Todas as Parabolas de Jesus

March 23, 2017 | Author: joelmazza | Category: N/A
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Instruções parabólicas em Apocalipse Bibliografia índice de assuntos INTRODUÇÃO Em todo o âmbito literário não há livro mais rico em m a t e r i a l alegórico e em parábolas do que a Bíblia. Onde, por exemplo, podemosencontrar parábolas, emblemas ou figuras de linguagem comparáveisàquelas que os grandes profetas da antigüidade —dentre os quais Jesus,o maior de todos eles— empregavam quando discursavam aos de s u a época? Sabendo do poder e do fascínio da linguagem pictórica, usavame s s e r e c u r s o p a r a a u m e n t a r o e f e i t o d e s e u ministério oral. Comod e s c o b r i r e m o s e m n o s s o e s t u d o s o b r e a s p a r á b o l a s d a B í b l i a , especialmente as t r a n s m i t i d a s p e l o S e n h o r J e s u s , v e r e m o s q u e s ã o o mais perfeito exemplo de linguagem figurada para mostrar e reforçar asverdades divinas.Em outro livro meu, All the miracles of the Bible [Todos os milagresda Bíblia], tratamos das diferenças entre milagres —parábolas em ação —e parábolas —milagres em palavras. N a d a h á d e m i r a c u l o s o n a s parábolas, que, na maior parte, são naturais e indispensáveis, chamandoa atenção para a graça e para o juízo. Os milagres manifestam poder emisericórdia. Westcott, no estudo The gospels [Os evangelhos], afirmaq u e a p a r á b o l a e o m i l a g r e " s ã o p e r f e i t a m e n t e c o r r e l a t o s e n t r e si; nap a r á b o l a , v e m o s a p e r s o n a l i d a d e e o p o d e r d o G r a n d e O b r e i r o ; n o milagre, a ação geral e constante da Obra [...] naquela, somos levados aa d m i r a r a s m ú l t i p l a s f o r m a s d a Providência e n e s t e , a r e c o n h e c e r a instrução vinda do Universo". No debate acerca dos vários aspectos do desenvolvimento e da de-m o n s t r a ç ã o do método parabólico encontrado na Bíblia, é interessante observar quantos escritores do assunto mencionam, d e forma elogiosa, a abrangente pesquisa de Trench em seu Notes on the p a r a b l e s [ A n o t a ç õ e s s o b r e a s p a r á b o l a s ] . O d r . G o r d o n L a n g , p o r exemplo, no "Prefácio" do seu livro esclarecedor The parables of Jesus[As parábolas de Jesus], afirma que o trabalho do dr. Trench foi o único q u e e l e c o n s u l t o u a o p r e p a r a r a s u a o b r a . " S e r i a s i m p l e s m e n t e u m atrevimento tentar escrever alguma coisa sobre as parábolas", diz o dr. Lang, "sem a orientação que advém da perícia e da grande percepção dodr. Trench". Outros estudiosos de parábolas, 2

entre os quais me incluo, s ã o u n â n i m e s e m r e c o n h e c e r q u e d e v e m muito ao dr. Trench. Parao r i e n t a r p r e g a d o r e s e e s t u d i o s o s , a p r e s e n t a m o s a s e g u i r u m a indispensável i n t r o d u ç ã o q u e t r a t a d o s m a i s v a r i a d o s a s p e c t o s d a parábola. A longevidade do método de parábolas Embora o uso das parábolas tenha sido característica ímpar do en-sino popular de Jesus, visto que "Sem parábolas não lhes falava", não foiCristo o criador desse recurso didático. As parábolas são utilizadas desdea antigüidade. Embora Jesus tenha contribuído para os escritos sagradoscom parábolas inigualáveis e tenha elevado esse método de ensino ao mais alto grau, era sabedor da existência milenar desse m é t o d o d e apresentar a verdade. Na época e na região em que Jesus apareceu, asp a r á b o l a s e r a m , c o m o a s f á b u l a s , u m m é t o d o p o p u l a r d e instrução, ei s s o e n t r e t o d o s o s p o v o s o r i e n t a i s . O d r . S a l m o n d , no manual The p a r a b l e s o f o u r Lo r d [ A s p a r á b o l a s d o n o s s o S e n h o r ] , f a z l e m b r a r , n o parágrafo que trata do "Encanto da linguagem figurada", que a utilizaçãodesse tipo de linguagem exercia: ... atração especial sobre os povos orientais, para quem a i m a g i n a ç ã o e r a m a i s r á p i d a e t a m b é m m a i s a t i v a q u e a faculdade lógica. A grande família das nações conhecidas comosemitas, aos quais pertencem os hebreus, junto com os árabes,os sírios, os babilônios e outras raças notáveis já demonstrarama e s p e c i a l t e n d ê n c i a à i m a gi n a ç ã o , c o m o t a m b é m u m g o s t o particular por ela. A antigüidade desse método disseminado de l i n g u a g e m s e confirma pelo fato de figurar no AT em larga medida e sob diferentesformas. A primeira parábola, registrada, em forma de fábula, mostraárvores e scolhendo para si um rei, retrato dò que aconteceria entre o p o v o ( J z 9 ) . J o t ã o u s o u e s s a f á b u l a c o m o objetivo de convencer osh a b i t a n t e s d e S i q u é m s o b r e a t o l i c e d e t e r e m e s c o l h i d o p o r r e i o perverso Abimeleque. As parábolas e os símiles do AT, abordados nestaseção, mostram que era muito comum o método de instrução por meiod e p a r á b o l a s . P a r a u m a m e l h o r c o m p r e e n s ã o d a m a n e i r a e m q u e o s escritores judeus da antigüidade usavam o mundo visível para ilustrar oreino espiritual, o leitor precisa consultar o capítu lo muito interessantede Trench, chamado "Outras parábolas que não as das Escrituras". Emnota de rodapé, cita-se a declaração dos judeus cabalis-tas, segundo aqual "a luz celestial nunca desce até nós sem um véu [...] É impossívelq u e u m r a i o d i v i n o b r i l h e s o b r e n ó s , a m e n o s q u e v e l a d o p o r u m a diversidade de revestimentos sagrados".Graças à sua infinidade, Deus tinha de utilizar aquilo com que os seres humanos estivessem familiarizados, com o objetivo de comunicar àfinita mente humana a sublime revelação de sua vontade. A revelaçãode preceitos fundamentais era revestida de parábolas e analogias. Hillele Shammai foram os mais ilustres professores a usar parábolas antes deCristo. Depois de Jesus veio ainda Meir, com quem, segundo a tradição, acapacidade de criar parábolas declinou consideravelmente. A figueira dopovo judeu secou e não pôde mais produzir frutos.Quando o Senhor Jesus apareceu entre os homens, como Mestre,tomou a parábola 3

e honrou-a, usando-a como veículo para a maissublime de todas as verdades. Sabedor de que os mestres j u d e u s ilustravam suas doutrinas com o auxílio de parábolas e c o m p a r a ç õ e s , Cristo adotou essas antigas formas de ensino e deu -lhes renovação deespírito, com a qual proclamou a transcendente glória e excelência des e u e n s i n o . D e p o i s d e J e s u s , a s p a r á b o l a s p o u c a s v e z e s foram usadasp e l o s a p ó s t o l o s . N ã o e x i s t e m pa r áb ol as em At os , m as , com o mostraremos quanto ao NT, as epístolas e o A p o c a l i ps e c o nt ê m impressionantes exemplos da v e r d a d e d i v i n a r e v e s t i d a e m t r a j e s humanos.Embora os apócrifos façam grande uso das figuras de linguagem, não há parábolas nos evangelhos apócrifos. Entre os pais da igreja haviau m o u d o i s q u e s e u t i l i z a v a m d e p a r á b o l a s c o m o m e i o d e e x p r e s s ã o . Trench fornece uma seleção desses primeiros escritores da igreja, cujostrabalhos eram ricos em comparações. Entre os exemplos citados, estáeste excerto dos escritos de Efraem Siros: Dois homens iniciaram viagem a certa cidade, localizada ac e r c a d e 6 k m . U m a vez percorridos os primeiros quinhentosmetros, encontraram um lugar junto à estrada, em que havia b o s q u e s e á r v o r e s f r o n d o s a s , a l é m d e r i a c h o s ; l u g a r m u i t o agradável. Ambos olharam ao redor, e um dos dois viajantes,com a intenção de continuar a caminhada r u m o à c i d a d e d o s seus desejos, passou apressado por aquele local; mas o outro p r i m e i r a m e n t e p a r o u p a r a o l h a r m e l h o r e d e p o i s r e s o l v e u permanecer um pouco mais. Mais tarde, quando começava aq u e r e r d e i x a r a s o m b r a d a s á r v o r e s , t e m e u o c a l o r e assimd e t e v e - s e u m p o u c o m a i s . A o m e s m o t e m p o , a b s o r t o e encantado com a beleza da região, foi surpreendido por umafera selvagem que assombrava a floresta, sendo capturado e arrastado até a caverna do animal. Seu companheiro, que não se descuidou em sua viagem, nem se permitiu demorar naquelel u g a r , s e d u z i d o p e l a b e l e z a d a s á r v o r e s , s e g u i u d i r e t a m e n t e para a cidade. Comparada com as parábolas da Bíblia, essa que acabamos de verparece um tanto sem graça e infantil. Como demonstraremos mais tarde,as parábolas de Jesus são magníficas na aplicabilidade, na concisão, na beleza e no poder de atração. Embora Cristo não tenha criado o recursod i d á t i c o d a p a r á b o l a , c e r t a m e n t e o d o t o u d e e l e v a d a o r i g i n a l i d a d e , conferindo-lhe profunda importância espiritual, com dimensões até entãodesconhecidas. O significado do termo parábola Embora estejamos inclinados a limitar o significado de parábola àsparábolas de Jesus encontradas nos três primeiros evangelhos, na verda-de o vocábulo tem uma flexibilidade de emprego, pois abarca diferentesaspectos da linguagem figurada, como os símiles, as comparações, os ditados, os provérbios e assim por diante.No AT a palavra hebraica traduzida por parábola é m_sh_l, que sig-n i f i c a p r o v é r b i o , a n a l o g i a e p a r á b o l a . C o m a m p l a g a m a d e e m p r e g o s , essa palavra "cobre diversas formas de comunicação feitas de modo pi-toresco e sugestivo —todas aquelas em que as idéias são 4

apresentadasnuma roupagem figurada. Em virtude de sua aplicação ser tão variada,encontra-se na versão portuguesa diferentes traduções". A idéia central de m_sh_l é "ser como" e muitas vezes refere-se a "frases constituídasem forma de parábola", característica da poesia hebraica. O vocábulo n u n c a é u s a d o n o s e n t i d o t é c n i c o e e s p e c í f i c o d e s e u c o r r e s p o n d e n t e neotestamentário.Pode ser encontrado no discurso figurado de Balaão: Ent ão p ro f e r i u B al a ão a s u a p al a vr a . .. ( Nm 2 3 : 7 , 1 8 ; 24:3,15). O mesmo termo é usado em ditados proverbiais c u r t o s e substanciais: Pelo que se tornou em provérbio: Está também Saul entre os profetas? (ISm 10:12). Salmond observa que "nesse sentido a palavra é usada em referên-cia às máximas de sabedoria contidas no livro conhecido como Provér -bios"; essas máximas se apresentam em larga medida na forma de com-paração, como quando se diz: Os tesouros da impiedade de nada aproveitam, mas a jus-tiça livra da morte (10:2).M_sh_l é o termo traduzido por provérbios e m 1 : 1 , e m 1 0 : 1 e n a frase: . . . a s s i m é o p r o v é r b i o n a b o c a d o s t o l o s ( 2 6 : 7 , 9 ; v . l R s 4:32). Também é usado com respeito à frase de sabedoria ética de Jó: Prosseguiu Jó em seu discurso... (27:1; 29:1). É também usado em referência aos ditados obscuros, declarações enigmáticas e enigmas: ... decifrarei o meu enigma na harpa (Sl 49:4);... proporei enigmas da antigüidade (Sl 78:2). E usado ainda como correspondente de figura ou alegoria: Fala aos filhos de Israel... (Nm 17:2; 24:3). C . W . E m m e t , n o D i c t i o n a r y o f t h e g o s p e l s [ D i c i o n á r i o d o s evangelhos], organizado por Hastings, observa que "há cinco passagensn o A T g e r a l m e n t e citadas como a mais próxima representação da'parábola' no sentido técnico do termo. Cumpre salientar que em nenhuma dessas passagens se encontra a palavra parábola. C o m o j á vimos, quando temos a referência "não temos o referente (a parábola propriamente dita); de igual modo, quando temos o referente, n ã o encontramos a referência".As parábolas de Nata (2Sm 12:1-4) e de Joabe (2Sm 14:6) são umtanto semelhantes, tendo uma história real com uma aplicação forte. Aprimeira corresponde à Parábola do credor e dos devedores, e a de Joabetraz à mente a Parábola do filho pródigo. A 5

Parábola do profeta ferido (lRs 20:39) conta com o auxílio de umad r a m a t i z a ç ã o . " E m t o d a s a s t r ê s p a r á b o l a s " , d i z E m m e t , " o o b j e t i v o é comunicar a verdade da história e condenar o ouvinte mediante os co-mentários impensados que saem de sua própria boca". Nos últimos doisc a s o s , o m é t o d o t a l v e z i n c l u a a s u s p e i t a de trapaça, modalidade não u t i l i z a d a p e l o n o s s o S e n h o r ; a aplicação da Parábola dos lavradoresmaus (Mt 21:33) tem sua origem em Isaías 5:1-6.A Parábola da vinha do Senhor (Is 5:1-7) é verdadeira, embora ape-nas pouco desenvolvida, e serve de exemplo da relação entre a parábolae a metáfora. A linha divisória entre a parábola e a alegoria é estreita (SI80:8). A Parábola do lavrador (Is 28:24-28) apresenta uma comparaçãoe n t r e o m u n d o n a t u r a l e o e s p i r i t u a l , e n ã o h á n a r r a ç ã o . Conseqüentemente, o AT faz grande uso das p a r á b o l a s , m o s t r a n d o algumas vezes serem iguais em espírito, em forma e em linguagem, comnotáveis semelhanças, às parábolas do NT. Nossa exposição acerca dasparábolas do AT revela que podem ser divididas em três classes:• narrativas, das quais a das Arvores é um exemplo (Jz 9:7-15);• predicantes, conforme a encontrada na da Vinha do Senhor (Is5:1-7);• simbólicas, ilustrada pela Parábola dos dois pedaços de pau (Ez 37:15-22).No NT, o termo "parábola" assume uma variedade de significados eformas, sem se restringir às longas narrativas dos Evangelhos que co-n h e c e m o s c o m o p a r á b o l a s d e C r i s t o . H á n o g r e g o d u a s p a l a v r a s traduzidas por "parábola". O termo mais comum é parábola, que ocorre48 vezes nos evangelhos sinópticos sem nunca encontrar definição. Os e u s i g n i f i c a d o s ó s e p o d e c o n j e c - t u r a r , t e n d o s i d o a p r o v e i t a d o d a Septuaginta, que geralmente traduz o vocábulo hebraico "parábola" por parabol_. Há sobretudo duas idéias presentes na raiz da primeira palavra, a saber, "representar ou significar algo"; "semelhança ou aparência". Esset e r m o g r e g o significa "ao lado de" ou "lançar ou atirar", transmitindoidéia de proximidade, num cotejamento que visa a verificar o grau d e semelhança ou de diferença. Uma "semelhança" ou "pôr uma coisa ao l a d o da outra". Certo escritor disse que o vocábulo original significa comandar ou 6

governar, c o m o u m p r í n c i p e c u j o s p r e c e i t o s e o r d e n s d e justiça devem ser obedecidos pelo povo. O outro vocábulo traduzido como "parábola" é paroimia, ques i g n i f i c a " a d á g i o , d i t a d o e n i g m á t i c o , p r o v é r b i o , a p r e s e n t a ç ã o q u e sed i s t i n g u e d o s m e i o s n o r m a i s d e c o m u n i c a ç ã o " . E s s e t e r m o é praticamente próprio de J o ã o , q u e o u s a q u a t r o v e z e s ( J o 1 6 : 6 - 1 8 , 2 5 ; 15:1-18). Esse apóstolo nunca usa o primeiro termo, parabol__, q u e é o ú n i c o d o s d o i s u s a d o s p o r M a t e u s , p o r M a r c o s e p o r Lu c a s . Paroimia, usado na Septuaginta e por João, denota um provérbio (ou p a r á b o l a ) "tirado dos acontecimentos e objetos do dia-a-dia, disponível para o usopúblico e para esse fim destinado. O que se dizia uma vez em qualquercaso poderia ser repetido sempre nas mesmas circunstâncias".Encontra-se flexibilidade no uso do termo "parábola" quando aplica-do a ditos proverbiais concisos: S e m d ú v i d a m e d i r e i s e s t e p r o v é r b i o ( p a r á b o l a ) : M é d i c o , cura-te a ti mesmo (Lc 4:23);Disse-lhes uma parábola (Lc 6:39; 14:7) É também usado em referência a comparações ou afirmaçõesi l u s t r a t i v a s s e m a p r e s e n ç a d e n a r r a t i v a . P o r e x e m p l o , o c e g o conduzindo outro cego: "Explica-nos essa parábola" (Mt 15:15; Lc 6:39). Além disso há ainda a figueira e seu sinal evidente: "Aprendei agora estaparábola da figueira" (Mt 24:32,33). As palavras de Jesus Cristo sobre asc o i s a s q u e p r o f a n a m s ã o c i t a d a s c o m o " p a r á b o l a s " : " S e u s d i s c í p u l o s perguntaram-lhe a respeito da parábola" (Lc 7:123). Na nossa versão, otermo "parabol_ " é traduzido por figura: "... e daí [Abraão] também emfigura [parábola] o recobrou" (Hb 11:19).Muitas das figuras de linguagem usadas por Jesus contêm a semen-te da parábola. Outras, chamadas parábolas, são simplesmente símilesou comparações maiores. Pense sobre esta parábola embrionária: "Podeo c e g o g u i a r o c e g o ? " ( L c 6 : 3 9 ) . F a i r b a i r n d i z q u e p r e c i s a m o s a p e n a s desenvolver esta pequena indicação, para termos uma história perfeita." D o i s c e g o s s ã o v i s t o s l e v a n d o u m a o o u t r o p e l a e s t r a d a e , depois del u t a r e m c o n t r a a s d i f i c u l d a d e s , a m b o s c a e m n o fosso ao lado daestrada". Nesse provérbio sucinto e i l u s t r a t i v o d e J e s u s , t e m o s a substância, embora não a forma, da parábola. Nos episódios acima, osaspectos comuns da vida são empregados para ressaltar uma verdademais sublime.S e e n t e n d e r m o s o u s o d o s t e r m o s j á c i t a d o s , e s t a r e m o s p r o n t o s para responder à pergunta "O que é exatamente üma parábola?" O queela não é será compreendido quando examinarmos sua natureza. "O usoc o n s t a n t e d e u m termo com o significado de semelhança, 7

t a n t o n o hebraico como no grego, torna evidente que uma característica essenciald a p a r á b o l a e s t á e m u n i r d u a s c o i s a s d i f e r e n t e s , d e f o r m a q u e u m a ajude a explicar e a ressaltar a outra". O estudo das parábolas de Criston o s c o n v e n c e d e q u e e r a m m a i s q u e u m a b o a e s c o l h a d e i l u s t r a ç õ e s acerca da verdade que ele queria transmitir. A parábola já foi explicadacomo "um símbolo externo de uma realidade interna". E também o "seu O outro vocábulo traduzido como "parábola" é paroimia, ques i g n i f i c a " a d á g i o , d i t a d o e n i g m á t i c o , p r o v é r b i o , a p r e s e n t a ç ã o q u e sed i s t i n g u e d o s m e i o s n o r m a i s d e c o m u n i c a ç ã o " . E s s e t e r m o é praticamente próprio de J o ã o , q u e o u s a q u a t r o v e z e s ( J o 1 6 : 6 - 1 8 , 2 5 ; 15:1-18). Esse apóstolo nunca usa o primeiro termo, parabol__, q u e é o ú n i c o d o s d o i s u s a d o s p o r M a t e u s , p o r M a r c o s e p o r Lu c a s . Paroimia, usado na Septuaginta e por João, denota um provérbio (ou p a r á b o l a ) "tirado dos acontecimentos e objetos do dia-a-dia, disponível para o usopúblico e para esse fim destinado. O que se dizia uma vez em qualquercaso poderia ser repetido sempre nas mesmas circunstâncias".Encontra-se flexibilidade no uso do termo "parábola" quando aplica-do a ditos proverbiais concisos: S e m d ú v i d a m e d i r e i s e s t e p r o v é r b i o ( p a r á b o l a ) : M é d i c o , cura-te a ti mesmo (Lc 4:23);Disse-lhes uma parábola (Lc 6:39; 14:7) É também usado em referência a comparações ou afirmaçõesi l u s t r a t i v a s s e m a p r e s e n ç a d e n a r r a t i v a . P o r e x e m p l o , o c e g o conduzindo outro cego: "Explica-nos essa parábola" (Mt 15:15; Lc 6:39). Além disso há ainda a figueira e seu sinal evidente: "Aprendei agora estaparábola da figueira" (Mt 24:32,33). As palavras de Jesus Cristo sobre asc o i s a s q u e p r o f a n a m s ã o c i t a d a s c o m o " p a r á b o l a s " : " S e u s d i s c í p u l o s perguntaram-lhe a respeito da parábola" (Lc 7:123). Na nossa versão, otermo "parabol_ " é traduzido por figura: "... e daí [Abraão] também emfigura [parábola] o recobrou" (Hb 11:19).Muitas das figuras de linguagem usadas por Jesus contêm a semen-te da parábola. Outras, chamadas parábolas, são simplesmente símilesou comparações maiores. Pense sobre esta parábola embrionária: "Podeo c e g o g u i a r o c e g o ? " ( L c 6 : 3 9 ) . F a i r b a i r n d i z q u e p r e c i s a m o s a p e n a s desenvolver esta pequena indicação, para termos uma história perfeita." D o i s c e g o s s ã o v i s t o s l e v a n d o u m a o o u t r o p e l a e s t r a d a e , depois del u t a r e m c o n t r a a s d i f i c u l d a d e s , a m b o s c a e m n o fosso ao lado daestrada". Nesse provérbio sucinto e i l u s t r a t i v o d e J e s u s , t e m o s a substância, embora não a forma, da parábola. Nos episódios acima, osaspectos comuns da vida são empregados para ressaltar uma verdademais sublime.S e e n t e n d e r m o s o u s o d o s t e r m o s j á c i t a d o s , e s t a r e m o s p r o n t o s para responder à pergunta "O que é exatamente üma parábola?" O queela não é 8

será compreendido quando examinarmos sua natureza. "O usoc o n s t a n t e d e u m termo com o significado de semelhança, t a n t o n o hebraico como no grego, torna evidente que uma característica essenciald a p a r á b o l a e s t á e m u n i r d u a s c o i s a s d i f e r e n t e s , d e f o r m a q u e u m a ajude a explicar e a ressaltar a outra". O estudo das parábolas de Criston o s c o n v e n c e d e q u e e r a m m a i s q u e u m a b o a e s c o l h a d e i l u s t r a ç õ e s acerca da verdade que ele queria transmitir. A parábola já foi explicadacomo "um símbolo externo de uma realidade interna". E também o "seu uma mesma mão, crescendo a partir da mesma raiz e sendo constituídop a r a o mesmo fim. Todos os amantes da verdade r e c o n h e c e m prontamente essas misteriosas harmonias e a força de argumentos quedelas resultam. Para eles, as coisas da terra são cópias das do céu".D a t a l e n t o s a p e n a d e u m v e r d a d e i r o p r o f e t a c r i s t ã o , o d r . J o h n Pulsford, selecionamos a seguinte contribuição, encontrada em seu livro Loyalty to Christ [Lealdade a Cristo]: "As parábolas não são ilustraçõesforçadas, mas refl exos das coisas espirituais. Terra e céu são obras doú n i c o D e u s . T o d o s o s e f e i t o s naturais estão ligados às suas causasespirituais e suas causas e s p i r i t u a i s e s t ã o l i g a d a s a o s s e u s e f e i t o s naturais. Os mundos espirituais e os mundos naturais concordam, como o interno e o externo". J á nos detivemos o suficiente sobre o assunto das a n a l o g i a s existentes entre as obras de Deus na natureza e na providência, e suaso p e r a ç õ e s p e l a g r a ç a . U m a c o n c l u s ã o a p r o p r i a d a p a r a e s s a i n e g á v e l correspondência em muitas das parábolas, quem dá é William M. Taylor,em Parables ofour Savior [As parábolas do nosso Salvador] : "O mundon a t u r a l v e i o e m s u a f o r m a p r i m i t i v a e a i n d a é s u s t e n t a d o p e l a m ã o daquele que criou a alma humana; e a a d m i n i s t r a ç ã o d a P r o v i d ê n c i a continua sendo feita por Aquele que nos deu a revelação de sua vontaden a s S a g r a d a s E s c r i t u r a s , e n o s o f e r e c e u a s a l v a ç ã o p o r s e u F i l h o . Portanto, talvez encontremos um princípio de unidade que percorra e s s a s t r ê s á r e a s d e s u a a d m i n i s t r a ç ã o ; e o c o n h e c i m e n t o d e s u a s operações em qualquer uma delas pode ser útil em nossa investigação arespeito das demais".C o m o o t e r m o g e r a l m e n t e t r a d u z i d o p o r " p a r á b o l a " s i g n i f i c a p ô r ladoa l a d o , transmitindo a idéia de comparação, a parábola é literalmente pôr ao lado ou comparar verdades terrenas com verdadescelestiais, ou uma semelhança, ou ilustração entre um assunto e outro.A s p a r á b o l a s d e m o n s t r a m : o q u e h á f o r a d e n ó s é o e s p e l h o e m q u e podemos contemplar o espiritual e o interno, como M i l t o n n o s r e v e l a nestas linhas: E se a terraE apenas a sombra do céu e das coisas que nele há,E um se parece com o outro mais do que se supõe na terra? As várias divisões da linguagem figurada São várias as figuras de linguagem que a Bíblia emprega, e todas são necessárias para ilustrar verdades divinas e profundas. Como nossat e n d ê n c i a é a g r u p a r t o d a s e s s a s p a l a v r a s s e m d i s t i n g u i r u m a s d a s outras, c a d a f o r m a , p a r e c e - n o s , m e r e c e a t e n ç ã o e s p e c i a l . B e n j a m i n Keach, na sua obra antiga e um tanto difícil, 9

The metaphors [As metáfo-ras], apresenta uma dissertação introdutória a respeito da distinção dec a d a f i g u r a d e l i n g u a g e m . H á t a m b é m o c a p í t u l o s o b r e " A s f i g u r a s d e linguagem da Bíblia", do dr. A. T. Pierson. Insisto com o leitor para que leia a obra de Trench, de elevada perícia, On the definition of the parable [Sobre a definição da parábola] , e m q u e d i f e r e n c i a a p a r á b o l a d a alegoria, da fábula, do provérbio e do mito.S ÍMILE . O v o c á b u l o símile significa parecença ou semelhança, exemplificado no Salmo dos dois homens: "Será como a árvore plantada junto a ribeiros de águas [...] Os ímpios [...] são como a m o i n h a q u e o vento espalha" (Sl 1:3,4).O símile difere da metáfora p o r s e r a p e n a s u m e s t a d o d e semelhança, enquanto a metáfora transfere a representação de formam a i s v i g o r o s a , c o m o p o d e m o s v e r n e s t a s d u a s p a s s a g e n s : " T o d o s o s homens são como a erva, e toda a sua beleza como as flores do campo.Seca-se a erva, e caem as flores..." (Is 40:6,7); "Toda a carne é como aerva, e toda a glória do homem como a flor da erva. Seca-se a erva, e caia sua flor..." (lPe 1:24).No símile, a mente apenas repousa nos pontos de concordância e nas experiências que se combinam, sempre alimentadas pela descobertade semelhanças entre coisas que diferem entre si. O dr. A. T Pierson ob-s e r v a q u e " a p a r á b o l a a u t ê n t i c a é , n o u s o d a s E s c r i t u r a s , u m s í m i l e , geralmente posto em forma de narrativa ou usado em conexão com al-gum episódio". Portanto, parábolas e símiles se parecem.P ROVÉRBIO . Ainda que os princípios da parábola estejam presentes emalguns dos pequenos provérbios, das declarações proféticas enigmáticase d a s m á x i m a s e n i g m á t i c a s da B í b l i a ( I S m 1 0 : 1 2 ; S I 7 8 : 2 ; P v 1 : 6 ; M t 24:32; Lc 4:23), no entanto, diferem do provérbio propriamente dito, queé em geral breve, trata de assuntos menos sublimes e não se preocupaem contar histórias. Os apócrifos reúnem parábolas e provérbios num sógrupo: "Os países maravilhar-se-ão diante de seus provérbios e parábo-l a s " ; " E l e b u s c a r á o s s e g r e d o s d a s s e n t e n ç a s 10

i m p o r t a n t e s e e s t a r á f a - miliarizado com parábolas enigmáticas" (Ec 47:17; 39:3).Embora parábola e provérbio s e - j a m t e r m o s p e r m u t á v e i s n o N T , Trench ressalta "que os chamados provérbios do evangelho de João ten-dem a ter muito mais afinidade com a parábola do que com o provérbio,e são de fato alegorias. Dessa forma, quando Cristo demonstra que o relacionamento dele com o seu povo se assemelha ao pastor c o m a s ovelhas, tal demonstração é denominada provérbio, embora os nossostradutores, mais fiéis ao sentido que o autor pretendia, a tenham traduzi-d o p o r parábola (Jo 10:6). Não é difícil explicar essa troca de palavras.Em parte deve-se a um termo que no hebraico significa ao mesmo tempop a r á b o l a e p r o v é r b i o " . ( C f . P v 1 : 1 c o m IS m 1 0 : 1 2 e E z 1 8 : 2 . ) D e m o d o geral, provérbio é um dito sábio, uma expressão batida, um adágio.M ETÁFORA . A Bíblia é rica em linguagem metafórica. A metáfora afir -ma de modo inconfundível que uma coisa é outra totalmente diferente. Otermo origina-se de dois vocábulos gregos que significam estender. Umobjeto é equiparado a outro. Aqui temos dois exemplos do uso de me-táforas: Pois o Senhor Deus é sol e escudo (Sl 84:11);Ele é o meu refúgio e minha fortaleza (Sl 91:2). Dessa forma, como pode ser observado, metáfora é um termo co-n h e c i d o p o r n ó s " n a á r e a d a e x p e r i ê n c i a q u e f a z s e n t i d o , e i n d i c a q u e determinado objeto, possuidor de propriedades especiais, transfere-as ao u t r o o b j e t o p e r t e n c e n t e a u m a á r e a m a i s e l e v a d a , d e m o d o q u e o anterior nos dá uma idéia mais completa e realista das propriedades queo ú l t i m o d e v e t e r " . N a s p a s s a g e n s s u p r a c i t a d a s , t u d o o q u e é r e - lacionado ao Sol, ao escudo, ao refúgio e à fortaleza é transferido para oSenhor. O Sol, por exemplo, é fonte de luz, calor e poder. A vida na Terradepende das propriedades do Sol. Portanto, o Senhor como Sol é a fontede toda a vida.No evangelho de João não existem parábolas propriamente ditas,mas há, entretanto, uma série de metáforas impressionantes como: Eu sou o bom pastor (Jo 10:11).Eu sou a videira verdadeira (Jo 15:1).Eu sou a porta (Jo 10:7).Eu sou o pão da vida (Jo 6:35).Eu sou o caminho, a verdade e a vida (Jo 14:6). A LEGORIA . Não é fácil distinguir entre 11

parábola e alegoria. Esta últiman ã o é u m a metáfora ampliada e dela difere p o r n ã o c o m p o r t a r a transferência de qualidades e de propriedades. Tanto as parábolas comoas metáforas abrangem expressões e frases, servindo para desvendar ee x p l i c a r a l g u m a s v e r d a d e s o c u l t a s q u e n ã o p o d e r i a m s e r f a c i l m e n t e compreendidas sem essa roupagem. Num verbete de Fairbairn sobre as" p a r á b o l a s " , e m s u a r e n o m a d a Biblical enciclopaedia [Enciclopédiabíblica], ele diz: "A alegoria corresponde rigorosamente ao que s e encontra na origem da palavra. E o ensinamento de uma coisa por outra,d a se gun d a pe l a p ri m ei r a; d ev e ex i s t i r u m a s e m e l h a n ç a d e propriedades, uma seqüência de a c o n t e c i m e n t o s s e m e l h a n t e s d e u m lado e de outro; mas a primeira não toma o lugar da segunda; as duas semantêm inconfundíveis. Considerada dessa forma, a alegoria, em sentidomais amplo, pode ser tida como um gênero, do qual a fábula, a parábolae o que geralmente chamamos alegorias são espécies". A. alegoria, explica o dr. Graham Scroggie, "... é uma declaração defatos supostos que aceita interpretação literal, mas ainda assim exige ouadmite, com razão, interpretação moral ou figurada". A alegoria difere daparábola por conter aquela menos mistérios e coisas ocultas que esta. Aalegoria se interpreta por si só e nela "a pessoa ou objeto, ilustrado por algum objeto natural, é imediatamente identificado com esse objeto". Dizo dr. Salmond: "Quando nosso Senhor conta a grande alegoria da vinha,do agricultor e dos ramos, em que ensina aos seus discípulos a verdade sobre o relacionamento que ele próprio tinha com Deus, começa dizendoque ele próprio é a videira verdadeira e seu Pai, o agricultor (Jo 15:1).D e s e j a n d o u m a m e l h o r c o m p r e e n s ã o d a s f i g u r a s d e l i n g u a g e m mencionadas na Bíblia, recomendamos ao leitor a obra de grande fôlegod o dr. E. W. Bullinger sobre o assunto, a qual, sem dúvida, é o melhorestudo já feito sobre o método figurado empregado pela B í b l i a . O d r . Bullinger lembra que há grande controvérsia sobre a defi nição e signifi-c a d o e x a t o d e alegoria e d e c l a r a q u e , n a v e r d a d e , o s s í m i l e s , a s metáforas e as alegorias são todos baseados na comparação. Símile é a comparação por semelhança.Metáfora é a comparação por correspondência. Alegoria é a comparação por implicação. Na primeira, a comparação é afirmada; 12

na segunda, é substituída; na terceira, é subentendida. A alegoria é então diferente da parábola, pois esta é um símile continuado, enquanto aquela representa algo ou dáa entender que alguma coisa é outra.H á u m a alegoria a q u e P a u l o s e r e f e r e d e m o d o i n e q u í v o c o : " . . . Abraão teve dois filhos, um da escrava, e outro da livre. Todavia, o que era da escrava nasceu segundo a carne, mas, o que era da livre, por pro-messa. O que se entende por alegoria..." (coisas que ensinam ou dizemmais do está escrito — v. Gl 4:22,24). Bullinger chega a provar que a ale-goria pode algumas vezes ser fictícia; no entanto, Gaiatas 4 mostra que u m a h i s t ó r i a v e r d a d e i r a p o d e s e r a l e g o r i z a d a ( o u s e j a , p o d e m o s t r a r algum ensinamento além daquele que, na verdade, se observa), sem noentanto anular a verdade da história. A alegoria é sempre apresentadano passado e nunca no futuro. Dessa forma, distingue-se da profecia. Aa l e g o r i a o f e r e c e o u t r o ensinamento com base nos acontecimentos dop a s s a d o , e n q u a n t o a profecia t r a t a d e a c o n t e c i m e n t o s f u t u r o s e corresponde exatamente ao que se diz.Hillyer Straton, em seu A guide to the parables of Jesus [Guia das p a r á b o l a s d e J e s u s ] , comenta que "a alegoria é uma d e s c r i ç ã o codificada. Ela personifica coisas abstratas; não põe uma coisa ao ladod a o u t r a , m a s f a z a s u b s t i t u i ç ã o d e u m a p e l a o u t r a . C a d a aspecto daalegoria se torna importante". O dr. Straton, então, acaba por citar amais famosa alegoria de toda a literatura, O peregrino, em que JohnBunyan usou a sua imaginação notavelmente f é r t i l p a r a r e s s a l t a r a verdade da peregrinação cristã.F ÁBULA . A f á b u l a é u m a n a r r a ç ã o f i c t í c i a q u e p r e t e n d e i l u s t r a r u m princípio ou uma verdade (Jz 9:8-15; 2Rs 14:9). A missão primordial dafábula é reforçar o conceito da prudência. A fábula, usada poucas vezesnas Escrituras, está a quilômetros de distância da parábola, embora umap o s s a , e m a l g u n s m o m e n t o s , s e r s e m e l h a n t e à o u t r a nos aspectos 13

externos. Comparando qualquer das fábulas de Esopo com as parábolasd e J e s u s , p e r c e b e - s e q u e a f á b u l a é u m t i p o i n f e r i o r d e l i n g u a g e m figurada e trata de assuntos menos elevados. Está associada à terra efocaliza a vida e os negócios comuns a todos. Tem por função transmitirlições de sabedoria prudente e prática e gravar nas mentes dos ouvintesas virtudes da prudência, da diligência, da paciência e do autocontrole. T a m b é m t r a t a d o m a l c o m o l o u c u r a e n ã o c o m o p e c a d o , a l é m d e ridicularizar as falhas e desdenhar os vícios, escarnecendo deles ou ostemendo. Essa é a razão por que a fábula faz grande uso da imaginação,dotando plantas e animais de faculdades humanas, fazendo-os raciocinare falar. A parábola, no entanto, age numa esfera mais s u b l i m e e espiritual e nunca se permite a zombaria ou a s á t i r a . T r a t a n d o d a s verdades de Deus, a parábola é naturalmente sublime, com ilustraçõesque correspondem à realidade —nunca monstruosas ou anti-natu-rais.Na parábola, nada existe contra a verdade da natureza. Fairbairn diz: "Aparábola tem um objetivo mais admirável [...] A parábola poderia tomaro lugar da fábula, mas não o contrário". Desejando informações acerca da narrativa mítica, o leitor deve ler o parágrafo "Os mitos", de Trench. T IPO . Significa marca ou impressão e tem a força da cópia ou do pa-drão (ICo 10:1-10,11 —"exemplos"; na margem "tipos"). As parábolasunem os tipos de um lado, e os milagres de outro. Todas as figuras delinguagem que a Bíblia emprega são elos de uma corrente unida de for -ma inseparável; os elos como um todo só podem ser desvinculados emdetrimento de alguns. O s muitos tipos da Bíblia constituem um estudo independente e fascinante.P ARÁBOLA . Apesar de já termos tratado da natureza da parábola, retornamos a título de resumo. Na parábola, a imagem do mundo visívelé emprestada e se faz acompanhar de uma verdade do mundo invisívelou espiritual. As parábolas são os portadores, os canais da doutrina e daverdade espiritual. Cumpre ressaltar que as parábolas não foram feitasp a r a s e r i n t e r p r e t a d a s d e u m a ú n i c a f o r m a . E m a l g u m a s , h á g r a n d e s disparidades e aspectos que não podem ser aplicados espiritualmente.E s t ã o s e m p r e l i g a d a s a o d o m í n i o d o p o s s í v e l e d o v e r d a d e i r o . O s discursos e as frases, cheios de sabedoria espiritual e de verdade, sãochamados parábolas 14

