Tradi o Bon-po Parte 1

June 21, 2018 | Author: Airton Maestrello | Category: Masonic Lodge, Occult, Devil, Saint, Science
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Religião...

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Todos os direitos reservados a E.I.E. CAMINHOS DA TRADIÇÃO •

 Adaptações e comentários por  Frater Magister X.º  Frater Bapphomet VIIIº  Frater ArcanumVIIIº  Out Head of Order Society O.T.O.Brasil

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Caixa Postal 51 TAMBAÚ – SP CEP – 13.710-970  Proibida a reprodução total ou parcial desta obra, de qualquer forma ou  por qualquer meio eletrônico, mecânico, inclusive por meio de processos  xerográficos, incluindo ainda o uso da Internet sem a permissão expressa da E.I.E. CAMINHOS DA TRADIÇÃO, na pessoa de seu editor. (Lei n.º 9.610, de 19.2.98).

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Escrito no Templo da Ordem em  Anno IV: XV Sol in Pisces, Luna in Aries Dies Martis 20/03/2007 e.v.

Introdução A Magia Bon-Po é um Sistema de Magia originário do Tibet. É uma Tradição religiosa e filosófica, ou seja, muito mais do que uma simples seita. Pouquíssimas Ordens e místicos beberam nas fontes de Conhecimento Tradição Bon-Po. Mas o objetivo desse estudo é demonstrar que a Doutrina Bön não é mais sinistra, nem mais perigosa do que qualquer outro sistema mágicko ou filosófico existente no planeta. Como qualquer sistema, ela tem dois lados numa mesma moeda. Durante a era Nazista na Alemanha, acredita-se terem sido vistos membros da seita Bon-Po freqüentando a cúpula do poder. Outro nome pelo qual a seita Bon-Pa ou Bon-Po é conhecida como "A Fraternidade Negra ou Secreta” numa tentativa de fazer uma associação a Ordem Illuminati entre outras.

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Sabemos que muitos chefes de Estado, artistas famosos e pessoas de destaque na sociedade de um modo em geral, são vinculados à Sociedades Verdadeiramente Secretas tais como: a

Skull and Bones

(Caveira e Ossos); a FOGC - Freemasonic Order of Golden Centurion ( Ordem Maçônica Maçônica da Centúria Centúria Dourada); Dourada); Ordo Illuminatti (antiga Ordem Ordem dos Iluminados da Baviera), Nova Ordem Ordem do Século ou ainda Nova Era - e que toda essas Ordens, seus membros são obrigados a juramentos, através de "pactos" feitos com as Forças Telúricas. Vale notar que, na Alemanha Nazista, as Ordens Herméticas foram perseguidas e proscritas, ficando somente aquelas consideradas “secretas” tais como a Ordem de Vril ou ainda a Ordem de Thule, ou mesmo as famigeradas FOGC, que falaremos mais adiante. adiante. Na China, após a tomada do poder por Mao Tse Tung, todas as seitas foram perseguidas e proscritas - exceto a Tradição Bon-Po. Mas é fato, como dissemos, que inúmeros místicos e ocultistas modernos e contemporâneos estudaram sua filosofia e sistema, dentre eles, Mme. Blavatsky, Eckart, Crowley, Franz Bardon, Alan Bennet (mestre de Crowley que depois se converteu ao budismo), onde muita coisa lhes foi revelada sobre suas práticas.

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A tradição espiritual mais antiga do Tibet é a Bön. De acordo com as explicações Bon-Po, dezoito mestres iluminados aparecerão neste aeon e Tönpa Shenrab, o fundador da religião Bön, é o mestre iluminado desta era. Ele disse que nasceu na terra mística de Olmo Lung Ring, cuja localidade permanece ainda um mistério. A terra é tradicionalmente descrita como dominada pelo Monte Yung-drung Gu-tzeg (Edifício das Nove Suásticas), que muitos identificam como o Monte Kailash a oeste do Tibet. Devido à sacralidade de Olmo Lung Ring e da montanha, tanto a suástica de sentido anti-horário quanto o número nove são de grande significado na religião Bön. Acredita-se que Tönpa Shenrab primeiro estudou a doutrina Bön no céu, no final do qual ele rogou aos pés do deus da compaixão, Shenla Okar, para guiar o povo deste mundo. Conseqüentemente, com a idade de trinta e um anos ele renunciou ao mundo e tomou uma vida de austeridades, disseminando a doutrina para ajudar os seres imersos em um oceano de miséria e sofrimento. Neste esforço de espalhar a doutrina, ele chegou ao Tibet, na região do Monte Kailash, que é conhecido como a terra de Zhang Zhung, historicamente o assento principal de cultura e doutrina Bön. Registros sobre a vida de Tönpa Shenrab podem ser encontrados nas três principais fontes: mDo-'dus, gZer-mig and gZi-brjid . As duas primeiras são tidas como textos Tesouros (gTer-ma) descobertos, de acordo com a história Bön, no século X ou XI. O terceiro pertence à linhagem do sussurro ( sNyan-brgyud ) transmitida entre os adeptos de boca ao ouvido. As doutrinas ensinadas por Tonpa Shenrab são geralmente classificadas em dois tipos: Primeiro, os Quatros Portais e um Cofre ( sGo-bzhi mDzod-lizga), onde as quatro primeiras são:

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-

A doutrina Água Branca(Chabdkar ) que lida com assuntos

esotéricos; -

A doutrina Água Negra (Chab-nag ) que lida com narrativas,

magia, ritos funerais e ritos de resgate; -

A doutrina da Terra de Phan ('Phanyul ) que contém as regras

monásticas e exposições filosóficas; -

A

doutrina

do

Mentor

Divino

(dPon-gasa)

contendo

exclusivamente os ensinamentos da grande perfeição; e finalmente, -

O Cofre (mTho-thog ) que engloba os aspectos essenciais de

todos os quatro portais. A segunda classificação, os Nove Caminhos do Bön (Bön theg-pa rim-dgu ) são:

- O Caminho da Predição (Phyva-gshen Theg-pa), que descreve sortilégio, astrologia, ritual e prognóstico; - O Caminho do Mundo Visual (sNang-shen theg-pa), que explica o universo psicofísico; - O Caminho da Ilusão ('Phrul-gshen theg-pa), que dá detalhes de ritos para se dispersar forças adversas; - O Caminho da Existência (Srid-gshen theg-pa), que explica os rituais de funeral e morte; - O Caminho de um Seguidor de um Programa (dGe-bsnyen theg-   pa), que contém os dez princípios para uma atividade beneficiente;

- O Caminho de um Monge (Drnag-srnng theg-pa), no qual as regras e regulamentações monásticas são colocadas;

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- O Caminho do Som Primordial ( Adkar theg-pa), que explica a integração de um praticante exaltado numa mandala de iluminação superior; - O Caminho do Shen Primordial (Ye-gshen theg-pa), que explica as guias mestras para a procura de um verdadeiro mestre tântrico, e, finalmente, - O Caminho de Suprema Doutrina (Bla-med theg-pa), que discute somente a doutrina da grande perfeição. Os Nove Caminhos foram depois sintetizados em três; os primeiros quatro constituíram os Caminhos Causais (rGyui-theg-pa), os quatro subseqüentes formaram os Caminhos Resultantes ('Brns-bu'i-theg-pa) e o nono se tornou, o Caminho Insuperável ou o Caminho da Grande Completude (Khyad-par chen-po'i-theg-pa or rDzogs-chen). Tudo isto é encontrado no cânone Bön compilados em mais de 200 volumes classificados em quatro sessões: os sutras (mDa), a perfeição dos ensinamentos de sabedoria ('Bum), os tantras (rGyud ) e o conhecimento (mDzod ). Além deles, o cânone lida com outros assuntos tais como os rituais, artes e trabalhos manuais, lógica, medicina, poesia e narrativas. É interessante notar que na sessão do Conhecimento ( mDzod ) concernente à cosmologia e cosmogonia é bem particular do Bön, apesar de haver especulações acadêmicas de que exista uma forte afinidade com certas doutrinas Nyingma. A história nos mostra que com o aumento do patrocínio real ao Budismo, a doutrina Bön foi desencorajada, e foi também perseguida e banida de muitos locais. Praticamente nada se sabe a respeito do Bön no período que vai do século VIII ao século XI. Entretanto, com a implacável devoção e esforço de verdadeiros seguidores como Drenpa Namkha (século IX), Shenchen Kunga (século X) e muitos outros, a doutrina Bön, a religião indígena de Tibet, foi resgatada do obscurantismo e reestabelecida ao lado do Budismo no Tibet.

