TEOLOGIA BÍBLICA DO NOVO TESTAMENTO BENTES

March 14, 2017 | Author: reuell2001 | Category: N/A
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MINISTÉRIO GOEL

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Pr. A. Carlos G. Bentes DOUTOR EM TEOLOGIA PhD em Teologia Sistemática

TEOLOGIA BÍBLICA DO NOVO TESTAMENTO “A SUA UNÇÃO VOS ENSINA A RESPEITO DE TODAS AS COISAS” 1 Jo 2.27 “A sabedoria é a coisa principal; adquire pois, a sabedoria; sim com tudo o que possuis adquire o conhecimento” (Pv 4.7) 1

SUMÁRIO INTRODUÇÃO

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VALOR E NECESSIDADE DA TEOLOGIA

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CLASSIFICAÇÃO DA TEOLOGIA

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TEOLOGIA E RELIGIÃO

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I.

REFLEXÕES SOBRE A TEOLOGIA

6

II.

O QUE É TEOLOGIA?

6

TEOLOGIA E CIÊNCIA

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MÉTODOS DEDUTIVO E INDUTIVO

9

HISTÓRIA DA TEOLOGIA BÍBLICA DO NOVO TESTAMENTO

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O REINO DE DEUS NA TEOLOGIA DO NOVO TESTAMENTO

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OS MISTÉRIOS DO REINO

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E DAVI SERÁ PRÍNCIPE ETERNAMENTE:

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O REINO E A IGREJA

27

O FILHO DIVINO

28

TÍTULOS MESSIÂNICOS DE JESUS

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JOÃO, O BATISTA - UM NOVO PROFETA, INAUGURA UMA NOVA ERA.

34

O DUALISMO JOANINO

39

DUALISMO ESCATOLÓGICO [P. 891,892]

42

O EVANGELHO

44

A NECESSIDADE DA MORTE DE JESUS É DECLARADA

47

CRISTOLOGIA

48

A PESSOA DE CRISTO

49

A UNIPESSOALIDADE DE CRISTO

51

IMPECABILIDADE DE CRISTO

52

O LOGOS NO EVANGELHO DE JOÃO [P. 896]

63

A ORTODOXIA

67

A OBRA DE CRISTO

71

QUEM É O GO’EL?

74

RESUMO TEOLÓGICO

78

BIBLIOGRAFIA

84

2

TEOLOGIA BÍBLICA DO NOVO TESTAMENTO INTRODUÇÃO “A palavra teologia vem do grego Theós [qeo/j] (Deus) e Lógos [lo/goj] (linguagem que encerra idéia, palavra). Assim, teologia vem a ser idéia de Deus ou idéia a respeito de Deus... no sentido da linguagem elaborada, de um sistema de conhecimentos resultantes de estudo”. A teologia alcança ao mesmo tempo o divino e o humano, o espiritual e o social, o eterno e o temporal: “A teologia preocupa-se em estudar Deus”. “A Teologia do Novo Testamento é o estudo que enfatiza e soletra o conteúdo do Novo Testamento do ponto de vista teológico. A teologia neotestamentária tem de pressupor o trabalho do exegeta para proporcionar os detalhes de interpretação de um texto. A Teologia Bíblica difere, também, da Teologia Sistemática. Esta trata mais sistematicamente e compreensivamente de doutrinas como Deus, homem, pecado e salvação. A Teologia Sistemática está interessada em relatar os materiais tanto bíblicos quanto perspectivas históricas para o tempo moderno. A Teologia Bíblica difere da Teologia Histórica e da História Eclesiástica sendo um prólogo ou primeiro capítulo para estas. A Teologia Bíblica deve proporcionar as normas pelas quais as outras podem ser avaliadas” (Dr. Broadus Hale). O Novo Testamento forma a Parte II da Bíblia. E ele uma coleção de vinte e sete livros, mas tem somente um terço do volume da Parte 1, o Antigo Testamento. Antigo Testamento cobre um período de milhares de anos de história, mas o Novo Testamento menos de um século. “Novo Testamento” quer dizer, de fato, “Novo Pacto” em contraste com a antiga aliança. O vocábulo “testamento” transmite-nos a idéia de uma última vontade, e só passa a ter efeito na eventualidade da morte do testador. Assim é que o novo pacto entrou em vigor em face da morte de Jesus (Hebreus 9.15-17). Escrita originalmente em grego, entre 45-95 d.C. Os livros do Novo Testamento não estão arranjados na ordem cronológica em que foram escritos. As primeiras epístolas de Paulo foram os primeiros livros do Novo Testamento a serem escritos, e não os evangelhos. E mesmo o arranjo das epístolas paulinas não segue a sua ordem cronológica, porquanto Gálatas (ou talvez 1 Tessalonicenses) foi a epístola escrita bem antes daquela dirigida aos Romanos, a qual figura em primeiro lugar em nossas Bíblias pelo fato de ser a mais longa das epístolas de Paulo; e entre os evangelhos, o de Marcos, não o de Mateus, parece ter sido aquele que primeiro foi escrito. A ordem em que esses livros aparecem, por conseqüência, é uma ordem lógica. Os evangelhos estão postos em primeiro lugar porque descrevem os eventos cruciais de Jesus. Entre os evangelhos, o de Mateus vem apropriadamente antes de todos devido à sua extensão e ao seu intimo relacionamento com o Antigo Testamento, que o precede imediatamente. No livro de Atos dos Apóstolos, uma envolvente narrativa do bem sucedido 3

surgimento e expansão da Igreja na Palestina e daí por toda a Síria, Ásia Menor, Macedônia, Grécia e até lugares distantes como Roma, na Itália. O livro de Atos é a segunda divisão de uma obra em dois volumes, Lucas-Atos) Bastam-nos essas idéias quanto aos livros históricos do Novo Testamento. As epístolas e, finalmente, o livro de Apocalipse, explanam a significação teológica da história da redenção, além de extraírem dai certas implicações éticas. Entre as epístolas, as de Paulo ocupam o primeiro lugar e entre elas, a ordem em que foram arranjadas segue primariamente a idéia da extensão decrescente, levando-se em conta a grande exceção formada pelas Epístolas Pastorais (1 e 2 Timóteo e Tito), as quais antecedem a Filemom, a mais breve das epístolas paulinas que chegaram até nós. A mais longa das epístolas não-paulinas, aos Hebreus (cujo autor nos é desconhecido), aparece em seguida, depois da qual vêm as epístolas Católicas ou Gerais, escritas por Tiago, Pedro, Judas e João. E por fim, temos o livro que lança os olhos para o futuro retorno de Cristo, o Apocalipse, livro esse que leva o Novo Testamento a um mui apropriado clímax. O Novo testamento é o livro mais vital o mundo. Seu tema supremo é o Senhor Jesus Cristo. Seu objetivo supremo é a Salvação dos seres humanos. Seu projeto supremo é o reinado final do Senhor Jesus num império sem limites e eterno. Dentro do estudo do Novo testamento estaremos observando as principais Doutrinas e Teologia. “A revelação nunca é uma mera transmissão de conhecimento, mas sim um relacionamento que traz vida e transformação” (Alister E. Mcgrath). “A revelação envolve a manifestação da presença pessoal de Deus e não meras informações a seu respeito” (Emil Brunner). VALOR E NECESSIDADE DA TEOLOGIA Reconhecemos, também, que há teologias que em nada contribuem ao fortalecimento da fé, não exercem motivação ou estímulo para o crente viver e agir conforme a vontade de Deus. Isto acontece porque tais teologias exercem um caráter puramente especulativo, filosófico e inclinações confusas e indutoras de disputas infrutíferas. A Teologia desenvolvida sem as aberrações dos que a desprezam, ou dos que a supervalorizam, é fiel à natureza e finalidade do Evangelho, e representa um grande e necessário valor para a vida dos filhos de Deus.

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CLASSIFICAÇÃO DA TEOLOGIA 1. Teologia naturalista ou teodicéia (melhor termo). É a busca pelo conhecimento divino utilizando-se do meio de observação humana da natureza e da racionalização humana. 2. Teologia Sistemática. É a organização dos fatos teológicos, na forma de um sistema racional; tendo como fontes: a revelação e a filosofia e várias outras ciências como a antropologia e a etnografia. 3. Teologia Bíblica (Teologia Exegética ou Positiva). Tendo como fonte exclusiva as Escrituras. Estabelece os fatos teológicos, tendo como pontos de vista a Revelação, historicidade e experiências. 4. Teologia Bíblica do Novo Testamento. Objetivo específico é o de conhecer Deus através da pessoa de Jesus como a imagem de Deus invisível (Cl 1.15). Visa também conhecer as experiências dos cristãos sob a influência dinâmica do Espírito Santo, e interpretar suas novas atitudes, em função da nova vida (regenerada) que alcançaram. Basicamente, é a busca por conhecer as Escrituras do Novo Testamento de maneira especializada, tendo-a como a única fonte confiável, infalível e última na formação do corpo de doutrinas cristãs, que conduz à prática e propicia respostas às inquirições humanas. A Teologia serve à Igreja: A proteção da fé dos mais fracos é necessária, exigindo que se leve em conta a situação específica das pessoas e dos grupos e que se lance mão de recursos catequéticos e pedagógicos mais convenientes. Todavia, isso não significa que devam ser escondidos dos fiéis os problemas e as questões teológicas que hoje são os mais defendidos e ensinados nas instituições teológicas mais competentes, bem como na maioria das faculdades de teologia. Manter o povo na ignorância pode ser uma estratégia adequada a curto prazo para defender o atual status quo eclesial, mas a longo prazo conduz à formação de guetos e torna-se inviável em uma sociedade pluralista e de meios de comunicação de massa, como a nossa.1 A Teologia é necessária em virtude da necessidade de conhecimento da natureza intelectual do ser humano. A Ausência da teologia verdadeira — falta de compreensão adequada das coisas de Deus — possibilita duas distorções: a superstição e o fanatismo. 1. A Teologia É Necessária em Virtude da Relação que Existe entre a Verdade Sistematizada e o Desenvolvimento do Caráter Cristão. 2. A Teologia É Necessária porque Ajuda os Pregadores a Definir e Expor as Doutrinas do Cristianismo. 3. A Teologia É Necessária como Meio de Defesa da Religião que se Professa. 4. A Teologia É Necessária à Propagação do evangelho e à solidificação de seus resultados. 1

ESTRADA. Juan Antônio. Para Compreender Como surgiu a Igreja. São Paulo: Editora Paulinas, 2005, p. 24.

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TEOLOGIA E RELIGIÃO Teologia e Religião são realidades distintas, independentes, mas coexistentes. Religião é a realidade espiritual vivida pelo adorador. Teologia é o processo de conhecimento que analisa, interpreta, compreende, sistematiza e expõe por meio de interpretações a compreensão aos homens. Religião é vocábulo que vem do latim: (a) Religare = “voltar a unir”; (b) Religere = “tomar de novo um caminho”. De onde vem o termo Religio (religião) = “exato cumprimento do dever (para com os deuses)”. I. REFLEXÕES SOBRE A TEOLOGIA O que não é teologia: as formas do anúncio. Teologia é a reflexão intelectual sobre o ato, o conteúdo e implicações da fé cristã. Várias são as formas pelas quais se realiza este anúncio: 1. Kerigma. Edital, notificação, intimação por meio de um arauto ou mensageiro. Seu escopo é estabelecer o primeiro contato com Cristo, suscitar o interesse por Ele, transmitir a sua mensagem central, por si mesmo suficiente para abrir para uma resposta de adesão, e assim iniciar o processo de conversão. 2. Catequese.2 Instruir de viva voz. Ensino da doutrina da Igreja ministrado de forma metódica e, sobretudo oral. Pedagogia da fé destinada não só à formação, como à adesão do catecúmeno (kathxou/menoj) à mensagem da Salvação. Doutrinação. 3. Homilia. Exposição em tom familiar feita pelo pastor ou sacerdote para explicar as matérias de religião e, sobretudo o Evangelho. II. O QUE É TEOLOGIA? “A partir do momento em que começamos a refletir e a falar acerca de Deus, estamos fazendo teologia”. Teologia é: 1. Discurso concernente a Deus; 2. A ciência do sobrenatural; 3. A ciência da religião; 4. O estudo sobre Deus. 5. A fé buscando o entendimento da verdade de Deus. 2

A palavra Catequese (kath//xhsij) se origina do verbo grego katēchéō (kathxe/w), que significa ensinar de viva voz, anunciar, educar, catequizar. Catequese é uma palavra composta de “kata” = contra e “échésis” = ruído; sendo a “katéchēsis” (kath//xhsij) a ação de proclamar, de anunciar. Catequese é a ação de educar e de instruir os crentes depois da sua conversão; primeira função da Igreja, depois do anúncio da fé. 6

Definições mais elaboradas: 1. A ciência de Deus segundo ele se revelou em sua Palavra (Ernest Kevan); 2. A apresentação dos fatos da Escritura, em sua ordem e revelação próprias (Charles Hodge); 3. É a argumentação “sobre a substância divina cognoscível, por meio de Cristo na obra da redenção” (Ugo de São Vítor – séc. XI -XII). 4. A interpretação metódica dos conteúdos da fé cristã (Paul Tillich); 5. Dogmática é a ciência na qual a igreja, segundo o estado atual do seu conhecimento, expõe o conteúdo da sua mensagem, criticamente, isto é, avaliando-o por meio das Sagradas Escrituras e guiando-se por seus escritos confessionais (Karl Barth). 6. A Teologia é a reflexão da Igreja a respeito da salvação trazida por Cristo e a respeito do Evangelho da salvação proclamada e explicada pelos apóstolos (Roger Olson). 7. A teologia sistemática é o ramo da teologia cristã que reúne as informações extraídas da pesquisa teológica, organiza-as em áreas afins, explica as suas aparentes contradições e, com isso, fornece um grande sistema explicativo (diferentemente da teologia histórica ou da teologia bíblica). Kevan – somente se refere à revelação de Deus em sua Palavra. Barth – é mais abrangente, já que assinala que essa ciência é forjada pela igreja. História A tentativa de organizar as variadas idéias da religião cristã (e os vários tópicos e temas de diversos textos da Bíblia) em um sistema simples, coerente e bem-ordenado é uma tarefa relativamente recente. Na ortodoxia oriental, um exemplo antigo é a Exposição da Fé Ortodoxa, de João de Damasco (feita no século VIII), na qual se tenta organizar, e demonstrar a coerência, a teologia de textos clássicos da tradição teológica oriental. No Ocidente, as Sentenças de Pedro Lombardo (no século XII), em que é coletada uma grande série de citações dos Pais da Igreja, tornou-se a base para a tradição de comentário temático e explanação da escolástica medieval - cujo grande exemplo é a Suma Teológica de Tomás de Aquino. A tradição protestante de exposição temática e ordenada de toda a teologia cristã (ortodoxia protestante) surgiu no século XVI, com os Loci Communes de Felipe Melanchton e as Institutas da Religião Cristã de João Calvino. No século XIX, especialmente em círculos protestantes, um novo modelo de teologia sistemática surgiu: uma tentativa de demonstrar que a doutrina cristã formava um sistema coerente baseado em alguns axiomas centrais. Alguns teólogos se envolveram, então, numa drástica reinterpretação da fé tradicional com o fim de torná-la coerente com estes axiomas. Friedrich Schleiermacher, por exemplo, produziu Der christliche Glaube nach den Grundsatzen der evangelischen Kirche, na década de 1820, onde a idéia central é a presença universal em meio à humanidade (algumas vezes mais oculta, outras, mais 7

explícita) de um sentimento ou consciência de “absoluta dependência”; todos os temas teológicos são reinterpretados como descrições ou expressões de modificações deste sentimento. A teologia cristã, como a maioria das disciplinas, é proveniente de diversas fontes. Tem havido uma grande discussão na tradição cristã quanto à identidade e à relativa importância dessas fontes para análise teológica. 3 Em termos gerais, quatro fontes principais têm sido reconhecidas dentro da tradição cristã: 1. As Escrituras; 2. A Razão; 3. A tradição; 4. A experiência A teologia move-se em três pólos: 4 1. O Evangelho bíblico; 2. A tradição da Igreja; 3. As formas do pensamento do mundo contemporâneo. A POSSIBILIDADE DA TEOLOGIA5 “Só Deus pode falar sobre Deus” (Karl Barth). A Teologia é possível a partir de três realidades: 1. Deus se revelou em Jesus Cristo e na sua Palavra; 2. O ser humano foi criado à imagem de Deus; 3. O Espírito Santo atua iluminando-nos (Não há teologia sem o Espírito Santo). A teologia hodierna é uma verdadeira ciência, porém uma ciência sui generis, que foge do modelo das ciências empírico-formais, possuindo uma analogia estrutural com sua própria metafísica, e, como saber científico, é constituída de três elementos principais: 6 1. O sujeito epistêmico: o teólogo; 2. O objeto teórico: Deus e a criação; 3. O método específico: o caminho para o sujeito chegar ao objeto.

3 4

McGRATH, Alister E. Teologia: Sistemática, histórica e filosófica. São Paulo: Ed. Shedd Publicações, 2005, p. 199. GRENZ, Stanley e OLSON, Roger E. Teologia do Século 20. 1ª ed. São Paulo. Editora Cultura Cristã, 2003.

5

ROLDÁN, Alberto Fernando. PARA QUE SERVE A TEOLOGIA?. 2ª ed. Londrina: Editora Descoberta Ltda, 2004, p. 27,29. 6

MARINO, Raul Júnior. A religião do Cérebro. São Paulo: Editora Gente, 2005, p. 126.

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É assunto central da epistemologia7 saber que o objeto determina o método, pois a verdade se procura, se encontra e não pode ser inventada nem criada.8 O objeto da teologia é o próprio Deus e tudo o que se refere a sua realidade que determina todas as realidades; é aquela dimensão da realidade que estuda o Sentido Supremo e o Ser Supremo.9 TEOLOGIA E CIÊNCIA A Ciência trata do conhecimento e controle dos fenômenos, por meio de análise, experiência e leis que regulam e que manipulam os controles do conhecimento e os dirija aos fins práticos da vida humana. A Teologia trata da fé, é um terreno espiritual, subordinada à revelação divina e que diferentemente da ciência, não pode ser experimental (analisada em laboratório). MÉTODOS DEDUTIVO E INDUTIVO 10 “Há desenvolvimento do pensamento metodológico regendo as regras da lógica que se utiliza de certos métodos para tratar com experiências. Quando esse pensamento metodológico se expressa, por meio da fala ou de escritos e é comunicado a outras pessoas, produz doutrinas teológicas” (Paul Tillich).11 A teologia é uma ciência cujo objeto é Deus em sua revelação, e que trata das relações que ele tem com o ser humano e o mundo. Ora, se a teologia é uma ciência, que métodos ela utiliza? Como sabemos, existem dois métodos básicos em toda ciência: 1. O Dedutivo (a priori). Trabalha a partir de dados existentes. De uma proposição (afirmação) ou uma série de proposições deduz ou infere uma série de fatos. Dedução é tirar inferências e conclusões lógicas dos dados. 2. O Indutivo (a posteriori). Ele parte do particular e chega a um enunciado ou afirmação geral. MÉTODO DEDUTIVO: do geral para o particular

a priori

MÉTODO INDUTIVO: do particular para o geral

a posteriori

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Epistemologia. Do Gr. epistéme, ciência + lógos, tratado. Estudo crítico das várias ciências; gnosiologia, teoria do conhecimento. 8 MARINO, Raul Júnior. Op. Cit., p. 126. 9 MARINO, Raul Júnior. Op. Cit., p. 126. 10 ROLDÁN, Alberto F. Op. Cit., p. 42,43. 11 TILLICH, Paul. Teologia Sistemática. Edições Paulinas, Editora Sinodal, 1987, p. 18,19.

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Destes dois métodos resultam os dois tipos ou maneiras de fazer teologia: MÉTODO DEDUTIVO

TEOLOGIA SISTEMÁTICA

MÉTODO INDUTIVO

TEOLOGIA BÍBLICA

1.

TEOLOGIA SISTEMÁTICA. “É aquela disciplina que tenta dar uma exposição das doutrinas da fé cristã, baseada principalmente nas Escrituras, falando às perguntas e questões da cultura e época em ela existe, com aplicação à vida pessoal do teólogo e outros” (John Hammett).

2.

TEOLOGIA BÍBLICA. A Teologia Bíblica é o braço da teologia exegética que estuda o processo da auto-revelação de Deus depositada na Bíblia. A Teologia Bíblica se propõe expor o conteúdo da revelação de Deus em seu desenvolvimento histórico. Ela confere importância decisiva ao trabalho exegético, já que forma uma espécie de elo entre a exegese e a Teologia Sistemática.12

Sua metodologia (Teologia Bíblica) é indutiva, já que, começando com os particulares, chega-se ao enunciado geral. A Teologia Bíblica privilegia as formas de pensamento e cosmovisão dos autores bíblicos (todos hebreus, à exceção de Lucas), em vez de tomar como instrumento analítico a filosofia grega. Quando dizemos Teologia Bíblica não estamos dizendo que a Teologia Sistemática não é bíblica. TEOLOGIA SISTEMÁTICA TEOLOGIA BÍBLICA EXEGESE DO TEXTO

A Teologia Bíblica, ao contrário da Teologia Sistemática é indutiva, a partir da pesquisa exegética faz afirmações, ou seja, parte do específico para o geral. A Teologia Bíblica faz uso de técnicas emprestadas das demais ciências, como a exegese, que é a técnica de interpretação de textos antigos. De um modo geral, a Teologia Bíblica parte da exegese de textos bíblicos como afirmação primeira, dai elaborando afirmações decorrentes.

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LADD, George E. Teologia do Novo Testamento. 2ª ed. Rio de Janeiro, JUERP, 1985, p. 25.

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A Teologia Bíblica ainda divide-se em Teologia Bíblica do Novo Testamento e do Antigo Testamento. Não há uma Teologia Bíblica unificada, o que há são diversas teologias das tradições bíblicas. Mesmo no Antigo Testamento, encontram-se as teologias dos livros históricos, e estas ainda se subdividem em outras teologias de acordo com o método de pesquisa empregado, também se encontram a teologia dos escritos proféticos e dos escritos sapienciais. No Novo Testamento há a teologia de Mateus, de João (Jo, 1Jo, 2Jo, 3Jo, Ap), de Paulo (Cartas Paulinas), de Lucas (Lc e At). O teólogo alemão Hans Joachim Kraus aborda no livro Die Biblische Theologie esta problemática das múltiplas tradições e teologias bíblicas. “A Teologia do Novo Testamento é o estudo que enfatiza e soletra o conteúdo do Novo Testamento do ponto de vista teológico. A teologia neotestamentária tem de pressupor o trabalho do exegeta para proporcionar os detalhes de interpretação de um texto. A Teologia Bíblica difere, também, da Teologia Sistemática. Esta trata mais sistematicamente e compreensivamente de doutrinas como Deus, homem, pecado e salvação. A Teologia Sistemática está interessada em relatar os materiais tanto bíblicos quanto perspectivas históricas para o tempo moderno. A Teologia Bíblica difere da Teologia Histórica e da História Eclesiástica sendo um prólogo ou primeiro capítulo para estas. A Teologia Bíblica deve proporcionar as normas pelas quais as outras podem ser avaliadas” (Dr. Broadus Hale). HISTÓRIA DA TEOLOGIA BÍBLICA DO NOVO TESTAMENTO 1. O SURGIMENTO DA TEOLOGIA NEOTESTAMENTÁRIA EM TORNO DA PESSOA E DO ENSINO DE JESUS. 2. Jesus Cristo, como pessoa histórica e divina É O FUNDAMENTO DA VERDADEIRA TEOLOGIA. Jesus é o Padrão de aferição. (Efésios 2.21 a pedra angular do Edifício). Jesus é a convergência da interpretação das Escrituras. (primitiva, medieval, reformada, contemporânea): 3. O Surgimento da Teologia em torno da Pessoa e do Ensino de Jesus. No princípio, tudo acerca de Jesus — os fatos e os ensinos — eram transmitidos oralmente. (Jesus escreveu uma única vez!). Causas que Provocaram a Origem da Formação Teológica: 1. Cartas de instrução dos líderes cristãos para o doutrinamento dos novos crentes. 2. O Rápido Crescimento do Número de Crentes. 2.1. Dificuldades para instruir oralmente. 2.2. Conflitos de natureza múltipla: (heterogeneidade: judeus X prosélitos (gentios) Atos 6.

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3. Dispersão dos Crentes. Os primeiros 25 anos da história cristã, com perseguições, impulsionou a igreja na implantação do Evangelho pela Ásia e pela Europa, culminando no surgimento de muitas igrejas e instrução escrita a qual era lida perante a Congregação, copiada e enviada a outras igrejas. 4. Surgimento de problemas de natureza comportamental. Embates acerca dos costumes pagãos entre os convertidos, a moral do cristianismo. Os Escritos surgiram para orientar objetivamente, fundamentados no ensino de Jesus — como os cristãos deveriam se portar entre os irmãos — o corpo de Cristo e entre os de fora, com um viver digno, segundo a vontade e o padrão de Cristo. Ex.: Indisciplina nos cultos, a imoralidade sexual, o faccionismo em torno de nomes de pregadores, a crença nos dons espirituais e a falta de discernimento do sentido da Ceia do Senhor. 5. Choque das esperanças cristãs com a hostilidade e crueldade do mundo que tinham de enfrentar. Como entender à violência até o martírio, diante das promessas de Jesus. Escrever para consolar os cristãos assolados pela perseguição e a perseverar na fé até o fim. 6. Choque entre a mentalidade judaica e a gentílica no encontro de cristãos judeus e cristãos gentios. - Entrava-se em choque de ponto de vista (sistema) religioso originário (Atos 15). - Ex.: A ressurreição dos mortos, a volta de Jesus, a justificação pela fé sem as obras da lei, etc. 7. Infiltração de heresias nas fileiras cristãs. - Fábulas criadas pela mente humana, movida por fanatismo e superstição, infiltraram-se entre os cristãos e ameaçava a fé, ou no mínimo, confundia os crentes. - Ex.: O legalismo. O nicolaitismo. O gnosticismo, combatido no Evangelho de João para provar que Jesus não era uma simples emanação de Deus, ou mera aparição incorpórea, mas sim a encarnação do Verbo. OS ESCRITOS QUE HOJE FORMAM O NOVO TESTAMENTO A formação do Novo Testamento, não originou com os Evangelhos, outros escritos surgiram primeiro, foram as cartas. Paulo, por exemplo, desenvolveu sua teologia a partir da pessoa, obras e ensinos de Jesus, e buscou alicerçar sua autoridade nessas realidades. Quando Paulo disse aos Coríntios: ‘Porque eu recebi do Senhor o que também vos ensinei’ (1 Co 11.23) — ele estava revestido de autoridade em seu ensino por baseá-lo naquilo que havia recebido do próprio Senhor Jesus. Em outras palavras, Paulo não quis construir um edifício por si mesmo, de sua própria sabedoria e invenção, mas ensinou o que aprendera de Jesus Cristo”. (Lima, p. 59). Ver também Gálatas 1.11,12; 2 Co 13.3; ver também o testemunho de Pedro em 2 Pedro 1.13-16. Os Escritos do Novo Testamento são autênticos e revestidos de autoridade, pois em última análise, fluíram da pessoa, obras e ensino de Cristo Jesus.

