SCHLEGEL Friedrich - O Dialeto Dos Fragmentos

May 7, 2019 | Author: rodrigoielpo | Category: Poetry, Immanuel Kant, Critique Of Pure Reason, Ciência, Theory
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O DIALETO DOS FRAGMENTOS T*

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SCHLEGEL BIBLIOTECA

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ILUMl^JRAS

Friedrich Schlegel

O DIALETO DOS FRAGMENTOS Tradução, apresentação e notas Márcio Suzuki da Universidade de São Paulo

ILUMtyÜRAS

Bib lio tec a Pólé n Dirigida por Rubens Rodrigues Tor res Filho

Títulos srcinais: Lyceums - Fragmente; Athenaums - Fragments; Ideen

Copyright © 1997 desta tradução e edição: Editora Iluminuras Ltda .

Rev isão : Ana Paula Cardoso

Composição: Iluminuras ISBN: 85-7321-057-5

1997 EDITORA ILUMINURAS LTDA. Rua Oscar Freire, 1233 0142 6-0 01 - São P au lo-S P Tel.: (011)3068-9433 Fax:(011)282-5317

SUMÁRIO

Nota Preliminar ................................................................................9

A GÊ NE SE DO FR AGMENTO.................................................. 11 Márcio Suzuki

er agm eni o críik:qs ^ _

Lyceum..............................................................................................19 Ath enäum.........................................................................................43 Idéia s............................................................................................... 167 143 N otas............................................................................................... APENDICÊS Crítica dos fragmentos em fragmentos Novalis Crítica dos fragmentos Athenäum ..............................................215 Título s dos fragm ento s................................................................21 9 Anotações às Idéias de Friedrich Schlegel (1799) ..................247 N otas...............................................................................................253

Nota preliminar

Por sugestão do editor, o organizador deste volume tomou a pequena liberdade de escolher um título que não consta na lista das obras de Schlegel. O dialeto dos fragmentos é uma tentati va de dar nome a três grupos distintos de reflexões que, embora diferentes, apresentam solução semelhante do ponto de vista da form a. O título do livrofo i extraído de uma passagem do ensaio Sobre a ininteligibilidade, onde Schlegel explica os mal-entendidos causados pela palavra tendências, utilizada no frag me nto 216 do Athenäum: “Abro mão, portanto, da ironia e declaro abertame nte que, no dialeto dos fragmen tos, a palavra significa que tudo ainda é apena s tendênci a, a época é a época das tendências... ” Também não escapará ao leitor que a segunda série de fragmentos não fo i redigida exclusivamente pelo autor cujo nome figura na capa deste volume, constituindo antes um momento singular de sinfilosofia e simpoesia — isto é, daquele trabalho filosófico e poético em conjunto idealizado por ele e concretizado, nos fragme ntos do Athenäum, pela intervenção de Novalis, August Wilhelm, Schle ierma cher e do próp rio Friedrich.

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A gênese do fragmento

O poeta igualmente expõe apenas fil[osofia] individual, e lodo ser humano, por mais vividamente que de resto possa reco nhe cer a fi l[ os o fi a ] da ftl[ os of ia ], se rá na p rá tic a ape nas ma is ou menos fi ló so fo indi vidu al e, a de spe ito d e t od o esforç o, nunca po de rá s ai r totalmen te do cí rcul o mágic o de sua fil oso fia individual. Novalis1

Negar capacidade de especulação e sistematização ao mais novo dos irmãos Schlegel tem sido a condenaç ão mais com um de seus trabalhos filosóficos. Essa crítica, partilhada já por dois de seus mais ilustres contemporâneos, Schelling e Hegel, não se vê de certo modo confirmada apenas nos inúmeros projetos jamais concluídos, mas também no inacabamento em que se apresentam algumas das obras por ele publicadas. E quem mais poderia dar um testemunho definitivo a esse respeito além do próprio Friedr ich, que, numa carta ao irmão, datada de 17 de dezembro de 1797, se descreve nestes termos: “De mim, de todo meu eu, não posso absolutamente outro [amostra] que um tal sistema échcintillon de fragmentos,dar porque eu mesmo sou um”? É sem dúvida um traço peculiar e surpreendente da filosofia de Friedrich Schlegel que tente se firmar como um “caos de fragmentos” exatamente num momento da história da filosofia I) Pólen. Fragme ntos — Diálogos — Monólogo. Tradução, apresentação e notas de R Rodrigues Torres Filho. S3o Paulo, Iluminuras, 1988, pp. 110-11.

ubens

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em que os maiores esforços estão voltados para a completitude e acabamento sistemático da crítica kantiana. Mas seria possível entender essa nota dissonante no conjunto do chamado póskantismo semourecorrer velhas teses sobre especulativa falta deàssistematização? Parasua issoinsuficiência não faltam certam ente confiáveis guias de leitu ra. Em vez de sintoma de um fracasso intelectual, a percepção da fragmentação e do dilacerament o da consciênci a poderia ser ante s considerada com o um dos instan tes em que o idealismo alemão se dá conta de seus limites, em que passa a investigar seus próprios pressupostos e a corrigir seus desvios: abdicar da pretensão de estabelecer, pelo viés da teoria, um sistema do saber absoluto, minimizando o alcance especulativo da dialética. No caráter assistemático da reflexão schlegeliana já se evidenciariam os principais elementos deflagradores da “crise do idealismo”, cujo desfecho será a filosofia da vida do próprio Schlegel e a filosofia positiva do último Schelling.2 Seria possível, assim, refazer com rigor e pertinência o percurso do idealismo à margem daquilo que se conhece como sua trajetória lógica. O caso de Schlegel é tanto mais interessante, por que desde o início já se mostra reticente quan to ao ideal de sistematicidade pelo qual a filosofia pretende adquirir foros de ciência. Seus “anos de aprendizad o filosó fico” poderiam ser entendid os como ensaios sucessiv os de solução deste problema inicial: despir a filosofia de seu aparato artificial, tecnicista, tentando torná-la tanto quanto possível apta a expor o saber na figura srcinal em que ele mesmo imediatamente se manifesta. Por aí já se vê que a escolha da forma não é meramente obra do capricho, mas requer, por assim dizer, uma dedução de seus direit os. Qu ando Schlegel recorre à noç ão de fragmento, pode-se afirmar que não é levado a isso apenas por um lance de gênio, 2) Esta c a tese de Claudio Ciancio em Friedrich Schlege l - Crisi delia filos ofia e rivelazione (Milão, Mu rsia, 1984). Veja- se também , com uma pequena mudan ça de en foque, o trabalho de Hinrich Knittermeyer em Schelling und die romantisc he Schule (Muni que, Ernst Reinhardt, 1929).

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mas tam bém o é pelo intuito d e respon der a uma questão decisiva para os pensadores pós-kantianos, e que foi formulada de modo bastante preciso pelo jovem Schelling: se a crítica, segundo suas próprias palavras, é o sistema de todos os princípios da razão pura, se é a idéia completa da filosofi a transcendental — e mbor a não a própria filosofia transcendental3 — , então ela tem de acreditar que o saber constitui um sistema ordenad o ou, em outras palavras, que há uma form a da filosofia em geral.4 Para pode r dizer o que disse, para pode r afirmar que esgotou todos os princípios sintéti cos a priori, Kant certamente não precisa explicitar todo o conteúdo da consciência, mas é necessário supor que conseguiu circunscrever uma totalidade e, com isso, vislumbrar a “protoforma” ( Urform) da f ilosofia ou a forma para toda e qualquer forma sing ular de la. No entanto, o que justa me nte torna seu texto “obscuro e difícil” é a ausência de um princípio a partir do qual não somente se possa entender a presumida unidade e coerência do saber, mas também como ocorre a “conexão necessária” daquela form a srcinária da filosofia “ com todas as formas singulares dela depe ndente s” — inclu indo, é cl aro, aquela sob a qual se apresenta a própria crítica da razão pura.5 Se a Sfalta dong, princípio é aquilo que, eainda segundo chelli leva os sistematizador céticos Enesidem o-Schulze Maim on a questionar a solidez do sistema crítico e anima Reinhold e Ficht e a tentar demonstrá-la, também se pode dizer que esse problema está no centro das inquietações de Schlegel. Mas é certamente 3) Crítica da razão pur a , Introdução, B 27-28. 4) A interdependência entre idéia e fo rm a, sistema e form a aparece claramente em Kant, quando diz, por exemplo, na Analítica Transcendental, que a tábua das categorias, delineando “completamente o plano do todo” da ciência, “contém completamente todos os conceitos elementares do entendimento, e mesmo a form a de um sist ema deles no entendimento humano”. Na Dialética Transcendental, se diz também com clareza que a “unidade da razão sempre pressupõe uma idéia, a saber, a da fo rm a de um lodo do conhecimento...” (Do uso regulador das idéias, B 673) (grifos nossos). 5) Über die Mo^lichk eit einer Form de r Philosophie iibe rhaupt (Sobre a possibilidade de uma fo rm ad a filosofia em geral). In: Ausgewülilte Werke. Dannstadt, Wissenschaftliche Buchgcsellsch aft, 1980, p. 3. Os mesmo s problemas discutidos nesse texto também sào tratados por Fichte em O conceito da doutrina -da -ciência, escrito que, como confessa Schelling, confirma suas suposições e o instiga a levar adiante suas investigações.

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intrigante como pode preteoder dar uma resposta consistente a ele através da descoberta de que o fragmento é a “form a da filosofia unive rsal” .6 Schlegel teria então com o prim eira tarefa m ostra r que há também na consciência, estreitamente enlaçada com sua imperscrutável unidade,—uma e inevitável inclinação para o fracionamento umprimordial pendor original à fragmentação.7 Naquele que inegavelmente pode ser considerado um dos textos mais estruturados de Schlegel, A conversa sobre a poesia, a primeira verdadeira discussão que ocorre entre os amigos toca justamente nessa questão através de um tema — o da divisão dos gêneros poéticos —, que em princípio tem muito mais a ver com poética e estética do que com filosofia transcendental. O problema da classificação dos gêneros se apresenta inicialmente sob a forma de um a disjunção entre posições contradi tórias em relação ao texto , lido por Andrea, sobre as “épocas da poesia” : Marcus, secundado por Lotário e Ludovico, lamenta que o relato não tenha dado mais atenção aos gêneros poéticos, procedimento, ao contrário, defendido por Amál ia, a quem, como ela mes ma diz, sempre causa “arrepios” quando abre um livro “em que a fantasia e suas obras são classificadas em rótulos”. Na opinião dela, o espírito livre deveria “abr açar diretamente o ideal e se entregar à harmo nia que tem de en contra r em seu interior, tão logo a queira pr ocurar ali” , e se espanta de que Marcus sempre tenha de “separar e dividir [sondern und teilen] onde, no entanto, somente o todo pode atuar e satisfazer com força indivisa”. “Por qu e não” , pergunta ela, “toda a poesia una e indivisível? ” As afirmações de Amália sobre a indivisibilidad e da poesia se chocam frontalmente com o ponto d e vista defendido po r Marcus, para quem uma classificação correta proporcionaria, além do mais, uma história e teoria da arte poética. Cabe a Ludovico afirmar 6) Athenãum 259. 7) A manei ra como Schleg el desenvolve essa questão já poderia sem dúvida constituir um interessante comentário à dificuldade que Kant tem para apresentar a unidade da consciência (consci ência-de- si ou “unidade sintétic a da apercepção”), e àquele princí pio dialético que a doutrina-da-ciência descobre para solucioná-la: “logo que o eu só e para si mesmo, surge-lhe ao mesmo tempo necessariamente um ser fora dele” (Zweite Einleitung in die Wissenscliaftslehre. Hamburgo, Felix Meiner, 1984, pp. 37-8).

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que uma teoria dos gêneros poéticos “nos exporia como e de que maneira a fantasia de um poeta.. . tem necessariamente de se limitar e dividir [beschranken und teilen] em virtude de sua própria atividade e por meio dela”. A própria maneira de atuar do poeta teria de ser o fundam ento da distinção entre as espécies de poesia: se o poeta não abre mão da esper ança de te r, de uma só vez, toda a poesia e se não se divide em partes (sich teilen), não há poema determinado, nem divisão-classificação ( Einteilung ) dos gêneros; se não se separa de uma parte de si mesm o ( Absonderung), não há formação, não há constituição de uma forma ( Bildung).* Essa ruptura que ocorre já no mais íntimo da criação poética não é apenas decorrência necessária dela, mas também condição indispensável para possa se manife star. radical Se a poesia, comde o diz Ludovico, deve serque pensada desde sua srcem a partir um “protopoeta” — de um “proto-autor” ( Urheber) ou “protoescritor” (Urschriftsteller), de um “protótipo” ( Urbild ), de um “poeta de todos os poetas” (Dichter aller Dichter) —, que dá unidade e coesão a todas as suas particularizações, essa idéia, por outro lado, não se dissocia de um fracionamento que lhe é congenial? É dessa perspectiva que se pode entender o fragmento 24 do Athenaum: “Muitas obras dos antigos se tornaram fragmentos. Muitas obras dos modernos já o são ao surgir”. O modo c omo se articula a convers a entre o s amigos da p oesia deixa então perc eber claramente que na verdade as falas de Amália e Marcus não exprimem apenas duas opiniões contraditórias excludentes, mas se combinam de uma maneira complementar. As teses sobre a unidade e divisibilidade se contradizem e se condicion am mutuamente, são os extremos entre os quai s oscila a reflexão, segundo a operação que Fichte designou com o nom e de 8) Conversa sobre a poesia. In: KA, II, pp. 304-310; trad. bras., pp. 46-9. À página 306 (trad., p. 48), diz Marcus: “O csscncial são os fins determinados, a separação [Absonderung] unicament e por meio da qua l a obra de arte ganha contorno e se tom a perfeita e acabada em si mesma. A fantasia do poeta não deve se desfazer numa caótica poesia genérica [chaoíisc/i e Überliauptpoesi e], mas cada obra deve ter, segundo a forma e o gênero, um caráter inteiramente determinado”. 9) Ibidem, p. 305: trad. bras., p. 47.

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alternância ou determinação recíproca. É, aliás, exatament e isso que diz a versão abreviada da discussão, o fragmento 434 do Athenäum: “Deve então a poesia ser pura e simplesm ente dividida? Ou permanecer una e indivisível? Ou alternar [wechseln] entre separação e vínculo?” Essa mesma alternância entre termos opostos seria mais tarde explicada po r Schleg el segundo um a antinomia própria ao eu finito: “Se ao refletir não nos podemos negar que tudo está em nós, então não podemos explicar o sentimento de limitação que nos acompanha constantemente na vida senão quando admitimos que somos somente um pedaço de nós mesmos ” .1 0 O indivíduo é como que uma parte, um pedaço (Stück), fração, fratura ou fragmento de si emes mo,retornar que se àdestaca dodo todo, mas ao mesm o (Bruckstück) tempo o pressupõe quer unidade “proto-eu” ( UrIch)." É assim que, igualmente, quando estão trocando idéias, Amália, Camila, Andrea, Antônio, Marcus, Ludovico e Lotário efetuam, cada qual a seu modo, uma segmentação, uma divisão (Einteilung) desse todo , mas somente compa rtilhando ( teilen mit) suas visões parciais através da comunicação ( Mitteilung) podem voltar a recompô-lo. Seria este, aliás, o objetivo declarado da Conversa sobre a poesia: “confrontar visões completamente diferentes, cada qual podendo mostrar, de seu ponto de vista, o espírito infinito da poesia nu ma nova luz, e todos eles se esforç ando mais ou menos, por um lado ou por outro, para penetrar no verda deiro â mago” .12 A partir dessas indicações fica claro que a descoberta do fragmento como forma é uma tentativa de solucionar problemas de natureza filosófica, ainda que seja lícit o presu mir que com ele já se pretende sair do âmbito de uma filosofia estritamente técnica — e não é certamente um acaso que o romantismo venha ganhando cada vez mais interesse no estudo das formas literária s. Se, como se viu, é a própria atividade srcinária do eu que, pelo seu caráter 10)

XII, p. 337.

11) Idem, ibidem.

12) KA, II, p. 286; trad, bras., p. 30.

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reflexivo, implica fragmentação, determinando a diversidade da poesia, um esforço de combinação dos gêneros poéticos tem então de ocorrer no sentid o inverso, n uma tentativa d e re toma r à unidade inicial: a busca de reunificação de todos os gêneros numa nova síntese de poesia e prosa, poesia e filosofia, criação poética e crítica, é o que agora explica as formas mistas e especialmente o romance, que não é de fato um gênero, mas o meio onde se com binam os gên eros, o elemento para aquilo que Schlegel cham a de poesia romântica ou poesia universal progressiva. Se agora se retoma o problema da filosofia pós-kantiana, tal como formulado por Schelling, percebe-se que, ao explicar a gênese da forma fragm entária, talvez não s e esteja buscando fazer outra coisa quecom estabelecer necessária da protoforma [da f ilos ofia] todas asa “conexão formas singul ares dela depend entes” — embora já não se trate mais somente de filosofemas, mas também de gêneros poéticos, em sua clássica pureza ou em suas combinações mais srcinais. O romantismo pode ser es quematicamente caracterizado como uma trajetória que to m a por ponto de parti da a for ma primordial, s e desenvolve por múltiplas formas particulares e busca novamente, pela combina ção destas, a unidade da forma. Esse último movimento, que aliás, como reconhece Schl egel, teria si do intuíd o por Schiller na div i são dos gêneros da poesia sentimental (cujo início é sátira, o percurso, elegia e o fim, idílio), foi admiravelmente reconstituído por Walter Benjamin como uma passagem das form as-deexposição à idéia das for m as : das obras visíveis à obra invisível ou idéia da arte.0 Resta perguntar, enfim, a que se deve a mudan ça de foco : p or que o prob lema da forma da filosofia em geral se desloca para um campo que se diria mai s literário ? Aqui Schlegel p arece mais uma vez se inspirar diretamente em Fichte, quando este declara a insuficiênc ia e provisor iedade do sis tema filosófico ao dizer , entre tantas outras coisas, que “a forma sistemática não é o fim da 13) O conceito de crítica de arte n o romantismo alemão. Traduçüo, introdução c notas de Márcio Seligmann-Silva. São Paulo, Iluminuras-cdusp, 1993, pp. 92-3.

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ciênc ia”, mas “uma propr iedade contingente dela” .14Toda forma particular é contingente em relação à forma-primeira. Mas essa contingência não deveria também ser em parte atribuí da ao caráter abstrato e artific ial da filosofia? Não seria possív el enc ontrar um a forma que desse o,conta da um pouco sistematicidade sem pmenos rejudicararbitrária, o frescor da reflexã exprimindoa de maneira mais direta e imediata, tal como srcinariamente aparece na consciência? E, nesse caso, não-de veria ser justam ente uma forma fragmentária, que, livre da maquinaria técnica, pudesse ser tão orgânica quanto a própria “vida”? Eis o que parece ser a pretensão filosófica de Schlegel, quando afirma no conhecido fragmento 206 do Athenäum: “Um fragmento tem de ser como uma pequena obra de arte, totalmente separado do mundo circundante e perfeito e acabado em si mesmo como um porcoespinho”. É certam ente injusto cobrar um sistem a filosófico de Schleg el num campo que reconhece manifestamente não ser o seu. Como se tentou mostrar, sua sistematicidade não se encontra aí, mas talvez precisamente em outra pa rte, pois como ele me smo alerta : “Quem tem um sistema, está espiritualmente tão perdido quanto quem não tem nenhum. É preciso justamente vincular as duas cois as. — ” Márcio Suzuki

14) O conceito da doutrina-da-ciênci a. In: A doutrina-da-ciência de 1794 e outros escri tos. São Paulo, Abril, 1984, p. 13. O melhor comentário a essa questão está em O espírito e a letra — Crítica da imaginação pura, em Fichte, de Rubens Rodrigues Torres Filho, onde também se colheram outras sugestões para esta apresentação.

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FRAGMENTOS CRÍTICOS. Lyceum

[1 ] Muitos daqueles a quem se cha ma de artistas são p ropria mente obras de arte da natureza. [2] Todo povo quer ver no palco apenas o padrão mediano de sua própria superficialidade; seria preciso, portanto, entretê-lo com heróis, música ou loucos. [3] Quando faz algo de verd adeiramen te genial no Jacques, Diderot habitualmente aparece ele mesmo logo em seguida e narra sua alegria de que aquilo tenha sido tão genial.1 [4] Há tanta poesia e, no entanto, nada mais raro que um poema! Eis o que faz a abundância de esboços, estudos, fragmentos, tendências, ruínas e materiais poéticos.2 [5] Alguns jornais críticos têm o defeito que tão freqüentemente se censu ra na música de Mozart: um uso por vezes im oderado dos instrumentos de sopro. [6] Desaprova-se a negligência métrica dos poemas de Goethe. Mas as leis do hexâmetro alemão deveriam ser tão conseqüentes e universalmente válidas quanto o caráter da poesia goethiana?3 [7] Meurado, ensem aio prosa, sobreàquilo o estudo da poesinaa po gregesia. a4 éA um hino amanei que é objetivo comp leta falta da indispensável ironia me parece o que nele há de pior; e o melhor, a confiante suposição de que a poesia é infinitamente valiosa, como se isso fosse uma coisa indiscutível. [8] Um bom prefácio tem de ser, ao mesmo tempo, a raiz e o quadrado do livro.

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[9] Chiste é espírito social incondicionado, ou genialidade fragmentária.5 [10] É preciso furar a madeira onde é mais grossa. [11] Até agora nada de verdadeiramente hábil, nada que contenha profundidade, força e destreza, foi escrito contra os antigos; sobretudo contra sua poesia . [12] Naquilo que se chama filosofia da arte falta habitualmente uma das duas: ou a filosofia, ou a arte.6 [ 13] B odm er7 se comp raz em cha mar de homér ico qua lque r símile que seja apenas longo . Do m esmo modo també m se ouve chamar de aristofânico o chiste que, de clássico, tem somente o desembaraço e a clareza. [14] Também na poesia cada todo bem pode ser metade, e cada metade pode no entanto ser propriamente todo. [15] No Jacques, de Diderot, o amo tolo talvez seja mais glorificante para o artista que o criado louco. Sem dúvida, só é quase genialm ente tolo . M as isso também era mais difíci l de fazer que um louco de tod o genial .11 [16] Gênio não é certam ente questã o de arbítrio, mas de liberdade, como chiste, amor e crença, que um dia terão de se tornar artes e ciências. Deve-se exigir gênio de todo mundo, mas sem contar com ele. Um kantiano chamaria isso de imperativo categórico da genialidade.9 [17] Nada é mais desprezível do que chiste triste. [18] Os romances gostam de acabar como começa o pai-nosso: com o reino de Deus na terra.

