Sobre as Diferenças

November 2, 2017 | Author: argo | Category: Narration, Entertainment (General), Leisure, Science, Philosophical Science
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Cinema e Diferença...

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SOBRE AS DIFERENÇAS NARRATIVAS ENTRE O CINEMA E A TV Christian H. Pelegrini - UFJF

Narrativa “Devemos considerar narrativa como uma cadeia de eventos em relação de causaefeito ocorrendo no espaço e no tempo” (BORDWELL & THOMPSON, 65) [Narração] é “um discurso fechado que irrealiza uma sequência temporal de acontecimentos” (METZ, 42)

Da Teoria Literária

(E.M.Forster)

Story (História) Eventos inferidos

Eventos explicitamente mostrados

Material nãodiegético adicionado

Plot (trama ou enredo)

Do Formalismo Russo

(U. Eco)

Discurso: é o nível de expressão do enredo (que carrega a fábula). É a manifestação sensível ao narratário (texto literário, cinema, quadrinhos, radionovela, etc)

“O sujet, pelo contrário, é a história como de fato é contada, conforme aparece na superfície, com suas deslocações temporais, saltos para frente e para trás, descrições, digressões, reflexões parentéticas.” “Fabula é o esquema fundamental da narração, é a lógica das ações e a sintaxe dos personagens, o curso de eventos ordenado temporalmente.” Também pode ser história.

No cinema e na TV   

Aristóteles (séc. IV a.c), Poética; Drôntas: ação, busca; dran:agir, buscar; Drama: “a imitação de pessoas em ação” Ou, para nossos propósitos,

Drama é a história de alguém que quer alguma coisa, mas tem dificuldade para conseguila.(qualquer livro sobre roteiro...)

O drama e o espectador 



O drama oferece catarse, satisfação pelo êxito ou desolação pelo fracasso (ainda que não sejam do espectador); O funcionamento do drama pressupõe um processo de empatia e construção de uma experiência vicária.

Estrutura dramática A forma como as partes da narrativa dramática se organizam é chamada de estrutura dramática. O modelo canônico (desde Aristóteles) é a Estrutura em três atos.

1⁰ ato

2⁰ ato

3⁰ ato

A estrutura dramática implica que cada trecho da narrativa cumpre funções específicas.

Estrutura dramática “O primeiro ato envolve o espectador com os personagens e com a história. O segundo ato o mantém envolvido e aumenta seu comprometimento emocional. O terceiro ato amarra o enredo e leva o envolvimento do espectador a um final satisfatório” (MABLEY & HOWARD, p,54)

A experiência narrativa 





No cinema: os fatos, eventos; a luta do personagem que venceu ou perdeu; Na TV: diferente do cinema, a experiência televisual se dá com o universo narrativo (e não com a ação dramática); Os arcos são importantes, mas como pretextos para personagens e universos narrativos.

Fabula e sujet 





No cinema, o enredo esgota o que a fabula tem para mostrar; Na TV, um novo enredo revisita a mesma fabula a cada semana. Daí a importância e função, na TV, do PILOTO (voltaremos a isso).

A estrutura dramática no cinema  

Cada ato cumpre uma função narrativa; O encadeamento vai proporcionar a catarse.

1⁰ ato

2⁰ ato

3⁰ ato

1⁰ ato Estabelece a premissa dramática da narrativa: “premissa (...)vem a ser, simplesmente, toda a situação já existente quando o protagonista começa a se movimentar em direção a seu objetivo. Isso inclui todos os antecedentes que sejam pertinentes à história. O protagonista, seu desejo em potencial de atingir o objetivo e os obstáculos em potencial (inclusive o antagonista) à obtenção da meta, tudo isso antecede a história que está sendo contada” (MABLEY & HOWARD, P.88)

1⁰ ato  







Apresenta os personagens; Estabelece a situação de ordem / estabilidade que vai ser quebrada; Constrói as motivações do personagem para a busca do objetivo dramático; Dá o “tom” da narrativa; É no 1⁰ ato que se inicia a empatia entre espectador e personagem.

1⁰ ato  





É o 1⁰ ato que captura o espectador; Todas as cenas devem gravitar em torno da função que o 1⁰ ato tem para a estrutura;

Como no restante da narrativa, as cenas devem seguir uma lógica de necessidade (causa e efeito); O 1⁰ ato termina com o evento que quebra a ordem / estabelece o objetivo.