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Qualquer teologia que colida com a pessoa de Jesus em sua historicidade e divindade — caráter milagroso de sua obra — é falsa e perniciosa ao Reino de Deus. O REINO DE DEUS NA TEOLOGIA DO NOVO TESTAMENTO 13 Ver Ladd pág. 899. [Sobre o reino de Deus]. O reino de Deus é um conceito amplamente proclamado e desenvolvido no Novo Testamento. Os Evangelhos Sinópticos constituem a parte neotestamentária que mais se concentra neste tema. Mateus sintetiza a pregação de Cristo como o kerygma acerca das boas novas do Reino (Mt 4.23). Marcos, também, narra a pregação do evangelho da vinda do reino de Deus como parte integrante do ministério de Jesus, sendo o fundamento da exortação ao povo ao arrependimento e à fé nas boas novas da parte de Deus (Mc 1.14, 15). O fato de Marcos indicar na proclamação de Jesus a relação entre o cumprimento do tempo e a aproximação do reino de Deus revela que a vinda do governo de YHWH sobre os homens é o cumprimento da esperança escatológica veterotestamentária de tal acontecimento, dando continuidade à história da salvação (Mc 1.14, 15; cf. Mt 5.17-20). Nos Salmos, Deus é reconhecido como o Rei Universal que mantém o Seu poder eternamente (Sl 103.19; 145.11, 13). Isaías, profeticamente, falou de um mensageiro que traria as boas novas da chegada do reinado efetivo de Deus, a fim de salvar o Seu povo (Is 40.9ss; 52.7ss). Portanto, o reino de Deus pregado por Cristo é a mensagem do evento escatológico no qual Deus passou a restaurar a humanidade, mediante a Pessoa e Obra de Jesus (Mt 11.25-27), trazendo-a, novamente, para debaixo de Sua soberania (Mt 5.21, 48), de fato, não apenas de direito. Os homens e as mulheres, então, experimentam o governo de Deus em suas vidas, ao se arrependerem do viver independente do Criador e crerem na reconciliação com Ele por meio de Jesus (Mc 1.14, 15; cf. At 2.38-40; 1 Ts 1.9-10). A presença do Reino na Pessoa de Cristo é declarada em dois incidentes. Num confronto de Jesus com os fariseus a respeito do exorcismo de demônios, em que o poder de Cristo sobre os espíritos imundos indicava a presença escatológica do Reino (Mt 12.28). E em outro confronto entre ambos, quando Jesus declara a natureza misteriosa do reino de Deus que já estava presente entre os homens e as mulheres (Lucas 17.20, 21). Cabe, por fim, destacar neste trabalho que ainda que o reino já fora inaugurado com o ministério de Cristo, não fora cumprido de modo pleno, aguardando um momento futuro para isto. Pois, a luz da Nova Era que já começara a raiar, ainda espera seu ápice quando Cristo virá para julgar a humanidade (2 Tm 4.1), todos os seus inimigos serão colocados debaixo de Seu poder e os filhos do reino desfrutarão da vida eterna na Era vindoura (Mt

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LADD, G. E. Teologia do Novo Testamento. 1ª ed. São Paulo: Exodus, 1997.

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10.17-31; Rm 13.11-14; 1 Co 15.24-28; Ef 1.9, 10). A oração do crente é pela concretização final do Reino (Mt 6.10). O REINO DE DEUS 14 Este capítulo é baseado em Teologia do Novo Testamento de George Eldon Ladd. (Marcos 1.14-15; Mateus 4.23; Lucas 4.21). “De Agostinho aos reformadores, o ponto de vista dominante foi que o Reino, de um modo ou de outro, deveria ser identificado com a Igreja”. Atualmente, este ponto de vista é raro, mesmo entre os teólogos católicos. Outros têm argumentado sobre um Reino futuro e totalmente escatológico (Johannes Weiss) E Albert Schweitzer, interpretação escatológica, em que Jesus esperava o Reino num futuro próximo. Desde então, a maioria dos eruditos não tem considerado o Reino como exclusivamente escatológico. “Rudolf Bultmann aceitou a aproximação iminente do Reino escatológico como a interpretação correta da mensagem de Jesus, mas o verdadeiro significado do Reino deve ser compreendido em termos existenciais: a proximidade e a exigência de Deus”. “Tem havido um sem-números de interpretações não escatológicas do Reino de Deus. Muitos eruditos têm interpretado o Reino primariamente em termos da experiência religiosa pessoal — o reino de Deus na alma do indivíduo”. “Na Grã-Bretanha, a interpretação mais influente tem sido a de C. H. Dodd, conhecida como ‘Escatologia Realizada’”. Ele compreende a mensagem apocalíptica como uma série de símbolos que representam as realidades que os homens não entenderiam de um modo direto. Deste modo o Reino (o “totalmente outro”) entrou na História através de Jesus, sendo descrito numa ordem transcendental, tudo o que os profetas haviam predito e esperado, agora tinha sido realizado na história. Dodd minimizou o aspecto futurista do Reino, mas em sua última publicação (The Founder of Christianity, 1970) ele admitiu que o Reino ainda aguarda a consumação “além da história”. “Se há algum tipo de consenso entre a maioria dos eruditos, este é que o Reino é, em algum sentido, tanto presente quanto futuro”. Em certos círculos evangélicos na América e Grã-Bretanha, uma perspectiva bem recente a respeito do Reino tem alcançado grande influência [J.D. Pentecost, Things to Come (1958); A.J. McClain, The Great-ness of the Kingdom (1959); J. Walvoord, The Millennial Kingdom (1959); C.C. Ryrie, Dispensationalism Today (1965); The New Scofield Reference Bible (1967). Uma crítica ampla sobre esta perspectiva pode ser 14

LADD, G. E. Teologia do Novo Testamento. 1ª ed. São Paulo: Hagnos, 2003, p. 84-96.

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encontrada no livro de G.E. Ladd, Crucial Questions About the Kingdom of God (1952)]. Partindo da premissa de que todas as profecias que o Velho testamento fez com relação a Israel precisam ser literalmente cumpridas, os dispensacionalistas têm feito uma forte diferenciação entre o Reino de Deus e o Reino dos Céus. O Reino dos Céus significa o domínio dos céus (Deus) sobre a terra e tem referência primária ao Reino teocrático de natureza terrena prometido ao Israel do Velho Testamento. Somente o Evangelho de Mateus nos fornece o aspecto judaico do Reino. Quando Jesus anunciou que o Reino dos Céus estava próximo, estava fazendo referência ao reino teocrático terreno prometido a Israel. Entretanto, Israel rejeitou a oferta do Reino, e, em lugar de estabelecer o Reino para Israel, Jesus introduziu uma nova mensagem, oferecendo descanso e serviço para todos os que cressem, iniciando a formação de uma nova família de fé, que se faz presente ao longo das linhas de separação racial, eliminando-as. O mistério do Reino dos Céus mencionado em Mateus 13 representa a esfera da profissão de fé cristã — cristandade — que é a forma assumida pelo domínio de Deus sobre a terra entre os dois adventos de Cristo. O fermento (Mateus 13.33) sempre representa o mal; no Reino dos Céus — a igreja militante — a verdadeira doutrina será corrompida pela doutrina falsa. O Sermão do Monte é a lei do Reino dos Céus — a Lei Mosaica do Reino teocrático do Velho Testamento, interpretada por Cristo, destinada a ser o código de conduta do Reino aqui na terra. O Reino dos Céus, rejeitado por Israel, será consumado no evento da volta de Cristo, quando Israel será convertido e as promessas do Velho Testamento a respeito da restauração do Reino de Davi serão literalmente cumpridas. O princípio básico desta linha de pensamento teológico é que há dois povos de Deus — Israel e a Igreja — com dois destinos, sob dois programas divinos. Outros escritores recentes têm interpretado “o Reino basicamente do mesmo modo em termos do descortinamento da história da redenção. O Reino de Deus é o domínio real de Deus, que tem dois momentos: um cumprimento das promessas do Velho Testamento na missão histórica de Jesus e uma consumação ao fim dos tempos, inaugurando a Era Vindoura”. O Deus do Reino “O Reino é o Reino de Deus, não do homem: Basiléia tou theou (...) o reino significa o domínio de Deus” (p. 77). Deus sempre é visto como governador soberano sobre todos (inclusive no judaísmo). Deus sempre tem sido o superintendente que providencia toda a existência humana. No presente tem manifestado sua atuação redentora em Cristo e no final revelará sua glória na consumação dos tempos e no surgimento da Era Vindoura. “Ele é “O DEUS QUE BUSCA”. Aquele que deve ser conhecido pela experiência e não apenas ensinado pela comunicação intelectual. 15

A Chegada do Reino anunciava uma possibilidade nova / desconhecida, que Deus estava intervindo na História através de Jesus, buscando o pecador, num ato gracioso e redentor. Jesus veio para ministrar aos pecadores (Marcos 2.15-17); “O centro das “boas-novas” sobre o Reino é que Deus tomou a iniciativa de buscar e achar aquilo que se havia perdido”. Ele é “O DEUS QUE CONVIDA”. “Jesus descreveu a salvação escatológica em termos de um banquete ou festa para a qual muitos foram convidados (Mateus 22.1 e ss.; Lucas 14.16 e ss.; cf. Mateus 8.11)”. “Jesus conclamou os homens ao arrependimento, mas a intimação foi também um convite”. Ele é O DEUS QUE JULGA. Enquanto Ele busca o pecador, seu atributo de justiça o mantém no posto de Juiz para aqueles que rejeitam seu Dom gracioso e salvador. ”O reverso de herdar o Reino será sofre a punição do fogo eterno (Mt 25.34,41)”. Os que recusaram a entrar e tentaram impedir a outros (Mt. 23.13). Este destino escatológico é uma decisão determinada pelo pecador em resposta ao convite salvador de Cristo Jesus. (Mc. 8.38 e Mt. 10.32,33). Ais contra as cidades impenitentes de Corazim, Betsaida e Cafarnaum (Mt 11.2024 e Lc. 10.13-15). Jesus chorou sobre Jerusalém (Mt 23.37-39; Lc 13.34,35). A figura da galinha ajuntando seus pintainhos é do VT (Dt 32.11; Sl 17.8; 36.7) onde O judeu ao converter um gentio, e visto como trazendo-o sob as asas do Shekinah (a presença de Deus) O sentido simples, é o de introduzir os fariseus no Reino de Deus, mas a rejeição fez Jesus chorar conhecendo o que lhes esperava “e te sitiarão” (Lc 19.41-44) Ao rejeitar a episkope graciosa (não conheceste o tempo da tua visitação v.44), a catástrofe histórica ficou determinada trazendo morte e destruição. PATERNIDADE “O Deus PATERNAL. Deus busca pecadores, convidando-os a que se submetam ao seu domínio para que possa ser seu Pai. O justificado por Cristo entrará no Reino Eterno de seu Pai (Mateus 13.43) É o Pai quem preparou a graça bendita a que os filhos herdarão no Reino (Mateus 25.34) Na oração dominical, Jesus ensina a pedir que o Reino Venha, tal é o gozo dos remidos pelo mesmo” (Mateus 6.10). O conceito de Pai tem raízes no VT, A Paternidade é expressa em decorrência da Aliança entre Deus e Israel (Ex 4.22 “Israel é meu primogênito”; Dt 32.6; Is 64.8; Ml 2.10 Deus é o Pai da nação).

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A Paternidade Universal de Deus somente pode ser entendida no sentido potencial, e não real, (Mt. 5.44 chuva para maus e bons; Mt. 6.26 Pai de todas as criaturas, alimenta-as. Lc. 15.11-24 Filho Pródigo. – A verdade central é que Deus Busca o Pecador, o lugar próprio do homem é na casa do Pai. A linguagem aramaica abba foi vestida pelo grego em Rm 8.15 e Gl. 4.6, no sentido aramaico, significa a linguagem infantil semelhante ao nosso “paizinho” Jesus proibiu usar esta palavra no uso diário como um título de cortesia (Mt. 23.9), “deveriam reservar este termo apenas para Deus. Abba representa a nova relação de confiança e intimidade que Jesus conferiu aos homens”. O Mistério do Reino [pág. 126-139] 15 A nossa tese central é que o Reino de Deus é o domínio redentor de Deus, dinamicamente ativo, que visa estabelecer seu governo entre os seres humanos; e que este Reino, que aparecerá como um ato apocalíptico na consumação dos tempos, já entrou para a história humana na pessoa e na missão de Jesus com a finalidade de vencer o mal, de libertar os homens do seu poder e de propiciar-lhes a participação nas bênçãos do reinado de Deus. O Reino de Deus envolve t dois grandes momentos: o cumprimento no cenário da história humana e a consumação no fim da história. É justamente este contexto histórico que nos oferece o paradigma para a interpretação das parábolas do Reino. CÂNONES DE INTERPRETAÇÃO O estudo crítico moderno propôs dois cânones para a interpretação das parábolas, os quais são necessários para uma compreensão histórica correta das mesmas. O primeiro deles foi enunciado por Jülicher, que estabeleceu o princípio essencial de que as parábolas não devem ser interpretadas como se fossem alegorias. Uma alegoria é uma estória artificial criada pelo autor como um meio de transmitir ensinamentos. Uma vez que os detalhes de uma alegoria são controlados pelo próprio autor, ela pode ser estruturada de tal forma que cada detalhe seja portador de um significado distinto e importante. Uma alegoria simples é a estória do cardo e do cedro narrada em 2 Reis 14.9, 10. Uma parábola é uma estória extraída da vida diária, com a finalidade de comunicar uma verdade de cunho moral ou religioso. Em virtude do fato de que o autor não cria sua estória e, portanto, não tem controle sobre seus detalhes, com freqüência estes são considerados de pequena importância para a verdade que a estória pretende comunicar. Uma parábola tem o propósito de comunicar essencialmente uma verdade singular, em lugar de um complexo conjunto de verdades. Este princípio pode ser claramente demonstrado na parábola do mordomo injusto (Lc 16.1-13). Se os detalhes forem enfatizados, esta parábola poderá conter o ensinamento de que o dolo é melhor do que a honestidade; mas isto é obviamente impossível. Detalhes como as noventa e nove ovelhas (Lc 15.4) e as dez moedas (Lc. 15.8) não possuem uma 15

LADD, G. E. Teologia do Novo Testamento. 1ª ed. São Paulo: Hagnos, 2003, p. 125-139.

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importância particular. Na Parábola do Bom Samaritano, não devemos procurar o significado alegórico dos ladrões, do sacerdote e do levita, do óleo e do vinho, a razão de ser para as duas moedas, o significado de Jerusalém, de Jericó, e da hospedaria, assim como não devemos procurar a identidade do jumento. Devemos procurar, no entanto, uma verdade central em cada uma das parábolas do Reino. O segundo princípio de interpretação usado pela crítica é o de que as parábolas devem ser interpretadas no contexto do ambiente histórico da vida e do ministério de Jesus, e não na vida da Igreja. Isto significa que procurar compreender as parábolas como profecias da atuação do Evangelho no mundo ou no futuro da Igreja não é uma boa abordagem histórica de interpretação. A exegese das parábolas deve ser levada a efeito em termos da própria missão de Jesus na Palestina. Tal reconhecimento, entretanto, não nos deve cegar a visão para o fato de que aplicações importantes e mesmo necessárias podem ser feitas a situações posteriores, caso existam analogias entre a missão de Jesus e o papel que a Palavra e a Igreja devem desempenhar no mundo. No entanto, no momento estamos preocupados em procurar encontrar o significado histórico das parábolas no ministério de Jesus. O método de Jülicher foi deficiente neste ponto, porque encontrou nas parábolas verdades religiosas de aplicação geral e universal. A erudição recente, especialmente a obra de C.H. Dodd, tem demonstrado que a Sitz im Leben (“Contexto ou situação existencial determinante de certo padrão de comportamento”) nas parábolas é a proclamação que Jesus faz a respeito do Reino de Deus. J. Jeremias considera esta perspectiva como uma inovação radical da crítica histórica, que introduziu uma nova era na interpretação das parábolas. Contudo, ele critica a ênfase unilateral de Dodd, que resultou em uma contração da escatologia, esvaziando-a de seu conteúdo futurístico. J. Jeremias propõe-se a fazer algumas correções às conclusões de Dodd, apesar de aceitar seu método; e procura descobrir a mensagem original das parábolas por intermédio da recuperação de sua forma histórica primitiva. J. Jeremias sugere “uma escatologia em processo de realização”. A missão de Jesus inaugurou um processo escatológico, do qual esperava que brevemente atingiria sua consumação escatológica. A igreja primitiva dissolveu este processo singular em dois eventos, e, assim, aplicou à parusia parábolas que originalmente não tiveram um significado escatológico. Entretanto, J. Jeremias vai longe demais ao assumir, como sua pressuposição principal, que o sentido original das parábolas somente pode ser recuperado em termos do significado que tiveram para os ouvintes judaicos de Jesus. Esta perspectiva assume que o contexto ou situação existencial determinante das parábolas encontra-se no judaísmo, e não no ensinamento de Jesus. Tal metodologia tende a limitar a originalidade de Jesus. Devemos deixar margem para a possibilidade de que seus ensinamentos transcendem as idéias judaicas. Portanto, o contexto ou situação existencial determinante mais adequado para interpretar as parábolas deve ser encontrado nos próprios ensinamentos de Jesus, e não no judaísmo.

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OS MISTÉRIOS DO REINO 16 O Reino é misterioso. Ele chega à maneira mais simples para confundir os abastados. Os entendidos e sábios o esperavam com a Lei aberta. Sabiam o lugar onde nasceria o Messias! Poderiam discutir sobre as profecias claramente! Mas Deus ocultou o Reino e os seus mistérios aos sábios e entendidos. Eles sabiam tanto a Lei que se confundiram com João Batista (Jo 1.19-21). Eles conheciam o lugar de onde viria o Messias, mas não sabiam o tempo! De que lhes adiantava saber o lugar sem conhecer o tempo? (Mt 2.4,5). Deus os fez desprezíveis (Mt 2.9) diante de todo o povo! Ocultou-lhes os mistérios do Reino. O tempo da sua vinda ele o revelou aos gentios do Oriente (Mt 2.1-12). A maternidade onde nasceu o Rei ele a revelou aos ignorantes pastores do campo. Por quê? Porque ela era tão “luxuosa” que somente os malcheirosos pastores poderiam entrar lá sem sentir que estavam entrando numa estrebaria! Imagine-se um fariseu lá dentro... Nem dá para imaginar. Creio que procurariam em vão um lugar limpo para poder pisar... Mateus 11.5,8,25; 13.11. Os mistérios do Reino dos Céus são dados a conhecer aos pequeninos, aos pobres, aos humildes. Aquele que tem poder de si mesmo, conhecendo de si mesmo, em lugar de dependência à Sabedoria divina, não pode conhecer os mistérios deste Reino. A velha geração que havia saído do Egito não pôde entrar na Terra da Promessa porque menosprezou os seus pequeninos, que eram seus próprios filhos, mas foi a eles que Deus revelou a terra, e estes a possuíram (Dt 1.13,39). Quais São os Mistérios do Reino Primeiro Mistério: Mt 13.1-23 - O reino ganhará espaço, pessoas e reinos pela Arma da Palavra. Nenhum reino terreno conseguiu triunfar pelo poder da sua palavra, da sua demagogia e da sua diplomacia. Mas o Reino de Deus vencerá pelo Poder da Palavra Viva de Deus! A Palavra é a Verdade (Jo l7.17). A Palavra é Poder (l Co 2.1-16). A Palavra é a Palavra do Reino (Mt 13.19). É o Evangelho Eterno (Ap 14.6). O Evangelho é um só, todavia tem vários nomes (Lc 8.11; At 20.24; Rm 1. 1; 1Tm 1. 11; 2 Co 10.14; G1 2.7 etc.). Esta é a arma espiritual que Deus usa contra o inferno. A tática de guerra que Deus usa é diferente da que os homens costumam usar. Deus usa Luz contra trevas; Água contra fogo; Ovelhas contra lobos. Algum homem pode compreender isso? Por que Deus fez assim? Porque primeiro ele ganhará espaço com a Palavra Viva; pois ela é a Espada do Espírito. A armadura de Deus sem ela é nula (Ef 6. 10-19).

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BENTES, A. Carlos G. O DIA DO SENHOR. Edição própria, p. 205-212.

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A Palavra de Deus é a semente que cai! Que semeia! Se ela cair em boa terra, produzirá frutos. Se alguém comer indignamente, come para a sua própria condenação (l Co 11.29). A Palavra é Vida, é Poder, é Juízo! A semente fala de Novo Nascimento. Ninguém entra no Reino de Deus em carne e sangue; não se entra no Reino de Deus usando dos hábitos do velho homem nem com a própria vida. Uma das exigências para se entrar no Reino é o Novo Nascimento. Para nascer de novo deve-se morrer. A semente ilustra esse processo (Jo 12.24). Antes se entrava no Reino por esforço próprio; isso veio acontecendo até João Batista (Mt 11.12), ou, melhor dizendo, até Cristo morrer por nós, pois agora é pelo Novo Nascimento (Jo 3.3,5; Mt 18.3).Este Reino é pregado desde João (Jo 1.35-51).Nesse texto vemos os seus primeiros frutos. Segundo Mistério: Mt 13.24-30,36-43 - Os filhos do Reino serão identificados finalmente em glória. a. O Reino teria um problema: a mistura dos filhos do Maligno no Reino, sem aparência. Mas no futuro os filhos do Reino serão identificados e passarão à glória, e os filhos do Maligno enfrentarão o Juízo. b. A posição atual e a posição futura dos filhos do Reino: Dn 12.3; Mt 13.36- 43. O ensino e a vida (Mt 5.19) determinam a sua dignidade no Reino. O fato de ensinar, de fazer, em nada coopera, mas o viver é tudo e o mais importante. c. Os maus serão julgados. O servo impiedoso é uma ilustração bem clara neste mistério. O serviço e o perdão são duas coisas importantíssimas no Reino (Mt 18.23-35). d. O problema da aparência exterior (Lc 17.20) - o Reino não viria com esta aparência. Mas, devido não conter aparência exterior, o Reino há de enfrentar um problema: o problema da mistura. Embora a falta de experiência denote a vinda de um reino espiritual, devemos fazer a seguinte pergunta: por que Deus permite que os filhos do Maligno se alojem entre os filhos do Reino? Para que Deus promova com Justiça a vinda do Reino em sua aparência total, a fim de despojar os filhos do Maligno do “campo”. Mateus 13.24-30, 36-43 tanto tem a ver com o tempo presente como com o tempo futuro. Relacionando este texto com Mt 25.31-46, vemos que ambos os textos têm mais a ver com as nações durante o Milênio do que com a Igreja, pois hoje pode haver disciplina na Igreja quando alguém está em pecado. Paulo manda lançar fora aquele que está em falta. Apesar de o excluirmos da comunhão da Igreja, não podemos tirá-lo do Reino, pois isso só acontecerá se ele morrer ou no Arrebatamento. Não podemos esquecer, por exemplo, que os judeus são filhos naturais do Reino (Mt 8.11,12) e que na atual Dispensação os gentios se tornam filhos do Reino através do Novo Nascimento. Durante o Milênio, as nações gentílicas terão nova oportunidade. Ali, o Senhor, fará a separação entre ovelhas e bodes. Ali, Ele fará separação entre o joio e o trigo, entre a palha e o trigo (Mt 3.12). A prova disto é que somente no fim do Milênio é que as nações justas entrarão no Reino Eterno, preparado desde a fundação do mundo; e que as nações bodes (palhas, joio) só enfrentarão o Juízo definitivo também no fim do Milênio, pois o Fogo Inextinguível (Mt 3.12), a 20

Fornalha de Fogo (Mt 13.42), o Fogo Eterno, o Castigo Eterno (Mt 25.41,46) só poderá vir no fim do Milênio (Ap 20.10, 14). Nessa parábola do joio no meio do trigo nos chama a atenção o seguinte: 1. Praticamente não há referência à Igreja de Jesus. Ela é citada somente à margem. 2. A “boa semente” são os “filhos do reino” (v.38) e não a Igreja de Jesus, que já terá sido arrebatada. 3. Essa parábola trata da entrada no “reino do Pai”. Esse reino que segue logo após o Milênio. No final do Milênio, o bem será separado do mal. A Igreja de Jesus jamais passará por esse julgamento, no qual se decidirá quem poderá entrar e quem não poderá no reino Eterno do Pai. Pois, para todos que lhe pertencem, isso já foi decidido na cruz do Gólgota. 4. Nessa parábola, o Senhor trata especialmente da noite do Plano da Salvação, em que o inimigo (o Diabo) se lançará sobre a terra e semeará o joio no meio do trigo. No Milênio nós teremos trigo e joio. Há um paralelo com a passagem de Mateus 25, onde o Senhor fala da Sua volta e do julgamento das Nações: “E diante dele serão reunidas todas as nações; e ele separará uns dos outros, como o pastor separa as ovelhas dos cabritos; e porá as ovelhas à sua direita, mas os cabritos à esquerda. Então dirá o Rei aos que estiverem à sua direita: Vinde, benditos de meu Pai. Possuí por herança o reino que vos está preparado desde a fundação do mundo... Então dirá também aos que estiverem à sua esquerda: Apartai- vos de mim, malditos, para o fogo eterno, preparado para o Diabo e seus anjos” (vv. 32-34,41). Quando acontecerá isso? A resposta é: No fim do Milênio. “O inimigo que o semeou é o Diabo; a ceifa é a consumação do século, e os ceifeiros são os anjos. Pois assim como o joio é colhido e queimado no fogo, assim será no fim do mundo. (Mt 13.39,40)”. Essa passagem não trata de um julgamento no final da Grande Tribulação, pois, o joio é recolhido para ser lançado no fogo. Evidentemente fogo aqui é fogo eterno e este só virá no fim do Milênio. A Bíblia não fala de anjos recolhendo ímpios no fim da Grande Tribulação, mas fala de santos sendo arrebatados. Os “filhos do reino” serão recolhidos pelos anjos para o Reino Eterno no celeiro do Pai – A Nova Terra, após o Milênio. Délcio Meiréles nos chama atenção dizendo que existem duas palavras gregas para semente no Novo Testamento: Sporos (spo/roj) e Sperma (spe/rma). Sporos é usada para indicar a semente vegetal e Sperma para indicar a semente humana. Meiréles continua dizendo: O Campo Pertence ao Senhor: 17 O Semeador é o Senhor Jesus, a boa semente são os filhos do reino e o campo pertence a ele. O Livro (Ap 5.6-9) só poderia ser tomado por alguém que fosse digno e este Alguém é o Senhor Jesus. A Escritura sempre esteve nas mãos de Deus, porque se algo acontecesse, como de fato aconteceu, Ele continuaria sendo o Dono da Terra.

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MEIRÉLES, Délcio. A Boa Semente e o Estabelecimento do Reino de Cristo. Edições Parousia.