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[19] Gosta-s e tanto de alguns poemas qua nto as freiras do Salvador. [20] Um escrito clássico jamais tem de poder ser totalmente entendido. Aqueles que são cultos e se cultivam têm, no entanto, de que rer apre nder sempre mais com e le. 10 [21] Assim como uma criança é, na verdade, algo que quer se tornar um homem , assim também o poem a é somente algo nat ural que q uer se to mar um a obra de art e.11 [22] Uma única palavra analít ica, mesm o como elogio, pode apagar imediatame nte o mais notável achado chistoso, cuja cha ma só iria aquec er depois que tivess e brilhado . [23] Em todo bom poema, tudo tem de ser intenção e tudo tem de ser in stin to.12C om isso, se torna ideal. [24] Os autores mais insignificantes têm com o grande autor do céu e da terra ao menos a seme lhança de que costuma m diz er a si mesmos, depois de um dia de trabalho: “E, veja, o que ele fez foi bom”. [25] As duas principais proposições fundamentais da chamada crítica histórica são o postulado da trivialidade e o axioma do hábito. Postulado da trivialidade: tudo o que é verdadeiramente grande, bom e belo é inverossímil, pois é extraordinário e, no mínimo, suspeito. Axioma do hábito: assim com o é entre nós e à nossa volta, assim també m tem de haver sido em toda parte, pois tudo isso é tão natural! [26] Os romances são os diálogos socráticos de nossa época. Nessa forma liberal, a sabedoria da vida se refugiou da sabedoria escolar. [27] Um crítico é um leitor que rumina. Por isso, deveria ter mais de um e stô mago.13

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[28] Sentido (p ara uma arte , ciência, um ho mem particular etc.) é espírito dividido; autolimitação, resultado, portanto, de autocriação e auto-aniquilamento. [29] Graça14é vida correta; sensibilidade que intui e forma a si mesma. [30] Na tragédia moderna, o destino é alguma s vezes substituído pelo Deus Pai, mas ainda com mais freqüência pelo diabo.15Como é que isso ainda não levou nenhum douto em artes a uma teoria do gênero poético diabólico? [31] A divisão das obras de arte em ingênuas e sent ime ntais 16 poderia ser talvez aplicada também com muito proveito nos juízos artísticos. Há juízos artísticos sentimentais aos quais, para ser também completam ente ingênuo s, nada falta senão uma vinheta e um mote. Como vinheta, um postilhão soprando sua trombeta. Com o mote, um a frase do velho Thomas ius ao final de um discurso acadêmico solen e: Nunc vero musicantes miisicabunt cwn paucis et trompetis.11 [32] A classificação química da solução pelo ressecamento ou umedecim ento também é aplic ável, na lit eratura , à dissolução dos autores, que, depois de atingir sua altura máxima, têm de desapar ecer. Uns evapo ram, outros se liqu efaze m.IS [33] Um a das duas é quase sempre inclina ção dominante de todo escritor: ou não dizer muito daquilo que teria absolutamente de ser dito; ou dizer muito daquilo que não precisava ser dito de modo algum. O primeiro é o pecado srcinal das naturezas sintéticas; o segundo, das analíticas. [34] Um achado chistoso é uma desagregação de elementos espiritu ais, que, portan to, tinham de estar intimamente m isturados antes da súbita separação. A imaginação tem de estar primeiro provida, até a saturação, de toda espécie de vida, para que possa chegar o tempo de a eletrizar de tal modo pela fricção da livre

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sociabilidade, que a excitação do mais leve contato amigo ou inimigo pos sa lhe arrancar faíscas fulgurantes e raios luminosos, ou choq ues es trid ent es. 19 [35] Alguns falam do público como se fosse alguém com quem tivessem almoçado no Hotel de Saxe durante a Feira de Leipzig. Quem é esse público? — Público não é uma coisa, mas um pensamento, um postulado, como a Igreja.20 [36] Quem ainda não chegou ao claro conhecimento de que, inteiramente fora de sua própria esfera, ainda pode haver uma grandeza para a qual lhe falta completamente o sentido; quem nem ao menos tem pressentimentos obscuros da região cósmica do espírito humano onde essa grandeza pode aproximadamente ser localizada: este é ou sem gênio em sua esfera, ou ainda não chegou, em sua formação, até aquilo que é cláss ico. [37] Para p oder escrever be m sobre um objeto, é preciso já não se interessar po r ele; o pensam ento que se deve expr imir com lucidez21 já tem de estar totalmente afastado, já não ocupar propriamente alguém. Enquanto o artista inventa e está entusiasmado, se acha, ao menos para a comunicação, num estado iliberal. Pretenderá dizer tudo, o que é uma falsa tendência de gênios jovens ou um ju sto preconceito de escrevinhad ores velhos. Com isso, desconhece rá o valor e a dignidade da autol imitação, que é porém, tanto para o artista quanto para o homem, aquilo que há de primeiro e último, o mais necessário e o mais elevado. O mais necessário: pois em toda parte em que alguém não limita a si mesmo, é o mundo que o limita, tomando-se, com isso, um escravo. O mais elevado: pois só se pode limitar a s i próprio nos pon tos e lados em que se tem força in finita, autocriação e auto-aniqu ilamento. M esm o uma conversa amistosa que não possa a qualquer momento ser livremente interrompida por arbítrio incondicionado tem algo de iliberal. Um autor que quer e pode se abrir por inteiro, que nada retém p ara si e se compra z em dize r tudo o que sabe, é no entanto dev era s la stim áve l.22 Co ntra três erros , ape nas, é pre ciso se

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precaver. A quilo que parece ou deve p arecer arbítrio incondicionado e, portanto, desarrazoado ou supra-racional, no fundo tam bém tem de ser outra vez pura e simplesm ente necessário e racional; senão, o capricho se torna teimosia, surge iliberali dade enão o que era autolimitação se toma Segundo: se deve ter muita pressa na auto-aniquilamento. autolimitação, deixando antes espaço para autocriação, invenção e entusiasmo, até que esteja pronta. Terceiro: não se deve exagerar a autolimitação.23 [38] Não há nada a censurar no protótipo de germanidade que alguns grandes inventores patrióticos apresentaram, exceto a localização incorr eta. Essa germ anidade não se encontra atrás de nós, mas diante de nós.24 [39] A história da imitação da poesia antiga, sobretudo no estrangeiro, tem entre outras também a vantagem de que nela podem ser mais facilmente e mais completamente desenvolvidos os importantes conceitos de paródia involuntária e chiste pass ivo. [40] “Estético” é uma palavra que, na significação em que foi inventada e é usada na Alemanha, revela notoriamente um desconhecimento igualmente completo da coisa designada e da língua q ue a desi gna.25 Po r que a inda é conse rvada ? [41 ] Em chiste e aleg ria social, pouc os livros são comp ará veis ao romance Faublas ,26 É a champanhe do gênero. [42] A filosofia é a verdadeira pátria da ironia, que se poderia definir como beleza lógica: pois onde quer que se filosofe em conversas faladas ou escritas, e apenas não de todo siste mat icam ente27, se deve ob ter e exig ir ironia; e até os est óicos conside rava m a ur banidade uma virtude.28Tamb ém há, certamen te, uma ironia retórica que, parcim oniosam ente usada, produz notável efeito, sobretudo na polê mica; mas está para a sublime urbanidade da mu sa socráti ca, assim como a pompa do mais cintilante discurso artificial está para uma tragédia antiga em estilo elevado. Nesse

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aspecto, somente a poesia pode também se elevar à altura da filosofia, e não está fundada em passagens irônicas, como a retórica. Há poemas antigos e modernos que respiram, do início ao fim, no todo e na s partes, o divino sopro da ironia.29Nele s vive uma bufonaria realmente transcendental. No interior, a disposição que tudo supervisiona e se eleva infinitamente acima de todo condicionado, inclusive a própria arte, virtude ou genialidade30; no exterior, na execução, a maneira mímica de um bom bufão italiano comum. [43] Hippel, diz Kant, seguia a máxima recomendável de que se deve temperar um prato saboroso da exposição humorística com oseguidores condime dessa nto damáxima, reflexão.3 Po entanto r que Hippel não encontra mais que1 no Kant aprovou? [44] Jamais se deve ria evocar o espírito da antigüidade como uma autoridade. Há algo de peculiar com os espíritos: não podem ser agarrados com as mãos e apresentados a outrem. Espíritos só se mostram a espíritos. Também aqui o mais rápido e concludente seria d emons trar a posse da verd adeira fé32 através de boas obras. [45] Diante da estranha predileção que poetas m odernos têm pela terminologia grega para designa r seus produtos, a gente se lembra da afirmação ingênua de um francês por ocasião das novas com emo raç ões no estilo das repúblicas antiga s: quepourtantnous sommes menacés de rester toujo urs Françoisn . — Algumas das designações da poesia da época feudal podem levar literatos de épocas futuras a investigações como a de saber por que Dante chamou sua grande obra de uma divina comé dia. — Há tragédi as que, se devem te r algo de grego no no me, poderiam quando m uito ser chamadas de m imos trist es. Parecem ter sido batizadas segundo o conceito de tragédia que ocorre uma vez em Shakespeare, mas largamente difu ndido na história da arte moderna: u ma tragédia é um dram a em q ue Piram o se suicida.3 4 [46] Os romanos nos são mai s próximos e compreen síveis que os

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gregos; e, no entanto, sentido genuíno para os romanos é ainda incomparavelmente mais raro do que para os gregos, porque há menos naturezas sintéti cas do que anal ítica s. Pois há também um sentido próprio par a nações: tanto para indivíduos históricos quanto para indivíduos morais, e não somente para gêneros práticos, artes ou ciências. [47] Que m qu er algo infinit o, não sabe o que q uer. Ma s a recíproca não é verdadeira. [48] Ironia é a form a do paradoxo. Paradox o é tudo aquilo que é ao mes mo t emp o bom e grande. 35 [49] Os guinéus36 são um dos meios mais importantes da arte dramática e romântica entre os ingleses. São bastante usados sobretudo nas cadências finais, quando os baixos começam a trabalhar com toda a forç a. [50] Quão profundamente se enraíza no homem o pendor a generaliz ar qualidades individuais ou nacion ais! Cham fort me smo diz: "Les vers ajouten t de l ’esprit à la pensée de l ’homm e qui en a quelquefois assez peu; et c’est ce qu’on appelle talent"?1 — É este um uso comum da língua francesa? [51] O chiste é tão abjet o como instrumento de vingança, quanto a arte como meio de fazer cócegas nos sent idos. [52] Ao invés da exposição, em muitos poemas se encontra por vezes apenas uma inscrição indicando que na verdade se deveria expor isto ou aquilo, mas o artista, tendo sido impedido, pede humildemente perdão. [53] No que concerne à unidade, a maioria dos poemas modernos são alego rias (mistérios, moral idades) ou novelas (aventuras, intrigas); um a mescla ou uma diluição de las.

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[54] Há escritores38 que bebem o incondicionado como água; e livros em que até os cães se referem ao infinito. [55] Um homem verdadeiramente livre e culto teria de poder se afinar a seu bel-prazer ao tom filosófico ou filológico, crítico ou poético, histórico ou retórico, antigo ou moderno, de modo inteiramente arb itrário, como se afina um instrumento, em qualquer tempo e em qualquer escala. [56] Chiste é sociabilidade lógica.39 [57] Se muitos amantes místicos da arte, que consideram toda crítica como desmembramento todo desmembramento como destruição da frui ção, pensasseme conseqüentem ente, então “Oh!” seria o me lhor juíz o artístico sobre a obra de arte mais apreciáv el. Também há críticos que , não dizendo nada além, o dizem apenas mais demoradamente. [58] Assim com o os homens pref erem ag ir mai s grandio sa do que justamente, assim também os artistas querem enobrecer e instruir. [59] O pensam ento predileto de Chamfor t, de que o chiste é aquilo que supre a felicidade impossível, uma por assim dizer pequena percentagem que a natureza em falência daria como compensação pelo sumo bem devido, não é mais feliz que o de Shaftesbury, segundo o qual o chiste é a pedra de toque da verdade, ou do que o preconceito mais comum, de que o enobrecimento moral é o fim suprem o da bela-a rte. Chiste é fim em si, com o virtu de, am or e arte. Aquele homem genial sentiu, assim parece, o va lor infin ito do chiste, e uma vez que a filosofia francesa não era capaz de com pree nder isso, procurou instintivamente vincular o que o ch iste tem de mais elevado àquilo que é o primeir o e o mais alt o, segundo ela. E, como máxima, o pensamento que o sábio tem de estar sempre en éta t d ’ép igra m meA0 diante do destino é belo e genuinamente cínico.

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[60] Em sua rigorosa pureza, todos os gêneros poéticos clássicos são agor a ridículos. [61] A rigor, o conceito de um poema científico é tão absurdo quanto o de u ma ciência poética. [62] Já se têm muitas teorias dos gêner os poéticos. Po r que não se tem ainda nenhum conceito de gênero poético? Então teríamos talvez de nos contentar com um a única teori a dos gêneros poéticos. [63] Não são a arte e as obras que faz em o artista, mas o sentid o e o entus iasmo e o im puls o.41 [64] Seria preciso um no vo Laoconte42 para determinar os limites entre música e filosofi a. Par a a jus ta apreciação de alguns escritos falta ainda uma teoria da música gramatical. [65] A poesia é um discurso republicano; um discurso que é sua própria lei e seu próprio fim, onde todas as partes são cidadãos livres e têm direito a voto. [66] A revolucionária fúria de objetividade de minhas primeiras composições musicais filosóficas tem um pouco da fúria de fundamentação43 que tão violentamente se alastrou pela filosofia sob o consulad o de Reinhold . [67] Na Inglaterra o chiste, se não é uma arte, é ao menos uma profissão. Ali tudo se torna ofício, e até os roués44 daquela ilha são pedantes. Assim também são seus wits, que introduzem na realidade o arbítrio incondicionado, cuja aparição dá o romântico e pica nte do chiste, e assim tam bém é o seu viv er chistos amente 45; daí o talento deles para a sand ice. Eles morre m por seus princípios. [68] Quantos autores há entre os escritores? Autor quer dizer criador.46

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[69] Existe também um sentido negativo, que é muito melhor, mas muito mais raro, do que nada. Pode-se amar intimamente algo, justa me nte porque a gente não o possui : o que dá ao menos uma pregustação sem deixar ressaibo. Mesmo a indiscutível incapaci dade, que se conhece claramente ou até com forte antipat ia, é de todo impossível como pura deficiência e pressupõe ao menos capacid ade parcial e simpatia . Como o eros platônico, esse sentido negativo é, portan to, filho da abundância e da penúria. Surge sem a letra , se alguém tem m eramente espírit o; ou, inversam ente, sem o âmago, se tem meramente os materiais e formalidades, a casca seca e dura do gênio produtivo. No primeiro caso, há puras tendências, projetos que são tão amplos quanto o azul do céu ou, no máximo, esboços de fantasias; no segundo caso, senamostra aquela trivialidade artística harmoniosamente cultivada, qual os maior es críticos ingleses são tão clássicos. A marca característica do primeiro gênero, do sentido negativo do espírito, é quando alguém sempre tem de querer sem jam ais poder; sempre gosta d e ouvir, sem jam ais escutar. [70] Pessoas que escrevem livros e então imaginam que seus leitor es sejam o públic o, e que tenha m de fo rmar o público: estas logo acabam não somente desprezando, mas também odiando aquilo que chamam de público; o que não pode levar a nada.47 [71] Senti do para o ch iste sem chis te48já é o abc da liberalidade. [72] No fundo gostam bastante se uma obra poética é um pouco depravada, sobretudo na metade; apenas não se deve ferir diretamente a decência e no fim tudo acaba bem. [73] Aquilo que se perde em traduções de hábito boas ou excelentes é justa me nte o melhor. [74] É impossível ofender alguém que não queira aceitar a ofensa.

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[75] Notas são epigramas filológicos; traduções, mimos filológicos; alguns comentários, onde o texto é apenas travo ou não-eu, idílios filológicos.49 H á uma entre am bição em preferirEsta ser éoaprimeiro entreuma os últimos, a[76] o segundo os primeiros. antiga. Há outra ambição, c om o a do G abriel de T asso: Gabriel, che fr a i prim i era il secon doS0, que é a de prefe rir ser o segundo entre os primeiros, a o primeiro entre os segundos. Esta é a moderna. [77] Máximas, ideais, imperativos e postulados são agora, de tempos em tempos, fichas do jog o da moralidade.5 1 [78] Muitos dos romances mais notáveis são um compênd io, uma encic lopé dia de toda a vida espiritual de um indivídu o genial; obras que o sejam mesm o numa form a totalmente ou tra, como o Natã52, ganham com isso um aspecto de romance. Todo homem que é culto e se cultiva também contém um romance em seu interior.53 Não é, porém, necessário que o exteriorize e escreva. [79] Os escritos alemães alcançam popularidade graças a um grande nome ou a personalidades, a boas relações, persistência, moderada imoralidade, completa ininteligibilidade, harmoniosa trivialidade, variado fasti o, ou graças a um esforço consta nte pelo incondicionado. [80] Na árvore genealógica dos conceitos primordiais de Kant sinto com desagrado a falta da categoria “aproxim adam ente” , que todavia com certeza provocou, no mundo e na litera tura, o mesmo tanto de efeitos e de estragos que qualquer outra categoria.54 No espírito dos céticos natura is, ela tinge todos os demais conc eitos e intuições.

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[81] Há algo mesquinho em polemizar contra indivíduos, como no comércio en détail. Se o artista n ão quer fazer polêmica en gros5S, tem ao menos de escolher aqueles indivíduos que são clássicos e de valor eternamente duradouro. Se tampouco isso é possível, por exemplo, num triste caso de legítima defesa, os indivíduos têm de ser tanto quanto possível idealizados , por força da ficção polêmica, como representantes da tolice e da loucura objetiv a; pois, como tudo o que é objetivo , tam bém estas são infinitamen te interessant es, como têm de ser os objetos dignos da p olêmica mais elevada.56 [82] Esp írito é filoso fia-d e-na turez a.57 [83] Maneiras5* são ângulos característicos. [84] Daquilo que os modernos qu erem é preciso a prender o que a poesia deve vir a ser; daquilo que os antigos fazem, o que ela tem de ser. [85] Todo autor legítimo escreve para ninguém, ou para todos. Quem escreve para que estes ou aqueles o possam ler, merece não ser lido.59 [86] O fim da crítica, se di z, é forma r leit ores! — Quem que r ser formado, que se forme a si mesmo. Isso é indelicado, mas não há como mudar.61’ [87] Uma vez que a poesia é infinitamente valiosa, não vejo por que ainda deva ser meramente mais valiosa do que uma ou outra coisa tam bém infinitamente valio sa. Artist a algum concebe a arte de uma maneira excessivamente grandiosa, pois isso é impossív el, mas há os que não são s uficientemente livres para se elevar acima daquilo qu e há de mais alto. [88] Nada mais picante do que quando um homem genial tem maneiras; ou seja, quando as tem, mas de modo algum quando estas o têm: isso leva à petrificação espiritual.

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[89] Não seria supérflu o escrever mais de um roman ce, se o artista não se tomou um novo homem? — Não raro todos os romances de um autor são manifestam ente interdependentes uns dos outros e, de certo modo, a penas um rom ance.61 [90] Chiste é uma explosão do espírito estabilizado.62 [91] Os antigos não são nem os judeus, nem os cristãos, nem os ingles es da poesia. N ão são um povo-artist a arbitrariamente eleito por Deus, nem têm a verdadeira fé na beleza, nem possuem o monopólio da poesia. [92] Assim como o animal, também o espírito só pode respirar numa atmosfera mesclada de puro ar vital e azoto. Não poder supor tar e compr eend er isso é a essênc ia da estul tice; não o querer , pura e simplesmente, o início da loucura. [93] Nos antigos se vê a letra perfeita e acabada de toda a poesia; nos modernos se pressente o espírito em devir.63 [94] Autores medíocres que anunciam um pequeno livro pretendendo fazê-lo passar por um grande gigante, deveriam ser constrangidos pela polícia literária a estampar no seu produto o mote: Th is is the g reatest e leph ant in the world, excep t him self.6* [95] A trivialid ade ha rmoni osa pode ser muito útil ao filósofo com o um claro farol para regiões ainda inavegadas da vida, arte ou ciência. — Ele evitará o homem, o livro que alguém harmoniosamente trivial admira e ama, e ao menos desconfiará da opinião em que muitos dessa espécie firmemente acreditam. [96] Um bom enigma deveria ser chistoso, senão nada sobra tão logo se descubra a palavra; também não é sem atrativo se um achado chistoso seja t ão enigmático a ponto de se querer decifrálo, mas seu sentido tem de ser completamente claro, tão logo encontrado.

