas em uma única publicação, um volume impresso de enormes proporções seria o resultado. Mas, por fim, conforme você pode observar no quadro acima, a Sociedade resolveu alterar o dogma em que a "última geração" era a "geração 1914" e como de costume correção de seu erro como uma "nova luz",nulo por tudo meio odeque um artigo de publicou estudo daarevista A Sentinela de 01/11/1995, tornando havia dito antes de forma tão insistente durante tanto tempo:

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*A Sentinela 01/11/95 pág. 17-19 - É Hora de Manter-se Desperto

O povo de Jeová, ansioso de ver o fim deste sistema iníquo, às vezes tem especulado sobre quando irromperia a "grande tribulação", até mesmo relacionando isso com cálculos sobre a duração da vida, duma geração desde 1914. No entanto, ‘introduzimos um coração de sabedoria’ não por especular sobr e quantos anos ou dias constituem uma geração, mas por refletir em como ‘contamos os nossos dias’ em dar alegre louvor a Jeová. (Salmo 90:12) Em vez de estabelecer uma regra para a medição do tempo, o termo "geração", conforme usado por Jesus, refere-se principalmente a pessoas contemporâneas dum certo período histórico, com as características identificadoras delas. Em harmonia com isso, o professor de História Robert Wohl escreveu no seu livro The Generation of 1914 (A Geração de 1914): "A geração histórica não é definida pelos seus limites cronológicos . . . Não é delimitada por datas." Deveras, o triunfo completo do Reino messiânico é iminente! Será que adianta alguma coisa procurar datas ou especular sobre a duração literal da vida duma "geração"? Longe disso! Habacuque 2:3 declara explicitamente: "A visão ainda é para o tempo designado e prossegue arfando até o fim, e não mentirá. Ainda que se demore, continua na expectativa dela; pois cumprir-se-á sem falta. Não tardará." O dia de Jeová para ajustar contas aproxima-se cada vez mais. — Jeremias 25:31-33; Malaquias 4:1. Por favor, não pense que o corpo governante errou, nem mesmo que houve algum engano, o que poderia ser considerado normal visto sermos todos imperfeitos e errantes, como enfatiza a própria Bíblia Sagrada. Que diz também que os desígnios de Deus estão muito acima compreensão dos seresnão humanos pecadores, mas não, definitivamente NÃO! O da “Escravo Fiel e Discreto” erra nunca! E em razão disso, o artigo coloca cuidadosamente a culpa do equívoco nas costas largas do "povo de Jeová", que, "ansioso" por saber quando seria o final deste sistema de coisas, ficou deduzindo por conta própria sobre datas e inventou a tal história da "geração 1914", com as devidas possíveis datas para o Armagedom. Sorte, mas muita sorte mesmo, que os queridos irmãos do corpo governante "introduziram um coração de sabedoria" e acabaram com as especulações sobre datas sem qualquer fundamento. Esses irmãos do "povo de Jeová"! Tão imaturos, tão ansiosos e tão afobados! Claro que alguém dentre o "povo de Jeová" deve ter tentado se eximir de culpa, que petulância! Se alguém se considera servo de Jeová deve ter humildade mental. Então, para que não pairasse a menor dúvidaprovidenciou sobre quem foi o culpado pelo fiasco da profecia da "geração 1914", a Sociedade uma oportuna "pergunta dos leitores", onde a culpabilidade ficou bem evidente:

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*A Sentinela 01/06/97 pág. 28 - Perguntas dos Leitores

Humanos imperfeitos têm a tendência de querer ser espe cíficos referente à data em que virá o fim. Lembre-se de que até mesmo os apóstolos queriam saber mais informação específica ao perguntar: "Senhor, é neste tempo que restabeleces o reino a Israel?" — Atos 1:6. Com intenções sinceras similares, servos de Deus nos tempos modernos, têm tentado inferir à base do que Jesus disse sobre "geração", um tempo específico a ser contado a partir de 1914. Por exemplo, um argumento tem sido que uma geração pode ter 70 ou 80 anos e ser composta de pessoas que tinham idade suficiente para compreender o significado da Primeira Guerra Mundial e de outros acontecimentos; podemos assim calcular mais ou menos a proximidade do fim. Apesar da boa intenção deste raciocínio, harmonizava-se com o conselho que Jesus passou a dar? Jesus disse: "Acerca daquele dia e daquela hora ninguém sabe, nem os anjos dos céus, nem o Filho, mas unicamente o Pai . . . Portanto, mantende-vos vigilantes, porque não sabeis em que dia virá o vosso Senhor." — Mateus 24:36-42. Quanta ingenuidade! Esse "povo de Jeová", aqui chamado de"servos de Deus", não tem jeito mesmo, tão absortos fazendo contas para descobrir a proximidade do fim baseando-se na tal geração, acabaram por não levar em consideração as palavras do próprio Jesus, dizendo que ninguém, exceto o Pai, poderia sequer imaginar quando viria o fim. Concluindo, todos os fatos relacionados com a "'ultima geração" foram produzidos, única e exclusivamente, pelos irmãos

ansiosos , que apesar das intenções sinceras aos atropelaram escritos Torre sagrados. Nenhuma responsabilidade pode ser atribuída líderes da os Sociedade de Vigia. Como vocês puderam ver, definitivamente eles “não erram”!!!

Depois de dizer por anos a fio que a geração de Mateus 24:34 era a geração de pessoas que viram e puderam entender os acontecimentos de 1914, e quecom certeza, alguns destes veriam o fim deste sistema, eles abruptamente voltaram atrás. O tempo passou, a geração de 1914 acabou e nada aconteceu. Mais uma das mirabolantes interpretações bíblicas da Sociedade Torre de Vigia desabou, mostrando-se uma farsa. O pior de tudo é que os lideres da Sociedade não tiveram nem mesmo a dignidade e o caráter de assumir o seu erro, colocando a culpa nos pobres seguidores desta religião. Mas, acha que a lambança doutrinal da Sociedade Torre de Vigia parou por ai? Não! Eles conseguiram se contradizer ainda mais.

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No mesmo artigo em que eles descaradamente se esquivam de sua responsabilidade por mais um fiasco doutrinal, os lideres da Sociedade passam a descrever uma serie de raciocínios e argumentações para “provar” que, apesar da geração de Mateus 24:34 não ser especificamente a geração de 1914 (como eles cansaram de afirmar anteriormente), tratava-se de uma geração iníqua, sem fé, que vê os sinais da presença de Cristo mas não se corrige. Para apoiar este ponto de vista, eles como de costume, usaram uma serie de argumentos e publicaram estes diversas vezes em suas publicações. Veja alguns exemplos: *A Sentinela, 01 de Novembro de 1995, pág. 10-15 (Salvos de uma geração iníqua):

Naturalmente, os cristãos que estudam este assunto orientam seu modo de pensar primariamente pelo modo em que os escritores inspirados dos Evangelhos usaram a expressão grega he ge·ne·á haú·te, ou “esta geração”, ao relatarem as palavras de Jesus. Esta expressão foi coerentemente usada de forma negativa. Jesus chamou os líderes religiosos judeus de “serpentes, descendência de víboras”, e passou a dizer que o julgamento da Geena seria executado ‘nesta geração’. (Mateus 23:33, 36) Todavia, limitava-se este julgamento aos clérigos hipócritas? De forma alguma. Em diversas ocasiões, os discípulos de Jesus ouviram-no falar sobre “esta geração”, aplicando o termo uniformemente em sentido muito mais amplo. Em 31 EC, durante o grande ministério de Jesus na Galiléia e pouco depois da Páscoa, seus discípulos ouviram-no dizer “às multidões”: “Com quem compararei esta geração? Eladeé folguedos, semelhantedizendo: às criancinhas sentadas nas para feiras,vós,quemas gritam para seus companheiros ‘Nós tocamos flauta não dançastes; lamuriamos, mas não vos batestes em lamento.’ Correspondentemente, João [o Batizador] não veio nem comendo nem bebendo, contudo dizem: ‘Ele tem demônio’; o Filho do homem [Jesus] veio comendo e bebendo, todavia dizem: ‘Eis um homem comilão e dado a beber vinho, amigo de cobradores de impostos e de pecadores.’” Não havia jeito de agradar a essas “multidões” que não tinham princípios! — Mateus 11:7, 16-19. Mais adiante em 31 EC, quando Jesus e seus discípulos empreenderam sua segunda viagem de pregação na Galiléia, “alguns escribas e fariseus” pediram a Jesus um sinal. Ele lhes disse, bem como “às multidões” presentes: “Uma geração iníqua e adúltera persiste em buscar um sinal, mas nenhum sinal lhe será dado, exceto o sinal de Jonas, o profeta. Porque, assim como Jonas esteve três dias e três noites no ventre do enorme peixe, assim estará também o Filho do homem três dias e três noites no coração da terra. . . . É assim que será também com esta geração iníqua.” (Mateus 12:38 -46) É óbvio que “esta geração iníqua” incluía tanto os líderes religiosos como as “multidões” que nunca chegaram a reconhecer o sinal que se cumpriu com a morte e a ressurreição de Jesus.

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Depois da Páscoa de 32 EC, quando Jesus e seus discípulos entraram na região galiléia de Magadã, os saduceus e os fariseus de novo pediram-lhe um sinal. Jesus repetiu para eles “Uma geração iníqua e adúltera persiste em buscar um sinal, mas nenhum sinal lhe será dado, exceto o sinal de Jonas.’ Com isto se afastou, deixando -os atrás.” (Mateus 16:1-4) Aqueles hipócritas religiosos eram deveras muito repreensíveis como líderes entre as “multidões” infiéis que Jesus condenou como “esta geração iníqua”. Perto do fim do seu ministério na Galiléia, Jesus chamou a si a multidão e seus discípulos, e disse: “Todo aquele que ficar envergonhado de mim e das minhas palavras, nesta geração adúltera e pecaminosa, deste o Filho do homem também se envergonhará.” (Marcos 8:34, 38) De modo que as massas dos judeus impenitentes daquela época obviamente eram esta “geração adúltera e pecaminosa”. Alguns dias mais tarde, depois da transfiguração de Jesus, ele e seus discípulos ‘se chegaram à multidão’, e um homem lhe pediu que curasse seu filho. Jesus comentou: “Ó geração sem fé e deturpada, até quando terei de continuar convosco? Até quando terei de suportarvos?” — Mateus 17:14-17; Lucas 9:37-41. Foi provavelmente na Judéia, depois da Festividade das Barracas, em 32 EC, “quando as multidões se apinhavam” em volta de Jesus, que ele as condenou de novo, dizendo: “Esta geração é uma geração iníqua; procura um sinal. Mas nenhum sinal lhe será dado, exceto o sinal de Jonas.” (Lucas 11:29) Por fim, quando os líderes religiosos levaram Jesus ao julgamento, Pilatos ofereceu soltá-lo. O registro diz: “Os principais sacerdotes e anciãos persuadiram as multidões a pedir Barrabás e fazer Jesus ser destruído. . . . Pilatos disse- lhes: ‘O que quereis, então, que eu faça com Jesus, o chamado Cristo?’ Todos disseram: ‘Seja pregado numa estaca!’ Ele disse: ‘Por que, o que fez ele de mal?’ Todavia, clamaram ainda mais: ‘Seja pregado numa estaca!’” Aquela “geração iníqua” exigia o sangue de Jesus! — Mateus 27:20-25. Uma “geração sempapel fé de e deturpada” instigada por do seusSenhor líderesJesus religiosos, desempenhou assim um destaque em, causar a morte Cristo. Cinqüenta dias mais tarde, no Pentecostes de 33 EC, os discípulos receberam espírito santo e começaram a falar em diversas línguas. Ouvindo o som disso, “a multidão ajuntou -se”, e o apóstolo Pedro chamou-a de “homens da Judéia e todos vós, habitantes de Jerusalém”, dizendo: “A este homem [Jesus] . . . vós fixastes numa estaca pela mão de homens contrários à lei e o eliminastes.” Como reagiram alguns desses ouvintes? “Ficaram compungidos no coração.” Pedro exortou-os então a se arrependerem. Ele “dava cabalmente testemunho e os exortava com muitas outras palavras, dizendo: ‘Sede salvos desta geração pervertida.’” Em resposta, cerca de três mil “abraçaram de coração a sua palavra [e] foram batizados”. — Atos 2:6, 14, 23, 37, 40, 41. Qual é, então, a “geração” tão freqüentemente mencionada por Jesus na presença dos seus discípulos? O que entendiam eles das suas palavras: “Esta geração de modo algu m passará até que todas esta coisas ocorram”? Jesus, certamente, não se afastava do seu costumeiro uso do termo “esta geração”, que ele aplicava coerentemente às massas contemporâneas e seus “guiassofreu cegos”, juntos constituíam judaica. (Mateus 15:14) “Esta geração” todaque a aflição predita por Jesusae nação então deixou de existir, numa “grande tribulação” sem igual que sobreveio a Jerusalém. — Mateus 24:21, 34.

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*A Sentinela, 01 de Novembro de 1995, pág. 16-21 (É hora de manter-se desperto):

Examinemos mais de perto a declaração de Jesus em Mateus 24:34: “Deveras, eu vos digo que esta geração de modo algum passará até que todas estas coisas ocorram. As palavras seguintes de Jesus mostram que ‘ninguém sabe acerca daquele dia e daquela hora’. Ele mostra que é muito mais importante que evitemos os laços que nos cercam nesta geração. De modo que Jesus acrescenta: “Pois assim como eram os dias de Noé, assim será a presença do Filho do homem. Porque assim como eles eram naqueles dias antes do dilúvio,

comendo e bebendo, os homens e as mulheres dadas em casamento, até ao dia em que Noé entrou na arca,casando-se e não fizeram caso, até sendo que veio o dilúvio e os varreu todos, assim será a presença do Filho do homem.” (Mateus 24:36 -39) Jesus comparou ali a geração dos seus dias à dos dias de Noé. — Gênesis 6:5, 9; nota NM, Com Referências. Esta não foi a primeira vez que os apóstolos ouviram Jesus fazer esta comparação entre ‘gerações’, pois alguns dias antes ele declarara a respeito de si mesmo: “O Filho do homem . . . tem de passar por muitos sofrimentos e ser rejeitado por esta geração. Ademais, assim como ocorreu nos dias de Noé, assim será também nos dias do Filho do homem.” (Lucas 17:24-26) Portanto, o capítulo 24 de Mateus e o capítulo 17 de Lucas fazem a mesma comparação. Nos dias de Noé, “toda a carne [que] havia arruinado seu caminho na terra” e que foi destruída no Dilúvio era “esta geração”. Nos dias de Jesus, o apóstata povo judeu que rejeitava a Jesus era “esta geração”. — Gênesis 6:11, 12; 7:1. Portanto, hoje, no cumprimento final da profecia de Jesus, “esta geração” parece referirse aos povos da terra que vêem o sinal da presença de Cristo, mas que não se corrigem. Em contraste, nós, como discípulos de Jesus, recusamos ser amoldados pelo estilo de vida ‘desta geração’. O apóstolo Paulo nos admoesta: “Persisti em fazer todas as coisas livres de resmungos e de argüições, para que venhais a ser inculpes e inocentes, filhos de Deus sem mácula no meio duma geração pervertida e deturpada , entre a qual estais brilhando como iluminadores no mundo.” — Filipenses 2:14, 15; Colossenses 3:5-10; 1 João 2:15-17. Nenhum humano pode dizer quando virá o fim, mas sabemos que o fim ‘desta geração’ de pessoas iníquas virá assim que o testemunho tiver sido dado para a satisfação de Deus “até à parte mais distante da terra”. — Atos 1:8. *A Sentinela, 01 de junho de 1997, pág. 28 (Pergunta dos Leitores):

Muitos textos bíblicos confirmam que Jesus não usou o termo “geração” com respeito a um grupo pequeno ou distinto, referindo-se apenas aos líderes judaicos ou somente aosque seus discípulos .leais . Antes, porém, ele usou “geração” ao condenar as massas de judeus o rejeitaram Felizmente, alguns individualmente puderam fazer aquilo a que o apóstolo Pedro os exortou no dia de Pentecostes, quer dizer, arrepender-se e ser “salvos desta geração pervertida” . — Atos 2:40.

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Nesta declaração, Pedro claramente não estava especificando alguma faixa etária ou lapso de tempo fixos, nem relacionava “geração” com certa data. Ele não disse que pessoas deveriam se salvar da geração que nasceu no mesmo ano de Jesus, nem da geração que nasceu em 29 EC. Pedro estava falando dos judeus descrentes daquele período — alguns talvez sendo bastante jovens, e outros mais velhos — que ouviram o ensino de Jesus, viram ou ouviram falar dos seus milagres, e não o aceitaram como o Messias. *A Sentinela, 01 de Maio de 1999, pág. 11-13 (Os contemporâneos presenciariam isso):

O que quis Jesus dizer com “esta geração [em grego: ge·ne·á] de modo algum passará”? Jesus muitas vezes classificara a massa contemporânea dos judeus opositores, inclusive seus líderes religiosos, de “geração iníqua e adúltera”. (Mateus 11:16; 12:39, 45; 16:4; 17:17; 23:36) Portanto, no Monte das Oliveiras , quando novamente falou ‘desta geração’, ele evidentemente não se referiu à inteira raça de judeus em toda a História; tampouco se referiu aos seus seguidores, embora estes fossem uma “raça escolhida”. (1 Pedro 2:9). Em vez disso, Jesus referiu-se aos judeus opositores lá naquele tempo, que sofreriam o cumprimento do sinal dado por ele. Sobre a referência a “esta geração”, em Lucas 21:32, o professor Joel B. Green menciona: “No Terceiro Evangelho, ‘esta geração’ (e frases relacionadas) regularmente tem aplicação a uma categoria de pessoas que resistem ao propósito de Deus. . . . [Refere-se] a pessoas que obstinadamente viram as costas ao propósito divino.” *A Sentinela, 01 de junho de 1999, pág. 07 (Chegou o tempo de Deus agir):

Especialmente desde a Primeira Guerra Mundial, a humanidade tem passado por mudanças espantosas. Tem visto a Terra encharcada do sangue de milhões de pessoas. Guerras, genocídios, terrorismo, crimes e violações da lei têm irrompido em todo o mundo. Fome, doenças e imoralidade assolam nosso globo. Todas as evidências indicam que vivemos agora no meio daquela geração iníqua sobre a qual Jesus disse: “Esta geração de modo algum passará até que todas estas coisas ocorram.” (Mateus 24:34) O mundo está agora enchendo sua “medida de pecado”. “Os cachos da videira da terra” estão ficando maduros para a colheita. Portanto, a geração de Mateus 24:34 não é especificamente a geração de 1914, mas é com certeza uma geração iníqua. Está muito claro, não é mesmo? Todos os usos que Jesus fez do termo geração tinham uma conotação negativa, e na maioria dos casos ele até mesmo chegou a usar alguns adjetivos negativos como iníqua, adúltera, pecaminosa, sem fé e deturpada. Pedro chegou a chamar tal geração de pervertida.

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Não há como ter dúvidas, Jesus ao dizer: “esta geração de modo algum passará até que todas as coisas ocorram” estava se referindoas pessoas más de seus dias , e no paralelo que foi feito com os dias de hoje, obviamente, se refere às pessoas más de nossos dias. Agora sim podemos confiar nos argumentos da Sociedade! Conforme vocês puderam ver, são raciocínios lógicos e embasados, plenamente alicerçados na bíblia. Até mesmo professores e especialistas são citados para reforçar ainda mais as irrefutáveis argumentações do sábio Corpo Governante. Certo? Não, não está certo, está Errado!!!!!!!!!! Conforme a própria Sociedade publicou na revista A Sentinela de 15 de Fevereiro de 2008, pág. 24 (A geração que vê o sinal):

Jesus disse que seus discípulos, seriam os que estariam em condições de tirar certas conclusões quando vissem ‘todas estas coisas’ ocorrer. De modo que Jesus se referia a seus discípulos quando declarou: “Esta geração de modo algum passará até que todas as coisas ocorram”. ...os fiéis irmãos ungidos de Cristo, a atual classe de João, reconhecem esse sinal como se fosse um relâmpago e entendem seu real significado. Como grupo, esses ungidos compõem a atual “geração” de contemporâneos que não passará “até que todas estas coisas ocorram”. Como vocês puderam ver, todo aquele raciocínio anterior, de que a geração de Mateus 24:34 se referia às pessoas que vêem o sinal da presença de Cristo masnão se corrigem, caiu por terra. Como que num passe de mágica todos aqueles argumentos foram por água a baixo. Eles chegaram a dizer enfaticamente que a geração “não se referia a um grupo pequeno ou distinto, referindo-se apenas a seus discípulos leais” (A Sentinela 01/06/97 página 28), disseram que “no Monte das oliveiras quando falou desta geração ele tampouco se referiu a seus seguidores” (A Sentinela 01/05/99 página 13). Agora, tudo o que eles falaram não vale mais nada, podemos jogar no lixo. É impressionante como milhões de pessoas ainda levam a sério às explicações e interpretações do Corpo Governante das Testemunhas de Jeová. Qualquer pessoa com um mínimo de bom senso percebe que eles estão mais perdidos do que cego em tiroteio, falam algo, depois desfalam, interpretam uma profecia para depois mudar tudo, explicam de uma maneira e depois voltam atrás. Como confiar em pessoas assim? Como depositar toda sua esperança e se deixar guiar por líderes religiosos assim? Você realmente acha que tais homens são guiados por Deus? Que tais homens são o único e exclusivo canal que Deus usa para orientar seus servos aqui na terra? De duas uma, ou Deus está perdido no que fala ou estes homens são uns impostores. Qual das duas opções você acha mais razoável?

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ntes de iniciar essa consideração uma ressalva se faz necessária. A Bíblia não fornece datas. Todas as datas vinculadas a eventos bíblicos se baseiam em descobertas da Arqueologia. Se a Bíblia não dispõe de tais informações, significa que elas não são necessárias para o verdadeiro Cristianismo, pois nela se encontra a seguinte afirmação: “Toda a Escritura é inspirada por Deus e proveitosa.... a fim de que o homem de Deus seja plenamente competente, completamente equipado para toda boa obra.” (2 Timóteo 3:16, 17). Se aBíblia dependesse de fontes pagãs para suprir necessidades espirituais dos cristãos, a assertiva de Paulo se tornaria nula. Portanto, este artigo foi escrito visando simplesmente uma análise histórica, sem adentrar no brio de algum credo religioso. Um outro esclarecimento necessário é que se chama de período o intervalo de tempo entre os reinados de Napopolassar e Belsazar, emneobabilônico Babilônia. Na sua opinião, existem datas na Bíblia que estão em conflito com datas históricas? Segundo a Sociedade Torre de Vigia dos EUA, entidade dirigente das Testemunhas de Jeová, a resposta é “sim”! Segundo a Torre, a cidade de Jerusalém foi destruída no ano 607 a.C. No entanto, não há um único livro de História no mundo que forneça tal data para este acontecimento. Segundo todas as obras históricas de referência, Jerusalém foi destruída em 587 ou 586 a.C. Por causa disso, a cronologia que a Torre de Vigia apresenta em sua literatura tem uma discrepância de 20 anos em relação aos livros de História, no período anterior à primeira destruição de Jerusalém. Estariam os especialistas em história antiga errados? Sabe-se que os cronologistas e historiadores costumam se basear na melhor evidência disponível para datar eventos antigüidade. Com todo esse cuidado como Além eles poderiam cometer umoserro de 20daanos ao datarem a destruição de Jerusalém? disso, o mais importante é: será que a Bíblia desabona a data 587 a.C para a destruição de Jerusalém?

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Ao se falar na primeira destruição de Jerusalém é preciso lembrar que a antiga Babilônia se tornou potência dominante quando derrotou a Assíria (a potência dominante anterior). Sabe quando isso aconteceu? Sabe em que data se iniciou o domínio de Babilônia sobre as nações? Segundo os historiadores, em 612 AEC, com a queda da cidade de Nínive, a Assíria entrou em um período agonizante, e chegou ao colapso total em 609 a.C., quando o pai de Nabucodonosor derrotou Assurbalit, o último ereideu dalugar Assíria. Foi em 609 que a Assíria deixou definitivamente o cenário mundial a Babilônia: “Fim da Assíria. - .... Então, depois da queda de Nínive em 612, a queda de Haran em 610 e a tentativa de reconquistá-la mais tarde em 609, a Assíria deixou de existir.” (Encyclopedia Britannica, Chicago, 1964, pp. 966-67) “609. – Derrota definitiva do último rei assírio.... A ruína do império assírio permitiu que os caldeus [babilônios] estendessem o seu domínio à Síria e à Palestina.” (As Gran des Datas da Antiguidade, Portugal, 1984, Publicações Europa-América, p. 37) “O fim da Assíria (609).... O Egito, aliado da Assíria desde 616, correu em socorro de Assurbalit, mas já era muito tarde. A cidade de Harran não pôde ser reconquistada. O império neo-assírio estava vencido.” (Israel e Judá, Textos do Antigo Oriente Médio, São Paulo, Ed. Paulinas, 1985, p. 81) “Os assírios foram definitivamente derrotados [por Babilônia] em 609 a.C. e a Assíria desapareceu da história”. (Dicionário Bíblico, John L. Mackenzie, São Paulo, 2001, Ed. Paulus, p. 90)

Segundo esses mesmos historiadores, o domínio de Babilônia acabou em 539, data apoiada pela Torre de Vigia: “[Os babilônios] trataram o povo de Deus de modo bem mais duro do que Seu julgamento exigia...Quão aflitivo deve ter sido para o Deus verdadeiro ver seu povo sofrer! Mas ele se refreou de agir até o seu devido tempo. Daí... em 539 AEC, secou e devastou Babilônia e suas defesas.” (Profecias de Isaías, Vol. II, p. 43, § 23)

Como Babilônia caiu em 539 a.C., o tempo total do domínio de Babilônia sobre as nações foi de 70 anos, o que está de acordo com o relato bíblico:

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“Estas nações terão de servir ao rei de Babilônia por setenta anos”. (Jeremias 25:11) “Somente quando os setenta anos concedidos para Babilônia acabarem, é que eu vos visitarei e cumprirei minha promessa em vosso favor por trazer- vos de volta a este lugar”. (Jeremias 29:10, Jerusalém Bible - A Tradução do Novo Mundo verte “em Babilônia”, ao invés de “para Babilônia”. Mas o texto srcinal diz realmente “para” e não “em”)

609 a 539 a.C. —> resulta num domínio babilônico sobre as nações de 70 anos (Jeremias 25:11) A Torre de Vigia não aceita o ano 609 como início do domínio de Babilônia. Ela acha que os 70 anos mencionados nos textos acima são de exílio dos judeus em Babilônia, e não de hegemonia babilônica. Ela aceita o ano 539 a.C., dado pelos historiadores, mas rejeita o ano 609 a.C. queesses mesmos historiadores fornecem. Mas conforme foi dito, a Bíblia não fornece datas. Sem os historiadores e suas pesquisas não é possível saber nenhuma data da Bíblia. O interessante é que a Torre nunca mencionou a possibilidade dos 70 anos serem de domínio babilônico sobre diversas nações, ao invés de exílio dos judeus em Babilônia. Evidentemente ela não desconhece esse fato pois afirma laconicamente: “A profecia bíblica não permite a aplicação desse período de 70 anos a qualquer outro tempo, senão ao situado entre a desolação de Judá, acompanhada pela destruição de Jerusalém, e o retorno dos exilados judaicos à sua pátria, em resultado do decreto de Ciro. Especifica claramente que os 70 anos seriam anos de devastação da terra de Judá”. (Estudo Perspicaz das Escrituras, Vol. I, p. 617, artigo “Cronologia”)

Seria melhor que ela tivesse mencionado as outras possíveis aplicações para deixar que o leitor decidisse se realmente a Bíblia não permite outra possibilidade. Segundo a Torre de Vigia as verdadeiras datas associadas à destruição de Jerusalém são as que estão no desenho abaixo:

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Leia agora a descrição bíblica para o período acima (Jeremias 25:12, Nova Versão Internacional): “Quando se completarem os setenta anos, castigarei o rei de Babilônia e a sua nação”, diz Jeová.

Olhe mais uma vez o desenho acima. Segundo a Torre de Vigia, em que ano se completaram os 70 anos? Segundo ela foi em 537 AEC. Está essa data de acordo com o texto bíblico de Jeremias 25:12? Releia o versículo e compare com o desenho. Jeremias foi bem claro ao dizer que a punição do rei de Babilônia só aconteceria

quando acabassem os setenta antes ! No entanto, no desenho pela Torre a punição ocorre anos antese não do prazo estabelecido por Deus. defendido Para quem afirma defender fielmente a Bíblia, isso por si só já seria suficiente para perceber que o desenho acima precisa de uma revisão. No entanto, há outros fatores bem mais consistentes a serem abordados. Antes de comentá-los, porém, observe o desenho apresentado pelos historiadores para o período descrito por Jeremias 25:12:

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Ao se comparar os dois desenhos acima, qual deles está de acordo com Jeremias 25:12? Leia o texto novamente: “Quando se completarem os setenta anos, castigarei o rei de Babilônia e a sua nação”.

É óbvio que o segundo desenho é o correto, pois a Bíblia diz claramente que o rei de Babilônia só seria punido depois que acabassem os 70 anos e não antes. Essa simples comparação não somente mostra quea data 609 está em harmonia com a Bíblia, mas comprova também que a Bíblia permite sim "a aplicação desse período de 70 anos" a outro período que não seja o ‘situado entre a desolação de Judá e o retorno dos exilados judaicos à sua pátria’, contrariando o desejo da Torre de Vigia de mudar a História. Na verdade, as evidências a favor do que os historiadores defendem são muito maiores do que você talvez imagine, indo muito além da simples comparação de gráficos feita acima, tendo por base as palavras da Bíblia. Segundo os historiadores, Nabopolassar morreu em 605 a.C., quatro anos depois de vencer definitivamente a Assíria, e o seu filho Nabucodonosor assumiu o trono e continuou a conquista do pai. Naquele mesmo ano derrotou o rei do Egito, o qual pouco antes matara Josias, rei de Judá. Em 587 a.C. Nabucodonosor destruiu Jerusalém, em parte porque os judeus desobedeceram ao seguinte aviso: “A nação e o reino que não o servirem, sim, a Nabucodonosor, rei de Babilônia, e aquela que não puser seu pescoço sob o jugo do rei de Babilônia, para tal nação voltarei a minha atenção com a espada, e com a fome, e com a pestilência’, é a pronunciação de Jeová, até que eu tenha dado cabo deles pela sua mão”. (Jeremias 27:8)

E quanto à data 607 a.C. para a destruição de Jerusalém? Ela é resultado unicamente do entendimento de que os 70 anos são de exílio dos judeus em Babilônia, e não de supremacia babilônica, exílio que teria durado até 537 a.C. (embora a Bíblia não relate isso. Veja 2 Crônicas 36:22). Recuando-se 70 anos a partir do ano 537, chega-se à data 607 a.C.. Mas note os problemas insolúveis que tal entendimento ocasiona. A quem as nações serviriam 70 anos (inclusive Judá)?“Ao rei de Babilônia”. (Jeremias 25:11) Ora, se os 70 anos terminassem em 537, significaria que desses 70 anos, 68 seriam de servidão ao rei de Babilônia e 2 anos de servidão ao rei persa Ciro, contradizendo a declaração bíblica de Jeremias 25:11 (reveja o primeiro desenho mostrado).

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Outro fato grave: não existe uma fonte arqueológica sequer que indique a destruição de Jerusalém em 607 a.C.. Por outro lado, foram desenterrados milhares de tabuinhas cuneiformes da antiga Babilônia que marcam a destruição de Jerusalém em 587/586 a.C. Por isso a data 607 AEC não existe nos livros de História, e segundo tais fontes o exílio dos judeus durou cerca de 49 anos, e não 70. Durou de 587/86 a 538/37 AEC. Na verdade, a Torre de Vigia não foi a primeira a se confundir neste assunto do exílio dos judeus. Certa vez , o historiador Flávio Josefo, do primeiro século, disse que o exílio em Babilônia tinha durado setenta anos (Antiguidades Judaicas X, 7, 3; X, 9, 7; XI, 1, 1; XX, 10, 2; e em Contra Apião, I, 19). No entanto, em uma idade mais avançada, Josefo corrigiu várias informações que ele apresentara anteriormente. E uma delas foi justamente a duração do exílio dos judeus. Abonando a cronologia de Beroso, ele disse:

"Esta declaração [de Beroso] tanto é correta como está em harmonia com nossos livros [isto é, as Escrituras Sagradas]. Pois nestes está registrado que Nabucodonosor, no décimo oitavo ano de seu reinado, devastou o nosso templo, que por cinqüenta anos este deixou de existir, que no segundo ano de Ciro as fundações foram lançadas, e por fim que no segundo ano do reinado de Dario foi terminado”. (Contra Apião I, 2 1, em Obras Completas de Josefo, traduzido por William Whiston, em inglês - Grand Rapids: Publicações Kregel, 1978; colchetes acrescentados) Perceba que mover a destruição de Jerusalém de 587 para 607 (para forçar um exílio de 70 anos), aumenta o domínio de Babilônia sobre as nações de 70 para 90 anos, descaracterizando completamente o texto de Jeremias 25:11 que afirma claramente: “E estas nações terão de servir ao rei de Babilônia por setenta anos.” E assim ocorreu, nenhum ano a mais, nenhum ano a menos.

Beroso foi um sacerdote caldeu que assentou por escrito a duração dos reinados de todos os governantes neobabilônicos, desde Nabopolassar até Nabonido. Esta mesma cronologia foi adotada pelo astrônomo grego Ptolomeu, que editou a lista que veio ser conhecida por "Cânon de Ptolomeu". De acordo com Beroso e Ptolomeu, quais foram os reis caldeus que governaram no período neobabilônico? Foram: (1) Nabopolassar, (2) Nabucodonosor, (3) Evil-Merodaque, (4) Neriglissar, (5) Labashi-Marduque, Nabonido e (7) Belsazar, sendo que essa dinastia findou em 539 a.C. Informação(6) extraída da Despertai! de 8 de setembro de 1980, p. 28, § 8.

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Quanto tempo durou cada reinado? A Torre de Vigia responde: “Segundo este Cânon, os cinco reis que regeram neste período foram Nabopolassar (21 anos), Nabucodonosor (43 anos), Evil-Merodaque (2 anos), Neriglissar (4 anos), e Nabonido (17 anos).” (O rei Labashi-Marduque reinou apenas 9 meses). Despertai!, 8/11/1972, p. 27, § 8. Pois bem, de posse das informações acima é possível montar uma tabela na qual se determina quando cada governante começou a reinar. Basta somar para trás quanto cada governante reinou a partir do ano 539 a.C. Por exemplo, Nabonido reinou 17 anos e o seu último ano foi 539 a.C.. Logo, o seu primeiro ano foi em 555 a.C. (539 + 16 anos), e assim por diante. Pela soma de todos os reinados, veja em que ano Nabucodonosor iniciou seu governo (anos a.C.):

Observação: Para calcular a duração de um reinado, aplique a fórmula: ano maior – ano menor + 1 Claramente Nabucodonosor iniciou o seu reinado em 604 a.C. Conforme certo versículo da Bíblia, ele destruiu Jerusalém no seu 18º ano de reinado. Se ele começou a reinaroem 587625. a.C.,Seeisso não for 607aceito a.C. Senote o ano 607 for considerado seu604 18ºa.C., ano,ooseu seu18º 1º ano anofoi será o que acontece com a tabela acima:

Lembre-se que as próprias publicações da Torre de Vigia fornecem os dados que geram as tabelas acima, dados estes que realmente os especialistas divulgam. Obviamente, para tentar salvar sua cronologia, pelo menos na aparência, a Torre de Vigia ensina às Testemunhas de Jeová que os números nessa lista de reis não são definitivos e que ela deve estar errada em algum ponto. Para saber se isto é possível ou não, siga adiante na leitura deste artigo.

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A brecha de 20 anos que existe na tabela defendida pela Torre é irreparável, visto que o tempo de reinado de cada governante não pode ser mudado, por motivos que vão ser considerados mais à frente. Deslocar a destruição de Jerusalém 20 anos para trás causa uma ruptura no período historicamente estabelecido, deixando um intervalo completamente descoberto, conforme indicado nos desenhos a seguir:

Até hoje a Torre de Vigia nunca explicou o paradoxo acima, e nem poderá fazêlo, pois ele não tem solução, a não ser aceitar o mais plausível e confiável. Mas ela não quer fazer isso, pois se fizesse demoliria completamente um dogma dela que depende da data 607 a.C. Segundo a Torre de Vigia, em 1914 começaram os "últimos dias" marcados pela profecia bíblica, os quais prenunciam o iminente “fim do mundo”. Este ano seria o momento final de um período profetizado de 2.520 anos, o qual começou no ano em que Jerusalém foi destruída pelos babilônios. Aceitar a data 587 moveria o fim desse "período profético" para 1934, contradizendo assim o ensino das Testemunhas de Jeová de que o ano de 1914 marca o "retorno invisível" de Cristo e o início de seu reinado. Segundo dizem, uma das primeiras "providências" de Cristo como rei foi inspecionar as religiões cristãs no ano de 1918. Após essa "inspeção", Jesus rejeitou todas as denominações cristãs do planeta, exceto a Torre de Vigia, que de 1919 em diante "passou a ter" o privilégio de ser a única religião verdadeira de Deus na Terra, através da qual Deus ensina as pessoas. Portanto, rejeitar a data 607 significaria admitir que todo esse ensino não passou de mera especulação e que as Testemunhas de Jeová acreditaram numa mentira. Por estar consciente da lacuna que sua cronologia ocasiona, a Torre de Vigia se apóia na teoria de que as cifras acima podem ser incompletas e que novas descobertas arqueológicas podem mudar os períodos em questão. Por exemplo, note algumas declarações que ela faz neste sentido:

Citação 1 “Pode-se notar que a frase ‘décimo sétimo ano’ não consta na tabuinha [Crônica de Nabonido], estando danificada esta parte do texto. Esta frase é inserida pelos tradutores,

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porque eles acreditam que o 17° ano de reinado de Nabonido foi seu último. Assim, presumem que a queda da cidade de Babilônia se deu naquele ano do seu reinado e que, se a tabuinha não estivesse danificada, essas palavras apareceriam no espaço agora danificado. Mesmo que o reinado de Nabonido tenha durado mais do que em geral se supõe, isto não mudaria a data aceita de 539 AEC como ano da queda de Babilônia, porque há outras fontes que indicam este ano. Este fator, porém, diminui até certo ponto o valor da Crônica de Nabonido”. (Estudo Perspicaz das Escrituras, volume 3, p. 52, verbete “Nabonido”, colchetes e sublinhados acrescentados) Nota-se que a Torre de Vigia considera a possibilidade do reinado de Nabonido ter durado mais de 17 anos. Sem dúvida, isto poderia ajudá-la a reparar a brecha de 20 anos de sua cronologia.

Citação 2 "Do ponto de vista secular, tais tipos de evidência talvez pareçam confirmar a cronologia neobabilônica que fixa o 18° ano de Nabucodonosor (e a destruição de Jerusalém) em 587/6 A.E.C. No entanto, nenhum historiador pode negar a possibilidade de que o atual quadro da história babilônica pode ser enganoso ou errado. Por exemplo, sabe-se que os antigos sacerdotes e reis às vezes alteravam os registros para os seus próprios fins. Ou mesmo quando a evidência descoberta é exata, poderá ser interpretada mal pelos eruditos modernos ou ser incompleta, a ponto de que matéria ainda a ser descoberta poderá alterar drasticamente a cronologia do período em questão”. (Livro Venha o Teu Reino, p. 187, publicado pela Torre de Vigia) A Torre de Vigia já começa o parágrafo desacreditando as fontes seculares, como se elas contradissessem a Bíblia nesta questão. Esboça a teoria de que a tabela de reis neobabilônicos está incompleta por causa do material arqueológico "ainda a ser descoberto". Depois do trecho acima, a Torre de Vigia cita as seguintes palavras do Dr. Edward F. Campbell Jr.:

"Nem se precisa dizer que estas listas são provisórias. Quanto mais se estuda a complexidade dos problemas cronológicos no antigo Oriente Próximo, tanto menos se está inclinado a pensar numa apresentação como sendo definitiva. Por este motivo, o termo cerca [cerca de] poderia ser usado ainda mais liberalmente do que é."

Mas o que a Torre de Vigia "esqueceu" de mencionar é que a história do Oriente Próximo, sobre a qual Campbell estava falando, compreende um período de quase 2.000 anos e inclui as cronologias do Egito, Palestina, Síria, Ásia Menor e Assíria. Certamente é difícil determinar com segurança várias datas deste longo intervalo e

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de todas estas nações. No entanto, o período neobabilônico só durou um pouco mais de 70 anos e existe um conjunto super abundante de achados arqueológicos que confirmam as datas desta parte da história de Babilônia. Além do mais, conforme o próprio Campbell disse, os escribas neobabilônicos não tinham o costume de alterar os registros com objetivos particulares, como acontecia em outras nações. Portanto, era isto o que Campbell tinha em mente quando fez seu comentário! Quando ele soube que foi citado fora de contexto pela Torre de Vigia ele ficou muito indignado, pois ele nunca teve dúvida de que as datas do período neobabilônico estão todas corretas.

Citação 3 “Certamente não é sábio insistir em que as cifras tradicionais para os reinados dos reis neobabilônicos sejam aceitas como definitivas”. (Estudo Perspicaz das Escrituras, volume 1, p. 608, verbete “Cronologia”)

A citação acima resume bem o que a Torre de Vigia quer que as Testemunhas de Jeová pensem sobre a era neobabilônica, conforme é descrita pelos historiadores. Mas a Torre não revela em sua totalidade o real motivo porque muitos continuam a "insistir" que os períodos apresentados por Beroso e Ptolomeu são os corretos e definitivos. Só diz que quem aceita a lista deles não é sábio... Na verdade, o contrário é que é verdadeiro. Não é sábio rejeitar as cifras tradicionais, pois as evidências a favor delas são muito abundantes. A quantidade de matéria existente em favor das datas universalmente aceitas da era neobabilônica preencheria literalmente um livro de centenas de páginas. O que está aqui neste artigo é apenas um "resumo do resumo" e não uma abordagem completa de tudo que existe a favor do ano 587. Dentro desse arcabouço arqueológico, podem-se destacar as evidências prosopográficas*, que são aquelas em que eventos do cotidiano neobabilônico fornecem informações adicionais sobre a duração dos reinados e os elos de ligação entre eles. Estes eventos eram registrados diariamente em tabuinhas cuneiformes. Por exemplo, havia uma importante família em Babilônia chamada Egibe que possuía um próspero empreendimento comercial. O assiriologista Bruno Meissner disse o seguinte sobre essa firma:

"Da empresa Filhos de Egibi nós possuímos tão grande abundância de documentos, que podemos rastrear quase todas as transações comerciais e experiências pessoais de seus dirigentes, desde a época de Nabucodonosor até a época de Dario I." (Babilônia e Assíria, Bruno Meissner, Vol. II (Heidelberg, 1925), pág. 331. Traduzido do alemão)

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* A prosopografia (do grego prósopon, que significa "rosto" ou "pessoa") é “o estudo das biografias, especialmente de indivíduos unidos por relações familiares, econômicas, sociais, ou políticas.” - Novo Dicionário Mundial de Webster, 3ª edição acadêmica, eds. V. Neufeldt & D. B. Guralnik (Nova Iorque: Novos Dicionários Mundiais de Webster, 1988), pág. 1080, em inglês. Para entender como tal exame prosopográfico é de extrema utilidade, basta dizer que praticamente nenhuma transação comercial era feita sem que se mencionasse o ano do rei , além de identificá-lo por nome. Quando o rei morria automaticamente a contabilidade comercial dos babilônios passava a mencionar o novo governante em seus lançamentos. Portanto, é possível saber a duração dos reinados babilônicos apenas por se rastrear e estudar a documentação comercial daquela época. E o quadro cronológico obtido por este vasto material torna impossível a inclusão de novos reis no período neobabilônico ou o "esticamento" da duração de seus reinados. No caso da empresa dos Egibe, os documentos cuneiformes dela fornecem um intervalo de oitenta e um anos de atividades, que vão do 3º ano de Nabucodonosor até o 1º ano de Dario Histaspes, conforme mostrado na tabela abaixo:

Como era de se esperar, a tabela acima está em total harmonia com o Cânon de Ptolomeu e com a Lista de Reis de Beroso. Recuando-se oitenta e um anos para trás desde o primeiro ano de Dario I (521/20 AEC) chega-se ao ano 602/601 AEC. Este é o terceiro ano de Nabucodonosor de acordo com os registros comerciais da empresa babilônica Egibe & Filhos. Sendo assim, basta somar três anos para descobrir qual foi o primeiro ano de Nabucodonosor. O resultado é 605/604 AEC, data que também pode ser obtida de diversas outras maneiras independentes. Portanto, somente as tabuinhas comerciais da família Egibe são suficientes para determinar o inteiro período neobabilônico sem nenhuma margem de erro. Se outros documentos comerciais ou religiosos dos cidadãos neobabilônicos forem estudados, eles também confirmarão que a lista de reis de Beroso e o Cânon de Ptolomeu estão corretas. E isto é assim mui provavelmente porque eles também tiveram acesso aos mesmíssimos documentos que os especialistas estudam hoje em dia. Beroso e Ptolomeu não fizeram suas listas baseando-se 'simplesmente numa informação histórica que era a aceita no período selêucida', como alega a Torre de Vigia (Livro Venha o Teu Reino, p. 187).

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Observe que os documentos comerciais da firma dos Egibesão todos srcinais , e não cópias. É bom que se destaque esse pormenor, uma vez que a Torre de Vigia costuma mencionar que alguns documentos que retratam o período neobabilônico são cópias. Ela faz isto para tentar desacreditar o conteúdo deles. Em suma, pelo exposto até aqui, percebe-se que a cronologia neobabilônica é umas das mais seguras da Antigüidade, tanto pela quantidade de material arqueológico disponível, como pela precisão e qualidade dessas fontes, recebendo especial destaque os vários textos astronômicos que registram a posição dos planetas em certas constelações, e os eclipses que aconteciam ao longo dos anos, sendo que esses registros indicavam os reis de cada período astronômico mencionado . Todos esses fatores em conjunto permitem traçar um histórico completo das sucessões dos governantes neobabilônicos. E o mais importante, independente de existir todo esse farto material em apoio à data 587, lembre-se que tal datanão é uma "cronologia secular" que discorda da "cronologia bíblica", como a Torre de Vigia costuma dizer. Isto simplesmente não é verdade, como foi bem demonstrado aqui! A Testemunha de Jeová que não acredita na data 587 apenas porque a Torre diz que ela contradiz a Bíblia, não tem razão nenhuma para continuar com essa opinião depois que descobre as informações contidas neste artigo e em outros relacionados, uma vez que foi demonstrado cabalmente que é a cronologia da Torre de Vigia que está contradizendo a Bíblia e não a cronologia secular, que foi historicamente estabelecida de maneira segura e confiável. De forma resumida, essas são as fontes que possibilitam datar a destruição de Jerusalém em 587/586 a.C.:

1. Crônicas, registros históricos, e inscrições reais do período neobabilônico, começando com Nabopolasar e terminando com os reinados de Nabonido e Belsazar, período que vai de 626 até 539 a.C.: Diversas crônicas babilônicas tais como a crônica de Nabonido Nabonido N.º 18 A estela de Hilá (Nabonido N.º 8) A estela de Adda-Gupp (Nabonido H1,B) Lista real de Beroso Cânon de Ptolomeu 2. Documentos Co merciais e Admin istrativos: Tabuinhas cuneiformes que são datadas para cada ano do período neobabilônico tal como estabelecido por Beroso e Ptolomeu; nenhuma tabuinha está datada forma imprecisa. de 5.000 delas já foramdepublicadas e faltamCerca umas 50.000. Estes são documentos contemporâneos do período neobabilônico, e não são cópias.

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3. Diários Astronômicos: 3.1. VAT 4956 fixa o 37º ano de Nabucodonosor em 568 a.C. por um jogo único de observações astronômicas, que não podem ser confundidas com nenhum outro ano. Estabelece o seu ano de ascensão em 605 a.C. 3.2. BM 32312 mais a Crônica de Aquito colocam o 16º ano de Samas-sumiuquim (um rei babilônico anterior ao período neobabilônico) em 652/1 a.C.. Combinando-se essa tabuinha com os documentos comerciais, o cânon de Ptolomeu, a crônica de Aquito e a lista de Reis de Uruque, obtém-se o período 605/4 a 562/1 a.C. como sendo a duração do reinado de Nabucodonosor, com seu 18º ano em 587/6 a.C. 4. Textos Saros (t abuinhas sobre eclipses lu nares): Quatro textos independentes fornecem datas absolutas dentro do período neobabilônico. Por eles, o 18º ano de Nabucodonosor é fixado em 587/6 a.C. 5. Sincronismo com a cronologia egípcia independente e contemporânea ao período neobabilônico: 5.1. Pelo cômputo egípcio, Josias morreu durante o reinado do faraó Neco, que começou em 610 AEC.. 5.2. Alguns Judeus fugiram para o Egito, que estava sob o domínio do faraó Hofra (Apriés), logo depois da destruição de Jerusalém. Visto que, segundo a cronologia egípcia, Hofra começou areinar em 589 a.C., Jerusalém não poderia ter sido destruída em 607 a.C., dezoito anos antes. 5.3. Um texto cuneiforme fragmentado menciona uma batalha travada por Nabucodonosor no seu 37º ano contra o faraó Amasis, que começou a reinar em 570 a.C. A Sociedade Torre de Vigia data a morte de Nabucodonosor em 582 a.C. Se ele tivesse morrido em 582, como ele poderia estar em batalha contra o faraó Amasis em 570 a.C., doze anos depois? Conforme a Torre de Vigia já comentou, houve críticos da Bíblia que não criam na existência de Belsazar (último rei de Babilônia), porque só a Bíblia o mencionava. Um único achado arqueológico, porém, a crônica de Nabonido, os forçou a mudar de opinião (depois foi encontradoum cilindro com a mesma informação). O que dizer de um assunto que ao invés de tersomente dois achados arqueológicos prová-lo,faziam, tem milhares ? Duvidar dessas fontes é fazer o mesmo que os críticos para anti-Belsazar ou pior.

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A Sociedade Torre de Vigia numa tentativa desesperada de apoiar sua exótica cronologia, cita o texto de 2 Crônicas 36:20-21 como prova de que o exílio judeu em babilônia durou 70 anos. Porem, conforme observará, trata-se de um texto mal interpretado, entendido de maneira equivocada. A passagem diz: “Além disso, ele levou cativos a Babilônia os que foram deixados pela espada, e eles vieram a ser servos dele e dos seus filhos até o começo do reinado da realeza da Pérsia; para cumprir a palavra de Jeová pela boca de Jeremias, até que a terra tivesse saldado os seus sábados. Todos os dias em que jazia desolada, guardava o sábado , para cumprir setenta anos.” ( 2 Crônicas 36:20-21)

Uma leitura rápida do texto acima poderia dar a impressão de que o cronista declara que a terra ficaria num descanso sabático de setenta anos, e que isso fora predito por Jeremias. Mas Jeremias não falou dos setenta anos como sendo um período para a terra saldar os seus sábados de anos . De fato, não há referência alguma a um descanso sabático para a terra no seu livro. Portanto, as palavras de Esdras “até que a terra tivesse saldado os seus sábados, todos os dias em que jazia desolada, guardava o sábado”,não poderia ser um cumprimento da “palavra de Jeová pela boca de Jeremias”. As duas cláusulas sobre o descanso sabático, conforme já observado por comentadores bíblicos, são uma alguns referência à outra predição Levítico, por isso que tradutores da Bíblia, encontrada colocam aem citação de capítulo Levítico 26 26. É(feita pelo cronista) com travessões ou entre parêntesis para indicar que não se refere ao texto de Jeremias. Veja o contexto dessa profecia de Levítico: “Se não me escutardes, nem cumprirdes todos estes mandamentos.... tereis de ser entregues na mão dum inimigo.... tereis de comer a carne de vossos filhos e comereis a carne de vossas filhas.... entregarei vossas cidades à espada.... e eu, da minha parte, vou desolar o país.... e a vós é que espalharei entre as nações e vou desembainhar a espada atrás de vós; e vossa terra terá de tornar-se uma desolação e vossas cidades se tornarão ruínas desoladas.... e naquele tempo saldará a terra os seus sábados, todos os dias em que jazer desolada, enquanto estiverdes na terra de vossos inimigos . Naquele tempo a terra guardará o sábado, visto que tem de saldar os seus sábados. Guardará o sábado todos os dias em que jazer desolada, visto que não guardou o sábado nos vossos sábados quando moráveis nela.” (Levítico 26:14-3)

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Entre outras coisas, esse capítulo previne que se os do povo não obedecessem a lei dos sábados de anos (esclarecida no capítulo precedente de Levítico 25), eles seriam dispersos entre as nações e sua terra jazeria desolada. Dessa maneira a terra poderia “saldar os seus sábados”. Tal comoDaniel anteriormente (Daniel 9:2), o escritor de Crônicas entendeu a desolação de Judá como sendo o cumprimento dessa predita maldição na lei de Moisés. Ele, portanto, inseriu essa predição de Levítico 26 para mostrar que ela se cumpriu depois da deportação final para Babilônia, que ocorreu em 587 a.C, exatamente como fora predito através de Moisés: “Enquanto estiverdes na terra de vossos inimigos”. Por inserir as duas cláusulas de Levítico 26, o cronista não queria dizer que a terra teria um descanso sabático de setenta anos, já que isso não foi predito nem por Moisés, nem por Jeremias. Ele não estava dizendo explicitamente quanto tempo ela descansou , apenas que “todos os dias em que jazia desolada, guardava o sábado” (2 Crônicas 36:20). Da mesma maneira que Daniel, o principal interesse do cronista era o retorno dos exilados, e sendo assim ele destacou que eles deveriam ficar em Babilônia até duas profecias se cumprirem:(1) a de Jeremias sobre os setenta anos de supremacia “de Babilônia”, e (2) a de Levítico sobre a desolação e o descanso sabático da terra de Judá. Essas profecias não devem ser misturadas e confundidas , como é feito freqüentemente. Não só elas se referem a períodos de diferentes durações, como se referem a diferentes nações. Mas como os dois períodos correm em certo ponto paralelos, sendo o fim de um período dentro do outro, o cronista, assim como Daniel, os colocou juntos, relacionando-os de forma muito próxima. Veja como Daniel descreve os períodos em questão: “no primeiro ano do seu reinado, eu, Daniel, compreendi pelos livros o número de anos a respeito dos quais viera a haver a palavra do Senhor para Jeremias, o profeta , para se cumprirem às devastações de Jerusalém, setenta anos.”(Daniel 9:2)

Mais uma vez, observamos que uma leitura superficial do versículo pode dar a entender que as “devastações de Jerusalém” durariam “setenta anos”, pois uma expressão esta seguida da outra. Mas como no caso de 2 Crônicas 36:20-21, a uma confusão de duas profecias que são misturadas. Quando Daniel fala “para se cumprirem às devastações de Jerusalém” ele se referia à profecia de Levítico 26:34 35, por que como vimos Jeremias nunca falou que os setenta anos seriam de “devastações de Jerusalém”, mas do domínio ou supremacia de Ba bilônia sobre as nações, não somente Jerusalém, mas a todas as nações daquela região , que conforme vimos começou em 609 a.C. quando Babilônia acabou definitivamente com o império Assírio e passou a ser potencia dominante. Jerusalém só foi destruída aC), portanto exílio que judeu Babilônia duroude49 anos e não2170anos anos.depois Daniel(587 simplesmente quiso dizer aoem final dos 70 anos supremacia Babilônica sobre todas as nações, obviamente acabaria também o exílio dos judeus em Babilônia.

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Fica claro que Daniel não quis dizer que as devastações de Jerusalémdurariam 70 anos, mas, que as devastações de Jerusalém acabariam depois que se completasse os 70 anos de domínio Babilônico sobre as nações daquela região. Uma análise da lei de Deus sobre o sábado de anos, também fornece informações interessantes sobre esse assunto. Só lembrando, de acordo com essa lei a terra teria que usufruir um descanso sabático a cada sete anos. Durante seis anos o plantio poderia ser feito normalmente, mas no sétimo ano a terra deveria descansar, ficando, como dizem os especialistas de agricultura, alqueivada. (Levítico 25:1-7) Alqueivar a terra era estabelecer uma interrupção no plantio que servia para aumentar a capacidade de fertilidade da terra. “Servia para reduzir a quantidade de alcalinos, sódio e cálcio, depositados no solo pelas águas de irrigação.” (Baruch A. Levine, The JPS Commentary: Leviticus. Philadelphia, New York, Jerusalém, The Jewish Publication Society, 1989, p. 272.) A violação dessa ordem destruiria gradualmente o solo e reduziria o rendimento das colheitas. Se em 14 anos, por exemplo, dois anos não fossem reservados para descanso da terra, o povo de Judá ficaria devendo 2 anos para Jeová. Se em mais 14 anos, 2 anos não fossem para descanso da terra, a dívida aumentaria para 4 anos, e assim por diante. Se Jerusalém foi destruída em 587 AEC, e os judeus retornaram em 537 AEC, o exílio durou 50 anos. Mas se eles retornaram em 538 AEC (no 1º ano de Ciro), significa que a terra ficou desolada por 49 anos. Coincidência ou não, esse era também o período máximo durante o qual um israelita podia privar alguém do usufruto de sua terra, de acordo com a lei de posse da terra. Se um israelita, por necessidade, tivesse que vender sua terra, herdada de seus pais, ele não ficaria para sempre sem ela.tinha Quando chegassea oterra sétimo anos (depois anos), o comprador de devolver parasábado o donodesrcinal. Esse eradeo 49 grande jubileu sabático que acontecia depois de 49 anos.– Levítico 25:8-28. Se os 49 anos de descanso sabático correspondem ao exato número de sábados de anos que foram negligenciados pelos israelitas, todo o período de violação da lei seria de 49 x 7 = 343 anos, ou conforme o esquema:

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Se esse período se estendeu até 587 AEC, ele começou por volta de 930 AEC. Curiosamente, os modernos cronologistas que têm examinado cuidadosamente as evidências bíblicas e extrabíblicas, usualmente datam a divisão do reino em 930 AEC ou arredores. (F. X. Kugler, por exemplo, tem 930, E. R. Thiele e K. A. Kitchen 931/30, e W. H. Barnes 932 AEC). Como a divisão do reino, na época de Salomão, resultou num total abandono da adoração no templo em Jerusalém pela maioria do povo, não é desarrazoado pensar que uma grande negligência dos sábados de anos tenha começado naquele tempo. Portanto, o texto de Crônicas, citado no início, se refere a duas profecias distintas, porém, combinadas:

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Os dois últimos textos a serem discutidos, Zacarias 1:7-12 e 7:1-5, são às vezes apontados como duas referências adicionais à profecia de Jeremias sobre os setenta anos, e a Sociedade Torre de Vigia sustenta que são. Mas não há qualquer evidência que apóie esta conclusão. textos contém referência a Jeremias (como é o que caso de Nenhum Daniel 9:1,dos 2 edois 2 Crônicas 36:20-23)qualquer e ocontexto de ambos indica fortemente os setenta anos mencionados neles têm uma aplicação diferente. Esta é igualmente a conclusão de muitos comentaristas. Isto também ficará evidente na discussão que segue.

Zacarias 1:7-12 A primeira declaração sobre um período de setenta anos no livro de Zacarias aparece em uma visão dada a Zacarias “no vigésimo quarto dia do décimo primeiro mês, que é o mês de sebate, no segundo ano de Dario”. Zacarias 1:7 O segundo ano de reinado de Dario correspondeu a 520/19 a.C., e o vigésimo quarto dia do décimo primeiro mês podem ser traduzidos para15 de fevereiro de 519 a.C. em no calendário Embora os(Ageu judeus1:1, tivessem no templo Jerusalém Juliano. cinco meses antes 14-15),reiniciado Jerusalémoetrabalho as cidades de Judá ainda estavam em uma condição lastimável. Foi por isso que o anjo na visão de Zacarias abordou uma questão que indubitavelmente perturbava muitos dos judeus repatriados:

Zacarias 1:12: De modo que respondeu o anjo de Jeová e disse: “Ó Jeová dos exércitos, até quando não terás misericórdia com Jerusalém e com as cidades de Judá, que verberaste por estes setenta anos?” (TNM)

Segundo o anjo, Jeová tinha verberado Jerusalém e as cidades de Judá durante setenta anos. A Sociedade Torre de Vigia aplica estes setenta anos de verberação (indignação, ou ira) ao período 607-537 a.C., desta forma colocando-os em pé de Jeremias 25:10-12sobre e 29:10 igualdade com os setenta defez . Entretanto, parece evidente que a razão por queanos o anjo esta pergunta a verberação foi que no segundo ano de Dario (519 a.C.), Jeová ainda não tinha mostrado misericórdia para com as cidades de Judá.

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Ou será que o anjo quis dizer que Jeová tinha verberado Jerusalém e as cidades de Judá por setenta anos até 537 a.C., e então continuou mostrando hostilidade para com elas por aproximadamente dezoito anos adicionais, até 519? Se fosse assim, isto faria o período de hostilidade durar quase noventa anos, não setenta. Mas a “indignação” ou “ira” refere-se evidentemente à condição devastada das cidades de Judá, incluindo Jerusalém e seu templo, que começou depois da destruição de Jerusalém, em587 a.C. Esta condição ainda prevalecia, como se pode ver à base da resposta que Jeová deu à pergunta do anjo: Portanto, assim disse Jeová: “Certamente retornarei a Jerusalém com misericórdias. Minha própria casa será construída nela”, é a pronunciação de Jeová dos exércitos, “e estender-se- á sobre Jerusalém o próprio cordel de medir”. Clama mais, dizendo: ‘Assim disse Jeová dos exércitos: “Minhas cid ades ai nda transbordarão de bondade; e Jeová ainda há de sentir lástima de Sião e realmente ainda escolherá Jerusalém.” Zacarias 1:16, 17, TNM

Contando-se a partir de 587 a.C. a indignação tinha durado por quase setenta anos em 519, ou sessenta e oito anos para sermos precisos. E se contarmos desde o início do sítio em 27 de janeiro de 589 a.C. (2 Reis 25:1; Ezequiel 24:1, 2; Jeremias 52:4), a indignação tinha durado por quase setenta anos exatos. Entretanto, dois meses antes, o trabalho de fundação do templo tinha sido concluído. (Ageu 2:18) Dessa época em diante Jeová começou a remover sua indignação: “A partirdeste dia concederei bênção.” Ageu 2;19, TNM Assim, parece claro que os setenta anos mencionados neste texto não se referem à profecia de Jeremias, mas simplesmente ao período que tinha decorridoaté 519 a.C. contando-se a partir do sítio e destruição de Jerusalém e de seu templo em 589-587 a.C. Que os setenta anos decorreram da destruição do templo em 587 a.C. até sua reconstrução nos anos 520-515 é também confirmado pelo próximo texto do livro de Zacarias que será considerado.

Zacarias 7:1-5 Mais uma vez, o evento registrado nesta passagem é datado com precisão, no “quarto ano de Dario... no quarto [dia] do nono mês.” (Zacarias 7:1) Esta data corresponde a 7 de dezembro de 518 a.C (calendário Juliano.)

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Zacarias 7:1-5: “Além disso, sucedeu no quarto ano de Dario, o rei, que veio a haver a palavra de Jeová para Zacarias, no quarto [dia] do nono mês, [quer dizer,] em quisleu. E Betel passou a enviar Sarezer e Regem-Meleque, e seus homens para abrandar a face de Jeová, dizendo aos sacerdotes que pertenciam à casa de Jeová dos exércitos, e aos profetas, sim, dizendo: Chorarei no quinto mês, observando abstinência, assim como fiz, oh! por tantos anos? E continuou a vir a haver para mim a palavra de Jeová dos exércitos, dizendo: Dize a todo o povo da terra e aos sacerdotes: Quando jejuastes e houve lamentação no quinto [mês] e no sétimo [mês], e isto por setenta anos [literalmente ‘estes setenta anos’, como em Zacarias 1:12] jejuaram realmente para mim, sim, para mim? (TNM)”.

Por que razão “todo o povo da terra” jejuava e lamentava no quinto mês e no sétimo mês? Falando sobre o jejum no quinto mês a Sociedade Torre de Vigia admite:

Observava-se evidentemente no décimo dia daquele mês (abe), a fim de comemorar que naquele dia Nebuzaradã, chefe da guarda pessoal de Nabucodonosor, depois de dois dias de inspeção, havia queimado a cidade de Jerusalém e seu templo . (Jeremias 52:12, 13; 2 Reis 25:8, 9) O Paraíso Restabelecido Para a Humanidade— Pela Teocracia!, página 235, parágrafo 04 Em seguida admite-se que o jejum no sétimo mês era: “para comemorar o assassinato do Governador Gedalias, que era da casa real do Rei Davi, e a quem Nabucodonosor constituíra como governador do país, para os judeus pobres que se permitiu que permanecessem depois da destruição de Jerusalém”. (2 Reis 25:22-25; Jeremias 40:13 a 41:10) O Paraíso Restabelecido Para a Humanidade — Pela Teocracia!, página 235 parágrafo 05

Por quanto tempo os judeus tinham jejuado nestes meses em memória da destruição de Jerusalém e de seu templo e do assassinato de Gedalias? Por “setenta anos”, segundo Zacarias 7:5. O ano 517 foi o septuagésimo ano a partir de 587 a.C! Que os judeus ainda mantinham estes jejuns em 518 a.C., no quinto e no sétimo mês, fica claro à base do fato de que os homens de Betel tinham vindo perguntar se “agora que o restante fiel dos judeus estava reconstruindo o templo de Jeová em Jerusalém e já havi a feito quase a metade, deviam continuar a realizar tal jejum ”. Se a destruição de Jerusalém e de seu templo for datada em 607 A.E.C. em vez de em 587, isto novamente faria o tempo de observação destes jejuns ser de noventa anos em vez de setenta. Isto é realmente admitido pela Sociedade Torre de Vigia no livro citado acima, mas não se dá qualquer explicação satisfatória para esta discrepância.

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Assim, tanto Zacarias 1:7-12 como Zacarias 7:1-5 dão apoio muito forte ao ano 587 a.C. como a data correta da destruição de Jerusalém. Como no caso de Jeremias 25:10-12; 29:10; Daniel 1:1, 2 e 2:1, observa-se que a leitura mais fácil e mais direta de Zacarias 1:7-12 e 7:1-7, está também em franco conflito com a interpretação que a Sociedade Torre de Vigia dá aos setenta anos.

À base de um exame atento dos textos que tratam dos setenta anos, foram estabelecidos certos fatos que não podem ser ignorados em relação ao período de setenta anos. De fato, a interpretação da Torre de Vigia não está em harmonia com a Bíblia e nem tampouco com os fatos históricos. Conforme as evidências mostradas chegamos a seis conclusões claras:

(1) os setenta anos se referem a muitas nações, não apenas a Judá. (Jeremias 25:11)

(2) os setenta anos se referem a um período de servidão para estas nações, ou seja, à vassalagem delas a Babilônia.(Jeremias 25:11) (3) os setenta anos se referem ao período de supremacia babilônica, “setenta anos para Babilônia”. (Jeremias 29:10) (4) os setenta anos terminaram quando o rei babilônico e sua nação foram punidos, ou seja, em 539 a.C. (Jeremias 25:12) (5) Os setenta anos de servidão capítulos das nações muitos anos2:1; antes da destruição de Jerusalém . (Jeremias 27,começaram 28 e 35; Daniel 1:1-4; 2 Reis 24: 1-7; as crônicas babilônicas e Beroso)

(6) Zacarias 1:7-12 e 7:1-5 não são referências à profecia de Jeremias, mas se referem ao período que decorreu do sítio e destruição de Jerusalém nos anos 589-587 a.C. até a reconstrução do templo nos anos520-515 a.C. Não há como uma aplicação que está em conflito evidente com a Bíblia e com tais fatos históricos ter alguma coisa que ver com a realidade. Em uma discussão séria sobre possíveis aplicações dos setenta anos, esta alternativaé a primeira que deve ser rejeitada. Ela é mantida pela Sociedade Torre de Vigia, não porque possa ser confirmada pela Bíblia e pelos fatos históricos, mas porque é um pré-requisito necessário para o seu cálculo dos supostos 2.520 anos dos Tempos dos Gentios. (607 a.C. — 1914 E.C.) Se a aplicação que eles fazem dos setenta anos for descartada, o cálculo dos Tempos dos Gentios que conduz a 1914 E.C. revela-se imediatamente falso, uma afraude que acaba com todas as reivindicações proféticas e especulações associadas essa data. Com certeza os líderes das Testemunhas de Jeová não querem que você saiba disso.

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oficial tempo da Sociedade Torre Vigia ao períodoaodos “últimos dias” éensino (e há muito tem sido) quedeeste se referente refere unicamente momento em que estamos vivendo, sendo que tal período teve início em 1914. Este ensino específico pode ser encontrado facilmente em inúmeras publicações da Sociedade. Na Bíblia existem três referências diretas a este assunto. Embora, como é óbvio, estas referências não associem tal período a uma data específica(pois a Bíblia não expressa datas em termos de nosso calendário) , será que o que está escrito lá permite-nos concluir que o termo aplica-se apenas ao período da nossa vida? Examinemos atentamente essas referências, no seu devido contexto.

Referência 1 – Atos 2:14-21 14 Mas, Pedro pôs-se de pé com os onze, levantou a sua voz e fez-lhes a seguinte pronunciação: Homens da Judéia e todos vós, habitantes de Jerusalém, seja isso conhecido por vós e daí ouvidos às minhas declarações. 15 Estes, de fato, não estão embriagados, como supondes, pois é a terceira hora do dia. 16 Ao contrário, isto é o que foi dito por intermédio do profeta Joel: 17 “E nos últimos dias”, diz Deus, “derramarei do meu espírito sobre toda sorte de carne, e vossos filhos e vossas filhas profetizarão, e os vossos jovens terão visões e os vossos anciãos terão sonhos; 18 e até mesmo sobre os meus escravos e sobre as minhas escravas derramarei naqueles dias do meu espírito, e eles profetizarão. 19 E darei portentos em cima no céu e sinais em baixo na terra: sangue, e fogo, e fumaça brumosa; 20 o sol será transformado em escuridão e a lua em sangue, antes de chegar o grande e ilustre dia de Jeová. 21 E todo aq uele que invocar o nome de Jeová será salvo.” Comentário Aqui, o apóstolo Pedromomento aplica as(apalavras doacontecimentos profeta Joel a eventos que estavam ocorrendo bem naquele saber, os relacionados com o derramamento do espírito santo sobre os discípulos, durante as comemorações do

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primeiro Pentecostes após a ascensão de Cristo), e é interessante que ele usa a expressão “últimos dias”. Embora todos os principais verbos usados por ele (“derramarei”, “profetizarão” “terão”, “darei” etc) estejam no tempo futuro, isso é decorrente do fato de que estava sendo feita uma citação direta e na íntegra da profecia registrada em Joel 2: 28 - 32. O que importa é que a aplicação que Pedro deu, sugere fortemente que o apóstolo entendia que esses últimos dias estavam em curso naquela época. Ele não estava tratando de eventos que só ocorreriam em tempos posteriores.

Referência 2 - 2 Timóteo 3 :1-9 1 Sabe, porém, isto, que nos últimos dias haverá tempos críticos, difíceis de manejar. 2 Pois os homens serão amantes de si mesmos, amantes do dinheiro, pretensiosos, soberbos, blasfemadores, desobedientes aos pais, ingratos, desleais, 3 sem afeição natural, não dispostos a acordos, caluniadores, sem autodomínio, ferozes, sem amor à bondade, 4 traidores, teimosos, enfunados [de orgulho], mais amantes de prazeres do que amantes de Deus, 5 tendo uma forma de devoção piedosa, mostrando-se, porém, falsos para com o seu poder; e destes afasta-te. 6 Pois, dentre estes surgem aqueles homens que se introduzem ardilosamente nas famílias e levam cativas mulheres fracas, sobrecarregadas de pecados, levadas por vários desejos, 7 sempre aprendendo, contudo, nunca podendo chegar a um conhecimento exato da verdade. 8 Ora, do modo como Janes e Jambres resistiram a Moisés, assim também estes prosseguem resistindo à verdade, homens completamente corruptos na mente, reprovados quanto à fé. 9 Não obstante, não farão mais progresso, pois a insensatez deles ficará bem clara a todos, assim como ficou a daqueles [dois homens]. Comentário Esta passagem afirma que a vida seria difícil nos “últimos dias” por causa do comportamento que as pessoas teriam. Ela é, sem dúvida, a mais usada pela Sociedade para tentar provar que esses últimos dias começaram apenas depois de 1914. Dá-se a entender que os “tempos críticos, difíceis de manejar” caracterizam apenas o período histórico atual e que os homens com as características alistadas nestes versículos estariam em grande evidência somente a partir daquele ano do século 20, e não antes. Mas, se é assim, por que então o apóstolo Paulo mandou Timóteo‘afastar-se’ de pessoas assim (como diz o final do versículo 5)? Seria possível Timóteo ‘afastar -se’ de certos tipos de homens que só viveriam dezenove séculos depois do tempo dele? Então é lógico supor que homens desse tipo existiam no tempo em que estas palavras foram escritas. Só assim é que a exortação de Paulo a Timóteo (quanto a ficar longe deles) teria sentido. Se Paulo descreveu as pessoas de forma tão

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detalhada e deu a entender que isso servia para pessoas daquela época, isso é sinal de que ele também acreditava e sabia que os últimos dias já estavam em progresso. É verdade que os verbos principais da parte inicial da referência (“haverá” e “serão”) estão igualmente no tempo futuro. Devido a isso, pode-se ter a impressão de que Paulo estava falando de pessoas que viveriam num tempo posterior em relação aos dias dele e que homens com esse nível de pecaminosidade não existiam naquela época. Todavia, o contexto revela que, assim como o apóstolo Pedro, ele também estava fazendo uma aplicação de profecia àquele momento mesmo. Vemos que nos versículos 6 a 9, falando ainda desses mesmos homens, (note a expressão conectiva “pois, dentre estes surgem”, no versículo 6) o apóstolo descreveu erros que eles praticavam, entre os quais a sedução de mulheres (versículo 6) e a contínua resistência deles à verdade de Deus (versículo 8). Falou ainda que eles ‘sempre aprendiam, mas não chegavam “ao conhecimento exato da verdade”’ (versículo 7), eram “completamente corruptos na mente, reprovados quanto à fé” (versículo 8) e que ‘não fariam mais progresso’ (versículo 9). Em todas estas acusações do apóstolo contra esses homens, ele usou verbos no tempo presente (“se introduzem”, “levam”, “prosseguem resistindo” etc). Tais acusações eram dirigidas claramente a homens daquela época, dos quais Timóteo deveria manter-se longe. Vale lembrar que Paulo usou uma descrição muito similar na carta que ele enviou aos romanos. O que ele disse em Romanos 1 : 28– 32 é bastante parecido com essa passagem de 2 Timóteo 3 : 1– 5. E, é claro, o exame atento do contexto daquela passagem em Romanos (principalmente os versículos anteriores ao 28), dá também forte evidência queláPaulo estava fazendo referência a pessoas época (observe que ele de usou alguns verbos no presente e no passado,daquela quando falou daquelas pessoas).

Referência 3 - 2 Pedro 3:3 -9 3 Pois sabeis primeiramente isto, que nos últimos dias virão ridicularizadores com os seus escárnios, procedendo segundo os seus próprios desejos 4 e dizendo: “Onde está essa prometida presença dele? Ora, desde o dia em que os nossos antepassados adormeceram [na morte], todas as coisas estão continuando exatamente como desde o princípio da criação.” 5 Pois, segundo o desejo deles, escapa-lhes este fato, de que desde a antiguidade havia céus, e uma terra sobressaindo compactamente à água e no meio da água, pela palavra de Deus; 6 e, por esses [meios], o mundo daquele tempo sofreu destruição, ao ser inundado pela água. 7 Mas, pela mesma palavra, os céus e a terra que agora existem estão sendo guardados para o fogo e estão sendo reservados para o dia do julgamento e da destruição dos homens ímpios. 8 No entanto, não vos escape este único fato, amados, que um só dia é para Jeová como mil anos, e mil anos, como um só dia. 9 Jeová não é vagaroso com respeito à sua promessa, conforme alguns consideram a vagarosidade, mas ele é paciente convosco, porque não deseja que alguém seja destruído, mas deseja que todos alcancem o arrependimento.

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Comentário Esta é outra referência do apóstolo Pedro aos “últimos dias”. Ele disse essas palavras enquanto estava comentando (e reprovando) a atitude dos “ridicularizadores” daquela época que duvidavam da voltade Cristo e faziam perguntas zombeteiras aos Cristãos, do tipo exemplificado no versículo 4. O versículo 5 torna claro que tais ridicularizadores não queriam prestar atenção ao fato de que o dilúvio havia ocorrido no passado e nem se mirar nesse exemplo de aviso. Eles eram como ‘cegos que não queriam ver’. Pedro referiu-se a isso, usando uma frase com verbo no tempo presente (“segundo o desejo deles,escapa-lhes este fato”). Mais uma vez, embora o verbo inicial (“virão”) esteja no futuro, Pedro está dando uma aplicação da profecia aos seus dias. Os Cristãos daquela época deveriam esperar que sua fé fosse ridicularizada por tais homens e isso já estava acontecendo. Na realidade, tudo o que o apóstolo falou foi com o objetivo de animar os discípulos, incentivando-os a não se deixarem abater por tal conversa. E ele falava com muita propriedade, pois, como esses ridicularizadores eram seus contemporâneos, o apóstolo estava em condições de observar em primeira mão essa atitude escarnecedora deles e podia analisar os motivos por que a manifestavam.

1. Quando começou o período que as Escrituras chamam de “últimos dias?”

Ao longo dos séculos da Era Cristã, muitos comentaristas e estudiosos bíblicos têm tentado aplicar esse termo a períodos em torno de sua própria época. Segundo as fontes disponíveis, existiram poucos momentos na história da Europa em que não aparecessem pessoas ou grupos argumentando e “provando” que os últimos dias eram naquele momento em que estavam vivendo, como se fosse o próprio ‘aqui e agora’. O fato simples, porém, é que a própria Bíblia não especifica nenhum período histórico e muito menos ainda uma data como ‘início oficial dos últimos dias’. Por outro lado, ela também não dá margem à idéia de que esses últimos dias abrangem todo o período da história humana. Seria absurdo e completamente sem sentido entendermos a expressão desta maneira. Uma vez que os escritores da Bíblia traçaram uma nítidaé entre os últimos e o Reino de Cristo, sempre conforme ensinado porconexão ele próprio, bastante razoáveldias concluir que esse período não poderia ter começado antes da ocasião em que Jesus esteve na Terra e transmitiu o conhecimento sobre esse Reino, do qual ele mesmo é a figura central.

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Como a primeira referência que as Escrituras fazem a esta expressão é, conforme vimos, no contexto do que ocorreu durante aquele Pentecostes, então é válido situarmos o início desse período por volta daquela ocasião. Conforme lemos, o apóstolo Pedro apresentou aqueles eventos como um cumprimento do que o profeta havia dito e a expressão “últimos dias” foi incluída no mesmo contexto.

2. Mas, se os ú ltimos dias começaram por volta do Pentecostes (que s egundo a Sociedade, ocorreu em 33 E.C.) e continuam até hoje, não é esse um período longo demais? Que lógica há em chamarmos um período tão estendido assim de “últimos dias”? Se considerarmos tal expressão do ponto de vista humano, então o período parece extremamente longo, pois já abrange quase dois mil anos. Mas o contexto dá forte indicação que nos leva a crer que o termo “últimos dias” deve ser encarado do ponto de vista de Deus e não do nosso. Notemos que em 2 Pedro 3:8, que está transcrito na Referência 3, o apóstolo achou por bem lembrar o “único fato” de que “um só dia é para Jeová como mil anos, e mil anos, como um só dia”. O Salmo 90 : 4 diz a mesma coisa e muito provavelmente Pedro estava pensando no que diz esta passagem. Mas, por que razão Pedro disse isso? Que relação havia entre este “único fato” e o assunto que estava em pauta (os ridicularizadores e sua atitude)? Por que será que ele incluiu essas palavras no contexto do que ele estava discutindo? Não é difícil perceber a razão. Conforme ele explica, o motivo básico da zombaria dos “ridicularizadores” era a aparente demora do retorno de Cristo. Segundo o raciocínio desses, ‘as gerações se sucediam e as coisas continuavam exatamente como desde o princípio da criação’. Por não verem as coisas sob o ponto de vista divino, essas pessoas zombavam da esperança cristã. Até mesmo alguns Cristãos sinceros poderiam começar a achar que Jeová é muito “vagaroso com respeito à sua promessa”. Por isso, o apóstolo fez questão de lembrar aos destinatários de sua carta que os últimos dias poderiam durar muito mais do que eles talvez imaginassem. Contudo, por maior que parecesse ser o intervalo (segundo a maneira humana de contar o tempo), isso não mudaria o fato de que a “promessa” seria cumprida. Mesmo que se passassem “mil anos”, para Deus esse prazo seria curtíssimo. Seguindo a linha de desde raciocínio por ele, pode-se dizerequivale que o período quase vinte séculos que expressa essas palavras foram escritas a menosdede “dois dias” para Deus.

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Ademais, se insistíssemos em encarar os últimos dias do ponto de vista humano, ou seja, como um período relativamente curto, com o único propósito de aplicá-los apenas ao nosso próprio tempo, nem por isso o problema estaria resolvido, pois o intervalo de tempo que já passou desde 1914 até aqui não é de jeito nenhum desprezível. Pelo contrário, esse intervalo já é maior do que o período de vida da maioria dos humanos, incluindo até mesmo aqueles que têm “potência especial” (Salmo 90 : 10). Seguramente, quase todas as pessoas que estavam vivas nas duas primeiras décadas do século vinte já faleceram e nenhuma delas viu o fim desses últimos dias. Considerando todos estes aspectos, é tanto bíblico como lógico chamar o inteiro período da Era Cristã de “últimos dias”, mesmo que o intervalo de tempo em questão seja muitas vezes maior do que o nosso período médio de vida. Já que, em última análise, Deus é o autor da profecia, parece muito lógico considerarmos o assunto na perspectiva Dele. Na questão que segue serão apresentados outros argumentos que confirmam esse entendimento.

3. Será que essa expressão bíblica tem exatamente o mesmo significado em todas as referências? Diante do que foi exposto, os defensores da idéia de que os últimos dias do mundo abrangem apenas o século 20, poderiam argumentar que a Bíblia não pode estar falando do mesmo período em todos esses casos. Ou então, poderiam sugerir que uma ou mais destas passagens têm um “cumprimento duplo”, com um grande período de interrupção entre os dois “cumprimentos”. O que dizer disso? Poderia os “últimos dias” de Atos 2:17 serem referentes apenas ao sistema de coisas judaico (ou então ao período apostólico)? São os “últimos dias” de 2 Timóteo 3:1 e de 2 Pedro 3:3 válidos únicae exclusivamente para o período posterior a 1914? Ou será que a profecia, em um ou mais casos, têm dois cumprimentos (um no primeiro século e outro depois de 1914) com um “espaço em branco” de mais de 1.800 anos no meio? Se a Bíblia desse indicações claras que nos permitissem fazer essas distinções, tais argumentos teriam validade. Há, entretanto, vários raciocínios simples que pesam contra estas interpretações, forçando-nos a concluir que nenhuma delas procede. Em primeiro lugar, o fato é que a mesma expressão bíblica (“últimos dias”) é usada nos três casos.que E asPedro Escrituras porestavam si mesmas não dãodenem sequerhistóricos uma razão para acreditarmos e Paulo tratando períodos distintos. Só é possível chegarmos a essa conclusão se forçarmos uma interpretação particular, à parte da Bíblia.

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Além disso, vimos que o contexto bíblico completo de cada uma das referências trata de eventos e situações que ocorriam na própria época em que o termo foi aplicado. Nenhum dos dois apóstolos estava falando de episódios que só deveriam ocorrer naquele momento ou que só começariam a acontecer em períodos bem posteriores à sua época (mil e novecentos anos depois, por exemplo!). E muito menos ainda, há qualquer indicação de que o cenário típico dos “últimos dias” existiria no primeiro século, depois haveria uma espécie de “corte”, para só surgir novamente no início do século 20. Por fim, uma simples observação da história do período apostólico e pósapostólico permite-nos confirmar definitivamente que não é possível “segmentar” dessa maneira a abrangência do termo “últimos dias”, aplicando -o apenas a períodos fracionários da Era Cristã. O derramamento do espírito santo de Deus sobre humanos, mencionado no livro de Atos, não se restringiu apenas à ocasião do Pentecostes ou apenas ao primeiro século ou ainda somente ao período posterior a 1914. Pelo contrário, tanto no primeiro século como em todos os séculos da Era Cristã existiram verdadeiros seguidores de Jesus Cristo, a quem Deus certamente concedeu o seu espírito. Não há nenhuma razão para pensarmos de maneira diferente. Se não fosse assim, ou seja, se tivesse havido mesmo essa “interrupção no fornecimento” por mais de 1.800 anos, ficaria totalmente inválida a promessa que Cristo fez antes de ir embora, de que estaria com os seus seguidores “todos os dias até a terminação do sistema de coisas”, apoiando -os “para sempre” com o ‘espírito ajudador’ (Mateus 28:20, João 14 : 15, 16). E isso implicaria dizer também que em todos esses séculos intermediários não existiu nenhum verdadeiro Cristão. Da mesma forma, os homens com as características mencionadas na segunda carta a Timóteo não existiram apenas no tempo dele. Durante toda a história do cristianismo, cada uma dessas características teve seus representantes. Os homens “amantes do dinheiro”, “pretensiosos”, “amantes de prazeres”, “desobedientes aos pais”, “blasfemadores”, “hipócritas”, “desleais” etc, existiram em todos os momentos, como até mesmo a história religiosa dos séculos passados atesta, com exemplos bem notórios. Simplesmente não há como forçar o argumento de que esses tipos de homens existiram apenas no primeiro século e depois “desapareceram” completamente da face da Terra, para só reaparecerem depois ed 1914. É verdade que houve um aumento no número de pessoas dessa índole nos séculos mais recentes, mas isso é decorrência direta do fato de que a população mundial também aumentou enormemente. E, se sempre com existiram verdadeiros, mesmo vale para osde “ridicularizadores os seusCristãos escárnios”, citados poroPedro. Após a ascensão Cristo ao céu, não demorou muito para que aparecessem pessoas duvidando de que ele voltaria um dia. E essas pessoas, pela sua atitude e pelas suas palavras,

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sempre zombaram da paciência dos Cristãos em esperar pelo cumprimento dessa promessa. É claro que esses ridicularizadores não surgiram somente no início do século 20. Pelo contrário, vimos que eles existiam no tempo de Pedro e podemos encontrá-los em toda a história do cristianismo. Essa história registrou os nomes de alguns e até o que eles disseram. Com estas evidências em mente, a resposta óbvia a essa questão é então afirmativa. Nos três casos em que a Bíblia usa o termo “últimos dias”, ela re fere-se, sem dúvida, ao mesmo período, sem qualquer distinção ou interrupção. O termo deve ser entendido em todos os casos como significando últimos dias do sistema mundial. E o período abrange a Era Cristã na sua inteireza, isto é, do primeiro século até o momento presente. 4. Como encara a Sociedade Torre de Vigia esse entendimento de que os “últimos dias” começaram lá no primeiro século?

Nas publicações da organização é feita apenas uma menção muito breve dessa crença. A Sentinela de 1.º de Setembro de 1985, página 24, parágrafo 13, diz: Vigilância ou Indolência?

13. É fácil para as igrejas reconhecidas da cristandade e outras pessoas criticarem as Testemunhas de Jeová porque, às vezes, suas publicações declararam que certas coisas poderiam ocorrer em determinadas datas. Mas, não está essa linha de ação em harmonia com a injunção de Cristo de ‘manterem-se vigilantes’? (Marcos 13:37) Por outro lado, será que, por ensinarem que o Reino significa “o reinado de Deus no nosso coração”, as igrejas da cristandade têm incentivado a vigilância cristã? Em vez disso, não incentivaram a indolência espiritual por considerarem a expectativa do “fim” “sem sentido” ou “um mito insignificante”? Será que os apóstatas que afirmam que os “últimos dias” tiveram início em Pentecostes e abrangem a inteira Era Cristã promoveram a vigilância cristã? Ao contrário, não induziram à sonolência espiritual?

Primeiro afirma-se que sugerir datas está “em harmonia com a injunção de Cristo”, no sentido de que os seus seguidores deveriam ’manterem-se vigilantes’. Em seguida, a Sociedade diz que essa hipótese de que os últimos dias abrangem a inteira Era Cristã é uma afirmação dos “apóstatas”. Segundo esse parágrafo da Sentinela, qualquer um que disser isso está induzindo à “sonolência espiritual”.

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Assim, em vez de fazer uma análise bíblica sobre o assunto, levando em consideração o significado e o contexto de todas as declarações claras das Escrituras, a Sociedade prefere fazer um ataque contra as pessoas que chegaram a essa conclusão, rotulando-as de “apóstatas”, ‘espiritualmente sonolentas’ e dizendo que elas ‘não estão promovendo a vigilância cristã’.

5. Qual é o motivo dessa posição da Sociedade Torre de Vigia? Se, como será demonstrado, a questão de saber exatamente em que momento começou o período que a Bíblia chama de “últimos dias” é irrelevante para a fé cristã, então como se explica essa atitude da Sociedade? Visto que o exame da Bíblia, da história religiosa e o próprio raciocínio lógico conduzem diretamente à conclusão de que esses últimos dias são, de fato, um intervalo de tempo bem extenso, então por que todas estas evidências são simplesmente desconsideradas? Será que essa idéia é tão antibíblica assim, a ponto de os que crêem nela merecerem a classificação de “apóstatas”? Não é difícil descobrir a resposta às perguntas acima. Qualquer pessoa que conheça bem os ensinos da Sociedade, sabe que o ano de 1914 ainda é uma data muito importante na estrutura doutrinal. Que tal data tem perdido gradualmente sua importância no decorrer dos anos também é um fato. Para citar alguns exemplos, ela já não é mais o início oficial da ‘geração do fim’ (esse ensino foi abandonado na Sentinela de 01/11/95, página 19) . Além disso, as “coisas” mencionadas por Jesus em Lucas 21:28 não mais se aplicam aos eventos de 1914 (isso deixou de ser ensinado pela Sociedade em 1994 – A Sentinela 15/02/94, página 21). Até mesmo o estudo da cronologia em geral, já não parece ter a mesma relevância para a Sociedade, como tinha no passado(Leia a Sentinela de 15/09/98, página 10 e seguintes e note como, surpreendentemente, a importância dos “cálculos de tempo” é grandemente minimizada [como as publicações anteriores da Sociedade deram muita ênfase à cronologia, nesse artigo eles evitam cuidadosamente o uso da palavra“cronologia” e, em vez disso usam “cálculos de tempo”, o que, para todos os efeitos, é a mesmacoisa]). Todos esses ensinos sobre cronologia foram questionados desde a década de 70, por certos dissidentes da organização (alguns deles eram Testemunhas de Jeová proeminentes naquela época). Como os questionamentos afetavam a importância do ano de 1914, a Sociedade considerou isso uma apostasia e os combateu severamente. Os ensinos foram mantidos e a Sociedade proibiu todas as Testemunhas de Jeová de ou do discutirem as éevidências que os contradiziam. Somente na examinarem última década século 20 que a Sociedade finalmente abandonou alguns desses ensinos, porque simplesmente não foi mais possível mantê-los.

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No entanto, entre os ensinos ainda associados à data de 1914, inclui-se a idéia de que foi nesse ano que começaram oficialmente os “últimos dias” do mundo (como um exemplo entre muitos, veja A Sentinela de 01/04/93, página 16). Se a Sociedade resolvesse considerar e reconhecer abertamente o contexto bíblico e histórico abordado acima, que contradiz esse ensino, ela seria forçada a mudá-lo. Porém, se ela fizesse isso, o resultado seria uma diminuição muito mais expressiva da importância do ano de 1914. Ao longo do tempo, alguns dissidentes têm divulgado uma série de argumentos contrários à ênfase nessa data. Tanto o aspecto da cronologia que conduz a 1914 quanto o das “evidências físicas” (isto é, os “sinais do fim”, que, segundo a Sociedade, só se evidenciaram a partir de 1914) têm sido objetos de sério questionamento por parte desses. E, conforme a Sociedade dá a entender acima, eles também afirmam que os últimos dias começaram por volta do Pentecostes. Como isso também entra em conflito direto com 1914, a Sociedade diz que essa é uma ‘idéia apóstata’. O problema é que, para manter de qualquer maneira a importância restante que 1914 tem e ao mesmo tempo evitar dar razão a esses dissidentes, a Sociedade é obrigada a recorrer a esse tipo de acusação evasiva e, pior ainda, passar por cima de todas as evidências bíblicas que foram consideradas neste estudo.

6. Que diferença faz se os últimos dias começaram no primeiro século ou no século 20? Para a fé cristã, absolutamente nenhuma. A Bíblia, em nenhum lugar deixa implícito que os Cristãos dependeriam de uma data ou de um período histórico com início definido, para reforçar a sua fé no retorno de Cristo ou para ajudá-los a “manter a vigilância cristã”. Pelo contrário, em certos textos é até retirada toda a ênfase no fator tempo. Como apenas um exemplo, em Atos 1:7, lemos que o próprio Jesus, respondendo a uma pergunta dos apóstolos, disse-lhes que ‘não cabia a eles obter conhecimento dos tempos e das épocas de Deus’. Apesar desta declaração de Jesus, a mesma Sentinela mencionada acima diz (no parágrafo 15, página 25): “Não há nada de fundamentalmente antibíblico em usar a cronologia no empenho de descobrir ‘o tempo designado’ para o cumprimento dos propósitos de Deus.”

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Será verdade isso? Quem é que tem razão: Jesus ou a Sociedade Torre de Vigia? E quanto à “vigilância cristã”? Não é importante crermos que os últimos dias começaram em 1914 para ajudar-nos a mantê-la? Embora a Sentinela citada acima, diga que sugerir datas está “em harmonia com a injunção de Cristo”, o fato é que, biblicamente falando, tal idéia não tem a menor base. Jesus Cristo não disse isso. Uma simples consideração das palavras dele sobre este tema, deixa claro que a vigilância cristã deve ser mantida pela razão exatamente oposta. Apenas para citar as três referências diretas que ele fez sobre o assunto:

Portanto, mantende-vos vigilantes, porque não sabeis em que dia virá o vosso Senhor. (Mateus 24:42) Portanto, mantende-vos vigilantes, porque não sabeis nem o dia nem a hora. (Mateus 25:13) Portanto, mantende-vos vigilantes, pois não sabeis quando vem o senhor da casa, quer tarde no dia, quer à meia-noite, quer ao canto do galo, quer cedo de manhã; a fim de que, ao chegar ele repentinamente, não vos ache dormindo. (Marcos 13:35-36) Assim, considerando-se apenas o que a Bíblia diz, dificilmente poderíamos concluir que a vigilância cristã depende de cronologia ou de indícios físicos que tenham início após certo “ano marcado”. Não, o que Cristo disse simplesmente, é que tal vigilância deve ser baseada no fato de que realmente não sabemos quando é que ele vem. Juntando isso com o que ele disse aos apóstolos (em Atos 1:7), nós nem mesmo temos autorização para tentar calcular quando será isso. O problema não é uma pessoa ou um grupo ser obrigado a, por fim, abandonar ou esquecer datas ou períodos que foram sugeridos, devido ao fato de o tempo provar que tais não tinham realmente a importância que lhes era atribuída (e isso tem acontecido vez após vez no campo da religião). Antes, o que está errado é o próprio ato de tentar tirar conclusões cronológicas com base em interpretações particulares das Escrituras. Isso nada mais é que uma tentativa de “obter conhecimento” prévio dos “tempos e épocas” em que Deus há de agir. Quando alguém arrisca sugerir (ou até afirma convictamente e impõe a outros) que as promessas de Deus poderão ser cumpridas em certas datas ou ao fim de períodos históricos selecionados, isso, em si mesmo,já é uma desconsideração frontal do que Jesus disse. Mais sério ainda é mover processos judicativos com o fim de expulsar de qualquer maneira da congregação cristã os que já não concordam com esses ensinos sobre datas e depois classificá-los como “apóstatas” da pior espécie.

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A simples leitura na íntegra das três referências bíblicas que tratam dos “últimos dias” não dá o menor indício de que haja alguma data ou momento específico envolvido, que poderia ser chamada de seu “início oficial”. Tudo o que se apresenta, são informações sobre certas situações ou ocorrências que caracterizariam os últimos dias, enquanto período histórico. Tais podem ser ou de srcem divina (a concessão do espírito santo a humanos) ou de srcem humana (a vida difícil para os Cristãos e para o mundo em geral, devido ao comportamento de muitas pessoas). Incontestavelmente, pois, a própria Bíblia não diz e nem sugere o momento em que os últimos dias começaram oficialmente. E isso certamente não está sendo feito aqui nessa análise. Enfatizando a idéia, o que a Bíblia faz é simplesmente especificar certas condições típicas do período inteiro desses últimos dias, sendo que a primeira referência a eles é feita em conexão com o que ocorreu no Pentecostes (cuja data, aliás, por não ser fornecida na Bíblia, podemos apenas inferi-la aproximadamente). Essa conclusão de que tais condições se aplicam a todo o período do cristianismo é baseada no exame imparcial do que dizem estas referências e também no exame da história do período inteiro. O Novo Testamento enfatiza que são os ensinos e o exemplo de Cristo que constituem a verdadeira base da fé cristã . Ao longo dos quase vinte séculos que já se passaram desde o retorno dele ao céu, foi esse exemplo e esses ensinos que motivaram os seus seguidores, enquantopersistiam as condições que haveriam de ocorrer nos “últimos dias”.

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uem é, para a Sociedade Torre de Vigia, a ONU, Organização das Nações Unidas? A resposta parece óbvia para qualquer Testemunha de Jeová: a ONU é a imagem da fera. O livro “Clímax de Revelação”, uma releitura com pinceladas vivas – literalmente falando inclusive – de livros mais antigos, no caso “Caiu Babilônia a Grande” e “Reino de Deus de Mil Anos”, descreve uma poderosa fera com dois chifres de cordeiro, que é identificada como a potência mundial combinada Anglo-Americana; esta fera provê o sopro de vida e os recursos para que uma representação da fera de sete cabeças e dez chifres– os governos políticos humanos – venha à existência. O livro indica que esta representação da fera de sete cabeças e dez chifres simboliza a ONU, com sua sede fincada na margem do rio Hudson, Nova Iorque, e que na realidade é a sucessora da Liga das Nações, criada em Genebra logo após o final da primeira guerra mundial e desintegrada com a eclosão do segundo conflito mundial. A Organização das Nações Unidas (ONU) tem um papel tão importante nas interpretações proféticas da Sociedade Torre de Vigia que se atribuí a ela não apenas uma, mas duas figuras simbólicas do livro bíblico de Revelação.

A "imagem da fera"

O livro Clímax ilustra a “imagem da fera” do modo ao lado e acrescenta o seguinte: “Desde a Segunda Guerra Mundial, a imagem da fera – agora manifesta como a Organização das Nações Unidas – já matou em sentido literal.” - Pág. 195, parágrafo. 31

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A "fera cor de escarlate”

É deste modo que o livro Clímax retrata a "fera cor de escarlate", adicionando o seguinte ensino:

"Conforme se profetizou a respeito da fera de escarlate, a Ligaa das Nações foi para ocor abismo durante Segunda Guerra Mundial, mas foi revivificada como Nações Unidas " - Pág. 247 (legenda sob a ilustração)

Não somente nesta publicação, mas também em diversas outras, a Torre de Vigia expõe a ONU como “a imagem da fera” ou “a fera cor de escarlate” do livro bíblico de Revelação e procura mostrar o poder praticamente ilimitado daquela organização. Em 1995, a revista A Sentinela 1º de outubro, nas páginas 5 a 6, discorria sobre este tema e trazia entre seus parágrafos as seguintes afirmações:

A CARTA das Nações Unidas entrou em vigor em 24 de outubro de 1945. Trata-se da mais abrangente estratégia pela paz mundial já elaborada pelo homem. Com os 51 Estados que as integravam srcinalmente, as Nações Unidas tornaram-se a maior organização internacional na história do mundo. E, pela primeira vez, uma organização internacional teria acesso a um exército para impor paz e segurança e estabelecer um mundo sem guerra. Hoje, com 185 Estados-Membros, as Nações Unidas estão mais fortes do que nunca . Então, por que a organização internacional mais poderosa da História não alcançou plenamente seus nobres objetivos? Tais afirmações da Sociedade Torre de Vigia visam única e exclusivamente superdimensionar o poder e a posição da ONU, para que ela possa ser ajustada ao enfoque de "imagem da fera", ou representação única dos governos políticos, organismo que recebe deles e da potência dupla Anglo-Americana uma condição de governo central do mundo.

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Os líderes espirituais das Testemunhas de Jeová lá em Brooklyn respondem a esta pergunta em termos nada duvidosos. Veja:

Revelação - Seu Grandioso Cl ímax Está Próximo, pág. 279, 280. O ataque feroz do Diabo é vividamente descrito no capítulo 38 de Ezequiel. Ali, o rebaixado Satanás é chamado de "Gogue da terra de Magogue". Jeová põe ganchos figurativos nas maxilas de Gogue, puxando a ele e suas numerosas forças militares ao ataque. Como faz isso? Por fazer Gogue encarar Suas testemunhas como povo indefeso, "reunido dentre as nações, que está acumulando riqueza e bens, morando no meio da terra". Este povo ocupa o centro do cenário na terra, como o único que se nega a adorar a fera e sua imagem [ONU]. Sua força e prosperidade espirituais enfurecem a Gogue. De modo que Gogue e sua numerosa força militar, inclusive a fera que ascendeu do mar com seus dez chifres, afluirão todos para aplicar o golpe final. O povo limpo de Deus, porém, dessemelhante de Babilônia, a Grande, tem proteção divina! - Ezequiel 38:1, 4, 11, 12, 15; Revelação 13:1. Livro Profecia de Isaía s - Volume I, ano de 2000, pág . 153. Parágrafo 20: A fera representa a o rganização das Nações Unidas. Assim como o assírio do passado destruiu Samaria, a fera cor de escarlate [ONU] odiará a meretriz e a fará devastada e nua, e comerá as suas carnes e a queimará completamente no fogo. Parágrafo 21: Contudo, a fera [ONU] que destruirá Babilônia, a Grande, gananciosamente voltará seus olhos também para o povo de Jeová. Parágrafo 23: Ao tentar aniquilar o pov o de Jeová, o assírio moderno [ONU] estará na verdade lutando contra Jeová Deus e o Cordeiro, Jesus Cristo. Uma batalha que o assírio não poderá vencer. Como pôde ver, a ONU terá um papel proeminente no ataque às Testemunhas de Jeová. Foram ensinos como os acima que fizeram as Testemunhas de Jeová durante décadas encarar aquela organização com desprezo, repulsa e até... ódio.

Tudo isso era a mais clara “verdade” até...

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A ONU nasceu como uma organização para a manutenção da paz em âmbito internacional. Foi exatamente por esta razão que os “profetas” ad Torre de Vigia a adotaram para cumprir aqueles símbolos do livro de Revelação. Ocorre, porém, que a relevância da ONU tem sido gradativamente diminuída com o passar das décadas. A importância dela diminuiu especialmente após a queda do regime comunista no começo dos anos 90. Aqueles que acompanham os noticiários internacionais sabem que os Estados Unidos, como única potência militar e econômica mundial, juntamente com seus aliados farão o que desejarem independente do que a ONU, quer dizer, o seu Conselho de Segurança, diga. Um artigo recente do jornal O Estado de São Paulo alerta para o estado de abandono em que se encontra as Nações Unidas, afundada em dívidas desde que os EUA fecharam seus cofres para ela, desmoralizada como foro comunitário das nações e inútil como mecanismo mediador de negociações entre seus países membros. Enquanto isso destaca o artigo, o grupo dos chamados mais ricos do planeta, o G7+1, que congrega os sete países mais ricos do mundo, EUA, Grã-Bretanha, França, Japão, Alemanha, Canadá e Itália; com a adição da Rússia, um país pobre porém munido de ogivas nucleares herdadas no espólio da antiga União Soviética, é quem tem tomado aos poucos as rédeas do poder e prepara-se para assumir o comando dos lances futuros no destino da humanidade. A ONU já não tem grande influência - se é que algum dia o teve - e se sujeita servilmente ao G7+1 nas decisões que envolvem litígios político-militares entre os países, assunto dominado inteiramente pelos compadres do G7 apoiados relutantemente pela esfacelada potência Russa, Atlântico Norte. tendo como braço militar a OTAN, Organização do Tratado do Por esta razão as decisões não levam em conta a justiça ou os direitos humanos e sim, os interesses comerciais, militares e políticos do G7+1. Ao contrário das afirmações contidas nas publicações da Sociedade Torre de Vigia citadas acima, a ONU está mais fraca do que nunca. Em paralelo,a OMC, Organização Mundial do Comércio, é quem tomou as rédeas do comando no comércio internacional e se tornou o verdadeiro foro de julgamento e solução de litígios comerciais entre os países do mundo. Quando em breve for aceita a única potência mundial que ainda não pertence ao seu rol de membros, a China, estas duas organizações mundiais G7+1 e OMC - ditarão as normas da política e do comércio mundial em detrimento da falida ONU. Aos olhos de muitos analistas, a ONU tem estado a atuar como nada mais do que um órgão para a distribuição de roupas e alimentos , e para a administração de alguns campos de refugiados, quando o dinheiro não lhe falta. A incapacidade ONU de impedir ação os militar da OTAN em 1999 no Kosovo e,darecentemente, de uma impedir EUApordeparte invadirem o Iraque, comprovam o acima.

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A Torre de Vigia está, pelo visto, ciente disso e precisa urgentemente de mudanças para se adequar a esta nova realidade,falar mal da ONU colocando-a na posição de imagem da fera política de Revelação na realidade atual é absolutamente ridículo . É evidente que a ONU não detêm mais o poder a ela atribuído e a Sociedade corre o risco de ficar novamente em situação difícil, como ficou há alguns anos no caso da União Soviética. Naquela oportunidade, enquanto as rotativas off-set da Sociedade Torre de Vigia no mundo todo cuspiam publicações e a tinta ainda estava fresca no papel, o "Rei do Norte" elegido por ela - a União Soviética - se desmantelava no meio do furacão provocado pela "glasnost" e pela "Perestroika" do líder soviético Mikhail Gorbatchev. Por tudo isso, a Sociedade levou anos para assimilar o nocaute e reagir, tendo que apelar para um inacreditável malabarismo de interpretação para reinventar o tal Rei do Norte no livro "Profecia de Daniel". Parafraseando a Sociedade Torre de Vigia, "parece" que ela - escaldada por tombos e falhas anteriores - já estava atenta ao problema e começou a preparar uma "nova luz", que permitisse justificar um novo tratamento para com a ONU e talvez até uma nova aplicação ao texto de Revelação ou um novo personagem para vestir a fantasia de imagem da fera. Pelo menos é o que nos foi possível entender da abordagem da revista Despertai!, 22 de julho de 2001, como mostra a reprodução de uma de suas páginas:

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A Sociedade tratou de uma forma amistosa, até elogiosa pode-se dizer, uma iniciativa da ONU, no caso a declaração do ano de 2001 como o ano internacional dos voluntários, algo inédito e inimaginável há alguns anos, quando qualquer iniciativa que partisse da ONU era tratada com ironia e ridicularizada. As evidências eram claras ao indicar que mudanças estavam a caminho. Entretanto o mais interresante ainda estava por vir.

Em julho de 2001, ninguém entendeu completamente porque a Sociedade publicou na revista Despertai! um artigo de tom muito elogioso à ONU, mostrando o “Ano Internacional dos Voluntários”. Até que no final de 2001, o motivo desse artigo e de outros semelhantes veio à tona. O jornal britânico The Guardian, num artigo em 8 de Outubro de 2001, expôsum longo relacionamento de mais de 10 anos da Sociedade com a ONU. Foi descoberto que a organização Sociedade Torre de Vigia, mais especificamente a Watchtower Bible and Tract of New York, principal entidade controladora dos interesses jurídicos das Testemunhas de Jeová, estava relacionada como uma das ONGs (Organizações Não-Governamentais) associadas ao DPI (Department of Public Information) da ONU. O DPI é o departamento de relações públicas da ONU, encarregado de divulgar e promover na mídia, que seja ao ela,DPI, todas as iniciativas e campanhas Nações Unidas. Asqualquer ONGs associadas recebem a incumbência de levar das ao grande público todas as informações necessárias, divulgando os programas e incentivando a adesão do máximo de pessoas possível, visando, obviamente, o sucesso das iniciativas oriundas das entidades que compõem a Organização das Nações Unidas. Há algum problema em a Sociedade Torre de Vigia decidir utilizar seu grande aparato de comunicação para apoiar as campanhas da ONU, principalmente as de cunho humanitário? Do ponto de vista de um cidadão comum, desconhecedor dos ensinos da Sociedade, não há nenhum problema nisso, ao contrário, é ótimo. Do ponto de vista das Testemunhas de Jeová, porém, há pelo menos dois enormes problemas: 1) A Sociedade Torre de Vigia sempre criticou de forma incisiva a atuação da

ONU.

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2) As Testemunhas de Jeová não foram comunicadas do fato pelos homens do Corpo Governante, nem quanto ao ato da associação ao DPI, nem da dissociação, nem tampouco explicou a elas o que motivou estas atitudes.

Mas, o pior em tudo isso é que a Sociedade não tinha a mínima intenção de tornar pública a sua solicitação de associação ao DPI, ocorrida em 1991 e aprovada em 1992. O caso só veio à tona graças ao fato de sua razão social estar alistada em meio a centenas de outras organizações na página oficial do DPI, vinculado a página oficial da ONU na Internet. A repercussão negativa na imprensa e na Internet, principalmente na Grã-Bretanha, obrigou a Sociedade a solicitar sua exclusão do quadro de ONGs associadas ao DPI, fato que se deu no início de outubro de 2001. As acusações de hipocrisia das quais foi alvo a Sociedade Torre de Vigia não podem ser consideradas levianas, por serem fundamentadas em farta documentação, no caso, as próprias publicações que distribui. Afinal por inúmeras vezes, esta mesma Sociedade colocou a ONU, suas entidades associadas e as iniciativas promovidas por elas em posição altamente desfavorável junto as Testemunhas de Jeová e, por extensão, a todas as pessoas alcançadas por suas publicações. A Sociedade ridicularizou ao extremo a iniciativa da ONU em promover o ano de 1986 como o ano internacional da paz, apenas para citar um exemplo. Em adição, identificou a ONU e sua antecessora, a Liga das Nações, como a "imagem da fera" e a “fera cor de escarlate” do Livro de Revelação (ou Apocalipse) e como a "coisa repugnante" de um provável cumprimento hodierno da profecia de Jesus Cristo sobre a destruição de Jerusalém. Os fatos recém descobertos provocaram um grande abalo na já combalida credibilidade da Sociedade Torre de Vigia, que afirma ser a parcela física da organização visível de Deus na terra, assim como na de seu Corpo Governante, que reivindica a posição de único intérprete de profecias bíblicas autorizado por Deus e porta-voz legítimo da verdade divina. Ter sido associada da ONU, por meio do DPI, durante toda a última década, ao mesmo tempo em que sustentava ensinos escarnecedores sobre ela, publicando-os em suas revistas, livros e brochuras, configura uma posição assumidamente hipócrita e inescrupulosa.

Hipócrita - porque ensinava uma coisa e praticava o oposto simultaneamente, igual aos líderes religiosos que tanto critica. Inescrupulosa - porque a atitude, longe de revelar uma insuspeita preocupação com as ações humanitárias promovidas pelos órgãos das Nações Unidas, aponta para uma manobra típica dos piores políticos e empresários: escudar-se numa aparente atitude filantrópica para obter vantagens políticas ou financeiras.

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A hipocrisia é uma falta gravíssima em se tratando de líderes religiosos, por isso mereceu um tratamento duro e condenatório durante o ministério de Jesus. A Sociedade Torre de Vigia mergulhou fundo na hipocrisia religiosa ao criticar com insistência a ONU, por apresentá-la como uma usurpadora da posição que caberia unicamente ao Reino de Deus e, no entanto, solicitar associação a um dos órgãos que fazem parte da estrutura daquela organização. Foi aos píncaros da hipocrisia quando, depois de acusar o Papa e outros líderes religiosos de cometerem fornicação com a "Fera" política do mundo, por apoiar publicamente a Imagem da Fera, ela mesma mergulhou na tal fornicação antes condenada, só que às escondidas do público e de seu próprio povo, as Testemunhas de Jeová, que nunca souberam de nada e talvez muitas delas nunca venham a saber se não pesquisarem em sites na Internet ou na imprensa secular como no jornal inglês The Guardian. De uma certa ótica, talvez possa ser considerado ainda mais grave a segunda falha da Sociedade no caso de sua associação ao DPI da ONU: A falta de escrúpulos digna de políticos corruptos de terceiro mundo. Para melhor entender porque a atitude da Sociedade é inescrupulosa, é preciso analisar o histórico da situação que envolve a própria Sociedade Torre de Vigia e aqueles que ela sempre chamou de "coisa repugnante" e "imagem da fera", os governos políticos do mundo. Quando foram forjadas as interpretações da Sociedade que deram vida aos personagens do livro bíblico de Revelação, a Fera como sendo os governos políticos do mundo e a Imagem da Fera como sendo a ONU, a realidade do mundo era bem outra. O clima era belicista no período anterior e posterior à Segunda Guerra Mundial e nesta condição, com os governos investindo enormes somas de dinheiro no desenvolvimento de armamentos e meios de defesa, as questões sociais estavam relegadas a um plano secundário. A falta de recursos das classes mais baixas, sempre um terreno fértil de insatisfação com os governos políticos, e o medo generalizado de estar à beira de um holocausto nuclear global, propiciou à Sociedade Torre de Vigia uma condição muito favorável, pois além de prometer a vida eterna num futuro paraíso sob a regência do Reino de Deus, ela também atendia a um anseio da época, empunhando uma bandeira de oposição àqueles que provocavam os temores das pessoas comuns:governantes políticos instáveis munidos de armas nucleares ou ditadores opressivos e uma organização mundial que prometia a paz mas não conseguia administrar as ambições políticas e comerciais de seus países membros. No caldeirão fervente que foi o mundo durante o período da guerra fria, principalmente nas nações européias e nos EUA, a Sociedade Torre de Vigia teve o seu período áureo de crescimento, ampliando seu alcance quase os países do de planeta. o objetivo deste artigo afirmar quepara o fato da todos Sociedade Torre Vigia Não ter éempunhado a bandeira antiONU e antigovernos políticos, foi, de forma única e isolada, o motivo de sua explosão de crescimento nas décadas de 50, 60 e 70. Não seria verdadeiro, pois

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havia diversos outros fatores, que foram da mesma maneira fundamentais para o projeto de crescimento idealizado por Nathan H. Knorr na década de 40. O fator tratado aqui fez parte de um conjunto de doutrinas, interpretações proféticas e ensinos comportamentais que formaram a base da estrutura montada por Knorr e Frederick Franz para alcançar o objetivo programado. Na década de 80 a Sociedade Torre de Vigia ainda colheu os últimos frutos de sua safra, cultivada no medo da guerra nuclear global e da inoperância da ONU. As coisas no entanto estariam em profunda mutação no final daquela década. A União Soviética, eleita o "rei do norte" pelas publicações da Sociedade, desfez-se, revelando a miséria de seu povo por trás dos poderosos armamentos nucleares. Um holocausto nuclear deixou de povoar os pesadelos do ser humano médio, pelo menos até o dia 11 de setembro de 2001, dia em que ocorreram os atentados suicidas em Nova Iorque e Washington. A ONU passou a ser vista como um ineficaz foro de conflitos entre as nações, por outro lado, passou a ser vista como um organismo internacional com facilidade para congregar as organizações da chamada terceira via ou terceiro poder, que são as ONGs, entidades nãogovernamentais, que podem contribuir ou angariar recursos, promover e apoiar iniciativas de caráter humanitário. A ONU adquiriu respeitabilidade por seu trabalho no combate a fome e ao analfabetismo nos países mais pobres. Enfim, a sociedade civil nos países mais desenvolvidos e mesmo alguns governantes políticos, passaram a priorizar fatores anteriormente esquecidos como os direitos humanos. Neste ponto, por possuir doutrinas peculiares como a proibição de transfusões de sangue e por tratar de forma desrespeitosa e discriminatória os que saem de suas fileiras, a Sociedade Torre de Vigia passou a ser vista como uma seita potencialmente perigosa e destrutiva. Não era a imagem pública ideal que desejava a organização que lidera as Testemunhas de Jeová, pois significava uma conseqüente desaceleração nos índices de crescimento nos paísescom população mais esclarecida , algo nada bom para os negócios. Mas haveria um efeito colateral ainda mais devastador, este sim atingindo em cheio o departamento financeiro da Sociedade Torre de Vigia: o pagamento de impostos. Ao ser acusada de violar direitos humanos e representar perigo potencial para seus adeptos, a Sociedade passou a ser alvo dos órgãos de captação de impostos em diversos países onde atua. Isso devido ao fato dela ter obtido anteriormente o benefício da isenção de impostos, por se autodenominar uma organização não lucrativa, variando apenas os objetivos conforme as legislações locais. Provedora de ensino religioso em alguns, filantropia em outros e assim por diante. Tanto isto é verdade, que em alguns países as Testemunhas de Jeová não solicitavam contribuições por revistas e livros deixados ao morador há anos, enquanto no Brasil, apenas recentemente este novo formato foi adotado.

