Todorov, Tzvetan. Memória Do Mal, Tentação Do Bem

April 29, 2019 | Author: Tiago Régis | Category: Morality, Memory, Truth, Ciência, Communication
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Texto do filósofo e crítico literário tzvetan todorov...

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TODOROV, Tzvetan. Memória do mal, tentação do bem : indagações sobre o século XX. São aulo: !r", #$$#. %Ser& a 'e'(ria, se')re e necessaria'ente, u'a coisa boa, e o es*ueci'ento, u'a 'aldição absoluta+ O )assado )er'ite co')reender 'elor o )resente, ou, na 'aioria das vezes, serve )ara ocult&-lo+ Todas as )r&ticas do )assado são reco'end&veis+ ortanto, as 'e'(rias do século serão, )or sua vez, sub'etidas a e"a'e. /). 0#1 “submeter ao exame” as memórias da Folha Folha sobre o golpe e o regime. Regi' Regi'es es totalit totalit&ri &rios os do século século XX revela revelara' ra' a e"ist2nc e"ist2ncia ia de u' %)erigo %)erigo antes antes insus)eito: o de u' do'3nio co')leto sobre as 'e'(rias. %4os )a3ses de'ocr&ticos, a )ossibilidade de acessar o )assado se' sub'eter-se a u' controle centralizado é u'a das liberdades 'ais inalien&veis, ao lado da liberdade de  )ensar e de e")ressar-se. e")ressar-se. /). 05$1 %6es' %6es'oo assi', assi', o estatu estatuto to da 'e'(r 'e'(ria ia nas socied sociedade adess de'oc de'ocr&t r&tica icass não )arec )arecee de7initiva'ente garantido. 8...9 a valorização da 'e'(ria e a si'ultnea acusação acusação contra o es*ueci'ento di7undira'-se nestes ;lti'os anos 7ora de seu conte"to original. /). 0501 %... estar3a'os condenados < 7utilidade do instante e ao cri'e do es*ueci'ento. =o' isso, de 'aneira 'enos brutal 'as, e' ;lti'a an&lise, 'ais e7icaz, )or*ue não suscitaria nossa resist2ncia, 7azendo de n(s, ao contr&rio, agentes consentidores dessa 'arca )ara o es*ueci'ento, os >stados de'ocr&ticos conduziria' suas )o)ulações ao 'es'o alvo dos regi'es totalit&rios, ou se?a, ao reinado da barb&rie. /). 0501 %gen %gener eral aliz izad ados os dess dessaa 7or' 7or'a, a, o elog elogio io inco incond ndic icio iona nall da 'e'( 'e'(ria ria e a di7a di7a'a 'açã çãoo ritual3stica do es*ueci'ento se tornara' )or sua vez )roble'&ticas. 8...9 @ )reciso co'eçar )or reconecer as grandes caracter3sticas deste 7enA'eno co')le"o, a vida do  )assado no )resente. )resente. /). 0501 !conteci'entos !conteci'entos )assados nos dei"a' dois ti)os de rastros: Raastros %6nésicos B na 'ente dos seres u'anos. Rastros %no 'undo B sob 7or'a de 7atos 'ateriais, 'arcas vest3gios. Se *uiser'os %reviver este )assado no )resente, é )reciso realizar u' trabalo *ue  )assa )or u'a u'a série de eta)as: eta)as: /eta)as da le'brança1 le'brança1 1) Estabel Estabeleci eciment mento o dos fatos: fatos:  %@

