Sociolinguística

May 20, 2019 | Author: Natália Nery | Category: Linguistics, Semiotics, Human Communication, Sociolinguistics, Languages
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Manuel do curso de Sociolinguística do Professor Dermeval da Hora - UFPB....

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SOCIOLINGUÍSTICA

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SOCIOLINGUÍSTICA

DERMEVAL DA HORA 

Introdução

A língua sempre ocupou, na sociedade, papel de destaque, e a ela estão atrelados conceitos que definem posturas diferenciadas, dependendo da formação de quem a observa, se linguista ou curioso. Comum ouvirmos palpite acerca do que falamos e da forma como falamos. Se esse vem de algum leigo, no que concerne aos conceitos linguísticos, a confusão se estabelece. Falar acerca do que se ouve ou do que se escreve, estabelecendo estabelecendo juízo  juízo de valor é muito comum nos diferentes círculos. Julgamentos subjetivos estão atrelados à maneira de falar das pessoas, promovendo ou não a língua usada; classificando classificandoa, enfim, enfim, julgando  julgandoa. Associados à língua usada, estão inúmeros conceitos que merecem a devida atenção, principalmente por aqueles que se dispõem a um estudo mais sistemático, procurando compreender melhor esse bem humano que é a língua. A fim de melhor entender a relação entre a língua e a sociedade em que ela está circunscrita, elencaremos, nesse material sobre Sociolinguística, um conjunto de conceitos indispensáveis à compreensão do que acontece com a língua. A proposta que aqui apresentamos tem a seguinte estrutura: na primeira parte discutiremos alguns conceitos considerados básicos para entendermos a relação entre língua e sociedade; na segunda parte, trataremos, basicamente, de dois conteúdos: o primeiro deles voltado para os fundamentos dos estudos dialectológicos; o segundo, para os estudos variacionistas. Tais estudos situam as duas disciplinas: a Dialectologia e a Sociolinguística em sua perspectiva variacionista.

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UNIDADE I

SOCIOLINGUÍSTICA Conceitos Fundamentais:

LÍNGUA ! DIALETO ! SOTAQUE - REGISTRO ! ESTILO ! ETNIA - BILINGUISMO DIGLOSSIA ! PIDGIN - CRIOULO

Objetivo:

- refletir acerca desses conceitos, definindo-os e verificando em que situações eles se aplicam.

Língua e dialeto Quando falamos do Português, do Inglês, do Francês, do Espanhol etc, estamos falando de línguas, e aqui a língua não terá a mesma acepção concebida por Saussure, quando estabeleceu a dicotomia langue x parole!, ou seja, língua versus fala. Cada uma das línguas a que nos referimos tem sua autonomia, tem um papel social nas comunidades em que estão inseridas. As variedades que cada uma delas tem, quando se trata do seu uso, podem ser denominadas de dialeto. O termo dialeto pode ser definido de forma diversa, dependendo da perspectiva que queiramos abordar. Falando em termos regionais, dialeto é o mesmo que falar, e as diferenças encontradas em comunidades com dialetos diferentes não funcionam como empecilho na comunicação. Em geral, alterações na fonologia, na sintaxe, no léxico existem, mas todos se compreendem. No Brasil, o termo dialeto se encaixa nessa modalidade. De norte a sul, de leste a oeste, temos uma grande variabilidade na lingua, mas as variações, em geral, não funcionam como obstáculo no processo de comunicação. Vale observar que ressaltamos que isso acontece de forma geral, pois algumas vezes podemos ter algum ruído na comunicação LETRAS | 73

devido ao uso de um termo muito local que impede a sua compreensão por parte do interlocutor. Entedemos, porém, que isso é esporádico. Em sentido mais restrito, dialeto é o mesmo que sublíngua. Temos, desta forma, uma lingua considerada nacional, conhecida de todos, e línguas que são específicas de determinadas comunidades, os dialetos. Os falantes de comunidade com dialetos diferentes não conseguem entenderse, para isso precisarão utilizar a lingual nacional. Isto é comum, principalmente, nos países europeus. A relação entre língua e dialeto é muito estreita. A conjunção de fatores sociais, politicos, psicológicos e históricos contribuem para caracterizar o que seja uma língua e um dialeto. Aspectos puramente linguísticos não são suficientes para caracterizar um ou outro. E aqui a noção de poder entra em  jogo. A distinção entre língua e dialeto é tão sutil que é difícil determinarmos quantas línguas e quantos dialetos existem no mundo. Sob uma perspective sincrônica, descritiva, língua! se refere ou a uma única norma linguística ou a um grupo de normas relacionadas. Em um sentido diacrônico, a língua pode tanto ser uma língua comum em sua trajetória para a dissolução, como uma língua comum que resulta de uma unificação. Um dialeto!, então, é uma das normas relacionadas ao nome geral de língua; historicamente, é o resultado da divergência ou da convergência. Tendo em vista que esse processo histórico pode repetirse indefinidamente, os dois termos são aplicaveis ciclicamente, ou seja, com "língua! sempre como o termo superordenado e dialeto!, sempre como subordinado. Disso resulta, termos sempre a seguinte relação: X! é um dialeto da língua Y!, ou a língua Y! tem os dialetos A! e B!. Nunca se tem, por exemplo, Y! é uma língua do dialeto "X!. Essa relação de dependência também levanos a constatar que o termo língua! pode ser usado sem que façamos referência a dialetos; o mesmo não acontece quando falamos de algum dialeto. Nesse caso, sempre vamos dizer que o dialeto pretence a uma língua. Podemos, a partir do que foi dito, concluir que todo dialeto é uma língua, mas nem toda língua é um dialeto. Em francês, um terceiro termo foi utilizado, patois!, que se aplicou, principalmente, à língua falada. De acordo com o dicionário da Academia Francesa, dialeto é uma variedade regional de uma língua, ele inclui uma cultura literária completa. Para André Martinet (1964), a situação do francês é diferente, pelo fato de serem encontrados vários padrões regionais escritos. Os dialetos franceses eram regionais e, quando deixaram de ser escritos, tornaramse patois!. Um patois!, então, é uma norma linguística não usada com propósitos literários, limitado a situações informais. Tal distinção introduz uma nova dimensão no que colocamos até aqui: as funções sociais de uma língua. Em se tratando da distinção línguadialeto, podemos dizer que o patois! é um dialeto que serve a uma população em suas funções de menos prestígio. A distinção patois dialeto não é, portanto, entre dois tipos de línguas, mas entre duas funções da língua. Em Inglês, o termo patois! nunca foi adotado na descrição da língua, e dialeto carregou o seu sentido de uso popular. Dialeto! é um termo que sugere fala informal ou fala rural ou ainda fala de classe social mais baixa. Como uma norma social, um dialeto é uma língua que é excluída da sociedade polida. Um

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americano sentese m nos ofendi o se algué daquela re ião, do que se disser que ele fala u

referirse a ele dizen o que fala com o sot que! dessa ou dialeto.

F lando de dialeto, pod mos tamb m estabel cer uma distinção entre dialeto social e dialeto regional. O primeiro di respeito a status soci l a que se pertence; o último, à região de onde e é originado. A distinção entre língua e dialeto remetenos a duas clar s distinções: uma est utural e o tra funcional.

estrutural em a ver com o aspecto descritivo a língua em si; a funcio al tem a ve com o aspecto

descritivo e seus uso sociais na comunicação. Consider ndo que o estudo da strutura linguística é visto como taref  central do linguistas f  rmais, cab , aos sociolinguístas, o estudo funci nal. A discutirmos a relação entre dialet e língua, evemos incluir també

a nação!. Em vista di so,

podemos estabelecer quatro aspectos do dese volvimento da língua que são cruciais para um dialeto tor ar se um língua, ou melhor, passar do uso vernacular para o u o padrão:

(1) seleção a norma; (2) codificação da norma; (3) elaboraç o da função; (4) aceitaçã pela comunidade.

A duas prim iras se ref  rem, princi almente, à forma; as uas última , à função. A primeira e a última estão voltadas ara a socie ade; a segunda e a ter eira, para a língua. Ess s quatro aspectos formam uma matriz que pode ossibilitarnos discutir todos os pri cipais problemas da lín ua e do dialeto na vida de uma nação. P r fim, vale a pena chamar a atenção para

fato de que o estudo do dialeto é campo da

Dialectologia. Uma disciplina que, no Brasil, em muitos adeptos, c mo verem s na segunda parte d ste material.

ATIVIDA E: Reflita sobre as se uintes questões:

Sobre o ortuguês f  lado no Brasil, o que eria língua e o que se ia dialeto? Que exe plos justif icariam a s a resposta? Faça um levantame to de algu s itens lexicais que considera serem específic s de sua r gião.

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Sotaque e ialeto

E

geral, é comum percebermos, n s falares r gionais bra ileiros, det rminadas

arcas que ão

estão atreladas, por e emplo, a aspectos seg entais, ou seja, aos elementos q e constitu m as palavras. Facilmente sabemos q ando esta os ouvindo, por exemplo, um baiano, um mineiro, um cari ca, um gaúcho etc, apenas pelo sotaq e que cada um deles t m de peculiar. É como se cada um tivesse sua

elodia, e ssa

melodia so nos, diferentemente, como mais lenta, mais rápida, mais agradável ou não etc. H quem pense que quando falamo em sotaque, estamos falando de uso diferen iado dos itens lexicais. Não é isto que é o sotaqu . É fácil ob ervarmos a musicalidade que exist no falar d cada regiã , e mesmo de cada estad brasileiro. A musicalid de que há no falar bai no é total ente diferente daquela do carioca, por exemplo.

mesmo o baiano do i terior vai ter uma musicalidade diferente. Nã é o fato de o

baiano falar oxente! o mineiro f alar uai!,

gaúcho falar tchê! ue caracte iza o sotaque. Estes itens

constituem as marcas dialetais que caracteriza

esses falares.

E

termos b m gerais, é muito com m que cad indivíduo stabeleça m  juízo de alor acerca da

fala que está sendo ouvida: mais antada, menos cantada, mais eleg nte, mais brega etc. Isso caracteriza o que se ch ma de sot que, que ode ser e tendido como uma forma deter inada de pronunciar uma variedade, mas considerando o aspecto prosódico ou, com nos referi os, anteriormente, mel dico. A sociadas ao sotaque, p dem encontrar marcas segmentais que envolv m principal ente aspe tos fonéticos. ada falant no Brasil, acreditamos, deve ser apaz de id ntificar os sotaques d determinados grupos, associandolhe um determinado aspecto. S

pensarmos em term s segmentais, podem s verificar que os dif erentes fal res brasileiros

também têm marcas característic s. Logo percebemos q e o carioca fala chiando!, isto p rque é forte a palatalizaç o das fricativas coronais [s,z] entre eles; que o paulista do interior, al uns mineir s, paranaenses etc. produzem um er e! bastant diferente o encontra o em outr s estados, denominad de retrofl xo; que muitos nordestino produzem as oclusivas dentais /t/ e /d/, antes da vogal [i], bem difer ntes de ou ras partes do Brasil. Esses aspectos caracteriza caracteriza

falares de determinados grupos, mas so ente eles

ão

o sotaque.

Não devemos confundir sotaque com dialeto. No Brasil, a palavra dialet tem a mesma acepção de falar. Difer nte de outr s países que convivem om diferenças dialetais bem acentuadas.

Agor é co você

Veri ique na sua comunidade o que na fal a torna diferente de outras comunid des. A partir da verificação anterior, como voc reage a ess s marcas dif erenciadoras?

