Trabalho Visão Crítica da Gramática

October 29, 2017 | Author: guilhermeramires | Category: Natural Language, Portuguese Language, Latin, Science, Linguistics
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL

VISÃO CRÍTICA DA GRAMÁTICA DEPARTAMENTO DE LETRAS CLÁSSICAS E VERNACULARES – DECLAVE GUILHERME RAMIRES DE FREITAS PROFESSORA DAIANE NEUMANN Questionário a respeito das Conferênciasz realizadas na Universidade de Genebra 1) Na primeira conferência na Universidade de Genebra, Saussure discorre sobre o estatuto dos estudos linguísticos como ciência, afirmando que “não há separação entre o estudo da linguagem e o estudo das línguas” (p. 129). Comente essa afirmação. O linguista suíço começa pondo suas ideias a respeito de língua e linguagem dizendo que uma é generalização da outra: as línguas são manifestações da linguagem e também que as línguas são primordialmente regidas por certos princípios que estão resumidos na ideia de linguagem. Afirma, posteriormente, que o estudo geral da linguagem se dá através de observações feitas em tal ó tal língua e que à medida que se vai descobrindo novas línguas, novos dialetos, “é uma pedra que o pesquisador traz ao edifício e que não será destruída”. E por fim fala que “não há separação entre o estudo da linguagem e o estudo das línguas […] mas que cada divisão e subdivisão de línguas representa um documento novo, interessante como qualquer outro para o fato universal da linguagem.”. 2) Quais são os argumentos utilizados por Saussure para defender a ideia de que a ciência da linguagem é uma ciência histórica e não uma ciência natural? Saussure afirma que a ciência da linguagem faz parte da área das ciências humanas e não das ciências naturais porque ela representa “atos humanos, regidos pela vontade e inteligências humanas, que, aliás, devem ser tais que não interessam ao indivíduo, mas à coletividade.”. Ou seja, língua e linguagem, mesmo sendo intrínsecas ao ser humano, não se desenvolvem naturalmente através de leis, mas sim através de fatos, pois a origem das palavras de todas elas é arbitrária, artificial e cultural. 3) Segundo Hovelaque, citado no texto, “A língua nasce, cresce, definhe e morre, como todo o ser organizado” (p; 135). Explique os pontos desenvolvidos por Saussure que tornaram tal afirmação falsa. Saussure nos diz que a “língua não é um organismo, ela não é uma vegetação que existe independente do ser humano, ela não tem uma vida que implique um nascimento e uma morte”. E diz ainda que nunca se observou o nascimento de uma língua, no sentido que em certo dia se falava o latim e no dia seguinte começou-se a falar o francês. Ele fala também que a única maneira de ver uma língua morrer é se sua população falante for eliminada e cita exemplos de índios norte-amreicanos. Em suma, ele afirma que a língua é criada e se transforma, gradativamente. Assim como o latim que se transformou em nosso português de hoje, no decorrer do tempo; e assim como o nosso português pode se transformar no “brasileiro” de amanhã – e que será totalmente diferente do português europeu. 4) A língua que falamos hoje é diferente do latim? Comente com base no texto. Saussure traz a ideia de se delimita uma língua no tempo; diz que se diferencia o francês do latim, o alemão do germânico e, portanto, se admite que, em algum ponto, uma língua começa e outra acaba e conclui que isso é arbitrário. Utilizando a língua portuguesa como exemplo, ele