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Desde o século XI, com o estabelecimento de mosteiros como Yeru Ensakha, Kyikhar Rishing, Zangri e os últimos Menri eYungdrung Ling no Tibet Central; e Nangleg Gon, Khyunglung Ngulkar e outros, mais de trezentos mosteiros Bön foram estabelecidos no Tibet antes da ocupação Chinesa. Destes, os mosteiros de Menri eYungdrung foram as principais universidades para o estudo e prática da doutrina Bön. Uma nova avaliação do Bön ocorreu no século XIX sob a assistência de Sharza Tashi Gyeltsen, cuja obra escrita compreendia em dezoito volumes que deram à tradição Bön um novo impulso. Seu seguidor Kagya Khyungtrul Jigmey Namkha treinou muitos discípulos não só na religião Bön, mas em todas as ciências Tibetanas. Entretanto, com a invasão Chinesa no Tibet, como as outras tradições espirituais, o Bönismo também sofreu irreparáveis perdas. Pelos esforços do Abade Lungtok Tenpai Gyeltsen Rinpoche, do Venerável Sangyey Tenzin e outros poucos monges mais velhos, uma pequena parte da comunidade Bön se restabeleceu com sucesso no mosteiro de Tashi Menri Ling em Dolanji nas colinas perto de Solan em Himachal Pradesh, Índia, com o aval de Sua Santidade o Dalai Lama e do Conselho para Assuntos Religiosos e Culturais. Por algum tempo este mosteiro foi o único centro importante onde os monges mais jovens podiam receber um treinamento completo dentro da filosofia Bön, mais disciplinas monásticas, e rituais e danças religiosas. Completados ainda com estudo de gramática, medicina, astrologia e poesia, os monges são ainda orientados com uma educação moderna. Ao se concluir com sucesso o curso completo de estudos, que é acessado tanto por meios de exames escritos quanto dialéticos, um monge conquista o Grau Geshey (Doutorado em Bönismo). Este passa então a servir sua comunidade através de ensinamentos, de escritos e assim por diante. Além do Mingye Yungdrungling existe também o Tashi Thaten Ling e outros quatorze mosteiros Bön na Índia e Nepal. Esforços têm sido feito 8

para se estabelecer um Instituto Internacional do Bön no Nepal para fortalecer as atividades religiosas Bön e para apresentar sua doutrina para o resto do mundo.

Atualmente o Bonismo, apesar de ter perdido sua posição proeminente, possui muitos seguidores em muitas tribos Tibetanas e em algumas áreas isoladas. Os rituais e as crenças do Bonismo formam uma parte integral da cultura Tibetana. A tradição Bön tem recebido apoio de Sua Santidade o Dalai Lama, que recentemente fez uma visita de dois dias à Dolanji, onde ficou impressionado pelo grau de conquistas educacionais. Além disto, ele fez uma declaração em 1988 na Conferência Tulku em Sarnath onde enfatizava a importância de se preservar a tradição Bön, como representante das fontes indígenas da cultura Tibetana, e reconhecendo o papel importante que teve na construção da identidade XEGAR.

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O mais antigo Mosteiro Sakya é principal dos mosteiros Bon-Po e o mais importante do Tibet. O enorme mosteiro representa o antigo poder da Seita Sakyapa fundada no século XI. Ele contém a mais valiosa coleção de itens religiosos que ainda permanecem no Tibet.

Deus Darmapala

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Uma Ordem ou Loja de caráter puramente mágicka e mística foi fundada em 1840 em Munich por alguns ricos industriais alemães e cidadãos bem situados financeiramente. Segundo informações esta Loja teria existido somente até 1933, mas outras fontes nos afirmam que ela ainda exista em caráter secreto. Assim consideramos ainda a sua existência e as informações que passaremos aqui, será até onde pudemos chegar através de nossos contatos. Mas, para estabelecermos um padrão lingüístico, consideremos as informações que este grupo ainda exista. Esta Loja Secreta era formada somente por 99 pessoas que poderia ser de ambos os sexos. Ao todo na Ordem somam 99 Lojas espalhadas pelo mundo. Esta Sociedade Secreta não tem realmente ligação com a Maçonaria regular. Não existem graus, sendo que o membro possui somente níveis reais de realização. O avanço do aprendiz ao peregrino e

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do peregrino ao mestre é somente de caráter simbólico. Todos os segredos são passados durante a Iniciação. As outras “classificações” não representam nenhum nível. Uma pedra negra é fornecida com um número e um nome mágicko de identificação. A intenção da Ordem é trabalhar com o domínio sobre forças elementais e demoníacas (vide: Magia de Abramelin), onde os membros são orientados a efetivar uma aliança com forças espirituais reinantes, para obter a influência, o poder e fortuna pessoal. Um demônio de elevada grandeza (geralmente Bael, Astaroth, Belial ou Asmodeus) era convidado a ocupar o centésimo lugar na Loja e sua obrigação para com a Ordem era a proteção mágicka de seus membros, a formação de um Egrégora para a proteção de seus membros, além da concessão de favores materiais ou espirituais e de um servo espiritual, um demônio de menor grandeza designado para cada servir a cada membro. Conta à lenda, que a cada cinco anos (caso nenhum membro da Loja houvesse morrido) era feita uma votação para eleger o “candidato da morte” que ocorria na noite (23 junho) antes do dia de São João. Este candidato da morte serviria como o “sacrifício” para os serviços dos poderes transcendentais em que a Loja acreditou. O candidato era sorteado ao retirar uma esfera negra, numa caixa com 98 esferas brancas e 1 negra. Aquele que extraísse a pedra ou esfera negra, de acordo com a Constituição da Ordem, passaria ser de propriedade do suposto Demônio da Loja, isto é, teria que consumir um veneno mortal durante a reunião de Loja. Suas posses passariam a ser propriedade da Loja que se encarregaria de cuidar e zelar pela família do falecido membro. Outros estudos sugerem que a Ordem executaria magickamente um desafeto do membro que fosse sorteado com a esfera negra. Todas essas informações em verdade são duvidosas, e desprovidas de um senso de maior lógica. Para efeitos, a Ordem cuida zela, de fato, da família de qualquer membro que venha a faltar. O Superior e fundador desta organização, cujo nome sempre foi mantido em sigilo, só sendo conhecido pelos membros mais elevados e

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antigos, balizou uma grande parte dos estudos mágickos da Ordem junto aos Monges Bon-Po, aos Sufis, aos Hindus e a Qabalah Hebraica.

Sua

autoridade superava uma votação contrária de até três vezes se o “fato” fosse contrário a sua vontade. Um percentual da fortuna e do capital do membro vinha para a Tesouraria da Loja. Quando um dos noventa e nove membros morria, deveria ser imediatamente substituído por um neófito que passava por três classificações: aspirante, neófito e aprendiz-demago, até que pudesse assumir de fato, a cadeira na Loja. Para conseguir ocupar a cadeira, entretanto, o neófito deveria assimilar determinados ensinamentos mágickos e domina-los na teoria e na prática. Cada novo membro era obrigado a assumir juramentos assinados com sangue ritualisticamente. Seu juramento de fiel compromisso com a Ordem e com seus Irmãos era sagrado e caso ousasse a ir contra os preceitos da Ordem ou ainda traísse qualquer irmão, este seria julgado e eventualmente expulso ou até executado magickamente. Os rituais, os mais importantes eram feitos através de trabalhos de magia cerimonial. Instrumentos radiônicos e eletromagnéticos eram desenvolvidos e usados para combates telepáticos. Um desses instrumentos era conhecido como “Tepaphone”, capaz de destruir uma pessoa à distância causando a extração do Prana, que levaria a pessoa a morrer como se o seu corpo ficasse desidratado, ou ainda o “Luxferion” capaz de elevar a temperatura corporal da vítima à distancia, causando morte por combustão espontânea.

Conclusão: As Lojas da FOGC ainda existem nos dias de hoje. Mas por uma razão especial eu assumi o compromisso de não revelar além dos fatos enumerados abaixo. Isto se dá simplesmente porque qualquer sociedade verdadeiramente secreta tem suas razões, de não quererem ser notados, por motivos que são mais do que óbvios. Apesar de tudo, podemos dizer que os 99 membros de qualquer Loja dessa Organização deveriam ser políticos, e gente de finanças elevadas. Muitos de nós às vezes supomos de como podem surgir do nada, políticos e “dinheiro

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farto”. Nem sempre esse dinheiro vem de meros apoios de empresários, ou de vias tortas. Muitas vezes este recurso é advindo de alguma Organização Mágicka. Uma sociedade como essa, não cabe na mente de uma sociedade moderna e informatizada, formada por gente de cérebro mecanizado, ou pela mídia ou pela grande massa de informações. “Tais pessoas jamais pertenceriam a uma Loja ou Organização séria”. Por quê? Porque a grande gama de Ordens e Organizações modernas se afastou daquilo que consideramos como termos, propósitos e finalidades mágickas e são incapazes de acenderem os reatores místicos. Assim a força que motiva a existência de uma sociedade verdadeiramente secreta, é atingir a maestria da vida se tornando um paradoxo vivo. Eu não penso que pertencer a uma dessas organizações seja um esnobismo. Os esnobes não entram em um território tão perigoso conscientemente. O que quer seja a motivação para existência de uma Sociedade como esta - não é mais tão importante na presente era moderna cuja injustiça social seja uma realidade, além da criminalidade, guerras e destruição em massa são manchetes corriqueiras. Tais atrocidades da vida moderna sequer se nivelam a simples fórmulas de Magia Branca ou Negra. Entretanto, as Sociedades Secretas nos dias de hoje tem sua função, seus objetivos, alguns compreensíveis outros não, aos olhos do vulgo. O que é permitido dizer sobre esta Ordem eu farei agora. As raízes das “FOGC” não vão para muito longe no passado em termos de tradição ritualística ou histórica. Na O.T.O. (Ordo Templi Orientis), na Golden Dawn, na AMORC, e tantas outras ordens modernas, vemos alguns leves traços característicos das FOGC ou outras sociedades antigas, mas que diferem, entretanto, pois além de não poderem se considerar como Ordens Secretas, nada exigem como pré-requisito para selecionar membros e ministrar seus ensinamentos. A quantidade tomou conta da qualidade. O número da Sociedade FOGC era 3 x 33, conseqüentemente 99, isto é, eram 99 classes, e cada classe era assumida por um único 14