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[97] Sal na expres são é o picante, pulverizado. Há o sal gros so e o fino. [98] Estas são as leis fundamentais universalmente válidas da comunicação escrita: 1) é preciso ter algo que deva ser comunicado; 2) é preciso ter alguém a quem se possa querer comunicá-lo; 3) é preciso poder comunicá-lo efetivamente, partilhá-lo65com alguém, não apenas se exteriorizar sozinho; senão seria mais acertado calar. [99] Aquele que não é ele m esmo inteiramente novo, jul ga o novo como antigo; e o antigo se lhe torna cada vez mais novo, até que ele mesmo envelheça. [ 100] A poesia d e um se cham a filosófica; a de outro, filológica; a de um terceiro, retórica etc. Qual é, então, a poesia poética? [101] Afetaç ão não surge tanto do esfor ço em ser novo, quan to do temo r de ser ant igo. [ 102] Que rer tudo jul gar é um gra nde erro ou um pequeno pecado. [ 103] Muitas obras apreciadas pelo belo encad eamen to têm menos unidade que uma diversificada porção de achados que, animados apenas pe lo espírito de um espírito, apontam par a uma met a única. Tais achados, no entanto, se vinculam por aquele convívio livre e igual em que, conforme asseveram os sábios, também se encontrarão os cidadãos do Estado perfeito; por aquele espírito social incondicionado66 que, na presunção dos fidalgos, só se encontra agora naquilo que tão estranha e quase puerilmente se costuma chamar de alta sociedade. Em contrapartida, alguns produtos, de cuja coesão ninguém duvida, não são, como bem sabe o próprio artista , uma obra, mas apenas um ou muitos trechos, massa, disposição. O impulso de unidade é , porém, tão poderoso no homem, que freqüentemente , já durante a composição, o próprio criador complem enta ao menos aquilo que não pode absolutamente

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perfazer ou unificar; e freqüentemente o faz com grande riqueza de sentido, mas de modo inteiramente antinatural. O pior nesse caso é que tudo aquilo qu e, para dar uma aparência de totalidade, se agrega às partes só lidas efetivamen te existentes geralme nte não passa dee guarnecid remendososcoloridos. Se estes são pior. bons,Então, ornados para eng anar com inteligência , tanto de início se enganará também o indivíduo privilegiado que tem sentido profundo para o pouco de esmeradamente bom e belo que ainda se encontra, parcimoniosamente aqui e ali, tanto nos escritos quanto nas ações. Ele terá de chegar à justa sensação somente mediante juízo! Por mais rápida que seja a disseca ção, o frescor da primeira impressão já passo u. [104] Aquilo que habitualmente se chama razão é apenas um gênero dela: o tênue e aquoso. Há também uma razão espessa e ígnea, que faz o chiste propriamente chiste, e dá elasticidade e eletricidade ao estilo sólido. [ 105] Caso se ob serv e o espírito e não a letra, todo o pov o roman o, juntamente com o senado e todos os triunfadores e césares, era um cínico. [106] Nad a mais deplorável em sua srcem e nada mais execrável em suas conseqüências do que o temor de ser ridículo. Daí, por exemplo, a servidão das mulheres e alguns outros cancros da humanidade.67 [107] Os antigos são mestres da abstração poética; os modernos têm mais especulação poética. [108] A ironia socrática é a única dissimulação inteiramente invo luntá ria e, no entanto , inteir amente lúcida.611 Fing i-la é tão impossível quanto revelá-la. Para aquele que não a possui, permanece um enigma, mesmo depois da mais franca confissão. Não deve enganar ninguém, a não ser aqueles que a tomam por engodo e que, ou se alegram com a grande pândega de se divertir

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com todo mundo, ou ficam fu los, quando pressentem que também estão sendo visados. Nela tudo deve ser gracejo e tudo deve ser sério: tudo sinceram ente aberto e tudo profundamente dissimulado. Nasce da unificação do sentido artístico da vida e do espírito científic o69, do enc ontro de perfeita e ac abada filosof ia-de- naturez a e de perfeita e acabada filosofia-de-arte.70 Contém e excita um sentimento do conflito insolúvel entre incondicionado e condicionado, da impossibilidade e necessidade de uma comunicação total. É a mais livre de todas as licenças, pois por meio dela se vai além de si mesmo71; e, no entanto, é também a mais sujeita à lei, pois é incondic ionad ame nte necessária. É muito bom sinal se os harmoniosamente triviais não sabem de modo algum comeoda lidar com essa constante autoparódia, na qual sempre acreditam qual novamente sempre desconfiam, até sentir vertigens, tomando justamente o gracejo como seriedade, e a seriedade como gracejo. A ironia de Lessing é instinto; em Hemsterhuis é estudo clássico; a ironia de Hiilsen surge da filosofia da filosofia e pode suplantar de longe a daqueles.72 [ 109] Chiste brando, ou chiste sem farpa, é um privilégio da poesia, que a prosa lhe tem de co nceder: pois s omente mir ando do modo mais certeiro num único ponto um achado isolado pode atingir uma espécie de total idade. [110] O desenvolvimento harmonioso dos nobres e artistas não seria apenas uma harmoniosa ficção?73 [111] Chamfort foi aquilo que Rousseau queria de bom grado parecer: um autêntico cínico, no sentido dos antigos, mais filósofo do que toda uma legião de áridos sábios de escola. Embora de início tivesse se envolvido com fidalgos, viveu livremente, assim como morreu livre e dignamente, desprezand o a pequena fama de um grande escritor. Era amigo de Mirabeau. Seu mais delicioso legado são os achados e observações sobre a sabedoria de vida: um livro cheio de sólido chiste, sentido profundo, delicada sensibilidade, razão madura e firme hombridade, cheio de traços

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interessantes da mais viva paixão, livro que, além de primoroso, é de acabada e perfeita exp ressão: incomparavelmente, o mais alto e o primeiro do gênero . [112]isso, O escritor analítico observa o leitor como é; para de acordo com faz seus cálculos e aciona suastalmáquinas nele produzir o efeito adequado. O escritor sintético constrói e cria para si um leitor tal como deve ser; não o concebe parado e morto, mas vivo e reagindo. Faz com que lhe surja, passo a passo, diante dos olhos aquilo que inventou, ou o induz a que o invente por si mesmo. Não que r produzir nenhum efeito determ inado sobre ele , mas com ele entra na sagrada relação da mais íntima sinfilosofia ou simpoesia.74 [113] Na Luísa, VoB é um homérida, assim como Homero, na tradução dele, um vóssida.75 [114] Quantos jornais críticos não há de natureza diversa e intenções dist intas! Se ao menos u ma sociedade dessa espécie se reunisse meramente com o fim de realizar aos poucos a também necessária crítica! [115] Toda a história da poesia modern a é um com entário co ntínuo ao breve texto da filosofia: toda arte deve se tornar ciência e toda ciência, arte76; poesia e f ilosofia devem ser unificada s. [116] No que diz respeito à elevação do sentido artístico e do espírito científico, os alemães, afirma-se, são o primeiro povo no mundo. Sem dúvida: só que existem bem poucos alemães. [117] P oesia só pode ser criticada por poes ia. Um juíz o artístico que não é ele mesm o um a obra de art e na matéria , com o exposição da impressão necessária em seu de vir, ou mediante um a bela forma e um tom liberal no espírito da antiga sátira romana, não tem absolutamente direito de cidadania no reino da art e.

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[118] Tudo o que pode ser banalizado já não era de início equivocad o ou trivial ? [119] Poemas sáficos precisam crescer e ser encontrados. Não podem ser feitos nem comunicados ao público sem profanação. Àquele que faz isso, falta ao mesmo tempo orgulho e modéstia. Orgulho: pois arranca o que tem de mais íntimo do sagrado silêncio do coração e o lança à multidão para que, grosseira ou alheia, o admire p or um miserável da capo ou p or um frederico.77Mas será sempre falta de modéstia pôr a si mesmo, como um modelo, em exposição . E se poemas líricos não são inteirame nte pessoais, livres e verdadeiros, nada valem como tais . Petrarc a não entra em conta aqui: esse frio amantenão nada diz além graciosas generalidades; também é romântico, lírico. Mas de mesmo que ainda houvesse uma natureza tão conseqüentemente bela e clássica que pudesse se mostrar nua, como Frine7* diante de todos os gregos, já não haveria um público olímpico para tal espetáculo. E também se tratava de Frine. Só cínicos amam no mercado público. Pode-se ser cínico e grande poeta: o cão e os louros têm igual direito a decorar o monumento de Horácio. Mas horaciano nem de longe aind a é sáfico. Sáfico jam ais é c ínico .79 [ 120] Aquele que car acterizasse d evida men te o Meister de Goethe diria, na verdade, de que será época agora na poesia. No que conce rne à crítica poét ica, não precisaria fazer mais nada. [121 ] Ques tões mais si mples e imediatas, como: de ve-se ju lg ar as obras de Shakespeare como arte ou como natureza? epopéia e tragédia são ou não essencialmente diferentes? a arte deve iludir ou some nte parecer iludir?, não pode m ser respondidas sem a mais profunda especulação e sem a história da arte mais erudita. [122] Se a elevada idéia de germanidade que se encontra aqui e ali pode ser justificad a por algum a coisa , esta é o decidido desdém e desprezo por aqueles bons escritores comuns que qualqu er outra nação acolheria, com pompa, em seu Jo hnson1*1, e o pendor bastante

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geral para censurar livremente e em toda parte considerar, com justa exatidão, também aquilo que se reconhece como o melhor, e que é super ior àquilo que os estrangei ros já poderiam achar bom. [ 123] É umaapresunçã irrefletida e im odesta r apren der algo sobre a arte partir da ofilosofia.*1É assim quequere procedem alguns, como se esperassem experimentar algo novo aqui; a filosofia, contudo, não pode nem deve poder fazer nada mais que tomar ciência as experiências artísticas dadas e os conceitos artísticos existentes, elevar e ampliar a visão artística com ajuda de uma história da arte erudita e profunda, e produzi r, també m em relação a esses objetos, aquela disposição lógic a que unifica liberalidade e rigorismo absolut os. [ 124] Também no interior e no todo dos m aiores p oemas mode rnos há rima, retorno simétrico do mesmo. Isso não proporciona apenas um notável arredondamento, mas também pode ter um efeito altamente trágico. Por exemplo, a garrafa de champ anhe e os três copos que a velha Bárbara põe de noite à mesa, na presença de Wil helm .1*2 — Gos taria de c ham ar essa rima de g igan tesc a ou shakespeariana. Pois nela Shakespeare é mestre. [125] Sófocles já acreditava sinceramente que os homens que exibia eram melhores que os rea is. Onde exibiu um Sócrates, um Sólon, um Aristides, e inúmeros outros? — Quantas vezes essa pergunta não pode ser repetida também em relação a outros poetas? Mesmo os maiores artistas, quanto não diminuíram heróis reais em suas exposições? E, no entanto, aquela ilusão se generalizou, dos imperadores da poesia até os mais baixos Iictores. Como toda limitação conseqüente, também pode ser bastante salutar aos poetas, para condensar e concentrar a força. Mas um filósofo que por ela se deixasse contaminar, mereceria ser ao menos deportado do reino da crítica. Ou não há porventura, no céu e na terra, uma infinidade de coisas boas e belas com as quais a poesia nem seq uer sonha?*3

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[126] Os rom anos sabiam que o chi ste é uma faculdade profética: cha mav am -na de nariz.84 [ 127] É indelicado se espanta r quando algo é be lo ou grande; com o se pudesse ser de outra maneira.

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Athenäum 1

[Pólen]

[15] A filosofia também tem suas flores. São os pensamen tos dos quais nunca se sabe se devem ser chamado s de belos ou chistosos . [20] Se na comunicação de pensamentos se alterna entre entendimento e não-entendimento absolutos, isso já pode ser cham ado de u ma amizad e filosófica.2 Mas com nós mesmos não nos damos melhor. E a vida de um homem qu e pensa é outra coisa que uma constante sinfilosofia interior? [26] Uma vez que se tenha predileç ão pelo absoluto e não se possa deixar disso, então não resta outra saída senão se contradizer sempre e vincular extremos opostos. O princípio de contradição está irrem ediavelmente perdido, e só se tem a escolha entre querer se comportar passivamente diante disso ou querer enobrecer a necessidade, elevando-a, pelo reconhecimento, a ação liv re. [31 ] Par a tratar o comum, quando tam bém não se é comum , com a força e leveza de que surge a graça, é preciso não achar nada mais estranho que o comum, e ter sentido para o estranho, nele buscando e pressentindo muito. Dessa maneira, mesmodeum que vive em esferas de todo diversas pode satisfazer tal homem modo as naturezas costumeiras, que estas não o levam absolutam ente a mal e não o consideram senão como aquilo que entre si chamam de amável.

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[1] S obre nenhu m objeto filosofam mais raram ente do que sobre filosofia.3 [2] O tédio, tanto no modo como surge quanto nos efeitos, se assemelha ao ar empesteado. Os dois gostam de se propagar quando muita gente se reúne num ambiente fechado. [3] aKant introduziu na filosofia o conceito do negativo.4 seria um tentativa út il introduzir agora na filosofia também oNão conceito do positivo? [4] Para grande prejuízo da teoria dos gêneros poéticos freqüentemente se negligenciam as subdivisões dos gêneros. Assim, a poesia-de-natureza se divide, por exemplo, em natura l e artific ial, e a poesia popular em poesia popular para o povo e poesia popular para os de boa condição e doutos. [5] Aquilo que se chama de boa sociedade é no mais das vezes apenas um m osaico de caricaturas poli das. [6] Alguns censuraram como grande falta de delicadeza que no Hermann e Dorotéia5o jov em sugira dissimulada mente à amada, uma cam ponesa empobrecida, que entre como serviçal na casa d e seus bons pais. Esses críticos devem tratar mal sua criadagem. [A.W.] [7] Vocês sempr e desejam novos pensa mento s? Façam alg o novo, e se poderá dizer algo novo a respeito. [A.W.] [8] A certos encomiastas das épocas passadas de nossa literatura se pode responder atrevidamente, como Estênelo a Agamenão6:

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vanglo-riamo-nos de ser muito melhores do que nossos antepassados. [A.W.] [9] Felizmente a poesia espera tão pouco pela teoria, quanto a virtude pela contrário não teríamos por ora nenhuma esperança demoral, poema.do[A.W.] [ 10] O dever é o um e tudo de Kant.7 Por deve r de gra tidão, afirma, é preciso defender e estimar os antigos; e somente por dever ele mesmo se tornou um grande homem. [ 11 ] Os idílios de Geí3ners aprouveram à alta sociedade parisiense exatamente como o paladar habituado ao haut goüt por vezes se delicia com mingau. [A.W.] [ 12] De mui to mon arca se disse : teria sido um hom em bem am ável com o pessoa privada, só não servia para re i. Não ocorre p orventura o mesm o com a Bíbl ia? Não é também apenas um amável livro de uso privado, que só não deveria ser Bíblia? [13] Se jovens de ambos os sexos sabem dançar uma música prazenteira, de modo algum lhes ocorre querer julgar sobre a arte musical. Por que as pessoas têm menos respeito pela poesia? [14] A única coisa que pode salvar a moralidade poética de descrições lascivas é a bel a ousadia na ex ecução. Dão testemunho de indolência e perversão, se nelas não se revela um a exuberante abundância de força vital. A imaginação tem de querer divagar, não estar habituada a se render servilmente ao pendor dominante dos sentidos. E, no entanto, entre nós se considera a jovial frivolidade como sendo em geral a mais condenável, mas se perdoou o que de mais forte havia nesse gênero, se estivesse envolto numa fantástica mística da sensibilidade. Como se uma improbidade pudesse ser compensada por uma sandice ! [A.W.] [15] O suicídio é habitualmente apenas uma ocasião, raramente

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uma ação. Se é uma ocasião, o autor sempre está errado, como a criança que quer se emancipar. Mas se é uma ação, não se trata absolutamente de direito, mas somente de conveniência. Pois apenas a ela está sujeito o arbítrio, que deve determinar tudo o que, como o aqui e o agora, não pode ser determinado nas puras leis, e pode deter min ar tudo o que não aniquila o arbítrio de outros e, com isso, a si mesmo. Nunca é injus to morre r voluntariamente, mas muitas vezes é indecoroso viver por mai s tempo. [16] Se a essência do cinismo consiste em preferir a natureza à arte, a virtude à beleza e à ciênc ia; em observa r apenas o espírit o, descuidando da letra a que rigorosamente se atém o estóico; em desprezar todo valor econômico político eincondicionalmente em afirmar corajo samente os direitosoudobrilho arbítrio autônomo: então o cristianismo outra coisa não poderia ser senão cinismo universal.9 [17] Pode-se escolher a forma dramática por pendor pela completitud e sistemática ou não apenas para ex por, mas também imitar e contrafazer homens; por comodidade ou por deferência para com a música, ou também pela pura alegria de falar e fazer falar. [ 18] Há escritores de mérito que, com ar dor juve nil, impulsio naram a formação de seu povo, pretendendo, porém, fixá-la ali onde a força os abandonou. Em vão: quem um dia se empenhou, tola ou nobremente, para intervir na marcha do espírito humano, tem de seguir com ela, ou não é nisso melhor do que um cão que, diante do espeto, não quer avançar as patas. [A.W.] [ 19] O meio mais seguro de ser ininteligível ou, antes, de ser mal entendido, é quando se usam as palavras, especialmente as das línguas antigas, em seu sentido srcinal. [20] Duelos“’ obser va que há poucas obras no táveis que não são da lavra de escritores de profissão. Há muito tempo ta l condição é

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reconhecida com respeito na França. No passado, ser apenas escr itor era , entre nós, menos qu e nada. Ainda hoje tal preconceito dá sinais de vida aqui e al i, mas a força de exemplos respeitáveis o enfraquece rá cada vez mais. Depe ndendo de como a exerçam, a atividade ma devassidão, um ganha- pão, um ofício, literá uma ria arte,é uma uma infâmi ciênciaa,euuma virtude. [A.W.] [21] A filosofia kantiana se assemelha à carta forjada que Maria deixa no caminho de Malvólio, na Noite de Reis de Shakespeare. Com a única diferença de que na Alem anha há inúmeros Malvó lios filosóficos que agora amarram as ligas em cruz, vestem meias amarelas e estão sempre sorrindo fantasticamente." [22] Um projeto é o germe subjetivo de um objeto em devir. Um projeto completo teria de ser ao mesmo tempo inteiramente subjetivo e inteiramente objetivo, um indivíduo indiviso e vivo. Segundo sua srcem, inteiramente subjetivo, srcinal, somente possível ju stam en te nesse espírito; segundo seu caráter, inteiramente objetivo, física e moralmente necessário. O sentido para projetos que poderiam ser chamados de fragmentos do futuro é diferente do sentido para projetos do passado somente pela direção, que é progressiva naquele, mas regressiva neste. O essencial é a capacidade de ao mesmo tempo idealizar e realizar imediatamente os obj etos, de os complem entar e em parte executar em si. Uma vez que transcendental é justamente aquilo que se refere ao vínculo ou à separação do ideal e do real, se poderia dizer que o sentido para fragmentos e projetos é o componente transcendental do espírito histórico. [23] Muito daquilo que se imprime ficaria melho r se fosse apenas dito, e por vezes se diz algo que seria mais conveniente se fosse impresso. Se os melhores pensamentos são os que se deixam ao mesmo tempo dizer e escrever, às vezes vale a pena examinar o que se pode escr ever daquilo que f oi dit o, e o que se pode im primir daquilo que foi escrit o. É, sem dúvida, presunçoso te r pensamentos e os tornar conhecidos ainda em vida. Incomparavelmente mais

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modesto é escrever obras inteiras, porque estas bem podem ser meramente compostas a partir de outras obras e porque, no pior dos casos, resta ao p ensamento o recurso de dar primazia ao assunto e se pôr humildemente de lado. Mas pensamentos, pensamentos isolados, estão compelidos a querer ter um valor por si e têm de ter pretensão a ser próprios e pens ados .12 A única coisa que dá uma espécie de consolo quanto a isso é que nada pode ser mais presunçoso do que existir em geral, ou mesmo existir de uma maneira autônoma determin ada. Com o quer que a gente se posi cione, é dessa presunçã o fundamental q ue derivam todas as o utras. [24] Muitas obras dos antigos se tornaram fragmentos. Muitas obras dos modernos já o são ao surgir. [25] Não raro, interpretar é inserir aquilo que se deseja ou que é confo rme a um fim, e muitas deduções são pr opriame nte des vios .13 Prova de que erudição e especulação não são tão prejudiciais à inocência do espírito quanto se nos quer fazer crer. Pois não é mesmo uma infantilidade ficarmos alegremente espantados com o milagre que nós mesmos realizamos? [26] A germanidade é um objeto de predileção para o caracterizad or, porque, quanto menos pronta uma nação, tanto mais é objeto da crít ica e não d a his tóri a.14 [27] Como os mundos possíveis de Leibniz, os homens são em sua mai oria apenas igualmente legítimo s pretendentes à existência . Há poucos existentes. [28] Depois da exposição perfeita e acabada do idealismo crítico, que será sempre o primeiro, os desideratos mais importantes da filosofia parecem ser os seguintes: uma lógica material, uma poética poética, uma política positiva, uma ética sistemática e uma históri a prática.15 [29] Achados chistosos são os provérbios dos homens cultos.

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[30] Uma rapa riga em flor é o símbolo mais atraente da vontade pura e boa. [31] Falso pudor é pretensão à inocência sem inocência. As mulheres de sentimentais, continuar sendo falsamente enquanto os homensterão forem tolos e maus o pudicas bastante para delas exigir eterna inocência e falta d e culti vo. Pois inocência é a única coisa que pode enobre cer a incul tura. [32] Dev e-se ter chiste, sem o qu ere r ter; senão surge z om baria 16, estilo alexandrino no chiste. [33] Mu ito mais difícil que fal ar bem é dar aos outros o ensej o de falar bem. [34] Quase todos os matrimônios são apenas concubinato, casamento morganático ou, antes, tentativas provisórias e aproxim ações longínquas de um casam ento efeti vo, cuja essência própria, não segundo os paradoxos deste ou daquele sistema, mas segundo todos os direitos, canônicos ou laicos, consiste em que muitas pessoas devem se tornar uma só. Pensamento primoroso, cuja realização parece no entanto envolver muitas e grandes dificuldades. Por isso mesmo, aqui se deveria limitar o menos possível o arbítrio, que também deve ter direito à palavra quando o que está em ques tão é se alguém qu er ser um indiv íduo po r si ou apenas parte integrante de uma personalidade coletiva; e não se pode prever o que de profundo se poderia objetar contra um casamento à quatre.'1 Se, não obstante, o Estado quiser manter à força essas tentativas frustradas de matrimônio, impedirá com isso a possibilidade do próprio matrimônio, que poderia ser estimulad por tentativas novas e talvez mais felizes.1"

o

[35] O cínico, na verdade , não deveria pos suir coisa alguma; pois todas as coisas que um homem possui, o possuem de novo, num certo sentido. Portanto, se trata apenas de possuir as coisas como se a gente não

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as possuísse. Ainda mais artificia l e cínico é, porém, não as possuir com o se a gente as possuísse. [S.]19 [36] Ninguém julga uma pintura decorativa e um retábulo, uma opereta e uma música sacra, um sermão e um tratado filosófico pelo mesmo critério. Então por que, à poesia retórica que existe apenas no palco, se fazem exigências que só podem ser preenchidas por uma arte dramática superior? [37] Alguns achados chistosos são como o surpreendente reencontro de dois pensamentos amigos após uma longa separação. [38] A paciência, dissea religião S., está está parapara o a filosofia. de état d ’épigramme Chamfort, assim como [S.]20 [39] Os pensamentos são, em sua maioria, apenas perfis de pensamento s. É preciso invertê-los e sintetizá-los com seus antípod as.21 Muitos escritos filosóficos ganham com isso u m grande interesse, que do contrário não teriam. [40] Notas a um poema são como aulas de anatomia sobre um assado. [A.W.] [41 ] Os que fizeram de explic ar Kant uma profissão foram aqueles a quem faltava um órgão para ter alguma noção dos objetos sobre os quais Kant escreveu; ou aqueles que tiveram apenas a pequena infelicidad e de não comp reend er ninguém senão a si mesmos; ou aqueles que se expressaram ainda mais confusamente do que el e. [42] Bons dr amas têm de s er drásticos .22 [43] A filosofia ainda caminha demasiadamente em linha reta, e ainda não é suficientemente cíclica.23 [44] Toda resenha filosófica deveria ser ao das r ese nha s.24

mesmo tempo filosofi a

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[45] É nov o ou não é : eis a questã o que, diante de um a obra, se faz do ponto de vista mais alto e do mais baixo, do ponto de vista da história e do d a curiosidad e. [46] Segu ndo o modo de pensar de alguns filósofos, um regim ento de soldados en parade é um si stema. 25 [47] A filosofia dos kantianos se chama crítica ou é um epitheton ornans.26

per antiphrasin;