por dois motivos:1. por infundir um senso de culpa e a compreensão da autoridadedivina;2. por ser a pedra de toque da verdade —normas que, portanto,devem ser seguidas.A parábola já foi definida como "a bela imagem de uma bela men-te". A parábola é também a justaposição de duas coisas que divergem namaioria dos seus aspectos, mas concordam em alguns. "Os milagres", dizo d r . A . T. Pierson, "ensinam sobre as forças da criação; as parábolas,s o b r e a s formas da criação. Quando a parábola for profética, estará externos. Comparando qualquer das fábulas de Esopo com as parábolasd e J e s u s , p e r c e b e - s e q u e a f á b u l a é u m t i p o i n f e r i o r d e l i n g u a g e m figurada e trata de assuntos menos elevados. Está associada à terra efocaliza a vida e os negócios comuns a todos. Tem por função transmitirlições de sabedoria prudente e prática e gravar nas mentes dos ouvintesas virtudes da prudência, da diligência, da paciência e do autocontrole. T a m b é m t r a t a d o m a l c o m o l o u c u r a e n ã o c o m o p e c a d o , a l é m d e ridicularizar as falhas e desdenhar os vícios, escarnecendo deles ou ostemendo. Essa é a razão por que a fábula faz grande uso da imaginação,dotando plantas e animais de faculdades humanas, fazendo-os raciocinare falar. A parábola, no entanto, age numa esfera mais s u b l i m e e espiritual e nunca se permite a zombaria ou a s á t i r a . T r a t a n d o d a s verdades de Deus, a parábola é naturalmente sublime, com ilustraçõesque correspondem à realidade —nunca monstruosas ou anti-natu-rais.Na parábola, nada existe contra a verdade da natureza. Fairbairn diz: "Aparábola tem um objetivo mais admirável [...] A parábola pod eria tomaro lugar da fábula, mas não o contrário". Desejando informações acerca da narrativa mítica, o leitor deve ler o parágrafo "Os mitos", de Trench. T IPO . Significa marca ou impressão e tem a força da cópia ou do pa-drão (ICo 10:1-10,11 —"exemplos"; na margem "tipos"). As parábolasunem os tipos de um lado, e os milagres de outro. Todas as figuras delinguagem que a Bíblia emprega são elos de uma corrente unida de for -ma inseparável; os elos como um todo só podem ser desvinculados emdetrime nto de alguns. Os muitos tipos da Bíblia constituem um estudo independente e fascinante.P ARÁBOLA . Apesar de já termos tratado da natureza da parábola, retornamos a título de resumo. Na 15

parábola, a imagem do mundo visívelé emprestada e se faz acompanhar de uma verdade do mundo invisívelou espiritual. As parábolas são os portadores, os canais da doutrina e daverdade espiritual. Cumpre ressaltar que as parábolas não foram feitasp a r a s e r i n t e r p r e t a d a s d e u m a ú n i c a f o r m a . E m a l g u m a s , h á g r a n d e s disparidades e aspectos que não podem ser aplicados espiritualmente.E s t ã o s e m p r e l i g a d a s a o d o m í n i o d o p o s s í v e l e d o v e r d a d e i r o . O s discursos e as frases, cheios de sabedoria espiritual e de verdade, sãochamados parábolas por dois motivos:1. por infundir um senso de culpa e a compreensão da autoridadedivina;2. por ser a pedra de toque da verdade —normas que, portanto,devem ser seguidas.A parábola já foi definida como "a bela imagem de uma bela men-te". A parábola é também a justaposição de duas coisas que divergem namaioria dos seus aspectos, mas concordam em alguns. "Os milagres", dizo d r . A . T. Pierson, "ensinam sobre as forças da criação; as parábolas,s o b r e a s formas da criação. Quando a parábola for profética, estará 5. preserva a verdade. Ao escrever acerca desse mérito emparticular, Cosmo Lang disse: "Quando as pessoas p e n s a m p o r s i mesmas, nunca esquecem; o exercício da mente produz esse efeito.Além do mais, a linguagem dos símbolos — e x p r e s s a p o r a q u i l o q u e o olho pode ver e construída na imaginação— é mais poderosa e de efeitom a i s d u r a d o u r a d o q u e a l i n g u a g e m q u e u t i l i z a s o m e n t e p a l a v r a s abstratas. Ela comunica e traz de volta à mente o significado interior c o m r a p i d e z e s e g u r a n ç a ; t r a z c o n s i g o u m a m e n s a g e m r i c a e m sugestões e associações". As palavras mudam constante mente des i gn i fi cad o , ao p as s o q u e o s sí m b o l o s us ad o s p ara a v i d a e p a r a a natureza, como os que foram empregados pelo S e n h o r e m s u a s p a r á - bolas, são tão duradouros quanto a própria natureza e a vida.A o c o m e n t a r a c e r c a d a s p a r á b o l a s d e M a t e u s 1 3 , F i n i s D a k e , e m sua Annotated reference Bible [Bíblia de referências anotada], apresentasete benefícios do uso das parábolas:1. revelar a verdade de forma interessante e despertar maior inte-resse (Mt 13:10,11,16);2. tornar conhecidas novas verdades a ouvintes interessados (Mt13:11,12,16,17);3. tornar conhecidos os mistérios por comparações com coisas jáconhecidas (Mt 13:11);4. ocultar a verdade de ouvintes desinteressados e rebeldes decoração (Mt 13:11-15);5. acrescentar mais conhecimento da verdade aos que a amam eanseiam mais dela (Mt 13:12);6. afastá-la do alcance dos que a odeiam ou que não a desejam (Mt 13:12);7. cumprir as profecias (Mt 13:14-17,35). A missão da parábola Os intuitos e a missão da parábola estão intimamente ligados aosseus métodos de ensino. Quais são as funções ou os objetivos da pará -b o l a ? J á t r a t a m o s r a p i d a m e n t e d o s e u p o d e r d e a t r a ç ã o , m a s p o r q u e Cristo 16

usou esse método? Para iluminar, exortar e edificar. No prefácio d e s e u livro esclarecedor L e c t u r e s o n o u r Lo r d ' s p a r a b l e s [ P r e l e ç õ e s sobre as parábolas do nosso Senhor] , o dr. John Cumming diz que:A profecia é u m e s b o ç o d o f u t u r o , q u e s e r á p r e e n c h i d o p e l o s eventos; os milagres são pré-atos do futuro, realizados em pequena e s c a l a n o presente; as parábolas s ã o a p r e f i - g u r a ç ã o d o f u t u r o , projetadas em uma página sagrada. Todos os três crescem diariamente em esplendor, interesse e valor.Em breve, o Sol Meridional os fará transbordar! Espero que estejamosprontos! Fazendo uso da parábola, Jesus procurou confiar as verdadesespirituais do seu R eino ao entendimento e ao coração dos homens. Ao a d o t a r u m m é t o d o r e c o n h e c i d o p e l o s m e s t r e s j u d e u s , C r i s t o a t r a i u mentes e prendeu atenções. Os homens tinham de ser conquistados, e a 5. preserva a verdade. Ao escrever acerca desse mérito emparticular, Cosmo Lang disse: "Quando as pessoas p e n s a m p o r s i mesmas, nunca esquecem; o exercício da mente produz esse efeito.Além do mais, a linguagem dos símbolos — e x p r e s s a p o r a q u i l o q u e o olho pode ver e construída na imaginação— é mais poderosa e de efeitom a i s d u r a d o u r a d o q u e a l i n g u a g e m q u e u t i l i z a s o m e n t e p a l a v r a s abstratas. Ela comunica e traz de volta à mente o significado interior c o m r a p i d e z e s e g u r a n ç a ; t r a z c o n s i g o u m a m e n s a g e m r i c a e m sugestões e associações". As palavras mudam constantemente des i gn i fi cad o , ao p as s o q u e o s sí m b o l o s us ad o s p ara a v i d a e p a r a a natureza, como os que foram empregados pelo S e n h o r e m s u a s p a r á - bolas, são tão duradouros quanto a própria natureza e a vida.A o c o m e n t a r a c e r c a d a s p a r á b o l a s d e M a t e u s 1 3 , F i n i s D a k e , e m sua Annotated reference Bible [Bíblia de referências anotada], apresentasete benefícios do uso das parábolas:1. revelar a verdade de forma interessante e despertar maior inte-resse (Mt 13:10,11,16);2. tornar conhecidas novas verdades a ouvintes interessados (Mt13:11,12,16,17);3. tornar conhecidos os mistérios por comparações com coisas jáconhecidas (Mt 13:11);4. ocultar a verdade de ouvintes desinteressados e rebeldes decoração (Mt 13:11-15);5. acrescentar mais conhecimento da verdade aos que a amam eanseiam mais dela (Mt 13:12);6. afastá-la do alcance dos que a odeiam ou que não a desejam (Mt 13:12);7. cumprir as profecias (Mt 13:14-17,35). A missão da parábola Os intuitos e a missão da parábola estão intimamente ligados aosseus métodos de ensino. Quais são as funções ou os objetivos da pará-b o l a ? J á t r a t a m o s r a p i d a m e n t e d o s e u p o d e r d e a t r a ç ã o , m a s p o r q u e Cristo usou esse método? Para iluminar, exortar e edificar. No prefácio d e s e u livro esclarecedor 17

L e c t u r e s o n o u r Lo r d ' s p a r a b l e s [ P r e l e ç õ e s sobre as parábolas do nosso Senhor] , o dr. John Cumming diz que:A profecia é u m e s b o ç o d o f u t u r o , q u e s e r á p r e e n c h i d o p e l o s eventos; os milagres são pré-atos do futuro, realizados em pequena e s c a l a n o presente; as parábolas s ã o a p r e f i - g u r a ç ã o d o f u t u r o , projetadas em uma página sagrada. Todos os três crescem diariamente em esplendor, interesse e valor.Em breve, o Sol Meridional os fará transbordar! Espero que estejamosprontos! Fazendo uso da parábola, Jesus procurou confiar as verdadesespirituais do seu Reino ao entendimento e ao coração dos homens. Aoa d o t a r u m m é t o d o r e c o n h e c i d o p e l o s m e s t r e s j u d e u s , C r i s t o a t r a i u mentes e prendeu atenções. Os homens tinham de ser conquistados, e a parábolas! Muitos são culpados de aplicar certas parábolas de formaa r t i f i c i a l e d e f o r ç a r u m s i g n i f i c a d o q u e o s s e u s a u t o r e s j a m a i s s o - nharam! Há dois extremos que devem ser evitados na interpretação daparábola. Um extremo é dar-lhe muita importância —o outro é atribuir-lhe pouca importância. Cumming, em seu livro Lectures [Preleções], tratou desse erro duplo desta forma: Há dois grandes erros na interpretação das parábolas: umc o n s i s t e e m a r r a n c a r s i g n i f i c a d o d e c a d a p a r t e , c o m o s e n ã o houvesse nada secundário; o outro, em considerar boa parte da parábola secundária, mera tapeçaria. O primeiro é repreensível, p o i s a p a r á b o l a e a s u a v e r d a d e n ã o s ã o , c o m o j á d i s s e m o s , duas retas que se encontram em todos os pontos, mas sim umareta e uma esfera que se tocam em grandes momentos. Cada parábola materializa um grande propósito, que é notoriamenteo p r i n c i p a l e o m a i s n o b r e , e i s s o sempre deve ser levado emconta na interpretação de todos os aspectos secundários daBíblia. O segundo vê pouco sentido na p a r á b o l a ; p e r c e b e e m boa parte dela mera intenção de inventar uma história, sendoseus componentes meros cone ctivos que mais prejudicam quea p r e s e n t a m a f i n a l i d a d e d a p a r á b o l a . E s t e ú l t i m o t i p o destróimuitas das riquezas das Escrituras. Cada parte da parábola,c o m o e m q u a l q u e r t r e c h o d a B í b l i a , t e m s e u s i g n i f i c a d o e importância. Uma pintura perfeita não tem p a r t e s q u e n ã o contribuam para o resultado geral, e cada parte a vida brilha eresplandece de tal forma que a ausência da menor delas já seriauma deficiência. Desejando um tratamento mais aprofundado acerca dos prós e dos contras

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da interpretação, o interessado deve ler o capítulo " T h e interpretation of parables" ["A interpretação das parábolas"], da obraincomparável de Trench, The parables of our Lord [As parábolas do n o s s o S e n h o r ] , e " M et h ods o f i nt e rp re t a t i on " [ "M ét o d os d e interpretação"], da obra de Ada Habershon, T h e s t u d y o f p a r a b l e s [ O estudo das parábolas] . Trench, referindo-se aos extremos acima, diz quetem havido exageros nos dois sentidos."Os defensores da interpretaçãosuperficial e não detalhada estão confortavelmente satisfeitos com suam á x i m a f a v o r i t a . T o d a c o m p a r a ç ã o deve ser interrompida em algumponto". Trench cita um ditado de T e o f i l a c t o : " A p a r á b o l a , s e f o r s u s - tentada em todos os seus aspectos, não será parábola, mas o aconteci-mento que a gerou".Quanto ao outro extremo da interpretação, "Há o perigo de, comuma mente fértil, deixar de atribuir o devido valor à Palavra de Deus, am e n o s q u e o p r a z e r q u e o i n t é r p r e t e s e n t e n o e x e r c í c i o d e s s a "fertilidade", admirada que é por tantos, não lhe tire de vista que as a n t i f i c a ç ã o d o c o r a ç ã o p e l a v e r d a d e é o p r i n c i p a l o b j e t i v o d a s Escrituras".Muitos dos pais da igreja, buscando alegorizar passagens tanto do Antigo como do NT, foram muito extremistas. Se estavam ou não erradosem pensar que havia um significado para todas as coisas é o que se temdebatido há séculos.Agostinho é um exemplo notável dos que espremiam as parábolas p a r a e n s i n a r algo totalmente fora dos limites. Ao tratar do e n s i n o tradicional da igreja (considerando as parábolas alegorias, em que cadat e r m o r e p r e s e n t a v a o c r i p t o g r a m a d e u m a i d é i a , d e m o d o q u e o t o d o precisava ser decodificado em cada termo), C. H. Dodd, em The parablesof the kingdom [As parábolas do reino], cita a interpretação de Agostinhoda Parábola do bom samaritano:D e s c i a u m h o m e m d e J e r u s a l é m p a r a J e r i c o s e r i a u m a referência ao próprio Adão; J e r u s a l é m é a c i d a d e c e l e s t i a l d a p a z , c u j a b ê n ç ã o A d ã o perdeu; J e r i c ó é a l u a e r e p r e s e n t a a n o s s a m o r t a l i d a d e , p o r q u e nasce, cresce, míngua e morre;os assaltantes são o diabo e seus anjos;os quais o despojaram, i.e., lhe retiraram a imortalidade;e, espancando-o, persuadindo-o a pecar;d e i x a n d o - o m e i o m o r t o , p o r q u e , q u a n d o o h o m e m compreende e conhece a Deus, vive; mas, quando se entrega,s e n d o o p r i m i d o p e l o p e c a d o , e s t á m o r t o ; p o r c a u s a d i s s o , é chamado meio morto;o sacerdote e o levita, que o viram e passaram de largo,r e p r e s e n t a m o s a c e r d ó c i o e o m i n i s t é r i o d o A T , q u e n ã o continham a riqueza da salvação;o s a m a r i t a n o s i g n i f i c a o g u a r d i ã o , e o p r ó p r i o J e s u s é conhecido por esse nome;atou-lhe as feridas é o resgate do pecado;o óleo é o consolo da esperança;o vinho é a exortação para trabalhar com ardor;a cavalgadura era a carne, por meio da qual Jesus veio aténós; p o n d o - o s o b r e a s u a c a v a l g a d u r a é a c r e n ç a n a encarnação de Cristo;a h o s p e d a r i a é a i g r e j a , e m q u e o s v i a j a n t e s r e c e b e m refrigé-rio no retorno da peregrinação à pátria celestial;o outro dia significa o período posterior à ressurreição doSenhor;os dois denários são os dois mandamentos do amor, ou a promessa desta vida e da que está por vir;o hospedeiro é o apóstolo Paulo. 19

O arcebispo Trench segue as linhas mestras de Agostinho, com umdetalhamento ainda mais fértil. Outro exemplo desse tipo de interpre -tação se encontra entre os intérpretes da Reforma e os católicos roma -nos, que encontraram um grande significado para o óleo da Parábola das Antigo como do NT, foram muito extremistas. Se estavam ou não erradosem pensar que havia um significado para todas as coisas é o que se temdebatido há séculos.Agostinho é um exemplo notável dos que espremiam as parábolas p a r a e n s i n a r algo totalmente fora dos limites. Ao tratar do e n s i n o tradicional da igreja (considerando as parábolas alegorias, em que cadat e r m o r e p r e s e n t a v a o c r i p t o g r a m a d e u m a i d é i a , d e m o d o q u e o t o d o precisava ser decodificado em cada termo), C. H. Dodd, em The parablesof the kingdom [As parábolas do reino], cita a interpretação de Agostinhoda Parábola do bom samaritano:D e s c i a u m h o m e m d e J e r u s a l é m p a r a J e r i c o s e r i a u m a referência ao próprio Adão; J e r u s a l é m é a c i d a d e c e l e s t i a l d a p a z , c u j a b ê n ç ã o A d ã o perdeu; J e r i c ó é a l u a e r e p r e s e n t a a n o s s a m o r t a l i d a d e , p o r q u e nasce, cresce, míngua e morre;os assaltantes são o diabo e seus anjos;os quais o despojaram, i.e., lhe retiraram a imortalidade;e, espancando-o, persuadindo-o a pecar;d e i x a n d o - o m e i o m o r t o , p o r q u e , q u a n d o o h o m e m compreende e conhece a Deus, vive; mas, quando se entrega,s e n d o o p r i m i d o p e l o p e c a d o , e s t á m o r t o ; p o r c a u s a d i s s o , é chamado meio morto;o sacerdote e o levita, que o viram e passaram de largo,r e p r e s e n t a m o s a c e r d ó c i o e o m i n i s t é r i o d o A T , q u e n ã o continham a riqueza da salvação;o s a m a r i t a n o s i g n i f i c a o g u a r d i ã o , e o p r ó p r i o J e s u s é conhecido por esse nome;atou-lhe as feridas é o resgate do pecado;o óleo é o consolo da esperança;o vinho é a exortação para trabalhar com ardor;a cavalgadura era a carne, por meio da qual Jesus veio aténós; p o n d o - o s o b r e a s u a c a v a l g a d u r a é a c r e n ç a n a encarnação de Cristo;a h o s p e d a r i a é a i g r e j a , e m q u e o s v i a j a n t e s r e c e b e m refrigé-rio no retorno da peregrinação à pátria celestial;o outro dia significa o período posterior à ressurreição doSenhor;os dois denários são os dois mandamentos do amor, ou a promessa desta vida e da que está por vir;o hospedeiro é o apóstolo Paulo. O arcebispo Trench segue as linhas mestras de Agostinho, com umdetalhamento ainda mais fértil. Outro exemplo desse tipo de interpre-tação se encontra entre os intérpretes da Reforma e os católicos roma -nos, que encontraram um grande significado para o óleo da Parábola das narrativa completa, apresenta apenas um ponto de comparação. Não háa intenção de que os detalhes tenham um significado independente. Jána alegoria, cada detalhe é uma metáfora independente, com significadop r ó p r i o " . D o d d e n t ã o d á um dos dois exemplos desse princípio, entre e l e s a Parábola do semeador: " A b e i r a d o c a m i n h o e o s p á s s a r o s , o s espinhos e o chão pedregoso não são criptogramas da perseguição, doengano das riquezas e assim por diante. Esses símbolos estão ali paraevocar um quadro da grande quantidade de 20

trabalho desperdiçado, queo fazendeiro precisa enfrentar, e assim fazer sentir o alívio da colheita,a p e s a r d e t o d o o t r a b a l h o " . N o s e u c a p í t u l o " T h e m e t h o d o f interpretation" ["O método da interpretação"] , Ada Habershon, em Thestudy of the parables [O estudo das parábolas], expressa a opinião deque "pode ser verdade que cada detalhe (da parábola acima) tinha umsignificado, e devemos estar bem preparados para descobrir que algu-mas delas tinham diversos [...] Nenhuma explicação esgotará os signi-f i c a d o s d a m a i s s i m p l e s p a r á b o l a p r o f e r i d a p o r J e s u s e , s e reconhecermos isso, também estaremos prontos para tirar de cada uma" t o d a s o r t e d e d e s - p o j o s " . O c a m i n h o m a i s s e g u r o p a r a l i d a r c o m a parábola é procurar o pensamento central ou a idéia principal, em tornoda qual todos os elementos subordinados se agrupam. A idéia principaln ã o d e v e p e r d e r - s e e m m e i o a u m e m a r a n h a d o d e a c e s s ó r i o s c o m - plexos, mesmo que estes tenham significado espiritual. As parábolas nãodevem ser tratadas como se fossem um repositório de textos. Cada pará-bola deve ser vista por suas particularidades, e qualquer analogia feitadeve ser real, n ão imaginária, sempre subordinada à lição principal daparábola".Outros aspectos da interpretação, tratados de forma completa pela Biblical enciclopaedia [Enciclopédia da Bíblia], de Fausset, são:1. a parábola, em sua forma externa, deve ser bem compreendida(e.g., o amor de um pastor do Oriente Médio para com suas ovelhas);2. a situação no começo da parábola, como em Lucas 15:1,2, é o ponto de partida das três parábolas do capítulo;3. as características que, interpretadas de forma literal, contrari-am as Escrituras, dão um colorido ao texto, e.g., o número das virgensprudentes era igual ao das insensatas (Mt 25:1-13).Em seu capítulo "Place and province of the parables" ["O local e ocampo das parábolas"], o dr. A. T. Pierson afirma: "As parábolas bíblicas s ã o n a r r a t i v a s f a c t u a i s o u fictícias, usadas para transmitir verdades e e n s i n a m e n t o s m o r a i s e e s p i r i t u a i s . P o d e m s e r h i s t ó r i c a s , é t i c a s e alegóricas ao mesmo tempo; mas, se o significado mais elevado se perden o m e n o s e l e v a d o o u é p o r e l e o b s c u r e c i d o , a s s i m c o m o n o c a s o d o espiritual em relação ao literal, perdem -se também o seu objetivo e o s e u significado. Em geral a parábola se faz acompanhar de c e r t a s indicações de como deve ser interpretada. A lição central é o principalobjeto de interesse; o restante pode ser sec undário, como a cortina e ocenário de um teatro". As múltiplas formas da parábola Quanta diversidade há nas parábolas bíblicas! Na verdade, s ã o inigualáveis nas suas imagens descritivas. Sob a orientação do EspíritoSanto, os escritores da Bíblia exploraram todos os veículos apropriados,para expressar a verdade divina. De fato, precisaram de todos eles parailustrar a inigualável maravilha da Palavra de Deus, que é radiante em sua riqueza de material parabólico. O resumo que o dr. Graham Scroggiefaz das parábolas do NT é aqui aplicado para que entendamos o alcancedas parábolas bíblicas como um todo. A medida que formos explicandoas parábolas, remeteremos o leitor para o campo em que cada uma seenquadra.1. Reino espiritual: 21

p a r á b o l a s a s s o c i a d a s c o m c é u , i n f e r n o , querubins e anjos;2. Feiômenos naturais: parábolas relacionadas com sol, luz, raios,terremotos, fogo, nuvens, tempestade e chuva;3. Mundo animado: parábolas relacionadas com criaturas (cavalos,a n i m a i s s e l v a g e n s , l e õ e s , á g u i a s , c a m e l o s , b o i s , o v e l h a s , c o r d e i r o s , lobos, jumentos, raposas, porcos, cães, bodes, peixes, pássaros e ser -p e n t e s ) ; p a r á b o l a s i l u s t r a d a s p o r p l a n t a s e á r v o r e s , e s p i n h o s , c a r d o s , figos, oliveiras, sicômoros, amêndoas, uvas, juncos, lírios, anis, menta,vinha, cedro e condimento de amoras pretas;4. Mundo mineral: parábolas simbolizadas por metais (ouro, prata,bronze, ferro e latão);5. Vida humana: A variedade de ilustrações parabólicas é muito ampla:• física ( c a r n e , s a n g u e , o l h o , o u v i d o , m ã o s , p é s ; f o m e , s e d e , sono, doença, riso, choro e morte);• doméstica (casas, lâmpadas, cadeiras, alimento, forno, cu -l i n á r i a , p ã o , s a l ; n a s c i m e n t o , m ã e s , e s p o s a s , i r m ã s , i r m ã o s , f i l h o s , afazeres, casamento e tesouros);• pastoral (campos, vales, pastores, ovelhas, agricultores, solo, semente, cultivo, semeadura, crescimento, colheita e vinhas);• comercial (pescadores, alfaiate, construtor, negociante, ba -lança, talentos, dinheiro e dívidas);• de interesse público (escravidão, roubo, violência, julgamento,punição e impostos);• social (casamento, hospitalidade, festas, viagens e saudações);• religiosa (tabernáculo, templo, esmolas, dízimos, jejuns, oraçãoe o sábado).A s p á g i n a s s e g u i n t e s s e r v i r ã o p a r a m o s t r a r q u e a s p a r á b o l a s d a Bíblia são comparações ilustrativas extraordinárias que nos falam sobrea verdade divina. Podem ser definidas como "narrativas criadas com o o b j e t i v o específico de representar uma verdade religiosa de f o r m a pictórica". PRIMEIRA PARTE AS PARÁBOLAS DOANTIGO TESTAMENTO INTRODUÇÃO É lamentável que quase todos os livros referentes às parábolas seatenham apenas nas que proferiu o nosso Senhor, esquecendo-se do queo resto da Bíblia —além dos quatro evangelhos— apresenta em matériade linguagem figurada. Perde tempo quem procura um estudo expositivod a s m u i t a s p a r á b o l a s d o A T . G . H . La n g , em 22

The parabolic teaching of Scripture [O ensino parabólico das Escrituras], dedica cinco páginas aoassunto. O melhor tratamento dado às parábolas do AT que conheço é Miracles and parables ofthe Old Testament [Milagres e parábolas d o Antigo Testamento], p u b l i c a d o p e l a p r i m e i r a v e z e m 1 8 9 0 e a g o r a reimpresso pela Baker Book House, de Grand Rapids, EUA. Certamentealguns dicionários bíblicos trazem uma sinopse do ensino parabólico do AT, onde o termo m_sh_ l é empregado com ampla gama de significados.C o m o j á d e i x a m o s p r e v e r , h á a p e n a s c i n c o t e x t o s t i d o s c o m o o e q u i - valente mais próximo da "parábola" em sentido estrito, a começar pela parábola do profeta Nata. Ainda assim, como demonstrará o estudo quese segue, o AT faz amplo uso das ilustrações parabólicas. Talvez o estudo mais completo e esclarecedor sobre o simbolismodo AT seja o de Ada Habershon, em seu livro muito instrutivo The study o f t h e p a r a b l e s [ O e s t u d o d a s p a r á b o l a s ] , s í n t e s e d a q u i l o q u e n o s propusemos na presente obra. Aquele que "falou-lhes de muitas coisaspor meio de parábolas" é o mesmo que inspirou "homens santos da partede Deus" a escrever o AT; portanto, podemos encontrar a mesma linhade pensamento em todos os livros. Muitas das parábolas, dos tipos e dasvisões do AT ilustram e esclarecem os do Novo, provando a maravilhosau n i d a d e d a s E s c r i t u r a s . O s q u e o u v i r a m a s p a r á b o l a s d e Jesus tinhama l g u m a p e r c e p ç ã o d o e n s i n o q u e e m g e r a l s e r v i a d e b a s e a o r i t u a l levítico e identificavam o sentido espiritual existente nas cerimônias quedeviam realizar.Os judeus certamente se lembraram do maná de Deuteronômio 8quando Jesus, em João 6, referiu -se a si mesmo como "o maná", e tam-bém quando disse, em Mateus 4, que "não só de pão vive o homem".A casa construída sobre a rocha com certeza reportou os ouvintes de Jesus ao cântico de Moisés, em que Deus é considerado a Rocha (Dt32:4).A Parábola dos lavradores maus lhes trazia à mente a Parábola dav i n h a d o S e n h o r , n u m a e s t r u t u r a t e x t u a l p r a t i c a m e n t e i d ê n t i c a à d e Isaías 5. Compare também Isaías 27:3 com João 15.A s f e s t a s d e L e v í t i c o 2 3 d e v e m s e r estudadas cuidadosamente, junto com as parábolas de Mateus 13. Há m u i t a s a n a l o g i a s e n t r e a s festas anuais e esse grupo de parábolas.A lei sobre os animais puros e impuros (Lv 11; Dt 14) passou a ter um sentido mais profundo quando Pedro viu aquele lençol descer do céu.A figura da casa por demolir encontra correspondente no NT (cf. Jr33:7 e Ez 36:36 com At 15:15-17 e Rm 11:1,2).A instrução a respeito da ovelha perdida é um maravilhoso comple-mento da Parábola do Salvador (cf. Dt 22:1-3 com Lc 15).Muitos acontecimentos da vida de José são ilustrações da vida e doreinado de nosso Senhor.A narrativa da vinha de Nabote nos faz lembrar da Parábola dos la-vradores maus, retratada por Jesus.A Parábola do juiz iníquo assemelha-se à experiência da sunamita(2Rs 8), que clamou ao rei pela sua terra e pela sua casa.A compra de um campo (Jr 32) vincula-se à Parábola do tesouro es-condido 23

(Mt 13).A vestimenta do profeta Josué em forma de parábola (Zc 3) pode ser posta lado a lado com a Parábola do filho pródigo (Lc 15).A v i s ã o d e Z a c a r i a s d o e f a c o r r e s p o n d e e m m u i t o s aspectos à Parábola do fermento. Sobre o simbolismo dos Salmos, 78:2 pode ser associado a Mateus 13:34,35, o Salmo 1 a Mateus 24:45-51 e o Salmo 2 à Parábola dos lavra-dores maus. O Salmo 23 fica ainda mais precioso ao lado de João 10. O S a l m o 4 5 , que descreve uma noiva e o seu atavio e n c a n t a d o r , corresponde às Bodas do Cordeiro (Ap 19). O Salmo 19, em que o noivosai de seu quarto e se alegra, como um homem forte que participa deu m a c o r r i d a , r e m e t e à e n c a r n a ç ã o d o V e r b o e a o r e t o r n o g l o r i o s o d o nosso Senhor Jesus.A m a i s b e l a d e t o d a s a s p a r á b o l a s é a da Pequena cidade, emEclesiastes 9:13-17, uma maquete do mundo, atacado por Satanás, masliberto pelo Senhor Jesus. É interessante observar, nos livros de Provér-b i o s e Eclesiastes, que muitos versículos contêm a mesma l i n g u a g e m simbólica das parábolas de nosso Senhor. Compare Provérbios 12:7, 24:3e 14:11 com Mateus 7 e ICoríntios 3. Os versos finais de Provérbios 4 nosfazem lembrar de muitas parábolas do Senhor, especialmente daquelaque ensina aos discípulos que a corrupção brota não daquilo que entra pela boca em forma de alimento, mas do que sai da boca, em palavras.Em meio às palavras de Salomão, existem referências à semeadura e àsega. Compare Provérbios 11:24 com 2Coríntios 9:6; Provérbios 11:18 e2 2 : 8 c o m G a i a t a s 6 : 7 ; P r o v é r b i o s 1 1 : 4 , 2 8 c o m a P a r á b o l a d o r i c o e Lázaro, e m Lu c a s 1 6 ; P r o v é r b i o s 1 2 : 1 2 c o m J o ã o 1 5 ; P r o v é r b i o s 2 8 : 1 9 c o m a Parábola do filho pródigo; Provérbios 13:7 faz referência ao quevendeu tudo o que tinha para que pudesse comprar o campo e a pérola.Além das parábolas propriamente ditas e daquilo que se aproximado que chamamos parábolas, há centenas de expressões, versículos epalavras de natureza parabólica. Seria muito proveitoso nos deter-mosnos muitos títulos dados a Deus no AT, como "Um Pequeno Santuário","Fortaleza", "Mãe" etc, procurando mostrar o sentido espiritual dessasf i g u r a s d e l i n g u a g e m . E s p e r a m o s q u e o s e x e m p l o s q u e s e s e g u e m estimulem o estudo mais profundo desse aspecto envolvente da verdadebíblica. AS PARÁBOLAS DOS LIVROS HISTÓRICOSParábola do monte Moriá (Gn 22; Hb 11:17-19)E o Espírito Santo quem nos autoriza a classificar como parábola oepisódio em que Abraão oferece seu filho Isaque a Deus. O inspirado au-tor da carta aos Hebreus diz que, depois do ato de obediência de Abraão,D e u s " e m f i g u r a o r e c o b r o u " ( 1 1 : 1 9 ) . A p a l a v r a t r a d u z i d a p o r " f i g u r a " nesse versículo é a mesma traduzida por "parábola" nos evangelhos. A 24

Versão Revisada ( e m i n g l ê s ) d i z : " e m p a r á b o l a o r e c o b r o u " . O a t o d e depositar Isaque sobre o altar é uma representação parabólica da morte—parábola em gestos, não em palavras—, e sua libertação foi, portanto,uma representação da ressurreição de Cristo. A realização figurada doa t o p a s s a p a r a a n a r r a t i v a h i s t ó r i c a : " P e g o u n o c u t e l o p a r a i m o l a r o filho..." (Gn 22:10). Essa frase, e o fato de que Abraão cria que Deus erac a p a z d e r e s s u s c i t a r I s a q u e d a m o r t e , r e v e l a a g r a n d i o s i d a d e d o sacrifício que o patriarca foi chamado a fazer. É interessante observarq u e I s a q u e é o ú n i c o n a s E s c r i t u r a s , a l é m d e J e s u s , a s e r c h a m a d o "unigênito" (Gn 22:2; Hb 11:17).A f é d e u a A b r a ã o o p o d e r d e a t e n d e r à o r d e m d i v i n a a i n d a q u e implicasse a morte de Isaque. Até o tempo de Abraão, ninguém jamais h a v i a r e s s u s c i t a d o d a morte, mas o pai da fé, crendo na promessa de D e u s , t i n h a a confiança de que seu filho, uma vez morto, p o d e r i a r e s s u s c i t a r . A s s i m , q u a n d o Is a q u e e s t a v a s o b r e o a l t a r , n a s o m b r a d a morte, Abraão recebeu-o de volta à vida, pela graça de Deus. Quando op a t r i a r c a d i s s e a o s s e u s s e r v o s " v o l t a r e m o s a v ó s " ( G n 2 2 : 5 ) , u s o u o idioma da fé. Abraão nunca duvidou da onipotência de Deus.E s t a narrativa é uma figura impressionante da oferta do F i l h o unigênito de Deus, que foi por escolha própria entregue "por todos nós"( R m 8:32) e foi recebido de entre os mortos pelo Pai! (lTm 3:16) Adivergência, entretanto, nessa parábola em ação, é o fato de que, vendeu tudo o que tinha para que pudesse comprar o campo e a pérola.Além das parábolas propriamente ditas e daquilo que se aproximado que chamamos parábolas, há centenas de expressões, versículos epalavras de natureza parabólica. Seria muito proveitoso nos deter-mosnos muitos títulos dados a Deus no AT, como "Um Pequeno Santuário","Fortaleza", "Mãe" etc, procurando mostrar o sentido espiritual dessasf i g u r a s d e l i n g u a g e m . E s p e r a m o s q u e o s e x e m p l o s q u e s e s e g u e m estimulem o estudo mais profundo desse aspecto envolvente da verdadebíblica. AS PARÁBOLAS DOS LIVROS HISTÓRICOSParábola do monte Moriá (Gn 22; Hb 11:17-19)E o Espírito Santo quem nos autoriza a classificar como parábola oepisódio em que Abraão oferece seu filho Isaque a Deus. O inspirado au-tor da carta aos Hebreus diz que, depois do ato de obediência de Abraão,D e u s " e m f i g u r a o r e c o b r o u " ( 1 1 : 1 9 ) . A p a l a v r a t r a d u z i d a p o r " f i g u r a " nesse versículo é a mesma traduzida por "parábola" nos evangelhos. A Versão Revisada ( e m i n g l ê s ) d i z : " e m p a r á b o l a o r e c o b r o u " . O a t o d e depositar Isaque sobre o altar é uma representação parabólica da morte—parábola em gestos, não em palavras—, e sua libertação foi, portanto,uma representação da ressurreição de Cristo. A realização figurada doa t o p a s s a p a r a a n a r r a t i v a h i s t ó r i c a : " P e g o u n o c u t e l o p a r a i m o l a r o filho..." (Gn 22:10). Essa frase, e o fato de que Abraão cria que Deus erac a p a z d e r e s s u s c i t a r I s a q u e d a m o r t e , r e v e l a a g r a n d i o s i d a d e d o sacrifício que o patriarca foi chamado a fazer. É interessante observarq u e I s a q u e é o ú n i c o n a s E s c r i t u r a s , a l é m d e J e s u s , a s e r c h a m a d o "unigênito" (Gn 22:2; Hb 11:17).A f é d e u a A b r a ã o o p o d e r d e a t e n d e r à o r d e m d i v i n a a i n d a q u e implicasse a morte de Isaque. Até o tempo de Abraão, ninguém jamais h a v i a r e s s u s c i t a d o d a 25

morte, mas o pai da fé, crendo na promessa de D e u s , t i n h a a confiança de que seu filho, uma vez morto, p o d e r i a r e s s u s c i t a r . A s s i m , q u a n d o Is a q u e e s t a v a s o b r e o a l t a r , n a s o m b r a d a morte, Abraão recebeu-o de volta à vida, pela graça de Deus. Quando op a t r i a r c a d i s s e a o s s e u s s e r v o s " v o l t a r e m o s a v ó s " ( G n 2 2 : 5 ) , u s o u o idioma da fé. Abraão nunca duvidou da onipotência de Deus.E s t a narrativa é uma figura impressionante da oferta do F i l h o unigênito de Deus, que foi por escolha própria entregue "por todos nós"( R m 8:32) e foi recebido de entre os mortos pelo Pai! (lTm 3:16) Adivergência, entretanto, nessa parábola em ação, é o fato de que, o átrio, com o altar do holocausto e a pia de bronze,o Santo Lugar, com a mesa dos pães da proposição, o candelabro deouro e o altar do incenso,o Santo dos Santos, c o m a a r c a d a a l i a n ç a s o b r e a q u a l e s t a v a o propiciatório.Nem precisa muita imaginação para vermos, nessas característicase x p r e s s a s , u m a p a r á b o l a s o b r e a o b r a d e C r i s t o n a o r d e m e m q u e s e deu, desde o seu sacrifício vicário na cruz até a descida do Espírito Santoregenerador e santificador, passando por toda a sua jornada como Luzdo mundo, Pão da vida e nosso Intercessor além do véu, na presença deDeus.O t a b e r n á c u l o p o d e t a m b é m s e r c o n s i d e r a d o u m a p a r á b o l a q u e mostra como o crente pode aproximar-se de Deus em Cristo.O átrio passa a idéia de dois estados: remissão dos pecados pelosangue da expiação e regeneração do espírito pela Palavra de Deus epelo Espírito Santo — condições da comunhão.O Santo Lugar ilustra as três formas da comunhão —a vida de luzcomo testemunho, a sistemática consagração interna e a vida de cons-tante oração.O Santo dos Santos retrata o ideal eo objetivo da comunhão, emque "a obediência perpétua se parece com uma tábua inquebrável da lei,a beleza do Senhor nosso Deus está sobre nós e todos os seus atributosestão em perfeita harmonia com os nossos sentimentos e atividades".Uma análise mais completa desse fascinante aspecto do estudo da Bí-blia, o leitor encontrará no "Old Testament symbolism" ["O simbolis mod o A n t i g o T e s t a m e n t o " ] , c a p í t u l o d o l i v r o T h e s t u d y o f p a r a b l e s [ O estudo das parábolas], de Ada Habershon. Essa talentosa autora tem umpequeno livro, Studies on the tabernacle [Estudos sobre o tabernáculo], 26

com muitos esboços claros e bíblicos que mostram como os detalhes dotabernáculo foram "sombra dos bens futuros" e "figuras das coisas que estão no céu" (Hb 10:1; 9:23; Cl 2:17; Jo 5:45). As parábolas de Balaão (Nm 22; 23:7,18; 24:3,15,20-23)Seis das dezoito ocorrências da palavra "parábola" no AT estão as-sociados aos pronunciamentos de Balaão. George H. Lang comenta que"as declarações proféticas de Balaão são chamadas parábolas. São assimc h a m a d a s p o r q u e o s p r o j e t o s e o s f a t o s l i g a d o s a I s r a e l s ã o a p r e - sentados por meio de comparações, compostas na maioria de elementosnão-humanos". Por estranho que pareça, as parábolas proféticas desseinsignificante profeta estão entre as mais inconfundíveis e admiráveis doAT. Todas elas "dão testemunho do chamado de Israel para ser o povo e s c o l h i d o d e J e o v á , " d i z F a i r b a i r n , " e d a s b ê n ç ã o s q u e e s t a v a m r e s e r - vadas para esse povo, as quais nenhum encantamento, força adversa ou maldição poderia tirar; também dão testemunho da Estrela que des pontaria de Jacó e da destruição de todos os que a ela se opusessem".Q u a l e r a o p a s s a d o d e B a l a ã o , d e P e t o r , e c o m o v e i o a c o n h e c e r Balaque? Balaão praticava a adivinhação, que compreendia a leviandadee o e n g a n o t ã o c o m u n s n o s p a í s e s i d o l a t r a s . O fato de ser ganancioso fica claro quando ele declara que "o preço dos encantamentos " estava n a s suas mãos e nas dos seus cúmplices. Balaão "amou o prêmio dai n j u s t i ç a " . F o i e s s e h o m e m q u e B a l a q u e p r o c u r o u p a r a r e c e b e r i n - formações. Os israelitas, seguindo viagem rumo a Canaã, armaram suastendas nas regiões férteis da Arábia. Alarmados com o número e com acoragem dos hebreus, que haviam recentemente derrotado o rei Ogue, d e B a s ã , o s m o a b i t a s t e m e r a m t o r n a r - s e a p r ó x i m a p r e s a . B a l a q u e , então, foi até os midianitas, seus vizinhos, e consultou os seus anciãos, mas as informações que recebeu eram de grande destruição.Esse caso, em que Deus faz uso de um falso profeta para proferirparábolas divinamente inspiradas — prova inequívoca do seu amor e dosseus desígnios para o seu povo—, mostra que o Senhor, se necessário,lança mão do melhor instrumento que puder encontrar, ainda que esseinstrumento contrarie a sua natureza divina. Deus disse a Balaão: "Vaic o m e s s e s , m a s f a l a s o m e n t e o q u e e u t e m a n d a r " . A o e n c o n t r a r Balaque, Balaão, já orientado por Deus, disse: "Porventura poderei euagora falar alguma coisa? A palavra que Deus puser na minha boca, essaf a l a r e i " . Q u a n d o c e n s u r a d o p o r B a l a q u e , r e i d e M o a b e , p o r t e r a b e n - ç o a d o Is r a e l , B a l a ã o r e s p o n d e u : " C o m o a m a l d i ç o a r e i o q u e D e u s n ã o amaldiçoou? E como denunciarei a quem o Senhor não denunciou? [...]P o r v e n t u r a n ã o t e r e i c u i d a d o d e f a l a r o q u e o S e n h o r p ô s n a m i n h a boca?".E n t ã o , c o m p e l i d o a d e c l a r a r o q u e t e r i a a l e g r e m e n t e o m i t i d o , Balaão irrompe num rompante de poesia parabólica e prediz a bênçãoindiscutível do povo para cuja maldição fora contratado. Suas parábolassão de fácil identificação.N a p r i m e i r a , o p e n s a m e n t o principal é a s e p a r a ç ã o p a r a D e u s , a fim de cumprir os seus desígnios: 27

