Sexualidade e Gênero - Lawrence S. Mayer - 85pp...
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Sexualidade e Gênero Os achados da biologia, psicologia e ciências sociais Lawrence S. Mayer, M. B., M. S., Ph.D. e Paul R. McHugh, M.D. Nota do Editor : Questões relacionadas com a sexualidade e gênero influenciam sobre alguns dos aspectos mais íntimos e pessoais da vida humana. Os últimos anos, eles também têm sido polemica na política americana. Nós oferecemos este relatório - escrito por Dr. Lawrence S. Mayer, epidemiologista treinado em psiquiatria, e Dr. Paul R. McHugh, sem dúvida, o psiquiatra americano mais importante do ú ltimo meio século na esperança de melhorar a compreensão do público sobre estas questões. Examinando a pesquisa das ciências biológicas, psicológicas e sociais, este relatório mostra que algumas das reivindicações mais frequentemente ouvidas sobre sexualidade e gênero não são suportadas por evidências científicas. O relatório tem um foco especial sobre as taxas mais elevadas de problemas de saúde mental entre as populações LGBT, e questiona a base científica das tendências no tratamento de crianças que não se identificam com seu sexo biológico. Mais esforço é chamado para prover a essas pessoas com a compreensão, cuidado e apoio que precisam para levar uma vida próspera e saudável.
SUMÁRIO PREFÁCIO ................................ ................................................ .................................. .................................. ................................. ................................. ................................. ................................. ................................. ................................. .................................. .................................. ................................. ................................. ................................. .......................... .........2 SUMÁRIO EXECUTIVO ............................... ................................................ .................................. ................................. ................................. .................................. ................................. ................................. .................................. ................................. ................................. ................................. ................................. .................................. ....................... ......4 INTRODUÇÃO ................................ ................................................ ................................. .................................. ................................. ................................. ................................. ................................. ................................. ................................. .................................. .................................. ................................. ................................. .................................. .................... ... 6 PARTE UM - ORIENTAÇÃO SEXUAL .................................. .................................................. ................................. ................................. ................................. ................................. ................................. ................................. .................................. .................................. ................................. .................................. ............................... ..............8 Problemas com definição dos conceitos chaves ................................ ................................................ ................................. .................................. ................................. ................................. .................................. ................................. ................................. ................................. ................................. ............................. ............9 O Contexto do Desejo Sexual................................. .................................................. ................................. ................................. .................................. ................................. ................................. ................................. ................................. .................................. ................................. ................................. .................................. .....................11 ....11 Orientação sexual ................................ ................................................ ................................. .................................. ................................. ................................. ................................. ................................. .................................. .................................. ................................. ................................. .................................. ................................. .......................12 .......12 Desafiando a hipótese "nasceram assim" .................................. .................................................. ................................. ................................. ................................. ................................. .................................. .................................. ................................. ................................. ................................. .................................. ..................15 .15 Estudos de gêmeos ............................... ................................................ .................................. ................................. ................................. .................................. ................................. ................................. .................................. ................................. ................................. ................................. ................................. .................................. .....................16 ....16 Genética molecular ................................ ................................................. .................................. ................................. ................................. .................................. ................................. ................................. .................................. ................................. ................................. ................................. ................................. .................................. .....................19 ....19 O limitado papel da Genética............................... ................................................ .................................. ................................. ................................. ................................. ................................. ................................. .................................. .................................. ................................. ................................. ................................. ........................20 .......20 A influência dos hormônios ............................... ................................................ .................................. ................................. ................................. .................................. ................................. ................................. .................................. ................................. ................................. ................................. ................................. ...........................21 ..........21 Orientação Sexual e o Cérebro ................................. .................................................. ................................. ................................. ................................. ................................. ................................. ................................. .................................. .................................. ................................. ................................. .................................. ..................24 .24 Leitura errada da Investigação .................................. ................................................... ................................. ................................. ................................. ................................. ................................. ................................. .................................. .................................. ................................. ................................. .................................. ..................25 .25 Vitimização por Abuso Sexual ................................ ................................................. ................................. ................................. .................................. ................................. ................................. ................................. ................................. .................................. ................................. ................................. .................................. .....................26 ....26 Distribuição dos desejos sexuais e alterações ao longo do tempo .......................... ........................................... ................................. ................................. ................................. ................................. .................................. ................................. ................................. .................................. .....................31 ....31 CONCLUSÃO................................. ................................................. .................................. .................................. ................................. ................................. ................................. ................................. ................................. ................................. .................................. .................................. ................................. .................................. .............................36 ............36 NOTAS ................................ ................................................ ................................. .................................. ................................. ................................. ................................. ................................. ................................. ................................. .................................. .................................. ................................. ................................. .................................. ..................36 .36 PARTE DOIS - SEXUALIDADE, SEX UALIDADE, RESULTADO EM SAÚDE MENTAL E ESTRESSE SOCIAL ............................... ................................................ .................................. ................................. ................................. ................................. ................................. ...........................42 ..........42 Algumas Preliminares ............................... ................................................ .................................. ................................. ................................. ................................. ................................. ................................. .................................. .................................. ................................. ................................. ................................. .................................. ..................42 .42 Sexualidade e Saúde mental ............................... ................................................ .................................. ................................. ................................. ................................. ................................. ................................. .................................. .................................. ................................. ................................. ................................. ........................43 .......43 Sexualidade e suicídio ................................. .................................................. ................................. ................................. .................................. ................................. ................................. ................................. ................................. .................................. ................................. ................................. .................................. ................................46 ...............46 Sexualidade e violência por parceiro íntimo ................................. .................................................. .................................. ................................. ................................. ................................. ................................. .................................. ................................. ................................. .................................. ................................49 ...............49 Resultados em saúde para transgêneros............................... ................................................ .................................. .................................. ................................. ................................. .................................. ................................. ................................. ................................. ................................. .................................. .....................51 ....51 Explicações para os maus resultados de saúde: Modelo de Estresse Social ....................................... ........................................................ ................................. ................................. .................................. .................................. .................................. ................................. .......................52 .......52 Discriminação e eventos de preconceito. ............................... ................................................ .................................. ................................. ................................. ................................. ................................. .................................. ................................. ................................. .................................. ................................54 ...............54 Estigma. ................................ ................................................. .................................. ................................. ................................. ................................. ................................. .................................. ................................. ................................. .................................. ................................. ................................. ................................. ................................55 ................55 Ocultação. ................................ ................................................ .................................. .................................. ................................. ................................. ................................. ................................. ................................. ................................. .................................. .................................. ................................. .................................. .............................56 ............56 Testando o modelo. .................................. ................................................... ................................. ................................. ................................. ................................. ................................. ................................. .................................. .................................. ................................. ................................. .................................. .............................57 ............57 CONCLUSÃO................................. ................................................. .................................. .................................. ................................. ................................. ................................. ................................. ................................. ................................. .................................. .................................. ................................. .................................. .............................59 ............59 NOTAS ................................ ................................................ ................................. .................................. ................................. ................................. ................................. ................................. ................................. ................................. .................................. .................................. ................................. ................................. .................................. ..................59 .59 PARTE TRÊS - IDENTIDADE DE GÊNERO............................................ ............................................................ ................................. .................................. ................................. ................................. .................................. ................................. ................................. .................................. ................................. ..........................64 ..........64 Conceitos-chave e suas origens............................... ................................................. .................................. ................................. ................................. ................................. ................................. ................................. .................................. .................................. ................................. ................................. .................................. ..................64 .64 Disforia de gênero ................................ ................................................ ................................. .................................. ................................. ................................. ................................. ................................. .................................. .................................. ................................. ................................. .................................. ................................. .......................68 .......68 Gênero e Fisiologia ................................ ................................................. .................................. ................................. ................................. .................................. ................................. ................................. .................................. ................................. ................................. ................................. ................................. .................................. .....................71 ....71 Identidade transgênera em crianças......................... crianças........................................... .................................. ................................. ................................. ................................. ................................. ................................. ................................. .................................. ................................... ................................. ................................. ..................76 .76 Intervenções terapêuticas em crianças ............................... ................................................. .................................. ................................. ................................. ................................. .................................. .................................. ................................. ................................. .................................. ................................. .......................77 .......77 Intervenções terapêuticas em adultos .................................. ................................................... ................................. ................................. ................................. ................................. .................................. .................................. ................................. ................................. .................................. ................................. .......................78 .......78 NOTAS ................................ ................................................ ................................. .................................. ................................. ................................. ................................. ................................. ................................. ................................. .................................. .................................. ................................. ................................. .................................. ..................81 .81 CONCLUSÃO................................. ................................................. .................................. .................................. ................................. ................................. ................................. ................................. ................................. ................................. .................................. .................................. ................................. .................................. .............................84 ............84
Lawrence S. Mayer, M. B., M. S., Ph.D. é um estudioso em residência no Departamento de Psiquiatria na Universidade Johns Hopkins Escola de Medicina e professor de estatísticas e bioestatística da Universidade Estadual do Arizona. Paul R. McHugh, M.D. é professor de psiquiatria e ciências comportamentais na Escola de Medicina da Universidade Johns Hopkins e foi durante vinte e cinco anos, psiquiatra-chefe no Hospital Johns Hopkins. Ele é autor ou coautor de vários livros, incluindo, mais recentemente, ―Try to Remember: Psychiatry’s Clash over Meaning, Memory, and Mind” (Dana Press, 2008). Artigo publicado publicado no THE NEW NEW ATLANTIS ATLANTIS – A HOURNAL OF TECHNOLOGY & SOCIETY SPECIAL REPORT number 50 – Fall 2016. The New Atlantis (1627) foi o título que Francis Bacon selecionados para sua fábula de uma sociedade que vive com os benefícios e desafios da ciência e
tecnologia avançada. Bacon, um dos fundadores e campeão da ciência moderna, procurando, não somente destacar o potencial da tecnologia para melhorar a vida humana, mas também para prever algumas das dificuldades sociais, morais e políticas que confrontam uma sociedade moldada pelo grande empreendimento científico. Seu livro não oferece respostas óbvias; talvez seduz mais do que adverte. Mas o conto também aponta para alguns dos dilemas que surgem com a capacidade de refazer e reconfigurar o mundo natural: ciência governando, para que ele possa florescer livremente, sem destruir ou nos desumanizar, e compreender o efeito da tecnologia sobre a vida humana, aspiração humana e do bem humano. Em grande medida, vivemos no mundo que Bacon havia imaginado, e agora temos de encontrar uma maneira de viver bem com ambos os seus fardos e suas bênçãos. Este grande desafio, que agora confronta nossa própria sociedade com mais força, é o foco desta revista. Nota do Facilitador : Tradução feita pelo Google Tradutor com correções por Ronaldo Filardo (
[email protected]) que humilde e antecipadamente sugere atenção ao ler e interpretar esta livre tradução, pois devido a complexidade do tema e do texto nem sempre é possível obter um texto em português com 100% preciso, mas agradece o entendimento de todos aqueles que lerem, além de estar a disposição no que se refere a se dispor naquilo que for preciso para ajudar na melhor compreensão de termos e procedimentos estatísticos, além daquilo que estiver ao seu alcance. Fiquem na graça e no amor de Nosso Senhor Jesus Cristo. Shalom.
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PREFÁCIO Este relatório foi escrito para o público em geral e para profissionais de saúde, a fim de chamar a atenção para - e oferecer algum discernimento científico sobre os problemas de saúde mental enfrentados pelas populações po pulações LGBT. Ele surgiu a partir de um pedido de Paul R. McHugh, M.D., o ex-chefe de psiquiatria do Hospital Johns Hopkins e um dos principais psiquiatras no mundo. Dr. McHugh pediu para eu revisar uma monografia que ele e colegas tinham elaborado sobre assuntos relacionados à orientação sexual e identidade; minha tarefa original era garantir a precisão das inferências estatísticas e avaliar as fontes adicionais. Nos meses que se seguiram, li atentamente mais de quinhentos artigos científicos sobre estes temas. Fiquei alarmado ao saber que a comunidade LGBT tem uma taxa desproporcional de problemas de saúde mental em comparação com a população como um todo. Como o meu interesse cresceu, eu explorei a pesquisa através de uma variedade de informação nos campos científicos, incluindo epidemiologia, genética, endocrinologia, psiquiatria, neurociência, embriologia e pediatria. Eu também analisei muitos dos estudos acadêmicos empíricos realizados nas ciências sociais, incluindo psicologia, sociologia, ciência política, economia e estudos de gênero. Concordei em assumir como autor principal, reescrever, reorganizar e expandir o texto. Apoiei todas tod as as frases neste relatório, sem reservas e sem prejuízo em relação a qualquer política ou debates filosóficos. Este relatório é sobre a ciência e a medicina, nada mais e nada menos. Os leitores perguntaram sobre a síntese deste relatório de pesquisa em muitos campos diferentes e a partir de então podem querer saber um pouco sobre seu autor. Sou um académico a tempo integral envolvido em todos os aspectos de ensino, pesquisa e serviço profissional. Sou um bioestatístico e epidemiologista que incide sobre a concepção, análise e interpretação de estudos experimentais e observacionais em dados em saúde pública e medicina, particularmente quando os dados são complexos em termos de questões científicas subjacentes. Sou médico pesquisador, tendo formado em medicina e psiquiatria na U.K. e recebi os britânicos equivalente (M.B.) ao mestrado americano (Master of Degree). Nunca pratiquei a medicina (incluindo a psiquiatria) nos Estados Unidos ou no exterior. Tenho testemunhado em dezenas de processos judiciais federais e estaduais e audiências regulatórias, na maioria dos casos de revisão da literatura científica para esclarecer as questões em análise. Apoio firmemente a igualdade e oponhome a discriminação para com a comunidade LGBT, e testemunhei em seu nome como um especialista em estatística. Fui professor titular em tempo integral por mais de quatro décadas. Tenho compromissos professorais retidos em oito universidades, incluindo Princeton, Universidade da Pensilvânia, Stanford, Universidade do Estado de Arizona, Universidade Johns Hopkins, Bloomberg School of Public Health e da Faculdade de Medicina, Estado de Ohio, Virginia Tech, e da Universidade de Michigan. Também já realizei pesquisas com instituto de investigação em várias outras instituições, incluindo aMayo Clinic . A tempo integral e a tempo parcial tive compromissos em vinte e três disciplinas, incluindo estatísticas, bioestatística, epidemiologia, saúde pública, metodologia, psiquiatria, matemática, sociologia, ciência político-social, economia e informática biomédica. Mas os meus interesses de investigação têm variado muito menos do que os meus compromissos acadêmicos: o foco da minha carreira tem sido aprender como a estatística e modelos são empregados em todas as disciplinas, com o objetivo de melhorar o uso de modelos e análise de dados na avaliação de questões de interesse na política, regulatória, ou questões legais. Tenho publicados em muitas revistas e jornais de nível superior (incluindo The Annals of Statistics, Biometrics, and American Journal of Political Science) e revi centenas de manuscritos submetidos para publicação para muitos dos principais jornais médicos,
estatísticos e epidemiológicos (Incluindo The New England Journal of Medicine, Journal of the American Statistical Association e American Journal of Public Health).
Atualmente sou um estudioso em residência no Departamento de Psiquiatria Escola de Medicina do Hospital Johns Hopkins e professor de estatística e bioestatística na Universidade Estadual do Arizona. Até 01 de julho de 2016, eu também realizava
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nomeações do corpo docente em tempo parcial na Johns Hopkins Bloomberg Escola da Saúde Pública e da Faculdade de Medicina, e na Mayo Clinic . Uma empreitada tão ambiciosa como este relatório não seria possível sem o conselho de muitos estudiosos talentosos e seus editores. Sou grato pela generosa ajuda de Laura E. Harrington, M.D., M.S., uma psiquiatra com extensa formação em medicina interna e neuroimunologia, cuja prática clínica centra-se sobre as mulheres na transição de vida, incluindo a terapia afirmativa para a comunidade LGBT. Ela contribuiu para o relatório inteiro, principalmente emprestando sua experiência para as seções sobre endocrinologia e pesquisas sobre o cérebro. Sou grato também a Bentley J. Hanish, B. S., um jovem geneticista que espera que a pós-graduar na escola de medicina em 2021 com um M.D./Ph.D. em epidemiologia psiquiátrica. Ele contribuiu para o relatório inteiro, em particular para as seções que dizem respeito a genética. Agradeço o apoio da Johns Hopkins Universidade Escola Bloomberg de Saúde Pública e da Escola de Medicina, do estado do Arizona Universidade, e da Clínica Mayo. No decurso da elaboração deste relatório, consultei um número de indivíduos que pediram para que eu não os agradecesse pelo nome. Alguns temiam uma rude resposta dos elementos mais militantes da comunidade LGBT; outros temiam uma resposta irritada a partir dos elementos mais estridentes de comunidades religiosamente conservadora. Mais incomodo, no entanto, é que alguns temiam represálias de suas próprias universidades por se engajar em tais temas controversos, independentemente do conteúdo do relatório - uma declaração triste sobre a liberdade acadêmica. Dedico o meu trabalho neste relatório, em primeiro lugar, para a comunidade LGBT, que tem uma taxa desproporcional de problemas de saúde mental em comparação a população como um todo. Temos de encontrar maneiras de aliviar seu sofrimento. Dedico também aos estudiosos que fazem investigação imparcial sobre temas públicos de tamanha controvérsia. Que eles nunca percam o seu caminho em furacões políticos. E acima de tudo, dedico-a para as crianças lutando com sua sexualidade e sexo. As crianças são um caso especial, ao abordar problemas de gênero. No decurso do seu desenvolvimento, muitas crianças exploram a ideia de ser do gênero oposto. Algumas crianças podem ter melhorias no bem-estar psicológico, se forem incentivadas e apoiados na identificação do seu gênero, especialmente se a identificação é forte e persistente p ersistente ao longo do tempo. Mas quase todas as crianças acabam identificando seu sexo biológico. A noção de que uma criança de dois anos de idade, tendo expressado pensamentos ou comportamentos identificados com o gênero oposto, pode ser rotulada para a vida como transgênero não tem absolutamente nenhum apoio na ciência. Com efeito, é iníquo acreditar que todas as crianças que têm pensamentos de gênero atípicos ao seu comportamento em algum momento de seu desenvolvimento, particularmente antes puberdade, devem ser encorajados a se tornar transgênero. Como cidadãos, estudiosos e médicos preocupados com os problemas enfrentados por pessoas LGBT, não devemos ser dogmaticamente comprometidos com qualquer particular ponto de vista sobre a natureza da sexualidade ou identidade de gênero; em vez disso, devemos orientar em primeiro lugar, pelas necessidades dos pacientes que lutam, e devemos buscar com a mente aberta maneiras de ajudá-los a levar algum significado ou uma vida digna. Lawrence S. Mayer, M. B., M. S., Ph.D.
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SUMÁRIO EXECUTIVO Este relatório apresenta um resumo cuidadoso e uma explicação atualizada de pesquisa - desde as ciências biológicas, psicológicas e sociais - relacionados à orientação sexual e identidade de gênero. Ele é oferecido na esperança de que tal exposição possa contribuir para a nossa capacidade como médicos, cientistas, e os cidadãos para resolver problemas de saúde enfrentados por populações LGBT dentro nossa sociedade. Algumas das principais conclusões: Parte Um: Orientação Sexual ● A compreensão da orientação sexual como uma inata e uma propriedade biologicamente fixada dos seres humanos - a ideia de
que as pessoas "nasceram assim" - não é suportada pela evidência científica. ● Embora não haja evidência de que fatores biológicos, tais como genes e os hormônios estejam associados a comportamentos
sexuais e atrações, não há convincentes explicações biológicas causais para a orientação sexual humana. Enquanto pequenas diferenças nas estruturas cerebrais e atividade cerebral entre homossexuais e indivíduos heterossexuais foram identificados por pesquisadores, tais achados neurobiológicos não demonstram se estas diferenças são inatas ou são o resultado de meio ambiente e fatores psicológicos. ● Estudos longitudinais de adolescentes sugerem que a orientação sexual pode ser bastante fluida ao longo da vida para algumas
pessoas, com um estudo estimando que mais de 80% dos adolescentes do sexo masculino que relatam atração pelo mesmo sexo não a fizeram como adultos (embora a medida em que este número reflete mudanças reais na atração pelo mesmo sexo e não apenas artefatos do processo de pesquisa foram contestadas por alguns pesquisadores). ● Em comparação aos heterossexuais, não-heterossexuais tem cerca de duas a três vezes mais probabilidades de d e ter experimentado
abuso sexual na infância. Parte Dois: Sexualidade, resultados em saúde mental e estresse social ● Em comparação com a população geral, subpopulações não heterossexuais estão em um risco elevado para uma variedade de
efeitos adversos na saúde mental. ● Os membros da população não-heterossexuais tem estimados cerca de 1,5 vezes maior risco de sofrer transtornos de ansiedade
do que os membros da população heterossexual, bem como aproximadamente o dobro do risco de depressão, 1,5 vezes o risco de abuso ao usar substâncias e cerca de 2,5 vezes o risco de suicídio. ● Os membros da população transgêner o também estão em maior risco de uma variedade de problemas de saúde mental em
comparação com os membros da população não-transgênero. Especialmente de forma alarmante, a taxa de tentativas de suicídio em todas as idades dos indivíduos transgêneros é estimado em 41%, em comparação com menos de 5% no total da população dos EUA. ● Há uma evidência, embora limitada, que estressores sociais, como a discriminação e o estigma contribuem para o risco elevado de
pobres efeitos na saúde mental para populações não-heterossexuais e transgênero. Estudos longitudinais com melhor qualidade são necessários para o "modelo de stress social" para p ara ser uma ferramenta útil na compreensão das preocupações de saúde pública. Parte Três: Identidade de Gênero ● A hipótese de que a identidade de gênero é uma propriedade inata, fixa de seres humanos, que é independente do sexo biológico -
que uma pessoa pode ser "um homem preso no corpo de uma mulher" ou "mulher presa no corpo de um homem "- não é suportada por provas científicas.
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● De acordo com uma estimativa recente, cerca de 0,6% dos adultos americanos se identificam como um gênero que não
corresponde ao seu sexo biológico. ● Estudos comparando as estruturas do cérebro de transgêneros e indivíduos não-transgênero têm demonstrado correlações fracas
entre a estrutura do cérebro e identificação com o gênero oposto. Essas correlações não fornecem qualquer evidência de uma base neurobiológica para a identificação com o gênero oposto. ● Em comparação com a população em geral, os adultos que foram submetidos a cirurgia de reatribuição sexual continuam a ter um
risco mais elevado de sofrer maus resultados de saúde mental. Um estudo descobriu que, em comparação aos controles, os indivíduos que mudaram de sexo eram cerca de 5 vezes mais propensos a tentar o suicídio e tinham cerca de 19 vezes mais probabilidades de morrer por suicídio. ● As cr ianças são um caso especial ao tratar de questões transgênero. Apenas uma minoria de crianças que sofrem de identificação
com o gênero oposto vai continuar a fazê-lo na adolescência ou na idade adulta. ● Há pouca evidência cientìfica para o valor terapêutico das intervenções que retardam a puberdade ou modificam o sexo secundário
nas características dos adolescentes, embora algumas crianças possam ter melhor bem-estar psicológico, se forem incentivados e suportados na sua identificação com o gênero oposto. Não há nenhuma evidência que todas as crianças que expressam pensamentos de gênero ou comportamento atípico devem ser encorajados a se tornar transgênero.
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Sexualidade e Gênero Os achados da biologia, psicologia e das ciências sociais Lawrence S. Mayer, M. B., M. S., Ph.D. e Paul R. McHugh, M.D.
INTRODUÇÃO Poucos temas são tão complexos e controversos como a orientação sexual humana e a identidade de gênero. Estes assuntos tocam no nossos mais íntimos pensamentos e sentimentos, e ajudam a definir-nos como indivíduos e seres sociais. As discussões sobre as questões éticas levantadas pela orientação sexual e identidade de gênero podem ficar quente e pessoais, e quando associadas a questões políticas, por vezes, provocam intensas controvérsias. Os disputantes, jornalistas e legisladores nestes debates muitas vezes invocam a autoridade da ciência, e em noticiários e meios de comunicação social da nossa cultura popular mais ampla ouvimos afirmações sobre o que "a ciência diz" sobre estas questões. Este relatório oferece um resumo cuidadoso e uma explicação atualizada de muitos dos resultados mais rigorosos produzidos pelas ciências biológicas, psicológicas e sociais relacionados à orientação sexual e identidade de gênero. Examinamos um vasto corpo de literatura de carácter científico em várias disciplinas. Tentamos reconhecer as limitações da pesquisa e evitar conclusões prematuras que poderiam resultar em sobre interpretação de descobertas científicas. Uma vez que a literatura pertinente é repleta de inconsistências e definições ambíguas, nós não somente examinaremos evidencias empíricas, mas também aprofundaremos problemas conceituais subjacentes. Este relatório não significa, contudo, discutir questões de moralidade ou da política; nosso foco está nas evidências científicas - o que mostram e o que elas não mostram. Começamos na primeira parte, examinando criticamente se tais conceitos como a heterossexualidade, homossexualidade e bissexualidade representam propriedades distintas, fixas e biologicamente determinadas dos seres humanos. Como parte desta discussão, olhamos para a hipótese popular do "nasceram assim", que postula que a orientação sexual humana é biologicamente inata; examinamos a evidência para esta afirmação através de várias subespecialidades das ciências biológica. Nós exploramos as origens do desenvolvimento de atrações sexuais, o grau em que essas atrações podem mudar ao longo do tempo, e as complexidades inerentes à incorporação dessas atrações na identidade sexual. Baseando-se em evidências de estudos individuais e outros tipos da investigação, exploramos fatores genéticos, ambientais e hormonais. Também exploramos algumas das evidências científicas relacionadas a ciência do cérebro para orientação sexual. Na segunda parte, examinamos a pesquisa sobre os resultados de saúde e como eles se relacionam à orientação sexual e identidade de gênero. Foi observado de forma consistente um maior risco de maus resultados de saúde física e mental para lésbicas, gays, bissexuais e subpopulações transgêneras em comparação com a população em geral. Estes resultados incluem depressão, ansiedade, abuso de substâncias e mais alarmante, suicídio. Por exemplo, entre a subpopulação transgênero nos Estados Unidos, a taxa de tentativas de suicídio é estimada como sendo tão alta quanto 41%, dez vezes mais elevada do que na população em geral. Como médicos, acadêmicos e cientistas, acreditamos que todas as discussões subsequentes neste relatório devem ser lançadas à luz deste problema de saúde pública. Também examinamos algumas ideias propostas para explicar estes resultados diferenciados em saúde, incluindo o "modelo de estresse social". Esta hipótese - sustenta que estressores, como o estigma entra na conta de prejuízo para grande parte do sofrimento adicional observado nestas subpopulações - não parece oferecer uma explicação completa para as disparidades nos resultados. Tanto quanto a Parte Um investiga a conjectura de que a orientação sexual é fixada com uma base biológica causal, uma porção na Parte Três examina questões semelhantes no que diz respeito à identidade de gênero. Sexo biológico (o binário de categorias masculino e feminino) é um aspecto fixo da natureza humana, mesmo embora alguns indivíduos afetados por distúrbios do desenvolvimento sexual possam apresentar características sexuais ambíguas. Por outro lado, a identidade de gênero é um conceito social e psicológico que não está bem definido, e há pouca evidência científica de que ela é, uma propriedade biológica fixa inata.
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A Parte Três examina também os procedimentos de redesignação sexual e as provas para a sua eficácia em aliviar os maus resultados de saúde mental experimentado por muitas pessoas que se identificam como transgênero. Comparado com a população em geral, os indivíduos transgênero pós-operatórios continuam a estar em alto risco de maus resultados em saúde mental. Uma área de preocupação especial envolve intervenções médicas para jovens de não-conformidade do gênero. Eles estão cada vez mais a receber terapias que afirmam seus gêneros e até mesmo tratamentos hormonais ou modificações cirúrgicas em idades jovens. Mas a maioria das crianças que se identificam como um gênero que não se conforma com seu sexo biológico não vai mais fazer por isso, o tempo que eles atinjam a idade adulta. Nós estamos perturbados e alarmados com a gravidade e irreversibilidade de algumas intervenções a serem discutidas publicamente e empregadas para crianças. Orientação sexual e identidade de gênero resistem a explicação de simples teorias. Há uma grande diferença entre a certeza com que as crenças são realizadas sobre estas questões e o que uma avaliação sóbria da ciência revela. Em face dessa complexidade e incerteza, precisamos ser humildes sobre o que sabemos e não sabemos. Nós prontamente reconhecemos que este relatório não é nem uma análise exaustiva dos temas abordados nem a última palavra sobre eles. Ciência é de nenhuma maneira a única via para a compreensão destes tópicos multifacetados espantosamente complexos; pois existem outras fontes de sabedoria e conhecimento - incluindo arte, religião, filosofia, e a experiência de vida humana. E muito do nosso conhecimento científico nesta área continua a ser instável. No entanto, nós oferecemos esta visão geral da literatura científica na esperança de que ela possa fornecer um quadro comum para um discurso inteligente para iluminar a política e os intercâmbios profissional e científicos - e pode acrescentar à nossa capacidade de cidadãos interessados em aliviar sofrimento e promover a saúde humana e prosperidade.
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PARTE UM - ORIENTAÇÃO SEXUAL Enquanto algumas pessoas estão sob a impressão de que a orientação sexual é uma propriedade inata, biológica e um traço fixo dos seres humanos - que, seja heterossexual, homossexual, ou bissexual, "nascem assim" - não há evidência científica suficiente para apoiar essa reivindicação. De fato, o próprio conceito de orientação sexual é altamente ambíguo; ele pode se referir a um conjunto de comportamentos, sentimentos, de atração ou a um sentimento de identidade. Estudos epidemiológicos mostram uma associação bastante modesta entre fatores genéticos e atrações sexuais ou comportamentos, mas não fornecem evidência significativa apontando para genes particulares. Há também evidências para a outra hipótese biológica nas causas de comportamentos homossexuais, atrações, ou identidade - como a influência de hormônios no desenvolvimento pré-natal – mas, que a evidência, também, é limitada. Estudos dos cérebros dos homossexuais e heterossexuais têm encontrado algumas diferenças, mas não demonstraram que estas diferenças são inatas em vez do resultado de fatores ambientais que influenciam os traços psicológicos e neurobiológicos. Um fator ambiental que parece estar correlacionado com a não-heterossexualidade é a vitimização ou abuso sexual na infância, o que também pode contribuir para as taxas mais elevadas de maus resultados de saúde mental entre as populações não heterossexuais, em comparação com a população em geral. No geral, a evidência sugere alguma medida de fluidez nos padrões de atração sexual e comportamento ao contrário da noção de que "nasceram assim" simplifica a grande complexidade da sexualidade humana.
A discussão popular de orientação sexual é
característica inata"5. No entanto, como neurocientista Simon
caracterizada por duas ideias conflitantes sobre por que alguns
LeVay, cujo trabalho em 1991 mostrou diferenças cerebrais em
indivíduos são gays, lésbicas ou bissexuais. Enquanto alguns
homens homossexuais em comparação para homens
afirmam que a orientação sexual é uma escolha, outros dizem
heterossexuais, explicou alguns anos após seu estudo, "É
que a orientação sexual é uma característica fixa de sua
importante salientar que não se encontrou, não se provou que
natureza, de que "nasceram assim". Esperamos mostrar aqui
a homossexualidade é genética ou não se encontra uma causa
que, embora a orientação sexual não uma escolha, e não há
genética para ser gay. Não conseguimos mostrar que os
evidência científica para a visão de que a orientação sexual
homens homossexuais "nasceram assim," o erro mais comum
seja uma propriedade biológica fixa e inata.
é fazer na interpretação, pois no meu trabalho não foi
Um exemplo recente de destaque de uma pessoa
localizado um centro gay no cérebro"6.
descrevendo a orientação sexual como uma escolha é Cynthia
Muitos livros recentes contêm tratamentos populares
Nixon, a estrela da série de televisão popular Sex and City , que
da
ciência
que
fazem
declarações
relativas
ao
em uma entrevista em janeiro 2012 ao New York Times
desacompanhamento da orientação sexual. Esses livros
explicou, "Para mim é uma escolha, e você não consegue
frequentemente exageram - ou pelo menos simplificam demais
definir a minha homossexualidade para mim" e comentou que
- descobertas científicas complexas. Por exemplo, em um livro
ela era "muito irritada", sobre a questão da existência ou não
de 2005, o psicólogo e escritor de ciência Leonard Sax
das pessoas gays nascerem dessa forma. "Por que não pode
responde à pergunta de uma mãe preocupada se seu filho
ser uma escolha? Por que é menos legítimo?"1 Similarmente,
adolescente vai superar suas atrações homossexuais:
Brandon Ambrosino escreveu no The New Republic em 2014
"Biologicamente, a diferença entre um homem gay e um
que "é hora da comunidade LGBT parar de temer a palavra
homem heterossexual é algo como a diferença entre uma
'Escolha' e recuperar a dignidade da autonomia sexual"2.
pessoa canhota e uma pessoa destra. Ser canhoto não é
Por outro lado, os proponentes da hipótese "nasceram
apenas uma fase. Uma pessoa canhota não se transforma
assim" - expressa por exemplo, em 2011 na canção de Lady
magicamente num dia em uma pessoa destra.... Algumas
Gaga "Born This Way " - postularam que existe uma base
crianças são destinadas à nascença de ser canhoto, e alguns
biológica para a orientação sexual causal e muitas vezes
meninos são destinados à nascença para crescer sendo gay‖7.
tentam reforçar suas reivindicações com descobertas
Como argumentamos nesta parte do relatório, no
científicas. Citando três estudos científicos3 e um artigo da
entanto, há pouca evidencia científica para apoiar a alegação
revista Science4, Mark Joseph Stern, escrevendo para Slate
de que a atração sexual é simplesmente fixada pelos fatores
em 2014, afirma que "a homossexualidade, pelo menos em
inatos e deterministas, tais como genes. Compreensões
homens, é clara, sem dúvida, indiscutivelmente uma
populares de descobertas científicas, muitas vezes presumem
9
causalidade determinista quando os achados não garantem a presunção. Outra limitação importante para a pesquisa e para a interpretação dos estudos científicos sobre este tema é que alguns conceitos centrais - incluindo "Orientação sexual" em si - são muitas vezes ambíguos, fazendo medições confiáveis difíceis tanto nos estudos individuais e na comparação entre
Posso realmente ser bissexual? Eu fui tão apegado a minha identidade gay - adotei na faculdade e anunciei com grande alarde para a família e amigos - que eu não me permiti experimentar outra parte de mim? Em alguns aspectos, até mesmo fazer essas perguntas é um anátema para muitos gays e lésbicas. Esse tipo de incerteza publicamente compartilhada é repugnante para a direita cristã e ao movimento de ex-gays é cientificamente duvidosa, psicologicamente prejudicial que ajudou a disseminar. Como homens gays e lésbicas, afinal de contas, é suposto ter a certeza - que é suposto "nasceram desta maneira."9
resultados longitudinais. Então, antes de virar para a evidência científica relativa o desenvolvimento da orientação sexual e
Apesar das evidências, aparentemente científica
desejo sexual, examinaremos com algum pormenor vários dos
(embora reconhecidamente limitada) de seus padrões
equívocos conceituais mais problemáticos no estudo da
bissexual-típicos de excitação, Denizet-Lewis rejeitou a ideia
sexualidade humana, a fim de chegar a uma imagem mais
de que ele era realmente bissexual, porque "Ele não se sente
completa dos conceitos relevantes.
verdadeiro com sua orientação sexual, nem se sente como tendo a minha identidade."10 As preocupações de Denizet-Lewis aqui ilustram uma
Problemas com definição dos conceitos chaves Em 2014 o New York Times Magazine publicou o
série de dilemas levantados pelo estudo científico da
artigo intitulado “ The Scientific Quest to Prove Bisexuality
pesquisadores usaram pareciam estar em desacordo com a
Exists” (N.T. "A busca Científica para provar a existência da
mais intuitiva e subjetiva compreensão do que é ser
bissexualidade")8 que fornece uma ilustração dos temas
sexualmente excitado; nosso próprio entendimento do que
explorados na presente parte - desejo sexual, atração,
estamos sexualmente excitados por está amarrado com a
orientação e identidade - e as dificuldades com a definição e
totalidade de nossa experiência vivida da sexualidade. Além
estudo desses conceitos. Especificamente, o artigo mostra com
disso, a insistência de Denizet-Lewis que ele é gay, não
uma abordagem científica para como o estudo da sexualidade
bissexual e sua preocupação de que a incerteza sobre a sua
humana pode conflitar com vistas culturalmente prevalentes de
identidade poderia ter implicações políticas e sociais, aponta
orientação sexual ou com o auto entendimento de que muitas
para o fato de que orientação sexual e identidade são
pessoas têm de seus próprios desejos sexuais e identidades.
entendidos não só em termos científicos, mas pessoais,
Tais conflitos levantam questões importantes sobre se tais
sociais, morais e políticos.
sexualidade humana. As medidas objetivas que os
conceitos sobre orientação sexual são relacionados e tão
Mas como categorias de orientação sexual - com os
coerentes e bem definidos como é frequentemente assumido
rótulos "Bissexual" ou "gay" ou "heterossexual" – ajudam os
por pesquisadores e pelo público em geral.
cientistas a estudar o fenômeno complexo da sexualidade
O autor do artigo, Benoit Denizet-Lewis, um homem
humana? Quando examinamos o conceito de orientação
gay assumido abertamente, descreve o trabalho de cientistas e
sexual, torna-se aparente, como esta parte vai mostrar, que é
outros tentando demonstrar a existência de uma orientação
demasiado vago e mal definido para ser muito útil na ciência, e
bissexual estável. Ele visitou pesquisadores na Universidade
que, em seu lugar, precisa conceitos mais claramente
de Cornell e participou de testes usados para medir a excitação
definidos. Nós nos esforçamos neste relatório para usar termos
sexual, testes que incluem a observação da maneira como as
claros; quando se discute estudos científicos que dependem do
pupilas dilatam em resposta a imagens sexualmente explicitas.
conceito de "orientação sexual", tentamos o máximo possível
Para sua surpresa, descobriu que, de acordo com esta medida
especificar como os cientistas definem o termo ou termos
científica, ele mesmo foi despertado quando assistindo a filmes
relacionados.
pornográficos de mulheres se masturbando:
Uma das dificuldades centrais em examinar e pesquisar a orientação sexual é que os conceitos subjacentes
10
de "desejo sexual", "atração sexual" e "excitação sexual
los. Isso não quer dizer que a satisfação desses desejos é
"podem ser ambíguos, e é ainda menos claro o que isso
impossível, mas isso muitas vezes não envolve apenas a
significa, e como uma pessoa que se identifica como tendo
escolha de ações concretas para atingir metas específicas,
orientação sexual fundamentada em algum padrão de desejos,
mas a formação mais complexa da nossa própria vida atuando
atrações, ou estados de excitação.
dentro e dando sentido ao mundo e um lugar nele.
A palavra "desejo" por si só pode ser usada para
Então, a primeira coisa a notar quando se consideram
cobrir um aspecto de volição mais naturalmente expresso por
os dois debates populares e os estudos científicos da
"querer": Eu quero sair para jantar, ou para fazer uma viagem
sexualidade é que o uso do termo "desejo" poderia referir-se a
de estrada com os meus amigos no próximo verão, ou para
aspectos distintos da vida humana e sua experiência.
terminar este projeto. Quando o "desejo" é usado neste
Assim como são muitos os significados que poderiam
sentido, os objetos determinados de desejo são bastante
ser destinados pelo termo "desejo", assim também é cada um
objetivos - alguns podem ser perfeitamente realizáveis, como
desses variados significados, tornando delimitações claras de
se mudar a uma nova cidade ou encontrar um novo emprego;
um desafio. Por exemplo, um entendimento do senso comum
outros podem ser mais ambiciosos e de alcançar, como o
poderia sugerir que o termo "desejo sexual" significa o querer
sonho de se tornar uma estrela de cinema mundialmente
envolver-se em idade sexual específica com indivíduos
famosa. Muitas vezes, no entanto, a linguagem do desejo
particulares (ou categorias de pessoas). A psiquiatra Steven
pretende incluir coisas que não são tão claras: anseios
Levine articulou essa visão comum em sua definição de desejo
indefinidos para uma vida que é, em certo sentido, não
sexual como "a soma das forças que se inclinam a nos
especificado, diferente ou melhor; um senso rudimentar de algo
aproximar e se afastar de um comportamento sexual"11. Mas,
que está sendo ausente ou carente de si mesmo no seu
não é óbvio como se poderia estudar está "soma" em um
mundo; ou, na literatura psicanalítica, forças do inconsciente
rigoroso caminho. Também não é óbvio por que todos os
dinâmico que de forma cognitiva, emocional ou via
diversos fatores que podem potencialmente influenciar o
comportamentos sociais, mas que são separados não do
comportamento sexual, tais como a pobreza material - no caso
sentido comum, consciente de si mesmo.
da prostituição, por exemplo - o consumo de álcool, e afeto
Esta noção mais pura do desejo é, em si, ambígua.
íntimo, devem todos ser agrupados como aspectos do desejo
Pode se referir a um estado esperado de coisas como
sexual. Como a própria Levine aponta, "Nas mãos de alguém,
encontrar um sentido de significado, realização, e satisfação
o desejo sexual pode ser um conceito escorregadio"12.
com a vida, um desejo que, embora não completamente claro
Considere algumas das maneiras que o termo "desejo
em suas implicações, não é, presumivelmente, inteiramente
sexual" tem sido empregado em contextos científicos -
fora do alcance, embora tais anseios também possam ser
designando um ou mais dos seguintes fenômenos distintos:
formas de fantasiar sobre um radicalmente alterado ou talvez
1. Estados de excitação física que podem ou não podem
mesmo estado inatingível dos assuntos. Se eu quiser fazer
ser ligados a uma atividade física específica e pode
uma viagem de estrada com meus amigos, os passos são
ou não ser objetos de consciente percepção.
claros: chamar meus amigos, escolher uma data, traçar um
2. Interesse erótico consciente em resposta a encontrar
percurso, e assim por diante. No entanto, se eu tenho um
outras pessoas atraentes (percepção, memória ou
desejo incipiente para a mudança, uma esperança para
fantasia), que pode ou não envolver qualquer um dos
intimidade sustentável, amor e sentimento de pertencer, ou um
processos corporais associados com mensuráveis
conflito inconsciente que está perturbando a minha capacidade
estados de excitação física.
de seguir em frente na vida que tentei construir para mim mesmo, eu enfrento um tipo diferente de desafio. Não é necessariamente um conjunto de metas bem definidas ou conscientes, maneiras muito menos estabelecidos de atingi-
3. Forte interesse em encontrar um companheiro ou o estabelecimento de uma relação duradoura. 4. As aspirações românticas e sentimentos associados à paixão ou se apaixonar por um indivíduo específico.
11
5. Inclinação para apego a indivíduos específicos.
podem igualmente serem difíceis de definir e operacionalizar 1 e
6. A motivação geral para buscar intimidade com um
por esta razão admitir vários usos. No entanto, a ambiguidade
membro de algum grupo específico. 7. Uma medida estética que se agarra na beleza percebida em outros.13
apresenta um desafio significativo tanto para projeto de pesquisa e interpretação, exigindo tomar cuidado no atendimento aos significados, contextos, e resultados específicos para cada estudo. Também é importante para
Em um estudo com dados de ciências sociais, os
suportar quaisquer associações subjetivas com ou usos desses
conceitos mencionados acima em muitas vezes, cada um tem
termos que não vão estar de acordo com classificações e
a sua própria definição operacional especial para efeitos de
técnicas científicas bem definidas.
pesquisa. Mas eles não podem todos significar a mesma coisa.
Seria um erro, de qualquer modo, ignorar os usos
Grande interesse em encontrar um companheiro, por exemplo,
variados destes termos relacionados ou tentar reduzir as
é claramente distinguível de excitação física. Olhando para
muitas e distintas experiências para que pode se referir a um
esta lista de fenômenos experienciais e psicológicos, pode-se
único conceito ou experiência. Como veremos, isso poderia,
facilmente imaginar que confusões podem surgir de usar o
em alguns casos afetar negativamente a avaliação e
termo "desejo sexual" sem a necessária precaução.
tratamento dos pacientes.
O filósofo Alexander Pruss fornece um resumo útil de algumas das dificuldades envolvidas na caracterização do conceito relacionado a atração sexual: O que significa ser "sexualmente atraído" por alguém? Quer dizer para ter uma tendência a ser despertado em sua presença? Mas certamente é possível para encontrar alguém sexualmente atraente sem ser despertado. O que isso significa formar a crença de que alguém é sexualmente atraente para um? Certamente que não, uma vez que uma crença sobre quem é sexualmente atraente a uma força ser errado - por exemplo, pode-se confundir admiração com atração sexual. Será que isso significa ter um desejo não utilitário para um relacionamento sexual ou romântico com a pessoa? Provavelmente não: se pudermos imaginar que uma pessoa que não tem atração sexual por alguém, mas que tem um desejo não utilitário para um relacionamento romântico por causa de uma crença, com base no testemunho dos outros, que têm relações românticas sem valor utilitário. Estas e outras perguntas sugerem que exista um conjunto de conceitos relacionados sob a cabeça de "atração sexual" e qualquer definição precisa é provável que seja indesejável. Mas se o conceito de atração sexual é um conjunto de conceitos, nem lá estão simplesmente conceitos unívocos de heterossexualidade, homossexualidade e bissexualidade14.