a base sobre a *ual deve' re)ousar todas as construções ulteriores. Se' esse )ri'eiro )asso, não se )ode se*uer 7alar de u' trabalo sobre o )assado. /). 05#1 %!inda assi', não basta buscar esse )assado )ara *ue ele se inscreva 'ecanica'ente no  )resente. De todo 'odo, subsiste' a)enas alguns sinais, 'ateriais e )s3*uicos, da*uilo *ue aconteceu: aconteceu: entre os 7atos e' si 'es'os e os sinais *ue eles dei"a', desenrola-se desenrola-se u' )rocesso de seleção *ue esca)a < vontade dos indiv3duos. 8...9 de todos os sinais dei"ados )elo )assado, escolere'os s( reter e s( consignar alguns, ?ulgando-os, )or  trabalh lho o de sele seleçã ção o é u'a u'a razã razãoo ou )or )or outr outra, a, dign dignos os de ser ser )er) )er)et etua uado dos. s. >sse >sse traba necessaria'ente necessaria'ente secundado )or outro, de dis)osição e )ortanto ierar*uização dos 7atos assi' estabelecidos: estabelecidos: alguns serão destacados e outros, lançados < )eri7eria. /). 05C1

%! recu)eração do )assado )ode interro')er-se nesse )ri'eiro est&gio. 8...9 o estabeleci'ento dos 7atos é, e' si 'es'o, u' 7i' digno de esti'a. /). 05C1 %! di7erença entre a )ri'eira e a segunda 7ase no trabalo de a)ro)riação do )assado é a *ue e"iste entre constituir os ar*uivos e redigir a ist(ria  )ro)ria'ente dita. =o' e7eito, u'a vez estabelecidos os 7atos, é )reciso inter)ret&-los, isto é, essencial'ente, relacion&-los uns aos outros, reconecer as causas e os e7eitos, 7or'ular se'elanças, gradações, o)osições. !*ui rea)arece', 'ais u'a vez os  )rocessos de seleção e co'binação. /). 0551 2) Construção do sentido:

%Verdade e' novo sentido: %não 'ais u'a verdade de adequação, de corres)ond2ncia e"ata entre o discurso )resente e os 7atos do )assado 8...9, 'as u'a verdade de elucidação, *ue )er'ite a)reender o sentido de u' aconteci'ento. /). 0551 %O estabeleci'ento dos 7atos )ode ser de7initivo, ao )asso *ue a signi7icação deles é constru3da )elo su?eito do discurso e, )ortanto, suscet3vel de 'udar. 8...9 ! construção do sentido te' )or ob?etivo co')reender o )assado e *uerer co')reender B tanto o  )assado co'o o )resente B é )r()rio do o'e' /). 05E1 Observadas as duas )ri'eiras 7ases do trabalo de re'e'oração )ode'os concluir: %a 'e'(ria não se o)õe absoluta'ente ao es*ueci'ento. Os dois ter'os *ue 7or'a' contraste são a su)ressão /o es*ueci'ento1 e a conservação a 'e'(ria é, se')re e necessaria'ente, u'a interação dos dois. ! reconstituição integral do )assado é coisa i')oss3vel. 8...9 ! 'e'(ria é 7orçosa'ente u'a seleção: certos detales do aconteci'ento serão conservados, outros, a7astados, logo de in3cio ou aos )oucos, e  )ortanto es*uecidos. or isso é tão e*uivocado ca'are' de %'e'(ria a ca)acidade *ue t2' os co')utadores de conservar a in7or'ação: 7alta a esta ;lti'a o)eração u' traço constitutivo da 'e'(ria, a saber, o es*ueci'ento. /). 05F1 %a 'e'(ria é o es*ueci'ento: es*ueci'ento )arcial e orientado, es*ueci'ento indis)ens&vel. /). 05F1 terceiro est&gio da vida do )assado no )resente, %instru'entalização dele co' vistas a ob?etivos atuais. /). 05F1 %!)(s ter sido reconhecido e interpretado, o )assado ser& agora utilizado. @ assi' *ue  )rocede' as )essoas )rivadas, *ue )õe' o )assado a serviço de suas necessidades do  )resente, 'as ta'bé' os )ol3ticos, *ue rele'bra' os 7atos do )assado )ara alcançar  ob?etivos )r()rios. >' geral, os istoriadores )ro7issionais re)ugna' ad'itir *ue )artici)a' deste terceiro est&gio a )artir do 'o'ento e' *ue 7aze' reviver os aconteci'entos e' sua 'aterialidade e seu sentido, eles )re7ere' considerar ter'inada a )r()ria 'issão. =laro, tal recusa a *ual*uer uso é )oss3vel, 'as eu a considero e"ce)cional. /). 05F-0E$1 3)