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No início da década passada, os dirigentes da Sociedade Torre de Vigia solicitaram associação ao DPI das Nações Unidas e foram aceitos, comprometendose com isso a apoiar os ideais da Carta das Nações Unidas, que é a primeira exigência para tornar-se um associado. Um gigantesco paradoxo para uma organização que criticava abertamente os mesmíssimos "ideais", publicando centenas, talvez milhares, de vezes a sua posição em revistas, livros, etc. Provavelmente por este motivo, tentou e conseguiu manter a ligação em secreto por quase 10 anos. Naquele momento, porém, mais importante do que a coerência doutrinal eram os benefícios que uma ONG associada a ONU poderia obter. Tratava-se de uma tentativa para melhorar a sua imagem junto às autoridades, angariando respeito e confiabilidade, muito importantes em eventuais defesas junto a órgãos de arrecadação tributária. Considerando a quantidade de material condenatório publicado pela Sociedade Torre de Vigia nas últimas décadas e a imagem demoníaca da ONU que ela implantou na mente das Testemunhas de Jeová, pode-se dizer sem medo de erro, que este é o maior caso de hipocrisia religiosa já registrado na história das religiões cristãs. Escondido por trás deste fato, a falta de escrúpulos que motivou a aliança com o inimigo declarado, ou melhor, a venda de seus ideais anteriores em troca de uma posição mais favorecida junto aos governantes humanos, muito possivelmente com o intuito de diminuir os riscos de ser assolada por taxas e impostos, é da mesma maneira digna de repúdio. Se a Sociedade foi bem sucedida ou não, se realmente obteve facilidades com sua associação ao DPI da ONU, é algo que talvez nunca poderemos saber. Porém, mesmo não tendo conseguido obter vantagens, a intenção motivadora por si só revela a vocação extra-religiosa da Sociedade Torre de Vigia. Não que o pendor para os negócios seja uma novidade, algo recente. De forma alguma, desde a ascensão de Nathan Knorr ao poder as coisas caminham desta forma e a Sociedade foi transformada em uma empresa de negócios. Mesmo assim, nem ele conseguiu chegar tão longe. Assim, diante de todos os fatos apresentados acima, a Sociedade Torre de Vigia não teve alternativa a não ser seguir o caminho mostrado a seguir.

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Num artigo de A Sentinela, a Sociedade no seu tradicional estilo, sutil e cauteloso, deu indicações de que as interpretações proféticas indicando a ONU como sendo “a imagem da fera” e “a fera cor de escarlate” pertencem ao passado. Isto para o espanto das Testemunhas de Jeová que perceberem as implicações do que ali está escrito.

A Sentinela de 1º de Jun ho de 2003, página 20 Gogue de Magogue é identificado como sendo Satanás, o Diabo, na sua condição rebaixada desde 1914. Ele, como criatura espiritual, não pode executar seu ataque diretamente, mas usará agentes humanos para fazer isso. Quem serão esses agentes humanos? A Bíblia não n os for nece por menores, mas nos dá certos indícios que podem nos ajudar a identificar quem serão. Ao passo que se desenrolam os acontecimentos mundiais em cumprimento das profecias bíblicas, aos poucos obteremos um quadro ainda mais claro. O povo de Jeová evita especulações, mas continua espiritualmente vigilante, plenamente apercebido dos acontecimentos políticos e religiosos que se encaixam no cumprimento da profecia bíblica. Como vê, a Sociedade Torre de Vigia parece remover a ONU de seu emaranhado de interpretações. Quando ela própria pergunta quem serão os “agentes humanos” que atacarão o “povo deDeus”, a resposta agora é “a Bíblia não nos fornece pormenores”. Mas esperem um pouco! Segundo as muitas publicações da Torre durante todo este tempo, não era a ONU quem faria este ataque? O fato é que a Bíblia não nos fornece e jamais nos forneceu tais pormenores. De onde tirou, então, a Sociedade os pormenores que durante décadas caracterizaram suas explicações desse assunto? Quantos outros “pormenores” têm a Sociedade inventado ao longo de suas décadas de existência? É de interesse notar a frase“aos poucos obteremos um quadro ainda mais claro” pois isso transmite a idéia de que o quadro é claro; a Testemunha de Jeová, afinal, não pode ter sua confiança na Torre de Vigia, sua mentora espiritual, abalada. Mas o mais incrível é o que se lê em seguida: “O povo de Jeová evita especulações”. Esta é demais! A Testemunha de Jeová individual obviamente não surge com este tipo de especulação! Quem foi que durante décadas “especulou” isso à exaustão? Exatamente, leitor, foi à própria Sociedade Torre de Vigia! que agora num tom que evoca sabedoria e prudência diz que o coletivo “povo de Deus” deve evitar especulações.

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A fraseologia do parágrafo da Sentinela acima é propositalmente vaga de modo a permitir a maior flexibilidade possível. É simplesmente arriscado demais para a Sociedade Torre de Vigia introduzir mudanças de modo aberto e direto, como já fez em vezes anteriores. As pessoas hoje estão muito mais conectadas e uma interpretação desfavorável pelos "irmãos" pode gerar danos irreparáveis ao número de adeptos. A Sociedade Torre de Vigia precisa“sentir” a reação da comunidade internacional das Testemunhas de Jeová primeiro. Esse 'testar o mercado' tem se tornado, aliás, uma constante em anos recentes. O parágrafo acima da Sentinela é apenas mais um exemplo disso. Portanto, ao passo que muitas Testemunhas de Jeová olham com espanto para o que lêem, mais uma peça da grande coleção de alegorias da Sociedade Torre de Vigia parece estar agora descartada.

ONU, ilustração do livro Novos

Céus e Uma Nova Terra, de 1953, pág. 277.

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A QUESTÃO DO SANGUE abstinência de carne bovina caracteriza o hinduísmo; a abstinência caracterizacaracteriza o judaísmo; abstinência de de transfusões de de carne sanguesuína ou derivados as aTestemunhas Jeová. Se há, por assim dizer, uma 'marca registrada', uma coisa pela qual as Testemunhas de Jeová sejam mundialmente conhecidas e, ao mesmo tempo, impopulares, esta é a sua exótica política contra o uso medicinal do sangue. Todavia, nem sempre foi assim. Na verdade, a maioria esmagadora das Testemunhas de Jeová em nossos dias não faz a mínima idéia de qual era a postura de sua 'mãe espiritual' (a Sociedade Torre de Vigia) até o início dos anos 40. A primeira menção sobre o tema foi feita ainda no século 19, porém com uma visão totalmente diferente daquela sustentada pelas testemunhas de Jeová nos últimos 60 anos. Trata-se do comentário feito pelo fundador da religião (C. T. Russell) na publicação Torre de Vigia de Sião de 15 de novembro de 1892 , no qual, analisando a decisão do concílio apostólico de Atos, capítulo 15, ele diz:

"[Tiago]dossugeriu, mais adiante, escrever-lhes para simplesmente das impurezas ídolos (versículo 29), das coisas estranguladas e do sangueabsterem-se (como se, por comerem tais coisas, eles estivessem se tornando pedras de t ropeço para seu s ir mãos judeus, vide 1 Cor. 8:4-13) e da fornicação." Vemos aqui que o entendimento do 'pastor' Russell era semelhante ao da quase totalidade dos teólogos no que se refere a esta passagem bíblica. Cerca de quinze anos depois, em 1909, ele confirmaria este mesmo entendimento. Na página117 de A Sentinela de 15 de Abril daquele ano, Russell esclarecia que os cristãosnão viam a decisão quanto à 'abster-se de coisas sacrificadas a ídolos e de sangue' como sendo "uma lei", nem isto fazia deles "cristãos", mas servia meramente como um meio de manter a harmonia com os judeus recém-convertidos ao cristianismo. Russell morreu pensando assim. Seus sucessorescom trataram de mudar este entendimento, conseqüências dramáticas até a atualidade.

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A primeira interpretação desastrada do capítulo 15 de Atos e 6 de Gênesis surgiu em 1923, com um inflamado artigo na revistaA Idade de Ouro , deflagrando a campanha contra a vacinação pública, a qual duraria cerca de 30 anos. Por essa época, aplicava-se o entendimento dos textos bíblicos como se referindo exclusivamente aos animais. Isto colocava a prática da vacinação na mira dos 'teólogos' da Sociedade Torre de Vigia, ao passo que passava por alto as transfusões de sangue humano. Na verdade, a organização elogiou a doação de sangue por duas vezes, uma em 1925 e outra em 1940. Veja o que diz estes artigos:

O Sr.B.W Tibble, de Londres, Inglaterra, em quarenta e cinco ocasiões diferentes doou um litro de sangue, para transfusão aos pacientes do Hospital de Londres. A taxa normal é de cinco guincas, 25 dólares, mas Tibble sempre se recusou a receber qualquer pagamento por seus serviços. Ele foi honrado com a Ordem do rei. (A Ida de de Ouro, 29 de Julho de 1925, pág. 683).

“...um dos médicos na emergência principal doou um quarto de seu sangue para transfusão, e hoje a mulher vive e sorri25 alegremente...” (Consolação, de Dezembro de 1940, pág. 19)

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Infelizmente, este entendimento do assunto duraria menos de cinco anos à frente, pois um artigo de A Sentinela de 1 de Julho de 1945, em inglês, declararia: “...[o uso do sangue] era para ser feito sobre o alta r sagrado... e não por tomar tal sangue diretamente dentro do corpo humano... As transfusões de sangue [são] pagãs [e] desonram a Deus.”

Foi o começo de tudo. Após a malfadada campanha contra as vacinas, a Sociedade Torre de Vigia centrava agora seu ataque no uso medicinal do sangue. Todavia, da mesma forma que no episódio das vacinas, a doutrina não tardaria a esbarrar em sérios obstáculos científicos e lógicos, produzindo uma das mais incríveis seqüências de idas e vindas, com conceitos sendo constantemente reformulados. Um breve exame histórico do desenvolvimento desta doutrina vai nos permitir contemplar o seu naufrágio na areia movediça da inconsistência e da contradição. Vejamos:

1925 - A edição de A Idade de Ouro de 29 de Julho, pág. 683, tece comentários elogiosos aos doadores habituais de sangue (conforme transcrição acima). Praticamente nenhuma Testemunha de Jeová hoje sabe disso. 1940 - A edição de Consolação de 25 de Dezembro classifica (conforme transcrição acima) como 'heróico' o ato de um doador de sangue que salvara a vida de uma senhora. Outro fato ignorado pelas Testemunhas de Jeová da atualidade. 1945 - A edição de A Sentinela de 1 de Julho condena (conforme transcrição acima) o uso medicinal de sangue e derivados. Ironicamente, a versão holandesa da revista Consolação, apenas dois meses mais tarde, diria: "Deus jamais emitiu decretos proibindo o uso de medicamentos, injeções ou transfusões de sangue. Tudo não passa de invenções de pessoas que, como os fariseus, desprezam o amor e a misericórdia de Deus." Consolação de Setembro de 1945, pág. 29 (em holandês) Este desconcertante episódio serve para demonstrar quão súbita foi à mudança doutrinal. O responsável (ou responsáveis) pela revista na Holanda talvez não estivesse a par da repentina reviravolta e simplesmente manteve a política anterior. Provavelmente, houve uma falha de comunicação. Em todo caso, fica óbvio que ele próprio era incapaz, mediante a leitura da Bíblia, de chegar à mesma conclusão que a Sociedade chegara. A partir do relato, vê-se que ele teve um entendimento totalmente oposto.

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1954 - A edição de 8 de Agosto de Despertai!, pág. 24 (em inglês), condena pela primeira vez - o uso de "frações" do sangue, tais como a gamaglobulina: “...a proteína sanguínea ou 'fração' conhecida como gamaglobulina para uma injeção...aqueles interessados no aspecto bíblico notarão que o fato de ser ela obtida do sangue integral coloca-a na mesma categoria das transfusões de sangue”

1956 - A Sociedade Torre de Vigia confirma o banimento às "frações" sanguíneas, novamente emDespertai!, edição de 8 de Setembro, pág. 20 (em inglês): “Enquanto este médico defende o uso de certas 'frações' sanguíneas, particularmente albumina, tal uso está sob proibição bíblica. "

1958 - Subitamente, a organização volta atrás e afirma que o uso de 'frações' do sangue e as transfusões não estão na mesma categoria.A Sentinela de 15 de Setembro, pág. 575 (em inglês), diz: “Devemos considerar a injeção de soro... e frações do sangue como a gamaglobulina na corrente sanguínea... como o mesmo que ingerir sangue ou tomar transfusões de sangue ou plasma? Não, não parece necessário que os ponhamos na mesma categoria, embora o tenhamos feito algum tempo atrás.”

Assim, a Sociedade Torre de Vigia libera, pela primeira vez, o que havia proibido. Por outro lado, um comentário na seção "Perguntas dos Leitores" de A Sentinela de 1 de Agosto deste ano, pág. 478 (em inglês), considera uma eventual aceitação de transfusão como sinal de "imaturidade", não provendo base para disciplina severa por parte da congregação.

1959 - A organização fecha gradualmente o cerco em direção a uma postura mais radical, condenando até a transfusão autóloga, ou seja, aquela em que a pessoa recebe parte de seu próprio sangue, recolhido antes da cirurgia: “Conseqüentemente, a remoção do sangue de alguém, armazenando-o e depois devolvendo-o à mesma pessoa constituiria uma violação dos princípios bíblicos...se o sangue for armazenado, mesmo por um breve período de tempo , isto seria uma violação das escrituras..."

- A Sentinela 15/10/1959, pág. 640 (em inglês)

1961 - Sai o famigerado artigo no qual a Sociedade Torre de Vigia define sangue transfundido como alimento. Para isso, recorre ao comentário do médico Jean Baptiste Denys :

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"Não faz diferença que o sangue seja introduzido no corpo através das veias em vez de através da boca. Também não tem peso a alegação de alguns, de que não é o mesmo que alimentação intravenosa. O fato é que isso nutre ou sustém a vida do corpo. Em harmonia com isto, está uma declaração no livro Hemorrhage and Transfusion [Hemorragia e Transfusão], de George W. Crile, A.M., M.D., que cita uma carta de Denys, médico francês e investigador pioneiro no campo das transfusões. Diz: 'Ao realizar uma transfusão, isso nada mais é do que nutrir através de um caminho mais curto do que o normal -- ou seja, colocar nas veias sangue já feito em vez de tomar alimento que só depois de várias mudanças se transforma em sangue.'" - A Sentinela 15/9/1961, pág. 558 (em inglês) O que o artigo acima deixa de mencionar é que a declaração evocada como apoio para a doutrina do sangue foi emitida, não na década de 60, mas no século dezessete, sendo, portanto totalmente obsoleta. Nesse mesmo ano, a edição de A Sentinela de 1 de Dezembro, pág. 736 (em português), finalmente estabelece a punição para todo aquele que persistir em aceitar uma transfusão de sangue ou doar sangue: “...se, no futuro, ele persistir em aceitar transfusões de sangue ou em doar sangue...ele mostra que não se arrependeu realmente...e deve ser cortado [da congregação] por ser desassociado.”

Fica claro, pois, que se trata de umadeterminação organizacional. Ainda nesse ano, um artigopelo em sangue. A Sentinela (15/9) neste afirmaano, queaimpulsos suicidas são transmitidos Também, Sociedadehomicidas Torre de eVigia muda novamente sua postura com relação às 'frações' de sangue,condenando-as pela segunda vez: “É errado suster a vida mediante infusões de sangue, plasma, glóbulos vermelhos ou várias frações de sangue? Sim! ...Quer seja sangue integral quer fração do sangue, ... quer seja administrado por transfusão ou por injeção, a lei divina se aplica... [Deus] requer respeito pela santidade do sangue ”

- A Sentinela 15/3/1962, pág. 174 (em português)

1963 - A Sociedade Torre de Vigia continua a reiterar a proibição do uso medicinal do sangue, seja em transfusões seja em quaisquer derivados: s de que sangue ... são uma prática..." antibíblica ... não15/7/1963, apenas sangue mas“...Transfusõe qualquer coisa se derive do sangue - A Sentinela pág. integral, 443 (em português)

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1964 - A organização muda novamente e considera "questão de consciência" o uso de 'frações' sanguíneas (A Sentinela de 15/11, em inglês): “...Assim, deixamos para a consciência de cada indivíduo determinar se deve se submeter a uma inoculação com soro contendo frações de sangue com o propósito de produzir anticorpos para combater doenças..."

Aqui, as 'frações' de sangue sãoliberadas pela segunda vez. Também, neste ano, um artigo de A Sentinela (15/11) autoriza médicos adeptos da religião a realizarem transfusões de sangue em pacientes não-adeptos.

1965 - Durante este ano, a postura favorável ao uso das 'frações' de sangue é mantida: “...Já que [os soros] não envolvem o uso de sangue como alimento para nutrir o corpo, algo que a Bíblia condena diretamente, seu uso é matéria para a consciência de cada um."

- Despertai! de 22/8/1965, pág. 18 (em inglês)

1966 - Pouco antes da proibição dos transplantes de órgãos - classificados como 'canibalismo' - a Sociedade Torre de Vigia ensaia a primeira comparação com respeito ao sangue: “É alguém a quem repugna desobe decer a lei de Deus? Então, tomar sangue lhe é tão desprezível como o canibalismo."

- A Sentinela de 1/1/1967, págs. 16,17 (em português)

1967 - Os pais são incentivados pela organização a não permitirem que seus filhos pequenos recebam uma transfusão de sangue: “De modo correto, [os pais] tentam evitar que seus filhos recebam sangue de outrem em seus corpos."

- A Sentinela de 1/12/1967, pág. 724 (em inglês)

1972 - A Sociedade Torre de Vigia relembra a proibição das transfusões autólogas: “A Bíblia mostra que o sangue não deve ser retirado do corpo, armazenado e

posteriormente reutilizado." - Despertai! de 8/4/1972, págs. 29,30 (em inglês)

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1974 - A postura com respeito às 'frações' de sangue - tomada dez anos antes - é mantida: “Que dizer, então do uso dum soro que contenha apenas uma fração minúscula do sangue e que seja empregado para prover uma defesa auxiliar contra uma infecção, não sendo empregado para realizar a função sustentadora da vida, normalmente desempenhada pelo sangue? Cremos que isto deve ser decidido pela consciência de cada cristão."

- A Sentinela de 15/10/1974, pág. 640 (em português)

1975 - A Sociedade Torre de Vigia - por incrível que pareça -muda novamente sua postura concernente ao uso de 'frações' do sangue, desta vez com respeito ao tratamento de pacientes hemofílicos: “Certos fatores plasmáticos de coagulação acham-se agora em amplo uso... os que recebem tal tratamento enfrentam outro perigo mortífero... quase 40% dos 113 hemofílicos apresentaram casos de hepatite... todos receberam sangue integral, plasma ou derivados sanguíneos que continham os fatores . Naturalmente, os cristãos não utilizam este tratamento potencialmente perigoso, acatando a ordem bíblica de 'abster-se de sangue'."

- Despertai! de 22/10/1975, pág. 29 (em português) Do artigo acima se subentende que o uso de 'frações' (derivados) de sangue foi proibido - pela terceira vez! Esta política duraria - pelo menos oficialmente - cerca de 3 anos e não há meios de saber quantas vidas se perderam neste período por conta deste entendimento. No início dos anos 70 recomendava-se às Testemunhas de Jeová que aceitassem o uso de 'frações' de sangue apenas uma única vez. Todavia, ainda no ano de 1975, por volta do mês de junho, a organização instruía aqueles que buscavam contato telefônico a tomarem pessoalmente a decisão de aceitar ou não o uso de fatores de coagulação. Há razões para crer que tal postura não foi publicada neste mesmo ano porque representaria uma mudança muito brusca, suscitando contestações e - quem sabe - ações judiciais. Àqueles que enviaram correspondência, a nova postura extra-oficial foi transmitida. Infelizmente, não havia como contatar de volta aqueles que apenas telefonaram. Pode-se apenas conjeturar sobre o que teria acontecido a estes pacientes até o ano de 1978, quando, finalmente, a mudança doutrinal foi anunciada.

1977 - A Sociedade reconhece que a transfusão de sangue não passa de um transplante de órgão - proibido desde 1967:

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“...uma pessoa poderia rejeitar sangue simplesmente porque se trata essencialmente de um transplante de órgão, o qual, na melhor das hipóteses, é apenas parcialmente compatível com seu próprio sangue."

- As Testemunhas de Jeová e a Questão do Sangue , pág. 41 (em inglês) Três anos mais tarde, os transplantes seriam liberados. A analogia, porém, foi esquecida, as transfusões continuavam proibidas.

1978 - O Corpo Governante das Testemunhas de Jeová reverte totalmente seu entendimento de três anos atrás. Repare o leitor o que diz este artigo: “...Que dizer se aceitarem injeções de soro para combater doenças tais como... difteria, tétano, hepatite por vírus, hidrofobia, hemofilia e incompatibilidade de RH? Isto parece cair numa zona de questões limítrofes... alguns cristãos acham que aceitar uma pequena quantidade de d erivado de sangue para tal fim não é... desrespeito pela lei de Deus... adotamos atitude de que esta questão precisa ser resolvida por cada pessoa, por decisão pessoal."

- A Sentinela de 15/10/1974, pág. 640 (em português) Não se pode concluir outra coisa, a não ser que o uso de 'frações' de sangue foi liberado - pela terceira vez! Vemos também que a Sociedade Torre de Vigia introduz um novo conceito de ' zona limítrofe', uma área de indefinição sobre o que é certo ou errado.

1980 - A Sociedade Torre de Vigia cria as Comissões de Ligação aos Hospitais (COLIH). O objetivo de tais comissões é fazer contato com médicos que aceitem fazer cirurgias sem sangue ou derivados e 'assessorar' as Testemunhas em sua postura contrária ao tratamento tradicional, assegurando que este não seja administrado a um paciente inconsciente, mesmo em risco de morte. 1982 - O Corpo Governante introduz, embora de maneira não explícita, a teoria dos componentes "maiores" e "menores" do sangue: “Embora estes versículos não estejam expressos em termos médicos, as Testemunhas de Jeová consideram que proíbem a administração de transfusões de sangue total, de GV's e de plasma, bem como de GB's e de plaquetas sob forma concentrada. Entretanto, o entendimento religioso das Testemunhas não proíbe de modo absoluto o uso de componentes como albumina, as imunoglobulinas e os preparados anti-hemofílicos;

cabe a cada pessoa decidir individualmente se deve aceitar esses." - Despertai! de 22/12/1982, pág. 22 (em português)

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1983 - A condenação à transfusão autóloga permanece, mas a circulação sanguínea extracorpórea é autorizada: “...o sangue é sagrado... quando retirado do corpo de uma criatura, deve ser devolvido a Deus por derramá-lo no seu escabelo, a terra... Portanto, como poderia ser correto armazenar seu sangue (mesmo que apenas por um período relativamente curto) e depois repô-lo no seu corpo? [E se] seu sangue [fosse] canalizado através de um equipamento fora do seu corpo e então reposto imediatamente? Alguns acharam que podem permitir isso com a consciência limpa desde que o equipamento seja aprontado com líquido que não é sangue. Consideraram a aparelhagem externa como extensão de seu sistema circulatório..."

- Unidos na Adoração do Único Deus Verdadeiro (1983), pág. 157 (em português)

1984 - O transplante de medula óssea é assunto de decisão pessoal. Entretanto, o fato de a medula transplantada poder conter certa medida de sangue pode desencorajar a Testemunha de Jeová a recebê-la, mesmo diante do risco envolvido em tal decisão, a saber, a morte iminente. É o que diz A Sentinela de 15 de Novembro, págs. 31 e 32. Também neste ano, o Corpo Governante recua de seu equívoco científico de 1971, não mais afirmando que o coração exerce qualquer papel referente às emoções e à cognição. 1985 - A Sentinela 15 de Agosto págs. 22 e 23, num artigo sobre a contaminação de milhares de receptores de sangue ou derivados com o vírus da AIDS evoca este fato em apoio de sua doutrina. Entretanto, isso seria o mesmo que promover a doutrina judaica de não comer carne de porco ou a doutrina hindu de não comer carne de gado bovino sob a alegação de que tais medidas evitariam doenças como a teníase ("solitária"). É interessante lembrar que as razões apontadas pela liderança das Testemunhas de Jeová para a rejeição do uso medicinal do sangue são de natureza teológica, não médica. O uso de certos fármacos (penicilina e anestésicos, por exemplo) também envolve riscos à saúde (choque anafilático é um deles) e nem por isso as Testemunhas de Jeová fazem objeção bíblica ao seu uso. 1988 - A revista Despertai! de 8 de Outubro, pág. 11, relatou que cerca de 12 mil americanos hemofílicos haviam sido contaminados com AIDS, sugerindo que a doutrina das Testemunhas de Jeová punha seus adeptos a salvo de tal risco. Entretanto, o artigo omitiu o fato de que, em muitos casos, a via de contaminação foi, não a transfusão de sangue integral, mas a administração defatores de coagulação, agora permitidos pela religião. Em outras palavras, a doutrina não estava provendo proteção alguma aos hemofílicos. Matérias como essa acabam por desviar convenientemente a atenção do leitor do fundo religioso da doutrina. A Sociedade Torre de Vigia faz clara seleção de evidência, omitindo os casos em que o tratamento salvou ou prolongou vidas e concentrando-se naqueles em que houve

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complicações. Essa estratégia tem um objetivo, incutir na mente da Testemunha de Jeová a idéia de que os fracassos e riscos da terapia constituem evidência adicional de que a doutrina de sua organização é divinamente inspirada.

1989 - Mais uma vez a organização condena as transfusões autólogas. No entanto, autoriza a hemodiluição: “...esse uso de sangue autólogo . As Testemunhas de Jeová, porém, não aceitam este procedimento. Há muito entendemos que tal sangue estocado não é mais parte da pessoa. Foi totalmente removido dela, assim, esse sangue deve ser descartado em harmonia com a lei de Deus... Em um processo diferente, sangue autólogo pode ser desviado de um paciente para um dispositivo de hemodiálise (rim artificial) ou máquina cárdio-pulmonar. O sangue flui através de um tubo para o órgão artificial... e retorna ao sistema circulatório... Alguns cristãos têm permitido isso desde que a máquina não seja preparada com sangue... Um cristão, tendo que decidir quanto a se permite que seu seja desviado por algum dispositivo externo, deve ponderar, não primariamente sobre se uma breve interrupção do fluxo poderia ocorrer, mas se ele conscienciosamente consideraria o sangue desviado como parte de seu sistema circulatório... E quanto à hemodiluição ?... alguns cristãos têm aceito, outros têm recusado. Novamente, cada indivíduo deve decidir..."

- A Sentinela de 1/3/1989, págs. 30,31 (em português) Neste mesmo ano, pareceu haver uma notável falta de comunicação dentro dos prédios da organização, pois o autor da brochura Como Pode o Sangue Salvar sua Vida?, pág. 27 (em inglês), escreveu: “Técnicas para coleta intraoperativa ou hemodiluição que envolve armazenamento de sangue são objetáveis para eles."

Das duas uma, o autor do artigo não estava a par da postura da organização ou a Sociedade Torre de Vigia havia mudado de opinião mais uma vez. As duas opções são ruins. A primeira revelaria falta de harmonia e responsabilidade para com o bem-estar dos milhões de leitores e a segunda, falta de senso quanto ao que é certo ou errado. O que torna mais contraditório o argumento desta brochura é o fato de a própria organização reconhecer - emA Sentinela de 15/6/1985 - que, para obter os fatores de coagulação para o tratamento de um único paciente hemofílico, é necessária a contribuição de mais de 2500 doadores, cujo sangue é "estocado" e processado. No entanto, tal tratamento foi liberado aos adeptos hemofílicos desde 1974, enquanto que a mesmíssima estocagem para transfusão autóloga (ou hemodiluição) era condenada. Por que aceitar a estocagem de milhares de doadores não-adeptos, ao passo que os beneficiados não podem retribuir o gesto? Por que o uso do sangue de uns é tolerado e o de outros, condenado?

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1990 - A Sociedade Torre de Vigia dá agora uma roupagem mais 'científica' à sua doutrina dos componentes "maiores" e "menores" do sangue: “Os Componentes Principais do Sangue... Plasma: cerca de 55% do sangue. 92% dele é água; o resto é composto de proteínas complexas, tais como globulinas, fibrinogênio e albumina. Plaquetas: aproximadamente 0,17% do sangue. Glóbulos brancos: cerca de 0,1%. Glóbulos vermelhos: cerca de 45%."

- Despertai! de 22/10/1990, pág. 4 (em inglês) Até hoje, não se sabe exatamente qual é a importância de tal 'tecnicismo' no tocante à doutrina cristã. Tampouco se sabe em que parte das Escrituras o Corpo Governante apoiou-se para legislar tão minuciosamente sobre o que pode ou não ser considerado "maior" ou "menor", "principal" ou "secundário" no tecido sanguíneo. Caso uma Testemunha de Jeová seja indagada sobre estas questões, dificilmente saberá como embasá-las biblicamente. Ainda em 1990, um artigo publicado em A Sentinela de 1 de Junho, na seção "Perguntas dos Leitores", autoriza o uso de 'diminutas' frações do plasma de um doador, tais como anticorpos, fator RH, fatores de coagulação para hemofílicos e albumina. Note o leitor que todos estes são parte de um componente anteriormente definido como "principal" (plasma) e, portanto, proibido. Exatamente onde a Bíblia proíbe o uso do todo, mas admite o uso de uma 'fração' do todo? É admissível a um cristão o usufruto de uma 'fração diminuta' do pecado? Também, no artigo acima mencionado, salienta-se que a "transferência natural de algumas frações protéicas do plasma para o sistema sanguíneo de outrem [no caso, da mãe para o feto] pode ser outro fator a ser considerado quando o cristão tem de decidir se aceitará imunoglobulina, albumina ou injeções similares de frações do plasma". Mais uma vez a organização esbarrou na ciência, pois por volta desta mesma época, constatou-se que os componentes "maiores" - proibidos pela religião - também são passados, em pequenas quantidades, tanto da mãe para o feto quanto no sentido contrário. Estaria Deus violando seu próprio decreto?

1991 - Os pais são novamente exortados a incutir repetidamente na mente dos filhos, mesmo muito pequenos, a resolução contrária ao uso de transfusões de sangue. Os jovens devem ser treinados quanto ao que dizer na presença de um juiz: “Se você tem crianças, está certo de que elas aceitam e podem explicar a postura b íblica sobre transfusões?...Pais conscientes revisarão estas matérias com seus filhos, quer sejam muito jovens quer quase adultos. Os pais podem promover sessões práticas na qual cada jovem encara questões que poderiam ser colocadas por um juiz ou um diretor de hospital”

- A Sentinela de 15/6/1991, pág. 18 (em inglês)

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1992 - Um artigo em A Sentinela de 15 de Outubro afirma que não há necessidade de preocupações com "minúcias" sobre a forma do abate de um animal para consumo, tais como o tempo decorrido entre a morte e a sangria, se todo o sangue fora drenado, qual o vaso sanguíneo cortado, se resta muito sangue ainda na carcaça e coisas assim. Um grande contraste se considerarmos todas as 'minúcias' com que o Corpo Governante tem legislado sobre o uso de 'frações' deste ou daquele tipo, o uso único de fatores de coagulação, o sangue ter sido ou não estocado momentaneamente fora do corpo, se o fluxo sanguíneo foi ou não interrompido e outras coisas do gênero. 1994 - Sai o famoso exemplar de Despertai! repleto de fotos de jovens que morreram recusando o tratamento medicinal com sangue ou derivados "maiores". Se por um lado, o artigo aparentemente buscava fazer uma propaganda favorável à postura das Testemunhas de Jeová, por outro lado, talvez tenha sido o maior equívoco editorial já lançado pelas gráficas de Brooklyn. A matéria repercutiu mal perante o público em geral e até entre algumas Testemunhas de Jeová. O artigo diz: “Em tempos passados, milhares de jovens morreram por colocarem Deus em primeiro lugar. Eles ainda o estão fazendo, só que hoje o drama se desenrola em hospitais e tribunais, com as transfusões de sangue sob discussão."

Vemos aqui , pela primeira vez, a Sociedade Torre de Vigia admitindo que literalmente milhares de pacientes jovens estavam morrendo como resultado de sua postura relativa àdoutrina do sangue. O artigo em momento algum reconhece que as transfusões de sangue poderiam ter salvado a vida de grande parte destes jovens, que morreram de forma estúpida e desnecessária.

Despertai! 22/05/1994 - O "tiro saiu pela culatra"...

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1995 - Um artigo em A Sentinela de 1 de Agosto menciona algumas Testemunhas de Jeová como não objetando a uma técnica chamadareinfusão sanguínea e, sobre esta questão, o artigo reporta-se à matéria publicada na edição de 1 de Março de 1989. 1996 - Em junho deste ano, três representantes da Sociedade Torre de Vigia compareceram a um fórum de bioética em uma universidade espanhola. Os profissionais médicos e os advogados presentes perguntaram: "Se um paciente Testemunha de Jeová vacilasse e aceitasse uma transfusão, seria rejeitado pela sua comunidade?" A resposta se encontra em A Sentinela de 15 de Fevereiro de 1997, pág. 20: “Isto iria depender da situação , porque a desobediência à lei de Deus, com certeza, é um assunto sério a ser examinado pelos anciãos da congregação."

A resposta acima apenas confirma aquilo que já se sabia, apesar de oficialmente negado pela instituição, a saber, a doutrina do sangue é uma postura organizacional e não simplesmente um entendimento pessoal . Do contrário, a resposta, logicamente, teria de ser: "não, a pessoa não será rejeitada por seus irmãos em hipótese alguma".

1997 - O JAMA [Jornal da Associação Americana de Medicina] - edição de 5 de Fevereiro, Vol. 277, No. 5, p. 425 - menciona a "morte desnecessária de milhares de pessoas" em razão da doutrina das Testemunhas de Jeová. É de longa data o empenho dos profissionais médicos desta entidade no sentido de expor as crendices e charlatanismos endossados pela Sociedade Torre de Vigia neste século. Os últimos anos têm assistido a um gradual abrandamento no tom dos artigos publicados pelas Testemunhas de Jeová - especialmente no tocante a questões delicadas como a doutrina do sangue. Além disso, perante organismos internacionais, os dirigentes da organização têm se mostrado cada vez mais reticentes e ambíguos ao abordarem sua política organizacional neste e noutros pontos polêmicos. Tem-se buscado aprimorar a imagem da entidade perante o público e isto exigirá, talvez, revisões doutrinais em um futuro próximo. Há razões para crer que tais mudanças já começaram a acontecer. A tendência é que com o tempo mais e mais frações passem a ser permitidas, até que fique insustentável esta absurda separação entre frações primarias e frações secundarias. Depois que todas as frações do sangue forem permitidas abre-se o caminho para que com o tempo o próprio sangue também passe aser permitido. Obviamente todo este processo deve ocorrer de maneira lenta e gradual para não assustar e chocar o grande numero de testemunhas que durante as ultimas décadas

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perderam parentes e amigos devido a esta absurda interpretação bíblica. Imagine quantos processos a Sociedade Torre de Vigia não enfrentaria se abruptamente mudasse sua doutrina do sangue.

“As Testemunhas de Jeová prezam a vida e a consideram uma dádiva de Deus. Em harmonia com Atos 15:29, elas se abstêm de sangue.” – Anuário das Testemunhas de Jeová, 2002, pág. 111

A declaração acima, apesar de paradoxal, representa o conceito comum que as pessoas têm sobre as Testemunhas de Jeová. Não há dúvida que há na Bíblia uma lei sobre a abstenção de sangue, mas o que dizer dos critérios que a Sociedade Torre de Vigia dos EUA – entidade dirigente das Testemunhas de Jeová – adota sobre essa lei?

A Torre de Vigia não costuma usar termos tais como “proibimos isso ou aquilo”. Ela diz que essa ou aquela decisão depende da consciência do cristão. Mas isso é uma falsa colocação, pois se ela proibir alguma coisa, não importa se sua consciência permita ou não tal coisa (nem que a Sociedade acabe adquirindo a mesma opinião que você já tem! Há casos assim). Ou seja, quem manda mesmo é a Torre, e não a consciência de seus adeptos. Portanto, quando se usam, neste texto, expressões tais como “a Sociedade proibia”, ou “A Torre de Vigia não permite”, elas estão em perfeito acordo com a realidade. Como talvez saiba, ao contrário de antigamente, hoje a Torre de Vigia permite que seus adeptos aceitem certas frações derivadas de sangue. Essas frações são obtidas através de um processo chamado fracionamento. Alguns derivados do plasma são:

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· Concentrado de Fator VIII · Concentrado de Fator IX · Complexo de Anti-Inibição de Coagulação (AICC) · Albumina · Imunoglobulinas · Concentrado de Anti-Trombina III · Concentrado de Inibição Alfa 1-Proteinase Às vezes argumenta-se que os componentes do sangue permitidos pela Sociedade Torre de Vigia dos EUA são frações do sangue muito pequenas, e por isso podem ser usadas. Mas tome como exemplo a albumina, que é um componente do sangue permitido pela Sociedade. Sabe a porcentagem que ela ocupa no sangue? Cerca de 2,2%. Esta porcentagem é muito maior do que a porcentagem dos componentes que a Sociedade proíbe, como os glóbulos brancos (1%) e as plaquetas (0,17%). Qual é a lógica que permite 2,2%, mas proíbe 0,17%? Então, fica claro que o que determina esse critério de proibição não é o fato de uma substância sangüínea ser ou não ser bem pequena. A Sociedade ensina que os componentes do sangue permitidos estão apenas limitados àqueles que passam através da barreira da placenta durante a gravidez e que, baseando-se nisto, uma Testemunha pode aceitá-los de consciência tranqüila. Raciocina-se que se Jeová permite que estes componentes sangüíneos passem da mãe para o feto, é sinal de que Ele não está violando a sua própria lei. Isso até que tem lógica, mas o problema é que a ciência médica descobriu que praticamente todos os componentes do sangue passam através da barreira da placenta. Existem também vacinas e remédios que são feitos à base de sangue, que a Sociedade também permite. Sabe como se obtém os remédios à base de sangue permitidos? Observe:

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· Albumina: para se obter 600 gramas de albumina é preciso uns45 litros de sangue que não foi ‘derramado no solo’, conforme a orientação bíblica, mas sim armazenado (a albumina é usada para tratar queimaduras graves). · Imunoglobulina: é dessa substância que se faz à vacina contra a cólera e muitas Testemunhas de Jeová já foram vacinadas com ela. Para se fabricar umaúnica injeção é preciso 3 litros de sangue. Este sangue, mais uma vez, é doado, armazenado e processado para produzir os produtos sangüíneos aprovados pela Sociedade Torre de Vigia dos EUA. · Crioprecipitado Anti-Hemofílico AHF: é a porção do plasma que é rica em certos fatores coagulantes, incluindo Fator VIII, fibrinogênio, Fator von Willebrand e Fator XIII. O AHF é removido do plasma através de congelação e depois descongelação lenta do plasma. (É usado para prevenir ou controlar hemorragias em indivíduos com hemofilia tipo A, doença de von Willebrand, e anomalias hereditárias na coagulação). · Preparados hemofílicos (Fator VIII e IX): o tratamento eficaz para um hemofílico requer uma substância chamada Fator VIII, que ajuda na coagulação e é feita a partir do sangue retirado de muitos indivíduos. São necessários cerca de9000 Kg de sangue total para produzir uma única dose de 0,1 grama de Fator VIII. Uma pessoa que sofra de hemofilia grave necessita normalmente de várias doses por ano. dos itens outros remédios derivados do sangue que sãoAlém permitidos peladescritos Torre deacima, Vigia há como a imunoglobulina da hepatite B [HBIG] (usada para tratar e prevenir a hepatite B), imunoglobulina do tétano (injeção contra o tétano), imunoglobulina da Raiva [RIG] (usada para tratar e prevenir raiva), imunoglobulina RhO [RhoGam] (administrada a mães Rh negativo para prevenir doença hemolítica do recém nascido), anti-trombina III (usada para tratar deficiência na anti-trombina III), e imunoglobulina humana [HIG] (usada para tratar e prevenir, dentre outras coisas, a hepatite tipo A). Aliás, a tendência em anos recentes tem sido permitir mais e mais produtos sanguíneos. É lógico pensar que aceitar essas substâncias significa aceitar parcialmente o sangue. Talvez seja por isso que o órgão dirigente das Testemunhas de Jeová vez por outra use a expressão “o mau uso do sangue” A ( Sentinela, 15/06/91, p. 15, § 9). Ora, se o sangue for derramado no solo, ele não terá nenhuma utilidade; não se fará nenhum uso dele. Então, quer dizer que o sangue pode ter outra finalidade, além de ser ‘derramado nosolo’? Pelo visto, fabricar remédios a partir do sangue é um ‘bom uso dele’, contrariando a opinião oficial da Torre de Vigia de que todo sangue que sai do corpo deve ser‘derramado no solo’, conforme a Lei mosaica.

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Diante deste quadro, não parece ser possível explicar porque a Sociedade Torre de Vigia permite que uma Testemunha aceite estes componentes, enquanto é uma violação da lei de Deus aceitar outros, como plasma, plaquetas, glóbulos vermelhos e glóbulos brancos.

Uma evidência de que a Torre aprova o uso parcial do sangue, se encontra na Despertai! de 22 de outubro de 1992, p. 12, no artigo “Tratamentosem sangue salvou-me da morte iminente”, onde relata o caso de um membro da sede mundial das Testemunhas de Jeová. Ele conta que um médico da Filial da Torre de Vigia lhe administrou eritropoietina (EPO) que, segundo o narrador, é “um hormônio sintético que estimula a medula óssea a produzir glóbulos vermelhos em ritmo acelerado” (p. 13, § 1). Sabe como se obtém a EPO? A descrição “hormônio sintético” deixa a impressão de que não se trata de algo relacionado com o sangue, talvez por isso muitas Testemunhas de Jeová a utilizem. No entanto, note o que a própria Torre de Vigia diz sobre a EPO: “Atualmente, usa-se também uma pequena quantidade de albumina em injeções do hormônio sintético EPO (eritropoetina).” – A Sentinela, 1º de outubro de 1994. p. 31. O estimulante de glóbulos vermelhos EPO mencionado pela Torre de Vigia é feito com uso da proteína sangüínea conhecida como albumina, que é sintetizadaa partir de sangue que não foi ‘derramado no solo’, e sim coletado, armazenado e processado. Portanto, o título correto da Despertai! citada acima deveria ser: “Tratamento quase sem sangue salvou-me da morte iminente”. Quando a EPO começou a ser utilizada, todos os laboratórios que fabricavam a eritropoietina sintética usavam albumina na sua composição. Hoje em dia, porém, certo laboratório afirma que está produzindo EPO sem o uso de albumina (atualmente é o mais utilizado por Testemunhas de Jeová aqui no Brasil). É digno de nota que a imprensa internacional divulgou recentemente que a EPO desse laboratório está causando certos problemas imunológicos em alguns pacientes, versão que foi rechaçada tanto pelo laboratório como por alguns profissionais de saúde. Não há informação se o suposto problema tem haver com a ausência de albumina. Portanto, não se pode afirmar aqui que as duas coisas tenham relação entre si, nem que o problema realmente existe. De qualquer maneira o ponto importante a salientar é que a Torre aprova o uso da EPO, mesmo ela sendo feita com albumina.

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Da mesma forma que alguns medicamentos hoje disponíveis de fatores VIII e IX (preparados hemofílicos), a EPO é produzida através de técnicas de engenharia genética. Na primeira menção que a Sociedade fez da EPO ela não deixou claro a sua forma de obtenção, apenas disse: “Recentemente foi aprovada, para uso limitado, uma promissora droga medicamentosa chamada eritropoietina recombinante. Ela acelera a produção de hemácias pelo próprio corpo, ajudando efetivamente a pessoa a produzir mais do seu próprio sangue.” (Despertai!, 22/10/1990, p. 13 - BrochuraComo Pode o Sangue Salvar sua Vida , p. 15). O termo recombinante se srcina da idéia de recombinar geneticamente o DNA de certas substâncias gerando proteínas que permitam alcançar os mesmos efeitos que suas correspondentes naturais. Em outras palavras, é reproduzir artificialmente o que natureza produz. No que se refere à albumina sintética (EPO), a albumina humana é utilizada para estabilizar o preparado. O motivo de haver grande interesse em se fabricar proteínas sintéticas é que as correspondentes naturais não podem ser produzidas em grande quantidade, pois elas representam uma pequena fração do sangue total. Em virtude dessas técnicas de engenharia genética, muitos sonham que um dia poderá haver um sangue totalmente artificial. Ainda sobre os preparados hemofílicos, a Associação da Torre de Vigia (denominação brasileira) sabe muito bem que para obtê-los é preciso muito sangue, e mesmo assim os aprova:

“Cada (A loteSentinela, de Fator 1.º VIIIdeé outubro fabricadodedo1985, plasma coletado de até 2.500 doadores8 de de sangue.” p. 23. Veja também a Despertai!, outubro de 1988, p. 11).

Muitas pessoas esclarecidas que não são Testemunhas de Jeová, mas que conhecem o ensino das Testemunhas, têm chamado a atenção da Torre de Vigia sobre a posição embaraçosa dela de permitir o uso separado de todos os componentes que foram aqui citados, mas proibi-los juntos. Se pegarmos todos esses componentes, juntá-los e adicionarmos água, o resultado será o plasma, que é proibido pela Torre. É como disse certo comentarista, especializado no ensino das Testemunhas de Jeová: “Faria sentido proibir alguém de comer um sanduíche, mas permitir que ele o abra e coma todas as partes separadamente?” (carne, alface, maionese etc.). Em qual base se determina esses critérios de proibição? Certamente, não é na Bíblia, pois ela não aborda tais assuntos.

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Como já foi dito, a Torre de Vigia simplesmente se baseia num conceito já ultrapassado de que só alguns componentes do sangue passam pela barreira da placenta e chegam até o bebê que está na barriga de uma gestante. Porém, está comprovado que quase todos os componentes do sangue da mãe passam pela placenta e chegam até o bebê. Entretanto, mais contundente do que a barreira da placenta, é o mecanismo de aleitamento materno. Pouco depois do nascimento de uma criança, aproximadamente no segundo dia depois do parto, uma substância chamada colostro, um soro branco, é produzido pela mãe e transmitido ao bebê através da amamentação. Segundo os especialistas “a secreção do colostro continua durante cerca de uma semana, com uma conversão gradual para leite maduro”. Dentro do colostro e no leite humano há anticorpos, imunoglobulinas e outros elementos que são transmitidos à criança para que ela desenvolva resistência à doenças, tais como componentes de complemento, macrófagos, linfócitos, lactoferrina, lactoperoxidase, dentre outros. Macrófagos, também chamados de monócitos, são células do sistema reticuloendotelial que se movem no corpo e ingerem, por fagocitose, microorganismos, células mortas e outros resíduos.Os monócitos são os mesmos glóbulos brancos encontrados no sangue, também chamados de leucócitos. Existem outros tipos de glóbulos brancos como os eosinófilos, linfósitos, neutrófilos e basófilos. Resumindo, dentro do leite humano há substâncias sangüíneas, substâncias estas terminantemente proibidas pela Torre de Vigia! – Conceitos de Biologia, de Amabis e Martho, Ed. Moderna, Vol. 2, pp. 287, 292; Pelos caminhos do Sangue, de Rogério Nigro, Ed. Atual, p. 34. O leite materno contém mais leucócitos do que se pode encontrar em uma quantidade equivalente de sangue. O sangue contém cerca de 4.000 a 11.000 leucócitos por milímetro cúbico, enquanto o leite de uma mãe pode conter, durante os primeiros meses de aleitamento,até 50.000 leucócitos por milímetro cúbico. Isto é de cinco a doze vezes mais do que a quantidade presente no sangue! Lembre-se que a Torre não aprova o uso de leucócitos. No aleitamento não está envolvida uma transfusão de sangue. A criança é alimentada por via oral com leite que contém substâncias sangüíneas. Ao se recorrer ao tipo de analogia que a própria Torre de Vigia faz, nota-se que Deus não está infringindo a sua própria lei por ter feito o homem um mamífero, que suga para dentro do estômago, nos primeiros meses de vida, alguns elementos do sangue materno junto com o leite, tais como os leucócitos. Portanto, se comer leucócitos não é pecado, por que transfundi-lo seria?

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Consegue perceber que um padrão de entendimento está começando a surgir? Por que Jeová criou o corpo humano de uma forma que aparentemente faz com que sua lei não seja respeitada? Ou seria porque a Torre de Vigianão está entendendo essa lei corretamente? Segundo ela, uma transfusão é o mesmo que comer sangue, e é essa equivalência que gerou a proibição: “Abster-se do sangue na nutrição do corpo é tão necessário como abster-se da fornicação e da idolatria.”- A Sentinela, 15/03/86, p. 18. “Toda vez que se menciona a proibição de sangue nas escrituras é com relação a tomá -lo

como alimento, assim, nutriente que nos a s ua proibição.”– 1/02/59, pp. 95 ee 96 (Videé como CD-ROM Biblioteca da interessa Torre de Vigia, em inglês). A Sentinela, Por volta de 1960, a Torre de Vigia aprendeu que o sangue transfundido não é digerido, mas é retido no corpo de forma muito semelhante a um órgão transplantado. (Comer sangue envolve o sistema digestivo, e recebê-lo por transfusão envolve o sistema cardiovascular). Mesmo com esse entendimento, a proibição das transfusões foi mantida, mas foram sendo permitidos cada vez mais produtos sangüíneos, se tomados separadamente. Se receber sangue é um pecado semelhante à fornicação, como é que a Torre admite a pessoa receber apenas uma parte desse sangue? Já ouviu falar que só umpouco de f ornicação é aceitável? Não existe meio termo, ou algo é pecado ou não é. Admitir o uso parcial do sangue entra em conflito com a suposta posição adotada de “se abster de sangue”. Descrevendo de forma simplificada, para conseguir obter nutrição a partir do sangue, comê-lo e digeri-lo , paratransfusão poder decompô-lo e usá-lo como alimento.seria Nãonecessário há benefício nutritivo de uma de sangue. A Torre de Vigia tem tentado contornar este fato argumentando que receber uma transfusão não é diferente de ser alimentado intravenosamente com dextrose ou álcool. Tais comparações são questionáveis e tratam o assunto de forma superficial, pois se analisarmos profundamente, o açúcar e o álcool podem realmente ser usados pelo corpo como alimento, sem digestão. O sangue transfundidonão pode ser usado pelo corpo como alimento, da mesma forma que um coração transplantado não pode ser usado como alimento. O sangue na realidade é um órgão, só que em forma liquida. Portanto a uma grande diferença de se comer o sangue (aonde ele vai ser digerido pelo sistema digestivo e realmente nutrir o corpo) e de se fazer uma transfusão de sangue (aonde o sangue vai para o sistema circulatório e passa a fazer parte do corpo, seus glóbulos vermelhos vão levar oxigênio a todas as partes do corpo, seus glóbulos brancos passam a defender o corpo de vírus e bactérias nocivas, etc,etc...). A transfusão de sangue e semelhante a um transplante de rins por exemplo, a uma diferença muito grande de se pegar um rim, cortá-lo em bifes passar numa chapa e

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comê-lo, de você pegar o órgão e transplantá-lo para seu corpo (neste caso ele vai fazer parte do seu corpo, vai trabalhar filtrando o seu sangue, ele não vai ser digerido pelo seu corpo). Considere dois pacientes que estão incapacitados de comer, e dão entrada num hospital. Se durante vários dias, a um deles for aplicadas transfusões de sangue e ao outro for dada alimentação pela veia, qual deles estará se alimentando e sobreviverá? Logicamente, o que receber a transfusão de sangue não viverá; morrerá de fome! É por isso que os médicos não aplicam transfusões de sangue para tratar a desnutrição. A transfusão é administrada para substituir algo que o corpo perdeu, geralmente os glóbulos vermelhos que são necessários para transportar oxigênio e manter a pessoa viva. Como transfusão de sangue não é o equivalente a comer sangue, perdese o “elo crítico” que seria necessário para apoiar biblicamente a posição da Sociedade Torre de Vigia a respeito do sangue.

“Embora este médico argumente a favor do uso de certas frações do sangue, particularmente albumina, estas também estão sob a proibição das Escrituras.” (Despertai!, 8 de setembro de 1956, p. 20 [em inglês]). Estão sob “proibição das Escrituras” ou proibição da Torre de Vigia? Como pode perceber, o que a Torre hoje permite [albumina], antes ela proibia. Embora se trate de um assunto que envolva vidas humanas, ela evidenciou, ao longo dos anos, que não tem certeza dos detalhes restritivos que ensina. Mesmo assim ela gosta de brincar de ser Deus afetando a vida dos outros. As frações sangüíneas eram proibidas, depois foram permitidas, depois foram proibidas novamente, e depois foram outra vez permitidas. Observe abaixo o constante vai e vem da Torre de Vigia no seu conceito sobre as frações do sangue: 1) 2) 3) 4) 5)

Despertai!, 1º de fevereiro de 1956, p. 20: frações proibidas. A Sentinela, 1º de fevereiro de 1959, pp. 95 e 96: frações permitidas. A Sentinela, 15 de março de 1962, p. 174, §§ 16 e 19: frações proibidas. A Sentinela, 15 de julho de 1963, p. 443: frações proibidas. A Sentinela, 15 de outubro de 1974, p. 640: frações permitidas.

6) A Sentinela, 1º de dezembro de 1978, p. 31: frações permitidas .

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Se você pesquisar as publicações antigas da Sociedade Torre de Vigia, notará que posições vacilantes também foram adotadas sobre os transplantes de órgãos e as vacinas. Considerava-se transplante de órgãos o mesmo que canibalismo, por causa da mesma linha de raciocínio sobre as transfusões de sangue, ou seja, colocar o sangue de uma pessoa em outra é o mesmo que se alimentar. (Qualquer notícia que a Sociedade encontrasse desfavorável ao transplante, publicava sem reservas). Disse a Torre de Vigia: “Notar que a posição das testemunhas cristãs de Je ová — de que tais transplantes são efetivamente uma forma de canibalismo — provaram ser uma salvaguarda” (Despertai!, 08/01/73, p. 28).

Como sempre, a transferência de responsabilidade é o expediente padrão adotado. Uma opinião da Torre de Vigia é descrita como a opinião das Testemunhas de Jeová em geral. Faz-se ainda a arriscada afirmação que se abster de um transplante é sempre benéfico. Depois que a Torre aprendeu que essa analogia (transplante-canibalismo) não é correta, abandonou essa posição, mas somente no que tange aos transplantes de órgãos sólidos, e embora o sangue também seja um órgão(líquido), a Sociedade o excluiu do novo critério adotado. É a velha prática de dois pesos e duas medidas. No que diz respeito às vacinas, o rigor era ainda maior. Nas publicações mais antigas, entre 1920 e 1945, que não estão disponíveis no CD-ROM da Torre de Vigia, rigorosa sobre as vacinas, as comadotava-se o Diabo e uma seus posição agentes.altamente Publicações mais recentes também identificandoproibiam o uso de vacinas derivadas do sangue, que hoje são permitidas.– A Idade de Ouro, 1/05/29, p. 502; A Sentinela, 15/12/52; Despertai!, 08/04/70, p. 4; A Sentinela, 01/06/70, p. 347; A Sentinela, 01/03/76, p. 135.

Considere outra circunstância, a que envolve a bomba coração-pulmão. Num artigo da Sentinela, a Torre de Vigia proibiu explicitamente o recolhimento de sangue antes da operação para uma transfusão autóloga (ou seja, usando o próprio sangue do paciente), mas permitiu outro procedimento:

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“Num processo um tanto diferente, o sangue autólogo pode ser desviado do paciente para um aparelho de hemodiálise (rim artificial), ou para uma bomba coração-pulmão. O sangue flui para fora através de um tubo até o órgão artificial que o bombeia e filtra (ou oxigena) e daí volta para o sistema circulatório do paciente. Alguns cristãos têm permitido isso, caso o equipamento não seja escorvado (posto a funcionar) com sangue estocado. Eles têm encarado a tubulação externa como uma extensão de seu sistema circulatório , de modo que o sangue possa passar através de um órgão artificial. Têm considerado o sangue nesse circuito fechado como ainda parte deles, não necessitando ser ‘derramado’.” (A Sentinela, 1/03/1989, p. 30). – note o velho jogo de palavras: “Alguns cristãos têm permitido isso...”, quando, na verdade, o que o escritor quer dizer é: “A Torre de Vigia tem permitido...”.

Não é difícil perceber que a lógica que permite a bomba coração-pulmão também permite que se armazene o próprio sangue, se fosse permitido estabelecer esse critério de julgamento. Afinal, o único argumento contra o armazenamento do sangue vem de uma regra na Lei de Moisés que dizia que o sangue de um animal que era morto fosse derramado no chão. (Deuteronômio 12:24). Conforme diz o mesmo comentarista mencionado anteriormente, “seguir a regra demonstrava que a pessoa entendia que a vida do animal provinha de Deus”. Portanto, é evidente que tais raciocínios baseados na Lei mosaica não se aplicam às transfusões de sangue autólogo, porque ninguém morre quando é feita uma transfusão deste tipo. O sangue é devolvido à pessoa da qual foi retirado. As Escrituras são muito claras em afirmar que não se deve ir “além das coisas que estão escritas” (1 Coríntios 4:6). Todo esse conjunto de normas sobre qual fração sangüínea pode ou não pode ser usada, fere claramente o princípio citado por Paulo. A Bíblia não contempla esses detalhes, e ninguém está autorizado a fazer acréscimos às Escrituras. Além do mais, a proibição das Escrituras refere-se a usar o sangue como alimento, em respeito à vida que foi tirada para suprir a necessidade de nutrição de quem a tirou. Nenhum grupo de homens está autorizado a estabelecer regras proibitivas que só Deus seria capaz de fornecê-las, nem de afirmar presunçosamente que tais regras são orientações que descem da parte de Deus, pois Dele só desce “toda boa dádiva e todo presente perfeito”, e não orientações vacilantes que podem prejudicar a vida das pessoas. Cada cristão, mesmo um líder religioso, deve seguir o seguinte princípio: “Não pense mais de si mesmo do que é necessário pensar”. –Tiago 1:17; Romanos 12:3. É claro que muito do que a Torre de Vigia publicou sobre os perigos do sangue, e o abuso que alguns fazem dele, é basicamente correto (embora assim como há pessoas que morrem ao receber sangue,há muitas outras que sobrevivem e riscos

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existem em qualquer procedimento medico ). No entanto, essas ponderações não tem nada a ver com o preceito bíblico de se abster de sangue; apenas desvia a atenção do foco principal, a saber, que comer sangue não é o mesmo que uma transfusão, e que a proibição da Bíblia se refere a se alimentar do sangue de um animal que foi morto para servir de alimento. Durante anos pessoas escrevem para a Sociedade alertando da inconsistência de sua doutrina do sangue. Nesse ínterim muitos se prejudicam. Além disso, perceba que quando ela muda de opinião em momento algum ela faz referência à posição anterior e nem lamenta pelos transtornos que causou. Ao invés disso, sempre lança a responsabilidade para os irmãos, como se eles sozinhos tivessem chegado a tais conclusões. É simplesmente lamentável! (Evidentemente, querendo evitar processos judiciais, a Torre de Vigia não usa o termo "proibir". Mas, na prática, ela proíbe mesmo). A Torre de Vigia também já foi alertada de que transfusão de sanguenão é o mesmo que comer sangue. Conforme já vimos, uma pessoa inconsciente por vários dias num hospital recebendo apenas sangue nas veias morrerá de fome, pois o organismo não assimilará o sangue como alimento. Sendo o sangue um tecido líquido o organismo o aceita de maneira semelhante a um transplante de órgão. Por isso a alimentação intravenosa que o paciente recebe não é sangue e sim outras substâncias nutritivas. Portanto, leitor, o ensinamento da Sociedade Torre de Vigia dos EUA que tem tido maior notoriedade junto ao público externo, precisa de uma séria revisão, por que do contrario, mais e mais pessoas morrerão sem nenhuma necessidade.

(01) De acordo com a Torre de Vigia, receber leucócitos (Glóbulos Brancos) numa transfusão é pecado, porque é o mesmo que comer sangue. No entanto, uma porção do leite materno, especialmente o colostro (aquele leite mais amarelado) que se manifesta nos primeiros dias de aleitamento,contém mais leucócitos do que uma quantidade equivalente de sangue. Se receber leucócitos na veia é proibido, por que comê-los não é? Estaria Deus burlando a sua própria lei do sangue? Se ele nos proibisse de passar por um tratamento intravenoso à base de glóbulos brancos, criaria um sistema pelo qual os comemos literalmente, indo direto para o nosso sistema digestivo? Como você explica isso? (02) Se receber transfusão de sangue é o mesmo que comer sangue, por que uma pessoa que está inconsciente num hospital, se ficar recebendo apenas sangue na veia morrerá de fome?

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(03) A posição oficial da Torre de Vigia é que não se deve receber plaquetas na veia. Os derivados do sangue, tais como a albumina, porém, são permitidos. As Testemunhas de Jeová imaginam que essas frações de sangue são “questão de consciência” porque são muito pequenas. No entanto, de todo sangue que há no corpo apenas 0,17% são plaquetas, enquanto que 2,2% é albumina.Por que é proibido 0,17% e permitido 2,2% ? (04) Por que todos os credos cristãos, e mesmo osmais ortodoxos judeus, que são dependentes da Tora (lei), a lêem diariamente no hebraico srcinal (para entender o contexto da tradição), filosofam sobre seu contexto, e amam a Lei de Deus mais do que suas próprias almas, não proíbem o uso médico do sangue? É razoável que sejamos os únicos a crer desta forma? (05) Se Gênesis 9:3-7 apresenta um "pacto eterno" que é válido para toda a humanidade, por que Paulo recomendou que se permaneça solteiro, e por que a Sociedade permite o uso do controle da natalidade, o qual seria uma clara violação do terceiro elemento do pacto: "E quanto a vós, homens, sede fecundos e tornai-vos muitos, fazei a terra pulular de vós e tornai-vos muitos nela"? Podemos escolher quais partes de um pacto eterno devemos manter? Se essas partes do pacto não são válidas, como ele pode ser um "pacto eterno"? (06) Se consumir sangue era uma ofensa capital, por que os homens de Saul não foram executados quando foram pegos ingerindo sangue junto com a carne que comiam? (1 Samuel 14:31-35). (07) Se, quando preciso, um israelita podia comer a carne de um animal não sangrado que tivesse morrido por si mesmo (veja Levítico 17:15), e o resultado era apenas uma impureza cerimonial que requeria um banho e a lavagem das roupas, por que a Sociedade diz que devemos desassociar (excomungar) aqueles que aceitam uma transfusão de sangue para salvar a vida? (08) Uma vez que a exigência de o sangue ser derramado ao solo está na Lei Mosaica, e não se repete nas Escrituras Gregas, e uma vez que os cristãos não estão submetidos à Lei Mosaica, por que seria errado armazenar o próprio sangue antes de uma operação? (09) Jesus estava disposto a fazer milagres no sábado a fim de salvar vidas, ou simplesmente curar os doentes, e ele não condenou a mulher com o fluxo de sangue por tocá-lo e fazê-lo cerimonialmente impuro. Aliás, ele condenava os fariseus por seu excessivo apego à Lei. Será que Jesus não faria uma exceção a uma regra dietética para salvar uma vida humana?

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(10) A maioria dos frangos "nao-kosher", encontrados em lanchonetes, armazéns e até no comércio de rua, são mortos por eletrocussão. Não há diferença entre estrangulamento e eletrocussão porque em amboso sangue não é derramado. É por isso que a maioria dos frangos não é "kosher", isto é, não é aceitável pelos judeus. Assim sendo, por que é certo desobedecer a uma parte de Atos 15:29, mas morrer pela outra? (11) Como a Sociedade pode ver o mandamento de "abster-se de comer carne sacrificada aos ídolos" como simbolizando a questão da "Idolatria" em vez de uma regulamentação dietética, enquanto, ao mesmo tempo, vê "abster-se de comer sangue" como regulamentação dietética literal, e não como um símbolo da questão maior "Santidade da Vida"? Como eles podem ter uma diferença tão drástica de ponto de vista quando as duas observações sobre alimentação ocorrem na mesma frase e no mesmo versículo da Bíblia? (Atos 15:29). (12) Se concluirmos que alimentos oferecidos aos ídolos podem ser comidos, e que certos componentes ou frações do sangue podem ser usados, entãouma pequena fração de fornicação não tem problema? Se não, por que não? (13) Recusar tratamento médico para seu filho quando a única alternativa seria a morte, faz de você responsável pela morte. Como se pode justificar a morte de uma criança com base numa regra judaica de preparação de alimentos ? (14) Se uma transfusão de sangue é essencialmente um transplante de órgão (o sangue é um órgão em forma líquida), de que modo ela pode ser vista como "comer sangue", se não há digestão ou adição de benefícios nutricionais ? Ela poderia ser um transplante de órgão e uma refeição ao mesmo tempo? (15) Se estocar o próprio sangue para uma transfusão autóloga é errado, então por que a Sociedade permite o uso de vários componentes sangüíneos que têm de ser doados e estocados antes de serem usados por Testemunhas de Jeová? Ainda mais, por que razão as Testemunhasaceitam e se beneficiam do sangue que outros doam, mas não doam elas próprias o seu sangue? Isso não é egoísta e hipócrita? Doar sangue para ajudar a salvar outras vidas não seria a atitude mais cristã e amorosa a se tomar? (16) Com que base a Sociedade usa as expressões "sustentar a vida" ou "introduzir" com respeito a aceitar uma transfusão, quando tais palavras não aparecem na Bíblia? (17) Por que a Sociedade tem de citar médicos que viveram há centenas de anos para achar apoio para sua crença de que uma transfusão é alimentação de sangue? Acaso os médicos modernos não admitem que uma transfusão de sangue é o mesmo que "comer" o sangue?Por que não?

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(18) Por que a sociedade exagera os riscos das transfusões de sangue, e faz parecer que elas são sempre um mau remédio, quando quase todos os especialistas discordam? (20) Como a Sociedade decide quais componentes sangüíneos são "maiores" e quais são "menores"? Por exemplo,por que os glóbulos brancos são proibidos e a albumina é permitida, se esta última constitui uma grande porcentagem do volume sangüíneo, e o leite materno e os órgãos transplantados estão cheios desses glóbulos? (21) Por que é que o plasma é proibido , se todos os seus componentes, exceto a água, estão na lista de aprovados para as Testemunhas tomarem a fim de "sustentar a vida"? (22) Por que a Sociedade usa argumentos e analogias como a sobre álcool e sangue sendo injetados nas veias, cujo erro evidencia-se com esta outra analogia: A título de comparação, considere um homem a quem o médico diz para se abster de carne. Ele estaria sendo desobediente se parasse de comer carne,mas aceitasse um transplante de rim? Receber um rim transplantado é o mesmo que comer carne? Por que a Sociedade tem de usar truques intelectuais sujos para dar suporte à sua postura? (23) Se devemos nos abster completamente do sangue, como diz a Sociedade, então por que a Sociedade também nos diz queé aceitável usar derivados ou componentes de sangue humano? Isto não é contraditório? (24) A Torre de Vigia costuma dar destaque aos tratamentos alternativos de alta qualidade, usados no lugar de transfusões de sangue. Irmãos falam com orgulho que usaram remédios como a eritropoietina ao invés de sangue. Mas eles não se apercebem que um dos componentes dessa medicação é um derivado sangüíneo (albumina humana)! No passado, muitas Testemunhas de Jeová não puderam se beneficiar dessas frações sangüíneas porque a Torre de Vigia não permitia. Ela disse certa vez: "É errado suster a vida mediante infusões de sangue, plasma, glóbulos vermelhos, ou várias frações do sangue?Sim!" - A Sentinela, 15/03/1962, p. 174. Notou como ela foi categórica ao dizer que é errado aceitar frações sangüíneas? No entanto, ela abandonou essa opinião, que era imposta ao seu rebanho. Hoje em dia ela ensina: "A ordem bíblica de se abster de sangue, também inclui suas frações? Não podemos afirmar isso." -Ministério do Reino de março de 2007 (suplemento). -> Ué! E por que afirmavam? (25) Que devo fazer? Meu filho está respirando com muita dificuldade. Sua contagem sangüínea está perigosamente baixa. Seu ritmo cardíaco já é de 200p/min, e está aumentando. Os médicos nos disseram que se não houver uma

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transfusão, ele morrerá de insuficiência respiratória e parada cardíaca. Expansores de plasma não ajudarão a esta altura, ele precisa de mais glóbulos vermelhos. Horrivelmente pálido e com os olhos muito abertos, ele olha para mim e sussurra: "Ajude-me, papai". Devo deixar meu filho morrer baseado na palavra de uma organização que tem freqüentemente mudado sua opinião sobre transplante de órgãos, vacinas, frações de sangue, deveres civis, "as ovelhas e os cabritos", a "geração", 1799, 1874, 1878, 1881, 1914, 1918, 1920, 1925, 1975, etc., etc., etc. ? Devo deixar meu filho, a minha criança, morrer? É isto realmente o que Jeová e Jesus esperam que eu faça? Como eu me sentirei se a proibição do sangue finalmente se tornar apenas mais uma velha luz e a doutrina for abandonada? Serei !! capaz de me perdoar? Se você, de forma honesta e sincera consegue achar respostas satisfatórias e razoáveis para os questionamentos acima, então eu aceitarei a doutrina do sangue imposta pelo corpo governante das Testemunhas de Jeová. Caso contrário, o que posso fazer é apenas lamentar tantas mortes totalmente desnecessárias e sem sentido que muitos tiveram ao seguir esta infeliz doutrina.

Muitas Testemunhas de Jeová são bem sinceras em apegar-se aos padrões da sua organização este respeito. Algumas viramisto filhos pequenos morrerem resultado disso, ea seria cruelmente injustoaté atribuir à falta de amor dos pais.em Eles simplesmente aceitaram que os padrões e normas organizacionais ― embora complexos e até confusos ― são baseados na Bíblia e, portanto, ordenados por Deus. Todavia, poucas afirmações tiveram base mais frágil que essa.Como se observa, muito da argumentação da Torre de Vigia concentra-se em textos das Escrituras Hebraicas, principalmente das ordenanças da Lei Mosaica. Visto que a Sociedade reconhece que os cristãos não estão debaixo dessa Lei, o texto de Gênesis, capítulo 9, versículos 1-7, é freqüentemente citado. Ele diz: “E o medo de vós e o terror de vós continuará sobre toda cr iatura vivente da terra e sobre toda criatura voadora dos céus, sobre tudo o que se está movendo no solo, e sobre todos os peixes do mar. Na vossa mão estão agora entregues. Todo animal movente que está vivo pode servir-vos de alimento. Como no caso da vegetação verde, deveras vos dou tudo. Somente a carne com a sua alma ― seu sangue — não deveis comer. E, além disso, exigirei de volta vosso sangue das vossas almas. Da mão de cada criatura vivente o exigirei de volta; e da mão do homem, da mão de cada um que é seu irmão exigirei de volta a alma do homem. Quem derramar o sangue do homem, pelo homem será derramado o seu próprio sangue, pois à imagem de Deus fez ele o homem. E quanto a vós, homens, sede fecund os e tornai-vos muitos, fazei a terra pulular de vós e tornai-vos muitos nela. ”

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Alega-se que, como todos os humanos descendem de Noé e seus filhos, estas ordens ainda se aplicam a todas as pessoas. Sugere-se que as ordenanças sobre o sangue na Lei Mosaica devem por isso ser vistas simplesmente como repetições ou considerações adicionais da lei básica anteriormente estabelecida, e que, portanto, ainda vigoram. De outro modo, já que os cristãos não estão sob a Lei Mosaica, não faria sentido citar textos dela como tendo relevância no assunto. Afirma-se que o decreto divino sobre o sangue dado a Noé tem aplicação eterna. Se for assim, não devemos então aplicar isso também à ordem seguinte,“sede fecundos e tornai -vos muitos”, e “fazei a terra pulular de vós e tornai -vos muitos nela”? Se for assim, como pode a Sociedade Torre de Vigia justificar o incentivo, não só a ficar solteiro, mas até a não ter filhos, no caso das Testemunhas casadas? Sob o título “Ter Filhos Hoje”, A Sentinela de 1º de março de 1988 (página 21) diz que, em vista do “tempo limitado” que resta para terminar a obra de testemunho, “é apropriado que os cristãos perguntem a si mesmosaté que ponto o casar-se, ou terem filhos, caso sejam casados, afetará a sua participação nessa obra vital”. O artigo admite que criar filhos fazia parte da ordem de Deus após o dilúvio, mas declara (página 26) que “Atualmente, gerar filhos não é especificamente parte da tarefa dada por Jeová a seu povo... Portanto, ter filhos ou não neste tempo do fim é um assunto pessoal que todo casal precisa decidir por si mesmo. Contudo, visto que ‘o tempo que resta é reduzido’, os casais farão bem em pesar cuidadosamente e com oração os prós e os contras de se ter filhos nestes tempos.” Se as palavras de Jeová a Noé a respeito de criar filhos e ‘pulularem e serem fecundos’ pod em ser postas de lado como não mais aplicáveis, como podem coerentemente argumentar que as palavras Dele a respeito do sangue têm de ser encaradas como ainda em vigor, e usar isso comocomo base ainda para em justificar a aplicação dashoje? ordenançasda Lei Mosaica sobre o sangue vigor para os cristãos Mais significativo, contudo, é que fazem essas palavras em Gênesis dizerem algo muito diferente do que de fato dizem. Qualquer leitura do texto deixa claro que Deus ali fala de sangue inteiramente em relação amatar animais e depois em relação a matar humanos. No caso dos animais, o sangue era derramado no solo em reconhecimento evidente de que a vida sacrificada desse modo (para alimento) só era tomada por permissão divina, não por direito natural. No caso do homem, seu sangue exigia a vida daquele que o derramava, sendo a vida humana um dom de Deus que o homem não foi de modo algum autorizado a tirar à vontade. O sangue derramado de animais mortos e humanos assassinados representa a vida que eles perderam . O mesmo ocorre no caso dos textos da Lei Mosaica regularmente citados, que requerem que o sangue seja “derramado”. Em todos os casos, isto se refere claramente ao sangue dos animais que forammortos. O sangue representava a vida tirada, não a vida ainda ativa na criatura. As transfusões de sangue, contudo, não são resultado da morte de animais ou humanos, pois o sangue vem de um doadorvivo que continua a viver. Em vez de representar a morte de alguém, esse sangue é utilizado exatamente com objetivo

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oposto, a saber, a preservação da vida. Não existe nenhuma relação real ou paralelo entre a ordem de Gênesis a respeito de matar e depois comer o sangue do animal morto, e o uso de sangue numa transfusão. O paralelo simplesmente não existe. Finalmente, usar leis que ordenam o derramamento do sangue como base para condenar sua armazenagem é ignorar o propósito declarado dessas leis. Segundo o contexto, ordenou-se aos israelitas que derramassem no solo o sangue dos animais que matavam para garantir que o sangue não seriacomido, não para garantir que não seria guardado. A armazenagem nem estava em discussão. Empregar tais leis desse modo não só é ilógico como é pura manipulação da evidência, forçando-as a significar algo que não é declarado ou mesmo sugerido. Como os cristãos não estão sob um código de leis, mas sob a “lei régia do amor” e a “lei da fé”, estes pontos merecem certamente séria consideração e meditação. Mostra verdadeiro apreço pelo valor da vida permitir que normas arbitrárias ditem como se deve proceder em situações cruciais? Demonstra amor a Deus e ao próximo fazer isto sem apoio dedeclarações claras na Palavra de Deus? Sem dúvida, o principal texto bíblico usado na argumentação da Torre de Vigia é o de Atos 15:28, 29. Estes versículos trazem a decisão de um concílio em Jerusalém e incluem as palavras: “Persisti em abster-vos de coisas sacrificadas a ídolos, e de sangue, e de coisas estranguladas, e de fornicação.” A evidência bíblica de que isto não foi dito como uma forma de declaração com efeito obrigatório legal, será considerada mais adiante neste capítulo. Este assunto é vital visto que é a base principal para o argumento da Sociedade de que as ordenanças da Lei Mosaica são transferíveis para o cristianismo. Embora tratemos deste ponto mais adiante, podemos logo dizer que a exortação para se “abster do sangue” refere -se claramente a comer sangue. Sentinela de 1º de de 1978 (página 23), de fato, cita o professor EduardAMeyer dizendo quedezembro o significado de “sangue” neste texto é “tomar sangue que era proibido pela lei (Gêneses 9:4) imposta a Noé, e, assim, também à humanidade como um todo.” Esse “tomar” era por meio de comer. Uma questão vital, pois, é se pode ser demonstrado que transfundir sangue é o mesmo que “comer” sangue, como pretende a organização Torre de Vigia. Não há, na realidade, base sólida para essa pretensão. Há, é claro, métodos clínicos de “alimentação intravenosa” na qual líquidos especialmente preparados contendo nutrientes, como a glicose, são introduzidos nas veias e fornecem nutrição. Contudo, como sabem as autoridades médicas e como a Sociedade Torre de Vigia às vezes admitiu, uma transfusão de sanguenão é alimentação intravenosa; é de fato um transplante (de um tecido fluido), e não infusão de um nutriente. No transplante de rim, o rim não é comido como alimento pelo novo corpo em que é introduzido. Continua a ser um rim com a mesma forma e função. Ocorre o mesmo com o sangue. Ele não é digerido como alimento quando “transplantado” para outro corpo. Continua a ser o mesmo tecido fluido, com a mesma forma e função. As células do corpo não podem utilizar esse sangue transplantado como alimento.

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Para fazê-lo, o sangue teria primeiro de passar pelo sistema digestivo, ser decomposto e preparado de modo que as células do corpo pudessem absorvê-lo, assim, apenas sendo real e literalmente comido é que ele poderia servir de alimento. Quando os profissionais médicos acham necessária uma transfusão de sangue não é porque o paciente estásubnutrido. Na maioria dos casos é porque o paciente sente falta de oxigênio , não de nutrientes, e isto se deve à falta de portadores de suprimento adequado de oxigênio, a saber, os glóbulos vermelhos do sangue, que levam oxigênio. Em outros casos, administra-se sangue devido à falta de outros fatores, os agentes coagulantes as plaquetas), imunoglobulina contendocomo anticorpos ou outros elementos, (como mas, novamente, este não é um meio de prover “nutrição”. No esforço de contornar a evidência de que transfundir sangue não é o mesmo que comer, nem tem como objetivo “nutrir” o corpo, a Torre de Vigia tenta muitas vezes ampliar arbitrariamente o assunto pondo juntos, ou até substituindo, o termo “nutrir” pela expressão “sustentar a vida”. Esta tática de desvio só serve para confundir a questão. Nutrir o corpo por comer, e sustentar a vida, não são coisas idênticas. Comer é apenas um dos meios de sustentar a vida. Sustentamos a vida de muitos outros modos, igualmente vitais, como respirar, beber água ou outros líquidos, manter o calor do corpo numa temperatura adequada, e dormir ou descansar. Quando se referem ao sangue, as próprias Escrituras não tratam do aspecto amplo de “sustentar a vida”, mas doato específico de comer sangue, e referem-se claramente a comer o sangue deanimais que são mortos. Quando um israelita comia carne que continha sangue, ele não dependia desse sangue para “sustentar” sua vida — a carne sozinha faria isso tão bem sem o sangue ou com ele. Se a vida dele era ou não “sustentada” por comer o sangue simplesmente não vinha ao caso. O ato de comer sangue era proibido, e a motivação ou as conseqüências finais por comê-lo não foram mencionadas nas leis do sangue. A organização Torre de Vigia permite que seus membros recebam frações de sangue que são geralmente administradas exatamente para salvar ou “sustentar” a vida da pessoa, como no caso do Fator VIII, administrado aos hemofílicos, ou como no caso da imunoglobulina, injetada como proteção contra certas doenças perigosas ou para evitar a morte de crianças por incompatibilidade de Rh. Em nenhuma parte da Bíblia encontramos tal restrição sobre o sangue com o termo “sustentar a vida”. Esse palavreado confuso da Sociedade Torre de Vigia é tanto desonesto como irresponsável e obscurece a verdade da palavra de Deus, indo "além das coisas que estão escritas."(1 Coríntios 4:6)

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A carta enviada pelos apóstolos e anciãos de Jerusalém, registrada em Atos capítulo 15, usa o termo “abster-se” em relação a coisas sacrificadas a ídolos, sangue, coisas estranguladas e fornicação. O termo grego que eles usaram (apékhomai) tem o significado básico de “afastar-se de”. As publicações da Torre de Vigia argumentam que, em relação ao sangue, ele tem um sentido total, abrangente. Assim, a -publicação Poderá Viver Para Semprenão nointroduzi Paraíso -lo na em Terra página 216, diz: “Abster se do sangue’ significa definitivamente seu, corpo.” De modo similar, A Sentinela de 1º de maio de 1988, página 17, diz:“Andar nas pisadas de Jesus significaria não introduzir sangue no corpo, seja oralmente, seja de outro modo.” Mas será que este termo, como é usado nas Escrituras, tem realmente o sentido absoluto indicado nestas publicações? Ou pode, em vez disso, ter sentido relativo, relacionado com uma aplicação específica e limitada? Que pode ser aplicado, não num sentido total, abrangente, mas de modo limitado, específico, pode-se ver no seu uso em textos como 1 Timóteo 4:3. Ali o apóstolo Paulo avisa que alguns professos cristãos introduziriam ensinos de natureza perniciosa, “proibindo o casar-se, mandando abster-se de alimentos que Deus criou para serem tomados com agradecimentos”. Não queria dizer, é claro, que estas pessoas ordenariam a outros que se abstivessem totalmente, sob qualquer forma, àdemorte. todos os por Deus. Isso significaria jejum total e levaria Elealimentos se referiacriados obviamente à proibição de alimentos específicos, evidentemente os proibidos pela Lei Mosaica. De modo similar, em 1ª Pedro 2:11 o apóstolo admoesta: Amados, exorto-vos como a forasteiros e residentes temporários a que vos abstenhais dos desejos carnais, que são os que travam um combate contra a alma. Se tomássemos esta expressão literalmente, em sentido absoluto, significaria que não podemos satisfazer nenhum desejo da carne. Certamente não é esse o significado das palavras do apóstolo. Temos muitos “desejos carnais”, incluindo o desejo de comer, de respirar, de dormir, de recreação e muitos outros desejos, que são perfeitamente apropriados e bons. Portanto, “abster-se de desejos carnais” aplicava-se apenas no contexto do que o apóstolo escreveu, referindo-se, não a todos os desejos carnais, mas apenas adesejos prejudiciais, pecaminosos, que de fato “travam um combate contra a alma”.

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Portanto, a questão é: Em que contexto Tiago e o concílio apostólico usaram a expressão “abster-se” de sangue? O próprio concílio tratava especificamente da tentativa de alguns de exigir que os cristãos gentios fossem, não só circuncidados, mas também “observassem a lei de Moisés”. Era esse o assunto a que o apóstolo Pedro se referia, a observância da Lei Mosaica, que ele descreveu como “jugo” pesado. Quando Tiago falou perante o concílio e recomendou que os cristãos gentios fossem aconselhados a abster-se de certas coisas ― coisas poluídas por ídolos, fornicação, coisas estranguladas e sangue ― ele declarou em seguida: Pois, desde os tempos antigos, Moisés tem tido em cidade após cidade os que o

pregam, porque ele está sendo lido em voz alta nas sinagogas, cada sábado. Sua recomendação, portanto, evidentemente levou em conta o que as pessoas ouviam quando ‘Moisés era lido’ nas sinagogas. Tiago sabia que nos tempos antigos havia gentios, “pessoas das nações” que moravam na terra de Israel, residindo no meio da comunidade judaica. Que requisitos lhes impunha a Lei Mosaica? Não exigia que fossem circuncidados, masexigia que se abstivessem de certas práticas que são descritas no livro de Levítico, capítulos 17 e 18. Essa lei especificava que, não só os israelitas, mas também os “residentes forasteiros” entre eles tinham de abster-se de participar em sacrifícios idólatras (Levítico 17:7-9), de comer sangue, inclusive o de animais mortos não sangrados (Levítico 17:10-16) e de práticas classificadas como sexualmente imorais (inclusive incesto e práticas homossexuais). — Levítico 18:6-26. Embora a própria terra de Israel estivesse então sob controle gentio, com grande número de judeus vivendo fora dela, em vários países (estes eram chamados de “Diáspora”, que significa os “dispersos”), Tiago sabia que em muitas cidades por todo o Império Romano a comunidade judaica era como um microcosmo que refletia a situação da Palestina dos tempos antigos, na qual era muito comum os gentios assistirem às reuniões dos judeus na sinagoga, misturando-se assim com eles. Os próprios cristãos primitivos, tanto judeus como gentios, continuaram a freqüentar estas reuniões nas sinagogas, e até sabemos que Paulo e outros fizeram ali muito de sua pregação e ensino. A referência de Tiago à leitura de Moisés nas sinagogas numa cidade após outra, certamente dá motivos para crer que, ao enumerar as coisas que mencionara imediatamente antes, ele tinha em mente as abstinências que Moisés estabelecera para os gentios que pertenciam à comunidade judaica nos tempos antigos. Como vimos, Tiago alistou não sóas mesmíssimas coisas que estão no livro de

Levítico, mas at é na mesmíssima ordem; abstenção de sacrifícios idólatras, sangue, coisas estranguladas (não sangradas) e imoralidade sexual. Ele recomendou a observância dessas mesmas coisas por parte dos crentes gentios e a razão evidente para esta abstenção era a situação então prevalecente, a presença de judeus e

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gentios nas reuniões cristãs e a necessidade de manter paz e harmonia nessa situação. Quando os cristãos gentios foram instados a ‘abster-se de sangue’, isto devia ser entendido, claramente, não num sentido total e abrangente, mas no sentido específico de refrear-se de comer sangue, algo abominável para os judeus. É significativo que Tiago não incluiu coisas comoassassinato ou roubo entre as ações de que se deviam abster. Essas coisas já eram condenadas tanto pelos gentios em geral como pelos judeus. Mas os gentios toleravam a idolatria, toleravam comer sangue e comer animais não sangrados e toleravam a imoralidade sexual, tendo até “prostitutas de templo” em locais de adoração. Portanto, as abstenções recomendadas visavame os costumes gentioseque eram mais propensos a ofender seriamente os judeus resultar em atritos perturbações. A Lei Mosaica não exigira a circuncisão dos residentes forasteiros como condição para viver em paz em Israel, nem Tiago exigiu isto. A carta que resultou da recomendação de Tiago foi dirigida especificamente aos cristãos gentios, pessoas “das nações”, em Antioquia, Síria e Cilícia (regiões vizinhas ao norte de Israel) e, como vimos, tratava do assunto específico da tentativa de exigir que os crentes gentios “observassem a lei de Moisés”. A carta tratava das áreas de conduta mais propensas a criar dificuldades entre os crentes judeus e gentios. Não há nada que indique que a carta pretendia ser vista como “lei”, como se as quatro abstenções formassem um “Quadrálogo”, em substituição ao “Decálogo” dos Dez Mandamentos da Lei Mosaica. Era um conselho específico para uma circunstância específica, prevalecente naquele período da história. Tanto é assim que o Apóstolo Paulo escrevendo algum tempo depois sua 1ª carta no comido capitulo por 8, ele fala sobre a questão do alimento ídolosaos queCorintios, depois era alguns cristãos. Em Corinto, algunsoferecido cristãos a estavam indo a templos de ídolos onde essa carne sacrificada era depois cozida e servida (por um preço) nos recintos do templo pagão. Para um cristão, comer ali era, aos olhos de muitos de seus condiscíp ulos ― especialmente os de srcem judaica ― comparável ao modo como as Testemunhas de Jeová veriam hoje um de seus membros participar de uma ceia na igreja, com alimento previamente abençoado pelos padres e servido na catedral católica romana, com o dinheiro pago pela refeição revertido para a igreja. Como, então, tratou o apóstolo do assunto? Ameaçou ele os que comiam esta carne, advertindoos dos procedimentos judicativos e da provável desassociação? Apelou para a lei, um conjunto de regras, como meio de restringir esta prática? Ao contrário, ele mostrou que a açãoem si mesma não era condenável, deixando bem claro que o ídolo em si não é nada e que para o cristão o fato de um alimento ter sido oferecido templocom a algum depois ser causar consumido não a mudaria em nadaem suaum relação Deus,ídolo mas para poderia talvez tropeço algum co-irmão. Se alguém comia ou não comia, portanto, não dependeria da lei e do receio de ser considerado culpado de violar uma lei. Dependeria do amor e do

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receio de não prejudicar um irmão “por quem Cristo morreu”, realmente uma atitude superior que faria o cristão revelar o que tinha no coração, e não simplesmente a submissão a uma regra. O mesmo conselho demonstra que o apóstolo não encarava a decisão dos apóstolos e outros em Jerusalém (registrada no capítulo 15 de Atos) como uma “lei”. Se fosse uma lei, Paulo nunca teria escrito como fez aos cristãos em Corinto, dizendo francamente que comer ou não comer alimento oferecido a ídolos era questão de consciência, e o fator determinante era se comer faria outros tropeçar ou não. Tanto Atos 15:29 como 1ª Coríntios 8:4 usam exatamente a mesma palavra

grega . Em ambos os textos a palavra é eudolóthutos , conforme se pode confirmar consultando a Kingdom Interlinear Translation [Tradução Interlinear do Reino] da Sociedade Torre de Vigia. No entanto, a Tradução do Novo Mundo, que afirma ser uma tradução literal, diz "coisas sacrificadas a ídolos" em Atos 15:29 e "alimentos oferecidos a ídolos" em 1 Coríntios 8:4, não havendo qualquer outra razão [para traduzir a mesma palavra (eudolóthutos) de modo diferente nos dois textos] que não seja esconder as similaridades. Não há nada no contexto, ou na expressão, que indique que Atos se refere a qualquer outra prática além de comer carne oferecida a ídolos. Estes dois textos juntos provam que o texto em Atos 15:28, 29 não é um mandamento universal. Encarar a carta de Jerusalém como lei e, com base nisso, pretender que sua menção ao sangue indica que os cristãos permanecem sob as ordenanças da Lei Mosaica a respeito do sangue, é ignorar claramente as declarações do apóstolo Paulo, na não questão dos Se “alimentos oferecidos a ídolos”,ninguém mostrando tal raciocínio é válido. nenhum tropeço era provável, entãoque podia corretamente julgar Paulo ou algum outro cristão por comer tal alimento . Com respeito à imoralidade sexual (ou “fornicação”, em algumas traduções), também incluída na carta de Jerusalém,o apóstolo não apresenta isto como algo que pode ser certo ou errado, dependendo de causar tropeço ou não . Ele evidentemente a encarava como não tendo nenhuma justificativa. Portanto, fica evidente que Paulo encarava de maneira diferente as quatro questões registradas em Atos 15:28, 29. Para ele a fornicação não era questão de consciência, mas agora abster-se de coisas sacrificadas a ídolos era. Fica claro que as abstenções de Atos eram uma tentativa de resolver algumas dificuldades de relacionamento entre cristãos judeus e gentios, uma maneira de tornar a convivência entre eles mais harmoniosa. Levar a questão além disso, tentando fazer do sangue em si uma espécie de “tabu”, é tirá-la do seu contexto bíblico e histórico e impor-lhe um significado que de fato não existe.

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É injusto e desamoroso condenar os que aceitam transfusões de sangue para preservar sua vida ou a vida de entes queridos por que eles não se apegaram a certas regras e proibições srcinadas de uma organização religiosa. É injusto condenar a tais por que simplesmente não há base bíblica válida, ou qualquer outra, para fazê-lo. Tentar sobrecarregá-los com um sentimento de culpa que é imposto por padrões humanos e não por padrões divinos é desonesto e cruel. Finalmente, aqueles que hoje insistem em argumentar sobre leis dietéticas fariam bem em acatar o seguinte aviso do próprio Jesus Cristo: "Não há nada de fora dum homem passando para den tro dele que possa aviltá lo; mas as coisas que procedem do homem são as que aviltam o homem... Outrossim, ele disse: O que sai do homem é o que avilta o homem; pois, de dentro, dos corações dos homens, saem raciocínios prejudiciais: fornicações, ladroagens, assassínios, adultérios, cobiças, atos de iniqüidade, fraude, conduta desenfreada e um olho invejoso, blasfêmia, soberba, irracionalidade. Todas estas coisas iníquas saem de dentro e aviltam o homem” (Marcos 7:15, 20-23).

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udar os hábitos de um povo - ainda que para seu benefício - não é tarefa fácil. Com o- advento vacinação em massa,forte as autoridades de diversosda países inclusiveda o Brasil - encontraram resistência desanitárias diversos segmentos sociedade, resistência esta que rebentou algumas vezes na forma de insurreições. Obviamente, tal atitude baseava-se na ignorância de muitos e no preconceito contra a medicina ortodoxa e contra as autoridades governamentais. Isto veio a gerar um grave problema de saúde pública. Não foi diferente nos Estados Unidos. Também naquele país, uma parcela da população - apoiada, às vezes, por autoridades religiosas - mostrou-se contrária a esta medida protetora. Foi diferente com a comunidade das Testemunhas de Jeová? Qual foi a postura adotada pela sua organização central? Os trechos abaixo, extraídos de diversas edições de A Idade de Ouro, falam por si mesmos: “A vacinação é uma violação direta do pacto eterno que Deus fez com Noé após o dilúvio. Muito provavelmente existe alguma conexão entre a violação do sangue humano [vacinas] e a difusão de demonismo...e imoralidade sexual."

- A Idade de Ouro de 4/2/1931, pág. 293 (em inglês) “Pessoas ponderadas prefeririam ter varíola em vez de serem vacinadas, porque as vacinas propagam as sementes da sífilis, cancros, eczema, erisipelas, scrofula, tuberculose, até a lepra e muitas outras doenças nojentas. Portanto, a prática da vacinação é um crime, um ultraje, e um engano.”

- A Idade de Ouro de 1/5/1929, pág. 502 (em inglês) “As vacinas nunca salvaram uma vida humana. Não previnem a varíola.”

- A Idade de Ouro de 4/2/1931, pág. 294 (em inglês)

"A vacinação nunca preveniu qualquer coisa e nunca prevenirá, é a prática mais bárbara que há... Usem seus direitos como cidadãos Americanos para abolir para sempre a prática demoníaca das vacinas." - A Idade de Ouro de 12/10/1921, pág. 17(em inglês)

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"Evite inoculações de soro e vacinas, pois elas poluem a corrente sanguínea com seu pus nojento." - A Idade de Ouro de 13/11/1929, pág. 106,107 (em inglês)

"[A vacinação é um] truque cruel de Satanás." - Consolação de 31/5/1939, pág. 3 (em inglês)

Toda esta onda de ataques à prática da vacinação não se devia a qualquer evidência sólida de que ela fosse realmente uma ameaça à saúde pública, mas apoiava-se tão-somente na peculiar interpretação do texto bíblico de Gênesis, capitulo 9, onde Deus fala a Noé e sua família para abster-se de sangue animal. A Sociedade Torre de Vigia evocava, portanto, não razões científicas, mas teológicas (muito embora costumeiramente enfatizasse o risco natural da terapia como reforço à doutrina). Curiosamente, esta mesma passagem bíblica tem sido usada pelas Testemunhas de Jeová, desde 1945, para justificar sua exótica posturacontra as transfusões de sangue. Todavia, nesse tempo, o entendimento era que tal passagem referia-se exclusivamente ao contato com o sangue não-humano. De fato, A Idade de Ouro, na sua edição de 4 de Fevereiro de 1931, pág. 294, dizia:

"Todas as mentes racionais devem concluir que não era à ingestão de sangue que Deus se opunha, mas ao contato do sangue da besta com o sangue do homem." Este entendimento gerou uma situação totalmente antagônica ao posicionamento atual das Testemunhas de Jeová, pois - a despeito de toda 'racionalidade' da mente - elas sustentam hojeexatamente o contrário do que as palavras acima dizem. As vacinas são permitidas e a ingestão ou transfusão de sangue estão proibidas. A ampla maioria das Testemunhas de Jeová nos tempos atuais ignora o fato de que A Idade de Ouro de 29 de Julho de 1925, pág. 683, elogiava a doação de sangue. Sua sucessora, Consolação, na edição de 25 de Dezembro de 1940, pág. 19, seguiu o exemplo, elogiando um médico que doou um quarto de seu sangue e, com isso, salvou a vida de uma senhora. Fica agora fácil entender esta contraditória postura, tendo-se em mente que, de acordo com o texto acima transcrito, aplicava-se naquele tempo a passagem de Gênesis, exclusivamente aos animais, o que, por conseqüência, lançava condenação sobre as vacinas - obtidas a partir de animais inoculados - mas absolvia as transfusões de sangue humano, hoje condenadas.

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Em face de sua arraigada postura visceralmente contrária à prática da vacinação, os editores da revista não se mantiveram dentro dos limites da teologia, mas passaram a combater os próprios princípios científicos demonstrados pelo grande bioquímico francês Louis Pasteur (chamado de "fraude" pela organização) e outros cientistas, os quais mostraram claramente o vínculo entre muitas enfermidades e os germes, bem como a eficácia da vacinação em prevenir um rosário de doenças, salvaguardando a vida humana. A partir deste ponto, os autores de A Idade de Ouro enveredaram por um pantanoso terreno de inconsistências, emitindo opiniões sobre um tema com o qual não demonstravam a mínima familiaridade. O resultado desta mentalidade é demonstrado nos trechos extraídos de diversas edições da revista e transcritos abaixo:

"Já se demonstrou conclusivamente que não existe tal coisa como a hidrofobia [raiva]!...A vacinação é o mais anti-higiênico, bárbaro, nojento, abominável, e o mais perigoso sistema de infecção conhecido. Seu veneno vil mancha, corrompe e polui o sangue da pessoa saudável, resultando em úlceras, sífilis, scrofula, erisipelas, tuberculose, câncer, tétano, loucura e morte." - A Idade de Ouro de 1/1/1923, pág. 214 (em inglês)

"Nunca se provou que uma única doença seja devida a germes." - A Idade de Ouro de 16/1/1924, pág. 250 (em inglês)

"As doenças são causadas por fermentação e calor... não por germes." - A Idade de Ouro de 25/8/1926, pág. 751 (em inglês)

"Todas as doenças humanas têm seu início nos intestinos." - A Idade de Ouro de 28/11/1928, pág. 133 (em inglês)

"Em Los Angeles um jovem de 20 anos foi flagrado enquanto sufocava uma senhora de 75 anos. Preso e suspeito de três homicídios, ele declarava que a necessidade de matar vinha de inoculações de soro [sanguíneo]..." - Consolação de 1/12/1937, pág. 12 (em inglês)

conceito endossado nesta matéria Na - semelhante artigomantido de 1931 -pela não era Ocircunstancial, pessoal ouúltima transitório. verdade, aoseria organização até a década de 60. Repare o leitor o que diz esta matéria de A Sentinela (revista 'companheira' deDespertai!) de 1 de Setembro de 1961 (pág. 564):

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"O sangue de qualquer pessoa é, na verdade, a própria pessoa...Os venenos que produzem o impulso para cometer suicídio, homicídio, ou roubo estão no sangue . Insanidade moral, perversões sexuais, repressão, complexos de inferioridade, crimes hediondos, estes seguem freqüentemente o rastro das transfusões de sangue."

Tais palavras neste e nos outros artigos denunciam claramente ignorância científica e uma certa medida de arrogância. Queira o leitor ter em mente que estas matérias não foram escritas nos tempos do obscurantismo ou na idade média, mas em pleno século 20, décadas após a ciência já ter demonstrado, além de qualquer dúvida razoável, a existência de germes patogênicos, nocivos à saúde humana, bem como as funções relacionadas ao cérebro. Os artigos entre as décadas de 20 e 50 - cheios de sentimentos passionais - igualmente mostram que, no afã de combater a vacinação, a redação deA Idade de Ouro (atualmente Despertai!) acabou por perder o contato com a realidade. A forma enfática com que os artigos foram redigidos mostra ser bastante provável que seus autores realmente acreditassem nestas coisas e pensassem estar prestando um importante serviço de utilidade pública. Ao lado de tais declarações surpreendentes, diversos cartoons (um recurso ausente das edições atuais) foram publicados nas revistas, representando a vacinação de forma taxativa como algo detestável e repugnante, sem, no entanto, prover qualquer base científica para tal pensamento. Eis alguns exemplos:

Gravura da edição de A Idade de Ouro de 30 de março de 1932, pág. 409, representando a vacinaçãoporcomo uma deidade inúmeras vítimasdemoníaca, humanas. rodeada

Esta gravura representa as vacinas como um coquetel de 'pus'. Os copos sobre o balcão contêm pus de vaca, cavalo, gato e cão. Enquanto o garçom (representando a Associação Americana de Medicina) serve a vítima, um ladrão (representando os fabricantes da vacina) furta a carteira do freguês. No rodapé, a expressão "Envenenando, insensibilizando e roubando a humanidade".

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A sucessora de A Idade de Ouro levaria ainda mais de uma década para reconhecer explicitamente o benefício das vacinas:

"As vacinas parecem ter causado uma drástica redução das doenças.." - Despertai! de 22/8/1965, pág. 20 (em inglês)

Apenas após a morte do antigo editor-chefe de A Idade de Ouro, Clayton Woodworth, em 18 de dezembro de 1951, a Sociedade anuncia, por carta, sua mudança na postura quanto às vacinas. É possível que tal procrastinação em assumir esta mudança vital se devesse, pelo menos em parte, ao respeito por Woodworth, um ferrenho opositor das vacinas. É de se lamentar que a falta de razoabilidade dele tenha ditado certas normas organizacionais das Testemunhas de Jeová por tanto tempo, mesmo diante do peso das evidências contrárias a estas diretrizes. É, da mesma forma, lastimável que milhares de Testemunhas de Jeová desta época tenham permitido que suas consciências fossem moldadas por uma doutrina irracional, perigosa e sem base científica ou bíblica. De fato, os adeptos da religião recusaram a vacina contra varíola por muitos anos, tanto para si como para seus filhos, os quais enfrentavam, além do risco à saúde, uma dificuldade adicional, as escolas exigiam certificado de vacinação para admissão de alunos. Não há estatísticas disponíveis sobre o número da de Sociedade pessoas que morreram ficaram aleijadas por conta de seguir as instruções Torre de Vigiaou entre os anos 20 e os anos 50. Sobre isso, pode-se apenas conjeturar. Aqui vale lembrar que, em 1921, contabilizaram-se cerca de 100.000 casos de varíola só nos EUA, com taxa de mortalidade ao redor de 40%. A varíola, bem como outras viroses, foram erradicadas graças à vacinação em massa. Diante de tudo isto, é razoável perguntar: poder-se-iam eximir os editores de A Idade de Ouro da responsabilidade pelos danos em potencial à saúde que estes artigos promoveram? Quão eficaz mostrou-se o instrumento do 'Senhor dos senhores' e 'Rei dos reis' em prover 'verdades' ao mundo? Quãoseguros eram seus conselhos? A cruzada contra as vacinas não foi a única empreendida pelos editores de A Idade de Ouro . Houve um outro episódio, igualmente notável pela paixão com que os redatores da revista entregavam-se a uma 'nobre' causa. Trata-se da 'guerra do alumínio', travada por décadas pela Sociedade Torre de Vigia.

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A descrença da Sociedade Torre de Vigia na correlação entre bactérias e vírus e as enfermidades humanas levou-a a especular sobre suas 'reais' causas. A culpa acabou por ser atribuída aos utensílios de cozinha, fabricados em alumínio. Diziase que este material (não as bactérias) contaminava os alimentos e causava toda sorte de doenças. Pouco a pouco esta tese adquiriu caráter fundamentalista, retratando-se o alumínio como metal 'satânico' e assassino de milhões. Tudo começou em 1926, quando o dentista prático e membro da igreja presbiteriana, Charles Betts (nascido em Ohio EUA) publicou uma matéria condenando o alumínio. Tempos depois, ele foi desmascarado como charlatão. Desta época até o final dos anos 60, a Sociedade Torre de Vigia endossaria plenamente a tese de Betts, devotando nada menos que130 artigos à campanha de combate ao alumínio. A edição de 12 de Setembro de 1934, pág. 771 (em inglês) de A Idade de Ouro dizia ser ela a primeira revista a dar "ampla publicidade a esta matéria" - a maravilhosa descoberta do Dr. Betts, a quem equivocadamente a revista conferia o título de médico, pois não há qualquer registro dele em uma universidade. Examinemos agora alguns artigos típicos desta época:

"Quantos pais e mães cairão doentes; quantos bebês assassinados até que as autoridades tomem uma providência quanto a isso e evitem este massacre desnecessário?" - Artigo de A Idade de Ouro de 1929 (em inglês, de autoria deC. Woodworth)

"Evite o uso de utensílios de alumínio.... pois eles são perigosos à sua saúde, envenenando sua corrente sanguínea..." - A Idade de Ouro de 12/11/1929, pág. 107 (em inglês)

"Se você quer morrer, continue ingerindo alimentos cozidos com alumínio." - Artigo de A Idade de Ouro de 1928 (em inglês, de autoria deC. Woodworth)

"Como resultado da publicação de uma verdade salutar sobre o assunto, há cada vez menos pessoas adquirindo utensílios de cozinha de alumínio. Também há uma acentuada queda noalumínio índice deusado: mortes menos por câncer. al umínio Menos casosMuito de câncer ." usad o: muito s casos de cân cer. - A Idade de Ouro de 28/5/1930, pág. 651 (em inglês)

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"Alumínio orgânico também é um veneno" - Artigo de A Idade de Ouro de 7/8/1929 (em inglês)

Esta última declaração revela ignorância técnica do assunto, já que a substância em questão (fosfato de alumínio) não é composto orgânico. A revista apenas de Charles Betts. Assim, A Idade prosseguiu em sua cruzadacopiou contra ooerro alumínio, atribuindo-lhe toda sorte de deOuro moléstia e intoxicação, apesar da completa ausência de base científica para isso. No final da década de 20, o Dr. Morris Fishbien - presidente da American Medical Association [Associação Americana de Medicina] e editor das duas publicações periódicas dessa associação, o Journal of the American Medical Association (JAMA) e Hygeia - publicou um artigo, no qual mencionava o resultado de todos os testes sobre o alumínio, realizados por conceituados institutos norte-americanos e ingleses. Em nenhum dos experimentos pôde-se demonstrar qualquer associação entre o uso de utensílios de cozinha em alumínio e qualquer enfermidade, muito menos o câncer. Outros cientistas também publicaram matérias expondo a futilidade de insistir com esta campanha. A resposta dos editores de A Idade de Ouro não tardaria a vir, e da pior maneira, a edição de 26 de Setembro de 1934, pág. 807 (em inglês) endossou o seguinte comentário:

O Jornal da American Medical Association é a folha mais vil que passa pelo correio dos Estados Unidos.... Nada que seja novo e útil em terapêutica escapa à sua condenação cega. Os seus ataques são geralmente ad hominem. As suas colunas editoriais são devotadas em larga medida ao assassinato das pessoas.... O seu editor [Morris Fishbien] é o tipo de Judeu que crucificou Jesus Cristo .

Assim, edição após edição, ataques pessoais e a instituições médicas assumiram o lugar dos argumentos cientificamente embasados. A revistaA Idade de Ouro e sua sucessora - Consolação - passaram a insinuar que todos os profissionais médicos defensores do alumínio estavam comprometidos com os grandes comerciantes do ramo. Era, pois, inevitável que estas publicações passassem a não ser levadas a sério pelosTorre cientistas e institutos médicos prestígio. resultado, Sociedade de Vigia acabou por receberdeum lugar deComo destaque entre osa maiores nomes do charlatanismo médico na história, listados no clássico texto de Warner (1930).

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Eis alguns cartoons da época:

"Os convidados ocultos da mesa O público consumidor de alumínio, O fabricante de alumínio diz: de jantar feito com alumínio: representado por um bode expiatório "'todos a bordo - para a envenenamento, câncer e morte!' (câncer, loucura e morto, ao lado dos algozes morte" envenenamento)"

Paralelamente, a Sociedade Torre de Vigia, passou a publicar cartoons extremamente hostis à Associação Americana de Medicina ( AMA), como este, na edição de A Idade de Ouro de 8 de Setembro de 1937, pág. 771:

O Hospital da Associação Americana de Medicina é representado como um monstro devorador e os médicos, como vigaristas gananciosos. No rodapé, faz-se uma pilhéria com a sigla da associação: "Fabricantes de Alumínio Associados".

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É certamente lamentável que os editores de A Idade de Ouro, no afã de manter sua doutrina, recorressem a insultos como os que vimos até agora. Todavia, ante a falta de evidência, a Sociedade Torre de Vigia, gradualmente encerrou sua cruzada contra o alumínio e seus defensores, chegando até a chamá-lo, em uma edição deA Sentinela de 1969, de "um dos mais versáteis metais conhecidos do homem, pelo qual deveria ser grato ao Grande Criador, o qual encravou-o primeiro na crosta da terra". Estranhamente, nenhuma menção é feita do radicalismo com o qual, por décadas, a organização defendia uma postura totalmente oposta ao que agora afirmava. Certamente ninguém veio a morrer por usar utensílios de alumínio, como a Sociedade Torre de Vigia afirmava. Por outro lado, não se pode deixar de extrair deste caso uma demonstração do quanto a falta de modéstia e de cautela em emitir opiniões pode conduzir toda uma organização a um poço de inconsistências e falácias. A lição é clara, todos devemos ter prudência em questões fora de nossa área de conhecimento, especialmente em assuntos que envolvem a saúde humana. Caso os editores da revista A Idade de Ouro (atualmente Despertai!) tivessem tido a humildade necessária, episódios patéticos como este poderiam ter sido evitados.

As incursões pitorescas da Sociedade Torre de Vigia ao mundo da ciência não se restringiram às questões da vacinação e do alumínio. Deveras, seus representantes, por diversas vezes, endossaram o trabalho de opositores da medicina ortodoxa, os quais posteriormente foram desmascarados como charlatões em assuntos médicos. Entre estes, podemos citarAlbert Abrams, George Starr White, Bernarr McFadden e outros. Alguns deles desenvolveram verdadeiras 'geringonças' que, quando não inócuas, eram prejudiciais à saúde. Outras vezes, as publicações continham conceitos totalmente ultrapassados em medicina - o caso, por exemplo do artigo de A Sentinela de 1961, que, ao classificar transfusão sanguínea de "alimento", estava apenas confirmando as obsoletas palavras de um médico do século 17, Jean Baptiste Denys. Além disso, diversos autores de artigos que saíram nas revistas das Testemunhas de Jeová eram médicos adeptos de terapias alternativas, sem qualquer base científica e freqüentemente baseadas em crendices, ocultismo e folclore.

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Façamos agora uma breve incursão a alguns dos mais estranhos exemplos de 'diagnóstico', 'terapêutica', 'aconselhamento médico' e 'descobertas científicas', publicados pelas Testemunhas de Jeová ao longo do tempo:

"Nós fornecemos abaixo uma cura simples para os sintomas de apendicite. A dor na região do apêndice é causada pela mordida de vermes próximo da junção do cólon transverso com o intestino delgado, do lado inferior direito do abdômen. Este remédio é também recomendado para febre tifóide, a qual também é uma doença causada por vermes. A medicação é a dose 'Santonina', 3 grãos, uma hora antes do desjejum; repetidas por quatro manhãs, até que os sintomas desapareçam. Daí, uma dose por mês durante três meses para erradicar todos os germes. Esta receita é de INCALCULÁVEL VALOR. Não só evitará despesas, talvez de 200 dólares, com cirurgia e internação, como evitará semanas de mal-estar, inconveniência, convalescença e perda de salário." - Torre de Vigia de Sião de 15/1/1912, pág. 26 (em inglês) Comentário: Este artigo contém uma incrível seqüência de absurdos. Primeiro, esta 'receita', além de ineficaz, pode levar o paciente de apendicite a não buscar o tratamento cirúrgico, resultando em uma septicemia fatal. Segundo, apendicite nada tem a ver com 'mordidas de vermes'. Terceiro, não existe nenhuma junção entre cólon transverso e o intestino delgado, mas deste último com o cólon ascendente. E quarto, febre tifóide não é causada por vermes, mas por bactérias.

sentemalgum. um forte de adorar Deus, outrosdosentem não"Alguns sentem desejo Estadesejo diferença se devea ao formato crâniopouco ." desejo e outros - Reimpressão de Watchtower de 15/3/1913, pág. 5201 (em inglês) Comentário: Esta declaração baseia-se na frenologia , a crença anticientífica e absurda que relaciona as aptidões e o caráter das pessoas ao formato da cabeça. A exemplo de seu fundador - C. T. Russell - a Sociedade Torre de Vigia endossaria esta e outras teorias estapafúrdias por décadas no futuro.