A ambiguidade do termo "desejo sexual" (e termos semelhantes) deve nos dar uma pausa para considerar os diversos aspectos da experiência humana que são
O Contexto do Desejo Sexual Podemos esclarecer melhor o fenómeno complexo do desejo sexual se examinarmos o relacionamento que tem com outros aspectos de nossas vidas. Para fazê-lo, tomamos emprestado algumas ferramentas conceituais de uma tradição filosófica conhecida como fenomenologia, que concebe a experiência humana como derivando seu significado de todo o contexto em que ela aparece. O testemunho da experiência sugere que uma experiência de desejo e atração sexual não são voluntárias, pelo menos não em qualquer caminho imediato. Todo o conjunto de inclinações que geralmente associamos com a experiência de desejo sexual - se o impulso de se envolver em particular atos ou para desfrutar de certos relacionamentos não parece ser o único produto de qualquer escolha deliberada. Nossos apetites sexuais (como outros apetites naturais) são experienciados como, mesmo que a sua expressão seja moldada em subtil maneiras por muitos fatores, que poderia muito bem incluir vontade. Com efeito, longe de
frequentemente associados com ele. O problema não é nem insolúvel nem exclusivo para este assunto. Outros conceitos das ciências sociais - agressão e dependência, por exemplo -
"Operacionalização" refere-se à forma como os cientistas sociais fazem uma variavel mensurável. Homossexualidade pode ser operacionalizada como as respostas que os inquiridos dão a perguntas sobre sua orientação sexual ou poderia ser operacionalizada como respostas a perguntas sobre os seus desejos, atrações, e comportamento. Variáveis de operacionalização são formas que irão medir de forma confiável a característica ou comportamento sendo estudada que é uma parte difícil, mas importante de qualquer pesquisa em ciências sociais. 1
12
aparecer como um produto da nossa vontade, o desejo sexual
sexualidade, como outros fenômenos humanos que,
- no entanto, nós o definimos - muitas vezes é experienciado
gradualmente, tornam-se parte de nossa constituição
como uma força poderosa, semelhante a fome, que muitos
psicológica, tenha raízes nestas primeiras experiências de
lutam (especialmente na adolescência) para trazer sob a
construção de significado. Se o significado de tomada é
direção e controle. Além disso, o desejo sexual pode afetar a
integral a experiência humana em geral, é susceptível de
atenção involuntariamente ou colorir suas percepções do dia-a-
desempenhar um papel-chave na experiência sexual em
dia, experiências e encontros. O que parece estar, até certo
particular. E dado que vontade é operativa nestes outros
ponto em nosso controle é como se nós escolhêssemos viver
aspectos de nossas vidas, é lógico que vontade será operativa
com este apetite, como pudéssemos integrá-lo para o resto de
em nossa experiência da sexualidade também, se apenas
nossas vidas.
como um de muitos outros fatores.
Mas a questão permanece: o que é desejo sexual? O
Isto não é sugerir que sexualidade - incluindo desejo
que é esta parte de nossas vidas que nós consideramos ser
sexual, atração, e identidade - seja o resultado de qualquer,
dadas, antes mesmo à nossa capacidade de deliberar e fazer
cálculo ou decisão racional deliberada. Mesmo se a vontade
escolhas racionais sobre isso? Sabemos que algum tipo de
desempenha um papel importante na sexualidade a vontade
apetite sexual está presente em animais não-humanos, como é
própria é bastante complexa: muitas, talvez a maioria, das
evidente no ciclo menstrual do mamífero; na maioria das
nossas escolhas volitivas não parecem vir na forma de
espécies de mamíferos e a excitação sexual receptividade está
decisões discretas, conscientes ou deliberadas; "Volitiva" não
ligada à fase do ciclo de ovulação durante a fêmea é
significa necessariamente "deliberada." A vida de um desejo,
reprodutivamente receptiva15. Uma das características únicas
em agente volitivo envolve muitos padrões tácitos do
relativamente do Homo sapiens, compartilhado com apenas
comportamento devido aos hábitos, experiências passadas,
alguns outros primatas, é que desejo sexual não está
memórias e formas sutis de adoção e abandono de diferentes
exclusivamente ligado ao ciclo ovulatório da mulher 16. Alguns
posições sobre a própria vida.
biólogos argumentaram que isto significa que o desejo sexual
Se algo como um desejo é a maneira de entender a
em humanos tem evoluído para facilitar a formação de
vida, o agente volitivo é verdade, então nós não "escolhemos"
sustentar relações entre pais, para além do efeito biológico
deliberadamente os objetos de nossos desejos sexuais mais
mais básico de reprodução. Qualquer que seja a explicação
do que escolher os objetos de nossos outros desejos. Pode ser
para as origens e funções biológicas da sexualidade humana, a
mais exato dizer que nós gradualmente orientamos e damos a
experiência vivida de desejos sexuais é carregada com
nós mesmos ao longo do nosso crescimento e
significado que vai além dos efeitos biológicos, dos desejos
desenvolvimento. Este processo de formação forma a nós
sexuais e comportamentos. Este significado não é apenas um
mesmos como seres humanos e é semelhante aquilo que
complemento subjetivo para a mais básica e fisiológica das
Abraham Maslow chama de auto-realização18. Por que a
realidades funcionais, mas algo que permeia a nossa
sexualidade é uma exceção a este processo? De fato, estamos
experiência vivida da sexualidade.
oferecendo, fatores internos, como a nossa constituição
Como filósofos que estudam a estrutura da
genética e fatores ambientais externos, tais como experiências
experiência consciente tem observado, o nosso modo de
passadas que, são apenas ingredientes, porém importantes, na
vivenciar o mundo é moldado pelo nosso "modo de realização,
experiência humana complexa do desejo sexual.
habilidades corporais, contexto cultural, linguagem e outras práticas sociais"17. Muito antes da maioria de nós experimentar algo como o que tipicamente associarmos com o desejo sexual, já estamos enredados num contexto cultural e social
Orientação sexual Assim como o conceito de "desejo sexual" é complexo
envolvendo
e difícil de definir, atualmente não há acordadas definições de
outras
pessoas,
sentimentos,
emoções,
oportunidades, privação, e assim por diante. Talvez a
"orientação
sexual",
"homossexualidade",
ou
13
"heterossexualidade" para fins de pesquisa empírica. Deve
variações na difusão, proeminência ou intensidade. Algumas
homossexualidade, por exemplo, ser caracterizada por
escalas focam tanto a intensidade como os objetos de desejo
referência ao desejo de se envolver em atos particulares com
sexual. Entre as mais familiares e amplamente utilizadas está a
pessoas do mesmo sexo, ou a uma história padronizada de ter
escala Kinsey, desenvolvido na década de 1940 para
se envolvido em tais atos, ou particular, características de seus
classificar desejos sexuais e orientações usando critérios
desejos privados ou fantasias, ou a um impulso consistente a
supostamente mensuráveis. As pessoas são solicitadas a
procura de intimidade com membros do mesmo sexo, ou a
escolher uma das seguintes opções:
uma identidade social imposta por si ou para outrem, ou para
1. Exclusivamente heterossexual
algo totalmente diferente?
2. Predominantemente
Já em 1896, em um livro sobre a homossexualidade, o
heterossexual,
homossexual
apenas incidentalmente
pensador francês Marc-André Raffalovich argumentou que
3. Predominantemente heterossexual, mas mais do que
havia mais de dez tipos diferentes de inclinação afetiva ou
incidentalmente homossexual
comportamento capturado pelo termo "homossexualidade" (ou
4. Igualmente heterossexual e homossexual
que ele chamou de "unisexuality ")19. Raffalovich sabia que esse
5. Predominantemente homossexual, mas mais do que
assunto é controverso: ele narrou o julgamento, prisão e
incidentalmente heterossexual
resultando em desgraça social, do escritor Oscar Wilde, que
6. Predominantemente
tinha sido processado por "atentado violento ao pudor" com
homossexual,
heterossexual
apenas incidentalmente
outros homens. Raffalovich se manteve um prolongado e
7. Homossexual21.
íntimo relacionamento com John Gray, um homem letrado que foi a inspiração para o clássico de Oscar Wilde ―The Picture of
Mas há limitações consideráveis para esta
Dorian Gray ‖20. Podemos também considerar a vasta literatura
abordagem. Em princípio, medidas deste tipo são valiosas para
psicanalítica a partir do início do século XX quanto o tema do
pesquisa em ciências sociais. Elas podem ser utilizadas, por
desejo sexual, em que as experiências dos sujeitos individuais
exemplo, em testes empíricos, tais como o clássico teste t , que
e seus casos clínicos são catalogados em grande detalhe. Este
ajuda os pesquisadores medir as diferenças estatisticamente
histórico exemplos põem em relevo a complexidade que os
significativas entre os conjuntos de dados. Muitas medidas em
investigadores enfrentam ainda hoje ao tentar chegar a
ciências sociais, no entanto, são ―ordinais‖, o que significa que
categorizações limpas do ricamente variado fenômeno afetivo
a classificação ordenada ao longo de uma variável é do tipo
e comportamental associado ao desejo sexual, para atrações
contínua unidimensional única, mas não são intrinsecamente
ao mesmo sexo como do sexo oposto.
significativas. Além disso, no caso da escala Kinsey, esta
Podemos contrastar tal complexidade inerente a um
situação é ainda pior, porque mede a auto identificação de
fenômeno diferente que podem ser delimitadas de forma
indivíduos, deixando claro que se os valores que relatam todos
inequívoca, tais como a gravidez. Salvo raras exceções, o que
se referem ao mesmo aspecto sexualidade - pessoas
torna a classificação dos sujeitos de pesquisa para fins de
diferentes podem entender os termos "heterossexual" e
estudo relativamente fácil: compare mulheres grávidas com
"homossexual" para se referir a sentimentos de atração, ou a
outras mulheres, não grávidas. Mas, como podem
excitação, ou para fantasias, ou a um comportamento, ou a
pesquisadores comparar, digamos, homens "gays" com
qualquer combinação destes. A ambiguidade dos termos limita
homens "heterossexuais" em um único estudo, ou através uma
severamente a utilização da escala Kinsey como uma ordinal
série de estudos, sem definições mutuamente exclusivas e
medição que emite uma ordem de classificação para as
exaustivas dos termos "gay" e " heterossexual"?
variáveis ao longo de uma única ou num continuun2
Para aumentar a precisão, alguns pesquisadores categorizaram conceitos associados com a sexualidade humana em um contínuo ou escala de acordo com as
Conjunto de elementos tais que se possa passar de um para outro de modo contínuo, onde o espaço-temporal, nas teorias relativistas, espaço de quatro dimensões, cuja quarta é o tempo. 2
14
unidimensional. Portanto, não é claro que esta escala ajuda os
definição da orientação sexual da American Psychological
pesquisadores fazer as classificações ainda rudimentares entre
Association no documento de 2008 concebido para educar o
os grupos relevantes usando critérios qualitativos, muito menos
público:
a ordem de classificação das variáveis ou a conduta de experiências controladas.
Orientação sexual se refere a um padrão persistente emocional, romântico e/ou de atração sexual para homens, mulheres ou ambos os sexos. Orientação sexual também se refere ao sentido de uma pessoa de identidade com base nessas atrações, comportamentos relacionados e associação em uma comunidade de pessoas que compartilham essas atrações. Investigação ao longo de várias décadas demonstraram que orientação sexual varia ao longo de um continuum , desde a atração exclusiva ao outro sexo à atração exclusiva para o mesmo sexo25. [Ênfases adicionados]
Talvez, dada a complexidade inerente do assunto, tentativas para conceber escalas ―objetivas‖ deste tipo são equivocadas. Em uma crítica de tais abordagens de ciências sociais, o filósofo e neuropsicólogo Daniel N. Robinson ressalta que ―afirmações que se prestam a diferentes interpretações não se tornam ―objetivas‖ apenas colocam um numeral na frente"22. Pode ser que identificações auto relatadas com cultural,
preocupante
e
inerente
rótulos
Uma dificuldade com o agrupamento destas
complexos
categorias juntos sob a mesma rubrica geral de "orientação
simplesmente não possam fornecer um objetivo base para
sexual" é que a pesquisa sugere o que muitas vezes não
medições quantitativas em indivíduos ou entre grupos.
coincidem na vida real. O sociólogo Edward O. Laumann e
Outro obstáculo para a investigação nesta área pode ser a popular, mas não bem suportada, crença de que os
seus colegas resumem claramente este ponto em um livro de 1994:
desejos românticos são sublimações do desejo sexual. Esta ideia, rastreável a teoria das pulsões inconscientes de Freud, tem sido contestada por pesquisas sobre "teoria do apego", desenvolvida por John Bowlby na década de 195023. A muito grosso modo, a teoria do apego sustenta que mais tarde experiências afetivas que muitas vezes são agrupadas sob a rubrica geral "romântica" são explicadas em parte por comportamentos de apego na primeira infância (associados com figuras maternas ou cuidadores) - não por inconsciente, impulsos sexuais, desejos românticos, seguindo esta linha de pensamento, talvez não sejam tão fortemente correlacionados
Embora não haja um grupo central (cerca de 2,4 por cento do total de homens e cerca de 1,3 por cento das mulheres no total) em nossa pesquisa que se definem como homossexuais ou bissexuais, têm parceiros do mesmo gênero, e expressam desejos homossexuais, existem também grupos consideráveis que não se consideram - ser homossexual ou bissexual, mas tiveram experiências homossexuais adultas ou expressam algum grau de desejo... [Esta análise preliminar demonstra inequívoca e ambígua evidencia de que nenhum número pode ser utilizado para proporcionar uma caracterização precisa e válida da incidência e prevalência da homossexualidade na população em grande parte. Em suma, a homossexualidade é fundamentalmente um fenômeno multidimensional que tem significados e interpretações múltiplas, dependendo no contexto e objetivo26. [Ênfase adicionada].
com desejos sexuais, como normalmente se pensa. Tudo isso é sugerir que as delimitações simples dos conceitos relativos à
Mais recentemente, em um estudo de 2002, os
sexualidade humana não podem ser tomadas pelo seu valor
psicólogos Lisa M. Diamond e Ritch C. Savin-Williams fizeram
nominal e que empiricamente em curso de pesquisa às vezes
um ponto semelhante:
muda ou complica os significados dos conceitos. Se olharmos para a pesquisa recente, descobrimos que os cientistas costumam usar, pelo menos, uma das três categorias durante a tentativa de classificar as pessoas como "homossexual" ou "heterossexual": comportamento sexual; fantasias sexuais (ou afins experiências emocionais ou
Quanto mais cuidadosamente pesquisadores mapeiam essas constelações - diferenciando, por exemplo, entre identidade de gênero e identidade sexual , desejo e comportamento, sentimentos afetuosos vs. sexuais, no início de aparência contra atrações e fantasias , ou identificações sociais e perfis sexuais o mais complicado será a imagem porque poucos indivíduos relatam uniformes inter-correlações entre estes dominios 27. [Ênfase adicionada].
afetivas) e auto identificação (como "gay", "lésbica", "bissexual", "assexuado", e assim por diante)24. Alguns
Alguns pesquisadores reconhecem as dificuldades
adicionam uma quarta: a inclusão em uma comunidade
com o agrupamento destes vários componentes em uma única
definida por orientação sexual. Considere-se, por exemplo, a
direção. Por exemplo, pesquisadores John C. Gonsiorek e
15
James D. Weinrich escreveram num livro de 1991: "Pode ser
Para finalizar esta parte do nosso relatório considera
assumido com segurança que não há uma relação necessária
que a investigação sobre o desejo sexual e atração sexual,
entre o comportamento sexual de uma pessoa e sua auto
enfocando os resultados empíricos relacionados à etiologia e
identidade, a menos que ambos sejam avaliados
desenvolvimento, e destacando as complexidades subjacentes.
individualmente"28. Da mesma forma uma pesquisa de revisão
Nós continuaremos a empregar termos ambíguos como
em 1999 sobre o desenvolvimento da orientação sexual nas
"orientação sexual", onde eles são usados pelos autores que
mulheres, a psicóloga social Letitia Anne Peplau argumenta:
discutem, mas vamos estar atentos no contexto da sua
"Numa ampla documentação sobre atração pelo mesmo sexo e
utilização e as ambiguidades inerentes a eles.
comportamentos não são inevitavelmente ou inerentemente ligados à sua identidade"29. Em suma, as complexidades em torno do conceito de "orientação sexual" apresentam desafios consideráveis para a
Desafiando a hipótese "nasceram assim" Tendo em mente estas reflexões sobre os problemas
pesquisa empírica sobre o assunto. Enquanto o público em
das definições, voltamos para a questão de como desejos
geral pode estar sob a impressão de que existem definições
sexuais originam e se desenvolvem. Considere os diferentes
científicas amplamente aceitas de termos como "orientação
padrões de atração entre indivíduos que relatam ter atração
sexual", na verdade, não existem. A avaliação de Diamond da
sexual ou romântica predominantemente para com membros
situação em 2003 ainda é verdade hoje, que "atualmente não
do mesmo sexo e aqueles que relatam experimentar
há consenso científico ou popular na constelação exata de
predominante atração sexual ou romântica para os membros
experiências que definitivamente ―qualificam‖ um indivíduo
do sexo oposto. O que são as causas desses dois padrões da
como lésbica, gay ou bissexual"30.
atração? São tais atrações ou preferenciais traços inatos,
É devido a essas complexidades que alguns
talvez determinados por nossos genes ou hormônios pré-
pesquisadores, por exemplo Laumann, procedam ao
natais; eles são adquiridos por fatores experimentais,
caracterizar
"fenômeno
ambientais ou volitivos; ou eles se desenvolvem a partir de
multidimensional"; mas, um poderia muito bem se perguntar se,
uma combinação de ambos os tipos de causas? Que papel, se
tentando encaixar este "fenômeno multidimensional" em uma
há algum, que o organismo humano pode jogar na gênese dos
única categoria, não estamos reedificando um conceito que
padrões de atração? Que papel, se algum, influências culturais
corresponde a algo muito plástico e difuso, na realidade, na
ou sociais desempenham?
a
orientação
sexual
como
investigação científica e pesquisa. Enquanto rótulos como
A pesquisa sugere que, embora os fatores genéticos
"heterossexual" e "homossexual" são muitas vezes tomados
ou inatos possam influenciar o surgimento de atração pelo
para designar características psicológicas ou até mesmo
mesmo sexo, esses fatores biológicos não podem fornecer
biológicas estáveis, talvez eles não o sejam. Pode ser que
uma explicação completa, e fatores ambientais e vivenciais
experiências afetivas, sexual e comportamentais dos indivíduos
podem também desempenhar um papel importante.
não se conformem bem a tais rótulos categóricos porque esses
A visão mais aceita no discurso popular mencionado
rótulos não fazem, na verdade, referem-se a tipos naturais
acima - o "nasceram assim" é A noção de que a
(psicológica ou biologicamente). No mínimo, devemos
homossexualidade e a heterossexualidade são biologicamente
reconhecer que não exista ainda um claro e bem estabelecido
inatas ou o produto de desenvolvimento de precoces fatores -
quadro de investigação sobre estes tópicos. Ao invés de tentar
levando muitos não-especialistas a pensar que a
pesquisar
e
homossexualidade ou a heterossexualidade é em qualquer
comportamento sob a rubrica geral de "orientação sexual",
pessoa imutável e determinada totalmente à parte das
podemos fazer melhor para examinar empiricamente cada
escolhas, comportamentos, experiências de vida e contextos
domínio separadamente e na sua própria especificidade.
sociais. No entanto, como a seguinte discussão da literatura
o
desejo
sexual,
atração,
identidade
16
científica relevante mostra, isso não é uma visão que é bem suportada pela pesquisa.
Estudos com gêmeos, no entanto, bem concebidos, examinando a genética de homossexualidade indicam que fatores genéticos provavelmente desempenham algum papel na determinação da orientação sexual. Por exemplo, em 2000,
Estudos de gêmeos Um projeto de pesquisa poderoso para avaliar se
o psicólogo J. Michael Bailey e colegas realizaram um estudo
traços biológicos ou psicológicos têm uma base genética é o
Australian National Health and Medical Research Council Twin
estudo de gêmeos idênticos. Se a probabilidade é alta que
Registry , uma grande amostra de probabilidade, que foi,
ambos os membros de um par de gêmeos idênticos, que
portanto, mais provável que seja representativa da população
partilham o mesmo genoma, exibam uma característica quando
geral do que a do estudo de Kallmann33. O estudo utilizou a
um deles é – isto é conhecido como a taxa de concordância -
escala Kinsey para operacionalizar a orientação sexual e taxas
então pode-se inferir que os fatores genéticos são susceptíveis
de concordância estimadas para homossexual de 20% para os
de serem envolvidos na característica. Se, no entanto, a taxa
homens e 24% de mulheres em gêmeas (maternas,
de concordância para gêmeos idênticos não é maior do que a
monozigóticas) idênticas, em comparação para 0% para os
taxa de concordância do mesmo traço em gêmeos fraternos,
homens e 10% para as mulheres em gêmeos não-idênticos
que compartilham (em média), apenas metade de seus genes,
(fraternos, dizigóticos)34. A diferença na estimativa nas taxas de
isso indica que o meio compartilhado pode ser um fator mais
concordância foi estatisticamente significativa para os homens,
importante do que genes compartilhados.
mas não para as mulheres. Com base nestas descobertas, os
Um dos pioneiros da genética comportamental e um
importante sobre a orientação sexual usando gêmeos na
pesquisadores
estimaram
que
a
herdabilidade
da
dos primeiros pesquisadores a usar gêmeos para estudar o
homossexualidade para os homens foi de 0,45, com um amplo
efeito dos genes em traços, incluindo orientação sexual, foi o
intervalo de confiança3 de 95% entre 0,00-0,71; para as
psiquiatra Franz Josef Kallmann. Em um artigo marco
mulheres, que foi de 0,08 com intervalo de confiança
publicado em 1952, ele relatou que, para todos os pares de
semelhante de largura de 0,00-0,67. Estas estimativas
gêmeos idênticos que ele estudou, se um dos gêmeos fosse
sugerem que, para os machos 45% das diferenças entre certas
gay, em seguida, ambos eram gays, produzindo uma taxa de
orientações sexuais (homossexuais contra heterossexuais
concordância
medidos pela escala Kinsey) poderiam ser atribuídas a
de
100%
surpreendente
para
a
homossexualidade em gêmeos idênticos31. Este resultado
diferenças nos genes.
replicado e o estudo desenhado melhor, teria dado apoio inicial
Os grandes intervalos de confiança no estudo de
a hipótese do "nasceram assim". Mas o estudo foi duramente
Bailey e seus colegas significa que devemos ter cuidado na
criticado. Por exemplo, o filósofo e professor de Direito Edward
avaliação da substantiva significância destes achados. Os
Stein observa que Kallmann não apresentou qualquer prova de
autores interpretam seus resultados para sugerir que "qualquer
que os gêmeos em seu estudo foram, de fato geneticamente
gene principal para a homossexualidade estritamente definido
idênticos, e sua amostra foi elaborada a partir de doentes
tem baixa penetrância ou baixa frequência"35, mas esses dados
psiquiátricos, prisioneiros, e outros através do que Kallmann
não demonstraram (menor) significância estatística. Enquanto
descreveu como "contatos diretos com homossexuais
as estimativas de concordância parecerem um pouco alta nos
clandestinos no mundo", levando Stein para argumentar que a
modelos utilizados, os intervalos de confiança são tão grandes
amostra de Kallmann "de modo algum constituía uma seção
que é difícil julgar a confiabilidade, incluindo a replicabilidade,
transversal razoável da população
homossexual"32,
onde as
dessas estimativas.
amostras tais como de Kallmann são conhecidas como amostras de conveniência, os quais envolvem a seleção de temas a partir de populações que são convenientemente acessíveis ao pesquisador.
Em estatística, um intervalo de confiança (IC) é o intervalo estimado onde a média de um parâmetro de uma amostra tem uma dada probabilidade de ocorrer. Comumente define-se como o intervalo onde há 95% de probabilidade de a média verdadeira da população inteira ocorrer. 3
17
Vale esclarecer o que "hereditariedade" significa
dados de 3.826 pares de gêmeos do mesmo sexo idênticos e
nestes estudos, uma vez que o significado técnico em genética
fraternais (2,320 idênticos e 1.506 pares de irmãos)37. Os
de populações é mais estreito e mais preciso do que o sentido
pesquisadores operacionalizaram homossexualidade em
comum da palavra. Herdabilidade ou hereditariedade é uma
termos de parceiros sexuais e vida útil do mesmo sexo. As
medida de quanta variação em uma característica em particular
taxas de concordância da amostra foram um pouco menores
dentro de uma população pode ser atribuída a variação em
do que aqueles encontrados no estudo de Bailey e seus
genes numa população. Não é, no entanto, uma medida de
colegas. Por ter tido pelo menos um parceiro do mesmo sexo,
quanto uma característica é determinada geneticamente.
a concordância para os homens foi de 18% em gêmeos
Traços que são quase inteiramente determinados
idênticos e 11% em gêmeos fraternos; para as mulheres, 22%
geneticamente podem ter muito mais baixos valores de
e 17%, respectivamente. Para número total de parceiros
herdabilidade, enquanto traços que quase não têm base
sexuais, taxas de concordância para os homens foram de 5%
genética pode ser encontrado para ser altamente hereditários.
em gêmeos idênticos e 0% em gêmeos fraternos; para as
Por exemplo, o número de dedos que seres humanos tem é
mulheres, 11% e 7%, respectivamente.
quase completamente determinado geneticamente. Mas há
Para os homens, esses índices sugerem uma taxa de
pouca variação no número de dedos humanos, e na maior
herdabilidade estimada de 0,39 para ter tido pelo menos um
parte da variação vemos que é devido a fatores não-genéticos,
parceiro do mesmo sexo (intervalo de confiança de 95% [0,00-
tais como acidentes, o que faria levar a estimativas de baixa
0,59}), e 0,34 para o número total de parceiros do mesmo sexo
herdabilidade para a característica. Por outro lado, as
(intervalo de confiança de 95% {0,00-,53}). Fatores ambientais
características culturais às vezes podem ser encontradas para
experimentados por um dos gêmeos, mas não o outro
ser altamente hereditárias. Por exemplo, se um determinado
explicaram 61% e 66% da variância, respectivamente,
indivíduo na América em meados do século XX usava brincos
enquanto que fatores ambientais compartilhados pelos gêmeos
verificou-se que seria altamente transmissível, porque foi
não conseguiram explicar qualquer variância. Para as
altamente associado com ser homem ou mulher, que por sua
mulheres, a taxa de herdabilidade para ter tido pelo menos um
vez é associado com cromossomos sexuais XX ou
parceiro do mesmo sexo foi de 0,19 (intervalo de confiança de
cromossomos sexuais XY, tornando a variabilidade no
95% [0,00-0,49}); para o número total de parceiros do mesmo
comportamento de usar brinco altamente associadas com
sexo, ele foi de 0,18 (intervalo de confiança de 95% [0,11-
diferenças genéticas, apesar do fato de que o uso de brincos é
0,45]). Os únicos fatores ambientais responsáveis por 64% e
um fenômeno cultural em vez de biológico. Hoje, estimativas
66% da variância, respectivamente, enquanto fatores
de herdabilidade para o comportamento de usar brinco seriam
ambientais compartilhados responsáveis por 17% e 16%,
menor do que elas eram em meados do século XX na América,
respectivamente. Estes valores indicam que, enquanto o
não por causa de quaisquer alterações no grupo genético
componente genético de comportamento homossexual está
americano, mas por causa do aumento da aceitação de
longe
homens usando brincos36.
compartilhados indicam uma crítica, preponderante papel,
de
ser
desprezível,
fatores
ambientais
não
Assim, a estimativa de herdabilidade de 0,45 não
talvez. Os autores concluem que orientação sexual surge a
significa que 45% da sexualidade é determinada por genes.
partir de ambas as influências hereditárias e ambientais únicas
Pelo contrário, isso significa que 45% da variação entre os
para cada indivíduo, afirmando que "esses resultados reforçam
indivíduos na população estudada pode ser atribuída em
a noção de que o ambiente específico individual afeta, de fato,
algumas formas a fatores genéticos, em oposição a fatores
a influência pela preferência sexual"38.
ambientais.
Outro grande estudo de representatividade nacional
Em 2010, o epidemiologista psiquiátrico Niklas
em gêmeos publicado pelos sociólogos Peter S. Bearman e
Langstrom e colegas realizaram um duplo estudo grande,
Hannah Brückner em 2002 utilizando os dados do “ National
sofisticado com gêmeos sobre orientação sexual, analisando
Longitudinal Study of Adolescent to Adult Health” (N.T.: Estudo
18
Nacional Longitudinal de Saúde do Adulto Adolescente)
estudo também não encontrou nenhuma correlação entre
comumente abreviado como “ Add Health‖ de adolescentes nas
experimentar atração pelo mesmo sexo e ter vários irmãos
classes 7-12 anos39. Estes autores tentaram estimar a
mais velhos, que haviam sido relatados em alguns estudos
influência relativa de fatores sociais, genéticos e hormonais
anteriores41.
pré-natais sobre o desenvolvimento de atrações para o mesmo
Finalmente, Bearman e Brückner não encontraram
sexo. No geral, 8,7% dos 18,841 adolescentes deste estudo
evidência de significativa influência genética na atração sexual.
relataram atração pelo mesmo sexo, 3,1% relataram um
A influência significativa exigiria que gêmeos idênticos
relacionamento romântico do mesmo sexo, e 1,5% relataram o
tivessem taxas de concordância significativamente maior na
comportamento sexual do mesmo sexo. Os autores analisaram
atração para o mesmo sexo do que gêmeos fraternos ou
primeiro a "hipótese da influência social", segundo a qual os
irmãos não gêmeos. Mas no estudo, as taxas foram
gêmeos do sexo oposto recebem menos socialização
estatisticamente semelhantes: gêmeos idênticos foram 6,7%
generalizada de suas famílias do que os gêmeos do mesmo
concordantes, pares dizigóticos 7,2% concordantes, e irmãos
sexo ou irmãos do sexo oposto, e que esta hipótese foi bem
completos 5,5% concordantes. Os autores concluíram que "é
suportada no caso masculino. Enquanto gêmeos fêmeas do
mais provável que qualquer influência genética, se presentes,
sexo oposto no estudo foram o menos provável de todos os
apenas podem ser expressas em específico nas estruturas
grupos relatar atração pelo mesmo sexo (5,3%), gêmeos
sociais circunscritas"42. Com base em seus dados, eles
masculinos do sexo oposto eram os mais prováveis relatar
sugeriram que a observada estrutura social que pode permitir
atração pelo mesmo sexo (16,8%) - mais de duas vezes mais
que esta expressão genética seja mais limitada, ―a socialização
provável que os homens com uma irmã, não-gêmeos (16,8%
de gênero associado com os primogênitos [do sexo oposto]
vs. 7,3%). Os autores concluíram que houve "substanciais
para duplo pares"43. Assim, eles inferiram que os seus
provas indiretas em apoio a um modelo de socialização no
resultados "apoiam a hipótese de que menos socialização de
nível individual"40.
gênero na primeira infância e pré-adolescência moldam as
Os autores também examinaram a "hipótese de
preferências românticas do mesmo sexo subsequentemente"44.
transferência hormonal intrauterina" de acordo com a qual as
Embora os resultados aqui sejam sugestivos, é necessária
transferências hormonais pré-natais entre irmãos do sexo
mais investigação para confirmar esta hipótese. Os autores
oposto e fetos gêmeos influenciam a orientação sexual dos
também argumentaram que os índices de concordância mais
gêmeos (observe que esta é diferente da hipótese mais geral
altos para atração de pessoas do mesmo sexo relatadas em
de que hormônios pré-natal influenciam o desenvolvimento da
estudos anteriores podem não ser confiáveis, devido à
orientação sexual.) No presente estudo, a proporção de
problemas metodológicos, tais como amostras não-
gêmeos do sexo masculino do sexo oposto que relataram
representativas e amostra de pequeno tamanho (deve notar-
atração pelo mesmo sexo foi de cerca de duas vezes maior
se, contudo, que estas observações foram publicadas antes do
para aqueles sem irmãos mais velhos (18,7%) como para
estudo por Langstrom e colegas discutido acima, que usa um
aqueles com irmãos mais velhos (8,8%). Os autores
desenho de estudo que não parecem ter essas limitações).
argumentaram que este achado era forte evidência contra a
Para reconciliar os dados um tanto mistos sobre
hipótese de transferência de hormônio, uma vez que a
hereditariedade, poderíamos supor que a atração pelo mesmo
presença de irmãos mais velhos não deve diminuir a
sexo pode ter um componente hereditário forte conforme as
probabilidade de atração pelo mesmo sexo se a atração tem
pessoas envelhecem - isto é, quando os pesquisadores tentam
uma base nas transferências hormonais pré-natais. Contudo,
medir orientação sexual mais tarde na vida (como no estudo de
que parece conclusão precoce: as observações são
2010 por Langstrom e colegas) do que quando medido mais
consistentes com a possibilidade de ambos os fatores
cedo na vida. As estimativas de herdabilidade podem mudar
hormonais e a presença de um irmão mais velho ter um efeito
dependendo da idade em que uma característica é medida por
(especialmente se a última influencia o precedente). Este
alterações nos fatores ambientais que podem influenciar a
19
variação da característica podendo em pessoas de diferentes
prováveis do que gêmeos fraternos ou outros irmãos a serem
idades, e por causa de traços geneticamente influenciados
tratados de forma semelhante. Assim, a parte da maior taxa de
podem tornar-se mais fixa, numa fase posterior do
concordância pode ser atribuída a fatores ambientais em vez
desenvolvimento de um indivíduo (altura, por exemplo, torna-se
de fatores genéticos. Em qualquer caso, se os genes
fixa no início da idade adulta). Esta hipótese também sugerida
desempenham um papel na predisposição das pessoas para
por resultados, discutidos abaixo, que a atração pelo mesmo
certos desejos ou comportamentos sexuais, esses estudos
sexo pode ser mais fluida na adolescência do que em fases
deixam claro que influências genéticas não podem ser a
posteriores da vida adulta.
história toda.
Em contraste com os estudos apenas resumidos, a
Resumindo os estudos de gêmeos, podemos dizer
psiquiatra Kenneth S. Kendler e colegas realizaram um grande
que não há nenhuma evidência científica confiável de que a
estudo com gêmeos utilizando uma probabilidade amostra de
orientação sexual é determinada por genes de uma pessoa.
794 pares de gêmeos e 1.380 irmãos não-gêmeos45. Baseado
Mas há evidências de que os genes desempenham um papel
em taxas de concordância para a orientação sexual (definidos
na influência da orientação sexual. Portanto, a pergunta "As
neste estudo como auto identificação baseado na atração), os
pessoas homossexuais nasceram assim?" Exige clarificação.
autores afirmam que seus resultados "sugerem que fatores
Não há praticamente nenhuma evidência de que qualquer
genéticos podem fornecer uma importante influência na
pessoa, gay ou hetero, "nascer dessa forma" isso significa que
orientação sexual"46. O estudo, no entanto, não parece ser
a sua orientação sexual era geneticamente determinada. Mas
suficientemente poderoso para tirar conclusões fortes sobre o
há alguma evidência dos estudos com gêmeos com certos
grau de influência genética sobre a sexualidade: apenas 19 de
perfis
324 pares de gêmeos idênticos tinham qualquer membro não-
probabilidade da pessoa posteriormente se identificar como
heterossexual, com 6 dos 19 pares concordantes; 15 de 240
gay ou se engajar em comportamento sexual do mesmo sexo.
genéticos,
provavelmente,
que
aumentam
a
pares de gêmeos fraternos do mesmo sexo tinham qualquer
Estudos com gêmeos futuros sobre a hereditariedade
membro não-heterossexual, com 2 dos 15 pares concordantes.
da orientação sexual devem incluir análises de amostras
Porque apenas 8 pares de gêmeos eram concordantes para
maiores ou meta-análises ou outra sistemática, bem como,
não-heterossexualidade, a capacidade do estudo para fazer
comentários para superar o tamanho limitado da amostra e
comparações significativas entre substantivamente gêmeos
poder estatístico de algum dos estudos existentes e análises
idênticos e fraternais (ou entre gêmeos e irmãos não gêmeos)
das taxas de herdabilidade em diferentes dimensões da
foi limitada.
sexualidade (como atração, comportamento e identidade) para
Em geral, estes estudos sugerem que (dependendo
superar as imprecisões do conceito ambíguo da orientação
de como homossexualidade é definida), em qualquer lugar a
sexual e os limites de estudos que olham para apenas uma
partir de 6% a 32% dos casos, ambos os membros de um par
dessas dimensões da sexualidade.
de gêmeos idênticos seriam homossexuais, se pelo menos um membro é. Destes alguns estudos com gêmeos encontraram taxas mais elevadas de concordância em gêmeos idênticos do que em gêmeos fraternos ou irmãos não gêmeos, podendo
Genética molecular Ao examinar a questão de saber se e, talvez, até que
haver influências genéticas sobre o desejo sexual e
ponto, as contribuições genéticas para a homossexualidade,
preferências comportamentais. É preciso ter em mente que
que até agora os estudos que empregam métodos de genética
gêmeos idênticos têm tipicamente ambientes ainda mais
clássica determinaram a herdabilidade de uma característica
semelhantes - experiências inicias de apego, relações de
como a orientação sexual, mas que não se identificam em
pares, e outros - do que gêmeos fraternais ou irmãos não
particular com genes que podem estar associados com esse
gêmeos. Por causa de suas aparências e temperamentos
trato47. Mas, genética pode também ser estudada usando o que
semelhantes, por exemplo, gêmeos idênticos podem ser mais
muitas vezes são chamados métodos moleculares que
20
fornecem estimativas de que variações genéticas particulares
em 2012, que não encontrou ligações apresentando resultado
estão associadas a traços, seja físico ou comportamental.
significativo em todo o genoma para identidade sexual pelo
Uma primeira tentativa de identificar uma base
mesmo sexo para homens ou mulheres51.
genética mais específica para a homossexualidade foi num
Então, mais uma vez, a evidência para uma base
estudo de 1993 pelo geneticista Dean Hamer e seus colegas
genética para a homossexualidade é inconsistente e
com 40 pares de irmãos48 homossexuais através da análise do
inconclusiva, o que sugere que, embora os fatores genéticos
histórico familiar de homossexualidade para estes indivíduos,
expliquem algumas das variações na orientação sexual, a
eles
contribuição genética da presente característica não é provável
identificaram
uma
possível
ligação
entre
homossexualidade nos homens e marcadores genéticos na
que seja forte e muito menos susceptível de ser decisiva.
região Xq28 do cromossomo X. As tentativas de replicar os
Como acontece muitas vezes, as tendências
resultados deste influente estudo tiveram resultados mistos:
comportamentais humanas, não podem ter contribuições
George Rice e seus colegas tentaram e falharam para replicar
genéticas para a tendência de inclinações ou comportamentos
as descobertas de Hamer 49 embora em 2015 Alan R. Sanders
homossexuais. A expressão fenotípica dos genes está
e colegas foram capazes de reproduzir os achados originais de
normalmente influenciada por fatores ambientais - ambientes
Hamer usando um maior tamanho da população de 409 pares
diferentes podem levar a diferentes fenótipos mesmo para os
de gêmeos do sexo masculino de irmãos homossexuais, e
mesmos genes. Assim, mesmo se existem fatores genéticos
encontrar uma ligação genética adicional50 (uma vez que o
que contribuem para homossexualidade, atrações ou
efeito era pequeno, no entanto, o marcador genético não seria
preferências sexuais de um indivíduo podem também ser
um bom preditor de orientação sexual). Estudos de ligação
influenciadas por um número de fatores ambientais, tais como
genética, como os que foram discutidos acima são capazes de
stress sociais, incluindo abuso emocional, físico ou sexual.
identificar regiões específicas de cromossomas que podem ser
Olhar para o desenvolvimento, através de fatores ambientais,
associados com um traço, olhando para os padrões de
experienciais, sociais ou volitivos são necessários para chegar
herança. Hoje, um dos principais métodos para inferir que
a um quadro mais completo de interesse por se desenvolver no
variantes genéticas estão associadas a um traço é o estudo de
que ser refere a atrações sexuais e desejos.
associação do genoma, que utiliza tecnologias de sequenciamento de DNA para identificar diferenças específicas no DNA que podem ser associadas com um traço. Os cientistas examinam milhões de variantes genéticas em
O limitado papel da Genética Leitores leigos podem notar neste ponto que até
grandes números de indivíduos que têm uma característica em
mesmo ao nível puramente biológico da genética, os antigos
particular, bem como indivíduos que não tem a característica, e
debates "natureza versus criação" sobre psicologia humana
comparam a frequência de variantes genéticas entre aqueles
foram abandonados por cientistas, que reconhecem que
que tem e não têm a característica. Variantes genéticas
nenhuma hipótese credível pode ser oferecida para quaisquer
específicas que ocorrem mais frequentemente entre aqueles
traços particulares que teriam sido determinados meramente
que têm do que aqueles que não têm o traço são inferidas a ter
pela genética ou ambiente. O crescente campo da epigenética,
alguma associação com essa característica. Associação dos
por exemplo, demonstra que, mesmo para traços relativamente
estudos com genoma tornaram-se populares nos últimos anos,
simples, a própria expressão do gene pode ser influenciada por
mas poucos estudos científicos encontraram associações
inúmeras outros fatores externos que podem moldar o
significativas de variantes genéticas com orientação sexual. A
funcionamento dos genes52. Este é ainda mais relevante
maior tentativa de identificar variantes genéticas associadas
quando se trata da relação entre os genes e traços complexos,
com a homossexualidade, foi um estudo de mais de 23.000
como a atração sexual e comportamentos.
indivíduos do banco de dados 23andMe apresentado na
Essas relações gene-ambiente são complexas e
reunião anual da Sociedade Americana de Genética Humana
multidimensionais. Fatores de desenvolvimento não-genéticos
21
e experiências ambientais podem ser esculpidos, em parte, por
pouca evidência para apoiar uma simplista narrativa que
fatores genéticos que trabalham de maneiras sutis. Por
comtemplam um "nasceram assim" sobre a natureza da
exemplo, os geneticistas sociais documentaram o papel
orientação sexual.
indireto de genes em comportamentos alinhados por pares, de modo que a aparência física de um indivíduo poderia influenciar um determinado grupo social irão incluir ou excluir um individuo53. Geneticistas contemporâneos sabem que os genes
A influência dos hormônios Outra área de pesquisa relevantes para a hipótese de que as pessoas nascem com disposições para diferentes orientações
podem influenciar a gama de interesses e motivações de uma
sexuais
envolve
influências
pessoa, portanto, indiretamente afetando o comportamento.
desenvolvimento físico pelos homens ou subsequente
Embora os genes possam, deste modo inclinar uma pessoa
comportamentos femininos típicos na primeira infância. Por
para certos comportamentos, comportamento convincentes
razoes éticas e práticas, o trabalho experimental neste campo
diretamente, de forma independente de uma grande variedade
é realizado em mamíferos não-humanos, o que limita como
de outros fatores, mas isso parece menos plausível. Eles
esta pesquisa pode ser generalizada para a saúde em casos
podem influenciar o comportamento de maneiras mais sutis,
humanos. No entanto, as crianças que nascem com
dependendo de estímulos ambientais externos (por exemplo,
transtornos do desenvolvimento sexual (TDS) servem como
pressão dos pares, sugestão e recompensas comportamentais)
uma população em que examinar a influência das
em conjunto com fatores psicológicos e constituição física.
anormalidades
Dean Hamer, cujo trabalho sobre possível papel da genética
desenvolvimento posterior de identidade sexual não-típica e
em homossexualidade foi examinado acima, explicou algumas
orientação sexual.
genéticas
hormonais
e
hormonais
pré-natal
sobre
no
o
das limitações da genética comportamental em um artigo de
Hormônios responsáveis pela diferenciação sexual
2002 na revista Science: "O verdadeiro culpado [da falta de
geralmente exercem efeitos sobre o feto em desenvolvimento,
progresso na genética comportamental] é o pressuposto que a
quer efeitos organizacionais - que produzem mudanças
rica complexidade do pensamento humano e da emoção pode
permanentes na formação e sensibilidade do cérebro e,
ser reduzida a uma relação linear simples entre genes e
portanto, são considerados em grande parte irreversíveis - ou
comportamentos individuais... este modelo simplista, que
efeitos de ativadores que ocorrem mais tarde na vida de um
subjaz a investigação mais recente no comportamento
indivíduo (na puberdade e na idade adulta)55. Hormônios
genético, ignora a importância crítica do cérebro, do meio
organizacionais podem afetar estruturalmente os principais
ambiente e redes de expressão gênica"54.
sistemas fetais (incluindo o cérebro), e preparar o terreno para
As influências genéticas que afetam qualquer
a sensibilidade aos hormônios apresentados na puberdade e
comportamento humano complexo - comportamentos sexuais
além, quando o hormônio, então, "ativa" os sistemas que foram
ou interações interpessoais - dependem, em parte em
"organizados" no período pré-natal.
experiências da vida dos indivíduos à medida que
Períodos de pico de resposta ao ambiente hormonal
amadurecem. Genes constituem apenas uma das muitas das
são pensados a ocorrer durante a gestação. Por exemplo, a
principais influências sobre o comportamento ambiental, além
testosterona é pensada para influenciar o feto macho máximo
de influências, escolhas pessoais e experiências interpessoais.
entre as semanas 8 e 24, e, em seguida, novamente no
O peso da evidência até agora sugere fortemente que a
nascimento, até cerca de três meses de idade56. Estrogênios
contribuição dos fatores genéticos é modesta. Podemos dizer
são fornecidos ao longo da gestação pela placenta e estudos
com confiança que os genes não são a única causa essencial
do sistema sanguíneo57 da mãe. Os estudos com animais
da orientação sexual; há evidências de que os genes
revelam que pode até haver vários períodos de sensibilidade
desempenham um modesto papel na contribuição para o
para uma variedade de hormônios, que a presença de um
desenvolvimento de atrações sexuais e comportamentos, mas
hormônio pode influenciar a ação de um outro hormônio, e a
22
sensibilidade dos receptores para estes hormônios podem
precursores de cortisol, alguns dos quais são convertidos em
influenciar as suas ações58 de diferenciação sexual que, por si
andrógenos (hormônios associados ao desenvolvimento sexual
só, é um sistema altamente complexo.
masculino)66. Como resultado, as meninas nascem com algum
Os hormônios específicos de interesse nesta área de
grau de virilização de sua genitália, dependendo da gravidade
investigação são a testosterona, a di-hidrotestosterona (um
do defeito genético67 casos graves de virilização genital, a
metabolito de testosterona, e mais potente do que a
intervenção cirúrgica é por vezes realizada para normalizar a
testosterona), estradiol (o que pode ser metabolizado em
genitália. Terapias hormonais são também frequentemente
testosterona), progesterona e cortisol. As vias geralmente
administradas para mitigar os efeitos do excesso da produção
aceitas de influência hormonal normal do desenvolvimento in
de andrógenos68. Fêmeas com HCA, que, como fetos foram
útero são como se segue. O típico padrão de diferenciação
expostos a níveis acima da média de andrógenos, são menos
sexual em fetos humanos começa com a diferenciação dos
propensos a serem exclusivamente heterossexuais do que as
órgãos sexuais em testículos ou ovários, um processo que é
mulheres sem HCA, e fêmeas com formas mais graves de
em grande parte geneticamente controlado. Uma vez que estes
HCA são mais propensas a serem não-heterossexuais do que
órgãos foram diferenciados, eles produzem hormônios
as mulheres com formas mais leves dessa condição69.
específicos que determinam o desenvolvimento dos órgãos
Da
mesma
forma,
existem
distúrbios
de
genitais externos. Esta janela de tempo em gestação é quando
desenvolvimento sexual em machos genéticos afetados por
os hormônios exercem os seus efeitos fenotípicos e
insensibilidade andrógena. Em homens com síndrome de
neurológicos. A testosterona segregada pelos testículos
insensibilidade
contribui para a desenvolvimento da genitália externa
testosterona normalmente, mas os receptores à testosterona
masculina e afeta o desenvolvimento neurológico no sexo
não são funcionais70. Os órgãos genitais, no momento do
masculino59; é a ausência de testosterona em mulheres que
nascimento, parecem ser do sexo feminino, e a criança é
permite o desenvolvimento do padrão feminino dos órgãos
geralmente criada como uma fêmea. A testosterona endógena
genitais externos60. Desequilíbrios de testosterona ou de
do indivíduo é dividida em estrogénio, de tal modo que o
estrogénio, bem como a sua presença ou ausência em
indivíduo começa a desenvolver características sexuais
períodos específicos críticos da gestação, podem causar
secundárias femininas71. Não se torna evidente que há um
distúrbios de desenvolvimento sexual (efeitos genéticos ou
problema até a puberdade , quando o indivíduo não inicia a
ambientais
menstruação apropriadamente72. Esses pacientes geralmente
também
podem
levar
a
distúrbios
do
desenvolvimento sexual).
androgênica,
os
testículos
produzem
preferem continuar a vida como fêmeas, e sua orientação
O estresse também pode desempenhar algum papel
sexual não difere de fêmeas tendo um genótipo XX73. Os
influenciador na maneira e no desenvolvimento dos hormônios
estudos que sugeriram que estes são tão prováveis se não
gonadais,
mais prováveis que sejam exclusivamente interessados em
neurodesenvolvimento
e
subsequentes
comportamentos tipicamente sexuais no início da infância61. O
parceiros do sexo masculino do que mulheres XX74.
cortisol é o principal hormônio associado com as respostas ao
Existem outros transtornos do desenvolvimento sexual
estresse. Ele pode ser originado da mãe, se ela experimenta
que afetam geneticamente alguns machos (isto é, com um
estressores graves durante a gravidez, ou a partir do feto sob
genótipo XY) nos quais deficiências de androgénio é um
stress62. Elevados níveis de cortisol podem também ocorrer a
resultado direto da falta de enzimas quer para sintetizar
partir de defeitos genéticos63. Uma das mais estudadas
dihidrotestosterona de testosterona ou a produzir testosterona
doenças do desenvolvimento sexual é a hiperplasia congênita
de um hormônio precursor 75. Indivíduos com essas deficiências
adrenal (HCA), que nas mulheres podem resultar em virilização
nascem com graus variados de genitália ambígua, e às vezes
genital64. Mais de 90% dos casos de HCA resulta de uma
são criados como meninas. Durante a puberdade, no entanto,
mutação em um gene que codifica uma enzima que ajuda a
essas pessoas muitas vezes experimentam virilização física, e
sintetizar cortisol65. Isto resulta numa superprodução de
devem em seguida, decidir se viveram como homens ou
23
mulheres.