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Devemos Arrancar o joio? Os servos perguntaram: “Queres, pois, que vamos arrancá-lo”? Ao que o Senhor respondeu: “Não; para que, ao colher o joio, não arranqueis com ele o trigo.” Infelizmente, alguns crentes interpretam estas palavras como sendo uma referência aos incrédulos que “pertencem” à Igreja. Porém, tal não é possível. Na Igreja não existe joio! A parábola nos ensina que o trigo e o joio foram semeados no “campo” e o campo é o “mundo”. Se dissermos que existe joio no “rol de membros” e na reunião dos santos está certo, mas na Igreja não. A Igreja é o corpo de Cristo e neste só existe trigo. Na Igreja não existe joio, logo o trigo não pode ser a Igreja, pois, na parábola o joio cresce com o trigo. Todavia no Milênio haverá nações (bodes e ovelhas; joio e trigo) vivendo na terra e no fim deste Milênio haverá a separação final: “Deixai crescer ambos juntos até a ceifa; e, por ocasião da ceifa, direi aos ceifeiros: Ajuntai primeiro o joio, e ataio em molhos para o queimar; o trigo, porém, recolhei-o no meu celeiro. Pois assim como o joio é colhido e queimado no fogo, assim será no fim do mundo. Mandará o Filho do homem os seus anjos, e eles ajuntarão do seu reino todos os que servem de tropeço, e os que praticam a iniqüidade, e lançá-los-ão na fornalha de fogo; ali haverá choro e ranger de dentes. Então os justos resplandecerão como o sol, no reino de seu Pai. Quem tem ouvidos, ouça” (Mt 13.30, 40-43). Não vemos anjos recolhendo joio no fim da Grande Tribulação e lançando-os no fogo eterno, isto só acontece fim do Milênio. E o trigo é recolhido ao celeiro do Pai (fato que acontece simultaneamente ao recolhimento do joio) também no fim do Milênio. A Igreja já terá sido arrebatada antes da Grande Tribulação. Terceiro Mistério: Mt 13.31,32. “Propôs-lhes outra parábola, dizendo: O reino dos céus é semelhante a um grão de mostarda que um homem tomou, e semeou no seu campo; o qual é realmente a menor de todas as sementes; mas, depois de ter crescido, é a maior das hortaliças, e faz-se árvore, de sorte que vêm as aves do céu, e se aninham nos seus ramos”. O Reino passaria por uma fase de crescimento desproporcional e tomaria caminhos não planejados. Aqueles que não forem como crianças não poderão entrar no Reino: Mt 19.14; Mc 10.13-16; Lc 18.15-17. É difícil os ricos entrarem no Reino: Mt 19.23; Mc 10.23; Lc 18.24,25. Quarto Mistério do Reino: Mt 13.33-35. A falsa igreja que contaminará a farinha: Mc 8.15; l Co 5.6-8; Gl 5.9. Pode ser também: A mulher sendo o Reino; as três medidas de farinha = os três elementos do Reino (l Co 10.32): os judeus, a Igreja e os gentios. 22

O fermento no pensamento hebreu e judaico, nem sempre foi considerado um símbolo do mal. A parábola do fermento ensina que o Reino um dia prevalecerá, a ponto de não existir nenhum dos três elementos (Judeus, Igreja e Gentios) fora do Reino Eterno. Não existirá nenhum reino soberano que possa ser seu rival. Toda a massa de farinha ficará fermentada (Ap 21.1-3; 21.4; 22.2). Quinto Mistério do Reino: Mt 13.44. Um povo que para ser seu deveria ser adquirido, com o campo (tipo da terra). O quinto mistério consiste nisso: o Reino tem um Tesouro, mas para tomar posse do Tesouro, é necessário, primeiro, comprar a terra; é o papel do Parente Remidor. O Mistério do Reino dá importância à terra, ao campo. Significa que devemos buscar o Reino em primeiro lugar e as outras coisas serão acrescentadas (Mt 6.33; Lc 12.31). O Reino será dado a nações justas (Mt 25.32-34,46; 5.5). Sexto Mistério: Mt 13.45,46 - O Reino tem uma Pérola. A Pérola vai se formando em mistério. Fala de preciosidade da Igreja no Reino. Por uma Pérola o Rei pode deixar tudo (Mt 8.11). Os que estão no Reino serão maiores do que João (Mt 11.11; Lc 7.28). Deve-se deixar a parentela por Ele (Lc 9.61,62). Os mortos enterrarão os seus mortos. Não há tempo para deixar os parentes morrerem e depois vir ao Reino e se filiar a ele. O Reino está dentro de nós, como uma pérola está dentro de uma ostra morta (Lc 17.21). Sacrifício de bens pessoais pelo Reino (Mt 19.11.12; Lc 18.29). Uma parábola pode ser aplicada com vários significados, mas o Reino está sempre em primeiro lugar. Sétimo Mistério: Mt 13.48 - A extensão do Reino no Fim. A Rede é o mistério. Fala do julgamento do Reino. Será implantado com Juízo (Lc 17. 20-37). Há peixes (homens) bons e maus, e no final haverá um julgamento. A Rede é a Terra no Milênio (Mt 9-14). Habacuque refere-se a uma rede; a rede, ali, é a Terra, que será sacrificada pelo Juízo por causa dos pecados dos homens. Aqui, é a rede recebendo toda espécie de nações para serem julgadas, com o fim de separar um grupo de nações justas em relação à sua vontade de glorificar a Deus (Zc 14.16-21). “Esta parábola é semelhante à do trigo e do joio, mas acrescenta um outro elemento. Ambas as parábolas devem ser interpretadas em termos do contexto do ministério de Jesus, no sentido de que o Reino já havia sido inaugurado no mundo sem a efetivação desta separação escatológica e deve atuar em uma sociedade mista. A parábola da rede acrescenta

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o fato de que, no mundo, até mesmo a comunidade resultante da geração do Reino não será uma comunidade pura até que aconteça a separação escatológica”.18 E esta separação escatológica só acontecerá no fim do Milênio. O Reino Milenar será a última separação das que já houve até aqui e o arrebatamento. Separação de: Trigo, da palha (Mt 3.12); Os bons, dos maus (Mt 13.48); Trigo, do joio (Mt 13.24-30,36-43); As ovelhas, dos bodes (Mt 25.31-46). Oitavo Mistério: Mt 13.52 - No Reino há coisas novas e velhas. O Reino tem elementos que creram no Senhor desde os tempos anteriores à Graça e, especialmente, frutos que foram colhidos na Graça. Ambos os grupos participam dele. O Reino é abrangente, universal e nele não há acepção de pessoas! Nono Mistério: Mt 20.1-16 - Os últimos trabalham mais do que os primeiros! A parábola da vinha fala da Ceifa do Reino. O Pentecostes foi a Festa das Primícias. Mas o Reino introduzirá o seu último elemento, assim como os outros foram introduzidos. A última festa de que se tem notícia em relação ao Milênio é a Festa dos Tabernáculos (Zc 14.19). De que fala a Festa dos Tabernáculos? Fala da última Ceifa. Fala da colheita abundante e final. Para cada elemento a ser introduzido no Reino haverá uma colheita final: Para Israel (Ez 34.14-22). Ele trará as ovelhas perdidas à terra. Para a Igreja (Jo 4.36,37; Lc 5.1-11). Estamos prestes a vivermos essa grande festa da colheita final! Vamos precisar de outros barcos! Vamos precisar de ajuda! Basta descobrirmos que não é somente à noite fria que pescamos! Mas, à Palavra de Cristo, podemos lançar a rede! É tempo quente. Mas é a hora, é a undécima hora! Vamos viver a Festa dos Tabernáculos! A colheita é grande. Para as nações a colheita final do Milênio (Mt 25.31-46). O dono do Reino dá a quem quer o galardão segundo a sue vontade, mas os derradeiros trabalharão mais do que os primeiros! Vamos lançar a rede!

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LADD, George Eldon. Op. Cit., p. 136.

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O REMANESCENTE (p. 146-147) 19 O mistério do Reino é a vinda do Reino para a história como uma espécie adiantamento de sua manifestação apocalíptica. Em resumo, ele significa ‘o cumprimento sem consumação’. Esta é a verdade singular ilustrada pelas várias parábolas de Marcos 4 e Mateus 13. ‘A chamada dos doze discípulos por Jesus para participarem de sua missão tem sido amplamente reconhecida como um ato simbólico, no qual se demonstra a continuidade entre os seus discípulos e Israel. Que os doze representam Israel, pode ser demonstrado pela atuação escatológica que lhes foi atribuída. Eles devem sentar-se nos doze tronos, ‘a julgar as doze tribos de Israel’ (Mateus 19.28; Lc 22.30). Quer esta expressão signifique que os doze devem determinar o destino de Israel através do julgamento ou devem governar sobre eles, os doze estão destinados a encabeçarem o Israel escatológico. O número 12 simboliza a transição entre o Israel passado e o Israel escatológico (futuro). MATEUS 16.18,19 ekklesia passou a ser um termo bíblico que designa Israel como a congregação ou assembléia de Yahweh. A passagem em Atos 7.38 [...Este é o que esteve na congregação (e)kklhsi/#) no deserto...] refere-se a Israel como a “ekklēsia” no deserto, não se referindo à igreja com o mesmo sentido do Novo Testamento. Apocalipse 12 explica com detalhes qual será o destino de Israel, durante a segunda metade da Grande Tribulação. “Identificamos a mulher destes versículos com Israel”. A relação é estabelecida por várias razões, algumas das quais são: 1. Em muitas ocasiões fala-se de Israel como a filha de Sião e a desposada (Jr 6.2; Os 2.19,20); 2. Isaías fala de Israel como uma mulher que está para dar à luz e concebe um filho (Is 9.6; 66.7; Mq 5.3); 3. Vestida do sol, tendo a lua debaixo dos pés, uma coroa de doze estrelas sobre a cabeça, relaciona-se com os filhos de Israel, os progenitores da raça escolhida (Gn 37.9,10). 4. Em Daniel vemos que Miguel é o príncipe do povo de Israel. Miguel também aparece aqui neste capítulo vinculado a Israel (Dn 12.1; Ap 12.7)”.20 Israel estará presente no Reino. Cristo surgirá como libertador (Go’el) dos judeus no momento em que estiverem sofrendo a maior tribulação (Jr 30.7). E então todo o Israel será salvo (Rm 11.26,27; 9.27). O reino de Davi será restaurado (2 Sm 7.10-13; Lc 1.32,33). Os discípulos julgarão as 12 tribos de Israel (Mt 19.28; Lc 22.29,30). E, após o Milênio, os judeus entrarão no Reino Eterno (Ez 37.24-28; Is 55.3), na Nova Terra, e Davi reinará como príncipe eternamente (Ez 34.23,24; 37.25). A Aliança de Deus com Israel é Eterna (Ez 37.26).

19 20

LADD, G. E. Teologia do Novo Testamento. 1ª ed. São Paulo: Hagnos, 2003, p. 146,147. NIGH, Kepler. Manual de Estudos Proféticos. 2ª ed. São Paulo: Editora Vida, 2001, p.107.

25

E Davi será príncipe eternamente: “E suscitarei sobre elas um só pastor para as apascentar, o meu servo Davi. Ele as apascentará, e lhes servirá de pastor. E eu, o Senhor, serei o seu Deus, e o meu servo Davi será príncipe no meio delas; eu, o Senhor, o disse” (Ez 34.23,24); “E suscitarei sobre elas um só pastor para as apascentar, o meu servo Davi. Ele as apascentará, e lhes servirá de pastor. E eu, o Senhor, serei o seu Deus, e o meu servo Davi será príncipe no meio delas; eu, o Senhor, o disse” (Ez 37.25). Os doze (12) discípulos – Ministros de Deus ao lado de Davi 21 “A chamada dos doze discípulos por Jesus para compartilharem de sua missão, tem sido amplamente reconhecida como um ato simbólico, no qual se demonstra a continuidade entre seus discípulos e Israel. A atuação escatológica que lhes foi atribuída demonstra que os doze representam Israel. Devem sentar-se nos doze tronos, para julgar as doze tribos de Israel (Mt 19.28; Lc 22.30). Quer esta expressão signifique que os doze devam governar sobre eles (os judeus), eles estão destinados a liderar o Israel escatológico”. “Os doze estão destinados a exercer a função de regentes do Israel escatológico; mas já são os recebedores das bênçãos e dos poderes do Reino escatológico. Por conseguinte, representam não somente o povo escatológico de Deus, mas também aqueles que aceitam a presente oferta da salvação messiânica”. ...O Reino de Deus é o domínio redentor de Deus, ativo dinamicamente, visando estabelecer seu governo entre os homens, e que este Reino, que aparecerá como um ato apocalíptico na consumação dos tempos, já entrou para a história humana na pessoa e missão de Jesus com a finalidade de sobrepujar o mal, de libertar os homens do seu poder e propiciar-lhes a participação das bênçãos da soberania de Deus sobre suas vidas (p. 87). A vós vos é confiado o mistério do reino de Deus, mas aos de fora tudo se lhes diz por parábolas; para que vendo, vejam, e não percebam; e ouvindo, ouçam, e não entendam; para que não se convertam e sejam perdoados. (Marcos 4.11-12). A Ética do Reino. [p. 892]. (Editora Hagnos, p. 163-178). Mateus 22.40 Resume todo o ensino ético de Jesus. É a lei do amor (Original de Jesus) dos dois mandamentos depende a Lei e os Profetas.

21

LADD, George Eldon. Op. Cit., p. 147.

26

O REINO E A IGREJA 22 Um dos problemas mais difíceis em relação ao estudo do Reino de Deus é a questão do seu relacionamento com a Igreja. Será que o reino de Deus deve, em algum sentido da palavra, ser identificado com a Igreja? Se não, qual é a relação entre os dois? Para os cristãos dos três primeiros séculos, o Reino sempre foi considerado escatológico. Uma oração primitiva do segundo século tem a seguinte expressão: “Lembra-te, ó Senhor, da tua Igreja, para... ajuntá-la como um todo, em sua santidade, dos quatro cantos da terra, para entrar no teu reino, que tens preparado para ela”. Agostinho identificou o reino de Deus com a Igreja, uma identificação que permanece na doutrina católica (Romana). O Ponto de vista Dispensacionalista. Jesus ofereceu a Israel o reino davídico terreno (milenar), mas quando eles o rejeitaram, Ele introduziu um novo propósito: formar a Igreja. Segundo esta perspectiva não há continuidade entre Israel e a Igreja. Existe apenas um Reino e apenas um Evangelho. A Igreja não é o Reino, tampouco Israel. “O Novo Testamento não iguala os crentes com o Reino. Os primeiros missionários pregaram o Reino de Deus, não a Igreja (At 8.12; 19.8; 20.25; 28.23,31). É impossível substituir a palavra Reino por Igreja nessas passagens. As únicas referências ao povo de Deus com Reino (Basiléia) encontram-se em Ap 1.6 e 5.10; mas as pessoas que recebem tal designação recebem-na não em virtude de serem as pessoas que se encontram sob o domínio de Deus, mas porque partilham do reinado de Cristo [ ... e eles reinarão sobre a terra – Ap 5.10]” Ladd. “O Reino gera a Igreja, a Igreja não é senão o resultado da Vinda do Reino de Deus ao mundo por intermédio da missão de Jesus Cristo” (Ladd). Deus tem um plano eterno, e, dentro deste, os judeus, as nações e a Igreja fazem parte do Reino Eterno. “Deus não tem dois propósitos separados para Israel e para a Igreja, mas sim um único propósito – o estabelecimento do Reino de Deus – no qual tanto Israel como a Igreja terão parte” (Wayne Grudem). A Igreja, sem dúvida, é a parte mais importante do Reino, pois seus integrantes serão governantes eternos. Grudem23 na sua Teologia Sistemática resume Ladd24 (Teologia do Novo Testamento): “(1) A Igreja não é o Reino, pois Jesus e os primeiros cristãos pregaram que o Reino de Deus estava próximo e não que a Igreja estava próxima; eles pregaram as boas novas do Reino e não as boas novas da Igreja (At 8.12; 19.8; 20.25; 28.23,31); (2) O Reino cria a Igreja, porque quando as pessoas entram no Reino de Deus elas unem-se a uma comunhão humana da Igreja; (3) A Igreja testemunha do Reino, pois Jesus disse: ‘E será pregado esse evangelho do Reino por todo o mundo’ (Mt 24.14); 22

LADD, G. E. Teologia do Novo Testamento. 1ª ed. São Paulo: Hagnos, 2003, p. 143-158. GRUDEM, Wayne. Teologia Sistemática. 1ª ed. São Paulo: Editora Vida Nova, 1999, p.723,724. 24 LADD, George Eldon. Op. Cit., p.149-158.

23

27

(4) A Igreja é o instrumento do Reino, porque o Espírito Santo, manifestando o poder do reino, age por meio dos discípulos para curar os enfermos e expulsar demônios, conforme fez no ministério de Jesus (Mt 10.8; Lc 10.7); (5) A Igreja é guardiã do Reino porque à Igreja foram dadas as chaves do Reino dos Céus (Mt 16.19)”. “O Reino cria a Igreja, opera por intermédio dela e é proclamado no mundo por ela”. O FILHO DIVINO 25 [p. 893] O apóstolo João testifica da divindade de Jesus logo no primeiro verso, “O Verbo era Deus” (1.1), e mais uma vez, de acordo com a leitura textual mais segura, ele se refere a Jesus como “ o único Filho, o qual está no seio do Pai” (1.18). Obs.: Nota: “Todos os três textos gregos recomendados pela crítica possuem esta como a melhor leitura”: ARA 1 Jo 1.1-4: O que era desde o princípio, o que temos ouvido, o que temos visto com os nossos próprios olhos, o que contemplamos, e as nossas mãos apalparam, com respeito ao Verbo da vida 2 (e a vida se manifestou, e nós a temos visto, e dela damos testemunho, e vo-la anunciamos, a vida eterna, a qual estava com o Pai e nos foi manifestada), 3 o que temos visto e ouvido anunciamos também a vós outros, para que vós, igualmente, mantenhais comunhão conosco. Ora, a nossa comunhão é com o Pai e com seu Filho, Jesus Cristo. Estas coisas, pois, vos escrevemos para que a nossa alegria seja completa. A consciência de Jesus em relação a afirmação de sua divindade é expressa nas suas declarações a respeito de sua união com o Pai,mas, de modo especial , nas afirmações que contém a fórmula “Eu Sou” como um predicado, e de modo absoluto: “ Eu sou o pão da vida” (6.20); “ Eu sou a luz do mundo” (8.12); “ Eu sou a porta das ovelhas” (10.7); “ Eu sou o bom pastor” (10.10); “ Eu sou a ressurreição e a vida”(11.25); “Eu sou o caminho e a verdade e a vida” (14.6); “ Eu sou a videira verdadeira” (15.1). Além de tais declarações, existem várias outras, onde Jesus designa a sua própria pessoa pelo uso simples das palavras “Eu Sou” (ego eimi, cf.4.26; 6.20; 8.24,28; 13.29; 18.5,6,8). Esta é uma frase quase impossível de ser literalmente traduzida; na maior parte dos contextos, a simples declaração “ Eu Sou” é desprovida de significado em português.Mas em João 8.58, a versão da Imprensa Brasileira, segundo os melhores textos em hebraico e grego (LXX), traduz: “Antes que Abraão existisse, eu sou”. A linguagem é muito mais enfática no grego do que em português.”Antes que Abraão fosse nascido (genesthai), Eu Sou (ego eimi). Esta a única passagem em o NT onde se verifica o contraste entre einai e genesthai”. Em represália, os judeus pegaram em pedras para apedrejar Jesus, em virtude desta afirmação, aparentemente blasfema, mas ele se lhes escapou.No Evangelho de João, a hostilidade e oposição dos judeus foram violentas em decorrência da vindicação implícita nas expressões de Jesus, que o colocavam em pé de igualdade em relação a Deus (5.18) – de fato, por ele afirmar ser Deus (10:33).Jesus de forma alguma refutou tais acusações. 25

LADD, G. E. Teologia do Novo Testamento. 1ª ed. São Paulo: Exodus, 1997. p. 235-237. Editora Hagnos p. 369-370.

28

O fundo contextual para as declarações “Eu Sou”, especialmente as usadas de modo absoluto, não deve ser encontrada no mundo helenístico, mas no AT (Êx 3.14), e em Isaías, Deus deve ser reconhecido como “Eu Sou” (Is 41.4; 43.10; 46.4, etc.). A frase tem paralelos nos Sinópticos em Mc 6.50; 14.62. Stauffer (E. Stauffer, Jesus and His Story 1960-p.174; 183ss.), argumenta que esta expressão é “ a mais autêntica, a mais autocrática, a mais audaciosa e a mais profunda afirmação procedente de Jesus , a respeito de quem ele era”.Através desta expressão peculiar, Jesus elevou-se muito acima de todas as expectações messiânicas contemporâneas aos seus dias e vindicou que a epifania histórica de Deus estava ocorrendo em sua vida. “O próprio Deus tornou-se homem, mais humano do que qualquer outro homem, na vasta amplitude da história. Muitos eruditos acham essa uma posição muito extremada, mas parece que está acima de qualquer questionamento que, através do uso da expressão “ego eimi” em sua forma absoluta, Jesus está em um sentido bem real, identificando-se com o Deus do AT. Na narrativa joanina, este fato adquire expressão plena após a ressurreição através da confirmação de Tomé: “Senhor meu, e Deus meu!” (20.28). O texto copiado, é onde o autor coloca a divindade de Jesus. O início e o fim do texto, ele de certa forma quer dizer que Jesus é um com o Pai, mas não é exatamente Deus. Assim no primeiro parágrafo Ladd Diz: “Como Filho de Deus, Jesus é mais do que um homem escolhido e consagrado para um propósito da divindade”.Esse termo “mais do que um homem escolhido e consagrado”, coloca Jesus como um homem iluminado (entendo assim). No final do texto, Ladd completa: “Entretanto, esta identificação não é completa, pois Jesus constantemente fez distinção entre ele próprio e o Pai. O Filho foi enviado pelo Pai; ele obedece aos mandamentos do Pai (15.10); ele nada pode fazer por sua própria iniciativa (5.19-20); suas palavras são as palavras do Pai (14.10, 24; 17.8); o Pai é maior do que o Filho (14.28). Assim sendo, João declara a divindade de Jesus como o Filho eterno de Deus e, ao mesmo tempo, a distinção entre o Filho e o Pai, e modo mais explícito e mais enfático do que qualquer dos outros escritores do NT. TÍTULOS MESSIÂNICOS DE JESUS 26 I - Filho de Deus; II - Filho do Homem. A compreensão do sentido escriturístico desses dois títulos vem a ser uma contribuição a mais para a compreensão da pessoa de Jesus, de sua natureza, de seus ensinos e de sua missão neste mundo, e, dessa maneira, contribuição também para a formação de uma teologia autenticamente bíblica em seu conteúdo e dinâmica em seus efeitos. (Lima, p. 93).

26

www.waltermcarvalho.pro.br/3._Titulos_Messianicos.htm.

29

I.

“Filho de Deus” [p. 893]

Título muito empregado no VT. Os discípulos o ouviram e entenderam em seu sentido escrituristicamente acostumados. A)

USO NO VT

1. Atribuído aos crentes da Antigüidade, descendentes de Sete. (Gn 6.1,2) Anjos não se casam Mt 22.30; 2. Aplicado aos juízes de Israel (Sl 82.2,6,7); 3. Aplicado ao povo de Israel (Dt 14.1; Êx 4.22; Os 1.10); 4. Aplicado ao rei teocrático (Sl 2.6,7). Este Salmo é messiânico. Quando Davi o compôs, tinha em mente ser o ungido do Senhor. B)

USO NOS EVANGELHOS Jesus usou este título apenas indiretamente: 1. Referindo-se a Deus como seu Pai. (Mt 11.22 e Jo 5.17,18) “meu Pai trabalha até... e eu também” = a Deus. 2. Narrando a Parábola dos lavradores maus (Mc 12.6); 3. Confirmando no Julgamento pelo Sinédrio (Mc 14.61,62); 4. Chamando Deus de Pai na oração agonizante no Getsêmani. (Mc 14.36). Outras pessoas aplicaram o título a Jesus: 1. Evangelho de João 20.31. Explicando a finalidade do Evangelho. 2. A voz de Deus: no batismo de Jesus: Mc. 1.11; Lc 3.22; Mt 3.17. No episódio da transfiguração: Mt. 17.5; Mc 9.7; Lc 9.35. 3. Na tentação, Satanás diz: Se tu és o Filho de Deus, manda que estas pedras se tornem em pães (Mt 4.3). 4. Na possessão do Gadareno os demônios o reconheceram (Mt 8.29). 5. Pedro o declara em nome do Colégio Apostólico (Mt 16.16,17).

C)

OS TRÊS SENTIDOS DO TÍTULO “Filho de Deus”: 1. O SENTIDO MESSIÂNICO.

Só poderia ser usado por aquele que fosse realmente o Messias — o Rei de Israel (Mt 16.16-20); o Ungido, o Enviado por Deus para redimir a Israel e toda a criação. Jesus confirmou no Sinédrio (Mc 14.61). Jesus suportou, sendo escarnecido na cruz (Mt 27.40; Mc 15.32). 2. O SENTIDO ÉTICO. Só poderia ser usado por aquele que fosse realmente o Messias — o Rei de Israel (Mt 16.16-20); o Ungido, o Enviado por Deus para redimir a Israel e toda a criação. Jesus 30

confirmou no Sinédrio (Mc 14.61). Jesus suportou, sendo escarnecido na cruz (Mt 27.40; Mc 15.32). 3. O SENTIDO ÉTICO. Denota que Jesus tinha uma relação especial, íntima e obediente a Deus, tornando-se jus ao título por atuar intensamente em todos os seus ideais, propósitos e obra. 4. O SENTIDO METAFÍSICO. Jesus tem a mesma essência e natureza de Deus. Jesus é igual ao Pai. No ventre da virgem Maria, Jesus foi gerado, não criado, não houve começo para Deus. Ele veio ao mundo e se encarnou — como Jesus histórico (Jo 1.1) Ele disse “Antes que Abraão existisse, eu sou” (Jo 8.57,58) (Note que há diferença entre ser criado — ter começo e entre ser gerado — “dar origem ou existência a” ou “é dar o ser a”). II.

“Filho do Homem” [p. 893]

Entender o significado desse título implica em resultados dinâmicos em nosso posicionamento e em nossa atuação como servos de Deus no mundo. “Filho de” significa “o que tem a natureza de” ou “o que tem participação com”. Esse título identificou Jesus Cristo com o ser humano. - Participante dessa natureza, de suas fraquezas, limitações e necessidades; também de seus objetivos e de seu destino; menos de sua pecaminosidade. Jesus levou sim as suas dores, se fazendo pecado (não pecador) por nós, para assumir a penalização, conforme Isaías 53 e Filipenses 2.7,8. Esse título proclamou sua humanidade. - Sua natureza inicial e ideal bem como escatológica (cf. Ef 4.13) quando Deus há de restaurar e glorificar o homem, vivificado e eternizado (cf. 1 Co 15.45-47) ”Ele é o homem padrão que Deus queria que todos fossemos: Ele é o paradigma de toda a humanidade.”(Lima, p.105). 1. SENTIDO DO TÍTULO NO VT Aparece às vezes no VT, só para designar a pessoa humana. “Deus não é homem... nem filho do homem...” [{fdf)-}eb = Ben ādām] (Nm 23.19). “Que é o homem... e o filho do homem [{fdf)-}eb = Ben ādām] para que o visites” (Sl 8.4). “Eu sou aquele que vos consola; quem, pois és tu para que temas o homem, que é mortal, ou o filho do homem [{fdf)-}eb = Ben ādām] que se tornará em feno?” (Is 51.12). 31

No livro do profeta Ezequiel, as dezenas de vezes em que o termo é empregado, refere-se ao profeta que é de natureza terrena e humana, mas autorizado por Deus (Ez 2.1). Ez 2.1: E disse-me: Filho do homem [{fd) f -}eb = Ben ādām], põe-te em pé, e falarei contigo. Já no livro de Daniel, o termo aparece no sentido messiânico, designando aquele ser especial e sobrenatural, revestido de glória e poder, que vem da parte de Deus para estabelecer um reino eterno (Dn 7.13,14). Dn 7.13: Eu estava olhando nas minhas visões noturnas, e eis que vinha com as nuvens do céu um como filho de homem [$fnE) rab bar nasha]; e dirigiu-se ao ancião de dias, e foi apresentado diante dele. “Este texto é outra representação da esperança messiânica. O título do Nazareno, Filho do Homem, provavelmente se baseou nesta passagem. A passagem dá, em resumo, a mensagem principal das profecias messiânicas: o reino de Deus na terra vencerá o poder dos inimigos e será estabelecido pelo Filho do Homem, que terá domínio eterno sobre todos os povos, nações e línguas”.27 “Baseando-se nos versículos 18, 22, 27 do capítulo 7, alguns intérpretes pensam que a frase “um como Filho do Homem” refere-se ao “povo glorificado e ideal de Israel”, “os santos do Altíssimo”. Mas a frase “vinha com as nuvens do céu” não concorda com a interpretação coletiva. Os dois títulos, “Filho do Homem” e “Servo Sofredor”, referem-se ao Redentor que veio do povo escolhido; da nação sacerdotal. O domínio mundial do Messias é facilmente transferido “ao povo glorificado e ideal da Israel”.28 2. SENTIDO DO TÍTULO USADO POR JESUS: Modo messiânico e também escatológico. Davis, em o Dicionário da Bíblia, diz que 78 vezes o título “filho do homem” é usado no NT. O Senhor Jesus fez uso deste título inúmeras vezes, identificando-se com a profecia de Daniel (7.13,14,26,27). Mt 24.30 “Então aparecerá no céu o sinal do Filho do homem...”. Mt 25.31,32 “E quando o Filho do homem vier em sua glória e todos os anjos... se assentará no trono da sua glória... e apartará uns dos outros...”. Este título no cumprimento da profecia de Daniel nos consola, dando-nos a certeza de que Jesus Cristo já inaugurou o seu Reino Eterno entre nós. Isto nos motiva a manter nossa posição de servos, que paciente e perseverantemente prosseguem na expansão do Reino, pregando, ensinando e discipulando. Assim como ele é enviado do pai e a nós enviou (Jo 20.21) para produzirmos muitos frutos, compreendendo que se Ele identificouse conosco através dos sofrimentos, carências, tentações, porém, vencendo em tudo e tirando o pecado do mundo, nós agiremos de tal modo, que resguardaremos o Evangelho

27 28

CRABTREE. A. R. TEOLOGIA DO VELHO TESTAMENTO. 2ª ed. Rio de Janeiro, JUERP, 1977. Ibid.

