Seminário LEVI-STRAUSS - Raça e História
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Raça e História http://sociologiapublica.blogspot.com.br/2009/07/raca-e-historia-levi-strauss.
Claude Lévi-Strauss
Capítulo 1. Raça e Cultura 1. O assunto de contribuições das raças humanas para a civilização mundial. Não se trata de trabalhar as contribuições dos grandes grupos étnicos para a civilização mundial. 2. Isso seria um racismo ao contrário. Ao caracterizar raças biológicas mediante propriedades psicológicas, afastamo-nos da verdade cientifica, mesmo que sejam caracterizadas de maneira negativa ou positiva. Gobineau via a miscigenação entre raças como um problema. O pecado original da antropologia fora a confusão entre a noção puramente biológica de raça e as produções psicológicas e sociológicas das culturas humanas, legitimando, involuntariamente, todas as tentativas de discriminação e exploração. 3. A originalidade dos diferentes continentes não se deve à sua habitação por troncos raciais distintos, mas antes pelas circunstancias geográficas históricas e sociológicas (e não as fisiológicas). O desenvolvimento diferenciado das sociedades, esta diversidade intelectual, estética e sociológica, não se liga às relações de causa e efeito presentes na biologia (é paralela em outro terreno). Cultura e raça, distinções: a) Existem muito mais culturas do que raças (pode haver dentro de uma raça culturas muito diferentes entre si, às vezes mais próximas até de culturas de outras raças); b) A cultura possui diversas subdivisões. 4. Em que consiste a diversidade? (risco de ver os preconceitos racistas transferidos da biologia para um novo campo). Como explicar os imensos progressos dos brancos se não existem aptidões raciais inatas? Resolver o problema negativo das desigualdades raciais e o das desigualdades (ou diversidades) culturais, relacionado no espírito público. Capítulo 2. Diversidade das Culturas 1. Culturas humanas não diferem entre si do mesmo modo nem no mesmo plano. As sociedades estão justapostas no espaço, próximas ou longe, são contemporâneas. As atuais sociedades sem escrita (que chamamos de primitivas, selvagens) foram precedidas por outras formas: a diversidade da cultura é de fato no presente, de direito no passado, muito maior
e
mais
rica
do
que
estamos
destinados
a
dela
conhecer.
2. Que devemos entender por culturas diferentes? Sociedades que tiveram um contato íntimo parecem ser de uma mesma civilização, mas na verdade tem origens bem distintas. Operam simultaneamente, nas sociedades humanas, forças que atuam em direções opostas, umas tendendo para a manutenção e mesmo para a acentuação dos particularismos, outras agindo no sentido da convergência e da afinidade.1
3. A diversidade encontra-se não só na relação entre as sociedades, mas na diversidade interna dos grupos que a constituem. 4. Diversidade das culturas humanas: não deve ser concebida de maneira estática. Indubitável a elaboração de culturas diferentes por afastamento geográfico, propriedades particulares do meio, e ignorância dos que se encontravam no resto do mundo. Isso só seria rigorosamente verdadeiro se cada cultura tivesse desenvolvido em isolado de outras. Isso nunca ocorreu. Mesmo na América, houve isolamento de milhares de anos com o resto do mundo, mas um contato interno intenso. Há também as diferenças devidas a proximidade, não só ao isolamento, ex: desejo de distinção. A diversidade não é menos função do isolamento dos grupos, que das relações que os unem. Capítulo 3. O Etnocentrismo 1. Diversidade cultural raramente surgiu como um fenômeno natural, sempre se viu, nela, um escândalo. 2. Atitude mais antiga, que possui fundamentos psicológicos sólidos: repudiar as formas culturais, morais, religiosas, sociais e estéticas mais afastadas daquelas com que nos identificamos. Ex: Bárbaro (para os greco-romanos) e Selvagem (na civilização ocidental). Recusa a admitir a diversidade cultural, prefere repetir a cultura que esteja conforme à norma sob a qual se vive. 3. Paradoxo na recusa: rejeitar o selvagem para fora da comunidade é a atitude mais marcante e distintiva desses mesmos selvagens. A noção de humanidade, englobando toda a espécie humana, teve aparecimento tardio e limitado. Tal noção esteve totalmente ausente durante dezenas de milênios, tanto que diversas populações se autodenominam os “homens”, renegando as outras tribos ou grupos os “maus”, os “perversos”, ou até mesmo privando-os da realidade: os “fantasmas”.