"A irmã Smith de Nebraska recentemente descobriu uma espécie de feijão, os quais ela declara ter produzido tanto que ela os chama 'Feijões do Milênio'." - Torre de Vigia de Sião de 15/1/1912, pág. 26 (em inglês)

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Comentário: Esta notícia é típica de uma época em que se buscavam evidências 'milagrosas' da proximidade do milênio de Jesus Cristo, prometido para 1914 produzindo uma atmosfera de expectativa e sensacionalismo. Por volta desta mesma época, um outro episódio - o do'trigo milagroso' - acabou por suscitar o escárnio público e descrédito sobre a Sociedade Torre de Vigia. Seu fundador, Russell, foi satirizado em um jornal norte-americano como charlatão. Ele processou o jornal e perdeu a questão na Justiça.

"...O uso de chupetas por bebês é uma das principais causas de amídalas enfermas e aumentadas e adenóides crescidas, como resultado da sucção." - A Idade de Ouro de 26/11/1919, pág. 153 (em inglês) Comentário: A hipertrofia (crescimento) das adenóides ou das tonsilas palatinas (amídalas) em crianças está relacionado a fatores imunológicos e não à sucção de chupetas.

"O tamanho do nariz, e também o tamanho dos olhos, não são sem significado. Um homem de nariz pequeno não pode ter uma mente judicial, não importa que outras virtudes tenha. E um homem de nariz arrebitado não pode administrar justiça mais do que um buldogue pode ser pastor." - A Idade de Ouro de 19/1/1921, pág. 224 (em inglês) Comentário: Outra declaração baseada na frenologia , dezoito anos após Russell ter dado publicidade a esta crendice em seu periódicoWatchtower.

" Jesus era um homem perfeito e, falando em linguagem científica, tinha uma abundância de elétrons... Assim, a mulher que padecia de um problema sanguíneo estava em sintonia com Jesus - ela tinha fé - e quando tocou a aba de sua veste, elétrons saíram dele e ela foi curada." - A Idade de Ouro de 20/12/1922, pág. 177 (em inglês) Comentário: Esta matéria representa um período em que a Sociedade Torre de Vigia esteve bastante empolgada com a teoria de um famoso charlatão -Albert

Abrams - inventor um dispositivo baseado emAbrams sua teoria das Reações Eletrônicas de Abramsde(E.R.A.) o "dinamizador". O Sr. fez fortuna com sua "invenção". A máquina 'radiônica' supostamente curava doentes à distância através de uma foto, uma amostra de sangue ou outro item qualquer da pessoa.

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Um adepto da religião que era médico desenvolveu um aparelho semelhante e o anunciava à venda na revista A Idade de Ouro. Tal 'terapia' esteve em uso na sede da organização (Betel) até os anos 40. Tal prática, além de absurda, fundamenta-se no ocultismo - hoje condenado pelas Testemunhas de Jeová. Incrível como possa parecer, uma Testemunha de Jeová de nomeRoy Goodrich, tendo lutado contra o uso deste dispositivo entre seus irmãos de fé por considerá-lo objeto ligado ao espiritismo, acabou sendo desassociado da religião. Quanto ao inventor da falsificação - Albert Abrams - foi contemplado pela revista da American Medical Association [Associação Americana de Medicina] com o título de Decano " dos Charlatões do Século 20".

"... a mosca foi srcinalmente criada pelo demônio...Os odores que são altamente desagradáveis ao homem... são agradáveis para a mosca...Provavelmente o Senhor produziu alguns dos insetos úteis. Não há dúvida de que o demônio criou alguns dos outros. O Senhor é o melhor arquiteto." - A Idade de Ouro de 19/12/1923, pág. 163 (em inglês) Comentário: Aqui - por meio de uma 'descoberta' assombrosa - a Sociedade Torre de Vigia promoveu o diabo a criador.

"Não há alimento bom para a refeição da manhã. A hora do desjejum não é hora para interromper o jejum. Mantenha o jejum diariamente até o meio-dia." - A Idade de Ouro de 9/9/1925, pág. 784 (em inglês) Comentário: Ao despertar pela manhã, a taxa de açúcar no sangue apresenta-se baixa, de modo que é justamente este o momento adequado para uma refeição balanceada. Não há base científica para incentivar alguém a ir ao trabalho em jejum, até o meio-dia, como forma de promoção de saúde. Mais um conselho duvidoso de A Idade de Ouro.

"...A Biola Eletrônica de Rádio, a qual significa vida renovada por ondas de rádio ou elétrons. A Biola automaticamente diagnostica e trata doenças pelo uso de vibrações eletrônicas." - A Idade de Ouro de 22/4/1925, pág. 454 (em inglês)

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Comentário: Este artigo representa outro modismo adotado pela Sociedade Torre de Vigia, após seu presidenteRutherford ter se tratado com uma tal 'almofada rádio-solar' para curar pneumonia.A Idade de ouro de 23 de Junho de 1920, págs. 606 e 607, publicou uma matéria de autoria do médico deRutherford, explicando as 'propriedades' do dispositivo, seguindo-se de uma recomendação pessoal do 'juiz' em favor de tal tratamento. O mais curioso é que o editor da revista, Clayton Woodworth, na edição de 2 de Fevereiro de 1921, pág. 260, afirmou que a descoberta do elemento rádio devia-se a demônios 'honestos', que se comunicavam com os seres humanos por meio de objetos de ocultismo, tais como pranchetasOuija. É importante salientar que, além de ineficaz, tal tratamento é perigoso à saúde.

"Pegadas humanas de 2,1 m de comprimento encontradas na Califórnia [podem ser] dos gigantes [mencionados em] Gênesis, cap. 6.." - A Idade de Ouro de 13/1/1926, pág. 238 (em inglês) Comentário: Aqui, os editores de A Idade de Ouro arriscam um 'palpite' em paleontologia, muito embora a Bíblia nada indique quanto ao tamanho dos pés dos 'nefilins' de Gênesis.

"A maioria dos acidentes se devem à gravitação e seus efeitos... Quedas de avião... podem ser evitadas por dispositivos individuais de gravidade negativa." - A Idade de Ouro de 24/3/1926, pág. 404 (em inglês) Comentário: Esta matéria caracteriza bem a fase em que os editores da revista mostravam uma forte propensão para a ficção científica.

"Deus [poderá em breve fazer] um cometa [ser] capturado pela terra... trazendo uma mudança radical no clima... transformando a superfície de nosso planeta em um paraíso." - A Idade de Ouro de 16/6/1926, pág. 583 (em inglês) Comentário: É muito pouco provável que a colisão da terra com um cometa

resultasse em um 'paraíso'. Trata-se apenas de mais uma fantasia dos autores, típica da época.

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"A pasteurização do leite e de outros alimentos é responsável por quase todos os males físicos da humanidade hoje." - A Idade de Ouro de 30/6/1926, pág. 623 (em inglês) Comentário: Eis uma afirmação bem típica da época em que a Sociedade Torre de Vigia empreendia mais uma de suas 'cruzadas' pseudocientíficas - o ataque à teoria dos germes como causadores das doenças, o qual perdurou até, pelo menos, o ano de 1939. Os editores de A Idade de Ouro recomendavam a ingestão de leite não-pasteurizado como sendo benéfica à saúde, mesmo diante dos riscos envolvidos nesta prática. Aqui, mais uma vez, a Sociedade foi na contra-mão da ciência. Apenas 70 anos depois em 1996, a revistaDespertai! renderia o devido louvor ao trabalho do bioquímico francês Louis Pasteur idealizador da pasteurização.

"...O rádio está realizando uma profecia diante de nossos olhos... Jesus disse que... as pedras clamariam... a galena é usada na maioria dos aparelhos de rádio... galena não passa de um pedaço de pedra... as pedras estão sendo usadas para clamar pelo Rei dos reis..." - A Idade de Ouro de 1/12/1926, pág. 157 (em inglês) Comentário: Nesta matéria pode-se ver até que ponto ia imaginação dos editores de A Idade de Ouro, buscando mirabolantes cumprimentos 'proféticos' nas

coisas mais banais do dia-a-dia. Por volta desta época, era costumeiro a Sociedade Torre de Vigia relacionar até suas transmissões radiofônicas e assembléias às grandes profecias de Apocalipse para o 'fim do mundo'.

"O rádio [poderá brevemente] transmitir... calor, luz, visão, som e força." - A Idade de Ouro de 14/7/1926, pág. 644 (em inglês) Comentário: Aparentemente tal previsão futurística jamais se cumpriu - apenas mais um fruto das mentes criativas deC.J. Woodworth e seus associados.

"SeÉum fervoroso condenar suas amídalas, vá e se mate com uma faca de mesa. maismédico baratomais e menos doloroso." - A Idade de Ouro de 7/4/1926, pág. 438 (em inglês)

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"Um cura para catarro e febre do feno... 30 gramas de casca de pimenta-da-jamaica... aspirar... algumas vezes por dia..." - A Idade de Ouro de 26/1/1927, pág. 272 (em inglês) Comentário: Acima vemos mais conselhos pueris e receitas 'milagrosas' da equipe editorial de C.J. Woodworth.

"No futuro a humanidade vai obter seu alimento diretamente do sol" - A Idade de Ouro de 5/10/1927, pág. 10 (em inglês) Comentário: O sol é uma estrela composta principalmente de hidrogênio a formidáveis temperaturas. Sua energia sustenta processos vitais como a fotossíntese. Entretanto, requer uma boa dose de imaginação fantasiosa para prever uma extração direta de alimento do sol.

"Existe apenas uma doença, a prisão de ventre." - A Idade de Ouro de 3/3/1929, pág. 434 (em inglês) Comentário : Aaoafirmação acima representa mais um Sociedade Torre de Vigia charlatanismo médico. Trata-se do endosso "Sistemada Ehret de Eliminação", cujo criador afirmava que todas as doenças tinham como srcem o acúmulo de matéria fecal e que a prática de jejuns possibilitaria a eliminação desses resíduos, restabelecendo a saúde da pessoa. Contrário a toda forma de ortodoxia na medicina, Clayton Woodworth advogou este pensamento por anos e concedeu-lhe amplo espaço nas páginas deA Idade de Ouro.

"O corpo humano, como tudo o mais, é composto de elétrons... se estes átomos forem normais, então seus elétrons funcionam apropriadamente e ordeiramente, a saúde é usufruída. Contudo, qualquer desarranjo atômico causa uma doença no corpo e seus sintomas se manifestarão..." - A Idade de Ouro de 29/5/1929, pág. 564(em inglês)

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Comentário: Tais palavras denunciam claramente a ignorância do autor do artigo no que se refere às leis físicas que regem o comportamento do átomo. Não há átomos "normais" ou "anormais" por trás da saúde ou da enfermidade e os elétrons sempre funcionam 'apropriada' e 'ordeiramente'. Na verdade, o artigo acima foi escrito na época em que a Sociedade Torre de Vigia não acreditava nos germes como causadores de doenças e, portanto, punha-se a fazer especulações pseudocientíficas. Neste artigo em particular, as estranhas afirmações srcinam-se da "Teoria das Reações Eletrônicas de Abrams", mencionada anteriormente.

"...O cirurgião pode cortar fora o 'caroço' ofensivo, não importando onde esteja, e a vítima talvez viva... todavia, mais cedo ou mais tarde... a morte ocorrerá como resultado da decomposição, ou da putrefação dessa matéria morta e venenosa, e de sua absorção de volta ao sistema..." - A Idade de Ouro de 30/10/1929, págs. 79-80 (em inglês) Comentário: Neste artigo, Clayton Woodworth arrisca uma explicação 'científica' para a causa do câncer. Segundo ele, os tumores tinham srcem no acúmulo de matéria fecal ou resíduos que caiam na corrente sanguínea, de nada adiantando a remoção cirúrgica do tecido lesionado. Todavia, a remoção cirúrgica é uma técnica empregada até hoje e, quando corretamente indicada, pode levar à cura completa da doença. Além disso, sabe-se que o câncer é uma doença celular multifatorial nada tendo a ver com 'putrefação' ou 'decomposição'. Mais uma vez, o editor deA Idade de Ouro deixou passar uma esplêndida oportunidade de permanecer em silêncio numa questão com a qual não demonstrava a menor familiaridade.

"Durma virado para a direita ou de costas, com a cabeça virada para o norte, de modo a se beneficiar das correntes magnéticas da terra." - A Idade de Ouro de 12/11/1929, pág. 107 (em inglês) Comentário: Eis mais alguns conselhos sem sentido a enriquecer o folclore da Sociedade Torre de Vigia.

"Pare de usar gomas de mascar, pois você precisa da saliva para os alimentos." - A Idade de Ouro de 12/11/1929, pág. 107 (em inglês)

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Comentário: Muito embora as gomas de mascar contribuam para as cáries, elas não reduzem o fluxo salivar - muito pelo contrário, aumentam-no. E a saliva não se esgota, como o autor parece crer, mas é continuamente produzida pelas glândulas salivares.

"Parecerá aos leitores do livro 'Criação' do Juiz Rutherford que a condição atual de Vênus é semelhante à da terra antes do dilúvio, e é significativo que alguns astrônomos lançaram a idéia de que animais como os dinossauros que, uma certa época, perambulavam por este planeta, estão agora encontrando em Vênus um lugar feliz onde viver." - A Idade de Ouro de 1/4/1931, pág. 428 (em inglês) Comentário: A atmosfera de Vênus é rica em ácido sulfúrico e, em sua superfície, reinam altas temperaturas. Em tal ambiente inóspito para a vida é muito pouco provável que possam sobreviver vírus ou bactérias, muito menos dinossauros. Nesta matéria, mais uma vez, os editores da revista lançam-se desastradamente ao mundo da ficção.

"Um assinante acha que uma gota ou duas de querosene é algo excelente para limpeza rápida de pias e banheiras.... e quando aplicadas em feridas, elas saram mais rápido. Experimente." - Consolação de 1/12/1931, pág. 12 (em inglês) Comentário: O querosene é tóxico quando absorvido pelas mucosas. A última coisa que uma mãe conscienciosa faria seria tratar os ferimentos de suas crianças com querosene. Este é mais um estranhíssimo conselho.

"Tratamento Osteopático para Loucura" - A Idade de Ouro de 26/10/1932, pág. 53 (em inglês) Comentário: A Osteopatia - crença segundo a qual todos os males resultam de 'subluxações' na coluna vertebral - foi inventada pelo filho de um missionário metodista, Andrew Still, o qual afirmava que sua descoberta havia sido inspirada por Deus. Seu lema era 'nada de drogas, nada de cirurgias, nada de soros'. Apesar de inúmeros artigos científicos expondo o charlatanismo envolvido nesta prática, a

Sociedade Torre defavorável Vigia continuou a endossá-la o ano dede1961, quando publicou um artigo a ela na edição de 8 deaté Dezembro 1961 da revista Despertai!.

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"Quanto mais cedo na manhã tomar o banho de sol, maior será o efeito benéfico, porque apanhará uma quantidade maior de raios ultra-violetas, que são curativos" - A Idade de Ouro de 13/9/1933, pág. 777 (em inglês) Comentário: Outra seqüência de absurdos. Nem a incidência de raios ultravioleta é maior quanto mais cedo na manhã nem são eles curativos. Na verdade, a exposição prolongada a eles - especialmente no fim da manhã - provoca queimaduras e contribui para o aumento na incidência de câncer de pele e cegueira. O escritor demonstra completa ignorância do assunto e, ainda assim, põe-se a aconselhar seus leitores.

"Apendicite: pegue 30 gramas de flor de sabugueiro, hortelã-pimenta e pilefólio e ferva em meio-litro de água... tome um copo de vinho cheio a cada 15 minutos... não se assuste com a 'suadeira' que causa, ou se você vomitar. Você se sentirá melhor se estiver de estômago vazio." - A Idade de Ouro de 19/12/1934, pág. 187 (em inglês) Comentário: Eis outra 'receita' ineficaz e perigosa para se tratar apendicite. O editor-chefe de A Idade de Ouro, C. J. Woodworth seguia - com grande empolgação -

aexpondo mesma atrilha mestre, vida de dosseu leitores aoRussell risco. , publicando 'curas naturais' para as doenças e

"... Muitos foram curados de problemas de fígado...Um irmão que, por anos, sofria de dores na região do apêndice, ficou inteiramente restabelecido pelo tratamento com azeite." - A Idade de Ouro de 5/7/1935, pág. 632 (em inglês) Comentário: A bile, produzida pelo fígado, coopera com a digestão por promover a emulsificação das gorduras. Um paciente com problemas hepáticos terá dificuldades em digerir o azeite ou qualquer alimento gorduroso. Portanto, é pouco recomendável seu emprego como remédio para tratar moléstias hepáticas.

Da mesma aforma, se asa fazer doresé abdominais forem médica oriundas de umAgir quadro de apendicite, coisa certa buscar assistência urgente. de outra forma é expor a saúde da pessoa ao risco.

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"Aspirina - a ameaça de doença cardíaca" - A Idade de Ouro de 27/2/1935, pág. 343 (em inglês) Comentário: Ao contrário do que afirma este artigo, a aspirina continua a ser um poderoso aliado no tratamento de doenças cardíacas relacionadas à formação de coágulos.

"Pasteur - a Fraude" - A Idade de Ouro de 23/9/1936, pág. 814 (em inglês) Comentário: Este é um dos mais estapafúrdios artigos já publicados pela Sociedade Torre de Vigia e representa com exatidão o pensamento deClayton J. Woodworth - o homem a quem o presidente Rutherford designou como editor chefe da revista A Idade de Ouro . Sessenta anos depois, na edição de 8/12/1996 - págs. 2427 - da revista Despertai! (em inglês), a mesma Sociedade não mais classificaPasteur como fraude, mas chama-o de "benfeitor da humanidade". É natural perguntar: em qual dos artigos estava ela sob a 'direção' do Espírito Santo - no de 1936 ou no de 1996? Ou em nenhum dos dois?

"..Por conseguinte, é razoável DeusDeus a terteve amaldiçoado, serpente possuía pernas que aconcluir-se elevavam que, acimaantes do de solo... o poder dea transformar o corpo dela, de modo a que deixasse de ter pernas e pudesse mover-se sobre seu ventre." - A Sentinela de 15/2/1965, págs. 127 e 128 Comentário: Aqui, o redator emite um parecer pueril sobre o relato bíblico de Gênesis 3: 14, esquecendo-se de que o texto também diz que a serpente "comeria pó". Sabe-se que as serpentes alimentam-se de outros animais, os quais caçam, matam e engolem. Além disso,todos os répteis rastejam sobre o ventre - a própria palavra 'réptil' significa rastejar. Quando possuem patas, elas emergem da face lateral do corpo, mantendo o ventre do animal em contato com o solo. Curiosamente, o evolucionismo - do qual a Sociedade Torre de Vigia discorda totalmente - teoriza que, de fato, as serpentes atuais descendem de ancestrais cujas

patas regrediram, embora nãosendo, se atribua esseque fatonão à maldição de muito Gênesisbom ou a qualquer outra muito maldição. Assim vemos é preciso senso para perceber a futilidade de buscar uma aplicação literal para essa passagem bíblica. Bom senso que aparentemente faltou aos editores deA Sentinela.

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"O coração, no entanto, está intrincadamente conectado ao cérebro pelo sistema nervoso e é bem suprido por terminações nervosas sensoriais. As sensações do coração são gravadas no cérebro. É aqui que o coração leva até a mente seus desejos e afeições, até chegar a conclusões que tem que ver com as motivações... Há uma estreita relação entre o coração e a mente, mas eles são duas diferentes faculdades, centradas em diferentes localizações. O coração... mais significativamente contém nossa capacidade emocional e nossa motivação...Uma coisa é certa, [quando os transplantados] perdem seus próprios corações, eles perdem as propriedades do coração neles contido ao longo dos anos e que contribuiu para fazer deles quem são no que diz respeito à personalidade ... Devemos lembrar-nos de que o coração também raciocina." - A Sentinela de 1/5/1971, em inglês (ou 1/9/71, págs. 518 - 524, em português)

Comentário: Passados 20 anos desde a morte de Clayton Woodworth, a Sociedade Torre de Vigia ainda parece encontrar no exemplo dele alguma inspiração para divulgar pseudociência. As funções cognitivas e as emoções têm sua sede no sistema nervoso central. Os batimentos cardíacos acelerados são umaconseqüência do estado emocional, não sua causa. E não há qualquer fundamento científico para supor um transplante de 'personalidade' em pacientes que recebem um coração novo. Atribuir propriedades cognitivas ao coração remonta aos antigos egípcios e babilônios, milênios atrás. Trata-se, pois, de uma teoria demasiado fantasiosa para

aconhecimento década em que o artigo algo foi publicado, representando fantástico retrocesso no científico, infelizmente corriqueiro um nocurrículo da organização.

"Psiquiatras e psicólogos ... não são aqueles a quem se deve recorrer quando alguém está deprimido e assediado por toda sorte de problemas... os suicídios entre eles correspondem ao dobro da freqüência encontrada na população em geral... ao invés de recorrer a psiquiatras e psicólogos, os quais também, na maior parte, não possuem tal fé, que os amantes da retidão recorram à Bíblia em busca de sabedoria..." - Despertai! de 22/8/1975, pág. 26 (em inglês) Comentário: Aqui, a religião desaconselha a seus adeptos a busca de tratamento psiquiátrico ou psicológico, sob a alegação de que estes profissionais

médicos 'não têm fé'. Além busca reputação desses profissionais. Artigos como o acima estãodisso, por trás da denegrir relutânciaa das Testemunhas de Jeová em recorrer a especialistas médicos nos casos de desordens psíquicas e afetivas, mesmo naqueles de alta gravidade, em favor de uma abordagem meramente

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religiosa do problema. Sabe-se que diversos distúrbios mentais, tais como depressão e esquizofrenia (as quais podem envolver fatores genéticos) infligem enorme padecimento à pessoa e seus familiares. O não tratamento destes pacientes poderá resultar - e, amiúde, tem resultado - em suicídio. Na verdade, o provável temor da Sociedade Torre de Vigia - aquele que motivou o lançamento do artigo é que estes profissionais detectemna religião do paciente um fator agravante por trás de seus distúrbios psíquicos. O psiquiatra clínico, Dr. Jerry Bergman (PhD e exadepto da religião) relata estudos demonstrando que tais doenças sãomais freqüentes entre as Testemunhas de Jeová do que em meio à população em geral. A essa altura das evidências, é compreensível certa medida de espanto por parte do leitor, especialmente quando se considera que os artigos expostos e comentados acima foram supostamente produzidos pela 'única' organização do mundo 'dirigida' pelo Espírito Santo de Deus. Ao lado de tais matérias, sem dúvida, 'assombrosas', diversos outros artigos divulgados na literatura da Sociedade Torre de Vigia prosseguiram endossando as mais inimagináveis 'terapias' alternativas. Entre elas, podemos acrescentar: a) Terapia de Zona (Despertai! de 22 de Setembro de 1951, págs. 27 e 28) b) Iridiagnose, quiropatia, a dieta das uvas, o purificador biológico de sangue, o matador de doenças a rádio (A Idade de Ouro de 17 de Novembro de 1926) e outras aberrações.

RDK - O "Matador de Doenças a Rádio" : uma das 'geringonças' endossadas pela Sociedade Torre de Vigia nos anos 20 - mais um risco à saúde pública.

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Em face do exposto acima, não é de surpreender que diversos estudiosos da história da medicina tenham colocado a literatura das Testemunhas de Jeová entre as fontes mais completas (e divertidas, até) de folclore 'científico' , afinal, sua evolução caminha paralelamente aos casos mais célebres de fraudes na medicina e na ciência em geral. É mister lembrar que tais invencionices expuseram milhares de pessoas ao risco de lesões permanentes ou óbito, induzindo-as a abandonar o tratamento médico adequado em troca de verdadeiras 'poções milagrosas'. Pelo risco envolvido na própria pseudoterapia recomendada (sendo em si mesma danosa) ou pela protelação em buscar assistência médica, mascarando os sintomas ou concedendo tempo à progressão da doença, não se pode eximir a cúpula da Sociedade Torre de Vigia pela responsabilidade nestes casos. A saúde e a vida de milhares de seres humanos foi desnecessariamente exposta ao perigo.

Nem sempre a Sociedade Torre de Vigia foi sistematicamente contrária ao avanço científico. Conforme vimos, no embalo deste avanço, os editores de A Idade de Ouro, em várias ocasiões, deram 'asas à imaginação', extrapolando em muito o que algumas suposições científicas pareciam sugerir. Todavia, neste mesmo aspecto encontramos uma enorme incoerência - após haver elogiado certas conquistas dos cientistas, a literatura da organização, subitamente, dava uma 'guinada' completa, passando a atacar a mesmíssima coisa que havia anteriormente louvado. Vamos a um episódio célebre: o dos transplantes de órgãos. Nenhuma pessoa razoável negaria que a tecnologia dos transplantes de órgãos prestou um incomparável benefício à humanidade. De fato, pacientes condenados à morte pela falência de um órgão vital, com o advento dos transplantes, passaram a ver 'uma luz no fim do túnel'. Um dos casos mais notórios que atestaram a eficácia dos transplantes foi o do francêsEmmanuel Vitria, o qual teve sua vida prolongada em cerca de 25 anos, graças a um coração transplantado. A técnica tem continuamente se aprimorado, com os transplantes estendendo-se a outros órgãos, tais como rins, fígado, pulmões, córneas e medula óssea. Milhões de pacientes pelo mundo aguardam ansiosamente na fila por um órgão novo, o qual lhes permita continuar vivendo. Além disso, novas drogas têm possibilitado enfrentar, com cada vez mais sucesso, o mais temido inimigo dos pacientes transplantados, a rejeição do tecido. Sem dúvida, tudo isso tem provido um enorme alento àqueles que estavam prestes a perder um ente querido em tal situação. Você próprio, leitor, talvez tenha sido beneficiado ou conheça alguém que já foi agraciado com os

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benefícios desta especialidade médica. Não se sente grato? No ano de 1949, os editores da revista Consolação (atualmente Despertai!) pareciam demonstrar bom senso, dando o devido crédito àquilo que chamavam de 'maravilhas da cirurgia', a saber, os transplantes de órgãos. A edição de 22 de Dezembro, em uma matéria intitulada "Poupe partes de seu corpo", dizia:

"...Transplantes de órgãos [são] maravilhas da cirurgia moderna." De modo semelhante, uma matéria publicada cerca de 13 anos depois, emA Sentinela de 1 de Fevereiro de 1962,pág. 96, concluía:

"Há alguma coisa na Bíblia contra se doar os olhos (após a morte) para serem transplantados numa pessoa viva? A questão de se colocar o corpo ou parte do corpo à disposição dos homens da ciência ou dos médicos, após a morte, para experiências científicas ou para transplantação em outros, não é vista com bons olhos por certos grupos religiosos. Entretanto, não parece haver nenhum princípio ou lei bíblica envolvida. É, portanto, algo que cada pessoa deve decidir por si mesma ." Tudo parecia ir bem, até que, cerca de cinco anos mais tarde, a Sociedade Torre de Vigia pareceu unir-se a 'certos grupos religiosos', publicando um estranho comentário:

"Será que há alguma objeção bíblica a que se doe o corpo para uso na pesquisa médica ou que se aceitem órgãos para transplante de tal fonte?... Aqueles que se submetem a tais operações vivem às custas da carne de outro humano. Isso é canibalesco ...Jeová não deu permissão para os corpos humanos suas quer vidas por receberem canibalescamente em seus a carnetentarem humana, perpetuar quer mastigada na forma de órgãos inteiros ou partes do corpo, retirados de outros." - A Sentinela de 1/6/1968, pág. 349,350 Aqui, os editores da revista retrocederam aos velhos tempos em queClayton Woodworth estava à frente de A Idade de Ouro, colocando-se entre a ciência e seu público, como um inexpugnável obstáculo 'teológico' ao usufruto dos benefícios medicinais da era moderna. E não foi o caso de uma opinião isolada. Vejamos o que diz a revista 'companheira' -Despertai! - na sua edição de 8 de dezembro do mesmo ano, às págs. 21 e 22:

"Embora milhares de transplantes de córnea sejam realizados cada ano...Há aqueles, tais como as Testemunhas Cristãs de Jeová, que consideram todos os transplantes entre humanos como canibalismo..." Mais adiante, na p. 30, o autor acrescenta:

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"...as Testemunhas de Jeová se opõem em sã consciência a todos os transplantes como sendo mutilação desnecessária de seus corpos criados por Jeová, e puro canibalismo." Tais palavras são difíceis de comentar. Além de constituírem um autêntico e inexplicável delírio fundamentalista - típico do obscurantismo medieval - revelam injustificável preconceito. Os artigos lançam mão de uma analogia absurda, afinal, que paralelo razoável pode haver entre a prática hedionda do canibalismo, em que um ser humano devora a carne de outro, e um ato de solidariedade humana, em que alguém doa, de modo altruísta, parte de seu corpo para salvar a vida de outrem? Ademais, o que dizer da classificação de um procedimento cirúrgico salvador de vidas como sendo uma "mutilaçãodesnecessária"? Nada menos que 13 anos se passariam antes que a Sociedade Torre de Vigia, finalmente, revisse seu grave equívoco, na edição de 1 de Setembro de 1980 de A Sentinela, pág. 31:

"Deve a congregação tomar ação quando um cristão batizado aceita o transplante dum órgão humano, tal como a córnea ou um rim? No que se refere ao transplante de tecido ou osso humano para outro, é um caso de decisão conscienciosa de cada uma das Testemunhas de Jeová...É um assunto para decisão pessoal ." Pergunte-se o leitor, o que aconteceu às Testemunhas de Jeová - ou a seus filhos pequenos - quando, neste lapso de tempo (1967 - 1980), uma cirurgia de transplante foi indicada como única alternativa para salvar uma vida? Caso o adepto decidisse seguir à risca as instruções de sua 'mãe espiritual', o que aconteceria? Apenas imagine quantas pessoas devem ter morrido por seguir esta regra absurda entre os anos de 1967 a 1980. O que teria motivado esta atitude insana? Assemelha-se isso a homicídio? As respostas não parecem difíceis.

O que acabamos de examinar ao longo deste capítulo permite-nos formar um quadro geral da mentalidade reinante entre os líderes das Testemunhas de Jeová, desde os primórdios de sua instituição até menos de uma década atrás, ao lidarem com assuntos científicos. Um cenário que se divide entre o fantástico e o ridículo, levando-nos a questionar, não só a racionalidade, mas até a sanidade destas pessoas. Uma gritante falta de modéstia ao abordar assuntos com os quais não se tem familiaridade. Um conjunto de crenças onde o falta de bom senso é uma

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constante. Uma ignorância patente sobre os princípios científicos mais elementares, bem como aventuras fantasiosas que mais fazem lembrar aquelas retratadas pelo grande escritor Júlio Verne, em sua obra 20.000 Léguas Submarinas, só que com uma grande diferença, ao contrário daquelas feitas por Clayton Woodworth, as previsões futurísticas de Verne cumpriram-se. Certamente algo bem melhor que isto seria de se esperar de um genuíno instrumento do 'Rei dos reis e Senhor dos Senhores' Jesus Cristo, por ele dirigido e destinado a proteger a fé, a saúde e a vida de seus servos fiéis. O público ao qual a literatura das Testemunhas de Jeová se destinava, sem dúvida, merecia maior prudência e bom senso por parte dos escritores de A Idade de Ouro, Consolação, Despertai! e A Sentinela.

Pergunte-se: gostaria de ter tido sua saúde e a de seus filhos aos cuidados dos escritores da Sociedade Torre de Vigia? O que pode ter acontecido a muitos dentre os milhares de Testemunhas de Jeová que recusaram a vacinação (entre 1923 e 1952) os transplantes de órgãos (entre 1967 e 1980) e as transfusões de sangue e derivados (de 1945 até hoje)? A resposta não parece difícil...

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lgumas pessoas afirmam que a Sociedade Torre de Vigia - ou o Corpo Governante, - aspira o papel de porta voz de Deus. Teriam essas pessoascomo razão?queira Estariam eles àassumir altura deste papel? Vamos considerar algumas situações, que mostram o que acontece quando alguém ou um grupo de pessoas tenta assumir um papel que não lhe cabe, especialmente um onde o que está envolvido são as vidas de outros. Primeiro considere a questão quanto a se as pessoas de Sodoma e Gomorra serão ou não ressuscitadas. Vejamos o que a Sociedade têm dito sobre isso ao longo das décadas e façamos uma breve análise.

Serão as pessoas de Sodoma e Gomorra ressuscitadas? A Sentinela de 01 de Julho de 1879 pág.8 (Inglês): "Assim, as próprias palavras de Cristo ensinam-nos que não tinham tido a sua oportunidade completa. 'Lembrem-se', diz Cristo acerca dos sodomitas, que 'Deus fez chover fogo e destruiu-os a todos.' Portanto,

se se fala da restauração deles, subentende a ressurreição deles."

Sim (1879)

Artigos subseqüentes: 1. Studies in the Scriptures, vol. 1, The Plan of the Ages, 1886, pág. 110 2. A Sentinela de 15 de Novembro de 1913, pág. 5351 3. Livro His Vengeance, 1934, pág.38

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A Sentinela de 01 de Junho de 1952 pág.338 (Inglês): "Similarmente, Sodoma não suportou o seu dia de julgamento,tinha

falhado completamente, e os judeus sabiam que o seu destino estava selado."

Não (1952)

Artigos subseqüentes: 1. A Sentinela de 01 de Fevereiro de 1954, pág.85 2. A Sentinela de 01 de Abril de 1955, pág. 200 3. A Sentinela de 15 de Janeiro de 1960, pág. 53

A Sentinela de 01 de Março de 1965 pág.139: "Tal como no caso de Tiro e de Sídon, Jesus mostrou que Sodoma, embora fosse má, não tinha chegado ao estado de ser incapaz de arrependimento [...] Portanto a recuperação espiritual das pessoas

mortas

Sim (1965)

de

Sodoma

não

é

[um

caso]

sem

esperança."

Artigos subseqüentes: 1. A Sentinela de 1 de Agosto de 1965 pág.479 (Perguntas dos Leitores) 2. Livro Viver Para Sempre (edição de 1983) pág.179, par.9 (O Dia do Juízo e Depois) A Sentinela de 01 de Junho de 1988 pág. 31 (Perguntas dos Leitores): "Conseqüentemente, em adição ao que diz Judas 7, a Bíblia usa Sodoma/Gomora e o Dilúvio como exemplos para o fim destrutivo do atual sistema iníquo. É evidente, pois, que os a quem Deus executou naqueles julgamentos passados sofreram destruição irreversível."

Não (1988)

Artigos subseqüentes: 1. Livro Revelação - Seu Grandioso Clímax Está Próximo! (1989) caixa na pág.273 2. Livro Viver Para Sempre (edição de 1989) pág. 179, par. 9 (O Dia do Juízo e Depois) 3. Livro Estudo Perspicaz (1990) vol.3, p.619

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Um detalhe curioso é que, apesar de o livro Revelação - Seu Grandioso Clímax Está Próxi mo! e o livro Estudo Perspicaz das Escrituras (ambos edição em Inglês) apresentarem versões bem diferentes para o que vai acontecer com o povo de Sodoma e Gomorra, eles foram lançados no mesmo Congresso de Distrito em 1988 (nos EUA). Contudo, ainda mais grave é a argumentação usada no Estudo Perspicaz em Inglês: contrariando o livro Clímax, o Estudo Perspicaz diz que as cidades foram destruídas para sempre mas as pessoas terão uma segunda chance, como se Jesus estivesse se referindo às cidades com suas ruas, casas localização geográfica etc, ao invés de pessoas. Você acha que isso faz sentido? Bem, pelo menos por uma coisa a Sociedade merece ser louvada, essa argumentação aparece até o dia de hoje no Estudo Perspicaz em Inglês.

Insight on the Scriptures, vol. 2, sob verbete SODOM. A parte em destaque ao lado diz: "Sodoma e Gomorra foram eternamente destruídas como cidades mas isso não excluiria a possibilidade de ressurreição para pessoas dessas cidades." (itálicos estão no srcinal. Mesmo conteúdo aparece no CD-ROM da Sociedade, em Inglês, versão de 1999).

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É digno de nota que em todos os casos acima, não importando se a resposta era SIM ou NÃO, a Sociedade usou argumentos igualmente convincentes, inclusive citando, como de costume, outras passagens da Bíblia em apoio. Em todas as vezes, o ensino foi defendido como "a verdade". Se você tivesse discordado, é provável que teria sido desassociado. Você pode, portanto, apenas imaginar quantas pessoas foram afetadas por outras doutrinas cujas argumentações pró ou contra são ou foram bem semelhantes às acima, doutrinas tais como proibição de vacinas nas décadas de 30/40, transplantes de órgãos, transfusões de sangue, serviço militar alternativo etc. Considere a seguir um assunto relacionado com este que acabou de ler. Trata-se de uma simples pergunta feita freqüentemente as Testemunhas de Jeová e que o corpo governante resolveu responder.

Uma pergunta muito interessante não acha? Mais interessante ainda foi a resposta da Sociedade. Veja a pergunta e a resposta do corpo governante no website oficial da Sociedade e observe cuidadosamente a resposta dada.

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Resposta idêntica à acima aparece na brochura para o público em geralAs Testemunhas de Jeová no Século Vinte , página 29. Nem todas as pessoas conseguem perceber o problema desta resposta logo de imediato. Se você não conseguiu, considere o seguinte. A Sociedade logo de saída diz quenão. Esta é a resposta certa, mas veja que não fica por aí. O restante da resposta acaba revelando o que a Sociedade realmente pensa. A segunda frase é projetada para confundir o leitor misturando o assunto 'quem será ressuscitado' com o assunto srcinal que era 'quem será salvo'. A terceira frase é a mais fácil de se perceber o truque. Ora, se uma pessoa precisa se converter para as Testemunhas de Jeová para obter a salvação, então a primeira frase deveria ser SIM. No restante da resposta a Sociedade tenta passar uma imagem de humildade e confiança em Deus quando, de fato, deixar que o julgamento dessa questão ficasse nas mãos de Deus é exatamente o que ela deveria ter feito já desde o início. Agora compare a resposta acima com esta aqui. A Sentinela de 1/9/1989, pág.19, par.7:

"Apenas as Testemunhas de Jeová, os do restante ungido e os da Grande Multidão, qual organização unida sob a proteção do Organizador Supremo, têm esperança bíblica de sobreviver ao iminente fim deste sistema condenado, dominado por Satanás, o diabo." Nos dois casos acima observamos duas atitudes muito comuns no “corpo governante” dasseus Testemunhas de Jeová, o constante e vem de doutrinas ea contradição em escritos. Notou como no caso davairessurreição dos sodomitas eles conseguiram ir e voltar nos seus conceitos várias vezes? Percebeu como que em uma simples pergunta sobre quem seria salvo, eles conseguiram dar duas respostas diferentes? É possível um grupo que se diz representante de Deus, o único canal de orientação provido por Deus ser tão confuso, incoerente e contraditório? Rigorosamente falando, estas atitudes não chegam a ser novidade na organização das Testemunhas de Jeová, pois vêm ocorrendo praticamente desde o início da existência dela, desde os anos 1870. Russell, por exemplo, a dirigiu sozinho e tomou todas as decisões enquanto foi o presidente, pois não havia nenhum corpo governante nem em teoria, nem de fato. A primeira menção a um corpo governante em A Sentinela foi em 1944, mas Rutherford e Knorr (até 1976), presidiram a Sociedade como bem entenderam.

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Um corpo governante no pleno sentido da palavra só veio a existir em 1976. Isto foi uma grande mudança. Ensinaram até 1935 que todas as Testemunhas de Jeová leais poderiam ir para o céu, e daí disseram que havia Duas Classes, celestial e terrena, como num avião que tem 1ª classe e a famosa classe popular, a classe terrena teria tipo assim uma salvação de segunda e isto também foi uma grande mudança. Por cerca de 30 anos as vacinas foram proibidas, depois liberadas; até 1945 nada havia de pecaminoso com transfusões de sangue, aí proibiram totalmente, depois liberaram frações de sangue, proibiram e liberaram novamente; em 1962 liberaram os transplantes, em 1968 proibiram e finalmente liberaram em 1980; até o início dos anos 30 no Betel de Brooklyn celebravam-se aniversários e se usava cruz na adoração, depois proibiram. No começo eles ensinaram que as "autoridades superiores" de Romanos eram os governos seculares, em 1929 mudaram e disseram que eram Jeová e Jesus, e finalmente, em 1962, voltaram a dizer que eram os governos seculares. Nas gravuras das publicações da Sociedade Jesus aparecia com barba até os anos 30 (época de Rutherford); depois apareceu sem barba e às vezes até louro nas Sentinelas e Despertai! até 1969, e daí em diante passou a aparecer com barba de novo. Os corpos de anciãos nas congregações existiram até os anos 30, depois foram abolidos (as congregações passaram a ser dirigidas por um único homem, o servo de congregação), e finalmente foram restabelecidos em 1972. No tempo da Primeira Guerra Mundial, as Testemunhas de Jeová (Estudantes da Bíblia) podiam vestir uniforme, ir aos campos de batalha, mas deviam atirar para o ar, e hoje tudo isso é "velha luz". Afirmaram que a “imagem da fera” e “a fera cor de escarlate” representadas no livro bíblico de Apocalipse, simbolizavam a ONU (Organização das Nações Unidas), mas agora, depois que a ONU perdeu sua relevância no cenário internacional, dizem que não sabem mais ao certo. Proclamaram enfaticamente que o fim viria em1914, depois em 1925, depois em 1975, depois disseram que a geração de 1914 não ia passar antes que viesse o fim, e conforme você pode notar todas estas previsões não passaram de um fiasco. O interessante é que quando políticos prometem e não cumprem, logo são tachados de mentirosos, corruptos – muitos o são é claro – mas o que dizer das promessas do “único canal de comunicação com Deus”? Não era o primeiro esclarecimento também uma “luz”? Não era um “alimento no tempo apropriado”? Não foi o primeiro “alimento no tempo apropriado” uma provisão de Jeová por meio do “escravo fiel e discreto”? Quando foi que durante 4.000 anos, Deus deu um entendimento que precisou ser substituído?

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O que mais me espanta é como as testemunhas de Jeováaceitam passivamente varias alterações e previsões fracassadas deste porte, sem ao menos uma pequena dúvida sobre a credibilidade e honestidade do chamado corpo governante. Não existe nem mesmo a preocupação de se procurar uma explicação no mínimo convincente, porque dizer que é uma "nova luz" não da para engolir, afinal o texto bíblico que se usa para justificar as mudanças diz "...uma luz que clareia mais e mais...", ou em outras palavras, um entendimento que se purifica, que ganha contornos melhor definidos, uma imagem da qual se melhora o foco gradativamente, por exemplo, ao olhar pela objetiva de uma máquina fotográfica fora de foco vemos o contorno embaçado de uma pessoa, na medida em que ajustamos o foco percebemos a melhora na nitidez da imagem e reconhecemos quem esta sendo focalizado, é isto que o texto quer mostrar. Só que a explicação da Sociedade Torre de Vigia é o mesmo que dizer: "Amados irmãos, anteriormente nós estávamos vendo através de nossa objetiva o contorno pouco nítido de um homem, mas ajustamos o foco e creiam, o que estamos vendo nitidamente agora é uma girafa". Esta dita luz que clareia mais e mais, parece mais um pisca-pisca, uma luz que acende e apaga, acende e apaga devido a tantas idas e vindas nos seus ensinos. Se pelo menos eles fossem honestos é falassem algo como "mudou tudo" ou "estávamos totalmente errados" ou “desculpem nossa falha”, mas nem isto eles tem o caráter de reconhecer. Pelo contrário, quando são questionados por suas idas e vindas em suas doutrinas ou por todas as suas falsas previsões, eles espertamente comparam tais coisas com as dúvidas que os Apóstolos de Cristo tiveram, quando perguntaram para Jesus se era naquele as tempo que ele estabeleceria o reinodos (Atos 1: 6). Agora veja que absurdo, comparar sinceras e humildes perguntas Apóstolos com as presunçosas e arrogantes afirmações que os dirigentes da Sociedade Torre de Vigia tem feito. Uma coisa e ter dúvida sobre determinado assunto e perguntar humildemente, agora, outra coisa e afirmar categoricamente algo e publicar uma enxurrada de publicações sobre o assunto dizendo que quem não acreditar em tais afirmações tem uma fé fraca, esta sendo dominado pelo diabo e influenciado pelo mundo dele. Pense bem, você já viu na Bíblia um profeta ou um sevo leal de Deus ser orientado por Ele a dizer algo e aquilo não se cumprir? Falar uma coisa depois voltar atrás e falar outra, depois voltar a falar o que disse primeiro, ficar na dúvida e novamente mudar tudo de novo, sendo ele guiado por Deus a falar sobre aquele assunto específico? Veja o caso de Jeremias, Deus o orientou a dizer que Babilônia dominaria as relato naçõesem porque 70 Jeremias anos (Jeremias Porsuas um palavras? acaso vocêAlgum encontra na Bíblia algum voltou 25:11). atrás nas relato em que estes preditos 70 anos passassem sem que nada acontecesse e Jeremias começasse a dizer “pensando bem não são 70 anos mais sim 100 anos”, e

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novamente nada acontecesse e ele dissesse “bem, na realidade não são 100 anos e sim 200 anos”, e ele por fim morresse e outro servo de Deus, guiado pelo Altíssimo, analisasse as predições de Jeremias e dissesse “na verdade não são 200 anos e sim 300 anos” e assim sucessivamente sem que nada acontecesse? Muito pelo contrário, no final dos preditos 70 anos (nem um ano a mais, nem um ano a menos), Ciro, comandante do exército Persa, invadiu Babilônia e numa só noite dominou a cidade, acabando com a supremacia Babilônica sobre as nações. A própria Bíblia deixa bem claro como separar os verdadeiros Profetas de Deus, aquelas pessoas usadas de modo especial por Deus, dos falsos profetas, aqueles que não tem a orientação de Deus: “ E caso digas no teu coração: Como saberemos qual a palavra que DEUS não falou? Quando o profeta falar em nome de DEUS e a palavra não suceder nem se cumprir, esta é a palavra que DEUS não falou. O profeta proferiu-a presunçosamente. Não deves ficar amedrontado por causa dele.” Deuteronômio 18: 20-22.

Imagine Moisés, um homem usado de modo especial por Deus para libertar e guiar os israelitas à terra da promessa. Será que Moises ao guiar o povo pelo deserto ficava assim “vamos em direção da Arábia”, depois de alguns dias ele dizia “pensando bem, vamos em direção a África”, depois de algum tempo dizia “bem, na verdade devemos ir em direção a Ásia”. Será que é isto que está relatado na Bíblia? Os israelitas ficaram 40 anos perambulando pelo desertopor causa de

sua falta de fé e não porque Moisés estava perdido ou confuso sobre que direção seguir. Visto que ele estava sendo orientado por Deus, ele sabia exatamente para onde devia ir. Quem escreve os artigos da Torre de Vigia, a maioria dos quais é a base de sua legislação "teocrática", são homens como eu e você, que tanto podem acertar no que escrevem, como podem errar. E os fatos são conclusivos em demonstrar que eles não são orientados por Deus. Quer ver? Olhe o que eles já falaram:

"Não vemos qualquer razão para mudar os números — nem poderíamos mudá-los se quiséssemos. Estas são, como cremos, datas de Deus, não nossas. Mas tenham em mente que o fim de 1914 não é a data do início, mas do fim do tempo de tribulação ." A Sentinela, 15/07/1894 (Reimpressões, pág . 1677) "Antes dessa data [1914] o Reino de Deus, organizado em poder, estará na terra e então golpeará e esmagará imagem (Daniel 2: 34) e, consumirá completamente poder destes reis." Vol. IIa da sériegentia Aurora do Milênio mais tarde chamada deo Estudos das Escrituras, de 1889, pp. 77, 78, em inglês.

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"À luz dos textos bíblicos supracitados se prova que a primavera de 1918 trará à cristandade um espasmo de angústias ainda maiores do que as experimentadas no outono de 1914.... As repúblicas desaparecerão no outono de 1920. Todo o reino da terra passará, será tragado pela anarquia." Livro O Mistério Consumado, de 1917, pp. 62, 258. "Podemos seguramente esperar que 1925 marcará a volta às condições de perfeição humana, de Abraão, Isaac, Jacob e os antigos profetas fiéis." Livro Milhões que Agora Vivem Nunca Jamais Morrerão, de 1920, p. 112. "Nenhum menino entrou na arca [de Noé] nem tão pouco nasceu algum ali, e, portanto, nenhum saiu da arca. Somente oito pessoas entraram e oito saíram da arca... Isso pareceria indicar ser próprio para aqueles que formarão a 'grande multidão' esperar até depois do Armagedom p ara gerarem filhos... Podemos bem adiar o nosso casamento até que a paz duradoura venha à terra. " Livro Filhos, de 1941, pp. 241, 242, 283. "Ao receberem o presente [o livro "Filhos", escrito por Rutherford] as crianças em fila o abraçaram, não como um brinquedo ou passatempo, mas como o instrumento provido pelo Senhor para a maior parte do trabalho efetivo nos meses que restam antes do Armagedom." A Sentinela, 15/09/1941, p. 288, em inglês. Vide livro "Proclamadores", p. 86. "Se é jovem, também precisa encarar o fato de que jamais se tornará velho no atual sistema de coisas. Por que não? Porque toda evidência em cumprimento da profecia bíblica indica que este corrupto sistema de coisas deverá terminar dentro de poucos anos." Despertai! , 22/11/1969, algum jovem de 1969?) p. 15, § 3. à (Note o ano dessa declaração: 1969. Conhece

"Receberam-se notícias a respeito de irmãos que venderam sua casa e propriedade e que planejam passar o resto dos seus dias neste velho sistema de coisas empenhados no serviço de pioneiro. Este é certamente um modo excelente de passar o pouco tempo que resta antes de findar o mundo iníquo." Ministério do Reino, julho de 1974. "O apóstolo Paulo servia de ponta de lança na atividade missionária cristã. Ele também lançava o alicerce para uma obra que seria terminada em nosso século 20 ." A Sentinela, 01/01/1989, p. 12, parágra fo 8. Em que século nós estamos mesmo?... "Importantíssimo é que esta revista [a Despertai!] gera confiança na promessa do Criador sobre um novo mundo pacífico e seguro, antes que desapareça a geração que viu os acontecimentos de 1914." Antigo prefácio da revista Despertai! até 1995, o qual "colocava" tais palavras na boca do criador.

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O pior de tudo é que os dirigentes da Sociedade Torre de Vigia, covardemente, jogam a culpa de suas predições fracassadas nos seus próprios seguidores , nas Testemunhas de Jeová comuns que nada tem a ver com a historia, dizendo que foram eles que tiveram expectativas precipitadas, que começaram a expecular datas por sua própria conta, como se isto fosse possível, pois quem conhece o funcionamento da Sociedade sabe muito bem que não a possibilidade de alguém continuar dentro da organização ensinando algo ou propagando idéias que não tenham sido publicadas pelo corpo governante. Se uma Testemunha divulgar conceitos contrários ao que tem sido ensinado pela organização será taxado como um apóstata e como conseqüência será expulso da organização sem dó nem piedade. Os demais serão proibidos de conversar com tal pessoa, não poderão nem mesmo dizer um “oi”, se cruzarem com ele na rua terão de virar a cara, se forem convidados para uma festa de casamento e souberem que um desassociado (é como chamam um expulso) estará ali eles não irão, se o desassociado for um filho, o pai ou a mãe deverão evitá-lo o máximo possível. Portanto, da para imaginar o regime ditatorial que existe dentro desta organização? Ninguém pode questionar nada, duvidar de nada, discordar de nada que venha do famigerado “corpo governante”, se fizer isto arcará com todas as conseqüências citadas acima. Diante de tudo isto é realmente uma grande hipocrisia a Sociedade jogar a culpa de seus erros nas costas dos seus adeptos. Seria como se uma mãe desse um alimento estragado para seu filho dizendo que é de boa qualidade, depois que o filho começa a passar mal a mãe culpa o filho por ter comido o alimento estragado dizendo “mas porque você foi comer isto” e o filho com aquele olhar espantado responde “mas foi você que me deu mamãe” . O pior disso tudo é que mais de sete milhões de pessoas em toda a terra acreditam nisto! Se não acreditam pelo menos aceitam tacitamente.

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á se perguntou alguma vez por que muitos se sentem atraídos as Testemunhas de Jeová? Se você é uma Testemunha de Jeová, já se perguntou, após deparar-se com uma inconsistência doutrinária,como é que ninguém notou isto antes? Ou se notaram, por que, mesmo pessoas inteligentes, continuam na religião apesar disso? As Testemunhas são compostas de pessoas de vários níveis sociais, econômicos e educacionais; essa diversificação de srcens é por sinal muito elogiável. Dentre elas há pessoas muito limitadas mas também há pessoas muito hábeis. É preciso lembrar, porém, que muitas dessas pessoas mais sofisticadas e inteligentes, já nasceram num lar de Testemunhas ou abraçaram essa fé cedo na adolescência. No entanto, as perguntas acima são no mínimo intrigantes e merecem uma consideração. Para uma religião reter adeptos ela precisa primeiro, obviamente, fazer adeptos. Como conseguem isso? Vejamos.

Existem vários fatores que atraem as pessoas às Testemunhas e este capitulo de forma alguma pretende ser exaustivo o bastante para ser considerado a última palavra no assunto, pois isto talvez requeresse um inteiro livro por si só. Portanto, a partir de agora examinaremos apenas alguns destes fatores.

Num mundo onde as religiões, bem ou mal intencionadas, exigem dos seus membros contribuições, dízimos, ofertas etc, é muito comum uma pessoa que se aproxima das Testemunhas de Jeová achar seu método de contribuições voluntárias bastante correto. É muito comum a Testemunha se orgulhar disso e o apontar como sendo um sinal identificador da religião verdadeira. É preciso lembrar, contudo, que alguém precisa pagar a conta, ou seja, quando as contribuições voluntárias não são suficientes, um pedido direto de contribuições é feito – nas assembléias de circuito e distrito isto têm se tornado comum; se o morador – de casa em casa - não mais paga pela publicação, alguém têm de pagar e esse alguémque é, para naturalmente, os membros congregação. Àsque vezes nos esquecemos que algo continue sendo da voluntário é preciso o objetivo seja atingido; quando ele não o é, o que era voluntário vira compulsório.

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Já reparou como a faixa etária das Testemunhas de Jeová nos países em desenvolvimento é baixa? Há uma quantidade muito grande de jovens nas congregações. As reuniões e diversas assembléias durante o ano provêem uma excelente forma de socialização para as Testemunhas, especialmente os jovens. O que teria uma pessoa - jovem ou não - a perder se ele(a) percebe que têm a chance de obter um belo(a) namorado(a) dentro da congregação? O que teria a pessoa a perder se ela está se vestindo e até se expressando melhor no meio social no qual ela acabou de se inserir? Nada.

Já observou como é difícil achar um erro gramatical nas publicações das Testemunhas? Já notou como é de boa qualidade o material usado na produção dessas publicações? Se você é uma Testemunha, claro que já percebeu quão boa é a qualidade gráfica das ilustrações e fotografias usadas nas publicações. Por outro lado, já reparou como é fácil comprarmos um produto, qualquer queseja ele, pela melhor embalagem que ele têm? Por exemplo, que impressão você teria de um manual de computador que contivesse uma série de erros de grafia ou gramaticais? É provável que duvidasse da qualidade do computador em si, não é mesmo? A qualidade da literatura das Testemunhas contribui para a impressão de que a religião deve ser mesmo de Deus.

A grande maioria das pessoas sente a necessidade de crer em algo mesmo que não seja necessariamente Deus ou a Bíblia. Já reparou como são poucas as pessoas que quando indagadas 'qual é a sua religião?' dizem 'eu sou ateu'? Mesmo aqueles que dizem 'eu sou ateu' completam isso com frases do tipo 'eu acredito em levar uma vida honesta' ou 'eu acredito em fazer o bem ao próximo'. As pessoas, independente do nível intelectual, querem crer em algo. Alguns adotam uma crença totalmente desprovida de restrições, outros reconhecem a existência da autoridade Divina, ainda outros criam ou adotam complexos sistemas doutrinários. As Testemunhas de Jeová se encaixam nesta última categoria. Além de um sistema doutrinário, porém, as Testemunhas de Jeová ensinam coisas boas– de senso comum, na verdade – tais como o respeito aos pais e outras autoridades, honestidade, limpeza moral etc. Quando uma pessoa toma contato com uma religião assim é muito comum ela pensar 'que religião diferente, têm de ser a verdadeira'. se se dáreverter conta deimplacavelmente que exatamentecontra o aspecto atraiuÉpode exatamente oPouco que vai ela láque na afrente. muitoser comum acontecer também o que ocorre quando alguém está prestes a fechar um contrato, ou seja, normalmente as letras miúdas não são vistas ou lidas. As

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Testemunhas de Jeová, por motivos óbvios, não informam ao prospectivo converso exatamente todas as obrigações que o aguardam, nem as srcens históricas da religião, que são reveladas de maneira muito superficial. Elas também não têm o menor interesse em avisar o que acontecerá se após o batismo a pessoa desejar voluntária e formalmente se desligar. Enfim, o fato é que para satisfazer sua necessidade de crer em algo, o estudante está ansioso para abraçar a nova fé e a Testemunha, até de modo sincero, ansiosa para fazer um novo converso.

Muitas Testemunhas passam anos achando que têm todas as respostas para todas as perguntas. Quando uma questão surge, o ancião congregacional vai apontar para o que a Sociedade ensina, independente de isto fazer ou não sentido. O problema na maioria das vezes, porém, não é dúvida quanto ao que a Sociedade ensina, mas, se o que ela ensina faz ou não sentido. Neste momento a pessoa, se não tinha percebido ainda, percebe que questionar não é encorajado nem aconselhável, afinal quem teria a coragem de questionar a Deus? Questionar a Deus? Sim, a organização, providencialmente, criou algumas doutrinas que fazem com que a pessoa fique muito desconfortável em questionar. Dúvida é visto como falta de fé. Por exemplo, Jesus numa ilustração, se referiu ao "escravo fiel e discreto" e disse que ele estaria fornecendo alimento espiritual aos "domésticos", agora adivinha, segundo eles, quem é esse "escravo"? Isso mesmo, a liderança que está lá em Brooklyn. Essa, aliás, é uma doutrina bastante interessante porque, segundo a Sociedade, este "escravo" é todo o restante ungido, espalhado por toda a terra, ao passo lá em Brooklyn apenasuns um13porta-voz "escravo", o corpoque governante, um grupoencontra-se de elite de talvez membros. desse Ou seja, é o porta-voz que está fornecendo esse alimento, ao passo que a enorme maioria desse "escravo" simplesmente o consome. Mas a Testemunha não pode questionar. Precisa aceitar o pacote inteiro. Questionar isso é ir contra o próprio Deus. Outro aspecto providencial também é aexpressão "organização de Deus". A Torre de Vigia se autonomeou o único "canal de comunicação de Deus na Terra". Qual Testemunha se atreveria a contestar isso? Mesmo quando a Testemunha de fato questiona, ela muitas vezes racionaliza do modo como consideramos a seguir.

É muito comum, ao deparar-se com uma inconsistência, a Testemunha racionalizar dizendo que o conhecimento dela não é suficiente, que ela não é tão experiente, mas que os anciãos sabem a resposta; se eles não souberem, alguém lá em Lange lá ninguém sabe, Brooklyn com certeza têmdela alguém que Cesário saiba. Pior quesabe; isso,semuitas vezes ela vaiem reprimir o questionamento com o raciocínio de que isto não é importante para o aspecto geral de sua fé, esquecendo-se de que todo um conjunto de outras doutrinas baseia-se justamente

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naquela que ela acabou de descartar como sem importância, esquecendo-se também de que foram as próprias Testemunhas que tiveram o capricho de criar todo um pacote de doutrinas peculiares – 1914, feriados, aniversários, estaca de tortura versus cruz etc – e fazem disso um artigo de fé. Mas imagine que ela questionou, pensou, refletiu e não achou resposta satisfatória, e agora? Deixará ela a religião? Isto pode não ser tão simples assim. Veja porquê.

Imagine que você é membro de uma família de Testemunhas. Imagine que seus pais e talvez avós são do tipo que enchem o pulmão quando dizem que a família TODA está unida na fé. Agora imagine que um membro dessa orgulhosa família "unida na fé" chegou ao ponto em que ele têm certeza de que há sérios erros e falsidades na religião que ele tanto amou, você acha que é fácil pra ele manifestar isso e enfrentar toda a família e a resultante discriminação dele? DISCRIMINAÇÃO? Sim. Só há três maneiras de a pessoa deixar de ser uma Testemunha de Jeová: ela se afasta quietamente, é expulsa da organização ou voluntariamente pede o desligamento. A primeira opção normalmente não é possível porque, como seres humanos, nós conversamos sobre os questionamentos que temos, o que é visto como "apostasia", e isto é razão suficiente para expulsão. E a terceira opção carrega os mesmos efeitos da segunda, a saber, total corte de relações por parte dos ex-amigos e da família. É por isso que não é de surpreender que muitas pessoas, mesmo as bem informadas, se mantenham exatamente onde estão.

Muitas vezes o individuo que descobriu a real natureza da religião já é Testemunha por muitos – 15, 20, 25 – anos. Em muitos casos esta pessoa simplesmente racionaliza que seria um descabimento agora, depois de tanto tempo, abandonar o que ele defendeu tão arduamente, e no final das contas Jeová consertará as coisas que estiverem erradas. Afinal, o que pensaria dele os amigos? Ironicamente, ele faz exatamente o que a Torre de Vigia diz que as pessoas não deveriam fazer, a saber, se manter numa religião por simples tradição ou por influência dos pais, família e amigos.

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Quando ouvimos falar em propaganda, de imediato associamos a palavra àquelas inserções de publicidade entre os programas e eventos da televisão ou do rádio, ou ainda aos espaços em jornais, outdoors e outros. A publicidade para vendas de produtos é uma espécie de propaganda, porém, o que talvez muitos não saibam, é que este termo derivado do latim "propagare", foi usado pela primeira vez, há séculos, para denominar a propagação de crenças religiosas pela Igreja Católica. A propaganda éna verdade uma poderosa ferramenta, muito usada por exemplo, em ambas as guerras mundiais do século 20, e usada extensivamente por denominações religiosas como método de persuasão e captação de discípulos. Os líderes das Testemunhas de Jeová têm usado a muitos anos diversas técnicas de propaganda, com o objetivo de persuadir as pessoas alcançadas pela sua mensagem e, principalmente, manter sob controle aquelas que já são membros de sua organização. Entre as muitas técnicas existentes, a Sociedade Torre de Vigia, entidade jurídica das Testemunhas de Jeová, usa algumas de forma explícita em suas publicações:

1. Uso de Estereótipos (generalizações) 2. Substituição de Nomes 3. Seleção e Card-Stacking 4. Distorções e Falsidade 5. Repetição 6. Escolha de Um Inimigo

Cada um destes tópicos está explicado abaixo e identificado na maneira como o corpo governante das Testemunhas de Jeová trabalha, por meio de suas publicações ou de outras formas:

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A propaganda utiliza estereótipos para criar impressões fixas sobre determinado grupo de pessoas ou povos. Os indivíduos que compõem estes povos, não recebem julgamento em base individual, suas ações são interpretadas de acordo com as expectativas da imagem estereotipada aplicada sobre eles. A propaganda incentiva o estereótipo, seja com conotações positivas ou negativas, para angariar simpatia à mensagem propagada e criar ou aprofundar a hostilidade à outras idéias. Como exemplos de povos quase sempre estereotipados podemos citar os judeus (sovinas), os japoneses (só pensam em trabalho), os árabes e em geral os muçulmanos (terroristas), entre outros. A mais poderosa arma psicológica usada pela Sociedade Torre de Vigia para incrementar o preconceito, é criar estereótipos tanto para si mesma, e para as Testemunhas de Jeová, quanto para seus rivais. Os dirigentes da Sociedade Torre de Vigia costumam apresentar as outras organizações religiosas cristãs e os governos políticos do mundo, sob a pior luz possível, de acordo com sua própria interpretação particular da Bíblia, além de uma seletiva interpretação de fatos históricos. Esmera-se em criar estereótipos desfavoráveis com o objetivo de degradar o cristianismo praticado por outras religiões, selecionando aspectos negativos de determinados grupos cristãos durante a história, tal como o conflito entre católicos e protestantes na Irlanda e as Cruzadas. E, generaliza suas conclusões, aplicando ao todo das religiões cristãs– no presente e no passado– as características negativas específicas de grupos locais ou de determinada época. Devido ao estereótipo das demais religiões cristãs, cultivado com imagens negativas selecionadas, não há surpresa em verificar que as Testemunhas de Jeová minimizam e desprezam qualquer boa ação da parte de cristãos individuais de outros grupos religiosos. Para as Testemunhas de Jeová, as demais religiões cristãs são todas igualmente más e fazem parte de“Babilônia, a grande”, o império mundial da religião falsa, nome extraído do livro bíblico de Revelação 18:2. Somente elas possuem a verdade “verdadeira” e devem divulgá-la aos falsos cristãos das outras denominações religiosas, para encontrar entre eles as ovelhas perdidas, os que “amam a Deus”. Ainda conforme os estereótipos criados pela Sociedade Torre de Vigia na mente das Testemunhas de Jeová, o ensinamento e as publicações da Sociedade são o verdadeiro alimento espiritual provido por Deus, todas as demais fontes de informação resumem-se a filosofias e pensamentos de homens, devendo ser tratadas como tal. Estes estereótipos inseridos nas mentes das Testemunhas de Jeová, são baseados exclusivamente em informações tendenciosas, preparadas de maneira a justificar a ascendência da Sociedade sobre elas e assim conduzi-las a compartilhar das mesmas conclusões propostas pelos

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seus dirigentes. Dando a impressão de que existem “provas” apontando para as Testemunhas de Jeová quais únicos “portadores da verdade”. Portanto, tudo que as outras religiões ensinam ou fazem é sumariamente classificado como errado, e, tudo o que a Sociedade Torre de Vigia ensina ou faz é certo.

A substituição de nomes é uma prática comum do propagandista. Ao criar a mensagem, o propagandista substituirá algumas palavras por outras, que produzirão uma impressão diversa do sentido srcinal, com objetivo de realçar ou diminuir emoções e assim conquistar a aceitação da mensagem pelo público-alvo. Exemplificando, para os defensores da legalização do aborto, o bebê que a mulher grávida carrega na barriga torna-se um “feto”, pois é evidente que a morte de alguma coisa chamada feto choca muito menos que a de um bebê. Da mesma forma, para seus defensores, o capitalismo feroz transforma-se num singelo “livre empreendimento” (2). A Sociedade Torre de Vigia faz exatamente o mesmo em suas publicações de forma a conseguir a aceitação de seus ensinamentos pelas Testemunhas de Jeová e interessados. Desta maneira, todas as religiões cristãs são reunidas em apenas uma designação: a cristandade. A forma pejorativa visa, naturalmente, diminuir ou eliminar qualquer base de respeitabilidade de tais denominações religiosas. Qualquer não-Testemunha é chamado simplesmente de“mundano” e aqueles que abandonam a organização recebem o rótulo negativo de“apóstata”. Similarmente, porém com sentido positivo, o grupo de Testemunhas de Jeová que professa ser ungido com o Espírito Santo de Deus, é chamado constantemente de“escravo fiel e discreto”, identificando-os com a frase dita por Jesus em Mateus 24:45. Estes termos, que são definidos como linguagem descritiva, provocam reações emocionais instantâneas, com julgamentos positivos ou negativos, cada vez que as palavras ou frases são verbalizadas ou lidas.

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Na técnica de “Seleção”, o propagandista seleciona cuidadosamente a informação para que os pontos destacados estimulem os leitores para as conclusões que eles querem. Informações são cuidadosamente omitidas quando são inúteis para influenciar a conclusão final, pois do leitor é esperado um julgamento baseado única e exclusivamente nas indicações e dados fornecidos. Freqüentemente, o leitor não tem conhecimento da existência de outras informações que possam contradizer a conclusão que dele se espera. A seleção cuidadosa das evidências limita a possibilidade do leitor questionar as afirmações e conclusões do propagandista, isto é deliberadamente planejado para evitar ou desestimular raciocínios pessoais e avaliações independentes. Similar a esta é a técnica “Card-Stacking”, que numa tradução literal seria cartões empilhados. Card-Stacking é uma forma de argumentação onde toda a evidência (verdadeira ou falsa) é simbolicamente empilhada, em ordem, de modo que sejam lidas uma a uma, em seqüência, fazendo com que no final, a única conclusão possível seja aquela que o propagandista quer ver aceita. É freqüente nesta técnica a comparação das idéias do propagandista com as idéias dos opositores, porém é feito de tal maneira que o ponto de vista do primeiro parece ser sempre a idéia correta. Uma pessoa desinformada, bombardeada por uma saraivada de informações e evidências apresentadas pela Sociedade Torre de Vigia, provavelmente concordará com o ponto de vista das Testemunhas de Jeová. Contudo, assim como em toda propaganda dos líderes das Testemunhas de Jeová, existe sempre um outro lado que está ausente, que não foi apresentado ou foi apresentado fora do contexto, deslocado do objetivo srcinal, mutilado e editado, de tal forma que a Sociedade Torre de Vigia induz o leitor a concluir que a opinião dela é a única solução viável. De uma coisa é preciso estar bem ciente: A Sociedade Torre de Vigia usará somente informações (mesmo sendo questionada no contexto srcinal) que apontem na direção de suas conclusões e ignorará ou desconsiderará qualquer outra informação que possa levar alguém a uma outra conclusão diferente.

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A falsidade é um método comumente usado pelos propagandistas. Fabricando, torcendo, esticando ou omitindo evidências utilizadas na propaganda obtendo resultados eficazes. Histórias falsas de atrocidades foram usadas nas Cruzadas e em ambas as Guerras Mundiais do século passado provocando a reação pública, e isto foi feito com grande eficácia. Os líderes das Testemunhas de Jeová têm um histórico de citações equivocadas, de enganos e decepções. Seus artigos citam freqüentemente as Escrituras Sagradas e outras fontes fora do contexto, apenas na parte que interessa para prover embasamento a suas doutrinas. Deturpação, mentiras manifestas e informações fraudadas em grande quantidade são usadas em seu vocabulário como técnica eficaz para manter sua credibilidade, apesar dos fatos e evidências contrárias. Listados abaixo, estão alguns exemplos encontrados dentro da literatura da Sociedade Torre de Vigia: “Pastor Russell conhecia de perto as Escrituras. Ele acreditava que Cristo tinha estado presente desde 1874. Ele Admitiu ta mbém em particular que era o “Servo Fiel e Discreto”. (Watchtower 1/12/1916) “O criado fiel e discreto do Senhor, Pastor Russell”. (Estudos das Escrituras, Vol. 7, O Mistério Consumado, pág. 418, edição em inglês de 1917) “Russell nunca reivindicou ser o servo fiel e discreto”. (Aproximou -se o Reino de Deus de Mil Anos, pág. 346, edição em inglês de 1973)

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"O livro levanta então a pergunta lógica: "É razoável supor que a religião a nós imposta por ocasião do nosso nascimento é necessariamente a inteira verdade? Incentiva-se assim a todos a examinar outras religiões com mente aberta." (A Sentinela, 1 de Abril, 1991, pág.17) "Portanto, seria imprudente, bem como um desperdício de tempo precioso, as Testemunhas de Jeová aceitarem publicações religiosas falsas, que visam enganar, e se exporem ao perigo delas... as Testemunhas de Jeová não têm por hábito trocar valiosos compêndios bíblicos, que contêm a verdade da Bíblia, por publicações religiosas que disseminam o erro ou conceitos apóstatas." (A Sentinela, 1 de Novembro de 1984, pág.31) ---------------------------------------------------------------------------------------------

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"As Testemunhas de Jeová formam uma sociedade internacional e provam além de dúvida que o ódio pode ser eliminado. ...[falando da propaganda das TJs] Trata-se de um vislumbre do programa mundial para eliminar o ódio e suas causas." (A Sentinela, 15 de Junho de 1995, pág.8) "Nós devemos odiar no mais verdadeiro sentido [os que deixam de ser Testemunhas de Jeová], que é considerar com extrema e ativa aversão, considerar como execrável, odiável, imundo, detestável." (A Sentinela, 1 de Outubro de 1952, pág.599 (em Inglês) [4] ) ---------------------------------------------------------------------------------------------

"As Testemunhas de Jeová, devido ao seu anseio pela segunda vinda de Jesus, sugeriram datas que se mostraram incorretas. Por isso, há quem as chame de falsos profetas. No entanto, nunca nesses casos presumiram que suas predições eram feitas 'no nome de Jeová'. Nunca disseram: 'Estas são as palavras de Jeová.'" (Despertai de 22 de Março de 1993, pág.4 "A palavra profética de Jeová mediante Cristo Jesus diz: "Esta geração [de 1914] de modo algum passará até que todas estas coisas ocorram." (Lucas 21:32) E Jeová, que é a fonte de profecias inspiradas e infalíveis, fará com que as palavras de seu Filho se cumpram num prazo de tempo relativamente curto. - Isaías 46:9, 10; 55:10, 11." (A Sentinela de 15 de Novembro de 1984, pág.6-7) ----------------------------------------------------------------------------------------------

"Precisamos examinar não só o que nós mesmos cremos, mas também o que é ensinado pela organização religiosa com que talvez nos associemos. Estão os seus ensinos em plena harmonia com a Palavra de Deus? Se amarmos a verdade não precisaremos temer tal exame." (A Verdade Que Conduz à Vida Eterna, pág.13) "Mas na organização de Jeová não é necessário gastar muito tempo e energia em pesquisa, pois há irmãos na organização designados para fazer exatamente isto, para ajudar você que não tem tanto tempo para isso, estes são os que preparam o excelente material encontrado na Sentinela e outras publicações da Sociedade." (A Sentinela de 1 de Junho de 1967, pág.333 em Inglês)

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"Se nós tivermos amor por Jeová e pela organização de seu povo nós não seremos suspeitosos mas, como a Bíblia diz, 'acreditaremos todas as coisas', todas as coisas que a Torre de Vigia nos traz, tanto quanto ela tem sido fiel em dar-nos conhecimento dos propósitos de Deus" (Livro Qualificados Para Ser Ministros, pág.156) --------------------------------------------------------------------------------------------

"O O queque você acha de alguém queorouba de uma e os publica em Ooutra revista? acha de quando anexa nome artigos dele como autorrevista dos artigos roubados? que você acha dele quando ele continua a fazer isso depois de ser pego e prometido parar? E choca-o ainda mais o fato de que ele afirma ser um ministro religioso?" (A Sentinela de 15 de Janeiro de 1954, pág.38) Esta citação vem de um artigo intitulado "Você Respeita Plagiaristas?", no qual a Sociedade levanta acusações de plágio contra um ministro de Nova Iorque. Isto é irônico uma vez que a Sociedade provou mais tarde que ela própria era plagiarista, tendo roubado um trabalho de arte de uma propaganda do uísque Johnny Walker Red Label.

A capa da Sentinela de 15 de Setembro de 1982 (edição Americana) é idêntica a uma arte usada para a propaganda do uísque Johnnie Walker Red Label (capa foi alterada nos volumes encadernados).

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"Porque, então, as nações não reconhecem e aceitam a aproximação deste clímax de julgamento? É porque elas não têm tomado a peito o anúncio em escala mundial do retorno de Cristo e sua segunda presença. Desde muito antes da Primeira Guerra Mundial as Testemunhas de Jeová apontaram para 1914 como sendo a época para este grande evento ocorrer." (A Sentinela de 1 de Novembro de 1952, pág.658) "A profecia bíblica mostra que o Senhor estava para aparecer pela segunda vez em 1874. Profecias bíblicas cumpridas mostram sem sombra de dúvida que ele de fato apareceu em 1874. Profecias cumpridas são muitas vezes chamadas de fatos físicos; e estes fatos são inegáveis." (A Sentinela de 1 de Novembro de 1922, pág.333) "Já em 1879, os editores desta revista apontavam para o ano de 1914 como um ano marcado na profecia bíblica, como o ponto inicial do que a Bíblia chama de "tempo do fim"(Despertai de 8 de Outubro de 1972, pág.15) "Há duas datas importantes aqui que nós não devemos confundir, mas claramente diferenciar, a saber, o começo do "tempo do fim" e a "presença do Senhor". O "tempo do fim" engloba um período a partir de 1799 A.D, conforme indicado acima, até o tempo do completo desarraigamento do império de Satanás e do estabelecimento do reino do Messias. O tempo para a "presença do Senhor" data de 1874, conforme dito acima." (A Arpa de Deus, 1921, pág.231) ----------------------------------------------------------------------------------------"Nenhuma criatura ou organização na Terra pode verdadeiramente presumir agir qual tribunal supremo de interpretação da Bíblia Sagrada". (A Sentinela de 1 de Julho de 1943, pág.202 em Inglês) "Sim, além de ter a iluminação do espírito de Deus, um Cristão precisa da organização teocrática de Deus para entender a Bíblia." (A Sentinela de 15 de Junho de 1951, pág.373 em Inglês "Apenas esta organização serve aos propósitos de Jeová e para o seu louvor. Apenas para ela a palavra sagrada de Deus, a Bíblia, não é um livro selado.” (A Sentinela de 1 de Julho de 1973, pág.402 em Inglês) "Não há dúvida sobre isso. Todos nós precisamos de ajuda para entender a Bíblia, e não podemos encontrar a orientação bíblica de que precisamos fora da organização do “escravo fiel e discreto“." (A Sentinela de 15 de Agosto de 1981, pág.19)

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"Todos os que desejam entender a Bíblia devem reconhecer que a "grandemente diversificada sabedoria de Deus" só pode ser conhecida através do canal de comunicação de Jeová, o escravo fiel e discreto. - João 6:68." (A Sentinela de 1 de Outubro de 1994, pág.8) Estes são apenas alguns exemplos entre muitos, onde os líderes das Testemunhas de Jeová as iludiram e enganaram, causando profundas decepções.

O propagandista usa a repetição para gravar a mensagem nas mentes da audiência. Joseph Goebbles, ministro da propaganda de Adolf Hitler, sustentava: “Se uma mentira for repetida milvezes, sempre com convicção, tornar-se-á uma verdade”. Portanto, se uma palavra ou frase for usada repetidas vezes, depois de algum tempo será aceita, tendo significado verdadeiro ou não. As literaturas da Sociedade Torre de Vigia usam muito esta técnica e repetem exaustivamente muitas frases, palavras e idéias em todas as suas páginas. A frase“o escravo fiel e discreto” é repetida por vinte e quatro vezes nas edições da revista A Sentinela do ano de 1995, isto quer dizer que em média, cada edição da revista continha uma citação da frase, se for levado em conta a repetição adicional nos estudos desta revista nas reuniões, nas perguntas e comentários, tem-se uma perfeita idéia de como a Sociedade astutamente a técnica da repetição. Através da desta frase sempreusa associada a aspectos positivos, as Testemunhas de repetição Jeová e os estudantes interessados são condicionados a considerar “o escravo fiel e discreto” sempre envolto em conotações virtuosas. Por outro lado, “cristandade”, “mundanos” e “apóstatas”, são palavras mencionadas repetidas e repetidas vezes, sempre associadas ao mal e a aspectos ímpios do ser humano. O resultado é tão eficaz, que a simples menção destas palavras “arrepia os cabelos”, causa ojeriza nas Testemunhas de Jeová. Elas não são apenas doutrinadas com a repetição de palavras, mas com o uso repetido de palavras associadas ao estigma aplicado a ela, ora positivo, ora negativo.

O propagandista terá sempre um inimigo. A mensagem “não é somente PARA algo mas também CONTRA algo, um inimigo real ou imaginário que tenta frustrar

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a suposta vontade de sua audiência”. Dois efeitos são observados: 01. A agressividade é direcionada para outros e não para as causas defendidas pelo propagandista. 02. Ajuda consolidar a lealdade dos que estão dentro do grupo. O propagandista descreve com imagens estereotipadas e diabólicas o inimigo identificado. Quanto mais forte o inimigo, mais forte será a unificação do grupo à causa, uma unificação que é baseada no medo e no ódio. A Sociedade Torre de Vigia foi bem sucedida em criar imagens temíveis de inimigos maléficos para incutir medo e suspeita nas Testemunhas de Jeová. Instilou também a imagem de que Deus protege aqueles que mantêm a obediência dentro da organização dirigida por eles, como única maneira de assegurar um futuro seguro após a destruição do mundo, porém, esta lealdade inclui persistir pela causa do Reino de Deus, ao mesmo tempo em que o Diabo, os governos políticos e as religiões falsas estarão fazendo violenta oposição. O antagonismo exterior ou as críticas dirigidas à Sociedade Torre de Vigia e suas doutrinas são exageradamente transformadas em perseguição, ao mesmo tempo, os autores das críticas e os outros grupos são encarados como “exibições do mal”. Outrosgrupos, em especial as denominações cristãs, são representados como sendo epítomes do mal em comparação com as Testemunhas de Jeová. Estão aqui algumas citações para demonstrar como a Sociedade Torre de Vigia ataca eficazmente seu inimigo: “Nós oramos com intensidade e clamamos por meio desta oração, para que Jeová não atrase por mais muito tempo e para pedir que Sua raiva seja feita manifesta, oh Jeová dos exércitos... não perdoe a nenhum transgressor mau... Consuma-os na sua ira, consuma-os de modo que não sejam mais (Salmo 59:4-6, 11- 13).” (Da edição 1/12/1951 da revista Watchtower, pág. 742) “Nós devemos odiar no sentido mais verdadeiro que se possa observar com extrema e vigorosa aversão, para considerar como abominável, odioso, indecente, detestável. Certamente nenhum daqueles que odeiam a Deus está reservado para viver na Sua bela terra...” (A Sentinela, 01 de Outubro de 1952, pág.599 em Inglês) “... os cristãos esclarecidos odeiam corretamente os que são inimigos confirmados de Deus, tais como o Diabo e seus demônios, bem como os homens que deliberada e propositalmente tomaram sua posição contra Jeová” (Sal 139: 21, 22). (A Sentinela, 01 de julho de 1971, pág. 392)

Embora as Testemunhas de Jeová façam questão de aparentar confiança e destemor, a realidade interior de cada uma destas pessoas freqüentemente é bem

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diferente, a maioria apresenta inúmeros medos, fobias, colocados sobre elas pela Organização a qual tentam servir fielmente. Não seria nenhum exagero dizer, que talvez este 'doutrinamento' por meio do poder de intimidação e do medo, seja no fundo o maior responsável por manter um grande número das Testemunhas numa condição de fidelidade a esta Organização, a Sociedade Torre de Vigia.

O medo do mundo e daqueles que vivem nele é um sentimento básico presente de forma generalizada nas Testemunhas de Jeová. Aquelas que insistem em manter relações de amizade com pessoas de fora da organização e que nunca foram Testemunhas, “mundanos” portanto, são considerados pela Sociedade Torre de Vigia como envolvidos com “más associações”. A Sociedade raciocina que todas as coisas do mundo, entenda-se com isso o que está do lado de fora da organização, devem ser vistas como iníquas e sob o poder de demônios, desta forma as pessoas que não são Testemunhas de Jeová devem ser encaradas como potenciais ameaças à espiritualidade dos que mantém com elas vínculos amistosos e por esta razão evitadas o máximo possível. Este ensinamento preconceituoso causa a mentalidade da segregação social, do “nós que somos bons aqui e eles que são maus lá”, muito comum nas Testemunhas.

Mesmo entre os que estão dentro da Organização, os relacionamentos próximos são secretamente temidos. A Testemunha média tem uma ou outra amizade mais próxima, porém mesmo assim evita o excesso de intimidade e limita o seu círculo normal de amizades a um grupo reduzido de pessoas, apesar de que, aos olhos de algum desavisado que passe no início de uma reunião delas, possa parecer que não é assim, pois todos se cumprimentam, conversam, etc, mas nada além disso, é tudo muito superficial e após o término da tal reunião cada um se fechará novamente em seu casulo. É uma atitude compreensível e facilmente explicável: Medo. As Testemunhas conhecem muito bem o sistema de vigilância mútua que existe entre elas e tem medo de que em algum momento possa deixar escapar algum assunto que deveria ter permanecido secreto, mesmoconsiderados que levada pela confiança fazer uma confidência a algum destesouamigos como íntimos,possa e este “amigo” acabar levando ao conhecimento dos anciãos algo que foi dito inadvertidamente, ou pior ainda, confiando-se no segredo.

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Está inserido na mente das Testemunhas de Jeová que todas as coisas que estão do lado de fora da Organização são manipuladas por demônios. A maioria delas está dominada por um tipo fanático de superstição que faz com que vejam demônios onde eles simplesmente não existem. Por exemplo, um inofensivo boneco inanimado dos “smurffs” será encarado como demoníaco por muitas Testemunhas. Outras áreas de intensa atividade demoníaca no entender de muitas delas são determinados programas de televisão, literaturas seculares e até mesmo o entusiasmo religioso de pessoas pertencentes a outras denominações religiosas. O fato destas pessoas demonstrarem sua fé por proferirem longas orações ou outras formas de manifestação a levará a ser encarada pelas Testemunhas como estando sob o controle dos demônios.

Quando alguma literatura ou informação contendo críticas a Sociedade Torre de Vigia chega às mãos, aos olhos ou ouvidos de uma Testemunha de Jeová, será automaticamente recusada, quase sempre sem nem ao menos considerar a legitimidade e validade da matéria, porque elas já estão com a mente condicionada para proceder desta maneira. É natural, a Sociedade Torre de Vigia está ciente das conseqüências que o poder destrutivo destas literaturas e informações que expõe sua história, seus erros doutrinais, suas falsas profecias, etc, trariam para ela. Desta forma, melhor do que tentar defender sua frágil posição é atacar o autor das críticas, o desmoralizando e desqualificando, e gastar enorme quantidade de tempo e energia para introduzir a força entre as Testemunhas de Jeová o medo, que a fará sequer colocar os olhos sobre o material crítico e evitá-lo como se estivesse contaminado por praga mortífera. Em anos recentes, o aumento da facilidade de acesso a informação, a dificuldade de controlar rigidamente este acesso nas Testemunhas e a explosão de popularidade da Internet revelou-se um gigantesco problema para a Sociedade Torre de Vigia. Existem hoje centenas de Web Sites na Internet expondo os erros da Sociedade, qualquer pessoa pode acessa-los sem grandes riscos e longe dos olhos dos anciãos e de outras Testemunhas. Por este motivo, a Sociedade tem feito um grande esforço para apresentar a Internet como algo de que se ter medo, um grande demônio a ser

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evitado, até mesmo comparando sites críticos de seus ensinos com sites pornográficos.

Como a Sociedade Torre de Vigia apresenta-se como tendo “A Verdade”, e como nenhum erro ou falha pode se srcinar da verdade, é aterrador para uma Testemunha de Jeová ser acometida por qualquer tipo de dúvida, por mínima que seja, com relação aos ensinos e atitudes da Sociedade. Entretanto, e esta é a realidade, muitas Testemunhas tem dúvidas secretas, muito bem guardadas no seu íntimo, pois sabem que a manifestação delas pode ser fatal, mas ao mesmo tempo travam uma árdua luta interna para tentar afastar tais pensamentos e continuar como ativos participantes na Organização que afirma ter “A Verdade” e ser a "Organização visível" de Deus na terra.

Se uma Testemunha de Jeová começar a ter dúvidas sobre a Sociedade Torre de Vigia, ela terá muito medo, medo de que para continuar em paz com sua consciência e prestando um verdadeiro serviço sagrado à Deus, tenha de sair da Organização. Este medo trás consigo uma série de outros medos adicionais. Por exemplo, muitas Testemunhas estão convencidas de que se saírem da Sociedade Torre de Vigia não haverá nenhum lugar para ir, e esta falta de perspectiva futura causa-lhes pânico. A Sociedade lhes deu a segurança de estar na “verdade” e foi sua “mãe” durante tão longo tempo que elas não conseguem imaginar como poderiam viver de maneira independente dela. Além disso, as demais religiões são apresentadas como recebendo má luz, demoníaca, durante o período de doutrinação da Testemunha pela Sociedade, e isto é feito de forma tão intensa e massiva, que seria muito improvável que ela procurasse uma destas religiões para se associar. No entanto, este medo de não ter para onde ir é totalmente infundado, pois Jesus disse uma verdade simples e ao mesmo tempo poderosa, que cada um de nós pode chegar-se a Ele diretamente, sim, com Ele somente, sem intermediários. Jesus diz: “Vinde a mim, todos os que estais labutando e que estais sobrecarregados, e euservos reanimarei”. (Mateusda11:28) Há também o medo, terrívelse ao ser humano, de apartado do convívio família, dos parentes e amigos sair individualmente da Organização. A maioria das Testemunhas conhece de forma pessoal outras famílias de concrentes que foram desintegradas porque um

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dos membros decidiu deixar a Organização. Um outro medo relacionado com a saída da Organização, é motivado pelo ensino insistente da Sociedade no qual apenas dentro dela a pessoa está a salvo, comparando-se a uma moderna Arca de Noé, e se alguém a deixa, Jeová retirará Sua proteção resultando em alguma terrível catástrofe. Exemplificando, se uma Testemunha deixa a Organização, não estando mais sob qualquer tipo de proteção de Jeová Deus, Satanás poderá causar algo como um carro ficar fora de controle e matá-la. Outro medo comum de sair da Sociedade Torre de Vigia é o de ser destruído no Armagedom. As Testemunhas são ensinadas em todas as oportunidades possíveis de que não há esperança de sobrevivência naquele dia fatal para aqueles que saem da Organização.

Relacionado de perto ao medo de sair da Organização é o medo da apostasia. As Testemunhas de Jeová tendem a tratar automaticamente aqueles que deixam voluntariamente a Organização como apóstatas. Isso por sua vez tende a fazer com que a Testemunha registre em sua mente que o ex-companheiro não apenas abandonou a fé em Jeová ao sair da Sociedade que o protegia, mas também, e muito pior do que isso, voltou as costas à Jeová tornando-se um ferrenho opositor, inimigo de Deus e de Seus propósitos. A diferença entre as duas coisas, sair da Organização e tornar-se inimigo de Deus, é brutal, mas a forma sutil como as duas coisas são iguais. colocadas na mente Testemunhas tornaacredita ambas semelhantes, para não dizer A maioria das das Testemunhas de Jeová firmemente que não há felicidade e prosperidade espiritual do lado de fora da Organização. Na verdade, se elas não tivessem tanto medo a ofuscar-lhes a visão lógica, poderiam perceber que ao contrário do que pensam, muitas ex-Testemunhas tem vidas frutíferas e bem sucedidas em todos os aspectos, mantendo intacta sua fé em Deus, ao invés de se tornarem Seus inimigos, e tem a oportunidade de, como deixa claro o texto acima de Mateus 11:28, serem legítimos seguidores de Cristo, mesmo não se unindo a qualquer denominação religiosa.

Testemunhas Jeová ficam aterrorizadas com areligioso simplesque idéia de As entrar numa igrejadecatólica ou emliteralmente qualquer outro tipo de edifício não pertença a Sociedade. Mesmo quando se trata de cerimônias de casamento de parentes e amigos próximos, e mesmo sendo o casamento uma instituição

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abençoada por Deus. A maioria das Testemunhas também nunca irá se unir em oração com alguém que não compartilhe da sua religião. Por que? Porque elas acreditam comumente que estas pessoas de outras religiões, estão orando não à Deus, mas ao opositor Dele, Satanás.

Os anciãos congregacionais possuem muito poder e autoridade sobre todos os aspectos da vida, inclusive pessoal, das Testemunhas de Jeová. Se alguma delas não se conforma totalmente ao molde estabelecido pelas regras comportamentais da Organização, ou se apresenta algum sinal de individualismo e atitudes diferentes do estabelecido, são imediatamente consideradas como suspeitas pelos anciãos. Muitas Testemunhas e ex-Testemunhas conhecem ou já ouviram falar de histórias sobre anciãos se transformarem em espiões, vigiando as atividades extracongregacionais e a vida privada das ovelhas de seu rebanho. Por exemplo, certo grupo de anciãos começou a suspeitar que uma Testemunha, um homem casado, estava tendo um caso amoroso com uma outra mulher. Em vez de simplesmente questionarem o homem quanto as suas suspeitas, preferiram imaginar o pior e montaram uma verdadeira operação de espionagem na frente da casa da mulher. Persistiram por diversas noites na bisbilhotice da vida privada alheia, até que por fim conseguiram surpreender o homem com a “evidência” do adultério: A presença dele na casa de outra mulher. Só depois foram descobrir que a jovem mulher era, na verdade, a irmã carnal do suspeito! Obviamente esse tipo de atmosfera criado por aqueles que, teoricamente, tem o dever de pastorear o rebanho sob seus cuidados, provoca medo e paranóia entre as ovelhas. Provavelmente, o grande poder que os anciãos possuem sobre as Testemunhas é conseqüência do medo que elas tem das Comissões Judicativas e dos castigos, singelamente chamados de disciplina, que são aplicados por elas. Estas Comissões formadas por anciãos, pretensamente sob orientação divina, têm o poder de reprovar, censurar, humilhar e expulsar as Testemunhas da Organização, o que dá a exata dimensão do medo que provocam. Quando há disputas ou ciúmes a ponto de romperem relações entre as Testemunhas, a frase “Vou levá-lo(a) perante uma comissão” é a ameaça mais ouvida e a que provoca mais pavor.

Assim com a Igreja Medieval usava o inferno de fogo como uma forma de controlar seus adeptos, colocando medo e pavor nas pessoas, a Sociedade Torre de

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Vigia usa o famigerado “Armagedom” como uma forma de controle. Segundo as Testemunhas de Jeová, Armagedom será a guerra de Deus contra os maus, o famoso “ajuste de contas” de Deus com a humanidade. Nem é preciso dizer que os dirigentes da Sociedade afirmam que qualquer pessoa que não reconhecê-los como o canal de Deus, o “único” meio de salvação fornecido por Deus, e quem não seguir fielmente suas orientações, será destruído impiedosamente. Várias ilustrações retratando montes sendo despedaçados, a terra se abrindo, fogo e enormes pedras caindo sobre pessoas apavoradas são constantemente apresentadas em sua literatura. É comum ouvir entre as testemunhas de Jeová frases como estas, “o Armagedom está chegando”, “cuidado com o Armagedom”, “olha o Armagedom” entre outras. Não e difícil entender o pavor que tal doutrina provoca nas Testemunhas.

Enfim, quando paramos para pensar objetivamente, não encontramos muitas dificuldades para entender porque, mesmo pessoas requintadas e capazes, se tornam cativas de um sistema doutrinário tal como o das Testemunhas de Jeová. Diante de tudo isso, encerro com dois textos bíblicos para o leitor refletir:

"Pois não recebestes um espírito de escravidão, causando novamente temor, mas recebestes um espírito de adoção, como filhos, espírito pelo qual clamamos: Aba, Pai!" (Rom. 8:15)

“Conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará.”

(João. 8:32)

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ocê deve estar pensando porque o título deste capitulo é Watchtower S/A quando a maioria das pessoas ou pelo menos aqueles que tem contato com as Testemunhas de Jeová pensam que esta organização não tem fins lucrativos. Mas isto acontece por que a Sociedade Torre de Vigia usa e abusa de artifícios para ter uma aparência de filantropia. Porém, se fizermos uma investigação mais detalhada sobre o assunto, veremos que este é o título mais apropriado. Ela acusa outras igrejas de fazer coletas e tomar dinheiro de seus súditos, o que não é mentira. É verdade que a Igreja Universal vende vergonhosamente bem-estar e progresso social em detrimento do bem-estar espiritual, é também verdade que quase todas as religiões ditas evangélicas, pentecostais e outras, submetem seus membros ao dízimo e que a maior delas, a Igreja Católica, usa de diversos meios para arrebanhar fortunas. Todas entendem a ordem de Jesus de apascentar as ovelhas, mas na verdade o que fazem é tosquiar as ovelhas. Porém, a Sociedade Torre de Vigia não é nem de longe a "santinha" que tenta mostrar ser quando o assunto é dinheiro. conversa que ela milhões utiliza para é sutil, mas eficiente, poisA consegue levar de conseguir pessoas ao "vil fazermetal" doações e contribuições de maneira sistemática. A Sociedade ensina como suas ovelhinhas podem contribuir com a "obra do reino", por doações, contribuições especiais (empréstimos), seguro (beneficiando a Sociedade), testamentos, etc., quer dizer, como diria aquele judeu do programa televisivo: "fazemos qualquer negócio". O importante é que o dinheiro flua em grande quantidade e ininterruptamente para o caixa sedento de recursos em Brooklyn. Usando a Bíblia para justificar a apropriação dos meios de vida das pessoas, sim a Bíblia, sempre ela, a muleta preferida de todos aqueles que enfiam a mão no bolso dos crentes em busca do seu suado dinheiro, ela vem arrecadando bilhões de dólares por ano, isto mesmo, bilhões. Geralmente a Sociedade vem com o texto de 2ª Coríntios 8:14, onde o apóstolo Paulo diz:

"O vosso excedente, duma reciprocidade, contrabalance agora mesmo deficiência deles, a fim depor quemeio o excedente deles também venha a contrabalançar a vossaa deficiência, para que haja reciprocidade."

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Você já ouviu falar ou leu, nesta mesma Bíblia, que os cristãos do primeiro século providenciavam doações para alguma "obra do reino", ou que construíssem prédios para reuniões, ou imensos salões para assembléias, ou mesmo que em Jerusalém os apóstolos ficassem refestelados esperando as contribuições vindas das congregações para sustentá-los? O apóstolo Paulo, ele mesmo, o responsável pela mais extensiva obra de pregação da qual se tem notícia trabalhava, isso mesmo, Paulo tinha uma profissão que lhe ajudava no seu sustento, é certo que muitas vezes recebeu ajuda material, mas deixou bem claro que não queria ser nenhum fardo adicional para seus co-irmãos, ou seja, não viviasomente em função da ajuda que recebia. Aliás, Paulo também escreveu que "aquele que não trabalhar tampouco coma" e o "trabalhar" aqui não indica trabalho de pregação, mas o trabalho no sentido de obter sustento para si mesmo. No texto acima, é obvio que o escritor estava orientando a aplicação da segunda lei áurea de Jesus:"Ama o próximo como a ti mesmo". Aqueles que tinham mais recursos financeiros deveriam dividir com os necessitados e em contrapartida receber outros tipos de riquezas (espirituais). A malandragem principal porém, é a Sociedade Torre de Vigia comparar as contribuições de hoje, com as contribuições dos israelitas à época da construção do tabernáculo. Associar duas coisas tão distintas não tem o menor fundamento apesar de ser a manobra mais simples e eficiente usada pela Torre de Vigia. Primeiro porque aquela ocasião era singular, pois se tornou necessária à edificação de um templo visível devido à promiscuidade espiritual daquele povo recém saído do Egito. Segundo porque os israelitas sempre tiveram uma estrutura de adoração baseada no templo, ordem de Deus pararecebesse que a classe vivia exclusivamente em existia funçãoado serviço sagrado, dossacerdotal, demais asque condições de subsistência, o que não é o caso nos dias atuais e nem com respeito aos cristãos do primeiro século, afinal Jesus aboliu a adoração em "templos feitos por mãos", que por sinal é o que a Sociedade mais tem construído, vide o gigantesco "Centro Educacional" erigido em Patterson, EUA (A Sentinela 15/11/99, pág. 8 à 12). As Testemunhas de Jeová, por meio do seu Corpo Governante e de sua entidade jurídica a Watchtower Bible and Tract Society (Associação Torre de Vigia no Brasil), reivindicam para si o título de "cristãos hodiernos", ou seja, a continuação direta da linhagem iniciada no primeiro século EC, por Pedro, João, Mateus, Paulo, Tiago e outros. É verdade que os cerca de 7 milhões de membros desta denominação religiosa em todo o mundo acreditam piamente e apóiam decididamente esta afirmação, e é inegável que um grande número deles, comporta-se de maneira similar aos primitivos cristãos quanto aos princípios que norteavam a vida destes, princípios que os foram orientados diretamente pelo próprio Mestre e Senhor Jesus Cristo, sendo principais entre eles: Amar a Deus sobre todas as coisas e ao semelhante como a si mesmo.

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A Torre de Vigia traça paralelos imaginários entre a situação dos cristãos daquele tempo e dela própria nos nossos dias: 01. Um grupo remanescente de ungidos com o Espírito Santo de Deus, assim como aqueles ungidos lá em 33 EC, são hoje "o escravo fiel e discreto", responsável pelo alimento espiritual de seus irmãos. 02. Dentre esses ungidos, um grupo menor composto de pouco mais de uma dezena de homens, formam o que é nomeado como "corpo governante", considerando-se que os primitivos cristãos reconheciam em alguns apóstolos e anciãos estabelecidos em Jerusalém como o corpo governante da época.

Mesmo não concordando com estes paralelos imaginários , não vou discuti-los ou desacreditá-los, mas apenas analisá-los sob uma ótica estritamente administrativa e financeira. Se a Sociedade é a entidade jurídica que maneja todo o recurso monetário, obtido e movimentado com a alegação de ser utilizado para financiar e impulsionar a "obra do reino", que está sob a responsabilidade do "escravo fiel e discreto" e direção do "corpo governante" é para ela que quero voltar a minha atenção. Evidentemente não tenho dados e números em mãos, afinal não seria nada conveniente que a Sociedade demonstrasse publicamente os valores que movimenta, mas gostaria de fazer um exercício de projeção, baseado em fatos não comprováveis, porém com evidências circunstanciais reais e com alta probabilidade de serem corretas, mais ou menos como a Sociedade faz quando quer defender alguma profecia sua, mas não tem os fatos comprovadores em mãos, isso quer dizer em linguagem coloquial "um chute". Traduzindo: Vou chutar sim! Mas tenho absoluta certeza, o máximo que pode acontecer é uma sub-avaliação do imenso volume de recursos financeiros da Watchtower e não o inverso. Durante muitos anos atuei na área "financeira" da congregação, chamada de "contas", como servo de contas. Pelos meus registros pessoais, somando-se todos os valores enviados à Sociedade Torre de Vigia mês a mês, como remessa de dinheiro para a “obra mundial”, contribuições para construção de salões de assembléias, vários tipos de ajuda financeira e outros, e dividindo-se este valor pelo número de publicadores da congregação, cheguei a uma média de envio mensal de aproximadamente 10 dólares por publicador (em dólares é mais fácil visualizar o resultado final). Tudo bem, alguém pode dizer que este valor não serve de parâmetro para todas as congregações no mundo, posso até concordar, porém é um valor bastante significativo, pois foi obtido considerando-se um tempo relativamente longo para o cálculo da média, além disso, foram valores similares em duas congregações diferentes a qual pertenci, com diferentes características sociais.

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Temos de considerar também que as testemunhas de Jeová num país como o Brasil, com renda per capita de 3 mil dólares, talvez contribuam menos que as dos EUA, com renda per capita de mais de 30 mil dólares, mas certamente contribuem mais que o pessoal do restante da América do Sul, exceto a Argentina. Portanto, a média de 10 dólares por publicador e perfeitamente razoável. Bem, continuando o exercício de projeção e levando-se em consideração que cada publicador contribua com 10 dólares em média por mês, multiplicando-se este valor por 7 milhões de publicadores e depois por doze meses, chegamos ao total de 840 milhões de dólares por ano. Agora some a esta quantia as doações particulares, heranças, jóias, etc, etc, etc. Conforme você pode observar é razoável concluir que a Watchtower está no rol de organizações que faturam1 bilhão de dólares ao ano. Uma empresa normal que visa lucro, que paga altíssimos impostos, pesadas folhas de salários, que investe em propaganda, que é obrigada a investir em projetos sociais, considera que, descontando-se tudo isso e mais os insumos de produção (matérias-primas e meios de produção), se obtiver entre 5 e 10% de lucro o resultado terá sido excelente. A entidade jurídica Watchtower por sua vez não paga impostos, não precisa investir em propaganda, não investe em programas sociais e paga apenas uma mísera "ajuda de custo" aos milhares de "voluntários" que trabalham arduamente em suas instalações. É claro que o lucro da Watchtower Society é muito maior do que o de uma empresa com todos estes gastos, principalmente porque não paga impostos. Como não temos este número disponível, consideremos que o lucro final corresponde a 20% do total bruto, teremos então um lucro anual de 200 milhões de dólares. Levando-se em conta este lucro de 200 milhões de dólares, podemos dizer que, se este valor fosse distribuído pela Watchtower para a parcela mais pobre das próprias testemunhas de Jeová, ou seja, as viúvas, os órfãos e os desamparados, seria suficiente para prover uma pensão mensal de 500 dólares para 400 mil pessoas. Loucura? Absolutamente não! Afinal até agora analisei o caso estritamente sob o ponto de vista financeiro, porém, observando sob a ótica bíblica nada existe de absurdo em se efetuar esta distribuição de recursos em forma de ajuda aos mais necessitados. Como o corpo governante das testemunhas de Jeová afirma ser uma versão hodierna de um pseudo "corpo governante" que havia em Jerusalém no primeiro século, então estes homens teriam que imitar o exemplo daqueles primitivos líderes do nascente cristianismo. Veja como pensavam e agiam os primitivos cristãos:

"A forma de adoração que é pura e imaculada do ponto de vista de nosso Deus e Pai é esta: cuidar dos órfãos e das viúvas na sua tribulação, e manter-se sem mancha do mundo" Tiago 1:27.

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"Apenas devíamos lembrar-nos dos pobres. Esta mesma coisa diligenciei também fazer" (Gálatas 2:10). "Porque os da Macedônia e da Acaia agradaram-se em partilhar as suas coisas por meio duma contribuição para os pobres [que são] dos santos em Jerusalém" (Romanos 15:26). “Não vos esqueçais de fazer o bem e de partilhar as coisas com outros, porque Deus se agrada bem de tais sacrifícios” (Hebreus 13:16).

E o nosso Senhor Jesus Cristo, o que pensava? Vejamos: “E certo governante interrogou-o, dizendo: Bom Instrutor, por fazer o que hei de herdar a vida eterna?... Jesus disse-lhe: Há ainda uma coisa que falta a respeito de ti: Vende todas as coisas que tens e distribui aos pobres, e terás um tesouro nos céus; e vem ser meu seguidor” (Lucas 18:18-22). “Quando ofereceres uma festa, convida os pobres, os aleijados, os coxos, os cegos; e serás feliz, porque eles não têm nada com que te pagar de volta” (Lucas 14:13, 14).

Note que os próprios dirigentes da Sociedade Torre de Vigia, o chamado “corpo governante”, reconhece isto em suas publicações:

Além de se preocupar com as necessidades espirituais das congregações, Paulo sempre tomava em conta as necessidades físicas de cristãos pobres, e parece que esta coleta se fazia em especial a favor de cristãos da Judéia que estavam em apuros naquela época. Em outras partes, referiu-se esta coleta com expressões tais como "contribuição para os pobres que sãoPaulo dos santos em aJerusalém...” Essa preocupação amorosa com as necessidades de concristãos era um dos sinais identificadores do cristianismo do primeiro século (Estudo Perspicaz das Escrituras pág. 527 - Coleta). Além disso, enquanto estava na terra, Jesus pessoalmente se interessou pelos materialmente pobres. Ele e seus apóstolos tinham um fundo comum do qual ajudavam os israelitas carentes. Mateus 26:9-11; Marcos 14:5-7; João 12:5-8; 13:29 (Estudo Perspicaz das Escrituras pág. 275 - Pobre). Os textos acima citados e a própria publicação da Sociedade Torre de Vigia (Estudo Perspicaz das Escrituras), apontam de forma inequívoca para o fato de que as contribuições e coletas efetuadas pelos cristãos do primeiro século tinham uma finalidade muito diferente das que são destinadas pelo "corpo governante" dos dias atuais. O objetivo das coletas era partilhar, distribuir os recursos daqueles mais abastados com os "financiar que sofriam carência de não recursos ou sugerida enfrentavam calamidades, a expressão a obra do reino" é sequer em nenhuma parte das chamadas Escrituras Gregas Cristãs.Diante de todos estes fatos fica a pergunta: Se o corpo governante das testemunhas de Jeová é o que

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afirma ser, por que não age como deveria agir? Por que não usa os gigantescos recursos que obtêm hoje, da mesma maneira que os cristãos do primeiro século usavam os pequenos recursos que coletavam na época? A Sociedade Torre de Vigia está muito longe de seguir o padrão dos cristãos do 1º Século, muito pelo contrário, suas ações tem mostrado uma atitude de enorme ganância e mesquinhe z. Por exemplo, ela manda as testemunhas de Jeová pagarem rigorosamente seus impostos, dandoa César o que é de César , mesmo que sejam impostos elevados e abusivos. Dizem que mesmo sabendo que grande parte dos impostos são desviados pela corrupção, devem pagar corretamente, pois se eles usam mal tais recursos, isto é um problema deles, no futuro terão de prestar contas a Deus. Citam Romanos 13:7 que diz em parte “...a quem exigir imposto, o imposto; a quem exigir tributo, o tributo...” , por isso, as Testemunhas fazem a sua parte pagando rigorosamente os impostos. Só que quando os governos impõem impostos a Sociedade, como na França recentemente, aí o texto já não vale mais, eles fazem o maior estardalhaço conclamando as Testemunhas de Jeová na França, e no mundo todo, contra uma pretensa arbitrariedade das autoridades francesas. Por meio da distribuição de milhões de panfletos, declaram sua indignação ao povo francês em geral, informando que as Testemunhas de Jeová estariam sendo alvo de perseguição religiosa, em contraste com os prezados direitos de liberdade franceses. A Sociedade transforma habilmente uma taxação de impostos sobre recursos recebidos como contribuição, na maior parte em pagamento de literaturas, em uma discriminação , um desrespeito aos direitos a livre crença das Testemunhas individuais. O Corpo Governante chegou a publicar em página inteira, no jornal The New York Times, em 1998, uma carta aberta ao presidente da França, reclamando de tal discriminação. Mas será que está havendo como eles dizem uma perseguição religiosa na França? Claro que Não. A Sentinela de 1.º de Setembro de 2001, páginas 19 a 21, relata que 12 milhões de cópias de um panfleto com o título"O que está se formando na França" , foram distribuídos no dia 3 de Novembro de 2000. Dezenas de milhares de Testemunhas foram às ruas para distribuir os panfletos, durante um período de 24 horas, nas ruas, nas estações de metrô, de trens e ônibus, no comércio, enfim, em todo e qualquer lugar onde poderiam ser encontrados, os cidadãos franceses foram contatados e receberam um exemplar do panfleto. A campanha de distribuição foi noticiada nos meios de comunicação e a rádio nacional veiculou anúncio sobre a distribuição e os motivos desta. Tudo isso foi feito sem que houvesse nenhuma restrição por parte das autoridades . Nenhuma prisão foi efetuada, nenhuma Testemunha foi cerceada na sua atuação. Poderia-se dizer entãoasque as Testemunhas de ou Jeová estão sofrendo França? Poderiam Testemunhas Russas Alemãs, em plenaperseguição proscrição,nadistribuir panfletos acusando as autoridades governamentais de discriminação. É obvio que

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não. Isso só foi possível na França, porque ali as Testemunhasnão estão sofrendo perseguição religiosa , nem qualquer outro tipo de discriminação. A revolta dos líderes das Testemunhas de Jeová e da Sociedade Torre de Vigia, envolve a taxação do dinheiro recebido como contribuição, principalmente os valores referentes às literaturas distribuídas, protestando contra a incidência de tributos sobre os seus ganhos, ao mesmo tempo em que outras religiões continuam a beneficiar-se de isenção. Mas, não é uma odiosa injustiça, o fato das autoridades francesas estarem impondo pagamento de tributos à Associação das Testemunhas de Jeová da França, enquanto concede isenções às outras?Tratar semelhantes de forma desigual é injustiça flagrante. Mas, será que as Testemunhas de Jeová consideram a sua religião igual a todas as outras? Não descreveu a Sociedade Torre de Vigia, por incontáveis vezes, as demais religiões como estando em uma relação iníqua com os governantes políticos do mundo e indiretamente com o mentor deles, Satanás, o Diabo? Não foram os próprios líderes da Testemunhas de Jeová, que por anos a fio identificaram as outras religiões com aquela, que no livro bíblico de Revelação é chamada de "Grande Meretriz", "Babilônia, a Grande"? Durante a era de J. F. Rutherford (1917-1942), o movimento das testemunhas de Jeová criado pela Sociedade Torre de Vigia tinha uma forte mensagem contra a religião (e religião de um modo geral!). A mensagem era de que a religião era algo que desviava a pessoa de Deus e de Cristo, além de ser um meio de enganar e extorquir as pessoas. Dentre os vários livros de autoria de Rutherford publicados pela Watchtower Society havia um com o títuloReligion, no qual Rutherford deixa bem clara a posição do movimento sobre religiões de um modo geral. Rutherford cunhou uma expressão que ficou famosa durante a parte final de sua era:"Religião é um laço e uma extorsão" (do Inglês "Religion is a snare and a racket"). Só no livro Religion, Rutherford usou esta expressão umas 10 vezes. Tão longínquo quanto no ano de 1965, no livro "Coisas nas Quais é Impossível que Deus Minta" , a imagem introduzida na mente das Testemunhas era a de um império mundial da religião falsa, sendo todas, sem nemuma única honrosa exceção, colocadas na mesma posição desfavorável para com Deus. E principalmente, sendo meios utilizados pelos governantes políticos como "massa de manobra" para controlar seus súditos, mantê-los com alguma esperança mesmo diante de graves problemas sociais e até apoiando-os em guerras e disputas territoriais. Tão recente quanto na edição de 1.º de Novembro de 2001 da revista A Sentinela, a mesma posição quanto ao desfavor das outras religiões é reiterada cabalmente, conforme é declarado na página 4, parágrafo 3, sob o tópico"A religião falsa corrompe a consciência" :

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"No livro bíblico de Revelação, a religião falsa é retratada como uma meretriz simbólica, chamada de Babilônia, a Grande. Os ensinamentos dela têm distorcido as sensibilidades morais de muitos e os têm induzido a odiar e até mesmo a agir violentamente contra os que têm crenças diferentes." É óbvio que, por dar apoio e lealdade aos governos políticos, estas religiões recebessem em troca algum tipo de favor ou compensação, afinal, como sempre acusaram os líderes das Testemunhas de Jeová, trata-se de uma relação iníqua ou de uma forma mais crua, uma fornicação simbólica. Entretanto, pede-se que seja concedido à Sociedade Torre de Vigia e suas associações jurídicaso mesmo tratamento, os mesmos benefícios de isenção fiscal dos quais se beneficiam as células religiosas que compõem segundo eles Babilônia a Grande. Quando o assunto é dinheiro, aí eles querem ser reconhecidos como uma religião tradicional. Não seria talvez pelo mesmo motivo, que a Sociedade Torre de Vigia esteve por tanto tempo associada secretamente ao Departamento de Relações Públicas das Nações Unidas (ONU)? A mesma ONU que foi chamada várias vezes pela Sociedade de “a imagem da fera”? Pelo visto, quando se trata de dinheiro, para fugir dos impostos eles fazem qualquer negócio.