membro. O 100º lugar pertencia assim ao que é chamado de Egrégora de Proteção da Loja, ou o demônio de elevada estirpe, com que cada membro deve estar mentalmente ligado. O neófito assina o juramento sob sua vontade, e doará parte de suas conquistas à Loja. Não havia nenhuma classificação especial ou títulos, cada membro tinha um número. O Mestre de Loja tinha o número um. Do número 1 aos 33 representa os graus de aprendiz, dos 34 aos 66 os graus de peregrino ou companheiro-ofício e dos 67 aos 99 os graus elevados e mestres. O ornamento para os graus do aprendiz era: Uma túnica negra com capuz e uma cinta azul, e uma corrente de ouro com um pentagrama duplo, verso e inverso sobrepostos. Do grau 34 aos 66 uma túnica negra com uma cinta vermelha, o pentagrama acima descrito e um anel de ouro com inscrições cabalísticas tendo nele incrustado uma turmalina negra. As classes de 67 à 99, túnicas pretas e douradas, cinta vermelha, com punhal ou espada na cinta, um anel dourado com um pentagrama, sinais cabalísticos e um rubi incrustado. O Mestre tem uma túnica dourada, com manto negro e sinais tais como um pentagrama e um hexagrama sobreposto, mas os demais ornamentos. No aperto de mão se toca o pulso, com o dedo indicador. Todos os rituais têm como seu objetivo alcançar níveis elevados de consciência espirituais, principalmente na iniciação, mas era sempre a intenção

dos

membros

obterem

através

destes

ritos,

obterem

magickamente a influência, o poder e o máximo de riqueza acumulada possível. A observância fiel às regras era absolutamente exigida. A estrutura hierárquica requeria o reconhecimento da palavra do mestre. Exigia-se também que o neófito fosse preferencialmente influente na vida pública, que fosse independente economicamente e que tivesse pelo

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menos alguns amigos próximos influentes. Como se pode ver que não era fácil a entrada neste círculo. Ao neófito era fornecido, após sua admissão real, um demônio chamado de familiar. Como o objetivo era o enriquecimento e uma ajuda real era destinada ao neófito, em termos de favorecimentos em negócios e abertura de caminhos. A primeira coisa que o neófito devia aprender era os rituais de adoração ritualística aos deuses e suas prática evocatórias.

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E apenas recentemente, nos tempos vitorianos, que a ciência arqueológica estabeleceu o notável fato de que as origens mágickas da Alta Ásia influenciaram comunidades do outro lado do globo. Existe também uma fascinante história da migração ao Ocidente dos préhistóricos acádios, povo turaniano que trouxe os meios asiáticos ao Mediterrâneo, encontrando as civilizações assíria e babilônia. Muitos dos assustadores ritos taumatúrgicos dos magos tibetanos durante o desenvolvimento da era pré-semíta foram preservados nos tabletes Maqlu ("Ardentes") e na vasta biblioteca do rei Assurbanípal. O tipo de "curandeirismo" (xamanismo) praticado pelas tribos tibetanas aliadas, tem suas raízes, na China, Mongólia e no Japão. Esses rituais incluem fenômenos psíquicos familiares a médiuns ocidentais e são repetidos novamente sob inspiração tibetano-mongólica entre os finlandeses e lapões e mesmo pelos índios americanos das Américas do Norte e do Sul. Naturalmente não existem provas históricas da migração ao Ocidente desses povos. Penosas deduções foram feitas, dentro dos limites de uma série de ciências, para estabelecer que haja muitas probabilidades de que tais migrações realmente tenham acontecido. No entanto, não eram apenas os povos de origem tibetana que praticavam as artes mágicas de seus antepassados. Conforme nossos estudos e deduções os escandinavos pré-históricos, por exemplo, herdaram desses povos uma considerável tradição. Outro fator importante na descoberta da comunicação pré-histórica entre povos estava mais próxima do que em geral se supõe. É comum imaginar-se que essas sociedades antigas eram mais ou menos independentes e se desenvolviam isoladas umas das outras: algumas em remotas montanhas, desertos e planícies, outras em cidades e vilas. Não é normalmente conhecido o fato de que além do comércio, as relações tanto intelectuais como sociais entre povos amplamente separados por 17

cultura, língua e distância eram bastante consideráveis. A diferença entre esse contato, e o relacionamento entre povos familiares em nossos dias era simplesmente que os fatores geográficos tornavam a comunicação mais lenta. As mesmas considerações são talvez responsáveis pela maior simpatia entre os povos, pois parece que havia menos hostilidade "inevitável" entre os diferentes grupos. Durante séculos, talvez milhares de anos, a magia fluiu vagarosamente, mas com força, através da raça humana. Em sua forma ritualista, o fluxo era distintamente do Oriente para o Ocidente. Em data alegadamente situada nos tempos do Velho Testamento, depois das supostas migrações tibetanas, conta a lenda celta que as migrações arianas da Ásia Central passaram pelo atual Oriente Médio e Egito, absorvendo certamente a mitologia e a mágicka em seu curso. Os antigos gregos e romanos desempenharam também seu papel na adoção da tradição mágicka semita e egípcia, transmitindo-a a Europa. A magia latina e grega, mais recente, era uma mistura de fórmulas e encantamentos que podem quase sempre ser ligados a essas raízes. A inter-relação da magia do Egito e a dos países circundantes são menos claras. Pensa-se, entretanto (conforme se estudará mais adiante neste material) que a África e mais tarde a Arábia do sul influenciaram os magistas do vale do Nilo. Com a ascensão de sistemas de pensamento comparativamente recentes, tais como o budismo, cristianismo e islamismo, as crenças mágicko-religiosas dos cultos mais antigos sofreram uma rebaixa agora familiar: suas divindades tornaram-se espíritos inferiores e mesmo seu sacerdotado assumiu caráter mais marcadamente mágicko e secreto: Religião pode suceder a religião, mas a mudança apenas multiplica os métodos pelos quais o homem procura suplementar sua impotência de conseguir controle sobre as forças sobrenaturais e proteger sua fraqueza, levantando o véu do futuro. Os ritos secretos da crença suplantada se 18

tornaram a magia proibida de sua sucessora. Seus deuses se tornaram maus espíritos, corno os Devas ou divindades de Beda se tornaram os Devas ou demônios de Avesta, como o culto ao touro dos antigos hebreus tornou-se idolatria debaixo dos profetas, como os deuses da Grécia e de Roma eram diabos malignos para os padres cristãos. Em alguns casos, processos superados permaneciam apenas como ritos mágickos, tolerados e mesmo adaptados aos novos cultos. Seria isso devido ao fato de, conforme alguns acreditam, existirem segredos conhecidos pelos sistemas mais antigos que realmente comprovavam algumas provas estranhas da força sobrenatural, que podia ser domada pela humanidade para seu próprio uso? Ou, como supõe a posição contrária, 'seria isso porque a magia se tornara tão supersticiosamente enraizada na mente do homem que a única maneira de controlá-la seria desviá-la para canais "legalizados"? As religiões organizadas tendiam a absorver encantos e feitiços, cuja crença era muito profundamente enraizada. Entre grupos africanos ou descendentes, verificamos que o cristianismo foi adotado lado a lado com a magia tradicional: só em raros casos suplantou os demônios e forças do sobrenatural. Quase sempre, também, milagres atribuídos a feiticeiras nativas mais antigas simplesmente foram atualizados e acrescentados às novas crenças. Evidências dessa psicologia são abundantes e têm sido exaustivamente estudadas em outras partes. Queiramos ou não a magia e a religião em todo o mundo estão ligadas como poucos outros fenômenos humanos. Se você acredita, por exemplo, que curas podem ser efetuadas pelo toque, então você acredita em magia, em suas definições mais amplas, e em algumas formas de religião. Por outro lado, há um notável desenvolvimento do pensamento ocultista, que pode apenas ser discernido atualmente em suas origens. Essa é a terceira possibilidade. A magia é um campo em que o estudo intenso e criativo pode demonstrar que muitos dos chamados poderes sobrenaturais são de fato reflexos de forças até agora pouco