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Registro e Estilo Sempre fazemos muita confusão quando procuramos definir registro e estilo. O termo registro está mais ligado ao uso do que ao usuário. Ao definirmos registro, é importante considerar a circunstância e o propósito da situação comunicativa. O registro pode ser definido sob dois ângulos: restrito ou amplo. Quando pensamos de forma restrita, o registro pode ser visto como uma variedade ocupacional da língua. Dessa forma, são considerados registro quaisquer formas de falar utilizadas por determinados grupos que fazem parte de uma dada área de conhecimento: advogados, médicos, técnicos em computação etc. E quanto a isso, é interessante observarmos que, se não pertencemos a uma dessas áreas, dificilmente entederemos o que eles dizem ou escrevem, se não tivermos o auxílio de alguém da área. A experiência nos diz que é praticamente impossível acompanharmos, por exemplo, as anotações nos processos judiciais que são veiculados pela internet. Sempre vamos buscar ajuda entre os colegas do judiciário para que a comopreensão não seja prejudicada. De forma ampla, o registro pode ser visto como um tipo de gênero social do uso linguístico, poderia equivaler a um tipo de gênero textual ou discursivo. Assim, uma fala sobre como se fazer um bolo, uma receita, seria um tipo de registro. Em geral, o registro usado por pessoas com nível de escolaridade mais alto apresentase como mais elaborado do que o utilizado por pessoas com menos escolaridade. No contexto do estudo sociolinguístico, o estilo se refere à variação dentro dos registros que podem representar as escolhas individuais ao longo das dimensões sociais. Uma dimensão estilística dentro de um registro seria a escala no continuum formalidade  casualidade. Essa é uma visão que foi trabalhada nos anos 1960 por William Labov. A maioria dos estilos são pensados como escalas, indo do mais formal ao mais casual, com muitas gradações entre si. Outras escalas estilísticas incluem relações como: impessoal   íntima, monolóica   dialógica, formulaica  criativa e assim por diante. Todas essas possibilidades podem ser escolhas linguísticas dos enunciados. Em geral, o estilo é considerado um dos traços mais importantes para a sociolinguística quantitativa, quando se trata da interseção do continuum social com o estilístico. Com isso, estamos dizendo que, se um traço ocorre com mais frequência na fala das pessoas de um grupo social menos favorecido, com certeza ele ocorrerá com mais frequência no uso informal por todos os falantes. A conduta de cada grupo social varia de acordo com o grau de formalidade impresso à fala, se mais formal ou mais espontâneo. Assim, o estilo pode passar de formal a informal por razões que compreendem o contexto social, a relação entre os participantes, o sexo, a idade, a escolaridade e o tema. Embora cada grupo social apresente índice de usos diferentes em cada estilo, todos os grupos, à medida que cresce a formalidade, muda o estilo na mesma direção. Todos os grupos reconhecem o declarado prestígio da variedade padrão e passam a ela quando utilizam um estilo mais

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formal. O grau de formalidade pode ser definido em função do grau de atenção que os falantes prestam a sua própria falada. E é assim que Labov viu o estilo em suas pesquisas. Se a classe social pode estar atrelada a essa concepção de estilo, será que o que foi dito no parágrafo anterior pode aplicarse ao Português Brasileiro? A dificuldade em aplicarse está exatamento no fato de não se ter no Brasil uma definição de classe social muito precisa. Parâmetros que funcionam para outras comunidades, no Brasil, não se aplicam. Reunir, parâmetros, como fez Labov em New York, em nível de ocupação, renda, local de residência e escolaridade para definir a classe social a que pertence o falante não funciona aqui. Sabemos que, em geral, a classe social mais alta no Brasil é pensada para aqueles que detém maior poder aquisitivo, e nem sempre eles são os que têm mais alto nível de escularidade, o que implica nem sempre conhecerem o que define a língua padrão. Muitas vezes o desconhecimento da norma por essas pessoas pode gerar um processo de hipercorreção. Suponhamos que a distribuição de um determinado uso da língua apresente desvios em relação ao que se considera padrão. O grupo que está localizado no nível social mais alto e também o que está no nível mais baixo mostam mudanças de estilo tão radical que nos níveis mais formais o grupo que está situado mais baixo usa uma determinada variante com maior intensidade do que o grupo mais alto. Esse padrão cruzado se considera um sintoma da chamada hipercorreção. A classe mais baixa reconhece uma norma externa de correção e sua conduta se caracteriza por esse reconhecimento e por sua insegurança acerca de sua própria fala. Os casos mais claros de hipercorreção se dão quando o traço linguístico em questão está experimentando uma mudança como resposta à pressão exercida pela norma da classe mais alta. A hipercorreção praticada pela classe mais baixa acelera a introdução da nova norma. Quando falamos dessa classe mais baixa, não estamos falando dos grupos menos favorecidos brasileiros, mas, o que acabamos de mencionar é uma característica daquele grupo que conhecemos como classe média. Outro tipo de hipercorreção diz respeito à produção aritifical de formas que são incorretas. Assim, pronúncias altamente estigmatizadas se associalm popularmente ao chamado sotaque, embora , na realidade, possam ser encontradas na classe social mais baixa de toda a comunidade. Determinados falantes que querem distanciarse dessa forma de falar corrigem! tais formas. Os falantes alteram esses sons porque são conscientes do estereótipo a ele associado, estereótipo que indica que é uma pronúncia incorreta. Muitas vezes, o fenômeno produz uma forma que não só é hipercorreta, mas que também inexiste na forma prestigiosa da fala que estão tentando imitar. Tais hipercorreções chegam a ser tão frequentes que se convertem, por sua vez, em estereótipos. As diferenças de estilo podem ser observadas no vocabulário, na sintaxe, na pronúncia. O estilo é uma das fontes de variação interna de uma língua padrão. Diferentes graus de formalidade em situações específicas produzirão diferentes variedades da língua. Normalmente, os estilos são caracterizados pelo uso de certas palavras. Ele pode variar em termos de formalidade. Assim, podemos afirmar que a língua escrita carrega mais características do estilo formal, enquanto a língua falada, em geral, tem mais características de um estilo informal. LETRAS | 78

Agor é co voc

Faç um levantamento de itens lexicais característicos de alguns registros profissionais (tais como educação, direit , música, m dicina). Dê ma explicaç o para cada um deles no estilo infor al. Você acha que o uso do estil informal m is do que o egistro profissional ajudaria a escrita pro issional desses domínios ser mais co preensível? Ide tifique formas diferenciadas de registro a partir d observação que diferentes profissionais fazem ao utilizar a língua especificamente na sua área. Rel te uma experiência em que o mesmo falante utilize estilos diferenciados ao mudar a situação.

Etnia, bilin uismo, digl ssia E

muitos p íses do mundo, há u a grande p edominância do uso de mais de ma lingua. Em

termos oficiais, muitos deles são d claradamente monolíngues, a exemplo dos Estados Unidos do Brasil. ão se deve es uecer, entr tanto, que ao lado das línguas oficiais predominantes ness s países ditos monoglotas, há a convi ência com utras língu s, a exemplo das língu s indígenas. Há també

comunidades que fal m,

além da lingual oficial, uma outra lingua, com é o caso os povos o iundos de utros paíse comunica

utilizando lingua materna. Nos e tados do sul do Brasil,

que aind se

comum gr pos ainda f  larem ale ão,

italiano, ja onês etc., r flexo da colonização. O uso da ling a, embora seja visto co o símbolo acionalista, pode tamb m identific r diferença de etnia, seja la racial ou cultural. A falar, o in ivíduo pod escolher u ar uma lin ua específica ou um dialeto, ou um regitro, ou um sotaque, o um estilo, ou seja, usa um código em diferen es ocasiões e com difer ntes propósitos. A esc lha do código ode ser usa a para se i entificar co E

geral, os falantes tê

lingua. Nesse caso, a

outros fal ntes.

a sua disposição dif  rentes códigos, mesm quando fala apenas uma

udança de código poderá acontecer, por exemplo, com a lteração do estilo, indo do

estilo mais ormal para o menos formal. Q uando se fala em muda ça de código, a ela se associa a noção de code witching, s gundo a qual a escolha do código é determinada pelo do ínio dos f  lantes. A ituação de codeswitching implic

o

movimento no domínio de um código para outro. A habilidade e falar mais de uma lingua se refe e à capacidade bilíngu ou multilíngue do fala te. Assim, o i divíduo qu fala mais de uma lin ualé chamado de multilingue. Ess termo ta bém pode ser utilizado p ra aquelas comunidad s em que duas ou mai línguas sã comumen e faladas p la maioria das pessoas. Bilinguismo t m sido, co

frequênci , definido e descrito e

termos de categoria, e escala ou de

uma dicotomia. Assim, podemos pensar em bilingue parcial x bilingu ideal; bilingue coorde ado x bilin ue composto. A essas ca egorias estão atrelados fatores c mo profici ncia, função etc. Uma das primeiras definições e bilinguis o surge co

Bloomfield, para que

correspo deria ao controle do falante nativo de LETRAS | 79

duas línguas. De lá para cá, outras acepções foram adotadas, admitindose, por exemplo, que esse controle de duas línguas não fosse completo, e aí teríamos um bilinguismo caracterizado como incipiente. O uso do bilinguismo pode, muitas vezes, contribuir para a mudança ou morte de uma das línguas. Em geral, a comunidade monolíngue que passa a bilingue pode viver uma situação diglóssica. Com o tempo, a língua que detém maior poder na comunidade pode contribuir para que a outra passe a ser utilizada com menos frequência, até chegar ao seu desaparecimento. Os anos 50 do século passado foram uma década de muitos estudos voltados para o contato linguístico, fornecendo muitos estudos descritivos e várias propostas teóricas, promovendo, assim, o interesse pelo desenvolvimento de mais pesquisas. Texto como os de Weinreich  Languages in Contact e o de Haugen  Bilingualism in the Americas   procuraram salientar a necessidade de mais estudos interdisciplinares com vistas à identificação de fatores extralinguísticos que possam associarse a este campo de estudo. Quando duas língua estão em contato, os falantes de uma língua podem aprender elementos da outra. Essa aquisiçao da língua nãonativa produz o bilinguismo. Embora a mudança resultante nos sistemas sejam um problema puramente linguístico, o bilinguismo em si é essencialmente sociológico. Vários exemplos de línguas em contato sugerem que o bilinguismo é raro caso se espere o balanceamento entre os dois grupos de falantes. Em geral, o que se observa é que falantes de um dos grupos de fala tornamse mais bilingues do que outros. Isto pode resultar do domínio que um grupo tem sobre o outro. A língua do grupo mais forte é sempre mais privilegiada, e isso faz com que o grupo mais fraco aprenda a língua do outro grupo. Visto historicamente, duas coisas podem resultar do contato linguístico em uma determinada comunidade: primeiro, o bilinguismo pode ser indefinidamente prolongado, de forma que ambas as línguas continuem a ser aprendidas; segundo, uma das duas línguas pode cair em desuso, e, nesse caso, podese estar diante de uma mudança linguística, e o bilinguismo cessa com a morte do ultimo falante da língua que não está sendo mais aprendida. Falar de bilinguismo no Brasil não é algo muito comum, considerando que essa nào é uma característica da maioria das comunidades brasileiras. No nordeste brasileiro, por exemplo, praticamente inexiste esse tipo de comunidade. Em geral, em todas elas os indivíduos falam apenas a lingua portuguesa. Ao contrário, da região sul, em que os indivíduos de várias comunidades dominam mais de uma lingua. Nas comunidades em que duas variedades de lingua são usadas, e onde há uma divergência funcional institucionalizada no uso, dizemos haver diglossia. Situação diglóssica é aquela, portanto, em que convivem duas línguas, cada uma delas servindo para um determinado fim. Sabemos que há comunidades indígenas no Brasil, com forte predomínio do Português, mas com a utilização da lingua indígena para fins, por exemplo, religiosos e culturais. Podemos afirmar que uma situação diglóssica corresponde a uma distribuição complementar, ou seja, onde uma língua for usada a outra não o será.

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Um dos mais importantes traços da diglossia é a especializ ção de cada uma das ariedades. Em determina as situaçõe apenas u a variedad é apropriada, enquan o que em utras situa ões só a o tra variedade que é apro riada. O estudo da diglossias é de gran e valor para que se entendam

s processos de mudança

linguística.