32

das ideologias políticas, das distorções religiosas de falsos profetas, para apresentar o Evangelho, a sã doutrina em conquista de almas através da obra missionária. Identificando-nos assim com os nossos semelhantes, conscientes de suas misérias, condenação e penalização sem Cristo e saindo do aconchego dos templos para buscar as almas perdidas pelas ruas, praças, casas e favelas, na certeza da esperança de que em breve veremos aquele que se identificou como o Filho do Homem, para ajudar os homens em suas fraquezas, vindo sobre as nuvens com poder e grande glória, como chefe supremo da nossa salvação e vitória.

33

JOÃO, O BATISTA - UM NOVO PROFETA, INAUGURA UMA NOVA ERA.

29

No período interbíblico, em lugar da voz viva dos profetas do SENHOR, surgiram duas correntes religiosas, a religião dos escribas que interpretava a vontade de Deus somente em termos de obediência à Lei escrita, interpretação feita pelos escribas; e a religião dos apocalípticos que incorporavam à Lei suas esperanças numa salvação futura apocalíptica em que Deus reinaugurasse o Seu Reino. João, segundo Lucas 1.80, atingindo sua maturidade sentiu forte necessidade de sair dos grandes centros, e foi para o deserto (eruditos mais recentes como Brownlee, J.A. T. Robinson, e Scobie estão certos de que ele era membro da Seita de Qunram, esta é uma possibilidade óbvia, porém é melhor que fique no campo da especulação). Permanecendo por anos no deserto (parece que meditando) esperando a manifestação de Deus. "Veio a palavra de Deus a João" Lc 3.2. João surgiu no vale do Jordão pregando o batismo de arrependimento, de modo profético anunciando que o Reino de Deus está próximo. Sua indumentária: manto de pelos e cinto de couro (parece ser uma imitação dos sinais característicos de um profeta cf. Zc. 13.4; 2 Reis 1.8, LXX.) Em João 1.21, João negou ser o Cristo ou Elias. Sua atuação foi dentro dos moldes tradicional de um profeta. Sua mensagem: ele anunciava (com autoridade profética recebida da Palavra de Deus) a grande ação interventora do SENHOR na história para manifestar o seu poder real, e que, portanto, antecipadamente todos deveriam se arrepender, e como evidência submeterem-se ao batismo. Seu ministério criou uma Nova Expectativa, dá para imaginar, o clima, a reação do povo, diante de um profeta portador de uma mensagem vívida e carregada de autoridade divina. Toda Judéia logo ficou sabendo, e multidões começaram a se dirigir para o rio Jordão, onde Ele pregava (Mc. 1.5) assim ouvindo-o se submetiam ao batismo e suas exigências (Mc. 11.32; Mt. 14.5). A CRISE IMINENTE A iminente intervenção de Deus no Reino, a que João anunciou, envolvia: Um duplo batismo seg.: Mt 3.11 e Lc 3.16 (um simples batismo seg. :Mc 1.8) Com o Espírito e com fogo. Um modo de compreender é o de que João anunciou um único batismo, mas que inclui dois elementos: 1. A punição dos ímpios 2. A purificação dos justos. 29

LADD, G. E. Teologia do Novo Testamento. 1ª ed. São Paulo: Editora Hagnos, p. 54-64.

34

Outro ponto de vista, aquele que estava por vir batizaria os justos com o Espírito Santo e os ímpios com o fogo. No VT existe uma ampla base acerca de um derramamento escatológico do Espírito. (Isaías 44.3-5 profecia sobre o "Servo") este elemento é básico para efetivar a transformação da era messiânica, assim o Rei messiânico reinará em justiça e prosperidade, e a justiça e a paz irão prevalecer (Is. 32.15) Ez. 37.14 promete a ressurreição de Israel quando Deus colocar seu espírito dentro de cada israelita. Ez. 36.27 Deus então dará ao seu povo um novo coração e um novo espírito, através do Espírito Santo, capacitando-os a andar em obediência à Sua vontade. Joel 2.2832 Aponta para o dia do Senhor, semelhantemente, identifica que um grande derramamento do Espírito e sinais apocalípticos identificará o tempo (Dia do Senhor). João estava indicando que as promessas eram iminentes, é tempo de arrependimento e de produzir frutos dignos de arrependimento. João também anunciou um batismo de fogo, o contexto (Mt. 3.12; Lc. 3.17) precisamente indica isto: a seleção dos grãos e a moagem do trigo, o trigo ajuntado no celeiro e a palha queimada com fogo inextinguível" aponta para algo escatológico, além dos limites ordinários (cf. Is. 1.31; 66.24; Jr. 7.20). Isto afeta a todos os homens. Uma seleção vai acontecer celeiro ou fogo. 1. Alguns serão batizados com o Espírito (celeiro); 2. Outros serão mandados embora em juízo. (fogo). Para João o evento do Messias sugere o término da era presente e a inauguração da Era Vindoura. No VT ele é identificado como um rei Davídico e o agente para o estabelecimento do Reino. Estes dois temas: Deus vai agir para salvar o seu povo, e Deus vai julgar os ímpios, perpassam as páginas do VT - previsto incisivamente em Ml. 4.1; Na. 1.6; Is. 30.33. "E a idéia é desenvolvida com grande extensão, na literatura do período intertestamentário”. (Ladd., p. 36) O BATISMO DE JOÃO Em virtude de Israel se considerar um povo especial — o povo de Deus — entre todas as nações. Não há na literatura apocalíptica ênfase à conversão. (IV Esdras 7.20,23 o único a receber a Lei; IV Esdras 6.55; 7.11 Deus fez o mundo por causa de Israel; Apocalipse de Baruque 48.21-24 Deu-lhes a Lei de modo a permitir que fosse salvo; Salmos de Salomão 17.50 Quando Deus implantar o seu Reino, o povo de Israel será congregado para desfrutar a salvação messiânica e Assunção de Moisés 10.7-10, para testemunhar o castigo dos Gentios). 35

Para O Reino vindouro é necessário uma preparação. João clama o povo ao arrependimento (metanoia = voltar-se do pecado para Deus). Deus conclamou através de Ez. 14.6; ver 18.30; Is. 55.67: “Arrependei-vos e voltai dos vossos ídolos; voltai-vos de todas as vossas abominações”. "O batismo de João rejeitou todas as idéias de uma justiça legalista ou nacionalista e exigiu um retorno moral e religioso para Deus."(Ladd., p.38) Ele rejeitou a idéia de um Israel justo. Anuncia que somente aqueles que se arrependem é que manifestam frutos dignos (mudança de conduta cf. Lc ajuda aos necessitados, justiça...). O batismo para João é a expressão do arrependimento, e este sim é que resulta no perdão dos pecados. A ORIGEM DO BATISMO DE JOÃO Há semelhanças entre o batismo de João e o batismo de prosélitos judaicos: Em ambos os ritos, o iniciante era imergido ou imergia-se completamente na água. Faziam uma confissão de rompimento ético com a sua maneira primitiva de viver e de dedicação numa nova vida. O Rito era uma vez só realizado. O batismo de João tinha por objetivo preparar o povo para a era vindoura — caráter escatológico. Enquanto o de prosélitos era aplicado somente a gentios, o de João era para os Judeus. Seja qual for "o fundamento histórico, João dá um novo significado ao rito da imersão por chamar o povo ao arrependimento, tendo em vista a aproximação do Reino de Deus" (Ladd., p.40) JESUS E JOÃO Jesus explicou o significado do ministério de João conforme está registrado em Mateus 11.2s — As pressuposições da interrogação de João: 1. 2.

“Quando João, no cárcere, ouviu falar das obras do Cristo.”(v. 2). Duvidou se de fato Jesus Cristo seria aquele Messias esperado:

João ao ouvir as obras que Cristo realizava, questionou o problema é que tais atos e realizações não eram aqueles que João esperava. Não havia acontecido, até então, nenhum batismo do Espírito nem de fogo. O Reino não havia chegado. O mundo permaneceu como estava anteriormente. Tudo o que Jesus estava fazendo era pregar o amor e amar às pessoas enfermas. Não era isto o que João esperava. Ele [...] questionou se Jesus era de fato aquele que deveria inaugurar o Reino de Deus em poder apocalíptico. ( Ladd., p 40)

36

3.

A resposta de Jesus: ( vv 4 – 6 ): Indicou que a profecia (messiânica) de Isaías 35.5-6, estava se cumprindo em seu ministério. Era chegado os dias do reinado messiânico.

Jesus louvou a João de modo elevado: (vv 7-14) João é o Elias acerca de quem Malaquias profetizou: “...Jesus asseverou que João era o Elias que deveria proclamar o Dia do Senhor” Conforme a profecia de Malaquias 4.5” (Ladd., p.40). Ninguém maior do que João, o Batista jamais existira. (v 11). Nas palavras de Jesus, João foi o maior de todos os profetas, o mais importante homem nascido de mulher até então: Concluímos que Jesus quis dizer que João é o maior dos profetas; de fato, ele é o último dos profetas. Com ele, a era da Lei e dos profetas tinha chegado ao seu fim. A partir dos dias de João, o Reino de Deus está operando no mundo, e o menor nesta nova era desfruta e conhece bênçãos maiores que as desfrutadas por João, porque participa de uma nova comunhão pessoal com o Messias e das bênçãos que este fato confere. João é o arauto, assinalado que a antiga era havia chegado ao seu fim e a nova era estava irrompendo no horizonte. (Ladd., p.40-41.). JOÃO BATISTA NO QUARTO EVANGELHO Neste Evangelho, a narrativa acerca de João é bem diferente das encontradas nos Sinópticos: — João descreve o Messias como aquele que é o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo (João 1.29). — Segundo a crítica moderna, isto significa “uma reinterpretação radical do ministério de João feita pela igreja cristã à luz do ministério real de Jesus. A proclamação apocalíptica é colocada de lado em favor da soteriologia. Para a crítica moderna, conseqüentemente, a narrativa do Evangelho de João não é histórica, mas uma reinterpretação teológica. Contudo, esta conclusão é quase desnecessária e ignora certos fatos importantes. O registro tal qual ele se encontra em nossos textos é historicamente consistente e demonstra uma perspectiva psicológica correta. A narrativa encontra no Evangelho de João pressupõe os eventos descritos nos Evangelhos Sinópticos. Isto é claramente indicado em João 1.32-33, onde o batismo de Jesus já havia acontecido, e pelo fato de que o grupo comissionado pelos sacerdotes e levitas, para argüir a João quanto à sua autoridade para fazer o que estava fazendo, deve ter sido ocasionado por eventos como os que se encontram descritos nos Evangelhos Sinópticos. O Quarto Evangelho não pretende dar uma história diferente da narrada pelos Sinópticos, mas representa uma tradição independente”. (Ladd., p. 41). 37

Devemos entender a proclamação complementar que João fez acerca do ministério messiânico de Jesus: — Como “a própria interpretação que João fez de sua experiência no batismo de Jesus, iluminada por uma inspiração profética posterior. Deve ser lembrado que, se bem que haja vários pontos de contato entre o ministério de João Batista como narrado nos Sinópticos e o pensamento escatológico e apocalíptico contemporâneos aos seus dias, os elementos de divergência são ainda mais destacados. ‘O ministério essencial do discernimento e inspiração profética’ não pode ser explicado pelas limitações de uma metodologia naturalista [...] A mesma inspiração profética que impulsionou João a proclamar a iminência da atividade divina para a salvação messiânica agora, à luz de sua experiência com Jesus, o impele a acrescentar uma outra palavra.”(Ibid., p. 41.) No Batismo de Jesus, João reconheceu que a Pessoa que se apresentava... “Diferia em qualidade dos outros homens. Jesus não tinha pecados a confessar nem um sentimento de culpa que o levasse ao arrependimento. Não podemos dizer se o reconhecimento de João a respeito da impecabilidade de Jesus foi baseado em um diálogo em que ele lhe tenha formulado perguntas ou somente na iluminação profética. Provavelmente ambos os elementos estiveram envolvidos. De qualquer forma, João estava convencido de sua própria pecaminosidade em comparação com a impecabilidade de Jesus.”(Ibid., p. 41-2.)

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O DUALISMO JOANINO 30 [p. 891] OS DOIS MUNDOS Na teologia Joanina encontramos um dualismo aparentemente diferente ao dos Sinópticos. Nos Evangelhos Sinópticos, o dualismo “é primariamente horizontal: um contraste entre duas eras — a era presente e a era vindoura. Nos Sinópticos a “era presente” ou “esta era” equivale a expressão “este mundo” (ver uso Paulino em I Co. 1.20; 2.6-8; 3.19 onde estes termos são usados alternadamente) “O dualismo de João é primariamente vertical, um contraste entre dois mundos — o mundo superior ( de cima ) e o mundo inferior (de baixo). “Vós sois de baixo, eu sou de cima; vós sois deste mundo, eu não sou deste mundo” (Jo. 8.23). O dualismo Joanino representa quase sempre um contraste entre “este mundo” como mal, sob o governo do Diabo (16.11) e o mundo de cima — de Deus (18.36). “Jesus veio para ser a luz deste mundo (11.9). A autoridade de sua missão não procede “deste mundo”, mas do mundo de cima — de Deus (18.36). Quando a sua missão estiver cumprida, ele deve partir “deste mundo”(13.1)... Jesus veio dos céus para cumprir uma missão que ele recebeu de Deus (6.38)”. TREVAS E LUZ O mundo de baixo é do mal, recusa-se a aceitar a luz, é governado pelas trevas (Mal), mas o mundo de cima é de Deus — da luz, Jesus veio trazer a verdadeira luz para os homens não permanecerem mais nas trevas, a fim de praticarem a verdade sem tropeço (1.5; 8.12; 9.5; 11.9; 12.35.46). Os que desprezam a luz, descrêem em Jesus, coroam o Mal. CARNE E ESPÍRITO [p. 890, 892] Outro contraste no dualismo Joanino está no sentido em que Carne é pertencente ao reino de baixo; e Espírito, ao que é de cima. A carne (não é pecaminosa, pois o “Verbo se fez carne” 1.14 ) representa a fraqueza e impotência do reino (inferior) humano, limitado, gerado na “vontade da carne” (1.13) e que é incapaz de elevar-se à vida do mundo de cima (6.63). ‘O que é nascido da carne é carne’ (3.6); o homem mortal precisa nascer de cima — do Espírito, para compreender, experimentar e participar do Dom e das Bênçãos do reino de Deus (3.12). Jesus, (vindo de cima) instituiu uma nova ordem de adoração, sem Jerusalém ou Gerizim, substituiu escatologicamente instituições temporais (humanas) como o Templo, ao introduzir que a adoração é espiritual “em espírito e em verdade” (Jo.4.24). KOSMOS [p. 897] João fez uso deste termo (“mundo”, kosmos, ko/smoj): - Para designar a obra criada como um todo (17.5, 24); como a terra em particular (11.9; 16.1; 21.25), como designando (por metonímia) o gênero humano (12.19; 18.20; 7.4; 14.22). Destaque especial ao uso 30

LADD, G. E. Teologia do Novo Testamento. 1ª ed. São Paulo: Hagnos, 2003, p. 337-354.

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como sendo a — humanidade — o objeto do amor e salvação de Deus (3.16, 17; 4.42; 1.29 e 6.33) Deixa transparecer que o mundo criado não é mal, pois “Todas as coisas foram feitas por intermédio dele, e sem ele nada do que foi feito se fez” (1.3), o mundo criado, continua sendo de Deus. KOSMOS: O HOMEM EM INIMIZADE COM DEUS Um uso diferente do termo, não encontrado nos Sinópticos, é que além de habitantes e objeto do amor de Deus, kosmos caracteriza a humanidade decaída, rebelde e alienada de Deus (7.7; 15.18; 17.25). O kosmos (humanidade) se afastou de Deus para servir aos poderes malignos, isto sim é mal (12.31; 14.30; 16.11; ver I Jo 5.19). A vinda de Jesus originou uma divisão entre os homens do kosmos (15.19), os escolhidos por Jesus, formam uma nova comunidade organicamente em Cristo (17.15) no mundo, não pertencendo ao mundo (17.16), mas aborrecida pelo mundo (15.18; 17.14). Os discípulos têm uma missão (continuação da missão de Jesus) são enviados ao mundo (17.18), através da obediência e santificação, Deus os guarda do mal (17.6,17,19,15). Esta separação do gênero humano em povo de Deus e povo do mundo não é portanto, uma divisão absoluta. Os homens podem ser transferidos do mundo para a condição de povo de Deus por ouvir e responder à missão e mensagem de Jesus (17.6; 3.16). Dessa forma, os discípulos devem perpetuar o ministério de Jesus no mundo a fim de que os homens possam conhecer o evangelho e serem salvos (20.31) do mundo. O mundo não pode receber o Espírito (14.17), pois, de outra forma, ele deixaria de ser o mundo, mas muitos, no mundo, aceitarão o testemunho dos discípulos de Jesus (17.20,21), e crerão nele, mesmo sem jamais o terem visto (20.39). SATANÁS [p. 900] João não registra a luta de Jesus com os poderes das trevas (Satanás e demônios), ele simplesmente descreve a existência sobrenatural de um poder maligno (8.44; 13.2), que é “príncipe” (archōn [a)/rxwn] – governador, senhor, é assim que ele é denominado nos Sinópticos cf. Mt 12.24) deste mundo [ko/smoj] (12.31; 14.30; 16.11), que está procurando vencer Jesus, embora seja impotente para tal (14.30), é como derrotado (expulso) por Jesus em sua cruz (12.31,32; 16.11). PECADO 31 [p. 898] “Nos Sinópticos hamartia (a(marti/a) foi utilizado para descrever os atos de pecado, manifestações de pecado. Em João há uma ênfase maior, colocada sobre o princípio do pecado. O Espírito Santo deve convencer o mundo do pecado (não de pecados) (16.8). O pecado é um princípio que, neste estágio, se manifesta na descrença em Cristo. Todo aquele que vive na prática do pecado está em escravidão — é um escravo do pecado (8.34). 31

LADD, G. E. Teologia do Novo Testamento. 1ª ed. São Paulo: Hagnos, 2003, p. 343.

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‘O pecado humano é servidão ao poder demoníaco e, conseqüentemente, completa separação de Deus.’ A menos que os homens creiam que Jesus é o Cristo, morrerão em seus pecados (8.24). PECADO 32 No Novo Testamento, as palavras gregas mais comuns para pecado são: a) Asebeia - a)se/beia (Rm 1.18; Tt 2.12). Significando impiedade, irreverência. b) Adikia - a)diki/a (Rm 1.18; 3.5; 1Co 6.8). Indicando injustiça, falta de retidão, prejuízo. c) Parábasis - para/basij (Rm 2.23,25; 5.14). Transgressão, quebra da lei, violação, falta. d) Anomia - a)nomi/a (Rm 4.7; 6.19; 1Jo 3.4). Desobediência, desrespeito à lei, ilegalidade, iniqüidade. e) Parakoē - parakoh/, Paráptōma – para/ptwma (Rm 5.15,19). Desobediência, violação, infração ou quebra da lei, queda, lapso, tropeço, ofensa. f) Ponēria - ponhri/a (Mt 6.13), ponērós - ponhro/j. Mal, malícia, iniqüidade. g) Ptaiō - ptai/w (Tg 2.10). Tropeço, deitar por terra. h) Hamartia - a(marti/a (Mt 1.21; Rm 3.23; 1Jo 1.8, etc.). Significa errar o alvo, fracasso, falta, delito, ofensa, enfermidade. Só em romanos o apóstolo Paulo emprega esta palavra mais de 40 vezes, cerca de 16 vezes só no capítulo 6. i) Hamártēma - a(ma/rthma (Rm 3.25). Errar o alvo, fracasso, falta, delito, ofensa, enfermidade. Trevas é sinônimo de pecado, indicando que o caráter do mundo é pecaminoso (trevas) (1.5), o mundo procura engolfar (apanhar) os que andam na luz (12.35), mas quem anda nas trevas ignora como e aonde vai (12.35), Jesus o Logos de Deus, é o único que dissipa as trevas, quem nele crê, recebe a luz e torna-se filho da luz (12.36). PECADO É DESCRENÇA 33 A frase, crer em Cristo (pisteuoeis), aparece apenas uma vez nos Sinópticos (Mt 18.6), mas em João, 13 vezes nas palavras de Jesus, e 29 vezes na interpretação de João. Ela é importante porque expressa a essência da justiça. A incredulidade é parte da essência do pecado (16.9), se os homens não crerem perecerão (3.16) permanecendo a ira de Deus sobre eles (3.36) morrerão em seus pecados (8.24).

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LADD, G. E. Op. Cit., p. 561. LADD, G. E. Teologia do Novo Testamento. 1ª ed. São Paulo: Hagnos, 2003, p. 343.

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MORTE 34 [p. 897] “João não fala muito sobre a morte, a não ser como um fato a respeito da existência do homem no mundo. Ele não oferece especulações a respeito da origem, quer de Satanás, do pecado, ou da morte. À parte da vida trazida por Cristo, a raça humana está entregue à morte, e é responsável por este fato, em virtude de ser pecaminosa. A morte é característica deste mundo, mas a vida veio a este mundo procedente de cima, a fim de que todos os homens possam escapar da morte e entrar para a vida eterna (5.24)”. DUALISMO ESCATOLÓGICO 35 [p. 891,892] Assim como nos Evangelhos Sinópticos há uma proclamação da salvação no Reino de Deus escatológico, por meio de Jesus que invadiu a história pessoalmente para cumprir sua missão. João anuncia “uma salvação presente na pessoa e missão de Jesus, a qual terá uma consumação escatológica”. O dualismo de João é bíblico, pois proclama a visitação de Deus encarnado na história humana, e a meta final que é a ressurreição, o julgamento e a vida na era vindoura. “O mesmo dualismo, com seu duplo aspecto, caracteriza os escritos bíblicos. Se bem que a estrutura básica dos Evangelhos Sinópticos revela um dualismo escatológico — a mensagem de um Reino escatológico que irrompeu na história na pessoa de Jesus — os Evangelhos refletem também um dualismo vertical. O céu é concebido como a habitação de Deus, ao qual os discípulos de Jesus ficam dinamicamente relacionados. Os que conhecem a bênção da soberania de Deus e sofrem por ele alcançarão grande recompensa nos céus (Mt 5.12). Jesus desafiou os homens a ajuntar tesouros nos céus (Mt 6.20)... A ilustração mais viva é o Apocalipse do Novo Testamento, onde João é arrebatado aos céus em uma visão, a fim de testemunhar a revelação do plano redentor de Deus para a história. Ao passo que ele observa as almas dos mártires sob o altar celestial (Ap 6.9 e ss.), a consumação outra coisa não significa senão a descida da Jerusalém celestial à terra (Ap. 21.2). A estrutura básica da literatura bíblica é que há um Deus nos céus que visita os seres humanos na história e que efetuará uma visitação final, a fim de transformar uma ordem — estado de coisas — caída e habitar entre os homens em uma terra redimida. Isto é completamente diferente do dualismo grego, o qual encontra salvação no vôo libertador da alma desde o plano da história até o mundo celestial”. O Dualismo Grego 36 [p. 892] O Dualismo Grego verifica a existência sob dois versos “o fenomenal e o numenal: o mundo mutável, transitório, visível e o mundo invisível, eterno, que é a esfera de ação de Deus. A realidade última pertence somente ao mundo superior. O homem, da mesma forma que o universo, é uma dualidade: corpo e alma. O corpo pertence ao mundo fenomenal, a alma, ao numenal. O mundo visível inclusive o corpo do homem, não é 34

LADD, G. E. Op. Cit., p. 344. LADD, G. E. Op. Cit., p. 344-347. 36 LADD, G. E. Op. Cit., p. 347-349. 35

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considerado mau em si mesmo, mas é um fardo e uma prisão para a alma. A famosa expressão idiomática que descreve a relação entre os dois é soma-sema: o corpo é o túmulo ou prisão da alma. O homem sábio que é bem sucedido em dominar suas paixões corporais e permitir que sua nous (mente) reine sobre seus desejos inferiores. ‘Salvação’ é para aqueles que dominam suas paixões; e, por ocasião da morte, suas almas serão libertadas de sua escravidão terrena, corpórea, a fim de, libertas, desfrutarem uma imortalidade abençoada. Salvação é alvo que se obtém como resultado da ação humana — pelo conhecimento. Platão ensinou que a razão humana pode apreender a verdadeira natureza do mundo e do próprio ser humano, e, dessa forma, controlar o corpo [...] No gnosticismo plenamente desenvolvido, a matéria é ipso facto má, e o homem somente pode ser salvo mediante a recepção da gnosis concedida por um redentor, que desceu ao mundo inferior, ascendendo, depois, ao mundo mais elevado”. DUALISMO DE QUMRAN 37 Com relação ao dualismo de Qumran, existem semelhanças no dualismo ético e escatológico: João usa as mesmas expressões de — luz versus trevas —, ao descrever situações éticas, e também esboça a mesma expectativa do triunfo escatológico final da luz. Contudo difere do dualismo de Qumran, no fato em que “o conflito é entre dois espíritos, dominando sobre duas classes distintas de homens”, mas no Evangelho o Logos encarnado é a luz, e todos os homens estão em trevas, e são convidados a virem para a luz. Também difere acerca da teologia do pecado, “nos escritos de Qumran, os filhos da luz são aqueles que se dedicaram à estrita obediência à Lei de Moisés, conforme interpretada pelo Mestre da Justiça, os quais voluntariamente se separaram do mundo (dos filhos da perversidade). Em João, os filhos da luz são aqueles que crêem em Jesus e conseqüentemente recebem a vida eterna. Para Qumran, as trevas representam a desobediência à Lei; para João, as trevas simbolizam a rejeição de Jesus.” Concluímos que se houve alguma influência de Qumran nos escritos de João, ocorreu apenas nos aspectos da linguagem e terminologia característicos, já na teologia sofreu influência.

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LADD, G. E. Op. Cit., p. 349.

