Síntese Poética Sócrates e Horácio
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Síntese Poética Sócrates e Horácio...
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GRÉCIA
ARISTÓTELES (c. 384-322 a.C.) , P , POÉTICA
ROMA
HORÁCIO ( c. c. 65-8 a.C.), A RTE POÉTICA
Bibliografia: HALLIWELL, S. (trad., coment.). The Poetics of Aristotle. Chapel Hill: The University of North Carolina Car olina Press, 1987. FERNANDES, R. M. R. (trad.). Horácio. (trad.). Horácio. Arte poética. poética. Lisboa: Inquérito, 1984. SOUSA, SOUSA, E. (trad.). Aristóteles. (trad.). Aristóteles. Poética. São Poética. São Paulo: Abril Cultural, 1973. VERNANT, J-P. “O momento histórico da tragédia grega”. In: ____; VIDAL-NAQUET, VIDAL-NAQUET, P. Mito P. Mito e tragédia na Grécia antiga. São antiga. São Paulo: Perspectiva, 1999, pp. 1-5.
ARISTÓTELES •
Pensador nascido nascido em Estagira Est agira (Norte da Grécia), de família aristocrática;
•
Pupilo de Platão (c. 427-347 a.C.), a quem foi enviado em 367 a.C. , ficando em sua
Academia até 347 a.C.; •
Após a morte de Platão, não é levado à presidência da Academia, por divergir do mestre;
•
Vai em 338 a.C. para a Macedônia ser o instrutor de Alexandre, filho do rei Felipe II;
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Volta a Atenas e funda o Liceu (335 a.C.);
•
Foge da cidade após a morte de Alexandre ( c. 323 a.C.) e a caçada aos traidores (os gregos que tinham relações com a Macedônia); refugia-se na Eubeia, onde morre pouco depois.
OBRA:
150 tratados
Tratado: forma de exposição didática, em que sempre se posiciona
claramente
Temos 30 tratados que cobrem vasta gama de interesses, mas alguns desses tratados –
incluindo a Poética – parecem mais notas para palestras ou o trabalho de seus discípulos . POÉTICA •
Pouco lida na Antiguidade, muito lida do Renascimento em diante, que a torna um texto capital, atribuindo-lhe peso e importância que lhes são originalmente estranhos;
•
Interesse pela Poética
para uns, reside no aparato de regras que as leituras e releituras
por vezes tornaram muito mais rígidas do que de fato o são no tratado aristotélico ou mesmo no gênero trágico praticado na Atenas clássica
para outros, na prova que
a obra dá da utilidade moral da poesia.
•
Passo fundamental executado na Poética
definição de uma entidade autônoma
que é a arte poética e, com isso, o lançamento das bases críticas para seu estudo e avaliação. •
Contraposição à condenação da poesia por Platão . O texto da Poética
•
Agrupamento de notas mais ou menos desenvolvidas para uso em cursos; daí o caráter por vezes elíptico e sempre esquemático, as digressões que perturbam por vezes a organização do todo, o vai e vem de assuntos, e a não retomada de outros, além da não
definição ou imprecisão de termos conceituais importantes. •
O fascínio pela Poética se nutre das grandes dificuldades textuais e terminológicas , que reclamam discussões filológicas e interpretação. Aristóteles fala da arte poética que define como ente autônomo sem ter à sua disposição o vocabulário específico para o tema, o que o obrigada a empregar termos extraídos a vários gêneros de discursos e deslocados ao terreno que vai abrindo.
•
Transmissão problemática até nós
Esquema da obra:
1-6: anúncio do projeto e definição da essência da tragédia 1-3: as divisões da imitação (mimese); 4-5: origem da arte poética, sua gênese e sua história; 6: princípio metodológico de economia gerado pela filiação genética da tragédia com a epopeia;
7-26: consequências da definição da tragédia 7-15: estudo da intriga, ao qual se integra o dos caracteres. 16-18: algumas precisões técnicas suplementares 19-22: o pensamento e a expressão 23-26: a epopeia e a tragédia
Termos importantes: a) poietḗs, poíēsis: termos que pressupõem o trabalho individual Poesia ( poíēsis ): para Aristóteles, o enredo (mŷthos) é o mais importante no poema ( poíēma), uma vez que é na ação ( práxis) que podemos olhar profundamente para o homem e sua natureza (caráter, paixões) naquilo que ela tem de permanente. Todos esses substantivos – poietḗs, poíēsis, poíēma – derivam de poíein, que significa
simplesmente “fazer”
poietḗs (“fazedor”), poíēsis (fabricação, feitura, confecção, produção) , poíēma
(o objeto feito) b) mímēsis: “imitação, representação através da arte (Platão)”
representação segundo a
verossimilhança da ação que o poeta arranja; poieîn (“fazer”) e mimeîsthai (“imitar”) são os verbos que sintetizam a atividade criadora. c) tékhnē : “arte”, sem ideias de beleza e talento
conhecimento e uso pensado de determinadas
regras que, combinadas com habilidade, geram um objeto confeccionado
termo vale para as “belas
artes” e para as “artes úteis”.
