Torres-Hipnose Pratica Clinica

April 26, 2017 | Author: Débora Martinez Pessoa | Category: N/A
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UNIVERSIDADE DO EXTREMO SUL CATARINENSE - UNESC

CURSO DE PSICOLOGIA

HELENO FELIX TORRES

A HIPNOSE NA PRÁTICA CLÍNICA

CRICIÚMA, JUNHO DE 2009

HELENO FELIX TORRES

A HIPNOSE NA PRÁTICA CLÍNICA

Trabalho de Conclusão de Curso, apresentado para obtenção do grau de bacharel no curso de Psicologia da Universidade do Extremo Sul Catarinense -UNESC.

Orientador: Prof. Jeverson Rogerio Costa Reichow

CRICIÚMA, JUNHO DE 2009

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HELENO FELIX TORRES

A HIPNOSE NA PRÁTICA CLÍNICA

Trabalho de Conclusão de Curso aprovado pela Banca Examinadora para obtenção do Grau de Bacharel no Curso de Psicologia da Universidade do Extremo Sul Catarinense UNESC, com Linha de Pesquisa em Neuro Psicologia.

Criciúma, 22 de Junho de 2009. (data da defesa)

BANCA EXAMINADORA

Prof. Jeverson Rogerio Costa Reichow – Mestre - (UNESC) - Orientador

Dr. Antonio Carlos Althoff – Especialista em Reumatologia

Profª. Elenice De Freitas Sais – Especialista - (UNESC)

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“Se você quiser comer hoje, cultive arroz. Se você quiser comer amanhã, cultive árvores frutíferas. Se você quiser que seus filhos e netos comam, cultive homens”.

Confúcio

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RESUMO

Rever conceitos tão antigos e tão atuais sobre a prática hipnótica implica necessariamente em revisitar os nomes que figuram na sua história. Das antigas práticas ritualísticas pagãs, do culto aos deuses, passando por Mesmer, Freud e Erickson, apenas entre os mais expressivos, chega-se ao presente com os ultramodernos exames de tomografia por emissão de pósitrons e a ressonância magnética do fluxo sanguíneo e seus proeminentes executores. À luz de novos achados científicos, a hipnose se renova e reforça uma posição que já conquistou na comunidade médica, a saber o expressivo relato de casos que dão conta da sua eficácia na prática clínica, indo mais pontualmente esclarecer o funcionamento do cérebro humano quando ativado pelo estado hipnótico. Especificamente na clínica psicológica, a hipnose vem sendo utilizada com grande sucesso nos casos em que trata de ansiedade, fobias, traumas, drogadição, dependência em seus vários níveis, apenas para citar algumas desordens, razão pela qual o presente trabalho se inscreve, num esforço de resgatar a história da hipnose no mundo desde a Antigüidade até os dias atuais, os caminhos e descaminhos que percorreu para que hoje pudesse ocupar o lugar que ora ocupa: revestir-se da capa protetora da ciência e colocar-se a serviço do homem enquanto possibilidade de reduzir sofrimentos.

Palavras-chave: Hipnose. Indução Hipnótica. Psicologia. Prática Clínica

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 – Divisão do Sistema Nervoso .................................................................... 36 Figura 2 – Subdivisão do córtex cerebral .................................................................. 39 Figura 3 – Áreas do cérebro e suas respectivas funções.......................................... 40 Figura 4 – Modelo utilizado nos experimentos de Kosslyn & Col. ............................. 42 Figura 5 – Variação da atividade normal de um recém-nascido................................ 43 Figura 6 – Imagem de cérebro estimulado pela Serotonina ...................................... 43 Figura 7 – Imagem do cérebro durante exame de IRMf ............................................ 44 Figura 8 - Estimulação do cérebro sob efeito de sugestões pós-hipnóticas .............. 82

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LISTA DE TABELAS

Tabela 01 - Aspectos da sugestão .......................................................................... 48 Tabela 02 - Fatores da relação especialista-paciente ..................................................... .... 49 Tabela 03 - Influência do meio ambiente e a relação especialista-paciente ......................... 50 Tabela 04 - Classificação das sugestões ............................................................................. 51 Tabela 05 - Tipos de temperamento .................................................................................... 53 Tabela 06 - Características do paciente hipnotizado ........................................................... 54 Tabela 07 - Alterações observáveis durante a hipnose ........................................................ 55 Tabela 08 - Características psicológicas do estado hipnótico .............................................. 56 Tabela 09 - Alterações em pacientes com ou sem sugestão hipnótica ................................ 57 Tabela 10 - Escala De Torres Norry (mod. Por Moraes Passos) .......................................... 78 Tabela 11 - Características a observar no estado hipnótico ................................................. 79 Tabela 12 - Atribuições do Odontólogo ................................................................................ 84

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

CFP – Conselho Federal de Psicologia......................................................................32 SNA – Sistema Nervoso Autônomo...........................................................................35 SNC - Sistema Nervoso Central.................................................................................36 SNP – Sistema Nervoso Periférico.............................................................................36 SNPS – Sistema Nervoso Periférico Somático..........................................................36 SNPA – Sistema Nervoso Periférico Autônomo.........................................................36 SNAS – Sistema Nervoso Autônomo Simpático........................................................37 SNAP – Sistema Nervoso Autônomo Parassimpático...............................................37 PET – Tomografia por emissão de pósitrons ............................................................37 MAT/URFGS – Matemática – Universidade Federal do Rio Grande do Su...............42 FSCr – Fluxo sanguíneo cerebral regional ................................................................44 IRMf – Ressonância Magnética Funcional.................................................................44 EEG – Eletroencefalograma.......................................................................................44 SHCL- Stanford Hypnotic Clinical Scale.....................................................................79 SSTA - Sugestões para sintonização, treinamento e aproveitamento......................79 AAC – Córtex anterior cingulado................................................................................82 CFO – Conselho Federal de Odontologia..................................................................83 CFM – ConselhoFederal de Medicina........................................................................97 AMB – Associação Médica Brasileira.......................................................................100 DOU – Diário Oficial da União..................................................................................110

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 10 2 HISTÓRIA DA HIPNOSE................................................................................................. 12 2.1 As Origens.................................................................................................................. .13 2.2 Hipnose na Era Moderna ........................................................................................... .23 2.3 Hipnose no Brasil ...................................................................................................... .28 2.3.1 Cronologia do Hipnotismo no Brasil ..................................................................... .30 3 HIPNOSE E CIÊNCIA..................................................................................................... .33 3.1 Neurofisiologia da Hipnose ....................................................................................... .35 3.2 Consciência, Transe e Hipnose ................................................................................ .45 3.3 Sugestão .................................................................................................................... .47 3.4 Métodos/técnicas de Hipnoterapia com Hipnose ..................................................... 58 3.5 Fenômenos Hipnóticos ............................................................................................. .66 3.6 Técnicas Hipnóticas .................................................................................................. .70 3.7 Estágios da Hipnose .................................................................................................. .77 4 O USO DA HIPNOSE NA PRÁTICA CLÍNICA ............................................................... .80 4.1 Hipnose na Clínica Médica ........................................................................................ .80 4.2 Hipnose na Clínica Odontológica ............................................................................. .82 4.3 Hipnose na Clínica Psicológica ................................................................................ .84 5 METODOLOGIA............................................................................................................. .87 6 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS................................................................ .88 7 CONCLUSÃO ................................................................................................................. .90 REFERÊNCIAS ................................................................................................................. .91 ANEXOS ........................................................................................................................... .97 ANEXO I ............................................................................................................................ .97 ANEXOII...............................................................................................................................107 ANEXO III............ ........................................................................................................... ..108

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1 INTRODUÇÃO

Ao longo dos séculos, a hipnose foi sendo revelada por diferentes lentes, de acordo com cada momento histórico, mas ainda hoje guarda ranços de antigas concepções acerca de sua significação e efetiva contribuição para a prática clínica, tanto médica quanto psicológica. A associação com espetáculos de variedades, em que um convidado realizava ações incomuns e surreais induzido supostamente por hipnose, faz com que ainda nos tempos modernos ela sofra suas conseqüências. Iniciada muito antes da existência de relatos escritos da história humana, a hipnose já podia ser encontrada nas cerimônias religiosas e de cura de muitos povos primitivos, os quais se utilizavam dela para induzir seus participantes ao transe hipnótico. Sua importância não está em chamar estas cerimônias de religiosas, curandeirismo, ou alguma outra combinação que seja, mas sim que o estado de transe com características hipnóticas já existia, muito embora o termo tenha sido cunhado apenas no século XIX, com James Braid. Não é sem razão que o final do século passado e início deste também tenha sido muito fértil quanto à discussão da dimensão social da ciência, no sentido de que a compreensão da prática hipnótica não poderia passar distanciada dos processos comuns a uma comunidade científica que prima pelo conhecimento como forma de dar ao homem o melhor dos dois mundos, buscando a teoria para aplicar a prática. A preocupação com o bem-estar do homem num mundo cada vez mais agitado, onde as pessoas se veem acossadas pela matéria, faz a Psicologia voltar os olhos à humanidade como forma de buscar outros recursos que a faça conseguir um equilíbrio entre as exigências da vida moderna e o equilíbrio emocional, consequentemente procurando reduzir sofrimento. Nesse sentido, a hipnose tem se mostrado uma valiosa ferramenta, justificando o presente trabalho ao buscar responder por qual modo, como terapia complementar, atua na mente humana mudando comportamentos e favorecendo a remissão de patologias, físicas e ou emocionais, como insônia, enxaqueca, alcoolismo, no alívio da dor, para citar alguns, bem como sua importância.

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Embora tenha sido apresentada sob diferentes conceitos ao longo de sua evolução, Barber a entende como um comportamento hipnótico sugerido a partir de atitudes positivas, motivações ou expectativas que predispõem o indivíduo a pensar e ou imaginar de boa vontade os temas sugeridos (FERREIRA, 2006). Na visão do próprio Ferreira, hipnose médica é “[...] essencialmente um estado da mente no qual as sugestões são mais profundamente aceitas do que no estado de vigília, mas também agem mais poderosamente do que seria possível durante o estado de vigília” (2003, p. 155). Para a Associação Americana de Psicologia, Divisão de Hipnose Psicológica, a hipnose consiste em

[...] um procedimento durante o qual um profissional de saúde ou pesquisador sugere que um cliente, paciente, ou um sujeito experimente mudanças de sensações, percepções, pensamentos e comportamentos. O contexto hipnótico é geralmente estabelecido por um procedimento de indução. Embora haja muitas induções hipnóticas diferentes, a maioria inclui sugestões de relaxamento, calma e bem-estar. Instruções para pensar sobre experiências agradáveis são também comumente incluídas em induções hipnóticas (TIBÉRIO; de MARCO & PETEAN, 2004).

Pela consciência dos inúmeros benefícios que a hipnose é capaz de apresentar, o objetivo geral deste trabalho está em destacar a importância da hipnose como terapia complementar em processos terapêuticos físicos e psicológicos. Começando por uma revisão bibliográfica sobre o assunto, passa a investigar e descrever a história da hipnose no Brasil e no mundo, além de esclarecer seu uso eficaz na prática clínica, bem como o estado legal em que se encontra atualmente junto aos profissionais na área das ciências da saúde e humanas.

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2 HISTÓRIA DA HIPNOSE

Etimologicamente, a palavra hipnose tem uma origem grega, cujo termo Hypnos significa sono, significado esse que provocou uma ligação com o ato de dormir e que perdura até os tempos atuais. Entretanto, é pertinente esclarecer que o estado hipnótico é muito mais do que isso, pois libera o paciente para a indução do transe, conduzindo-o a um estado de relaxamento semiconsciente, mas com manutenção do contato sensorial deste com o ambiente. Pelos conceitos desenvolvidos por Milton Erickson, um dos maiores expoentes em hipnose no mundo, o ser humano tem como característica a habilidade de responder às sugestões e aceitá-las. Com a utilização de técnicas de hipnose, o terapeuta dá ao paciente a chance de escutar realmente os conceitos mentais, de modo que este se torna receptivo aos padrões, às associações e aos modelos de funcionamento que conduzem à solução de problemas (ERICKSON, HERSHMAN & SECTER, 2003; FERREIRA, 2006). Na visão dos autores, “[...] transe é um estado psicológico determinado da consciência [...] e que ele difere do estado comum da consciência” (p. 53). No entanto, embora aponte para a inexistência de estudos que comprovem a existência do transe, Ferreira (2006) considera um desserviço à indução hipnótica não reconhecer tal estado. Segundo ele, “[...] não havendo um estado para o paciente entrar, por que fazer o processo de indução?” (p. 54). Segundo Stark (apud FERREIRA, 2006), a influência da hipnose se liga à alteração do autocontrole na medida em que, ao prestar atenção a um determinado aspecto ou senti-lo, este se configura como “estado alterado”, e o fato de se esperar modificações a partir do que se pretenda que aconteça, produz alterações nos pensamentos, atos e sentimentos do indivíduo. Para William Edmonston Jr, o termo para descrever hipnose seria anesis, uma vez que o autor considera que o relaxamento é condição essencial para que o indivíduo responda melhor às sugestões (apud FERREIRA, 2006).

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2.1 As Origens

Embora a palavra hipnose tenha sido revelada ao homem apenas no século XVI, desde a Antiguidade esta se achava representada através de desenhos em cavernas, nas cerâmicas, por assírios e egípcios. Pincherle & Colaboradores (1985 apud ANDRADE FARIA, 1961) referem que em Tebas foi encontrado um baixo-relevo num sarcófago, cujo desenho denota um sacerdote induzindo um paciente. Conforme sustenta Bauer (2002), os homens primitivos registravam situações de sua vida cotidiana através de desenhos e outras simbolizações que tinham por objetivo representar seu modo de comunicação. No Talmude se faz alusão ao encantamento de serpentes, enquanto que os gregos antigos usavam o sono hipnótico para a cura de diversos males nos chamados “templos do sono”. O mais antigo relato de transmissão de fluidos através de passes foi registrado entre os sacerdotes caldeus há cerca de 2400 a.C. Entre os gregos e indianos, a hipnose apresentava-se sob a face de “milagres” operados por sacerdotes, bruxos ou feiticeiros, os quais se designavam mensageiros de Deus (AKSTEIN,1973, apud FERREIRA, 2006). Entre os egípcios, há registros de curas através da hipnose nos Papiros de Ebers (datado aproximadamente entre 1536-1534 a.C., nono ano do reinado de Amenophis I na XVIII Dinastia e publicado em 1875, em Leipzig, pelo egiptólogo George Ebers, segundo BAPTISTA e colaboradores, 2003, os quais dão uma idéia a respeito da teoria e prática da medicina egípcia antes de 1552 a.C., cujas culturas, regidas por um pensamento mágico-religioso, dão conta de que a atividade médica e seus médicos se encontravam sob a proteção divina (GARCIA-ALBEA, 1999). Considerado um dos precursores da hipnose, Franz Anton Mesmer, discípulo do padre Maximiliano Hehl - professor de astronomia na Universidade de Viena, ajudava seu mestre a aplicar magnetos que tinham as formas de vários órgãos humanos, utilizando-os de acordo com o local onde se alojava a doença do paciente. Sobre o assunto, Shrout (1985) comenta que padre Hehl sabia que suas curas tinham muito mais um cunho psicológico do que físico, pois se o poder de cura estivesse realmente nos magnetos, seriam indiferentes as formas, de onde se infere que a crença em talismãs ou amuletos sempre esteve presente entre os homens.

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Como Hehl, Padre Gassner (SHROUT, 1985) também usava os magnetos, cujo ritual começava por deixar seus pacientes no centro de uma sala a sua espera, momento em que Gassner chegava até eles portando nas mãos estendidas ao alto um crucifixo negro. Seus pacientes eram antecipadamente avisados que de quando fossem por ele tocados com o crucifixo, deveriam cair imediatamente ao chão, numa espécie de morte, enquanto o padre expulsaria os demônios para devolver-lhes a saúde (BRYAN, 2009). Shrout (1985) também comenta sobre a dramaticidade que envolvia as sessões de cura de Padre Gassner, a qual envolvia o uso de mantos esvoaçantes, expressando-se em latim e com um crucifixo enfeitado com pedrarias. Entretanto, isso não impediu que o padre obtivesse uma média de cura de cerca de setenta e cinco por cento dos casos que atendeu (idem). Se Mesmer já se encontrava fascinado com os trabalhos de Hehl, depois de assistir várias performances do Padre Gassner, por volta de 1775, decidiu-se a estudar o assunto. Embora mais tarde se tenha comprovado a puerilidade de seu método, Mesmer conseguiu um sucesso considerável numa época em que sangrias e amputações eram as práticas médicas mais usadas, cujo caso de cura mais notável foi o de Maria Theresa Paradis, uma jovem pianista curada de cegueira em 1777(FERREIRA, 2006). Aprimorando esta linha de trabalho, os apontamentos de Erickson, Hershman & Secter, (2003) referem os postulados de Mesmer, em que “[...] um certo fluido que circulava no corpo era influenciado por forças magnéticas originadas a partir dos corpos astrais” (p. 20). Os dados disponíveis na época davam credibilidade científica a sua teoria, coincidindo com o descobrimento da eletricidade e mais alguns avanços na astronomia. Dado o sucesso do método por ele empregado, Mesmer passou a acreditar que o poder de cura estava antes na pessoa do “magnetizador” do que no próprio instrumento, passando então a aplicar seu tratamento a várias pessoas ao mesmo tempo. Para tanto, idealizou uma grande tina (baquet em francês), distribuindo dentro dela garrafas de vidro com as bocas voltadas para o centro, cobertas com limalha de ferro e vidro moído, completando o restante do espaço com água. A séance (reunião) tinha início então com as pessoas alinhadas ao redor desta tina (comportava 130 pessoas de cada vez) segurando as garrafas de vidro, onde deveriam tocar a pessoa mais próxima. Entrando de modo impactante no

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recinto, Mesmer ia de um em um aplicando passes até que eles caiam num transe cataléptico (SHROUT, 1985; FERREIRA, 2006). O alcance de suas curas deu-lhe uma reputação memorável, espalhando o Mesmerismo rapidamente pela Europa, ao mesmo tempo em que fez provocar em seus colegas uma grande animosidade, fazendo com que a Academia Francesa designasse uma comissão especial para investigá-lo, a qual foi composta por Benjamin Franklin, Lavoisier e Dr. Guillotin (o inventor da guilhotina), entre outros (ERICKSON, HERSHAN & SECTER, 2003; FERREIRA, 2006; SAURET, 2008).

Una de las comisiones de investigación - la encabezada por Benjamin Franklin- estaba formada por miembros de la Facultad de Medicina -Borie, Sallin, DArcet y Guillotin -, y de la Academia de Ciencias - Le Roy, Bailly, Lavoisier-, mientras que la segunda estaba formada sólo por miembros notables de la Sociedad Real de Medicina - Possonier, Caille, Mauduyt, Audry y Laurent de Jussieu. Sus frutos fueron dos amplios informes (Commissaires de lAcadémiee de Sciences et la Faculté de Médecine, 1784; Commissaires de la Société Royale de Médecine, 1784), reproducidos en forma amplia en la documentada obra editada por Burdin y Dubois (1841) (TORTOSA, GONZÁLEZ-ORDI e MIGUEL-TOBAL, 1999, p.8)

As conclusões da comissão apontaram Mesmer como uma fraude, ao verificar que algumas pessoas eram sensíveis ao magnetismo animal e experimentavam uma reação convulsiva quando tocadas pelos objetos, porém sem conseguir identificar quais objetos tinham sido magnetizados, a menos que os vissem no momento do acontecido: “A imaginação sem magnetismo provoca convulsões, o magnetismo sem imaginação não provoca nada” (SAURET, 2008, p. 27). Estas conclusões, seus acertos e desacertos foram brilhantemente tratados por Chertok & Stengers (1990), no livro O coração e a razão, a hipnose de Lavoisier à Lacan. Pincherle & Colaboradores (1985) sustentam que desde a Antiguidade o fenômeno mesmérico já era utilizado por sacerdotes egípcios, nos templos hindus, por gregos, por Paracelso no século XV, Van Helmont e Valentin no século XVI, Greatrakes no século XVII, Cagliostro no século XVIII, porém circunscritos à religião. O que Mesmer postulava com seus achados era uma explicação científica para tais ocorrências.

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Entretanto, a originalidade do trabalho de Mesmer e que não teve o reconhecimento devido na época estava em que os pacientes eram capazes de alterar comportamentos mediante a sugestão dada por ele. É por esta razão que Erickson, Hershman & Secter (2003) apontam como base da psiquiatria dinâmica moderna o trabalho de Mesmer e sua teoria do magnetismo animal, além de que tais trabalhos permitiram que se aperfeiçoasse a percepção existente entre sugestão hipnótica e psicoterapia. Neubern (2008) aponta duas grandes consequências históricas para que o Mesmerismo fosse desqualificado enquanto ciência como foi. Primeiramente, o esquecimento de grandes nomes do magnetismo, não obstante “[...] suas contribuições para a construção da psicologia (p. 444)”. Num segundo plano, embora a hipnose “[...] fosse herdeira histórica do mesmerismo, seus promotores buscaram concebê-la como um método legitimamente científico, desvencilhado de noções místicas, como fluidos e imaginação, para se fundamentar nas estruturas nervosas do cérebro” (CARROY, 1991; MÉHEUST, 1999 apud NEUBERN, 2008, p. 445). Armand Marie Jacques Chastenet de Puységur, Marquês de Puységur, foi seu discípulo mais aplicado, descobrindo o sonambulismo artificial em 1784, segundo Ferreira (2006) e Sauret (2008), professor titular da Universidade de Tolouse, que esteve no Brasil a convite de Universidades do Rio de Janeiro em 2005. Sobre o assunto, Woznyak (2009) comenta que Puységur tratou Victor Race, um trabalhador de sua fazenda. Abaixo a tradução em espanhol da versão original inglesa:

Cuando Victor, quien en condiciones normales nunca se habría atrevido a confiar sus problemas personales al señor de la casa, admitió en el transcurso del sueño magnético que estaba disgustado por una pelea que había tenido con su hermana, Puységur le sugirió que hiciera algo para resolver la querella y, después de despertar, sin recordar las palabras de Puységur, Victor obró de acuerdo con la sugestión del marqués (trad. VIVES, 2009).