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compreendidas, que poderão muito possivelmente ser controladas para vantagem individual e coletiva. Se existiam de fato certas verdades conhecidas daqueles que são nebulosamente chamadas de "antigos", só existe uma maneira para redescobri-las: o método científico. E o método científico requer a seleção de todo fato, toda sugestão, toda pista, ao longo da cadeia de transmissão. No contexto mágicko isso significa que devemos ter à nossa disposição o material real do qual brota o ocultismo ocidental. Assim, um rito que é encontrado, digamos, na versão latina da Chave de Salomão pode vir a ser meramente a transcrição de algum encanto destinado a combater, talvez, uma enchente na Assíria. Maiores investigações poderão demonstrar que o encantamento se baseia em algo inteiramente irrelevante, tal como invocar o nome de um suposto gênio cujas iniciais, por alguma feliz coincidência, correspondem à palavra que quer dizer "seca". E assim se começa de novo a busca. Portanto, seja você um estudante em geral, antropólogo ou apenas interessado no oculto, aqui estão alguns dos materiais. Eles em geral não estão disponíveis em nenhum outro lugar. Quanto mais fundo se vai ao estudo do sobrenatural e seus devotos, mais claramente se percebe que diferentes tendências de pensamento fizeram as mentes humanas trabalharem de maneira semelhante - entre comunidades tão diversas, que poderiam mesmo pertencer a mundos diferentes. Segundo o prisma ocultista essa estranha identidade dos rituais e crenças mágickas significa que existe apenas uma única ciência arcana, revelada aos seus adeptos e doada a todos os povos. Os que advogam a teoria do fluxo cultural dirão que o ocultismo é uma daquelas coisas cuja difusão acompanhou as naturais relações entre povos. Qualquer que seja a verdade, o estudo dos milagreiros em muitos países constitui uma das mais fascinantes ocupações. No Tibet, viveu um homem santo, que se acreditava ter poderes místicos. Ninguém passava 20

perto de sua cabana temendo que ele lançasse pragas sobre os invasores - acreditava-se em geral que ele era parente do próprio satã. Algumas vezes, salteadores de fronteira, cujas depredações os levavam até próximo de sua casa, chegaram a vê-lo. Para esses, ele se tornou alguém cujos bons conselhos procuravam, para garantir seu sucesso no roubo. A força de seu nome se tornou tamanha – que ele era chamado diversamente de Espírito das Montanhas ou Espírito do Ar -, sendo que, quando ele morreu, sua cova tornou-se um altar. O ninho do eremita me foi mostrado quando passei por ali. Em comum com suas contrapartidas ocidentais, ele colecionara estoques de serpentes secas, e uma pilha de figuras de cera espetadas de alfinetes enchia um canto da caverna. Ainda hoje devotos esperançosos oram ou expressam um desejo sobre um trapo que é então amarrado a uma árvore solitária do lado de fora da casa do santo. Enterrado de rosto para baixo a fim de que qualquer mal que houvesse nele passasse diretamente para a terra, seu corpo jaz, segundo o costume tibetano, sepultado no lugar onde foi encontrado. Mais ou menos ao mesmo tempo, na fronteira tibetana, vivia uma notável bruxa, que poderia ter saído diretamente de Macbeth, florescia como comerciante de encantos e mágicka em geral. Ela se tomava de violentas e incontáveis antipatias por pessoas. Dizia se que ela sabia tudo sobre a vida privada das pessoas - o que pode ou não ter determinado suas predileções. Seu maior prazer, no entanto, era punir aqueles que haviam causado infelicidade a outros e por essa razão ela era venerada por muitos, como santa. Diziam dizia ter ela mais de 150 anos. O método de convocar a bruxa era o seguinte: pessoas em dificuldades, maridos dominados, esposas cujos maridos eram cruéis, os doentes e necessitados iam ao teto de sua própria casa e chamavam o nome dela três vezes. As corujas locais, funcionando como seus espíritos familiares, levavam-lhe prontamente a mensagem. Na manhã seguinte o ofensor seria tomado de fortes dores de cabeça. Ao mesmo tempo, um pouco de boa sorte viria para aquele que a invocou. Aqui um relato:

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“Quando cheguei à sua cabana de gravetos, armado do bolo de frutas que parecia ser sua paixão, ela pareceu pouco diferente de qualquer velha normal daquela parte do mundo. Falou a maior parte do tempo, e com bastante liberdade, do valioso trabalho que estava sempre fazendo ao prevenir as jovens contra o mau caráter dos homens. Apesar de parecer muito velha, seus olhos eram estranhamente claros. Em vez dos ombros caídos e das faces cavadas da bruxa clássica, ela era bastante mais alta que a média e movia-se com surpreendente agilidade. Algo de seu monólogo franco, entretanto, parecia confuso e quando lhe perguntavam de que maneira se conseguia efeitos sobrenaturais ela me olhou como uma criança perversa e disse que eu nunca entenderia. Muitas vezes é negado que o sucesso mágicko pudesse ser atribuído a auto-sugestão por parte dos clientes, mas admitiu que isso era fenômeno bastante conhecido. Dizia também ter recebido todos os seus ensinamentos de sua mãe e ter repudiado livros do oculto e toda religião formal como engodo fraudulento. Não se podia dizer que sua personalidade fosse magnética ou atraente ou que tivesse qualquer das estranhas características sentidas pelos meros mortais na presença do poder oculto. A única coisa que impressionava as pessoas era o fato dela ter descrito coisas que iriam acontecer com minúcias e essas coisas realmente terem acontecido depois. Mais de uma autoridade aceita que pode muito bem haver uma continuidade de tradição oculta transmitida entre os povos tibetanos. As práticas xamanísticas dos chineses, japoneses e outros magos do Extremo Oriente, têm claros paralelos com os ritos dos esquimós e de algumas tribos mongólicas de ameríndios: notável exemplo disso pode ser visto, no estado de transe mediúnico que leva à profecia e à clarividência, comum a todos. Na Índia, México e Egito antigo todos tinham seu culto da serpente. A serpente é, de fato, um dos mais importantes símbolos partilhados pela alta tradição esotérica do Velho, e do Novo, Mundo - o que tem sido usado como um argumento para sustentar a teoria da Atlântida.

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Quetzalcóatl ou Kukulkan de Yaxchilan

O deus-serpente mexicano Quetzalcóatl exigia não somente o sacrifício da vida humana, mas também que se bebesse seu sangue. Quando uma serpente jovem, selvagem, era capturada, não se tornava divindade até que seis sacrifícios humanos tivessem sido celebrados em seu nome e presença. O sangue do sacrifício tinha de ser bebido também pela serpente, "potencializando-o" assim como um poder mágico. Na Índia, atualmente, o culto à serpente é generalizado - os encantadores de serpentes representam apenas uma faceta popularizada desse importante culto. As serpentes trazem boa sorte, guardam as almas e os tesouros escondidos, formam a via de escape para os desejos secretos. Tanto no Uruguai - muito ao sul do México - como em Konia que está bem longe da Índia - encontramos traços distintos de cultos à serpente. Como os feiticeiros mexicanos, os xamãs-serpente do Tibet têm de se submeter a um rígido treinamento antes de atingir o estágio em que podem manipular e privar com cobras. Tanto no México como no Tibet, o mesmo critério é aceito para testar se uma pessoa está suficientemente desenvolvida para se tornar mestre do ritual da serpente: os olhos precisam estar muito abertos, as pupilas contraídas em dois pontos minúsculos. É bastante possível que esse culto ao réptil tenha viajado com alguma migração humana da Índia e da África para a América Latina. Pode-se ainda encontrar índios guaranis (ameríndios brasileiros) que ainda dão muita importância à escultura de uma cobra pintada de vermelho. O simbolismo

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do sangue e a nota sacrifical, descendentes da inspiração mexicana são muito óbvias para escapar à atenção. No México os ritos da serpente tinham suas próprias peculiaridades particulares. Era tão grande a competição pela honra de vir a ser um sacrifício à serpente, que se tinha a maior dificuldade em evitar que as filhas provocassem as serpentes a picá-las.

Certamente não faltavam vítimas aos sacerdotes. Em muitos casos famílias que tinham assim perdido mais de uma filha compravam encantos contra serpentes das próprias bruxas. Como os adoradores de serpente indianos, os seguidores mexicanos do rito costumavam fazer um guisado da carne desse réptil e comê-lo. Em ambas as comunidades acreditava-se que a ingestão da carne sagrada conferia todos os tipos de bênçãos. O tabu e os ritos propiciatórios pode ser a origem de muitas superstições que ainda hoje existem entre nós, no Oriente e Ocidente. Nos antigos templos egípcios e gregos havia sempre um ponto que era proibido de ser tocado ou pisado. Era dedicado aos deuses - e em especial aos deuses maus (demônios?) - em troca de sua concordância implícita de não assolar províncias onde poderiam molestar os homens. A mesma idéia existe em partes da Escócia. Pedaços de terra eram deixados não cultivados e chamados de sitio dos bons seguindo um costume celta de chamar de bons àqueles que eram temidos. Folcloristas têm tratado extensivamente a questão de que as fadas, ou "gente boa", eram, na verdade, muito mais o oposto, sendo meramente espíritos maus, homenageados. A instância da Igreja, muitos desses lugares foram arados na Escócia, Irlanda e Gales. Diz à tradição que tempestades e má sorte seria a conseqüência desse distúrbio e conta-se que a lavra teve de ser protegida por poderes ocultos. Os objetos de magia são conhecidos da maioria das pessoas: por certo, pelo menos daqueles que estudam de alguma forma o assunto. Os rituais também estão em muitas obras, descritos por "adeptos" ou criticados por seus oponentes. Já mencionei a 24