Peggy
T.
Cohen-Kettenis,
professora
de
Para as mulheres, a hipótese para a homossexualidade que
desenvolvimento de gênero e psicopatologia, descobriu que 39
elas têm sido hipermasculinidades (proporção menor, maior
a 64% dos indivíduos com essas deficiências que são
testosterona) também tem sido proposta. Vários estudos
estudadas decidem pela mudança e passam a viver como
comparando essa característica em homossexuais versus
homens na adolescência e início da idade adulta, e ela também
homens e mulheres heterossexuais identificadas têm mostrado
relatou que "o grau de masculinização genital externa à
resultados mistos.
nascença não parece estar relacionado com mudanças de papéis de gênero de uma forma sistemática"76.
Um estudo publicado na revista Nature, em 2000, descobriu que em uma amostra de 720 adultos da Califórnia, a
Os estudos com gêmeos na avaliação anterior podem
razão 2D:4D da mão direita de mulheres homossexuais foi
lançar luz sobre o papel das influências hormonais maternas,
significativamente mais masculino (isto é, a razão era menor)
uma vez que ambos os gêmeos idênticos e fraternais são
do que a de mulheres heterossexuais e não diferiu
expostos as influências hormonais maternas semelhantes no
significativamente da dos homens heterossexuais78. Este
útero. As taxas de concordância relativamente fracas nos
estudo também não encontrou nenhuma diferença significativa
estudos de gêmeos sugerem que os hormônios pré-natais,
na razão média 2D:4D entre homens heterossexuais e
como fatores genéticos, não desempenham um papel
homossexuais. Outro estudo naquele ano, que utilizou uma
fortemente determinante na orientação sexual. Outras
amostra relativamente pequena de homens homossexuais e
tentativas de encontrar influências hormonais significativas em
heterossexuais do Reino Unido, relatou uma inferior razão
desenvolvimento sexual foram misturadas do mesmo modo, e
2D:4D (isto é, mais masculino) em homens homossexuais79.
a saliência dos resultados ainda não é clara. Uma vez que
Um estudo de 2003 com sede em Londres usando uma
estudos das influencias diretas hormonais pré-natais sobre o
amostra também descobriu que homens homossexuais tinha
desenvolvimento sexual são metodologicamente difíceis,
uma inferior razão 2D:4D do que os heterossexuais80, enquanto
alguns estudos têm tentado desenvolver modelos que as
dois outros estudos com amostras da Califórnia e Texas
diferenças na exposição hormonal pré-natal possam ser
apresentaram maior razão 2D:4D em homens homossexuais81.
inferidas indiretamente - pela medição morfológica subtil nas
Num estudo de 2003 comparando sete pares de
mudanças ou examinando distúrbios hormonais que estão
gêmeos monozigóticos do sexo feminino discordantes para a
presentes mais tarde durante o desenvolvimento.
homossexualidade (uma gêmea era lésbica) e cinco pares de
Por exemplo, uma procuração áspera dos níveis de
gêmeos do sexo feminino monozigóticos concordantes para a
testosterona pré-natal usada por investigadores é a razão entre
homossexualidade (ambos os gêmeos eram lésbicas)82 nos
o comprimento do segundo dedo (―index finger ‖) e o quarto
pares de gêmeos discordantes para a orientação sexual, os
dedo (dedo anular) que é comumente chamado de ―razão
indivíduos
2D:4D". Algumas evidências sugerem que a relação pode ser
significativamente menor razão 2D:4D do que seus gêmeos,
influenciada por exposição pré-natal a testosterona, de modo
enquanto os gêmeos concordantes não mostraram diferença.
que em machos os níveis mais elevados de exposição a
Os autores interpretaram este resultado como sugerindo que
testosterona podem causar dedos indicadores curtos relativos
baixa razão 2D:4D é um resultado de diferenças no ambiente
ao dedo anelar (ou possuindo uma baixa razão 2D:4D), e vice-
pré-natal83. Por fim, um estudo de 2005 de razões 2D:4D em
versa77. De acordo com essa hipótese, os homens
uma amostra austríaca de 95 homossexuais e 79
homossexuais podem ter um maior índice 2D:4D (mais perto
heterossexuais homens descobriram que as razões de 2D:4D
da proporção encontrada em mulheres que em homens
de homens heterossexuais não eram significativamente
heterossexuais), enquanto uma outra hipótese sugere o
diferentes da dos homens homossexuais84. Depois de analisar
contrário, que os homens homossexuais podem ser
os vários estudos sobre esta característica, os autores
hipermasculinizados por testosterona pré-natal, resultando
concluem que "mais dados são essenciais antes que
numa razão mais baixa do que em homens heterossexuais.
possamos ter certeza se há um efeito para a orientação sexual
identificados
como
homossexuais
tinham
24
em homens quando a variação étnica é controlada pela razão
contribuem para distúrbios do desenvolvimento sexual podem
2D:4D"85.
contribuir para o desenvolvimento das orientações de não-
Muita pesquisa tem examinado os efeitos dos
heterossexuais em alguns indivíduos, mas isso não demonstra
hormônios pré-natais sobre comportamento e estrutura
que tais fatores explicam o desenvolvimento da atração sexual,
cerebral. Mais uma vez, estes resultados vêm principalmente
desejos e comportamentos na maioria dos casos.
de estudos de primatas não-humanos, mas o estudo de desordens do desenvolvimento sexual forneceu percepções úteis sobre os efeitos dos hormônios sobre o desenvolvimento sexual em seres humanos. Desde que influências hormonais
Orientação Sexual e o Cérebro Houve vários estudos que examinam diferenças
ocorrem tipicamente durante nos períodos sensíveis ao tempo
neurobiológicas entre os indivíduos que se identificam como
de desenvolvimento, quando os seus efeitos manifestos
heterossexuais e aqueles que se identificam como
fisicamente, é razoável supor que os efeitos organizacionais
homossexuais. Este trabalho começou com a neurocientista
destes cedo criam padrões hormonais ligados ao tempo e
Simon LeVay em 1991 que estudou e relatou diferenças
tendem a direcionar os aspectos do desenvolvimento neural.
biológicas no cérebro dos homens homossexuais em
Conectividade neuroanatômica e sensibilidades neuroquímicas
comparação com homens normais - especificamente, a
podem estar entre tais influências.
diferença em volume num grupo de células particulares dos
Em 1983, Günter Dörner e colegas realizaram um
núcleos intersticiais do hipotálamo anterior (INAH3)89. Trabalho
estudo investigando se existe alguma relação entre estresse
posterior pelo psiquiatra William Byne e colegas mostrou
materno durante a gravidez e identidade sexual de seus filhos,
resultados mais sutis: "De acordo com dois estudos
entrevistando duzentos homens sobre eventos estressantes
anteriores... encontramos INAH3 para ter dimorfismo sexual,
que podem ter ocorrido às suas mães durante a sua vida pré-
ocupando um significativo volume maior nos machos do que
natal86. Muitos destes eventos ocorreram como consequência
nas fêmeas. Além disso, determinou-se que a diferença entre
da Segunda Guerra Mundial que homens relataram que suas
os sexos em termos de volume era imputável a uma diferença
mães tinham experimentado eventos estressantes de
de sexo em número neuronal e não no tamanho ou densidade
moderadamente a severamente durante a gravidez, 65% eram
neuronal"90. Os autores observaram que "embora houvesse
homossexuais, 25% eram bissexuais, e 10% eram
uma tendência para INAH3 a ocupar um volume menor nos
heterossexuais (orientação sexual foi avaliada usando a escala
homens homossexuais do que em homens heterossexuais,
Kinsey). No entanto, mais estudos recentes têm mostrado
não houve diferença no número de neurônios dentro do núcleo
muito menor ou nenhuma correlações87 significativa. Em um
com base na orientação sexual". Eles especularam que "a
estudo prospectivo de 2002 sobre a relação entre a orientação
experiência pós-natal" pode explicar as diferenças de volume
sexual e estresse pré-natal durante o segundo e terceiro
desta região entre homens homossexuais e heterossexuais,
trimestres, Hines e seus colegas descobriram que o estresse
embora isso exigisse mais investigação para confirmar 91. Eles
relatado por mães durante a gravidez mostrou "apenas uma
também observaram que o significado funcional de dimorfismo
pequena relação" aos comportamentos masculinos típico em
sexual em INAH3 é desconhecido. Os autores concluem: "com
suas filhas na idade de 42 meses, e ―nenhuma relação em
base nos resultados do presente estudo, bem como no de
tudo" para comportamentos femininos típicos em seus filhos88.
LeVay (1991), a orientação sexual não pode ser prevista com
Em resumo, algumas formas de exposição pré-natal a
fiabilidade com base no volume de INAH3 somente"92. Em
hormônios, particularmente HCA no sexo feminino, estão
2002, o psicólogo Mitchell S. Lasco e colegas publicaram um
associadas com diferenças na orientação sexual, enquanto que
estudo para examinar uma parte diferente do cérebro - a
outros fatores são frequentemente importante na determinação
junção anterior - e constataram que não houve diferenças
das características físicas e efeitos psicológicos a essas
significativas nessa área, com base no sexo ou orientação
posições, dentre essas as condições hormonais que
sexual93.
25
Outros estudos já foram realizados para verificar
suficiente,
nós
finalmente
encontraríamos
diferenças
diferenças estruturais ou funcionais entre os cérebros dos
estatisticamente significativas em alguma área do cérebro,
indivíduos heterossexuais e homossexuais (usando uma
morfologia ou função, entre estes dois grupos. Mas isso não
variedade de critérios para definir essas categorias), onde
implica que tais diferenças apuradas nas diferentes trajetórias
achados a partir de vários desses estudos estão resumidos em
de vida do professor de ioga e do fisiculturista são diferenças
um comentário publicado em 2008 na revista Proceedings of
cerebrais que poderiam ter sido o resultado, em vez da causa,
the National Academy of Sciences94. Pesquisas deste tipo, no
de padrões distintos de comportamento ou interesses99.
entanto, não parecem mostrar algo muito relevante em relação
Considere outro exemplo. Suponha que os homens
à etiologia ou origens biológicas da orientação sexual. Devido
homossexuais tendem a ter menos gordura corporal do que
às limitações inerentes, esta literatura de pesquisa é bastante
homens normais (como indicado por menores escores médios
normal. Por exemplo, em um estudo de ressonância magnética
em índices de massa corporal). Até apesar da massa corporal
funcional foi utilizado para medir as mudanças de atividade no
ser, em parte, determinada pela genética, não poderia alegar
cérebro quando as imagens de homens e mulheres foram
com base nesta constatação de que há alguma causa inata ou
mostradas aos participantes, descobrindo que vendo um rosto
genética de que em ambos a massa corporal está associada
feminino produzia-se atividade mais forte no tálamo e córtex
com a homossexualidade. Pode ser o caso, por exemplo, que
orbitofrontal dos homens heterossexuais e mulheres
ser gay esteja associado com uma dieta que reduz a massa
homossexuais, enquanto em homens homossexuais e
corporal; estes exemplos ilustram um dos problemas comuns
mulheres heterossexuais estas estruturas reagiram mais
encontrados na interpretação popular de tais investigações: a
fortemente para o rosto de um homem95. Que os cérebros de
sugestão de que o padrão neurobiológico determina uma
mulheres heterossexuais e os homens homossexuais reagiram
expressão comportamental específica.
distintamente aos rostos de homens, enquanto que o cérebro
Com esta visão geral de estudos sobre fatores
de homens heterossexuais e mulheres homossexuais reagiram
biológicos que podem influenciar atração sexuais, preferências
distintamente aos rostos de mulheres, é uma descoberta que
ou desejos, podemos compreender uma conclusão bastante
parece bastante trivial no que diz respeito a compreensão da
forte, onde a psicóloga social Letitia Anne Peplau e colegas
etiologia das atrações homossexuais. Na mesma linha, um
citam em um artigo de revisão em 1999: "para recapitular, mais
estudo relatou respostas diferentes aos feromônios entre
de 50 anos da investigação tem falhado em demonstrar que os
homossexuais e os homens heterossexuais96, onde um estudo
fatores biológicos são uma das principais influências no
de acompanhamento (follow-up) mostrou uma conclusão
desenvolvimento da orientação sexual das mulheres... ao
semelhante em homossexuais em comparação com mulheres
contrário da crença popular, os cientistas não demonstraram
heterossexuais97. Outro estudo mostrou diferenças na
de forma convincente que a biologia determina a orientação
assimetria cerebral e conectividade funcional entre sujeitos
sexual das mulheres"100. À luz dos estudos que resumimos
homossexuais e heterossexuais98.
aqui, esta declaração também pode ser feita para a pesquisa
Embora as conclusões deste tipo possam sugerir caminhos para futuras investigações, eles não se movem muito
sobre orientação sexual masculina, no entanto, este conceito é definido.
mais próxima para a compreensão do biológico ou de determinantes ambientais sobre atrações sexuais, interesses, preferências ou comportamentos. Vamos falar mais sobre isso abaixo. Por agora, vamos brevemente ilustrar algumas das
Leitura errada da Investigação Há algumas significativas limitações incorporadas para
limitações inerentes a esta área de investigação com o
o tipo de pesquisa empírica resumida nas seções anteriores. O
seguinte exemplo hipotético. Suponha que fossem estudados
fato dessas limitações serem ignoradas são as principais
cérebros de professores de yoga e comparados com os
razões das limitações da pesquisa onde é rotineiramente mal
cérebros de fisiculturistas. Se procurarmos por tempo
interpretada na esfera pública. Pode ser tentador assumir,
26
como por exemplo da estrutura do cérebro, que, se um
grande quantidade de sobreposição entre as distribuições. Isto
determinado perfil biológico é associado com algum traço
é, não pode ter praticamente nenhuma separação em termos
comportamental ou psicológico, então este perfil biológico faz
de distinção entre os indivíduos membros de cada grupo, e,
com que esse traço. Este raciocínio sendo baseado em uma
portanto, a medida não fornece muito mais previsibilidade para
falácia; e, nesta seção, vamos explicar por que, utilizando
a orientação sexual ou preferência.
conceitos do campo da epidemiologia. Embora algumas
Algumas destas questões poderiam, em parte, ser
dessas questões sejam bastante técnicas em detalhes, vamos
realçadas por abordagem metodológica adicional, tais como a
tentar explicá-las de uma forma geral e acessível ao leitor não
utilização de uma amostra de formação ou validação cruzada
especialista.
nos procedimentos. Uma amostra de formação é uma pequena
Suponha, por motivos de ilustração que uma ou mais
amostra utilizada para desenvolver um modelo (ou hipótese);
diferenças de uma característica biológica sejam encontradas
este modelo é então testado em uma amostra maior
entre os homens homossexuais e heterossexuais. Essa
independente. Este método evita testar uma hipótese sobre os
diferença poderia ser uma medida discreta (chamo isso de D)
mesmos dados utilizados para desenvolver a hipótese. A
como a presença de um marcador genético, ou poderia ser
validação cruzada inclui procedimentos utilizados para
uma medida contínua (chamo isso de C), tais como o volume
examinar se um efeito estatisticamente significativo está
médio de uma parte particular do cérebro.
realmente lá ou apenas devido ao acaso. Se alguém quiser
Mostrando que um fator de risco aumenta
mostrar que o resultado não ocorreu por acaso (e se a amostra
significativamente as chances de um determinado resultado de
é grande) pode-se executar os mesmos testes em uma divisão
saúde ou de um comportamento pode nos dar uma pista para o
aleatória da amostra relevante. Depois de encontrar uma
desenvolvimento
ou
diferença na prevalência do traço D ou C entre uma amostra
comportamento, mas não fornece evidência de causalidade.
gay e uma amostra normal, os pesquisadores poderiam
Na verdade, não pode fornecer evidência de quaisquer coisas,
aleatoriamente dividir a amostra em dois grupos gays e, em
mas a mais fraca das correlações. A inferência é feita às vezes
seguida, mostram que estes dois grupos não diferem quanto D
que, se pode mostrar que os homens homossexuais e homens
ou C. Suponha que numa encontra cinco diferenças em cada
heterossexuais diferem significativamente na probabilidade de
100 comparando gay para homens heterossexuais nas
que D está presente (se um gene, um fator hormonal ou
amostras globais, em seguida, encontra cinco diferenças de
alguma outra coisa), não importa quão baixo seja a
100 quando se comparam as amostras gay. Isso seria lançar
probabilidade, então este achado sugere que ser gay tem uma
dúvidas adicionais na descoberta inicial de uma diferença entre
base biológica. Mas essa inferência é injustificada. Dobrar (ou
as medias de gays e indivíduos heterossexuais.
desse
resultado
em
saúde
até triplicar ou quadruplicar) a probabilidade de um traço relativamente raro pode ter pouco valor em termos de prever quem vai ou não ser identificado como gay. O mesmo seria verdadeiro para qualquer variável
Vitimização por Abuso Sexual Considerando que a discussão precedente leva em
contínua (C). Mostrar uma diferença significativa na média ou
conta parte dos fatores biológicos que podem desempenhar no
média para uma dada característica (tais como o volume de
desenvolvimento da orientação sexual, esta seção resume a
uma região particular do cérebro) entre homens que se
evidência de que um fator ambiental particular - abuso sexual
identificam como heterossexuais e os homens que se
na infância – é relatado significativa mais entre aqueles que
identificam como homossexuais não é suficiente para mostrar
mais tarde se identificam como homossexuais. Os resultados
que esta diferença média contribui para a probabilidade de
apresentados abaixo levantam a questão se existe uma
identificar como heterossexual ou homossexual. Para além das
associação entre o abuso sexual, principalmente na infância, e
razões acima expostas, as diferenças significativas nos meios
expressões posteriores da atração sexual, comportamento ou
das duas distribuições podem ser consistentes com uma
27
identidade. Se então, o abuso infantil pode aumentar a probabilidade de ter uma orientação não-heterossexual?
Os autores observam que, esta hipótese de que as taxas
de
abuso
diminuiria
a
aceitação
social
a
Correlações, pelo menos, foram encontradas, como
homossexualidade aumentou, ―as disparidades nas taxas de
vamos resumir abaixo. Mas devemos observar em primeiro
prevalência de abuso sexual, abuso físico parental e
lugar que elas podem ser explicadas por uma ou mais das
vitimização entre pares entre minoria sexual e jovens de não-
seguintes suposições:
minoria sexuais não mudaram a partir dos anos 1990 para a
1. Abuso pode contribuir para o desenvolvimento de orientação não-heterossexual.
primeira década dos anos 2000‖102. Embora esses autores citaram autoridades que afirmam que o abuso sexual não é a
2. As crianças com (sinais de futuro) tendências não-
―causa de indivìduos se tornarem gays, lésbicas, ou
heterossexuais podem atrair abusadores, colocando-
bissexuais‖103 seus dados não dão evidência contra a hipótese
os em risco elevado.
de que o abuso sexual na infância pode afetar a orientação
3. Certos fatores podem contribuir tanto para o abuso
sexual. Por outro lado, o caminho pode ser causal na direção
sexual na infância e tendências não-heterossexuais
oposta ou bidirecional. A evidência não refuta ou apoia esta
(por exemplo, uma família disfuncional ou um pai
conjectura; o design do estudo não é capaz de derramar muita
alcoólico).
luz sobre a questão da direcionalidade. Os autores invocam uma hipótese amplamente citada
Deve ser mantido em mente que estas três hipóteses
para explicar as maiores taxas de abuso sexual entre os não-
não são mutuamente exclusivas; todas os três, e talvez outras,
heterossexuais, a hipótese de que ―indivíduos de minorias
podem ser operativas. Como resumimos os estudos sobre esta
sexuais são... mais propensos a serem alvo de abuso sexual,
questão, vamos tentar avaliar cada uma destas hipóteses à luz
como jovens que são percebidos como gays, lésbicas ou
da atual investigação científica.
bissexuais são mais susceptíveis de serem intimidados pelos
O professor de saúde comportamental e da
seus pares104. As duas conjecturas - que o abuso é uma causa
comunidade Mark S. Friedman e colegas conduziram uma
e que é resultado de tendências não-heterossexuais - não se
meta-análise de 37 estudos de 2011 a partir do exame dos
excluem mutuamente: abuso pode ser um fator causal no
Estados Unidos e Canadá sobre de abuso sexual, abuso físico
desenvolvimento de atrações não heterossexuais e desejos, e
e vitimização entre pares em heterossexuais, em comparação
ao mesmo tempo atrações não heterossexuais, desejos e
com não-heterossexuais101. Esses resultados mostraram que
comportamentos podem aumentar o risco de ser alvo de
os não-heterossexuais eram, em média, 2,9 vezes mais
abusos.
propensos a relatar terem sido abusados quando crianças
A professora de ciências comunitárias da saúde Emily
(com menos de 18 anos de idade). Em particular, os machos
Faith Rothman e colegas realizaram uma revisão sistemática
não-heterossexuais eram 4,9 vezes mais prováveis - e não
de 2011 da pesquisa que investiga a prevalência de agressão
heterossexuais fêmeas, 1,5 vezes mais provável - que seus
sexual contra as pessoas que se identificam como gay,
colegas heterossexuais em denunciar o abuso sexual.
lésbicas, ou bissexuais nos Estados States105. Eles
Adolescentes não-heterossexuais como um todo eram 1,3
examinaram 75 estudos (25 dos quais utilizando amostragem
vezes mais propensos a indicar abuso físico por pais do que
probabilística), envolvendo um total de 139.635 gays ou
seus pares heterossexuais, mas gay e lésbicas adolescentes
homens bissexuais (GB) e mulheres lésbicas ou bissexuais
eram apenas 0,9 vezes mais provável (bissexuais eram 1,4
(LB), que mediu a prevalência de vitimização devido ao tempo
vezes mais provável). Quanto a vitimização entre pares, não-
de vida na agressão sexual (LSA), agressão sexual na infância
heterossexuais eram 1,7 vezes mais propensas a relatar que
(CSA), agressão sexual quando adulto (ASA), agressão sexual
estava sendo abusado ou ameaçado com uma arma ou sendo
de parceiro íntimo (IPSA), e crimes de ódio relacionados com o
atacado.
abuso sexual (HC). Embora o estudo tenha sido limitado por não ter um grupo de controle heterossexual, mostrou
28
alarmantemente altos índices de agressão sexual, incluindo a
ter um significativo - mas não um fator determinante - de
agressão sexual na infância, para esta população, como
desenvolvimento das preferências homossexuais. Mais
resumido na Tabela 1.
distante são necessários estudos para ver se uma ou ambas as hipóteses têm mérito.
Tabela 1. Agressão sexual entre homens gays/bissexuais e mulheres lésbicas/bissexuais.
Tabela 2. Experiências adversas da infância entre gays/lésbicas, bissexuais e heterossexuais.
Usando uma amostra baseada em probabilidade com multe estágios em um estudo de 2013, a psicóloga Judith Anderson e colegas compararam diferenças com experiências desfavoráveis de infância - incluindo famílias disfuncionais,
Um estudo de 2010 pela professora de ciências
abuso físico, sexual ou emocional, e discórdia dos pais - entre
sociais e comportamentais Andrea Roberts e colegas
os autos identificados homossexuais, heterossexuais e adultos
examinaram a orientação sexual e o risco de transtorno pós-
bissexuais106. Eles descobriram que os bissexuais tiveram
traumático de estresse (PTSD), utilizando dados de um
proporções
os
levantamento epidemiológico nacional face-a-face de cerca de
heterossexuais de todos que tiveram fatores de experiência
35.000 adultos107. Os indivíduos foram colocados em várias
desfavoráveis, e que gays e lésbicas tinham significativamente
categorias: heterossexuais, sem atração pelo mesmo sexo ou
proporções mais elevadas do que os heterossexuais de todas
parceiros (grupo de referência); heterossexuais com atração
estas medidas, exceto separação de pais ou divórcio. No geral,
pelo mesmo sexo, mas não parceiros do mesmo sexo;
os gays e as lésbicas bissexuais tinham cerca de 1,7 vezes e
heterossexuais com parceiros do mesmo sexo; auto
bissexuais 1,6 vezes a taxa de heterossexuais com
identificados gay/lésbica; e bissexuais auto identificados. Entre
experiências adversas na infância. Os dados para o abuso são
aqueles que relataram exposição a eventos traumáticos, gays
resumidos na Tabela 2.
e lésbicas, assim como bissexuais tinham cerca de duas vezes
significativamente
maiores
do
que
Embora este estudo, como alguns outros que temos
o risco de PTSD em comparação com o grupo de referência de
discutido, possam ser limitados pelo viés de memória - ou seja,
heterossexuais. Foram encontradas diferenças nas taxas de
imprecisões introduzidas por erros de memória - tem o mérito
maus tratos na infância e violência interpessoal: gays, lésbicas,
de ter um grupo de heterossexuais auto identificados de
bissexuais e heterossexuais com parceiros do mesmo sexo
controle para comparar com a gays/lésbicas e bissexuais auto
relataram ter piores traumas durante a infância e adolescência
identificados em estudos de coortes. Na sua discussão dos
do que o grupo de referência. Os resultados estão resumidos
resultados, os autores criticam a hipótese de que trauma na
na Tabela 3.
infância tem uma relação causal com as preferências homossexuais. Entre suas razões para o ceticismo, eles observam que a grande maioria dos indivíduos que sofrem traumas de infância não se tornam homossexuais ou bissexuais, e que comportamento de gênero não conformado pode ajudar a explicar os elevados índices de abuso. No entanto, é plausível destes e de resultados relacionados a hipótese de que as experiências adversas na infância podem
Tabela 3. Exposição na infância para maus-tratos ou violência Interpessoal (antes da idade de 18 anos).
29
responsáveis por 60% da correlação entre orientação sexual e Padrões semelhantes surgiram em um estudo de 2012
depressão111.
pelo psicólogo Brendan Zietsch e colegas que principalmente
Em um estudo de 2001, a psicóloga Marie E. Tomeo e
focaram sobre a distinta questão de que se os fatores causais
colegas notaram que na literatura anterior tinham
comuns poderiam explicar a associação entre orientação
consistentemente encontrado aumento das taxas de abuso
sexual - neste estudo definido como preferência sexual - e
sexual na infância relatado na população homossexual, com
depressão108. Em uma amostra da comunidade de 9.884
algum lugar entre 10% e 46% relatando que eles tinham
gêmeos adultos, os autores encontraram prevalência que os
experimentado abuso sexual na infância112. Os autores
não-heterossexuais
elevada
descobriram que 46% dos homens homossexuais e 22% das
prevalência de com depressão (odds ratio para sexo masculino
mulheres homossexuais relataram que tinham sido molestados
2,8; odds ratio para o sexo feminino 2,7), onde os autores
por uma pessoa do mesmo gênero, em comparação com 7%
apontam, os dados levantaram questões sobre se as taxas
dos
mais elevadas da depressão para os não-heterossexuais
heterossexuais. Além disso, 68% dos homens homossexuais e
poderiam ser explicadas, em sua totalidade, pela hipótese de
38% de mulheres homossexuais entrevistados não se
estresse social (a ideia, discutida em profundidade na Parte
identificaram como homossexuais até depois do abuso. A
Dois do presente relatório, que o estresse social vivido por
amostra deste estudo foi relativamente pequena, apenas 267
contas das minorias sexuais e os seus riscos elevados de
indivíduos; além disso, a medida de abuso do "contato sexual"
maus resultados de saúde mental). Heterossexuais com um
na pesquisa foi um pouco vaga, e os sujeitos foram recrutados
gêmeo não-heterossexual tinham taxas mais elevadas de
a partir de participantes nos eventos do orgulho gay na
depressão (39%) do que pares de gêmeos heterossexuais
Califórnia. Mas os autores afirmam que "é muito improvável
(31%), sugerindo que a genética, fatores familiares ou outros
que todas as presentes descobertas se aplicam apenas a
fatores podem desempenhar um papel.
pessoas homossexuais que vão para eventos homossexuais e
tinham
significativamente
Os autores observam que "em ambos os machos e fêmeas, significativamente maior foram as taxas de não-
homens
heterossexuais
e
1%
das
mulheres
que sejam voluntários para participar da pesquisa com o questionário"113.
heterossexualidade encontrados nos participantes que
Em 2010, psicólogas Helen Wilson e Cathy S. Widom
experimentaram abuso sexual na infância e naqueles com um
publicaram um estudo de acompanhamento prospectivo de 30
ambiente familiar na infância de risco"110. Na verdade, 41% dos
anos - que olhou para as crianças que tinham experiências
homens não-heterossexuais e 42% das mulheres não
com abuso ou negligência entre 1961 e 1971, e depois seguiu-
heterossexuais relataram disfunção familiar na infância, em
se com aquelas crianças após 30 anos - para verificar se o
comparação com 24% e 30% de heterossexuais homens e
abuso físico, abuso sexual, ou negligência na infância
mulheres, respectivamente. E 12% de homens não
aumentaram a probabilidade das relações sexuais do mesmo
heterossexuais e 24% de mulheres não heterossexuais
sexo na vida mais tarde114. Uma amostra original com 908
relataram abuso sexual antes da idade de 14, em comparação
crianças abusadas e/ou negligenciadas foi combinada com um
com 4% e 11% dos heterossexuais machos e fêmeas,
grupo controle não-maltratado de 667 indivíduos (pareados por
respectivamente. Os autores tiveram o cuidado de enfatizar
idade, sexo, raça ou etnia, e aproximado status
que os seus resultados não devem ser interpretados como
socioeconômico). Homossexualidade foi operacionalizada
refutando a hipótese do stress social, mas sugerem que neste
como qualquer pessoa que coabitou com um parceiro
trabalho podem haver outros fatores. Suas descobertas, no
romântico do mesmo sexo ou teve um parceiro sexual do
entanto, sugerem que poderia haver fatores etiológicos comuns
mesmo sexo, o que se fez 8% da amostra. Entre estes 8%,
para as preferências de depressão para não-heterossexuais,
mais indivíduos também relataram ter parceiros do sexo
como foram encontrados e que fatores genéticos são
oposto, sugerindo altas taxas de bissexualidade ou fluidez nas atrações sexuais ou comportamentos. O estudo descobriu que
30
aqueles que relataram histórias de abuso sexual na infância
Eles usaram três medidas dicotômicas da orientação
foram 2,8 vezes mais propensos a relatar ter relações sexuais
sexual: qualquer vs. nenhuma atração pelo mesmo sexo;
com o mesmo sexo, embora a "relação entre abuso sexual na
qualquer vs. sem parceiros sexuais do mesmo sexo; lésbica,
infância e mesmo sexo na orientação sexual foi significativa
gay ou bissexual vs. heterossexual auto identificado. Como em
apenas para os homens"115. Esse achado sugere que os
outros estudos, os dados mostraram associações entre abuso
meninos que são abusados sexualmente podem ser mais
sexual na infância ou maus tratos em todas as três dimensões
propensos a estabelecer ambos os relacionamentos
de não-heterossexualidade (atração, parceiros, identidade),
heterossexuais e homossexuais.
com associações entre abuso sexual e identidade sexual
Os autores recomendaram cautela na interpretação
sendo mais forte.
deste resultado, porque o tamanho da amostra de homens
O modelo de variáveis instrumentais dos autores
vítimas de abuso sexual era pequeno, mas a associação
sugeriu que o abuso sexual precoce aumentou a taxa prevista
permaneceu estatisticamente significativa quando controlado
de atração pelo mesmo sexo por 2,0 pontos percentuais,
para o número total de parceiros sexuais ao longo da vida e
parceria do mesmo sexo em 1,4 pontos percentuais, e
para engajar-se em prostituição. O estudo também foi limitado
identidade do mesmo sexo 0,7 pontos percentuais. Os autores
por uma definição da orientação sexual que não foi sensível à
estimaram que a taxa de homossexualidade pode ser atribuível
forma como participantes se identificaram. Isto pode não ter
ao abuso sexual "usando efeitos estimados nos modelos
conseguido capturar pessoas com atração pelo mesmo sexo,
convencionais" e descobriu que, o estimado efeito
mas não do mesmo sexo com histórico de relacionamento
convencional, pode gerar 9% da atração pelo mesmo sexo,
romântico. O estudo teve duas forças metodológicas notáveis,
21% em qualquer tempo da vida por parceiros sexuais do
um design prospectivo é mais adequado para avaliar relações
mesmo sexo e 23% da identidade dos homossexuais ou
causais do que o típico design retrospectivo. Além disso, o
bissexuais foi devido a abuso sexual na infância‖118. Note-se
abuso na infância registrado foi documentado quando ocorreu,
que estas correlações são transversais: eles comparam grupos
mitigando assim viés de memória.
de pessoas para grupos de pessoas, em vez de modelar o
Tendo examinado a associação estatística entre o
curso dos indivíduos ao longo do tempo. (A concepção do
abuso sexual na infância e homossexualidade tardia, voltamos
estudo com séries temporais e sua análise daria forte suporte
à questão de saber se esta associação sugere causalidade.
estatístico ao pedido de causalidade). Além disso, esses
A análise de 2013 pelo pesquisador de saúde Andrea
resultados têm sido fortemente criticados nas bases
Roberts e seus colegas tentou dar uma resposta a esta
metodológicas por terem feito suposições injustificadas nas
questão116. Os autores observaram que, embora estudos
variáveis instrumentais de regressão; um comentário por Drew
mostraram 1,6-4 vezes mais relatos de abuso sexual e físico
H. Bailey e J. Michael Bailey afirma, "Não só os resultados de
na infância entre indivíduos gays e lésbicas do que entre
Roberts e colegas não fornecem suporte para a ideia de que
heterossexuais, métodos estatísticos convencionais não
maus tratos na infância causa a homossexualidade adulta, o
podem demonstrar uma relação estatística forte suficiente para
padrão de diferenças entre machos e fêmeas é o oposto do
apoiar o argumento de causalidade. Eles discutiram que um
que deve ser esperado com base em melhor evidência"119.
método estatístico sofisticado chamado de "variáveis
Roberts e colegas concluem seu estudo com várias
instrumentais," importado da econometria e análise econômica,
conjecturas para explicar as associações epidemiológicas. Elas
poderia aumentar o nível de associação117. (O método é um
ecoam sugestões feitas em outros lugares que o abuso sexual
pouco semelhante ao método de "escores de propensão", que
perpetrado por homens pode causar meninos a pensar que são
é mais sofisticado e mais familiar para o público de
gay ou fazer meninas agirem ao avesso ao contato sexual com
pesquisadores em saúde). Os autores aplicaram o método de
homens. Eles também conjecturaram que o abuso sexual pode
variáveis instrumentais para dados recolhidos a partir de uma
deixar vítimas sentindo-se estigmatizadas, que por sua vez
amostra nacionalmente representativa.
podem torná-las mais propensas a agir de forma a serem
31
socialmente estigmatizadas (como por se envolver em relações
o mais abrangente estudo da sexualidade até à data o National
sexuais do mesmo sexo). Os autores também apontam para os
Health and Social Life Survey conduzido pela National Opinion
efeitos biológicos de maus tratos, citando estudos que mostram
Research Center (NORC) de 1992 da Universidade de
que "a qualidade da parentalidade" pode afetar a química e
Chicago122. Duas importantes publicações apareceram usando
hormônios receptores em crianças, e formulam hipóteses de
dados a partir desta ampla pesquisa NORC: The Social
que isso pode influenciar a sexualidade ―através de alterações
Organization of Sexuality: Sexual Practices in the United
epigenéticas, particularmente na estria terminal e na amígdala
States, um grande volume de dados destinados a comunidade
medial, regiões do cérebro que regulam o comportamento
de pesquisa Sex in America: A Definitive Survey um estudo
social"120. Eles também mencionaram as possibilidades que o
menor e mais um livro acessível que resume as descobertas
entorpecimento emocional causado por maus-tratos pode
para o público em geral123. Estes livros apresentam dados de
conduzir as vítimas a procurar comportamentos de risco
uma amostra probabilística de confiança da população
associados com a sexualidade do mesmo sexo, ou que a
americana entre as idades de 18 e 59 anos de idade.
atração pelo mesmo sexo e parceria podem resultar de ―a
De acordo com dados da pesquisa NORC, a
unidade para a intimidade e sexo para reparar os estados
prevalência estimada de não-heterossexualidade, dependendo
deprimidos, estressados ou de humor com raiva", ou de limite
de como foi operacionalizada, e sobre se os sujeitos eram do
de transtorno de personalidade, o que é um fator de risco em
sexo masculino ou feminino, variou entre cerca de 1% e 9%124.
indivíduos que tenham sido maltratados121.
Os estudos NORC acrescentaram respeitabilidade científica
Em resumo, embora este estudo sugerisse que o
para pesquisas sexuais, e estas conclusões têm sido
abuso sexual, por vezes, pode ser um contribuinte causal a ter
amplamente replicadas nos Estados Unidos e no exterior. Por
uma orientação não heterossexual, mais pesquisas são
exemplo, o British National Survey of Sexual Attitudes and
necessárias para elucidar os mecanismos biológicos ou
Lifestyles (Natsal) é provavelmente a fonte mais confiável de
psicológicos. Sem tal pesquisa, a ideia de que o abuso sexual
informações sobre o comportamento sexual naquele país - um
pode ser um fator causal na orientação sexual permanece
estudo realizado a cada dez anos desde 1990125.
especulativa.
O estudo NORC também sugeriu maneiras pelas quais os comportamentos sexuais e identidades podem variar significativamente sob diferentes circunstancias sociais e
Distribuição dos desejos sexuais e alterações ao longo do tempo No entanto, no desenvolver dos desejos e interesses sexuais, há um problema relacionado que cientistas debatem: se os desejos sexuais e atrações tendem a permanecer fixos e inalteráveis ao longo da vida de uma pessoa - ou são fluidos e sujeitos a alterações ao longo do tempo, mas tendem a se fixarem após uma certa idade ou período de desenvolvimento. Defensores da hipótese "nasceram assim", como mencionado anteriormente, algumas vezes argumentam que uma pessoa não só nasce com uma orientação sexual, mas que essa orientação é imutável e fixa ao longo da vida. Existe agora evidência científica considerável que os desejos sexuais, atrações, comportamentos e até mesmo identidades podem, às vezes, podem mudar ao longo do tempo. Para descobertas nesta área podemos nos voltar para
ambientais. Os resultados revelados, por exemplo, sugerem uma diferença considerável em taxas de comportamento homossexual masculino entre os indivíduos que passavam a adolescência na zona rural, em comparação com as grandes cidades metropolitanas da América, sugerindo a influência de ambientes sociais e culturais. Enquanto que, apenas 1,2% dos homens que haviam passado a sua adolescência em um ambiente rural respondeu que eles tinham tido um parceiro sexual masculino no ano da pesquisa, aqueles que tinham passado a adolescência vivendo em áreas metropolitanas foram perto de quatro vezes (4,4%) mais propensos a relatar que eles tinham tido um parceiro126. A partir desses dados, não se pode inferir diferenças entre estes ambientes na prevalência de interesses sexuais ou atrações, mas os dados sugerem diferenças nos comportamentos sexuais. Também digno de nota é que as mulheres que frequentaram uma faculdade eram
32
nove vezes mais propensas a se identificarem como lésbicas do que as mulheres que não fizeram127.
