Sexualidade e Gênero - Lawrence S. Mayer - 85pp

March 24, 2019 | Author: Eliseu Pereira | Category: Homosexuality, Sexual Orientation, Etnia, raça e gênero, Gender, Heterosexuality
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Sexualidade e Gênero - Lawrence S. Mayer - 85pp...

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Sexualidade e Gênero Os achados da biologia, psicologia e ciências sociais Lawrence S. Mayer, M. B., M. S., Ph.D. e Paul R. McHugh, M.D. Nota do Editor : Questões relacionadas com a sexualidade e gênero influenciam sobre alguns dos aspectos mais íntimos e pessoais da vida humana. Os últimos anos, eles também têm sido polemica na política americana. Nós oferecemos este relatório - escrito por Dr. Lawrence S. Mayer, epidemiologista treinado em psiquiatria, e Dr. Paul R. McHugh, sem dúvida, o psiquiatra americano mais importante do ú ltimo meio século na esperança de melhorar a compreensão do público sobre estas questões. Examinando a pesquisa das ciências biológicas, psicológicas e sociais, este relatório mostra que algumas das reivindicações mais frequentemente ouvidas sobre sexualidade e gênero não são suportadas por evidências científicas. O relatório tem um foco especial sobre as taxas mais elevadas de problemas de saúde mental entre as populações LGBT, e questiona a base científica das tendências no tratamento de crianças que não se identificam com seu sexo biológico. Mais esforço é chamado para prover a essas pessoas com a compreensão, cuidado e apoio que precisam para levar uma vida próspera e saudável.

SUMÁRIO PREFÁCIO ................................ ................................................ .................................. .................................. ................................. ................................. ................................. ................................. ................................. ................................. .................................. .................................. ................................. ................................. ................................. .......................... .........2 SUMÁRIO EXECUTIVO ............................... ................................................ .................................. ................................. ................................. .................................. ................................. ................................. .................................. ................................. ................................. ................................. ................................. .................................. ....................... ......4 INTRODUÇÃO ................................ ................................................ ................................. .................................. ................................. ................................. ................................. ................................. ................................. ................................. .................................. .................................. ................................. ................................. .................................. .................... ... 6 PARTE UM - ORIENTAÇÃO SEXUAL .................................. .................................................. ................................. ................................. ................................. ................................. ................................. ................................. .................................. .................................. ................................. .................................. ............................... ..............8 Problemas com definição dos conceitos chaves ................................ ................................................ ................................. .................................. ................................. ................................. .................................. ................................. ................................. ................................. ................................. ............................. ............9 O Contexto do Desejo Sexual................................. .................................................. ................................. ................................. .................................. ................................. ................................. ................................. ................................. .................................. ................................. ................................. .................................. .....................11 ....11 Orientação sexual ................................ ................................................ ................................. .................................. ................................. ................................. ................................. ................................. .................................. .................................. ................................. ................................. .................................. ................................. .......................12 .......12 Desafiando a hipótese "nasceram assim" .................................. .................................................. ................................. ................................. ................................. ................................. .................................. .................................. ................................. ................................. ................................. .................................. ..................15 .15 Estudos de gêmeos ............................... ................................................ .................................. ................................. ................................. .................................. ................................. ................................. .................................. ................................. ................................. ................................. ................................. .................................. .....................16 ....16 Genética molecular ................................ ................................................. .................................. ................................. ................................. .................................. ................................. ................................. .................................. ................................. ................................. ................................. ................................. .................................. .....................19 ....19 O limitado papel da Genética............................... ................................................ .................................. ................................. ................................. ................................. ................................. ................................. .................................. .................................. ................................. ................................. ................................. ........................20 .......20 A influência dos hormônios ............................... ................................................ .................................. ................................. ................................. .................................. ................................. ................................. .................................. ................................. ................................. ................................. ................................. ...........................21 ..........21 Orientação Sexual e o Cérebro ................................. .................................................. ................................. ................................. ................................. ................................. ................................. ................................. .................................. .................................. ................................. ................................. .................................. ..................24 .24 Leitura errada da Investigação .................................. ................................................... ................................. ................................. ................................. ................................. ................................. ................................. .................................. .................................. ................................. ................................. .................................. ..................25 .25 Vitimização por Abuso Sexual ................................ ................................................. ................................. ................................. .................................. ................................. ................................. ................................. ................................. .................................. ................................. ................................. .................................. .....................26 ....26 Distribuição dos desejos sexuais e alterações ao longo do tempo .......................... ........................................... ................................. ................................. ................................. ................................. .................................. ................................. ................................. .................................. .....................31 ....31 CONCLUSÃO................................. ................................................. .................................. .................................. ................................. ................................. ................................. ................................. ................................. ................................. .................................. .................................. ................................. .................................. .............................36 ............36 NOTAS ................................ ................................................ ................................. .................................. ................................. ................................. ................................. ................................. ................................. ................................. .................................. .................................. ................................. ................................. .................................. ..................36 .36 PARTE DOIS - SEXUALIDADE, SEX UALIDADE, RESULTADO EM SAÚDE MENTAL E ESTRESSE SOCIAL ............................... ................................................ .................................. ................................. ................................. ................................. ................................. ...........................42 ..........42 Algumas Preliminares ............................... ................................................ .................................. ................................. ................................. ................................. ................................. ................................. .................................. .................................. ................................. ................................. ................................. .................................. ..................42 .42 Sexualidade e Saúde mental ............................... ................................................ .................................. ................................. ................................. ................................. ................................. ................................. .................................. .................................. ................................. ................................. ................................. ........................43 .......43 Sexualidade e suicídio ................................. .................................................. ................................. ................................. .................................. ................................. ................................. ................................. ................................. .................................. ................................. ................................. .................................. ................................46 ...............46 Sexualidade e violência por parceiro íntimo ................................. .................................................. .................................. ................................. ................................. ................................. ................................. .................................. ................................. ................................. .................................. ................................49 ...............49 Resultados em saúde para transgêneros............................... ................................................ .................................. .................................. ................................. ................................. .................................. ................................. ................................. ................................. ................................. .................................. .....................51 ....51 Explicações para os maus resultados de saúde: Modelo de Estresse Social ....................................... ........................................................ ................................. ................................. .................................. .................................. .................................. ................................. .......................52 .......52 Discriminação e eventos de preconceito. ............................... ................................................ .................................. ................................. ................................. ................................. ................................. .................................. ................................. ................................. .................................. ................................54 ...............54 Estigma. ................................ ................................................. .................................. ................................. ................................. ................................. ................................. .................................. ................................. ................................. .................................. ................................. ................................. ................................. ................................55 ................55 Ocultação. ................................ ................................................ .................................. .................................. ................................. ................................. ................................. ................................. ................................. ................................. .................................. .................................. ................................. .................................. .............................56 ............56 Testando o modelo. .................................. ................................................... ................................. ................................. ................................. ................................. ................................. ................................. .................................. .................................. ................................. ................................. .................................. .............................57 ............57 CONCLUSÃO................................. ................................................. .................................. .................................. ................................. ................................. ................................. ................................. ................................. ................................. .................................. .................................. ................................. .................................. .............................59 ............59 NOTAS ................................ ................................................ ................................. .................................. ................................. ................................. ................................. ................................. ................................. ................................. .................................. .................................. ................................. ................................. .................................. ..................59 .59 PARTE TRÊS - IDENTIDADE DE GÊNERO............................................ ............................................................ ................................. .................................. ................................. ................................. .................................. ................................. ................................. .................................. ................................. ..........................64 ..........64 Conceitos-chave e suas origens............................... ................................................. .................................. ................................. ................................. ................................. ................................. ................................. .................................. .................................. ................................. ................................. .................................. ..................64 .64 Disforia de gênero ................................ ................................................ ................................. .................................. ................................. ................................. ................................. ................................. .................................. .................................. ................................. ................................. .................................. ................................. .......................68 .......68 Gênero e Fisiologia ................................ ................................................. .................................. ................................. ................................. .................................. ................................. ................................. .................................. ................................. ................................. ................................. ................................. .................................. .....................71 ....71 Identidade transgênera em crianças......................... crianças........................................... .................................. ................................. ................................. ................................. ................................. ................................. ................................. .................................. ................................... ................................. ................................. ..................76 .76 Intervenções terapêuticas em crianças ............................... ................................................. .................................. ................................. ................................. ................................. .................................. .................................. ................................. ................................. .................................. ................................. .......................77 .......77 Intervenções terapêuticas em adultos .................................. ................................................... ................................. ................................. ................................. ................................. .................................. .................................. ................................. ................................. .................................. ................................. .......................78 .......78 NOTAS ................................ ................................................ ................................. .................................. ................................. ................................. ................................. ................................. ................................. ................................. .................................. .................................. ................................. ................................. .................................. ..................81 .81 CONCLUSÃO................................. ................................................. .................................. .................................. ................................. ................................. ................................. ................................. ................................. ................................. .................................. .................................. ................................. .................................. .............................84 ............84

Lawrence S. Mayer, M. B., M. S., Ph.D. é um estudioso em residência no Departamento de Psiquiatria na Universidade Johns Hopkins Escola de Medicina e professor de estatísticas e bioestatística da Universidade Estadual do Arizona. Paul R. McHugh, M.D. é professor de psiquiatria e ciências comportamentais na Escola de Medicina da Universidade Johns Hopkins e foi durante vinte e cinco anos, psiquiatra-chefe no Hospital Johns Hopkins. Ele é autor ou coautor de vários livros, incluindo, mais recentemente, ―Try to Remember: Psychiatry’s Clash over Meaning, Memory, and Mind”  (Dana Press, 2008).  Artigo publicado publicado no THE NEW NEW ATLANTIS ATLANTIS  – A HOURNAL OF TECHNOLOGY & SOCIETY SPECIAL REPORT number 50  – Fall 2016. The New Atlantis   (1627) foi o título que Francis Bacon selecionados para sua fábula de uma sociedade que vive com os benefícios e desafios da ciência e

tecnologia avançada. Bacon, um dos fundadores e campeão da ciência moderna, procurando, não somente destacar o potencial da tecnologia para melhorar a vida humana, mas também para prever algumas das dificuldades sociais, morais e políticas que confrontam uma sociedade moldada pelo grande empreendimento científico. Seu livro não oferece respostas óbvias; talvez seduz mais do que adverte. Mas o conto também aponta para alguns dos dilemas que surgem com a capacidade de refazer e reconfigurar o mundo natural: ciência governando, para que ele possa florescer livremente, sem destruir ou nos desumanizar, e compreender o efeito da tecnologia sobre a vida humana, aspiração humana e do bem humano. Em grande medida, vivemos no mundo que Bacon havia imaginado, e agora temos de encontrar uma maneira de viver bem com ambos os seus fardos e suas bênçãos. Este grande desafio, que agora confronta nossa própria sociedade com mais força, é o foco desta revista. Nota do Facilitador : Tradução feita pelo Google Tradutor com correções por Ronaldo Filardo ([email protected]) que humilde e antecipadamente sugere atenção ao ler e interpretar esta livre tradução, pois devido a complexidade do tema e do texto nem sempre é possível obter um texto em português com 100% preciso, mas agradece o entendimento de todos aqueles que lerem, além de estar a disposição no que se refere a se dispor naquilo que for preciso para ajudar na melhor compreensão de termos e procedimentos estatísticos, além daquilo que estiver ao seu alcance. Fiquem na graça e no amor de Nosso Senhor Jesus Cristo. Shalom.

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PREFÁCIO Este relatório foi escrito para o público em geral e para profissionais de saúde, a fim de chamar a atenção para - e oferecer algum discernimento científico sobre os problemas de saúde mental enfrentados pelas populações po pulações LGBT. Ele surgiu a partir de um pedido de Paul R. McHugh, M.D., o ex-chefe de psiquiatria do Hospital Johns Hopkins e um dos principais psiquiatras no mundo. Dr. McHugh pediu para eu revisar uma monografia que ele e colegas tinham elaborado sobre assuntos relacionados à orientação sexual e identidade; minha tarefa original era garantir a precisão das inferências estatísticas e avaliar as fontes adicionais. Nos meses que se seguiram, li atentamente mais de quinhentos artigos científicos sobre estes temas. Fiquei alarmado ao saber que a comunidade LGBT tem uma taxa desproporcional de problemas de saúde mental em comparação com a população como um todo. Como o meu interesse cresceu, eu explorei a pesquisa através de uma variedade de informação nos campos científicos, incluindo epidemiologia, genética, endocrinologia, psiquiatria, neurociência, embriologia e pediatria. Eu também analisei muitos dos estudos acadêmicos empíricos realizados nas ciências sociais, incluindo psicologia, sociologia, ciência política, economia e estudos de gênero. Concordei em assumir como autor principal, reescrever, reorganizar e expandir o texto. Apoiei todas tod as as frases neste relatório, sem reservas e sem prejuízo em relação a qualquer política ou debates filosóficos. Este relatório é sobre a ciência e a medicina, nada mais e nada menos. Os leitores perguntaram sobre a síntese deste relatório de pesquisa em muitos campos diferentes e a partir de então podem querer saber um pouco sobre seu autor. Sou um académico a tempo integral envolvido em todos os aspectos de ensino, pesquisa e serviço profissional. Sou um bioestatístico e epidemiologista que incide sobre a concepção, análise e interpretação de estudos experimentais e observacionais em dados em saúde pública e medicina, particularmente quando os dados são complexos em termos de questões científicas subjacentes. Sou médico pesquisador, tendo formado em medicina e psiquiatria na U.K. e recebi os britânicos equivalente (M.B.) ao mestrado americano (Master of Degree). Nunca pratiquei a medicina (incluindo a psiquiatria) nos Estados Unidos ou no exterior. Tenho testemunhado em dezenas de processos judiciais federais e estaduais e audiências regulatórias, na maioria dos casos de revisão da literatura científica para esclarecer as questões em análise. Apoio firmemente a igualdade e oponhome a discriminação para com a comunidade LGBT, e testemunhei em seu nome como um especialista em estatística. Fui professor titular em tempo integral por mais de quatro décadas. Tenho compromissos professorais retidos em oito universidades, incluindo Princeton, Universidade da Pensilvânia, Stanford, Universidade do Estado de Arizona, Universidade Johns Hopkins, Bloomberg School of Public Health  e da Faculdade de Medicina, Estado de Ohio, Virginia Tech, e da Universidade de Michigan. Também já realizei pesquisas com instituto de investigação em várias outras instituições, incluindo aMayo Clinic . A tempo integral e a tempo parcial tive compromissos em vinte e três disciplinas, incluindo estatísticas, bioestatística, epidemiologia, saúde pública, metodologia, psiquiatria, matemática, sociologia, ciência político-social, economia e informática biomédica. Mas os meus interesses de investigação têm variado muito menos do que os meus compromissos acadêmicos: o foco da minha carreira tem sido aprender como a estatística e modelos são empregados em todas as disciplinas, com o objetivo de melhorar o uso de modelos e análise de dados na avaliação de questões de interesse na política, regulatória, ou questões legais. Tenho publicados em muitas revistas e jornais de nível superior (incluindo The Annals of Statistics, Biometrics, and American Journal of Political Science) e revi centenas de manuscritos submetidos para publicação para muitos dos principais jornais médicos,

estatísticos e epidemiológicos (Incluindo  The New England Journal of Medicine, Journal of the American Statistical Association e  American Journal of Public Health).

Atualmente sou um estudioso em residência no Departamento de Psiquiatria Escola de Medicina do Hospital Johns Hopkins e professor de estatística e bioestatística na Universidade Estadual do Arizona. Até 01 de julho de 2016, eu também realizava

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nomeações do corpo docente em tempo parcial na Johns Hopkins Bloomberg Escola da Saúde Pública e da Faculdade de Medicina, e na Mayo Clinic . Uma empreitada tão ambiciosa como este relatório não seria possível sem o conselho de muitos estudiosos talentosos e seus editores. Sou grato pela generosa ajuda de Laura E. Harrington, M.D., M.S., uma psiquiatra com extensa formação em medicina interna e neuroimunologia, cuja prática clínica centra-se sobre as mulheres na transição de vida, incluindo a terapia afirmativa para a comunidade LGBT. Ela contribuiu para o relatório inteiro, principalmente emprestando sua experiência para as seções sobre endocrinologia e pesquisas sobre o cérebro. Sou grato também a Bentley J. Hanish, B. S., um jovem geneticista que espera que a pós-graduar na escola de medicina em 2021 com um M.D./Ph.D. em epidemiologia psiquiátrica. Ele contribuiu para o relatório inteiro, em particular para as seções que dizem respeito a genética. Agradeço o apoio da Johns Hopkins Universidade Escola Bloomberg de Saúde Pública e da Escola de Medicina, do estado do Arizona Universidade, e da Clínica Mayo. No decurso da elaboração deste relatório, consultei um número de indivíduos que pediram para que eu não os agradecesse pelo nome. Alguns temiam uma rude resposta dos elementos mais militantes da comunidade LGBT; outros temiam uma resposta irritada a partir dos elementos mais estridentes de comunidades religiosamente conservadora. Mais incomodo, no entanto, é que alguns temiam represálias de suas próprias universidades por se engajar em tais temas controversos, independentemente do conteúdo do relatório - uma declaração triste sobre a liberdade acadêmica. Dedico o meu trabalho neste relatório, em primeiro lugar, para a comunidade LGBT, que tem uma taxa desproporcional de problemas de saúde mental em comparação a população como um todo. Temos de encontrar maneiras de aliviar seu sofrimento. Dedico também aos estudiosos que fazem investigação imparcial sobre temas públicos de tamanha controvérsia. Que eles nunca percam o seu caminho em furacões políticos. E acima de tudo, dedico-a para as crianças lutando com sua sexualidade e sexo. As crianças são um caso especial, ao abordar problemas de gênero. No decurso do seu desenvolvimento, muitas crianças exploram a ideia de ser do gênero oposto. Algumas crianças podem ter melhorias no bem-estar psicológico, se forem incentivadas e apoiados na identificação do seu gênero, especialmente se a identificação é forte e persistente p ersistente ao longo do tempo. Mas quase todas as crianças acabam identificando seu sexo biológico. A noção de que uma criança de dois anos de idade, tendo expressado pensamentos ou comportamentos identificados com o gênero oposto, pode ser rotulada para a vida como transgênero não tem absolutamente nenhum apoio na ciência. Com efeito, é iníquo acreditar que todas as crianças que têm pensamentos de gênero atípicos ao seu comportamento em algum momento de seu desenvolvimento, particularmente antes puberdade, devem ser encorajados a se tornar transgênero. Como cidadãos, estudiosos e médicos preocupados com os problemas enfrentados por pessoas LGBT, não devemos ser dogmaticamente comprometidos com qualquer particular ponto de vista sobre a natureza da sexualidade ou identidade de gênero; em vez disso, devemos orientar em primeiro lugar, pelas necessidades dos pacientes que lutam, e devemos buscar com a mente aberta maneiras de ajudá-los a levar algum significado ou uma vida digna. Lawrence S. Mayer, M. B., M. S., Ph.D.

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SUMÁRIO EXECUTIVO Este relatório apresenta um resumo cuidadoso e uma explicação atualizada de pesquisa - desde as ciências biológicas, psicológicas e sociais - relacionados à orientação sexual e identidade de gênero. Ele é oferecido na esperança de que tal exposição possa contribuir para a nossa capacidade como médicos, cientistas, e os cidadãos para resolver problemas de saúde enfrentados por populações LGBT dentro nossa sociedade. Algumas das principais conclusões: Parte Um: Orientação Sexual ● A compreensão da orientação sexual como uma inata e uma propriedade biologicamente fixada dos seres humanos - a ideia de

que as pessoas "nasceram assim" - não é suportada pela evidência científica. ● Embora não haja evidência de que fatores biológicos, tais como genes e os hormônios estejam associados a comportamentos

sexuais e atrações, não há convincentes explicações biológicas causais para a orientação sexual humana. Enquanto pequenas diferenças nas estruturas cerebrais e atividade cerebral entre homossexuais e indivíduos heterossexuais foram identificados por pesquisadores, tais achados neurobiológicos não demonstram se estas diferenças são inatas ou são o resultado de meio ambiente e fatores psicológicos. ● Estudos longitudinais de adolescentes sugerem que a orientação sexual pode ser bastante fluida ao longo da vida para algumas

pessoas, com um estudo estimando que mais de 80% dos adolescentes do sexo masculino que relatam atração pelo mesmo sexo não a fizeram como adultos (embora a medida em que este número reflete mudanças reais na atração pelo mesmo sexo e não apenas artefatos do processo de pesquisa foram contestadas por alguns pesquisadores). ● Em comparação aos heterossexuais, não-heterossexuais tem cerca de duas a três vezes mais probabilidades de d e ter experimentado

abuso sexual na infância. Parte Dois: Sexualidade, resultados em saúde mental e estresse social ● Em comparação com a população geral, subpopulações não heterossexuais estão em um risco elevado para uma variedade de

efeitos adversos na saúde mental. ● Os membros da população não-heterossexuais tem estimados cerca de 1,5 vezes maior risco de sofrer transtornos de ansiedade

do que os membros da população heterossexual, bem como aproximadamente o dobro do risco de depressão, 1,5 vezes o risco de abuso ao usar substâncias e cerca de 2,5 vezes o risco de suicídio. ● Os membros da população transgêner o também estão em maior risco de uma variedade de problemas de saúde mental em

comparação com os membros da população não-transgênero. Especialmente de forma alarmante, a taxa de tentativas de suicídio em todas as idades dos indivíduos transgêneros é estimado em 41%, em comparação com menos de 5% no total da população dos EUA. ● Há uma evidência, embora limitada, que estressores sociais, como a discriminação e o estigma contribuem para o risco elevado de

pobres efeitos na saúde mental para populações não-heterossexuais e transgênero. Estudos longitudinais com melhor qualidade são necessários para o "modelo de stress social" para p ara ser uma ferramenta útil na compreensão das preocupações de saúde pública. Parte Três: Identidade de Gênero ● A hipótese de que a identidade de gênero é uma propriedade inata, fixa de seres humanos, que é independente do sexo biológico -

que uma pessoa pode ser "um homem preso no corpo de uma mulher" ou "mulher presa no corpo de um homem "- não é suportada por provas científicas.

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● De acordo com uma estimativa recente, cerca de 0,6% dos adultos americanos se identificam como um gênero que não

corresponde ao seu sexo biológico. ● Estudos comparando as estruturas do cérebro de transgêneros e indivíduos não-transgênero têm demonstrado correlações fracas

entre a estrutura do cérebro e identificação com o gênero oposto. Essas correlações não fornecem qualquer evidência de uma base neurobiológica para a identificação com o gênero oposto. ● Em comparação com a população em geral, os adultos que foram submetidos a cirurgia de reatribuição sexual continuam a ter um

risco mais elevado de sofrer maus resultados de saúde mental. Um estudo descobriu que, em comparação aos controles, os indivíduos que mudaram de sexo eram cerca de 5 vezes mais propensos a tentar o suicídio e tinham cerca de 19 vezes mais probabilidades de morrer por suicídio. ● As cr ianças são um caso especial ao tratar de questões transgênero. Apenas uma minoria de crianças que sofrem de identificação

com o gênero oposto vai continuar a fazê-lo na adolescência ou na idade adulta. ● Há pouca evidência cientìfica para o valor terapêutico das intervenções que retardam a puberdade ou modificam o sexo secundário

nas características dos adolescentes, embora algumas crianças possam ter melhor bem-estar psicológico, se forem incentivados e suportados na sua identificação com o gênero oposto. Não há nenhuma evidência que todas as crianças que expressam pensamentos de gênero ou comportamento atípico devem ser encorajados a se tornar transgênero.

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Sexualidade e Gênero Os achados da biologia, psicologia e das ciências sociais Lawrence S. Mayer, M. B., M. S., Ph.D. e Paul R. McHugh, M.D.

INTRODUÇÃO Poucos temas são tão complexos e controversos como a orientação sexual humana e a identidade de gênero. Estes assuntos tocam no nossos mais íntimos pensamentos e sentimentos, e ajudam a definir-nos como indivíduos e seres sociais. As discussões sobre as questões éticas levantadas pela orientação sexual e identidade de gênero podem ficar quente e pessoais, e quando associadas a questões políticas, por vezes, provocam intensas controvérsias. Os disputantes, jornalistas e legisladores nestes debates muitas vezes invocam a autoridade da ciência, e em noticiários e meios de comunicação social da nossa cultura popular mais ampla ouvimos afirmações sobre o que "a ciência diz" sobre estas questões. Este relatório oferece um resumo cuidadoso e uma explicação atualizada de muitos dos resultados mais rigorosos produzidos pelas ciências biológicas, psicológicas e sociais relacionados à orientação sexual e identidade de gênero. Examinamos um vasto corpo de literatura de carácter científico em várias disciplinas. Tentamos reconhecer as limitações da pesquisa e evitar conclusões prematuras que poderiam resultar em sobre interpretação de descobertas científicas. Uma vez que a literatura pertinente é repleta de inconsistências e definições ambíguas, nós não somente examinaremos evidencias empíricas, mas também aprofundaremos problemas conceituais subjacentes. Este relatório não significa, contudo, discutir questões de moralidade ou da política; nosso foco está nas evidências científicas - o que mostram e o que elas não mostram. Começamos na primeira parte, examinando criticamente se tais conceitos como a heterossexualidade, homossexualidade e bissexualidade representam propriedades distintas, fixas e biologicamente determinadas dos seres humanos. Como parte desta discussão, olhamos para a hipótese popular do "nasceram assim", que postula que a orientação sexual humana é biologicamente inata; examinamos a evidência para esta afirmação através de várias subespecialidades das ciências biológica. Nós exploramos as origens do desenvolvimento de atrações sexuais, o grau em que essas atrações podem mudar ao longo do tempo, e as complexidades inerentes à incorporação dessas atrações na identidade sexual. Baseando-se em evidências de estudos individuais e outros tipos da investigação, exploramos fatores genéticos, ambientais e hormonais. Também exploramos algumas das evidências científicas relacionadas a ciência do cérebro para orientação sexual. Na segunda parte, examinamos a pesquisa sobre os resultados de saúde e como eles se relacionam à orientação sexual e identidade de gênero. Foi observado de forma consistente um maior risco de maus resultados de saúde física e mental para lésbicas, gays, bissexuais e subpopulações transgêneras em comparação com a população em geral. Estes resultados incluem depressão, ansiedade, abuso de substâncias e mais alarmante, suicídio. Por exemplo, entre a subpopulação transgênero nos Estados Unidos, a taxa de tentativas de suicídio é estimada como sendo tão alta quanto 41%, dez vezes mais elevada do que na população em geral. Como médicos, acadêmicos e cientistas, acreditamos que todas as discussões subsequentes neste relatório devem ser lançadas à luz deste problema de saúde pública. Também examinamos algumas ideias propostas para explicar estes resultados diferenciados em saúde, incluindo o "modelo de estresse social". Esta hipótese - sustenta que estressores, como o estigma entra na conta de prejuízo para grande parte do sofrimento adicional observado nestas subpopulações - não parece oferecer uma explicação completa para as disparidades nos resultados. Tanto quanto a Parte Um investiga a conjectura de que a orientação sexual é fixada com uma base biológica causal, uma porção na Parte Três examina questões semelhantes no que diz respeito à identidade de gênero. Sexo biológico (o binário de categorias masculino e feminino) é um aspecto fixo da natureza humana, mesmo embora alguns indivíduos afetados por distúrbios do desenvolvimento sexual possam apresentar características sexuais ambíguas. Por outro lado, a identidade de gênero é um conceito social e psicológico que não está bem definido, e há pouca evidência científica de que ela é, uma propriedade biológica fixa inata.

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A Parte Três examina também os procedimentos de redesignação sexual e as provas para a sua eficácia em aliviar os maus resultados de saúde mental experimentado por muitas pessoas que se identificam como transgênero. Comparado com a população em geral, os indivíduos transgênero pós-operatórios continuam a estar em alto risco de maus resultados em saúde mental. Uma área de preocupação especial envolve intervenções médicas para jovens de não-conformidade do gênero. Eles estão cada vez mais a receber terapias que afirmam seus gêneros e até mesmo tratamentos hormonais ou modificações cirúrgicas em idades jovens. Mas a maioria das crianças que se identificam como um gênero que não se conforma com seu sexo biológico não vai mais fazer por isso, o tempo que eles atinjam a idade adulta. Nós estamos perturbados e alarmados com a gravidade e irreversibilidade de algumas intervenções a serem discutidas publicamente e empregadas para crianças. Orientação sexual e identidade de gênero resistem a explicação de simples teorias. Há uma grande diferença entre a certeza com que as crenças são realizadas sobre estas questões e o que uma avaliação sóbria da ciência revela. Em face dessa complexidade e incerteza, precisamos ser humildes sobre o que sabemos e não sabemos. Nós prontamente reconhecemos que este relatório não é nem uma análise exaustiva dos temas abordados nem a última palavra sobre eles. Ciência é de nenhuma maneira a única via para a compreensão destes tópicos multifacetados espantosamente complexos; pois existem outras fontes de sabedoria e conhecimento - incluindo arte, religião, filosofia, e a experiência de vida humana. E muito do nosso conhecimento científico nesta área continua a ser instável. No entanto, nós oferecemos esta visão geral da literatura científica na esperança de que ela possa fornecer um quadro comum para um discurso inteligente para iluminar a política e os intercâmbios profissional e científicos - e pode acrescentar à nossa capacidade de cidadãos interessados em aliviar sofrimento e promover a saúde humana e prosperidade.

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PARTE UM - ORIENTAÇÃO SEXUAL Enquanto algumas pessoas estão sob a impressão de que a orientação sexual é uma propriedade inata, biológica e um traço fixo dos seres humanos - que, seja heterossexual, homossexual, ou bissexual, "nascem assim" - não há evidência científica suficiente para apoiar essa reivindicação. De fato, o próprio conceito de orientação sexual é altamente ambíguo; ele pode se referir a um conjunto de comportamentos, sentimentos, de atração ou a um sentimento de identidade. Estudos epidemiológicos mostram uma associação bastante modesta entre fatores genéticos e atrações sexuais ou comportamentos, mas não fornecem evidência significativa apontando para genes particulares. Há também evidências para a outra hipótese biológica nas causas de comportamentos homossexuais, atrações, ou identidade - como a influência de hormônios no desenvolvimento pré-natal  – mas, que a evidência, também, é limitada. Estudos dos cérebros dos homossexuais e heterossexuais têm encontrado algumas diferenças, mas não demonstraram que estas diferenças são inatas em vez do resultado de fatores ambientais que influenciam os traços psicológicos e neurobiológicos. Um fator ambiental que parece estar correlacionado com a não-heterossexualidade é a vitimização ou abuso sexual na infância, o que também pode contribuir para as taxas mais elevadas de maus resultados de saúde mental entre as populações não heterossexuais, em comparação com a população em geral. No geral, a evidência sugere alguma medida de fluidez nos padrões de atração sexual e comportamento ao contrário da noção de que "nasceram assim" simplifica a grande complexidade da sexualidade humana.

A discussão popular de orientação sexual é

característica inata"5. No entanto, como neurocientista Simon

caracterizada por duas ideias conflitantes sobre por que alguns

LeVay, cujo trabalho em 1991 mostrou diferenças cerebrais em

indivíduos são gays, lésbicas ou bissexuais. Enquanto alguns

homens homossexuais em comparação para homens

afirmam que a orientação sexual é uma escolha, outros dizem

heterossexuais, explicou alguns anos após seu estudo, "É

que a orientação sexual é uma característica fixa de sua

importante salientar que não se encontrou, não se provou que

natureza, de que "nasceram assim". Esperamos mostrar aqui

a homossexualidade é genética ou não se encontra uma causa

que, embora a orientação sexual não uma escolha, e não há

genética para ser gay. Não conseguimos mostrar que os

evidência científica para a visão de que a orientação sexual

homens homossexuais "nasceram assim," o erro mais comum

seja uma propriedade biológica fixa e inata.

é fazer na interpretação, pois no meu trabalho não foi

Um exemplo recente de destaque de uma pessoa

localizado um centro gay no cérebro"6.

descrevendo a orientação sexual como uma escolha é Cynthia

Muitos livros recentes contêm tratamentos populares

Nixon, a estrela da série de televisão popular Sex and City , que

da

ciência

que

fazem

declarações

relativas

ao

em uma entrevista em janeiro 2012 ao New York Times

desacompanhamento da orientação sexual. Esses livros

explicou, "Para mim é uma escolha, e você não consegue

frequentemente exageram - ou pelo menos simplificam demais

definir a minha homossexualidade para mim" e comentou que

- descobertas científicas complexas. Por exemplo, em um livro

ela era "muito irritada", sobre a questão da existência ou não

de 2005, o psicólogo e escritor de ciência Leonard Sax

das pessoas gays nascerem dessa forma. "Por que não pode

responde à pergunta de uma mãe preocupada se seu filho

ser uma escolha? Por que é menos legítimo?"1 Similarmente,

adolescente vai superar suas atrações homossexuais:

Brandon Ambrosino escreveu no The New Republic   em 2014

"Biologicamente, a diferença entre um homem gay e um

que "é hora da comunidade LGBT parar de temer a palavra

homem heterossexual é algo como a diferença entre uma

'Escolha' e recuperar a dignidade da autonomia sexual"2.

pessoa canhota e uma pessoa destra. Ser canhoto não é

Por outro lado, os proponentes da hipótese "nasceram

apenas uma fase. Uma pessoa canhota não se transforma

assim" - expressa por exemplo, em 2011 na canção de Lady

magicamente num dia em uma pessoa destra.... Algumas

Gaga "Born This Way " - postularam que existe uma base

crianças são destinadas à nascença de ser canhoto, e alguns

biológica para a orientação sexual causal e muitas vezes

meninos são destinados à nascença para crescer sendo gay‖7.

tentam reforçar suas reivindicações com descobertas

Como argumentamos nesta parte do relatório, no

científicas. Citando três estudos científicos3  e um artigo da

entanto, há pouca evidencia científica para apoiar a alegação

revista Science4, Mark Joseph Stern, escrevendo para Slate

de que a atração sexual é simplesmente fixada pelos fatores

em 2014, afirma que "a homossexualidade, pelo menos em

inatos e deterministas, tais como genes. Compreensões

homens, é clara, sem dúvida, indiscutivelmente uma

populares de descobertas científicas, muitas vezes presumem

9

causalidade determinista quando os achados não garantem a presunção. Outra limitação importante para a pesquisa e para a interpretação dos estudos científicos sobre este tema é que alguns conceitos centrais - incluindo "Orientação sexual" em si - são muitas vezes ambíguos, fazendo medições confiáveis difíceis tanto nos estudos individuais e na comparação entre

Posso realmente ser bissexual? Eu fui tão apegado a minha identidade gay - adotei na faculdade e anunciei com grande alarde para a família e amigos - que eu não me permiti experimentar outra parte de mim? Em alguns aspectos, até mesmo fazer essas perguntas é um anátema para muitos gays e lésbicas. Esse tipo de incerteza publicamente compartilhada é repugnante para a direita cristã e ao movimento de ex-gays é cientificamente duvidosa, psicologicamente prejudicial que ajudou a disseminar. Como homens gays e lésbicas, afinal de contas, é suposto ter a certeza - que é suposto "nasceram desta maneira."9

resultados longitudinais. Então, antes de virar para a evidência científica relativa o desenvolvimento da orientação sexual e

Apesar das evidências, aparentemente científica

desejo sexual, examinaremos com algum pormenor vários dos

(embora reconhecidamente limitada) de seus padrões

equívocos conceituais mais problemáticos no estudo da

bissexual-típicos de excitação, Denizet-Lewis rejeitou a ideia

sexualidade humana, a fim de chegar a uma imagem mais

de que ele era realmente bissexual, porque "Ele não se sente

completa dos conceitos relevantes.

verdadeiro com sua orientação sexual, nem se sente como tendo a minha identidade."10 As preocupações de Denizet-Lewis aqui ilustram uma

Problemas com definição dos conceitos chaves Em 2014 o New York Times Magazine  publicou o

série de dilemas levantados pelo estudo científico da

artigo intitulado “ The Scientific Quest to Prove Bisexuality

pesquisadores usaram pareciam estar em desacordo com a

Exists”   (N.T. "A busca Científica para provar a existência da

mais intuitiva e subjetiva compreensão do que é ser

bissexualidade")8  que fornece uma ilustração dos temas

sexualmente excitado; nosso próprio entendimento do que

explorados na presente parte - desejo sexual, atração,

estamos sexualmente excitados por está amarrado com a

orientação e identidade - e as dificuldades com a definição e

totalidade de nossa experiência vivida da sexualidade. Além

estudo desses conceitos. Especificamente, o artigo mostra com

disso, a insistência de Denizet-Lewis que ele é gay, não

uma abordagem científica para como o estudo da sexualidade

bissexual e sua preocupação de que a incerteza sobre a sua

humana pode conflitar com vistas culturalmente prevalentes de

identidade poderia ter implicações políticas e sociais, aponta

orientação sexual ou com o auto entendimento de que muitas

para o fato de que orientação sexual e identidade são

pessoas têm de seus próprios desejos sexuais e identidades.

entendidos não só em termos científicos, mas pessoais,

Tais conflitos levantam questões importantes sobre se tais

sociais, morais e políticos.

sexualidade humana. As medidas objetivas que os

conceitos sobre orientação sexual são relacionados e tão

Mas como categorias de orientação sexual - com os

coerentes e bem definidos como é frequentemente assumido

rótulos "Bissexual" ou "gay" ou "heterossexual"  –  ajudam os

por pesquisadores e pelo público em geral.

cientistas a estudar o fenômeno complexo da sexualidade

O autor do artigo, Benoit Denizet-Lewis, um homem

humana? Quando examinamos o conceito de orientação

gay assumido abertamente, descreve o trabalho de cientistas e

sexual, torna-se aparente, como esta parte vai mostrar, que é

outros tentando demonstrar a existência de uma orientação

demasiado vago e mal definido para ser muito útil na ciência, e

bissexual estável. Ele visitou pesquisadores na Universidade

que, em seu lugar, precisa conceitos mais claramente

de Cornell e participou de testes usados para medir a excitação

definidos. Nós nos esforçamos neste relatório para usar termos

sexual, testes que incluem a observação da maneira como as

claros; quando se discute estudos científicos que dependem do

pupilas dilatam em resposta a imagens sexualmente explicitas.

conceito de "orientação sexual", tentamos o máximo possível

Para sua surpresa, descobriu que, de acordo com esta medida

especificar como os cientistas definem o termo ou termos

científica, ele mesmo foi despertado quando assistindo a filmes

relacionados.

pornográficos de mulheres se masturbando:

Uma das dificuldades centrais em examinar e pesquisar a orientação sexual é que os conceitos subjacentes

10

de "desejo sexual", "atração sexual" e "excitação sexual

los. Isso não quer dizer que a satisfação desses desejos é

"podem ser ambíguos, e é ainda menos claro o que isso

impossível, mas isso muitas vezes não envolve apenas a

significa, e como uma pessoa que se identifica como tendo

escolha de ações concretas para atingir metas específicas,

orientação sexual fundamentada em algum padrão de desejos,

mas a formação mais complexa da nossa própria vida atuando

atrações, ou estados de excitação.

dentro e dando sentido ao mundo e um lugar nele.

A palavra "desejo" por si só pode ser usada para

Então, a primeira coisa a notar quando se consideram

cobrir um aspecto de volição mais naturalmente expresso por

os dois debates populares e os estudos científicos da

"querer": Eu quero sair para jantar, ou para fazer uma viagem

sexualidade é que o uso do termo "desejo" poderia referir-se a

de estrada com os meus amigos no próximo verão, ou para

aspectos distintos da vida humana e sua experiência.

terminar este projeto. Quando o "desejo" é usado neste

Assim como são muitos os significados que poderiam

sentido, os objetos determinados de desejo são bastante

ser destinados pelo termo "desejo", assim também é cada um

objetivos - alguns podem ser perfeitamente realizáveis, como

desses variados significados, tornando delimitações claras de

se mudar a uma nova cidade ou encontrar um novo emprego;

um desafio. Por exemplo, um entendimento do senso comum

outros podem ser mais ambiciosos e de alcançar, como o

poderia sugerir que o termo "desejo sexual" significa o querer

sonho de se tornar uma estrela de cinema mundialmente

envolver-se em idade sexual específica com indivíduos

famosa. Muitas vezes, no entanto, a linguagem do desejo

particulares (ou categorias de pessoas). A psiquiatra Steven

pretende incluir coisas que não são tão claras: anseios

Levine articulou essa visão comum em sua definição de desejo

indefinidos para uma vida que é, em certo sentido, não

sexual como "a soma das forças que se inclinam a nos

especificado, diferente ou melhor; um senso rudimentar de algo

aproximar e se afastar de um comportamento sexual"11. Mas,

que está sendo ausente ou carente de si mesmo no seu

não é óbvio como se poderia estudar está "soma" em um

mundo; ou, na literatura psicanalítica, forças do inconsciente

rigoroso caminho. Também não é óbvio por que todos os

dinâmico que de forma cognitiva, emocional ou via

diversos fatores que podem potencialmente influenciar o

comportamentos sociais, mas que são separados não do

comportamento sexual, tais como a pobreza material - no caso

sentido comum, consciente de si mesmo.

da prostituição, por exemplo - o consumo de álcool, e afeto

Esta noção mais pura do desejo é, em si, ambígua.

íntimo, devem todos ser agrupados como aspectos do desejo

Pode se referir a um estado esperado de coisas como

sexual. Como a própria Levine aponta, "Nas mãos de alguém,

encontrar um sentido de significado, realização, e satisfação

o desejo sexual pode ser um conceito escorregadio"12.

com a vida, um desejo que, embora não completamente claro

Considere algumas das maneiras que o termo "desejo

em suas implicações, não é, presumivelmente, inteiramente

sexual" tem sido empregado em contextos científicos -

fora do alcance, embora tais anseios também possam ser

designando um ou mais dos seguintes fenômenos distintos:

formas de fantasiar sobre um radicalmente alterado ou talvez

1. Estados de excitação física que podem ou não podem

mesmo estado inatingível dos assuntos. Se eu quiser fazer

ser ligados a uma atividade física específica e pode

uma viagem de estrada com meus amigos, os passos são

ou não ser objetos de consciente percepção.

claros: chamar meus amigos, escolher uma data, traçar um

2. Interesse erótico consciente em resposta a encontrar

percurso, e assim por diante. No entanto, se eu tenho um

outras pessoas atraentes (percepção, memória ou

desejo incipiente para a mudança, uma esperança para

fantasia), que pode ou não envolver qualquer um dos

intimidade sustentável, amor e sentimento de pertencer, ou um

processos corporais associados com mensuráveis

conflito inconsciente que está perturbando a minha capacidade

estados de excitação física.

de seguir em frente na vida que tentei construir para mim mesmo, eu enfrento um tipo diferente de desafio. Não é necessariamente um conjunto de metas bem definidas ou conscientes, maneiras muito menos estabelecidos de atingi-

3. Forte interesse em encontrar um companheiro ou o estabelecimento de uma relação duradoura. 4. As aspirações românticas e sentimentos associados à paixão ou se apaixonar por um indivíduo específico.

11

5. Inclinação para apego a indivíduos específicos.

podem igualmente serem difíceis de definir e operacionalizar 1 e

6. A motivação geral para buscar intimidade com um

por esta razão admitir vários usos. No entanto, a ambiguidade

membro de algum grupo específico. 7. Uma medida estética que se agarra na beleza percebida em outros.13

apresenta um desafio significativo tanto para projeto de pesquisa e interpretação, exigindo tomar cuidado no atendimento aos significados, contextos, e resultados específicos para cada estudo. Também é importante para

Em um estudo com dados de ciências sociais, os

suportar quaisquer associações subjetivas com ou usos desses

conceitos mencionados acima em muitas vezes, cada um tem

termos que não vão estar de acordo com classificações e

a sua própria definição operacional especial para efeitos de

técnicas científicas bem definidas.

pesquisa. Mas eles não podem todos significar a mesma coisa.

Seria um erro, de qualquer modo, ignorar os usos

Grande interesse em encontrar um companheiro, por exemplo,

variados destes termos relacionados ou tentar reduzir as

é claramente distinguível de excitação física. Olhando para

muitas e distintas experiências para que pode se referir a um

esta lista de fenômenos experienciais e psicológicos, pode-se

único conceito ou experiência. Como veremos, isso poderia,

facilmente imaginar que confusões podem surgir de usar o

em alguns casos afetar negativamente a avaliação e

termo "desejo sexual" sem a necessária precaução.

tratamento dos pacientes.

O filósofo Alexander Pruss fornece um resumo útil de algumas das dificuldades envolvidas na caracterização do conceito relacionado a atração sexual: O que significa ser "sexualmente atraído" por alguém? Quer dizer para ter uma tendência a ser despertado em sua presença? Mas certamente é possível para encontrar alguém sexualmente atraente sem ser despertado. O que isso significa formar a crença de que alguém é sexualmente atraente para um? Certamente que não, uma vez que uma crença sobre quem é sexualmente atraente a uma força ser errado - por exemplo, pode-se confundir admiração com atração sexual. Será que isso significa ter um desejo não utilitário para um relacionamento sexual ou romântico com a pessoa? Provavelmente não: se pudermos imaginar que uma pessoa que não tem atração sexual por alguém, mas que tem um desejo não utilitário para um relacionamento romântico por causa de uma crença, com base no testemunho dos outros, que têm relações românticas sem valor utilitário. Estas e outras perguntas sugerem que exista um conjunto de conceitos relacionados sob a cabeça de "atração sexual" e qualquer definição precisa é provável que seja indesejável. Mas se o conceito de atração sexual é um conjunto de conceitos, nem lá estão simplesmente conceitos unívocos de heterossexualidade, homossexualidade e bissexualidade14.

A ambiguidade do termo "desejo sexual" (e termos semelhantes) deve nos dar uma pausa para considerar os diversos aspectos da experiência humana que são

O Contexto do Desejo Sexual Podemos esclarecer melhor o fenómeno complexo do desejo sexual se examinarmos o relacionamento que tem com outros aspectos de nossas vidas. Para fazê-lo, tomamos emprestado algumas ferramentas conceituais de uma tradição filosófica conhecida como fenomenologia, que concebe a experiência humana como derivando seu significado de todo o contexto em que ela aparece. O testemunho da experiência sugere que uma experiência de desejo e atração sexual não são voluntárias, pelo menos não em qualquer caminho imediato. Todo o conjunto de inclinações que geralmente associamos com a experiência de desejo sexual - se o impulso de se envolver em particular atos ou para desfrutar de certos relacionamentos não parece ser o único produto de qualquer escolha deliberada. Nossos apetites sexuais (como outros apetites naturais) são experienciados como, mesmo que a sua expressão seja moldada em subtil maneiras por muitos fatores, que poderia muito bem incluir vontade. Com efeito, longe de

frequentemente associados com ele. O problema não é nem insolúvel nem exclusivo para este assunto. Outros conceitos das ciências sociais - agressão e dependência, por exemplo -

 "Operacionalização" refere-se à forma como os cientistas sociais fazem uma variavel mensurável. Homossexualidade pode ser operacionalizada como as respostas que os inquiridos dão a perguntas sobre sua orientação sexual ou poderia ser operacionalizada como respostas a perguntas sobre os seus desejos, atrações, e comportamento. Variáveis de operacionalização são formas que irão medir de forma confiável a característica ou comportamento sendo estudada que é uma parte difícil, mas importante de qualquer pesquisa em ciências sociais. 1

12

aparecer como um produto da nossa vontade, o desejo sexual

sexualidade, como outros fenômenos humanos que,

- no entanto, nós o definimos - muitas vezes é experienciado

gradualmente, tornam-se parte de nossa constituição

como uma força poderosa, semelhante a fome, que muitos

psicológica, tenha raízes nestas primeiras experiências de

lutam (especialmente na adolescência) para trazer sob a

construção de significado. Se o significado de tomada é

direção e controle. Além disso, o desejo sexual pode afetar a

integral a experiência humana em geral, é susceptível de

atenção involuntariamente ou colorir suas percepções do dia-a-

desempenhar um papel-chave na experiência sexual em

dia, experiências e encontros. O que parece estar, até certo

particular. E dado que vontade é operativa nestes outros

ponto em nosso controle é como se nós escolhêssemos viver

aspectos de nossas vidas, é lógico que vontade será operativa

com este apetite, como pudéssemos integrá-lo para o resto de

em nossa experiência da sexualidade também, se apenas

nossas vidas.

como um de muitos outros fatores.