Ago a é co vo ê

Faça um levantament de itens lexicais caracte ísticos de al uns registros profissionais. Relate u a experiência em que o mudar de situação.

esmo falan e utilize estilos diferenci dos ao

Pidgin e cri ulo

E

geral, todas as língu s naturais iveram ori em em outras línguas a que estão estreitamente

relacionad s. Podemos identificar processo d nascimento e de maturação de u a lingua co o resultado de línguas pid in e crioulas. E

duas com nidades com contato prolongado, m geral se desenvolve uma língua ranca, ou seja,

uma língua comum. Isto pode aco tecer de q atro forma : uma língua de contat , uma líng a auxiliar, uma língua internacional ou um língua de comércio. O Latim, por xemplo, a artir do co tato entre várias língu s desenvol eu muitas f ormas que, em seguida, re ultaram em outras líng as, a exemplo do Portu uês, Francês, Italiano, Espanhol, Ro eno etc. E tendemos or língua auxiliar línguas artificiais criadas co

determinados fins. O Esperanto, por

exemplo, é uma delas. Em geral, elas têm voc bulário téc ico altame te restrito. Houve mo entos, em ue pesnamos ue o Esperanto seria a língua que serviria par a comunicação entre todos os po os falantes de diferentes línguas. Uma série de dif iculdades, e tretanto, n o a promoveu a esse status de líng a unificado a. Uma língua internacional se presta para a comuni ação com diferentes países. O Inglês, por exem lo, é utilizado

undialmente por difer ntes comu idades. Na mérica Latina, o mesm acontece com o Espan ol,

visto que

s diferent s países a utilizam.

iajando pela Europa,

ue reúne aíses com línguas oficiais

diferenciadas, podemo perceber que o Inglês tem esse caráter de língua internacional. H

situações em que comunidades em contato necessit m de uma língua co um com ins

comerciais. Q uando o contato entre iferentes grupos é mais prolongado, uma língua híbrida po e surgir, a ssa língua dás o nome de pidgin. Em eral, isto acontece em ituações onde uma líng a domina a demais. D sta

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forma, os elementos da sintaxe e do léxico de cada uma das línguas são simplificados e combinados para que haja compreensão entre os falantes. Apesar de o pidgin ter elementos reconhecíveis de cada uma das línguas que o constituam, ele não é simplesmente uma forma quebrada! de uma das línguas: os pidgins têm sistemas de regras que devem ser aprendidos. Consequentemente, as línguas pidgin tendem a ter um vocabulário restrito, um sistema sintático simples, e também têm uma limitada quantidade de funções (comércio local, negócios relacionados a casamento, disputas de terras, por exemplo). Qualquer um que use o pidgin sempre terá sua língua nativa própria, e o usará apenas quando for necessário. Os pidgins, normalmente, são encontrados em áreas litorâneas, e surgiram tipicamente no período das colonizações. Por essa razão, os pidgins tendem a ser baseados nas línguas dos colonizadores europeus: Francês, Holandês, Espanhol, Português e Inglês. Quase a metade de todos os pidgins e crioulos têm o Inglês como elemento. Em geral, seu papel está diretamente relacionado a questões de ordem política e social. Quando se diz que os pidgins ou crioulos se baseiam nesta ou naquela língua é porque a maior parte do vocabulário foi tomado da língua em questão, enquanto a estrutura gramatical tem influência de outras línguas, geralmente conhecidas como substrato. Assim, crioulo de base francesa significa que ela tomou do francês maior parte do seu vocabulário. No estado do Amapá, na região do Oiapoque, podese encontrar exemplo de crioulo de base francesa. Quando um pidgin tornase um crioulo? Um pidgin tornase um crioulo quando ele for adquirido como língua materna de uma nova geração. Nessas circunstâncias, os pidgins rapidamente desenvolvem um maior número de fonemas, um vocabulário mais amplo, sintaxe mais complexa e uma grande variedade de opções estilísticas, permitindo ao usuário opções de escolhas, dependendo da situação. Contudo, nem todo pidgin tornase um crioulo, e, às vezes, um pidgin e um crioulo podem coexistir em centro urbanos e rurais. Levando em consideração aspectos históricos, geográficos e linguísticos, podemos reconhecer dois grandes grupos de línguas crioulas: as do Atlântico e as do Pacífico. As primeiras tiveram sua formação nos séculos XVII e XVIII, no Caribe e na África ocidental, enquanto as últimas, tiveram sua origem, principalmente, no século XIX. As do Atlântico, resultaram, em geral, do comércio de escravos no ocidente da África, de onde veio grande número de escravos para serem distribuídos entre os países através do Caribe. Também do Reino Unido muitas delas foram transplantadas pelos seus imigrantes. As línguas crioulas do Atlântico possuem um mesmo substrato, o que justifica compartilharem muitos de seus traços. As línguas crioulas do Pacífico têm substrato constituído por diferentes línguas e, além disso, tiveram condições socioculturais diferentes das do Atlântico. Nas duas áreas, o aparecimento dos pidgins tiveram forte influência das plantações, apesar de, no Pacífico, os trabalhadores não serem, em geral, escravos; sim, homens recrutados e contratados. Isto contribuiu para que o processo de crioulização do Pacífico fosse mais gradual e menos abrupto do que o do Atlântico.

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C ioulos, com os african s, podem d senvolver e a ponto d se tornare

línguas livres, com pouco

ou nenhu a interferê cia da líng a parente uropéia. Contudo, muitos crioulos baseados n Inglês sof  em pressão do poder local em presença da língua padrão. Nessas circunst ncias, um continuum p scrioulo p de desenvolverse. Diferentes formas do crioulo podem tornarse so ialmente estratificadas: o criolulo plenamente livre falado por rabalhador s manuais, ariedade b siletal ; uma variedade

ais ligada à forma padrão, falada p las

elites sociais, o acrolet  , com variedades entre si, o mesol  to. O acrol  to pode ev luir para u a nova lín ua, como é o caso do Ingl s Jamaican . Isto é parte de um p ocesso mai amplo, co hecido co o xização (por exemplo, i dianização, americanização e assim por diante). C so a pressão de poder do padrão l cal seja muito forte, o rioulo pod tornarse escreolizad , e as varieda es basiletais e mesole ais tornam se estigma izadas e as ociadas co

a falta d letramento e

ignorância. Nessas circ nstâncias, governo lo al sempre roíbe o uso do crioulo, onsiderado impróprio, as escolas e o  jornais não o utilizam. Exceto a lealdade à líng a e o prestí  io coberto, ou implícito, a sustenta, do contrário o crioulo pod desaparec r ao perder todos os seus falantes. A esar de se em muito tilizadas pela populaçã , a maior parte das lí  guas crioulas não goza de reconheci ento oficial nos paises m que são aladas. Lin uistas do C ribe e do P cífico têm lutado para ue os crioulos mudem de tatus e sejam normaliz dos, a fim de poderem er utilizados com fins educativos, via de regr , os govern s se mantê

Agor é co voc

as,

omissos.

No Brasil, existe uma rande discussão acerca da base do Português aqui falado. Busque a literatura pertine te e aprese te os difere tes posicionamentos sobr a presença do crioulo! no Português Brasileiro.

Etnia, bilin uismo, digl ssia E

muitos p íses do mundo, há u a grande p edominância do uso de mais de ma lingua. Em

termos oficiais, muitos deles são d claradamente monolíngues, a exemplo dos Estados Unidos do Brasil. ão se deve es uecer, entr tanto, que ao lado das línguas oficiais predominantes ness s países ditos monoglotas, há a convi ência com utras língu s, a exemplo das língu s indígenas. Há també

comunidades que fal m,

além da lingual oficial, uma outra lingua, com é o caso os povos o iundos de utros paíse comunica

utilizando lingua materna. Nos e tados do sul do Brasil,

que aind se

comum gr pos ainda f  larem ale ão,

italiano, ja onês etc., r flexo da colonização. O uso da ling a, embora seja visto co o símbolo acionalista, pode tamb m identific r diferença de etnia, seja la racial ou cultural. LETRAS | 83

Ao falar, o indivíduo pode escolher usar uma lingua específica ou um dialeto, ou um regitro, ou um sotaque, ou um estilo, ou seja, usar um código em diferentes ocasiões e com diferentes propósitos. A escolha do código pode ser usada para se identificar com outros falantes. Em geral, os falantes têm a sua disposição diferentes códigos, mesmo quando fala apenas uma lingua. Nesse caso, a mudança de código poderá acontecer, por exemplo, com a alteração do estilo, indo do estilo mais formal para o menos formal. Quando se fala em mudança de código, a ela se associa a noção de codeswitching, segundo a qual a escolha do código é determinada pelo domínio dos falantes. A situação de codeswitching implica o movimento no domínio de um código para outro. A habilidade de falar mais de uma lingua se refere à capacidade bilíngue ou multilíngue do falante. Assim, o indivíduo que fala mais de uma lingual é chamado de multilingue. Esse termo também pode ser utilizado para aquelas comunidades em que duas ou mais línguas são comumente faladas pela maioria das pessoas. Bilinguismo tem sido, com frequência, definido e descrito em termos de categoria, de escala ou de uma dicotomia. Assim, podemos pensar em bilingue parcial x bilingue ideal; bilingue coordenado x bilingue composto. A essas categorias estão atrelados fatores como proficiência, função etc. Uma das primeiras definições de bilinguismo surge com Bloomfield, para quem corresponderia ao controle do falante nativo de duas línguas. De lá para cá, outras acepções foram adotadas, admitindose, por exemplo, que se esse controle de duas línguas não fosse completo, e aí teríamos um bilinguismo caracterizado como incipiente. O uso do bilinguismo pode, muitas vezes, contribuir para a mudança ou morte de uma das línguas. Em geral, a comunidade monolíngue que passa a bilingue pode viver uma situação diglóssica. Com o tempo, a língua que detém maior poder na comunidade pode contribuir para que a outra passe a ser utilizada com menos frequência, até chegar ao seu desaparecimento. Os anos 50 do século passado foram uma década de muitos estudos voltados para o contato linguístico, fornecendo muitos estudos descritivos e várias propostas teóricas, promovendo, assim, o interesse pelo desenvolvimento de mais pesquisas. Texto como os de Weinreich  Languages in Contact e o de Haugen  Bilingualism in the Americas   procuraram salientar a necessidade de mais estudos interdisciplinares com vistas à identificação de fatores extralinguísticos que possam associarse a este campo de estudo. Quando duas língua estão em contato, os falantes de uma língua podem aprender elementos da outra. Essa aquisiçao da língua nãonativa produz o bilinguismo. Embora a mudança resultante nos sistemas sejam um problema puramente linguístico, o bilinguismo em si é, essencialmente, sociológico. Vários exemplos de línguas em contato sugerem que o bilinguismo é raro, caso esperemos o balanceamento entre os dois grupos de falantes. Em geral, o que observamos é que falantes de um dos grupos de fala tornamse mais bilingues do que outros. Isto pode resultar do domínio que um grupo tem sobre o outro. A língua do grupo mais forte é sempre mais privilegiada, e isso faz com que o grupo mais fraco aprenda a língua do outro grupo.

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Visto historicamente, duas coisas podem resultar do con ato linguís ico em uma determin da comunidade: primeiro, o bilinguis o pode ser indefinida ente prolo gado, de f  rma que a bas as línguas continuem a ser apren idas; segun o, uma das duas línguas pode cair m desuso, , nesse cas , podese e tar diante de ma mudan a linguístic , e o biling ismo cessa com a mor e do ultimo falante da língua que ão está sendo mais apren ida. F lar de bili guismo no Brasil não é algo muito comum, considera do que essa nào é uma característica da maioria das comu idades brasileiras. No nordeste rasileiro, p r exemplo, praticamente inexiste esse tipo de comunidad . Em geral, em todas elas s indivíduos falam ape as a lingua portuguesa. Ao contrário, da regiã sul, em que indivíduos de várias com nidades do inam mais de uma lingua. Nas comunidades em q e duas va iedades de lingua são usadas, e onde há u a divergê cia funcional i stitucionali ada no uso, dizemos haver diglossia. Situação diglóssica é aquela, po tanto, em ue convivem uas línguas, cada uma delas servindo para u indígenas no Brasil, co

determina o fim. Sab mos que há comunidades

forte pred mínio do P rtuguês, mas com a utilização da li gua indígena para fins, por

exemplo, r ligiosos e c lturais. Po emos afirm r que uma situação diglóssica corr sponde a uma distribuição compleme tar, ou seja, onde uma língua for us da a outra ão o será. Um dos mais importantes traços da diglossia é a especializ ção de cada uma das ariedades. Em determina as situaçõe apenas uma variedade é apropriada, enquanto que, em outras, só a outra varieda e é que é apro riada. O estudo das iglossias é e grande v lor para qu entendam s os proces os de mudança linguística.

Agor é co voc

elate situaç es em que a língua falad reflete cad um dos conceitos dessa seção.