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ortanto, o mais destacado aspecto desta tradução é o restabelecimento do nome divino no seu lugar legítimo... Fez-se isso pelo uso da forma há muito aceita 'Jeová', 6973 vezes nas Escrituras Hebraicas e 237 vezes nas Escrituras Gregas Cristãs. Assim diz a introdução da Tradução do Novo Mundo das Escrituras Sagradas com referências (TNM, daqui para frente), obra publicada pelas Testemunhas de Jeová em 1986, na verdade, sua versão revisada da Bíblia Sagrada. Sem a restrição da modéstia, essas palavras parecem expressar uma forte convicção dos editores no sentido de que sua tradução é superior a todas as demais. Tal dedução é corroborada, ainda, pelo que diz a publicaçãoToda a Escritura é Inspirada...,1966, p. 314, também publicada pelas Testemunhas. Vejamos:

"As Testemunhas de Jeová reconhecem-se endividadas para com todas as muitas versões da Bíblia que usaram em chegar à verdade da Palavra de Deus. Entretanto, todas essas traduções têm os seus defeitos. Há incoerências ou traduções insatisfatórias, infestadas de tradições sectárias ou filosofias mundanas, e, por conseguinte, não estão em plena harmonia com as sagradas verdades que Jeová registrou em sua palavra." (Grifo acrescentado) São razoáveis estas afirmações? Mais que isso, poderia aTNM, mediante um estudo elucidativo, ser isoladamente aprovada em um teste quanto a estar completamente livre (como dizem seus editores) de 'defeitos', 'tradições sectárias' e 'filosofias mundanas'? Cumpriu ela algum requisito firmemente apoiado na arqueologia e erudição textual que as muitas outras traduções ou versões da Bíblia falharam em observar? Tais questões merecem umexame sério e imparcial. Voltemos nossa atenção para o aspecto aparentemente distintivo da TNM - a alegada "restauração" do nome de Deus. Neste respeito, os editores dizem:

"... seria uma grande indignidade, sim, uma afronta à majestade e autoridade [de Deus], omitir ou ocultar seu ímpar nome divino, que ocorre de modo bem claro no texto hebraico..." - TNM, 1986, p. 6

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Certamente, qualquer cristão concordaria que é uma grande responsabilidade aquela de transmitir para as diversas línguas as palavras dos escritores bíblicos inspirados, ainda mais se tratando do nome do Todo-Poderoso. Tomar liberdades indevidas com o texto, além de eticamente inaceitável, poderia distorcer seu sentido e dar margem a toda forma de sectarismo religioso. A propósito, a Sociedade Torre de Vigia (a editora da TNM) afirma, com respeito a sua obra:

"Evitou-se tomar liberdades com os textos... ou substituí-los por algum paralelo moderno quando a tradução literal tem sentido claro. Manteve-se a uniformidade de tradução por atribuir um só sentido a cada palavra principal e por reter este sentido tanto quanto o contexto o permitiu." - TNM, p. 7 (Grifo acrescentado) Todavia, a organização acrescenta:

"Tem havido desvios ocasionais do texto literal, com o fim de transmitir as expressões idiomáticas hebraicas e gregas..." (Grifo acrescentado) Toda a Escritura é inspirada e Proveitosa..., 1966, p. 318 Contraditórias como pareçam, as duas afirmações acima revelam uma inevitável dificuldade com a qual qualquer tradutor bíblico, mais cedo ou mais tarde, se depara, a saber, a forma mais adequada pela qual verter (em termos que levem em conta o idioma e a cultura do público-alvo) as idéias de autores cuja língua, alfabeto e cultura acha-se a milênios de distância. Evidentemente, certa medida de 'liberdade' com o texto, ainda que seja um recurso gramatical aceitável sob certas circunstâncias, apresenta, amiúde, uma armadilha sutil: o tradutor poderá selecionar a palavra ou expressão queele próprio julga mais conveniente, aquela que melhor se ajusta à suaspreferências pessoais ou teológicas. Neste caso, os assim chamados 'desvios ocasionais' dão margem a criação deparáfrases, ou seja, a substituição de parte do texto por uma interpretação particular de seu sentido. É um risco ao qual nenhuma equipe tradutora do mundo está imune, isto certamente inclui os autores da TNM. O objetivo deste artigo é familiarizar o leitor com os certos aspectos históricos, bem como princípios elementares de arqueologia, gramática de línguas arcaicas e teologia, que o habilitem a compreender o tema em questão, a ponto de avaliar se os autores da versão bíblica amplamente usada pelas Testemunhas de Jeová foram, de fato, coerentes ao inserir 237 vezes, no Novo Testamento, uma forma peculiar de tradução para o nome divino. Ao mesmo tempo, será possível verificar se eles próprios alguma vez tornaram-se ou não culpados das práticas nada ortodoxas que atribuem a outros tradutores, se apegar a 'tradições' ou 'filosofias sectárias'.

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"Suponhamos que eu vá ter com os filhos de Israel e deveras lhes diga: O Deus de vossos antepassados enviou-me a vós, e eles deveras me digam: Qual é o seu nome? O que hei de dizer-lhes?" - Êxodo 3:13 Com estas palavras, Moisés criou o ensejo para a revelação de um nome ímpar, do qual seus antepassados não tinham conhecimento pleno. A resposta divina a essa pergunta foi:

"EU SOU AQUELE QUE SOU... Eis como responderás aos israelitas: 'EU SOU' envia-me junto de vós. Deus disse ainda a Moisés: JAVÉ, o Deus de vossos pais,... enviame junto de vós." - Êxodo 3: 14, 15 (Centro Bíblico Católico) O nome divino, vertido acima como Javé, consiste, na verdade, de uma palavra de quatro letras hebraicas - o tetragrama (palavra grega que significa "quatro letras"). Indubitavelmente, o tetragrama constava dos escritos srcinais do Antigo Testamento. Não há razões para contestar este fato específico. Segundo o relato de Êxodo, Moisés teria sido o primeiro servo de Deus ao qual se apresentou formalmente o nome divino. É intrigante que, passadas várias gerações de servos fiéis de Deus, somente a Moisés Ele tenha se revelado por meio do tetragrama. Abraão fora chamado pelo Todo-Poderoso da terra de Ur dos caldeus, centro irradiador de uma infinidade de deidades, sem que o tetragrama lhe fosse formalmente revelado como forma de distinguir o Deus verdadeiro dos deuses falsos. Se este havia de ser um memorial eterno e obrigatório, único e imprescritível para todos os adoradores de Deus (e não apenas ao povo israelita sob lei mosaica), por que não fora revelado já aos primeiros servos leais, como Abel, Enoque, Noé ou ao próprio Abraão, com quem Deus estabelecera um pacto de longa duração? Por que, durante o período patriarcal, prevaleceu à expressão 'El Shadday' (Gênesis 17: 1)? Estas são indagações pertinentes ao objeto de nosso estudo. Moisés foi incumbido de apresentar o recém-revelado nome como pertencente ao 'Deus de Israel' (Êxodo 3: 18). A partir dessa revelação e da libertação da escravidão no Egito, o nome divino passou a ser, sem dúvida, a palavra mais freqüentemente proferida pelo povo israelita pactuado. Também passou a ser seu estandarte diante das muitas nações que desalojariam em busca de sua terra passar dos séculos, surpreendente, aprometida. pronúnciaContudo, srcinal docom nomeo foi perdida. É deverasocorreu notáveluma que coisa uma das palavras mais pronunciadas de todos os tempos tenha, paradoxalmente, se tornado a mais obscura. Como se deu isso?

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Uma série de fatores contribuíram para este processo, entre eles: a) O nome era restrito a uma sociedade fechada - o povo israelita, sob a lei mosaica; b) Seu alfabeto não possuía sons vocálicos, ou seja, o leitor dependia de informação de sua própria cultura para saber como suprir os sons vocálicos ao ler os símbolos consonantais que compunham as palavras; c) Temendo tomar o nome de Deus 'em vão' (Êxodo 20: 7), gradativamente, o povo adquiriu o costume de não pronunciar o tetragrama em seu cotidiano, reservando seu uso para ocasiões especiais , como em orações no seu templo, sob a supervisão de um sacerdote. Há evidências de que proferir o nome sagrado converteu-se, com o tempo, em uma prerrogativa exclusiva do sacerdócio Aarônico.

Neste respeito, a autora Karen Armstrong (especialista em religiões) comenta:

"Os judeus eram mesmo proibidos de pronunciar o seu nome, um poderoso lembrete de que qualquer tentativa de expressá-lo seria considerada inadequada: o nome divino, escrito YHVH, não era pronunciado em nenhuma leitura da escritura." - Uma História de Deus (1994), p. 84 De fato, muito embora outros nomes, como o já mencionado 'El Shadday', pudessem ser aplicados a Deus, aquele fornecido a Moisés no fumegante monte Horebe passou a ser objeto de temor especial entre os israelitas. Obviamente, isto teria conseqüências inexoráveis sobre o uso futuro do tetragrama. A combinação dos fatores acima teve força decisiva no obscurecimento da pronúncia do nome divino, levando-o à condição de um segredo perdido. O conhecimento da pronúncia de uma palavra, em hebraico antigo, depende de seu uso. Sem o uso e transmissão da palavra (de uma geração a outra) e sem símbolos vocálicos, sua pronúncia está irremediavelmente perdida. Uma solução teria sido verter o nome para outro idioma, um que possuísse símbolos vocálicos. Lamentavelmente, porém, isso jamais aconteceu. Os judeus, sendo extremamente tradicionalistas e xenófobos para com as nações à sua volta, certamente teriam escrúpulos quanto a verter sua palavra sagrada para algum idioma gentio. Se eles próprios tinham receio quanto ao uso cotidiano dela em sua comunidade, quão menos dispostos estariam a introduzi-la no vocabulário daqueles a quem consideravam 'pagãos'. O tetragrama tornou-se uma espécie de'fetiche' para eles, um sinal secreto distintivo, que os punha acima de todos os outros povos. Tal ênfase desmedida a um símbolo acabou por sepultar sua pronúncia sob o manto de um passado remoto. A partir desses fatos, podemos reconstituir o cenário histórico que determinaria como o tetragrama chegaria às gerações futuras.

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Conforme já explicamos, o alfabeto hebraico não dispunha de símbolos vocálicos. Porém, por volta do 4o. Século DC, um grupo de peritos judeus chamados massoretas, acrescentaram, não letras, mas pontos vocálicos aos caracteres hebraicos, de modo a padronizar a pronúncia. Para facilitar o entendimento do leitor, faremos uma analogia com a frase 'ontem fez sol'. Se ntm fz sl lermos a sentença sem as vogais, temos: Repare o leitor que a expressão, grafada dessa maneira, lança incerteza quanto à correta pronúncia das palavras. O termosl, por exemplo, dá margem a múltiplas interpretações, alguém poderia tomá-lo como significando 'sal', 'sol' ou 'sul'. A menos que a pessoa estivesse previamente familiarizada com o contexto ou com a pronúncia srcinal, não teria como reconstituir a sentença com precisão. Por outro lado, se tivéssemos de deduzir aleatoriamente que vogais estariam faltando em sentenças como a acima, nossa tentativa de reconstrução do texto srcinal, com grande probabilidade, resultaria em uma deturpação de seu sentido. A mesma dificuldade haveria com relação à pronúncia do nome divino para as pessoas que não pertencessem à comunidade judaica dos tempos pré-cristãos. Esta condição permaneceu durante séculos, enquanto cópias do Antigo Testamento eram feitas, e estendeu-se até a primitiva era cristã. Ilustrando agora o que os massoretas fizeram nos séculos seguintes, apliquemos, na nossa frase de exemplo, as vogais na forma

de 'pontos': o

ntem fez sol

Agora a pronúncia está clara. Todavia, a analogia que propusemos é limitada, visto que informamos de antemão ao leitor qual era a expressão srcinal. Bem diferente era a situação dos massoretas do 4o. Século, no caso deles, somos levados a perguntar: tendo eles introduzido seus sinais vocálicos em uma época em que a pronúncia do nome já era obscura, como escolheram os pontos vocálicos? Seeles próprios não conheciam o som srcinal e, mesmo que o conhecessem teriam escrúpulos quanto a representá-lo graficamente, quais vogais introduziriam afinal? A obra Theological Wordbook of the Old Testament [Dicionário Teológico do Velho Testamento], 1980, Vol. 1, p. 13, elucida o mistério:

"Para evitar o risco de tomar o nome de Deus... em vão, judeus devotos começaram a substituir o nome próprio pela palavra “elohim” e “adonay”. Embora os massoretas deixassem as quatro consoantes srcinais no texto, acrescentaram as vogais “e” de ‘elohim’ e 'a' para lembrar o leitor de pronunciar 'adonay', sem considerar as consoantes." (grifo acrescentado)

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Vemos, assim, que os massoretas tinham de tomar uma decisão: reproduzir o tetragrama hebraico em forma pura ou simplesmente transcrever, em seu lugar, o vocábulo adonay (kyrios em grego), consagrado há séculos e bem conhecido do público ao qual o texto se destinava. Na primeira hipótese, teriam um sentimento de fidelidade ao texto hebraico primitivo, porém a inteligibilidade da cópia sofreria; na segunda hipótese, priorizava-se a compreensão da palavra, aceitandose como preço o desvio do texto srcinal. Os massoretas preferiram adotar, para este impasse, uma solução intermediária, a saber, a criação de uma palavra híbrida, resultado da intercalação das consoantes de um nome, cuja pronúncia havia se perdido séculos antes, com as vogais de um substitutivo amplamente consagrado pela tradição judaica. As consoantes eram oriundas do tetragrama hebraico e os sinais vocálicos, da expressão ED - ON - AY correspondente a adonay (Senhor) e Elohim (Deus), as quais, diferentemente do nome divino, foram traduzidas para o grego. O resultado final foi:

Como o leitor daqueles tempos lia a palavra acima? Segundo a obra há pouco mencionada, ao deparar-se com a expressão criada pelos massoretas, ele pronunciava, em sua língua, 'Senhor', já que a pronúncialiteral não faria sentido algum. Em outras palavras, estamos diante de um circunlóquio , ou seja, uma expressão pronunciável que substitui uma outra impronunciável. É importante que guardemos este conceito, pois voltaremos a tratar dele mais adiante. O livro ajuda ao Entendimento da Bíblia - publicado pelas Testemunhas de Jeová pp. 884,885 (em inglês), diz:

"Por combinar os sinais v ocálicos de 'Adonay' e 'Elohim' com as quatro consoantes do tetragrama, as pronúncias 'Yehowah' e 'Yehowih' foram formad as. A primeira destas proveu a base para a forma latinizada 'Jeova(h)'. O primeiro registro de uso dessa forma data do século 13 DC. Raimundus Martini, um monge espanhol da Ordem Dominicana, a usou..." (negrito acrescentado)

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Perceba o leitor que o primeiro uso do nome hoje adotado pelas Testemunhas de Jeová não começou com a igreja cristã primitiva . Formou-se mais de um milênio após o surgimento dela, por intermédio de um monge católico. Como se trata de uma palavra híbrida, a aglutinação das consoantes 'Y-H-V-H' (oriundas do tetragrama) com as vogais 'e-o-a' (retiradas dos termosADONAY e ELOHIM que significam ‘Senhor’ e ‘Deus’ em hebraico), concluímos que apenas a porção consonantal (as consoantes Y-H-V-H) da tradução do nome srcinal poderia estar sendo pronunciada hoje pelas Testemunhas de Jeová, pois aporção vocálica (as vogais e, o, a) pertence a outras palavras. Querendo ou não, isto significa que, pelo menos em parte, aquele substitutivo 'Senhor' ainda é usado por elas. Em outras palavras, o vocábulo 'Jeová', em si mesmo, é um circunlóquio, oriundo da combinação de duas palavras de sentidos e pronúncias diferentes. Equivaleria a combinar as consoantes do nome B' -a-a-l' (deidade dos antigos caldeus) com as vogais da palavra 'S-e-n-h-o-r'. O resultado seria 'Belo', uma palavra com pronúncia e sentido totalmente distintos das anteriores. Com efeito, a intenção dos massoretas do 4o. Século não era a de remeter o leitor à pronúncia srcinal (até porque isso seria impossível àquela altura), mas tão-somente o de induzi-lo a pronunciar "Senhor" diante do tetragrama, como já era o costume secular. A preservação das consoantes hebraicas visava, basicamente, manter a fidelidade ao Antigo Testamento. Diante do exposto, podemos concluir que os editores daTNM insistem hoje (em nome da reverência a Deus) no uso do amálgama YHVH/adonay, um código cuja pronúncia literal não fazia qualquer sentido para os judeus do 1º Século, tendo sido introduzida por um monge da Ordem Dominicana, no Século 13. Em confirmação a esta conclusão, vejamos como algumas respeitadas obras seculares definem o nome 'Jeová': 











"Leitura falsa do hebraico, Jahweh." - Dicionário Colegial Webster "Forma errônea do nome do Deus de Israel" - Enciclopédia Americana "A pronúncia Jehovah é um erro resultante entre cristãos por combinar as consoantes de IHVH com as vogais de Adonay." - Enciclopédia Britânica "Palavra mal pronunciada do hebreu IHVH, nome de Deus. Esta forma é gramaticalmente impossível. A forma Jehovah é uma impossibilidade filológica." - Enciclopédia Judaica "Erro de pronúncia do tetragrama, ou palavra de quatro letras do nome de Deus... a palavra Jehovah, portanto, éerroneamente lida; para esta não há garantia e não faz sentido em hebraico." - A Enciclopédia Judaica Universal "É uma forma artificial" - Dicionário dos Intérpretes da Bíblia

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"Jeová, nome do Deus do povo hebreu, conforme erroneamente transliterado do texto massorético hebraico... Os tradutores do hebraico, não percebendo o que os escribas tinham feito, leram a palavra do modo como foi escrita, considerando os sinais vocálicos como intrínsecos ao nome de seu Deus, ao invés de um mero lembrete para não pronunciá-lo." Enciclopédia Encarta (1999)

Existem, até hoje, controvérsias quanto à correta pronúncia de , havendo algumas alternativas como Javé, Iavé etc., todas elas gramaticalmente possíveis. Segundo alguns peritos em línguas mortas, há evidências fortes em favor da forma Iahweh, amplamente utilizada, por exemplo, na Bíblia de Jerusalém (1973). Todavia, a forma correta, qualquer que seja ela,não corresponde ao nome srcinal que os israelitas adotaram na época de Moisés. Portanto, o nome eleito pela Sociedade Torre de Vigia, provém de um erro grosseiro de leitura, o qual tornou-se tradicional. No entanto, a Sociedade Torre de Vigia justifica a adoção da forma 'Jeová' por ser ela "há muito aceita" T( NM, p. 6). De fato, no apêndice 1A da TNM, a comissão tradutora reconhece que sua tradução "continua a usar a forma Jeová, por causa da familiaridade das pessoas com ela já por séculos" (p. 1501). Dito de outra forma, o emprego da palavra, bem como sua introdução naTNM, foram alicerçados na 'tradição', uma prática já qualificada pela Sociedade como uma das 'contaminações' que 'infestam' outras traduções da Bíblia. Deveras, as tradições têm muita força. Para ilustrar, seria bem pouco provável, após todos estes anos, que o movimento religioso "Testemunhas de Jeová" subitamente alterasse seu nome para "Testemunhas de Iavé", caso estudos mais recentes apontassem com boa margem de confiança esta30. forma, ao invés daquelaa preferida e consagrada entre seus membros desdepara os anos A tradição continua ter um relevante papel na cultura cristã atual, assim como tinha para os cristãos do primeiro século. Confrontados com estes fatos, os editores da TNM enfatizam o aspecto da intenção, colocando a questão técnica da pronúncia em um plano secundário ("O Nome Divino que Durará para Sempre", 1984, p.7). Neste caso, vêm à tona algumas indagações: não é o uso do tetragrama pelos cristãos na atualidade,em si mesmo, uma questão técnica? Por outro lado, manifesta aquele que usa a forma 'Jeová' sentimentos melhores ou mais nobres do que aquele que usa as formas 'ElShadday', 'Senhor' ou simplesmente 'Deus'? Não têm ambos amesma intenção? Não têm em mente o mesmo ser, ou seja, o Deus Todo-Poderoso? Um segundo argumento de que a Sociedade Torre de Vigia lança mão é o de que 'Senhor' e 'Deus' não passam de títulos, há muitos 'senhores' ou deuses' (livro "Ajuda ao Entendimento da Bíblia" , p. 847). Todavia, esta é uma sutileza idiomática, pois, segundo o peritocomo alemão Geseniusé, na língua exclusivamente hebraica, a palavra 'adonay', em português 'Senhor', aplicada a Deus . Em vertida outras palavras, os judeus haviam criado uma forma alternativa, porémnão comum, para o tetragrama. Ainda hoje, eles manifestam enorme reverência para com ela,

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reservando-a para ocasiões especiais, no cotidiano, preferem referir-se a Deus pela expressão "O Nome" ("ha'Shem"). Os termos para 'senhor' no sentido comum são adhoni ou adhon. Na própria Bíblia há exemplos do uso destes termos em sentido geral (o relato em I Samuel 1: 15-26 é um deles), contrastando nitidamente com as passagens dirigidas a Deus. Eis aí a chave do problema,três palavras diferentes, mas uma só tradução. Para contornar o obstáculo lingüístico, muitos tradutores vertem o nome em versalete (SENHOR), indicando um termo específico na língua srcinal. Quanto à forma hebraica plural 'Elohim', traduzida 'Deus' (embora, ao pé da letra, signifique 'deuses'), há um problema semelhante, pois ela não ocorre em qualquer outra língua semítica, nem mesmo no aramaico. Ademais, no primeiro capítulo de Gênesis, Deus é identificado apenas por este termo. Embora 'Elohim' raramente seja aplicado a deidades pagãs no Antigo Testamento, a forma como isso é feito difere significativamente, o vocábulo é seguido de verbo no plural, ao passo que, quando aplicado a Deus,o verbo ocorre no singular. Trata-se, pois, de uma construção bem peculiar, imperceptível em outras línguas. Diante destes aspectos, não é de estranhar que os tradutores modernos não se sentissem perturbados pelo uso dos termos correspondentes, 'Senhor' e 'Deus', ambos consagrados pelos primitivos cristãos. No entanto, a comissão tradutora daTNM condena, de forma veemente, esta prática:

"A maior indignidade que tradutores modernos causam a Autor divino das Escrituras Sagradas é a ocultação desse seu peculiar nome pessoal... Por usarmos o nome 'Jeová', apegamo-nos de perto aos textos da língua srcinal e não seguimos a prática de substituir o nome divino... por títulos tais como 'Senhor', 'o Senhor', 'Adonai' ou 'Deus'.” (TNM, p. 1501) São razoáveis as palavras acima? Foram os tradutores realmente 'indignos' ao traduzirem o nome divino por 'Deus' ou 'Senhor'? 'Apegou-se', de fato, aos textos da língua srcinal a comissão tradutora da TNM por traduzir uma forma híbrida do tetragrama para uma forma popularmente aceita em uma língua gentia? Agiu ela de modo mais louvável do que os antigos copistas das Escrituras Sagradas, bem como outras comissões tradutoras de inúmeras versões da Bíblia? Um exame minucioso das evidências arqueológicas poderá lançar uma luz sobre o assunto. Antes de prosseguirmos, é importante enfatizarmos nosso objetivo: aferir o uso ou não do tetragrama pelos escritores do Novo Testamento. Onde procuraremos a resposta? Em nossas preferências teológicas? Em nossas convicções pessoais? Em nossa própria interpretação da Bíblia? Não, mas no inteiroconjunto de evidências arqueológicas de que dispomos. Cremos que, se o tetragrama estava presente no texto cristão, não é correto retirá-lo, mas, se não estava, não é correto inserilo. Afinal de contas, como os escritores do Novo Testamento encaravam o tetragrama?

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Com a expansão do idioma grego pelo mundo, o Antigo Testamento, srcinalmente escrito em hebraico e aramaico, teve de ser traduzido para aquela língua. Muitos judeus haviam sido expatriados para Alexandria, centro da cultura grega desde 350 AC até sua conquista por Roma. Esses movimentos migratórios criaram uma nova situação, as gerações posteriores de judeus já não eram capazes de lerseourestringia compreender o hebraico. a influência helênica sua cultura não à língua. A Dra.Contudo, Karen Armstrong ajuda-nos a em reconstituir o cenário da época:

"Os judeus da Palestina e da diáspora foram envolvidos por uma cultura helênica que alguns achavam perturbadora, mas outros ficaram excitados com o teatro, filosofia, esporte e poesia gregos. Aprenderam grego, exercitaram-se no ginásio e adotaram nomes gregos. Alguns combateram como mercenários nos exércitos gregos. Até traduziram suas escrituras para o grego, produzindo a versão conhecida como a Septuaginta." - "Uma História de Deus" (1994), p. 76 Esta influência cultural também se estenderia, séculos mais tarde, à comunidade cristã, pois Clemente de Alexandria, Justino Mártir e Orígenes, considerados Pais da Igreja, foram grandemente influenciados pela filosofia grega. Assim sendo, por volta do 3o. Século antes de Cristo, teve início a Septuaginta ou Versão dos Setenta (Grega) representada, daqui por diante, pelo símbolo romano LXX. A tradução do Pentateuco (os cinco primeiros livros do Antigo Testamento) foi concluída por volta de 180 AC. No entanto, o trabalho completo de tradução das escrituras hebraicas só seria levado a termo no segundo século DC. Visto que diversas cópias da LXX provavelmente estavam disponíveis a Jesus Cristo e seus seguidores e que ela passou a ser, virtualmente, a 'bíblia' dos cristãos (mais do que os srcinais hebraicos) sendo citada inúmeras vezes pelos escritores do Novo Testamento, é mister conhecer o desenvolvimento desta relevante obra, produzida por peritos judeus, a fim de estabelecer qual o grau de uso do tetragrama nos tempos cristãos. Uma grande quantidade de cópias da LXX circulou entre judeus e gentios e algumas destas cópias existem até hoje. Que revelam estes documentos? Antes de prosseguirmos, é preciso que se esclareça um ponto de alta relevância , o Antigo Testamento, a LXX (sua tradução grega) e o Novo Testamento são obras distintas, produzidas em épocas diferentes e por culturas diferentes . O que é válido é para asEm outras duas. Igualmente, que é válido para uma, duas não podenecessariamente não o ser para ao terceira. razão disso, o grau de oaceitação de cada uma não era o mesmo entre os povos antigos, como ainda não é para as diversas comunidades religiosas da atualidade. Alguns grupos têm sérias reservas

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para com a LXX, preferindo o texto massorético; outros rejeitam o Novo Testamento e ainda outros aceitam os três. Deste modo, estes escritos antigos têm de ser examinados individualmente . Se uma frase ou um termo é expresso de certa maneira no Antigo Testamento, esta frase ou este termo podenão estar expresso exatamente da mesma maneira na LXX (mesmo se tratando de uma tradução). Isto ocorre naturalmente na transposição entre quaisquer barreiras idiomáticas ou culturais. Ademais, se uma palavra é dita de certa forma no Antigo Testamento, não necessariamente a encontraremos assim no Novo Testamento, até porque os escritores cristãos não apenas davam, freqüentemente, preferência à cópia grega, quer dizer, a LXX, como também tomavam liberdades com os textos antigos, aplicando-os a contextos distintos ou tomando 'emprestado' apenas o estilo de escrita. Deveras, este modo livre de redigir dos cristãos foi duramente criticado por judeus conservadores da época. Eles já encaravam a tradução grega do Antigo Testamento com reserva e chegaram a acusar o cristianismo de distorcer passagens antigas das escrituras hebraicas, de modo a encaixá-las em suas doutrinas. Com efeito, incorre em equívoco grosseiro quem concebe o cristianismo como um movimento submisso aos costumes e tradições judaicas. Embora nascida do judaísmo, a igreja cristã (à exceção da corrente Ebionita), jamais foi subserviente a ele. Por exemplo, na introdução da carta aos Hebreus, classifica-se o objeto de maior devoção dos judeus, a saber, alei de Moisés, como mera 'sombra' das coisas futuras e aquém da realidade. O apóstolo Paulo reiteradamente enfatizou o livramento dos cristãos do jugo de tal lei (Gálatas 3: 24,25) Tais comentários do maior evangelista daquele tempo sintetizam bem a independência cristã da liturgia judaica. O tribalismo de um contrastava nitidamente com o universalismo do outro. doutrina de Cristo, direta sem dúvida, pareciaum herética olhos dos 'doutores da lei'.AComo conseqüência disso houve cismaaos ideológico e social entre judeus e cristãos, o qual persiste até hoje. Concluímos, deste modo, que extrapolar conclusões acerca do conteúdo srcinal de um antigo documento cristão a partir de uma fonte judaica anterior, na qual aquele supostamente se baseia, é um proceder tecnicamente desaconselhável e teologicamente arriscado. O procedimento mais seguro a ser adotado pelo investigador imparcial, neste caso, é examinar todo conjunto de achados arqueológicos, deixando que eles falem por si mesmos. Tendo em mente estes pontos, passemos a examinar o que as antigas cópias da LXX, hoje disponíveis, revelam sobre como os escribas vertiam o nome divino: I) Encontraram-se sete formas distintas pelas quais os copistas da LXX expressavam o nome sagrado. São elas: (1) simples transcrição do tetragrama em caracteres hebraicos ; neste caso, o texto inteiro era traduzido para o grego, mas o nome divino permanecia em hebraico, ; (2) tradução pela palavra grega

Kyrios , 'Senhor', em português - aproximação ou (3) sua abreviatura, ; (4) uma aproximação visual em grego, ; (5) uma fonética emsgrego, ou (6) sua abreviatura, ; (7) transcrição do tetragrama em caracteres hebraicos arcaicos, . Embora as diversas formas acima não tenham a mesma idade,

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pois os caracteres hebraicos são os mais antigos, nenhuma delas esteve confinada a apenas uma era e diversas podiam ser encontradas simultaneamente, no mesmo manuscrito. Por exemplo, uma obra muito citada pelas Testemunhas de Jeová, um antigo e exaustivo trabalho de revisão bibliográfica, a Hexapla de Orígenes, inclui cinco das diferentes formas acima. Além disso, os rolos do Mar Morto (guardados pelos essênios) contêm a forma fonética grega no livro de Ezequiel. Convém lembrar que os essênios constituíam uma seita judaica quereverenciava o nome divino. II) Há fortes evidências de que os fatores determinantes da forma escolhida para representar o nome divino eram a srcem do autor e o público-alvo. Cópias feitas por judeus e para judeus apresentariam o tetragrama em caracteres hebraicos, ao passo que aquelas feitas por gentios ou para gentios conteriam as formas correspondentes em grego. As evidências históricas indicam que as primeiras cópias da LXX, sendo destinadas, primariamente, ao povo judeu disperso, muito provavelmente seguiam a primeira opção, isto é, transliteravam o tetragrama hebraico. Todavia, isto não significa que seus usuários conhecessem a pronúncia do nome. Os judeus de língua hebraica há tempos referiam-se a Deus poradonay [Senhor]. O mesmo fazia os de língua grega, usando o termo correspondente, Kyrios. Neste respeito, o livro Ajuda ao Entendimento da Bíblia (p. 886, em inglês) publicado pelas Testemunhas de Jeová, menciona as palavras de um erudito, o Dr. Paul Kahle, em sua obra The Cairo Geniza:

"Nós sabemos que... [a Septuaginta] quando escrita por Judeus para Judeus, não traduzia o nome Divino por 'Kyrios', mas o tetragrama escrito em letras hebraicas ou gregas era retido em tais manuscritos. Foram os cristãos que substituíram o tetragrama por 'Kyrios', quando o nome divino escrito em letras hebraicas não mais era compreendido." (Grifo acrescentado) Com efeito, esta explicação leva-nos a um paradoxo, pois, se há como sustentam as Testemunhas de Jeová algo de herético ou imoral em verter o nome divino por 'Senhor', então, os cristãos primitivos teriam sido, eles mesmos, os primeiros culpados deste pecado. III) A ampla maioria das cópias da LXX que chegaram a nós apresenta a forma grega Kyrios. Há evidências de que isso se deveu a uma súbita mudança de atitude da comunidade judaica para com os cristãos. Após o devastador ataque romano de 70 DC, o antigo descontentamento judaico contra Roma aumentou vertiginosamente, culminando com um levante fracassado, em 132 DC. O ressentimento dos judeus diante das conquistas do inimigo converteu-se em nacionalismo exacerbado e xenofobia. Além disso, quando, no quarto século, o imperador Constantino declarou-se convertido ao cristianismo, proclamando esta religião como oficial do Império Romano, a reação judaica recrudesceu. Seus

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sentimentos adversos para com os romanos estenderam-se também aos cristãos, especialmente os judeus convertidos, considerados apóstatas. A LXX passou a ser vista, pejorativamente, como um compêndio 'cristão', em outras palavras, uma tradução dos 'pagãos'. Na verdade, certos segmentos do judaísmo, desde longas datas, não a consideravam um documento fidedigno. Com o tempo, os judeus não só pararam de reproduzi-la, como buscaram destruir a literatura grega cristã. Entretanto, os cristãos gentios, não compreendendo símbolos hebraicos, continuaram a produzir cópias da LXX contendo a forma grega Kyrios. Isto aparentemente explica porque versões dela contendo o tetragrama tornaram-se tão raras.

Constantino (274-337 DC)

A obra anteriormente mencionada, The Cairo Geniza, confirma isso ao dizer:

"... após o Cristianismo ter se tornado a religião do Estado sob Constantino, os Judeus empenharam-se com sucesso em destruir sistematicamente toda a literatura [cristã], incluindo os textos gregos da Bíblia." (p. 246, em inglês) É importante ressaltar, que apesar da ampla popularidade da LXX, ela não era a única tradução disponível. Precisamente em razão da mudança de atitude dos judeus em relação a ela foi que Áquila, Símaco e Teodócio publicaram suas traduções, por volta do segundo século depois de Cristo. Nessas obras eles reinseriram o tetragrama, tanto em hebraico comum como arcaico (opções 1 e 7 do item I). Um fato relevante a ressaltar é: tais tradutores não produziram essas obras por zelo cristão, ao contrário, eles eram judeus praticantes e opositores do cristianismo. Na verdade, pretendiam um retorno às raízes do judaísmo . Áquila (80-135 DC), por exemplo, converteu-se ao judaísmo, depois ao cristianismo e, então, de volta ao judaísmo. Enquanto membro da comunidade cristã, ele foi rejeitado por preservar práticas consideradas pagãs, como astrologia, magia e necromancia. Diz-se que ele chegou a ponto de afirmar que Jesus era o "filho bastardo de Maria com um soldado romano loiro e de descendência germânica". Áquila tornou-se discípulo do rabino Akiva, enquanto Símaco era judeu convertido e Teodócio era prosélito. Além da reinserção do tetragrama, eles corrigiram, em algumas passagens, aquilo que consideravamfalhas de tradução

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da LXX. Uma destas correções tem importantes conseqüências: a troca da palavra grega parthenos ('virgem') presente na LXX por neanis ('mulher jovem'), em Isaías 7: 14. O vocábulo srcinal na bíblia hebraica é ha'almáh, significando 'a moça' ou 'a donzela', não necessariamente 'virgem' (betullah, em hebraico). Este detalhe acha-se registrado na nota de rodapé da TNM com referências (p. 844). Pode parecer uma diferença irrelevante, mas não é. Ela cria um sério problema, pois esta passagem sempre foi considerada, pelos cristãos, como uma alusão a Maria, mãe de Jesus, daí a natural preferência pelo termo 'virgem', empregado pela LXX e contestado de forma veemente por Áquila, Símaco e outros judeus daquele tempo. O livro de Mateus traduz a palavra hebraica da mesma forma que a LXX. Com efeito, as traduções de Áquila, Símaco e Teodócio atingem em cheio a idoneidade deste evangelho, pondo em xeque sua inspiração , pois sugerem que Mateus teria cometido um erro de tradução, intencionalmente ou por equívoco. Ainda assim, a Sociedade Torre de Vigia tem mencionado freqüentemente estas traduções, especialmente a de Áquila, considerada por alguns críticos como "literal demais", a ponto de ser quase incompreensível. Eles gostam de usá-la em apoio à teoria de que a LXX comumente usada nos tempos de Cristo, de fato, continha o tetragrama, e que ele e seus discípulos estariam, dessa forma,obrigados a usá-lo. Ademais, fragmentos de uma versão judaica da LXX, encontrados no Egito e datados como sendo do 1º século antes de Cristo, os assim chamados papirosFouad (ou LXXFouad) , contêm o tetragrama e, por isso, têm sido enfaticamente apresentados pela organização como prova da mesma teoria. Tal atitude tem levado alguns estudiosos a considerarem as Testemunhas de Jeová como uma seitahíbrida, misto de judaísmo e cristianismo. Se tomarmos em conta que a ampla maioria das cópias da LXX incluindo-se aí as mais antigas obras completas (ou quase completas), tais como o códiceSinaítico, o Alexandrino e o Manuscrito 1209 do Vaticano, do 4º e 5º século DC, não contêm o tetragrama, o achado de raras cópias de srcem judaica que o contêm, como a LXXFouad , datando de antes de Cristo, aponta, no máximo, para umapossibilidade das afirmações da Sociedade serem verídicas. Para que o leitor tenha uma noção numérica do problema, existem cerca de 1500 fragmentos da LXX que não dão suporte à tese da Sociedade Torre de Vigia e apenas uns 10 que lhe são parcialmente favoráveis (falaremos deles mais adiante). Todavia, essa disparidade numérica não parece exercer qualquer efeito sobre as convicções de seus dirigentes. Deveras, as Testemunhas de Jeová vão além, muito além disso. Em razão da possibilidade aventada por sua teoria, elas não só sustentam que o tetragrama estava presente nas cópias da LXX disponíveis a Cristo e seus discípulos, mas também afirmam categoricamente que eleestava nos escritos srcinais do Novo Para isso, propõem uma no mínimo, 'policialesca' para Testamento. o desaparecimento do tetragrama nos hipótese, manuscritos do Novo Testamento dos séculos seguintes a Cristo, especialmente a partir do 3º século. Examinemo-la...

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Em 1977, um eminente professor de religião da Universidade da Geórgia, EUA, George Howard, formulou uma teoria, publicada no Journal of Biblical Literature (Vol. 96, p. 63), a qual provocou grande empolgação entre os membros da Sociedade Torre de Vigia. Um trecho das declarações dizia:

"Já que o tetragrama era ainda escrito em cópias da Bíblia grega [LXX] que compunha as Escrituras da igreja primitiva, é razoável crer que os escritores do Novo Testamento, ao fazerem citações da Escritura, preservassem o tetragrama no texto bíblico. Pela analogia da prática judaica pré-cristã, podemos imaginar que o Novo Testamento incorporava o tetragrama em suas citações do Velho Testamento." A declaração acima diz respeito a um fato bastante incômodo para aqueles que defendem a inclusão do tetragrama no Novo Testamento, nem uma única dentre as cerca de 5 mil cópias do Novo Testamento hoje existentes faz isso. O autor estava ciente do fato e não fez referência a qualquer manuscrito do novo Testamento dos primeiros séculos DC que contivesse o tetragrama. Não poderia, pois, até esta data, jamais se encontrou algum. E até que porventura se encontre, sua existência não passa de mera especulação. O enorme peso de tais evidências acaba por impor aos estudiosos cautela quanto a emitir um parecer órfão de evidência histórica, cautela essa bem evidente pela forma como o professor Howard apresenta suas idéias. Chamamos a atenção do leitor para as sentenças grifadas no trecho acima, expressões de incerteza, pois elas 'recheiam' todo o artigo. Não poderia ser de outra forma, pois o autor, como um perito responsável, não se apressaria em tirar conclusões categóricas sobre uma matéria polêmica, apoiado em inferências e evidências meramente circunstanciais. Na verdade, ele conclui seu artigo prudentemente, na forma de cincoperguntas, nenhuma conclusão fechada. Todavia, a Sociedade Torre de Vigia parece não compartilhar da saudável cautela do autor. Na pág. 1504 daTNM, após transcrever parte da tese do professor Howard, segundo a qual o tetragrama teria constado do Novo Testamento srcinal, tendo sido posteriormente substituído por expressões como Kyrios (Senhor) ou Theos (Deus), ela declara:

"Concordamos com o acima, com esta exceção: Não consideramos este conceito como 'teoria', mas como apresentação dos fatos da história quanto à transmissão dos manuscritos bíblicos."

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Para os autores das palavras acima, o poder da convicção parece ser o instrumento mais efetivo na tarefa de recompor a história. De fato, nenhum estudioso respeitável emitiria uma declaração hermética como essa sem por em risco sua credibilidade. Temos agora a oportunidade de conhecer a opinião do próprio autor da teoria sobre as afirmações das Testemunhas de Jeová. Indagado sobre essa postura com relação ao seu trabalho, o professor Howard, em correspondência com um pesquisador sueco, respondeu:

"As Testemunhas de Jeová foram longe demais com meus artigos. Eu não apoio as teorias delas." (trecho grifado) Eis uma cópia da correspondência:

Também nesta correspondência, o prof.Howard reconhece o enfraquecimento de sua teoria face à datação de um papiro do 1º ou 2º século DC, o qual não contém o tetragrama. Trataremos dessa questão posteriormente. A Sociedade Torre de Vigia acrescentou idéias conspiratórias à tese de George Howard, edificando sobre o arcabouço dela a sua própria teoria, descrita na TNM (p. 1505) da seguinte forma:

"Em algum tempo durante o segundo ou terceiro século EC, os escribas eliminaram o tetragrama tanto da Septuaginta como das Escrituras Gregas Cristãs, e o substituíram por 'Kyrios', 'Senhor', ou 'Theos', 'Deus'. (Grifo acrescentado)”

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Mal nenhum existe em propor uma hipótese, pois se trata de um dos passos do método científico, os quais são: observação do fato, indagação sobre sua natureza, proposição de hipóteses, experimentação e estabelecimento de teorias. Na arqueologia a experimentação consiste no exame dasprovas materiais coletadas, pergaminhos, inscrições, monumentos, literatura etc. Se nossas conclusões hão de ser aceitas como plausíveis, não podemos nos furtar a este processo. Trata-se de uma ciência interpretativa, uma espécie de 'quebra-cabeças'. Mesmo assim, não deixa de ter princípios básicos. O investigador, ao deparar-se com uma nova evidência, busca encaixá-la no contexto de todas as descobertas anteriores. Às vezes, conceitos antigos precisam ser revistos. A elucidação do passado é, pois, um processo gradativo e requer prudência. Antecipar ou extrapolar conclusões à base de achados isolados ou elevá-las à condição de 'fato', violando princípios estabelecidos, dificilmente pode ser classificado como investigação isenta e confiável. Um exame das evidências históricas disponíveis permitirá ao leitor avaliar se a Sociedade Torre de Vigia seguiu cada uma dessas etapas, de forma coerente e científica, ao emitir as palavras acima. Vejamos...

Em 1947, um beduíno lançou uma pedra na abertura de uma caverna e ouviu um som semelhante à cerâmica quebrando-se. Após um exame, ele encontrou diversos recipientes contendo manuscritos muito antigos. Esta descoberta veio mais tarde a ser conhecida como osRolos do Mar Morto. Hoje, existem cerca de 225 documentos srcinários deste sítio arqueológico, contendo as Escrituras Hebraicas, bem como comentários sobre os livros bíblicos. Algumas descobertas foram feitas assim, acidentalmente, por leigos. Outras foram procuradas por colecionadores de antiguidades e ainda outras por arqueólogos. As últimas décadas têm experimentado um acentuado crescimento no número de documentos históricos publicados e, conseqüentemente, um maior grau de conhecimento das civilizações antigas. Quais os principais documentos de que dispomos hoje e o que eles mostram quanto à presença do tetragrama nas Escrituras Sagradas? Com relação ao Antigo Testamento, temos o seguinte: a) Há 297 códices (cópias em formato de livro) e 1500 fragmentos de manuscritos antigos. A esmagadora maioria delesnão contém o tetragrama. Além disso, quando o contêm, não apresentam um padrão uniforme de uso.

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No tocante a este último aspecto, os Rolos do Mar Morto, mencionados há pouco, são um exemplo contundente. Uma simples comparação entre algumas passagens deles e as de um outro manuscrito, séculos mais jovem (o Texto Hebraico dos Massoretas), ilustrará o ponto em questão. Observemos a tabela abaixo: Rolos do Mar Morto

Texto Massorético

Adonay Yahweh Elohim Yahweh Yahweh Elohim Yahweh Elohim

Yahweh Adonay Yahweh Adonay Yahweh Adonay Yahweh Elohim

Referências Isaías 3:17; 38:14 Isaías 6:11;7:14;9:7;21:16 Isaías 40:7; 42:5; 50:5 Isaías 26:22;49:22;52:4;61:1 Isaías 61:11 Isaías 25:9

Vemos, então, que nem mesmo os textos hebraicos mostram uma tradução padronizada, pois nas mesmas passagens alternam o uso do tetragrama e seus substitutos (Adonay e Elohim) de forma aleatória, mostrando que estes termos eram perfeitamente intercambiáveis entre si. Tais achados são consistentes com a hipótese da existência de diversos nomes para Deus, não apenas um, ou diversas formas de se dirigir a Ele, não apenas uma. b) A Sociedade Torre de Vigia localizou apenas 10 fragmentos de textos gregos

do Velho diferentes Testamento contendohebraicos o tetragrama T( NM,hebraicos p. 1503),antigos, vertido hebraicos de cinco maneiras : caracteres quadrados, arcaicos, duas letras hebraicas Iode e a forma grega fonética (apresentada neste artigo como uma das 7 maneiras possíveis de verter o nome divino). São 6 fragmentos da LXX indo do 1º século AC ao 3º século DC, 1 códice do 9ºséculo e 3 fragmentos de Áquila e Símaco, os militantes do judaísmo anteriormente mencionados neste artigo. Note o leitor que, mesmo nos manuscritos citados pela Sociedade como prova de seu ponto, não há uniformidade na forma de verter o nome divino. Ela varia em funçãoda época e local de srcem . A Sociedade publicou uma figura naTNM (p. 1502), retratando três manuscritos, lado a lado, de modo a sugerir que eles têm uma srcem comum. São eles: os papiros LXX Fouad (1o. Século AC), o Códice Alexandrino (5o. Século DC) e o Códice de Alepo (texto massorético do 10o. Século DC). Eis a figura:

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Vistos assim, os manuscritos realmente parecem apoiar a tese das Testemunhas de Jeová. Mas, representa a figura acima uma analogia coerente? Corresponde a um fato estabelecido? Na verdade, a gravura acima pode facilmente induzir o leitor desinformado ao erro, pois apresenta como fato apenas uma dentre as inúmeras interpretações possíveis dos documentos arqueológicos disponíveis. E nem é a hipótese mais provável, por razões que analisaremos a seguir. De antemão, não percamos de vista o fato de que os três textos acima, além de provirem de culturas e períodos diferentes (envolvendo um espaço de onze séculos), referem-se a uma mesma passagem do Antigo Testamento. Logo, quaisquer conclusões elaboradas a partir destes manuscritos só serão válidas para as escrituras hebraicas, não fornecendo qualquer subsídio para a inclusão do tetragrama no Novo Testamento. Os fragmentos à esquerda (papiros Fouad) e à direita (Códice de Alepo) pertencem à cultura judaica, neles seria de esperar a inclusão do tetragrama. O manuscrito do centro (Códice Alexandrino) pertence à cultura cristã. Nele seria de esperar, como de fato ocorre, o termo "Kyrios" ("Senhor"). Apresentar tais documentos na disposição acima, como se pertencessem a um mesmo estilo literário, dá margem a uma série de questionamentos: 

Onde está a linha de evidência vinculando diretamente o Códice Alexandrino, do 5º Século, aos papiros Fouad, de seiscentos anos antes, de modo a concluirmos que se trata de uma adulteração?

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Sabendo-se de acordo com os achados arqueológicos que existiam, simultaneamente, cópias judaicas contendo e cópias gentias contendo "Kyrios", como estabelecer, com certeza,qual delas serviu de base para a elaboração do referido códice? Não pode ser este trecho do Códice Alexandrino simplesmente uma cópia dos numerosos manuscritos contemporâneos ao papiroFouad, os quais não apresentavam o tetragrama? Em contraste com os papiros Fouad, foram encontrados muitos outros fragmentos da LXX que não contêm o tetragrama. Seriam todos eles partes de cópias adulteradas? Em caso afirmativo, por que elas foram amplamente aceitas e divulgadas entre os cristãos de diversas nacionalidades? Eram todos eles apóstatas? Os manuscritos da esquerda e do centro são em grego e o da direita, em hebraico. O da esquerda transplanta o nome divino, em letras hebraicas, diretamente para o texto grego, uma cópia endereçada a judeus de língua grega (no caso, os judeus helenizados). O documento do centro verte o nome para uma forma amplamente conhecida no grego ("Kyrios"), provavelmente uma cópia endereçada aos gentios de língua grega (cristãos). O da direita (códice de Alepo) é de autoria dos massoretas do 10o. Século, os quais, como de costume, preservaram o tetragrama, juntamente com os sinais vocálicos oriundos da palavra adonay. Assim sendo, onde está a prova de que o Códice Alexandrino, um dos mais completos hoje disponíveis, é como sugere a comissão tradutora daTNM, uma adulteração apóstata?

Apresentar seletivamente uma pequena fração das evidências, a qual parece favorável a uma tese, suprimindo um considerável montante de evidência contrária a ela e expor esta fração de uma forma a levar a uma única conclusão, quando na realidade pode levar a diversas (e ainda afirmando que esta conclusão não é teoria, mas um 'fato'), dificilmente poderia ser classificado como uma atitude imparcial e intelectualmente honesta. Cremos que foi exatamente o que ocorreu aqui. Mais do que um produto de deliberação trata-se de uma armadilha em que facilmente caem os adeptos do pensamento fundamentalista, a busca ávida por provas em favor daquilo em que se crê. A pressa em julgar as evidências em favor de um ideal pré-concebido. Em tais situações, não admira que a objetividade científica ceda lugar a conclusões parciais. Um ponto ainda precisa ser mencionado: a evidência precária fornecida pelas Testemunhas de Jeová proveria, no máximo, uma base para introduzir, nas traduções atuais do Velho Testamento, otetragrama hebraico em si e não uma tradução de uma palavra híbrida (IHVH + adonay). Para seguir à risca o exemplo

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dos antigos copistas, como quer a Sociedade Torre de Vigia, as versões atuais da Bíblia deveriam conter e não 'Jehovah', 'Geova', 'Yahweh', 'Jeová' ou qualquer vocábulo semelhante. Se a reverência devida ao nome divino representava, naquele tempo, não traduzi-lo para língua alguma, nem mesmo para o grego, a língua mundial da época, não há base, mesmo em face dos poucos documentos arqueológicos encontrados para, evocando a mesma reverência, substituirmos o tetragrama por um termo híbrido, incerto e estranho aos primitivos cristãos . Obviamente, isso criaria um problema de compreensão, o qual foi contornado pelos copistas cristãos por intermédio da introdução do vocábulo 'Kyrios', este sim, traduzível para qualquer língua. Compreensivelmente, foi o caminho adotado pela maioria dos tradutores atuais, aqueles a quem a Sociedade Torre de Vigia classificou como 'indignos'. Voltemos nossa atenção agora para o Novo Testamento: a) Existem atualmente 5309 manuscritos gregos do Novo Testamento, 267 Unciais, 2764 Cursivos, 2143 Lecionários, 88 papiros e mais 47 achados recentes. NENHUM DELES CONTÉM O TETRAGRAMA. A Sociedade Torre de Vigia reconhece este fato:

“... nenhum antigo manuscrito grego dos livros de Mateus a Revelação hoje disponível contém o nome de Deus por extenso." - O Nome Divino que Durará para Sempre, p. 23 b) Não dispondo de alicerce arqueológico sólido sobre o qual apoiar suas inserções do tetragrama no Novo Testamento, a Sociedade recorre a dois artifícios: 1) insere o vocábulo 'Jeová' 112 vezes, em trechos do Novo Testamento que são citações ou alusões ao Velho Testamento,deduzindo que deveria estar lá e 2) faz mais 125 inserções arbitrárias com base em traduções hebraicas que vão do Século 14 ao Século 20. Ainda falaremos delas neste artigo. c) A Sociedade não esclarece seus leitores quanto a um aspecto crucial: o nome divino em hebraico fora, de fato, vertido por Kyrios (as razões nós já analisamos neste artigo). Porém a palavra Kyrios, encontrada em todos os manuscritos do Novo Testamento antigos, também foi (e arbitrariamente) substituída por alguma expressão como 'Jehovah' ou semelhante, segundo oentendimento pessoal do tradutor. Trata-se, pois, de uma via de "duas mãos", e não apenas uma como a comissão tradutora da TNM busca fazer crer. Uma prova incontestável disso são as traduções hebraicas acima citadas, as quais, mesmo sendo obtidas de srcinais que não continham o tetragrama, permutaram a palavra srcinal Kyrios por traduções híbridas do nome de Deus. Ainda assim, as Testemunhas de Jeová não tiveram escrúpulos quanto a lançar mão delas. No caso daquelas cópias e de suas derivadas, os supostos "restauradores" eram, eles mesmos, os adulteradores do texto srcinal.

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d) A Sociedade também não esclarece que os cristãos primitivos adotaram uma nomenclatura própria para palavras sagradas, a qual veio a ser conhecida como Nomina Sacra. Tratava-se de um sistema peculiar, independente do vocabulário judaico.

Como já mostramos, os editores da TNM, não hesitaram em acusar de 'indignidade' aqueles que não seguiram a mesma linha de conduta que eles. Lançaram sobre uma questão acadêmica uma medida de julgamento moral. Ao invés do critério científico, estava em jogo o caráter do tradutor. Todavia, um exame no critério adotado por cadalado permitir-nos-á avaliar se esta colocação é apropriada. Um exame dos princípios arqueológicos e do conjunto das provas revelará quem se deixou levar por suas preferências teológicas.

A Sociedade Torre de Vigia parece estar bem ciente dos critérios de aferição do peso de uma evidência arqueológica. Embora não sejam perfeitos, eles asseguram que as conclusões sigam a direção para a qual o conjunto das provas aponta. Surgindo novas evidências, elas são inseridas neste contexto e servirão para reforçar as conclusões anteriores ou para enfraquecê-las. Infelizmente, a preferência teológica do investigador pode induzi-lo a ir na contra-mão das evidências ou pior, pode levá-lo a distorcê-las ou até corrompê-las. Um caso clássico é o da inserção, no texto de 1 João 5: 7, 8, da expressão '...o Pai, a Palavra e o espírito santo; e estes três são um'. Encontra-se em dois manuscritos cursivos dos séculos 14 e 16 e em uma versão da Vulgata Latina. Aparentemente, foi uma alteração introduzida por trinitaristas convictos, os quais permitiram que a força da convicção sobrepujasse a honestidade intelectual. Como sabemos que se trata de uma adulteração? Em razão do enorme peso de milhares de outros documentos que não contêm essa expressão. Por meio desse exemplo, acabamos por tocar no primeiro critério, o numérico.

"Quanto maior o número de evidências independentes em favor de uma hipótese tanto mais se considerará a hipótese como verdadeira”. O princípio acima permite-nos hoje reconstituir, com grande margem de certeza, o conteúdo das Escrituras Sagradas. Eventuais discrepâncias podem ser dirimidas pela comparação com o inteiro conjunto dos documentos. A confiabilidade deste princípio é corroborada pelas palavras da própria Sociedade Torre de Vigia:

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"Qualquer que seja a versão das Escrituras Cristãs que você possua, não há qualquer razão para duvidar que o texto Grego na qual esta se baseia represente com considerável fidelidade o que os autores inspirados daqueles livros bíblicos srcinalmente escreveram. Embora estejam, agora, quase 2000 anos removidos do tempo de sua composição, o texto Grego das Escrituras Cristãs é uma maravilha de transmissão acurada." - A Sentinela de 1/4/1977, pág. 219 (em inglês) Não é senão o volumoso conjunto dos escritos antigos preservados que permite aos editores de A Sentinela fazerem esta declaração. Todavia, as Testemunhas de Jeová parecem não se dar conta de que violaram este mesmo princípio quando:

(01) Insistiram em afirmar que as cópias da LXX contendo o tetragrama estavam disponíveis a Cristo e seus discípulos, dando maior peso à cerca de10 fragmentos que pareciam apoiar essa tese e menosprezando os quase300 códices e cerca de 1500 fragmentos contrários a ela. Neste caso, a preferência teológica sobrepôs-se às evidências concretas. Incidentalmente, a tese de que Cristo ao menos usasse a LXX ainda sofre severas críticas por parte de alguns pesquisadores. (02) Inseriram uma tradução para o tetragrama 237 vezes no Novo Testamento, desprezando completamente os mais de 5000 documentos arqueológicos antigos que não o contêm e dando mais peso a menos de30 traduções hebraicas mil anos mais recentes do que os documentos mais antigos e completos de que dispomos. Por assim agirem, violaram também o segundo princípio.

"...quanto mais velho o manuscrito bíblico é, tanto mais próximo dos srcinais é provável que esteja..." - A Sentinela de 15/3/1982, pág. 23 (em inglês) Perceba o leitor que é a própria Sociedade que está a definir este princípio. Dispomos hoje de um patrimônio arqueológico respeitável tanto em quantidade como em qualidade. Existem milhares de documentos do Novo Testamento na forma de fragmentos de cerâmica, pergaminhos, papiros e códices, cobrindo períodos que vão desde 200 DC (ou, possivelmente, 81 DC) até poucas décadas atrás. Obviamente, os primeiros, estando mais próximos cronologicamente dos escritos srcinais, têm mais peso do que os mais recentes. É claro que há exceções a esta regra, uma delas é quando fica demonstrado que um documento, embora recente, deriva-se de uma fonte comprovadamente antiga e confiável. Os dados a seguir, mostram quão parciais foram os tradutores da TNM ao fazerem as 237 inserções do tetragrama no Novo Testamento.

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Idade dos manuscritos vertendo o nome divino por Kyrios ' ' nas 237 passagens em que a TNM introduziu 'Jeová': SÉCULO 2 DC AO SÉCULO 4 DC. São eles: Códice Sinaítico ('Álefe'), Códice Alexandrino (A), Manuscrito Vaticano 1209 (B), Códice Ephraemi (C), Códice Bezae (D) e diversos outros. Idade dos manuscritos usando o tetragrama nestas 237 passagens:SÉCULO 14 DC AO SÉCULO 20 DC . São as traduções hebraicas, anteriormente mencionadas neste trabalho. Costumeiramente representadas pela letra 'J', elas foram feitas a partir dos próprios documentos gregos acima citados. Além da imensa diferença de idade (chegando a mais de 1700 anos), elas são meras cópias alteradas, nada tendo a acrescentar que seja mais confiável que os manuscritos srcinais que lhes serviram de base. Ao passo que os caracteres hebraicos lhes dão uma aparência de fidedignidade, trata-se apenas disso, aparência. Têm o mesmo valor que traduções contemporâneas para outras línguas, como espanhol, italiano, francês, alemão etc.

Um aspecto adicional, omitido pelos tradutores da TNM, merece ser mencionado: estas traduções hebraicas foram feitas por comissõestrinitaristas , com o objetivo de converter judeus ao cristianismo. Por esta razão, elas usam constantemente o tetragrama em sua obra, até mesmoem passagens do Novo Testamento que se referem claramente a Jesus Cristo. Utilizar seletivamente tais traduções hebraicas, como faz a comissão tradutora daTNM, com o intuito de distinguir as pessoas de Deus e Jesus Cristo, é um notável paradoxo, pois elas foram produzidas para fazer exatamente o oposto ! Ademais, o próprio apêndice 1D contém um trecho, no qual a Sociedade confessa abertamente que os autores das traduções hebraicas em que a comissão da TNM se baseia para inserir 'Jeová' no Novo Testamento, não inserem o tetragrama apenas nas citações diretas do Antigo Testamento, mas, segundo as palavras dela própria, "TAMBÉM EM OUTROS LUGARES EM QUE OS TEXTOS EXIGIRAM TAL RESTABELECIMENTO". Infelizmente, esta lacônica declaração deixa "no ar"quais são estes 'lugares' e qual o critério adotado por aqueles autores para introduzir tais modificações. Com que autoridade tais tradutores tardios das escrituras cristãs inseriram nelas palavras que não se encontram em nenhum dos mais de cinco mil manuscritos antigos disponíveis? São tais traduções legítimas e confiáveis? O fato é que elas são tão tendenciosas quanto a própriaTNM, pois abusaram da inserção do tetragrama com o propósito de fazer as escrituras cristãs apoiarem de forma generalizada uma doutrina pré-concebida, o trinitarismo. Nem mesmo diante de tais inconsistências colossais, a Sociedade Torre de Vigia reconheceu modestamente o caráter especulativo de suas teorias, mas apresentouas como 'fato' além de qualquer dúvida e, como vimos, indiretamente rotulou os peritos bíblicos que discordavam dela de 'indignos'.

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A comissão tradutora da TNM, em sua firme determinação de inserir o nome 'Jeová' no Novo Testamento, acabou caindo em um terreno altamente pedregoso, o da exegese. É fato inegável que os escritores do Novo Testamento aplicaram à pessoa de Jesus Cristo palavras do Antigo Testamento, dirigidas exclusivamente a Deus. Se, de acordo com o que diz o apêndice 1D da TNM, ao encontrar uma citação do Antigo Testamento, o escritor "se veria obrigado a incluir fielmente o Tetragrama", então os tradutores da Sociedade criaram para si mesmos um sério dilema: se, nas passagens em que tais textos aplicam-se a Cristo, incluírem o tetragrama, estarão identificando a pessoa de Jesus com o Deus do Antigo Testamento, ou seja, endossando a doutrina da Trindade; se não o incluírem, estarão violando o alegado princípio da 'fidelidade' ao Antigo Testamento. Analisemos alguns exemplos: Em 1 Pedro 3: 15, referindo-se a Cristo, o apóstolo faz uma alusão a Isaías 8: 13, onde o profeta convida todas as nações a "Santificar o Senhor dos Exércitos" (Versão Rei Jaime). Porém, a Sociedade Torre de Vigia não ratificou a existência do tetragrama neste texto do Novo Testamento. Não fazem isso por que se assim o fizessem, endossariam a doutrina da trindade. No entanto, as traduções hebraicas de que falamos a pouco, de fato, permutam, nestas e noutras passagens, a palavra Kyrios [Senhor] por 'Jeová', ao contrário dos editores daTNM, os quais mantiveram o termo 'Senhor', mesmo tratando-se de uma alusão ao Antigo Testamento . A própria nota de rodapé da TNM com referências (p. 1398, em português) confirma que tais fontes vertem o texto incluindo o nome divino:

"Mas, santificai o Cristo como Jeová Deus em vossos corações..." (negrito acrescentado) A Sociedade Torre de Vigia preferiu traduzir o texto assim:

"Mas, santificai o Cristo como Senhor em vossos corações..." (negrito acrescentado) É curioso ver uma entidade que combate tão ferrenhamente o uso do termo 'Senhor' em referências ao Antigo Testamento, defender o uso de tal termotoda vez que tais referências se aplicam a Jesus Cristo . Incidentalmente, a forma acima está coerente com os manuscritos antigos do Novo Testamento. Ao que parece, a comissão tradutora da TNM dá crédito a eles quando confirmam suas doutrinas. No entanto, é inaceitável quando ela parece contrariar o mesmíssimo princípio que supostamente deveria apoiar. Examinemos mais alguns exemplos desta tendenciosa metodologia: No capítulo 10 do livro de Romanos, o escritor faz diversos pronunciamentos claramente alusivos a Cristo. A certa altura, no versículo 13, ele diz: "todo aquele que invocar o nome do Senhor [Kyrios] será salvo". A comissão da TNM inseriu,

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nesta passagem, o nome 'Jeová' em lugar da palavra 'Senhor'. Justificou isso por afirmar que o escritor estava citando o Velho Testamento (Joel 2: 32), de modo que estaria "obrigado" a transcrever o tetragrama. Ora, pelo contexto, a quem se referia o apóstolo Paulo? Se examinarmos a passagem, veremos que os versículos circundantes (11 e 14), em plena harmonia com o tema iniciado a partir do versículo 4, parecem continuar a falar de Cristo. Aqui, a Sociedade Torre de Vigia, aparentemente, desconsiderou três possibilidades: 1) O escritor poderia estar citando a versão da LXX amplamente usada pelos cristãos daquele tempo, na qual o termo empregado é, de fato, 'Senhor' [ Kyrios]. Admitindo a referência a Cristo, o uso deste termo, nesta passagem em particular, não ofenderia nem mesmo às convicções das Testemunhas de Jeová. 2) O escritor, mesmo ciente da existência do tetragrama no antigo texto hebraico, poderia estar fazendo uma citação informal dele, adaptando-o livremente à pessoa de Cristo. 3) O apóstolo podia estar intencionalmente identificando Cristo com 'IHVH'.

Esta última hipótese é obviamente descartada pelas Testemunhas de Jeová. Restam as outras duas, igualmente plausíveis. A segunda hipótese é fortalecida pelo comentário de um perito, publicado em uma nota de rodapé daTNM com referências, sobre outra passagem, a de 1 Pedro 2: 3. Lá, o apóstolo aplica Salmos 34: 8 a Jesus Cristo e nem por isso a comissão tradutora 'restaurou' o tetragrama, presente no texto srcinal do Antigo Testamento. Na prática, isto corresponde a uma admissão tácita de que a citação era informal. Ora, que garantia temos, então, de que não fosse este o caso também na declaração de Paulo? O mesmo princípio usado para introduzir 'Jeová' em Romanos 10: 13 poderia ser também aplicado à carta de Pedro. Ou o princípio que justificou o uso do termo 'Senhor' em 1 Pedro 2: 3 poderia ser aplicado à carta de Paulo. Tudo é uma questão de preferência do tradutor. Sendo, pois, uma questão polêmica, não seria mais razoável ceder aos manuscritos antigos, ao invés de tentar retificá-los? Examinemos agora outra passagem, ainda no livro de Romanos. No capítulo catorze e versículo onze, o escritor menciona Isaías 45: 23:

"... pois está escrito: "'Por minha vida'", diz Jeová, ' todo joelho se dobrará diante de mim e toda língua reconhecerá abertamente a Deus'." - Romanos 14: 11, TNM Nenhuma cópia grega antiga do Novo Testamento contém o tetragrama nesta passagem. Da mesma forma, caso examinemos o texto do profeta Isaías, veremos que o versículo em questão também não o contém. No entanto, ele se encontra na

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TNM. A razão é óbvia, o contexto à volta do versículo mostra claramente que a declaração, sem dúvida, refere-se ao Todo-Poderoso. Assim, os tradutores da Sociedade Torre de Vigia sentiram-se justificados a inserir, contra toda a evidência dos manuscritos antigos, o nome 'Jeová' no lugar de 'Senhor' [ Kyrios]. Por outro lado, em Filipenses 2: 10, 11, amesmíssima passagem de Isaías é aplicada a Cristo: "... a fim de que, no nome de Jesus, se dobre todo joelho dos no céu, e dos na terra, e dos debaixo do chão..." - TNM Tal texto não dá margem à controvérsia, pois o manuscrito grego contém o nome de Jesus, não a expressão 'Senhor'. Contudo, é curioso que, nesta passagem, a comissão tradutora não avisa o leitor, por meio de notas de rodapé, que o referido texto é uma alusão direta ao profeta Isaías, agora com referência a Cristo. Este texto prova, sem sombra de dúvida, que os escritores do Novo Testamento faziam adaptações de textos do Antigo Testamento e que, portanto, inserir 'Jeová' no lugar de 'Senhor' em tais citações é um proceder temerário. A Sociedade Torre de Vigia critica a maioria das versões hoje disponíveis da LXX por elas seguirem o costume de empregar o termo 'Senhor'Kyrios [ ] em lugar do tetragrama. No entanto, dificilmente esta opinião foi compartilhada entre os escritores cristãos do primeiro século, pois eles citaram a LXX inúmeras vezes, inclusive em trechos que continham o termo 'Senhor' aplicado a Deus. Um exemplo clássico acha-se em Hebreus 1: 10, que, naTNM, diz:

"Mas, com referência ao Filho:... 'Tu, ó Senhor, lançaste no princípio os alicerces da própria terra, e os céus são obras das tuas mãos...'" (negrito acrescentado) Trata-se de uma citação da LXX, no Salmo 102: 25, cujo contextoa exemplo de Isaías 45: 23 refere-se diretamente a "IHVH". Curiosamente, o vocativo "ó Senhor" não está presente no texto hebraico, trata-se de uma inserção tardia, feita por algum copista. Talvez este tenha se equivocado ou, quem sabe, tenha agido propositadamente. Erro ou não, o fato é que o escritor cristão, supostamentesob inspiração divina, endossou tal alteração. Em outras palavras, ele aceitou a referência a Deus, no Antigo Testamento, por 'Senhor'. Nesta passagem, é interessante que a comissão tradutora da TNM, fugindo à regra, não critique o copista da LXX por não incluir o tetragrama na inserção, preferindo o termoKyrios, nem o apóstolo Paulo (supostamente o autor do texto) por concordar com o copista. A razão talvez se deva ao fato de este trecho particular da carta aos Hebreus aplicar-se diretamente a Cristo. A dubiedade da palavra "Senhor", providencialmente permite as pessoas aplicarem o texto a quem melhor lhes convier, o que neste caso, interessa aos unitaristas. Por outro lado, esta mesma ambigüidade é rejeitada quando ocorre em textos que parecem favorecer o

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trinitarismo (Romanos 10: 13, por ex.). A Sociedade Torre de Vigia tenta contornar a aparente discrepância por afirmar que a passagem é dirigível a Cristo por ele ter sido o 'mestre-de-obras' da criação. Deixa, desta forma implícito que concorda com o uso do termo 'Senhor' nesta passagem do Novo Testamento. Todavia, esta opção inexoravelmente implica na aceitação do mesmo termo no Antigo Testamento, pois, como vimos, o texto em questão, ainda que alterado na LXX, srcina-se dele (Salmo 102). Caso a comissão tradutora da TNM sugerisse que o copista deveria ter dado preferência ao tetragrama ou que o escritor de Hebreus deveria tê-lo 'restaurado' ao citar uma declaração, mais uma vez, seria endossado o pensamento trinitaristas. O texto ficaria assim:

"Mas, com referência ao Filho:... 'Tu, ó Jeová, lançaste no princípio os alicerces da própria terra, e os céus são obras das tuas mãos...'" - (negrito acrescentado) Evidentemente, a necessidade de negar a referida doutrina sobrepujou o princípio da 'fidelidade' aos termos ou ao sentido srcinal do antigo texto hebraico. Fica patente, neste caso, que a preferência teológica moldou a TNM, antes que os manuscritos gregos propriamente ditos. Desta forma, parece-nos óbvio que o tradutor mais conveniente à erudição gramatical é aquele que não se sente ideologicamente incomodado por essa ou aquela forma de verter um versículo. Lamentavelmente, não foi o caso da comissão tradutora daTNM. Na edição de 1/2/1988 de "A Sentinela" (p. 5, em inglês), a Sociedade reconhece um fato que mencionamos repetidas vezes neste trabalho, os autores cristãos tomavam um certo nível de liberdade com o texto hebraico antigo (especialmente ao referir-se a Jesus). A revista menciona "ligeiras alterações", bem como "omissões" por parte dos escritores. Diante das evidências textuais e históricas, bem como de acordo com esta admissão, insistimos que o procedimento mais seguro e academicamente honesto seria ratificar o conteúdo dos milhares de manuscritos disponíveis, ao invés de alterá-los com base em presunções incertas. A esta altura, fica claro que uma aplicação generalizada e sistemática do princípio de 'restauração' do nome divino nas escrituras cristãs, com base em citações do Antigo Testamento, é uma verdadeira 'faca de dois gumes', ora nega a doutrina trinitaristas, ora a confirma. Isto é bem evidente pelo fato de a Sociedade Torre de Vigia ser obrigada, em um texto ou outro, a abrir mão dele. Deveras, uma corrente doutrinária prefere uma forma de traduzir certa passagem, ao passo que a corrente contrária prefere outra. Qual das duas está correta? No fim, constatamos que a configuração final do texto sofre inevitavelmente a restrição de escrúpulos teológicos. Isto nos conduz a um ponto crucial da questão,dificilmente uma tradução da Bíblia escapa da influência pessoal do tradutor . Embora as traduções bíblicas guardem uma semelhança geral entre si, elas diferem em certos pontoschave nos quais a permissividade da gramática concede aos tradutores liberdade

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para selecionar as palavras mais condizentes com suas convicções. Isso pode dar srcem a traduções sectárias: versões para trinitaristas, versões para unitaristas, versões para adeptos do judaísmo e assim por diante. Com efeito, a história nos tem mostrado que algumas versões da Bíblia foram elaboradas, não em razão de mudanças de língua ou em nome da erudição acadêmica, maspara fazer crer que as escrituras apóiam esta ou aquela ideologia. Um exemplo alarmante é o do ex-padre Católico convertido ao espiritismo, Johannes Greber, mencionado em A Sentinela de 1/10/1956. De acordo com o artigo, o Sr. Greber considerava a Bíblia "o mais destacado livro espírita" e, ao elaborar uma tradução do Novo Testamento, esforçou-se ao máximo para que este "soasse bem espírita"! Ora, em que se apoiaria o autor para dar esta roupagem às Escrituras Sagradas, senão nas frestas da gramática,manipulada com um fim préconcebido? Ainda assim, a própria Sociedade lançou mão, anos mais tarde, desta mesmíssima tradução, como fonte de apoio para sua forma de verter o texto de João 1: 1 (livro Ajuda, p. 1245). É um quadro, deveras, inquietante. Outro exemplo, a Emphatic Diaglott, uma versão recomendada pela Sociedade Torre de Vigia, é da autoria de um Cristadelfiano, Benjamin Wilson. Os Cristadelfianos são um movimento religioso cujas crenças assemelham-se bastante às das Testemunhas de Jeová. Temos aqui aquilo que se chama preconceito positivo, ou seja, a tendência de se aceitar facilmente as idéias provenientes de uma fonte com a qual se tem afinidade ideológica. Por outro lado, os grupos evangélicos dificilmente endossariam a tradução das Testemunhas de Jeová, tendo escrúpulos até mesmo quanto a usá-la em sua leitura pessoal, no seu todo ou em parte. Neste caso, manifesta-se o preconceito negativo, rejeitam-se as idéias oriundas de uma fonte considerada não idônea. Entretanto, a Bíblia é um único livro! Acrescentamos, ainda, um aspecto revelador. ATradução Interlinear do Reino, de acordo com a Sociedade, serviu de base para a TNM. Todavia, os dois compêndios apresentam um notável contraste na diversidade de formas pela qual traduziram uma palavra específica, Kyrios. Ela acontece 714 vezes no Novo Testamento. Transportá-la para outra língua, no entanto, não parece uma tarefa simples. Eis um resumo das ocorrências da palavra Kyrios e de suas diversas traduções. * Tradução Interlinear - 651 vezes como "Senhor" -- 162vez vezes como "senhor" ou "senhores" como "Senhores"

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* TNM - 406 vezes como "Senhor" - 223 vezes como "Jeová" - 53 vezes como "Mestre", "mestre" ou "mestres" - 17 vezes como "Sr.", "sr." ou "srs." - 8 vezes como "senhor" ou "senhores" - 5 vezes como "dono" ou "donos" -- 11 vez "Deus" vez como sem tradução Muito embora a Sociedade Torre de Vigia afirme ter como base o texto grego da Versão Interlinear, percebe-se que os tradutores da TNM foram bem mais liberais na sua forma de verter uma única palavra, Kyrios. Um notável contraste com a afirmação inicial sobre "atribuir um só sentido a cada palavra principal e por reter este sentido tanto quanto o contexto o permitir". O processo geral de tradução do vocábulo Kyrios para a TNM parece ter sido o seguinte: 

Quando a palavra aplicar-se a pessoas comuns, traduz-se por "sr.", "senhor" ou "mestre";







Quando se aplicar a Cristo, traduz-se por "Senhor" (maiúsculo); Quando corresponder a alguma citação ou simples alusão ao Antigo Testamento, traduz-se "Jeová", recorrendo, quando necessário, a traduções hebraicas de mil a mil e setecentos anos mais novas do que os antigos manuscritos. Em todo caso, quando parecer endossar a noção de trindade, traduz-se de modo a negá-la, não importando se é uma citação do Antigo Testamento ou se as referidas traduções hebraicas vertem o texto de forma diferente.

Um autêntico "filtro" ideológico! Dificilmente se poderia conceber um processo de "erudição" mais parcial do que este. Além de representar, essencialmente, a disposição de ajustar a de tradução uma documentos! teologia peculiar, despreza por completo a evidência arqueológica mais dea 5000

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O quadro acima nos lembra às próprias declarações da Sociedade, no início deste artigo, sobre "tradições sectárias", “incoerências” ou “traduções insatisfatórias”. Tais faltas supostamente cometidas por outras equipes de tradução da Bíblia. Porém, as violações flagrantes dos princípios mais elementares de arqueologia aqui demonstradas, levantam sérias suspeitas quanto a se não seriam eles próprios, os tradutores da TNM, aqueles a quem tais palavras melhor se ajustariam.

As conspirações sempre fizeram parte da história humana. Algumas resultaram em quedas de governos ou até em assassinatos. A Bíblia relata diversas conspirações, sendo a mais grave delas aquela que resultou na morte de Jesus Cristo. Depois foi a vez dos judeus conspirarem contra Roma, gerando o levante fracassado de 132 DC. Não tardaria até que o império romano conspirasse contra os cristãos, resultando no massacre deles na forma de espetáculos públicos nas arenas. Seja como for, os desfechos das conspirações trouxeram freqüentemente mudanças drásticas no modo de vida de nações inteiras. Essa, por si mesma, constitui uma forte razão para as grandes conspirações da história terem sido fartamente registradas. os eventos mencionados claramente documentados nos achadosTodos arqueológicos. Que dizer da supostaestão conspiração dos escribas no sentido de eliminar todo vestígio do tetragrama de todas as cópias existentes das Escrituras Sagradas? Teria sido uma tarefa possível? Mais que isso, seria possível que tal manobra passasse completamente despercebida por todas as pessoas da época, especialmente pelos cristãos, os quais protegiam a Bíblia com sua própria vida? Analisemos os aspectos históricos. Sendo verdadeira a hipótese sustentada pelas Testemunhas de Jeová, seriam de se esperar as seguintes evidências históricas: 1) A maioria dos mais antigos manuscritos do Novo Testamentodeveria exibir o tetragrama (ou um substitutivo como , etc.) inserido no texto grego. Mesmo que houvesse uma forte disposição por parte de apóstatas no sentido de destruir estes manuscritos, essa atitude seria tardia e já deveria haver uma enorme

quantidade de cópias Aespalhadas por três que seria impossível destruí-las. maioria talvez, mas continentes. não TODAS De elas.modo Isso pode ser ilustrado no caso das cópias do Antigo Testamento. Muito embora a maioria das cópias da LXX contenham a forma 'Kyrios', ainda assim umas poucas registram o

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tetragrama. O mesmo deveria se dar para com o Novo Testamento. Mas não é assim. Como já vimos, de 5309 cópias, NEM MESMO UMA MOSTRA ESSA CARACTERÍSTICA. 2) Deveria haver um período de transição , dentro do qual coexistiriam documentos de dois tipos, cópias do Novo Testamento contendo e cópias contendo . Supondo que, aos poucos, estabeleceu-se um consensomundial em torno da adulteração (hipótese difícil de conjeturar), deveria haver, entre os achados mais antigos uma maior quantidade do primeiro tipo e entre os mais modernos, do segundo. Os manuscritos costumavam ser guardados com muito zelo pelos cristãos. Muitos morreram protegendo-os. Para que se tenha uma idéia da longevidade destes documentos, Jerônimo, que morreu em 420 DC, relatou ter usado pessoalmente o evangelho de Mateus. Requer uma incrível dose de imaginação fantasiosa para propor que todos os cristãos adulteraram ou consentiram que suas cópias fossem adulteradas, de modo a não ter uma única destas cópias sobrevivido até nossos dias. 3) Caso tivesse havido um movimento coletivo para a remoção do tetragrama do Novo Testamento, não há motivo razoável para supor que ela se darialogo após os escritos apostólicos. Uma adulteração tão prematura certamente suscitaria uma forte reação por parte da primitiva congregação cristã. Por exemplo, as últimas epístolas de Paulo foram escritas por volta de 61 DC. O último livro bíblico (Apocalipse) foi concluído em 96 DC e o evangelho de João, por volta de 98 DC. Ora, os manuscritos mais antigos são datados como tendo sido escritos por volta

de 200 Chester DC, o Beatty que ospode coloca há um século menos Um deles, papiro ter sido escrito porou volta de 81dos DC.srcinais. Isto significa que eleo pode ter sido escrito uns vinte anos depois das cartas de Paulo e enquanto o apóstolo João ainda vivia. Apresenta ele alguma representação do tetragrama? NÃO! É a esse documento que o professor George Howard se refere em sua correspondência (já vista nesse capítulo). Ele mesmo admite que esta prova enfraquece em muito a teoria do tetragrama no Novo Testamento. 4) Um testemunho importantíssimo estranhamente está ausente, o dos assim chamados Pais da Igreja. Este termo é universalmente aplicado a ilustres representantes da primitiva congregação cristã, os quais produziram inúmeros escritos sobre questões teológicas e históricas, após o período apostólico e entrando no período pós-niceno (referindo-se ao Concílio de Nicéia, em 325 DC). Podemos citar: Justino Mártir, Jerônimo, Orígenes, Irineu e outros. Eles viveram durante o período de consolidação da igreja cristã. Muito embora seus escritos não sejam

canônicos , isto Aé, própria não sãoSociedade considerados possuem grande valor histórico. Torreinspirados, de Vigia se ainda refere assim a eles com freqüência. Um exame do compêndio Aid to Bible Understanding [Ajuda ao Entendimento da Bíblia] revela citações sobre os trabalhos de Tácito e Josefo (p. 317), Orígenes

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(p. 456), Jerônimo (p. 520), Irineu e Eusébio (p. 640), bem como diversos outros. Pois bem, estes homens certamente estariam cientes de uma conspiração herética para apagar o tetragrama dos escritos sagrados, especialmente se percebessem que tal conspiração visava confundir as pessoas sobre Deus e Jesus Cristo. Seus escritos, juntos, corresponderiam em volume à cerca de cinco Bíblias completas! AINDA ASSIM, NÃO CONSTA DELES UMA SÓ PALAVRA SOBRE TAL HERESIA. Por exemplo, Irineu foi autor de uma obra do 2º século DC, chamada Contra as Heresias. Ao mencionar diversas passagens bíblicas onde os editores da TNM introduziram o termo 'Jeová', Irineu não demonstra qualquer apreensão quanto a uma heresia na aplicação do vocábulo 'Kyrios'. Na verdade, ele cita diversos desses versículos com plena aceitação da palavra 'Senhor'. Muito embora, alguns desses autores mencionassem a existência do tetragrama em certas cópias do antigo Testamento, nenhum deles jamais defendeu sua presença no Novo Testamento nem jamais mencionou um movimento para remoção herética do nome divino. É razoável presumir que, havendo tal conspiração, todos os Pais da Igreja foram cúmplices dela por não fazerem nenhuma menção ou crítica a essa prática? 5) Escritos primitivos não-canônicos poderiam,e deveriam mencionar a heresia da obliteração do tetragrama dos escritos sagrados. Mas não fizeram. Por exemplo, alguns manuscritos devocionais do 1º século estão hoje à disposição da arqueologia. Um deles chama-se a Epístola de Clemente aos Coríntios. Considerase que seja da genuína autoria do companheiro do apóstolo Paulo, mencionado em Filipenses 4: 3. Foi escrita entre 75 DC e 110 DC. Este documento contém uma série de citações do Antigo Testamento, onde a TNM introduz o termo 'Jeová'. São citações de Ezequiel, Isaías, Josué e Salmos. Contudo, NÃO HÁ O TETRAGRAMA EM NENHUMA DELAS. Da mesma forma, outras epístolas não-canônicas, tais como a de Barnabé, cuja autoria é assunto de discussão, seguem omesmo padrão de Clemente. Seriam esses autores também cúmplices de uma conspiração mundial para eliminar todo e qualquer vestígio do tetragrama nas Escrituras Sagradas?

Vemos, assim, que um exame minucioso na história primitiva deixa completamente órfã de alicerce a teoria da 'conspiração', proposta pela Sociedade Torre de Vigia. Fica claro o caráter meramente especulativo dela, uma questão de preferência teológica, nada mais. No que quer que as Testemunhas de Jeová tenham se apoiado para propô-la, certamente não foi nas evidências arqueológicas dos escritos bíblicos. As provas documentais são claras no sentido de que nenhum cristão hoje está obrigado a buscar uma transliteração do tetragrama a fim de exercer sua fé em Cristo. Tampouco o uso de um circunlóquio híbrido como 'Jeová' deve hoje servir de 'fetiche' aos cristãos como servia aos hebreus pactuados dos tempos pré-cristãos.

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Na edição de 15 de Agosto de 1996 da revista A Sentinela, a Sociedade Torre de Vigia dá destaque a uma significativa descoberta, a obra de um médico judeu, datada como sendo do século 14. Ele identifica-se comoShem-Tob e produziu um compêndio sui generis. Trata-se do documento Even Bohan, que se constitui de 17 seções. Em sua porção final, ele reproduz todo o evangelho de Mateus em hebraico.apresenta Até aí, nada de novo se este não compêndio fosse por um aspecto, o revisão professor George Howard evidência de que pode ser uma posterior dos próprios srcinais perdidos do 1º século DC. Se esta teoria for verídica, o trabalho de Shem-Tob merece uma classificação à parte das demais traduções hebraicas. Há fortes evidências de que Mateus escreveu um evangelho em hebraico. Os escritos de Jerônimo, Irineu e Eusébio confirmam este fato. Dispor hoje de uma cópia que seja descendente direta dos manuscritos srcinais seria um fato grandioso. Certamente ajudaria a elucidar uma série de questões, inclusive o uso do tetragrama pelos escritores do Novo Testamento. Então, o que mostra o documento arqueológico de Shem-Tob? Confirma ele a tese das Testemunhas de Jeová? Bem, deixemos que a própria Torre de Vigia responda. Na seção "Perguntas dos Leitores" de A Sentinela de 15/8/1997, é formulada a seguinte pergunta: "É o tetragrama (as quatro letras hebraicas para o nome de Deus) encontrado no texto hebraico de Mateus copiado pelo médico do século 14 Shem-Tob ben Isaac Ibn Shaprut?" A Sociedade responde:

"Não, não é. Entretanto, esse texto de Mateus usa 'hash-Shem' (escrito ou abreviado) 19 vezes... [o qual] significa 'o Nome', o que certamente refere-se ao nome divino... Assim, ao passo que o texto hebraico que Shem-Tob apresentou não usa o tetragrama, seu uso de 'o Nome'... apóia o uso de 'Jeová' nas Escrituras Gregas Cristãs." (Grifo acrescentado) Em parágrafos anteriores nós definimos 'circunlóquio' como sendo uma expressão pronunciável em lugar de uma impronunciável. É exatamente o que encontramos no texto hebraico de Shem-Tob, o circunlóquio , o qual significa 'o Nome'; ou, dito em outras palavras, se o texto de Shem-Tob, de fato, representa uma cópia fiel do evangelho hebraico de Mateus, somos forçados à conclusão de que o próprio Mateus não usou o tetragrama, mas uma expressão correspondente. Vimos, em nossas considerações anteriores, que havia duas

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formas de circunlóquio em hebraico,Adonay e Ehloim, e suas respectivas traduções em grego, Kyrios e Theos. O que o texto ora em apreço nos traz à atenção émais uma forma de circunlocução. A linha de argumentação pela qual a Sociedade Torre de Vigia busca contornar o problema, além de subjetiva parece contraditória. Vejamos: ela apresenta o uso do tetragrama hebraico por extenso em raras e antigas cópias da LXX como base para propor o uso obrigatório de uma expressão como 'Jeová', tanto no Antigo como no Novo Testamento. Por outro lado, reconhece que a pronúncia srcinal perdeu-se; que a palavra 'Jeová' é uma espécie de 'sopa de letras', a união das consoantes de um nome com as vogais de um circunlóquio; finalmente, reconhece que o evangelho de Shem-Tob não contém o tetragrama, mas um circunlóquio. Ainda assim, evoca este fato como justificativa para o uso de 'Jeová' nas Escrituras Gregas Cristãs. O texto de Shem-Tob confirma fatos já sabidos, que havia um nome cuja pronúncia havia se perdido e que se aplicavam expressões inteligíveis em seu lugar. O próprio Shem-Tob faz isso. Todavia, restam ainda dois aspectos: a) Este texto pretende ser um descendente direto dos escritos hebraicos de Mateus. Isso leva a uma questão: se no texto mais apropriado para transcrever por extenso (o texto hebraico) Mateus preferiu o uso da abreviação de um circunlóquio, que expressão teria ele usado na versão do evangelho mais conhecida pelos cristãos, em grego? É provável que escrevesse o tetragrama por extenso quando não o fez na versão hebraica? b) Mesmo supondo que o uso do símbolo , de alguma forma, justifique a inserção do vocábulo 'Jeová' no Novo Testamento, um exame mais detido revela que o índice de coincidência entre as inserções da TNM e as aplicações da expressão 'o Nome' no texto deShem-Tob é de 65%. Das 23 ocorrências de 'Jeová' na TNM, apenas 15 coincidem com a expressão substituta do outro texto. Dito de outra forma há passagens em queShem-Tob usa o circunlóquio e a TNM não usa 'Jeová'. Por outro lado, há passagens em que o ocorre o oposto, aTNM emprega 'Jeová' e Shem-Tob não usa o símbolo . Este fato apenas acrescenta mais peso à afirmação de que a Sociedade Torre de Vigia aplicou um método arbitrário e impreciso ao inserir, sem base arqueológica, a palavra 'Jeová' no Novo Testamento.

Assim sendo, se tomarmos como parâmetro o texto hebraico de Shem-Tob, somos levados a crer que Mateus também não usava o tetragrama, preferindo dizer 'O Nome', expressão esta empregada até hoje pelos judeus ("ha'Shem").

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O corpo das evidências escriturais e históricas, até esta data, constitui um forte obstáculo às pretensões dos membros da comissão editorial da TNM como genuínos "restauradores" do nome divino nas Escrituras Sagradas. Entretanto, suponhamos por um instante, que as 237 inserções de 'Jeová' no Novo Testamento sejam, de algum modo, apropriadas. Ainda assim, deparamo-nos com um quadro curiosoTestamento. e difícil de Mesmo explicar,naaTNM, fenomenal dasenorme menções do tetragrama no Novo onde redução houve um esforço, contra todas as evidências arqueológicas, para inserir o termo 'Jeová' tanto quanto fosse possível, é visível a discrepância quanto ao uso do tetragrama nos tempos pré e pós-cristãos. A título ilustrativo, observemos o gráfico abaixo, no qual consta o número de ocorrências de 'Jeová' em cada um dos 66 livros bíblicos da TNM. Para facilitar o entendimento, representamos as barras relativas ao Antigo Testamento em verde e ao Novo Testamento, emvermelho.

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Ao observar o gráfico, percebe o leitor a diferença no padrão de uso do tetragrama no Antigo Testamento em relação ao Novo Testamento? Mostra esse último um modelo de "restauração" do nome ou exatamente o contrário? A imagem fala por si... Deveras, a partir da análise acima, é difícil não notar o acentuado contraste entre o Antigo e o Novo Testamento no que se refere às ocorrências do nome 'Jeová', mesmo na TNM. Ao passo que o nome manifesta-se com grande freqüência nos livros de Gênesis a Malaquias (apesar de algumas exceções), vemos que sua ocorrência diminui vertiginosamente a partir do advento do cristianismo, chegando quase a desaparecer, mesmo na tradução das Testemunhas de Jeová ! À base desse estudo e da consulta das próprias escrituras, concluímos ainda que: a) Apresentar o tetragrama não é requisito para um livro ser considerado divinamente inspirado (ou canônico), pois, no antigo Testamento, ele está completamente ausente em 3 livros (Ester, Eclesiastes e Cânticos de Salomão) e, no novo Testamento, em 7 livros (Filipenses, 1 Timóteo, Tito, Filêmon, 1, 2 e 3 João). Apesar de todo o esforço, nem mesmo a Sociedade Torre de Vigia conseguiu inserir 'Jeová' nestes 10 livros bíblicos. b) Se, ao invés de números absolutos, considerarmos a freqüência com que o nome aparece nas páginas de cada livro, chegaremos igualmente a grandes disparidades. Para ilustrar, no Antigo Testamento, temos uma média acima de cinco ocorrências por página (cerca de 5,8 vezes); no Novo Testamento, temos menos de uma ocorrência (cerca de 0,7 vez) . Em outras palavras, na TNM, a média de ocorrência por página do nome 'Jeová' nas escrituras hebraicas émais de oito vezes maior do que nas escrituras gregas cristãs, mesmo com as 237 inserções dele! c) Ao passo que, mesmo na versão das Testemunhas, a freqüência do nome 'Jeová' cai vertiginosamente no Novo Testamento, o nome'Jesus' aparece 912 vezes, ou seja, 3 ocorrências por página, em média; o nome'Cristo' aparece cerca de 530 vezes. Deus é chamado 'Pai' 260 vezes, ou seja, 23 vezes a mais do que 'Jeová'. d) Os apóstolos de Cristo referiram-se ao Criador como 'Deus' 1275 vezes, ou seja, mais de cinco vezes o número total de ocorrências de 'Jeová' naTNM; outras 22 vezes, eles falaram 'Senhor Deus' e mais umas 40 vezes, 'Deus Pai'. e) O advento do cristianismo, conforme mostra o gráfico, não fez renascer o uso do tetragrama, este continuou em franco desuso entre os cristãos, como já estava, há diversas gerações, entre os judeus. Entretanto, no apêndice 1D da TNM com referências, a Sociedade Torre de Vigia afirma que Jesus, ao ler um trecho de Isaías

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dentro de uma sinagoga (Lucas 4: 17, 18), deparou-se com o tetragrama e, por isso, pronunciou o nome divino. Esta é uma afirmação incerta, pois, mesmo que o rolo em questão contivesse o tetragrama, o fato é que não temos como saber como Cristo o pronunciou naquele momento. Como dissemos anteriormente, as evidências históricas demonstram que a pronúncia exata já havia se tornado uma incógnita entre os judeus daquela geração, sendo costume secular referir-se a Deus por 'Senhor', mesmo diante das quatro letras hebraicas. Assim sendo, para nos certificarmos do termo escolhido por Jesus, nesta enoutras ocasiões, bem faremos em examinar como ele se referiu ao Todo-Poderoso no decorrer de seu ministério. Este durou cerca de três anos e esteve cheio de discursos, fonte preciosa de informação. O que mostram as evidências? Elas parecem estar em choque com a tese das Testemunhas de Jeová, pois, em nenhuma de suas orações, Jesus Cristo dirigiu-se a Deus como 'Jeová',nem mesmo na oração-modelo, mas sempre como 'Pai'. Em seu sermão do monte, no qualnão há registro arqueológico de um único uso do tetragrama, ele combateu fortemente as tradições judaicas que anulavam a palavra de Deus. Contudo, não emitiuqualquer palavra sobre uma suposta heresia para apagar ou diminuir a importância do nome de Deus. Na última noite, antes de sua prisão e morte, ele referiu-se ao nome de Deus 4 vezes, sem, contudo mencionar 'Jeová' uma única vez. Na verdade, ele usou a palavra 'Pai' cerca de 50 vezes! Se, como afirmam as Testemunhas de Jeová, Cristo usou amplamente o tetragrama, por que se dá que é tão difícil localizar uma passagem do evangelho em que ele tenha feito isso ? Se, pela declaração dele em João 17: 6, 26, "dar a conhecer o nome" de Deus significava pronunciar o tetragrama em tantas ocasiões quanto fosse possível fazê-lo, por que permanece a disparidade entre Antigo e Novo Testamento a esta Tivesseconstituído a glorificação acima de todos os quanto nomes (ou sua prática? "restauração"), partedodatetragrama, missão de Cristo, o gráfico acima levar-nos ia à inevitável conclusão de que elefracassou completamente neste respeito. É essa hipótese aceitável aos cristãos? Após o exposto acima, indagamos: é razoável insistir no uso de uma palavra híbrida como 'Jeová' (a título de reverência a Deus), quando todas as evidências arqueológicas e históricas do cristianismo apontam para outra direção? Teriam Jesus e seus discípulos 'apostatado' da fé por procederem de forma diferente daquela hoje pregada pelas Testemunhas de Jeová? E quanto aos apóstolos Paulo e João? Em 4 cartas de Paulo e nas 3 de João o tetragrama está completamente ausente. Naturalmente, isto seria impensável para os padrões atuais entre as Testemunhas. Teriam aqueles escritores cristãos também 'conspirado' para diminuir a importância do nome de Deus? é nosso não objetivo exporexata todo eo transcende assunto em em termos meramente matemáticos, poisNão a teologia é ciência muito às análises puramente numéricas. Por outro lado, tendo-se em conta a freqüência com que o nome 'Jeová' aparece, tanto na literatura como no cotidiano das Testemunhas de Jeová, bem

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como a ênfase que elas dão a essa prática como identificadora dos verdadeiros cristãos, julgamos procedente checar o padrão cristão primitivo nestes mesmos termos, uma análise estatística. Se acrescentarmos aos números acima os297 códices e cerca de 1500 fragmentos do Velho Testamento mais os5309 manuscritos do Novo, todos sem apoio algum à inserção do nome híbrido 'Jeová' na Bíblia, fica-se a imaginar qual a raiz da obstinação com que os dirigentes da Sociedade Torre de Vigia empreendem sua 'cruzada' em torno desta questão. Um exame na história da organização talvez ajude a elucidar o fato.

O fundador do movimento religioso hoje conhecido como Testemunhas de Jeová, Charles T. Russell, não dava ênfase ao uso de um nome como o meio identificador dos verdadeiros cristãos. Na verdade, tivesse ele vivido para ver o que ocorreria em 1931, dificilmente manifestaria sua aprovação. Naquela data, seu sucessor, J. F. Rutherford, resolveu adotar para os então "Estudantes da Bíblia" o nome distintivo de "Testemunhas de Jeová". Isso representava um grande contraste com o entendimento do 'pastor' Russell, expresso na revista Watch Tower [A

Sentinela] de Abril de 1882, pp. 7 e 8: "Já que você saberia por qual nome distinguir-me dos outros, eu lhe digo que eu seria, e espero ser, um Cristão; e escolho, se Deus por acaso tiver-me como merecedor, ser chamado um Cristão, um crente, ou qualquer outro nome que seja aprovado pelo Espírito santo. Quanto àqueles títulos facciosos (ou sectários) como Anabatista, Presbiteriano, Independente, ou coisa semelhante, eu concluo que eles não vieram de Antioquia nem de Jerusalém, mas do inferno e de Babilônia, pois eles tendem a divisões; você poderá conhecê-los por seus frutos." (Grifo acrescentado) No ano seguinte, ele acrescentaria:

"'Cristãos é o único nome pelo qual precisamos ser chamados." A Sentinela de março/abril de 1883, p. 458 (em inglês) A postura de Russell era clara. A adoção de um nome distintivo não só era desnecessária, mas potencialmente perigosa, podendo dar margem a sectarismo. Não se pode negar que essa opinião parecia mais de acordo com o relato bíblico, segundo o qual os seguidores de Jesus foram chamados 'Cristãos' "por providência

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divina" (Atos 11:26). Todavia, o ano de 1918 testemunharia uma mudança dramática no movimento dos "Estudantes da Bíblia". O recém-empossado presidente Rutherford tomara duas medidas escandalosas para a comunidade dos adeptos: na edição de A Sentinela de 1/6/1918 e em sua reimpressão ele convocava os cristãos a unirem-se ao país num dia de orações pela vitória aliada na I Guerra, bem como os autorizava a adquirir bônus de guerra. Estes atos ocasionaram uma grande rachadura na organização, um grupo destacou-se e criou seu próprio movimento, conhecido como Standfasters [Intransigentes]. Com o passar do tempo, outros grupos dissidentes se formaram, de modo que a designação "Estudantes da Bíblia", ou mesmo "Cristãos", eram títulos de pouco significado quanto a quem exatamente se referiam. Havia Batistas, Pentecostais, Católicos, Adventistas e diversas facções de ex-Estudantes da Bíblia. Como se distinguir deles? Foi dentro deste cenário efervescente que surgiu o nome "Testemunhas de Jeová", extraído arbitrariamente de uma passagem do profeta Isaías, proferida cerca de 700 anos antes de Cristo e dirigida à nação de Israel, sob lei mosaica (Isaías 43: 10-12). O nome apresentava duas conveniências: primeiro, distinguia os membros da Sociedade Torre de Vigia dos movimentos dissidentes e, segundo, criaria o ensejo para as Testemunhas de Jeová aplicarem a si mesmas todas as passagens bíblicas que contivessem os termos 'testemunha' ou 'testemunhar'. Uma observação simples no compêndioProclamadores, capítulos 1-3, mostra claramente esta prática: todos os servos antigos de Deus até Jesus Cristo são chamados de 'testemunhas de Jeová', obviamente com a intenção de criar, na mente do leitor, um vínculo histórico entre a entidade atual e tais personagens bíblicos. A comunidade dos Estudantes da Bíblia da época não participou do processo de criação do novo nome. Foi um trabalho individual, produto da mente de um só homem Joseph F. Rutherford, o qual o anunciou em meio a um clima de euforia, diante de uma platéia gigantesca e favoravelmente disposta às suas palavras, criando uma atmosfera de êxtase semelhante àquela comumente encontrada entre os assim chamados grupos carismáticos. Com efeito, o livroProclamadores (p. 82) relata que os espectadores "pularam de seus assentos com um retumbante: 'Sim!' ". Evidentemente, sob tal circunstância, qualquer que fosse o nome sugerido, a resolução seria bem recebida pela assistência. E foi a partir deste portentoso acontecimento, ou seja, da adoção deste nome que a ênfase ao uso do tetragrama gradativamente cresceu entre os adeptos, passando a ocupar o nível de 'sintoma' identificador do verdadeiro povo de Deus, prerrogativa que, obviamente, a organização reserva para si, não importando o quanto outras entidades usem ou tenham usado uma expressão equivalente.

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Segundo a obra In Search of Christian Freedom [Em busca da Liberdade Cristã], um exame nos primeiros 40 anos da revistaA Sentinela não revela uma freqüência de ocorrência do nome 'Jeová' muito maior do que aquela de outros compêndios religiosos da época ou anteriores. Um exemplo notável é o da edição de 15 de abril de 1919, o qual só continha o nomeuma única vez em toda a revista ! O conteúdo de outras publicações, posteriores a 1919, é revelador. Vejamos o que afirmavam algumas obras da autoria de Rutherford sobre o nome 'Jeová':

"A Bíblia demonstra que o nome de Quem exerce poder supremo na criação e em todas as coisas é Deus. Ele também tem outros nomes que se encontram na Bíblia, todos os quais têm um significado profundo acerca de seu propósito para com as suas criaturas." Criação, 1927, pág. 10 “A significação dos nomes ou títulos encontrados na Bíblia é de muita importância. O nome 'Deus' quer dizer o Altíssimo. O nome 'Jeová' significa os propósitos do Eterno para com suas criaturas. O nome 'Deus Todo-Poderoso' quer dizer que o seu poder é ilimitado. O nome 'Altíssimo' dá a entender que ele é o Supremo e que, além dele, não existe nenhum outro."

Riquezas, 1936, pág. 135 "O Criador é o Imortal, de eternidade a eternidade, e o nome Dele é Deus.... "Deus" significa o Todo-Poderoso...; "Senhor", significando supremo Governador; "Jeová", significando para com suas criaturas; "Pai", significando doador de vida; e "Altíssimo", seu o quepropósito é sobre tudo." Inimigos, 1937, pág. 22 Incidentalmente, as explanações acima estão em pleno acordo com o pensamento das denominações evangélicas atuais, as quais entendem que, de fato, Deus manifestou-se à humanidade por diversos nomes: osgenéricos El (Deus), ElElyon (Deus Altíssimo) e Elohim (Deus) e os específicos El-Shadday (Deus TodoPoderoso ou Deus da Montanha),Adhonay (Senhor) e Yahweh (Eu Sou). Paradoxalmente, na mesma época dos escritos acima,Rutherford fez, em outra de suas publicações, uma declaração, no mínimo, assombrosa e contraditória:

"A vindicação do nome de Jeová... [é] agora mais importante do que o amor de Deus ao homem por meio de Cristo." Jeová, 1934, pág. 320

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As três primeiras declarações deRutherford representam notável contraste com os ensinos atuais da Sociedade Torre de Vigia, ao passo que a última, totalmente contraria a mensagem real do Novo Testamento, parece estar mais de acordo com o entendimento atual das Testemunhas de Jeová. De fato, além de negar que 'Deus', 'Pai' ou 'Senhor' sejam as expressões ideais pelas quais os cristãos devam se dirigir ao Criador, a Sociedade, em uma matéria sobre seus cânticos de louvor, acrescenta:

"No cancioneiro publicado pelo povo de Jeová em 1905, havia duas vezes mais cânticos louvando a Jesus do que havia em louvor a Jeová Deus. No seu cancioneiro de 1928, o número de cânticos que exaltavam a Jesus era mais ou menos o mesmo que os que exaltavam a Jeová. Mas no último cancioneiro, de 1984, Jeová é honrado com quatro vezes mais cânticos do que Jesus . Revelação - Seu Grandioso Clímax está Próximo, 1988, p. 36 Se considerarmos o padrão do novo Testamento, vemos que o padrão vigente entre as Testemunhas de Jeová correspondeexatamente ao inverso daquele dos cristãos do 1º século, mesmo naTNM, que faziam referências a Jesus Cristo muitas vezes acima de qualquer outro nome , inclusive o tetragrama, se é que alguma vez o utilizaram. Na edição de 8 de maio de 1985 da revista Despertai!, a Sociedade Torre de Vigia declara:

"É lógico que [Deus] supervisionasse a transmissão fidedigna de sua Palavra até o presente dia." Considerando que esta afirmação seja verdadeira e que nem uma única cópia contendo o tetragrama sobreviveu, somos forçados a concluir que, de fato, o tetragrama jamais foi mencionado no Novo Testamento. Asseverar o contrário seria admitir que a mão dos copistas apóstatas, empenhados em ocultar o nome divino foi mais poderosa do que a mão de Deus, empenhado em fazer com que sua Palavra fosse transmitida a nós da forma mais precisa possível. Um último aspecto merece destaque: as versões bíblicas adotadas pela Sociedade Torre de Vigia ao longo de sua existência. Também nesta área teremos surpresas... Em 1901, uma versão bíblica chamadaAmerican Standard Version [Versão Padrão Americana] introduzia o nome 'Jeová' milhares de vezes nas escrituras. Ainda assim, a Sociedade Torre de Vigia não a prestigiou com menções em sua literatura. Seguindo o costume anterior, continuou a usar como tradução básica àKing James Version [Versão Rei Jaime], que apresenta o nome divino por Senhor ' '. Décadas

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depois, em 1944, a Sociedade adquiriu o direito de impressão sobre aquela versão de 1901. Ainda assim, embora ocasionalmente a mencionasse,continuou a usar a Versão Rei Jaime como a tradução padrão de suas citações. Esta situação perdurou até 1950, com o lançamento da Tradução do Novo Mundo, usada até hoje. Além disso, a Tradução Interlinear do Reino, publicada pela Sociedade em 1969 e 1985, não contém o nome 'Jeová' e suas referências de rodapé dão mais apoio ao uso da palavra 'Senhor'. A partir desse quadro, é razoável supor que se o uso do nome 'Jeová' sempre foi imperativo, a entidade demorou consideravelmente para tomar providências nesse sentido, pois dispunha, porquase 50 anos de uma versão bíblica que já utilizava o nome em suas páginas, sem, no entanto dar preferência a ela em suas citações. Quanto à própria TNM, há ainda uma inconsistência difícil de justificar: a introdução afirma que, para o Novo Testamento, tomou como base o texto de Westcott e Hort. Contudo, no referido texto não consta o tetragrama. Além disso, na nota de rodapé de Lucas 23: 43, também deixa claro que não seguiu tal texto. Em outras palavras, a comissão está na prática admitindo que sua tradução é, na verdade, uma miscelânea. Assim: adota-se como 'esqueleto' um texto básico, reproduzindo-o fielmente onde ele não entra em conflito com certas preferências teológicas. Onde isso acontece, soluciona-se o problema por introduzir paráfrases, termos questionáveis sob a ótica da erudição gramatical e "enxertos" de outras traduções, separadas por séculos umas das outras. Talvez essa metodologia nada ortodoxa tenha contribuído para fazer da TNM uma versão pouco prestigiada entre os eruditos. Deveras, não se tem notícia de qualquer comunidade religiosa ou acadêmica que dê preferência a esta versão,a não ser a comunidade das próprias Testemunhas de Jeová!

Como mencionamos no início deste artigo, a comissão editorial daTNM recomenda a si própria por ter "restaurado" o nome divino ao seu devido lugar. Nesta seção, apresentamos alguns fatos históricos que parecem contradizer esta afirmação: 1) Diversos escritores e denominações religiosas têm, ao longo dos séculos,

usado traduções do nome Grupos conhecidos como "Assembléias de Yaweh" criaram versõesdivino. da Bíblia ondeantigos o nome divino aparece, no Novo Testamento, em número superior àquele da tradução das Testemunhas de Jeová.

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2) O nome divino é encontrado em cancioneiros protestantes seculares, comentários bíblicos e monumentos antigos. 3) Já no século 17, a tradução da Bíblia Espanhola deCipriano de Valera verteu o nome divino por 'Jeová' milhares de vezes, assim como traduções missionárias do século 19. 4) Diversos ramos dissidentes das Testemunhas de Jeová, embora menos conhecidos, usam regularmente o nome 'Jeová'.

À base das evidências acima, vemos que a pretensão das Testemunhas de Jeová como "restauradoras" do nome divino é inconsistente, pois, por ocasião do surgimento de sua entidade, ao final do século XIX, simplesmente não havia o que "restaurar". O termo por elas empregado (ou outros semelhantes) já era conhecido e divulgado através de literatura religiosa e histórica muito antes deCharles T. Russell, o fundador do movimento, ter nascido. Além disso, caso fosse considerado válido o argumento da Sociedade Torre de Vigia, de que "restaurar" o nome divino é 'sinal' identificador dos “verdadeiros cristãos”, as Testemunhas de Jeová teriam que compartilhar este invejável título com diversos grupos religiosos surgidos ao longo da história, sob diferentes lideranças e oriundos de diversos lugares ao redor do mundo. Todavia, como já dissemos, elas tem reservado tal prerrogativa apenas para sua própria comunidade. Em nenhuma parte das Escrituras está previsto um ressurgimento da verdadeira adoração de Deus à base da "restauração" de um nome. Neste respeito, o apóstolo Paulo, mencionando as diversas deidades existentes entre os gregos e romanos, destaca a identidade do único Deus verdadeiro, não por "restaurar" o tetragrama ou uma tradução dele, mas por dizer:

"Pois, embora haja os que se chamem 'deuses'..., para nós há realmente um só Deus, o 1 Coríntios 8: 5, 6 Pai..." Paulo, aqui, segue simplesmente o exemplo de Cristo, referindo-se ao Criador como "Pai". Em outra ocasião, de acordo com o relato de Atos 17: 22-28, o apóstolo, dirigindo-se aos atenienses, mencionou um monumento que encontrara na cidade, um altar com a inscrição "A um Deus Desconhecido". Aproveitando o ensejo, tratou de chamar a atenção de sua assistência para o Deus, ao qual, sem saber, os cidadãos de Atenas prestavam devoção. Fez isso por "restaurar" o tetragrama ou mesmo por mencioná-lo? Não. O apóstolo referiu-se ao Criador como 'Deus', 'Senhor' e 'Ser Divino'. Pergunte-se: por que teria Paulo deixado passar tão preciosas oportunidades para "restaurar" o tetragrama ou, pelo menos, mencionálo, se esta fosse a verdadeira 'marca' do Cristianismo? Ao que tudo indica, nada havia a ser "restaurado" nos dias de Paulo nem tampouco em nossos dias.

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As Testemunhas de Jeová, de modo semelhante aos israelitas pactuados antes de Cristo, carregam como estandarte o nome 'Jeová'. Por assim procederem, presumem aplicar-se a elas (e somente a elas) as palavras de Atos 15:14, as quais falam sobre Deus escolher, entre as nações, "um povo para seu nome". É razoável tal raciocínio? Afinal, quantos sentidos existem para a palavra 'nome'? Podemos recorrer ao profeta Malaquias em busca de um importantíssimo significado para a palavra 'nome'. Observe o leitor o que diz o texto: “...disse Jeová dos exércitos a vós, sacerdotes, que desprezais o meu nome. E vós dissestes: De que modo desprezamos o teu nome? Por apresentardes sobre o meu altar pão poluído”. Malaquias 1: 6,7

Note o leitor que 'desprezar o nome' de Deus, aqui, nada tinha a ver com o uso do tetragrama, mas referia-se a violações da lei mosaica. Em outras palavras, quando se viola a lei de Deus se está desprezando seu 'nome',quer dizer sua honra e glória, sem que o uso de uma palavra específica como o tetragrama esteja envolvido. Também, em Eclesiastes 7:1 lemos:

"Um nome é melhor do que bom óleo , e o dia da morte é melhor do que o dia em que se nasce”. Aqui, mais uma vez, vemos o termo 'nome' aplicado sem conexão alguma com o nome de batismo. Nesta passagem, 'nome' tem sentido de'reputação', quer dizer, obter uma boa reputação é melhor do que obter uma coisa tão boa quanto um óleo refinado. Já Provérbios 10:7 fala que "o nome dos iníquos apodrecerá". Neste caso, 'nome' significa 'lembrança' ou 'recordação'. Até mesmo em nossos dias, quando alguém diz: 'Pare em nome da lei!', obviamente não se refere a um nome específico, mas àquilo que a leirepresenta. Assim sendo, qual a validade de restringir o significado da palavra 'nome' em relação a Deus, conectando-o especificamente ao uso do tetragrama? Como assegurar que a expressão "um povo para seu nome" tem esse e apenas esse sentido? A própria Sociedade Torre de Vigia reconhece um sentido altamente abrangente e variável da palavra 'nome'. O livro Ajuda ao Entendimento da Bíblia, p. 885 (em inglês) cita as palavras de um perito em hebraico:

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"Um estudo da palavra 'nome' no Velho Testamento revela o quanto essa palavra significa em hebraico. O nome não é um mero rótulo, mas é sugestivo da real personalidade a quem ele pertence." (Grifo acrescentado) Também o apóstolo João (referindo-se a Cristo) menciona a expressão "acreditar em seu nome" (João 1:12), que significa acreditar na pessoa de Jesus. Jesus que por sua vez, ensinou seus discípulos a orar a Deus, dizendo, "santificado seja teu nome", sem, no entanto mencionar o tetragrama . Preferiu o termo mais íntimo e carinhoso 'Pai'. Cremos que os exemplos acima são suficientes para mostrar a futilidade de insistir no reconhecimento dos verdadeiros cristãos à base da repetição compulsiva de uma palavra. Os 'frutos' morais e espirituais estes sim deveriam servir como aferidores da legitimidade da prática cristã. Do contrário, o cristão poderia facilmente tornar-se como aqueles a quem Jesus referia-se ao dizer:

"Este povo honra-me com os lábios, mas o seu coração está muito longe de mim”. Mateus 15: 8

É possível traçar um certo paralelo entre as Testemunhas de Jeová e um outro movimento, também srcinário do Adventismo do século 19, a Igreja Adventista do Sétimo dia. Ambas as instituições agarram-se tenazmente a um símbolo. No caso das Testemunhas, o tetragrama; no caso dos Adventistas, a guarda do sábado. Apenas o objeto de culto e a importância atribuída a ele serve como uma espécie de 'termômetro' ou 'sinal' do Cristianismo, o critério pelo qual ímpios e justos serão reconhecidos e julgados. Quando no afã de reter seus membros, a Sociedade Torre de Vigia apela para o uso do nome 'Jeová' como prova evidente de ser a única religião verdadeira, ela aproxima-se perigosamente do seguinte argumento: "Não importa o que de errado fizemos, o que ensinamos ou o que quer que façamos. Se carregamos o nome 'Jeová', apenas nós temos o favor de Deus." Acreditamos que o leitor está apto a discernir se este é o modelo ideal do verdadeiro Cristianismo.

