Sete Mitos Da Conquista Espanhola

April 15, 2019 | Author: Marina Amália | Category: Hernán Cortés, Aztec, Francisco Pizarro, Spain, Spanish Colonization Of The Americas
Share Embed Donate


Short Description

Download Sete Mitos Da Conquista Espanhola...

Description

Trabalho sobre o livro Sete mitos da conquista espanhola de Matthew Restall “Como grandes civilizações asteca e maia sucumbiram à conquista?”

Para o autor de “Sete Mitos da Conquista Espanhola ” Matthew Restall, a lenda de Hernán Cortés é um exemplo de mito que perdurou por séculos de que a conquista da América pelos espanhóis fora obra de alguns homens exepcionais, como Cristóvão Colombo, Francisco Pizarro e o próprio Cortés. Restall afirma que Cortés “ficaria encantado com o crédito que lhe é atribuído, em tantos livros didáticos e websites, pela queda do Império Asteca”. Um gênio militar capaz de manipular os nativos e o supersticioso imperador asteca, Cortés ainda contava com a superioridade superioridade tecnológica tecnológica dos espanhóis espanhóis e algumas algumas centenas centenas de soldados soldados para conquistar um império que não era passível de descrição, tamanha beleza e grandiosidade que apresentava. O autor pontua que já no século XVI Cortés encarnava o “arquétipo do conquistador” e que diversas publicações e documentos tanto europeus quanto de nativos americanos apontavam o mito gerado em torno de Cortés, Colombo e Pizarro. Seria esse mito cultivado como uma forma de conquista também? E quem está por trás da mistificação de homens não extraordinários, mas comuns? Além dessas questões, todas passíveis de diversas interpretações, a pergunta que nos confronta confronta é: se eles não eram extraordinários extraordinários e assim, capazes apenas de ações comu comuns ns,, como como civi civililiza zaçõ ções es amer americ ican anas as,, nota notave velm lmen ente te os Inca Incass e Maia Maias, s, sucumbiram aos colonizadores? No primeiro capítulo da obra, “Um punhado de aventureiros – O mito dos homens excepcionais”, Restall afirma que foram sete os motivos que fizeram as civilizações nativas – tanto as pequenas tribos como Estados Nação (Incas e Mai Maias) as) – cair cairem em pera perant nte e os conq conqui uist stad ador ores es espa espanh nhói óiss – ou de outr outras as nacionalidades contratados pela Coroa espanhola. O autor afirma também que estes sete procedimentos eram comuns e haviam sido aplicados anteriormente não só por conquistadores do Novo Mundo, mas em momentos anteriores da hist histór ória ia das das conq conqui uist stas as.. Se leva levarm rmos os em cont conta a que que os espa espanh nhói óiss tinh tinham am conhecimento conhecimento destes procedimentos procedimentos,, por terem aplicado-o anteriormente, anteriormente, ou por  terem tido acesso a documentos, livros e histórias sobre eles, e que os nativos do Novo Mundo não tinham o mesmo acesso a esse conhecimento, fica evidente que esses homens extraordinários já tinham uma pequena vantagem. Como Restall explica explica na página 51: “O padrão da Conquista era um conjunto conjunto de procedimento procedimentoss seguidos por muitos, não atos excepcionais de alguns homens apenas”. Para o autor o primeiro procedimento da Conquista era a necessidade de conferir legitimidade à expedição. Assim que alguém chegava a um novo território era feita a leitura de um documento legal que requeria a submissão daquele território. território. É possível possível perceber o absurdo da situação: a leitura leitura por pessoas hostis àquela população de um documento igualmente hostil, em língua desconhecida, ordenando a submissão, antes do início de uma eventual luta. Seguindo as formalidades legais necessárias, era declarada a reivindicação do território e

começava a formação de uma cidade. Com a criação dessa pequena estrutura urbana os conquistadores podiam outorgar leis, criar regras e assim validar   juridicamente sua autoridade sobre aquele território. Restall acredita que o exemplo mais famoso é o da fundação de Vera Cruz por Cortés; o conselho ali criado (cabildo) escreveu para a Coroa afirmando que a autoridade sobre aquela pequena cidade era inteiramente do rei. Nem sempre as cidades construídas vingavam, mas suas pequenas ruínas eram um sinal de que aquela região havia sido reivindicada e era propriedade de alguém. Esse primeiro procedimento levava a um segundo aspecto da Conquista: o apelo a uma autoridade superior, o rei. Durante esse procedimento, quando o conquistador se reportava ao rei ou ao seu superior, era comum a apropriação indébita de um território ou das glórias do descobrimento. Isso aconteceu com o próprio Cortés. Após a fundação de Vera Cruz, o conselho enviou um documento para o rei, afirmando que essa era a melhor decisão a ser tomada, contrariando as ordens do patrono da expedição de Cortés, Diego Velázquez. Ou seja, Cortés deliberadamente extirpou Velázquez da administração do território e de qualquer  glória ligada a conquista e fundação de Vera Cruz. Essa atitude era necessária para que Cortés conseguisse a aprovação do rei e assim reivindicasse o posto de governador dos territórios que conquistasse (Velázquez, a quem Cortés era subordinado, governava a ilha de Fernandina, atual Cuba). Um dos agentes que Cortés enviou para defender sua petição junto à Corte foi Francisco de Montejo, que aproveitou a oportunidade para pleitear junto ao rei uma licença de conquista de Yucatán – que ele conseguiu em 1926. Uma situação semelhante aconteceu com Pizarro, que ao voltar de sua expedição pela costa sul-americana do Pacífico, anulou as chances de seu companheiro de expedição Diego de Almagro e do governador do Panamá e da Nicarágua de reivindicarem a posse dos territórios conquistados. Um dos objetivos dos conquistadores era que a Coroa concentisse o governo do território conquistado a eles. O terceiro procedimento adotado pelos conquistadores era a busca por  metais preciosos, especialmente o ouro e a prata. Restall afirma que esses homens não eram “movidos pela sede pelo ouro”, mas pela necessidade de capital e crédito para efetuar a conquista: “(...) os espanhóis não tinham absolutamente o menor interesse no metal  per se – assim como nós não valorizamos cartões de crédito como objetos”. Os metais preciosos eram derretidos e transformados em barra, possibilitando o pagamento de cotas, dívidas e a obtenção de suprimentos. Não era um colar que chamava a atenção do conquistador, mas o que se poderia conseguir com o ouro daquele colar. E outro fator acrescentava importância a esses metais: eram de fácil transporte entre o Novo e o Velho Mundo. Isso permitiu a concretização da atividade econômica nas colônias da América e criou uma revolução na economia européia. Assim como procuraram o ouro para viabilizar a Conquista, a procura por populações nativas era o quarto procedimento dos conquistadores espanhóis. A necessidade de aliados era enorme para as sempre diminutas expedições. Em desvantagem numérica e sem conhecimento da região, os conquistadores precisavam de

