Stefan Zweig - Mendel dos livros (Ed. Assírio & Alvim, Portugal).pdf
February 5, 2017 | Author: Anne Rocha | Category: N/A
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MENDEL DOS LIVROS
Stefan Zweig
MENDEL DOS LIVROS
tradução do alemão, apresentação, cronologia biogrdfica e notas
ÁLVARO GONÇALVES
A S S ÍR I O & AL V I M
Mendel dos Livros Stefan Zwcig Publicado em Portugal por Assírio & Alvim www.assirio.pt ©Álvaro Gonçalves (tradução) © Porto Editora, 2014
1. • edição: setembro de 2014 Assírio & Alvim é uma chancela da Porto Editora, Lda. Reservados todos os direitos. Esta publicação não pode ser reproduzida, nem transmitida, no todo ou cm parte, por qualquer processo eletrónico, mecânico, fotocópia, gravação ou outros, sem prévia autorização escrita da Editora. Este Uvro respeita as regras do Acordo Ortográfico da Ungua Portuguesa.
Distribuição Porto Editora, Lda. Rua da Restauração, 365 4099-023 Porto
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Portugal
www.portoedltora.pt
Execução grtifica Bloco Gr6tlco. Ldl. Unidade Industrial da Mala. DEP. LEGAL 379182114 ISBN 978-972-37-1781-5
ÍN D I C E
Apresentação, Álvaro Gonçalves...................... 9 Cronologia Biogrdfica . .................................... 17
MENDEL DOS L IVR OS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33
APRESENTAÇÃO ÁLVARO GONÇALVES
Stefan Zweig nasceu em 28 de novembro de 1881 em Viena no seio de uma famíliajudia de alta burgue sia. Filho de um próspero e rico industrial têxtil e de uma descendente de banqueiros in ternacionais, passou a sua infância, adokscência ejuventude em Viena. Fez os estudos primdrios na escola primdria de Werdertor gasse e os estudos liceais no liceu vienense Maxi,milian gymnasium (mais tarde denominado Wasagymna sium), instituição prestigiada e .frequentada na altura essencialmente por filhos de abastados judeus vienenses. Em 1900, inicia os estudos universitdrios na Universi dade de Viena, inscrevendo-se no curso de Filosofia e frequentando em simultâneo cadeiras da drea das Ciências Literdrias. Após ter passado uma temporada na Universidade de Berlim, termina os estudos univer sitdrios, em 1904, com um doutoramento subordinado ao tema «A Filosofia de Hippolyte Taine». Foi justa mente a «.filosofia» de Taine, segundo a qual o homem era o resultado da influência do seu meio histórico-cul tural que inftuendou fortemente a sua escrita biogrd fica de figuras históricas, que incluíam políticos e ex-
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ploradores, mas também pensadores, escritores e poetas. O interesse pelas figuras históricas do passado leva-o também a aproximar-se de importantes personalidades do seu tempo, mantendo contacto, por exemplo, com Sigmund Freud, Paul Valiry, Rainer Maria Rilke e, sobretudo, com o poeta, escritor e dramaturgo belga de expressão francesa Emile Verhaeren, cu,ja obra traduz e divulga em língua alemã. O seu interesse pela Literatura, que resulta não propriamente dos ensinamentos dos mestres do seu li ceu, que de resto detesta, mas sim do ambiente literdrio e cu,/tural frroilhante da Viena do pós-guerra, leva-o, logo no início da sua ca'rreira literdria, a dedicar-se à tradução de grandes poetas modernistas, jd citados. Como jovem intelectual, deixa de se interessar exclusi vamente pelos nomes consagrados da literatura, da mú sica e da arte alemã e europeia (Gottfried Keller, Hen rik Ibsen, ]ohannes Brahms, Wilhelm Leibl e Eduard von Hartmann), para se dedicar à leitura e ao estudo de novos talentos que iam emergi.ndo na cena literdria e cu,ltural europeia: Baudelaire, Whitman, Valéry, Mallarmé, entre outros, cu,ja divulgação na língua alemã se deve em grande parte ao seu interesse e, sobre tudo, às suas traduções e estudos introdutórios publica dos em prestigiadas editoras alemãs. Como poeta e dramaturgo, deixa-se influenciar pelo movimento simbolista, vigente, na altura, no 12
contexto do chamado Modernismo Vienense. No en tanto, é no género da chamada N ovelle alemã que mostra a sua grande arte de narrar histórias de perso nagens em situações-limite, recorrendoformalmente a um estilo simultaneamente intimista, elegante e só brio. A descrição dos labirintos intrincados da alma humana é fortemente irifluenciada pela leitura dos textos seminais do seu amigo Sigmund Freud, de que se alimentou também o seu conterrâneo vienense Ar thur Schnitzler. Não obstante ter tido uma atitude crítica em relação a muitos dos conceitos defendidos por Freud, as suas N ovellen, em especial Amok (1922) e Veiwirrung der Gefühle (1927) («Confo são de Sentimentos»), revelam claramente essa in fluência, na forma como escalpeliza os conflitos psí quicos resultantes, segundo a opinião do fondador da psicandlise, das normas morais rígidas da sociedade burguesa contemporânea vienense. A crescente influência dos nacional-socialistas na sociedade e política austríaca, aliada à instauração do chamado «austrofascismo», em 1933, (regime fon dado pelo Chanceler Engelbert Dolfuss e que se ba seava na ideologia fascista de Mussolini) e após ter sido vítima de uma busca domicilidria na sua casa de Salzburgo, forçam-no a abandonar definitivamente a Áustria, mudando-se primeiro para Inglaterra, em 1934 e, posteriormente, para o Brasil em 1940.