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Este artigo não se destina a dissuadir o leitor de referir-se a Deus por 'Jeová', 'Javé', 'Iavé' ou qualquer forma equivalente e inteligível em seu idioma, não objetamos a que assim o faça. Tampouco visa depreciar o nome do Ser Magnífico, qualquer que seja o significado que 'nome' possa assumir. É nosso objetivo tãosomente que cada um sinta-se livre para exercer o Cristianismo sem amarras ideológicas alienígenas com respeito ao Evangelho, mas antes, do modo como este chegou às nossas mãos. Cremos que a maioria das pessoas dificilmente trataria um pai querido de modo formal. Cristo não foi uma exceção, tendo se referido ao Criador dezenas de vezes por 'Pai'. Além disso, ensinou seus discípulos a fazerem o mesmo. Essa parece ser a mensagem cristalina das Escrituras Cristãs. O leitor é livre para seguir essa instrução sem motivos razoáveis para afligir-se em sua consciência. Poderá dirigir-se a seu Criador por ‘Deus’, ‘Pai’, ‘Senhor’, ‘Yahweh’, ‘Todo-Poderoso’, ‘Rei da Eternidade’ ou qualquer outra forma que esteja à altura de Sua glória. A obrigação de dirigir-se ao Criador por um substituto híbrido de uma palavra fornecida a um povo pactuado milênios antes do advento do Cristianismo, e cuja pronúncia está irremediavelmente perdida, certamente é um ensino estranho ao Evangelho. Como vimos, não há base arqueológica ou teológica para ele. Nenhum povo na história da humanidade esteve tão vinculado a um nome e a regulamentos rígidos quanto o povo israelita. Superstições floresceram e os símbolos foram mais valorizados do que a realidade que eles representavam . Todavia, este arranjo prescreveu e junto com ele, seus rituais, regras restritivas e 'fetiches', incluindo o uso compulsivo e supersticioso do tetragrama. O verdadeiro Deus e grande demais para ser resumido ou englobado em um mero nome, seja ele qual for. Os nomes podem variar, mas a realidade de um Deus Único, Todo Poderoso e Eterno permanece!

"Para tal liberdade é que Cristo nos libertou. Portanto, ficai firmes e não vos deixeis restringir novamente num jugo de escravidão”. Gálatas 5: 1

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mundialmente conhecido que as Testemunhas de Jeová evitam tudo o que está relacionado com comemorações de aniversários natalícios. Elas jamais celebram o seu próprio aniversário, nem o de seus filhos, caso tenham, e também não comparecem a comemorações de aniversários de parentes, amigos e colegas de escola ou de trabalho. Até mesmo os cumprimentos a aniversariantes são evitados. O motivo básico de as Testemunhas de Jeová agirem dessa forma é que a liderança de sua organização religiosa tem se pronunciado contra isso já por várias décadas. Os responsáveis pela redação das publicações religiosas usadas pelas Testemunhas, com freqüência afirmam que a Bíblia dá base para essa proibição e são apresentados vários argumentos que conduzem todos os membros da comunidade a essa mesma conclusão. As Testemunhas são muito sinceras e fiéis em obedecer a tal regra, pois, com base no que lêem nestas publicações, vieram a acreditar que Deus não aprova que os cristãos comemorem seu aniversário. É inegável o impacto dessa proibição na vida social dos que a seguem. Por obedecer a essa proibição, as Testemunhas têm sido chamadas de "bitoladas", "desmancha-prazeres", "anti-sociais", "fanáticas" e de outros termos desse gênero. Sem dúvida, ninguém sente mais as conseqüências de tal restrição do que os jovens (crianças e adolescentes) da comunidade religiosa, pois tais jovens vêem-se impedidos tanto de comemorar seus aniversários como de ir aos aniversários de colegas e amigos, por motivos que são, na grande maioria das vezes, incompreensíveis para os próprios jovens e até para muitos adultos que são Testemunhas. Se uma Testemunha de Jeová desconsiderar a proibição e comemorar abertamente seu aniversário, ela no mínimo, passará a ser mal-vista pelos seus companheiros de crença e poderá até sofrer outras formas de discriminação e disciplina religiosa, por ter promovido uma 'celebração popular de srcem pagã, que desagrada a Deus'.

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Quando uma pessoa aceita um estudo baseado nas publicações da Torre de Vigia e passa a receber progressivamente os ensinos característicos desta organização, naturalmente, passa a adotá-los como bússola orientadora que determinará seu comportamento e ações dali para frente. Neste ponto, um dos ensinos que talvez seja muito difícil de ser entendido e até mesmo aceito é a proibição da comemoração de aniversários natalícios. Defato, as Testemunhas de Jeová já de longa data têm ensinado que é errado, até mesmo idolatria, a comemoração de aniversários natalícios, apesar de que seu fundador,Charles Taze Russel comemorava aniversários e não via nada de errado nisso. Muitos acham difícil aceitar tal entendimento pelo fato de que, quando se ouve a explicação do porque de tal proibição, ela parece um tanto quanto inconsistente e superficial. Talvez por isto mesmo alguns optaram por ignorar tal ensino, embora estando oficialmente ligados as Testemunhas de Jeová. Afinal, o que poderia haver de errado ou nocivo em uma festividade de caráteressencialmente pessoal, em nada religioso? Na realidade este raciocínio óbvio faz com que surjam algumas perguntas pertinentes: qual o fundamento deste ensino? Existe alguma lógica nesta doutrina ou é uma doutrina sem base bíblica? Para esclarecer tais pontos, faremos um estudo profundo desse assunto, examinando como a liderança da Torre de Vigia encara as referências que a Bíblia faz a celebrações de aniversários. Ao avaliar essa visão, será feita uma análise do conteúdo das próprias referências, com o fim de determinar se Deus de fato proíbe ou pelo menos desencoraja este tipo de celebração entre os cristãos que vivem hoje.

*Citação 1 - A Sentinela de 15.01.1981 - pág 31: "Como devemos encarar essas duas celebrações de aniversários natalícios? É apenas coincidência que são mencionadas e que ambas eram de pessoas que não tinham a aprovação de Deus? Ou será que Jeová fez deliberadamente com que estes pormenores fossem registrados na sua Palavra, a qual, segundo ele diz, é “proveitosa para ensinar, para repreender, para endireitar as coisas”? (2 Tim. 3:16) No mínimo, pode-se dizer que estas duas narrativas colocam biblicamente as celebrações de aniversários natalícios numa péssima luz, como prática dos apartados de Deus."

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*Citação 2 - Raciocínios à Base das Escrit uras (1985), pág 37: "Tudo o que está na Bíblia tem uma razão de estar ali. (2 Tim 3:16, 17) As Testemunhas de Jeová notam que a Palavra de Deus relata desfavoravelmente as celebrações de aniversários natalícios, de modo que as evitam." *Citação 3 - A Sentinela de 01.08.1988 - pág 14, parágrafo 16: “Como pode você usar essa informação para atingir o coração de seu filho? Você pode empregar o convidativo método do livro Grande Instrutor, dizendo: Então, sabemos que tudo o que está na Bíblia está ali por alguma razão . Daí, pergunte: Portanto, o que acha que Deus está-nos dizendo a respeito de festas de aniversários natalícios? ”

*Citação 4 - A Sentinela de 01.09.1992 - pág 30, 31: “A celebração de aniversários natalícios tem suas raízes na superstição e na religião falsa, mas este não é o motivo único, ou primário, de as Testemunhas de Jeová evitarem esse costume. A Bíblia menciona o assunto de natalícios, e os cristãos maduros sabiamente são sensíveis a quaisquer indícios que ela forneça ."

Estes poucos exemplos não deixam margem para dúvida de que, quando se trata das celebrações de aniversários, o tom é fortemente condenatório. Afirma-se que a Bíblia coloca a tais numa "luz desfavorável". Dizem que comemorar aniversários é uma prática de 'pessoas apartadas de Deus', pessoas essas que 'não têm a aprovação Dele'. Os "cristãos maduros" são "sensíveis aos indícios" de que 'Deus só pode estar falando mal' dessa prática. Portanto, "as Testemunhas de Jeová têm amplas razões para abster-se desse costume" e devem ensinar seus filhos a assim também fazerem. A Citação 2, do livro"Raciocínios à Base das Escrituras " resume tudo o que se diz nas outras. Tomando-a como base, analisemos as suas duas frases:

*Frase 1: "Tudo o que está na Bíblia tem uma razão de estar ali." (2 Tim 3:16, 17)

Para quem crê na inspiração divina da Bíblia, isto é uma verdade óbvia. Não teria sentido pensarmos que Deus faria constar uma informação em Sua Palavra que fosse absolutamente inútil. Porém, se fizermos uma aplicação demasiadamente abrangente dessa frase, levando-a as últimas conseqüências, podemos cair em generalizações absurdas. Tudo tem que ser analisado dentro do contexto. Adiante veremos claramente por que. Em primeiro lugar, precisamos responder à seguinte questão: Será que o simples fato de algo estar registrado na Bíblia, significa forçosamente que Deus está emitindo Sua opinião ou Seu juízo de valor sobre aquilo?

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A realidade é que, em muitos casos, a Bíblia precisa apresentar certas informações contextuais para que possamos ter um quadro mais completo, permitindo-nos o pleno entendimento de muitas ocorrências e situações mencionadas nela. Por vezes (e serão mencionados exemplos), esta é a única e exclusiva razão de tais informações 'estarem ali'. Logo, isso não quer dizer que, nesses casos, Deus necessariamente estejase pronunciando contra ou a favor de cada uma das informações ou, em outras palavras, classificando automaticamente tudo o que é apresentado em tais contextos como "certo" ou "errado" ou, de alguma maneira, "próprio" ou "impróprio" para os Seus servos.

*A frase 2 pode ser subdividida assim: (1) As Testemunhas de Jeová notam ... (2) que a Palavra de Deus relata desfavoravelmente as celebrações de aniversários natalícios ... de modo que as evitam. As duas partes principais da frase são totalmente falsas. Em primeiro lugar, conforme já foi dito, as Testemunhas "evitam" as celebrações de aniversários não porque 'notaram' alguma 'referência desfavorável' a estas na sua leitura individual da Bíblia. Elas fazem isso por causa do que lêem nas publicações produzidas por sua organização religiosa, publicações estas que refletemo pensamento dos líderes da organização. Como vimos, estas publicações realmente contêm 'referências desfavoráveis' às celebrações de aniversários, e isso já é assim há muito tempo. Não é o caso de cada Testemunha ter feito um exame particular do que a Bíblia diz sobre o assunto e chegado sozinha à conclusão de que Deus encara desfavoravelmente e desaprova essas celebrações. As pessoas que se tornam Testemunhas de Jeová depois de adultas já aprendem essa idéia logo que começam a associar-se com a organização. Mesmo que alguns destes recém-associados tenham dúvidas quanto à validade bíblica da proibição, com o tempo eles absorvem a cultura do grupo e acabam vindo a acatá-la. As crianças que nascem ou crescem em famílias que pertencem à religião aprendem isso desde pequenas (a Citação 3, acima, até instrui os pais a como ensinarem isso) e é somente natural que essas crianças cresçam encarando as celebrações de aniversários como algo 'impróprio para os cristãos', mesmo quenão entendam e nem saibam explicar os motivos da proibição. Mas, o que dizer da afirmação de que "a Palavra de Deus relata desfavoravelmente as celebrações de aniversários natalícios"?

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Baseiam sua premissa em duas passagens bíblicas. Argumentam que nestes dois relatos de aniversários natalícios na Bíblia (teoricamente únicos), ocorreram coisas que desagradaram a Deus. Portanto, a partir deste argumento decidiram adotar uma posição contrária à comemoração de aniversários natalícios. Primeiro, vejamos o que dizem rigorosamente as duas referências diretas da Bíblia a este assunto (conforme a Tradução do Novo Mundo , usada pelas Testemunhas):

*Primeira referência: Gênesis 40:20-22: 20 Ora, o terceiro dia resultou ser aniversário natalício de Faraó, e ele passou a dar um banquete a todos os seus servos e a levantar a cabeça do chefe dos copeiros e a cabeça do chefe dos padeiros no meio dos seus servos. 21 Concordemente, restituiu o chefe dos copeiros ao seu posto de copeiro, e ele continuou a dar o copo à mão de Faraó. 22 Mas ao chefe dos padeiros ele pendurou, assim como José lhes dera a interpretação. *Segunda referência: Marcos 6:21-28: 21 Chegou, porém, um dia conveniente, no seu aniversário natalício, em que Herodes ofereceu uma refeição noturna a seus dignitários e comandantes militares, e aos principais da Galiléia. 22 E entrou a filha desta mesma Herodias e dançou, e ela agradou a Herodes e aos que se recostavam com ele. O rei disse à donzela: “Pede-me o que quiseres, e eu to darei.” 23 Sim, jurou-lhe: “O que for que me pedires, até a metade do meu reino, eu to darei.” 24 E ela saiu e disse à sua mãe: “Que devo pedir?” Ela disse: “A cabeça de João, o batizador.” 25 E entrando logo apressadamente, foi ter com o rei e fez a sua solicitação, dizendo: “Quero que me dês imediatamente, numa travessa, a cabeça de João Batista.” 26 Embora o rei ficasse profundamente contristado, contudo, não quis desconsiderá-la, em vista dos juramentos e dos que se recostavam à mesa. 27 O rei mandou assim imediatamente um guarda pessoal e ordenou-lhe que trouxesse a cabeça dele. E ele foi e o decapitou na prisão, 28 e trouxe a cabeça dele numa travessa, e a deu à donzela, e a donzela a deu à sua mãe. (Nota: Há uma referência menos detalhada ao natalício do Rei Herodes em Mateus 14:6-10)

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Serão estes argumentos realmente válidos? Quando as publicações da organização consideram estes dois relatos bíblicos, geralmente é dada grande ênfase a dois pontos que eles têm em comum: 1. No decorrer das duas celebrações ocorreu um crime (assassinato) 2. Os aniversariantes eram pagãos, e não servos do verdadeiro Deus

Levando em consideração estes fatos e como a expressão "aniversário natalício" aparece no contexto dos dois relatos, as publicações da organização argumentam que a Bíblia está fazendo uma clara 'referência desfavorável' às próprias celebrações. Alega-se que, já que "tudo o que está na Bíblia tem uma razão de estar ali" e como a Bíblia conecta estes dois fatos com as celebrações, isso não é uma simples "coincidência", e sim a maneira de Deus dizer que Ele desaprova totalmente que Seus servos fiéis comemorem aniversários natalícios. Senão, Ele não teria feito constar estas informações na Bíblia. Em se tratando da ocorrência dos crimes, a fragilidade do raciocínio expresso pela Torre de Vigia, pode ser vista se considerarmos a seguinte questão: Será que o fato de ocorrer algo condenável durante um evento social, isso necessariamente depõe de alguma maneira contrao próprio evento? Mesmo hoje em dia, não é verdade que acontece todo tipo de coisa grave em eventos públicos (festas de casamento, eventos esportivos, reuniões familiares

etc) ? Porém,emserá alguém pensaria uma reunião familiar ou uma dessas festa de casamento si que mesmo é errada ou que condenável porque em algumas reuniões acontecem coisas desagradáveis? Na antiguidade algumas coisas desagradáveis também ocorriam em eventos públicos. Tanto o Faraó, como o Rei Herodes poderiam perfeitamente ter cometido aqueles crimes, por exemplo, durante a recepção de seus casamentos. Não há qualquer razão para pensarmos que eles não fariam tal coisa. Diríamos então que uma recepção de casamento é algoinerentemente mau? Se a Bíblia registrasse isso, estaria Deus automaticamente condenando o evento e dizendo "em código" que Seus servos não devem fazer recepções de casamento? A grande questão é, por que a Bíblia dá a informação de que tais crimes ocorreram durante aquelas festas de aniversário? Simplesmente para que possamos entender em que contexto e circunstâncias os crimes ocorreram . Na primeira a Bíblia relata como foique quesóa interpretação dos sonhos feitao por José referência, teve cumprimento. Por motivos Deus sabe, Faraó executou padeiro-chefe e preservou vivo o copeiro-chefe, exatamente como José havia dito que aconteceria 'dentro de três dias'. Tudo o que o registro faz é mostrar que "o

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terceiro dia" após a interpretação dos sonhos "resultou ser aniversário natalício de Faraó" e foi durante a festa que ele resolveu fazer essas coisas. É para isso que 'a informação está ali'. Quanto à própria comemoração, não há qualquer palavra de condenação. Nada há nada no registro que nos faça pensar que a execução do padeiro era algo decorrente da celebração em si ou intrínseco a ela. Na segunda referência, ficamos sabendo que o Rei Herodes ficou tão empolgado com a apresentação de sua enteada, que jurou solenemente "dar-lhe tudo o que pedisse". O registro torna evidente que ele não imaginava que ela iria pedir o que pediu, instigada por sua mãe. Por causa desse juramento irrefletido, ele "muito contristado", ou seja, a contragosto, sentiu-se obrigado a mandar matar o profeta (muito embora isso não justifique o crime). O fato é que, mais uma vez, a informação sobre a festa de aniversário 'está ali' para esclarecer a situação do momento. Se a Bíblia não dissesse queele estava cercado pelos ilustres convidados à sua festa de aniversário, ficaria difícil entendermos como foi que o rei ficou nessa enrascada e por que razão João Batista foi executado dessa forma tão bizarra. Novamente aqui, por mais chocante que tenha sido o crime, nada se diz contra a própria celebração do aniversário. Não pode haver dúvida quanto a isso: é completamente ilógico encararmos uma situação social como inerentemente errada devido ao fato de um crime ocorrer durante a mesma. O que é condenável é o crime em si e não o contexto no qual ocorre, seja ele cometido numa festa de casamento ou numa reunião familiar. Em outras palavras, seja na antiguidade, seja no nosso tempo, se até mesmo um crime ocorrer durante um evento o crime em si não depõe contra o próprio evento nem o torna proibitivo parasocial, um cristão. Algumas pessoas poderiam argumentar que é inválida essa comparação entre as celebrações de aniversário mencionadas na Bíblia e uma festa de casamento ou uma reunião familiar dos tempos modernos. Segundo elas, nestes casos os que praticam as ações criminosas são indivíduos violentos que vão assistir ao evento e não os promotores do evento. De acordo com esse raciocínio, pareceria ter validade à idéia de que a Bíblia faz um claro "relato desfavorável" das duas celebrações de aniversário, já que, naqueles casos, foram os próprios promotores das celebrações (os aniversariantes) que cometeram os crimes. Todavia, nem mesmo este argumento se sustenta,se analisarmos outro caso relatado na Bíblia, de ação criminosa praticada durante uma comemoração pública. Consideremos a citação abaixo:

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*2 Samuel 13:23-29: 23 E resultou, depois de dois anos inteiros, que Absalão veio a ter tosquiadores em BaalHazor, que está perto de Efraim; e Absalão passou a convidar todos os filhos do rei. 24 Portanto, Absalão entrou até o rei e disse: “Eis que agora teu servo tem tosquiadores! Por favor, vá o rei e também seus servos juntos com teu servo.” 25 O rei disse, porém, a Absalão: “Não, meu filho! Não vamos todos, por favor, para que não te sejamos pesados.” Embora instasse com ele, não consentiu em ir, mas o abençoou. 26 Absalão disse, por fim: “Senão [tu], por favor, deixa Amnom, meu irmão, ir conosco.” A isto o rei lhe disse: “Por que devia ele ir contigo?” 27 E Absalão começou a instar com ele, de modo que mandou com ele Amnom e todos os filhos do rei. 28 Absalão ordenou então aos seus ajudantes, dizendo: “Vede, por favor, que assim que o coração de Amnom se estiver sentindo bem por causa do vinho e eu certamente vos disser: ‘Golpeai a Amnom!’ então tereis de entregá-lo à morte. Não tenhais medo. Não fui eu quem vos dei ordens? Sede fortes e mostrai-vos homens valentes.” 29 E os ajudantes de Absalão passaram a fazer a Amnom assim como Absalão lhes ordenara; e todos os outros filhos do rei começaram a levantar-se e a montar, cada um no seu mulo, e puseram-se em fuga. O que a Bíblia faz, neste caso, é relatarem que circunstâncias Amnom foi morto. O meio-irmão dele, Absalão planejou matá-lo durante uma festa de confraternização entre irmãos. Absalão estava comemorando a sua aquisição de "tosquiadores" e havia convidado até mesmo a seu pai, Davi. Como lemos, o Rei Davi não quis ir com a comitiva real, porque achou que ia dar muita despesa a seu filho, mas consentiu que seu filho primogênito, Amnom, fosse junto com os demais irmãos. Foi nessa ocasião festiva, regada a vinho, que o promotor da festa , Absalão, executou vingança contra Amnom, mandando seus empregados assassiná-lo. Fazendo uma comparação, poderíamos até dizer que, em certos aspectos, o crime de Absalão foi muito mais grave do que o do Rei Herodes. Como visto no relato de Marcos, o Rei Herodes, que era um pagão, mandou matar João Batistaa contragosto e a própria maneira de execução do crime foi idealizada por outros . Já Absalão, que era um israelita e conhecedor do verdadeiro Deus,premeditou e planejou o assassinato. E ainda por cima, a pessoa que ele mandou matar diante de todos, durante a festa, era seu próprio irmão! Contudo, por mais hediondo que tenha sido o que Absalão fez, cabem aqui as seguintes perguntas: Será que tal crime depôs de alguma maneira contraa ocasião em que ele foi cometido? Já que a informação específica sobre a festa'está ali' na Bíblia, será que é porque há alguma coisa errada em fazer festas comemorativas em família? Está a Bíblia fazendo um "relato desfavorável" sobre tais tipos de festas e está Deus dizendo que Seus servos não devem promover eventos semelhantes a esses?

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A resposta a todas estas perguntas seria “sim”,se aplicássemos aqui o mesmo padrão de raciocínio que é aplicado no caso daquelas celebrações de aniversário. Teríamos de encarar toda e qualquer confraternização comemorativa familiar como algo condenado por Deus! Portanto, quando a Bíblia informa que tais coisas chocantes ocorreram durante aquelas celebrações (de aniversários ou de qualquer outra coisa), a informação não 'está ali' para necessariamente desabonar ou 'relatar desfavoravelmente' as próprias celebrações em si mesmas. Ninguém pode afirmar taxativamente que esta seja a intenção de Deus. No máximo, nós só podemos encarar com desfavoros mentores dessas ações criminosas e classificar como condenáveis os atos praticados por eles . Não existe o menor sentido na idéia de que Deus instrua Seus servos de forma ambígua, usando uma espécie de linguagem "em código", de uma maneira que somente alguns entendam a instrução e outros não.Os crentes na Bíblia sabem muito bem que quando Deus dá instrução espiritual vital para Seus servos, Ele sempre o faz de maneira clara, seja através de uma ordem ou proibição direta , seja através de um princípio explícito . Agora surge uma outra questão. Será mesmo que a Bíblia não relataoutros aniversários natalícios? Aparentemente, pelo menos uma família o fazia. Leia o seguinte relato:

*Jó 1:4,5 4 E seus filhos foram e realizaram um banquete na casa de cada um [deles] no seu próprio d ia; e mandaram convidar suas três irmãs para comerem e beberem com eles. 5 E dava-se que, tendo os dias de banquete completado o ciclo, Jó mandava santificá-los; e ele se levantava de manhã cedo e oferecia sacrifícios queimados segundo o número de todos eles; pois, dizia Jó, "meus filhos talvez tenham pecado e amaldiçoado a Deus no seu coração". Assim Jó fazia sempre. Ao que o texto indica, a festa mencionada era mesmo de aniversário natalício. E Jó não somente participava, mas como é deixado claro, isso era um costume deles. Afinal, "assim fazia Jó sempre"! Mas, como sabemos que a expressão "cada um [deles] no seu próprio dia" referia-se a um aniversário natalício? A resposta vem logo após:

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*Jó 3:1-3

“Foi depois disso que Jó abriu a boca e começou a invocar o mal sobre o seu dia . Jó respondeu então e disse: Pereça o dia em que vim a nascer , Também a noite em que alguém disse: Foi concebido um varão vigoroso!”

Interessante que o livro Estudo Perspicaz das Escrituras (editado e publicado pela Sociedade Torre de Vigia de Bíblias e Tratados) cita que o termo hebraico utilizado em Jó 1:4 ( yohm) não é aplicável à festividade de aniversário natalício, ao dia específico do nascimento. No entanto, a mesma palavra hebraica aparece no supracitado Jó 3:1,3, referindo-se indubitavelmente ao dia específico do nascimento e não a outro período ou época, conforme afirmado no Estudo Perspicaz. Assim, a utilização do termo hebraico yohm em Jó 3:1,3 deixa claro que o mesmo se aplica ao dia do nascimento. Resta alguma dúvida de que a expressão"seu próprio dia" ou "seu dia" referese ao dia do nascimento? Portanto, se Jó e seus filhos comemoravamregularmente "seu próprio dia", se comemoravam o dia do seu nascimento, o que estavam eles comemorando senão o aniversário natalício? Assim, são derrubados dois mitos:

*Primeiro mito derrubado - os aniversários natalícios mencionados na Bíblia não foram somente aqueles dois "famigerados". Antes, até mesmo servos de Deus, servos fiéis, celebravam festas em comemoração ao dia do seu nascimento. De fato, é de conhecimento de todos que muitos servos de Deus no passado realizavam grandes festividades por ocasião do nascimento de seus filhos. Notem o que o Estudo Perspicaz das Escrituras afirma sobre este aspecto:

*** it-1 140 Aniversário Natalício *** De acordo com as Escrituras, o dia em que o bebê nascia era usualmente um dia de regozijo e de ações de graças da parte dos pais, e isto de direito, pois "eis que os filhos são uma herança da parte de Jeová; o fruto do ventre é uma recompensa". (Sal 127:3; Jeremias 20:15; Lucas 1:57, 58) A partir da descrição acima, pergunte-se: qual é a diferença entre celebrar o nascimento no dia em que acontece (ou proximamente) e celebrar o mesmo anualmente? Do ponto de vista lógico não existe diferença -ambas as ocasiões celebram o mesmo fato, a saber, o momento em que um indivíduo veio ao mundo. Ainda saberia natalício, respondere por a Torre de Vigia também proíbe a anual celebração anual do mais, aniversário nãoque proíbe a celebração dos aniversários de casamento?

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*Segundo mito derrubado: mesmo os dois relatos negativos não condenam a comemoração de aniversários natalícios, nem mesmo outra parte da Bíblia o faz. Isto nos faz chegar à conclusão de que qualquer proibição imposta no sentido de não se comemorar aniversários natalícios,proibição esta que não se encontra na Bíblia, seria ir além das coisas escritas, explicitamente falando. E o que a Bíblia diz sobre isto? *1 Corintios 4:6 6 Agora, irmãos, estas coisas passei a aplicar a mim mesmo e a Apolo, para o vosso bem, para que, em nosso caso, aprendais a [regra]: “Não vades além das coisas que estã o escritas...” Que está fazendo uma pessoa ou entidade religiosa quando impõe uma proibição sequer mencionada ou sugerida na Bíblia? Não faz ela exatamente o que diz o versículo bíblico acima? Este raciocínio tem feito com que pessoas de reflexão, pessoas inteligentes que se recusam a aceitardogmas insanos, deixem de observar uma proibição humana e sem qualquer fundamento bíblico ou cristão.

Alguns insistem em dizer que os aniversários natalícios são ocasiões em que se dá indevida honra a seres humanos, honra esta que deveria ser dada a Deus. A primeira vista, este parece ser um excelente argumento para aquele que não está bem familiarizado com as Escrituras. Mas, será realmente que não se pode dar honra a seres humanos? É verdade que por honrarmos seres humanos estaríamos desonrando a Deus? O que se deve dar a Deus? Note este interessante versículo:

*Êxodo 20:4,5 "Não deves fazer para ti imagem esculpida, nem semelhança de algo que há nos céus em cima, ou do que há na terra embaixo, ou do que há nas águas abaixo da terra. Não te deves curvar diante delas, nem ser induzido a servi-las, porque eu, Jeová, teu Deus, sou um Deus que exige devoção exclusiva..." É você capaz de encontrar aqui ou em qualquer outro lugar na Bíblia a proibição de quepor se Deus. dê honra seresa humanos? Naturalmente, doração não é tolerada Masa eoutros a honra outros humanos, é ela atolerada biblicamente? Deixemos que a Bíblia nos responda. Observe a opinião divina a respeito de se dar honra a seres humanos:

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*Romanos 13:7 Rendei a todos o que lhes é devido, a quem [exigir] imposto, o imposto; a quem [exigir] tributo, o tributo; a quem [exigir] temor, tal temor; a quem [exigir] honra, tal honra. *Romanos 12:10 Em amor fraternal, tende terna afeição uns para com os outros. Tomai a dianteira em dar honra uns aos outros. *Mateus 2:11 E, ao entrarem na casa, viram a criancinha com Maria, sua mãe, e prostrando-se, prestaram-lhe homenagem . *Lucas 24:52 E prestaram-lhe homenagem e voltaram para Jerusalém com grande alegria". *Revelação 3:9 Eis que darei os da sinagoga de Satanás, que se dizem judeus, e que não são, mas estão mentindo - eis que os farei vir e prestar homenagem diante dos teus pés..."

Estes versículos deveriam induzir aqueles que defendem a tese de que os aniversários natalícios dão indevida honra a um ser humano, a mudar seu modo de pensar e admitir que a honra dada a seres humanos não constitui violação de mandados divinos, desde que não se converta em atos de veneração.Honra ou homenagem, como vimos, podem ser corretamente prestadas a seres humanos. Isto é o que se faz nas festas de aniversário. E o que são as festas de casamento, as festas de despedidas de irmãos (tão comuns entre as TJ), as festas de aniversário de casamento e as festas de formatura senão ocasiões em que pessoas imperfeitas recebem "atenção especial", com direito a fotos, presentes, músicas e discursos, tal como nas festas de aniversário ? Por que o Corpo Governante não condena tais celebrações que incluem tanta "atenção especial a pessoas imperfeitas"? Apanhe um exemplar de A Sentinela de 1 de julho de 1979, e você verá uma edição comemorativa do centésimo aniversário da revista. Talvez seja também uma simples opinião humana que o aniversário de uma "pessoa imperfeita" não seja apropriado incoerência!para se comemorar enquanto o de uma revista o seja. Mais uma grande

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Portanto, é você capaz de afirmar que não devemos comemorar aniversários natalícios por se dar honra indevida a seres humanos? O próprio Deus nunca condenou que se honre a humanos; antes condenou que se prestassem atos de adoração a humanos em detrimento a Ele. Ademais, se pararmos para observar certos acontecimentos a nossa volta, iremos notar que em diversas situações seres humanos recebem honra em muito mais alto grau e mais freqüentemente do que um aniversariante recebe, mesmo dentro da organização das Testemunhas de Jeová. Afinal, o aniversariante recebe certa medida de atenção anualmente, apenas por um curtíssimo período de tempo. Mas, se o leitor raciocinar a luz da razão, irá se dar conta de que um superintendente de circuito recebe honra semanal muito maior do que a "honra" ou atenção dada a um aniversariante. Na realidade, este constitui um capítulo à parte no complexo campo de se dar honra ou atenção em excesso a homens, quando o assunto é o comportamento das Testemunhas de Jeová. Se alguém é, ou mesmo se já foi Testemunha de Jeová, certamente apercebe-se de que os líderes espirituais, anciãos de destaque, superintendentes de circuito e distrito, representantes de Betel, etc..., recebem uma atenção que eu classificaria como, no mínimo,descomunal. Imagino que todos os que têm ou já tiveram contato com os procedimentos da Torre de Vigia já se deram conta do enorme alarde e movimento criado em torno da visita de um superintendente de circuito ou distrito a congregação local. É fato inegável que tais privilegiados homens recebem o tipo de tratamento que, exceto em raras ocasiões, nenhum outro membro das Testemunhas irá receber. Existe portanto, neste caso, um excesso de atenção e dedicado trabalho, bem como gastos materiais, voltados para uma pessoa em particular. Naturalmente que pelo empenho pessoal por uma causa tida como nobre, ainda mais se considerando que não existe ganho material substancial, estes homens merecem nossos elogios e esforços no sentido de serem bem acolhidos. Mas o que inegavelmente se vê nas congregações nos dias que antecedem suas visitas, bem como durante as mesmas, é uma verdadeira corrida frenética, uma verdadeira loucura paraagradar e exaltar tais pessoas, algo que todos aqueles que observam os fatos de maneira isenta não podem deixar de notar. E, vale notar que os superintendentes de circuito e distrito não recebem tal extraordinária atenção anualmente, mas isto acontece com eles em basesemanal, em cada congregação que eles visitam, algo muito mais freqüente do que acontece com certa pessoa, por ocasião do aniversário natalício (uma celebração anual). Alongando ainda mais este assunto, há de se notar que nas publicações da Torre de Vigia se dão incessantemente e constantemente créditos pessoais a líderes organizacionais tais como C. T. Russell e J. F. Rutherford . Na realidade, poder-seia dizer sem margem de dúvida que estes personagens chegam mesmo a serem

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considerados semideuses. Pode por acaso uma Testemunha de Jeová fiel negar que nas publicações da Torre de Vigia se fazem constantes alusões a estas pessoas, como sendo em grande parte responsáveis pelo conhecimento espiritual sustentado hoje por tal organização? Ainda um último argumento: quem recebe mais honra? Um aniversariante ou o casal de noivos durante sua festa de casamento? Vestidos com roupas especiais, sendo o centro de toda a atenção, o que faz eles diferentes de um aniversariante? Por que se diz que o aniversariante recebeindevida atenção, e não se diz o mesmo de um par de noivos durante sua festa? Tendo em vista os fatos e argumentos que são aqui apresentados, havemos de relembrar algo que deve ser considerado cada vez que se menciona a proibição da celebração de aniversários natalícios:

*1 Corintios 4:6 Agora, irmãos, estas coisas passei a aplicar a mim mesmo e a Apolo, para o vosso bem, para que, em nosso caso, aprendais a [regra]: “Não vades além das coisas que estão escritas...”

Embora a Bíblia diga que houve grande alegria por ocasião dos nascimentos de João Batista e de Jesus Cristo, a organização Torre de Vigia endossa a idéia de que os primitivos cristãos jamais celebravam seus aniversários. Desta forma, o livro “Raciocínios à Base das Escrituras” , pág 37, cita com aprovação o seguinte: “A noção de uma festa de aniversário natalício era alheia às idéias dos cristãos deste período, em geral.” — The History of the Christian Religion and Church, During the Three First Centuries (Nova Iorque, 1848), Augusto Neander (traduzido por Henry John Rose), p. 190.

Por outro lado, em parte alguma da Bíblia se proíbe a comemoração de aniversários. A principal razão apresentada é que os Judeus e os primitivos cristãos não tinham o costume de celebrá-los. Assim, é transmitida a idéia de que os cristãos hoje, seguindo o exemplo dos primitivos cristãos, também não deveriam celebrar aniversários. Mas, mesmo que seja verdade que os primitivos cristãos não realizavam tais celebrações, não se pode deixar de perceber que, ao lançar mão deste argumento, a organização está usando um padrão duplo de pensamento. Como assim? Consideremos os seguintes procedimentos organizacionais:

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*Reuniões Que os primitivos cristãos ajuntavam-se regularmente é inegável. Mas será que as reuniões deles eram sempre num mesmo prédio, num dia e horário específico, seguindo uma programação rigorosamente pré-estabelecida e com somente alguns falando duma tribuna e os demais apenas ouvindo e tendo a obrigação de aceitar tudo o que se dizia? Não há qualquer evidência bíblica ou histórica de que as coisas funcionavam desta maneira.

*Pregação Falar de sua fé aos descrentes foi, desde o princípio, alistado como uma obrigação para os cristãos. A Bíblia e a História mostram que eles cumpriram isso. O que não é possível encontrar é a evidência bíblica ou histórica de que essa pregação deles era executada de porta em porta, de maneira sistemática, repetitiva, sem convite prévio, e através do uso de outros escritos além das Escrituras, escritos estes que deveriam ser oferecidos ao público em troca de donativos. Nem podemos confirmar biblicamente que os primitivos cristãos tinham a obrigação de anotar mensalmente toda a sua atividade de pregação num relatório e entregá-lo a outros homens, para avaliação de seu “nível de espiritualidade ”.

*Congressos A organização Torre de Vigia e outras religiões promovem regularmente eventos deste tipo, tanto a nível regional como internacional. As Testemunhas de Jeová são até mesmo levadas a encarar tais congressos como “festividades espirituais” e se uma delas deixar de comparecer (salvo por motivo de força maior), pode até ser vista como uma pessoa que “não tem apreço”. Porém,não há registro bíblico ou histórico de que os primitivos cristãos fizessem isso . Tal idéia era “alheia” a eles. Poderia alistar vários outros procedimentos que são executados atualmente, mas que não têm precedentes no primitivo cristianismo. Se este argumento da Torre de Vigia fosse válido, então as Testemunhas de Jeovánão deveriam fazer estas coisas hoje. No entanto, a organização não só as incentiva, como ainda transforma tais procedimentos em verdadeiras obrigações. Portanto, mesmo quando usa argumentos contrários à celebração de aniversários com baseem fontes não-bíblicas (citações de obras seculares e religiosas), a Torre de Vigia acaba dando a eles uma abordagem de mão-única, usando-os exclusivamente para apoiar suas posições, mas não deixando que tenham aplicação geral.

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O mais grave é que, conforme o artigo mostrou, no esforço de impor arbitrariamente essa proibição a todos os seus membros, a organização acaba apresentando “argumentação bíblica” que é, na realidade, baseada em raciocínios muito frágeis. Os líderes da Torre de Vigia nada mais fazem que uma tentativa de atribuir a Deus opiniões que Ele não declara explicitamente em Sua Palavra.

A Sociedade cita o cardeal católico John Henry Newman (livros:"Revelação Seu Grandioso Clímax está Próximo!," pág. 236 rodapé e "Caiu Babilônia , a Grande", páginas 36 e 37) dizendo que vários usos e costumes pagãos foram adotados pela Igreja Católica, entre eles a aliança de casamento . Alega a Sociedade, como razão para proibir as festas de aniversário, a srcem pagã do costume. Como todos nós já sabemos, ela destaca o fato de que os dois únicos aniversários que a Bíblia menciona são de pagãos, o Faraó do Egito (Gênesis 40:20) e o rei Herodes (Mateus 14:6). Seria isso razão suficiente para que os cristãos não os celebrassem atualmente? O mero fato de que pagãos adotavam um certo costume não significa que hoje ele esteja proibido para nós. Jacó e José, por exemplo, eram servos de Jeová, mas quando Jacó faleceu José mandou embalsamálo (segundo costume dos egípcios pagãos), e mais tarde o próprio José foi embalsamado. (Gênesis 50:2,3,26) O aplauso existe há cerca de 3 mil anos. No princípio, era um gesto religioso, popularizado em rituais pagãos: o barulho devia chamar aatenção dos deuses. No teatro clássico grego, era a forma pela qual os artistas pediam à platéia que invocasse os espíritos protetores das artes. O costume chegou à Roma pré-cristã, onde se tornou comum nos discursos populares. Por volta de 2800 a.C., os egípcios usavam um anel para simbolizar o casamento. Para eles, um círculo, não tendo começo nem fim, simbolizava a eternidade para a qual o casamento era destinado. Dois mil anos depois surgiu entre os gregos a crença de que um anel também podia atrair o coração. Eles acreditavam também que o dedo anular esquerdo possuía uma veia que levava diretamente ao coração. Assim, começaram a usar um anel de ferro nesse dedo, para que os corações dos amantes ficassem atraídos para sempre. O costume passou aos romanos e a Igreja manteve a tradição. Será que alguém já propôs ao "Corpo Governante" incluir os temas acima na sua "lista negra" de práticas pagãs de Babilônia a Grande, as quais levam à destruição no Armagedom?

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A Sentinela 1 de setembro de 19 92, pág. 30, admite que: "Costumes que outrora eram de natureza religiosa já não o são em muitos lugares. A aliança, por exemplo, outrora tinha significado religioso, mas hoje em dia já não o tem na maioria dos lugares. Por isso, muitos cristãos verdadeiros aceitam o costume local de usar aliança como evidência de estarem casados". E prossegue dizendo A Sentinela: "... o que geralmente conta é se atualmente o costume em questão está vinculado com a religião falsa". Bem, se é isso o que conta, na nossa região e até onde nós sabemos na maior parte do mundo, ninguém relaciona festa de aniversário com religião de qualquer espécie. É só interrogar qualquer pessoa comum sobre o assunto. Toda TJ que dirige estudos domiciliares com pessoas de fora, sabe que elas ficam surpresas quando informadas que a Sociedade condena os aniversários como sendo de srcem pagã. E nem sempre é fácil convencê-las disso, pois elas não conseguem associar aniversários com religião. Além disso, como acabamos de ver, a Sociedade admite o uso das alianças (também de srcem pagã) hoje em dia. Agora, pare e pense: o que parece ter mais significado religioso atualmente, a troca de alianças de casamento ou a festa de aniversário? Qual das duas costuma ocorrer numa igreja ou edifício religioso? Qual das duas costuma contar com a participação de um clérigo ou sacerdote? A resposta parece bem clara. Uma simples opinião humana (provavelmente a de Joseph Rutherford nos anos 20) decretou o aniversário como proibido e a aliança como permitida. Sendo as duas coisas de srcem pagã, é pura incoerência proibir uma enquanto se libera a outra. Adicionalmente, A Sentinela de 1 de abril de 1993, pág. 4, nos informa que o batismo também tem srcem pagã , e era usado em Babilônia e no Egito em conexão com crenças supersticiosas, e nem por isso deixou de ser praticado por João Batista (bem antes de ser ordenado por Jesus em Mateus 28:19), pelos discípulos de Cristo e por toda a comunidade cristã do primeiro século, que o adotou com uma motivação inteiramente diferente da dos pagãos . Este artigo não é uma apologia das festas de aniversário natalício e não foi escrito para defender a idéia de que realizar tais festas seja algo obrigatório para os cristãos. Já que a Bíblia é omissa nesse assunto, a questão de promover ou não tais celebrações e mesmo a maneira de realizá-las,deveria ser deixada a critério da consciência de cada um.

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inguém tem o direito de impor suposições religiosas a outras pessoas, e ainda chamar tais suposições de “verdade”, tampouco negar que existe essa imposição, se os fatos mostram isso. Normalmente, os que aderem à religião não possuem o amplo conhecimento necessário para fazer um julgamento adequado, possuem apenas um conhecimento superficial da situação. Mas como estão encantados por algumas informações cativantes, que podem até ser corretas, deixam de perceber todas as implicações. O tempo passa e a pessoa que aderiu à nova religião é incentivada vez após vez a repudiar o senso de pesquisa e investigação , a não ser que se faça isso usando as publicações que o poder central da religião fornece. Aos de fora, os líderes dizem que os seus seguidores são pessoas esclarecidas e pesquisadoras. É claro que eles não usam a palavra “seguidores”, dizem que são apenas seus irmãos, que todos seguem a Cristo. Em momento algum elesseguidores. revelam que tême dúvidas emjuntos alguns assuntos que eles impõem aos seus Passam aquela aura de perfeição e infalibilidade, embora oficialmente eles afirmem “humildemente” que são imperfeitos e falhos. Está assim montado o cenário para proteger os interesses dos líderes, que sabem da fragilidade de alguns de seus ensinamentos. Mas se algum membro da religião resolver pesquisar profundamente, com mente aberta e por conta própria, alguns ensinamentos oficiais de sua denominação, facilmente detectará alguns erros. No início, relutará em aceitar o que vê. Quanto melhor o nível da pesquisa e os recursos disponíveis, maior será a surpresa do investigador. Nesse momento, ele percebe que não pode revelar isso a nenhum de seus irmãos, pois eles estão enclausurados nesse sistema de proteção arquitetado pelo poderpor central. que se abrir bocaconsiste será expulso da religião ele apóia anos,Sabe serátambém excomungado. Tal àpena em nenhum deque seus irmãos falar com ele e considerá-lo um rebelde que merece a morte eterna.

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Ele sabe que tal tratamento seria injusto, pois ele não perdeu a fé em Deus , e continua acreditando nos ensinamentos realmente importantes de sua religião. Portanto, ele se vê numa situação que o coloca à beira do ostracismo. Só resta a ele esperar a justiça de Deus, e orar para que seus irmãos um dia venham a conhecer a verdade a respeito de onde estão. Muitas das supostas verdades da religião não passam de raciocínios humanos, embebidos em arrogância, orgulho e falta de humildade, que combinados com conceitos errôneos anteriores, perpetuados ao longo dos anos, geram a atual situação prevalecente: a ignorância vestida do pseudoesclarecimento . É bem evidente que a pesquisa, a meditação e a oração, juntos com sinceridade de coração e verdadeiro interesse de se agradar a Deus são elementos importantes para se chegar a um conhecimento adequado e pleno das Escrituras. Mas o fato de se alcançarcertas pérolas do conhecimento bíblico, que com certa medida de segurança podem ser chamadas de “verdade”, não justifica que todas as teorias e opiniões pessoais devam ser colocadas nessa mesma categoria, nem dizer que tais coisas são a “verdade” que desce da parte do Altíssimo, quando, de fato, não passam de raciocínios de homens que estão convencidos de sua posição especial perante Deus, em detrimento de seus semelhantes. Homens que em, nenhum momento admitem que não ensinamento têm certeza de certas coisas que ensinam e que quando modificam algum importante, que afetou a vida das pessoas, dizem que foi uma “nova luz” que acabou de chegar da parte de Deus,e não assumem qualquer responsabilidade dos excessos que cometeram. O que acontecerá se algum adepto cobrar deles uma atitude de responsabilidade? Será vítima de uma inquisição, e num julgamento simulado será expulso da irmandade. O que acontecerá se alguém de fora fizer essa mesma cobrança? Os líderes encararão isso com completo desprezo, pois afinal de contas todos os que estão fora de sua religião já estão condenados por Deus. É como diz certo escritor: “Têm consciência de ser um povo fiel, uma minoria eleita... Têm bem nítidos os limites que os dividem dos outros. Os outros, a grande maioria, são apóstatas,

moralmente pervertidos, arrastados pelo mundo . Enquanto o ‘nós’ (fundamentalistas) constitui o resto fiel aos princípios fundamentais e imutáveis.” –O Outro é o Demônio, Uma Análise Sociológica do Fundamentalismo , de Ivo Pedro Oro, Ed. Paulus (1996).

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Durante um grande período da Idade Média, pessoas foram perseguidas, condenadas e queimadas na estaca como hereges, por causa do único “pecado” de discordar de certos ensinos da Igreja Católica. A promoção de ensinos contrários à direção papal era punida com toda a severidade. A mera divulgação das Escrituras Sagradas, a Bíblia, podia ser punida com a morte. Não importava aos inquisidores se o julgamento era justo ou não, contanto que os seus interesses fossem

preservados. Qualquer justificativa que fosse usada para explicar tais julgamentos pungentes não passava de figura de retórica. Além das execuções físicas, outra “execução” era infligida às almas “rebeldes” e “pecadoras”. Tratava-se da excomunhão. A Igreja Católica não só se achava no direito de privar as pessoas de viverem pacificamente, mas também achava que tinha as prerrogativas de excluí-las da vida eterna. As aspirações cristãs da pessoa que caísse em tal julgamento estariam ameaçadas. A maldição e a desaprovação de Deus seria o destino da infame alma. A visão de tal fim era tão aterradora que intimidava reis e autoridades. A excomunhão era uma arma espiritual de grande importância, já que os dirigentes religiosos dificilmente conseguiriam por as mãos em pessoas de nobre estirpe, para levá-las à fogueira. “Mas isso é coisa do passado”, alguém poderá dizer, “a Igreja Católica e as demais religiões cristãs não praticam mais esses excessos”. Embora seja verdade que a Igreja Católica,inquisitoriais através de João II, tenha pedido perdão ( meade culpa ) por alguns julgamentos doPaulo passado, oficialmente o Código Direito Canônico do Vaticano, ainda mantém a excomunhão como expediente de punição. Esse código prevê, por exemplo, queos que abandonam a Igreja em prol de outra fé, já estão automaticamente excomungados. Quanto às diversas igrejas protestantes, não se têm notícias de que elas praticam a excomunhão. Mas existe uma religião que “aprimorou” a excomunhão, dando a ela uma conotação de execução sumária do “errante”. Imagine que você é um cristão dedicado, ama a Deus e é cooperativo na sua igreja, a única que conhece desde a infância. Ao completar dezoito anos, você é convocado pelo Estado a prestarum serviço militar compulsório durante um ano. Então, você explica que não pode se dedicar a essa atividade por causa de sua consciência cristã, que não pode se sujeitar ao adestramento militar. O Estado lhe oferece como alternativa trabalhar algumas horas por dia numserviço civil, talvez numa creche ou num hospital.

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Se você não aceitar essa opção será separado de sua família e ficará por tempo indeterminado na prisão, sofrendo todo o tipo de pressão psicológica. Você pensa e resolve aceitar essa obrigação em lugar do serviço militar. Ao retornar à sua igreja você comunica aos líderes a sua decisão. Em virtude disso, você é convocado para umjulgamento secreto com eles. É um julgamento só no nome, pois o que eles querem mesmo é comunicar que você foi desassociado (excomungado), por desobedecer à ordem do comando central da igreja, que diz que é pecado entrar no citado serviço civil alternativo. A partir de então, você será considerado uma pessoa iníqua. Todos os seus únicos amigos estão proibidos de falar com você, e de lhe cumprimentar. Na mente dos seus queridos irmãos da igreja, se Deus fosse destruir os maus hoje, no esperado “fim do mundo”, você provavelmente seria um dos executados sem nenhuma perspectiva de vida eterna no paraíso. Para eles você já está morto. A partir de agora você é um infiel a Deus, aguardando apenas a execução literal. Como você se sentiria na situação descrita acima? Ela pode parecer inacreditável para quem nunca se deparou com algo assim, mas é uma realidade hoje em dia para milhões de pessoas. É assima excomunhão praticada pela religião conhecida como Testemunhas de Jeová, que já ultrapassa a cifra de sete milhões de adeptos no mundo inteiro. A citada proibição, do serviço alternativo, foi abolida em 1995, e não é mais pecado . Na verdade, nunca foi. (Mas até aquele ano, em vários países, milhares de jovens Testemunhas de Jeová ficaram muitos anos em prisões por obedecerem à ordem que emanava do poder central conhecido como

Corpo Governante). Ainda resta, porém, uma elaborada e infindável lista de pecados e delitos que as Testemunhas devem evitar, se não quiserem ser punidas com a desassociação. Alguns desses pecados são claramente especificados na Bíblia, outros não. Tendo em foco o que foi relatado aqui, resta perguntar: O padrão de excomunhão das Testemunhas de Jeová encontra verdadeiro apoio das Escrituras? Autoridades religiosas estão realmente autorizadas por Deus adecidirem o futuro eterno das pessoas? A partir de agora faremos uma analise profunda sobre esse assunto, observando o que a bíblia realmente ensina sobre a excomunhão ou desassociação.

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O versículo da Bíblia usado pela Sociedade Torre de Vigia dos EUA (órgão dirigente das Testemunhas de Jeová) para justificar seu tipo de excomunhão é 1 Coríntios 5:13 que diz: “Removei o homem iníquo de entre vós”.O que diz o contexto desse versículo? O que uma análise lexical revela sobre ele? Os primeiros cristãos encaravam-no em qual perspectiva? Observe um pouco do contexto da primeira carta aos Coríntios: “[Somos] subordinados de Cristo e mordomos dos seg redos sagrados de Deus.... o que se procura nos mordomos é que o homem seja achado fiel..... para mim é um assunto muito trivial o de eu ser examinado por vós ou por um tribunal humano.... pois não estou cônscio de nada contra mim mesmo .... quem me examina é Jeová. Por isso, não julgueis nada antes do tempo devido , até que venha o Senhor, que tanto trará da escuridão para a luz as coisas secretas.... e então cada um terá o seu louvor da parte de Deus..... aprendais a regra: ‘NÃO VADES além das coisas que estão escritas’..... [suplico-vos] que vos torneis meus imitadores..... Relata-se entre vós.... fornicação tal como nem há entre as nações, que certo homem tenha por esposa a de seu pai..... nem ao menos pranteastes, a fim de que o homem que cometeu esta ação fosse tirado do vosso meio?.... não sabeis que um pouco de fermento leveda a massa toda? Retirai o velho fermento, para que sejais massa nova.... Cristo, a nossa páscoa, já tem sido sacrificado.... guardemos a festividade, [não com] o fermento de maldade e iniqüidade, mas com os pães não fermentados da sinceridade e da verdade..... cesseis de ter convivência com qualquer que se chame irmão, que for fornicador.... , ou idólatra, .... , ou beberrão...., nem sequer comendo com tal homem..... ‘ Removei o homem iníquo de entre vós.’” – 1 Coríntios 4:1-21; 5:1-13.

O contexto que culmina na frase “removei o homem iníquo de entre vós” é bastante esclarecedor. Qual tipo de pessoas Paulo disse que a congregação deveria excluir? Ele começa falando de um homem da congregação que estava tendo relações com a esposa do seu pai (incesto?), sem que nenhuma providência tenha sido tomada. O ponto de partida de Paulo é justamente essefornicador . Paulo estava se referindo a pessoas com alto grau de depravação moral e espiritual , que não seguem os princípios de conduta do Cristianismo. Praticamente todos os comentaristas bíblicos têm esse entendimento. Observe dois exemplos:

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“Em segundo lugar o Apóstolo recomenda que esse tipo de pessoa não participe das ações litúrgicas, pois a vida deles nada tem que ver com a comunidade (versículo 11b). Afastados, talvez possam rever a própria vida e ter assim oportunidade de converter-se. A comunidade deve evitá-los, se eles são empedernidos no mal, mas deixar o julgamento para Deus.” – Primeira Carta aos Coríntios, Explicação e Atualização, Mauro Strabeli.

[Em 1 Coríntios 5:12, observa-se que] os coríntios não mais se consideravam sujeitos às regras ordinárias de moralidade.” – Ética d o Novo Testamento, o s Legado s d e Jesu s e Paulo, Frank J. Matera. Portanto, aplicar esse versículo a uma infinidade de situações, como faz a Torre de Vigia, é uma clara desconsideração das palavras prévias de Paulo:“Não vades além do que está escrito” (4:6) . O texto se refere a pessoas iníquas mesmo, entregues aos pecados mais repugnantes. Por isso tinham que ser excomungadas. Mas os aplicadores da disciplina não podiam afirmar que essa pessoa estava morta para Deus, e sem perspectiva de vida eterna, pois Paulo disse: Não “ j ulgueis nada antes do tempo devido, até que venha o Senhor, que tanto trará da escuridão para a luz as coisas secretas, como tornará manifestos os conselhos dos corações” (4:5). Não comer com a pessoa excluída talvez seja uma referênciaà Refeição Noturna do Senhor (última ceia), pois, no contexto, Paulo disse: “Retirai o velhofermento.... Cristo, a nossa páscoa, já tem sido sacrificado.... guardemos a festividade, não.... com o fermento de maldade e iniqüidade, mas com os pães não fermentados da sinceridade..... cesseis de ter convivência com qualquer que se chame irmão, que for fornicador.... nem sequer comendo com tal homem..... ‘removei o homem iníquo de entre vós’” (5:7-13). É a visão desse contexto que gerou o termo “excomunhão”, que significa ficar fora da comunh ão (eucaristia) cristã, por ocasião da celebração da Refeição Noturna do Senhor. (Um manuscrito cristão do início do século II, chamado Didaqué, sugere que a não participação na Refeição Noturna era realmente uma ação disciplinar, uma excomunhão). Claramente, as palavras de Paulo, em Coríntios, não dão margem para o procedimento adotado entre as Testemunhas de Jeová denão cumprimentar o excomungado, e não falar com ele . De onde, então, surgiu tal entendimento?

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“Cesseis de ter convivência com qualquer que se chame irmão, que for fornicador.” – 1 Coríntios 5:11.

Se uma Testemunha de Jeová for desassociada (excomungada), todas as outras Testemunhas estão proibidas de falar com ela, e de cumprimentá-la . Quem desobedecer é punido também com a desassociação. Um dos versículos da Bíblia que geralmente são citados para apoiar essa posição é o que está acima. Ele se aplica a pessoas que não respeitam as leis divinas de comportamento, tornando-se pecadores habituais e impenitentes. Seria “cessar de ter convivência” o mesmo que não falar ocasionalmente, ou cumprimentar? Sobre a expressão “cessar de ter convivência”, uma nota da Bíblia Tradução do Novo Mundo (publicada pela Associação da Torre de Vigia, entidade jurídica das Testemunhas de Jeová) declara: “Literalmente: ‘não vos mistureis com’. Grego: me sy·na·na·mí·gny·sthai; latim: non com·mí·sce·ri.”. Agora observe um outro versículo em que Paulo usa essa mesmíssima palavra gregame sy·na·na·mí·gny·sthai ( ): “Mas, se alguém não for obediente à nossa palavra por intermédio desta carta, tomai nota de tal, parai de associar -vos com ele [em grego: me sy·na·na·mí·gny·sthai], para que fique envergonhado. Contudo, não o considereis como inimigo, mas continuai a admoestá-lo como irmão.” – 2 Tessalonicenses 3: 14, 15. Percebe-se que a mesma palavra grega foi traduzida de duas maneiras diferentes, talvez para dizer que os versículos não falam da mesma coisa. Mas não é preciso grande esforço para perceber que Paulo está falandode situações semelhantes, embora a primeira situação (mencionada na carta aos coríntios) pareça ter sido mais grave. Porém, se for comparar com as regras do Corpo Governante hoje o caso da situação mencionada em 2ª Tessalonicenses poderia ser comparada a apostasia, pois Paulo fala de pessoas que não obedecessem as instruções contidas em sua carta, seria o mesmo que uma Testemunha de Jeová hoje não obedecer as orientações do Corpo Governante questionando-as e se opondo a elas. Isto seria considerado apostasia e dentro das Testemunhas o apóstata é visto da mesma forma que um imoral. A comparação dos dois

versículos sugere que quando Paulo falou de “remover o homem iníquo” da congregação ou da comunhão da Refeição Noturna, ele não tinha em mente que os irmãos não mais cumprimentariam o errante, ou que não falariam com ele em circunstâncias ocasionais. O que Paulo disse é que os irmãos não deviam se

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“misturar” com esses pecadores disciplinados pela congregação. A expressão “não vos mistureis” significanão ter associação habitual, nada mais além disso.

“Não se misturar com” nunca poderia significar“não falar com”, porque Paulo disse sobre esses que estavam sob disciplina: “Não o considereis como inimigo, mas continuai a admoestá-lo como irmão.” Como você vai admoestá-lo se não puder falar com ele? A Torre de Vigia ensina às Testemunhas de Jeová que somente os anciãos (pastores) tem essa prerrogativa de falar com um desassociado. Mas isso não passa de uma interpretação que mais uma vez fere a regra:“Não vades além das coisas que estão escritas.” – 1 Coríntios 4:6. Já que não ter convívio é diferente de se ter um contato casual ou cumprimentar, a Torre de Vigia costuma citar outros dois versículos para apoiar o seu tipo de excomunhão: “Se alguém se chegar a vós e não trouxer este ensino, nunca o recebais nos vossos lares, nem o cumprimenteis. Pois, quem o cumprimenta é partícipe das suas obras iníquas.” – 2 João 10, 11. O que revela o contexto desses dois versículos? “Pois muitos enganadores saíram pelo mundo afora, pessoas que não confessam Jesus Cristo vindo na carne. Este é o enganador e o anticristo .... Todo aquele que se adianta e não permanece no ensino do Cristo não tem Deus. Quem permanece neste ensino é quem tem tanto o Pai como o Filho. Se alguém se chegar a vós e não trouxer este ensino, nunca o recebais nos vossos lares, nem o cumprimenteis.” – 2 João 7, 9, 10. Portanto, o apóstolo João está falando de um assunto completamente diferente do que Paulo escreveu em Coríntios. Ele se referia aos anticristos , que negavam que Jesus tivesse vindo na carne. Ele não estava estabelecendo uma regra geral de excomunhão, como a Torre de Vigia tem ensinado, e nem poderia, poisTiago 5:19, 20 aconselhou os cristãos: “Meus irmãos, se alguém se desencaminhar da verdade e outro o fizer voltar, sabei que aquele que fizer um pecador voltar do erro do seu caminho salvará a sua alma da morte e cobrirá uma multidão de pecados.”

As Testemunhas de Jeová estão proibidas de seguir o conselho acima . O Corpo Governante ensina coisas ‘além do que está escrito’, e obriga as testemunhas à não seguir o que está escrito.

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ORIGENS OCULTISTAS

obra Dicionário de Religiões, Crenças e Ocultismo (2000 - Editora Vida), de autoria de G. Mather e L. Nichols, define 'ocultismo' como "o que está além da esfera do conhecimento empírico; o sobrenatural; o que é secreto ou escondido". Em seguida, classifica ocultismo em três distintas: (1) Espiritismo; (2) Cartomancia e (3)o estudo Magia.doVemos, pois, queáreas se trata de um conceito bem abrangente, sendo ainda objeto de discussão (acalorada, às vezes) o englobamento dessa ou daquela crença na definição ora proposta. Não é tarefa fácil determinar historicamente o surgimento das crenças ocultistas. Sabemos, no entanto, que elas remontam aos primórdios da civilização humana, milhares de anos atrás. Uma das chamadas maravilhas do mundo antigo, a grande pirâmide egípcia de Quéops (2600 AC), no vale dos reis, é o mais expressivo monumento ocultista de que se tem notícia. As pirâmides representavam a crença egípcia na vida além-túmulo e o culto delas (ao contrário do que pensam muitos) não se restringiu ao antigo Egito. A civilização Maia, na América Central também se notabilizou por suas enormes pirâmides de pedra, na região de El Mirador (400 AC). A influência das pirâmides sobre a cultura humana não terminaria por aí. Diversas seitas floresceram em torno delas e a pirâmide continua a ocupar lugar de destaque em inúmeras sociedades esotéricas até hoje.

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A essa altura, é provável que o leitor esteja a se perguntar que relação pode haver entre o ocultismo e as Testemunhas de Jeová, questionamento mais do que justificável se considerarmos a política atual da Sociedade Torre de Vigia no que se refere às crenças e práticas ocultistas. A edição de 15/03/1984 da revista A Sentinela, pág. 28 e 29 (em inglês), diz:

"O Dilúvio obrigou os anjos desobedientes a se desmaterializarem e, agora separados da santa organização de Jeová, eles tornaram-se uma organização demoníaca invisível, sob o comando de Satanás (Efésios 6: 12). A fim de controlar a humanidade, eles usam espiritismo, necromancia, astrologia e outros meios ocultos. Embora incapazes de assumir forma humana novamente, eles freqüentemente tomam posse de pessoas, animais e coisas inanimadas tais como fetiches." À base da dashistória palavras o leitorreligioso naturalmente concluiria que em nenhum momento doacima, movimento conhecido como 'Testemunhas de Jeová' poder-se-iam encontrar quaisquer vestígios de crenças ou práticas ligadas ao ocultismo. Afinal de contas, o artigo acima condena expressamente tais coisas como estando inexoravelmente ligadas ao demonismo. Freqüentemente, as publicações das Testemunhas mencionam passagens bíblicas (tais como 2 Coríntios 6: 17) alusivas a práticas 'impuras', inaceitáveis entre os cristãos, deixando transparecer que estas jamais tiveram lugar entre seus membros. Contudo, tem sido realmente assim? Estiveram os líderes da Sociedade Torre de Vigia sempre a salvo de conceitos oriundos daquilo que hoje classificam como 'demoníaco'? Mais que isso, forneceu alguma vez o Corpo Governante das Testemunhas de Jeová a seu rebanho "alimento espiritual" contaminado com crenças ocultistas? Estas certamente não são questões de pouca relevância. Uma retrospectiva histórica lançará uma luz sobre esse tema.

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Segundo a obra mencionada no início deste artigo, a Maçonaria é a maior fraternidade "secreta" do mundo. Em um artigo de 1993, J. Scotch Horrell afirmou haver, naquele ano, cerca de seis milhões de maçons no mundo, aproximadamente o mesmo número de Testemunhas de Jeová, embora estes últimos, talvez em função de seu proselitismo de casa em casa, sejam hoje bem mais familiares à população em geral. Sabe-se que alguém se torna maçom apenas por ocasião de um elaborado ritual de iniciação e que só os membros dessa "irmandade" têm acesso à sua liturgia. A instituição orgulha-se de ter tido, entre seus adeptos, ilustres figuras da história, tais como D. Pedro I, George Washington, Voltaire, Beethoven, Napoleão Bonaparte, bem como importantes personagens da poesia. Segundo uma vertente histórica, a Maçonaria teria sido fundada na Inglaterra, em 1717, por um sacerdote anglicano e um huguenote (como eram chamados os protestantes na França), o que explicaria o fato de encontrarmos, entre os maçons, membros de denominações protestantes. Deveras, o vínculo histórico entre a Maçonaria e o protestantismo culminaria em um cisma na Igreja Presbiteriana do Brasil, em 1903, nascendo a Igreja Presbiteriana Independente, representativa dos setores protestantes contrários à Maçonaria. O fundador do movimento "Estudantes da Bíblia" (mais tarde, 'Testemunhas de Jeová'), Charles T. Russell (1852-1916) cresceu em um ambiente presbiteriano, conhecendo diversos dos conceitos místicos comuns a sua época e cultura. Tomando-se isso em conta e considerando-se que a Maçonaria se diz suprareligiosa, é natural perguntar: teria o 'pastor' herdado uma formação religiosa sincrética, produto da atmosfera protestante norte-americana do século 19? Por enquanto, trata-se apenas de uma especulação, a qual os fatos históricos haverão de confirmar ou negar. Vejamos... No início do século 20, Russell proferiu um exótico discurso intitulado "Quem Pode Conhecer os Segredos de Deus?". No decorrer deste, ele declarou:

"... porque desejo chamar sua atenção para o fato de que o próprio Deus Todo-Poderoso é fundador de uma sociedade secreta... Ao longo da Era do Evangelho tem existido uma Igreja externa de Deus e outra Igreja verdadeira que estava oculta. O mundo já viu a Igreja externa, porém não a oculta... esta magnífica sociedade secreta que o Senhor organizou..." Para aqueles que têm intimidade com os conceitos maçônicos tais palavras soam bastante familiares. Muito embora a Maçonaria, na atualidade, negue ser uma sociedade secreta, ainda assim admite o caráter sigiloso de seus símbolos e do reconhecimento mútuo dos membros de sua 'irmandade' ao redor do mundo.

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Ademais, não se pode negar o fato de que, ao público em geral, a Maçonaria é vista como uma instituição fechada ou secreta. Dessa forma, o termo 'sociedade secreta' dificilmente ajustar-se-ia ao vocabulário cristão, sendo mais facilmente associado ao jargão maçônico. TeriaRussell escolhido tais palavras ao acaso? Ou as teria tomado emprestadas da Maçonaria? Obviamente, não seria imparcial cogitar uma ligação entre uma pessoa e uma entidade tendo como base apenas uma expressão isolada, a qual poderia não passar de mera metáfora ou força de expressão. Se a declaração acima servisse de alicerce único para estabelecer uma linha de conexão entreRussell e a Maçonaria, sem dispor de outros indícios a apoiar tal hipótese, estaríamos diante de uma inconsistência notável. Todavia, não é este o caso. Prossigamos em nossa tarefa de reconstituir fatos passados. Em Novembro de 1913, Russell proferiu outro discurso, não em uma congregação (ou 'eclésia', como chamavam-na) mas nasede maçônica de Pasadena, Califórnia, no qual emitiu as enigmáticas palavras:

"Estou muito contente em ter esta oportunidade particular de dizer umas palavras sobre algumas coisas de comum acordo com nossos amigos maçons, pois estamos falando em um edifício consagrado à Maçonaria, e porque, ademais, nós também somos maçons. Eu sou um Franco-maçom livre e aceito... Eu creio que todos somos... Não vou falar nada contra a maçonaria... De fato, alguns de meus melhores amigos são maçons e eu reconheço que há certas verdades preciosas que são sustentadas em parte por nossos amigos maçons." Proferir tais palavras hoje, da tribuna de uma congregação das Testemunhas de Jeová, acarretaria conseqüências gravíssimas, o orador seria levado a uma reunião judicativa e suas palavras seriam prontamente contestadas do púlpito. Contudo, na época e lugar em que Russell se encontrava, seriam perfeitamente aceitáveis. Como vimos, diversas pessoas eram (e muitas ainda são) simultaneamente membros de denominações protestantes e da Maçonaria. Portanto, não precisamos presumir que o 'pastor' estivesse meramente lançando mão de uma força de expressão criada, talvez, para 'ganhar' a confiança da assistência. A própria expressão usada por ele (livre e aceito) faz parte do jargão maçônico, indicando que ele estava muito bem familiarizado com esta instituição. De fato,Russell parecia apenas revelar mais uma faceta de sua complexa personalidade, sendo ele próprio, se não um 'iniciado' em sentido pleno, no mínimo, um simpatizante da Maçonaria, como muitos outros de seu tempo. Isso explicaria facilmente a razão de ele não ter tido qualquer escrúpulo em proferir as palavras acima diante de uma atenta assistência. Não havia razões para "tropeço", quer para os maçons quer para os próprios seguidores de Russell. O pronunciamento do 'pastor' diante da comunidade maçônica não foi um evento secreto. Ao contrário, acha-se registrado, em sua inteireza, no compêndio1913 Convention Report [Relatório da Convenção de 1913] dos 'Estudantes da Bíblia'.

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O Relatório da Convenção de 1913 - conteúdo embaraçoso O discurso de Russell diante dos maçons contém palavras que vão muito além do que a Testemunha de Jeová mediana, hoje em dia, poderia suportar sem sofrer sérios abalos na fé que abraçou. Extraímos um trecho particularmente impressionante:

Tradução:

´É assim... O Grande Mestre Artífice da nossa Alta Ordem de Maçons Livres e Aceitos, o Senhor Jesus Cristo, lançou a fundação de tudo; como a bíblia diz, outra fundação nenhum lançar que não aquela que está undaçãohomem da altapode e aceitável maçonaria , e tudo o quelançada, pertenceJesus a ela."Cristo. Ele tem a Diante das graves implicações da declaração acima, dificilmente uma Testemunha de Jeová hoje daria crédito a esta evidência, preferindo supor que se trata de uma fraude, até porque jamais ouviu uma só palavra ou leu uma só linha sobre esse discurso na literatura recente da Sociedade Torre de Vigia. É compreensível que aja assim, pois a maioria dos adeptos sequer conhece o compêndio acima citado e muito dificilmente teria acesso a algum exemplar remanescente dele após quase 90 anos. Por outro lado, a organização central parece preferir mantê-los em ignorância. É justamente tal lacuna que este artigo pretende preencher. A tese segundo a qual o movimento dos 'Estudantes da Bíblia' era, em certa medida, herdeiro das crenças maçônicas não é nova. Ela já serviu de base para a publicação de um livro, The Watchtower and the Masons (A Torre de Vigia e os Maçons), de Fritz Springmeier, no qual o autor traça um curioso paralelo entre as duas entidades:

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* Ambas usam o nome Jeová (ou um termo equivalente), embora a Maçonaria não se refreie de utilizar outros nomes. * Ambas usam o termo 'Grande Arquiteto' (ou 'Projetista'), embora a Maçonaria dê mais ênfase a este termo. * Ambas crêem que um Deus cedeu poder a um deus menor. * Ambas crêem em uma vida futura para a humanidade, uma Idade Dourada (por acaso, antigo nome da revistaDespertai!). * Ambas enfatizam a contínua revelação ('novas luzes'). Poderíamos acrescentar aos pontos acima a existência de símbolos comuns às duas entidades, conforme veremos mais adiante. Outros autores consideram o movimento dos 'Estudantes da Bíblia' como nascido da fusão dos princípios e símbolos maçônicos com as idéias escatológicas do Adventismo anglo-americano. Examinaremos também esta hipótese. Uma Testemunha de Jeová da atualidade estaria pouco inclinada a considerar a análise do autor acima citado. Todavia, um exame minucioso dos símbolos usados ao longo do tempo pela Sociedade Torre de Vigia, bem como algumas de suas crenças, nos ajudarão a responder a uma pergunta crucial: tais símbolos ou crenças negam ou confirmam a hipótese deRussell ter sido um maçom? E, caso ele o tenha sido, que impacto isso teria sobre a vida de uma Testemunha de Jeová hoje? Convidamos o leitor a nos acompanhar nessa jornada.

Apenas nos anos 90, a Sociedade Torre de Vigia trouxe ao conhecimento de sua comunidade atual alguns dos símbolos utilizados pela organização ao longo de sua história. A publicação Proclamadores, expõe na pág. 200, um deles: a cruz coroada, presente em diversas publicações das Testemunhas até 1931. O livro classifica-a de 'símbolo decorativo', do qual a instituição abriu mão supostamente após o entendimento de que as ações, antes dos símbolos, deveriam identificar o cristão e após a suposta 'descoberta' de que Cristo morreu em uma estaca única, não em uma cruz. Mas, tratava-se apenas de uma inocente "decoração"?

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A partir deste momento, examinaremos as ocorrências da cruz coroada na simbologia de diferentes instituições, ao mesmo tempo em que buscaremos determinar a srcem deste e de outros símbolos 'decorativos' empregados pelas Testemunhas de Jeová em seus primórdios. Observemos as gravuras abaixo:

As três figuras representam claramente o símbolo há pouco mencionado, a cruz coroada. A primeira foi obtida da capa de uma revista A Sentinela de 1911, a segunda, do Fotodrama da Criação (1914) e a terceira é a foto de um adorno em forma de broche, comum naquele tempo. Os ramos em volta do símbolo não existiam no princípio, tendo sido introduzidos posteriormente (a partir de 1895) como representativos da 'dedicação'. Por volta dessa época, ao se exibir a cruz coroada, também eram comuns as palavras 'Sem cruz, não há coroa!". Isto significava que, sem a aceitação de que Cristo morreu por nós na cruz, tampouco a pessoa seria contada digna de ser herdeira dele como um dos 144.000 escolhidos. Os então 'Estudantes da Bíblia' costumavam portar o broche como símbolo de sua "unção". Todavia, segundo um membro da Grande Loja Maçônica da PensilvâniaEUA, a cruz e a coroa representam a união entre igreja e estado. Por outro lado, a obra The Masonic Report (O Relatório Maçônico), de C. F. McQuaig (1976, pág. 34), afirma que, na verdade, a cruz coroada tem para os maçons um significado fálico (sexual). Façamos agora uma análise comparativa entre os símbolos cultivados por sociedades místicas diversas e aqueles usados pelas Testemunhas de Jeová ao longo de sua história. Conforme vimos, caso uma pessoa comparecesse a uma apresentação do 'pastor' Russell em 1914, veria à sua frente à cruz coroada na tela do "Fotodrama", tal qual exibida acima. Se, mais tarde, a mesma pessoa entrasse em um templo maçônico, lá mesmo, na Pensilvânia, encontraria o seguinte cenário:

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Púlpito da Grande Loja Maçônica do rito de York - Pensilvânia (EUA) Queira o leitor observar a figura no alto do palco, entre os lustres. Parece-lhe familiar? Não há dúvida de que se trata do mesmíssimo símbolo encontrado nas publicações e nos slides do 'pastor' Russell. Seria apenas uma coincidência, um ornamento comum a uma época ou tal símbolo faz parte da liturgia maçônica? A resposta pode ser facilmente obtida da própria Maçonaria. Observemos as ilustrações abaixo:

As duas primeiras gravuras foram obtidas de sites franco-maçônicos americanos tradicionais, praticantes do assim chamado rito de York (pois há também o rito 'escocês'). A terceira gravura provém de uma loja maçônica italiana. Além da cruz coroada, vemos representadas a 'cruz de Constantino' (com a célebre declaração "Com este símbolo vencerás") e as espadas medievais. Examinemos agora duas fotos obtidas, respectivamente, do site oficial e de um CD dos antigos 'Estudantes da Bíblia', dos quais srcinaram-se as Testemunhas de Jeová:

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Indiscutivelmente, o símbolo em questão é o mesmo, a cruz coroada. Isto significa que os atuais 'Estudantes da Bíblia' continuam fiéis à sua srcem. A seguir, fornecemos o emblema maçônico de uma loja do rito deYork:

Repare o leitor que, ao centro do emblema, encontramos, mais uma vez, a cruz coroada, à frente do compasso, das espadas e do triângulo. Como a Maçonaria é bem anterior ao nascimento de Russell, é lógico que ele copiou o símbolo e o adaptou ao seu movimento religioso. Contudo, como obteria permissão ou faria jus a isso? Uma forma poderia ser tendo obtido o mais alto grau da Maçonaria. Todavia, ela não é a única entidade a fazer uso deste e de outros símbolos. Examinemos também os símbolos de uma outra sociedade mística, os Rosacruzes. Há uma polêmica quanto à sua real srcem. Uma corrente histórica atribui o nome da ordem ao seu suposto fundador, Christian Rosenkreutz (1378-1484). Cronologicamente, porém, a ordem Rosacruz é mencionada pela primeira vez na Alemanha, no século 12. Eis alguns de seus símbolos:

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Aqui, mais uma vez, distinguimos a cruz coroada. Em face do exposto, não nos resta senão concluir que ela NÃO é apenas o 'símbolo decorativo' que a Sociedade Torre de Vigia menciona no livroProclamadores, mas trata-se de um emblema do mais profundo teor esotérico, místico e espiritualista. E não é exclusivo da Maçonaria ou do Rosacrucianismo, mas tem papel destacado também na feitiçaria e em seitas místicas menores. Para exemplificar, encontramos um interessante achado na capa de um dos livros deMary Baker Eddy (1821-1910), fundadora da "Igreja da Ciência Cristã" surgida no mesmo país do movimento de Russell e apenas dois anos antes do nascimento da Sociedade Torre de Vigia. Assim como o 'pastor', ela também foi membro da Igreja Congregacional, antes de fundar a sua própria. Eis o símbolo a que nos referimos:

Novamente surge a cruz coroada diante de nossos olhos. Ao redor dela, em vez dos ramos da Torre de Vigia ou do brasão da Maçonaria, há uma faixa com as inscrições "Curar os Doentes", "Levantar os Mortos", "Limpar os Leprosos" e "Expulsar Demônios". Concluímos assim, que cada instituição preservou o símbolo básico da cruz e da coroa, complementando-o com adereços mais adequados à sua corrente ideológica. Em outras palavras, os 'modismos' da cultura em que se encontram os fundadores de movimentos religiosos incorporam-se à liturgia por eles criada, gerando pontos em comum entre as diversas instituições nascidas de uma mesma época e em um mesmo país, ainda que defendam ideologias distintas, até mesmo conflitantes. Esta tese é consistente com o fato de os diversos movimentos religiosos que ramificaram a partir do Adventismo norte-americano, entre eles o de Russell, terem herdado de seu 'tronco' srcinal a mesmíssima simbologia. Desse modo, indagamos: não deveria afligir a consciência de uma Testemunha de Jeová sincera o fato de o fundador de sua religião e diversos místicos, entre eles Mary Baker Eddy, terem por assim dizer, 'bebido da mesma fonte'?

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A cruz coroada não constitui o único símbolo místico adotado pelas Testemunhas de Jeová. Na verdade, estamos apenas no início de nossa jornada. Chamo agora a atenção do leitor para o topo da capa deA Sentinela de 15/07/1930 (em espanhol):

O leitor poderá ver uma gravura similar napág. 88 do livro Proclamadores. Vemos, à esquerda, nossa velha conhecida, a cruz coroada, e, à direita, um elmo medieval à frente de armas, uma espada, um machado e um bastão. Não é difícil determinar Templários, a srcem deste símbolo.medieval Trata-se que de um emblema dadeu Ordem Cavaleiros sociedade supostamente srcemdosà Maçonaria. Em uma visita a dois sites dos Cavaleiros Templários, inclusive o do Tennessee , EUA, encontramos as seguintes figuras:

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Chamo a atenção do leitor também para o símbolo maçônico abaixo:

Vemos uma rara representação da cruz coroada e da armadura medieval juntas num mesmo emblema (entre elas, a conhecida "cruz de Constantino"). Assim como a Maçonaria, o 'pastor' Russell usava ambas, elas apareciam na capa de seu principal periódico, a conhecida revista A Sentinela. O símbolo da armadura York representa altas os honrarias maçônicas, alto nível do orito de e o 33ºtotal Graue o do rito escocês, quais indicam que o mais indivíduo atingiu conhecimento domínio total do rito. Corresponde à máxima glória à qual um maçom pode almejar. Teria Russell alcançado o título de 'venerável'? É difícil crer que um leigo tivesse tanta familiaridade com estes símbolos esotéricos e sua profunda relevância na liturgia de sociedades místicas e religiosas. É deveras estranho que se selecione como 'decoração' o conjunto dos mais gloriosos símbolos esotéricos ao mesmo tempo em que se nega um vínculo com as instituições que lhes deram srcem. Por outro lado, se admitirmos a iniciação de Russell na Maçonaria, conforme expresso por ele próprio, tudo fica muito claro. Prossigamos em nossa incursão pelos significativos símbolos já usados pela Sociedade que ele fundou...

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Trataremos agora de um símbolo bem menos conhecido entre as Testemunhas de Jeová, porém não menos importante. O 'pastor' Russell produziu, entre os anos de 1886 e 1904, seis volumes de uma obra denominadaMillennial Dawn (Aurora do Milênio) mais tarde chamada Studies in the Scriptures (Estudos das Escrituras). Estes compêndios tinham para os então 'Estudantes da Bíblia' significado equivalente ao que o 'Livro de Mórmon' deJoseph Smith (1805-1844) tem para os Mórmons ou os escritos deHelen Gould White (1827-1915) tem para os Adventistas do Sétimo Dia. Tal obra era sua 'bússola' espiritual, seu guia para o entendimento correto das escrituras sagradas. Isto é facilmente comprovado pela simples consulta a um artigo na edição deA Sentinela de 01/12/1916, segundo o qual ninguém poderia entender a Bíblia sem a orientação desses livros (Estudos das Escrituras) e que a leitura exclusiva deles era preferível à leitura direta da Bíblia. Pois bem, o leitor poderá encontrar uma foto da coleção do 'pastor'Russell na pág. 52 do livro Proclamadores. Aqui reproduzimos o volume 3, ao mesmo tempo em que solicitamos ao leitor que procure reparar em cada detalhe da capa do livro:

Concentremo-nos na figura abaixo do título Thy Kingdom Come, consiste em uma lâmpada oriental sobre uma Bíblia. Será mais um símbolo 'decorativo'? A um leigo, talvez. Contudo, em outra visita a um site dos Rosacruzes, fizemos mais uma interessante descoberta:

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Sim, eis novamente o símbolo da lâmpada oriental, também encontrado na Maçonaria. É usado como simples adorno? Longe disso! Trata-se de umsímbolo de iniciação, relacionado à expressão "A luz vai aumentando graças ao Livro Sagrado", palavras bem familiares às Testemunhas de Jeová, de acordo com sua aplicação de Provérbios 4:18. Este entendimento serve de alicerce para a tese das assim chamadas 'novas luzes', ou seja, as mudanças doutrinárias observadas ao longo da história deste movimento religioso. Mais umabruscas vez constatamos a notável familiaridade de Russell com os símbolos esotéricos da Maçonaria. Seria apenas uma coincidência?

Há pouco mencionei a obra 'Estudos das Escrituras', da autoria de Russell. Em 1917, foi lançado um volume póstumo intituladoThe Finished Mistery (O Mistério Consumado), obtido das anotações do 'pastor' e elaborado por Clayton Woodworth, ninguém menos que o editor da famosa revista Golden Age ('A Idade de Ouro'), predecessora conhecida Despertai!. .Com O leitor poderá de encontrar a foto dessa obradanamundialmente pág. 88 do livro Proclamadores a mudança nome de 'Aurora do Milênio' para 'Estudos das Escrituras' também houve alterações na capa. Neste momento, peço mais uma vez, a atenção do leitor para os detalhes encontrados nela:

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Observamos, no centro da capa, o 'disco solar alado'. Ele se encontrava na capa de todos os volumes de 'Estudos das Escrituras', tendo sido adotado pela Sociedade Torre de Vigia por volta de 1911. Na própria gravura do livro Proclamadores, mencionada acima, o leitor poderá observar a obra Pastor Russell´s Sermons (Sermões do Pastor Russell), a qual também continha o símbolo de que ora tratamos. O que poderia ser? Outro símbolo 'decorativo'? Absolutamente não! Na verdade, o 'disco alado' é uma representação egípcia do deus-sol Amon-Rah. Contém algum significado para as entidades que estudamos até agora? A resposta é sim. Eis algumas imagens colhidas dos templos rosacruzes e maçônicos:

À esquerda e à direita, vemos duas representações do 'disco solar alado', juntamente com as iniciais "AMORC" (Antiga e Mística Ordem Rosa Cruz). Ao centro, um amuleto maçônico exibindo o mesmíssimo símbolo esotérico. Suas raízes remontam à mitologia egípcia, sendo posteriormente incorporado à mitologia babilônica como representativo da deidade de nomeAhura Mazda. Os 'Estudantes da Bíblia' remanescentes preservam tal símbolo até a atualidade, fiéis que são à doutrina russellita. Além dos maçons, dos rosacruzes e dosrussellitas, os adoradores de "Lúcifer" também vêem no disco alado grande significado. Examinemos a trajetória de um deles...

Edward A. Crowley (1875-1947) mais conhecido como Aleister Crowley, um inglês que se tornou famoso por sua obra ocultistaThelema, entrou em contato com a Maçonaria no início do século 20, tendo exercido forte influência sobre ela. Fascinado pelo esoterismo desde tenra idade, ele veio a tornar-se uma espécie de ícone entre os promotores do ocultismo. Até hoje seu nome é símbolo de mistério e magia. Crowley era, entre outras coisas, adepto do rosacrucianismo e satanista declarado tendo estabelecido ordens místicas que persistem até a atualidade. Certas bandas de rock pesado têm, nas últimas décadas, expresso publicamente sua submissão espiritual a ele e retratam seus símbolos nas capas dos discos. Coube a ele consagrar o culto ao 'disco solar alado' nos templos que freqüentava, assim como coube a Russell introduzir o mesmo símbolo na comunidade dos 'Estudantes da Bíblia'. Na liturgia maçônica, Crowley é considerado como 'filho espiritual de

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Albert Pike ', tendo sido um dos fundadores da "Ordem Templária do Oriente". Segundo um membro da "Ordem Rosacruz", o símbolo do deus Amon-Rah, cultivado pelo místico inglês, representa um caminho de êxito para as 'obras' da entidade, estando presente em todos os seus templos. Pelo visto, os rosacruzes não eram os únicos, pois os 'Estudantes da Bíblia' também davam destaque a ele em sua literatura. Muito embora o 'pastor' Russell e o 'mago' Crowley jamais tenham se conhecido pessoalmente, é bastante significativo e ao mesmo tempo, inquietante para uma Testemunha de Jeová, que eles compartilhassem, na mesma época, o gosto por certos símbolos ocultistas. Ambos eram fascinados pelos segredos egípcios.

Aleister Crowley - pontos em comum comC.T. Russell Transportemo-nos agora para os tempos do ministério deRussell. Caso um leitor dos livros dele visitasse um templo Rosacruz ou mesmo a sala egípcia da Grande Loja Maçônica da Pensilvânia teria diante de si um cenário familiar:

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O visitante, ao fitar o símbolo na parte superior deste altar, provavelmente lembraria de já tê-lo visto em algum lugar. De fato, encontrava-se na capa de seu exemplar de 'O Mistério Consumado', o qual talvez estivesse conduzindo sob o braço. Como foi parar lá?, talvez se perguntasse. Bem, sabe-se que o 'disco solar alado' não pode ser usado indiscriminadamente por qualquer pessoa, sem permissão expressa. Afinal de contas, é um símbolo mais cultuado do que a própria cruz coroada, sendo exclusivo daqueles que alcançam o mais elevado nível espiritual da Ordem Rosacruz. TeriaRussell selecionado tais símbolos ao acaso? Ou as informações obtidas até aqui são mais consistentes com a hipótese de alguém plenamente iniciado nos ritos esotéricos? Até mesmo na atualidade ainda restam vestígios deste passado comprometedor. Observemos a foto abaixo:

Reconhece o leitor símbolo no centro desta fachada? Sim, hodiernas? é o 'disco Bem, solar alado'. Mas o que isso otem a ver com as Testemunhas de Jeová trata-se de um antigo cinema em Queens, New York, adquirido pela Sociedade Torre de Vigia e que tem servido por anos como salão de assembléias.Raymond Franz, ex-membro do corpo governante das Testemunhas de Jeová, menciona em sua obra In Search of Christhian Freedom (Em Busca de Liberdade Cristã), pág. 274 e 275 um curioso incidente relacionado com esse edifício:

"Eu me recordo que quando a Sociedade Torre de Vigia adquiriu um antigo cinema em Queens, New York, para uso como salão de assembléias, o cinema era cheio de antigos motivos egípcios... Quando a Sociedade restaurou o prédio, todos esses itens permaneceram intocados... Após alguns anos, uma irmã da República Dominicana... ficou chocada com os símbolos pagãos e expressou-me seu desapontamento, dizendo que ela nunca teria aprendido o significado dessas coisas se não fosse das próprias publicações da Sociedade... Eu me senti obrigado a escrever para o Presidente Knorr... [Ele] veio ao meu escritório e discutiu a matéria, dizendo que eram decorações eu dissepois, a eleseque... nós tínhamos a obrigação de nos preocupar com simples o efeito adverso sobre...outros, nós estabelecemos um padrão específico para as pessoas, então elas têm o direito de esperar que nós próprios vivamos segundo ele... Como eu já tinha percebido em tantos casos, os

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estridentes apelos às Testemunhas 'nas fileiras', subitamente, tornavam-se capazes de grande afrouxamento quando os interesses da própria organização estavam envolvidos." O depoimento acima é bastante revelador. Primeiro, mostra que os dirigentes da Sociedade estavam plenamente cientes da existência, no edifício adquirido para servir como local de reuniões cristãs, de muitos símbolos pagãos, os mesmíssimos usados pela organização no passado e agora repetidamente condenados em sua literatura. Segundo, que nada fizeram para removê-los por ocasião da restauração do prédio e, terceiro, que insistiam na frágil tese da 'decoração', a mesma utilizada para justificar o envolvimento das Testemunhas de Jeová, por décadas, com símbolos hoje classificados como 'satânicos'.

Ela é a própria marca registrada das Testemunhas de Jeová, pois consta de seu selo e publicações até hoje e faz parte de seu próprio nome como instituição oficial, Sociedade Torre de Vigia. A entidade possui um logotipo em forma de torre, cabendo sanções civis sobre aqueles que o utilizarem sem sua permissão. Trata-se de apenas mais um símbolo 'decorativo', sem qualquer conexão com o paganismo? A resposta é, novamente, não! Os autores da publicação Proclamadores reconhecem que o uso religioso da torre é muito anterior a Russell:

"A expressão Torre de Vigia não é exclusividade dos escritos de Russell nem das Testemunhas de Jeová. George Storrs publicou um livro na década de 1850 intitulado The Watchtower... [A Torre de Vigia...]. Esse nome foi também incorporado no título de vários periódicos religiosos..." Proclamadores, pág. 48. O autor citado nesta nota, George Storrs, foi amigo pessoal e colaborador do 'pastor' Russell, tendo exercido grande influência sobre ele (conforme é admitido na mesma obra, em um quadro da página 46). Também é digno de nota queStorrs tenha sido uma das figuras mais importantes do Adventismo norte-americano, bem como adepto da Ordem Rosacruz. Embora não sejam citadas, as publicações dos Rosacruzes e dos Maçons certamente estão entre os 'periódicos religiosos' mencionados pelo livro Proclamadores, fato que facilmente poderia passar despercebido pelo leitor desta lacônica nota de rodapé. Por exemplo, vejamos o que diz a obra Dicionário da Franco-Maçonaria (Daniel Ligou, 1987, página 1181, em espanhol):

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"Torre de Vigia, Símbolo próprio da franco-maçonaria de pedra (torre redonda) e de madeira (torre quadrada ou poligonal)... A Torre representa a Palavra e tem um significado especialmente radiante. A luz brota de maneira circular e em todos os planos..." Curiosamente, o texto acima parece descrever com precisão o facho de luz que emana da torre de vigia representada na capa da revistaA Sentinela por cerca de 40 anos (de 1891 a 1931). Castelos e torres medievais, juntamente com armaduras, também fazem parte dos símbolos templários, conforme mostram algumas ilustrações, colhidas de sites ligados ao tema. É importante lembrar que a Ordem Templária é considerada precursora da Maçonaria. Observemos as figuras abaixo:

Vemos, à esquerda, a figura de um cavaleiro lendário em meio a uma paisagem sombria, onírica, com um castelo medieval ao fundo site ( dos cavaleiros templários); centro, atambém capa deem A Sentinela de 15/07/1930, gravura de uma torreno medieval um cenário sombrio, comconsistindo janelas emna forma de cruz, e à direita, um brasão franco-maçônico no qual estão representadas diversas torres de vigia, em um padrão quase idêntico ao da capa da revista. Mera coincidência? Observemos agora duas outras figuras:

À esquerda, o logotipo atual da Sociedade Torre de Vigia; à direita, as ruínas de um castelo templário, na Itália. É possível, a esta altura, negar a grande similaridade entre certos símbolos esotéricos (medievais e maçônicos) e aquele

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adotado pela organização central das Testemunhas de Jeová e mantido (com algumas alterações) até hoje? Um passatempo bem comum entre nós, o jogo de xadrez, também tem sua srcem nos temas medievais: rei, rainha, bispo, cavalo e, naturalmente, a torre. Nesse caso, de quem o 'pastor' Russell teria tomado emprestados o símbolo e o nome 'torre de vigia', dos Adventistas ou dos Maçons? Ele aparentava ter intimidade com ambos.

Russell era homem extremamente criativo. Todavia, não foi srcinal em muitas de suas idéias e superstições. Um exemplo clássico era sua fascinação por pirâmides. De quem a teria herdado? Bem, há duas fontes em potencial: o Adventismo e as sociedades esotéricas. Examinemos cada uma... As pirâmides eram objeto de estudo por parte dos Adventistas, no século 19. Em 1876, o professor C. Piazzi Smyth, um astrônomo e piramidólogo angloisraelita, publicou um artigo sobre a piramidologia no periódico Bible Examiner, de George Storrs, o associado de Russell que mencionamos há pouco (Proclamadores, pág. 46). Algum tempo depois, o próprioStorrs escreveu artigos sobre esse tema no periódico Herald of Life and the Coming Kingdom (Arauto da vida e da Vinda do Reino). Não é difícil deduzir que ele e o 'pastor' compartilharam o estudo dessa matéria, pois o próprio Russell, dedicaria, em 1897, todo o capítulo 10 do volume III de Studies in the Scriptures (Estudos das Escrituras) ao significado das medidas da Pirâmide de Gizé quanto ao cumprimento das profecias bíblicas. Já publicamos uma foto dessa obra neste artigo, no tópico 'A Lâmpada Oriental'. O livro Proclamadores na pág. 201, faz uma confissão do envolvimento de Russell com a piramidologia, muito embora procure atenuar a importância do fato por classificá-lo como um simples 'pensamento' dele por 'apenas' 35 anos. Mas, era realmente assim, um 'pensamento'? Ou era uma doutrina fundamental? Afinal, quanto destaque se deu a piramidologia no movimento das Testemunhas de Jeová em um período, durante o qual se diz que Jesus Cristo estava a examiná-lo e aprová-lo? Este é o nosso próximo enfoque. Conforme mencionei anteriormente, foi apenas na última década do século 20 que a Sociedade Torre de Vigia exumou alguns capítulos embaraçosos de sua história, por meio da obra Proclamadores (1993), ainda assim, de uma forma bastante sucinta e por meio de eufemismos, como já comentei. Entretanto, após o tema 'piramidologia' ser continuamente esmiuçado na internet, em forma de

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denúncias, a organização julgou conveniente abordar mais uma vez o 'romance' entre Russell e as pirâmides. Ante a impossibilidade de negar os fatos, amplamente apoiados em provas documentais, criou-se uma versão piedosa dos mesmos, colocados em um contexto de 'purificação espiritual'. Vejamos o que diz este curioso artigo em A Sentinela de 01/01/2000, pág. 09 :

"Em 1886, quando C. T. Russell publicou um livro que passou a ser chamado ‘O plano Divino das Eras’, este livro continha uma tabela relacionando as eras da humanidade com a Grande Pirâmide do Egito. Pensava-se que este monumento do faraó 'kufu' [Quéops] fosse a coluna mencionada em Isaías 19: 20... Que relação podia ter uma pirâmide com a Bíblia? Ora, por exemplo, pensava-se que o comprimento de certas passagens na Grande Pirâmide indicava o tempo do começo da 'Grande Tribulação' de Mateus 24:21, conforme se entendia então. Alguns Estudantes da Bíblia ficaram absortos em medir certos detalhes da pirâmide para descobrir assuntos tais como o dia em que iriam para o céu!" Mais uma vez os autores preferem a palavra 'pensamento', ao invés de 'ensino' ou 'doutrina'. Também o sujeito das orações é omitido ou obscurecido em alguns trechos pelas expressões "pensava-se" ou "entendia-se", um recurso já consagrado pelas publicações das Testemunhas de Jeová ao abordarem partes indesejáveis de sua história. Quem 'pensava'? Quem 'entendia'? A resposta é uma só, A ORGANIZAÇÃO, O ‘DITO’ ESCRAVO FIEL E DISCRETO! E não só entendia como ensinava. Vejamos agora a tabela à qual o artigo se refere:

Conforme mostra a figura,Russell criou um elaborado diagrama esotérico para a interpretação das profecias bíblicas. Ele pode ser visto na pág. 162 do livro Proclamadores. Curiosamente, o texto ao redor da figura faz referência a ela sem dar uma só palavra sobre o significado do desenho em forma de pirâmide. Deveras, seria embaraçoso fazê-lo, pois nada representa tão bem a fusão da escatologia adventista com os símbolos maçônicos quanto esta tabela.

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O artigo de janeiro de 2000 faz referência ao primeiro volume de 'Estudos das Escrituras', publicado em 1886, o qual continha o diagrama acima. Em 1897, o recém-lançado terceiro volume (Venha o Vosso Reino) foi mais longe ainda, chamando a Pirâmide de Quéops de 'Testemunha de Jeová' (pág. 320), mais de 30 anos antes de J. F. Rutherford, o sucessor de Russell, ter adotado este nome para os então 'Estudantes da Bíblia'. Todavia, o fascínio pelas pirâmides não pararia por aí. Em 1915, foi publicada pela organização uma obra de 438 páginas, quase homônima ao volume 1 The Divine Plan of Ages as Shown in the Great Pyramid ("O Plano Divino das Eras Como Mostrado na GRANDE PIRÂMIDE" ), provavelmente de autoria deMorton Edgar, uma edição de visual mais atraente do que o primeiro volume de Russell e totalmente inspirada no livro dele. Eis a capa:

Aqui, novamente, distinguimos a figura de uma pirâmide. Seria justificável o lançamento de mais um livro sobre o tema, caso se tratasse apenas de um 'pensamento' individual de Russell? A propósito, o estudo das pirâmides estava entre as 'verdades preciosas' em comum com os 'irmãos maçons', diante dos quais o 'pastor' discursou em 1913. Em 1914, se uma pessoa comparecesse ao 'Fotodrama da Criação'Proclamadores ( , pág. 56 e 57), veria, em um dosslides, a seguinte imagem:

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Trata-se da esfinge egípcia, tendo ao fundo a Grande Pirâmide de Gizé. A essa altura, é desnecessário frisar a importância destes monumentos para o 'pastor' Russell. Caso a pessoa, em seguida, entrasse em um templo Rosacruz ou maçônico, se depararia com o seguinte cenário:

Percebe o leitor a similaridade? Não parecem as duas imagens provir de um mesmo ambiente? No entanto, a primeira imagem era exposta ao público como 'alimento espiritual' oriundo do cristianismo, livre de contaminações pagãs. Até mesmo na arquitetura da Sociedade Torre de Vigia podemos encontrar indícios de seu passado envolto em piramidologia. Observemos a foto abaixo:

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Este prédio foi construído em 1927 por J. F. Rutherford . Se repararmos bem, notaremos, no alto da fachada, uma série de adornos em forma de pequenas pirâmides. Seria apenas uma coincidência? Para concluirmos este tópico, apresentaremos a prova definitiva do profundo envolvimento de Russell com a piramidologia. Trata-se de seu túmulo:

Este maciço monumento em forma de pirâmide jaz ao lado dos restos mortais de C. T. Russell há mais de 80 anos. Contém o nosso já conhecido símbolo da cruz coroada, bem como o nome 'Sociedade Torre de Vigia de Bíblias e Tratados'. Saberia o leitor identificar as edificações ao fundo? Pois se trata do grande complexo maçônico de Pittsburgh. Ao que tudo indica, não poderia haver vizinhança mais apropriada. Uma pirâmide de pedra era, inquestionavelmente, uma homenagem honrosa para o 'pastor' Russell, pois, em vida, nenhum outro objeto esotérico exerceria tanto magnetismo sobre ele, tendo-o motivado, inclusive, a viajar milhares de quilômetros para conhecer pessoalmente a Grande Pirâmide de Gizé . Eis as fotos dessa tour mística, realizada em 1912:

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Na primeira foto, vemos Russell e sua comitiva defronte ao grande monumento egípcio, a 'bíblia de pedra' como era chamado. Na segunda foto, o 'pastor' recebe ajuda ao escalar os degraus da Grande Pirâmide. Após sua peregrinação a este lugar 'sagrado', ele aproveitou a ocasião para proferir seu célebre discurso "Uma Testemunha de Deus - a Grande Pirâmide do Egito", publicado emA Sentinela de junho de 1912. Suas palavras devem ter tido forte efeito sobre aqueles de seu tempo. Russell apegou-se ferrenhamente a tal crença até sua morte, em 1916. O monumento fúnebre no CemitérioRosemont (em Pittsburgh) preservou no tempo a 'marca registrada' do russellismo, resistindo até hoje como prova evidente dela. Ante o peso das evidências, a organização defende-se por enfatizar que abandonou a piramidologia em 1928, o que é verdade. Contudo, é difícil aceitar de acordo com a doutrina atual das Testemunhas de Jeová que, durante o assim chamado período de inspeção de Jesus Cristo (1914 - 1918), tenha ele dado seu 'carimbo' de aprovação aos 'Estudantes da Bíblia', fazendo 'vista grossa' a um envolvimento tão patente com aquilo que a organização hoje chama de 'satânico'.

A postura do 'pastor' Russell para com a astrologia era um tanto contraditória. Muito embora não a advogasse explicitamente (e até a contestasse) ainda assim, lançou mão, em certas ocasiões, de um linguajar tipicamente astrológico. Não era uma coisa rara entre os adventistas, com os quaisRussell associou-se regularmente. Um exemplo clássico desse período se encontra na revista Zion's Watchtower (Torre de Vigia de Sião) de 01/05/1903, págs. 130 e 131 (em inglês): “Nós questionamos seriamente todas as declarações da astrologia; ainda assim, o que se segue - qualquer que seja a fonte das sugestões, até mesmo do próprio adversário parece marcadamente verdadeiro quanto às nossas expectativas baseadas na Palavra do Senhor. Apenas por essa razão nós o publicamos como segue:... Quando Urano e Júpiter se encontrarem no signo benigno de Aquário em 1914, a era há muito prometida terá tido um belo começo na obra de libertar os homens na busca de sua própria salvação e assegurará a realização final dos sonhos e ideais de todos os poetas e sagas da História."

Aqui, vemos o uso das posições astrológicas como instrumento de persuasão quanto à correção dos cálculos deRussell, os quais apontavam para a presença de Cristo desde 1874 e para 1914 como a data do 'fim do mundo'. É também digno de nota que o 'pastor', mesmo reconhecendo que tais declarações podiam provir do 'adversário' (presumivelmente, o diabo) ainda assim, tenha se sentido à vontade para publicá-las simplesmente por estarem em sintonia com suas 'expectativas'. Nesse caso, indagamos: se o leitor examinasse um artigo falando do "signo benigno

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de Aquário" e das posições de 'Urano' e 'Júpiter', teria alguma dúvida quanto à natureza do assunto? Não encontramos tais expressões até hoje nos horóscopos? Entretanto, isso não é tudo... Caso uma pessoa comparecesse ao 'Fotodrama da Criação', veria o seguinte quadro:

Neste slide vemos representadas todas as posições do zodíaco. Elas serviam como reforço para as previsões futurísticas deRussell. Na verdade, a escatologia dos 'Estudantes da Bíblia' consistia em um 'tripé', as profecias bíblicas, as medidas da pirâmide e as posições dos astros. O fascínio por estes últimos não terminaria aí. O 'pastor' já havia publicado, anos antes, seu terceiro volume da série 'Estudos das Escrituras'. Nele, Russell citava Joseph Seiss, um pastor luterano adepto da piramidologia e da astrologia o qual publicou, em 1877, a obraO Milagre em Pedra ou a Grande Pirâmide do Egito . A citação dizia:

"Alcyone, então, tanto quanto a ciência tem sido capaz de discernir, pareceria ser 'o trono da meia-noite', no qual todo o sistema de gravitação tem sua base central e de onde o Todo-Poderoso governa o universo.". Qual o significado dessas palavras? Vejamos... Em 1915, a revista Zion's Watchtower de 15 de junho (pág. 185) publicou um artigo mais pormenorizado sobre o tema:

"... a Ciência Declara que há um Centro muito mais poderoso, ao redor do qual estes incontáveis milhões de sóis giram, acompanhados por seus planetas e satélites. Este grande Centro parece estar associado com as Plêiades, particularmente com Alcyone, a estrela

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central desse renomado grupo. Por essa razão, tem se sugerido que Plêiades pode representar a Residência de Jeová, o lugar de onde Ele governa o universo. Este pensamento dá nova força à pergunta que o Todo-Poderoso fez ao patriarca Jó: ' És tu que atas as doces influências de Plêiades, ou soltas os laços de Órion? Podes fazer sair as constelações do zodíaco em suas estações?' Jó 38: 31,32. Parece haver menos estrelas no Norte do que em qualquer outra parte dos céus. De modo que o Norte parece ter recebido uma posição muito proeminente... Nas Escrituras, o Norte parece associado bem de perto ao governo de Jeová sobre a terra." O artigo acima se refere à crença de que Deus habitava uma estrela ( Alcyone) a qual pertencia à constelação de Plêiades. Além disso, um ponto cardeal (o Norte) recebia igual destaque. Como vimos, Russell não foi nada srcinal, tendo tomado emprestadas as idéias de um pastor luterano Joseph ( Seiss) o qual, por sua vez, as obteve de um escritor anterior a ele, Piazzi Smyth, já mencionado em nosso artigo. É interessante que Russell recorresse à Bíblia a fim de reforçar essas teorias. Causoulhe, sem dúvida, enorme empolgação a determinação do 'endereço' de Deus. Anos à frente, em 1925, a edição de 15 de agosto da revista A Idade de Ouro (atualmente Despertai!) afirmaria que a cidade celestial de Sião também estava associada à estrela principal de Plêiades.

"Plêiades" - a 'casa' de Jeová? O sucessor de Russell, J. F. Rutherford, herdou de seu mestre o gosto pelos astros. Uma prova disso foi o artigo que ele lançou já na edição de 10 de setembro de 1924 de A Idade de Ouro (atualmente Despertai!), págs. 793 e 794, o qual dizia:

"... a posição de Plêiades ao tempo da conclusão da Grande Pirâmide do Egito, a 'Testemunha de Pedra de Deus', é uma proeminente característica desta construção no centro da que terranadoregião Egito.dePor essa e está outras razões, os 'Estudantes Bíblia'Setêm boa razão para crer Plêiades localizado o trono de JeovádaDeus... algum lugar no espaço, dentro de Plêiades, é o trono de Deus, então esse grupo é merecedor de nosso mais reverente estudo."

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Aqui são endossadas as idéias do mesmíssimo autor queRussell destacara em seus artigos, Joseph Seiss. Pelo visto, a empolgação com os corpos celestes continuava de vento em popa na sede dos 'Estudantes da Bíblia'. Muito embora Rutherford levasse ainda mais quatro anos para discernir o que outras instituições cristãs há muito já percebiam, o caráter profano da piramidologia, o 'reverente estudo' em torno de Plêiades perduraria por mais trinta anos, até 1953, quando uma publicação da Sociedade Torre de Vigia admitiu que ver uma estrela como o 'trono de Deus' poderia levar a uma 'veneração' pelos corpos celestes. Dessa forma, mais um capítulo embaraçoso da história das Testemunhas de Jeová era selado, mas não para sempre. Toda essa excitação em torno dos astros, por mais de meio século, remete-nos à passagem bíblica em Deuteronômio 4:19:

"Quando levantares os olhos para o céu, e vires o sol, a lua, as estrelas, e todo o exército dos céus, guarda-te de te prostrar diante deles e de render um culto a esses astros..."

Sem dúvida, o dia 31 de outubro de 1916 caiu como uma bomba sobre a comunidade de 'Estudantes da Bíblia'. Naquela data fatídica, seu mestre C. T. Russell exalou o último suspiro a bordo de um trem noTexas. Segundo o livro Proclamadores, pág. 64, um clima de profundo pesar e desorientação abateu-se sobre os membros da Sociedade Torre de Vigia. Era compreensível, pois, conforme diz o próprio livro, "durante toda sua vida Russell tinha sido 'a Sociedade'". De fato, durante décadas o 'pastor' exerceu um autêntico 'papado' entre seus seguidores. Além de ser o acionista majoritário da Sociedade, portanto, a maior autoridade civil, sua palavra era, em questões doutrinais, sempre a última. Por anos, sua literatura alimentou a crença de que ele era o 'servo fiel e prudente' de Mateus 24:45. Menos de dois meses após sua morte, a edição de 01/12/1916 deA Sentinela, pág. 357, reafirmava tal crença, sendo que sua reimpressão, pág. 6159, foi mais longe ainda, comparando Russell ao apóstolo Paulo. Não eram palavras precipitadas ou emitidas sob forte emoção, pois, sete anos mais tarde, a edição de 01/03/1923 ratificou tais idéias, chamando o 'pastor' de 'escolhido'. Perante tais declarações, não é de admirar que surgisse um desmedido culto de personalidade em torno da pessoa de Russell. Evidentemente, um rebanho órfão, carente da figura de seu líder, precisava de um consolo. Este não tardaria a vir.

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Já no ano seguinte ao óbito de Russell (1917) a famosa publicação The Finished Mistery (O Mistério Consumado), em suas páginas 144 e 256, trouxe as emocionantes palavras: “Este verso (Revelação 8:3) mostra que, embora o Pastor Russell tenha transposto a cortina [ou morrido], ele ainda está dirigindo cada aspecto do trabalho de colheita... Nós sustentamos que ele supervisiona... o trabalho a ser feito”.

Perceba o leitor que o texto não faz uso de retórica. O autor não diz que o "ânimo", o "espírito empreendedor" ou a "coragem" do falecido estavam entre os 'Estudantes da Bíblia' ou que estes se entregavam ao seu ministério com o mesmo "zelo", "diligência" ou "à moda de seu líder". Não, o comentário é feito no tempo presente e na terceira pessoa, 'ele'está, 'ele' supervisiona. E não foi uma declaração isolada. No mesmo ano, a edição de 01 de novembro de A Sentinela (pág. 6161, reimpressão) ratificaria esta crença: “Então nosso querido Pastor, agora em glória [morto], está, sem dúvida alguma, manifestando profundo interesse no trabalho de colheita, e Deus lhe permite exercitar uma forte influência em razão disso.”