Ritch Savin-Williams e Geoffrey Ream publicaram uma análise de 2007 dos dados das Ondas I-III do “ Add
Além disso, outros estudos populacionais sugerem
Health” .135 Medidas utilizadas incluíram se os indivíduos já
que o desejo sexual pode ser fluido para um número
tiveram uma atração romântica para um determinado sexo,
considerável de indivíduos, especialmente entre adolescentes
comportamento e identidade sexual (as categorias para a
à medida que amadurecem através dos estágios iniciais de
identidade sexual eram 100% heterossexual, principalmente
desenvolvimento de um adulto. A este respeito, a atração do
heterossexual, mas um pouco de atração pelo mesmo sexo,
sexo oposto e identidade parecem ser mais estáveis ao mesmo
bissexual, homossexual na sua maioria, mas um pouco atraído
sexo ou atração bissexual e identidade. Isto é sugerido pelos
pelo sexo oposto, e 100% homossexual). Embora os autores
dados do National Longitudinal Study of Adolescent to Adult
notassem a "estabilidade ao sexo oposto, atração e
Health ou ― Add Health‖ (estudo discutido anteriormente). Este
comportamento sexual" entre as Ondas I e III, encontraram
estudo longitudinal prospectivo de uma amostra nacionalmente
uma "elevada proporção de participantes com atração para o
representativa de adolescentes norte-americanos entre o 7º e o
mesmo e para ambos os sexos e comportamento migrando
12º ano de escola começou durante o ano letivo 1994 - 1995, e
dentro das categorias de sexo oposto entre as ondas"136. Uma
seguiu o coorte em jovens em idade adulta, com quatro
proporção
entrevistas de acompanhamento (referido como Ondas I, II, III
heterossexuais, e uma proporção similar de pessoas sem
e IV na literatura) 128. A mais recente foi em 2007-2008, quando
atração, mudou-se para a categoria não-heterossexual. Os
a amostra tinha entre 24-32 anos de idade.
autores resumem: "todas as categorias que tiveram atração
muito
menor
daqueles
nas
categorias
Do mesmo sexo ou atrações românticas de ambos as
diferente do sexo oposto foram associadas a uma menor
eram bastante prevalentes na primeira onda do estudo, com
probabilidade de estabilidade ao longo do tempo; isto é,
taxas de cerca de 7% para os machos e 5% para as fêmeas129.
indivíduos que referiram qualquer atração pelo mesmo sexo
No entanto, 80% dos adolescentes do sexo masculino que
eram mais propensos para relatar mudanças subsequentes em
tinham relatado atração pelo mesmo sexo na Onda I mais tarde
suas atrações que os indivíduos sem nenhuma atração pelo
identificaram-se como exclusivamente heterossexuais como
mesmo sexo"137.
jovens adultos na Onda IV130. Da mesma forma, para
Os autores observam também as dificuldades destes
adolescente homens que, na Onda I, tinham relatado atração
dados presentes para tentar definir orientação sexual e para
romântica para ambos os sexos, mais de 80% deles relataram
classificar os indivíduos de acordo com tais categorias: "a
nenhuma atração romântica para o mesmo sexo na Onda III131.
consideração crítica é se ter 'qualquer' sexualidade do mesmo
Os dados para as mulheres pesquisadas foram semelhantes,
sexo qualifica como não-heterossexual. Quanto uma dimensão
mas menos impressionante: para adolescente mulheres que
deve estar presente para inclinar a balança de uma orientação
tiveram atrações sexuais na Onda I, mais da metade relatou
sexual para outra não eram resolvidas com os presentes
atração exclusiva para homens na Onda III132.
dados, apenas que tais decisões importam em termos das
J. Richard Udry, o diretor do “ Add Health” para as
taxas de prevalência"138. Os autores sugeriram que os
Ondas I, II, e III133, foi um dos primeiros a apontar a fluidez e
pesquisadores poderiam "abandonar a noção geral de
instabilidade da atração romântica entre as duas primeiras
orientação sexual completamente e apreciar unicamente esses
ondas. Ele relatou que entre os rapazes que relataram atração
componentes relevantes para a questão de pesquisa"139.
romântica só para rapazes e nunca para meninas na onda I,
Outro estudo prospectivo feito pelo bioestatístico Miles
48% o fizeram durante a Onda II; 35% relataram nenhuma
Ott e colegas com 10.515 jovens (3.980 do sexo masculino;
atração por ambos os sexos; 11% relataram exclusivamente
6,535 do sexo feminino) em 2013 mostrou conclusões sobre
atração pelo mesmo sexo; e 6% relataram atração para ambos
mudança de orientação sexual em adolescentes consistentes
os sexos134.
com os achados dos dados do “ Add Health” , novamente
33
sugerindo fluidez e plasticidade do mesmo sexo para atrações entre muitos adolescents140.
Em relação à terceira hipótese para explicar os dados do “Add Health” , Savin-Williams e Joyner, notaram que as
Alguns anos após os dados “ Add Health” serem
pesquisas de adolescentes, por vezes, produziam resultados
publicados originalmente, o Archives of Sexual Behavior
incomuns ou distorcidos devido aos adolescentes que não
publicou um artigo de Savin-Williams e Joyner que criticou os
respondem com sinceridade. Na pesquisa “Add Health” , eles
dados do “ Add Health” na mudança de atração sexual141. Antes
observam, que houve um número significativo de
de delinear sua crítica, Savin-Williams e Joyner resumiram a
respondedores incomuns. Por exemplo, várias centenas de
principais conclusões do “ Add Health” : "nos cerca de 13 anos
adolescentes relataram no questionário da Onda I que eles
entre as ondas I e IV, independentemente de se a medida era
tinham um membro artificial, enquanto que mais tarde nas
idêntica através de ondas (atração romântica) ou discrepantes
entrevistas a domicilio, apenas dois desses adolescentes
em palavras, mas não na teoria (atração romântica e
relataram ter membros artificiais144. Adolescentes garotos que
identidade da orientação sexual), aproximadamente 80% dos
passaram de não heterossexuais na Onda I para
adolescentes rapazes e metade dos adolescentes que
heterossexuais na onda IV foram significativamente menos
expressaram tanto parcial ou exclusiva atração romântica para
propensos a relatar ter preenchido o questionário onda I
o mesmo sexo na Onda I ―virou‖ heterossexual (atração do
honestamente; estes meninos também exibiram outras
sexo oposto ou identidade exclusivamente heterossexual)
diferenças significativas, tais como menores médias em sala de
como jovens adultos"142. Os autores propõem três hipóteses
aula. Além disso, com os meninos consistentemente
para explicar estas discrepâncias:
heterossexuais, meninos que eram inconsistentes entre as Ondas I e IV eram mais populares em sua escola com meninos
(1) adolescentes gays ―vão para o armário ‖ durante seus anos adultos jovens; (2) confusão sobre o uso e o significado da atração romântica como um indicador para orientação sexual; e (3) a existência de adolescentes travessos que desempenharam um papel ―piadista‖ relatando atração pelo mesmo sexo quando nenhum foi presente143.
que as meninas, meninos enquanto consistentemente não heterossexuais eram mais populares com as meninas. Estes e outros dados145 levaram os autores a concluir que "meninos que surgiram como um gay ou com adolescência bissexual se tornaram um heterossexual na idade adulta jovem, em geral,
Savin-Williams e Joyner rejeitaram a primeira
adolescentes heterossexuais que eram tanto confusos e não
hipótese, mas encontraram apoio para a segunda e a terceira.
entenderam a medida da atração romântica ou ―piadistas‖ que
No que diz respeito à segunda hipótese, eles questionaram o
decidiram, por razões que não foram capazes de detectar,
uso de atração romântica para operacionalizar identidade
desonestamente relatar a sua sexualidade"146. No entanto, os
sexual:
autores não foram capazes para estimar a proporção de respostas imprecisas, o que teria ajudado a avaliar o poder
Para nos ajudar a avaliar se o problema de construção/medição (atração romântica versus identidade da orientação sexual) estava dirigindo resultados, comparamos os dois constructos na Onda IV... Desde que mais de 99% de adultos jovens com atração romântica ao sexo oposto foram identificado como heterossexual ou principalmente heterossexual e 94% daqueles com atração romântica para pessoas do mesmo sexo identificados como homossexuais ou principalmente homossexual, 33% de ambos os sexos atraíram homens identificados como heterossexuais (apenas 6% de ambos os sexo atraíram mulheres identificadas como heterossexuais). Estes dados indicaram que homens adultos jovens e mulheres geralmente entendiam que o significando da atração romântica para o oposto, ou do mesmo sexo implicando num particular (e consistente) orientação sexual da identidade, com uma gritante exceção - um subconjunto substancial de jovens adultos que, apesar de sua atração romântica pelo mesmo sexo, foram identificados como heterossexuais.
explicativo das hipóteses. Mais tarde, em 2014, os Archives of Sexual Behavior publica uma crítica do Savin-Williams e Joyner na explicação dos dados do “Add Health” pelo psicólogo Gu Li e colegas147. Juntamente com a crítica da metodologia de Savin-Williams e Joyner, esses autores afirmaram que os dados foram consistentes com um cenário em que alguns adolescentes não heterossexuais foram "de volta para o armário" nos últimos anos como uma possível reação para o desenvolvimento por social estresse (vamos examinar os efeitos do estresse social sobre a saúde mental em populações LGBT na Parte II do presente relatório). Eles também alegaram que " faz pouco
34
sentido usar respostas da Onda IV em identidade sexual para
corretas. Pode muito bem ser o caso de que uma combinação
validar ou invalidar respostas das Ondas I ou IV quando as
de fatores contribuiu para as diferenças entre a Onda I e dados
atrações românticas nesses aspectos da orientação sexual não
da Onda IV. Por exemplo, pode ter havido alguns adolescentes
podem alinhar em primeiro lugar"148. No que diz respeito a
que responderam perguntas de atração sexual na Onda I de
hipótese ―piadista‖, esses autores colocam esta dificuldade:
forma imprecisa, alguns adolescentes não heterossexuais que
"embora alguns participantes possam ser ‗piadistas‘, e nós,
mais tarde abertamente passaram "de volta para o armário" e
como pesquisadores devemos ter cautela de problemas
alguns adolescentes que experimentaram atrações não
associados a levantamentos de auto relato, sempre analisando
heterossexuais antes da Onda I isto desapareceu em grande
e interpretação dos dados, não está claro por que os ‗piadistas‘
parte na Onda IV. Outro estudo com design prospectivo que
iriam responder a perguntas sobre a delinquência,
acompanhou
honestamente, mas não a perguntas sobre sua orientação
desenvolvimento do adolescente e do adulto pode lançar mais
sexual"149.
luz sobre estas questões.
indivíduos
específicos
em
todo
o
Savin-Williams e Joyner publicaram uma resposta à
Enquanto ambiguidades na definição e caracterização
crítica na mesma edição do jornal150. Respondendo à crítica de
de desejo e orientação sexual geram alterações no desejo
que a sua comparação da Onda IV na identidade sexual auto
sexual difíceis de estudar, os dados destes grandes estudos
relatada na Onda I auto referida as atrações românticas eram
nacionais, com base na população de indivíduos amostrados
insalubres, Savin-Williams e Joyner reivindicaram que os
aleatoriamente sugerem que todas as três dimensões da
resultados eram bastante similares se uma atração utilizada
sexualidade - afeto, comportamento e identidade - podem
como medida na Onda IV. Eles também consideraram
mudar ao longo do tempo para algumas pessoas. Não está
altamente improvável que uma grande proporção dos
claro e a pesquisa atual não aborda, se, e, em que medida os
inquiridos que foram classificados como não-heterossexuais na
fatores sujeitos a controle volitivo - escolha de parceiros ou
Onda I e heterossexuais na Onda IV foram "de volta para o
comportamentos sexuais, por exemplo - podem influenciar
armário", porque a proporção dos indivíduos na adolescência e
essas mudanças através de condicionamento e outros
início da vida adulta que estão "fora do armário "geralmente
mecanismos
aumenta ao longo da vida151.
comportamentais.
que
são
caracterizadas
nas
ciências
No ano seguinte, os Archives of Sexual Behavior
Vários pesquisadores sugeriram que a orientação
publicaram outra resposta a Savin-Williams e Joyner pelo
sexual e atrações podem ser especialmente plástica para
psicólogo Sabra Katz-Wise e seus colegas, que argumentam
mulheres155. Por exemplo, Lisa Diamond argumentou em seu
que a abordagem de Savin-Williams e Joyner "à identificação
livro “ Sexual Fluidity ” (N.T.: Fluidez Sexual) de 2008 que "a
de jovens de minorias sexuais 'duvidosas' são inerentemente
sexualidade das mulheres é fundamentalmente mais fluida do
defeituosas"152. Eles escreveram que "atração romântica e
que a dos homens, permitindo uma maior variabilidade no seu
identidade da orientação sexual são duas dimensões distintas
desenvolvimento e expressão ao longo da vida", com base em
da orientação sexual que podem não ser concordantes, mesmo
pesquisas dela e de muitos outros156.
em um único ponto do tempo"153. Eles também afirmaram que
Entrevistas longitudinais de cinco anos de Diamond
"mesmo se o “ Add Health” tivesse avaliado as mesmas facetas
com mulheres em relações sexuais com outras mulheres
da orientação sexual em todas as ondas, que seria ainda
também lançaram luz sobre os problemas com o conceito de
incorreto inferir que mudanças 'duvidosas' nas minorias
orientação sexual. Em muitos casos, as mulheres em seu
sexuais na mesma dimensão da orientação sexual, porque
estudo não relataram muito de saírem para formar uma relação
essas alterações podem refletir fluidez sexual"154.
sexual lésbica, mas em vez disso, experimentaram um
Infelizmente, o estudo “ Add Health” não parece conter
crescimento gradual da intimidade afetiva com uma mulher que
os dados que permita uma avaliação para determinar qual, ou
eventualmente levou ao envolvimento sexual. Algumas dessas
se algumas, destas interpretações são prováveis que estejam
mulheres rejeitaram os rótulos de "lésbica", "heterossexual" ou
35
"bissexual", como sendo inconsistente com sua experiência
escolhe definir esta construção, parece que a definição de
vivida157. Em outro estudo, Diamond põe em causa a utilidade
algum modo é amarrada ao comportamento sexual, identidade
do conceito de orientação sexual, especialmente como se
ou atração. Talvez possamos tomar a reclamação de
aplica a mulheres158. Ela ressalta que, se a base neural do
Beckstead como mais uma razão para considerar dispensada a
apego mãe-filho - incluindo o vínculo com sua mãe - forma,
construção da orientação sexual no contexto de pesquisa em
pelo menos, parte da base para ligações românticas na idade
ciências sociais, como parece que tudo o que pode
adulta, então ele não seria surpreendido por uma mulher a
representar, só é amarrado frouxamente ou inconsistente a
experimentar sentimentos românticos por outra mulher sem
fenômenos empiricamente mensuráveis.
necessariamente querer se relacionar sexualmente com ela. A
Dada a possibilidade de mudanças no desejo sexual e
pesquisa de Diamond indicou que esses tipos de
atração, o que a pesquisa sugere não é incomum, qualquer
relacionamentos se formam mais frequentemente do que que
tentativa de inferir uma identidade estável, inata ou uma
normalmente se reconhecem, especialmente entre as
mistura complexa e muitas vezes mudando de fantasias
mulheres.
interiores, desejos e atrações - sexual, romântica, estética, ou
Alguns pesquisadores também sugeriram que a
de outra forma - é repleta de dificuldades. Podemos imaginar,
sexualidade masculina é mais fluida do que se pensava
por exemplo, um garoto de dezesseis anos de idade que se
anteriormente. Por exemplo, uma pesquisa apresentada por
apaixona por um jovem em seus vinte anos, o desenvolvimento
Diamond em 2014 numa conferência, com base nos resultados
de fantasias centrado em torno do corpo do outro ou talvez em
iniciais de um estudo de 394 pessoas, intitulado "I Was Wrong!
alguns de seus traços de caráter ou pontos fortes. Talvez uma
Men Are Pretty Darn Sexually Fluid, Too!" 159. Diamond baseou
noite em uma festa onde os dois se envolvessem em
sua conclusão em uma pesquisa com homens e mulheres
intimidade física, catalisada pelo álcool e pelo humor geral da
entre as idades de 18 e 35 anos de idade, que perguntou sobre
festa. Este jovem, então, começa um angustiante processo de
sua atração sexual e identidades auto descritas em diferentes
introspecção e auto exploração com vistas a encontrar a
estágios de suas vidas. A pesquisa constatou que 35% dos
resposta à pergunta enigmática: "Isso significa que eu sou
homens gays auto identificados relataram ter atrações pelo
gay?"
sexo oposto no ano anterior, e 10% dos homens gays auto
A pesquisa atual em ciências biológicas, psicológicas
identificados relataram comportamento sexual com o sexo
e sociais sugere que a esta pergunta, pelo menos, uma vez
oposto durante o mesmo período. Além disso, como muitos
que está enquadrada, faz pouco sentido. Tanto quanto a
homens transitaram em algum momento de sua vida de gay
ciência pode nos dizer, não há nada "lá" para este jovem
para bissexual, homossexual, ou identidade não rotulada como
descobrir - no fato da natureza para descobrir ou para
fizeram os homens bissexuais com a identidade gay.
encontrar enterrado dentro de si mesmo. O que suas fantasias,
Em um artigo de revisão em 2012 intitulado "Nós
ou sua ligação única, "realmente significa" está sujeita a
podemos mudar a orientação sexual?" publicado na revista
qualquer número de interpretações: a de que ele encontra a
Archives of Sexual Behavior , o psicólogo Lee Beckstead
figura masculina bonita, que ele estava sozinho e sentiu-se
escreveu: "Apesar de seu comportamento sexual, identidade e
rejeitado na noite da festa e alguém respondeu a sua atenção
atrações poderem mudar ao longo das suas vidas, isso não
e afeto, que ele estava embriagado e influenciado pela música
pode indicar uma mudança na orientação sexual..., mas uma
e pelas luzes estroboscópicas, que ele tem uma profunda
mudança na consciência e uma expansão da sexualidade"160.
atração romântica ou sexual com outros homens, e assim por
É difícil saber como interpretar essa afirmação - que o
diante. Na verdade, interpretações psicodinâmicas de tais
comportamento sexual, identidade e atrações podem mudar,
comportamentos citando fatores motivacionais inconscientes e
mas que isso não indica necessariamente uma alteração na
conflitos internos, muitas delas interessantes, mais impossível
orientação sexual. Já analisamos as inerentes dificuldades
de provar, pode ser finalmente provado.
para definir orientação sexual, mas, no entanto, cada um
36
O que podemos dizer com mais confiança é que este
Além disso, pode não só o termo "orientação sexual"
jovem teve uma experiência que abrange sentimentos
ser entendido em vários diferentes sentidos, a maioria dos
complexos, ou que ele se envolveu em um ato sexual
sentidos próprios são complexos conceitos. Atração, por
condicionado por vários fatores complexos, e que essas
exemplo, pode referir-se a padrões de excitação, sentimentos
fantasias, sentimentos, ou comportamentos associados podem
românticos, ou desejos por companhia, ou outras coisas; e
(ou não) estar sujeito a mudanças quando ele crescer e se
cada uma destas coisas podem estar presentes de forma
desenvolver. Tais comportamentos podem se tornar mais
esporádica e temporária ou difusamente e a longo prazo, quer
habituais com a repetição e, assim, mais estáveis ou eles
exclusivamente ou não, quer numa profunda ou superficial
podem se extinguir e raramente ou nunca repitam. A pesquisa
forma, e assim por diante. Por esta razão, mesmo que
sobre comportamentos sexuais, desejo sexual e identidade
especifico um dos sentidos básicos de orientação (atração,
sexual sugere que ambas as trajetórias são possibilidades
comportamento ou identidade) é insuficiente para fazer justiça
reais.
ao fenómeno muito variado da sexualidade humana. Nesta parte, temos criticado a suposição comum de que desejos ou atrações sexuais revelam alguma característica
CONCLUSÃO O conceito de orientação sexual é extraordinariamente
inata e fixa de nossa constituição biológica ou psicológica, uma
ambíguo em comparação com outros traços psicológicos.
algumas razões para duvidar do comum pressuposto de que, a
Tipicamente, ele refere-se a pelo menos uma das três coisas:
fim de viver uma vida feliz e próspera, devemos de alguma
atrações, comportamentos ou identidade. Além disso, vimos
forma, descobrir este fato inato sobre nós mesmos que
que orientação sexual, muitas vezes refere-se a várias outras
chamamos de sexualidade ou orientação sexual, e,
coisas também: pertencer a uma determinada comunidade,
invariavelmente, expressá-lo através de padrões particulares
fantasias (distinta em alguns aspectos das atrações), anseios,
do comportamento sexual ou de uma trajetória de vida
aspirações, necessidades sentidas para certas formas de
particular. Talvez devêssemos em vez de considerar os tipos
companheirismo, e assim por diante. É importante, então, que
de comportamentos - seja na esfera sexual ou em outro lugar -
os investigadores sejam claros sobre qual destes domínios
tender a ser propício para a saúde e prosperidade, e o que
estão estudando, e que os pesquisadores tenham em mente
tipos de comportamentos tendem a minar a vida saudável.
identidade sexual fixa ou orientação. Além disso, podemos ter
definições especificadas quando interpretam as suas conclusões.
NOTAS
1. 2. 3.
4. 5. 6. 7. 8. 9.
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37 10.
11.
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http://dx.doi.org/10.1080/009262302317251007. 12. 13.
14. 15. 16. 17. 18. 19. 20. 21. 22. 23. 24. 25. 26. 27.
28. 29. 30. 31. 32. 33. 34.
35. 36. 37. 38. 39. 40. 41. 42. 43. 44. 45. 46. 47.
Ibid .
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The T he differences between the identical and 4 fraternal concordance rates using the lenient criterion were statistically significant for men but not for women.( ) Bailey, Dunne, and Martin, ―Genetic and environmental influences on sexual orientation and its correlates in an Australian twin sample,‖ 534. These examples are drawn from Ned Block, ―How heritability misleads about race,‖ Cognition 56, no. 2 (1995): 103-104, http://dx.doi.org/10.1016/0010-0277(95)00678-R. of Sexual Niklas Långström et al .,., ―Genetic and Environmental Effects on Same-sex Sexual Behavior: A Popula tion Study of Twins in Sweden‖, Archives of Behavior 39, no. 1 (2010): 75-80, http://dx.doi.org/10.1007/s10508-008-9386-1. Ibid. , 79. Peter S. Bearman and Hannah Brückner, ―Opposit e-Sex Twins and Adolescent Same-Sex Attraction,‖ American Attraction,‖ American Journal Journal of Sociology 107, no. 5 (2002): 11791205, http://dx.doi.org/10.1086/341906. Ibid .,., 1199. 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Bailey e colegas calcularam estas taxas de concordância usando um critério "rigoroso" "rigoroso" para determinar a não-heterossexualidade, que era uma pontuação Kinsey de 2 ou superior. Eles também calcularam taxas de concordância usando um critério "brando", uma pontuação pontuação Kinsey de 1 ou superior. As taxas de concordância para este critério brando foram de 38% para os homens e 30% para as mulheres em gêmeos idênticos, em comparação com 6% para os homens e 30% para as mulheres em gêmeos fraternos. As diferenças entre as taxas de concordância concordância idênticos e fraternais usando o critério brando foram estatisticamente estatisticamente significativos para os homens, mas não para as mulheres. 4
38
48. 49. 50. 51. 52. 53. 54. 55.
56. 57. 58. 59. 60. 61.
62. 63. 64. 65. 66. 67. 68. 69. 70. 71. 72. 73. 74. 75. 76. 77.
Environmental effects can be controlled in experiments with laboratory animals, but in humans this is not possible, so it is likely that the best that can be done is to study identical twins raised apart. But it should be noted that even these studies can be somewhat misinterpreted because identical twins adopted separately tend to be adopted into similar socioeconomic environments. The twin studies on homosexuality do not include any separated twin studies, and the study designs report few effective controls for environmental effects (for instance, identical twins likely likel y share a common rearing environment to a greater 5 extent than ordinary siblings or even fraternal twins).( ) Dean H. Hamer et al .,., ―A linkage between DNA markers on the X chromosome and male sexual orientation,‖ Science 261, no. 5119 (1993): 321-327, http://dx.doi.org/10.1126/science.8332896. 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Estudos genéticos quantitativos, incluindo estudos individuais, dependem de um modelo abstrato com base em vários pressupostos, ao invés da medição de correlações entre genes e fenótipos. Este modelo abstrato é usado para inferir a presença de uma contribuição genética para um traço por meio de correlação entre os parentes. Os efeitos ambientais podem ser controlados em experimentos com animais de laboratório, mas em seres humanos não é possível, por isso, é provável que o melhor que pode ser feito é o estudar gémeos idênticos criados separadamente. Mas deve-se notar que mesmo estes estudos podem ser um tanto mal interpretados porque gêmeos idênticos criados separadamente tendem a ser criados em ambientes socioeconômicos semelhantes. Os estudos de gêmeos sobre a homossexualidade não incluem quaisquer estudos com gêmeos separados, e os projetos de estudo relatam alguns controles eficazes para efeitos ambientais (por exemplo, gêmeos idênticos provavelmente provavelmente compartilham um ambiente de criação comum em maior medida do que irmãos comuns ou gêmeos fraternos). 6 Para uma visão geral da distinção entre os efeitos organizativos e de ativação de hormônios e sua importância no campo da endocrinologia. 5
39
78. 79. 80. 81.
82. 83. 84. 85. 86. 87.
88. 89. 90. 91. 92. 93. 94. 95. 96. 97. 98.
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99.
Research on neuroplasticity shows that while there are critical periods of development in which the brain b rain changes more rapidly and profoundly (for instance, during development of language in toddlers), the brain continues to change across the lifespan in response to behaviors (like practicing juggling or playing a musical instrument), life experiences, psychotherapy, medications, psychological trauma, and relationships. For a helpful and generally accessible overview of the research related to neuroplasticity( 7), see Norman Doidge, The Brain That Changes Itself: Stories of Personal Triumph from the Frontiers of Brain Science (New York: Penguin, 2007). Review of Sex Sex Research Research 10, no. 1 (1999): 81, 100. Letitia Anne Peplau et al .,., ―The Development of Sexual Orientation in Women,‖ Annual Review
101. 102. 103. 104.
105. 106. 107. 108.
http://dx.doi.org/10.1080/10532528.1999.10559775. Also see J. Michael Bailey, ―What is Sexual Orientation and Do Women Have One?‖ in Contemporary Perspectives on Lesbian, Gay, and Bisexual Identities , ed. Debra A. Hope (New York: Springer, 2009), 43-63, http://dx.doi.org/10.1007/978-0-387-09556-1_3. Mark S. Friedman et al .,., ―A Meta-Analysis of Disparities in Childhood Sexual Abuse, Parental Physical Abuse, and Peer Victimization Among Sexual Minority and Sexual Nonminority Individuals,‖ American Journal of of Public Health Health 101, no. 8 (2011):1481-1494, http://dx.doi.org/10.2105/AJPH.2009.190009. Ibid. , 1490. Ibid. , 1492. Ibid. Emily F. Rothman, Deinera Exner, and Allyson L. Baughman, ―The Prevalence of Sexual Assault Against People Who Identify as Gay, Lesbian, or Bisexual in the United States: A Systematic Review,‖ Trauma, Violence, & Abuse 12, no. 2 (2011): 55-66, http://dx.doi.org/10.1177/1524838010390707. S exual Minority and Heterosexual Adults: Results from a MultiJudith P. Andersen and John Blosnich, ―Disparities in Adverse Childhood Experiences among Sexual State Probability-Based Sample,‖ PLOS ONE 8, no. 1 (2013): e54691, http://dx.doi.org/10.1371/journal.pone.0054691. Andrea L. Roberts et al .,., ―Pervasive Tra uma Exposure Among US Sexual Orientation Minority Adults and Risk of Posttraumatic Stress Disorder,‖ American Journal of Public Health 100, no. 12 (2010): 2433-2441, http://dx.doi.org/10.2105/AJPH.2009.168971. Brendan P. Zietsch et al .,., ―Do shared etiological factors contribute to the relationship between sexual orientation and depression? ‖ Psychological Medicine 42,
no. 3 (2012):521-532, http://dx.doi.org/10.1017/S0033291711001577. Pesquisa sobre neuroplasticidade mostra que, enquanto há períodos críticos de desenvolvimento em que o cérebro muda mais rapidamente e profundamente (por exemplo, durante o desenvolvimento da linguagem em crianças), o cérebro continua a mudar ao longo da vida em resposta a comportamentos comportamentos (como praticar malabarismo ou tocar um instrumento instrumento musical), experiências de vida, psicoterapia, medicamentos, medicamentos, traumas psicológicos e relacionamentos. relacionamentos. Para P ara uma visão útil e geralmente acessível da investigação relacionada com a neuroplasticidade. 7
40
109. 110. 111. 112. 113. 114.
115. 116. 117.
The exact figure is not reported in the text for reasons the authors do not specify. Ibid .,., 526. Ibid .,., 527. Marie E. Tomeo et al .,., ―Comparative Data of Childhood and Adolescence Molestation in Heterosexual and Homosexual Persons,‖ Archives of of Sexual Behavior Behavior 30, no. 5 (2001):535-541, http://dx.doi.org/10.1023/A:1010243318426. Ibid .,., 541. Helen W. Wilson and Cathy Spatz Widom, ―Does Physical Abuse, Sexual Abuse, or Neglect in Childhood Increase the Likelihood of Same-sex Sexual Relationships and Cohabitation? A Prospective 30-year Follow-up,‖ Archives up,‖ Archives of Sexual Behavior Behavior 39, no. 1(2010): 63-74, http://dx.doi.org/10.1007/s10508-008-9449-3. Ibid .,., 70. Andrea L. Roberts, Roberts, M. Maria Glymour, and and Karestan Karestan C. Koenen, Koenen, ―Does ―Does Maltreatment Maltreatment in Childhood Affect Sexual Orientation in Adulthood? ‖ Archives of Sexual Sexual Behavior 42, no. 2 (2013): 161-171, http://dx.doi.org/10.1007/s10508-012-0021-9. For those interested in the methodological details: this statistical method uses a two- step process where ―instruments‖— in this case, family characteristics that are known to be related to maltreatment (presence of a stepparent, parental alcohol abuse, or parental mental illness) —are used as the ―instrumental variables‖ to predict the risk of maltreatment. In the second step, the predicted risk of maltreatment is employed as the independent variable and adult sexual orientation as the dependent variable; coefficients from this are the instrumental variable estimates. It should also be noted here that these instrumental variable estimation techniques rely on some important (and questionable) assumptions, in this case the assumption that the instruments (the stepparent, the alcohol abuse, the mental illness) do not affect the child‘s sexual orientation measures except through child abuse. But this assumption is not demonstrated, and therefore may constitute a foundational limitation of the method. Causation is difficult to support statistically and continues to beguile research in the social sciences in spite of efforts to design studies capable of generating stronger associations that give stronger support to claims of causation.( 8) Roberts, Glymour, and Koenen, ―Does Maltreatment in Childhood Affect Sexual Orientation in Adulthood? ‖, 167.
118. 119. Drew H. Bailey and J. Michael Bailey, ―Poor Instruments Lead to Poor Inferences: Comment on Roberts, Glymour, and Koenen (2013),‖ Archives of Sexual Sexual 42, no. 8 (2013): 1649-1652, 1649-1652 , http://dx.doi.org/10.1007/s10508-013-0101-5. Behavior 120. Roberts, Glymour, and Koenen, ―Does Maltreatment in Childhood Affect Sexual Orientation in Adulthood? ‖, 169. 121. Ibid .,., 169. 122. For information on the study, see ―National Health and Social Life Survey,‖ Population Research Center of the University of Chicago, http://popcenter.uchicago.edu/data/nhsls.shtml. 123. Edward O. Laumann et al., The Social Organization of Sexuality: Sexual Practices in the United States (Chicago: University of Chicago Press, 1994); Robert T. Michael et al. , Sex in America: A Definitive Survey (New York: Warner Books, 1994). 124. Laumann et al., The Social Organization of Sexuality , 295. 125. The third iteration of Natsal from 2010 found, over an age range from 16 to 74, that 1.0% of women and 1.5% of men consider themselves gay/lesbian, and 1.4% of women and 1.0% of men think of themselves as bisexual.( 9) See Catherine H. Mercer et al .,., ―Changes in sexual attitudes and lifestyles in Britain through the life course and over time: findings from the National Surveys of Sexual Attitudes and Lifestyles (Natsal),‖ The Lancet 382, no. 9907 (2013): 17811794, http://dx.doi.org/10.1016/S0140-6736(13)62035-8. Full results of this survey are reported in several articles in the same issue of The Lancet . 126. See Table 8.1 in Laumann et al. , The Social Organization of Sexuality , 304. 127. This figure is calculated from Table 8.2 in Laumann et al. , The Social Organization of Sexuality , 305. 128. For more information on the study design of Add Health, see Kathleen Mullan Harris et al .,., ―Study Design,‖ The National Longitudinal Study of Adolescent to Adult Health, http://www.cpc.unc.edu/projects/addhealth/design. Some studies based on Add Health data use Arabic A rabic numerals rather than Roman numerals to label the waves; when describing or quoting from those studies, we stick with the Roman numerals. of 129. See Table 1 in Ritch C. Savin-Williams and Kara Joyner, ―The Dubious Assessment of Gay, Lesbian, and Bisexual Adolescents of Add Health,‖ Archives of Sexual Behavior 43, no. 3 (2014): 413-422, http://dx.doi.org/10.1007/s10508-013-0219-5. 130. Ibid. , 415. 131. Ibid. 132. Ibid. 133. ―Research Collaborators,‖ The National Longitudinal Study of Adolescent to Adult Health, http://www.cpc.unc.edu/projects/addhealth/people. 134. J. Richard Udry and Kim Chantala, ―Risk Factors Differ According to Same -Sex and Opposite-Sex Interest,‖ Journal of Biosocial Science 37, no. 04 (2005):
135. 136. 137. 138. 139. 140. 141. 142.
481-497, http://dx.doi.org/10.1017/S0021932004006765. Ritch C. Savin-Williams and Geoffrey L. Ream, ―Prevalence and Stability of Sexual Orientation Components During Adolescence and Young Adulthood,‖ Archives of Sexual Behavior Behavior 36, no. 3 (2007): 385-394, http://dx.doi.org/10.1007/s10508-006-9088-5. Ibid. , 388. Ibid .,., 389. Ibid .,., 392-393. Ibid .,., 393. Miles Q. Ott et al., ―Repeated Changes in Reported Sexual Orientation Identity Linked to Substance Use Behaviors in Youth,‖ Journal of Adolescent Health 52, no. 4(2013): 465-472, http://dx.doi.org/10.1016/j.jadohealth.2012.08.004. Savin-Williams and Joyner, ―The Dubious Assessment of Gay, Lesbian, and Bisexual Ado lescents of Add Health ‖. Ibid .,., 416.
Para os interessados interessados nos detalhes metodológicos: este método estatístico usa um processo de duas etapas, onde "instrumentos" "instrumentos" -neste caso, características familiares familiares que são conhecidos por estar relacionado a maus tratos (presença de um padrasto, abuso de álcool pelos pais, ou doença mental dos pai s ) -são usados como "variáveis instrumentais" instrumentais" para prever o risco de maus-tratos. No segundo passo, o risco previsto de maus tratos é empregue como a variável independente e orientação sexual adulta como variável dependente; coeficientes destes são as estimativas de variáveis instrumentais. Também deve-se notar aqui que essas técnicas de estimativa de variáveis instrumentais instrumentais contam com algumas importantes (e questionáveis) premissas, neste caso, o pressuposto de que os instrumentos instrumentos (o padrasto, o abuso de álcool, a doença mental) não afetam as medidas de orientação sexual da criança exceto por meio de abuso infantil. Mas esta hipótese não está demonstrada, e, portanto, pode constituir uma limitação fundamental do método. Causação é difícil apoiar estatisticamente e continua a enganar a investigação nas ciências sociais, apesar dos esforços para projetar estudos capazes de gerar associações mais fortes que dão maior apoio a alegações de causalidade. 9 A terceira iteração do Natsal de 2010 descobriu, através de uma faixa etária 16-74, que 1,0% das mulheres e 1,5% dos homens consideram-se gay/lésbica, e 1,4% das mulheres e 1,0% dos homens pensam em si mesmos como bissexual. Veja. 8
41
143. Ibid ., 414. 144. For more analysis of inaccurate responders in the Add Health surveys, see Xitao Fan et al ., ―An Exploratory Study about Inaccuracy and Invalidity in Adolescent Self-Report Surveys,‖ Field Methods 18, no. 3 (2006): 223-244, http://dx.doi.org/10.1177/152822X06289161. 145. Savin-Williams and Joyner were also skeptical of the Add Health survey data because the high proportion of youth reporting same-sex or both-sex attractions (7.3% of boys and 5.0% of girls) in Wave I was very unusual when compared to similar studies, and because of the dramatic reduction in reported same-sex attraction a little over a year later, in Wave II.( 10) 146. Savin-Williams and Joyner, ―The Dubious Assessment of Gay, Lesbian, and Bisexual Adolescents of Add Health,‖ 420. 147. Gu Li, Sabra L. Katz- Wise, and Jerel P. Calzo, ―The Unjustified Doubt of Add Health Studies on the Health Disparities of Non-Heterosexual Adolescents: Comment on Savin-Williams and Joyner (2014),‖ Archives of Sexual Behavior , 43 no. 6 (2014): 1023-1026, http://dx.doi.org/10.1007/s10508-014-0313-3. 148. Ibid ., 1024. 149. Ibid. , 1025. 150. Ritch C. Savin-Williams and Kara Joyner, ―The Politicization of Gay Youth Health: Response to Li, Katz- Wise, and Calzo (2014),‖ Archives of Sexual Behavior 43, no. 6 (2014):1027-1030, http://dx.doi.org/10.1007/s10508-014-0359-2. 151. See, for example, Stephen T. Russell et al ., ―Being Out at School: The Implications for School Victimization and Young Adult Adjustment ,‖ American Journal of Orthopsychiatry 84, no. 6 (2014): 635-643, http://dx.doi.org/10.1037/ort0000037. 152. Sabra L. Katz-Wise et al ., ―Same Data, Different Perspectives: What Is at Stake? Response to Savin- Williams and Joyner (2014a),‖ Archives of Sexual Behavior 44, no. 1(2015): 15, http://dx.doi.org/10.1007/s10508-014-0434-8. 153. Ibid ., 15. 154. Ibid ., 15-16. 155. For example, see Bailey, ―What is Sexual Orientation and Do Women Have One?‖ 43-63; Peplau et al ., ―The Development of Sexual Orientation in Women,‖ 70-99. 156. Lisa M. Diamond, Sexual Fluidity (Cambridge, Mass.: Harvard University Press, 2008), 52. 157. Lisa M. Diamond, ―Was It a Phase? Young Women‘s Relinquishment of Lesbian/Bisexual Identities Over a 5 -Year Period,‖ Journal of Personality and Social Psychology 84, no. 2 (2003): 352-364, http://dx.doi.org/10.1037/0022-3514.84.2.352. 158. Diamond, ―What Does S exual Orientation Orient? ‖ 173-192. 159. This conference paper was summarized in Denizet- Lewis, ―The Scientific Quest to Prove Bisexuality Exists.‖ 160. A. Lee Beckstead, ―Can We Change Sexual Orientation?‖ Archives of Sexual Behavior 41, no. 1 (2012): 128, http://dx.doi.org/10.1007/s10508-012-9922-x.
Savin-Williams e Joyner também estavam céticos dos dados do Inquérito “Add Health” por causa da alta proporção de jovens do relatórios do mesmo sexo ou atrações para ambos os sexo (7,3% dos meninos e 5,0% das meninas) na Onda 1 era muito incomum quando comparado com semelhante estudos, e por causa da redução drástica não relatou atração pelo mesmo sexo um pouco mais de um ano depois, na Onda 2. 10
42
PARTE DOIS - SEXUALIDADE, RESULTADO EM SAÚDE MENTAL E ESTRESSE SOCIAL Em comparação com a população em geral, as subpopulações não-heterossexuais e transgêneros têm maiores taxas de problemas de saúde mental, tais como ansiedade, depressão e suicídio; bem como problemas comportamentais e sociais, tais como uso abusivo de substancias e violência por parceiro íntimo. A explicação prevalecente na literatura científica é o modelo de estresse social, que postula que estressores sociais - tais como estigmatização e discriminação - enfrentado pelos membros destas subpopulações explicam a disparidade nos resultados de saúde mental. Os estudos mostram que enquanto estressores sociais contribuem para o aumento do risco de maus resultados de saúde mental para essas populações, eles provavelmente não são responsáveis por toda a disparidade.
Muitas das questões que envolvem a orientação
pesquisa, devemos mencionar os critérios utilizados na seleção
sexual e identidade de gênero permanecem controversas entre
dos estudos revistos. Numa tentativa de destilar descobertas
os pesquisadores, mas há um acordo geral na observação no
gerais de muitas pesquisas, cada seção começa resumindo as
coração da Parte II: subpopulações de lésbicas, gays,
mais extensas meta-análises confiáveis - papéis que compilam
bissexuais e transgêneros (LGBT) estão em maior risco, em
e analisam a estatística de dados da literatura em pesquisas
comparação com a população em geral, de vários problemas
publicadas. Para algumas áreas de pesquisa, não há meta-
de saúde mental. Menos certo são as causas de que o maior
análises abrangentes realizadas, e nestas áreas contamos com
risco e, portanto, abordagem social e clínica podem ajudar a
artigos de revisão que sumarizam a literatura de pesquisa sem
amenizá-las. Nesta parte, rever alguns pontos da pesquisa que
entrar em análises quantitativas dos dados publicados. Além
vem documentando o aumento do risco, com foco em papéis
dos relatórios destes resumos, nós também discutiremos
que são à base de dados com uma metodologia sólida, e que
alguns estudos selecionados que são de valor especial por
são amplamente citados na literatura científica.
causa de sua metodologia, tamanho da amostra, controles
Um corpo robusto e crescente de pesquisa examina
para fatores confundidores, ou maneiras e conceitos de como a
as relações entre sexualidade ou comportamentos sexuais e
heterossexualidade
ou
homossexualidade
são
estado de saúde mental. A primeira metade desta parte discute
operacionalizadas; e discutimos principais estudos publicados
as associações de identidades ou comportamentos sexuais
após as meta-análises ou artigos de revisão que foram
com transtornos psiquiátricos (tais como transtornos de humor,
publicados.
de ansiedade e de ajustamento), suicídio e violência por
Como mostramos na primeira parte, explicar a exata
parceiro íntimo. A segunda metade explora as razões para os
origem biológica e psicológica de desejos e comportamentos
riscos elevados destes resultados entre populações não-
sexuais é uma tarefa científica difícil, que ainda não foi e nunca
heterossexuais e transgêneros, e considera o que pesquisa em
poderá ser satisfatoriamente concluída. No entanto, os
ciências sociais pode nos dizer sobre uma das formas mais
pesquisadores podem estudar as correlações entre o
prevalentes de explicar estes riscos, o modelo de estresse
comportamento sexual, atração, ou de identidade e resultado
social. Como veremos, estressores sociais, como o assédio e o
em saúde mental, embora possam ser - e muitas vezes são
estigma podem explicar alguns, mas não todos os riscos
encontrados sendo - diferenças entre o comportamento sexual
elevados de saúde mental para estas populações. Mais
como, atração e identidade se relacionam a determinados
pesquisas são necessárias para compreender as causas e as
efeitos na saúde mental. Compreender a dimensão dos
possíveis soluções para estas questões importantes de saúde
desafios de saúde enfrentados por indivíduos que se envolvem
pública e clínica.
em particular comportamentos sexuais ou certa atração ou experiência sexual é um passo necessário para prover a esses indivíduos o cuidado eles precisam.
Algumas Preliminares Nós primeiro olhamos a evidência para as ligações estatísticas entre identidade sexual ou comportamentos e resultados de saúde mental. Antes de resumir a relevante
43
Sexualidade e Saúde mental Em uma meta-análise de pesquisa de 2008 sobre os
examinaram associações da orientação sexual com transtornos
resultados de saúde mental para não-heterossexuais, o
identificadas como gay, lésbica ou bissexual, ou que relataram
professor da University College London psiquiatria Michael
engajar-se em comportamento sexual do mesmo sexo, ou que
King e colegas concluíram que gays, lésbicas e bissexuais
relataram sentir atrações pelo mesmo sexo. O estudo utilizou
enfrentam "maior risco de comportamento suicida, transtorno
uma população aleatória grande, com amostra sede nos EUA,
mental e abuso de substâncias e dependência do que as
usando dados coletados a partir do 2004-2005 na onda do
pessoas
heterossexuais"1.
Este levantamento da literatura de
documentos examinados e publicados entre janeiro de 1966 e
de humor e de ansiedade entre os homens e mulheres que
National Epidemiologic Survey on Alcohol and Related Conditions, que foi com base em 34.653 entrevistas9. Em sua
abril de 2005 tendo dados de 214.344 heterossexuais e 11.971
amostra, 1,4% dos entrevistados identificados como lésbica,
indivíduos não-heterossexuais. O grande tamanho da amostra
gay ou bissexual; 3,4% relataram ao longo da vida algum
permitiu aos autores gerar estimativas que são altamente
comportamento do mesmo sexo e 5,8% relataram atrações
confiáveis, como indicado por pequenos intervalos relativos de
não-heterossexuais10.
confiança2.
As mulheres que se identificaram como lésbicas, bissexuais, ou "não sei", relataram taxas mais elevadas de
Compilando as razões de risco encontrados nestes
transtornos de humor ao longo da vida do que as mulheres que
documentos, os autores estimaram que lésbicas, gays,
se identificaram como heterossexuais: a prevalência foi de
bissexuais tinham 2,47 vezes maior risco do que os
44,4% em lésbicas, 58,7% em bissexuais, e 36,5% em
heterossexuais para tentativas de
que eles estavam
mulheres inseguras da sua identidade sexual, em comparação
duas vezes mais propensos a sofrer de depressão ao longo de
com 30,5% em heterossexuais. Um padrão similar foi
um período de doze
meses4,
suicídio3,
e cerca de 1,5 vezes mais
encontrado para transtornos de ansiedade, com mulheres
ansidade5.
bissexuais experimentando a maior prevalência, seguidas por
Ambos homens e mulheres não-heterossexuais foram
lésbicas e aquelas mulheres inseguras, e heterossexuais
encontrados tendo um elevado risco para problemas de abuso
experimentando a menor prevalência. Examinando os dados
probabilidades de experimentar desordens de
de substâncias (1,51 vezes mais
com o risco para
de mulheres com comportamento sexual diferente ou atração
as mulheres não heterossexuais especialmente alto - 3,42
sexual (em vez de identidade), que relataram o comportamento
vezes superior à das mulheres
provável)6,
heerossexuais7.