[48] Em relação aos maiores filósofos ocorre comigo o mesmo que com Platão em relação aos espartanos. Ele os amava e respeitava infinitamente, sempre se queixa de que em toda parte tivessem ficado nomas meio do caminho.27 [49] As mulheres são tratadas injustamente, tanto na poesia quanto na vida. A s fem ininas não são ideais, e as ideais não são femininas. [50] Segundo a srcem, o verdadeiro am or deveria ser ao mesmo tempo inteiramente arbitrário e inteiramente casual, e parecer ao mesm o tempo necessário e liv re; mas, segundo o carát er, deveria ser ao mesm o tempo destinação e virtude , e parecer um m istério e um milagre. [51] Ingênuo é aquilo que, até a ironia ou alternância constante de autocriação e auto-aniquilamento, é ou parece natural, individual ou clássico. Se é meramente instinto, é infantil, pueril ou estulto; se é merame nte intençã o, surge a afetação. O ingênuo belo, poético, ideal, tem de ser ao mesmo tempo intenção e instinto. A essência da intenção é, nesse sentido, liberdade. Consciência nem de longe é intenção. Há um certo intuir apaixonado da própria naturalidade ou estultice que é mesmo indizivelmente estulto. Intenção não requer exatamente cálculo ou plano profund o. M esm o o ingênuo d e Homero não é meram ente instinto: há ao menos tanta intenção a li quanto na gr aça de crianças amáveis ou donzelas inocentes. Ainda que ele mesmo não tenha

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tido intenção alguma, sua poesia e a verdadeira autora dela, a natureza, têm intenção.28 [52] Há um gênero particular de homens nos quais o entusiasmo do tédio é o primeiro excitamento d a filoso fia. [53] É igualmente mortal para o espírito ter um sistema e não ter nenhum . Ele terá portanto de se dec idir a vincular as duas co isas.29 [54] Pode-s e soment e vir a ser, não se r filósofo. Tão logo se acredita sê-lo, se deixa de o vir a ser. [55] H á classificações que são bastante ruins com o classificações, mas dominam nações e épocas inteiras, sendo muitas vezes extrem amen te características e como mônadas centrais de um ta l indivíduo históri co. Assim é a divisão grega de todas as coisas em divinas e humanas, que é me smo uma antigüidade homérica. Assim é a divisã o roman a entre tem po de p az e temp o de gu erra. 30 Entre os modernos se fala sempre deste e do outro mundo, como se hou vesse mais de um. Mas c om certe za entre eles a maioria das coisas tamb ém é tão isolada e dividida quanto este seu m undo e o ou tro.31 [56] Uma vez que agora a filosofia critica tudo o que lhe surge pela frente, uma crítica da filosofia nada mais seria que uma justa represália.32 [57] Com a fama literária freqüentemente ocorre o mesmo que com o favor das mulheres e com o dinheiro. Basta de início uma boa base para que o resto venha por si mesmo. Muitos são considera dos grandes apenas po r acaso. “Tudo não passa de pur a sorte” : eis o resultado de muitos fenômenos literá rios, bem como da m aior parte dos fenômenos polít icos. [58] Acredita na tradiçã o, e sem pre se empe nha em novas sandice s; ávida de imitação e orgulhosa de sua independência, desastrada naquilo que é superficial e hábil até a destreza naquilo que é

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profunda ou tristemente pesado; triv ial por natureza, mas transcendente, pelo esforço, nos sentimentos e visões ; resgua rdada em severa comodid ade por sagrada aversão ao chiste e à malíci a: à grande massa de que literatura poderiam corresponder esses traços? [A.W.] [59] Os maus escritores se queixam bastante da tirania dos resenhistas; creio que são este s que deveriam se queixar. D evem ach ar belo, espirituoso, excelente, algo que não é nad a disso; e, se não fosse o pequeno detalhe do pode r, os resenhados procederiam com eles do mesmo modo que Dionísio com os que lhe desaprovavam os versos. Isso foi dito alto e bom som por um Kotzebu e. Pa ra anunciar os novos produtos desses tais pequenos Dionísios também já bastariam as palavras: Levem-me de volta às Latomias.33 [A.W.] [60] Os súditos de alguns países se vangloriam de uma porção de liberdades, todas as quais se lhes tornariam supérfluas pela liberdade. Do mesmo modo se dá grande ênfase a belezas de alguns poemas apenas porque não têm beleza alguma. São plenamente artísticos no particu lar, mas n enhu ma obra de arte no to do. [A.W.] [61] Os poucos escritos que existem contra a filosofia kantiana são os documentos mais importantes da história da enfermidade do bom senso.34 Essa epidemia, que surgiu na Inglaterra, um dia ameaçou contaminar até mesmo a filosofia alemã. [62] Imprimir está para o pensar, assim como a recuperação após parto está para o primeiro beijo. [63] Todo homem inculto é a caricatura de si mesmo. [64] Moderantismo35 é o espírito da iliberalidade castrada. [65] Muitos encomiastas dem onstram antiteticamente a grandeza de seu ídolo exibindo a própria pequenez.

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[66] Qu ando não tem mais nada que responder ao críti co, o autor gosta de lhe dizer: Você não pode fazer melhor. Isso é o mesmo que se um filósofo dogmático quisesse censura r o cético por este não poder inventar um sistema. [67] Seria iliberal não pressupor que todo filósofo é liberal e, conseqüentem ente, resenhável; ou até não o fi ngir, mes mo que se saiba o contrário. Mas seria presunçoso tratar poetas do mesmo modo; seria preciso ser totalmente poesia e como que uma obra de arte viva e ativa. [68] Só ama efetivamente a arte o amante da arte que pode renunciar completam entepode a alguns de apreciar seus desejos, onde vê mesmo outro s plenamente satisfeitos, ainda severamente aquilo que é mais amado, aceita explicações quando necessário e tem sentido para a história da arte. [69] Já não temos as pantomim as dos antigos. Em compe nsação, agora toda a poesia é pantomímica. [70] Onde um promotor público deve entrar em cena, já tem de estar presente um jui z público. [71] Sempre se fala da perturbação que a dissecação do belo artístico provoca na fruição do aman te. M as o verdadeiro aman te não se deixa pe rturbar assim ! [72] Panoramas do todo, como agora estão em moda, surgem quando alguém passa por alto36 cada particularidade e depois faz a soma. [73] Não deveria acontecer com o crescimento populacional o mesmo que com a verdade, onde o esforço, como se diz, é mais valioso que os resultados? [74] Pelo uso corrompido da linguagem, verossímil significa o

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mes mo que aproxim adamen te verdadeiro, ou um tanto verda deiro, ou aquilo que talvez um dia ainda possa se tom ar verdadeiro. Mas, já por sua formação, a palavra não pode designar nada disso. Aquilo que parece verdadeiro não o precisa ser sequer em grau mínimo, mas tem, positivamente, de parecer verossímil é objeto da prudência, da capacidade de verdadeiro. adivinhar asOconseqüências reais entre as conseqüências possíveis de ações livres, e algo inteiramente subjetivo. Aquilo que alguns lógicos assim denom inaram e tentaram calcular é possibilidade.3 7 [75] A lógica formal e a psicologia empírica são grotescos filosóficos. Pois o interessante de uma aritmética das quatro operações ouentre de uma física experimental do espírito só pode residir no contraste forma e matéria.38 [76] A intuição intelectual é o imperativo categórico da teoria.39 [77] Um diálogo é uma cadeia ou coroa de fragmentos. Um epistolário é um diálogo em escala ampliada e memórias, um sistema de fragmen tos. Ainda não há nenhum que seja fragmentário na forma e na matéria , ao mesm o tempo inteiramente subjetivo e individual e inteiramente objetivo e como uma parte necessária no sistema de todas as ciências.40 [78] Em geral, não ente nder não provém da falta de entendimento, mas d a falta de sent ido. 41 [79] A loucura só é diferente da sandice por ser arbitrária com oa tolice.42 Se essa distinção não é válida, então é bastante injusto encarcerar alguns loucos, deixando outros fazer fortuna. Eles só diferem em grau, não em gênero. [80] O historiador é um profeta voltado para o passado.43 [81] A maioria dos hom ens não conhece outra dignidade além da representativa e, no entanto, só bem poucos têm sentido para o

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valor repres entati vo. Mesmo aquilo que não é absolutamente nada por si, será todavia uma contribuição para a caracterização de algum gênero, e sob esse aspecto se poderia dizer: ninguém é desinteressante. [82] As demonstrações da filosofia são demonstrações precisamente no sentido da linguagem técnica militar. Quanto às deduções, a situação não é melhor do que com as deduções políticas: também nas ciências primeiro se ocupa um terreno e depois se demo nstr a o direito a ele.44Pode- se a plica r às definições aquilo que Chamfort diz dos amigos que se têm no mundo. Há três espéci es de definições na ciência : defi nições que nos dão um a luz ou uma indicaçã definições que nadanão definem, e definições que obscurecem tudo.o, Definições corretas se deixam de maneir a alguma fazer de improviso, mas têm de ocorrer a alguém em virtude de si mesmas: uma definição que não seja chistosa não vale nada e, no entanto, para cada indivíduo há infinitas defi niçõ es reais.45As form alidade s nece ssária s da filosof ia-de- arte degeneram em etiqueta e luxo. Têm seu valor e fim como legitimação e prova de virtuosismo , assim como as árias de bravura dos menestréis e o latim escrito pelos filólogos. Também não provocam pouco efeito retórico. O principal, porém, continua sendo que se saiba algum a coisa e que seja dita. Quer er demonstrála ou mesm o defini- la é, na ma ioria dos casos, bastante supér fluo. 46 O estilo categórico das Leis das Doze Tábuas e o método tético, onde os fatos puros da reflexão se encontram sem ocultamento, atenuação ou dissim ulação artificial, co mo textos para estudo ou sinfilosofia, são os mais adequados para a filosofia-de-natureza culta . S e as duas coisas devem ser igualmente aprimoradas, então é indiscutivelmente muito mais difícil afirmar do que demonstrar. Para proposições equivocadas e triviais há uma porção de demonstrações excelentes quanto à forma. Leibniz afirmava, e Wolff demonstrava. Não é preciso dizer mais nada.47 [83] O princípio de contradição não é sequer o princípio da aná lise, isto é, da análise absoluta, a única digna do nome, da

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decomposição química de um indivíduo em seus elementos inteiramente simples. [84] Subjetivamente considerada, a filosofia sempre começa no meio, como o poema épico.48 [85] Proposições fundamentais49 são para a vida o que instruções redigidas em gabinetes são para o coman dante de campo. [86] Genuína benevolência visa o incentivo da liberdade alheia, não o consentimento de deleites bestiais.50 [87] No amor, em primeiro lugar vem o sentido de um para o outro, e o mais elevado é a crença de um no outro. Entrega é express ão da crença, e o deleite pode vivificar e apu rar o sentido, mas não o produzir, como é opinião comum. Por isso, durante um breve tempo a sensi-bilidade pode dar a pessoas más a ilusão de que poderiam se amar. [88] Há homens cuja inteira atividade consiste em sempre dizer não. Não seria pouco poder dizer não sempre com acerto, mas quem não sabe fazer nada mais, certamente não o sabe direi to. O gosto desses negadores é uma tesoura hábil para aparar as extremidades do gênio; sua Ilu straçã o, um grande arrefeced or da cham a do entusiasmo; e sua razã o, um laxante suave para praze r e amor desmedi dos. [89] A crítica é o único sucedâneo daquela matemática moral e daquela ciência da conveniência inutilmen te buscadas p or tantos filósofos, e igualmente impossíveis. [90] O objeto da história é a efetivação de tudo aquilo que é praticamente necessário. [91 ] A lógica não é nem o preâmbulo, nem o instrumento, nem o for-mulário, nem um episódio da filosofia, mas uma ciência

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pragmática oposta e coordenada à poética e à ética, que parte da exigên cia da verdade positiva e da pressuposição da possibilidade de um sistema. [92] Enquanto os filósofos não se tornarem gramáticos ou os gramáticos filósofos, a gramática não será o que foi entre os antigos, uma ciência pragmática e uma parte da lógica, nem se torna rá uma ciên cia em geral.51 [93] A doutrina do espírito e da letra é, entre outras coisas, tão interessante porque pode pôr a filosofia em contato com a filologia.52 [94] Todo grande filósofo ainda tem explicado, m uitas vezes sem intenção, seus predecessores de tal modo que parece que, antes dele, ningu ém os en tend eu.53 [95] Algumas coisas a filosofia tem provisoriamente de press upor para sempre, e é lícito que o faça, porque o tem de fazer.54 [96] Quem não filosofa por amor à filosofia, mas usa a filosofia como meio, é um sofista.55 [97] Como estado passageiro, o ceticismo é insurreição lógica; com o sistema, é anarquia. Portanto, método cético seria algo mais ou menos como um governo insurgente. [98] Filosófico é tudo aquilo que contribui para a realização do ideal lógico, e tem formação científica.56 [99] As expressões sua filosofia, minha filosofia, sempre fazem lembrar as palavras do Natã : “A quem pertence Deus? Que Deus é este, que pertence a um homem?”57 [100] Aparência poética é jogo de representações, e jogo é aparência de ações .

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[101] Aquilo que acontece na poesia, ou não acontece nunca, ou acontece sempre. Do contrário, não é verdadeira poesia. Não se pode ser obrigado a acreditar que esteja efetivamente acontecendo agora. [102] As mulhere s não têm se ntido para a arte , mas para a poesia. Não têm disposição para a ciência, mas para a filosofia.58 Não lhes falta especulação, intuição interna do infinito, mas apenas abstração, que se pode muito bem aprender. [103] Que se aniquile uma filosofia, com o incauto podendo às vezes facilmente se aniquilar junto, ou que se mostre a ela que aniquila a si mesma, causa pouco Se é das efe tivamente filosofia, semprelherenascerá, comodano.5y uma fênix, próprias cinzas. [104] Pelo conceito cósmico, kantiano é t odo aquele que tam bém se interessa pela literatura filosófica alemã mais recente. Pelo conceito escolar60, só é kantiano aquele que acredita que Kant seja a verdade e que facilmente poderia ficar sem a verdade por algumas semanas, se à mala-post a de Königsberg ocorresse algum acid ente .61 Pelo antiquad o conc eito soc rático — os que s e apropriavam autonomamente do espírito do grande mestre e junto a ele se formavam eram chamados de discípulos, dele recebendo o nome, como filhos de seu espírito — , só poderia haver poucos kantianos. [105] Como o Prometeu de Ésquilo, a filosofia de Schelling, que se poderia chamar de misticismo criticizado62, termina com terrem oto e destruição. [106] A apreciação moral é inteiramente oposta à apreciação estética. Lá, a boa vontad e é o valor de tudo; aqui, de absoluta mente nada. A boa vontade de ser chistoso é, por exemplo, a virtude de um palhaço. No chiste, querer só pode consistir em suprimir as barreiras convencionais e em deixar o espírito livre. O mais

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chistoso seria, contudo, quem o fosse não apenas sem querer, mas também contra a sua vontade, assim como o bien faisan t bourru63 é no fundo o mais benévolo dos caracteres. [A.W.] [ 107] O postula do tacitamente pre ssupos to e efetivame nte prime iro de todas as harmonias kantianas dos evangelistas afir ma: a filosofia de Kant deve concordar consigo mesma. [108] Belo é aquilo que é ao me smo tem po atraen te e subl ime. 64 [109] Há uma micrologia e uma crença na autoridade que são traços característicos da grandeza. São a micrologia perfeccionista do artista e a crença histórica na autoridade da natureza. [110] Há um gosto sublime em sempre preferir coisas à segunda potência. Por exemplo, cópias de imitações, juízos sobre resenhas, adendo s a suplementos, comentár ios a notas. A nós outros, alemães, ele é próprio sobretudo quando se trata de prolixidade; aos franceses, quando co m ele se favorecem a concisão e a vacuidade . A instrução científica deles costum a ser o sumário de um excerto, e o produto supremo de sua arte poética, a tragédia, é apenas a fórmula de uma forma. [A.W.] [111] Os ensinamentos que um romance pretende dar têm de ser tais que só se deixem comunicar no todo, mas não demonstrar isoladamente nem esgotar por desmembramento. Senão a forma retórica seria incomparavelmente mais vantajosa. [ 112] O que h abitua lmen te vin cula os filósofos q ue não se opõem uns aos outr os é somen te simpat ia, não sinf ilosof ia.65 [113] Uma classificação é uma definição de definições.

que contém um sistem a

[ 114] U ma defi nição d a poes ia só pode de term inar o que ela deve ser, não o que efetivamente foi e é, senão diria da maneira mais

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breve: poesia é aquilo que assim se chamou em alguma época e em algum lugar. [115] Os gregos e Píndaro demonstram que o fato de ser bem pagos não não profana a nobreza édos hinos pátrios. Mas que só pagamento traz felicidade, o que demonstram os ingleses, que ao menos nisso pretenderam imitar os antig os. Assim, a beleza não pode se r comp rada e vendida na Inglaterr a, ainda que a virtude o possa ser.66 [ 116] A poes ia rom ântic a é uma poesia universal progress iva. Sua destinação não é apenas reunificar to dos os gêneros separado s da poesia e pôr a poesia em contato com filosofia e retórica. Quer e também deve ora mesclar , ora fundir poesia e prosa , genialidade e crítica, poesia-de-arte e poesia-de-natureza, tornar viva e soci ável a poesia, e poéticas a vida e a sociedade, poetizar o chiste, preencher e saturar as formas da arte com toda espécie de sólida matéria para cultivo, e as animar pelas pulsações do humor. Abrange tudo o que seja poético, desde o sistema supremo da arte, que por sua vez contém e m si muitos sistemas, a té o suspiro, o beijo que a criança poetizante exala em canção sem artifício. Pode se perder de tal maneira naquilo que expõe, que se poderia crer que car acterizar indivíduos de toda espécie é um e tudo para ela; e no entanto ainda não há uma forma tão feita para exprimir completamente o espírito do autor: foi assim que muitos artistas, que também só queriam escrever um romance, expuseram por acaso a si mesmos. Somente ela pode se tornar, como a epopéia, um espelho de todo o mundo circundante, uma im agem da época. E, no entanto, é também a que mais pode oscilar, livre de todo interess e real e ide al, no meio entre o expos to e aquele que expõe, nas asas da reflexão poética, sempre de novo potenciando e multiplicando essa reflexão, com o num a série infinita de espelhos. É capaz da formaç ão mais alt a e uni versal, não apenas de dentro para fora, mas também de fora para dentro, uma vez que organiza todas as partes semelhantemente a tudo aquilo que deve ser um todo em seus produtos, com o que se lhe abre a perspectiva de um

1'lassi cismo

cresce nd o sem limites. A poesia rom ântic a é, ent re a s mies, aquilo que o chiste é para a filosofia, c sociedade, relacionamento, amizade e amor são na vida. Os outros gêneros poéticos estão prontos e agora podem ser completamente ilissecados. O gênero poético romântico ainda está em devir; sua ve rda dei ra ess ên cia é m esm o a de que só p ode vir a ser, jam ais se r ile maneir a perfei ta e acab ada. Nã o p ode ser esgo tad o por nenhuma leoria, e apenas uma crítica divinatória poderia ousar pretender cnracterizar-lhe o ideal. Só ele é infinito, assim como só ele é livre, e rcconhccc, como sua primeira lei, que o arbítrio do poeta imo suporta nenhuma lei sobre si. O gênero poético romântico é o tlnico que é mais do que gênero e é, por assim dizer, a própria poesia: pois, num ccrto sentido, toda poesia é ou deve ser romântica/’7 1117| Seria melhor não escrever obras cujo ideal não tem para o poeta realidade tão viva e, por assim dizer, tanta personalidade (|ua nt o a amada ou o am igo. A o m enos é c eito que não se to rn ar ão ohras de arte. 1118] Não é sequer uma titilação delicada, mas no fundo uma lililação bem grosseira do egoísmo, se num romance todas as personagens giram cm torno de uma só, como os planetas em lor no do so l, personagem que é habitualmente o fi lhinh o querido c malcri ado do autor e se torna esp elh o e adula dor do deslumb rado leilor. As sim com o um hom em culto não é apenas fim, mas também meio para si e para outros, assim também todos deveriam ser ao mesmo tempo fins e meios no poema culto. Mesmo que a con stituição seja republicana, ainda sejam ativ as, outras pa ss iv a s/ '1*

é permitido que algum as parte s

11 19] iMesmo aquelas imagens da língua que parecem mero rapricho têm freqüentemente significado profundo. Que analogia liá, se poderia pensar, entre massas de ouro e prata e aptidões do espírito que são tão seguras e tão perfeitas e acabadas, que se (ornam arbitrárias, e se srcinaram tão casualmente, que podem

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parecer inatas? E contudo salta aos ollios que a gente somente tem, somente possui talentos, como coisas que conservam seu só lido valor m esm o qu e não p ossa m eno bre cer o p oss uid or /’1-' Na verdade, jamais se pode ter, mas somente ser gênio. Para gênio tampouco há plural, que aqui já está contido no singular. É que o gê nio é um sistem a d e talentos.™ 1120] Respeitam pouco o chiste, porque suas manifestações não são suficientemente longas e amplas, e a sensibilidade deles c apenas uma matemática obscu ramente rep res ent ada; e porque riem dele, o que seria contra o respeito se o chiste tivesse verdadeira dignidade. O chiste é como alguém que, por regra, deveria rep re sen ta r e, em ve z disso, sim plesm ente age. [121] Uma idéia é um conceito perfeito e acabado até a ironia, uma síntese absoluta de antíteses absolutas, alternância de dois pensamentos conflit antes que engendra cont inuamente a s i mesma. Um ideal é, ao mesmo tempo, idéia e fato. Se para o pensador os ideais não têm tanta individualidade quanto os deuses da antigüidade par a o art is ta , toda ocupa ção c om idéias nada m ais é que um entediante e cansativo jog o de dados com fórmulas vazias, ou umachineses. contemplação próprio enariz, à maneira dos bonzos Nada édetida mais do lastimável desprezível do que essa esp eculação sent imenta l sem objet o. N ão se deveria cha mar isso de mística, já que essa bela palavra antiga é bastante útil e indispensável para a filosofia absoluta, a partir de cujo ponto de vista o espírito observa, co m o m ist ério e m il agre, t udo aquilo que de outros pontos de vista acha teórica e praticamente natural. Especulação en clétail é tão ra ra quanto abstração en gro s, e contudo são e las q ue engen dram tod a a m atér ia do c histe c ien tífico 71, são os princípios da crítica mais elevada, os degraus supremos da form ação espiritual. A grande abstração práti ca to rna propriamente an tigos os an tigos, entre os quais er a instinto .72 Em vão teria m o s indivíduos exprimido inteiramente o ideal de seu gênero, se os próprios gêneros não fossem também rigorosa e nitidamente isolados e, por assim dizer, deixados livremente à própria

