SENECA Sobre o Ócio

March 12, 2023 | Author: Anonymous | Category: N/A
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Sêneca   Sêneca Sobre o Ócio

"QUAL É O PROPÓSITO DO SÁBIO EM SE DEDICAR AO ÓCIO? ELE SABE QUE, TANTO NO ÓCIO COMO NA AÇÃO, REALIZARÁ ALGO PELO QUAL ESTARÁ A SERVIÇO DA POSTERIDADE".  

Tradução, introdução e notas de

 ALEXANDRE  ALEXANDR E PIRES V VIEIRA IEIRA

 

 

 ©2020 Copyright Copyright Montecristo Montecristo Editora Editora

SÊNECA SOBRE O ÓCIO  Título Original

 Ad Serenus, De Otio Otio Supervisão Supe rvisão de Editoração/Capa Editoração/Capa

Montecristo Editora Tradução

 Alexandre Pires Vieira Original em inglês

Internet Archive

Im Imagem agem da C Capa apa

Tempo Livre, por John William Godward ISBN: 978-1-61965-183-8 – Edição Digital

Montecristo Editora Ltda. e-mail: [email protected] 

 

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Sêneca;

Sobre o Ócio; introdução, tradução e notas de Alexand  Alexandre re Pires V Vieira ieira – Montecristo Editora, 2020. Título Original Ad Serenus, De Ocio ISBN: 978-1-61965-183-8

 

1. Filosofia antiga. 2.Sêneca 3. Estoicismo. 5. Ética 5. Moral I. Vieira,  Alexandre Pires. II. Título 14-10335 CDD-188

 

Introdução  subsiste estado trabalho Sobre Ócio respeitoo ao uso racionalem do um tempo livre,fragmentado. pelo qual se O pode aindadiz ajudar ativamente a humanidade engajando-se em questões mais amplas sobre a natureza e o universo. O texto do manuscrito começa na metade da frase e termina de forma bastante abrupta. No Codex Ambrosianus (a principal fonte dos ensaios do Sêneca),  A Vida Fel Feliz iz (De  (De Vita ele é simplesmente colocado no final do do A Beata), sugerindo que um escriba perdeu uma página ou duas. O título do ensaio, De Otio, é conhecido a partir do índice. Sêneca interpreta o termo “otio” como representando algo mais do que tempo livre ou lazer. Entendia-o como sendo o lazer utilizado a serviço da comunidade pela atividade intelectual intelectual:: “O dever do homem é ser útil aos seus semelhantes; se possível, ser útil a muitos deles; se assim não conseguir conseguir,, ser útil a uns  poucos; se assim não for for, ser útil aos seus vizinhos vizinhos e, se assim não for, for, a si mesmo: pois, quando ajuda os outros, faz progredir  os interesses gerais da humanidade.” (III, 5)

Em Sobre o Ócio Sêneca debate a vida apropriada para um filósofo estoico. Sêneca relata a posição padrão da escola de que os sábios se envolverão em assuntos públicos, a menos que algo os impeça. Enumera alguns argumentos contra o engajamento na vida pública, como se o estado for muito corrupto, ou se a influência do sábio for muito limitada, ou se s e ainda ele está com saúde debilitada. Explica as posições dos fundadores do estoicismo Zenão, Cleantes e Crísipo fazendo um forte contraste com os ensinamentos de Epicuro: “As duas correntes filosóficas, a dos Epicuristas e a dos Estoicos, diferem muito na maioria dos aspectos e, neste ponto, entre os

 

demais, no entanto, cada uma delas nos encaminha para o ócio, embora por um caminho diferente. Epicuro diz: "O sábio não  participará da política, política, exceto em alguma alguma ocasião especial"; especial"; Zenão diz: "O sábio participará da política, a menos que seja impedido por alguma circunstância especial"” (III, 3)

O sábio deve optar por se envolver com o universo mais amplo: movendo suas ações da perspectiva local para a perspectiva cósmica e se estudar as questões fundamentais do universo de maneira a ajudar toda a humanidade. No fundo, o ócio, para o filósofo, não é apenas uma questão de ter tempo para descansar e realizar atividades relaxantes. É um aspecto crucial da própria vida, sem o qual não temos tempo nem energia para pensar, pensar, sendo assim forçados pelas circunstâncias a viver uma vida menos útil e realizadora do que de outra forma. O diálogo, foi nomeado “Da vida retirada”. É dirigidoem aotraduções seu amigoantigas, Aneu Sereno e foi escrito, provavelmente, no ano 62, sendo um dos três diálogos endereçados a Sereno, que também inclui “Sobre “Sobre a tranquilidade da alma” alma” e “Sobre “Sobre a Constância do Sábio Sábio”. ”. Foi um grande amigo de Sêneca, pertencente à ordem equestre, formada pelos cidadãos mais abastados. Sereno também tinha cargo na administração pública, tendo obtido, por influência de Sêneca, a função de praefectus, responsável por combate a incêndios, atividade importante na cidade de Roma. Era bastante jovem e teve uma morte1 prematura, segundo Sêneca noticia numa das cartas a Lucílio .

 

Sobre o autor  Lúcio Aneu Sêneca, em latim: Lucius Annaeus Seneca, é

conhecido também como Sêneca, o jovem ou o filósofo. Nasceu em Córdoba, aproximadamente em 4 a.C. Era de família abastada, que se transferiu para Roma quando ele ainda era criança. Muito jovem, Sêneca estudou com o estoico Átalo e com os neopitagóricos Sótion de Alexandria e Papírio Fabiano, discípulos do filósofo romano Quinto Séxtio. Provavelmente por motivos de saúde, Sêneca mudou-se, por  volta de 20 d.C., para Alexandria, no Egito, de onde retornou a Roma 31. Aos quarenta sido anoseleito iniciou carreira comoEm orador e político,em tendo rapidamente para o senado. Roma, estabeleceu vínculos com as irmãs do imperador Calígula: Livila, Drusila e Agripina Menor, mãe do futuro imperador Nero. Sendo figura destacada no senado e no ambiente palaciano, foi envolvido numa conjuração contra Calígula. Sêneca diz que se livrou da condenação à morte por sofrer de uma doença pulmonar (provavelmente asma). Assim, por  intercessão de aliados, Calígula foi convencido que ele estaria condenado a uma morte natural iminente. Com o assassinato de Calígula em 41, Sêneca tornou-se alvo de Messalina, esposa do imperador Cláudio, num confronto entre esta e as irmãs de Calígula. Acusado de manter relações adúlteras com Livila, foi condenado à morte pelo Senado. Por  intervenção do próprio imperador, imperador, a pena foi comutada em exílio na ilha de Córsega. O exílio durou oito anos, período em que o filósofo se dedicou aos estudos e à composição de inúmeras obras. Em 49 d.C. Agripina, então a nova esposa do imperador Cláudio, possibilitou o retorno de Sêneca e o instituiu como preceptor de

 

seu filho Nero, então com doze anos. Após a morte de Cláudio em 54, Nero foi nomeado seu sucessor e Sêneca tornou-se o principal conselheiro do jovem imperador imperador.. No entanto, o conflito de interesses envolvendo, de um lado, Agripina e seus aliados e de outro, conselheiros de Nero, os quais, por sua vez, se opunhameano Sêneca, a uecimento uma crise que resultou na morte de  Agripina graduallevou enfraq enfraquecimento políti político co de Sêneca. Em 62, Sêneca solicitou a Nero para se afastar totalmente das funções públicas, contudo o pedido foi negado. De toda forma, alegando saúde precária, Sêneca passou a se dedicar ao ócio, ou seja, à leitura e à escrita. Sua relação com Nero deteriorou-se principalmente pelo prestígio do filósofo no meio político e intelectual, onde era visto como um possível governante ideal. No início de 65, foi envolvido em uma conjuração para derrubar o imperador e foi condenado à morte por suicídio, morreu em 19 de abril. Sêneca foi simultaneamente dramaturgo de sucesso, uma das pessoas mais ricas de Roma, estadista famoso e conselheiro do imperador. Sêneca teve que negociar, persuadir e planejar seu caminho pela vida. Ao invés de filosofar da segurança da cátedra de uma universidade, ele teve que lidar constantemente com pessoas não cooperativas e poderosas e enfrentar o desastre, o exílio, a saúde frágil e a condenação à morte. Sêneca correu riscos e teve grandes feitos.

Obras filosóficas de Sêneca: Sêneca: Cartas de um Estoico, Vol I ( I (Epistulae morales ad  Lucilium) Cartas de um Estoico, Vol II Cartas de um Estoico, Vol III Sobre a Ira ( Ira (De Ira) Márcia (  ( Ad  Ad Marciam, De consolatione consolatione) Consolação a Márcia  Ad Helviam matrem, Consolação a Minha Mãe Hélvia Hélvia (  ( Ad

 

De consolatione)

Consolação a Políbio (De Consolatione ad Polybium) Sobre a Brevidade da vida vida((De Brevitate Vitae) Clemência (  (De Clementia) Da Clemência Sobre Constância do sábio sábio (  (De Constantia Sapientis) De Vita Beata) Feliz liz (  (  A Vida Fe Benefícios (  (De Beneficiis) Sobre os Benefícios Sobre a Tranquilidade da alma alma (  (De Tranquillitate Animi ) Ócio (  (De Otio) Sobre o Ócio Sobre a Providência Divina Divina (  (De Providentia) Sobre a Superstição (De Superstitione) perdida, citada por Santo Agostinho.

 Além de filosofia, filosofia, Sêneca escreveu tamb também ém Tra Tragédias gédias e peças de teatro, bastante populares em sua época: Hércules furioso (Hercules furens)  As Troianas Troianas (Troades)  As Fenícias (Phoenissae) Medeia (Medea) Fedra (Phaedra) Édipo (Oedipus)  Agamemnon Tiestes (Thyestes) Hércules no Eta (Hercules Oetaeus)

 

Sobre a tradução  A tradução para o português foi baseada na versão em inglês de Aubrey Stewart publicada em 1889 por George Bell & Sons Archive. Ao  Ao texto de Stewart foram disponível no Internet Archive. acrescentadas as notas de rodapé esclarecendo nomes e personagens citados por Sêneca bem como referências a livros de autores mencionados. A leitura das seguintes s eguintes obras foi fundamental para a conclusão da tradução: 1.Moral Letters to Lucilius by Seneca por Richard Mott Gummere; 2. Reading  Seneca: Stoic Philosophy at Rome por Brad Inwood; 3. A Guide to the Good Life: The Ancient Art of Stoic Joy  por  por William Braxton Irvine.