"Vejo um povo que habitará à parte, eentre as nações não será contado" (Nm 23:9).Essa escolha divina de Israel era a base das reivindicações de Deussobre o povo e a razão de todos os ritos e instituições singulares que eledecretara para serem observados, pois dissera: "Eu sou oS e n h o r v o s s o D e u s q u e v o s s e p a r e i d o s p o v o s . P o r t a n t o f a r e i s distinção entre os animais limpos e os imundos [...] Sereis para mimsantos, porque eu, o Senhor, sou santo, e vos separei d o s p o v o s p a r a serdes meus" (Lv 20:24-26).Há também o cumprimento do antigo propósito, pelo qual Deus "fi-x o u o s l i m i t e s d o s p o v o s , s e g u n d o o n ú m e r o d o s f i l h o s d e Is r a e l " ( D t 32:8). Nessa parábola, que trata da separação de Israel, uma ilustração éextraída do solo a b a i x o d o s n o s s o s p é s : " Q u e m p o d e c o n t a r o p ó d e Jacó...?" (Nm 23:10). Aqui temos uma referência ao imenso número dos d e s c e n d e n t e s de Abraão, anteriormente comparados à areia e às estrelas (Gn 22:17). Alguns comentaristas vêem no pó e na areia uma referência figurada a Israel —os descendentes terrenos de Abraão—, enas estrelas, um a re f e rê n c i a s i m ból i c a à i gr ej a de De us — o s descendentes espirituais de Abraão. Mas, como George H. Lang afirma:"Faço uma advertência contra o tratamento fantasioso das parábolas edos símbolos, pois por três vezes Moisés usa as estrelas como símbolo doIsrael terreno (Dt 1:10; 10:22; 28:62; v. lCr 27:23).De uma coisa estamos certos: a mesma escolha separadora e sobe-rana de Deus é o fundamento do chamado cristão nesta dispensação dag r a ç a . F o m o s " c h a m a d o s p a r a s e r santos", ou seja, separados. Fomoseleitos em Cristo "antes da fundação do mundo". Fomos salvos e chama-dos "com uma santa convocação [...] segundo o seu propósito e a graça,q u e n o s f o i d a d a e m C r i s t o J e s u s a n t e s d o s t e m p o s e t e r n o s " . E s s a s e outras referências características compõem a verdadeira igreja. Sepa -rados do mundo, devemos viver nele como forasteiros e peregrinos.A p a r á b o l a s e g u i n t e ressalta a justificação do povo separado. Percebesse a progressão dos pronunciamentos e das predições parabóli-c a s d e B a l a ã o n a f r a s e " E n t ã o p r o f e r i u B a l a ã o a s u a p a l a v r a " , q u e s e repete cinco vezes. Ao escolher Israel, Deus não poderia voltar atrás ems u a d e c i s ã o ; e n t ã o e n c o n t r o u B a l a ã o e p ô s n a s u a b o c a e s t a p a l a v r a para Balaque: "Deus não é homem para que minta, nem filho do homempara que se arrependa. Porventura tendo ele dito não o fará, ou tendo falado não o realizará? Recebi 28

ordem de abençoar; ele abençoou, e não oposso revogar. Não vi iniqüidade em Jacó, nem desventura observei emI s r a e l . O S e n h o r s e u D e u s e s t á c o m e l e , e e n t r e e l e s s e o u v e m aclamações ao seu r e i " ( N m 2 3 : 1 9 - 2 1 ) . A h i s t ó r i a d o p o v o e s c o l h i d o mostra que havia i n i q ü i d a d e , d a q u a l o v e r d a d e i r o J a c ó e s t a v a d o - lorosamente c o n s c i e n t e ; e h a v i a t a n t a p e r v e r s i d a d e e m Is r a e l , q u e o mundo pagão ao redor ficava surpreso. Mas a maravilha disso tudo é queo s o l h o s d e D e u s estavam sobre o seu povo pela luz que emanava dagraça divina, d e p o i s p e l o s a n g u e d o s s a c r i f í c i o s o f e r t a d o s p e l o p o v o a favor de si mesmo e por fim pela morte expiatória do seu muito amado Filho.A natureza novamente contribui para a inspirada e instrutiva pará-b o l a d e B a l a ã o , p o i s r e f e r e - s e a D e u s c o m o " f o r ç a s [ . . . ] c o m o a s d o unicórnio", enquanto Israel é retratado com a força do boi selvagem e a n a t u r e z a a s s u s t a d o r a d o l e ã o e d a l e o a ( N m 2 3 : 2 2 , 2 4 ; 2 4 : 8 , 9 ) . T e n d o sido justificados gratuitamente pela graça divina, justificados pelo san -gue de Jesus, justificados pela fé e, portanto justificados de todas as coi-sas, nós, os cristãos, não temos força em nós mesmos. Nossa força está na graça de Jesus Cristo, nosso Senhor (2 Tm 2:1).Na terceira parábola, Balaão declara que produzir frutos para Deusé o resultado inevitável de sermos separados para ele e j u s t i f i c a d o s perante ele. Quão bela e expressiva é essa explicação inspirada sobre op o v o e s c o l h i d o d e D e u s ! " Q u e b o a s s ã o t u a s t e n d a s , ó J a c ó ! E a s t u a s moradas, ó Israel! Como vales que se estendem, como jardins ao lado deum rio, como árvores de sândalo que o Senhor plantou, como os cedros j u n t o às águas!" (Nm 24:3-14). A linguagem figurada que B a l a ã o empregou forma um estudo à parte. O soberano do céu é comparado a uma estrela (cf. Nm 24:17 com Ap 2:28; 22:16). O cetro, símbolo comumda realeza, refere-se à poderosa soberania do Messias de Israel. O ninho posto na penha fala da segurança dos quenitas (Nm 24:21). Os navios que vinham da costa de Quitim eram uma alusão profética às vitórias deAlexandre, o Grande (Nm 24:24).E m b o r a d e c e p c i o n a d o , D e u s a i n d a a s s i m t i n h a t o d o o direito decontar com os frutos do seu povo no deserto. Não os tinha escolhido,redimido e abençoad o, fazendo deles seu tesouro p a r t i c u l a r ? Q u a n t o mais não espera de nós, que fomos comprados com o precioso sangued e s e u q u e r i d o F i l h o ? S e r á q u e n ã o o g l o r i - f i c a r e m o s q u a n d o d a m o s muitos frutos? (Jo 15:8). Não somos exortados a estar cheios do fruto da j u s t i ç a ? ( F p 1 : 1 1 ) . N ã o t e m u m v a l o r e x t r e m a m e n t e p r á t i c o o f a t o d e sermos separados para ele e justificados pela graça diante dele? A nossaposição privilegiada não deveria resultar em sermos frutíferos em toda boa obra? (Cl 1:10).Não é pertinente que a parábola seguinte se volte para a segundavinda de Cristo? A coroa de vitória é o adorno para a fronte daquele quechamou, separou, justificou e abençoou o seu povo. "Vê-lo-ei, mas nãoagora; contemplá-lo-ei, mas não de perto. Uma estrela procederá de J a c ó , e d e Is r a e l s u b i r á u m c e t r o " ( N m 29

24:17). Segundo certo co -mentarista: "A estrela refere -se à sua p r i m e i r a v i n d a ; o c e t r o , à s u a segunda vinda; e, como o falso profeta não o via como salvador, proferea própria condenação". Trata-se do dia do juízo para os iníquos, pois "Umd o m i n a d o r s a i r á d e J a c ó , e d e s t r u i r á o s s o b r e v i v e n t e s d a c i d a d e " . A destruição será arrasadora e terrível, como diz Balaão: "Ai, quem viverá,quando Deus fizer isto?" (Nm 24:23). Parábola das árvores (Jz 9:7-15)Essa parábola contada aos homens de Siquém por Jotão, filho maisnovo de Gideão e único sobrevivente do massacre de seus 70 irmãos porAbimeleque (outro irmão) é outra profecia em forma de parábola, umavez que se cumpriu. Abimeleque, filho bastardo de Gideão, aspirava a s e r r e i e p e r s u a d i u o s h o m e n s d e S i q u é m a m a t a r t o d o s o s 7 0 f i l h o s legítimos de seu pai (exceto o que escapou) e o proclamarem rei. Jotão,o sobrevivente, subindo ao monte Gerizim, proferiu a parábola ao rei e ao povo, fugindo em seguida.Muitos estudiosos discordam da natureza parabólica do pronuncia-mento de Jotão. Por exemplo, o dr. E. W. Bullinger, em Figures ofspeech[Figuras de linguagem] , diz: "Não se trata de parábola, porque não há n e n h u m a comparação, na qual uma coisa é equiparada a outra [ . . . ] Quando árvores ou animais falam ou pensam, temos uma fábula; e,q u a n d o e s s a f á b u l a é e x p l i c a d a , t e m o s u m a alegoria. S e n ã o f o s s e a oração explicativa 'fazendo rei a Abimeleque' (9:16), o que a torna uma alegoria, teríamos uma fábula". O dr. A. T. Pierson refere-se a ela como" a p r i m e i r a e m a i s a n t i g a a l e g o r i a d a s E s c r i t u r a s [ . . . ] U m a d a s m a i s lindas, de todas as fábulas ou apólogos de todo o universo literário". O professor Salmond igualmente refere-se a ela como "um e x e m p l o legítimo de fábula [...] os elementos grotescos e i m p r o v á v e i s q u e a tornam um meio inadequado para expressar a m a i s s u b l i m e v e r d a d e religiosa".Ellicott comenta: "nesse capítulo temos o primeiro 'rei' israelita e oprimeiro massacre de irmãos; dessa forma, temos aqui a primeira fábula.A s f á b u l a s s ã o e x t r e m a m e n t e p o p u l a r e s n o O r i e n t e , o n d e s ã o m u i t a s vezes identificadas com o nome do escravo-filósofo Lokman, o congênered e Esopo [...] A 'fábula' é uma narrativa imaginária usada para fixarp r u d ê n c i a m o r a l n a s m e n t e s " . J u n t o c o m o u t r o s c o m e n t a r i s t a s , entretanto, inclino-me para o aspecto parabólico do discurso de Jotão, oqual, como disse Stanley, "falou como o autor de uma ode inglesa". Langtambém.vê o discurso como uma parábola e faz três observações: 1 . o m a t e r i a l d a p a r á b o l a p o d e s e r v e r d a d e i r o , a s s i m como as árvores são objetos reais;2 . o u s o d e s s e m a t e r i a l p o d e s e r c o m p l e t a m e n t e imaginário; como quando mostra as árvores em uma reunião, propondo a eleição de um rei e convidando aquelas que estão em 30

crescimento —a oliveira, a figueira, a videira e o es-pinheiro— a reinar sobre as árvores mais altas, como o cedro;3 . o s d e t a l h e s i m a g i n á r i o s p o d e m c o r r e s p o n d e r exatamente aos homens que precisavam ser instruídos e aoss e u s f e i t o s [ . . . ] O c e d r o e r a o m a i s a l t o e i m p o n e n t e ; a s s i m também eram os homens de Siquém, que foram f o r t e s o s u f i - ciente para levar adiante o terrível massacre. Ainda, quanto à diferença entre interpretação e aplicação, cumpredizer que a primeira se relaciona com o problema em questão, a saber, arelação entre Israel e Abimeleque, sendo histórica e local; a segunda é p r o f é t i c a , e dispensacional. A interpretação imediata da parábola de Jotão seria: as diferentes árvores são apresentadas em 'busca de um n o v o r e i ' , e s u c e s s i v a m e n t e a p r e s e n t a m - s e a o l i v e i r a , a f i g u e i r a , a videira e, por último, o espinheiro. Nessas árvores desejosas de um rei,t e m o s a apresentação figurada do povo de Siquém, que e s t a v a descontente com o governo de Deus e ansiava por um líder nominal ev i s í v e l , c o m o t i n h a m a s n a ç õ e s p a g a s v i z i n h a s . O s f i l h o s mortos deG i d e ã o s ã o c o m p a r a d o s a A b i m e l e q u e , c o m o a s á r v o r e s b o a s a o espinheiro. A palavra traduzida por reina sobre dá a idéia de pairar ee n c e r r a t a m b é m a i d é i a d a f a l t a d e s o s s e g o e d e i n s e g u r a n ç a . K e i l e Delitzsch, em seus estudos sobre o AT, afirmam: "Quando Deus não era a base da monarquia, ou quando o rei não edificava as fundações de seureinado sobre a graça divina, ele não passava de uma árvore, pairando s o b r e o u t r a s s e m l a n ç a r r a í z e s p r o f u n d a s e m s o l o f r u t í f e r o , s e n d o completamente incapaz de produzir frutos para a glória de Deus e para obem dos homens. As palavras do espinheiro, 'vinde refugiar-vos debaixoda minha sombra', contêm uma profunda ironia, o que o povo de Siquémlogo descobriria". Então, como observaremos, a vida da nação israelita é retratada p e l a semelhança com as árvores citadas na parábola, cada qual c o m propriedades especialmente valiosas ao povo do Oriente. Muito poderiaser dito a respeito das árvores, sendo a vida de cada uma diferente umad a outra. Embora todas recebam sustento do mesmo solo, cada umat o m a d a t e r r a o q u e é c o m p a t í v e l c o m a s u a p r ó p r i a n a t u r e z a , p a r a produzir os respectivos frutos e atender às suas necessidades. São asá r v o r e s d i f e r e n t e s n o q u e s e r e f e r e a o t a m a n h o , à f o r m a e a o v a l o r . Cada árvore possui glória própria. As fortes protegem as mais fracas docalor intenso e das tempestades ferozes (v. Dn 4:20,22 e Is 32:1).A oliveira é uma das árvores mais valiosas. Os olivais e r a m numerosos na Palestina. Winifred Walker, em seu livro l i n d a m e n t e ilustrado Ali the plants of the Bible [Todas as plantas da Bíblia], 31

diz que"uma árvore adulta produz anualmente meia tonelada de óleo". O óleop r o p o r c i o n a v a a l u z a r t i f i c i a l ( Ê x 2 7 : 2 0 ) e e r a u s a d o c o m o a l i m e n t o , sendo também um ingrediente da oferta de manjares. O fruto tambéme r a c o m i d o , e a m a d e i r a , u s a d a e m c o n s t r u ç õ e s ( l R s 7 : 2 3 , 3 1 , 3 2 ) . A s folhas da oliveira simbolizam a paz.A figueira, famosa por sua doçura, era também altamente aprecia-da. Seu fruto era muito consumido, e seus ramos frondosos forneciamum excelente abrigo (ISm 25:18). Adão e Eva usaram folhas de figueira para cobrir a sua nudez (Gn 3:6,7). Os figos são os primeiros frutos men-cionados na Bíblia.A videira era igualmente estimada por causa dos seus imensoscachos de uva, q u e p r o d u z i a m o v i n h o — g r a n d e f o n t e d e r i q u e z a n a Palestina (Nm 13:23). O "vinho, que alegra Deus e os homens". Sentar-sedebaixo da própria figueira ou videira era uma expressão prover-bial quedenotava paz e prosperidade (Mq 4:4).O cedro, a maior de todas as árvores bíblicas, era famosa por sua n o t á v e l a l t u r a , p o i s m u i t a s v e z e s " m e d i a 3 7 m d e a l t u r a e 6 m d e d i â - metro". Por causa da qualidade da madeira, o cedro foi usado na cons -t r u ç ã o d o t e m p l o e d o p a l á c i o d e S a l o m ã o . A l t i v o s e f o r t e s , e l e s s i m - bolizavam os homens de Siquém, poderosos o suficiente para levar adi -ante o terrível massacre dos filhos de Gideão. Lang fez a seguinte apli-cação: "Assim como um espinheiro em chamas poderia atear fogo numaf l o r e s t a d e c e d r o s e a s s i m c o m o u m c e d r o e m c h a m a s c a u s a r i a a destruição de todos os espinheiros à sua volta, também Abimeleque e oshomens de Siquém eram mutuamente destrutivos e trocaram entre si a recompensa da ingratidão e da violência das duas partes".O espinheiro é um poderoso arbusto que cresce em qualquer solo. Não produz frutos valiosos, e sua árvore, da mesma forma, não serve deabrigo. Sua madeira é usada pelos habitantes como combustível. O dr. A. T. Pierson lembra-nos que "o espinheiro é o sanguinheiro ou ramno" eque "o fogo que sai do espinheiro refere -se à sua natureza in-flamável,u m a v e z q u e p o d e f a c i l m e n t e e e m p o u c o t e m p o s e r c o n s u m i d o " . A aplicação é por demais óbvia. O nobre Gideão e seus respeitáveis filhosh a v i a m r e j e i t a d o o r e i n o q u e l h e s f o r a o f e r e c i d o , m a s o b a s t a r d o e desprezível Abimeleque o aceitara e se afiguraria aos seus súditos como

espinheiro incômodo e feroz destruidor; seu caminho acabaria da mesmaforma que o espinheiro em chamas no reinado mútuo dele para com osseus súditos (Jz 9:16-20). O fogo a sair do espinheiro talvez se refira ao f a t o d e q u e o incêndio muitas vezes se inicia no arbusto seco, pelafricção dos galhos, formando assim um emblema apropriado para aguerra das obsessões, que geralmente destroem as alianças e n t r e homens perversos.E m b o r a a h a b i l i d a d e d e J o t ã o n o e m p r e g o d a s i m a g e n s t e n h a atraído a atenção dos homens de Siquém e tenha agido como um es-pelho a refletir a toli ce criminosa deles, esse reflexo não os faz arre -p e n d e r - s e d a p e r v e r s i d a d e . O s 32

s i q u e m i t a s n ã o p r o f e r i r a m s e n t e n ç a contra si próprios, como fez Davi após ouvir a tocante parábola de Nata,o u c o m o f i z e r a m m u i t o s d o s q u e o u v i r a m a s p a r á b o l a s d e J e s u s ( M t 21:14). Eloqüência eficaz é a que move o coração a agir. Os ouvintes daparábola de Jotão ainda toleraram o reinado de Abimeleque por mais trêsanos.Para nós a lição é clara: "O doce contentamento com a nossa esferade atuação e o privilégio de estarmos na obra de Deus, estando no lugarem que o Senhor nos pôs; e a inutilidade da cobiça por mera promoção".Como a oliveira, a figueira, a videira e o espinheiro são muitas vezes usa-dos como símbolos de Israel, será proveitoso reportarmo-nos de modoresumido a essa aplicação: A oliveira fala dos privilégios e das bênçãos pactuais de Israel (Rm 11:17-25). E corretamente chamada o primeiro "rei" das árvores, porque,p o r m a n t e r - s e s e m p r e v e r d e , f a l a d a d u r a d o u r a a l i a n ç a q u e D e u s f e z com Abraão, antes mesmo de Israel se formar. Na parábola de Jotão, aoliveira é caracterizada por sua gordura e, quando usada, tanto Deuscomo o homem são honrados (Êx 2 7 : 2 0 , 2 1 ; Lv 2 : 1 ) . O s p r i v i l é g i o s d o s i s r a e l i t a s ( s u a g o r d u r a ) s ã o e n c o n t r a d o s e m R o m a n o s 3 : 2 e 9 : 4 , 5 . Nenhuma outra nação foi tão abençoada quanto Israel.O fracasso de Israel (oliveira) se vê no fato de que alguns de seusramos foram arrancados, e certos galhos selvagens foram enxertados nolugar. Os gentios estão desfrutando de alguns dos privilégios e das bên çãos da oliveira. De todas as bênçãos recebidas por Israel, a principal foio d o m d a P a l a v r a d e D e u s e o d o m d o s e u F i l h o . H o j e o s g e n t i o s r e g e - nerados estão pregando sobre o Filho de Deus a Israel, levando até essanação a Palavra de Deus. A restauração dos judeus, entretanto, é vista em sua gordura, no dia em que "todo Israel será salvo [...] se sua quedafoi riqueza para o mundo [...] quanto mais sua plenitude". A figueira fala dos privilégios nacionais de Israel (Mt 21:18-20; 24:32,33; Mc 11:1214; Lc 13:6-8). O que caracteriza a figue ira é a sua doçura e seus bons frutos.Deus p l a n t o u Is r a e l , s u a f i g u e i r a , m a s o s e u f r u t o s e c o r r o m p e u e , n o lugar da doçura, houve amargor. Foi o que aconteceu quando o nosso S e n h o r v e i o a Is r a e l , p o i s o s s e u s ( o s e u p o v o ) n ã o o r e c e b e r a m . C o m amargor, os judeus o consideraram um endemo-ninhado e "formaram Outra evidência do desejo de Deus de tirar Davi do l a m a ç a l depreende-se da incomparável história que ele inspirou Nata a contar aor e i . Graças ao coração de pastor do rei, ele seria tocado pela história.Quando examinamos essa parábola incomparável, ficamos, a n t e s d e mais nada, impressionados com "Havia numa cidade dois homens". Emc e r t o s e n t i d o , e r a m i g u a i s , c o m p a n h e i r o s e c o m p a t r i o t a s . P o r " d o i s homens", entendemos Davi e Urias, que, embora estives sem no mesmonível como seres humanos, ambos sujeitos às leis de Deus, eram porém,diferentes.Davi era, por nascimento, membro da privilegiada nação de Israel,a qual Deus tanto abençoou de forma significativa, e dela tornou -se umgrande rei.U r i a s e r a u m s ú d i t o d o r e i e , p o r o p ç ã o , h a b i t a n t e d a c i d a d e e m que Davi morava e reinava.Q u a n t o à s q u a l i d a d e s , D a v i e U r i a s e r a m " n u m a c i d a d e d o i s h o - mens", visto serem ambos audazes, corajosos e valentes. Desde a moci-d a d e , D a v i e r a c o n h e c i d o p e l a b r a v u r a , d a m e s m a f o r m a q u e 33

Urias, ohitita. Parte do triste pecado de Davi foi ter usado a bravura d e U r i a s para causar-lhe a morte.As diferenças entre os dos dois homens retratados por Nata eramg r i t a n t e s . H a b i t a n d o " n u m a c i d a d e " , e r a m c o m o d o i s p ó l o s q u a n t o à posição social e aos privilégios: "um rico e outro pobre". Deus, por suam i s e r i c ó r d i a , t i n h a d a d o a D a v i m u i t a s r i q u e z a s . C o m o e r a p r ó s p e r o ! Todavia, essa benevolência divina pode mostrarse uma dádiva perigosa:" R i q u e z a s i g n i f i c a p o d e r p a r a s a t i s f a z e r o s d e s e j o s o u p a r a r e a l i z a r a vontade". Temos um adágio que diz: "O dinheiro fala alto". Aposição deDavi como dirigente rico lhe possibilitou regalar-se em deleites ilícitos.O "pobre" era Urias, soldado do exército de Davi, e portanto obrigado a submeter-se à sua soberana vontade. A despeito da posição menosp r i v i l e g i a d a , U r i a s t e v e a ç õ e s m a i s n o b r e s q u e a s d o r e i . T a l d i f e - renciação apenas agravava o crime hediondo de Davi.A parábola de Nata apresenta ainda outra oposição: "O rico tinha ovelhas e gado em grande número, mas o pobre não tinha coisa nenhu-ma, senão uma pequena cordeira". Davi, sendo rei e rico, possuía muitase s p o s a s , m a s U r i a s n ã o e r a p o l í g a m o — t i n h a a p e n a s u m a e s p o s a , a quem dava todo o seu amor. Da mesma forma que o rico da parábola n ã o s o u b e a v a l i a r a a f e i ç ã o d o s e u v i z i n h o p o b r e p a r a c o m a ú n i c a cordeirinha que tinha, Davi também não conhecia o amor puro e exclusi-vo por uma só mulher. Que contraste chocante há entre a paixão ilícitad e D a v i e o p u r o e profundo amor de Urias! Como disse o autor de Miracles and parables of the Old Testament [Milagres e parábolas d o Antigo Testamento]: "O rio que se mantém em seu curso é uma bênçãopara o país em que se encontra; mas o mesmo rio, quando destrói suas ribanceiras e inunda a terra, torna-se um meio de desolação e de destrui-ção. Assim se dá com a afeição lícita e com a paixão ilícita".Quando a parábola foi desdobrada e o rei ouviu que o "homem rico[...] tomou a cordeira do pobre, e a preparou para o homem que lhe ha -via chegado", "o furor de Davi se acendeu sobremaneira", e consid erou

aquele rico digno de morte em razão daquele ato tão desalmado ei m p i e d o s o . E l l i c o t t , a o c o m e n t a r e s s e a s p e c t o d i z : " O s i m p u l s o s generosos de Davi não haviam sido destruídos pelo pecado, nem seu s e n s o d e j u s t i ç a ; o s e u c a r á t e r i m p u l s i v o n o m e s m o i n s t a n t e ( I S m 25:13,22,23) o fez indignar-se sobremaneira". Mas quão cabisbaixo ficouao descobrir que, por planejar a morte de Urias, ele era o que matara a cordeira do pobre.Com ousadia e sem demora, Nata aplicou a parábola à consciência j á d e s p e r t a d e Davi e disse: "Tu és esse homem". Davi, a n t e s sensibilizado pelo sofrimento que o pobre teria experimentado ao versua cordeira transformada em alimento na mesa do rico, agora temconsciência de quanto o ferido Urias não teria s o f r i d o n a q u e l e a t o d e sedução da sua amada esposa.2. O perdão de Deus. C u l p a d o d e u m g r a n d e c r i m e , D a v i c o n s - cientizou-se da necessidade de uma grande confissão —o que fez, assimque se identificou com a parábola: "Pequei contra o Senhor". A respostade Nata foi imediata: "O Senhor perdoou o teu pecado. Não morre-rás".C o n t u d o , e m b o r a o p e c a d o d e D a v i t e n h a s i d o 34

p e r d o a d o e , e m d e - corrência disso, ele tenha escrito os salmos 32 e 51, muitas das conseqü-ências do ocorrido se mantiveram: "a espada jamais se apartará da tuacasa". Será que não poderemos perceber agora o profundo significado do"refrigera a minha alma" de Davi"? Se nós, como crentes, pecamos, nãoimporta qual seja o nosso pecado, a promessa é: "Se confessarmos os n o s s o s p e c a d o s , e l e é f i e l e j u s t o p a r a n o s p e r d o a r o s p e c a d o s , e n o s purificar de toda injustiça". Davi condenou-se a si mesmo de forma tãoa b s o l u t a quanto condenara o rico da parábola e, com duradoura e profunda dor, usufruiu mais uma vez do sorriso perdoador de Deus. Parábola dos dois filhos (2Sm 14:1-24)É i n t e r e s s a n t e c o m p a r a r a p a r á b o l a d a m u l h e r d e T e c o a com aparábola acerca da cordeira, que acabamos de analisar. Essa c o m p a - ração é sobretudo importante porque ressalta as diferenças entre uma eoutra. Novamente, Davi é o alvo da parábola. A da Cordeira foi proferidap o r N a t a , o p r o f e t a i n s p i r a d o ; a d o s Dois irmãos, p o r u m a m u l h e r esperta, instigada por Joabe, que era "astuto, político e inescrupuloso",capaz de "ler o caráter humano e discernir as motivações humanas selhe fosse dada uma oportunidade, mesmo que pequena".A parábola de Nata foi uma ardente condenação ao pecado duplode Davi, de sedução e de assassinato; a parábola da mulher de Tecoaestava cheia de astúcia e de bajulação. Aquela se baseava nos princípiosdivinos da verdade, da justiça e da retidão, sendo proferida com toda asolenidade; esta foi um misto de verdade e de falsidade, e de conclusõeserradas sobre Deus. A mulher que Joabe subornou para contar a parábolaq u e e l e a r q u i t e t a r a n ã o s e n t i a d e f a t o o q u e , n a verdade, era sóencenação. Ela protagonizou um e s p e t á c u l o i m p r e s s i o n a n t e . S ó encenação. Assim, também o objetivo de cada parábola difere. A de Nata arrependimento verdadeiro; a da mulher tinha por objetivo apoiar osp l a n o s d e J o a b e , c h e i o s d e i n t e r e s s e s p r ó p r i o s e d e u m s e n s o d e autopreservação.1. O ambiente da parábola. Ahis-tória inventada por uma "mulherhumilde e desconhecida, de uma vila também pouco conhecida de Israel,quase 3 mil anos atrás", foi atentamente ouvida por Davi, porque sentianela uma correspondência com a sua própria história. Embora Deus lhetivesse feito descansar dos seus inimigos, Davi ainda estava dominadopela lembrança de sua dolorosa queda e, nos pecados e crimes de seusfilhos, escutava o triste eco das transgressões que ele mesmo cometera.Sua harpa, tantas vezes um consolo, para ele estava "pendurada no sal-gueiro" (SI 137.2). Absalão, seu filho amado, estava no exílio havia três anos, por ter assassinado seu irmão Amnom, que havia violentado Tamar( i r m ã d e A b s a l ã o e m e i a i r m ã d e A m n o m ) . A p e s a r d o s p e c a d o s d e Absalão, Davi ansiava por vê-lo: "o rei Davi sentiu saudades de Absalão".E m s e u l i v r o , c h e i o d e v i v i d o s s e r m õ e s b i o g r á f i c o s , C l a r e n c e E . Macartney, ao tratar da "Mulher de Tecoa", mostra com forte realismo oconflito que Davi passou naquele momento. De um lado estava o Davirei, guardião da justiça; do outro, o Davi pai, saudoso do filho que come-tera aquele crime:"O Davi rei, sustentáculo da lei, está dizendo: 'Absalão, você é um a s s a s s i n o . V o c ê m a t o u d e f o r m a 35

t r a i ç o e i r a o s e u p r ó p r i o i r m ã o . V o c ê sujou as mãos com o sangue de Amnom. Violou a lei de Deus e a lei doshomens. Absalão, permaneça no exílio. Nunca mais veja o meu rosto'."Mas o Davi pai está falando de maneira muito diferente: 'Absalão,volte para casa. Sem você, os banquetes não têm o mesmo sabor; semvocê, a minha harpa fica sem melodia; sem você, as salas do palácio sãotristes; sem você, os cerimoniais de guerra nada mais são que um espe -t á c u l o vazio. Você matou seu irmão, mas, apesar de todas as s u a s falhas, eu ainda o amo. Absalão, meu filho, meu filho, volte para casa'".Então se passaram os dias, as semanas, os meses e os anos.2. A essência da parábola. Ao perceber o desejo de Davi de trazerde volta a Absalão, embora a justiça o houvesse obrigado a ser severo, J o a b e , c h e f e d o e x é r c i t o , c o n s e l h e i r o e a m i g o d o r e i , s a b i a q u e h a v i a apenas uma solução para a dor que estava impedindo Davi de cumprirseus deveres reais. Ele teve a idéia da parábola, e sabia que uma mulherp o d e r i a c o n t á - l a m e l h o r q u e u m h o m e m . E v i d e n t e m e n t e a m u l h e r d e Tecoa tinha sabedoria, sutileza e eloqüência, e a parábola foi criada como propósito claro de não se assemelhar tanto à história de Absalão. En tão, cobrindo-se com a máscara da dor e da aflição, a mulher transmitiua m e n s a g e m q u e J o a b e l h e p u s e r a n o s l á b i o s . P a r a M a c a r t n e y, e s s a narrativa: "é um dos quatro ou cinco grandes discursos da Bíblia [...] Emnenhum lugar da Bíblia se vê, em tão curto espaço, uma passagem comm e t á f o r a s t ã o l i n d a s q u a n t o e s s a s , t ã o e m o c i o n a n t e s , a p a i x o n a d a s e eloqüentes".O l a m e n t o d a m u l h e r , e m evidente sofrimento, tocou o coração b o n d o s o e c o r d a t o d e Davi, que, mandando que se levantasse,

perguntou: "Que tens? ". Então ela contou a tocante história dos d o i s filhos que, brigando em um campo, um acabou sendo morto. Por causad o a s s a s s i n a t o , o r e s t a n t e d a f a m í l i a s e r e v o l t o u e e x i g i u q u e e l a entregasse o filho vivo para ser morto por causa do crime. Quando elac l a m o u p e l a s e g u r a n ç a d o s u p o s t o f i l h o , D a v i s e c o m o v e u e disse-lheque fosse embora, pois sua petição seria atendida: "não h á d e c a i r n o chão nem um cabelo de teu filho".A o d e s t r u i r a s d e f e s a s e x t e r n a s d o c o r a ç ã o d e D a v i , a m u l h e r , instruída pelo astuto J o a b e , d i r i g i u - s e à s d e f e s a s i n t e r n a s ; c o m u m a graciosidade, uma sutileza e uma humildade in-comparáveis, apresentouo apelo para o regresso e a segurança de Absalão, embora ele tivesseassassinado o irmão. Ao penetrar no disfarce da mulher, Davi detectou oestratagema de Joabe: "Não é verdade que a mão de Joabe anda contigoem tudo isto?". A mulher prontamente confessou que todo o esquemaera do chefe do exército. Davi então mandou chamar a Joabe e designou-o para fazer "voltar o jovem Absalão". E assim o filho banido retornou.A i n d a a s s i m , porém, não houve reconciliação familiar imediata. D a v i o pr oi bi u de v e r a s u a f a ce e , po r c aus a de s s e r e g r e s s o "incompleto", o mal surgiu. Passaram-se dois anos até que pai e filho see n c o n t r a s s e m n o v a m e n t e f a c e a f a c e . I r r i t a d o c o m a a ç ã o d e D a v i , Absalão planejou uma conspiração para derrubar o próprio pai e l h e tomar o trono. Não estaria Davi colhendo com dor as conseqüências dosseus pecados, nas quais se incluíam as transgressões de seus dois filhos?A m n o m e r a c u l p a d o d e s e d u ç ã o , e A b s a l ã o , d e a s s a s s i n a t o ; a m b o s o s crimes se vêem no tratamento de Davi com Urias e com Bate-Seba. Podes e r q u e a c o n s c i ê n c i a d e 36