O sono lúcido apontado pelo Abade Faria, um sacerdote português, nada mais era do que “[...] a vontade do paciente”, afirmando que os determinantes de

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cura eram a perfeita sintonia entre paciente e hipnotizador e a vontade de curar-se (FERREIRA, 2006, p.11). Em Londres, o Mesmerismo renovou-se com os estudos de um professor de Medicina da Universidade de Londres, o médico e professor Elliotson, o qual publicou suas descobertas no jornal intitulado Zoist (ERICSON, HERSHMAN & SECTER, 200; FERREIRA, 2006), com edição trimestral destinada a expor temas referentes ao Mesmerismo em1855. Os fenômenos hipnóticos foram investigados pela Associação Médica Britânica em 1891, cujo relatório apresentado no ano seguinte pode ser assim resumido: 

Pleno convencimento quanto ao fenômeno;



O termo “hipnose” não é representativo do que ela seja, uma vez que o sono fisiológico e a hipnose não são a mesma coisa;



Eficaz no alívio das dores, embriaguez, na realização de atos cirúrgicos;



Deve ser usada exclusivamente por médicos para fins terapêuticos, apenas em homens. Quando em mulheres, diante de familiares ou pessoas do mesmo sexo;



Condenação para fins recreativos (FERREIRA, 2006). Simultaneamente aos estudos de Elliotson, James Braid usou o termo

“Hipnose” e mesmo depois de arrepender-se do nome, este já se encontrava de tal modo associado à prática que não foi mais possível mudá-lo (ERICSON, HERSHMAN & SECTER, 2003). Contudo, o prefixo hypn- já havia sido grafado 20 anos antes pelo francês Etienne Felix d’Henin de Cuvillers (FERREIRA, 2006). A concepção de Braid acerca da hipnose e dos mitos que já naquela época a circundavam ficam bastante explícitas a partir da tradução de um excerto retirado do seu livro Neurypnology Or The rationale of nervous sleep considered in relation with animal magnetism (FERREIRA, 2006):

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Estou ciente do grande prejuízo que foi levantado contra o Mesmerismo a partir da idéia que poderia estar voltado para fins imorais. No que respeita ao estado Neuro-hipnótico, induzido pelo método explicado no presente tratado, estou certo de que tal não merece censura. Eu tenho provado por experiências, tanto em público como privado que, durante o estado de excitação, o julgamento é suficientemente ativo para os pacientes, se possível, ainda mais fastidioso no que diz respeito à sobriedade de conduta, do que na condição de vigília; [...] E, finalmente, o estado não pode ser induzido, em qualquer fase, a não ser com o conhecimento e consentimento do paciente. Isto é mais do que se pode dizer a respeito de uma grande parte dos nossos mais valiosos medicamentos, [...] Ela nunca deveria ser perdido de vista, pois que existe o uso e abuso de qualquer coisa na natureza. Trata-se do uso, e apenas da utilização judiciosa do Hypnotismo, que eu defendo. (BRAID, 1843,pp.10-11 )

Shrout (1985) sustenta que a descoberta de que algumas pessoas tinham a capacidade de entrar em transe hipnótico ao fixar o olhar em um ponto de luz fez Braid ir mais adiante, testando sugestões para apressar o processo. Em seus estudos, percebeu que a concentração do próprio paciente em um objetivo determinava o processo hipnótico, sendo que em 1847 relatou fenômenos de catalepsia, anestesia e amnésia, os quais eram possíveis mesmo sem o paciente dormir (FERREIRA, 2006). Embora seus estudos pouco tenham influenciado os ingleses, estes foram retomados “[...] como técnica anestésica, pelos médicos franceses como Azam, Broca, Cloquet, Velpeau”, (SAURET, 2008, p. 28), cuja prática anestésica a partir da hipnose se mantém até o uso do clorofórmio. Na Índia, o Mesmerismo chegou através de James Esdaile, um cirurgião escocês que fez inúmeras cirurgias utilizando anestesia mesmérica, inclusive com a publicação em 1850 do livro Mesmerism in Indian and its Practical Aplication In Surgery and Medicine e em 1918 pela Harvard College Library. Abaixo, a tradução de um pequeno trecho prefaciado pelo autor e retirado do livro no original:

O que eu agora ofereço ao público é o resultado de apenas oito meses de prática do Mesmerismo em um hospital de caridade, mas foi suficiente para demonstrar a singular mais benéfica influência que o Mesmerismo exerce sobre a constituição do povo de Bengala, e que intervenção médicocirúrgica indolor, entre outras vantagens, são um direito natural; [...]. Hooghly, Fevereiro, 1 º, 1846. (ESDAILE, 1847, p.7)

No entanto, mais detalhadamente pode se analisar sua prática pela descrição feita a partir de alguns atendimentos que realizou:

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13 de julho – 4 homens e 1 mulher deram entrada hoje: Nº 1 – lumbago Nº 2 – ciático Nº 3 – dor ao longo do nervo crural (parte da frente da coxa nos quadríceps, tendo por origem uma agressão do nervo entre a 3ª e a 4ª vértebra lombar) Nº 4 - reumatismo sifilítico Nº 5 - ditto (sem tradução – grifo meu) Todos foram usualmente manipulados, observando-se a respiração. Depois do primeiro dia, todos foram induzidos a beber água “mesmerizada” diariamente, até o 17º dia, [...] no caso do sifilítico, os benefícios não foram os esperados; aqueles que constituíam uma doença específica continuaram em tratamento; as dores locais foram atenuadas [...] (ESDAILE, 1847, p.7)

A valiosa contribuição de James Esdaile ao estudo da hipnose faz desse livro um importante documento científico, pois tal como os atuais pesquisadores, ele observou “[...] que havia uma sensível diminuição do trauma cirúrgico em seus pacientes hipnotizados. Ele ou seus auxiliares nativos mesmerizavam pacientes pela manhã e os deixavam em estado cataléptico” (ERICKSON, HERSHMAN & SECTER, 2003, p. 21). As cirurgias eram realizadas mais tarde, cujos casos eram documentados e observados por médicos e autoridades do local. Em Nancy, na França, Ambroise-Auguste Liebeault foi quem levou a termo os estudos sobre o tema, afirmando que os fenômenos do hipnotismo eram subjetivos em sua origem, pois era a sugestão verbal que representava o fator hipnotizante (SAURET, 2008). Lendo sobre os trabalhos de Braid, foi aplicando a hipnose por mais de vinte anos de forma quase gratuita para evitar a pecha de charlatão; porém, seu trabalho só foi reconhecido quando tratou de um caso enviado por um colega neurologista e professor da faculdade de Medicina, Bernheim. Em tratamento há seis anos sem lograr êxito, nas mãos de Liebeault o paciente curou-se após algumas sessões de hipnose. Daí em diante, os dois, Liébeault e Bernheim, trataram cerca de dez mil pacientes (ERICKSON, HERSHMAN & SECTER, 2003), o que permitiu à Bernheim elaborar o primeiro tratado sobre hipnose – Suggestive therapeutics em 1886, publicando também o livro De la suggestion et de sés applications a la therapeutique (FERREIRA, 2006). Seus trabalhos criaram um referencial em hipnose, ficando conhecido como Escola de Nancy e chamando a atenção de especialistas no mundo inteiro. Sua obra, Confesiones de un medico hipnotizador, contém uma descrição de como sua técnica evoluiu:

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Hice uso del método mas empleado para producir el sueno artificial, el de Dupotet y La Fontaine [...] De este procedimiento clásico, al que encontré inconvenientes, pasé a ensayar el de Braid [...] al procedimiento es conocido por los magnetizadores durante largo tiempo, añadimos la sugestión del sueno, ya utilizada por el abate Faria [...] A partir de esta reforma capital em mi manera de hipnotizar mis enfermos si durmieron tranquilamente y con mucha más rapidez.(In Lièbeault 1891, 290-293 apud TORTOSA, MIGUEL-TOBAL & GONZÁLEZ-ORDI, 1999, p. 14)

Enquanto Liebeault só teve seu trabalho reconhecido após a associação com Bernheim, este publicou diversos trabalhos sobre hipnose. Em 1891 publicou Hipnose, sugestão e psicoterapia (SAURET, 2008). Bernheim (apud TRIPICHIO, 2009) afirmava que o sono hipnótico ou provocado era uma condição fisiológica possível de ser alcançada por qualquer pessoa, alguns mais facilmente que outros e que o estado hipnótico não era uma condição inerente à histeria. Ferreira (2006, p. 13; TRIPICHIO, 2009) comenta que Bernhein acreditava que a capacidade “[...] do cérebro de receber ou evocar idéias e sua tendência a realizá-las ou transformá-las em atos” era dada pela sugestão. A repercussão dos estudos realizados sobre hipnose estimulou outro francês, um fisiologista, a percorrer os caminhos do hipnotismo: Charles Richet, que por sua vez, levou Jean Martin Charcot, neurologista em Salpêtriêre, a focalizar a hipnose, afirmando que “[...] a hipnose era apenas uma outra forma de histeria” (ERICKSON, HERSHMAN & SECTER, 2003, p. 22; FERREIRA, 2006). Acreditava Charcot que somente as pessoas histéricas poderiam ser hipnotizadas (SHROUT, 1985). Segundo ele, o entendimento clínico para ocorrências de traumas psíquicos, comportamentos hipnóides, sugestão e representação inconsciente divergia daquelas até então aceitas pelos estudiosos da época, os quais acreditavam que tais problemas localizavam-se no cérebro ou eram provocados por alterações em seu funcionamento (FULGÊNCIO, 2006). Esta oposição de idéias entre as duas escolas deu início a uma longa luta (ANDERSSON, 2000 apud FULGÊNCIO, 2006), durando cerca de dez anos, mesmo após a morte de Charcot. Jean Martin Charcot ficou muito bem conhecido pelos profissionais de medicina por tantas e variadas realizações, como o banho de Charcot, pela doença de Charcot, pela junta de Charcot, pela síndrome de Charcot, microaneurisma de

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Charcot-Bouchard, esclerose lateral, entre muitos outros, além de seu trabalho com a atrofia muscular neuropática progressiva, de conhecimento de todos os estudantes de medicina, conforme aponta Teixeira (2001). A neurologia se colocou como uma especialidade médica na segunda metade do século XIX em decorrência de seus estudos e de seus discípulos em Salpêtrière. Em 1878, Charcot apresentou a teoria de três estágios hipnóticos: catalepsia – fixação do olhar do paciente num determinado objeto luminoso, produção de um som abruptamente; letargia - paciente de olhos fechados ou cessar o objeto luminoso; sonambulismo – pressão ou fricção no alto da cabeça (FERREIRA, 2006). No entanto, mesmo sua fama não o poupou de ver enfraquecida sua reputação quando defendeu, contra as teorias da Escola de Nancy, que a hipnose seria um estado patológico capaz de enfraquecer a mente humana, situação que muito se agravou após sua morte quando um colaborador direto, Babinski, deu declarações sobre falsas curas sustentadas por Charcot. Além disso, Janet, seu aluno e Dubois, aluno de Bernheim, viriam mais tarde a concordar com os preceitos da Escola de Nancy (SAURET, 2008). Um dos colaboradores de Charcot, Pierre Janet, publicou sua tese de doutorado sob o título “L'Automatisme psychologique” em 1889 na Sorbonne, a primeira de uma série de tratados sobre as manifestações do inconsciente, estudos que serviram de base para reputá-lo como o fundador da moderna psicologia dinâmica (THEÓPHILO ROQUE, 2009). Neste tratado, Janet reorganizou a consciência sob três aspectos: catalepsia (consciência puramente afetiva, reduzida às sensações e às imagens), a sugestão (consciência desprovida de controle, orientação e percepção) e o sonambulismo, como um campo de consciência comparável ao estado vígil (CHERTOK & STENGERS, 1990). Muito natural então que a ampla divulgação na comunidade científica sobre a hipnose chamasse a atenção daquele que é considerado o fundador da psicanálise. Junto com Breuer, Freud havia usado a hipnose para ajudar pessoas com distúrbios emocionais (ERICKSON, HERSHAMN & SECTER, 2003). No entanto, como quisesse desenvolver técnicas próprias, em 1890 Freud foi para Nancy, através de uma bolsa de estudos do governo, passar algumas semanas na

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Salpêtrière, em Paris, estudar com Jean-Martin Charcot, o qual realizava experiências com doentes mentais, principalmente a histeria, utilizando a hipnose. Para Breuer, as doenças mentais provinham de conflitos que estavam localizados na mente da pessoa, e não necessariamente biológicos. Breuer acreditava que através da hipnose a pessoa poderia driblar censuras que a impediriam de lembrar certos fatos (os traumas) e assim livrar-se dos males que as incomodavam. Freud depois descreveu esse estado como catarse. Seu caso mais famoso e para o qual contou com a ajuda de Freud foi a paciente cujo pseudônimo era Anna O, uma moça de 21 anos, depressiva e hipocondríaca (quadro na época denominado "histeria"); ela se acreditava paralítica em algumas ocasiões, ou não conseguia beber água mesmo estando com sede, e se sentia incapaz de falar seu próprio idioma, o alemão, recorrendo ao francês ou inglês para se comunicar. Breuer submeteu-a à hipnose e ela relatou casos de sua infância, o que lhe causava enorme bem-estar após o transe hipnótico. Freud (1888 apud GOMES, 2005, p. 149) refere, ao prefaciar a tradução do livro de Bernheim, De la suggestion, que a questão a colocar seria “[...] saber se todos fenômenos da hipnose devem passar em algum lugar através da esfera psíquica [...] se as mudanças de excitabilidade que ocorrem na hipnose afetam invariavelmente apenas a região do córtex cerebral”. Aqui se encontram as primeiras indicações de uma preocupação bastante atual, que é a de investigar as bases neurais da hipnose. Embora a hipnose fosse o tema em voga no meio científico, Freud a descartou como técnica de cura, passando a usar a técnica desenvolvida por ele de “associação de idéias”, convencido que estava de que ao induzir o paciente a um estado de total relaxamento, este recordava emoções recalcadas e que eram a causa de seus distúrbios. Esta convicção, conforme sustenta Cobra (2009) fez Freud formular a teoria

[...] de que os sintomas histéricos teriam origem na energia dos processos mentais os quais, impedidos de influenciar a consciência, são desviadas [sic] para a inervação do corpo e convertidos nesses sintomas. Devido à natureza das experiências traumáticas recordadas pelos pacientes, ficou convencido de que o sexo tinha parte dominante na etiologia das neuroses. Logo passou a considerar o desejo sexual como motivação praticamente única do comportamento humano, quer direta, quer indiretamente. Essa ênfase foi a principal causa do afastamento de Breuer, e do rompimento que ocorreria no futuro com vários de seus colegas. (COBRA, 2009)

31

Nos anos subsequentes, especialistas de várias partes do mundo, entre eles Bramwell e Moll da Grã-Bretanha (apud BRYAN, 2008), Morton Prince (apud PINCHERLE

&

COLABORADORES,

1985),

McDougall

(apud

ERICKSON,

HERSHMAN & SECTER, 2003) dos Estados Unidos e Pavlov na Rússia (FERREIRA, 2006), continuaram a fazer uso do hipnotismo, especialmente os neurologistas, uma vez que a maior parte das doenças mentais era estudada à luz da neurologia, os quais foram influenciados diretamente pelos trabalhos de Freud.

2.2 Hipnose na Era Moderna

Outro nome referenciado em hipnose, Pavlov (Escola de Reflexologia) teceu suas teorias sobre o tema quando começou a trabalhar com reflexo condicionado, as quais originaram Sobre a fisiologia no estado hipnótico do cão. Suas anotações o levaram a afirmar que os reflexos condicionados respondem pela adaptação do homem ao meio, cujos estímulos podem vir do ambiente ou do próprio organismo. Ferreira (2006) considera que durante a ocorrência da hipnose, segundo a teoria de Pavlov, a partir de um estímulo inicial no córtex cerebral atuando repetidamente (que pode ser visual, tátil, auditivo, cinestésico), este provoca uma ação inibidora reflexa em todos os estímulos iniciais, embora o paciente continue em estado de vigília. A seguir, assertivas quanto ao cansaço das pálpebras produz o fechamento dos olhos. Neste exemplo, o estímulo é auditivo, uma vez que é pela fala que o hipnotizador mantém o hipnotizado em estado hipnótico. Em

estudos

conduzidos

por

Fernandes-Guardiola

(2005),

os

experimentos de Pavlov mostraram novos caminhos para tratar os fenômenos psíquicos ao considerar os reflexos do meio sobre o organismo humano:

? é características diferenciales hay entre estos nuevos fenômenos en comparación com l os fisiológicos? [...] la diferencia consiste em que, mientras em La forma fisiológica la sustância entra em contacto directo con el organismo, em la psíquica actúa a distancia [..]; cuantos reflejos fisiológicos desencadenan la nariz, los ojos y los oídos, reflejos que son, por consiguiente, reflejos a distancia! (PAVLOV 1903/1968 apud FERNANDES-GUARDIOLA: 2005, p. 57).

32

Com o advento da Primeira Guerra Mundial e o grande número de pessoas com traumatismos, tanto físicos quanto psicológicos, o assunto voltou à tona com o psicanalista alemão Ernst Simmel, que desenvolveu a técnica chamada hipnoanálise. Durante a Segunda Guerra, Grinker e Spiegel utilizaram barbitúricos para induzir a hipnose através de medicamentos (ERICKSON, HERSHMAN & SECTER, 2003). O interesse dos americanos foi despertado por Clark L. Hull, com suas observações registradas no livro Hypnosis and suggestibility, em que o autor, em comentários de Horton & Crawford no Jornal Americano de Hipnose (2009) conclui que “[...] a única coisa que parece caracterizar a hipnose como tal e que dá qualquer justificativa

para

a

prática

de

chamar-lhe

um

"estado"

é

a

sua

hipersugestionabilidade generalizada”. A guerra da Coréia entre os anos de 1950 a 1953 foi mais um dos momentos em que se fez ressurgir a prática da hipnose nos Estados Unidos e na Inglaterra, o que fez a British Medical Association e a American Medical Association decidirem pela inclusão da hipnose nos currículos dos cursos de medicina (ERICKSON, HERSHMAN & SECTER, 2003), tendo em vista sua reconhecida eficácia no tratamento de várias patologias, tanto físicas quanto psicossomáticas. Estas aprovaram também oficialmente o uso do método hipnótico como tratamento auxiliar em 1955 e 1958, respectivamente, segundo os apontamentos de Horton & Crawford (2009). Apontado como uma das maiores autoridades em hipnoterapia e psicoterapia breve, Milton Erickson é considerado dentro dos estudos em hipnose o que foi Freud para a psicanálise. A hipnoterapia Ericksoniana, assim chamada em razão de ter sido elaborada por Milton Hyland Erickson (1901 - 1980), psiquiatra americano do início do século XX, passou a ser considerada uma divisora de águas entre a hipnoterapia clássica, estabelecida à época da experimentação científica, e o modelo vigente na atualidade. Coautor de cinco livros sobre o assunto, Erickson publicou mais 130 artigos, a maioria deles versando sobre as aplicações da hipnose, buscando expandir e reformular a forma pela qual se compreendia a hipnose e a forma de trabalhar os fenômenos a ela associados. No prefácio de Hipnose Médica e Odontológica, Aplicações Práticas, Jeffrey Zeig afirma que Erickson criou um modelo de tratamento em que procurou

33

utilizar recursos do próprio paciente, mudando com isso o curso da hipnose, pois até então esta era praticada a partir de sugestões dadas ao paciente pelo hipnotizador, mas sem considerar suas motivações intrínsecas. As anotações de Erickson, Hershman & Secter (2003, p. 9) dão conta de que “O trabalho de Erickson parte de dentro para fora (inside out) e métodos indiretos eram utilizados para despertar forças do paciente, ao invés da aplicação de sugestões poderosas dirigidas contra um paciente passivo”. Pelas palavras de Zeig (ERICKSON, HERSHMAN & SECTER, 2003) se depreende o quanto o trabalho de Milton Erickson influenciou a comunidade científica, ao elaborar uma teoria que prometia desvelar os meandros da mente humana, ajudando o indivíduo a encontrar dentro de si mesmo a resposta para os seus males. Zeig (2003) considera que uma razão bastante plausível para o sucesso dos estudos de Erickson tenha sido o fato de ter usado em sua própria vida seus ensinamentos, uma vez que usava a hipnose para controlar a dor praticamente todos os dias. Pela citação abaixo, é possível entrever uma fração de sua técnica:

Quando Erickson realizava auto-hipnose [sic] para controlar o sofrimento, ele não se programava; ao invés disso, deixava seu inconsciente trabalhar a idéia de conforto e então seguia as sugestões que recebia. [...] prestava atenção na posição do polegar entre seus dedos, logo que levantava da cama. Se estivesse entre seus dedos mínimo e anular, isto significava que tinha controlado bastante a dor durante a noite. Caso estivesse entre o anular e o médio, tinha controlado menos dor; e se estivesse entre o médio e o indicador, ainda menos. Dessa forma, ele tinha uma idéia de quanta energia disponível teria para o trabalho daquele dia e então sabia que o inconsciente pode funcionar de forma autônoma e benigna (ZEIG, 2003, p. 52)

Um outro ponto que o autor considera essencial ao sucesso de Erickson era o seu lado humano, capaz de dedicar uma preocupação e uma generosidade genuína a quem viesse em busca de auxílio, sem poupar tempo ou esforço. Embora não fosse um intelectual no sentido acadêmico, sua fala era extremamente clara e correta, com uma atenção especial à linguagem, preocupando-se em se fazer entender de forma cristalina a quem quer que o ouvisse (ZEIG, 2003). Não raro utilizava seus conhecimentos em literatura, agricultura e antropologia para lidar com os pacientes.

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A comunicação de múltiplos níveis idealizada por Erickson se estabelece a partir de conteúdos verbais e comportamentos não-verbais e as implicações decorrentes de ambos os processos (ZEIG, 2003). Erickson estudou profundamente a hipnose e seus fenômenos durante toda sua vida, demonstrando-a como um fenômeno natural da mente humana, bem como sua existência e efeitos no cotidiano. Utilizou a hipnose em praticamente todos os problemas psicológicos, sendo autor de inúmeros artigos, livros e pesquisas científicas na área. Dentre as diversas contribuições de Erickson para o campo da Psicologia pode-se citar o conceito de utilização da realidade individual do paciente, a Terapia Naturalista, as diferentes formas de comunicação indireta, a técnica de confusão e de entremear. É considerado o maior hipnoterapeuta do século XX devido a sua abordagem breve, estratégica e voltada para a solução de problemas (ZEIG, 2003). Em 1941, White expôs sua teoria do comportamento dirigido, onde o autor teorizou que o objetivo principal é conduzir a ação do paciente a um comportamento previamente determinado pelo hipnotizador, mas que também ele, paciente, entenda o objetivo do trabalho (FERREIRA, 2006). A complexidade do transe hipnótico levou Wolberg a afirmar que o transe se refere tanto a elementos psicológicos quanto fisiológicos e por esse motivo não pode ser explicado de uma forma excludente (FERREIRA, 2006). Australiano, mas que estabeleceu sua prática clínica na Inglaterra, Sydney J. Van Pelt foi outro médico a utilizar largamente a hipnose em seus pacientes, além de difundir o conhecimento científico adquirido por meio do seu trabalho. Sobre o assunto, Ferreira (2006, p.16-17) tem a comentar que Van Pelt considerava que hipnose seria uma “[...] ‘superconcentração da mente’ [...]”, uma vez que durante o processo hipnótico, “[...] ‘as unidades de poder mental’ [...]” convergem para um foco específico, quando então seriam afetadas pela sugestão. A teoria da exclusão psíquica relativa da mente sustenta a premissa de que o indivíduo tem duas mentes: a mente objetiva, que age indutiva e dedutivamente e a subjetiva, que só raciocina dedutivamente. Quando a pessoa entra em estado hipnótico, dá lugar à mente subjetiva (FERREIRA, 2006). A entrada definitiva da hipnose nos laboratórios experimentais inicia no período denominado Hipnose Científica, cujos fundamentos se assentam sobre os trabalhos de três grandes laboratórios, cada um com visões particulares. O de

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Hilgard, fundado em 1957, na Universidade de Stanford, estuda as relações da hipnose com variáveis como idade, sexo, características da personalidade, etc. (Idem, 2006). Kihlstron (2004) aponta que Stanford Hipnótico Susceptibility Scales, o método de escala de suscetibilidade hipnótica, concebido por Hilgard e Weitzenhoffer no final dos anos 1950 e início dos anos 1960, começa com um procedimento padronizado de indução hipnótica seguido por uma série de sugestões para experiências imaginativas. O tema da resposta a cada uma dessas sugestões é classificada então de acordo com um critério objetivo-comportamental. O referencial de Barber, na Fundação Medfiels do Hospital de Massachusets, tinha por objetivo estudar o papel e os efeitos da imaginação, expectativas, crenças, motivações e da emoção sobre a capacidade de hipnotização. Segundo Chaves (2006), nos últimos anos Barber teria se empenhado em encontrar um terreno comum entre as perspectivas teóricas da hipnose. Em seus estudos, aponta três tipos diferentes de classificação hipnótica: um tipo seria constituído por indivíduo com alta taxa de motivação, com atitude positiva em relação à hipnose. Outro tipo seria o indivíduo mais propenso à fantasia. O terceiro tipo incluiu o virtualmente propenso à sugestão hipnótica, o qual exibe várias formas de amnésia infantil. Por último, fundado em 1960 na Universidade de Harvard, o laboratório de Orne, dedica-se a estudar os fatores motivacionais da hipnose e os diferentes fenômenos hipnóticos como regressão hipnótica, produção de amnésia e hipermnésia. De seus primeiros trabalhos sobre hipnose, a grande maioria versa sobre técnicas de autorregulação hipnótica, de modo a reduzir estresse e fadiga (KIHLSTRON & FRANKEL, 2000).