Homens não-
sexual ou com atrações para ambos os homens e mulheres
heterossexuais, por outro lado, estavam em um risco
estas tinham uma taxa mais elevada de transtornos de vida do
particularmente elevado para tentativas de suicídio: enquanto
que
os homens não-heterossexuais e mulheres juntos estavam em
comportamentos
2,47 vezes maior risco de tentativas de suicídio ao longo de
homossexuais, e mulheres que relatam comportamento sexual
suas vidas, os homens não-heterossexuais foram encontrados
exclusivo com mesmo sexo ou exclusiva atração pelo mesmo
4,28 vezes maior risco8.
sexo, de fato, tiveram as menores taxas de mal humor e
Estas descobertas foram replicadas em outros
as
mulheres ou
que
relataram
atrações
exclusivamente
heterossexuais
ou
transtornos de ansiedade.
estudos, tanto nos Estados Unidos e internacionalmente,
Homens que se identificaram como homossexuais
confirmando um padrão consistente e alarmante. No entanto,
tinham mais que o dobro da prevalência de transtornos de
há uma variação considerável nas estimativas do aumento
humor ao longo da vida, em comparação com os homens que
riscos de vários problemas de saúde mental, dependendo de
se identificaram como heterossexuais (42,3% vs. 19,8%), e
como os investigadores definem termos como "homossexual"
mais que o dobro da taxa de qualquer desordem de ansiedade
ou "não-heterossexual." Os resultados a partir de um estudo de
ao longo da vida (41,2% vs. 18,6%), enquanto que aqueles que
2010 pela professora de enfermagem e estudos de saúde
se identificaram como bissexuais tinham uma prevalência
Wendy Bostwick e colegas da Northern Illinois University
ligeiramente menor de transtornos do humor (36,9%) e
44
transtornos de ansiedade (38,7%) do que os homens
entrevistados relataram as maiores taxas de vários problemas
homossexuais. Ao olhar para atração ou comportamento
de saúde.
sexual para os homens, aqueles que relataram atração sexual
Usando o mesmo estudo, California Quality of Life
"em sua maioria do sexo masculino" ou comportamento sexual
Survey , de 2009 pela UCLA, a professora de psiquiatria e
com "ambos fêmeas e machos" tiveram maior prevalência de
ciências comportamentais Christine Grella e seus colegas
transtornos de humor ao longo da vida e transtornos de
(incluindo Cochran) examinaram a relação entre orientação
ansiedade, em comparação com outros grupos, enquanto que
sexual e tratamento para o uso de substâncias ou desordens
aqueles
comportamento
mentais13. Numa amostra de base populacional, com minorias
exclusivamente heterossexual tinham a menor prevalência do
sexuais agrupados para fornecer maior poder estatístico para
que qualquer grupo.
detectar diferenças entre grupos. O uso do tratamento foi
que
relataram
atração
ou
Outros estudos descobriram que as populações não
classificado de acordo com os respondentes relataram ter
heterossexuais estão em maior risco de problemas de saúde
recebido tratamento nos últimos doze meses para "saúde
física, para além de problemas em saúde mental. Um estudo
emocional ou mental, álcool ou outros problemas com droga".
de 2007 feito na UCLA o professor de epidemiologia Susan
Orientação sexual foi operacionalizada por uma combinação de
Cochran e seus colegas examinaram dados do “ California
histórico de comportamento e auto identificação. Por exemplo,
Quality of Life Survey ” de 2.272 adultos para avaliar as
estes agrupados constituem um conjunto que "Gay/bissexual"
ligações entre orientação sexual e auto relatado do estado
ou "lésbica/bissexual" tanto aqueles que foram identificados
físico de saúde, condições de saúde e incapacidade, bem
como gay, lésbica, ou bissexuais, ou aqueles que tinham
como distúrbios psíquicos entre lésbicas, homens gays,
relatado comportamentos sexuais com mesmo sexo. Eles
bissexuais, e aqueles que eles classificaram como "indivíduos
descobriram que as mulheres que eram lésbicas ou bissexuais
heterossexuais
homossexualmente"12.
tinham maior probabilidade de receber tratamento, seguido por
Enquanto o estudo, como a maioria, foi limitado pela utilização
homens que eram homossexuais ou bissexuais. Em seguida,
de auto relato de condições de saúde, teve vários pontos
mulheres heterossexuais, com homens heterossexuais sendo o
fortes: ele estudou uma base populacional de amostra; que
grupo menos provável ter relatado recebido tratamento. Em
mediu
dimensões
geral, mais do que o dobro dos indivíduos LGBT, em
comportamentais da orientação sexual; e com controle para a
comparação aos heterossexuais, relataram receber tratamento
raça (etnia), educação, condição de relacionamento e renda
nos últimos doze meses (48,5% em comparação com 22,5%).
familiar entre outros fatores.
O padrão foi semelhante para homens e mulheres; 42,5% dos
experienciados
separadamente
identidade
e
Enquanto os autores destes estudos encontraram um
homens homossexuais, em comparação para 17,1% dos
número de condições de saúde que pareciam ter elevado a
homens heterossexuais, relataram receber tratamento,
prevalência entre não-heterossexuais, depois do ajuste para
enquanto 55,3% das lésbicas e mulheres bissexuais e 27,1%
fatores demográficos que são potenciais fatores confundidores
das mulheres heterossexuais relatou ter recebido tratamento.
apenas o grupo com significativamente maior prevalência de
(Bostwick e seus colegas descobriram que mulheres com
condições de saúde física não-HIV eram mulheres bissexuais,
exclusivamente atração pelo mesmo sexo e comportamentos
que poderiam ter problemas de saúde mais do que mulheres
tiveram uma menor prevalência de transtornos de humor e
heterossexuais. Consistente com o estudo de 2010 por
ansiedade em comparação com heterossexuais mulheres. A
Bostwick e colegas, foram relatados índices mais altos de
diferença nos resultados poderia ser devido ao fato de Grella e
estresse psicológico por lésbicas, mulheres bissexuais, gays e
colegas terem agrupados aqueles que identificaram como
homens heterossexuais experimentados homossexualmente,
lésbicas juntamente com os que identificaram como bissexuais
tanto antes como depois de ajustar para fatores confundidores
ou que relataram o comportamento sexual do mesmo sexo).
demográficos. Entre os homens, auto identificados como gays
Num estudo de 2006 da Universidade de Columbia o
e homens heterossexuais experimentados homossexualmente
professor de psiquiatria Theodorus Sandfort e colegas
45
examinaram uma representativa amostra de base populacional
O estudo Sandfort definiu orientação sexual em
a partir do “ Dutch National Survey of General Practice” ,
termos de preferência ou atração sem referência para
realizada em 2001, para avaliar as ligações entre a orientação
comportamento ou auto identificação, que faz com que seja um
sexual auto referida e estado de saúde entre os 9.511
desafio comparar os resultados com os estudos que
participantes, dos quais 0,9% foram classificados como
operacionalizaram orientação sexual de forma diferente. Por
bissexuais e 1,5% como gay ou lesbicas14. Para
exemplo, é difícil comparar os resultados deste estudo sobre
operacionalizar a orientação sexual, os pesquisadores
os bissexuais (definidos como homens ou mulheres que
perguntaram aos entrevistados sobre sua preferência sexual
relatam uma preferência sexual igual para homens e mulheres)
uma escala de 5 pontos: exclusivamente mulheres,
com as conclusões de outros estudos sobre "homossexual
predominantemente mulheres, igualmente homens e mulheres,
experienciado com indivíduos heterossexuais" ou aqueles que
predominantemente homens e exclusivamente homens.
são "inseguros" de sua identidade sexual. Como na maior parte
Apenas aqueles que relataram uma preferência igual para
destes tipos de estudos, as avaliações de saúde foram auto
homens e mulheres foram classificadas como bissexuais,
reportadas, o que pode tornar os resultados pouco confiáveis.
enquanto homens relatando preferências predominantes para
Mas esse estudo também tem vários pontos fortes: é utilizada
as mulheres ou as mulheres que relataram uma preferência
uma amostra grande e representativa da população de um
predominante para os homens foram classificados como
país, ao contrário das amostras de conveniência que são por
heterossexuais. Eles descobriram que gays, lésbicas e
vezes utilizadas para estes tipos de estudos, e esta amostra
bissexuais entrevistados relataram no momento um maior
incluiu um suficiente número de gays e lésbicas para que seus
número de problemas mentais agudos e relataram pior saúde
dados sejam tratados em grupos separados em análises
mental do que os heterossexuais. Os resultados para a saúde
estatísticas do estudo. Apenas três pessoas na amostra
física eram mistos, no entanto: os inquiridos gays e lésbicas
relataram infecção por HIV, de modo que este não parece ser
relataram enfrentar mais sintomas físicos agudos (tais como
um fator de potencial de confusão, embora HIV poderiam ter
dores de cabeça, dor nas costas ou dor de garganta) ao longo
sido subnotificados.
dos últimos quatorze dias, embora eles não relataram estar
Em um esforço para resumir descobertas nesta área,
enfrentando dois ou mais desses sintomas a mais do que os
podemos citar o relatório de 2011 do Instituto de Medicina
heterossexuais.
(IOM), ―The Health of Lesbian, Gay, Bisexual, and Transgender
Entrevistados gays e lésbicas eram mais propensos a
People” 15. Este relatório é uma extensa revisão de literatura
relatar problemas crônicos de saúde, embora os homens
científica citando centenas de estudos que examinam o estado
bissexuais (isto é, os homens que relataram uma igual
de saúde das populações LGBT. Os autores são cientistas que
preferência sexual para homens e mulheres) eram menos
são bem versados nestas questões (embora nós gostaríamos
propensos a relatar problemas crônicos de saúde e mulheres
que tivesse existido mais envolvimento de especialistas em
bissexuais não eram mais propensos do que as mulheres
psiquiatria). O relatório analisa conclusões sobre saúde física e
heterossexuais. Os pesquisadores não encontraram um
mental na infância, adolescência, idade adulta precoce, ao
aumento estatisticamente significativo na relação entre
meio e ao final da idade adulta. Consistente com os estudos
orientação sexual e saúde física geral. Depois de controlarem
citados acima, o presente relatório analisa provas que mostram
os possíveis efeitos confundidores de problemas de saúde
que, em comparação com jovens heterossexuais, jovens LGBT
mental sobre problemas de saúde física, os pesquisadores
estão em maior risco de depressão, bem como tentativas de
também descobriram que o efeito estatístico de relatar uma
suicídio e imaginação de suicídio. Eles também são mais
preferência sexual por gay ou lésbica em condições físicas
propensos a sofrer violência e assédio e de ser sem-teto.
crônicas e agudas desapareceram, embora o efeito de
Indivíduos LGBT no início da idade adulta ou ao longo da vida
preferência bissexuais permanecesse.
média são mais propensos a transtornos de humor e
46
ansiedade, depressão, imaginação suicida e tentativas de suicídio. O relatório do IOM mostra que, como jovens LGBT, adultos LGBT - e as mulheres em particular - parecem ser mais
Sexualidade e suicídio A associação entre orientação sexual e suicídio tem
propensas do que os heterossexuais a fumar, ao uso ou abuso
forte apoio científico. Este mérito de associação merece
de álcool e abuso de outras drogas. O relatório cita um
especial atenção, uma vez que entre todos os riscos para a
estudo16 que constatou que auto identificados não-
saúde mental, o aumento do risco de suicídio é o mais
heterossexuais utilizam serviços de saúde mental mais
preocupante, devido em parte ao fato de que a prova é robusta
frequentemente do que os heterossexuais, e outro17 que
e consistente, e, em parte, ao fato de que o suicídio é tão
descobriram que as lésbicas têm taxas maiores de utilização
devastador e trágico para o pessoa, família e comunidade.
dos serviços de saúde mental do que os heterossexuais.
Uma melhor compreensão dos fatores de risco para o suicídio
O relatório do IOM afirma que ―mais pesquisa tem se
pode permitir-nos, literalmente, salvar vidas23.
concentrado em homens homossexuais e lésbicas que em
Socióloga e pesquisadora em suicídio Ann Haas e
bissexuais e transgêneros"18. Relativamente poucos estudos
colegas publicaram um extenso artigo de revisão em 2011 com
com foco em populações transgêneras mostram altas taxas de
base nos resultados de uma conferência de 2007 patrocinado
distúrbios mentais, mas o uso de amostras não probabilística e
pelo Gay and Lesbian Medical Association, pelo American
a falta de controles com não- transgêneras põe em causa a
Foundation for Suicide Prevention, e pelo Suicide Prevention
validade desses estudos19. Embora alguns estudos têm
Resource Center 24. Eles também examinaram estudos
sugerido que as utilizações de tratamentos hormonais podem
relatados desde a conferência de 2007. Para efeitos do seu
ser associados a resultados negativos de saúde física entre
relatório, os autores definiram orientação sexual como "auto
populações transgêneras, o relatório observa que a pesquisa
identificação sexual, comportamento sexual e atração sexual
relevante tem sido "limitada" e que "não tenham sido realizados
ou fantasia"25.
ensaios clínicos sobre o assunto"20 (Resultados de saúde para
Haas e colegas descobriram a associação entre
os indivíduos transgêneros serão ainda discutido mais abaixo
homossexual ou orientação bissexual e tentativas de suicídio
nesta parte e também na Parte Três).
para ser bem suportado por dados. Eles observaram que
O relatório do IOM afirma que a evidência de que as
pesquisas de base populacional de adolescentes norte-
populações LGBT apresentam piores resultados de saúde
americanos desde os anos 1990 indicam que as tentativas de
física e mental não é totalmente conclusivo. Para apoiar esta
suicídio são de duas a sete vezes mais prováveis em alunos do
reivindicação, o relatório IOM cita um estudo21 da saúde mental
ensino que se identificam como LGBT, com orientação sexual
de 2001 com 184 pares de irmãs em que uma era lésbica e as
sendo um dos mais forte preditor nos machos do que fêmeas.
outras heterossexuais. O estudo não encontrou diferenças
Eles revisaram os dados da Nova Zelândia que sugeria que as
significativas nas taxas de saúde mental ou problemas de
pessoas LGBT foram seis vezes mais propensos a ter tentativa
saúde, e encontrou significativamente maior autoestima nas
de suicídio. Eles citaram pesquisas relacionadas com a saúde
irmãs lésbicas. O relatório do IOM também cita um estudo22 de
dos homens norte-americanos e holandeses e mulheres
2003 que não encontrou nenhuma significativa diferença entre
mostrando o comportamento do mesmo sexo associado a um
homens heterossexuais e gays ou bissexuais em geral na
maior risco de tentativas de suicídio. Estudos citados no
felicidade, saúde percebida e satisfação no trabalho.
relatório mostram que as mulheres lésbicas ou bissexuais são
Reconhecendo estas ressalvas e os estudos que não suportam
mais prováveis, em média, para experimentar a imaginação
a tendência geral, a grande maioria dos estudos citados no
suicida, dos homens homossexuais ou bissexuais que são
relatório apontam para geralmente para um maior risco de
mais propensos, em média, a tentar o suicídio, e que as
estado de saúde mental deficiente em populações LGBT em
tentativas de suicídio ao longo da vida entre os não-
comparação com populações heterossexuais.
heterossexuais são maiores nos homens do que nas mulheres.
47
Examinando os estudos que analisaram as taxas de
pelo mesmo sexo não têm significativamente maiores taxas de
transtornos mentais em relação ao comportamento suicida,
suicídio do que outros heterossexuais auto identificados. Eles
Haas e seus colegas discutiram um estudo da Nova Zelândia26
também citaram uma grande pesquisa nacional com adultos
mostrando que as pessoas homossexuais relatam tentativas de
norte-americanos conduzida por Wendy Bostwick e colegas
suicídio tem altas taxas de depressão, ansiedade e desordens
(discutidos anteriormente)32, que mostrou os distúrbios de
de conduta. Inquéritos de saúde de grande escala sugeriram
humor e a ansiedade - fatores de risco para o comportamento
que as taxas de abuso de substâncias são até um terço mais
suicida - mais estreitamente relacionado com auto identidade
elevadas para a subpopulação LGBT. Estudos no mundo todo
sexual do que ao comportamento ou atração, especialmente
apresentam combinadas taxas mais elevadas que 50% de
para as mulheres.
transtornos mentais e abuso de substâncias entre pessoas
A mais recente análise crítica dos estudos existentes
auto identificadas em levantamentos como lésbica, gay ou
de risco de suicídio e orientação sexual foi apresentada pelo
bissexual. As mulheres lésbicas ou bissexuais apresentaram
psicólogo clínico austríaco Martin Plöderl e colegas33. Esta
níveis mais elevados de abuso de substâncias, enquanto
avaliação rejeita várias hipóteses desenvolvidas tendo em
homens gays ou bissexuais tinham taxas mais elevadas de
conta o aumento do risco de suicídio entre os não-
depressão e transtorno do pânico.
heterossexuais, incluindo preconceitos em auto relato e
Haas e seus colegas também examinaram populações
fracassos para medir tentativas de suicídio com precisão. A
transgêneras, notando que pouca informação está disponível
revisão argumenta que melhorias metodológicas nos estudos
sobre suicídios transgêneras, mas que os estudos existentes
desde 1997 têm proporcionado grupos de controle, melhor
indicam um dramático aumento do risco de suicídio
representatividade de amostras de estudo e maior clareza em
consumado. (Estas descobertas são anotadas aqui, mas
ambas as definições de tentativas de suicídio e orientação
examinadas mais detalhadamente na Parte Três). Um estudo
sexual.
clinico27 de 1997 estimou os elevados riscos de suicídio em
A revisão menciona um estudo34 de 2001, feito por
holandeses para indivíduos transexuais macho-para-fêmea na
Ritch Savin-Williams um professor de psicologia do
terapia
diferenças
desenvolvimento da Universidade de Cornell, que não relatou
significativas na mortalidade geral. Uma revisão internacional
diferença estatisticamente significativa entre os jovens
de 1998 com 2.000 pessoas que fizeram a cirurgia de
heterossexuais e LGBT depois de eliminar relatos de
reatribuição sexual identificou 16 possíveis suicídios, uma
resultados falso-positivos de tentativas de suicídio e as
"alarmante taxa de 800 suicídios para cada 100.000
tentativas de culpar "um roteiro de sofrimento suicida" para
transexuais pós-cirurgia"28. Em um estudo de 1984, uma
levar a um excesso de informação de sobre comportamento
amostra clínica de indivíduos transgêneros que solicitaram
suicida entre os jovens homossexuais. Plöderl e seus colegas
cirurgia de reatribuição sexual mostrou taxas de tentativa de
argumentaram, no entanto, que a conclusão do estudo Savin-
suicídio entre 19% e 25%29. Uma grande amostra de 40.000 na
Williams que não houve diferença estatisticamente significativa
sua maioria voluntários norte-americanos que realizaram um
entre as taxas de suicídio de LGBT e jovens heterossexuais e
levantamento pela internet em 2000 pessoas transgêneras
que isso pode ser atribuído ao pequeno tamanho da amostra, o
relatou-se maiores taxas de tentativas de suicídio do que
que rendeu baixo poder estatístico35. Em trabalho posterior não
qualquer grupo exceto lésbicas30.
foi replicado esse achado. Subsequente questionário ou
hormonal,
mas
não
encontraram
Finalmente, a revisão feita por Haas e colegas sugeriu
estudos baseados em entrevistas com as definições mais
que não é claro quais os aspectos da sexualidade (identidade,
estritas
de
tentativas
de
suicídio
encontraram
atração, comportamento) são mais estreitamente ligados com o
significativamente aumento das taxas de tentativas de suicídio
risco de comportamento suicida. Os autores citam um estudo31
entre os não-heterossexuais. Vários inquéritos em larga escala
de 2010 mostrando que os adolescentes que se identificaram
de jovens descobriram que o risco elevado de comportamento
como heterossexuais ao reportar atração ou o comportamento
suicida relatado aumentou com a gravidade da tentativas36.
48
Finalmente, de acordo com Plöderl e colegas, quando
as implicações que podem ser para adolescentes não são
comparando os resultados de questionários com entrevistas
claras.
clínicas indica que jovens homossexuais são menos propensos
Em um estudo de 2011, Robin Mathy e colegas
para auto relatar as tentativas de suicídio do que jovens
analisaram o impacto da orientação sexual em taxas de
heterossexuais.
suicídio na Dinamarca durante os primeiros doze anos após a
Plöderl e colegas concluíram que entre os pacientes
legalização das parcerias domésticas registradas para o
psiquiátricos, de populações homossexuais ou bissexuais são
mesmo sexo (RDP) naquele país, utilizando dados de certidões
sobre representados em "graves tentativas de suicídio ", e que
de óbito emitidas entre 1990 e 2001, bem como população
a orientação sexual é um dos mais fortes preditores de
estimada recenseada dinamarquesa41. Os pesquisadores
suicídio. Da mesma forma, em estudos de base populacional
descobriram que a taxa de suicídio ajustada por idade para
não-clínicos, a condição de não-heterossexual é encontrada
pessoas do mesmo sexo para homens RDP foi quase oito
por ser um dos mais fortes preditores de tentativas de suicídio.
vezes a taxa para os homens em casamentos heterossexuais,
Os autores observaram:
e quase o dobro da taxa para os homens que nunca se casaram. Para as mulheres, a condição RDP teve um efeito
A mais exaustiva compilação de estudos publicados e estudos não-publicados internacionais sobre a associação de tentativas de suicídio e orientação sexual com diferentes metodologias tem produzido um panorama muito consistente: quase todos os estudos encontraram aumento da incidência das tentativas de suicídio auto relatadas entre as minorias sexuais 37.
pequeno, estatisticamente insignificante na mortalidade por risco de suicídio, e os autores conjecturaram que o impacto do status de HIV na saúde dos homens homossexuais podem ter contribuído para essa diferença entre os resultados para homens e mulheres. O estudo é limitado pelo facto de que o
Ao reconhecer os desafios de toda essa pesquisa, os
estado RDP é uma medida indireta da orientação sexual ou
autores sugerem que "o principal problema continua a ser a
comportamento, e não incluem os gays e lésbicas que não
respeito de onde se traça a linha entre uma orientação
estão em uma parceria doméstica registada. O estudo também
heterossexual ou não-heterossexual"38.
excluí indivíduos com idade inferior a 18 anos. Finalmente, o
Um estudo de 1999 por Richard Herrell e colegas
número absoluto de indivíduos com status de RDP atual ou
analisaram 103 pares de gêmeos do sexo masculino de meia
passado foi relativamente pequeno, o que pode limitar as
idade do Vietnam Era Twin Registry in Hines, Illinois, em que
conclusões do estudo.
um dos gêmeos, mas não o outro, relataram ter um parceiro sexual macho após a idade de 18
anos39.
O professor de pediatria Gary Remafedi e colegas
O estudo adotou
publicaram em 1991 em estudo que analisou 137 homens em
diversas medidas de suicídio e controlado por potenciais
idade 14-21 que se auto identificaram como gay (88%) ou
fatores confundidores, tais como abuso de substâncias ou
bissexual (12%). Remafedi e colegas com essa tentativa, com
depressão. Ele encontrou um "substancial aumento na
uma abordagem de caso controlada, examinaram quais os
prevalência de sintomas suicidas" em gêmeos do sexo
fatores para essa população foram mais preditivos no
masculino que tiveram relações sexuais com homens, em
suicídio42. Em comparação com aqueles que não tentaram o
comparação com os irmãos que não o fizeram, independentes
suicídio, aqueles que fizeram eram significativamente mais
dos efeitos potenciais de confusão do abuso de drogas e
propensos a rotular-se e identificar publicamente como
álcool40.
Embora seja relativamente pequeno o estudo baseou-
bissexuais ou homossexuais em idades mais jovens, relatam
se no auto relato para ambos os comportamentos do mesmo
abuso sexual e relataram uso de drogas ilícitas. Os autores
sexo e pensamentos ou comportamentos suicidas, é notável
observaram que a probabilidade de uma tentativa de suicídio
para o uso de uma amostra com probabilidade (que elimina o
"diminuiu com o avançar da idade no momento da auto
viés de seleção), e quando usado o método de controle co-
rotulagem bissexual ou homossexual". Especificamente, ―com
gêmeos (que reduz os efeitos da genética, idade, raça e
um atraso de cada ano na auto identificação, as chances de
semelhantes). O estudo analisou homens de meia-idade; quais
uma tentativa de suicídio diminuíram mais de 80%"43. Este
49
estudo é limitado, utilizando uma amostra relativamente
as diferenças entre os métodos de amostragem foram
pequena não probabilística, embora os autores observassem
responsáveis por 33% da variação entre os suicidas relatados
que o seu resultado comporta com o seu achado anterior 44 de
pelos estudos.
uma relação inversa entre problemas psicossociais e a idade em que se identifica como homossexual.
A pesquisa sobre sexualidade e risco de suicídio sugere que aqueles que se identificam como gays, lésbicas,
Em um estudo de 2010, Plöderl e seus colegas
bissexuais ou transgêneros ou aqueles que experimentam
estudaram as tentativas de suicídio auto referidas entre 1.382
atração pelo mesmo sexo ou se envolveram em
adultos austríacos para confirmar a evidência existente que
comportamento sexual do mesmo sexo estão em
indivíduos homossexuais e bissexuais estão em maior risco45.
substancialmente maior risco de imaginação suicida, tentativas
Para aguçar os resultados, os autores desenvolveram
de suicídio e completo suicídio. Na seção mais tarde na Parte
definições mais rigorosas de "tentativas de suicídio "e
Três do modelo de stress social, vamos examinar - e levantar
avaliaram as múltiplas dimensões da orientação sexual,
questões sobre - um conjunto de argumentos para encaminhar
distinguindo entre fantasias sexuais, parceiros preferenciais,
e para explicar esses achados. Dadas as consequências
auto identificação, comportamento sexual recente e
trágicas informações incompletas ou inadequadas nestes
comportamento sexual ao longo da vida. Este estudo
assuntos e seu efeito sobre políticas públicas e cuidados
encontrou um aumento do risco de tentativas de suicídio para
clínicos, mais investigação sobre as razões para o elevado
as minorias sexuais ao longo de todas as dimensões da
risco de suicídio entre minorias sexuais é desesperadamente
orientação sexual. Para as mulheres, o risco aumentado foi
necessário.
maior para aqueles com comportamentos homossexuais; para os homens, eles foram maiores para comportamento homossexual ou bissexual nos últimos doze meses e auto identificados como homossexuais ou bissexuais. Aqueles que
Sexualidade e violência por parceiro íntimo Vários estudos examinaram as diferenças entre as
se declaram incertos de sua identidade registraram o maior
taxas de violência por parceiro íntimo (IPV) em casais do
percentual de tentativas de suicídio (44%), embora este grupo
mesmo sexo e casais de sexo oposto. A literatura de pesquisa
fosse pequeno, que compreendia menos do que 1% dos
examina as taxas de vitimização IPV (sendo submetido a
participantes.
violência por parte de um parceiro) e as taxas de IPV
Uma meta-análise de 2016 feita pela University of
perpetração (violência cometida contra um parceiro). Além da
Toronto pelo estudante de graduação Travis Salway Hottes e
violência física e sexual, alguns estudos também analisam a
colegas com dados agregados de trinta estudos transversais
violência psicológica, que compreende ataques verbais,
sobre as tentativas de suicídio que juntos incluíam 21201
ameaças e formas semelhantes de abuso. O peso da evidência
adultos de minoria sexual46. Estes estudos utilizados eram de
indica que a taxa de violência por parceiro íntimo é
amostragem de base populacional ou amostragem com base
significativamente maior entre casais do mesmo sexo.
na comunidade. Uma vez que cada método de amostragem
Em 2014, a London School of Hygiene and Medicine
tem os seus próprios pontos fortes e potenciais vieses47 os
Tropical através da pesquisadora Ana Buller e colegas
pesquisadores queriam examinar quaisquer diferenças nas
realizaram uma revisão sistemática de 19 estudos (com uma
taxas de tentativas de suicídio entre os dois tipos de
meta-análise de 17 desses estudos) para examinar
amostragem. Dos entrevistados LGB nos inquéritos de base
associações entre a violência por parceiro íntimo e saúde entre
populacional, 11% relataram ter tentado suicídio pelo menos
homens que fazem sexo com homens50. Combinando os dados
uma vez, em comparação com 4% dos heterossexuais
disponíveis, eles descobriram que a prevalência de imaginação
respondentes a estes levantamentos48 dos entrevistados LGB
suicida agrupados por qualquer IPV foi de 48% (estimativas
baseados nos estudos na comunidade 20% relataram ter
dos estudos foram bastante heterogêneas, variando de 32% a
tentado suicídio49. Estas análises estatísticas mostraram que
82%). Para IPV dentro dos cinco anos anteriores agrupados a
50
prevalência foi de 32% (estimativas variando de 16% para
estudos que examinam IPV entre homens que fazem sexo com
51%). IPV por vitimização foi associada com aumento das
homens55. Todos os estudos na revisão estimaram taxas de
taxas de uso de substância (odds ratio de 1,9), status de HIV
IPV para os homens gays que foram semelhantes ou
positivo (odds ratio de 1,5), e aumento das taxas de sintomas
superiores aos de todas as mulheres independentemente da
depressivos (odds ratio agrupados de 1,5). IPV perpetração
sua orientação sexual. Os autores concluem que "os dados
também foi associado ao aumento das taxas de uso de
aqui analisados, demonstraram que IPV - psicológica, física e
substância (odds ratio agrupados de 2,0). Uma limitação
sexual - ocorre em parcerias entre machos em alarmantes
importante desta meta-análise foi que o número de estudos
taxas de IPV‖56. IPV física por vitimização foi relatada mais
incluídos foi relativamente pequeno. Além disso, a
frequentemente, com taxas que variam de 12% a 45%57. A taxa
heterogeneidade dos estudos e os resultados podem
de vitimização sexual IPV variou de 5% a 31%, com 9 dos 19
comprometer a precisão da meta-análise. Além disso, a
relatórios de estudos relatando taxas maiores que 20%.
maioria dos estudos revisados as amostras utilizadas foram de
Vitimização psicológica por IPV foi relatada em seis estudos
conveniência ao invés de amostras probabilísticas, e eles
com taxas variando de 5% a 73%58. Perpetração por IPV física
usaram a palavra "parceiro" sem distinguir a longo prazo
foi relatada em oito estudos, com taxas que variaram de 4% a
relações de encontros casuais.
39%. Taxas de perpetração de VPI sexual variou de 0,7% a
Psicólogas inglesas Sabrina Nowiński e Erica Bowen
28%; quatro dos cinco estudos de avaliação das taxas
conduziram em 2012 uma revisão de 54 estudos sobre a
relatadas eram de 9% ou mais. Apenas um estudo mediu
prevalência e correlatos da violência por parceiro íntimo e a
perpetração por violência psicológica, e a prevalência estimada
vitimização entre homens heterossexuais e gays51. Os estudos
foi de 78%. Falta de projeto de pesquisa consistentes entre os
mostraram taxas de vitimização IPV para os homens
estudos analisados (por exemplo, algumas diferenças quanto à
homossexuais que variam de 15% a 51%. Em comparação
definição exata do IPV, os correlatos de IPV examinados, e os
com os homens heterossexuais, a revisão relata, "parece que
períodos de recolha utilizados para medir a violência) tornam
os homens homossexuais experimentaram IPV mais total e
impossível calcular uma estimativa de prevalência combinada,
sexual, um pouco menos IPV físico e níveis semelhantes de
o que seria útil dada a falta de uma amostra nacional baseada
IPV psicológico"52. Os autores também relataram que, de
em probabilidade.
acordo com estimativas da prevalência do IPV ao longo dos
Um estudo de 2013, de Naomi Goldberg e Ilan Meyer
últimos doze meses, homens gays "experimentaram menos
da UCLA usaram uma grande amostra de probabilidade de
IPV físico, psicológico e sexual" do que os homens
quase 32.000 indivíduos do California Health Interview Survey
heterossexuais, embora a relativa falta de estimativas nos
para avaliar diferenças de violência por parceiro íntimo entre
últimos doze meses possa tornar este resultado não confiável.
várias coortes: heterossexual; gays auto identificados, lésbica,
Os autores observaram que "um dos achados mais
indivíduos bissexuais e homens que fazem sexo com homens,
preocupantes é a prevalência de coerção sexual grave e abuso
mas não se identificam como homossexuais ou bissexuais, e
nos relacionamentos masculinos do mesmo gênero"53, citando
as mulheres que fazem sexo com mulheres, mas não se
um estudo de 200554 sobre IPV em homens homossexuais
identificam como lésbicas ou bissexuais59. Todos os três
HIV-positivos. Nowinski e Bowen encontraram status de HIV
grupos LGB tiveram maior prevalência ao longo da vida e de
positivo sendo associado com IPV em ambas as relações
um ano de violência por parceiro íntimo do que o grupo
homossexuais e heterossexuais. Uma limitação importante da
heterossexual, mas essa diferença só foi estatisticamente
sua avaliação é o fato de que muitas das pessoas do mesmo
significativa para mulheres bissexuais e gays. Mulheres
sexo em estudos por IPV que examinaram foram baseados em
bissexuais eram mais propensas a ter experimentado IPV ao
amostras pequenas por conveniência.
longo da vida (52% das mulheres bissexuais vs. 22% das
Catherine Finneran e Rob Stephenson da Emory
mulheres heterossexuais e 32% das lésbicas) e ter
University em 2012 realizaram uma revisão sistemática de 28
experimentado IPV em no ano anterior (27% de bissexuais vs.
51
5% dos heterossexuais e 10% das lésbicas). Para os homens,
heterossexuais que vivem com homens, sugerindo que as
todos os três grupos não-heterossexuais tinham taxas mais
estimativas de vitimização por espancamento para HSH neste
elevadas de IPV ao longo da vida, mas isso só foi
estudo "são superiores ou comparáveis aos relatados para
estatisticamente significativo para homens homossexuais, que
mulheres heterossexuais"62. Este estudo foi limitado pelo uso
eram mais propensos a ter experimentado IPV ao longo da
de uma amostra de quatro cidades, por isso não está claro o
vida (27% dos homens homossexuais contra 11% dos homens
quão bem os resultados podem generalizar para configurações
heterossexuais e 19,6% dos homens bissexuais) e em relação
não-urbanas.
ao ano anterior (12% dos homens homossexuais vs. 5% dos homens heterossexuais e 9% dos homens bissexuais). Os autores também testaram se consumo excessivo de álcool e sofrimento psicológico pode explicar a elevada prevalência de
Resultados em saúde para transgêneros A literatura de pesquisa para a saúde mental
vitimização IPV em homens homossexuais e mulheres
resultante de indivíduos transgêneros é mais limitada do que a
bissexuais; o controle para essas variáveis revelou que eles
pesquisa sobre os resultados de saúde mental em populações
não fizeram. Este estudo é limitado pelo fato de outras
LGB. Porque as pessoas identificadas como transgêneros
variáveis psicológicas potencialmente de confusão (além de
compõem uma proporção muito pequena da população, as
beber e angústia) não terem sido controladas, estatisticamente
grandes pesquisas de base populacional e estudos de tais
ou de outra forma, e podem ser responsáveis pela descoberta.
indivíduos são difíceis, se não impossíveis de realizar. No
Para estimar a prevalência de vitimização por
entanto, a pesquisa disponível limitada sugere fortemente que
espancamento entre parceiros gays, o pesquisador em
pessoas transgêneras têm aumentado os riscos de maus
prevenção de AIDS Gregory Greenwood e colegas publicaram
resultados de saúde mental. Isto parece que as taxas de co-
um estudo em 2002 com base em entrevistas por telefone com
ocorrência de transtornos por uso de substâncias, ansiedade,
uma amostra baseada em probabilidade de 2.881 homens que
distúrbios alimentares, depressão e suicídio tendem a ser mais
fazem sexo com homens (HSH) em quatro cidades de 1996 a
elevadas para as pessoas transgêneros do que para indivíduos
199860. Dos entrevistados, 34% relataram ter experimentado
LGB.
abuso psicológico ou simbólico, 22% relataram abuso físico e
Em 2015, pediatra de Harvard o professor e
5% relataram abuso sexual. No geral, 39% relataram algum
epidemiologista Sari Reisner e colegas realizaram um estudo
tipo de vitimização por espancamento, e 18% relataram mais
de coorte pareado numa retrospectiva para resultados em
de um tipo de espancamento nos últimos cinco anos. Homens
saúde mental com 180 transgêneros em idades entre 12-29
mais jovens do que 40 anos foram significativamente mais
anos (106 do sexo feminino para masculino e 74 do sexo
prováveis de denunciar do que homens com mais de 60 a
masculino para feminino), combinado com controles não-
violência por espancamento. Os autores concluíram que "a
transgêneros com base na identidade de gênero63. Jovens
prevalência de espancamento no contexto das íntimas relações
transgêneros tinham um elevado risco de depressão (50,6%
por parceiros foi muito alta" entre a sua amostra de homens
vs. 20,6%)64 e ansiedade (26,7% vs. 10,0%)65. Jovens
que têm sexo com homens, e aquelas que as taxas de vida são
transgêneros também apresentaram maior risco de imaginação
geralmente mais elevadas do que aqueles chamados nos
suicida (31,1% vs. 11,1%)66, tentativas de suicídio (17,2% vs.
últimos cinco anos, "é substancialmente provável que maior
6,1%)67, e automutilação sem intenção letal (16,7% vs. 4,4%)68
número de HSH do que homens heterossexuais têm
relativamente
experimentado vitimização ao longo da vida"61. A prevalência
significativamente maior proporção de jovens transgêneros
de cinco anos de espancamento físico entre esta amostra de
acessada tivera internamento com cuidados de saúde mental
HSH urbana também foi "significativamente maior" do que a
(22,8% vs. 11,1%)69 e cuidados de saúde mental em regime
taxa anual de violência grave (3%) ou violência total (12%)
ambulatório (45,6% vs. 16,1%)70. Não houve diferenças
experimentada em uma amostra representativa de mulheres
estatisticamente significativas no estado de saúde mental
aos
controles
correspondentes.
Uma
52
observada quando comparado transgêneros feminino-para-
que não queriam", no entanto, ―a pesquisa não forneceu
masculino para os indivíduos transgêneros masculino-para-
informações sobre o tempo de tentativas de suicídio relatadas
feminino após o ajuste por idade, raça/etnia e uso de
em relação ao recebimento de saúde relacionada com o
hormônios.
cuidado na transição, o que impedia a investigação de
Este estudo teve o mérito de incluir indivíduos que se
explicações relacionadas com a transição para esses
apresentaram a uma clínica de saúde de base comunitária, e
padrões"73. Os dados da pesquisa sugerem associações entre
que, portanto, não foram identificados apenas como
as tentativas de suicídio, co-ocorrência nos distúrbios de saúde
cumprimento dos critérios diagnósticos para transtorno de
mental e experiências de discriminação ou maus-tratos,
identidade de gênero como sugerido na quarta edição do
embora os autores observam algumas limitações destes
“ Amer ican Psychiatric Association’s Diagnostic and Statistical
resultados: "os dados da pesquisa não nos permitem
Manual of Mental Disorders” (DSM-IV ), e não foram
determinar a relação causal direta entre rejeição enfrentada,
selecionados a partir de uma população de pacientes que se
discriminação, vitimização, ou violência, e tentativas de suicídio
apresentam a uma clínica para o tratamento de problemas de
ao longo da vida", embora havia evidências de que estressores
identidade de gênero. No entanto, Reisner e colegas observam
interagiram com fatores de saúde mental "a produzir uma
que o estudo tem limitações normalmente encontradas na
vulnerabilidade marcada para comportamento suicida em
revisão de prontuários, tais como documentação incompleta e
transgêneros e indivíduos não-conformados com seu
variação na qualidade das informações gravadas por
gênero"74.
profissionais médicos.
Um estudo de 2001 por Kristen Clements-Nolle e
Um relatório da Fundação Americana para a
colegas com 392 transgêneras masculino-para-feminino e 123
Prevenção do Suicídio e o Instituto Williams, um grupo de
transexuais femininos-para-masculinos constatou que 62% dos
reflexão para questões LGBT da UCLA Scholl of Law , resumiu
masculinos-para-femininos e 55% das transgêneras femininos-
conclusões sobre tentativas de suicídio entre transgêneros e
para-masculinos eram deprimidos no momento do estudo, e
adultos não-conformados com seu gênero a partir de uma
32% de cada população tinha tentado suicídio75. Os autores
grande amostra nacional de mais de 6.000 individuals71. Isto
observam: "A prevalência de tentativas de suicídio entre
constitui o maior estudo de transgêneros e adultos não-
masculinos-para-femininos e pessoas transgêneras femininos-
conformados com seu gênero, até a data, embora tenha sido
para-masculinos em nosso estudo foi muito maior do que a
usado uma amostra de conveniência ao invés de uma amostra
encontrada em amostras de probabilidade das famílias norte-
de base populacional (As grandes amostras de base
americanas num estudo de base populacional de homens
populacional são quase impossíveis dada a baixa prevalência
adultos relatando parceiros do mesmo sexo"76.
na população geral de indivíduos transgêneros). Resumindo os resultados deste estudo, os autores escrevem: A prevalência de tentativas de suicídio entre os entrevistados para o National Transgender Discrimination Survey (NTDS) , conduzido pelo “ National Gay and Lesbian Task Force and National Center for Transgender Equality ” , é 41 por cento, o que excede vastamente a 4,6 por cento do total da população EUA que relatam uma tentativa de suicídio na vida, e também é maior do que a de 10-20 por cento das lésbicas, gays e adultos bissexuais que se reportam sempre a tentar suicídio 72.
Os autores observam que "entrevistados que disseram que tinham recebido cuidados de saúde de transição relacionados ou queriam tê-lo algum dia eram mais propensos a relatar ter tentado o suicídio do que aqueles que disseram
Explicações para os maus resultados de saúde: Modelo de Estresse Social A maior prevalência de problemas de saúde mental em subpopulações LGBT é um motivo de preocupação, e os responsáveis políticos e os médicos devem se esforçar para reduzir esses riscos. Mas, para saber que tipos de medidas irão ajudar a melhora-los, devemos compreender melhor as suas causas. Neste momento, as estratégias médicas e sociais para ajudar as populações não heterossexuais nos Estados Unidos são bastante limitadas, e isto pode ser devido, em parte relativamente, as explicações limitadas para os maus
53
resultados de saúde mental oferecidos pelos cientistas sociais
depois de uma visão concisa de como foi apresentado na
e psicólogos.
literatura recente sobre a saúde mental LGBT.
Apesar dos limites da compreensão científica do
O modelo de estresse social tenta explicar por que as
porquê de subpopulações não-heterossexual serem mais
pessoas não-heterossexuais têm, em média, maior incidência
susceptíveis de ter tais maus resultados de saúde mental, a
de maus resultados de saúde mental do que o resto da
maior parte do esforço público para amenizar esses problemas
população. Mas esse modelo não estende uma explicação
é motivada por uma hipótese particular chamada de modelo de
completa para as disparidades entre os não-heterossexuais e
estresse social. Este modelo pressupõe que a discriminação,
heterossexuais, e não explica os problemas de saúde mental
estigmatização e outros estresses similares contribuem para a
de um paciente em particular. Pelo contrário, descreve os
saúde mental pobre entre as minorias sexuais. Uma implicação
fatores sociais que podem influenciar direta ou indiretamente
do modelo de estresse social é que a redução dessas tensões
os riscos de saúde para as pessoas LGBT, o que só pode se
pode melhorar os problemas de saúde mental experimentados
tornar aparente ao nível da população. Alguns desses fatores
por minorias sexuais.
também podem influenciar os heterossexuais, mas as pessoas
Minorias sexuais enfrentam desafios sociais distintos como o estigma, ostensiva discriminação e assédio, e, muitas
LGBT são provavelmente desproporcionalmente expostos a eles.
vezes, lutam em conciliar a comportamentos sexuais e
Em um influente artigo de 2003 sobre o modelo de
identidades com as normas das suas famílias e comunidades.
estresse social, o epidemiologista psiquiátrico e especialista
Além disso, eles tendem a ser sujeitos a desafios semelhantes
em direito de orientação sexual Ilan Meyer distinguiu entre
aos de algumas outras populações minoritárias, decorrentes da
estressores minoritários distais e proximais. Estressores distais
marginalização por ou conflito com a maior parte da sociedade
não dependem de "percepções ou avaliações" do indivíduo e
de maneiras que podem impactar negativamente a sua
assim "pode ser visto como independente da identificação
saúde77. Muitos pesquisadores classificaram estes vários
pessoal com a minoria da condição atribuída"81. Por exemplo,
desafios no âmbito do conceito de estresse social e acreditam
se um homem que foi percebido como gay por um empregador
que isso contribui para as taxas mais elevadas de problemas
foi demitido com base nisso, este seria um estressor distal,
de saúde mental entre as subpopulações LGBT78.
mas o estressante caso de discriminação não teria nada a ver
Na tentativa de contabilizar as disparidades de saúde
com se o homem identificado realmente como gay, mas
mental entre os heterossexuais e não-heterossexuais, os
apenas com a atitude de outra pessoa e percepção.
investigadores referem-se ocasionalmente a hipóteses de
Estressores distais tendem a refletir as circunstâncias sociais,
estresses sociais para esta minoria79. No entanto, é mais
em vez da reação do indivíduo a essas circunstâncias.
preciso se referir a um modelo de estresse social ou
Estressores proximais, em contraste, são mais subjetivos e
minoritário, porque a conexão entre o postulado de estresse
estão intimamente relacionados com o indivíduo se auto
social e saúde mental é mais complexa e menos precisa do
identificar como lésbica, gay, bissexual ou transgênero. Um
que qualquer coisa que possa ser indicada como uma única
exemplo de um estressor proximal seria quando uma jovem
hipotese80. O termo estresse pode ter um número de
mulher identifica pessoalmente, ser lésbica, e escolhe
significados, variando desde uma descrição de uma condição
esconder a identidade de seus membros da família por medo
fisiológica para um estado mental ou emocional de raiva ou
de desaprovação, ou por causa de um sentido interno de
ansiedade a uma difícil situação social, econômica ou
vergonha. Os efeitos de fatores de stress imediatos tais como
interpessoal. Mais perguntas surgem quando se pensa sobre
este são altamente dependentes do indivíduo ter a auto
vários tipos de estressores que podem desproporcionalmente
compreensão de circunstâncias sociais únicas. Nessa seção
afetar a saúde mental em populações minoritárias. Vamos
descrevemos os tipos de estressores postulados no modelo de
discutir alguns desses aspectos do modelo de stress social
estresse social, iniciando de forma distal e prosseguindo para os fatores de stress proximais, e examinamos algumas das
54
evidências empíricas de que foi oferecido nas ligações entre os
de preconceito tenderam a experimentar os efeitos de
estressores e efeitos na saúde mental.
vitimização mais intensamente e por um período mais longo de tempo do que as vítimas da criminalidade de não-preconceito
Discriminação e eventos de preconceito.