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O EVANGELHO ARREPENDIMENTO No Evangelho de João, Jesus é apresentado como salvador do homem (Jo 3.17 pois o homem está perdido). Para a salvação, é preciso cumprir algumas condições (participação humana): Mt. 3.2; Mc. 1.15 — Arrependimento é uma das condições. E — Fé é a outra condição. Arrependimento é uma mudança de mente (metanóia) e estado, na relação do homem para com Deus, e para com o pecado. O verdadeiro arrependimento é aquele que contempla mais a Deus e a sua justiça, e não meramente os seus pecados e as conseqüências de seus atos, como o fez Judas. (atitude que pode levar de volta ao pecado). Arrependimento não é um movimento suspeito que permita a pessoa olhar com saudade as ‘delícias’ do mundo pecaminoso. Arrependimento é uma volta completa, pela qual se fixa o olhar em uma direção inteiramente oposta; e desde que o homem não tem olhos na parte posterior da cabeça, o mundo fica completamente fora de vista da pessoa arrependida; só Deus fica à sua frente. (Langston, p. 89-90). FÉ Sabemos que o fundamento da salvação é a morte de Jesus Cristo, o que Ele fez por nós. Como nós nos apropriamos desta tão grande salvação? É pela fé. Jo 3. 18-21 Fala da fé como condição para que o homem possa apropriar-se da salvação. Voltando à figura do pão, poderemos compreender claramente a função da fé. O que salva o homem da morte pela fome é o pão (ou o alimento que ele representa). Para o indivíduo apropriar-se do pão, importa que ele o coma. É verdade que o ato de comer não salva ninguém, o ato é simplesmente o meio pelo qual o pão traz a salvação. O pão é que salva da morte física, por meio do comer. Assim é o crer em Jesus. A fé, por si só, não pode jamais salvar a ninguém. O crer não salva. Jesus é quem salva, porém esta salvação só vem por meio da fé; isto é, por crer. A não ser que se coma do pão, é certa a morte do corpo. A não ser que se creia em Jesus, é certa a morte espiritual. Crê ou morre, esta é que é a verdade. O ato de alguém crer em Jesus é em tudo semelhante ao ato de comer o pão para saciar a fome. Pela fé somos salvos por Jesus. (Ibid., p. 168). João não usa a palavra fé no Evangelho, apenas uma vez na 1 Epístola cap. 5.4. Para João fé não tem um só significado como acontece nos escritos de Paulo e na Epístola de Hebreus., no seu entender há uma variedade de fé: - Jo 20.31 Indica o aceitar um fato e aceitar uma pessoa. - Em 1 João ao combater o falso agnosticismo, que negava a encarnação de Jesus, ele registra a fé como sendo uma afirmação de que Jesus é o Cristo nascido de Deus. (Marta assim confessou João 11.27). Crer aqui é afirmar certos fatos. Textos em que o verbo ‘crer’ aparece como objeto direto à Pessoa de Deus, ou Jesus Cristo: 44

1. João 14.1 “credes em Deus, crede também em mim”. 2. João 3.16 Fé aqui está em seu nível mais alto, mais perfeito e mais frutífero. Por crer, o crente apodera-se da vida do objeto da sua fé. Do mesmo modo que o homem pelo ato de comer se apropria da vida, da substância do pão, assim também o crente pelo uso da fé em Cristo, se apropria de todo o poder e vida que estão em Jesus Cristo... no discurso de Jesus sobre o pão da vida. As expressões... ‘vem a mim’, ‘crê em mim’, são sinônimas de ‘comer da minha carne’ e ‘beber do meu sangue’. Todas falam da mesma fé forte e vigorosa, ativa e frutífera. Elas ensinam também que o valor da fé se deriva do seu próprio objeto. (Ibid., p. 170-1). Aparece o verbo crer, às vezes, sem o objeto direto como em João 1.7 e 3.12 “Este veio para testemunho, para que testificasse da luz; para que todos cressem por ele” — “Se vos falei de coisas terrenas, e não crestes, como crereis, se vos falar das celestiais?”. A FUNÇÃO DA FÉ. A fé propicia vida. Assim como a analogia do pão serve para explicar que fisicamente o homem vive por comer; espiritualmente vivemos pela fé. Mas assim também, como o ato de comer não nos salva da fome, também a fé não nos salva da morte. O pão é que salva, seu exercício poderoso sobre o organismo, sacia a fome. Assim, Jesus é quem salva, com a sua vida, e o seu poder espiritual. A NATUREZA DA FÉ. A natureza da fé é propiciar o relacionamento vivo, perfeito e vital entre o Deus Salvador e o homem pecador, é propiciar o remédio espiritual para o estado espiritual do homem. A fé em si mesma é a submissão completa da personalidade a Jesus Cristo. (...) Mas a fé é mais do que simplesmente um ato da inteligência; envolve a personalidade toda; é uma submissão voluntária e inteligente da personalidade integral a Jesus Cristo. (...) Em geral a idéia é que quando alguém pratica o ato de comer, está, por meio deste ato, entregando a comida ao corpo. Realmente é o contrário; quando comemos não estamos entregando o alimento ao corpo, mas estamos entregando o corpo ao alimento. Isto se torna bem claro, supondo que tomássemos um veneno qualquer; pois vemos logo que o veneno se apossaria do corpo. O que se come domina o corpo; pois que ele, a fim de assimilar o que come, submete-se à comida. Tem que ser assim, porque pelo plano de Deus a comida vai agindo dentro do corpo, expulsando a fome e a fraqueza, edificando e fortalecendo o corpo de muitas maneiras.(...) Havendo uma comida perfeita e uma completa submissão do corpo, os resultados são ideais. A fé age da mesma maneira. Pela fé o homem entrega-se a Jesus Cristo, o Pão dos céus, o perfeito alimento que nutre a alma; e Jesus, como o pão, vai agindo dentro da nossa alma, fazendo a sua vontade. Ele expulsa de nós o pecado, purificanos e fortalece-nos constantemente. A razão por que Ele não faz mais é a nossa imperfeita submissão. (Ibid., p. 172) 45

A FÉ NOS ESCRITOS PAULINOS. “Para o apóstolo, a fé é confiar em Deus, é fazer repousar a alma em Deus ou em Jesus Cristo; é uma atitude tanto receptora como simpática para com Deus e a sua graça”. (Ibid., p. 334). É uma questão de confiança do coração humano na justiça divina (Rm. 10.10). É no coração que Cristo vem habitar pela fé em amor (Ef. 3.17). A fé é um princípio ativo de operação numa personalidade receptiva e acionada pelo amor (Gl.5.6). A fé é o grande motivo para a obediência e para aplicação às boas obras (1 Ts. 1.3; 2 Ts. 1.11). A fé não atrapalha o crente na obra, ela o dispõe a trabalhar, só é contrária às obras quando estas se colocam como fundamento da salvação. Aquilo que é feito sem vir de fé é pecado, isto é, não ter a fé como fundamento. (Rm 14.23). Uma das frases mais características de Paulo é a frase “crer em Cristo” para descrever um intimo e pessoal relacionamento entre o crente e o Senhor. É a fé que propicia a entrada nesta relação espiritual com Cristo, este é o objetivo da fé cristã. Viver pela fé em Cristo é como Paulo expressou aos Gl. 2.20: É viver em Cristo, ou Cristo viver no crente. É viver em comunhão muito intima, onde as coisas velhas já passaram, tudo se fez novo 2 Co. 5.17. GÁLATAS 5.6 Diz que só a fé operada por amor é que tem valor; Ef. 1.13 em razão da fé o crente é selado com o Espírito Santo; Rm. 3.22 a justificação é pela fé para todos os que crêem ; 2 Co 13.5 “Examinai-vos... se permaneceis na fé...”. SALVAÇÃO PELA GRAÇA Visto que o homem está num estado pecaminoso, necessitado de salvação, vimos que a salvação vem de Jesus. Como a salvação se torna possível ao homem? 1 João 1.5,7,9. v. 5 “... declara que Deus é luz e não há nEle nenhuma treva. A conclusão, portanto, é que só os que andam na luz serão purificados de todo o pecado... É de interesse observar também que o pecado de que aqui se fala é o do crente e não o do descrente. Mas tanto de um como de outro é o sangue de Jesus que nos purifica.” (Langston, p. 165). v.7 o sangue de Jesus Cristo purifica de todo pecado. v. 9 fala da purificação, condicionada à confissão de pecados Estas passagens indicam que a morte de Jesus, referência ao seu sangue, de algum modo está ligada à salvação, mas não explicam ainda a maneira pela qual a salvação é proporcionada.

Em 1 João 3.5 está registrado que Jesus se manifestou para tirar os nossos pecados; e no Evangelho de João 1.29, Ele é indicado pelo profeta, como “... o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo.’ Este último texto está diretamente relacionado com Isaías 53.7, dando-nos compreensão de que a nossa salvação depende de Jesus Cristo — do seu sofrimento e do seu sangue. 46

A NECESSIDADE DA MORTE DE JESUS É DECLARADA - João 12.24 – Jesus diz que o grão de trigo (Ele) deve cair na terra, morrer, para muito frutificar. (vv. 32-33 diz que através da morte de cruz atrairá a todos). - João 6.51: “O Pão que eu der é a minha carne, que eu darei pela vida do mundo”. - João 10.11, 14 2 15: O bom Pastor, deu a sua vida pelas ovelhas. - João 11. 47-53 (A profecia de Caifás, sumo sacerdote, “convém que um homem morra pelo povo, e que não pereça toda a nação...) Mas os dois textos mais importantes que fundamentam a doutrina da nossa salvação, provavelmente são: - 1 João 2.2 (Indica que Jesus é a propiciação pelos nossos pecados e de todo o mundo). - 1 João 4.10 ( Revela que Deus nos amou antes, isto é, primeiro, e nos enviou seu Filho para fazer propiciação pelos nossos pecados ) Os Escritos do Novo Testamento estão fundados nesta grande verdade, que João ensina, bem como os outros — “o fundamento da salvação é a morte de Jesus Cristo. Ele fêz o grande sacrifício pelo qual se realizou a nossa reconciliação com Deus.’ (Langston, p 167-8).

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CRISTOLOGIA 38 [p. 891] ESTUDO DA PESSOA DE CRISTO NA TEOLOGIA DE PAULO “Nos Evangelhos, Christos é quase sempre um título, raramente um nome próprio. Em Paulo, Christos tornou-se exclusivamente um nome próprio. V. Taylor acha que há apenas um lugar onde Christos é usado como título: ‘e de quem descende o Cristo segundo a carne” (Rom. 9.5). A experiência de Paulo ao encontrar-se com o Senhor no Caminho de Damasco, conhecendo-o como o Messias, e não apenas (como no judaísmo) — Jesus de Nazaré. É um quadro que mostra a “diferença da avaliação da pessoa de Jesus. Tudo o mais — sua idéia a respeito da salvação, da Lei, da vida cristã — foi determinado por isto”. “A formula mais simplificada, ‘Jesus, o Messias’, desapareceu completamente, enquanto ‘Jesus Cristo’ e a expressão completa ‘nosso Senhor Jesus Cristo’ são freqüentemente usadas”. - Em Antioquia (Atos 11.26) os crentes pela primeira vez foram chamados de Christianoi, o que sugere que o termo Christos já seria visto como um nome próprio. - O fato de Paulo falar pouco acerca do Reino de Deus e do messiado de Jesus, se dá muito provavelmente, pelo fato de estar se dirigindo não aos judeus, mas aos gentios, num mundo em que “proclamar qualquer rei que não fosse César fazia com que se ficasse passível à pena de sedição (At 17.3,7)”. - No entanto, encontramos as seguintes passagens: O Reino de Deus associado com a ressurreição e a salvação (1 Co 15.12); Uma bênção escatológica a ser herdada (I Co. 6.9,10; 15.50; Gl 5.21); um Reino igualado à “glória” (1 Ts. 2.12); Um Reino que será visível à aparição escatológica de Jesus Cristo (2 Tm. 4.1); Por causa do Reino, o povo de Deus suporta os sofrimentos neste mundo (2 Ts. 1.5); Estes sofrimentos além de submissão, inclui o serviço pelo Reino (Cl. 4.11), ajudando outros homens a entrarem nele. “Os Santos, por causa do que Cristo fez, já se libertaram do poder das trevas — deste século mau e caído — e foram transferidos para o Reino de Deus (Cl 1.13)”. Este “reino de Cristo” não pode ser identificado com a Igreja; pelo contrário, é a esfera da lei de Cristo, que é mais extensa que a Igreja. Idealmente, todos os que estão na Igreja estão também no Reino de Cristo; mas exatamente como o Reino de Deus escatológico é mais amplo do que a Igreja redimida e conterá a subjugação de tudo o que é hostil à vontade de Deus, assim é o Reino de Cristo, aqui, a esfera invisível do reinado de Cristo, dentro da qual os homens entram através da fé em Jesus Cristo. Assim, o Reino de Deus não está preocupado primariamente com coisas físicas, por mais necessárias que sejam, mas com realidades espirituais: justiça, paz e alegria — os frutos do Espírito Santo (Rm 14.17).

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LADD, G. E. Teologia do Novo Testamento. 1ª ed. São Paulo: Hagnos, 2003, p. 568-582.

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- O entendimento de Paulo, do Messiado de Jesus, contém uma transformação de categorias messiânicas tradicionais, pois não é como um monarca terrestre que Jesus reina de um trono de poder político, mas como o Senhor ressuscitado, glorificado. - Ele foi elevado aos céus (Rm. 8.34), onde está assentado à mão direita de Deus (Cl 3.1), e agora reina como rei (basileuein, 1 Co 15.25). Contudo, seus inimigos não são mais reinos e impérios — os inimigos terrestres do povo de Deus — mas poderes invisíveis, espirituais. O objetivo deste reino é subjugar todos estes inimigos rebeldes sob seus pés; o último inimigo será a morte (1 Co 15.26). Isto corresponde ao fato de que o próprio Jesus havia recusado um reino terrestre (João 6.15), havia afirmado que sua lei vinha de uma ordem mais alta e não se baseava em poderes mundanos espirituais do mal (Mt 12.28 e s.) (Ladd, p. 385). A PESSOA DE CRISTO 39 O MESSIAS É JESUS [p. 897] Não pode haver dúvida, para Paulo, que aquele que ressuscitou dentre os mortos e subiu aos céus, e que agora reina como o Messias à mão direita de Deus não é ninguém além do Jesus de Nazaré. O debate moderno a respeito do Jesus histórico e do Cristo exaltado e querigmático sempre obscureceu o pensamento de Paulo, as se tentar fazê-lo responder a questões que ele nunca levantou. - Se por um lado Paulo não levantou fatos biográficos do Jesus Histórico, ainda que ele conheceu algo da tradição sobre a vida de Jesus (1 Co 11.23); Paulo sabe QUE: 1) Que Ele é um israelita (Rm 9.5) da família de Davi (Rm 1.3); 2) Que viveu Sua vida sob a Lei (Gl 4.4); 3) Que Ele tinha um irmão chamado Tiago (Gl 1.19); 4) Que era um Homem pobre (2 Co 8.9); 5) Que exerceu Seu ministério entre os judeus (Rm 15.8); 6) Que teve doze apóstolos (1 Co 15.5); 7) Que Instituiu a ceia (1 Co 11.23 e ss); 8) Que foi crucificado, sepultado e ressurgiu dentre os mortos (2 Co 4.14; 1 Co 15.4).

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LADD, G. E. Teologia do Novo Testamento. 1ª ed. São Paulo: Hagnos, 2003, p. 567-583.

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Ele também estava “familiarizado com as tradições sobre o caráter de Jesus” faz menção: A) Da sua mansidão e benignidade (2 Co 10.1); B) Da sua obediência a Deus (Rm 5.19); C) Da sua constância (2 Ts 3.5); D) Da sua graça (2 Co 8.9); E) Do seu amor (Rm 8.35); F) Da sua completa auto-abnegação (Fl 2.7); G) Da sua justiça (Rm 5.18); H) Da sua impecabilidade (2 Co 5.21). Ainda que sejam poucas e casuais informações do Jesus histórico, isto não pode significar que ele fosse um mito, ou um homem com consciência divina, foi porque ele teve uma experiência com Jesus, o Senhor Exaltado, o que lhe propiciou um ministério sob a orientação do Espírito, possibilitando-lhe conclusões e implicações acerca da pessoa divina de Jesus, como uma pessoa já glorificada. Paulo podia perceber os poderes do Reino que anteriormente estavam em Jesus (histórico), agora concedidos pelo Espírito Santo para todos os crentes. Assim os poderes da Era Vindoura, foram libertos das limitações de tempo e de espaço, pois estas bênçãos não estão mais limitadas pela presença corporal de Jesus na terra, “O reino de Deus... consiste... na justiça, na paz e na alegria do Espírito Santo” (Rom. 14.17). Tudo o que Paulo fez, foi incluir além do que já havia na História e Missão de Jesus, a pregação do Jesus glorificado, revelando, expandindo e aumentando tudo o que a vida, os feitos e as palavras de Jesus significam, expandindo o significado escatológico total da pessoa de Jesus, seus feitos, sua morte, sua ressurreição e exaltação. O enunciado de 2 Co 5.16, precisa ser entendido, sob a iluminação do Espírito:  Quando se conhece a Jesus segundo a carne, se tem um entendimento errado de Jesus, foi assim que o sinédrio pediu a crucificação e assim que Saulo foi levado a perseguir a Igreja.  Mas quando os olhos são abertos pelo Espírito, se pode entender, quem realmente era o Jesus da história: o messiânico Filho de Deus.

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A UNIPESSOALIDADE DE CRISTO Jesus Cristo mesmo tendo duas naturezas, possuía apenas uma personalidade, a qual reunia perfeitamente suas duas naturezas, sem haver fragmentação em seu comportamento. O Cristo encarnado sempre agiu como Deus-Homem. Evidências da Unipessoalidade de Cristo: Jesus Cristo fala de si mesmo como uma única pessoa; não havendo o intercâmbio entre um “Eu” e um “Tu” entre as duas naturezas (Jo 17.1,4,5,22,23). Os pronomes pessoais atribuídos a ele são sempre referentes a uma pessoa. Jesus cristo é verdadeiro Deus e verdadeiro homem, não havendo uma preponderância do divino sobre o humano nem do humano sobre o divino. A mesma Pessoa que dizia: “Em verdade, em verdade vos digo que, antes que Abraão existisse, Eu Sou”. Também dizia: “Tenho sede” (Jo 8.58; 19.28). “As duas naturezas de Cristo estão unidas numa única pessoa” (Hilário). “Cristo é uma só Pessoa de dupla substância; sendo tanto Deus quanto homem. Mediador entre Deus e o homem, Ele reúne ambas as naturezas em unicidade de pessoa” (Agostinho). “Aquele que Se tornou homem na forma de servo é, Aquele que na forma de Deus criou o homem” (Tomo de Leão). O constituinte essencial da hipóstase, isto é, da pessoa, é a alma. Tem-se hipóstase divina onde há Alma divina. Ora, no caso de Jesus Cristo há somente uma personalidade a da Alma divina, que também exerce as funções da personalidade da alma humana. Por isso, há só uma hipóstase nele, a hipóstase divina. Tomás de Aquino chegou a afirmar que a Pessoa do Logos tornou-se composta na encarnação, e Sua união com a natureza humana “impediu” esta última de chegar a ter uma personalidade independente. A natureza humana de Cristo recebeu em virtude de sua união com o Logos, a graça da união que lhe comunicou uma dignidade especial, de modo que até se tornou objeto de culto, e recebeu a graça habitual, que mantinha em sua relação com Deus Pai. Ghiorghiu Florovsky também insiste: “não há nenhuma hipóstase humana em Cristo” (Mondin).40

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MONDIN, Battista. Os Grandes teólogos do Século Vinte. São Paulo: Edições Paulinas, Vol. 2, 1979-1980, p. 244.

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A UNIÃO DAS DUAS NATUREZAS Localizada Natureza humana

ESPÍRITO HUMANO

Aprende Limitada

Não dividindo

A Pessoa

a Pessoa nem confundindo

Do Filho

as naturezas

LOGOS Ele age por meio de qualquer uma das naturezas Onipresente

A Pessoa do Pai

Natureza Divina

A Pessoa do Espírito Santo

CORPO HUMANO

A alma humana de Jesus foi hipostatizada no Verbo Eterno. Na união hipostática há uma só personalidade

Onisciente Onipotente

JESUS O VERBO DE DEUS

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IMPECABILIDADE DE CRISTO

Ainda que o Novo Testamento seja claro em afirmar que Jesus era plenamente humano exatamente como nós, também afirma que Jesus era diferente em um aspecto importante: ele era isento de pecado e jamais cometeu um pecado durante sua vida. Alguns objetam que se Jesus não pecou, então não era verdadeiramente humano, pois todos os humanos pecam. Mas os que fazem tal objeção simplesmente não percebem que os seres humanos estão agora numa situação anormal. Deus não nos criou pecaminosos, mas santos e justos. Adão e Eva no jardim do Éden eram verdadeiramente humanos antes de pecar, e nós agora, apesar de humanos, não nos conformamos ao padrão que Deus deseja que preenchamos quando nossa humanidade plena, impecável, for restaurada. A impecabilidade de Jesus é ensinada com freqüência no Novo Testamento. Vemos indicações disso no início da vida dele quando encheu-se de sabedoria e quando “a graça de Deus estava sobre ele” (Lc 2.40). Depois vemos que Satanás foi incapaz de obter sucesso ao tentar Jesus, não conseguindo, após quarenta dias, convencê-lo a pecar: “Passadas que foram as tentações de toda sorte, apartou-se dele o diabo, até momento oportuno” (Lc 4.13). Também não vemos nos evangelhos sinóticos (Mateus, Marcos e Lucas) nenhum indício de erros da parte de Jesus. Para os judeus que se opunham a ele, Jesus perguntou: “Quem dentre vós me convence de pecado?” (Jo 8.46) e não recebeu resposta. As declarações a respeito da impecabilidade de Jesus são mais explícitas no evangelho de João. Jesus fez a surpreendente proclamação: “Eu sou a luz do mundo” (Jo 8.12). Se compreendermos que a luz representa tanto a fidedignidade como a pureza moral, então aqui Jesus está alegando ser a fonte da verdade e a fonte da pureza moral e da santidade no mundo - uma alegação estarrecedora que poderia ser feita só por alguém isento de pecado. Além disso, com respeito à obediência a seu Pai no céu, ele disse: “eu faço sempre o que lhe agrada” (Jo 8.29; o tempo presente dá o sentido de atividade continua: “estou sempre fazendo” o que lhe agrada”). Ao final da vida, Jesus pôde dizer: “ 41

GRUDEM, Wayne. Teologia Sistemática. Vida Nova, 1999, p. 440-447.

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... eu tenho guardado os mandamentos de meu Pai e no seu amor permaneço” (Jo 15.10). É significativo que quando Jesus foi julgado diante de Pilatos, apesar das acusações dos judeus, Pilatos só pôde concluir: “Eu não acho nele crime algum” (Jo 18.38). No livro de Atos, muitas vezes Jesus é chamado “o Santo”, “o Justo” ou alguma expressão semelhante (veja At 2.27; 3.14; 4.30; 7.52; 13.35). Quando Paulo fala de Jesus vivendo como homem, tem o cuidado de não dizer que ele assumiu “carne pecaminosa”, mas, antes, que Deus enviou o próprio filho “em semelhança” de carne pecaminosa e no tocante ao pecado” (Rm 8.3). E ele se refere a Jesus como “aquele que não conheceu pecado” (2Co 5.21). O autor de Hebreus afirma que Jesus foi tentado, mas ao mesmo tempo, insiste que ele não pecou: Jesus foi “tentado em todas as coisas, à nossa semelhança, mas sem pecado” (Hb 4.15). Ele é um sumo sacerdote “santo, inculpável, sem mácula, separado dos pecadores e feito mais alto do que os céus” (Hb 7.26). Pedro fala de Jesus como “cordeiro sem defeito e sem mácula” empregando figuras do Antigo Testamento para afirmar sua isenção de qualquer mácula moral. Pedro declara diretamente que ele não cometeu pecado, nem dolo algum se achou em sua boca (1Pe 2.22). Quando Jesus morreu, foi “o justo pelos injustos”, para nos conduzir a Deus (1Pe 3.18). E João, na primeira epístola, chama-o “Jesus Cristo, o Justo”, e diz que “nele não existe pecado” (1Jo 3.5). É difícil negar, portanto, que a impecabilidade de Cristo é ensinada de maneira clara em todas as seções importantes do Novo Testamento. Ele era realmente humano, mas sem pecado. Juntamente com a impecabilidade de Jesus, devemos notar de modo mais detalhado a natureza de suas tentações no deserto (Mt 4.1-11; Mc 1.12,13; Lc 4.1-13). A essência dessas tentações era uma tentativa de convencer Jesus a escapar da dura trilha da obediência e do sofrimento que lhe fora designada como o Messias. Jesus “foi guiado pelo [...] Espírito, no deserto, durante quarenta dias, sendo tentado pelo diabo” (Lc 4.1-2). Em muitos aspectos, essa tentação forma um paralelo com a tentação enfrentada por Adão e Eva no jardim do Éden, mas foi muito mais difícil. Adão e Eva tinham comunhão com Deus e um com o outro e abundância de todos os tipos de comida, pois receberam ordens só de não comer de uma árvore. Contrastando com isso, Jesus não tinha comunhão com seres humanos, nem comida com que se alimentar e, depois de jejuar quarenta dias, estava a ponto de morrer fisicamente. Em ambos os casos, o que se exigia não era uma obediência a um princípio moral eterno arraigado no caráter de Deus, mas um teste de obediência pura a uma instrução específica de Deus. A Adão e Eva, Deus ordenou que não comessem da árvore do conhecimento do bem e do mal, e a questão era se obedeceriam simplesmente por Deus lhes ter falado. No caso de Jesus, “guiado pelo Espírito” por quarenta dias no deserto, ao que parece, ele compreendeu que era vontade do Pai que nada comesse durante aqueles dias e simplesmente permanecesse ali até que o Pai, pela direção do Espírito Santo, lhe dissesse que a tentação estava encerrada e que ele podia partir. Podemos compreender, portanto, o significado da tentação: “Se és o Filho de Deus, manda que esta pedra se transforme em pão” (Lc 4.3). É claro que Jesus era o Filho de Deus, e é claro que ele tinha o poder para transformar instantaneamente qualquer pedra em pão. A tentação era intensificada pelo fato de parecer que perderia a vida, caso não comesse 53

logo. Mas ele viera para obedecer perfeitamente a Deus, em nosso lugar, e deveria fazê-la como homem. Isso significava que tinha de obedecer só em seu poder humano. Se tivesse recorrido a seus poderes divinos para tornar mais fácil para si a tentação, não teria obedecido plenamente a Deus como homem. A tentação era empregar seu poder divino para “fraudar” o cumprimento das exigências, tornando a obediência um pouco mais fácil. Mas Jesus, em contraste com Adão e Eva, recusou-se a comer o que parecia bom e necessário para si, optando por obedecer à ordem de seu Pai celestial. A tentação de curvar-se e cultuar Satanás por um momento e depois receber autoridade sobre “todos os reinos do mundo” (Lc 4.5) era a tentação de receber o poder não pelo caminho da obediência vitalícia a seu Pai celestial, mas pela submissão ilícita ao Príncipe das Trevas. De novo, Jesus rejeitou o caminho aparentemente fácil e escolheu o caminho da obediência que levava à cruz. De modo semelhante, a tentação de jogar-se do pináculo do templo (Lc 4.9-11) era a tentação de “forçar” Deus a realizar um milagre e resgatá-la de maneira espetacular, atraindo assim grande séquito dentre o povo, sem prosseguir no duro caminho que tinha à frente, o caminho que incluía três anos ministrando às necessidades das pessoas, ensinando com autoridade e exemplificando a santidade absoluta de vida em meio a dura oposição. Mas, de novo, Jesus resistiu a esse “caminho fácil” para cumprimento de seus alvos como o Messias (de novo, uma rota que de fato não cumpriria, de maneira alguma, aqueles alvos). Essas tentações eram de fato a culminação de um processo vitalício de fortalecimento e amadurecimento moral que ocorreu durante toda a infância e início da vida adulta de Jesus, enquanto ele “crescia [ ... ] em sabedoria, estatura e graça, diante de Deus” (Lc 2.52) e quando “aprendeu a obediência pelas coisas que sofreu” (Hb 5.8). Nessas tentações no deserto e nas várias tentações que enfrentou durante os trinta e três anos de sua vida, Cristo obedeceu a Deus em nosso lugar e como nosso representante, obtendo dessa forma sucesso onde Adão falhou, onde o povo de Israel no deserto falhou e onde nós falhamos (veja Rm 5.18,19). Por mais difícil que nos seja compreender, as Escrituras afirmam que nessas tentações Jesus tornou-se capaz de nos compreender e de nos ajudar em nossas tentações. “Pois,naquilo que ele mesmo sofreu, tendo sido tentado, é poderoso para socorrer os que são tentados” (Hb 2.18). O autor prossegue e liga a capacidade de Jesus em entender nossas fraquezas ao fato de ter sido tentado como nós somos: Porque não temos sumo sacerdote que não possa compadecer-se das nossas fraquezas; antes, foi ele tentado em todas as coisas, à nossa semelhança, mas sem pecado. Acheguemo-nos, portanto, confiadamente, junto ao trono da graça, a fim de recebermos misericórdia e acharmos graça para socorro em ocasião oportuna (Hb 4.15,16). Isso tem uma aplicação prática para nós: em toda situação em que estivermos lutando contra uma tentação, devemos refletir sobre a vida de Cristo e perguntar se não houve situações semelhantes enfrentadas por ele. Em geral, depois de refletir por alguns instantes, 54