2.3 Hipnose no Brasil

Do mesmo modo que a hipnose foi introduzida nos círculos médicos mundiais, no Brasil não foi diferente. Na época em que Freud e a Escola de Nancy estudavam-na cientificamente, em solo brasileiro estes estudos receberam o nome de método hipnótico-sugestivo, tal como preconizado por Bernheim. Um dos

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primeiros a documentar e publicar um livro sobre o assunto em terras brasileiras foi Francisco Fajardo (CÂMARA, 2009), onde este afirma que quem trouxe a hipnose à corte brasileira foi o médico Érico Coelho, apresentando à Academia Imperial de Medicina em 1887 estudos sobre a cura do beribéri. Esta foi a primeira vez a se demonstrar o uso da hipnose como ato médico, obtendo aprovação da Academia. A procura pelas publicações estrangeiras sobre hipnose e suas aplicações práticas despertou um crescente interesse não apenas na classe médica, mas também entre os intelectuais da época, além de provocar inúmeras polêmicas, inclusive com a igreja. O médico Érico Coelho foi injuriado pelo jornal católico “O Apóstolo”, que contestava a prática hipnótica. Em sua defesa saiu um artigo no jornal leigo da época, “O Paiz”, ao qual Érico Coelho dirigiu uma carta de agradecimento, citada abaixo por Câmara (2009):

Amigo Sr. Redator – Acabo de saber, lendo O Paiz, numero [sic] de hoje, que tomastes o trabalho de referir-vos aos impropérios que O Apostolo [sic] se dignou despejar ontem contra mim, a pretexto de vos contestar as virtudes da medicina sugestiva. Relevai, prezado Sr. redator, que eu vos não gabe o gosto e a paciência [...] Entretanto devo dizer que vos fico muito grato, e de mais a mais obrigado me fareis, se acaso conseguirdes indagar da Santa Madre Igreja por que regra a psicoterapia ofende a moral de O Apostolo [sic], quando é certo que o próprio Padre Eterno (no tempo em que foi moço) praticou o hipnotismo; haja exemplo a célebre ablação de costela que Adão sofreu durante o sono, tudo segundo reza o versículo, [...] que, apoiado em autor de tão boa nota, acalmeis as iracundas susceptibilidades de O Apostolo. [sic] Caso, porém, não possais ainda assim chama-lo [sic] à razão, o melhor será deixa-lo [sic] em liberdade. (CÂMARA, 2009)

Na atualidade, a produção científica elaborada por estudiosos do tema aqui no Brasil vem crescendo, os quais, embora amparados em estudos por especialistas do mundo inteiro, estão aplicando a hipnose em pacientes e criando um referencial teórico para servir de guia a quem deseja se aprofundar no tema e buscar subsídios para novos trabalhos. Nomes como Antonio Carlos de Moraes Passos, Marlus Vinicius Costa Ferreira, Maurício Neubern, Célia Martins Cortez, Carlos Roberto Oliveira são alguns dos pesquisadores sobre a hipnose em diversas áreas do conhecimento. A pesquisadora, professora, doutora e psicóloga Yedda Costa dos Reis lançou em 2008 o livro Construindo Caminhos com a Hipnose Terapêutica: Hipnobiodramaturgia. Segundo nota da autora no site da Universidade Federal do

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Rio

de

Janeiro,

Hipnobiodramaturgia

refere-se

a

uma

nova

abordagem

psicoterápica, cujo campo de conhecimento foi aprovado e considerado um precursor, não apenas no Brasil como também no exterior:

A Hipnobiodramaturgia nasceu da integração ou fusão das técnicas de psicodramaturgia, técnicas da hipnose e do programa Stressless. Os benefícios imediatos trazidos pela nova técnica são uma psicoterapia ao alcance de todos que necessitam de tratamento em curto prazo (REIS, 2009 apud NOGUCHI, 2009).

Em artigo publicado no site da Associação de Hipnose do Estado de São Paulo, o Dr. Joel Priori Maia (2009) considera como melhor denominação para a hipnose hoje praticada é a que chama de Hipnose Contemporânea. Segundo ele, a extensa variedade de teorias e procedimentos que tiveram como foco esclarecer mais pontualmente questões relativas à prática hipnótica fez com que a hipnose aplicada hoje ao campo da ciência apresentasse diferenças em relação ao que ele chama de Hipnose Clássica. Apresentada no IV Seminário São Paulo - Rio de Janeiro de Hipnose e Medicina Psicossomática, que se realizou em novembro de 1990 na cidade de São Paulo, o tema Hipnose Contemporânea foi debatido em mesa redonda pelos Drs. Álvaro Badra, Antonio Rezende de Castro Monteiro, David Akstein, Joel Priori Maia e José Monteiro. A mesa foi coordenada pelo Prof. Dr. Antonio Carlos de Moraes Passos. Uma outra abordagem em hipnose é praticada sob a denominação de Hipnose Condicionativa, cujo autor, Luiz Carlos Crozera, defende que esta não se trata de uma junção de outras técnicas, mas sim uma nova elaboração, em que o paciente é passivamente tratado através da hipnose clínica, para tanto se utilizando de um mecanismo de ordens e comandos diretos à mente humana. Nesta nova proposta, não existe a escuta terapêutica, mas apenas a voz do hipnólogo (CROZERA, 2009).

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2.3.1 Cronologia do Hipnotismo no Brasil

Conforme estudos apontados por Fernando Portela Câmara (2009), a hipnose encontrou em solo brasileiro um terreno fértil onde aplicar tais estudos. Abaixo, um resumo cronológico: 1823 – O médico pernambucano João Lopes Cardoso Machado publica Dicionário Médico-Prático – Para Uso dos que Tratam da Saúde pública, Onde Não Há Professores de Medicina. 1853 – Tradução portuguesa do livro de Du Potet, Prática Elementar do Magnetismo. 1857 – O Dr. José Maurício Nunes Garcia, professor da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, edita Estudos Sobre a Fotografia Fisiológica. 1861 – Fundada a Sociedade Propaganda do Magnetismo e o Júri Magnético do Rio de Janeiro por D. Pedro II, com pesquisa e tratamento pelo magnetismo animal. 1876 – Publicação do trabalho "Memória Sobre o Fluido Universal ou Éter", onde, entre outras coisas, prefigura a idéia de bioeletrogênese, de autoria de Melo Moraes. Dias da Cruz. Ferreira de Abreu, Gama Lobo e Gonzaga Filho pesquisavam o magnetismo animal e o seu potencial terapêutico, ainda desconhecendo os trabalhos de Braid sobre hipnotismo. 1887 – O Dr. Érico Coelho apresenta um caso de cura de beribéri pela hipnoterapia sugestiva à Academia Imperial de Medicina. Ainda segundo o autor, é a primeira apresentação da psicoterapia à medicina brasileira. 1888 – Francisco de Paula Fajardo Júnior é doutorado em medicina com a dissertação "Hipnotismo" (Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro), Cunha Cruz com a tese "Hipnotismo e Sugestão – Sua Aplicação à Tocologia", e Peixoto de Moura, com a dissertação “Fisiologia Patológica dos Fenômenos Hipnóticos". Na Bahia, Affonso Alves é doutorado com a dissertação "Das Sugestões no Tratamento das Moléstias Psíquicas". 1889 – Publicação do livro de Fajardo baseado na sua tese de doutoramento. Neste mesmo ano é apresentado, juntamente com Alfredo Barcellos, Aureliano Portugal e Érico Coelho, trabalhos sobre hipnose psicoterápica no II Congresso Brasileiro de

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Medicina e Cirurgia, além de também representarem o Brasil os doutores Joaquim Correia de Figueiredo e Siqueira Ramos no I Congresso Internacional de Hipnose Clínica e Terapêutica (8-12 de outubro) em Paris, presidido por Charcot. 1891 – Doutorado Alfredo F. de Magalhães pela Faculdade de Medicina da Bahia com a dissertação "O Hipnotismo e a Sugestão – Aplicações Clínicas". 1892 – José Alves Pereira é doutorado em Medicina pela Faculdade de Medicina da Bahia com a dissertação "Das Sugestões no Tratamento das Moléstias Psíquicas". 1895 – Apresentação da dissertação do Dr. José Alcântara Machado sobre hipnotismo ("Ensino Médico-Legal") para a vaga de lente substituto na cadeira de Medicina Legal e Higiene Pública da Faculdade de Direito de São Paulo. 1896 – Publicação em segunda edição do livro de Fajardo, ampliado e atualizado com o título Tratado de Hipnotismo. A excelência da obra é digna de nota de especialistas na Europa como Charles Richet, Hack Tuke, Azam, Delbouef, Brouardel, Féré, Dujardin-Beaumetz, Babinski, entre outros. 1916 – A Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro premia Carlos de Negreiros Guimarães com a dissertação "Do Conceito Moderno do Hipnotismo em Medicina". 1919 – Medeiros e Albuquerque publica no Brasil o livro O Hipnotismo, prefaciado pelos eminentes médicos Miguel Couto e Juliano Moreira. 1957 - Fundada, no Rio de Janeiro, a Sociedade Brasileira de Hipnose Médica. Das informações relacionadas a seguir, algumas foram obtidas de artigos científicos e estão relacionadas nas referências. As demais foram obtidas a partir do site da Sociedade Brasileira de Hipnose e Hipniatria (2009), o qual também se encontra devidamente referenciado ao final deste trabalho. 1961 – I Congresso Brasileiro de Hipnologia, I Congresso PAN AMERICANO DE HIPNOLOGIA e a II Reunião da Sociedade Internacional de Hipnose Clínica Experimental, no Rio de Janeiro, na Faculdade Nacional de Medicina (ALAKIJA, 1992). Regulamentação da hipnose através do decreto presidencial nº 51.009 de 22/07/1961, proibindo seu uso em espetáculos, clubes, auditórios, palcos, ou estúdios de rádio ou tevê. 1964 – Regulamentação da profissão de Psicólogo e permissão para uso da hipnose através do decreto 53.464, de 21/10/1964.

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1966 – Regulamentação da hipnose em Odontologia pela lei nº 5.081 de 24/08/1966. Conselho Federal de Medicina inclui o emprego da Hipnose no "Código de Ética Médica" no capítulo VI, art. 62, 63 e 64. 1971 – II Congresso Brasileiro de Hipnologia em João Pessoa, PB. 1991 - Fernando Collor revoga o uso terapêutico da hipnose através do decreto º 11 de 19/01/1991. 1999 - Sociedade de Hipnose Médica de São Paulo obtém parecer de aprovação do Conselho Federal de Medicina quanto ao uso do termo Hipniatria. 2000 – CFP (Conselho Federal de Psicologia) aprova e regulamenta o uso da Hipnose como recurso auxiliar de trabalho do Psicólogo através da resolução nº 013/00 em 20 de dezembro. 2004 – 1º Congresso Brasileiro de Psicoterapia Breve e Hipnoterapia é realizado em São Paulo. 2008 – XI Congresso Brasileiro de Hipnologia no Rio de Janeiro. 27º Congresso Internacional de Odontologia de São Paulo discute práticas complementares e integrativas; entre elas a hipnose.* Através destes esclarecimentos, em que não se teve a pretensão de nomear todos os eventos relacionados à hipnose, buscou-se delinear como esta chegou até o Brasil e os caminhos que seguiu até a atualidade.

* Esta última informação retirada da página da internet do CIOSP – Congresso Internacional de Odontologia de São Paulo.

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3 HIPNOSE E CIÊNCIA

Muito embora o termo hipnose já venha sendo grandemente utilizado na época atual, ainda há quem não consiga traduzir em palavras o que ela realmente significa, seu significado variando conforme seus idealizadores. Para Sofia Bauer (2002), a hipnose é um estado de consciência diferente do estado de vigília e pode ocorrer no dia-a-dia, quando se está acordado, diferindo, no entanto, de estar simplesmente em vigília, haja vista que nesse processo o foco de atenção se volta para a realidade interna criada pela pessoa. Sydney J.Van Pelt (1949 apud FERREIRA, 2006) considera que a hipnose nada mais é do que uma superconcentração da mente. Já para Sarbin (1950 apud PINCHERLE & COL., 1985), o hipnotizado representa um papel, em que este tão-somente obedece às ordens do hipnoterapeuta. Embora se apresentem diferentes posições quanto à hipnose, Ferreira (2006) pontua que este estado que alguns autores reportam como alterado é de difícil precisão, uma vez que a percepção humana varia de pessoa para pessoa. Então, a definição preferida pelo autor para o que seja estado alterado de consciência é aquele onde há “[...] uma modificação temporária no padrão total da experiência subjetiva, tal que o indivíduo acredita que o seu funcionamento mental é distintamente diferente de certas normas gerais do seu normal estado de consciência de vigília” (TART, 1972; NEWMAN, 1997; LUDWIG, 1966 apud por FERREIRA, 2006, p.55). Sobre este estado de atenção concentrada, Vale (2006) argumenta que é precisamente este fato que permite à pessoa a reação ao trabalho do hipnoterapeuta ou à auto-hipnose, defendendo, entretanto, a idéia de que

O desconhecimento pleno da mente humana dificulta a conceituação e explicação dos mecanismos através dos quais a hipnose produz seus efeitos. Ao contrário do que parece, durante a sessão hipnótica o encéfalo está em plena atividade. (VALE, 2006, p. 539)

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O estado de vigília, por sua vez, é o oposto do sono, em que a atividade de despertar corresponde à propagação cortical da excitação. Para Pavlov, é pela palavra que os estímulos dos reflexos condicionados são criados, sendo que estas apresentam dois conjuntos de estímulos diferentes: um sonoro, que é o primeiro sistema de sinalização, e um outro conjunto de idéias e imagens, que é o segundo sistema de sinalização, conforme refere Ferreira (2006). Considerando a evolução da hipnose até os dias atuais, Tortosa, MiguelTobal & González-Ordi (1999) referem a existência de uma dicotomia entre os teóricos, embora apontem que os caminhos seguem em direção a um consenso. De um lado os teóricos del estado e os teóricos del no estado, e de outro, a hipnose clínica e a hipnose experimental. Na visão dos autores, a divergência entre as escolas provoca a incongruência e a não-uniformidade entre os dados apresentados pelos diferentes aportes, não obstante a produção científica recente venha aparando arestas rumo a uma convergência entre estas teorias, referindo que a sugestão direta ou indireta se encontra circunscrita aos fenômenos hipnóticos.

Parece existir una tendencia hacia la superación de la clásica controversia entre teóricos del estado y teóricos del no estado, aproximando estas posturas bajo la concepción de La hipnosis como un conjunto de procedimientos que potencian certas capacidades preexistentes em los indivíduos (TORTOSA, MIGUEL-TOBAL & GONZÁLEZ-ORDI,1999, p. 20).

De expressão pouco comum e bastante controversa, a hipnose forense tem sido utilizada para resgatar memórias adormecidas, de modo a intervir na solução de casos legais. Com esta prática, o hipnoterapeuta acessa a mente inconsciente do indivíduo com vistas a recuperar informações importantes acerca de crimes ou criminosos (TIBÉRIO, de MARCO & PETEAN, 2004). Seguindo por esse viés, cumpre destacar o trabalho elaborado por Sousa (2000) em sua dissertação de mestrado sobre a persuasão, em que o autor não menciona a factibilidade do processo hipnótico. Nele, Sousa dispõe sobre os caminhos que a mente humana elabora para tomar decisões, a certo ponto relacionando a arte da persuasão com a hipnose. Toma ele por base a definição de hipnose aceita pela Comissão da British Medical Association, que em 1959 estabeleceu hipnose como sendo

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[...] um estado passageiro de atenção modificada no sujeito, estado que pode ser produzido por uma outra pessoa e no qual diversos fenômenos podem aparecer espontaneamente ou em resposta a estímulos verbais ou outros. Estes fenómenos [sic] compreendem uma modificação da consciência e da memória, uma susceptibilidade acrescida à sugestão e o aparecimento no sujeito de respostas e ideias que não lhe são familiares no seu estado de espírito habitual (CHERTOK, 1989, apud SOUSA, 2000, p. 140).

Partindo desta premissa, Sousa (2000) pontua a grande semelhança que existe entre os dois processos, pois à exemplo da hipnose, a persuasão também trata de modificar pensamentos e atitudes de outra pessoa a partir de um conteúdo verbalizado, variando em intensidade quanto aos contextos, tipos de relação estabelecida e os efeitos que se deseja produzir. Frisa o autor: A relação orador/auditório não pode pois [sic] deixar de ser igualmente compreendida à luz da modificação do estado de consciência que nela e por ela se opera, ainda que sem a profundidade que caracteriza a relação hipnotizador/hipnotizado (SOUSA: 2000, p. 141).

No tópico que se segue, contudo, o que se pretende discutir é a hipnose sob o ponto de vista de seus mecanismos fisiológicos, cuja eficácia pode ser explicada a partir de algumas reações físicas observáveis no corpo, quando metabolismos complexos são ativados através do Sistema Nervoso Simpático e Parassimpático (FERREIRA, 2009).

3.1 Neurofisiologia da Hipnose

O corpo humano é um complexo sistema interligado que detém o perfeito controle de suas funções, mantendo o delicado equilíbrio entre todas as suas partes e o meio ambiente. A esse equilíbrio, denominado homeostasia, o fisiologista Walter Cannon chamou de a “sabedoria do corpo” (LENT, 2005), o qual assim permanece por meio do funcionamento do sistema nervoso autônomo (SNA), um conjunto de neurônios localizados na medula e no tronco encefálico, cuja comunicação com o restante dos órgãos e tecidos acontece por meio dos axônios. Segundo o autor, o

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SNA não é um órgão totalmente autônomo, pois suas ações são orientadas através de regiões superiores do SNC - Sistema Nervoso Central. Ferreira (2006) sustenta que o SNA é o órgão responsável em regular o metabolismo, a temperatura do corpo, os sistemas circulatório, respiratório, endócrino, urinário, genital, cujas funções “[...] não são necessariamente conscientes” (p. 264). Numa explicação mais resumida e simplificada, Esperidião-Antônio et al (2007) propõem:

Diferentes estímulos (aferências) – térmicos, táteis, visuais, auditivos, olfatórios e de natureza visceral (como alterações da pressão arterial) – chegam a diferentes partes do SNC por vias neuronais envolvendo receptores e nervos periféricos. Respostas (eferências) adequadas a esses mesmos estímulos são programadas em determinadas áreas corticais, as quais incluem desde circuitos simples – envolvendo poucos segmentos – até complexos, exigindo refinamento funcional por parte de cada uma. (ESPERIDIÃO-ANTÔNIO et al, 2007, p.64)

Bastante pertinente, portanto, a analogia de Lent (2006) ao comparar o SNA ao maestro dos órgãos, em que estes, embora saibam tocar sozinhos, precisam de um regente que lhes dêem “[...] o ritmo certo, a afinação adequada, a sincronia de pausas e entradas, a emoção” (p. 475). Na figura abaixo está representado o modo pelo qual o sistema nervoso se divide:

Fig. 1 Fonte: http://www.afh.bio.br/nervoso/nervoso3.asp

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Classicamente, o Sistema Nervoso Autônomo divide-se em Sistema Nervoso Simpático (SNAS) e Sistema Nervoso Parassimpático (SNAP), os quais agem de modo antagônico. Em situações de luta ou fuga, o SNS é ativado e gera um aumento do hormônio adrenalina no organismo. Esta substância é um neurotransmissor excitatório que aumenta a frequência cardíaca pelo aumento do fluxo sanguíneo muscular. Assim, estimulando-se a cauda do hipotálamo, aumentase a atividade simpática, que por sua vez produz aumento do neurotransmissor adrenalina, que atua sobre órgãos como coração, pulmões, vasos sanguíneos, órgãos genitais, etc. A adrenalina é liberada como fator responsivo ao stress físico ou mental, ligando-se um grupo especial de proteínas - os receptores adrenérgicos (QMCWEB, 2009). A estimulação do Sistema Parassimpático, por sua vez, que se dá através da estimulação da parte anterior do hipotálamo, tem como consequência [...] a diminuição da pressão arterial, da freqüência [sic] cardíaca, do metabolismo basal, da secreção de adrenalina, do volume respiratório, dilatação dos vasos sangüíneos [sic], sudorese, salivação, contração da bexiga, contração das pupilas (miose) (FERREIRA, 2006, p. 265).

Tanto Machado (1993) quanto Serratrice et al (1995 apud ARAÚJO, 1997) consideram que os dois centros suprassegmentares mais importantes para o controle do SNA são o hipotálamo e o sistema límbico, ambos com extensas projeções para a formação reticular. Ferreira (2006) aponta estudos de Szechtman et al (1998), em que pessoas altamente suscetíveis à hipnose e à alucinação ativam durante estes processos uma região na área chamada Broadman (parte anterior do giro do cíngulo), a qual foi detectada por exame de PET (tomografia por emissão de pósitrons). Este exame permite mapear a atividade cerebral determinando o fluxo sanguíneo. Os pacientes submetidos a este exame recebem uma injeção com substância radioativa que vão ajudar a produzir as imagens cerebrais, marcando as áreas ativadas em vermelho. Situando especialmente as vias de estimulação visual, Ferreira (2006) sustenta que primeiramente o indivíduo percebe o objeto, sua forma, movimento e cor através do córtex primário visual (área de Broadman), informação que segue até o córtex parietal posterior. A integração entre a representação do objeto com as

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informações gravadas na memória faz o autor afirmar, sobre a conexão existente entre estes dois processos, que “[...] envolve uma complexa rede relacionando o córtex peririnal, entorinal e o hipocampo” (p. 190). Segundo ele, os componentes emocionais decorrentes do estímulo são avaliados pela amígdala. Em outro estudo realizado por Machado (1993), o autor sustenta que a estimulação elétrica em determinadas áreas do hipotálamo é responsável por respostas típicas dos sistemas simpático e/ou parassimpático, sendo que o hipotálamo anterior é o responsável pelo controle principalmente do sistema parassimpático, e o hipotálamo posterior coordena principalmente o sistema simpático. A neurobiologia da motivação, desde os mais incipientes estudos, apontou o hipotálamo como um centro integrador fundamental, sendo este também o receptor das informações vindas do sistema límbico, definido por Lent (2006) como “[...] o conjunto de regiões neurais dedicadas a interpretar e responder aos estímulos externos e internos de caráter emocional” (p. 491). Sabe-se que o corpo humano tem diferentes necessidades e age por diferentes motivações ou estados motivacionais, e seus comportamentos motivados (LENT, 2005) estão dispostos em três classes. Na primeira, estão aqueles exigidos por forças fisiológicas definidas, como a fome, a regulação corporal, entre outros. Uma segunda classe é aquela que tem como guia um fisiologismo não tão bem definido como o primeiro, e cujo melhor exemplo o autor aponta o sexo, pois a procura pela satisfação sexual não se dá unicamente pelo desejo de perpetuação da espécie, mas também pelo puro prazer. No terceiro grupo e mais complexo, e que interessa especificamente ao presente trabalho, estão aqueles realizados sem uma decisão biológica clara, motivados pela subjetividade inerente ao ser humano. Para a consecução dos comportamentos motivados, Lent (Idem) sustenta que duas forças fundamentais agem, que são a homeostasia e a busca do prazer, sendo o hipotálamo o centro que integra fundamentalmente estes estudos, uma vez que se comunica com inúmeras regiões do SNC e com diversos órgãos periféricos por meio do SNA e sistema endócrino, além de receber informações de todos os demais órgãos por ele controlados, inclusive o sistema imunológico, embora indiretamente. Segundo o autor, estas informações provêm também do sistema límbico, conjunto de regiões neurais localizadas nas regiões corticais e subcorticais do

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cérebro (Ibidem). Este sistema é em grande parte o responsável pelas emoções, que embora sejam muitas e de difícil classificação, Lent (Ibidem) considera que três aspectos são constantes: um sentimento (positivo ou negativo), um comportamento (atos motores específicos das emoções) e ajustes fisiológicos de acordo com o sentimento e o comportamento. Para o autor, uma das estruturas que apresenta extrema importância no tocante às experiências emocionais é a amígdala, a que ele refere como “[...] botão de disparo [...]” (LENT, 2006, p.659) das situações que envolvem a emoção, recebendo estímulos através do tálamo, e outras mais complexas por meio do córtex. O córtex é a parte mais desenvolvida do cérebro humano, além de ser também o órgão responsável pelos pensamentos, percepção, produção e compreensão da linguagem, entre outras, cada uma de suas partes respondendo por funções específicas. O córtex se subdivide em lobo frontal, parietal, temporal e occipital (VILELA, 2009).