s e u d u p l o p e c a d o l h e t e n h a e n f r a q u e c i d o a determinação. Se tivesse punido o filho Amnom como merecia, não teriahavido a necessidade de banir Absalão. Davi estava amargamente certode estar colhendo o que havia semeado, e seus filhos estavam apenasseguindo seus passos.3. O significado espiritual da parábola. M i l a n o s a n t e s d e C r i s t o morrer na cruz, para trazer os exilados de v o l t a a D e u s , a m u l h e r d e Tecoa teve um vislumbre da verdade divina, embora a tenha aplicado def o r m a e q u i v o c a d a e a t e n h a p e r v e r t i d o p a r a u m m a u i n t u i t o . " E l e também cria um meio de impedir que os seus desterrados sejam afas-tados dele". Que poderoso evangelho essa mulher inconscientementepregou! Deus não se vinga imediatamente, mas "espera para ser gracio-so". Os pecados baniram o homem da presença de Deus, mas este pro porciona os meios de trazer o pecador de volta. Que meios ele criou? Aencarnação, a morte e a ressurreição de seu amado Filho, com toda a certeza! Deus amou um mundo de perdidos pecadores, e seu coração foià procura de banidos que, quando retornam, não são aceitos de meio -coração, como Davi recebeu o seu filho pródigo Absalão. Uma vez que opecador volte para Deus, a reconciliação é completa, e o que retorna,salvo, é um com Deus, plenamente aceito no Amado.A Parábola dos dois filhos, que Jesus contou em Lucas 15, é o cor-respondente neotestamentário da Parábola dos dois filhos, d e J o a b e . O pai perdera um dos dois filhos, que se tornou um pródigo em terra longínqua; mas seu amor acompanhou o rapaz obstinado, o qual, em seur e t o r n o , t e v e u m a r e c e p ç ã o c o m p l e t a e r e c e b e u t a m b é m a p l e n a e irrestrita bênção paterna e os privilégios de filho. O plano de perdão e derestauração de Deus foi mais longe que o de Joabe. Davi enviou o chefe do exército para trazer Absalão de volta para casa. O coração paterno deDeus o compeliu a enviar o seu Filho unigênito para morrer pelo pecado,p a r a q u e o s p e c a d o r e s p u d e s s e m s e r p l e n a m e n t e r e c o n c i l i a d o s c o m Deus. Que surpreendente graça! Parábola do profeta ferido (l Rs 20:35-43)Essa parábola segue o padrão dos escritos proféticos, em que aspalavras se fazem acompanhar de uma encenação parabólica (Jr 27:2; Ez12:7). Estas parábolas encenadas devem ter sido marcantes para os queas viram e ouviram.D e a c o r d o c o m J o s e f o , e s s e " u m d o s h o m e n s " q u e e n c e n o u a parábola era M i c a í a s , f i l h o d e In l á . O b v i a m e n t e e r a r e p r e s e n t a n t e d e uma escola profética. A morte pelo leão traz à mente a morte do profetad e - s o b e d i e n t e , r e l a t a d a n o c a p í t u l o a n t e r i o r ( 1 3 : 2 4 ) . O p r o p ó s i t o d a parábola era fazer com que o próprio Acabe se condenasse. Um aspectosemelhante de condenação está presente nas duas últimas parábolasque estudamos. Esta parábola, no entanto, não gerou arrependimentoem Acabe, mas suscitou nele a teimosia e a indignação característicasque mais tarde viria a demonstrar (21:4).O p r o f e t a a l e g o u s e r d e i n s p i r a ç ã o d i v i n a o s e u p r i m e i r o p e d i d o , que teria sido a solicitação de um louco, se não fosse "a voz de Senhor".C o m o La n g o b s e r v a e m seu famoso Commentary [Comentário]: " A p u - nição do homem que se recusou a obedecer à ordem do profeta prova,s e m d ú v i d a a l g u m a , q u e a e x i g ê n c i a e r a a c o m p a n h a d a d e u m a 37

e x p o - sição de motivos e da explicação de ser aquela uma ordem do Senhor".E r a e s s e n c i a l q u e n ã o s ó a a p l i c a ç ã o d a p a r á b o l a f i c a s s e e s c o n d i d a daquele a quem ela se dirigia, mas que também o que a contasse nãof o s s e i d e n t i f i c a d o . P o r i s s o o d i s f a r c e d o r o s t o c o b e r t o . A s s i m c o m o o pescador procura ocultar tanto a si mesmo como o anzol, usando paraisso uma isca, aqui, como no caso de Nata, o anzol da intenção estavae s c o n d i d o . A c a b e n ã o t i n h a r e s p e i t o p e l o s m e n s a g e i r o s d o S e n h o r , e quem quisesse enfrentá-lo precisaria disfarçar-se de ferido, para trazer aesse rei desobediente a sua própria condenação.Quanto ao significado dessa parábola, apesar de não ser muito cla-ra em todos os seus detalhes, uma coisa é incontestável, como mostraLang: "o jovem que havia saí do à batalha representa Acabe, e o homemc o n f i a d o a o s s e u s c u i d a d o s , o q u a l e s c a p o u p o r f a l t a d e a t e n ç ã o , representa Ben-Hadade. Israel tinha acabado de enfrentar uma batalhadifícil e sangrenta, e tinha conquistado a vitória prometida; mas agora,na pessoa de Ben-Hadade, o arquiinimigo que Deus havia entregue emsuas mãos, estava livre e sem punição".M u i t a s l i ç õ e s p o d e m ser extraídas dessa parábola. O profeta da

narrativa era dirigido pela Palavra de Deus, e teve de sofrer por obe-decer a ela. A obediência ao Senhor algumas vezes nos leva a u m c a - minho doloroso. Os que vão contra a verdade divina trazem condenaçãosobre si. A sentença de Acabe sobre o homem foi executada contra elepróprio. Ele recebeu o pagamento na mesma moeda. Então, na solene i n c u m b ê n c i a f e i t a a o p r o f e t a p e l o h o m e m q u e v o l t a r a d a b a t a l h a , h á uma verdade a mais para observar: "me trouxe outro homem, e disse:Guarda -me este homem". A coragem e o sacrifício do herói nunca são e m v ã o . C r i s t o s a c r i f i c o u a s i mesmo, para que a presa saísse da mãodo s poderosos e para que os c a t i v o s f o s s e m l i b e r t o s ; e l e m e s m o n ã o morreu em vão, como podem atestar miríades de almas redimidas, tantono céu como na terra.Além do mais, a falta de intenção e de atenção por parte do rei nãofoi reprovada com as palavras: "Estando o teu servo ocupado de uma ede outra parte, o homem desapareceu"? Por acaso estamos condenadosn a q u e s t ã o d a v i g i l â n c i a ? O h o m e m q u e havia efetuado a fuga nap a r á b o l a t i n h a i d o e m b o r a . Q u e p o s s a m o s s e r p r e s e r v a d o s d a negligência em n o s s a s s o l e n e s r e s p o n s a b i l i d a d e s ! M u i t o s d e n ó s s e ocupam por d e m a i s a q u i e a c o l á , e m m i s s õ e s d e m e n o s i m p o r t â n c i a , deixando que uma incumbência de maior valor lhes escape. Precisamos de maior concentração como também de consagração — mais atenção e intenção. Parábola de Micaías (lRs 22:13-28)O profeta Micaías, dirigindo-se aqui a Zedequias, não era homemde profanar o seu chamado. Não contribuiu para a idéia supersticiosa deque, uma vez que se cresse que a inspiração dos profetas vinha de Deus,essa inspiração ainda assim poderia ser alterada conforme os profetasachassem melhor, e 38

assim podiam ser subornados, enganados ou obri -g a d o s a p r o f e t i z a r c o i s a s mais aceitáveis. Micaías foi um verdadeirodiscípulo de Elias, e a a u s t e r a r e s p o s t a q u e d e u m o s t r o u s e r e l e u m inimigo da corrupção.A parábola profética de Micaías, expressa numa m e t á f o r a impressionante e numa visão simbólica, parece-se com a referência de Jóà c o n v e r s a d e S a t a n á s c o m o S e n h o r ( 1 : 6 - 1 2 ) . E l l i c o t t d i z q u e a i d é i a expressa pela parábola "é o engano dos falsos profe tas por um espíritom a l i g n o , n u m a c o n d e n a ç ã o d e D e u s p e l o s p e c a d o s d e A c a b e e p e l a degradação que esses falsos profetas provocaram ao ofício. As imagenss ã o t o m a d a s p o r e m p r é s t i m o à o c a s i ã o . S ã o o b v i a m e n t e e x t r a í d a s d a analogia com uma corte real, onde, como n o caso perante os olhos deMicaías, o rei procura conselho contra os seus inimigos". Parábola do cardo e do cedro (2Rs 14:8-14) militar do adversário, Amazias encontrou a derrota. Depois disso fez o insolente desafio a Jeoás: "Vem, encontremo-nos face a face".As duas metáforas extraídas da natureza são o cedro e o cardo, que expressam o sentimento de superioridade de Jeoás ao r e p r o v a r Amazias. O cedro, árvore de crescimento lento e de vida longa, usada p a r a o s d e v e r e s s a c r i f i c i a i s d o t e m p l o , r e p r e s e n t a a f o r ç a d e Is r a e l . O cardo, identificado por Ellicott com o espinheiro, a sarça ou o abrunheiro-bravo, é uma planta que cresce como erva daninha e não tem nenhum valor, transmitindo de maneira vivida o desdém de Jeoás por seu rival. "Oc e d r o d e m i l a n o s n ã o p o d e s e r a r r a n c a d o n e m e l i m i n a d o p e l a m a i o r força deste mundo, ao passo que o cardo de ontem está à mercê do pri-meiro animal da floresta que passar por seu caminho".Depois temos uma ilustração extraída da vida familiar: "Dá tua filhapor mulher a meu filho". Trata-se de um costume oriental em que o ho-m e m , a o pedir a filha de outro em casamento, devia ter as m e s m a s condições sociais; senão, a solicitação seria considerada um insulto.H a b i l m e n t e , J e o á s m o s t r a q u e a p r o p o s t a d o c a r d o a o c e d r o e r a semelhante à do pobre, que pede ao rico permissão para casar com a s u a f i l h a . D e s s a m a n e i r a , " o d e s t i n o d o c a r d o m o s t r a o q u e s e r i a o resultado da auto-estima do rei de Judá se não aceitasse o conselho 'ficaem tua casa! Por que te in-trometerias no mal, para caíres tu?', que é aaplicação de toda a palavra".A p a r á b o l a , e n t ã o , e r a u m a i m a g e m v e r d a d e i r a d o c a r á t e r d e Amazias que, infelizmente, não estava disposto a se ver nela. Um caráterdeformado não tem o desejo de se ver refletido em um espelho fiel. Asincomparáveis parábolas de Jesus geralmente não eram bemsuce-didasq u a n t o à a p r o v a ç ã o d e s e u s o u v i n t e s . A i n s o l ê n c i a e o o r g u l h o d e Amazias foram a sua ruína. Se tivesse ficado satisfeito com a conquistade Edom, teria sido poupado da humilhação de ser derrotado pelas mãosde Jeoás, rei de Israel. O tema central da parábola é: "A soberba precedea ruína, e a altivez de espírito, a queda" (Pv 16:18). 39

Parábola de Jó (27:1; 29:1)E m b o r a a s o i t o r e s p o s t a s d e J ó a s e u s a m i g o s s e a c h e m n o s capítulos de 26 a 31 e sejam cheias de linguagem simbólica e cativante,na verdade a seção não contém nenhuma parábola de fato, ainda que otermo seja usado duas vezes nos diálogos. As partes que compõem sua

primeira parábola, como Jó chama a sua réplica no original, podem ser facilmente percebidas:1. a decisão de não negar a sua integridade (27:2-6);2. a avaliação que faz sobre o destino dos perversos (27:7-23);3. a magnífica avaliação da natureza da sabedoria (28);4 . a c o m p a r a ç ã o d e s u a v i d a a n t i g a c o m a s u a e x p e r i ê n c i a d e então (29 e 30) (Quão saudosamente Jó relata a sua antiga felicidade!);5. a declaração inequívoca de inocência e de conduta irreprovável (31). Neste capítulo temos uma esplêndida confissão de retidão.O termo usado por Jó e às vezes traduzido por "parábola" no que serefere aos seus eloqüentes discursos, é m_sh_l, que significa similarida-de, mesmo vocábulo usado nas profecias de Balaão (v. tb. SI 49:4; 78:2).O termo acima é também usado em sentido amplo e vago, englobando poesia profética e também proverbi-al (Nm 21:27). Parábola da videira trazida do Egito (Sl 80)Na verdade esse grande salmo apresenta uma variedade de figurasde linguagem cativantes. Por exemplo, temos:1. A maravilhosa e conhecida metáfora do pastor, uma das princi-p a i s d e s i g n a ç õ e s d o S e n h o r u s a d a e m r e l a ç ã o a Is r a e l e à i g r e i a ( G n 49:24; Jo 10:11).2. O pão de lágrimas (SI 80:5). Quantas provas e tribulações, sofri-mentos e lutas o povo de Deus havia suportado.3. A vinha (SI 80:811) é usada como emblema de Israel —símbolotão "natural e adequado que não surpreende encontrá-lo repetidas vezesno AT e adotado no Novo" (Gn 49:22; Jo 15:1). Israel foi tirado do Egito ep l a n t a d o e m C a n a ã . S u a s o m b r a c o b r i u a s montanhas, seus ramos osrios, o que se refere aos limites da terra p r o m e t i d a , d o m a r a t é o r i o Eufrates.4 . O s c e d r o s ( S I 8 0 : 1 0 ) . O s r a m o s da vinha são comparados aos " c e d r o s d e D e u s " . A p r o s p e r i d a d e d e I s r a e l e r a s e m e l h a n t e à exuberância da mais magnífica de todas as árvores da floresta.5 . 0 j a v a l i d a s e l v a ( S I 8 0 : 1 3 ) . Essa é a única referência ao javaliselvagem n a B í b l i a , u s a d a p a r a r e s s a l t a r o p o d e r d e v a s t a d o r d e c e r t o opressor de Israel, assim como o crocodilo é usado em relação ao Egito,e o leão, com respeito à Assíria. Mas Deus é capaz de proteger os seus de todas as forças destrutivas (SI 80:14-19).V i s i t a e s t a v i n h a , a v i d e i r a q u e a t u a d e s t r a p l a n t o u , o s a r m e n t o que para ti fortificaste [...] Seja a tua mão sobre o povo da tua destra,sobre o filho do homem, que fortaleceste para ti.A q u i t e m o s " u m b o m e x e m p l o d e q u a n d o o p e n s a m e n t o p a s s a naturalmente do sentido figurado para o literal". Esse salmo parabólico termina em belo estilo ao 40

dirigir-se a Deus, com o refrão alcançando seutom completo, expressando a mais plena confiança. Apesar das provasque nos são permitidas, Deus sabe preservar e libertar os seus, como dizWhittier nestes versos: De Deus o caminho escuro, sem tardança,Os brilhantes píncaros da alva pode alcançar.O mal não pode tolerar a esperança;O bem, esse sim, não tem pressa de esperar. AS PARÁBOLAS DE SALOMÃO Os apócrifos concordam com o fato, difundido entre os judeus daantigüidade, de que Salomão escreveu em parábolas. Sobre ele lemos: " T u a a l m a c o b r i u toda a terra, e a enches -te com obscuras parábolas. T e u n o m e penetrou as ilhas, e por tua paz foste amado. Por t e u s cânticos, provérbios, parábolas e interpretações, foste amado por toda aterra" (Eco 47:15,17). Só precisamos ler os livros que Salomão escreveu— Provérbios, Eclesiastes e O Cântico dos Cânticos — para perceber queh a b i l i d a d e o r e i t i n h a d e e x p r e s s a r - s e p o r p a r á b o l a s , q u e n ã o e r a m senão ricas e variadas. Como disse Habershon: "Graças à luz do NT,algumas das parábolas de Salomão d e i x a m d e s e r e n i g m á t i c a s , p o i s podemos ver nelas as profecias daquele que é maior que Salomão". O dr.R. K. Harrison, em seu History of Old Testament times [História dos diasd o A n t i g o T e s t a m e n t o ] , d i z q u e " S a l o m ã o t i n h a e n o r m e h a b i l i d a d e intelectual e se tornou lendário em uma idade relativamente jovem. Ele étido como o criador de muitas composições poéticas, e tinha a habilidadee s p e c i a l d e c r i s t a l i z a r o s v a r i a d o s a s p e c t o s d a v i d a e m p r o v é r b i o s literários". Parábola da inutilidade (Pv 26:7)O l i v r o d e P r o v é r b i o s é i n i g u a l á v e l n o e m p r e g o d a s i l u s t r a ç õ e s parabólicas. É um livro repleto de ilustrações, de metáforas e de figurasextraídas de todos os aspectos da vida. O capítulo de Habershon sobreesse fato é muito esclarecedor. No meio de algumas dessas jóias que aautora enumera estão a Parábola da casa com alicerce ea Parábola dac a s a s e m a l i c e r c e ( 9 : 1 ; 2 4 : 3 , 2 7 ; v . 1 2 : 7 ; 1 4 : 1 ) . C o m o n o s l e m b r a m Mateus 7:24-29 e ICoríntios 3:11-15! A casa aparentemente forte de umnão é tão segura quanto a tenda frágil de outro.A passagem sentenciosa sobre aqueles que recebem com desprezoo convite para o banquete (Pv 1:24-27) deve ser comparada com a pará-bola de Jesus sobre a recusa dos convidados para irem a um grande ban-quete (Mt 22).O parágrafo sobre a humildade na presença da realeza e diante dosgrandes (Pv 25:6,7) é quase idêntico ao que o nosso Senhor disse-quantoa o s q u e c o b i ç a m o s m e l h o r e s l u g a r e s q u a n d o d e v e r i a m p r o c u r a r o s inferiores. Ao adaptar a exortação parabólica de Salomão, Jesus chama aatenção para o seu próprio exemplo (Lc 14:10; Mt 20:26).

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O poder de um rei justo para dissipar o mal (20:8) pode ser postoao lado do efeito do reinado de Jesus quando se assentar em seu trono ( M t 2 5 : 3 1 - 4 6 ) . U m j u s t o o l h a r s e u s e r á o s u f i c i e n t e p a r a e m u d e c e r o s que estão sem as vestes nupciais.O provérbio "O rei tem deleite no servo prudente" encontra eco nasp a r á b o l a s e m q u e o s s e r v o s m o s t r a m p r u d ê n c i a p e l a fidelidade nosnegócios , pela diligência em servir e pela constância em vigiar. EmProvérbios 8:34, o próprio Senhor f a l a s o b r e a q u e l e q u e v e l a , a s s i m como Jesus fez nos evangelhos: "Bem-aventurado o homem que me dáouvidos, velando diariamente às minhas portas, esperando às ombreirasda minha entrada".Ao referir-se ao caminho do perverso e mostrar como evitá-lo (Pv4:20-27), Salomão usa uma linguagem semelhante àquela utilizada nasp a r á b o l a s d e J e s u s , n a s q u a i s e s t e e n s i n a a o s s e u s d i s c í p u l o s q u e a contaminação se origina não no alimento que entra pela boca, mas naspalavras que saem do coração e dos lábios. "A importância de preservaro c o r a ç ã o c o m t o d a a d i l i g ê n c i a é o p e n s a m e n t o c e n t r a l d a c a d e i a d e sete preceitos básicos de Salomão. Esses preceitos se dividem em dois g r u p o s : o s t r ê s p r i m e i r o s mostram como a Palavra alcança o coração pelos ouvidos e pelos olhos; o s o u t r o s q u a t r o e n s i n a m q u e o c o r a ç ã o governa o caminhar"."Não ensinou nosso Senhor que 'a boca fala do queestá cheio o coração?'"A d e m a i s , S a l o m ã o u s a u m a g r a n d e q u a n t i d a d e d e f i g u r a s s o b r e semear e ceifar (Pv 11:18,24; 22:8; Ec 11:6), todas as quais podem ser p o s t a s l a d o a l a d o com a Parábola do semeador e t a m b é m c o m a q u e Paulo escreveu sobre o mesmo tema (2Co 9:6; Gl 6:7).A Parábola do rico e Lázaro ( L c 1 6 : 1 9 - 3 1 ) é u m a e x p a n s ã o d o provérbio: "A riqueza nada vale no dia da ira [...] Aquele que confia nas suas riquezas cairá" (Pv 11:4,28).F r a s e s c o m o " o s j u s t o s r e v e r d e c e r ã o c o m o a f o l h a g e m " e " a r a i z dos justos produz o seu próprio fruto" (Pv 11:28; 12:12) recebem novo significado quando comparadas com João 15. "... o que segue os ociososse fartará de pobreza" (Pv 28:19) resume a experiência do filho pródigo. Quanto a Provérbios 13:7, refere-se ao que vendeu tudo o que tinha parac o m p r a r um campo e uma pérola. Essa é a única vez que o termo parábola é encontrado em Provérbios (no original), embora, em sentido m a i s a m p l o , s e j a à s v e z e s u t i l i z a d o e m r e f e r ê n c i a a o p r o v é r b i o . A q u i Salomão diz: "Como as pernas do coxo, que pendem frouxas, assim é oprovérbio (parábola) na boca dos tolos", dando a entender que o cegoe s p i r i t u a l n ã o p o d e f a z e r u s o d e u m a p a r á b o l a p a r a o r i e n t a ç ã o a s s i m como o coxo não 42

pode fazer uso de suas pernas aleijadas. Não era o que J e s u s t i n h a e m m e n t e quando disse aos seus discípulos: "Avós é dado c o n h e c e r o s mistérios do reino de Deus, mas ao s outros fala-se p o r parábolas, para que, vendo, não vejam, e, ouvindo, não entendam" (Lc8 : 1 0 ) ? H á t a m b é m a Parábola do jovem pobre e sábio (Ec 4:13-16).E m b o r a s e j a d i f í c i l d e s c o b r i r a e x a t a a s s o c i a ç ã o h i s t ó r i c a d e s s a b r e v e parábola, é fácil perceber que, no "rei velho e insensato", Salomão nosdá um auto-retrato. Na aplicação da parábola, Ada Habershon diz que "o De Deus o caminho escuro, sem tardança,Os brilhantes píncaros da alva pode alcançar.O mal não pode tolerar a esperança;O bem, esse sim, não tem pressa de esperar. AS PARÁBOLAS DE SALOMÃO Os apócrifos concordam com o fato, difundido entre os judeus daantigüidade, de que Salomão escreveu em parábolas. Sobre ele lemos: " T u a a l m a c o b r i u toda a terra, e a enches -te com obscuras parábolas. T e u n o m e penetrou as ilhas, e por tua paz foste amado. Por t e u s cânticos, provérbios, parábolas e interpretações, foste amado por toda aterra" (Eco 47:15,17). Só precisamos ler os livros que Salomão escreveu— Provérbios, Eclesiastes e O Cântico dos Cânticos — para perceber queh a b i l i d a d e o r e i t i n h a d e e x p r e s s a r - s e p o r p a r á b o l a s , q u e n ã o e r a m senão ricas e variadas. Como disse Habershon: "Graças à luz do NT,algumas das parábolas de Salomão d e i x a m d e s e r e n i g m á t i c a s , p o i s podemos ver nelas as profecias daquele que é maior que Salomão". O dr.R. K. Harrison, em seu History of Old Testament times [História dos diasd o A n t i g o T e s t a m e n t o ] , d i z q u e " S a l o m ã o t i n h a e n o r m e h a b i l i d a d e intelectual e se tornou lendário em uma idade relativamente jovem. Ele étido como o criador de muitas composições poéticas, e tinha a habilidadee s p e c i a l d e c r i s t a l i z a r o s v a r i a d o s a s p e c t o s d a v i d a e m p r o v é r b i o s literários". Parábola da inutilidade (Pv 26:7)O l i v r o d e P r o v é r b i o s é i n i g u a l á v e l n o e m p r e g o d a s i l u s t r a ç õ e s parabólicas. É um livro repleto de ilustrações, de metáforas e de figurasextraídas de todos os aspectos da vida. O capítulo de Habershon sobreesse fato é muito esclarecedor. No meio de algumas dessas jóias que aautora enumera estão a Parábola da casa com alicerce ea Parábola dac a s a s e m a l i c e r c e ( 9 : 1 ; 2 4 : 3 , 2 7 ; v . 1 2 : 7 ; 1 4 : 1 ) . C o m o n o s l e m b r a m Mateus 7:24-29 e ICoríntios 3:11-15! A casa aparentemente forte de umnão é tão segura quanto a tenda frágil de outro.A passagem sentenciosa sobre aqueles que recebem com desprezoo convite para o banquete (Pv 1:24-27) deve ser comparada com a pará-bola de Jesus sobre a recusa dos convidados para irem a um grande ban-quete (Mt 22).O parágrafo sobre a humildade na presença da realeza e diante dosgrandes (Pv 25:6,7) é quase idêntico ao que o nosso Senhor disse-quantoa o s q u e c o b i ç a m o s m e l h o r e s 43

l u g a r e s q u a n d o d e v e r i a m p r o c u r a r o s inferiores. Ao adaptar a exortação parabólica de Salomão, Jesus chama aatenção para o seu próprio exemplo (Lc 14:10; Mt 20:26).

O poder de um rei justo para dissipar o mal (20:8) pode ser postoao lado do efeito do reinado de Jesus quando se assentar em seu trono ( M t 2 5 : 3 1 - 4 6 ) . U m j u s t o o l h a r s e u s e r á o s u f i c i e n t e p a r a e m u d e c e r o s que estão sem as vestes nupciais.O provérbio "O rei tem deleite no servo prudente" encontra eco nasp a r á b o l a s e m q u e o s s e r v o s m o s t r a m p r u d ê n c i a p e l a fidelidade nosnegócios , pela diligência em servir e pela constância em vigiar. EmProvérbios 8:34, o próprio Senhor f a l a s o b r e a q u e l e q u e v e l a , a s s i m como Jesus fez nos evangelhos: "Bem-aventurado o homem que me dáouvidos, velando diariamente às minhas portas, esperando às ombreirasda minha entrada".Ao referir-se ao caminho do perverso e mostrar como evitá-lo (Pv4:20-27), Salomão usa uma linguagem semelhante àquela utilizada nasp a r á b o l a s d e J e s u s , n a s q u a i s e s t e e n s i n a a o s s e u s d i s c í p u l o s q u e a contaminação se origina não no alimento que entra pela boca, mas naspalavras que saem do coração e dos lábios. "A importância de preservaro c o r a ç ã o c o m t o d a a d i l i g ê n c i a é o p e n s a m e n t o c e n t r a l d a c a d e i a d e sete preceitos básicos de Salomão. Esses preceitos se dividem em dois g r u p o s : o s t r ê s p r i m e i r o s mostram como a Palavra alcança o coração pelos ouvidos e pelos olhos; o s o u t r o s q u a t r o e n s i n a m q u e o c o r a ç ã o governa o caminhar"."Não ensinou nosso Senhor que 'a boca fala do queestá cheio o coração?'"A d e m a i s , S a l o m ã o u s a u m a g r a n d e q u a n t i d a d e d e f i g u r a s s o b r e semear e ceifar (Pv 11:18,24; 22:8; Ec 11:6), todas as quais podem ser p o s t a s l a d o a l a d o com a Parábola do semeador e t a m b é m c o m a q u e Paulo escreveu sobre o mesmo tema (2Co 9:6; Gl 6:7).A Parábola do rico e Lázaro ( L c 1 6 : 1 9 - 3 1 ) é u m a e x p a n s ã o d o provérbio: "A riqueza nada vale no dia da ira [...] Aquele que confia nas suas riquezas cairá" (Pv 11:4,28).F r a s e s c o m o " o s j u s t o s r e v e r d e c e r ã o c o m o a f o l h a g e m " e " a r a i z dos justos produz o seu próprio fruto" (Pv 11:28; 12:12) recebem novo significado quando comparadas com João 15. "... o que segue os ociososse fartará de pobreza" (Pv 28:19) resume a experiência do filho pródigo. Quanto a Provérbios 13:7, refere-se ao que vendeu tudo o que tinha parac o m p r a r um campo e uma pérola. Essa é a única vez que o termo parábola 44

é encontrado em Provérbios (no original), embora, em sentido m a i s a m p l o , s e j a à s v e z e s u t i l i z a d o e m r e f e r ê n c i a a o p r o v é r b i o . A q u i Salomão diz: "Como as pernas do coxo, que pendem frouxas, assim é oprovérbio (parábola) na boca dos tolos", dando a entender que o cego e s p i r i t u a l n ã o p o d e f a z e r u s o d e u m a p a r á b o l a p a r a o r i e n t a ç ã o a s s i m como o coxo não pode fazer uso de suas pernas aleijadas. Não era o que J e s u s t i n h a e m m e n t e quando disse aos seus discípulos: "Avós é dado c o n h e c e r o s mistérios do reino de Deus, mas aos outros fala -se p o r parábolas, para que, vendo, não vejam, e, ouvindo, não entendam" (Lc8 : 1 0 ) ? H á t a m b é m a Parábola do jovem pobre e sábio (Ec 4:13-16).E m b o r a s e j a d i f í c i l d e s c o b r i r a e x a t a a s s o c i a ç ã o h i s t ó r i c a d e s s a b r e v e parábola, é fácil perceber que, no "rei velho e insensato", Salomão nosdá um auto-retrato. Na aplicação da parábola, Ada Habershon diz que "o contém nem sequer uma simples linha de sentimento r e l i g i o s o o u espiritual. No cântico d e S a l o m ã o n ã o h á o n o m e d e D e u s e n e n h u m a menção de ordenanças ou de ritos sagrados, quaisquer que sejam. No e n t a n t o , c o m o d i z B u n s e n em seu estudo sobre este livro, "Haveria a f a l t a d e a l g u m a c o i s a n a B í b l i a , s e n ã o s e e n c o n t r a s s e n e l a u m a expressão do mais profundo e mais forte de todos os sentimentos huma-nos". O Cântico dos Cânticos é u m a v a l i o s a c o n t r i b u i ç ã o à B í b l i a , p o i s ensina que o sentimento do amor é enobrecedor quando associado aossentimentos morais. Dessa forma , esse belo idílio, que retrata a união ea c o m u n h ã o e n t r e o s a m a n t e s d o l i v r o , é u m a p a r á b o l a d o p r e c i o s o vínculo entre o Amado celestial e sua Noiva: "Eu sou do meu amado e eleé meu".O poema profético de Salomão termina com duas pequenas estro-f e s q u e r e s u m e m t u d o o q u e t e m s i d o r e l a t a d o , v e z a p ó s v e z , s o b diferentes metáforas, a saber, o namoro e o casamento de dois coraçõesf e l i z e s : " V e m d e p r e s s a , a m a d o m e u " . N ã o é esse o pedido dos nossoscorações quando pensamos em nosso Amado ausente? Mas temos aesper ança de que em breve ele virá por sobre o s m o n t e s d o s a r o m a s para buscar a sua Noiva. AS PARÁBOLAS DE ISAIAS Parábola do dono da manjedoura (Is 1:2-9)Os escritos proféticos, como veremos, são célebres pela linguagemf i g u r a d a d e f o r t e r e a l i s m o . E s s e s g r a n d e s p r o f e t a s e r a m p a t r i o t a s e , como anunciadores da justiça e do juízo, sabiam usar as forças naturaispara chamar atenção para as suas mensagens. Muitas vezes recorriamao vento e ao mar, às tempestades e aos terremotos —símbolos muitoa p r o p r i a d o s p a r a o s a s s u n t o s a g i t a d o s d e q u e t r a t a v a m . C e n a s m a i s amenas da terra de Israel também apareciam em seus escritos. A gene-rosidade de Deus é semelhante a "uma vinha num outeiro fértil" (Is 5:1).O p r á t i c o M i q u é i a s f a l a d e " c h u v i s c o s o b r e a e r v a " ( 5 : 7 ) . J e r e m i a s , conhecedor dos hábitos dos p á s s a r o s d e s u a t e r r a n a t a l , u s a v a - o s e m suas ilustrações com grande efeito (8:7; 17:11). Tantas vezes se recorrea montanhas, cedros, pastagens, rebanho, nuvem e fogo, aplicando-setodas essas figuras, que é difícil examinar todas.A 45

sublime natureza parabólica e profética dos livros proféticos, junto c o m s e u i n d i s c u t í v e l v a l o r e s p i r i t u a l , f a z c o m q u e s e u s e s c r i t o s sejam classificados entre a melhor literatura do mundo. Com base nosescritos desses porta-vozes de Deus, podemos construir um panora made Canaã, a terra muito cobiçada. "Para os hebreus, o sangue dos seusanimais machos e a associação com o passado histórico santifícaram o solo de Canaã [...] Canaã era duplamente querida e duplamente sagrada

para o povo de Israel por ser um presente do seu Deus, sinal inequívocoda sua graça. Aterra e a fé eram para eles inseparáveis". Essa é a razãode a terra ser retratada de modo tão vivido. Robert Browning escreveu ar e s p e i t o d o p a í s s o b c u j o s c é u s a z u i s e l e p a s s o u o s s e u s a n o s m a i s felizes:No meu coração, verás ao abrir, vaia entalha, Em que outra coisa não se lê, senão Itália. Só precisamos ler o que os profetas tinham a dizer sobre a suaterra a b u n d a n t e p a r a s a b e r q u e , c o m o m e s m o e n t u s i a s m o , t a m b é m podiam declarar haver entalhado no coração o nome Canaã. Entre os profetas, Isaías se destaca pelo uso de uma l i n g u a g e m esmerada. Ellicott diz o seguinte sobre esse grande poeta e profeta deIsrael: "Os provérbios de Salomão, como sempre, de destaque na forma-ç ã o judaica, o muniram de um vocabulário ético e filosófico ( 1 1 : 1 , 3 ; 33:5,6) e do método do ensino por parábolas (28:23-29), ensinando-lhe aa s s e n t a r o s f u n d a m e n t o s d a m o r a l no t e m o r d o S e n h o r " . I s a í a s a p r e - senta uma notável versatilidade na escolha dos paralelismos, das figurase d a s p a r á b o l a s p a r a r e f o r ç a r e i m p o r s u a m e n s a g e m . O f a t o d e q u e tinha grande inclinação para o uso de simbolismos pode ser comprovadon o n o m e d e s e u s f i l h o s . E s c r i t o r t a l e n t o s o , c o m o p a s s a r d o s a n o s o profeta ampliou o seu vocabulário, variando na fraseologia e no estilo deacordo com a ocasião ou com a intensidade do que sentia. Diante de nósestá a primeira das marcantes figuras de linguagem de Isaías, na qual oprofeta utiliza os valores da parábola para contrapor o comportamento de Israel para com Deus aos sentimentos normais de um relacionamentofamiliar —até os instintos de gratidão dos animais de carga.Isaías inicia sua grande acusação de ingratidão e de iniqüidade porp a r t e d e Is r a e l i m p l o r a n d o a a t e n ç ã o d o u n i v e r s o : " O u v i , ó c é u s , e dáo u v i d o s , ó t e r r a " ( 1 : 2 ) . D e p o i s c o m p a r a o s f i l h o s d e D e u s a o s q u e cresceram debaixo do cuidado de um pai amoroso. Deviam retribuir-lhec o m a m o r f i l i a l e c o m r e s p e i t o , m a s t u d o o q u e f i z e r a m f o i r e b e l a r - s e contra o controle do pai. Usa-se então uma figura de linguagem muitof o r t e p a r a r e s s a l t a r a p r o f u n d a d e s o b e d i ê n c i a e a d e g r a d a ç ã o d e u m povo divinamente abençoado. Os animais, que têm instinto, conhecemo s s e u s d o n o s e o b e d e c e m à s s u a s o r d e n s , m a s I s r a e l r e c u s a v a - s e a reconhecer as leis do Senhor. Se a ingratidão do homem para com outrohomem produz grande tristeza, a ingratidão do homem para com Deusproduz profunda dor no coração deste.Com cores vivas, Isaías pinta os diversos estágios de crescimentoda iniqüidade na nação da qual fazia parte. Primeiramente o povo aban-donou a Deus, depois o desprezou e por fim apostatou totalmente. Quãocontrário à natureza divina o povo tinha- se tornado! 46

O Santo de Israel éo nome divino que Isaías gostava de usar (ocorre cerca de trinta vezes em suas profecias) por reunir em si os conceitos de consagração, de pu-reza e de santidade. Israel tinha sido projetado para ser "a nação santa", profeta segue então retratando como o pecado, uma epidemia mortal,e s p a l h a - s e e t o r n a - s e u m a t e r r í v e l e d e s v e n t u r a d a d o e n ç a : " D e s d e a planta do pé até a cabeça não há nele coisa sã". A descrição da podridão( Is 1:5,6) é "uma das parábolas naturais da ética, fazendo lembrar d a descrição que Platão faz das almas dos tiranos: cheias de úlceras".A p a r t i r d a í , Isaías amontoa analogias sobre analogias. Teríamos u m proveitoso estudo à parte, se quiséssemos ajuntar t o d a s a s metáforas, analogias e dizeres parabólicos que o profeta emprega.Embora a profecia seja o que se salienta em seu livro dramático, asprofecias, como também as visões, carregam aspectos próprios daparábola. Por exemplo, os pecados são apresentados como de cor escarlata, mas os que pecaram podem ficar brancos como a neve (1:18).Duas imagens referem-se à degradação dos soberanos, cuja negligênciae r a responsável pela desordem de que Isaías trata: "A tua prata s e tornou em escórias, o teu vinho se misturou com água" (Is 1:22). Essal i n g u a g e m s i m b ó l i c a é r e t o m a d a a d i a n t e : " p u r i f i c a r e i i n t e i r a m e n t e a s tuas escórias, e tirarei de ti toda impureza" (Is 1:25). Deus, oGrande Purificador, pode purificar metais degradados (Ml 3:2,3). Opecado faz murchar e também queima (Is 1:30,31). "Na glória manifestado Senhor, os homens podem encontrar, da mesma forma que o viajanteem sua tenda, proteção contra todas as formas de perigo, contra o calorabrasador do meio dia e contra a tor-rencial tempestade" (4:5,6).U m e s t u d o s o b r e a v e r s a t i l i d a d e e x p r e s s i v a d e Is a í a s n o s l e v a a concordar com Driver, em seu magistral livro Isaiah [Isaías], quando dizq u e s e u " t a l e n t o p o é t i c o é e x t r a o r d i n á r i o " . O e s t i l o i n c o m p a r á v e l d o profeta marca o apogeu da arte literária hebraica. Jerônimo compara oorador e poeta do AT a Demóstenes. Quanto ao esplendor de suas ima-gens, Isaías era insuperável: "Cada palavra sua emociona e cumpre seuo b j e t i v o . A b e l e z a e a f o r ç a s ã o c a r a c t e r í s t i c a s de seu livro como um t o d o . E l e é u m p e r f e i t o a r t i s t a d a s p a l a v r a s " . P a r a o e s t u d o m a i s aprofundado do leitor, agrupamos algumas das características que o dr.George N. Robinson ressalta em seu manual muito útil The book of Isaiah[O livro de Isaías] :1. Nenhum outro escritor do AT usa tantas ilustrações pitorescas ebelas (5:1-7; 12:3; 28:23-29; 32:2).2. Epigramas e metáforas, principalmente sobre inundações, tempestades e sons (1:13; 5:18-22; 8:8; 10:22; 28:17,20; 30:28,30).3. Interrogação e diálogo (6:8; 10:8).4. Antítese e aliteração (1:18; 3:24; 17:10,12).5. Hipérbole e parábola (2:7; 5:17; 28:23-29).6. Paronomásia ou jogo de palavras (5:7; 7:9).7. Ele é também famoso 47

pelo seu vocabulário e riqueza de sinôni-mos. Ezequiel usa 1 525 vocábulos; Jeremias, 1 653; o salmista, 2 170; Isaías, 2 186. 8. Ele elabora freqüentemente as suas mensagens em estilo rítmi-co e poético (12:16; 25:1-5; 26:1-12; 38:10-20; 42:1-4; 49:1-9; 50:4-9;