 As línguas a sociedad Q uantas línguas existem o mundo? E ta não é u a pergunta fácil de ser respondida. Além do fato de, por uestões práticas, ser di ícil estabelece mos esse

úmero, existe o problema de,

uitas vezes, estarmos diante de um continuum

linguístico, onde as fro teiras são difíceis de marcarmos. D sde as últi as década do século passado, m itos linguis as têm des nvolvido e tudos voltados para uma rande quantidade de lí nguas. Tod s esses est dos resultam na concl são de que não há razões

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linguísticas para dizermos que uma língua é superior ou inferior em relação a uma outra. Com isto, podemos afirmar que todas as línguas podem gozar do mesmo status. Todas elas são constituídas de sistemas complexos e são igualmente válidas para seus fins. É verdade que as línguas diferem, mas elas diferem apenas no que elas têm a dizer, não no que elas podem dizer. Às vezes, em uma língua, precisamos de apenas uma palavra para dizermos o que em outra seriam necessárias duas ou mais. Algumas línguas podem ter vocabulário mais amplo sobre alguns tópicos, mas isto é, simplesmente, um reflexo das necessidades dos seus falantes. O fato de nenhuma língua ser melhor do que outra é de suma importância para o papel da língua na educação. No caso do Português falado no Brasil, que representa uma só língua com algumas diferenças quando se compara falares de diferentes regiões, não podemos dizer que um falar é superior ou inferior a outro. Todos os falares são igualmente complexos, estruturados e sistemas linguísticos válidos. Não existe evidência para sugerirmos que um falar seja mais expressivo, mais lógico do que qualquer outro, ou postular que há falares que são mais ou menos avançados, quando são comparados. Os estudos realizados no Brasil sobre os diferentes falares têm abordado questões de natureza fonológica, sintática, lexical, semântica, discursiva etc. Podemos afirmar que tais diferenças não afetam o sitema gramatical da língua. A correlação entre o que se fala no norte e no sul, ou caso se deseje comparar outras regiões, não acarreta problemas de compreensão entre os falantes, e, quando isso acontece, é facilmente resolvido. Temos, muitas vezes, diferenças entre os falares que dizem respeito, principalmente, ao uso de certos itens lexicais. Isto, podemos dizer, reflete questões culturais locais inerentes à comunidade. Muitas pessoas podem não concordar com a idéia de que todos os falares são igualmente bons!. Elas podem achar que o falar do sudeste é melhor do que o do nordeste e viceversa. Para essas pessoas, a língua padrão do Brasil deve ser a de sua região. Atitudes dessa natureza não têm fundamento no fato linguístico. Não há parâmetro linguístico para avaliar um falar ou sotaque como melhor ou pior do que qualquer outro. Caso questionemos se as atitudes em relação à forma de falar são de caráter linguístico ou social, a resposta é que não são, completamente, de caráter linguístico. Elas são atitudes sociais. Julgamentos que parecem ser, na verdade, sobre a língua, são, de fato, julgamentos baseados nos valores culturais e sociais, e têm muito mais a ver com a estrutura social da comunidade do que com a língua. O que acontece é que, em qualquer sociedade, diferentes grupos de pessoas são avaliadas de diferentes formas. Alguns grupos têm mais prestígio e status do que outro, e, como resultado, as formas de falar e sotaques associados a esses grupos tendem a ser mais favoravelmente avaliados do que outros falares ou sotaques. Algumas pessoas podem acreditar que existem bons! e maus! falantes devido às conotações sociais, mais do que pelo fato de acreditarem que eles são inerentemente superiores ou inferiores. É possível que suas avaliações digam respeito muito mais aos diferentes sotaques. Esses, sm, em geral, são avaliados como uns sendo melhores do que outros. Há quem diga que os sotaques do sul e do sudeste são mais agradáveis, mais atrativos, mais bonitos, mais charmosos, e que os do nordeste são mais feios, mais brega etc.

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Tais julgamentos, com certeza, são de ordem estética, como no caso dos falares, por trás desses julgamentos estão as conotações sociais. Não é difícil provar que isso é verdade. Primeiro, a avaliação do sotaque tem a ver com a classe social. Pessoas de classe social mais alta são acreditadas terem um sotaque mais bonito, o feio está associado às pessoas de classes sociais menos privilegiadas. Segundo, não é raro os sotaques considerados feios estarem vinculados a zona de habitação das pessoas. Pessoas de zona rural, em geral, são consideradas terem o sotaque feio. E também isso se estende à região. Nordestinos têm sotaque feio, afirmarão as pessoas do sul e do sudeste. Nordestinos têm sotaque bonitinho!, "engraçadinho!, também dizem eles. No Brasil, tais atitudes, chegam a ser preconceituosas, com reflexos em vários campos do cotidiano. O sotaque regional, muitas vezes, pode influencias na concessão de, por exemplo, postos de trabalho. E isso ocorre no Brasil como um todo. Até aqui, vimos que os  julgamentos sobre algumas variedades como sendo melhores do que outras não têm base no fato linguístico e que o mesmo também é verdade para os  julgamentos estéticos sobre a relativa atratividade de diferentes sotaques. O Portugês padrão, vale dizer, está associado a falantes de status mais alto na comunidade e tem prestígio apenas por essa razão. Para muitas pessoas, na verdade, o prestígio do Português padrão é tão alto que eles não só o consideram "bom!, no sentido referido anteriormente, mas também o consideram correto. Não poucas vezes, as pessoas entendem que determinados usos são considerados corretos e outros são considerados errados. Quando alguém diz que uma forma de falar é "ruim!, ela realmente está se referindo ao status social baixo do falar. O mesmo é verdade para a noção de correção. Traços gramaticais que são vistos como corretos são, exatamente, aqueles que também são considerados "bons!, por conta de suas implicações sociais. De um ponto de vista puramente linguístico, não faz sentido falarmos de "certo! e "errado! em língua. Assim como ninguém sugeririra que uma língua é mais correta do que outra, não há razão para se acreditar que um falar seja mais correto do que outro. Apesar disso, temos de reconhecer que muitas pessoas acreditam que algumas construções

e

pronúncias do Português sejam erradas. Algumas razões devem ser colocadas para sustentar essa visão. Primeiro, podemos alegar que uma determinada forma seja um erro. Professores que desconhecem, por lacuna em sua formação, os conceitos linguísticos atrelados a essas noções, têm, em geral, o hábito de nomear aquele uso da língua que não está de acordo com a norma gramatical como sendo errado.. Em relação a isso, podemos elencar uma grande quantidade de exemplos nos diferentes níveis linguísticos, seja da fonologia, da morfologia, da sintaxe etc. Segundo, todos os falares têm gramáticas e elas são todas iguais no verdadeiro sentido da palavra. Gramática é um termo que, dentre outras coisas, se refere à forma como as palavras são combinadas nas sentenças, e também às relações que existem entre as sentenças. Ela também se volta para as funções das diferentes partes da fala e para as restrições sobre que combinações de palavras são possíveis. Visto que esses são problemas que se afetam igualmente, todos os falares devem ser considerados ter gramática.

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Uma das grandes dificuld des em relação ao Port guês falado no Brasil é definirmos variedade ue deve ser considerada p drão. A falarmos e língua pa rão, não d vemos esq ecer que el não constitui uma cat goria clara; há diferenças de grau, mesmo entre s línguas b m estabelecidas. Das lí nguas euro éias, o Francês é, talvez, a língua mais padronizad ; mais do que, por exe plo, o Ingl s e o Alemão. Em sua h rança imediata do Lati , o Francês ab orveu muit s de seus c nceitos de orreção e d elaboraçã intelectual, com isso o francês tornou se um modelo para outras línguas padrão. Q uando os escritores ingleses, no sé ulo XVIII, d bateram s poderiam riar uma a ademia inglesa para regular a língua, a idéia de uma instituição assim veio o Francês.

proposta f oi rejeitada porque o In lês

não deseja a duplicar o que eles vi m como tir nia do Fran ês. Na França, como em outros países, o processo de padronizaç o esteve in imamente ligado à hist ria da própria nação. Como as pessoas desenvolv ram um se tido de co são em tor o de um g verno com m, sua língua tornouse u

veículo e um símbolo e sua unida e.

No Brasil, em geral, qua do pensa os em líng a padrão, empre obs rvamos mais a sua fo ma escrita, no teada pela gramática normativa, q e a torna niforme de norte a sul. Não pode os pensar em padrão, co siderando penas a fal . Ao fazermos isto, entrarão em  jo o interesses outros qu extrapola

os

aspectos li guísticos. As sociedades brasileiras que detêm maior pod r, na maioria das vezes, reivindica

a

sua forma e fala com a padrão, erando preconceitos q e são nocivos e discrimatórios, afe ando a vida de muitos cidadãos.

Ativi ade Você acha que, no Brasil, exi te preconceito linguísti o? Em caso afirmativo,  justif ique. Em geral, quand as pessoas mudam de ma cidade para outra, rincipalme te em se tratando de cidades d regiões dif  rentes, ocorre um proc sso de aco odação linguística. Quais os aspect s da língua ue são atin idos primeiro? Que aspectos de sua varieda e linguístic você acredita ser difer nte do de outr s regiões? fato de us r a língua c mo usa já l e causou al um proble a? Em caso afirmati o, de que natureza? Aspectos relacio ados à líng a, como fo ologia, sint xe, morfologia, semântica, pod m ter uso diferenciados dependend da região. Acha que o tatus do falante pod correlacionarse a isso? De que for a?

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Agoxra é co voc

Fa a um levant mento de alguns itens lexicais que variam de sentido de uma re ião brasileir para outra.

Concluindo  Primeira Parte

Nesta primeira parte, tra amos de conceitos que são funda entais para a compree são do uso da língua na s ciedade de uma forma geral. Tais c nceitos no teiam falan es e comunidades e determinam como a língua po e ser usada. Na segunda parte, a seguir, tratar mos de a pectos mais específic s, com foco principal na Sociolinguí  tica Variaci nista. Ante , porém, ap esentarem s alguns fu damentos da Dialectologia.

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UNIDADE II

SOCIOLINGUÍSTICA E DIALECTOLOGIA Conceitos Fundamentais

 VARIAÇÃO ! VARIANTE ! VARIÁVEL ! MUDANÇA - TEMPO REAL TEMPO APARENTE - RESTRIÇÕES

Objetivos

Apresentar a diferença entre a Sociolinguística Variacionista e a Dialectologia. Apresentar diferentes concepções acerca da concepção de língua que antecederam a sociolinguística variacionista. Discutir conceitos relacionados aos estudos sociolinguísticos.

Dialectologia: fundamentos Por muitos séculos, as diferenças na fala têm chamado a atenção de muitos estudiosos. Por volta do século XVIII, vários glossários dialetais surgiram na área de língua inglesa, cujas observações sobre características regionais já datavam do século XII. Essas listas apresentavam peculiaridades lexicais que eram predominantes em algumas localidades. Foi, porém, a partir do século XIX, com o desenvolvimento da filologia comparativa que o estudo dialetal teve seu maior impulso. A filologia comparativa lidava com a história das línguas e as relações entre si. Um dos seus objetivos era estabelecer as correspondências entre línguas diferentes, mas relacionadas, elaborando a genealogia das línguas, e mostrando que diferenças deveriam ter ocorrido dentro de cada língua. Para realizar tal tarefa, os filólogos procuravam os dados mais puros de cada língua, observando que os dialetos sempre preservam as formas mais regulares e mais antigas do que uma língua padrão. Com o crescente interesse nos dialetos, o início do século XIX conta não só com um grande número de glossários dialetais, mas também com o aparecimento das gramáticas dialetais: essas eram muito mais do LETRAS | 90

