SUSSEKIND
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SUSSEKIND, Flora. Literatura e Vida Literária. Polêmicas, diários & retratos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1985, 94 páginas.
Resenhado por: Themis Rondão Barbosa
Maria Flora Sussekind é crítica literária, professora e pesquisadora universitária. Na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro - PUC/RJ inicia a carreira acadêmica em letras: bacharela-se em 1977, torna-se mestre em 1982, doutora-se em 1989, e leciona no período de 1978 a 1982. Passa em seguida pela Universidade Federal Fluminense - UFF, e se estabelece na Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ. É pesquisadora do Setor de Filologia do Centro de Pesquisas da Fundação Casa de Rui Barbosa, desde 1981. Além de organizadora de diversos livros de teoria literária e ficção, tem vasta produção de ensaios sobre literatura brasileira. Em sua obra “Literatura e Vida Literária. Polêmicas, diários & retratos”,
a autora trata das produções
literárias durante os anos de autoritarismo no Brasil. O livro está dividido em três capítulos, assim denominados: (1) Censura: Uma Pista Dupla; (2) Retratos e Egos; (3) Agora Sou Profissional. No capítulo 1 - “Censura: Uma Pista Dupla”, a autora apresenta a censura como uma espécie de rua de mão única, uma explicação para a literatura brasileira pós-golpe militar. A produção literária tem características que refletem a repressão do Estado autoritário, podemos citar a preferência por parábolas ou por uma literatura centrada em viagens biográficas. Os jornais e meios de comunicação de massa eram controlados, cabendo à literatura uma função „parajornalística‟. Segundo a autora, a censura não foi a
única estratégia adotada pelos governos militares no campo da cultura, no caso da política cultural três estratégias foram adotadas ao longo do período, o desenvolvimento de uma estética do espetáculo, uma estratégia repressiva ladeada pela determinação de uma política nacional de cultura, e incentivos, já que diante do desemprego generalizado as opções de trabalho intelectual tornam-se bem mais restritas. A promoção dos meios de comunicação em massa, principalmente da televisão, foi uma estratégia promovida pelo governo a fim de obter o controle social efetivo em cada um que possuísse um aparelho transmissor. Na década de 60 os estudantes tinham conseguido se organizar e ganharam força de pressão política e na década de 70, destaca-se a influência do pensamento estruturalista nas ciências sociais e no ensaísmo literário brasileiro. No capítulo 2 - “Retratos e Egos” Flora Sussekind fala sobre a síndrome da prisão que está ligada as celas das prisões, gritos de rebeldia como os da “arte de protesto”, sussurros medrosos, como nas alusões e
parábolas, e a dificuldade em se estabelecer contato com os prisioneiros. A leitura da experiência carcerária ou da narrativa dos sofrimentos alheios parece apontar no sentido de uma grande mea culpa da classe média que apoiou o golpe militar de 1964 e a militarização da sociedade brasileira. A seco, porque é mesmo muito difícil falar do que se passa no corpo, tanto o prazer quanto a tortura chegam a parecer quase irredutíveis ao plano discursivo. O cárcere do eu, as memórias políticas, os relatos autobiográficos, o romance centrado nas aventuras de um ego picaresco, tendendo ora para a ficção, ora para o documento, há uma trajetória comum a estes textos no sentido da recuperação da intimidade com o leitor e do perfil do narrador. A
salada do Salomão, no livro Me segura qu’eu vou dar um troço , de Waly Salomão, há uma busca da personalidade perdida, apontando para
o
estilhaçamento do narrador, a estética do fragmento e desmascara a obsessão vampiresca. O neonaturalismo, no sentido de evitar estranhezas e seguir os velhos caminhos já percorridos. A alegoria e suas cartas marcadas, construídas como romances-reportagem, sobre os mesmos pilares alegóricos, sobre idênticas simplificações, discutindo a impotência política do país. A armadilha documental, o documento funciona como uma poderosa armadilha desses anos de autoritarismo. A literatura do eu, o equilíbrio da poesia brasileira entre arte e vida, estando patente o privilégio do
ego .
A poesia
aparece como uma mistura de acaso cotidiano e registro imediato, submetidos a uma instância poderosa que se apresenta oculta. A edição independente, uma idêntica trajetória em direção ao cotidiano e à própria subjetividade marcada por uma opção editorial também semelhante: a impressão, o projeto gráfico e a distribuição, o controle de todo o processo de produção do livro pelo autor e a venda realizada pessoalmente. No capítulo 3 - “Agora Sou Profissional”, é o último verso de um dos poemas de Ana Cristina César, que segundo Sussekind qualifica bem o panorama literário brasileiro da época. Momento em que os autores passam a „viver da literatura‟ e o livro passa a ser visto como uma mercadoria vendável
e lucrativa.
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