Aqui vemos palavras praticamente idênticas, no mesmo tempo e na mesma pessoa. Não Deus, mas Russell 'está manifestando profundo interesse'. Não sua mensagem, mas ele exerce 'forte influência'. Cremos que o texto não deixa margem para se evocar o uso de uma metáfora. Nem seria preciso, pois, ambas as declarações estavam de pleno acordo com a crença da época, de queRussell, imediatamente após sua morte, seria arrebatado ao seio de Jesus Cristo, afinal ele era um 'escolhido'. Uma prova concreta disso pode ser vista até hoje na inscrição gravada em seu monumento fúnebre em forma de pirâmide:

Ao lado do tradicional símbolo da cruz coroada, os dizeres Risen with Christ (Levantado com Cristo). Portanto, o entendimento era: Russell vivia no plano espiritual e exercia influência direta nas ações da comunidade de 'Estudantes da Bíblia'. Nesse caso, um Testemunha de Jeová poderia se perguntar: qual é,

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essencialmente, a diferença entre essa crença e a crença espírita de que os mortos estão ativos no mundo espiritual e participam nas atividades dos vivos? Ou a crença católica de que os 'santos' podem intermediar entre os cristãos e Deus? Este não é o único incidente envolvendo a Sociedade Torre de Vigia e as crenças relativas ao mundo dos espíritos. Seu segundo presidente J. F. Rutherford teve uma gestão marcada por reviravoltas doutrinárias e artigos polêmicos, alguns dos quais provocaram sucessivos 'rachas' no movimento, o que suscitou a mudança de nome da entidade para 'Testemunhas de Jeová', em 1931. Rutherford, gradualmente, transferiu para si, senão o prestígio, no mínimo a autoridade que por anos era exclusiva do falecido 'pastor'. Deveras, durante sua presidência, coube apenas a ele a prerrogativa de legislar sobre questões doutrinais maiores. O compêndio The Messenger (O Mensageiro), de 21/07/1931, estampou fotos deRutherford e, no rodapé, o título de 'líder visível' dos 'Estudantes da Bíblia', uma honraria que só não superava a de seu antecessor. Coube a ele a tarefa de negar a crença anterior sobre as 'atividades' do morto Russell:

"Ninguém da companhia do templo seria tão tolo ao ponto de concluir que algum irmão (ou irmãos) que em alguma época esteve entre eles, e o qual morreu e foi ao céu, está agora instruindo os santos na terra e dirigindo-os em sua obra." Jehovah (1934), p. 191 (em inglês) Aparentemente, a organização chocava-se agora frontalmente com os ensinos que ela própria advogou fervorosamente, anos antes. Se os 'Estudantes da Bíblia' tinham sido 'tolos', quem os induzira a agir assim? Contudo, este entendimento não permaneceria para sempre intacto. Em 1989, a publicaçãoRevelation - Its Grand Climax is at Hand! (Revelação - Seu Grande Clímax Está Próximo!), pág. 125, afirmaria:

"É apropriado que, então, aquele entre os 24 anciãos, representando ungidos já no céu, instigasse o pensamento de João... (Revelação 7: 13, 14a) Sim, aquele ancião poderia encontrar a resposta e dá-la a João. Isto sugere que os ressuscitados do grupo dos 24 anciãos podem estar envolvido s na comunicação de verdades divina s atualmente ." Ao que tudo indica, desde 1989, considerar que alguém que morreu e foi ao céu esteja se comunicando com os vivos não é mais tão 'tolo' assim... A exemplo de seu antecessor,Rutherford era homem de mente fértil. Coube a ele introduzir não só o nome, como a maioria das crenças atuais das Testemunhas de Jeová, diversas delas em choque frontal com o que ensinava o 'pastor' Russell. De onde provinha tal 'conhecimento'? Deixemos que o próprioRutherford responda:

"O Juiz Rutherford fala, não a opinião dele, nem a de ninguém." A Idade de Ouro de 28/3/1934, pág. 396

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"Sem dúvida, o Senhor usa seus anjos para fazer com que a verdade seja publicada em A Sentinela... Certamente, Deus guia seu povo pactuado por usar os santos anjos para levar sua mensagem a ele”. A Sentinela de 01/02/1935, pág. 41 Esta declaração apresenta um nítido contraste com o ensino que o Espírito Santo (não os anjos) serviria de 'ajudador' aos cristãos (João 14: 26). Bem deixemos, novamente que o próprio Rutherford explique o ponto:

"Por seu espírito, o espírito santo, Jeová Deus guia ou lidera seu povo até um certo tempo, e assim ele fez até o tempo em que 'o confortador' foi retirado ... em 1918." Preservação (1932), págs. 193 e 194 ...1918... naquele ano o Senhor Jesus chegou ao templo de Jeová Deus. O espírito santo, o qual tinha sido o guia do povo de Deus, tendo cumprido suas funções, foi retirado ..." Salvação (1939), págs. 216 e 217 "Ao invés dos servos serem impelidos à ação pela operação do espírito santo como ajudador, as Escrituras parecem ensinar claramente que o Senhor instrui seus anjos sobre como agir e eles agem sob a supervisão do Senhor, conduzindo o restante na terra no que diz respeito à linha de ação a tomar”. A Sentinela de 01/09/1930, pág. 263 "Estes anjos são invisíveis aos olhos humanos e estão lá para levar as ordens do Senhor. Indubitavelmente, eles primeiro ouvem a instrução que o Senhor lança ao seu restante e então os mensageiros invisíveis passam tal instrução ao restante." Vindicação III (1932), pág. 250 "Deus usa anjos para instruir seu povo agora na terra" A Idade de Ouro de 8/11/1933, pág. 69

Estava claro, os anjos serviam agora de mediadores entre Deus e a Sociedade Torre de Vigia. Até 1930, a organização ensinava que apenas o espírito santo podia prover o entendimento das escrituras, porém, desse ano em diante, a iluminação supostamente provinha dos anjos. Contudo, QUEM estava à frente dos ensinos que eram divulgados naquele tempo? Quem os redigia? A resposta é uma sóJ. F. Rutherford. Isso não se pode negar, pois todos os livros dessa época levam a assinatura dele. Somos obrigados a deduzir, então, que os anjos revelavam as 'verdades' a ele e apenas a ele. Como prova deste ponto, vejamos o que dizia a revista A Idade de Ouro de 02 de Setembro de 1931, pág. 793 : “Todo leitor de A Idade de Ouro sabe que nós consideramos os livros do Juiz Rutherford

os mais importantes do mundo."

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Fariam sentido tais palavras se as Testemunhas de Jeová não cressem que os escritos de seu presidente provinham de uma fonte superior, sobrenatural? Estava ou não envolvida a comunicação com o mundo espiritual?

J. F. Rutherford - comunicação com 'anjos'? Vemos assim que Rutherford afirmava não ter a iluminação do Espírito Santo desde 1918, ficando inteiramente dependente da comunicação de anjos. Tais fatos têm levado alguns críticos do movimento das Testemunhas de Jeová a considerar que as declarações de Rutherford faziam dele (conscientemente ou não) ummédium espírita, afinal de contas, a comunicação com anjos é parte integrante da liturgia do espiritismo, o qual vê os anjos como espíritos superiores, iluminados. Todavia, o livro Proclamadores, pág. 708, diz:

Aqueles que compõem a única genuína organização cristã hoje não recebem revelações angélicas nem santo inspiração de seu espírito ." divina... Jeová os conduz ou guia a esse entendimento por meio Em outra publicação (Despertai! 22/05/1971, pág. 28, em inglês), a organização acrescenta:

"Sim, a Bíblia mostra que não há apenas anjos bons, mas também iníquos."

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Todas essas contradições certamente suscitam as seguintes questões: a) Se o espírito santo de acordo com a doutrina atual das Testemunhas de Jeová é o responsável pela revelação da palavra de Deus e, tendoRutherford declarado que este mesmo espírito havia sido removido desde 1918, entãoquem guiou a Sociedade Torre de Vigia entre os anos de 1918 e 1942? b) Se foram anjos que transmitiram informações ao segundo presidente da organização, então que espécie de anjos eram esses, os 'bons' ou os 'iníquos'? c) Se atualmente é o espírito santo que guia a Sociedade Torre de Vigia, mas de acordo com os artigos da década de 30 ele havia sido removido em 1918, então por que ele se retirou e quando foi que retornou? d) Afinal, quem era Rutherford, um iluminado, um lunático ou um impostor? Declarações exóticas não eram exclusividade do segundo presidente da Sociedade Torre de Vigia. Nesse respeito, ele tinha companhia à altura, a saber, a pessoa a quem ele nomeou para editor da revista A Idade de Ouro em 1919 o Sr. Clayton Woodworth, o qual tinha um passado envolto em comunicações com espíritos e possessões demoníacas. Como sabemos disso? Pelo próprio depoimento dele, registrado no compêndio 1913 Convention Report [Relatório da Convenção de 1913], mencionado no início deste artigo: “Eu gostaria de falar a vocês sobre uma coisa que eu certamente jamais pretenderia mencionar nesta convenção. Eu presumo que todos vocês tenham feito o voto; talvez alguns não o tenham feito... Então meus problemas começaram. Eu comecei a orar e a lutar ao meu próprio modo com as Escrituras. Após alguns meses, as Escrituras aparentemente começaram a abrir-se... Houve um tempo, durante cinco noites consecutivas em que eu não dormia; daí, chegou um tempo em que a tensão era demais; minha mente ficou desequilibrada e eu fiquei diretamente sob a influência de espíritos maus, tanto que, por três dias, eu estava completamente sob controle demoníaco, tanto quanto a Sra. Eddy estava quando ela escreveu 'Ciência e Saúde'.

Tais palavras certamente teriam forte impacto sobre a assistência se hoje fossem proferidas em um daqueles depoimentos pessoais realizados nas assembléias das Testemunhas de Jeová. Não era diferente em 1913, isto se pode perceber pela relutância inicial de Woodworth em prosseguir relatando sua experiência. A Sra. Eddy que ele menciona é Mary Baker Eddy, a fundadora da Igreja da Ciência Cristã, a qual também adotava o símbolo da 'cruz coroada'. Pois bem, teria C. Woodworth se 'curado' de suas experiências 'demoníacas' após sua conversão ao movimento 'Estudantes da Bíblia'? Embora uma Testemunha de Jeová hoje prefira crer que sim, faria bem em considerar o que o linguajar dele na literatura da organização

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parece sugerir. Vejamos, por exemplo, o estranho comentário dele no livro The Finished Mistery ['O Mistério Consumado'], em 1917:

"Tem você profunda apreciação por esta obra? Está você convencido que ela é do Senhor preparada sob sua orientação? Tem você, cuidadosamente e com oração, lido os comentários em Revelação 7:1? Então agarre-se à verdade, a qual é propósito de Deus conceder brevemente às mentes de muitos de seus pequeninos até que se abra um campo de batalha, no qual os anjos caídos serão julgados, e a maneira com que enfrentaremos os testes provará nosso merecimento por coroas, ao mesmo tempo em que provará que estes espíritos desobedientes não são merecedores de vida em plano algum. Isso é algo com o qual alguns, mas não muitos, estão familiarizados... sem uma experiência real é praticamente impossível conceber a intensidade de tais lutas... a base do cérebro é presa como em um torno. Interpretações da Escritura, ingênuas, mas desencaminhadoras além de descrição, são projetadas dentro da mente como água que sai de uma mangueira. Visões podem ser experimentadas, maravilhosas iluminações da mente como que por uma suave, mas gloriosa neblina esverdeada ou amarelada. Sugestões sedutoras podem ser feitas, de acordo com as circunstâncias do ambiente. Ofertas de inspiração podem ser feitas. O privilégio de dormir pode ser retirado por dias a fio. Tudo isso com o objetivo de forçar o desgraçado a, pelo menos, uma insanidade temporária... a mente pode ser invadida por pensamentos desprezíveis além da conta. Então lembrem-se do voto." É difícil supor que alguém, em pleno gozo de suas faculdades mentais e completamente sóbrio, emitisse os comentários acima sem por em dúvida sua sanidade ou condição mental. De fato, as palavras de Woodworth parecem psicodélicas e realmente atestam a natureza de suas experiências pessoais. Como uma de Jeová receberia hoje palavraspróprias se fossem emou um artigoTestemunha de A Sentinela ? Consideraria comotais normais, dopublicadas cristianismo prontamente as identificaria como contaminadas com ocultismo? Os comentários de Woodworth sobre Revelação 7:1 são, na verdade, uma referência a artigos do 'pastor' Russell, publicados em exemplares de A Sentinela datados de 1911 e 1914 e diziam respeito aos dramáticos acontecimentos previstos para aquela época. Uma das citações dizia:

"Há apenas um modo, tanto quanto podemos discernir, pelo qual esses anjos caídos podem ter um julgamento, consistindo em ter uma oportunidade mais ampla para pecar, se assim desejarem, ou uma oportunidade para mostrar, caso desejem, que eles estão fartos do pecado e querem retornar à harmonia com Deus... chegamos à conclusão de que o julgamento desses anjos caídos está em um futuro próximo; talvez já tenha começado para alguns." - O Mistério Consumado (1917), p. 124 A doutrina acima é realmente bombástica, pois abre uma perspectiva inimaginável para o cristianismo ortodoxo, a reabilitação de demônios!

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C.J. Woodworth - 'Possessões demoníacas'? Há um episódio que ilustra bem a crença deWoodworth em 'demônios honestos'. Trata-se de um compêndio desconhecido para a maioria das Testemunhas de Jeová hoje em dia, Angels and Women (Anjos e Mulheres), de J. G. Smith, enfaticamente recomendado pela edição de 30/07/1924 deA Idade de Ouro . Consiste, na verdade, em uma revisão de uma obra psicografada em 1878. 'Psicografado' é um termo do vocabulário espírita utilizado para designar um texto ditado por espíritos e escrito por meio de um médium. O revisor da obra era um 'Estudante da Bíblia', identificado na pág. 702 da revista apenas como "um amigo pessoal do Pastor Russell e que estava próximo a ele em seu trabalho". O texto diz: “'ANGELS AND WOMEN' é o título de um livro recém-lançado. É uma reprodução e

revisão foi escrita em muito 1878, einteresse que tratae pediu de condições ao dilúvio.da O novela Pastor'Seola', Russella qual leu esse livro com a algunsanteriores dos irmãos que lessem por causa de sua notável harmonia com o relato das Escrituras sobre os filhos de Deus no sexto capítulo de Gênesis." O que o autor do artigo acima deixou de revelar diz respeito precisamente à srcem do livro. Vejamos o que dizia seu prefácio:

O revisor deste livro é de opinião que o manuscrito srcinal foi ditado para a mulher que o escreveu por um dos anjos caídos, o qual desejava retornar ao favor divino."

Anjos e Mulheres - Obra psicografada

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A doutrina de Russell sobre 'anjos caídos retornando ao favor divino' começava a dar frutos. O editor de A Idade de Ouro, C. Woodworth aderiu tenazmente a este ensino. Este fato, aliado ao seu passado místico, tornou a nomeação dele um fator decisivo na contaminação da literatura da Sociedade Torre de Vigia, décadas à frente, com crenças ocultistas. Deveras, além do endosso a uma obra psicografada, diversas 'terapias' esotéricas como as 'Reações Eletrônicas deAbrams ', a osteopatia e outras 'povoaram' diversos números da revista da qual ele era editor-chefe, A Idade de Ouro. Não tardariam a surgir questionamentos por parte dos leitores das publicações da Sociedade contra aquilo que entendiam como promoção do demonismo. A edição de 03/12/1924 de A Idade de Ouro publica uma interessante troca de correspondências entre a Sociedade e um de tais leitores descontentes. Entre outras coisas, ele dizia:

"Eu fiz algumas indagações e foi-me dito que ['Anjos e Mulheres'] era um livro que um anjo caído ditou a uma mulher, demonstrando o desejo de retornar à harmonia com Deus e que o Pastor Russell aprovou o livro. Eu nunca tinha ouvido falar deste livro antes. Já que nós devemos evitar tudo o que se relacione ao espiritismo, eu gostaria de saber com certeza se o livro tem sua aprovação..." - W. S. Davis, Los Angeles, California Agora a organização não podia mais afirmar que não sabia da srcem do livro. Vejamos a resposta da redação deA Idade de Ouro: “Quanto a ser uma violação do juramento ler este livro, tal idéia não merece consideração. Não seria mais errado lê-lo do que ler 'O que as Escrituras Dizem sobre o Espiritismo' ou 'Falando com os Mortos', pois estes dois livros falam bastante do que os espíritos maus fazem. Muitos têm obtido bastante benefícios a partir da leitura de 'Anjos e Mulheres' porque este ajuda a adquirir uma visão mais clara sobre como Satã logrou anjos e a raça humana, causando estrago entre homens e anjos. O livro ajuda a ter um melhor entendimento da organização do diabo ."

Cremos que as palavras acima dispensam comentários adicionais e servem como poderoso argumento contra as seguintes palavras:

"Já que não praticamos espiritismo, estamos livres da dominação dos demônios" A Sentinela de 15/03/1992, pág. 20 É o caso de perguntar, da dominação dos demônios maus ou dos 'honestos'?

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Nem sempre os leitores insatisfeitos da publicaçãoA Idade de Ouro foram tão solícitos. Sabe-se de, pelo menos, um episódio que teve graves conseqüências. Trata-se do caso de Roy Goodrich, uma zelosa Testemunha de Jeová que, durante a era Rutherford, combateu obstinadamente o endosso da Sociedade Torre de Vigia a 'terapias' e dispositivos, os quais, segundo o entendimento dele, estavam inexoravelmente ligados ao ocultismo. Tudo começou nos anos 20, quando a edição de 22/04/1925 (pág. 454) de A Idade de Ouro apresentou a seguinte matéria:

"...A Biola Eletrônica de Rádio , a qual significa vida renovada por ondas de rádio ou elétrons. A Biola automaticamente diagnostica e trata doenças pelo uso de vibrações eletrônicas." As primeiras décadas do século 20 foram marcadas pelo charlatanismo em assuntos médicos. Toda sorte de 'geringonça milagrosa' ou 'terapia revolucionária' ocupava as páginas da imprensa. Foi a 'era de ouro' dos charlatões e 'magos'. Pois bem, o artigo acima citado representa o endosso da Sociedade Torre de Vigia a uma das terapias esotéricas em moda naquela época. Já na edição de02/02/1921 (pág. 260) de A Idade de Ouro, Clayton Woodworth atribuía a descoberta do elemento radium à revelação dos 'anjos caídos' de que já tratamos neste artigo. Neste artigo, ele chega a afirmar (referindo-se aos demônios) que "até os mentirosos falam, às vezes, a verdade". A seguir, na edição de 23 de junho do mesmo ano (págs. 606 e 607), deu ampla publicidade a uma tal 'almofada rádiosolar', com a qual Rutherford havia se tratado com êxito de uma pneumonia. A partir daí, instalou-se uma busca febril pela nova 'máquina' chamada 'osciloclasto', 'dinamizador' ou 'biola'. Seu inventor, Albert Abrams, lançou a pitoresca teoria das 'Reações Eletrônicas de Abrams' ou ERA, como ficou conhecida. O dispositivo baseado nessa 'teoria' supostamente era capaz de diagnosticar doentes em exame direto ou à distância, pelo uso de uma foto, uma amostra de sangue e coisas assim. Algo semelhante à hidroscopia uma prática ainda comum em certas partes do mundo, na qual a pessoa, fazendo uso de um pedaço de madeira em forma de 'Y', tenta captar as 'vibrações' dos lençóis freáticos e localizar água subterrânea.

Albert Abrams - para a ciência, um charlatão, para a Torre de Vigia, um sábio

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A partir de 1928, após familiarizar-se com a ERA,Roy Goodrich concluiu tratar-se de puro ocultismo, tais como as pranchetasOuija, e iniciou uma campanha solitária contra os dispositivos baseados nesta teoria pseudo-científica e segundo ele demoníaca. Isto lhe custaria sua excomunhão. Em sua obraDemonismo e a Torre de Vigia (1969), ele relata sua experiência:

"Por quase dois anos eu tinha tentado ser ouvido pelo Juiz Rutherford ou por alguém na sede central, para pararem com a promoção do demonismo na revista 'A Idade de Ouro' e por representantes da Sociedade; o tipo de coisa à qual pioneiros 'fracos' estava aderindo... Tudo o que eu tinha conseguido era uma repreensão do juiz Rutherford... Da convenção da Filadélfia, em novembro de 1929, eu viajei para Brooklyn com o objetivo definido de conseguir uma audiência com o Juiz. Após breves cumprimentos e formalidades, [ele] falou: 'Bem, irmão Goodrich, o que você tem em mente?'; quando eu mencionei o nome 'Abrams', ele exaltadamente respondeu: 'Foi para isso que você veio até aqui?!' Com igual força e entusiasmo, eu repliquei, 'Já chega, senhor!!! O que, em sua opinião, é mais perigoso para os ungidos de Deus: o espiritismo ou o alumínio?' " Aqui, Goodrich estava se referindo à famosa campanha da Sociedade Torre de Vigia contra o alumínio, empreendida nos anos 20 e 30. Ele via uma estranha lógica em uma organização que, mesmo contra todas as evidências científicas, atribuía ao uso do alumínio em utensílios de cozinha toda sorte de moléstia, e, ao mesmo tempo, aprovava e recomendava o uso de dispositivos cientificamente inócuos e claramente ligados ao ocultismo. Ao final desta audiência, prossegue o relato, o 'juiz' aceitou o desafio e ditou a sua secretária uma carta para ser entregue a Clayton Woodworth, informando-o de que o irmão Goodrich iria escrever um artigo sobre a ERA, omitindo nomes e lugares, o qual seria publicado em A Idade de Ouro. A matéria saiu na edição de 05/03/1930. Nela, ele declara:

"Neste artigo, fornecerei provas de que a 'Máquina de Diagnóstico do Dr. Albert Abrams' nada mais é do que uma complexa prancheta 'Ouija'; que esta dita máquina de diagnóstico não poderia ser usada para diagnosticar doenças, a menos que seu operador seja um médium espírita." (pág. 355) Mais adiante, ele classifica tal dispositivo de 'esperto instrumento do Inimigo' e 'impostura pseudocientífica de puro demonismo' pág. ( 361). Para provar seu ponto, ele descreve toda uma suposta 'consulta' com um 'especialista' ao qual muitos 'pioneiros' estavam recorrendo e chama a atenção dos leitores para os passos místicos do tal 'tratamento', como mandar alguém escrever seu nome em um pedaço de papel enquanto o 'terapeuta' tenta captar as 'vibrações' do paciente. Estava-se diante de uma estranha 'máquina' que 'lia' saliva ou sangue com a mesma facilidade que um nome. O autor do artigo atacou desdenhosamente aquilo que ainda era endossado pela Sociedade Torre de Vigia. Goodrich conclui seu

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protesto, dizendo: "Já é mais do que tempo para os 'Estudantes da Bíblia' reconhecerem e rejeitarem este laço espírita de Satã!" Os anos não tardariam a desmascarar Albert Abrams, sua máquina não passava de pura fraude e os 'diagnósticos' obtidos jamais provieram do emaranhado de fios que ele criou. Se houve outra fonte (a fantasia dos adeptos ou a comunicação com forças ocultas) caberia a cada um estabelecê-la, de acordo com suas convicções pessoais. Entretanto, pergunte-se o leitor: se uma pessoa lhe pedisse para escrever um nome em um pedaço de papel e tentasse captar suas 'vibrações', consideraria tal 'terapeuta' como um profissional médico ou um místico? A resposta da Sociedade veio em A Idade de Ouro de 30/04/1930 (pág. 483), na pessoa de uma adepta da ERA e da 'osteopatia' (também desmascarada como fraude), a 'Dra.' Mae J. Work. Na introdução, Clayton Woodworth declara que a palavra dela teria caráter definitivo:

" A Idade de Ouro solicitou à Dra. Mae J. Work que respondesse ao artigo, e a resposta aqui é fornecida. Isso vai encerrar a controvérsia, tanto quanto interessa a esta revista." A 'Dra.' Mae não refutou os argumentos de Goodrich, disse apenas que o que ele presenciou nada tinha a ver com a verdadeira 'teoria' do Dr. Abrams ; que havia pessoas inescrupulosas fazendo mal uso dela; que o dispositivo que ela usava era ligado a uma tomada e que realmente produzia uma quantidade mensurável de energia. Assim, a Sociedade Torre de Vigia, pelo menos por algum tempo, 'salvava' o caráter 'científico' da ERA perante a comunidade de 'Estudantes da Bíblia', os quais continuaram consumindo o produto. Em seu livro, Roy Goodrich expressa a opinião de que o objetivo de Rutherford era fazê-lo cair em descrédito, pois não houve tréplica e o prestígio da 'Dra.' Mae em 'Betel' (mesmo estando totalmente equivocada) pesou contra ele. Além do aparelho fraudulento de Albert Abrams, ela também abraçou a pitoresca cruzada contra o alumínio e chegou a anunciar que o câncer era causado por ele, podendo ser curado pela ERA. Os conselhos 'médicos' da 'Dra.'Mae não merecem ser discutidos... A história ainda não tinha acabado. Nos anos 40, chegou ao conhecimento de Roy Goodrich que as 'terapias' baseadas na ERA estavam em pleno uso na sede de 'Betel', desta vez administradas pelo Dr. M. A. Howlett no atendimento a um 'betelita' chamado Chester Nicholson. Sua metodologia era a mesmíssima que Goodrich já havia denunciado, anos antes. Dessa vez, ele enviou cartas ao próprio Dr. Howlett, aos diretores e ao presidente Nathan Knorr. A resposta de Howlett foi lacônica: "O senhor, evidentemente, está mal informado quanto à minha ligação com a ERA. Nada sei sobre ela e nunca a usei. Não existe tal coisa em Betel". Em 9 de junho de 1943, Goodrich enviou nova correspondência a Howlett, informando-o

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que, desde 1922, os dispositivos da ERA eram, de fato usados na sede da Sociedade, pela 'Dra.' Mae, a autora da réplica em A Idade de Ouro ; que, tendo ele ingressado em Betel bem antes disso, era um absurdo dizer que jamais ouvira falar de tal coisa. A essa altura, Goodrich acreditava que o Dr. Howlett não falara a verdade. Assim, enviou correspondência, também datada de 9 de junho, ao presidente Knorr. Em um trecho de sua réplica aHowlett, Goodrich diz:

"...Com todo respeito, então, irmão Howlett, a lógica inescapável dos fatos é que seu cartão postal a mim corresponde a uma das duas coisas, a saber: (1) Uma mentira potencialmente maliciosa ou (2) uma admissão perante o Senhor de que está praticando demonismo e tentando se 'safar'... um médium espírita em 'Betel' só pode ser uma pessoa 'insana'." - Trecho impresso na obra 'Bethel Rides the Broom', de Roy Goodrich As cartas aos diretores e ao presidente foram igualmente duras em seus termos. O resultado era previsível, Roy Goodrich foi desassociado ("excomungado"). A Sociedade Torre de Vigia jamais se retratou publicamente pelo seu endosso a fraudes científicas e crenças ocultistas. Curiosamente, cerca de uma década mais tarde, ela começou a publicar artigos críticos à ERA, contendo as mesmas conclusões às quais Goodrich tinha chegado anos antes e pelas quais havia sido desassociado. Naturalmente, nenhum crédito foi conferido a ele. Poderíamos chamar isso de 'percepção tardia'?

J. Greber - médium espírita e ex-padre

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Johannes Greber foi, por décadas, um padre católico até que, por volta dos 48 anos de idade, teve uma experiência mística que o impeliu na direção do espiritismo. Seu depoimento acha-se registrado emA Sentinela de 01/10/1956, pág. 187, parágrafos 10 e 11: "Diz Johannes Greber no prólogo da sua tradução do Novo Testamento, direitos autorais de 1937: 'Eu mesmo fui sacerdote católico, e até os quarenta e oito anos de idade nem mesmo tinha crido na possibilidade da comunicação com o mundo dos espíritos de Deus. Veio, porém, o dia em que dei voluntariamente o primeiro passo para tal comunicação, e tive a experiência de coisas que me abalaram até as profundezas de minha alma... Minhas experiências estão relatadas num livro... A Comunicação com o Mundo Espiritual: Suas Leis e Finalidades'... No prefácio do seu livro... Greber disse: 'O mais destacado livro espírita é a Bíblia.' Sob essa impressão, Greber esforça-se para fazer que sua tradução do Novo Testamento soe bem espírita... É bem claro que os espíritos nos quais o ex-padre Greber crê lhe ajudaram na sua tradução." Repare o leitor a riqueza de detalhes com que a Sociedade Torre de Vigia descreve a trajetória de Greber, deixando bem claro qual a fonte de 'inspiração' dele em sua tradução do Novo Testamento. Conforme vemos no cabeçalho desse artigo, C. T. Russell (em uma edição de 1879 de sua revistaZion´s Watch Tower) disse, "uma verdade apresentada por Satanás é tão verdadeira quanto uma verdade declarada por Deus... Aceite a verdade onde quer que a encontre..." . Trata-se de uma concepção de 'verdade' bastante incomum para um cristão. Até porque as Escrituras contêm relatos sobre Satanás falando ocasionalmente a verdade, porém sempre a distorcendo com propósitos nefastos. Por exemplo, Lucas 4:10 mostra o diabo citando de forma verdadeira o Salmo 91:12, de modo a desencaminhar Jesus Cristo. Talvez os sucessores de Russell tenham se inspirado na filosofia de seu mestre de uma forma inesperada. Cerca de seis anos após ter seus dados biográficos publicados em A Sentinela, J. Greber voltaria a freqüentar a literatura das Testemunha de Jeová, dessa vez, não pejorativamente, mas como uma autoridade em grego, evocada para dar apoio à forma da Sociedade Torre de Vigia traduzir o texto bíblico de João 1:1 em sua versão das escrituras, a Tradução do Novo Mundo das Escrituras Sagradas (TNM), lançada na década de 50. Alvo de severas críticas por parte de muitos peritos em línguas mortas, seus editores puseram-se em busca de apoio para ela em tantas versões quanto possível, algumas vezes com o prejuízo da respeitabilidade das fontes escolhidas, no que diz respeito à sua erudição. A edição de15/09/1962 de A Sentinela, pág. 554 (em i nglês), cita Greber como se ele fora um perito respeitável. Também nesse ano, a publicaçãoA Palavra - Quem é Ela de acordo com João, pág. 5, confirmaria este mesmo ponto de vista. Vejamos, agora, o que diz a publicação Certificai-vos de Todas as Coisas ..., lançada em português em 1970 (1965, em inglês), pág. 487:

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"Certificai-vos..." - J. Greber citado como autoridade acadêmica No texto acima, a obra de Greber (The New Translation and Explanation ) é citada como apoio para a TNM na controversa passagem do evangelho de João. Obviamente, a organização o citou por ele ser anti-trinitarista, uma postura em comum com as Testemunhas de Jeová , desconsiderando afonte da qual Greber obtinha sua interpretação das escrituras. Esta não foi a última vez que a organização recorreu a ele. No livro Ajuda ao Entendi mento da Bíblia , lançado em português em 1983 (1971, em inglês),pág. 1245, lemos:

"Uma tradução feita pelo ex-sacerdote católico romano, Johannes Greber (ed. 1937) traduz a segunda ocorrência da palavra 'deus' na sentença como 'um deus'." A obra Ajuda nada mais é do que a sucessora da publicaçãoCertificai-vos, agora na forma de um extensivo dicionário bíblico, como seu lançamento noticiado na mídia. Era de se esperar que seus editores tivessem revisado detidamente a publicação anterior, de modo incluirpropunha-se novas referências a checar outras palavras, a obra mais arecente a ser,eem todos as os antigas. sentidos,Emo aprimoramento da primeira. Seria uma oportunidade para os editores se redimirem de qualquer equívoco. Mas não foi assim, a referência a uma obra reconhecidamente 'psicografada', o Novo Testamento de Greber, permanecia em voga, remetendo-nos aos tempos em que a revista A Idade de Ouro, sob a supervisão de Clayton Woodworth, recomendava a leitura de Anjos e Mulheres. Entretanto a história ainda não havia terminado... Em uma seção Perguntas dos Leitores de A Sentinela de 01/10/1983, pág. 31, vemos uma interessante explicação:

"Por que, nos últimos anos, A Sentinela não tem feito uso da tradução feita pelo exsacerdote católico, Johannes Greber? [Resposta] ...como indicado no prefácio da edição de 1980 de 'O Novo Testamento' de Johannes Greber, este tradutor confiou no 'Mundo Espiritual Deus' para...que traduzir difíceis... Sentinela' julgou impróprio fazer uso dedeuma tradução tem tal passagens vínculo estreito com'A o espiritismo ."

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A justificativa acima poderia ser plausível, caso a própria organização não tivesse (como vimos) publicado, em 1956, o conteúdo do prefácio da edição de 1937, onde Greber deixava claro que sua obra era 'psicografada'. Além disso, o primeiro uso da tradução dele distava apenas seis anos desde a primeira referência a ela, com as publicações de 1962, 1965 e 1971, tendo vigorado por cerca de duas décadas. Agora a organização menciona o prefácio da edição de 1980, como se jamais tivesse tido conhecimento daquela de 1937. Mas isso não foi tudo... Em 20 de dezembro de 1980, a Sociedade Torre de Vigia enviou uma correspondência em papel timbrado, endereçada à Fundação Memorial Johannes Greber, confirmando o recebimento do Novo Testamento edição de 1980 e do livro Comunicação com o Mundo Espiritual de Deus , mencionado no artigo de 1956. Estranhamente, a mesma organização enviou a uma irmã de nomeHelen McAllister (a qual havia solicitado o endereço da fundação acima mencionada) outra correspondência, datada de 21 de setembro de 1981, na qual afirma dispor apenas do endereço antigo, disponível na edição de 1937. Em 27 de setembro de 1982, outro leitor, Kurt Goedelman, enviou uma carta à organização expondo o caráter público e notório dos trabalhos mediúnicos deGreber, desde a década de 30, e confrontando a organização com o fato de ela fazer uso do Novo Testamento dele desde os anos 60. Nenhuma resposta chegou às suas mãos... Recapitulemos os fatos até aqui: 













Em 1956, a Sociedade Torre de Vigia lança uma matéria informando que o Novo Testamento de Greber (edição de 1937) era uma obra 'psicografada', pois o autor era um médium espírita declarado. Apenas seis anos mais tarde, em 1962, menciona sob luz favorável a obra dele (em A Sentinela e em um folheto) pois harmoniza-se com a tradução de João 1:1 feita pelas Testemunhas de Jeová. Em 1965, evoca novamente a mesma obra na publicação Certificai-vos... como apoio para a Tradução do Novo Mundo das Escrituras Sagradas . Em 1971, mantém a referência à tradução deGreber na publicação revisada e melhorada, Ajuda ao Entendimento da Bíblia. Em 1980, faz um pedido da última edição do Novo Testamento deGreber e de seu livro Comunicação com o Mundo Espiritual , confirmando seu recebimento em carta timbrada. Em 1981, responde a uma leitora afirmando que não possui a edição mais recente, mas apenas a antiga (de 1937) na qual consta o endereço antigo. Em 1983, afirma em Perguntas dos Leitores que parou de utilizar a tradução de Greber após tomar conhecimento que a obra era 'psicografada', na edição de 1980, a mesma que negou possuir na correspondência aHelen McAllister.

À base dos eventos acima descritos, podemos estabelecer as seguintes hipóteses:

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1. Os redatores da Sociedade Torre de Vigia não são rigorosos na verificação das credenciais das fontes citadas, antes de usá-las em apoio de suas doutrinas. Isto põe em cheque a credibilidade de suas citações. 2. Os redatores sabem da srcem objetável das citações, mas, mesmo assim, as publicam para dar crédito às suas doutrinas. Isto põe em cheque sua honestidade . 3. Os redatores faltam para com a verdade quando ela é danosa à reputação da organização. Isto seria parte da assim chamada"Estratégia Teocrática de Guerra" mencionada em A Sentinela de 01/05/1957, pág. 285 (em inglês), um artifício que visa confundir os 'opositores', ocultando-lhes a verdade. Cremos que qualquer uma das três hipóteses acima depõe seriamente quanto à imagem moral daquela que sustenta ser "a única genuína organização cristã na atualidade". É claro, restaria ainda uma última hipótese (embora pouco provável), tudo não passaria de um engano, isto é, algum redator colocou por equívoco o nome de Johannes Greber na lista de referências sem consultar o artigo de 1956 (portanto, sem se assegurar de suas credenciais antes de publicar seu nome) e outros só copiaram a citação, repetindo o erro. Se isso for verdade, então cai por terra a tese (sustentada até hoje pela organização) de que tudo o que é publicado pela Sociedade Torre de Vigia é orientado pelo Espírito Santo e fornecido como 'alimento espiritual' puro e no 'tempo apropriado'. Insistir com essa teoria após tantas trapalhadas só resultaria em escárnio sobre o Espírito Santo, já que, sob 'orientação' dele, não se poderia chegar a erros crassos. Em face das contínuas citações deJohannes Greber por parte da Sociedade Torre de Vigia, no tocante à tradução de João 1:1, achamos conveniente verificar se havia mais pontos em comum entre as doutrinas dele e aquelas divulgadas na era Rutherford, quando tanto Greber quanto o segundo presidente da Sociedade Torre de Vigia estavam em plena atividade. A doutrina de Greber acha-se registrada em seu livro Comunicação com o Mundo Espiritual (1932) e as de Rutherford, na literatura que ele publicou de 1917 a 1942. Os resultados são surpreendentes: a) Ambos diziam receber instruções do mundo espiritual Greber ( , dos 'espíritos bons' e Rutherford, dos 'anjos'). b) Ambos ensinavam que Deus tem um corpo e, portanto, não é onipresenteA( Idade de Ouro de 16/01/1924, pág. 253). c) Ambos ensinavam que Deus não é onisciente, delegando a criaturas celestiais a incumbência de observar e registrar ações e características humanas Consolação ( de 23/03/1938, pág. 4).

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d) Ambos rejeitavam totalmente a doutrina da trindade (Riquezas, 1936, págs. 185, 188). e) Ambos ensinavam que Cristo foi a primeira criação de Deus A( Harpa de Deus , 1921, pág. 98). f) Ambos ensinavam que os anjos Miguel e Lúcifer eram irmãos A( Sentinela de 01/03/1932, pág. 76). g) Ambos ensinavam que há salvação para demônios A( Idade de Ouro de 09/05/1923, pág. 508 e 30/03/1932, pág. 390). h) Ambos ensinavam que Cristo não ressuscitou em seu corpo carnal, mas materializou-se e apareceu àqueles que o seguiam A( Harpa de Deus, 1921, págs. 166-168). i) Ambos rejeitavam completamente a doutrina do inferno de fogo Criação ( , 1927, pág. 273). j) Ambos defendiam a tese de que houve uma adulteração do texto de Mateus 27: 52, 53 (A Idade de Ouro de 17/04/1929, pág. 478). k) Ambos ensinavam que as verdades de Cristo foram obscurecidas e seriam restauradas no devido tempo (A Idade de Ouro de 21/08/1929, págs. 761, 762). Tantas similaridades entre os ensinos de Rutherford (os quais ele dizia provirem dos 'anjos') e os ensinos de Greber (os quais ele dizia provirem de 'espíritos bons') levaram alguns investigadores da história da Sociedade Torre de Vigia a estabelecer a tese de que ambos (e não apenas Greber) eram médiuns, afinal de contas, diversos de seus ensinos básicos eram idênticos e oriundos (de acordo com as declarações deles próprios) do plano espiritual. Estariam recebendo 'instruções' da mesma fonte? O livro Anjos e Mulheres (1924) e o Novo Testamento de Johannes Greber (1937) não são as únicas obras 'psicografadas' que foram endossadas pelas Testemunhas de Jeová. Em uma publicação menos conhecida, aTradução Interlinear do Reino (1985), págs. 1139 e 1140, outra 'autoridade' em grego é mencionada como fonte de apoio para a tradução de João 1:1. Trata-se deJohn S. Thompson. Uma consulta à obra dele, The Monotessaron, or The Gospel History, According to the Four Evangelists (1829), revela que toda sua inspiração provinha do mundo espiritual . Mais um incidente com o ocultismo. Mera coincidência?

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Até que ponto a Sociedade Torre de Vigia tinha consciência da mediunidade deste segundo autor, pode-se apenas conjeturar. Todavia, fica bem evidente que, na ávida busca por apoio à sua forma bastante peculiar de traduzir certos textos bíblicos, a organização 'atropelou' as credenciais de suas fontes de apoio e acabou por 'atolar' várias vezes no 'pântano' do ocultismo, ao qual, paradoxalmente, se diz contrária em todos os sentidos. É como se o 'fantasma' de um passado distante teimasse em retornar.

Os dois termos acima dificilmente seriam familiares ao leitor. Ambos definem ciências ocultas, o primeiro define aquela que tenta determinar o caráter e as habilidades de uma pessoa pelos acidentes anatômicos do crânio, e o segundo define uma outra bastante similar, a qual julga as pessoas por seus traços faciais. A história da frenologia remonta ao século 18, quando foi criada por Franz Joseph Gall (1758-1828). Tanto a frenologia como a fisiognomia já foram totalmente desmascaradas não havendo nelas qualquer caráter científico. Todavia, nos anos 20 e 30 não foram poucos os que se deixaram seduzir por elas. Entre estes, estavam os dirigentes da Sociedade Torre de Vigia. Uma edição de 1925 da revista A Idade de Ouro defendia a tese de que "o caráter de um homem pode ser descrito em termos de características faciais, o que se conhece como Fisiognomia, ou pelas características cranianas, uma área definida pelo termo científico de Frenologia" . O artigo prosseguia afirmando que tais características contam "nossa história de vida" e, juntamente com as 'vibrações' do corpo, "mostram o que somos e não mentem". As 'vibrações' às quais o artigo se referiam estavam relacionadas à infame teoria do Dr.Albert Abrams, já estudada neste artigo. Desse modo, por combinar os 'princípios' da frenologia, fisiognomia e das 'Reações Eletrônicas deAbrams', os redatores da Sociedade Torre de Vigia produziram uma autêntica 'salada' de pseudociência com ocultismo. Quase nenhuma Testemunha de Jeová hoje sabe que o fundador do movimento, C. T. Russell, submeteu-se ele próprio a 'exames' frenológicos, cujos resultados foram publicados na biografia dele, escrita porWilliam Wisdom, em 1923. Nela, consta o testemunho de vários frenologistas atestando o papel fundamental de Russell à frente de sua organização. Um deles, de nomeDavid Dall, examinou o 'pastor' em 30 de novembro de 1911 e chegou a uma análise reveladora,Russell tinha uma grande cabeça e "um cérebro dotado com um grau incomum de atividade; uma região basilar inteira é acompanhada pela poderosa dotação da natureza moral, intelectual e espiritual". As pitorescas conclusões de Dall,

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conhecido como um 'notável cientista mental', foram complementadas por um 'diagnóstico' segundo os 'princípios' da fisiognomia: "uma larga face, um nariz grande e largo, com amplas narinas", bem como olhos que " comunicam disposição e benevolência... como faculdade diretriz... manifestando-se em generosidade de sentimento a toda humanidade, profundo desejo pelo bem-estar de outros, combinando calor de simpatia com uma rara simplicidade de propósito".

Russell - uma 'grande cabeça'??? É realmente impressionante como um 'leitor de faces', a partir de um exame anatômico possa chegar a conclusões tão lisonjeiras. Mais impressionante ainda é que uma organização que se autodenomina "o único canal de comunicação entre Deus e a humanidade" tenha se deixado levar por tais sandices em uma época em que elas já tinham sido contestadas pela ciência. Há, contudo, um agravante: tais crendices tinham suas raízes tanto em uma interpretação equivocada da teoria da evolução das espécies (combatida pelas Testemunhas de Jeová) como na eugenia, a saber a crença no aprimoramento genético das raças. Diversos adeptos de doutrinas racistas assentaram suas teorias sobre os princípios da frenologia e da fisiognomia. Por exemplo, uma adepta da bruxaria, Sybil Leek, em sua obra intitulada Frenologia (1970), ressaltou os atributos da raça branca, tomando como base as medidas e características do crânio caucasiano. Sem dúvida, algumas de suas conclusões teriam soado como 'música' aos nazistas. Um exame na literatura da Sociedade Torre de Vigia, durante as décadas de 20 e 30 revela o amplo destaque dado à frenologia e à fisiognomia. Vejamos, por exemplo, o que diz A Idade de Ouro de 19/01/1921, pág. 224 (em inglês):

"O tamanho do nariz, e também o tamanho dos olhos, não são sem significado. Um homem de nariz pequeno não pode ter uma mente judicial, não importa que outras virtudes tenha. E um homem de nariz arrebitado não pode administrar justiça mais do que um buldogue pode ser pastor."

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Outra edição da revista (05/07/1928) chegou a dizer, "que bênção seria se pais, mestres, educadores, médicos e outros, estivessem plenamente informados quanto à interpretação das formas físicas, da fisiognomia e, particularmente da Iridiagnose, de modo a que pudessem com, com muita antecedência, detectar doenças em evolução e assim tomar medidas em tempo hábil para preveni-las". Seria hilariante saber o que "pais, mestres, educadores e médicos" pensariam hoje de tais conselhos. Todavia, não percamos de vista o fato de que eles provieram de uma organização que se dizia a única detentora da iluminação divina para restabelecer "verdades" sobre os mais diversos aspectos da vida dos cristãos hodiernos. É, deveras, desconcertante que a 'direção' do espírito santo não a tenha impedido de ser levada, junto com muitos outros, na correnteza das superstições. Apenas em 1978, a Sociedade Torre de Vigia expressou formalmente (em sua literatura) a desaprovação da frenologia, sem, contudo, dar uma só palavra sobre o amplo destaque que concedeu, por décadas, a essa e outras fraudes ocultistas.

O 'pastor' Russell considerava a telepatia como um fenômeno real, muito embora não arriscasse um palpite sobre a natureza dela. Em uma reimpressão deA Sentinela, ele expressa seu ponto de vista:

"Quanto a como as preces de alguém podem beneficiar outro, não podemos saber. Não temos informação suficiente para filosofar sobre isso muito profundamente. Nós poderíamos conjeturar certas influências mentais provindo de uma pessoa para o outra, exatamente como sabemos de influências elétricas que procedem de uma estação para outra distante milhares de milhas. Os poderes da mente são algo não compreendido. Uma mente pode influenciar outra sem palavras, por algum poder telepático ." A relutância de Russell em assumir uma postura definida sobre a telepatia abriu campo para que seus seguidores prosseguissem investigando-a em busca de sua real natureza. Em 1925, a revista A Idade de Ouro edição de 25 de fevereiro publicou o artigo "O Poder da Mente", da autoria do Dr. A. P. Pottle. Em um trecho do artigo, ele diz:

"Está demonstrado que as substâncias químicas são muito lentas para permitir cálculos rápidos, e isso prova que o pensamento é conduzido por um sistema de vibração eletrônica. O Dr. Abrams foi o primeiro a demonstrar essa teoria por meio de um instrumento mecânico. Também explica aquilo que até agora se considerava o mistério da assim chamada telepatia, leitura de mentes e intuição feminina, dos quais o Pastor Russell falou em algumas ocasiões."

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Aqui vemos, mais uma vez, o apoio expresso à teoria estapafúrdia do charlatão Albert Abrams, desta vez, elevando-a à condição de verdadeira 'pedra filosofal', a descoberta que explicaria todos os fenômenos paranormais. Mais adiante, o autor separa inteiramente a 'técnica' de Abrams dos fenômenos demoníacos e alerta os leitores quanto ao perigo desses últimos. Não é de admirar que, uma vez tendo encontrado uma forma 'segura' de captar as 'vibrações' mentais (aquela que põe as pessoas a salvo das influências malignas) os redatores da Sociedade Torre de Vigia fossem tomados de uma empolgação incomum pelas ondas de rádio. A ignorância deles não só serviu de combustível para a promoção de dispositivos inócuos, com muitos prejuízos ao bolso (foram anunciados ao preço de 35 dólares) e à saúde, expondo a comunidade de 'Estudantes da Bíblia' à exploração de charlatões e místicos. A edição de 01 de julho de 1925 de A Idade de Ouro (pág. 631) publicou um artigo ainda mais curioso, intitulado "Cada Humano como um Aparelho de Rádio". Nele, Clayton Woodworth introduz:

"Nós estamos recebendo recortes intitulados, 'São as Ondas de Rádio Mentais uma Possibilidade?' e 'Retratos do vazio', os quais relatam as experiências de diversas pessoas em receber, com ou sem aparatos, quadros e mensagens que eles não conseguem explicar. Eu não tenho dúvida, é claro, de que os fenômenos aqui listados são, em larga medida, demoníacos, mas eu também estou seguro de que nem todos o são. De fato, este recorte esclareceu alguns mistérios para mim... os seres humanos por todo o universo serão capazes de conversar uns com os outros à vontade, instantaneamente, e sem instrumentos de qualquer sorte... todo ser humano é um embrião de estação de rádio..." A ignorância científica de Woodworth, bem como sua crença incondicional nos ensinos de Russell certamente contribuíram para que ele endossasse algumas fraudes científicas de seu tempo. Nessa condição, era também pouco provável que ele conseguisse discernir a linha divisória entre ficção científica e ocultismo. É lamentável que ele, estando na posição de editor-chefe de uma publicação que era considerada um 'instrumento do Senhor', publicada por uma organização 'messiânica', atraísse muitos 'Estudantes da Bíblia' para o contato com aquilo que diziam repudiar, o ocultismo. Talvez isso nos ensine uma lição sobre o risco de alguém se por diante de homens para lhes obedecer, tornando-se por conseqüência, 'escravo' deles(Romanos 6: 16). É irônico que o poder de influir na mente de outros, entendido por ' Woodworth e Cia' como 'ondas de rádio', fosse exercido por eles próprios não por estações 'virtuais' mas pelo poder da palavra escrita. Talvez o único poder mental que tinham era o de convencer milhares a os acompanharem em seus delírios religiosos.

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Os redatores da Sociedade Torre de Viga parecem alimentar, há décadas, uma fascinação mórbida por espíritos iníquos. Fizemos uma retrospectiva, desde os tempos de Russell, Clayton Woodworth e J.F. Rutherford, na qual constatamos a publicação freqüente de matérias sobre os demônios e suas 'atividades'. As coisas não mudaram muito nesse respeito, o diabo ainda ocupa lugar de destaque na literatura da Sociedade Torre de Vigia. A figura dele tem sido utilizada como pretexto para explicar toda sorte de mazela, desde guerras, problemas econômicos, índices de criminalidade até o surgimento de setores descontentes com as doutrinas da instituição. Diferentemente de seu fundador, as Testemunhas de Jeová não pregam mais a salvação para demônios arrependidos nem ensinam que haja demônios 'honestos'. Ao contrário, afirmam taxativamente quetoda e qualquer comunicação oriunda do plano espiritual na atualidade provém inexoravelmente de Satanás. O livro Conhecimento que Conduz à Vida Eterna (1995) afirma, na pág. 112, o seguinte:

"Jeová enviou espíritos bons, ou anjos justos, para comunicar-se com alguns seres humanos antes de a Bíblia ser concluída. Desde que foi terminada, a Palavra de Deus dá aos seres humanos a orientação necessária... Ele não passa por alto sua Palavra sagrada dando mensagens a médiuns. Todas essas mensagens atuais do mundo dos espíritos vêm de espíritos iníquos." Não se pode deixar de perceber o notável contraste entre a visão acima e os tempos em que o segundo presidente da Sociedade Torre deVigia alegava receber mensagens dos anjos. Isso levanta uma questão perturbadora: se, desde a conclusão das Escrituras Sagradas, por volta de 98 DC, Deus não mais envia quaisquer instruções aos seres humanos, entãode onde provinham as revelações de Rutherford, as quais alimentaram as gráficas da organização por mais de vinte anos e fazem parte do atual corpo doutrinário da religião? Na atualidade, as Testemunhas de Jeová entendem que, não só as mensagens mediúnicas propriamente ditas, mastoda e qualquer manifestação sobrenatural é necessariamente demoníaca incluindo-se as manifestações carismáticas ou pentecostais, bem como quaisquer 'milagres' ou 'aparições' de 'santos'. Sua literatura contém diversos relatos de ex-pentecostais, ex-médiuns e exmacumbeiros agora convertidos, os quais relatam experiências assustadoras de vozes, ruídos, possessões e fetiches demoníacos que tiveram de ser destruídos às pressas. Livros, fotos ou roupas que não queimavam, quadros ou amuletos quase indestrutíveis e coisas assim, povoam o imaginário das Testemunhas de Jeová. Por exemplo, ainda no livro Conhecimento, pág. 115, lemos:

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"...um casal na Tailândia há muito tempo era molestado pelos demônios. Daí, eles se livraram de objetos relacionados com o espiritismo. Com que resultado? Ficaram livres dos ataques demoníacos e depois fizeram progresso espiritual. A organização publicou diversos artigos sobre como lidar com objetos 'demonizados', visões e outras manifestações, chegando a 'diagnosticar' insônia, dores-de-cabeça e 'vozes' como provenientes de uma maldição sobre uma peça de roupa presenteada ou ornamentos, após cuja destruição, os 'sintomas' cessaram totalmente (A Sentinela de 01/12/1974, pág. 707-712; 15/04/1984, págs. 11-15; 15/08/1963, págs. 507-511). Também advogou a idéia de que os demônios praticam abuso sexual e levam pessoas à loucura(livro Conhecimento, pág. 114). Por outro lado, na publicação Despertai! 22/08/1975, pág. 26 (em inglês), a Sociedade Torre de Vigia desaconselha a consulta a psiquiatras ou psicólogos, recomendando o uso da Bíblia para auxiliar pacientes com problemas psicológicos. Com relação à destruição de objetos, a organização costuma fazer referência à passagem bíblica de Atos 19: 19, onde se narra que cristãos recém-convertidos queimaram seus livros de ocultismo. Todavia, o texto não diz que eles o fizeram em razão dealgum poder emanar daqueles objetos. Tampouco relata que tenha havido algumadificuldade para destruir tais itens. Aparentemente, as Testemunhas de Jeová ampliaram o sentido do texto de Atos, criando uma variada 'lista' de objetos a serem localizados e destruídos: “Isto inclui livros, revistas, vídeos, pôsteres, gravações musicais e objetos usados para fins espíritas. Estão incluídos também ídolos, amuletos e outras coisas usadas para dar proteção, e presentes recebidos de praticantes do espiritismo.” Livro 'Conhecimento que conduz', pág. 115. Note o leitor que a Sociedade recomenda a busca e destruição, não apenas dos objetos diretamente ligados ao ocultismo ou usados em alguma liturgia mas até mesmo um simples presente dado por alguém que professe o espiritismo, mesmo que o objeto em si nada tenha a ver com tais práticas. Em outras palavras, se um parente espírita vai a um shopping center e compra um par de meias para presentear generosamente alguém, elas devem ser destruídas, pois podem servir de elo com os demônios. Tal atitude se assemelha de perto àquela dos religiosos da era medieval, à caça de bruxas. A organização cita os textos de Deuteronômio 7: 25 26 e 1 Coríntios 10:21 como justificativa para esta doutrina. Entretanto, tais textos referem-se explicitamente a ídolos, objetos diretamente relacionados a uma prática condenável, a idolatria. Nenhuma das duas passagens citadas nem o relato de Atos 19:19 atribuem qualquer propriedade malignaintrínseca a tais objetos. Ao contrário, o Salmo 115 retrata os ídolos como uma coisa inerte, sem poder algum, e Paulo, em 1 Coríntios 8:4 fala que 'o ídolo nada é'. Assim sendo, tais utensílios devem ser destruídos pelo que representam , e só. A superstição de sair à procura de objetos pessoais como fonte de fenômenos sobrenaturais está bem mais

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próxima do folclore religioso (Xamanismo) do que da fé cristã e no caso da Sociedade Torre de Vigia, parece mais indicar vestígios da antiga fascinação dos redatores de A Idade de Ouro [atualmente Despertai!] por demônios, 'honestos' ou não. Infelizmente, a 'espiritofobia' atualmente manifesta entre as Testemunhas de Jeová serviu para agravar o estado mental de pacientes psicologicamente abalados. Alguns, supondo estarem à mercê de demônios, saíram a destruir livros, rosários, cruzes, adornos e quaisquer objetos 'demonizados'. Os que obtiveram alívio, ainda que por fatores psicossomáticos, presumem agora que os objetoseram a causa, porém, os que não melhoram supõem que ainda resta algum fetiche a ser destruído (talvez um "presente recebido") e caso não o encontrem, seu estado mental poderá se agravar. Episódios assim induziram certos especialistas a estudar a ocorrência de perturbações mentais entre as Testemunhas de Jeová e alguns são de opinião que casos de depressão, neuroses e comportamento compulsivo ou esquizofrênico são mais comuns entre elas do que na população em geral. Algumas obras já foram publicadas nessa área, entre elas,Jehovah's Witnesses an d the Problem of Mental Health (As Testemunhas de Jeová e o Problema da Saúde Mental), publicada, em 1992, pelo psiquiatra e ex-adepto das Testemunhas,Jerry Bergman. Outro especialista, Havor Montague, em seu trabalho The Pessimistic Sect's Influence on Mental Health: The case of Jehovah's Witnesses (A Influência Pessimista das Seitas na Saúde Mental: o caso das Testemunhas de Jeová), afirma que trabalhou com "muitos casos nos quais a sugestão de 'influência demoníaca' tinha sido o fator crucial para fazer a Testemunha neurótica piorar ao ponto de tornar-se completamente psicótica"(pág. 144).

É certo que toda Testemunha de Jeová hoje em dia busca, a exemplo dos membros de outras denominações cristãs, manter-se longe de qualquer forma de ocultismo, fazendo-o com sinceridade. Mas também é certo que a esmagadora maioria delas desconhece completamente o passado duvidoso de sua organização. Elas desconhecem a formação mística do fundador de seu movimento,C.T. Russell; desconhecem seus vínculos com organizações esotéricas; desconhecem seu envolvimento com astrologia; desconhecem sua doutrina sobre a salvação de demônios; desconhecem seu envolvimento com frenologia e fisiognomia; desconhecem seu túmulo adornado por uma pirâmide e ao lado de um complexo maçônico; desconhecem o teor de seus discursos junto à Pirâmide de Gizé e na Loja Maçônica de Pasadena; desconhecem o significado dos diversos símbolos

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esotéricos utilizados pela organização ao longo de sua história; desconhecem o passado de possessões demoníacas do editor-chefe de uma das revistas da Sociedade Torre de Vigia; desconhecem a teoria da retirada do espírito santo em 1918; desconhecem a tese da comunicação com anjos; desconhecem o endosso de dispositivos inúteis e ligados ao ocultismo; desconhecem o endosso de obras 'psicografadas'; desconhecem, enfim, os mais graves episódios em que sua instituição esteve em pleno 'romance' com o oculto. Tem sido política da Sociedade Torre de Vigia rejeitar instituições, folclore, símbolos, costumes ou tradições com base exclusiva em suas srcens primitivas. Essa é a razão pela qual as Testemunhas de Jeová são impedidas de entrar em qualquer templo religioso que não o seu próprio ou de participar de celebrações como Natal, Dia das Mães ou dos Pais, Dia dos Namorados ou aniversários natalícios. O caráter fraterno dessas ocasiões não conta, é sobrepujado por sua 'srcem' . Da mesma forma, as Testemunhas rejeitam associar-se à Cruz Vermelha ou quaisquer organizações filantrópicas que tenham uma srcem, ainda que remota, questionável sob o ponto de vista de sua organização. Isso é visto, entre elas, como evidência do mais alto grau de pureza cristã. A organização enfatiza repetidamente esta filosofia. Todavia, tal mentalidade, se aplicada à risca, acabaria por lançar vitupério sobre as próprias Testemunhas de Jeová, pois, além do uso de símbolos como a torre de vigia (srcinalmente ligada ao ocultismo), elas também portam objetos como aliança de casamento, usam o aplauso nas reuniões e praticam o batismo, todos de srcem pagã. Na verdade, se fôssemos em busca da srcem de cada termo ou utensílio do nosso cotidiano, muito freqüentemente os encontraríamos vinculados à cultura de nações ditas 'pagãs'. Se os rejeitássemos sistematicamente por este motivo, cada aspecto de nossa vida (de vocabulário a vestuário) seria sobrecarregado de restrições sem sentido, o que talvez inviabilizasse a vida em sociedade. Como diz Ray Franz, em sua obra In Search of Christhian Freeedom (Em Busca de Liberdade Cristã), pág. 274 :

"Muito é feito da 'srcem pagã' de várias práticas e itens ligados a alguns feriados. Ainda assim, sendo realísticos, qualquer significado 'pagão' que possam ter tido, este já desapareceu há muito tempo... os dias da semana envolvem nomes de objetos pagãos de adoração, o sol, a lua, e deuses e deusas... O mesmo se dá com os nomes dos meses. Mesmo assim, nós hoje empregamos estes nomes sem a menor noção de sua 'srcem pagã'. Na verdade, a maioria das pessoas estão totalmente inconscientes de sua fonte 'pagã'. Isso é similarmente verdadeiro com respeito as várias decorações e costumes relacionados a muitos feriados. Enquanto coloca grande ênfase no fator 'srcem pagã', a Sociedade Torre de Vigia simplesmente releva isso em outras áreas..." As Testemunhas de Jeová não se apercebem de que, ao rejeitarem certas coisas com base exclusiva no critério da 'srcem pagã', ao passo que deixam passar diversas outras, estabelecem aquilo que se convencionou chamar'dois pesos e duas medidas'. Deveras, a organização parece instituir até hoje dois critérios, um para

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avaliar a si própria e outro para avaliar as demais instituições. Costumes populares totalmente incorporados à cultura dos povos, bem como denominações religiosas devem ser rejeitados por causa de sua srcem pagã, mesmo que tal fonte há muito tenha sido esquecida. Por outro lado, a Sociedade Torre de Vigia, nascida do Adventismo do século 19, do esoterismo de Russell, da piramidologia, das mensagens 'angelicais' de Rutherford, das idéias surreais de Clayton Woodworth e da simbologia pagã da maçonaria e de outras sociedades esotéricas, deve ser aceita plenamente sem se tomar em conta seu passado comprometedor e sua'srcem pagã'. Se seus adeptos não mostrassem para com ela mais benevolência do que ela própria tem para com outras denominações, dificilmente haveria hoje milhões de Testemunhas de Jeová pelo mundo. Certamente é um direito delas desconsiderar o passado de sua religião como é direito de milhões de membros de outras denominações religiosas desconsiderar o passado da religião delas. Todavia, entendemos que a ignorância do passado inexoravelmente compromete a lucidez da escolha, pois como perdoar se não se sabe o quê? Como avaliar se a decisão que se tomou (às vezes com conseqüências vitalícias) foi acertada se faltaram subsídios vitais para a sua formulação e a fonte que deveria prover tais subsídios, na verdade, obscureceu sua percepção? Cremos que os fatos aqui expostos têm muito que ver com a vida de cada Testemunha de Jeová e talvez suas graves implicações induzam pessoas sinceras a reconsiderar sua postura diante da religião que abraçaram, até porque, cremos que relevantes fatos que teriam sido incorporados ao processo de conversão delas foram, até a leitura deste artigo, completamente omitidos ou 'pasteurizados' sob uma ótica piedosa e provinciana. Diversas questões diante do que foi visto deveriam vir à mente: 







Teriam as verdades do primitivo cristianismo sido 'revividas' no final do século 19, por meio de uma organização infestada de paganismo, tradições mundanas e símbolos ocultistas? Teria Cristo, ao observar todas as religiões do mundo, no período de 1914 a 1918, escolhido para representá-lo (dentre milhares) justamente uma que ensinava piramidologia, advogava o perdão para demônios, combinava cristianismo com astrologia, celebrava feriados supostamente pagãos, mantinha laços estreitos com a maçonaria e com seus símbolos místicos e induzia milhares à acompanhá-la em suas superstições antibíblicas? Teria o Espírito Santo de Deus 'dirigido' uma organização que professava não ter, desde 1918, a sua iluminação? Teria Cristo mantido sua bênção sobre a organização que o representava, enquanto por ela mais "comia ocultistas deà50mesa anos?de demônios", endossando crenças e práticas

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Se um cristão sincero, tomando conhecimento da existência de tais práticas, 'tropeçasse' em sua fé e rejeitasse à organização, a quem caberia a responsabilidade, a Cristo ou à própria Sociedade Torre de Vigia? Pode uma religião que 'brotou' de tal solo contaminado ser hoje a 'única genuína organização cristã'?

Estas são, certamente questões que merecem a mais relevante consideração.Jó 14:4 diz:

"Quem pode, de alguém impuro, produzir alguém puro? Nem sequer um." Cremos que, ante os fatos, o leitor já tem, por si mesmo, condições para avaliar com lucidez os pontos acima e discernir se a luz pode, afinal, provir da escuridão, pois o apóstolo João disse em 1ª João 1:5:

"Deus é luz e não há nenhuma escuridão em união com ele."

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bserve dois relatos bíblicos que nos ajudam a entender esta questão.

João 20:24, 25: “Tomé, porém, um dos doze, que era chamado O Gêmeo, não estava com eles quando Jesus veio. Conseqüentemente, os outros discípulos diziam-lhe: Temos visto o Senhor! Mas, ele lhes disse: A menos que eu veja nas suas mãos o sinal dos pregos e ponha o meu dedo no sinal dos pregos , e ponha a minha mão no seu lado, certamente não acreditarei”.

Mais de 1 prego = pregos

1 prego apenas

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Isto é o que a bíblia diz. Agora veja o que a Torre de Vigia diz:

*** A Sentinela 1970 15/4 p. 255 Perguntas dos Leitores *** “Nas publicações da Sociedade Torre de Vigia, Jesus é amiúde retratado como pregado na estaca com um único prego atravessando ambas as mãos e outro prego traspassando-lhe os dois pés. Isto é apenas a concepção do artista, mas é bem possível que esta tenha sido a maneira em que Jesus foi pendurado na estaca ”.

Agora observe este outro relato:

Mateus 27: 35-37: “Tendo-o pregado numa estaca, distribuíram a sua roupagem exterior por lançar sortes e sentados vigiavam sobre ele ali. Também puseram por ci ma de sua cabeça a acusação contra ele, por escrito: Este é Jesus, o Rei dos judeus”.

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Diante destes dois relatos, veja como a Sociedade tenta se justificar:

*** A Sentinela 1984 1/10 p. 31 Perguntas dos Leitores *** “Alguns têm concluído também de João 20:25 que foram usados dois pregos, um para cada mão. Mas, deve-se entender o uso que Tomé fez do plural (pregos) como descrição precisa, indicando que cada uma das mãos de Jesus foi furada com um prego diferente?”

As testemunhas oculares, João e Tomé, não poderiam ter feito uma descrição precisa, mas a Sociedade Watchtower, 2000 anos depois pode!

Depois de tantas evasivas e justificativas tentando manipular dois textos bíblicos tão claros a Sociedade resolve partir para outra tática, agora eles tentam minimizar a importância do assunto:

*** A Sentinela 1984 1/10 p. 31 Perguntas dos Leitores *** “Assim, simplesmente não é possível afirmar hoje com certeza quantos pregos foram usados. Quaisquer ilustrações de Jesus na estaca devem ser entendidas como concepções artísticas que oferecem apenas uma representação baseada nos fatos limitados de que dispomos. Não devemos permitir que a controvérsia sobre tal pormenor insignificante obscureça a verdade todo-importante de que ficamos reconciliados com Deus por intermédio da morte de seu Filho”. (Romanos 5:10)

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Não para a Sociedade Watchtower, pois em suas crenças fundamentais vemos que a morte de Cristo na estaca é a crença número 6 das Testemunhas de Jeová: EM QUE AS TESTEMUNHAS DE JEOVÁ CRÊEM Crença Palavra de Bíblia Deus e éé a verdade Bíblia é mais confiável do que a tradição O nome de Deus é eová Cristo é o Filho de Deus e é inferior a ele Cristo foi a primeira criação de Deus Cristo morreu numa estaca, não numa cruz

Base bíblica 2 Timóteo 3:16, 17; 2 Pedro 1:20, 21; Joã o 17:17 Mateus 15:3; Colossenses 2:8 Sal. 83:18; Isa. 26:4; 42:8, Êxodo 6:3 João 8:42; 14:28; 20:17; 1 Co r. 11:3; 15:28 Colossenses 1:15; Revelação 3:14 Gálatas 3:13; Atos 5:30

Portanto, quem foi que deu este alarde todo a esse assunto? Na realidade, até 1931 a Torre de Vigia usava como emblema o símbolo da “cruz e coroa”, símbolo este que estampou a capa da revista The Watch Tower (A Sentinela em português). Veja o emblema usado no famoso Fotodrama da Criação feito por Charles Taze Russel e enfeitando a capa darevista no alto à esquerda:

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Porém, a partir de 1931, o segundo presidente da Sociedade Torre de Vigia Joseph Franklin Rutherford resolveu entender que na realidade Jesus morreu numa estaca e não numa cruz. Segundo ele, a história tradicional da cruz era errada porque "A cruz foi adorada pelos Celtas Pagãos antes do [nascimento] e morte de Cristo" (Livro Inimigos páginas 188-189). Sem acompanhar a evidência histórica ou arqueológica, Rutherford declarou sua nova doutrina como fato. Na verdade, o que pagãos fizeram com cruzes antes da morte de Cristo não tem nada a ver com o modo que os Romanos crucificaram as pessoas. Por exemplo, o aplauso era um gesto religioso popularizado em rituais pagãos (o barulho devia chamar a atenção dos deuses) e os egípcios usavam um anel para simbolizar o casamento (acreditava-se que um círculo, não tendo começo nem fim, simbolizava a eternidade) e nem por isso os cristãos deixam de usar tais coisas, por que na realidade o uso que os pagãos fizeram dessas coisas não tem nada a ver com o uso que muitos cristãos fazem destes hoje. Ademais, Jesus não escolheu o instrumento de sua morte. Mas Rutherford não estava nem aí para isso, ele decidiu que Jesus não morreu numa cruz e pronto. Mais tarde, em 1950, a Sociedade Torre de Vigia resolveu fazer sua própria tradução da bíblia sagrada. Nesta versão, tentando dar algum apóio bíblico a esta crença, os tradutores verteram a palavra grega stauros por estaca de tortura e não cruz, contrariando todas as demais versões da bíblia. O apêndice da tradução do novo mundo com referências (páginas 768-771) afirma que a fórmula grega de stauros (Mat. 10:38) e xylon (Atos 5:30) não significa uma cruz e declarou que estas palavras apenas significam uma estaca vertical sem uma trave transversal. O stauros grego realmente tem o significado primário de um poste ou estaca, como aponta a Torre de Vigia. Entretanto, eles “esqueceram de mencionar” que stauros também é freqüentemente usado para referir-se a construções mais complexas, como a cruz. O que a Torre de Vigia especificamente ignora é que os Romanos de fato executavam seus prisioneiros em cruzes, um assunto que eles evitam em sua apresentação. A trave horizontal de tais cruzes era chamada de patibulum e os escravos a serem executados eram costumeiramente obrigados a levar o patibulum para o local de execução (Sêneca, De Vita Beata 19:3; Epístola 101:12; Tácitus, Historiae, IV, 3).

O Novo Dicionário Internacional de Teologia no Novo Testamento diz o seguinte sobre o stauros grego: “Stauroserapode significar uma estaca às vezes era um pontiaguda qual umPoderia criminoso executado exibido publicamente em que vergonha como castigo na adicional. ser usado para pendurar, empalar ou estrangulação. Stauros também poderia ser um instrumento de tortura, talvez no senso do Latim patibulum, uma trave transversal deitada

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nos ombros. Finalmente poderia ser um instrumento de execução na forma de uma estaca vertical e uma trave transversal do mesmo comprimento que forma uma cruz no sentido mais estreito do termo. Tomava a forma ou de um T (Lat. crux commissa) ou de um + (crux immissa) (Vol. 1, página 391). A palavra grega xylon também pode significar "madeira, um pedaço de madeira, ou qualquer coisa feita de madeira", e pode referir-se a uma cruz, como indicado no Dicionário Expositivo de Vine, Vol. 4, pág. 153. Nas edições de 1950 e 1969 da Tradução do Novo Mundo (em seu apêndice), a Torre de Vigia reproduz uma das dezesseis ilustrações de xilogravuras feitas pelo escritor do 16º século Justus Lipsius, autor de um trabalho chamado De Cruce Liber Primus. Eles reproduzem o quadro dele de um homem empalado em uma estaca vertical. A Torre de Vigia faz a declaração: “Esta é a forma na qual Jesus foi empalado”. Observe:

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Contudo eles “esqueceram de mencionar” que Lipsius produziu quinze outras ilustrações (a maioria de quadros com várias execuções em cruzes). Note:

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É surpreendente como a Torre de Vigia pôde fazer uma declaração como "está faltando evidência" que Jesus foi executado em uma cruz, quandoo mesmo livro que eles usam como "prova" para apoiar suas reivindicaçõesdiz que Jesus morreu

numa cruz! Muitas das xilogravuras Lipsiusuma nãotradução mencionadas pelalatino Torreaode Vigia mostram execuções em cruzes. de Inclusive do texto lado de uma destas xilogravuras diz:

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“Na cruz do Senhor havia quatro pedaços de madeira, a viga vertical, a linha transversal, um tronco de árvore (pedaço de madeira) colocado abaixo, e o título (inscrição) colocado acima”.

Nas edições anteriores (1950 e 1969) da Tradução do Novo Mundo, eles tinham dito: "O transcurso do tempo e mais as futuras descobertas arqueológicas irão provar sua justeza”. Por que eles omitiram esta declaração nas versões da TNM de 1984 e 1985? Precisamente por causa das mais recentes descobertas arqueológicas! Ao passo que a Torre de Vigia fez uso de fontes obscuras e bastante antiquadas em uma tentativa de provar seu ponto de vista, o volume dos achados históricos como também as mais recentes escavações revelam provas significativas para a história da crucificação tradicional, como há muito tempo vem sendo defendida pelas igrejas em geral. Veja alguns exemplos de descobertas históricas e arqueológicas:

(1) Foi achado um graffito 1 que data do ano 200 d.C. tomado das paredes de um Palatino Romano. É um desenho de um asno crucificado; um escárnio feito com um prisioneiro seguidor de Cristo. Os romanos indubitavelmente se divertiam com o fato dos cristãos venerarem Jesus a quem eles tinham pregado em uma cruz. (2) Em Junho de 1968, escavadoras trabalhando ao norte de Jerusalém acidentalmente encontraram tumbas nuas que datam do primeiro século a.C. e do primeiro século d.C. O arqueólogo grego Vasilius Tzaferis foi instruído pelo Departamento Israelita de Antiguidades para escavar estas tumbas cuidadosamente. Subseqüentemente um dos achados mais excitantes dos tempos recentes foi revelado, os primeiros restos do esqueleto de um homem crucificado. O fator mais significante é sua datação por volta do tempo de Cristo. O esqueleto era de um homem chamado Yehohanan, filho de Chaggol, que tinha sido crucificado entre a idade de 24 e 28 anos. O Sr.Tzaferis escreveu um artigo em Jan/Fev. de 1985 na revista secular Revisão da Arqueologia Bíblica (BAR), e aqui estão alguns de seus comentários relativo a crucificação no tempo de Jesus: “Quando a procissão chegava ao local de execução, uma estaca vertical era fixada no chão. Às vezes a vítima só era atada à cruz com cordas. Em tal caso, o patibulum ou trave transversal para a qual os braços da vítima já estavam encadernados, simplesmente era fixado à viga vertical; os pés da vítima eram então ligados à estaca com algumas voltas de corda. Se a vítima fosse fixada através de cravos, ele era colocado no chão, com seus ombros na trave transversal. Os braços dele eram abertos e pregados nas duas extremidades da trave transversal, que era então erguida e fixada em cima da viga vertical. Os pés da vítima eram então pregados contra esta estaca vertical”.

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(3) Em 1939 escavações em Herculaneum, a cidade irmã de Pompéia (destruída em 78 d.C. por um vulcão) preservou uma casa onde uma cruz de madeira tinha sido pregada à parede de um quarto. De acordo com The Buried History, (Vol. 10, No. 1, Março de 1974 pág. 15) era uma casa cristã com uma cruz na parede: “Debaixo dela (cruz) havia um tipo de altar. Este foi considerado como sendo na forma de uma ara ou santuário, mas bem poderia ter sido usado como um local de oração. . . Se esta interpretação estiver correta, e os escavadores são fortemente a favor da significação cristã nos símbolos e mobílias, então temos aqui o exemplo de uma igreja primitiva”.

(4) Em 1945 uma tumba familiar foi descoberta em Jerusalém pelo Prof. E.L. Sukenik do Museu de Antiguidades Judaicas da Universidade Hebraica. O Prof. Sukenik é a maior autoridade mundial em ossadas Judaicas. Note seus achados: “Duas das ossadas continham o nome "Jesus" em grego. . . . A segunda destas tamb ém tem quatro grandes cruzes desenhadas. . . . (Prof. Sukenik) concluiu que as inscrições e as cruzes estavam relacionadas, enquanto sendo expressões de aflição à crucificação de Jesus, sendo escritas sobre aquele tempo. . . . o Professor Sukenik mostra. . . (que) a cruz pode representar uma expressão pictórica" da crucificação, equivalente a exclamação "Ele foi crucificado!." Como a tumba é datada por cerâmica, abajures e o caráter das letras usadas... isto significa que as inscrições caem dentro de duas décadas da crucificação (de Jesus) (Ancient Times, Vol. 3, No. 1, July 1958, p. 35. See also Vol. 5, No. 3, March 1961, p. 13.) 3, March 1961, p. 13)”.

(5) Jesus não morreu por sufocamento, mas por choque e trauma. Adicionalmente, um homem empalado com braços estirados diretamente em cima de sua cabeça (como a Torre de Vigia descreve)sufocaria em minutos, por outro lado, um homem com mãos estendidas de lado a um ângulo de 60 /70 graus (como em uma cruz) poderia viver por horas sem sufocar. Segundo o relato bíblico Jesus ficou por hora s na cruz. Há dois locais na palma de cada mão que permite que um cravo penetre e segure o peso do corpo inteiro até cem libras, tornando a "teoria do pulso" desnecessária para explicar como os braços de Cristo foram presos à cruz. Obviamente é errado adorar uma cruz, como é errado adorar qualquer outro objeto, porém, não há nada de errado em considerar a cruz um símbolo do cristianismo assim como o desenho de um peixe se tornou um símbolo dos primitivos cristãos e a torre se tornou um símbolo das Testemunhas de Jeová. Agora dizer que Jesus não foi morto em uma cruz e afirmar que a pessoa que usa este símbolo sem conotação adorativa está ofendendo a Deus vai contra todas as evidências históricas, arqueológicas e principalmente bíblicas.

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Capítulo 19

LEALDADE A DEUS OU A UMA ORGANIZAÇÃO? mensagem da Bíblia, como um todo, vai contra alguém depositar fé numa organização terrestre, num grupo de homens ou num único homem. Fazer isso é pôr em perigo a relação pessoal com Deus inculcada nas Escrituras. Lendo a história dos tratos de Deus com a humanidade, podermos ver que Deus lidava regularmente com indivíduos ― Abel, Enoque, Noé, Abraão, Isaque, Jacó, José, Jó e muitos outros. É provavelmente quando invoca exemplos das Escrituras Hebraicas, em busca de apoio a seu conceito organizacional, que a literatura da Torre de Vigia recorre com maior freqüência à falácia da falsa analogia. Recordemo-nos que, nesta falácia, a analogia é falha, não porque não haja quaisquer semelhanças, mas porque elas não são suficientes para dar validade à analogia. Na realidade, em muitos dos casos das aplicações feitas pela Torre de Vigia, assemelhanças são em muito ultrapassadas pelas diferenças . O único verdadeiro exemplo que temos de uma “organização”, no sentido em que o termo é usado na literatura da Torre de Vigia, é o estabelecimento da nação de Israel. Qualquer que seja a comparação feita com a congregação cristã está claro que o cristianismo assinalou um notável rompimento com o passado, pelo qual os tratos de Deus com seus servos foram postos num novo patamar, de modo eminentemente superior e distinto. As sombras deram lugar à realidade. (2ª Coríntios 3:7-10; Colossenses 2:17; Hebreus 9:7-11, 23). Tentar definir a relação dos cristãos com Deus e Cristo com base em analogias da estrutura nacional israelita é tão apropriado quanto comparar o sacrifício de Cristo e o benefício resultante com os sacrifícios de animais feitos na antiguidade. A diferença é muito, muito maior que a semelhança. Nada ilustra de modo mais claro que a lealdade e a confiança de alguém não podem se vincular com segurança a uma organização que a história dessa nação. Deus estabeleceu um sacerdócio oficial para a nação e, mais tarde, a pedido do povo, estabeleceu uma realeza humana, embora deixasse claro que o fato de o povo pedir um sinal visível de governo era uma evidência de falta de fé Nele, o

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verdadeiro rei (1ª Samuel 8:4-7; Isaías 33:22, 18). Por cerca de cinco séculos, os reis fiéis em Judá foram raros, e no posterior reino setentrional de Israel não houve nenhum. Dentre cerca de 24 reis judeus, os reinados de apenas seis são descritos de modo favorável nas Escrituras, e mesmo estes foram manchados por desvios da vontade divina, o que contribuiu para a degeneração da adoração pura de Deus. Não admira que o salmista admoestasse: “Não confiem em príncipes, em meros mortais, incapazes de salvar. Quando o espírito deles se vai, eles voltam ao pó; naquele mesmo dia acabam-se os seus planos. Como é feliz aquele cujo auxílio é o Deus de Jacó, cuja esperança está no SENHOR [Jeová], no seu Deus” (Salmo 146:3-5, NVI). A história desses cinco séculos mostra que, apesar da existência daquela organização nacional e de seu sacerdócio, Jeová continuou a tratar com indivíduos, e que, com maior freqüência do que o contrário, esses indivíduos eram claramente pessoas que não tinham o favor daquilo que se podia chamar “organização” estabelecida. Jeová tratou com Davi mesmo quando o cabeça da “organização”, o rei Saul, baniu Davi da organização. Davi preferiu residir fora das fronteiras de Israel por algum tempo, até mesmo achando mais seguro viver entre os pagãos filisteus em Gate; no entanto, Jeová continuou a tratar com ele (1ª Samuel 21:10). Fora o que Davi e Salomão escreveram, a maior parte dos demais textos bíblicos foram escritos por homens que não faziam parte da estrutura organizacional oficial estabelecida ou que discordavam dela, sendo vistos por ela com reprovação. Os profetas a quem Deus suscitava não recebiam designações ou instruções de um “canal” organizacional, nem submetiam seus discursos ou escritos para rece ber o selo de aprovação dessa estrutura. Mostravam aberta desarmonia com os que lideravam e dirigiam a estrutura organizacional, os reis e os sumos sacerdotes. Por causa disso, estes profetas eram muitas vezes vistos como agitadores subversivos para a congregação de Israel. Seguiam o conselho do Salmo 37 de “esperar em Jeová” por não recorrerem a ações ilícitas ou violentas em retaliação às injustiças que sofreram, deixando que Deus executasse seu julgamento sobre aquela organização nacional e seus líderesdesencaminhados. Mas este “esperar em Jeová” era apenas nesse sentido, pois não se refrearam de aberta e publicamente tornarem conhecidos os desvios da organização em relação à Palavra de Deus. Não se sentiram obrigados a “acompanhar” a estrutura organizacional e seus encarregados em seu proceder errôneo ou a aceitar e apoiar suas distorções da Palavra de Deus. A lealdade deles a Jeová e à sua Palavra suplantava a lealdade a qualquer ainda que este tivesse sido inicialmente estabelecido por Deus, sistema como foiterrestre, a nação de Israel.

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Hoje, a maioria das Testemunhas de Jeová sente virtual orgulho em apoiar “a organização” não importa o que ela faça, aonde ela leve ou o que ela ensine. Nisto elas não têm apoio algum das Escrituras. Na congregação nacional de Israel, aqueles que submissamente seguiam as autoridades organizacionais (reis e sacerdotes) de modo incondicional foram os que se deixaram levar à adoração falsa, e sua “lealdade” aos líderes dessa organização nacional os fez acusar falsamente e perseguir homens que eram inocentes de qualquer transgressão (Hebreus 11:36-40; Tiago 5:10, 11). Eles consideravam tais servos conscienciosos de Jeová como contrários ao “sistema”. Assim, sua lealdade a uma organização na verdade os colocou em oposição a Deus. Isto nos serve de advertência até hoje. Embora já não existisse a realeza, a estrutura oficial do sacerdócio de Israel ainda funcionava na época de Jesus, seus sacerdotes ainda atuavam como se fossem representantes designados de Deus. Aliados a eles estavam os anciãos judaicos que ajudavam a compor o mais alto tribunal de justiça da nação. Como afetou esta circunstância o procedimento do Filho de Deus, Cristo Jesus? Ele adotou a atitude de falar de um modo que lhe trouxe desaprovação e oposição daquela estrutura de autoridade e de seus membros mais responsáveis, inclusive o próprio sumo sacerdote. Na realidade, foi o que se poderia apropriadamente chamar de “o corpo governante” da organização nacional, o principal sacerdote e os membros do Sinédrio, que o julgaram adversamente(Mateus 26:57, 59). E foi a esse “corpo governante” que os apóstolos depois declararam: “Temos de obedecer a Deus como governante antes que aos homens” (Atos 5:27-29.23). A posição que tomaram e o princípio que anunciaram permanecem válidos hoje. Estes estão em conflito ela direto com idéia de “acompanhar” uma organização simplesmente porque afirma falara por Deus. Fazer da lealdade a uma organização o critério para se julgar o cristianismo da pessoa é uma clara perversão das Escrituras. Exortar, e mesmo, insistir, que as pessoas depositem fé em qualquer sistema terrestre, é algo sem qualquer apoio bíblico. Leia toda a bíblia verá claro que aquilo que nós somos chamados a fazer é depositar fé em Deus, fé em seu Filho e fé em sua Palavra conforme nos foi transmitida por aqueles a quem Ele inspirou, mas em parte alguma somos ensinados a depositar fé em homens ou numa organização terrestre, seguindo incondicionalmente sua liderança. Tal fé é mal orientada e leva a graves conseqüências. Os fatos da história mostram isso ao longo de todos os séculos e nosso século vinte não é exceção. Longe de encorajar tal fé em homens imperfeitos, todo o registro bíblico é um contínuo lembrete do perigo inerente a esse tipo de confiança.

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Vieram os sumos sacerdotes e os escribas com os anciãos. Eles lhe disseram: “Dize-nos em virtude de que autoridade fazes isso, ou quem é aquele que te deu esta autoridade?” Lucas 20:1, 2, Tradução Ecumênica. Autoridade era a questão que estava no centro do conflito entre Jesus Cristo e os líderes religiosos de seus dias. Eles achavam que a autoridade centralizava-se neles próprios, estendendo-se para aqueles a quem eles delegassem. Viam Jesus como ameaça à sua estrutura de autoridade. Viam-no como um intruso, um sedicioso religioso, que minava a posição deles perante o povo. Os ensinos dele eram heréticos e perigosos porque ele não se ajustava às normas estabelecidas pelos anciãos, às interpretações elaboradas pelos instrutores para a comunidade do povo pactuado de Deus. Desde então, a mesma questão surgiu vez após vez ao longo dos séculos. Incrivelmente, pessoas que antes tinham corajosamente resistido à “tirania da autoridade” foramdepois, muitas vezes, seduzidas pelo apelo ao que parece “prático” do ponto de vista humano, ou pela oportunidade que isso oferece de dominar os outros. Quando isto ocorre, a verdade é substituída por raciocínios ilusórios e plausibilidade. A consciência cede à conveniência. A integridade é substituída pelo pragmatismo e pela idéia de que o fim justifica os meios. Durante os anos 1975 e 1976, a organização das Testemunhas de Jeová passou por um período turbulento, que levou à completa reestruturação da cúpula da administração central da organização. O controle monárquico da sociedade civil pelo presidente foi substituído pelo controle por um colegiado, o Corpo Governante das Testemunhas de Jeová (Veja Crise de Consciência, capítulo 4). Que existiu autoridade na congregação cristã eu não questiono, pois as Escrituras usam claramente o termo. Mas que tipo de autoridade, para realizar o quê, e com que limites? Textos ficam vindo à minha mente: Mas vocês não devem ser chamados “rabis”; um só é o Mestre de vocês, e todos vocês são irmãos... Tampouco vocês devem ser chamados “chefes”, porquanto vocês têm um só Chefe, o Cristo. Como sabeis, os chefes das nações as mantêm sob seu poder, e os grandes, sob seu domínio. Não deve ser assim entre vós. Pelo contrário, se alguém quer ser grande entre vós, seja vosso servo (Mateus 23:8, 10, NVI - Mateus 20:25, 26, TEB). Quanto mais penso, mais convencido fico de que nada que alterasse esse relacionamento de irmãos poderia ser genuinamente cristão. Qualquer título ou posição oficial que, por si, ponha alguns num nível espiritual diferente dos outros, ou de algum modo infrinja o direito exclusivo do Filho de Deus como único Mestre e Instrutor dos seus seguidores, deve ser, creio, um desvio do espírito do cristianismo. Que dizer das designações encontradas nas Escrituras Cristãs, tais como “pastor”, “instrutor”, “profeta”, “ancião” e outras? Parece evidente que todas estas efetivamente descreviam, não cargos ou posições oficiais numa

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estrutura de autoridade, mas serviços a serem prestados à comunidade dos irmãos ou qualidades e habilitações pessoais a serem usadas em benefício dos outros. A autorização que tais pessoas tinham para prestar esses serviços não fazia deles cabeças espirituais sobre seus irmãos, pois “a cabeça de todo homem é o Cristo”, e ninguém mais (1ª Coríntios 11:3; confira 1 Coríntios 12:4-11, 27-31). Esses serviços, qualidades e habilidades tinham como alvo ajudar as pessoas a “crescer” como cristãos maduros, não as fazer permanecer como crianças espirituais e mentais, constantemente dependentes de outros que pensem por eles, tomem decisões por eles, levando-os assim a serem facilmente conduzidos de um ensino mutável para outro (Confira Efésios 4:11-16; 1 Coríntios 3:1-3; Hebreus 5:12-14). Tinham de ser como crianças em sua relação com Deus e Cristo, não com os homens. O objetivo de se associarem em congregações era promover seu crescimento como pessoas maduras, homens e mulheres “plenamente desenvolvidos”, que não precisam e nem reconhecem nenhuma liderança espiritual a não ser a de Cristo (Mateus 18:3; 23:9; 1 Coríntios 14:20; 16:13; Efésios 4:14). O apóstolo, escrevendo a Timóteo, descreveu a comunidade cristã em termos de uma relação familiar. (1 Timóteo 5:1, 2) Os irmãos que eram anciãos na idade e na experiência cristã podiam corretamente servir de modo similar ao do irmão mais velho da família. Para ilustrar, na ausência do chefe da família, seus filhos mais velhos podiam encarregar-se de fazer a família cumprir as instruções deixadas por ele, incentivá-la a obedecer aos desejos e instruções dados. Mas esses filhos mais velhos jamais poderiam agir como se fossem o chefe da família, o dono da casa, como se eles próprios tivessem o direito de estabelecer regras de conduta para a família além das ajá deferência estabelecidas chefe. que Tampouco poderiam esperar ou exigir e a pelo submissão pertenciam a ele, olegitimamente chefe. Assim seria na família ou casa cristã, que tem a Cristo como Cabeça e Amo, com as instruções que ele mesmo deu, quer pessoalmente, quer através dos apóstolos que escolheu (1ª Coríntios 11:3; Efésios 4:15, 16). O Corpo Governante fundamenta sua autoridade no ensino de que o próprio Cristo tinha instituído esta estrutura centralizada de autoridade. Conforme declara A Sentinela de 15 de março de 1990 (páginas 11 e 12):

Embora a família de Deus seja composta coletivamente de todos os cristãos ungidos, há abundante evidência de que Cristo escolheu um pequeno número de homens dentre a classeescravo para servir como corpo governante visível. O artigo prossegue afirmando que de início os doze apóstolos formavam este “corpo governante” e que: No mais tardar por volta do ano 49 EC, o corpo governante fora ampliado para incluir, não só os apóstolos remanescentes, mas também vários outros anciãos de Jerusalém. (Atos

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15:2)... Cristo, o Cabeça ativo da congregação, usou este corpo governante ampliado para resolver o importante assunto doutrinal quanto a cristãos não judeus serem ou não circuncidados e se submeterem à Lei de Moisés. No todo, a afirmação é que depois que a congregação cristã ultrapassou os limites de Jerusalém e da Judéia, esse corpo governante atuou organizado como centro de autoridade, exercendo sua direção a partir de Jerusalém sobre todas as congregações do primeiro século.Não achei na história bíblica nem na religiosa algo que apóie tal afirmação . A “abundante evidência” a que se refere A Sentinela simplesmente não existe. Das declarações diretas e vigorosas de Paulo em sua carta aos Gálatas, ficou claro que ele não considerava Jerusalém como o centro administrativo divinamente designado sobre toda a atividade congregacional da terra. Se este “corpo governante” designado por Cristo tivesse existido, Paulo teria, após sua conversão, certamente entrado em contato com ele de imediato, submissamente buscando sua orientação e direção, especialmente tendo em vista a pesada responsabilidade que Cristo lhe conferira de ser “apóstolo para os gentios” (Atos 9:15; Romanos 11:13). Se este “corpo governante” tivesse existido, Paulo certamente se teria preocupado em coordenar sua obra com a de seus membros. Deixar de harmonizar sua obra com o “corpo governante” designado por Cristo e submeter-se à direção dele teria sido uma séria “falta de respeito pela ordem Teocrática”. Cristo, porém, absolutamente nada disse a Paulo (Saulo)sobre ir a Jerusalém. Em vez de mandálo de volta a Jerusalém, de onde Paulo acabara de vir, Cristo o enviou a Damasco. Ele deu as instruções que tinha para Paulo por meio de um morador de Damasco chamado Ananias, que obviamente não era membro de um “corpo governante” sediado em Jerusalém (Atos 9:1-17; 22:5-16). Logo no início de sua carta aos Gálatas, o próprio Paulo esforçou-se em deixar claro que seu apostolado e sua orientação espiritual não vinham de homens ou por meio deles, incluindo especificamente os apóstolos em Jerusalém (Gálatas 1:1, 10, 11). Ressaltou o fato de que, após sua conversão, não recorreu a nenhuma sede mundial de autoridade humana, dizendo:

Não entrei imediatamente em conferência com carne e sangue. Tampouco subi a Jerusalém, aos que eram apóstolos antes de mim, mas parti para a Arábia e voltei novamente a Damasco [na Síria] (Gálatas 1:16, 17). Foi só três anos depois que Paulo fez uma viagem a Jerusalém. E ele afirma especificamente que nessa época viuapenas Pedro e o discípulo Tiago, mas não viu nenhum outro apóstolo durante os quinze dias que ali passou. Ele não estava, portanto, num “curso de anciãos na sede mundial”, recebendo instruções em algum tipo de sessão diária dirigida por um “corpo governante”. Temos uma idéia da seriedade com que ele encarava este assunto quando disse:“eis que não estou

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mentindo à vista de Deus” (Gálatas 1:18-20). Depois, Paulo estabeleceu base em Antioquia, não em Jerusalém. Realizou jornadas missionárias e quem o enviou foi a congregação de Antioquia, não a de Jerusalém. Embora estivesse relativamente próximo de Jerusalém (Antioquia fica na região costeira da Síria),passou-se longo período de tempo antes que Paulo tivesse motivo ou ocasião para voltar àquela cidade. Como ele diz: “Daí, quatorze anos depois, subi novamente a Jerusalém, com Barnabé, tomando também comigo a Tito. Mas, subi em resultado de uma rev elação” (Gálatas 2:1, 2).

Pela descrição dada, isto pode ter sido na época do concílio sobre a circuncisão e a observância da lei, registrado em Atos, capítulo 15. Paulo afirma ter ido então a Jerusalém apenas “em resultado de uma revelação”. Isto mostra que os cristãos não olhavam costumeira e rotineiramente para Jerusalém como a sede da autoridade centralizada para todas as congregações cristãs, o lugar onde se resolviam as questões de toda e qualquer espécie. Foi precisouma revelação divina para que Paulo fizesse esta viagem especial até lá. O relato de Atos, capítulo 15, mostra por que Jerusalém era o lugar lógico onde tratar deste assunto específico. Em ponto algum, o relato indica que Jerusalém era sede de algo como um corpo administrativo internacional. Ao invés, foi primariamente por ter sido a própria Jerusalém a fonte do desconcertante problema que Paulo e Barnabé tinham encontrado em Antioquia, onde serviam. Tudo estava relativamente calmo em Antioquia até que “homens de Jerusalém” desceram e causaram problemas, insistindo que os cristãos gentios deviam ser circuncidados e guardar a Lei (Atos 15: 1, 2, 5, 24). A congregação cristã tivera início em Jerusalém. A Judéia, com sua capital Jerusalém, era onde a firme adesão à guarda da lei prevalecia mais intensamente entre as pessoas que professavam o cristianismo. Essa atitude ainda perdurou por anos após a realização deste concílio especial (Gálatas 2:11-14; Atos 21:15, 18-21). Os causadores do problema em Antioquia eram homens estabelecidos em Jerusalém. Estes fatores fizeram de Jerusalém o local natural para o debate e a solução desse problema específico. A presença dos apóstolos divinamente escolhidos era obviamente um fator de peso. Todavia, essa circunstância desapareceria à medida que os apóstolos morressem sem deixar sucessores, ninguém com dons e autoridade apostólicos. De modo que a situação em meados do primeiro século envolvia fatores que não eram de natureza permanente ou contínua, e assim eles simplesmente não são aplicáveis à nossa época. Além disso, resta o fato de que mesmo quando os apóstolos estavam vivos, e em Jerusalém, o apóstolo Paulo claramente não via esse corpo apostólico em Jerusalém como um “corpo noBem, sentido de um centro administrativo internacional, a “sedee de umagovernante” organização”. agora eu pergunto, será que o corpo dos apóstolos outros anciãos da congregação de Jerusalém convocaram Paulo e Barnabé para dizer-lhes: “Olhem aqui! Soubemos que vocês dois partiram em viagem

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missionária e a terminaram sem aparecer aqui em Jerusalém para nos prestar relatório. Sabem quem somos nós? Nós somos o Conselho de Jerusalém. Não reconhecem a chefia do Senhor Jesus Cristo? Se não aparecerem aqui depressa, vamos tomar uma ação disciplinar contra vocês!” É sto i o que diz o relato? Bem, se eles tivessem agido dessa maneira com relação a Paulo e Barnabé, ambos enviados pelo espírito santo, então este conselho dos apóstolos em Jerusalém e outros anciãos da congregação judaica ter-se-ia colocado acima da chefia do Senhor Jesus Cristo. As expressões “conselho de Jerusalém” ou “corpo apostólico” são, na realidade, muito mais exatas que a expressão “corpo governante” para descrever aquilo que efetivamente existiu e ocorreu em Jerusalém. O registro, de fato, indica que não foi um pequeno grupo de homens com autoridade administrativa especial que se reuniu em sessão secreta para tomar uma decisão. Antes, o registro indica uma assembléia de considerável tamanho dos anciãos de Jerusalém, com a congregação inteira eventualmente expressando sua aprovação com respeito, no mínimo, a certos pontos da decisão tomada. As circunstâncias ali nem de longe recordam o arranjo atualmente em vigor dentro da organização das Testemunhas de Jeová e de seu Corpo Governante com sede em Brooklyn. A Sentinela de 15 de março de 1990 manipula de modo gritante a evidência para ajustá-la à tese que defende. Na página 10 ela exibe uma gravura do suposto “corpo governante do primeiro século” com apenas dezenove ou vinte homens presentes. aFla também (na página 12) que Cristo acrescentou “vários outros anciãos de Jerusalém” ao corpo governante. Mas o relato de Atos capítulo 15 indica queos anciãos em sua

totalidade estavam presentes ao concílio realizado, não apenas pois menciona consistentemente os “apóstolos e ose anciãos ” sem“vários limitardeles”, seu número. Umas 3.000 pessoas tinham sido batizadas em Pentecostes, e não muito depois disso apresenta-se o número de crentes como “cerca de cinco mil”. (Atos 2:41; 4:4) Isso foi evidentemente no ano 33 a.D. Quão razoável é acreditar que 16 anos mais tarde, em 49 a.D., houvesse apenas um pequeno punhado de anciãos em Jerusalém? Certamente o seu número teria lotado a sala retratada na gravura de A Sentinela. Isso, porém, não se harmonizaria ao conceito de um “pequeno número de homens” formando um corpo governante, tal como os 07 que agora formam o Corpo Governante das Testemunhas de Jeová, sediado em Brooklyn. A revista também apresenta um quadro totalmente falso da suposta formação de um “corpo governante” entre os adeptos da Torre de Vigia, nos últimos anos do século 19. Conforme mostra Crise de Consciência, capítulo 3, de início, Charles Taze Russell, e não um corpo governante, é que exercia pleno controle sobre a Sociedade Torre de Vigia. Até as sua“congregações”, morte em 1916,eele era isso reconhecido como “pastor” único ea exclusivo de todas é por que se referiam normalmente ele como “Pastor Russell”. O seu sucessorJoseph Franklin Rutherford igualmente exercia total controle sobre a organização. Nem de longe existiu um corpo

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governante entre as Testemunhas de Jeová até 1976. O artigo, da mesma forma, distorce totalmente a verdadeira situação relacionada com o controle administrativo existente nos anos 70, conforme documentado no capítulo 3 de Crise de Consciência. Tem-se a impressão de que o autor dos artigos deA Sentinela de 1990 ignorava os fatos ou então foi culpado de invenção deliberada (Atos 15:6, 12, 22.18). Fica claro que o evento único e isolado do concílio de Jerusalém (registrado em Atos, capítulo 15) não é prova da existência de um corpo governante com autoridade abrangente sobre os cristãos do mundo todo. A congregação de Antioquia agiu sem consultar Jerusalém ou obter sua aprovação. Analisando a posição daquela época, parece claro que se tivesse existido um “corpo governante” como corpo administrativo central da congregação primitiva, devia então haver alguma evidência disso além daquela única reunião em Jerusalém. Em parte alguma das Escrituras vemos isto. Em nenhum dos escritos de Paulo, Pedro, João, Lucas, Judas ou Tiago vê-se algum indício de que homens em Jerusalém, ou qualquer corpo centralizado de homens exercessem supervisão e controle sobre o que se passava nos muitos outros lugares onde havia cristãos. Nada que indique que as atividades de Paulo, Barnabé, Pedro ou quaisquer outros fossem exercidas sob controle e supervisão de um “corpo governante”. Quando os judeus se rebelaram contra o domínio imperial romano e Jerusalém foi destruída em 70 a.D., onde, daí em diante, passou a funcionar o suposto “corpo governante” cristão? Mais uma vez, seria razoável que houvesse pelo menos algum indício disto, se este era mesmo um arranjo de Deus, se este corpo administrativo centralizado era o instrumento divino de Cristo Jesus para dirigir sua congregação em toda a terra. Os únicos escritos bíblicos subseqüentes à queda de Jerusalém são evidentemente os do apóstolo João. Ele aparentemente escreveu todos por volta do final do século, décadas, portanto, após a destruição de Jerusalém. Nenhuma de suas cartas dá o menor indício de um corpo administrativo central funcionando entre os cristãos de seus dias. No livro de Revelação, suas visões mostram Cristo Jesus enviando mensagens a sete congregações da Ásia Menor. Em nenhuma destas mensagens há indício de que estas congregações estavam sob algum controle exterior senão o do próprio Cristo. Não há sinal de que Ele as dirigisse por meio de um “corpo governante” terrestre visível. Os escritos dos primitivos autores cristãos do segundo e terceiro séculos estão disponíveis para consulta, mas estes também nada revelam que indique a existência de uma administração central que supervisionasse as numerosas congregações cristãs. A história desse período revela algo bem diferente. Mostra que a base desta autoridade centralizada foi fruto de que um levou desenvolvimento e pós-bíblico Por umcentralizado processo gradual séculos, isto pós-apostólico veio a resultar num tipo de .controle mediante uma liderança organizacional visível, que se ajusta ao conceito da Torre de Vigia sobre um “corpo governante”.

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O Mito do "Escravo Fiel e Discreto"

Estes versículos da parábola de Jesus são usados pela Sociedade Torre de Vigia com mais freqüência do que quaisquer outros, para manter um controle apertado sobre as Testemunhas de Jeová:

Quem é realmente o escravo fiel e discreto a quem o seu amo designou sobre os seus domésticos, para dar-lhes o seu alimento no tempo apropriado? Feliz aquele escravo, se o seu amo, ao chegar, o achar fazendo assim! Deveras, eu vos digo: Ele o designará sobre todos os seus bens. (Mateus 24:45-47) A Sociedade Torre de Vigia tem usado estes versículos da parábola para extrair deles um sentido profético incorreto e completamente injustificado.(A Sentinela, 1º de setembro de 1981, p. 24; The Watchtower, 15 de julho de 1960, p. 462; Aproximou-se o Reino de Deus de Mil Anos , 1975, p. 350) Até 1895, a Sociedade Torre de Vigia ensinou que o "Escravo" era todo o corpo de Cristo. (Zion's Watch Tower, novembro de 1881, p. 291; janeiro de 1890, p. 1171; 1.º de abril de 1895, p. 1797). Mas em 1896 eles mudaram de idéia e um indivíduo, Charles T. Russell, foi escolhido como "Escravo". Acontecia que Russell também era quem mandava na Sociedade Torre de Vigia. Comentadores bíblicos, fora da Sociedade Torre de Vigia, entendem esta passagem como uma parábola, que Jesus deu para encorajar cada um dos seus seguidores individuais a ser um servo fiel e sábio, em vez de um escravo mau. Jesus não estava dando aqui uma profecia como a Sociedade Torre de Vigia defende. Em apoio disso, Jesus continuou, dizendo nos versículos seguintes:

Mas, se é que aquele escravo mau disser no seu coração: 'Meu amo demora', e principiar a espancar os seus co-escravos, e a comer e beber com os beberrões inveterados, o amo daquele escravo virá num dia em que não espera e numa hora que não sabe, e o punirá com a maior severidade e lhe determinará a sua parte com os hipócritas. Ali é onde haverá o [seu] choro e o ranger de [seus] dentes." (Mateus 24:48-51) Porém, Russell converteu esta admoestação numa designação pessoal dele próprio como o "Escravo Fiel e Sábio", o porta-voz de Deus para a Humanidade! Entre 1896 e 1927, a Sociedade Torre de Vigia ensinou que Russell era aquele Servo (ou Escravo). (Zion's Watch Tower, 1º de Março de 1896, p. 1946; Studies in the l. 1 , ,ediçõ de 1924-1927, p. 6049; 7 ; vo l.Harp 4, p.of613; 7, p.p.3,229). 5, 418, 422; Scriptures The Watch, vo Tower 1º deesMarço de 1917, p. Godvol. , 1921,

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Rutherford, o segundo presidente da Sociedade Torre de Vigia, mudou essa crença em 1927 e afirmou que a designação do escravo aplicava-se, não a um indivíduo (Russell), mas sim à organização Sociedade Torre de Vigia. Foi também publicado falsamente que Russell nunca afirmara ser esse "Escravo"(The Watch Tower, 15 de fevereiro de 1927, p. 56; Aproximou-se o Reino de Deus de Mil Anos , 1975, p. 346). No entanto, como os críticos expuseram esta mentira da Sociedade Torre de Vigia, eles fizeram uma admissão parcial no seu último livro de história, Testemunhas de Jeová -- Proclamadores do Reino de Deus (1993), dizendo:

"O conceito que ela [a esposa de Russell] expressara sobre a identidade do 'servo fiel' chegou a ser sustentado de modo geral pelos Estudantes da Bíblia por uns 30 anos." (pág. 143) O livro na mesma página também lança as culpas sobre a esposa de Russell, Maria, por ter ensinado que Russell era aquele "Servo". Os escritores do livro Proclamadores estão tentando dar a entender que desconhecem a Watch Tower de 1º de março de 1917, p. 6049, que diz muito claramente que "a Watch Tower [Torre de Vigia] proclama sem hesitações o irmão Russell como 'aquele servo fiel e sábio'". A Sociedade Torre de Vigia também ensina, sem qualquer apoio, que o "Escravo" representa a congregação cristã desde o seu começo em 33 a.D. até agora:

"As Testemunhas de Jeová crêem que esta parábola se refere à única congregação verdadeira dos seguidores ungidos de Jesus Cristo. A partir de Pentecostes de 33 E.C. e continuando durante os 19 séculos desde então , esta congregação semelhante a um escravo tem alimentado espiritualmente os seus membros, fazendo isso com fidelidade e discrição. As Testemunhas de Jeová entendem que o “escravo” é composto por todo s os cristãos ungidos como grupo na terra em qualquer tempo determinado durante os 19 séculos desde Pentecostes. (A Sentinela, 1.º de setembro de 1981, p. 24)” "Desde Pentecostes de 33 A.D., até esta hora presente , esta ("alimentação") tem sido realizada amorosa e cuidadosamente. Sim, e estes "domésticos" têm sido alimentados com comida espiritual progressiva que os mantém a par com a luz clara que clareia mais e mais até o dia estar firmemente estabelecido." (The Watch Tower, 15 de jul ho de 1960, p. 435)

Portanto, a bem nutrida congregação cristã ("Escravo"), como afirma a Sociedade Torre de Vigia, tinha mais de 1800 anos de idade quando Russell apareceu em cena em meados da década de 1870. Esta afirmação é um completo disparate, sem qualquer prova ou justificação. Porque, se era mesmo verdade que havia um "Escravo" durante de 1800 anos, não teria ehavido necessidade de Russelloperando "reviver as grandesmais verdades ensinadas por Jesus pelos apóstolos" (Jehovah's Witnesses in the Divi ne Purpose, 1959, p. 17).

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A Sociedade Torre de Vigia não consegue dizer onde estava essa congregação com 1800 anos de idade! Russell certamente não procurou essa congregação inexistente, nem essa mítica congregação procurou Russell! De fato, Russell nunca se voltou para qualquer organização terrestre. Ele agiu independentemente e por conta própria. Russell e os seus associados eram na realidade contra as organizações terrestres. Russell afirmou que:

"Nós não pertencemos a nenhuma organização terrestre [...] Todos os santos que vivem agora, ou que viveram durante esta era, pertenceram à organização da nossa igreja; tais são todos uma Igreja, e não existe nenhuma outra reconhecida pelo Senhor. Por essa razão, qualquer organização terrestre que interfira de algum modo com esta união de santos é contrária aos ensinos das Escrituras e oposta à vontade do Senhor". (Zion's Watch Tower, fevereiro de 1884, pág 2) Consideremos agora a afirmação da Sociedade Torre de Vigia, de que Cristo voltou invisivelmente em 1914 e em 1919 fez um julgamento no templo que resultou na seleção da Sociedade Torre de Vigia em detrimento de todas as outras igrejas! Jesus realizou isto apesar do fato de saber que a Sociedade Torre de Vigia estava espiritualmente impura nesse mesmo tempo!

"As Escrituras descrevem-nos como tendo vestes impuras devido à sua longa associação com a apostasia cristã [...] Eles tinham muitas práticas, características e crenças similares às seitas da cristandade semelhantes a joio." (The Watchtower, 15 de julho de 1960, pp. 435-436)

Outro critério para a seleção da Sociedade Torre de Vigia foi este:

"A questão era servir alimento, a espécie correta de alimento no tempo apropriado . Tinha de ser sobre isso que o retornado amo precisava fazer uma decisão." (Aproximou-se o Reino de Deus de Mil Anos , 1975, p. 350) Mas observamos que "a espécie correta de alimento" servido pela Sociedade Torre de Vigia nesse tempo consistia, entre outras coisas, nisto. 

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O ensino de que o tempo do fim tinha começado em 1799. Cristo voltou de forma invisível em 1874. O mundo será destruído em 1914. As pirâmides são Testemunhas de Deus, uma "Bíblia" em pedra. Rutherford tinha começado a pregar nos seus discursos que o mundo acabaria em 1925. Mais tarde, em 1925, ele publicou um livro sobre o mesmo assunto. Foi publicado em 1917 o livro The Finished Mystery (O Mistério Consumado). O livro continha a matéria mais incoerente que a Sociedade Torre de Vigia alguma vez publicou num único livro. (veja Apêndice - A)

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O Corpo Governante quer que acreditemos que apesar destas aberrações da Sociedade Torre de Vigia nesse tempo, Jesus decidiu escolher a Sociedade Torre de Vigia acima de todas as outras seitas! E é claro que a designação foi “confirmada” por Jesus e transmitida à Sociedade Torre de Vigia, tudo isso ocorrendo de forma invisível! Outro ponto importante é que o "escravo fiel e discreto" supostamente é constituído por todo o restante dos 144.000, que atualmente são pouco mais de 10.000 segundo a última contagem efetuada pela Sociedade Torre de VigiaAnuário [ da Testemunhas de Jeová, 2011]. Estes "ungidos" do restante estão espalhados por todo o mundo. É suposto que este "escravo" composto de umas 10.000 pessoas ungidas partilhe na distribuição de alimento conforme diz a parábola, e como corpo coletivo eles foram todos designados sobre os domésticos do amo.(Unidos na Adoração do Único Deus Verdadeiro, 1983, p. 119; Aproximou-se o Reino de Deus de Mil Ano s, 1975, pp. 342-343; A Sentinela , 1º de setembro de 1981, p. 24). É uma ficção completa dizer que estes 10.000 "ungidos" do restante, que estão distribuídos à volta do mundo, fazem qualquer tipo de preparação e distribuição do alimento espiritual apresentado às Testemunhas de Jeová pela Sociedade Torre de Vigia. Raymond Franz, ex-membro do Corpo Governante da Sociedade Torre de Vigia, no seu livro In Search of Christian Freedom (Em Busca de Liberdade Cristã, 1991) refere-se a este assunto, dizendo:

"Essa é provavelmente a ficção mais óbvia que podemos encontrar em todo o conjunto de explicações sobre as Escrituras publicadas pela organização. O fato é que nem sequer 1% do número de 'ungidos' tem a mínima parte em determinar o que as Testemunhas de Jeová recebem sob a forma de material bíblico ou na elaboração de políticas ou na direção das atividades dessas pessoas [...] A esmagadora maioria dos artigos publicados na revista A Sentinela foram escritos por pessoas que não pertencem à 'classe ungida' ." (p. 154) Outro ponto importante é que a data 1914 para a chegada de Jesus é baseada numa cronologia da Sociedade Torre de Vigia que é inquestionavelmente falsa. A data 607 A.E.C. para a destruição de Jerusalém, que eles usam como base para os seus cálculos, tem contra si uma quantidade de evidência muito forte e simplesmente não tem qualquer apoio fora da Sociedade Torre de Vigia (Veja o Capítulo 06 deste Livro). O fato de o conceito da identificação do "Escravo" se basear em cálculos cronológicos falsos obviamente demonstra que o "Escravo" não tem "existência" justificada. Carl Olof Jonsson, no seu livro The Gentile Times Reconsidered (Os Tempos dos Gentios Reconsiderados, 1998), recorrendo a argumentos irrefutáveis e muito sólidos, demonstra que é falsa a posição da Sociedade Torre de Vigia quanto à data 1914 e quanto ao mito subseqüente do "Escravo".

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Consideramos várias razões que provam que "o escravo fiel e discreto" é um produto da imaginação da Sociedade Torre de Vigia. Eis um resumo destas razões.