possível importância histórica e etnológica de um estudo das raízes das práticas ocultas. Haverá ainda certo número de pessoas que não estará interessado no fluxo cultural, mas quererá saber: "Há alguma verdade na magia?". A resposta a isso é que, muito possivelmente, há bastante "verdade" na magia. Qual é e aonde pode levar, fica, no entanto para os pesquisadores demonstrarem. O que existia na alquimia foi aproveitado pela química moderna; apesar de não ser de minha competência dizer o que sobrou. A hipnose, atualmente não apenas fato aceito, mas uma técnica muito valiosa vem diretamente da magia. O que existe no moderno espiritismo, descendente do xamanismo tibetano, também não compete a mim dizer. Uma coisa, no entanto é certa: que a magia enquanto tal, na mera repetição dos rituais disponíveis ao leitor comum, é de muito pouca valia para quem quer que seja. Segundo os ocultistas hindus, conforme é descrito nestas páginas, muitas formas de magia e, portanto certos supostos e bem documentados milagres são atribuídos à existência de uma força nãodescoberta (akasa) que parece ter alguma conexão com o magnetismo. Autores arábico-islâmicos (que deram ao mundo a ciência moderna) também suspeitam a presença dessa força. Se ela existe, é tarefa de nós experimentadores descobri-Ia. O homem é um "animal inventor de símbolos". Esse fato levou antropólogos a concluir que a estranha similaridade entre ritos arcanos de comunidades aparentemente sem nenhum contato social recíproco é coincidente. O homem - argumentam eles, - é limitado por sua própria definição. Seu âmbito de experiências, suas esperanças e temores, desejos e ódios variam muito pouco aonde quer que se vá. Não significaria isso que ele pode chegar a conclusões similares a respeito de assuntos sobrenaturais, independentemente do que se chama de inspiração ou comunicação oculta?

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O objetivo deste trabalho não é procurar provar que toda magia tem suas raízes em alguma revelação única e original. Na verdade, é duvidoso que se possa provar algum dia essa suposição. Porém, sepultada no folclore oriental, em manuscritos e lendas não traduzidos, há uma enorme quantidade de informação que lança uma luz considerável nas origens da magia que floresceu na Europa até o começo do século 19. A prática real da magia ainda existe, tanto na Europa quanto na Ásia. Não é meu objetivo investigar quão difundida é a prática. Ao mesmo tempo, é amplamente aceito que o estudo da magia é de considerável interesse histórico, cultural e etnológico. A magia é parte da História humana. Ela desempenhou algumas vezes um papel decisivo, como no caso de Moisés diante da corte do faraó. Mais freqüentemente ela tem sido de menor importância, apesar de ainda grande. Em ambos os casos, não pode ser ignorada. Muitíssimas das características da magia contidas em manuais ocidentais foram atribuídas por autoridades como tendo origem em fontes orientais e particularmente mediterrâneas. O círculo mágicko, recurso pelo qual o mago pode invocar espíritos, foi atribuído à Assíria e as mandalas (círculos de proteção artisticamente desenhados em tapetes) aos Tibetanos e Hindus, sendo importante em quase todas as operações ritualistas dessa natureza no Extremo Oriente. Saber o nome dos espíritos e a possessão de palavras mágicas, conhecidas até mesmo

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pelos leitores juvenis de histórias de fadas, é igualmente, senão mais, difundido e tido em alta conta. As palavras mágicas pelas quais os DJins ou gênios eram invocados por Salomão formam parte importante do antigo ensinamento egípcio.

Mandala Tibetana do Despertar A difusão do estilo de maldição da imagem de cera é tão grande quanto à de qualquer outro encantamento. Está em uso ainda hoje, e é importante em quase todas as operações ritualísticas dessa natureza no Extremo Oriente. Exemplo muito antigo é preservado numa encantação do tablete bilíngüe de Assurbanípal, de origem Acádia e provavelmente derivado dos ritos das tribos tibetanas e mongólicas da Ásia Central. Esse tablete, do palácio real de Ninive, contém 28 encantos e mesmo em 700 a.C. era considerado como perpetuador de ritos extremamente antigos. Parte dele é assim: “Aquele que forja imagens, aquele que enfeitiça o aspecto malévolo, o olho mau, A boca malévola, a língua má, o lábio malévolo, a bruxaria mais fina, Espíritos dos céus, conjurai-o! Espírito da Terra, conjurai-os!”

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Todos esses termos proibidos ainda são constituintes básicos de processos mágickos. A magia partilha com a religião mais aspectos do que se dão ao trabalho discutir. O inevitável conflito baseado na suposição de que os extremos se tocam é mais marcado nas campanhas organizadas contra a bruxaria, levadas a efeito por entidades tais como os tribunais da Inquisição na Espanha. Talvez devido a isso, talvez por ter a Igreja insistido em que os magos eram servos do diabo, a magia na Europa assumiu uma característica de mal, que não é tão marcada em outros lugares. Os teólogos cristãos assumiram a posição de que a servidão a qualquer espírito ou deus, implicava uma automática redução da crença que deveria ser reservada apenas a Deus. A partir dessa tese e de certas referências bíblicas, tomou-se por certo que magia significava adoração do diabo. Nessa atitude geral, o catolicismo seguiu o precedente rabino em relação ao crescimento das atividades mágicas entre os judeus. O segundo grande instrumento que, conscientemente ou não, estimulou o estudo da magia no Ocidente foi a Igreja Católica. Compelidos por referências no Velho e Novo Testamento a reconhecer a realidade dos fenômenos sobrenaturais, inclusive o poder de bruxas e feiticeiras, os teólogos católicos romanos tomaram posição contra a bruxaria ("A feiticeira, não deixará que vivas") - Êxodo XXII, 18, o que fez que o assunto fosse considerado digno de investigação. A atitude referente às ciências ocultas continua, naquela Igreja, de forma muito pouco alterada em relação à que existia no tempo da Santa Inquisição. Segundo a Enciclopédia Católica, a bruxaria definitivamente existe, sendo o fato provado pela Bíblia. Muitos dos códices da magia judaica e salomônica que foram preservados até hoje em exemplos Iatinos e franceses mostram traços distintos de interpolação cristã. Muitos dos ritos da Chave de Salomão, por exemplo, foram "cristianizados" - quase que seguramente por mãos de padres - para dar a impressão que resultados taumatúrgicos podem ser conseguidos através deles com as adições cristãs.

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Entre os muçulmanos e outras grandes religiões do Oriente, um compromisso trouxe à baila a teoria da divisão da magia em permitida e proibida, ligeiramente paralela à distinção ocidental entre magia branca e negra. A magia, entretanto permaneceu, e ainda permanece, algo que a religião organizada nem absorveu efetivamente, nem destruiu. Como a religião, tem base sobrenatural: o apelo a uma força maior que o homem. Da crença nessa força decorre o desejo de proteção, seguido da positiva demanda de maior poder sobre os outros homens, sobre os elementos, sobre o próprio destino. Em comum com as religiões está a parafernália da magia: os instrumentos de arte, os mantos e vestimentas, as fumigações e repetições de palavras, frases e preces. Depois da fé na realidade do poder sobrenatural vem o desejo de estabelecer relações contratuais com o poder; daí o pacto. Há um contrato entre homem e Deus, entre homem e espírito. Teólogos da Idade Média e posteriores gostavam de reclamar que os livros mágickos imitavam os ritos da Igreja; que eles procuravam fazer tratados com o diabo, da mesma maneira que Deus compactuava com os homens. Quando é tudo precisamente o contrário. A Igreja imita a liturgia pagã. O sacrifício de sangue, o exorcismo, etc. Pesquisas mais recentes demonstraram que o elemento contratual da magia é pelo menos tão velho quanto a própria magia e data, portanto, de antes de muitas das grandes religiões organizadas que sobrevivem

atualmente.

Mesmo

quanto

ao

local

sagrado

de

funcionamento, a magia e a religião operam paralelamente.

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O homem perfeito ganha seu poder através do desenvolvimento da força mística inerente a seu corpo. Isso se centraliza nos cinco órgãos secretos: o Lataif. São eles: o centro do coração, o centro do espírito, o centro secreto, o centro oculto, o centro mais misterioso... - Xeque  Ahmed El-Abbassi: Segredos do Poder Sufi, desenvolvimento do livro do Shah Muhammad Gwath, Segredos do Caminho Místico (Asrar-ut-Tariqat, da Ordem Naqshbandíyya).

O Ocidente, que se orgulha com alguma razão de ter salvo do esquecimento muitos aspectos da cultura e do conhecimento orientais, foi profundamente influenciado pelo Tasawwuf a doutrina dos faquires. No entanto, quantas pessoas além de um punhado de orientalistas são capazes de dizer o que é isso? Ioga, Shinto, budismo, taoísmo e confucionismo, todos têm seus devotos na Europa e na América. O sufismo, no entanto - última das sanções místicas dos árabes, persas, turcos e do resto do mundo muçulmano - permanece como o último livro fechado do Oriente misterioso. É o sufismo uma religião? Um culto oculto? Um modo de vida? É, em parte, todas essas coisas e em parte nenhuma delas. Dentre os 400 milhões de seguidores do islamismo, o tasawwuf detém um poder que nenhum credo político, social ou econômico conhece ali ou em qualquer outra parte. Suas origens ancestrais e similaridades a Religião Bön são mais do que evidentes. Os transes nas danças circulares Dervixes são idênticos às danças circulares dos monges Bon-po. Muito do seu conteúdo filosófico se assemelha com a doutrina sufi.