52:13-53; 22:60-62; 65:5-24).9 . E m v á r i a s o c a s i õ e s I s a í a s i n c l i n a - s e p a r a u m r i t m o d e lamentação. Por exemplo, há um t e n s o p o e m a s o b r e S e n a q u e r i b e e m 37:22-29, e, em 14:4-21, há outro sobre o rei de Babilônia.Sem dúvida, o livro desse profeta de grande importância se destacacomo obra-prima da literatura hebraica. Parábola da vinha do Senhor (Is 5:1-7)U m o u d o i s p e n s a m e n t o s i n t r o d u t ó r i o s i n e v i t a v e l m e n t e s e apresentam para consideração quando examinamos essa linda parábolasobre a vinha, intimamente relacionada com a parábola anterior e com aposterior. Na verdade, Isaías proporciona duas parábolas em uma — aprimeira, sobre o cuidado protetor sem retorno; a segunda, sobre umasentença implacável, sem recursos nem conciliações. Todo o possível ját i n h a s i d o f e i t o p a r a p r o p i c i a r a f e r t i l i d a d e d a v i n h a e a s s e g u r a r o d e - senvolvimento das possibilidades latentes. Mas todo o cuidado dispen sado à vinha tinha sido em vão. Israel, a videira, havia r e j e i t a d o a atenção do viticultor e conseqüentemente tornou-se planta sem valor — erva daninha. O primeiro pensamento é este: Isaías era em primeiro lugar um profeta. Desde que foi chamado ecomissionado por Deus, considerou a profecia como o ministério de suavida e, com notável prontidão, aceitou a tarefa que, desde o princípio, seafiguraria inútil: advertir e condenar (6:9 -13). Todas as suas profeciasg i r a m e m t o r n o d e " J u d á e J e r u s a l é m " ( 1 : 1 ) . O " p r o f e t a u n i v e r s a l d e Israel" entremeava suas profecias com a história sempre que a ocasiãoexigisse (Is 7:20,36 -39). "Nenhum profeta do AT", diz Robinson, "alioutão perfeitamente quanto Isaías visão terrena e sagacidade, coragem econvicção, diversidade de talentos e unidade de propósitos, de um lado,com amor pela retidão e um aguçado entendimento da santidade e damajestade do Senhor, do outro". Por isso era capaz de transmitir o seu ensino profético em forma de parábolas. As parábolas eram usadas parapredizer acontecimentos da história. Quando se aproxima o cumprimentoda profecia, o significado, até então pouco nítido, torna-se mais claro, oe s b o ç o c o m p l e t a - s e , a t é q u e o p l e n o desenrolar do que havia sidoprofetizado nos possibilite e n t e n d e r c o m c l a r e z a a q u i l o q u e v i n h a revestido em roupagem parabólica. O outro pensamento que sobressaltano estudo da linguagem parabólica é que: As parábolas têm sempre um correspondente. A Parábola da vinhado Senhor, de Isaías, assemelha-se muito com a Parábola dos lavradoresmaus, do nosso Senhor Jesus (Mt 21:33). Notavelmente parecidas ema l g u n s d e t a l h e s , a m b a s c o n t ê m u m a p r o f e c i a a c e r c a d o d e s t i n o d a nação judaica, ainda em cumprimento. Estudioso diligente que era doAT, tendo a mente repleta das suas figuras de linguagem, Jesus devia terem mente a 48

Parábola da vinha do Senhor, de Isaías, quando proferiu suaparábola sobre um tema semelhante. Muitos escritores já trataram dessea s p e c t o d u p l o d a s p a r á b o l a s , s o b r e t u d o H a b e r s h o n , cuja obra, no apêndice, trata das semelhanças e das diferenças entre pares d e pará-bolas correspondentes, sobretudo no NT. Ainda outra característica, à qual já demos atenção, merece ser realçada, a saber: As parábolas têm em geral uma lição principal Aqui na Parábola da vinha do Senhor, d e Is a í a s , e m b o r a m u i t o s detalhes denotem o cuidado satisfatório do dono da vinha para com ela,nem todas as informações têm um significado à parte. Nem todo detalhedeve obrigatoriamente ensinar uma lição. Como diz Lang: "As parábolass ã o c o m o a s t e l a s , q u e n e c e s s i t a m d e d e t a l h e s p a r a a c o m p o s i ç ã o d o todo da pintura, mas sem que cada detalhe tenha necessariamente umalição própria e especial". O único propósito da vinha é produzir frutos. E nisso Israel falhou.Q u a n d o o S e n h o r e s p e r o u q u e s u a v i n h a p r o d u z i s s e f r u t o s , t u d o que ela gerou foram "uvas bravas"; quando esperou justiça, encontrouopressão; quando esperou a retidão, ouviu clamor. Com um jogo de palavras (5:7), Isaías a seguir apresenta alguns tipos de "uvas bravas", ou pecados da nação, como mostra Robinson:1. Cobiça insaciável; mas a colheita será apenas um décimo daseme-adura (5:8-10).2. Anulação e desrespeito para com a palavra e a obra do Senhor;mas os banquetes e a bebedice os levarão ao cativeiro (5:1117).3. Provocação ousada ao Senhor e desprezo propositado para coma s d e n ú n c i a s d o p r o f e t a , f o r t e m e n t e d e m o n s t r a d o s n o f a t o d e d e s a - fiarem o "dia do Senhor" a chegar (5:18,19).4. Hipocrisia e dissimulação, engano e confusão moral (5:20).5. Presunção astuta que não se digna submeter-se à correção deDeus (5:21).6 . P o d e r m a l - e m p r e g a d o : v a l e n t e s n a s b e b e d i c e s , m a s f r a c o s perante o suborno, no castigo dos malfeitores (5:22,23).A punição por tais transgressões seria a retirada da provisão e dap r o t e ç ã o d i v i n a . A v i t a l i d a d e d a n a ç ã o s e r i a m i n a d a e r o u b a d a ; o s ladrões atacariam o povo e os animais selvagens o devorariam, como aAssíria já tinha feito a Israel. Não haveria como escapar desse merecido juízo divino (Is 5:24-30). A parábola, então, era uma profecia acerca dap u n i ç ã o v i n d o u r a d o p o v o j u d e u p e l o s assírios e por Nabucodonosor, c u j o s d e t a l h e s s ã o e n c o n t r a d o s n o s c a p í t u l o s 7 e 8 . O s i g n i f i c a d o completo da parábola, entretanto, não podia ser entendido até que os acontecimentos anunciados se tornassem fatos da história.Quanto ao significado da figura da vinha, cada família sendo umaplanta e cada pessoa sendo um ramo, cumpre ressaltar o seguinte: Aposição. Mostrou-se cuidado na seleção do lugar em que a vinha se encontraria. Seria num "outeiro fértil", que ilustra as abundantes van-tagens naturais de Canaã, a terra que Israel foi possuir.

A provisão. 49

As "sebes" são uma figura de linguagem referente àproteção p r o v i d e n c i a d a , à p o s i ç ã o n a t u r a l d e C a n a ã e a o s o b s t á c u l o s naturais que tornavam a invasão do país muito difícil. A preservação. Quando se diz que Deus "a limpou das pedras", issos i g n i f i c a q u e s e u p o v o t i n h a s i d o p r e s e r v a d o d e s e r s u b j u g a d o . E l e expulsou as nações idolatras de Canaã, para que seu povo não deixassede segui-lo.O privilégio. P a r a D e u s , a v i n h a e s t a v a r e p l e t a d e " e x c e l e n t e s vidas", expressão que se refere a Abraão, a quem o Senhor passou od i r e i t o da terra de Canaã em solene aliança, de modo que ele foi aprimeira videi-ra, da qual brotaria toda a casa de Israel, a v i n h a d o Senhor. A expressão também demonstra o sentimento de D e u s p e l o povo israelita quando o estabeleceu na terra.A punição. Como a degeneração é característica do pecado, a boa vinha tornou-se ruim e repugnante ao seu dono, devendo ser descartada.A religiosidade formal, sem vida e hipócrita de Israel tornou-se afrontosap a r a D e u s . A a u s ê n c i a d e f r u t o s f o i a t r a n s g r e s s ã o d a n a ç ã o , e a infertilidade da terra veio a ser a sua punição. Deus retirou as sebes dasua vinha, o que significa que retirou os privilégios dos judeus e permitiuque afundassem ao nível dós povos vizinhos. A nação tinha quebrado ass u a s c e r c a s p r i m e i r a m e n t e p e l a i d o l a t r i a e p o r negligenciar as leisdivinas. Por causa disso, os judeus se t o r n a r a m " c o m o o s f i l h o s d o s etíopes", como retrata Amos (9:7). M a s D e u s n ã o s e e s q u e c e r á t o t a l - mente do seu povo. Um futuro glorioso aguarda a sua vinha, como Isaíasprofetiza de forma tão vivida.E s t e ú l t i m o p e n s a m e n t o é a p r e s e n t a d o d e m a n e i r a c l a r a p o r Robinson, quando diz: "Isaías vivia na teologia futura de Israel, enquantoP a u l o t r a t a v a d o s e n s i n a m e n t o s d o passado. A predição é a p r ó p r i a essência de toda a mensagem de Isaías. Seus tempos verbais sãopredominantemente futuros e perfeitos proféticos. Isaías era, acima de tudo,um profeta do futuro. Com uma rapidez nunca vista, ele repetidas vezessalta do desespero para a esperança, da ameaça para a promessa, do c o n c r e t o p a r a o i d e a l [ . . . ] O livro de Isaías é o evangelho anterior aoEvangelho". Parábola do consolo (Is 28:23-29)E s s e é u m d o s g r a n d e s c a p í t u l o s d o l i v r o d e I s a í a s e s e r v e d e introdução à série dos seis ais (28-33). Isaías sem dúvida era um profetade muitos ais, dos quais seis se encontram no capítulo 5. No capítulo 6, profere um 50

ai para si mesmo: "Ai de mim".Aqui, Isaías começa convocando o povo a dar ouvidos à parábola, aq u a l n ã o i n t e r p r e t a s e m l e v a r e m c o n t a q u e o s j u í z o s d e D e u s s ã o sempre proporcionais às transgressões dos homens.E l l i c o t t d i z que: "a idéia presente no cerne dessa p a r á b o l a assemelha-se à de Mateus 16:2-4: para discernir os sinais dos tempos, oshomens deixam de empregar a sabedoria que utilizam na identificação dos fenômenos comuns da natureza e no cultivo do solo. Assim c o m o esse cultivo apresenta ampla variedade de processos, variando conformeo t i p o de vegetação, também a semeadura e a debulha da l a v o u r a espiritual de Deus apresentam uma diversidade de o p e r a ç õ e s . O q u e essa diversidade denota em detalhes é o que o profeta passa a mostrar,com o que podemos chamar novamente de minuciosidade dantesca". Os j u í z o s d e D e u s n ã o s ã o a r b i t r á r i o s . O s m é t o d o s e m p r e g a d o s p e l o s camponeses na agricultura são uma parábola do propósito de Deus aodisciplinar os seus. "O lavrador não ara e grada a terra o ano todo; ara egrada para que possa semear e ceifar. Da mesma forma Deus não punepara sempre; um futuro glorioso aguarda os redimidos". Isaías, o Profetada Esperança, assegura aos que ouvem os seus "ais" que, assim como olavrador não debulha todos os tipos de grãos com a mesma severidade,a s s i m t a m b é m e l e n ã o e n v i a r á m a i s o s e u p o v o p a r a o d e s e r t o . N ã o é essa de fato uma verdade consoladora?P o d e r í a m o s a t e r - n o s l o n g a m e n t e n o u s o q u e I s a í a s f a z d a linguagem metafórica e parabólica. Há, por exemplo, seu maravilhosocapítulo 40, tão cheio de cativantes símiles, no qual refere -se à eternamajestade e ao glorioso poder do Senhor, o qual "'mediu com a conchadas mãos as águas [...] ou pesou os montes e os outeiros em balanças[...] Certamente as nações são consideradas por ele como a gota de um b a l d e [ . . . ] e s t á a s s e n t a d o s o b r e o c í r c u l o d a t e r r a [ . . . ] q u e f a z s a i r o exército de estrelas, uma por uma, e as chama pelo nome [...]' e faz comque o povo suba com asas como as águias". Acreditamos já ter escrito osuficiente para aguçar o apetite do leitor para um estudo mais completos o b r e o e s t i l o p i t o r e s c o d e I s a í a s . Q u a n t o a m i m , d e i x o I s a í a s c o m o sentimento expresso por Valeton, que assim descreve o profeta em seutrabalho The prophecies oflsaiah [As profecias de Isaías]: "Talvez nuncahouve profeta como Isaías, que tinha a cabeça nas nuvens e os pés emterra firme; o coração nas coisas da Eternidade e as mãos e a boca nast e m p o r a i s ; o e s p í r i t o n o c o n s e l h o e t e r n o d e D e u s e o c o r p o n u m momento bem específico da história". AS PARÁBOLAS DE JEREMIAS C o m o Is a í a s , J e r e m i a s p r o f e t i z o u p r i n c i p a l m e n t e p a r a o r e i n o de J u d á , e s u a p a l a v r a a o p o v o , e n v o l t a n u m a m e n s a g e m s i m b ó l i c a d e impacto, era mais um anúncio de que Deus rejeitou a nação por causade sua apostasia e de seu pecado. Jeremias também recebeu ordens deprofetizar acerca do cativeiro babilônico como a vontade de Deus para op o v o q u e fora chamado para rejeitar todas as alianças m u n d a n a s , especialmente com o Egito, ao qual os líderes se voltaram em busca desocorro contra os assírios. Esse ministério pertinente tornou o profetae x t r e m a m e n t e i m p o p u l a r , s e n d o c o n s t a n t e m e n t e p e r s e g u i d o por sua 51

ousada mensagem.É graças à grande semelhança entre Jeremias e Jesus que o profetat e m f a s c i n a ç ã o p e l o s s a n t o s d e D e u s . A m b o s e r a m h o m e n s s o f r i d o s e familiarizados com o sofrimento; ambos vieram para os seus e os seusnão os receberam; ambos suportaram horas de rejeição, de desolação ede abandono. De todos os profetas do AT, Jeremias parece ter padecidoos mais atrozes sofrimentos. Não houve dor igual à sua (Lm 1:12; 3:1). Era popularmente conhecido como o Profeta das Lágrimas e foi retratadopor Miquelângelo cabisbaixo, em meditação sofredora. Jeremias teve agraça e o dom das lágrimas. Possuidor de um temperamento ascético,e r a " f e r v o r o s o , s e n s í v e l , f a c i l m e n t e d e p r e s s i v o , d e s c o n f i a d o d e s i mesmo, facilmente tomado de severa e irada indignação". As páginasdas suas profecias trazem as manchas das suas lágrimas.Sabemos mais da história de Jeremias que de qualquer outro pro feta. Foi dito a seu respeito que, "mais do que qualquer outro, da res-peitável companhia dos profetas, a sua vida toda está diante de nóscomo um livro aberto". Chamado desde a tenra idade para servir aoS e n h o r , J e r e m i a s r e c o n h e c i a c o m g r a n d e p e r s p i c á c i a s u a c o n d i ç ã o quando disse "não passo de uma criança", referindo -se, sem dúvida, àsua idade. Ele estava consciente da sua imaturidade e fragilidade dianteda enormidade de sua grande e solene tarefa. Também declarou que nãopodia falar, o que significa que lhe faltava eloqüência, embora falar erae x a t a m e n t e o ministério para o qual fora chamado. Ao comentar a consciência que Jeremias tinha de sua limitação discursiva, o dr. F. B . Meyer diz: "Os melhores pregadores para Deus são freqüentemente osmenos dotados de eloqüência humana; pois, se essa eloqüência estivermuito presente —a poderosa capacidade de comover—, há o risco potencial de confiar nela, atribuindo-lhe os resultados do seu encantamentomagnético. Deus não pode dar sua glória a outro. Não divide seu louvor com os homens. Não ousa expor seus servos à tentação de sacrificar a simesmos, ou confiar em suas próprias habilidades".I n f e l i z m e n t e , a l g u n s s ã o g r a n d e s d e m a i s p a r a q u e D e u s o s u s e , uma vez que são propensos a buscar toda a glória para si! São aquelesq u e , c o m o J e r e m i a s , s ã o f r a c o s , n a d a s e n d o a o s p r ó p r i o s olhos, que oSenhor escolhe para realizar façanhas por ele (Jz 6:11 1 6 ; Is 6 : 5 ; IC o 1:27,28). Os lábios de Jeremias foram consagrados a Deus; ele não erat ã o e l o q ü e n t e q u a n t o Is a í a s , n e m t ã o e l e v a d o q u a n t o E z e q u i e l , m a s tímido e retraído, consciente de sua completa debilidade. Deus, porém, ot o m o u e u s o u c o m o u m i n s t r u m e n t o e s c o l h i d o p a r a p r o c l a m a r a mensagem divina à sua geração corrupta e degenerada. Por naturezaa c a n h a d o e m r a z ã o d e s u a d e b i l i d a d e , Jeremias tornou-se forte noS e n h o r ( 2 C o 1 2 : 9 , 1 0 ) . H o u v e ocasiões em que, diante do Senhor,esquivava-se das t a r e f a s a e l e c o n f i a d a s , m a s , q u a n d o d e f a t o s e apresentava ao povo, enchia-se de coragem. Deus tocou os lábios doprofeta, para q u e , p u r i f i c a d o e c h e i o d e p o d e r , p u d e s s e t r a n s m i t i r a s verdades a ele confiadas.O f a t o d e e s t a r i m e r s o n a l e i e n o s e s c r i t o s d e Is r a e l a j u d o u e m muito o estilo de Jeremias ao transmitir a mensagem de Deus. Os Salmos 52

estilo da estrutura das suas Lamentações, em forma de acróstico. Af a m i l i a r i d a d e c o m a m a i o r p a r t e d a s p r o f e c i a s d e I s a í a s t a m b é m contribuiu para as yi-gorosas imagens de Jeremias. Às vezes parece queele copia algumas das suas ilustrações parabólicas . A leitura do livro de Jeremias impressiona por uma característica, a saber, que o seu estiloc o r r e s p o n d e a o s e u c a r á t e r . E l e e r a e s p e c i a l m e n t e m a r c a d o por ums e n t i m e n t o p a s s i o n a l e p o r u m a e m p a t i a c o m o s m i s e r á v e i s , c o m o mostram suas Lamentações. A s é r i e c o m p l e t a d e s u a s p a r á b o l a s e elegias tinha apenas um objetivo: expressar a tristeza por seu país tãoarruinado e desgraçado pelo pecado. Existem numerosas expressões ea b u n d a n t e s r e p e t i ç õ e s , à m e d i d a q u e J e r e m i a s e x p r e s s a s e u s sentimentos abalados. Os judeus o veneravam tanto, que acreditavam na sua ressurreição dentre os mortos para ser o precursor do Messias (Mt16:14). Parábola da vara de amendoeira e da panela a ferver (Jr 1:11-19)Sobre a linguagem figurada desse capítulo, Ellicott diz que, "Comoantes, vemos aí o elemento do êxtase e das visões, símbolos não esco lhidos pelo profeta, mas —disso podemos ter certeza— adaptados à suaformação, às suas inclinações e, por assim dizer, ao seu temperamento. A poesia dos símbolos é de extraordinária beleza".A dupla parábola diante de nós era para os olhos e para os ouvidose faz lembrar uma das parábolas do nosso D eus. Como comenta certoautor, "na instituição da ceia do Senhor e quando ele lavou os pés dosdiscípulos, temos parábolas que chamam a atenção pelos olhos, não peloo u v i d o , ambas de caráter mais impressivo do que as meras palavras.Quando Cristo lavou os pés dos apóstolos, encenou u m a p a r á b o l a , e temos no AT muitos casos em que os profetas recebem ordens de fazeresse tipo de encenação". No Memorial da ceia, a encenação não recebetanto realce, mas pode ser considerada uma parábola em visões, umav e z q u e , p o r m e i o d e u m s í m b o l o ( I C o 1 1 : 2 6 ) , s e r v i u d e p r e d i ç ã o a o s discípulos e de declaração para nós da "morte do Senhor".A v i s ã o que Jeremias teve nesse capítulo de abertura de s u a profecia era parabólica e contém um pensamento em diferentes estágiosde desenvolvimento. A mudança na metáfora da agricultura para a arqui-tetura é digna de nota. Lemos sobre "extirpar", "demolir" e "edificar", oque dá a entender que a restauração depende do arrependimento. Aspredições de Jeremias eram sobretudo denunciadoras; dessa forma, adestruição das nações é apresentada em primeiro lugar e com grande variedade de termos para só depois mencionar a restauração delas. A vara de amendoeira. E m c o n t r a p o s i ç ã o à s p a l a v r a s i n i c i a i s d e terror, mas ainda em harmonia com a mensagem de esperança, Jeremiasv ê u m a v a r a d e a m e n d o e i r a , 53

c o m s e u s v i v o s e r o s a d o s b r o t o s , florescendo em janeiro e dando o seu fruto em março; e vê suas folhasverde -claros, sinal do começo da primavera, surgindo da melancolia do

inverno. No original, o nome que Jeremias dá à amendoeira, n o m e poético e raro, torna o símbolo mais expressivo. Significa literalmente "aárvore vigilante", ou "a vigia", ou a árvore "que se apressa em acordar",p o r q u e d e s p e r t a d e s u a h i b e r n a ç ã o a n t e s d a s o u t r a s á r v o r e s . N e s s a parábola, Deus mostrou a rápida e x e c u ç ã o d o s e u p r o p ó s i t o : " e u v e l o (em hebraico, apresso-me) s o b r e a m i n h a p a l a v r a , p a r a a c u m p r i r " ( J r 1:12). Jeremias faz um jogo entre a palavra traduzida por amendoeira, que em hebraico também significa "vigia", e velo (ou me apresso), quedenota a ação daquele que vigia. Os juízos decretados contra a nação judaica estavam próximos do cumprimento (Am 8:2). A panela a ferver. Nessa ilustração parabólica, o profeta revela o lado sombrio do seu ministério. Numa visão, Jeremias viu, num monte delenha em chamas, uma grande panela de metal, fervente e fumegante, inclinada para o norte, d e o n d e p o d e r i a d e s p e j a r s e u c o n t e ú d o escaldante sobre o sul. Aqui temos o instrumento que executaria outra p a l a v r a d e D e u s . A f e r v u r a f o i p o s s í v e l p e l a s c h a m a s s o b a p a n e l a , mantidas por um sopro —símbolo oriental da fúria da guerra. A afliçãoestava vindo do norte. "A panela voltava-se para o norte, com a boca ap o n t o d e d e s p e j a r o s e u c o n t e ú d o e m d i r e ç ã o a o s u l , a s a b e r , s o b r e a Judéia."Os judeus foram comparados a uma panela fervente, mostrandoq u e D e u s p e r m i t i u q u e f o s s e m l a n ç a d o s c o m o c a r n e n u m a p a n e l a e fervessem até ser reduzidos a quase nada. Primeiramente, Deus usou ap u n i ç ã o b r a n d a d a v a r a ( R m 2 : 4 ) , m a s s e m r e s u l t a d o . R e c o r r e u a o castigo mais severo da fervura (Êx 20:5; SI 7:12; Hb 10:31). O castigo i n t e n s i f i c o u - s e p o r t e r - s e a g r a v a d o o p e c a d o d a n a ç ã o . Q u e f o r t e contraste existe entre a beleza primaveril da vara de amendoeira e apanela f e r v e n t e , s e n d o e s t a a i l u s t r a ç ã o d o s t e r r o r e s d a s r e g i õ e s a o norte do seu país, Assíria e Caldéia, terrores esses que Israel podia dar como inevitáveis (Mq 3:12).O capítulo termina referindo-se a Jeremias como cidade fortificada:coluna de ferro, muros de bronze. Essas imagens de fortaleza, sobrepos-tas umas às outras, asseguravam ao profeta a presença e a proteção da-q u e l e q u e o c o m i s s i o n a r a a t e s t e m u n h a r e m s e u n o m e . O s r e i t e r a d o s encorajamentos foram necessárias à temerosidade própria da constitui -ção de Jeremias (v. ITm 4:12; 6:13; 2Tm 2:3). Parábola do cinto apodrecido 54

(Jr 13:1-11)Ellicott não acredita que haja significado parabólico nessa e em ou-t r a s representações figuradas da verdade: "Não há a b s o l u t a m e n t e nenhum fundamento em considerar o cinto uma visão ou parábola, assimcomo também não há razão em considerar o uso simbólico da 'botija deoleiro' (19:1), ou das 'brochas e canzis' (27:2), ou do fato de Isaías andar'nu e descalço' (Is 20:2)". Mas, usando o termo parábola no sentido maisamplo, é evidente que Jeremias recebeu ordens de encenar mais uma estilo da estrutura das suas Lamentações, em forma de acróstico. Af a m i l i a r i d a d e c o m a m a i o r p a r t e d a s p r o f e c i a s d e I s a í a s t a m b é m contribuiu para as yi-gorosas imagens de Jeremias. Às vezes parece queele copia algumas das suas ilustrações parabólicas . A leitura do livro de Jeremias impressiona por uma característica, a saber, que o seu estiloc o r r e s p o n d e a o s e u c a r á t e r . E l e e r a e s p e c i a l m e n t e m a r c a d o por ums e n t i m e n t o p a s s i o n a l e p o r u m a e m p a t i a c o m o s m i s e r á v e i s , c o m o mostram suas Lamentações. A s é r i e c o m p l e t a d e s u a s p a r á b o l a s e elegias tinha apenas um objetivo: expressar a tristeza por seu país tãoarruinado e desgraçado pelo pecado. Existem numerosas expressões ea b u n d a n t e s r e p e t i ç õ e s , à m e d i d a q u e J e r e m i a s e x p r e s s a s e u s sentimentos abalados. Os judeus o veneravam tanto, que acreditavam na sua ressurreição dentre os mortos para ser o precursor do Messias (Mt16:14). Parábola da vara de amendoeira e da panela a ferver (Jr 1:11-19)Sobre a linguagem figurada desse capítulo, Ellicott diz que, "Comoantes, vemos aí o elemento do êxtase e das visões, sí mbolos não escolhidos pelo profeta, mas —disso podemos ter certeza— adaptados à suaformação, às suas inclinações e, por assim dizer, ao seu temperamento. A poesia dos símbolos é de extraordinária beleza".A dupla parábola diante de nós era para os olhos e para os ouvidose faz lembrar uma das parábolas do nosso Deus. Como comenta certoautor, "na instituição da ceia do Senhor e quando ele lavou os pés dosdiscípulos, temos parábolas que chamam a atenção pelos olhos, não peloo u v i d o , ambas de caráter mais impress ivo do que as meras palavras.Quando Cristo lavou os pés dos apóstolos, encenou u m a p a r á b o l a , e temos no AT muitos casos em que os profetas recebem ordens de fazeresse tipo de encenação". No Memorial da ceia, a encenação não recebetanto realce, mas pode ser considerada uma parábola em visões, umav e z q u e , p o r m e i o d e u m s í m b o l o ( I C o 1 1 : 2 6 ) , s e r v i u d e p r e d i ç ã o a o s discípulos e de declaração para nós da "morte do Senhor".A v i s ã o que Jeremias teve nesse capítulo de abertura de s u a profecia era parabólica e contém um pensamento em diferentes estágiosde desenvolvimento. A mudança na metáfora da agricultura 55

para a arqui-tetura é digna de nota. Lemos sobre "extirpar", "demolir" e "edificar", oque dá a entender que a restauração depende do arrependimento. Aspredições de Jeremias eram sobretudo denunciadoras; dessa forma, adestruição das nações é apresentada em primeiro lugar e com grande variedade de termos para só depois mencionar a restauração delas. A vara de amendoeira. E m c o n t r a p o s i ç ã o à s p a l a v r a s i n i c i a i s d e terror, mas ainda em harmonia com a mensagem de esperança, Jeremiasv ê u m a v a r a d e a m e n d o e i r a , c o m s e u s v i v o s e r o s a d o s b r o t o s , florescendo em janeiro e dando o seu fruto em março; e vê suas folhasverde -claros, sinal do começo da primavera, surgindo da melancolia do

inverno. No original, o nome que Jeremias dá à amendoeira, n o m e poético e raro, torna o símbolo mais expressivo. Significa literalmente "aárvore vigilante", ou "a vigia", ou a árvore "que se apressa em acordar",p o r q u e d e s p e r t a d e s u a h i b e r n a ç ã o a n t e s d a s o u t r a s á r v o r e s . N e s s a parábola, Deus mostrou a rápida e x e c u ç ã o d o s e u p r o p ó s i t o : " e u v e l o (em hebraico, apresso-me) s o b r e a m i n h a p a l a v r a , p a r a a c u m p r i r " ( J r 1:12). Jeremias faz um jogo entre a palavra traduzida por amendoeira, que em hebraico também significa "vigia", e velo (ou me apresso), quedenota a ação daquele que vigia. Os juízos decretados contra a nação judaica estavam próximos do cumprimento (Am 8:2). A panela a ferver. Nessa ilustração parabólica, o profeta revela o lado sombrio do seu ministério. Numa visão, Jeremias viu, num monte delenha em chamas, uma grande panela de metal, fervente e fumegante, inclinada para o norte, d e o n d e p o d e r i a d e s p e j a r s e u c o n t e ú d o escaldante sobre o sul. Aqui temos o instrumento que executaria outra p a l a v r a d e D e u s . A f e r v u r a f o i p o s s í v e l p e l a s c h a m a s s o b a p a n e l a , mantidas por um sopro —símbolo oriental da fúria da guerra. A afliçãoestava vindo do norte. "A panela voltava-se para o norte, com a boca ap o n t o d e d e s p e j a r o s e u c o n t e ú d o e m d i r e ç ã o a o s u l , a s a b e r , s o b r e a Judéia."Os judeus foram comparados a uma panela fervente, mostrando q u e D e u s p e r m i t i u q u e f o s s e m l a n ç a d o s c o m o c a r n e n u m a p a n e l a e fervessem até ser reduzidos a quase nada. Primeiramente, Deus usou ap u n i ç ã o b r a n d a d a v a r a ( R m 2 : 4 ) , m a s s e m r e s u l t a d o . R e c o r r e u a o castigo mais severo da fervura (Êx 20:5; SI 7:12; Hb 10:31). O castigo i n t e n s i f i c o u - s e p o r t e r - s e a g r a v a d o o p e c a d o d a n a ç ã o . Q u e f o r t e contraste existe entre a beleza primaveril da vara de amendoeira e apanela 56

f e r v e n t e , s e n d o e s t a a i l u s t r a ç ã o d o s t e r r o r e s d a s r e g i õ e s a o norte do seu país, Assíria e Caldéia, terrores esses que Israel podia dar como inevitáveis (Mq 3:12).O capítulo termina referindo-se a Jeremias como cidade fortificada:coluna de ferro, muros de bronze. Essas imagens de fortaleza, sobrepos-tas umas às outras, asseguravam ao profeta a presença e a proteção da-q u e l e q u e o c o m i s s i o n a r a a t e s t e m u n h a r e m s e u n o m e . O s r e i t e r a d o s encorajamentos foram necessárias à temerosidade própria da constitui -ção de Jeremias (v. ITm 4:12; 6:13; 2Tm 2:3). Parábola do cinto apodrecido (Jr 13:1-11)Ellicott não acredita que haja significado parabólico nessa e em ou-t r a s representações figuradas da verdade: "Não há a b s o l u t a m e n t e nenhum fundamento em considerar o cinto uma visão ou parábola, assimcomo também não há razão em considerar o uso simbólico da 'botija deoleiro' (19:1), ou das 'brochas e canzis' (27:2), ou do fato de Isaías andar'nu e descalço' (Is 20:2)". Mas, usando o termo parábola no sentido maisamplo, é evidente que Jeremias recebeu ordens de encenar mais uma devemos entender "as canas de milho deixadas no campo pelo ceifeiro".Esse restolho quebrado estava sujeito a ser carregado pelo primeiro ven-daval (Is 40:24; 41:2). Os ventos do deserto varrem tudo e não há obstá-culos que os detenham. A solene aplicação desse símile é que o castigocorresponde à perversidade do povo. "Como seus pecados foram cometi-dos nos lugares mais públicos, Deus declarou que os exporia ao francod e s p r e z o d a s o u t r a s n a ç õ e s " ( Lm 1 : 8 ) . T a l v e z a i r r e m e d i a b i l i d a d e d a condenação seja abrandada pela pergunta: "Ficarás limpo? Quando?".Embora Jeremias aparecesse para negar a possibilidade de que tão longoendurecimento no pecado fosse purificado tão depressa, havia, contudo,a esperança de que o leopardo pudesse mudar as suas manchas. "Nadahá que te seja demasiado difícil" (Jr 32:17; Lc 18:27; Jo 1:7). Parábola do oleiro e do barro (Jr 18:1-10)Ao contemplar o trabalho do oleiro sobre as rodas, Jeremias passa aaprender a lição de como Deus lida com as nações. A parábola continuouq u a n d o o p r o f e t a f o i a o v a l e d o f i l h o d e H i n o m , p a r a a d v e r t i r o r e i e o povo da destruição que os acometeria. Assim como o oleiro despedaçavao v a s o , e l e s s e r i a m condenados por não ter valor (Jr 19). A figura doOleiro já fora e m p r e g a d a e m r e f e r ê n c i a à o b r a d a c r i a ç ã o d e D e u s ( Is 29:16; 45:9; 64:8). Muito da linguagem figurada de Jeremias tem a in -fluência de Isaías.O que mais impressionou tanto Isaías (29:16; 45:9) quanto Jeremias(18:4,6) foi o absoluto domínio da vontade do oleiro sobre o seu barro, omistério e a maravilha de sua capacidade criadora. Depois de observar ooleiro, Jeremias declarou aos judeus que eles eram, apesar de tanto se j a c t a r e m d e s u a f o r ç a , t ã o f r á g e i s q u a n t o o b a r r o e t ã o s u j e i t o s à vontade de Deus quanto o barro ao oleiro. A posição e todos os privilégi-o s d e q u e d e s f r u t a v a m e r a m p r o v i d ê n c i a s d i v i n a s , p a r a q u e f o s s e m vasos de honra. Mas, no processo de formação, resistiram à vontade e aopoder do Oleiro celestial. Não se deve perder de vista o fato de que "oteor completo dessa pará bola, bem como o conhecido caráter de Deussão 57

contrários à conclusão de que o Senhor tivesse algum prazer nocaráter d e g e n e r a d o d e Is r a e l o u d e a l g u m a f o r m a t i v e s s e c o n t r i b u í d o p a r a esse estado". O vaso quebrado não era culpa do oleiro. Algumasubstância estranha no barro frustrou seus esforços e a r r u i n o u o s e u trabalho.Essa parábola é de atos, não de palavras, visto que não há registrode conversa entre o profeta e o oleiro. Enquanto Jeremias observava ao b r a c r i a d a n a s r o d a s , p o r m e i o d o q u e viu pôde ouvir Deus falar. Depronto identificou o significado simbólico do oleiro e do barro, embora opróprio oleiro não visse nada de parabólico em sua obra. Jeremias, con -tudo, aprendeu a mensagem no vaso quebrado e assim desafiou a naçãoque frustrara o propósito divino: "Não posso fazer de vós como fez este

oleiro, ó casa de Israel?".Nenhuma das parábolas do AT nos fala de modo mais direto, pesso-al e abrangente do que essa. Embora a primeira interpretação refira seao Israel de então, a parábola tem aplicação muito mais abrangente. Osprofetas do AT foram antes de tudo mensageiros da época em que vivi -am — anunciadores antes de atuar como prenunciadores ou mensageirosdas gerações seguintes. A Parábola do oleiro e do barro, então, era todaacerca de Deus e de Israel. É toda acerca de Deus e de nós mesmos. Deus, contudo, é o Deus da segunda oportunidade, o que Jeremiasaprendeu ao observar o oleiro amassando o barro que o decepcionara etransformando-o em um vaso encantador. Que excelente parábola sobreo q u e o t r a t a m e n t o q u e D e u s d i s p e n s a a o s h o m e n s e à s n a ç õ e s ! ( R m 9:21; 2Tm 2:20). Acaso o Senhor não é capaz de reconstruir o caráter, avida e a esperança? Sua vida está deformada por resistir à modelagemdas mãos de Deus? Bem, sendo dele, você est á ainda em suas mãos (Jo1 0 : 2 8 , 2 9 ) , e e l e e s p e r a m o l d á - l o o u t r a v e z , d a mesma maneira quetransformará Israel em vaso de grande h o n r a q u a n d o r e t o r n a r p a r a introduzi-lo em seu reino. Então, c o m o n u n c a a n t e s , I s r a e l s e r á a s u a glória. Enquanto permanecermos em suas mãos como barro submisso,n a d a t e m o s a t e m e r . A i n d a q u e s e j a m o s f r a c o s e s e m v a l o r , e l e p o d e fazer de nós vasos de honra, próprios para ele usar. Mas de Ti preciso, como antes,De Ti, Deus, que amaste os errantes;E como, nem mesmo nos piores turbilhões,Eu —à roda da vida,Multiforme e multicolorida, Atordoadamente absorto— errei meu alvo, para abrandar Tua sede,Então toma e usa a Tua obra!Conserta toda falha que sobra, As distorções da matéria, as deformações do alvo!Meus momentos estão em Tua mão: Arremata o vaso 58

segundo o padrão!Q u e o s a n o s r e v e l e m o s j o v e n s , e a m o r t e o s d ê p o r consumados. Parábola da botija quebrada (Jr 19:1-13)Essa outra parábola encenada não pode ser confundida com a queacabamos de analisar, embora Jeremias possa ter usado uma botija dom e s m o o l e i r o . E s s a p a r á b o l a d r a m a t i z a d a representa o lado negro da p a r á b o l a a n t e r i o r , d o o l e i r o . A e v i d e n t e d i f e r e n ç a e n t r e a s d u a s parábolas revela a irremediabilidade da condição e da posição de Israel.Na Parábola do oleiro há a idéia de construção. O barro, apesar dei m p u r o , a i n d a e s t a v a m a l e á v e i , p o d e n d o s e r r e m o d e l a d o n o f o r m a t o desejado. Assim "o oleiro tornou a fazer dele outro vaso". Na Parábola da botija, o tema evidente é a destruição. Israel estavatão incorrigível no pecado e na rebeldia que parecia já não ter esperançade recuperação. Aqui o barro já está endurecido. Qualquer remodelagemera impossível e, por não servir ao propósito para o qual fora criado, nãohaveria outra medida senão destruí-lo. Que solene e espantoso símbolod a o b s t i n a ç ã o d e I s r a e l , q u e r e s u l t o u n o d e c l í n i o d o s e u s i s t e m a nacional, político e religioso! Os anciãos, tanto do povo quanto dos sacerdotes, eram o s representantes do governo civil e religioso e, portanto, foram chamadosp a r a testemunhar a parábola encenada e a profecia sobre tudo o q u e c o n s i d e r a v a m d e m a i s p r e c i o s o ( 1 9 : 1 0 ; Is 8 : 1 , 2 ) . " D e u s e s p a l h o u a s nações e os seus representantes". Mais tarde, os judeus não poderiama l e g a r d e s c o n h e c i m e n t o d a s p r o f e c i a s q u e s e u s anciãos tinhamrecebido.E algo significativo que o lugar em que o pecado foi praticado tenhasido escolhido como o local da denúncia divina contra Israel. O própriolugar de onde aguardavam o socorro dos seus ídolos seria o cenário deseu massacre. No vale de Hinom a mais abominável forma de idolatriaera praticada. Tofete era o centro dos sacrifícios a Moloque (2Rs 23:10) — sacrifícios humanos a que Israel se viciara. Assim, o l u g a r d e degradação testemunharia o castigo e a destruição, exatamente comomais tarde aconteceu em Jerusalém, onde Cristo foi crucificado, fazendoda cidade um lugar de terrível destruição.Quanto à quebra da botija diante dos homens, esse ato parabólicorealça o direito e o poder divino de quebrar os homens e as nações empedaços, como a um vaso de oleiro (SI 2:9). As imagens bem conhecidasexpressam a soberania absoluta de Deus (Jr 18:6; Rm 9:20,21). "... nãopode mais refazer-se" refere-se de modo trágico à ruína de Israel. Deus,como divino oleiro, quebra o que não pode ser restaurado. Jeremias pro-fetizou o colapso e a dispersão de I 59