(1) A Sociedade Torre de Vigia nem sequer tem certeza sobre o que deseja publicar sobre a entidade do "Escravo". Até 1896, a Sociedade Torre de Vigia especulou que o "Escravo" era uma organização (o inteiro corpo de Cristo). Entre 1896 e 1927 (11 anos depois da morte de Russell) a Sociedade Torre de Vigia defendeu que o "Escravo" era um indivíduo", Russell. Depois de 1927 a Sociedade Torre de Vigia novamente conjeturou que o "Escravo" era uma organização. (2) A Sociedade Torre de Vigia considerava que o "Escravo" teve uma existência durante cerca de 1800 anos, desde Pentecostes. Não foi apresentada qualquer justificação ou prova para isso, apenas se afirmou tal coisa. Isto foi, mais uma vez, uma especulação crassa. (3) Apesar do fato de o "Escravo" estar espiritualmente impuro e estar servindo alimento "contaminado", espera-se que acreditemos que Jesus selecionou a Sociedade Torre de Vigia como "Escravo" dentre todas as outras seitas cristãs. Cristo alegadamente fez isso apesar do fato de a Sociedade Torre de Vigia estar ainda espiritualmente impura e servindo "alimento" contaminado no exato momento em que estava sendo feita a sua designação por Jesus! Tudo isto foi admitido pela Sociedade Torre de Vigia nas suas próprias publicações, conforme foi mostrado acima. (4) O "Escravo", que supostamente é composto por todo o restante dos 144.000, atualmente totaliza umas 10.000 pessoas "ungidas", e é suposto que todas colaborem em providenciar "alimento" às Testemunhas de Jeová em todo o mundo. Porém, na realidade, estas pessoas são apenas figuras decorativas e nunca são consultadas em nenhuma das decisões ou anúncios feitos pela Sociedade Torre de Vigia. Todo o conceito do modo como funciona o restante é falso. (5) Uma cronologia completamente falsa estabeleceu 1914 como a data da "volta" de Jesus. Como já se provou que essa cronologia é falsa, pode-se afirmar que Jesus não voltou em 1914 e consequentemente não podia ter selecionado a Sociedade Torre de Vigia como o "Escravo" em 1919!

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Sociedade Torre de Vigia dos EUA é uma grande divulgadora da Bíblia no mundo inteiro. Além de citar centenas de versões em seus artigos, ela mesma tem publicado algumas edições, além da sua Tradução do Novo Mundo. Por se apresentar ao mundo como a única representante legítima de Deus na Terra, a Torre de Vigia chama para si uma grande responsabilidade. E um dos pontos que exige seriedade de ação por parte dela é a análise conscienciosa do contexto de passagens bíblicas que venham a ter influência na vida das Testemunhas de Jeová, já que as Testemunhas seguem à risca quase tudo que é dito pela Torre. No quesito da contextualidade bíblica, a Torre de Vigia já publicou vários artigos conclamando os leitores da Bíblia a estarem atentos ao contexto bíblico, e isso é elogiável. Ela diz que para muitas pessoas as tradições religiosas têm mais peso do que o texto sagrado. Infelizmente isso realmente tem ocorrido. Portanto, tendo em mente esse compromisso que a Sociedade Torre de Vigia assumiu publicamente, considere essa análise, passo a passo, do capítulo 8 do livro bíblico de Romanos. No discurso da comemoração da morte de Cristo, promovida uma vez por ano pelas Testemunhas de Jeová, há um tradicional momento em que o orador pergunta quem está habilitado a tomar dos emblemas (o pão e o vinho). Qual é a passagem bíblica que ele usa para determinar isso? Mesmo que ele não a cite para os ouvintes, o esboço chama atenção para o seguinte texto de Romanos:"O próprio espírito dá testemunho com o nosso espírito de que somos filhos de Deus" (Romanos 8:16). Daí, ele diz que apenas 144.000 pessoas (em toda a história cristã) são esses "filhos de Deus", e o resto da humanidade não é (mesmo os cristãos verdadeiros). O orador também poderá se referir a esses "filhos de Deus" usando a palavra "ungidos". Quem não fizer parte desses 144.000, ou seja, não for "ungido", conseqüentemente não é filho de Deus.

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Já parou para analisar o contexto dessas palavras de Romanos? Por que não tenta? Pode estar certo que não é uma daquelas passagens bíblicas difíceis de entender. Um principiante no estudo das Escrituras compreenderá facilmente o que Paulo estava dizendo. Para se entender essa passagem, é preciso voltar ao capítulo 7, especialmente os últimos versículos, onde Paulo explica que a tendência da carne (quer dizer do ser humano) é pecar, e, por isso, através de obras da Lei não seria possível a pessoa ser purificada diante de Deus. Paulo diz:

"Homem miserável que eu sou! Quem me resgatará do corpo que é submetido a esta morte? Graças a Deus, por intermédio de Jesus Cristo, nosso Senhor! Assim, pois, com a mente, eu mesmo sou escravo da lei de Deus, mas com a minha carne, escravo da lei do pecado". Romanos 7:24, 25. São os versículos acima que Paulo tem em mente ao começar o capítulo 8 de Romanos. Diz o início do capítulo: "Portanto, os em união com Cristo Jesus não têm nenhuma condenação. Pois a lei desse espírito que dá vida em união com Cristo Jesus libertou-te da lei do pecado e da morte. Porque, havendo incapacidade da parte da Lei, enquanto ela estava fraca por intermédio da carne, Deus, por enviar o seu próprio Filho na semelhança da carne pecaminosa e concernente ao pecado, condenou o pecado na carne, para que a exigência justa da Lei se cumprisse em nós, os que andamos, não de acordo com a carne, mas de acordo com o espírito". Romanos 8:1-4. Note a parte final do texto: "Para que a exigência justa da Lei se cumprisse em nós, os que andamos, não de acordo com a carne, mas de acordo com o espírito". O mundo, em geral, estava afastado de Deus e de Cristo, não podendo andar de acordo com o espírito. Mas quem andava naquele tempo de acordo com o espírito? O "nós" a quem Paulo se referiu foram todos os cristãos daquele tempo. Você, leitor, anda de acordo com a carne ou de acordo com o espírito? Se for de acordo com o espírito significa que você é um cristão autêntico! Se for de acordo com a carne veja a seguir qual será seu destino. A partir do versículo seguinte (v. 5), Paulo começa a fazer um contraste entre duas categorias: (1ª) os que andam de acordo com a carne e (2ª) os que andam de acordo com o espírito. Ele não menciona duas sub-categorias de cristãos, apenas uma só ("os que andam de acordo com o espírito"). Diz ele:

"Pois, os que estão de acordo com a carne fixam as suas mentes nas coisas da carne, mas os que estão de acordo com o espírito, nas coisas do espírito". (v. 5)

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Lembre-se que a "carne" mencionada aqui por Paulo é a carne pecaminosa que leva ao pecado. Perceba que ele disse queo que diferencia as duas categorias é no que elas "fixam as suas mentes", e não onde elas vão viver a eternidade. De fato, os que fixam as mentes nas coisas da carne não têm a perspectiva de vida eterna, uma vez que no verso a seguir Paulo diz:

"Pois a mentalidade segundo a carne significa morte, mas a mentalidade segundo o espírito significa vida e paz." (v. 6) Ele diz mais:

"De modo que os que estão em harmonia com a carne não podem agradar a Deus." (v. 8) Você, leitor, quer agradar a Deus ou não? Se desejar agradá-lo então você tem que andar de acordo com o espírito. E se você anda de acordo com o espíritovocê é filho de Deus, concorda? (Baseie a sua resposta no que Paulo escreveu). Fazendo um contraste com os que andam de acordo com a carne, Paulo afirmou:

"No entanto, vós estais em harmonia, não com a carne, mas com o espírito, se o espírito de Deus verdadeiramente morar em vós. Mas, se alguém não tiver o espírito de Cristo, este não pertence a ele.” (v. 9) Logicamente, quem não tem o espírito de Cristoanda de acordo com a "carne" e escolheu a morte como caminho. Nunca se esqueça desse pormenor! Logo depois, Paulo complementa:

"Porque todos os que são conduzidos pelo espírito de Deus, estes são filhos de Deus." (v. 14). Você, leitor, é conduzido pelo espírito, ou pela carne? Depois da citação acima, finalmente Paulo chega ao versículo mencionado no esboço do discurso da Comemoração:

"O próprio espírito dá testemunho com o nosso espírito de que somos filhos de Deus". (v.16) Por quê? Porque os cristãos são conduzidos pelo espírito de Deus, e não pela carne. apóstolo escreveu essas nem palavras ele não tinha em mente local onde osQuando cristãosopassariam a eternidade, tampouco a quantidade final odesses filhos de Deus. Ele não fez nenhuma referência a esses pormenores.

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Diante de tudo isso que você leu até aqui, note o que a Torre de Vigia escreveu sobre esse texto de Romanos:

"Textos bíblicos como esses tiveram aplicação somente aos que estavam destinados à recompensa celestial e ao reino." A Sentinela, 01/04/62, p. 198, § 2. As Testemunhas de Jeová chamam os que têm esperança celestial de "ungidos", ou "escravo fiel e discreto". Dentre as quase 7 milhões de Testemunhas no mundo, apenas umas 9.000 professam ser dessa classe "ungida". Veja o que é dito sobre esses "ungidos":

"Em estrito sentido bíblico, Jesus é o 'mediador' apenas dos cristãos ungidos." A Sentinela, 15/09/79, p. 32.

Sendo assim, segundo A Sentinela, somente umas nove mil Testemunhas de Jeová são "conduzidas pelo espírito", e têm Jesus Cristo como mediador. E as outras? Se o ensino da organização fosse esquecido por um instante, e se levasse em consideração apenas o texto de Romanos, não haveria alternativa senão a de que as demais Testemunhas são 'conduzidas pela carne', e não têm esperança de vida eterna. Esperam apenas a morte permanente como destino. Nem ao nome de Jesus poderiam recorrer em busca de resgate, já que Jesus não é mediador delas. Evidentemente, a Torre tenta contornar essa conclusão lógica à base de Romanos, e explica que o entendimento não é bem esse. As outras Testemunhas têm, afinal, esperança! Ela diz: "Antes de adotá-los como seus filhos por meio de Jesus Cristo, Jeová sujeitará todos esses humanos aperfeiçoados a uma última prova cabal." Livro Unidos na Adoração do Único Deus Verdadeiro, p. 191, § 16. Na prática, o que acontece entre as Testemunhas de Jeová é que Jesus é mediador dos "ungidos", e os "ungidos" são mediadores das "outras ovelhas", pois atuam como "embaixadores, substituindo a Cristo", segundo acham. É por isso que toda Testemunha de Jeová acredita que qualquer ensinamento proveniente da Torre de Vigia é incontestavelmente vindo do próprio Deus. Ou seja, como se não bastasse o conflito com o texto de Romanos, que não especifica duas classes de cristãos, ainda acham que existem outros livrosfora da Bíblia que revelam uma nova "vontade de Deus", diferente daquela escrita por Paulo em Romanos. É como se por meio da Torre de Vigia Deus estivesse dizendo o seguinte: "Olhem, aquele texto não deve ser mais entendido daquela forma!Pois ele não foi escrito para vocês apenasovelhas": . Ele sediz dirige aos 'ungidos'!". Por causa dessa nova "revelação divina" a Sentinela às "outras

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"É também aos cristãos ungidos pelo espírito, que governarão naquele reino, que se dirige a maior parte das Escrituras Gregas Cristãs, inclusive as promessas de vida eterna." A Sentinela, 15/12/74, p. 752. Bem... Não se trata aqui de rebeldia ou iniqüidade, mas responda de maneira sincera, e seja honesto consigo mesmo à vista de Deus, lembrando do que leu passo a passo em Romanos: O ensino de queos cristãos não são mais filhos de Deus está realmente de acordo com as Escrituras? A resposta é óbvia: "NÃO!" O que aconteceu, então, com aquele compromisso que a Torre de Vigia assumiu de considerar o contexto dos versículos bíblicos de forma honesta e precisa? É claro que ela já percebeu que deu outra conotação para o capítulo 8 de Romanos. Não se trata daqueles casos em que ela precisa de uma "nova luz" para ajustar o entendimento. Ela faz isso de forma intencional mesmo. Com que certeza se faz essa afirmação? Por dois motivos básicos: (1) A simplicidade do texto em apreço. Ele é desprovido de fórmulas complicadas, de símbolos, ou alegorias. Não é nenhum Apocalipse de João! Isso permite que qualquer bom leitor do ensino fundamental perceba rapidamente o que Paulo quis dizer quando escreveu sobre quem é "filho de Deus" (ou quem não é). Compreende-se com extrema facilidade que alguémsó não é filho de Deus se for conduzido pela carne, e, neste caso, significa morte para ele e não vida eterna. Esse é o ponto de vista da carta de Paulo, mesmo que outros conceitos sobre a expressão "filhos de Deus" possam ser elaborados por mentes criativas. Portanto, diante de um texto assim tão simples a "erudita" Torre de Vigia não teria nenhuma dificuldade de entendê-lo, vez que outros assuntos mais complexos ela facilmente entende de forma uma correta. (2) Os avisos que já foram dados à Torre de Vigia. Embora as Testemunhas de Jeová não saibam, porque são proibidas de lerem matérias de conteúdo dissidente, já faz algumas décadas que pessoas escrevem para a Torre abordando esse assunto. De fato, por causa desse tipo de informação que ela vem recebendo, no início da década de 1980 várias pessoas importantes do Departamento de Redação e de Ensino da Torre de Vigia foram desassociadas (excomungadas) porque aderiram ao contexto óbvio da carta de Romanos . Um exemplo foi o escritor do livro Comentário à Carta de Tiago , Edward Dulump. Nesse livro ele deu sinais do entendimento correto de Romanos, e isso gerou perguntas por parte dos leitores. A Torre de Vigia comentou sobre esses questionamentos naSentinela de 15 de julho de 1981, p. 31. - Nota. Pouca gente sabe que naquela época a Torre de Vigia teve uma grande oportunidade de consertar o que estava errado (e não era somente esse assunto). No entanto, não houve sensibilidade por parte dos membros do Corpo Governante, e o único deles que aderiu a essas verdades fundamentais acabou

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sendo desassociado posteriormente, sem que ele tenha cometido nenhum pecado. Seu nome? Raymond Franz. Pouquíssimas Testemunhas de Jeová sabem quem é essa pessoa. O nome dele já figurou no Índice de Publicações da Torre de Vigia, mas foi retirado. (Salomão apostatou de verdade, e nem por isso o nome dele foi retirado da Bíblia. Mas na Torre de Vigia as coisas não funcionam assim). As poucas Testemunhas que já ouviram falar desse episódio dizem apenas que um membro do Corpo Governante foi seduzido pelo Diabo e "apostatou" da "organização visível de Deus", e que hoje ele serve aos interesses de Satanás. Essa difamação acontece porque Franz divulgou ao mundo a sua história, e contou tudo o que ocorria nas reuniões secretas do Corpo Governante, relatos quechocam qualquer pessoa honesta. Para as Testemunhasnão interessa verificar de forma responsável a informação que elas têm de Raymond Franz, e nem se ele continua um bom cristão. Para elas, os mais de 50 anos que ele passou servindo a Torre de Vigia como publicador, missionário, tradutor, escritor (um dos mais eficientes), e membro do Corpo Governante não significam absolutamente nada. Na verdade, elas desconhecem completamente a "folha de serviço" desse irmão. É realmente lamentável que o Corpo Governante das Testemunhas de Jeová tenha ignorado as evidências que surgiram de todas as direções, quais sejam: (1) da Bíblia, (2) de colaboradores seus, (3) do público leitor, e (4) de Deus. Sim, de Deus! Pois além das Escrituras Sagradas serem o verdadeiro canal de orientação de Jeová, é bíblico supor que Ele pode usar as pessoas mais improváveis para corrigir os que se dizem Seus servos. Considere o exemplo a seguir. Ele é muito interessante. Certa vez, o bom rei Josias (aquele que baniu a idolatria de Judá) quis se interpor no caminho de Neco, Faraó do Egito, quando este se dirigia para um confronto com o futuro rei de Babilônia, Nabucodonosor. Faraó não queria nenhum conflito com Josias, e com a casa de Judá (Na verdade, Neco fazia parte de um conjunto de eventos envolvendo profecias). Mesmo assim, Josias reuniu seu exército e partiu ao encontro do rei do Egito. Note comoa Bíblia relata esse episódio: "Após tudo isso, quando Josias tinha preparado a casa, subiu Neco, rei do Egito, para lutar em Carquemis, junto ao Eufrates. Josias saiu então ao encontro dele. Em vista disso, [Neco] enviou-lhe mensageiros, dizendo: 'Que tenho eu que ver contigo, ó rei de Judá? Não venho hoje contra ti, mas a minha luta é contra outra casa e o próprio Deus disse que devo causar perturbação. Refreia-te para o teu próprio bem por causa de Deus, que está comigo, e não deixes que te arruíne.' E Josias não virou sua face dele, mas disfarçou-se para lutar contra ele e não escutou as palavras de Neco provenientes da boca de Deus." 2 Crônicas 35:20-22.

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Pode imaginar um pagão idólatra ser portador de uma verdade "proveniente da boca de Deus"? E essa verdade ser dirigida para um servo genuíno de Jeová? Josias era verdadeiramente o ungido de Jeová , ele não se autoproclamou assim. Dirigia a inteira casa de Deus, mas em determinado momento agiu de uma maneira que não estava de acordo com o que Jeová queria. Qual foi o resultado da sua falta de sensibilidade? Morreu naquele mesmo dia em Megido, às mãos do rei do Egito. O que dizer de hoje, no assunto tratado aqui? As evidências a favor do entendimento natural de Romanos 8 falam por si mesmas, e são irrefutáveis. O Corpo Governante apenas decidiu que Romanos deve ter hoje outro entendimento, diferente do srcinal. Mas a Bíblia não autoriza essa mudança. Além disso, as pessoas que vem chamando a atenção da Torre de Vigia para esse erro não são idólatras. São cristãos sinceros que, através da sua leitura, percebem o que Deus diz na Bíblia. Ora, muitos deles são pessoas que saíram da própria organização da Torre de Vigia! Uns foram expulsos porque expressaram a sua opinião. Outros se desligaram porque suas consciências não permitiam permanecer numa religião que tem erros propositais. Incrivelmente, o Corpo Governante ainda endossa as seguintes palavras:

"Temos muitos motivos para confiar plenamente na classe do escravo fiel e discreto.... Outra maneira de mostrar que confiamos na classe do escravo atual é por acatar suas decisões. Embora talvez não entendamos plenamente as razões por trás de certas decisões, sabemos que acatá-las será para o nosso bem-estar duradouro.... Em resultado disso, Jeová nos abençoa por causa de nossa obediência à sua Palavra e à classe do escravo." Livro Organizados Para Fazer a Vontade de Jeová (2005), pp. 18, 20.

"Escravo fiel e discreto" na prática significa os "ungidos" que estão no comando da Torre de Vigia, mais especificamenteos membros do Corpo Governante. Note que na declaração acima a "classe do escravo" é colocada no mesmo nível de autoridade das Escrituras. Se os membros do Corpo Governante se autoproclamam essa classe, a conseqüência óbvia dessa posição é que não há maneira de ninguém arrazoar com os membros do Corpo Governante a respeito de assuntos que precisam de séria revisão, já que eles se apresentam como pessoas acima de todas as suspeitas e como poder de mudar o que está nas Escrituras , em virtude de suas várias interpretações. E não importa se dúvidas pairem sobre as cabeças de seus adeptos, e que haja evidências palpáveis que favoreçam qualquer mudança. O procedimento "cristão", segundo eles, é que as pessoasreprimam as suas consciências, e ignorem o que encontram na Palavra de Deus. A Testemunha de Jeová que não fizer o que"orienta" o livro Organizados não terá um 'bem-estar duradouro', ou seja, perderá a vida eterna, porque contestou o "canal oficial de Deus". É assim que as Testemunhas de Jeová acreditam. Elas são induzidas a crer que repudiar algum ensinamento do Corpo Governante é cometer "apostasia", o pior dos pecados, levando à destruição eterna. O interessante é que

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a Torre de Vigia já escreveu inúmeras matérias elogiando a atitude de pessoas que se apegaram à Bíblia e desafiaram o poder inquisitorial de autoridades religiosas do passado, especialmente da Idade Média e na época da Reforma. Mas se uma Testemunha de Jeová fizer o mesmo que aqueles heróis do cristianismo fizeram, rapidamente a máquina da inquisição é acionada, desta vez não a máquina da Igreja Católica, mas da própria Torre de Vigia. E é totalmente irrelevante se as evidências bíblicas estão do lado do "errante" , como é o caso do assunto tratado aqui ("filhos de Deus"). Note bem, caríssimo leitor, as páginas tenebrosas da história da religião mostram que apenas sistemasobscurantistas e opressivos recorrem à intimidação e à autoridade para impor seus conceitos torpes. Isso é assim porque à base do raciocínio e da argumentação eles poderiam conquistar poucas pessoas. Apesar de criticar as autoridades religiosas que fizeram isso no passado a Torre de Vigia caiu nessa mesma armadilha. Quando ela era apenas um punhado de pessoas conduzindo cartazes tipo "sanduíche" que diziam: "Religião é laço e extorsão!", ela já estava convencida de sua condição especial à vista de Deus. Hoje em dia, depois de crescer financeiramente e em número de adeptos, além de ter desenvolvido a maior rede de gráficas do mundo, ela nem pode mais se conter dentro de si mesma , tamanha a sua "importância". Mas assim como os discípulos de Jesus não deviam ter se impressionado com a grandiosidade do templo em Jerusalém, as Testemunhas de Jeová não deviam se impressionar com as riquezas materiais de sua religião, pois se ela for "além do que está escrito" tais bens têm pouco valor diante de Deus. É uma pena, uma pena mesmo, que pessoas maduras e experientes dentro da organização das Testemunhas de Jeová se intimidem diante dessa forma recorrente de coação intelectual, e, através de atitudes infantis, abram mão de sua liberdade cristã para se sujeitarem a um ensino que está claramente errado. Quando indagados da razão de "sua" crença, usamrevistas e livros para se justificarem. Para elas a única coisa importante é lembrar o que determina a autoridade organizacional, e ignoram o quea Bíblia verdadeiramente diz. Em outras palavras, abrem mão da capacidade de raciocínio, à base das Escrituras. Isso faz lembrar as palavras de Leonardo da Vinci:

"Quem quer que dirija um argumento apelando para a autoridade, não está usando a inteligência, está utilizando apenas a memória." The Literary Works of Leonardo da Vinci, J. P. Richter (org.), 2ª edição, Oxford University, 1979 (em 2 volumes), vol. II, p. 241, nº 1159. (Se você for Testemunha de Jeová, o que prefere? Usar a memória? Ou usar a inteligência?)

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O motivo real porque os líderes das Testemunhas de Jeová ignoram o contexto de Romanos (vários deles têm consciência disso, outros não), é que a tradição fala mais alto do que a Palavra de Deus, o que invalida a crítica que a Torre faz a outras religiões, dizendo que elas não se apegam fielmente às Escrituras. A Torre de Vigia não tem as credenciais necessárias para se achar no direito de criticar os outros, porque ela tem feito exatamente o que diz ser contra, de uma maneira sutil e eloqüente. Mas tudo não passa de um labirinto de palavras e interpretações, pelo qual os próprios formuladores já se perderam, e ninguém sabe mais de quem é a culpa por essa tragédia intelectual. As Testemunhas de Jeová são ensinadas que apenas 144.000 pessoas em toda a História foram adotadas como filhos de Deus. Agora se pergunte, leitor, onde o capítulo 8 de Romanos explica como se faz para saber quem é dos "144.000"? Ele não menciona nada disso. Se alguém disser, com base em Romanos, que não é filho de Deus, automaticamente está admitindo que anda de acordo com a carne, que "significa morte", e não de acordo com o espírito, que "significa vida e paz". Está admitindo que não agrada a Deus. Além do mais, Romanos não pode ser usado como referência para determinar quem participa ou não dos emblemas na Comemoração da Morte de Cristo, já que Paulo não tratou desse assunto nessa carta. Isso também é muito claro. -Romanos 8:8. Seria, então, o leitor comum tão obtuso para não entender o capítulo 8 de Romanos? Existe como entender essa passagem de uma forma diferente da que foi descrita aqui? Se é assim tão fácil de compreender, por que tantos irmãos passam por tais versículos e não percebem o real significado deles? A resposta, caro leitor, tem haver com o poder que a religião exerce sobre a mente das pessoas. Como disse o historiador Arnold Toynbee, em matéria de religião qualquer um pode ser facilmente enganado, mesmo pessoas inteligentes. Dizer aos irmãos que seguem a Torre de Vigia que as Escrituras Gregas não são dirigidas à "grande multidão", é simplesmente uma "válvula de escape" para fugir do entendimento óbvio do texto. Dizer que Romanos se aplica somente a 144.000 cristãos é uma interpretação forçada das palavras divinas. Quando Paulo escreveu essa carta demoraria décadas para que João recebesse a Revelação de Jesus e ouvisse sobre os "144.000". Além do mais, há evidências sólidas de que o número de cristãos já tinha ultrapassado essa cifra quando chegou à vez de Apocalipse ser escrito.

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A Torre de Vigia ensina às Testemunhas de Jeová que apenas 144.000 cristãos irão para o céu (Apocalipse 7:4-8; 14:1). Esses cristãos foram escolhidos desde o primeiro século, e essa escolha findou “oficialmente” em 1935. Recenteme nte como de costume, através de uma “nova luz”, este ensino de que a escolha dos ungidos findou em 1935 foi mudado. Devido ao fato de membros do Corpo Governante hoje em dia terem nascido depois de 1935 e professarem esperança celestial (pois se não forem dos “ungidos” não podem fazer parte do Corpo Governante) este entendimento antigo se tornou insustentável. Alem disso, o número dos que professam esperança celestial entre as testemunhas de Jeová pelo mundo tem se mantido na casa de 9000 pessoas já por mais de 20 anos. Apesar de constantes esforços da liderança da Torre emdar ênfase na esperança terrena, o número dos ditos “ungidos” não cai, pelo contrario, nos últimos anostem aumentado. Todos os que têm esperança celestial hoje em dia tem que ser obrigatoriamente Testemunhas de Jeová (Segundo o Corpo Governante). Pelos relatórios da Torre de Vigia são cerca de 9.000 Testemunhas no mundo que afirmam fazer parte desses 144.000. O ensino acima tem duas conseqüências: 1) Na prática, isso significa queaté 1935 não houve mais do que 144.000 cristãos verdadeiros. 2) Sabe-se que somente entre 1900 e 1950 pelo menos umas 44.000 Testemunhas de Jeová se disseram membros desses 144.000. Isso significa que durante os1900 anos anteriores 100.000pessoas ocuparam as outras “vagas”.

As páginas das Escrituras Gregas ( Novo Testamento) indicam que no primeiro século já havia centenas de milhares de cristãos. Por exemplo, a Bíblia relata que em um só dia, na festividade de Pentecostes de 33 E.C., 3.000 pessoas foram batizadas como cristãos. (Atos 2:41) Será, então, que em todos os 1.900 anos seguintes só existiriam uns 100.000 cristãos genuínos? Perceba que segundo esse texto de Atos só foi preciso um dia para que se alcançasse 3% de 100.000 (ou seja, três mil pessoas). Imagine o quanto os cristãos fizeram para disseminar a sua fé nas décadas seguintes. De fato, segundo a Bíblia, “as congregações continuavam deveras a ser firmadas na fé e a aumentar em número, dia a dia.” (Atos 16:5). Certamente isso resultou num grande crescimento, e, paradoxalmente, a Torre de Vigia menciona esse fato em suas publicações. O texto predileto dela é aquele que diz que as boas novas foram pregadas “em toda a criação debaixo do céu.” (Colossenses 1: 3).

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Mas como deve ter sido o crescimento da população cristã ao longo do tempo? Compare com o próprio exemplo de crescimento das Testemunhas de Jeová (na época que eram chamadas de Estudantes da Bíblia). Entre 1900 e 1941 o número de Testemunhas saltou de umas 2.600 para cerca de 100.000. Ou seja, em menos de 50 anos a Torre de Vigia atingiu o que teria sido a cifra de 1900 anos de Cristianismo! E isso numa época em que o crescimentoera tímido, pouco abrangente e não havia a escola de missionários. Então isso leva a crer que ao longo de 19 séculos pode ter havido milhões de cristãos genuínos. Evidentemente qualquer historiador sabe que desde o primeiro século bilhões de indivíduos realmente professaram o Cristianismo. Mas as Testemunhas de Jeová acham que quase todos eles eram falsos cristãos, e foram descartados por Deus. Se esse é o ponto de vista correto, teria havido apenas uns 100.000 cristãos verdadeiros em 1900 anos? Dos que professam o Cristianismo neste século 21, apenas uns 0,06% são Testemunhas de Jeová, e elas se consideram os únicos cristãos aprovados do mundo. Mas durante os séculos passados, quantos foram os cristãos aprovados por Deus? Considere que tenham existido 400 milhões de cristãos professos em toda a História (sabe-se que foimais). Agora utilize o índice das Testemunhas de Jeová, e calcule 0,06% desses 400 milhões. Qual é o resultado?

*400 milhões x 0,06% = 240.000 Então, seriam 240.000 cristãos verdadeiros em cerca de 1900 anos, e não apenas 144.000. Note que esse é um cálculo conservador, utilizado somente para se encaixar com a realidade da Torre de Vigia. O número correto deve ser bem superior a isso. Além do mais, se no primeiro século os cristãos se multiplicaram numa proporção semelhante ao desempenho da Torre de Vigia em seus primeiros 50 anos, nem foi preciso adentrar no segundo século em diante para que esses 240.000 se tornassem cristãos. Isso porque esse hipotético índice de 0,06% não seria constante ao longo do tempo. No primeiro século, à luz do entendimento da Torre de Vigia, esse índice chegava perto dos 100%, e foi diminuindo à medida que a apostasia avançava, porémnunca foi zero. Utilizando-se o índice “real” de todos os séculos é bem possível que tenha havido pelo menos 1 milhão de cristãos verdadeiros em todo o período histórico até o século 19. A Torre de Vigia realmente acredita que em todos os séculos da “Era Comum” sempre existiram cristãos fiéis, mesmo que eles tivessem alguma mancha de ensinos errados em sua adoração (A Torre diz que ela mesma era uma dessas religiões manchadas, mas afirma que hoje está “purificada”). A Torre de Vigia só não diz quantos foram esses cristãos verdadeiros da “Era Comum” (d.C.). No entanto, quem já leu os relatos dela sobre esses cristãos do passado percebe que não foi pouca gente. Considerando apenas os socinianos, os valdenses e os membros da Igreja Reformada Menor , já se alcança uma população enorme. Todos

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os integrantes desses grupos religiosos são considerados pela Torre de Vigia candidatos a cristãos verdadeiros, conforme insinuam os muitos artigos favoráveis que ela já escreveu sobre eles (acesse o CD-ROW da torre e digite estas palavras para ver na integra os artigos favoráveis a estes grupos). Além dos relatos bíblicos e históricos da franca expansão do Cristianismo nos três primeiros séculos, há um versículo na Bíblia que mostra que os cristãos verdadeiros (com esperança celestial) superariam enormemente a marca de 144.000 membros, fazendo que as especulações acima estejam bem abaixo da realidade. É o capítulo 4 de Gálatas, que menciona duas mulheres simbólicas– uma mulher desolada (por ser estéril) e uma que tem marido (por ser fértil). A quem elas representam? A mulher “fértil” representa a Jerusalém terrestre, na aparente segurança usufruída pelos judeus do 1º século, que se multiplicavam dia-a-dia. A mulher “estéril” representa a Jerusalém de cima que ainda não tinha gerado filhos da terra para que vivessem no céu. Esses seriam os cristãos com esperança celestial no decorrer da História. A Sociedade Torre de Vigia concorda com a interpretação acima? Veja você mesmo: “A ‘Jerusalém de cima’ ficara ‘desolada’, como que sem filhos.... até que Jesus foi batizado em 29 EC. Foi então que Jesus foi gerado pelo espírito do Abraão Maior, Jeová.... Mas a ‘Jerusalém de cima’ deveria ter mais de um filho espiritual..... em Pentecostes de 33 EC.... cerca de 120 de seus discípulos fiéis foram gerados pelo espírito.... Mais tarde, naquele dia, mais cerca de 3.000 judeus foram batizados como discípulos de Jesus e foram ungidos.... De modo que a ‘Jerusalém de cima’, naquele dia, tornou-se ‘mãe’ de muitos filhos.” A Sentinela, 15/03/85, p. 13, § 15.

Então fica muito claro que os filhos da ‘mulher desolada’ são os cristãos “ungidos” (termo muito usado pelas Testemunhas de Jeová). Obviamente os “muitos filhos” da ‘mulher desolada’ não seriam somente os 3.121 mencionados acima pela Sociedade. Outros mais entrariam nessas fileiras. Mas quantos seriam? A Bíblia tem a resposta, emGálatas 4:27: “Os filhos da desolada são mais numerosos do que os daquela que tem marido.”

Os filhos da ‘mulher com marido’ representam os judeus que habitavam a nação de Israel no primeiro século. Todos sabem que haviamilhões de judeus naquele tempo. (Por exemplo, quando Jerusalém foi destruída, em 70 EC, um milhão de judeus morreram naquela cidade). Portanto, os filhos da ‘mulher com marido’ eram milhões de pessoas. Ora, se os filhos da ‘mulher desolada’ são mais numerosos ainda, como é possível dizer que estes filhos são apenas 144.000?

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Qualquer Testemunha de Jeová tenderá a dizer que milhões de pessoas irem para o céu é desnecessário, pois os que lá estarão terão todos a função de governar, e para isso não precisa de milhões de indivíduos. No entanto, os que concluem isso devem considerar o seguinte: 1 - Embora a Torre de Vigia não pense assim, não necessariamente todos esses serão reis sobre a Terra. Como Jesus Cristo disse, no céu há muitas moradas, e certamente muitas funções. 2 - Mesmo que todos os que forem para o céu venham a governar, milhões desses “adotados” podem simparticipar de algum aspecto relaciona do ao governo celestial. Para comparar, quantas pessoas no planeta ocupam algum cargo de governo, em seus vários níveis? Todos sabem que nos sistemas governamentais das mais de 230 nações do mundo, existem diversos escalões nas esferas governamentais, dentre ministros, secretários e outros. Ao somar todos no mundo que ocupam essas funções, não seria surpresa se o número desses indivíduos superasse a cifra de 1 milhão de pessoas. Mesmo assim isso seriaapenas uma fração dos mais d e 6 bilhões de habitantes da Terra. No caso do reino celestial, os milhões que nele participassem ainda seriamum número pequeno em comparação com bilhões de pessoas que vivem, ou já viveram, na Terra. Em termos comparativos esses milhões comprados da Terra ainda seriam um pequeno rebanho. (Estima-se em mais de 100 bilhões o número dos que já viveram na Terra). 3 - O texto de Gálatas 4:27 é que tem realmente peso no entendimento de quantos são os filhos espirituais da “mulher desolada” (a “Jerusalém de cima”), e esse texto está claramente em conflito com o ensino da Torre de Vigia sobre esse assunto. Para dirimir esse problema ela teria que alterar algum detalhe nesse ensinamento, fazendo uso das já famosas “novas luzes”.

Quanto ao número “144.000” mencionado em Apocalipse? Como entendê -lo? Que é improvável que o número 144.000 se refira a umaquantidade literal de “israelitas espirituais” ou membros da congregação cristã , pode-se ver à base do exame de Revelação 7:4-8, o contexto no qual este número aparece pela primeira vez. Primeiro o número 144.000 é apresentado como o produto de doze vezes doze mil. Menciona-se que cada um destes grupos de doze mil provém de uma das tribos de Israel. Nas páginas 117 e 118 do livro Revelação – Seu Grandioso Clímax Está Próximo!, a Sociedade se esforça para estabelecer que isto não se refere ao Israel literal, enfatizando que esta não é a listagem comum das tribos e que Tiago se refere aos cristãos ungidos usando a expressão “as doze tribos que estão espalhadas” (Tiago 1:1):

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Não pode isso referir-se ao Israel literal, carnal? Não, porque Revelação 7:4-8 diverge da costumeira listagem tribal... A congregação cristã é “raça escolhida, sacerdócio real, nação santa”. (1 Pedro 2:9) Substituindo o Israel natural qual nação de Deus, torna -se um novo Israel que é “realmente ‘Israel’”. (Romanos 9:6 -8; Mateus 21:43) Por este motivo, era bem apropriado que o meio-irmão de Jesus, Tiago, dirigisse a sua carta pastoral “às doze tribos que estão espalhadas”, quer dizer, à congregação mundial de cristãos ungidos , que com o tempo ascenderia a 144.000. Todavia, a partir do momento em que a Torre de Vigia declara que os comentários de Revelação 7:4-8 sobre os 144.000 não se referem“ao Israel literal, carnal”, está reconhecendo que isto deve ser tomado em sentido figurativo ou simbólico. Os que acreditam que isto aplica a um grupo multirracial de cristãos e não ao Israel natural, são obrigados a entender de modo simbólico porque simplesmente não existe uma tribo cristã de Judá, Rubem, Gade, Aser, etc. Portanto, se estas 12 tribos de 12.000 são elementosfigurativos ou simbólicos, pareceria lógico que a soma deles (144.000) seja literal? É coerente considerar os 144.000 separadamente como simbólico e o total como literal? É evidente que a soma total das 12 tribos (144.000) também é figurativa ou simbólica. Representa todos os cristãos fieis que conforme vimos não tem um numero específico, mas conforme Gálatas 4:27 são mais numerosos do que os Judeus naturais da época de Jesus, assim com certeza chegam à casa dos milhões. Um outro pormenor é que a maioria da humanidade,bilhões de indivíduos, não devem alcançar o privilégio de estarem nos céus com Cristo, pois o propósito srcinal de Deus é que o homem habite a Terra sem morrer. Como a Torre de Vigia ensina, realmente há versículos bíblicos que indicam que a Terra será um paraíso quando estiver sob o domínio do Reino de Deus, e nessa época futura a morte será eliminada, e muitos poderão viver na terra sem morrer. Entretanto, a Torre de Vigia aplica equivocadamente dois textos bíblicos tentando relacioná-los com a esperança de vida na terra. O primeiro é João 10:16 onde Jesus fala sobre “outras ovelhas” que não são do aprisco (ou curral) dos descendentes de Abraão, mas que iriam escutar a voz de Jesus e se juntariam ao seu pequeno rebanho de judeus se tornando “um só rebanho, com um só pastor”. Fica óbvio que Jesus falava dos Gentios (não Judeus) que iriam se tornar cristãos. Esta profecia começou a se cumprir com Cornélio, um soldado romano que foi ungido pelo Espírito Santo. Depois disso, milhares de não judeus também foram ungidos. O segundo é Revelação 7: 9-17 que traz a visão do Apóstolo João sobre a grande multidão.

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A organização Torre de Vigia afirma que a “grande multidão” mencionada em Revelação 7:9-17 é uma classe terrestre, muito embora o versículo 15 deste capítulo diga que os membros desta grande multidão estão no Templo (Grego- naós) de Deus. Observe:

É por isso que estão diante do trono de Deus; e prestam-lhe serviço sagrado, dia e noite, no seu templo (naós); e O que está sentado no trono estenderá sobre eles a sua tenda. (Revelação 7: 15)

Embora a organização (assim como outros comentaristas) reconheça quenaós se refere ao santuário do templo, que na Bíblia representa o céu, as Testemunhas de Jeová tentam justificar esta interpretação dizendo que este termo pode referir-se também à parte mais exterior do templo - especificamente, o pátio dos gentios (ou, mais recentemente, o pátio exterior do templo de Salomão). Os outros pátios do templo literal só eram acessíveis aos judeus e, portanto, não representariam apropriadamente os que não são considerados “judeus espirituais”. Segundo os ensinos da Torre de Vigia, os membros da “grande multidão” não estão realmente incluídos entre os 144.000 “judeus espirituais”; eles apenas“agarram ... a veste dum homem judeu”, segundo sua aplicação figurativa de Zacarias 8:23.(Veja A Sentinela de 15 de abril de 1986, página 20, parágrafo 21; bem como A Sentinela de 1º de janeiro de 1988, páginas 17 e 18, parágrafo 18) . Por isso, o livro O Paraíso Restaurado Para a Humanidade - Pela Teocracia! (publicado em português em 1974) diz na página 80: Esta “grande multidão” de “outras ovelhas” já estão no templo espiritual de Jeová Deus ... Não sendo israelitas espirituais, selados, estão como que no Pátio dos Gentios, assim como havia no templo em Jerusalé m, nos dias de Jesus Cristo e de seus apóstolos.’ (Veja também Efésios 2:14, que indubitavelmente faz referência ao muro no pátio exterior do templo de Jerusalém, além do qual era proibida a passagem de nãojudeus). Todavia, o único versículo de Revelação que reconhecidamente usa o pátio dos gentios em sentido simbólico é Revelação 11:2, e, à base deste versículo, é óbvio que os ocupantes desta parte do templo figurativo, em vez de serem apoiadores da adoração verdadeira, são opositores desta. Note:

E foi-me dada uma cana igual a uma vara, ao dizer- me ele: “Levanta-te e mede o [santuário do] templo (naós) de Deus e o altar, e os que nele adoram. Mas, quanto ao pátio que está de fora do [santuário do] templo, lança-o completamente fora e não o meças, porque foi dado às nações, e elas pisarão a cidade santa por quarenta e dois meses. (Revelação 11: 1,2)

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Este versículo diz claramente que o pátio está “fora do [santuário do] templo” (ou naós), de modo que é impossível concluir que João possa estar usando aqui o termo naós para se referir a algo além do santuário. Portanto, é contrário às Escrituras ensinar que a “grande multidão” possa estar servindo no “pátio terrestre do templo espiritual” de Deus. Veja como a própria Tradução Interlinear do Reino das Escrituras Gregas publicada pela Torre de Vigia verte este trecho:

Embora Revelação 11:1 e 2 sejam os versículos seguintes em Revelação nos quais aparece o termo naós depois de ser usado com relação à “grande multidão” em Revelação 7:15, a Torre de Vigia ignora (e inclusive omite completamente em seu último comentário sobre Revelação) a evidência clara de que João usa o termo naós em referência ao santuário apenas. O pátio terrestre exterior deste templo é usado como representação de um período de opressão à adoração verdadeira, porque aqueles que o ocupam “pisam a cidade santa”. Ele não é representado como um lugar serviço no qualsagrado uma “grande multidão”de verdadeiros de Deus presta-lhe dia e noite com alegria, e sim, em adoradores vez disso, como um lugar que não dá condições para que se expresse essa completa devoção. É evidente que os ocupantes deste pátionão fazem parte dos verdadeiros adoradores

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de Deus porque João é instruído a‘lançá-lo fora’ ou rejeitar este pátio, e não medilo com o fim de averiguar quantos adoradores há nele, como no caso do versículo um, no qual lhe foi dada à instrução para que medisse o santuário. As pessoas das nações ou “gentios” representados neste versículo jamais poderiam ser cristãos com esperança terrestre (não-ungidos), obviamente eles representam não-cristãos, que são separados e distintos do povo de Deus que tem acesso ao santuário. Devido a esta contradição obvia, as publicações da Torre de Vigia de 1980 para cá, têm sido compreensivelmente relutantes em associar a localização da “grande multidão” com o pátio dos gentios. Embora ainda situem este grupo no“pátio terrestre do ... grande templo espiritual [de Deus]” (Revelação - Seu Grandioso Clímax Está Próximo!, pág. 126), parece que esforços têm sido feitos para não associá-lo a um lugar específico do templo típico que certa vez existia em Jerusalém. (Assim, a publicação de 1983 Unidos na Adoração do Único Deus Verdadeiro, página 107, situa esta multidão reunida “no templo de Deus, a casa universal de adoração dele”, mas não especifica em que parte do templo ela se encontra) Todavia, num artigo intitulado “Aproxima-se o Triunfo da Adoração Verdadeira”, no número de 1º de julho de 1996 de A Sentinela , reafirmou-se o ensino de que a grande multidão serve no pátio terrestre, correspondente ao antigo pátio dos gentios. A página 20 diz: “Visto que não são israelitas espirituais, sacerdo tais, é provável que João os tenha visto em pé, no templo, no pátio externo dos gentios.”

Daí, numa surpreendente mudança doutrinal, apenas dezenove meses depois de A Sentinela reafirmar esta doutrina, a edição de 1º de fevereiro de 1998 mudou o ensino. A página 21 desta revista, diz:

Os da grande multidão prestam adoração junto com os cristãos ungidos no pátio terrestre do grande templo espiritual de Jeová. ( Revelação 7:14, 15 ; 11:2) Não há motivo para se concluir que estejam em um Pátio dos Gentios separado. Quando Jesus esteve na Terra, havia um Pátio dos Gentios no templo. Mas, nos planos divinamente inspirados dos templos de Salomão e de Ezequiel, não havia nenhuma provisão para um Pátio dos Gentios. No templo de Salomão, havia um pátio externo em que os israelitas e os prosélitos, homens e mulheres, adoravam juntos. Este é o modelo profético do pátio terrestre do templo espiritual, onde João viu a grande multidão prestar serviço sagrado. Além de declarar que a “grande multidão” não está em “um Pátio dos Gentios separado”, o que é particularmente notável com relação a esta mudança no ensino, é o fato de a Torre de Vigia ter feito uma conexão nítida entre Revelação 7:15 e 11:2. O “pátio que está de fora do [santuário do] templo (naós)” descrito em

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Revelação 11:2 é agora identificado positivamente como o “pátio terrestre do grande templo espiritual de Jeová” ocupado tanto pela “grande multidão” como pelos cristãos ungidos. Isto é realmente surpreendente por causa da distinção clara entre o santuário (naós ou “habitação divina”) e o pátio exterior mencionado neste texto. Talvez isto possa ser visto com mais clareza pela maneira como está escrita a primeira parte deste versículo na tradução palavra por palavra sob o texto grego srcinal, da Tradução Interlinear do Reino das Escrituras Gregas da Torre de Vigia [tradução em português incluída abaixo]:

Agora, porém, a organização situou a “grande multidão” diretamente dentro do pátio descrito em Revelação 11:2 e o definiu claramente como parte do mesmo “templo espiritual” no qual se ensina às Testemunhas de Jeová queRevelação 7:15 apresenta como sendo o templo [naós] de Deus, onde se encontra a “grande multidão”. Todavia, essa tentativa de mudar o tipo profético amplamente aceito do Pátio dos Gentios para o pátio externo do templo de Salomão não resolve o problema de interpretação da Torre de Vigia. Independentemente de qual seja o templo que se escolha para associar com Revelação 11:2, seja o de Salomão, de Ezequiel ou de Herodes, permanece o fato simples de que este pátio terrestre está “fora do [santuário] do templo (naós)” enquanto que a “grande multidão” de Revelação 7:15 é descrita como estando dentro do santuário do templo (naós). Esse texto não diz que eles estão em algum “pátio externo”,seja este qual for, e não importa qual seja o templo típico que se considere. É evidente que ao longo do livro de Revelação o termonaós é repetidamente usado como referência exclusiva à parte mais interior do templo, o santuário celestial em sua aplicação figurativa. Conforme já foi mencionado, a publicação da Torre de Vigia intitulada Cumprir-se-á Então o Mistério de Deus (publicado em português em 1971) diz na página 260, ao comentarRevelação 11:2:

O santuário do templo ou naós (em grego) ocupava apenas parte da área do templo.

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E a Sentinela de 15 de fevereiro de 1981 observou corretamente na página 15:

A palavra grega “naós” muitas vezes refere-se ao santuário interior, que representa o próprio céu. Dessa maneira, provar que a “grande multidão” não está no santuário celestial de Deus, exigiria demonstrar de algum modo que o termo “naós” pode incluir também o “pátio que está de fora do [santuário do] templo (naós)” descrito em Revelação 11:2. Porém, como a própria publicação da Torre de Vigia citada acima indicou, este versículo por si só torna claro que não é assim, pois ele faz uma distinção evidente entre o pátio e o santuário do templo. Obviamente, João usa o termo naós em sentido restrito, aplicando-o apenas à“habitação divina”. – Veja estes versículos na Tradução Interlinear do Reino das Escrituras Gregas .

O livro Revelação – Seu Grandioso Clímax Está Próximo!, declara na página 123 referente a Revelação 7: 9, 15: “a palavra grega traduzida aqui por ‘diante’ (enópion) significa literalmente ‘à vista [do]’ e é usada diversas vezes com respeito a humanos na terra, que estão ‘diante’ ou ‘à vista’ de Jeová. (1 Timóteo 5:21; 2 Timóteo 2:14; Romanos 14:22; Gálatas 1:20)”. Como vocês puderam observar, o livro Revelação – Seu Grandioso Clímax Está Próximo!, afirma categoricamente que “a palavra grega rtaduzida aqui [em Revelação 7:9] por “diante” (e·nó·pi·on ) significa literalmente “à vista [do]”. Daí na mesma página 123 do livro Revelação se deduz queMateus 25:32 (que fala em todas as nações serem ajuntadas “diante” do Filho do Homem) apóia isto de alguma maneira. Todavia, a palavra grega traduzida neste texto deMateus 25:32 por “diante” é emprosthen, não enópion. (Isto é reconhecido indiretamente, numa nota ao pé da página 123, que diz que a palavra grega usada aqui(emprosthen) significa literalmente “perante ele” e não “diante dele”). Mas em vez de recorrer a outras partes em busca de exemplos que ilustrem como se usa a palavraenópion (“diante”), seria muito mais lógico e demonstraria erudição honesta observar como esta palavra é usada no contexto– no próprio livro de Revelação. Quando se considera o uso desta palavra no contexto do livro de Revelação, o sentido dela

torna-se mais claro. Conforme se mostra na tabela a seguir,enópion (“diante”) é uniforme e repetidamente usada com respeito a coisas e pessoas que estão no céu literalmente “diante do trono”. (Revelação 1:4; 4:5, 6, 10; 7:11; 8:3; 9:13; 11:16; 14:3) Revelação 1:4

....

“sete espíritos que estão diante ( enópion) do ... trono [de Deus]”

414

Revelação 4:5

....

“sete lâmpadas de fogo acesas diante (enópion) do trono [de Deus]”

Revelação 4:6

....

“E diante (enópion) do trono há como que um mar vítreo, semelhante a cristal.”

Revelação 4:10

....

“os vinte e quatro anciãos prostram-se diante (enópion) Daquele que está sentado no trono ... e lançam as suas coroas diante (enópion) do trono, ...”

Revelação 7:9

....

“uma grande multidão, ... em pé diante ( enópion) do trono e

Revelação 7:11

....

diante (enópion) do Cordeiro, ...” “E todos os anjos estavam em pé ao redor do trono e dos anciãos, e das quatro criaturas viventes, e prostraram-se sobre os seus rostos diante ( enópion) do trono e adoraram a Deus, ...”

Revelação 7:15

....

“ por isso que [a grande multidão] estão diante ( enópion) do trono de Deus; e prestam-lhe serviço sagrado,..”

Revelação 8:3

....

“E chegou outro anjo e parou junto ao altar, tendo ... incenso para oferecer, junto com as orações de todos os santos, no altar de ouro que estava diante ( enópion) do trono.”

Revelação 9:13

....

“E ouvi uma voz, do meio dos chifres do altar de ouro diante (enópion) de Deus.”

Revelação 11:16

....

“E os vinte e quatro anciãos, sentados nos seus tronos diante (enópion) de Deus ...”

Revelação 14:3

....

“E [os 144.000] estão cantando como que um novo cântico diante (enópion) do trono e diante ( enópion) das quatro criaturas viventes e dos anciãos ...”

É evidente que quando se consideraa totalidade do livro de Revelação, parece haver pouca razão para duvidar que a “grande multidão” está “diante do trono” da mesma maneira que as sete lâmpadas de fogo, o mar vítreo semelhante a cristal, as coroas dos 24 anciãos, os anjos, os próprios anciãos, as quatro criaturas viventes, o altar de ouro e os 144.000. Quem são, então, os que compõem a “grande multidão” de Revelação 7:9? Na publicação da Torre de Vigia intitulada O Mistério Consumado, este grupo é identificado como sendo o mesmo que a Tradução do Novo Mundo descreve depois como “uma grande multidão no céu” , em Revelação 19:1. (Veja a página 289 das edições de 1917, 1918 e 1924 em inglês; bem como as páginas 136 e 138) Parece haver grande quantidade de evidência que apóia esta conclusão. Certas obras de referência relacionam muitos versículos referentes aos que habitam no céu com versículos que se referem à “grande multidão”. Alguns destes textos estão incluídos na tabela seguinte:

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ONDE ESTÁ A “GRANDE MULTIDÃO”? Versículos sobre a grande multidão

Versículos para comparação

De todas as tribos e povos e línguas

Rev. 7:9 ......................

Rev.5:9, 10

“diante do trono”

Rev. 7:9 ......................

Rev.1:4; 4:5, 6, 10; 7:11; 8:3; 9:13; 11:16; 14:3

“diante do cordeiro”

Rev. 7:9 ......................

Rev 3:4,18; 4:4; 6:11

a grande multidão atribui salvação a Deus

Rev. 7:10 ....................

Rev. 19:1

roupas lavadas e embranquecidas no sangue do Cordeiro

Rev. 7:14 ....................

1 Ped. 1:2, 18, 19; 1 Cor.6:11; Rev. 22:14; 1 João 1:7; Efe 2:13

Estes são apenas alguns dos versículos nos quais ascaracterísticas associadas à “grande multidão” correspondem às daqueles que desfrutam da residência celestial com Jesus Cristo. Por isso a maioria dos eruditos bíblicos acredita que os 144.000 e a grande multidão são na realidade o mesmo grupo. Inclusive o fundador do movimento das Testemunhas de Jeová, Charles Taze Russel também pensava assim. Durante sua vida ele publicou vários artigos afirmando que a grande multidão é uma classe celestial. O segundo presidente da Sociedade Torre de Vigia, Joseph Franklin Rutherford também defendeu este entendimento durante décadas, vindo a mudar de idéia apenas no final de sua vida em 1935, sete anos antes de sua morte.

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Usando a terminologia comum naquela época, a publicação da Torre de Vigia intitulada O Mistério Consumado, página 289 (das edições de 1917, 1918 e 1924 em inglês), identifica a “grande multidão” mencionada em Revelação 7:9 como a mesma “grande multidão” celestial que se menciona em Revelação 19:1, apoiando assim a idéia de que tanto os 144.000 como a “grande multidão” são classes celestiais.

O ensinamento da Torre de Vigia de que os cristãos não são mais filhos de Deus gera um sério problema para as Testemunhas de Jeová. Como já foi visto, analisando a situação sob o ponto de vista da carta aos Romanos, quem não é filho de Deus é alguém que tem a mentalidade segundo a carne,que significa morte. A lógica desse ensinamento combinada com o ensino do Corpo Governante acaba por reforçar que quem não for filho de Deus não terá vida eterna. Como assim? Embora a humanidade que não conhece a Cristo ainda tenha esperança, de acordo com as profecias de viver para sempre na terra em condições similares as que Adão perdeu, o cristão já tem sua condição como filho de Deus reconhecida antecipadamente, por causa do resgate de Cristo e porque anda de acordo com o espírito. Em virtude dessa condição aprovada, desde a primitiva congregação esses cristãos celebram a morte de Cristo, comendo o pão e bebendo o vinho nessa ocasião especial, pois eles simbolizam o corpo e o sangue de Jesus dados em sacrifício, conforme o próprio Cristo ensinou:

"Jesus tomou um pão.... partiu-o, e, dando-o aos discípulos, disse: 'Tomai, comei. Isto significa meu corpo.' ummeu copo, e, tendo dado graças, dizendo: 'Bebei dele, todos vósTomou ; pois istotambém significa "sangue do pacto", que hádeu-lhes, de ser derramado em benefício de muitos, para o perdão de pecados' ". Mateus 26:26-28.

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Quão sério é não seguir as palavras acima? Que o Grande Instrutor responda:

"Jesus disse-lhes: 'Eu sou o pão vivo que desceu do céu; se alguém comer deste pão, viverá para sempre.... Digo-vos em toda a verdade: A menos que comais a carne do Filho do homem e bebais o seu sangue, não tendes vida em vós mesmos. Quem se alimenta de minha carne e bebe meu sangue tem vida eterna, e eu o hei de ressuscitar no último dia'." - João 6:51, 53, 54. Quem não 'comer desse pão viverá para sempre'? É algo a refletir. As palavras de Jesus foram muito claras. Ele disse: "A menos que comais a carne do Filho do homem e bebais o seu sangue, não tendes vida em vós mesmos." Muitos se chocaram quando ouviram essas palavras, e por isso deixaram de seguir a Cristo. Somente quando Jesus instituiu a celebração de sua morte é que os discípulos entenderam o que ele tinha em mente ao dizer que era preciso "comer a carne" e "beber o sangue" do Filho de Deus. Já que as Testemunhas de Jeová não são consideradas filhos de Deus pela Torre de Vigia, elas são "orientadas" a não comer do pão e nem beber do vinho, pois isso só cabe aos "ungidos". Conseqüentemente elas não seguem o que Cristo ordenou; e ele disse claramente que era preciso se alimentar de sua "carne" e do seu "sangue" para se ter vida eterna. Qual é a maneira de fazer isso? Participando dos emblemas! Estes representam a carne e o sangue de Cristo. A frase que a Torre de Vigia costuma usar para divulgar a Comemoração da Morte de Cristo é: “Persisti em fazer isso em memória de mim.” Mas exatamente o que o cristão deveria ‘persistir em fazer’? A Bíblia diz: "Jesus tomou um pão, e.... disse: ‘Tomai, comei. Isto significa meu corpo.’ Tomou também um copo, e, tendo dado graças, deu-lhes, dizendo: ‘Bebei dele, todos vós.... Persisti em fazer isso, todas as vezes que o beberdes em memória de mim.’.... todas as vezes que comerdes este pão e beberdes este copo , estais proclamando a morte do Senhor, até que ele chegue.”– Mateus 26:26, 27; 1 Coríntios 11:25, 26.

Portanto, quem não come o pão e não bebe o vinho não está proclamando a morte do Senhor. Por não fazerem o que foi especificado acima, os adeptos da Torre de Vigia arriscam desnecessariamente as próprias perspectivas de vida eterna a favor de uma interpretação que se mostrou claramente errada. Há bem pouco tempo, a Torre de Vigia ensinava que esse 'comer a carne' e 'beber o sangue' realmente se dava por se participar dos emblemas. Ela disse:

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"Indica João 6:53, 54 que apenas os que participam realmente é que ganharão a vida eterna? ".... 'Quem se alimenta de minha carne e bebe meu sangue tem vida eterna, e eu o hei de ressuscitar no último dia.’ ( Este comer e beber seria obviamente em sentido simbólico, como na Refeição Noturna do Senhor ; do contrário, aquele que assim fizesse estaria violando a lei de Deus que proíbe comer sangue. Veja Gênesis 9:4; Atos 15:28, 29.)". Livro "Raciocínios à Base das Escrituras" (edição de 1985), pp. 88-89.

Mas a velha "válvula de escape" era sempre utilizada. Ela dizia que a maioria dos textos do Novo Testamento se aplica somente aos "ungidos". Então, as Testemunhas de Jeová não deviam se preocupar com a afirmação de Cristo de que quem não participasse dos emblemas não teria vida eterna. No entanto, o texto é muito claro para permitir uma interpretação tão perigosa assim. Talvez para não deixar nenhuma Testemunha de Jeová pensativa ao ler o "Raciocínios", a Torre de Vigia lançou uma nova edição desse livro, alterando as palavras srcinalmente escritas. Diz a nova edição: “Indica João 6:53, 54 que apenas os que participam realmente é que ganharão a vida eterna? .... 'Quem se alimenta de minha carne e bebe meu sangue tem vida eterna, e eu o hei de ressuscitar no último dia.’ Este comer e beber teria obviamente de ser feito em sentido figurativo; do contrário, aquele que assim fizesse estaria violando a lei de Deus. (Gênesis 9:4; Atos 15:28, 29.) Mas, deve-se notar que a declaração de Jesus em João 6:53, 54não foi feita com relação à inauguração da Refeição Noturna do Senhor.” Livro "Raciocínios à Base das Escrituras" (edição de 1989), pp. 88-89. Ao se comparar as duas edições do livro "Raciocínios", percebe-se que a Torre de Vigia já ensinou que o "comer a carne" e "beber o sangue" se relaciona à Refeição Noturna do Senhor. Só depois ela alterou esse entendimento. Muitas Testemunhas se aperceberam do risco da doutrina de não participação nos emblemas. Umas ficaram em silêncio, tamanha a sua confiança no "escravo fiel e discreto". Outras se manifestaram e foram desassociadas, ou advertidas. Mas como a força desse texto incomodava a cúpula da Torre de Vigia, ela fez uma mudança radical no entendimento. Ou seja, chegou mais uma das famosas "novas luzes". Essas diziam que qualquer Testemunha de Jeová que exerce fé no sacrifício resgatador de Jesus Cristo já está, simbolicamente, "comendo" a carne e "bebendo" o sangue de Cristo! Acreditem se quiser, mas essa foi a solução encontrada pelo Corpo Governante para equacionar esse problema, e satisfazer o "ego ferido" de seus seguidores. Na verdade, só as Testemunhas de Jeová mais perspicazes e estudiosas é que poderiam sentir essa mudança, e tentarem se satisfazer com ela. O fato é que a maioria das Testemunhas de Jeová nunca percebeu essa mudança, e são pessoas completamente alheias a esse assunto. As Testemunhas de Jeová se acham as pessoas mais espiritualizadas e conhecedoras da Bíblia que existem no mundo.

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Mas esse conceito é um mito. Elas têm erros e acertos como todas as pessoas. A despreocupação delas com respeito a Romanos 8 é uma evidência que elas não são tão espiritualizadas assim. Se você não for Testemunha de Jeová, faça uma experiência! Pergunte a uma Testemunha se ela segue as palavras de Jesus emJoão 6:51? Dificilmente ela responderá o que a Torre de Vigia gostaria que ela respondesse. E não pense que são só aquelas senhoras idosas que irão envergonhar a Torre. Escolha uma que é reconhecida pela congregação como uma pessoa madura e espiritual, e veja o que acontece! Este ensino equivocado vai diretamente contra a ordem de Jesus quando ele conversou com Nicodemos: “A meno s que alguém nasça de novo, não pode ver o reino de Deus... Vós tendes de nascer de novo.” (João 3: 3, 7)

Fica óbvio que nascer de novo é algo necessário, um requisito para alguém receber as bênçãos do reino de Deus. As palavras “a menos que” e “não pode” não deixam dúvidas sobre este assunto. Além disso, no versículo 7, a ordem “vós tendes” está na forma imperativa, ele está nos mandando nascer de novo . Agora pense, como Jesus poderia mandar todos os cristãos nascerem de novo, quando apenas um número limitado poderia realmente conseguir fazer isso? Jesus nos mandaria fazer algo que está além de nosso alcance? Não é necessário ser um erudito para entender estas palavras, tentar dar outro sentido a elas seria torcer as Escrituras para favorecer alguma idéia particular, indo além do que está escrito (1ª Corintios 4:6). Infelizmente vemos acontecer dentro do Corpo Governante das Testemunhas de Jeová o que aconteceu com os fariseus da época deJesus: “e assim invalidastes a palavra de Deus pela vossa tradição...” (Marcos 7:13)

Portanto, a Testemunha de Jeová que professa esperança terrestre, está numa situação muito perigosa, pois segundo o Corpo Governante ela não é adotada como filho de Deus (Romanos 8), não nasceu de novo (João 3: 3,7), não come a “carne” e bebe o “sangue” de Cristo por participar dos emblemas da comemoração (João 6: 51-54), não tem Jesus como seu mediador (A Sent inela, 15/09/ 79, p. 32) e a maior parte das Escrituras Gregas Cristãs, inclusive as promessas de vida eterna não se dirigem a elas (A Sentinela, 15/12/74, p. 752) . Assim sendo, segundo a bíblia, tais pessoas andam segundo a carne e não tem esperança de vida eterna. Agora fica a pergunta: Será que estas pessoas estão nesta situação por que realmente querem? Será que elas sinceramente desejam isso? Claro que não! Elas se encontram nesta situação por que foram iludidas por uma interpretação totalmente equivocada da Bíblia, feita por uma organização que por orgulho e prepotência se recusa a rever seu entendimento.

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ara "provar" que a organização Torre de Vigia é a única organização cristã verdadeira sobre a terra hoje em dia, esta afirma que, "de todos os que afirmam ser Cristãos, somente as Testemunhas de Jeová tomam a sério a pregação das boas novas." (A Sentinela, 1.º de Janeiro, 1988, pág. 20). Esta declaração se refere sobretudo à sua atividade de porta em porta. Mas, prova o uso deste método específico de pregação que esta é a única organização cristã verdadeira, enquanto que outros grupos que usam outros métodos para chegar até as pessoas com sua mensagem não são cristãos? O fato é que vários grupos cristãos estão crescendo em número de membros, inclusive muitos delescrescem mais rapidamente do que as Testemunhas de Jeová. As publicações da Torre de Vigia deram a seus leitores a impressão de que as outras denominações cristãs e seitas estão minguando em número, que as "águas" de "Babilônia, a Grande" estão "secando” (Revelação 16:12 e 17:15). Mas essa impressão é falsa. Embora seja verdade que a maioria das denominações cristãs estiveram minguando nos países do Ocidente inclusive ( as próprias Testemunhas de Jeová ), houve um tremendo crescimento no número de Cristãos no mundo durante todo o século XX.

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Esse incremento ocorreu principalmente no Terceiro Mundo. Como diz David D. Barrett, editor da World Christian Encyclopedia (1982), o Cristianismo chegou a ser a religião mais difundida e universal sobre a terra neste século. Enviam-se cerca de 25.000 missionários Cristãos a vários países cada ano somente ( 0.4 por cento destes são Testemunhas de Jeová!). A mesma enciclopédia mencionada acima mostra que no princípio do século XX, havia somente 50.000 protestantes na América Latina. Em 1980 havia 20 milhões, e se estimava que esse número cresceria para 100 milhões no ano 2010. Na África havia cerca de 10 milhões de Cristãos em 1900. Nos anos oitenta, o número tinha crescido para 200 milhões, 40 por cento da população do continente! Houve incrementos parecidos em muitos lugares da Ásia. Na Coréia do Sul, por exemplo, havia somente um Cristão há uns cem anos. Hoje em dia, cerca de 35 por cento da população coreana é Cristã. Um dos grupos cristãos que mais rapidamente cresceu foi o movimento Pentecostal. Em mais ou menos o mesmo período de tempo em que as Testemunhas aumentaram de 0 para 7 milhões, os Pentecostais aumentaram de 0 para 420 milhões! Este aumento ocorreu em todas as partes do mundo, inclusive em muitas partes do mundo ocidental. Hoje em dia, dos 6 bilhões de pessoas no mundo, cerca de 2 bilhões são Cristãos. É bastante óbvio para qualquer observador, que nem toda essa quantidade de pessoas é composta por bonsE as Cristãos . Em cumprimento parábola muito "joio" entre o "trigo". Testemunhas de Jeová nãodasão exceção.de Jesus, há Todos estes aumentos ocorreram,não pelo método de porta em porta que usam as Testemunhas de Jeová, os Mórmons ou alguns outros grupos, mas sim por outros métodos. Mas, é o método de pregaro que faz com que certo grupo seja verdadeiramente cristão?

As Testemunhas de Jeová são ensinadas a pregarem sistematicamente de casa em casa porque os primeiros cristãos teriam feito esse mesmíssimo trabalho. Em que se baseia esta afirmação? Há margem para um outro entendimento? Os textos a seguir são exemplos de quais passagens das Escrituras as Testemunhas de Jeová costumam citar para corroborar a opinião delas neste assunto:

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"Em qualquer cidade ou aldeia em que entrardes procurai saber quem nela é digno, e hospedai-vos aí até que vos retireis. E, ao entrardes na casa, saudai-a; se a casa for digna, desça sobre ela a vossa paz; mas, se não for digna, torne para vós a vossa paz." Mateus 10:11-13.

"Deste modo esforçando-me por anunciar o evangelho, não onde Cristo houvera sido nomeado, para não edificar sobre fundamento alheio; antes como está escrito: Aqueles a quem não foi anunciado, o verão; e os que não ouviram, entenderão." Romanos 15:20, 21. "E todos os dias, no templo e de casa em casa, não cessavam de ensinar, e de anunciar a Jesus, o Cristo." Atos 5:42. Quem ler com atenção o primeiro texto citado (de Mateus), notará que a casa mencionada é onde o pregador se hospedaria, e não a casa, dentre várias, que ele supostamente visitaria numa campanha sistemática de pregação domiciliar. Tal texto em si não é prova para apoiar o entendimento atual da Torre de Vigia sobre este assunto. Já no texto de Romanos, não está especificado o método pelo qual o cristão alcançaria um descrente em Cristo. Ele apenas diz que o pregador anuncia as Boas Novas sobre o Cristo a quem nunca tenha ouvido falar nelas. Portanto, é um texto que também não é decisivo para determinar a maneira utilizada e nem tampouco para abonar o tipo de mensagem pregada hoje pelas Testemunhas de Jeová. Mas o que dizer do texto acima de Atos? Não estaria ele mostrando claramente que os antigos cristãos pregavam de casa em casa, à maneira dos seguidores da Torre de Vigia? Há um fator importante que muitas Testemunhas de Jeová desconhecem: a expressão "de casa em casa" vem do grego kat'oikon. Esta palavra significa também "nas casas". É por isso que a maioria das traduções da Bíblia não verte por "de casa em casa". O sentido básico de kat'oikon é mencionado até pela Torre de Vigia, nas notas ao pé de página de Atos 5:42 e de Atos 20:20, na Tradução do Novo Mundo com Referências e Notas (TNM). Em Atos 20:20 lemos o seguinte na TNM (inclusive a nota):

"Ao passo que não me refreei de vos falar coisa alguma que fosse proveitosa, nem de vos ensinar publicamente e de casa em casa.*" "* Ou 'e em casas particulares'." Portanto, a própria TNM permite que o texto acima seja traduzido da seguinte maneira:

"Ao passo que não me refreei de vos falar coisa alguma que fosse proveitosa, nem de vos ensinar publicamente e em casas particulares."

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E como será visto mais adiante, "em casas particulares" é o verdadeiro sentido dos dois textos acima. A nota referente a Atos 5:42 chega a citar um comentarista bíblico chamado R. C. H. Lenski em apoio ao entendimento que a Torre de Vigia diz ter deste versículo de Atos. Dentre outras coisas, Lenski comentou: "Naturalmente, também kat'oikon, é distributivo, 'de casa em casa', e não meramente adverbial, 'em casa'." Mas em que sentido kat'oikon é distributivo? E ser distributivo significa necessariamente que tem que ser consecutivo ? Repousando a poucos versículos antes, parano o qual a TNM nãoderemete momento algum versículo próprio livro Atosem que responde de em umasuas veznotas, por existe todas um esta questão. Trata-se de Atos 2:46, o qual, segundo a mesmíssima Tradução do Novo Mundo, diz:

"E dia após dia assistiam constantemente no templo, de comum acordo, tomando as suas refeições em lares particulares e participando do alimento com grande júbilo e sinceridade de coração, louvando a Deus." – Atos 2:46, 47. O grifado acima vem exatamente da mesma expressãokat'oikon sobre a qual Lenski fez o seu comentário. Mas por qual motivo a TNM traduziu "em lares particulares" ao invés da expressão "de casa em casa"? Ora! Não é o mesmo acusativo singular distributivo? Não é preciso ser nenhum especialista em grego para entender o motivo da escolha, escondida, feita pela Vigia. Se o texto rezasse como a Torre de Vigia quase normalmente preferiria, eleTorre seria de assim:

"E dia após dia assistiam constantemente no templo, de comum acordo, tomando as suas refeições de casa em casa e participando do alimento com grande júbilo e sinceridade de coração, louvando a Deus." – Atos 2:46, 47. Consegue imaginar um cristão primitivo comendo em uma casa e depois sair para comer em outra residência, logo após indo comer na casa seguinte, e depois percorrer todos os lares do seu "território", comendo e comendo até não agüentar mais? Certamente, ele não sentiria nenhum júbilo depois de tanta comilança!!! É óbvio que kat'oikon tem sentido distributivo, mas não necessariamente tem que ser consecutivo. No texto acima, se em certo dia o cristão fosse comer na casa de um irmão, e só no dia seguinte fosse comer na casa de outro e dois dias depois fosse para uma refeição na casa de uma terceira pessoa, ele estaria comendode casa em casa, mas sem necessariamente ir a todos os lares cristãos numa só manhã de domingo.

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A análise gramatical do texto srcinal por si só já é suficiente para notar que Atos 5:42 e 20:20 não são determinantes para abonar o tipo de pregação adotado pelas Testemunhas de Jeová. No entanto, há outros fatores a serem considerados, os quais dão maior peso ao entendimento correto, como por exemplo o contexto bíblico e o contexto histórico. Vamos analisar ambos a partir de agora.

Na Sentinela de 1° de julho de 1983 existe uma discussão do serviço do apóstolo Paulo e cita as suas palavras em Atos 20:20, 21. Considere a afirmação que se segue a essa discussão na página 13 do artigo: Mais tarde, ele podia apropriadamente dizer aos "anciãos" da congregação de Éfeso:

"Não me refreei de vos falar coisa alguma que fosse proveitosa, nem de vos ensinar publicamente e de casa em casa. Mas, eu dei cabalmente testemunho, tanto a judeus como a gregos, do arrependimento para com Deus e da fé em nosso Senhor Jesus” (Atos 20:17, 20, 21, 31; 19:1-4). Agora veja a interpretação deste texto bíblico conforme expresso na revista:

De modo que olhes apóstolo antesasque estes homens agora eram anciãos se haviam tornado cristãos, haviaPaulo, ensinado verdades básicas que do cristianismo na pregação "de casa em casa". Vejam que incoerência, o próprio Paulo diz ter ensinado estes homensprimeiro "publicamente" e depois de “casa em casa”. O escritor do artigo na verdade inverte a ordem, afirmando terminantemente que a maneirainicial pela qual os anciãos Efésios se tinham tornado cristãos foi através da atividade 'casa em casa'. Ele passa completamente por cima da parte que o ensino "público" de Paulo desempenhou na instrução destes homens nas “verdades básicas do cristianismo”, apesar de o próprio Paulo ter dito isto em primeiro lugar. Com que base pôde o escritor do artigo fazer isto? Onde é que as palavras de Paulo especificam omomento em que estes homens se arrependeram e tiveram fé em Jesus Cristo, tornando-se assim cristãos? Na realidade, no capítulo anterior ao que foi citado (isto é, em Atos capítulo dezenove) a própria Bíblia conta-nos sobre a atividade de Paulo em Éfeso. Visto que nós não estávamos em Éfeso, mas Lucas estava, o que é que o próprio relato de Lucas (como escritor do livro de Atos) mostra quanto acomo e onde Paulo deu "cabalmente testemunho, tanto a judeus como a gregos" acerca do arrependimento e da fé em Cristo?

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Atos capítulo dezenove mostra que, ao chegar a Éfeso, Paulo "encontrou alguns discípulos", cerca de doze, que não tinham conhecimento acerca de receber a dádiva do Espírito ou acerca de serem batizados no nome de Cristo, tendo sido batizados com o batismo de João. Paulo batizou-os no nome de Jesus. Mas deve-se notar que estes homens já eram crentes, discípulos, quando ele os encontrou. Ele ensinou-os, não como se eles fossem estrangeiros não informados, mas como homens que já eram discípulos. O caso deles pode ser comparado ao de Apolo, descrito no capítulo anterior como estando "familiarizado apenas com o batismo de João" quando Áquila e Priscila o conheceram (Atos 18:24-26). Não obstante, mesmo antes que eles "lhe expusessem mais claramente o caminho de Deus", Apolo já tinha estado a "falar e ensinar corretamente as coisas acerca de Jesus" na sinagoga. Embora incompleto no seu entendimento, ele já era um cristão quando Áquila e Priscila o conheceram. Mais ainda, eles conheceram-no, não indo de porta em porta, mas enquanto eles próprios freqüentavam a sinagoga. Não existe nenhuma razão para encarar os doze homens em Éfeso de maneira diferente. Depois de descrever o batismo destes homens por Paulo, o relato em Atos capítulo dezenove diz: “Entrando na sinagoga , [Paulo] falou com denodo, por três meses, proferindo discursos e usando de persuasão a respeito do reino de Deus. Mas, quando alguns prosseguiam em endurecer-se em não crer, falando injuriosamente sobre O Caminho perante a multidão, retirou-se deles e separou deles os discípulos , proferindo diariamente discursos no auditório da escola de Tirano ” (Atos 19:8, 9).

Este é o relato de Lucas como testemunha ocular sobre o ministério de Paulo em Éfeso. Ele mostra que alguns dos que ouviam os discursos de Paulona sinagoga durante aqueles três meses ou já eram ou tornaram-se discípulos devido a sua pregação neste lugar público. Posteriormente, Paulo passou a pregar noauditório da escola de Tirano, outro lugar público. Ele não diz que estes, ou quaisquer outros abraçaram o cristianismo devido ao resultado de uma atividade de pregação de "casa em casa". Um contexto muito claro de evidência das Escrituras indica que isto foi o resultado de terem escutado osdiscursos públicos de Paulo na sinagoga . Ao longo de todo o livro de Atos existem vários exemplos de pessoas que se tornaram crentes como resultado de discursos dados em lugarespúblicos ou de maneira pública. Os 3.000 em Pentecostes reuniram-se publicamente para ouvir Pedro e os outros discípulos falar e nesse mesmo dia arrependeram-se e tornaramse crentes. Eles não estavam respondendo à chamada de alguém à porta da sua casa (Atos 2:1-41). Embora seja verdade que Cornélio e os seus associados ouviram a mensagem de arrependimento e fé em Cristo na sua casa, a visita de Pedro ali não estava relacionada com nenhuma "atividade de pregação de casa em casa" mas era antes uma visita específica àquele lar (Atos 10:24-48). Em Antioquia da Pisídia,

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como resultado de Paulo falar na sinagoga, alguns judeus e prosélitos, "seguiram Paulo e Barnabé" para ouvirem mais coisas (Atos 13:14-16, 38-43). Se estava envolvida alguma casa, era mais provavelmente aquela em que Paulo e Barnabé estavam hospedados, com estas pessoas interessadas visitando-os em tal casa, o que é o contrário de serem visitadas nas suas casas por Paulo e Barnabé. (Compare com a situação similar no ministério de Jesus em João 1:35-39). No sábado seguinte, "todos os corretamente dispostos para com a vida eterna tornaram-se crentes" na sinagoga, segundo todas as indicações (Atos 13:44-48). Em Icónio, o relato diz que Paulo e Barnabé falaram de novo na sinagoga e "uma grande multidão, tanto de Judeus como de Gregos, tornaram-se crentes". Eles 'arrependeram-se e tiveram fé em Cristo' como resultado de ensino público na sinagoga sem que seja mencionada qualquer "atividade de casa em casa"(Atos 14:1). Em Filipos, Lídia 'abriu o seu coração e respondeu à mensagem de Paulo', mas isto foi junto de um rio e Paulo só entrou na casa dela mais tarde, e nessa altura como convidado dela. O guarda prisional filipense que mais tarde foi convertido conheceu Paulo enquanto este estava detidona prisão dele e a entrada de Paulo na casa dele foi o resultado de um pedido de conhecimento do guarda, e não de uma visita não solicitada à sua casa (Atos 16:12-15, 25-34). Em Tessalônica, o resultado de Paulo ter raciocinado com as pessoasna sinagoga durante três sábados foi que "alguns deles tornaram-se crentes e associaram-se com Paulo e Silas, e assim fizeram também uma grande multidão dos gregos que adoravam a Deus", novamente, ensino público numa sinagoga sem referência a nenhuma atividade de pregação "casa em casa" (Atos 17:1-4). Em Beréia, ao chegarem eles "entraram na sinagoga dos judeus" e "muitos deles tornaram-se crentes, e assim (Atos também .não mulheres gregasterbem conceituadas e dosnahomens" 17:10-12) Empoucas Atenas,das depois de Paulo falado publicamente sinagoga , na feira e no Areópago, todos lugares públicos, alguns "juntaram-se a ele etornaramse crentes" (Atos 17:16-34). Em Corinto, Paulo, enquanto hóspede na casa de Áquila e Priscila, "cada sábado, dava um discurso na sinagoga e persuadia judeus e gregos". Quando os opositores o forçaram a sair da sinagoga ele foi para casa de Tício Justo, que era contígua à sinagoga, e usou esta casa como um lugar de ensino, e o relato diz: "Mas Crispo, o presidente da sinagoga, tornou-se crente no Senhor, e assim também todos os de sua família. E muitos dos coríntios, que tinham ouvido, começaram a acreditar e a ser batizados" (Atos 18:1-8). Crispo e sua família ouviram inicialmente as boas novas na sinagoga e só mais tarde em sua casa, quando esta foi usada como local de reunião, sem que as visitas de porta em porta entrem no cenário.

Todos estes relatos precedem o relato da atividade de Paulo em Éfeso . Será que vamos pensar que esses relatos não lançam luz sobre a declaração de Paulo em Atos 20:20 citado na Sentinela, segundo a qual ele deu “cabalmente testemunho, tanto a judeus como a gregos, do arrependimento para com Deus e da fé em nosso Senhor Jesus?” Onde é que Paulo fez exatamente isso nestes relatos todos? Foi em algum tipo de atividade de porta em porta? Ou foi em vez disso em lugares

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públicos, principalmente sinagogas? Quando estavam envolvidas casas, o apóstolo tinha ido lá em atividade porta em porta, ou tinha ele em cada caso sidoconvidado para aquela casa específica? Será que as pessoas "judeus e gregos", se tinham arrependido e tornado cristãs através de uma pregação de porta em porta ou através de ensino público nas sinagogas? Em face desta evidência das próprias Escrituras, das palavras de Lucas como testemunha ocular, como pôde o escritor daSentinela não fazer a mínima referência à hipótese evidente de que o que aconteceu em todas as outras cidades também pode ter acontecido em Éfeso? Não pesquisou a matéria? Não estava a par de toda esta evidência? Tal superficialidade seria indigna de alguém que escreve para milhões de leitores. Ou preferiu ele passar por cima da evidência substancial de modo a fazer as Escrituras ajustarem-se aos ensinos da organização Torre de Vigia? Isto seria ainda menos desculpável. Paulo diz que ensinou pessoas em Éfeso "publicamente e de casa em casa". Se o primeiro método é público, o segundo, naturalmente, é particular. Visto no contexto extenso e detalhado de todo o livro de Atos, é claro que o caso em Éfeso tem todos os indícios de ter acontecido na seguinte ordem:

(01) Paulo encontrou crentes como resultado de falarna sinagoga e mais tarde na escola de Tirano (publicamente). (02) Ele depois foi aos lares desses crentes, de um lar para outro lar, dando-lhes não instrução pública, mas particular, instrução personalizada(em casas particulares) . Uma argumentação honesta reconheceria ao menos esta como uma possibilidade e, se fosse dada consideração a todos os exemplos precedentes das Escrituras, esta seria reconhecida como a explicação mais provável. ASentinela não faz isto, pelo contrário, torce de todas as formas as Escrituras para tentar de alguma maneira dar um apoio Bíblico para sua pregação de porta em porta. Tentam fazer as Escrituras dizerem algo que eles querem que ela diga, trabalham os textos para fazê-los dizer algo que realmente não dizem. Tal atitude e no mínimo desonesta. Existem cerca de 150 relatos registrados nos cinco livros das Escrituras que descrevem a pregação de Jesus e dos Apóstolos (Mateus, Marcos, Lucas, João e Atos dos Apóstolos), destes apenas cerca de 34 incluem alguma referência a "casa" ou "lar". Entre estes estão as quatro ocorrências que são usadas com mais freqüência nas publicações da Torre de Vigia como base para o seu ensino acerca de porta em porta. ocorrências referem-se às considerações de atividade Jesus ao dar instruções aosEstas seusquatro doze apóstolos e aos setenta discípulos antes de os enviar para a atividade evangelizadora, e àquelas duas ocorrências no livro de Atos onde a frase "de casa em casa" ocorre (na Tradução do Novo Mundo). Visto que

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a questão em discussão é inteiramente a de sabero que é que estes quatro relatos descrevem, isto é, saber se devem ser compreendidos como se referindo a ir de uma porta para a seguinte ou não, então certamenteas outras trinta passagens onde ocorre à palavra "casa" ou "lar" deviam ter sido objeto de sério interesse, pois seria razoável esperar que lançassem luz sobre a maneira como Jesus e os seus apóstolos e discípulos faziam a sua atividade. O que é que essas passagens revelam? Destas 30 passagens 21 referem-se a casas nas quais Jesus, Pedro ou Paulo se alojaram ou a casas para as quais foram convidados, muitas vezes para uma refeição, incluindo as casas de Marta, Maria e Lázaro, Zaqueu, Simão o Curtidor, Cornélio, Lídia, um guarda prisional em Filipos, Áquila e Priscila, Tito, Justo, e Públio. Outras 07 passagens referem-se a casas não identificadas, mas o contexto indica um local de alojamento ou um local de reunião, estando por vezes presentes todos os doze apóstolos ou até uma grande multidão. Por fim, as últimas 02 referem-se a Jesus enviando uma pessoa curada para casa. Em todas as passagens, não existe uma única que mostre Jesus ou algum dos seus apóstolos ou discípulos tocando de porta em porta ou até indo de uma casa para outra. Até mesmo nas instruções que Jesus deu para os 12 Apóstolos(Mateus 10:5-11) e depois para 70 discípulos (Lucas 10:1-7), relatos constantemente citados pela Torre de Vigia como “prova” de que os primitivos cristãos pregavam de porta em porta, notamos que Jesus fala aos seus discípulos sobre coisas que eles necessitariam, ao irem numa viagem de pregação, como dinheiro, comida e vestuário, falou também acerca de outra coisa que eles necessitariam na sua viagem, a saber, alojamento era o assuntoa principal discutido palavras dele. A declaração que Jesus, efezeste imediatamente seguir“e ficai ali aténas partirdes” demonstra isto. Observe: “Ao irdes, pregai, dizendo: O reino dos céus se tem aproximado. Cur ai doentes, ressuscitai mortos, tornai limpos os leprosos, expulsai demônios. De graça recebestes, de graça dai. Não adquirais nem ouro, nem prata, nem cobre, para os bolsos dos vossos cintos, nem alforje para a viagem, nem duas peças de roupa interior, nem sandálias, nem bastão; pois o trabalhador merece o seu alimento. Em qualquer cidade ou aldeia em que entrardes, procurai nela quem é merecedor, e ficai ali até partirdes” (Mateus 10:7-11). “Não leveis bolsa, nem alforje, nem sandálias, e não abraceis a ninguém em cumprimento ao longo da estrada. Onde quer que entrardes numa casa, dizei primeiro: Haja paz nesta casa. E, se ali houver um amigo da paz, descansará sobre ele a vossa paz. Mas, se não houver, ela voltará para vós. Assim, ficai naquela casa, comendo e bebendo as coisas que provêem, porque o trabalhador é digno de seu salário. Não vos estejais transferindo de casa em casa” (Lucas 10:4-7).

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Expressões tais como “ficai naquela casa comendo e bebendo” e “não vos estejais transferindo de casa em casa” mostram claramente que Jesus orientava seus discípulos sobre como obter alojamento com pessoas apropriadas e como se comportar quando esse alojamento fosse obtido. Tais orientações nada tinham a ver com a atual pregação de porta em porta feita pelas Testemunhas de Jeová.

Quando o livro de Atos foi escrito, o Cristianismo estava em sua fase inicial, quando praticamente todos os cristãos eram judeus e tinham plena liberdade de pregar em sua nação. É tanto que havia muitas seitas que se proliferaram entre os judeus, com as mais variadas motivações, tais como os essênios e os zelotes. No entanto, com o passar das décadas e com o fim da nação judaica, o contexto mudou completamente, pois os cristãos não eram somente aquele punhado de judeus, mas sim pessoas de todas as nações que se confrontavam com o desafio deexpor sua fé diante do grande intolerante religioso que era o Império Romano. Os livros sobre a História do Cristianismo estão aí para mostrar isso. É praticamente certo que os antigos cristãos (do primeiro século em diante)nunca pregaram de casa em casa no vasto Império Romano, pelo menos não da maneira que uma Testemunha de Jeová hoje esperaria. Isso já foi parcialmente admitido até pelo próprio Corpo Governante das Testemunhas de Jeová! (Em suas reuniões secretas). Tal admissão foi relatada por Raymond Franz, ex-membro do Corpo Governante, em seu livro "Em Busca da Liberdade Cristã". Os primeiros cristãos eram, em sua maioria, pessoas de pouca influência, muitas vezes escravos. Eles não tinham liberdade para serem "pioneiros" ou meros "publicadores". O crescimento inicial do Cristianismo se deu principalmente pelo que as Testemunhas de Jeová chamam hoje de "testemunho informal".O Império Romano não permitiria que grupos e mais grupos cristãos ficassem visitando persistentemente as casas de cidadãos romanos, tentando convertê-los ao monoteísmo e incentivá-los a deixar a adoração dos "deuses". Uma atividade assim certamente chamaria a atenção das autoridades e dos escritores daquele tempo. A título de comparação, note um caso que ocorreu na Grécia antiga e que perdurou por alguns séculos. Houve uma seita religiosa, cujos integrantes eram chamados de Órficos, que incentivava seus adeptos a visitarem as pessoas em seus lares, com o objetivo de conseguir mais aderentes para o seu movimento. Sobre ela, é dito o seguinte:

"Platão menciona tratados órficos que eram distribuídos por membros dessa seita, que andavam de casa em casa, e Plutarco, nos seus Preceitos sobre o Casamento, aconselha a parte feminina a não permitir a entrada pela porta das traseiras a estranhos que tentam

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introduzir os seus tratados em casa fazendo reclamo de uma religião estrangeira, uma vez que isso pode provocar desavenças com o marido.... Platão, Rep., II.364e, fala de um 'monte de tratados' oferecidos pelos 'profetas errantes' de Museu e Orfeu, em que ensinavam uma religião catártica e os seus rituais chamados teletai (i.e., iniciações). " – Cristianismo Primitivo e Paideia Grega, edição de 1991, edições 70, Portugal, de Werner Jaeger, p. 20, inclusive nota. O zelo dos órficos em pregar sua doutrina também se manifestava através de pregações públicas. Isto foi mencionado por Atenágoras de Atenas, um cristão do segundo século EC, ao se referir a um órfico chamado Diágoras:

"Ele não só expunha publicamente a doutrina órfica e divulgava os mistérios de Elêusis e os dos Cabiros, e quebrava a estátua de Héracles para os pedaços cozer com nabos, mas também diretamente afirmava que Deus não existe em absoluto." – Padres Apologistas, 1995, Paulus, São Paulo, p. 125 . Certamente tais pregadores não tinham o zelo cristão nem o Espíritode Deus, mesmo assim o que fizeram foi registrado e chegou aos dias de hoje. Mas no caso dos cristãos, os quais desenvolveram uma pregação muito mais extensa e duradoura, não há um único registro histórico sobre visitas costumeiras aos lares pagãos. E lembre-se que a pregação que as Testemunhas de Jeová imaginam que houve no primeiro século não se resumia a visitas discretas, e sim a umacampanha ostensiva e periódica com o objetivo de alcançar todas as casas de todas as cidades do Império, uma a uma, não deixando ninguém de fora. Isso durante dias, meses e anos seguidos. Será que um empreendimento desta magnitude e abrangência não receberia algum destaque dos escritores daquele tempo? Seria de se esperar que houvesse um número de referências sobre pregar de casa casa dos cristãos antigos, caso enorme eles tivessem realmente se oempenhado numaemcampanha semelhante à das Testemunhas de Jeová hoje em dia. Tais menções históricas, porém, não são encontradas. É verdade que os registros antigos mencionam freqüentemente o zelo dos primeiros cristãos ao pregarem sua fé. Não se pode negar isso. No entanto, tais escritos não destacam o método de casa em casa como o principal meio de divulgação. Mesmo com alguns ricos tendo se convertido ao Cristianismo, o método de pregar periódica e consecutivamente nas casas de estranhos não era o principal, porque o Cristianismo cresceu especialmentedentro da humilde classe escravista e proletária, como mencionam os autores a seguir:

"O problema das fontes do cristianismo distingue-se pela sua extrema complexidade. A cristandade surgiu no seguimento das relações políticas e sociais existentes sob o regime escravista." – A Origem do Cristianismo, de Iakov Lentsman, edição de 1985, editora Caminho, Portugal, p. 33.

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"O filósofo grego Celso escarnece da nova religião porque seu fundador teve como mãe uma trabalhadora e como primeiros missionários alguns pescadores da Galiléia. Pela mesma época, os pagãos zombam das comunidades cristãs porque [são] formadas principalmente por pessoas de condição humilde. O Evangelho ironiza eles, exerce sua sedução somente sobre 'os simples, os humildes, os escravos, as mulheres e as crianças". Taciano traça o retrato do cristão de seu tempo: ele foge do poder e da riqueza e é, antes de tudo, 'pobre e sem exigências'. " –A Vida Cotidiana dos Primeiros Cristãos (95-197), editora Paulus, 1997, de A. G. Hamman, p.41. Os escritores da Antigüidade não mencionaram uma sistemática pregação de casa em casaé dos primeiros cristãos porque ela simplesmente nunca existiu. não Um dos motivos porque os cristãos eram, na maior parte, escravos e desvalidos, tendo a liberdade necessária para pregarem periodicamente de casa em casa. E não somente devido à sua condição social, mas também por causa do rígido sistema de governo romano, que dificilmentepermitiria essa ativid ade. Como já foi dito, sem dúvida o principal meio de evangelização naquele tempo era o que a Torre de Vigia chama hoje de "testemunho informal", dado a amigos, parentes, vizinhos, amos, escravos, empregadores e empregados. Mas é claro que isso não significa que os cristãos antigos não pregavam de maneira alguma na casa de algum estranho. Não é desarrazoado achar que eles também faziam isso, se a circunstância assim o permitisse. No entanto, dificilmente faziam dessa modalidade a principal. Não só pelo que foi mencionado até aqui, mas também devido à hostilidade natural das pessoas ao encararem uma idéia nova que contradissesse o que elas mais prezavam em termos de religião.Não era preciso que os cristãos se expusessem a este ponto. O Espírito de Deus se encarregariade

apontar os merecedores, seos Deus assim quisesse.nas Note que entravam na citaçãopela de"porta Platão, que foi mencionada acima, órficos, aoopregarem casas, das traseiras", o que dá a entender que não iam às casas de forma aberta e sistemática, tal como no modelo adotado pela Torre de Vigia. Tome como exemplo as campanhas que as congregações das Testemunhas de Jeová fazem em cidades pequenas, nos chamados "territórios não designados", isto é, aqueles onde não há Testemunhas de Jeová nem Salão do Reino. Alugam-se ônibus para as Testemunhas viajarem até a cidade escolhida e lá elas passam o domingo inteiro pregando, com breve parada para almoço e descanso. Não raro, nessas ocasiões, quando as Testemunhas de Jeová chegam a determinada cidade, as pessoas saem das suas casas se perguntando de onde surgiram tantos pregadores. Uns ficam entusiasmados com as visitas, outros se escondem. Alguns até ralham ao saberem do que se trata, quando descobrem que é a "terrível seita das Testemunhas de Jeová" que chegou à cidade. Este modelo de pregação freqüentemente chama aespecífico atenção de deproselitismo escritores de livros e jornais , os dequais mencionam este método (e vez ou outra a Torre Vigia os citam nas suas publicações). Por que então os cristãos antigos não despertaram igualmente a curiosidade dos escritores que lhes eram contemporâneos? Reflita um

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pouco e volte a meados do primeiro século de nossa era. Se naquele imenso território virgem e pagão do Império Romano houvesse realmente milhares de pessoas pregando periodicamente de casa em casa, sem serem convidadas, ano após ano, década após década, não acha que haveriaregistro dessas campanhas nos escritos históricos? Lembre-se que Roma era menos tolerante que os gregos. Se os gregos se incomodaram com os órficos e musoicos, quanto maisos romanos se incomodariam com aqueles que traziam uma mensagem que significaria simplesmente o fim de suas religiões politeístas. Será que não iriam reclamar e protestar nos seus escritos diante duma suposta invasão sistemática e periódica?

Leia o seguinte texto bíblico, o qual menciona as palavras de Paulo: “No entanto, de Mileto ele enviou a Éfeso e chamou os anciãos da congregação . Quando foram ter com ele, disse-lhes: 'Bem sabeis como, desde o primeiro dia em que pisei no distrito da Ásia, eu estive convosco todo o tempo, trabalhando como escravo para o Senhor, com a maior humildade mental, e com lágrimas e provações, que me sobrevieram pelas conspirações dos judeus; ao passo que não me refreei de vos falar coisa alguma que fosse proveitosa, nem de vos ensinar publicamente e de casa em casa' (Atos 20:17- 20)”.

Será que mesmo uma Testemunha de Jeová dogmática não desconfiaria de que quando Paulo emitiu as palavras acima, ele estava se referindo aos próprios irmãos cristãos? E irmãos com responsabilidades na congregação? Isto é tão evidente que a Torre de Vigia já compreendeu este versículo de forma correta. Note o que ela chegou a afirmar: “Paulo lembrou aos anciãos de Éfeso que os havia ensinado não apenas publicamente, mas também de 'casa em casa' (Atos 20:17-20)”. Livro Organização para Pregar o Reino e Fazer Discípulos (1972), p. 56. [sublinhado e negritos acrescentados]

"Alguns podem sobressair-se no ensino da tribuna, ao passo que outros talvez sejam mais fortes no ensino de modo informal, possivelmente ajudando membros da congregação ou famílias com problemas pessoais por visitas domiciliares ou em palestra particular. — Atos 20:20." A Sentinela, de 15 de dezembro de 1973, p. 757. [sublinhado e negritos acrescentados] As palavras acima da Torre de Vigia estavam de acordo com o que dizem a maioria dos comentaristas bíblicos, ao escreverem sobre a pregação "de casa em casa" mencionada em Atos. Por exemplo, Ernest Renan afirmou:

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"O lugar favorito da propaganda cristã, depois da sinagoga, era a habitação particular. .... o apóstolo fazia freqüentes visitas às casas dos que se haviam convertido ou sentiam simpatia." – livro Paulo - O 13ª Apóstolo (2005), pp. 258, 259, de Ernest Renan, Editora Martin Claret, sublinhado e negritos acrescentados. Visto que o entendimento correto de Atos 20:20 não servia aos interesses da Torre de Vigia, posteriormente ela se encarregou de negá-lo em suas publicações. Assim, quando uma Testemunha de Jeová hoje em dia se depara com este versículo de Atos e o entende corretamente, mas depois busque uma "orientação" nas publicações atuais do "escravo fiel e discreto", ficará convencida que entendeu "errado" passagem março de a2003, p. 12. em apreço. – Como exemplo, veja a "Sentinela" de 15 de No texto acima de Atos, o apóstolo disse que era aos anciãos que ele estava ensinando. Disse que para efetuar essa pregação ia "de casa em casa", ou nas "casas particulares", conforme permite a alternativa de tradução. Paulo os ensinou antes de se tornarem cristãos publicamente, na sinagoga e posteriormente no auditório da escola de Tirano, depois de os converter ele continuou a ensiná-los e edificá-los na fé em suas próprias casas, semelhante às visitas de pastoreio realizadas hoje entre as Testemunhas de Jeová. Não é de admirar que os próprios cristãos fossem um "território de pregação" para o apóstolo Paulo, visto que naquele temponão se fazia muita cerimônia para se batizar os interessados pelo Cristianismo. Muitos desses que se batizavam de súbito precisavam de ensinos adicionais para avançar à madureza cristã. Por isso Paulo pregava para eles também, além dos gregos e judeus descrentes. Mesmo hoje em dia é comum se ouvir falar que pastores pregam (da tribuna) para os fiéis ouvirem e serem ensinados. Até no caso das Testemunhas de Jeová isso acontece, quando os instrutores assumem seus lugares no púlpito. Por exemplo, quando um ancião (presbítero), ou servo ministerial (diácono), sobe à tribuna para fazer um discurso público ele pode incluir o tempo que passa discursando no relatório de serviço de campo , o qual é feito mensalmente por todas as Testemunhas de Jeová e entregue aos anciãos. No tempo dos primeiros cristãos não havia templos nem "salões do reino". As igrejas ou congregações funcionavam dentro das casas de alguns irmãos, semelhante ao que acontecia nos "estudos de livro de congregação" das Testemunhas de Jeová. Disse Paulo:

"Dai os meus cumprimentos a Prisca e Áquila, meus colaboradores em Cristo Jesus, que, pela minha alma, arriscaram os seus próprios pescoços, aos quais não somente eu, mas também todasqueasestá congregações das nações expressamos e cumprimentai a congregação na casa deles " (Romanos 16:3-5)agradecimentos; .

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Quantas congregações de cristãos havia no primeiro século? Melhor dizendo, quantas casas que serviam de local para reuniões existiam? É razoável imaginar que havia um certo número dessas casas em cada cidade . Se Paulo, ao chegar em uma localidade, fazia questão de ensinar a todas essas pessoas, é lógico que ele deveria ir de casa em casa para alcançá-las (da casa de um irmão para a casa de outro irmão), no sentido distributivo não consecutivo, sendo que cada uma dessas casas era o lar particular de algum irmão . Isto é bem diferente do que as Testemunhas de Jeová geralmente pensam quando lêem o texto de Atos 20:20. Que os cristãos deveriam ser ensinados após serem batizados é óbvio na própria seqüência das palavras faladas por Jesus Cristo: "Ide, portanto, e fazei discípulos de pessoas de todas as nações, batizando-as em o nome do Pai, e do Filho, e do espírito santo, ensinando-as a observar todas as coisas que vos ordenei." – Mateus 28:19-20, TNM. Preste atenção na ordem das ações: 1º) Fazer um discípulo, 2º) Batizá-lo, 3º) Ensiná-lo.

É claro que o contato inicial com o potencial discípulo implicava em algum ensino, tal como ocorreu no caso do eunuco etíope e outros mencionados nas Escrituras (Atos 2:41; 8:27; 16:30). No entanto, após o batismo o discípulo precisava ser revisitado freqüentemente para receber instruções adicionais, visto que o contato inicial podia ser de poucas horas.

Não é difícil encontrar uma Testemunha de Jeová que ache que os membros de outras igrejas já estão condenados só pelo fato de não demonstrarem interesse em pregar de casa em casa, no sentido distributivo consecutivo. Até ex-Testemunhas de Jeová que deixam a Torre de Vigia são criticadas porque geralmente deixam de fazer isso. Por exemplo, criticando os que vêem na Bíblia que não é preciso pregar de casa em casa, uma Testemunha de Jeová escreveu o seguinte:

"Agora para aqueles que não conseguem mais sair de casa em casa, por que perderam o pique, quandoquese lhes afastaram da no congregação TJs, é tentadora Cristo" procurar– uma interpretação dessa ordem favoreça seu estado das de desobediência Frederico Queiroz (o nome foi mudado).

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Então, não pregar de casa em casa de forma distributiva e consecutiva é, para essa Testemunha de Jeová, uma desobediência a Cristo. No entanto, se tal pessoa procurasse atentamente onde Cristo ensinou isso claramente, veria que não existe tal lei. Como já foi mencionado, não há nada que proíba um cristão de pregar nas casas das pessoas, até mesmo à maneira TJ, se assimele desejar. Mas não se pode estipular um padrão que a Bíblia e a História não ensinam. O pregar cristão não precisa ser da forma insistente praticada pelas Testemunhas de Jeová, as evidências bíblicas e históricas mostram isso. E foram justamente os métodos menos valorizados pelas Testemunhas de Jeová os responsáveis por fazer o Cristianismo crescer da maneira que cresceu. O homem não pode conceber os planos de salvação que Deus tem para cada pessoa. Hoje em dia, onde há liberdade religiosa observa-se um crescimento significativo no número de Testemunhas de Jeová e de outras denominações cristãs. Se em qualquer um desses lugaresnão houvesse tal liberdade o número de Testemunhas de Jeová seria mínimo, exatamente como acontece na China, Bangladesh, Afeganistão etc. Considerando estes países e outros, com certeza há mais de dois bilhões de pessoas que nunca ouviram falar de uma Testemunha de Jeová. Ou seja, normalmente o que determina o crescimento de uma religião são as condições existentes em cada nação. Se qualquer religião fosseo único meio de salvação da parte de Deus, muitos não seriam salvos simplesmente por falta de oportunidade. Portanto, é Deus quem determina quem será salvo. Deve ser por isso que sempre vemos na Bíblia figuras angélicas presentes quando o assunto é mostrar o caminho de salvação para alguém. Por fim, nunca é demais lembrar que incluído no "pacote" que as TJs oferecem de casa em casa, há os velhos e perigosos ensinos legalistas e antibíblicos, que foram profundamente analisados neste livro. Infelizmente, poucas Testemunhas de Jeová estão a par destas informações porque são proibidas pela Torre de Vigia de ler matérias publicadas por dissidentes ou apologistas que escrevem contra a Sociedade. Sim, o que uma Testemunha leva em sua pasta não é uma mensagem totalmente bíblica e cristã. Depois que uma pessoa é "fisgada"o lado sombrio vem "embrulhado" em uma caixa brilhante e colorida. E graças à Internet, um número cada vez maior de Testemunhas de Jeová está descobrindo isto (em sigilo). A grande verdade é que uma leitura da Bíblia livre das amarras mentais colocadas pela Torre de Vigia, especialmente no Novo Testamento, indica claramente que o principal não era a maneira como se pregava (seja testemunho informal, nas casas particulares, no trabalho, nas feiras, nas sinagogas, etc,etc...) mas simmediante a fé em Jaesus . As Boasdessa Novas centravam-se na salvação porque Jesus Cristo, fé. ACristo simplicidade pregação não é surpresa, visto o próprio Cristo dissera:

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"Eu sou a ressurreição e a vida. Quem exercer fé em mim , ainda que morra, viverá; e todo aquele que vive e exerce fé em mim nunca jamais morrerá." - João 11:25-26. A Torre de Vigia acha pretensiosamente que podealterar o sentido deste texto, dizendo que a fé verdadeira em Jesus só é possível dentro de sua religião. Mas qualquer estudante sério da Bíblia percebe que isso não é verdade. Há provas cabais e abundantes neste sentido. O entendimento correto do texto acima já é em si uma grande Boa Nova a pregar para quem quiser ouvir!!! Portanto,quem dará a vida é Deus, mediante Jesus Cristo, e não os dirigentes de uma religião que julgam outros cristãos mediante seus critérios particulares de interpretação, tanto no caso da pregação de casa em casa (forçando o sentido distributivo e consecutivo) como em outros assuntos. A vida eterna é um presente dado gratuitamente aos que tem fé. Nada que um cristão faça o tornará merecedor dela. É por isso que tal dádiva é chamada de "benignidade imerecida" (TNM) ou "graça" (Almeida). Atos 15:11

Outro argumento que a organização Torre de Vigia usa para "provar" que é a única organização verdadeira, é o de que as Testemunhas de Jeová recusam-se a matar guerras. Isto é,verdade naturalmente, louvável. sua aposição não é única, pessoas e isto é em particularmente desde 1996, ano Mas em que organização Torre de Vigia decidiu que o serviço alternativo era aceitável (A Sentinela, 1.º de Maio de 1996).

Várias seitas e denominações se opõem à guerra , como por exemplo, a Igreja Adventista do Sétimo Dia, os Menonitas, os Quacres, os Cristadelfianos, e vários grupos da Igreja de Deus. Mas o mais importante é que há milhões de Cristãos individuais por todo o mundo que se opõem à guerra e que se recusariam a matar outros numa guerra. Estes chegaram a essa posição, não porque seguem os ditames de alguma autoridade religiosa, mas sim porque é sua própria decisão. Outro aspecto que se costuma mencionar nas publicações da Torre de Vigia é que as Testemunhas de Jeová foram perseguidas e às vezes mortas em certos países. Isso a maiso forte perseguição às Alemanha, Testemunhasquando no século XX, éfoiverdade. a que Possivelmente aconteceu durante regime nazista na se enviaram 2.000 Testemunhas a campos de concentração, 203 das quais foram executadas e outras 600 morreram na prisão devido a enfermidades, desnutrição e

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outras causas (Anuário das Testemunhas de Jeová 1974, página 212, em Inglês). Mas as Testemunhas de Jeová não foram às únicas que foram perseguidas neste século. Os países totalitários perseguiram fortemente a vários grupos cristãos. Na ex-União Soviética, a maioria e, às vezes, todos os grupos cristãos, foram proibidos e perseguidos e milhares de Cristãos foram mortos em campanhas que tinham o propósito de desarraigar a religião. Em 27 de Janeiro de 1996, Vladimir Naumov, chefe da comissão russa para o restabelecimento das vítimas da opressão política, revelou que o Estado Soviético tinha maltratado meio milhão de sacerdotes, 200.000 dos quais foram assassinados durante a época de Stalin! Isto é mil vezes mais do que o número de Testemunhas que foram executadas durante o regime nazista! Não somente os países comunistas totalitários, mas também os países muçulmanos totalitários perseguiram Cristãos e proibiram sua atividade. Quando se proibiu ou restringiu a atividade das Testemunhas por parte de governos totalitários, normalmente também foi restringida e proibida a atividade de outros grupos cristãos, embora não leia muito a respeito deles nas publicações da Torre de Vigia. De fato, durante este século XX, morreram mais Cristãos por sua fé do que em todos os 19 séculos anteriores! Este fato é documentado no livro Lion's Den (Nashville, Tennessee: Broadman & Holman Publishers, 1997), escrito por Nina Shea, diretora de uma seção da Freedom House. Por isso, a perseguição às Testemunhas de Jeová no século XX, não foi única e muito menos ainda

excepcional. Hoje em dia, são raros os casos de perseguição às Testemunhas de Jeová, como de fato reconheceu A Sentinela de 01 de Dezembro de 1998, pág. 8: “No entanto, para a maioria das Testemunhas de Jeová, grande sofrimento às mãos de outros humanos é relativamente raro.”

Diante de todos os fatos apresentados fica a pergunta:Quem são os verdadeiros cristãos? Esta pergunta se baseia no conceito errôneo de que deve haver um só grupo de Cristãos verdadeiros que esteja separado de todos os outros grupos falsos. É isso o que ensina a Bíblia? A resposta é dada pelo próprio Jesus em sua parábola do trigo e do joio (Mateus 13:24-30, 36-43). Como mostra esta parábola, Jesus Cristo plantou a "semente excelente" (os filhos do reino conforme oversículo 38). Entretanto, ele sabia que "o inimigo" (o Diabo, conforme o versículo cima "sementes ruins" (os filhos do iníquo) entre o "trigo" 39no) plantaria "campo" por (o mundo conforme o versículo 38). Mas ele não permitiria que seus servos recolhessem o

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joio, 'para que não acontecesse que ao reunirem o joio, arrancassem também o trigo'. "Deixai ambos crescerjuntos até a colheita " (versículos 29, 30). Agora pare e pense, diz esta parábola algo a respeito de um só grupo "genuinamente Cristão"? Ora, a parábola mostra claramente que não haveria apenas um grupo de Cristãos verdadeiros separados de todos os outros grupos de Cristãos falsos. Haveria Cristãos individuais, verdadeiros e falsos. Cristãos verdadeiros e falsos

existiriam juntos no mesmo mundo de Cristãos , mesclados, assim como o trigo e o joio no mesmo campo. Note que seria na "colheita" (na "terminação do sistema de coisas" conforme o versículo 39) que os anjos removeriam o "joio" e juntariam "o trigo" no "celeiro" de Cristo (versículos 40-43, 30). A bíblia diz claramente que esta obra de separação seria realizada diretamente pelos anjos, não pelos servos ou seguidores de Cristo. Por mais de setenta anos, a Sociedade Torre de Vigia ensinou que desde 1919 as Testemunhas de Jeová, sob a supervisão dos anjos, estiveram separando o "trigo" do "joio" por meio de sua obra de pregação, ou para usar a linguagem de outra das parábolas relacionadas, estiveram separando as "ovelhas" dos "cabritos." (Mateus 25:31-46). Mas em 1995, na Sentinela de 15 de Outubro, páginas 22 e 23, a Sociedade finalmente admitiu que essa aplicação era incorreta , explicando que a separação dasfutura "ovelhas" e dos ocorrerá éagora, teráa inicio no dos dia do juízo, na vinda de "cabritos" Cristo! Nanãorealidade assimela que maioria Cristãos tem entendido estas parábolas através dos séculos (veja Jonsson/Herbst, O Sinal dos Últimos Dias - Quando?, Atlanta: Commentary Press, 1987, P. 228, nota 35 em Inglês). Esta mudança doutrinal ilustra mais uma vez quão transitória é a assim chamada "verdade" da Torre de Vigia! Parece que poucas Testemunhas de Jeová se deram conta do importante alcance desta chamada“nova luz”. Se as Testemunhas de Jeová não estiveram "separando as ovelhas dos cabritos" durante os setenta anos anteriores, sua atividade de testemunhar não foi tão crucial para a humanidade como o corpo governante afirmou enfaticamente, induzindo as testemunhas a acreditar nisso. Assim como outros grupos Cristãos, eles estiveram atraindo para sua organização "toda espécie" de pessoas, tanto justas como

iníquas (veja a parábola da rede de pesca em Mateus 13:47-51).

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A organização Torre de Vigia não só reuniu todo tipo de pessoas dentro de sua organização, tanto justas como iníquas, mas tambémexpulsou a todo tipo de pessoas, tanto justas como iníquas, contrário ao aviso do Amo na parábola (versículo 29). Fez isto, não só por meio da expulsão de pessoas por razões que freqüentemente foram muito arbitrárias, mas também por meio de rejeição a todos os outros Cristãos fora de sua organização, afirmando ser o único grupo de Cristãos verdadeiros na terra. Nesse sentido ignoraram o mandado do Mestre: "Deixai ambos crescer juntos

até a colheita." Somente por esta razão, a organização Torre de Vigia não poderia afirmar ser o único grupo verdadeiro, genuinamente cristão sobre a terra hoje em dia por que simplesmente não existe tal grupo. Portanto, quem são e onde estão os verdadeiros Cristãos hoje em dia? Obviamente, eles têm sido os mesmos durante todos os séculos desde os dias de Jesus, a saber, aqueles que aceitaram a Jesus Cristo como seu Senhor, seu Redentor e seu Mestre, seguindo seu exemplo de amor, misericórdia e compaixão. São aqueles que verdadeiramente amam a Deus e ao próximo,independentemente da religião que pertençam . Aqueles que não acham que sua religião é a única que pode levar a salvação, pois este tipo de pensamento está muito longe de ser um pensamento Cristão. Tais pessoas podem ser encontradas em vários tipos de associação cristã, estão em todos os lugares. Seria uma arrogância e prepotência enorme dizer que os verdadeiros cristãos estão reunidos apenas em uma única denominação, seja ela qual for.