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srcinalidade. Mas pôr-se arbitrariamente quer nesta, quer noutra lislera, como num outro mundo, não apenas com entendimento c imaginação, mas com toda a alma; renunciar livremente quer a usla, quer àquela parte de sua essência e se limitar inteiramente a uma outra; procurar e encontrar seu um e tudo neste, ora naquele indivíduo, e esquecer intencionalmente todosora os outros: disso só é capaz um espírito que, por assim dizer, contém em si uma multi plic idade de espíri tos e um sistema com pleto de pe ssoas, i; em cujo interior cresceu e amadureceu o universo que, como se diz, deve germinar cm cada mônada.73 1122] Quando lhe surgia pela frente um novo livro daqueles que nem esfriamnanemBesquentam, dizer: merece ser elogiado i b l i o t e c a d eBiirgcr b e la s costumava c iê n c ia s . [A.W.]74 1123] N ão d ever ia a poe sia ser a suprema e m ais dign a de todas as mies, entre out ras cois as também por ist o, que so m en te ne la dr amas são possíveis? 1124] Se é por psicologia que se lêem ou escrevem romances, então é bastante inconseqüente e mesquinho querer ter receio mesm o da mais lent a e d etalhada diss ec aç ão de prazeres inal urais, de martírios medonhos75, da infâmia revoltante, da repugnante impotência dos sentidos ou do espírito. 1125] U m a épo ca inteiramente nova da s ciênc ias e arte s come çaria lalvez quando sinfilosofia e simpoesia tivessem se tornado tão universais e tão interiores, que já não seria nada raro se algumas naturezas que se complementam reciprocamente constituíssem ob ra s em conjunto. M uitas ve zes não se pode evi tar o pensam ento tle que dois espíritos poderiam no fundo pertencer um ao outro, com o m etades separada s, e s ó j untos ser t udo o que p udesse m ser. Se hou ve sse uma a rte de f undir indivídu os, ou se a crít ica desejo sa co nse gu isse algo mais que d esej ar, p ara isso encontrando em to da parte muita ocasião, então gostaria de ver combinados Jean Paul : P et er Leb er ec ht . T ud oaq uilojus tam en tequ efaltaau m , o o ut ro

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possui: juntos, o talento grotesco de Jean Paul e a formação fantástica de Peter Leberecht produziriam um notável poeta romântico.76 [126] Todos os dramas nacionais e feitos para causar efeito são mimos romantizados.77 [127] Klopstock7llé um poeta gramatical, c um gramático poético. [A.W.] [128] Nada mais lastimável do que se entregar inutilmente ao di abo; por exem plo, fazer poemas lascivos que não sejam sequei notáveis. [A.W.] [129] Em questões como o uso da métrica no drama, muitos teóricos com bastante freqüência se esquecem de que em geral poesia é somente uma bela mentira, da qual todavia também se pode diz er:

M a g n a n im a m e n z o g n a , o v ’o r ’ è il v e r o Si bell o, che si pos sa a te prep orre ?1 9[ A.W.] [130] Tambcm há místicos gramaticais. Mnritz80 era um. [A.W.] [ 131 ] O poet a po uco pode aprender com o filó so fo , mas est e pod e aprender muito com aquele. É mesmo de temer que a lamparina do sáb io possa extr aviar alguém acostuma do a caminhar à luz da revelação. [A.W.] 1132] Poetas sempre são Narcisos. [A.W.] [133 ] C om o se as mulheres fizes sem tudo pelas pr ópr ia s m ãos, e os homens por meio dc apetrechos. [A.W.] [134] O sexo masculino não será aprimorado pelo feminino até qu e se int roduz a a suces são matriarc al, com o entr e os naires . [A. W.]

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| H. i | Às v ez es se perc ebe uma con caten açã o entr e parte s separ adas y licqüentemente contraditórias de nossa formação. É assim que iiN melhore s seres hum anos de nos so s dr amas morais parec em unir das mãos da pedagogia mais recente. [ A.W.l | Mü| Há espíritos para os quais falta flexibilidade, a despeito do Hnmde esforço e da direção determinada de sua força. Farão descobertas, embora poucas, e correndo o risco de sempre repetir Ni ms fra ses predil etas . M esm o pressionando co m bast ante força a troca contra a madeira, não se irá fundo se ela não girar. [A.W.] 1137] Há uma retórica material, entusiástica81, que está inf ini tamen te aci ma daquele abuso sofístic o da filoso fia, d aqueles declamatórios exercícios de estilo, daquela poesia aplicada e ilaquela política improvisada que se costuma designar com o mesmo nom e. A destinação dela é real iza r prati camente a filoso fia u não apenas vencer dialeticamente, mas aniquilar realmente a ii/ lo-fi loso fia e a an tifiloso fia p ráticas.8 2 R oussea u e Fich te proíbem, mesmo àqueles que precisam ver para crer, considerar usse ideal como quimérico. 1138] Os trágicos quase sempre situam a cena de suas poesias no pas sad o. Por qu e isso deveria ser pura e sim plesm ente necessá rio, por que não deveria também ser possível situá-la no futuro, libertando num só lance a fantasia de todas as referências e limitações históricas? Mas para suportar as figuras humilhantes tlc uma digna exposição de um futuro melhor, um povo teria sem tiúvida d e ter mais q ue uma c on stitu içã o republicana: teria de ter uma mentalidade liberal. 1139] Do ponto de vista romântico, também as degenerações .•x cên tri cas e monstruosas da poesia têm seu valor co m o materiai s l: e xe rcíc ios prep arat óri os da universalidade, d esde que nelas haj a ;ilguma coisa, desde que sejam srcinais. 1140 ] A esp ecific ida de d o poeta dramático parece s er a de se per der

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em out ras pesso as co m generos a magnanimidade; a do poeta lí rico, referir tudo a si mesmo com amável egoísmo. [A.W.] [1411 Afirma-se que há muita violação do gosto nas tragédias inglesas c alemãs. As francesas são somente uma única grande violação. Pois o que pode ser mais contra p gosto que escrever e representar inteiramente fora da natureza? [A.W.] [142] Hemsterhuis une, à rigorosa seriedade do sistemático, os belos vôos visionários de Platão. Jacobi não tem essa proporção harmoniosa das forças do espírito, mas profundidade e potência atua ndo ta nto mais livre mente; ele s têm em com um o ins ti nto do divino. As obras de Hemsterhuis poderiam ser chamadas de poe m as intelectuais. Jaco bi não com pô s obra s de uma anti güidade irrepreensível, perfeita e acabada, mas proporcionou fragmentos ch eios de srci nalidade, nobreza e int eri ori dade. O m isticismo de Hemsterhuis talvez atue mais poderosamente, porque sempre se expan de n os limites do belo ; a r azã o, ao c ontr ári o, lo go se co loca em posiçã o de defesa quando percebe a paixão do sentim ento que a invade. [A.W.] [143] Nãs,oou se com pode oobriga a consi derar tigos com o clássico antigo rs;ninguém af in al isso depende de os m anáximas. [ 144] A épo ca de ouro da l itera tur a romana foi mais ge nia l e mais favoráv el à poesi a; a chamada épo ca de pr ata, incom para velm ente mais correta na prosa.*3 [ 145] Por ser t ão n atural c, contu do, tão poétic o, Ho m ero é bastant e moral como poeta. Por isso mesmo é bastante imoral como moralista, que é aliás como freqüentemente o consideravam os antigos, a despeito dos protestos dos melhores filósofos mais antigos. [146] Assim como o romance tinge toda a poesia moderna, assim também a sátira tinge toda a poesia, o conjunto da literatura

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romana, e, por assim dizer, nela dá o tom; sátira que, através de Iodas as transfigurações, sempre permaneceu entre os romanos tuna poesia universal clássica, uma poesia de sociedade a partir ilo c para o centro do universo culto.”4 A fim de ter sentido para mj uilo que é o m ais urbano , o mais srci nal e o mais belo na pro sa ile um Cícero, de um César, de um Suetônio, é preciso já ter por muito tempo amado e entendido as sátiras horacianas. São as rlor nas fon tes srcin ais da urbanidade . 1147] Viver classicamente e realizar praticamente em si a imligiiidade e o ápice e a meta da filologia. Seria isso possível ui*ui nenhum cinismo?"5 1148 j A maior de todas as antíte ses jam ais hav idas é Césa r e Catão. Snlíístio não a expôs indignamente. 1149] O sistemático Winckelmann, que, por assim dizer, lia todos os antigos como um único autor, via tudo no todo e concentrava Ioda a sua força nos gregos, estabeleceu, pela percepção da ilil erença absoluta entre antigo e moderno, o primeiro fundam ento de uma dout rina materi al da antig üid ade .86So m en te qu ando forem encontrados o ponto de vista e as co nd içõ es da identidade absoluta i|iio existiu, existe ou existirá entre antigo e moderno, se poderá ili/.er que ao menos o contorno da ciência está pronto, e agora se poderá pensar na execução metódica. 1150] O A g r í c o l a de Tácito é uma canonização classicamente pomposa, histórica, de um administrador consular. Segundo o modo de pens ar al i dom inante, a destinação suprema do hom li iiinfar, com o consentimento do imperador.

em é

115 11 Cada qua l ainda encontrou nos a ntigo s aqu ilo que p recisava ou deseja va; sobr etud o a si m es m o.87 | I52| Cícero foi um grande virtuose da urbanidade, que queria kit orador e até filósofo, e poderia ter se tomado um antiquário

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bem genial, um literato e polímata da virtude e festividade da Roma antiga.** [153 ] Quanto m ais popular um auto r anti go, tant o ma is rom ântico. Eis o princípio da nova seleção que, pela ação, os modernos fizeram ou, antes, ainda continuam fazendo a partir da antiga seleção de clássicos. [154] Pa ra al guém que acaba de dei xar Aristófanes, ess e Olimpo da com édia, a troç a romântica ap arec erá co m o um lon go fio so lto de um tecido de Atena, como uma fagulha do fogo celeste, do qua l o melhor se d esfa z caind o sobre a t erra. [ 155] Diante da universa lidade política dos rom anos, as grosseira s tentativas cosmopolitas de cartagineses e de outros povos da antigüidade parecem a poesia-de-natureza das nações incultas diante da arte clássica dos gregos. Só os romanos estavam satisfeitos co m o espíri to do desp otism o c desprezav am a le tra ; só eles tiveram tiranos ingênuos. [156] O chiste cômico é uma mescla de chiste épico e jâmbico. Aristófanes é ao m esmo tempo Ilom ero e Arquíloco.8 9 [ 157] O vídio tem muita sem elhanç a com Eurípides . A mesm a força comovente, o mesmo brilho retórico e, com freqüência, a mesma sagacidade intempestiva, a mesma abundância, vaidade e tenuidade frívolas. [ 158] O melhor em Marcial é aqu ilo que p oderia parecer Catulo. [ 159 ] Em alguns poem as dos antigos t ardi os, com o, por exem plo, na M o s e ll a de Ausônio90, já não há nada de antigo além daquilo que é anti quado. [ 160] Nem a formação ática , nem o e sfor ço pe la harmonia dóri ca, nem a graç a socrática de X eno fonte, pela qua l pod e parec er amáv el,

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CNNii arrebatado ra sim pl icid ad e, c lar ez a e d oçu ra pró pria do es til o , podem ocultar à mente isenta a vulgaridade que é o espírito mais Intimo de sua vida e de suas obras. Os D i to s e f e i t o s m e m o r á v e is demonstram quão incapaz era de compreender a grandeza do incslre, e a A n á b a s e , a mais interessante e bela de suas obras, f|tiik> pequeno ele mesmo foi. 11611Não seria a natureza cíclica do ser supremo em Platão e Arist óteles a pe rson ificaçã o de uma maneira filos óf ica ?91 11 fi2) Na in ve stig aç ão da m itolo gia gr ega m ais antiga não se le vo u muito pouco em conta o instinto que o espírito humano tem para Inzer paralelos e antíteses? O mundo homérico dos deuses é lima Nimples variação do mundo homérico dos homens; o hesiódico, no qual falta a oposição heróica, se desdobra em várias gerações opostas de deuses. Na antiga observação aristotélica, segundo a i|iiul se conhecem os homens por seus deuses, não se encontra lipevas a subjetivida de, por si m esm a ev iden te, de toda teolo gia , mas também a du plicida de m ais inc om pr een sível, inata e es pirit ual do homem. 1163] A história dos primeiros césares romanos é como a sinfonia i>. o lem a da h istória d e to do s o s se gu in tes . 11641Os erros dos sofistas gregos foram mais erros por excesso do que por falta. Mesmo na confiança e arrogância com que iiLTeditavam e pretextavam tudo saber e também tudo poder, há iilco de bastante filosófico, não pela intenção mas pelo instinto: pois o filó so fo só tem a alternativa

d e quere r s aber tu do o u na d a. ‘;2 Aquil o a p ar tir do qual se d eve apre nder somen te algum a co isa ou qua lq uer esp écie de coisas, seguramente não é filosofia. 11631 Em Platão se encontram em clássica individualidade, sem mescla e muitas vezes se entrecortando, todos os gêneros puros ila prosa grega: o lógico, o físico, o mímico, o panegírico e o mílico. O mímico é o fundamento e o elemento geral: os outros

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freqüentemente ocorrem apenas de maneira episódica. Há ainda um gênero, o ditirâmbico, que lhe é especialmente próprio, no qual é mais Plat ão. Pod eria ser chamad o de um a m escla de m íti co e pa negíri co, se não tives se também algo daquela di gnidade densa e simples do gcncro físico.y3 [166] Cara ct eri zar naçõ es e épo cas, descrever grandiosamente o que é gran de, eis o talento própri o do Tác ito p oético. Em re tr at os históricos, o Su etôn io cr ítico é o maior mestre.9 '1 [167] Quase todos os juízos artísticos são universais demais ou específicos demais. É aqui, em seus próprios produtos, que os críticos deveriam buscar a bela proporção, e não nas obras dos poetas. [168] Cícero estima as filosofias pela utilidade para o orador; do m esm o m odo também se po de per gunt ar qual a mais adequada a o poeta. Cert amente não um sistem a que esteja em contradição com as resoluções do sentimento e do se nso com um; ou que tr ans fo rme o real em aparência; ou que se abstenha de toda decisão; ou que imp eça o imp ulso p ar a o sup ra-sensível; ou que só construa a humanidade com o óbolo dos objetos externos. Portanto, nem eudemonismo, nem fatalismo, nem idealismo, nem ceticismo, nem materi ali smo, nem em piris m o. E que filo so fia res ta ao poet a? A producen te, que part e da li berdade e da crença nela, e então mostra co m o o espí rito humano cm tudo imprime sua lei e com o o mundo é sua obra de arte.95 [169] Demonstrar

a p r i o r i traz consigo uma bem-aventurada

quietude, ao epasso que a obse rvaçã mero o é algo que sempre perman ece pela metade inacabado. Mediante conceito, Aristóteles tornou o mundo esférico: não lhe deixou a menor saliência ou concavidade. Por isso, também atraiu os cometas para a atmosfera da terra e rejeitou sem mais os sistemas solares verdadeiros dos pitagóricos. Por quanto tempo nossos astrônomos que observam pelos telescópios de Herschel ainda terão de trabalhar para

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novamente chegar a uma compreensão tão determinada, clara e ofilórica do mundo? [A.W.J

11701 Por que alemãs não escrevem romances mais licqiiência? Que asconclusão se pode tirar daí sobre a com habilidade ilp.las para representar romances? Essas duas artes estão ligadas uma à outra, ou aquela está para esta numa proporção inversa? A Nf|>unda resposta já seria quase presum ível pela ci rcunstân cia de i|tic tant os roman ces tenham sid o escrito s por ingle sas, e tão pouc os Iii ir france sas. Ou ser á que as fr an ces as a traentes e ch eia s de es pír ito kc encontram no mesmo caso de atarefados homens de Estado, i|iie por meio algum chegam a escrever suas memórias a não ser i|iiando são destituídos do serviço? E quando é que essa mulher ili: negócios crê ter sido afastada? Diante da rígida etiqueta da vii lude fem inin a na Ingl ater ra e da vida retirad a a que mu itas ve ze s Nilo condenadas pela falta de delicadeza do convívio com os liomens, a freqüência com que as inglesas se tornam autoras de ttmance parece indicar carência de relações mais livres. Quando leme queimar a pele passeando à luz do dia, a gente ao menos se bronzeia nos raios da lua. [A.W.] 1171 ] Nos escritos de Hemsterhuis um crítico francês encontrou Icj l e g m e a l le m a n d \ numa tradução francesa da H is tó r ia d a S u íç a ilr Miiller96, um outro pensou que o livro continha bons materiais pura um futuro historiador. Tais tolices exorbitantes deveriam ser conservadas em anais do espírito humano: não se pode inventáIns assim nem c om todo o entendim ento. Também têm semelha nça roin idéias geniais, pois qualquer palavra acrescentada como comentário lhes tiraria o picante. [A.W.] 1172] P od e-se dizer que é u m sinal característi co do g ên io p oético sa be r mu ito mais do que sa be que sabe. [A.W. ] 1173] No estilo do poeta genuíno nada é ornamento, tudo é hieróglifo necessário. [A.W.]

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[174] A poesia é música para o ouvido interno e pintura para o olho in te rno ; m as m úsica suave, pi nt ur a evan escen te. [A. W.] [175] Alguns preferem contemplar quadros de olhos fechados, para que a fantasia não seja perturbada. [A.W.] [ 176] D e muitas abóbadas s e pod e propriamente dizer que se está no sétimo céu. [A.W.] [177] Para a freqüentemente tão malograda arte de pintar quadros com palavras não se pode em geral fazer outra prescrição a não ser a de que se varie mu ltiplamen te a maneira9 7 con form e os objet os.narrativa. À s v ezes, Outras o momvezes, ento que se exp õeuma p odeprecisão su rg ir vivamente de uma é necessária quase matemática em indica ções locais. O tom da descrição tem em ge ral de dar o melhor de si para que o leitor entenda o “como”. Nisso Diderot é mestre. Ele musica muitas pinturas como o abade Vogler.»* [A.W.] [ 178] Se algum a cois a da pint ur a alemã p ode ser exp osta no átrio do tem plo de Rafael, então Albrec ht Dii rer e H olbein certa mente estarão mais perto do santuário que o douto Mengs." [A.W.] [179] Não censurem o limitado gosto artístico dos holandeses. Em primeiro lugar, sabem bem determinadamente o que querem. Em segun do lug ar , cr ia ra m eles m esm os os seus gêneros. Po de-se enaltecer uma das duas coisas no diletantismo artístico inglês? | A.W .J [ 180 ] A art e plástica d os greg os é bastante pu dica quan do se trata da pur eza daq uilo qu e é nobr e: cm figuras de deu ses e heróis nus, por exemplo, alude aos desejos terrenos com a maior discrição. Sem dúvida, na da co nh ece de uma c ert a mc ia-delicad eza e mostr a, por isso, sem nenhum velamento os prazeres bestiais dos sátiros. Cada co isa tem de perm anecer em seu gênero. Aqu elas naturez as indómitas já estavam excluídas da humanidade por sua figura.

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I)o m esmo modo, os hermaf rodi tas t alvez não tenha m sid o criados por um refinamento sensível, mas ético. Tendo a volúpia uma vez tomado tal desvio, se inventaram criaturas próprias ori ginalmente destinadas a isso. [A.W.] 1181 ] Freqüen tem ente a com po siçã o de Ruben s é diti râmbica, enquanto as figuras permanecem indolentes e diluídas. O fogo de seu espírito luta com a languidez do clima. Para que em seus i|iiadros houvesse mais harmonia interna, teria de ter menos ímpeto, ou não ser flamengo. [A.W.] 1182] Ter um Diderot descrevendo uma exposição de pintura é um luxo verdadeiramente imperial. [A.W.] 1183] H og ar th l(>:) pint ou a feiúra e es cr ev eu sobre a b ele za . [A.W .] 1184] As bam boch atas de Pcter Laar101 são co lon os hola nd ese s na lliília. O clima mais quente parece lhes ter bronzeado o colorido, eno brecendo , porém, cará ter e exp ressã o pe la maior robustez. [A.W.] 1185] O objeto pode fazer esquecer as dimensões: não se considerava descabido que Júpiter Olímpio não pudesse ficar em pé porq ue p oria abaixo o telhado, c H ércu les ainda parece sobreImmanamente grande numa pedra talhada. Só dimensões que reduz em o objeto podem ser ilusórias. A vul garidade co m o que se multiplica por uma execução colossal. [A.W.] 1186] Rim os co m razão dos ch ine ses que, vendo re tr at os europeus com luz e sombras, perguntavam se as pessoas eram realmente Ião manchadas. M as ousaríam os so rr ir de um gr ego a ntigo, se lhe íusse most rad a um a com posiç ão em claro- escuro remb ran dt ia no , r el e em tod a a inocê ncia pensasse: então é assim que se pinta n o país dos cimérios? [A.W.] 1187] C ontra volú pia torpe não há rem édio m ais forte qu e adoração da beleza. Por isso, toda arte plástica mais elevada é casta, sem

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con sideraç ão dos objetos; purifica os sen tidos ta l co m o a trag édi a, segundo Aristóteles, as paixões. Nisso não se levam cm conta os efeitos contingentes dela, pois até uma vestal pode despertar desejos cm almas sórdidas. [A.W.] [ 188 ] Certas cois as permanecem insuperáveis, porque as cond içõe s em que são alcançadas são degradantes dema is. Se um tabe rne ir o bêba do co m o Jan S te en 102 jam ais será ar tis ta, não se pod e ex igir de um artista que se torne um taberneiro bêbado. [A.W.] [189] O sentimental é uma das poucas coisas que não serve no E s s a i s u r l a p e i n t u r e m de Diderot. Mas por meio de sua incomparável insolência põe de novo no rumo certo o leitor que aquele sentimental poderia desencaminhar. [A.W.] [19 0] A natureza ma is uniform e e plana ins trui melho r o pintor de paisagens. Que se pense na riqueza da pintura holandesa nesse gênero. Pobreza gera economia: forma-se um sentido comedido que se alegra ao mais leve aceno de uma vida mais elevada na nat urez a. Se, então, cm viagens o a rtis ta con he ce ce nas romântica s, estas agem ta nt o m ais f ortemente sobre ele. A im aginação també m tem suas antít eses: o maior pint or dc erm os assustadores, Salvatore Rosa, nasceu em Nápoles. [A.W.] [191] Os antigos, parcco, amavam o imperecível também em miniatura: a glíptica e a miniatura da escultura. | A.W.] [192] Por mais incansavelmente que a ciência trabalhe em todos os tesouros acumulados da natureza, não há como fazer a própria ar te antiga r essurgir i nte ira . Sem dúvid a, muitas v ez es isso parec e acontecer, mas sempre falta algo, a saber, justamente aquilo que somente vem da vida e que nenhum modelo pode oferecer. Os de stin os da art e anti ga ressurg em, porém , com uma exatidão lit eral . É co m o s e o esp írito de M úm io104, que tão violentam ente e xerc eu seu conhecimento sobre os tesouros artísticos coríntios, ressuscitasse agora do reino dos mortos. [A.W.]