diz que nós nos convencionamos a separar, tratar o latim e o português como duas entidades completamente diferentes, e que este nasceu daquele. Podemos pegar dois focos para analisarmos: Se formos comparar o léxico da língua portuguesa com o da língua latina, veremos uma notável diferença. Mas o que Saussure quer nos passar é que o Português nada mais é do que o Latim, gastado e renovado com o passar do tempo. 5) Por que existe uma gramática normativa que determina regras de uso se a língua está em incessante processo de transformação? O linguista nos mostra que isso é um paradoxo, pois se tenta dar um padrão a uma língua, que está em um eterno processo de mutabilidade e de continuidade no tempo. Afirma que quem acha que a língua Francesa, por exemplo, saiu como Minerva do cérebro de Júpiter, das entranhas da língua latina, cai regularmente no engano da imobilidade de uma língua; a língua, à medida que evolui não se separa por dois pontos, ficando em repouso, como certa língua nos anos 1900 e nos 2000, sendo que em 1999 ela é falada de um jeito e, em 2000 é de outro. Saussure coloca, ainda, sua posição em relação à escrita, que diz ser uma “camisa de força” que tem o efeito de travar a marcha da língua. 6) O que Saussure entende por mudança fonética e mudança analógica? O linguista suíço explica que mudança fonética tem a ver com o lado fisiológico e físico da fala e é inconsciente. Tem relação com operações puramente mecânicas não se podem descobrir um objetivo, nem intenção. Exemplos em português com as palavras lupus >> lobo, campus >> campo, luna >> lua. Já a mudança analógica, tem a ver com o lado psicológico e mental e é consciente. São operações puramente inteligentes, em que se pode descobrir um objetivo e um sentido. Ele usa o exemplo de crianças que fazem analogias de palavras conhecidas para falar outras palavras. Em português, não seria estranho nós ouvirmos de crianças verbos como “eu fazi”, em que elas supõem logicamente que o verbo “fazer” se conjugue tal como “comer” – eu comi –, “beber” – eu bebi – no tempo pretérito perfeito. Saussure diz que Esse fato se deve por a criança não ter ainda um número significativo de signos linguísticos para diferenciar as palavras que excedem às regras gramaticais das outras regulares. Conclui dizendo que “mais geralmente, esse fenômeno representa uma associação de formas no espírito, ditada pela associação das ideias representadas”. 7) De acordo com a terceira conferência, a divisão que fazemos de uma língua em períodos é arbitrária (p. 143). Justifique essa afirmação com base no texto. Segundo Saussure, jamais uma língua sucede a uma outra e, portanto, seria arbitrário dar nomes sucessivos ao mesmo idioma. Se observarmos a língua de vinte em vinte anos ou de cinquenta em cinquenta anos, de texto em texto, ver-se-á que “é inútil fazer uma denominação da mesma língua como latim ou francês. […] ainda se imagina, obstinadamente, que há, antes, dois termos, religados por uma transição insensível, é verdade, mas constituindo sempre dois termos, duas línguas, dois seres, duas entidades, dois organismo, dois princípios, duas noções, dois termos diferentes. Continua-se a imaginar o latim e o francês, como duas frondescências da mesma árvore.” Diz ele. Ele ainda usa uma rua como exemplo em que podemos tomar uma qualquer e lhe partir em dois, três, dez partes e lhe dar diferentes nomes, mas será sempre a mesma rua; assim como na língua: podemos parti-la em proto-indo-europeia, itálica, latina e portuguesa; será sempre a mesma língua e não vários elementos distintos, que nascem subitamente uns dos outros e morrem no decorrer do tempo. Sobre isso ele conclui dizendo que não há instante em que uma língua seja menos nem mais determinada do que em outro; não

existem características permanentes, mas transitórias e, além disso, delimitadas no tempo; são os estados de línguas. 8) De acordo com a terceira conferência, “[…] se uma mesma língua se espalha em um momento determinado sobre uma certa extensão de território, o resultado da mudança inevitável, ao fim de cem ou duzentos anos, não é o mesmo nos diferentes pontos desse território” (p. 145). Justifique essa afirmação com base no texto. Saussure argumenta que além dos fatores fisiológicos e analógicos, há o fator geográfico, junto com o fator cronológico. Ele diz que se tomássemos um idioma de uma certo lugar e o observássemos cerca de cem, trezentos ou quinhentos anos depois, notaríamos que ele haveria mudado consideravelmente, como A muda para B. Por outro lado, se tomássemos uma dada língua em vários pontos geográficos diferentes, ao decorrer de vários anos, vê-la-íamos diferente em todos os pontos, como A que muda para B’, B’’, B’’’, etc. Isso ocorreu e ocorre ainda no nosso país, em que a língua portuguesa é bastante diferente se tomarmos uma relação como sul e norte, oeste e leste. E todos os dialetos partiram do mesmo português usado pelos colonizadores. Por falar na língua portuguesa, esta e a francesa, a italiana, a espanhola e a romena um dia já foram a língua latina, uma em cada ponto geográfico diferente. 9) De acordo com a terceira conferência, “Acaba-se, enfim, compreendendo que a área geográfica dos fenômenos pode perfeitamente ser traçada no mapa, mas que tentar distinguir unidades dialetais é absolutamente quimérico e inútil” (p. 148). Justifique essa afirmação com base no texto. Da mesma forma que uma língua não pode ser definida como sólida e imutável no tempo, ela também não poderá ser definida como única num determinado espaço. Refiro-me ao que Saussure fala: “Cada região está colocada no percurso de um certo número de fenômenos linguísticos, que têm, cada um, seus percursos determinados; a soma das características que resulta para cada região, da superposição de tal e tal fenômeno é o que constitui, se assim preferir, o dialeto dessa região. Mas é impossível encontrar uma característica que permita delimitar esse dialeto com relação a qualquer outro – a menos que se considere um único vilarejo. [...]”. Por aqui, ele nos mostra que os dialetos são constituídos de vários fatores que mudam o percurso original da língua e que é impossível achar um único ponto que possa delimitar um em relação a outro qualquer.

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