O texto em latim que consta deste volume é da Universidade de Tufts disponível na Perseus Digital Library. Library. Poucas observações sobre a tradução são s ão necessárias. No latim, o uso da segunda pessoa é natural para expressar a relação de proximidade e familiaridade. Nas traduções em português geralmente usa-se a segunda pessoa (tu). Contudo, no português atual, principalmente no Brasil, o uso da terceira pessoa (você)filosofia me parece mais adequado intenção de Sêneca, que ensinava a um amigo. Assim,àtoda a tradução foi feita em terceira pessoa. O termo “fortuna/fortunae”, para o autor latino, se assemelha à nossa “sorte” ou “destino”, mas era também uma divindade. O nome comum e o nome próprio são dificilmente distinguíveis no texto, portanto, usei sempre “Fortuna”.  Aubrey Stewart traduz traduz o latim “otio” para “leisure”, que poderia ser traduzido para português por “lazer”. Traduzi por “ócio” pois acredito estar mais próximo do significado desejado por Sêneca. Nesta mesma linha, quanto ao título, Sêneca usa “de Otio”. Na

 

tradução, por Aubrey Stewart, a obra recebe o título “Of Leisure”. Usei o termo comumente c omumente usado em português, “Ócio”. O diálogo, em traduções antigas, foi nomeado “Da vida v ida retirada”. Que este livro o sirva como amigo, professor e companheiro. c ompanheiro. Espero que gostem tanto quanto eu, Alexandre Pires Vieira Viena, primavera de 2020

NOTAS 1  Ver Carta LXIII, LXIII, 14: “Quem lhe escreve estas palavras não é outro senão eu, que chorou tão excessivamente pelo meu querido amigo Aneu Sereno ... Hoje, no entanto, condeno este ato meu, e entendo que a razão pela qual chorei tanto foi principalmente pois nunca imaginei que sua morte pudesse preceder a minha. O único pensamento que me ocorreu foi que ele era o mais novo, e muito mais novo, – como se o destino seguisse a ordem de nossos tempos!”

 

Sobre o Ócio I (...) 1. Por que eles nos recomendam com grande unanimidade os vícios? Mesmo que não tentemos nada mais que nos faça bem, a vida retirada em si mesma será benéfica para nós: seremos homens melhores quando tomados individualmente - e se assim for,, que vantagem será retirarmo-nos em sociedade do melhor  for dos homens, e escolher algum exemplo pelo qual possamos orientar nossas vidas! Isto não pode ser feito sem o ócio: com o ócio podemos realizar aquilo que de uma vez por todas decidimos: sermos melhores, sem que haja ninguém para interferir conosco e com a ajuda da turba perverter o nosso ainda débil julgamento: apenas com o ócio pode a vida, que desviamos almejando coisas incompatíveis, fluir em uma única corrente suave. 2. Na verdade, o pior de nossos vários males é que mudamos nossos próprios vícios, e por isso não temos sequer a vantagem de lidar com uma forma bem conhecida de maldade: temos prazer  primeiro em um e depois em outro, e estamos, além disso, perturbados pelo fato de que nossas opiniões não só estão erradas, mas levianamente formadas; atiramos como que em ondas, e nos agarramos a uma coisa atrás da outra: abandonamos o que acabamos de almejar, e nos esforçamos para recuperar o que deixamos ir. 3. Nós oscilamos entre o desejo e o arrependimento, arrependimento, pois dependemos inteiramente das opiniões dos outros, e é aquilo que muitos louvam e buscam, não aquilo que merece ser louvado e buscado, o que consideramos ser o melhor melhor.. Nem nos

 

preocupamos em saber se nosso caminho é bom ou mau em si mesmo, mas valorizamo-lo pelo número de pegadas nele, entre as quais não há ninguém que tenha voltado. 4. Você vai me dizer: "Sêneca, o que você está fazendo? Você abandona a sua escola?” Estou certo de que nossos filósofos estoicos dizem que devemos estar em movimento até o fim de nossa vida, que nunca devemos parar de trabalhar para o bem geral, que devemos ajudar as pessoas individualment individualmente e e que, quando acometidos pelos anos, devemos dar assistência até aos nossos inimigos. Nós somos a seita que não dá dispensa por  nenhum número de anos de serviço, e nas palavras do mais eloquente dos poetas: "Usamos o capacete em nossos cabelos grisalhos" 1.

Nós somos aqueles que estão tão longe de se entregarem a qualquer descanso até a morte, que se as circunstâncias o permitirem, não nos permitimos estar em descanso, mesmo quando estamos morrendo. “Por que você prega as máximas de Epicuro2 no próprio quartel-general de Zenão3? Se você se envergonha de sua escola, por que não vai abertamente para o inimigo em vez de trair seu próprio lado"? 5.Vou 5.V ou responder imediatamente a esta pergunta: o que mais você pode desejar do que eu imite os meus líderes? O que segue então? Eu irei para onde eles me guiarem, não para onde eles me mandarem.

 

II 1. Agora vou provar a você que não estou desertando dos princípios dos estoicos: pois eles mesmos não os desertaram; e ainda assim eu posso invocar uma desculpa muito boa: segui, não os seus preceitos, mas os seus exemplos. V Vou ou dividir o que vou dizer em duas partes: primeiro, que um homem pode, desde o início de sua vida, entregar-se inteiramente à contemplação da verdade; 2. Segundo, que um homem, quando já tiver cumprido seu mandato, tem o melhor dos direitos, que mesmo com saúde abalada, pode aplicar sua mente a outros estudos, à maneira das Virgens Vestais4, que atribuem diferentes deveres a diferentes anos, aprendendo primeiro a cumprir os ritos sagrados e, quando os tiverem aprendido, ensinando aos outros.

 

III Mostrarei que isso é aprovado também pelos estoicos, não que eu tenha imposto qualquer mandamento a mim mesmo de não contrariar os ensinamentos de Zenão e Crísipo5, mas porque o próprio assunto me permite seguir os preceitos daqueles homens; pois se alguém segue sempre os preceitos de um homem, deixa de ser um debatedor e se torna um partidário. Quisera que tudo já fosse conhecido, que a verdade estivesse desvelada e reconhecida, e que nenhuma de nossas doutrinas exigisse modificação! Mas como é preciso buscar a verdade na companhia dos próprios homens que a ensinam. 2. As duas correntes filosóficas, a dos Epicuristas e a dos Estoicos, diferem muito na maioria dos aspectos e, neste ponto, entre os demais, no entanto, cada uma delas nos encaminha para o ócio, embora por um caminho diferente. Epicuro diz: "O sábio não participará da política, exceto em alguma ocasião especial"; Zenão diz: "O sábio participará da política, a menos que seja impedido por alguma circunstância especial". 3. Um faz da vida seu objetivo buscar o ócio, o outro só o busca quando temamplo. razõesSe para isso: mas "razões" temdeum significado o Estado estáesta tão palavra apodrecido a ponto estar irremediável, se o mal tem todo o domínio sobre ele, o sábio não trabalhará em vão nem desperdiçará suas forças em esforços inúteis. Se ele estiver deficiente em influência ou força corporal, se o Estado se recusar a submeter-se à sua orientação, se a sua saúde estiver no caminho, então ele não tentará uma viagem para a qual não está apto, da mesma forma que não colocaria no mar  um navio danificado, ou se alistaria no exército se fosse um inválido. 4. Consequentemente, aquele que ainda não sofreu nem em

 

saúde nem em fortuna tem o direito, antes de enfrentar qualquer  tempestade, de se colocar em segurança e, a partir daí, de se dedicar à honrosa profissão6 e ao ócio inviolável, e ao serviço daquelas virtudes que podem ser praticadas mesmo por aqueles que passam a mais tranquila das vidas. 5. O dever do homem é ser útil aos seus semelhantes; se possível, ser útil a muitos deles; se assim não conseguir conseguir,, ser útil a uns poucos; se assim não for, ser útil aos seus vizinhos e, se assim não for, a si mesmo: pois, quando ajuda os outros, faz progredir os interesses gerais da humanidade. Assim como aquele que se faz pior faz mal não só a si mesmo, mas a todos aqueles a quem poderia ter feito o bem, caso se tivesse feito melhor,, também aquele que se aprimora, faz bem aos outros, pelo melhor simples fato de estar preparando o que lhes será útil no futuro.

 

IV 1. Tomemos consciência de que existem duas repúblicas, uma vasta e verdadeiramente "pública", que contém igualmente deuses e homens, na qual não levamos em conta este ou aquele recanto de terra, mas fazemos chegar os limites do nosso estado até os raios do sol: e outra à qual fomos designados pelo acidente do nascimento. Pode ser a dos atenienses ou cartagineses, ou de qualquer outra cidade que não pertença a todos os homens, mas a alguns especiais. Alguns homens servem a ambos os estados, o maior e o menor menor,, ao mesmo tempo; alguns servem apenas ao menor, outros apenas ao maior. 2. Podemos servir à grande comunidade, mesmo quando estamos em ócio; de fato, não estou certo de que não possamos servi-la melhor quando estamos em ócio pesquisando sobre o que é virtude, e se é única ou múltipla: se é a natureza ou a técnica que faz o homem bom: se aquilo que contém a terra e o mar e tudo o que neles há é único, ou se Deus colocou neles muitos corpos da mesma espécie: se aquilo de que todas as coisas são feitas é contínuo e sólido, ou se contém interstícios e espaços vazios e cheios alternadamente: se Deus olha passivamente para Sua obra, ou guia seu curso: se Ele está ausente ou em torno do mundo, ou se Ele permeia toda a sua superfície: se o mundo é imortal, ou fadado à extinção ou pertencente à classe de coisas que existem apenas por um tempo? Que serviço presta a Deus aquele que medita sobre estas questões? Ele impede que estas Suas grandes obras não tenham ninguém que as testemunhe.