Mas a questão permanece: o que é desejo sexual? O

Isto não é sugerir que sexualidade - incluindo desejo

que é esta parte de nossas vidas que nós consideramos ser

sexual, atração, e identidade - seja o resultado de qualquer,

dadas, antes mesmo à nossa capacidade de deliberar e fazer

cálculo ou decisão racional deliberada. Mesmo se a vontade

escolhas racionais sobre isso? Sabemos que algum tipo de

desempenha um papel importante na sexualidade a vontade

apetite sexual está presente em animais não-humanos, como é

própria é bastante complexa: muitas, talvez a maioria, das

evidente no ciclo menstrual do mamífero; na maioria das

nossas escolhas volitivas não parecem vir na forma de

espécies de mamíferos e a excitação sexual receptividade está

decisões discretas, conscientes ou deliberadas; "Volitiva" não

ligada à fase do ciclo de ovulação durante a fêmea é

significa necessariamente "deliberada." A vida de um desejo,

reprodutivamente receptiva15. Uma das características únicas

em agente volitivo envolve muitos padrões tácitos do

relativamente do Homo sapiens, compartilhado com apenas

comportamento devido aos hábitos, experiências passadas,

alguns outros primatas, é que desejo sexual não está

memórias e formas sutis de adoção e abandono de diferentes

exclusivamente ligado ao ciclo ovulatório da mulher 16. Alguns

posições sobre a própria vida.

biólogos argumentaram que isto significa que o desejo sexual

Se algo como um desejo é a maneira de entender a

em humanos tem evoluído para facilitar a formação de

vida, o agente volitivo é verdade, então nós não "escolhemos"

sustentar relações entre pais, para além do efeito biológico

deliberadamente os objetos de nossos desejos sexuais mais

mais básico de reprodução. Qualquer que seja a explicação

do que escolher os objetos de nossos outros desejos. Pode ser

para as origens e funções biológicas da sexualidade humana, a

mais exato dizer que nós gradualmente orientamos e damos a

experiência vivida de desejos sexuais é carregada com

nós mesmos ao longo do nosso crescimento e

significado que vai além dos efeitos biológicos, dos desejos

desenvolvimento. Este processo de formação forma a nós

sexuais e comportamentos. Este significado não é apenas um

mesmos como seres humanos e é semelhante aquilo que

complemento subjetivo para a mais básica e fisiológica das

Abraham Maslow chama de auto-realização18. Por que a

realidades funcionais, mas algo que permeia a nossa

sexualidade é uma exceção a este processo? De fato, estamos

experiência vivida da sexualidade.

oferecendo, fatores internos, como a nossa constituição

Como filósofos que estudam a estrutura da

genética e fatores ambientais externos, tais como experiências

experiência consciente tem observado, o nosso modo de

passadas que, são apenas ingredientes, porém importantes, na

vivenciar o mundo é moldado pelo nosso "modo de realização,

experiência humana complexa do desejo sexual.

habilidades corporais, contexto cultural, linguagem e outras práticas sociais"17. Muito antes da maioria de nós experimentar algo como o que tipicamente associarmos com o desejo sexual, já estamos enredados num contexto cultural e social

Orientação sexual Assim como o conceito de "desejo sexual" é complexo

envolvendo

e difícil de definir, atualmente não há acordadas definições de

outras

pessoas,

sentimentos,

emoções,

oportunidades, privação, e assim por diante. Talvez a

"orientação

sexual",

"homossexualidade",

ou

13

"heterossexualidade" para fins de pesquisa empírica. Deve

variações na difusão, proeminência ou intensidade. Algumas

homossexualidade, por exemplo, ser caracterizada por

escalas focam tanto a intensidade como os objetos de desejo

referência ao desejo de se envolver em atos particulares com

sexual. Entre as mais familiares e amplamente utilizadas está a

pessoas do mesmo sexo, ou a uma história padronizada de ter

escala Kinsey, desenvolvido na década de 1940 para

se envolvido em tais atos, ou particular, características de seus

classificar desejos sexuais e orientações usando critérios

desejos privados ou fantasias, ou a um impulso consistente a

supostamente mensuráveis. As pessoas são solicitadas a

procura de intimidade com membros do mesmo sexo, ou a

escolher uma das seguintes opções:

uma identidade social imposta por si ou para outrem, ou para

1. Exclusivamente heterossexual

algo totalmente diferente?

2. Predominantemente

Já em 1896, em um livro sobre a homossexualidade, o

heterossexual,

homossexual

apenas incidentalmente

pensador francês Marc-André Raffalovich argumentou que

3. Predominantemente heterossexual, mas mais do que

havia mais de dez tipos diferentes de inclinação afetiva ou

incidentalmente homossexual

comportamento capturado pelo termo "homossexualidade" (ou

4. Igualmente heterossexual e homossexual

que ele chamou de "unisexuality ")19. Raffalovich sabia que esse

5. Predominantemente homossexual, mas mais do que

assunto é controverso: ele narrou o julgamento, prisão e

incidentalmente heterossexual

resultando em desgraça social, do escritor Oscar Wilde, que

6. Predominantemente

tinha sido processado por "atentado violento ao pudor" com

homossexual,

heterossexual

apenas incidentalmente

outros homens. Raffalovich se manteve um prolongado e

7. Homossexual21.

íntimo relacionamento com John Gray, um homem letrado que foi a inspiração para o clássico de Oscar Wilde ―The Picture of

Mas há limitações consideráveis para esta

Dorian Gray ‖20. Podemos também considerar a vasta literatura

abordagem. Em princípio, medidas deste tipo são valiosas para

psicanalítica a partir do início do século XX quanto o tema do

pesquisa em ciências sociais. Elas podem ser utilizadas, por

desejo sexual, em que as experiências dos sujeitos individuais

exemplo, em testes empíricos, tais como o clássico teste t , que

e seus casos clínicos são catalogados em grande detalhe. Este

ajuda os pesquisadores medir as diferenças estatisticamente

histórico exemplos põem em relevo a complexidade que os

significativas entre os conjuntos de dados. Muitas medidas em

investigadores enfrentam ainda hoje ao tentar chegar a

ciências sociais, no entanto, são ―ordinais‖, o que significa que

categorizações limpas do ricamente variado fenômeno afetivo

a classificação ordenada ao longo de uma variável é do tipo

e comportamental associado ao desejo sexual, para atrações

contínua unidimensional única, mas não são intrinsecamente

ao mesmo sexo como do sexo oposto.

significativas. Além disso, no caso da escala Kinsey, esta

Podemos contrastar tal complexidade inerente a um

situação é ainda pior, porque mede a auto identificação de

fenômeno diferente que podem ser delimitadas de forma

indivíduos, deixando claro que se os valores que relatam todos

inequívoca, tais como a gravidez. Salvo raras exceções, o que

se referem ao mesmo aspecto sexualidade - pessoas

torna a classificação dos sujeitos de pesquisa para fins de

diferentes podem entender os termos "heterossexual" e

estudo relativamente fácil: compare mulheres grávidas com

"homossexual" para se referir a sentimentos de atração, ou a

outras mulheres, não grávidas. Mas, como podem

excitação, ou para fantasias, ou a um comportamento, ou a

pesquisadores comparar, digamos, homens "gays" com

qualquer combinação destes. A ambiguidade dos termos limita

homens "heterossexuais" em um único estudo, ou através uma

severamente a utilização da escala Kinsey como uma ordinal

série de estudos, sem definições mutuamente exclusivas e

medição que emite uma ordem de classificação para as

exaustivas dos termos "gay" e " heterossexual"?

variáveis ao longo de uma única ou num continuun2 

Para aumentar a precisão, alguns pesquisadores categorizaram conceitos associados com a sexualidade humana em um contínuo ou escala de acordo com as

 Conjunto de elementos tais que se possa passar de um para outro de modo contínuo, onde o espaço-temporal, nas teorias relativistas, espaço de quatro dimensões, cuja quarta é o tempo. 2

14

unidimensional. Portanto, não é claro que esta escala ajuda os

definição da orientação sexual da  American Psychological

pesquisadores fazer as classificações ainda rudimentares entre

 Association  no documento de 2008 concebido para educar o

os grupos relevantes usando critérios qualitativos, muito menos

público:

a ordem de classificação das variáveis ou a conduta de experiências controladas.

Orientação sexual se refere a um padrão persistente emocional, romântico e/ou de atração  sexual para homens, mulheres ou ambos os sexos. Orientação sexual também se refere ao sentido de uma pessoa de identidade   com base nessas atrações, comportamentos   relacionados e associação em uma comunidade   de pessoas que compartilham essas atrações. Investigação ao longo de várias décadas demonstraram que orientação sexual varia ao longo de um continuum , desde a atração exclusiva ao outro sexo à atração exclusiva para o mesmo sexo25. [Ênfases adicionados]

Talvez, dada a complexidade inerente do assunto, tentativas para conceber escalas ―objetivas‖  deste tipo são equivocadas. Em uma crítica de tais abordagens de ciências sociais, o filósofo e neuropsicólogo Daniel N. Robinson ressalta que ―afirmações que se prestam a diferentes interpretações não se tornam ―objetivas‖  apenas colocam um numeral na frente"22. Pode ser que identificações auto relatadas com cultural,

preocupante

e

inerente

rótulos

Uma dificuldade com o agrupamento destas

complexos

categorias juntos sob a mesma rubrica geral de "orientação

simplesmente não possam fornecer um objetivo base para

sexual" é que a pesquisa sugere o que muitas vezes não

medições quantitativas em indivíduos ou entre grupos.

coincidem na vida real. O sociólogo Edward O. Laumann e

Outro obstáculo para a investigação nesta área pode ser a popular, mas não bem suportada, crença de que os

seus colegas resumem claramente este ponto em um livro de 1994:

desejos românticos são sublimações do desejo sexual. Esta ideia, rastreável a teoria das pulsões inconscientes de Freud, tem sido contestada por pesquisas sobre "teoria do apego", desenvolvida por John Bowlby na década de 195023. A muito grosso modo, a teoria do apego sustenta que mais tarde experiências afetivas que muitas vezes são agrupadas sob a rubrica geral "romântica" são explicadas em parte por comportamentos de apego na primeira infância (associados com figuras maternas ou cuidadores) - não por inconsciente, impulsos sexuais, desejos românticos, seguindo esta linha de pensamento, talvez não sejam tão fortemente correlacionados

Embora não haja um grupo central (cerca de 2,4 por cento do total de homens e cerca de 1,3 por cento das mulheres no total) em nossa pesquisa que se definem como  homossexuais ou bissexuais, têm parceiros do mesmo gênero, e expressam desejos   homossexuais, existem também grupos consideráveis que não se consideram - ser homossexual ou bissexual, mas tiveram experiências homossexuais adultas ou expressam algum grau de desejo... [Esta análise preliminar demonstra inequívoca e ambígua evidencia de que nenhum número pode ser utilizado para proporcionar uma caracterização precisa e válida da incidência e prevalência da homossexualidade na população em grande parte. Em suma, a homossexualidade é fundamentalmente um fenômeno multidimensional que tem significados e interpretações múltiplas, dependendo no contexto e objetivo26. [Ênfase adicionada].

com desejos sexuais, como normalmente se pensa. Tudo isso é sugerir que as delimitações simples dos conceitos relativos à

Mais recentemente, em um estudo de 2002, os

sexualidade humana não podem ser tomadas pelo seu valor

psicólogos Lisa M. Diamond e Ritch C. Savin-Williams fizeram

nominal e que empiricamente em curso de pesquisa às vezes

um ponto semelhante:

muda ou complica os significados dos conceitos. Se olharmos para a pesquisa recente, descobrimos que os cientistas costumam usar, pelo menos, uma das três categorias durante a tentativa de classificar as pessoas como "homossexual" ou "heterossexual": comportamento sexual; fantasias sexuais (ou afins experiências emocionais ou

Quanto mais cuidadosamente pesquisadores mapeiam essas constelações - diferenciando, por exemplo, entre identidade de gênero e identidade sexual , desejo   e comportamento, sentimentos afetuosos vs. sexuais, no início de aparência contra atrações  e fantasias , ou identificações  sociais e  perfis sexuais o mais complicado será a imagem porque poucos indivíduos relatam uniformes inter-correlações entre estes dominios 27. [Ênfase adicionada].

afetivas) e auto identificação (como "gay", "lésbica", "bissexual", "assexuado", e assim por diante)24. Alguns

Alguns pesquisadores reconhecem as dificuldades

adicionam uma quarta: a inclusão em uma comunidade

com o agrupamento destes vários componentes em uma única

definida por orientação sexual. Considere-se, por exemplo, a

direção. Por exemplo, pesquisadores John C. Gonsiorek e

15

James D. Weinrich escreveram num livro de 1991: "Pode ser

Para finalizar esta parte do nosso relatório considera

assumido com segurança que não há uma relação necessária

que a investigação sobre o desejo sexual e atração sexual,

entre o comportamento sexual de uma pessoa e sua auto

enfocando os resultados empíricos relacionados à etiologia e

identidade, a menos que ambos sejam avaliados

desenvolvimento, e destacando as complexidades subjacentes.

individualmente"28. Da mesma forma uma pesquisa de revisão

Nós continuaremos a empregar termos ambíguos como

em 1999 sobre o desenvolvimento da orientação sexual nas

"orientação sexual", onde eles são usados pelos autores que

mulheres, a psicóloga social Letitia Anne Peplau argumenta:

discutem, mas vamos estar atentos no contexto da sua

"Numa ampla documentação sobre atração pelo mesmo sexo e

utilização e as ambiguidades inerentes a eles.

comportamentos não são inevitavelmente ou inerentemente ligados à sua identidade"29. Em suma, as complexidades em torno do conceito de "orientação sexual" apresentam desafios consideráveis para a

Desafiando a hipótese "nasceram assim" Tendo em mente estas reflexões sobre os problemas

pesquisa empírica sobre o assunto. Enquanto o público em

das definições, voltamos para a questão de como desejos

geral pode estar sob a impressão de que existem definições

sexuais originam e se desenvolvem. Considere os diferentes

científicas amplamente aceitas de termos como "orientação

padrões de atração entre indivíduos que relatam ter atração

sexual", na verdade, não existem. A avaliação de Diamond da

sexual ou romântica predominantemente para com membros

situação em 2003 ainda é verdade hoje, que "atualmente não

do mesmo sexo e aqueles que relatam experimentar

há consenso científico ou popular na constelação exata de

predominante atração sexual ou romântica para os membros

experiências que definitivamente ―qualificam‖  um indivíduo

do sexo oposto. O que são as causas desses dois padrões da

como lésbica, gay ou bissexual"30.

atração? São tais atrações ou preferenciais traços inatos,

É devido a essas complexidades que alguns

talvez determinados por nossos genes ou hormônios pré-

pesquisadores, por exemplo Laumann, procedam ao

natais; eles são adquiridos por fatores experimentais,

caracterizar

"fenômeno

ambientais ou volitivos; ou eles se desenvolvem a partir de

multidimensional"; mas, um poderia muito bem se perguntar se,

uma combinação de ambos os tipos de causas? Que papel, se

tentando encaixar este "fenômeno multidimensional" em uma

há algum, que o organismo humano pode jogar na gênese dos

única categoria, não estamos reedificando um conceito que

padrões de atração? Que papel, se algum, influências culturais

corresponde a algo muito plástico e difuso, na realidade, na

ou sociais desempenham?

a

orientação

sexual

como

investigação científica e pesquisa. Enquanto rótulos como

A pesquisa sugere que, embora os fatores genéticos

"heterossexual" e "homossexual" são muitas vezes tomados

ou inatos possam influenciar o surgimento de atração pelo

para designar características psicológicas ou até mesmo

mesmo sexo, esses fatores biológicos não podem fornecer

biológicas estáveis, talvez eles não o sejam. Pode ser que

uma explicação completa, e fatores ambientais e vivenciais

experiências afetivas, sexual e comportamentais dos indivíduos

podem também desempenhar um papel importante.

não se conformem bem a tais rótulos categóricos porque esses

A visão mais aceita no discurso popular mencionado

rótulos não fazem, na verdade, referem-se a tipos naturais

acima - o "nasceram assim" é A noção de que a

(psicológica ou biologicamente). No mínimo, devemos

homossexualidade e a heterossexualidade são biologicamente

reconhecer que não exista ainda um claro e bem estabelecido

inatas ou o produto de desenvolvimento de precoces fatores -

quadro de investigação sobre estes tópicos. Ao invés de tentar

levando muitos não-especialistas a pensar que a

pesquisar

e

homossexualidade ou a heterossexualidade é em qualquer

comportamento sob a rubrica geral de "orientação sexual",

pessoa imutável e determinada totalmente à parte das

podemos fazer melhor para examinar empiricamente cada

escolhas, comportamentos, experiências de vida e contextos

domínio separadamente e na sua própria especificidade.

sociais. No entanto, como a seguinte discussão da literatura

o

desejo

sexual,

atração,

identidade

16

científica relevante mostra, isso não é uma visão que é bem suportada pela pesquisa.

Estudos com gêmeos, no entanto, bem concebidos, examinando a genética de homossexualidade indicam que fatores genéticos provavelmente desempenham algum papel na determinação da orientação sexual. Por exemplo, em 2000,

Estudos de gêmeos Um projeto de pesquisa poderoso para avaliar se

o psicólogo J. Michael Bailey e colegas realizaram um estudo

traços biológicos ou psicológicos têm uma base genética é o

 Australian National Health and Medical Research Council Twin

estudo de gêmeos idênticos. Se a probabilidade é alta que

Registry , uma grande amostra de probabilidade, que foi,

ambos os membros de um par de gêmeos idênticos, que

portanto, mais provável que seja representativa da população

partilham o mesmo genoma, exibam uma característica quando

geral do que a do estudo de Kallmann33. O estudo utilizou a

um deles é  – isto é conhecido como a taxa de concordância -

escala Kinsey para operacionalizar a orientação sexual e taxas

então pode-se inferir que os fatores genéticos são susceptíveis

de concordância estimadas para homossexual de 20% para os

de serem envolvidos na característica. Se, no entanto, a taxa

homens e 24% de mulheres em gêmeas (maternas,

de concordância para gêmeos idênticos não é maior do que a

monozigóticas) idênticas, em comparação para 0% para os

taxa de concordância do mesmo traço em gêmeos fraternos,

homens e 10% para as mulheres em gêmeos não-idênticos

que compartilham (em média), apenas metade de seus genes,

(fraternos, dizigóticos)34. A diferença na estimativa nas taxas de

isso indica que o meio compartilhado pode ser um fator mais

concordância foi estatisticamente significativa para os homens,

importante do que genes compartilhados.

mas não para as mulheres. Com base nestas descobertas, os

Um dos pioneiros da genética comportamental e um

importante sobre a orientação sexual usando gêmeos na

pesquisadores

estimaram

que

a

herdabilidade

da

dos primeiros pesquisadores a usar gêmeos para estudar o

homossexualidade para os homens foi de 0,45, com um amplo

efeito dos genes em traços, incluindo orientação sexual, foi o

intervalo de confiança3  de 95% entre 0,00-0,71; para as

psiquiatra Franz Josef Kallmann. Em um artigo marco

mulheres, que foi de 0,08 com intervalo de confiança

publicado em 1952, ele relatou que, para todos os pares de

semelhante de largura de 0,00-0,67. Estas estimativas

gêmeos idênticos que ele estudou, se um dos gêmeos fosse

sugerem que, para os machos 45% das diferenças entre certas

gay, em seguida, ambos eram gays, produzindo uma taxa de

orientações sexuais (homossexuais contra heterossexuais

concordância

medidos pela escala Kinsey) poderiam ser atribuídas a

de

100%

surpreendente

para

a

homossexualidade em gêmeos idênticos31. Este resultado

diferenças nos genes.

replicado e o estudo desenhado melhor, teria dado apoio inicial

Os grandes intervalos de confiança no estudo de

a hipótese do "nasceram assim". Mas o estudo foi duramente

Bailey e seus colegas significa que devemos ter cuidado na

criticado. Por exemplo, o filósofo e professor de Direito Edward

avaliação da substantiva significância destes achados. Os

Stein observa que Kallmann não apresentou qualquer prova de

autores interpretam seus resultados para sugerir que "qualquer

que os gêmeos em seu estudo foram, de fato geneticamente

gene principal para a homossexualidade estritamente definido

idênticos, e sua amostra foi elaborada a partir de doentes

tem baixa penetrância ou baixa frequência"35, mas esses dados

psiquiátricos, prisioneiros, e outros através do que Kallmann

não demonstraram (menor) significância estatística. Enquanto

descreveu como "contatos diretos com homossexuais

as estimativas de concordância parecerem um pouco alta nos

clandestinos no mundo", levando Stein para argumentar que a

modelos utilizados, os intervalos de confiança são tão grandes

amostra de Kallmann "de modo algum constituía uma seção

que é difícil julgar a confiabilidade, incluindo a replicabilidade,

transversal razoável da população

homossexual"32,

onde as

dessas estimativas.

amostras tais como de Kallmann são conhecidas como amostras de conveniência, os quais envolvem a seleção de temas a partir de populações que são convenientemente acessíveis ao pesquisador.

 Em estatística, um intervalo de confiança (IC) é o intervalo estimado onde a média de um parâmetro de uma amostra tem uma dada probabilidade de ocorrer. Comumente define-se como o intervalo onde há 95% de probabilidade de a média verdadeira da população inteira ocorrer. 3

17

Vale esclarecer o que "hereditariedade" significa

dados de 3.826 pares de gêmeos do mesmo sexo idênticos e

nestes estudos, uma vez que o significado técnico em genética

fraternais (2,320 idênticos e 1.506 pares de irmãos)37. Os

de populações é mais estreito e mais preciso do que o sentido

pesquisadores operacionalizaram homossexualidade em

comum da palavra. Herdabilidade ou hereditariedade é uma

termos de parceiros sexuais e vida útil do mesmo sexo. As

medida de quanta variação em uma característica em particular

taxas de concordância da amostra foram um pouco menores

dentro de uma população pode ser atribuída a variação em

do que aqueles encontrados no estudo de Bailey e seus

genes numa população. Não é, no entanto, uma medida de

colegas. Por ter tido pelo menos um parceiro do mesmo sexo,

quanto uma característica é determinada geneticamente.

a concordância para os homens foi de 18% em gêmeos

Traços que são quase inteiramente determinados

idênticos e 11% em gêmeos fraternos; para as mulheres, 22%

geneticamente podem ter muito mais baixos valores de

e 17%, respectivamente. Para número total de parceiros

herdabilidade, enquanto traços que quase não têm base

sexuais, taxas de concordância para os homens foram de 5%

genética pode ser encontrado para ser altamente hereditários.

em gêmeos idênticos e 0% em gêmeos fraternos; para as

Por exemplo, o número de dedos que seres humanos tem é

mulheres, 11% e 7%, respectivamente.

quase completamente determinado geneticamente. Mas há

Para os homens, esses índices sugerem uma taxa de

pouca variação no número de dedos humanos, e na maior

herdabilidade estimada de 0,39 para ter tido pelo menos um

parte da variação vemos que é devido a fatores não-genéticos,

parceiro do mesmo sexo (intervalo de confiança de 95% [0,00-

tais como acidentes, o que faria levar a estimativas de baixa

0,59}), e 0,34 para o número total de parceiros do mesmo sexo

herdabilidade para a característica. Por outro lado, as

(intervalo de confiança de 95% {0,00-,53}). Fatores ambientais

características culturais às vezes podem ser encontradas para

experimentados por um dos gêmeos, mas não o outro

ser altamente hereditárias. Por exemplo, se um determinado

explicaram 61% e 66% da variância, respectivamente,

indivíduo na América em meados do século XX usava brincos

enquanto que fatores ambientais compartilhados pelos gêmeos

verificou-se que seria altamente transmissível, porque foi

não conseguiram explicar qualquer variância. Para as

altamente associado com ser homem ou mulher, que por sua

mulheres, a taxa de herdabilidade para ter tido pelo menos um

vez é associado com cromossomos sexuais XX ou

parceiro do mesmo sexo foi de 0,19 (intervalo de confiança de

cromossomos sexuais XY, tornando a variabilidade no

95% [0,00-0,49}); para o número total de parceiros do mesmo

comportamento de usar brinco altamente associadas com

sexo, ele foi de 0,18 (intervalo de confiança de 95% [0,11-

diferenças genéticas, apesar do fato de que o uso de brincos é

0,45]). Os únicos fatores ambientais responsáveis por 64% e

um fenômeno cultural em vez de biológico. Hoje, estimativas

66% da variância, respectivamente, enquanto fatores

de herdabilidade para o comportamento de usar brinco seriam

ambientais compartilhados responsáveis por 17% e 16%,

menor do que elas eram em meados do século XX na América,

respectivamente. Estes valores indicam que, enquanto o

não por causa de quaisquer alterações no grupo genético

componente genético de comportamento homossexual está

americano, mas por causa do aumento da aceitação de

longe

homens usando brincos36.

compartilhados indicam uma crítica, preponderante papel,

de

ser

desprezível,

fatores

ambientais

não

Assim, a estimativa de herdabilidade de 0,45 não

talvez. Os autores concluem que orientação sexual surge a

significa que 45% da sexualidade é determinada por genes.

partir de ambas as influências hereditárias e ambientais únicas

Pelo contrário, isso significa que 45% da variação entre os

para cada indivíduo, afirmando que "esses resultados reforçam

indivíduos na população estudada pode ser atribuída em

a noção de que o ambiente específico individual afeta, de fato,

algumas formas a fatores genéticos, em oposição a fatores

a influência pela preferência sexual"38.

ambientais.

Outro grande estudo de representatividade nacional

Em 2010, o epidemiologista psiquiátrico Niklas

em gêmeos publicado pelos sociólogos Peter S. Bearman e

Langstrom e colegas realizaram um duplo estudo grande,

Hannah Brückner em 2002 utilizando os dados do “ National

sofisticado com gêmeos sobre orientação sexual, analisando

Longitudinal Study of Adolescent to Adult Health” (N.T.: Estudo

18

Nacional Longitudinal de Saúde do Adulto Adolescente)

estudo também não encontrou nenhuma correlação entre

comumente abreviado como “  Add Health‖ de adolescentes nas

experimentar atração pelo mesmo sexo e ter vários irmãos

classes 7-12 anos39. Estes autores tentaram estimar a

mais velhos, que haviam sido relatados em alguns estudos

influência relativa de fatores sociais, genéticos e hormonais

anteriores41.

pré-natais sobre o desenvolvimento de atrações para o mesmo

Finalmente, Bearman e Brückner não encontraram

sexo. No geral, 8,7% dos 18,841 adolescentes deste estudo

evidência de significativa influência genética na atração sexual.

relataram atração pelo mesmo sexo, 3,1% relataram um

A influência significativa exigiria que gêmeos idênticos

relacionamento romântico do mesmo sexo, e 1,5% relataram o

tivessem taxas de concordância significativamente maior na

comportamento sexual do mesmo sexo. Os autores analisaram

atração para o mesmo sexo do que gêmeos fraternos ou

primeiro a "hipótese da influência social", segundo a qual os

irmãos não gêmeos. Mas no estudo, as taxas foram

gêmeos do sexo oposto recebem menos socialização

estatisticamente semelhantes: gêmeos idênticos foram 6,7%

generalizada de suas famílias do que os gêmeos do mesmo

concordantes, pares dizigóticos 7,2% concordantes, e irmãos

sexo ou irmãos do sexo oposto, e que esta hipótese foi bem

completos 5,5% concordantes. Os autores concluíram que "é

suportada no caso masculino. Enquanto gêmeos fêmeas do

mais provável que qualquer influência genética, se presentes,

sexo oposto no estudo foram o menos provável de todos os

apenas podem ser expressas em específico nas estruturas

grupos relatar atração pelo mesmo sexo (5,3%), gêmeos

sociais circunscritas"42. Com base em seus dados, eles

masculinos do sexo oposto eram os mais prováveis relatar

sugeriram que a observada estrutura social que pode permitir

atração pelo mesmo sexo (16,8%) - mais de duas vezes mais

que esta expressão genética seja mais limitada, ―a socialização

provável que os homens com uma irmã, não-gêmeos (16,8%

de gênero associado com os primogênitos [do sexo oposto]

vs. 7,3%). Os autores concluíram que houve "substanciais

para duplo pares"43. Assim, eles inferiram que os seus

provas indiretas em apoio a um modelo de socialização no

resultados "apoiam a hipótese de que menos socialização de

nível individual"40.

gênero na primeira infância e pré-adolescência moldam as

Os autores também examinaram a "hipótese de

preferências românticas do mesmo sexo subsequentemente"44.

transferência hormonal intrauterina" de acordo com a qual as

Embora os resultados aqui sejam sugestivos, é necessária

transferências hormonais pré-natais entre irmãos do sexo

mais investigação para confirmar esta hipótese. Os autores

oposto e fetos gêmeos influenciam a orientação sexual dos

também argumentaram que os índices de concordância mais

gêmeos (observe que esta é diferente da hipótese mais geral

altos para atração de pessoas do mesmo sexo relatadas em

de que hormônios pré-natal influenciam o desenvolvimento da

estudos anteriores podem não ser confiáveis, devido à

orientação sexual.) No presente estudo, a proporção de

problemas metodológicos, tais como amostras não-

gêmeos do sexo masculino do sexo oposto que relataram

representativas e amostra de pequeno tamanho (deve notar-

atração pelo mesmo sexo foi de cerca de duas vezes maior

se, contudo, que estas observações foram publicadas antes do

para aqueles sem irmãos mais velhos (18,7%) como para

estudo por Langstrom e colegas discutido acima, que usa um

aqueles com irmãos mais velhos (8,8%). Os autores

desenho de estudo que não parecem ter essas limitações).

argumentaram que este achado era forte evidência contra a

Para reconciliar os dados um tanto mistos sobre

hipótese de transferência de hormônio, uma vez que a

hereditariedade, poderíamos supor que a atração pelo mesmo

presença de irmãos mais velhos não deve diminuir a

sexo pode ter um componente hereditário forte conforme as

probabilidade de atração pelo mesmo sexo se a atração tem

pessoas envelhecem - isto é, quando os pesquisadores tentam

uma base nas transferências hormonais pré-natais. Contudo,

medir orientação sexual mais tarde na vida (como no estudo de

que parece conclusão precoce: as observações são

2010 por Langstrom e colegas) do que quando medido mais

consistentes com a possibilidade de ambos os fatores

cedo na vida. As estimativas de herdabilidade podem mudar

hormonais e a presença de um irmão mais velho ter um efeito

dependendo da idade em que uma característica é medida por

(especialmente se a última influencia o precedente). Este

alterações nos fatores ambientais que podem influenciar a

19

variação da característica podendo em pessoas de diferentes

prováveis do que gêmeos fraternos ou outros irmãos a serem

idades, e por causa de traços geneticamente influenciados

tratados de forma semelhante. Assim, a parte da maior taxa de

podem tornar-se mais fixa, numa fase posterior do

concordância pode ser atribuída a fatores ambientais em vez

desenvolvimento de um indivíduo (altura, por exemplo, torna-se

de fatores genéticos. Em qualquer caso, se os genes

fixa no início da idade adulta). Esta hipótese também sugerida

desempenham um papel na predisposição das pessoas para

por resultados, discutidos abaixo, que a atração pelo mesmo

certos desejos ou comportamentos sexuais, esses estudos

sexo pode ser mais fluida na adolescência do que em fases

deixam claro que influências genéticas não podem ser a

posteriores da vida adulta.

história toda.

Em contraste com os estudos apenas resumidos, a

Resumindo os estudos de gêmeos, podemos dizer

psiquiatra Kenneth S. Kendler e colegas realizaram um grande

que não há nenhuma evidência científica confiável de que a

estudo com gêmeos utilizando uma probabilidade amostra de

orientação sexual é determinada por genes de uma pessoa.

794 pares de gêmeos e 1.380 irmãos não-gêmeos45. Baseado

Mas há evidências de que os genes desempenham um papel

em taxas de concordância para a orientação sexual (definidos

na influência da orientação sexual. Portanto, a pergunta "As

neste estudo como auto identificação baseado na atração), os

pessoas homossexuais nasceram assim?" Exige clarificação.

autores afirmam que seus resultados "sugerem que fatores

Não há praticamente nenhuma evidência de que qualquer

genéticos podem fornecer uma importante influência na

pessoa, gay ou hetero, "nascer dessa forma" isso significa que

orientação sexual"46. O estudo, no entanto, não parece ser

a sua orientação sexual era geneticamente determinada. Mas

suficientemente poderoso para tirar conclusões fortes sobre o

há alguma evidência dos estudos com gêmeos com certos

grau de influência genética sobre a sexualidade: apenas 19 de

perfis

324 pares de gêmeos idênticos tinham qualquer membro não-

probabilidade da pessoa posteriormente se identificar como

heterossexual, com 6 dos 19 pares concordantes; 15 de 240

gay ou se engajar em comportamento sexual do mesmo sexo.

genéticos,

provavelmente,

que

aumentam

a

pares de gêmeos fraternos do mesmo sexo tinham qualquer

Estudos com gêmeos futuros sobre a hereditariedade

membro não-heterossexual, com 2 dos 15 pares concordantes.

da orientação sexual devem incluir análises de amostras

Porque apenas 8 pares de gêmeos eram concordantes para

maiores ou meta-análises ou outra sistemática, bem como,

não-heterossexualidade, a capacidade do estudo para fazer

comentários para superar o tamanho limitado da amostra e

comparações significativas entre substantivamente gêmeos

poder estatístico de algum dos estudos existentes e análises

idênticos e fraternais (ou entre gêmeos e irmãos não gêmeos)

das taxas de herdabilidade em diferentes dimensões da

foi limitada.

sexualidade (como atração, comportamento e identidade) para

Em geral, estes estudos sugerem que (dependendo

superar as imprecisões do conceito ambíguo da orientação

de como homossexualidade é definida), em qualquer lugar a

sexual e os limites de estudos que olham para apenas uma

partir de 6% a 32% dos casos, ambos os membros de um par

dessas dimensões da sexualidade.

de gêmeos idênticos seriam homossexuais, se pelo menos um membro é. Destes alguns estudos com gêmeos encontraram taxas mais elevadas de concordância em gêmeos idênticos do que em gêmeos fraternos ou irmãos não gêmeos, podendo

Genética molecular Ao examinar a questão de saber se e, talvez, até que

haver influências genéticas sobre o desejo sexual e

ponto, as contribuições genéticas para a homossexualidade,

preferências comportamentais. É preciso ter em mente que

que até agora os estudos que empregam métodos de genética

gêmeos idênticos têm tipicamente ambientes ainda mais

clássica determinaram a herdabilidade de uma característica

semelhantes - experiências inicias de apego, relações de

como a orientação sexual, mas que não se identificam em

pares, e outros - do que gêmeos fraternais ou irmãos não

particular com genes que podem estar associados com esse

gêmeos. Por causa de suas aparências e temperamentos

trato47. Mas, genética pode também ser estudada usando o que

semelhantes, por exemplo, gêmeos idênticos podem ser mais

muitas vezes são chamados métodos moleculares que

20

fornecem estimativas de que variações genéticas particulares

em 2012, que não encontrou ligações apresentando resultado

estão associadas a traços, seja físico ou comportamental.

significativo em todo o genoma para identidade sexual pelo

Uma primeira tentativa de identificar uma base

mesmo sexo para homens ou mulheres51.

genética mais específica para a homossexualidade foi num

Então, mais uma vez, a evidência para uma base

estudo de 1993 pelo geneticista Dean Hamer e seus colegas

genética para a homossexualidade é inconsistente e

com 40 pares de irmãos48 homossexuais através da análise do

inconclusiva, o que sugere que, embora os fatores genéticos

histórico familiar de homossexualidade para estes indivíduos,

expliquem algumas das variações na orientação sexual, a

eles

contribuição genética da presente característica não é provável

identificaram

uma

possível

ligação

entre

homossexualidade nos homens e marcadores genéticos na

que seja forte e muito menos susceptível de ser decisiva.

região Xq28 do cromossomo X. As tentativas de replicar os

Como acontece muitas vezes, as tendências

resultados deste influente estudo tiveram resultados mistos:

comportamentais humanas, não podem ter contribuições

George Rice e seus colegas tentaram e falharam para replicar

genéticas para a tendência de inclinações ou comportamentos

as descobertas de Hamer 49 embora em 2015 Alan R. Sanders

homossexuais. A expressão fenotípica dos genes está

e colegas foram capazes de reproduzir os achados originais de

normalmente influenciada por fatores ambientais - ambientes

Hamer usando um maior tamanho da população de 409 pares

diferentes podem levar a diferentes fenótipos mesmo para os

de gêmeos do sexo masculino de irmãos homossexuais, e

mesmos genes. Assim, mesmo se existem fatores genéticos

encontrar uma ligação genética adicional50  (uma vez que o

que contribuem para homossexualidade, atrações ou

efeito era pequeno, no entanto, o marcador genético não seria

preferências sexuais de um indivíduo podem também ser

um bom preditor de orientação sexual). Estudos de ligação

influenciadas por um número de fatores ambientais, tais como

genética, como os que foram discutidos acima são capazes de

stress sociais, incluindo abuso emocional, físico ou sexual.

identificar regiões específicas de cromossomas que podem ser

Olhar para o desenvolvimento, através de fatores ambientais,

associados com um traço, olhando para os padrões de

experienciais, sociais ou volitivos são necessários para chegar

herança. Hoje, um dos principais métodos para inferir que

a um quadro mais completo de interesse por se desenvolver no

variantes genéticas estão associadas a um traço é o estudo de

que ser refere a atrações sexuais e desejos.

associação do genoma, que utiliza tecnologias de sequenciamento de DNA para identificar diferenças específicas no DNA que podem ser associadas com um traço. Os cientistas examinam milhões de variantes genéticas em

O limitado papel da Genética Leitores leigos podem notar neste ponto que até

grandes números de indivíduos que têm uma característica em

mesmo ao nível puramente biológico da genética, os antigos

particular, bem como indivíduos que não tem a característica, e

debates "natureza versus  criação" sobre psicologia humana

comparam a frequência de variantes genéticas entre aqueles

foram abandonados por cientistas, que reconhecem que

que tem e não têm a característica. Variantes genéticas

nenhuma hipótese credível pode ser oferecida para quaisquer

específicas que ocorrem mais frequentemente entre aqueles

traços particulares que teriam sido determinados meramente

que têm do que aqueles que não têm o traço são inferidas a ter

pela genética ou ambiente. O crescente campo da epigenética,

alguma associação com essa característica. Associação dos

por exemplo, demonstra que, mesmo para traços relativamente

estudos com genoma tornaram-se populares nos últimos anos,

simples, a própria expressão do gene pode ser influenciada por

mas poucos estudos científicos encontraram associações

inúmeras outros fatores externos que podem moldar o

significativas de variantes genéticas com orientação sexual. A

funcionamento dos genes52. Este é ainda mais relevante

maior tentativa de identificar variantes genéticas associadas

quando se trata da relação entre os genes e traços complexos,

com a homossexualidade, foi um estudo de mais de 23.000

como a atração sexual e comportamentos.

indivíduos do banco de dados 23andMe  apresentado na

Essas relações gene-ambiente são complexas e

reunião anual da Sociedade Americana de Genética Humana

multidimensionais. Fatores de desenvolvimento não-genéticos

21

e experiências ambientais podem ser esculpidos, em parte, por

pouca evidência para apoiar uma simplista narrativa que

fatores genéticos que trabalham de maneiras sutis. Por

comtemplam um "nasceram assim" sobre a natureza da

exemplo, os geneticistas sociais documentaram o papel

orientação sexual.

indireto de genes em comportamentos alinhados por pares, de modo que a aparência física de um indivíduo poderia influenciar um determinado grupo social irão incluir ou excluir um individuo53. Geneticistas contemporâneos sabem que os genes

A influência dos hormônios Outra área de pesquisa relevantes para a hipótese de que as pessoas nascem com disposições para diferentes orientações

podem influenciar a gama de interesses e motivações de uma

sexuais

envolve

influências

pessoa, portanto, indiretamente afetando o comportamento.

desenvolvimento físico pelos homens ou subsequente

Embora os genes possam, deste modo inclinar uma pessoa

comportamentos femininos típicos na primeira infância. Por

para certos comportamentos, comportamento convincentes

razoes éticas e práticas, o trabalho experimental neste campo

diretamente, de forma independente de uma grande variedade

é realizado em mamíferos não-humanos, o que limita como

de outros fatores, mas isso parece menos plausível. Eles

esta pesquisa pode ser generalizada para a saúde em casos

podem influenciar o comportamento de maneiras mais sutis,

humanos. No entanto, as crianças que nascem com

dependendo de estímulos ambientais externos (por exemplo,

transtornos do desenvolvimento sexual (TDS) servem como

pressão dos pares, sugestão e recompensas comportamentais)

uma população em que examinar a influência das

em conjunto com fatores psicológicos e constituição física.

anormalidades

Dean Hamer, cujo trabalho sobre possível papel da genética

desenvolvimento posterior de identidade sexual não-típica e

em homossexualidade foi examinado acima, explicou algumas

orientação sexual.

genéticas

hormonais

e

hormonais

pré-natal

sobre

no

o

das limitações da genética comportamental em um artigo de

Hormônios responsáveis pela diferenciação sexual

2002 na revista Science: "O verdadeiro culpado [da falta de

geralmente exercem efeitos sobre o feto em desenvolvimento,

progresso na genética comportamental] é o pressuposto que a

quer efeitos organizacionais - que produzem mudanças

rica complexidade do pensamento humano e da emoção pode

permanentes na formação e sensibilidade do cérebro e,

ser reduzida a uma relação linear simples entre genes e

portanto, são considerados em grande parte irreversíveis - ou

comportamentos individuais... este modelo simplista, que

efeitos de ativadores que ocorrem mais tarde na vida de um

subjaz a investigação mais recente no comportamento

indivíduo (na puberdade e na idade adulta)55. Hormônios

genético, ignora a importância crítica do cérebro, do meio

organizacionais podem afetar estruturalmente os principais

ambiente e redes de expressão gênica"54.

sistemas fetais (incluindo o cérebro), e preparar o terreno para

As influências genéticas que afetam qualquer

a sensibilidade aos hormônios apresentados na puberdade e

comportamento humano complexo - comportamentos sexuais

além, quando o hormônio, então, "ativa" os sistemas que foram

ou interações interpessoais - dependem, em parte em

"organizados" no período pré-natal.

experiências da vida dos indivíduos à medida que

Períodos de pico de resposta ao ambiente hormonal

amadurecem. Genes constituem apenas uma das muitas das

são pensados a ocorrer durante a gestação. Por exemplo, a

principais influências sobre o comportamento ambiental, além

testosterona é pensada para influenciar o feto macho máximo

de influências, escolhas pessoais e experiências interpessoais.

entre as semanas 8 e 24, e, em seguida, novamente no

O peso da evidência até agora sugere fortemente que a

nascimento, até cerca de três meses de idade56. Estrogênios

contribuição dos fatores genéticos é modesta. Podemos dizer

são fornecidos ao longo da gestação pela placenta e estudos

com confiança que os genes não são a única causa essencial

do sistema sanguíneo57  da mãe. Os estudos com animais

da orientação sexual; há evidências de que os genes

revelam que pode até haver vários períodos de sensibilidade

desempenham um modesto papel na contribuição para o

para uma variedade de hormônios, que a presença de um

desenvolvimento de atrações sexuais e comportamentos, mas

hormônio pode influenciar a ação de um outro hormônio, e a

22

sensibilidade dos receptores para estes hormônios podem

precursores de cortisol, alguns dos quais são convertidos em

influenciar as suas ações58 de diferenciação sexual que, por si

andrógenos (hormônios associados ao desenvolvimento sexual

só, é um sistema altamente complexo.

masculino)66. Como resultado, as meninas nascem com algum

Os hormônios específicos de interesse nesta área de

grau de virilização de sua genitália, dependendo da gravidade

investigação são a testosterona, a di-hidrotestosterona (um

do defeito genético67  casos graves de virilização genital, a

metabolito de testosterona, e mais potente do que a

intervenção cirúrgica é por vezes realizada para normalizar a

testosterona), estradiol (o que pode ser metabolizado em

genitália. Terapias hormonais são também frequentemente

testosterona), progesterona e cortisol. As vias geralmente

administradas para mitigar os efeitos do excesso da produção

aceitas de influência hormonal normal do desenvolvimento in

de andrógenos68. Fêmeas com HCA, que, como fetos foram

útero  são como se segue. O típico padrão de diferenciação

expostos a níveis acima da média de andrógenos, são menos

sexual em fetos humanos começa com a diferenciação dos

propensos a serem exclusivamente heterossexuais do que as

órgãos sexuais em testículos ou ovários, um processo que é

mulheres sem HCA, e fêmeas com formas mais graves de

em grande parte geneticamente controlado. Uma vez que estes

HCA são mais propensas a serem não-heterossexuais do que

órgãos foram diferenciados, eles produzem hormônios

as mulheres com formas mais leves dessa condição69.

específicos que determinam o desenvolvimento dos órgãos

Da

mesma

forma,

existem

distúrbios

de

genitais externos. Esta janela de tempo em gestação é quando

desenvolvimento sexual em machos genéticos afetados por

os hormônios exercem os seus efeitos fenotípicos e

insensibilidade andrógena. Em homens com síndrome de

neurológicos. A testosterona segregada pelos testículos

insensibilidade

contribui para a desenvolvimento da genitália externa

testosterona normalmente, mas os receptores à testosterona

masculina e afeta o desenvolvimento neurológico no sexo

não são funcionais70. Os órgãos genitais, no momento do

masculino59; é a ausência de testosterona em mulheres que

nascimento, parecem ser do sexo feminino, e a criança é

permite o desenvolvimento do padrão feminino dos órgãos

geralmente criada como uma fêmea. A testosterona endógena

genitais externos60. Desequilíbrios de testosterona ou de

do indivíduo é dividida em estrogénio, de tal modo que o

estrogénio, bem como a sua presença ou ausência em

indivíduo começa a desenvolver características sexuais

períodos específicos críticos da gestação, podem causar

secundárias femininas71. Não se torna evidente que há um

distúrbios de desenvolvimento sexual (efeitos genéticos ou

problema até a puberdade , quando o indivíduo não inicia a

ambientais

menstruação apropriadamente72. Esses pacientes geralmente

também

podem

levar

a

distúrbios

do

desenvolvimento sexual).

androgênica,

os

testículos

produzem

preferem continuar a vida como fêmeas, e sua orientação

O estresse também pode desempenhar algum papel

sexual não difere de fêmeas tendo um genótipo XX73. Os

influenciador na maneira e no desenvolvimento dos hormônios

estudos que sugeriram que estes são tão prováveis se não

gonadais,

mais prováveis que sejam exclusivamente interessados em

neurodesenvolvimento

e

subsequentes

comportamentos tipicamente sexuais no início da infância61. O

parceiros do sexo masculino do que mulheres XX74.

cortisol é o principal hormônio associado com as respostas ao

Existem outros transtornos do desenvolvimento sexual

estresse. Ele pode ser originado da mãe, se ela experimenta

que afetam geneticamente alguns machos (isto é, com um

estressores graves durante a gravidez, ou a partir do feto sob

genótipo XY) nos quais deficiências de androgénio é um

stress62. Elevados níveis de cortisol podem também ocorrer a

resultado direto da falta de enzimas quer para sintetizar

partir de defeitos genéticos63. Uma das mais estudadas

dihidrotestosterona de testosterona ou a produzir testosterona

doenças do desenvolvimento sexual é a hiperplasia congênita

de um hormônio precursor 75. Indivíduos com essas deficiências

adrenal (HCA), que nas mulheres podem resultar em virilização

nascem com graus variados de genitália ambígua, e às vezes

genital64. Mais de 90% dos casos de HCA resulta de uma

são criados como meninas. Durante a puberdade, no entanto,

mutação em um gene que codifica uma enzima que ajuda a

essas pessoas muitas vezes experimentam virilização física, e

sintetizar cortisol65. Isto resulta numa superprodução de

devem em seguida, decidir se viveram como homens ou

23

mulheres.