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Organizada de maneira semimonástica e semimilitar essa incrível filosofia era partilhada por elementos tão distintos quanto os antigos alquimistas árabes - os irmãos da pureza - os guerreiros Mahdist do Sudão e os grandes poetas clássicos da Pérsia. Sob o nome de faquir (literalmente: humilde) os dervixes do Império Turco assolaram Viena. Estimulados pela poesia mística sufi (e, diz-se, por seu poder sobrenatural), os afegãos conquistaram a Índia. E, no reverso da moeda, a literatura e cultura sufis foram responsáveis por parte da notável arquitetura e arte da Ásia.

Quais são as origens desse estranho culto que mesmo os pesquisadores modernos reconhecem ser a maior força individual do Oriente Médio atualmente? A despeito do fato de existir considerável quantidade de obras em línguas orientais, se sabe com absoluta certeza que os primeiros passos do culto surgiram por influência dos Bon-Po. Historiadores sufis atribuem sua fundação ao próprio Maomé, mas  já se disse que esse culto esotérico data das primeiras tentativas do homem para liberar seu ego das coisas materiais. Esse é, de fato, o objetivo principal do movimento. O sufismo é um modo de vida distinto e muito completo, tendo como alvo a realização do suposto papel do homem (e da mulher) na vida. O homem, dizem os santos sufis, é parte do todo eterno, do qual derivam todas as coisas e ao qual retornaremos. Sua missão é prepararse para esse retorno. Isso só pode ser obtido através da purificação. Quando a alma humana é corretamente ligada ao corpo e obtém completo controle sobre ele, então o homem parece em sua forma perfeita: o homem perfeito emerge, de fato, muito semelhante ao super-homem, possuindo poderes notáveis, que figuram tanto nas aspirações do ocultismo oriental quanto nas do ocidental.

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São estes os passos pelos quais um devoto progride em direção a seu fim. Organizado em ordens que lembram as ordens monásticas da Idade Média (que segundo alguns foram moldadas no sufismo), a primeira condição para aceitação do aspirante é que ele esteja "no mundo, mas não seja do mundo". Esse é o primeiro aspecto importante em que o culto difere de quase todas as outras filosofias místicas. Pois é fundamental que cada sufi devote sua vida a alguma ocupação útil. Sendo seu objetivo tornar-se um membro ideal da sociedade, conclui-se naturalmente que ele não pode isolar-se do mundo. Na palavra de uma autoridade: “O Homem se destina a viver uma vida social. Seu papel é estar com outros homens. Ao servir ao sufismo ele está servindo ao infinito, servindo a si mesmo e servindo à sociedade. Não pode se desligar de nenhuma dessas obrigações e continuar ou vir a ser um sufi. A única disciplina que vale a pena é aquela que é obtida em meio à tentação. Um homem que, como a anacoreta, abandona o mundo e se afasta das tentações e distrações não pode chegar ao poder. Pois o poder é aquilo que é extraído do meio da fraqueza e da incerteza. O asceta vivendo uma vida monástica está se iludindo! Apesar de a palavra faquir ter vindo a ser usada no Ocidente para indicar um acrobata ou mágico itinerante, seu sentido real é meramente "humilde". A humildade do que busca é o primeiro requisito. Ele deve renunciar à sua luta por objetivos meramente mundanos até que tenha sua razão de viver na perspectiva correta. Isso, na verdade, não é contraditório. Pois um homem pode legitimamente gozar as coisas do mundo, desde que tenha aprendido a humildade em sua aplicação.

O que deu aos sufis - em seus papéis de faquires e dervixes - esse elo de invulnerabilidade, infalibilidade e superioridade é a aplicação dessa doutrina. Não há dúvidas de que a concentração mental conseguida pelos sufis é responsável pelo que se poderia classificar como manifestações realmente sobrenaturais. Há exemplos, registrados com tanta precisão 32

histórica quanto seria de esperar-se do estranho poder de alguns desses homens. Abordando a questão de maneira tão científica quanto possível, são muitos os exemplos de mistificadores sufis que brincam com a ingenuidade das massas. Por outro lado, dezenas de milhares de pessoas não predispostas estão convencidas do fato de que o tasawwuf pode dar um grau inusitado de poder a alguns de seus seguidores. É necessário apontar aqui, assim como em outras partes deste material de estudo, que tais manifestações podem ser verdadeiras, ser a mera aplicação de segredos da natureza que ainda são imperfeitamente compreendidos pela ciência ortodoxa. Quais são os milagres e poderes atribuídos aos santos sufis? Se bem que quase não haja fenômenos taumatúrgicos que não tenham sido reivindicados por alguma autoridade como já realizados pelos dervixes, alguns milagres são mais característicos do culto que outros. O primeiro (conforme a crença de que o tempo não existe) é a anulação do tempo convencional. As histórias sobre esse fenômeno - algumas das quais narradas por autoridades históricas meticulosamente acuradas - são muitas e variadas. Talvez a mais famosa seja o caso do xeque Shahab-el-Din. Diz-se que ele podia induzir a aparição de frutas, pessoas e objetos absolutamente segundo a sua vontade. Conta-se que uma vez ele pediu ao sultão do Egito que mergulhasse a cabeça num recipiente com água. Instantaneamente o sultão se viu transformado num marinheiro de um navio naufragado, jogado à praia de alguma terra inteiramente desconhecida. Ele foi recolhido por lenhadores, levado à cidade mais próxima (jurando vingança contra o xeque, cuja magia o havia colocado nessa situação), e começou a trabalhar como escravo. Depois de alguns anos ganhou sua liberdade, começou um negócio, casou-se e se estabeleceu. Mais tarde veio a empobrecer outra vez e tornou-se carregador autônomo, na tentativa de sustentar sua esposa e sete filhos. 33

Um dia, acontecendo estar na praia de novo, mergulhou na água para banhar-se. Imediatamente encontrou-se de novo em seu palácio no Cairo, novamente rei, rodeado de cortesãos, com um xeque muito grave à sua frente. A experiência toda, que lhe pareceu ter durado anos, tinha levado apenas alguns segundos. Essa aplicação da doutrina de que "o tempo não é sentido para os sufis" é refletida no famoso exemplo da vida de Maomé. Conta-se que o profeta, quando se preparava para sua milagrosa "marcha noturna", foi levado ao céu, ao inferno e a Jerusalém pelo anjo Gabriel. Depois de quatro vintenas e dez conferências com Deus, retornou à terra: a tempo de agarrar um copo de água que tinha sido derrubado quando o anjo o levou. Além da inexistência do tempo, o espaço quase não importa ao adepto sufi que quer viajar. O transporte metafísico de muitos dos mais famosos professores sufis é tido como fato corriqueiro. Sufis já foram vistos ao mesmo tempo em lugares separados por muitos milhares de quilômetros. O xeque Abdul-Qadir Gelani, um dos mais celebrados santos do sufismo, era capaz de viajar milhares de quilômetros num piscar de olhos, a fim de estar presente ao funeral de algum amigo adepto. Caminhar sobre a superfície das águas e voar enormes distâncias à vista das pessoas no solo são outras que se diz serem regularmente feitas pelos iniciados. Milagres, enquanto tais são tidos como possíveis apenas para profetas. Mas sustenta-se que as maravilhas (karâmát) são possíveis a grande número de sufis. As atividades dos mágicos - que são geralmente uma forma de engodo para a ingenuidade das pessoas - são classificadas como istidraai, que quer dizer meros truques e trabalhos furtivos. A magia propriamente dita, que significa taumaturgia através do auxílio de espíritos, é um ramo inteiramente diferente da ciência oculta.

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Ordens mágickas desse tipo determinam rígidas regras de um dado padrão para os aspirantes ao poder sufi. À parte aqueles que buscam apenas o culto, todos os novos recrutas devem ser aceitos segundo uma fórmula de um pir, ou professor. Os filhos seguem os passos de seu pai para entrar na ordem à qual pertenciam seus pais, e só aqueles que foram recomendados por certos patrocinadores podem ser aceitos como discípulos no primeiro grau do salik, "buscador". As ordens, que são batizadas em nome de seu fundador (Naqshbandíyya, Chishtíyya, Oádriyya etc.), são organizadas em grupos, que estudam com mestres reconhecidos. A promoção de um grau para o outro se dá através de uma patente ou declaração do mestre do grupo a que o acólito pertence. A fim de estudar um ramo particular da arte, os estudantes podem viajar do Marrocos a Java ou até mesmo do Tibet à Líbia, para se juntar ao haIka (círculo) de um professor famoso. Depois, se esse último concordar, o candidato será colocado em prova por alguns meses. Vivendo com pobreza, vestindo apenas os mantos amarelos e fazendo tarefas domésticas o "buscador" deve, durante o período de seus estudos, ficar ligado ao seu mestre com uma devoção que excede, em muito, mesmo a mais rigorosa disciplina de qualquer força militar. Deve participar de recitações rituais de certos textos santos e secretos, deve observar as cinco preces e abluções rituais, o mês anual de jejum da manhã até o pôr do sol e ler as obras dos mestres.