Atos explícitos de
(O estudo analisou assaltos motivados pelo preconceito em
maus-tratos, que vão da violência para a assédio e
geral, em vez de restringir a sua análise aos assaltos
discriminação,
por
motivados por preconceito LGBT, embora uma parte
pesquisadores como "eventos de preconceito." Estes são
substancial dos sujeitos fez experimentar ataques motivados
pensados para ser significativo estressores para populações
por sua condição de não-heterossexual.).
são
categorizados
em
conjunto
não-heterossexuais82. Levantamentos em subpopulações de
Padrões semelhantes também aparecem entre os
LGBT descobriram que eles tendem a experimentar esses
adolescentes não-heterossexuais, por quem maus tratos são
tipos de eventos de preconceito mais frequentemente que a
particularmente alto86. Num estudo de 2011 da Universidade de
população em geral83.
Arizona o cientista social e comportamental Stephen T. Russell
Os dados disponíveis indicam que os eventos de
e seus colegas analisaram uma pesquisa com 245 adultos
preconceito provavelmente contribuem a problemas de saúde
jovens LGBT medidos retrospectivamente na escola por
mental. Um estudo de 1999 pela UC Davis do professor de
vitimização devido ao estado real ou percebido entre as idades
psicologia Gregory Herek e colegas usando dados de pesquisa
de 13 e 19 anos. Eles descobriram fortes correlações entre a
de 2259 indivíduos LGB em Sacramento descobriram que as
vitimização na escola e problemas de saúde mental como
lésbicas auto identificadas e gays que experimentaram um viés
vitimização em adultos jovens87. A vitimização foi avaliada ao
com crime nos últimos cinco anos - um crime, tais como
pedir sim ou não a perguntas, como: "Durante os anos do
agressão, roubo ou vandalismo, motivado pela real ou
ensino médio, enquanto na escola, eu fui empurrado, puxado,
percebida identidade sexual da vítima - relataram níveis
batido ou chutado por alguém que não estava só brincando",
significativamente mais elevados de sintomas de depressão,
seguido de uma pergunta de quantas vezes esses eventos
sintomas de estresse traumático e ansiedade do que lésbicas e
estavam relacionados com a identidade sexual do entrevistado.
gays que não tinham experimentado um viés de crime durante
Os entrevistados que relataram altos níveis de vitimização na
o mesmo periodo84. Além disso, lésbicas e gays que relataram
escola devido à sua identidade sexual foram 2,6 vezes mais
ser vítimas de crimes de ódio nos últimos cinco anos
propensos a relatar depressão como jovens adultos e 5,6
apresentaram níveis significativamente mais altos de
vezes mais propensos a relatar que tiveram tentativa de
depressão e sintomas traumáticos de estresse do que os
suicídio, em comparação com aqueles que relataram baixos
indivíduos que não sofreram viés de crimes no mesmo período
níveis de vitimização. Estas diferenças foram estatisticamente
(embora os dois grupos não apresentaram diferenças
e
significativas da ansiedade). Correlações significativas
potencialmente limitado pelo seu uso de levantamentos
comparáveis não foram encontradas para bissexuais auto
retrospectivos para medir incidentes de vitimização. Um estudo
identificados, que constituíam uma parte muito menor dos
realizado pela professora de trabalho social Joanna Almeida e
entrevistados. O estudo também descobriu que lésbicas e gays
colegas, que se baseava no “ Boston Youth Survey ” de 2006
foram significativamente mais propensos a viés de crimes do
(um inquérito bienal de estudantes do ensino médio em
que outros respondentes que relatam ter sentimentos de
escolas públicas de Boston), foi encontrado que a percepção
vulnerabilidade e uma diminuição da sensação de domínio
de ter sido vítima devido ao status LGBT representou aumento
pessoal. Corroborando esses achados sobre o impacto nocivo
de sintomas de depressão entre estudantes LGBT. Para
do viés de crimes um estudo de 2001 pela Northeastern
estudantes LGBT do sexo masculino, mas não meninas, o
University do cientista social Jack McDevitt e colegas que
estudo também encontrou uma correlação positiva entre
examinaram assaltos usando dados do Departamento de
vitimização e pensamentos suicidas e auto-prejudiciais88.
Polícia de Boston85. Eles descobriram que as vítimas de crimes
altamente
significativas,
embora
o
estudo
está
55
Diferenças na compensação sugerem a discriminação no local de trabalho, que pode ter efeitos diretos e indiretos
algumas das correlações são provavelmente responsáveis pelos efeitos psicológicos e materiais do desemprego94.
sobre a saúde mental. O professor de economia M. V. Lee Badgett da Universidade de Massachusetts, Amherst, analisou
Estigma. Os sociólogos têm por muitos anos documentado uma
dados coletados entre 1989 e 1991 no ―General Social Survey ‖
gama de efeitos adversos do estigma sobre os indivíduos, que
e descobriu que funcionários do sexo masculino não-
vão desde problemas com a autoestima até a realização
heterossexuais receberam compensação significativamente
acadêmica95. Estigma é normalmente considerado como um
menor (11% a 27%) do que os heterossexuais, mesmo após o
atributo anexado a uma pessoa que reduz seu valor para os
controle de experiência, educação, ocupação e outros
outros de um particular contexto social96. Estas avaliações
fatores89. De acordo com uma revisão de 2009 por Badgett90
negativas são, em muitos casos amplamente compartilhadas
nove estudos da década de 1990 e início dos anos 2000
entre um grupo cultural e se tornam a base para a exclusão ou
"consistentemente mostram que homens gays e bissexuais
tratamento diferencial de indivíduos estigmatizados. Por
ganham de 10% a 32% menos que os homens
exemplo, doenças mentais podem tornar-se estigmatizadoras
heterossexuais", e que as diferenças de ocupações não podem
quando são consideradas como uma falha de caráter em
ser responsáveis por grande parte da disparidade salarial.
pessoas mentalmente doentes. Uma razão pela qual o estigma
Pesquisadores também descobriram que as mulheres não
serve de papel importante no modelo de estresse social é que
heterossexuais
mulheres
pode ser invocado como uma explicação, mesmo na ausência
heterossexuais91, o que pode sugerir que ou padrões de
de eventos particulares de discriminação ou maus tratos. Por
discriminação diferem para homens e mulheres, ou que
exemplo, a estigmatização da depressão pode ocorrer quando
existem outros fatores associados com comportamento não-
uma pessoa deprimida esconde a depressão na expectativa de
heterossexual e auto identificação em homens e mulheres
que amigos e membros familiares irão considerá-la como uma
influenciando seus respectivos rendimentos, tais como uma
falha de caráter. Mesmo quando esta dissimulação é bem-
menor taxa de criação de filhos ou ser o assalariado principal
sucedida, e não há, portanto, qualquer discriminação real ou
da família.
maus tratos por amigos ou familiares do indivíduo, a ansiedade
ganham
mais
do
que
Estas evidências sugerem que as disparidades salariais podem ajudar a explicar algumas disparidades de
sobre as atitudes dos outros pode afetar o bem-estar emocional e mental da pessoa deprimida.
nível de população em matéria de saúde mental92, embora seja
Os investigadores encontraram associações entre o
difícil dizer se as diferenças na ajuda da saúde mental
risco de fraca saúde mental e estigma para certas populações,
explicam as diferenças nos salários. Uma estudo93 de 1999 por
embora tenha havido pouca pesquisa empírica sobre os efeitos
Craig Waldo sobre a relação entre heterossexismo no local de
de saúde mental do estigma sobre pessoas LGBT em
trabalho - definido como atitudes sociais negativas em relação
particular. O estigma não é fácil de definir ou operacionalizar,
não-heterossexuais - e resultados relacionados ao estresse em
tornando-o um conceito difícil e vago para os cientistas sociais
287 indivíduos LGB descobriram que os indivíduos LGB que
empíricos para estudar. No entanto, os investigadores têm
experimentaram heterossexismo no local de trabalho que
tentado trabalhar com o conceito usando levantamentos de
"exibiram níveis mais elevados de sofrimento psíquico e
desvalorização auto percebido pelos outros e correlações têm
problemas de saúde relacionados, bem como a diminuição da
encontrado entre as experiências de estigma e o risco de
satisfação com vários aspectos dos seus postos de trabalho".
estado de saúde mental fraca. Um estudo altamente citado de
Os dados transversais usados por muitos desses estudos
1997 pelo sociólogo e epidemiologista Bruce Link e colegas
tornam-no impossível de inferir causalidade, embora ambos os
sobre a conexão entre o estigma e saúde mental encontrou um
estudos prospectivos e de analises qualitativas do impacto do
efeito negativo "forte e duradouro" no estigma sobre o bem-
desemprego na saúde mental sugeriram que pelo menos
estar mental dos homens que estavam sofrendo de um distúrbio mental e uso abusivo de substância97. Neste estudo, o
56
efeito do estigma pareceu persistir mesmo depois que os
indivíduos LGB descobriu que a consciência de estigma era
homens tinham recebido tratamento muito bem-sucedido para
significativamente associada com sintomas depressivos, onde
seus problemas de abuso mental e substância original. O
a consciência de estigma foi avaliada através de um
estudo constatou significativas correlações entre determinadas
questionário de dez itens que avaliou o "grau em que se espera
variáveis de estigma - experiências de auto relato de
ser julgado com base em um estereótipo"102. No entanto, os
desvalorização e rejeição - e os sintomas depressivos antes e
sintomas depressivos são frequentemente associados com a
após o tratamento, sugerindo que os efeitos do estigma são
cognição negativa sobre o eu, o mundo, e no futuro, e isso
relativamente longo e duradouros. Isso pode simplesmente
pode contribuir para a percepção subjetiva de estigmatização
indicar que as pessoas com sintomas depressivos tendem a
entre os indivíduos que sofrem de depressão103. Um estudo de
relatar mais o estigma, mas se fosse esse o caso, seria preciso
2011104 por Bostwick que também usou medidas da
esperar que os relatórios sobre estigma diminuíssem ao longo
consciência do estigma e sintomas depressivos encontraram
do curso do programa de tratamento, como foi com a
uma modesta positiva correlação entre os escores do estigma
depressão.
estigma
e sintomas depressivos em mulheres bissexuais, embora o
permaneceram constantes, os autores concluíram que o
estudo foi limitado por ter uma amostra relativamente de
estigma deve ter tido um papel causal nos sintomas
pequeno tamanho. No entanto, um estudo105 longitudinal de
depressivos. É importante notar que este estudo encontrou
2003, de adolescentes norueguesas feito pelo psicólogo Lars
variáveis de estigma para explicar exclusivamente cerca de
Wichstrom e colegas descobriu que a orientação sexual foi
10% ou um pouco mais da variação dos sintomas depressivos
associada ao mau estado de saúde mental após a
- em outras palavras, o estigma teve um efeito menor sobre os
contabilização de uma variedade de fatores de riscos
sintomas depressivos, embora esse efeito pode se manifestar
psicológicos, incluindo a autoestima. Enquanto este estudo não
de forma significativa em um nível populacional. Alguns outros
considerou diretamente o estigma como um fator de risco,
investigadores sugeriram que os efeitos do estigma são
sugere que fatores psicológicos, como a consciência de
geralmente pequenos e transitórios; por exemplo, o sociólogo
estigma sozinha provavelmente não pode totalmente explicar
Walter Gove do Vanderbilt College of Arts and Science
as disparidades na saúde mental entre os heterossexuais e
argumentou que para a "vasta maioria dos casos o estigma
não-heterossexuais. Além disso, é importante notar que,
[experimentado por pacientes mentais] parece ser transitório e
devido ao design de secção transversal destes estudos,
não parece representar um problema grave"98.
inferências causais não pode serem suportadas pelos dados –
No
entanto,
relatórios
sobre
Pesquisadores começaram relativamente a pouco
os diferentes tipos de dados e mais evidências seriam
tempo perseguir trabalhos tanto empírica como teoricamente99
necessários para apoiar as conclusões sobre as relações
sobre como o estigma afeta a saúde mental das pessoas
causais. Em particular, é impossível provar através destes
LGBT, embora tenha havido alguma controvérsia sobre a
estudos que o estigma leva a má saúde mental, em oposição
magnitude e duração dos efeitos devido ao estigma. Algumas
a, por exemplo, saúde mental fraca que leva as pessoas a
controvérsias podem decorrer da dificuldade de se definir e
relatar altos níveis de estigma, ou um terceiro fator sendo
quantificar o estigma, bem como as variações no estigma em
responsável tanto para saúde mental fraca e níveis mais
diferentes contextos sociais. Um estudo em saúde mental de
elevados de estigma.
2013, da Universidade de Columbia pelo médico psicólogo Walter Bockting e colegas com 1.093 pessoas transgêneras
Ocultação. O
estigma pode afetar as decisões dos indivíduos
encontrou uma correlação positiva entre sofrimento psíquico e
não-heterossexuais sobre a possibilidade de revelar ou
ambos promovidas pelo sentimento do estigma, que foram
esconder a sua orientação sexual. Pessoas LGBT podem
medidos por meio de questões de levantamento100. Um
decidir ocultar sua orientação sexual para se proteger contra
estudo101 de 2003 feito pelo psicólogo clínico Robin Lewis e
possíveis preconceitos ou discriminação, para evitar um
colegas com sintomas e preditores de depressão em 201
sentimento de vergonha, ou para evitar um potencial conflito
57
entre o seu papel social e desejos sexuais ou
discriminação e crimes de ódio. Se tais políticas são, de fato
comportamentos106. Contextos particulares em que as pessoas
bem-sucedidas em reduzir estes fatores de stress, então
LGBT podem mais provavelmente esconder sua orientação
poderia ser esperado reduzir as taxas de problemas de saúde
sexual incluem a escola, trabalho, e outros lugares em que
mental em populações LGB, na medida em que o modelo de
sentem que a divulgação poderia afetar negativamente a
estresse social responde com precisão para as causas desses
maneira que as pessoas os consideram.
problemas. Até agora, os estudos não foram concebidos de tal
Há uma grande quantidade de evidências de pesquisa
forma que pode permitir-lhes testar a hipótese de forma
psicológica indicando que a ocultação de um aspecto
conclusiva o estresse social explica as altas taxas de maus
importante da identidade pode ter consequências adversas
resultados
para a saúde mental. Em geral, expressar suas emoções e a
heterossexuais, mas há pesquisa que fornece alguns dados
partilha de aspectos importantes da vida de sua identidade
sobre uma implicação testável do modelo de estresse social.
de
saúde
mental
em
populações
não-
pode ter papel adverso na sua saúde mental107. As últimas
Um estudo de 2009 pelo cientista sociomédico Mark
décadas testemunharam um crescente corpo da investigação
Hatzenbuehler e colegas investigaram a associação entre
sobre as relações entre ocultação e revelação e saúde mental
morbidade psiquiátrica em populações LGB e duas políticas de
nas subpopulações LGBT108. Por exemplo, um estudo109 de
nível estadual que pertencia a estas populações: leis de crimes
2007 por Belle Rose Ragins e colegas sore ocultação e
de ódio que não incluem a orientação sexual como uma
divulgação no local de trabalho com 534 indivíduos LGB
categoria protegida, e as leis que proíbem a discriminação no
descobriu que o medo de divulgação foi associado com tensão
emprego baseado em orientação sexual112. O estudo utilizou
psicológica e outros resultados, tais como a satisfação no
dados sobre os resultados em saúde mental da Onda 2 do
trabalho. No entanto, o estudo também desafiou a noção de
―National Epidemiologic Survey on Alcohol and Related
que a divulgação conduz a resultados positivos psicológicos e
Conditions”
sociais, uma vez que a divulgação dos funcionários não era
representativa de 34,653 civis, adultos não institucionalizados e
significativamente associada com a maioria das variáveis de
com medição psiquiátrica para distúrbios acordo com o critério
resultado. Os autores interpretaram este resultado dizendo que
DSM-IV113. Onda 2 de NESARC ocorreu em 2004-2005. Da
"este estudo sugere que a ocultação pode ser uma decisão
amostra, 577 inquiridos identificaram-se como lésbicas, gay ou
necessária e adaptativa a falta de suporte ou meio ambiente
bissexual. A análise dos dados mostrou que os indivíduos LGB
hostil, ressaltando assim a importância do contexto social"110.
vivendo em estados sem leis de crimes de ódio e onde há leis
Devido as mudanças relativamente rápidas na aceitação social
contra a discriminação tendem a ter maiores chances de
do casamento do mesmo sexo e de relações do mesmo sexo
morbidade psiquiátrica (em comparação com LGB indivíduos
de forma mais ampla, nas últimas décadas111, é possível que
em estados com uma ou duas leis de proteção), mas a análise
algumas das pesquisas sobre os efeitos psicológicos de
encontrou correlações estatisticamente significativas apenas
ocultação e divulgação estejam desatualizadas, porque em
para distimia (a menos grave, mas a forma mais persistente de
geral pode haver menos pressão para aqueles que se
depressão), desordem de ansiedade generalizada, e transtorno
identificam como LGB do que para aqueles que escondem
de estresse pós-traumático, enquanto as correlações entre
suas identidades.
outras sete condições psiquiátricas investigadas não foram
(NESARC),
estatisticamente Testando o modelo.
uma
significativas.
amostra
nacionalmente
Nenhuma
inferência
Uma das implicações do modelo de
epidemiológica pode ser feita devido à natureza dos dados, o
estresse social é que a redução da quantidade de
que sugere a necessidade de mais estudos sobre este e
discriminação, preconceito e estigmatização das minorias
similares tópicos.
sexuais ajudaria a reduzir as taxas de problemas de saúde
Hatzenbuehler e seus colegas tentaram melhorar este
mental para estas populações. Algumas jurisdições têm
estudo transversal, fazendo um estudo prospectivo, publicado
tentado reduzir esses estressores sociais aprovando leis anti-
em 2010, desta vez examinando mudanças na morbidade
58
psiquiátrica durante o período em que certos estados
Um mecanismo causal hipotético para a mudança na
aprovaram emendas constitucionais que definem o casamento
saúde mental das variáveis associadas com as alterações da
como uma união entre um homem e uma mulher - alterações
união é que o debate público em torno das alterações pode ter
que foram descritas pelos autores do estudo como "proibição
elevado o estresse experimentado por não-heterossexuais -
de casamento gay"114. Os autores examinaram as diferenças
uma hipótese que foi apresentada pelo psicólogo Sharon
de morbidade psiquiátrica entre a Onda 1 de NESARC, que
Scales Rostosky e colegas em um estudo de atitudes dos
teve lugar em 2001-2002, e a Onda 2, que coincidiu com as
adultos LGB nos estados que passaram por alterações no
alterações de estado-constitucional de 2004 e 2005. Eles
casamento em 2006115. Os dados da pesquisa coletados
observaram que a prevalência de transtornos do humor em
durante este estudo mostraram que LGB inquiridos que vivem
respondentes LGB vivendo em estados que as alterações de
em estados que passaram por alterações no casamento em
casamento aumentaram em 36,6% entre as Ondas 1 e 2. Os
2006 tinham níveis mais elevados de vários tipos de distúrbios
transtornos de humor para os respondentes LGB que vivem em
psicológicos, incluindo estresse e sintomas depressivos. O
estados que não passam alterações no casamento diminuiu
estudo também descobriu que a participação no ativismo LGBT
23,6%, embora esta mudança não foi estatisticamente
durante a época de eleição foi associado com aumento na
significativa. A prevalência de certas doenças aumentou tanto
aflição psicológica. Pode ser que parte da aflição psicológica
em estados que passaram a tais modificações e em estados
gravado por esta pesquisa, que incluiu stress percebido,
que não o fizeram. Por exemplo, transtorno de ansiedade
sintomas de depressão (mas não diagnósticos de transtornos
generalizada, aumentou em ambos, mas por um muito maior e
depressivos), e que os pesquisadores chamaram de
de magnitude estatisticamente significativa nos estados que
"alteração-relacionado ao afeto", pode simplesmente ter
passaram a ter alterações no casamento. Hatzenbuehler e
refletido os sentimentos típicos de defensores quando
colegas descobriram que o distúrbio por uso de drogas
experimentam derrota política em um problema que eles se
aumentou mais em estados que não passaram a ter alterações
preocupam apaixonadamente. Outras limitações principais do
no casamento, e o aumento foi estatisticamente significativo
estudo foram o delineamento transversal e sua dependência de
apenas nestes estados. (Total desordens de abuso de
voluntários para o levantamento (em contraste com o estudo
substância aumentou em ambos os casos, por mais ou menos
anterior por Hatzenbuehler e colegas). A metodologia de
semelhante quantidade). Tal como com o estudo do tipo
pesquisa também pode ter influenciado os resultados - os
transversal anterior, para a maioria das condições psiquiátricas
pesquisadores anunciaram em sites e através de anúncios de
investigadas não houve correlações significativas entre as
listagens de e-mail que eles estavam procurando entrevistados
condições e as políticas sociais que hipoteticamente poderiam
para um estudo sobre "atitudes e experiências de LGBT. . .
ter uma influência sobre os resultados de saúde mental.
indivìduos debatendo‖ sobre o casamento gay. Tal como
Algumas das limitações dos resultados do estudo
acontece com muitas formas de amostragem por conveniência,
observam que os autores incluem o seguinte: entrevistados
indivíduos com fortes atitudes em relação às questões sob
saudáveis LGB podem ter saído dos estados que
investigação na pesquisa podem ter sido mais propensos a
eventualmente tiveram alterações entre união nos estados que
responder.
não tiveram; orientação sexual só foi avaliada durante a Onda
Quanto aos efeitos de políticas específicas, a
2 de NESARC, e há uma certa fluidez a identidade sexual que
evidência é ambígua na melhor das hipóteses. O estudo de
podem ter levado a erros de classificação de alguns
2009 por Hatzenbuehler e colegas demonstraram significativas
entrevistados LGB; e o tamanho da amostra de respondentes
correlações entre o risco de alguns (embora não todos)
LGB que vivem em estados que passaram por alterações no
problemas em saúde mental nas políticas das subpopulações
casamento foi relativamente pequena, limitando o poder
estaduais LGB sobre crime de ódio e proteção do emprego.
estatístico do estudo.
Mesmo para os aspectos da saúde mental que este estudo constatou ser correlacionado com crimes de ódio ou de
59
proteção do emprego por políticas, o estudo não foi capaz de
parte, também podem ser responsáveis por algumas destas
mostrar uma relação epidemiológica entre as políticas e os
disparidades mentais de saúde, como a investigação tem
resultados de saúde.
mostrado consistentemente que os "sobreviventes de abuso sexual na infância tem significativamente risco de uma ampla gama de distúrbios médicos, psicológicos, comportamentais e
CONCLUSÃO O modelo de estresse social, provavelmente,
sexuais"116.
responsável por alguns dos pobres resultados em saúde
subpopulações não-heterossexuais ao ignorar ou minimizar os
mental de experimentados por minorias sexuais, embora as
riscos estatisticamente mais elevados de saúde mental
evidências apoiam que o modelo é limitado, inconsistente e
negativa ou os resultados que eles enfrentam, isso também é
incompleto. Alguns dos conceitos centrais do modelo, como a
um desserviço desatribuir as causas desses riscos elevados,
estigmatização, não são facilmente operacionalizados. Há
ou ignorar outros fatores potenciais que podem estar em
evidências que ligam algumas formas de maus tratos,
trabalho. Supondo-se que um único modelo para explicar todos
estigmatização e discriminação a alguns dos maus resultados
os riscos à saúde mental enfrentados pelos não-
de saúde mental experimentado por não-heterossexuais, mas
heterossexuais esse pode enganar os médicos e terapeutas
está longe de ser claro que estes fatores são responsáveis por
acusados de não ajudar está vulnerável subpopulação. O
todas as disparidades entre os heterossexuais e populações
modelo de estresse social merece mais pesquisas, mas não
não-heterossexuais. Esses maus resultados de saúde mental
deve ser assumindo ou oferecido como uma explicação
podem ser atenuados em certa medida através da redução dos
completa sobre as causas das disparidades de saúde mental,
estressores sociais, mas esta estratégia é improvável de
se os clínicos e os políticos querem respostas adequadas aos
eliminar todas as disparidades no estado de saúde mental
desafios de saúde mental enfrentados pela comunidade LGBT
entre as minorias sexuais e da população em geral. Outros
mais pesquisas são necessárias para explorar a causas e
fatores, tais como os elevados índices de vitimização por
soluções para este importante desafio em saúde pública.
Assim
como
se
faz
um
desserviço
para
abuso sexual entre a população LGBT discutidos na primeira
NOTAS
1. 2.
3.
Michael King et al ., ―A systematic review of mental disorder, suicide, and deliberate self-harm in lesbian, gay and bisexual people,‖ BMC Psychiatry 8 (2008): 70, http://dx.doi.org/10.1186/1471-244X-8-70. The researchers who performed this meta-analysis initially found 13,706 papers by searching academic and medical research databases, but after excluding duplicates and other spurious search results examined 476 papers. After further excluding uncontrolled studies, qualitative papers, reviews, and commentaries, the authors found 111 data-based papers, of which they excluded 87 that were not population-based studies, or that failed to employ psychiatric diagnoses, or that used poor sampling. The 28 remaining papers relied on 25 studies (some of the papers examined data from the same studies), which King and colleagues evaluated using four quality criteria: (1) whether or not random sampling was used; (2) the representativeness of the study (measured by survey response rates); (3) whether the sample was drawn from the general popula tion or from some more limited subset, such as university students; and (4) sample size. However, only one study met all four criteria. Acknowledging the inherent limitations and inconsistencies of sexual orientation concepts, the authors included information on how those concepts were operationalized in the studies analyzed —whether in terms of same-sex attraction (four studies), same-sex behavior (thirteen studies), self-identification (fifteen studies), score above zero on the Kinsey scale (three studies), two different definitions of sexual orientation (nine studies), three different definitions (one study). Eighteen of the studies used a specific time frame for defining the sexuality of their subjects. The studies were also grouped into whether or not they focused on lifetime or twelve-month prevalence, and whether the authors analyzed outcomes for LGB populations separately or collectively.( 11) 95% confidence interval: 1.87-3.28.
Os pesquisadores que realizaram esta meta-análise, inicialmente, encontraram 13.706 papéis, pesquisando bases de dados de pesquisa acadêmica e médica, mas após a exclusão de duplicatas e outros resultados de pesquisa espúrias analisaram 476 documentos. Após a exclusão de mais estudos não controlados, papéis qualitativos, revisões e comentários, os autores encontraram 111 papéis à base de dados, da qual eles excluídas 87 que não eram estudos de base populacional, ou que deixaram de empregar diagnósticos psiquiátricos, ou com má amostragem utilizada. Os 28 artigos restantes se basearam em 25 estudos (alguns dos papéis analisaram dados dos mesmos estudos), que King e seus colegas avaliaram utilizando quatro critérios de qualidade: (1) ou não foi utilizada amostragem aleatória; (2) a representatividade do estudo (medida pelas taxas de resposta aos inquéritos); (3) se a amostra foi tirada da população em geral ou de algum subconjunto mais limitado, como estudantes universitários; e (4) o tamanho da amostra. No entanto, apenas um estudo encontrou os quatro critérios. Reconhecendo as limitações inerentes e inconsistências de conceitos de orientação sexual, os autores incluíram informações sobre como esses conceitos foram operacionalizados nos estudos analisados - se em termos de atração pelo mesmo sexo (quatro estudos), o comportamento do mesmo sexo (treze estudos), auto- identificação (quinze estudos), a pontuação acima de zero na escala Kinsey (três estudos), duas definições diferentes de orientação sexual (nove estudos), três definições diferentes (um estudo). Dezoi to dos estudos utilizaram um prazo específico para a definição da sexualidade de seus sujeitos. Os estudos também foram agrupados em se ou não se concentraram em vida ou prevalência de doze meses, e se os autores analisaram os resultados para populações LGB separadamente ou coletivamente. 11
60
4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12. 13. 14. 15. 16. 17. 18. 19. 20. 21. 22. 23.
24. 25. 26. 27. 28. 29. 30. 31. 32. 33. 34. 35. 36. 37. 38. 39. 40. 41.
95% confidence interval: 1.69-2.48. 95% confidence interval: 1.23-1.92. 95% confidence interval: 1.23-1.86. 95% confidence interval: 1.97-5.92. 95% confidence interval: 2.32-7.88. Wendy B. Bostwick et al., ―Dimensions of Sexual Orientation and the Prevalence of Mood and Anxiety Disorders in the United States,‖ American Journal of Public Health 100, no. 3 (2010): 468-475, http://dx.doi.org/10.2105/AJPH.2008.152942. Ibid ., 470. The difference in health outcomes between women who identify as lesbians and women who report exclusive same-sex sexual behaviors or attractions is a good illustration of how the differences between sexual identity, behavior, and attraction matter. 12 Susan D. Cochran and Vickie M. Mays, ―Physical Health Complaints Among Lesbians, Gay Men, and Bisexual and Homosexually Exper ienced Heterosexual Individuals: Results from the California Quality of Life Survey,‖ American Journal of Public Health 97, no. 11 (2007): 2048-2055, http://dx.doi.org/10.2105/AJPH.2006.087254. Christine E. Grella et al ., ―Influence of gender, sexual orientation, and need on treatment utilization for substance use and mental disorders: Findin gs from the California Quality of Life Surv ey,‖ BMC Psychiatry 9, no. 1 (2009): 52, http://dx.doi.org/10.1186/1471-244X-9-52. Theo G. M. Sandfort et al ., ―Sexual Orientation and Mental and Physical Health Status: Findings from a Dutch Population Survey,‖ American Journal of Public Health 96, (2006): 1119-1125, http://dx.doi.org/10.2105%2FAJPH.2004.058891. Robert Graham et al. , Committee on Lesbian, Gay, Bisexual, and Transgender Health Issues and Research Gaps and Opportunities, Institute of Medicine, The Health of Lesbian, Gay, Bisexual, and Transgender People: Building a Foundation for Better Understanding (Washington, D.C.: The National Academies Press, 2011), http://dx.doi.org/10.17226/13128. Susan D. Cochran, J. Greer Sullivan, and Vickie M. Mays, ―Prevalence of Mental Disorders, Psychologi cal Distress, and Mental Health Services Use Among Lesbian, Gay, and Bisexual Adults in the United States,‖ Journal of Consulting and Clinical Psychology 71, no. 1 (2007): 53-61, http://dx.doi.org/10.1037/0022-006X.71.1.53. Lisa A. Razzano, Alicia Matthew s, and Tonda L. Hughes, ―Utilization of Mental Health Services: A Comparison of Lesbian and Heterosexual Women,‖ Journal of Gay & Lesbian Social Services 14, no. 1 (2002): 51-66, http://dx.doi.org/10.1300/J041v14n01_03. Robert Graham et al. , The Health of Lesbian, Gay, Bisexual, and Transgender People , 4. Ibid. , 190, see also 258-259. Ibid. , 211. Esther D. Rothblum and Rhonda Factor, ―Lesbians and Their Sisters as a Control Group: Demographic and Mental Health Factors,‖ Psychological Science 12, no. 1 (2001): 63-69, http://dx.doi.org/10.1111/1467-9280.00311. Stephen M. Horowitz, David L. Weis, and Molly T. Laflin, ―Bisexuality, Quality of Life, Lifestyle, and Health Indicators,‖ Journal of Bisexuality 3, no. 2 (2003): 528, http://dx.doi.org/10.1300/J159v03n02_02. By way of context, it may be worth noting that in the United States, the overall suicide rate has risen in recent years: ―Fro m 1999 through 2014, the ageadjusted suicide rate in the United States increased 24%, from 10.5 to 13.0 per 100,000 populations , with the pace of increase greater after 2006.‖ Sally C. Curtin, Margaret Warner, and Holly Hedegaard, ―Increase in suicide in the United States, 1999 -2014,‖ National Center for Health Statistics, NCHS data brief no. 241 (April 22, 2016), http://www.cdc.gov/nchs/products/databriefs/db241.htm. Ann P. Haas et al., ―Suicide and Suicide Risk in Lesbian, Gay, Bisexual, and Transgender Populations: Review and Recommendations,‖ Journal of Homosexuality 58, no. 1 (2010): 10-51, http://dx.doi.org/10.1080/00918369.2011.534038. Ibid ., 13. David M. Fergusson, L. John Horwood, and Annette L. Beautrais, ―Is Sexual Orientation Related to Mental Health Problems and S uicidality in Young People?‖ Archives of General Psychiatry 56, no. 10 (1999): 876-880, http://dx.doi.org/10.1001/archpsyc.56.10.876. Paul J. M. Van Kesteren et al ., ―Mortality and morbidity in transsexual subjects treated with cross -sex hormones,‖ Clinical Endocrinology 47, no. 3 (1997): 337343, http://dx.doi.org/10.1046/j.1365-2265.1997.2601068.x. Friedemann Pfäfflin and Astrid Junge, Sex Reassignment: Thirty Years of International Follow-Up Studies After Sex Reassignment Surgery: A Comprehensive Review, 1961-1991 , Roberta B. Jacobson and Alf B. Meier, trans. (Düsseldorf: Symposion Publishing, 1998), https://web.archive.org/web/20070503090247/http://www.symposion.com/ijt/pfaefflin/1000.htm. Jean M. Dixen et al., ―Psychosocial characteristics of applicants evaluated for surgical gender reassignment,‖ Archives of Sexual Behavior 13, no. 3 (1984): 269-276, http://dx.doi.org/10.1007/BF01541653. Robin M. Mathy, ―Transgender Identity and Suicidality in a Nonclinical Sample: Sexual Orientation, Psychiatric History, and Compulsive Behaviors,‖ Journal of Psychology & Human Sexuality 14, no. 4 (2003): 47-65, http://dx.doi.org/10.1300/J056v14n04_03. Yue Zhao et al ., ―Suicidal Ideation and Attempt Among Adolescents Reporting ‗Unsure‘ Sexual Identity or Heterosexual Identity Plus Same -Sex Attraction or Behavior: Forgotten Groups? ‖ Journal of the American Academy of Child & Adolescent Psychiatry 49, no. 2 (2010): 104-113,
http://dx.doi.org/10.1016/j.jaac.2009.11.003. Wendy B. Bostwick et al ., ―Dimensions of Sexual Orientation and the Prevalence of Mood and Anxiety Disorders in the United States.‖ Martin Plöderl et al., ―Suicide Risk and Sexual Orientation: A Critical Review,‖ Archives of Sexual Behavior 42, no. 5 (2013): 715-727, http://dx.doi.org/10.1007/s10508-012-0056-y. Ritch C. Savin-Williams, ―Suicide Attempts Among Sexual -Minor ity Youths: Population and Measurement Issues,‖ Journal of Consulting and Clinical Psychology 69, no.6 (2001): 983-991, http://dx.doi.org/10.1037/0022-006X.69.6.983. For females in this study, eliminating false positive attempts substantially decreased the difference between orientations. For males, the ―true suicide attempts‖ difference approached statistical significance: 2% of heterosexual males (1 of 61) and 9% of homosexual males (5 of 53) attempted suicide, resulting in an odds ratio of 6.2.( 13) Martin Plöderl et al., ―Suicide Risk and Sexual Orientation,‖ 716– 717. Ibid ., 723. Ibid . Richard Herrell et al ., ―Sexual Orientation and Suicidality: A Co -Twin Control Study in Adult Men,‖ Archives of General Psychiatry 56, no. 10 (1999): 867-874, http://dx.doi.org/10.1001/archpsyc.56.10.867. Ibid. , 872. Robin M. Mathy et al ., ―The association between relationship markers of sexual orientation and suicide: Denmark, 1990 -2001,‖ Social Psychiatry and Psychiatric Epidemiology 46, no. 2 (2011): 111-117, http://dx.doi.org/10.1007/s00127-009-0177-3.
A diferença nos resultados da saúde entre as mulheres que se identificam como lésbicas e mulheres que relatam comportamentos sexuais do mesmo sexo exclusivos ou atrações é um bom exemplo de como as diferenças entre os assuntos de identidade sexual, comportamento e atração. 13 Para as mulheres neste estudo, eliminando tentativas falsas positivas diminuiu substancialmente a diferença entre as orientações. Para os homens, a dferença nas "verdadeiras tentativas de suicídio" aproximou a significância estatística: 2% dos homens heterossexuais (1 de 61) e 9% dos homens homoafetivos (5 de 53) nas tentativas de suicídio, resultando em um odds ratio de 6,2. 12
61
42. 43. 44.
Gary Remafedi, James A. Farrow, and Robert W. Deisher, ―Risk Factors for Attempted Suicide in Gay and Bisexual Youth,‖ Pediatrics 87, no. 6 (1991): 869-
875, http://pediatrics.aappublications.org/content/87/6/869. Ibid. , 873.
Gary Remafedi, ―Adolescent Homosexuality: Psychosocial and Medical Implications,‖ Pediatrics 79, no. 3 (1987): 331-337,
http://pediatrics.aappublications.org/content/79/3/331. 45. 46. 47. 48. 49. 50. 51. 52. 53. 54. 55. 56. 57. 58. 59. 60. 61. 62. 63. 64. 65. 66. 67. 68. 69. 70. 71. 72. 73. 74. 75. 76. 77. 78.
79. 80. 81.
Martin Plöderl, Karl Kralovec, and Reinhold Fartacek, ―The Relation Between Sexual Orientation and Suicide Attempts in Austria,‖ Archives of Sexual Behavior
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Nowinski and Erica Bowen, ―Partner violence a gainst heterosexual and gay men: Prevalence and correlates,‖ Aggression and Violent Behavior 17, no. 1 (2012):36-52, http://dx.doi.org/10.1016/j.avb.2011.09.005. It is worth noting that the 54 studies that Nowinski and Bowen consider ope rationalize heterosexuality and homosexuality in various ways. Ibid. , 39. Ibid. , 50. Shonda M. Craft and Julianne M. Serovich, ―Family -of-Origin Factors and Partner Violence in the Intimate Relationships of Gay Men Who Are HIV Positive,‖ Journal of Interpersonal Violence 20, no. 7 (2005): 777-791, http://dx.doi.org/10.1177/0886260505277101. Catherine Finneran and Rob Stephenson, ―Intimate Partner Violence Among Men Who Have Sex with Men: A Systematic Review,‖ Trauma, Violence, & Abuse 14, no. 2(2013): 168-185, http://dx.doi.org/10.1177/1524838012470034. Ibid ., 180. Although one study reported just 12%, the majority of studies (17 out of 24) showed that physical IPV was at least 22%, with nine studies recording rates of 31% or more.( 15) Although Finneran and Stephenson say this measure was recorded in only six studies, the table they provide lists eight studies as measuring psychological violence, with seven of these showing rates 33% or higher, including five reporting rates of 45% or higher.( 16) Naomi G. Goldberg and Ilan H. Meyer, ―Sexual Orientation Disparities in History of Intimate Partner Violence: Results from the California Health Interview Survey,‖ Journal of Interpersonal Violence 28, no. 5 (2013): 1109-1118, http://dx.doi.org/10.1177/0886260512459384. Gregory L. Greenwood et al ., ―Battering Victimization Among a Probability -Based Sample of Men Who Have Sex with Men,‖ American Journal of Public Health 92, no. 12(2002): 1964-1969, http://dx.doi.org/10.2105/AJPH.92.12.1964. Ibid. , 1967. Ibid . Sari L. 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Kristen Clements-Nolle et al ., ―HIV Prevalence, Risk Behaviors, Health Care Use, and Mental Health Status of Transgender Persons: Implications for Public Health Intervention,‖ American Journal of Public Health 91, no. 6 (2001): 915-921, http://dx.doi.org/10.2105/AJPH.91.6.915. Ibid ., 919. See, for example, Ilan H. Meyer, ―Minority Stress and Mental Health in Gay Men,‖ Journal of Health and Social Behavior 36 (1995): 38-56, http://dx.doi.org/10.2307/2137286; Bruce P. Dohrenwend, ―Social Status and Psychological Disorder: An Issue of Substance and an Issue of Method,‖ American Sociological Review 31, no. 1 (1966): 14-34, http://www.jstor.org/stable/2091276. For overviews of the social stress model and mental health patterns among LGBT populations, see Ilan H. 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This should not be taken to suggest that social stress is too vague a concept for empirical social science; the social stress model may certainly produce quantitative empirical hypotheses, such as hypotheses about correlations between stressors and specific mental health outcomes. In this context, the term ―model‖ does not refer to a statistical model of the kind often used in social science research —the social stress model is a ―model‖ in a metaphorical sense. (17) Meyer, ―Prejudice, Social Stress, and Mental Health in Lesbian, Gay, and Bisexual Populations,‖ 676.
Para uma breve explicação sobre os pontos fortes e limitações da população- e amostragem baseada na comunidade, veja Embora um estudo relatou apenas 12%, a maioria dos estudos (17 em 24) mostrou que VPI física era pelo menos 22%, com nove estudos com gravação de taxas de 31% ou mais. 16 Embora Finneran e Stephenson digam que esta medida foi gravada em apenas seis estudos, a tabela forneceu listas de oito estudos de medição de violência psicológica, com sete desses que mostraram taxas de 33% ou superior, incluindo cinco doses de 45% ou mais relatórios. 17 Isso não deve ser tomado para sugerir que o estresse social é um conceito demasiado vago para a ciência social empírica; o modelo de estresse social pode certamente produzir hipóteses empíricas quantitativas, como hipóteses sobre as correlações entre estressores e resultados específicos de saúde mental. Neste contexto, o termo "modelo" não se refere a um modelo estatístico do tipo frequentemente utilizado em pesquisas o modelo de estresse social stress em ciência social é um "modelo" num sentido metafórico. 14 15
62
82.
83.
Meyer, ―Prejudice, Social Stress, and Mental Health in Lesbian, Gay, and Bisexual Populations,‖ 680; Gregory M. Herek, J. Roy Gillis, and Jeanine C. Cogan, ―Psychological Sequelae of Hate-Crime Victimization Among Lesbian, Gay, and Bisexual Adult s,‖ Journal of Consulting and Clinical Psychology 67, no. 6 (1999): 945-951, http://dx.doi.org/10.1037/0022- 006X.67.6.945; Allegra R. Gordon and Ilan H. Meyer, ―Gender Nonconformity as a Target of Prejudice, Discrimination, and Violence Against LGB Individuals,‖ Journal of LGBT Health Research 3, no. 3 (2008): 55-71, http://dx.doi.org/10.1080/15574090802093562; David M. Huebner, Gregory M. Rebchook, and Susan M. Kegeles, ―Experiences of Harassment, Discrimination, and Physical Violence Among Young Gay and Bisexual Men,‖ American Journal of Public Health 94, no. 7(2004): 1200-1203, http://dx.doi.org/10.2105/AJPH.94.7.1200; Rebecca L Stotzer, ―Violence against transgender people: A review of United States data,‖ Aggression and Violent Behavior 14, no. 3 (2009): 170-179, http://dx.doi.org/10.1016/j.avb.2009.01.006; Rebecca L. Stotzer, ―Gender identity and hate crimes: Violence against transgender people in Los Angeles County,‖ Sexuality Research and Social Policy 5, no. 1 (2008): 43-52, http://dx.doi.org/10.1525/srsp.2008.5.1.43. Stotzer, ―Gender identity and hate crimes,‖ 43 -52; Emilia L. Lombardi et al ., ―Gender Violence: Transgender Experiences with Violence and Discrimination,‖ Journal of Homosexuality 42, no. 1 (2002): 89-101, http://dx.doi.org/10.1300/J082v42n01_05; Herek, Gillis, and Cogan, ―Psychological Sequelae of Hate Crime Victimization Among Lesbian, Gay, and Bisexual Adults,‖ 945 -951; Huebner, Rebchook, and Kegeles, ―Experiences of Harassment, Discrimination, and Physical Violence Among Young Gay and Bisexual Men,‖ 1200 -1203; Anne H. Faulkner and Kevin Cranston, ―Correlates of same-sex sexual behavior in a random sample of Massachusetts high school students,‖ American Journal of Public Health 88, no. 2 (1998): 262-266,
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64
PARTE TRÊS - IDENTIDADE DE GÊNERO O conceito de sexo biológico está bem definido, com base nos papéis binários que homens e mulheres desempenham na reprodução. Por outro lado, o conceito de gênero não é bem definido. É geralmente utilizado para referir comportamentos e atributos psicológicos que tendem a ser típico de um dado sexo. Alguns indivíduos se identificam como um gênero que não corresponde ao seu sexo biológico. As causas de tal identificação com o gênero oposto permanecem pouco compreendidas. Pesquisa investigando se esses indivíduos transgêneros têm certas características fisiológicas ou experiências em comum com o sexo oposto, tais como estruturas cerebrais ou exposições hormonais pré-natais atípicas, tem sido até agora inconclusiva. Disforia de gênero - um senso de incongruência entre o próprio sexo biológico e o seu gênero, acompanhado de sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo - às vezes é tratado em adultos com hormônios ou cirurgia, mas há pouca evidência científica de que essas intervenções terapêuticas têm benefícios psicológicos. A ciência tem mostrado que as questões de identidade de gênero nas crianças geralmente não persistem na adolescência ou na idade adulta, e há pouca evidência científica para o valor terapêutico dos tratamentos para retardar a puberdade. Estamos preocupados com a crescente tendência para encorajar crianças com problemas de identidade de gênero para a transição do seu gênero preferido através de procedimentos médicos e cirúrgicos. Há uma clara necessidade de mais pesquisas nessas áreas.