seremos capazes de perceber alguns casos na vida de Cristo em que ele enfrentou tentações que, embora não iguais em todos os aspectos, foram bem parecidas com as situações que enfrentamos todos os dias. Jesus poderia ter pecado? Às vezes levanta-se esta questão: “Cristo podia ter pecado?” Alguns defendem a impecabilidade de Cristo, entendendo por impecável “não sujeito a pecar”. Outros objetam que se Jesus não fosse capaz de pecar, suas tentações não teriam sido reais, pois como uma tentação seria real, se a pessoa que estivesse sendo tentada não fosse mesmo capaz de pecar? Para responder a essa pergunta, precisamos distinguir, por um lado, o que as Escrituras afirmam claramente e, por lado, o que é mais uma inferência de nossa parte. As Escrituras afirmam claramente que Cristo jamais pecou de fato (veja acima). Não deve haver nenhuma dúvida a esse respeito em nossa mente. (2) Elas também afirmam que Jesus foi tentado e que as tentações foram reais (Lc 4.2). Se cremos na Bíblia, precisamos insistir que Cristo foi “tentado em todas as coisas, à nossa semelhança, mas sem pecado” (Hb 4.15). Se nossa especulação sobre essa questão de Cristo poder ou não ter pecado leva-nos a dizer que ele não foi verdadeiramente tentado, então chegamos a uma conclusão errada, a uma conclusão que contradiz afirmações claras das Escrituras. (3) Também precisamos afirmar com as Escrituras que “Deus não pode ser tentado pelo mal” (Tg 1.13). Mas aqui a questão torna-se difícil: se Jesus era plenamente Deus e também plenamente humano (e vamos argumentar adiante que as Escrituras ensinam isso várias vezes e de maneira clara), então não somos obrigados também a afirmar que (em algum sentido) Jesus também “não pode ser tentado pelo mal?”. Isso é tudo o que podemos dizer pelas afirmações claras e explícitas das Escrituras. Nesse ponto ficamos diante de um dilema semelhante a uma série de outros dilemas doutrinários em que as Escrituras parecem ensinar coisas que, se não são diretamente contraditórias, são pelos menos muito difíceis de harmonizar em nosso entendimento. Por exemplo, com respeito à doutrina da Trindade, afirmamos que Deus existe em três pessoas e que cada uma é plenamente Deus e que existe um Deus. Ainda que essas afirmações não sejam contraditórias, é difícil compreendê-las em ligação uma com a outra e, ainda que possamos obter avanços na compreensão de como se ligam, pelo menos nesta vida temos de admitir que não pode haver compreensão plena de nossa parte. As Escrituras não nos dizem que Jesus foi tentado e que Jesus não foi tentado (uma contradição, caso Jesus e “tentado” sejam empregados exatamente no mesmo sentido em ambas as frases). A Bíblia nos diz que “Jesus foi tentado”, que “Jesus era plenamente homem”, que “Jesus era plenamente Deus” e que “Deus não pode ser tentado”. Essa combinação de ensinos da Bíblia nos deixa aberta a possibilidade de que quando compreendermos como a natureza humana e divina de Jesus agem em conjunto, poderemos compreender melhor como ele podia ser tentado em um sentido e, ainda assim, não ser tentado em outro sentido. (Essa possibilidade será discutida adiante). Nesse ponto, portanto, vamos além das afirmações claras da Bíblia e tentamos apresentar uma solução para o problema de Cristo poder ou não cometer pecado? Mas é 55

importante reconhecer que a seguinte solução é por natureza mais um jeito de combinar vários ensinos bíblicos, não sendo diretamente sustentada por declarações explícitas das Escrituras. Tendo isso em mente, é adequado dizer: (1) Se a natureza humana tivesse existido por si só, independentemente de sua natureza divina, teria sido a mesma natureza que Deus deu a Adão e a Eva. Estaria isenta de pecado, mas mesmo assim seria capaz de pecar. Por conseguinte, se a natureza humana de Jesus tivesse existido por si, haveria possibilidade abstrata ou teórica de Jesus ter pecado, assim como a natureza humana de Adão e Eva era capaz de pecar. (2) Mas a natureza humana jamais existiu à parte da união com sua natureza divina. Desde o momento de sua concepção, ele existiu como verdadeiro Deus e também verdadeiro homem. Tanto sua natureza humana como a sua natureza divina existiram unidas em uma pessoa. (3) Embora Jesus tivesse experimentado algumas coisas (tais como fome, sede ou fraqueza) só em sua natureza humana e não em sua divina Veja abaixo), um ato pecaminoso seria um ato seria um ato moral que, aparentemente, teria envolvido sua natureza divina bem como a humana. (4) Mas se Jesus como pessoa tivesse pecado, implicando tanto a natureza humana como a divina no pecado, então o próprio Deus teria pecado e teria deixado de ser Deus. Mas é claro que isso é impossível por causa da santidade infinita da natureza de Deus. (5) Assim, se perguntarmos se de fato era possível Jesus pecar, parece que precisamos concluir que isso não era possível. A união de sua natureza humana e divina em uma pessoa o impedia de pecar. Mas a pergunta continua de pé: “Como, então, as tentações de Jesus podiam ser reais?” O exemplo da tentação de transformar pedras em pães é útil nesse sentido. Por causa de sua natureza divina, Jesus tinha a capacidade de realizar esse milagre, mas, se o fizesse, já não estaria obedecendo só na força de sua natureza humana, teria fracassado na prova em que Adão também fracassou e não teria conquistado para nós a salvação. Assim, Jesus recusou-se a recorrer à sua natureza divina para tomar a obediência mais fácil para si. De modo semelhante, parece certo concluir que Jesus enfrentou cada tentação do pecado, não por seu poder divino, mas só na força de sua natureza humana (embora, é claro, não fosse “só”, porque Jesus, ao exercer o tipo de fé que os homens devem exercer, dependia de Deus Pai e do Espírito Santo em todos os momentos). A força moral de sua natureza divina estava ali como um tipo de “barreira” que, em todo caso, o impediria de pecar (e, por conseguinte, podemos dizer que ele não podia pecar), mas ele não podia fiar-se na força de sua natureza divina para enfrentar as tentações com maior facilidade, e sua recusa em transformar pedras em pão no início de seu ministério é uma clara indicação disso. Nesse caso, as tentações eram reais? Muitos teólogos destacam que só aquele que consegue resistir à tentação até o fim sente plenamente a força da tentação. Assim como um campeão de halterofilismo que consegue levantar e manter sobre a cabeça o maior peso na prova sente mais plenamente a carga do que a pessoa que tenta levantá-lo, mas o derruba, assim também qualquer cristão que consegue enfrentar a tentação até o fim sabe que isso é muito mais difícil do que logo dar lugar a ela. É o que ocorre com Jesus: cada tentação que enfrentou, enfrentou-a até o fim e a venceu. As tentações eram reais, ainda que não cedesse a elas. De fato, foram mais reais porque ele não cedeu a elas. Que diremos, então, do fato de que “Deus não pode ser tentado pelo mal” (Tg 1.13)? Parece que isso faz parte de uma série de afirmações que precisamos fazer a respeito 56

da natureza divina de Jesus, mas não de sua natureza humana. Essa natureza divina não podia ser tentada pelo mal, mas sua natureza humana podia, e é claro que foi tentada. Como essas duas naturezas uniam-se em uma pessoa ao enfrentar tentações? A Bíblia não nos explica de maneira clara. Mas essa distinção entre o que se aplica a uma natureza e o que se aplica a outra é um exemplo de uma séria de declarações semelhantes que a Bíblia exige que façamos (veja mais sobre essa distinção abaixo, quando discutirmos como Jesus podia ser Deus e homem em uma só pessoa). Por que era necessário que Jesus fosse plenamente humano? Quando João escreveu sua primeira epístola, circulava na igreja um ensino herético, segundo o qual Jesus não era homem. Essa heresia tomou-se conhecida como docetismo. Essa negação da verdade acerca de Cristo era tão séria que João podia dizer que se tratava de uma doutrina do anticristo: “Nisto reconheceis o Espírito de Deus: todo espírito que confessa que Jesus Cristo veio em carne é de Deus; e todo espírito que não confessa a Jesus não procede de Deus; pelo contrário, este é o espírito do anticristo” (1Jo 4.2,3). O apóstolo João entendia que negar a verdadeira humanidade de Jesus era negar um fato central do cristianismo, de modo que ninguém que negasse que Jesus veio em carne era enviado por Deus. Quando examinamos o Novo Testamento, vemos vários motivos pelos quais Jesus tinha de ser plenamente humano para ser o Messias e obter nossa salvação. Podemos alistar aqui sete razões: a. Para possibilitar uma obediência representativa. Conforme observamos no capítulo acima sobre as alianças entre Deus e o homem, 10 Jesus era nosso representante e obedeceu em nosso lugar naquilo que Adão falhou e desobedeceu. Vemos isso nos paralelos entre a tentação de Jesus (Lc 4.1-13) e a ocasião da prova de Adão e Eva no jardim (Gn 2.15-3.7). Também reflete-se claramente na discussão de Paulo sobre os paralelos entre Adão e Cristo, na desobediência de Adão e na obediência de Cristo: Pois assim como, por uma só ofensa, veio o juízo sobre todos os homens para condenação, assim também, por um só ato de justiça, veio a graça sobre todos os homens para a justificação que dá vida. Porque, como, pela desobediência de um só homem, muitos se tomaram pecadores, assim também, por meio da obediência de um só, muitos se tomarão justos (Rm 5.18-19). É esse o motivo pelo qual Paulo chama Cristo “o último Adão” (l Co 15.45) e pode chamar Adão”o primeiro homem”, e Cristo, “o segundo homem” (l Co 15.47). Jesus tinha de ser homem para ser nosso representante e obedecer em nosso lugar. b. Para ser um sacrifício substitutivo. Se Jesus não tivesse sido homem, não poderia ter morrido em nosso lugar e pago a penalidade que nos cabia. O autor de Hebreus nos diz: “Pois ele, evidentemente, não socorre anjos, mas socorre a descendência de Abraão. Por isso mesmo, convinha que, em todas as coisas, se tomasse semelhante aos irmãos, para ser misericordioso e fiel sumo sacerdote nas coisas referentes a Deus e para fazer propiciação pelos pecados do povo” (Hb 2.16-17; cf. v. 14). Jesus tinha de se tornar homem, não um anjo, porque Deus estava interessado em salvar homens, não anjos. Mas 57

para isso “convinha” que fosse como nós em todos os sentidos, de modo que pudesse ser a “propiciação” para nós, o sacrifício substitutivo aceitável em nosso lugar. Ainda que essa idéia seja discutida com mais pormenores no capítulo 27, sobre expiação, é importante aqui perceber que a menos que Cristo fosse plenamente homem, ele não poderia ter morrido para pagar a pena dos pecados do homem. Ele não poderia ter sido um sacrifício substitutivo por nós. c. Para ser o único mediador (Go’el) entre Deus e os homens. Porque estávamos alienados de Deus por causa do pecado, necessitávamos de alguém que se colocasse entre Deus e nós e nos levasse de volta a ele. Precisávamos de um mediador (Go’el) que pudesse representar-nos diante de Deus e que pudesse representar Deus para nós. Só há uma pessoa que preencheu esse requisito: “Porquanto há um só Deus e um só Mediador entre Deus e os homens, Cristo Jesus, homem” (l Tm 2.5). Para cumprir essa função de Mediador, Jesus tinha de ser plenamente homem e plenamente Deus. d. Para cumprir o propósito original do homem de dominar a criação. Como vimos em nossa discussão sobre o propósito para o qual Deus criou o homem. Deus colocou o ser humano sobre a terra para subjulgá-la e dominá-la como representante divino. Mas o homem não cumpriu esse propósito, pois caiu em pecado. O autor de Hebreus percebe que Deus pretendia que tudo fosse sujeitado ao homem, mas reconhce: “Todas as coisas sujeitaste debaixo dos seus pés. Ora, desde que lhe sujeitou todas as coisas, nada deixou fora do seu domínio. Agora, porém, ainda não vemos todas as coisas a ele sujeitas” (Hb 2.8). Então, quando Jesus veio como homem, foi capaz de obedecer a Deus e, assim, teve o direito de dominar a criação como homem, cumprindo o propósito original de Deus ao colocar o homem sobre a terra. Hebreus reconhece isso quando diz que agora “vemos [...] Jesus” em posição de autoridade sobre o universo, “coroado de glória e de honra” (Hb 2.9; cf. a mesma frase no v. 7). Jesus de fato recebeu “toda autoridade [...] no céu e na terra” (Mt 28.18), e Deus lhe pôs todas as coisas debaixo dos pés, e para ser o cabeça sobre todas as coisas, o deu a igreja” Ef 1.22). Aliás, um dia reinaremos com ele em seu trono (Ap 3.21) e experimentaremos, em sujeição a Cristo nosso Senhor, o cumprimento do propósito de Deus de reinarmos sobre a terra (cf. Lc 19.17,19; 1Co 6.3). Jesus tinha de ser homem para cumprir o propósito original de Deus de que o homem dominasse sobre sua criação. e. Para ser nosso exemplo e padrão na vida. João nos diz: “ ... aquele que diz que permanece nele, esse deve também andar como ele andou” (1 Jo 2.6), e nos lembra que “quando ele se manifestar, seremos semelhantes a ele” e que essa esperança de futura conformidade com o caráter de Cristo confere mesmo agora pureza moral cada vez maior à nossa vida (1Jo 3.2-3). Paulo nos diz que estamos continuamente sendo “transformados [ ... ] na sua própria imagem” (2Co 3.18), avançando, assim, para o alvo para o qual Deus nos salvou: sermos “conformes à imagem de seu Filho” (Rm 8.29). Pedro nos diz que, especialmente no sofrimento, temos de considerar o exemplo de Cristo: “pois que também Cristo sofreu em vosso lugar, deixando-vos exemplo para seguirdes os seus passos” (1Pe 2.21). Em toda nossa vida cristã, devemos correr a carreira colocada diante de nós “olhando 58

firmemente para o Autor e Consumador da fé, Jesus” (Hb 12.2). Se ficarmos desanimados com a hostilidade e a oposição dos pecadores, devemos considerar “atentamente [ ... ] aquele que suportou tamanha oposição dos pecadores contra si mesmo” (Hb 12.3).Jesus é também nosso exemplo na morte. O alvo de Paulo é conformar-se “com ele na sua morte” (Fp 3.10; cf. l Pe 3.17-18 com 4.1). Nosso alvo deve ser a conformidade com Cristo em nossos dias, até à morte, e morrer com obediência inabalável a Deus, com forte confiança nele e com amor e perdão aos outros. Jesus tinha de tornar-se homem como nós para viver como nosso exemplo e padrão na vida. f. Para ser o padrão de nosso corpo redimido. Paulo nos diz que quando Jesus ressuscitou dos mortos, ressuscitou num novo corpo “na incorrupção [ ... ] ressuscita em glória [ ... ] ressuscita em poder [ ... ] ressuscita corpo espiritual” (1Co 15.42-44.). Esse novo corpo ressurreto que Jesus possuía quando ressurgiu dos mortos é o padrão do que será nosso corpo quando formos ressuscitados dos mortos, porque Cristo é “as primícias” (1 Co 15.23) - uma metáfora agrícola que compara Cristo à primeira amostra da colheita, que demonstra como será o outro fruto daquela colheita. Temos agora um corpo físico como o de Adão, mas teremos um como o do Cristo: “E, assim como trouxemos a imagem do que é terreno, devemos trazer também a imagem do celestial” (1Co 15.49). Jesus tinha de ser ressuscitado como homem para ser “o primogênito de entre os mortos” (Cl 1.18), o padrão para o corpo que teremos mais tarde. g. Para compadecer-se como sumo sacerdote. O autor de Hebreus lembra-nos de que “naquilo que ele mesmo sofreu, tendo sido tentado, é poderoso para socorrer os que são tentados” (Hb 2.18; cf. 4.15-16). Se Jesus não tivesse existido na condição de homem, não teria sido capaz de conhecer por experiência o que sofremos em nossas tentações e lutas nesta vida. Mas porque viveu como homem, ele é capaz de compadecer-se mais plenamente de nós em nossas experiências. Jesus será um homem para sempre. Jesus não abandonou a natureza terrena após sua morte e ressurreição, pois apareceu aos discípulos como homem após a ressurreição, até com as cicatrizes dos cravos nas mãos (Jo 20.25-27). Ele possuía carne e ossos (Lc 24.39) e comia (Lc 24.41-42). Posteriormente, quando conversava com os discípulos, foi levado ao céu, ainda em seu corpo humano ressurreto, e dois anjos prometeram que ele voltaria do mesmo modo: “Esse Jesus que dentre vós foi assunto ao céu virá do modo como o vistes subir” (At 1.11). Ainda mais tarde, Estevão vislumbrou o céu e viu Jesus como “o Filho do Homem, em pé à destra de Deus” (At 7.56).Jesus também apareceu a Saulo na estrada de Damasco, dizendo: “Eu sou Jesus, a quem tu persegues” (At 9.5) - manifestação que Saulo (Paulo) depois equiparou às aparições do Jesus ressurreto aos outros (1Co 9.1; 15.8). Na visão de João em Apocalipse, Jesus ainda aparece como “um semelhante a filho de homem” (Ap 1.13), ainda que repleto de grande glória e poder e sua manifestação faça com que João caia de medo a seus pés (Ap 1.13-17). Ele promete um dia beber vinho novamente com seus discípulos no reino do Pai (Mt 26.29) e nos convida para uma grande ceia de casamento no céu (Ap 19.9). Além disso, Jesus permanecerá para sempre em seus ofícios como profeta, sacerdote e rei, todos atribuídos a ele pelo fato de ser para sempre tanto Deus 59

quanto homem. Todos esses textos indicam que Jesus não se tornou temporariamente homem, mas que sua natureza divina foi permanentemente unida à sua natureza humana, e ele vive para sempre não só como o Filho eterno de Deus, a segunda pessoa da Trindade, mas também como Jesus, o homem que nasceu de Maria, e como Cristo, o Messias e Salvador de seu povo. Jesus permanecerá para sempre plenamente Deus e plenamente homem, e ainda uma só pessoa.

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PECABILIDADE VERSUS IMPECABILIDADE DE CRISTO Pecabilidade Impecabilidade Definição Expressão chave

Cristo podia pecar Cristo não podia pecar Capaz de não pecar (Potuit non Incapaz de pecar (Non potuit peccare) peccare) Cristo foi tentado em todas as coisas Cristo foi tentado em todas as coisas como nós, mas não possuía uma Como nós, mas não cometeu pecado natureza pecaminosa (o pecado é visto (O pecado é visto no seu resultado). Hebreus 4.15 A verdadeira tentação admite a como natureza ou estado de possibilidade de sucumbir à tentação. existência). Questão da Verdadeira Se Jesus não podia pecar, como Se Jesus podia pecar, como poderia ser Humanidade ou poderia ser verdadeiramente humano? verdadeiramente divino? Verdadeira divindade Pontos de As tentações de Cristo foram reais (Hb 4.15). Convergências Cristo experimentou lutas (Mt 26.36-46). Cristo não pecou (2Co 5.21; Hb 7.26; Tg 5.6; 1Pe 2.22; 3.18; 1Jo 3.5). Argumentação Pró Pecabilidade Contra a Pecabilidade Lógica Pró e Contra a Se Cristo podia ser tentado, então ele Tentabilidade não implica em sua Pecabilidade poderia ter pecado. A pecabilidade é suscetibilidade. uma dedução necessária da Só porque um exército pode ser atacado tentabilidade. A tentação implica na não significa que pode ser vencido. Isso também resulta da falsa possibilidade do pecado. pressuposição de que aquilo que aplica a nós também se aplica necessariamente a Se Cristo não podia pecar, então a Cristo.

tentação não foi real e le não pode identificar-se com o seu povo. Embora as tentações de Cristo nem

sempre sejam exatamente como as

Se Cristo é impecável, então suas nossas, ele foi provado por meio de sua natureza humana como nós somos. No tentações foram leves. entanto, ele não tinha uma natureza Se Cristo não podia pecar, então ele pecaminosa e era também uma pessoa divina. não possuía livre-arbítrio. As tentações de Cristo foram em todos os sentidos, iguais às nossas, exceto no fato de que não se originaram em desejos maus e proibidos. Ele foi tentado a partir de fora, e não de dentro. Cristo manifestou o seu livre-arbítrio não pecando. Cristo era livre para fazer a vontade do Pai. Tendo a mesma vontade que o Pai, ele não era livre para ir contra aquela vontade.

Figura tirada de Teologia Cristã em Quadros HOUSE de H. Wayne. Vida, 1999.

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JESUS, O SENHOR 42 [p. 900] Esta é a designação mais característica e predominante para Jesus (Kyrios), nos escritos Paulinos e no cristianismo gentio em geral. As pessoas ingressavam à comunidade da Igreja através da crença na ressurreição e da confissão de Jesus como seu Senhor (Rm 10.9; 1 Co 1.2; cf. At 9.14,21; 22.16; 2 Tm 2.22). Cristo como Senhor é o centro da proclamação (2 Co 4.5). É um relacionamento pessoal e da Igreja como um todo: “Nosso Senhor Jesus Cristo” (28 vezes). “Nosso Senhor Jesus” (9 vezes). “Jesus Cristo nosso Senhor” (3 vezes). O confessor juntou-se à comunidade daqueles que reconhecem que Jesus é o Senhor, tanto dos vivos como dos mortos (Rm 14.9), exaltado acima de todos os poderes (deuses, senhores, quer reais ou imaginários) do kosmos (1 Co 8.5,6). Ali aguarda até o Dia do Senhor (que veio a se tornar o Dia do Senhor Jesus Cristo cf. 2 Ts 2.2; 1 Co 5.5; 2 Co 1.14), quando o último inimigo há ser subjugado aos seus pés. “Isto é claramente afirmado no grande hino cristológico em Filipenses 2.5-11[...] O significado do título Kyrios é encontrado no fato de ser Kyrios a tradução grega do tetragrama YHWH, o nome convencionado para Deus no Velho Testamento. O Jesus exaltado ocupa o papel do próprio Deus, no governo do Universo”. Paulo também menciona JESUS COMO O FILHO DE DEUS 43 Com alguma freqüência (Rm 1.3,4; Gl 4.4), para recebermos o status de filhos por adoção (Gl 4.5), Jesus é filho único, próprio, o Filho de seu amor - comum em natureza entre Pai e Filho (Rm 8.3,32; Cl 1.13); A imagem do Deus invisível, o Primogênito (prototokos = prioridade temporal ou soberania de posição). CRISTO, O ÚLTIMO ADÃO 44 [p. 889] - É entendido como embasamento do título Filho do Homem escatológico, “o homem do céu”, = o Senhor (I Co. 15.45-47), ele preexistia na forma de Deus (Senhor) (Fl 2.6).

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LADD, G. E. Teologia do Novo Testamento. 1ª ed. São Paulo: Hagnos, 2003, p. 574-576 LADD, G. E. Op. Cit., p. 576-580. 44 LADD, G. E. Op. Cit., p. 580-581. 43

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O LOGOS NO EVANGELHO DE JOÃO [p. 896] Para os apologista do segundo século da era cristã, o termo Logos era de extrema importância. Outros teólogos, no decorrer da história da teologia, também usaram bastante o termo. Devemos então nos perguntar a esta altura, o que realmente João quis dizer quando usou o termo Verbo. Precisamos então, agora, caminharmos um pouco pela teologia bíblica. É fato que Jesus nunca se referiu a si mesmo como Logos. O termo Logos aparece somente na chamada literatura Joanina (Jo 1.1, I Jo 1.1 e Ap 19.23: o( lo/goj tou= qeou). Parece que João apropriou-se deliberadamente de um termo amplamente conhecido, tanto no mundo helenístico como no judaico, com a finalidade de postular a importância de Cristo. O termo Logos, portanto, tem origem na reflexão teológica dos primeiros cristãos. Podemos considerá-lo como uma das primeiras criações da teologia cristã. Ele só aparece depois da morte de Jesus. Culmann nos diz que Logos é a “expressão mais acabada de toda cristologia”. De onde os cristãos tiraram o termo Logos? Da literatura judaica (AT) ou do mundo grego? Este tem sido um dos grandes debates dos exegetas sobre o termo. Para Bulttman o termo vinha do gnosticismo grego, já para Bruce a expressão é de origem essencialmente hebraica. Afinal de contas, quem tem a razão? Será que realmente temos que escolher entre o pano de fundo grego e hebraico? Geralmente os teólogos conservadores tendem a enfatizar a origem hebraico, e os liberais a origem grega. O pano de fundo hebraico pode ser visto na ligação de Jo 1.1 com Gn 1.1. Comparando-se o NT com a LXX, os dois livros começam com a mesma expressão (en arche). Não se trata, portanto, de mera coincidência. João quer demonstrar a relação do Verbo com o ato da criação. A mesma palavra criadora de Deus, é a palavra que se revela agora aos homens através de Jesus Cristo. Outro paralelo com o AT é o fato de que a palavra de Deus é sempre “Deus em ação”. Deus fala e realidades são criadas. Para isto basta vermos textos como Sl 107.20, 33.6, Is 55.11. A palavra de Deus é sempre criadora e redentora. Outra ligação com o AT é com a literatura sapiencial, onde a sabedoria é personificada (Pv 8). Através de uma imagem poética é descrita a sabedoria de Deus. Assim expressou-se Ladd: “Em tais passagens a sabedoria é uma personificação poética do poder de Deus em ação em todo o mundo”. Outra conexão como o AT pode ser visto no texto de Jo 1.4. João diz que o verbo habitou entre nós. A palavra grega traduzida por habitou é eskenosen, que vem da palavra skēnē (skhnh /), tabernáculo. Podíamos então parafrasear o texto como o Verbo tabernaculou entre nós. João mostra o Verbo como fonte de graça (charis - xa/rij) e 63

verdade (aletheia - a)lh/qeia), e podemos fazer uma conexão com o texto de Êx 34.6, onde é dito que Deus é cheio de misericórdia (heb. Hesed) e verdade (heb. Emeth). Barclay resume o pano de fundo judaico do termo Logos em duas afirmações: 1) No AT a palavra de Deus é muito mais do que um som, ela realmente fazia alguma coisa; 2) A ligação da palavra com a verdadeira sabedoria, que vem de Deus. Em Jesus temos tanto a palavra em ação como a verdadeira sabedoria. É claro o pano de fundo hebraico do termo Logos. A Palavra de Deus foi um importante conceito para os judeus; a criação veio a existir e foi preservada pela Palavra de Deus (Gn 1.3; Sl 33.6,9; 47.15-18). E a Palavra de Deus é a portadora da salvação e da nova vida (Sl 107.20; Is 4.8; Ez 37.4,5). No Antigo Testamento, a palavra não é meramente uma forma de expressão; é uma existência semihipostática, de forma que pode mover-se e cumprir o propósito divino (Is 55.10,11). A Palavra de Deus proferida na criação expressa por intermédio dos lábios dos profetas (Jr 1.4,11; 2.1) e na Lei (Sl 119.38,41,105), tem um certo número de funções que podem muito bem ser comparadas com aquelas atribuídas ao LOGOS em João. Agora vamos ver o pano de fundo helenístico-pagão do termo. Heráclito, em 560 a.C., será o primeiro filósofo a usar o termo. Heráclito, assim como João, exercia seu trabalho em Éfeso. Podemos então inferir que em Éfeso o termo já era bastante usado pelos filósofos de então. Para Heráclito, assim como para os estóicos, o Logos era a lei suprema do mundo que rege o universo. Era a emanação de Deus que mantinha a harmonia do cosmos. Neste sentido o termo não se refere a uma pessoa, mas sim a uma abstração. Em Platão, o termo terá uma existência real, mas no sentido do mundo das idéias características da filosofia platônica. O Logos, para os estóicos, também tinha o sentido do padrão que servia de base para uma vida moral racional. Já no judaísmo filosófico de Filo, o Verbo era o elo de ligação entre o Deus transcendente e os homens. Filo não falava de uma pessoa, mas de um poder que ligava Deus aos homens. Na literatura hermética o Logos era o plano de Deus tornado objetivo. Era a força que colocava os planos de Deus em ação. Há então na filosofia grega, uma série de sentidos para o termo. O termo Logos também aparece nas religiões da Grécia e do Egito. O deus grego Hermes é considerado um Logos, um revelador. Da mesma maneira é considerado o deus egípcio Thot. Nestas religiões, Logos é um ser celestial que traz ao mundo uma grande revelação. Agostinho também notou estes paralelos entre o Logos de João e o pensamento grego, em especial, o platônico. Agostinho dizia que na filosofia platônica podia-se ver que o Logos era divino e preexistente, porém o platonismo não dizia que o Verbo tinha sido feito carne, e também que os que crescem nele, tornar-se-iam filhos de Deus. O grande 64