São conhecidas várias ordens ou tariqat (caminhos) distintas no sufismo. Todas têm sua origem no próprio Maomé e também em seus companheiros. Afirma-se que elas são originárias de uma fraternidade 35

mística dos seguidores imediatos do Profeta - a AshábUs-Safá, ou companheiros de banco. Esses homens, 'sobre os quais pouco se sabe com certeza, mergulhavam em boas obras, contemplação, jejum e oração. As teorias mais difundidas rezam que eles foram batizados por causa de suas roupas de lã (souf, lã, em árabe) ou por causa da safá, pureza. As principais ordens hoje em dia são a Naqshbandíyya, Chishtiyya, Qádriyya e Suharwardíyya. São completas em si mesmas: nenhuma é inimiga da outra. Os santos e práticas são às vezes tidos em comum; os objetivos da humanidade e particularmente dos sufis são quase idênticos em cada uma delas. Há grande número de outras ordens, espalhadas do Marrocos a Java, através da Índia, Tibet e do Afeganistão - na verdade, em toda parte por onde se espalhou o islamismo. Em todos os casos, os ritos e escritos são altamente simbólicos. Em todos os casos a admissão a uma ordem depende de patrocínio e iniciação. Os sufis tradicionalmente ocupam lugar importante, apesar de indefinido, tanto na sociedade como na História. Os dervixes do Sudão eram - e ainda são - de uma ordem sufi, organizados como uma sociedade militante e atualmente filantrópica. Nos dias do Império otomano, as mui temidas tropas janizaras eram uma fraternidade militar sufi, ligada ao que atualmente é conhecido como a Naqshbandíyya. O atual rei da Líbia é chefe de uma ordem sufi e a maioria, senão todos de seus súditos se consideram sufi. O faquir de lpi - essa Marca de Fogo da Fronteira Nordeste da Índia" - é um líder sufi. Esses breves fatos podem dar a impressão de que outros aspectos do culto são menos conhecidos no Ocidente, mas a referência a eles fora de contexto serviria apenas para confundir o leitor.

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A teoria do sufismo é de que o homem, em seu estado normal, parte animal, parte espírito, é incompleto. Toda a doutrina e ritual sufis se dedicam a purificar aquele que busca e transformá-lo, portanto em InsániKámil - homem perfeito ou homem completo. Considera-se que uma pessoa pode estar apta a atingir esse estado de contemplação por si mesmo ou mesmo através de outros meios que não o sufismo. Porém está implícito que o sufismo é o caminho estabelecido, com seu método prescrito e a orientação dos mestres que já trilharam o caminho. Quando o aspirante atingiu o estado de integridade, que é o objetivo do culto, está então com o infinito; e os conflitos e incertezas, aos quais ele como mero mortal estava sujeito, já não mais existem. Esse último estágio de desenvolvimento é conhecido como wasl - união. A vida monástica, no entanto, é profundamente evitada por todos os pensadores sufis. Seus motivos são que, se um homem priva a sociedade de seus serviços e atividade, está sendo anti-social. Sendo anti-social, ele está indo contra o plano divino. Deve, portanto, nas palavras do primeiro princípio do sufismo "estar no mundo, mas não ser do mundo!" (Dar dunya básh: az dunya mabásh!). A hierarquia dos santos sufis muçulmanos é, portanto, conhecida por suas ocupações assim como por seus títulos. Assim, um (Attár) era químico, outro (Hadrat Baháuddin Naqshband) era pintor, e assim por diante. Certos reis da Índia e da Pérsia ao se tornarem sufis assumiram outras ocupações extras para pagar por sua manutenção, permanecendo como governantes e não tomando nada do tesouro por sua própria conta.

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O chefe de todo o sistema sufi é o Qutub: ele é o mais iluminado de todos os sufis, atingiu o grau de wasl ("união com o infinito") e, segundo alguns, detém o poder sobre todo o organismo sufi. Outros afirmam que o Qutub tem também considerável poder político ou temporal. De qualquer forma, sua identidade é conhecida de muito poucos. Ele se comunica apenas com os lideres das ordens. As conferências são feitas telepaticamente ou então através da anulação do "tempo e espaço". Dizse que o último fenômeno significa que os sufis do grau de wasl podem transportar-se a qualquer parte instantaneamente, fisicamente, pelo processo de desmaterialização corpórea. O Qutub é servido por quatro deputados, os awtád, ou pilares, cujas funções são de manter o controle e o poder sobre os quatro cantos da Terra e relatar-lhe constantemente o estado de coisas em cada país. Abaixo dos awtád estão os 40 abdal (aqueles que se transformaram espiritualmente), e abaixo deles 70 nobres, que por sua vez comandam 300 senhores. Os santos sufis que não ocupam um posto determinado nessa hierarquia são chamados santo: walí.

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A crença na existência de espíritos e outras forças formidáveis está há apenas um passo do desejo de chamá-los, obrigá-los e fazê-los efetuar as ligaduras astrais do feiticeiro. É costume - pelo menos entre os velhos autores - dividir essa forma de espiritualismo em grupos ou assuntos para fins de estudo. Pode-se dizer que os espíritos podem ser distinguidos em bons e maus, em almas humanas e aqueles que nunca tiveram uma forma corpórea (elementais, demônios e anjos). E também alguns espíritos aparecem com forma humana, outros com forma animal e outros com formas mais alarmantes. Mas esse método de examinar os espíritos, se bem considerado, pouco contribui para o real conhecimento da arte. Interessante é que a evocação em si – tibetana, cristã, budista, árabe, egípcia ou caIdéia - está contida em limites aceitos de método e idéias. Há a consagração do operador, seus instrumentos (se os há) e, geralmente, o círculo mágicko ou mandala mágicka. Há a invocação em si e a evocação. Quando o espírito aparece, segue-se a fase de comando ou inquisição. Finalmente vem a inevitável licença para partir, sem a qual o operador poderá ser prejudicado pela aparição. Duas coisas são consideradas indispensáveis: alguma conexão com a morte ou os mortos, e a possessão de palavras mágickas ou mantras. Muito da importância e interesse da invocação de espíritos, em nossa opinião, é devido ao fato de grande parte de toda a magia depender de ajuda espiritual: seja ela maldição, cura ou meramente poder mágicko acima e além do que é tido por outros. Pode-se mesmo definir magia como a suposta arte de obter poder através de forças sobrenaturais (espíritas). Portanto os espíritos - ou alguma outra força não identificada, 39

convenientemente chamada assim - formam o próprio coração da magia cerimonial, popular ou supersticiosa. Geralmente se subestima o fato de que o espiritismo - evocação do espírito dos mortos - conforme é conhecido na Europa e na América contemporâneas, é apenas um ramo da magia, um ramo que é tradicionalmente exercido pelos feiticeiros da África, ameríndios tribais e operadores xamanísticos na China, Tibet e Japão para não mencionar grande número de outras comunidades. Considera-se que a invocação de espíritos, especialmente os de parentes mortos, requer muita dedicação e preparação. Apesar de se aceitar quase sempre que há algumas pessoas (como os médiuns modernos) para as quais esses poderes vêm facilmente, é algumas vezes esquecido o fato de que os livros ou grimórios trazem relatos detalhados dos procederes que podem assim ser seguidos por pessoas comuns. Às vezes se considerava necessário, em processos atribuídos aos caldeus, saber a data de nascimento da pessoa a ser evocada. Se pudesse ter um horóscopo, tanto melhor. Isso queria dizer que o espírito poderia ser chamado em nome dos planetas que presidiram seu nascimento e na hora exata e em que se deu o nascimento. Em seguida o invocador meditava em completa reclusão por um período de até 48 horas. Escolhia-se um dia claro e luminoso. Então, em algum lugar determinado pela prática da magia (o mago geralmente usava seu próprio quarto ou alguma caverna ou lugar santo em ruínas), era descrito o círculo mágico. Dentro de seu diâmetro de seis pés estava o espaço-tabu que protegia o mágico e que nenhum gênio do mal poderia cruzar. No círculo, quase sempre dentro de um anel concêntrico, era escrito com giz, no solo, o nome de Deus. Talvez o registro mais antigo de fórmula para consagrar um círculo ou uma mandala seja o tirado da série de tábuas Tibetanas Bon-Po: “Guarde! Guarde! Barreira que ninguém pode passar, 40