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11931Se a gente não se deixa ofuscar por nomes de artistas e (il usões eruditas, de sco br e que o sen tido para a arte plástica é ma is rum do que se deveria esperar entre poetas antigos e modernos. I’ín da ro , sobretudo, p ode ser chama do de plás tico entre os poetas, u o estilo delic ad o da pin tura cm va sos antig os lembra sua b ran dura ilói ica e sua pompa suave. Propércio, que em oito linhas podia caracterizar o mesmo tanto de artistas, é uma exceção entre os romanos. Dante mostra, pelo tratamento daquilo que é visível, grandes disposições para pintor, mas tem mais determinação no desenho do que perspectiva. Faltavam-lhe objetos para exercitar esse sentido: pois então a arte moderna estava na infância, e a antiga ainda jazia no túmulo. Mas que carecia de aprender com pintores com quem aprender? Ario sto seaquele encontram fort esMichelangelo ve stígio s depodia que viveu na ép Em oca mais floresce nte da p intur a; às ve ze s o go sto que por ela tem o arre bat a, na descrição da belez a, par a fora dos lim ites da poesia . Isso jam ais é o caso em Goethe. E ste po r vez es to rn a a s art es plásticas objeto de suas poesias; fora disso, jamais se força ou busca uma alusão a elas. A plenitude da po sse serena não urge po r apar ecer , tam pou co por se ocu lt ar. M esm o sem levar em conta t odas essas passag ens, nã o haveri a com o não reconhecer o amor à arte e o disce rnim ento do poeta no agrupamento de suas figuras, na grandeza simples de seus traços."1 5 [A.W.] | I94J Ma numismática, a chamada ferrugem nobre é conhecida como sinal da autenticidade de moedas antigas. A arte da lalsificação aprendeu a imitar tudo melhor, exceto esse sinal dos tempos. Também há uma tal ferrugem nobre nos homens, heróis, sábios, poetas. Johanne s M üll eré um not ável num ismata do gênero humano. |A.W.J 119 5] Por ter escrito seu livro sobre o p r o g r è s d e l ' e s p r i t h u m a in m quando co rri a risco de vida, não sc deu C ondorcet um m onum ento mais belo do que se tivesse empregado aquele curto espaço de tempo pondo seu próprio indivíduo finito no lugar daquelas perspectivas infinitas? De que melhor forma poderia apelar à

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posteridade a não ser esqucccndo-se de si mesmo na companhia dela? [A.W.1 1196] Puras autobiografias ou são escritas por doentes nervosos sempre exilad os em seu própri o eu, dos quais faz part e Roussea u; ou por um forte amor-próprio artístico ou aventureiro, como o de Bevenuto Cellini; ou por historiadores natos, que são para si mesmos apenas material da arte histórica; ou por mulheres que também são coquetes com a posteridade; ou por mentes meticulosas, que antes da morte gostam de botar em ordem até o menor grãozinho de pó e não podem se permitir deixar o mundo sem explicações; ou devem ser simplesmente consideradas, sem mais, como p l a i c l o y e r s diante do pú blico . O s a uto ps eu sta s107 constituem uma classe numerosa entre os escritores autobiográficos. [197] Dificilmente uma outra literatura tem para mostrar tantas aberrações devidas à mania de srcinalidade quanto a nossa. Tambcm aqui se mostra que somos hiperbóreos. É que entre os hiperbóreo s se sacrificavam asnos a A po io, que se rejubil ava com seus saltos espantosos. [A.W.] [198] No passado, entre nós se preconizava exclusivamente a natureza; agora se preconiza exclusivamente o ideal. Muito freqüentemente se esquece que essas coisas são internamente compatíveis, que na bela exposição a natureza deve ser ideal e o ideal, natural. [A.W.] [199] Os estalajadeiros foram indiscutivelmente os primeiros a sugerir a opinião de que o caráter nacional inglês é sublime; mas romances e espetáculos a favoreceram e, assim, deram uma contribuição não desprezível à doutrina do ridículo sublime. [A.W.] [2001“Jamais confiarei num tolo”, diz um tolo bem sensato cm Shak espeare, “até que veja seu cérebro ”. 1“ Qu e se exija es sa

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condição para confiar em certos pretensos filósofos: aposto que kc encontrará p a p i e r m â c h é feito de escritos de Kant. [A.W.]

F a ta li sele ta , énos E n s a io s até s o b or e despudor. a p in tu r a Não | ?,()!]éNo c cmraro toda parte onde Diderot, verdadeiro Hiirpreendeu a natureza em atraente roupão de dormir; algumas vc/.cs também a viu fazer suas necessidades. [A.W.] |202] Desde que tão incisivamente se ressaltou a necessidade do Ideai na arte, vêem-se os aprendizes correndo candidamente atrás ilessa ave para, tão logo estejam bastante próximos, espargir-lhe na cauda o sal da estctica. [A.W.] 1203] M oritz gostava do uso g rego de a djetivos neutros pa ra cois as nbstratas e nele buscava algo misterioso. Poder-se-ia dizer, na linguagem da M it o lo g ia e de A n tl m s a , que em tod a pa rte o humano husca se aproximar do sagrado, e o pensante busca novamente se reconhecer no simbólico, embora por vezes não entenda a si mesmo.109 [A.W.] 1204] Por melhor que seja aquilo que se diz do alto da cátedra, a melhor alegria se perde, pois não se pode intervir durante a fala. O mesmo ocorre com escritores doutrinários. [A.W.] 1205] Costumam chamar a si mesmos de crítica. Escrevem de modo frio, superficial, altaneiro e imen sam ente insípido. Natureza, sentimento, nobreza e grandeza de espírito absolutamente não existem para eles e, no entanto, procedem como se pudessem convocar tais coisas perante seus tribunaizinhos. Imitações da antiga mania de versificação do mundo elegante francês são a meta suprema de sua tépida admiração. Correção é para eles sinôn imo de vir tud e. G osto é o ídolo d eles, um ído lo ao qual só se pode servir sem alegr ia. — Quem não reconh ece n esse retrato os sacerdotes do templo das belas ciências, que são do mesmo sexo i|tie os sacerdotes de Cibele?"" [A.W.]

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[206] Um fragmento tem de ser como uma pequena obra de arte, totalmente separado do inundo circundante e perfeito e acabado em si mesmo como um porco-espinho. [207] O livre-pensamento sempre progride na seguinte escala: primeiro se at aca o diabo, dep ois o Espírito Santo, dep ois o Senhor Jesus Cristo e, por fim, o Deus Pai. [A.W.] [208] Há di as cm que se está com uma disposição muito feliz e se pode facilmente fazer novos esboços, sem os poder comunicar nem efetivamente produzir alguma coisa. Não são pensamentos, mas apenas almas de pensamentos. [A.W.] [209] Um a língua, pri sio neira das conven iências co m o a f ranc esa , não deveria ser capaz de se republi canizar p or uma reivindicação de poder por parte da vontade geral? É manifesto o domínio da língua sobre os espíritos: mas disso não se segue sua sagrada inviolabilidad e, Ião pouc o quanto se po de permiti r que , no direit o nat ura l, valha a outr ora pretendida o rigem divina d e todo o poder do Estado. [A.W.] [210] Conta-se que K lopstock saud ou o poeta f rancês Rouget de Lisle, que o visitava, com a interpelação: como ousava aparecer na Alemanha, se sua M a r s e l h e s a custara a vida de cinqüenta mil bravos alemães? A ce nsura foi imerecida. S ansão não d errot ou os fil isteus com uma maxila de jumento? M as se a M a r s e l h e s a te m efetivamente parte nas vitórias da França, Rouget de Lisle ao menos esgotou nessa única obra o poder letal de sua poesia: com todas as ou tra s juntas n ã o s c mata ria sequer um a m os ca .111 [A.W.] [2111Não respeitar a plebe é moral; honrá-la, legal. [212] Talvez nenhum povo seja digno da liberdade, mas isso compete ao f o r u in D e i ." 2 [213] Somente merece ser chamado de aristocracia o Estado em

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i|iic ao m enos a pequena ma ssa que despotiza a grande te nha uma i.onstituição republicana. | .’,I4 | A re pú blica perfeita não teria de ser ap enas d em ocr átic a, mas ao m esm o temp o tam bém aristocrática e m oná rqu ica113; numa legislação de liberdade e igualdade o cultivado teria de suplantar i’ conduzir o in culto, e tudo ter ia de se organizar num todo absolu to. 12 15 J Po de-se chamar de mor al uma legislação que pune m rigorosamente os ataques à honra do que à vida dos cidadãos?

enos

1216] A Revolução Francesa, a doutrina-da-ciência de Fichte e o Meister de Goethe são as maiores tendências da época. Alguém i|ue se choca com essa combinação, alguém ao qual nenhuma revolução pode parecer importante, a não ser que seja ruidosa e material, alguém assim ainda não se alçou ao alto e amplo ponto ilc vista da história da humanidade. Mesmo em nossas pobres histórias da civilização, que no mais das vezes se assemelham a uma compilação de variantes, acompanhadas de comentário contí nuo, a u m texto clássic o q ue se perde u, alguns livrinhos, nos quais na época a plebe barulhenta não prestou muita atenção, dese m pen ham um papel maior do q ue tudo o que esta pr od uz iu.11,1 12 17] A rcaísm o nas p alavra s e ino va ção na sintaxe, densa con cisã o e abundância de desenvolvimentos paralelos que reproduzem lambém os traços menos definíveis de indivíduos característicos: cis as qualidades essenciais do estilo histórico. De todas, a mais essencial c nobreza, esplendor, dignidade. O estilo histórico se notabiliza pela homogeneidade e pureza das palavras nativas de autêntica raiz, pela escolha das mais significativas, mais importantes e preciosas; pela construção de períodos longos, claramente articulados, e mais duros que confusos, como os de Tucídi des; pela despojada so lidez , sub lime celeridade e grandiosa j o v ia li d a d e da a t m o s fe r a e da co r, à m a n e ir a d e C é sa r; m as sobretudo por aquela elevada formação interna de um Tácito, a qual precisa poetizar, urbanizar e elevar à filosofia, decantando e

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generalizando, os fatos secos da pura empiria, de tal modo que é com o se esta foss e apreen did a e m ulti plamentc ela bor ada po r alguém que fosse ao mesmo tempo pensador, artista e herói co ns um ad o115, sem que em parte algum a po esia grosseira, f ilos ofia pura ou chiste isolado atrapalhassem a harmonia. Tudo isso tem de esta r fundido na hi stór ia, assim co m o é p reciso que as im agens e antíteses sejam apenas sugeridas o u n ovam ente dissolv idas, para que a expressão oscilante e fluida corresponda ao vir-a-ser vivo das figuras em movimento."6 1218] Sempre nos surpreendemos, desconfiadamente, quando alguém parece saber que isto e aquilo serão assim . E, no entanto, também é igualmente surpreendente que possamos saber que isto e aquilo sejam assim; o que não chama a atenção de ninguém, porq ue sem pre acontece. [219] Em G ibb on, o bigolismo com um dos peda nte s ingleses em relaç ão aos antigos foi enobrecido, em solo cláss ico, até epigramas sentimentais sobre as ruínas da magnificência perdida, mas não pôde negar de todo sua natureza. Diversas vezes mostra não ter senlido algum para os gregos. E ama propriamente nos romanos apenas o esplendor material, mas sobretudo a sublimidade quantitati va, à maneir a de sua nação, dividida entre m ercan tilismo e matemática. Os turcos, se poderia pensar, também lhe teriam proporcionado a mesma coisa. [220] Se todo chisle é princípio e órgão da filosofia universal, e toda filoso fia nad a m ais q ue o espíri to da universal idade, a ciência de todas a s ciências que ete rnamente se mesclam e novam ente se separam, uma química lógica: então são infinitos o valor e a dignidade do chiste absoluto, entusiástico, completamente mater ial , em que Ba con e Leibn iz, os principai s representant es da prosa escolástica, for am virt uoses, aquele com o um dos primeiro s, este como um dos maiores. As descobertas científicas mais importantes são b o n s m o t s ' 11 do gênero. Elas o são pelo surpreendente acaso de seu surgimento, pela combinatória do

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ptiisamento e pelo barroco da expressão proferida. No entanto, NUdtundo o conteúdo, são sem dúvida muito mais do que a i!xpectati va que se d iss olv e e m nad a'l s do chiste puramente poé tico. As melhores são éc h ap pé es c ie vu e' 19 para o infinito. Toda a filosofia de Leibniz consiste em alguns fragmentos e projetos (ühislosos n ess e sentido. Kan t, o Co pér nico da filo so fia, t alv ez tenha por nat ure za mais espírito sincrético e ch islc crítico do que Le ibniz, mus sua si tuaçã o e fo rmação não são tã o chistosas ; tam bém ocorre com seus achados o mesmo que com melodias conhecidas: os kimlianos os destruíram de tanto os cantar; por isso se lhe pode lucilincnte cometer injustiça, considerando-o menos chistoso do i|iie Certamente a filosofia bemnem constituída se com já nãoele s, e li veré.de esperar por achados só estará gen iais, de contar puder progredir constantemente apenas pela força entusiástica e m in ar te gen ial, m as n um m étodo s eg ur o.120 D ev em os , porém, desp reza r os ún icos produtos ainda exist ent es do g ên io sintetizante porque ainda não existem arte e ciência combinatória? E como estas podem existir, se ainda apenas soletramos a maioria das ciências como segundanistas de liceu, e imaginamos ter chegado h meta quando podemos declinar e conjugar num dos muitos dialetos da filosofia, sem nada poder pressentir da sintaxe nem construir o m enor do s pe río do s? 121 12 2 1] A. O sen hor sempre afirma que é cristão. O qu e enten de por cristi anismo? — B. O que os cristãos, enquanto cristãos, fazem ou qu erem fazer h á dez oito sé culo s. O cristianismo m e parece ser um fato. Mas um fato apenas iniciado, que, portanto, não pode ser exposto historicamente num sistema, mas apenas caracterizado por meio de uma crítica divinatória. 1222J O desejo revolucionário de realizar o reino de Deus é o ponto elástico da formação progressiva e o início da história moder na. Nela , o que não t em referência alguma ao reino de Deu é apenas acessório. 1223 ] A chamada hist ória dos Estados,

que nada mais é que

s

uma

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definição genética do fenômeno do atual estado político de uma nação, não pode ser considerada uma arte ou ciência pura. E uma ocupação científica, que se pode enobrecer pela sinceridade e op osiç ão à lei do mais forte e à moda. Também a hist ória uni versal se torna sofística, tão logo prefere algo, mesmo que uma idéia moral seja o princípio heteronômico, ao espírito de formação universal de toda a humanidade, tão logo toma partido por um dos aspectos do universo histórico; e numa exposição histórica nada atrapalha mais do que desvios retóricos c aplicações utilitárias. [224] Em sua história, Johannes Miiller freqüentemente lança olhare s para a história univers al a pa rtir da Suíça; m ais raramente, no entanto, considera a Suíça com os olhos de um cosmopolita. [A.W.] [2 2 5 1Se uma biografi a se esforça em gener ali zar, é um fragmento histórico. Caso se concentre totalmente em caracterizar a individuali dade, então é um d ocum ento ou um a obr a da dout rina da -ar te- da -v id a.122 [226] Já que sempre se fala t ant o contra as Não h ipóteses, se deveria tentar começar a história sem elas. se pode algum dizer a ve z que algo é, sem dizer o que ele é. Ao pensar fatos, estes já são refer idos a con ceito s, e não é indiferente a quais. S e is so é sabido, então dentre conceitos possíveis se determinam e escolhem os necessários, aos quais se deve referir fatos de toda espécie. Se não se quiser reconhecer isso, então a escolha ficará relegada ao instinto, ao acaso ou ao arbítrio: vangloriar-se-á de ter uma pura e sólida empiria totalmente a p o s t e r i o r i, e se te rá uma visã o a p r i o r i sumamente unilateral, sumamente dogmática e transcendente. [227] A aparência de desregramento na história da humanidade surge apenas pelos c aso s de colisão entre esferas heterogê neas da natu rez a, onde tod as elas se encontram e en laçam umas nas o utra s. Porque , de resto , nes se dom ínio da necessid ad e livre e da liber dade

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necessária o arbítrio incondicionado não tem nem poder constituti vo, nem leg islativ o, m as apenas o tít ulo ilusório de poder uxecuti vo e judiciário. Esb oçad o por Condorcet, o pensam ento de uma dinâm ica histórica é tão glorifican te par a seu espírito qu anto, pura seu coraç ão, o en tusia sm o m ais que francês p ela idéia, tornad a i|uase trivial, de um aperfeiçoamento infinito. 1228] A tendência histórica das ações determina a moralidade posi ti va do homem de Est ado e d o cosm opolita. 1229] Aniquiladores entre as nações, os árabes são uma natureza altamente polêmica. Sua predileção em exterminar ou eliminar srcinai s quand o a t radução es tiv es se pront a caracteri za o espírito de sua fil o so fia .125Tal v ez justa m ente por iss o f o sse m infinitam ente mais culto s, mas, a pesar de toda a cultura, mais puram ente bárbaros riff] sc cham a aqui aqu ele que diz respei to a tudo aquilo que n ecessariamen te interessa a todos; por conseguinte, determ ino a intenção de uma [Schulbegrijfe] quando só é considerada como ciência segundo conceitos escolares uma das habilidades para ccrtos fins arbitrários” (B 867). 61) PhL, II, 34, p. 21: “Sc a mala-posta de Konisbcrg virar, Jacobi ficará a seco”. 62) Em alemão: kritisirter Mystizismus. Schlegel faz disti nção entre uma filosofia que é o próprio ob jeto de sua crítica c um a filosofia que crítica as o utras, em bora a “totalidade criticizada c criricizanie (cf. crítica” só seja at ingida po r uma filosofia absolutamente acima nota 3). Com o dá a enten der a expressão “ misticismo criticizado”, o fragmento sc reporta às Cartas sobre o dogm atismo e o critici smo, onde Sch elling mostra que o prátic o, não prátic misticismo,situando-se, o dogmatismo pode ser ref utado ismocriticismo, no nível da decisão a, em pé deteoricamente igualdade compelo ele. Eideal mbora não faça menção ao Prometeu d e Esquilo, na décima carta Schelling compara a escolha de um sistema íi livre decisão de um herói trágico diante da fatalidade do destino. In: Obras E scolhi das. Seleção, tradução c notas de Rubens Rodrigues Torres Filho. São Paulo, Abril, 1980.

63) Bienfa isant b ourni ("bruto de bom coração” ) está em francês no ori ginal. 64) PhL, IV, 309, p. 220: ''Sublime e atraente são os pólos da poesia. Belo, o ccntro c corrente magnética (oceano) que tudo envolve. — O poeta sempre visa o sublime ou o atraente; apenas o homem v isa o belo. - No bom, os análogos são justo , amável — div in o, útil. — Do verdadeiro'? — Ciência c história. O filóso fo visa s om ente ou uma parte divina ou uma parte terrena da verdade. Apenas o homem encontra a diagonal —". 65) PhL, II, 485, p. 69: “Toda amizade tem dc sc fundarem proporções, cm simetria do espírito, não em simpatia. Se dois espíritos sc encontram lado a la do, eles se tocam e tem sentido um para o outro. A antipatia faz parte do amor, só ali a gente pode se tocar dc dois lados —". PhL, II, 486, p. 6 9: “Podem homen s idênticos ser amigos? — N ão, eles podem apenas se comunicar. Verdadeira sociedade é infinitamente rara; boa é a sociedade onde não se está sozi nho — ". 66) Cf. L 49 c Conversa sobre a poesia, KA,

II, 290 (trad, cit., pp. 33-34).

67) Reunindo os elementos mais díspares e descrevendo o próprio modo de unificação dos opostos (por oscilação da reflexão), este que c o fragmento mais célebre dc Schlegel é também aquele que “leva a cabo a sí ntese de todos os conce itos”, como diz Walter Benjamin. De fato, nele se descreve a poesia rom ântica como um a “poesia universal progressiva”, isto é, como uma múltipla combinação das obras de arte rumo à unidade e ao acabamento, com o uma passagem d e “ formas-de-cxposiçflo" à Idé ia das formas ou form a absoluta — a própria Idéi a da art e — , conform e mostra Benjamin cm sua tese de doutorado O conceito de crítica de arte no romantismo

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alemão. T raduç ão dc Má rcio Scligman-Silva. São 92-3 e 113. (Biblioteca Pólen.)

Kaulo, Iluminuras/Edusp, 1993 , pp.