1
LEVI- STRAUSS, C. . cap. XVIII, p.0.2.
4. Paradoxo do relativismo cultural: Ao discriminar culturas e costumes copiamos-lhes as atitudes típicas. Assim, o bárbaro é em primeiro lugar o homem que crê na barbárie. “[...] na própria medida em que pretendemos estabelecer uma discriminação entre as culturas e os costumes, que nos identificamos mais completamente com aqueles que tentamos negar.”2
5. Mas a simples proclamação de igualdade, sem distinção de raças ou de culturas, soa como algo de enganador para o espírito, por negligencia uma diversidade de fato, que se impõe à observação. 6. Grandes declarações de direito do homem tem essa forca e fraqueza de enunciar um ideal muitas vezes esquecido: o homem realiza sua natureza nas culturas tradicionais, não numa humanidade abstrata. Mesmo com as mais diversas revoluções as culturas mantêm aspectos intactos. O homem tende a não perceber a diversidade das culturas procurando suprimir o escandaloso e chocante. 7. Falso evolucionismo: suprimir a diversidade das culturas em diferentes estágios de um desenvolvimento único. A humanidade torna-se una e idêntica, variando em estágios. 8. Proximidade com o darwinismo, mas é muito diferente o evolucionismo biológico do pseudo-evolucionismo supramencionado. 9. Noção de evolução biológica: hipótese dotada de grande probabilidade nas ciências naturais, já na evolução social ou cultural, um processo sedutor, perigosamente cômodo de apresentação dos fatos. 10. o evolucionismo social não é mais que uma maquiagem falsamente cientifica de um velho problema filosófico... Anterior ao evolucionismo biológico, teoria científica, o evolucionismo social não é, a maior parte das vezes, senão a maquilagem falsamente científica de um velho problema filosófico para o qual não existe qualquer certeza de que a observação e a indução possam um dia fornecer a chave.3
Capítulo 4. Culturas Arcaicas e Culturas Primitivas
2 3
Idem p. 04 Idem p. 05
1. Qualquer sociedade pode sobre seu ponto de vista repartir as culturas em 3 categorias: a) as que são suas contemporâneas, mas estão em outro lugar do globo; b) as que se manifestaram aproximadamente no mesmo lugar, mas a perderam no tempo; c) existiram num tempo anterior ao seu, e em lugar diferente. 2. Desigualmente cognoscíveis. Culturas sem escrita, arquitetura e técnicas rudimentares (metade do planeta) tudo o que tentamos apresentar a seu respeito se reduz a hipóteses gratuitas. 3. Pelo contrario, tentador estabelecer entre as diversas culturas de “a” relações que correspondem a uma ordem de sucessão no tempo. O falso evolucionismo se deu livre curso – extraordinariamente pernicioso. O processo: tomar a parte pelo todo, em concluir o fato de duas civilizações (a atual e a desaparecida), oferecerem em alguns aspectos uma analogia em
todos
aspectos
–
geralmente
desmentida
pelos
fatos.