Barreira dos deuses que ninguém pode quebrar, Barreira do céu e da Terra, que ninguém pode mudar, Que nenhum deus pode anular, Nem deus ou homem pode relaxar, Armadilha sem saída, armada para o mal, Rede que ninguém atirar, espalhada para o mal. Seja mau espírito, ou mau demônio, ou mau fantasma, Ou diabo mau, ou deus mau, ou gênio mau, Ou demônio, ou vampiro, ou duende-ladrão, Ou fantasma, ou espectro da noite, ou criada do fantasma, Ou praga má, ou moléstia da febre, ou suja doença, Que tenham atacado as águas brilhantes de Ea, Possa a armadilha de Ea apanhar; Ou que tenham assolado a comida de Nisaba, Possa a rede de Nisaba prender; Ou que tenham rompido a barreira, Não permita a barreira dos deuses, A barreira do céu e da Terra, que sigam livres; Ou que não reverenciam os grandes deuses, Que os grandes deuses prendam, Que os grandes deuses amaldiçoem; Ou que atacam a casa, Que num quarto fechado entrem; Ou que circulam ao léu, Que a um lugar sem saída sejam levados; Ou que vigiam à porta da casa, A uma casa sem saída sejam levados a entrar; Ou que passam a porta e G ferrolho, Com porta e ferrolho, uma tranca imóvel, possam ser fechados; Ou que sopram o limiar e a dobradiça, Ou que forçam o caminho contra a tranca e a aldrava, Que 41

como água sejam vertidos, Como uma taça se partam em pedaços, Como um ladrilho se quebrem; Ou que pulam o muro, Suas asas sejam cortadas; Ou que jazem num quarto, Suas gargantas sejam cortadas; Ou que se trancam num quarto lateral, Suas faces possa-se esbofetear; Ou que resmungam numa câmara, Suas bocas possa-se fechar; Ou que vagam num quarto superior, Com um "bason" sem abertura possa-se cobri-los; Ou que escurecem ao amanhecer, Ao amanhecer sejam levados a um lugar ensolarado. E se nenhum espírito aparece mesmo depois de repetida concentração? A maioria dos livros não prevê essa possibilidade. Um deles, no entanto, nos diz que o fracasso significa que algum erro ou omissão tem de ser remediada. A experiência pode ser repetida vezes e vezes, até o sucesso. Os egípcios dinásticos (e provavelmente prédinásticos), os babilônios e assírios acreditavam que a alma podia retornar à Terra. Sob certas circunstâncias ela podia também re-habitar o corpo. Elaboradas cerimônias mágicas eram praticadas para que a alma fosse feliz e não precisasse voltar, tornando-se assim um espírito inquieto. Esses espíritos eram invocados e considerava-se que podiam ser usados em rituais mágickos. De maneira semelhante, os espíritos de curandeiros reverenciados e falecidos eram conjurados para aconselhar suas tribos em tempos de privação em muitas partes da África, especialmente a parte central do continente. Seus ossos são preservados e embebidos no sangue de recém-falecidos, misturados com mel, leite e perfumes. Supõe-se que isso faça que a alma retorne Terra. Assim como as cerimônias dos espíritos eram realizadas no Egito nos sepulcros das pirâmides, outros lugares, cemitérios, pátios de igrejas ou o local onde a morte teve forma violenta, são sítios especialmente bem vistos para esse tipo de exorcismo. Espíritos que não os dos mortos podem também ser invocados de maneira semelhante. A seguinte consagração cristianizada do círculo é típica dos ritos caldeu-semíticos. 42

Depois de feito o círculo o invocador entoa:

“Em nome da santa, abençoada e gloriosa Trindade, procedemos ao nosso trabalho neste mistério para conseguir aquilo que desejamos: nós, portanto, em nome dos acima ditos, consagramos este pedaço de solo para nossa defesa, de forma que espírito de nenhuma espécie possa atravessar estas fronteiras, nem causar injúria ou detrimento a qualquer dos aqui reunidos”. (Era costume dos magos estarem acompanhados de um ou dois ajudantes.) Mas que eles sejam convencidos a ficar diante do círculo e responder sinceramente nossas demandas, se isso agradar a Ele, que viveu para todo o sempre e que diz: "Eu sou alfa e Ômega, o começo e o fim, que é, foi e será, o todo-poderoso. Eu sou o primeiro e o último, o que está vivo e foi morto; e eis que vivo para todo e sempre; e tenho as chaves da morte e do inferno. Abençoai, ó Senhor! Esta criatura da terra em que pisamos. . . " (A terra, como todos os outros elementos, tem seu próprio espírito referido como a criatura da Terra.) Confirmai, ó Deus, vossa força em nós, para que nenhum adversário e nenhuma coisa má possam nos fazer fracassar, pelos méritos de Cristo. Amém. Um certo número de informações tem de estar à disposição do mago, além das invocações e das palavras mágickas. De início há os nomes das horas. Estas, conforme dadas por um texto mágico ocidental formam uma estranha mistura de nomes arábicos, semitas e egípcios junto com alguns gregos. São os seguintes e é provável que sejam de fato os nomes dos espíritos das horas:

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Nomes das Horas Dia

Hora

Noite

 Yain

1

Beron

Janor

2

Barol

Nasina

3

Thami

Salla

4

Athar

Sadedali

5

Methon

Thamur

6

Rana

Ourer

7

Netos

Thamie

8

Tafrae

Neron

9

Sassur

Jayon

10

Agle

Abai

11

Calerva

Natalon

12

Salam

Esses nomes são memorizados e o apropriado é inscrito no mais externo círculo concêntrico da evocação, junto com as palavras mágicas, o nome da estação e o nome do arcanjo da hora. Considera-se que os nomes das estações são equivalentes aos nomes dos anjos das estações: primavera (caracasa), com Core, Amatiel, Commissoros. O verão vem sob Gargatel, Tariel e Gariel. Dois anjos regulam o outono: Tarquam e Guabarel. O inverno completa o ciclo com Anabael e o anjo Cetatari. A evocação será feita na primavera? Então, o signo da primavera deve ser incluído no círculo e nas invocações; assim como o nome da Terra na primavera e os nomes do Sol e da Lua nessa estação. Quatro conjuntos de informação adicionais são agora necessários: • nome do signo da primavera: Spugliguel

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• nome da Terra na primavera: Amadai • nome do Sol na primavera: Abraym • nome da Lua na primavera: Agusita no verão.

no outono no inverno

Nome da Terra:

Festativi

Rabirmana Geremiah

Nome do Sol:

Athenay

Abragini

Nome da Lua:

Armatus

Mastasignais

Com-mutoff Affaterin

Signo do verão: Tubiel Signo do outono: Torquaret Signo do inverno: Attarib Uma vez dominados esses importantes nomes, o mago purifica-se com esta prece: Vós me purificareis com Hyssop, ó senhor, e serei limpo: vós me lavareis e serei mais branco que a neve. O círculo será então borrifado com o perfume correto (que será descrito mais adiante) e o exorcista se enrola numa capa de linho branco amarrada na frente e atrás. Enquanto se veste, diz: “Ansor, Amacon, Amides, Theodonias, Aniton: pelos méritos dos anjos, ó senhor, eu vestirei o paramento da salvação; que aquilo que eu desejo eu consiga realizar, por vosso intermédio, mais santo Adonai, cujo reino dura para todo o sempre. Amém”. O texto cristianizado que estamos seguindo, apesar de reter a maioria das marcações ritualistas do sistema semita e outros, acrescenta a admoestação de que aqueles que desejam riqueza e poder ou qualquer coisa de material para si mesmos não conseguirão atrair espíritos. Essa não é, no entanto, uma posição estabelecida. "Primeiro o coração e a 45

mente devem ser limpos, de desejos e, se a habilidade for em qualquer tempo usada para fins pessoais e egoístas, o poder é então renunciado. Só aqueles com a habilidade de tocar as alturas sabem disso." Na necromancia encontramos o círculo mágicko e as palavras mágicas ainda em uso. Os procederes são exatamente os mesmos em ambos os tipos de processo. Quando o feiticeiro Tibetano Chiancungi e sua irmã bruxa Napala invocaram maus espíritos, ordenaram a Bokim que aparecesse e lhes desse sua ajuda infernal. Cobriram de preto uma profunda caverna e depois desenharam o círculo, com sete tronos e número igual de planetas inscritos nele. Mesmo para esses notórios feiticeiros passaram meses antes que Bokim aparecesse de verdade. Quando o fez, garantiu-lhes 155 anos de vida extra e muitos outros favores mais. Como a teoria de "vender a alma" não é tão conhecida no Oriente, a única penalidade que os feiticeiros tinham de pagar era servir o demônio naquele período. Em seu trabalho, assim como na maioria dos encantos de invocação, eles faziam livre uso de perfumes e outras fumigações. Quando o planeta em questão era Saturno (isto é, quando a operação era na hora ou dia de Saturno), o perfume utilizado no defumador era pimenta, com almíscar e incenso. Enquanto isso queimava, podiam-se ver espíritos em forma de gatos e lobos. Júpiter requeria oferendas de plumas de pavão, uma andorinha e um pedaço de lápis-lazúli. Suas cinzas eram então misturadas ao sangue de uma cegonha. Os espíritos de Júpiter tinham a aparência de reis, acompanhados de trombeteiros. Sob Marte o fogo era alimentado com goma aromática, sândalo e incenso, mirra e o sangue de um gato preto. Para o Sol, almíscar, incenso, mirra, açafrão, trevos, louros e canela eram misturados ao cérebro de uma águia e ao sangue de um galo branco informados em bolas e colocados nas chamas. Os espíritos que surgiam sob a égide de Vênus pediam espermacete, rosas, coral, aloés, misturados com o cérebro e sangue de um pombo branco. Pode-se ver

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