 

V 1. Temos o hábito de dizer que o bem maior é viver de acordo com a natureza: agora a natureza nos produziu para os dois fins, para a contemplação e para a ação. Provemos agora o que dissemos antes: Por que agora? Isso não ficaria provado de maneira suficiente se cada um buscasse dentro de si próprio o desejo que possui para buscar o desconhecido e a curiosidade diante da narração de uma história? 2. Quão veementemente a sua curiosidade é despertada por todo tipo de conto romântico. Alguns homens fazem longas viagens e se esforçam em viajar para terras distantes sem nenhuma recompensa, exceto a de descobrir algo escondido e remoto. É isso que atrai as pessoas para os espetáculos públicos, e as faz se intrometer em tudo o que é sigiloso, confundir tudo o que é secreto, esclarecer pontos da antiguidade e ouvir contos dos costumes de nações bárbaras. 3. A natureza nos concedeu uma disposição indagadora, e estando bem ciente de sua própria habilidade e beleza, nos produziu para sermos espectadores de suas vastas obras, pois perderia todos os frutos de seu trabalho se exibisse obras tão vastas e nobres de tão complexa construção, tão brilhantes e belas em tantos sentidos, só para a solidão. 4. Que tenha a certeza de que ela deseja ser contemplada, e não apenas olhada, pois que ela nos designou um lugar: ela nos colocou no meio de si mesma e nos deu uma perspectiva por toda parte. Ela não só colocou o homem ereto sobre os pés, mas também com o objetivo de facilitar-lhe a observação dos céus, levantou-lhe a cabeça ao alto e a conectou com um pescoço flexível, a fim de que ele pudesse seguir o curso das estrelas desde a sua ascensão até o seu ocaso, e mover seu rosto em

 

volta com todo o céu. Além disso, ao carregar c arregar seis constelações através do céu de dia, e seis de noite, ela mostra cada parte de si de tal maneira que, pelo que traz diante dos olhos do homem, ela o faz ansioso para contemplar o restante também. 5. Com efeito, não temos visto todas as coisas, nem ainda a verdadeira extensão delas, mas nossa visão apenas abre a si mesma o caminho certo para a pesquisa, e lança o fundamento, do qual nossas especulações podem passar do óbvio para o menos conhecido, e descobrir algo mais antigo do que o próprio mundo, de onde saíram aquelas estrelas: indagar qual era a condição do universo antes que cada um de seus elementos fosse separado da massa geral: em que princípio suas partes confusas e mescladas estariam divididas: quem atribuía seus lugares às coisas, se por sua própria natureza o que era pesado afundava na terra e o que era leve fluía para cima, ou se, além da tensão e do peso dos corpos, algum poder superior dava leis a cada um deles: se é verdade, segundo dizem, que o homem é constituído de espírito divino; se partículas e fagulhas de astros caíram sobre a Terra e aí ficaram escondidas em lugar  inacessível. 6. Nosso pensamento irrompe pelas entranhas do céu, e não se contenta em saber apenas o que nos é mostrado: "Investigo", diz, "o que está além do mundo, se é um abismo sem fundo, ou se também está confinado dentro dos seus próprios limites: qual pode ser a aparência das coisas exteriores, se são disformes e imprecisas, estendendo-se igualmente em todas as direções, ou se também estão dispostas em certo tipo de ordem: se elas estão ligadas a este nosso mundo, ou se estão totalmente separadas dele e se soltam no espaço vazio: se consistem de átomos distintos, dos quais tudo o que existe e o que vai existir é feito, ou se sua substância é ininterrupta e tudo isso é capaz de mudar: se os elementos são naturalmente opostos uns aos outros, ou se não estão em desacordo, mas trabalham para o mesmo fim por meios diferentes." 7. Uma vez que o homem nasceu para especulações como estas,

 

considere o pouco tempo que lhe foi concedido para elas, mesmo supondo que ele faça bem o que lhe é devido, não permite que nenhuma parte dele lhe seja arrancada pela boa natureza, ou que se afaste dele por descuido; Ainda que não permita que lhe perturbem nem se descuide, ainda que controle seu tempo com muito cuidado e estenda as suas horas até o fim de sua vida, desde que o destino não retire nada do que recebeu da natureza, o homem é por demais mortal para compreender as coisas imortais. 8. Eu vivo segundo a Natureza, portanto me entreguei inteiramente a ela, e a admiro e reverencio. A Natureza, porém, quis que eu fizesse ambas, que praticasse tanto a contemplação quanto a ação: e eu faço ambas, porque nem mesmo a contemplação é desprovida de ação.

 

VI 1. "Mas", diz você, "faz diferença se você adota a vida contemplativa para o seu próprio prazer, não exigindo nada dela a não ser a contemplação ininterrupt ininterrupta a sem nenhum resultado: pois tal vida é doce e tem atrativos próprios". A isto lhe respondo: Faz a mesma diferença em que ânimo você leva a vida de um homem público, se você nunca está em repouso, e nunca separa um momento em que você possa desviar seus olhos das coisas da terra para as do céu. 2. Não é, de modo algum, desejável que se procure meramente acumular bens sem amor à virtude, ou não se faça nada mais do que trabalho árduo sem nenhum cultivo do intelecto, porque essas coisas devem ser combinadas e misturadas; e, do mesmo modo, a virtude colocada no ócio sem ação não é senão uma coisa boa incompleta e débil, porque nunca mostra o que aprendeu. 3. Quem pode negar que ela deve testar seu progresso no trabalho real, e não apenas pensar no que deve ser feito, mas também, às vezes, usar suas mãos e sua cabeça, e trazer suas concepções à existência real? Se o atraso na execução não ocorre por causa do sábio, então não é o agente que está em falta e, sim, aquilo que deve ser feito. Por que razão, então, condená-lo a ficar recluso? 4. Qual é o propósito do sábio em se dedicar ao ócio? Ele sabe que, tanto no ócio como na ação, realizará algo pelo qual estará a serviço da posteridade. Nossa escola, em todo caso, declara que Zenão e Crísipo fizeram coisas maiores do que teriam feito se estivessem no comando de exércitos, ou preenchessem altos cargos, ou aprovassem leis: as quais, de fato, passaram, embora não por um único estado, mas por toda a raça humana. Como pode então ser impróprio a um homem bom desfrutar de um ócio

 

como este, por cujos meios ele dá leis aos tempos vindouros, e se dirige não a poucas pessoas, mas a todos os homens de todas as nações, tanto agora como no futuro? 5. Para resumir o assunto, pergunto-lhe se Cleantes7, Crísipo e Zenão8 viveram de acordo com a doutrina deles? Estou certo de que você responderá que eles viviam da maneira como ensinavam que os homens deviam viver; contudo, nenhum deles governava um estado. "Eles não tinham", responde você, "a quantidade de riqueza ou posição social que, em regra, habilita as pessoas a tomar parte em assuntos públicos". Mas, nem por isso viveram uma vida ociosa: encontraram os meios de tornar a sua aposentadoria mais útil aos homens do que os suores e as correrias de ida e de volta de outros homens: por isso se julga que essas pessoas fizeram grandes coisas, apesar de nada terem feito de caráter público.

 

VII 1. Além disso, existem três modos de vida, e é uma questão importante qual dos três é o melhor: o primeiro é dedicado ao prazer,, o segundo à contemplação, o terceiro à ação. Antes de prazer tudo, deixemos de lado a polêmica e a amargura de sentimentos, que, como já dissemos, faz com que aqueles cujos caminhos na vida são diferentes se odeiem além de toda esperança de reconciliação9, e vejamos se todos esses três não chegam à mesma coisa, embora com nomes diferentes: pois nem aquele que decide pelo prazer está sem contemplação, nem aquele que se entrega à contemplação prazer: nem ainda aquele cuja vida é dedicada à ação, semsem contemplação. 2. "Faz", diz você, "toda a diferença no mundo, se uma coisa é o objeto principal da vida, ou se é apenas um apêndice de algum outro objetivo". Admito que a diferença é considerável, mas uma não existe à parte da outra: um homem não pode viver em contemplação sem ação, nem o outro pode agir sem contemplação: e mesmo o terceiro, de quem todos concordamos em ter uma má opinião, não aprova o prazer apático, mas aquele que estabelece para si mesmo por meio da razão: 3. Mesmo esta própria seita que busca o prazer prazer,, portanto, pratica também a ação. Claro que sim, pois o próprio Epicuro diz que, às vezes, abandonaria o prazer e buscaria realmente a dor dor,, se o prazer fosse causador de arrependimento, ou se achasse que, suportando uma leve dor, poderia evitar uma maior. Com que propósito eu afirmo isso? 4. Para provar que todos os homens são apreciadores da contemplação. Alguns fazem dela o objeto de suas vidas: para nós é um ancoradouro, mas não um porto de chegada.

 

VIII 1. Acrescente-se a isto que, segundo a doutrina de Crisipo, um homem pode viver em ócio: eu não digo que ele deva suportar o ócio, mas que ele deve escolhê-lo voluntariamente. Nossos estoicos dizem que o homem sábio não participaria do governo de nenhum Estado. Que diferença faz em que caminho o sábio chega ao ócio, seja porque o Estado o quer, seja porque ele quer  o Estado? Se o Estado desejar todos os sábios (e sempre terá necessidade de refinados pensadores), pergunto-lhe, a que Estado deve o sábio se levar; ao dos atenienses, no qual Sócrates foi condenado e do qual se exilou para não ser condenadoààmorte, morte... onde asAristóteles virtudes são derrubadas pela inveja? Diga-me que nenhum homem sábio se  juntaria a tal estado. 2. Então o sábio irá para a República dos Cartagineses, onde a revolução nunca cessa de se inflamar inflamar,, e a liberdade é inimiga de todos os melhores homens, onde a justiça e a bondade não são tidas em conta, onde os inimigos são tratados com crueldade desumana e os nativos são tratados como inimigos: ele fugirá também deste estado. 3. Se eu fosse discutir cada uma separadamente, não poderia encontrar uma república que o homem sábio pudesse suportar suportar,, ou que pudesse suportar o homem sábio. Agora, se uma república como a que sonhamos não pode ser encontrada na Terra, seguese que o ócio é necessário para todos, porque a única coisa que pode ser preferida ao ócio não se encontra em lugar algum. 4. Se alguém diz que velejar é a melhor das coisas, e depois diz que não devemos velejar em um mar em que os naufrágios são ocorrências comuns, e onde muitas vezes surgem tempestades repentinas que afastam o piloto de seu curso, eu deveria imaginar 

 

que esse homem, ao falar em louvor à vela, estava realmente me proibindo de desatracar meu navio. ...10

Notas 1 Virgílio, Enéida, ix, 612: “Canitiem galea premimus” 2  Epicuro de Samos  (341 a.C., Samos — 271 ou 270 a.C., Atenas) foi um filósofo grego do período helenístico. Seu pensamento foi muito difundido e numerosos centros epicuristas que se desenvolveram na Jônia, no Egito e, a partir do século I, em Roma, onde Lucrécio foi seu maior divulgador. O propósito pela da filosofia Epicuro atingir ea felicidade, estado caracterizado aponia, para a ausência de era dor (física) ataraxia ou imperturbabilidade da alma. Ele buscou na natureza as balizas para o seu pensamento: o homem, a exemplo dos animais, busca afastar-se da dor e aproximar-se do prazer. Estas referências seriam as melhores maneiras de medir o que é bom ou ruim. Utilizou-se da teoria atômica de Demócrito para justificar a constituição de tudo o que há. Das estrelas à alma, tudo é formado de átomos, sendo, porém de diferentes naturezas. Dizia que os átomos são de qualidades finitas, de quantidades infinitas e sujeitos a infinitas combinações. A morte física seria o fim do corpo (e do indivíduo), que era entendido como somatório de carne e alma, pela desintegração completa dos átomos que o constituem. Desta forma, os átomos, eternos e indestrutíveis, estariam livres para constituir  outros corpos. Essa teoria, exaustivamente trabalhada, tinha a finalidade de explicar todos os fenômenos naturais conhecidos ou ainda não e principalmente extirpar os maiores medos humanos: o medo da morte e o medo dos deuses. Mais em O Estoico: Estoico:  Apatheia e Ataraxia: conceito e diferenças 3  Zenão de Cítio (Cítio, 333 a.C. — Atenas, 263 a.C.) foi um filósofo da Grécia Antiga. Nasceu em Cítio, na ilha de Chipre. Lecionou em Atenas, onde fundou a escola filosófica estoica por volta de 300 a.C. onde enfatizava a paz de espírito, conquistada através de uma vida plena de virtude, de acordo com as leis da natureza. 4  As virgens vestais  (em latim virgo vestalis), na Roma Antiga, eram sacerdotisas que cultuavam a deusa romana Vesta. Era um sacerdócio