ST rael — nação privilegiada— profeciaq u e s e c u m p r i u p l e n a m e n t e n a i n v a s ã o d o s r o m a n o s ( 7 0 d . C ) . O s t e r - ríveis infortúnios desse capítulo foram escolha de Israel; e o castigo porrejeitarem a Deus deveria ser pago.Embora a botija ou o vaso do oleiro não possa ser restaurado, pode-se fazer outro do mesmo material, de modo que há, para a felicidade deIsrael, uma profunda compaixão divina que a parábola de Jeremias nãod e i x a d e a p r e s e n t a r . D e u s r e c o l h e u o s f r a g m e n t o s d o l i x o e f e z s u r g i r uma nova semente para os judeus —não igual aos rebeldes destruídos,cuja ruína o profeta anunciou, mas a colocação de outra geração no lu-g a r d e l e s . P a u l o e n s i n a q u e o s f r a g m e n t o s e s p a l h a d o s h ã o d e s e u n i r novamente e Israel se transformará num vaso de grande honra (Rm 11). Parábola dos dois cestos de figos (Jr 24:1-10)Os capítulos de 22 a 24 dizem respeito ao mesmo período, a saber,o reinado de Zedequias, após a primeira conquista de Jerusalém e o cati-veiro de seus principais habitantes. Esses acontecimentos formam o ce -

nário da visão simbólica de Jeremias (v. Am 7:1,4,7; 8:1; Zc 1:8; 2:1). Seo s cestos de figos foram realmente vistos, então temos um e x e m p l o nessa parábola da capacidade do profeta-poeta de encontrar parábolase m t o d a s a s c o i s a s — " S e r m õ e s e m p e d r a s e l i v r o s e m r i a c h o s " . N o entanto, como Jeremias começa a parábola com as palavras "Mostrou-me o Senhor", concluímos que o profeta recebeu uma mediação especiald e Deus. Seus olhos físicos viram o oleiro nas rodas, mas foram s e u s olhos espirituais que tiveram a visão dos figos. Em estado de consciênciae d e responsabilidade, Jeremias recebeu a mensagem divina p a r a Zedequias. Figos muito bons Um cesto continha figos bons, temporãos. Esse "figo que amadure-c e a n t e s d o v e r ã o " o u " f r u t a t ê m p o r a d a f i g u e i r a n o s e u p r i n c í p i o " ( Is 28:4; Os 9:10; Mq 7:1) era tratado como a mais fina iguaria. No dia dacalamidade, dois grupos distintos foram achados —os bons e os maus.Os "figos muito bons" representavam os cativos levados para a Caldéia.Por meio deles, no futuro, Deus restauraria os seus. Daniel, Ezequiel, ostrês jovens hebreus e Jeconias (Joaquim) estavam entre os bons figos.Como essa parábola-profecia deve ter encorajado os desesperançososexilados! Também serviu para repreender os que escaparam do cativei-ro, os quais, julgando-se superiores aos exilados na Babilônia, injuriaramos antepassados de Deus (Jr 52:31-34). Figos muito ruinsRuim é palavra portuguesa que abarca uma infinidade de sentidosde cunho negativo. Cumpre salientar, porém, as acepções "inútil", "sem mérito" e "estragado", "deteriorado". Hoje, quando dizemos que uma fru-ta é ou está "ruim", em geral nos referimos à qualidade do seu sabor, aof a t o d e n ã o s e r o u e s t a r m u i t o p a l a t á v e l ( s e n d o o u e s t a n d o a z e d a , amarga, verde etc). De modo que 60

as acepções mencionadas acima decerta forma se perderam nas transformações etimológicas da palavra ou,ao adjetivar outros substantivos, se perdem ainda na subjetividade, im-p r e c i s ã o e a b r a n g ê n c i a d o v o c á b u l o . Le n d o o s c l á s s i c o s d a l i t e r a t u r a , contudo, poderemos notar o emprego de ruim com a idéia muito clara,em alguns casos, de "sem valor", "inútil".N o c e s t o d e f i g o s i m p r e s t á v e i s , t ã o r u i n s q u e n ã o p o d i a m s e r comidos, temos um símbolo dos cativos de Zedequias e daqueles judeusrebeldes, indóceis e obstinados que permaneceram com ele. Sobre essescairia o juízo divino (Jr 24:8-10). Os termos bons e maus são usados nãoe m s e n t i d o a b s o l u t o , m a s c o m o c o m p a r a ç ã o e p a r a mostrar o castigod o s m a u s . O s b o n s e r a m o l h a d o s p o r D e u s com favor (24:5). Deusestimava os exilados na Babilônia como quem vê bons figos com bonsolhos e desfez o cativeiro "para o seu bem". Levando-os para a Babilônia,Deus também os salvara da calamidade que sobrevi -ria ao restante danação e os conduzira ao arrependimento e a uma condição melhor (2Rs 25:27-30).O retorno do cativeiro babilônico e a volta a D eus eram resultado do efeito punitivo da escravidão, um tipo da completa restauração dos j u d e u s . E n t ã o , q u a n d o o M e s s i a s r e t o r n a r , s e r ã o c o m o u m a n a ç ã o renascida em um dia. Tendo -se voltado para Deus de todo o coração,todo o povo será um cesto de figos muito bons. No Commentary [Co-mentário] de Lange encontramos esta aplicação: "Os prisioneiros e os decoração quebrantado são como os figos bons, agradáveis a Deus porque:1. conhecem o Senhor e voltam-se para ele;2. ele é o Deus deles, e eles são o seu povo.A q u e l e s q u e s e m a n t ê m a r r o g a n t e s e c o n f i a n t e s d e s a g r a d a m a Deus e são como os figos ruins porque:1. vivem na cegueira tola;2. desafiam o julgamento de Deus.Essa Parábola dos dois cestos de figo pode ser comparada de formaproveitosa com a Parábola do joio e do trigo, de Jesus. Jeremias era um "figo bom", um profeta de verdade, mas os falsosprofetas, "figos ruins", tentavam influenciar os cativos na Babilônia e osq u e e s t a v a m e m J e r u s a l é m ; e o r e s t a n t e d a m e n s a g e m d i v i n a m e n t e inspirada de Jeremias a Zedequias desmentia a autoridade e a inspiraçãodos falsos mestres e mostrava a exatidão da visão dos cestos de figosdados por Deus. Parábola do copo do furor (Jr 25:15-38)E s s e c a p í t u l o s e n t e n c i o s o t r a t a d a p r o f e c i a d o s s e t e n t a anos decativeiro, bem como da destruiçã o da Babilônia e de todas as naçõeso p r e s s o r a s d o s j u d e u s . A c o n d e n a ç ã o d e Judá resultou da sua persistência em pecar. Apesar dos reiterados apelos divinos ao arrependimento, a n a ç ã o j u d a i c a n ã o d e u o u v i d o s a D e u s , s e n d o conquistada pela Babilônia e levada ao exílio. Então temos a profeciasobre a condenação da Babilônia após os setenta anos de cativeiro,executada p o r u m a a l i a n ç a d e n a ç õ e s e r e i s . A o c o n t e m p l a r o f u t u r o , Jeremias profetizou o inescapável juízo que cairia sobre todas as nações,quando a punição divina se destinaria a cada uma delas, até uma grandetempestade surgir dos confins da terra 61

com severos golpes sobre os reise a u t o r i d a d e s . N e s s a p r o f e c i a Z e d e q u i a s i d e n t i f i c a a i n e v i t á v e l destruição que ameaça a si e a Jerusalém.N ã o t o m a r e m o s o " c o p o d o f u r o r " e m s e n t i d o l i t e r a l , c o m o s e Jeremias de fato oferecesse uma taça de vinho aos embaixadores dasnações citadas e reunidas em Jerusalém. Esse "copo" refere -se ao queDeus revelou à mente do profeta com respeito aos seus justos juízos. Ataça de vinho simbolizava punição embriaga-dora (Jr 13:12,13; 49:12;5 1 : 1 7 ) . C o m o j á m e n c i o n a m o s , J e r e m i a s m u i t a s v e z e s i n c o r p o r a a linguagem parabólica de Isaías em suas profe -, cias (cf. Lm 4:21 com Is

51:17-22; v. Jó 21:20; SI 75:8; Ap 16:19; 18:6).A s n a ç õ e s , q u a n d o b e b e s s e m d o c o p o d o f u r o r , c a m b a l e a r i a m e enlouqueceriam como os que se embriagam. Elicott diz que "as palavrasfalam do que a história já testemunhou muitas vezes: o pânico e o terrord e n a ç õ e s p e q u e n a s d i a n t e d o a v a n ç o d e u m gr a n d e c o n q u i s t a d o r — ficam como que tomadas de uma louca embriaguez e o seu desesperoou a sua resistência são igualmente ensandecidos. As imagens já são comuns a profetas anteriores" (SI 60:5; Ez 23:21; He 2:16)."... se não quiserem tomar o copo" (Jr 25:28) parece insinuar quen e n h u m e s f o r ç o e v i t a r i a a d e s t r u i ç ã o . " S e n ã o p o u p o n e m o s m e u s eleitos por causa dos seus pecados, muito menos a vocês" (Ez 9:6; Ob 6;Lc 23:31; lPe 4:17). A consumação da fúria divina sobre um mundo ímpioe perverso dar-se-á na grande tribu-lação, quando os copos do furor deDeus serão derramados sobre a terra (Ap 6:16; 14:10,19; 16:19 etc). Jeremias conclui o capítulo com uma referência aos magistrados ereis que se julgam "vasos agradáveis" ou vasos do desejo. Seriam que-brados e inutilizados. Jeconias fora idolatrado pelos judeus, e Jeremias,falando em nome deles, manifesta a perplexidade diante daquele comquem tanto contavam, mas que foi completamente derrubado (Jr 22:28;Sl 31:12; Os 8:8). Que solene lição para o seu coração e o meu! Parábola das brochas e dos canzis (Jr 27 e 28)Agrupamos esses dois capítulos porque os dois tratam de "brochase canzis" ou, como prefere certo comentarista, tiras e ripas. O capítulo27 fala da inutilidade de resistir ao domínio de Nabucodonosor. Jeremias,que mostrara na visão dos cestos de figos o castigo determinado contra Judá pela Babilônia, agora proclama o parecer divino sobre esse assunto.O profeta recebeu ordens para fazer brochas e canzis, enviando umamensagem aos embaixadores dos reis que queriam que o rei de J u d á entrasse em aliança com eles. Zedequias e os demais são intimados a serender, porque o cativeiro era o plano divino para a reconstrução. "Meteio s v o s s o s pescoços no jugo do rei de Babilônia [..'.] e vivereis" ( J r 27:12,13). Mas o povo rejeitou o plano de Deus e o conselho de Jeremias,sofrendo por isso (Jr 39:6-8).O s c a p í t u l o s 2 8 e 2 9 c o n t ê m p r o f e c i a s r e l a c i o n a d a s à s d o s capítulos anteriores e dizem respeito ao r e l a c i o n a m e n t o f r a n c o e n t r e Jeremias, o verdadeiro profeta, e os falsos profetas, dos quais o homemde Deus tão solen emente advertira a Zedequias. Hananias falsamentep r o f e t i z a r a q u e D e u s q u e b r a r i a o j u g o d a B a b i l ô n i a e m d o i s a n o s e quebrou os canzis, querendo simbolizar c o m i s s o a q u e b r a d o j u g o d o conquistador. Jeremias recebeu ordens divinas de 62

contradizer a profeciade Hananias e declarar que canzis de ferro substituiriam os de madeira eo f a l s o p r o f e t a m o r r e r i a , c o m o d e f a t o a c o n t e c e u d e p o i s d e i m p o s t a a forma mais severa de cativeiro. Brochas. Era por meio dessas correias que o canzil era atado ao animal de carga. Canzis. O c a n z i l e m g e r a l e r a u m p e d a ç o d e m a d e i r a e n t a l h a d o , fixado, em cada extremidade, a um jugo. Esses dois jugos, então, eram postos sobre a cerviz de dois bois a fim de uni-los. O fato de canzil estarno plural (27.1) significa que Jeremias deveria usar um e dar os outrosaos mensageiros (28:10,12).N ã o é mencionado como a ordem chegou a Jeremias. O profetasimplesmente declara: "Assim me disse o Senhor". Ellicott s u p õ e q u e Jeremias recebeu uma clara predi-ção simbólica, semelhante à que Isaíast e v e q u a n d o f o i c h a m a d o a a n d a r " n u e d e s c a l ç o " ( I s 2 0 : 2 ) . P a - rabolicamente, Jeremias deveria se ver como escravo e animal de carga,para ressaltar a aflição que estava por vir, que era a subjugação do povo( v . A t 2 1 : 1 1 ) . É m u i t o e v i d e n t e , e n t r e t a n t o , q u e J e r e m i a s o b e d e c e u à risca à ordem divina (Jr 28:10).O ato carnal de Hananias de tomar o canzil do pescoço de Jeremiase quebrá-lo foi uma audácia ímpia e uma demonstração de que Deus nãocumpriria a sua sentença. Como Hananias, que se dizia profeta de paz,q u e b r a r a o s í m b o l o d a e s c r a v i d ã o , c o m i s s o d e c l a r o u q u e o m e s m o aconteceria ao detestável cativeiro que o canzil representava.A substituição dos "canzis de madeira" pelos "canzis de ferro" (Dt28:48) realça a verdade de que, quando a aflição leve não é bem aceita,p e r m i t e se aflição mais pesada (Jr 28:13,14). Os falsos profetasintimaram os judeus a rebelar-se e desvencilhars e d o c a n z i l d a Babilônia, leve em comparação com o que haveriam de experimentar. Aoproceder assim, somente atraíram sobre si o jugo mais severo impostopor Nabucodonosor. "É melhor carregar uma cruz leve pelo caminho quep u x a r u m a c r u z m a i s p e s a d a s o b r e a c a b e ç a . P o d e m o s e v i t a r a s providências destrutivas submeten-do-nos às providências humilhantes.E s p i r i t u a l m e n t e , c o n t r a p o m o s o f a r d o s u a v e d e C r i s t o a o c a n z i l d o cativeiro da lei" (Mt 11:28-31; At 15:10; Gl 5:1). Quando aceitamos o reto juízo de Deus sobre os nossos pecados, a aflição passa a ser benéfica es a l u t a r . S e r e m o s s u r p r e e n d i d o s p o r u m j u í z o a i n d a m a i s s e v e r o , s e , depois da condenação, continuarmos a pecar (lCo 11:31). Se tivessems u b m e t i d o - s e a o m e r e c i d o c a t i v e i r o , e s t e c u r a r i a o s j u d e u s d e s u a idolatria. Na resistência à escravidão, morreram. A s s i m e x p r e s s a o poema inglês: Conta cada aflição, quer suave, quer grave.Se um mensageiro de Deus for enviado a ti, Aceita com cortesia a sua visita: desperta-te e inclina-te.E, antes que sua sombra passe pela tua porta,Suplica permissão antes que seus pés celestiais saiam.Então coloca diante dele tudo o que tens.N ã o p e r m i t a s q u e n e n h u m a n u v e m d e s o f r i m e n t o s e apodere do teu semblante;Nem estrague a tua hospitalidade. A história de amor Corrompeu as filhas de Sião com o mesmo ardor;

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Cuja desenfreada paixão no pórtico sagradoFoi vista por Ezequiel. Parábola das pedras escondidas (Jr 43:8-13)É m a g n í f i c a a c o r a g e m d e J e r e m i a s d i a n t e d a r e j e i ç ã o d e s u a mensagem divinamente inspirada. Evidentemente ele sabia que, apesardas advertências, seu povo iria para o Egito e lá morreria pela espada, pela fome e pela pestilência. A precisão de sua mensagem manifestou-seimediatamente, e todos foram para o Egito, inclusive ele próprio, onde c o n t i n u o u s e u m i n i s t é r i o d e d e n ú n c i a e d e a d v e r t ê n c i a . N ã o h a v i a declarado ser completa loucura tentar fugir dos juízos decretados por Deus? T e m o s a q u i outra das impressionantes parábolas encenadas. Jeremias é instruído por Deus a pegar grandes pedras e escondê-las combarro no pavimento à entrada do palácio de Faraó, à vista dos homens d e J u d á . Q u ã o s i g n i f i c a t i v a f o i e s s a p a r á b o l a e n c e n a d a p a r a a q u e l e s cujas mentes estavam abertas para receber a implicação divina desseato. Apredição do profeta fica ainda mais vivida quando nos lembramos q u e J e r e m i a s e s c o n d e u a s p e d r a s n o b a r r o . C o m o v e m o s , e s s e s a t o s simbólicos são comuns nas Escrituras (Jr 19:10; 27:2; Ez 12:7 etc). O reise assentaria sobre as pedras que Jeremias escondera, "não por merap o m p a r e a l , m a s c o m a n a t u r e z a d e u m v i n g a d o r a e x e c u t a r a i r a d o Senhor contra a rebelião". O símbolo visível do rei sentado nas pedrass i g n i f i c a q u e o t r o n o d e N a b u c o d o n o s o r s e r i a e s t a b e l e c i d o s o b r e o s destroços do reino de Faraó.Para os judeus, as pedras eram símbolos proféticos e históricos co-nhecidos. Transmitiram à posteridade alguns fatos consumados e profe-tizavam acontecimentos que ainda iam se dar. Jacó e Labão erigiram umaltar de pedras (Gn 31). Doze pedras memoriais foram postas por Josuéno Jordão (Js 4:3,6,9,21). As duas tribos e meia construíram um altar depedra nas margens do mesmo rio (Js 22). Em todo tempo, muitas pedraspermaneciam como um marco e teriam a sua mensagem transmitida degeração a geração. Essa era uma antiga maneira de preservar arquivos.C o m o a s p e d r a s f o r a m t o m a d a s d o s o l o e g í p c i o , p o d e r i a m f a z e r Israel lembrar-se do cativeiro de seus pais e de como Deus os livrou com"mão forte, com braço estendido". As pedras escondidas num pavimentodevem ter lembrado o cativeiro e a perseguição dos antepassados e decomo Deus fez das pedras um instrumento de castigo aos opressores doE g i t o ( Ê x 9:8). Enterrar as pedras simbolizava a condição passada e p r e s e n t e dos judeus, enterrados sob a opressiva tirania do domíniopagão. Aquelas pedras, com o seu significado p a s s a d o , p r e s e n t e e futuro, tinham por objetivo induzir os judeus indóceis a buscar ajuda ep r o t e ç ã o n o ú n i c o l u g a r e m q u e p o d i a m s e r e n c o n t r a d a s , a s a b e r , naquele para quem o seu povo sempre foi a menina de seus olhos. Não ét a m b é m s i g n i f i c a t i v o , q u a n d o p e n s a m o s n e s s a s pedras, o fato de a tradição afirmar que Jeremias foi apedrejado até a morte por s e u s compatriotas em Tafnes? AS PARÁBOLAS DE EZEQUIEL Nada sabemos da história do grande profeta Ezequiel, a não ser oq u e p o d e s e r c o n c l u í d o c o m b a s e n o l i v r o q u e l e v a o s e u n o m e e c o m base nas 64

circunstâncias dos dias em que viveu. Ele não é mencionado e m n e n h u m outro livro do AT, e no Novo não há nenhuma citação de s e u s escritos. Quanto ao fato de que grande parte das imagens d e Ezequiel se encontra no livro de Apocalipse é o que veremos q u a n d o chegarmos ao último livro da Bíblia.O n o m e E z e q u i e l s i g n i f i c a Deus fortalecerá e era singularmenteapropriado à sua vida e ministério. "... a mão do Senhor Deus caiu sobremim" (Ez 1:3; 8:1; 37:1; 40:1), que ocorre reiteradas vezes no livro, re vela como Ezequiel estava consciente de que Deus o havia comissionadoe capacitado. Embora fosse cativo, vivia em casa própria às margens dorio Quebar e serviu a Deus e ao povo por bem mais de 22 anos (Ez 1:2;3:15). Um vislumbre da glória divina resultou no chamado de Ezequielp a r a o m i n i s t é r i o p r o f é t i c o ( E z 1:1,3). Sua repetida expressão "casa r e b e l d e " d á a i d é i a d e q u e a s u a m e n s a g e m e r a à s v e z e s desdenhosamente rejeitada (Ez 3:7). Chamado muitas v e z e s p a r a admoestar os israelitas, estes não se deixavam i n f l u e n c i a r p o r s u a s palavras (Ez 33:30-33). Todavia, existiam alguns companheiros de exílioque o consideravam um verdadeiro profeta e iam à sua casa em buscade aconselhamento (Ez 8:1; 14:1; 20:1). Era pastor tanto quanto profeta,p o i s t a n t o c u i d a v a d a s a l m a s c o m o i n t r e p i d a m e n t e p r o c l a m a v a a mensagem de Deus.E z e q u i e l , l e v a d o c a t i v o p a r a a B a b i l ô n i a j u n t o c o m o r e i J o a q u i m (1:2; 33:21), no oitavo ano do reinado de Nabucodonosor, era casado.Quando a esposa morreu subitamente por volta do nono ano do seu cati-veiro (24:1,16,17), Deus o proibiu de prantear essa morte. Dessa forma op r o f e t a e x i l a d o t e v e d e s u p o r t a r n a s o l i d ã o a s g r a n d e s p r o v a s d e s u a vida profética.Sua vida, especialmente em sua primeira parte, foi acompanhadade muita provação. Teve de lutar contra grandes dificuldades em meio àabundante maldade, morrendo sem conseguir ver o pleno resultado de s e u trabalho infatigável e fiel. Hengstenberg, em sua monumental Christology of the Old Testament [Cristologia do Antigo Testamento], dizque: "Ezequiel foi um Sansão espiritual que, com braço forte, agarrou asc o l u n a s do templo dos ídolos e as derrubou ao chão; enérgico e gi gantesco caráter que, por essa mesma razão, estava perfeitamente aptopara combater o espírito dos tempos babilônicos, que amava manifestar-s e d e f o r m a s v i o l e n t a s , g i g a n t e s c a s e g r o t e s c a s : a l g u é m q u e e s t a v a sozinho, mas valia por cem profetas".Por ser homem de notável caráter, Ezequiel chamava a atenção. " S u a coragem moral era impressionante (3:8); ele sempre agiu como

'subordinado', aceitando uma desagradável missão e dedicando-se a ela,a p e s a r d o sofrimento rápido e constante (3:14,18; 33:7). Q u a n d o suspirava, era por ordem de Deus" (21:6,7). Sendo inconfundivelmenteum profeta, relacionava-se com os aspectos interiores do reino de Deus.A q u a l i d a d e d a s s u a s p r o f e c i a s e r a c o n t u n d e n t e , p o r q u e p o d i a f a l a r a Israel por meio dos exilados epor meio de 65

Israel aos homens de todas asn a c i o n a l i d a d e s e é p o c a s . T i n h a i g u a l m e n t e capacidade de ver pelascircunstâncias reinantes na época, o fundamento e os princípios das v e r d a d e s e t e r n a s . E m t o d a s a s suas profecias, a nota de esperançar e s s o a c l a r a e j u b i l a n t e . Como diz o dr. Campbell Morgan, em sua Message ofEzekiel [Mensagem de Ezequiel}: "Com toda a probabilidade,f o r a m a s p r o f e c i a s d e e s p e r a n ç a d e J e r e m i a s q u e i n s p i r a r a m a s d e Ezequiel, mas pode ser que a ausência de lágrimas e de lamentações namensagem de Ezequiel se dava ao fato de que a sua visão de Deus doprocesso e da vitória definitiva era mais nítida que a de Jeremias".George Herbert cantou: O h o m e m q u e o l h a o e s p e l h o , S e u s o l h o s n e l e s e p o d e m fixar;Mas, se desejar ver mais além, O Céu então há de avistar. "Ezequiel viu o espelho, mas olhou para além dele. Por ter obser -vado com precisão o transitório, certamente percebeu além dele o eter -n o . P e r c e b i a c o m m u i t a a r g ú c i a o m u n d o m a t e r i a l , m a s t i n h a s u p r e - mamente mais consciência do mundo espiritual."Ezequiel era também sacerdote —"sacerdote em traje de profeta".R e f e r e - s e a s i m e s m o c o m o " f i l h o d e B u z i , o s a c e r d o t e " ( E z 1 : 3 ) , e a consciência da sua herança arônica coloria a sua missão e as suas men-s a g e n s . " S e n d o u m ' c r i s t ã o ' e m t o d o s o s a s p e c t o s " , u m f o r t e c a r á t e r eclesiástico permeia as suas profecias e lhes dá o tom. Pensamentos ep r i n c í p i o s d o s a c e r d ó c i o c o n t r o l a v a m a s u a c o n d u t a ( E z 4 : 1 4 ) e e n - riqueceram seu ministério vigoroso, o que s e m a n i f e s t a n a d e s c r i ç ã o detalhada do templo, no final do seu livro. "Como sacerdote, quando exi-lado, seu serviço foi apenas transferido do templo visível de Jerusalémpara o templo espiritual da Caldéia". Impossibilitado de desempenharoficialmente as funções sacerdotes, Ezequiel exerceu um ministério vital,tanto profético como pastoral.O e s t i l o p a r a b ó l i c o e s i m b ó l i c o d o p r o f e t a c a r a c t e r i z a a s u a mensagem oral e escrita. Falava em parábolas com o propósito expressode despertar a atenção do povo para o real sentido de sua mensagem:"eles dizem de mim: Não é ele um contador de parábolas?" (Ez 20:49).S e m d ú v i d a e l e f o i i n f l u e n c i a d o p e l o e s t i l o d a s profecias de Jeremias. E z e q u i e l é c h a m a d o " o p r o l o n g a m e n t o d a v o z d e J e r e m i a s " , e a influência deste sobre ele é evidente. Embora o estudo dos dois profetasr e v e l e í n t i m a h a r m o n i a d a v e r d a d e d e a m b o s , n a s c a r a c t e r í s t i c a s pessoais eram largamente opostos. "Jeremias era queixoso, sensível àsf a l h a s e m e i g o ; Ezequiel era abrupto, intransigente, r e s o l u t o , demonstrando zelo sacer -dotal contra os que se opunham a ele. Seu procedimento com a corrupção reinante na época era tão severo quantoo de Jeremias", diz Campbell Morgan, "e suas mensagens de condenaçãoe r a m i g u a l m e n t e s e v e r a s . N u n c a r e c o r r i a à s l á g r i m a s c o m o J e r e m i a s , mas a sua visão da libertação final do povo pelo triunfo do Senhor era ainda mais nítida".Quanto ao estilo de Ezequiel, sobejam as repetições, não como or -namento, mas para dar força e peso. Sempre que as repetições ocorremnas Escrituras, referem-se a algo que o Senhor deseja ressaltar: "Eu, oSenhor, o disse", "saberão que eu sou o Senhor". Essas expressões sãousadas inúmeras vezes. "Veio a mim a palavra do 66

Senhor" é a conhecidaintrodução às profecias de Ezequiel e revela o chamado do profeta parad e c l a r a r a v o n t a d e d e D e u s e p a r a f i r m a r a s u a a u t o r i d a d e . A p a l a v r a favorita de Ezequiel em referência aos ídolos é usada perto de 58 vezes.Em seu livro redundam as imagens, e às vezes t emos um misto de figu-r a d o e l i t e r a l ( 3 1 : 1 7 ) . O s p a r a l e - l i s m o s p o é t i c o s t i n h a m p o r objetivoe s t i m u l a r a m e n t e a d o r m e c i d a d o s j u d e u s . E z e q u i e l v i u c o m m u i t a clareza o que estava diante dele e descreveu tudo com figuras cheias designificado (Ez 29:3; 34:1-19; 37:1-14). Há também uma verdadeira forçal í r i c a em seus cantos fúnebres (27:26-32; 32:17-32; 34:25-31). E m nenhum outro lugar da Bíblia se vê uma linguagem tão violenta c o m respeito ao pecado quanto a de Ezequiel. Fairbairn, no estudo On Ezekiel[Sobre Ezequiel], refere-se ao caráter indiscutivelmente enigmático de a l g u n s d e s e u s símbolos: "Associadas de forma inseparável ao prazer q u e o n o s s o p r o f e t a s e n t i a n o u s o d a s p a r á b o l a s e d o s s í m b o l o s , a s trevas, s e e n t e n d i d a s d e f o r m a c o r r e t a , d e m o d o a l g u m d i v e r g i a m d e seu grande desígnio de profeta. Seu objetivo principal era impressionar — despertar e estimular, despertar pensamentos espirituais e senti mentos nas profundezas da alma, trazendo -a de volta a uma confiançaviva e a uma fé em Deus. Para tanto, embora fossem necessárias grandeclareza e força de linguagem, os símbolos misteriosos e as admiráveisdelineações parabólicas também seriam de utilidade. Por conseguinte, ainda que Ezequiel muitas vezes se dirija ao povo na linguagem simplesd e a d m o e s t a ç ã o o u d e p r o m e s s a , é t a m b é m p r ó d i g o d e v i s õ e s b e m elaboradas (1:8; 9; 37; 40 —48) e ações simbólicas (4; 5; 12), fazendo u s o t a m b é m d e analogias (15; 33; 35), de parábolas (17) e d e demoradas alegorias (23); mesmo nas acusações, como a do Egito (29 32), ele às vezes se eleva à altura da mais ousada e eficaz poesia".A p ó s e s s a introdução, já estamos aptos a examinar a instrução p a r a b ó l i c a inspirada de Ezequiel, o qual sempre buscou lograr u m a representação concreta dos pensamentos abstratos. Possuidor de ricafantasia, ele era no entanto tomado de emoções profundas, e sempre emsua mente estava a consecução de um resultado prático definido. Parábola dos seres viventes (Ez 1:1-28)Embora haja um elemento de mistério associado a essa primeira

parábola de Ezequiel, essa visão envolvente revela uma profunda ex periência de manifestação. Campbell Morgan faz lembrar que "A palavra-c h a v e d a v i s ã o é semelhança. Semelhança é aquilo que revela algo. Aidéia da raiz do termo hebraico é a de comparação. E exatamente a mes-ma idéia presente no vocábulo grego que traduzimos por parábola. Nãoe s t o u a f i r m a n d o q u e o s i g n i f i c a d o d a r a i z s e j a o m e s m o , m a s s i m quetransmite a mesma idéia. A parábola é algo posto ao lado de algumac o i s a , c o m o f i t o d e explicar. 67

É u m a f i g u r a q u e t e m p o r o b j e t i v o interpretar algo que, sem ela, não poderia ser claramente compreendido.Essa é a tônica da visão. Trata-se de comparação, analogia, parábola,f i g u r a . E z e q u i e l n ã o v i u o q u e a l g u m o u t r o h o m e m j á v i r a , m a s contemplou uma visão do Senhor na forma de uma semelhança".O que ele viu começa na terra e termina no céu, com um Homemassentado no trono. A linguagem altiva e maravilhosa do profeta revestiua realidade suprema e central dos quatro seres viventes, que constituem"uma revelação ou manifestação do infinito mistério do Ser que ocupa ot r o n o a c i m a d o f i r m a m e n t o — v i s ã o q u e t a m b é m c o n s t i t u i a r a z ã o d a esperança de Ezequiel". Antes de examinarmos a visão em todos os seusp o r m e n o r e s , h á t r ê s a s p e c t o s q u e m e r e c e m d e s t a q u e n e s s a v i s ã o d a Inteligência Suprema:1. Por ser infinito, Deus teve de revestir a revelação de si mesmo e m l i n g u a g e m o u em formas compreensíveis ao nosso entendimento f i n i t o . P o r e s s e m o t i v o r e v e s t e r e a l i d a d e s e t e r n a s e i n v i s í v e i s c o m elementos temporais e visíveis. Ezequiel esforçou -se para representar oque inevitavelmente ultrapassa a capacidade humana de expressão; daí as repetições e a falta de clareza nos pormenores. "Toda as descriçõesde manifestações divinas", diz Ellicott, "são, como essa, marcadas, commaior ou menor força, pelas mesmas características" (v. Êx 24:9,10; Is6:1-4; Dn 7:9,10; Ap 1:12-20; 4:2-6).2 . A v i s ã o p a r a b ó l i c a d e E z e q u i e l i n c l u i t o d a s a s f o r m a s d e manifestação divina conhecidas até a sua época. São elas:O fogo, que apareceu a Abraão, a Moisés e a Israel no Sinai.O vento tempestuoso, do meio do qual Deus falou a Jó. Um ventoassim também fendeu as montanhas diante de Elias.O arco-íris, sinal da aliança de Deus com Noé.A nuvem (de glória) com resplen-dor ao redor, c o m o a q u e repousava sobre o tabernáculo e sobre o templo.As teofanias ou formas humanas com as quais o Juiz de toda a terraapareceu a Abraão.E um símbolo novo:as rodas que brilhavam como o berilo, "cheias de olhos" e "altas eformidáveis".3. Há quatro expressões usadas em referência à revelação de Deusfeita a Ezequiel. As três primeiras dizem respeito a elementos externos,que assegurariam ao profeta a verdade da revelação. A quarta expressãorelaciona-se ao preparo interior de Ezequiel para receber a revelação. 1. ...abriram-se os céus... ( E z 1 : 1 ; v . M t 3 : 1 6 ; A t 7 : 5 6 ; 1 0 : 1 1 ; A p 19:11). Os céus abertos mostram a aproximação misericordiosa de Deusem relação ao homem. Quando os céus estão fechados, o homem nãotem acesso a Deus e não pode contar com a sua provisão. 2. ... visões de Deus... (Ez 1:1; v. Gn 10:9; SI 36:6; 80:10; Jn 3:3; At7:20). O que Ezequiel experimentou não foi nenhum transe ou alucina-ção, mas visões divinas, ou manifestações de Deus, dadas pelo próprioDeus (Ez 8:3; 40:2). 3. ... a palavra do Senhor... 68

(Ez 1:3; 24:24). Somente nesses doisc a s o s E z e q u i e l f e z m e n ç ã o d o s e u p r ó p r i o n o m e , e o f a z c o m o a l v o d e uma comunicação concedida por Deus.... veio expressamente significa "veio sem sombra de dúvida", comtotal comprovação de sua verdade. A expressão "a palavra do Senhor",que ocorre repetidas vezes, tem em si a força da inspiração divina (lTs4:11). 4. ... ali esteve sobre ele a mão do Senhor... (Ez 1:3; 3:22; 37:1; v.lRs 18:46; Dn 8:15; 10:15; Ap 1:17). O Senhor, por seu poderoso toque,fortaleceu Ezequiel para a tarefa sublime e árdua de transmitir de modopreciso a revelação divina recebida.Examinaremos agora os integrantes da visão que o profeta teve daglória de Deus, que ocupam o restante do capítulo:1 . . . . um vento tempestuoso que vinha do norte... (Ez l:4;v.Jr1 : 1 4 , 1 5 ; 4 : 6 ; 6 : 1 ) . E z e q u i e l a p r e n d e u c o m J e r e m i a s q u e o v e n t o tempestuoso significa os justos juízos de Deus (Jr 22:19; 25:32). O fatode vir do norte tem duplo significado. O norte era tido como o lugar emque Deus se assentava (Is 14:13,14). E foi do norte, ou seja, da Assíria eda Caldéia, que as forças inimigas invadiram Judá.2. ... uma grande nuvem... Esse quarto versículo poderia ser tradu-zido da seguinte forma: "... vi um vento tempestuoso vindo do norte queprovocava uma grande nuvem". Ezequiel sabia que a nuvem simbolizavaa manifestação de Deus e que, no Sinai, representava q esconderijo dam a j e s t a d e d i v i n a ( Ê x 1 9 : 9 - 1 6 ) . A nuvem e r a t u d o o q u e o s o l h o s h u - manos suportavam ver.3. ... um fogo que emitici labaredas de contínuo... (Ez 1:4; Êx 9:24).Certo texto bíblico lembra que o fogo é expressão da santidade de Deus:"... o nosso Deus é fogo consumidor" (Hb 12:29). O fogo toma conta detudo o que o cerca e, tragando para si, a tudo consome. Horrendas tempestades se fazem acompanhar de nuvens negras às vezes iluminadas por relâmpagos. Essa aparição natural se depreende da frase do profeta,que diz: "um resplendor ao redor dela".4. O centro do fogo tinha a aparência do brilho de âmbar (Ez1 : 4 , 2 7 ; 8 : 2 ) . O t e r m o o r i g i n a l t r a d u z i d o p o r brilho significa também"olho"; o âmbar, encontrado somente em Ezequiel, é em geral interpre-tado como alguma forma de metal brilhante, que resplandecia quandofundido, se assemelhava ao fogo, ou ainda ao bronze polido (Ez 1:7; Ap1:15), reluzente e resplandecente pela luz das "labaredas de contínuo". Temos assim "sobreposto à primeira aparição do fenômeno natural um o l h o b r i l h a n t e o u u m c e n t r o d a n u v e m , a r e l u z i r m e s m o d o c e n t r o d o fogo.