aliados capazes de passar informações valiosas, de ajudar com as provisões e principalmente capazes de apoiar militarmente os espanhóis em possíveis lutas. Entre os aliados era rotineira a procura por intérpretes – o quinto procedimento. Cortés primeiramente procurou por Gerónimo de Aguilar, um explorador que naufragara sete anos antes; este não falava o idioma dos astecas. Foi então que decidiram ensinar o espanhol a Maliche, uma nativa nobre que falava o náuatle, idioma do Império Asteca, e o idioma maia. O mesmo procedimento havia sido aplicado anos antes por Colombo e conforme a conquista de novos territórios prosseguia a necessidade de tradutores, nativos ou espanhóis, aumentava. É claro que nem tudo funcionou perfeitamente bem. Restall usa como exemplo dois prisioneiros que foram levados para a Espanha com o intuito de serem transformados em intérpretes, mas que resistiram (um morreu e o outro fugiu após retornaram a Yucatán). Mas era comum que intérpretes nativos fossem não só aceitos, mas ascendessem na sociedade colonial, como o andino Martinillo, que tornou-se Dom Martín Pizarro.  A violência era utilizada em larga escala pelos conquistadores espanhóis e era o sexto procedimento. Mesmo com a cooperação dos nativos e com intérpretes, as expedições e forças continuavam em número inferior ao da população dos territórios invadidos. Embora os espanhóis não pretendessem dizimar ou escravizar os nativos e sim utilizá-los como mão-de-obra, os massacres de setores da população eram utilizados como demonstração de superioridade e opressão sobre alguns grupos nativos que se recusassem ou hesitassem em cumprir as regras impostas pelos conquistadores. O autor exemplifica esse procedimento comum referindo-se ao massacre comandado por Cortés em Cholula, por Pizarro em Atahuallpa e outros mais por toda a extensão dos domínios espanhóis. Infligir o medo nas populações nativas garantia relativa segurança, mesmo com números inferiores, aos conquistadores. Paralelamente a isso desenvolvia-se o sétimo procedimento da Conquista, a captura de governantes nativos. Cortés capturou o governante de Tenochtitlán, Montezuma, enquanto era mantido cativo dentro de um dos palácios astecas, para manter a segurança dos espanhóis e quando Montezuma perdeu sua importância, foi morto. Pizarro também capturou o líder Atahuallpa em Cajamarca e Tumbalá na ilha de Puná. No caso de Atahuallpa, um resgate foi pago à Coroa (quantidades massivas de ouro e prata) e logo após ele foi executado. Foi com a execução pública do rei nativo do Haiti Caonabó em 1494 que a prática de capturar, torturar e executar  líderes nativos se tornasse frequente nos territórios conquistados pelos espanhóis. Esses sete procedimentos nos levam a certeza de que não só eram comuns durante toda a Conquista Espanhola, mas que eram aplicados muitos antes não só pelos europeus, mas também pelos nativos em suas guerras, como provam os Impérios Asteca e Maia, que cresceram com a anexação de novos territórios. Provavelmente os nativos também possuiam procedimentos comuns e utilizavam em suas conquistas, mas ou os espanhóis não tomaram conhecimento desses procedimentos ou decidiram que eles não eram dignos de nota ou da publicação deles. Restall afirma que os mitos da Conquista foram criados pelos

espanhóis e disseminados pelos mesmos, que vitoriosos sobre os nativos, apagaram de suas narrativas qualquer aspecto que diminuisse sua glória. Como essas civilizações nativas, pequenas ou imponentes, sucumbiram aos Conquistadores? O autor não responde a essa pergunta diretamente, mas insinua que o uso dos sete procedimentos massivamente sobre a população nativa foi decisiva no colapso e desaparecimento de populações inteiras e suas cidades, dando lugar a povoados inteiramente novos. Os conquistadores também venceram ao propagar o mito de que eram excepcionais – relegando os conquistados ao posto de meros coadjuvantes do que Adam Smith considerou em 1776 “os maiores e mais relevantes acontecimentos já registrados na história da humanidade”.

View more...

Comments

Copyright ©2017 KUPDF Inc.
SUPPORT KUPDF