 

exclusivamente feminino, restrito a seis mulheres que seriam escolhidas entre a idade de 6 a 10 anos, servindo durante trinta anos. Durante esse período, as virgens vestais eram obrigadas a preservar sua virgindade e castidade, pois qualquer atentado a esses símbolos de pureza significariam um sacrilégio aos deuses romanos e, portanto, também à sociedade romana. 5  Crísipo de Solos  (Solos, c. 280 a.C. — Atenas, ca. 208 a.C.) foi um dos maiores expoentes do estoicismo e discípulo de Cleanto de Assos. Teve fama de sutil e apurado dialético. Não foi apenas um filósofo estoico como também partidário do estoicismo, atacando ardorosamente os inimigos da doutrina do Pórtico (o alvo preferido eram os filósofos acadêmicos). 6 Filosofia. 7 Cleantes de Assos ca. 330 a.C. — ca. 230 a.C.), em grego: Κλέανθης, Kléanthēs, foi um filósofo estoico, discípulo e continuador de Zenão de Cítio como segundo escolarca da escola estoica de Atenas. Tendo iniciado o estudo da filosofia aos 50 anos de idade, depois de ter sido atleta de vivercerca na pobreza, as lições de Zenão de Cítiodae após ae apesar morte deste, do ano seguiu 262 a.C., assumiu a liderança escola, cargo que manteria por 32 anos, preservando e aprofundando as doutrinas do seu mestre e antecessor. 8  Zenão, Crísipo e Cleantes, foram, nesta sequência, os três primeiros escolarca do estoicismo. 9 Longa referência aos epicuristas, que defendiam ser o prazer o objetivo supremo da vida. 10  10  Sobre o Ócio subsiste em um estado fragmentado. O texto do manuscrito começa na metade da frase e termina de forma bastante abrupta no meio do capítulo VIII

 

LATIM TIM - AD ORIGINAL LA SERENVM: DE OTIO I ... cit, nobis magno consensu vitia commendant. Licet nihil aliud, quod sit salutare, temptemus, proderit tamen per se ipsum secedere ; meliores erimus singuli. Quid, quod secedere ad optimos viros et aliquod exemplum eligere, ad quod vitam derigamus, licet ? Quod nisi1 in otio non fit. Tunc potest obtineri quod semel placuit, ubi nemo intervenit, qui iudicium adhuc imbecillum populo adiutore detorqueat; detorqueat; tunc potest v vita ita aequali et uno tenore procedere, quam propositis diversissimis scindimus. Nam inter cetera mala illud pessimum est, quod vitia ipsa mutamus. Sic ne hoc quidem nobis contingit permanere in malo iam familiari. Aliud ex alio placet vexatque nos hoc quoque, quod iudicia nostra non tantum prava, sed etiam levia sunt. Fluctuamur  aliudque ex alio com- [p. 182] prendimus, petita relinquimus, 2.

relicta repetimus, alternae inter cupiditatem nostram et paenitentiam vices sunt ; pendemus enim toti ex alienis iudiciis et id optimum nobis videtur,, quod petitores laudatoresque multos habet, non id quod videtur laudandum petendumque petendumque est, nec viam bonam ac malam per se aestimamus, sed turba vestigiorum, in quibus nulla sunt redeuntium. 3.

Dices mihi: " Quid agis. Seneca ? Deseris partes ? Certe Stoici vestri dicunt: ' Usque ad ultimum vitae finem in actu erimus, non

4.

desinemus communi bono operam dare, adiuvare singulos, opem ferre etiam inimicis senili manu. Nos sumus, qui nullis annis

 

vacationem damus et, quod ait ille vir disertissimus, Canitiem galea premimus. Nos sumus, apud quos usque eo nihil ante mortem otiosum est, ut, si res patitur, patitur, non sit ipsa mors otiosa.' Quid nobis Epicuri praecepta ipsis Zenonis principiis potius loqueris ? Quin tu bene gnaviter gnaviter, , siin partium piget, transfugis quam prodis ?" Hoc tibi in praesentia respondebo : " Numquid vis amplius, quam ut me similem ducibus meis praestem ? Quid ergo est ? Non quo miserint me illi, sed quo duxerint, ibo." 5.

 

II 1. Nunc probabo tibi non desciscere me a praeceptis Stoicorum ; nam ne ipsi quidem a suis [p. 184] desciverunt; et tamen excusatissimus essem, etiam si non praecepta illorum sequerer, sequerer, sed exempla. Hoc quod dico in duas dividam partes : primum, ut possit aliquis vel a prima aetate contemplationi veritatis totum se tradere, rationem vivendi quaerere atque exercere secreto; deinde, ut possit hoc aliquis emeritis iam stipendiis, profligatae aetatis, iure optimo facere et ad alios actus animum2 referre virginum Vestalium Vestalium more, quae annis inter officia divisis discunt

2.

facere sacra et cum didicerunt docent.

 

III 1. Hoc Stoicis quoque placere ostendam, non quia mihi legem dixerim nihil contra dictum Zenonis Chrysippive committere, sed quia res ipsa patitur me ire in illorum sententiam, quoniam si quis semper unius sequitur, sequitur, non in curia sed in factione est. Utinam quidem iam tenerentur omnia et in aperto confessa c onfessa veritas esset nihilque ex decretis mutaremus ! Nunc veritatem cum eis ipsis qui docent quaerimus. Duae maxime et in hac re dissident sectae, Epicureorum et Stoicorum, sed utraque ad otium diversa via mittit. Epicurus ait : " 2.

Non accedet ad rem publicam sapiens, nisi si quid intervenerit "; Zenon ait : " Accedet ad rem publicam, nisi si quid impedient." 3. Alter

otium ex proposito proposito petit, [p. [p. 186] alter ex causa causa ; causa autem illa late patet. Si res publica corruptior est quam ut3 adiuvari possit, si occupata est malis, non nitetur sapiens in supervacuum nec se nihil profuturus impendet. Si parum habebit auctoritatis aut virium nec illum erit admissura res publica, si valetudo illum impediet, 4.

quomodo navem quassam non deduceret in mare, quomodo

nomen in militiam non daret debilis, sic ad iter, iter, quod inhabile sciet, non accedet. Potest ergo et ille, cui omnia adhuc in integro sunt, antequam ullas experiatur tempestates, in tuto subsistere et protinus commendare se bonis artibus et inlibatum otium exigere, virtutium cultor, cultor, quae exerceri etiam quietissimis possunt. Hoc nempe ab homine exigitur, ut prosit hominibus, si fieri potest, multis, si minus, paucis, si minus, proximis, si minus, sibi. Nam cum se utilem ceteris efficit, commune agit negotium. Quomodo qui se deteriorem facit non sibi tantummodo nocet, sed etiam omnibus eis, quibus melior factus prodesse potuisset, sic quis- quis bene de se meretur hoc ipso aliis prodest, quod illis 5.

 

profuturum parat.

 

IV 1. Duas res publicas animo complectamur, complectamur, alteram magnam et vere publicam, qua dii atque homines continentur, in qua non ad hunc angulum respicimus aut ad illum, sed terminos civitatis nostrae cum sole metimur; alteram, cui nos adscripsit condicio [p. 188] nascendi. Haec aut Atheniensium erit aut Carthaginiensium,aut Carthaginiensiu m,aut alterius alicuius urbis, quae non ad omnis pertineat homines sed ad certos. Quidam eodem tempore utrique rei publicae dant operam, maiori minorique, quidam tantum minori, quidam tantum maiori. Huic maiori rei publicae et in otio deservire possumus, immo vero nescio an in otio melius, ut quaeramus quid sit virtus, una pluresne sint ; natura an ars bonos viros faciat ; unum sit hoc, quod maria terrasque et mari ac terris inserta complectitur, complectitur, an multa eiusmodi corpora deus sparserit; continua sit omnis et plena materia, ex qua cuncta gignuntur, an diducta et solidis inane permixtum ; qui sit deus ; deses opus suum spectet an tractet; utrumne extrinsecus illi circumfusus sit an toti inditus ; immortalis sit mundus an inter caduca et ad tempus nata numerandus. Haec qui contemplatur, contemplatur, quid deo praestat ? Ne tanta eius opera sine teste sit.

2.

 

V 1. Solemus dicere summum bonum esse secundum naturam vivere. Natura nos ad utrumque genuit, et contemplationi rerum et actioni. Nunc id probemus, quod prius diximus. Quid porro ? Hoc non erit probatum, si se unusquisque consuluerit, quantam cupidinem habeat ignota noscendi, quam ad omnis fabulas excitetur ? Navigant quidam et [p. 190] labores peregrinationis longissimae una mercede perpetiuntur cognoscendi aliquid abditum remotumque. Haec res ad spectacula populos contrahit, haec cogit praeclusa rimari, secretiora exquirere, antiquitates evolvere, mores barbararum audire gentium.

2.

Curiosum nobis natura ingenium dedit et artis sibi ac pulchritudinis suae conscia spectatores nos tantis rerum spectaculis genuit, perditura fructum sui, si tam magna, tam clara, tam subtiliter ducta, tam nitida et non uno genere formosa solitudini ostenderet.

3.

Ut scias illam spectari voluisse, non tantum aspici, vide quem nobis locum dederit. In media nos sui parte constituit et

4.

circumspectum omnium nobis dedit; nec erexit tantummodo hominem, sed etiam habilem contemplationi factura, ut ab ortu sidera in occasum labentia prosequi posset et vultum suum circumferre cum toto, sublime fecit illi caput et collo flexili imposuit; deinde sena per diem, sena per noctem signa perducens nullam non partem sui explicuit, ut per haec, quae optulerat oculis eius, cupiditatem faceret etiam ceterorum. Nec enim omnia nec tanta visimus quanta sunt, sed acies nostra aperit sibi investigandi viam et fundamenta vero iacit, ut 5.

inquisitioantiquius transeat :ex apertis obscura et aliquid inveniat unde ista in sidera exierint ; quis ipso fueritmundo [p. 192]

 

universi status, antequam singula in partes discederent ; quae ratio mersa et confusa diduxerit ; quis loca rebus adsignaverit, suapte natura gravia descenderint, evolaverint levia, an praeter  nisum pondusque corporum altior aliqua vis legem singulis dixerit ; an illud verum sit, quo maxime probatur homines divini esse spiritus, partem ac veluti scintillas quasdam astrorum in terram desiluisse atque alieno loco haesisse. Cogitatio nostra caeli munimenta perrumpit nec contenta est id, quod ostenditur, scire. " Illud," inquit, "scrutor, quod ultra mundum iacet, utrumne profunda vastitas sit an et hoc ipsum terminis suis cludatur ; qualis sit habitus exclusis, informia et confusa sint, in omnem partem tantundem loci obtinentia, an et illa in aliquem cultum discripta sint ; huic cohaereant mundo, an longe ab hoc secesserint et hic vacuo volutentur ; individua sint, per quae 6.

struitur omne quod natum futurumque est, an continua materia sit et per totum mutabilis ; utrum contraria inter eorum se elementa sint, an non pugnent sed per diversa con- [p. 194] Spirent." 7. Ad

haec quaerenda quaerenda natus, aestima, quam non multum acceperit temporis, etiam si illud totum sibi s ibi vindicat. Cui licet nihil facilitate eripi, nihil neglegentia patiatur excidere, licet horas suas avarissime servet et usque in ultimum aetatis humanae terminum procedat nec quicquam illi ex eo, quod natura constituit, fortuna concutiat, tamen homo ad immortalium cognitionem nimis mortalis est. 8. Ergo secundum naturam vivo, si totum me illi dedi, si illius admirator cultorque sum. Natura autem utrumque facere me voluit, et agere et contemplationi vacare. Utrumque facio, quoniam ne contemplatio quidem sine actione est.