que uma gramática no sentido usual, elas reuniam, em detalhes, as correspondências entre os sons e as flexões de um determinado dialeto, desdo os primeiros estágios da língua a que eles pertencem. Os estudos mais importantes sobre a dialectologia nos tempos modernos apareceram na Alemanha. A primeira gramática que tentou tratar não só de um dialeto, mas de todos os dialetos de uma área foi publicada em 1821 por Johann Andreas Schmeller. The dialects of  Bavaria! deu uma ideia da gramática histórica e da geografia da língua alemã na Bavária, incluiu um pequeno mapa classificando seus dialetos, provavelmente o primeiro atlas linguístico. A primeira pesquisa dialetal de uma área foi realizada em 1873 por L. Liebich que enviou um questionário pelo correio para professores de uma escola primária em toas as áreas que se falava alemão na Alsácia. O questionário solicitava uma grande quantidade de informação sobre a fonologia e a gramática locais, e seus resultados foram escritos como uma gramática dialetal da Alsácia, com vários mapas. Liebich concluiu seu trabalho em 1876, ano que pode ser considerado um marco na história, tanto da dialectologia como da linguística. Infelizmente, esse trabalho nunca foi publicado. Voltado para o estudo dos dialetos, ainda na Alemanha, George Wenker desenvolveu uma pesquisa que começou em Dusseldorf, no ano de 1877, e que viria a estenderse por todo o império alemão, resultando no Atlas Linguístico do Império Alemão. Sua publicação se deu entre 1953 e 1978. A pesquisa foi realizada com o envio de um questionário a todas as vilas que tinham uma escola. Esse questionário era compreendido de 40 sentenças, contendo aspectos gramaticais e fonéticos selecionados. Foram enviados 52.000 questionários, mas muitos deles não foram devolvidos. Vinte anos depois que Wenker começou sua pesquisa na Alemanha, teve início uma grande pesquisa na França, realizada por Jules Gilliéron, que, em 1880, publicou um atlas linguístico cobrindo algumas das 25 localidades na área de fala francesa na Suissa. O Atlas Linguístico da França começou em 1897. Diferente de Wenker, Gilliéron, usou o método de investigação in loco. Para realizar a tarefa, ele recrutou Edmond Edmont que, utilizando uma bicicleta, visitou 639 localidades rurais na França e nas áreas de fala francesa da Bélgica, da Suíssa e da Itália. Depois de completar sua tarefa, ele visitou 44 localidades na Córsega para o Atlas Linguístico da Córsega, publicado em 1914. A pesquisa de Gilliéron e de Edmont serviu de modelo para muitas pesquisas dialetais que mais tarde foram realizadas na Europa, nos Estados Unidos e no Brasil. Ainda na Europa, de particular interesse foram as pesquisas realizadas pelos estudantes de Gilliéron, Karl Jaberg e Jakob Jud. Quando das pesquisas realizadas com os dialetos italianos na Itália e no sul da Suíssa, eles refinaram os métodos anteriores. Dentre suas melhorias, está o esboço de um questionário que apresenta uma sequência de tópicos mais ou menos natural, de forma que o interesse do informante se centre mais no assunto principal do que no uso linguístico propriamente dito, como aconteceu no passado. Eles também estenderam suas pesquisas aos centros urbanos e às diferenças lingüísticas entre as classes sociais. A observação de que a fala do povo não pode ser simplesmente equivalente à fala rural foi um importante

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avanço, m s, infelizmente, aos di letos sociais e urbano não foi d da a atenç o que eles mereciam por muitos e muitos anos. Muita coisa considerada boa na pesquisa de G illiéron foi mantida, mas outras

elhorias fo am

acrescenta as: (a) a in estigação reliminar e a sempre c nduzida antes da pesquisa propriamente dita; (b) muitas questões foram mantidas, outras foram descartada , e novas foram introduzidas; (c) o uestionário foi dividido e

uma part mais geral e uma parte mais específica; (d) melhoras n s técnicas e pesquisa de

campo foram introduzi as a partir a experiência de Edmo t. A metodologi utilizada nos estudos ialetais, em geral, seguiram a base a pesquisa francesa co pioneiro trabalho de Guilliéron. anteriormente, e era

ara ele, a

localidades a serem investigada

o

deveriam ser escolhidas

observados aspectos omo densi ade populaconal, facilidade de comunicação

tc.

Hoje, as localidades t mbém são escolhidas com antecedência, ma isso é fei o onde o studo piloto é conduzido, ou, se isso não acontec , o pesquisador tem alg m conheci ento prévi sobre a co unidade. Na pesquisa ialectológic propriamente dita, dois métodos odem ser sados: o direto, aquele em que o pesquisador visi a a comuni ade e faz o contato diretamente c m o infor ante; e o indireto, em ue um questionário é envi do via cor eios para q e o informante responda. O primeiro é o mais seguro, e ele é o que tem si o seguido pela maioria dos que desenvolvem e tudos diale ais. Uma d s desvantagens do mét do direto é qu o resultad da pesquisa leva muit tempo par ser obtido. O indireto, apesar de

ais rápido, em

a desvanta em de nem todos responderem aos questionários. No Brasil, as pesquisas dialetais tê

sido bas ante produtivas. Para Suzana Car oso e Carlota

Ferreira, a bas profes oras da Universidade Federal da Bahia, a hist ria da dialectologia brasileira tem rês fases. A primeira fa e vai de 1826 a 1920, uando foi ublicado o exto de A adeu Amar l, denomin do Dialeto Caipira. A seg nda fase vai de 1920 até 1952, quando são dados os primeiros passos ara os estudos voltados para a geogra ia linguístic no país. A terceira fas , atestam a autoras, "tem como marco um ato do governo brasileiro, o Decreto 30.6 3, de 20 de março de 952, que, a definir as finalidades a Comissão de Filologia da Casa de Rui Barbosa, ue vinha d ser criada, assentava omo a prin ipal delas a elaboração do atlas lingüí  tico do Brasil!. H  je, Suzana ardoso coordena a realização do A las Linguísti o do Brasil (ALiB), que bjetiva realizar estudos dialetais abrangendo todo o território nacional. Diferente de outros atlas  já realizados no Brasil ue muito focalizaram o l xico, o ALiB, em seu questionário, contempla os diferentes aspectos lingüísti os:

fonológicos, mórficos, sintáticos, semânticos, lexicais, textuais etc.

Agor é co voc

uscar na literatura pertinente, e já existente no Br sil, informa ões acerca dos Atlas elaborados, avaliando seus objetivos e característic s.

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SUGESTÃ DE LEITURA:

CARDOS , Susana Alice Marcelino. A diale tologia no Brasil: perspecti as. D.E.L.T.A. Vol. 15, 999. Disp nível em ww.scielo.br. Informaç es sobre o Atlas Linguístico do B asil Visitar o ite www.u ba.alib.br

Sociolinguística Variaci nista É impossível egar que a língua seja m fenômeno social. Po ém estudála sob essa erspectiva ão foi sempre consensual. Se observarmos os estudos de Platão e Aristóteles, na Grécia antiga, constatare os que a preo upação era com a cate orização das formas lin uísticas, ouseja, com a a gramática. Nenhum d les chamou a atenção para a variaçã linguística de qualquer natureza, e sua conti uição para o pensamento occidental oi fundamental para q e o aspect social da lí ngua nunca fosse obse vado. Na a tiguidade, em menção à variabilidade na gramáti a do Sânscrito Pãnini (6 0 BC), mas suas observações foram negligenciadas por seus sucessores, classificandoas de margin is e inaceit veis. O estudioso clássico que odemos considerar co o o patriar a da sociolinguística é

sábio rom no

Varrão (11 27 BC), qu não só rec nheceu a v riação, mas também ligoua ao uso vernacular. Infelizment , o tratado lin uístico de arrão, que obrevive a enas como um fragme to, não de origem a nenhuma es ola de pensam nto. Ele pe manece co o uma figu a isolada na história do estudo da lí  gua. A é o apareci ento da sociolinguístic , no seu se tido mais a plo, inclui do estudos de discurso, de pragmática etc., não h uve tentati as de desc brir o signif icado social da variação linguística. Isso se justif ica, talvez, pel fato de as ciências sociais serem relativame te  jovens. A sociolinguística, como um ramo de ciência social da linguís ica, é novata, se comparada ao ramo conhecido como lingu stica teórica, que desce de de estudos mais veneráveis da gra ática, da retórica e da filologia. Um dos usos o temo sociolinguística referese a s estudos que se basei m no trabalho empírico da língua, seg ndo é fala a em seu ontexto so ial. Nesse sentido, sociolinguistica é uma metodologia, uma forma de fazer linguísti a. A sociolinguística é uma isciplina relativamente nova que ainda busca ncontrar seus fins, e ai da apresenta

uitas áreas de discordância sobre seus método e seus obj tivos.

Os estudos d linguagem dos séculos XVII e XVIII, séculos das gramáticas gerais, foram fortemente marcados elo racionalismo, pois a linguagem ra estudad como mer representação do pensamento. O lvo que esses estudos queriam ati gir era a línguaideal língua u iversal, ló ica, sem equívocos, sem ambiguida es, capaz d assegurar unidade d comunicação. Nesses studos, pre supunhase uma fixide da língua, co sequentem nte, as d scrições gramaticais tinham um caráter es encialment

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normativ

e

filos6fico. Exemplos dessas tendências encontramse na Grammaire de PortRoyal e na teoria linguística de Du Marsais. A primeira metade do século XIX é marcada pela Linguística Histórica, com as gramáticas comparativas. O ideal de universalidade cede lugar ao fato de que as línguas estão aptas a sofrerem mudanças com o tempo, de forma regular e sistemática. Não é mais a precisão, mas a mudança o que importa. Buscamos, então, a reconstrução da línguamãe (protolíngua). Passa a vigorar o ideal romântico: uma tentativa de reconstruir o estado ideal da língua (estudo do indo europeu). Esses estudiosos elencavam palavras cognatas de vários sistemas, com semelhanças de forma e sentido, e, através da comparação, buscavam o estabelecimento da protolíngua. As eventuais mudanças sofridas pela língua serviram de base para inúmeras teorias ligadas à linguagem, e a diversidade das explicações para essas mudanças vai dos estudos neogramáticos aos variacionistas. Antes de chegarmos aos estudos variacionistas propriamente ditos, entendemos ser fundamental uma passagem por visões teóricas que a antecederam e que a motivaram.

Perspectiva neogramática

No século XIX, na década de 70, um grupo de acadêmicos germânicos da Universidade de Leipzig  Alemanha, conhecidos como neogramáticos, procuraram demonstrar que a Língua é parte da coletividade dos falantes e não um organismo independente. Para eles, são os falantes que determinam a evolução da Língua. Os cânones desta doutrina foram estabelecidos por Osthoff, Brugmann, Hermann Paul e Leskien. Os neogramáticos foram os primeiros a observar a regularidade na mudança dos sons, intensificando o estudo das mudanças linguísticas. Os princípios mais importantes postulados pela escola neogramática são as leis fonéticas e a analogia. As leis fonéticas não admitiam que houvesse exceção as mudanças fonológicas; a analogia buscava explicar as mudanças, indicando que as formas mudadas seguiam padrões outrora existentes na Língua. De acordo com o principio das leis fonéticas (força mecânica), qualquer mudança de som se produz de acordo com leis que não admitem exceção, já que são resultado de realizações mecânicas. O princípio da analogia (força psíquica) representa uma exceção, e é através dele que podem ser explicados os fenômenos linguísticos de que as leis fonéticas não dão conta. Hermann Paul foi o primeiro linguista a isolar a língua como objeto de estudo linguístico. Toda a sua abordagem foi exposta na obra Princípios de Linguística Histórica, influenciando o pensamento linguístico da América e da Europa. No trabalho de Hermann Paul, podemos encontrar fundamentos relacionados ao estudo histórico da linguagem. Paul concebia a ciência da linguagem como uma analise do desenvolvimento dos fenômenos linguísticos. Para ele, o único estudo científico da língua é o estudo histórico, e todo estudo linguístico LETRAS | 94

científico, ue não seja histórico e

seus objetivos e méto os, só pode ser explicado em conse uência de uma

deficiência do investigador ou de d ficiências n s fontes de que dispõe. A doutrina adotada por aul é a psi ológica, ba eada no in ivíduo. Toda mudança é vista como o resultado de um proce so mental, ue faz com que o indiví duo promova uma "seleção" de ter os linguísti os, utilizando ns em detri ento de o tros, influe ciado pelas relações so iais. Apesar de

uito inovadores para a época, os postulados neogra áticos for m fortemente

criticados, rincipalme te por não dmitirem e ceções às

udanças, t ndo como ase a rigide da questã da

regularidade e o uso contínuo da a alogia. S huchardt f  i o maior oponente da teoria neogramática, principalm nte no qu se refere ao princípio d s leis fonéti as. S gundo ess

autor, a língua é re ulada por leis socioló icas, ou s  ja, no âm ito da mesma

comunidade linguística e do mes o dialeto e istem dive sas falas in ividuais que exercem inf luência u as sobre as outras. L' bbé Rouss lot compar ilha da afir ação de Sc uchardt, ao acrescenta que f atore como a idade, o sexo e a cultura podem distinguir o estilo e f ala dos indivíduos, rovocando, consequen emente, a ão uniformida e, mesmo as menores comunidades linguístic s. A ideia de q e a f ala é modificada de forma natural pel s indivíduos é retomada pela es ola estruturalista, fortemente representada por Ferdinand d Saussure, cu jos pressupostos apresentaremos a seguir.

Agora é co você

C nsultar a lit ratura e apresentar o pensamento n ogramático sobre as leis onéticas e a a alogia, buscando exemplos que as ilustrem.