teólogo de Hipona percebeu tanto as semelhanças como as diferenças com o conceito grego. Para resumirmos o pensamento grego sobre o Logos, podemos nos valer da definição de Bruce: O Logos, para os gregos, é “princípio da razão, ordem imanente do universo, o princípio que dá forma ao mundo e constitui a alma racional dos homens”. Qual das influências pesou mais? A grega ou a hebraica? Na verdade João teria em mente os dois panos de fundo. Ele usa “um termo comum na época para expressar a realidade ímpar revelada em Jesus”. João usou deliberadamente um termo que fazia algum sentido tanto para gregos e como para judeus. João tem uma mensagem nova e revolucionária: o evangelho de Jesus. Para comunicar esta novidade radical ele busca estabelecer pontes com o pensamento dos judeus e gregos. Ao mesmo tempo que usou o termo que fazia sentido para a sua época, João deixou claro que o Logos tinha um significado ainda mais profundo. Ao analisar o significado do termo entre os judeus e gregos, é possível traçar muitos paralelos. Porém nem o mundo grego, nem o judaico conseguem esgotar o significado que João quer dar ao Logos no prólogo do seu evangelho. A palavra Logos aparece também em João no sentido simples de palavra que é preciso ser ouvida (Jo 2.22 e 19.8). Vemos então que Jesus é a palavra que deve ser ouvida e crida. Neste sentido, o Logos significa que toda a vida de Cristo é o centro da revelação divina. Através de Jesus, Deus fala abertamente aos homens, que devem respondê-la com fé e obediência. Em Jesus temos não somente a palavra de Deus, como a própria ação de Deus. Deus que age desde a criação do mundo. Como bem se expressou Culmann: “A palavra de Deus é reconhecida como sua ação, o que estabelece uma relação natural com sua palavra criadora, pela qual já se revelou no princípio”. Neste ponto vemos a importância da ligação de Jo 1.1 com Gn 1.1. O Logos, como já vimos, possui ligações com o mundo judaico e grego, mas também é uma novidade. Ao mesmo tempo que todos já tinham percebido algo de Jesus, porém somente agora que era trazida a revelação plena. Culmann nos mostra muito bem esta verdade: “Em resumo, pode dizer que para o NT a Cristologia do Logos é constituída de dois elementos: o primordial é a certeza de ser a vida de Jesus o centro de toda revelação de Deus, portanto, a certeza de que Jesus é, em sua própria pessoa, aquilo que ele prega e ensina; com o auxílio do texto do Gênesis que narra a criação pela palavra, uma reflexão teológica a cerca da origem de toda revelação se apóia sobre esta certeza. O elemento secundário é a utilização de especulações contemporâneas sobre as hipóstases divinas. No 65

entanto, esta utilização não chega a ser um universalismo sincretista, mas um universalismo propriamente cristão”. O Logos pode ser entendido por cristão e judeus. O cristianismo é, portanto, universal. Porém isto não significa que entender algo do Logos bastava para ser salvo. É preciso ir além. É preciso também entender que o Logos, Jesus Cristo, está acima das definições anteriores do homem sobre o Logos. Principalmente no fato do Logos tornar-se homem e a importância de se crer nele para se tornar filho de Deus. Para Barclay o sentido do termo Logos usado para Jesus é o seguinte: 1) João estava vestindo o cristianismo com vestes que os gregos podiam compreender; 2) Estava lançando uma nova cristologia que mostrava Jesus como o poder criador e a mente encarnada de Deus. Para Barclay Jesus é “expressão perfeita do pensamento de Deus acerca dos homens”. A definição de Barclay mostra um interessante ponto de vista, porém fica por demais presa ao pensamento grego. Já George Ladd nos dá um resumo mais completo do sentido teológico do termo Logos: 1) Demonstrava a preexistência de Jesus (Comparar também Jo 8.58 com Ex 3.14); 2) Demonstrar a deidade de Cristo - “O Verbo era deidade, mas não era plenamente idêntico a deidade”; 3) O Verbo era agente da Criação (Cl 1.16); 4) A novidade da encarnação do verbo; 5) O Verbo encarnado era o grande revelador das verdades divinas (1.4-5; 1.14; 1.18). Realmente o prólogo de João nos mostra a divindade de Cristo? João usa a expressão grega theos en ho logos (o Verbo era Deus). A palavra Logos está precedida de artigo, demonstrando que é o sujeito da frase. Já a palavra theos não é precedida de artigo, e isto demonstra que é o predicado da frase. Pelo fato de theos não possuir artigo, as Testemunhas de Jeová defendem a tradução: “O Verbo era um deus”. Interessante que em outros textos do prólogo joanino (1.6,12,13,18), onde theos está sem artigo, os Testemunhas de Jeová traduzem “Deus” e não “um deus”. Na verdade o fato de theos não possuir artigo pode permitir tanto a tradução “Deus” como “um deus”. O que delimitará a escolha será o contexto, e o contexto do prólogo e de toda a Bíblia é claro: Jesus é Deus. As Testemunhas de Jeová também conhecem a regra, mas argumentam de forma incoerente que o contexto é que permite a tradução “um deus”. Tanto é a intenção de João de mostrar Jesus como Deus, que no final do Evangelho Tomé claramente chama Jesus de Deus (Jo 20.28). No final do evangelho, João retorna ao tema do prólogo. O termo Logos então nos mostra claramente o Verbo como Deus. Porém não estaria o termo confundindo Jesus com o Deus Pai, quando afirma que o Logos era Deus? Isto não acontece, pois João também afirma que o Logos estava com (pros) Deus. A palavra grega pros indica uma relação íntima, mas distinta. O Verbo estava intimamente com Deus, mas é uma pessoa diferente. Para ver outro caso do uso de pros ver Marcos 6.3. Ao mesmo tempo que com Logos, João afirma a divindade de Cristo, também afirma a sua humanidade. João diz claramente que o “Verbo se fez carne” (Jo 1.14). Uma tradução mais literal seria o “o verbo foi carne”, assim seria a melhor tradução do termo grego ginomai. João não estaria então afirmando apenas a divindade de Cristo. Não há nenhum 66

outro evangelho que chame tanto Jesus de homem (anthropos) como o de João (2.10, 4.29, 5.12, 7.46, 9.11, 9.16, 9.24, 9.33, 10.33, 11.47, 11.50, 18.17, 18.29, 19.5). Em João, até o próprio Jesus, coloca-se como homem (8.40). A ORTODOXIA “As duas naturezas de Cristo estão unidas numa única pessoa” (Hilário). “Cristo é uma só Pessoa de dupla substância; sendo tanto Deus quanto homem. Mediador entre Deus e o homem, Ele reúne ambas as naturezas em unicidade de pessoa” (Agostinho). “Aquele que Se tornou homem na forma de servo é, Aquele que na forma de Deus criou o homem” (Tomo de Leão). O constituinte essencial da hipóstase, isto é, da pessoa, é a alma. Tem-se hipóstase divina onde há Alma divina. Ora, no caso de Jesus Cristo há somente a Alma divina, que também exerce as funções da alma humana. Por isso, há só uma hipóstase nele, a hipóstase divina. Na história da Igreja houve dois Concílios que foram fundamentais para definir a questão das duas naturezas de Cristo; o primeiro deles foi o de Nicéia, reunido em 325 d.C., e o segundo – o mais importante – foi o de Calcedônia, reunido de 8 a 31 de outubro de 451 d.C., com a presença de mais de 500 bispos e vários delegados papais que, como de costume, o representavam. Calcedônia ratificou o Credo de Nicéia (325) e o de Constantinopla (381). Seu objetivo era estabelecer uma unidade teológica na Igreja. Seu Credo foi rascunhado em 22 de outubro por uma comissão presidida por Anatólio de Constantinopla, encontrando sua redação final, possivelmente, na 5ª Sessão, na quinta-feira de 25 de outubro. Calcedônia rejeitou o nestorianismo (duas pessoas e duas naturezas) e o eutiquianismo (uma pessoa e uma natureza), afirmando que Jesus Cristo é uma Pessoa, sendo verdadeiro Deus e verdadeiro homem (uma pessoa e duas naturezas). “... Calcedônia pronunciou-se não só contra a separação como contra a fusão das duas naturezas de Cristos. Todavia, a noção de mistério esteve presente nesta confissão, por isso ela não tenta explicar o que as Escrituras não esclareciam”. No quinto concílio de Constantinopla em 553, a doutrina de Leôncio de Bizâncio conhecida como Enipostasia foi aceita como ortodoxa. “O Logos eterno, o Filho de Deus, é o sujeito da encarnação”.45 Leôncio argumentou que, embora uma natureza – até mesmo humana – não possa existir sem uma hipóstase, não precisa ter sua própria hipóstase. Ela pode ser “hipostalizada” em outra. Ou seja, para Leôncio, “a natureza humana de Cristo não ficou sem hipóstase, mas se tornou hipostática [personalizada] na Pessoa do Logos”. A natureza humana de Cristo – a natureza humana plena e completa – não era anipostática (impessoal), nem propriamente pessoal, mas enipostática, que significa “personalizada na pessoa de outrem”.

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OLSON, Roger E. História das Controvérsias na Teologia. São Paulo. Editora Vida, 2004, p. 250-254.

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Na união hipostática a natureza humana de Cristo subsiste, é personalizada e recebe sua existência concreta, na hipóstase de sua natureza divina. “Portanto, a hipóstase em cristo é a do Verbo eterno e nela subsistem o divino bem como o humano. É por isso que podemos dizer que há, em cristo, uma ‘união enipostática’”. Em outras palavras, para Leôncio a natureza humana de Cristo possuía tudo que qualquer outro ser humano possui na sua condição não pecadora (inocência prístina), exceto uma existência pessoal independente da Pessoa do Verbo Divino. Jesus Cristo era e é a eterna segunda Pessoa da Trindade – O Verbo, o Filho de Deus -, com uma natureza humana e sua própria natureza divina, e é a “Pessoa” das duas naturezas. Segundo a doutrina da união hipostática conforme interpretada e afirmada pelo quinto concílio ecumênico: “embora possamos nos aventurar no processo mental de ver duas naturezas de Cristo na sua realidade, sempre devemos voltar à verdade fundamental de que ele é uma só Pessoa, o Logos que se fez homem, a quem pertencem propriedades tanto divinas como humanas e de quem são as ações e palavras, divinas e humanas, relatadas nas Escrituras”. Tomás de Aquino chegou a afirmar que a Pessoa do Logos tornou-se composta na encarnação, e Sua união com a natureza humana “impediu” esta última de chegar a ter uma personalidade independente. A natureza humana de Cristo recebeu em virtude de sua união com o Logos, a graça da união que lhe comunicou uma dignidade especial, de modo que até se tornou objeto de culto, e recebeu a graça habitual, que mantinha em sua relação com Deus Pai. Ghiorghiu Florovsky também insiste: “não há nenhuma hipóstase humana em Cristo” (Mondin).46 No homem há duas substâncias, matéria e espírito, intimamente unidas, sendo que há uma distinção entre espírito e alma. No homem o princípio de unidade, a pessoa, não tem sua sede no corpo, mas na alma. No mediador, no nosso Goel, o princípio de unidade, a pessoa, tem sua sede no Logos, na Alma Preexistente do Filho. Em nós seres humanos a influência da alma sobre o corpo e do corpo sobre a alma é mistério, porém, mistério maior encontramos na encarnação do Verbo de Deus. Tudo que acontece no corpo e na alma é atribuído à pessoa; assim, tudo que se dá nas duas naturezas de Cristo é atribuído à Sua Pessoa. A Bíblia diz que Deus não pode ser tentado (Tg 1.13). Mas o Deus Filho após a encarnação foi tentado (Hb 2.18). Tudo isso foi possível porque o Verbo Preexistente tomou posse de um corpo humano. O objeto do nosso culto religioso é o Deus e homem Jesus Cristo, mas a base sobre a qual o adoramos é a Pessoa do Logos. “Não foi o Trino Deus, mas a Segunda Pessoa da Trindade que assumiu a natureza humana. Por essa razão, é melhor dizer que o Verbo se fez carne, do que dizer que Deus se

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MONDIN, Battista. Os Grandes teólogos do Século Vinte. São Paulo: Edições Paulinas, Vol. 2, 1979-1980, p. 244.

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fez homem. Ao mesmo tempo, devemos lembrar que cada uma das Pessoas divinas agiu na encarnação” (Mt 1.20; Lc 1.37; Jo 1.14; At 2,30; Rm 8.3; Gl 4.4; Fp 2.7). Louis Berkhof (1873-1957) resume as “mais importantes implicações” da declaração teológica de Calcedônia, como segue: 1) As propriedades de ambas as naturezas podem ser atribuídas a uma só Pessoa (o Logos), como, por exemplo, onisciência e conhecimento limitado; 2) Os sofrimentos do Deus-Homem podem ser reputados como real e verdadeiramente infinitos, ao mesmo tempo que a natureza divina não é passível de sofrimento; 3) É a Divindade, e não a humanidade, que constitui a raiz e a base da personalidade de Cristo; 4) O Logos não se uniu a um indivíduo distinto, e, sim, à natureza. Não houve primeiro um homem já existente com quem se teria associado a Segunda Pessoa da Deidade. A união foi efetuada com a substância da humanidade no ventre da virgem.

A ORTODOXIA • JESUS CRISTO: UMA PESSOA E DUAS NATUREZAS DEUS HOMEM

Um decreto ou uma declaração teológica, por mais relevante que seja, não põe fim imediatamente a um sistema; a ortodoxia, por sua vez, não é criada através de pronunciamentos oficiais, embora saibamos que todos eles sejam necessários e relevantes para nortear a Igreja. Com isso estamos apenas querendo indicar que, do mesmo modo que Nicéia não colocou um ponto final na questão Trinitária, Calcedônia não determinou o fim dos problemas cristológicos. Como já indicamos, as heresias permanecem em diversas regiões, especialmente na Igreja Oriental. Contudo, Calcedônia se constitui num marco decisório na vida da Igreja, estabelecendo uma compreensão cristológica que, se não é a final, é a que pôde ser alcançada pelo Espírito dentro da Revelação. No entanto, a Palavra é a fonte de toda a genuína teologia, portanto, se Calcedônia estabeleceu balizas, e graças a Deus por isso, devemos permanecer sempre atentos à Palavra de Deus, à luz da qual nós e a nossa teologia seremos julgados. 69

Calvino (1509-1564) foi o Reformador que mais de perto seguiu o pronunciamento de Calcedônia; ele escreveu: “Com efeito, que se diz o Verbo haver-Se feito carne (Jo 1.14), não se deve assim entender que se haja sido ele ou convertido em carne, ou confusamente misturado à carne; ao contrário, porque no ventre da Virgem para si escolheu um templo em que habitasse, e Aquele Que era o Filho de Deus Se fez o Filho do Homem, não mediante confusão de substância, mas mercê de unidade de pessoa. Pois, na verdade, afirmamos ser a Divindade assim associada e unida à humanidade que a cada natureza permaneça integral sua propriedade e, todavia, dessas duas constitua um Cristo único”. A Confissão de Westminster (1647), a mais madura Confissão Reformada, declara: “O Filho de Deus, a segunda Pessoa da Trindade, sendo verdadeiro e eterno Deus, da mesma substância do Pai e igual a Ele, quando chegou o cumprimento do tempo, tomou sobre si a natureza humana com todas as suas propriedades essenciais e enfermidades comuns, contudo sem pecado, sendo concebido pelo poder do Espírito Santo no ventre da Virgem Maria, e da substância dela. As duas naturezas, inteiras, perfeitas e distintas – a Divindade e a Humanidade – foram inseparavelmente unidas em uma só pessoa, sem conversão, composição ou confusão; essa pessoa é verdadeiro Deus e verdadeiro homem, porém um só Cristo, o único Mediador entre Deus e o homem.” Do mesmo modo, o Catecismo Menor de Westminster (1647): “21. Quem é o Redentor dos eleitos de Deus?”. “O único Redentor dos eleitos de Deus é o Senhor Jesus Cristo, que, sendo o eterno Filho de Deus, se fez homem, e assim continua a ser Deus e homem em duas naturezas distintas, e uma só pessoa, para sempre”. “22. Como Cristo, sendo o Filho de Deus, se fez homem?”. “Cristo, o Filho de Deus, fez-se homem tomando um verdadeiro corpo e uma alma racional, sendo concebido pelo poder do Espírito Santo no ventre da virgem Maria, e nascido dela, mas sem pecado”.

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A OBRA DE CRISTO 47 EXPIAÇÃO A palavra ‘expiação’ aparece apenas uma vez no NT — em Romanos 5.11; mas na RSV esta palavra está adequadamente traduzida: ‘pelo qual temos recebido a reconciliação’. Enquanto a palavra em si não é uma palavra do Novo Testamento, a idéia de que a morte de Cristo contornou o problema do pecado humano e reconciliou os homens com Deus é uma das idéias centrais do Novo Testamento. A morte de Cristo é tema central na estrutura do pensamento Paulino. Um exemplo disto é a declaração confessional que Paulo recebeu da igreja primitiva (1 Co 15.3), e “Em quase todas as suas cartas, Paulo menciona, de uma forma ou de outra, a morte de Cristo (Rm 5.6 e ss.; 8.34; 14.9,15; 1 Co 8.11; 15.3; 2 Co 5.15; Gl 2.21; 1 Ts 4.14; 5.10), seu sangue (Rm 3.25; 5.9; Ef 1.7; 2.13; Cl 1.20), sua cruz (1 Co 1.17 e s; Gl 5.11; 6.12, 14; Ef 2.16; Fl 2.8; Cl 1.20; 2.14), ou sua crucificação (1 Co 1.23; 2.2; Gl 3.1; 2 Co 13.4). O AMOR DE DEUS A morte de Cristo é a revelação suprema do amor de Deus (embora a base tanto no NT ou VT, para a reconciliação por meio de Cristo, é a ira de Deus - a exigência de um sacrifício aceitável Rm 3.21 e ss.; 1.18; Gl 6.7). A cruz é a medida do Amor de Cristo, mesmo de Deus (2 Co 5.19; Gl 2.20; 2 Co 5.14; Ef 5.25) EXPIATÓRIA “Paulo vê a morte de Cristo como uma morte expiatória”. Associada com o ritual e conceito de sacrifício do VT (Rm 3.25 alusão à oferta pelo pecado oferecida pelo Sumo Sacerdote no dia da Expiação; Ef 5.2 Oferta e sacrifício a Deus em cheiro suave; 1 Co 5.7 Cristo, nosso cordeiro pascal, sacrificado; através do seu sangue temos um propiciador Rom. 3.25, que nos justifica Rm 5.9, nos redime Ef 1.7, nos aproxima de Deus Ef 2.13 e nos outorga a paz Cl 1.20). VICÁRIA Teologicamente é usada a palavra “vicária”, para significar que Cristo não morreu meramente como um homem comum e por causa própria. Ele ‘morreu por nós’(1 Ts 5.10; Rm 5.8, 32; Ef 5.2; Gl 3.13). Ele indicou que tipo de morte teria (Mc 10.45) “para... resgate de muitos”.

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LADD, G. E. Teologia do Novo Testamento. 1ª ed. São Paulo: Hagnos, 2003, p. 585-600.

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SUBSTITUTIVA Ele foi o único que não conheceu pecado (2 Co 5.21) no entanto ele sofreu a morte no lugar de todos os culpados (pecadores) que mereciam morrer, por causa dela fomos libertados da condenação e da experiência da ira de Deus. Cristo já morreu por todos, “logo todos morreram” (2 Co 5.14; nos identificamos com Cristo na sua morte, Gl 2.20 Ele morreu em meu lugar, agora serei poupado dessa morte (2 Co 5.15; 1 Tm 2.6; Gl 3.13; Ef 2.8,9). PROPICIATÓRIA A palavra “propiciação” (hilasterion - i(lasth/rion) está no centro da doutrina de Paulo acerca da morte de Cristo (Rm 3.24,25), “Através da morte de Cristo, o homem é liberto da morte; ele é absolvido de sua culpa e justificado; é efetuada uma reconciliação, pela qual a ira de Deus não precisa mais ser temida. A morte de Cristo salvou o crente da ira de Deus, de modo que ele não mais espera pela ira de Deus, mas pela vida (1 Ts 5.9) . A culpa e a condenação do pecado foram carregados por Cristo; a ira de Deus foi propiciada”. Sobre a ira de Deus ver (Rm 1.18; 1.32; 2.5, 12; 6.23). Um reconhecimento total do caráter propiciatório, substitutivo, da morte de Cristo não tem que permitir-nos negligenciar ou menosprezar a doutrina de que a morte de Cristo, como uma demonstração do amor divino, está designada a atear uma reação amorosa nos corações dos homens. O objetivo e o caráter substitutivo da morte de Cristo como a demonstração suprema do amor de Deus deve resultar numa transformação de conduta executada pelo poder restritivo desse amor. Aqueles que reconhecem e admitem este amor têm que submeter-se ao seu poder controlador; porque Cristo morreu por todos, os homens não devem mais se dedicar à satisfação de seus próprios desejos, mas a ele, que, por amor a eles, morreu e ressuscitou (2 Co 5.14,15). A influência moral da morte de Cristo sobre as vidas dos homens não deve ser ignorada, porque se tem abusado deste ensino e erroneamente feito dele a verdade central da expiação. O amor de Cristo manifestado em dar-se a si mesmo como um sacrifício a Deus deve ser imitado através de se andar em amor (Ef 5.2). O exemplo de total humildade de Cristo em submeter-se em perfeita obediência a Deus, mesmo essa obediência levando a morte na cruz, deve ser emulada pela conduta humilde de seus discípulos em seus relacionamentos uns com os outros (Fl 2.5 e ss). O significado propiciatório, substitutivo, os benefícios do qual devem ser recebidos, pela fé, como uma dádiva de graça; mas a influência subjetiva de sua morte, em despertar a reação de amor nos corações dos homens, não pode ser nem negada nem ignorada. Há tanto uma significação objetiva como uma subjetiva na morte de Cristo. REDENTORA Palavras usadas no grego clássico e helenístico denotam que houve um preço pago para resgatar o homem que estava sob o penhor da escravidão. Tito 2.14 (lutroō – lytróomai 72

- lutro/omai) “para nos remir”; Mc 10.45 (lutron - lu/tron) “em resgate de muitos”; 1 Tm 2.6 (antilutron - a)nti/lutron) “em resgate por todos”. “O uso de anti sugere substituição. A morte de Cristo foi um resgate-substitutivo”. Rm 3.24,25 (apolutrosis a)polu/trwsij) “mediante a redenção” (Ef 1.7). 1 Co 6.19,20 (agorazo - a)gora/zw) “fostes comprados por preço”. Gl 3.13 (exagorazo - e)cagora/zw) “Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se maldição por nós” (cf. 4.4,5). “Morris resume adequadamente a doutrina da redenção, incluindo ambos os grupos de palavras”: (a) O estado, para fora do qual o homem deve ser redimido. Isto é semelhante à escravidão, que o homem não pode romper; assim a redenção contém a intervenção de uma pessoa de fora, que paga o preço que o homem não pode pagar. (b) O preço que é pago. O pagamento de um preço é um elemento necessário na idéia da redenção; e Cristo pagou o preço de nossa redenção. (c) O estado resultante do crente. Isto se expressa num paradoxo. Somos redimidos para a liberdade, como filhos de Deus; mas esta liberdade significa escravidão a Deus. A questão total desta redenção é que o pecado não mais tem domínio. Os redimidos são aqueles que foram salvos para fazerem a vontade de seu Mestre”. REDENTOR – HO RHUÓMENOS - o( r(uo/menoj – go’el 48 [p. 578, 595-597] No Novo Testamento, Jesus é tanto o “Resgatador” quanto o “Resgate”; os pecadores perdidos são os “resgatados”. Ele declara que veio “para dar a sua vida em resgate (gr. Lutron - lu/tron) de muitos” (Mt 20.28; Mc 10.45). Era um “livramento [gr. Apolutrosis] efetivado mediante a morte de Cristo, que libertou da ira retribuitiva de Deus e da penalidade merecida do pecado”. Paulo liga a nossa justificação e o perdão dos pecados à redenção que há em Cristo (Rm 3.24; Cl 1.14, apolutrosis nestes dois textos). Diz que Cristo “para nós foi feito por Deus sabedoria, e justiça, e santificação, e redenção” (1 Co 1.30). Diz também que Cristo “se deu a si mesmo em preço de redenção [gr. Antilutron] por todos” (1Tm 2.6). O Novo Testamento demonstra claramente que Ele proporcionou a redenção mediante o seu sangue (Ef 1.7; Hb 9.12; 1Pe 1.18,19; Ap 5.9), pois era impossível que o sangue dos touros e dos bodes tirasse os pecados (Hb 10.4). Cristo nos comprou (1 Co 6.20; 7.23, gr. Agorazo) de volta para Deus, e o preço foi o seu sangue (Ap 5.9). “E, assim, todo o Israel será salvo, como está escrito: De Sião virá o Libertador (Go’el = rhuómenos - r(uo/menoj), e desviará de Jacó as impiedades” (Rm 11.26). “E é dessa forma que todo o Yisra’el será salvo. Como diz o Tanakh: De Tziyon virá o Redentor (Go’el), ele afastará a impiedade de Ya’akov”. (Rm 11.26) - Novo Testamento Judaico de David Stern. Romanos 11.26 é uma citação de Is 59.20. 48

BENTES, A. Carlos G. O DIA DO SENHOR. Apostila. Lagoa Santa, MG: Edição Própria, 2008, p. 44-50.

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“Usou a justiça como couraça, pôs na cabeça o capacete da salvação; vestiu-se de vingança e envolveu-se no zelo como numa capa. Conforme o que fizeram lhes retribuirá: aos seus inimigos, ira; aos seus adversários, o que merecem; às ilhas, a devida retribuição. Desde o poente os homens temerão o nome do Senhor, e desde o nascente, a sua glória. Pois ele virá como uma inundação impelida pelo sopro do Senhor. O Redentor (Go’el) virá a Sião, aos que em Jacó se arrependerem dos seus pecados”, declara o Senhor” (Is 59.17-20 - NVI). “Virá o Redentor (GO’EL) a Sião e aos de Jacó que se converterem, diz o SENHOR” (Is 59.20). Charles Ryrie na Bíblia Anotada faz o seguinte comentário sobre este último texto: “Em seu segundo advento Ele (Go’el) julgará Seus inimigos (v.v. 17-19) e trará salvação a Israel (v.v. 20,21; Rm 11.26,27). A palavra aqui traduzida por Redentor (Is 59.20) significa Parente Resgatador; i.e., alguém que tem laços de sangue com aqueles que resgata, o que indica a necessidade da encarnação (Hb 2.14-16)”. QUEM É O GO’EL? Era tanto o Parente Remidor como também o Parente Vingador (Nm 35.12-19). A Bíblia Vida Nova49 traz o seguinte comentário: “Era o costume do parente próximo de um injustiçado reivindicar justiça por este: isto era uma garantia de que sempre haveria alguém interessado em trazer o malfeitor à punição. A lei do refúgio era a maneira de Deus preservar este costume contra o Vingador (Go’el) injusto e cruel”. O Senhor providenciou seis (06) cidades de refúgio nas quais, as pessoas culpadas de homicídio acidental, podiam buscar proteção com segurança, protegendo-se do Vingador do Sangue até serem julgadas (Nm 35.11,12). “Se o Vingador do Sangue (Go’el) achar o homicida fora dos termos da cidade de refúgio e matá-lo, não será culpado do sangue” (Nm 35.27). A palavra GO’EL – Vingador do sangue vem do verbo “retribuir” que também significa “redimir” no sentido de comprar algo de volta pelo preço do resgate. Jesus tanto é o Parente Remidor como também é o Parente Vingador. Stanley M. Horton diz:50 A Bíblia emprega a metáfora do resgate ou da redenção para descrever a obra salvífica de Cristo. O tema aparece muito mais freqüentemente no Antigo Testamento que no Novo. O tema aparece muitas vezes no Antigo Testamento, referindo-se aos ritos da “redenção”! No tocante às pessoas ou bens (cf. Lv 25; Rt 3 e 4, que empregam a palavra hebraica ga’al). O “Parente redentor” funciona como um go’el. O próprio YAHWEH é o Redentor (heb. Go’el) do seu povo (Is 41.14; 43.140, e eles são os redimidos (heb. ge’ulim, Is 35.9; 62.12). O Senhor tomou medidas para redimir (heb. padhah) os primogênitos (Êx 49 50

SHEDD, Dr. Russel P. Bíblia Vida Nova. São Paulo: Edições Vida Nova, 1976, p.189. Stanley M. Horton. Teologia Sistemática. 1ª ed. Rio de Janeiro: CPAD, 1996, p.356,357.