 

VI 1. "Sed refert," inquis, "an ad illam voluptatis causa accesseris nihil aliud ex illa petens quam adsiduam contemplationem sine exitu ; est enim dulcis et habet inlecebras suas." Adversus hoc tibi respondeo : aeque refert, quo animo civilem agas vitam, an semper inquietus sis nec tibi umquam sumas ullum tempus, quo ab humanis ad divina respicias. Quomodo res adpetere sine ullo virtutum amore et sine cultu ingeni ac nudas edere operas minime probabile est — misceri enim ista inter se et conseri debent—, sic imperfectum ac 2.

languidum bonum est in otium sine actu proiecta virtus, numquam id, quod didicit, ostendens. Quis negat illam debere profectus suos in opere temptare, [p. 196] nec tantum quid faciendum sit cogitare, sed etiam aliquando manum exercere et ea, quae meditata sunt, ad verum perducere ? Quodsi per ipsum sapientem non est mora, si non actor deest, sed agenda desunt, ecquid illi secum esse permittes ? 3.

Quo animo ad otium sapiens secedit ? Ut sciat se tum quoque ea acturum, per quae posteris prosit. Nos certe sumus qui dicimus

4.

et Zenonem et Chrysippum maiora egisse, quam si duxissent exercitus, gessissent honores, leges tulissent. Quas non uni civitati, sed toti humano generi tulerunt. Quid est ergo, quare tale otium non conveniat viro bono, per quod futura saecula ordinet nec apud paucos contionetur, sed apud omnis omnium gentium homines, quique sunt quique erunt ? 5. Ad

summam quaero, an an ex praeceptis suis vixerint vixerint Cleanthes et Chrysippus et Zenon. Non5 dubie respondebis sic illos vixisse, quemadmodum dixerant esse vivendum. Atqui nemo illorum rem publicam administravit. " Non fuit," inquis, " illis aut ea fortuna aut ea dignitas, quae admitti ad publicarum rerum tractationem solet."

 

Sed idem nihilo minus non segnem s egnem egere vitam ; invenerunt, quemadmodum plus quies ipsorum hominibus prodesset quam aliorum discursus et sudor. Ergo nihilo minus hi multum egisse visi v isi sunt, quamvis nihil publice agerent.

 

VII 1. Praeterea tria genera sunt vitae, inter quae quod sit optimum quaeri solet. Unum voluptati [p. 198] vacat, alterum contemplatione tertium actioni. Primum deposita contentione depositoque odio quod implacabile diversa sequentibus indiximus, videamus, ut haec omnia ad idem sub alio atque alio titulo perveniant. Nec ille, qui voluptatem probat, sine contemplatione est, nec ille, qui contemplationi inservit, sine voluptate est, nec ille, cuius vita actionibus destinata est, sine contemplatione est. 2.

" Plurimum," inquis, " discriminis est, utrum aliqua res

propositum sit an propositi alterius accessio." Sit sane grande discrimen, tamen alterum sine altero non est. Nec ille sine actione contemplatus nec hic sine contemplatione agit, nec ille tertius, de quo male existimare consensimus, voluptatem inertem probat, sed eam, quam ratione efficit firmam sibi ; ita et haec ipsa voluptaria secta in actu est. Quidni in actu sit ? cum ipse dicat Epicurus aliquando se recessurum a voluptate, dolorem etiam adpetiturum, si aut voluptati imminebit paenitentia aut dolor minor pro graviore sumetur ? Quo pertinet haec dicere ? 3.

Ut appareat contemplationem placere omnibus ; alii petunt illam, nobis haec statio, non portus est.

4.

 

VIII 1. Adice nunc, quod e lege Chrysippi vivere otioso licet ; non dico, ut otium patiatur, sed ut eligat. Negant nostri sapientem ad quamlibet rem [p. 200] publicam accessurum ; quid autem interest, quo- modo sapiens ad otium veniat, utrum quia res publica illi deest, an quia ipse rei publicae, si non ubivis futura res publica est? Semper autem deerit fastidiose quaerentibus. Interrogo, ad quam rem publicam sapiens sit accessurus. Ad Atheniensium, in qua Socrates damnatur, Aristoteles, ne damnetur, fugit ? in qua opprimit invidia virtutes ? Negabis mihi accessurum ad hanc rem publicam sapientem. 2. Ad Carthaginiensium Carthaginiensium ergo rem publicam publicam sapiens accedet, in qua adsidua seditio et optimo cuique infesta libertas est, summa aequi ac boni vilitas, adversus hostes inhumana crudelitas, etiam adversus suos hostilis ? Et hanc fugiet. Si percensere singulas voluero, nullam inveniam, quae sapientem aut quam sapiens pati possit. Quodsi non invenitur illa res publica, quam nobis fingimus, incipit omnibus esse otium necessarium, quia quod unum praeferri poterat otio, nusquam est. 3.

Si quis dicit optimum esse navigare, deinde negat navigandum in eo mari, in quo naufragia fieri soleant et frequenter subitae tempestates sint, quae rectorem in contrarium rapiant, puto hic me vetat navem solvere, quamquam laudet navigationem.

4.

 

Bônus Espero que tenha gostado deste livro. Conheça também as cartas de Sêneca a Lucílio. Nas páginas seguinte estão as primeira carta do Volume I e Volume II, aproveite. Mantenha-se Forte. Mantenha-se Bem.

OBRAS FILOSÓFICAS MONTECRISTO:: MONTECRISTO

DE

SÊNECA

DA

Cartas de um Estoico, Vol I ( I (Epistulae morales ad  Lucilium) Cartas de um Estoico, Vol II Cartas de um Estoico, Vol III Sobre a Ira ( Ira (De Ira)  Ad Marciam, De consolatione consolatione) Consolação a Márcia Márcia (  ( Ad  Ad Helviam matrem, Hélvia (  ( Ad Consolação a Minha Mãe Hélvia De consolatione) Consolação a Políbio (De Consolatione ad Polybium) vida((De Brevitate Vitae) Sobre a Brevidade da vida Clementia) Da Clemência Clemência (  (De do Sobre Constância sábio sábio (  (De Constantia Sapientis) Feliz liz (  (De Vita Beata)  A Vida Fe Sobre os Benefícios Benefícios (  (De Beneficiis) alma (  (De Tranquillitate Animi ) Sobre a Tranquilidade da alma Sobre o Ócio Ócio (  (De Otio) Divina (  (De Providentia) Sobre a Providência Divina Sobre a Superstição (De Superstitione) perdida, citada por Santo Agostinho.

Obras Filosóficas

 

Meditações de Marco Aurélio Schopenhauer   A Arte de ter Razão Razão por  por Arthur Schopenhauer  Estoicismo, Guia Definitivo Definitivo por  por St. George Stock  Ciropédia por  por Xenofonte Ciropédia Utopia Utopia por  por Thomas More ilustres por  por Diógenes Vidas e doutrinas dos filósofos ilustres

Laércio

Pé por  por Henry David Thoreau  Andar a Pé felicidade por  por Epicuro Carta a Meneceu sobre a felicidade Epicuro, Cartas e Princípios Princípios por  por Epicuro Advogado por  por Ruy Barbosa O Dever do Advogado Sermões por  por Padre António Vieira Os Sermões

 

 

I. Sobre aproveitar o tempo Saudações de Sêneca a Lucílio. 1. Continue a agir assim, meu querido Lucílio – liberte-se por  conta própria; poupe e salve o seu tempo, que até recentemente tem sido retirado a força de você, ou furtado, ou simplesmente escapado de suas mãos. Faça-se acreditar na verdade de minhas palavras, – que certos momentos são arrancados de nós, que alguns são removidos suavemente, e que outros fogem além de nosso alcance. O tipo mais desgraçado de perda, no entanto, é aquela, devida ao descuido. Ademais, se você prestar atenção ao problema, você verá que a maior parte de nossa vida passa enquanto estamos fazendo coisas desagradáveis, uma boa parte enquanto não estamos fazendo nada, e tudo isso enquanto estamos fazendo o que não se deveria fazer. 2. Qual homem você pode me mostrar que coloque algum valor  em seu tempo, que dá o devido valor a cada dia, que entende que está morrendo diariamente? Pois estamos equivocados quando pensamos que a morte é coisa do futuro; a maior parte da morte  já passou. Quaisquer Quaisquer anos atrás de n nós ós já estão nas mãos d da a morte. Portanto, Lucílio, faça como você me escreve que você está fazendo: mantenha cada hora ao seu alcance. Agarre a tarefa de hoje, e você não precisará depender tanto do amanhã. Enquanto estamos postergando, a vida corre. 3. Nada, Lucílio, é nosso, exceto o tempo. A natureza nos deu o privilégio desta única coisa, tão fugaz e escorregadia que qualquer um pode esbulhar tal posse. Que tolos esses mortais

são! Eles permitem que as coisas mais baratas e inúteis, que podem ser facilmente substituídas, sejam contabilizadas depois de terem sido adquiridas; mas nunca se consideram em dívida

 

quando recebem parte dessa preciosa mercadoria, o tempo! E, no entanto, o tempo é o único empréstimo que nem o mais agradecido destinatário pode pagar. 4. Você pode desejar saber como eu, que prego a você, estou praticando. Confesso francamente: meu saldo em conta corrente é como o esperado de alguém generoso mas cuidadoso. Não posso vangloriar-me de não desperdiçar nada, mas pelo menos posso lhe dizer o que estou desperdiçando, a causa e a maneira de desperdício; posso lhe dar as razões pelas quais sou um homem pobre. Minha situação, no entanto, é a mesma de muitos que são reduzidos à miséria sem culpa própria: todos os perdoam, mas ninguém vem em seu socorro. 5. Qual é o estado das coisas, então? É isto: eu não considero um homem como pobre, se o pouco que lhe resta o é suficiente. Contudo, aconselho-o a preservar o que é realmente seu; e nunca é cedo demais para começar começar.. Pois, como acreditavam os nossos antepassados, é demasiado tarde para gastarmos quando chegarmos à raspa do tacho. Daquilo que permanece no fundo, a quantidade é pouca, e a qualidade é vil. v il. Mantenha-se Forte. Mantenha-se Bem.