4. Há semelhanças entre sociedades paleolíticas e indígenas contemporâneas. Como poderiam então ensinar-nos alguma coisa sobre a linguagem, as instituições sociais ou as crenças religiosas. 5. Ex: pinturas pré-históricas tidas como ritos de caça sem grandes análises. 6. Ex: A América pré-colombiana na véspera de sua descoberta evoca o período neolítico europeu. América: utensilagem licita perpetua-se em economia agrícola (Europa: o fazia no inicio da metalurgia). 7. Tentativas de reduzir as culturas humanas em réplicas desigualmente atrasadas da civilização ocidental chocam-se com outra dificuldade. Para admitir uma sociedade como “etapa” do desenvolvimento de outras, seria preciso que com as últimas acontecesse muitas coisas, enquanto nas outras nada, ou quase nada. Não há povos crianças, todos são adultos, mesmo os que não tiveram diários de infância. 8. Dois tipos de sociedades utilizando diferentemente o tempo: umas metiam o acelerador enquanto outras divagavam, duas espécies de história: Uma progressista, mas sem o dom, como a outra, sintético de acrescentar em cada inovação as anteriores. “[...] reservar-lhe um lugar na nossa tentativa de interpretação da diversidade das culturas, e isto sem sermos injustos para qualquer delas.”4
Capítulo 5. A idéia do progresso
4
Idem p. 07
1. Considerando o segundo grupo, que precederam historicamente a cultura, estamos diante de uma complicada situação. Difícil contestação da hierarquização entre sociedades passadas, pelos fatos. Se há realmente um progresso nas formas sucessivas, dando tom de uma evolução, como isso não influenciaria a forma como tratamos as diferentes sociedades hoje? 2. Em primeiro lugar, não é tão fácil como se pensa ordenar os sociedades passadas em uma série regular e contínua. 3. Os períodos podem ter coexistido, não sendo etapas de um processo em sentido único, mas aspectos de uma realidade não estática, submetida a variações e transformações muito complexas. 4. Tudo o que é verdade para cultura é para as raças: o homem de neanderthal foi contemporâneo
ao
Homo
Sapiens,
ou
este
até
mesmo
precedeu
aquele.
5. Não se trata de negar o progresso da humanidade, mas analisá-lo de maneira prudente. Recentes descobertas espalharam no espaço civilizações que eram escalonadas no tempo. Significa duas coisas: a) Progresso nem é necessário nem continuo, mas gerado por saltos, que nem sempre são ir mais longe na mesma direção, mas como cavalos de xadrez, varias progressões, nunca no mesmo sentido; b) a humanidade em progresso nunca se assemelha a uma pessoa que sobe uma escada, mas um jogo de dados, em que arriscamos ganhar ou perder, só raramente a historia é cumulativa (somas se adicionam para formar uma combinação
favorável).
6. Esta história cumulativa não é privilégio de uma civilização ou período, ex: América e formações culturais grandes e diversas. Desse modo,
“A humanidade em progresso nunca se assemelha a uma pessoa que sobe uma escada, acrescentando para cada um dos seus movimentos um novo degrau a todos aqueles já anteriormente conquistados” 5
Capítulo 6. História Estacionária e História Cumulativa 1. Distinção entre as duas formas de historia depende da natureza intrínseca das culturas que esta se aplica, ou resulta de uma perspectiva etnocêntrica quando avaliamos uma cultura alheia? Consideramos assim como cumulativa uma cultura que se desenvolva num
5
Idem p. 09
sentido análogo ao nosso, já outras parecem estacionárias, pois não é mensurável no sistema de referencia que utilizamos. Consideraríamos assim como cumulativa toda cultura que se desenvolvesse num sentido análogo ao nosso, isto é, cujo desenvolvimento fosse dotado de significação para nós. Enquanto que as outras culturas nos apareceriam como estacionárias, não porque necessariamente o fossem, mas porque a sua linha de desenvolvimento nada significa para nós, não é mensurável nos termos do sistema de referência que utilizamos.6