Fig. 2 Fonte: http://www.afh.bio.br/nervoso/nervoso3.asp

Sobre a complexidade que permeia as emoções do ser humano, observese que no início do século XX, William James e Karl Lange (BARRA et al, 2008; LENT, 2005, LEDOUX, 1999), já propunham que “Ficamos tristes porque choramos, zangados porque agredimos, e com medo porque trememos, e não choramos,

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agredimos ou trememos porque estamos tristes, agressivos ou com medo, conforme o caso (LEDOUX, 1999, p.40)." Na atualidade, o termo sistema límbico designa o “[...] circuito neuronal que controla o comportamento emocional e os impulsos motivacionais” (LENT, 2005, p. 657). Em suas experiências, o autor foi levado a crer que só após o córtex ser informado de que o organismo produziu alterações fisiológicas é que se dá a experiência consciente da emoção. Contudo, foi com o anatomista americano James Papez que a neurociência mudou novamente os modelos aceitos até então. Foi ele a apresentar a teoria de que havia na verdade um “circuito” ou sistema de regiões que juntas disparavam o sentimento, as reações e por consequência o retorno à situação de equilíbrio. Esta rede neural ficou conhecida depois como Circuito de Papez e só mais tarde é que o conceito Sistema límbico, criado pelo fisiologista francês Paul Broca, passou a ser utilizado (idem, 2005). Sobre Broca, este descobriu que a incapacidade para a fala não exclui a compreensão da linguagem, fato que o fez anunciar em 1864 que o ser humano fala através do hemisfério esquerdo e razão pela qual há no cérebro humano uma porção denominada área de Broca (KANDEL, 1985, trad. MARIA CAROLINA DORETTO). Na figura abaixo, é possível visualizar as áreas do cérebro e as respectivas funções referentes à linguagem.

Fig.3 Fonte: Postner and Raichle, Scientific American 1994

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Embora haja um claro entendimento por parte da comunidade científica acerca do que seja a hipnose, a trajetória realizada por este fenômeno no cérebro ainda é pouco conhecida. Estudos feitos por Câmara (apud RODRIGUES, 1998) apontam para a formação de uma rede chamada formação reticular, a qual funcionaria como elemento aglutinador entre a voz do hipnoterapeuta e o cérebro. Segundo o autor, “[...] A formação reticular controla a vigília e o sono e ainda seleciona em que informações devemos nos concentrar” (p.43). Especialmente quanto à estimulação sonora, Ferreira (2006) coloca que existe um sistema que ativa e desativa o córtex, permitindo dessa forma o sono ou a vigília. Assim, quando as palavras, via ordenamento verbal, “[...] são enviadas do córtex cerebral, via sistema desativador descendente, até a formação reticular com função de desativá-la [...]” (p. 189), há em consequência uma redução do estado de alerta do córtex, o qual libera no sistema límbico os comandos pertinentes à expressão emocional respectiva. Ferreira (2006) considera que a formação reticular é condição sine qua non para a vida, além de que é constantemente suprida por estímulos, regulando as informações que recebe conforme seu interesse. Segundo o autor, a formação reticular “[...] recebe as informações do meio ambiente, as filtra e permite que o indivíduo focalize a atenção num objeto que seja do seu interesse” (p.287). Com base nisso, Ferreira (Idem) aponta para estudos feitos por Terman et al (1984), Teixeira (1995) e Pimenta et al (1997), em que os autores referem, por exemplo, que existem componentes emocionais, culturais e religiosos que podem produzir diferentes sensações quanto à modulação da dor nos indivíduos, capazes de sensibilizar ou diminuir a dor. Experimentos conduzidos na Universidade de Harvard por Kosslyn & Colaboradores (2000), analisaram oito indivíduos selecionados como altamente hipnotizáveis, que se submeteram a um exame de PET. Cada indivíduo submeteuse a quatro tarefas sem indução hipnótica e depois a mais quatro com indução. Primeiramente, os sujeitos deveriam indicar a cor que verdadeiramente estavam enxergando; num segundo momento, foi pedido aos indivíduos que vissem o objeto, mas em escalas de cinza. Por último, à vista do objeto em escala de cinza, os sujeitos deveriam adicionar cor ao objeto. Os estudos concluíram que quando induzidos a perceber a cor, os sujeitos tinham maior alteração no fluxo sanguíneo do

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hemisfério direito do cérebro. A figura abaixo mostra o modelo usado no trabalho em questão.

Fig. 4 Fonte: Kossly & Colaboradores, 2000

Pouco tempo depois, em estudos conduzidos com um grupo de dez indivíduos, proposto por Rainville et al (2002), estes sustentam, com base em exame de PET (tomografia por emissão de pósitrons), que a indução hipnótica provoca alterações significativas na experiência subjetiva, cujos resultados indicaram que a hipnose gera modificações nas estruturas essenciais à regulação dos estados de consciência, autorregulação e autocontrole, como também foi relatada uma diminuição quanto à capacidade avaliativa, acompanhamento e censura, além de interromper a orientação temporal, de localização e da consciência de si mesmo no grupo estudado. Sobre o PET, julga-se pertinente alguns esclarecimentos adicionais a respeito de como se processa este exame. A imagem cerebral por meio do PET tem início a partir de uma injeção contendo alguns átomos radioativos com a tendência a fixarem-se no cérebro. Com a emissão de pósitrons, estes átomos decompõem-se em mais ou menos vinte minutos, e ao estimularem o cérebro durante o exame, as zonas cerebrais mais estimuladas produzem mais raios gama, tendendo a concentrarem-se em áreas específicas, de acordo com a estimulação dada. Estes dados, por sua vez, recebem um sofisticado tratamento matemático e estatístico, permitindo assim a produção de imagens semelhantes a “fatias planas” do cérebro do paciente (MAT.URFGS, 2009).

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A figura abaixo mostra a atividade cerebral de um recém-nascido em seus primeiros meses de vida, cujas partes em vermelho apontam as áreas mais estimuladas.

Fig. 5 – Fonte: http://www.mat.ufrgs.br

Exames mais acurados como o PET possibilitam estudar mais detalhadamente as alterações produzidas no cérebro sob efeitos controlados em laboratório ou mesmo para diagnósticos mais precisos. A figura abaixo mostra a ação do receptor serotonina através das áreas coloridas.

Fig.6 Fonte: http://images.google.com.br

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Os dados obtidos nestes experimentos são consistentes com a verificação de que as atividades relacionadas com o tronco cerebral, o giro do cíngulo anterior, com o giro frontal inferior direito e o lóbulo parietal inferior direito desempenham um papel decisivo na produção dos estados hipnóticos. Ressalte-se também o aspecto destacado por Ferreira (2006) de que durante o processo hipnótico se observa uma redução do fluxo sanguíneo cerebral regional (FSCr) no córtex parietal, assim como há também um acréscimo do FSCr “[...] na parte caudal anterior do giro do cíngulo direito e no córtex frontal de ambos os lados” (p. 216). Este exame se obtém com a ressonância magnética funcional (IRMf), a qual detecta minúsculas variações do fluxo sanguíneo. O exame é feito medindo-se o nível de oxigenação no sangue nas áreas mais ativas, gerando imagens de alta resolução, muito mais nítidas e precisas do que o PET. A figura abaixo mostra, nas áreas em vermelho, as áreas do cérebro estimuladas durante o exame de ressonância magnética funcional.

Fig. 7 – Fonte: http://www.mat.ufrgs.br

Estudos realizados com eletroencefalograma (EEG) dão indicativo de que estando com a atenção focalizada no processo hipnótico, ao ouvir sugestões de “pálpebras pesadas, cansadas”, por exemplo, há nos indivíduos suscetíveis uma baixa de atividade em alguns circuitos cerebrais nos lobos frontais responsáveis pelo planejamento e comportamento (idem). Pincherle & Colaboradores (1985) referem estudos de Kupper em veteranos de guerra, os quais apresentaram alterações verificáveis nos padrões de EEG quando em regressão hipnótica. Em estudos conduzidos pelos próprios autores, estes sustentam uma redução no número de crises e ausências em paciente com histórico de epilepsia quando submetido a tratamento pela hipnose.

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Não é infundada, portanto, a comparação que Caprio & Berger (1999) fazem entre o inconsciente e um computador. No livro Curando-se com a autohipnose, os autores fazem uma analogia entre a mente humana e um servomecanismo, salientando que tal como este, que pode ser programado e reprogramado, o subconsciente também pode ser alterado a partir de novas sugestões.

Um servomecanismo é uma máquina construída de maneira a ‘se orientar’ automaticamente para uma meta, um alvo ou uma solução. A mente subconsciente não tem emoção nem opinião. Ela só responde a partir das informações que tem armazenadas em sua memória, retirando-as dali de maneira semelhante a que se retira uma carta de um arquivo (CAPRIO & BERGER, 1999, p.60).

Com estes esclarecimentos, pretendeu-se dar suporte à explicação de como a hipnose está vinculada ao sistema límbico e ao hipotálamo (centros cerebrais que regulam as emoções básicas e a memória), interagindo com todas as funções do organismo através do sistema simpático e parassimpático. Conclui-se assim que a crescente e mais recente produção científica sobre a hipnose vem despertando na comunidade científica um vivo interesse nas questões que dizem respeito ao funcionamento cerebral e ao modo pelo qual a hipnose atua no cérebro humano. No tópico a seguir, serão apresentados os conceitos de consciência, transe e hipnose, suas aproximações e diferenças.

3.2 Consciência, Transe e Hipnose

As questões referentes à consciência apresentam diferentes opiniões, uma vez que a representação de mundo varia de pessoa para pessoa, diversificando-se também a depender da abordagem psicológica a ser trabalhada. Assim, ela pode ser considerada a partir de várias esferas do conhecimento.

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Davitz e Cook (1976 apud FERREIRA, 2006) argumentam que “[...] consciência é a conseqüência [sic] da interação entre o acontecimento em si e a forma pela qual ele é vivenciado pelo ser humano” (p.55). A nível neurológico há a dicotomia entre consciência de si (relacionado aos hemisférios cerebrais) e do ambiente (relativo à vigília e às estruturas do tronco cerebral (PLUM e POSNER, 1977, apud FERREIRA, 2006). Grinder e Bandler (1984, apud FERREIRA, 2006, p. 54) consideram que “[...] transe é apenas pegar uma experiência consciente e alterá-la em alguma outra coisa”, enquanto muitos psicólogos reportam transe como “[...] um estado de limitada consciência (awareness), e uma pessoa estaria em transe quando sua atenção está limitada e há uma certa repetição de pensamentos” (FERREIRA, 2006, p. 54). Na concepção do autor (Idem), são exemplos de transe no dia-a-dia a capacidade da pessoa em se abstrair totalmente do que a cerca, focalizando a atenção apenas em determinado objetivo ou tarefa. Cita ainda como exemplos o de um tenista em concentração para uma jogada numa partida ou um internauta aficcionado em internet. Já o estado alterado de consciência, em que o autor concorda com a visão de Ludwig (1996) e Farthing (2000), transe pode ser definido “[...] como uma modificação temporária no padrão total da experiência subjetiva, tal que o indivíduo acredita que o seu funcionamento mental é distintamente diferente de certas normas gerais do seu normal estado de consciência de vigília” (FERREIRA, 2006, p.55). Chertok (1989, apud SOUSA, 2000) coloca hipnose como sendo o “[...] quarto estado do organismo, actualmente [sic] não objectivável [sic] (ao inverso de três outros: a vigília, o sono, o sonho): uma espécie de potencialidade natural, de dispositivo inato [...]” (p. 140). Já Zeig (apud ERICKSON, HERSHMAN & SECTER, 2003) aponta hipnose como um tipo de focalização da consciência através do uso da palavra, na qual a hipnose “[...] busca prender a atenção do paciente para maximizar sua colaboração construtiva com o paciente” (p. 12). Spiegel (apud FERREIRA, 2008, p. 5) considera “[...] o transe hipnótico como um desvio da atenção”. Com Jorge Abia encontra-se uma definição um pouco mais extensa:

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Definimos transe como um estado de consciência em que permanecemos em contato mais intensamente conosco que com o meio externo. Ou seja, a atenção se volta para o que imaginamos e sentimos mais do que ao que objetivamente pensamos, sem que se perca o controle da relação com o exterior (ABIA, 2001, apud FERREIRA, 2008, P. 5).

Percebe-se assim, pelo aporte de diferentes correntes científicas e autores, que os termos consciência, transe e hipnose encontram-se por vezes muito próximos um do outro, sendo difícil distingui-los. Isso não invalida, no entanto, a eficácia do trabalho terapêutico, ainda que sob diferentes nomenclaturas. Neste tópico, o que se propôs foi mais uma vez demonstrar a falta de um consenso entre os termos usados para definir a hipnose.

3.3 Sugestão

O termo sugestão remete necessariamente a uma interpretação quanto ao seu sentido etimológico e psicológico. A levar-se em conta apenas o significado comum, sugestão pode ser definida como estímulo, inspiração (PRIBERAM, 2009). Para Ferreira (2006), sugestão é um processo comunicativo e de aceitação geral quanto a uma idéia apresentada e que ocasiona uma modificação na concentração total da mente do sujeito.

Em termos psiquiátricos, pontua ele,

sugestão “[...] se usa para indicar una idea que se ofrece al enfermo y que éste há de aceptar sin crítica” (LERNER, 1964 apud FERREIRA, 2006, p. 65). É interessante observar que alguns aspectos estabelecidos por Coué (1915) no início do século passado ainda permanecem, tanto em Shrout (1985), quanto em estudos mais recentes, como este de Ferreira (2006). Nele, o autor identifica cinco aspectos referidos por Coué quanto à sugestão (estes também se encontram descritos no livro de Shrout - Hipnose Moderna Científica, pela editora Pensamento, em 1995, embora não em cinco tópicos como o de Ferreira):

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ASPECTOS DA SUGESTÃO 1. A realização de uma idéia a partir da atenção concentrada; 2. Vontade e imaginação antagônicas fazem vencer sempre a imaginação; 3. Aliança entre sugestão e emoção supera qualquer outra; 4. A determinação do não-fazer produz efeito contrário; 5. A imaginação pode ser dirigida. Tabela 1 Fonte: Ferreira, 2006

Uma importante distinção entre sugestionabilidade e hipnotizabilidade referida por Ferreira (2006) dá a dimensão exata entre estes dois termos. Enquanto sugestionabilidade se revela como o grau de mobilidade do indivíduo em direção a uma idéia, momento em que não faz uso do senso crítico, a suscetibilidade hipnótica (o autor cita ainda hipnotizabilidade, habilidade hipnótica ou receptividade quanto à hipnose como termos correlatos) por sua vez está ligada à extensão da capacidade do sujeito em experimentar a hipnose. Tanto um como a outro apresentam diferenças de pessoa para pessoa. No primeiro caso, as diferenças também podem surgir conforme as sugestões sejam apresentadas de forma direta ou indireta, de acordo com as expectativas do paciente naquele momento, com o rapport entre hipnoterapeuta e paciente, para citar algumas situações específicas. Relativamente à capacidade hipnótica, os estudos não são conclusivos, sem um consenso quanto ao prazo em que esta habilidade se desenvolve ou quanto tempo dura. Ferreira (2006) aponta os estudos de Aldrich (1987), Shore & Orne (1962), os quais sustentam que existem horários do dia que produzem maior suscetibilidade à hipnose, sendo o maior por volta do meio-dia e o menor entre 17 e 18 horas. Estudos apresentados no 5º Congresso Mundial de Ciências Médicas no Canadá em 1998 dão conta de que durante a atividade hipnótica se comprovou maior atividade teta em exames de eletroencefalograma (EEG) de sujeitos extremamente suscetíveis (FERREIRA, 2006).

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Embora alguns autores considerem diferenças entre os indivíduos quanto à suscetibilidade hipnótica, Ferreira argumenta que existe na atualidade uma corrente a defender a teoria de que todas as pessoas podem ser hipnotizadas, bastando para isso a habilidade do especialista, inclusive, frisa o autor, nos pacientes psicóticos. Sobre este assunto, Izquierdo de Santiago coloca que “La esquizofrenia es una enfermedad compleja que puede ser tratada mediante la utilización de medicación y/o terapias psicológicas” (2008, p. 10). Frisa, contudo que esta técnica deve ser utilizada junto com outros tratamentos. Em pessoas com Alzheimer, Ferreira (2006) faz uma ressalva quanto a se utilizar a hipnose em pacientes cujos estágios da doença estejam mais avançados, considerando que os neurônios nessa situação já não funcionam adequadamente. Como fatores capazes de influenciar os pacientes, Ferreira (2006) enumera algumas condições:

FATORES DA RELAÇÃO ESPECIALISTA-PACIENTE Comunicação adequada com o paciente Aparência adequada do profissional Relação afetiva Expectativa

Prestígio Repetição de sugestões

Observar cuidadosamente desde os primeiros contatos com o paciente a apresentação, o aperto de mãos, a anamnese, a linguagem, as frases, utilizando frases afirmativas, claras A aparência pessoal começa ao vestir-se e continua nos cuidados com unhas, cabelos, barba, maquiagem, etc. Desenvolver confiança mútua Passar a idéia de sucesso no desfecho do tratamento, pois essa expectativa representa um determinante quanto à capacidade hipnótica Na maioria dos casos, o reconhecimento quanto ao prestígio do profissional em seu meio facilita o trabalho Durante o processo hipnótico se obtém melhores resultados pela repetição das sugestões

Tabela 2 – Fonte: Ferreira, 2006

Entre as qualidades necessárias ao especialista e que são citadas acima, Ferreira (2008) argumenta ainda que a convicção, a confiança, o conhecimento, a competência, o comprometimento, o comportamento, a criatividade, a disposição do paciente, a concentração e a comunicação são também condições imprescindíveis ao bom andamento da terapia.

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Do mesmo modo que os itens quanto à relação entre especialista e paciente, Ferreira (2006) cita a influência do ambiente externo em que se desenvolve a ação terapêutica para melhor conduzir a terapia:

INFLUÊNCIA DO MEIO AMBIENTE E A RELAÇÃO SUGESTÃO – PACIENTE

Luminosidade Temperatura Sons, vozes, música e ruídos

Perfumes agradáveis Posição confortável Decoração do ambiente

Manter desligado campainhas, telefones, etc. Quanto aos ruídos advindos do próprio lugar onde se localiza o consultório, é interessante incorporá-los à indução hipnótica, caso não seja possível reduzi-los. O ambiente tanto pode estar em completo silêncio quanto se podem usar CDs com gravações. É preciso cuidado com perfumes, uma vez que os pacientes em expectativa de trabalho mental tornam-se mais sensíveis aos cheiros. Pode-se usar uma cadeira, divã ou maca, desde que seja confortável. Evitar chaves, moedas, carteiras no bolso que possam produzir ruídos, assim como descartar chicle, balas, óculos, lentes, adornos, etc. Agradável, com poucos objetos.

Tabela 3 – Fonte: Ferreira, 2006

Como complemento às condições acima descritas, Ferreira (2008) inclui também as condições climáticas e a hora, a conduta do recepcionista, prestígio do profissional, acontecimentos que se deram antes do horário do paciente, assim como a expectativa de algum evento posterior à consulta são fatores que podem influenciar as respostas hipnóticas. Segundo o autor, à disposição no mercado se encontram CDs gravados especialmente com o fim de produzir uma variedade de ondas para facilitar a indução hipnótica, como as ondas teta, que facilitam a imaginação, as ondas delta que possibilitam o adormecimento, e outras ainda que reduzem a atividade das ondas beta e que aumentam o percentual do ritmo alfa. Ferreira (2006) aponta inclusive estudos feitos por Keyon (1998), em que se obtém relaxamento muscular a partir de estimulação de ritmo alfa próximo de 8Hz. Sobre a classificação das sugestões, Ferreira (2006) sustenta que dificilmente o paciente se encontra sob o efeito de uma única sugestão. No quadro abaixo estão relacionadas, conforme o autor, alguns tipos de sugestão e suas principais características, exceção feita no caso da sugestão

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sensorial cinestésica, cujos autores estão indicados especificamente (entendeu-se necessário ampliar a explicação para melhor compreensão do termo):

CLASSIFICAÇÃO DAS SUGESTÕES

Sensorial

Sensorial sonora

Tátil Térmica Dolorosa Palestésica Batiestésica Cinestésica Sugestões combinadas Sugestão pela atitude Sugestão psíquica Sugestão ambiental Sugestão ideomotora Sugestão Desafio

Direta: o paciente age respondendo a afirmações objetivas: “Seus olhos estão se fechando”; Indireta: introduzidas sutilmente, procura não relacionar experiência do paciente com a sugestão: “As pessoas obtém melhor concentração com os olhos fechados” (FERREIRA, 2006, p. 73-75); Extraverbal: habilidade em transmitir pelas palavras conteúdos não verbalizados, apenas inferidos a partir de frases, palavras, gestos; Fonação extraverbal: utiliza mais os sons do que as palavras: ritmo da respiração, sorriso, bocejo; Não-verbal: apito, tique-taque, instrumento musical, som de árvores, chuva; Visual: imagem ou vibração através da visão – luz de velas, disco giratório, brilho de anel, alfinete, olhar, etc.; Olfativa: odores de perfumes, álcool, etc. Gustativa: influência com sabores doce, amargo, salgado, etc. Toque dos dedos no paciente. Calor e frio. Pressão sobre uma vértebra do paciente. Sensibilidade aos estímulos vibratórios (diapasão aplicado sobre a superfície óssea). Consciência exata da posição das partes do corpo e suas relações – sentimentos de pressão sobre o corpo (movimentos passivos de uma articulação em diferentes direções). Propriocepção corporal - discrimina a posição e o movimento articular, incluindo direção, amplitude e velocidade, bem como a tensão relativa dentro dos tendões (Smith et al ,1997). Associação simultânea de mais um tipo de sugestão. Consiste no conjunto de crenças pessoais do especialista, capazes de transmitir ao paciente sua habilidade em tratá-lo adequadamente. Pouco considerada entre os teóricos, é mais reconhecida na parapsicologia. Consiste em provocar ação em pessoas ou objetos pelo poder mental. Influência do ambiente do consultório, fases da lua, calor, frio, chuva, sol, campo magnético, enfim fatores que induzem ao relaxamento hipnótico, sintonizando o paciente com as metas do tratamento, específicas ou não. Relacionadas a movimentos dos membros: mexer o dedo, levantar o braço, etc.; Consiste em apresentar ao pacientes situações para mudar sua percepção. Com o braço estendido, sugerir a impossibilidade de flexioná-lo, ou vice-versa.