Como descrito na Parte Um, há uma crença generalizada de que a orientação sexual é um conceito bem definido, e que é inata e fixada em cada pessoa - como muitas vezes é colocado, gays são pessoas que "nasceram assim". Outro emergente ponto de vista relacionado é que a identidade de gênero - o sentido subjetivo, interno de ser um homem ou uma mulher (ou alguma outra categoria de gênero) - também é corrigido no nascimento ou em uma idade muito precoce e pode divergir de uma pessoa do seu sexo biológico. No caso das crianças, este é por vezes articulado, dizendo que um garotinho pode ser preso no corpo de uma menina, ou viceversa. Na primeira parte, argumentamos que a pesquisa científica não dá muito suporte à hipótese de que a orientação sexual é inata e fixa. Nós discutiremos aqui, da mesma forma, que há pouca evidência científica de que a identidade de gênero é fixada no nascimento ou em uma idade precoce. Embora o sexo biológico é inato, e identidade de gênero e sexo biológico se relacionam de maneiras complexas, eles não são idênticos; gênero às vezes é definido ou expresso de maneiras que tem pouca ou nenhuma base biológica.
atributos físicos, tais como cromossomos, prevalência hormonal e anatomia externa e interna. Gênero refere-se aos papéis socialmente construídos, comportamentos, atividades e atributos que uma determinada sociedade considera apropriado para meninos e homens ou meninas e mulheres. Estes influenciam a maneira como as pessoas agem, interagem, e sentem sobre si mesmos. Enquanto os aspectos do sexo biológico são semelhantes através de diferentes culturas, aspectos de gênero podem diferir 1.
Esta definição aponta para o fato óbvio de que existem normas sociais para homens e mulheres, normas que variam em diferentes culturas e que não são simplesmente determinadas pela biologia. Mas vai mais longe ao considerar que gênero é totalmente "construído socialmente" - que está separado do sexo biológico. Esta ideia tem sido uma parte importante de um movimento feminista de reforma ou de eliminar papéis tradicionais de gênero. No livro feminista clássico O Segundo Sexo (1949), Simone de Beauvoir escreveu que "não se nasce, mas torna-se uma mulher"2. Essa noção é uma versão inicial do agora familiar distinção entre o sexo como uma designação biológica e de gênero como uma construção cultural: embora se nasce, como a APA explica, com "cromossomos, prevalência hormonal e anatomia externa e interna" de uma fêmea, um é socialmente condicionado a assumir os "papéis, comportamentos, atividades e atributos" de uma mulher. Desenvolvimentos na teoria feminista, na segunda
Conceitos-chave e suas origens Para esclarecer o que se entende por "gênero" e
metade do século XX solidificou ainda mais a posição de que o
"sexo", começamos com uma ampla definição utilizada, aqui
gênero é construído socialmente. Um dos primeiros a usar o
citado de um panfleto publicado pela American Psychological
termo "gênero" como distinto do sexo nas literaturas em
Association (APA):
ciências sociais foi Ann Oakley em seu livro de 1972, Sexo, Gênero e Sociedade3. No Livro de 1978 ―Gender: An
Sexo é atribuído à nascença, refere-se a um estado biológico como macho ou fêmea, e está principalmente associado com
Ethnomethodological Approach‖, as professoras de psicologia
65
Suzanne Kessler e Wendy McKenna argumentaram que "o
verdadeiro e autêntico", uma parte importante dos quais é "a
gênero é uma construção social, que um mundo de dois 'sexos'
expressão de gênero"11. As opções incluem sem-gênero,
é um resultado do socialmente compartilhado, tomado para os
muitas variantes cis e trans, gênero fluido, gênero questionado,
métodos concedidos que membros usam para construir a
nenhum, outro, pangênero e dois-espíritos12.
realidade"4.
Se Judith Butler estava correta ou não na descrição
A antropóloga Gayle Rubin expressa uma visão
tradicional d os papéis de gêneros de homens e mulheres
semelhante, escrita em 1975 que "gênero é uma divisão
como "performativa", sua teoria do gênero como um "Artifício
imposta socialmente dos sexos. É um produto das relações
de livre flutuação" parece descrever esta nova taxonomia do
sociais de sexualidade"5. De acordo com seu argumento, se
gênero. Como estes termos multiplicam e seus significados se
não fosse por esta imposição social, ainda teriam machos e
tornam mais individualizados, perdemos qualquer conjunto de
fêmeas, mas não "homens" e "mulheres". Além disso, Rubin
critérios comuns para a definição de distinções que gênero
argumenta, se os papeis de gênero tradicional são socialmente
significa. Se o gênero é inteiramente separado do binário do
construídos, então, estes podem também ser desconstruídos, e
sexo biológico, gênero poderia vir para se referir a qualquer
nós podemos eliminar a "sexualidade obrigatória e papéis
distinção no comportamento, atributos biológicos, ou traços
sexuais" e criar uma sociedade andrógena e sem-gênero
psicológicos, e cada pessoa poderia ter um sexo definido pela
(embora não sem sexo), em que sua anatomia sexual é
combinação única de características que a pessoa possui. Este
irrelevante para quem se é, o que se faz e com quem se faz
reductio ad absurdum é oferecido para apresentar a
amor"6.
possibilidade de que a definição de gênero também A relação entre a teoria do gênero e a desconstrução
ou derrocada de papéis tradicionais de gênero torna-se ainda
amplamente poderia conduzir a uma definição que tem pouco significado.
mais clara nas obras da teórica feminista influente Judith
Em alternativa, a identidade de gênero pode ser
Butler. Em obras como ―Problemas de Gênero: Feminismo e
definida em termos de características sexuais típicas e
subversão da identidade‖ (1990)7 e ―Anulação do Gênero‖
comportamentos, de modo que sendo um menino significa
(2004)8 Butler avança o que ela descreve como "teoria de
comportar da maneira como geralmente se comportam - como
performatividade", segundo a qual ser uma mulher ou um
se envolver em jogo áspero-e-queda e expressar interesse em
homem não é algo que um é, mas algo que se faz. "Gênero
esportes e gostar de armas de brinquedo mais do que
não é nem o resultado causal do sexo, nem tão aparentemente
bonecas. Mas isso implicaria que um menino que brinca com
fixado quanto o sexo", como ela dizia9. Pelo contrário, o gênero
bonecas, odeia armas, e abster-se de esporte ou jogo áspero-
é uma condição construída radicalmente independente da
e-queda pode ser considerado como uma menina, ao invés de
biologia ou traços corporais‖, um artifício de livre flutuação,
simplesmente um menino que representa uma exceção para os
com a consequência de que o homem e a força masculina tão
padrões típicos de comportamento masculino. A capacidade de
facilmente significativo um corpo feminino como num homem, e
reconhecer exceções ao típico comportamento do sexo se
mulher e feminino num corpo masculino tão facilmente quanto
baseia em uma compreensão de masculinidade e feminilidade
uma mulher"10.
que é independente destes comportamentos sexuais
Deste ponto de vista, que o gênero e, portanto, a
apropriados e estereotipados. A subjacente base de
identidade de gênero é fluida e plástica, e não
masculinidade e feminilidade é a distinção entre os papéis
necessariamente binárias, recentemente se tornou mais
reprodutivos dos sexos; em mamíferos tais como seres
proeminente na cultura popular. Um exemplo é o movimento do
humanos, a fêmea gesta a prole e o macho fecunda a fêmea.
Facebook em 2014 para incluir 56 novas maneiras para os
Mais universalmente, o macho da espécie fertiliza os óvulos
usuários descrevem seu gênero, para além das opções de
fornecidos pela fêmea das espécies. Esta base conceitual para
masculino e feminino. Como Facebook explica, as novas
papéis sexuais é binária e estável, e permite-nos distinguir os
opções permitem ao usuário "sentir confortável sendo o seu eu
machos das fêmeas em razão dos seus reprodutivos sistemas,
66
mesmo quando esses indivíduos exibem comportamentos que
sexo dos animais é o seu papel na reprodução, e não alguma
não são típicos de machos ou fêmeas.
outra característica comportamental ou biológica.
Para ilustrar como as funções de reprodução definem
Outro exemplo que, neste caso, apenas parece ser
as diferenças entre os sexos, mesmo quando o comportamento
comportamento típico do sem-sexo é o de Thomas Beatie, que
parece ser atípico para o sexo em particular, considere dois
ganhou as manchetes como um homem que deu à luz três
exemplos, uma a partir da diversidade do reino animal, e uma a
filhos entre 2008 e 201015. Thomas Beatie nasceu mulher,
partir da diversidade do comportamento humano. Primeiro,
Tracy Lehuanani LaGondino, e passou por uma cirurgia e
olhamos para o pinguim imperador. Pinguins imperador do
transformação para viver com um homem antes de decidir ter
sexo masculino fornecem mais cuidado para os ovos do que
filhos. Porque os procedimentos médicos que se submeteu não
fazem as fêmeas, e, neste sentido, o pinguim imperador do
envolveu a remoção de seus ovários ou útero, Beatie era
sexo masculino poderia ser descrito como mais maternal do
capaz de gerar filhos. O Estado do Arizona reconheceu
que a fêmea13. No entanto, reconhecemos que o pinguim-
Thomas Beatie como o pai de seus três filhos, mesmo que,
imperador macho não é, de fato, do sexo feminino, mas sim
biologicamente, ele sendo a sua mãe. Ao contrário do caso de
que a espécie representa uma exceção à regra geral, mas não
o pinguim macho ser ostensivamente materno, o
universal, tendência entre animais para as mulheres fornecer
comportamento parenta "feminino", a capacidade de Beatie ter
mais cuidado do que os homens para a prole. Reconhecemos
filhos não representa uma exceção à incapacidade normal dos
isso porque comportamentos sexuais típicos como o cuidado
machos para ter filhos. A rotulagem de Beatie como um
parental não definem os sexos; o papel do indivíduo na
homem apesar de ser biologicamente feminina é uma decisão
reprodução sexual faz.
pessoal, social e jurídica que foi feita sem qualquer base na
Mesmo outras características biológicas sexuais típicas, como cromossomos, não são necessariamente úteis
biologia; absolutamente nada na biologia sugere que Thomas Beatie é um homem.
para a definição de sexo de uma maneira universal, como o
Em biologia, um organismo é homem ou mulher, se
exemplo do pinguim ilustra ainda mais. Tal como acontece com
ele está estruturado para realizar um dos respectivos papéis na
outras aves, a genética de determinação do sexo no pinguim
reprodução. Esta definição não necessita de qualquer
imperador é diferente do que a genética de determinação
característica física mensurável arbitraria ou quantificáveis ou
sexual nos mamíferos e muitos outros animais. Em humanos,
comportamentos; isto requer a compreensão do sistema
os machos têm cromossomos XY e as fêmeas têm
reprodutivo e o processo de reprodução. Diferentes animais
cromossomos XX; que é, os machos têm um cromossomo
têm sistemas reprodutivos diferentes, mas a reprodução
único determinante do sexo que não compartilham com as
sexuada ocorre quando as células sexuais do macho e fêmea
fêmeas, enquanto as fêmeas têm duas cópias de um
de uma espécie se juntam para formar embriões recém-
cromossomo que eles compartilham com os machos. Mas em
fertilizado. Estes papéis reprodutivos que fornecem a base
aves, do sexo feminino, e não os machos, que têm e
conceitual para a diferenciação de animais nas categorias
transmitem o cromossoma sexo-específico14. Assim como a
biológicas de macho e fêmea. Não há nenhuma outra
observação de que os pinguins imperador do sexo masculino
classificação biológica amplamente aceita para os sexos.
alimentam a sua prole mais do que os seus parceiros não
Mas esta definição da categoria biológica do sexo não
levou zoólogos a concluir que o membro da espécie de
é universalmente aceita. Por exemplo, o filósofo e estudioso
pinguins imperador era na verdade o homem, a descoberta do
legal Edward Stein mantém que a infertilidade representa um
sistema de determinação do sexo ZW em aves não desafiou
problema crucial para a definição de sexo em termos dos
geneticistas ao reconhecimento na velhice de que as galinhas
papéis reprodutivos, escrevendo que o sexo definido em
são fêmeas e galos são machos. A única variável que serve
termos desses papéis geraria "homens inférteis como
como a base fundamental e confiável para biólogos distinguir o
fêmeas"16. Uma vez que um macho estéril não pode desempenhar o papel reprodutivo para que os machos são
67
estruturados, e uma mulher infértil não pode desempenhar o
Money da Universidade Johns Hopkins em o tratamento de
papel reprodutivo pela qual as fêmeas são estruturadas, de
crianças "intersex " (o termo usado então era "hermafroditas")17.
acordo com essa linha de pensamento, a definição de sexo em
Money postulou que a identidade de gênero, pelo menos para
termos de papeis de reprodução não seria apropriada, como
estas crianças, era fluida e que podia ser construída. Em sua
homens inférteis seriam classificados como fêmeas, e as
mente, fazer com que uma criança se identificasse com um
fêmeas inférteis como machos. No entanto, enquanto um
gênero só era necessário a construção da genitália sexual
sistema reprodutivo estruturado servir uma função reprodutiva
típica e a criação de um ambiente de gênero adequado para a
em particular pode ser prejudicado de um modo tal que não
criança. O gênero escolhido para essas crianças muitas vezes
pode desempenhar a sua função, o sistema ainda é
era o feminino - uma decisão que não foi baseada na genética
reconhecidamente estruturado para que o papel, de modo que
ou biologia, nem na crença de que estas crianças eram
o sexo biológico possa ainda ser definido estritamente em
"realmente" meninas, mas, em parte, o fato de que no
termos da estrutura dos sistemas reprodutivos. Uns pontos
momento em que era mais fácil cirurgicamente construir uma
semelhantes podem ser feitos sobre os casais heterossexuais
vagina, do que construir um pênis.
que não escolhem reproduzir por qualquer variedade de
O paciente mais conhecido do Dr. Money foi David
razões. Os sistemas reprodutivos masculino e feminino são
Reimer, um menino que não nasceu com uma condição
geralmente claramente reconhecíveis, independentemente de
intersexual, mas cujo pênis era danificado durante a
serem ou não utilizados para fins de reprodução.
circuncisão infantil18. David foi criado por seus pais como uma
A seguinte analogia ilustra como um sistema pode ser
menina chamada Brenda, com intervenções, tanto cirúrgicas
reconhecido como tendo uma finalidade específica, mesmo
como hormonais, para garantir que ele desenvolveria
quando esse sistema é disfuncional de uma maneira que o
características de sexo típico femininas. No entanto, a tentativa
torna incapaz de levar a cabo o seu propósito: olhos são
de esconder do filho o que tinha acontecido com ele não foi
órgãos complexos que funcionam como processadores de
bem-sucedida e ele se identificou como um menino, e,
visão. No entanto, existem numerosas condições que afetam o
eventualmente, com a idade de 14, seu psiquiatra recomendou
olho e que podem prejudicar a visão, resultando em cegueira.
a seus pais que eles lhe dissessem a verdade. David, em
Os olhos dos cegos ainda são órgãos reconhecidamente
seguida, começou o difícil processo de reversão das
estruturados para a função de visão. Quaisquer deficiências
intervenções hormonais e cirúrgicas que tinham sido realizadas
que resultam em cegueira não afetam o objetivo do olho - não
para feminizar o corpo dele. Mas ele continuou a ser
mais do que usar uma venda nos olhos - mas apenas a sua
atormentado por seu calvário de infância, e tirou a própria vida
função. O mesmo é verdade para o sistema reprodutivo.
em 2004, com a idade de 38 anos.
Infertilidade pode ser causada por diversos problemas. No
David Reimer é apenas um exemplo dos danos
entanto, o sistema reprodutivo continua a existir com a
causados pelas teorias que identidade de gênero que podem
finalidade de gerar filhos.
socialmente e medicamente ser realocados em crianças. Em
Há pessoas, no entanto, que são biologicamente
um paper de 2004, William G. Reiner, um urologista pediátrico
"intersex ", significando que a sua anatomia sexual é ambígua,
e psiquiatra de criança e adolescentes e John P. Gearhart,
geralmente por razões de anormalidades genéticas. Por
professor de urologia pediátrica, acompanharam as identidades
exemplo, o clitóris e o pénis são derivados das mesmas
sexuais de 16 homens geneticamente afetados por cloacal
estruturas embrionárias. Um bebê pode apresentar um clitóris
exstrophy - uma condição que envolve uma bexiga e genitais
anormalmente grande ou um pénis anormalmente pequeno,
malformados. Dos 16 pacientes, 14 foram atribuídos sexo
fazendo com que seu sexo biológico seja difícil para determinar
feminino no nascimento, recebendo intervenções cirúrgicas
tempo após o nascimento.
para a construção de órgãos genitais femininos, e foram
O primeiro artigo acadêmico a usar o termo "gênero"
criados como meninas pelos seus pais; 6 destes 14 depois
parece ser o paper de 1955 do professor de psiquiatria John
escolheram viver como machos, enquanto que 5 continuaram
68
se identificar como fêmeas e 2 machos declararam-se homens
o antigo chefe de psiquiatria do Hospital Johns Hopkins (e co-
numa jovem idade, mas continuaram a ser tratados como as
autor deste relatório), sugeriu:
fêmeas, porque seus pais rejeitaram as declarações das crianças. Os pacientes restantes, que tinham dito aos 12 anos que nasceram do sexo masculino, se recusaram a discutir sua identidade sexual19. Assim, a atribuição do sexo feminino persistiu em apenas 5 dos 13 casos com resultados conhecidos. Esta falta de persistência em algumas evidências de
Nós, no Departamento de Psiquiatria Johns Hopkins, eventualmente, concluímos que a identidade sexual humana é em grande parte construída em nossa constituição pelos genes que herdamos e embriogênese que passamos. Hormônios masculinos sexualizam o cérebro e a mente. Disforia sexual um senso de inquietação no próprio papel sexual - ocorre naturalmente entre aqueles raros homens que são levantados como fêmeas em um esforço para corrigir um problema estrutural genital infantil 20.
que a atribuição de sexo através da construção genital ao nascer com a imersão em um ambiente "gênero apropriado" não é provável que seja uma boa opção para gerir o problema raro de ambiguidade genital de defeitos de nascimento. É importante notar que as idades desses indivíduos no último acompanhamento variaram de 9 a 19, por isso, é possível que
Vamos agora voltar nossa atenção para os indivíduos transgêneros - crianças e adultos - que escolhem identificar como um gênero diferente do seu sexo biológico, e explorar o significado da identidade de gênero neste contexto e o que a literatura científica nos diz sobre o seu desenvolvimento.
alguns deles possam ter posteriormente mudado suas identidades de gênero. A pesquisa de Reiner e Gearhart indica que o gênero não é arbitrário; ele sugere que um homem biológico (ou fêmea) provavelmente não virá identificar como um gênero oposto, depois de ter sido alterado fisicamente e imerso no ambiente típico do gênero correspondente. A plasticidade do gênero parece ter um limite. O que está claro é que o sexo biológico não é um conceito que pode ser reduzido a, ou artificialmente atribuído com base, no tipo de órgãos genitais externos por si só. Cirurgiões estão se tornando mais hábeis em construir genitália artificial, mas esses complementos não alteraram o sexo biológico dos destinatários, que não são mais hábeis de jogar os papéis reprodutivos do sexo biológico oposto do que eram, sem a cirurgia. Nem mudança de sexo biológico como uma função do ambiente fornecido para a criança. Nenhum grau de apoio a um pequeno menino na conversão pode ser considerado, por ele próprio e outros, para ser uma pequena menina faz dela biologicamente uma menina. A definição científica do sexo biológico é, para quase todos os seres humanos, claro, binária, e estável, refletindo uma realidade biológica subjacente que não é contrariada por exceções ao comportamento sexual típico, e não pode ser alterada por cirurgia ou condicionamento social. Em um artigo de 2004 resumindo os resultados de pesquisas relacionadas as condições intersexo, Paul McHugh,
Disforia de gênero Enquanto o sexo biológico é, com pouquíssimas exceções, uma estrutura bem definida, traço binário (masculino versus feminino) correspondente à forma como o corpo é organizado para reprodução, identidade de gênero é um atributo mais subjetivo. Para a maioria das pessoas, a sua própria identidade de gênero não é provavelmente uma preocupação significativa; a maioria dos homens biológicos identificam como meninos ou homens, e a maioria das mulheres biológicas identificar como as meninas ou mulheres. Mas alguns indivíduos experimentam uma incongruência entre seu sexo biológico e sua identidade de gênero. Se esta luta os provocas a procurar ajuda profissional, então o problema é classificado como "disforia de gênero". Algumas crianças do sexo masculino tratadas como fêmeas, conforme descrito no estudo de Reiner e colegas de 2004, vieram experienciar problemas com a sua identidade de gênero quando o seu sentido subjetivo de serem meninos em conflito como sendo identificado e tratado como meninas por seus pais e médicos. O sexo biológico dos garotos não estava em questão (estes tinham um genótipo XY), e a causa de disforia de gênero reside no fato de que eles eram geneticamente do sexo masculino, vieram a se identificar como homem, mas tinha sido atribuído identidades de gênero femininas. Isto sugere que a identidade de gênero pode ser um
69
complexo e oneroso problema para aqueles que escolhem (ou
disforia de gênero exige que o paciente adicionalmente
terem outros que escolhem para eles) uma identidade de
experimente um "sofrimento clinicamente significativo ou
gênero oposta seu sexo biológico.
prejuízo no funcionamento social, ocupacional ou outras áreas
Mas os casos de disforia de gênero que são o assunto
importantes de funcionamento" associados a estes sentimentos
de muitos debates públicos são aqueles em que as pessoas
incongruentes25. Assim, o grande conjunto de critérios de
passam a se identificar com gêneros diferentes daqueles com
diagnóstico utilizado em psiquiatria contemporânea não
base no seu sexo biológico. Essas pessoas são normalmente
designa todos os indivíduos transgêneros como tendo uma
identificados, e descrevem a si mesmos, como "transgênero"18.
desordem psiquiátrica. Por exemplo, um homem biológico que
De acordo com a American Psychiatric Association na
se identifica como uma mulher não é considerado como tendo
quinta edição do Manual Diagnóstico e Estatístico de
um transtorno psiquiátrico menor que o indivíduo que está
Transtornos Mentais (DSM-5), disforia de gênero é marcada
experimentando
por "incongruência entre seu gênero experienciado/expressado
incongruência. Um diagnóstico de disforia de gênero pode ser
e gênero atribuído", bem como "significativo sofrimento clinico
parte dos critérios utilizados para justificar a cirurgia de
ou prejuízo em áreas sociais, ocupacionais ou outras
reatribuição sexual ou outras intervenções clinicas. Além disso,
importantes áreas de funcionamento"21.
um paciente que tenha tido modificações médicas ou cirúrgicas
significativas
dores
psicossociais,
na
É importante esclarecer que a disforia de gênero não
para expressar a sua identidade de gênero ainda pode sofrer
é o mesmo que inconformidade de gênero ou transtorno de
de disforia de gênero. É a natureza da luta que define o
identidade de gênero. Inconformidade de gênero descreve um
distúrbio, não o fato de que o gênero expressado difere do
indivíduo que se comporta de forma contrária às normas
sexo biológico.
específicas de gênero de seu sexo biológico. Como o DSM-5
Não há nenhuma evidência científica de que todas as
nota, a maioria dos travestis, por exemplo, não são
pessoas transgêneras têm disforia de gênero, ou que todos
transgêneros - homens que se vestem como as mulheres
eles estão lutando com suas identidades de gênero. Alguns
normalmente não se identificam como as mulheres22 (No
indivíduos que não são transgêneros - ou seja, que não se
entanto, certas formas de travestismo podem ser associadas
identificam como um gênero que não corresponde com seu
com a disforia de gênero de início tardio23).
sexo biológico - poderiam, no entanto, lutar com sua identidade
Transtorno de identidade de gênero, um termo
de gênero; por exemplo, meninas que se comportam de certa
obsoleto que a partir de uma versão anterior do DSM foi
forma como macho-típico podem experimentar várias formas
removido na sua quinta edição, foi usado como um diagnóstico
de sofrimento sem nunca chegar a se identificar como rapaz.
psiquiátrico. Se compararmos os critérios diagnósticos para
Por outro lado, os indivíduos que se identificam como um
disforia de gênero (atual termo em curso) e transtorno de
gênero que não corresponde com seu sexo biológico não
identidade de gênero (o antigo termo), vemos que ambos
podem experimentar sofrimento clinicamente significativo
exigem que o paciente venha a apresentar "uma incongruência
relacionado a sua identidade de gênero. Mesmo que apenas,
marcante entre seu gênero experienciado/expressado e gênero
digamos, 40% dos indivíduos que se identificam como um
atribuído"24. A principal diferença é em que um diagnóstico de
gênero que não corresponde com a sua experiência sexual biológica ou angústia significativa relacionada à sua identidade
Uma nota sobre terminologia: Neste relatório, geralmente usamos o termo transgênero para se referir a pessoas para quem não há uma incongruência entre a identidade de gênero eles mesmos entendem possuir e o seu sexo biológico. Nós usamos o transexual termo para se referir a pessoas que tenham sido submetidos intervenções médicas para transformar sua aparência para corresponder melhor com a de seu gênero preferido. O termo coloquial mais familiar usada para descrever as intervenções médicas que transformar o aparecimento de indivíduos transgênero podem ser "mudança de sexo" (ou, no caso de cirurgia, "Operação de mudança de sexo"), mas isso não é geralmente utilizado na literatura científica e médica hoje. Embora não termos simples para estes procedimentos são totalmente satisfatórios, neste relatório empregam a reatribuição termos sexo e de reatribuição sexual cirurgia comumente usado, excepto quando citando uma fonte que usa "mudança de gênero" ou algum outro termo. 18
de gênero, isto constituiria um problema público de saúde que exige médicos e outros a agir para apoiar as pessoas com disforia de gênero, e espero que, para reduzir a taxa de disforia de gênero na população. Não há evidência para sugerir que os outros 60% neste hipotético - ou seja, os indivíduos que se identificam como um gênero que não corresponde com seu
70
sexo biológico, mas que não experimentam aflição significativa
ignorar o fato de que uma criança poderia exibir um gênero
- exigiria tratamento clínico.
expresso - manifestado por traços sociais ou comportamentais
O
conceito
subjetivamente
da
DSM
de
- incongruentes com o sexo biológico da criança, mas sem
"experienciando" em gênero é incongruente do sexo biológico
identificação com o gênero oposto. Além disso, mesmo para
que pode exigir em sua análise mais crítico e possível
crianças que se identificam como um gênero oposto do seu
modificação. A definição exata de disforia de gênero, por mais
sexo biológico, os diagnósticos de disforia de gênero são
bem-intencionada, é um pouco vaga e confusa. Ela não
simplesmente não confiáveis. A realidade é que eles podem ter
considera os indivíduos que se auto identificam como
dificuldades psicológicas em aceitar seu sexo biológico como o
transgêneros, mas não tem experiência em disforia associados
seu gênero. As crianças podem ter dificuldade com as
à sua identidade de gênero e que procuram cuidados
expectativas associadas com os papéis de gênero.
psiquiátricos para comprometimento funcional para problemas
Experiências traumáticas também podem causar uma criança a
não relacionados à sua identidade de gênero, tais como
expressar angústia com o gênero associado com o sexo
ansiedade ou depressão. Eles podem então estar
biológico dele ou dela.
erroneamente como tendo disforia de gênero simplesmente
Problemas de identidade de gênero também podem
porque eles têm um desejo de ser identificado como gênero
surgir com condições intersexuais (a presença de genitália
oposto, quando eles chegaram a uma satisfatória resolução,
ambígua devido a anomalias genéticas), o que foi discutido
subjetivamente, com esta incongruência e pode estar
anteriormente. Esses distúrbios do desenvolvimento sexual,
deprimido por razões que não têm nada a ver com sua
apesar de raros, podem contribuir para a disforia de gênero em
identidade de gênero.
alguns casos28. Algumas destas condições incluem a completa
Os critérios do DSM-5 para um diagnóstico de disforia
síndrome de insensibilidade do andrógena, onde indivíduos
de gênero em crianças são definidos da "mais concreta,
com XY (sexo masculino) os cromossomos não possuem
comportamental maneira do que aqueles para adolescentes e
receptores para hormônios sexuais masculinos, levando-os a
adultos"26. Isto é para dizer que alguns dos critérios
desenvolver as características sexuais secundárias de fêmeas,
diagnósticos para disforia de gênero em crianças referem-se a
em vez disso os homens (embora eles não tendo ovários, não
comportamentos que são estereotipicamente associados ao
menstruem, e são, consequentemente, estéreis)29. Outro
gênero oposto. Sofrimento clinicamente significativo ainda é
distúrbio hormonal do desenvolvimento sexual que pode levar
necessário para o diagnóstico de disforia de gênero em
a indivíduos em desenvolvimento de formas que não são
crianças, mas alguns dos outros critérios de diagnóstico
típicas de seu sexo genético incluem hiperplasia adrenal
incluem, por exemplo, uma "forte preferência pelos brinquedos,
congênita, uma condição que pode chegar a masculinização de
jogos ou atividades estereotípicamente usado ou praticado por
fetos XX (feminino)30. Outros fenômenos raros, como
outro gênero"27. O que de meninas que são "tomboys19" ou
mosaicismo genético31 ou quimerismo32, onde algumas células
meninos que não são orientados para a violência e armas, que
em órgãos dos indivíduos contêm XX e outros contêm
preferem jogos mais silenciosos? Os pais devem se preocupar
cromossomas XY, podem levar a considerável ambiguidade
que sua filha tomboy é realmente um garoto preso no corpo de
em características sexuais, incluindo indivíduos que possuem
uma menina? Não há base científica para acreditar que jogar
ambas gônadas masculinas e femininas.
com os brinquedos típicos de meninos define a criança como
Embora haja muitos casos de disforia de gênero que
um menino, ou que o brincar com os brinquedos típicos de
não estão associados com estas condições intersexuais
meninas define uma criança como uma menina. O critério
identificáveis, disforia de gênero pode ainda representar um
DSM-5 para o diagnóstico de disforia de gênero por referência
tipo diferente de condição intersexual em que as principais
aos brinquedos típicos do gênero típico é infundada; parece
características sexuais, tais como genitália desenvolvida normalmente enquanto características secundárias sexuais
Tomboy no dicionário significa: menina que apresenta características e comportamentos considerados tipicamente masculinos. 19
associadas com o cérebro desenvolvem ao longo das linhas do
71
sexo oposto. Existe controvérsia sobre influências que determinam as diferenças na natureza de doenças neurológicas, psicológicas e sexuais comportamentais. O emergente consenso é que pode haver algumas diferenças nos
Gênero e Fisiologia Robert Sapolsky, um professor de biologia da Stanford
padrões de desenvolvimento neurológico intra ou extra útero
que fez uma extensa pesquisa com neuroimagem, sugere uma
para homens e mulheres33. Portanto, em teoria, indivíduos
possível explicação neurobiológica para a identificação com o
transgêneros poderiam estar sujeitos a condições que
gênero oposto em um artigo de 2013 no Wall Street Journal ,
permitam desenvolver um cérebro tipo de fêmea dentro de um
"Presos entre macho e fêmea". Ele afirmou que os estudos de
macho genético (tendo o XY como padrão cromossômico), e
neuroimagem recentes dos cérebros de adultos transgêneros
vice-versa. No entanto, como mostraremos na próxima seção,
sugerem que eles podem ter estruturas cerebrais mais
a investigação de apoio a esta ideia é mínima.
parecidas com a sua identidade de gênero do que a seu sexo
Como forma de levantamento da pesquisa de ciências
biológico34. Sapolsky baseia esta afirmação no fato de que
biológica e social em disforia de gênero, podemos listar
existem diferenças entre cérebros masculinos e femininos, e
algumas das questões importantes. Existem fatores biológicos
enquanto as diferenças são "pequenas e variáveis", estas
que influenciam o desenvolvimento de uma identidade de
"provavelmente contribuem para as diferenças sexuais na
gênero que não corresponde com o próprio sexo biológico?
aprendizagem, emoção e socialização"35. E conclui: ―A questão
Alguns indivíduos nascem com uma identidade de gênero
não é que às vezes as pessoas acreditam que elas são de um
diferente do seu sexo biológico? É a identidade de gênero
gênero diferente do que realmente são. Notavelmente, ao
moldada por condições ambientais ou alimentada? Quanto
invés, é que às vezes as pessoas nascem com corpos cujo
estável são as escolhas de identidade de gênero? Quanto é
gênero é diferente do que eles realmente são"36. Em outras
comum a disforia de gênero? Isso é persistente ao longo da
palavras, ele afirma que algumas pessoas podem ter um
vida? Pode um pequeno menino que pensa que é uma
cérebro de tipo feminino em um corpo masculino, ou vice-
pequena menina mudar ao longo de sua vida e considera-se
versa.
como homem? Se sim, como pode muitas vezes essas
Embora este tipo de teoria neurobiológica da
pessoas mudar suas identidades de gênero? Como é que a
identificação com o gênero oposto permaneça fora da grande
identidade de gênero pode ser medida cientificamente? Tem
mídia científica recebeu recentemente atenção científica e
autoconhecimento suficiente? Será que uma menina biológica
popular. Ele fornece uma explicação potencialmente atraente
se torna um menino de gênero crendo, ou pelo menos
para a identificação com o gênero oposto, especialmente para
afirmando, que é um menino? As lutas das pessoas com um
pessoas que não estão afetadas por qualquer conhecimento de
sentido de incongruência entre a sua identidade de gênero e
genética, hormônios ou anomalias psicossociais37. No entanto,
sexo biológico persistem ao longo do curso da vida? Será que
enquanto Sapolsky pode estar certo, há pouquíssimo apoio na
a disforia de gênero responde às intervenções psiquiátricas?
literatura científica para a sua contenção. Sua explicação
Caso essas intervenções foquem na afirmação da identidade
neurológica para diferenças entre os cérebros masculinos e
de gênero do paciente ou assumir uma posição mais neutra?
femininos e possível relevância dessas diferenças para a
Os esforços para modificar cirurgicamente ou hormonalmente
identificação com o gênero oposto demanda de uma análise
as características sexuais primárias ou secundárias de um
cientifica mais aprofundada.
indivíduo ajudam a resolver a disforia de gênero? Será que a
Há muitos pequenos estudos que tentam definir
modificação ainda cria problemas psiquiátricos para algumas
fatores causais da experiência da incongruência entre o próprio
das pessoas diagnosticadas com disforia de gênero ou faz que
sexo biológico e sentimento de gênero. Esses estudos são
normalmente
psiquiátricos
descritos nas páginas a seguir, cada um apontando a uma
existentes? Nós abordamos algumas destas questões críticas
influência que pode contribuir para a explicação da
nas seções seguintes.
identificação para gênero oposto.
resolvam
seus
problemas
72
Nancy Segal, psicóloga e geneticista, pesquisou dois
"transexualismo é improvável que seja associado com um gene
estudos de caso gêmeos de idênticos discordantes para
principal, mas é susceptível de ser associado a várias
transexuais feminino-para-masculino (FtM)38. Segal observa
influências genéticas, epigenéticas, de desenvolvimento e
que, de acordo com outro estudo anterior que conduziu
experienciais"44. Segal crítica a noção de que o abuso materno
entrevistas não clínicas com 45 transexuais FtM, 60% sofreram
experimentado pela dupla FtM em seu primeiro estudo de caso
alguma forma de abuso na infância, com 31% experienciando
pode ter desempenhado um papel causal na "atípica
abuso sexual, 29% experimentando abuso emocional, e 38%
identificação de gênero" do gêmeo, desde que o abuso
abuso físico39. No entanto, este estudo mais cedo não incluiu
"aparentemente acompanhado‖ os comportamentos de gênero-
um grupo de controle e foi limitado pelo seu pequeno tamanho
atípicos dos gêmeos - embora Segal reconheça "é possível
da amostra, tornando-o difícil de extrair interações
que este abuso reforce sua identificação atípica com o
significativas, ou generalizações, a partir dos dados.
gênero"45. Esses estudos de caso, embora informativos, não
O próprio primeiro estudo de caso de Segal era de um
são cientificamente fortes, e não fornece evidência direta para
gêmeo FtM com 34 anos de idade, cuja irmã gêmea idêntica
quaisquer hipóteses causais sobre as origens da identificação
era casada e mãe de sete filhos40. Vários eventos estressantes
atípica de gênero.
tinham ocorrido durante a gravidez da mãe dos gêmeos, e eles
Uma fonte de mais informações - mas também
nasceram de cinco semanas prematuramente. Quando tinha
inadequadas para fazer inferências causais diretas - é uma
oito anos, seus pais se divorciaram. O gêmeo FtM exibiu
análise de caso que a Mayo Clinic através dos psiquiatras J.
comportamento não conformado de gênero no início e persistiu
Michael Bostwick e Kari A. Martin, de um indivíduo intersexo
durante toda a infância. Ela tornou-se atraída por outras
nascido com genitália ambígua que foi operado e criado como
meninas na escola secundária e como adolescente houve
um mulher 46. A título de oferecer algumas informações, os
tentativa de suicídio várias vezes. Ela relatou o abuso físico e
autores fazem uma distinção entre o transtorno de identidade
abuso emocional na mão de sua mãe. Os gêmeos foram
de gênero (uma "inconsistência entre identidade de gênero
criados em uma família Mórmon, em que a transexualidade
percebida e sexo fenotípico" que geralmente envolve "uma
não foi tolerada41. A irmã gêmea nunca tinha questionado sua
anormalidade neuroendocrinológica não discernível"47), e
identidade de gênero, mas experimentou alguma depressão.
intersexualidade (uma condição na qual características
Para Segal, o inconformismo com o gênero do gêmeo FtM e o
biológicas de ambos os sexos estão presentes). Eles também
abuso na infância foram fatores que contribuíram para disforia
fornecem um resumo e esquema de classificação dos
de gênero; o outro gêmeo não estava sujeito aos mesmos
diferentes tipos de distúrbios hermafroditas. Após uma
fatores de stress na infância, e não desenvolveram problemas
discussão
ao seu redor na identidade de gênero. O segundo estudo de
desenvolvimento intersexuais que podem levar a uma
caso de Segal também com gêmeos idênticos com um gêmeo
disjunção entre o cérebro e o corpo, os autores reconhecem
transicionado do feminino para o masculino42. Estes gêmeos
que "alguns pacientes adultos com severa disforia –
FtM exibiram comportamentos de início precoce de não
transexuais - não têm resultados nem história e nem objetivos
conformidade de gênero que atentaram suicídio até jovem
de apoio a uma causa biológica conhecida de disjunção
adulto. Aos 29 anos, ela passou por uma cirurgia de
cérebro-corpo"48. Estes pacientes requerem atenção médica e
redesignação, foi bem apoiada pela família, conheceu uma
psiquiátrica minuciosa para evitar disforia de gênero.
aprofundada
das
várias
questões
de
mulher e casou. Tal como no primeiro caso, o outro gêmeo
Após este resumo útil, os autores afirmam que
teria sido sempre seguro em sua identidade de gênero
"psicose ausente ou severa patologia de personalidade,
feminina.
afirmações subjetivas dos pacientes são presentemente os
Segal especula que cada par de gêmeos pode ter tido
mais confiáveis padrões para delinear a identidade do núcleo
exposições pré-natais desiguais de andrógenos (embora o seu
de gênero"49. Mas não está claro como poderíamos considerar
estudo não oferece evidências para apoiar isto)43 e conclui que
afirmações subjetivas mais confiáveis no estabelecimento de
73
identidade de gênero, a menos que a identidade de gênero
gênero preferido do que o gênero correspondente com o seu
seja definida como um fenômeno completamente subjetivo. A
sexo biológico. Ambos os estudos são limitados pelo pequeno
maior parte do artigo é dedicado a descrever as várias
tamanho das amostras e a falta de uma hipótese prospectiva -
maneiras objetivamente discerníveis e identificáveis em que
ambos analisaram os dados de imagem de ressonância
uma identidade de um macho ou fêmea é impressa no sistema
magnética para encontrar as diferenças de gênero e, em
nervoso e endócrino. Mesmo quando algo der errado com o
seguida, olharam para ver onde os dados dos sujeitos
desenvolvimento da genitália externa, os indivíduos são mais
transgêneros se caberiam.
propensos a agir de acordo com a sua composição cromossômica e hormonal50.
Considerando que ambos os estudos de imagem de ressonância magnética olharam para a estrutura do cérebro,
Em 2011, Giuseppina Rametti e colegas de vários
um estudo funcional de ressonância magnética por Emiliano
centros de pesquisas em Espanha usaram imagens de
Santarnecchi e colegas da Universidade de Siena e da
ressonância magnética para estudar as estruturas do cérebro
Universidade de Florença olharam para as funções do cérebro,
de 18 FtM transexuais que apresentaram não-conformidade de
examinaram diferenças relativas na atividade cerebral
gênero cedo na vida e experienciaram atração sexual para
espontânea durante o estado de repouso56. Os pesquisadores
fêmeas antes do tratamento hormonal51. O objetivo era saber
compararam um único indivíduo FtM (declarado como gênero
se as suas características cerebrais correspondiam mais ao
oposto desde a infância), e grupos controle de 25 homens e 25
seu sexo biológico ou ao seu sentido de identidade de gênero.
mulheres, no que diz respeito à atividade cerebral espontânea.
O grupo controle era composto por 24 homens e 19 mulheres
O indivíduo FtM demonstrou um "perfil de atividade cerebral
heterossexuais com identidades de gênero em conformidade
mais perto de seu sexo biológico do que para o seu desejo", e
com seu sexo biológico. As diferenças foram notadas na
com base, em parte, nestes resultados os autores concluíram
microestrutura da substância branca de áreas específicas do
que "transexuais FtM não tratadas mostram um perfil funcional
cérebro. Em transexuais FtM não-tratados, a estrutura era mais
de conectividade comparável a indivíduos controle do sexo
semelhante ao dos heterossexuais machos do que a das
feminino"57. Com uma amostra de tamanho um o poder
heterossexuais mulheres em três de quatro áreas do cérebro52.
estatístico deste estudo é praticamente zero.
Em um estudo complementar, Rametti e colegas compararam
Em 2013, Hsaio-Lun Ku e colegas de vários centros
18 transexuais MtF com 19 mulheres e 19 homens controles
médicos e institutos de pesquisa em Taiwan também
heterossexuais53. Estes transexuais MtF tiveram valores
realizaram estudos de imagem funcional do cérebro. Eles
médios da matéria branca do trato em várias áreas do cérebro
compararam a atividade cerebral de 41 transexuais (21 FtMs,
que caíram entre as médias dos machos e de fêmeas controle.