 

LXVI.

Sobre

vários

aspectos

da

virtude Saudações de Sêneca a Lucílio. 1. Acabei de ver meu ex-colega de escola, Clarano, pela primeira vez em muitos anos. Você não precisa esperar que acrescente que ele é um homem velho; Mas asseguro-lhe que o encontrei são em espírito e robusto, embora ele esteja lutando com um corpo frágil e fraco. Pois a Natureza agiu de forma injusta quando lhe deu um pobre domicílio uma alma rara;absolutamente ou talvez fosse porque ela queria nospara provar que umatão mente forte e feliz pode estar escondida sob qualquer exterior exterior.. Seja como for, Clarano supera todos esses obstáculos, e por desprezar  seu próprio corpo chegou a um estágio onde ele pode desprezar  outras coisas também. 2. O poeta que cantou: Valor mostra mais agradável em uma forma que é justa gratior et pulchro veniens e corpore virtus. 1

Está, na minha opinião, enganado. Pois a virtude v irtude não precisa de nada para compensá-la; é sua própria glória, e santifica o corpo em que habita. De qualquer modo, comecei a considerar Clarano sob uma luz diferente; ele parece-me simpático, e bem construído tanto em corpo como na mente. 3. Um grande homem pode nascer em um casebre; assim pode uma linda e grande alma em um corpo feio e insignificante. Por  esta razão a natureza parece criar alguns homens deste selo com a ideia de provar que a virtude nasce em qualquer lugar lugar.. Se tivesse sido possível produzir almas sozinhas e nuas, ela o teria feito; como é fato, a natureza faz uma ccoisa oisa ainda maior maior,, pois ela

 

produz certos homens que, embora impedidos em seus corpos, ainda assim rompem a obstrução. 4. Creio que Clarano foi produzido como um padrão, para que possamos entender que a alma não é desfigurada pela feiura do corpo, mas pelo contrário, que o corpo é embelezado pela beleza da alma. Agora, apesar de Clarano e eu temos passados muitos poucos dias juntos, temos, no entanto, muitas conversas, que vou em seguida verter e transmitir para você. 5. O primeiro dia em que investigamos esse problema: como os bens podem ser iguais se forem de três tipos2? Pois alguns deles, de acordo com os nossos princípios filosóficos, são primários, como a alegria, a paz e o bem-estar de um país. Outros são de segunda ordem, moldados de um material infeliz, como a resistência ao sofrimento e o autocontrole durante uma doença grave. Rezaremos abertamente pelos bens da primeira classe; para a segunda classe, oraremos somente se a necessidade surgir.. Há ainda uma terceira variedade, como, por exemplo, um surgir andar modesto, um semblante calmo e honesto, e um comportamento que se adapte ao homem de sabedoria. 6. Agora, como podem estas coisas ser iguais quando as comparamos, se você conceder que devemos orar por um e evitar  o outro? Se fizermos distinções entre eles, devemos retornar ao Primeiro Bem, e considerar qual é a sua natureza: a alma que olha para a verdade, que é hábil no que deve ser buscado e no que deve ser evitado, estabelecendo padrões de valor não de acordo com a opinião, mas de acordo com a natureza, – a alma que penetra o mundo inteiro e dirige seu olhar contemplativo sobre todos os seus fenômenos, prestando atenção estrita aos pensamentos e ações, igualmente grande e vigorosa, superior às dificuldades e as lisonjas, cedendo a nem dos extremos da fortuna, acima de todas as bênçãos e aflições, absolutamente linda, perfeitamente equipada equipada com graça, bem como com força, saudável e vigorosa, imperturbável, nunca consternada , que nenhuma violência destruir destruir, , uma esta que os não podem exaltar nem deprimirpossa – uma alma como é aacaso própria virtude.

 

7. Lá você tem a sua aparência externa, se nunca deve vir sob um único aspecto e mostrar-se uma vez em toda a sua integridade. Mas há muitos aspectos disso. Desdobram-se de acordo com a vida e ações; mas a própria virtude não se torna menor ou maior. Pois o Bem Supremo não pode diminuir diminuir,, nem a virtude retroceder; em vez disso, é transformada, agora em uma qualidade e agora em outra, moldando-se de acordo com a função que está a desempenhar. 8. Tudo o que toca leva à semelhança consigo mesmo, e tinge com sua própria cor. Adorna nossas ações, nossas amizades e, às vezes, casas inteiras que entrou e pôs em ordem. O que seja o que for que tenha tocado imediatamente torna-o amável, notável, admirável. Portanto, o poder e a grandeza da virtude não podem elevar-se a alturas maiores, porque o incremento é negado àquilo que édosuperlativamente s uperlativamente V Você ocê nãodo encontrará nada mais reto que o reto, nada grande. mais verdadeiro que a verdade, e nada mais temperado do que o que é temperado. 9. Toda virtude é ilimitada; pois limites dependem de medições definidas. A constância não pode avançar mais do que a fidelidade, a veracidade ou a lealdade. O que pode ser  acrescentado ao que é perfeito? Nem se pode acrescentar nada à virtude, pois, se alguma coisa puder ser acrescentada a ela, seria necessária alguma imperfeição. Honra, também, não permite adição; pois é honrado por causa das mesmas qualidades que mencionei. E então? Você acha que a correção, a justiça, a legalidade, também não pertencem ao mesmo tipo, e que elas são mantidas dentro de limites fixos? A capacidade de melhorar é a prova de que uma coisa ainda é imperfeita. 10. O bem, em todos os casos, está sujeito a essas mesmas leis.  A vantagem da situação situação e do indivíd indivíduo uo estão juntas; na verdade, é tão impossível separá-los quanto separar o louvável do desejável. Portanto, as virtudes são mutuamente iguais; e assim são as obras da virtude, e todos os homens que são tão afortunados de possuir essas virtudes. 11. Mas, como as virtudes das plantas e dos animais são

 

perecíveis, são também frágeis, passageiras e incertas. Elas brotam, e elas afundam novamente, e por isso não são avaliadas ao mesmo valor; mas às virtudes humanas apenas uma regra se aplica. Pois a razão correta é única e de um só tipo. Nada é mais divino do que o divino, ou mais celestial do que o celestial. 12. As coisas mortais decaem, caem, são desgastadas, crescem, são esgotadas, e reabastecidas. Assim, no caso delas, em vista da incerteza de sua fortuna, há desigualdade; mas das coisas divinas a natureza é única. A razão, entretanto, não é nada mais do que uma porção do espírito divino colocado em um corpo humano. Se a razão é divina, e o bem nunca carece de razão, então o bem é sempre divino. E além disso, não há distinção entre as coisas divinas; consequentemente também não existe nenhum entre bens. Daí resulta que a alegria e uma corajosa e obstinada à tortura de sãoalma bensdescontraída equivalentes;e pois emem ambos há resistência a mesma grandeza alegre um caso, no outro um combativo e pronto para a ação. 13. O quê? Você não acha que a virtude daquele que bravamente ataca a fortaleza do inimigo é igual à daquele que sofre um cerco com a maior paciência? Grande é Cipião quando ele cerca Numância, e constrange e compele as mãos de um inimigo, que ele não poderia conquistar, conquistar, para lançar mão à sua própria destruição3. Grande também são as almas dos defensores – homens que sabem que, enquanto o caminho para a morte está aberto, o cerco não é completo, os homens que respiram até o fim nos braços da liberdade. Do mesmo modo, as outras virtudes também são iguais entre si: tranquilidade, simplicidade, generosidade, constância, equanimidade, resistência. Porque subjacente a todas elas há uma única virtude – o que torna a alma reta e inabalável. 14. "O que então", você diz; "Não há diferença entre a alegria e a obstinada resistência à dor?" De forma alguma, não em relação às próprias virtudes; muito grande, no entanto, nas circunstâncias em que uma natural dessas eduas virtudes é exibida. um caso, há um relaxamento afrouxamento da alma;Em no outro há uma dor 

 

não natural. Daí que estas circunstâncias, entre as quais uma grande distinção pode ser estabelecida, pertencem à categoria de coisas indiferentes, mas a virtude mostrada em cada caso é igual. 15. A virtude não é alterada pela questão com a qual trata; se a matéria é dura e teimosa, não piora a virtude; se agradável e alegre, não a torna melhor. Portanto, a virtude permanece necessariamente igual. Pois, em cada caso, o que se faz é feito com igual retidão, com igual sabedoria e com igual honra. Assim, os estados de bondade envolvidos são iguais, e é impossível para um homem ultrapassar esses estados de bondade, por conduzirse melhor, melhor, seja o um homem em sua alegria, ou o outro em meio a seu sofrimento. E dois bens, que nenhum dos quais possa ser  melhor que o outro, são iguais. 16. Pois se as coisas que são s ão extrínsecas à virtude podem diminuir ou aumentar a virtude, então o que é honroso deixa de ser o único bem. Se você aceitar isso, a honra perece completamente. E porque? Deixe-me dizer-lhe: é porque nenhum ato é honrado quando é feito por um agente involuntário, quando é obrigatório. Cada ato honorável é voluntário. Misture-o com relutância, queixas, covardia ou medo, e perde sua melhor  característica – auto aprovação. O que não é livre não pode ser  honrado; pois medo significa escravidão. 17. O honorável está totalmente livre da ansiedade e é calmo; se alguma vez objeta, lamenta ou considera qualquer coisa como um mal, torna-se sujeito a perturbação e começa a chafurdar em meio a grande confusão. Pois, de um lado, a aparência de correção o atrai, por outro, a suspeita do mal o arrasta para trás, portanto, quando um homem está prestes a fazer algo honorável, ele não deve considerar quaisquer obstáculos como infortúnios, embora os considere como inconvenientes, mas ele deve querer fazer a ação, e fazê-la de boa vontade. Pois todo ato honorável é feito sem ordens ou coação; é puro e não contém mistura de mal. 18. Eu sei o que você pode me responder neste momento: "Vo "Você cê está tentando fazer-me acreditar que não importa se um homem sente a alegria, ou se encontra-se sob tortura e esgota seu

 

torturador?" Poderia dizer em resposta: "Epicuro também sustenta que o sábio, embora esteja sendo s endo queimado no touro de Fálaris4, clamará:" É agradável, e não me preocupa em absoluto. "Por que você precisa se admirar admirar,, se eu afirmo que aquele que repousa num banquete e a vítima que resiste firmemente à tortura possuem bens iguais, quando Epicuro mantém uma coisa que é mais difícil de acreditar, ou seja, que é agradável ser assado desta maneira? 19. Mas a resposta que eu dou, é que há grande diferença entre alegria e dor; se me pedem para escolher, vou procurar a primeira e evitar a última. A primeira está de acordo com a natureza, a segunda é contrária a ela. Enquanto são classificados por este padrão, há um grande abismo entre elas; mas quando se trata de uma questão da virtude envolvida, a virtude em cada caso é a mesma, quer venha através da alegria ou através da tristeza. 20. A vexação, a dor e outros inconvenientes não têm consequências, pois são vencidos pela virtude. Assim como o brilho do sol escurece todas as luzes menores, assim a virtude, por sua própria grandeza, quebra e abranda todas as dores, aborrecimentos e erros; e onde quer que seu brilho chegue, todas as luzes que brilham sem a ajuda da virtude são extintas; e os inconvenientes, quando entram em contato com a virtude, não desempenham um papel mais importante do que uma nuvem de tempestade no mar. 21. Isto pode ser provado para você pelo fato que o bom homem apressar-se-á sem hesitação a qualquer ação nobre; mesmo que seja confrontado com o carrasco, o torturador e o pelourinho, ele persistirá, não quanto ao que ele deve sofrer sofrer,, mas quanto ao que deve fazer; e desempenhará tão prontamente a uma ação honrosa quanto a um homem bom; ele o considerará vantajoso para si mesmo, seguro e propício. E ele manterá o mesmo ponto de vista sobre uma ação honrosa, ainda que seja carregada de tristeza e dificuldades, como sobre um homem bom que é pobre ou desperdiçado no exílio.