Peggy

T.

Cohen-Kettenis,

professora

de

Para as mulheres, a hipótese para a homossexualidade que

desenvolvimento de gênero e psicopatologia, descobriu que 39

elas têm sido hipermasculinidades (proporção menor, maior

a 64% dos indivíduos com essas deficiências que são

testosterona) também tem sido proposta. Vários estudos

estudadas decidem pela mudança e passam a viver como

comparando essa característica em homossexuais versus

homens na adolescência e início da idade adulta, e ela também

homens e mulheres heterossexuais identificadas têm mostrado

relatou que "o grau de masculinização genital externa à

resultados mistos.

nascença não parece estar relacionado com mudanças de papéis de gênero de uma forma sistemática"76.

Um estudo publicado na revista Nature, em 2000, descobriu que em uma amostra de 720 adultos da Califórnia, a

Os estudos com gêmeos na avaliação anterior podem

razão 2D:4D da mão direita de mulheres homossexuais foi

lançar luz sobre o papel das influências hormonais maternas,

significativamente mais masculino (isto é, a razão era menor)

uma vez que ambos os gêmeos idênticos e fraternais são

do que a de mulheres heterossexuais e não diferiu

expostos as influências hormonais maternas semelhantes no

significativamente da dos homens heterossexuais78. Este

útero. As taxas de concordância relativamente fracas nos

estudo também não encontrou nenhuma diferença significativa

estudos de gêmeos sugerem que os hormônios pré-natais,

na razão média 2D:4D entre homens heterossexuais e

como fatores genéticos, não desempenham um papel

homossexuais. Outro estudo naquele ano, que utilizou uma

fortemente determinante na orientação sexual. Outras

amostra relativamente pequena de homens homossexuais e

tentativas de encontrar influências hormonais significativas em

heterossexuais do Reino Unido, relatou uma inferior razão

desenvolvimento sexual foram misturadas do mesmo modo, e

2D:4D (isto é, mais masculino) em homens homossexuais79.

a saliência dos resultados ainda não é clara. Uma vez que

Um estudo de 2003 com sede em Londres usando uma

estudos das influencias diretas hormonais pré-natais sobre o

amostra também descobriu que homens homossexuais tinha

desenvolvimento sexual são metodologicamente difíceis,

uma inferior razão 2D:4D do que os heterossexuais80, enquanto

alguns estudos têm tentado desenvolver modelos que as

dois outros estudos com amostras da Califórnia e Texas

diferenças na exposição hormonal pré-natal possam ser

apresentaram maior razão 2D:4D em homens homossexuais81.

inferidas indiretamente - pela medição morfológica subtil nas

Num estudo de 2003 comparando sete pares de

mudanças ou examinando distúrbios hormonais que estão

gêmeos monozigóticos do sexo feminino discordantes para a

presentes mais tarde durante o desenvolvimento.

homossexualidade (uma gêmea era lésbica) e cinco pares de

Por exemplo, uma procuração áspera dos níveis de

gêmeos do sexo feminino monozigóticos concordantes para a

testosterona pré-natal usada por investigadores é a razão entre

homossexualidade (ambos os gêmeos eram lésbicas)82  nos

o comprimento do segundo dedo (―index finger ‖) e o quarto

pares de gêmeos discordantes para a orientação sexual, os

dedo (dedo anular) que é comumente chamado de ―razão

indivíduos

2D:4D". Algumas evidências sugerem que a relação pode ser

significativamente menor razão 2D:4D do que seus gêmeos,

influenciada por exposição pré-natal a testosterona, de modo

enquanto os gêmeos concordantes não mostraram diferença.

que em machos os níveis mais elevados de exposição a

Os autores interpretaram este resultado como sugerindo que

testosterona podem causar dedos indicadores curtos relativos

baixa razão 2D:4D é um resultado de diferenças no ambiente

ao dedo anelar (ou possuindo uma baixa razão 2D:4D), e vice-

pré-natal83. Por fim, um estudo de 2005 de razões 2D:4D em

versa77. De acordo com essa hipótese, os homens

uma amostra austríaca de 95 homossexuais e 79

homossexuais podem ter um maior índice 2D:4D (mais perto

heterossexuais homens descobriram que as razões de 2D:4D

da proporção encontrada em mulheres que em homens

de homens heterossexuais não eram significativamente

heterossexuais), enquanto uma outra hipótese sugere o

diferentes da dos homens homossexuais84. Depois de analisar

contrário, que os homens homossexuais podem ser

os vários estudos sobre esta característica, os autores

hipermasculinizados por testosterona pré-natal, resultando

concluem que "mais dados são essenciais antes que

numa razão mais baixa do que em homens heterossexuais.

possamos ter certeza se há um efeito para a orientação sexual

identificados

como

homossexuais

tinham

24

em homens quando a variação étnica é controlada pela razão

contribuem para distúrbios do desenvolvimento sexual podem

2D:4D"85.

contribuir para o desenvolvimento das orientações de não-

Muita pesquisa tem examinado os efeitos dos

heterossexuais em alguns indivíduos, mas isso não demonstra

hormônios pré-natais sobre comportamento e estrutura

que tais fatores explicam o desenvolvimento da atração sexual,

cerebral. Mais uma vez, estes resultados vêm principalmente

desejos e comportamentos na maioria dos casos.

de estudos de primatas não-humanos, mas o estudo de desordens do desenvolvimento sexual forneceu percepções úteis sobre os efeitos dos hormônios sobre o desenvolvimento sexual em seres humanos. Desde que influências hormonais

Orientação Sexual e o Cérebro Houve vários estudos que examinam diferenças

ocorrem tipicamente durante nos períodos sensíveis ao tempo

neurobiológicas entre os indivíduos que se identificam como

de desenvolvimento, quando os seus efeitos manifestos

heterossexuais e aqueles que se identificam como

fisicamente, é razoável supor que os efeitos organizacionais

homossexuais. Este trabalho começou com a neurocientista

destes cedo criam padrões hormonais ligados ao tempo e

Simon LeVay em 1991 que estudou e relatou diferenças

tendem a direcionar os aspectos do desenvolvimento neural.

biológicas no cérebro dos homens homossexuais em

Conectividade neuroanatômica e sensibilidades neuroquímicas

comparação com homens normais - especificamente, a

podem estar entre tais influências.

diferença em volume num grupo de células particulares dos

Em 1983, Günter Dörner e colegas realizaram um

núcleos intersticiais do hipotálamo anterior (INAH3)89. Trabalho

estudo investigando se existe alguma relação entre estresse

posterior pelo psiquiatra William Byne e colegas mostrou

materno durante a gravidez e identidade sexual de seus filhos,

resultados mais sutis: "De acordo com dois estudos

entrevistando duzentos homens sobre eventos estressantes

anteriores... encontramos INAH3 para ter dimorfismo sexual,

que podem ter ocorrido às suas mães durante a sua vida pré-

ocupando um significativo volume maior nos machos do que

natal86. Muitos destes eventos ocorreram como consequência

nas fêmeas. Além disso, determinou-se que a diferença entre

da Segunda Guerra Mundial que homens relataram que suas

os sexos em termos de volume era imputável a uma diferença

mães tinham experimentado eventos estressantes de

de sexo em número neuronal e não no tamanho ou densidade

moderadamente a severamente durante a gravidez, 65% eram

neuronal"90. Os autores observaram que "embora houvesse

homossexuais, 25% eram bissexuais, e 10% eram

uma tendência para INAH3 a ocupar um volume menor nos

heterossexuais (orientação sexual foi avaliada usando a escala

homens homossexuais do que em homens heterossexuais,

Kinsey). No entanto, mais estudos recentes têm mostrado

não houve diferença no número de neurônios dentro do núcleo

muito menor ou nenhuma correlações87  significativa. Em um

com base na orientação sexual". Eles especularam que "a

estudo prospectivo de 2002 sobre a relação entre a orientação

experiência pós-natal" pode explicar as diferenças de volume

sexual e estresse pré-natal durante o segundo e terceiro

desta região entre homens homossexuais e heterossexuais,

trimestres, Hines e seus colegas descobriram que o estresse

embora isso exigisse mais investigação para confirmar 91. Eles

relatado por mães durante a gravidez mostrou "apenas uma

também observaram que o significado funcional de dimorfismo

pequena relação" aos comportamentos masculinos típico em

sexual em INAH3 é desconhecido. Os autores concluem: "com

suas filhas na idade de 42 meses, e ―nenhuma relação em

base nos resultados do presente estudo, bem como no de

tudo" para comportamentos femininos típicos em seus filhos88.

LeVay (1991), a orientação sexual não pode ser prevista com

Em resumo, algumas formas de exposição pré-natal a

fiabilidade com base no volume de INAH3 somente"92. Em

hormônios, particularmente HCA no sexo feminino, estão

2002, o psicólogo Mitchell S. Lasco e colegas publicaram um

associadas com diferenças na orientação sexual, enquanto que

estudo para examinar uma parte diferente do cérebro - a

outros fatores são frequentemente importante na determinação

 junção anterior - e constataram que não houve diferenças

das características físicas e efeitos psicológicos a essas

significativas nessa área, com base no sexo ou orientação

posições, dentre essas as condições hormonais que

sexual93.

25

Outros estudos já foram realizados para verificar

suficiente,

nós

finalmente

encontraríamos

diferenças

diferenças estruturais ou funcionais entre os cérebros dos

estatisticamente significativas em alguma área do cérebro,

indivíduos heterossexuais e homossexuais (usando uma

morfologia ou função, entre estes dois grupos. Mas isso não

variedade de critérios para definir essas categorias), onde

implica que tais diferenças apuradas nas diferentes trajetórias

achados a partir de vários desses estudos estão resumidos em

de vida do professor de ioga e do fisiculturista são diferenças

um comentário publicado em 2008 na revista Proceedings of

cerebrais que poderiam ter sido o resultado, em vez da causa,

the National Academy of Sciences94. Pesquisas deste tipo, no

de padrões distintos de comportamento ou interesses99.

entanto, não parecem mostrar algo muito relevante em relação

Considere outro exemplo. Suponha que os homens

à etiologia ou origens biológicas da orientação sexual. Devido

homossexuais tendem a ter menos gordura corporal do que

às limitações inerentes, esta literatura de pesquisa é bastante

homens normais (como indicado por menores escores médios

normal. Por exemplo, em um estudo de ressonância magnética

em índices de massa corporal). Até apesar da massa corporal

funcional foi utilizado para medir as mudanças de atividade no

ser, em parte, determinada pela genética, não poderia alegar

cérebro quando as imagens de homens e mulheres foram

com base nesta constatação de que há alguma causa inata ou

mostradas aos participantes, descobrindo que vendo um rosto

genética de que em ambos a massa corporal está associada

feminino produzia-se atividade mais forte no tálamo e córtex

com a homossexualidade. Pode ser o caso, por exemplo, que

orbitofrontal dos homens heterossexuais e mulheres

ser gay esteja associado com uma dieta que reduz a massa

homossexuais, enquanto em homens homossexuais e

corporal; estes exemplos ilustram um dos problemas comuns

mulheres heterossexuais estas estruturas reagiram mais

encontrados na interpretação popular de tais investigações: a

fortemente para o rosto de um homem95. Que os cérebros de

sugestão de que o padrão neurobiológico determina uma

mulheres heterossexuais e os homens homossexuais reagiram

expressão comportamental específica.

distintamente aos rostos de homens, enquanto que o cérebro

Com esta visão geral de estudos sobre fatores

de homens heterossexuais e mulheres homossexuais reagiram

biológicos que podem influenciar atração sexuais, preferências

distintamente aos rostos de mulheres, é uma descoberta que

ou desejos, podemos compreender uma conclusão bastante

parece bastante trivial no que diz respeito a compreensão da

forte, onde a psicóloga social Letitia Anne Peplau e colegas

etiologia das atrações homossexuais. Na mesma linha, um

citam em um artigo de revisão em 1999: "para recapitular, mais

estudo relatou respostas diferentes aos feromônios entre

de 50 anos da investigação tem falhado em demonstrar que os

homossexuais e os homens heterossexuais96, onde um estudo

fatores biológicos são uma das principais influências no

de acompanhamento (follow-up) mostrou uma conclusão

desenvolvimento da orientação sexual das mulheres... ao

semelhante em homossexuais em comparação com mulheres

contrário da crença popular, os cientistas não demonstraram

heterossexuais97. Outro estudo mostrou diferenças na

de forma convincente que a biologia determina a orientação

assimetria cerebral e conectividade funcional entre sujeitos

sexual das mulheres"100. À luz dos estudos que resumimos

homossexuais e heterossexuais98.

aqui, esta declaração também pode ser feita para a pesquisa

Embora as conclusões deste tipo possam sugerir caminhos para futuras investigações, eles não se movem muito

sobre orientação sexual masculina, no entanto, este conceito é definido.

mais próxima para a compreensão do biológico ou de determinantes ambientais sobre atrações sexuais, interesses, preferências ou comportamentos. Vamos falar mais sobre isso abaixo. Por agora, vamos brevemente ilustrar algumas das

Leitura errada da Investigação Há algumas significativas limitações incorporadas para

limitações inerentes a esta área de investigação com o

o tipo de pesquisa empírica resumida nas seções anteriores. O

seguinte exemplo hipotético. Suponha que fossem estudados

fato dessas limitações serem ignoradas são as principais

cérebros de professores de yoga e comparados com os

razões das limitações da pesquisa onde é rotineiramente mal

cérebros de fisiculturistas. Se procurarmos por tempo

interpretada na esfera pública. Pode ser tentador assumir,

26

como por exemplo da estrutura do cérebro, que, se um

grande quantidade de sobreposição entre as distribuições. Isto

determinado perfil biológico é associado com algum traço

é, não pode ter praticamente nenhuma separação em termos

comportamental ou psicológico, então este perfil biológico faz

de distinção entre os indivíduos membros de cada grupo, e,

com que esse traço. Este raciocínio sendo baseado em uma

portanto, a medida não fornece muito mais previsibilidade para

falácia; e, nesta seção, vamos explicar por que, utilizando

a orientação sexual ou preferência.

conceitos do campo da epidemiologia. Embora algumas

Algumas destas questões poderiam, em parte, ser

dessas questões sejam bastante técnicas em detalhes, vamos

realçadas por abordagem metodológica adicional, tais como a

tentar explicá-las de uma forma geral e acessível ao leitor não

utilização de uma amostra de formação ou validação cruzada

especialista.

nos procedimentos. Uma amostra de formação é uma pequena

Suponha, por motivos de ilustração que uma ou mais

amostra utilizada para desenvolver um modelo (ou hipótese);

diferenças de uma característica biológica sejam encontradas

este modelo é então testado em uma amostra maior

entre os homens homossexuais e heterossexuais. Essa

independente. Este método evita testar uma hipótese sobre os

diferença poderia ser uma medida discreta (chamo isso de D)

mesmos dados utilizados para desenvolver a hipótese. A

como a presença de um marcador genético, ou poderia ser

validação cruzada inclui procedimentos utilizados para

uma medida contínua (chamo isso de C), tais como o volume

examinar se um efeito estatisticamente significativo está

médio de uma parte particular do cérebro.

realmente lá ou apenas devido ao acaso. Se alguém quiser

Mostrando que um fator de risco aumenta

mostrar que o resultado não ocorreu por acaso (e se a amostra

significativamente as chances de um determinado resultado de

é grande) pode-se executar os mesmos testes em uma divisão

saúde ou de um comportamento pode nos dar uma pista para o

aleatória da amostra relevante. Depois de encontrar uma

desenvolvimento

ou

diferença na prevalência do traço D ou C entre uma amostra

comportamento, mas não fornece evidência de causalidade.

gay e uma amostra normal, os pesquisadores poderiam

Na verdade, não pode fornecer evidência de quaisquer coisas,

aleatoriamente dividir a amostra em dois grupos gays e, em

mas a mais fraca das correlações. A inferência é feita às vezes

seguida, mostram que estes dois grupos não diferem quanto D

que, se pode mostrar que os homens homossexuais e homens

ou C. Suponha que numa encontra cinco diferenças em cada

heterossexuais diferem significativamente na probabilidade de

100 comparando gay para homens heterossexuais nas

que D está presente (se um gene, um fator hormonal ou

amostras globais, em seguida, encontra cinco diferenças de

alguma outra coisa), não importa quão baixo seja a

100 quando se comparam as amostras gay. Isso seria lançar

probabilidade, então este achado sugere que ser gay tem uma

dúvidas adicionais na descoberta inicial de uma diferença entre

base biológica. Mas essa inferência é injustificada. Dobrar (ou

as medias de gays e indivíduos heterossexuais.

desse

resultado

em

saúde

até triplicar ou quadruplicar) a probabilidade de um traço relativamente raro pode ter pouco valor em termos de prever quem vai ou não ser identificado como gay. O mesmo seria verdadeiro para qualquer variável

Vitimização por Abuso Sexual Considerando que a discussão precedente leva em

contínua (C). Mostrar uma diferença significativa na média ou

conta parte dos fatores biológicos que podem desempenhar no

média para uma dada característica (tais como o volume de

desenvolvimento da orientação sexual, esta seção resume a

uma região particular do cérebro) entre homens que se

evidência de que um fator ambiental particular - abuso sexual

identificam como heterossexuais e os homens que se

na infância  –  é relatado significativa mais entre aqueles que

identificam como homossexuais não é suficiente para mostrar

mais tarde se identificam como homossexuais. Os resultados

que esta diferença média contribui para a probabilidade de

apresentados abaixo levantam a questão se existe uma

identificar como heterossexual ou homossexual. Para além das

associação entre o abuso sexual, principalmente na infância, e

razões acima expostas, as diferenças significativas nos meios

expressões posteriores da atração sexual, comportamento ou

das duas distribuições podem ser consistentes com uma

27

identidade. Se então, o abuso infantil pode aumentar a probabilidade de ter uma orientação não-heterossexual?

Os autores observam que, esta hipótese de que as taxas

de

abuso

diminuiria

a

aceitação

social

a

Correlações, pelo menos, foram encontradas, como

homossexualidade aumentou, ―as disparidades nas taxas de

vamos resumir abaixo. Mas devemos observar em primeiro

prevalência de abuso sexual, abuso físico parental e

lugar que elas podem ser explicadas por uma ou mais das

vitimização entre pares entre minoria sexual e jovens de não-

seguintes suposições:

minoria sexuais não mudaram a partir dos anos 1990 para a

1. Abuso pode contribuir para o desenvolvimento de orientação não-heterossexual.

primeira década dos anos 2000‖102. Embora esses autores citaram autoridades que afirmam que o abuso sexual não é a

2. As crianças com (sinais de futuro) tendências não-

―causa de indivìduos se tornarem gays, lésbicas, ou

heterossexuais podem atrair abusadores, colocando-

bissexuais‖103 seus dados não dão evidência contra a hipótese

os em risco elevado.

de que o abuso sexual na infância pode afetar a orientação

3. Certos fatores podem contribuir tanto para o abuso

sexual. Por outro lado, o caminho pode ser causal na direção

sexual na infância e tendências não-heterossexuais

oposta ou bidirecional. A evidência não refuta ou apoia esta

(por exemplo, uma família disfuncional ou um pai

conjectura; o design do estudo não é capaz de derramar muita

alcoólico).

luz sobre a questão da direcionalidade. Os autores invocam uma hipótese amplamente citada

Deve ser mantido em mente que estas três hipóteses

para explicar as maiores taxas de abuso sexual entre os não-

não são mutuamente exclusivas; todas os três, e talvez outras,

heterossexuais, a hipótese de que ―indivíduos de minorias

podem ser operativas. Como resumimos os estudos sobre esta

sexuais são... mais propensos a serem alvo de abuso sexual,

questão, vamos tentar avaliar cada uma destas hipóteses à luz

como jovens que são percebidos como gays, lésbicas ou

da atual investigação científica.

bissexuais são mais susceptíveis de serem intimidados pelos

O professor de saúde comportamental e da

seus pares104. As duas conjecturas - que o abuso é uma causa

comunidade Mark S. Friedman e colegas conduziram uma

e que é resultado de tendências não-heterossexuais - não se

meta-análise de 37 estudos de 2011 a partir do exame dos

excluem mutuamente: abuso pode ser um fator causal no

Estados Unidos e Canadá sobre de abuso sexual, abuso físico

desenvolvimento de atrações não heterossexuais e desejos, e

e vitimização entre pares em heterossexuais, em comparação

ao mesmo tempo atrações não heterossexuais, desejos e

com não-heterossexuais101. Esses resultados mostraram que

comportamentos podem aumentar o risco de ser alvo de

os não-heterossexuais eram, em média, 2,9 vezes mais

abusos.

propensos a relatar terem sido abusados quando crianças

A professora de ciências comunitárias da saúde Emily

(com menos de 18 anos de idade). Em particular, os machos

Faith Rothman e colegas realizaram uma revisão sistemática

não-heterossexuais eram 4,9 vezes mais prováveis - e não

de 2011 da pesquisa que investiga a prevalência de agressão

heterossexuais fêmeas, 1,5 vezes mais provável - que seus

sexual contra as pessoas que se identificam como gay,

colegas heterossexuais em denunciar o abuso sexual.

lésbicas, ou bissexuais nos Estados States105. Eles

Adolescentes não-heterossexuais como um todo eram 1,3

examinaram 75 estudos (25 dos quais utilizando amostragem

vezes mais propensos a indicar abuso físico por pais do que

probabilística), envolvendo um total de 139.635 gays ou

seus pares heterossexuais, mas gay e lésbicas adolescentes

homens bissexuais (GB) e mulheres lésbicas ou bissexuais

eram apenas 0,9 vezes mais provável (bissexuais eram 1,4

(LB), que mediu a prevalência de vitimização devido ao tempo

vezes mais provável). Quanto a vitimização entre pares, não-

de vida na agressão sexual (LSA), agressão sexual na infância

heterossexuais eram 1,7 vezes mais propensas a relatar que

(CSA), agressão sexual quando adulto (ASA), agressão sexual

estava sendo abusado ou ameaçado com uma arma ou sendo

de parceiro íntimo (IPSA), e crimes de ódio relacionados com o

atacado.

abuso sexual (HC). Embora o estudo tenha sido limitado por não ter um grupo de controle heterossexual, mostrou

28

alarmantemente altos índices de agressão sexual, incluindo a

ter um significativo - mas não um fator determinante - de

agressão sexual na infância, para esta população, como

desenvolvimento das preferências homossexuais. Mais

resumido na Tabela 1.

distante são necessários estudos para ver se uma ou ambas as hipóteses têm mérito.

Tabela 1. Agressão sexual entre homens gays/bissexuais e mulheres lésbicas/bissexuais.

Tabela 2. Experiências adversas da infância entre gays/lésbicas, bissexuais e heterossexuais.

Usando uma amostra baseada em probabilidade com multe estágios em um estudo de 2013, a psicóloga Judith Anderson e colegas compararam diferenças com experiências desfavoráveis de infância - incluindo famílias disfuncionais,

Um estudo de 2010 pela professora de ciências

abuso físico, sexual ou emocional, e discórdia dos pais - entre

sociais e comportamentais Andrea Roberts e colegas

os autos identificados homossexuais, heterossexuais e adultos

examinaram a orientação sexual e o risco de transtorno pós-

bissexuais106. Eles descobriram que os bissexuais tiveram

traumático de estresse (PTSD), utilizando dados de um

proporções

os

levantamento epidemiológico nacional face-a-face de cerca de

heterossexuais de todos que tiveram fatores de experiência

35.000 adultos107. Os indivíduos foram colocados em várias

desfavoráveis, e que gays e lésbicas tinham significativamente

categorias: heterossexuais, sem atração pelo mesmo sexo ou

proporções mais elevadas do que os heterossexuais de todas

parceiros (grupo de referência); heterossexuais com atração

estas medidas, exceto separação de pais ou divórcio. No geral,

pelo mesmo sexo, mas não parceiros do mesmo sexo;

os gays e as lésbicas bissexuais tinham cerca de 1,7 vezes e

heterossexuais com parceiros do mesmo sexo; auto

bissexuais 1,6 vezes a taxa de heterossexuais com

identificados gay/lésbica; e bissexuais auto identificados. Entre

experiências adversas na infância. Os dados para o abuso são

aqueles que relataram exposição a eventos traumáticos, gays

resumidos na Tabela 2.

e lésbicas, assim como bissexuais tinham cerca de duas vezes

significativamente

maiores

do

que

Embora este estudo, como alguns outros que temos

o risco de PTSD em comparação com o grupo de referência de

discutido, possam ser limitados pelo viés de memória - ou seja,

heterossexuais. Foram encontradas diferenças nas taxas de

imprecisões introduzidas por erros de memória - tem o mérito

maus tratos na infância e violência interpessoal: gays, lésbicas,

de ter um grupo de heterossexuais auto identificados de

bissexuais e heterossexuais com parceiros do mesmo sexo

controle para comparar com a gays/lésbicas e bissexuais auto

relataram ter piores traumas durante a infância e adolescência

identificados em estudos de coortes. Na sua discussão dos

do que o grupo de referência. Os resultados estão resumidos

resultados, os autores criticam a hipótese de que trauma na

na Tabela 3.

infância tem uma relação causal com as preferências homossexuais. Entre suas razões para o ceticismo, eles observam que a grande maioria dos indivíduos que sofrem traumas de infância não se tornam homossexuais ou bissexuais, e que comportamento de gênero não conformado pode ajudar a explicar os elevados índices de abuso. No entanto, é plausível destes e de resultados relacionados a hipótese de que as experiências adversas na infância podem

Tabela 3. Exposição na infância para maus-tratos ou violência Interpessoal (antes da idade de 18 anos).

29

responsáveis por 60% da correlação entre orientação sexual e Padrões semelhantes surgiram em um estudo de 2012

depressão111.

pelo psicólogo Brendan Zietsch e colegas que principalmente

Em um estudo de 2001, a psicóloga Marie E. Tomeo e

focaram sobre a distinta questão de que se os fatores causais

colegas notaram que na literatura anterior tinham

comuns poderiam explicar a associação entre orientação

consistentemente encontrado aumento das taxas de abuso

sexual - neste estudo definido como preferência sexual - e

sexual na infância relatado na população homossexual, com

depressão108. Em uma amostra da comunidade de 9.884

algum lugar entre 10% e 46% relatando que eles tinham

gêmeos adultos, os autores encontraram prevalência que os

experimentado abuso sexual na infância112. Os autores

não-heterossexuais

elevada

descobriram que 46% dos homens homossexuais e 22% das

prevalência de com depressão (odds ratio para sexo masculino

mulheres homossexuais relataram que tinham sido molestados

2,8; odds ratio para o sexo feminino 2,7), onde os autores

por uma pessoa do mesmo gênero, em comparação com 7%

apontam, os dados levantaram questões sobre se as taxas

dos

mais elevadas da depressão para os não-heterossexuais

heterossexuais. Além disso, 68% dos homens homossexuais e

poderiam ser explicadas, em sua totalidade, pela hipótese de

38% de mulheres homossexuais entrevistados não se

estresse social (a ideia, discutida em profundidade na Parte

identificaram como homossexuais até depois do abuso. A

Dois do presente relatório, que o estresse social vivido por

amostra deste estudo foi relativamente pequena, apenas 267

contas das minorias sexuais e os seus riscos elevados de

indivíduos; além disso, a medida de abuso do "contato sexual"

maus resultados de saúde mental). Heterossexuais com um

na pesquisa foi um pouco vaga, e os sujeitos foram recrutados

gêmeo não-heterossexual tinham taxas mais elevadas de

a partir de participantes nos eventos do orgulho gay na

depressão (39%) do que pares de gêmeos heterossexuais

Califórnia. Mas os autores afirmam que "é muito improvável

(31%), sugerindo que a genética, fatores familiares ou outros

que todas as presentes descobertas se aplicam apenas a

fatores podem desempenhar um papel.

pessoas homossexuais que vão para eventos homossexuais e

tinham

significativamente

Os autores observam que "em ambos os machos e fêmeas, significativamente maior foram as taxas de não-

homens

heterossexuais

e

1%

das

mulheres

que sejam voluntários para participar da pesquisa com o questionário"113.

heterossexualidade encontrados nos participantes que

Em 2010, psicólogas Helen Wilson e Cathy S. Widom

experimentaram abuso sexual na infância e naqueles com um

publicaram um estudo de acompanhamento prospectivo de 30

ambiente familiar na infância de risco"110. Na verdade, 41% dos

anos - que olhou para as crianças que tinham experiências

homens não-heterossexuais e 42% das mulheres não

com abuso ou negligência entre 1961 e 1971, e depois seguiu-

heterossexuais relataram disfunção familiar na infância, em

se com aquelas crianças após 30 anos - para verificar se o

comparação com 24% e 30% de heterossexuais homens e

abuso físico, abuso sexual, ou negligência na infância

mulheres, respectivamente. E 12% de homens não

aumentaram a probabilidade das relações sexuais do mesmo

heterossexuais e 24% de mulheres não heterossexuais

sexo na vida mais tarde114. Uma amostra original com 908

relataram abuso sexual antes da idade de 14, em comparação

crianças abusadas e/ou negligenciadas foi combinada com um

com 4% e 11% dos heterossexuais machos e fêmeas,

grupo controle não-maltratado de 667 indivíduos (pareados por

respectivamente. Os autores tiveram o cuidado de enfatizar

idade, sexo, raça ou etnia, e aproximado status

que os seus resultados não devem ser interpretados como

socioeconômico). Homossexualidade foi operacionalizada

refutando a hipótese do stress social, mas sugerem que neste

como qualquer pessoa que coabitou com um parceiro

trabalho podem haver outros fatores. Suas descobertas, no

romântico do mesmo sexo ou teve um parceiro sexual do

entanto, sugerem que poderia haver fatores etiológicos comuns

mesmo sexo, o que se fez 8% da amostra. Entre estes 8%,

para as preferências de depressão para não-heterossexuais,

mais indivíduos também relataram ter parceiros do sexo

como foram encontrados e que fatores genéticos são

oposto, sugerindo altas taxas de bissexualidade ou fluidez nas atrações sexuais ou comportamentos. O estudo descobriu que

30

aqueles que relataram histórias de abuso sexual na infância

Eles usaram três medidas dicotômicas da orientação

foram 2,8 vezes mais propensos a relatar ter relações sexuais

sexual: qualquer vs. nenhuma atração pelo mesmo sexo;

com o mesmo sexo, embora a "relação entre abuso sexual na

qualquer vs. sem parceiros sexuais do mesmo sexo; lésbica,

infância e mesmo sexo na orientação sexual foi significativa

gay ou bissexual vs. heterossexual auto identificado. Como em

apenas para os homens"115. Esse achado sugere que os

outros estudos, os dados mostraram associações entre abuso

meninos que são abusados sexualmente podem ser mais

sexual na infância ou maus tratos em todas as três dimensões

propensos a estabelecer ambos os relacionamentos

de não-heterossexualidade (atração, parceiros, identidade),

heterossexuais e homossexuais.

com associações entre abuso sexual e identidade sexual

Os autores recomendaram cautela na interpretação

sendo mais forte.

deste resultado, porque o tamanho da amostra de homens

O modelo de variáveis instrumentais dos autores

vítimas de abuso sexual era pequeno, mas a associação

sugeriu que o abuso sexual precoce aumentou a taxa prevista

permaneceu estatisticamente significativa quando controlado

de atração pelo mesmo sexo por 2,0 pontos percentuais,

para o número total de parceiros sexuais ao longo da vida e

parceria do mesmo sexo em 1,4 pontos percentuais, e

para engajar-se em prostituição. O estudo também foi limitado

identidade do mesmo sexo 0,7 pontos percentuais. Os autores

por uma definição da orientação sexual que não foi sensível à

estimaram que a taxa de homossexualidade pode ser atribuível

forma como participantes se identificaram. Isto pode não ter

ao abuso sexual "usando efeitos estimados nos modelos

conseguido capturar pessoas com atração pelo mesmo sexo,

convencionais" e descobriu que, o estimado efeito

mas não do mesmo sexo com histórico de relacionamento

convencional, pode gerar 9% da atração pelo mesmo sexo,

romântico. O estudo teve duas forças metodológicas notáveis,

21% em qualquer tempo da vida por parceiros sexuais do

um design prospectivo é mais adequado para avaliar relações

mesmo sexo e 23% da identidade dos homossexuais ou

causais do que o típico design retrospectivo. Além disso, o

bissexuais foi devido a abuso sexual na infância‖118. Note-se

abuso na infância registrado foi documentado quando ocorreu,

que estas correlações são transversais: eles comparam grupos

mitigando assim viés de memória.

de pessoas para grupos de pessoas, em vez de modelar o

Tendo examinado a associação estatística entre o

curso dos indivíduos ao longo do tempo. (A concepção do

abuso sexual na infância e homossexualidade tardia, voltamos

estudo com séries temporais e sua análise daria forte suporte

à questão de saber se esta associação sugere causalidade.

estatístico ao pedido de causalidade). Além disso, esses

A análise de 2013 pelo pesquisador de saúde Andrea

resultados têm sido fortemente criticados nas bases

Roberts e seus colegas tentou dar uma resposta a esta

metodológicas por terem feito suposições injustificadas nas

questão116. Os autores observaram que, embora estudos

variáveis instrumentais de regressão; um comentário por Drew

mostraram 1,6-4 vezes mais relatos de abuso sexual e físico

H. Bailey e J. Michael Bailey afirma, "Não só os resultados de

na infância entre indivíduos gays e lésbicas do que entre

Roberts e colegas não fornecem suporte para a ideia de que

heterossexuais, métodos estatísticos convencionais não

maus tratos na infância causa a homossexualidade adulta, o

podem demonstrar uma relação estatística forte suficiente para

padrão de diferenças entre machos e fêmeas é o oposto do

apoiar o argumento de causalidade. Eles discutiram que um

que deve ser esperado com base em melhor evidência"119.

método estatístico sofisticado chamado de "variáveis

Roberts e colegas concluem seu estudo com várias

instrumentais," importado da econometria e análise econômica,

conjecturas para explicar as associações epidemiológicas. Elas

poderia aumentar o nível de associação117. (O método é um

ecoam sugestões feitas em outros lugares que o abuso sexual

pouco semelhante ao método de "escores de propensão", que

perpetrado por homens pode causar meninos a pensar que são

é mais sofisticado e mais familiar para o público de

gay ou fazer meninas agirem ao avesso ao contato sexual com

pesquisadores em saúde). Os autores aplicaram o método de

homens. Eles também conjecturaram que o abuso sexual pode

variáveis instrumentais para dados recolhidos a partir de uma

deixar vítimas sentindo-se estigmatizadas, que por sua vez

amostra nacionalmente representativa.

podem torná-las mais propensas a agir de forma a serem

31

socialmente estigmatizadas (como por se envolver em relações

o mais abrangente estudo da sexualidade até à data o National

sexuais do mesmo sexo). Os autores também apontam para os

Health and Social Life Survey   conduzido pela National Opinion

efeitos biológicos de maus tratos, citando estudos que mostram

Research Center   (NORC) de 1992 da Universidade de

que "a qualidade da parentalidade" pode afetar a química e

Chicago122. Duas importantes publicações apareceram usando

hormônios receptores em crianças, e formulam hipóteses de

dados a partir desta ampla pesquisa NORC: The Social

que isso pode influenciar a sexualidade ―através de alterações

Organization of Sexuality: Sexual Practices in the United

epigenéticas, particularmente na estria terminal e na amígdala

States, um grande volume de dados destinados a comunidade

medial, regiões do cérebro que regulam o comportamento

de pesquisa Sex in America: A Definitive Survey   um estudo

social"120. Eles também mencionaram as possibilidades que o

menor e mais um livro acessível que resume as descobertas

entorpecimento emocional causado por maus-tratos pode

para o público em geral123. Estes livros apresentam dados de

conduzir as vítimas a procurar comportamentos de risco

uma amostra probabilística de confiança da população

associados com a sexualidade do mesmo sexo, ou que a

americana entre as idades de 18 e 59 anos de idade.

atração pelo mesmo sexo e parceria podem resultar de ―a

De acordo com dados da pesquisa NORC, a

unidade para a intimidade e sexo para reparar os estados

prevalência estimada de não-heterossexualidade, dependendo

deprimidos, estressados ou de humor com raiva", ou de limite

de como foi operacionalizada, e sobre se os sujeitos eram do

de transtorno de personalidade, o que é um fator de risco em

sexo masculino ou feminino, variou entre cerca de 1% e 9%124.

indivíduos que tenham sido maltratados121.

Os estudos NORC acrescentaram respeitabilidade científica

Em resumo, embora este estudo sugerisse que o

para pesquisas sexuais, e estas conclusões têm sido

abuso sexual, por vezes, pode ser um contribuinte causal a ter

amplamente replicadas nos Estados Unidos e no exterior. Por

uma orientação não heterossexual, mais pesquisas são

exemplo, o British National Survey of Sexual Attitudes and

necessárias para elucidar os mecanismos biológicos ou

Lifestyles (Natsal) é provavelmente a fonte mais confiável de

psicológicos. Sem tal pesquisa, a ideia de que o abuso sexual

informações sobre o comportamento sexual naquele país - um

pode ser um fator causal na orientação sexual permanece

estudo realizado a cada dez anos desde 1990125.

especulativa.

O estudo NORC também sugeriu maneiras pelas quais os comportamentos sexuais e identidades podem variar significativamente sob diferentes circunstancias sociais e

Distribuição dos desejos sexuais e alterações ao longo do tempo No entanto, no desenvolver dos desejos e interesses sexuais, há um problema relacionado que cientistas debatem: se os desejos sexuais e atrações tendem a permanecer fixos e inalteráveis ao longo da vida de uma pessoa - ou são fluidos e sujeitos a alterações ao longo do tempo, mas tendem a se fixarem após uma certa idade ou período de desenvolvimento. Defensores da hipótese "nasceram assim", como mencionado anteriormente, algumas vezes argumentam que uma pessoa não só nasce com uma orientação sexual, mas que essa orientação é imutável e fixa ao longo da vida. Existe agora evidência científica considerável que os desejos sexuais, atrações, comportamentos e até mesmo identidades podem, às vezes, podem mudar ao longo do tempo. Para descobertas nesta área podemos nos voltar para

ambientais. Os resultados revelados, por exemplo, sugerem uma diferença considerável em taxas de comportamento homossexual masculino entre os indivíduos que passavam a adolescência na zona rural, em comparação com as grandes cidades metropolitanas da América, sugerindo a influência de ambientes sociais e culturais. Enquanto que, apenas 1,2% dos homens que haviam passado a sua adolescência em um ambiente rural respondeu que eles tinham tido um parceiro sexual masculino no ano da pesquisa, aqueles que tinham passado a adolescência vivendo em áreas metropolitanas foram perto de quatro vezes (4,4%) mais propensos a relatar que eles tinham tido um parceiro126. A partir desses dados, não se pode inferir diferenças entre estes ambientes na prevalência de interesses sexuais ou atrações, mas os dados sugerem diferenças nos comportamentos sexuais. Também digno de nota é que as mulheres que frequentaram uma faculdade eram

32

nove vezes mais propensas a se identificarem como lésbicas do que as mulheres que não fizeram127.

Ritch Savin-Williams e Geoffrey Ream publicaram uma análise de 2007 dos dados das Ondas I-III do “  Add

Além disso, outros estudos populacionais sugerem

Health” .135  Medidas utilizadas incluíram se os indivíduos já

que o desejo sexual pode ser fluido para um número

tiveram uma atração romântica para um determinado sexo,

considerável de indivíduos, especialmente entre adolescentes

comportamento e identidade sexual (as categorias para a

à medida que amadurecem através dos estágios iniciais de

identidade sexual eram 100% heterossexual, principalmente

desenvolvimento de um adulto. A este respeito, a atração do

heterossexual, mas um pouco de atração pelo mesmo sexo,

sexo oposto e identidade parecem ser mais estáveis ao mesmo

bissexual, homossexual na sua maioria, mas um pouco atraído

sexo ou atração bissexual e identidade. Isto é sugerido pelos

pelo sexo oposto, e 100% homossexual). Embora os autores

dados do National Longitudinal Study of Adolescent to Adult

notassem a "estabilidade ao sexo oposto, atração e

Health ou ― Add Health‖ (estudo discutido anteriormente). Este

comportamento sexual" entre as Ondas I e III, encontraram

estudo longitudinal prospectivo de uma amostra nacionalmente

uma "elevada proporção de participantes com atração para o

representativa de adolescentes norte-americanos entre o 7º e o

mesmo e para ambos os sexos e comportamento migrando

12º ano de escola começou durante o ano letivo 1994 - 1995, e

dentro das categorias de sexo oposto entre as ondas"136. Uma

seguiu o coorte em jovens em idade adulta, com quatro

proporção

entrevistas de acompanhamento (referido como Ondas I, II, III

heterossexuais, e uma proporção similar de pessoas sem

e IV na literatura) 128. A mais recente foi em 2007-2008, quando

atração, mudou-se para a categoria não-heterossexual. Os

a amostra tinha entre 24-32 anos de idade.

autores resumem: "todas as categorias que tiveram atração

muito

menor

daqueles

nas

categorias

Do mesmo sexo ou atrações românticas de ambos as

diferente do sexo oposto foram associadas a uma menor

eram bastante prevalentes na primeira onda do estudo, com

probabilidade de estabilidade ao longo do tempo; isto é,

taxas de cerca de 7% para os machos e 5% para as fêmeas129.

indivíduos que referiram qualquer atração pelo mesmo sexo

No entanto, 80% dos adolescentes do sexo masculino que

eram mais propensos para relatar mudanças subsequentes em

tinham relatado atração pelo mesmo sexo na Onda I mais tarde

suas atrações que os indivíduos sem nenhuma atração pelo

identificaram-se como exclusivamente heterossexuais como

mesmo sexo"137.

 jovens adultos na Onda IV130. Da mesma forma, para

Os autores observam também as dificuldades destes

adolescente homens que, na Onda I, tinham relatado atração

dados presentes para tentar definir orientação sexual e para

romântica para ambos os sexos, mais de 80% deles relataram

classificar os indivíduos de acordo com tais categorias: "a

nenhuma atração romântica para o mesmo sexo na Onda III131.

consideração crítica é se ter 'qualquer' sexualidade do mesmo

Os dados para as mulheres pesquisadas foram semelhantes,

sexo qualifica como não-heterossexual. Quanto uma dimensão

mas menos impressionante: para adolescente mulheres que

deve estar presente para inclinar a balança de uma orientação

tiveram atrações sexuais na Onda I, mais da metade relatou

sexual para outra não eram resolvidas com os presentes

atração exclusiva para homens na Onda III132.

dados, apenas que tais decisões importam em termos das

J. Richard Udry, o diretor do “  Add Health” para as

taxas de prevalência"138. Os autores sugeriram que os

Ondas I, II, e III133, foi um dos primeiros a apontar a fluidez e

pesquisadores poderiam "abandonar a noção geral de

instabilidade da atração romântica entre as duas primeiras

orientação sexual completamente e apreciar unicamente esses

ondas. Ele relatou que entre os rapazes que relataram atração

componentes relevantes para a questão de pesquisa"139.

romântica só para rapazes e nunca para meninas na onda I,

Outro estudo prospectivo feito pelo bioestatístico Miles

48% o fizeram durante a Onda II; 35% relataram nenhuma

Ott e colegas com 10.515 jovens (3.980 do sexo masculino;

atração por ambos os sexos; 11% relataram exclusivamente

6,535 do sexo feminino) em 2013 mostrou conclusões sobre

atração pelo mesmo sexo; e 6% relataram atração para ambos

mudança de orientação sexual em adolescentes consistentes

os sexos134.

com os achados dos dados do “  Add Health” , novamente

33

sugerindo fluidez e plasticidade do mesmo sexo para atrações entre muitos adolescents140.