Tabela 4 – Fonte: Ferreira, 2006

Na tentativa de esclarecer mais pontualmente a diferença entre alguns vocábulos presentes na literatura inglesa, Ferreira (2006) distingue o que seja awareness (alerta) e consciousness (consciência). Para o autor, awareness é a

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percepção das coisas e dos sentidos na sua forma mais simples, enquanto que consciousness é a identificação precisa dessas coisas e sentimentos, de modo mais exato. Essa explicação se justifica para responder por que muitas vezes o processo hipnótico é conduzido com mais sucesso ou as sugestões são mais prontamente recebidas do que em outras, o que faz Ferreira (2006) responder, utilizando os conceitos de Hartland (1973), que enquanto ocorre o transe hipnótico, há uma supressão parcial ou total do poder crítico do indivíduo. Isso acontece porque existe uma mente inconsciente em permanente processo de ingerência sobre os pensamentos, sentimentos e comportamentos humanos, o qual se dá geralmente sem que o indivíduo perceba (FERREIRA, 2006). Isso é que faz Hartland (1973 apud FERREIRA, 2006) dar tanta importância ao poder crítico do indivíduo, pois com este restrito à mente consciente, as sugestões tanto podem ser aceitas quanto rejeitadas. Frisa também que as respostas durante o processo hipnótico podem ser nulas caso não sejam da vontade consciente do paciente. Isso significa dizer que um paciente hipnotizado não executa ações que representem uma contraposição ao seu conjunto de crenças pessoais conscientes. Ferreira (2006, p.55-56; 2008) considera então que quando algumas condições são preenchidas, as sugestões agem mais rapidamente e com mais forte poder de sugestionabilidade: 

Suscetibilidade hipnótica da pessoa aos testes;



Propensão à fantasia;



Propensão à amnésia e à dissociação – redução de tônus muscular, escrita automática,

sugestões

pós-hipnóticas,

de

amnésias

pós-hipnóticas,

dificuldade para falar; 

Imaginação absorvente – pode ser dirigida para uma fantasia interna ou para uma sensação corpórea, ou detalhar o meio ambiente;



Capacidade imaginativa do hipnotizado caminha junto com as sugestões do hipnotizador. Nestas pessoas, o potencial hipnótico varia com as motivações, atitudes e expectativas pessoais; grau de rapport que o hipnotizador possui; características das sugestões e ainda de acordo com cada situação.

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As dificuldades em estabelecer as ações de uma pessoa sob o efeito da hipnose e fora dela fazem com que as posições dos autores se mostrem controversas. Outro ponto a ser considerado é que as pessoas, mesmo expostas a estímulos iguais, têm respostas diferentes. A posição de Stark (1999 apud FERREIRA, 2006, p. 48) é a de que “[...] hipnose é realmente uma convenção cultural, uma situação onde nós fazemos particularmente efetivo uso da imaginação pela manipulação de expectativas” (trad. do autor). Segundo ele, conforme as expectativas do indivíduo, a imaginação provoca alterações naquilo que se percebe, se sente e nos próprios atos do sujeito. Nos quadros abaixo, serão citados os estados especiais representativos da hipnose, das pessoas sob o estado hipnótico, bem como as características psicológicas do indivíduo sob efeito hipnótico. No entanto, cumpre notar, seguindo especificações de Shrout (1995), que Bernheim foi o primeiro a apontar as variantes existentes de sujeito para sujeito, não apenas quanto ao estágio de transe, mas também quanto a sua capacidade de sugestionabilidade diante da hipnose, fato continuamente observado por Ferreira (2008; 2006). A classificação de Pavlov (apud SHROUT, 1995) para os temperamentos eram de dois tipos: reações de excitação e reações de inibição, apresentando cada uma delas uma nova subdivisão:

TIPOS DE TEMPERAMENTO Reações de excitação Reações de inibição

Fortemente excitável Vivamente excitável Calmo, imperturbável Ligeiramente inibível

Tabela 5 – Fonte: Shrout, 1995

Hilgard (1968 apud FERREIRA, 2006), aponta as características da pessoa sob os efeitos da hipnose, como se descreve no quadro abaixo:

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CARACTERÍSTICAS DO PACIENTE HIPNOTIZADO 1. Abrandamento da função de planificação

2. Redistribuição da atenção 3. Redução nos testes de realidade e tolerância

4. Disponibilidade para memórias visuais do passado e aumentada habilidade para a fantasia 5. Aumento da sugestionabilidade

6. Comportamento de desempenhar papel 7. Amnésia para o que se divulgou durante o estado hipnótico 8. Respostas às sugestões de modo literal, primitivo, usualmente demorando um pouco

Perda da iniciativa e do desejo de fazer planos. Habilidade para a ação e para a fala, mas pouca vontade para tal. Atenção e desatenção seletiva além do normal. Alteração na percepção da própria personalidade, de tempo, lugar, sobre o outro, distorções da realidade, nomina objetos e pessoas inapropriadamente. Facilitação da recuperação de memórias, que pode ser tanto produtiva quanto reprodutiva, embora questionáveis quanto à veracidade. Em consequência do estado da pessoa, devendo ser estudada independentemente de como esta se processa. Isso acontece pela vontade do paciente em seguir as sugestões recebidas. Personificação do papel sugerido e execução de atividades complexas correspondentes. Embora não seja essencial, a amnésia ou a recordação pode ser sugerida durante o trabalho. Cuidado ao elaborar as proposições ao paciente, que pode tomá-las ao pé da letra, além de certa demora em responder. Nessa situação é importante dar tempo ao paciente para a resposta.

A explicação em termos neurofisiológicos destas três características está em que, durante o processo hipnótico, a ação de focalizar a atenção ocupa as funções do lobo frontal, de tal modo que se torna inibido, o que provoca as características apontadas nos itens 1, 2 e 3.

É pertinente ressaltar que estas posições não constituem unanimidade. Lynn et al (apud FERREIRA 2006) consideram que a capacidade de dar respostas literais se prende ao fato de ser um comportamento esperado e por estar numa situação passiva.

Tabela 6 – Fonte: Ferreira, 2006

Relativamente às características físicas da pessoa hipnotizada, Ferreira (2006) atenta para a impossibilidade de se detectar exatamente o ponto onde o indivíduo ultrapassa as fronteiras da consciência, diferenciando-se especificamente pela intensidade com que se apresenta. Para tanto, recomenda-se um comparativo entre as alterações físicas e fisiológicas possivelmente observáveis entre os sujeitos antes e durante o processo hipnótico. No quadro a seguir, apresenta-se uma descrição resumida dos fenômenos a observar:

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ALTERAÇÕES OBSERVÁVEIS DURANTE A HIPNOSE Relaxamento muscular: face, mandíbula, pescoço, musculatura em geral Mudanças na cor da pele (palidez), cor dos olhos (avermelhados – possível relaxamento da musculatura da órbita, que facilita maior fluxo sanguíneo) Parte branca do olho se sobressai, pupila sobe. Com os olhos fechados, ruga na pálpebra superior Alteração de movimentos da respiração, frequência do pulso (geralmente mais lento) Fechamento dos olhos e tremor das pálpebras Motricidade voluntária diminuída Expressões da face e do corpo de acordo com as sugestões dadas Movimentos inesperados e involuntários de um ou mais dedos Acenos com a cabeça, sacudidas nas mãos Lacrimejamento (possível relaxamento dos músculos) Alterações no diâmetro da pupila Alterações na quantidade de suor Alterações na temperatura corporal independentemente de sugestão Possível secura na boca, dependendo da técnica utilizada Sensação de formigamento e coceira nas extremidades, mesmo sem sugestão Respostas lentas às solicitações do hipnotizador e em movimentos espaçados Lentidão no movimento dos olhos não é conclusivo de estado hipnótico, tendo em vista que estes também foram registrados em estados do sono, conforme apontam estudos de Dunwoody e Edmonston em 1974 e citados pelo autor. Autores como Clasilnec, Hall e Handbook (apud FERREIRA, 2006) sustentam que a hipnose é considerada de moderada a boa conforme os pacientes relatem tremor das pálpebras e fechamento espontâneo, relaxamento dos músculos da face, profundo relaxamento muscular, respiração lenta e profunda, alteração na deglutição. Tabela 7 – Fonte: Ferreira, 2006

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Quanto às características psicológicas do estado hipnótico, estas podem ser assim comentadas:

CARACTERÍSTICAS PSICOLÓGICAS DO ESTADO HIPNÓTICO Atenção seletiva

Foco da atenção apenas numa parte da experiência

Dissociação

Mente consciente ocupa-se com o processo hipnótico e a mente subconsciente de associações, significações simbólicas, respostas Receptividade aumentada em decorrência das sugestões em pessoas mais suscetíveis (é possível esta ocorrência também em pessoas sem hipnose, apenas pela expectativa, atitudes e motivações Resposta às sugestões conforme suas referências pessoais Inexistência de avaliação crítica, onde a experiência pode ser ou não racional/real Embora considere esta possibilidade, o autor refere também a possibilidade de inexistir relaxamento físico, apenas mental, ou o contrário. Segundo ele, o relaxamento pode ser somático (corpo), cognitivo (mental) ou dos dois. Em estudos feitos por Edmonston Jr (1981 apud FERREIRA, 2006), o relaxamento é o alicerce das demais características que aparecem após o processo hipnótico, embora a maior parte das pessoas associe hipnose com relaxamento. Contudo, alterações na percepção do corpo, tais como alteração de tamanho, desaparecimento de partes do corpo, alterações de equilíbrio, de temperatura, de percepção do real, de voz, são índices convergentes de diferentes variáveis relacionadas entre si: Manter longo tempo os olhos fechados, ficar esperando algo ocorrer, esperar alterações nas sensações corpóreas, sugestões de relaxamento, relaxamento profundo, sono e hipnose

Resposta aumentada às sugestões

Interpretação subjetiva Transe lógico Relaxamento

Tabela 8 – Fonte: Ferreira, 2006

À parte todas as características descritas nos quadros acima, é preciso esclarecer que algumas alterações são verificáveis tanto em pacientes sob hipnose quanto em pacientes não hipnotizados (FERREIRA, 2008; 2006). Para o autor (2006), a própria vivência diária, através de imagens ou palavras, pode provocar modificações na percepção sensorial e motora do indivíduo, sendo, entretanto, muito difícil definir características específicas que se possam aplicar a todas as pessoas durante o processo hipnótico. O autor acredita que por ser um processo individual, as manifestações do comportamento também são únicas, e as situações cotidianas

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que

se

apresentam

como

fatores

hipnóticos

acontecem

verdadeiramente,

independentes de uma orientação prévia. Além disso, Ferreira (apud Rossi, 1989) comenta que existem pessoas que aceitam as idéias sugeridas, mas não ativam modificações na fisiologia; em outras, apesar de aceitarem as sugestões muito lentamente, resistem a elas.

ALTERAÇÕES PRODUZIDAS EM PACIENTES COM OU SEM SUGESTÃO HIPNÓTICA Modificações da motricidade voluntária

• • •

Relaxamento, hipotonia, paralisia, rigidez Movimentos involuntários Facilitação de performance

Modificações do controle normalmente nãovoluntário

• • • • • • • • • •

Coração Vasos sanguíneos Aparelho respiratório Sistema digestório Bradicardia, taquicardia, alterações da pressão arterial Vasoconstrição e vasodilatação Apnéia, hipopnéia, hiperpnéia Modificação nas secreções, do peritaltismo Glicemia, número de leucócitos,... Secreção salivar, transpiração, hormônios,...

Modificações metabólicas Modificações endócrinas Modificações na resposta da pele Percepção alterada pelos • sentidos • Alterações imunológicas Alterações nas funções mentais Alterações de respostas

• • • •

Tabela 9 – Fonte: Ferreira, 2006

Visão, audição, tato, olfato, gustação Alteração e ou distorção da sensibilidade térmica, dolorosa, tátil, epicrítica, barestésica, palestésica Sensoriais, percepção (ilusão, alucinação), atenção, memória Quanto à ansiedade, assimilação, retenção, recordação, alteração, memória da dor crônica Mudança de hábitos: eliminar cigarro, bebida alcoólica, emagrecer Poder de dessensibilizar fobias, desenvolver capacidade criativa

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3.4 Métodos/técnicas de Hipnoterapia com Hipnose

Na literatura sobre hipnose, cujas publicações científicas são mais restritas, encontra-se na atualidade um referencial teórico elaborado por Ferreira (2006), cujos estudos recentes têm procurado não só revisitar o percurso da hipnose na história humana, mas também destacar seu relevante papel na cura de várias enfermidades de ordem psíquica e física. Por esse motivo, neste trabalho optou-se por fazer uma breve descrição das técnicas de Psicoterapia pela hipnose que o autor aborda, entremeando com algumas técnicas desenvolvidas por Milton Erickson, cujas publicações em extensos trabalhos também em muito contribuíram para elevar a hipnose ao patamar em que hoje se encontra. Entretanto, cabe salientar que existem divergências quanto ao uso da palavra método e técnica, sendo às vezes utilizada como sinônimos. Outro ponto a destacar está em que, das técnicas/métodos aqui explanados, existem variações conforme seus autores, muitas vezes com uma nomenclatura diferente, porém bastante próximas quanto ao modo de condução dos trabalhos. Nos estudos reportados por Erickson, Hershman e Secter (2003), encontram-se registrados entre os fenômenos hipnóticos alguns que também foram observados por Ferreira (2006) como técnicas de Hipnoterapia. Entretanto, apenas alguns dos fenômenos apontados pelos autores serão registrados no decorrer do trabalho com os indicativos da respectiva autoria. Por último, entendeu-se relevante observar a existência de outras técnicas/métodos não mencionadas aqui e que podem variar conforme a formação daquele que a utiliza. Abaixo, são descritas as práticas técnicas de hipnoterapia elaboradas por Ferreira, interpondo-se a visão de outros autores ao tema tratado.



Dissociação Através desta técnica, o paciente é induzido à dissociação, que consiste

em separar o funcionamento da mente consciente do funcionamento da mente inconsciente, podendo ser aplicada durante as técnicas de Psicoterapia. Normalmente, o primeiro passo está em

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[...] dissociar o “Eu” observador, do “Eu” que está experienciando alguma coisa, (b) separar o “Eu”, das partes do corpo para expressar os conteúdos subconscientes, como ocorre na hipnografia, hipnoplastia e na escrita automática e (c) dissociar vários estados do “Eu”, processos e funções, para auxiliar o paciente e reintegrá-los de um modo mais saudável. (FERREIRA, 2006, p. 703)



Hipnografia Pela pintura, o individuo revela as dificuldades que possui, pois

normalmente estas pessoas possuem limitações quanto ao uso da linguagem como forma de comunicação. O segundo passo nesta técnica é tornar mais fácil ao paciente a capacidade de expressar pela voz o que expressou primeiro pela pintura (FERREIRA, 2006). Quando Meares (apud GONSALVES, 1989) desenvolveu esta técnica, percebeu que a atenção dos pacientes se obtinha com um simples lápis preto. No entanto, o avanço do trabalho permitiu ver que a pintura preta provou ser mais eficaz do que o lápis.



Hipnoplastia Técnica revelada por Raginsky em que o paciente usa a arte plástica para

expressar suas dificuldades. Por este procedimento, em estado hipnótico, o paciente é levado a modelar aquilo que seja de sua preferência, usando massa, argila, plasticina ou material similar (FERREIRA, 2006).

Watkhins e Barabasz (2007)

relatam que Raginsky estimulava uma regressão circunscrita à área de conflito. Para isso, utilizava massas coloridas com a intenção de promover uma regressão específica à área do conflito ou ao nível de desenvolvimento.



Indução de Sonhos Através do sonho sugerido ao paciente após o conhecimento detalhado

de seu histórico clínico. Uma possibilidade é a sugestão pós-hipnótica, em que o paciente é induzido indiretamente a sonhar na noite seguinte e depois relatar o sonho na sessão terapêutica. Por este método, Ferreira (2006) acredita que haja uma redução na possibilidade de ansiedade. Uma outra possibilidade é a utilização

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de auto-hipnose, em que se induz o paciente a sonhar, lembrar os sonhos e compreendê-los, utilizando-se de uma fraseologia adequada. Também se pode optar por sugerir um assunto para o sonho no próprio processo hipnótico. O autor esclarece, entretanto, sobre a habilidade necessária ao hipnoterapeuta quanto à manipulação dos conteúdos dos sonhos, pois nestes existe a possibilidade de mecanismos

diversos,

como

deslocamento

(fatos

que

mudam

de

lugar),

dramatização (encenação), condensação (mistura de fatos), simbolismo (simbolismo conforme o desejo do paciente).



Escrita automática Usada em indivíduos com dificuldade para falar, esta técnica usa a escrita

para ir à busca de “[...] conflitos ocultos, descobrir talentos latentes, evocar pensamentos primitivos formados na infância e auxiliar o indivíduo a organizar sua personalidade mais eficientemente” (MUHL, 1958, apud FERREIRA, 2006, p. 707). Ainda citando Muhl, Ferreira refere também a utilidade desta técnica para descobrir nomes de pessoas, endereços, acontecimentos, cidades, placas de carro. Na visão de Pincherle & Colaboradores (1985, p.71-72) escrita automática se coloca como

[...] uma dissociação da personalidade que pode também ser observada em vigília, por exemplos nos rabiscos, desenhos e letras que muitas pessoas escrevem, de forma às vezes inconsciente, em papéis ao lado de um telefone, enquanto conversam e recebem recados.

Entre as características apontadas no estudo de Muhl (1958 apud PINCHERLE & Col, 1985) está a de que na regressão de idade se verificam mudanças também na caligrafia, onde esta apresenta traços conforme a idade do indivíduo no momento da regressão. Já a visão de Erickson, Hershman & Secter (2003) sobre a escrita automática aponta para a facilitação de o paciente vir a externar conflitos, medos, ansiedades, que o ajudarão na terapia.

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Associação de Idéias Inicia-se o processo hipnótico pedindo ao paciente que vá falando à

medida que as palavras lhe venham, sem critério. O passo seguinte está em o hipnoterapeuta escolher uma série de palavras, cuidando quanto à velocidade, entonação, intensidade e altura da voz, palavras estas que devem ter significação para o paciente. À medida que vai falando cada palavra, dá um tempo para que ele diga logo a seguir o que lhe parece sobre a palavra. Outra variação desta técnica está em associar livremente as palavras-teste com o paciente em vigília e depois fazê-lo repetir sob o efeito da hipnose (FERREIRA, 2006).



Hipnoterapia analítica Na hipnoterapia analítica, também chamada de psicoanalítica ou

dinâmica, o pensamento retorna à fase pré-verbal, caracterizado como aquele encontrado nas crianças pequenas, tais como pensamento não-lógico, não sequencial, uma volta ao faz-de-conta. Nash (1987 apud FERREIRA, 2006, p. 708) refere uma regressão que se caracteriza por:

a) aumento da disponibilidade de material do processo primitivo do pensamento; b) sensações não usuais do corpo; c) emoções mais espontâneas e intensas; d) tendência a deslocar atributos centrais importantes de outras pessoas para o hipnólogo; e) estar receptivo para as experiências internas e externas.

Segundo o autor, o que acontece então é a concentração num aspecto determinado, em que a consciência do se passa ao redor fica diminuída, considerando-se dois níveis de funcionamento do "Eu”: o participante, que deixa para o hipnoterapeuta as questões referentes à análise e crítica, ou ainda, sob efeito de auto-hipnose libera o controle para o “Eu”. O outro é o “Eu” observador, que apenas observa criticamente o envolvimento do “Eu” participante. Ferreira (2006) reporta também neste caso a existência da transferência entre paciente e especialista. Esta se refere a um estado já vivido numa fase anterior pelo paciente. Presentemente, ele os revive na relação com o hipnoterapeuta.

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Existem relatos de sentimentos como medo ou vergonha do paciente, relativos ao sentimento de querer ignorar impulsos inconscientes ou situações que se encontram reprimidas ou então resistências provocadas pela transferência, que tanto pode ser positiva quanto negativa no que concerne ao especialista. 

Conflito experimental Utilizando frases adequadamente construídas com o propósito de induzir

angústia no paciente, Ferreira (2006) alerta para a necessidade de o profissional usar de extrema habilidade, tanto com a hipnose quanto com a psicoterapia. Este alerta se impõe pelo fato de o hipnoterapeuta trabalhar com material reprimido, exigindo desse modo um perfeito conhecimento do problema relatado pelo paciente.



Relembrança e Revivificação Denominada também de terapia de vidas passadas ou vivências

passadas, este recurso se origina a partir do desejo do paciente, tendo em vista a inexistência de provas científicas sobre este método (FERREIRA, 2003, 2006). Entretanto, o autor refere esta técnica como um dos modos de se acessar experiências, pensamentos ou sentimentos reprimidos inconscientemente. Aqui, a regressão tem como objetivo liberar emoções (catarse), recuperar memórias, realçar lembranças conscientes, tornar conscientes outros eventos, agradáveis ou não. Ferreira (2006) coloca dois modos pelos quais as lembranças podem ser acessadas: relembrança ou revivificação, pontuando que aquilo que se faz sob efeito hipnótico também é possível sem hipnose. Para o autor, estes acessos podem ocorrer naturalmente, como passar por algum lugar que já conhecia, por exemplo. Assim, ele explica como relembrança quando os acontecimentos dão ao paciente a impressão de se passarem com outra pessoa, frisando que embora não se possa modificar o passado, pode-se, contudo modificar as recordações e as reações do paciente frente a estas lembranças. Morris (apud FERREIRA, 2006, p. 315) diz que “[...] a lembrança de um acontecimento passado é [sic] na verdade, um ato criativo”.

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Nesse procedimento, Ferreira coloca que ao terminar lentamente o processo hipnótico, o especialista não dá ao paciente nenhum tipo de sugestão para que ele volte à idade atual. A revivificação, por outro lado, consiste em o paciente experimentar e reviver outra vez acontecimentos em um tempo passado, observando inclusive o modo de falar, de escrever, característico da época revivida. É uma volta ao passado. Na condução deste processo, a sensibilidade do especialista está em usar habilmente as palavras. O autor coloca que nesta forma de regressão pode haver uma volta às condutas anteriores, sem que o paciente consiga recordar os fatos acontecidos naquela idade. Outras situações relatadas dão conta de que o paciente: (a) deixa de considerar o hipnólogo na situação regredida; (b) manifesta revivescência de uma idade na qual não entende a linguagem falada; (c) manifesta revivescência de uma idade na qual ele só entendia uma língua estrangeira. Nesta situação, Ferreira (2006) aconselha o estabelecimento de um sinal para a volta do paciente. Os estudos de Erickson, Hershman & Secter (2003) sobre revivificação indicam que por este caminho o paciente revive experiências do passado, em que ele se habilita ao processo de ver, entender e sentir estas emoções. Entretanto, passa a reconhecê-las enquanto acontecimentos do passado.



Terapia Cognitivo-comportamental A hipnose se apresenta como forma de reforço nesta modalidade

terapêutica, cujos seguidores entendem que as desordens de origem psicológica são resultado “[...] de respostas aprendidas e mal adaptadas, sustentadas por cognições disfuncionais” (FERREIRA, 2006, p. 710), pois entendem que não existe comprovação a respeito do estado de transe hipnótico. Para eles, a capacidade de imaginação da mente dos pacientes pode ser alcançada sem hipnose. A teoria desenvolvida por Amigó (apud FERREIRA, 2006), a terapia de autorregulação, tem por objetivo expandir a responsividade do paciente ao tratamento. Na hipnoterapia cognitiva do desenvolvimento, estudiosos como Beck e Ellis (Idem) acreditam na alteração de pensamentos distorcidos, crenças desarrazoadas e negativas, partindose da busca dessa estrutura de pensamentos para substituí-las por sentimentos positivos durante a sessão hipnótica (FERREIRA, 2006).