 

22. Agora, compare um bom homem extremamente rico com um homem que não tem nada, exceto que em si mesmo tem todas as coisas; eles serão igualmente bons, embora experimentem fortuna desigual. Este mesmo padrão, como tenho observado, deve ser aplicado tanto às coisas quanto aos homens; a virtude é tão louvável se ela habita num corpo sadio e livre, como em alguém que está doente ou em escravidão. 23. Portanto, quanto à sua própria virtude, não a louvará mais, se a fortuna a favorecer, concedendo-lhe concedendo-lhe um corpo ssadio, adio, do que se a fortuna lhe der um corpo que é mutilado em algum membro, pois isso significaria classificar inferiormente um mestre porque ele está vestido como um escravo. Pois todas aquelas coisas sobre as quais a fortuna tem influência, bens materiais, dinheiro, posses, posição; elas são fracas, inconstantes, propensas a perecer perecer, , e edeinsubmissas, posse incerta. Pormais outro lado, de as ser obras da virtude são livres nem dignas procuradas quando a fortuna as trata com bondade, nem menos digna quando alguma adversidade pesa sobre elas. 24. A amizade no caso dos homens ccorresponde orresponde à desejabilidade no caso das coisas. Você não gostaria, eu imagino, de amar um bom homem, se ele fosse rico, mais do que se fosse pobre, e não amaria uma pessoa forte e musculosa mais do que uma pessoa delgada e de constituição delicada. Assim, nem procurará nem amará uma coisa boa que seja divertida e tranquila mais do que uma que é cheia de perplexidade e labuta. 25. Ou, se você fizer isso, você vai, no caso de dois homens igualmente bons, gostar mais de quem é limpo e bem-asseado do que daquele que é sujo e despenteado. Você chegaria ao ponto de se importar mais com um homem bom que é são em todos os seus membros e sem defeito, do que com alguém que é fraco ou cego; e gradualmente sua exigência alcançaria tal ponto que, de dois homens igualmente justos e prudentes, você escolheria aquele que tem cabelos longos e ondulados! Sempre que a virtude emnão cada um é igual, a desigualdade emcoisas seus outros atributos é aparente. Pois todas as outras não são

 

partes, mas apenas acessórios. 26. Qualquer homem julgaria seus filhos de modo tão injusto a fim de se preferir mais um filho saudável do que um doente, ou a um filho alto, de estatura incomum, mais do que a outro de pouca ou de baixa estatura? Os animais selvagens não mostram nenhum favoritismo entre sua prole; eles se deitam para amamentar todos igualmente; aves fazem a distribuição justa de seus alimentos. Ulisses apressa-se de volta às rochas de sua Ítaca tão ansiosamente quanto Agamenon acelera até as majestosas muralhas de Micenas. Porque nenhum homem ama a sua terra natal porque é grande; ele a ama porque é sua. 27. E qual é o propósito de tudo isso? Que você saiba que a virtude considera todas as suas obras sob a mesma luz, como se fossem seus filhos, mostrando a mesma bondade a todos e ainda mais profunda bondade para aqueles que encontram dificuldades; pois mesmo os pais inclinam-se com mais afeição para filhos de quem sentem piedade. A virtude, também, não necessariamente ama mais profundamente aquelas de suas obras que vê em problemas e sob pesados fardos, mas, como bons pais, ela lhes dá mais de seus cuidados de acolhimento. 28. Por que nenhum bem é maior do que qualquer outro bem? É porque nada pode ser mais apropriado do que aquele que é apropriado, e nada mais nivelado do que aquilo que está nivelado. Você não pode dizer que uma coisa é mais igual a um objeto determinado do que outra coisa; daí também nada é mais honrado do que aquilo que é honroso. 29. Assim, se todas as virtudes são iguais por natureza, as três variedades de bens são iguais. Isto é o que quero dizer: há uma igualdade entre sentir alegria com autocontrole e sofrer dor com autocontrole. A alegria em um caso não ultrapassa no outro a firmeza da alma que afoga o gemido quando está nas garras do torturador; são desejáveis os bens do primeiro tipo, enquanto os do segundo são dignos de admiração; e, em cada caso, não são menos iguais, porque qualquer inconveniente atribuído a este último é compensado pelas qualidades do bem, que é muito

 

maior. 30. Qualquer homem que os julgue desiguais está se afastando das próprias virtudes e está examinando meras exterioridades; os bens verdadeiros têm o mesmo peso e a mesma largura. O tipo espúrio contém muito vazio; portanto, quando são pesados, percebemos sua deficiência, embora pareçam imponentes e grandiosos ao olhar. 31. Sim, meu caro Lucílio, o bem que a verdadeira razão aprova é sólido e eterno; fortalece o espírito e exalta-o, para que ele esteja sempre nas alturas; Mas as coisas que são irrefletidamen irrefletidamente te elogiadas, e são bens na opinião da multidão meramente nos enchem de alegria vazia. e, novamente, aquelas coisas que são temidas como se fossem males apenas inspiram ansiedade na mente dos homens, pois a mente é perturbada pela aparência do perigo, assim como os animais também o são perturbados. 32. Portanto, é sem razão que ambas as coisas distraem e picam o espírito; um não é digno de alegria, nem o outro de medo. Somente a razão é imutável e se apega a suas decisões. Pois a razão não é um escrava dos sentidos, mas uma governante sobre eles. A razão é igual à razão, como uma linha reta para outra; portanto, a virtude também é igual à virtude. A virtude não é nada mais do que razão correta. Todas as virtudes são razões. As razões são razões, se são razões certas. Se elas estão certas, elas também são iguais. 33. Como a razão é, assim também são as ações; portanto, todas as ações são iguais. Pois, uma vez que se assemelham à razão, também se assemelham umas as outras. Além disso, considero que as ações são iguais entre si, na medida em que são ações honradas e corretas. Haverá, naturalmente, grandes diferenças de acordo com a variação do material, como se torna agora mais amplo e agora mais estreito, agora glorioso e agora inferior, agora múltiplo no alcance e agora limitado. No entanto, o que é melhor  em todos estes casos é igual; eles são todos honrados. 34. Da mesma forma, todos os homens bons, na medida em que

 

são bons, são iguais. Há, de fato, diferenças de idade, um é mais velho, outro mais jovem; do corpo, – um é agradável, outro é feio; da fortuna, – este homem é rico, esse homem pobre, este é influente, poderoso e conhecido pelas cidades e povos, aquele homem é desconhecido para a maioria, e é obscuro. Mas todos, em relação àquilo em que são bons, são iguais. 35. Os sentidos não decidem sobre coisas boas e más; eles não sabem o que é útil e o que não é útil5. Eles não podem registrar  sua opinião a menos que sejam confrontados com um fato; eles não podem ver o futuro nem se lembrar do passado; e eles não sabem o que resulta do quê. Mas é a partir desse conhecimento que uma sequência e sucessão de ações é tecida, e uma unidade de vida é criada, – uma unidade que prosseguirá em um curso reto. A razão, portanto, é o juiz do bem e do mal; o que é estrangeiro e externo considera como escória, e o que não é nem bom nem mau elaela julga como apenas acessório, insignificante e trivial. Pois todo o seu bem reside na alma. 36. Mas há certos bens que a razão considera c onsidera primordiais, aos quais ela se dirige deliberadamente; estes são, por exemplo, a vitória, os bons filhos e o bem-estar de um país. Alguns outros considera secundários; estes se tornam manifestos apenas na adversidade, – por exemplo, a equanimidade em suportar uma doença grave ou exílio. Certos bens são indiferentes; estes não são mais de acordo com a natureza do que contrárias à natureza, como, por exemplo, um andar discreto e uma postura tranquila em uma cadeira. Pois sentar é um ato que não é menos de acordo com a natureza do que ficar em pé ou andar. 37. Os dois tipos de bens que são de ordem superior são diferentes; os primários são de acordo com a natureza, – como a alegria derivada do comportamento obediente de seus filhos e do bem-estar de seu país. Os secundários são contrários à natureza, como a força moral em resistir à tortura ou na aceitação da sede quando a doença torna os órgãos vitais febris. 38. "O que então", você diz; "alguma coisa que é contrária c ontrária à

 

natureza pode ser um bem?" Claro que não; mas aquela em que esse bem eleva-se a sua origem é por vezes contrária à natureza. Por estarem feridos, esvaindo-se sobre um fogo, aflitos com má saúde, – tais coisas são contrárias à natureza; mas é de acordo com a natureza que um homem preserve uma alma indomável em meio a tais aflições. 39. Para explicar brevemente o meu pensamento, o material com o qual o bem se relaciona às vezes é contrário à natureza, mas um bem em si mesmo nunca é contrário, pois nenhum bem existe sem razão e a razão está de acordo com a natureza. “O que, então," você pergunta, "é a razão?" É copiar a natureza. "E o que," você diz, "é o maior bem que o homem pode possuir?" É conduzir-se de acordo com o que a natureza deseja. 40. "Não há dúvida", diz o opositor opositor,, "que a paz proporciona mais felicidade quando não é atacada do que quando é recuperada a custo de grande matança". "Também não há dúvida de que a saúde, que não foi comprometida, oferece mais felicidade do que a saúde que foi restituída à solidez por meio da força, por assim dizer,, e pela resistência ao sofrimento, depois de doenças graves dizer que ameaçaram a vida em si e, da mesma forma, não há dúvida de que a alegria é um bem maior do que a luta de uma alma para suportar até o fim os tormentos das feridas ou da tortura". 41. De modo algum. Pois coisas que resultam do risco admitem ampla distinção, uma vez que são avaliadas de acordo com sua utilidade aos olhos daqueles que as experimentam, mas em relação aos bens, o único ponto a ser considerado é que eles estão de acordo com a natureza; e isso é igual no caso de todos os bens. Quando em uma reunião do senado nós votamos em favor da proposta de alguém, não pode ser dito, "A. está mais de acordo com a proposta do que B." Todos votam pela mesma proposta. Eu faço a mesma declaração com respeito às virtudes,  – todos elas estão de acordo com a na natureza; tureza; e eu o fa faço ço em relação aos bens igualmente, – estão todos de acordo com a natureza. 42. Um homem morre jovem, outro na velhice, e ainda outro na