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Apesar de ter conseguido a cidadania inglesa, em 1940, receia ser confandido com os alemães e, conse quentemente, ser considerado um enemy alien. Por isso, decide partir para o Brasil passando pelos Esta dos Unidos, Argentina e Paraguai, obtendo um visto permanente do regime de Getúlio Vargas. Estabelece -se, com a sua segunda mulher Lotte Zweig, com quem se casara entretanto, em Petrópolis, onde, recatado e isolado do bulício do Rio de janeiro, pensa ter encon trado a paz necessária para continuar a escrever. Neste período, redige a Novela de Xadrez, inicia a escrita de um ensaio sobre Montaigne e termina a autobio grafia O Mundo de Ontem. Recordações de um Europeu. Na sua condição de «cidadão europeu» tolerante, tal como o seu mentor Romain Rolland, desiludido com a situação de guerra e destruição da Europa, tanto em termos físicos como culturais e vivendo num estado de profunda depressão, que o persegue há já al guns anos, prepara minuciosamente a sua morte, or gankando o seu espólio, escrevendo cartas, que seriam de despedida, aos amigos mais íntimos, redigindo o testamento e uma «declaração» dirigida às autorida des brasileiras, em que agradece a sua hospitalidade durante a sua estada de uns meses em Petrópolis. Fi nalmente, em 1942, suicida-se, juntando-se-lhe a se guir a sua mulher no leito de morte. 14
A novela Mendel dos Livros foi escrita em 1929 e publicada, em folhetim, no jornal didrio vienense Neue Freie Presse, de que era colaborador perma nente. Não obstante ser uma obra com um tema pouco comum nele, ao contrdrio do seu amigo e tam bém judeu Joseph Roth, ela tem muito a ver com o próprio Stefan Zweig. Escrita na perspetiva de um autor/narrador distante e objetivo, que narra a histó ria de um judeu ortodoxo galiciano, estabelecido hd anos em Viena como alfarrabista/vendedor de livros ambulante, e cujo único interesse eram os livros que comprava e vendia a universitdrios e académicos de Viena, a história constitui espantosamente a anteci pação em mais de uma dezena de anos do definha mento do escritor Stefan Zweig: a metdfora de um es critor, «cidadão europeu», pacifista empenhado, entregue de corpo e alma, como o próprio Mendel o era aos seus queridos livros, à criação de uma obra li terdria europeia com características universais, mas que, vítima da barbdrie nacional-socialista, perde tudo, isto é o seu país, a sua língua, os seus leitores da língua alemã para quem escrevia e o próprio sentido da vida. Se, por um lado, Stefan Zweig se serve da novela Mendel dos Livros e, consequentemente, do judeu galiciano jakob Mendel para expressar uma determinada mensagem, que ignora, de certo modo inconscientemente, a condiçdo terrível dos judeus I
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orientais (descrita por Joseph Roth no seu livro de en saios Judeus Errantes), utilizando-o como o paradigma das transformações provocadas pelo pós-guerra na Viena dos anos vinte, ela não deixa de ser uma pode rosa história premonitória do que viria a acontecer anos depois naquela Viena de Mendel e o que viria a acontecer a ele próprio, Stefan Zweig, após o aban dono da Áustria e da língua alemã que tanto amava. abril de 2014
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CRONOLOGIA BIOGRÁFICA
« A sua fama mundial fo i bem merecida e é trágico que a força de resistência psíquica
tenha ruído consequênda da grave pressão destes tem pos. O que mais admirava nele era o dom que possuía para dar vida, psicoúJgica e ar tisticamente, às épocas efiguras históricas» deste homem muito talentoso em
THOMAS MANN, «Elogio fünebre». Aufbau, Nova Iorque,
27 de fevereiro de 1942
1881
Viena: 28 de novembro. Stefan Zweig nasce no seio da alta burguesia vienense, em Viena, Schottenring, 14. Segundo filho do industrial têxtil, Moriz Zweig (1845-1926), e de Ida Brettauer 1854-1938), des cendente de banqueiros internacionais.
1887-1892
Frequenta a escola primária na Werdertorgasse, 1. 0 Bairro de Viena. 1892-1900
Frequenta o Maximiliangymnasium (liceu austríaco), designado posteriormente Wasagymnasium, no 9.0 Bairro de Viena. 19
A PARTIR DE 1897
Publica os primeiros poemas nas revistas alemãs Deuts che Dichtung (Berlim) e Die Gesellschaft (Munique). 1900
Termina os estudos liceais. Primeira viagem à França. 1900-1904
Inicia os estudos universitários na Universidade de Viena: Filosofia e Ciências Literárias. 1901
Publica o seu primeiro livro de poemas, Silberne Saiten («Cordas de Prata»), na editora berlinense Schuster & Lõffier. 1902
Inicia a colaboração com o jornal vienense Neue Freie Presse, passando a ser colaborador permanente deste jornal até 1938. Conhece o fundador do sionismo, Theodor Herzl. Viagem à Bélgica. Conhece Emile Verhaeren. Pu blica, em colaboração com Camill Hoffmann, tra duções de poemas de Baudelaire: Gedichte in Vers und Prosa (Hermann Seemann, Berlim). 1902/o3
Frequenta a Universidade de Berlim no semestre de verão. Estabelece contacto com o círculo literário berlinense Die Kommenden. 1904
Termina os seus estudos na Univetsidade de Viena com uma tese de doutoramento subordinada ao tema
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