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A interpretação do autor neste tipo de terapia é que a intervenção do especialista deve buscar o problema que se encontra no inconsciente do paciente e assim utilizar a hipnose para dar solução ao caso. Sua indicação de uso está em casos como a vergonha de falar novas línguas, medo de chegar a uma nova escola, desempenho num novo trabalho, incapacidade de gestão empresarial, dificuldades de relacionamento, para tomada de decisões, descuido com aparência pessoal, vergonha de exigir direitos. 

Técnica Fracionada, "Dentro e Fora” (“In and out”) Esta técnica começa com a indução hipnótica, colocando-se duas

sugestões pós-hipnóticas para acessar rapidamente o estado hipnótico nas consultas subsequentes: uma ao entrar e outra para sair. Isso acontece várias vezes ao longo da mesma consulta, cujo foco central está em avaliar as discussões no estado de vigília (Idem).



Hipnossíntese Técnica criada por Cohn (apud FERREIRA, 2006), em que o paciente

deve crer na própria capacidade para resolver seus conflitos, mesmo sem orientação do especialista. O procedimento se faz induzindo hipnoticamente o paciente, dizendo que a ele é permitido desfrutar do processo como melhor lhe aprouver, em silêncio ou falando, momento em que o hipnoterapeuta fala ao indivíduo que este é capaz de encontrar em seu próprio inconsciente a solução para os seus problemas (Idem). Alakija (1992) também nomeia esta técnica como modalidade que faz uso da palavra.



Hipnoterapias com outras designações A hipnoterapia curativa desenvolvida por Cheek e Lecron (apud

FERREIRA, 2006) consiste em usar a hipnose em diversas situações com o uso de metáforas, regressão parcial, sugestões diretas e indiretas, etc. Sua importância aponta para a necessidade de se localizar a fonte das desordens acumuladas no

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inconsciente humano, uma vez que acreditam serem estas que criam os sintomas (FERREIRA, 2006). Muito embora o autor mencione este tipo de prática hipnótica, afirma desconhecer estudos que confirmem sua eficácia, colocando ainda que a sistematização adotada neste processo é bastante semelhante à sequência utilizada nos processos hipnóticos. A seguir, serão descritas algumas técnicas mencionadas por Erickson, Hershman e Secter (2003) nos trabalhos com hipnose, adaptadas a partir dos seminários ministrados por Milton Erickson nos Estados Unidos a médicos, odontólogos e psicólogos. No prefácio, Zeig menciona como uma das características principais da obra a eficiência da comunicação na prática hipnótica. 

Transe Hipnótico Profundo Com esta técnica, mantém-se o paciente em transe profundo durante

horas ou dias, sendo utilizada em alguns tipos de neurose, azias e gastrites de fundo nervoso, e em alguns casos de tiques de fundo emocional (ERICKSON, HERSHMAN & SECTER, 2003).



Sugestão Indireta Permitida Por este método, os autores consideram mais efetiva a prática de

hipnose, uma vez que motivam o paciente a participar do processo, despertando uma condição interna no individuo, ao invés de dar ordens diretas. A sugestão indireta diminui a possibilidade de defesa do organismo, em que o hipnoterapeuta vai modulando a voz, operando sugestões de forma a “convidar” o paciente a participar do processo (Idem).



Sugestão Hipnótica Direta Também chamada de Hipnoterapia Diretiva por Kline, não é considerada

tão eficaz na condução da melhora do paciente, além de provocar resistência principalmente em pacientes com problemas mais acentuados. Os estudos indicam que há a necessidade de se aprofundar o transe hipnótico nesse tipo de trabalho e

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tornar claro ao paciente a relação existente entre a finalidade para a qual se está fazendo a hipnose e os seus problemas (Ibidem).



Estado Hipnótico Catártico Terapia com orientação psiquiátrica que consiste em diminuir as inibições

e repressões do paciente de modo a desbloquear conteúdo emocional (Ibidem). Hipnoanálise



Neste tipo de intervenção, juntamente com a hipnose são utilizadas técnicas analíticas e são geralmente empregadas em casos psiquiátricos (Ibidem). A contribuição da Psicanálise baseia-se na utilização dos fundamentos teóricos da terapia analítica, em que caberia à hipnose o alívio mais rápido da patologia apresentada (GONSALVES, 1989). Esta modalidade se encontra também referenciada em trabalhos de George Alakija (1992).

3.5 Fenômenos Hipnóticos



Atividade ideomotora e ideossensora A atividade ideossensora relaciona-se à capacidade de contemplação

intensa a uma cena ou objeto que produz uma sensação e esta é reproduzida a cada vez que a imagem é evocada. Em contrapartida, a atividade ideomotora liga-se à capacidade do organismo humano reagir com ações concretas frente a uma situação que ou está presenciando vivamente ou a sentimentos que o impelem, sem sua consciência plena. Os autores colocam como exemplo de atividade ideomotora a escrita automática (Ibidem).

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Alterações sensoriais Há uma extensa variedade de alterações dos sentidos que podem

produzir alucinações visuais, olfativas, gustativas, auditivas ou anestésicas, tanto positiva quanto negativamente (Ibidem).



Catalepsia Entende-se por catalepsia a permanência em uma posição fixa por tempo

indeterminado quando o indivíduo está sob transe hipnótico profundo, mas podendo se manifestar também em transes leves, médios ou de estupor (Ibidem). 

Rapport Rapport é a interação que se estabelece entre operador e paciente. Este,

uma vez estabelecido, faz com que o paciente busque a se isolar dos acontecimentos e dos estímulos externos, prendendo-se somente ao hipnoterapeuta (Ibidem).



Amnésia, amnésia seletiva, hipermnésia A amnésia consiste na orientação hipnoticamente induzida para que o

paciente esqueça alguma coisa, fato ou situação. Já a amnésia seletiva refere-se ao esquecimento de determinadas experiências, atitudes ou aprendizados. Na hipermnésia, que é o aumento da capacidade de lembrar-se das coisas, pode-se conseguir que o paciente recupere memórias em detalhes (Ibidem). Ferreira (2006) pontua que a amnésia pode ser visual, auditiva, olfativa, gustativa, tátil ou verbal. Segundo o autor, ela pode se referir também à perda da memória de fixação (paciente não fixa os estímulos no reservatório da memória) ou da memória de conservação (perda das informações já fixadas). Este último caso geralmente liga-se a “[...] traumatismos cranianos, mal de Alzheimer ou múltiplos infartos, em intoxicações graves” (p. 271). Também quanto a esse ponto existem controvérsias entre os autores, referindo que tanto a amnésia quanto a hipermnésia podem facilitar o acesso a fatos

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esquecidos. Ferreira (2006) cita a revisão de McConkey e Sheehan (1995), os quais referem a falta de evidência de que estas técnicas realcem a memória efetivamente.



Supressão e repressão A supressão consiste no ato de manter afastados do pensamento

sentimentos ruins, negativos (dentro do possível). Entretanto, estes conteúdos, uma vez reprimidos no inconsciente, podem ser resgatados com o uso de recursos como “[...] visualizações, alucinações auditivas, alucinações táteis, bem como outros recursos adequados para esse fim e desenvolvidos pelo próprio paciente” (ERICKSON, HERSHMAN & SECTER, 2003, p.68).



Dissociação Durante o transe hipnótico, sugere-se ao paciente que veja a si mesmo

como se estivesse em outro lugar (ERICKSON, HERSHMAN & SECTER, 2003).



Despersonalização Os autores referem despersonalização como a perda momentânea da

capacidade de identificar a si próprio durante o transe hipnótico (Idem).



Sonambulismo Estágio bastante profundo de hipnose em que o paciente dá a impressão

de estar plenamente acordado (Ibidem). O dicionário de Psicologia (1977) trata sonambulismo como uma ação e reação na consciência primitiva, apontando esta característica mais em crianças e problemas ligados à neurose. Janet (1889 apud CHERTOK & STENGERS, 1990) descreveu sonambulismo como “[...] aparecimento de um campo de consciência comparável ao que caracteriza o estado de vigília, mas acompanhado de uma modificação da personalidade” (p. 259).

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Subjetividade e Objetividade Depois de hipnotizado, o paciente é solicitado a sentir as mesmas

angústias de uma outra pessoa, de quem ele nada sabe. Isto possibilitaria ao paciente avaliar o sofrimento do outro de forma subjetiva. No segundo caso, pode-se hipnotizar o paciente induzindo-o a deslocar os seus problemas para uma terceira pessoa, que o hipnoterapeuta diz ter o mesmo nome e os mesmos problemas. Desta forma, o paciente discute de forma inequívoca as suas angústias como se fossem a do outro (Ibidem).



Distorção do tempo Existem duas situações: uma em que o tempo real é bem maior do que

aquele sonhado ou imaginado, e a outra, em que o tempo real, apesar de muito curto, dá a sensação de ter durado muito mais do que na verdade durou (idem). Comparando-se os dois aportes teóricos, é possível tecer algumas considerações sobre um e outro, sendo em alguns casos bastante próximos nas explicações. Em outros, diferenciam-se bastante. Nos dois casos apontados abaixo, muito embora a nomenclatura utilizada por um e outro seja diferente, pôde-se observar que elas na verdade são práticas muito similares. Por exemplo, Ferreira (2006) coloca dissociação (técnica hipnoterápica) como o ato de separar três “Eus”: um observador, um experienciador e um terceiro fragmentado em vários processos e funções. Numa outra explicação, o autor coloca dissociação como a separação entre diferentes processos mentais, ou seja, enquanto uma parte da mente se ocupa de algum sentimento (por exemplo, dor), a outra parte, consciente, recebe sugestão para a supressão ou eliminação do foco doloroso. Para Erickson, Hershman & Secter (2003), dissociar significa permitir ao paciente, sob efeito hipnótico, que esteja em dois lugares ao mesmo tempo: um seria o observador e outro o experienciador, como apontado por Ferreira (sendo que a dissociação para estes teóricos refere-se a um fenômeno e não técnica). Outro item coincidente entre os teóricos está no Estado Hipnótico Catártico referido por Erickson, Hershman & Secter e no Conflito Experimental de

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Ferreira. Nos dois aportes, há uma catarse do conteúdo emocional reprimido que deve ser trabalhado sob hipnose para liberar o paciente de suas angústias. Todos os autores referem-se a este item como técnica de hipnose. As conclusões destas duas comparações não tiveram outro intuito senão o de enfatizar o que já havia sido explanado anteriormente pelas referências teóricas apontadas, ou seja, as evidentes contradições existentes no que se refere a uma unicidade científica em torno da hipnose, condição é claro que não é prerrogativa das teorias hipnóticas.

3.6 Técnicas Hipnóticas



Técnica com relaxamento muscular Consiste em convidar o paciente, depois de assegurar-se que ele esteja

confortável e reclinado numa poltrona, a fechar os olhos, mantendo os pés juntos e os braços ao longo do corpo. Nesse momento é importante explicar as distinções entre sonolência, sono, sono profundo e relaxamento (FERREIRA, 2006).



Técnica Método da Estrela Com o paciente instalado confortavelmente, pedir que este feche os olhos e

relaxe, evitando associação com as palavras estrela e respiração profunda. Durante a sessão, perguntar se ele gosta de respirar profundamente e de estrelas, e ir aprofundando a indução hipnótica com uma fraseologia específica, como ‘visualizar uma estrela solitária’, dando prosseguimento com sugestões de relaxamento. Durante o procedimento, ir paulatinamente aproximando e depois afastando a estrela conforme o desenrolar do trabalho (FERREIRA, 2006). Esta técnica se encontra também descrita no trabalho de Pincherle e colaboradores (1985).

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Técnica de Indução com visualização Indicada para quem tem capacidade imaginativa, pede-se ao paciente

que recrie um lugar de sua preferência, descrevendo-o em detalhes. Observar se o paciente consegue reproduzir, atentando para quesitos como rapidez, habilidade em imaginar e intensidade. Aprofundar a indução hipnótica dando sugestões de bemestar, sentimentos positivos e depois continuar com as sugestões específicas do tratamento (FERREIRA, 2006). Pincherle

e

Colaboradores

(1985)

colocam

esta

técnica

como

visualização cênica, aplicada em estado sonambúlico, em que o paciente é induzido a criar alterações de sentido: “Imagine agora que você está na praia, olhando para o mar. Está passando um barco com a vela ao vento... Você está vendo o barco? Olhe fixamente para ele” (1985, p. 49).



Técnica da Fixação do olhar Bernheim foi quem desenvolveu esta técnica, sendo mais tarde

aperfeiçoada por Moss (FERREIRA, 2006). Comodamente sentado e relaxado, o paciente fixa o olhar num objeto brilhante ou no dedo do especialista a uma distância aproximada de 35 a 45 centímetros. A partir daí, vão sendo dadas sugestões verbais de relaxamento, aprofundamento da respiração, sensação de peso nas pernas, no corpo inteiro, até induzi-lo a um sono agradável e profundo, momento em que se inicia a terapêutica especificamente. Pincherle e colaboradores (1985) mencionam que Berheim costumava gesticular quando o paciente resistia à sugestão.



Técnica da contagem associada aos movimentos oculares Paciente reclinado de modo confortável, braços sobre as coxas. Como

nas anteriores, explicar o significado das palavras e o exercício a ser feito. O especialista vai contando a partir do 1, dando tempo ao paciente para abrir e fechar os olhos até o número 30. Instruí-lo de que com o número 1 ele deve fechar os olhos e ao dizer o número 2, ele deve abrir, suavemente. Durante o processo, aplicar sugestões de peso nas pálpebras de modo crescente, assim como sensação de formigamento, calor, até seu fechamento completo. Estender as sugestões ao corpo

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inteiro, parte por parte. A volta ao estado normal de vigília se dá com a contagem ao inverso, até o completo despertar. Uma variação desta técnica é apontada em Psicoterapias e estados de transe, de Pincherle e Colaboradores (1985). Nela, os autores descrevem a sequência inicial, a começar pela contagem do 1 em diante, devendo o paciente fechar e abrir os olhos a cada número dito, sem esperar pelo número seguinte. Simultaneamente, o hipnoterapeuta vai aplicando as sugestões diretivas.



Abordagem Ericksoniana A variedade de técnicas de Erickson dá ao paciente liberdade de

“escolher” qual delas melhor se coloca para o sucesso de seus problemas, favorecendo que ele mesmo desenvolva novas atitudes e crenças. Por esse procedimento, Erickson obteve considerável sucesso, dado que o paciente age de modo a suspender em parte as limitações que atuam sobre o consciente e permite que um novo conjunto de atitudes promova a mudança. Esta técnica consiste em reduzir o foco atencional do paciente, facilitando alterações nas condutas normais de direção e controle. Desse modo, ele recebe melhor as sugestões e coloca em curso o conjunto de respostas adequadas ao seu caso. Ferreira (2006) indica o uso de uma fraseologia indireta, vaga, de analogias e metáforas (características distintivas do trabalho de Erickson), permitindo ao paciente sentir ou não, dar a ele poder para realizar ou não uma ação. Esta aparente liberdade é que direciona o trabalho terapêutico. Outro recurso é apresentar idéias antagônicas quando o paciente responde com ação invertida. No entanto, o autor sugere que a observação é sempre importante, pois permite que se incorpore à indução movimentos feitos pelo paciente. Sobre esta especial habilidade de Erickson, Pincherle e colaboradores (1985) sustentam que o renomado hipnoterapeuta se permitia dizer que seus pacientes praticamente não ofereciam resistência ao trabalho hipnótico, haja vista o bem elaborado rapport que Erickson estabelecia com o paciente.

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Técnica do Levantamento de mão Outra técnica criada por Erickson e que requer habilidade específica do

hipnólogo, esta vai mudando de momento a momento a fraseologia, baseada na observação imediata das reações do paciente, em especial as não-verbais. Mais demorada, esta técnica proporciona a participação ativa do paciente e é indicada a quem sofre com processos ansiosos com reflexo muscular (FERREIRA, 2006). Erickson, Hershman & Secter (2003) reportam esta procedimento como técnica indireta permissiva. Com as mãos sobre as coxas, induzir o relaxamento, concentrando a atenção nas mãos, nas sensações e nos movimentos. A cada movimento feito, ir modificando as frases de modo a ressaltar para o paciente o que ele fez. Ferreira (2006) menciona a sugestão de Kirsch (1990) nas situações em que o paciente não executa as sugestões conforme as especificações do hipnoterapeuta. Diante de situações como essa, deve-se sugerir peso nos braços, ou indicar se braço esquerdo ou direito. Pode-se também sugerir que o paciente está carregando algo pesado e por isso não consegue mover o braço. Depois de executados todos os passos, dar início à sequência terapêutica normalmente.



Técnica dinâmica Inicia com a sessão de relaxamento, pedindo ao paciente que se ajuste

confortavelmente à poltrona e feche os olhos. Pode ser feita também com a sugestão de preferência do especialista para depois entrar com a técnica dinâmica. Esta

consiste

em

expor

uma

sequência

de

fatos

como

se

ocorridos

verdadeiramente, tomando por base as respostas do paciente, sempre atento às defesas que ele pode apresentar, até sua cessação definitiva. Ferreira (2006) antecipa que se trata de uma técnica bastante complexa, uma vez que não se podem prever antecipadamente as reações do paciente, exigindo, portanto grande habilidade do hipnólogo.

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Indução por movimentos alternados repetidos Indicado para uso com pacientes ansiosos e inquietos (geralmente

pessoas negativistas), nesta técnica Ferreira (2006) aconselha a utilização de movimentos de extensão e flexão nos braços, embora possam ser usados tanto nos membros inferiores quanto superiores (observar anteriormente se há limitações por parte do paciente quanto à mobilidade dos órgãos). A técnica começa por explicar detalhadamente as partes do corpo, ao mesmo tempo em que fala exatamente o nome de cada uma, uma vez que é objetivo da técnica dirigir o foco de atenção. As sugestões são dadas com o consequente movimento do especialista em direção ao órgão apontado, situação que Ferreira detalha: “Agora eu seguro o seu braço direito [...] tocando aqui com o martelinho de pesquisar reflexos do neurologista” (FERREIRA, 2006, p.237). A certo tempo, dar indicação de contagem para que ele realize algum tipo de movimento até percebê-lo totalmente relaxado e pronto a seguir com as sugestões terapêuticas. Esta técnica é também apresentada sob o nome de Fenômenos Corporais por Pincherle e Colaboradores (1985).



Técnica de confusão mental Técnicas especiais para superar o crivo crítico, em que a consciência do

paciente é orientada para a confusão, Ferreira (2006) aponta que elas são pouco utilizadas. Ela começa com a orientação ao paciente para que abra e feche os olhos a partir de sugestões numéricas: números pares abrem os olhos e números impares fecham. Na sequência do trabalho, começa em ordem decrescente de numeração, com indicação de abrir e fechar os olhos. Quando percebe que o paciente está respondendo positivamente, dar sugestões quanto ao aprofundamento do estado hipnótico, ao mesmo tempo em que o induz ao esquecimento de números pares e impares. Estas informações visam confundir o inconsciente enquanto a mente se ocupa da contagem, provocando o que Ferreira (idem) chama de sobrecarga sensorial. Já para Erickson, Hershman e Secter (2003), esta técnica é bem indicada nos casos em que há “[...] uma resistência inconsciente confusa da parte do indivíduo que conscientemente quer ser hipnotizado” (p. 145). Tal como Ferreira, os

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autores referem o alto grau de habilidade e experiência por parte do hipnoterapeuta como condição chave para o sucesso desta técnica.



Procedimento de Indução Hipnótica ativa-alerta Com o uso de uma bicicleta ergométrica fixa, o paciente é orientado a

permanecer de olhos abertos, pedalando, ao mesmo tempo em que recebe instruções de destacar o estado de alerta, cuja velocidade das pedaladas vai aumentando e diminuindo respectivamente. Nesta técnica, sugestões que provocam o relaxamento ou sonolência não são utilizadas. No entanto, Ferreira (idem) refere que estudos conduzidos por Bányai em estados hipnóticos de ativa-alerta em Psicoterapia apontam que há um incremento responsivo das sugestões, “[...] sensação de abandono da planificação do ego, sensação de que a atenção está altamente focalizada, desvio lateral que facilita o processamento pelo hemisfério cerebral direito” (FERREIRA, 2006, p. 239). O autor argumenta que em pacientes com histórico de dispnéia, problemas cardíacos, muito idosos ou com dificuldade de articulação nos joelhos esta técnica não deve ser utilizada.



Técnicas Rápidas Com o uso de frases curtas e simples, o paciente é levado ao

relaxamento, técnica que Furst (1994) denomina de Técnicas de pouca conversa. O autor considera que longas conversas e descrições minuciosas do que é e como se percebe o estado hipnótico é contraproducente. Para ele, é mais válido que o hipnoterapeuta procure estabelecer desde o início um bom entrosamento com o paciente. Em seu livro Hipnotismo e auto-hipnotismo de indução rápida, Furst revela mais de vinte técnicas de indução rápida, utilizando-se de vários mecanismos e para as mais variadas idades. Contudo, reforça que enquanto algumas são mais indicadas numa faixa etária, outras são mais precisas quando utilizadas em outra faixa de idade. A técnica Mancha de Tinta apresentada aqui é indicada para crianças com idade entre três a seis anos, utilizada anteriormente por Kashiwa (FURST, 1994) em casos de acidentes com crianças que exigiram pontos. Com a criança sentada, a mão direita no colo, palmas viradas para baixo, coloca-se um pingo de tinta nas costas da mão direita, ao mesmo tempo em que o

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especialista diz para a criança olhar atentamente, pois a mancha de tinta vai subir devagarinho, até ficar cada vez mais próxima da testa. A sugestão continua com o hipnoterapeuta dizendo à criança que por mais força que ela faça para deixar a mão suja de tinta longe da testa, mais rápido ela se aproxima, e à medida que vai se aproximando, a cabeça vai ficando pesada e os olhos vão se fechando. O autor comenta que em raras situações a sessão terapêutica não se reproduziu deste modo, e cujo ponto de checagem ele descreve como “[...] esperar até ver a mão da criança começar a subir” (FURST, 1994, p. 24).



Procedimentos a partir de respostas naturais Considerada como um fenômeno comum nas tarefas diárias, a hipnose é

facilmente verificável quando a pessoa treinada se depara com a situação na clínica. Ferreira (2006) assinala como respostas espontâneas mais comuns a modificação da respiração, do relaxamento muscular (em especial da face), dos músculos das mãos e braços, o olhar desfocado, movimentos automáticos na cabeça, face, pálpebras, narinas, extremidades (dedos), tremor nas pálpebras, alterações na pupila e na cor da pele.



Procedimento a partir da conversa de um cenário Consiste em oferecer ao paciente uma variedade de cenários em que ele

gostaria de estar e que lhe causa bem-estar, descrevendo de forma visual estes cenários. Numa segunda etapa, descreve-se o cenário usando-se representações visuais e cinestésicas, sempre observando as reações do paciente, adaptando a narrativa sob todos os aspectos ao conjunto de respostas observadas. É importante que o especialista ajuste seu padrão de atividade ao do paciente e quando o especialista muda, observar se o paciente também muda, um sinal de que o rapport está estabelecido (Idem).



Técnica Subliminar sonora Mensagem subliminar é uma informação enviada sub-repticiamente ao

inconsciente humano. A técnica subliminar sonora se obtém com o uso de música,

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palavras, frases, sons ambientais, que articulados, são usados para reprogramar o subconsciente. Ferreira (2006) salienta que numa gravação criada com a própria voz, somada a um fundo musical ou ambiental, na qual se associa uma programação subliminar, esta alcança o inconsciente diversas vezes no decorrer da audição. O autor frisa, contudo, a falta de evidências de que as fitas de áudio e vídeo

comercializadas

com

sugestões

subliminares

produzam

resultados

unicamente pelo teor das palavras ali contidas. Refere ainda que há indícios de que a expectativa pessoal quanto aos resultados seja responsável por resultados positivos com seu uso.