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13.13-15). Ele redimiu Israel do Egito (Êx 6.6; Dt 7.8; 13.5) e também os remirá do exílio (Jr 31.11). Às vezes Deus redime um indivíduo (Sl 49.15; 71.23); ou um indivíduo ora, pedindo a redenção divina (Sl 26.11; 69.18). Mas a obra divina na redenção é primariamente moral no seu escopo. Em alguns textos bíblicos, a redenção claramente diz respeito aos assuntos morais. Salmos 103.8 diz: “Ele remirá a Israel de todas as suas iniqüidades”. Isaías diz que somente os “remidos”, os “resgatados”, andarão pelo chamado “O Caminho Santo” (Is 35.8-10). Diz ainda que a “filha de Sião” será chamada “povo santo, os remidos do Senhor” (Is 62.11,12). REDENÇÃO “O cristianismo não é um circulo, com um só centro, mas, sim, uma elipse, que tem dois focos – as doutrinas da Redenção e do Reino de Deus” (Albrecht Ritschl). A redenção consiste do processo de RESTAURAR, ao proprietário original, algo que ele perdeu ou vendeu. Apokatástasis. Em o Novo Testamento, a forma nominal da palavra grega “apokathistemi” (restaurar) é usada apenas uma vez em Atos 3.21 (a)pokata/stasij-Apokatástasis). A palavra significa literalmente estabelecer algo novo em sua ordem original. Esta palavra era usada no mundo secular grego para indicar a volta do legítimo proprietário à posse de sua casa ou fazenda. Quando a alma é redimida, é então restaurada a Deus. O corpo será redimido: “... aguardando a adoção de filhos, a REDENÇÃO do nosso corpo” (Rm 8.23). A terra será redimida: “... até ao RESGATE da sua propriedade...” (Ef 1.14). Toda a redenção envolve purificação. A Bíblia reconhece apenas dois agentes purificadores: um é o sangue, e o outro é o fogo. O Ponto de Vista reformado da Redenção: 51 “A cosmovisão reformada se distingue das demais em alguns pontos fundamentais. Primeiro, ela estabelece a autoridade suprema das Escrituras, entendida como a revelação da mente de Deus ao homem como único ponto de partida para a construção de uma cosmovisão essencialmente cristã. Em segundo lugar, ela oferece um escopo integral nãodualista para a formação de uma cosmovisão a partir da união dos três aspectos fundamentais da revelação bíblica, a tríade criação-queda-redenção. E por último salientamos a visão reformada plena da soberania de Deus sobre a criação e o escopo integral da queda e a redenção total de Deus, em Cristo Jesus”. “Na tradição reformada a graça restaura a natureza, ou seja, o escopo da salvação de Cristo não se aplica apenas à dimensão espiritual do homem, mas à criação toda” (O planeta Terra e todo o Universo). 51

CARVALHO, V. R. G. COSMOVISÃO CRISTÃ E TRANSFORMAÇÃO. Viçosa, MG: Editora Ultimato, 2006, p. 53.

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A redenção envolve a alma, o corpo e a terra toda: Rm 8.23: “E não só ela, mas nós mesmos, que temos as primícias do Espírito, também gememos em nós mesmos, esperando a adoção, a saber, a redenção do nosso corpo”. Ef 4.30: “E não entristeçais o Espírito Santo de Deus, no qual estais selados para o dia da redenção”. Mt 19.28: “E Jesus disse-lhes: Em verdade vos digo que vós, que me seguistes, quando, na regeneração, o Filho do Homem se assentar no trono da sua glória, também vos assentareis sobre doze tronos, para julgar as doze tribos de Israel” (no Milênio). Lc 22.29,30: “Assim como meu Pai me confiou um reino, eu vo-lo confio, para que comais e bebais à minha mesa no meu reino; e vos assentareis em tronos para julgar as doze tribos de Israel” (no Milênio). As duas grandes palavras proféticas são: 1. 2.

Regeneração; Redenção.

A história inteira da humanidade pode ser contada com apenas três palavras:

1. Geração; 2. Degeneração; 3. Regeneração. A Regeneração consiste do processo de restaurar, ao seu estado original, algo que sofreu um processo de Degeneração. O termo “regeneração” aparece apenas duas vezes no Novo Testamento (Mt 19.28; Tt 3.5). No evangelho de Mateus, tem um sentido escatológico, referindo-se à restauração de todas as coisas. Certamente a renovação do indivíduo faz parte da restauração universal. Na epístola de Tito, tem um sentido individual e fala da renovação de cada pessoa, bem como da transformação da personalidade humana. Porém, em ambos os casos o agente dessa transformação, é o Espírito Santo. “Mateus 19:28: “E Jesus disse-lhes: Em verdade vos digo que vós, que me seguistes, quando, na regeneração, o Filho do Homem se assentar no trono da sua glória, também vos assentareis sobre doze tronos, para julgar as doze tribos de Israel”. “Regeneração, um novo nascimento. O termo era comum no Estoicismo para as restaurações periódicas do mundo natural. Também era usada em sentido escatológico,

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especialmente pelos judeus, para a renovação do mundo na época do Messias. Em Mt 19.28 a palavra é usada em sentido cósmico”.52 Regeneração. É o renascimento da criação. Agora, a criação geme e suporta angústia, mas será redimida do cativeiro quando Cristo voltar (Rm 8.19-22). Grandes mudanças topográficas ocorrerão (Zc 14.4,5,8,10; Is 35.1,2; 55.13). A natureza dos animais ferozes será transformada (Jl 2.22-27; Is 35.2,6,7; Ez 34.26,27), colheitas fracassadas somente ocorrerão para aqueles que deixarem de ir adorar em Jerusalém (Zc 14.16-19). A vida humana será prolongada, mas haverá mortes durante este período (Is 65.20), pois a morte, o último inimigo, só será destruída no final dos mil anos (1 Co 15.24-28; Ap 20.714; Is 25.7,8). Como espiritualizar todas essas predições? Certamente serão cumpridas de maneira literal. Não é filosofia humana, mas, sim, a Revelação Divina, que projeta luz sobre o futuro. TRIUNFANTE A morte de Cristo obteve triunfo sobre todos os poderes cósmicos (Cl 2.15). Ele está reinando até que todos os inimigos sejam postos debaixo de seus pés: (1 Co 15.24,25). Seja regentes políticos como Pilatos ou Herodes; ou sejam poderes angelicais, todos estão derrotados na vitória de Cristo na cruz (Cf. Cl 2.15). Há também a vitória escatológica quando a Pedra esmiuçará a estátua (Dn 2) e encherá a terra (Dn 2.35,44,45). O Parente Vingador – Go’el [gr. rhuómenos - r(uo/menoj] tomará vingança e remirá Israel e sua terra. Para Israel, Jesus é o Parente Remidor, para os seus inimigos Ele é o Parente Vingador. (A Pedra esmiuçará a estátua que representa todos os reinos gentios). Ora, o último inimigo a ser destruído é a morte. Pois se lê: Todas as coisas sujeitou debaixo de seus pés. Mas, quando diz: Todas as coisas lhe estão sujeitas, claro está que se excetua aquele que lhe sujeitou todas as coisas. E, quando todas as coisas lhe estiverem sujeitas, então também o próprio Filho se sujeitará àquele que todas as coisas lhe sujeitou, para que Deus seja tudo em todos (1 Co 15.24-28). Será estabelecido o Reino de Deus - no qual tanto Israel como a Igreja e os Gentios - as nações justas (o trigo) terão parte no Estado Eterno. E todos serão chamados Povos de Deus: “Agora o tabernáculo de Deus está com os homens, com os quais ele viverá. Eles serão os seus povos (no grego está no plural, laoi\-laoí); o próprio Deus estará com eles e será o seu Deus” (Ap 21.3).

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ROGER, Cleon e RIENECKER, Fritz. Chave Lingüítica do Novo Testamento Grego. 1ª ed. São Paulo: Edições Vida Nova, 1985, p. 486.

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RESUMO TEOLÓGICO 53 TEOLOGIA DO APÓSTOLO JOÃO João filho de Zebedeu e de Salomé, irmão menor de Tiago, foi um dos primeiros discípulos e ser escolhido pelo Senhor e o último a morrer, humilde e simples, conhecido com Apóstolo do Amor. O centro, a base, o alicerce da teologia de João é a pessoa de Cristo. Ele introduz sua teologia apresentando três declarações que excedem o entendimento do ser humano. João 1.1,2 No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio com Deus. Este princípio é diferente de iniciar, começar, partida. Gênesis 1.1 “No princípio criou Deus os céus e a terra”. Este princípio é indefinido. É um tempo quando por um ato soberano Deus criou o universo. João guiado pelo Espírito Santo nos conduz para além das eternidades passadas. Esta teologia é chamada de Cristocêntrica, porque para o apóstolo, Cristo é tudo. Não é uma teologia apenas da razão, é uma teologia do Espírito. A mensagem de João mostra que Deus pode ser conhecido em Jesus Cristo. João 16.13 Quando vier, porém, aquele, o Espírito da verdade, ele vos guiará a toda a verdade; porque não falará por si mesmo, mas dirá o que tiver ouvido, e vos anunciará as coisas vindouras. TEOLOGIA DO APÓSTOLO PEDRO Pedro era um homem modesto, simples, pescador e observador, sincero e por natureza impulsivo, sempre falando, sempre ativo tomava a frente com facilidade, violento, instável etc... Pedro dirigia-se aos cristãos dispersos pelas províncias da Ásia Menor, para confortar os que fieis que sofrem as perseguições em muitos lugares. Lucas 22: 31 - 33 Simão, Simão, eis que Satanás vos pediu para vos cirandar como trigo; mas eu roguei por ti, para que a tua fé não desfaleça; e tu, quando te converteres, fortalece teus irmãos. Respondeu-lhe Pedro: Senhor, estou pronto a ir contigo tanto para a prisão como para a morte. Para edificação dos novos convertidos não somente dos judeus mas, também, entre os gentios. Para alertar aos cristãos sobre as falsas doutrinas que iam entrado nas igrejas. O Conceito de Pedro sobre a Pessoa de Cristo 1 Pedro 1.3 Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que, segundo a sua grande misericórdia, nos regenerou para uma viva esperança, pela ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos, Jesus é apresentado por Pedro como o Salvador cuja obra redentora foi consumada no gólgota. Jesus é considerado a Pedra Viva e Preciosa para os crentes, e pedra de tropeço para os incrédulos, conforme descrito no capítulo 2.4-10 da primeira epístola de Pedro. Jesus é o exemplo que devemos seguí-lo. 53

FERRAZ, José. TEOLOGIA SISTEMÁTICA DO NOVO TESTAMENTO. www.adoração.com.

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Jesus é fiel para com os seus; Ele voltará para recompensar a seus servos, 1 Pedro 5.1-11. Muitos dos seus ensinos ele aprendeu diretamente de Jesus Cristo: ENSINOS DE JESUS

ENSINOS DE PEDRO

Mateus 13.17 Pois, em verdade vos digo que muitos profetas e justos desejaram ver o que vedes, e não o viram; e ouvir o que ouvis, e não o ouviram.

1 Pedro 1.10 Desta salvação inquiririam e indagaram diligentemente os profetas que profetizaram da graça que para vós era destinada

João 21.15 Depois de terem comido, perguntou Jesus a Simão Pedro: Simão Pedro: Simão, filho de João, amas-me mais do que estes? Respondeu-lhe: Sim, Senhor; tu sabes que te amo. Disse-lhe: Apascenta os meus cordeirinhos.

1 Pedro 5.2 Apascentai o rebanho de Deus, que está entre vós, não por força, mas espontaneamente segundo a vontade de Deus; nem por torpe ganância, mas de boa vontade;

Lucas 22.31 Simão, Simão, 1 Pedro 5.8 Sede sóbrios, eis que Satanás vos pediu para vos vigiai. O vosso adversário, o cirandar como trigo; Diabo, anda em derredor, rugindo como leão, e procurando a quem possa tragar; TEOLOGIA DO APÓSTOLO PAULO Era da tribo de Benjamim, nativo da cidade de Tarso, tinha cidadania romana como direito de nascença, de família influencial, tinha herança judaica, grega e romana. Sua natureza era profundamente religiosa. Era homem educado em toda cultura secular. No caminho de Damasco, numa intervenção divina, o Senhor se revela a ele. Assim passa a reconhecer que os cristãos a quem perseguia pertenciam ao Senhor Jesus Cristo. Houve uma transformação instantânea. Tema central de seus ensinamentos é a Graça. Vejamos: Efésios 2.8 Porque pela graça sois salvos, por meio da fé, e isto não vem de vós, é dom de Deus; Romanos 3.24 sendo justificados gratuitamente pela sua graça, mediante a redenção que há em Cristo Jesus, 1 Coríntios 15.10 Mas pela graça de Deus sou o que sou; e a sua graça para comigo não foi vã, antes trabalhei muito mais do que todos eles; todavia não eu, mas a graça de Deus que está comigo. Efésios 3.8 A mim, o mínimo de todos os santos, me foi dada esta graça de anunciar aos gentios as riquezas inescrutáveis de Cristo, 79

Paulo apresenta a Graça como uma atitude de Deus para com o homem, Ef 2.7; uma obra em seu favor, Tito 2.11; um Dom concedido ao homem, Ef 4.7. Gálatas 5.16 Digo, porém: Andai pelo Espírito, e não haveis de cumprir a cobiça da carne. Paulo ao referir-se em “andai em espírito “ que dizer que devemos usar nossas qualidade para inclinar-se à Deus. No cristão a vida espiritual é o domínio das inclinações da carne. É o viver consciente no Espírito. Sua teologia enfatiza o homem em seu estado completo. Corpo, Alma e Espírito. 1 Tessalonicenses 5.23 E o próprio Deus de paz vos santifique completamente; e o vosso espírito, e alma e corpo sejam plenamente conservados irrepreensíveis para a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo. 2 Pedro 2.13 recebendo a paga da sua injustiça; pois que tais homens têm prazer em deleites à luz do dia; nódoas são eles e máculas, deleitando-se em suas dissimulações, quando se banqueteiam convosco; 2 Coríntios 2.3 E escrevi isto mesmo, para que, chegando, eu não tenha tristeza da parte dos que deveriam alegrar-me; confiando em vós todos, que a minha alegria é a de todos vós. 1 Tessalonicenses 1.6 E vós vos tornastes imitadores nossos e do Senhor, tendo recebido a palavra em muita tribulação, com gozo do Espírito Santo. Hebreus 4: 12 Porque a palavra de Deus é viva e eficaz, e mais cortante do que qualquer espada de dois gumes, e penetra até a divisão de alma e espírito, e de juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e intenções do coração. O Conceito de Paulo sobre o Pecado Romanos 5.21 Para que, assim como o pecado veio a reinar na morte, assim também viesse a reinar a graça pela justiça para a vida eterna, por Jesus Cristo nosso Senhor. O pecado é uma realidade e Paulo o apresenta como uma herança de Adão. Romanos 5.12 Portanto, assim como por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte, assim também a morte passou a todos os homens, porquanto todos pecaram. Adão fora criado para viver eternamente e continuaria nesta condição se não houvesse pecado. Toda a criação sofre por causa do pecado, este é universal e afeta toda natureza e não somente o homem. Romanos 8.19-22 Porque a criação aguarda com ardente expectativa a revelação dos filhos de Deus. Porquanto a criação ficou sujeita à vaidade, não por sua vontade, mas por causa daquele que a sujeitou, na esperança de que também a própria criação há de ser liberta do cativeiro da corrupção, para a liberdade da glória dos filhos de Deus. Porque sabemos que toda a criação, conjuntamente, geme e está com dores de parto até agora; O Conceito de Paulo sobre a Pessoa de Cristo Cristo foi o tema central da pregação de Paulo, a morte foi para que os nossos pecados fossem apagados e conseqüentemente as nossas almas resgatadas e alcançarmos a reconciliação com Deus.

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No ensinamento de Paulo abrange também a vinda do Senhor. Ele destaca essa vinda em duas fases, para arrebatar a Igreja onde não será visto pelo mundo incrédulo e Jesus vindo em glória para implantar o milênio aqui na terra esta vinda será visível a todo olho: Para arrebatar a Igreja: 1 Co 15.50-52; 1 Ts 4.16-17. Para implantar o milênio. Mt 24.29-30; 2 Ts 1.7. O Conceito de Paulo sobre o Espírito Santo A Ação do espírito Santo no ministério do apóstolo era real. Paulo nos orienta a termos uma vida totalmente voltada para a submissão ao Espírito Santo. A santificação, o crescimento na graça são frutos do viver no Espírito. O Espírito Santo é Deus operando no aperfeiçoamento do Corpo de Cristo, a Igreja. A Igreja aparece como corpo onde Cristo é a cabeça. TEOLOGIA NA EPÍSTOLA AOS HEBREUS A Superioridade de Cristo A fim de impedir seus leitores de retornarem ao judaísmo, o autor ressalta a superioridade de Cristo, especialmente em relação a várias características do judaísmo originadas do Antigo Testamento. O tema é a superioridade de Cristo, um tema reiterado por toda a obra, mediante exortações para que seus leitores não apostatassem da fé cristã. Cristo é superior aos profetas do Antigo Testamento, o herdeiro do universo, o criador, o reflexo exato da natureza divina, o sustentador da vida, o purificador dos pecados, o Ser exaltado e, por conseguinte, a última e mais excelente palavra de Deus ao homem (vide 1.1-3a). Cristo também é superior aos anjos, porque Cristo é o Filho divino e criador eterno, mas os anjos são apenas servos e seres criados (vide l.3b-2.18). Era mister que Ele se tivesse tornado um ser humano a fim de estar qualificado como aquele que, por Sua morte, pudesse elevar o homem. Cristo é superior a Arão e seus sucessores no ofício sumo sacerdotal. O autor da epístola aos Hebreus primeiramente destaca dois pontos de semelhança entre os sacerdotes arônicos e Jesus Cristo: 1- À semelhança de Arão, Cristo foi divinamente nomeado ao sumo sacerdócio; 2- Ao compartilhar de nossa experiência humana, Cristo adquiriu por nós uma simpatia pelo menos igual àquela de Arão. Os itens frisados da superioridade de Cristo sobre Arão são: 1. Cristo se tornou sacerdote em virtude de um juramento divino, mas não assim com os aronitas; 2. Cristo é eterno, ao passo que os aronitas morriam e tinham de ser substituídos; 3. Cristo é impecável, ao passo que os aronitas não o eram; 4. As funções sacerdotais de Cristo envolvem as realidades celestiais, mas as dos aronitas dizem respeito somente a símbolos terrenos; 5. Cristo ofereceu-se a Si mesmo voluntariamente como um sacrifício que jamais precisará ser repetido, ao passo que as repetitivas ofertas de animais desmascaram a sua ineficácia, pois animais inferiores não podem tirar os nossos pecados;

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6. O próprio Antigo Testamento, escrito durante o período do sacerdócio arônico, predizia que sobreviria uma nova aliança, que tornaria obsoleto ao antigo pacto, segundo o qual funcionava o sacerdócio arônico. Exortações Finais A epístola aos Hebreus, encoraja os seus leitores a uma contínua perseverança, citando, como exemplos, os heróis da fé do Antigo Testamento, e, finalmente, citando a pessoa de Jesus como o mais extraordinário exemplo de paciente perseverança sob os sofrimentos, após o que recebeu o seu galardão. Em conclusão, o escritor sagrado exorta os seus leitores ao amor mútuo, à hospitalidade (especialmente necessária naqueles dias, para os pregadores itinerantes), à simpatia, ao uso saudável e moral do sexo, dentro do matrimônio, evitar a avareza, à imitação dos líderes eclesiásticos, evitar os ensinamentos distorcidos, à aceitação conformada diante da perseguição, às ações de graças, à generosidade e à oração. Ler Hebreus 10.19 -13.25. TEOLOGIA DE TIAGO Tiago, líder da Igreja de Jerusalém e irmão do Senhor Jesus Cristo e não o apóstolo. Embora não fosse crente em Jesus, durante o ministério público do Senhor. Tiago foi testemunha do Cristo ressurreto. 1 Coríntios 15.5-7 que apareceu a Cefas, e depois aos doze; depois apareceu a mais de quinhentos irmãos duma vez, dos quais vive ainda a maior parte, mas alguns já dormiram; depois apareceu a Tiago, então a todos os apóstolos. A epístola de Tiago é o livro prático do Novo Testamento, como Provérbios o é do Antigo. De fato, suas declarações francas e concisas de verdades morais têm semelhança notável com Provérbios. Ela contém muito poucas instruções doutrinárias; o seu propósito principal é pôr em relevo o aspecto religioso da verdade. Tiago escreveu a certa classe de judeus cristãos na qual se manifestava uma tendência de separar a fé das obras. Pretendiam ter a fé, mas existia entre eles impaciência sob provação, contendas, acepção de pessoas, difamações e mundanismo. Tiago explica que uma fé que não produz santidade de vida é coisa morta. Salienta a necessidade de uma fé viva e eficaz para obter a perfeição cristã. Não há qualquer conflito entre a Teologia de Paulo e a de Tiago. Paulo falo do aspecto espiritual e Tiago o prático. As obras para Tiago expressam a fé. Efésios 2.8-9: Porque pela graça sois salvos, por meio da fé, e isto não vem de vós, é dom de Deus; não vem das obras, para que ninguém se glorie. Tiago 2.14,17: Que proveito há, meus irmãos se alguém disser que tem fé e não tiver obras? Porventura essa fé pode salvá-lo? Assim também a fé, se não tiver obras, é morta em si mesma. A epístola de Tiago encontrou algumas dificuldades para adquirir lugar no cânon do Novo Testamento. Vejamos: 1. A brevidade da epístola, sua natureza prática e não doutrinária. 2. Fato de Tiago não ser um dos Apóstolos. 3. A incerteza da identidade de Tiago. 82

4. A aparente contradição com a doutrina paulina da fé TEOLOGIA NA EPÍSTOLO DE JUDAS Judas se identifica como o irmão de Tiago. Dessa maneira, também era irmão de Jesus, mas, por modéstia, descreveu a si mesmo como um “servo de Jesus Cristo”. Judas tinha tencionado escrever um tratado doutrinário, mas a infiltração da Igreja por parte de falsos mestres o compelira a alterar a natureza de sua epístola para uma exortação em defesa da verdade do evangelho. Enfatiza a fé e o Dom de Deus. O Espírito Santo como fonte de vida e poder para o crente, e uma vida de santidade como dever de cada filho de Deus; e Cristo como juiz. Judas 6: aos anjos que não guardaram o seu principado, mas deixaram a sua própria habitação, ele os tem reservado em prisões eternas na escuridão para o juízo do grande dia, “Anjos que caíram”. Quem são estes personagens? Os anjos que pecaram com Lúcifer. Estes se encontraram em algemas eternas. O lugar preparado para o Diabo e seus anjos. A carta foi escrita para exortar e animar os crentes a batalharem pela fé. Lembrandolhes os castigos recebidos pelos ímpios no passado. Os abusos no campo da fé serão castigados como ocorreu com os anjos que caíram. A santificação do crente é um dever. TEOLOGIA NO APOCALIPSE O Apocalipse é uma mensagem que alcança todos os tempos. Embora tenha uma mensagem para o presente, o seu alcance penetra até o Estado Eterno. Os sete candeeiros são as sete igrejas locais, mas com características futuras simbolizam as Igrejas de todos os tempos. As sete estrelas são os sete anjos ou mensageiros destas igrejas. No termino de cada mensagem as Igrejas há uma exortação da parte do Espírito Santo. Quem tem ouvidos ouça o que o Espírito diz as Igrejas. A Pessoa de Cristo no Apocalipse Jesus depois de consumar seu ministério terreno, apresenta-se nesta revelação como O Rei do Universo, Juiz que executará a sua missão neste mundo e no reino espiritual maldade. No reino das trevas de satanás. A humanidade sem Cristo passara pelo vale escuro da tribulação. Os que lhe pertencem sairão redimidos e viverão na Pátria Celestial, com Cristo por toda a eternidade. Jesus Cristo em sua revelação entre as Igrejas e o envio de mensagens a estas Igrejas, identifica-se como o Príncipe dos reis da terra diante do qual todo joelho se dobrara. O Primogênito dos mortos, a Fiel Testemunha e Àquele que nos ama. Ele revela a grande tribulação que há de envolver a terra antes do Seu reino milenar. Ele revela o estado eterno e a nova Jerusalém. Jesus é o Herdeiro do Trono conforme as Escrituras. A vitória mencionada é incontestável. A Bíblia em seus primeiros capítulos fala-nos da criação do homem, da sua queda e do pecado. Enquanto O Criador anunciava os castigos que deviam envolver Satanás e o homem, prometeu um Redentor (Go’el) Vitorioso que restauraria todas as coisas. À trajetória do Apocalipse revela-nos a redenção e a gloria dos remidos. 83

BIBLIOGRAFIA 1. BENTES, A. Carlos G. O DIA DO SENHOR. Apostila. Lagoa Santa, MG: Edição Própria, 2008. 2. CARVALHO, V. R. Guilherme. COSMOVISÃO CRISTÃ E TRANSFORMAÇÃO. 1ª ed. Viçosa, MG: Editora Ultimato, 2006. 3. CARVALHO, Walter M. www.waltermcarvalho.pro.br/3._Titulos_Messianicos.htm. 4. CHAFER, Lewis Sperry. Teologia Sistemática. 1ª ed. Vol. 1. São Paulo: Imprensa Batista Regular, 1986. 5. LADD, George E. Teologia do Novo Testamento. 2ª ed. Rio de Janeiro, JUERP, 1985. 6. LADD, G. Eldon. Teologia do Novo Testamento. 1ª ed. São Paulo: Editora Hagnos, 2003. 7. BERKHOF, L. Teologia Sistemática. 2ª ed. Campinas: Luz Para o Caminho, 1992. 8. ERICKSON, M.J. Introdução à Teologia Sistemática. 1ª ed. São Paulo: Editora Vida Nova, 1997. 9. ESTRADA. Juan Antônio. Para Compreender Como surgiu a Igreja. São Paulo: Editora Paulinas, 2005. 10. FERRAZ, José. TEOLOGIA SISTEMÁTICA DO NOVO TESTAMENTO. www.adoração.com. 11. GRENZ, Stanley e OLSON, Roger E. Teologia do Século 20. 1ª ed. São Paulo. Editora Cultura Cristã, 2003. 12. GRUDEM, Wayne. Teologia Sistemática. 1ª ed. São Paulo: Editora Vida Nova, 1999. 13. HODGE, Charles. Teologia Sistemática. 1ª ed. São Paulo: Editora Hagnos, 2001. 14. MARINO, Raul Júnior. A religião do Cérebro. São Paulo: Editora Gente, 2005. 15. McGRATH, Alister E. TEOLOGIA, sistemática, histórica e filosófica. São Paulo: Shedd Publicações, 2005. 16. MORRIS, Leon. TEOLOGIA DO NOVO TESTAMENTO. São Paulo: Editora Vida Nova, 2003. 17. ROLDÁN, Alberto Fernando. PARA QUE SERVE A TEOLOGIA?. 2ª ed. Londrina: Editora Descoberta Ltda, 2004. 18. THIESSEN, H. C. Palestras em Teologia Sistemática. 1ª ed. São Paulo: Imprensa Batista Regular, 1987. 19. TILLICH, Paul. História do Pensamento Cristão. 3ª Edição. São Paulo: Editora ASTE, 2004.

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Biografia do autor O pastor Antônio Carlos Gonçalves Bentes é capitão do Comando da Aeronáutica, Doutor em Teologia, conferencista, filiado à ORMIBAN, cuja matrícula é 745, professor dos seminários batistas: STEB, SEBEMGE e Koinonia e também das instituições: Seminário Teológico Hosana, UNITHEO e Escola Bíblica Central do Brasil, atuando nas áreas de Teologia Sistemática, Teologia Contemporânea, Apologética, Escatologia, Pneumatologia, Teologia Bíblica do Velho e Novo Testamento, Hermenêutica, e Homilética. Reside atualmente em Lagoa Santa, Minas Gerais. Exerce o ministério pastoral na Igreja Batista Getsêmani em Belo Horizonte - Minas Gerais. É casado com a pastora Rute Guimarães de Andrade Bentes, tem três filhos: Joelma, Telma e Charles Reuel, e duas netas: Eliza Bentes Zier e Ana Clara Bentes Rodrigues. Pedidos ao Pr. A. Carlos G. Bentes E-mail: [email protected] Os livros do Pr. Bentes estão disponíveis nos SITEs: www.klivros.com.br; www.lojamais.com.br/caminhodavida.

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