Em relação à terceira hipótese para explicar os dados do “Add Health” , Savin-Williams e Joyner, notaram que as

Alguns anos após os dados “  Add Health”   serem

pesquisas de adolescentes, por vezes, produziam resultados

publicados originalmente, o  Archives of Sexual Behavior 

incomuns ou distorcidos devido aos adolescentes que não

publicou um artigo de Savin-Williams e Joyner que criticou os

respondem com sinceridade. Na pesquisa “Add Health” , eles

dados do “  Add Health”  na mudança de atração sexual141. Antes

observam, que houve um número significativo de

de delinear sua crítica, Savin-Williams e Joyner resumiram a

respondedores incomuns. Por exemplo, várias centenas de

principais conclusões do “  Add Health” : "nos cerca de 13 anos

adolescentes relataram no questionário da Onda I que eles

entre as ondas I e IV, independentemente de se a medida era

tinham um membro artificial, enquanto que mais tarde nas

idêntica através de ondas (atração romântica) ou discrepantes

entrevistas a domicilio, apenas dois desses adolescentes

em palavras, mas não na teoria (atração romântica e

relataram ter membros artificiais144. Adolescentes garotos que

identidade da orientação sexual), aproximadamente 80% dos

passaram de não heterossexuais na Onda I para

adolescentes rapazes e metade dos adolescentes que

heterossexuais na onda IV foram significativamente menos

expressaram tanto parcial ou exclusiva atração romântica para

propensos a relatar ter preenchido o questionário onda I

o mesmo sexo na Onda I ―virou‖  heterossexual (atração do

honestamente; estes meninos também exibiram outras

sexo oposto ou identidade exclusivamente heterossexual)

diferenças significativas, tais como menores médias em sala de

como jovens adultos"142. Os autores propõem três hipóteses

aula. Além disso, com os meninos consistentemente

para explicar estas discrepâncias:

heterossexuais, meninos que eram inconsistentes entre as Ondas I e IV eram mais populares em sua escola com meninos

(1) adolescentes gays ―vão  para o armário ‖ durante seus anos adultos jovens; (2) confusão sobre o uso e o significado da atração romântica como um indicador para orientação sexual; e (3) a existência de adolescentes travessos que desempenharam um papel ―piadista‖ relatando atração pelo mesmo sexo quando nenhum foi presente143.

que as meninas, meninos enquanto consistentemente não heterossexuais eram mais populares com as meninas. Estes e outros dados145  levaram os autores a concluir que "meninos que surgiram como um gay ou com adolescência bissexual se tornaram um heterossexual na idade adulta jovem, em geral,

Savin-Williams e Joyner rejeitaram a primeira

adolescentes heterossexuais que eram tanto confusos e não

hipótese, mas encontraram apoio para a segunda e a terceira.

entenderam a medida da atração romântica ou ―piadistas‖ que

No que diz respeito à segunda hipótese, eles questionaram o

decidiram, por razões que não foram capazes de detectar,

uso de atração romântica para operacionalizar identidade

desonestamente relatar a sua sexualidade"146. No entanto, os

sexual:

autores não foram capazes para estimar a proporção de respostas imprecisas, o que teria ajudado a avaliar o poder

Para nos ajudar a avaliar se o problema de construção/medição (atração romântica versus  identidade da orientação sexual) estava dirigindo resultados, comparamos os dois constructos na Onda IV... Desde que mais de 99% de adultos jovens com atração romântica ao sexo oposto foram identificado como heterossexual ou principalmente heterossexual e 94% daqueles com atração romântica para pessoas do mesmo sexo identificados como homossexuais ou principalmente homossexual, 33% de ambos os sexos atraíram homens identificados como heterossexuais (apenas 6% de ambos os sexo atraíram mulheres identificadas como heterossexuais). Estes dados indicaram que homens adultos jovens e mulheres geralmente entendiam que o significando da atração romântica para o oposto, ou do mesmo sexo implicando num particular (e consistente) orientação sexual da identidade, com uma gritante exceção - um subconjunto substancial de jovens adultos que, apesar de sua atração romântica pelo mesmo sexo, foram identificados como heterossexuais.

explicativo das hipóteses. Mais tarde, em 2014, os  Archives of Sexual Behavior  publica uma crítica do Savin-Williams e Joyner na explicação dos dados do “Add Health”   pelo psicólogo Gu Li e colegas147. Juntamente com a crítica da metodologia de Savin-Williams e Joyner, esses autores afirmaram que os dados foram consistentes com um cenário em que alguns adolescentes não heterossexuais foram "de volta para o armário" nos últimos anos como uma possível reação para o desenvolvimento por social estresse (vamos examinar os efeitos do estresse social sobre a saúde mental em populações LGBT na Parte II do presente relatório). Eles também alegaram que " faz pouco

34

sentido usar respostas da Onda IV em identidade sexual para

corretas. Pode muito bem ser o caso de que uma combinação

validar ou invalidar respostas das Ondas I ou IV quando as

de fatores contribuiu para as diferenças entre a Onda I e dados

atrações românticas nesses aspectos da orientação sexual não

da Onda IV. Por exemplo, pode ter havido alguns adolescentes

podem alinhar em primeiro lugar"148. No que diz respeito a

que responderam perguntas de atração sexual na Onda I de

hipótese ―piadista‖, esses autores colocam esta dificuldade:

forma imprecisa, alguns adolescentes não heterossexuais que

"embora alguns participantes possam ser ‗piadistas‘, e nós,

mais tarde abertamente passaram "de volta para o armário" e

como pesquisadores devemos ter cautela de problemas

alguns adolescentes que experimentaram atrações não

associados a levantamentos de auto relato, sempre analisando

heterossexuais antes da Onda I isto desapareceu em grande

e interpretação dos dados, não está claro por que os ‗piadistas‘

parte na Onda IV. Outro estudo com design prospectivo que

iriam responder a perguntas sobre a delinquência,

acompanhou

honestamente, mas não a perguntas sobre sua orientação

desenvolvimento do adolescente e do adulto pode lançar mais

sexual"149.

luz sobre estas questões.

indivíduos

específicos

em

todo

o

Savin-Williams e Joyner publicaram uma resposta à

Enquanto ambiguidades na definição e caracterização

crítica na mesma edição do jornal150. Respondendo à crítica de

de desejo e orientação sexual geram alterações no desejo

que a sua comparação da Onda IV na identidade sexual auto

sexual difíceis de estudar, os dados destes grandes estudos

relatada na Onda I auto referida as atrações românticas eram

nacionais, com base na população de indivíduos amostrados

insalubres, Savin-Williams e Joyner reivindicaram que os

aleatoriamente sugerem que todas as três dimensões da

resultados eram bastante similares se uma atração utilizada

sexualidade - afeto, comportamento e identidade - podem

como medida na Onda IV. Eles também consideraram

mudar ao longo do tempo para algumas pessoas. Não está

altamente improvável que uma grande proporção dos

claro e a pesquisa atual não aborda, se, e, em que medida os

inquiridos que foram classificados como não-heterossexuais na

fatores sujeitos a controle volitivo - escolha de parceiros ou

Onda I e heterossexuais na Onda IV foram "de volta para o

comportamentos sexuais, por exemplo - podem influenciar

armário", porque a proporção dos indivíduos na adolescência e

essas mudanças através de condicionamento e outros

início da vida adulta que estão "fora do armário "geralmente

mecanismos

aumenta ao longo da vida151.

comportamentais.

que

são

caracterizadas

nas

ciências

No ano seguinte, os  Archives of Sexual Behavior 

Vários pesquisadores sugeriram que a orientação

publicaram outra resposta a Savin-Williams e Joyner pelo

sexual e atrações podem ser especialmente plástica para

psicólogo Sabra Katz-Wise e seus colegas, que argumentam

mulheres155. Por exemplo, Lisa Diamond argumentou em seu

que a abordagem de Savin-Williams e Joyner "à identificação

livro “ Sexual Fluidity ”  (N.T.: Fluidez Sexual) de 2008 que "a

de jovens de minorias sexuais 'duvidosas' são inerentemente

sexualidade das mulheres é fundamentalmente mais fluida do

defeituosas"152. Eles escreveram que "atração romântica e

que a dos homens, permitindo uma maior variabilidade no seu

identidade da orientação sexual são duas dimensões distintas

desenvolvimento e expressão ao longo da vida", com base em

da orientação sexual que podem não ser concordantes, mesmo

pesquisas dela e de muitos outros156.

em um único ponto do tempo"153. Eles também afirmaram que

Entrevistas longitudinais de cinco anos de Diamond

"mesmo se o “  Add Health”  tivesse avaliado as mesmas facetas

com mulheres em relações sexuais com outras mulheres

da orientação sexual em todas as ondas, que seria ainda

também lançaram luz sobre os problemas com o conceito de

incorreto inferir que mudanças 'duvidosas' nas minorias

orientação sexual. Em muitos casos, as mulheres em seu

sexuais na mesma dimensão da orientação sexual, porque

estudo não relataram muito de saírem para formar uma relação

essas alterações podem refletir fluidez sexual"154.

sexual lésbica, mas em vez disso, experimentaram um

Infelizmente, o estudo “  Add Health”  não parece conter

crescimento gradual da intimidade afetiva com uma mulher que

os dados que permita uma avaliação para determinar qual, ou

eventualmente levou ao envolvimento sexual. Algumas dessas

se algumas, destas interpretações são prováveis que estejam

mulheres rejeitaram os rótulos de "lésbica", "heterossexual" ou

35

"bissexual", como sendo inconsistente com sua experiência

escolhe definir esta construção, parece que a definição de

vivida157. Em outro estudo, Diamond põe em causa a utilidade

algum modo é amarrada ao comportamento sexual, identidade

do conceito de orientação sexual, especialmente como se

ou atração. Talvez possamos tomar a reclamação de

aplica a mulheres158. Ela ressalta que, se a base neural do

Beckstead como mais uma razão para considerar dispensada a

apego mãe-filho - incluindo o vínculo com sua mãe - forma,

construção da orientação sexual no contexto de pesquisa em

pelo menos, parte da base para ligações românticas na idade

ciências sociais, como parece que tudo o que pode

adulta, então ele não seria surpreendido por uma mulher a

representar, só é amarrado frouxamente ou inconsistente a

experimentar sentimentos românticos por outra mulher sem

fenômenos empiricamente mensuráveis.

necessariamente querer se relacionar sexualmente com ela. A

Dada a possibilidade de mudanças no desejo sexual e

pesquisa de Diamond indicou que esses tipos de

atração, o que a pesquisa sugere não é incomum, qualquer

relacionamentos se formam mais frequentemente do que que

tentativa de inferir uma identidade estável, inata ou uma

normalmente se reconhecem, especialmente entre as

mistura complexa e muitas vezes mudando de fantasias

mulheres.

interiores, desejos e atrações - sexual, romântica, estética, ou

Alguns pesquisadores também sugeriram que a

de outra forma - é repleta de dificuldades. Podemos imaginar,

sexualidade masculina é mais fluida do que se pensava

por exemplo, um garoto de dezesseis anos de idade que se

anteriormente. Por exemplo, uma pesquisa apresentada por

apaixona por um jovem em seus vinte anos, o desenvolvimento

Diamond em 2014 numa conferência, com base nos resultados

de fantasias centrado em torno do corpo do outro ou talvez em

iniciais de um estudo de 394 pessoas, intitulado "I Was Wrong!

alguns de seus traços de caráter ou pontos fortes. Talvez uma

Men Are Pretty Darn Sexually Fluid, Too!" 159. Diamond baseou

noite em uma festa onde os dois se envolvessem em

sua conclusão em uma pesquisa com homens e mulheres

intimidade física, catalisada pelo álcool e pelo humor geral da

entre as idades de 18 e 35 anos de idade, que perguntou sobre

festa. Este jovem, então, começa um angustiante processo de

sua atração sexual e identidades auto descritas em diferentes

introspecção e auto exploração com vistas a encontrar a

estágios de suas vidas. A pesquisa constatou que 35% dos

resposta à pergunta enigmática: "Isso significa que eu sou

homens gays auto identificados relataram ter atrações pelo

gay?"

sexo oposto no ano anterior, e 10% dos homens gays auto

A pesquisa atual em ciências biológicas, psicológicas

identificados relataram comportamento sexual com o sexo

e sociais sugere que a esta pergunta, pelo menos, uma vez

oposto durante o mesmo período. Além disso, como muitos

que está enquadrada, faz pouco sentido. Tanto quanto a

homens transitaram em algum momento de sua vida de gay

ciência pode nos dizer, não há nada "lá" para este jovem

para bissexual, homossexual, ou identidade não rotulada como

descobrir - no fato da natureza para descobrir ou para

fizeram os homens bissexuais com a identidade gay.

encontrar enterrado dentro de si mesmo. O que suas fantasias,

Em um artigo de revisão em 2012 intitulado "Nós

ou sua ligação única, "realmente significa" está sujeita a

podemos mudar a orientação sexual?" publicado na revista

qualquer número de interpretações: a de que ele encontra a

 Archives of Sexual Behavior , o psicólogo Lee Beckstead

figura masculina bonita, que ele estava sozinho e sentiu-se

escreveu: "Apesar de seu comportamento sexual, identidade e

rejeitado na noite da festa e alguém respondeu a sua atenção

atrações poderem mudar ao longo das suas vidas, isso não

e afeto, que ele estava embriagado e influenciado pela música

pode indicar uma mudança na orientação sexual..., mas uma

e pelas luzes estroboscópicas, que ele tem uma profunda

mudança na consciência e uma expansão da sexualidade"160.

atração romântica ou sexual com outros homens, e assim por

É difícil saber como interpretar essa afirmação - que o

diante. Na verdade, interpretações psicodinâmicas de tais

comportamento sexual, identidade e atrações podem mudar,

comportamentos citando fatores motivacionais inconscientes e

mas que isso não indica necessariamente uma alteração na

conflitos internos, muitas delas interessantes, mais impossível

orientação sexual. Já analisamos as inerentes dificuldades

de provar, pode ser finalmente provado.

para definir orientação sexual, mas, no entanto, cada um

36

O que podemos dizer com mais confiança é que este

Além disso, pode não só o termo "orientação sexual"

 jovem teve uma experiência que abrange sentimentos

ser entendido em vários diferentes sentidos, a maioria dos

complexos, ou que ele se envolveu em um ato sexual

sentidos próprios são complexos conceitos. Atração, por

condicionado por vários fatores complexos, e que essas

exemplo, pode referir-se a padrões de excitação, sentimentos

fantasias, sentimentos, ou comportamentos associados podem

românticos, ou desejos por companhia, ou outras coisas; e

(ou não) estar sujeito a mudanças quando ele crescer e se

cada uma destas coisas podem estar presentes de forma

desenvolver. Tais comportamentos podem se tornar mais

esporádica e temporária ou difusamente e a longo prazo, quer

habituais com a repetição e, assim, mais estáveis ou eles

exclusivamente ou não, quer numa profunda ou superficial

podem se extinguir e raramente ou nunca repitam. A pesquisa

forma, e assim por diante. Por esta razão, mesmo que

sobre comportamentos sexuais, desejo sexual e identidade

especifico um dos sentidos básicos de orientação (atração,

sexual sugere que ambas as trajetórias são possibilidades

comportamento ou identidade) é insuficiente para fazer justiça

reais.

ao fenómeno muito variado da sexualidade humana. Nesta parte, temos criticado a suposição comum de que desejos ou atrações sexuais revelam alguma característica

CONCLUSÃO O conceito de orientação sexual é extraordinariamente

inata e fixa de nossa constituição biológica ou psicológica, uma

ambíguo em comparação com outros traços psicológicos.

algumas razões para duvidar do comum pressuposto de que, a

Tipicamente, ele refere-se a pelo menos uma das três coisas:

fim de viver uma vida feliz e próspera, devemos de alguma

atrações, comportamentos ou identidade. Além disso, vimos

forma, descobrir este fato inato sobre nós mesmos que

que orientação sexual, muitas vezes refere-se a várias outras

chamamos de sexualidade ou orientação sexual, e,

coisas também: pertencer a uma determinada comunidade,

invariavelmente, expressá-lo através de padrões particulares

fantasias (distinta em alguns aspectos das atrações), anseios,

do comportamento sexual ou de uma trajetória de vida

aspirações, necessidades sentidas para certas formas de

particular. Talvez devêssemos em vez de considerar os tipos

companheirismo, e assim por diante. É importante, então, que

de comportamentos - seja na esfera sexual ou em outro lugar -

os investigadores sejam claros sobre qual destes domínios

tender a ser propício para a saúde e prosperidade, e o que

estão estudando, e que os pesquisadores tenham em mente

tipos de comportamentos tendem a minar a vida saudável.

identidade sexual fixa ou orientação. Além disso, podemos ter

definições especificadas quando interpretam as suas conclusões.

NOTAS

1. 2. 3.

4. 5. 6. 7. 8. 9.

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37 10.

11.

Ibid. Stephen B. Levine, ―Reexploring the Concept of Sexual Desire,‖ Journal of Sex & Marital Therapy , 28, no. 1 (2002), 39,

http://dx.doi.org/10.1080/009262302317251007. 12. 13.

14. 15. 16. 17. 18. 19. 20. 21. 22. 23. 24. 25. 26. 27.

28. 29. 30. 31. 32. 33. 34.

35. 36. 37. 38. 39. 40. 41. 42. 43. 44. 45. 46. 47.

Ibid .

See Lori A. Brotto et al., al., ―Sexual Desire and Pleasure,‖ in  APA Handbook Handbook of Sexuality Sexuality and Psychology , Volume 1: Person-based Approaches, APA (2014): 205-244; Stephen B. Levine, ―Reexploring the Concept of Sexual Desire,‖ Journal of Sex & Marital Therapy 28, no. 1 (2002): 39-51, http://dx.doi.org/10.1080/009262302317251007; Lisa M. Diamond, ―What Does Sexual Orientation Orient? A Bio Behavioral Model Distinguishing Romantic Love and Sexual Desire,‖ Psychological Review 110, no. 1 (2003): 173- 192, Love and Sexual Desire in Close Relationships,‖ Emotion 6, no. 2 (2006): 163179, http://dx.doi.org/10.1037/1528-3542.6.2.163. Alexander R. Pruss, One Body: An Essay in Christian Sexual Ethics (Notre Dame, Ind.: University of Notre Dame Press, 2012), 360. Neil A. Campbell and Jane B. Reece, Biology , Seventh Edition (San Francisco: Pearson Education, 2005), 973. 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The T he differences between the identical and 4 fraternal concordance rates using the lenient criterion were statistically significant for men but not for women.( ) Bailey, Dunne, and Martin, ―Genetic and environmental influences on sexual orientation  and its correlates in an Australian twin sample,‖ 534. These examples are drawn from Ned Block, ―How heritability misleads about race,‖ Cognition 56, no. 2 (1995): 103-104, http://dx.doi.org/10.1016/0010-0277(95)00678-R. of Sexual Niklas Långström et al .,., ―Genetic and Environmental Effects on Same-sex Sexual Behavior: A Popula tion Study of Twins in Sweden‖,  Archives of Behavior 39, no. 1 (2010): 75-80, http://dx.doi.org/10.1007/s10508-008-9386-1. Ibid. , 79. Peter S. Bearman and Hannah Brückner, ―Opposit e-Sex Twins and Adolescent Same-Sex Attraction,‖ American Attraction,‖  American Journal Journal of Sociology 107, no. 5 (2002): 11791205, http://dx.doi.org/10.1086/341906. Ibid .,., 1199. 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 Bailey e colegas calcularam estas taxas de concordância usando um critério "rigoroso" "rigoroso" para determinar a não-heterossexualidade, que era uma pontuação Kinsey de 2 ou superior. Eles também calcularam taxas de concordância usando um critério "brando", uma pontuação pontuação Kinsey de 1 ou superior. As taxas de concordância para este critério brando foram de 38% para os homens e 30% para as mulheres em gêmeos idênticos, em comparação com 6% para os homens e 30% para as mulheres em gêmeos fraternos. As diferenças entre as taxas de concordância concordância idênticos e fraternais usando o critério brando foram estatisticamente estatisticamente significativos para os homens, mas não para as mulheres. 4

38

48. 49. 50. 51. 52. 53. 54. 55.

56. 57. 58. 59. 60. 61.

62. 63. 64. 65. 66. 67. 68. 69. 70. 71. 72. 73. 74. 75. 76. 77.

Environmental effects can be controlled in experiments with laboratory animals, but in humans this is not possible, so it is likely that the best that can be done is to study identical twins raised apart. But it should be noted that even these studies can be somewhat misinterpreted because identical twins adopted separately tend to be adopted into similar socioeconomic environments. The twin studies on homosexuality do not include any separated twin studies, and the study designs report few effective controls for environmental effects (for instance, identical twins likely likel y share a common rearing environment to a greater 5 extent than ordinary siblings or even fraternal twins).( ) Dean H. Hamer et al .,., ―A linkage between DNA markers on the X chromosome and male sexual orientation,‖ Science 261, no. 5119 (1993): 321-327, http://dx.doi.org/10.1126/science.8332896. 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 Estudos genéticos quantitativos, incluindo estudos individuais, dependem de um modelo abstrato com base em vários pressupostos, ao invés da medição de correlações entre genes e fenótipos. Este modelo abstrato é usado para inferir a presença de uma contribuição genética para um traço por meio de correlação entre os parentes. Os efeitos ambientais podem ser controlados em experimentos com animais de laboratório, mas em seres humanos não é possível, por isso, é provável que o melhor que pode ser feito é o estudar gémeos idênticos criados separadamente. Mas deve-se notar que mesmo estes estudos podem ser um tanto mal interpretados porque gêmeos idênticos criados separadamente tendem a ser criados em ambientes socioeconômicos semelhantes. Os estudos de gêmeos sobre a homossexualidade não incluem quaisquer estudos com gêmeos separados, e os projetos de estudo relatam alguns controles eficazes para efeitos ambientais (por exemplo, gêmeos idênticos provavelmente provavelmente compartilham um ambiente de criação comum em maior medida do que irmãos comuns ou gêmeos fraternos). 6 Para uma visão geral da distinção entre os efeitos organizativos e de ativação de hormônios e sua importância no campo da endocrinologia. 5

39

78. 79. 80. 81.

82. 83. 84. 85. 86. 87.

88. 89. 90. 91. 92. 93. 94. 95. 96. 97. 98.

Terrance J. Williams et al., ―Finger -length ratios and sexual orientation,‖ Nature 404, no. 6777 (2000): 455-456, http://dx.doi.org/10.1038/35006555. S. J. Robinson and John T. Manning, ―The ratio of 2nd to 4th digit length and male homosexuality,‖ Evolution and Human Behavior 21, no. 5 (2000): 333-345, http://dx.doi.org/10.1016/S1090-5138(00)00052-0. Qazi Rahman and Glenn D. Wilson, ―Sexual orientation and the 2nd to 4th finger   length ratio: evidence for organizing effects of sex hormones or developmental instability?‖ Psychoneuroendocrinology 28, no. 3 (2003): 288-303, http://dx.doi.org/10.1016/S0306-4530(02)00022-7. Richard A. Lippa, ―Are 2D:4D Finger -Length Ratios Related to Sexual Orientation? Yes, for Men, No for Women,‖ Journal of Personality and Social Psychology 85, no. 1 (2003):179-188, http://dx.doi.org/10.1037/0022-3514.85.1.179; Dennis McFadden and Erin Shubel, ―Relative Lengths of Fingers and 492-5 00, http://dx.doi.org/10.1006/hbeh.2002.1833. Toes in Human Males and Females,‖ Hormones and Behavior 42, no. 4 (2002): 492-500, Lynn S. Hall and Craig T. Lo ve, ―Finger -Length -Length Ratios in Female Monozygotic Twins Discordant for Sexual Orientation,‖  Archives of Sexual Sexual Behavior Behavior 32, no. 1 (2003):23-28, http://dx.doi.org/10.1023/A:1021837211630. Ibid .,., 23. Martin Voracek, John T. Manning, and Ivo Ponocny, ―Digit ratio (2D:4D) in homosexual and heterosexual men from Austria,‖  Archives of of Sexual Behavior Behavior 34, no. 3 (2005): 335-340, http://dx.doi.org/10.1007/s10508-005-3122-x. Ibid .,., 339. Günter Dörner et al .,., ―Stressful Events in Prenatal Life of Bi- and Homosexual Men,‖ Experimental and Clinical Endocrinology 81, no. 1 (1983): 83-87, http://dx.doi.org/10.1055/s-0029-1210210. See, for example, Lee Ellis et al .,., ―Sexual orientation of human offspring may be  alter ed ed by severe maternal stress during pregnancy,‖ Journal of Sex Research 25, no. 2(1988): 152-157, http://dx.doi.org/10.1080/00224498809551449; J. Michael Bailey, Lee Willerman, and Carlton Parks, ―A Test of the Maternal Stress Theory of Human Male Homosexu ality,‖ Archives ality,‖  Archives of Sexual Behavior Behavior 20, no. 3 (1991): 277-293, http://dx.doi.org/10.1007/BF01541847; Lee Ellis and Shirley Cole-Harding, ―The effects of prenatal stress, and of prenatal alcohol and nicotine exposure, on human sexual orientation,‖ Physiology & Behavior 74, no. 1 (2001): 213-226, http://dx.doi.org/10.1016/S0031-9384(01)00564-9. Melissa Hines et al .,., ―Prenatal Stress and Gender Role Behavior in Girls and Boys:  A Longitudinal, Longitudinal, Populati Population on Study,‖ Hormones and Behavior 42, no. 2 (2002): 126-134, http://dx.doi.org/10.1006/hbeh.2002.1814. Simon LeVay, ―A Difference in Hypothalamic Structure between Heterosexual and Homosexual Men,‖ Science 253, no. 5023 (1991): 1034-1037, http://dx.doi.org/10.1126/science.1887219. William Byne et al., ―The Interstitial Nuclei of the Human Anterior Hypothalamus:  An Investigation Investigation of of Variation Variation with Sex, Sex, Sexual Orientation, Orientation, and HIV Status,‖ Status,‖ 8 7, http://dx.doi.org/10.1006/hbeh.2001.1680. Hormones and Behavior 40, no. 2 (2001): 87, Ibid. , 91. Ibid . Mitchell S. Lasco, et al., al. , ―A lack of dimorphism of sex or sexual orientation in the human anterior commissure,‖ Brain Research 936, no. 1 (2002): 95-98, http://dx.doi.org/10.1016/S0006-8993(02)02590-8. Dick F. Swaab, ―Sexual orientation and its basis in brain structure and function,‖ Proceedings of the National Academy of Sciences 105, no. 30 (2008): 1027310274, http://dx.doi.org/10.1073/pnas.0805542105. Felicitas Kranz and Alumit Ishai, ―Face Perception Is Modulated by Sexual Preference,‖ Current Biology 16, no. 1 (2006): 63-68, http://dx.doi.org/10.1016/j.cub.2005.10.070. Ivanka Savic, Hans Berglund, and Per Lindström, ―Brain response to putative pheromones in homosexual men,‖ Proceedings of the National Academy of Sciences 102, no. 20(2005): 7356-7361, http://dx.doi.org/10.1073/pnas.0407998102. Hans Berglund, Per Lindström, and Ivanka Savic, ―Brain response to putative pheromones in lesbian women,‖ Proceedings of the National Academy of Sciences 103, no. 21(2006): 8269-8274, http://dx.doi.org/10.1073/pnas.0600331103. Ivanka Savic and Per Lindström, ―PET and MRI show differences in cerebral  asymmetry and functional connectivity between homo- and heterosexual subjects,‖ Proceedings subjects,‖ Proceedings of the National Academy of Sciences 105, no. 27 (2008): 9403-9408, http://dx.doi.org/10.1073/pnas.0801566105.

99.

Research on neuroplasticity shows that while there are critical periods of development in which the brain b rain changes more rapidly and profoundly (for instance, during development of language in toddlers), the brain continues to change across the lifespan in response to behaviors (like practicing juggling or playing a musical instrument), life experiences, psychotherapy, medications, psychological trauma, and relationships. For a helpful and generally accessible overview of the research related to neuroplasticity( 7), see Norman Doidge, The Brain That Changes Itself: Stories of Personal Triumph from the Frontiers of Brain Science (New York: Penguin, 2007). Review of Sex Sex Research Research 10, no. 1 (1999): 81, 100. Letitia Anne Peplau et al .,., ―The Development of Sexual Orientation in Women,‖  Annual Review

101. 102. 103. 104.

105. 106. 107. 108.

http://dx.doi.org/10.1080/10532528.1999.10559775. Also see J. Michael Bailey, ―What is Sexual Orientation and Do Women Have One?‖ in Contemporary Perspectives on Lesbian, Gay, and Bisexual Identities , ed. Debra A. Hope (New York: Springer, 2009), 43-63, http://dx.doi.org/10.1007/978-0-387-09556-1_3. Mark S. Friedman et al .,., ―A Meta-Analysis of Disparities in Childhood Sexual Abuse, Parental Physical Abuse, and Peer Victimization Among Sexual Minority and Sexual Nonminority Individuals,‖  American Journal of of Public Health Health 101, no. 8 (2011):1481-1494, http://dx.doi.org/10.2105/AJPH.2009.190009. Ibid. , 1490. Ibid. , 1492. Ibid. Emily F. Rothman, Deinera Exner, and Allyson L. Baughman, ―The Prevalence of   Sexual Assault Against People Who Identify as Gay, Lesbian, or Bisexual in the United States: A Systematic Review,‖ Trauma, Violence, & Abuse 12, no. 2 (2011): 55-66, http://dx.doi.org/10.1177/1524838010390707. S exual Minority and Heterosexual Adults: Results from a MultiJudith P. Andersen and John Blosnich, ―Disparities in Adverse Childhood Experiences among Sexual State Probability-Based Sample,‖ PLOS ONE 8, no. 1 (2013): e54691, http://dx.doi.org/10.1371/journal.pone.0054691. Andrea L. Roberts et al .,., ―Pervasive Tra uma Exposure Among US Sexual Orientation Minority Adults and Risk of Posttraumatic Stress Disorder,‖  American Journal of Public Health 100, no. 12 (2010): 2433-2441, http://dx.doi.org/10.2105/AJPH.2009.168971. Brendan P. Zietsch et al .,., ―Do shared etiological factors contribute to the relationship between sexual orientation and depression? ‖ Psychological Medicine 42,

no. 3 (2012):521-532, http://dx.doi.org/10.1017/S0033291711001577.  Pesquisa sobre neuroplasticidade mostra que, enquanto há períodos críticos de desenvolvimento em que o cérebro muda mais rapidamente e profundamente (por exemplo, durante o desenvolvimento da linguagem em crianças), o cérebro continua a mudar ao longo da vida em resposta a comportamentos comportamentos (como praticar malabarismo ou tocar um instrumento instrumento musical), experiências de vida, psicoterapia, medicamentos, medicamentos, traumas psicológicos e relacionamentos. relacionamentos. Para P ara uma visão útil e geralmente acessível da investigação relacionada com a neuroplasticidade. 7

40

109. 110. 111. 112. 113. 114.

115. 116. 117.

The exact figure is not reported in the text for reasons the authors do not specify. Ibid .,., 526. Ibid .,., 527. Marie E. Tomeo et al .,., ―Comparative Data of Childhood and Adolescence Molestation in Heterosexual and Homosexual Persons,‖  Archives of of Sexual Behavior Behavior 30, no. 5 (2001):535-541, http://dx.doi.org/10.1023/A:1010243318426. Ibid .,., 541. Helen W. Wilson and Cathy Spatz Widom, ―Does Physical Abuse, Sexual Abuse,  or Neglect in Childhood Increase the Likelihood of Same-sex Sexual Relationships and Cohabitation? A Prospective 30-year Follow-up,‖ Archives up,‖ Archives of Sexual Behavior Behavior 39, no. 1(2010): 63-74, http://dx.doi.org/10.1007/s10508-008-9449-3. Ibid .,., 70.  Andrea L. Roberts, Roberts, M. Maria Glymour, and and Karestan Karestan C. Koenen, Koenen, ―Does ―Does Maltreatment Maltreatment  in Childhood Affect Sexual Orientation in Adulthood? ‖ Archives of Sexual Sexual Behavior 42, no. 2 (2013): 161-171, http://dx.doi.org/10.1007/s10508-012-0021-9. For those interested in the methodological details: this statistical method uses a two- step process where ―instruments‖— in this case, family characteristics that are known to be related to maltreatment (presence of a stepparent, parental alcohol abuse, or parental mental illness) —are used as the ―instrumental variables‖ to predict the risk of  maltreatment. In the second step, the predicted risk of maltreatment is employed as the independent variable and adult sexual orientation as the dependent variable; coefficients from this are the instrumental variable estimates. It should also be noted here that these instrumental variable estimation techniques rely on some important (and questionable) assumptions, in this case the assumption that the instruments (the stepparent, the alcohol abuse, the mental illness) do not affect the child‘s sexual orientation measures  except through child abuse. But this assumption is not demonstrated, and therefore may constitute a foundational limitation of the method. Causation is difficult to support statistically and continues to beguile research in the social sciences in spite of efforts to design studies capable of generating stronger associations that give stronger support to claims of causation.( 8) Roberts, Glymour, and Koenen, ―Does Maltreatment in Childhood Affect Sexual  Orientation in Adulthood? ‖, 167.

118. 119. Drew H. Bailey and J. Michael Bailey, ―Poor Instruments Lead to Poor Inferences: Comment on Roberts, Glymour, and Koenen (2013),‖  Archives of Sexual Sexual 42, no. 8 (2013): 1649-1652, 1649-1652 , http://dx.doi.org/10.1007/s10508-013-0101-5. Behavior 120. Roberts, Glymour, and Koenen, ―Does Maltreatment in Childhood Affect Sexual  Orientation in Adulthood? ‖, 169. 121. Ibid .,., 169. 122. For information on the study, see ―National Health and Social Life Survey,‖  Population Research Center of the University of Chicago, http://popcenter.uchicago.edu/data/nhsls.shtml. 123. Edward O. Laumann et al., The Social Organization of Sexuality: Sexual Practices in the United States (Chicago: University of Chicago Press, 1994); Robert T. Michael et al. , Sex in America: A Definitive Survey (New York: Warner Books, 1994). 124. Laumann et al., The Social Organization of Sexuality , 295. 125. The third iteration of Natsal from 2010 found, over an age range from 16 to 74, that 1.0% of women and 1.5% of men consider themselves gay/lesbian, and 1.4% of women and 1.0% of men think of themselves as bisexual.( 9) See Catherine H. Mercer et al .,., ―Changes  in sexual attitudes and lifestyles in Britain through the life course and over time: findings from the National Surveys of Sexual Attitudes and Lifestyles (Natsal),‖ The Lancet 382, no. 9907 (2013): 17811794, http://dx.doi.org/10.1016/S0140-6736(13)62035-8. Full results of this survey are reported in several articles in the same issue of The Lancet . 126. See Table 8.1 in Laumann et al. , The Social Organization of Sexuality , 304. 127. This figure is calculated from Table 8.2 in Laumann et al. , The Social Organization of Sexuality , 305. 128. For more information on the study design of Add Health, see Kathleen Mullan Harris et al .,., ―Study Design,‖ The National Longitudinal Study of Adolescent to Adult Health, http://www.cpc.unc.edu/projects/addhealth/design. Some studies based on Add Health data use Arabic A rabic numerals rather than Roman numerals to label the waves; when describing or quoting from those studies, we stick with the Roman numerals. of 129. See Table 1 in Ritch C. Savin-Williams and Kara Joyner, ―The Dubious Assessment  of Gay, Lesbian, and Bisexual Adolescents of Add Health,‖  Archives of Sexual Behavior 43, no. 3 (2014): 413-422, http://dx.doi.org/10.1007/s10508-013-0219-5. 130. Ibid. , 415. 131. Ibid. 132. Ibid. 133. ―Research Collaborators,‖ The National Longitudinal Study of Adolescent to Adult  Health, http://www.cpc.unc.edu/projects/addhealth/people. 134. J. Richard Udry and Kim Chantala, ―Risk Factors Differ According to Same -Sex and Opposite-Sex Interest,‖ Journal of Biosocial Science 37, no. 04 (2005):

135. 136. 137. 138. 139. 140. 141. 142.

481-497, http://dx.doi.org/10.1017/S0021932004006765. Ritch C. Savin-Williams and Geoffrey L. Ream, ―Prevalence and Stability of Sexual Orientation Components During Adolescence and Young Adulthood,‖  Archives of Sexual Behavior Behavior 36, no. 3 (2007): 385-394, http://dx.doi.org/10.1007/s10508-006-9088-5. Ibid. , 388. Ibid .,., 389. Ibid .,., 392-393. Ibid .,., 393. Miles Q. Ott et al., ―Repeated Changes in Reported Sexual Orientation Identity Linked to Substance Use Behaviors in Youth,‖ Journal of Adolescent Health 52, no. 4(2013): 465-472, http://dx.doi.org/10.1016/j.jadohealth.2012.08.004. Savin-Williams and Joyner, ―The Dubious Assessment of Gay, Lesbian, and Bisexual Ado lescents of Add Health ‖. Ibid .,., 416.

 Para os interessados interessados nos detalhes metodológicos: este método estatístico usa um processo de duas etapas, onde "instrumentos" "instrumentos" -neste caso, características familiares familiares que são conhecidos por estar relacionado a maus tratos (presença de um padrasto, abuso de álcool pelos pais, ou doença mental dos pai s ) -são usados como "variáveis instrumentais" instrumentais" para prever o risco de maus-tratos. No segundo passo, o risco previsto de maus tratos é empregue como a variável independente e orientação sexual adulta como variável dependente; coeficientes destes são as estimativas de variáveis instrumentais. Também deve-se notar aqui que essas técnicas de estimativa de variáveis instrumentais instrumentais contam com algumas importantes (e questionáveis) premissas, neste caso, o pressuposto de que os instrumentos instrumentos (o padrasto, o abuso de álcool, a doença mental) não afetam as medidas de orientação sexual da criança exceto por meio de abuso infantil. Mas esta hipótese não está demonstrada, e, portanto, pode constituir uma limitação fundamental do método. Causação é difícil apoiar estatisticamente e continua a enganar a investigação nas ciências sociais, apesar dos esforços para projetar estudos capazes de gerar associações mais fortes que dão maior apoio a alegações de causalidade. 9 A terceira iteração do Natsal de 2010 descobriu, através de uma faixa etária 16-74, que 1,0% das mulheres e 1,5% dos homens consideram-se gay/lésbica, e 1,4% das mulheres e 1,0% dos homens pensam em si mesmos como bissexual. Veja. 8

41

143. Ibid ., 414. 144. For more analysis of inaccurate responders in the Add Health surveys, see Xitao Fan et al ., ―An Exploratory Study about Inaccuracy and Invalidity in Adolescent Self-Report Surveys,‖ Field Methods 18, no. 3 (2006): 223-244, http://dx.doi.org/10.1177/152822X06289161. 145. Savin-Williams and Joyner were also skeptical of the Add Health survey data because the high proportion of youth reporting same-sex or both-sex attractions (7.3% of boys and 5.0% of girls) in Wave I was very unusual when compared to similar studies, and because of the dramatic reduction in reported same-sex attraction a little over a year later, in Wave II.( 10) 146. Savin-Williams and Joyner, ―The Dubious Assessment of Gay, Lesbian, and Bisexual  Adolescents of Add Health,‖ 420. 147. Gu Li, Sabra L. Katz- Wise, and Jerel P. Calzo, ―The Unjustified Doubt of Add  Health Studies on the Health Disparities of Non-Heterosexual Adolescents: Comment on Savin-Williams and Joyner (2014),‖  Archives of Sexual Behavior , 43 no. 6 (2014): 1023-1026, http://dx.doi.org/10.1007/s10508-014-0313-3. 148. Ibid ., 1024. 149. Ibid. , 1025. 150. Ritch C. Savin-Williams and Kara Joyner, ―The Politicization of Gay Youth Health:  Response to Li, Katz- Wise, and Calzo (2014),‖  Archives of Sexual Behavior 43, no. 6 (2014):1027-1030, http://dx.doi.org/10.1007/s10508-014-0359-2. 151. See, for example, Stephen T. Russell et al ., ―Being  Out at School: The Implications for School Victimization and Young Adult Adjustment ,‖ American Journal of Orthopsychiatry 84, no. 6 (2014): 635-643, http://dx.doi.org/10.1037/ort0000037. 152. Sabra L. Katz-Wise et al ., ―Same Data, Different Perspectives: What Is at Stake? Response to Savin- Williams and Joyner (2014a),‖  Archives of Sexual Behavior 44, no. 1(2015): 15, http://dx.doi.org/10.1007/s10508-014-0434-8. 153. Ibid ., 15. 154. Ibid ., 15-16. 155. For example, see Bailey, ―What is Sexual Orientation and Do Women Have One?‖ 43-63; Peplau et al ., ―The Development of Sexual Orientation in Women,‖ 70-99. 156. Lisa M. Diamond, Sexual Fluidity (Cambridge, Mass.: Harvard University Press, 2008), 52. 157. Lisa M. Diamond, ―Was It a Phase? Young Women‘s Relinquishment of Lesbian/Bisexual Identities Over a 5 -Year Period,‖ Journal of Personality and Social Psychology 84, no. 2 (2003): 352-364, http://dx.doi.org/10.1037/0022-3514.84.2.352. 158. Diamond, ―What Does S exual Orientation Orient? ‖ 173-192. 159. This conference paper was summarized in Denizet- Lewis, ―The Scientific Quest to Prove Bisexuality Exists.‖ 160.  A. Lee Beckstead, ―Can We Change Sexual Orientation?‖ Archives of Sexual Behavior 41, no. 1 (2012): 128, http://dx.doi.org/10.1007/s10508-012-9922-x.

 Savin-Williams e Joyner também estavam céticos dos dados do Inquérito “Add Health”  por causa da alta proporção de jovens do relatórios do mesmo sexo ou atrações para ambos os sexo (7,3% dos meninos e 5,0% das meninas) na Onda 1 era muito incomum quando comparado com semelhante estudos, e por causa da redução drástica não relatou atração pelo mesmo sexo um pouco mais de um ano depois, na Onda 2. 10

42

PARTE DOIS - SEXUALIDADE, RESULTADO EM SAÚDE MENTAL E ESTRESSE SOCIAL Em comparação com a população em geral, as subpopulações não-heterossexuais e transgêneros têm maiores taxas de problemas de saúde mental, tais como ansiedade, depressão e suicídio; bem como problemas comportamentais e sociais, tais como uso abusivo de substancias e violência por parceiro íntimo. A explicação prevalecente na literatura científica é o modelo de estresse social, que postula que estressores sociais - tais como estigmatização e discriminação - enfrentado pelos membros destas subpopulações explicam a disparidade nos resultados de saúde mental. Os estudos mostram que enquanto estressores sociais contribuem para o aumento do risco de maus resultados de saúde mental para essas populações, eles provavelmente não são responsáveis por toda a disparidade.

Muitas das questões que envolvem a orientação

pesquisa, devemos mencionar os critérios utilizados na seleção

sexual e identidade de gênero permanecem controversas entre

dos estudos revistos. Numa tentativa de destilar descobertas

os pesquisadores, mas há um acordo geral na observação no

gerais de muitas pesquisas, cada seção começa resumindo as

coração da Parte II: subpopulações de lésbicas, gays,

mais extensas meta-análises confiáveis - papéis que compilam

bissexuais e transgêneros (LGBT) estão em maior risco, em

e analisam a estatística de dados da literatura em pesquisas

comparação com a população em geral, de vários problemas

publicadas. Para algumas áreas de pesquisa, não há meta-

de saúde mental. Menos certo são as causas de que o maior

análises abrangentes realizadas, e nestas áreas contamos com

risco e, portanto, abordagem social e clínica podem ajudar a

artigos de revisão que sumarizam a literatura de pesquisa sem

amenizá-las. Nesta parte, rever alguns pontos da pesquisa que

entrar em análises quantitativas dos dados publicados. Além

vem documentando o aumento do risco, com foco em papéis

dos relatórios destes resumos, nós também discutiremos

que são à base de dados com uma metodologia sólida, e que

alguns estudos selecionados que são de valor especial por

são amplamente citados na literatura científica.

causa de sua metodologia, tamanho da amostra, controles

Um corpo robusto e crescente de pesquisa examina

para fatores confundidores, ou maneiras e conceitos de como a

as relações entre sexualidade ou comportamentos sexuais e

heterossexualidade

ou

homossexualidade

são

estado de saúde mental. A primeira metade desta parte discute

operacionalizadas; e discutimos principais estudos publicados

as associações de identidades ou comportamentos sexuais

após as meta-análises ou artigos de revisão que foram

com transtornos psiquiátricos (tais como transtornos de humor,

publicados.

de ansiedade e de ajustamento), suicídio e violência por

Como mostramos na primeira parte, explicar a exata

parceiro íntimo. A segunda metade explora as razões para os

origem biológica e psicológica de desejos e comportamentos

riscos elevados destes resultados entre populações não-

sexuais é uma tarefa científica difícil, que ainda não foi e nunca

heterossexuais e transgêneros, e considera o que pesquisa em

poderá ser satisfatoriamente concluída. No entanto, os

ciências sociais pode nos dizer sobre uma das formas mais

pesquisadores podem estudar as correlações entre o

prevalentes de explicar estes riscos, o modelo de estresse

comportamento sexual, atração, ou de identidade e resultado

social. Como veremos, estressores sociais, como o assédio e o

em saúde mental, embora possam ser - e muitas vezes são

estigma podem explicar alguns, mas não todos os riscos

encontrados sendo - diferenças entre o comportamento sexual

elevados de saúde mental para estas populações. Mais

como, atração e identidade se relacionam a determinados

pesquisas são necessárias para compreender as causas e as

efeitos na saúde mental. Compreender a dimensão dos

possíveis soluções para estas questões importantes de saúde

desafios de saúde enfrentados por indivíduos que se envolvem

pública e clínica.

em particular comportamentos sexuais ou certa atração ou experiência sexual é um passo necessário para prover a esses indivíduos o cuidado eles precisam.

Algumas Preliminares Nós primeiro olhamos a evidência para as ligações estatísticas entre identidade sexual ou comportamentos e resultados de saúde mental. Antes de resumir a relevante

43

Sexualidade e Saúde mental Em uma meta-análise de pesquisa de 2008 sobre os

examinaram associações da orientação sexual com transtornos

resultados de saúde mental para não-heterossexuais, o

identificadas como gay, lésbica ou bissexual, ou que relataram

professor da University College London  psiquiatria Michael

engajar-se em comportamento sexual do mesmo sexo, ou que

King e colegas concluíram que gays, lésbicas e bissexuais

relataram sentir atrações pelo mesmo sexo. O estudo utilizou

enfrentam "maior risco de comportamento suicida, transtorno

uma população aleatória grande, com amostra sede nos EUA,

mental e abuso de substâncias e dependência do que as

usando dados coletados a partir do 2004-2005 na onda do

pessoas

heterossexuais"1.

Este levantamento da literatura de

documentos examinados e publicados entre janeiro de 1966 e

de humor e de ansiedade entre os homens e mulheres que

National Epidemiologic Survey on Alcohol and Related Conditions, que foi com base em 34.653 entrevistas9. Em sua

abril de 2005 tendo dados de 214.344 heterossexuais e 11.971

amostra, 1,4% dos entrevistados identificados como lésbica,

indivíduos não-heterossexuais. O grande tamanho da amostra

gay ou bissexual; 3,4% relataram ao longo da vida algum

permitiu aos autores gerar estimativas que são altamente

comportamento do mesmo sexo e 5,8% relataram atrações

confiáveis, como indicado por pequenos intervalos relativos de

não-heterossexuais10.

confiança2.

As mulheres que se identificaram como lésbicas, bissexuais, ou "não sei", relataram taxas mais elevadas de

Compilando as razões de risco encontrados nestes

transtornos de humor ao longo da vida do que as mulheres que

documentos, os autores estimaram que lésbicas, gays,

se identificaram como heterossexuais: a prevalência foi de

bissexuais tinham 2,47 vezes maior risco do que os

44,4% em lésbicas, 58,7% em bissexuais, e 36,5% em

heterossexuais para tentativas de

que eles estavam

mulheres inseguras da sua identidade sexual, em comparação

duas vezes mais propensos a sofrer de depressão ao longo de

com 30,5% em heterossexuais. Um padrão similar foi

um período de doze

meses4,

suicídio3,

e cerca de 1,5 vezes mais

encontrado para transtornos de ansiedade, com mulheres

ansidade5.

bissexuais experimentando a maior prevalência, seguidas por

Ambos homens e mulheres não-heterossexuais foram

lésbicas e aquelas mulheres inseguras, e heterossexuais

encontrados tendo um elevado risco para problemas de abuso

experimentando a menor prevalência. Examinando os dados

probabilidades de experimentar desordens de

de substâncias (1,51 vezes mais

com o risco para

de mulheres com comportamento sexual diferente ou atração

as mulheres não heterossexuais especialmente alto - 3,42

sexual (em vez de identidade), que relataram o comportamento

vezes superior à das mulheres

provável)6,

heerossexuais7.