Perspectiva estruturalista

O começo d

século XX é marcad

pelo iníci

do E st rut  rali smo , movimento i entificável em

Linguística a partir da ublicação o C ours de lingui stique general e d Ferdinand de Saussure em 1916. Ele conceitua

língua co o um "sist ma de sign s", ou se ja um conjunto de unidades que estão organizadas

formando m todo. A metodologi estruturali ta se preocupa com as relações n interior de um sistem . A

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intenção não era formar um sistema de uma língua particular, mas elaborar um sistema de conceitos gerais que pudesse dar conta de todas as línguas. Para Saussure, a linguagem é vista a partir de dois angulos: um individual (f ala ou  par ol e ) e um social (língua ou l angue) . O ob jeto de suas investigações é a língua (ideal), que é de natureza puramente psí quica e está depositada como produto social na mente de cada f alante de uma comunidade. É exterior ao indivíduo, e este não pode nem criála, nem modificála. Assim delimitada, ela é de natureza homogenea. Já a fala, que tem uma natureza psicof ís  ica, é a realização concreta da língua pelo su jeitof alante, sendo circunstancial e variável, por isso ele a exclui de seus estudos. Ao lado da dicotomia langueparole, Saussure também desenvolveu uma outra que diz respeito à divisão dos estudos linguísticos em sincrônicos e diacrônicos. Saussure prefere estudar a língua sob o aspecto si ncr ônico, pois, nesse nível, a língua é concebida como um sistema completamente estático, homogêneo e

regular. Já no nível d iacr ônico , ela é vista como um elemento evolutivo; a preocupação é com os termos que se substituem uns aos outros no tempo em nível si ncr ônico , não com as relações entre os termos coexistentes de um estado de língua. A investigação estruturalista saussuriana baseiase na língua como si stema homogêneo , estrutura definida por si mesma, encontrada na consciência do f alante, podendo ser estudada na ausência de uma comunidade de fala: a sincronia conhece apenas uma perspectiva, a do f alante, e todo seu método consiste em reunir o seu testemunho que existe na consciência de cada falante. Assim, o estruturalismo estuda a vida dos signos no interior da comunidade, baseandose em apenas um inf ormante e no seu próprio conhecimento da língua. Para Labov, estudar a língua  aspecto social  a partir de cada indivíduo, e a f ala  postulada como individual  inserida no contexto social constitui um paradoxo. A substância línguística representava, então, o principal objeto de estudo da corrente estruturalista europeia difundida por Saussure. Por outro lado, a análise do "conjunto da substância concreta da língua" constituí a a base do estudo do estruturalismo americano, representado principalmente por Leonard Bloomfield, para quem o processo de mudança da língua é impossí vel de ser observado; assim como é impossí vel a realização de uma analise dos mecanismos que influenciam essa mudança. Para esse estruturalista, a mudança fonética é representada apenas como uma alteração no movimento de produção dos sons, f enômeno que considera de natureza especif icamente mecânica. Na concepção de Bloomfield, a explicação para a mudança está no fato de o f alante relacionála ao comportamento linguístico de prestígio, ou se ja, por imitação, o f alante utiliza as formas consideradas prestigiadas, descartando as f ormas estigmatizadas. Essa posição de Bloomf ield f oi igualmente defendida por Hockett, para quem a mudança f onética está relacionada à não preocupação com o estilo linguístico, fato este que leva o f alante a uma pronúncia dos f onemas distinta da que fora outrora adquirida por ele. Para os estruturalistas da primeira metade do século XX, uma língua tem que ser estruturada para funcionar ef icientemente. Eles def endiam e pregavam que a noção de estrutura implica em ef etivo

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funcionam nto do sist ma; então, alar em mudança revel va problemas de concepção, pois, os períodos de mudança, s sistemas passariam p r fases men s sistemáti as.

Agor é co voc

evantar os pontos fundamentais entre os estruturalistas que t rnam a líng a iferente da ala.

Ref lita e apr sente su opinião obre a seguinte questão: a v riação presente na comunidade diz respeito apenas à fala ou ela também fa parte da língua?

Perspectiva gerativ ista Nos anos 50, surge o Ger  tivi smo, co

o linguist americano Noam Cho sky, que vi a língua como

um conjun o de sente ças e dava uma atençã especial ao seu carát r sintático. Ele estabeleceu a distinção entre com petência e desem penho. Segundo Joaquim Matt so Câmara Jr., a "forma ideal da lín ua" começou a ser estuda a através d teoria da competência" e a ativi ade relacio ada, a f ala (  par ol e ) , se estuda como o fenômeno e d esempe ho (perfor ance ). O escopo da ramática gerativa é descrever a co petência d um falanteouvinte ideal, pertencente a uma comunidade lin uisticamente homogên a, e que conhece sua lí ngua perfei amente. Este f alante não é afetado por condições irrelevantes de gramaticidade com limitações de memória, distraçõe , mudanças de atenção e i teresse, e rros de apli ação de seu conhecimento da língu no desem enho real. P ra Chomsky, a língua só é linguistic mente estudada até onde ela é ho ogênea, ou seja, na mente do falante. O que sai da mente, através da fala, e entra em contato com o

eio extern , faz parte do

desempen o do f alant e é irrelevante para s r estudado. Conf orme Chomsky, a ravés do estudo da lín ua, estudamos, também, o funcionamento dos me anismos m ntais. Fazendo uso de

étodos pur mente 1ógicos

e da intuiç o linguístic do pesquisador, é julg da a qualidade dos en nciados, relegandoos

título de bem

ou mal for ados. A representa ão da com etência lin uística de m f alante individual p ssa por u a formalização analí tica da f aculdade umana da linguagem, que a Gramática Gerativ chama de Gramática niversal. D sse

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modo, a competência linguística individual sit ase, empiricamente, n ma faculdade da mente humana, ão em padrõe linguísticos coletivos. É ainda de

homsky a dicotomia compet ence  /   performance, considerada com

uma possí vel

reformulaç o da dicot mia saussuriana langu  /parol e. A ompet ênci  equivale ao conhecim nto disponí vel em cada falante, ao passo que o d esempenho diz respeito à seleção e execução das regras que advêm d sse conhecime to. Com base no sis ema homogêneo, os gerativistas elaboram egras cate óricas que se relacionam com a co petência, sugerindo a elaboração de regras opcionais, q e explicam as f ormas ue fogem do paradigma d categoriza ão. Essas f o mas seriam, portanto, as formas va iantes. O modelo ge ativo elaborado por Chomsky (1965) absorve s idéias es ruturalistas, à medida ue estabelece a dicotomia "compet en e"  e "  perío mance"  co o objeto d estudo. A " compet ence"  correspo de um conhecimento abstrato das re ras da língua e a "  performance", seleção e execução de tais regras, o ue corresponde, basicamente, a distin ão saussuri na entre "l ngue" e "parole". Observamos ue o enfo ue da Ling ística  seja estruturalista, se ja g rativista  entralizase na língua enq anto siste a de sign s bem definidos, hier rquizados, sem considerar os aspectos variá eis inerentes à língua, que será objeto de estudo d proposta variacionista, como vere os a seguir.

Agora é co você

A artir da concepção gerativista da língua e do uso ue faz dela, distinga o que seria competência e o que seria esempenho. Utilize exe plos do seu cotidiano.

Perspectiva variacionista O estudo da variação tem origem, principalment , na observ ção de como as pessoas usam a lín ua em seu a biente natural e tam ém na ca egorização das diferentes formas de dizer a mesma coisa, dependendo de sua dis ribuição so ial. S gundo Cha bers (200 , p. 5), a s ciolinguisti a variacionista tem seu começo apenas em 1 63, quando William Labov apresenta

primeiro r lato de u a pesquisa sociolinguís ica no encontro annual da

Sociedade e Linguística da América (LSA), e n sse mesmo ano ele publicou The social motivation of a so nd change (L bov, 1963). São esses dois evento que deter inam a inserção dos e tudos linguísticos voltados para a identificação da correlação entre variantes linguístic s e fatores ociais. O termo Sociolinguística surgiu uma década antes em um comentário e Haver C. Currie sobre a noção de que as funções sociais

as signific ções dos fatores de fala oferecem um campo prolífico pa a a

pesquisa! tal campo é esignado c mo sociolin uística. LETRAS | 98

Na década de sessenta, surge a Teoria da Variação ou Sociolinguística Quantitativa, desenvolvida a partir da proposta de Weinreich, Labov e Herzog (1968), com o objetivo de descrever a língua e seus determinantes sociais e linguísticos, levando em conta seu uso variável. Esse modelo teóricometodológico discute a concepção de língua que as correntes anteriores, especif icamente o estruturalismo e o gerativismo, pregavam. A língua era vista como um sistema homogêneo, uniforme, estático, podendo ser estudada na ausência de uma comunidade de fala. A Sociolinguística rechaça essa relação entre lí ngua/homogeneidade e incorpora a idéia de variação sistemática motivada por pressões sociais que "continuamente operam sobre a lí ngua", não devendo, pois, ser estudada fora do contexto social. A Teoria da Variação opõese à ausência do componente social e à concepção de língua que até então impera na linguística estrutural e gerativa. Situase em relação ao con junto língua e socied ad e, considerando a variedade das formas em uso como ob jeto complexo, decorrente dos fatores internos, próprios do sistema linguístico, e dos f atores sociais que interagem no ato da comunicação. A variação da língua constitui, portanto, um dado relevante da teoria e da descrição Sociolinguística. Para Weinreich, Labov e Herzog (1968), um modelo de língua que acomodasse os f atos de uso variável, com seus determinantes sociais e estilísticos, não somente conduziria a descrições mais adequadas da competência linguística, como também produziria uma teoria da mudança da língua que superasse os paradoxos com os quais os linguistas históricos vinhamse debatendo há mais de meio século. Uma teoria da mudança deve, pois, conceber a língua  de um ponto de vista diacrônico e/ou sincrônico  como um objeto possuidor de heterogeneidade sistemática. É na heterogeneidade ref letida através do desempenho que se deve buscar estrutura, sistema e funcionamento da língua, bem como explicar o efetivo f uncionamento dos sistemas em momentos de mudança. Para tal, fazse necessário estudar a língua do indivíduo na comunidade em situação de f ala real. Na tentativa de estabelecer a tão propalada het erogeneidade si stemát ica, f ortemente def endida pelos autores da Teoria da Variação, são, portanto, apontados dois princípios básicos para o estudo da lí ngua: (i) deixar de identificar estrutura linguística como homogeneidade e conceber como opção racional a possibilidade de descrever ordenadamente a diferenciação numa língua que serve a comunidade. (ii) entender que as gramáticas nas quais uma mudança linguística ocorre representam gramáticas de comunidade de f ala. O modelo teóricometodológico variacionista busca a ordenação da heterogeneidade e considera a variação inerente ao sistema linguístico, sistemática, regular e ordenada. Propõese explicála, descrevêla, relacionandoa aos contextos social e linguístico. A Teoria da Variação enfatiza a variabilidade e concebe a língua como instrumento de comunicação usado por falantes da comunidade, num sistema de associações comumente aceito entre f ormas arbitrarias e seus signif icados. Ob jetiva explicar o processo de mudança linguística em f unção de diversos fatores, assim subdivididos: linguísticos, variáveis internas da língua; sociais, variáveis relacionadas ao falante como sexo,