2⁰ ato   



O desenvolvimento do drama (e do arco dramático); Protagonista X Obstáculo = Conflito; “cada parte da história logicamente surge da que veio antes” (WOLFF & COX); Os obstáculos devem crescer gradualmente:  





Equacionar os obstáculos (nem forte, nem fraco); Anticlímax;

Os desenvolvimentos devem seguir a relação de causa e efeito, é não sair “do nada”; O 2⁰ ato termina quando o protagonista se vê diante do último obstáculo.

Ato 3 “A essência, na composição dramática, é a transformação do personagem. No final, o personagem não é a mesma pessoa do início. Ele mudou – psicologicamente, quem sabe até fisicamente” (R. Towne apud MABLEY & HOWARD) “O público rejeita bajulação, não gosta de subserviência. O espectador está tão interessado quanto eu em ver um pouco de comportamento verdadeiramente humano. Ele quer se surpreender, quer se deliciar, satisfazer-se. O que não significa necessariamente um final feliz, mas sim algum tipo de encerramento.” (Tom Rickman apud MABLEY & HOWARD)

Ato 3  

 



É o obstáculo final; Deve ser o momento de maior conflito e/ou tensão; Ou alcança o objetivo ou perde de vez; Deve mobilizar elementos apresentados anteriormente; Uma vez resolvida a questão do objetivo, a narrativa acabou;

O drama na TV 







A estrutura dramática é atualizada na ficção seriada [televisual], mas de formas diferentes em cada formato e/ou gênero. Categorias herdadas do rádio: serie e serial; Hibridizações a partir da década de 70 (MTM); Ensembles;

Próximo texto (encaminhado via email) SIDENSTRICKER, Iara. “Taxonomia das séries audiovisuais: uma contribuição de roteirista” in BORGES, Gabriela, PUCCI JR, Renato Luis e SOBRINHO, Gilberto Alexandre(Orgs.)Televisão: formas audiovisuais de ficção e documentário (vol. II). SOCINE, Unicamp e Univ. do Algarve, 2012.

Christian Pelegrini

SERIALIZAÇÃO E ESTRUTURA DRAMÁTICA

Duas formas de serialização Ficção seriada

Serie, em

Serial, em

português, episódico

português, capitular

Arcos dramáticos completos; Independência entre os episódios; Ausência de linearidade ou ordem; Raramente guarda “memória”.

Arcos dramáticos parciais, que continuam no capítulos seguintes; Dependência entre os capítulos; Linearidade necessária. “memória” e redundância.

Serie e serial (como era)

MTM e a hibridização 

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Hill Street Blues, de Steven Bochco e Michael Kozoll; 1981 a 1987; Arcos contidos em um único episódio + arcos mais amplos da vida dos personagens fixos; Extensão de experiências de The Mary Tyler Moore Show (1970 a 1977); St. Elsewhere, de 1982 a 1988; Surgimento dos ensembles.

Serie e serial (como é...)

Hibridização 

Hibridização → diferentes proporções entre arcos do episódio e arcos de temporada(s). Ex.: O “caso médico” em HouseMD e seu vício;  Ex.: O “monster of the week” em Arquivo X e a “conspiração”. 





EX.: Em Lost, a biografia de cada personagem e sua relação com a Ilha.

Um mesmo programa pode se deslocar sobre o eixo e alterar o equilíbrio.

Piloto 

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O piloto é o primeiro episódio produzido para oferta comercial; Pilotos de premissa e pilotos regulares; “Uma boa ideia para um piloto” → “como acaba a segunda temporada?”:

“Ao contrário de um roteiro de filme, um piloto não é criado para funcionar por conta própria. A função primária de um filme é entreter. O piloto compartilha este objetivo, mas acrescenta um outro tão importante quanto: ele existe para funcionar como um modelo para uma série que possa sustentar 22 ou 50 ou 100 episódios. (W. RABKIN, Writing the pilot, 2011)”

A bíblia Uma BÍBLIA de série é “um documento pensado para ajudar novos escritores e diretores a entender as regras da série. Bíblias completas contém elementos similares a um “formato” – um log line, franquia, uma panorâmica das premissas principais, tom, estilo e a “busca” da série, seguido de uma descrição dos personagens e guias para as histórias” (DOUGLAS, Writing the TV Drama Series)

Bíblia



Biografia dos personagens; O tema da série (tanto o superficial como tema profundo); Arcos ao longo de diferentes temporadas; “Pode” e “não pode”; Restrições de conteúdo; Normas técnicas; Questões de estilo para a produção;



ETC.