Homens não-

sexual ou com atrações para ambos os homens e mulheres

heterossexuais, por outro lado, estavam em um risco

estas tinham uma taxa mais elevada de transtornos de vida do

particularmente elevado para tentativas de suicídio: enquanto

que

os homens não-heterossexuais e mulheres juntos estavam em

comportamentos

2,47 vezes maior risco de tentativas de suicídio ao longo de

homossexuais, e mulheres que relatam comportamento sexual

suas vidas, os homens não-heterossexuais foram encontrados

exclusivo com mesmo sexo ou exclusiva atração pelo mesmo

4,28 vezes maior risco8.

sexo, de fato, tiveram as menores taxas de mal humor e

Estas descobertas foram replicadas em outros

as

mulheres ou

que

relataram

atrações

exclusivamente

heterossexuais

ou

transtornos de ansiedade.

estudos, tanto nos Estados Unidos e internacionalmente,

Homens que se identificaram como homossexuais

confirmando um padrão consistente e alarmante. No entanto,

tinham mais que o dobro da prevalência de transtornos de

há uma variação considerável nas estimativas do aumento

humor ao longo da vida, em comparação com os homens que

riscos de vários problemas de saúde mental, dependendo de

se identificaram como heterossexuais (42,3% vs. 19,8%), e

como os investigadores definem termos como "homossexual"

mais que o dobro da taxa de qualquer desordem de ansiedade

ou "não-heterossexual." Os resultados a partir de um estudo de

ao longo da vida (41,2% vs. 18,6%), enquanto que aqueles que

2010 pela professora de enfermagem e estudos de saúde

se identificaram como bissexuais tinham uma prevalência

Wendy Bostwick e colegas da Northern Illinois University

ligeiramente menor de transtornos do humor (36,9%) e

44

transtornos de ansiedade (38,7%) do que os homens

entrevistados relataram as maiores taxas de vários problemas

homossexuais. Ao olhar para atração ou comportamento

de saúde.

sexual para os homens, aqueles que relataram atração sexual

Usando o mesmo estudo, California Quality of Life

"em sua maioria do sexo masculino" ou comportamento sexual

Survey , de 2009 pela UCLA, a professora de psiquiatria e

com "ambos fêmeas e machos" tiveram maior prevalência de

ciências comportamentais Christine Grella e seus colegas

transtornos de humor ao longo da vida e transtornos de

(incluindo Cochran) examinaram a relação entre orientação

ansiedade, em comparação com outros grupos, enquanto que

sexual e tratamento para o uso de substâncias ou desordens

aqueles

comportamento

mentais13. Numa amostra de base populacional, com minorias

exclusivamente heterossexual tinham a menor prevalência do

sexuais agrupados para fornecer maior poder estatístico para

que qualquer grupo.

detectar diferenças entre grupos. O uso do tratamento foi

que

relataram

atração

ou

Outros estudos descobriram que as populações não

classificado de acordo com os respondentes relataram ter

heterossexuais estão em maior risco de problemas de saúde

recebido tratamento nos últimos doze meses para "saúde

física, para além de problemas em saúde mental. Um estudo

emocional ou mental, álcool ou outros problemas com droga".

de 2007 feito na UCLA  o professor de epidemiologia Susan

Orientação sexual foi operacionalizada por uma combinação de

Cochran e seus colegas examinaram dados do “ California

histórico de comportamento e auto identificação. Por exemplo,

Quality of Life Survey ”  de 2.272 adultos para avaliar as

estes agrupados constituem um conjunto que "Gay/bissexual"

ligações entre orientação sexual e auto relatado do estado

ou "lésbica/bissexual" tanto aqueles que foram identificados

físico de saúde, condições de saúde e incapacidade, bem

como gay, lésbica, ou bissexuais, ou aqueles que tinham

como distúrbios psíquicos entre lésbicas, homens gays,

relatado comportamentos sexuais com mesmo sexo. Eles

bissexuais, e aqueles que eles classificaram como "indivíduos

descobriram que as mulheres que eram lésbicas ou bissexuais

heterossexuais

homossexualmente"12.

tinham maior probabilidade de receber tratamento, seguido por

Enquanto o estudo, como a maioria, foi limitado pela utilização

homens que eram homossexuais ou bissexuais. Em seguida,

de auto relato de condições de saúde, teve vários pontos

mulheres heterossexuais, com homens heterossexuais sendo o

fortes: ele estudou uma base populacional de amostra; que

grupo menos provável ter relatado recebido tratamento. Em

mediu

dimensões

geral, mais do que o dobro dos indivíduos LGBT, em

comportamentais da orientação sexual; e com controle para a

comparação aos heterossexuais, relataram receber tratamento

raça (etnia), educação, condição de relacionamento e renda

nos últimos doze meses (48,5% em comparação com 22,5%).

familiar entre outros fatores.

O padrão foi semelhante para homens e mulheres; 42,5% dos

experienciados

separadamente

identidade

e

Enquanto os autores destes estudos encontraram um

homens homossexuais, em comparação para 17,1% dos

número de condições de saúde que pareciam ter elevado a

homens heterossexuais, relataram receber tratamento,

prevalência entre não-heterossexuais, depois do ajuste para

enquanto 55,3% das lésbicas e mulheres bissexuais e 27,1%

fatores demográficos que são potenciais fatores confundidores

das mulheres heterossexuais relatou ter recebido tratamento.

apenas o grupo com significativamente maior prevalência de

(Bostwick e seus colegas descobriram que mulheres com

condições de saúde física não-HIV eram mulheres bissexuais,

exclusivamente atração pelo mesmo sexo e comportamentos

que poderiam ter problemas de saúde mais do que mulheres

tiveram uma menor prevalência de transtornos de humor e

heterossexuais. Consistente com o estudo de 2010 por

ansiedade em comparação com heterossexuais mulheres. A

Bostwick e colegas, foram relatados índices mais altos de

diferença nos resultados poderia ser devido ao fato de Grella e

estresse psicológico por lésbicas, mulheres bissexuais, gays e

colegas terem agrupados aqueles que identificaram como

homens heterossexuais experimentados homossexualmente,

lésbicas juntamente com os que identificaram como bissexuais

tanto antes como depois de ajustar para fatores confundidores

ou que relataram o comportamento sexual do mesmo sexo).

demográficos. Entre os homens, auto identificados como gays

Num estudo de 2006 da Universidade de Columbia o

e homens heterossexuais experimentados homossexualmente

professor de psiquiatria Theodorus Sandfort e colegas

45

examinaram uma representativa amostra de base populacional

O estudo Sandfort definiu orientação sexual em

a partir do “ Dutch National Survey of General Practice” ,

termos de preferência ou atração sem referência para

realizada em 2001, para avaliar as ligações entre a orientação

comportamento ou auto identificação, que faz com que seja um

sexual auto referida e estado de saúde entre os 9.511

desafio comparar os resultados com os estudos que

participantes, dos quais 0,9% foram classificados como

operacionalizaram orientação sexual de forma diferente. Por

bissexuais e 1,5% como gay ou lesbicas14. Para

exemplo, é difícil comparar os resultados deste estudo sobre

operacionalizar a orientação sexual, os pesquisadores

os bissexuais (definidos como homens ou mulheres que

perguntaram aos entrevistados sobre sua preferência sexual

relatam uma preferência sexual igual para homens e mulheres)

uma escala de 5 pontos: exclusivamente mulheres,

com as conclusões de outros estudos sobre "homossexual

predominantemente mulheres, igualmente homens e mulheres,

experienciado com indivíduos heterossexuais" ou aqueles que

predominantemente homens e exclusivamente homens.

são "inseguros" de sua identidade sexual. Como na maior parte

Apenas aqueles que relataram uma preferência igual para

destes tipos de estudos, as avaliações de saúde foram auto

homens e mulheres foram classificadas como bissexuais,

reportadas, o que pode tornar os resultados pouco confiáveis.

enquanto homens relatando preferências predominantes para

Mas esse estudo também tem vários pontos fortes: é utilizada

as mulheres ou as mulheres que relataram uma preferência

uma amostra grande e representativa da população de um

predominante para os homens foram classificados como

país, ao contrário das amostras de conveniência que são por

heterossexuais. Eles descobriram que gays, lésbicas e

vezes utilizadas para estes tipos de estudos, e esta amostra

bissexuais entrevistados relataram no momento um maior

incluiu um suficiente número de gays e lésbicas para que seus

número de problemas mentais agudos e relataram pior saúde

dados sejam tratados em grupos separados em análises

mental do que os heterossexuais. Os resultados para a saúde

estatísticas do estudo. Apenas três pessoas na amostra

física eram mistos, no entanto: os inquiridos gays e lésbicas

relataram infecção por HIV, de modo que este não parece ser

relataram enfrentar mais sintomas físicos agudos (tais como

um fator de potencial de confusão, embora HIV poderiam ter

dores de cabeça, dor nas costas ou dor de garganta) ao longo

sido subnotificados.

dos últimos quatorze dias, embora eles não relataram estar

Em um esforço para resumir descobertas nesta área,

enfrentando dois ou mais desses sintomas a mais do que os

podemos citar o relatório de 2011 do Instituto de Medicina

heterossexuais.

(IOM), ―The Health of Lesbian, Gay, Bisexual, and Transgender

Entrevistados gays e lésbicas eram mais propensos a

People” 15. Este relatório é uma extensa revisão de literatura

relatar problemas crônicos de saúde, embora os homens

científica citando centenas de estudos que examinam o estado

bissexuais (isto é, os homens que relataram uma igual

de saúde das populações LGBT. Os autores são cientistas que

preferência sexual para homens e mulheres) eram menos

são bem versados nestas questões (embora nós gostaríamos

propensos a relatar problemas crônicos de saúde e mulheres

que tivesse existido mais envolvimento de especialistas em

bissexuais não eram mais propensos do que as mulheres

psiquiatria). O relatório analisa conclusões sobre saúde física e

heterossexuais. Os pesquisadores não encontraram um

mental na infância, adolescência, idade adulta precoce, ao

aumento estatisticamente significativo na relação entre

meio e ao final da idade adulta. Consistente com os estudos

orientação sexual e saúde física geral. Depois de controlarem

citados acima, o presente relatório analisa provas que mostram

os possíveis efeitos confundidores de problemas de saúde

que, em comparação com jovens heterossexuais, jovens LGBT

mental sobre problemas de saúde física, os pesquisadores

estão em maior risco de depressão, bem como tentativas de

também descobriram que o efeito estatístico de relatar uma

suicídio e imaginação de suicídio. Eles também são mais

preferência sexual por gay ou lésbica em condições físicas

propensos a sofrer violência e assédio e de ser sem-teto.

crônicas e agudas desapareceram, embora o efeito de

Indivíduos LGBT no início da idade adulta ou ao longo da vida

preferência bissexuais permanecesse.

média são mais propensos a transtornos de humor e

46

ansiedade, depressão, imaginação suicida e tentativas de suicídio. O relatório do IOM mostra que, como jovens LGBT, adultos LGBT - e as mulheres em particular - parecem ser mais

Sexualidade e suicídio A associação entre orientação sexual e suicídio tem

propensas do que os heterossexuais a fumar, ao uso ou abuso

forte apoio científico. Este mérito de associação merece

de álcool e abuso de outras drogas. O relatório cita um

especial atenção, uma vez que entre todos os riscos para a

estudo16  que constatou que auto identificados não-

saúde mental, o aumento do risco de suicídio é o mais

heterossexuais utilizam serviços de saúde mental mais

preocupante, devido em parte ao fato de que a prova é robusta

frequentemente do que os heterossexuais, e outro17  que

e consistente, e, em parte, ao fato de que o suicídio é tão

descobriram que as lésbicas têm taxas maiores de utilização

devastador e trágico para o pessoa, família e comunidade.

dos serviços de saúde mental do que os heterossexuais.

Uma melhor compreensão dos fatores de risco para o suicídio

O relatório do IOM afirma que ―mais pesquisa tem se

pode permitir-nos, literalmente, salvar vidas23.

concentrado em homens homossexuais e lésbicas que em

Socióloga e pesquisadora em suicídio Ann Haas e

bissexuais e transgêneros"18. Relativamente poucos estudos

colegas publicaram um extenso artigo de revisão em 2011 com

com foco em populações transgêneras mostram altas taxas de

base nos resultados de uma conferência de 2007 patrocinado

distúrbios mentais, mas o uso de amostras não probabilística e

pelo Gay and Lesbian Medical Association, pelo  American

a falta de controles com não- transgêneras põe em causa a

Foundation for Suicide Prevention, e pelo Suicide Prevention

validade desses estudos19. Embora alguns estudos têm

Resource Center 24. Eles também examinaram estudos

sugerido que as utilizações de tratamentos hormonais podem

relatados desde a conferência de 2007. Para efeitos do seu

ser associados a resultados negativos de saúde física entre

relatório, os autores definiram orientação sexual como "auto

populações transgêneras, o relatório observa que a pesquisa

identificação sexual, comportamento sexual e atração sexual

relevante tem sido "limitada" e que "não tenham sido realizados

ou fantasia"25.

ensaios clínicos sobre o assunto"20 (Resultados de saúde para

Haas e colegas descobriram a associação entre

os indivíduos transgêneros serão ainda discutido mais abaixo

homossexual ou orientação bissexual e tentativas de suicídio

nesta parte e também na Parte Três).

para ser bem suportado por dados. Eles observaram que

O relatório do IOM afirma que a evidência de que as

pesquisas de base populacional de adolescentes norte-

populações LGBT apresentam piores resultados de saúde

americanos desde os anos 1990 indicam que as tentativas de

física e mental não é totalmente conclusivo. Para apoiar esta

suicídio são de duas a sete vezes mais prováveis em alunos do

reivindicação, o relatório IOM cita um estudo21 da saúde mental

ensino que se identificam como LGBT, com orientação sexual

de 2001 com 184 pares de irmãs em que uma era lésbica e as

sendo um dos mais forte preditor nos machos do que fêmeas.

outras heterossexuais. O estudo não encontrou diferenças

Eles revisaram os dados da Nova Zelândia que sugeria que as

significativas nas taxas de saúde mental ou problemas de

pessoas LGBT foram seis vezes mais propensos a ter tentativa

saúde, e encontrou significativamente maior autoestima nas

de suicídio. Eles citaram pesquisas relacionadas com a saúde

irmãs lésbicas. O relatório do IOM também cita um estudo22 de

dos homens norte-americanos e holandeses e mulheres

2003 que não encontrou nenhuma significativa diferença entre

mostrando o comportamento do mesmo sexo associado a um

homens heterossexuais e gays ou bissexuais em geral na

maior risco de tentativas de suicídio. Estudos citados no

felicidade, saúde percebida e satisfação no trabalho.

relatório mostram que as mulheres lésbicas ou bissexuais são

Reconhecendo estas ressalvas e os estudos que não suportam

mais prováveis, em média, para experimentar a imaginação

a tendência geral, a grande maioria dos estudos citados no

suicida, dos homens homossexuais ou bissexuais que são

relatório apontam para geralmente para um maior risco de

mais propensos, em média, a tentar o suicídio, e que as

estado de saúde mental deficiente em populações LGBT em

tentativas de suicídio ao longo da vida entre os não-

comparação com populações heterossexuais.

heterossexuais são maiores nos homens do que nas mulheres.

47

Examinando os estudos que analisaram as taxas de

pelo mesmo sexo não têm significativamente maiores taxas de

transtornos mentais em relação ao comportamento suicida,

suicídio do que outros heterossexuais auto identificados. Eles

Haas e seus colegas discutiram um estudo da Nova Zelândia26

também citaram uma grande pesquisa nacional com adultos

mostrando que as pessoas homossexuais relatam tentativas de

norte-americanos conduzida por Wendy Bostwick e colegas

suicídio tem altas taxas de depressão, ansiedade e desordens

(discutidos anteriormente)32, que mostrou os distúrbios de

de conduta. Inquéritos de saúde de grande escala sugeriram

humor e a ansiedade - fatores de risco para o comportamento

que as taxas de abuso de substâncias são até um terço mais

suicida - mais estreitamente relacionado com auto identidade

elevadas para a subpopulação LGBT. Estudos no mundo todo

sexual do que ao comportamento ou atração, especialmente

apresentam combinadas taxas mais elevadas que 50% de

para as mulheres.

transtornos mentais e abuso de substâncias entre pessoas

A mais recente análise crítica dos estudos existentes

auto identificadas em levantamentos como lésbica, gay ou

de risco de suicídio e orientação sexual foi apresentada pelo

bissexual. As mulheres lésbicas ou bissexuais apresentaram

psicólogo clínico austríaco Martin Plöderl e colegas33. Esta

níveis mais elevados de abuso de substâncias, enquanto

avaliação rejeita várias hipóteses desenvolvidas tendo em

homens gays ou bissexuais tinham taxas mais elevadas de

conta o aumento do risco de suicídio entre os não-

depressão e transtorno do pânico.

heterossexuais, incluindo preconceitos em auto relato e

Haas e seus colegas também examinaram populações

fracassos para medir tentativas de suicídio com precisão. A

transgêneras, notando que pouca informação está disponível

revisão argumenta que melhorias metodológicas nos estudos

sobre suicídios transgêneras, mas que os estudos existentes

desde 1997 têm proporcionado grupos de controle, melhor

indicam um dramático aumento do risco de suicídio

representatividade de amostras de estudo e maior clareza em

consumado. (Estas descobertas são anotadas aqui, mas

ambas as definições de tentativas de suicídio e orientação

examinadas mais detalhadamente na Parte Três). Um estudo

sexual.

clinico27  de 1997 estimou os elevados riscos de suicídio em

A revisão menciona um estudo34  de 2001, feito por

holandeses para indivíduos transexuais macho-para-fêmea na

Ritch Savin-Williams um professor de psicologia do

terapia

diferenças

desenvolvimento da Universidade de Cornell, que não relatou

significativas na mortalidade geral. Uma revisão internacional

diferença estatisticamente significativa entre os jovens

de 1998 com 2.000 pessoas que fizeram a cirurgia de

heterossexuais e LGBT depois de eliminar relatos de

reatribuição sexual identificou 16 possíveis suicídios, uma

resultados falso-positivos de tentativas de suicídio e as

"alarmante taxa de 800 suicídios para cada 100.000

tentativas de culpar "um roteiro de sofrimento suicida" para

transexuais pós-cirurgia"28. Em um estudo de 1984, uma

levar a um excesso de informação de sobre comportamento

amostra clínica de indivíduos transgêneros que solicitaram

suicida entre os jovens homossexuais. Plöderl e seus colegas

cirurgia de reatribuição sexual mostrou taxas de tentativa de

argumentaram, no entanto, que a conclusão do estudo Savin-

suicídio entre 19% e 25%29. Uma grande amostra de 40.000 na

Williams que não houve diferença estatisticamente significativa

sua maioria voluntários norte-americanos que realizaram um

entre as taxas de suicídio de LGBT e jovens heterossexuais e

levantamento pela internet em 2000 pessoas transgêneras

que isso pode ser atribuído ao pequeno tamanho da amostra, o

relatou-se maiores taxas de tentativas de suicídio do que

que rendeu baixo poder estatístico35. Em trabalho posterior não

qualquer grupo exceto lésbicas30.

foi replicado esse achado. Subsequente questionário ou

hormonal,

mas

não

encontraram

Finalmente, a revisão feita por Haas e colegas sugeriu

estudos baseados em entrevistas com as definições mais

que não é claro quais os aspectos da sexualidade (identidade,

estritas

de

tentativas

de

suicídio

encontraram

atração, comportamento) são mais estreitamente ligados com o

significativamente aumento das taxas de tentativas de suicídio

risco de comportamento suicida. Os autores citam um estudo31

entre os não-heterossexuais. Vários inquéritos em larga escala

de 2010 mostrando que os adolescentes que se identificaram

de jovens descobriram que o risco elevado de comportamento

como heterossexuais ao reportar atração ou o comportamento

suicida relatado aumentou com a gravidade da tentativas36.

48

Finalmente, de acordo com Plöderl e colegas, quando

as implicações que podem ser para adolescentes não são

comparando os resultados de questionários com entrevistas

claras.

clínicas indica que jovens homossexuais são menos propensos

Em um estudo de 2011, Robin Mathy e colegas

para auto relatar as tentativas de suicídio do que jovens

analisaram o impacto da orientação sexual em taxas de

heterossexuais.

suicídio na Dinamarca durante os primeiros doze anos após a

Plöderl e colegas concluíram que entre os pacientes

legalização das parcerias domésticas registradas para o

psiquiátricos, de populações homossexuais ou bissexuais são

mesmo sexo (RDP) naquele país, utilizando dados de certidões

sobre representados em "graves tentativas de suicídio ", e que

de óbito emitidas entre 1990 e 2001, bem como população

a orientação sexual é um dos mais fortes preditores de

estimada recenseada dinamarquesa41. Os pesquisadores

suicídio. Da mesma forma, em estudos de base populacional

descobriram que a taxa de suicídio ajustada por idade para

não-clínicos, a condição de não-heterossexual é encontrada

pessoas do mesmo sexo para homens RDP foi quase oito

por ser um dos mais fortes preditores de tentativas de suicídio.

vezes a taxa para os homens em casamentos heterossexuais,

Os autores observaram:

e quase o dobro da taxa para os homens que nunca se casaram. Para as mulheres, a condição RDP teve um efeito

A mais exaustiva compilação de estudos publicados e estudos não-publicados internacionais sobre a associação de tentativas de suicídio e orientação sexual com diferentes metodologias tem produzido um panorama muito consistente: quase todos os estudos encontraram aumento da incidência das tentativas de suicídio auto relatadas entre as minorias sexuais 37.

pequeno, estatisticamente insignificante na mortalidade por risco de suicídio, e os autores conjecturaram que o impacto do status de HIV na saúde dos homens homossexuais podem ter contribuído para essa diferença entre os resultados para homens e mulheres. O estudo é limitado pelo facto de que o

Ao reconhecer os desafios de toda essa pesquisa, os

estado RDP é uma medida indireta da orientação sexual ou

autores sugerem que "o principal problema continua a ser a

comportamento, e não incluem os gays e lésbicas que não

respeito de onde se traça a linha entre uma orientação

estão em uma parceria doméstica registada. O estudo também

heterossexual ou não-heterossexual"38.

excluí indivíduos com idade inferior a 18 anos. Finalmente, o

Um estudo de 1999 por Richard Herrell e colegas

número absoluto de indivíduos com status de RDP atual ou

analisaram 103 pares de gêmeos do sexo masculino de meia

passado foi relativamente pequeno, o que pode limitar as

idade do Vietnam Era Twin Registry in Hines, Illinois, em que

conclusões do estudo.

um dos gêmeos, mas não o outro, relataram ter um parceiro sexual macho após a idade de 18

anos39.

O professor de pediatria Gary Remafedi e colegas

O estudo adotou

publicaram em 1991 em estudo que analisou 137 homens em

diversas medidas de suicídio e controlado por potenciais

idade 14-21 que se auto identificaram como gay (88%) ou

fatores confundidores, tais como abuso de substâncias ou

bissexual (12%). Remafedi e colegas com essa tentativa, com

depressão. Ele encontrou um "substancial aumento na

uma abordagem de caso controlada, examinaram quais os

prevalência de sintomas suicidas" em gêmeos do sexo

fatores para essa população foram mais preditivos no

masculino que tiveram relações sexuais com homens, em

suicídio42. Em comparação com aqueles que não tentaram o

comparação com os irmãos que não o fizeram, independentes

suicídio, aqueles que fizeram eram significativamente mais

dos efeitos potenciais de confusão do abuso de drogas e

propensos a rotular-se e identificar publicamente como

álcool40.

Embora seja relativamente pequeno o estudo baseou-

bissexuais ou homossexuais em idades mais jovens, relatam

se no auto relato para ambos os comportamentos do mesmo

abuso sexual e relataram uso de drogas ilícitas. Os autores

sexo e pensamentos ou comportamentos suicidas, é notável

observaram que a probabilidade de uma tentativa de suicídio

para o uso de uma amostra com probabilidade (que elimina o

"diminuiu com o avançar da idade no momento da auto

viés de seleção), e quando usado o método de controle co-

rotulagem bissexual ou homossexual". Especificamente, ―com

gêmeos (que reduz os efeitos da genética, idade, raça e

um atraso de cada ano na auto identificação, as chances de

semelhantes). O estudo analisou homens de meia-idade; quais

uma tentativa de suicídio diminuíram mais de 80%"43. Este

49

estudo é limitado, utilizando uma amostra relativamente

as diferenças entre os métodos de amostragem foram

pequena não probabilística, embora os autores observassem

responsáveis por 33% da variação entre os suicidas relatados

que o seu resultado comporta com o seu achado anterior 44 de

pelos estudos.

uma relação inversa entre problemas psicossociais e a idade em que se identifica como homossexual.

A pesquisa sobre sexualidade e risco de suicídio sugere que aqueles que se identificam como gays, lésbicas,

Em um estudo de 2010, Plöderl e seus colegas

bissexuais ou transgêneros ou aqueles que experimentam

estudaram as tentativas de suicídio auto referidas entre 1.382

atração pelo mesmo sexo ou se envolveram em

adultos austríacos para confirmar a evidência existente que

comportamento sexual do mesmo sexo estão em

indivíduos homossexuais e bissexuais estão em maior risco45.

substancialmente maior risco de imaginação suicida, tentativas

Para aguçar os resultados, os autores desenvolveram

de suicídio e completo suicídio. Na seção mais tarde na Parte

definições mais rigorosas de "tentativas de suicídio "e

Três do modelo de stress social, vamos examinar - e levantar

avaliaram as múltiplas dimensões da orientação sexual,

questões sobre - um conjunto de argumentos para encaminhar

distinguindo entre fantasias sexuais, parceiros preferenciais,

e para explicar esses achados. Dadas as consequências

auto identificação, comportamento sexual recente e

trágicas informações incompletas ou inadequadas nestes

comportamento sexual ao longo da vida. Este estudo

assuntos e seu efeito sobre políticas públicas e cuidados

encontrou um aumento do risco de tentativas de suicídio para

clínicos, mais investigação sobre as razões para o elevado

as minorias sexuais ao longo de todas as dimensões da

risco de suicídio entre minorias sexuais é desesperadamente

orientação sexual. Para as mulheres, o risco aumentado foi

necessário.

maior para aqueles com comportamentos homossexuais; para os homens, eles foram maiores para comportamento homossexual ou bissexual nos últimos doze meses e auto identificados como homossexuais ou bissexuais. Aqueles que

Sexualidade e violência por parceiro íntimo Vários estudos examinaram as diferenças entre as

se declaram incertos de sua identidade registraram o maior

taxas de violência por parceiro íntimo (IPV) em casais do

percentual de tentativas de suicídio (44%), embora este grupo

mesmo sexo e casais de sexo oposto. A literatura de pesquisa

fosse pequeno, que compreendia menos do que 1% dos

examina as taxas de vitimização IPV (sendo submetido a

participantes.

violência por parte de um parceiro) e as taxas de IPV

Uma meta-análise de 2016 feita pela University of

perpetração (violência cometida contra um parceiro). Além da

Toronto pelo estudante de graduação Travis Salway Hottes e

violência física e sexual, alguns estudos também analisam a

colegas com dados agregados de trinta estudos transversais

violência psicológica, que compreende ataques verbais,

sobre as tentativas de suicídio que juntos incluíam 21201

ameaças e formas semelhantes de abuso. O peso da evidência

adultos de minoria sexual46. Estes estudos utilizados eram de

indica que a taxa de violência por parceiro íntimo é

amostragem de base populacional ou amostragem com base

significativamente maior entre casais do mesmo sexo.

na comunidade. Uma vez que cada método de amostragem

Em 2014, a London School of Hygiene and Medicine

tem os seus próprios pontos fortes e potenciais vieses47 os

Tropical   através da pesquisadora Ana Buller e colegas

pesquisadores queriam examinar quaisquer diferenças nas

realizaram uma revisão sistemática de 19 estudos (com uma

taxas de tentativas de suicídio entre os dois tipos de

meta-análise de 17 desses estudos) para examinar

amostragem. Dos entrevistados LGB nos inquéritos de base

associações entre a violência por parceiro íntimo e saúde entre

populacional, 11% relataram ter tentado suicídio pelo menos

homens que fazem sexo com homens50. Combinando os dados

uma vez, em comparação com 4% dos heterossexuais

disponíveis, eles descobriram que a prevalência de imaginação

respondentes a estes levantamentos48 dos entrevistados LGB

suicida agrupados por qualquer IPV foi de 48% (estimativas

baseados nos estudos na comunidade 20% relataram ter

dos estudos foram bastante heterogêneas, variando de 32% a

tentado suicídio49. Estas análises estatísticas mostraram que

82%). Para IPV dentro dos cinco anos anteriores agrupados a

50

prevalência foi de 32% (estimativas variando de 16% para

estudos que examinam IPV entre homens que fazem sexo com

51%). IPV por vitimização foi associada com aumento das

homens55. Todos os estudos na revisão estimaram taxas de

taxas de uso de substância (odds ratio de 1,9), status de HIV

IPV para os homens gays que foram semelhantes ou

positivo (odds ratio de 1,5), e aumento das taxas de sintomas

superiores aos de todas as mulheres independentemente da

depressivos (odds ratio agrupados de 1,5). IPV perpetração

sua orientação sexual. Os autores concluem que "os dados

também foi associado ao aumento das taxas de uso de

aqui analisados, demonstraram que IPV - psicológica, física e

substância (odds ratio agrupados de 2,0). Uma limitação

sexual - ocorre em parcerias entre machos em alarmantes

importante desta meta-análise foi que o número de estudos

taxas de IPV‖56. IPV física por vitimização foi relatada mais

incluídos foi relativamente pequeno. Além disso, a

frequentemente, com taxas que variam de 12% a 45%57. A taxa

heterogeneidade dos estudos e os resultados podem

de vitimização sexual IPV variou de 5% a 31%, com 9 dos 19

comprometer a precisão da meta-análise. Além disso, a

relatórios de estudos relatando taxas maiores que 20%.

maioria dos estudos revisados as amostras utilizadas foram de

Vitimização psicológica por IPV foi relatada em seis estudos

conveniência ao invés de amostras probabilísticas, e eles

com taxas variando de 5% a 73%58. Perpetração por IPV física

usaram a palavra "parceiro" sem distinguir a longo prazo

foi relatada em oito estudos, com taxas que variaram de 4% a

relações de encontros casuais.

39%. Taxas de perpetração de VPI sexual variou de 0,7% a

Psicólogas inglesas Sabrina Nowiński e Erica Bowen

28%; quatro dos cinco estudos de avaliação das taxas

conduziram em 2012 uma revisão de 54 estudos sobre a

relatadas eram de 9% ou mais. Apenas um estudo mediu

prevalência e correlatos da violência por parceiro íntimo e a

perpetração por violência psicológica, e a prevalência estimada

vitimização entre homens heterossexuais e gays51. Os estudos

foi de 78%. Falta de projeto de pesquisa consistentes entre os

mostraram taxas de vitimização IPV para os homens

estudos analisados (por exemplo, algumas diferenças quanto à

homossexuais que variam de 15% a 51%. Em comparação

definição exata do IPV, os correlatos de IPV examinados, e os

com os homens heterossexuais, a revisão relata, "parece que

períodos de recolha utilizados para medir a violência) tornam

os homens homossexuais experimentaram IPV mais total e

impossível calcular uma estimativa de prevalência combinada,

sexual, um pouco menos IPV físico e níveis semelhantes de

o que seria útil dada a falta de uma amostra nacional baseada

IPV psicológico"52. Os autores também relataram que, de

em probabilidade.

acordo com estimativas da prevalência do IPV ao longo dos

Um estudo de 2013, de Naomi Goldberg e Ilan Meyer

últimos doze meses, homens gays "experimentaram menos

da UCLA  usaram uma grande amostra de probabilidade de

IPV físico, psicológico e sexual" do que os homens

quase 32.000 indivíduos do California Health Interview Survey 

heterossexuais, embora a relativa falta de estimativas nos

para avaliar diferenças de violência por parceiro íntimo entre

últimos doze meses possa tornar este resultado não confiável.

várias coortes: heterossexual; gays auto identificados, lésbica,

Os autores observaram que "um dos achados mais

indivíduos bissexuais e homens que fazem sexo com homens,

preocupantes é a prevalência de coerção sexual grave e abuso

mas não se identificam como homossexuais ou bissexuais, e

nos relacionamentos masculinos do mesmo gênero"53, citando

as mulheres que fazem sexo com mulheres, mas não se

um estudo de 200554  sobre IPV em homens homossexuais

identificam como lésbicas ou bissexuais59. Todos os três

HIV-positivos. Nowinski e Bowen encontraram status de HIV

grupos LGB tiveram maior prevalência ao longo da vida e de

positivo sendo associado com IPV em ambas as relações

um ano de violência por parceiro íntimo do que o grupo

homossexuais e heterossexuais. Uma limitação importante da

heterossexual, mas essa diferença só foi estatisticamente

sua avaliação é o fato de que muitas das pessoas do mesmo

significativa para mulheres bissexuais e gays. Mulheres

sexo em estudos por IPV que examinaram foram baseados em

bissexuais eram mais propensas a ter experimentado IPV ao

amostras pequenas por conveniência.

longo da vida (52% das mulheres bissexuais vs.  22% das

Catherine Finneran e Rob Stephenson da Emory

mulheres heterossexuais e 32% das lésbicas) e ter

University   em 2012 realizaram uma revisão sistemática de 28

experimentado IPV em no ano anterior (27% de bissexuais vs.

51

5% dos heterossexuais e 10% das lésbicas). Para os homens,

heterossexuais que vivem com homens, sugerindo que as

todos os três grupos não-heterossexuais tinham taxas mais

estimativas de vitimização por espancamento para HSH neste

elevadas de IPV ao longo da vida, mas isso só foi

estudo "são superiores ou comparáveis aos relatados para

estatisticamente significativo para homens homossexuais, que

mulheres heterossexuais"62. Este estudo foi limitado pelo uso

eram mais propensos a ter experimentado IPV ao longo da

de uma amostra de quatro cidades, por isso não está claro o

vida (27% dos homens homossexuais contra 11% dos homens

quão bem os resultados podem generalizar para configurações

heterossexuais e 19,6% dos homens bissexuais) e em relação

não-urbanas.

ao ano anterior (12% dos homens homossexuais vs. 5% dos homens heterossexuais e 9% dos homens bissexuais). Os autores também testaram se consumo excessivo de álcool e sofrimento psicológico pode explicar a elevada prevalência de

Resultados em saúde para transgêneros A literatura de pesquisa para a saúde mental

vitimização IPV em homens homossexuais e mulheres

resultante de indivíduos transgêneros é mais limitada do que a

bissexuais; o controle para essas variáveis revelou que eles

pesquisa sobre os resultados de saúde mental em populações

não fizeram. Este estudo é limitado pelo fato de outras

LGB. Porque as pessoas identificadas como transgêneros

variáveis psicológicas potencialmente de confusão (além de

compõem uma proporção muito pequena da população, as

beber e angústia) não terem sido controladas, estatisticamente

grandes pesquisas de base populacional e estudos de tais

ou de outra forma, e podem ser responsáveis pela descoberta.

indivíduos são difíceis, se não impossíveis de realizar. No

Para estimar a prevalência de vitimização por

entanto, a pesquisa disponível limitada sugere fortemente que

espancamento entre parceiros gays, o pesquisador em

pessoas transgêneras têm aumentado os riscos de maus

prevenção de AIDS Gregory Greenwood e colegas publicaram

resultados de saúde mental. Isto parece que as taxas de co-

um estudo em 2002 com base em entrevistas por telefone com

ocorrência de transtornos por uso de substâncias, ansiedade,

uma amostra baseada em probabilidade de 2.881 homens que

distúrbios alimentares, depressão e suicídio tendem a ser mais

fazem sexo com homens (HSH) em quatro cidades de 1996 a

elevadas para as pessoas transgêneros do que para indivíduos

199860. Dos entrevistados, 34% relataram ter experimentado

LGB.

abuso psicológico ou simbólico, 22% relataram abuso físico e

Em 2015, pediatra de Harvard o professor e

5% relataram abuso sexual. No geral, 39% relataram algum

epidemiologista Sari Reisner e colegas realizaram um estudo

tipo de vitimização por espancamento, e 18% relataram mais

de coorte pareado numa retrospectiva para resultados em

de um tipo de espancamento nos últimos cinco anos. Homens

saúde mental com 180 transgêneros em idades entre 12-29

mais jovens do que 40 anos foram significativamente mais

anos (106 do sexo feminino para masculino e 74 do sexo

prováveis de denunciar do que homens com mais de 60 a

masculino para feminino), combinado com controles não-

violência por espancamento. Os autores concluíram que "a

transgêneros com base na identidade de gênero63. Jovens

prevalência de espancamento no contexto das íntimas relações

transgêneros tinham um elevado risco de depressão (50,6%

por parceiros foi muito alta" entre a sua amostra de homens

vs. 20,6%)64  e ansiedade (26,7% vs. 10,0%)65. Jovens

que têm sexo com homens, e aquelas que as taxas de vida são

transgêneros também apresentaram maior risco de imaginação

geralmente mais elevadas do que aqueles chamados nos

suicida (31,1% vs. 11,1%)66, tentativas de suicídio (17,2% vs.

últimos cinco anos, "é substancialmente provável que maior

6,1%)67, e automutilação sem intenção letal (16,7% vs. 4,4%)68

número de HSH do que homens heterossexuais têm

relativamente

experimentado vitimização ao longo da vida"61. A prevalência

significativamente maior proporção de jovens transgêneros

de cinco anos de espancamento físico entre esta amostra de

acessada tivera internamento com cuidados de saúde mental

HSH urbana também foi "significativamente maior" do que a

(22,8% vs. 11,1%)69  e cuidados de saúde mental em regime

taxa anual de violência grave (3%) ou violência total (12%)

ambulatório (45,6% vs. 16,1%)70. Não houve diferenças

experimentada em uma amostra representativa de mulheres

estatisticamente significativas no estado de saúde mental

aos

controles

correspondentes.

Uma

52

observada quando comparado transgêneros feminino-para-

que não queriam", no entanto, ―a  pesquisa não forneceu

masculino para os indivíduos transgêneros masculino-para-

informações sobre o tempo de tentativas de suicídio relatadas

feminino após o ajuste por idade, raça/etnia e uso de

em relação ao recebimento de saúde relacionada com o

hormônios.

cuidado na transição, o que impedia a investigação de

Este estudo teve o mérito de incluir indivíduos que se

explicações relacionadas com a transição para esses

apresentaram a uma clínica de saúde de base comunitária, e

padrões"73. Os dados da pesquisa sugerem associações entre

que, portanto, não foram identificados apenas como

as tentativas de suicídio, co-ocorrência nos distúrbios de saúde

cumprimento dos critérios diagnósticos para transtorno de

mental e experiências de discriminação ou maus-tratos,

identidade de gênero como sugerido na quarta edição do

embora os autores observam algumas limitações destes

“  Amer ican Psychiatric Association’s Diagnostic and Statistical

resultados: "os dados da pesquisa não nos permitem

Manual of Mental Disorders” (DSM-IV ), e não foram

determinar a relação causal direta entre rejeição enfrentada,

selecionados a partir de uma população de pacientes que se

discriminação, vitimização, ou violência, e tentativas de suicídio

apresentam a uma clínica para o tratamento de problemas de

ao longo da vida", embora havia evidências de que estressores

identidade de gênero. No entanto, Reisner e colegas observam

interagiram com fatores de saúde mental "a produzir uma

que o estudo tem limitações normalmente encontradas na

vulnerabilidade marcada para comportamento suicida em

revisão de prontuários, tais como documentação incompleta e

transgêneros e indivíduos não-conformados com seu

variação na qualidade das informações gravadas por

gênero"74.

profissionais médicos.

Um estudo de 2001 por Kristen Clements-Nolle e

Um relatório da Fundação Americana para a

colegas com 392 transgêneras masculino-para-feminino e 123

Prevenção do Suicídio e o Instituto Williams, um grupo de

transexuais femininos-para-masculinos constatou que 62% dos

reflexão para questões LGBT da UCLA Scholl of Law , resumiu

masculinos-para-femininos e 55% das transgêneras femininos-

conclusões sobre tentativas de suicídio entre transgêneros e

para-masculinos eram deprimidos no momento do estudo, e

adultos não-conformados com seu gênero a partir de uma

32% de cada população tinha tentado suicídio75. Os autores

grande amostra nacional de mais de 6.000 individuals71. Isto

observam: "A prevalência de tentativas de suicídio entre

constitui o maior estudo de transgêneros e adultos não-

masculinos-para-femininos e pessoas transgêneras femininos-

conformados com seu gênero, até a data, embora tenha sido

para-masculinos em nosso estudo foi muito maior do que a

usado uma amostra de conveniência ao invés de uma amostra

encontrada em amostras de probabilidade das famílias norte-

de base populacional (As grandes amostras de base

americanas num estudo de base populacional de homens

populacional são quase impossíveis dada a baixa prevalência

adultos relatando parceiros do mesmo sexo"76.

na população geral de indivíduos transgêneros). Resumindo os resultados deste estudo, os autores escrevem: A prevalência de tentativas de suicídio entre os entrevistados para o National Transgender Discrimination Survey (NTDS) , conduzido pelo “ National Gay and Lesbian Task Force and National Center for Transgender Equality  ” , é 41 por cento, o que excede vastamente a 4,6 por cento do total da população EUA que relatam uma tentativa de suicídio na vida, e também é maior do que a de 10-20 por cento das lésbicas, gays e adultos bissexuais que se reportam sempre a tentar suicídio 72.

Os autores observam que "entrevistados que disseram que tinham recebido cuidados de saúde de transição relacionados ou queriam tê-lo algum dia eram mais propensos a relatar ter tentado o suicídio do que aqueles que disseram

Explicações para os maus resultados de saúde: Modelo de Estresse Social A maior prevalência de problemas de saúde mental em subpopulações LGBT é um motivo de preocupação, e os responsáveis políticos e os médicos devem se esforçar para reduzir esses riscos. Mas, para saber que tipos de medidas irão ajudar a melhora-los, devemos compreender melhor as suas causas. Neste momento, as estratégias médicas e sociais para ajudar as populações não heterossexuais nos Estados Unidos são bastante limitadas, e isto pode ser devido, em parte relativamente, as explicações limitadas para os maus

53

resultados de saúde mental oferecidos pelos cientistas sociais

depois de uma visão concisa de como foi apresentado na

e psicólogos.

literatura recente sobre a saúde mental LGBT.

Apesar dos limites da compreensão científica do

O modelo de estresse social tenta explicar por que as

porquê de subpopulações não-heterossexual serem mais

pessoas não-heterossexuais têm, em média, maior incidência

susceptíveis de ter tais maus resultados de saúde mental, a

de maus resultados de saúde mental do que o resto da

maior parte do esforço público para amenizar esses problemas

população. Mas esse modelo não estende uma explicação

é motivada por uma hipótese particular chamada de modelo de

completa para as disparidades entre os não-heterossexuais e

estresse social. Este modelo pressupõe que a discriminação,

heterossexuais, e não explica os problemas de saúde mental

estigmatização e outros estresses similares contribuem para a

de um paciente em particular. Pelo contrário, descreve os

saúde mental pobre entre as minorias sexuais. Uma implicação

fatores sociais que podem influenciar direta ou indiretamente

do modelo de estresse social é que a redução dessas tensões

os riscos de saúde para as pessoas LGBT, o que só pode se

pode melhorar os problemas de saúde mental experimentados

tornar aparente ao nível da população. Alguns desses fatores

por minorias sexuais.

também podem influenciar os heterossexuais, mas as pessoas

Minorias sexuais enfrentam desafios sociais distintos como o estigma, ostensiva discriminação e assédio, e, muitas

LGBT são provavelmente desproporcionalmente expostos a eles.

vezes, lutam em conciliar a comportamentos sexuais e

Em um influente artigo de 2003 sobre o modelo de

identidades com as normas das suas famílias e comunidades.

estresse social, o epidemiologista psiquiátrico e especialista

Além disso, eles tendem a ser sujeitos a desafios semelhantes

em direito de orientação sexual Ilan Meyer distinguiu entre

aos de algumas outras populações minoritárias, decorrentes da

estressores minoritários distais e proximais. Estressores distais

marginalização por ou conflito com a maior parte da sociedade

não dependem de "percepções ou avaliações" do indivíduo e

de maneiras que podem impactar negativamente a sua

assim "pode ser visto como independente da identificação

saúde77. Muitos pesquisadores classificaram estes vários

pessoal com a minoria da condição atribuída"81. Por exemplo,

desafios no âmbito do conceito de estresse social e acreditam

se um homem que foi percebido como gay por um empregador

que isso contribui para as taxas mais elevadas de problemas

foi demitido com base nisso, este seria um estressor distal,

de saúde mental entre as subpopulações LGBT78.

mas o estressante caso de discriminação não teria nada a ver

Na tentativa de contabilizar as disparidades de saúde

com se o homem identificado realmente como gay, mas

mental entre os heterossexuais e não-heterossexuais, os

apenas com a atitude de outra pessoa e percepção.

investigadores referem-se ocasionalmente a hipóteses de

Estressores distais tendem a refletir as circunstâncias sociais,

estresses sociais para esta minoria79. No entanto, é mais

em vez da reação do indivíduo a essas circunstâncias.

preciso se referir a um modelo de estresse social ou

Estressores proximais, em contraste, são mais subjetivos e

minoritário, porque a conexão entre o postulado de estresse

estão intimamente relacionados com o indivíduo se auto

social e saúde mental é mais complexa e menos precisa do

identificar como lésbica, gay, bissexual ou transgênero. Um

que qualquer coisa que possa ser indicada como uma única

exemplo de um estressor proximal seria quando uma jovem

hipotese80. O termo estresse pode ter um número de

mulher identifica pessoalmente, ser lésbica, e escolhe

significados, variando desde uma descrição de uma condição

esconder a identidade de seus membros da família por medo

fisiológica para um estado mental ou emocional de raiva ou

de desaprovação, ou por causa de um sentido interno de

ansiedade a uma difícil situação social, econômica ou

vergonha. Os efeitos de fatores de stress imediatos tais como

interpessoal. Mais perguntas surgem quando se pensa sobre

este são altamente dependentes do indivíduo ter a auto

vários tipos de estressores que podem desproporcionalmente

compreensão de circunstâncias sociais únicas. Nessa seção

afetar a saúde mental em populações minoritárias. Vamos

descrevemos os tipos de estressores postulados no modelo de

discutir alguns desses aspectos do modelo de stress social

estresse social, iniciando de forma distal e prosseguindo para os fatores de stress proximais, e examinamos algumas das

54

evidências empíricas de que foi oferecido nas ligações entre os

de preconceito tenderam a experimentar os efeitos de

estressores e efeitos na saúde mental.

vitimização mais intensamente e por um período mais longo de tempo do que as vítimas da criminalidade de não-preconceito

Discriminação e eventos de preconceito. 