3.7 Estágios da hipnose

Os estudos feitos por Ferreira (2006) apontam para uma tendência a não se determinar o grau de profundidade do estágio hipnótico do paciente por escalas, tendo em vista a grande variedade de respostas postas em relação a um grande número de sujeitos. Para ele, tem mais valor chegar à anamnese do paciente e começar a indução hipnótica a partir disso, treinando-o desde a primeira sessão para as respostas desejadas no futuro. Ilustra esta questão com um paciente que queira, por exemplo, deixar de fumar: “[...] iremos sugerir que quando um cigarro tocar em seus dedos, seus dedos se abrem [sic] e se estendem [sic] e o cigarro cai [sic] no chão, então já iniciamos com sugestões de rigidez nos dedos de uma ou de ambas as mãos” (FERREIRA, 2006, p.164). Como justificativas para este procedimento, o autor coloca, além das diferenças personalíssimas entre os pacientes, variações também conforme a natureza da consulta, o tipo de sugestões oferecidas e como estas são disponibilizadas ao paciente, o modo pelo qual este percebe as sugestões e as associações que faz a partir delas. Precisamente por estas diferenças é que Ferreira (2006) prefere avaliar a profundidade hipnótica a partir da subjetividade do paciente. Assim, é possível acrescentar informações extras específicas e relacionadas com as experiências da

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pessoa, bem como apresentar situações contrastantes, orientando o paciente a perceber que emoções ele associa a cada situação em especial. Abaixo está representado o quadro de aprofundamento do transe hipnótico segundo a escala de Torres Norry, modificada por Moraes Passos e Pincherle & Colaboradores (PINCHERLE & COL., 1985, p. 44).

ESCALA DE TORRES NORRY (mod. Por Moraes Passos) Fase Hipnoidal Hipnose Leve



Manifestar fenômenos oculares e corporais

• Manifestar catalepsia palpebral (os fenômenos catalepsia braquial, catalepsia geral e relaxamento geral estão presentes apenas na escala de Torres Norry (NATALY, 1999, p.90)

Relativamente aos fenômenos de catalepsia ocular e analgesia, podem ser propostos desafio e apagamento

Hipnose Média

• Analgesia • Surdez eletiva • Signo-sinal • Aceitar sugestão hipnótica simples (Movimento automático, sono e amnésia superficial estão presentes apenas na escala de Torres Norry (NATALY, 1999, p.90) Hipnose • Manter uma conversação estando em estado hipnótico Profunda • Abrir os olhos mantendo o estado hipnótico • Amnésia superficial (Aceitar sugestões de representações alucinatórias está presente apenas na escala de Torres Norry (NATALY, 1999, p.90) Fase • Visualização cênica Sonambúlica • Alucinação • Anestesia profunda • Regressão de idade • Amnésia profunda • Sugestões pós-hipnóticas

1º sugestão hipnótica

pós-

Natural ou induzida

Tabela 10 – Fonte: Pincherle & Col., 1985

Os autores atentam para a existência de diferentes escalas, não sendo condição essencial, portanto, a reprodução exata desta sequência, tendo em vista que as situações variam de acordo com o sujeito/paciente. O fato de Ferreira (2006) preferir a não-utilização de escalas para medir a intensidade da indução hipnótica não invalida sua prática por outros profissionais. É nesse sentido que comenta sobre as escalas desenvolvidas por Morgan e Hilgard em 1978 – 1979, uma para ser usada em adultos e outra em crianças. Pela

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Stanford Hypnotic Clinical Scale (SHCL), é possível avaliar, segundo seus criadores, as habilidades do paciente em mover as mãos juntas, alucinações a partir de sugestão, regressão de idade, execução de atividades pós-hipnóticas simples e amnésia parcial ou completa (FERREIRA, 2006). O autor comenta também sobre as SSTA (sugestões para sintonização, treinamento e aproveitamento), onde o aspecto subjetivo das experiências é realçado de modo a se atingir um resultado positivo (Idem). Os estudos feitos por Erickson, Hershman e Secter (2003) apontam para as características a serem observadas durante o estado hipnótico, porém distribuindo-as por estágio de transe: leve, médio, profundo ou pleno (estupor), as quais se encontram relacionadas no quadro abaixo:

CARACTERÍSTICAS A OBSERVAR NO ESTADO HIPNÓTICO

Transe leve

Transe médio

Transe profundo

Transe pleno ou estupor

• • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • •

Relaxamento Catalepsia das pálpebras Fechamento dos olhos Início catalepsia em algum membro Respiração lenta e profunda Imobilização dos músculos faciais Começando catalepsia dos membros Sensação de peso em várias partes do corpo Hipnoanestesia glove anesthesia Aptidão ao desempenho de sugestões pós-hipnóticas simples Amnésia parcial (alguns indivíduos) Atividade muscular lenta definida Aptidão para ilusões e alucinações simples Aumento da sensação de ‘desprendimento’ Marcante catalepsia dos membros Aptidão ao desempenho de sugestões pós-hipnóticas simples Aptidão para manter o transe com olhos abertos Amnésia total (maioria dos indivíduos) Aptidão no controle de algumas funções orgânicas (pulso, pressão) Anestesia cirúrgica Regressão de idade e revivificação Alucinações auditivas e visuais positivas e negativas Aptidão para ‘sonhar’ material significativo Aptidão para desempenhar tudo ou quase tudo do que está acima do estado pró-hipnótico Acentuada lentidão das respostas orgânicas e quase completa inibição de atividade espontânea (os autores colocam que diferenças podem ser apresentadas de indivíduo para indivíduo em quaisquer dos estágios de transe)

Tabela 11 – Fonte: Erickson, Hersman & Secter, 2003

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4 O USO DA HIPNOSE NA PRÁTICA CLÍNICA

A hipnose ganhou respeito na medicina principalmente pelos efeitos na analgesia, cuja abordagem tem sido usada por milênios para tratar problemas médicos e dermatológicos. Desordens dermatológicas podem ser melhoradas ou curadas com o uso da hipnose como uma terapia complementar ou alternativa (SHENEFELT, 2003). Além disso, recentemente muitos experimentos clínicos controlados usando a hipnose para regular a dor vêm sendo referidos por Stam (1984), assim como os de Beng-Yegong e Tih-Shih Lee (2008) sobre a enurese, como também estudos de Raz, Fan e Posner (2005) e a utilização de imagens para captar atividades cerebrais durante o processo hipnótico.

4.1 Hipnose na Clínica Médica

Após a referendação pelo Conselho Federal de Medicina, o uso da hipnose vem ganhando espaço em todas as áreas da clínica médica, em que inúmeros estudos têm sido produzidos tanto no exterior como aqui no Brasil dando conta dos efeitos positivos que a hipnose tem alcançado no sentido de dar alívio a diversas enfermidades de cunho somático e orgânico. Estudos conduzidos por Shenefelt (2003) na clínica dermatológica têm demonstrado que sob efeito de indução hipnótica, a maioria dos pacientes submetidos a procedimentos dolorosos, como tratamento a laser de lesões vasculares, excisão de pele, microdermoabrasão forte, incisão e drenagem de abscessos, biópias, lipoaspiração, entre outros, respondem positivamente ao alívio doloroso, independentemente do tipo de dor referido. O autor comenta sobre um outro estudo randomizado feito por Montgomery, Weltz, Seltz e Bovbjerg (2002 apud SHENEFELT, 2003) em um grupo de 20 mulheres assistidas em cuidados pré-operatórios com indução hipnótica para biópsia de mama. Neste trabalho, os autores declararam que foram necessários 10

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minutos de hipnose breve para atingir a redução da dor e angústia relatadas pelas pacientes, não só antes da cirurgia como também depois dela. A prática de Shenefelt (2003) evidencia que a liberdade de escolha do paciente ao autodirigir as imagens parece alcançar um maior estado de relaxamento nos pacientes durante os procedimentos. Estudos recentes referidos por Vale (2006) apontam para diversos fenômenos que podem ser removidos ou produzidos com o paciente sob efeito hipnótico. Segundo o autor, anestesia, analgesia, paralisia, rigidez de músculos e alterações vasomotoras estão entre as alterações que se podem induzir. A sugestão produz alterações na consciência e na memória, aumentando o poder de sugestionabilidade, cujas reações provocam a produção de neurotransmissores neurais na base de tais fenômenos. A curto prazo, o autor indica o tratamento da lombalgia associado à hipnose e a um relaxamento muscular, sendo que após passada a fase da dor, é aconselhável um tratamento paralelo com outras técnicas, como quiropraxia, alertando para o fato de que se deve, contudo, preservar a individualidade do paciente. Em pacientes esquizofrênicos, a terapêutica recomenda como o melhor tratamento aquele prescrito com antipsicóticos. Entretanto, mais estudos vêm sendo conduzidos no sentido de melhora nos quadros destes pacientes com o uso da prática hipnótica, pois mesmo com o uso de medicamentos, como bem aponta Johnstone (1998 apud Izquierdo de Santiago, 2008), “[...] entre el 5% y el 15% de las personas siguen presentando síntomas a pesar del tratamiento con medicación” (1998, p.2). Nesta revisão, Izquierdo (2008) observa que existe por parte do governo um crescente reconhecimento que beneficia as terapias alternativas na Medicina, pois entende que os tratamentos à base de medicação nem sempre têm sucesso com a esquizofrenia, indicando que a hipnose merece um estudo mais profundo. Por esse motivo, segundo ele, é que “Los usuarios, cuidadores y médicos consideran cada vez más las terapias alternativas para aliviar los sintomas y mejorar la calidad de vida en la esquizofrenia” (Idem, p. 10). Estudos feitos com neuroimagens e a utilização concomitante de sugestões pós-hipnóticas deram conta de maior efetividade em comportamentos durante a vigília.

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Nestes estudos, Raz, Fan e Posner (2005) identificaram o dorso do córtex cingulado anterior como um elemento-chave para acompanhar conflitos dentro de uma rede neural. Os autores sustentam que sob efeito da sugestão hipnótica é possível moderar conflitos, tendo em vista que esta os diminui sensivelmente, tanto pela modulação precoce do córtex occipital, quanto pela posterior ativação do córtex anterior cingulado (AAC). Seus experimentos em um grupo de dezesseis sujeitos fizeram-nos concluir, mediante exames com neuroimagens aplicados tanto a pacientes hipnotizados quanto em não-hipnotizados, que a sugestão pós-hipnótica afetou o processamento visual, embora estas alterações não se reportassem às palavras visuais mostradas (Idem, p. 9981). O mérito maior deste trabalho, conclui-se, está na possibilidade de analisar o cérebro humano sob a influência da hipnose, demonstrando assim o sensível interesse e as pertinentes contribuições que esta prática vem resgatando na atualidade. A figura abaixo demonstra os achados relatados pelos autores:

Fig. 8- Visão das imagens após estimulação do cérebro Fonte: Raz, Fan e Posner, 2005

4.2 Hipnose na Clínica Odontológica

Prática referendada pelo Conselho de Odontologia no Brasil, a hipnose tem como mérito maior o de proporcionar um aumento na eficácia terapêutica em diversas enfermidades físicas e ou somáticas.

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Fazendo uso da linguagem, a palavra se torna uma poderosa ferramenta nas mãos do profissional habilitado, capaz de conduzir o paciente a um estado especial de consciência que o permite utilizar seus recursos internos em seu próprio benefício. Condição fundamental para a eficácia de tal procedimento, a relação de confiança entre paciente e profissional define desde os primeiros contatos a possibilidade de sucesso do trabalho, uma vez que é com o sistema representacional do indivíduo que o profissional se depara. Amparada pela Lei 5081, publicada a 24 de agosto de 1966, em seu artigo 6, inciso VI, diz que entre as competências do cirurgião-dentista está a de empregar a analgesia e a hipnose, desde que habilitado e quando constituir reconhecida eficácia ao tratamento (vide anexo III). Diversos são os benefícios que a hipnose traz ao paciente em Odontologia. A possibilidade de tratar o paciente no próprio consultório, paralelamente ao tratamento e nas diversas especialidades odontológicas, faz com que o profissional habilitado possa muitas vezes dispensar o uso de medicamentos. Sua prática proporciona também a capacitação em ouvir o paciente e suas queixas, o que faz com que o paciente colabore melhor com o tratamento, reduzindo o nível de estresse de ambos. Entre as competências exigidas para um bom desempenho em hipnose, pode-se colocar também o discernimento para empregar a técnica quando realmente ela for indicada. Neste trabalho, a visão do processo saúde-doença permite interpretar os aspectos físicos e emocionais do paciente, os quais estão diretamente ligados à cura (CFO, 2009, Práticas Integrativas). Em Odontologia, diversos estudos têm sido relatados utilizando a hipnose. Stam, McGrath e Brooke (1984), em estudos publicados no Journal of BioBehavioral Medicine, sugerem

os efeitos da hipnose como inibidores no

tratamento da dor temporo-mandibular, nos quais os pacientes relataram expressiva significação no decréscimo na dor e limitações da mobilidade do maxilar. No quadro abaixo, as atribuições do profissional odontólogo em hipnose:

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ATRIBUIÇÕES DO ODONTÓLOGO Tratamento ou controle da ansiedade, medo ou fobia relacionados aos procedimentos odontológicos e/ou condições psicossomáticas • Condicionamento do paciente para mudar hábitos de higiene, adaptação ao tratamento, ao uso de medicamentos, à reeducação alimentar... • Tratamento e controle de distúrbios neuromusculares e intervenção sobre reflexos autonômicos; • Preparação de pacientes para cirurgias • Preparação de pacientes para serem atendidos por outros profissionais. • Atuação na adaptação e motivação direcionada ao tratamento odontológico. • Utilização de anestesia hipnótica em casos pertinentes; Utilização de hipnose em outros processos / situações relacionados ao campo de atuação do cirurgião-dentista. Tabela 12 – Fonte: Conselho Federal de Odontologia

A Odontologia considera como termos correlatos à hipnose o de hipnólogo, hipnólogo terapeuta odontológico, hipnólogo clínico, hipnodontista e hipniatra.

4.3 Hipnose na Clínica Psicológica

Mais antiga do que a neuroanatomia, a fisiologia e a farmacologia bioquímica, a Psicologia se coloca como a quarta disciplina mais importante para dar conta da profunda imbricação entre cérebro e comportamento. Contudo, apenas a partir do século XIX é que os estudos do comportamento foram abordados sob a forma experimental com os estudos de Charles Darwin, distanciando-se então da Filosofia (KANDEL, trad. MARIA CAROLINA DORETTO, 2009). Regulamentada no Brasil como profissão desde julho de 1974, a Psicologia tem como premissa básica estudar o comportamento humano enquanto participante de um grupo social, tanto de forma individual quanto coletiva. Em dezembro de 2000, o Conselho Federal de Psicologia, por meio da Resolução 013/00, reconheceu e recomendou o uso da hipnose pelos seus profissionais (vide anexo II).

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Uma das condições considerada indispensável ao profissional em psicologia ao trabalhar com hipnose diz respeito à postura que este deve ter quanto ao papel que desempenha e às possibilidades reais que a hipnose pode proporcionar, haja vista que para o sucesso desta prática é fundamental a confiança e a colaboração do paciente. Entre as indicações da hipnose estão os casos de ansiedade, depressão, tabagismo, alcoolismo, drogadição, traumas, fobias, medos, compulsão alimentar, obesidade, distúrbios do sono, estresse, insônia, enxaqueca, etc., os quais podem ser bastante atenuados ou até mesmo vir à remissão completa dos sintomas, pois é preciso ter em mente que cada indivíduo possui características específicas e nem todos respondem ao tratamento por igual. Problemas relativos a distúrbios do sono com indicação de uso da hipnose têm sido reportados por Hurwitz et al (1991 apud BENG-YEONG NG e TIHSHIH LEE, 2008). Segundo eles, após indução do transe hipnótico, com posterior relaxamento e sugestões pós-hipnóticas com o fim de incluir sensação de segurança e redução da ansiedade para obter um sono reparador, 74 % dos indivíduos relataram sensível melhora no quadro. Beng-Yegong e Tih-Shih Lee (2008) referenciam a enurese noturna como um distúrbio de graves consequências para as crianças, incluindo uma baixa na autoestima e estresse familiar, sendo que a hipnoterapia tem sido empregada eficazmente para tratar crianças e adolescentes vítimas de enurese noturna primária, associada à medicação. Contudo, os autores ressaltam que algumas estratégias de sugestão hipnótica respondem melhor ao tratamento do que a imipramina em crianças entre cinco e sete anos de idade (idem). Hammond (1990 apud CABAN, 2004) demonstrou o uso da hipnose com reconhecida eficácia para tratamento da depressão, do sofrimento, desordens relacionadas ao apetite, do abuso de substâncias, baixa da autoestima, fobias. Estudos conduzidos por Caban (2004) em sua tese de mestrado procuraram demonstrar a eficiência da hipnose para melhorar o desempenho acadêmico dos alunos do primeiro ano de graduação. Muito embora suas conclusões tenham apontado a necessidade de novos estudos em razão de variáveis distintas que não puderam ser adequadamente mensuradas, a autora considera, diante do relato de vários participantes do estudo, que a hipnose produziu efeitos positivos numa parcela expressiva da população amostrada.

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Muito embora as referências aqui tenham sido feitas a estudos recentes sobre a hipnose, é pertinente ressaltar que estudos citados por Pincherle e Colaboradores (1985) com datas variando entre 1973 e 1976, foram publicados no Brasil reportando os vários usos da hipnose, tanto na clínica médica quanto psicológica. Assim, o que estas breves descrições de estudos realizados por diferentes pesquisados em áreas distintas pretendem demonstrar é que a hipnose pode e vem sendo empregada em todo o mundo como uma importante ferramenta de apoio terapêutico nas mais diversas especialidades e doenças, não apenas de ordem física, mas também e com bastante sucesso na área psíquica.

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5 METODOLOGIA

Entendendo-se pesquisa exploratória como a definida por Gil (2007), em que sua principal finalidade está em “[...] desenvolver, esclarecer e modificar conceitos e idéias, tendo em vista a formulação de problemas mais precisos ou hipóteses pesquisáveis para estudos posteriores” (p.43), entende-se por extensão que estas envolvem pesquisa bibliográfica e documental. Entre os objetivos que o autor pontua está o de proporcionar visão geral sobre um determinado fato, “[...] especialmente quando o tema escolhido é pouco explorado e torna-se difícil sobre ele formular hipóteses precisas e operacionalizáveis “(Idem). Assim, o presente trabalho pautou-se por uma pesquisa bibliográfica exploratória, revisitando o histórico da Hipnose desde a Antiguidade até os tempos atuais, procurando destacar a crescente importância que a Hipnose apresenta como coadjuvante na terapêutica, bem como o expressivo volume de trabalhos científicos produzidos nos últimos tempos. A revisão de literatura abordou primeiramente o histórico da Hipnose até os dias atuais, mostrando sua evolução no tempo. Num segundo momento, buscou esclarecer mais pontualmente o funcionamento do cérebro e como este responde às sugestões hipnóticas, bem como apontar os métodos de trabalho pertinentes ao tema, em quais situações ela pode ser usada e sua aplicação nas práticas medicinais, odontológicas e na psicologia clínica. O presente estudo apresentou ainda as bases legais que fundamentam esta prática aqui no Brasil e sua evolução até o momento atual. A presente revisão de literatura visou fornecer elementos teóricos necessários à compreensão dos objetivos deste trabalho.

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6 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS

À luz de todas as leituras selecionadas, amparadas em evidências consistentes quanto aos benefícios da prática hipnótica na redução e ou eliminação de diversas patologias de ordem física e ou somática, percebe-se o quanto a hipnose avançou nas últimas décadas Em que pese revisões recentes da literatura de que o que aconteceu na verdade com os estudos freudianos foi uma interpretação errônea quanto aos ditos do pai da psicanálise, isto não invalida o fato de que por muitos anos a hipnose foi largada ao ostracismo em favor de práticas mais aceitas pela classe médica. Ao relacionar os dados empíricos com aqueles resultantes da prática diária na clínica, percebem-se mais claramente as dificuldades de se chegar a um consenso entre os teóricos, visto que a pesquisa em laboratório está circunscrita a um espaço, a variáveis previamente definidas, em que a tendência do pesquisador é a de generalizar dados. Na clínica acontece o oposto, pois o cliente já chega individualizado, com motivações intrínsecas que lhe são próprias. Também cumpre notar que ao contrário dos estudos iniciais da hipnose, em que se buscavam mais as explicações sobre o estado hipnótico do que as alterações produzidas no cérebro humano, percebe-se hoje um aumento no nível de exigência das pesquisas relativas à hipnose, em que estas têm procurado explicar mais pontualmente os aspectos que envolvem a ativação do cérebro humano pela indução hipnótica, os receptores, os circuitos neurais, os neurotransmissores. Isto é uma grata surpresa para todo aquele que já a conhece pelos referenciais de Mesmer, Freud, Charcot e Erickson, isso citando apenas os mais notáveis quanto à prática hipnótica. No entanto, não obstante os inúmeros estudos experimentais feitos em laboratório, aliado aos incontáveis estudos de caso produzidos por cientistas interessados em desvelar a mente humana e assim explicar o funcionamento do cérebro sob o efeito da hipnose, há ainda um longo caminho a percorrer. É preciso, ainda, considerar que mais do que a sintomatologia específica que o paciente apresenta quando vem ao especialista, a atenção deve obrigatoriamente se voltar para os conceitos que envolvem sofrimento e dor. Isso se

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revela especialmente pela escuta atenta do terapeuta quando o paciente chega, uma vez que nem sempre o que ele relata é essencialmente real. Entretanto, esta realidade é inegável do ponto de vista que ele sofre (grifo meu). Especialmente nos casos de dor há sempre um aspecto subjetivo que envolve este conceito e por essa razão Costa (1992 apud BRANT & MYNAIO, 2004) reputa sofrimento como uma consequência da prática linguística, pois

Somos aquilo que a linguagem nos permite ser, acreditamos naquilo que ela permite acreditar, só ela pode fazer-nos acreditar em algo do outro como familiar, natural ou, pelo contrário, repudiá-lo como estranho, antinatural e ameaçador (COSTA, 1992, apud BRANT & MINAYO, 2004, p. 215).

Por esta linha de raciocínio, é possível supor então que o intelecto seja capaz de produzir sintomas, e indo um pouco mais além, estes tanto podem se verificar de forma positiva quanto negativa, ficando a cargo do crivo crítico do indivíduo decidir para que lado penderá. Se bem equilibrado sob os aspectos que o compõem na sua natureza humana, é possível predizer que positivamente. Entretanto, quando desordens de qualquer espécie estiverem se processando na mente do indivíduo, sejam estas de natureza física ou somática, a mente humana certamente operará negativamente. Assim, ao analisar esta capacidade de acreditar naquilo que deseja, é possível aproximá-la do que a hipnose se propõe enquanto prática terapêutica: ou seja, pela palavra, pelo som ou pelo gesto, produzir alterações na percepção do sujeito, levando-o a modificar comportamentos que se traduzem em sofrimento e assim devolver-lhe uma qualidade de vida plena, objetivo maior do humano enquanto ser.