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idade, grau de escolaridade, classe social, entre outras; e estilísticos, considerando os diferentes usos a depender da atenção prestada à fala. Essas variáveis atuam de maneira probabilística na variação da língua, sendo possível revelar quais ambientes linguí sticos inf luenciam regularmente a frequência de uma variante ou outra, e quais contextos lingüísticos, sociais e/ou estilísticos são mais relevantes para o fenômeno observado. Dessa forma, a pesquisa sociolinguística imp1ica levantamento cuidadoso dos registros de língua f alada, descrevendo a variável (conjunto de variantes), e traçando um perf il das variantes (diversas maneiras de se dizer a mesma coisa em um mesmo contexto, e com o mesmo valor de verdade); analise dos f atores estruturais, sociais e estilísticos condicionantes; encaixamento da variável no sistema linguístico e social da comunidade; avaliação da variável, para a confirmação dos casos de variação ou mudança. Já em 1966, Labov distinguiu entre variável e variantes. Variável foi definida como uma inconsistência ou discordância que uma determinada forma da língua pode exibir em relação ao padrão

abstrato!. E por variante entendese um valor específico de uma variável!. Por exemplo, o rótico em posição de coda pode ser considerado como uma variável. As variantes seriam as múltiplas possibilidades de sua ocorrência. A presença ou ausência dele, por exemplo, também são variantes. Como variáveis linguísticas, Labov (1966) elegeu três tipos: indicadores, marcadores e estereótipos. Uma variável é considerada um indicador quando ela tem um valor indexical que se correlaciona a um dos aspectos sociais de seu usuário. Como indicador ela é reconhecida pela comunidade em geral, e não está sujeita à variação estilística, ou seja, ela é relativamente uma característica permanente da fala de determinados indivíduos e grupos, que não mudam de uma situação para outra. Os marcadores, ao contrário, têm valor indexical como os indicadores, mas estão sujeitas à variação estilística. Se a fala é mais ou menos formal, a variável se alterna. Os estereótipos não se relacionam a fatores sociais, e estão sujeitos a mudança estilística. Os estereótipos demonstram visões sobre as normas de fala que podem estar em variância com os fatos reais e se baseiam nos hábitos de fala que foram, na verdade, comuns às várias gerações. E importante salientarmos que a dimensão histórica da variável pode se realizar a partir de uma projeção em tempo real (diacrônico), estabelecendo um espaço de tempo determinado cronologicamente, e/ou em tempo aparente (sincrônico), sendo necessário "um recorte transversal da comunidade de f alantes" obtendose variadas faixas etárias. Considerando que nem tudo o que varia implica mudança, mas que toda mudança pressupõe variação, é importante estabelecer se a analise sociolinguística das variantes aponta para uma variação estável (coexistência mutua no sistema linguístico) ou para uma mudança em progresso (duelo entre as variantes ate a permanência de apenas uma delas no sistema em questão). Nesse caso, a análise realizada em tempo real f azse necessária e relevante, pois a observação diacrônica poderá explicitar o estagio de coexistência ou não das variantes na comunidade linguística. A análise em tempo aparente, por sua vez, estabelece o estagio pelo qual passam as variantes no momento do recorte temporal em que estão sendo observadas. Tratase de uma analise específica daquele momento, sendo relevante a observação sincrônica do estágio das variantes. LETRAS | 100

Uma das mais signif icativas contribuições dos estudos sociolinguísticos nos últimos anos foi a descoberta de que vários dialetos sociais são dif erenciados entre si não apenas por conjuntos discretos de traços, mas também pelas variações nas f requências com que certos traços ou regras ocorrem. Estudos de dialetos sociais têm claramente indicado que a diferenciação dos dialetos não pode ser indicada simplesmente por formulações categóricas. Não é mais possível, como tradicionalmente, indicar que algumas regras são categóricas e outras opcionais. O f ato de uma regra opcional específica aplicarse em contexto (linguístico ou social) foi considerado irrelevante na formulação das regras para uma determinada língua e dialeto. Se uma gramática observava que o grau de flutuação variava mais em certos contextos do que em outros, ele era descartado como inf ormação incidental, isto é, não tinha relação com a formulação real da regra. O grau de opcionalidade não era considerado na descrição linguística da competência da língua. Estudos detalhados de variação, entretanto, têm indicado que há uma regularidade sistemática da variação. Em parte, essa regularidade pode ser atribuída a fatores sociais como idade, sexo, estilo, c1asse social etc. Mas também pode estar correlacionada a variáveis linguísticas independentes, a exemplo do contexto fonológico, da extensão do vocábulo, da tonicidade etc. O estudo das variáveis linguísticas, mais do que as constantes categóricas, acrescenta uma nova dimensão ao exame das dif erenças de fala. Os estudos iniciais indicam como os métodos quantitativos são utilizados e também como as correlações entre os padrões sociolinguísticos e sociais surgem. O valor particular de uma determinada variável linguística é visto como uma função de sua correlação com variáveis extralinguísticas e com as variáveis linguísticas independentes. A variável linguística, em si mesma uma abstração, e realizada na f ala real por variantes. Enquanto a variação linguística não tem significado real em termos das representações formais de uma gramática, a regra variável é colocada como um aspecto formal da teoria linguística a ser considerado nas gramáticas da Língua. Sua aceitação em nível teórico baseiase em varias premissas. O estabelecimento da regra variável é, antes de tudo, baseado na hipótese da variabilidade inerente. Por variabilidade inerente, entendemos que a f 1utuação das variantes não pode ser desprezada como empréstimo dialetal ou mudança de código no repertório do falante. A f lutuação é parte de um sistema unitário. A variação ocorre, mas os contextos linguísticos e sociais permanecem. Existem casos em que a mudança linguística tornase estável, isto é, a variabilidade pode permanecer constante por muitas gerações. Neste sentido, a variabilidade pode revelar uma estabilidade igual a de muitas regras categóricas. Nesses casos, dizer que a variabilidade é apenas uma indicação de mudança linguística em progresso parece ser uma generalização como a de dizer que a língua está sempre mudando. Existem aspectos das restrições variáveis que são especí f icos de uma dada comunidade. Em relação à universalidade das restrições, existem dois aspectos a serem considerados: (a) o efeito de previsibilidade e (b) a ordem de previsibilidade. O efeito de previsibilidade diz respeito ao fato de que um tipo específico de contexto sempre terá um ef eito particular ou variabilidade. A ordem de previsibilidade se refere a ordenação específica das restrições.

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P ra que um ordenaçã assim seja parte de uma teoria geral de reg as opcionai , devemos ser capazes de prever não só o ef eito a restrição, mas també

sua ordenação em relação às out as restrições. E

muito pos ível asseve ar que o efeito de previsibilidade derive de alguns princípios univ rsais de nossa metateoria da língua,

as que a or em de previsibilidade é específica da língua.

A teoria da v riação e a teoria categ rica têm se s próprios omí nios e ormas de p ocediment . A separação ntre as duas não parec ser bem entendida. Nas primeiras propostas ara as regras variáveis, elas foram concebidas como um r f inamento das regras opcionais da teoria gerativa contempor nea. A imp rtância das regras variáveis pode s r apreciada de um certo ponto de vis a paradigmático, o que constitui uma leve, m s distinta

udança da teoria gerativa.

Como sug stão de al uns estudi sos, f icam, primeiro, mpliar a noção de competência; segundo,

sar

amostras de fala real c mo dados, m vez de b searse apenas nas intuições. O axioma da categoricid de não é uma proprie ade acidental da linguística categ rica, mas uma propriedade essencial. Nos últimos anos, as re ras têm sid descartad s pelos linguistas categ ricos em favor de generalizações notacionais dif erentes, a exemplo dos iltros, t empl ates e princípios. Do

esmo mod , a

formalização das regras variáveis ão tem sido mais disc tida na lin uística variacionista. Mas o programa estatístico que trata

as regras ariáveis não desapareceu com as regras. El

procedime tos disponíveis para os pesquisadores cor elacionare

continua sendo um dos

variáveis dependentes e variá eis

independe tes. A regra variável supera t da e qualq er tendência ao uso do conceito d variação li re, já que t da variação é ondicionad por restriç es lingüísti as, sociais e/ou estilísticas. D ssa forma, o uso da regra variável permite ao variacionista extrair as regularidad s e tendên ias dos dados, podendo, através dela, eterminar omo a seleção de uma strutura lin uística é inf luenciada p las conf iguraç es específic s dos fator s que caracterizam o contexto em que ela ocor e . É por isso q e, ao considerar a língua como ma estrut ra heterog nea orden da, o mo elo variacionista elimina os falantes ideais e, conse uentemente, a comuni ade linguís ica homogê ea. A regras tê

sido descartadas, nos últimos anos, pelo linguistas categóricos em f avor de

generalizações diferentes, chamad s de filtros, templ at es

princípios, o que leva a discussão sobre as re ras

variáveis n linguística ariacionista ao esvazia ento. E tretanto, o programa estatí stico subjacente às regras variá eis ainda é aplicado, fazendo parte de um conjunto de procedimentos utilizado pri ordialmente para a c rrelação das variáveis dependentes e independe tes.

Agor é co voc

A partir do ex osto até aq i, apesente lgumas características q e diferenciam a postura v riacionista as proposta estruturalista e gerativista.

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 A mudança Linguística Nos moldes gerativos, a variação decorrente do desempenho tem sido explicada como a execução ou não de regras opcionais: f ormas alternadas de dizer a mesma coisa. Para a Teoria da Variação, os fatos linguísticos são entidades teóricas, de modo que a realização de uma ou outra variante das formas em competição constitui o seu objeto de analise. Esse modelo teórico metodológico observa que a noção de opcionalidade deixa de capturar a natureza da variação sistemática que existe, mesmo no nível da gramática de um único indivíduo. Para o modelo variacionista, a frequência de aplicação de uma dada regra opcional pode depender fortemente de restrições do contexto linguístico e dos aspectos sociais diretamente ligados ao falante. Nesse sentido, introduz a noção de regra variável, desenvolvida a partir da analise e notação fonológica gerativa, em que a presença de um dado traço ou subcategoria deve afetar a frequência de aplicação de uma regra de forma probabilisticamente uniforme em todos os ambientes em que esses traços apareçam. A operação de uma regra variável é sempre o efeito da ação simultânea de vários fatores. As regras variáveis descrevem, portanto, os fatos linguísticos que a linguística estruturalista e a gerativa representariam por meio de regras opcionais ou categóricas. Assim, o estudo do processo da mudança envolve o conceito de variação e regra governada. Dessa forma, a observação e analise de fenômenos variáveis permitem o levantamento de hipóteses sobre por que se produzem certas mudanças, como se difundem através do tempo e quais são os mecanismos lingüísticos, sócias e/ou estilísticos que as favorecem. Quando acontece uma mudança linguística? Uma mudança linguística acontece quando uma variante se generaliza em um subgrupo de uma comunidade e adquire uma certa direção e significado social; o progresso da mudança está associado à aprovação dos valores de um grupo pelos membros de outro. A mudança sempre requer, virtualmente, um período de transição, de variabilidade, de competição entre estruturas e de divergências dentro da comunidade do falante. Na primeira etapa de um processo de mudança, as formas conservadoras raramente são expostas às formas inovadoras. O contato entre falantes favorece a expansão das formas inovadoras, atingindo, então, as conservadoras. A realização da mudança se dá quando uma variante se sobrepõe à outra. A expansão da mudança será tanto maior quanto maior for a frequência de contato entre falantes. O processo de variação que está em competição por um longo período de tempo se completa produzindo um elemento linguístico categórico adquirindo novo significado social. No entanto, esse processo não é facilmente observado; implica, em princípio, identificar as formas analisadas e os contextos que estão operando esse processo de mudança. Cabe ao analista inferir o significado ou a função de cada dado, conhecer a variedade de fala e entender o bastante sobre o que está presente no

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discurso particular, para ser capaz de compreender as intenções do falante. É necessário utilizarse de observações diretas com base em grandes amostras de dados coletados no seio da comunidade de fala. Para o processo de entendimento da mudança linguística em progresso, precisamos traçar os estudos em dois aspectos baseados na estratificação da amostra: tempo aparente e tempo real. Na amostra em tempo aparente, a variável linguí stica é distribuída através dos níveis de idade dos f alantes. A dificuldade desse tipo de observação consiste em entendermos se a signif icativa correlação entre a idade e a variável linguística estabelecida tratase de uma verdadeira mudança em progresso ou de gradação etária, que é a mudança de comportamento linguístico caracterí stica de uma certa idade, que se repete em cada geração, alterando a frequência de algumas variáveis linguísticas por serem modificadas ou corrigidas em uma idade mais avançada do indivíduo. Adolescentes e adultos  jovens usam variantes estigmatizadas mais livremente do que falantes de meia idade, especialmente quando estão sendo observados. Adolescentes e préadolescentes parecem estar à margem principal para o progresso da mudança sonora. Sugerimos, então, uma estratif icação da amostra que inclua gravações de falantes tão jovens quanto os de oito anos de idade: 8  14; 15  19; 20  29; 30  39; 40  49; 50  59; 60  69 e mais de 70 anos. Essa forma de estratif icação pode aprimorar a visão dos movimentos em tempo aparente, uma vez que os resultados obtidos através dos grupos de idade não fornecem uma resposta segura de como a mudança prossegue através dos seus vários níveis. Os dados em tempo aparente são, portanto, relevantes para as observações em tempo real, uma vez que eles podem suscitar questões acerca do tipo de mudança, bem como das diferenças que constituem a mudança linguística. Todavia uma resposta mais segura acerca do que está em processo de mudança ou não poderá ser obtida num estudo baseado em tempo real. Duas abordagens básicas são, portanto, sugeridas para o problema de acumular dados em tempo real: uma consiste em relacionar os estudos  já realizados numa comunidade em questão e comparar as conclusões anteriores com as atuais; outra, consiste em retornar à comunidade depois de um intervalo de tempo e repetir o mesmo estudo. O primeiro tipo de abordagem é denominado de "estudo de tendência", consiste em localizar falantes que tenham características similares às usadas na estratificação realizada no passado, submetendoos aos mesmos questionários, entrevistas ou experimentos. Para obtermos e produzirmos respostas mais seguras e próximas da realidade é necessário que a comunidade tenha permanecido mais ou menos estável durante o período decorrido. Caso mudanças drásticas tenham acontecido em sua constituição demográfica, o que estamos observado é a mudança externa na língua e pode ter pouca importância para a lógica da mudança em progresso. Tais mudanças, motivadas externamente, podem ser mais importantes para a história da íngua do que para o seu desenvolvimento interno, pais elas dependem de uma cadeia de causas e efeitos que estão f ora das relações linguísticas. O segundo tipo de observação, "estudo de painel", consiste basicamente no recontato dos mesmos falantes em período posterior. LETRAS | 104