Atos explícitos de

(O estudo analisou assaltos motivados pelo preconceito em

maus-tratos, que vão da violência para a assédio e

geral, em vez de restringir a sua análise aos assaltos

discriminação,

por

motivados por preconceito LGBT, embora uma parte

pesquisadores como "eventos de preconceito." Estes são

substancial dos sujeitos fez experimentar ataques motivados

pensados para ser significativo estressores para populações

por sua condição de não-heterossexual.).

são

categorizados

em

conjunto

não-heterossexuais82. Levantamentos em subpopulações de

Padrões semelhantes também aparecem entre os

LGBT descobriram que eles tendem a experimentar esses

adolescentes não-heterossexuais, por quem maus tratos são

tipos de eventos de preconceito mais frequentemente que a

particularmente alto86. Num estudo de 2011 da Universidade de

população em geral83.

Arizona o cientista social e comportamental Stephen T. Russell

Os dados disponíveis indicam que os eventos de

e seus colegas analisaram uma pesquisa com 245 adultos

preconceito provavelmente contribuem a problemas de saúde

 jovens LGBT medidos retrospectivamente na escola por

mental. Um estudo de 1999 pela UC Davis  do professor de

vitimização devido ao estado real ou percebido entre as idades

psicologia Gregory Herek e colegas usando dados de pesquisa

de 13 e 19 anos. Eles descobriram fortes correlações entre a

de 2259 indivíduos LGB em Sacramento descobriram que as

vitimização na escola e problemas de saúde mental como

lésbicas auto identificadas e gays que experimentaram um viés

vitimização em adultos jovens87. A vitimização foi avaliada ao

com crime nos últimos cinco anos - um crime, tais como

pedir sim ou não a perguntas, como: "Durante os anos do

agressão, roubo ou vandalismo, motivado pela real ou

ensino médio, enquanto na escola, eu fui empurrado, puxado,

percebida identidade sexual da vítima - relataram níveis

batido ou chutado por alguém que não estava só brincando",

significativamente mais elevados de sintomas de depressão,

seguido de uma pergunta de quantas vezes esses eventos

sintomas de estresse traumático e ansiedade do que lésbicas e

estavam relacionados com a identidade sexual do entrevistado.

gays que não tinham experimentado um viés de crime durante

Os entrevistados que relataram altos níveis de vitimização na

o mesmo periodo84. Além disso, lésbicas e gays que relataram

escola devido à sua identidade sexual foram 2,6 vezes mais

ser vítimas de crimes de ódio nos últimos cinco anos

propensos a relatar depressão como jovens adultos e 5,6

apresentaram níveis significativamente mais altos de

vezes mais propensos a relatar que tiveram tentativa de

depressão e sintomas traumáticos de estresse do que os

suicídio, em comparação com aqueles que relataram baixos

indivíduos que não sofreram viés de crimes no mesmo período

níveis de vitimização. Estas diferenças foram estatisticamente

(embora os dois grupos não apresentaram diferenças

e

significativas da ansiedade). Correlações significativas

potencialmente limitado pelo seu uso de levantamentos

comparáveis não foram encontradas para bissexuais auto

retrospectivos para medir incidentes de vitimização. Um estudo

identificados, que constituíam uma parte muito menor dos

realizado pela professora de trabalho social Joanna Almeida e

entrevistados. O estudo também descobriu que lésbicas e gays

colegas, que se baseava no “ Boston Youth Survey ”  de 2006

foram significativamente mais propensos a viés de crimes do

(um inquérito bienal de estudantes do ensino médio em

que outros respondentes que relatam ter sentimentos de

escolas públicas de Boston), foi encontrado que a percepção

vulnerabilidade e uma diminuição da sensação de domínio

de ter sido vítima devido ao status LGBT representou aumento

pessoal. Corroborando esses achados sobre o impacto nocivo

de sintomas de depressão entre estudantes LGBT. Para

do viés de crimes um estudo de 2001 pela Northeastern

estudantes LGBT do sexo masculino, mas não meninas, o

University do cientista social Jack McDevitt e colegas que

estudo também encontrou uma correlação positiva entre

examinaram assaltos usando dados do Departamento de

vitimização e pensamentos suicidas e auto-prejudiciais88.

Polícia de Boston85. Eles descobriram que as vítimas de crimes

altamente

significativas,

embora

o

estudo

está

55

Diferenças na compensação sugerem a discriminação no local de trabalho, que pode ter efeitos diretos e indiretos

algumas das correlações são provavelmente responsáveis pelos efeitos psicológicos e materiais do desemprego94.

sobre a saúde mental. O professor de economia M. V. Lee Badgett da Universidade de Massachusetts, Amherst, analisou

Estigma. Os sociólogos têm por muitos anos documentado uma

dados coletados entre 1989 e 1991 no ―General Social Survey ‖

gama de efeitos adversos do estigma sobre os indivíduos, que

e descobriu que funcionários do sexo masculino não-

vão desde problemas com a autoestima até a realização

heterossexuais receberam compensação significativamente

acadêmica95. Estigma é normalmente considerado como um

menor (11% a 27%) do que os heterossexuais, mesmo após o

atributo anexado a uma pessoa que reduz seu valor para os

controle de experiência, educação, ocupação e outros

outros de um particular contexto social96. Estas avaliações

fatores89. De acordo com uma revisão de 2009 por Badgett90

negativas são, em muitos casos amplamente compartilhadas

nove estudos da década de 1990 e início dos anos 2000

entre um grupo cultural e se tornam a base para a exclusão ou

"consistentemente mostram que homens gays e bissexuais

tratamento diferencial de indivíduos estigmatizados. Por

ganham de 10% a 32% menos que os homens

exemplo, doenças mentais podem tornar-se estigmatizadoras

heterossexuais", e que as diferenças de ocupações não podem

quando são consideradas como uma falha de caráter em

ser responsáveis por grande parte da disparidade salarial.

pessoas mentalmente doentes. Uma razão pela qual o estigma

Pesquisadores também descobriram que as mulheres não

serve de papel importante no modelo de estresse social é que

heterossexuais

mulheres

pode ser invocado como uma explicação, mesmo na ausência

heterossexuais91, o que pode sugerir que ou padrões de

de eventos particulares de discriminação ou maus tratos. Por

discriminação diferem para homens e mulheres, ou que

exemplo, a estigmatização da depressão pode ocorrer quando

existem outros fatores associados com comportamento não-

uma pessoa deprimida esconde a depressão na expectativa de

heterossexual e auto identificação em homens e mulheres

que amigos e membros familiares irão considerá-la como uma

influenciando seus respectivos rendimentos, tais como uma

falha de caráter. Mesmo quando esta dissimulação é bem-

menor taxa de criação de filhos ou ser o assalariado principal

sucedida, e não há, portanto, qualquer discriminação real ou

da família.

maus tratos por amigos ou familiares do indivíduo, a ansiedade

ganham

mais

do

que

Estas evidências sugerem que as disparidades salariais podem ajudar a explicar algumas disparidades de

sobre as atitudes dos outros pode afetar o bem-estar emocional e mental da pessoa deprimida.

nível de população em matéria de saúde mental92, embora seja

Os investigadores encontraram associações entre o

difícil dizer se as diferenças na ajuda da saúde mental

risco de fraca saúde mental e estigma para certas populações,

explicam as diferenças nos salários. Uma estudo93 de 1999 por

embora tenha havido pouca pesquisa empírica sobre os efeitos

Craig Waldo sobre a relação entre heterossexismo no local de

de saúde mental do estigma sobre pessoas LGBT em

trabalho - definido como atitudes sociais negativas em relação

particular. O estigma não é fácil de definir ou operacionalizar,

não-heterossexuais - e resultados relacionados ao estresse em

tornando-o um conceito difícil e vago para os cientistas sociais

287 indivíduos LGB descobriram que os indivíduos LGB que

empíricos para estudar. No entanto, os investigadores têm

experimentaram heterossexismo no local de trabalho que

tentado trabalhar com o conceito usando levantamentos de

"exibiram níveis mais elevados de sofrimento psíquico e

desvalorização auto percebido pelos outros e correlações têm

problemas de saúde relacionados, bem como a diminuição da

encontrado entre as experiências de estigma e o risco de

satisfação com vários aspectos dos seus postos de trabalho".

estado de saúde mental fraca. Um estudo altamente citado de

Os dados transversais usados por muitos desses estudos

1997 pelo sociólogo e epidemiologista Bruce Link e colegas

tornam-no impossível de inferir causalidade, embora ambos os

sobre a conexão entre o estigma e saúde mental encontrou um

estudos prospectivos e de analises qualitativas do impacto do

efeito negativo "forte e duradouro" no estigma sobre o bem-

desemprego na saúde mental sugeriram que pelo menos

estar mental dos homens que estavam sofrendo de um distúrbio mental e uso abusivo de substância97. Neste estudo, o

56

efeito do estigma pareceu persistir mesmo depois que os

indivíduos LGB descobriu que a consciência de estigma era

homens tinham recebido tratamento muito bem-sucedido para

significativamente associada com sintomas depressivos, onde

seus problemas de abuso mental e substância original. O

a consciência de estigma foi avaliada através de um

estudo constatou significativas correlações entre determinadas

questionário de dez itens que avaliou o "grau em que se espera

variáveis de estigma - experiências de auto relato de

ser julgado com base em um estereótipo"102. No entanto, os

desvalorização e rejeição - e os sintomas depressivos antes e

sintomas depressivos são frequentemente associados com a

após o tratamento, sugerindo que os efeitos do estigma são

cognição negativa sobre o eu, o mundo, e no futuro, e isso

relativamente longo e duradouros. Isso pode simplesmente

pode contribuir para a percepção subjetiva de estigmatização

indicar que as pessoas com sintomas depressivos tendem a

entre os indivíduos que sofrem de depressão103. Um estudo de

relatar mais o estigma, mas se fosse esse o caso, seria preciso

2011104  por Bostwick que também usou medidas da

esperar que os relatórios sobre estigma diminuíssem ao longo

consciência do estigma e sintomas depressivos encontraram

do curso do programa de tratamento, como foi com a

uma modesta positiva correlação entre os escores do estigma

depressão.

estigma

e sintomas depressivos em mulheres bissexuais, embora o

permaneceram constantes, os autores concluíram que o

estudo foi limitado por ter uma amostra relativamente de

estigma deve ter tido um papel causal nos sintomas

pequeno tamanho. No entanto, um estudo105  longitudinal de

depressivos. É importante notar que este estudo encontrou

2003, de adolescentes norueguesas feito pelo psicólogo Lars

variáveis de estigma para explicar exclusivamente cerca de

Wichstrom e colegas descobriu que a orientação sexual foi

10% ou um pouco mais da variação dos sintomas depressivos

associada ao mau estado de saúde mental após a

- em outras palavras, o estigma teve um efeito menor sobre os

contabilização de uma variedade de fatores de riscos

sintomas depressivos, embora esse efeito pode se manifestar

psicológicos, incluindo a autoestima. Enquanto este estudo não

de forma significativa em um nível populacional. Alguns outros

considerou diretamente o estigma como um fator de risco,

investigadores sugeriram que os efeitos do estigma são

sugere que fatores psicológicos, como a consciência de

geralmente pequenos e transitórios; por exemplo, o sociólogo

estigma sozinha provavelmente não pode totalmente explicar

Walter Gove do Vanderbilt College of Arts and Science

as disparidades na saúde mental entre os heterossexuais e

argumentou que para a "vasta maioria dos casos o estigma

não-heterossexuais. Além disso, é importante notar que,

[experimentado por pacientes mentais] parece ser transitório e

devido ao design de secção transversal destes estudos,

não parece representar um problema grave"98.

inferências causais não pode serem suportadas pelos dados –

No

entanto,

relatórios

sobre

Pesquisadores começaram relativamente a pouco

os diferentes tipos de dados e mais evidências seriam

tempo perseguir trabalhos tanto empírica como teoricamente99

necessários para apoiar as conclusões sobre as relações

sobre como o estigma afeta a saúde mental das pessoas

causais. Em particular, é impossível provar através destes

LGBT, embora tenha havido alguma controvérsia sobre a

estudos que o estigma leva a má saúde mental, em oposição

magnitude e duração dos efeitos devido ao estigma. Algumas

a, por exemplo, saúde mental fraca que leva as pessoas a

controvérsias podem decorrer da dificuldade de se definir e

relatar altos níveis de estigma, ou um terceiro fator sendo

quantificar o estigma, bem como as variações no estigma em

responsável tanto para saúde mental fraca e níveis mais

diferentes contextos sociais. Um estudo em saúde mental de

elevados de estigma.

2013, da Universidade de Columbia pelo médico psicólogo Walter Bockting e colegas com 1.093 pessoas transgêneras

Ocultação. O

estigma pode afetar as decisões dos indivíduos

encontrou uma correlação positiva entre sofrimento psíquico e

não-heterossexuais sobre a possibilidade de revelar ou

ambos promovidas pelo sentimento do estigma, que foram

esconder a sua orientação sexual. Pessoas LGBT podem

medidos por meio de questões de levantamento100. Um

decidir ocultar sua orientação sexual para se proteger contra

estudo101  de 2003 feito pelo psicólogo clínico Robin Lewis e

possíveis preconceitos ou discriminação, para evitar um

colegas com sintomas e preditores de depressão em 201

sentimento de vergonha, ou para evitar um potencial conflito

57

entre o seu papel social e desejos sexuais ou

discriminação e crimes de ódio. Se tais políticas são, de fato

comportamentos106. Contextos particulares em que as pessoas

bem-sucedidas em reduzir estes fatores de stress, então

LGBT podem mais provavelmente esconder sua orientação

poderia ser esperado reduzir as taxas de problemas de saúde

sexual incluem a escola, trabalho, e outros lugares em que

mental em populações LGB, na medida em que o modelo de

sentem que a divulgação poderia afetar negativamente a

estresse social responde com precisão para as causas desses

maneira que as pessoas os consideram.

problemas. Até agora, os estudos não foram concebidos de tal

Há uma grande quantidade de evidências de pesquisa

forma que pode permitir-lhes testar a hipótese de forma

psicológica indicando que a ocultação de um aspecto

conclusiva o estresse social explica as altas taxas de maus

importante da identidade pode ter consequências adversas

resultados

para a saúde mental. Em geral, expressar suas emoções e a

heterossexuais, mas há pesquisa que fornece alguns dados

partilha de aspectos importantes da vida de sua identidade

sobre uma implicação testável do modelo de estresse social.

de

saúde

mental

em

populações

não-

pode ter papel adverso na sua saúde mental107. As últimas

Um estudo de 2009 pelo cientista sociomédico Mark

décadas testemunharam um crescente corpo da investigação

Hatzenbuehler e colegas investigaram a associação entre

sobre as relações entre ocultação e revelação e saúde mental

morbidade psiquiátrica em populações LGB e duas políticas de

nas subpopulações LGBT108. Por exemplo, um estudo109 de

nível estadual que pertencia a estas populações: leis de crimes

2007 por Belle Rose Ragins e colegas sore ocultação e

de ódio que não incluem a orientação sexual como uma

divulgação no local de trabalho com 534 indivíduos LGB

categoria protegida, e as leis que proíbem a discriminação no

descobriu que o medo de divulgação foi associado com tensão

emprego baseado em orientação sexual112. O estudo utilizou

psicológica e outros resultados, tais como a satisfação no

dados sobre os resultados em saúde mental da Onda 2 do

trabalho. No entanto, o estudo também desafiou a noção de

―National Epidemiologic Survey on Alcohol and Related

que a divulgação conduz a resultados positivos psicológicos e

Conditions”  

sociais, uma vez que a divulgação dos funcionários não era

representativa de 34,653 civis, adultos não institucionalizados e

significativamente associada com a maioria das variáveis de

com medição psiquiátrica para distúrbios acordo com o critério

resultado. Os autores interpretaram este resultado dizendo que

DSM-IV113. Onda 2 de NESARC ocorreu em 2004-2005. Da

"este estudo sugere que a ocultação pode ser uma decisão

amostra, 577 inquiridos identificaram-se como lésbicas, gay ou

necessária e adaptativa a falta de suporte ou meio ambiente

bissexual. A análise dos dados mostrou que os indivíduos LGB

hostil, ressaltando assim a importância do contexto social"110.

vivendo em estados sem leis de crimes de ódio e onde há leis

Devido as mudanças relativamente rápidas na aceitação social

contra a discriminação tendem a ter maiores chances de

do casamento do mesmo sexo e de relações do mesmo sexo

morbidade psiquiátrica (em comparação com LGB indivíduos

de forma mais ampla, nas últimas décadas111, é possível que

em estados com uma ou duas leis de proteção), mas a análise

algumas das pesquisas sobre os efeitos psicológicos de

encontrou correlações estatisticamente significativas apenas

ocultação e divulgação estejam desatualizadas, porque em

para distimia (a menos grave, mas a forma mais persistente de

geral pode haver menos pressão para aqueles que se

depressão), desordem de ansiedade generalizada, e transtorno

identificam como LGB do que para aqueles que escondem

de estresse pós-traumático, enquanto as correlações entre

suas identidades.

outras sete condições psiquiátricas investigadas não foram

(NESARC),

estatisticamente Testando o modelo. 

uma

significativas.

amostra

nacionalmente

Nenhuma

inferência

Uma das implicações do modelo de

epidemiológica pode ser feita devido à natureza dos dados, o

estresse social é que a redução da quantidade de

que sugere a necessidade de mais estudos sobre este e

discriminação, preconceito e estigmatização das minorias

similares tópicos.

sexuais ajudaria a reduzir as taxas de problemas de saúde

Hatzenbuehler e seus colegas tentaram melhorar este

mental para estas populações. Algumas jurisdições têm

estudo transversal, fazendo um estudo prospectivo, publicado

tentado reduzir esses estressores sociais aprovando leis anti-

em 2010, desta vez examinando mudanças na morbidade

58

psiquiátrica durante o período em que certos estados

Um mecanismo causal hipotético para a mudança na

aprovaram emendas constitucionais que definem o casamento

saúde mental das variáveis associadas com as alterações da

como uma união entre um homem e uma mulher - alterações

união é que o debate público em torno das alterações pode ter

que foram descritas pelos autores do estudo como "proibição

elevado o estresse experimentado por não-heterossexuais -

de casamento gay"114. Os autores examinaram as diferenças

uma hipótese que foi apresentada pelo psicólogo Sharon

de morbidade psiquiátrica entre a Onda 1 de NESARC, que

Scales Rostosky e colegas em um estudo de atitudes dos

teve lugar em 2001-2002, e a Onda 2, que coincidiu com as

adultos LGB nos estados que passaram por alterações no

alterações de estado-constitucional de 2004 e 2005. Eles

casamento em 2006115. Os dados da pesquisa coletados

observaram que a prevalência de transtornos do humor em

durante este estudo mostraram que LGB inquiridos que vivem

respondentes LGB vivendo em estados que as alterações de

em estados que passaram por alterações no casamento em

casamento aumentaram em 36,6% entre as Ondas 1 e 2. Os

2006 tinham níveis mais elevados de vários tipos de distúrbios

transtornos de humor para os respondentes LGB que vivem em

psicológicos, incluindo estresse e sintomas depressivos. O

estados que não passam alterações no casamento diminuiu

estudo também descobriu que a participação no ativismo LGBT

23,6%, embora esta mudança não foi estatisticamente

durante a época de eleição foi associado com aumento na

significativa. A prevalência de certas doenças aumentou tanto

aflição psicológica. Pode ser que parte da aflição psicológica

em estados que passaram a tais modificações e em estados

gravado por esta pesquisa, que incluiu stress percebido,

que não o fizeram. Por exemplo, transtorno de ansiedade

sintomas de depressão (mas não diagnósticos de transtornos

generalizada, aumentou em ambos, mas por um muito maior e

depressivos), e que os pesquisadores chamaram de

de magnitude estatisticamente significativa nos estados que

"alteração-relacionado ao afeto", pode simplesmente ter

passaram a ter alterações no casamento. Hatzenbuehler e

refletido os sentimentos típicos de defensores quando

colegas descobriram que o distúrbio por uso de drogas

experimentam derrota política em um problema que eles se

aumentou mais em estados que não passaram a ter alterações

preocupam apaixonadamente. Outras limitações principais do

no casamento, e o aumento foi estatisticamente significativo

estudo foram o delineamento transversal e sua dependência de

apenas nestes estados. (Total desordens de abuso de

voluntários para o levantamento (em contraste com o estudo

substância aumentou em ambos os casos, por mais ou menos

anterior por Hatzenbuehler e colegas). A metodologia de

semelhante quantidade). Tal como com o estudo do tipo

pesquisa também pode ter influenciado os resultados - os

transversal anterior, para a maioria das condições psiquiátricas

pesquisadores anunciaram em sites e através de anúncios de

investigadas não houve correlações significativas entre as

listagens de e-mail que eles estavam procurando entrevistados

condições e as políticas sociais que hipoteticamente poderiam

para um estudo sobre "atitudes e experiências de LGBT. . .

ter uma influência sobre os resultados de saúde mental.

indivìduos debatendo‖ sobre o casamento gay. Tal como

Algumas das limitações dos resultados do estudo

acontece com muitas formas de amostragem por conveniência,

observam que os autores incluem o seguinte: entrevistados

indivíduos com fortes atitudes em relação às questões sob

saudáveis LGB podem ter saído dos estados que

investigação na pesquisa podem ter sido mais propensos a

eventualmente tiveram alterações entre união nos estados que

responder.

não tiveram; orientação sexual só foi avaliada durante a Onda

Quanto aos efeitos de políticas específicas, a

2 de NESARC, e há uma certa fluidez a identidade sexual que

evidência é ambígua na melhor das hipóteses. O estudo de

podem ter levado a erros de classificação de alguns

2009 por Hatzenbuehler e colegas demonstraram significativas

entrevistados LGB; e o tamanho da amostra de respondentes

correlações entre o risco de alguns (embora não todos)

LGB que vivem em estados que passaram por alterações no

problemas em saúde mental nas políticas das subpopulações

casamento foi relativamente pequena, limitando o poder

estaduais LGB sobre crime de ódio e proteção do emprego.

estatístico do estudo.

Mesmo para os aspectos da saúde mental que este estudo constatou ser correlacionado com crimes de ódio ou de

59

proteção do emprego por políticas, o estudo não foi capaz de

parte, também podem ser responsáveis por algumas destas

mostrar uma relação epidemiológica entre as políticas e os

disparidades mentais de saúde, como a investigação tem

resultados de saúde.

mostrado consistentemente que os "sobreviventes de abuso sexual na infância tem significativamente risco de uma ampla gama de distúrbios médicos, psicológicos, comportamentais e

CONCLUSÃO O modelo de estresse social, provavelmente,

sexuais"116.

responsável por alguns dos pobres resultados em saúde

subpopulações não-heterossexuais ao ignorar ou minimizar os

mental de experimentados por minorias sexuais, embora as

riscos estatisticamente mais elevados de saúde mental

evidências apoiam que o modelo é limitado, inconsistente e

negativa ou os resultados que eles enfrentam, isso também é

incompleto. Alguns dos conceitos centrais do modelo, como a

um desserviço desatribuir as causas desses riscos elevados,

estigmatização, não são facilmente operacionalizados. Há

ou ignorar outros fatores potenciais que podem estar em

evidências que ligam algumas formas de maus tratos,

trabalho. Supondo-se que um único modelo para explicar todos

estigmatização e discriminação a alguns dos maus resultados

os riscos à saúde mental enfrentados pelos não-

de saúde mental experimentado por não-heterossexuais, mas

heterossexuais esse pode enganar os médicos e terapeutas

está longe de ser claro que estes fatores são responsáveis por

acusados de não ajudar está vulnerável subpopulação. O

todas as disparidades entre os heterossexuais e populações

modelo de estresse social merece mais pesquisas, mas não

não-heterossexuais. Esses maus resultados de saúde mental

deve ser assumindo ou oferecido como uma explicação

podem ser atenuados em certa medida através da redução dos

completa sobre as causas das disparidades de saúde mental,

estressores sociais, mas esta estratégia é improvável de

se os clínicos e os políticos querem respostas adequadas aos

eliminar todas as disparidades no estado de saúde mental

desafios de saúde mental enfrentados pela comunidade LGBT

entre as minorias sexuais e da população em geral. Outros

mais pesquisas são necessárias para explorar a causas e

fatores, tais como os elevados índices de vitimização por

soluções para este importante desafio em saúde pública.

Assim

como

se

faz

um

desserviço

para

abuso sexual entre a população LGBT discutidos na primeira

NOTAS

1. 2.

3.

Michael King et al ., ―A systematic review of mental disorder, suicide, and deliberate self-harm in lesbian, gay and bisexual people,‖ BMC Psychiatry 8 (2008): 70, http://dx.doi.org/10.1186/1471-244X-8-70. The researchers who performed this meta-analysis initially found 13,706 papers by searching academic and medical research databases, but after excluding duplicates and other spurious search results examined 476 papers. After further excluding uncontrolled studies, qualitative papers, reviews, and commentaries, the authors found 111 data-based papers, of which they excluded 87 that were not population-based studies, or that failed to employ psychiatric diagnoses, or that used poor sampling. The 28 remaining papers relied on 25 studies (some of the papers examined data from the same studies), which King and colleagues evaluated using four quality criteria: (1) whether or not random sampling was used; (2) the representativeness of the study (measured by survey response rates); (3) whether the sample was drawn from the general popula tion or from some more limited subset, such as university students; and (4) sample size. However, only one study met all four criteria. Acknowledging the inherent limitations and inconsistencies of sexual orientation concepts, the authors included information on how those concepts were operationalized in the studies analyzed —whether in terms of same-sex attraction (four studies), same-sex behavior (thirteen studies), self-identification (fifteen studies), score above zero on the Kinsey scale (three studies), two different definitions of sexual orientation (nine studies), three different definitions (one study). Eighteen of the studies used a specific time frame for defining the sexuality of their subjects. The studies were also grouped into whether or not they focused on lifetime or twelve-month prevalence, and whether the authors analyzed outcomes for LGB populations separately or collectively.( 11) 95% confidence interval: 1.87-3.28.

 Os pesquisadores que realizaram esta meta-análise, inicialmente, encontraram 13.706 papéis, pesquisando bases de dados de pesquisa acadêmica e médica, mas após a exclusão de duplicatas e outros resultados de pesquisa espúrias analisaram 476 documentos. Após a exclusão de mais estudos não controlados, papéis qualitativos, revisões e comentários, os autores encontraram 111 papéis à base de dados, da qual eles excluídas 87 que não eram estudos de base populacional, ou que deixaram de empregar diagnósticos psiquiátricos, ou com má amostragem utilizada. Os 28 artigos restantes se basearam em 25 estudos (alguns dos papéis analisaram dados dos mesmos estudos), que King e seus colegas avaliaram utilizando quatro critérios de qualidade: (1) ou não foi utilizada amostragem aleatória; (2) a representatividade do estudo (medida pelas taxas de resposta aos inquéritos); (3) se a amostra foi tirada da população em geral ou de algum subconjunto mais limitado, como estudantes universitários; e (4) o tamanho da amostra. No entanto, apenas um estudo encontrou os quatro critérios. Reconhecendo as limitações inerentes e inconsistências de conceitos de orientação sexual, os autores incluíram informações sobre como esses conceitos foram operacionalizados nos estudos analisados - se em termos de atração pelo mesmo sexo (quatro estudos), o comportamento do mesmo sexo (treze estudos), auto- identificação (quinze estudos), a pontuação acima de zero na escala Kinsey (três estudos), duas definições diferentes de orientação sexual (nove estudos), três definições diferentes (um estudo). Dezoi to dos estudos utilizaram um prazo específico para a definição da sexualidade de seus sujeitos. Os estudos também foram agrupados em se ou não se concentraram em vida ou prevalência de doze meses, e se os autores analisaram os resultados para populações LGB separadamente ou coletivamente. 11

60

4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12. 13. 14. 15. 16. 17. 18. 19. 20. 21. 22. 23.

24. 25. 26. 27. 28. 29. 30. 31. 32. 33. 34. 35. 36. 37. 38. 39. 40. 41.

95% confidence interval: 1.69-2.48. 95% confidence interval: 1.23-1.92. 95% confidence interval: 1.23-1.86. 95% confidence interval: 1.97-5.92. 95% confidence interval: 2.32-7.88. Wendy B. Bostwick et al., ―Dimensions of Sexual Orientation and the Prevalence of Mood and Anxiety Disorders in the United States,‖  American Journal of Public Health 100, no. 3 (2010): 468-475, http://dx.doi.org/10.2105/AJPH.2008.152942. Ibid ., 470. The difference in health outcomes between women who identify as lesbians and women who report exclusive same-sex sexual behaviors or attractions is a good illustration of how the differences between sexual identity, behavior, and attraction matter. 12 Susan D. Cochran and Vickie M. Mays, ―Physical Health Complaints Among Lesbians, Gay Men, and Bisexual and Homosexually Exper  ienced Heterosexual Individuals: Results from the California Quality of Life Survey,‖  American Journal of Public Health 97, no. 11 (2007): 2048-2055, http://dx.doi.org/10.2105/AJPH.2006.087254. Christine E. Grella et al ., ―Influence of gender, sexual orientation, and need on treatment utilization for substance use and mental disorders: Findin gs from the California Quality of Life Surv ey,‖ BMC Psychiatry 9, no. 1 (2009): 52, http://dx.doi.org/10.1186/1471-244X-9-52. Theo G. M. Sandfort et al ., ―Sexual Orientation and Mental and Physical Health Status: Findings from a Dutch Population Survey,‖  American Journal of Public Health 96, (2006): 1119-1125, http://dx.doi.org/10.2105%2FAJPH.2004.058891. Robert Graham et al. , Committee on Lesbian, Gay, Bisexual, and Transgender Health Issues and Research Gaps and Opportunities, Institute of Medicine, The Health of Lesbian, Gay, Bisexual, and Transgender People: Building a Foundation for Better Understanding (Washington, D.C.: The National Academies Press, 2011), http://dx.doi.org/10.17226/13128. Susan D. Cochran, J. Greer Sullivan, and Vickie M. Mays, ―Prevalence of Mental Disorders, Psychologi cal Distress, and Mental Health Services Use Among Lesbian, Gay, and Bisexual Adults in the United States,‖ Journal of Consulting and Clinical Psychology 71, no. 1 (2007): 53-61, http://dx.doi.org/10.1037/0022-006X.71.1.53. Lisa A. Razzano, Alicia Matthew s, and Tonda L. Hughes, ―Utilization of Mental Health Services: A Comparison of Lesbian and Heterosexual Women,‖ Journal of Gay & Lesbian Social Services 14, no. 1 (2002): 51-66, http://dx.doi.org/10.1300/J041v14n01_03. Robert Graham et al. , The Health of Lesbian, Gay, Bisexual, and Transgender People , 4. Ibid. , 190, see also 258-259. Ibid. , 211. Esther D. Rothblum and Rhonda Factor, ―Lesbians and Their Sisters as a Control Group: Demographic and Mental Health Factors,‖ Psychological Science 12, no. 1 (2001): 63-69, http://dx.doi.org/10.1111/1467-9280.00311. Stephen M. Horowitz, David L. Weis, and Molly T. Laflin, ―Bisexuality, Quality of Life, Lifestyle, and Health Indicators,‖ Journal of Bisexuality 3, no. 2 (2003): 528, http://dx.doi.org/10.1300/J159v03n02_02. By way of context, it may be worth noting that in the United States, the overall suicide rate has risen in recent years: ―Fro m 1999 through 2014, the ageadjusted suicide rate in the United States increased 24%, from 10.5 to 13.0 per 100,000 populations , with the pace of increase greater after 2006.‖ Sally C. Curtin, Margaret Warner, and Holly Hedegaard, ―Increase in suicide in the United States, 1999 -2014,‖ National Center for Health Statistics, NCHS data brief no. 241 (April 22, 2016), http://www.cdc.gov/nchs/products/databriefs/db241.htm. Ann P. Haas et al., ―Suicide and Suicide Risk in Lesbian, Gay, Bisexual, and Transgender Populations: Review and Recommendations,‖ Journal of Homosexuality 58, no. 1 (2010): 10-51, http://dx.doi.org/10.1080/00918369.2011.534038. Ibid ., 13. David M. Fergusson, L. John Horwood, and Annette L. Beautrais, ―Is Sexual Orientation Related to Mental Health Problems and S uicidality in Young People?‖  Archives of General Psychiatry 56, no. 10 (1999): 876-880, http://dx.doi.org/10.1001/archpsyc.56.10.876. Paul J. M. Van Kesteren et al ., ―Mortality and morbidity in transsexual subjects treated with cross -sex hormones,‖ Clinical Endocrinology 47, no. 3 (1997): 337343, http://dx.doi.org/10.1046/j.1365-2265.1997.2601068.x. Friedemann Pfäfflin and Astrid Junge, Sex Reassignment: Thirty Years of International Follow-Up Studies After Sex Reassignment Surgery: A Comprehensive Review, 1961-1991 , Roberta B. Jacobson and Alf B. Meier, trans. (Düsseldorf: Symposion Publishing, 1998), https://web.archive.org/web/20070503090247/http://www.symposion.com/ijt/pfaefflin/1000.htm. Jean M. Dixen et al., ―Psychosocial characteristics of applicants evaluated for surgical gender reassignment,‖  Archives of Sexual Behavior 13, no. 3 (1984): 269-276, http://dx.doi.org/10.1007/BF01541653. Robin M. Mathy, ―Transgender Identity and Suicidality in a Nonclinical Sample: Sexual Orientation, Psychiatric History, and Compulsive Behaviors,‖ Journal of Psychology & Human Sexuality 14, no. 4 (2003): 47-65, http://dx.doi.org/10.1300/J056v14n04_03. Yue Zhao et al ., ―Suicidal Ideation and Attempt Among Adolescents Reporting ‗Unsure‘ Sexual Identity or Heterosexual Identity Plus Same -Sex Attraction or Behavior: Forgotten Groups? ‖ Journal of the American Academy of Child & Adolescent Psychiatry 49, no. 2 (2010): 104-113,

http://dx.doi.org/10.1016/j.jaac.2009.11.003. Wendy B. Bostwick et al ., ―Dimensions of Sexual Orientation and the Prevalence of Mood and Anxiety Disorders in the United States.‖ Martin Plöderl et al., ―Suicide Risk and Sexual Orientation: A Critical Review,‖  Archives of Sexual Behavior 42, no. 5 (2013): 715-727, http://dx.doi.org/10.1007/s10508-012-0056-y. Ritch C. Savin-Williams, ―Suicide Attempts Among Sexual -Minor ity Youths: Population and Measurement Issues,‖ Journal of Consulting and Clinical Psychology 69, no.6 (2001): 983-991, http://dx.doi.org/10.1037/0022-006X.69.6.983. For females in this study, eliminating false positive attempts substantially decreased the difference between orientations. For males, the ―true suicide attempts‖ difference approached statistical significance: 2% of heterosexual males (1 of 61) and 9% of homosexual males (5 of 53) attempted suicide, resulting in an odds ratio of 6.2.( 13) Martin Plöderl et al., ―Suicide Risk and Sexual Orientation,‖ 716– 717. Ibid ., 723. Ibid . Richard Herrell et al ., ―Sexual Orientation and Suicidality: A Co -Twin Control Study in Adult Men,‖  Archives of General Psychiatry 56, no. 10 (1999): 867-874, http://dx.doi.org/10.1001/archpsyc.56.10.867. Ibid. , 872. Robin M. Mathy et al ., ―The association between relationship markers of sexual orientation and suicide: Denmark, 1990 -2001,‖ Social Psychiatry and Psychiatric Epidemiology 46, no. 2 (2011): 111-117, http://dx.doi.org/10.1007/s00127-009-0177-3.

 A diferença nos resultados da saúde entre as mulheres que se identificam como lésbicas e mulheres que relatam comportamentos sexuais do mesmo sexo exclusivos ou atrações é um bom exemplo de como as diferenças entre os assuntos de identidade sexual, comportamento e atração. 13 Para as mulheres neste estudo, eliminando tentativas falsas positivas diminuiu substancialmente a diferença entre as orientações. Para os homens, a dferença nas "verdadeiras tentativas de suicídio" aproximou a significância estatística: 2% dos homens heterossexuais (1 de 61) e 9% dos homens homoafetivos (5 de 53) nas tentativas de suicídio, resultando em um odds ratio de 6,2. 12

61

42. 43. 44.

Gary Remafedi, James A. Farrow, and Robert W. Deisher, ―Risk Factors for Attempted Suicide in Gay and Bisexual Youth,‖ Pediatrics 87, no. 6 (1991): 869-

875, http://pediatrics.aappublications.org/content/87/6/869. Ibid. , 873.

Gary Remafedi, ―Adolescent Homosexuality: Psychosocial and Medical Implications,‖ Pediatrics 79, no. 3 (1987): 331-337,

http://pediatrics.aappublications.org/content/79/3/331. 45. 46. 47. 48. 49. 50. 51. 52. 53. 54. 55. 56. 57. 58. 59. 60. 61. 62. 63. 64. 65. 66. 67. 68. 69. 70. 71. 72. 73. 74. 75. 76. 77. 78.

79. 80. 81.

Martin Plöderl, Karl Kralovec, and Reinhold Fartacek, ―The Relation Between Sexual Orientation and Suicide Attempts in Austria,‖  Archives of Sexual Behavior

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Nowinski and Erica Bowen, ―Partner violence a gainst heterosexual and gay men: Prevalence and correlates,‖  Aggression and Violent Behavior 17, no. 1 (2012):36-52, http://dx.doi.org/10.1016/j.avb.2011.09.005. It is worth noting that the 54 studies that Nowinski and Bowen consider ope rationalize heterosexuality and homosexuality in various ways. Ibid. , 39. Ibid. , 50. Shonda M. Craft and Julianne M. Serovich, ―Family -of-Origin Factors and Partner Violence in the Intimate Relationships of Gay Men Who Are HIV Positive,‖ Journal of Interpersonal Violence 20, no. 7 (2005): 777-791, http://dx.doi.org/10.1177/0886260505277101. Catherine Finneran and Rob Stephenson, ―Intimate Partner Violence Among Men  Who Have Sex with Men: A Systematic Review,‖ Trauma, Violence, &  Abuse 14, no. 2(2013): 168-185, http://dx.doi.org/10.1177/1524838012470034. Ibid ., 180. Although one study reported just 12%, the majority of studies (17 out of 24) showed that physical IPV was at least 22%, with nine studies recording rates of 31% or more.( 15) Although Finneran and Stephenson say this measure was recorded in only six studies, the table they provide lists eight studies as measuring psychological violence, with seven of these showing rates 33% or higher, including five reporting rates of 45% or higher.( 16) Naomi G. Goldberg and Ilan H. Meyer, ―Sexual Orientation Disparities in History  of Intimate Partner Violence: Results from the California Health Interview Survey,‖ Journal of Interpersonal Violence 28, no. 5 (2013): 1109-1118, http://dx.doi.org/10.1177/0886260512459384. Gregory L. Greenwood et al ., ―Battering Victimization Among a Probability -Based Sample of Men Who Have Sex with Men,‖ American Journal of Public Health 92, no. 12(2002): 1964-1969, http://dx.doi.org/10.2105/AJPH.92.12.1964. Ibid. , 1967. Ibid . Sari L. Reisner et al ., ―Mental Health of Transgender Youth in Care at an Adolescent Urban Community Health Center: A Matched Retrospective Cohort Study,‖ Journal of Adolescent Health 56, no. 3 (2015): 274-279, http://dx.doi.org/10.1016/j.jadohealth.2014.10.264. Relative risk: 3.95. Relative risk: 3.27. Relative risk: 3.61. Relative risk: 3.20. Relative risk: 4.30. Relative risk: 2.36. Relative risk: 4.36.  Anne P. Haas, Philip L. Rodgers, and Jody Herman, ―Suicide Attempts Among  Transgender and Gender Non-Conforming Adults: Findings of the National Transgender Discrimination Survey,‖ Williams Institute, UCLA School of Law, January 2014, http://williamsinstitute.law.ucla.edu/wp-content/uploads/AFSP-Williams-Suicide-Report- Final.pdf. Ibid ., 2. Ibid ., 8. Ibid ., 13. Kristen Clements-Nolle et al ., ―HIV Prevalence, Risk Behaviors, Health Care Use,  and Mental Health Status of Transgender Persons: Implications for Public Health Intervention,‖  American Journal of Public Health 91, no. 6 (2001): 915-921, http://dx.doi.org/10.2105/AJPH.91.6.915. Ibid ., 919. See, for example, Ilan H. Meyer, ―Minority Stress and Mental Health in Gay Men,‖ Journal of Health and Social Behavior 36 (1995): 38-56, http://dx.doi.org/10.2307/2137286; Bruce P. Dohrenwend, ―Social Status and Psychological Disorder: An Issue of Substance and an Issue of Method,‖  American Sociological Review 31, no. 1 (1966): 14-34, http://www.jstor.org/stable/2091276. For overviews of the social stress model and mental health patterns among LGBT populations, see Ilan H. Meyer, ―Prejudice, Social Stress, and Mental Health in Lesbian, Gay, and Bisexual Populations: Conceptual Issues and Research Evidence,‖ Psychological Bulletin 129, no. 5 (2003): 674-697, http://dx.doi.org/10.1037/0033-2909.129.5.674; Robert Graham et al., The Health of Lesbian, Gay, Bisexual, and Transgender People , op. cit ; Gregory M. Herek and Linda D. Garnets, ―Sexual Orientation and Mental Health,‖  Annual Review of Clinical Psychology 3 (2007): 353-375, http://dx.doi.org/10.1146/annurev.clinpsy.3.022806.091510; Mark L. Hatzenbuehler, ―How Does Sexual Minority Stigma ‗Get Under the Skin‘? A Psychological Mediation Framework,‖ Psychological Bulletin 135, no. 5 (2009): 707-730, http://dx.doi.org/10.1037/a0016441. See, for instance, Ilan H. Meyer, ―The Right Comparisons in Testing the Minority  Stress Hypothesis: Comment on Savin-Williams, Cohen, Joyner, and Rieger (2010),‖ Archives of Sexual Behavior 39, no. 6 (2010): 1217-1219. This should not be taken to suggest that social stress is too vague a concept for empirical social science; the social stress model may certainly produce quantitative empirical hypotheses, such as hypotheses about correlations between stressors and specific mental health outcomes. In this context, the term ―model‖ does not refer to a  statistical model of the kind often used in social science research —the social stress model is a ―model‖ in a metaphorical sense. (17) Meyer, ―Prejudice, Social Stress, and Mental Health in Lesbian, Gay, and Bisexual  Populations,‖ 676.

 Para uma breve explicação sobre os pontos fortes e limitações da população- e amostragem baseada na comunidade, veja  Embora um estudo relatou apenas 12%, a maioria dos estudos (17 em 24) mostrou que VPI física era pelo menos 22%, com nove estudos com gravação de taxas de 31% ou mais. 16 Embora Finneran e Stephenson digam que esta medida foi gravada em apenas seis estudos, a tabela forneceu listas de oito estudos de medição de violência psicológica, com sete desses que mostraram taxas de 33% ou superior, incluindo cinco doses de 45% ou mais relatórios. 17 Isso não deve ser tomado para sugerir que o estresse social é um conceito demasiado vago para a ciência social empírica; o modelo de estresse social pode certamente produzir hipóteses empíricas quantitativas, como hipóteses sobre as correlações entre estressores e resultados específicos de saúde mental. Neste contexto, o termo "modelo" não se refere a um modelo estatístico do tipo frequentemente utilizado em pesquisas o modelo de estresse social stress em ciência social é um "modelo" num sentido metafórico. 14 15

62

82.

83.

Meyer, ―Prejudice, Social Stress, and Mental Health in Lesbian, Gay, and Bisexual Populations,‖ 680; Gregory M. Herek, J. Roy Gillis, and Jeanine C. Cogan, ―Psychological  Sequelae of Hate-Crime Victimization Among Lesbian, Gay, and Bisexual Adult s,‖ Journal of Consulting and Clinical Psychology 67, no. 6 (1999): 945-951, http://dx.doi.org/10.1037/0022- 006X.67.6.945; Allegra R. Gordon and Ilan H. Meyer, ―Gender   Nonconformity as a Target of Prejudice, Discrimination, and Violence Against LGB Individuals,‖ Journal of LGBT Health Research 3, no. 3 (2008): 55-71, http://dx.doi.org/10.1080/15574090802093562; David M. Huebner, Gregory M. Rebchook, and Susan M. Kegeles, ―Experiences of Harassment, Discrimination, and Physical Violence Among Young Gay and Bisexual Men,‖ American Journal of Public Health 94, no. 7(2004): 1200-1203, http://dx.doi.org/10.2105/AJPH.94.7.1200; Rebecca L Stotzer, ―Violence against transgender people: A review of United States data,‖  Aggression and Violent Behavior 14, no. 3 (2009): 170-179, http://dx.doi.org/10.1016/j.avb.2009.01.006; Rebecca L. Stotzer, ―Gender identity and hate crimes: Violence against transgender people in Los Angeles County,‖ Sexuality Research and Social Policy 5, no. 1 (2008): 43-52, http://dx.doi.org/10.1525/srsp.2008.5.1.43. Stotzer, ―Gender identity and hate crimes,‖ 43 -52; Emilia L. Lombardi et al ., ―Gender Violence: Transgender Experiences with Violence and Discrimination,‖ Journal of Homosexuality 42, no. 1 (2002): 89-101, http://dx.doi.org/10.1300/J082v42n01_05; Herek, Gillis, and Cogan, ―Psychological Sequelae of Hate Crime Victimization Among Lesbian, Gay, and Bisexual Adults,‖ 945 -951; Huebner, Rebchook, and Kegeles, ―Experiences of Harassment, Discrimination, and Physical Violence Among Young Gay and Bisexual Men,‖ 1200 -1203; Anne H. Faulkner and Kevin Cranston, ―Correlates of   same-sex sexual behavior in a random sample of Massachusetts high school students,‖  American Journal of Public Health 88, no. 2 (1998): 262-266,

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87. 88. 89. 90. 91. 92. 93. 94.

95. 96. 97. 98. 99. 100. 101. 102. 103. 104. 105. 106.

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63

109. 110. 111.

112. 113. 114. 115. 116.