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omo autor deste ex-membros livro, sou econstantemente questionado por relação diversas Testemunhas de Jeová, pessoas de outras religiões com às minhas crenças atuais e às vezes, até mesmo quanto ao meu modo de vida. Resolvi, então, criar esse capítulo contendo as perguntas mais corriqueiras. As respostas pouparão o tempo do leitor e o meu. Quem tiver algo a comentar, meu e-mail é: [email protected] Não me parece apropriado, sábio e correto emitir opiniões acerca de doutrinas e ensinos bíblicos como se estivesse fundando uma nova religião, oferecendo, por assim dizer, um novo pacote de artigos de fé e nem é minha intenção apresentar um modo de vida como se este fosse mais uma daquelas receitas mágicas para uma vida feliz. Aprendi a dura lição com a religião da qual saí. Ela, igual a muitas outras, não só determina em que seus membros devem crer como também recomenda um modo de vida altamente regulamentado por ela mesma, muito além do que a Bíblia promove. Através do repertório doutrinário de suas publicações, ela pensamento afoga seus membros num enorme manancial de normas de e limites de conduta, de e de acesso a informações. As Testemunhas Jeová não ousam duvidar de nenhum ensino nem podem escolher outro modo de vida que não esteja em total conformidade com tudo que o conselho central delas, seu Corpo Governante, determina. Tudo tem de vir da fonte que se diz legítima, verdadeira, segura, "sob direção divina". Ao contrário do que essa organização faz, estimulo o leitor TJ a ponderar sobre o que escrevo, deixando quesua responsabilidade perante Deus e sua consciência humana inerente desenhem um código próprio de conduta e de crenças, sejam elas quais forem. A idéia é que as pessoas, por si mesmas e com a ajuda do Criador, aprendam a desenvolver sua própria relação pessoal com Ele, sem tomar a fé emprestada de alguém ou de algum grupo religioso. Creio que o Criador auxilia a toda pessoa que O procura em seus processos decisórios da vida a fim de que ela faça a vontade Dele, e apenas Dele. No mais, solicito que quando alguém quiser defender a organização, faça-o por meio de argumentos razoáveis e provas documentais bem fundamentadas. Peço isso porque a maioria das Testemunhas posta e-mails comumente cheios de

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intimidações vazias do tipo: "arrependa-se para não ser destruído no Armagedom", "Volte para a organização de Deus ou sofrerá as conseqüências no Dia do Julgamento", "Como profetizado você é um apóstata odioso e por isso, cuidado com a destruição que está chegando! Ainda há tempo para voltar...", "Você não têm o que fazer? Fica aí falando de uma religião que só faz o bem aos outros, mas Jeová vai julgar os apóstatas de modo adverso", "O diabo cegou você. Abra os olhos enquanto é tempo!" , e outras ameaças e expressões de natureza puramente passional, frutos imprestáveis de uma árvore cuja raiz é o fundamentalismo religioso e a mentalidade condenatória, que sempre ganham musculatura devido à obediência cega a sistemas eclesiásticos verticalizados demais como o estabelecido pelo Corpo Governante das Testemunhas de Jeová.

Tenho uma perspectiva bíblica cristã. Naquilo em que a Bíblia não é explícita, o máximo a que posso chegar são conjecturas, especulações. Não creio que haja uma "religião verdadeira" mas que os servos fiéis de Deus são tirados de muitas religiões diferentes e que, embora crendo em doutrinas (não essenciais) equivocadas do ponto de vista bíblico, fazem-no muitas vezes por falta de conhecimento e nesse caso, muitos, "Deus não tomará em aconta tempos de tal ignorância" no talvez Dia doem Juízo. (Atos 17:29-31) . Eles mantêm crençaos essencial em Cristo como filho de Deus e no resgate por meio dele. Lemos emAtos 10:34, 35:

"Em cada nação, o homem que teme o verdadeiro Deus e faz a sua justiça lhe é aceitável". Em Mateus 28:20, Cristo afirmou que estaria com seus seguidores " até à terminação do sistema de coisas" e as Testemunhas de Jeová, por exemplo, surgiram há pouco mais de um século. Hoje em dia, como não há mais o arranjo de Deus de uma "nação santa" como no antigo Israel, o "povo para o nome de Deus" é tirado de diversas crenças, sem estar organizado em "um só aprisco especial". Para mim, isso não significa que o cristianismo tenha falhado ou deixado de existir; apenas os cristãos não estão em apenas um só grupo exclusivista. Que o leitor TJ, ao invés de fazer a perguntaEssa acima, compergunta! toda honestidade:"É a religião em que estou, a verdadeira?" sim,indague é a grande

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Não me considero apóstata. Exponho os gravíssimos erros de ensino e práticas legalistas, arbitrárias e coercitivas dessa organização que um dia, infelizmente, também fiz crescer. Ela, de vários modos, tenta dividir suas culpas com o próprio Criador ao se afirmar, por exemplo, "sob orientação do espírito santo de Deus" ou "sob direção teocrática". AlémdedoDeus mais, elaospresunçosamente se de auto-afirma único canal de comunicação com homens" nos dias hoje. Por "o que calar-nos diante de tal presunção? Ela rotula de "apóstatas" os que saem por motivo de consciência porque isso serve para amedrontar seus membros fiéis, aprisionados nas masmorras psicológicas dela, mantendo-os assim, longe de informações que fariam tanta diferença na vida deles. "Apostatar", biblicamente falando, é negar a Cristo (2 João 9-11) e aos ensinos da própria Bíblia (Romanos 16:17-20 e 2 Pedro 3:15, 16), e não aos ensinos particulares de uma religião como a Torre de Vigia, baseada em Brooklyn, NY, EUA.

De modo algum, pois nem a palavra nem a idéia estão, de fato, na Bíblia. A maioria das igrejas cristãs consideram isso uma grande apostasia ou heresia e me reprovam duramente, mas mesmo depois de ter saído da Torre, tendo feito novas pesquisas sobre o assunto e conversado com pastores de diversas denominações, não vi nenhuma prova concreta da Trindade. Por exemplo, o Antigo Testamento (Escrituras Hebraicas e Aramaicas) fala de Jesus apenas de modo profético. Se Deus fosse uma trindade, com a vinda de Jesus teria havido uma grande necessidade de explicá-la, já que os judeus não a conheciam; seria uma grande novidade a ser apresentada aos novos adoradores de Deus, os seguidores de Jesus; seria um assunto complexo a ser analisado detidamente. Como não é fácil de ser explicada (alguns até a classificam como um "mistério"), seria de esperar que os escritores do Novo Testamento (Escrituras Gregas) a tivessem abordado em seus escritos, buscando deixá-la bem clara aos discípulos cristãos que os liam. Mas não encontramos isso. Encontramos, sim, muitas passagens bíblicas que mencionam o Pai e o Filho (e que dão muito o que pensar no que se refere à união existente entre eles dois), mas que não incluem o espírito santo (suposta 3ª pessoa da Trindade).

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Há textos como João 17:3, palavras do próprio Jesus, que diz:"...que te conheçam, a ti, o único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste" . Primeiro o texto refere-se ao Pai (só ao Pai) como o"único Deus verdadeiro", e depois fala também de Jesus. Alguém nesta passagem é chamado de "único Deus verdadeiro" e este alguém não é Jesus. Está escrito e não pode ser apagado. Outro texto esclarecedor é a passagem de João 14:28 onde o próprio Jesus reconhece: “o pai é maior que eu”. Qualquer argumento que negue o que diz este versículo é mera interpretação. Jesus novamente em Marcos 13:32 esclarece: “Acerca daquele dia e daquela hora ninguém sabe, nem os anjos, nem o filho, mas unicamente o pai ”. Como podem ser a mesma pessoa se a coisas que o filho não sabe mais o Pai sabe? O relato deLucas 22:42 também deixa os trinitaristas num beco sem saída: “Pai, se tu quiseres, remove de mim este copo. Não obstante, ocorra, não a minha vontade, mas a tua ”. Como podem ser a mesma pessoa se nesta ocasião Jesus tinha uma vontade e o Pai tinha outra? E foi à vontade de quem que prevaleceu? Atos 2:32 também dá o que pensar: “A este Jesus, Deus ressuscitou, fato de que todos nós somos testemunhas”. Afinal, se Jesus fosse o próprio Deus, quem o ressuscitou? Ele estando morto poderia ressuscitar a si mesmo? Veja por exemplo à questão da srcem de Deus e de Jesus. A bíblia diz no Salmo 90:2 sobre Deus: “Antes de nascerem os montes e de criares a terra e o mundo, de eternidade a eternidade tu és Deus”. Portanto a bíblia deixa claro que Deus nunca teve princípio e nem terá fim. Agora no caso de Jesus a bíblia diz que ele teve princípio: “Ele é a imagem do Deus invisível, o primogênito de toda a criação” (Colossenses 1:15). Primeiro o texto diz que Jesus é a imagem do Deus invisível. Ser Jesus a imagem do Deus invisível não o torna uma pessoa duma trindade assim como Adão ter sido criado à imagem e semelhança de Deus nãosua o tornou parte de um Deus trino. olha de num espelho queévê ali? é A imagem, muito parecida com Quando você, umvocê reflexo você, mas onão você, apenas sua imagem. Jesus é chamado de a imagem do Deus invisível por que ele refletiu perfeitamente certas qualidades de seu Pai celestial aqui na terra. Por essa razão ele expressou várias vezes frases como:“O que eu ensino não é meu, mas pertence àquele que me enviou” (João 7:16), “porque não falei de meu próprio impulso , mas o próprio Pai que me enviou tem-me dado um mandamento quanto a que dizer e que falar” (João 12:49), “O Filho não pode fazer nem uma única coisa de sua própria iniciativa, mas somente o que ele observa o Pai fazer. Porque as coisas que Este faz, estas o Filho faz também da mesma maneira” (João 5:19), “Não posso fazer nem uma única coisa de minha própria iniciativa; assim como ouço, eu julgo; e o julgamento que faço é justo, porque não pro curo a minha própria vontade, mas a vontade daquele que me enviou” (João 5:30). Estas frases de Jesus mostram que ele é o próprio Deus ou um enviado submisso e obediente de Deus, um servo que procurou fazer exatamente o que seu Pai lhe disse para fazer? E com questão a srcem de Jesus? Observou que a bíblia o chama primogênito de toda3:14 a criação? dizer, a primeira de Deus? O livrode bíblico de Apocalipse falandoQuer sobre Jesus confirmacriação isto:“Estas coisas diz o Amém, a testemunha fiel e verdadeira, o princípio da criação de Deus ”. Observamos assim que Deus nunca teve princípio, ninguém o criou, mas Jesus

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teve princípio, foi à primeira criação de Deus. Outra questão crucial encontra-se em João 1:18: “Ninguém jamais viu a Deus”. Quando Moisés pediu para ver Deus veja o que Ele disse: “Não podes ver a minha face, porque homem algum pode ver-me e continuar vivo” (Êxodo 33:20). Agora milhares de pessoas que viviam no primeiro século viram Jesus, muitos conversaram e conviveram com ele. Como explicar isso? Quando Estevão estava sendo apedrejado ele teve uma visão do céu: “Mas ele, cheio de espírito santo, fitou os olhos no céu e avistou a glória de Deus, e Jesus em pé à direita de Deus” (Atos 7:55). O próprio Davi no Salmo 110 fala profeticamente sobre Jesus: “A pronunciação de Javé a meu senhor é: Senta-te a minha direita, até que eu ponha os teus inimigos como escabelo para os teus pés”. O apóstolo Paulo referindose a Jesus disse: “Porque Cristo entrou, não num lugar santo feito por mãos, que é uma cópia da realidade, mas no próprio céu, para aparecer agora por nós perante a pessoa de Deus” (Hebreus 9:24). Como poderia Jesus ser o próprio Deus se ele foi descrito a direita de Deus e perante a pessoa de Deus? Veja outro problema de difícil solução: “No decorrer daqueles dias, veio Jesus de Nazaré da Galiléia e foi batizado por João no Jordão. E, subindo da água, viu imediatamente os céus serem partidos e o espírito descer como pomba sobre ele; e uma voz saiu dos céus: “Tu és meu Filho, o amado; eu te tenho aprovado” (Marcos 1:9-11). Os três componentes da doutrina da trindade estavam em lugares diferentes e em formas diferentes. Jesus sendo batizado como homem no rio Jordão, o espírito santo em forma de uma pomba sobrevoando o local e a voz de Deus vinda lá do céu aprovando Jesus. Como podem ser uma só pessoa? Jesus orou várias vezes ao seu Pai nos céus, se ele fosse o próprio Deus teria lógica ele fazer isso? A beira de sua morte Jesus clamou: “Deus meu, Deus meu, porque me abandonaste?” (Mateus 27:46). A quem clamava Jesus? A si mesmo? Se Jesus fosse Deus por quem teria sido ele abandonado? Por si próprio? EmMateus 4:1 fala-se de Jesus sendo tentado pelo diabo. Satanás disse:“Todas estas coisas te darei se prostrares e me fizeres um ato de adoração”. Que teste de lealdade seria esse se Jesus fosse o Supremo Deus? Poderia Deus rebelar-se contra si mesmo? Em1ª Coríntios 15:27, 28 vemos um relato esclarecedor: “Pois [Deus] “lhe sujeitou todas as coisas debaixo dos pés”. Mas, quando diz que ‘todas as coisas foram sujeitas’, é evidente que se excetua aquele que lhe sujeitou todas as coisas. Mas, quando todas as coisas lhe tiverem sido sujeitas, então o próprio Filho também se sujeitará Àquele que lhe sujeitou todas as coisas, para que Deus seja todas as coisas para com todos”. Todas as coisas foram sujeitas a Jesus porque Deus lhe concedeu esta autoridade. Mas mesmo nesta posição enaltecida obviamente Deus não está sujeito a Jesus. Fica bem claro que o filho está sujeito ao seu Deus e Pai. Tanto o Apóstolo Pedro como o Apóstolo Paulo expressaram desta forma:“Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, pois, segundo a sua grande misericórdia, ele nos deu um novo nascimento” (1ª Pedro 1:3), “Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo , o Pai de ternas misericórdias e o Deus de todo o cons olo” (2ª Coríntios 1:3). Diante de todas estas evidencias bíblicas acho difícil crer que Deus o Pai e Jesus Cristo sejam a mesma pessoa.

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Alguns trinitaristas citam certos títulos ou frases descritivas como, por exemplo, “o Primeiro e o Último”, “Salvador”, que são usadas tanto para Deus como para Jesus. Afirmam que isto prova a trindade. Mas será que encontrarmos um título ou uma frase descritiva em mais de um lugar na bíblia é motivo para precipitadamente concluirmos que tem de se referir sempre a mesma pessoa? Devemos sempre considerar o contexto e quaisquer outras ocorrências na bíblia onde aparece à mesma expressão. Por exemplo, a expressão “Apóstolo” e aplicada tanto a Jesus como a certos de seus seguidores(Hebreus 3:1). Será que isto prova que são a mesma pessoa ou que sejam de posições iguais? O rei Nabucodonosor (Daniel 2:37) e Jesus Cristo (Apocalipse 17:14) são chamados de “rei dos reis”, será que isto prova que Jesus e Nabucodonosor são a mesma pessoa? Será que os discípulos de Jesus (Mateus 5:14) e Jesus (João 8:12) são a mesma pessoa pelo fato de ambos serem descritos na bíblia como a “luz do mundo?” Temos também que levar em consideração que duas pessoas podem receber o mesmo título, mas com aplicações diferentes. Por exemplo, tanto Deus como Jesus podem ser nossos salvadores, Deus por providenciar o nosso meio de salvação (o resgate) e Jesus por ter sido ele próprio este meio. Tanto Deus como Jesus podem ser “o Primeiro e o Último”, Deus pode ser o primeiro e o último no sentido de existên cia, o primeiro Deus a existir e o último que existirá, Jesus pode ser o primeiro e o último no sentido de ser o primeiro a ser ressuscitado dentre os mortos para a vida espiritual, imortal (João 3:13), e o último ressuscitado pelo próprio Deus, pois para todos os outros da humanidade Jesus é a ressurreição e a vida(João 11:25), depois de sua própria ressurreição, Jesus recebeu as chaves da morte(Apocalipse 1:18). Jesus também foi o 'princípio' das promessas de Deus para o mundo, a Semente destinada adeesmagar a cabeça da velha serpente. eleseé cumprem o 'fim' de todas as promessas Deus, pois é através dele que todas Eelas (João 11:25; Gênesis 3:15; 2 Coríntios 1:19, 20) . Existem algumas passagens bíblicas que chamam Jesus de “Deus” comoIsaias 9:6. Além disso, existem diversas passagens nas Escrituras Hebraicas que falam de Iavé Deus, embora a passagem seja reconhecida como messiânica.Mas ele pode ser Deus em sentido representativo. Um governante pode comissionar um representante com autoridade executiva total. Faraó fez isso com José. Dar a ele seu anel de sinete era o mesmo que dar a ele o poder de assinar por Faraó. Nabucodonosor fez o mesmo com Daniel.(Gênesis 1:39-44; Daniel 2:47-49) E Deus fez isso com seu Filho. Isto é provado pelas palavras de Mateus 28:18, onde Jesus disse: “Toda a autoridade me foi dada no céu e na terra.” E este é o sentido em Colossenses 2:9, onde se diz que em Cristo “habita, corporalmente, toda a plenitude da Divindade.” O significado deste versículo é mais bem demonstrado por uma ilustração: Suponhamos o presidente de um paíscargo, torne-se temporariamente incapacitado e não possaque cumprir os deveres de seu a presidência. O vicepresidente assumiria estes deveres e teria o poder total da presidência à sua disposição. Todavia, quando a história registra a lista dos presidentes, o nome do

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vice-presidente não seria incluído porque ele nunca foi realmente o presidente. Similarmente, foi concedido a Jesus o poder total de divindade, o cargo de Deus, mas ele não é literalmente Deus. Dentro do conceito judaico de agência,o agente de alguém é como se fosse o próprio. Para entender este conceito compareLucas 7:210 com Mateus 8:5-13. Lucas relata o fato como ele ocorreu literalmente. Mateus narra o fato como se o próprio centurião tivesse vindo falar com Jesus, mas na verdade o centurião não fez isso. Os judeus não considerariam o relato de Mateus como uma mentira, já que o modo de pensar deles permitiria isso. Assim, como representante principal de Deus, apto a 'assinar Seu nome', Jesus pode figurativamente ser chamado de “Deus Poderoso” em Isaias 9:6. Mas isto não significa que Jesus seja literalmente Deus. Voltemos à nossa comparação com José e Faraó: José era funcionalmente igual a ele, não era igual em sentido posicional. As pessoas tinham de obedecer a José como se ele fosse Faraó, mas ele não era Faraó. Da mesma forma, Jesus é funcionalmente igual a seu Pai, mas não é posicionalmente igual.Os trinitaristas tiram a conclusão de que Jesus é Iavé porque falharam em compreender o modo de pensar dos hebreus, particularmente o conceito de “agência”, já mencionado. Mas, para provar o ponto, examinemos três outras passagens das Escrituras: “Eu sou o SENHOR, e não há outro; além de mim não há Deus... Eu formo a luz e crio as trevas; faço a paz e crio o mal; eu, o SENHOR, faço todas estas coisas.” (Isaías 45:5-7) Com estes versículos em mente, compare 2 Samuel 24:1: “Tornou a ira do SENHOR a acender-se contra os israelitas, e ele incitou a Davi contra eles, dizendo: Vai, levanta o censo de Israel e de Judá.” com a passagem paralela em 1 Crônicas 21:1: “Então, Satanás se levantou contra Israel e incitou a Davi a levantar o censo de Israel.” Nestas três passagens vemos que o SENHOR cria as trevas e o mal, e se afirma que tanto o SENHOR como Satanás incitaram Davi a recensear Israel. Será que os trinitaristas concluem à base disso que Satanás é uma das pessoas do SENHOR multi-pessoal? Há passagens que dão margem para se considerar o Espírito Santo como uma pessoa, mas não como a 3ª pessoa da Trindade. Creio que, se de fato existisse uma Trindade, esta não ficaria na dependência de passagens não explícitas das Escrituras, mas seria um dos temas mais importantes e mais esmiuçados pelos escritores inspirados da Bíblia Sagrada. Esta deixa bem claro, por exemplo, que Jesus é o Messias, o Filho de Deus. Isto é declarado explicitamente, independentemente de interpretações. Dá-se o mesmo com a Trindade? Não. Inúmeras são as passagens que mencionam conjuntamente o Pai e o Filho (nas introduções e encerramentos das epístolas de Paulo, por exemplo), ao passo que a inclusão do Espírito Santo ocorre apenas duas vezes(Atos 28:19 e 2 Coríntios 13:13). No final do capítulo 28 de Mateus, ordena-se o batismo em nome "do Pai, do Filho e do Espírito Santo”. Se houvesse uma passagem bíblica que “comprovasse” a Trindade esta seria a mais forte. Por que, então, o Espírito Santo seria incluído aqui, tal como se fosse uma pessoa, como são Deus e Jesus, tendo os

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cristãos de ser batizados em nome destes três? Isto dá muito o que pensar com relação à importância do Espírito Santo. Ao mesmo tempo, porém,1 João 5:8 afirma: "E três são os que testificam na terra: o Espírito, a água e o sangue e os três são unânimes num só propósito”. A conclusão é que o Espírito Santo pode ser uma pessoa, mas não necessariamente, pois o texto citado inclui a água e o sangue como se fossem pessoas, mas a água e o sanguenão são pessoas. Será que os trinitaristas concluem que há uma entidade triúnica aqui, composta pelo espírito, água e sangue? Ou os três são mencionados aqui porque estão unidos num só propósito? Também em 1 Timóteo 5:21, Paulo manda "perante Deus, Cristo Jesus e os anjos escolhidos" que se guardem certas coisas. Todos os mencionados aquisão pessoas. Mas entenderia alguém que Deus, Jesus e estes "anjos escolhidos" constituem uma entidade una, em que ninguém é anterior ou posterior, maior ou menor, um "mistério"? Cita-se também em favor de o Espírito Santo ser Deus, o texto deAtos 5:3, 4: "Então disse Pedro: ‘Ananias, porque encheu Satanás teu coração para que mentisses ao Espírito Santo... Não mentiste aos homens, mas a Deus.’" Aqui não diz que o Espírito Santo é Deus; diz que Ananias "mentiu ao Espírito Santo"e também "mentiu a Deus". É possível que se faça algo em relação a Deus eao mesmo tempo se faça a mesma coisa a mais alguém? Isto aconteceu no caso de Jesus emMateus 25:40, 45: "...em verdade vos afirmo que sempre que o fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes. "Em verdade vos digo que sempre que o deixastes de fazer a um destes mais pequeninos, a mim o deixastes de fazer." E diz ainda a Bíblia: "Para obter a glória, enviou-me às nações que vos despojaram, porque aquele que tocar em vós toca na menina do seu olho ". (Zacarias 2:8) Por estes dois textos vimos que quem fizesse ou deixasse de fazer algo de bom para os "irmãos de Jesus", faziam ou deixavam de fazer ao próprio Jesus. Do mesmo modo, Deus considera que quem atinge "seu povo" atinge também a "menina do seu olho". Por que seria diferente no caso de Atos 5:3, 4, em relação a "mentir a Deus" e "mentir ao Espírito Santo"? Então, será o Espírito Santo uma "força", como dizem as Testemunhas e alguns outros? Ou uma "pessoa", como quer a maioria das igrejas? Não podemos ter certeza. Tanto num caso como no outro, porém, ainda não é suficiente para que se possa proclamar como certeza a existência de uma "Trindade", tal como formulam as grandes igrejas. Quanto a quaisquer passagens bíblicas que tratem do Pai e do Filho, estas não provam a Trindade, pois só falam dedois e não de três, e o que a maioria das igrejas ensina é quehá três pessoas num só Deus, e não duas pessoas num só Deus. Não existe, portanto, base para que a crença na Trindade seja uma doutrina básica, fundamental, dessas organizações. Quando muito, poderia ser uma teoria a respeito de Deus. É importante acrescentar que, além das Testemunhas de Jeová, há outras religiões cristãs que também não crêem na Trindade, como a Igreja Unitária (surgida no século XVIII) e a Igreja dos Cristadelfianos (surgida por volta de 1850). Ambas são mais antigas que a Torre de Vigia, e portanto, anteriores a esta em rejeitar a Trindade.

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Aniversários, sim. No capítulo 15 na página 291 deste livro explico pormenores sobre este assunto. Não existe evidencia bíblica para se afirmar que a pessoa que comemora seu aniversário ou participa do aniversário de outros esteja desagradando a Deus. Os argumentos que a Torre de Vigia usa para tentar mostrar que comemorar aniversários é errado são frágeis, baseados em interpretações humanas (no caso a interpretação equivocada de Rutherford nos anos 30) sem fundamento bíblico. Portanto trata-se de um assunto de consciência. Quanto ao Natal, é uma ocasião que muitos vêem para se aproximar de suas famílias e estreitar laços. Em meu caso,não tenho celebrado o Natal desde minha saída em outubro de 2010. Muitas pessoas que conheço sabem que tal celebração não é a data do nascimento de Cristo e muitas me dizem que comemoram apenas de modo "cultural", não religioso. Embora nada prove que o nascimento de Jesus tenha se dado em 25 de dezembro (época das festas pagãs, as saturnais romanas), há um registro muito claro de que o nascimento de Cristo foi bastante celebrado pelos anjos nos céus. EmLucas 2:13, 14, lemos:

"No mesmo instante apareceu junto com o anjo uma multidão de outros anjos, como se fosse um exército celestial. Eles cantavam hinos de louvor a Deus, dizendo: Glória a Deus nas maiores alturas do céu!" (A Bíblia na Linguagem de Hoje).

Sim, uma vez por ano. No capítulo 18 na página 326 deste livro mostro evidencias bíblicas de que todo cristão genuíno é ungido pelo Espírito Santo de Deus conforme Romanos capítulo 08 mostra claramente. Portanto, todo cristão deve comer do pão e beber do vinho segundo a orientação do próprio Cristo (Mateus 26:26-28; Marcos 14:22-25; Lucas 22:19, 20; 1 Coríntios 11:23-26). Como escrevi no capítulo 18 deste livro, a Testemunha de Jeová que professa esperança terrestre, está numa situação muito perigosa, pois segundo o Corpo (Romanos 8), não Governante é adotada como filho nasceu de novo (João 3:ela 3,7)não , não come a “carne” e bebedeoDeus “sangue” de Cristo por participar dos emblemas da comemoração(João 6: 51-54), não tem Jesus como seu mediador (A Sentinela , 15/09/79, p. 32) e a maior parte das Escrituras Gregas Cristãs,

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inclusive as promessas de vida eterna não se dirigem a elasA( Sentinela , 15/12/74, p. 752). Assim sendo, segundo a bíblia, tais pessoas andam segundo a carne e não tem esperança de vida eterna. Agora fica a pergunta: Será que estas pessoas estão nesta situação por que realmente querem? Será que elas sinceramente desejam isso? Claro que não! Elas se encontram nesta situação por que foram iludidas por uma interpretação totalmente equivocada da Bíblia, feita por uma organização que por orgulho e prepotência se recusa a rever seu entendimento.

Não são todas as doutrinas e ensinamentos desse grupo que negam as verdades cristãs, mas as que têm fundamento bíblico são manipuladas pelos interesses da organização. Além disso, as Testemunhas enfatizam que só é aceitável a Deus a concordância total com tudo aquilo que emana da Torre de Vigia em Brooklyn. Para eles a concordância parcial nada significa. Ensinam corretamente, por exemplo, que Jesus é o Filho de Deus, o Messias que morreu para nos redimir de nossos pecados. Infelizmente, ao mesmo tempo, ensinam que este Messias foi entronizado nos céus em 1914. Se você aceita o primeiro ensino e rejeita o segundo (não-bíblico) é expulso da organização.

A história passada das profecias é constantemente "filtrada". A falsa profecia de que o fim do mundo viria em 1914, por exemplo, foi claramente expressa nas publicações da Torre de Vigia de 1879 até o início da Primeira Guerra Mundial. Quando o fim do mundo não ocorreu, disseram que o que fora predito foi o fim dos Tempos dos Gentios, realizado de "modo invisível" nos céus. É algo totalmente subjetivo e sem nenhum suporte bíblico. Mas a absoluta maioria deles crê que isso é verdade e ignora que sua religião é responsável por uma das maiores falsas profecias de todos os tempos. Além disso, jogam a culpa de seus fracassos proféticos em cima das Testemunhas comuns, dizendo frases como “alguns irmãos passaram a especular datas” ou “servos de Deus nos tempos modernos têm tentado ser específicos sobre a data do fim”.

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1799, 1874, 1878, 1914, 1915, 1918, 1920, 1925, 1941 e 1975 foram sérias, mas ficaram muito para trás, e naquela época o número de adeptos da religião era bem menor. Portanto, poderíamos chamar de grande gafe histórica a mudança relacionada com a "geração de 1914 que de modo algum passará" pois foi a mais recente e ainda está na memória de muitos. Durante muitas décadas, livros e revistas afirmaram taxativamente que o fim do mundo viria antes de a geração dos que viveram em 1914 se extinguir. Em 1995, tiveram de abolir este ensino. Alguns anciãos chegaram a comentar isso na época. Foi como se o fim do mundo tivesse sido adiado. Os adeptos que esperavam não morrer ficaram muito decepcionados. Como se trata de algo recente, mencionar esse fato é um grande incômodo para elas.

Primeiro, porque a noção de todos esses erros é permanentemente encoberta por ela. A pesquisa acerca deles é francamente desencorajada. Quando os homens do Corpo Governante abordam esses erros, o fazem de modo disfarçado, e dão a impressão de que foi algo mínimo, atribuído a alguns adeptos precipitados numa determinada época. A liderança da organização nunca é responsabilizada, ficando sempre acima de qualquer suspeita. Por um raciocínio estranho e distorcido, dizem ser "a única religião da terra aprovada por Deus, dirigida e orientada por Ele". Isso não passa de um marketing religioso, pois se existisse realmente "uma religião verdadeira", quem não gostaria de fazer parte dela?

A transmissão dabem Torreexplicados, de Vigia éemuito bememfeita. Apesar havia ensinos quedos nãodogmas pareciam sempre, todos esses disso, anos, tive algumas dúvidas sim, embora não falasse delas com ninguém. Uma delas era sobre a questão do sangue.

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"Você não acha que a organização reúne ? Você conhece uma outra religião que ensine que não existe a Trindade, que ensine a não adorar a ídolos e imagens, que os dons espirituais (de cura, por exemplo) não fazem parte do cristianismo atual, que a alma é mortal, que a doutrina do inferno de fogo é mentirosa? Ou que ensine sobre a Ressurreição dos Mortos, que pregue as boas novas, que fale sobre os propósitos de Deus (paraíso terrestre), que Jeová dos (IHVH) honreela o énome Dele, etc?deNão acha que, adore mesmoa diante errose dela, todas?"

Primeiramente, ninguém deve ficar numa religião por ela ser apenas a "melhorzinha", principalmente quandoela não se declara "a melhorzinha", mas a "religião verdadeira", a "única aprovada por Deus". Nenhuma TJ pode questionar isso publicamente sem sofrer punições "disciplinares" e "corretivas". A revista A Sentinela de novembro de 1952, página 164, diz: "As verdades que havemos de publicar são aquelas que a organização do escravo discreto fornece, não algumas opiniões pessoais contrárias ao que o escravo providenciou como sendo sustento conveniente." Desse modo, ela se afirma transmissoradas verdades da organização de Deus e não do "maior conjunto delas". Quanto aos ensinos e doutrinas particulares da organização versus os de outras religiões, ela tem o conjunto de mais "verdades" que se tornaram mentiras e muitos de seus livros hoje podem ser chamados de "apóstatas" pois contradizem os ensinos atuais. Embora ela diga (The Watchtower, fev. 1881, pág. 188 e "Poderá Viver...", pág. 32, par. 19) "Uma nova luz não contradiz a outra nem a extingue" e que "não pode haver duas verdades quando uma não concorda com a outra. Ou uma ou a outra é verdadeira mas não ambas" , ela, ao mesmo tempo, produziu dezenas de "verdades" que hoje não passam de mentiras. Como confiar no tal "conjunto de verdades atuais"? E pior que qualquer outra religião, divulga suas mentiras como bíblicas, causando óbitos e prejudicando pessoas. Doutrinas e ensinos distorcidos? O que dizer das especulações proféticas ao longo de toda a história dela? Que ensinos são esses: que seu Corpo Governante é o "escravo fiel e discreto" de Mateus 24:45? Que Jesus reina desde 1914 de modo invisível? Que comemorar aniversários natalícios é errado? Que por vezes proibiu e liberou frações do sangue causando sofrimento e mortes? Luz progressiva ou piscante? afirmoudisso por 34vezes os progressiva habitantes de iriam e afirmouQue o contrário vezes?que Luz ouSodoma piscante? Queressuscitar proibiu e liberou o serviço civil alternativo? Que liberou e proibiu e depois liberou transplantes de órgãos causando perdas irreparáveis? Luz progressiva ou

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piscante? Que proibiu as vacinas de 1931 a 1952? O que dizer do modelo de comissões judicativas, os formulários S-77 E S-79 que são "arquivados" nos Betéis e localmente como se a pessoa estivesse "fichada"? Que apenas 144 mil vão para o céu? E o cumprimento da profecia da parábola das ovelhas e dos cabritos, amplamente alardeada como verdade, e depois mudada? E a geração de 1914 que não passaria (e passou)? E as centenas de aplicações de passagens bíblicas a si própria desde a sua fundação? E a pregação das boas novas com o acréscimo de ensinos não bíblicos (1914, por exemplo) e a obrigação absurda de "relatórios mensais de serviço de campo"? E a volta de Cristo invisível? E a desassociação por discordar de ensinos não bíblicos causando grandes transtornos aos membros por ela afetados? E a incoerente doutrina sobre as transfusões de sangue? E a lista vai bem mais longe. Novamente, como pode o leitor aceitar um enganosoconjunto de "verdades atuais" se amanhã ele poderá se tornar um conjunto de "verdades (ultra)passadas" ? Faz sentido tal coisa? O texto de Provérbios 4:18 (teoria da "luz progressiva") tem sido muito mal aplicado, pois fala dequestões morais e de conduta, e não de "ensinos progressivos" (leia do versículo 14 ao 19 e entenderá esse contexto).

"Você brinca o Carnaval, vai a festas, etc?"

Não brinco Carnaval, mas gosto de festas em que as pessoas se mantenham sóbrias e felizes, de modo responsável, sem excessos. Sei que, do ponto de vista bíblico, bebedeiras e falta bom-senso em ocasiões alegres e festivas.não Paradevem mim, oexistir tipo de festa é que faz ade diferença.

Meu objetivo não é questionar ou combater a Bíblia, e sim questionar e combater a organização Torre de Vigia pelos muitos danos que vem causando às vidas de inúmeras pessoas. Reconheço que há na Bíblia algumas coisas que não podemos explicar e talvez só venhamos a entender por meio do próprio Deus, caso Ele nos inclua em Seu propósito para os humanos que Ele criou. Como creio Nele, espero um dia vir a entender qual é plenamente a Sua vontade. Questionar publicamente a Bíblia como a Palavra inspirada de Deus certamente não contribui para aquilo que é meu objetivo: ajudar as Testemunhas a entender que sua

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religião não é nada daquilo que apregoa, segundo a Bíblia, livro que elas também aprenderam a acatar como vindo de Deus. Quando elas encontram, de cara, na Internet, artigos de ex-Testemunhas de Jeová que só atacam frontalmente a Bíblia e sua inspiração divina, a maioria se fecha prontamente para todo o assunto, e reage: "Ah, é exatamente como a ‘Sociedade’ diz, esses apóstatas rejeitam totalmente a Palavra de Deus e não querem mais saber da verdade." Isto afasta a maioria dos que acessam informações importantes, impedindo-as de se libertarem de sua religião opressiva. Se a primeira informação que vi sobre a chamada "apostasia" na Internet, tivesse sido dessa natureza, jamais teria dado atenção a ela. Talvez estivesse lá até hoje, fazendo um triste papel de tolo. É algo que não desejo para ninguém. Além do mais, a despeito de alguns assuntos complicados que por acaso achemos na Bíblia, penso que ela atualmente é um livro que resulta em mais bem do que mal. A maioria das diversas igrejas que afirmam viver segundo ela não é opressiva nem prejudicial. O amor, que é tão enfatizado no Novo Testamento, tem gerado boas obras que beneficiam muita gente. A crença nas promessas da Bíblia, em Deus e em Jesus tem inspirado o espírito de abnegação que moveu muitos a ajudar seus semelhantes, tem servido de consolo a muitos que sofrem, tem dado esperança aos desafortunados, aos pobres, aos doentes, aos idosos. Ela tem refreado a muitos de enveredar pelo mau caminho, ajudado outros a deixar um modo de vida infeliz e destrutivo. Reconheço que no passado as interpretações discordantes da Bíblia, e não o que ela ensina de fato (diferentemente dos ensinos errados da organização), levaram a guerras e derramamento de sangue (cruzadas, inquisição, os conflitos da época da Reforma na Europa), mas isso já ficou para trás, as coisas evoluíram muito desde então. Isso poderíamos estar dizendo de alguns supostos "progressos" que a organização fez, mas ela não pode ser comparada à Bíblia porque não vem de Deus, mas de homens que continuam a perpetuar seus erros como no caso das "frações do sangue" e transfusões. Neste início de século 21, o saldo da crença na Bíblia é positivo. Portanto, não me interessa combatê-la (aliás, já há muita gente fazendo isso), e sim promovê-la, e também usá-la para livrar nossos excompanheiros da agridoce ilusão em que vivem. Este é o objetivo que me empolgará até o fim dos meus dias.

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Se lermos o Novo Testamento (Escrituras Gregas) verificaremos que quase tudo o que ele diz aponta para uma vida eterna nos céus. Começa com Jesus dizendo que prepararia uma morada para seus discípulos (o que inclui todos os cristãos) na casa de Seu Pai (João 14:2, 3); fala também da chamada para cima (Filipenses 3:14); da chamada celestial (Hebreus 3:1); da "grande multidão" diante do trono de Deus, que significa o céu (Rev. 7:9). A informação bíblica sobre o paraíso celestial é muito mais abundante que qualquer indicaçãode um futuro paraíso terrestre. Das três ocorrências bíblicas de um local chamado "paraíso" todos os contextos indicam tratar-se de algo celestial. Em Lucas 23:42, 43, Jesus prometeu ao malfeitor pregado ao seu lado que "estaria com ele no paraíso". Onde é o paraíso no qual Jesus habita, onde ele estaria? No céu. Em2 Coríntios 12:2-4, Paulo referiu-se ao homem que foi "arrebatado até o terceiro céu", "para o paraíso". Não há indício algum de que falava de algo terrestre. Finalmente, há Revelação 2:7, onde se convida a "comer da árvore da vida que está no paraíso de Deus", que a própria Torre de Vigia admite estar no céu. No entanto, há passagens que dão margem a uma futura vida terrestre. Em Mateus 5:5, por exemplo, diz-se que "os de temperamento brando herdarão a terra". A que exatamente se referia isso? Quando se cumpriria? Como podemos conciliar estas referências a Terra com a informação bíblica mais abundante que fala da ressurreição espiritual e da vida celestial? Só Deus tem todas estas respostas.

A Ressurreição de que a Bíblia fala em João 5:25-29 , por exemplo. Tal como no caso da pergunta anterior, a Ressurreição é mencionada principalmente no contexto de uma vida celestial e sem restrição com respeito a números. Em parte alguma a Bíblia diz que os ressuscitados para o céu se resumem a 144.000. O texto usado pela Torre para defender esta teoria é mal aplicado. Abordei evidências bíblicas e históricas sobre este assunto no capítulo 18 deste livro na página 326. Entretanto, a maioria da humanidade, bilhões de indivíduos, não devem alcançar oque privilégio de habite estarem nos céus Cristo, pois o propósito srcinal de surgir Deus é“os o homem a Terra semcom morrer. Portanto dentre estes devem de temperamento brando que herdarão a terra”. A Ressurreição terrestre deve se referir a estes.

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Estou muito feliz. Nunca fui tão feliz como desde a saída da organização! Não sabia o quanto estava aprisionado nos calabouços da "Sociedade" e o quanto significa exercer a liberdade cristã de modo responsável. Os únicos momentos de tristeza são as lembranças de algumas pessoas queridas e sinceras que ainda estão escravizadas à manipulação doutrinária dos homens de Brooklyn, NY, EUA. Não tenho dúvida nenhuma de que a organizaçãoNÃO é o "canal de comunicação de Deus" e que seu Corpo Governante NÃO está "sob orientação do espírito santo de Deus" ("sob direção teocrática") porque Deus não prejudicaria a vida das pessoas do modo como tem sido. Se você chegou até aqui na leitura deste livro com certeza observou provas irrefutáveis do que estou falando. Se ainda não leu todos os capítulos, leia-os com atenção e confirme todas as citações das publicações da Torre e as citações bíblicas, você verá que as evidências são incontestáveis. Quanto ao Armagedom, não tenho com que me preocupar. É uma promessa bíblica, vem do próprio Deus. Não tem nada a ver com os ensinos inconstantes e equivocados da Torre de Vigia. O Armagedom garante o castigo apenas para pessoas de coração verdadeiramente iníquo, mas resultará em bênção para os adoradores fiéis de Deus, e por isso, eu o aguardo com positiva ansiedade venha ele quando vier (Romanos 8:18-25; Atos 1:7).

Esse não é o caso. Não é que as Testemunhas de Jeová não sejam felizes, mas o tipo de felicidade que elas usufruem é, em grande parte, "organizacional" assim como muitos outros sentimentos também são muito "organizacionais", como no caso das amizades. E em que sentido a felicidade das Testemunhas é "organizacional"? Ora, a condição para uma Testemunha"teocrática" ser feliz, por exemplo, depende totalmente, do quanto ela faz em "prol do Reino" ou "para Jeová" (leia-se "para organização"). Elas vinculam a felicidade ao completo envolvimento e empenho em prol das diversas atividades da organização. Elas sempre associam "ser feliz"nacom em boa condição espiritual", isto é,muitos "estar trabalhando zelosamente obra"estar de pregação", que significa: "colocar" livros e revistas, ter muitos estudos "bíblicos", ir a todas as reuniões, congressos e assembléias, fazer "progresso" dentro da congregação, etc. Quando a Testemunha

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NÃO está plenamente "em dia" com todas essas prescrições "teocráticas", ou seja, quando está "fora do padrão de um cristão fiel" às imposições da Sociedade, uma pesada carga de sentimentos (infundados) de culpa, a sensação de constantes "ameaças à fé" e até mesmo o medo de ser mal visto pelos outros, trazem profunda infelicidade, frustrações e mal-estar emocional. Nesse sentido, a felicidade de uma Testemunha de Jeová "íntegra", está geralmente condicionada à satisfação dos ditames da organização dela. É lamentável que tantos sentimentos se desumanizem entre as Testemunhas por dependerem exclusivamente das demonstrações de zelo para com as obrigações receitadas pela organização delas! Obviamente, reconhecemos hoje em dia, fora da organização, que a felicidade genuína não depende, em si, da situação religiosa da pessoa, mas de muitos outros fatores.

Não tenho achado motivos para procurar outras igrejas e seus diversos cultos. Não tenho qualquer vínculo ou afiliação religiosa hoje em dia. Estou afastado das religiões organizadas e apenas me reúno em família e entre amigos para considerações bíblicas. Alem disso, tenho agradáveis conversas bíblicas com pessoas de diversas religiões. Jesus ensinou em Mateus 18:20:

"Onde estiverem 2 ou 3 ajuntados em meu nome, ali estarei eu no meio deles." Cabe a cada um dos que assistem a missas ou a cultos nas diversas igrejas, com base em seu entendimento das Escrituras, tomar sua própria posição. No mais, não condeno os que o fazem, pois é um julgamento que só a Deus pertence. A , porém tem "cristandade" condenada pelas Testemunhas também tem seus erros desempenhado um papel social com os dois lados, o ruim e o bom. No lado bom, por exemplo, ela tem contribuído para um evangelho de amor em obras que amenizam dores, que faz caridade aos pobres, etc, além de ajudar a tirar pessoas do mau caminho, do suicídio, das drogas, da falta de rumo, etc. Não ousaria julgála como parte execrável de "Babilônia a Grande, o império da religião falsa" e acho que dizer isso quando se tem telhado de vidro como a organização Torre de Vigia é sinal de grande arrogância e inominável pretensão.

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Que havia congregações no passado, pastores, ministros, etc, isso é fato irrefutável. Está na Bíblia. A questão é: qual é a verdadeira continuadora daquele cristianismo primitivo do modo como ele existiu (Atos 2:44-47)? Onde ela está hoje? Para onde podemos ir em busca dela? Mais importante ainda: o que dizer dos artigos de fé de uma suposta "continuadora" do cristianismo? Quando Cristo disse: "estarei convosco até a terminação do sistema de coisas", estava ele dizendo que seus seguidores sinceros estariam espalhados por muitas religiões a partir de sua morte no primeiro século? Por que não podem os cristãos estar sendo ajuntados hoje em dia de modo "separado", não debaixo de uma só igreja ou organização religiosa? Por que não a partir de igrejas diferentes e de lares cristãos mundo afora? (Atos 10:34, 35) Para nós, cristianismo é muito mais conduta, atitudes cristãs no dia-a-dia do que templos e cultos. Não somos anti-cultistas, mas se procurarmos uma igreja ou religião organizada que ensine tudo 100% de acordo com o que a Bíblia diz, onde a encontraremos? Ademais, seríamos aceitos por alguma delas sem endossarmos todos os seus dogmas, só aceitando aqueles com os quais nossa consciência bíblica concordasse? Dificilmente! Quem achar que encontrou tal religião, queira passarnos a fabulosa boa nova. Já tendo falado do lado positivo das religiões na resposta à pergunta anterior, podemos que oe lado negativo delas tem a ver comservem os intermináveis artigos deagora fé, o dizer legalismo autoritarismo que muitas vezes muito mais para escravizar e alienar pessoas do que para trazê-las à liberdade cristã, que nada tem a ver com os fardos impostos por homens.(Mateus 11:28-30, Romanos 10:11 e Mateus 23). Não têm as doutrinas humanas de algunsgrupos religiosos causado divisões, sectarismos, fundamentalismo, etc, e provocado medos infundados, terrorismo psicológico e tantos outros prejuízos em sentido espiritual e físico? Não invalidam tais coisas a adoração a um Deus de amor(Mateus 15:9 e 1 João 4:8) ?

Em primeiro lugar, não saio a condenar as religiões alheias como "destinadas à destruição no Armagedom". Sei que em toda religião há ensinos errados e corretos

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como na própria Torre de Vigia. Novamente, há coisas boas e más, gente ruim e gente boa, a banda saudável e a podre, o joio e o trigo, em qualquer grupo religioso. Portanto, contento-me em fazer o que posso como cristão, sem contar "horas de serviço de campo", nem "sair de pioneiro", e assim por diante. Na medida de nossa fé, advogamos a favor da existência de Deus ou do que diz a Palavra Dele em toda ocasião propícia. Evitamos a mentalidade de condenação das Testemunhas. As Testemunhas de Jeová, por exemplo, dizem que os membros da "cristandade" não têm um padrão universal de crenças assim como as Testemunhas de eJeová, elasna têm artigos básicos "essenciais", padrão mundial estão mas unidos: fé sim, de que Jesusdeé oféúnico Salvador, que ode espírito santo atua na vida deles, que Cristo vem buscá-los, crêem na Bíblia como a Palavra de Deus, que devem ter uma boa moral, amar o próximo, evitar vícios, ter uma vida familiar harmoniosa, etc,etc,etc.

Não falo mal de pessoas individuais . Exponho como a organização, através de seus ensinos, doutrinas e práticas, estimula sentimentos desumanizantes e orienta seus membros a se afastarem das "pessoas do mundo" e dos que saem de lá por motivo de consciência. Não sou melhor do que qualquer pessoa seja ela Testemunha de Jeová ou de qualquer outra organização religiosa. Cometo erros, é claro, mas temo a Deus e desejo cumprir os requisitos Dele apesar dos atropelos da imperfeição humana (Rom. 7:13-25 e Rom. 8:6-8). Não acolho, pratico ou creio em coisas que, biblicamente falando, não façam sentido para mim. Estou consciente de que, por opção pessoal, não mais quero ser"grande exemplo de fé" para as pessoas "para que eu mesmo, depois de ter pregado a outros, não venha a ser de algum modo reprovado", conforme as palavras de Paulo em1ª Coríntios 9:27.

Agora mesmo estou realizando. Ao escrever este livro que agora você está lendo, por exemplo. Sem contar horas de serviço de pregação, sinto-me à vontade para falar sobre a Palavra de Deus, os propósitos Dele, o papel de Seu Filho, as

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obras e ensinos cristãos como a Ressurreição, o Resgate, os princípios, etc. Isso se dá através da Internet, com amigos e conhecidos, vizinhos, etc. O método de pregação de Jesus e de seus apóstolos não se restringia apenas ao "de casa em casa". A própria organização usa "testemunho por telefone", "testemunho informal", "testemunho por carta", etc. Há, inclusive, dados que mostram Em ( Busca da Liberdade Cristã, de Raymond Franz) que o rol de membros da organização cresce mais em função do testemunho informal do que pelo trabalho de casa em casa.

Duas reuniões no meio da semana, a Escola do Ministério Teocrático e a Reunião de Serviço, visam treinar adeptos de todas as condições e idades para o trabalho de casa em casa. Isto inclui formas de abordagem, como apresentar os assuntos das revistas A Sentinela e Despertai!, como explicar os temas mais obscuros da doutrina e como rebater as críticas mais comuns feitas à seita. Criamse cenários de conversas informais, da vida familiar e de locais de trabalho, além de demonstrações de palestras típicas que ocorrem nas portas. No entanto, nenhuma delas está preparada para lidar com alguns questionamentos realmente bíblicos. São proibidas de entrar em tal tipo de conversa. Até mesmo os anciãos mais experientes não têm como explicar certos dogmas sem fundamento bíblico. Se houvesse explicações bíblicas, estaria lá até hoje.

Desde o final dos anos 90, vinha ocorrendo uma desaceleração do crescimento, causado, talvez,Japão pela edesilusão "geração de 1914". 2001, na Eles América do Norte, Europa, Austrália,da houve estagnação e atéAté decréscimo. tiraram muito proveito dos ataques terroristas a Nova York, da guerra do Afeganistão e do Iraque e passaram novamente a crescer nas regiões mencionadas. O crescimento

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tinha sido de 4,4 % em 1997 e caído para 1,7 % em 2001. Depois subiu para 2,8 % em 2002. O último relatório traz um crescimento de 2,2 %. Cremos que o "efeito catástrofe" dos acontecimentos mundiais já está passando e o crescimento pode cair mais nos próximos anos. Além disso, pelo que pesquisamos, algumas outras igrejas também têm crescido tanto quanto as Testemunhas ou mais. O crescimento está longe de ser exclusividade deles.

Uma pessoa que aprendeu da Bíblia, vive de modo cristão, pratica o amor cristão e segue os ensinos de Jesus, tendo fé no sacrifício dele, biblicamente pode se batizar e se declarar cristão. O batismo não precisa seguir rituais de uma religião organizada. É uma ocasião simples. Basta que se leiam os relatos em que a Bíblia fala desse assunto e a pessoa se mostre desejosa de aceitar a Cristo como seu salvador, crendo no sangue derramado dele em prol dos pecadores (1 João 1:5-10; Atos 9:36-39).

Já foi dito que as Testemunhas de Jeová vão às casas das pessoas tentar "convertê-las". Seria muito vantajoso aproveitar suas visitas para lhes transmitir a verdadeira boa-nova, que tem a ver com Jesus e com o benefício redentor do seu sangue derramado para a libertação da humanidade e não com tanta autorecomendação da organização como "arca da salvação" ou uma suposta regência de um punhado de "ungidos" exclusivos da organização que reinarão com Cristo nos céus durante mil anos. Qualquer um que queira ajudar as Testemunhas deve preparar-se com base na farta literatura sobre elas hoje disponível. Abordá-las com amor (que elas acham que as outras religiões não têm), explicar-lhes de modo calmo e paciente, com a Bíblia na mão, o que realmente Deus tem para elas. Elas acham que são instrutores e não aceitam ser ensinadas pelo que consideram ser falso, mesmo antes de ler ou conversar com alguém. Acham que estão com "a verdade". Então, dialogar com elas pode ser feito com ajuda da Bíblia, mas baseado principalmente nas publicações da organização, pois raciocinam à base

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delas. Uma vez que essa fonte (a organização) se prove questionável, então tudo será possível. Todavia, o membro de alguma igreja que se dispuser a transmitir sua mensagem a uma Testemunha deve se certificar de que tudo aquilo que pregar a elas esteja solidamente alicerçado na Bíblia, pois como poderá convencê-la da falsidade de ensinos não-bíblicos se levar outros ensinos, que embora opostos, sejam igualmente não-bíblicos? O desafio de aprender o que a Bíblia ensina é grande, pois as Testemunhas de Jeováacham que já sabem toda a verdade bíblica. Humanamente falando, é tarefa muito difícil substituir os dogmas humanos da Torre de Vigia pelo puro conhecimento da Palavra, mas "a Deus todas as coisas são possíveis".

Ao sairmos de uma empresa, temos a possibilidade de continuar falando com nossos anteriores companheiros de trabalho, mantendo as amizades e a cordialidade. Podemos ainda fazer acordos com os "patrões", acordos esses que às vezes incluem tratos comerciais, cavalheirismo, gentilezas e, em alguns casos, até "recompensas", digo, em vários sentidos, não apenas o financeiro. Quando nós mesmos solicitamos a demissão, nos é dado o direito de explicar o motivo e em muitos casos, mesmo esses patrões "mundanos" podem nos tratar com dignidade e honradez pelo serviço prestado à empresa. Quão diferente é quando, ao sairmos de uma organização autoritária e legalista como a Torre de Vigia, vemo-nos confrontados com a questão de não haver modo honroso ou digno ao passo que viramos alvos fáceis da tagarelice, da difamação e de calúnias. Todos que resolvem sair dessa organização religiosa por discordar dela, são logo rotulados dos piores nomes e encaixados nas classes mais medonhas e baixas de pessoas: "porcas lavadas que voltam a se revolver no lamaçal", "odiadores do povo de Deus", "filhos do diabo" , dentre outros bichos feios e medonhos, além do que biblicamente se constitui a mais grave acusação:"apóstatas". Isso tudo porque simplesmente se discordou de práticas e ensinamentos da organização que alega ter "a verdade", mesmo que não se tenha discordado de um único ensino da Bíblia. Quanto à "ter o que fazer" tenho muito. Tenho uma empresa para administrar alem de ser escritor e historiador. Mas mesmo com tanto trabalho, acho correto tirar tempo para "coisas espirituais" pois "nem só de pão vive o homem"(Mateus Mat. 4:4, 6:33). As coisas importantes devem sempre ter um lugar em nossas agendas ocupadas, mesmo porque devemos falar contra tudo aquilo que desonre

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ao Deus de amor de que a Bíblia fala. Gasto tempo de minha vida alertando as pessoas para uma organização humana falha, de modelo totalitário, controlador e impositivo, a Torre de Vigia. Mundo afora, ela segue perpetuando suas normas anticristãs, coercitivas e antibíblicas. Hoje em dia exponho essas regras antibíblicas e anticristãs como o tratamento covarde aos que saem por motivo de consciência. As Testemunhas de Jeová, embora também tenham o que fazer em sentido secular prestam visitas não-solicitadas às pessoas de outras religiões. Na visão da organização, tais "moradores" estão no "império mundial da religião falsa, babilônia, a grande" e devem ser alertados sobre as "mentiras pregadas pelas religiões". também? Por que não organização dasVigia Testemunhas de Jeová receber escrutínio Que pode direitoa tem a Torre de de não querer ser alvo de críticas enquanto seus membros criticam quem sai e mesmo os que estão fora da suposta "arca da salvação"? Por que ela continua a promover um espírito de intolerância às críticas se ela mesma critica as outras religiões de modo intolerante e presunçoso?

Vivemos em plena época de cultos e seitas e o controle mental é um fato e este se torna bem real entre as Testemunhas de Jeová. Os discursos dos anciãos, os artigos de A Sentinela e Despertai! repetem de modo insistente, a posição do Corpo Governante como "escravo fiel e discreto" inquestionável. Tudo isso resulta em amortecer a capacidade de raciocínio das pessoas, deixá-las receptivas para qualquer coisa que se queira, desde que parta da liderança da religião. Essa é uma das formas mais reais que existe de escravidão. Que a leitura, a divulgação, a escrita e a Internet sejam plenamente usadas como veículos de libertação das mentes, sejam quais forem às seitas a que estejam presas!

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m 1917, a organização Torre de Vigia .imprimiu um livro chamado O Mistério Consumado Dizia-se que este livro era ‘a mensagem do momento’. Já que se argumenta insistentemente que a “luz torna-se cada vez mais brilhante”, esta nova publicação tão aclamada deveria logicamente trazer excelente evidência da “qualidade” do alimento servido, algo que o recém-empossado Rei pudesse usar como exemplo notável da prova pela qual teria de ser avaliado o canal que servia alimento de qualidade. O livro especializava-se na profecia de Ezequiel e no livro de Revelação. Tudo que se relacionava com o próprio Ezequiel foi aplicado ao Pastor Russell, o Ezequiel moderno. Além das fracassadas profecias de datas relativas a 1918 e 1920, o livro trazia explicações ridículas dando amostras do tipo de “alimento” servido nesta publicação. Revelação 19,Sendo versículo “Dar-se testemunho de Jesus Em é o que inspira o capítulo profe tizar.” assim,10,o lemos ‘recém que: entronizado Rei’ razoavelmente teria considerado com grande interesse as explicações da profecia e as predições anunciadas nesta publicação, provenientes da organização que se proclama seu mensageiro escolhido, seu “canal” deinformação. Em sua obra de julgamento ele naturalmente examinaria esta mensagem “oportuna”, supostamente vinda de Deus, uma publicação oferecida a toda a humanidade no período de grande crise e sofrimento da Primeira Guerra Mundial. Deve-se recordar que, segundo a Sociedade Torre de Vigia, este foi um período de grande significado histórico e divino, tanto para a organização como para o mundo, um período crucial no qual estava em jogo a escolha da organização por Deus como Seu canal para toda a humanidade, estando isso na enorme dependência do que o Amo encontraria ao inspecionar a alimentação que se produzia. A publicação de 1988 Revelação Seu Grandioso Clímax Está Próximo! (página 165) descreve O Mistério Consumado como “um poderoso comentário sobre Revelação e Ezequiel”! Uma revisão do seu conteúdo força a pessoa a imaginar se o autor destas palavras chegou sequer a ler o livro ou a considerá-lo seriamente. Duvido muito que hoje a organização cogitasse reimprimir um só capítulo, ou mesmo qualquer trecho dele que fosse. Isto seria penosamente embaraçoso. No

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entanto, o lançamento de O Mistério Consumado é com freqüência mencionado em publicações posteriores como um evento notável. Relata-se que o lançamento do livro para a “família de Betel” resultou numa “granada” que precipitou uma controvérsia que durou cinco horas. Em publicações posteriores da Torre de Vigia, o livro é apresentado como uma espécie de “prova decisiva” de lealdade para aquele período. Veja os exemplos abaixo e tire suas próprias conclusões. 01. Charles Taze Russell é o servo fiel e prudente(p.4) 02. Jesus deu a Russell a chave para compreender os mistérios de Deus nos últimos dias (p.6) 03. Jesus é o Alfa e o Ômega, em Apocalipse 01:08, 21:06 e 22:13(p.15, p.318, p.336) 04. O Adventista Nelson Barbour mostrou Russell prova bíblica de que Jesus estava presente desde 1874 e Russell encontrou essa evidência satisfatória(p. 54) 05. De acordo com Russell, não há necessidade de aprender o hebraico ou grego para obter uma compreensão correta da Bíblia pois os presbiterianos e os metodistas já têm boas versões da Bíblia a preços razoáveis (p. 55) 06. O restante [ungido] será levado para o céu em 1918(p. 64) 07. Os sete mensageiros do Apocalipse são Paulo, João, Ário, Waldo, Wycliffe, Lutero e Russell (ilustração após página 64) 08. As 7 trombetas em Apocalipse 8:02 são as trombetas dos luteranos, anglicanos, presbiterianos, batistas, metodistas, a Aliança Evangélica e Os Estudantes da Bíblia (gráfico após a página 64) 09. Jesus começou o seu reinado oficialmente em 1878(p. 66) 10. Lista de três páginas de textos bíblicos que provam que o segundo advento de Jesus ocorreu em 1874(p.68 - 71) 11. O gigante mencionado em Jó 40:15-24 é o motor a vapor estacionário(p. 84) 12. O leviatã mencionado em Jó 41:2-19 é a locomotiva(p.85) 13. Os homens valentes em Naum 02:03 são o condutor da locomotiva e do bombeiro (p.93)

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14. De acordo com Êxodo 28:1 e Números 4:46-48, o número da grande multidão será de aproximadamente 411.840.000(p.103) 15. O cavaleiro no cavalo branco em Apocalipse 6:2 é o representante pessoal de Satanás: o bispo de Roma(p. 106) 16. As estrelas que caíram do céu em Apocalipse 06:13 refere-se à chuva de meteoros em 13 de novembro de 1833, que cobriam 11 milhões de quilômetros quadrados (p.120) 17. Há evidências que provam que a Palestina será re-estabelecida em 1925 (p.128) 18. Os demônios vão invadir as mentes dos membros do cristianismo e os levarão para a sua destruição em 1918(p.128) 19. A Terra foi criada há 48 mil anos(p.139) 20. O "anjo" mencionado em Apocalipse 08:05 é a Sociedade Torre de Vigia e o "incensário" é o livro "Mistério Consumado" divinamente providenciado para a humanidade (p.145) 21. De acordo com Apocalipse 9:15, todas os 177.300.000 protestantes na terra, que representam 1 / 3 de todos os cristãos, serão destruídos em 1918 (p.164) 22. O "tempo do fim" começou em 1799(p.171) 23. A "Grande Tribulação" começou em 1914(p.178) 24. Miguel Arcanjo é o Papa de Roma(p.188) 25. As duas asas da mulher em Apocalipse 12:14 é o Antigo Testamento e Novo Testamento (p.191) 26. A Inglaterra é um país satânico porque força exportações de 5 milhões de quilos de ópio para a China a cada ano(p.202) 27. A Grande Pirâmide do Egito confirma o fato de que o tempo da colheita chegou (p.226) 28. Apocalipse 14:20 nos fornece a distância precisa entre Scranton, na Pensilvânia (onde o livro foi escrito) e Betel, em Brooklyn (onde o livro foi impresso) ... 137,9 milhas(p.230)

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29. O clero é como cães mudos, porque eles preferem ficar em silêncio em vez de aceitar uma única "verdade" dos escritos de Russell(p.238) 30. As repúblicas desaparecerão no outono de 1920. Cada nação deixará de existir, serão engolidos pela anarquia(p. 258) 31. A "glória" do anjo mencionado em Apocalipse 18:01 ilumina a terra, resultando em grandes descobertas e invenções, como os motores elétricos, aviões, o Canal do Panamá, aspiradores de pó, os livros da Torre de Vigia, etc (p.273) 32. A "voz do céu", mencionada em Apocalipse 18:04 é a voz da Torre de Vigia (p.276) 33. De acordo com Apocalipse 18:14, durante o milênio, o clero terá que trabalhar para viver. Isto significa que cada pregador do cristianismo vai ter de gastar 65 centavos para um despertador(p.285) 34. O Deus que está sentado no trono em Apocalipse 19:04 é Jesus(p.290) 35. Deus assume total responsabilidade por todos os volumes de Estudos das Escrituras (p. 295) 36. O Reino de mil anos começou em 1874 com a segunda vinda de Jesus(p.301, p.386) 37. De acordo com Apocalipse 21:17, o número de ovelhas no final do reinado de mil anos será de aproximadamente 20,7 bilhões(p.323) 38. Quando Russell compreendeu toda a importância da Palavra de Deus, ele tomou uma posição firme. O espírito, poder e influência de Deus entraram nele, para nunca mais sair (p.377) 39. Ezequiel 05:02, 12, 16, 17 refere-se à maneira em que Jerusalém foi destruída em 606AEC e 70-73EC e também se refere à maneira como o cristianismo está sendo destruído entre 1914 e 1918(p.398) 40. Dia da vingança de Deus começou em 1914 e culminará em 1918(p.404) 41. O que cumprimento literal de Ezequiel 07:19 1898, quando moleiro, agradeceu publicamente a Virgem de ocorreu pão caro,em literalmente jogou um o ouro e a prata a uma multidão nas ruas em uma vã tentativa de acalmá-los. Mas eles exigiram a sua vida e o levaram (p.407)

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42. De acordo com Ezequiel 11:09, o cristianismo vai literalmente cair nas mãos dos sindicatos trabalhistas, socialistas e anarquistas (p. 425) 43. Os pregadores do cristianismo dizem coisas que se srcinam de sua própria imaginação (p.432) 44. De acordo com Ezequiel 17:22 e 20:42, o sionismo e o judaísmo prosperarão na Terra, e terão como seus dirigentes Abraão, Isaac, Jacó e outros ressuscitados (p.450, p.462) 45. A congregação mencionada em Ezequiel 23:46 são trabalhadores sindicalizados, socialistas, democratas e anarquistas (p.480) 46. Em cumprimento a Ezequiel 24:15-19, Deus tirou o desejo de Russell por sua esposa, colocando uma praga espiritual sobre ela quea fez "morta" aos olhos de Russell (p.483, p.484) 47. Deus vai destruir todas as igrejas na Terra, incluindo todos os seus milhões de membros em 1918. A expectativa é de que isso irá ocorrer por volta 27 de abril de 1918 (p.485, p.513, p.530) 48. Todos os judeus voltarão à sua terra natal de acordo com a promessa de Deus. Russell pregou essa mensagem sionista desde outubro de 1910(p.536, p.554, p.555) 49. Em 1878, durante a Primeira Ressurreição, Deus levantou os membros do Corpo de Cristo, o "tronco de Davi" (p.539) 50. De acordo com Ezequiel 40:1, o estabelecimento do Reino na Terra ocorrerá depois de 1918, em 13 anos.(p.569)

Os exemplos mostrados não são exceções. Basta ler o livro O Mistério Consumado para ver que eles são típicos da matériaencontrada no livro como um todo. Não são apresentados simplesmente para mostrar de que tolices incrivelmente imaginárias foram capazes os dirigentes da Torre de Vigia. São apresentados porque as Testemunhas lendo as alegações da organização Torre de Vigia, dizendo-se superior em “sabedoria espiritual” sobre todas as outras fontes religiosas de “alimento espiritual” daquele período, têm ouvido uma versão muito tendenciosa. não temdaabsolutamente nenhum meioépoca para investigar a realidade, A já maioria que as delas publicações Torre de Vigia daquela não estão disponíveis para elas.

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que você vai ler a seguir são recortes de um artigo publicado pela Watchtower (Torre de Vigia),A Sentinela 15/08/1997, expondo de forma bem clara como é o tratamento dispensado desde simples transgressores até perigosos criminosos, dentro desta organização. Se você refletir com clareza entenderá o motivo pelo qual pouco se ouve a respeito de casos de pedofilia, estupro, assassinatos, roubos e fraudes dentro artigo está em preto e vou tecer alguns comentários em cor azul, desta todos religião. os grifosOsão meus.

Por que relatar o que é mau? (Sentinela 15/08/97, p. 27)

De quem é a responsabilidade?

Quando os anciãos ficam sabendo de transgressões graves, chegam-se à pessoa envolvida para dar ajuda e correção necessárias. É responsabilidade dos anciãos julgar transgressores na congregação cristã. Eles mantêm-se vigilantes sobre a condição espiritual fim de ajudar os que estão5:1, para2. dar um passo imprudentedaoucongregação, errado. — 1 aCoríntios 5:12, 13;e admoestar 2 Timóteo 4:2; 1 Pedro Vejam, este é o mesmo princípio seguido por muitas igrejas da “cristandade”, ou seja, resolver o assunto “dentro de casa”. Seria isso lícito em casos de crimes graves? São os anciãos capacitados para julgar um crime?

Tratar do assunto

Primeiramente, é preciso que haja razão válida para crer que realmente houve uma transgressão grave. “Não te tornes sem base uma testemunha contra o teu próximo”, declarou um sábio. “Então terias de ser néscio com os teus lábios.” — Provérbios 24:28. Talvez você decida ir diretamente aos anciãos. Não é errado fazer isso. Em geral, porém, o proceder mais a moroso é falar com a pessoa envolvida. Talvez as coisas não sejam o que parecem. Ou talvez o caso já esteja sendo cuidado pelos anciãos. Converse calmamente sobre o assunto com a pessoa. Se ainda há razão para crer que foi cometido um erro grave,

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encoraje-a a falar com os anciãos e pedir ajuda, e explique por que é sensato fazer isso. Não fale com outros sobre o assunto, pois isso seria tagarelice. Que dizer de uma criança que foi abusada? Deveria ela “falar com a pessoa envolvida”? Ou mesmo uma pessoa adulta que foi estuprada, deveria ela “falar com a pessoa envolvida?” Ou ainda “encorajá-la a falar com os anciãos e pedir ajuda, e explicá-la por que é sensato fazer isso”? Imagine a cena, a vítima chega para o estuprador e diz: Veja bem, você me estuprou e eu quero que você confesse aos anciãos o seu erro. Ainda que o criminoso confessasse aos anciãos, ele continuaria sendo um criminoso e a vítima teria todo o direito de denunciá-lo a polícia, até mesmo para a proteção de outras pessoas. No entanto a ordem dada pela Watchtower é: “Não fale com outros sobre o assunto, pois isso seria tagarelice”, ou seja, a vítima ainda poderia sair como culpada!

Se a pessoa não contar o problema aos anciãos depois de um período razoável, você deve contar. O que seria um “período razoável” para esses homens? Período suficiente para o criminoso fugir ou fazer outra vítima?

Um ou dois anciãos considerarão então o assunto com o acusado. Os anciãos têm de “pesquisar, e investigar, e indagar cabalmente” confirmar que se cometeu um erro. Se esse for o caso, eles cuidarão do assunto segundopara as orientações bíblicas. — Deuteronômio 13:12-14. São necessárias pelo menos duas testemunhas para validar uma acusação de transgressão. (João 8:17; Hebreus 10:28) Se a pessoa negar a acusação e você for a única testemunha, o assunto será deixado nas mãos de Jeová. (1 Timóteo 5:19, 24, 25) Faz-se isso porque sabemos que todas as coisas estão “abertamente expostas” a Jeová e, se a pessoa for culpada, com o tempo seus pecados a ‘alcançarão’. — Hebreus 4:13; Números 32:23.

Mais tempo para o criminoso! Veja quantas etapas: 01 - Acontece o crime, o estupro, por exemplo, a vítima depois de superar o trauma e o medo, deve ela mesma, ir atrás do criminoso para aconselhá-lo a se entregar. Isso pode variar de alguns dias até anos a depender da vítima. 02 - Apara vítima dá umaos“tempo que este o pobre estuprador coragem confessar anciãosrazoável” seu crime,para só após “tempo razoável”,crie ela pode contar aos anciãos, pois se delatar o criminoso para as autoridades ou

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qualquer outra pessoa, será “tagarelice”. O tempo que ela esperou para falar com o criminoso não conta. Ela deverá esperar mais ainda. 03 - Depois disso tudo, os anciãos têm de “pesquisar, e investigar, e indagar cabalmente” para confirmar que se cometeu um erro”. Mais tempo para criminoso fugir ou fazer mais vítimas. 04 - Se confirmado que “se cometeu um erro”, a pobre vítima terá que arrumar “pelo menos duas testemunhas para validar uma acusação de transgressão”. A Watchtower, recentemente “facilitou” um pouco mais para as vítimas de abuso, agora os anciãos aceitam que se houver “duas pessoas que foram testemunhas de incidentes separados do mesmo tipo de delito, seus testemunhos podem ser considerados suficientes para tomar uma ação.” (veja carta da Watchtower de 2002). A vítima terá que investigar se o estuprador abusou de outra pessoa além dela, depois terá de convencer essa pessoa a expor tal assunto a público! Uma verdadeira “maratona”. A essa altura do "campeonato", o criminoso já fugiu, ou diante de tanta “moleza”, estará tranqüilo. Lembrando que em momento algum os nomes “polícia” ou “autoridades” entram na história.

Mas suponhamos que a pessoa negue a acusação e você seja a única testemunha contra ela. Não poderia você ser acusado de calúnia? Não, a menos que tenha tagarelado com outros que não tinham nada que ver com o caso. Não é calúnia relatar coisas que afetam a congregação aos que têm a autoridade e a responsabilidade de supervisioná-la e de corrigir os problemas. De fato, isso está em harmonia com nosso desejo de fazer sempre o que é correto e leal. — Note Lucas 1:74, 75. É chocante! Se o criminoso simplesmente negar o crime e a vítima não conseguir uma “testemunha de acusação”, o que provavelmente ocorrerá, a vítima poderá ser culpado de “tagarelice” se contar para outros que “não tenham nada que ver com o caso”. O parágrafo deixa implícito que não se deve relatar o cas oà polícia, mas “apenas aos que têm a autoridade e a responsabilidade de supervisionar [a congregação] e de corrigir os problemas”. Lembre -se do que disse a revista: “São necessárias pelo menos duas testemunhas para validar uma acusação de transgressão. Se a pessoa negar a acusação e você for à única testemunha, o assunto será deixado nas mãos de Jeová”.

Manter a santidade na congregação

Na atualidade, a vasta maioria dos irmãos e irmãs nas congregações em toda a Terra se esforça a manter a limpeza espiritual da congregação, mantendo individualmente uma

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condição aprovada perante Deus. Alguns sofrem por causa disso; outros até morrem por manter a integridade. Sem dúvida, se tolerássemos ou encobríssemos transgressões, isso mostraria falta de apreço por esses esforços. A Watchtower não encobre nem tolera transgressores. Que ironia! Enquanto milhares de testemunhas sinceras se esforçam para seguir o rígido padrão imposto pela Watchtower, alguns até mesmo morrendo, ela cria regras absurdas para impedir de forma grotesca que a “santidade da congregação” seja maculada, silenciando as vítimas de estupro e dando abrigo à pedófilos!

Ajuda para os que erram

Por que alguns que se envolveram em pecados graves evitam falar com os anciãos congregacionais? Em geral, é porque não se apercebem dos benefícios de fazer isso. Alguns acreditam erroneamente que, se confessarem, seu pecado será exposto a toda a congregação. De fato, se tem uma coisa que os anciãos realmente sabem fazer é guardar segredos, principalmente para não macular a imagem da Watchtower e da organização perante a imprensa e a comunidade. Não há porque um criminoso temer confessar aos anciãos, eles até ajudarão a acobertar o crime!

Mas esses transgressores precisam da ajuda amorosa dos anciãos da congregação. Tiago escreveu: “Há alguém doente entre vós? Chame a si os anciãos da congregação, e orem sobre ele, untando-o com óleo em nome de Jeová. E a oração de fé fará que o indisposto fique bom, e Jeová o levantará. Também, se ele tiver cometido pecados, ser-lhe-á isso perdoado.” — Tiago 5:14, 15. Esse não seria um final improvável, a vítima repreendida por “tagarelice” e o pobre estuprador paparicado pelos anciãos, afinal ele está “dodói” espiritualmente.

Que provisão maravilhosa para ajudar os que erram a recuperar a espiritualidade! E põem são maravilhosa nisso! Quem em especial maravilhosa essa “provisão” os estupradores e os pedófilos! Quedeve dizerachar da espiritualidade da vítima? Não se deixe enganar, se você foi vítima de estupro ou abuso sexual relate imediatamente o caso a polícia.

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m face das derrotas acumuladas na Corte do Condado de Napa, Califórnia, em que deveria mostrar documentos e banco de dados contendo os nomes de pedófilos citados nos processos, a Sociedade Torre de Vigia viu-se entre a cruz e a espada: ou forneceria a documentação exigida pela Corte, ou levaria sua apelação à Suprema Corte dos EUA, correndo o risco de ser ainda mais exposta na mídia como protegendo direitos de pedófilos (estupradores de crianças). Então, aconteceu o que menos se esperava da Sociedade Torre de Vigia: um ACORDO milionário com as 16 vítimas envolvidas e a suspensão dos processos.Os acordos foram feitos entre 13 de fevereiro e 2 de março de 2007, conforme relação abaixo: Condado de Potter, Texas (1 vítima) #91048C - acordo em 15/02/07 Condado de Marion, Oregon (1 vítima) #06C15281 - acordo em 14/02/07 Condado de Napa, Califórnia (2 vítimas) #2622191 - acordo em 13/02/07 Condado de Napa, Califórnia (1 vítima) #2623929 - acordo em 13/02/07 Condado de Placer, Califórnia (1 vítima) #SCV16600- acordo em 13/02/07 Yolo, Califórnia (3 vítimas) #CV031430 - acordo em 02/03/07 *San Diego, Califórnia (4 vítimas) #GIE034558 - acordo em 26/02/07 Tehama, Califórnia (1 vítima) #52594 - acordo em 13/02/07 Tehama, Califórnia (2 vítimas) #52598 - acordo em 13/02/07 *O caso de San Diego é mais significativo, pois o pedófilo em questão se chama Frederick "Rick" McLean, um dos homens mais procurados nos EUA pelos agentes federais. McLean foi servo ministerial durante um bom tempo e usava sua posição na congregação para abusar de meninas. Ele só foi pego em flagrante mais de 20 anos depois, de modo que só depois da publicidade do abuso é que ele foi desassociado. E para mostrar que a simples desassociação não basta, McLean permaneceu às ocultas das autoridades até agora, a ponto de ser mencionado num programa da TV americana sobre os mais procurados pela polícia. Se os processos tivessem seguido os seus cursos nos tribunais, ficaria evidenciada publicamente a política da Sociedade Torre de Vigia quanto ao manuseio de questões envolvendo pedofilia nas congregações das Testemunhas de Jeová. Mas com o acordo financeiro com estas 16 vítimas, os processos serão extintos.

Observe abaixo o cartaz da policial federal dos EUA:

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http://www.usmarshals.gov

Qualquer informação pode ser levada à Central U. S. Marshal (800) 336-0102. Todas as informações serão mantidas em sigilo Os interesses de McLean podem incluir: mecânica de autos, carros de corrida, e acampamento florestal. McLean tem experiência como homem do campo. - Frederick McLean, um membro formal das testemunhas de Jeová, é procurado por abuso sexual de várias crianças confiadas a seus cuidados durante o período de 20 anos. As características pessoais de McLean são: financeiramente equilibrado, meticuloso, organizado e paga em dinheiro. Acredita-se que ele tire seu sustento por meio da restauração de carros antigos

PROCURADO

POR U. S. edeve trabalhos de personalização carros, caminhões ou casas móveis. McLean ser considerado armado de e perigoso. MARSHALS McLean pode ter assumido um novo apelido ou identidade. Frederick RECOMPENSA DE McLean, 57, foi acusado pela Corte Superior de San Diego em janeiro de 2005 US$ 25.000,00 de quatro ocasiões de abuso sexual de crianças e uma ocasião de atos lascivos com uma criança de menos de 14 anos de idade. Investigações nos casos McLean, Frederick Nome Cecil mostraram que McLean induz suas vítimas a confiarem nele, e, então, usa McClean, essa confiança para molestar e manipular suas vítimas. Investigadores Também Frederick; conhecido identificaram numerosas vítimas e acreditam que McLean pode estar McClean, Rick; como McLain, Frederick procurando novas vítimas. McLean foi descrito como sendo muito inteligente Masculino e metódico, planejando tudo que faz até o menor detalhe. Ele pode ter mais Sexo Branco ou que 100.000 dólares em dinheiro à sua disposição. McLean pode ter Raça hispânico modificado sua aparência para auxiliar em sua fuga da justiça. Investigadores Data de 15/02/1951 dizem que McLean é considerado armado e perigoso. Nascimento Altura

?

Peso

80Kg

Olhos Cabelos

Escuros Castanhos

Acusação

Abuso sexual de crianças

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EUA, 11 de Agosto de 2002. (Política da Igreja Contra Abusos é Falha.)

illiam Bowen sempre se considerou uma devota Testemunha de Jeová. Quando criança sentia ser seu dever ir de porta em porta distribuindo a revista da igreja, A Sentinela. Mais tarde, na congregação dele no Kentucky, ele disse que via como obrigação dele informar as autoridades da igreja que um co-ancião tinha abusado de uma criança. Mas quando Bowen contatou a sede da igreja em Brooklyn, disse, ele foi rechaçado. Frustrado pela falta de ação da igreja e pelos requisitos de confidencialidade que, disse ele, o impedia de compartilhar a informação com outros, Bowen renunciou como ancião em Dezembro de 2000. Um ano depois, ele iniciou um grupo para monitorar abuso infantil na igreja. No final do mês passado, Bowen, 44, foi excomungado da igreja. A portas fechadas e com sacolas plásticas afixadas às janelas para bloquear a visão dos que podiam olhar, disse ele, três anciãos da igreja se reuniram no Salão do Reino em Draffenville, Kentucky, e concluíram que ele era culpado de "causar divisões". A punição foi "desassociação", total ostracismo. Nos últimos 3 meses, quatro outras pessoas foram expulsas das Testemunhas de Jeová depois de fazerem denúncias de acobertamento de abusos sexuais de crianças dentro da religião. Para Bowen e outros críticos da política de abuso sexual da igreja, estas expulsões são parte de um esforço arquitetado para manter tais abusos em silêncio. As Testemunhas expulsas dizem que os próprios regulamentos e cultura da igreja contribuem para abafar abusos. Uma junta de anciãos da igreja, todos homens, se reúne em secreto para decidir cada caso, procedimento que os críticos dizem, impede que os membros saibam que há um abusador no meio deles. Para provar uma acusação, uma criança precisa ter uma testemunha do incidente, condição que é geralmente impossível satisfazer. "Isto mostra para o mundo como

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as Testemunhas de Jeová tratam os sobreviventes de abuso e os que tentam protegê-los", disse Bowen. "Eles o silenciam com a ameaça de desassociação." J. R. Brown, diretor do escritório de relações públicas na sede da igreja, a Sociedade Torre de Vigia de Bíblias e Tratados, em Brooklyn, disse que a igreja tem políticas exemplares de manejo de abuso sexual, que são baseadas nos padrões bíblicos e tem sido amplamente publicadas nas revistas da igreja. "Nós não estamos tentando dizer que manejamos todos os casos da maneira correta e que nossos anciãos sabem tudo, e são todos perfeitos”, disse Brown, que declinou, por uma questão de regulamento, comentar casos individuais, inclusive o de Bowen. "Mas nós dizemos, se você considerar o que nossa política é no que diz respeito a manter nossa organização moralmente limpa, ela está muitos passos à frente das de quem quer que seja." Ao passo que a Igreja Católica Romana tem sido engolfada em seu próprio escândalo de abuso sexual, o mesmo problema está começando a arrasar as Testemunhas de Jeová, uma denominação que afirma ter um milhão de membros nos Estados Unidos e seis milhões no mundo inteiro. Mas a forma do escândalo é muito diferente daquele da igreja Católica, onde a maioria das pessoas acusadas são sacerdotes e a vasta maioria das vítimas foram garotos e homens jovens. Nas Testemunhas de Jeová, onde as congregações são geralmente grupos de familiares e onde os anciãos da igreja são escolhidos de entre os leigos, muitos desses acusados são anciãos, mas a maioria são membros da congregação. As vítimas que tem vindo à público são em sua maioria garotas e mulheres jovens, e muitas acusações envolvem incesto. O escopo do abuso nas Testemunhas de Jeová é uma questão de considerável debate. A igreja foi recentemente processada por oito contestantes em quatro processos alegando abuso, um dado entrada em Julho em Minnesota. Bowen diz que o grupo dele de suporte às vítimas, "silentlambs", já coleciona relatos de mais de 5000 Testemunhas afirmando que a igreja lidou mal com o abuso sexual infantil. A igreja mantém um banco de dados de membros e associados que foram acusados de ou condenados por abuso infantil. Bowen disse que fontes da igreja tinham dito à ele que o banco de dados continha os nomes de mais de 23.000 pessoas nos Estados Unidos, Canadá e Europa. A igreja diz que o número é "consideravelmente menor", mas não diz qual é. A igreja tem diretivas claras para manejo de casos de abuso sexual. Membros que suspeitam de abuso são ensinados a ir primeiro aos anciãos, que são considerados líderes morais e espirituais a quem os membros devem procurar com seus problemas pessoais. Brown disse que o departamento legal da igreja orientou os anciãos a seguir a lei nos estados cujas leis obrigam o relatar, e em casos nos quais a criança parece estar em perigo.

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É dos anciãos que se exige que julguem se alguém cometeu ou não um pecado tal como abuso infantil. Se o abusador confessa e é perdoado, o único anúncio feito à congregação é que a pessoa foi disciplinada. Nenhuma razão é anunciada. Contudo, os anciãos informam o nome da pessoa à sede, onde ele vai para um bando de dados de modo que o abusador seja proibido de servir em posição de autoridade. "Se a pessoa consegue chorar direitinho, praticamente não há repercussão e ninguém além dos anciãos jamais saberá," disse Jean Kraus, que disse que foi aos anciãos na congregação dela em Queens anos atrás acusando o ex-marido de abusar da filha dela. Ela disse que ele confessou, foi repreendido e ainda é uma Testemunha ativa. "Eles me disseram que ele não era um homem iníquo, que aquilo foi uma fraqueza", disse. O porta-voz da igreja, Brown, disse: "Nós vemos estas reuniões judicativas como uma extensão de nosso trabalho de pastoreio como ministros. Em outras palavras, nós estamos lá para salvar a alma de uma pessoa. Nestes casos nós não vamos ser vingativos porque eles são nossos irmãos, e nós esperamos que eles mudem." Se o acusado nega a acusação, o testemunho da vítima por si só não é suficiente a menos que haja pelo menos uma outra testemunha do ato. A igreja diz que sua política é baseada na injunção bíblica de Deuteronômio 19:15 que diz que duas ou três testemunhas são necessárias para provar que um homem pecou. Amber Long, esquerda, e Heidi Meyer descobriram, apenas anos mais tarde, que ambas tinham sido mesmo Os anciãoso da igreja a forammolestadas contra elas.pelo Agora elas homem. estão processando homem, congregação e a sede da igreja. Heidi Meyer, uma Testemunha de Jeová de terceira geração em Annandale, Minnesotta, disse que ela foi aos anciãos em 1994, quando ela tinha 15 anos, para dizer que dos 10 aos 13 anos de idade ela tinha sido repetidamente molestada por uma co-Testemunha oito anos mais velha que ela, o irmão mais velho de uma amiga. A única testemunha ocular foi o irmão dela que uma vez viu este homem agarrar as nádegas dela ao sair de um carro. Os anciãos lhe fizeram perguntas explícitas, que a deixaram em situação desconfortável, disse ela. De acordo com um documento interno das Testemunhas chamado "Prestai Atenção a Vós Mesmos e a Todo o Rebanho", os anciãos devem determinar em que categoria a acusação se encaixa: Se foi "impureza", um toque uma vez acima da cintura; "conduta desenfreada", tocar abaixo da cintura ou mais de uma vez acima dela; ou a mais severa "pornéia", direto estímulo ou atividade sexual resultando em orgasmo. Para cada delito há uma penalidade, sendo a mais severa para "pornéia".

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O homem que ela acusava insistiu que Meyer tinha mal-interpretado o que aconteceu. Os anciãos concordaram. "Eu esperava orientação espiritual," disse Meyer. "Eu estava esperando que eles genuinamente, sinceramente tentassem achar justiça e protegessem os demais na congregação da mesma coisa acontecer novamente. E nada disso aconteceu". Ela, assim como várias outras supostas vítimas e os parentes delas, disseram em entrevistas que os anciãos a avisaram para não relatar o abuso ou falar sobre ele com outros membros. "Eles me disseram que se eu falasse sobre isso com alguém, eu precisava tomar cuidado porque eu podia enfrentar uma comissão judicativa por fofoca ou calúnia," disse ela. "Se eles achassem que eu tinha cometido este pecado, eu teria sido desassociada". Meyer conta que ela soube apenas anos mais tarde que Amber Long, outra jovem mulher na congregação, tinha, aos 12 anos de idade, ido aos anciãos com os pais dela relatar que ela tinha sido molestada pelo mesmo homem. Long, agora com 23 anos, disse que ela e os pais dela receberam uma carta das Testemunhas dizendo a ela para "deixar o assunto nas mãos de Jeová". "Eles disseram que nós não devemos nutrir maus sentimentos por nossos irmãos", disse Long. "Uma vez que não havia duas testemunhas oculares, eles disseram que não havia muito o que eles podiam fazer." Nem Long nem Meyer continuam como Testemunhas de Jeová ativas. Em 2 de Julho, as duas mulheres entraram com processo contra o homem que elas acusam de molestá-las, Derek Lindala, 30, de South Haven, Minnesota, a congregação local, e a sede das Testemunhas de Jeová. Derek Lindala não respondeu a recados deixados na casa dele pedindo comentários. Barbara Anderson, de Tullahoma, Tennessee, disse que quando ela e o marido dela trabalhavam na sede da igreja em Brooklyn durante os anos 90, foi-lhe pedido que reunisse informações sobre abuso infantil nas congregações. Ela disse ter entregue aos líderes da igreja dúzias de cartas reclamando de como os casos eram manejados. Para ela isto foi uma revelação. "As Testemunhas de Jeová gostam de dizer que tem uma organização que é das mais livres de crimes", disse Anderson. "Mas todos os problemas são levados aos anciãos, e os anciãos os mantém em segredo." Ela disse que os documentos desencadearam um debate interno entre líderes da igreja, e ao não ver qualquer ação, ela deixou, desanimada, a sede em 1993, depois de 11 anos de trabalho voluntário. Carl A. Raschke, um professor de estudos de religião da Universidade de Denver, que têm escrito sobre as Testemunhas de Jeová, disse que o grupo não é em nada diferente de muitas outras religiões fechadas que aspiram à pureza teológica e moral. "Grupos com a tendência de ser muito inter-conectados e fechados têm historicamente uma incidência mais alta de abuso sexual e incesto," disse Dr. Raschke. "Isto é um fato etnológico. Quando uma religião tenta ser

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completamente santa ou piedosa, ela não reconhecerá que as pessoas não estão vivendo à altura dos ideais da fé." No dia 25 de Julho, Anderson foi excomungada. Uma semana depois, o marido dela, Joe, que tinha algum tempo antes renunciado como ancião depois de 42 anos, também foi expulso. "É inconcebível pensar que anciãos investigariam uma alegação de assassinato para determinar culpa ou inocência, então por que investigaríamos uma alegação de abuso infantil?", escreveu Joe Anderson em sua carta de renúncia. "Isto simplesmente não é nosso campo de especialidade. Somos ministros de Deus, não polícia."

B.4 - A Carta da Torre de Vigia para a TV-NBC

BBC-TV de Londres fez um documentário de 30 minutos exibido em horário nobre em rede nacional falando sobre a política falha das Testemunhas de Jeová nos casos de pedofilia. Vários membros vítimas de abusos sexuais foram ouvidos. Nos Estados Unidos a rede de TV NBC exibiu também em rede nacional uma matéria jornalística sobre o assunto. A repercussão destas matérias foi muito grande trazendo a tona fatos até então escondidos do público em geral. Para assistir estes dois vídeos basta acessar o You Tube: http://www.youtube.com/watch?v=iNB3TWhfEbg http://www.youtube.com/watch?v=E5wChFDLQCI Tanto a BBC-TV como a TV NBC procuraram a Sociedade Torre de Vigia para ouvir sua versão do assunto. Infelizmente em ambos os casos a Torre não quis gravar entrevista. Apenas de maneira evasiva enviou cartas as duas emissoras tentando explicar a sua posição. Abaixo está a carta que a Sociedade Torre de Vigia enviou à TV-NBC quando convidada à conceder entrevista diante das câmeras. É surpreendente ler esta carta. Quando o assunto em questão são os pedófilos nas congregações das Testemunhas de Jeová, o Diretor J.R. Brown fala de "pontos de vista e opiniões [que] deveriam ser ouvidos apenas no âmbito interno da congregação". Qualquer um pode compreender que esta é uma história dolorosa para a Torre de Vigia, mas escrever uma carta para a NBC que prova que a Torre de Vigia está, de fato, fazendo todo o possível para encobrir esses casos é absolutamente fantástico.Leia a carta, tire as suas conclusões.

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Tradução: 7 de fevereiro de 2002

Richard Greenberg Dateline NBC 30 Rockefeller Plaza New York, NY 10112 Prezado Sr. Greenberg: Estou escrevendo em resposta ao seu convite para participar de uma entrevista gravada para o vindouro programa da NBC, Dateline. Obrigado pela oportunidade de participar; apreciamos seus esforços de ser justo e equilibrado. Como sabe, temos nos esforçado por cooperar com o Sr. e sua equipe enquanto trabalham na montagem do programa. Quanto à sua solicitação para uma entrevista, recentemente trouxemos à atenção do Corpo Governante das Testemunhas de Jeová e eles respeitosamente declinaram do convite, pois pareceria colocar irmão contra irmão, e este não é o modo cristão de resolver as diferenças. Não acreditamos que um programa de televisão em cadeia nacional seja o fórum adequado para se discutir as diferenças de pontos de vista entre membros de nossa religião. Neste caso, o Sr. nos relatou que seus participantes são primariamente indivíduos que ainda se consideram como Testemunhas de Jeová. Não os vemos, portanto, como adversários, mas como indivíduos cujos pontos de vista e opinião devem ser ouvidos no âmbito interno da congregação, ou igreja, e não perante uma audiência nacional. Isso estaria em a harmonia com o que Paulo admoestou, como registrado na Bíblia em 1ª Coríntios 1:10, "que todos faleis de acordo e que não haja divisões entre vós, mas que estejais aptamente unidos na mesma mente e na mesma maneira de pensar." Nosso Corpo Governante está desejoso de resolver as diferenças de opinião no âmbito interno da congregação e conforme os princípios das Escrituras. Isto não significa que as Testemunhas de Jeová se oponham a entrevistas em geral, entretanto, não parece ser apropriado nestas circunstâncias. Mais uma vez, desejamos agradecer seu convite e solicitamos que entenda as razões pelas quais não o aceitamos. Sinceramente J.R.Brown - Diretor Escritório de Informação ao Público

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01. A Sociedade Torre de Vigia (ou Corpo Governante) cometeu diversos erros ao longo dos anos quando se pronunciou sobre assuntos como vacinas, transplantes de órgãos, frações de sangue, serviço civil alternativo e datas para o fim do sistema de coisas (1874, 1914, 1915, 1918, 1920, 1925, 1941, 1975 e 2000). Além disso, mudou e voltou atrás em diversos ensinos e doutrinas como a ressurreição dos sodomitas, as autoridades superiores, quem está sob o novo pacto, o espírito santo guiar a organização, corpos de anciãos dirigindo as congregações, o uso do termo ministro ordenado, a geração que de modo algum passará, a época da separação das pessoas em ovelhas e cabritos, etc, etc, etc. Portanto, como pode tal organização dizer que é dirigida por Deus? Será que foi Deus que orientou a Torre de Vigia a fazer todas as declarações acima? Foi Deus que se enganou em suas orientações ou o Corpo Governante não é quem diz ser? Qual das duas opções você acha mais razoável? É possível um grupo que se diz representante de Deus, o único canal de orientação provido por Deus ser tão confuso, incoerente e contraditório? 02. Segundo o livro Clímax de Revelação páginas 195 e 247 a ONU foi identificada pela Sociedade como sendo a “imagem da fera” e a “fera cor de escarlate”. O livro profecia de Isaías volume 1 página 153 afirma que a ONU vai tentar aniquilar as Testemunhas de Jeová. Portanto,como explicar a parceria secreta de mais de 10 anos da Torre de Vigia com a ONU exposta pelo jornal britânico The Guardian num artigo de 08 de outubro de 2001?Como justificar a associação da Watchtower Bible and Tract of New York (principal entidade controladora dos interesses jurídicos das Testemunhas de Jeová) com o Department of Public Information (departamento de relações públicas da ONU)? Porque depois de exposto este relacionamento através de provas documentais a Torre de Vigia apressadamente pôs fim a uma parceria de mais de 10 anos? 03. Porque durante os anos 60 a Torre de Vigia proibiu a aquisição da carteira de identidade do partido único no Malauí provocando perseguição, encarceramento, assassinatos e estupros de milhares de Testemunhas de Jeová (Livro Proclamadores página 674) enquanto que, na mesma época permitia no México que seus adeptos pagassem uma propina a funcionários públicos para receberem um documento militar (chamado “la cartilla”) onde constava falsamente que a pessoa já havia prestado o serviço militar e agora fazia parte da primeira reserva do exército? Não existe responsabilidade sobre a Sociedade pelo encarceramento e morte de muitos jovens em razão da proibição do serviço militar alternativo, liberado apenas em 1996?

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04. Não existe culpa de sangue sobre a Sociedade pelas pessoas que morreram ou ficaram gravemente doentes por obedecerem às proibições das vacinas (19231952), dos transplantes de órgãos (1967-1980) e das 'frações menores de sangue', TODOS PERMITIDOS HOJE EM DIA? Porque é proibido receber glóbulos brancos (leucócitos) através de transfusão quando no colostro (aquele leite mais amarelado que se manifesta nos primeiros dias de aleitamento) contém mais glóbulos brancos do que uma mesma quantidade de sangue? Se receber leucócitos na veia é proibido, por que comê-los não é? Estaria Deus burlando a sua própria lei do sangue? Se ele nos proibisse de passar por um tratamento intravenoso à base de glóbulos brancos, criaria um sistema pelo qual os comemos literalmente, indo direto para o nosso sistema digestivo? Estaria a criação de Deus indo contra sua lei? Como você explica isso? 05. Conforme ensina a Sociedade em A Sentinela 01/09/1981 página 24 e The Watch Tower 15/07/1960 página 435, a "classe" do "Escravo Fiel" sempre existiu desde 33 EC. Então por que Russell, em 1870, não recorreu a esta classe ou organização, mas buscou o entendimento bíblico por iniciativa própria e criando seu próprio grupo (coisa que a Sociedade condena como apostasia)?Por que a Sociedade Torre de Vigia não respeitou o testamento do falecido Russell que previa uma comissão de cinco editores de A Sentinela (sendo Rutherford apenas um de um grupo de suplentes) vindo o controle e a autoria de QUASE TODOS os livros da Sociedade a estar nas mãos de um único homem, Rutherford? Não fere isso o arranjo de uma "classe" do "Escravo"? 06. Como pôde Cristo (supostamente presente desde 1914) ter aprovado em 1919, após uma inspeção, apenas a Sociedade Torre de Vigia como "Escravo Fiel designado sobre seus bens", SE NA ÉPOCA DA INSPEÇÃO E POR ANOS DEPOIS a Sociedade estava envolvida com piramidologia, símbolos ocultistas, comemorações pagãs, uso da cruz, culto a personalidade, participação na I Guerra e no apoio aos aliados (Proclamadores, pp. 191, 200, 201)? 07. Segundo a Sociedade Torre de Vigia, de 33 EC até 1935 EC (quando foi identificada a "Grande multidão"), TODOS os que se tornaram genuínos cristãos eram parte dos 144.000. Conforme A Sentinela 01/02/1981 página 24; 01/02/1982 página 15 e Despertai! 22/11/1988 página 19, grupos da Idade Média como os Valdenses, Lolardos, Anabatistas e Socinianos eram cristãos genuínos. Portanto, como é possível que durante quase 2000 anos só tenha existido 144.000 cristãos? Não diz o relato de Atos 2:41 que em apenas um dia 3000 foram batizados? Não indica a história que tem havido milhões de genuínos cristãos desde os tempos da igreja primitiva? Em que parte da Bíblia se diz que a soma total dos 144.000 de Revelação 7:4 tem de ser entendida como um número literal quando se reconhece que as parcelas de 12.000 desta soma são simbólicas?Por que o total é literal e as parcelas são simbólicas? Onde a Bíblia diz que isso tem de ser assim?

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Há duas datas importantes aqui que nós não devemos confundir, mas claramente diferenciar, a saber, o começo do "tempo do fim" e a "presença do Senhor". O "tempo do fim" engloba um período a partir de 1799 A.D, conforme indicado acima, até o tempo do completo desarraigamento do império de Satanás e do estabelecimento do reino do Messias. O tempo para "presença do Senhor" de Deus, 1921, páginas 229-231 (ema inglês). data de 1874. - A Harpa A profecia bíblica mostra que o Senhor estava para aparecer pela segunda vez em 1874. Profecias bíblicas cumpridas mostram sem sombra de dúvida queele de fato apareceu em 1874. Profecias cumpridas são muitas vezes chamadas de fatos físicos; e estes fatos são inegáveis. - A Sentinela de 1 de Novembro de 1922, página 333 (em inglês).

Nós apresentamos prova de que a 'batalha do grande dia do Deus TodoPoderoso' (Rev. 16:14) terminará em 1914 A.D., com a vitória completa sobre o governo terrestre... - Estudos das Escrituras III, 1905, editorial 26 (em inglês). ...a completa destruição dos poderes deste mundo maligno - político, financeiro, eclesiástico - por volta do fim do Tempo dos gentios,outubro de 1914. Estudos das Escrituras IV, 1897, páginas 604 e 622 (em inglês). Parece conclusivo que as 'dores de aflição' da Sião Nominal estão fixadasna passagem de 1918... há razões para crer que os anjos caídos invadirão as mentes de muitos da igreja nominal, levando-os a uma conduta excessivamente tola e culminando com sua destruição às mãos de massas enfurecidas ... Também, no ano de 1918, quando Deus destruir as igrejas e seus membros aos milhões... O Mistério Consumado, 1917, páginas 129 e 485 (em inglês).

Seja como for, há evidência de que oestabelecimento do Reino na Palestina será em 1925, dez anos mais tarde do que nós uma vez tínhamos calculado [isto é, 1915]. - O Mistério Consumado, 1917, página 128 (em inglês). Por conseguinte, nós podemos esperar confiantemente que 1925 marcará o retorno de Abraão, Isaque, Jacó e os profetas fiéis da antiguidade... um cálculo

simples dos conclusão jubileus traz-nos este importante fato...vivem chegamos positiva e indiscutível de que,a milhões que agora jamaisá morrerão. Milhões que Agora Vivem Jamais Morrerão, 1920, págs. 88-90, 97 (em inglês).

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Nenhum menino entrou na arca [de Noé] nem tão pouco nasceu algum ali, e, portanto, nenhum saiu da arca. Somente oito pessoas entraram e oito saíram da arca... Isso pareceria indicar ser próprio para aqueles que formarão a 'grande multidão' esperar até depois do Armagedom para gerarem filhos... Podemos bem adiar o nosso casamento até que a paz duradoura venha à terra . - Livro Filhos, de 1941, páginas 241, 242, 283. Ao receberem o presente [o livro "Filhos", escrito por Rutherford] as crianças em fila o abraçaram, não como um brinquedo ou passatempo, mas como o instrumento provido pelo Senhor para a maior parte do trabalho efetivo nos meses que restam antes do Armagedom. - A Sentinela 15/09/1941, página 288 (em inglês). Se é jovem, também precisa encarar o fato de que jamais se tornará velho no atual sistema de coisas. Por que não? Porque toda evidência em cumprimento da profecia bíblica indica que este corrupto sistema de coisas deverá terminar dentro de poucos anos. Despertai! 22/11/1969, página 15, parágrafo 3. (Note o ano dessa declaração: 1969. Conhece algum jovem de 1969?) Receberam-se notícias a respeito de irmãos que venderam sua casa e propriedade e que planejam passar o resto dos seus dias neste velho sistema de coisas empenhados no serviço de pioneiro. Este é certamenteum modo excelente de passar o pouco tempo que resta antes de findar o mundo iníquo. - Ministério do Reino, julho de 1974. Devemos presumir, à base deste estudo, que a batalha do Armagedom já terá acabado até o outono de 1975 e que o reinado milenar de Cristo, há muito aguardado, começará então? Possivelmente... A diferença talvez envolva apenas semanas, ou meses, não anos. - A Sentinela de 15/02/1969, página 115. Dentro em breve, no nosso século vinte, começará a “batalha no dia de Jeová” contra o antítipo moderno de Jerusalém, a cristandade.- As Nações terão de saber que eu sou Jeová, 1973, página 200. (Em que século nós estamos mesmo?) O apóstolo Paulo servia de ponta de lança na atividade missionária cristã. Ele também lançava o alicerce para uma obra queseria terminada em nosso século vinte. - A Sentinela de 01/01/1989, página 12. (O século 20 terminou no ano 2000) Importantíssimo é que esta revista [a Despertai!] gera confiança napromessa do Criador sobre um novo mundo pacífico e seguro,antes que desapareça a geração que viu os acontecimentos de 1914. - Antigo prefácio da revista Despertai! até 1995, o qual "colocava" tais palavras na bo ca do Criador.

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Para quem é Testemunha de Jeová da terceira geração, é possível que seus avós tenham lido e estudado de primeira mão este artigo, e mais, até atrevo-me a afirmar que saíram a pregar muito diligentemente com esta revista a seus vizinhos, tal e como fazem hoje em dia oferecendo promessas (contidas nesse artigo) que hoje fazem mais de quarenta anos e para não perder o costume se mostram totalmente enganosas. Vejamos então cada uma destas promessas que então eram "a verdade":

Promessa Nº 1: “Se tu leitor és uma pessoa jovem, também tens que enfrentar o fato de que nunca envelhecerás nest e presente sistema de coisas ”. A primeira coisa a se notar é que este artigo é inicialmente dirigido aos jovens dessa época (final da década de 60), cuja idade estimada seria de 16 ou 18 anos e lhes é prometido que nunca envelhecerão. Hoje, quarenta anos depois, esses jovens entusiastas e zelosos de terem "a verdade", servindo na intitulada "organização de Deus" têm 56 ou 58 anos, no mínimo, já que outros excedem já dos 60 anos. Envelheceram ou não? Promessa Nº 2: “… a evidência em cumprimento das profecias bíblicas indica que este sistema corrompido terá de terminar em poucos anos ”.

Promete-se que o Armagedom viria em uns poucos anos, mas têm passado 40 anos desde então e o mundo segue sem ter acabado. Então, o que aconteceu? A verdade é que quem escreveu essa profecia, provavelmente hoje já deve estar morto, mas sua mensagem de urgência segue ainda no mesmo ritmo hoje em dia. A cada geração de jovens o senso de urgência aumenta, mas para que real interesse? Com certeza mão de obra gratuita e disposta é muito bem vinda pela Torre de Vigia. Promessa Nº 3: “Da geração que observou o princípio dos ‘últimos dias’ em 1914, Jesus predisse: ‘D e modo algum passará esta geração até que sucedam todas estas coisas’”

Onde estão os que observaram o princípio dos últimos dias em 1914? Se considerarmos que estas poderiam ser pessoas que em 1914 teriam uns 18 anos, hoje teriam... 116 anos! Quantas pessoas você conhece hoje em dia que tenham ao menos essa idade? Quanto dura uma geração? Mais de 100 anos? A verdade é que nem mais essa explicação tem sentido hoje em dia, pois essa promessa da geração de 1914 foi mais outra falsa predição que muitos tiveram que pregar de casa em casa por muitos anos.

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Promessa Nº 4: “Portanto, como pessoa jovem, nunca realizará alguma carreira que este sistema ofereça”.

Novamente fazendo o chamado aos jovens, fala-se que nunca realizarão alguma carreira em uma universidade. Uma carreira universitária dura mais de 40 anos? Quantos jovens Testemunhas de Jeová trocaram seu futuro por ter acreditado em 1969 no "escravo fiel e discreto", vulgo Torre de Vigia? Acha que hoje é diferente? Continuam com a mesma promessa para os inexperientes jovens que muitas vezes são pressionados por familiares e congregações para nunca crescer na vida. Promessa Nº 5: “… gastarás até seis ou oito anos para que obtenhas teu título de uma carreira especializada. Mas, onde estará este sistema de coisas nesse tempo? Estará bem avançado para seu fim, se é qu e não terá desaparecido na realidade !”.

Este parágrafo fala por si só, pois quando se publicou isto era 1969, somemos 6 ou 8 anos, 1969+6= 1975, e quando muito 1978, para que este sistema tenha desaparecido. Desta maneira lavavam-lhes a cabeça fazendo-lhes achar que o fim deste mundo ocorreria em uma data específica. Mas hoje dizem "ninguém sabe", mas ironicamente acham que o fim é "iminente", como é isso? Promessa Nº 6: “É por isso que os pais que baseiam sua vida na Palavra profética de Deus seria bem mais prático dirigir aos seus jovens ofícios que não requeiram tão longos períodos de educação adicional”.

Será que a palavra profética de Deus ensina esse estranho evangelho de 1914? É a Palavra profética de Deus que diz que este mundo está vivendo nos últimos dias desde 1914? É a Palavra profética de Deus que diz aos pais que não ponham seus filhos estudando na universidade e não façam da sua vida algo melhor? Dá-se conta de como utilizam esses engodos supostamente baseados na Bíblia para manter um controle mental sobre você, ocupando sua mente com literaturas, reuniões, estudos pessoais, assembléias e tudo mais? Só querem mantê-lo ocupado e assustado com previsões de Armagedom para que seja mais fácil manipulá-lo.

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Mateus 24:34 1897: "Outros usos da palavra grega (genea) provam que não é usada com o significado de raça, mas em referência às pessoas vivendo contemporaneamente...em outras palavras, os sinais mencionados irão ocorrer dentro de uma geração - época do final dos tempos."- Estudos das Escrituras Volume 4 (1897), págs. 602-603 (em inglês) 1927: "A conclusão, portanto, irresistívelé que Jesus se referiu à nova criação [os ungidos] quando disse: "Esta geração não passará até que todas estas coisas ocorram". Isso, então, seria um forte indício de que alguns membros da nova criação estarão na terra no momento da Armagedom." - A Sentinela 15 de fevereiro 1927 pág. 62 (em inglês) 1951: "O atual significado dessas palavras é, sem sombra de dúvida, uma "geração" no sentido comum, como em Marcos 8:12 e Atos 13:36, ou para aqueles que estavam vivendo em um dado período... portanto, que a partir de 1914 uma geração não passará até que tudo seja cumprido, e em meio a um grande tempo de tribulação." - A Sentinela 1 de julho de 1951, pág. 404 (em inglês) 1952: "Algumas pessoas que viviam em 1914 D.C. quando a série de eventos preditos começaram irão também estar vivos quando esta série tiver o seu fim no Armagedom. Todos os eventos virão no decurso de uma geração"- A Sentinela 1 de setembro de 1952, pág. 543 (em inglês) 1958: “Muitas serão as pessoas vivas desde 1914 que viverão quando chegar o tempo para o começo do Armagedom.” - Do Paraíso Perdido ao Paraíso Recuperado – 1959 (1958, em inglês), pág. 205. 1962: "Estava Jesus usando a palavra "geração" de uma forma simbólica? Não diríamos que a palavra "geração" aqui tem um significado simbólico...a "geração" de Mateus 24:34 inclui pessoas vivas no momento em que a guerra nos céus começou em 1914...membros dessa geração irão ver o fim deste mundo" Despertai! 22 de setembro de 1962, pág 27 (em inglês) 1968: “Jesus falavaobviamente sobre os que eram suficientemente idosos para testemunhar com entendimento o que ocorreu quando começaram os 'últimos dias'.” - Despertai! 22 de abril de 1969, página 13 (08/10/1968, págs. 13, 14 em inglês)

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1971: "NOSSA geração presenciará o fim da atual ordem assolada de pressões. ...há até boa razão para se esperar que uma nova ordem de Deus possa começar na presente década... A geração que vivia em 1914, quando estas coisas principiaram a ocorrer já envelheceu agora"- Despertai! 22 abril de 1972 pág. 26 (08/08/71 pág. 26 em inglês) 1978: Assim, tratando-se da aplicação ao nosso tempo, a “geração”,logicamente, não se aplicaria aos bebês nascidos durante a Primeira Guerra Mundial."- A Sentinela 15 de janeiro de 1979, pág. 32 (01/10/78, pág. 31 em inglês) 1980: É a geração de pessoas que viram os eventos catastróficos que irromperam em conexão com a Primeira Guerra Mundial, a partir de 1914.- A Sentinela 15 abril de 1981, pág. 31 (15/10/80 pág. 31 em inglês) 1984: "Se Jesus usou a palavra “geração” nesse sentido e se a aplicarmos a 1914, então os bebês daquela geração têm agora 70 anos ou mais."- A Sentinela 15 de novembro de 1984, pág. 5 1988: Do mesmo modo hoje, a maior parte da geração de 1914 já desapareceu. Todavia, há ainda milhões de pessoas na terra que nasceram naquele ano ou antes disso. - Despertai! 8 de abril de 1988, pág. 14 1991: Lembre-se do que Jesus disse sobre os que viveriam durante os últimos dias,

a partir de 1914: "...esta geração de modo algum passará..." (Mat 24:34) - A Sentinela 15 de abril de 1991, pág. 7 1995: Portanto, hoje, no cumprimento final da profecia de Jesus, “esta geração” parece referir-se aos povos da terra que vêem o sinal da presença de Cristo, mas que não se corrigem.- A Sentinela 1 de novembro de 1995, pág. 19 2008: "os fiéis irmãos ungidos de Cristo, a atual classe de João, reconhecem esse sinal como se fosse um relâmpago e entendem seu real significado. Como grupo, esses ungidos compõem a atual “geração” de contemporâneos que não passará até que todas estas coisas ocorram."- A Sentinela 15 de fevereiro de 2008, pág. 24 2010: "Como, então, devemos entender as palavras de Jesus a respeito de “esta geração”? Ele evidentemente queria dizer que a vida dos ungidos que estavam presentes quando o sinal começou a tornar-se evidente, em 1914, coincidiria em parte com a vida de outros ungidos que veriam o início da grande tribulação." - A Sentinela 15 de abril de 2010, pág. 10

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To Whom It May Concern, Recently the NGO Section has been receiving numerous inquiries regarding the association of the Watchtower Bible and Tract Society of New York with the Department of Public Information (DPI). This organization applied for association with DPI in 1991 and was granted association in 1992. By accepting association with DPI, the organization agreed to meet criteria for association, including support and respect of the principles of the Charter of the United Nations and commitment and means to conduct effective information programmes with its constituents and to a broader audience about UN activities. In October 2001, the Main Representative of the Watchtower Bible and Tract Society of New York to the United Nations, Giro Aulicino, requested termination of its association with DPI. Following this request, the DPI made a decision to disassociate the Watchtower Bible and Tract Society of New York as of 9 October 2001. Please be informed that it is the policy of the Department of Public Information of the United Nations to keep correspondence between the United Nations and NGOs associated with DPI confidential. However, please see below the paragraph included in all letters sent to NGOs approved for association in 1992: “The principal purpose of association of non-governmental organizations with the United Nations Department of Public Information is the redissemination of information in order to increase public understanding of the principles, activities and achievements of the United Nations and its Agencies. Consequently, it is important that you should keep us informed about your organization's information programme as it relates to the United Nations, including sending us issues of your relevant publications. We are enclosing a brochure on the “The United Nations and Non-Governmental Organizations”, which will give you some information regarding the NGO relationship.” In addition, the criteria for NGOs to become associated with DPI include the following: • that the NGO share the principles of the UN Charter; • operate solely on a not-for-profit basis; • have a demonstrated interest in United Nations issues and a proven ability to reach large or specialized audiences, such as educators, media representatives, policy makers and the business community; • have the commitment and means to conduct effective information programmes about UN activities by publishing newsletters, bulletins and pamphlets, organizing conferences, seminars and round tables; and enlisting the cooperation of the media.

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We expect that you will share this information with your concerned colleagues, as we are unable to address the scores of duplicate requests regarding the Watchtower Bible and Tract Society that are being directed to our offices. Thank you for your interest in the work of the United Nations. Sincerely, Paul Hoeffel, Chief NGO Section Department of Public Information

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