Esses tipos de estratégias, se bem realizadas, poderão produzir respostas mais reais e dizer, decididamente, se a mudança avançou em tempo real ou se repete a mesma distribuição em tempo aparente. O investigador, nesse caso, f az uso do presente para explicar o passado, procedimento inverso ao utilizado pela linguística histórica, que lança mão de alguns estudos prévios e tenta correlacionálos ao objeto de estudo sob investigação, ou seja, utilizase do passado para explicar a presente. A interrelação entre dados de tempo aparente e dados de tempo real torna possível reconstruir uma cronologia dos vários passos da mudança e correlacionar essa cronologia com as características sociolinguísticas de cada estágio do mecanismo da mudança linguística. A abordagem em tempo real baseada no "estudo de painel" detectará as condições em que cada indivíduo muda ou está estável, como também mostra de que maneira a gradação etária está presente nas gravações. A abordagem baseada em "estudo de tendência" mostra quais são as variáveis que, ao operarem no nível mais alto da consciência social, são modificadas por todo o tempo de vida dos falantes com gradação etária consistente na comunidade. Assim, o processo de observação da mudança da língua requer técnicas de investigação, análise e discussão dos dados em variação sincrônica que operam na gramática do f alante, exigindo do pesquisador um longo período de tempo, com o objetivo de apresentar um quadro do funcionamento da Língua mais próximo da realidade dos f atos e, consequentemente, evitar afirmações apressadas acerca do que está acontecendo no sistema sob análise. Para se estudar a mudança é preciso saber quais são as  f ator es que a condicionam; como e por quais caminhos a língua muda (tr ansição) e por quê; como ela se encai  x a no sistema circundante de relações sociais e linguísticas; como os membros de uma determinada comunidade linguística avali am a mudança, e quando e onde determinada mudança foi i m pl ementada, ou se ja, devemos dar conta de cinco problemas que norteiam este tipo de estudo, que são: o problema das restrições , o problema da transição , o problema do encaixamento , o problema da avaliação e o problema da implementação. O Problema das Restrições diz respeito ao conjunto de possíveis mudanças e possíveis condições para mudanças que podem acontecer numa estrutura de um determinado tipo, pois o processo de mudança linguística raramente é um movimento de um sistema inteiro para outro, e, sim, o movimento de um conjunto limitado de variáveis de um sistema que altera gradualmente seus valores modais de um para outro. Enquanto alguns linguistas anteriores aos variacionistas acreditavam que para cada f orma há uma f unção correspondente, os variacionistas advogam que uma f unção pode ser desempenhada por duas ou mais f ormas, chamadas de variantes. Em se tratando das restrições, podemos classificálas em três grandes conjuntos: (a) as linguísticas; (b) as sociais; (c) as estilísticas. Isto vale dizer que a correlação entre essas restrições e as variantes atreladas a uma variável determinará o caminho da possível mudança. De posse desse conhecimento, poderemos dizer que variante(s) são condicionadas por essa(s) ou aquela(s) restrições.

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Inúmeros estudos já realizados no Brasil dão conta dessas correlações. Sugerimos uma consulta aos trabalhos já desenvolvidos no âmbito do Projeto Variação Linguística no Estado da Paraíba (VALPB). Observar se a mudança linguística se processa por estágios discretos ou f az parte de conti nuum consiste num Problema de Transição. Para os estudiosos estruturalistas, a mudança se processava como uma sucessão de estágios discretos intercalados por períodos de transição, sendo que cada estágio discreto constituiria um sistema autônomo em termos estruturais e f uncionais; sendo, portanto, esses estágios discretos o objeto próprio da analise sincrônica. Dif erente dos outros paradigmas que viam no indivíduo, ou em sua mente, o recinto da homogeneidade linguística, os sociolinguistas acreditam que até na mente de um único indivíduo existe heterogeneidade. Weinreich, Labove Herzog (1968) queriam romper com a identif icação entre estrutura e homogeneidade, acreditando que "o comando nativo de estruturas heterogêneas não é um problema de multidialetalismo ou 'mero' desempenho, mas é parte da competência linguística unilíngue". Na concepção estruturalfuncionalista, a mudança linguística só poderia ser compreendida se considerássemos a sua inserção no sistema linguístico af etado pela mudança. A Sociolinguística não pensa diferente, mas acredita que o estudo da mudança não se deve restringir apenas à observação da estrutura linguística. É aí que se localiza o Problema do Encaixamento. Os variacionistas reconheceram que uma análise estritamente linguística é insuf iciente para dar conta da mudança, então realizaram a interação desse sistema com a estrutura social da comunidade de f ala. Dividiram, desse modo, o problema do encaixamento em dois ramos complementares: o encaixamento da estrutura linguística e o encaixamento da estrutura social. Este ultimo constitui um dos mais importantes avanços do modelo sociolinguístico e que o dif ere da concepção estruturalf uncionalista com relação à questão do encaixamento. Cada comunidade de f ala possui um perfil variacionista particular, mas, através da comparação dos estudos feitos em uma comunidade com os de outra comunidade, podemos ter uma ideia dos universais da variação, ou seja, o(s) elemento(s) ou fator(es) que rege(m) determinado fenômeno variacionista. Fazendo um recorte transversal da amostra sincrônica em f unção da f aixa etária dos informantes, ou seja, uma analise em tempo aparente, podemos saber se o processo em analise está apenas sofrendo variação (variantes lutando por sua subsistência ou coexistência), ou se há uma situação de mudança em progresso (morte de uma das variantes). Como a língua para a Sociolinguística é estudada como um elemento flexível, que pode ir e vir no tempo, conforme a necessidade do estudo, então, em busca de melhores explanações para os processos de variação linguística, podemos proceder a um encaixamento histórico da variável no tempo real e a um estudo longitudinal da língua através do tempo (nível diacrônico), com base em fontes históricas (atlas, cartas pessoais, textos teatrais, gramáticas antigas etc., por falta de material oral armazenado). Assim, a pesquisa Sociolinguística objetiva atacar a variação linguística em todos os ângulos, visando a obter um panorama descritivo da diversidade linguística.

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A questão levantada por Saussure, de que o indivíduo aceita o processo de estruturação da língua passivamente, f oi posta em xeque por Weinreich, Labov e Herzog (1968) com o Problema da Avaliação. Os sociolinguistas defendem que estágios iniciais da mudança estão abaixo do nível de consciência social e os f alantes não os percebem. Em estágios posteriores, desvios estilí sticos começam a aparecer, bem como a estratificação social. Testes de reação subjetiva revelam a avaliação social. Nas últimas etapas da mudança, quando a sociedade já é capaz de percebêla, começam a surgir os estereótipos ligados a atributos sociais negativos e, imediatamente, a reação do f alante e a correção na direção das formas conservadoras, ou seja, os falantes, quando percebem, rejeitam as formas inovadoras. Sendo assim, os f alantes não aceitam passivamente o modo como a língua chega até eles. Eles avaliam positivamente as formas com as quais se identificam dentro do grupo social a que pertencem, ou as de um grupo que, para eles, é de prestí gio, mas podendo, inconscientemente, produzirem formas que julgam ter uma avaliação social negativa. O Problema da Implementação centrase na dif iculdade que estudos anteriores encontraram em determinar a direção que a mudança toma na estrutura social. Labov, através de estudos empíricos, descobriu que o padrão da mudança em progresso, encontrado em estudos nos centros urbanos, era que o grupo mais inovador nos processos de mudança provinha dos grupos sociais intermediários, e que, ao contrario das correntes anteriores, que atribuíam ao movimento da mudança uma direção de cima para baixo, ou viceversa (gráfico retilíneo), a direção da implementação da mudança diagnosticada por Labov desenhava um gráfico curvilíneo. Assim, como afirmamos antes, a pesquisa sociolinguística tem por objetivo principal a sistematização da variação. Para se alcançar tal objetivo, ela tem que formar um corpus baseado em dados naturais de f ala, descrever detalhadamente a variável e suas variantes, estabelecer quais os possíveis fatores lingüísticos, sociais e estilísticos que influenciam a variável, encaixála linguisticamente, avaliála e observar os processos de transição e implementação que a envolvem. Dessa forma, é obtido o resultado esperado pelo pesquisador: dar conta da dimensão social, cultural e histórica do fenômeno linguístico. Contudo, a pesquisa sociolinguística não termina por aqui. Uma teoria geral de mudança linguí stica para ser satisf atória deverá dar conta das condições que determinam o início, a velocidade, a direção, a propagação e o término de uma determinada mudança, e, eventualmente, a partir de dados analisados de vários sistemas, generalizar o con junto de tais condições para a mudança linguística. Assim, resta ainda ao pesquisador enveredar pelo campo dos Universais variáveis, pois todo processo linguí stico variável se mostra complexo e sistemático. Complexo, por apresentar um grande número de restrições; e sistemático, pelo f ato de a maioria das restrições serem similares nas comunidades de f ala. É exatamente a incidência dos mesmos efeitos linguísticos e sociais em processos similares que podemos denominar de universais variáveis, ou seja, os fatores linguísticos e extralinguísticos que se

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correlacionam com um process

de mud nça em diferentes c munidades linguísticas, sendo

ssa

sistematici ade o foco os estudos atuais na pesquisa sociolinguística.

Agor é co voc

Bus ue na litera ura explicaç es em que e pauta a m dança linguí stica, partin o dos neogramáticos até os gerativistas.

 A variaçã estável

É importante colocarmos que nem s mpre a variabilidade existente na língua se ex ande e produz mudanças: nem toda v riabilidade e heterogeneidade da lí  gua envolv mudança, mas toda m dança env lve variabilida e e heterog neidade. H casos em que uma eterminada variante p rmanece e tável ao longo dos sé ulos. Assi , o comporta ento do indivíduo é es ável por to o o tempo de sua vida, e a comu idade, consequenteme te, permanece estável; nã havendo, portanto, variação para analisar. Nesse sentid , temos verificado uma estreita correlação dos f atores ociais com os fenômenos linguísticos. Labov (1990) aprese ta, com b se em lev ntamento

e inúmera pesquisas, um princí  io,

segundo o qual, numa estratificaç o socioling ística estáv l, os home s mais do ue as mulheres usam com mais f requ ncia as for as nãopad ão. O autor obse va também que a f aixa etária é u variação estável, os jovens e idoso apresenta

indicador do process de variação. Em casos de

o mesmo omportam nto, contra tando com a população de

meiaidade. Nesse cas , o quadro representativo apresen a um padrão curvilinear com o uso das f ormas de prestí gio si uado na f ai a etária int rmediaria. V riáveis est veis, porta to, são aquelas que stão bem stabelecidas em uma comunidad e, consequen emente, nã sofrem m dança. P r fim, é importante acrescentarm s que o fenômeno de mudança linguística perpassa as variadas escalas temporais; sendo, portanto, uma discussão ha muito iniciada. Di ersas fora

ais

as explicações

para sua o orrência, v lendo ressaltar as inov ções propostas pela S ciolinguística que, com eficiência, em possibilitado o estudo istemático a diversida e linguístic correlacio ando ao fe ômeno est dado aspe tos sociais e estruturais. Nos estudos  já realizado no Brasil, om base n perspectiv variacioni ta, em geral, os processos analisados, sejam em n vel da fonologia sejam m nível da sintaxe, refletem uma variação estável. LETRAS | 108

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