Aproeitamento:

%dese?o de agir no )resente, de 'udar o 'undo, e não s( de conec2-lo. %! utilização *ue se )ode 7azer do )assado 'otiva aberta'ente ações )ol3ticas, 'as ta'bé', de 'aneira 'enos 7lagrante, as *ue )ara'enta' co' os trun7os da ci2ncia. 8...9 ! ci2ncia, é claro, não se con7unde co' a )ol3tica ainda assi', a )r()ria ci2ncia u'ana te' 7inalidades )ol3ticas, e estas )ode' ser boas ou '&s. /). 0E$1

 4a )r&tica, os tr2s est&gios coe"iste' si'ultanea'ente. >' geral, não se co'eça )ela coleta desinteressada dos 7atos, 'as )or sua utilização. %@ )or ter e' vista u'a ação no  )resente *ue o indiv3duo busca, no )assado, e"e')lo suscet3veis de legiti'&-la /). 0E$-0E01 Di7erentes 7ases coe"iste'. %G& *ue a 'e'(ria é seleção, 7oi )reciso encontrar critérios  )ara escoler entre todas as in7or'ações recebidas e esses critérios, tena' ou não sido conscientes, ta'bé' servirão, segundo toda verossi'ilança, )ara orientar a utilização *ue 7are'os do )assado. /). 0E01  LIG! " #!$" F"$" % &$!'$()*#I+ ,$ !I+-$*!. !E"!EM#$%A", %&"!'(&A'(E", C'MEM'(A'(E"*

Vest3gios do )assado se 'anté' no )resente a )artir de alguns discursos: o da teste'una, do istoriador e do co'e'orador. !estemunha: %indiv3duo

*ue convoca suas le'branças )ara dar u'a 7or'a, )ortanto u' sentido, < sua vida, e constituir assi' u'a identidade. /). 0E01 vest3gio solit&rio %istoriador: %re)resentante

da disci)lina cu?o ob?eto é a reconstituição e an&lise do  )assado e, de 'odo 'ais geral, toda )essoa *ue )rocure realizar este trabalo escolendo co'o )rinc3)io regulador e co'o orizonte ;lti'o não 'ais o interesse do su?eito, 'as a da verdade i')essoal. /). 0E01 %O contraste entre a teste'una /de sua )r()ria vida1 e o istoriador /do 'undo1, u' ani'ado )or seu interesse, o outro )ela )reocu)ação co' a verdade, )arece inco')leto. =ontudo, a teste'una )ode acar *ue suas le'branças 'erece' entrar )ara a es7era  );blica, )ois seria' ;teis < educação dos outros e não a)enas < sua )r()ria 7or'ação.  4esse 'o'ento, ele )roduz u' %de)oi'ento, *ue ve' concorrer co' o discurso ist(rico, es)ecial'ente ?unto ao grande );blico. /). 0E#1 !s duas )osturas são co')le'entares, o %de)oi'ento enri*uece o discurso do istoriador. %=o'o a teste'una, o co'e'orador é guiado sobretudo )elo interesse 'as, co'o o istoriador, )roduz seu discurso no es)aço );blico e a)resenta-o co'o dotado de u'a verdade irre7ut&vel, distante da 7ragilidade do de)oi'ento  )essoal. /). 0E51 Comemorador:

 4o caso dele, 7ala-se le vive de consci2ncia leve e 'anté'-se ani'ado )or a*uilo *ue se ca'a e' ingl2s sel/0righteousness. Se convoca a 'e'(ria, e e' )articular a 'e'(ria do 'al, é )ar 'elor dar lições aos seus conte')orneos. /). ##E1 %O 'oralizador conte')orneo convoca então a 'e'(ria e' dois casos: )ara louvar os  bons ou )ara estig'atizar os 'aus. /). ##J1  Folha lou1ou e estigmatizou os mesmos atores. Moraliador*

%@ essencial'ente nos 'eios de co'unicação *ue se e"erce o 'oral'ente correto, ainda *ue,
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