Consequences of Disclosing Invisible Stigmas across Life Domains,‖  Academy of Management Review 33, no. 1 (2008):194-215, http://dx.doi.org/10.5465/AMR.2008.27752724; Nicole Legate, Richard M. Ryan, and Netta Weinstein, ―Is Coming Out Always a ‗Good Thing‘? Exploring the Relations of Autonomy Support, Outness, and Wellness for Lesbian, Gay, and Bisexual Individuals,‖ Social Psychological and Personality Science 3, no. 2 (2012): 145-152, http://dx.doi.org/10.1177/1948550611411929. Belle Rose Ragins, Romila Singh, and John M. Cornwell, ―Making the Invisible Visible: Fear and Disclosure of Sexual Orientation at Work,‖ Journal of Applied Psychology 92, no. 4 (2007): 1103-1118, http://dx.doi.org/10.1037/0021-9010.92.4.1103. Ibid. , 1114. Dawn Michelle Baunach, ―Changing Same -Sex Marriage Attitudes in America from 1988 Through 2010,‖ Public Opinion Quarterly 76, no. 2 (2012): 364-378, http://dx.doi.org/10.1093/poq/nfs022; Pew Research Center, ―Changing Attitudes on Gay Marriage‖  (online publication), July 29, 2015, http://www.pewforum.org/2015/07/29/graphicsslideshow-changing-attitudes-on-gay-marriage/; Bruce Drake, Pew Research Center, ―How LGBT adults see society and how the public sees them‖ (online publication),  June 25, 2013, http://www.pewresearch.org/fact-tank/2013/06/25/how-lgbt-adultssee-society-and-how-the-public-sees-them/. Mark L. Hatzenbuehler, Katherine M. Keyes, and Deborah S. Hasin, ―State -Level Policies and Psychiatric Morbidity in Lesbian, Gay, and Bisexual Populations,‖ American Journal of Public Health 99, no. 12 (2009): 2275-2281, http://dx.doi.org/10.2105/AJPH.2008.153510. Deborah S. Hasin and Bridget F. Grant, ―The National Epidemiologic Survey on  Alcohol and Related Conditions (NESARC) Waves 1 and 2: review and summary of findings,‖ Social Psychiatry and Psychiatric Epidemiology 50, no. 11 (2015): 1609-1640, http://dx.doi.org/10.1007/s00127-015-1088-0. Mark L. Hatzenbuehler et al ., ―The Impact of Institutional Discrimination o n Psychiatric Disorders in Lesbian, Gay, and Bisexual Populations: A Prospective Study,‖ American Journal of Public Health 100, no. 3 (2010): 452-459, http://dx.doi.org/10.2105/AJPH.2009.168815. Sharon Scales Rostosky et al ., ―Marriage Amendments and Psych ological Distress in Lesbian, Gay, and Bisexual (LGB) Adults,‖ Journal of Counseling Psychology 56, no. 1(2009): 56-66, http://dx.doi.org/10.1037/a0013609. Roberto Maniglio, ―The impact of child sexual abuse on health: A systematic review of reviews,‖ Clinical Psychology Review 29 (2009): 647, http://dx.doi.org/10.1016/j.cpr.2009.08.003.

64

PARTE TRÊS - IDENTIDADE DE GÊNERO O conceito de sexo biológico está bem definido, com base nos papéis binários que homens e mulheres desempenham na reprodução. Por outro lado, o conceito de gênero não é bem definido. É geralmente utilizado para referir comportamentos e atributos psicológicos que tendem a ser típico de um dado sexo. Alguns indivíduos se identificam como um gênero que não corresponde ao seu sexo biológico. As causas de tal identificação com o gênero oposto permanecem pouco compreendidas. Pesquisa investigando se esses indivíduos transgêneros têm certas características fisiológicas ou experiências em comum com o sexo oposto, tais como estruturas cerebrais ou exposições hormonais pré-natais atípicas, tem sido até agora inconclusiva. Disforia de gênero - um senso de incongruência entre o próprio sexo biológico e o seu gênero, acompanhado de sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo - às vezes é tratado em adultos com hormônios ou cirurgia, mas há pouca evidência científica de que essas intervenções terapêuticas têm benefícios psicológicos. A ciência tem mostrado que as questões de identidade de gênero nas crianças geralmente não persistem na adolescência ou na idade adulta, e há pouca evidência científica para o valor terapêutico dos tratamentos para retardar a puberdade. Estamos preocupados com a crescente tendência para encorajar crianças com problemas de identidade de gênero para a transição do seu gênero preferido através de procedimentos médicos e cirúrgicos. Há uma clara necessidade de mais pesquisas nessas áreas.

Como descrito na Parte Um, há uma crença generalizada de que a orientação sexual é um conceito bem definido, e que é inata e fixada em cada pessoa - como muitas vezes é colocado, gays são pessoas que "nasceram assim". Outro emergente ponto de vista relacionado é que a identidade de gênero - o sentido subjetivo, interno de ser um homem ou uma mulher (ou alguma outra categoria de gênero) - também é corrigido no nascimento ou em uma idade muito precoce e pode divergir de uma pessoa do seu sexo biológico. No caso das crianças, este é por vezes articulado, dizendo que um garotinho pode ser preso no corpo de uma menina, ou viceversa. Na primeira parte, argumentamos que a pesquisa científica não dá muito suporte à hipótese de que a orientação sexual é inata e fixa. Nós discutiremos aqui, da mesma forma, que há pouca evidência científica de que a identidade de gênero é fixada no nascimento ou em uma idade precoce. Embora o sexo biológico é inato, e identidade de gênero e sexo biológico se relacionam de maneiras complexas, eles não são idênticos; gênero às vezes é definido ou expresso de maneiras que tem pouca ou nenhuma base biológica.

atributos físicos, tais como cromossomos, prevalência hormonal e anatomia externa e interna. Gênero refere-se aos papéis socialmente construídos, comportamentos, atividades e atributos que uma determinada sociedade considera apropriado para meninos e homens ou meninas e mulheres. Estes influenciam a maneira como as pessoas agem, interagem, e sentem sobre si mesmos. Enquanto os aspectos do sexo biológico são semelhantes através de diferentes culturas, aspectos de gênero podem diferir 1.

Esta definição aponta para o fato óbvio de que existem normas sociais para homens e mulheres, normas que variam em diferentes culturas e que não são simplesmente determinadas pela biologia. Mas vai mais longe ao considerar que gênero é totalmente "construído socialmente" - que está separado do sexo biológico. Esta ideia tem sido uma parte importante de um movimento feminista de reforma ou de eliminar papéis tradicionais de gênero. No livro feminista clássico O Segundo Sexo (1949), Simone de Beauvoir escreveu que "não se nasce, mas torna-se uma mulher"2. Essa noção é uma versão inicial do agora familiar distinção entre o sexo como uma designação biológica e de gênero como uma construção cultural: embora se nasce, como a APA explica, com "cromossomos, prevalência hormonal e anatomia externa e interna" de uma fêmea, um é socialmente condicionado a assumir os "papéis, comportamentos, atividades e atributos" de uma mulher. Desenvolvimentos na teoria feminista, na segunda

Conceitos-chave e suas origens Para esclarecer o que se entende por "gênero" e

metade do século XX solidificou ainda mais a posição de que o

"sexo", começamos com uma ampla definição utilizada, aqui

gênero é construído socialmente. Um dos primeiros a usar o

citado de um panfleto publicado pela  American Psychological

termo "gênero" como distinto do sexo nas literaturas em

 Association (APA):

ciências sociais foi Ann Oakley em seu livro de 1972, Sexo, Gênero e Sociedade3. No Livro de 1978 ―Gender: An

Sexo é atribuído à nascença, refere-se a um estado biológico como macho ou fêmea, e está principalmente associado com

Ethnomethodological Approach‖, as professoras de psicologia

65

Suzanne Kessler e Wendy McKenna argumentaram que "o

verdadeiro e autêntico", uma parte importante dos quais é "a

gênero é uma construção social, que um mundo de dois 'sexos'

expressão de gênero"11. As opções incluem sem-gênero,

é um resultado do socialmente compartilhado, tomado para os

muitas variantes cis e trans, gênero fluido, gênero questionado,

métodos concedidos que membros usam para construir a

nenhum, outro, pangênero e dois-espíritos12.

realidade"4.

Se Judith Butler estava correta ou não na descrição

A antropóloga Gayle Rubin expressa uma visão

tradicional d os papéis de gêneros de homens e mulheres

semelhante, escrita em 1975 que "gênero é uma divisão

como "performativa", sua teoria do gênero como um "Artifício

imposta socialmente dos sexos. É um produto das relações

de livre flutuação" parece descrever esta nova taxonomia do

sociais de sexualidade"5. De acordo com seu argumento, se

gênero. Como estes termos multiplicam e seus significados se

não fosse por esta imposição social, ainda teriam machos e

tornam mais individualizados, perdemos qualquer conjunto de

fêmeas, mas não "homens" e "mulheres". Além disso, Rubin

critérios comuns para a definição de distinções que gênero

argumenta, se os papeis de gênero tradicional são socialmente

significa. Se o gênero é inteiramente separado do binário do

construídos, então, estes podem também ser desconstruídos, e

sexo biológico, gênero poderia vir para se referir a qualquer

nós podemos eliminar a "sexualidade obrigatória e papéis

distinção no comportamento, atributos biológicos, ou traços

sexuais" e criar uma sociedade andrógena e sem-gênero

psicológicos, e cada pessoa poderia ter um sexo definido pela

(embora não sem sexo), em que sua anatomia sexual é

combinação única de características que a pessoa possui. Este

irrelevante para quem se é, o que se faz e com quem se faz

reductio ad absurdum  é oferecido para apresentar a

amor"6.

possibilidade de que a definição de gênero também A relação entre a teoria do gênero e a desconstrução

ou derrocada de papéis tradicionais de gênero torna-se ainda

amplamente poderia conduzir a uma definição que tem pouco significado.

mais clara nas obras da teórica feminista influente Judith

Em alternativa, a identidade de gênero pode ser

Butler. Em obras como ―Problemas de Gênero: Feminismo e

definida em termos de características sexuais típicas e

subversão da identidade‖  (1990)7 e ―Anulação do Gênero‖

comportamentos, de modo que sendo um menino significa

(2004)8  Butler avança o que ela descreve como "teoria de

comportar da maneira como geralmente se comportam - como

performatividade", segundo a qual ser uma mulher ou um

se envolver em jogo áspero-e-queda e expressar interesse em

homem não é algo que um é, mas algo que se faz. "Gênero

esportes e gostar de armas de brinquedo mais do que

não é nem o resultado causal do sexo, nem tão aparentemente

bonecas. Mas isso implicaria que um menino que brinca com

fixado quanto o sexo", como ela dizia9. Pelo contrário, o gênero

bonecas, odeia armas, e abster-se de esporte ou jogo áspero-

é uma condição construída radicalmente independente da

e-queda pode ser considerado como uma menina, ao invés de

biologia ou traços corporais‖, um artifício de livre flutuação,

simplesmente um menino que representa uma exceção para os

com a consequência de que o homem e a força masculina tão

padrões típicos de comportamento masculino. A capacidade de

facilmente significativo um corpo feminino como num homem, e

reconhecer exceções ao típico comportamento do sexo se

mulher e feminino num corpo masculino tão facilmente quanto

baseia em uma compreensão de masculinidade e feminilidade

uma mulher"10.

que é independente destes comportamentos sexuais

Deste ponto de vista, que o gênero e, portanto, a

apropriados e estereotipados. A subjacente base de

identidade de gênero é fluida e plástica, e não

masculinidade e feminilidade é a distinção entre os papéis

necessariamente binárias, recentemente se tornou mais

reprodutivos dos sexos; em mamíferos tais como seres

proeminente na cultura popular. Um exemplo é o movimento do

humanos, a fêmea gesta a prole e o macho fecunda a fêmea.

Facebook em 2014 para incluir 56 novas maneiras para os

Mais universalmente, o macho da espécie fertiliza os óvulos

usuários descrevem seu gênero, para além das opções de

fornecidos pela fêmea das espécies. Esta base conceitual para

masculino e feminino. Como Facebook explica, as novas

papéis sexuais é binária e estável, e permite-nos distinguir os

opções permitem ao usuário "sentir confortável sendo o seu eu

machos das fêmeas em razão dos seus reprodutivos sistemas,

66

mesmo quando esses indivíduos exibem comportamentos que

sexo dos animais é o seu papel na reprodução, e não alguma

não são típicos de machos ou fêmeas.

outra característica comportamental ou biológica.

Para ilustrar como as funções de reprodução definem

Outro exemplo que, neste caso, apenas parece ser

as diferenças entre os sexos, mesmo quando o comportamento

comportamento típico do sem-sexo é o de Thomas Beatie, que

parece ser atípico para o sexo em particular, considere dois

ganhou as manchetes como um homem que deu à luz três

exemplos, uma a partir da diversidade do reino animal, e uma a

filhos entre 2008 e 201015. Thomas Beatie nasceu mulher,

partir da diversidade do comportamento humano. Primeiro,

Tracy Lehuanani LaGondino, e passou por uma cirurgia e

olhamos para o pinguim imperador. Pinguins imperador do

transformação para viver com um homem antes de decidir ter

sexo masculino fornecem mais cuidado para os ovos do que

filhos. Porque os procedimentos médicos que se submeteu não

fazem as fêmeas, e, neste sentido, o pinguim imperador do

envolveu a remoção de seus ovários ou útero, Beatie era

sexo masculino poderia ser descrito como mais maternal do

capaz de gerar filhos. O Estado do Arizona reconheceu

que a fêmea13. No entanto, reconhecemos que o pinguim-

Thomas Beatie como o pai de seus três filhos, mesmo que,

imperador macho não é, de fato, do sexo feminino, mas sim

biologicamente, ele sendo a sua mãe. Ao contrário do caso de

que a espécie representa uma exceção à regra geral, mas não

o pinguim macho ser ostensivamente materno, o

universal, tendência entre animais para as mulheres fornecer

comportamento parenta "feminino", a capacidade de Beatie ter

mais cuidado do que os homens para a prole. Reconhecemos

filhos não representa uma exceção à incapacidade normal dos

isso porque comportamentos sexuais típicos como o cuidado

machos para ter filhos. A rotulagem de Beatie como um

parental não definem os sexos; o papel do indivíduo na

homem apesar de ser biologicamente feminina é uma decisão

reprodução sexual faz.

pessoal, social e jurídica que foi feita sem qualquer base na

Mesmo outras características biológicas sexuais típicas, como cromossomos, não são necessariamente úteis

biologia; absolutamente nada na biologia sugere que Thomas Beatie é um homem.

para a definição de sexo de uma maneira universal, como o

Em biologia, um organismo é homem ou mulher, se

exemplo do pinguim ilustra ainda mais. Tal como acontece com

ele está estruturado para realizar um dos respectivos papéis na

outras aves, a genética de determinação do sexo no pinguim

reprodução. Esta definição não necessita de qualquer

imperador é diferente do que a genética de determinação

característica física mensurável arbitraria ou quantificáveis ou

sexual nos mamíferos e muitos outros animais. Em humanos,

comportamentos; isto requer a compreensão do sistema

os machos têm cromossomos XY e as fêmeas têm

reprodutivo e o processo de reprodução. Diferentes animais

cromossomos XX; que é, os machos têm um cromossomo

têm sistemas reprodutivos diferentes, mas a reprodução

único determinante do sexo que não compartilham com as

sexuada ocorre quando as células sexuais do macho e fêmea

fêmeas, enquanto as fêmeas têm duas cópias de um

de uma espécie se juntam para formar embriões recém-

cromossomo que eles compartilham com os machos. Mas em

fertilizado. Estes papéis reprodutivos que fornecem a base

aves, do sexo feminino, e não os machos, que têm e

conceitual para a diferenciação de animais nas categorias

transmitem o cromossoma sexo-específico14. Assim como a

biológicas de macho e fêmea. Não há nenhuma outra

observação de que os pinguins imperador do sexo masculino

classificação biológica amplamente aceita para os sexos.

alimentam a sua prole mais do que os seus parceiros não

Mas esta definição da categoria biológica do sexo não

levou zoólogos a concluir que o membro da espécie de

é universalmente aceita. Por exemplo, o filósofo e estudioso

pinguins imperador era na verdade o homem, a descoberta do

legal Edward Stein mantém que a infertilidade representa um

sistema de determinação do sexo ZW em aves não desafiou

problema crucial para a definição de sexo em termos dos

geneticistas ao reconhecimento na velhice de que as galinhas

papéis reprodutivos, escrevendo que o sexo definido em

são fêmeas e galos são machos. A única variável que serve

termos desses papéis geraria "homens inférteis como

como a base fundamental e confiável para biólogos distinguir o

fêmeas"16. Uma vez que um macho estéril não pode desempenhar o papel reprodutivo para que os machos são

67

estruturados, e uma mulher infértil não pode desempenhar o

Money da Universidade Johns Hopkins em o tratamento de

papel reprodutivo pela qual as fêmeas são estruturadas, de

crianças "intersex " (o termo usado então era "hermafroditas")17.

acordo com essa linha de pensamento, a definição de sexo em

Money postulou que a identidade de gênero, pelo menos para

termos de papeis de reprodução não seria apropriada, como

estas crianças, era fluida e que podia ser construída. Em sua

homens inférteis seriam classificados como fêmeas, e as

mente, fazer com que uma criança se identificasse com um

fêmeas inférteis como machos. No entanto, enquanto um

gênero só era necessário a construção da genitália sexual

sistema reprodutivo estruturado servir uma função reprodutiva

típica e a criação de um ambiente de gênero adequado para a

em particular pode ser prejudicado de um modo tal que não

criança. O gênero escolhido para essas crianças muitas vezes

pode desempenhar a sua função, o sistema ainda é

era o feminino - uma decisão que não foi baseada na genética

reconhecidamente estruturado para que o papel, de modo que

ou biologia, nem na crença de que estas crianças eram

o sexo biológico possa ainda ser definido estritamente em

"realmente" meninas, mas, em parte, o fato de que no

termos da estrutura dos sistemas reprodutivos. Uns pontos

momento em que era mais fácil cirurgicamente construir uma

semelhantes podem ser feitos sobre os casais heterossexuais

vagina, do que construir um pênis.

que não escolhem reproduzir por qualquer variedade de

O paciente mais conhecido do Dr. Money foi David

razões. Os sistemas reprodutivos masculino e feminino são

Reimer, um menino que não nasceu com uma condição

geralmente claramente reconhecíveis, independentemente de

intersexual, mas cujo pênis era danificado durante a

serem ou não utilizados para fins de reprodução.

circuncisão infantil18. David foi criado por seus pais como uma

A seguinte analogia ilustra como um sistema pode ser

menina chamada Brenda, com intervenções, tanto cirúrgicas

reconhecido como tendo uma finalidade específica, mesmo

como hormonais, para garantir que ele desenvolveria

quando esse sistema é disfuncional de uma maneira que o

características de sexo típico femininas. No entanto, a tentativa

torna incapaz de levar a cabo o seu propósito: olhos são

de esconder do filho o que tinha acontecido com ele não foi

órgãos complexos que funcionam como processadores de

bem-sucedida e ele se identificou como um menino, e,

visão. No entanto, existem numerosas condições que afetam o

eventualmente, com a idade de 14, seu psiquiatra recomendou

olho e que podem prejudicar a visão, resultando em cegueira.

a seus pais que eles lhe dissessem a verdade. David, em

Os olhos dos cegos ainda são órgãos reconhecidamente

seguida, começou o difícil processo de reversão das

estruturados para a função de visão. Quaisquer deficiências

intervenções hormonais e cirúrgicas que tinham sido realizadas

que resultam em cegueira não afetam o objetivo do olho - não

para feminizar o corpo dele. Mas ele continuou a ser

mais do que usar uma venda nos olhos - mas apenas a sua

atormentado por seu calvário de infância, e tirou a própria vida

função. O mesmo é verdade para o sistema reprodutivo.

em 2004, com a idade de 38 anos.

Infertilidade pode ser causada por diversos problemas. No

David Reimer é apenas um exemplo dos danos

entanto, o sistema reprodutivo continua a existir com a

causados pelas teorias que identidade de gênero que podem

finalidade de gerar filhos.

socialmente e medicamente ser realocados em crianças. Em

Há pessoas, no entanto, que são biologicamente

um  paper   de 2004, William G. Reiner, um urologista pediátrico

"intersex ", significando que a sua anatomia sexual é ambígua,

e psiquiatra de criança e adolescentes e John P. Gearhart,

geralmente por razões de anormalidades genéticas. Por

professor de urologia pediátrica, acompanharam as identidades

exemplo, o clitóris e o pénis são derivados das mesmas

sexuais de 16 homens geneticamente afetados por cloacal

estruturas embrionárias. Um bebê pode apresentar um clitóris

exstrophy   - uma condição que envolve uma bexiga e genitais

anormalmente grande ou um pénis anormalmente pequeno,

malformados. Dos 16 pacientes, 14 foram atribuídos sexo

fazendo com que seu sexo biológico seja difícil para determinar

feminino no nascimento, recebendo intervenções cirúrgicas

tempo após o nascimento.

para a construção de órgãos genitais femininos, e foram

O primeiro artigo acadêmico a usar o termo "gênero"

criados como meninas pelos seus pais; 6 destes 14 depois

parece ser o  paper   de 1955 do professor de psiquiatria John

escolheram viver como machos, enquanto que 5 continuaram

68

se identificar como fêmeas e 2 machos declararam-se homens

o antigo chefe de psiquiatria do Hospital Johns Hopkins (e co-

numa jovem idade, mas continuaram a ser tratados como as

autor deste relatório), sugeriu:

fêmeas, porque seus pais rejeitaram as declarações das crianças. Os pacientes restantes, que tinham dito aos 12 anos que nasceram do sexo masculino, se recusaram a discutir sua identidade sexual19. Assim, a atribuição do sexo feminino persistiu em apenas 5 dos 13 casos com resultados conhecidos. Esta falta de persistência em algumas evidências de

Nós, no Departamento de Psiquiatria Johns Hopkins, eventualmente, concluímos que a identidade sexual humana é em grande parte construída em nossa constituição pelos genes que herdamos e embriogênese que passamos. Hormônios masculinos sexualizam o cérebro e a mente. Disforia sexual um senso de inquietação no próprio papel sexual - ocorre naturalmente entre aqueles raros homens que são levantados como fêmeas em um esforço para corrigir um problema estrutural genital infantil 20.

que a atribuição de sexo através da construção genital ao nascer com a imersão em um ambiente "gênero apropriado" não é provável que seja uma boa opção para gerir o problema raro de ambiguidade genital de defeitos de nascimento. É importante notar que as idades desses indivíduos no último acompanhamento variaram de 9 a 19, por isso, é possível que

Vamos agora voltar nossa atenção para os indivíduos transgêneros - crianças e adultos - que escolhem identificar como um gênero diferente do seu sexo biológico, e explorar o significado da identidade de gênero neste contexto e o que a literatura científica nos diz sobre o seu desenvolvimento.

alguns deles possam ter posteriormente mudado suas identidades de gênero. A pesquisa de Reiner e Gearhart indica que o gênero não é arbitrário; ele sugere que um homem biológico (ou fêmea) provavelmente não virá identificar como um gênero oposto, depois de ter sido alterado fisicamente e imerso no ambiente típico do gênero correspondente. A plasticidade do gênero parece ter um limite. O que está claro é que o sexo biológico não é um conceito que pode ser reduzido a, ou artificialmente atribuído com base, no tipo de órgãos genitais externos por si só. Cirurgiões estão se tornando mais hábeis em construir genitália artificial, mas esses complementos não alteraram o sexo biológico dos destinatários, que não são mais hábeis de jogar os papéis reprodutivos do sexo biológico oposto do que eram, sem a cirurgia. Nem mudança de sexo biológico como uma função do ambiente fornecido para a criança. Nenhum grau de apoio a um pequeno menino na conversão pode ser considerado, por ele próprio e outros, para ser uma pequena menina faz dela biologicamente uma menina. A definição científica do sexo biológico é, para quase todos os seres humanos, claro, binária, e estável, refletindo uma realidade biológica subjacente que não é contrariada por exceções ao comportamento sexual típico, e não pode ser alterada por cirurgia ou condicionamento social. Em um artigo de 2004 resumindo os resultados de pesquisas relacionadas as condições intersexo, Paul McHugh,

Disforia de gênero Enquanto o sexo biológico é, com pouquíssimas exceções, uma estrutura bem definida, traço binário (masculino versus feminino) correspondente à forma como o corpo é organizado para reprodução, identidade de gênero é um atributo mais subjetivo. Para a maioria das pessoas, a sua própria identidade de gênero não é provavelmente uma preocupação significativa; a maioria dos homens biológicos identificam como meninos ou homens, e a maioria das mulheres biológicas identificar como as meninas ou mulheres. Mas alguns indivíduos experimentam uma incongruência entre seu sexo biológico e sua identidade de gênero. Se esta luta os provocas a procurar ajuda profissional, então o problema é classificado como "disforia de gênero". Algumas crianças do sexo masculino tratadas como fêmeas, conforme descrito no estudo de Reiner e colegas de 2004, vieram experienciar problemas com a sua identidade de gênero quando o seu sentido subjetivo de serem meninos em conflito como sendo identificado e tratado como meninas por seus pais e médicos. O sexo biológico dos garotos não estava em questão (estes tinham um genótipo XY), e a causa de disforia de gênero reside no fato de que eles eram geneticamente do sexo masculino, vieram a se identificar como homem, mas tinha sido atribuído identidades de gênero femininas. Isto sugere que a identidade de gênero pode ser um

69

complexo e oneroso problema para aqueles que escolhem (ou

disforia de gênero exige que o paciente adicionalmente

terem outros que escolhem para eles) uma identidade de

experimente um "sofrimento clinicamente significativo ou

gênero oposta seu sexo biológico.

prejuízo no funcionamento social, ocupacional ou outras áreas

Mas os casos de disforia de gênero que são o assunto

importantes de funcionamento" associados a estes sentimentos

de muitos debates públicos são aqueles em que as pessoas

incongruentes25. Assim, o grande conjunto de critérios de

passam a se identificar com gêneros diferentes daqueles com

diagnóstico utilizado em psiquiatria contemporânea não

base no seu sexo biológico. Essas pessoas são normalmente

designa todos os indivíduos transgêneros como tendo uma

identificados, e descrevem a si mesmos, como "transgênero"18.

desordem psiquiátrica. Por exemplo, um homem biológico que

De acordo com a American Psychiatric Association na

se identifica como uma mulher não é considerado como tendo

quinta edição do Manual Diagnóstico e Estatístico de

um transtorno psiquiátrico menor que o indivíduo que está

Transtornos Mentais (DSM-5), disforia de gênero é marcada

experimentando

por "incongruência entre seu gênero experienciado/expressado

incongruência. Um diagnóstico de disforia de gênero pode ser

e gênero atribuído", bem como "significativo sofrimento clinico

parte dos critérios utilizados para justificar a cirurgia de

ou prejuízo em áreas sociais, ocupacionais ou outras

reatribuição sexual ou outras intervenções clinicas. Além disso,

importantes áreas de funcionamento"21.

um paciente que tenha tido modificações médicas ou cirúrgicas

significativas

dores

psicossociais,

na

É importante esclarecer que a disforia de gênero não

para expressar a sua identidade de gênero ainda pode sofrer

é o mesmo que inconformidade de gênero ou transtorno de

de disforia de gênero. É a natureza da luta que define o

identidade de gênero. Inconformidade de gênero descreve um

distúrbio, não o fato de que o gênero expressado difere do

indivíduo que se comporta de forma contrária às normas

sexo biológico.

específicas de gênero de seu sexo biológico. Como o DSM-5

Não há nenhuma evidência científica de que todas as

nota, a maioria dos travestis, por exemplo, não são

pessoas transgêneras têm disforia de gênero, ou que todos

transgêneros - homens que se vestem como as mulheres

eles estão lutando com suas identidades de gênero. Alguns

normalmente não se identificam como as mulheres22  (No

indivíduos que não são transgêneros - ou seja, que não se

entanto, certas formas de travestismo podem ser associadas

identificam como um gênero que não corresponde com seu

com a disforia de gênero de início tardio23).

sexo biológico - poderiam, no entanto, lutar com sua identidade

Transtorno de identidade de gênero, um termo

de gênero; por exemplo, meninas que se comportam de certa

obsoleto que a partir de uma versão anterior do DSM foi

forma como macho-típico podem experimentar várias formas

removido na sua quinta edição, foi usado como um diagnóstico

de sofrimento sem nunca chegar a se identificar como rapaz.

psiquiátrico. Se compararmos os critérios diagnósticos para

Por outro lado, os indivíduos que se identificam como um

disforia de gênero (atual termo em curso) e transtorno de

gênero que não corresponde com seu sexo biológico não

identidade de gênero (o antigo termo), vemos que ambos

podem experimentar sofrimento clinicamente significativo

exigem que o paciente venha a apresentar "uma incongruência

relacionado a sua identidade de gênero. Mesmo que apenas,

marcante entre seu gênero experienciado/expressado e gênero

digamos, 40% dos indivíduos que se identificam como um

atribuído"24. A principal diferença é em que um diagnóstico de

gênero que não corresponde com a sua experiência sexual biológica ou angústia significativa relacionada à sua identidade

  Uma nota sobre terminologia: Neste relatório, geralmente usamos o termo transgênero para se referir a pessoas para quem não há uma incongruência entre a identidade de gênero eles mesmos entendem possuir e o seu sexo biológico. Nós usamos o transexual termo para se referir a pessoas que tenham sido submetidos intervenções médicas para transformar sua aparência para corresponder melhor com a de seu gênero preferido. O termo coloquial mais familiar usada para descrever as intervenções médicas que transformar o aparecimento de indivíduos transgênero podem ser "mudança de sexo" (ou, no caso de cirurgia, "Operação de mudança de sexo"), mas isso não é geralmente utilizado na literatura científica e médica hoje. Embora não termos simples para estes procedimentos são totalmente satisfatórios, neste relatório empregam a reatribuição termos sexo e de reatribuição sexual cirurgia comumente usado, excepto quando citando uma fonte que usa "mudança de gênero" ou algum outro termo. 18

de gênero, isto constituiria um problema público de saúde que exige médicos e outros a agir para apoiar as pessoas com disforia de gênero, e espero que, para reduzir a taxa de disforia de gênero na população. Não há evidência para sugerir que os outros 60% neste hipotético - ou seja, os indivíduos que se identificam como um gênero que não corresponde com seu

70

sexo biológico, mas que não experimentam aflição significativa

ignorar o fato de que uma criança poderia exibir um gênero

- exigiria tratamento clínico.

expresso - manifestado por traços sociais ou comportamentais

O

conceito

subjetivamente

da

DSM

de

- incongruentes com o sexo biológico da criança, mas sem

"experienciando" em gênero é incongruente do sexo biológico

identificação com o gênero oposto. Além disso, mesmo para

que pode exigir em sua análise mais crítico e possível

crianças que se identificam como um gênero oposto do seu

modificação. A definição exata de disforia de gênero, por mais

sexo biológico, os diagnósticos de disforia de gênero são

bem-intencionada, é um pouco vaga e confusa. Ela não

simplesmente não confiáveis. A realidade é que eles podem ter

considera os indivíduos que se auto identificam como

dificuldades psicológicas em aceitar seu sexo biológico como o

transgêneros, mas não tem experiência em disforia associados

seu gênero. As crianças podem ter dificuldade com as

à sua identidade de gênero e que procuram cuidados

expectativas associadas com os papéis de gênero.

psiquiátricos para comprometimento funcional para problemas

Experiências traumáticas também podem causar uma criança a

não relacionados à sua identidade de gênero, tais como

expressar angústia com o gênero associado com o sexo

ansiedade ou depressão. Eles podem então estar

biológico dele ou dela.

erroneamente como tendo disforia de gênero simplesmente

Problemas de identidade de gênero também podem

porque eles têm um desejo de ser identificado como gênero

surgir com condições intersexuais (a presença de genitália

oposto, quando eles chegaram a uma satisfatória resolução,

ambígua devido a anomalias genéticas), o que foi discutido

subjetivamente, com esta incongruência e pode estar

anteriormente. Esses distúrbios do desenvolvimento sexual,

deprimido por razões que não têm nada a ver com sua

apesar de raros, podem contribuir para a disforia de gênero em

identidade de gênero.

alguns casos28. Algumas destas condições incluem a completa

Os critérios do DSM-5 para um diagnóstico de disforia

síndrome de insensibilidade do andrógena, onde indivíduos

de gênero em crianças são definidos da "mais concreta,

com XY (sexo masculino) os cromossomos não possuem

comportamental maneira do que aqueles para adolescentes e

receptores para hormônios sexuais masculinos, levando-os a

adultos"26. Isto é para dizer que alguns dos critérios

desenvolver as características sexuais secundárias de fêmeas,

diagnósticos para disforia de gênero em crianças referem-se a

em vez disso os homens (embora eles não tendo ovários, não

comportamentos que são estereotipicamente associados ao

menstruem, e são, consequentemente, estéreis)29. Outro

gênero oposto. Sofrimento clinicamente significativo ainda é

distúrbio hormonal do desenvolvimento sexual que pode levar

necessário para o diagnóstico de disforia de gênero em

a indivíduos em desenvolvimento de formas que não são

crianças, mas alguns dos outros critérios de diagnóstico

típicas de seu sexo genético incluem hiperplasia adrenal

incluem, por exemplo, uma "forte preferência pelos brinquedos,

congênita, uma condição que pode chegar a masculinização de

 jogos ou atividades estereotípicamente usado ou praticado por

fetos XX (feminino)30. Outros fenômenos raros, como

outro gênero"27. O que de meninas que são "tomboys19" ou

mosaicismo genético31 ou quimerismo32, onde algumas células

meninos que não são orientados para a violência e armas, que

em órgãos dos indivíduos contêm XX e outros contêm

preferem jogos mais silenciosos? Os pais devem se preocupar

cromossomas XY, podem levar a considerável ambiguidade

que sua filha tomboy  é realmente um garoto preso no corpo de

em características sexuais, incluindo indivíduos que possuem

uma menina? Não há base científica para acreditar que jogar

ambas gônadas masculinas e femininas.

com os brinquedos típicos de meninos define a criança como

Embora haja muitos casos de disforia de gênero que

um menino, ou que o brincar com os brinquedos típicos de

não estão associados com estas condições intersexuais

meninas define uma criança como uma menina. O critério

identificáveis, disforia de gênero pode ainda representar um

DSM-5 para o diagnóstico de disforia de gênero por referência

tipo diferente de condição intersexual em que as principais

aos brinquedos típicos do gênero típico é infundada; parece

características sexuais, tais como genitália desenvolvida normalmente enquanto características secundárias sexuais

Tomboy   no dicionário significa: menina que apresenta características e comportamentos considerados tipicamente masculinos. 19

associadas com o cérebro desenvolvem ao longo das linhas do

71

sexo oposto. Existe controvérsia sobre influências que determinam as diferenças na natureza de doenças neurológicas, psicológicas e sexuais comportamentais. O emergente consenso é que pode haver algumas diferenças nos

Gênero e Fisiologia Robert Sapolsky, um professor de biologia da Stanford

padrões de desenvolvimento neurológico intra ou extra útero

que fez uma extensa pesquisa com neuroimagem, sugere uma

para homens e mulheres33. Portanto, em teoria, indivíduos

possível explicação neurobiológica para a identificação com o

transgêneros poderiam estar sujeitos a condições que

gênero oposto em um artigo de 2013 no Wall Street Journal ,

permitam desenvolver um cérebro tipo de fêmea dentro de um

"Presos entre macho e fêmea". Ele afirmou que os estudos de

macho genético (tendo o XY como padrão cromossômico), e

neuroimagem recentes dos cérebros de adultos transgêneros

vice-versa. No entanto, como mostraremos na próxima seção,

sugerem que eles podem ter estruturas cerebrais mais

a investigação de apoio a esta ideia é mínima.

parecidas com a sua identidade de gênero do que a seu sexo

Como forma de levantamento da pesquisa de ciências

biológico34. Sapolsky baseia esta afirmação no fato de que

biológica e social em disforia de gênero, podemos listar

existem diferenças entre cérebros masculinos e femininos, e

algumas das questões importantes. Existem fatores biológicos

enquanto as diferenças são "pequenas e variáveis", estas

que influenciam o desenvolvimento de uma identidade de

"provavelmente contribuem para as diferenças sexuais na

gênero que não corresponde com o próprio sexo biológico?

aprendizagem, emoção e socialização"35. E conclui: ―A questão

Alguns indivíduos nascem com uma identidade de gênero

não é que às vezes as pessoas acreditam que elas são de um

diferente do seu sexo biológico? É a identidade de gênero

gênero diferente do que realmente são. Notavelmente, ao

moldada por condições ambientais ou alimentada? Quanto

invés, é que às vezes as pessoas nascem com corpos cujo

estável são as escolhas de identidade de gênero? Quanto é

gênero é diferente do que eles realmente são"36. Em outras

comum a disforia de gênero? Isso é persistente ao longo da

palavras, ele afirma que algumas pessoas podem ter um

vida? Pode um pequeno menino que pensa que é uma

cérebro de tipo feminino em um corpo masculino, ou vice-

pequena menina mudar ao longo de sua vida e considera-se

versa.

como homem? Se sim, como pode muitas vezes essas

Embora este tipo de teoria neurobiológica da

pessoas mudar suas identidades de gênero? Como é que a

identificação com o gênero oposto permaneça fora da grande

identidade de gênero pode ser medida cientificamente? Tem

mídia científica recebeu recentemente atenção científica e

autoconhecimento suficiente? Será que uma menina biológica

popular. Ele fornece uma explicação potencialmente atraente

se torna um menino de gênero crendo, ou pelo menos

para a identificação com o gênero oposto, especialmente para

afirmando, que é um menino? As lutas das pessoas com um

pessoas que não estão afetadas por qualquer conhecimento de

sentido de incongruência entre a sua identidade de gênero e

genética, hormônios ou anomalias psicossociais37. No entanto,

sexo biológico persistem ao longo do curso da vida? Será que

enquanto Sapolsky pode estar certo, há pouquíssimo apoio na

a disforia de gênero responde às intervenções psiquiátricas?

literatura científica para a sua contenção. Sua explicação

Caso essas intervenções foquem na afirmação da identidade

neurológica para diferenças entre os cérebros masculinos e

de gênero do paciente ou assumir uma posição mais neutra?

femininos e possível relevância dessas diferenças para a

Os esforços para modificar cirurgicamente ou hormonalmente

identificação com o gênero oposto demanda de uma análise

as características sexuais primárias ou secundárias de um

cientifica mais aprofundada.

indivíduo ajudam a resolver a disforia de gênero? Será que a

Há muitos pequenos estudos que tentam definir

modificação ainda cria problemas psiquiátricos para algumas

fatores causais da experiência da incongruência entre o próprio

das pessoas diagnosticadas com disforia de gênero ou faz que

sexo biológico e sentimento de gênero. Esses estudos são

normalmente

psiquiátricos

descritos nas páginas a seguir, cada um apontando a uma

existentes? Nós abordamos algumas destas questões críticas

influência que pode contribuir para a explicação da

nas seções seguintes.

identificação para gênero oposto.

resolvam

seus

problemas

72

Nancy Segal, psicóloga e geneticista, pesquisou dois

"transexualismo é improvável que seja associado com um gene

estudos de caso gêmeos de idênticos discordantes para

principal, mas é susceptível de ser associado a várias

transexuais feminino-para-masculino (FtM)38. Segal observa

influências genéticas, epigenéticas, de desenvolvimento e

que, de acordo com outro estudo anterior que conduziu

experienciais"44. Segal crítica a noção de que o abuso materno

entrevistas não clínicas com 45 transexuais FtM, 60% sofreram

experimentado pela dupla FtM em seu primeiro estudo de caso

alguma forma de abuso na infância, com 31% experienciando

pode ter desempenhado um papel causal na "atípica

abuso sexual, 29% experimentando abuso emocional, e 38%

identificação de gênero" do gêmeo, desde que o abuso

abuso físico39. No entanto, este estudo mais cedo não incluiu

"aparentemente acompanhado‖ os comportamentos de gênero-

um grupo de controle e foi limitado pelo seu pequeno tamanho

atípicos dos gêmeos - embora Segal reconheça "é possível

da amostra, tornando-o difícil de extrair interações

que este abuso reforce sua identificação atípica com o

significativas, ou generalizações, a partir dos dados.

gênero"45. Esses estudos de caso, embora informativos, não

O próprio primeiro estudo de caso de Segal era de um

são cientificamente fortes, e não fornece evidência direta para

gêmeo FtM com 34 anos de idade, cuja irmã gêmea idêntica

quaisquer hipóteses causais sobre as origens da identificação

era casada e mãe de sete filhos40. Vários eventos estressantes

atípica de gênero.

tinham ocorrido durante a gravidez da mãe dos gêmeos, e eles

Uma fonte de mais informações - mas também

nasceram de cinco semanas prematuramente. Quando tinha

inadequadas para fazer inferências causais diretas - é uma

oito anos, seus pais se divorciaram. O gêmeo FtM exibiu

análise de caso que a Mayo Clinic através dos psiquiatras J.

comportamento não conformado de gênero no início e persistiu

Michael Bostwick e Kari A. Martin, de um indivíduo intersexo

durante toda a infância. Ela tornou-se atraída por outras

nascido com genitália ambígua que foi operado e criado como

meninas na escola secundária e como adolescente houve

um mulher 46. A título de oferecer algumas informações, os

tentativa de suicídio várias vezes. Ela relatou o abuso físico e

autores fazem uma distinção entre o transtorno de identidade

abuso emocional na mão de sua mãe. Os gêmeos foram

de gênero (uma "inconsistência entre identidade de gênero

criados em uma família Mórmon, em que a transexualidade

percebida e sexo fenotípico" que geralmente envolve "uma

não foi tolerada41. A irmã gêmea nunca tinha questionado sua

anormalidade neuroendocrinológica não discernível"47), e

identidade de gênero, mas experimentou alguma depressão.

intersexualidade (uma condição na qual características

Para Segal, o inconformismo com o gênero do gêmeo FtM e o

biológicas de ambos os sexos estão presentes). Eles também

abuso na infância foram fatores que contribuíram para disforia

fornecem um resumo e esquema de classificação dos

de gênero; o outro gêmeo não estava sujeito aos mesmos

diferentes tipos de distúrbios hermafroditas. Após uma

fatores de stress na infância, e não desenvolveram problemas

discussão

ao seu redor na identidade de gênero. O segundo estudo de

desenvolvimento intersexuais que podem levar a uma

caso de Segal também com gêmeos idênticos com um gêmeo

disjunção entre o cérebro e o corpo, os autores reconhecem

transicionado do feminino para o masculino42. Estes gêmeos

que "alguns pacientes adultos com severa disforia  –

FtM exibiram comportamentos de início precoce de não

transexuais - não têm resultados nem história e nem objetivos

conformidade de gênero que atentaram suicídio até jovem

de apoio a uma causa biológica conhecida de disjunção

adulto. Aos 29 anos, ela passou por uma cirurgia de

cérebro-corpo"48. Estes pacientes requerem atenção médica e

redesignação, foi bem apoiada pela família, conheceu uma

psiquiátrica minuciosa para evitar disforia de gênero.

aprofundada

das

várias

questões

de

mulher e casou. Tal como no primeiro caso, o outro gêmeo

Após este resumo útil, os autores afirmam que

teria sido sempre seguro em sua identidade de gênero

"psicose ausente ou severa patologia de personalidade,

feminina.

afirmações subjetivas dos pacientes são presentemente os

Segal especula que cada par de gêmeos pode ter tido

mais confiáveis padrões para delinear a identidade do núcleo

exposições pré-natais desiguais de andrógenos (embora o seu

de gênero"49. Mas não está claro como poderíamos considerar

estudo não oferece evidências para apoiar isto)43 e conclui que

afirmações subjetivas mais confiáveis no estabelecimento de

73

identidade de gênero, a menos que a identidade de gênero

gênero preferido do que o gênero correspondente com o seu

seja definida como um fenômeno completamente subjetivo. A

sexo biológico. Ambos os estudos são limitados pelo pequeno

maior parte do artigo é dedicado a descrever as várias

tamanho das amostras e a falta de uma hipótese prospectiva -

maneiras objetivamente discerníveis e identificáveis em que

ambos analisaram os dados de imagem de ressonância

uma identidade de um macho ou fêmea é impressa no sistema

magnética para encontrar as diferenças de gênero e, em

nervoso e endócrino. Mesmo quando algo der errado com o

seguida, olharam para ver onde os dados dos sujeitos

desenvolvimento da genitália externa, os indivíduos são mais

transgêneros se caberiam.

propensos a agir de acordo com a sua composição cromossômica e hormonal50.

Considerando que ambos os estudos de imagem de ressonância magnética olharam para a estrutura do cérebro,

Em 2011, Giuseppina Rametti e colegas de vários

um estudo funcional de ressonância magnética por Emiliano

centros de pesquisas em Espanha usaram imagens de

Santarnecchi e colegas da Universidade de Siena e da

ressonância magnética para estudar as estruturas do cérebro

Universidade de Florença olharam para as funções do cérebro,

de 18 FtM transexuais que apresentaram não-conformidade de

examinaram diferenças relativas na atividade cerebral

gênero cedo na vida e experienciaram atração sexual para

espontânea durante o estado de repouso56. Os pesquisadores

fêmeas antes do tratamento hormonal51. O objetivo era saber

compararam um único indivíduo FtM (declarado como gênero

se as suas características cerebrais correspondiam mais ao

oposto desde a infância), e grupos controle de 25 homens e 25

seu sexo biológico ou ao seu sentido de identidade de gênero.

mulheres, no que diz respeito à atividade cerebral espontânea.

O grupo controle era composto por 24 homens e 19 mulheres

O indivíduo FtM demonstrou um "perfil de atividade cerebral

heterossexuais com identidades de gênero em conformidade

mais perto de seu sexo biológico do que para o seu desejo", e

com seu sexo biológico. As diferenças foram notadas na

com base, em parte, nestes resultados os autores concluíram

microestrutura da substância branca de áreas específicas do

que "transexuais FtM não tratadas mostram um perfil funcional

cérebro. Em transexuais FtM não-tratados, a estrutura era mais

de conectividade comparável a indivíduos controle do sexo

semelhante ao dos heterossexuais machos do que a das

feminino"57. Com uma amostra de tamanho um o poder

heterossexuais mulheres em três de quatro áreas do cérebro52.

estatístico deste estudo é praticamente zero.

Em um estudo complementar, Rametti e colegas compararam

Em 2013, Hsaio-Lun Ku e colegas de vários centros

18 transexuais MtF com 19 mulheres e 19 homens controles

médicos e institutos de pesquisa em Taiwan também

heterossexuais53. Estes transexuais MtF tiveram valores

realizaram estudos de imagem funcional do cérebro. Eles

médios da matéria branca do trato em várias áreas do cérebro

compararam a atividade cerebral de 41 transexuais (21 FtMs,

que caíram entre as médias dos machos e de fêmeas controle.