 

infância, tendo desfrutado nada mais do que um simples vislumbre na vida. Todos eles foram igualmente sujeitos à morte, embora a morte tenha permitido a um avançar mais ao longo do caminho da vida, cortou a vida do segundo em sua flor, e quebrou a vida do terceiro em seu início. 43. Alguns recebem sua quitação na mesa do jantar. Outros prolongam seu sono na morte. Alguns são eliminados durante a devassidão. Agora, compare essas pessoas com aquelas que foram perfuradas pela espada, ou levadas à morte por cobras, ou esmagadas em um desabamento, ou torturadas até a morte pela torção prolongada de seus tendões. Algumas dessas partidas podem ser consideradas melhores, outras piores; mas o ato de morrer é igual em tudo. Os métodos de acabar com a vida são diferentes; mas o fim é um e o mesmo. A morte não tem graus maiores ouvida. menores; pois tem o mesmo limite em todos os casos,  – o fim da 44. A mesma coisa é verdade, asseguro-lhe, em relação aos bens; você encontrará um em circunstâncias de puro prazer, outro em meio a tristeza e amargura. Uma pessoa controla os favores da fortuna; a outra supera seus ataques. Cada um é igualmente um bem, embora um viaja em uma estrada plana e fácil, e o outro em uma estrada áspera. E o fim de todos eles é o mesmo – eles são bens, eles são dignos de louvor, louvor, eles acompanham a vvirtude irtude e a razão. A virtude faz todas as coisas que toca iguais entre si. 45. Você não precisa duvidar que este é um dos nossos princípios; encontramos nos trabalhos de Epicuro dois bens, dos quais é composto o seu Bem Supremo, ou bem-aventurança, isto é, um corpo livre de dor e uma alma livre de perturbação. Estes bens, se estiverem completos, não aumentam; pois como pode o que é completo aumentar? O corpo é, suponhamos, livre da dor; que aumento pode haver a essa ausência de dor? A alma é serena e calma; que aumento pode haver para esta tranquilidade? 46. Assim como o tempo bom, purificado no mais puro brilho, não admite um grau ainda maior de clareza; assim, quando um homem cuida de seu corpo e de sua alma, tecendo a textura de

 

seu bem de ambos, sua condição é perfeita, e ele atingiu a meta de suas orações, se não há comoção em sua s ua alma ou dor em seu corpo. Quaisquer que sejam os encantos que receba em relação a estas duas coisas não aumentam o seu Supremo Bem; eles simplesmente condimentam-no, por assim dizer, e acrescentam tempero a ele. Pois o bem absoluto da natureza do homem é satisfeito com a paz no corpo e a paz na alma. 47. Posso mostrar-lhe neste momento nos escritos de Epicuro uma lista graduada dos bens, assim como a da nossa própria escola. Pois há algumas coisas, ele declara, que prefere receber, receber, tais como descanso corporal livre de qualquer inconveniente e relaxamento da alma enquanto se deleita na contemplação de seus próprios bens. E há outras coisas que, embora preferisse que não acontecessem, mesmo assim elogia e aprova, por  exemplo, tipo dearesignação, momentos de Epicuro má saúde e sofrimentoo grave, que aludi háem pouco, os quais exibiu naquele último e mais abençoado dia de sua vida. Pois ele nos diz que teve que suportar a excruciante agonia de uma bexiga doente e de um estômago ulcerado, sofrimento tão aguçado que não permitiria aumento da dor; "E ainda," ele diz, "aquele dia não foi menos feliz." E nenhum homem pode passar tal dia em felicidade a menos que possua o Bem Supremo. 48. Portanto, encontramos, até mesmo em Epicuro, bens que seriam melhor não experimentar; que, no entanto, porque circunstâncias assim o decidem, devem ser acolhidos e aprovados e colocados ao nível dos bens mais elevados. Não podemos dizer que o bem que preencheu uma vida feliz, o bem pelo qual Epicuro deu graças nas últimas palavras que pronunciou, não é igual ao maior. 49. Permita-me, excelente Lucílio, pronunciar uma palavra ainda mais ousada: se qualquer mercadoria pudesse ser maior do que outras, eu preferiria aquelas que parecem acres as que são brandas e sedutoras, e as declararia maior maior.. Pois é uma conquista maior as barreiras dentrosuperar dos limites estreitos.do caminho do que manter a alegria

 

50. Exige o mesmo uso da razão, estou plenamente consciente, um homem suportar a prosperidade bem e também suportar a desgraça corajosamente. Que homem pode ser tão corajoso que durma em frente às muralhas sem medo de perigo quando nenhum inimigo ataca o acampamento, como o homem que, quando os tendões de suas pernas são cortados, se levanta de  joelhos e não solta suas armas; mas é pa para ra o soldado man manchado chado de sangue que retorna da frente que os homens clamam: "Bem feito, herói!" E por isso, eu devo conceder maior louvor aos bens que foram julgados e mostraram coragem, e lutaram contra a fortuna. 51. Devo hesitar em dar maior elogio à mão mutilada e seca de Mucio do que à mão inofensiva do homem mais corajoso do mundo? Lá estava Múcio6, desprezando o inimigo e desprezando o fogo, observando sua mão pingava sangueasobre fogo noealtar de seu inimigo, atéenquanto que Porsena, invejando famao do herói a quem ele impingiu o castigo, ordenou que o fogo fosse removido contra a vontade de sua vítima. 52. Por que não devo considerar este bem entre os bens primários, e julgá-lo como muito maior do que aqueles outros bens que são desacompanhados de perigo e não foram testados pela fortuna, pois é uma coisa mais rara superar um inimigo com uma mão perdida do que com uma mão armada. – E então? Você diz; "Você deseja esse bem para si mesmo?" Claro que sim. Pois esta é uma coisa que um homem não pode alcançar a menos que também a possa desejar. 53. Devo desejar, em vez disso, que me permitam esticar os meus membros para que os meus escravos façam massagens, ou que uma mulher, mulher, ou um travesti, puxe as articulações dos meus dedos? Não posso deixar de acreditar que Múcio teve mais sorte porque manipulou as chamas tão calmamente como se estivesse estendendo a mão para o massagista. Ele havia aniquilado todos os seus erros anteriores; terminou a guerra desarmado e mutilado; e com aquele toco de uma mão ele conquistou dois reis.

 

Mantenha-se Forte. Mantenha-se Bem. NOTAS: 1 Trecho de Eneida de Virgílio. 2  Sêneca não está falando aqui das três virtudes genéricas (físicas, éticas, lógicas), nem dos três tipos de bens (baseados na vantagem corporal) que foram classificados pela escola peripatética; Ele só está falando de três tipos de circunstâncias sob as quais o bem pode se manifestar. E no § 36 e seguintes ele mostra que considera apenas as duas primeiras classes como bens reais. 3  O exército de Cipião montou dois acampamentos e construiu uma muralha de circunvalação à volta da cidade espanhola com sete torres a partir das quais seus arqueiros podiam atirar por cima da muralha numantina. Ele também represou o pântano vizinho e criou um lago entre a muralha da cidade e sua própria muralha. Para proteger seus acampamentos, Cipiãooconstruiu também muralhas exteriores (cinconos no total). Para completar cerco, Cipião isolou a cidade do rio Douro: pontos onde o rio entrava e saía da cidade, pares de torres foram construídas e, entre os pares, cabos com lâminas foram estendidos através do rio para evitar a passagem de barcos e nadadores. 4  Touro de Fálaris, foi uma das mais cruéis máquinas de tortura e execução, cujo invento é atribuído a Fálaris, tirano de Agrigento. O aparelho era uma esfinge de bronze oca na forma de um touro mugindo, com duas aberturas, no dorso e na parte frontal localizada na boca. Após colocada a vítima, a entrada da esfinge era fechada e posta sobre uma fogueira. À medida que a temperatura aumentava no interior do Touro, o ar ficava escasso, e o executado procuraria meios para respirar, recorrendo ao orifício na extremidade do canal. Os gritos exaustivos do executado saíam pela boca do Touro, fazendo parecer que a esfinge estava viva. 5 Aqui, Sêneca está lembrando Lucílio, como muitas vezes faz nas cartas anteriores, que a evidência dos sentidos é apenas um degrau para ideias superiores – um princípio do epicurismo. 6 Caio Múcio Cévola (em latim: Gaius Mucius Scaevola). Logo depois da fundação da República Romana, Roma se viu rapidamente sob a ameaça etrusca representada por Lar Porsena. Depois de rechaçar um primeiro ataque, os romanos se refugiaram atrás das muralhas da cidade e Porsena iniciou um cerco. Conforme o cerco se prolongou, a fome começou assolar para a população romana e Múcio, um jovem patrício, decidiu seaoferecer invadir sorrateiramente o acampamento inimigo

 

para assassinar Porsena. Disfarçado, Múcio invadiu o acampamento inimigo e se aproximou de uma multidão que se apinhava na frente do tribunal de Porsena. Porém, como ele nunca tinha visto o rei, ele se equivoca e assassina uma pessoa diferente. Imediatamente preso, foi levado perante o rei, que o interrogou. Longe de se intimidar, Múcio respondeu às perguntas e se identificou como um cidadão romano disposto a assassiná-lo. Para seufogo propósito castigar seu próprio erro, Múcio colocou sua demonstrar mão direita no de um ebraseiro aceso e disse: "Veja, veja que coisa irrelevante é o corpo para os que não aspiram mais do que a glória!". Surpreso e impressionado pela cena, o rei ordenou que Múcio fosse libertado. Como reconhecimento, Múcio confessa que trezentos jovens romanos haviam jurado, assim como ele, estar prontos a sacrificar-se para matá-lo. Aterrorizado por esta revelação, Porsena teria baixado suas armas e enviado embaixadores a Roma.

 

Sumário Introdução Sobre Sobre o a autor  tradução Sobre o Ócio I II III IV V VI VII VIII No Nottas Original Lati Latim - Ad Serenvm: De Otio I II III IV V VI VII VIII Bônus Carta I. I. Sobre aproveitar aproveitar o tempo Carta LXVI. Sobre vários aspectos da virtude

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