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5. ... quatro seres viventes... (Ez 1:5-26). Do centro da nuvem defogo surgiram esses seres simbólicos, não existentes de fato. Na visão velação de quatro aspectos". Quatro é o número da terra; assim, temos os quatro pontos carde -ais: Aborte, Sul, Leste e Oeste —tendo o primeiro deles a mesma inicialda palavra novas ou do vocábulo notícias. O noticiário proporciona in-formações desses quatro cantos do mundo. Além disso, os quatro rostosrepresentam uma múltipla variedade e uma extraordinária distribuição de dons e de particularidades associadas para um propósito: cada rostosimboliza as diferentes qualidades da mente e do caráter. Rosto de homem. O homem é o mais admirável dos quatro seresm e n c i o n a d o s , s e n d o o i d e a l q u e s e r v e d e m o d e l o a o s o u t r o s t r ê s ( E z 1:10; 10:14). O rosto é o sinal de inteligência e de sabedoria. O homem éo c a b e ç a d e t o d o s o s a n i m a i s c r i a d o s . " O h o m e m e r a o s í m b o l o d a manifestação [...] Manifestação passa a idéia de r e v e l a ç ã o d o m e l h o r que a vida tem a oferecer, e o homem era o ho-mem-símbolo." Rosto de leão. C o m o o l e ã o é o r e i d o s a n i m a i s s e l v a g e n s , t e m o s aqui o símbolo da supremacia. "Supremacia passa a idéia de reinado, e oleão era o símbolo do rei." O leão é também o símbolo oficial de poder ede coragem.R o s t o d e b o i . O b o i é r e c o n h e c i d o c o m o o c a b e ç a d o s a n i m a i s domésticos e simboliza serviço, esforço perseverante, força e paciência. "Serviço passava a idéia de sacrifício, e o boi era símbolo do servo." Rosto de águia. A águia é indiscutivelmente a soberana entre os pássaros, sendo "o emblema do que é ardente, penetrante, elevado, mo-ralmente sublime e devotado". Ou ainda: "a águia é símbolo do mistério,q u e t r a n s m i t e a i d é i a d e a l g o i n s o n d á v e l , s e n d o t a m b é m s í m b o l o d a divindade".D e s d e o s p a i s d a i g r e j a , o s c o m e n t a r i s t a s d a B í b l i a v ê e m n e s s e s quatro rostos uma inspirada 70

representação de Cristo nos quatro evange-lhos. Não é ele o único que reúne todas as excelências?Em Mateus, vemos sua supremacia como rei; em Marcos, vemos seu serviço sacrificial como servo; em Lucas, vemos sua perfeita manifestação como homem; em João, vemos seu infinito e insondável ministério como Deus. Outros detalhes de importância parabólica são: Cada um tinha quatro asas. Movimento e rapidez na execução dospropósitos de Deus são as idéias presentes na simbologia das asas, duasdas quais eram unidas uma à outra (Ez 1:6,11), fazendo supor que todosse movimentavam de forma harmônica e num só impulso. As duas outrasasas cobriam o corpo, o que denota reverência (Is 6:2). Cada um tinha pernas direitas. "As suas pernas eram direitas", i.e.,s e m n e n h u m a d o b r a , c o m o a q u e t e m o s nos joelhos. Por serem retas, e r a m i g u a l m e n t e a d e q u a d a s n ã o apenas para a estabilidade, mast a m b é m p a r a m o v e r - s e e m q u a l q u e r d i r e ç ã o . O f a t o d e s e r e m " a s plantas dos seus pés como a planta do pé de um bezerro" implica que aparte do pé que se apoiava no chão "não era como o pé do ser humano,

formado para mover-se apenas para frente, mas sólido e redondo comoa planta do pé de um bezerro". "... luziam como o brilho do b r o n z e polido" é um detalhe que contribui para o fulgor e para a magnificênciageral da visão. Cada um tinha mãos de homem debaixo das asas. Essas mãos, àsemelhança de mãos humanas e a representar ação, ocultavam-se sobas asas. Asas e mãos! Que combinação interessante! As asas transmitema idéia de adoração; as mãos, de serviço. As asas, contudo, cobriam asmãos, mostrando que, na vida do crente, o espiritual e o secular andam juntos, o primeiro sempre prevalecendo sobre o segundo. A rotina diáriae a s t a r e f a s c o m u n s d e v e m g l o r i f i c a r a D e u s , d a m e s m a f o r m a q u e o aposento de oração. Cada um andava para diante. Não se viravam quando iam. Com " q u a t r o r o s t o s " , o s s e r e s o l h a v a m e m t o d a s a s d i r e ç õ e s ; e o s p é s redondos igualmente lhes possibilitavam mover-se em qualquer sentido.Q u a l q u e r q u e f o s s e a r u m o q u e t o m a s s e m , s e g u i a m s e m p r e " p a r a diante". Nunca desviavam do curso divinamente prescrito. Que lição paranosso indócil coração avaliar! Cada um tinha aparência de brasas de fogo ardentes e tochas. 71

Oprofeta não incorreu em tautologia ao usar "semelhança" (que denota aforma geral) e "parecer" (que denota o aspecto particular). Brasas defogo ardentes (tochas ou relâmpagos) podem representar a intensa eabrasadora pureza de Deus consumindo todas as coisas estranhas à suasanta vontade. Os relâmpagos que saíam do fogo, subindo e descendo, eos seres viventes, saindo e voltando, denotando esplendor e velocidade,e x p r e s s a m m u i t a s v e r d a d e s p r e c i o s a s . H á o m a r a v i l h o s o v i g o r d o Espírito de Deus em todos os seus movimentos, sem jamais descansar,sem nunca se cansar. O fogo ardente simboliza a santidade e a glória deDeus. Os relâmpagos que saíam do fogo transmitem a solene idéia deq u e , a s s i m c o m o a r e t i d ã o d e D e u s f a r i a o r a i o d e s u a i r a c a i r s o b r e Jerusalém, também sobrevirá por fim à terra culpada. Cada um tinha quatro rodas. R o d a s d e i m e n s a s p r o p o r ç õ e s s ã o agora acrescidas ao querubim, mostrando que uma energia gigantesca eterrível haveria de caracterizar as manifestações do Deus de Israel. Umi r r e s i s t í v e l p o d e r a p a r e c e r i a a g o r a n o s t r a t o s d e D e u s , q u e p e r f a z e m uma ação perfeitamente harmoniosa, controlada pela vontade suprema.Várias verdades podem ser extraídas de mais esse curioso simbo-lismo.Em primeiro lugar, essas rodas de grande altura estavam na terra ( E z 1 : 1 5 ) , depois conectadas ao trono celestial (Ez 1:26). As r o d a s também tinham o brilho do berilo, o que se harmoniza, na visão, com af r e q ü e n t e m e n ç ã o d e f o g o e d e l u z b r i l h a n t e . E m s e g u n d o l u g a r , u m a roda estava dentro da outra. Isso refere -se a uma situação em que háu m elemento misterioso, e envolvente. Essa roda apresentada porEzequiel não seria possível mecanicamente, e é usada a p e n a s e m sentido parabólico. Uma roda estava num ângulo exato c om a outra, es e u s m o v i m e n t o s e r a m i n e x p l i c á v e i s — " i a m e m q u a l q u e r d a s q u a t r o direções".As cambotas — aros ou circunferências das rodas— eram "cheias de olhos" (v. Ap 4:8: "por dentro, estavam cheios de olhos"). Essamultiplicidade de olhos (Ez 1:18; 1 0 : 1 2 ) s i m b o l i z a o p e r f e i t o conhecimento de Deus acerca de todas as suas obras e a absoluta s a b e d o r i a d e todos os seus feitos (2Cr 16:9). Jamieson fez e s t e interessante comentário a respeito desse detalhe: "Vemos simbolizadaaqui a abundância de vida inteligente, sendo o olho a janela pela qual 'oe s p í r i t o d a c r i a t u r a v i v e n t e ' n a s r o d a s ( 1 : 2 0 ) p e r c o r r e t o d a a t e r r a ( Z c 4:10). Como as rodas significam a providência de Deus, assim os olhosquerem dizer que ele vê todas as circunstâncias, e nada faz por impulsocego".R e s u m i n d o a m e n s a g e m d o mistério e do movimento das rodas,que são redondas para girar, sabemos que Ezequiel viu o Senhor emmeio às estranhar rodas g i r a t ó r i a s d o s e u p r o c e d i m e n t o e e m m e i o à irresistível energia de que 72

falou na qualidade de Espírito Santo. Comoforam construídas para se mover, o movimento é o estado normal das r o d a s ; o repouso é e x c e ç ã o . Q u a n d o p e n s a m o s n a s l e i s d i v i n a s d a providência e da natureza, percebemos que a sua característica normal éo m o v i m e n t o c o n s t a n t e . N a h i s t ó r i a d a s n a ç õ e s e d a s p e s s o a s , u m acontecimento sempre sucede a outro. "Na ordem e nos movimentosgerais do universo, há constante rotação, incessante movimento para diante, perfeita regularidade e imperturbável harmonia entre tudo o quepossa parecer obscuro e complicado. Na qualidade de Intérprete de simesmo, Deus por fim esclarece todas as coisas". A impressionante lição n o m e c a n i s m o d a s r o d a s , e n t ã o , é a r e p r e s e n t a ç ã o d o s i s t e m a d e influências físicas e materiais e a representação de todo o andamento dom u n d o f í s i c o u n i d o à s i n f l u ê n c i a s i n t e l e c t u a i s e m o r a i s , s i m b o l i z a d a s pelos seres viventes — tudo sob o controle do trono celestial, existindo para a glória do seu Ocupante divino.P o r ú l t i m o , t e m o s t r ê s a s p e c t o s e s p e c í f i c o s d a g l ó r i a d i v i n a , observada por Ezequiel em sua visão, a saber: a voz, o trono eo arco-íris. A v o z . A mesma palavra hebraica nesse versículo poder s e r traduzida por "ruído" e por "voz". Por isso, "o ruído das suas a s a s " , " o ruído de muitas águas", "a voz de um estrondo" e "uma voz por cima dofirmamento" transmitem algo da impressionante "voz do Onipotente".Quando a sua voz era ouvida, os seres viventes, acabrunhados por seust o n s m a j e s t o s o s , s i l e n c i a r a m e m r e v e r ê n c i a . " O f o r t e r u í d o d o s s e u s movimentos silenciou-se, e baixavam as asas sem mexê-las, todos ematitude de reverente atenção".O trono. A divindade agora aparece na semelhança de um homementronizado. As resplendentes referências ao trono, com a sua "aparên -cia de [...] safira", "como o brilho de âmbar" e "como o aspecto do fogo",contribuem para exaltar a glória, a santidade, o poder e a soberania da-quele que se assenta no trono. "Se nas profecias de Isaías vimos o tronoc o m s e u s p r i n c í p i o s f u n d a m e n t a i s " , d i z C a m p b e l l Morgan, "e nas de Jeremias descobrimos as atividades daquele que s e a s s e n t a n o t r o n o , nas de Ezequiel temos o desvendar da natureza de Deus".Não temos aqui uma insinuação ou um prenuncio da encarnação do

Filho de Deus, que se tornou Filho do Homem para fazer dos filhos doshomens filhos de Deus? Cristo não é apenas o representante da "plenitu-de da divindade" (Cl 2:9); é igualmente o representante encarnado dahumanidade. Não são boas novas o fato de o trono ser ocupado por al -guém que se apresenta como "homem" e como "Salvador" e, ao retornarà t e r r a , a t u a r á c o m o Juiz (Ap 19:11-16)? O profundo segredo daesperança de Ezequiel era ter conhecido o trono e 73

o s p r i n c í p i o s governamentais aplicados por aquele que, como D e u s - h o m e m , a t u a tanto a favor Deus como do homem.O arco-íris. "O arco [...] na [...] chuva" lembra o arco-íris, que Deusapresentou como símbolo da firme aliança de sua misericórdia para coms e u s f i l h o s , d e q u e m n ã o s e e s q u e c e r i a n a c o n d e n a ç ã o d o s p e r v e r s o s (Ap 4:3; 10:1). Além dos atributos da sua terrível majestade, descrita porEzequiel, havia também a sua misericórdia e benignidade. O esplendor,assim como o terror, circundam o trono. O "arco que aparece na nuvemno dia de chuva" não é mera alusão ao fenômeno natural do arco-íris,mas relaciona a visão de Ezequiel à promessa misericordiosa de Gênesis9:13.Coberto pela glória do Senhor, que mais o profeta poderia fazer se-não prostrar-se sobre o rosto e calar enquanto a Voz falava? A manifes -t a ç ã o d i r e t a e g l o r i o s a d e D e u s e m g e r a l d e i x a o h o m e m s u b j u g a d o e sem palavras (Ez 3:23-25; Is 6:5; Dn 8:17; Lc 5:8; 8:37; At 9:4; Ap 1:1 7).Vemos aí também a nossa atitude quando assumimos qualquer trabalhop a r a D e u s . N a p r i m e i r a v i s ã o d e E z e q u i e l , o S e n h o r r e u n i u n e s s a r e - velação inicial de si próprio a essência de tudo o que haveria de ocupar sua missão profética, como finalmente se deu na gloriosa visão que Joãoteve no apocalipse (ou na revelação) de Jesus Cristo.Q u a n t o a o s i g n i f i c a d o g e r a l d a s v i s õ e s p a r a b ó l i c a s d e E z e q u i e l , Ellicott chama a atenção para o fato de que foram vistas quatro vezespelo profeta em várias associações com a sua vida ministerial:1. Quando chamado para exercer o ofício profético (1:1-28).2. Quando enviado a decretar juízos sobre um povo pecador e pre-dizer a destruição de Jerusalém e do templo (3:23 etc).3. Quando, um ano e meio depois, tem a mesma visão, quando é l e v a d o a c o m p r e e n d e r a s m a l d a d e s e a s a b o r n i n a ç õ e s p r a t i c a d a s n o templo e também a sua futura restauração (11:23).4. Quando vê a presença do Senhor voltar e encher o templo coma sua glória (43:3-5). Parábola do rolo engolido (Ez 2 e 3)Esses dois capítulos, que poderiam ser lidos como um, tratam dochamado de Ezequiel ao seu ofício e das instruções para o serviço. A de-s i g n a ç ã o "Filho do homem" é usada cerca de noventa vezes em refe -rência a E z e q u i e l , a p e n a s u m a v e z e m r e l a ç ã o a D a n i e l ( E z 3 : 1 7 ) , e a mais nenhum outro profeta. Cristo foi conhecido pelo mesmo título, umavez que veio para representar o homem. O Espírito apoderou -se do profeta, e, tendo recebido a ordem "põe-te em pé", que lhe enchia de cora-gem, estava preparado para transmitir uma mensagem de cond enaçãoao povo rebelde de Deus. Como Ezequiel precisava de preparo divino e d e c o r a g e m p a r a a t u a r como porta-voz do Senhor à nação de Israel,perversa e de coração e m p e d e r n i d o , q u e p o r o n z e v e z e s é c h a m a d a "casa rebelde"!Os livros na antigüidade eram confeccionados em formato de rolo,recebendo inscrição na frente e no verso. O pergaminho em geral traziainscrições só no interior, quando enrolado. Mas esse trazia a mensagemde Deus, repleta de iminentes ais. Estava escrito também no verso. Ems e n t i d o f i g u r a d o , E z e q u i e l r e c e b e u a ordem de comer e s s e r o l o . N ã o comer de fato, 74

assim como não se come de verdade a carne de Cristonem se bebe o seu sangue —como ensinam erroneamente os católicosromanos. Essa linguagem figurada quer mostrar que Ezequiel precisavareceber a mensagem condenatória no seu coração e ser inteiramentetomado pelo que lhe estava sendo transmitido (v. Jr 15:16; Jo 6:53-58; Ap10:9,10). Precisava digerir com a mente, e o conteúdo desagradável damensagem deveria tornar -se, por assim dizer, parte de si mesmo, a fimde transmiti-lo de modo mais vivido aos seus ouvintes.O s dois efeitos dessa apropriação, diferente um do outro, é apresentado pelo profeta. O que comeu era "doce como o mel", m a s , como também o deixou "amargurado" (3:3,14), Ezequiel tinha primeirode comer e depois falar. O pregador que fala sem antes comer a Palavrad e D e u s é i n e f i c a z . J a m i e s o n a f i r m a : " O m e n s a g e i r o d e D e u s p r e c i s a apropriar-se internamente da verdade de Deus para transmiti-la". Comoa ação simbólica, externa, brotou d o íntimo, a visão espiritual t o r n o u mais impressionante a declaração profética." . . . d o c e c o m o o mel". A primeira impressão que E z e q u i e l experimentou em conseqüência de sua missão profética foi de deleite:"Deleito-me em fazer a tua vontade". De fato, a mensagem que deveriaentregar era dolorosa, mas, por assumir a vontade de Deus como sua, oprofeta regozijou-se pelo grande privilégio de levar aquela palavra ao povo. "O fato de que Deus seria glorificado era o seu grande prazer"."... eu me fui, amargurado". Feliz por ter sido chamado para ser o" p o r t a - v o z " d e D e u s , E z e q u i e l e s t a v a t r i s t e p o r c a u s a d a s i m i n e n t e s calamidades que fora chamado a anunciar. "... a mão do Senhor era fortesobre mim" mostra o poderoso impulso de Deus, instando o profeta, seml e v a r e m c o n t a s e e s t a v a a l e g r e o u t r i s t e , a t r a n s m i t i r a m e n s a g e m divina (Ez 3:14; Jr 15; 16; 20:7-18; Ap 10:10). "A ordem do Senhor eradoce; cumpri-la, amargo." Dessa forma, havia um misto de prazer e detristeza quando Ezequiel executou a tarefa de que fora incumbido. Mas aPalavra de Deus era fogo abrasador dentro dele; e ele não poderia recuar—experiência pela qual todo mensageiro fiel de Deus é obrigado, commaior ou menor amplitude, a passar.O capítulo termina com Ezequiel atônito no momento de entregar asua mensagem agridoce. Como o povo se recusava a ouvi-lo, a sua lín-gua se pegou ao céu da boca. Todavia, o Todo-Poderoso prometera fazercom que pregasse no momento certo: "... abrirei a tua boca". Quanto aos

resultados da mensagem divina, alguns a ouviriam e o u t r o s s e recusariam a recebê -la. Essa foi a reação que o Mestre r e c e b e u , e é a mesma que recebe todo mensageiro enviado por Deus (Ap 22:11). Parábola do tijolo entalhado (Ez 4:1-17) Todo esse capítulo está repleto de ações simbólicas que relatam aseveridade do cerco de Jerusalém que estava por acontecer. Tijolos come n t a l h e s , em geral medindo 61 cm de comprimento por 30 cm 75

d e largura, sobejavam nas ruínas da Babilônia. O barro macio e, portanto,m a l e á v e l t r a n s f o r m a v a - s e e m t i j o l o s e m q u e s e f a z i a m i n s c r i ç õ e s cuneiformes. Depois, com a secagem ao sol, o objeto ou a inscriçãoesboçada no tijolo ali se c o n s e r v a v a p a r a s e m p r e . M u i t o s e x e m p l o s dessa arte babilônica podem ser vistos em vários museus nacionais pelom u n d o a f o r a . S e E z e q u i e l d e f a t o d e s e n h o u J e r u s a l é m n o t i j o l o a i n d a molhado, retratando o desenrolar do cerco, ou se isso diz respeito a umato simbólico, é um assunto em que as autoridades divergem. O mesmose pode dizer de todas as ações mencionadas nessa visão parabólica quetrata da difícil situação em que Jerusalém logo se veria.Instando o profeta a edificar uma fortificação contra o cerco, Deus instruiu seu mensageiro a tomar uma sertã de ferro e pô-la como paredeentre si e a cidade. Kiel, em seu estudo sobre Ezequiel, diz que "a sertãde ferro, posta como pare de, não representa nem os muros da cidade,nem os baluartes dos inimigos, uma vez que isso já está representadop e l o t i j o l o ; m a s s i g n i f i c a u m f i r m e e inexpugnável muro de separaçãoque o profeta, como mensageiro e r e p r e s e n t a n t e d e D e u s , l e v a n t o u entre si e a cidade sitiada". Ezequiel, então, representando a Deus, mos-tra que "a parede de separação entre ele e o povo era como que de fer-ro, e o exército da C aldeia, que estava por atacar —sendo o instrumentode separação entre eles e Deus—, era indestrutível".Depois temos a outra ação parabólica de Ezequiel, em que se deitas o b r e o s e u l a d o e s q u e r d o p o r 3 9 0 d i a s e s o b r e o d i r e i t o p o r 4 0 d i a s , simbolizando com isso o carregar da iniqüidade do número correspon-d e n t e d e a n o s e p r o f e t i z a n d o c o n t r a J e r u s a l é m d u r a n t e t o d o e s s e período. "Era um processo longo e maçante levar a iniqüidade da casa doSenhor, no sentido de confessá-la, assim revelando o motivo do cerco eda condenação." Levar a maldade de alguém (Nm 14:34) é expressãobíblica que denota incorrer na punição devida ao pecado. Dei-tando-ses o b r e o s e u l a d o e s q u e r d o , o p r o f e t a m o s t r o u c o m o o p o v o s o f r e r i a o castigo divino por seus pecados. A importância do lado esquerdo está no"hábito, no Oriente, de olhar para o Leste a fim de indicar as direções nabússola; o Reino do Norte estava, portanto, à esquerda". Por isso "a casad e Is r a e l " é d i f e r e n c i a d a d a " c a s a d e J u d á " , q u e c o r r e s p o n d e a o " l a d o direito" (4:6), o mais honroso.Outras ações simbólicas eram dirigir o rosto para o cerco de Jerusalém e ter o braço descoberto. A expressão hebraica traduzida por Dirigirás o teu rosto (também traduzida em outras passagens por voltar-se para, pôr a face contra, etc.) é comum nas Escrituras no sentido defirmeza de propósito (Lv 26:17). Sendo expressão favorita de Ezequiel(15:7; 20:46 etc), implica firmeza de propósito a ser aplicada "quanto aocerco de Jerusalém". Não haveria abrandamento; a condenação divinasobreviria à cidade conforme decretada." . . . com o teu braço descoberto". Essa ação faria uma v i v i d a impressão. As longas roupas orientais, que em geral cobriam os braços,impediam que se agisse com rapidez (Is 52:10). Então, adapatando aspalavras às suas ações, Ezequiel profetizou contra a cidade. Quanto às" c o r d a s " s o b r e o p r o f e t a , i m p e d i n d o - o d e v i r a r - s e d a e s q u e r d a p a r a adireita até o fim do cerco, o comentário de Ellicott é esclarecedor. 76

"Emais um aspecto do caráter inflexível da condenação preconizada. O poder de Deus interviria para garantir a missão do profeta. Era precisoe v i t a r q u e , n ã o a p e n a s a c o m i s e r a ç ã o , m a s m e s m o a d e b i l i d a d e e a fadiga, próprias do homem, representassem algum impedimento. Falasede um cerco do profeta porque foi o que fez figuradamente."A seguir, apresenta-se o rigor do cerco de modo muito pitoresco.Em vez da farinha usada na confecção de delicados bolos (Gn 18:6), os judeus teriam uma mistura nãorefi-nada de seis espécies diferentes degrãos, em geral consumidos somente pelos mais pobres. Os grãos, dosmelhores aos piores, deviam ser misturados numa vasilha —violação doespírito da lei (Lv 19:19; Dt 22:9)— simbolizando com isso as severidadedo cerco e a implacável privação sobre os sofredores. A comida devia serp r e p a r a d a d e m o d o q u e l e m b r a s s e i m u n d í c i e . A s l e i s a l i m e n t a r e s quet r a t a v a m d o s a l i m e n t o s p u r o s e i m p u r o s n ã o f o r a m o b s e r v a d a s ( O s 9:3,4). A escassez de pão e de água para suprir as necessidades físicasafligiria os habitantes da cidade (Ez 4:11; 16:17; v. Lm 1:2; 2:11,12), in-t e n s i f i c a n d o a s s i m a c o m p l e t a r u í n a q u e s e s e g u i r i a à c o n d e n a ç ã o d e Jerusalém. Comer pão por peso e beber água por medida falam da ter-rível penúria comum em períodos de fome. Em razão de seus pecadospersistentes, o povo experimentaria grande sofrimento e angústia. Nãoadmira que se espantariam "uns com os outros", expressão que denota aaparência chocante da carência desespendora. Parábola da cabeça e da barba rapada (Ez 5:1-17)O a m p l o e m p r e g o q u e o p r o f e t a f a z d a s a ç õ e s p a r a b ó l i c a s e x i g e nossa cuidadosa atenção. Nenhum outro autor recorreu com tanta fre q ü ê n c i a a o m é t o d o p a r a b ó l i c o d e i n s t r u ç ã o q u a n t o E z e q u i e l . In t i m a mente relacionado com o capítulo anterior, esse que agora passamos ae s t u d a r i n t e n s i f i c a , c o m n o v o s s í m b o l o s , a d e n ú n c i a d e condenaçãocontra os judeus. Juízos mais severos que as aflições do E g i t o v i r i a m sobre o povo por causa de seus pecados.A " f a c a a f i a d a [ . . . ] c o m o navalha de barbeiro" significa qualquerinstrumento cortante, como a e s p a d a , p o r e x e m p l o , e é u s a d a c o m o símbolo das armas do inimigo (Is 7:20). Uma espada, então, afiada como

navalha de barbeiro, devia ser usada para rapar o cabelo e a barba dop r o f e t a . S e n d o e l e r e p r e s e n t a n t e d o s j u d e u s , a e s p a d a d e v e r i a s e r passada sobre a "cabeça" dele, servindo de sinal do tratamento severo eh u m i l h a n t e , s o b r e t u d o p a r a u m s a c e r d o t e ( 2 S m 1 0 : 4 , 5 ) . Sendo os cabelos sinal de consagração, os sacerdotes eram e x p r e s s a m e n t e proibidos pela lei de rapar tanto o cabelo como a barba (Lv 21:5). Rapá-los representaria o mais desolador castigo.Os cabelos que tinham sido cortados deveriam ser pesados e dividi-dos em três partes. A primeira seria queimada no meio da cidade no fimd o c e r c o , a s e g u n d a s e r i a f e r i d a p e l a e s p a d a a o r e d o r d a c i d a d e e a terceira seria espalhada ao vento. Por fim Ezequiel apresenta o sentidod a p a r á b o l a : u m a t e r ç a p a r t e d o p o v o m o r r e r i a d e peste n o m e i o d a cidade, outra terça parte cairia à espada 77

e a ú l t i m a t e r ç a p a r t e s e r i a espalhada ao vento. Isso aconteceu aos remanescentes. Uns poucos fiosd e c a b e l o d e v e r i a m s e r r e c o l h i d o s e a t a d o s n a s a b a s d a s v e s t e s d o profeta, sendo o restante atirado ao fogo. Os poucos que escaparam aosseveros juízos não se salvaram da prova de fogo??? (Jr 41:12; 44:14). Emdias melhores, Deus assegurara ao seu povo que os cabelos da cabeças e r i a m c o n t a d o s , p r o v a d o c u i d a d o e d a p r o v i s ã o d i v i n a . A g o r a , arrancadas de Deus e separadas de sua presença, as cabeças rapadasanunciavam o afastamento da bondade e da proteção divina.Resumindo as ações simbólicas desse capítulo e do anterior, Thebiblical expositor [O comentarista bíblico] afirma que essas ações devemt e r a t r a í d o u m c í r c u l o d e c u r i o s o s e s p e c t a d o r e s , a q u e m E z e q u i e l explicou o que significavam: "Não foi Babilônia nem a sua queda que re-tratou, mas os juízos muito merecidos e irrevogáveis sobre a ímpia Je-rusalém. Em vez de ser o centro de onde a salvação irradiaria para asnações, ela excedeu os gentios na perversidade. Assim, Deus não mais apouparia, nem teria compaixão dela. Sua punição seria severa por terpisoteado os grandes dons da graça de Deus". Parábola da imagem de ciúmes (Ez 8:1-18)Depois do simbolismo que se conclui em Ezequiel 5:4, nos capítulos6 e 7 o profeta pela primeira vez apresenta as suas profecias em lingua-gem clara. Seu estilo passa da prosa para a forma mais comum de apre-sentação profética: cheia de parale-lismos —característicos da poesiahebraica. No capítulo 8, Ezequiel retoma o método parabólico com a suan o v a s é r i e d e p r o f e c i a s . O m a i s s u r p r e e n d e n t e a u t o r d e n t r e t o d o s o s profetas, Ezequiel, manifesta uma força e uma energia em suas denún-c i a s q u e n ã o e n c o n t r a m p r e c e d e n t e s . S u a s f r e q ü e n t e s r e p e t i ç õ e s apresentam ao leitor os próprios juízos de que ele é porta-voz.Como os cativos na Babilônia reclamaram de que Deus os trataracom severidade (Ez 8:15), o Senhor concedeu a Ezequiel uma visão doque estava-se passando no templo de Jerusalém, a despeito dos terríveis juízos impostos sobre eles. A idolatria era praticada de todas as formas Dirigirás o teu rosto (também traduzida em outras passagens por voltar-se para, pôr a face contra, etc.) é comum nas Escrituras no sentido defirmeza de propósito (Lv 26:17). Sendo expressão favorita de Ezequiel(15:7; 20:46 etc), implica firmeza de propósito a ser aplicada "quanto aocerco de Jerusalém". Não haveria abrandamento; a condenação divinasobreviria à cidade conforme decretada." . . . com o teu braço descoberto". Essa ação faria uma v i v i d a impressão. As longas roupas orientais, que em geral cobriam os braços,impediam que se agisse com rapidez (Is 52:10). Então, adapatando aspalavras às suas ações, Ezequiel profetizou contra a cidade. Quanto às" c o r d a s " s o b r e o p r o f e t a , i m p e d i n d o - o d e v i r a r - s e d a e s q u e r d a p a r a adireita até o fim do cerco, o comentário de Ellic ott é esclarecedor. "Emais um aspecto do caráter inflexível da condenação preconizada. O poder de Deus interviria para garantir a missão do profeta. Era precisoe v i t a r q u e , n ã o a p e n a s a c o m i s e r a ç ã o , m a s m e s m o a d e b i l i d a d e e a fadiga, próprias do homem, representassem algum impedimento. Falasede um cerco do profeta porque foi o que fez figuradamente."A seguir, apresenta-se 78

o rigor do cerco de modo muito pitoresco.Em vez da farinha usada na confecção de delicados bolos (Gn 18:6), os judeus teriam uma mistura nãorefi-nada de seis espécies diferentes degrãos, em geral consumidos somente pelos mais pobres. Os grãos, dosmelhores aos piores, deviam ser misturados numa vasilha —violação doespírito da lei (Lv 19:19; Dt 22:9)— simbolizando com isso as severidadedo cerco e a implacável privação sobre os sofredores. A comida devia serp r e p a r a d a d e m o d o q u e l e m b r a s s e i m u n d í c i e . A s l e i s a l i m e n t a r e s quet r a t a v a m d o s a l i m e n t o s p u r o s e i m p u r o s n ã o f o r a m o b s e r v a d a s ( O s 9:3,4). A escassez de pão e de água para suprir as necessidades físicasafligiria os habitantes da cidade (Ez 4:11; 16:17; v. Lm 1:2; 2:11,12), in-t e n s i f i c a n d o a s s i m a c o m p l e t a r u í n a q u e s e s e g u i r i a à c o n d e n a ç ã o d e Jerusalém. Comer pão por peso e beber água por medida falam da ter-rível penúria comum em períodos de fome. Em razão de seus pecadospersistentes, o povo experimentaria grande sofrimento e angústia. Nãoadmira que se espantariam "uns com os outros", expressão que denota aaparência chocante da carência desespendora. Parábola da cabeça e da barba rapada (Ez 5:1-17)O a m p l o e m p r e g o q u e o p r o f e t a f a z d a s a ç õ e s p a r a b ó l i c a s e x i g e nossa cuidadosa atenção. Nenhum outro autor recorreu com tanta fre q ü ê n c i a a o m é t o d o p a r a b ó l i c o d e i n s t r u ç ã o q u a n t o E z e q u i e l . In t i m a mente relacionado com o capítulo anterior, esse que agora passamos ae s t u d a r i n t e n s i f i c a , c o m n o v o s s í m b o l o s , a d e n ú n c i a d e condenaçãocontra os judeus. Juízos mais severos que as aflições do E g i t o v i r i a m sobre o povo por causa de seus pecados.A " f a c a a f i a d a [ . . . ] c o m o navalha de barbeiro" significa qualquerinstrum ento cortante, como a e s p a d a , p o r e x e m p l o , e é u s a d a c o m o símbolo das armas do inimigo (Is 7:20). Uma espada, então, afiada como

navalha de barbeiro, devia ser usada para rapar o cabelo e a barba dop r o f e t a . S e n d o e l e r e p r e s e n t a n t e d o s j u d e u s , a e s p a d a d e v e r i a s e r passada sobre a "cabeça" dele, servindo de sinal do tratamento severo eh u m i l h a n t e , s o b r e t u d o p a r a u m s a c e r d o t e ( 2 S m 1 0 : 4 , 5 ) . Sendo os cabelos sinal de consagração, os sacerdotes eram e x p r e s s a m e n t e proibidos pela lei de rapar tanto o cabelo como a barba (Lv 21:5). Rapá-los representaria o mais desolador castigo.Os cabelos que tinham sido cortados deveriam ser pesados e dividi-dos em três partes. A primeira seria queimada no meio da cidade no fimd o c e r c o , a s e g u n d a s e r i a f e r i d a p e l a e s p a d a a o r e d o r d a c i d a d e e a terceira seria espalhada ao vento. Por fim Ezequiel apresenta o sentidod a p a r á b o l a : u m a t e r ç a p a r t e d o p o v o m o r r e r i a d e peste n o m e i o d a cidade, outra terça parte cairia à espada e a ú l t i m a t e r ç a p a r t e s e r i a espalhada ao vento. Isso aconteceu aos remanescentes. Uns poucos fiosd e c a b e l o d e v e r i a m s e r r e c o l h i d o s e a t a d o s n a s a b a s d a s v e s t e s d o profeta, sendo o restante atirado ao fogo. Os poucos que escaparam aosseveros juízos não se salvaram da prova de fogo??? (Jr 41:12; 44:14). Emdias melhores, Deus assegurara ao seu povo que os cabelos da 79

cabeças e r i a m c o n t a d o s , p r o v a d o c u i d a d o e d a p r o v i s ã o d i v i n a . A g o r a , arrancadas de Deus e separadas de sua presença, as cabeças rapadasanunciavam o afastamento da bondade e da proteção divina.Resumindo as ações simbólicas desse capítulo e do anterior, Thebiblical expositor [O comentarista bíblico] afirma que essas ações devemt e r a t r a í d o u m c í r c u l o d e c u r i o s o s e s p e c t a d o r e s , a q u e m E z e q u i e l explicou o que significavam: "Não foi Babilônia nem a sua queda que re-tratou, mas os juízos muito merecidos e irrevogáveis sobre a ímpia Je-rusalém. Em vez de ser o centro de onde a salvação irradiaria para asnações, ela excedeu os gentios na perversidade. Assim, Deus não mais apouparia, nem teria compaixão dela. S ua punição seria severa por terpisoteado os grandes dons da graça de Deus". Parábola da imagem de ciúmes (Ez 8:1-18)Depois do simbolismo que se conclui em Ezequiel 5:4, nos capítulos6 e 7 o profeta pela primeira vez apresenta as suas profecias em lingua-gem clara. Seu estilo passa da prosa para a forma mais comum de apre-sentação profética: cheia de parale-lismos —característicos da poesiahebraica. No capítulo 8, Ezequiel retoma o método parabólico com a suan o v a s é r i e d e p r o f e c i a s . O m a i s s u r p r e e n d e n t e a u t o r d e n t r e t o d o s o s profetas, Ezequiel, manifesta uma força e uma energia em suas denún-c i a s q u e n ã o e n c o n t r a m p r e c e d e n t e s . S u a s f r e q ü e n t e s r e p e t i ç õ e s apresentam ao leitor os próprios juízos de que ele é porta-voz.Como os cativos na Babilônia reclamaram de que Deus os trataracom severidade (Ez 8:15), o Senhor concedeu a Ezequiel uma visão doque estava-se passando no templo de Jerusalém, a despeito dos terríveis juízos impostos sobre eles. A idolatria era praticada de todas as formas do corpo de maior destaque) mostrava que o fato de não incorrem nac o n d e n a ç ã o s e r i a m a n i f e s t o a t o d o s ( J r 1 5 : 1 1 ; 3 9 : 1 1 - 1 8 ; A p 13:16;14:1,9). Na hora do castigo, Deus faz acepção de p e s s o a s . I s s o f i c a evidenciado no fato sentencioso de que o terrível j u í z o a p r e s e n t a d o iniciou-se pelo Santuário (9:6). Deus não poupou os anjos que pecaram,mesmo sendo anjos. 3. A visão de um trono (Ez 10:1-22). O homem com o tinteiro, quep a s s o u p e l a c i d a d e p a r a m a r c a r o s q u e s u s p i r a v a m e g e m i a m , a g o r a obedece à ordem de passar por entre as rodas, pegar nas mãos brasasacesas e espalhá-las pela cidade. Os querubins, já vistos por Ezequiel, re-a p a r e c e m p a r a a s s i n a l a r o r e t o r n o d a g l ó r i a d o S e n h o r . A q u i e s t ã o intimamente associados ao processo de condenação que Ezequiel passaa e x p o r . O h o m e m q u e a p a n h o u o f o g o e o espalhou por Jerusalémpassou por entre as rodas, e a glória v i s í v e l d o S e n h o r , q u a n d o s e levantou do limiar, agora se mescla às rodas e aos querubins. O objetivod e s s a v i s ã o e r a e v i d e n c i a r q u e o S e n h o r , e n t r o n i z a d o a c i m a d o s querubins, executava os seus justos juízos por meio dos babilônios. Israela c h a v a - s e c o n d e n a d o d i a n t e d o S e n h o r , o q u a l , p o r n ã o t o l e r a r o desprezo para com a sua misericórdia, determinou todo o seu poder, noc é u e n a t e r r a , p a r a p u n i r a d e s p r e z í v e l i n g r a t i d ã o d a q u e l e s a q u e m abençoara de modo tão especial. 80

Avisão revela, na perspectiva correta, alúgubre culpa de Israel e suas horrendas conseqüências. Parábola da panela e da carne (Ez 11:1-25)De modo milagroso, o profeta foi levantado pelo Espírito e levado àúltima porta, de onde a glória divina se tinha levantado, para testemu -n h a r , n a p r e s e n ç a d e s s a m a j e s t a d e , u m a n o v a c e n a d e d e s t r u i ç ã o . O profeta viu 25 homens, liderados pelos chefes do povo, reunidos com o iníquo propósito de conspirar contra o rei da Babilônia. Esses homens sea c h a v a m s e g u r o s n a c i d a d e , m a s E z e q u i e l , d i v i n a m e n t e i n s t r u í d o , denunciou-os por s u a l o u c u r a e t o r n o u m a n i f e s t a a v i n g a n ç a d e D e u s contra eles.A f i g u r a da panela é usada para ressaltar o decreto divino, peloqual esses homens m o r r e r i a m p o r c a u s a d o s s e u s p e c a d o s . E n q u a n t o Ezequiel profetizava, um dos chefes pereceu. Iludidos, eles achavam -ses e g u r o s d e n t r o d o s m u r o s d a c i d a d e , c o m o a c a r n e n a p a n e l a é protegida do fogo. Mas o profeta, sendo o porta-voz divino, afirmou que Jerusalém era uma panela só no sentido de estar cheia de mortos. Não haveria lugar para se esconder dos invasores. Arrancados de suas casas,os chefes sofreriam os juízos divinos.O remanescente fiel, saindo de Jerusalém para o exílio, recebe mui-to encorajamento. Privados da adoração no seu amado templo, o próprioDeus seria como "um pequeno santuário" para eles. Deus também pro -metera trazê-los de volta à terra e, uma vez limpos moral e espiritual -mente, reaverem os seus privilégios.