Destaques (para a visão aristotélica da poesia): Mimese: Em Platão, no quadro da teoria das ideias, é uma cópia que está mais distante do verdadeiro do
que o modelo em que ela se inspira está de sua ideia . Logo, a poesia é produtora de simulacros enganosos. Em Aristóteles, a “imitação” é definida como uma tendência naturalmente favorável à aprendizagem e como algo que pertence à natureza humana . Logo, a elaboração de um produto mimético supõe um conhecimento – a arte poética – cujo resultado favorece ainda, através da emoção estética, um aprendizado. Mimese trágica como aprendizado: A tragédia – imitação de uma ação – nos orienta rumo a um conhecimento . Os eventos terríveis e dignos de pena suscitam aflição e espanto. Se resultantes apenas do mero acaso (tykhē ), positivo ou negativo, tais eventos escapariam à reflexão ; porém, se encaixados na estrutura imitativa de um enredo
( mythos) bem conduzido, seu caráter acidental adquire um semblante inteligível, passível de reflexão e racionalização: é porque o herói é falível que ele está submetido aos reversos da fortuna .
IMITAÇÃO E AÇÃO (CAPÍTULOS 2-3, 1448A; 1449B):
I-V: Introdução
I: a imitação e suas artes, que diferem umas das outras por imitarem “por
meios diversos”, ou “objetos diversos”, ou “por modos diversos” (2).
II-III: poesia narrativa e poesia dramática (ação, enredo) cf. I. 1: “Falemos da poesia, – dela mesma e das suas espécies, da efetividade de cada uma delas, da
composição que se deve dar aos mitos [enredos] , se quisermos que o poema resulte perfeito (...) II. 7, 1448a
objeto de imitação e gênero de poesia
“Mas como os imitadores imitam homens que praticam alguma ação, e estes, necessariamente, são indivíduos de elevada ou de baixa índole (porque a variedade de caracteres só se encontra nestas diferenças [e, quanto ao caráter, todos os homens se distingue pelo vício ou pela virtude]), necessariamente também sucederá que os poetas imitam homens melhores, piores ou iguais a nós (...)” II. 9: tragédia e comédia: “ procura, esta, imitar os homens piores, e aquela, melhores do que eles ordinariamente são”. III. 10
modos de imitação
“quer na forma narrativa (assumindo a personalidade de outros, como
o faz Homero, ou na própria pessoa, sem mudar nunca), quer mediante todas as pessoas imitadas, operando e agindo elas mesmas”
11: “Daí o sustentarem alguns que tais composições se
denominam dramas, pelo fato de se imitarem agentes [dróntas]”.
ORIGEM, CAUSAS E HISTÓRIA DA POESIA (CAPÍTULO IV):
IV. 13: “ Ao que parece , duas causas, e ambas naturais , geraram a poesia: o imitar é congênito no 14: O prazer com o imitado deve-se ao fato de que a imitação é meio de aprendizagem ( máthēsis), e “o aprender não só muito apraz aos filósofos, mas
homem (...) e os homens se comprazem no imitado”. também, igualmente, aos demais homens”.
TRAGÉDIA, EPOPEIA E COMÉDIA E SEUS OBJETOS E MODOS DE IMITAÇÃO (5):
20: tragédia: “imitação de homens superiores” [como na epopeia] A comédia
22: “imitação de homens inferiores; não, todavia, quanto a toda espécie de vícios, mas só
quanto àquela parte do torpe que é o ridículo. O ridículo é apenas certo defeito, torpeza anódina e
inocente: que bem o demonstra a máscara cômica que, sendo feia e disforme, não tem [expressão] de dor”. Ausência de malignidade
24: “A epopeia e a tragédia concordam somente em serem, ambas, imitação de homens superiores, em verso; mas difere a epopeia da tragédia, pelo seu metro único e a forma narrativa. E também na extensão, porque a tragédia procura, o mais que é possível, caber dentro de um período de sol, ou pouco excedê-lo, porém a epopeia não tem limite de tempo (...)”