20 MtFs) e 38 controles pareados heterossexuais (19 homens
Os valores, no entanto, eram tipicamente mais perto dos
e 19 mulheres)58. A resposta de excitação de cada analise de
homens (que é, para aqueles que partilhavam seu sexo
coorte durante a visualização neutra em comparação com
biológico) do que para as fêmeas em mais areas54. Nos
filmes eróticos foi comparada entre os grupos. Todos os
controles os autores descobriram que, como esperado, os
transexuais do estudo relataram atrações sexuais ao sexo de
machos tinham maiores quantidades de substância cinzenta e
nascimento, biológico, e exibiram mais excitação sexual do que
branca e volumes mais elevados de fluido cerebroespinhal do
os controles heterossexuais ao visualizar filmes eróticos que
que fêmeas controle. Os volumes cerebrais dos transexuais
descreveram a atividade sexual entre os indivíduos que
MtF foram todos semelhantes aos dos controles do sexo
compartilharam seu sexo biológico. A pontuação "selfness",
masculino e significativamente diferente aqueles das
também foi incorporada no estudo, no qual os pesquisadores
mulheres55.
pediram aos participantes para "avaliar o grau de que você se
No geral, os resultados destes estudos por Rametti e
identifica com o sexo masculino ou feminino no filme"59. Os
seus colegas não apoiam suficientemente a noção de que os
transexuais no estudo identificaram-se com os de seu gênero
indivíduos transgêneros têm cérebros mais parecido com o seu
preferido mais do que os controles identificados com os do seu
74
gênero biológico, em ambos os filmes eróticos e filmes neutros.
não corresponde a seu sexo biológico devido a uma condição
Os controles heterossexuais não se identificaram com machos
inata ou biológica do cérebro.
ou fêmeas em qualquer um dos tipos de filmes. Ku e colegas
A questão não é simplesmente se existem diferenças
afirmam ter demonstrado padrões cerebrais característicos
entre os cérebros de indivíduos transgêneros e pessoas que se
para atração sexual como relacionada com o sexo biológico,
identificam com o gênero correspondente ao seu sexo
mas não faz sentido comparações de identidade de gênero
biológico, mas se a identidade de gênero é um traço fixo, inato
neurobiológicas entre os três grupos. Além disso, eles
e biológico, mesmo quando não corresponde ao sexo
relataram resultados que os transexuais demonstraram estilos
biológico, ou se as causas ambientais ou psicológicos
psicossociais defensivos mal adaptados.
contribuem para o desenvolvimento de um senso de identidade
Um estudo de 2008 por Hans Berglund e colegas do
de gênero em tais casos. Diferenças neurológicas em adultos
Sweden’s Karolinska Institute do Stockholm Brain Institute
transgêneros podem ser consequência de fatores biológicos,
usaram PET scans e fMRI para comparar padrões de ativação
tais como genes ou exposição hormonal pré-natal, ou de
da área cerebral em 12 indivíduos transgêneralizados MtF que
fatores psicológicos e ambientais, tais como abuso infantil, ou
foram sexualmente atraídos para mulheres com 12 mulheres
que poderia resultar de uma combinação dos dois. Não
heterossexuais e 12 homens heterossexuais60. O primeiro
existem estudos de série, longitudinais ou transversais olhando
conjunto de sujeitos não tomou hormônios e não foram
para os cérebros de gênero-cruzados na identificação de
submetidos à cirurgia de reatribuição sexual. A experiência
crianças que desenvolvem a identificação tardia como adultos
envolveu cheirar esteroides odoríferos que se pensavam ser
transgêneros. A falta desta pesquisa limita severamente a
ferormônios femininos, e outros odores sexualmente neutros,
nossa capacidade de compreender as relações causais entre
tais como óleo de lavanda, óleo de cedro, eugenol, butanol, e
morfologia do cérebro, ou atividade funcional e o
ar inodoro. Os resultados foram variados e misturados entre os
desenvolvimento posterior da identidade de gênero
grupos para os vários odores, o que não deveria ser
diferentemente do sexo biológico.
surpreendente, desde que as análises post-hoc20 geralmente levam a conclusões contraditórias.
Em termos mais gerais, é agora amplamente reconhecida entre os psiquiatras e neurocientistas que se
Em resumo, os estudos apresentados acima mostram
dedicam a pesquisas de imagens do cérebro que existem
evidências inconclusivas e resultados mistos sobre os cérebros
limitações metodológicas inerentes e inextirpáveis de qualquer
de adultos transgêneros. Padrões de ativação-cerebral nestes
estudo com neuroimagem que associa simplesmente uma
estudos não oferecem provas suficientes para tirar conclusões
característica particular, tal como um certo comportamento,
sólidas sobre possíveis associações entre a ativação cérebro e
com um morfologia particular do cérebro61 (e quando a
a identidade sexual ou excitação. Os resultados são
característica em questão não é um comportamento concreto,
conflitantes e confusos. Uma vez que os dados por Ku e
mas algo tão vago e evasivo como a "identidade de gênero",
colegas sobre os padrões de ativação-cérebro não são
estes problemas metodológicos são ainda mais sérios). Estes
universalmente associados a um determinado sexo, não
estudos não podem fornecer evidências estatísticas, que não
permanece claro para que intensos achados neurobiológicos
apresentam mecanismo biológico plausível forte o suficiente
não dizem nada significativo sobre identidade de gênero. É
para suportar conexões causais do cérebro entre um traço,
importante notar que, independentemente de seus resultados,
característica, comportamento ou sintoma em questão. Para
os estudos deste tipo não podem suportar qualquer conclusão
apoiar uma conclusão da causalidade, mesmo causalidade
de que indivíduos passam a se identificar como um gênero que
epidemiológica, é necessário realizar estudos de painel longitudinal prospectivos de um conjunto fixo de indivíduos
Analise post-hoc ou testes post hoc são projetados para situações em que o pesquisador já tenha obtido um F-teste abrangente significativo com um fator que consiste em três ou mais meios e exploração adicional das diferenças entre as médias e é necessário para fornecer informações específicas sobre quais meios são significativamente diferentes de um para o outro. 20
através de todo o curso do desenvolvimento sexual, se não em toda a sua vida útil.
75
Estudos como estes usam imagens em serie do
extremos da distribuição. Assim, indivíduos transgêneros
cérebro no nascimento, na infância, e em outros pontos ao
selecionados aleatoriamente e indivíduos não-transgêneros
longo do contínuo desenvolvimento, para ver se achados na
selecionados aleatoriamente podem não diferir em qualquer
morfologia do cérebro estavam lá desde o início. Caso
uma dessas 100 medições. Além disso, uma vez que a
contrário, não é possível estabelecer se certas características
probabilidade que uma pessoa selecionada aleatoriamente a
cerebrais causam um traço, ou se a característica é inata e
partir de a população em geral ser transgênera é bastante
talvez fixa. Estudos como aqueles discutidos acima de
pequena, diferenças estatisticamente significativas entre as
indivíduos que já apresentam o traço são incapazes de
médias amostrais não são evidências suficientes para concluir
distinguir entre as causas e consequências da característica.
que uma medição particular é preditiva de que uma pessoa
Na maioria dos casos indivíduos transgêneros foram agindo e
será transgênera ou não. Se medirmos o cérebro de uma
pensando há anos dessa forma que, por meio de um
criança, ou adolescente e encontramos este indivíduo estando
comportamento aprendido e neuroplasticidade associados, o
mais perto de um coorte que de outro sobre estas medidas,
cérebro pode ter produzido mudanças que possam diferenciá-
não implica que essa pessoa irá crescer para se identificar
los de outros membros de sua natureza biológica ou sexo. A
como um membro desse grupo. Isto pode ser útil ao manter
única maneira definitiva para estabelecer causalidade
esta ressalva em mente para interpretar as pesquisas em
epidemiológica entre um recurso do cérebro e um traço
pessoas transgêneros.
(especialmente um tão complexo como identidade de gênero) é
Neste contexto, é importante notar que não há
conduzir estudos prospectivos, longitudinais, de preferência de
estudos demonstrando que nenhuma das diferenças biológicas
forma que a amostragem seja aleatória com estudos de base
a serem examinadas têm poder preditivo, e assim todas as
populacional.
interpretações, geralmente em estabelecimentos populares,
Na
ausência
de
tais
estudos
longitudinais
afirmando ou sugerindo que uma diferença estatisticamente
prospectivos, representando grandes amostras de base
significativa entre os cérebros de pessoas que são transgênero
populacional com controles estatísticos adequados para fatores
e aqueles que não são é a causa de ser transgênero ou não -
confundidores que podem ajudar a diminuir as possíveis
que é dizer, que as diferenças biológicas determinam as
causas de um comportamento traço e assim aumentar a
diferenças na identidade de gênero - mas são injustificadas.
probabilidade de identificar uma causa neurológica62. No
Em resumo, os estudos atuais sobre associações
entanto, porque os estudos realizados até agora usaram
entre a estrutura do cérebro e identidade transgênera são
pequenas amostras de conveniência, nenhum deles é
pequenos, metodologicamente limitados, inconclusivos e por
especialmente útil para estreitar as opções de causalidade.
vezes
Para obter uma melhor amostra do estudo, seriam necessários
metodologicamente confiáveis, eles seriam insuficientes para
nos estudos de neuroimagem incluir levantamentos
demonstrar que a estrutura do cérebro é uma causa, em vez
epidemiológicos de grande escala. De fato, dado o pequeno
de um efeito, no comportamento identidade-gênero. Da mesma
número de indivíduos transgêneros na população em geral63 os
forma que não têm poder preditivo, o verdadeiro desafio para
estudos precisariam ser proibitivamente grandes para atingir
qualquer teoria na ciência.
resultados que alcançariam significância estatística.
contraditórias.
Mesmo
se
fossem
mais
Um exemplo simples para ilustrar este ponto, suponha
Além disso, se um estudo encontrasse diferenças
que teve um quarto com 100 pessoas nele. Dois deles são
significativas entre estes grupos - ou seja, uma série de
transgêneros e todos os outros não são. Eu escolho alguém ao
diferenças maiores do que seria esperado pelo acaso - essas
acaso e pedir-lhe para adivinhar a identidade de gênero da
diferenças remeteriam para a média de uma população de
pessoa. Sabendo que 98 de 100 dos indivíduos não são
cada grupo. Mesmo que estes dois grupos diferissem
transgêneros, o mais seguro seria apostar em adivinhar que o
significativamente para todas as 100 medições, não indica
indivíduo não é transgênero, porque a resposta estará correta
necessariamente uma diferença biológica entre indivíduos nos
em 98% do tempo. Suponha-se, então, que você tem a
76
oportunidade de fazer perguntas sobre a neurobiologia e sobre a natureza do sexo da pessoa. Sabendo que a biologia só ajuda a prever se o indivíduo é transgênero se pode melhorar a estimativa inicial de que se a pessoa não é transgênera. Portanto, se conhecer uma característica do cérebro do indivíduo não melhora a capacidade de prever o grupo que o paciente pertence para, em seguida, o fato dos dois grupos diferirem na média é quase irrelevante. Aperfeiçoamento na previsão inicial é muito difícil para uma característica rara tal como sendo transgênero, porque a probabilidade de que a previsão esteja correta é muito alta. Se realmente houvesse uma clara diferença entre os cérebros dos indivíduos transgêneros e não-transgêneros, semelhante as diferenças biológicas entre os sexos, em seguida, a melhoria na estimativa inicial seria relativamente fácil. Ao contrário das diferenças entre os sexos, no entanto, não há recursos biológicos que possam confiantemente identificar indivíduos transgêneros como diferente dos outros.
Muitos falaram sobre sua dolorosa decisão de permitir que seus filhos se transformassem publicamente para o gênero oposto um processo muito mais difícil para meninos que queriam ser meninas. Algumas das coisas que Jean ouvi foram tranquilizadoras: Os pais que decidiram aceitar disseram que os problemas de comportamento de seus filhos em grande parte haviam desaparecido, notas escolares melhoraram, os sorrisos felizes das crianças retornaram. Mas algumas das coisas que ela ouviu foram assustadoras: crianças que tomam bloqueadores de puberdade no ensino fundamental e adolescentes que embarcaram em terapia hormonal antes que eles sequer terminassem o ensino escolar 65.
A história continua a descrever a forma como a irmã, Moyin, da criança transgênera Tyler (anteriormente Kathryn) fazia sentido na identidade de seu irmão: A irmã de Tyler, que tem 8 anos, era muito mais casual ao descrever o irmão transgênero. "É só uma mente de menino em um corpo de menina" Moyin explicou o assunto com naturalidade aos seus colegas em sua escola privada, o que permitirá Tyler começar o jardim de infância como um menino, com nenhuma menção de Kathryn 66.
O consenso da evidência científica esmagadora apoia
As observações da irmã da criança encapsulam a
a proposição de que fisicamente e desenvolvidamente normal
noção popular sobre a identidade de gênero: os indivíduos
um menino ou menina é realmente o que ele ou ela parece ser
transgêneros, ou crianças que se encontram nos critérios de
ao nascimento. A evidência disponível a partir de imagens do
diagnóstico de disforia de gênero, são simplesmente "uma
cérebro e a genética não demonstram que o desenvolvimento
mente de menino em um corpo de menina" ou vice-versa. Este
da identidade de gênero como diferente de sexo biológico é
ponto de vista implica que a identidade de gênero é uma
inata. Porque os cientistas não estabeleceram um quadro
característica persistente e inata da psicologia humana, e
sólido para a compreensão das causas de identificação com o
inspirou uma abordagem de gênero de afirmação para as
gênero oposto, a investigação em curso deve ser aberta para
crianças que sofrem de questões de identidade de gênero
causas psicológicas e sociais, assim como as biológicas.
numa idade precoce. Como vimos acima, na visão geral da neurobiologia e pesquisa genética sobre as origens da identidade de gênero,
Identidade transgênera em crianças Em 2012, o Washington Post apresentou uma história por Petula Dvorak, "Transgender at
five"64 sobre
uma menina que
com a idade de 2 anos começa a insistir que ela era um menino. A história narra a interpretação de sua mãe deste comportamento: "o cérebro dessa menina sempre foi diferente. Jean [sua mãe] poderia dizer. Ela tinha ouvido falar sobre as pessoas transgêneras, aqueles que tem um gênero fisicamente, mas outro gênero mentalmente". A história narra estas experiências e dificuldades da mãe quando ela começou a pesquisar problemas com a identidade de gênero em crianças e veio a entender as experiências de outros pais:
há pouca evidência que o fenômeno da identidade transgênero tem uma base biológica. Também há pouca evidência de que as questões de identidade de gênero têm uma alta taxa de persistência em crianças. De acordo com o DSM-5, ―na natureza [biológica] machos, tem persistência [de disforia de gênero] variando de 2,2% a 30%. Nas fêmeas por natureza, a persistência variou de 12% a 50%"67. Os dados científicos na persistência de disforia de gênero continuam a ser escassos, devido a baixíssima prevalência da doença na população em geral, mas a vasta gama dos achados da literatura sugere que ainda há muito que fazer pois não se sabe sobre o porquê da
77
disforia de gênero persiste ou desiste em crianças. Como a
25 meninas que tinham sido tratadas71 (clínica de Zucker foi
entrada DSM-5 continua a nota, "Não está claro se as crianças
fechada pelo governo canadense em 2.015)72.
que são 'encorajadas' ou apoiadas a viver socialmente no
Uma alternativa para a abordagem de Zucker que
gênero desejado irão mostrar taxas mais elevadas de
enfatiza a afirmação de que a identidade de gênero preferida
persistência, uma vez que tais crianças ainda não foram
da criança se tornou mais comum entre os terapeutas73. Esta
seguidas longitudinalmente de uma forma sistemática"68. Há
abordagem envolve ajudar as crianças a auto identificar até
uma clara necessidade de mais investigação nessas áreas, e
mesmo mais com o rótulo de gênero que elas preferem no
para os pais e terapeutas reconhecer a grande incerteza sobre
momento. Um componente da abordagem de afirmação de
como interpretar o comportamento dessas crianças.
gênero tem sido a utilização de tratamentos hormonais para adolescentes, a fim de retardar o aparecimento de características sexuais típicas durante a puberdade e aliviar os
Intervenções terapêuticas em crianças Com a incerteza em torno do diagnóstico e
sentimentos de disforia para os adolescentes experimentarem
prognóstico para a disforia de gênero em crianças, as decisões
típicas que estão em desacordo com o gênero com o qual se
terapêuticas são particularmente complexas e difíceis. As
identificam. Há relativamente pouca evidência para o valor
intervenções terapêuticas para crianças devem ter em conta a
terapêutico destes tipos de tratamentos para retardamento da
probabilidade de que as crianças podem superar a
puberdade, mas eles são atualmente objeto de um grande
identificação com o gênero oposto. Na Universidade de
estudo clínico patrocinado pelo Institute National of Health74.
como seus corpos se desenvolvem características sexuais
Toronto o pesquisador e terapeuta Kenneth Zucker acredita
Embora os dados epidemiológicos sobre os resultados
que a dinâmica da família e colegas podem desempenhar um
de medicamentos que adiam a puberdade sejam bastante
papel significativo no desenvolvimento e persistência de
limitados, encaminhamentos para procedimentos com
comportamentos de gênero inconformados, escrevendo que
hormônios de reatribuição sexual e cirurgias parecem estar em ascensão, e há um impulso entre muitos defensores para
É importante considerar ambos os fatores predisponentes e perpetuadores que pode informar uma formulação clínica e o desenvolvimento de um plano terapêutico: o papel do temperamento, o reforço dos pais ao comportamento transgênero durante o período sensível da formação da identidade de gênero, dinâmica familiar, a psicopatologia parental, relações entre pares e os múltiplos sentidos que possam ser subjacentes a fantasia da criança de se tornar um membro do sexo oposto 69.
Zucker trabalhou durante anos com crianças experimentando sentimentos de incongruência de gênero, oferecendo tratamentos psicossociais para ajudá-los a abraçar o gênero e se corresponder com seu sexo biológico - por exemplo, terapia da fala, datas com jogos arranjados pelos pais com os pares do mesmo sexo, terapia para problemas psicopatológicos ocorridos como transtorno do espectro do autismo e aconselhamento para os pais70. Em um estudo de acompanhamento por Zucker e colegas de crianças tratadas ao longo de trinta anos no Centro de Saúde Mental e Vício em Toronto, eles descobriram que o transtorno de identidade de gênero persistiu em apenas 3 das
prosseguir com a mudança de sexo em idades mais jovens. Segundo um artigo de 2013 no The Times de Londres, o Reino Unido viu um aumento de 50% do número de crianças encaminhadas para clínicas de disforia de gênero entre 20112012, e um aumento de quase 50% nas referências entre adultos entre 2010-201275. Se este aumento pode ser atribuído ao aumento das taxas de confusão de gênero, elevando-se a sensibilidade às questões de gênero, crescimento a aceitação da terapia como uma opção, ou outros fatores, o aumento em si merece respeito e investigação mais científica sobre a dinâmica familiar e outros problemas potenciais, como a rejeição social ou desenvolvimento de questões, que podem ser tomados como sinais de disforia de gênero na infância. Um estudo de resultados psicológicos após supressão da puberdade e cirurgia de reatribuição sexual, publicado na revista Pediatrics em 2014 pela psiquiatra de criança e adolescente Annelou L. C. De Vries e colegas, sugeriu melhores resultados para os indivíduos depois de receber estas intervenções, com o bem-estar melhorando para um
78
nível semelhante ao dos jovens adultos da população geral76.
acreditam no pré-tratamento sobre uma vida ideal no pós-
Este estudo analisou 55 transgêneros adolescentes e adultos
tratamento podem, por vezes, não o realizar.
jovens (22 MtF e 33 FtM) de uma clínica holandesa que foram
Em 2004, Birmingham University’s Aggressive
avaliados três vezes: antes do início da supressão da
Research Intelligence Facility (ARIF) avaliou os resultados de
puberdade (média idade: 13,6 anos), quando os hormônios
mais de uma centena de estudos follow-up de pós-operatório
transgêneros foram introduzidos (idade média: 16,7 anos), e
transsexuais77. Um artigo no The Guardian resumiu os
pelo menos um ano após a cirurgia de redesignação sexual
achados:
(idade média: 20,7 anos). O estudo não forneceu um grupo equiparado para comparação - isto é, um grupo de adolescentes transgêneros que não receberam hormônios bloqueadores da puberdade, hormônios do sexo oposto, e/ou cirurgia de reatribuição sexual - o que faz as comparações de resultados mais difíceis. No estudo de coorte, disforia de gênero melhorou ao longo do tempo, a imagem corporal melhorou em algumas medidas, e funcionamento global melhorou modestamente. Devido à falta de um grupo controle não está claro se essas mudanças são atribuíveis aos procedimentos ou teriam ocorrido neste coorte, sem as intervenções médicas e cirúrgicas. Medidas de ansiedade, depressão, raiva mostraram algumas melhorias ao longo do tempo, mas esses resultados não alcançaram significância estatística. Embora este estudo sugeriu algumas melhorias ao longo do tempo neste grupo, em particular
a
satisfação
subjetiva
relatada
com
os
procedimentos, para detectar significativa diferenças exigiria o estudo ser replicado com um grupo controle pareado e um tamanho de amostra maior. As intervenções também incluíram cuidados a partir de uma equipe multidisciplinar de profissionais da área médica, que poderia ter um efeito benéfico. Futuros estudos deste tipo o ideal seria incluir acompanhamentos a longo prazo que avaliam os resultados e funcionando além do final da adolescência ou início dos vinte anos.
ARIF... conclui que nenhum dos estudos fornece evidências conclusivas que mudança de gênero é benéfica para os pacientes. Constatou-se que a maioria das pesquisas foram mal planejadas, com viés nos resultados em favor da mudança física de sexo. Não houve avaliação se outros tratamentos, tais como aconselhamento a longo prazo, podem ajudar transexuais, ou seja, sua confusão de gênero pode diminuir ao longo do tempo. ARIF diz que os resultados dos poucos estudos que rastrearam um número significativo de pacientes com vários anos eram falhos porque os pesquisadores perderam o controle de pelo menos metade dos participantes. As possíveis complicações de hormônios e cirurgia genital, que incluem trombose venosa profunda e incontinência, respectivamente, também não foram totalmente investigados. ―Há sim enorme incerteza sobre se a mudança de sexo de alguém é uma boa ou um coisa ruim‖ , diz o Dr. Chris Hyde, diretor da ARIF. "Embora, sem dúvida, grande cuidado seja tomado para garantir que os pacientes apropriados mudem de gênero, ainda há um grande número de pessoas que têm a cirurgia, mas permanecem traumatizadas - muitas vezes ao ponto de cometer suicídio" 78.
O alto nível de incerteza sobre vários resultados após cirurgia de mudança de sexo faz com que seja difícil encontrar respostas claras dos efeitos da cirurgia de mudança nos pacientes. Desde 2004, tem havido outros estudos sobre a eficácia da cirurgia de reatribuição sexual, utilizando maior tamanhos de amostra e melhores metodologias. Vamos agora examinar alguns dos estudos mais adequados e confiáveis sobre os resultados para os indivíduos que receberam cirurgia de reatribuição sexual. Já em 1979, Jon K. Meyer e Donna J. Reter publicaram um estudo longitudinal follow-up sobre o bem-estar geral dos adultos que foram submetidos a cirurgia de reatribuição sexual79. O estudo comparou os resultados de 15
Intervenções terapêuticas em adultos O potencial que os pacientes submetidos médica e
pessoas que fizeram a cirurgia com os de 35 pessoas que solicitaram, mas não fizeram a cirurgia (14 destes indivíduos,
cirúrgica a mudança de sexo em querer voltar a uma
eventualmente fizeram a cirurgia posteriormente, resultando
identidade de gênero coerente com seu sexo biológico sugere
em três coortes de comparação: operado, não operado e
que a redesignação carrega considerável risco psicológico e
operado mais tarde). Bem-estar foi quantificado utilizando um
físico, especialmente quando realizada na infância, mas
sistema de pontuação que avaliou o relacionamento
também em idade adulta. Isto sugere que os pacientes que
psiquiátrico, económico e jurídico dos resultados das variáveis.
79
Pontuações foram determinadas pelos pesquisadores depois
um dos estudos mais robusto e bem desenhados para
de realizar entrevistas com os sujeitos. O tempo médio de
examinar os resultados para pessoas que se submeteram a
acompanhamento foi de aproximadamente cinco anos para os
cirurgia de reatribuição sexual. Concentrando-se sobre a
indivíduos que tiveram a cirurgia de mudança de sexo, e cerca
mortalidade, morbidade e taxas de criminalidade, o estudo de
de dois anos para aqueles indivíduos que não o fizeram.
coorte combinado comparou um total de 324 pessoas
Em comparação com a sua condição antes da
transexuais (191 MtF, 133 FtM) que foram submetidos à
cirurgia, os indivíduos que fizeram a cirurgia mostraram alguma
mudança de sexo entre 1973 e 2003 para dois controles
melhoria no bem-estar, embora os resultados tivessem um
pareados por idade: pessoas do mesmo o sexo como a pessoa
nível bastante baixo de significância estatística. Os indivíduos
transexual no nascimento, e pessoas ao qual o sexo do
que não tiveram nenhuma intervenção cirúrgica exibiram uma
indivíduo tinha sido reatribuido83.
melhoria estatisticamente significativa no acompanhamento. No
entanto,
não
estatisticamente
transexuais na população geral, o tamanho deste estudo é
significativas entre os escores de bem-estar dos dois grupos no
impressionante. Ao contrário de Meyer e Reter, Dhejne e seus
seguimento acima. Os autores concluíram que "a cirurgia de
colegas não procuram avaliar a satisfação do paciente após a
redesignação sexual não confere vantagem objetiva em termos
cirurgia de reatribuição sexual, o que teria exigido um grupo
de reabilitação social, embora continue a ser subjetivamente
controle de pessoas transexuais que desejava ter a cirurgia de
satisfatória
prosseguido
reatribuição sexual, mas não o fizeram. Além disso, o estudo
rigorosamente um período experimental e que tenham sido
não comparou variáveis de resultados antes e após a cirurgia
submetidos a isso"80. Este estudo liderado pelo departamento
de reatribuição sexual; só os resultados após cirurgia que
de psiquiatria no Johns Hopkins Medical Center (JHMC) fez
foram avaliados. Precisamos manter essas ressalvas em
interromper as intervenções cirúrgicas para mudança de sexo
mente quando olhamos para este estudo.
para
houve
aqueles
diferenças
Dado o número relativamente baixo de pessoas
que
tenham
para adultos81.
Dhejne e os colegas encontraram diferenças
No entanto, o estudo tem limitações importantes. O
estatisticamente significativas entre os dois grupos em muitas
viés de seleção foi introduzido na população estudada, porque
variáveis estudadas. Por exemplo, indivíduos transexuais pós-
os sujeitos atraídos foram aqueles indivíduos que procuraram a
operatórios tiveram cerca de três vezes maior risco de
cirurgia de reatribuição sexual no JHMC. Em adição, o
internação psiquiátrica do que os grupos de controle, mesmo
tamanho da amostra foi pequeno. Além disso, os indivíduos
após o ajuste para antes do tratamento psiquiátrico84. No
que não se submetem à cirurgia de reatribuição sexual, mas
entanto, o risco de ser hospitalizado por abuso de substância
apresentados ao JHMC para eles não representavam um
não foi significativamente maior após ajuste para antes do
verdadeiro grupo de controle. A distribuição aleatória do
tratamento psiquiátrico, bem como as outras covariantes).
procedimento cirúrgico não foi possível. Grandes diferenças na
Indivíduos reatribuídos sexualmente tinham quase três vezes
média de acompanhamento de tempo entre aqueles que foram
maior risco de todas as causas a mortalidade após o ajuste
submetidos à cirurgia e aqueles que não o fizeram reduz mais
para co-variáveis, embora o risco elevado foi significativo
ainda qualquer capacidade de estabelecer comparações
apenas para o período de 1973-198885. Aqueles submetidos a
válidas entre os dois grupos. Além disso, a metodologia do
cirurgia durante este período também tiveram maior risco de
estudo também foi criticada pela maneira um tanto arbitrária e
serem condenados em um crime86. Mais alarmante, foi que os
idiossincrática que foi feita a medida do bem-estar dos sujeitos.
indivíduos com reatribuição de sexo eram 4,9 vezes mais
Coabitação ou qualquer forma de contato com os serviços
propensos a tentar o suicídio e 19,1 vezes com mais
psiquiátricos foram classificados como fatores igualmente
probabilidades de morrer por suicídio em comparação com
negativos como tendo sido retidos82.
controles87. "Mortalidade por suicídio era surpreendentemente
Em 2011, Cecilia Dhejne e colegas do Karolinska Institute e Universidade de Gotemburgo, na Suécia publicaram
alta entre pessoas de sexo reatribuído, inclusive após o ajuste para prévia morbidade psiquiátrica"88.
80
O design do estudo impede inferências "quanto à
através de intervenções hormonais "provável melhora na
eficácia de mudança de sexo como um tratamento para o
disforia de gênero, funcionamento psicológico e comorbidades,
transexualismo", embora Dhejne e seus colegas afirmam que é
função sexual e qualidade de vida global"91. Os autores
possível que "as coisas poderiam ter sido ainda piores sem
identificaram 28 estudos que juntos examinaram 1.833
mudança de sexo"89. Em geral, a saúde mental pós-cirúrgica foi
pacientes que se submeteram a procedimentos de reatribuição
bastante fraca, como indicado especialmente pela alta taxa de
sexual, que incluíram intervenções hormonais (1.093 do sexo
tentativas de suicídio e todas as causas de mortalidade no
masculino para feminino, 801 do sexo feminino para
grupo de 1973-1988. (Vale a pena notar que para os
masculino)92. Dados agrupados entre os estudos mostraram
transexuais no estudo que realizaram mudança de sexo de
que, depois de receber os procedimentos de reatribuição
1989 a 2003, houve, naturalmente, menos anos de dados
sexual, 80% dos pacientes relataram melhora na disforia de
disponíveis no momento que o estudo foi realizado do que para
gênero, 78% relataram melhora nos sintomas psicológicos, e
os transexuais do período anterior. As taxas de mortalidade,
80% relataram melhora na qualidade de vida93. Nenhum dos
morbidade e da criminalidade no grupo mais tarde podem vir a
estudos incluiu a medida de limitação de viés de randomização
assemelhar-se aos riscos elevados do grupo anterior.) Em
(isto é, em nenhum dos estudos foram feitos procedimentos de
resumo, este estudo sugere que a cirurgia de reatribuição
reatribuição sexual aleatoriamente designados para alguns
sexual não pode corrigir os resultados de saúde
pacientes, mas não para os outros), e apenas três dos estudos
comparativamente fracos associados com populações
incluíram grupos de controle (ou seja, pacientes que não foram
transgêneras em geral. Ainda assim, por causa das limitações
submetidos ao tratamento para servir como casos de
do presente estudo mencionado acima, os resultados também
comparação para aqueles que o fizeram)94. A maioria dos
não podem estabelecer que a cirurgia de reatribuição sexual
estudos examinados por Murad e revistos pelos colegas
causa os fracos resultados de saúde.
relataram melhorias nas comorbidades psiquiátricas e
Em 2009, Annette Kuhn e seus colegas do Hospital
qualidade de vida, embora nomeadamente as taxas de suicídio
Universitário e Universidade de Berna, na Suíça analisaram a
mantiveram-se maior para os indivíduos que tinham recebido
qualidade de vida no pós-operatório em 52 MtF e 3 FtM
tratamentos hormonais do que para a população em geral,
transexuais quinze anos depois da cirurgia de reatribuição
apesar das reduções nas taxas de suicídio após os
sexual90. Este estudo encontrou consideravelmente menor
tratamentos95. Os autores também descobriram que houveram
satisfação geral de vida em transexuais pós-cirúrgicas em
algumas exceções a relatos de melhorias na saúde mental e
comparação com as mulheres que tiveram pelo menos uma
satisfação com os procedimentos de reatribuição sexual. Em
cirurgia pélvica no passado. Os transexuais pós-operatórias
um estudo, 3 de 17 indivíduos lamentaram o procedimento com
relataram menor satisfação com a sua qualidade geral de
2 destes 3 buscando reversão dos procedimentos96 e quatro
saúde e com algumas limitações pessoais, físicas e sociais que
dos estudos revisados relataram piora de qualidade da vida,
experimentaram com a incontinência que resultou como um
incluindo a continuação no isolamento e falta de melhora na
efeito colateral da cirurgia. Mais uma vez, não podem ser
vida social e relacionamentos, e a dependência de programas
extraídas inferências deste estudo sobre a eficácia da cirurgia
de bem-estar do governo97.
de reatribuição sexual devido à falta de um grupo de indivíduos
A evidência científica sumarizadamente sugere uma
transgêneros que não receberam cirurgia de reatribuição
visão cética em relação à reivindicação de que os
sexual.
procedimentos de redesignação sexual fornecem uma Em 2010, Mohammad Hassan Murad e colegas da
esperança para benefícios ou para resolver os problemas
Mayo Clinic publicaram uma revisão sistemática de estudos
subjacentes que contribuem para o elevado risco mental entre
sobre os resultados das terapias hormonais usadas em
a população transgênera. Enquanto trabalhamos para parar os
procedimentos de reatribuição sexual, concluindo que havia
maus tratos e mal-entendidos, devemos também trabalhar para
"evidência de muito baixa qualidade" na mudança de sexo
estudar e compreender o que quer que os fatores possam
81
contribuir para as altas taxas de suicídio e outros problemas de
transgêneras, e pensar com mais clareza sobre as opções de
saúde psicológica e comportamental entre as populações
tratamento que estão disponíveis.
NOTAS
1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12. 13. 14. 15. 16. 17. 18. 19. 20. 21. 22. 23.
24.
25.
26. 27. 28. 29. 30. 31. 32. 33. 34. 35. 36. 37.
38. 39. 40. 41. 42.
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Geralmente, os pinguins imperador do sexo masculino fazem o trabalho de incubar os ovos e depois cuidar dos filhotes durante vários dias após a eclosão. Após esse ponto, machos e fêmeas se revezam cuidando dos filhotes. 21
82
43. 44. 45. 46. 47. 48. 49. 50. 51. 52. 53. 54. 55. 56. 57. 58. 59. 60. 61. 62.
63. 64. 65. 66. 67. 68. 69. 70.
71. 72. 73. 74. 75.
Ibid. , 354. Ibid ., 356. Ibid ., 355. Emphasis in original. J. Michael Bostwick and Kari A. Martin, ―A Man‘s Brain in an Ambiguous Body: A Case of Mistaken Gender Identity,‖ American Journal of Psychiatry , 164 no.
10 (2007):1499-1505, http://dx.doi.org/10.1176/appi.ajp.2007.07040587. Ibid ., 1500. Ibid. , 1504. Ibid . Ibid. , 1503-1504. Giuseppina Rametti et al., ―White matter microstructure in female to male transsexuals before cross -sex hormonal treatment. A diffusion tensor imaging study,‖ Journal of Psychiatric Research 45, no. 2 (2011): 199-204, http://dx.doi.org/10.1016/j.jpsychires.2010.05.006. Ibid ., 202. Giuseppina Rametti et al., ―The microstructure of white matter in male to female transsexuals before cross -sex hormonal treatment. A DTI study,‖ Journal of Psychiatric Research 45, no. 7 (2011): 949-954, http://dx.doi.org/10.1016/j.jpsychires.2010.11.007. Ibid ., 952. Ibid ., 951. Emiliano Santarnecchi et al., ―Intrinsic Cerebral Connectivity Analysis in an Untreated Female -to-Male Transsexual Subject: A First Attempt Using RestingState fMRI,‖ Neuroendocrinology 96, no. 3 (2012): 188-193, http://dx.doi.org/10.1159/000342001. Ibid ., 188. Hsaio-Lun Ku et al., ―Brain Signature Characterizing the Body -Brain-Mind Axis of Transsexuals,‖ PLOS ONE 8, no. 7 (2013): e70808, http://dx.doi.org/10.1371/journal.pone.0070808. Ibid ., 2. Hans Berglund et al ., ―Male-to-Female Transsexuals Show Sex-Atypical Hypothalamus Activation When Smelling Odorous Steroids, Cerebral Cortex 18, no. 8 (2008):1900-1908, http://dx.doi.org/10.1093/cercor/bhm216. See, for example, Sally Satel and Scott D. Lilenfeld, Brainwashed: The Seductive Appeal of Mindless Neuroscience , (New York: Basic Books, 2013). An additional clarification may be helpful with regard to research studies of this kind. Significant differences in the means of sample populations do not entail predictive power of any consequence. Suppose that we made 100 different types of brain measurements in cohorts of transgender and non-transgender individuals, and then calculated the means of each of those 100 variables for both cohorts. Statistical theory tells us that, due to mere chance, we can (on average) expect the two cohorts to differ significantly in the means of 5 of those 100 variables. This implies that if the significant differences are about 5 or fewer out of 100, these differences could easily be by chance and therefore we should not ignore the fact that 95 other measurements failed to find significant differences.(22) One recent paper estimates that 0.6% of the adult U.S. population is transgender.( 23) See Andrew R. Flores et al., ―How Many Adults Identify as Transgender in the United States?‖ (white paper), Williams Institute, UCLA School of Law, June 30, 2016, http://williamsinstitute.law.ucla.edu/wp-content/uploads/How-Many-Adults-Identifyas-Transgender-in-the-United-States.pdf. Petula Dvorak, ―Transgender at five,‖ Washington Post , May 19, 2012, https://www.washingtonpost.com/local/transgender-at-five/2012/05/19/gIQABfFkbU_story.html. Ibid . Ibid . American Psychiatric Associ ation, ―Gender Dysphoria,‖ DSM-5 , 455. Note: Although the quotation comes from the DSM-5 entry for ―gender dysphoria‖ and implies that the listed persistence rates apply to that precise diagnosis, the diagnosis of gender dysphoria was formalized by the DSM-5 , so some of the studies from which the persistence rates were drawn may have employed earlier diagnostic criteria.( 24) Ibid ., 455. Kenneth J. Zucker, ―Children with gender identity disorder: Is there a best practice?‖ Neuropsychiatrie de l’Enfance et de l’Adolescence 56, no. 6 (2008): 363, http://dx.doi.org/10.1016/j.neurenf.2008.06.003. Kenneth J. Zucker et al., ―A Developmental, Biopsychosocial Model for the Treatment of Children with Gender Identity Disorder,‖ Journal of Homosexuality 59, no. 2(2012), http://dx.doi.org/10.1080/00918369.2012.653309. For an accessible summary of Zucker‘s approach to treating gender dysphoria i n children, see J. 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clinics, up from 879 in 2010. There are now [in 2013] 18,000 people in treatment, compared with 4,000 15 years ago. [In 2012] 208 children were referred, up 76. 77. 78.
79.
from 139 the year before and 64 in 2008.‖ Annelou L. C. de Vries et al., ―Young Adult Psychological Outcome After Puberty Suppression and Gender Reassignment,‖ Pediatrics 134, no. 4 (2014): 696-
704, http://dx.doi.org/10.1542/peds.2013-2958d. David Batty, ―Mistaken identity,‖ The Guardian , July 30, 2004, http://www.theguardian.com/society/2004/jul/31/health.socialcare.
Ibid. Jon K. Meyer and Donna J. Reter, ―Sex Reassignment: Follow -up,‖ Archives of General Psychiatry 36, no. 9 (1979): 1010-1015,
http://dx.doi.org/10.1001/archpsyc.1979.01780090096010.
Um esclarecimento adicional pode ser útil em relação a estudos desse tipo de pesquisa. diferenças significativas nas médias d as populações de amostras não implicam poder preditivo de qualquer consequência. Suponha que nós fizessemos 100 tipos diferentes de medições cerebrais em coortes de individuos transexuais e nãotransexuais, e em seguida calculassemos a média de cada uma dessas 100 variáveis para ambos os grupos. A teoria estatística diz-nos que, devido ao mero acaso, podemos (em média) esperar que os dois coortes diferam significativamente das medias de 5 desses em 100 variáveis. Isto implica que, se as diferenças significativas são cerca de 5 ou menos em 100, essas diferenças poderiam ser facilmente por acaso e, portanto, não devemos ignorar o fato de que 95 outras medições não conseguiram encontrar diferenças significativas. 23 Um estudo recente estima que 0,6% da população adulta EUA é transgênero. Veja 24 Nota: Embora a citação vem da entrada DSM-5 para "disforia de gênero" e implica que as taxas de persistência listadas se aplicam para que o diagnóstico preciso, o diagnóstico de disforia de gênero foi formalizado pela DSM-5, portanto, alguns dos estudos a partir do qual as taxas de persistência foram desenhadas podem ter empregado mais cedo os critérios diagnósticos de gênero. 22
83
80. 81. 82. 83. 84. 85. 86. 87. 88. 89. 90. 91. 92. 93. 94.
95. 96.
97.
Ibid ., 1015. See, for instance, Paul R. McHugh, ―Surgical Sex,‖ First Things (November 2004), http://www.firstthings.com/article/2004/11/surgical-sex. Michael Fleming, Carol Steinman, and Gene Bocknek, ―Methodological Problems in Assessing Sex -Reassignment Surgery: A Reply to Meyer and Reter,‖ Archives of Sexual Behavior 9, no. 5 (1980): 451-456, http://dx.doi.org/10.1007/BF02115944. Cecilia Dhejne et al., ―Long-term follow-up of transsexual persons undergoing sex reassignment surgery: cohort study in Sweden,‖ PLOS ONE 6, no. 2 (2011):
e16885, http://dx.doi.org/10.1371/journal.pone.0016885. 95% confidence interval: 2.0 –3.9. 95% confidence interval: 1.8 –4.3. MtF transsexuals in the study‘s 1973 -1988 period showed a higher risk of crime compared to the female controls, suggesting that they maintain a male pattern for criminality. That study period‘s FtM transsexuals, however, did show a higher risk of crime compared to the female controls, perhaps related to the effects of exogenous testosterone administration.( 25) 95% confidence intervals: 2.9 –8.5 and 5.8 –62.9, respectively. Ibid ., 6. Ibid. , 7. Annette Kuhn et al., ―Quality of life 15 years after sex reassignment surgery for transsexualism,‖ Fertility and Sterility 92, no. 5 (2009): 1685-1689, http://dx.doi.org/10.1016/j.fertnstert.2008.08.126. Mohammad Hassan Murad et al., ―Hormonal th erapy and sex reassignment: a systematic review and meta-analysis of quality of life and psychosocial outcomes,‖ Clinical Endocrinology 72 (2010): 214 –231, http://dx.doi.org/10.1111/j.1365-2265.2009.03625.x. Ibid. , 215. 95% confidence intervals: 68 –89%, 56 –94%, and 72 –88%, respectively. Ibid. Ibid. , 216. Ibid. Ibid. , 228.
Transexuais MtF no período do estudo 1973-1988 mostraram um maior risco de criminalidade em comparação com os controles do sexo feminino, sugerindo que eles mantêm um padrão masculino para a criminalidade. Transexuais FtM que do período de estudo, no entanto, mostraram um elevado r isco de crime em comparação com os controles do sexo feminino, talvez relacionados com os efeitos da administração exógena de testosterona. 25
84
CONCLUSÃO Precisamente, resultados de investigação científica replicáveis podem e influenciam as nossas decisões pessoais e auto compreensão, e podem contribuir para o discurso público, incluindo debates culturais e políticos. Quando a pesquisa toca em temas controversos, é particularmente importante ser claro sobre precisamente o que a ciência tem e não tem mostrado. Para questões complexas, complicadas relativas à natureza da sexualidade humana, não existe um melhor consenso científico provisório; muito permanece desconhecido, como a sexualidade é uma parte imensamente complexa da vida humana que desafia nossas tentativas de definir todos os seus aspectos e estudá-los com precisão. Para perguntas que são mais fáceis de estudar empiricamente, no entanto, como as relativas às taxas de efeitos na saúde mental para identificar subpopulações de minorias sexuais, a pesquisa oferece algumas claras respostas: estas subpopulações apresentam taxas mais elevadas de depressão, ansiedade, abuso de substâncias, e suicídio em comparação com a população em geral. A hipótese, do modelo de estresse social - que postula que o estigma, o preconceito, e a discriminação são as principais causas de taxas mais altas de fracos resultados em saúde mental para estas subpopulações - é frequentemente citada como uma forma de explicar esta disparidade. Quando os indivíduos não-heterossexuais e transgêneros são frequentemente submetidos a estressores sociais e discriminação, a ciência não tem demonstrado que estes fatores por si só representam a totalidade, ou mesmo a maioria, da disparidade em saúde entre não-heterossexuais, subpopulações transgêneras e da população em geral. Há uma necessidade de uma extensa investigação nesta área para testar a hipótese de estresse social e outras potenciais explicações para as disparidades de saúde, e para ajudar a identificar formas de abordar os problemas de saúde presentes nestas subpopulações. Algumas das vistas mais amplamente difundidas sobre a orientação sexual, tais como a hipótese do "nasceram assim", simplesmente não são suportados pela ciência. A literatura nesta área não descreve um pequeno conjunto de diferenças biológicas entre os não-heterossexuais e heterossexuais, mas essas diferenças biológicas não são suficientes para prever a orientação sexual, o teste final de qualquer descoberta científica. A declaração mais forte que a ciência oferece para explicar a orientação sexual é que alguns fatores biológicos aparecem, para uma desconhecida medida, para predispor alguns indivíduos para uma orientação não heterossexual. A sugestão de que "nascemos assim" é mais complexa no caso de identidade de gênero. Em certo sentido, a evidência de que nós nascemos com um determinado gênero parece estar bem apoiada por observação direta: machos esmagadoramente identificam-se como homens e fêmeas como mulheres. O fato das crianças serem (com poucas exceções de indivíduos intersexuais) nascidas quer biologicamente macho ou fêmea está além desse debate. Os sexos biológicos desempenham complementar papéis na reprodução, e há uma série de média de nível de diferenças fisiológicas e psicológicas entre os sexos. Contudo, enquanto o sexo biológico é uma característica inata dos seres humanos, identidade de gênero é um conceito mais evasivo. Na revisão da literatura científica, descobrimos que quase nada é bem compreendido quando buscamos explicações biológicas para o que provoca alguns indivíduos que afirmam que o seu gênero não corresponde ao seu sexo biológico. As conclusões que existem muitas vezes têm problemas de seleção de amostra, e eles não têm perspectiva longitudinal e poder explicativo. Melhor investigação é necessária, tanto para identificar maneiras pelas quais podemos ajudar a reduzir as taxas de maus resultados de saúde mental e para tornar possível a discussão mais informada sobre algumas das nuances presentes neste campo. Contudo, apesar da incerteza científica, intervenções drásticas são prescritas e entregues para identificar pacientes, ou identificados, como transgênero. Isto é especialmente preocupante quando os pacientes que receberam estas intervenções são crianças. Nós lemos relatos populares sobre planos para médicos e intervenções cirúrgicas para muitas crianças pré-púberes, alguns jovens com seis anos, e outras abordagens terapêuticas realizadas a crianças de dois anos. Sugerimos que ninguém pode determinar a identidade de gênero de uma criança de anos de idade. Temos reservas sobre o quão bem os cientistas compreendem o que ainda significa para uma criança ter um sentido desenvolvido de seu gênero, mas não obstante essa questão, estamos profundamente alarmados que estas terapias, tratamentos e cirurgias parecem desproporcional à gravidade do sofrimento que estão sendo