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Cronograma de produção 1 Episódio 1 Episódio 2 Episódio 3 Episódio 4 Episódio 5 Episódio 6 Episódio 7 Episódio 8 Episódio 9 Episódio 10

Episódio 11 Episódio 12 ROTEIRO PRÉ GRAVAÇÃO EDIÇÃO EXIBIÇÃO

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10

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14

15

Narrativas longas Premissa da série

PILOTO

Ep. 2

Ep. 3

...(

∞)..

Ep. 100

. Enredo da série

PILOTO

Cap. 2

[...]

Cap. 14

Cap. 15

O drama na ficção seriada de TV 

As funções dramáticas acontecem nas duas formas de serialização; Premissa da série

PILOTO

Ep. 2

Ep. 3

Ep. 4

Ep. 5

Cap. 4

Cap. 5

Enredo da série

PILOTO

Cap. 2

Cap. 3

O episódio

6’50”

CO

Bloco 1

2’15

Bloco 2 15’ 40”

Bloco 3 28’10”

35’45”

Bloco 4 45’55”

60’ 

Observe que a estrutura dramática permanece;



Observe, ainda, que os breaks têm, em média, 4’30”.

O episódio O 1⁰ ato aproveita dados da premissa (personagens e motivações).



O 1⁰ ato deve ser rápido para não perder audiência, daí o principal uso da AF; Na vinheta, um reforço da premissa dramática e do “tom” (construção da expectativa); Em geral, há ainda um complemento da premissa (ou como ela cruza o caminho dos personagens), exposição e regulação da informação dos personagens, redundância;







O 2⁰ ato começa ainda no início do primeiro bloco;



No final de cada bloco, deve haver um “gancho” que sustente a audiência; ganchos são diferentes em cada bloco.



6’50”

CO 2’15

Bloco 1

Bloco 2 15’ 40”

Bloco 3 28’10”

35’45”

Bloco 4 45’55”

60’

O episódio 





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O final do 2⁰ bloco compete com programas que estão começando em outros canais; O final do 3⁰ bloco, em geral, corresponde ao início do 3⁰ ato; a chance de perda de audiência é a menor. O tempo deve ser dosado: roteiro em continuidade dialogada têm entre 50 e 60 páginas; alguns com ritmo mais acelerado podem chegar a 70 páginas (mas o tempo de discurso deve ser respeitado; Canais premium usam os 60 minutos para a narrativa; Créditos devem ser contados e devem ser mostrados (por razões sindicais); vinhetas podem ser editadas;

6’50”

CO 2’15

Bloco 1

Bloco 2 15’ 40”

Bloco 3 28’10”

35’45”

Bloco 4 45’55” 60’

As formas capitulares

Piloto

Cap. 2

Cap. 3

Cap. 4

Cap. 5

Cap. 6

Cap. 7

Cap. 8

Cap. 9

Cap. 10

10 semanas



Nas séries dramáticas, nas soap operas e nas telenovelas, a organização dos arcos é diferente.

Serial / capitular: série dramática

Piloto



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Cap. 2

Cap. 3

Cap. 4

Cap. 5

Cap. 10

Cap. 11

Cap. 12

A partir de Buffy, o monster of the season; Dentro de cada capítulo, os tempos são os mesmos que o episódio; A abertura fria, em séries semanais, tende a ser o previously

on...

Cap. 13

Serial / capitular: soap opera

Piloto

 



Cap. 2

Cap. 3

Cap. 4

Cap. 5

Cap. 6

Cap. 7

Cap. 8

Cap. 9

Obs: as setas são arcos, não atos;

As diversas tramas paralelas encerram seus arcos em momentos diferentes; Não há um fim determinado para o programa.



Serial / capitular: telenovela

Cap. 1





Cap. 2

Cap. 3

Cap. 4

Cap. 5

Cap. 89

Cap. 90

Cap.91

O 1⁰ ato acontece ao longo da primeira semana; o 3⁰ ato acontece na última; Todos os arcos começam e se encerram ao mesmo tempo; há um “fim” para o programa.

Cap. 92

Tramas paralelas 

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Hill Street Blues: elenco grande, com tramas sem muita hierarquização(o tempo na tela para cada arco); Plots A, B, C.... Nos episódicos, necessita fechamento dos principais (podendo manter plots “de fundo”); Nos capitulares, os plots se fecham em momentos diferentes.

Tramas paralelas C

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P1 X

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e.g. X-Files Cena 1 P 1

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X X e.g. Hill Street Blues

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Tramas paralelas (hoje) Cena 1 P1

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P5

7

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e.g. Modern Family, Arrested Development, Sopranos, Boardwalk Empire

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