Não há aqui a definição da unidade de tempo,
como a leram rigidamente os classicistas franceses, mas uma indicação da duração aproximada da ação trágica
TRAGÉDIA: MITO E AÇÃO (1449B-1450B, CAPÍTULO VI):
27: “É pois a tragédia imitação de uma ação de caráter elevado, completa e de certa extensão, em linguagem ornamentada e com as várias espécies de ornamentos distribuídas pelas diversas partes [do drama], [imitação que se efetua] não por narrativa, mas mediante atores, e que, suscitando o terror e a piedade, tem por efeito a purificação [ kátharsis, catarse] dessas emoções ”.
Problema: nada no texto da Poética permite definir claramente o sentido de kátharsis trágica: 1.
Purgação das emoções (interpretação médica)
2.
Depuração, purificação das emoções pela imitação (interpretação estética)
3.
A educação das emoções pela purificação (interpretação emocional)
4.
A purificação dos eventos trágicos (interpretação interna)
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“ Porém, o elemento mais importante é a trama dos fatos , pois a tragédia não é imitação de
homens, mas de ações [pragmatōn] (...). Daqui se segue que, na tragédia, não agem as personagens para imitar caracteres, mas assumem caracteres para efetuar certas ações ; por isso as ações e o mito constituem a finalidade da tragédia, e a finalidade é de tudo o que mais importa”.
Para Aristóteles, a práksis tem a primazia na tragédia e é ela que revela o homem; os românticos é que passaram a centrar os olhos mais no herói e a fazer a leitura psicologizante. Mas como bem observa Vernant (1999, p. 4), nos passos de Aristóteles, a ação do herói, e não o próprio herói, é “objeto de reflexão” na tragédia, e disso advém o “sentido trágico da responsabilidade” humana .
ESTRUTURA DO MITO TRÁGICO (CAPÍTULOS VII-XI):
41. Tragédia: “imitação de uma ação completa” 10-11 Ação simples ou complexa, esta com reviravolta ( peripéteia), reconhecimento [ anagnō risis], e catástrofe [ páthos].
57-58. A ação pode ser simples (mutação de fortuna [metábasis] ocorre sem peripécia
ou reconhecimento) ou complexa (“mudança [metábasis] se faz pelo reconhecimento ou pela peripécia ou por ambos conjuntamente”)
59. Peripécia e reconhecimento devem surgir “da própria estrutura interna do mito, de sorte que venham a resultar dos sucessos antecedentes, ou necessária ou verossimilmente”. – a relação entre as coisas deve ser
causal, e não casual. [11, 60. Peripécia: inversão] 61. Reconhecimento: “passagem do ignorar ao conhecer, que se faz para amizade ou inimizade das personagens que estão destinadas para a dita ou pra a desdita”. – Há aqui a implicação (cf. cap. 14) de reconhecimento de elos notadamente familiares que unem as personagens. 62: “A mais bela de todas as formas de reconhecimento é a que se dá juntamente com a peripécia, como, por exemplo, no Édipo.”
“(...) porque o reconhecimento com peripécia suscitará terror e piedade, e nós
mostramos que a tragédia é imitação de ações que despertam tais sentimentos”.
63: “o reconhecimento é reconhecimento de pessoas”
Édipo reconhece a si mesmo, para sua inimizade
e desdita
PARTES QUANTITATIVAS DA TRAGÉDIA (CAPÍTULO XII)
SITUAÇÃO TRÁGICA E HERÓI TRÁGICO (CAPÍTULOS XIII, XIV, XV):
69: “(...) não devem ser representados nem homens muito bons que passam da boa para a má fortuna – caso que não suscita terror nem piedade, mas repugnância –, nem homens muito maus que passam de má para a boa fortuna, pois não há coisa menos trágica... não deve representar um malvado que se precipite da felicidade para a infelicidade...”
70: “Resta portanto a situação intermediária. É a do homem que não se distingue muito pela virtude e pela justiça; se cai no infortúnio, tal acontece, não porque seja vil ou malvado, mas por força de algum erro [ hamartia]; e esse homem há de ser daqueles que gozam de grande reputação e fortuna , como Édipo e Tiestes ou outros representantes de famílias ilustres”. 71: idealmente, o herói de passar “ da dita para a desdita, não por malvadez, mas por algum erro [ hamartía] de uma personagem, a qual (...) antes propenda para melhor do que para pior ”. Hamartía
outro termo-chave altamente problemático ( Haliwell, 1987, p. 128 ): “(...) não é
um atributo do agente (embora possa combinar-se a seu caráter), mas um fator causal na sequência de ações (...)”