20 MtFs) e 38 controles pareados heterossexuais (19 homens

Os valores, no entanto, eram tipicamente mais perto dos

e 19 mulheres)58. A resposta de excitação de cada analise de

homens (que é, para aqueles que partilhavam seu sexo

coorte durante a visualização neutra em comparação com

biológico) do que para as fêmeas em mais areas54. Nos

filmes eróticos foi comparada entre os grupos. Todos os

controles os autores descobriram que, como esperado, os

transexuais do estudo relataram atrações sexuais ao sexo de

machos tinham maiores quantidades de substância cinzenta e

nascimento, biológico, e exibiram mais excitação sexual do que

branca e volumes mais elevados de fluido cerebroespinhal do

os controles heterossexuais ao visualizar filmes eróticos que

que fêmeas controle. Os volumes cerebrais dos transexuais

descreveram a atividade sexual entre os indivíduos que

MtF foram todos semelhantes aos dos controles do sexo

compartilharam seu sexo biológico. A pontuação "selfness",

masculino e significativamente diferente aqueles das

também foi incorporada no estudo, no qual os pesquisadores

mulheres55.

pediram aos participantes para "avaliar o grau de que você se

No geral, os resultados destes estudos por Rametti e

identifica com o sexo masculino ou feminino no filme"59. Os

seus colegas não apoiam suficientemente a noção de que os

transexuais no estudo identificaram-se com os de seu gênero

indivíduos transgêneros têm cérebros mais parecido com o seu

preferido mais do que os controles identificados com os do seu

74

gênero biológico, em ambos os filmes eróticos e filmes neutros.

não corresponde a seu sexo biológico devido a uma condição

Os controles heterossexuais não se identificaram com machos

inata ou biológica do cérebro.

ou fêmeas em qualquer um dos tipos de filmes. Ku e colegas

A questão não é simplesmente se existem diferenças

afirmam ter demonstrado padrões cerebrais característicos

entre os cérebros de indivíduos transgêneros e pessoas que se

para atração sexual como relacionada com o sexo biológico,

identificam com o gênero correspondente ao seu sexo

mas não faz sentido comparações de identidade de gênero

biológico, mas se a identidade de gênero é um traço fixo, inato

neurobiológicas entre os três grupos. Além disso, eles

e biológico, mesmo quando não corresponde ao sexo

relataram resultados que os transexuais demonstraram estilos

biológico, ou se as causas ambientais ou psicológicos

psicossociais defensivos mal adaptados.

contribuem para o desenvolvimento de um senso de identidade

Um estudo de 2008 por Hans Berglund e colegas do

de gênero em tais casos. Diferenças neurológicas em adultos

Sweden’s Karolinska Institute do Stockholm Brain Institute

transgêneros podem ser consequência de fatores biológicos,

usaram PET scans e fMRI para comparar padrões de ativação

tais como genes ou exposição hormonal pré-natal, ou de

da área cerebral em 12 indivíduos transgêneralizados MtF que

fatores psicológicos e ambientais, tais como abuso infantil, ou

foram sexualmente atraídos para mulheres com 12 mulheres

que poderia resultar de uma combinação dos dois. Não

heterossexuais e 12 homens heterossexuais60. O primeiro

existem estudos de série, longitudinais ou transversais olhando

conjunto de sujeitos não tomou hormônios e não foram

para os cérebros de gênero-cruzados na identificação de

submetidos à cirurgia de reatribuição sexual. A experiência

crianças que desenvolvem a identificação tardia como adultos

envolveu cheirar esteroides odoríferos que se pensavam ser

transgêneros. A falta desta pesquisa limita severamente a

ferormônios femininos, e outros odores sexualmente neutros,

nossa capacidade de compreender as relações causais entre

tais como óleo de lavanda, óleo de cedro, eugenol, butanol, e

morfologia do cérebro, ou atividade funcional e o

ar inodoro. Os resultados foram variados e misturados entre os

desenvolvimento posterior da identidade de gênero

grupos para os vários odores, o que não deveria ser

diferentemente do sexo biológico.

surpreendente, desde que as análises post-hoc20  geralmente levam a conclusões contraditórias.

Em termos mais gerais, é agora amplamente reconhecida entre os psiquiatras e neurocientistas que se

Em resumo, os estudos apresentados acima mostram

dedicam a pesquisas de imagens do cérebro que existem

evidências inconclusivas e resultados mistos sobre os cérebros

limitações metodológicas inerentes e inextirpáveis de qualquer

de adultos transgêneros. Padrões de ativação-cerebral nestes

estudo com neuroimagem que associa simplesmente uma

estudos não oferecem provas suficientes para tirar conclusões

característica particular, tal como um certo comportamento,

sólidas sobre possíveis associações entre a ativação cérebro e

com um morfologia particular do cérebro61  (e quando a

a identidade sexual ou excitação. Os resultados são

característica em questão não é um comportamento concreto,

conflitantes e confusos. Uma vez que os dados por Ku e

mas algo tão vago e evasivo como a "identidade de gênero",

colegas sobre os padrões de ativação-cérebro não são

estes problemas metodológicos são ainda mais sérios). Estes

universalmente associados a um determinado sexo, não

estudos não podem fornecer evidências estatísticas, que não

permanece claro para que intensos achados neurobiológicos

apresentam mecanismo biológico plausível forte o suficiente

não dizem nada significativo sobre identidade de gênero. É

para suportar conexões causais do cérebro entre um traço,

importante notar que, independentemente de seus resultados,

característica, comportamento ou sintoma em questão. Para

os estudos deste tipo não podem suportar qualquer conclusão

apoiar uma conclusão da causalidade, mesmo causalidade

de que indivíduos passam a se identificar como um gênero que

epidemiológica, é necessário realizar estudos de painel longitudinal prospectivos de um conjunto fixo de indivíduos

 Analise post-hoc ou testes post hoc são projetados para situações em que o pesquisador já tenha obtido um F-teste abrangente significativo com um fator que consiste em três ou mais meios e exploração adicional das diferenças entre as médias e é necessário para fornecer informações específicas sobre quais meios são significativamente diferentes de um para o outro. 20

através de todo o curso do desenvolvimento sexual, se não em toda a sua vida útil.

75

Estudos como estes usam imagens em serie do

extremos da distribuição. Assim, indivíduos transgêneros

cérebro no nascimento, na infância, e em outros pontos ao

selecionados aleatoriamente e indivíduos não-transgêneros

longo do contínuo desenvolvimento, para ver se achados na

selecionados aleatoriamente podem não diferir em qualquer

morfologia do cérebro estavam lá desde o início. Caso

uma dessas 100 medições. Além disso, uma vez que a

contrário, não é possível estabelecer se certas características

probabilidade que uma pessoa selecionada aleatoriamente a

cerebrais causam um traço, ou se a característica é inata e

partir de a população em geral ser transgênera é bastante

talvez fixa. Estudos como aqueles discutidos acima de

pequena, diferenças estatisticamente significativas entre as

indivíduos que já apresentam o traço são incapazes de

médias amostrais não são evidências suficientes para concluir

distinguir entre as causas e consequências da característica.

que uma medição particular é preditiva de que uma pessoa

Na maioria dos casos indivíduos transgêneros foram agindo e

será transgênera ou não. Se medirmos o cérebro de uma

pensando há anos dessa forma que, por meio de um

criança, ou adolescente e encontramos este indivíduo estando

comportamento aprendido e neuroplasticidade associados, o

mais perto de um coorte que de outro sobre estas medidas,

cérebro pode ter produzido mudanças que possam diferenciá-

não implica que essa pessoa irá crescer para se identificar

los de outros membros de sua natureza biológica ou sexo. A

como um membro desse grupo. Isto pode ser útil ao manter

única maneira definitiva para estabelecer causalidade

esta ressalva em mente para interpretar as pesquisas em

epidemiológica entre um recurso do cérebro e um traço

pessoas transgêneros.

(especialmente um tão complexo como identidade de gênero) é

Neste contexto, é importante notar que não há

conduzir estudos prospectivos, longitudinais, de preferência de

estudos demonstrando que nenhuma das diferenças biológicas

forma que a amostragem seja aleatória com estudos de base

a serem examinadas têm poder preditivo, e assim todas as

populacional.

interpretações, geralmente em estabelecimentos populares,

Na

ausência

de

tais

estudos

longitudinais

afirmando ou sugerindo que uma diferença estatisticamente

prospectivos, representando grandes amostras de base

significativa entre os cérebros de pessoas que são transgênero

populacional com controles estatísticos adequados para fatores

e aqueles que não são é a causa de ser transgênero ou não -

confundidores que podem ajudar a diminuir as possíveis

que é dizer, que as diferenças biológicas determinam as

causas de um comportamento traço e assim aumentar a

diferenças na identidade de gênero - mas são injustificadas.

probabilidade de identificar uma causa neurológica62. No

Em resumo, os estudos atuais sobre associações

entanto, porque os estudos realizados até agora usaram

entre a estrutura do cérebro e identidade transgênera são

pequenas amostras de conveniência, nenhum deles é

pequenos, metodologicamente limitados, inconclusivos e por

especialmente útil para estreitar as opções de causalidade.

vezes

Para obter uma melhor amostra do estudo, seriam necessários

metodologicamente confiáveis, eles seriam insuficientes para

nos estudos de neuroimagem incluir levantamentos

demonstrar que a estrutura do cérebro é uma causa, em vez

epidemiológicos de grande escala. De fato, dado o pequeno

de um efeito, no comportamento identidade-gênero. Da mesma

número de indivíduos transgêneros na população em geral63 os

forma que não têm poder preditivo, o verdadeiro desafio para

estudos precisariam ser proibitivamente grandes para atingir

qualquer teoria na ciência.

resultados que alcançariam significância estatística.

contraditórias.

Mesmo

se

fossem

mais

Um exemplo simples para ilustrar este ponto, suponha

Além disso, se um estudo encontrasse diferenças

que teve um quarto com 100 pessoas nele. Dois deles são

significativas entre estes grupos - ou seja, uma série de

transgêneros e todos os outros não são. Eu escolho alguém ao

diferenças maiores do que seria esperado pelo acaso - essas

acaso e pedir-lhe para adivinhar a identidade de gênero da

diferenças remeteriam para a média de uma população de

pessoa. Sabendo que 98 de 100 dos indivíduos não são

cada grupo. Mesmo que estes dois grupos diferissem

transgêneros, o mais seguro seria apostar em adivinhar que o

significativamente para todas as 100 medições, não indica

indivíduo não é transgênero, porque a resposta estará correta

necessariamente uma diferença biológica entre indivíduos nos

em 98% do tempo. Suponha-se, então, que você tem a

76

oportunidade de fazer perguntas sobre a neurobiologia e sobre a natureza do sexo da pessoa. Sabendo que a biologia só ajuda a prever se o indivíduo é transgênero se pode melhorar a estimativa inicial de que se a pessoa não é transgênera. Portanto, se conhecer uma característica do cérebro do indivíduo não melhora a capacidade de prever o grupo que o paciente pertence para, em seguida, o fato dos dois grupos diferirem na média é quase irrelevante. Aperfeiçoamento na previsão inicial é muito difícil para uma característica rara tal como sendo transgênero, porque a probabilidade de que a previsão esteja correta é muito alta. Se realmente houvesse uma clara diferença entre os cérebros dos indivíduos transgêneros e não-transgêneros, semelhante as diferenças biológicas entre os sexos, em seguida, a melhoria na estimativa inicial seria relativamente fácil. Ao contrário das diferenças entre os sexos, no entanto, não há recursos biológicos que possam confiantemente identificar indivíduos transgêneros como diferente dos outros.

Muitos falaram sobre sua dolorosa decisão de permitir que seus filhos se transformassem publicamente para o gênero oposto um processo muito mais difícil para meninos que queriam ser meninas. Algumas das coisas que Jean ouvi foram tranquilizadoras: Os pais que decidiram aceitar disseram que os problemas de comportamento de seus filhos em grande parte haviam desaparecido, notas escolares melhoraram, os sorrisos felizes das crianças retornaram. Mas algumas das coisas que ela ouviu foram assustadoras: crianças que tomam bloqueadores de puberdade no ensino fundamental e adolescentes que embarcaram em terapia hormonal antes que eles sequer terminassem o ensino escolar 65.

A história continua a descrever a forma como a irmã, Moyin, da criança transgênera Tyler (anteriormente Kathryn) fazia sentido na identidade de seu irmão: A irmã de Tyler, que tem 8 anos, era muito mais casual ao descrever o irmão transgênero. "É só uma mente de menino em um corpo de menina" Moyin explicou o assunto com naturalidade aos seus colegas em sua escola privada, o que permitirá Tyler começar o jardim de infância como um menino, com nenhuma menção de Kathryn 66.

O consenso da evidência científica esmagadora apoia

As observações da irmã da criança encapsulam a

a proposição de que fisicamente e desenvolvidamente normal

noção popular sobre a identidade de gênero: os indivíduos

um menino ou menina é realmente o que ele ou ela parece ser

transgêneros, ou crianças que se encontram nos critérios de

ao nascimento. A evidência disponível a partir de imagens do

diagnóstico de disforia de gênero, são simplesmente "uma

cérebro e a genética não demonstram que o desenvolvimento

mente de menino em um corpo de menina" ou vice-versa. Este

da identidade de gênero como diferente de sexo biológico é

ponto de vista implica que a identidade de gênero é uma

inata. Porque os cientistas não estabeleceram um quadro

característica persistente e inata da psicologia humana, e

sólido para a compreensão das causas de identificação com o

inspirou uma abordagem de gênero de afirmação para as

gênero oposto, a investigação em curso deve ser aberta para

crianças que sofrem de questões de identidade de gênero

causas psicológicas e sociais, assim como as biológicas.

numa idade precoce. Como vimos acima, na visão geral da neurobiologia e pesquisa genética sobre as origens da identidade de gênero,

Identidade transgênera em crianças Em 2012, o Washington Post apresentou uma história por Petula Dvorak, "Transgender at

five"64 sobre

uma menina que

com a idade de 2 anos começa a insistir que ela era um menino. A história narra a interpretação de sua mãe deste comportamento: "o cérebro dessa menina sempre foi diferente. Jean [sua mãe] poderia dizer. Ela tinha ouvido falar sobre as pessoas transgêneras, aqueles que tem um gênero fisicamente, mas outro gênero mentalmente". A história narra estas experiências e dificuldades da mãe quando ela começou a pesquisar problemas com a identidade de gênero em crianças e veio a entender as experiências de outros pais:

há pouca evidência que o fenômeno da identidade transgênero tem uma base biológica. Também há pouca evidência de que as questões de identidade de gênero têm uma alta taxa de persistência em crianças. De acordo com o DSM-5, ―na natureza [biológica] machos, tem persistência [de disforia de gênero] variando de 2,2% a 30%. Nas fêmeas por natureza, a persistência variou de 12% a 50%"67. Os dados científicos na persistência de disforia de gênero continuam a ser escassos, devido a baixíssima prevalência da doença na população em geral, mas a vasta gama dos achados da literatura sugere que ainda há muito que fazer pois não se sabe sobre o porquê da

77

disforia de gênero persiste ou desiste em crianças. Como a

25 meninas que tinham sido tratadas71  (clínica de Zucker foi

entrada DSM-5 continua a nota, "Não está claro se as crianças

fechada pelo governo canadense em 2.015)72.

que são 'encorajadas' ou apoiadas a viver socialmente no

Uma alternativa para a abordagem de Zucker que

gênero desejado irão mostrar taxas mais elevadas de

enfatiza a afirmação de que a identidade de gênero preferida

persistência, uma vez que tais crianças ainda não foram

da criança se tornou mais comum entre os terapeutas73. Esta

seguidas longitudinalmente de uma forma sistemática"68. Há

abordagem envolve ajudar as crianças a auto identificar até

uma clara necessidade de mais investigação nessas áreas, e

mesmo mais com o rótulo de gênero que elas preferem no

para os pais e terapeutas reconhecer a grande incerteza sobre

momento. Um componente da abordagem de afirmação de

como interpretar o comportamento dessas crianças.

gênero tem sido a utilização de tratamentos hormonais para adolescentes, a fim de retardar o aparecimento de características sexuais típicas durante a puberdade e aliviar os

Intervenções terapêuticas em crianças Com a incerteza em torno do diagnóstico e

sentimentos de disforia para os adolescentes experimentarem

prognóstico para a disforia de gênero em crianças, as decisões

típicas que estão em desacordo com o gênero com o qual se

terapêuticas são particularmente complexas e difíceis. As

identificam. Há relativamente pouca evidência para o valor

intervenções terapêuticas para crianças devem ter em conta a

terapêutico destes tipos de tratamentos para retardamento da

probabilidade de que as crianças podem superar a

puberdade, mas eles são atualmente objeto de um grande

identificação com o gênero oposto. Na Universidade de

estudo clínico patrocinado pelo Institute National of Health74.

como seus corpos se desenvolvem características sexuais

Toronto o pesquisador e terapeuta Kenneth Zucker acredita

Embora os dados epidemiológicos sobre os resultados

que a dinâmica da família e colegas podem desempenhar um

de medicamentos que adiam a puberdade sejam bastante

papel significativo no desenvolvimento e persistência de

limitados, encaminhamentos para procedimentos com

comportamentos de gênero inconformados, escrevendo que

hormônios de reatribuição sexual e cirurgias parecem estar em ascensão, e há um impulso entre muitos defensores para

É importante considerar ambos os fatores predisponentes e perpetuadores que pode informar uma formulação clínica e o desenvolvimento de um plano terapêutico: o papel do temperamento, o reforço dos pais ao comportamento transgênero durante o período sensível da formação da identidade de gênero, dinâmica familiar, a psicopatologia parental, relações entre pares e os múltiplos sentidos que possam ser subjacentes a fantasia da criança de se tornar um membro do sexo oposto 69.

Zucker trabalhou durante anos com crianças experimentando sentimentos de incongruência de gênero, oferecendo tratamentos psicossociais para ajudá-los a abraçar o gênero e se corresponder com seu sexo biológico - por exemplo, terapia da fala, datas com jogos arranjados pelos pais com os pares do mesmo sexo, terapia para problemas psicopatológicos ocorridos como transtorno do espectro do autismo e aconselhamento para os pais70. Em um estudo de acompanhamento por Zucker e colegas de crianças tratadas ao longo de trinta anos no Centro de Saúde Mental e Vício em Toronto, eles descobriram que o transtorno de identidade de gênero persistiu em apenas 3 das

prosseguir com a mudança de sexo em idades mais jovens. Segundo um artigo de 2013 no The Times de Londres, o Reino Unido viu um aumento de 50% do número de crianças encaminhadas para clínicas de disforia de gênero entre 20112012, e um aumento de quase 50% nas referências entre adultos entre 2010-201275. Se este aumento pode ser atribuído ao aumento das taxas de confusão de gênero, elevando-se a sensibilidade às questões de gênero, crescimento a aceitação da terapia como uma opção, ou outros fatores, o aumento em si merece respeito e investigação mais científica sobre a dinâmica familiar e outros problemas potenciais, como a rejeição social ou desenvolvimento de questões, que podem ser tomados como sinais de disforia de gênero na infância. Um estudo de resultados psicológicos após supressão da puberdade e cirurgia de reatribuição sexual, publicado na revista Pediatrics  em 2014 pela psiquiatra de criança e adolescente Annelou L. C. De Vries e colegas, sugeriu melhores resultados para os indivíduos depois de receber estas intervenções, com o bem-estar melhorando para um

78

nível semelhante ao dos jovens adultos da população geral76.

acreditam no pré-tratamento sobre uma vida ideal no pós-

Este estudo analisou 55 transgêneros adolescentes e adultos

tratamento podem, por vezes, não o realizar.

 jovens (22 MtF e 33 FtM) de uma clínica holandesa que foram

Em 2004, Birmingham University’s Aggressive

avaliados três vezes: antes do início da supressão da

Research Intelligence Facility   (ARIF) avaliou os resultados de

puberdade (média idade: 13,6 anos), quando os hormônios

mais de uma centena de estudos follow-up de pós-operatório

transgêneros foram introduzidos (idade média: 16,7 anos), e

transsexuais77. Um artigo no The Guardian  resumiu os

pelo menos um ano após a cirurgia de redesignação sexual

achados:

(idade média: 20,7 anos). O estudo não forneceu um grupo equiparado para comparação - isto é, um grupo de adolescentes transgêneros que não receberam hormônios bloqueadores da puberdade, hormônios do sexo oposto, e/ou cirurgia de reatribuição sexual - o que faz as comparações de resultados mais difíceis. No estudo de coorte, disforia de gênero melhorou ao longo do tempo, a imagem corporal melhorou em algumas medidas, e funcionamento global melhorou modestamente. Devido à falta de um grupo controle não está claro se essas mudanças são atribuíveis aos procedimentos ou teriam ocorrido neste coorte, sem as intervenções médicas e cirúrgicas. Medidas de ansiedade, depressão, raiva mostraram algumas melhorias ao longo do tempo, mas esses resultados não alcançaram significância estatística. Embora este estudo sugeriu algumas melhorias ao longo do tempo neste grupo, em particular

a

satisfação

subjetiva

relatada

com

os

procedimentos, para detectar significativa diferenças exigiria o estudo ser replicado com um grupo controle pareado e um tamanho de amostra maior. As intervenções também incluíram cuidados a partir de uma equipe multidisciplinar de profissionais da área médica, que poderia ter um efeito benéfico. Futuros estudos deste tipo o ideal seria incluir acompanhamentos a longo prazo que avaliam os resultados e funcionando além do final da adolescência ou início dos vinte anos.

ARIF... conclui que nenhum dos estudos fornece evidências conclusivas que mudança de gênero é benéfica para os pacientes. Constatou-se que a maioria das pesquisas foram mal planejadas, com viés nos resultados em favor da mudança física de sexo. Não houve avaliação se outros tratamentos, tais como aconselhamento a longo prazo, podem ajudar transexuais, ou seja, sua confusão de gênero pode diminuir ao longo do tempo. ARIF diz que os resultados dos poucos estudos que rastrearam um número significativo de pacientes com vários anos eram falhos porque os pesquisadores perderam o controle de pelo menos metade dos participantes. As possíveis complicações de hormônios e cirurgia genital, que incluem trombose venosa profunda e incontinência, respectivamente, também não foram totalmente investigados. ―Há sim enorme incerteza sobre se a mudança de sexo de alguém é uma boa ou um coisa ruim‖ , diz o Dr. Chris Hyde, diretor da ARIF. "Embora, sem dúvida, grande cuidado seja tomado para garantir que os pacientes apropriados mudem de gênero, ainda há um grande número de pessoas que têm a cirurgia, mas permanecem traumatizadas - muitas vezes ao ponto de cometer suicídio" 78.

O alto nível de incerteza sobre vários resultados após cirurgia de mudança de sexo faz com que seja difícil encontrar respostas claras dos efeitos da cirurgia de mudança nos pacientes. Desde 2004, tem havido outros estudos sobre a eficácia da cirurgia de reatribuição sexual, utilizando maior tamanhos de amostra e melhores metodologias. Vamos agora examinar alguns dos estudos mais adequados e confiáveis sobre os resultados para os indivíduos que receberam cirurgia de reatribuição sexual. Já em 1979, Jon K. Meyer e Donna J. Reter publicaram um estudo longitudinal follow-up sobre o bem-estar geral dos adultos que foram submetidos a cirurgia de reatribuição sexual79. O estudo comparou os resultados de 15

Intervenções terapêuticas em adultos O potencial que os pacientes submetidos médica e

pessoas que fizeram a cirurgia com os de 35 pessoas que solicitaram, mas não fizeram a cirurgia (14 destes indivíduos,

cirúrgica a mudança de sexo em querer voltar a uma

eventualmente fizeram a cirurgia posteriormente, resultando

identidade de gênero coerente com seu sexo biológico sugere

em três coortes de comparação: operado, não operado e

que a redesignação carrega considerável risco psicológico e

operado mais tarde). Bem-estar foi quantificado utilizando um

físico, especialmente quando realizada na infância, mas

sistema de pontuação que avaliou o relacionamento

também em idade adulta. Isto sugere que os pacientes que

psiquiátrico, económico e jurídico dos resultados das variáveis.

79

Pontuações foram determinadas pelos pesquisadores depois

um dos estudos mais robusto e bem desenhados para

de realizar entrevistas com os sujeitos. O tempo médio de

examinar os resultados para pessoas que se submeteram a

acompanhamento foi de aproximadamente cinco anos para os

cirurgia de reatribuição sexual. Concentrando-se sobre a

indivíduos que tiveram a cirurgia de mudança de sexo, e cerca

mortalidade, morbidade e taxas de criminalidade, o estudo de

de dois anos para aqueles indivíduos que não o fizeram.

coorte combinado comparou um total de 324 pessoas

Em comparação com a sua condição antes da

transexuais (191 MtF, 133 FtM) que foram submetidos à

cirurgia, os indivíduos que fizeram a cirurgia mostraram alguma

mudança de sexo entre 1973 e 2003 para dois controles

melhoria no bem-estar, embora os resultados tivessem um

pareados por idade: pessoas do mesmo o sexo como a pessoa

nível bastante baixo de significância estatística. Os indivíduos

transexual no nascimento, e pessoas ao qual o sexo do

que não tiveram nenhuma intervenção cirúrgica exibiram uma

indivíduo tinha sido reatribuido83.

melhoria estatisticamente significativa no acompanhamento. No

entanto,

não

estatisticamente

transexuais na população geral, o tamanho deste estudo é

significativas entre os escores de bem-estar dos dois grupos no

impressionante. Ao contrário de Meyer e Reter, Dhejne e seus

seguimento acima. Os autores concluíram que "a cirurgia de

colegas não procuram avaliar a satisfação do paciente após a

redesignação sexual não confere vantagem objetiva em termos

cirurgia de reatribuição sexual, o que teria exigido um grupo

de reabilitação social, embora continue a ser subjetivamente

controle de pessoas transexuais que desejava ter a cirurgia de

satisfatória

prosseguido

reatribuição sexual, mas não o fizeram. Além disso, o estudo

rigorosamente um período experimental e que tenham sido

não comparou variáveis de resultados antes e após a cirurgia

submetidos a isso"80. Este estudo liderado pelo departamento

de reatribuição sexual; só os resultados após cirurgia que

de psiquiatria no Johns Hopkins Medical Center   (JHMC) fez

foram avaliados. Precisamos manter essas ressalvas em

interromper as intervenções cirúrgicas para mudança de sexo

mente quando olhamos para este estudo.

para

houve

aqueles

diferenças

Dado o número relativamente baixo de pessoas

que

tenham

para adultos81.

Dhejne e os colegas encontraram diferenças

No entanto, o estudo tem limitações importantes. O

estatisticamente significativas entre os dois grupos em muitas

viés de seleção foi introduzido na população estudada, porque

variáveis estudadas. Por exemplo, indivíduos transexuais pós-

os sujeitos atraídos foram aqueles indivíduos que procuraram a

operatórios tiveram cerca de três vezes maior risco de

cirurgia de reatribuição sexual no JHMC. Em adição, o

internação psiquiátrica do que os grupos de controle, mesmo

tamanho da amostra foi pequeno. Além disso, os indivíduos

após o ajuste para antes do tratamento psiquiátrico84. No

que não se submetem à cirurgia de reatribuição sexual, mas

entanto, o risco de ser hospitalizado por abuso de substância

apresentados ao JHMC para eles não representavam um

não foi significativamente maior após ajuste para antes do

verdadeiro grupo de controle. A distribuição aleatória do

tratamento psiquiátrico, bem como as outras covariantes).

procedimento cirúrgico não foi possível. Grandes diferenças na

Indivíduos reatribuídos sexualmente tinham quase três vezes

média de acompanhamento de tempo entre aqueles que foram

maior risco de todas as causas a mortalidade após o ajuste

submetidos à cirurgia e aqueles que não o fizeram reduz mais

para co-variáveis, embora o risco elevado foi significativo

ainda qualquer capacidade de estabelecer comparações

apenas para o período de 1973-198885. Aqueles submetidos a

válidas entre os dois grupos. Além disso, a metodologia do

cirurgia durante este período também tiveram maior risco de

estudo também foi criticada pela maneira um tanto arbitrária e

serem condenados em um crime86. Mais alarmante, foi que os

idiossincrática que foi feita a medida do bem-estar dos sujeitos.

indivíduos com reatribuição de sexo eram 4,9 vezes mais

Coabitação ou qualquer forma de contato com os serviços

propensos a tentar o suicídio e 19,1 vezes com mais

psiquiátricos foram classificados como fatores igualmente

probabilidades de morrer por suicídio em comparação com

negativos como tendo sido retidos82.

controles87. "Mortalidade por suicídio era surpreendentemente

Em 2011, Cecilia Dhejne e colegas do Karolinska Institute e Universidade de Gotemburgo, na Suécia publicaram

alta entre pessoas de sexo reatribuído, inclusive após o ajuste para prévia morbidade psiquiátrica"88.

80

O design do estudo impede inferências "quanto à

através de intervenções hormonais "provável melhora na

eficácia de mudança de sexo como um tratamento para o

disforia de gênero, funcionamento psicológico e comorbidades,

transexualismo", embora Dhejne e seus colegas afirmam que é

função sexual e qualidade de vida global"91. Os autores

possível que "as coisas poderiam ter sido ainda piores sem

identificaram 28 estudos que juntos examinaram 1.833

mudança de sexo"89. Em geral, a saúde mental pós-cirúrgica foi

pacientes que se submeteram a procedimentos de reatribuição

bastante fraca, como indicado especialmente pela alta taxa de

sexual, que incluíram intervenções hormonais (1.093 do sexo

tentativas de suicídio e todas as causas de mortalidade no

masculino para feminino, 801 do sexo feminino para

grupo de 1973-1988. (Vale a pena notar que para os

masculino)92. Dados agrupados entre os estudos mostraram

transexuais no estudo que realizaram mudança de sexo de

que, depois de receber os procedimentos de reatribuição

1989 a 2003, houve, naturalmente, menos anos de dados

sexual, 80% dos pacientes relataram melhora na disforia de

disponíveis no momento que o estudo foi realizado do que para

gênero, 78% relataram melhora nos sintomas psicológicos, e

os transexuais do período anterior. As taxas de mortalidade,

80% relataram melhora na qualidade de vida93. Nenhum dos

morbidade e da criminalidade no grupo mais tarde podem vir a

estudos incluiu a medida de limitação de viés de randomização

assemelhar-se aos riscos elevados do grupo anterior.) Em

(isto é, em nenhum dos estudos foram feitos procedimentos de

resumo, este estudo sugere que a cirurgia de reatribuição

reatribuição sexual aleatoriamente designados para alguns

sexual não pode corrigir os resultados de saúde

pacientes, mas não para os outros), e apenas três dos estudos

comparativamente fracos associados com populações

incluíram grupos de controle (ou seja, pacientes que não foram

transgêneras em geral. Ainda assim, por causa das limitações

submetidos ao tratamento para servir como casos de

do presente estudo mencionado acima, os resultados também

comparação para aqueles que o fizeram)94. A maioria dos

não podem estabelecer que a cirurgia de reatribuição sexual

estudos examinados por Murad e revistos pelos colegas

causa os fracos resultados de saúde.

relataram melhorias nas comorbidades psiquiátricas e

Em 2009, Annette Kuhn e seus colegas do Hospital

qualidade de vida, embora nomeadamente as taxas de suicídio

Universitário e Universidade de Berna, na Suíça analisaram a

mantiveram-se maior para os indivíduos que tinham recebido

qualidade de vida no pós-operatório em 52 MtF e 3 FtM

tratamentos hormonais do que para a população em geral,

transexuais quinze anos depois da cirurgia de reatribuição

apesar das reduções nas taxas de suicídio após os

sexual90. Este estudo encontrou consideravelmente menor

tratamentos95. Os autores também descobriram que houveram

satisfação geral de vida em transexuais pós-cirúrgicas em

algumas exceções a relatos de melhorias na saúde mental e

comparação com as mulheres que tiveram pelo menos uma

satisfação com os procedimentos de reatribuição sexual. Em

cirurgia pélvica no passado. Os transexuais pós-operatórias

um estudo, 3 de 17 indivíduos lamentaram o procedimento com

relataram menor satisfação com a sua qualidade geral de

2 destes 3 buscando reversão dos procedimentos96  e quatro

saúde e com algumas limitações pessoais, físicas e sociais que

dos estudos revisados relataram piora de qualidade da vida,

experimentaram com a incontinência que resultou como um

incluindo a continuação no isolamento e falta de melhora na

efeito colateral da cirurgia. Mais uma vez, não podem ser

vida social e relacionamentos, e a dependência de programas

extraídas inferências deste estudo sobre a eficácia da cirurgia

de bem-estar do governo97.

de reatribuição sexual devido à falta de um grupo de indivíduos

A evidência científica sumarizadamente sugere uma

transgêneros que não receberam cirurgia de reatribuição

visão cética em relação à reivindicação de que os

sexual.

procedimentos de redesignação sexual fornecem uma Em 2010, Mohammad Hassan Murad e colegas da

esperança para benefícios ou para resolver os problemas

Mayo Clinic   publicaram uma revisão sistemática de estudos

subjacentes que contribuem para o elevado risco mental entre

sobre os resultados das terapias hormonais usadas em

a população transgênera. Enquanto trabalhamos para parar os

procedimentos de reatribuição sexual, concluindo que havia

maus tratos e mal-entendidos, devemos também trabalhar para

"evidência de muito baixa qualidade" na mudança de sexo

estudar e compreender o que quer que os fatores possam

81

contribuir para as altas taxas de suicídio e outros problemas de

transgêneras, e pensar com mais clareza sobre as opções de

saúde psicológica e comportamental entre as populações

tratamento que estão disponíveis.

NOTAS

1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12. 13. 14. 15. 16. 17. 18. 19. 20. 21. 22. 23.

24.

25.

26. 27. 28. 29. 30. 31. 32. 33. 34. 35. 36. 37.

38. 39. 40. 41. 42.

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 Geralmente, os pinguins imperador do sexo masculino fazem o trabalho de incubar os ovos e depois cuidar dos filhotes durante vários dias após a eclosão. Após esse ponto, machos e fêmeas se revezam cuidando dos filhotes. 21

82

43. 44. 45. 46. 47. 48. 49. 50. 51. 52. 53. 54. 55. 56. 57. 58. 59. 60. 61. 62.

63. 64. 65. 66. 67. 68. 69. 70.

71. 72. 73. 74. 75.

Ibid. , 354. Ibid ., 356. Ibid ., 355. Emphasis in original. J. Michael Bostwick and Kari A. Martin, ―A Man‘s Brain in an Ambiguous Body: A Case of Mistaken Gender Identity,‖  American Journal of Psychiatry , 164 no.

10 (2007):1499-1505, http://dx.doi.org/10.1176/appi.ajp.2007.07040587. Ibid ., 1500. Ibid. , 1504. Ibid . Ibid. , 1503-1504. Giuseppina Rametti et al., ―White matter microstructure in female to male transsexuals before cross -sex hormonal treatment. A diffusion tensor imaging study,‖ Journal of Psychiatric Research 45, no. 2 (2011): 199-204, http://dx.doi.org/10.1016/j.jpsychires.2010.05.006. Ibid ., 202. Giuseppina Rametti et al., ―The microstructure of white matter in male to female transsexuals before cross -sex hormonal treatment. A DTI study,‖ Journal of Psychiatric Research 45, no. 7 (2011): 949-954, http://dx.doi.org/10.1016/j.jpsychires.2010.11.007. Ibid ., 952. Ibid ., 951. Emiliano Santarnecchi et al., ―Intrinsic Cerebral Connectivity Analysis in an Untreated Female -to-Male Transsexual Subject: A First Attempt Using RestingState fMRI,‖ Neuroendocrinology 96, no. 3 (2012): 188-193, http://dx.doi.org/10.1159/000342001. Ibid ., 188. Hsaio-Lun Ku et al., ―Brain Signature Characterizing the Body -Brain-Mind Axis of Transsexuals,‖ PLOS ONE 8, no. 7 (2013): e70808, http://dx.doi.org/10.1371/journal.pone.0070808. Ibid ., 2. Hans Berglund et al ., ―Male-to-Female Transsexuals Show Sex-Atypical Hypothalamus Activation When Smelling Odorous Steroids, Cerebral Cortex 18, no. 8 (2008):1900-1908, http://dx.doi.org/10.1093/cercor/bhm216. See, for example, Sally Satel and Scott D. Lilenfeld, Brainwashed: The Seductive Appeal of Mindless Neuroscience , (New York: Basic Books, 2013). An additional clarification may be helpful with regard to research studies of this kind. Significant differences in the means of sample populations do not entail predictive power of any consequence. Suppose that we made 100 different types of brain measurements in cohorts of transgender and non-transgender individuals, and then calculated the means of each of those 100 variables for both cohorts. Statistical theory tells us that, due to mere chance, we can (on average) expect the two cohorts to differ significantly in the means of 5 of those 100 variables. This implies that if the significant differences are about 5 or fewer out of 100, these differences could easily be by chance and therefore we should not ignore the fact that 95 other measurements failed to find significant differences.(22) One recent paper estimates that 0.6% of the adult U.S. population is transgender.( 23) See Andrew R. Flores et al., ―How Many Adults Identify as Transgender in the United States?‖ (white paper), Williams Institute, UCLA School of Law, June 30, 2016, http://williamsinstitute.law.ucla.edu/wp-content/uploads/How-Many-Adults-Identifyas-Transgender-in-the-United-States.pdf. Petula Dvorak, ―Transgender at five,‖ Washington Post , May 19, 2012, https://www.washingtonpost.com/local/transgender-at-five/2012/05/19/gIQABfFkbU_story.html. Ibid . Ibid . American Psychiatric Associ ation, ―Gender Dysphoria,‖ DSM-5 , 455. Note: Although the quotation comes from the DSM-5 entry for ―gender dysphoria‖ and implies that the listed persistence rates apply to that precise diagnosis, the diagnosis of gender dysphoria was formalized by the DSM-5 , so some of the studies from which the persistence rates were drawn may have employed earlier diagnostic criteria.( 24) Ibid ., 455. Kenneth J. Zucker, ―Children with gender identity disorder: Is there a best practice?‖ Neuropsychiatrie de l’Enfance et de l’Adolescence 56, no. 6 (2008): 363, http://dx.doi.org/10.1016/j.neurenf.2008.06.003. Kenneth J. Zucker et al., ―A Developmental, Biopsychosocial Model for the Treatment of Children with Gender Identity Disorder,‖ Journal of Homosexuality 59, no. 2(2012), http://dx.doi.org/10.1080/00918369.2012.653309. For an accessible summary of Zucker‘s approach to treating gender dysphoria i n children, see J. Michael Bailey, The Man Who Would Be Queen: The Science of Gender-Bending and Transsexualism (Washington, D.C.: Joseph Henry Press, 2003), 3132. Kelley D. Drummond et al., ―A follow -up study of girls with gender identity disorder,‖ Developmental Psychology 44, no. 1 (2008): 34-45, http://dx.doi.org/10.1037/0012-1649.44.1.34. Jesse Singal, ―How the Fight Over Transgender Kids Got a Leading Sex Researcher Fired,‖ New York Magazine , February 7, 2016, http://nymag.com/scienceofus/2016/02/fight-over-trans-kids-got-a-researcher-fired.html. See, for example, American Psychological Association, ―Guidelines for Psychological Practice with Transgender and Gender Nonconforming People,‖  American Psychologist 70 no. 9, (2015): 832-864, http://dx.doi.org/10.1037/a0039906; and Marco A. Hidalgo et al., ―The Gender Affirmative Model: What We Know and What We Aim to Learn,‖ Human Development 56 (2013): 285-290, http://dx.doi.org/10.1159/000355235. Sara Reardon, ―Largest ever study of transgender teenagers set to kick off,‖ Nature 531, no. 7596 (2016): 560, http://dx.doi.org/10.1038/531560a. Chris Smyth, ―Better help urged for children with signs of gender dysphoria,‖ The Times (London), October 25, 2013, http://www.thetimes.co.uk/tto/health/news/article3903783.ece. According to the article, in 2012 ―1,296 adults were referred t o specialist gender dysphoria

clinics, up from 879 in 2010. There are now [in 2013] 18,000 people in treatment, compared with 4,000 15 years ago. [In 2012] 208 children were referred, up 76. 77. 78.

79.

from 139 the year before and 64 in 2008.‖ Annelou L. C. de Vries et al., ―Young Adult Psychological Outcome After Puberty Suppression and Gender Reassignment,‖ Pediatrics 134, no. 4 (2014): 696-

704, http://dx.doi.org/10.1542/peds.2013-2958d. David Batty, ―Mistaken identity,‖ The Guardian , July 30, 2004, http://www.theguardian.com/society/2004/jul/31/health.socialcare.

Ibid. Jon K. Meyer and Donna J. Reter, ―Sex Reassignment: Follow -up,‖ Archives of General Psychiatry 36, no. 9 (1979): 1010-1015,

http://dx.doi.org/10.1001/archpsyc.1979.01780090096010.

 Um esclarecimento adicional pode ser útil em relação a estudos desse tipo de pesquisa. diferenças significativas nas médias d as populações de amostras não implicam poder preditivo de qualquer consequência. Suponha que nós fizessemos 100 tipos diferentes de medições cerebrais em coortes de individuos transexuais e nãotransexuais, e em seguida calculassemos a média de cada uma dessas 100 variáveis para ambos os grupos. A teoria estatística diz-nos que, devido ao mero acaso, podemos (em média) esperar que os dois coortes diferam significativamente das medias de 5 desses em 100 variáveis. Isto implica que, se as diferenças significativas são cerca de 5 ou menos em 100, essas diferenças poderiam ser facilmente por acaso e, portanto, não devemos ignorar o fato de que 95 outras medições não conseguiram encontrar diferenças significativas. 23 Um estudo recente estima que 0,6% da população adulta EUA é transgênero. Veja 24 Nota: Embora a citação vem da entrada DSM-5 para "disforia de gênero" e implica que as taxas de persistência listadas se aplicam para que o diagnóstico preciso, o diagnóstico de disforia de gênero foi formalizado pela DSM-5, portanto, alguns dos estudos a partir do qual as taxas de persistência foram desenhadas podem ter empregado mais cedo os critérios diagnósticos de gênero. 22

83

80. 81. 82. 83. 84. 85. 86. 87. 88. 89. 90. 91. 92. 93. 94.

95. 96.

97.

Ibid ., 1015. See, for instance, Paul R. McHugh, ―Surgical Sex,‖ First Things (November 2004), http://www.firstthings.com/article/2004/11/surgical-sex. Michael Fleming, Carol Steinman, and Gene Bocknek, ―Methodological Problems in Assessing Sex -Reassignment Surgery: A Reply to Meyer and Reter,‖  Archives of Sexual Behavior 9, no. 5 (1980): 451-456, http://dx.doi.org/10.1007/BF02115944. Cecilia Dhejne et al., ―Long-term follow-up of transsexual persons undergoing sex reassignment surgery: cohort study in Sweden,‖ PLOS ONE 6, no. 2 (2011):

e16885, http://dx.doi.org/10.1371/journal.pone.0016885. 95% confidence interval: 2.0 –3.9. 95% confidence interval: 1.8 –4.3. MtF transsexuals in the study‘s 1973 -1988 period showed a higher risk of crime compared to the female controls, suggesting that they maintain a male pattern for criminality. That study period‘s FtM transsexuals, however, did show a higher risk of crime compared to the female controls, perhaps related to  the effects of exogenous testosterone administration.( 25) 95% confidence intervals: 2.9 –8.5 and 5.8 –62.9, respectively. Ibid ., 6. Ibid. , 7. Annette Kuhn et al., ―Quality of life 15 years after sex reassignment surgery for transsexualism,‖ Fertility and Sterility 92, no. 5 (2009): 1685-1689, http://dx.doi.org/10.1016/j.fertnstert.2008.08.126. Mohammad Hassan Murad et al., ―Hormonal th erapy and sex reassignment: a systematic review and meta-analysis of quality of life and psychosocial outcomes,‖ Clinical Endocrinology 72 (2010): 214 –231, http://dx.doi.org/10.1111/j.1365-2265.2009.03625.x. Ibid. , 215. 95% confidence intervals: 68 –89%, 56 –94%, and 72 –88%, respectively. Ibid. Ibid. , 216. Ibid. Ibid. , 228.

 Transexuais MtF no período do estudo 1973-1988 mostraram um maior risco de criminalidade em comparação com os controles do sexo feminino, sugerindo que eles mantêm um padrão masculino para a criminalidade. Transexuais FtM que do período de estudo, no entanto, mostraram um elevado r isco de crime em comparação com os controles do sexo feminino, talvez relacionados com os efeitos da administração exógena de testosterona. 25

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CONCLUSÃO Precisamente, resultados de investigação científica replicáveis podem e influenciam as nossas decisões pessoais e auto compreensão, e podem contribuir para o discurso público, incluindo debates culturais e políticos. Quando a pesquisa toca em temas controversos, é particularmente importante ser claro sobre precisamente o que a ciência tem e não tem mostrado. Para questões complexas, complicadas relativas à natureza da sexualidade humana, não existe um melhor consenso científico provisório; muito permanece desconhecido, como a sexualidade é uma parte imensamente complexa da vida humana que desafia nossas tentativas de definir todos os seus aspectos e estudá-los com precisão. Para perguntas que são mais fáceis de estudar empiricamente, no entanto, como as relativas às taxas de efeitos na saúde mental para identificar subpopulações de minorias sexuais, a pesquisa oferece algumas claras respostas: estas subpopulações apresentam taxas mais elevadas de depressão, ansiedade, abuso de substâncias, e suicídio em comparação com a população em geral. A hipótese, do modelo de estresse social - que postula que o estigma, o preconceito, e a discriminação são as principais causas de taxas mais altas de fracos resultados em saúde mental para estas subpopulações - é frequentemente citada como uma forma de explicar esta disparidade. Quando os indivíduos não-heterossexuais e transgêneros são frequentemente submetidos a estressores sociais e discriminação, a ciência não tem demonstrado que estes fatores por si só representam a totalidade, ou mesmo a maioria, da disparidade em saúde entre não-heterossexuais, subpopulações transgêneras e da população em geral. Há uma necessidade de uma extensa investigação nesta área para testar a hipótese de estresse social e outras potenciais explicações para as disparidades de saúde, e para ajudar a identificar formas de abordar os problemas de saúde presentes nestas subpopulações. Algumas das vistas mais amplamente difundidas sobre a orientação sexual, tais como a hipótese do "nasceram assim", simplesmente não são suportados pela ciência. A literatura nesta área não descreve um pequeno conjunto de diferenças biológicas entre os não-heterossexuais e heterossexuais, mas essas diferenças biológicas não são suficientes para prever a orientação sexual, o teste final de qualquer descoberta científica. A declaração mais forte que a ciência oferece para explicar a orientação sexual é que alguns fatores biológicos aparecem, para uma desconhecida medida, para predispor alguns indivíduos para uma orientação não heterossexual. A sugestão de que "nascemos assim" é mais complexa no caso de identidade de gênero. Em certo sentido, a evidência de que nós nascemos com um determinado gênero parece estar bem apoiada por observação direta: machos esmagadoramente identificam-se como homens e fêmeas como mulheres. O fato das crianças serem (com poucas exceções de indivíduos intersexuais) nascidas quer biologicamente macho ou fêmea está além desse debate. Os sexos biológicos desempenham complementar papéis na reprodução, e há uma série de média de nível de diferenças fisiológicas e psicológicas entre os sexos. Contudo, enquanto o sexo biológico é uma característica inata dos seres humanos, identidade de gênero é um conceito mais evasivo. Na revisão da literatura científica, descobrimos que quase nada é bem compreendido quando buscamos explicações biológicas para o que provoca alguns indivíduos que afirmam que o seu gênero não corresponde ao seu sexo biológico. As conclusões que existem muitas vezes têm problemas de seleção de amostra, e eles não têm perspectiva longitudinal e poder explicativo. Melhor investigação é necessária, tanto para identificar maneiras pelas quais podemos ajudar a reduzir as taxas de maus resultados de saúde mental e para tornar possível a discussão mais informada sobre algumas das nuances presentes neste campo. Contudo, apesar da incerteza científica, intervenções drásticas são prescritas e entregues para identificar pacientes, ou identificados, como transgênero. Isto é especialmente preocupante quando os pacientes que receberam estas intervenções são crianças. Nós lemos relatos populares sobre planos para médicos e intervenções cirúrgicas para muitas crianças pré-púberes, alguns  jovens com seis anos, e outras abordagens terapêuticas realizadas a crianças de dois anos. Sugerimos que ninguém pode determinar a identidade de gênero de uma criança de anos de idade. Temos reservas sobre o quão bem os cientistas compreendem o que ainda significa para uma criança ter um sentido desenvolvido de seu gênero, mas não obstante essa questão, estamos profundamente alarmados que estas terapias, tratamentos e cirurgias parecem desproporcional à gravidade do sofrimento que estão sendo

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