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7 CONCLUSÃO

Tão antiga quanto a própria humanidade, a hipnose está presente na vida do homem desde o início dos tempos, como atestam diversos estudos aqui apresentados. No começo, mesmo com uma técnica sem base científica, conquistou a adesão de leigos e cientistas em cada época, dada a eficácia que demonstrou na cura e ou melhora de diversos casos de enfermidades do corpo e da mente. Estudos esses que percorreram o mundo, pois em cada canto dele se acham vestígios de sua aplicação, longos tratados sobre a prática hipnótica que serviram de inspiração às gerações que os sucederam. Não obstante as inúmeras contribuições de Charcot ao campo médico, é indiscutível a estreita relação que marcou a hipnose com as histéricas de Salpêtrière, em que estes casos transformaram a prática hipnótica num espetáculo de variedades. Junte-se a isso a marcada influência que a igreja exercia nos regimes governamentais da época, nada restou à hipnose senão o esquecimento. Com o passar dos anos, entretanto, o véu da invisibilidade que se havia jogado sobre a hipnose foi sendo levantado e novos nomes surgiram no cenário mundial, produzindo evidências concretas acerca de seus benefícios em favor de múltiplas enfermidades. Neste resgate, chega-se ao século XXI com estudos cada vez mais conclusivos a respeito de sua eficácia, ao mesmo tempo em que o homem também percebe quanto ainda há por desvendar sobre os mistérios do inconsciente humano. Cumpre ressaltar, portanto, que em se tratando de ciência, a verdade não pode ser considerada nem absoluta e muito menos acabada, tendo em vista a dinamicidade das situações e fenômenos a que a humanidade está sujeita, num permanente devir.

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ANEXOS ANEXO I Parecer CFM nº 42/99 PROCESSO-CONSULTA CFM Nº 2.172/97 PC/CFM/Nº42/1999 ASSUNTO: Hipnose médica INTERESSADO: Plenário do Conselho Federal de Medicina RELATOR: Cons. Paulo Eduardo Behrens Cons. Nei Moreira da Silva EMENTA: A hipnose é reconhecida como valiosa prática médica, subsidiária de diagnóstico ou de tratamento, devendo ser exercida por profissionais devidamente qualificados e sob rigorosos critérios éticos. O termo genérico adotado por este Conselho é o de hipniatria. PARTE EXPOSITIVA Ao analisarmos consulta feita a este Plenário sobre a utilização de termos como hipniatria ou hipnoanálise, impressos em receituários médicos, fizemos considerações acerca da prática da hipnose como valioso elemento auxiliar em diversos tratamentos. A decisão deste Plenário foi a de apresentar um novo parecer que pudesse subsidiar os conselheiros na análise da pertinência desta prática, no rol das atividades médicas. Desta forma, foi constituída uma comissão para estudar o assunto, composta pelos conselheiros Nei Moreira da Silva e Paulo Eduardo Behrens, que, após diversas reuniões com médicos praticantes e interessados na hipnose e juntada de farto material, passam a apresentar, à apreciação do Plenário, o presente parecer. PARECER A hipnose - Histórico (extraído de trabalho do dr. Mozart Smyth Junior) Com uma grande variedade de nomes, a hipnose é utilizada por milênios como uma forma de atuar no comportamento

humano.

Os

antigos

egípcios

(2.000

a.C.)



utilizavam

106

empiricamente encantamentos, amuletos, imposição das mãos, sem se darem conta da imaginação e sugestão envolvidas nesses procedimentos. Anton Mesmer (1734-1815) desenvolveu a tese do "magnetismo animal" e de que o realinhamento das forças gravitacionais poderia restaurar a saúde. Seus discípulos entenderam que o processo essencial envolvido era a "sugestão", algo desenvolvido pelo próprio indivíduo. James Braid (1784-1860) criou o termo hipnose, derivado do grego (hypnos = sono) James Esdaile (1808-1899) realizou várias intervenções cirúrgicas usando somente a hipnose para produzir efeito anestésico. Jean Martin Charcot (1825-1893) notabilizou-se pelas curas hipnóticas da histeria, o que levou ao início do estudo científico da hipnose. Em 1885, Josef Breuer publicou, juntamente com Freud, o famoso caso Anna O. como "Estudo sobre a histeria". A partir daí, Freud iniciou a prática da hipnose, sendo, à época, largamente utilizada na Europa. O interesse pela hipnose teve seu recrudescimento durante a Primeira e Segunda Guerras Mundiais como forma de tratamento das neuroses traumáticas de guerra. A Sociedade de Hipnose Médica de São Paulo, na expectativa de homogeneizar a terminologia adotada pelas diversas correntes, definiu a seguinte nomenclatura: HIPNOSE - Estado de estreitamento de consciência provocado artificialmente, parecido com o sono, mas que dele se distingue fisiologicamente pelo aparecimento de uma série de fenômenos espontâneos ou decorrentes de estímulos verbais ou de outra natureza. HIPNOLOGIA - Estudo da natureza da hipnose e investigação científica de seus fenômenos e repercussões HIPNOTERAPIA - Terapia feita através da hipnose HIPNOTISTA - Profissional que pratica a hipnose HIPNIATRIA - Procedimento ou ato médico que utiliza a hipnose como parte predominante do conjunto terapêutico DEHIPNOTIZAR - Ato de retirar o paciente do transe hipnótico. A referida Sociedade observa que o termo mais adequado para o tratamento médico feito através da hipnose pura ou combinada com fármacos é a hipniatria, solicitando, deste Conselho, a sua oficialização.

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Este termo foi criado em 1968 pelos professores Miguel Calille Junior e Antônio Carlos de Moraes Passos, sendo unanimemente considerado por todas as escolas de hipnose no Brasil. Esta nomenclatura deveu-se à demanda do Departamento de Hipnologia, numa analogia com algumas especialidades médicas (Pediatria, Psiquiatria, Foniatria, Fisiatria, etc.), onde o sufixo latino "iatria", significa cura. - A Hipnose no mundo Atualmente, existem várias sociedades, em todo o mundo, que atuam na prática da hipnose: Society for Clinical and Experimental Hypnosis The American Society of Clinical Hypnosis International Society of Hypnosis The Australian Society of Hypnosis Sociedade Brasileira de Hipnose Associazione Medica Italiana per lo Studio dell'a Ipnosi The British Society of Medical and Dental Hypnosis e várias outras. Há profissionais médicos trabalhando com hipnose em várias universidades: Cambridge Hospital - Harvard University of Chicago University of Kansas Regional Burn Center - Dallas Benemerita Universidad Autonoma de Puebla - México Alguns Conselhos diplomam e titulam profissionais em hipnose: American Board of Medical Hypnosis American Board of Psychological Hypnosis American Board of Hypnosis in Dentistry American Hypnosis Board for Clinical Social Work Algumas instituições internacionais já se posicionaram sobre a Hipnose Médica, reconhecendo-a como auxiliar terapêutico útil na Medicina: Associação Médica Americana - 18 de setembro de 1958

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"A Hipnose é um auxiliar terapêutico valioso e os que a empregam, devem conhecer os seus fenômenos complexos, seus ensinamentos são privativos de médicos e do odontólogo. Quem a emprega deve conhecer suas indicações e limitações. Não se deve aprender apenas a técnica." Associação Médica Britânica - 23 de abril de 1955 "A Hipnose é útil e pode, em certos casos, ser o tratamento de escolha dos distúrbios psicossomáticos e das neuroses." Associação Psiquiátrica Americana - 15 de fevereiro de 1961 "Reconhece-se o valor da Hipnose como auxílio na pesquisa, diagnóstico e terapêuticas tanto em Psiquiatria, como em outras áreas da prática médica." Organização Mundial da Saúde - outubro de 1974 "A Hipnose moderna é hoje o maior avanço da Psiquiatria. Atua no campo terapêutico, enquanto os estudos da bioquímica o são no estudo das etiologias." Revista Brasileira de Medicina - julho de 1998 "Menosprezar a importância de Hipnose, hoje em dia, representa, além de opor-se aos diversos relatórios elaborados por comissões especializadas no mundo inteiro, fechar os olhos aos recursos por ela oferecidos. Se existem (ou existiram) hipnólogos ou hipniatras mal preparados, também existem profissionais de baixa qualidade em quaisquer outras especialidades. É a partir da grande parte dos bens qualificados, porém, que as técnicas ganham cada vez mais adeptos." - A hipnose no Brasil No Brasil, além da Sociedade Brasileira de Hipnose (sociedade científica vinculada à AMB) existe o Departamento de Hipniatria da Associação Médica de Minas Gerais e a Sociedade de Hipnose Médica de São Paulo.

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Em 1961, o então presidente da República, Jânio Quadros, assinou o Decreto n.º 51.009, ainda em vigor: "Proíbe espetáculos ou números isolados de hipnotismo e letargia, de qualquer tipo ou forma, em clubes, auditórios, palcos ou estúdios de rádio ou de televisão, e dá outras providências. Art. 1º - Ficam proibidas, em todo o território nacional, as exibições comerciais... Art. 2º - Ficam excluídas da proibição de que trata o presente Decreto, as demonstrações de caráter puramente científico, sem fito de lucro, direto ou indireto, executadas por médicos com curso especializado na matéria. Parágrafo único - As demonstrações a que alude este artigo dependerão sempre, de aprovação prévia da autoridade competente de cada Estado da Federação, Distrito Federal e Território onde forem promovidas, salvo quando realizadas em estabelecimento de ensino e para fins didáticos". • Aspectos científicos Um breve sumário da utilização da Hipnose Médica, pode ser apresentado nos seguintes grupos: a. Como uma técnica que promove saúde e exercícios profiláticos em indivíduos sujeitos a estresse; b. Como um método através do qual o indivíduo pode controlar funções autonômicas e, deste modo, superar sintomas desagradáveis ou perturbações autônomas; c. Como um tratamento para uma ampla variedade de condições psicossomáticas; d. Como um subsidiário na psicoterapia, liberando memória reprimida e sensações, especialmente produzindo catarse em pacientes que sofrem de sintomas histéricos; e. Como um método que alivia dor e induz anestesia. Um outro agrupamento das aplicações da hipnose foi sugerido pelo Dr. Antônio Carlos de Moraes Passos, da Escola Paulista de Medicina e fundador da Sociedade de Hipnose Médica de São Paulo: A hipnose tem sido usada: a. Para o alívio da dor, produzindo anestesia ou analgesia;

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b. Nos diferentes setores da clínica e cirurgia, notadamente em obstetrícia; c. Como tranqüilização [sic] para o alívio dos estados de ansiedade a apreensão, qualquer que seja a sua causa; d. Em qualquer condição na qual a psicoterapia possa ser útil; e. No controle de alguns hábitos (ex.: tabagismo); f.

Experimentalmente

em

qualquer

pesquisa,

no

campo psicológico

e/ou

neurofisiológico, e outros. Paralelamente, o mesmo autor indica onde a hipnose não deve ser usada: a. Na remoção de sintomas, sem primeiro se saber a que finalidade servem [sic]; b. Em qualquer condição onde o estado emocional do paciente não foi determinado; c. Sem objetivo definido, apenas para satisfazer insistentes pedidos do paciente; d. Para abolir determinadas sensações, a fadiga [sic] por exemplo, o que pode levar o paciente a ir além dos limites de sua capacidade física; e. Em psicóticos, a hipnose só pode ser usada por um psiquiatra experiente, tendo em conta que não constitui uma boa indicação e pode até ser contra-indicada como na esquizofrenia, em que pesem opiniões contrárias, como Wolberg, Gordon, Worpell, entre outros. Praticada essencialmente por médicos, odontólogos e psicólogos a hipnose tem suas principais indicações em: Distúrbios - Da ansiedade - - ansiedade em suas diversas formas - - estresse - - fobias - - síndromes pós-traumáticas - Depressão - Alimentares - do sono - Sexuais - Do relacionamento conjugal e familiar - Da personalidade Drogadição Doenças psicossomáticas

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Síndromes dolorosas agudas e crônicas - Analgesia - Anestesia Preparo para exames invasivos e durante sua realização Preparo pré-operatório, no per e pós-operatório Na abordagem de patologias diversas, em conjunto com as diversas especialidades médicas Diversas publicações científicas, nas mais diversas áreas, corroboram tais indicações e a eficácia da hipnose como método auxiliar de tratamento: Disfunções sexuais 1 . A impotência sexual e seu tratamento/ The sexual impotence and its treatment, in Inf. Psiquiátrico; 14 (3), julho-set. 1995. 2. Influência social. As estratégias Ericksonianas e o fenômeno hipnótico no tratamento das disfunções sexuais. Stricherz-ME in American Journal of Clinical Hypnosis. Jan. 1982 Câncer 1 . Impressões sobre o tratamento do câncer pela hipnose. Strosberg-IM in J. Am. Soc. Psychosom-Dent-Med. 1982. 2 . Controlando os efeitos colaterais da quimioterapia. Redd-WH; Rosenberger-PH; Hendler-CS in Am. J. Clin Hypn .1982. 3. Dessensibilização hipnótica no tratamento preventivo dos vômitos por quimioterapia. Hoffman-ML in Am J Hypn. 1982. Cardiologia 1. A hipnose nos distúrbios cardiovasculares com ênfase na correção da hiperventilação crônica. Thomas-HM in Act Nerv Super Praha. 1982. 2 . O efeito da hipnose no intervalo RR e na variação da pressão sangüínea. EmdinM; Santarcangelo-EL; Picano-E; Raciti-M; Pola-S; Macerata-A; Michelassi-C; L'Abbate-A from CNR Institute of Clinical Physiology, Pisa, Italy in Clin Sci Colch. 1996.

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Gastrenterologia [sic] 1. Tratamento hipnoterápico para disfagia. Kopel-KF; Quinn-M from Baylor College of Medicine, Houston, Texas, USA in Int J Clin Exp Hypn. 1996. 2. O uso da hipnoterapia nos distúrbios gastrointestinais. Francis-CY; Houghton-LA from Department of Medicine, University Hospital of South Manchester, UK in Eur J Gastroenterol Hepatol. 1996. Dependência de drogas 1. O uso de técnicas de sugestão com adolescentes no tratamento da inalação de cola de sapateiros e abuso de solventes. O'Connor-D in Hum Toxicolo. 1982. 2. Determinantes da sugestão para o tratamento do alcoolismo. Room-R; Bondy-S; Ferris-J from Research and Development Division, Addiction Research Foundation, Toronto, Ontario, Canada in Addiction. 1996. Outras aplicações 1. Auto-relaxamento hipnótico durante procedimentos radiológicos invasivos. LangEV; Joyce-JS; Spigel-D; Hamilton-D; Lee-KK from Department of Veterans Affairs Medical Center (DVAMC), Palo Alto, Califórnia, USA in Int J Clin Exp Hypn. 1996. 2. Hipnoterapia e verrugas plantares. Relato de casos. Rowe-WS in Aut N Z J Psychiatry. 1982. 3. Hipnose no tratamento de pacientes com queimaduras severas. Patterson-DR; Goldberg-ML; Ehde-DM from Department of Rehabilitation Medicine, University of Washington School of Medicine, USA in Am J Clin Hypn. 1996 4. Hipnoterapia no controle da dor aguda. Hutt-G in Br J Theatre Nurs. 1996. 5. Redução da reação cutânea à histamina após procedimento hipnótico. LaidlawTM; Booth_RJ; Large-RG from Department of Psychiatry and Behavioral Science, School of Medicine, University of Auckland, New Zeland in Psychosom Med. 1996. 6. Emprego da hipnoterapia em crianças e adolescentes. Chipkevitch, Eugênio in J. pediatr. Rio de Janeiro. 1992. 7. Hipnoterapia em um caso severo de bruxismo e dor facial. Relato de caso. Vossz, Ricardo in Odontol. chil. 1986. 8. Considerações sobre técnica de hipnose utilizada em dois casos de amnésia retrógrada in RBM psiquiatr. 1984.

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9. Hipnoanalgesia em gineco-obstetrícia. Acosta Bendek, Eduardo in Unimetro. 1985. 10. Hipnoanestesia em cirurgias ambulatoriais. McCoy-LR in Aana-J. 1982. CONCLUSÃO A hipnose é, então, uma forma de diagnose e terapia que deve ser executada tão somente por profissionais devidamente qualificados. Como terapia, pode ser executada por médicos, odontólogos e psicólogos, em suas estritas áreas de atuação. A hipnose praticada pelo médico, com fins clínicos, deve cercar-se de todos os aspectos legais e éticos da profissão. É, por isso, essencial que haja a especificação dos objetivos a serem perseguidos, através da informação aos pacientes, familiares ou responsável legal [sic]. Portanto, sendo reservada a estes profissionais, e até por encerrar complicações e conter contra-indicações, sua utilização por pessoas leigas configura-se como curandeirismo, ilícito jurídico definido no Código Penal, em seu artigo 282, in verbis. "Exercer curandeirismo: I - Prescrevendo, ministrando ou aplicando habitualmente qualquer substância; II - Usando gestos, palavras ou qualquer outro meio; III - Fazendo diagnósticos. Pena: detenção de seis meses a dois anos" Ainda segundo Moraes Passos: "A divulgação da hipnose, principalmente a chamada hipnose de palco, destituída de uma metodologia científica e executada por pessoas sem as qualificações técnicas e sem a necessária responsabilidade profissional, torna mais perigosa ainda sua aplicação, como tem sido feito ultimamente nos nossos teatros e estações de televisão. Nas demonstrações hipnóticas pela TV, foram constatados, de maneira inequívoca, fenômenos de despersonalização, isto é, sugestão de que o paciente tinha outra identidade, Hitler, por exemplo, fenômenos este totalmente contraindicado do ponto de vista psiquiátrico, e além do mais, sem o devido apagamento

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ou volta do estado normal. Correu assim, o paciente, o perigo de continuar crendo em uma identidade falsa, ou angustiado com uma idéia obsessiva nesse sentido. Foram comprovados por psiquiatras, hipnose de espectadores de TV em suas próprias residências, à simples assistência dos referidos espetáculos." Concluindo este parecer, entendemos que a Hipnose Médica deve ser considerada prática médica auxiliar ao diagnóstico e à terapêutica, rigorosamente dentro de critérios éticos. Entendemos, também, que este Conselho Federal deve recomendar a todos os Regionais especial atenção ao exercício desta prática por profissionais não-médicos, principalmente em exibições públicas, tomando as medidas policiais e judiciais cabíveis. É nosso entendimento, ainda, que, em suas respectivas áreas de atuação, a hipnose é uma prática que pode ser utilizada por odontólogos e psicólogos. Sugiro que este Conselho atenda à demanda da Sociedade de Hipnose Médica de São Paulo, adotando, como oficial, o termo hipniatria para definir o procedimento ou ato médico que utiliza a hipnose no conjunto terapêutico. É o parecer, S. M. J. Brasília, 18 de agosto de 1999. Paulo Eduardo Behrens Nei Moreira da Silva Aprovado em Sessão Plenária

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ANEXO II RESOLUÇÃO CFP N° 013/00 DE 20 DE DEZEMBRO DE 2000 Aprova e regulamenta o uso da Hipnose como recurso auxiliar de trabalho do Psicólogo. O CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA, no uso de suas atribuições legais e regimentais, que lhe são conferidas pela Lei n° 5.766, de 20/12/1971 e; CONSIDERANDO o valor histórico da utilização da Hipnose como técnica de recurso auxiliar no trabalho do psicólogo e; CONSIDERANDO as possibilidades técnicas do ponto de vista terapêutico como recurso coadjuvante e; CONSIDERANDO o avanço da Hipnose, a exemplo da Escola Ericksoniana no campo psicológico, de aplicação prática e de valor científico e; CONSIDERANDO que a Hipnose é reconhecida na área de saúde, como um recurso técnico capaz de contribuir nas resoluções de problemas físicos e psicológicos e; CONSIDERANDO ser a Hipnose reconhecida pela Comunidade Científica Internacional e Nacional como campo de formação e prática de psicólogos, RESOLVE: Art. 1º — O uso da Hipnose inclui-se como recurso auxiliar de trabalho do psicólogo, quando se fizer necessário, dentro dos padrões éticos, garantidos a segurança e o bem estar da pessoa atendida; Art. 2º — O psicólogo poderá recorrer a Hipnose, dentro do seu campo de atuação, desde que possa comprovar capacitação adequada, de acordo com o disposto na alínea "a" do artigo 1 o do Código de Ética Profissional do Psicólogo. Art. 3º — É vedado ao psicólogo a utilização da Hipnose como instrumento de mera demonstração

fútil

ou

de

caráter

sensacionalista

ou

que

crie

situações

constrangedoras às pessoas que estão se submetendo ao processo hipnótico. Art. 6º — Esta Resolução entra em vigor na data de sua publicação. Art. 7º — Revogam-se as disposições em contrário. Brasília (DF), 20 de dezembro de 2000. ANA MERCÊS BAHIA BOCK Conselheira-Presidente

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ANEXO III

LEI 5.081 DE 24/08/1966 Regula o Exercício da Odontologia. ART.1 - O exercício da Odontologia no território nacional é regido pelo disposto na presente Lei. ART.2 - O exercício da Odontologia no território nacional só é permitido ao cirurgiãodentista habilitado por escola ou faculdade oficial ou reconhecida, após o registro do diploma na Diretoria do Ensino Superior, no Serviço Nacional de Fiscalização da Odontologia, sob cuja jurisdição se achar o local de sua atividade. Parágrafo único. (Vetado). ART.3 - Poderão exercer a Odontologia no território nacional os habilitados por escolas estrangeiras, após a revalidação do diploma e satisfeitas as demais exigências do artigo anterior. ART.4 - É assegurado o direito ao exercício da Odontologia, com as restrições legais, ao diplomado nas condições mencionadas no Decreto-Lei n.º 7.718 de 9 de julho de 1945, que regularmente se tenha habilitado para o exercício profissional, somente nos limites territoriais do Estado onde funcionou a escola ou faculdade que o diplomou. ART.5 - É nula qualquer autorização administrativa a quem não for legalmente habilitado para o exercício da Odontologia. ART.6 - Compete ao cirurgião-dentista: I - praticar todos os atos pertinentes à Odontologia, decorrentes de conhecimentos adquiridos em curso regular ou em cursos de pós-graduação; II - prescrever e aplicar especialidades farmacêuticas de uso interno e externo, indicadas em Odontologia; III - atestar, no setor de sua atividade profissional, estados mórbidos e outros, inclusive, para justificação de faltas ao emprego; * Inciso III com redação dada pela Lei n.º 6.215 de 30/06/1975. IV - proceder à perícia odontolegal em foro civil, criminal, trabalhista e em sede administrativa; V - aplicar anestesia local e truncular;

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VI - empregar a analgesia e hipnose, desde que comprovadamente habilitado, quando constituírem meios eficazes para o tratamento. VII - manter, anexo ao consultório, laboratório de prótese, aparelhagem e instalação adequadas para pesquisas e análises clínicas, relacionadas com os casos específicos de sua especialidade, bem como aparelhos de Raios X, para diagnóstico, e aparelhagem de fisioterapia; VIII - prescrever e aplicar medicação de urgência no caso de acidentes graves que comprometam a vida e a saúde do paciente; IX - utilizar, no exercício da função de perito-odontólogo, em casos de necropsia, as vias de acesso do pescoço e da cabeça. ART.7 - É vedado ao cirurgião-dentista: a) expor em público trabalhos odontológicos e usar de artifícios de propaganda para granjear clientela; b) anunciar cura de determinadas doenças, para as quais não haja tratamento eficaz; c) exercício de mais de duas especialidades; d) consultas mediante correspondência, rádio, televisão, ou meios semelhantes; e) prestação de serviço gratuito em consultórios particulares; f) divulgar benefícios recebidos de clientes; g) anunciar preços de serviços, modalidades de pagamento e outras formas de comercialização da clínica que signifiquem competição desleal. ART.8 - (Vetado). I - (Vetado). II - (Vetado). ART.9 - (Vetado). a) (Vetado); b) (Vetado); c) (Vetado); d) (Vetado); e) (Vetado). ART.10 - (Vetado). Parágrafo único. (Vetado). ART.11 - (Vetado).

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ART.12 - O Poder Executivo baixará Decreto, dentro de 90 (noventa) dias, regulamentando a presente Lei. ART.13 - Esta Lei entrará em vigor na data de sua publicação, revogados o DecretoLei n.º 7.718, de 9 de julho de 1945, a Lei n.º 1.314 de 17 de janeiro de 1951, e demais disposições em contrário. (*) Publicado no D.O.U. (Diário Oficial da União) em 26/08/1966.

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