significado: melhor traduzido como “falibilidade” ou “erro”, já foi
equivocadamente traduzido à maneira cristã por “pecado” ou por termos que o relacionam a falhas internas ao herói
Fato é, porém, que o termo, na formulação predominantemente negativa das passagens
aristotélicas em que hamartía aparece, permanece impreciso, sendo apenas nítido que é empregado “para demarcar uma área fluida de possibilidades trágicas deixadas à disposição após a exclusão da grave culpabilidade ética” (Haliwell, 1987, p. 128). 73: comédia 74
final feliz
o trágico, a catástrofe, o mito tradicional
“O terror e a piedade podem surgir por efeito do
espetáculo cênico, mas também podem derivar da íntima conexão dos atos , e este é o procedimento preferível e o mais digno do poeta”. [basta ouvir a história de Édipo para sofrer].
78: “Os mitos tradicionais não devem ser alterados (...). Contudo, o poeta deve achar e usar artisticamente os dados da tradição”.
89
caracteres, verossimilhança e necessidade, deus ex machina
As personagens devem ser
compostas segundo a adequação, a coerência e a verossimilhança e a necessidade, tal como a própria ação cujo desenlace deve [89] “resultar da própria estrutura do mito, e não do deus ex machina (...)” “O irracional também não deve entrar no desenvolvimento dramático, mas se entrar, que seja unicamente fora da ação, como no Édipo de Sófocles”.
151
CAPÍTULO XXIV: COMPARAÇÃO ENTRE EPOPEIA E TRAGÉDIA “As mesmas espécies que a tragédia, deve apresentar a epopeia, a qual, portanto, será simples ou
complexa, ou de caracteres, ou catastrófica; e as mesmas devem ser as suas partes [VI. 31: ‘mito, caráter, elocução, pensamento, espetáculo e melopeia’] , exceto melopeia e espetáculo cênico. Efetivamente, na poesia épica também são necessários os reconhecimentos, as peripécias e as catástrofes, assim como a beleza de pensamento e de elocução, coisas estas de que Homero se serviu de modo conveniente. De tal maneira são constituídos os seus poemas, que a Ilíada é simples (episódica) e catastrófica, e a Odisseia , complexa (toda ela é reconhecimentos) e de caracteres; além de que, em pensamento e elocução, superam todos os demais poemas”. 152. “Mas diferem a epopeia e a tragédia, pela extensão e pela métrica”.
CAPÍTULO XXVI: A TRAGÉDIA SUPERA A EPOPEIA 183: A primeira tem tudo o que tem a segunda mais a “ melopeia e o espetáculo cênico , que acrescem a intensidade dos prazeres que lhe são próprios ”.
HORÁCIO, A RTE POÉTICA (Epístola aos Pisões, 14/3 a.C., hexâmetros datílicos, tratado-carta-poema) 31 a.C.: Otávio funda o Império e transforma-se no Princeps e no Augustus. Morre em 14 d.C., após um longo período de paz, prosperidade, estabilidade. As estruturas do Império, porém, e suas ideias, permanecessem sendo as da República. Grande mecenas (como os tiranos gregos) que patrocinou Virgílio,
Horácio e Propércio mitos da “era de ouro” e do “patrocínio desinteressado”. •
POETA
elegia, jambo, lírica
•
PENSADOR
epístolas
2 livros
Livro I (19 epístolas): filosofia da vida e de sua essência Livro II (2 epístolas): crítica literária (uma A Floro, outra, A Mecenas) Arte poética
epístola ou poema independente ou a 3ª epístola do Livro II Visão aristotélica da arte como produto do trabalho humano:
Ars – tékhnē – termos equivalentes Elogio à verossimilhança (v. 1) e à simplicidade e unidade (v. 23) – nesta querendo fundir a variedade, algo não aristotélico –, virtudes que influenciam sua visão do estilo e da forma (vv. 48118)
Gêneros privilegiados: tragédia e poesia épica
Influência do peripatético Neoptólemo de Paros (III a.C.)
Visão não aristotélica: Maior importância às personagens do que ao enredo Ênfase na técnica perfeita Estilo (vv. 48-118)
Helenismos
Plauto (vv. 48-59)
O jambo e a comédia (vv. 79-82)
Composição genérica: adequação metro, matéria, modo (86-92)
A composição da poesia e de seu tema (vv. 119-294) Elogio dos modelos gregos Plauto e sua comédia (268-274) A comédia antiga (281-284) Formação do poeta e função e origem da poesia (vv. 295-476) Função (335-337; 343-4): sobretudo estética e, pela emoção (99-100), útil Talento e trabalho (408-411): visão aristotélica, e não platônica
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