68) FPL, V, 214, p. 102: “O anseio dc que haja UM ÚNICO herói cinbora no romance perfeit o cada qual lenha de se r o herói —",

6 romântico', muito FPL, V, 39 3, p. 117:

“dcNo filosófi não h bem á herói c nem todosentre têm scrromance heróis. Senão issoco, seria ilibcral —”hom, Esens sa inteirame eqüidad e nte quepassivos; se estabelece os heróis de um romance também é assinalada por S dilege l para m arcar a diferença entre um herói épico e um herói trágico na literatura grega: “Na tragédia helénica o herói do poema é aquele (freqüentemente também são mais de um) que pratica a ação ou sup orta o destino. Todo o r esto tem de pare cer esíur em referência necessá ria a ess e centro. D ecert o, também a epopéia helénica ama te r um herói: acarretari a pobreza e confusão se não houvesse um que se destacasse m ais da m assa; no entant o, ele é tão pouco o fim do todo, quan to se ria dc no vo po bre sc sobress aísse isolad am en te, se não houvesse m uitos que dc diverso s m odos sc aproximassem dele. o acompanhassem, o cercassem ou a ele se opusessem, se as figuras e grupos não alternassem. O herói de uma epop éia c od e uma tragédia helén ica são coisas inteir amente diferentes!” (KA, I, pp. 47 4- 5.) 69) PtiL, II, 985, p. II I: “Muito do que é capricho da linguagem parec e bastante feli z, firme e necessário. Talento, capacidade que um hoinem apenas possui , que ele própri o no fundo não e; e, no entanto, é ao mesmo tempo alg o tão compac to, uma p ura massa. — ” Sob re a po sse de talentos (na Grécia, med ida de va lor cm ou ro ou prata) co mo coisas, veja-se o que diz o fragmento /l 35 a respeilo do cínico. 70) Plil., 11,465, p. 67: “Sc um srcinal só pode fa zer sistemas, sem se r ele mesmo um, isso é apenas talento — " PliL, II, 996, p. 112: “Gênio é, indivisivelmentc, uma coisa só. Aqu i nunca se pode dize r como o homem tem talentos. Está na cssência do gênio que seja um sistema por si, que, portanto, um gênio não entenda nenhum outro". O gênio como sistema de talentos também aparece na resenha do Woldemar dc Jacobi: “ Pois que outra cois a é o g ênio senão a comunidade interna legalmente livre dc muitos talentos?” (KA, vol. II, p . 73.) V eja- se também o frag me nto ded icado à caracterização dc Georg Forsler: “Gênio é espírito, unidade viva de diferentes com ponen tes naturais, artíst icos c livres da formação dc uma determinada cspé cie” (Ibidem, p. 98). FPL, IV, 707, p. 252: “Gênio é organismo espiritual. Só o gênio pode organizar indivíduos. Filosofar signifi ca pensar id ealment e. — ” . FPL, V, 1029, p. 170: “Talento é an títes e dc cará tc rc é gênio incomplet o. — Virtuose é o dete ntor de uin talento, o profissional dc uma bcla-artc liberal. — Originalidade é dupla individualidade, ou genialidade individual —" Ideia semelhante ocorre no fragmento 63 do Borrador un iversa l, dc Novalis: “DOUTRINA-DAS-PESSOAS. Uma pessoa genuinamente sintética é uma pessoa que é ao m esmo tempo m ais pes soas — um gênio. Toda pessoa é o germe de um gênio infinito. Pode ser desmembrada em m ais pessofas l, mas tam bém ser uma só. A genuí na análise da pessoa, com o tal, produz pessoas — a pes soa só pode se iso lar, desmem brar e desag regare m pessoas. Uma pessoa é uma harmonia — nem mescla, nem movimento — nem subs tânc ia, com o a ‘al ma ’. E spírito c pess oa são um só” . In: Schriften, III, pp. 250-1. Cf. também o fragmento 282 (III, p. 290) c o número 172 dos Fragmentos e est ud os J 799 -1SOO: “Um verdadeiro amor por uma coisa sem vida é perfeitamente pensável — c também po r plantas, an im ais, pela nat ure za — até po r si mesmo. Se o scr humano tem um verdadei ro tu i nterior— nasce um convívio sumamente espir itual

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e sensual e a mais veemente paixão é po ssíve l — Génio nada é, talvez, senão resultado de um tal plural interior. Os mistérios desse convívio são ainda inuilo pouco ihmiin ados”(tradu zido ü p . 238 , nota 17. de Pólen). 71) i/i détail e en gros estão em francês no srcinal.

PliL, II, 757, p. 92: “A filosofia de

Kant meramente abstrata na teoria; meramente especulativa na prática. Especulação en détail é tão difícil c tão rara quanto abstração en gros —”, PhL, II, 781, p. 94: “Especulação en détail e abstração en gros são propriamente matéria do chis te, que tem de ser sempre paradoxal — Sobr e es pec ula ção e abs tração, pode -se consul tar /. 107 e /l 102. 72) PliL. III, 58, p . 127: “A poesia dos antigos é tão abstrata quanto a filosofia dos mod ernos. vice-versa —". Assim, a qualidade da abstração e da universalidade é distribuída PhL. III. 110, p. 131: “”. 73) Cf. acim a/l 119. Alm anaque das mitsas 74) O poeta Gottfried August Bürger (1748-1794) foi o editor de biblioteca das belas ( M usenalm anach ), de Göttingen, que rivalizou com a famosa ciências e das artes livres, editada de 1757 a 1806 em Leipzig.

75) FLP, V, 154, p. 97: “< Me smo a expos ição do martírio absoluto (a Re lig iosa de Diderot) faz par te essenci almente da poesia m oderna e dos prolcgômenos ao romance — >” . 76) Petcr Leberccht é o pseudônimo utilizado por Ludwig Ticck, dramaturgo e integrante do grupo ro mân tico de Jena. O escritor Friedrich Richtcr é mais conhecid o pelo nome FPL, IX, 268, p. 276: Jean Paul, adotado cm homenagem à Revolução Francesa. “Nos arabescos um a sínte se da forma de Richter e Tieck”. 77) FPL, V, 837 , p. 156: “Todos os dram as que devem causa r efeit o, têm d e se aproxim ar quanto mais, tanto melhor''. FPL, do romance absoluto; talvez V, 34 6. p. 113: “O drama retór ico deve imitar os mimos clássicos na forma, mas deve romantizar essa forma e tal vez então se aproxim ar tanto quanto possível da forma de Shakespeare”. O Messias. 78) Gottlieb Friedrich Klopstock (1724-1803), poeta, autor do poema épico No número I, volum e I , da revista Athenä um , A ugust public a um texto inti tulado At línguas. Um conversa sobre as conversas gramá ticas de Klopstoc k.

79) “Magnífica mentira, onde está o verdadeiro tão belo que te possa suplantar?" Tasso, Gerusalemme Liberat a, II, 22. 80) Karl P hillip Mo ritz (1757-1793), ens aísta e escritor, autor das novelas autobiográfica s A ndre as H artk nopf (1794) e A nton Reiser (4 volumes. 1785-1790) e do ensaio Pa imitação plástica da natureza. No fragmento A 203, August fará referência a dois outros trabalhos seus: M ito logia c Antliusa, ou Ar antigüi dades de Rum a, ambos de 1791.

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81) Na edição K: “uma retórica do ent usiasmo". 82) Na edição K. em lugar disso se lia : “A dcstinaçüo d ela é co nstituir o divino c aniquil ai realmente o que é ruim”. A última frase do fragmento não aparece em K. Histó ria da liter atur a européia'. “O verdadeiro 83) Friedrich diz em seu curso sobre a floresc imento [da lite ratur a romana] só começou a partir da segund a guerra púnica, ou cerca de duas g erações antes de Cícero, c durou até Trajano. Pode ser dividida em duas épocas, a de Cícero e a de Sêneca, ou — como com umente costum a ocorrer — n época dc ouro, de Augusto — embora isso não seja de t odo correto, pois já começou algum tempo antes dc Augusto — , c a dc pra ta , de Nero". In: KA , vol. XI, p. 127.

84) FLP, V. 32, p. 88: “Três gêneros po éticos do minantes. I) Tragédia entre os grego s. 2) Sátira entre os romanos. 3) Rom an ce [entre ] os modernos” . Nas Ane dotas, diz Novalis: sátira" (trad. cit., p. 252). “Schlcgcl tem raz3o, o genuíno romance tem de ser uma Com o lemb ra o t radutor (nota 87, p. 247), num a carta a Fricdrich de 11 de maio de 1798, Hardenberg lhe manifesta gratidão por esse conceito dc sátira romana. 85) Em A 16, Schlcgcl explica qual seria a “esscncia do cinism o”, a partir da qual se pode com preender melhor o fragmento. Na m esma linha, veja-sc L 105. histórica, 86) FLP, IV (I ), 1. p. 35: “A diferença entre clássico e prog ressivo é de srcem Por isso falta à maioria dos filólogos. Também nesse aspecto começa, com Winckelmann, uma época inteiramente nova. Viu a diferença imensurável, a natureza toda própria da antigüidade. No fundo permaneceu sem seguidores”. FPL, V, 236, p. 104: “Winckelmann foi o primeiro a sentir a antinomia do antigo e do moderno” .

87) Nu ma lingu agem ainda marcada pela preocupação estética, Schlegel diz

no Estudo da

poesi a grega: “No todo, porém, o interessante ainda 6 o verdadeiro padrão moderno do valor esté tico. Transferir esse pon to de vist a para a poesia greg a significa moderniztíla. Quem acha Homero apenas interessante, o profana. O mundo homérico é uma pintura tão co mpleta quan to fácil de ap reen de r; a mag ia origina l da époc a heróica se eleva infinitamente na m ente que está familiarizada com as desarran jos da má formação, mas que não perdeu completamen te o sentido para a natureza; e um cidadão d escontent e dc nosso século pode facilmente crer que encontra, naquela visão grega dc atraente simplicidad e, liberdad e c intimidade, tudo aquilo de que tem estad o privado. Ta l visão wcrthcriana do venerável poeta não é fruição pura do belo, não é apreciação pura da arte" (KA, I, p. 346).

88) FPL, V, 130, p. 95: “” .

89) FLP, V, 786, p. 153: “Ch iste épico c chistc jâm bico grosseiros se encontram co m bastan te frequência na tragédia clássica, mas não estão fundidos; a mescla e mais íntima na comédi a. — " 90) D ccimus Magnus Ausonius (±31

0-39 5), poet a e profess or de re tóri ca romano.

188

91 )PliL, II, 297, p. 48: “” . 92) PhL, Apêndice II, 21, p. 520: “O sistema só pode ser comunicado àqueles que podem e querem filosofar; o que se pode dem onstrar não ser o caso cm muitos daqueles que tomam part e da conversa [mitreden], A fil osofia tem a alternativa de sa ber tudo o que se sabe, ou nada. Da própria totalidade do saber pelo qual o filósofo se esforça, resulta que não e possível mais que um único sistema”. 93) FI.P, V , 883, p. 160: "Qu anto à universalidade, Platão é o Shakespear e da prosa grega. Escreve de form a dial ética, dilir âmbica, panegírica, ana líti ca, lógica, mítica e mesmo titica (Icgislalória). Só não [temj o estilo mesclado de Tácito nem o combinatóriocrít ico. — ”. 94) FI.P, V, 601 , p. 135: “Também exis te um a autêntic a prosa biográfica, diferente mesmo da histórica, que se aproxima bastante da crítico-satírica; nela, Suetônio é mestre; mais carac terística do que história — ” , Sobre Tácito e o estilo dos historiadores, vejase A 217. 95) PliL, II, 749, pp. 91-2: "Toda ciência tem de ter sua própria teologia; também a poética, de que Winckclm ann teve presságios. O habitual é uma m escla de t eologia da física c da moral. — Da teologia poética também faz parte a visão artística de Deus como poeta, do inun do co m o um a ob ra de arte”. 96) Le fl egm e allem an d está em francês no srcinal. F. Hemstcrhuis, embora traduzido para o alem ão por Jacobi e Hcrder, escreveu suas obras em francês. (Fricdrich tam bém comenta a “naturalização" do filósofo holandês: “Hemstcrhuis é um alemão, porque somen te aqu i encontrou um público" PliL, V, 175, p. 344. ) Joha nnes v on M iiller (17521809), historiador, auto r da História da Suíça, era conhecido como “o Tucídidcs alemão” . 97) Em alemão,

Manier. Cf. nota 58 do Lyceum.

98) Gcorg Joseph Vogler (1749-1814), compositor de óperas. 99) Anthon Raphael Mc ngs ( 1728 -1779 ), pintor neoclássico, autor dos Pensamen tos sobr e a beleza e sobre o gosto na pintura (1762), que dedicou a Winckelmann. 100) William Hogarth (1697-1764), pintor e retratista inglês, autor de beauty (1753).

The analysis of

101) Peter van Laar (1599-1642), foi chamado de Bamboccio (boneco) pela pequena estatura. O epíteto dá srcein ao noine composições inspiradas em cenas do dia-a-dia. bambocciata,

usado para caracterizar

102) Jan Steen (16 26 -1679), pintor holandês de cenas realistas c burlescas. Du período , foi taberneiro. 103) O título está em francês. Os Salon de Peinture de 1765

rante certo

Essais sur la peinture suivis des observations sur le foram publicados postumamente em 1795. O título no

189

singular aparece pela primeira vez nas Obrus editadas ein 1798 por Naigeon. Cf. A 182 c 201. Goethe escreveu um comentário ao livro, intitulado O ensaio sobre it pin tu ra cie Diderot. 104) L úcio iV Iúmio Acaico , cônsu l rom ano d o século II a.C. que, ap ós a tom ada de Corinto, saqueou a cidade, levando suas obras dc arte para Roma. 105) Sob re os fragmentos A 192 e 193, diz a can a de Friedrich a Wilhelm d e 27 de fevereir o de 1798: “Seus fragmentos mais recentes tnc deram uma grande alegria, prin cipalmen te os so bre a arte. Como sã o belos isolada men te, e quan to mais em massa. Sem dúvida, têm dc ficar juntos... Mas que dirá você se eu for insolente o ba stan te pa ra sintetizar o Múm io com um ou tro fragmento seu, um tanto redu zido, o pr oce der a um a op er aç ão semelha nte co m o gr ande [fragmento] sobre o espírito plástico dos poetas?” (C itado em KA, 11, p. 195.) 106) Progrès de l 'espr it humain (progresso do esp írito humano ), cm francês n o srcinal, i i o títul o da obra do Marques deCo ndo rcet, publicada em 1794, que Friedrich també m com entará a seguir, em A 227. 107) Acima, pí adoye rs (discursos em defesa de uma causa) está em francês no srcinal. Aitlopseitsla s, p alavra formada a partir do grego autos + pse úte s : aqueles qu e mentem sobre si mesmos. 108) “Nay, /'// ne'er believe a madman till I see his brains", palavras do bobo Feste u Malvólio na Noi te de Reis, ato IV, 2, 102. Abaixo, papie r m âché (papel machS) está em francês no srcinal. 109) Sob re M itologia e Anth usa , cf. acima nota 80. O humano, o sagrado, o pensante e o simbólico estão no neutro cm alemão. 110) So bre a biblioteca de belas ciênci as, veja-se acima A 122 (nota 74). Os co ribantes do templo da deusa Cibele costumavam se emaseular e vestir trajes femininos. 111)0 episódio dc Sansão e a queixada dc jumento é narrado em Ju iz es , 15. Rouget dc Lisle (1760-1836), autor da Marselhesa, era oficial do exército francês. 112)

Forum Dei (“tri bunal d ivino” ), cm latim no srci nal.

113) PliL, III, 80, p. 129: “ Espan a, Ro ma e Atenas talvez dessem juntas uma república perfe ita— ".PhL, III, 8 3, p. 129: "A adm inistração deveria ser monárquica, adircç3 o democrática e a representação aristocrática — 114) Phi., II, o662, p. 85: Mcister “As trêsemaiores tendências de nossa a doulriiia-daciência, Wilhelm a Revolução Francesa. Mas época todas são as três são apenas tendências sem sólida execução — FLP, XIII, 195, p. 475: “O mélodo 6 o que há de melh or no Wilhelm M cister, assim coino na doutrina-da-ciência e, no fundo, também na Revolução. Ele é fá c il e cômodo (mas pode se tornar fácil , muito conveniente c, com isso. raso e superficial). F.m que consiste propriamente? — A forma do romance, pensada talveí como métrica en gros, isto é, como métrica romântica?” FLP, XIII, 199, p. 475: “O Wilhelm M cister ú uma fórm ula conveniente,

190

extremamente geral, para um romance, assim como a doutrina-da-ciência para a filosofi a e Revoluçã o Francesa para a mudança absoluta”. A esse fragm ento, Schlegel dc dica um longo trecho dc um texto i ntitulado Sobre a inintel igibil idade: “Escrevi esse fragmento com a mais honesta das intenções e quase sem ironia. O modo como foi mal entendido me surpreendeu de uma maneira indi/.ível, porque esperava o mal-entendido dc um lado inteiramente outro. Que considere a arte como o ccme da humanidade c a Revolução Francesa como uma notável alegoria do sistema do idealismo transcendental, é dc fato apenas uma de minhas visões extrem am ente subjetivas. Mas já dei a conhecer isso tantas vezes e dc tão diferentes m aneiras, que poderia esperar que o leit or ti vesse afinal se acostumado. Todo o resto é apenas linguagem cifrada. Quem não puder encontrar também todo o espírito de Goethe no M eister , inutilmente o procurará cm qualquer outra parte. A poes ia e o idealis mo são os centros da arte e form ação alem ã... Certam ente, há ainda um a outra coisa no f ragmento que podia ser mal entendida. Ela se encontra na palavra tendências, e aqui também já c om eça a ironia. Quer dizer, po de ser enten dida co mo se eu co ns ideras se, por ex em plo, a do utrin a-da-ciên cia somente como uma tendência, como uma tentativa provisória como a Crítica da razão pura de Kant, tentativa que eu mesm o planejasse exe cutar m elho re finalmente concluir, ou, para falar nn linguagem artificial que é a comum e também a mais adequada para esse modo dc representar, como se eu quisesse me colocar sobre os om bros de Fichte, como este está nos ombros dc Kcinho ld, Reinhold nos ombros de Kant, este nos ombros de Lcibniz, e assim ao infinito, até os ombros primordiais... Abro mão, portanto, da ironia c declaro abertamente que, 110 dialeto dos fragm ento s, a palavra significa que tudo ainda é apenas tendência, a época é a época das tendências... Goethe e Fichte, eis a fórmula mais simples e adequada para todo o escândalo que o Athen äum causou, e p ara todo o desentendim ento que o Athenäum provocou... " (KA, II, p. 367). 115) Em alem ão, 0 adjeti vo em pregado é vollendet. 116) PliL, II, 173, p. 35: “O verdadeiro estilo histórico sistemático é simultaneamente fluente e fixo, oscilante c estático [stehend], — T oda intuição contém um infinit o, é = iiifmico. — A doutrina-da -ciência não somente // «/ [ fließt ] mas tai nbém transborda x [fließt iiber] — Phi, II, 472, p. 68: “Os historiadores gregos são de abstração. Tucídides — transcendental. Heród oto— clci nentar . Xenofonte — sist emático. Tácit o é o que m ais tem tom. L ívio, mais esti lo". 117) Bons m ots (boas tiradas): cm

francês no ori ginal.

118) Cf. a definição que Kant dá do riso na Críticli do juízo (B 225): "O riso é uma afecção da súbita transformação de uma expectati va tensa em nada". Tradução dc Rubens Rodrigues Torres Filho, ln: Kant, I. A crítica da razã o pur a e ou tros textos filo só ficos. São Paulo, Abril, 1974, p. 360. 119) Échappées de vue (literalmente: esp aços livres, embora estreit os, p or meio dos quais se pode observar um lugar, uma paisagem): ein francês no srcinal. 120) PhL, Apêndice

II, 17, p. 519: “A única pressuposição correta se descobre pela via

191

analítica; a pa rtir daí tudo cam inha sinteticamente. A an álise tem ac ascend er, lin iin quanto possível, até o eu deve ser. A ampliação da ciência em Fichte foi no cnliinln apenas um achado genial em Kaiil, nJo de sco heit a metó dica. A filosofia só estm n i i bom estado qu an do já n3o pr ec isar co ntar co m ac had os ge niais e pu der proinoi decomposto cm seus três termos elementares (vida, arte e doutrina) ou também nu duas outras palavras já compostas, Leb en sk unst (literalmente “arte de viver") o In Kunstlehre (do utrina -da-a rte), esta última re m etend o à doutrina-dn-ciín< (Wissenschajtslehre). A di ferença entre essas duas “do utrinas” é assinalada cm l' l V, 228, p. 103: "Dou trina-da -ai 1 e como antítese abso luta de douir ina-da -cisncio ' " É claro que a pretensão do rom antismo é unificá-las num a síntese superi or, como m verifi ca cm PhL, II, 632. p. 82: “Que tud o (toda arte) dev a ser c iência, é um a proposlçflii da lógica da doutrina-da-ciência; que tudo, todas ciências devam se tom ar arte s, il uma propo sição da doutrina-da-arte. Ambas, no entanto, também uma piop osiçüo i ln po lítica superior— ”. PhL, II, 9 6 1, p. 109: “Form ação [Bildung] é a questão da filos olln absoluta, doutrina-da-ciência c doutrina-da-arte junta s são doutri na-da- formaçll o [Diidungslehre]. A ironia tem sua verdadeira sede na filosofia sistemática; ainbni têm algo cíclico. Filosofia universa l é filosofia histórica” . E iu í, 108 (nota 69), oco rro a construção análoga Leb en skun sts inn. 123) FLP, IV (II), 170, p. 76: "Aos árabes deve ter faltado comp letamen te o con ceito d o clássico. Senão seria imp ossível que, depois de feitas as traduções, pudessem desprezar por co mpleto o original”. FLP. IV (II), 172, p.77: “Os árabes absolutizam em lodu parte. O que não lhes pa recia útil, destruíam imediatamente. ". 124) PhL, II, 658, p. 84: "Com uma faísca de filosofia, o cristianismo leva à filosofia crítica. Para admitir o conceito de um mediador , se tem dc ser filósofo crítico ou totalmente tolo. Filósofo crítico ou 0 Pois somente a partir do idealism o ubsoluto se deixa 0 filósofo crítico conceber um único ao mesmo tempo Deus e a o mesmo tem po homem. — " 125) PhL, 11,6 31, p. 82: “Catolicismo é cristianismo ingênu o. P rotestan tismo é cristianismo sentimen tal. O progressivo só agora c omeça. — Ain da não há propriamente cristianis mo verdadeiro; resolução do bom senso”. PhL, I I, 732, p. 90 : "O cato licismo o, que só tem m érito pel a 6 m ais político, estético e conseqüente do que o lutcranism po lêm ica e pe la fi lo lo gia — FLP, IV (I), 107, p . 43: “ Há uma filolo gia prog ressiva e uma filologia clássica. — P ara a caracterí stica da filologia progressiva é m uito impo rtante a história da herm enêutica patríst ica, da taimúdica e finalmente também

da protestante. — A fil ologia progressiva come çou, parccc, com a interpretação da Escrituras Sagradas”. 126) PliL, II, 6 6 1, p. 85: “Nada é tão exatamente um que não

192

seja três; por que com Deus

s

deveria scr difer ente?" PhL, II, 664, p. 85 : “Deus tam bém é um a coisa, não um mero pensam ento. É ao mesmo tempo coisa c pensamento, como todos os pens amentos e todas as coisas — 127) PhL, II, 369, p. 56: “Erro blasfemo de que só haja um deus. É disparate qu e só deva haver um único mediador; para o cristão genuíno tudo é mediador. Quantos deuses alguém queira ter depende simplesmente de seu arbítrio absoluto”. O texto retoma a idéia novaliana de “mediador” ( M ittler ), expressa no número 73 das Observações entremesciudas: “É uma idolatria, no sentido mais amplo, quando eu considero de fato esse mediador como Deus mesmo. É irreligião, quando não admito nenlium mediador — c nessa m edida super stição, ou idolatr ia — e de scrença — ou teísmo, que também se pode chamar de judaísmo primitivo — são ambos irreligião. Em contrapartida, ateísmo 6 apenas ne gação de toda religião em ger al e portanto não tem nada que v er com a religi ão. Verdadeira rel igião é aquela que adm ite aquele m ediador como mediador — toma-o como que pelo órgã o da divinidade — por s eu fenômeno sens ível” (irad. cit., p. 77). 128) Crist PliL, oII, — 659, ". p. 85: “Maria 6 uma idéia necessária 129) Personag em principal da novela de Samuel Ricliardson.

da razão pura feminina, como

The history o f Sir Charles Grandi son (1753-1754),

130) Sátira, elegia c idílio são os gêneros da poesia sentimental, segundo a classificação de Schiller em Poesia ingênua e sentimental (São Paulo, Iluminuras, 19 9 1, pp. 64 c scgs.). Cf. FI.P, V, 1050, p. 172: “Belo é poesia poética. — A poesia transcendental começa com a diferença absoluta entre ideal e real. Aí se encontra Schiller, que [é] po rtan to um iniciado r da po esia transcendental c só metad e po es ia tran scen de ntal, que tem de terminar com a identidade fdo id eal c real]”. 131) FPI., V, 317, p. 110: “Os poetas antigos já gostavam de filo sofar, c então s ua filosofia era tão transcendental e nov a quanto podia se r, sem prejuízo da popularidad e; Píndaro, os trágicos, em Ésquilo e Eurípedes a filosofia freqüentemente não está poetizada. Finalmente se isolou essa tendência c surgira m os poemas didáticos alexandrinos; esse isolamento já é algo m oderno . Aqui, não havia disposição alguma de poetizar o todo". 132) PhL, I, 14, p. 5: “As sim com o só há um único sistema e uma única filo so fi a, também só há UM MÉTODO—”. 133) FLP, V, 634, p. 138: "Tudo aquilo qu e deve scr crilicado tem de ser um indivíduo — mas na caracterização a individualidade não tem de ser exposta historicamente, c sim mimicamente — 134) PliL, II, 812, p. 96 : “ Aquilo que já não se pode m ultiplicar é, cm sen tido filosófico, indivíduo absoluto (elemento indivisíve l) tanto quanto aquilo que não se pode mais dividir—", 135) Comparar esse “sistema de indivíduos" com o “sistema de talentos” do gênio, apresentado no fragmento ^119.