Parábola da mudança (Ez 12:1-28)Chegamos agora à segunda série de parábolas de condenação, emações e em palavras, que se estende até o final do capítulo 14. Lamenta-velmente, também esses sinais não quebraram o orgulho ímpio dos quese julgavam invencíveis! Ezequiel recebeu ordens de à vista do povo fa -zer as vezes de um exilado partindo de sua casa e de seu país, preparan-do os "trastes, como para mudança" e levando-os de um lugar para ou-tro. O que o profeta retratou foi a casa rebelde de Israel, com o príncipedeixando tudo para trás, exceto "os traste s", que "levará aos ombros eàs escuras". O rei Zedequias seria levado cativo para Babilônia, mas nãoa v e r i a . C e g a d o , m o r r e r i a s e m v e r a t e r r a d o s s e u s c o n q u i s t a d o r e s ( J r 39:4-7; 52:4-11; 2Rs 25:1-7).Ezequiel estava encarregado de fazer ao povo outra demonstraçãovisual, transmitida por um quadro falado de ações, a saber: comeria pãoe beberia água com medo e cuidado e, por esse sinal, profetizaria as de-solações cue sobreviriam a Jerusalém, quando seus habitantes teriam a e s c a s s e z d e p r o v i s õ e s c o m u m e m é p o c a s d e s í t i o . O c a p í t u l o t e r m i n a com duas mensagens da parte de Deus (21-25; 26-28) com o propósitode refutar objeções, segundo as quais as profecias de juízo anunciadas h a v i a t a n t o t e m p o n ã o s e c u m p r i r i a m s e n ã o n u m f u t u r o r e m o t o . D o i s provérbios tentam mostrar que a profecia não se cumpriu, sendo adiadapara um período muito distante. Mas Ezequiel recebe a incumbência de anunciar a iminência do castigo divino e o cumprimento de cada palavraproferida. Os pecadores que experimentam a paciência, a tolerância e alonganimidade, escondem-se num falso refúgio se acreditam que Deusnão executará a sua palavra a respeito da condenação derradeira, casop e r s i s t a m e m o r r a m e m s e u s p e c a d o s ( v . E c 8 : l l ; A m 81

6 : 3 ; M t 2 4 : 4 3 ; l T s 5:3; 2Pe 3:4). No capítulo seguinte, Ezequiel denuncia os falsos profetase profetisas, que, com mensagens mentirosas, haviam dado ao povo umf a l s o s e n s o d e s e g u r a n ç a , q u e o p r o f e t a c o m p a r o u a u m a p a r e d e construída com arga-massa fraca, contra a qual o Senhor trará um ventotempestuoso paraq u e s e j a f u r i o s a m e n t e d e v a s t a d a c o m o s q u e a c o n s t r u í r a m ( E z 13:10-16). As falsas profetisas, não mencionadas em nenhum outro lugardo AT, aí se acham para uma menção especial e para um juízo específico( E z 13:17-23). O trato severo de Deus com todos esses falsos mensa geiros e adoradores será motivo de espanto (Ez 14:7-8). Parábola do pau da videira (Ez 15:1-8) T e m o s a q u i o u t r a e v i d ê n c i a d a d í v i d a d e E z e q u i e l p a r a c o m o s grandes profetas anteriores, pois a sua Parábola do pau da videira é ums u p l e m e n t o d a Parábola da vinha do Senhor, de Isaías (Is 5:1-7). Ezequiel, realçando a condição natural de Israel, mostra que, como umav i d e i r a , e l e se mostrou inútil e não pode ter proveito algum. N e s s a magnífica parábola, ele expressa com muita força, como nunca antes, opecado (15:3—16:34), a rejeição (16:35-52) e a restauração definitiva deIsrael (16:53-63). A imensidão do pecado da nação é apresentada pelo f a t o d e Israel não ter a princípio nenhum direito ao favor de Deus,tampouco nada que o tornasse atraente. Agora se podia ver o querealmente era: uma criança rejeitada e repulsiva (15:3-5). Por suam i s e r i c ó r d i a , c o n t u d o , D e u s a s a l v o u e c u i d o u d e l a ( 1 6 : 6 , 7 ) e , n a maioridade, fez com ela uma aliança, abençoando-a sobremaneira (16:8-14). Infelizmente, ela se mostrou de todo infiel à aliança, esposa infiel eincomparavelmente libertina; portanto, merecedora de castigo (16:15-63).Essa parábola, então, ensina a respeito do fim da existência de Is-r a e l c o m o n a ç ã o . D e u s a c r i a r a e a e s c o l h e r a c o m a l e g r i a ( S l 1 0 5 : 4 5 ) , mas, não obstante todo o seu cuidado e trabalho, a videira não produziufrutos. Como outras árvores, tinha folhas, mas não frutos (Lc 13:6-9).Como a videira não tem valor senão pelos seus frutos, assim Israel eram a i s i n ú t i l p a r a o m u n d o q u e a s n a ç õ e s p a g a s a o r e d o r . E m c o n s e q ü - ência dessa inegável inutilidade, Israel devia ser destruído como nação.O Viticultor não tinha alternativa, senão permitir que o fogo do castigodestruísse a videira infrutífera (2Rs 15:29; 23:30,35). Como a videira va-z i a , Israel dera frutos para si mesmo (Os 10:1); m as, vivendo para s i próprio, tornou-se desprezado pelo mundo.A parábola ensina, de forma clara, que, quando Deus nos escolhec o m o r a m o s d a V i d e i r a , a c r e d i t a q u e f r u t i f i c a r e m o s p a r a a s u a g l ó r i a . Não é essa a verdade personificada nos ditos e nos atos parabólicos de João Batista e do Senhor Jesus? (Mt 21:33-41; Mc 11:12-14). Abençoadosp o r D e u s c o m o s m a i s a l t o s p r i v i l é g i o s , j a m a i s s e j a m o s c u l p a d o s d e decepcioná-lo. Sua graça nos faça frutificar em toda boa obra! Parábola de Jerusalém como esposa infiel 82

(Ez 16:1-63)D e c e r t o m o d o , e s s a p a r á b o l a e s t á l i g a d a à a n t e r i o r , n a q u a l o profeta demonstrou que Israel, por não cumprir a sua finalidade comonação escolhida, foi queimada e consumida pelos juízos divinos. Por nãoter correspondido à bondade e à graça de Deus, Ezequiel agora empregaa parábola de uma esposa libertina para realçar o motivo do merecidocastigo. Israel tornara-se infrutífera por ser infiel, e por seu pecado ser ultrajante. Não é agradável o quadro que Ezequiel traça. Ele mostra comtodas as letras como o pecado é negro, pútrido e repulsivo para Deus. Jerusalém é acusada por suas abominações, e Ezequiel refere-se a elasusando a figura do adultério e da prostituição espiritual, de que Oséias também faz uso de modo tão vivido e poderoso.Se analisarmos essa parábola, veremos que a matéria-prima dasparábolas pode ser real ou fictícia, tomada de empréstimo à natureza ou

à vida humana. A videira provém da natureza, a adúltera, da vida hu-m a n a . L a n g o b s e r v a q u e , s e e n t e n d e r m o s o s e n t i d o d o q u a d r o q u e Ezequiel apresenta, teremos "uma valiosa formação no estudo das pa-rábolas [...] Discernir a história e a profecia manifestas nessa alegoria éobter a chave do passado, do presente e do futuro, da forma como são vistos por Deus, e assim entender que as principais partes do AT servemde fundamento para o NT".Nessa parábola, Ezequiel não se contenta em usar uma expressãometafórica aqui e ali; ele ocupa todo o longo capítulo traçando um para-lelo entre uma adúltera e os judeus; a série de quadros que utiliza confe-r e m g r a n d e f o r ç a à s s u a s r e p r e e n s õ e s . T o d a a h i s t ó r i a d e Is r a e l a p r e - senta-se deste modo:1. A menina (1-5). Ainda na primeira infância, foi exposta e lançadapara morrer —retrato da situação precária do novo povoado fundado porum amorreu e uma hetéia. Israel origina-se da terra dos cananeus, tendoum amorreu por pai e uma hetéia por mãe. Por sua estreita ligação comos vizinhos pagãos, não tinha qualidades naturais que lhe dessem direitoà posição de povo escolhido de Deus, tampouco tinha beleza q u e o tornasse desejáv el ou força interior para continuar a existir. E r a u m a criança desamparada, abandonada (16:1-14).2. O passante (6-7). Temos aqui uma referência terna e comoventede Deus nutrindo a rejeitada ao encontrá-la. Como Deus criou Israel ecuidou dessa nação! E reple to de beleza esse quadro de Deus inclinan-do-se e tirando-a da ignóbil extinção. Acaso não fez de Israel objeto dee s p e c i a l p r e o c u p a ç ã o , p a r a q u e s e t o r n a s s e c é l e b r e p e l a " g r a n d e formosura" que ele lhe dera? Deus também determinou que Jerusalémseria o centro na terra, dele e de Israel.3. O marido (8-14). Ao alcançar a maturidade, a menina escolhida tornou-se esposa de seu Benfeitor, que lhe presenteou com toda sorte deornamentos e de luxos. Sendo o marido, encheu-lhe de privilégios quefizeram dela objeto de admiração e de inveja de todos os que a contem-plavam. Por causa da condição sublime, sua fama "Correu [...] entre asn a ç õ e s " . T u d o i s s o m o s t r a a o r i g e m h u m i l d e d e I s r a e l e m C a n a ã , o cuidado de Deus por ela no Egito, o dia em que de lá a libertou e o quese passou até a sua prosperidade, nos dias de Davi e de Salomão.4. A adúltera 83

(15-25). A parábola agora apresenta uma virada trági-c a , p o i s , e m v e z d e r e t r i b u i r a o m a r i d o o a m o r , a h o n r a e a f i d e l i d a d e que lhe dera, essa esposa ricamente presenteada entrega-se à prostitui-ção sem restrições. Confiante em sua beleza e em seus bens, voltou-sep a r a a p r o s t i t u i ç ã o e , d e m o d o i n g r a t o e i n f i e l , p a s s o u a s r i q u e z a s d o marido para os falsos amantes. Era culpada de seduzi-los e de atraí-losc o m o u m a m e r e t r i z v u l g a r , a l é m d e c e d e r à s t e n t a ç õ e s d e l e s . O s presentes, fartamente recebidos do marido em amor, foram usados por e l a c o m o m e i o s d e continuar na sua conduta perversa. Esse perfeitorealismo revela as " a b o m i n a ç õ e s " e a d e s p r e z í v e l h i s t ó r i a d e Is r a e l . E l e v a d a e n t r e a s nações, do nada, à condição de importante, Israel r e j e i t o u o Senhor em troca de deuses falsos e, m e r g u l h o u n a s profundezas da iniqüidade, prostituiu os dons de Deus aos seus desejos abomináveis. Em virtude do procedimento licencioso e infame, I s r a e l havia obrigado Deus a afastá-la e a retirar dela todas as vantagens quelhe concedera.5. Os falsos amantes (35-43). Em virtude do terrível pecado dessaa d ú l t e r a , o c a s t i g o s e r i a p o r d e m a i s s e v e r o . A i n i q ü i d a d e d e Is r a e l s e agravou por suas alianças políticas com as nações estrangeiras cujo pa-g a n i s m o h a v i a c o p i a d o ( 2 6 34). Seus amantes eram os egípcios e os a s s í r i o s , q u e e l a havia subornado em troca de ajuda p o l í t i c a , demonstrando assim falta de confiança em Deus como fonte de proteçãoe d e p r o v i s ã o . E s s e s f a l s o s a m a n t e s v o l t a r a m s e c o n t r a I s r a e l e tornaram-se os seus destruidores; numa terrível vingança, privaram an a ç ã o d a s p o s s e s d e q u e t a n t o s e j a c t a v a , e x p o n d o - a à v e r g o n h a . Ezequiel já não havia usado de rodeios para s e r e f e r i r a o f r a c a s s o e à loucura de Israel, e agora anuncia a sua punição em termos igualmentea t e r r a d o r e s : " P a r a E z e q u i e l , a d e s t r u i ç ã o d e J e r u s a l é m j á e r a f a t o consumado. Quando de fato se cumpriu na história, a ironia da estultíciahumana se tornou manifesta: Deus destrói o orgulho dos homens pelospróprios ídolos dos seus desejos".6. As duas irmãs ( 4 4 - 4 9 ) . E m b o r a a s t r ê s c i d a d e s — J e r u s a l é m , Samaria e Sodoma— são apresentadas como irmãs —e todas culpadasd e " a d u l t e r a r " e d e a p o s t a t a r d o v e r d a d e i r o D e u s — E z e q u i e l i n t r o d u z duas nações-irmãs nesse momento como personagens coadjuvantes noenredo da parábola. As três irmãs tinham um parentesco espiritual, masa culpa de uma —Jerusalém— era maior e mais hedionda, uma vez que,d i z e n d o - s e s e r v i r d e m o d e l o p a r a a s irmãs, fora mais abominável quee l a s . " M e d e - s e o p e c a d o n a p r o p o r ç ã o d a graça rejeitada. Sodoma eSamaria nunca foram tão honradas e e n r i q u e c i d a s p o r D e u s q u a n t o Jerusalém. Ainda assim a apóstata Samaria e a perversa Sodoma foramassoladas pela fúria de Deus. Portanto, poderia tardar o dia do juízo de J e r u s a l é m ? A s d u a s i r m ã s , e n t ã o , e n t r a m 84

n a h i s t ó r i a p a r a r e v e l a r o pecado de Jerusalém na perspectiva c o r r e t a d e m a i o r c u l p a b i l i d a d e e para realçar a misericórdia de Deus".7. A restauração da esposa (60-63). Embora se mostre que as três irmãs se beneficiam da severa punição e, arrependidas, são restauradas,o último ato dessa vergonhosa parábola é aquele em que o profeta anun-cia a restauração da esposa pecado-ra, ocorrida graças ao fato de Deust e r - s e l e m b r a d o d a a l i a n ç a e a ter restabelecido (Jr 31; Hb 8:6 -13). Agraça permeia a jus tiça do marido f e r i d o . O n d e a b u n d o u o p e c a d o d a apostasia (Samaria), da soberba (Sodoma) e da infidelidade (Jerusalém),s u p e r a b u n d o u a g r a ç a ( R m 5 : 2 0 ) . U m a v e z que o juízo atinge o seupropósito, Deus mostra -se pronto a l e v a r o p e n i t e n t e a r e a v e r a c o - munhão (Rm 11:32). Parábola da grande águia (Ez 17:1-24)Cumprindo ordens divinas, Ezequiel propõe um enigma em formaparabólica, para ressaltar a soberania de Deus sobre as nações e sobre

os homens. Nesse capítulo, a parábola se compõe de quatro reis e dosrespectivos reinos. Todos os soberanos tinham diferenças entre si, coma l g o , p o r é m , e m c o m u m . C o m d u a s á g u i a s , u m a v i d e i r a e ramos ac o m p o r a p a r á b o l a , v a m o s p r o c u r a r e n t e n d e r a s i t u a ç ã o e a s u a importância.E m b o r a o s c r i m e s d e I s r a e l t i v e s s e m s i d o d e s m a s c a r a d o s e s e tivessem decretado juízos em razão deles, essa "casa rebelde" recusava-s e a s e r a l e r t a d a . " Is r a e l e s t a v a c e r t o d e q u e a a m e a ç a d a B a b i l ô n i a poderia ser debelada se entrasse no jogo do poder político internacional.S e r i a s a l v o s e r o m p e s s e o a c o r d o c o m o r e i d a B a b i l ô n i a , Nabucodonosor, e caso se aliasse ao Egito, que disputava a supremacia mundial com os caldeus." O propósito dessa parábola era desmascarar oengano dessa falsa esperança, mostrando que as promessas garantidasde Deus só podem cumprir-se na restauração da casa de Davi.1 . O p r i m e i r o r e i , c o m p a r a d o a u m a g r a n d e á g u i a , e r a o governante da Babilônia, Nabucodonosor, que arrancou a ponta do cedro— J o a q u i m , r e i d e J u d á , — e o c o n d u z i u a u m a t e r r a d e comércio, aBabilônia (Jr 22:23; 48:40; 49:22). A semente da terra foi levada ep l a n t a d a e m s o l o f é r t i l , o n d e s e t o r n o u v i d e i r a m u i t o l a r g a . Nabucodonosor, a p r i m e i r a g r a n d e á gu i a , e r a p o d e r o s o e g o v e r n a v a sobre muitas nações, o que se evidencia pelo tamanho de suas asas e pela variedade de cores de suas penas.2. O segundo rei, também representado por uma grande águia, eraF a r a ó , r e i d o E g i t o , c u j o t a m a n h o d a s a s a s e c u j o p o d e r n ã o e r a m t ã o grandes quanto os da primeira águia. Nessa época, o Egito já perdera oapogeu de seu poder. A decadência era inegável. Seu d omínio não eratão amplo quanto o da Babilônia. Foi para essa segunda grande águiaque Judá, a videira, lançou as raízes para que fossem regadas. Esse ato t r a i ç o e i r o f o i d e n u n c i a d o p o r D e u s , p a r a q u e m a v i d e i r a d e v e r i a s e r arrancada, se-cando-se com o vento oriental.3. O terceiro rei era Matanias, a quem Nabucodonosor denominou Zedequias. 85

Coroado em lugar de Jeconias, seu tio, esse rei -vassalo de Judá era a videira de baixa estatura, plantada pela primeira águia — Nabucodonosor, que lhe permitiu desfrutar de todos os direitos e honrasd a realeza, não como soberano independente, mas apenas comotributário do rei da Babilônia. Esse ato de c l e m ê n c i a d a p a r t e d e Nabucodonosor impôs a Zedequias as mais inescapáveis obrigações desubmissão confirmada por um solene juramento.M a s Z e d e q u i a s b u s c o u a p r o t e ç ã o d a s e g u n d a g r a n d e á g u i a , o Egito, e mereceu o castigo de Deus. Desatento ao seu juramento, buscoua ajuda egípcia, pois pensou poder ser liberto da infame vassalagem e e x p e r i m e n t a r u m a s o b e r a n i a i n d e p e n d e n t e e l i v r e . E s s a t r a i ç ã o é retratada na parábola pela imagem de um galho arrancado da ponta docedro por uma grande águia e plantado como uma videira larga e baixa— u m t r o n c o b o m q u e , p o r é m , e r a a i n d a i n f e r i o r a o q u e o o r i g i n a r a . Descontente com a sua condição, a videira lançou as suas raízes para aoutra grande águia, na esperança de conquistar ainda maior importânciae fertilidade. Graças a essa violação, contudo, experimentou irreparável abomináveis. Em virtude do procedimento licencioso e infame, I s r a e l havia obrigado Deus a afastá-la e a retirar dela todas as vantagens quelhe concedera.5. Os falsos amantes (35-43). Em virtude do terrível pecado dessaa d ú l t e r a , o c a s t i g o s e r i a p o r d e m a i s s e v e r o . A i n i q ü i d a d e d e Is r a e l s e agravou por suas alianças políticas com as nações estrangeiras cujo pa-g a n i s m o h a v i a c o p i a d o ( 2 6 34). Seus amantes eram os egípcios e os a s s í r i o s , q u e e l a havia subornado em troca de ajuda p o l í t i c a , demonstrando assim falta de confiança em Deus como fonte de proteçãoe d e p r o v i s ã o . E s s e s f a l s o s a m a n t e s v o l t a r a m s e c o n t r a I s r a e l e tornaram-se os seus destruidores; numa terrível vingança, privaram an a ç ã o d a s p o s s e s d e q u e t a n t o s e j a c t a v a , e x p o n d o - a à v e r g o n h a . Ezequiel já não havia usado de rodeios para s e r e f e r i r a o f r a c a s s o e à loucura de Israel, e agora anuncia a sua punição em termos igualmentea t e r r a d o r e s : " P a r a E z e q u i e l , a d e s t r u i ç ã o d e J e r u s a l é m j á e r a f a t o consumado. Quando de fato se cumpriu na história, a ironia da estultíciahumana se tornou manifesta: Deus destrói o orgulho dos homens pelospróprios ídolos dos seus desejos".6. As duas irmãs ( 4 4 - 4 9 ) . E m b o r a a s t r ê s c i d a d e s — J e r u s a l é m , Samaria e Sodoma— são apresentadas como irmãs —e todas culpadasd e " a d u l t e r a r " e d e a p o s t a t a r d o v e r d a d e i r o D e u s — E z e q u i e l i n t r o d u z duas nações-irmãs nesse momento como personagens coadjuvantes noenredo da parábola. As três irmãs tinham um parentesco espiritual, masa culpa de uma —Jerusalém— era maior e mais hedionda, uma vez que,d i z e n d o - s e s e r v i r d e m o d e l o p a r a a s irmãs, fora mais abominável quee l a s . " M e d e - s e o p e c a d o n a p r o p o r ç ã o d a graça rejeitada. Sodoma eSamaria nunca foram tão honradas e 86

e n r i q u e c i d a s p o r D e u s q u a n t o Jerusalém. Ainda assim a apóstata Samaria e a perversa Sodoma foramassoladas pela fúria de Deus. Portanto, poderia tardar o dia do juízo de J e r u s a l é m ? A s d u a s i r m ã s , e n t ã o , e n t r a m n a h i s t ó r i a p a r a r e v e l a r o pecado de Jerusalém na perspectiva c o r r e t a d e m a i o r c u l p a b i l i d a d e e para realçar a misericórdia de Deus".7. A restauração da esposa (60-63). Embora se mostre que as três irmãs se beneficiam da severa punição e, arrependidas, são restauradas,o último ato dessa vergonhosa parábola é aquele em que o profeta anun-cia a restauração da esposa pecado-ra, ocorrida graças ao fato de Deust e r - s e l e m b r a d o d a a l i a n ç a e a ter restabelecido (Jr 31; Hb 8:6-13). Agraça permeia a justiça do marido f e r i d o . O n d e a b u n d o u o p e c a d o d a apostasia (Samaria), da soberba (Sodoma) e da infidelidade (Jerusalém),s u p e r a b u n d o u a g r a ç a ( R m 5 : 2 0 ) . U m a v e z que o juízo atinge o seupropósito, Deus mostra -se pronto a l e v a r o p e n i t e n t e a r e a v e r a c o - munhão (Rm 11:32). Parábola da grande águia (Ez 17:1-24)Cumprindo ordens divinas, Ezequiel propõe um enigma em formaparabólica, para ressaltar a soberania de Deus sobre as nações e sobre

os homens. Nesse capítulo, a parábola se compõe de quatro reis e dosrespectivos reinos. Todos os soberanos tinham diferenças entre si, coma l g o , p o r é m , e m c o m u m . C o m d u a s á g u i a s , u m a v i d e i r a e ramos ac o m p o r a p a r á b o l a , v a m o s p r o c u r a r e n t e n d e r a s i t u a ç ã o e a s u a importância.E m b o r a o s c r i m e s d e I s r a e l t i v e s s e m s i d o d e s m a s c a r a d o s e s e tivessem decretado juízos em razão deles, essa "casa rebelde" recusava-s e a s e r a l e r t a d a . " Is r a e l e s t a v a c e r t o d e q u e a a m e a ç a d a B a b i l ô n i a poderia ser debelada se entrasse no jogo do poder político internacional.S e r i a s a l v o s e r o m p e s s e o a c o r d o c o m o r e i d a B a b i l ô n i a , Nabucodonosor, e caso se aliasse ao Egito, que disputava a supremacia mundial com os caldeus." O propósito dessa parábola era desmascarar oengano dessa falsa esperança, mostrando que as promessas garantidasde Deus só podem cumprir-se na restauração da casa de Davi.1 . O p r i m e i r o r e i , c o m p a r a d o a u m a g r a n d e á g u i a , e r a o governante da Babilônia, Nabucodonosor, que arrancou a ponta do cedro— J o a q u i m , r e i d e J u d á , — e o c o n d u z i u a u m a t e r r a d e comércio, aBabilônia (Jr 22:23; 48:40; 49:22). A semente da terra foi levada ep l a n t a d a e m s o l o f é r t i l , o n d e s e t o r n o u v i d e i r a m u i t o l a r g a . Nabucodonosor, a p r i m e i r a g r a n d e á gu i a , e r a p o d e r o s o e g o v e r n a v a sobre muitas nações, o que se evidencia pelo tamanho de suas asas epela variedade de cores de suas penas.2. O segundo rei, também representado por uma grande águia, eraF a r a ó , r e i d o E g i t o , c u j o t a m a n h o d a s a s a s e c u j o p o d e r n ã o e r a m t ã o grandes quanto os da primeira águia. Nessa época, o Egito já perdera oapogeu de seu poder. A decadência era inegável. Seu domínio não eratão amplo quanto o da Babilônia. Foi para essa segunda grande águiaque Judá, a videira, lançou as raízes para que fossem regadas. Esse ato t r a i ç o e i r o f o i d e n u n c i a d o p o r 87

D e u s , p a r a q u e m a v i d e i r a d e v e r i a s e r arrancada, se-cando-se com o vento oriental.3. O terceiro rei era Matanias, a quem Nabucodonosor denominou Zedequias. Coroado em lugar de Jeconias, seu tio, esse rei -vassalo de Judá era a videira de baixa estatura, plantada pela primeira águia — Nabucodonosor, que lhe permitiu desfrutar de todos os direitos e honrasd a realeza, não como soberano independente, mas apenas comotributário do rei da Babilônia. Esse ato de c l e m ê n c i a d a p a r t e d e Nabucodonosor impôs a Zedequias as mais inescapáveis obrigações desubmissão confirmada por um solene juramento.M a s Z e d e q u i a s b u s c o u a p r o t e ç ã o d a s e g u n d a g r a n d e á g u i a , o Egito, e mereceu o castigo de Deus. Desatento ao seu juramento, buscoua ajuda egípcia, pois pensou poder ser liberto da infame vassalagem e e x p e r i m e n t a r u m a s o b e r a n i a i n d e p e n d e n t e e l i v r e . E s s a t r a i ç ã o é retratada na parábola pela imagem de um galho arrancado da ponta docedro por uma grande águia e plantado como uma videira larga e baixa— u m t r o n c o b o m q u e , p o r é m , e r a a i n d a i n f e r i o r a o q u e o o r i g i n a r a . Descontente com a sua condição, a videira lançou as suas raízes para a outra grande águia, na esperança de conquistar ainda maior importânciae fertilidade. Graças a essa violação, contudo, experimentou irreparável entretinham do que se instruíam com as enérgicas parábolas de Ezequiel(20:45-49). Ainda julgavam ter direito ao favor divino como escolhidos,mesmo sem eliminar a abominação da idolatria. Assim, com ainda mais símbolos, Ezequiel refere-se à inevitabilidade do juízo prestes a se abaters o b r e e l e s , a i n d a q u e t i v e s s e m s i d o o p o v o p r i v i l e g i a d o d e D e u s . A destruição, como fogo inextinguível, os alcançaria. A espada os devoraria(20:45; 21:32). Na Canção da espada (21:8-17), o profeta mostra que éimpossível resistir ao massacre. Ezequiel devia suspirar "com quebran-t a m e n t o d o s [ . . . ] l o m b o s e c o m a m a r g u r a " p a r a d e i x a r b e m c l a r o a o s seus céticos ouvintes que a espada sem dúvida exterminaria todos oshabitantes (21:1-7). O profeta vê o fogo da ira divina derramado sobretodas as classes sociais por causa da corru pção total. Os príncipes, osprofetas, os sacerdotes e o povo, todos seriam igualmente surpreendidospelo holocausto da ira de Deus.As últimas parábolas relatam o juízo sobre a nação. A primeira de-las é a alegoria das duas irmãs, Oolá e Oolibá. A rejeição de Deus porp a r t e d e s e u s e s c o l h i d o s é m a i s u m a v e z retratada como a quebra dasagrada união do matrimônio (cap. 16). P r i m e i r a m e n t e , a n a l i s e m o s a identidade dessas duas irmãs libertinas da parábola: Oolá, cujo significado é sua própria tenda, mostra que a adoraçãoe m S a m a r i a , a c a p i t a l d o r e i n o d o N o r t e , e r a u m a invenção do local,nunca tendo sido sancionada por Deus. Ao contrário, essa adoraçãoautoconcebida era objeto da ira divina. As tribos do Norte, separadas a p ó s a m o r t e d e S a l o m ã o , e s t a b e l e c e r a m u m a t e n d a o u s a n t u á r i o próprio. Samaria, representada por 88

Oolá, era mais corrupta que a irmã.P r o s t i t u i u - s e c o m a A s s í r i a e c o m o E g i t o , r e j e i t a n d o a s p r o m e s s a s d e Deus e buscando segurança na força armada dos falsos deuses dos seusvizinhos. "Ela se tornou um provérbio" ou, mais corretamente "objeto der i d í c u l o " . A c o n q u i s t a d e S a m a r i a f e z d e l a u m a v e r g o n h a e n t r e a s nações.Samaria também é acusada na parábola de ser a primeira a trans-gredir (Ez 23:5-10). Sua proximidade com a Síria, intimamente associadaaos assírios, contribuiu para a sua apostasia em primeiro lugar, a qual seiniciou com a adoração ao bezerro de ouro, sob o reinado de Jeroboão(28:3; lRs 12:28). Ela é chamada a mais velha, ou maior, por preceder J u d á e m s u a a p o s t a s i a e c a s t i g o . O p r o f e t a v ê S a m a r i a t o t a l m e n t e destruída. "Acusada de infidelidade pela aliança com os assírios, uma vezque se deixou seduzir pelas riquezas e pelo poder deles, abandonando asua lealdade ao Senhor", é advertida pelo profeta quanto à sua antiga aliança com Judá. Por seu duplo pecado, os assírios tiveram permissão deaprisioná-la e dominála. Oolibá significa "minha tenda nela" e faz supor que Judá ainda con-servava o santuário do Senhor, em Jerusalém, sua capital. A adoraçãoem Betei (em Samaria) era de invenção própria, não determinada porDeus. No entanto, a adoração em Jerusalém foi especialmente instituídapelo Senhor, que habitou lá, estabelecendo o seu tabernáculo entre op o v o c o m o s u a h a b i t a ç ã o ( Ê x 2 5 : 8 ; Lv 1 6 : 1 1 , 1 2 ; S I 7 6 : 2 ) . M a s O o l i b á , como a irmã, Oolá, prostituiu-se. O Senhor disse a respeito dela: "Por que

te desvias tanto, mudando o teu caminho?" (Jr 2:36). Ela não conhecia osseus sentimentos, pois primeiro apaixonou-se pelos assírios (Ez 23:12) edepois enamorou-se dos caldeus (23:16). Depois os seus sentimentos seafastaram deles (26:17). Tendo compartilhado do pecado deO o l á , O o l i b á p r e c i s a v a t a m b é m i n c o r r e r n a m e s m a s o r t e ( 2 3 : 1 1 - 35). Ela representava Jerusalém, que deveria beber "o copo de tua irmã[ . . . ] c o p o d e e s p a n t o e d e d e s o l a ç ã o " ( 2 3 : 3 3 ) . C o m o s e e s q u e c e u d e Deus e o lançou para trás de suas costas, o terror e a desolação seriam asua porção (23:35).As duas irmãs eram filhas da mesma mãe, mostrando que Israel e Judá eram uma só nação, nascida de uma só ancestral, Sara. Ambas, po-rém, no início de sua história, praticaram a idolatria (Js 24:14; Ez 26:6-8).A i n d a j o v e n s , q u a n d o r e c e b i a m e x t r a o r d i n á r i o s b e n e f í c i o s d e D e u s , voltaram o coração para outros deuses (16:6). Agora ambas incorrem no juízo divino. Os pecados de Israel e de Judá são enumerados e, graças à transgressão em comum, merecem o mesmo castigo. As mulheres signi-f i c a " a s n a ç õ e s " . O s j u í z o s q u e s o b r e - v i e s s e m a Is r a e l e a J u d á seriampara sempre um monumento notável da severa justiça de D e u s . C o m linguagem forte, Ezequiel refere-se à perversidade das alianças feitascom as nações vizinhas, referindo-se também à justeza da punição sobreas adúlteras. "Com a imagem do método hebreu de tratar do pecado deadultério, a saber, o apedre-jamento, o profeta apresenta o quadro deu m c o n s e l h o c o n t r a Jerusalém e Samaria a executar esse juízo e adestruir o povo 89

p o r c o m p l e t o . " C u l p a e p u n i ç ã o s e m e s c l a m n u m s ó quadro (Ez 23:36-49). O salário do pecado foi completamente pago àsirmãs. Não apenas elas foram apedrejadas e mortas, mas seus filhos e suas habitações foram destruídos (Ez 23:43). "A história de Oolá e Oolibád e l i n e i a a t r á g i c a i r o n i a do pecado humano", lemos em The biblicalexpositor [O comentarista bíblico]. "Assim como os amantes de Samariae de Jerusalém são seus executores, também o pecado traz dentro de sio aguilhão da morte."Como Israel e Judá trocaram o verdadeiro Deus por deuses falsos,foram severamente punidos e por isso servem de advertência às naçõese aos homens. As "cidades da campina" (Gn 13:12), já soterradas, aindafalam do juízo de Deus ao mundo; da mesma forma, Samaria e Jerusalémhá milhares de anos anunciam a retidão. Triste é que tenham demoradoa a p r e n d e r q u e s ó p o d e m s e r f e l i z e s e p r ó s p e r a s t e n d o o v e r d a d e i r o Deus como Senhor. Parábola da panela fervente (Ez 24:1-4)Na última profecia dessa seção de seu livro, Ezequiel relaciona am i s s ã o q u e r e c e b e u d a s m ã o s d e D e u s a o s a c o n t e c i m e n t o s d e s u a época. No dia exato em que Nabucodonosor investiu contra Jerusalém, ofato foi revelado a Ezequiel na Caldéia, o qual também recebeu ordens d e t o r n a r manifesto, por meio da Parábola da panela fervente, serc h e g a d a a h o r a d a c o n d e n a ç ã o d e Is r a e l . T e m o s a q u i u m a p a r á b o l a específica; não uma ação parabólica, mas apenas uma p a r á b o l a proferida ao povo em linguagem que denotava ação. J e r u s a l é m j á f o r a apresentada como uma panela ( E z 1 1 : 3 ) , n u m provérbio acerca da autoconfiança do povo, que seguia o próprio espíritoe não o de Deus: "esta cidade é a panela, e nós a carne". A linguagem jactanciosa de Israel estava a ponto de se concretizar na história e naexperiência, mas com um sentido diferente do pretendido pelo povo. Porser bem fortificada, a cidade foi comparada a uma panela de ferro, e os habitantes sentiam-se seguros dos ataques externos, assim como a car-ne dentro da panela está defendida contra a ação do fogo. Infelizmente,no entanto, o povo não acreditaria em quanto haveriam de ser fervidos!E z e q u i e l e s t á d i z e n d o e m s u a p a r á b o l a , p a r a t o d o s o s e f e i t o s , " o t e u provérbio se mostrará terrivelmente verdadeiro, mas não no sentido quepretendes. Assim, longe de beneficiar-se com uma defesa contra o fogotão potente quanto à da panela de ferro, a cidade será como uma panelas o b r e o f o g o , e o p o v o c o m o m u i t o s p e d a ç o s d e c a r n e s u b m e t i d o s a o calor intenso" (Jr 50:13).E n t ã o o p r o f e t a a p l i c a a Parábola da panela fervente c o m t o d a a franqueza, declarando que Jerusalém era de fato uma panela. Ele recorreà figura da segurança utilizada pelo próprio povo e a emprega contra ele,u s a n d o - a "orno símbolo de juízo, não de segurança. Há precisão d e linguagem na referência à destruição da cidade e de seus moradores.... todos os bons pedaços [...] ossos escolhidos... Aqui o profeta serefere aos mais distintos do povo. Não eram ossos comuns, mas "esco-lhidos", dentro da panela com a carne presa a eles.... debaixo da panela [...] os seus ossos... 90

São ossos sem carne,usados como combustível. São os mais pobres, q u e s o f r e m p r i m e i r o e deixam de sofrer antes dos ricos, que suportavam o que corresponderiaao fogo baixo no processo de fervura.... faze-a ferver bem [...] ossos [...] ferrugem... A palavra traduzidaaqui por ferrugem ocorre quatro vezes no capítulo, e em mais nenhumoutro lugar. Talvez queira mostrar que Jerusalém era como uma panelacorroída e digna de destruição. Então essa ferrugem prejudicial simbolizaa i m p r e g n a n t e p e r v e r s i d a d e d o p o v o . N ã o e r a m a p e n a s o s p o b r e s d a cidade, pois tanto ricos quanto pobres haviam chafurdado na imundíciedo pecado. Tira dela a carne pedaço a pedaço... Tanto o refugo quanto o seletoestavam condenados à destruição; o conteúdo da panela, a carne, seriaretirado no processo de conden ação. A cidade e o povo não seriam des-t r u í d o s s i m u l t a n e a m e n t e , m a s n u m a s e q ü ê n c i a d e a t a q u e s . T o d a s a s classes participariam da mesma sina, mas "pedaço a pedaço". Sofreriamo s a r d e n t e s h o r r o r e s d o c e r c o , m a s e x p e r i m e n t a r i a m a l g o m u i t o p i o r quando fossem arrancados da cidade por seus conquistadores.... não caia sorte sobre ela... para determinar quem será salvo dacondenação; todos foram igualmente punidos, independentemente daclasse, idade ou sexo.... sangue [...] sobre uma penha... O p o v o h a v e r i a d e s e r desmascarado, e a condenação seria patente a todos. "Sangue éa

consumação de todos os pecados e pressupõe todas as outras formas deculpa. Deus propositadamente deixou o povo derramar, para vergonha deles, o sangue sobre a penha descalvada, a fim de que esta clame maisenfática e abertamente ao alto por vingança, e para que a relação entrea c u l p a e o j u í z o s e t o r n e m a i s p a l p á v e l . O sangue de Abel", continua J a m i e s o n , " e m b o r a j á r e c e b i d o p e l a t e r r a , ' c l a m a a m i m [ D e u s ] ' ( G n 4:10,11) —quanto mais o sangue v e r g o n h o s a m e n t e e x p o s t o s o b r e a penha descalvada."... pus o seu sangue... I s r a e l r e c e b e r i a n a m e s m a m o e d a . Derramando sangue em abundância, teria o próprio sangue em fartura derramado (Mt 7:2). Amontoa a lenha, acende o fogo... I l u s t r a o s m a t e r i a i s h o s t i s usados na destruição da cidade.... engrossa o caldo... Que toque irônico! Os sitiadores haveriam dedeleitar-se no sofrimento de suas vítimas, como se sentassem para umasaborosa refeição.... brilhe o seu cobre... Não era suficiente o conteúdo da panela serdestruído; a própria panela, infectada pela ferrugem, deveria serd e s t r u í d a . S e u s f o c o s d e f e r r u g e m n ã o c e d e r a m à p u r i f i c a ç ã o ( E z 24:12,13). A própria casa infectada com lepra deveria ser consumida (Lv14:34,35).... cansou-me com suas mentiras... 91

A despeito dos esforços de Deuspor purificar seu povo, a sua oferta de misericórdia não foi aceita. Assim,teve de permitir que lhes sobrevies-sem os juízos pela iniqüidade delibe-rada. Por meio dos profetas e da lei, com suas promessas, privilégios ea m e a ç a s , D e u s p r o c u r a r a a t a r o p o v o a s i , m a s t o d a s a s i n t e r v e n ç õ e s misericordiosas de nada aproveitaram. Assim, foram abandonados à suasorte, e sofreriam as últimas conseqüências. Paciente e longânimo, Deusa g o r a vem condenar e não pode recuar, poupar nem arrepende rs e (24:14). Parábola da esposa do profeta (Ez 24:15-24)Essa comovente parábola é um exemplo da combinação do factualcom o simbólico. Hengstenberg, contudo, acha que a morte da esposa deEzequiel não ocorreu de fato: "Se a primeira ação simbólica do capítulorefere-se a um problema interior, o mesmo se pode dizer, sem sombrade dúvida, da segunda. Assim como o fato de Ezequiel estar dentro de u m a p a n e l a e r a a p e n a s u m a f i g u r a , d o m e s m o m o d o a m o r t e d e s u a esposa foi também simbólica. A idéia nos versículos 16 e 17 não é que oinfortúnio público fosse tão grande que superasse a pior das perdas indi-viduais, mas o profeta apenas pre-figurava a condição futura do povo.Ele é tipo da nação, e a esposa o equivalente de tudo o que era estimadoe p r e c i o s o p a r a o p o v o — a s a b e r , o t e m p l o , n o q u a l t u d o o mais se in-c l u í a . N ã o s e l a m e n t a r i a m p e l a r u í n a d o t e m p l o , p o r q u e s e r i a m totalmente tomados pela angústia de sua desgraça".

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