2. Também fazemos isso no seio de nossa própria sociedade. Ex: velhos e políticos – a historicidade, ou factualidade de uma cultura é função não de suas propriedades intrínsecas, mas da situação em que nos encontramos em relação a ela, do numero e da diversidade dos nossos interesses nela postulados 3. Diferença entre culturas progressivas e inertes é de localização. Analogia do trem. Deslocamo-nos com este sistema de referencias, realidades culturais de fora só são observáveis através das deformações por ele impostas. 4. Diferença entre “culturas que se movem” e que “não se movem” em analogia com o viajante que perceba um comboio se mover ou não. Culturas (contrário da fiísica): mais ativas se se deslocam no sentido da nossa, e estacionárias quanto mais divergente for sua orientação. Velocidade: valor metafórico, substituída por informação e significação. Os trens em direção ou velocidades diferentes aos nossos são vistos de maneira confusa, resumindose a uma perturbação em nosso campo visual, já não significa nada. M suma, a quantidade de informação suscetível de “passar” entre duas culturas está em função de sua maior ou menor diversidade. 5. Sempre que encaramos uma cultura como estacionária devemos atentar para se não estamos iludidos por nossa ignorância, por utilizarmos nossos próprios critérios. 6. Ex: sob o critério dos meios mecânicos os EUA apareceriam no topo, seguido dos europeus, e tendo os asiáticos e africanos como uma imensidão indistinguível atrás. De acordo com o ponto de vista escolhido chegaríamos a classificações diferentes. 7. Critério poderia ser o de aptidão para triunfar sob os meios geográficos. O ocidente, dono das máquinas, possui conhecimentos elementares sobre a utilização dos recursos do corpo. 6
Idem . p.10
8. Contribuições de outras culturas ao ocidente: famílias australianas; 9. Mais contribuições. 10. Não devemos reter nossa atenção nesses contributivos fragmentados, formando a errônea idéia de uma civilização mundial a moda de um fato de arlequim. Mais importante é a maneira como a cultura os retém ou exclui. Há uma originalidade em cada sociedade resolver seus problemas, mas podem ser aproximados, pois todos os homens possuem técnicas, arte, conhecimentos, crenças, organização social e política. A dosagem não é a mesma em cada cultura, etnologia: desvendar as origens destas opções do que traçar inventário de características diferentes. Capítulo 7. Lugar da Civilização Ocidental 1.Civilizações reconhecem a superioridade de uma delas, a ocidental: países não reclamam o fato da ocidentalização, mas o fato de não terem os meios para ocidentalizarem-se rapidamente. 2. Dificuldades do estudo da universalização da civilização ocidental: a)fato único na história (precedentes estão na pré-história longínqua da qual pouco sabemos); b) incerteza sobre a inconstância do fenômeno: enquanto a civilização ocidental tende a expandir-se, as outras culturas tendem a manter sua herança tradicional. Processo a ser avaliado deve ter em mente que somos agentes, conscientes ou inconscientemente, auxiliares, ou vítimas. 3. Adesão ao gênero de vida ocidental: longe de ser tão espontâneo quanto pretendia-se. 4. Não seria a maior energia que levou-a a forçar o consentimento? 5. Valores mais manifestados na civilização ocidental, menos sujeitos a controvérsia: a) aumentar a co
Capítulo 8 Acaso e Civilização Refuta a concepção de uma “espécie de idade de ouro tecnológica anterior, onde as colhiam com a mesma facilidade que os frutos e as flores.” e ao homem moderno estariam reservadas as
fadigas do labor e as iluminações do
gênio constitui uma “ visão ingênua” devido à
complexidade e diversidade das operações implicadas nas técnicas mais elementares. [...]quando estamos interessados num determinado tipo de progresso, reservamos o mérito dele para as culturas que o realizam no grau mais elevado e permanecemos indiferentes perante as outras. Assim o progresso é sempre o máximo de progresso num sentido pré-determinado pelo gosto de cada um.7
Capítulo 9 A colaboração das culturas O que é verdadeiro no que respeita ao tempo não o é menos no que respeita ao espaço, mas deve exprimir-se de um modo diferente. A possibilidade que uma cultura tem de totalizar este conjunto complexo de invenções de todas as ordens a que nós chamamos civilização é função do número e da diversidade das culturas com as quais participa na elaboração - a maior parte das vezes involuntária - de uma estratégia comum. Número e diversidade, dizemos nós.8
Capítulo 10 O duplo sentido do progresso
A humanidade está constantemente em luta com dois processos contraditórios, para instaurar a unificação, enquanto que o outro visa manter ou restabelecer a diversificação. A posição de cada época ou de cada cultura no sistema, a orientação segundo a qual esta se encontra comprometida são tais que só um desses processos lhe parece ter sentido, parecendo o outro ser a negação do primeiro. 9
7
Idem p.18.
8
Idem p.20.
9
Idem p. 23
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