193

136) Sobre a idade dc ou ro no futuro, s' eja-s e L 38. nota 24. 137) O fragmento aparece com ligeiras modificações em

FPL, V, 97, p. 91.

138) FLP, V, 62, p. 90: “A poesia de Gozzi [é] esboçada de modo rápido e grosseiro poes ia de deco ra çã o. — Rin Gozzi, estr anho conceito da necessidade de se r novo. O demagógico em Gozzi é o que mais se assemelha a Aristófanes: o maravilhoso mágico, m érito próprio”. Cario Gozzi (1720 -1806), dram aturgo italiano, defe nsor t in commedia deli'arte, auto r de Turandoi ( 1762). Cf. acima A 244. 139) FPL, V, 76, p. 91: "A comé dia de Dantc é um romance". FPL, V, 520, p. 128: "Pontos para o estiulo de Shakespeare. — Ironia— esfor ço pela uni dade — espíri to român tico — in tencion alidad e, arte, perfeiçã o c ac aba mento — un iversalidade em todos os gêneros do romântico — poesia da poesia — sua doutrina-da-ar te — indi fer ença da fo rma dramática— suas manei ras — seu classi cismo— sua moral idad e individual”. FPL,V, 692, p. 143: “Sh akesp eare tem moralidade romântica. Suumescln dc poesia e prosa romântica indica romântico absoluto”. FPL, V, 717, p. 146: “A essência dc Sha kespeare é rom ântica, sua tendência, trans cendental. É româ ntico e classiciza. A essência de Gocthc c abstração e poesia, sua tendência, romântica; & clássico c romantiza. — ". FPL, V, 1102, p. 176: “Goc the não é rom ântico . — É poesia po ética un iversal, não po es ia un iversal — ”, 140) Cf. A 149 e 242. 141) FLP, V, 33 1, p. 112: “Profeta é todo filósofo poético e todo poe (nota 43).

ta filosófico” . Cf. A 80

142) FLP, V, 107, p. 94: “Quem tem fantasia, tem dc po der aprende r poesia; ainda se tem de chega r ao ponto cm que todo filósofo escreva um romance Cf. abaixo o fragmento A 255. A possibil idade dc ensinar e aprender poesi a — q ue deve se tom ar “arte”, n o sentido em que a e mprega Schlcgcl — também é uma das questões centrai s discutidas na Conversa sobre a poesia, como sc pode observar, por exemplo, na seguin te fala dc Antônio: “ Primeiro c preciso ter investigado c esclarecid o se a poesia é algo q ue se deixa ens inare aprend erem ger al” (KA, II, p. 310; trad, cit., p. 50). 143) A afi rmação de que a auton om ia do belo possa decorrer do primeiro p rincípio de toda a doutrina-da-ciência (“eu = eu; eu sou eu”. A doutrin a-d a-c iê nci a de 1794, (rad. cit., p . 45) tem respaldo na explicação que Fichtc dá dos juíz os téticos. Da inesma forma que o juízo “o hom em é livre”, um “ juízo dc gosto: A é belo (o mesm o que: A contém um índice que está também contido no ideal do belo) é um juízo tético; pois ss o com para r ess etem índice por co m o idproven ea l, já iente que de nã oseucopôr nheç o o ideal. Mu itonão pelopo contrário, meu espírito t arefa, absoluto, cnco ntrá-lo; mas essu tarefa só poderia ser solucionada d epois de uma aproxim ação perfeita e term in ada do in fini to . — Kant e se us se guid ore s cham ara m , por isso , muito corrctamentc, esses juízos de infinitos, embora nenhum deles, ao que eu saiba, os tenha explicado dc maneira mais clar a e determina da” ( ibidem, p. 59). Cf. FPL, V, 188, p. 100: “O com eço de um a obra lóg ica tem de ser tético; na verdad e,

194

pod e tão po uc o com eçar quanto term inar. — Começo: que b eleza e arte devam ser, enquanto seres isolados. — A conclusão: que não devem ser, isto é, enquanto tais. — ". Kant, PhL, para II, a filosofia crítica, c igua lm en ãte—a afilosofiade-ari e alem ã —". 215) Phl., 11,634, p. 82 : “ Nada é absolutam ente transcendente; tudo tem su a esfera. Aquilo Phl., II, 636. p. 82: que seria absolutamente transcendente, não pode existir — “Transcendente é apenas quando alguém ultrapassa seu fim, suplanta suas forças; o homem m t ’ £^ ox nv nü o pod e sê-l o. Seri a inj úria pensá- lo —", 216) Em K: "arabescos”. PhL, II, 884, p. 103: “Moral c direito natural [são] formas transcend entais para matéria abstrat a, ou ontologia, cosmo logia c psicolo gia, formas abstratas para matéria tr anscende ntal — arabescos e grotescos da filosofia”. PhL, II, 886, p. 103: “Teologia é um conceito contraditório — não há cicncia de Deus. — A leol ogia é um trai am ento ira nsccn de nlal c abs trat o da m até ri a da filoso fia absolut a. Port anto, também grotescos — chave da abóboda do sistema dos grotes cos fil osófi cos — ”. 217) Em K : “desorganização lógica". 218) FPL. V, 1082, p . 174: “A filosofia do bom senso (um g rotesc o), aplic ad a à poesia sem

203

sentido para a poesia, dá a crítica inglesa. —> ". Os autores citados no texto, James H arris (1709- 1780), Hcnry H ome (1796-17 82) e Samuel Johnson (1 709 -1784), são críticos e ensaístas. A condenaç ão da crít ica ingle sa, que ocorre t ambém na Conversa sobre a poesia (trad. cit., p . 34), se deve em grand e parte à diferença de aprecia ção da ob ra de Shakespeare, em quem Friedri ch vê “o clássico da geniali dade, isto é, aquele au tor cm que se pode construir esse conceito... Genialidade consiste na artificialidade involuntária c nn naturalidade voluntária —", (FPL, V, 1223, p. 186). Além de L 121, pode-se ler também a referência a S . Johnson em FPL, V, 165, p. 98: “Shakespeare, diz Johnson, escrevia without rules. — Quem então jamais escreveu com rtilesT’ 219) Em alemão õkonomen, assim traduzido para preservar a raiz que aparecerá também no adjetivo “cconômico". A palavra foi anteriormente ( A 150) vertida por “administrador”. 220) FPL, IV (I I), 82, p. 68: “L ír significa satisfazer o impu lso filológico. N ão se pode ler po r pura filos ofia sem filologia. Também dificilm ent e por pu ro sentimento e impulso artísticos”. FPL, IV (II), 80, p. 68: “ L er significa afetar, limitar, determinar fil ologicamente a si mesmo. M as isso t ambém é possível sem ler — ", FPL, IV (II), 83, p. 82 : “”. Plil., IV, 1229, p. 297: “ Letra é esp írito fixado . Ler significa liberta r o espírito estabil izado, porta nto uma ação mágica”. Sobre a fi lologia, cf. ab aixo /l 4 04 .0 pap el da leitura no romantismo, estudada em particular no caso de Novalis, é o temu do ensaio “For que estudamos?", de Rubens Rodrigues Torres Filho (in: Revista cia USP.n. 10, jun/jul/ago. de 1991, pp. 189-190).

221) FPL. V, 988, p. 167: “Num a massa tudo tem de se r sublinhado, com o no fragmento, mas não naquilo que é rapsódico” . 222) Misticismo, ccticismo e empirismo são temas das primeiras reflexões filosóficas de Schlegel, ligadas ao estudo da doutrina-da-ciência. PhL, I, 9, p. 4: “O místico põe somente um a contradição, admitindo espontaneamente que seja uma; o einpirista [põej uma porção indeterminada e o cético uma porção infinita, uma totalidade de contradições. — Portanto, entre todos os desvarios, o misticismo é o mais módico e ba rato. — A es sê nc ia e início d o c eticismo é pfir u m a po rção infinita de co ntradiçõ es , o que só pode ser inteiramente arbitrário —". PhL, I, 13, p. 5: “O místico é mais livr e que o cétic o e o empirist a; ele engendra sua con tradição; aqueles deixam que ela lhe seja dada — aquilo é contradição h terceira potência — uma contradição po sitiva . — O empirista constr ói sobre o vazio , sobre contradições negativas. — O misticismo [é] também o mais sóbrio e sólido de todos os delírios, assim como o mais módico — PliL, 1, 32, p. 7: “ Quan do se po stula ciênc ia e se busca som ente a condição de sua possibilidade, se cai nodomisticismo ponto éde—vista, conse quente e única sol ução possível problema c, desse [Auf^abe] pôr aummais eu ab so luto — , co m iss o estão ao mosino tempo da do s a fo rm a e o co nteúd o da do utrina -dacicncia absoluta — 223) Sobre a exigência incondicional de comunicabilidade, cf. fragmento não consta da edição K.

204

L 108. O restante do

224) Cf. acima nota 222. 225) FPL, IV, 992, p. 168: “Na verdade, crítica nada mais é que com paração entre espírito c letr a de uma obra, que é tratada c omo infi nito , como absoluto c como indivíduo. — Criticar significa entender um autor melhor do que ele próprio se entendeu”. Cf. PliL, II, 434, p. 63: "Para entender alguém é preciso, primeiro, ser mais esperto [klug] do que ele, depois tão esperto e tão tolo quanto ele. Não é suficiente que se entenda o verdadei ro sentido de uma obra confusa m elhor do que o próprio autor a entendeu. É preciso também con hecer a própria confusão até os princípios, é preciso po der caracterizá-la e até construí-la. ". PliL, 11, 651, p. 84: "Ninguém entende a si mes mo, enquanto é apenas ele mesmo e For exemplo, quem é ao mesmo tempo não ao mesmo tempo também um outro. filólogo e filósofo, entende su a filosofia por meio de sua filologia e sua filologia por meio de sua filosofia — PhL, II, 997, p. 112: “Um filósofo entende um outro tão po uc o quan to e ta lv ez até menos que um poeta o outro . So mente o cr ítico histór ico entende a ambos. Sem crítica absol uta, porém, o historia dor não é nada” .

226) Cf. acima fragmento 227) Sobre a “resenha”, cf.

A 393. A 44 e 439.

228) Correspondendo à imp ortânci a estratégica da filologia em seu “ sistema”. Fricdr ich dela se ocupou cm duas séries de reflexões publicadas nos Fragm entos sobre poesia e literatura, nas quais se podem identificar passagens retomadas neste fragmento: FPI., IV (I), 14, p. 36; 61, p. 40; 1 27,1 28, p .45 ; 14 0,p .46; 153, p .47; IV (I I) ,75. C f. também acima A 391 (nota 220). 229) Phl., II, 351, p. 54: “Teoria (característica) da

divindad e com v ariações —

230) PliL, III, 4, p. 123: “Sempre é importante distin guir fantasmas m atemático s e ideais. Ideais são atingíveis, pois repousam, todos, cm síntese e contradição, oscilação, flutuação. Sem dúvida, sempre se pode sintetizar de novo; permanecem, porém, scmpie atingíveis— ”. Phl., III, 112, p. 131: “Ge ralm ente se con cebe m ideais apenas de mo do matcmático-niecãnico: também com Ireqiiênci a de modo quím ico-mecânico, agora aqui e ali de modo químico, mas ai nda rar amente de modo orgâ nico— ” Sobra a última frase, onde se faz re ferência a Schd ling , (“um a físic a da filosofia”) cf . acima A 304 (nota 175). 231) Sobre o “paradoxo” da moralidade, cf. / 76. Sobre a Igreja invisível, cf.

L 35 (nota 20).

232) Oposto ao “objetivo”, que é o caráter fundamental da poesia antiga, o “interessante” é o ideal da poesia inodci na. com o explica Schlegcl no Estudo da poesia grega : “F.la [a poesi a m oderna] jam ais tem pretensão à objetividade, o que, no entanto, é a prime ira cond ição do valor estético puro e incondiciona do, e o id eal dela é o interessante, isto é, força estética subjetiva” (KA, II, 208). 233) W illiam Lovcll é a personage m principal do romance, em três volumes, A histó ria do senh or Willi am Loveil ( 1795-96), assi m como Frnnz Stcrnbald, cit ado abaixo, o é em /U pereg rina çõ es de Sie m bald , ambos os romances de autoria dc Johann I.udwig

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Ticck. 0 “M onge", citado a seguir , é a personagem-título das Efusões de um monge am aine ilas artes, escritas cm 1797 pelo am igo dc Ticck, Wilhelm W ackcnroder . 234) Ao lado do grotesco, o arabesco constitui, para Schlcgcl, um dos elementos fundamentais da fantasia moderna. Na Carta sobre o romance, Antônio afirma que o Ja cq ue s. o Fatalista dc Didcrot é sem exagero unia “obra de arte”, c comenta: “Certamente, não é alt a poesia mas apena s um — arabesco. Mas justame nte p or is so não tem menos merecimento a meus olhos; pois consider o o arabesco uma forma ou maneira de exteriorização inteiramente determinada c essencial da poesia” (In: KA, II, p. 331; trad. cit., p. 63). PhL, II, 978, p. III: “Sistema da filo so fia caótic a. Um arabesco transcendental'.

235) FPL, V, 526, p. 128: “Em muitos romances (como no Lovcll), [há] um homem cm segund o plano que jog a xadrez com todos os outros, e é t ão grande cm es pírito que não entra pela porta —" FI.P, V, 527. p. 128: “O único caráter cm Lovcll é ele mesmo, um hom em sem car áte r. — Sentime nto dominante no L ove ll — aversão à vida c medo da morte; pensament o dominante — tudo e despr ezível c tudo é a mesma coisa. — Seu caráter, no entanto, é poesia da poesia. — Espírito do livr o, desprezo incondicionado da prosa c auto-aniquilainento da poesia. — Transitoriedade de todo jogo , sentime ntos e imagens poéticos. Se permanece ssem, tanto pi or: desaf inari am com a vida — ” , 236) A respeito dos últimos fragmentos e do pro blem a da “serieda de'’ , diz Fricdricli numa carta a August (6 de março de 1798): “P enso ainda em en cerrar a massa no n úme ro I [do Athen iiitm ] com surpreendente seriedade; com alguns [fragmentos] não muito longos, mas bem grande s: — sobre o entusi asmo c geniali dade, onde F ichte d eve ser elevado ao céu — sobre a grandeza — sobre a sagrada seriedade” (KA, p. 245, nota). 237) PhL, IV, 576. p. 241: “O caráter de Kousscau, uma mescla de infantilidade e feminil idade. Não um herói , como cie mesm o freqüentemente sonhava, mas também nenhum misérable. Mais comum e mais singular do que o sabia; po is sua singular idade não está ali onde a busca. — Aventureiro apenas num reino de falsas tendências do idealismo— ".PhL, II, 1041, p. 115: “A doutrina-da-feminil idade [Weibliclikeitslehre], uma parte int egrante da estéti ca grotesca” . 238) Sobre Jean Paul (Friedrich Richter), criador da personagem Leibgeber do romance Siebenküs (ambos citados mais abaixo), cf. A 125 (nota 76). 239) “Boa tirada": a expressão aparece na forma germ 240) Louvei de Couvrait, autor de

anizada

Bon mot.

Les um ours du ch ev alier de Fa itb las, romance citado

também em Z.41. 241) Wie ein aiifyeklãrter Kandidat. Aqui, “candidato" é alguém prest es a fazer os exames finais na universidade. Em FPL, V, 826, p. I55, fica mais claro de que candida to se trata: “Richter nos descreve Maria como uma mulher de chantre sentimental, mas Cristo como um candidato de teologia — 242) PhL, II, I 06 I, p. 11 6: "Descartes e Mnlebranclie dc

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modo algum são franceses — tão

pou co quan lo Esp inosa pe rtence a um a na ção. — Foi Richclicu qu em pro priam en te fez a França — 243) PhL, 11, 380, p. 57: “A Revolução [ é] o arabesc o tr ágico da época — Revolução Francesa, cf. A 2 16. 244) A Noi va de Co rin to, balada de Goethe escrita em

Sob re a

1797.

245) PhL, 719, p. 89: “ Há re al idade que n ão sc pode tratar melhor do q ue quando é tratada como poesia. Inimizade, a chamada infelicidade, desequilíbrio. Existe muitíssimo dessa poesia no mundo. Todos os termos intermediários [Mitteldinge] entre homem e coisas são poesia. Teórica e artisticamente, o homem tem de poder se afinar a seu bel-p raze r." 246) Sobrc a ironia e urbanidade,

L 42 e 108.

247) Sobre o tom e estil o cm relaç ão ao Geist, cf. FPL, V, 443, p. 122: “O espirito de unia obra é semp re algo indeterminado, portant o incondicionado. — Espírito é a unidade e totalidade determinada de uma maioria indeterminada de singularidades incondicionadas. — To m é a unidade indeterminada das cspecificidades [ F-inentii mlichkeiten]. Forma é uma totalidade de limit es absolutos. — Matéria [Stoff é um a parte da realidade absolut a. — Escritos cl ássi cos, com o tais, não têm tom. mas apenas estilo". FPL, V, 447, p. 122: “Forma e estilo são intencionais, mas não espírito, tom e tendência — ", 248) Na Conversa sobre a poesia, a primeira posição — a poesia deve ser dividida em gêner os — 6 defendida por Marcus , Lotár io e Ludovico, a segund a — a poesia é una e indivisível — , por Aindli a. Ludo vico, explicitando o ino do de agir de um poeta cm geral, afirma que este, “por força de sua própria at ividade e me diante ela m esma, tem necessaria mente de se limitare dividir [sich beschränk en u nd teilen muß]" ( KA , 11, p. 305; trad. cit„ p. 47) . Assim. no prop rio alo de criar se dá um a cisão (Teilung) que é a srcem da divisã o (Einteilung) dos gêneros. Am ália, ao con trário, diz: “Po r qu e de novo apenas espécies e meios? — Porq ue não poesia intei ra c indivisí vel [unteilbare]... Nosso am igo [referindo- se a M arcu s)... tem se mpre de se para r e div id ir [sondern und teilen] onde, no entanto, somente o todo como força indivisa pode atuar c satisfazer” (ibid., p. 3 10; tra d. cit„ p. 49). É claio que, tanto no fragm ento quan to na Conversa, se pensa a ação da refl exão como u ma oscilação, um “alternai” (wechseln), entre uma coisa e outra. Sobre essa “alternância”, cf. a apresentação a este volume. 249) Schlegel est á pensando num a “revolução copcmicana" da poesia? C omo esta poderá se tornar uma ciência, uma arte? Seria então possível “construir a priori poemas futuros?” (Conversa sobre a poesia, KA II, p. 350; trad. cit., p. 79.) 250) Fiirstenspiegei. livr os para inst rução dos governantes, segun do o modelo do Príncipe de M achiave l. Na Alemanha, Wieland escr eveu um a novela no gênero, intit ulada O espelho doura do on o s reis da Silésia, em 1772. 251) F.n rapport (em ligação): em francês no srcinal .

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252) In usam de iphini (para uso do delfim): palavras inscritas nas edições de clássicos latinos que Luis XIV m andava imprimir para uso de seu filh o, nas quais se eliminavam as passagens mais "picantes”. Em latim no srcinal. 253) Hum an io ra (humanidades, estudos clássicos): ein latim no srcinal. 254) Visum rcpcrlum (uma perspectiva descoberta): cm latim no srcinal. 255) FPL, V, 629, p . 183: “A caracterizaç ão é um gê nero próprio, específico, difere ntel cuja totali dade não é hist órica, mas CRÍTICA. — ". FPL, V, 676, p. 142: “Na caracteriza ção se unificam poe sia, história, filosofia, críti ca hermenêutica, crítica filológica. — ”. PliL, II, 486, p. 99: “Caracteri zação 6 a obra d a crítica. Delectus classicorum, o único sistema crític. —", 256) PliL, 11,971, p. 110: "As deduções cst3o propriamente em casa na filosofia s istemática . São com o se apresenta a pr ova ge ne aló gi ca da genuína descendência de um teorema a partir da intuição intelectual, de um problema a partir do imperativo categórico. Construção e caracterização fazem parte da filosofia absoluta. A demonstração, da filosofia transcendental —”. 257) FPL, V, 1130, p. 178: “Toda música pura lêm de se r fil osófi ca e i nstr umental (música para pe nsar) — ". 258) FPL, V, 1114, p. 177: “Ainda não há, rigorosamente, um autor moral (assim como Gocthc £ poeta, F ichte, filósofo) — (para isso se teria de sintetizar Jacobi, Forster e Miiller). Schillerc um filósofo poético, mas não poeta filosófico. M iiller è ético do com eço ao fi m. —
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