SANTILLANA_PORT12_FichaAvaliacao_U2.docx

August 28, 2018 | Author: cristina_correia_31 | Category: Portugal, Word, Wellness, Philosophical Science, Science
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Unidade 2 — Ficha de avaliação NOME:

N.º:

_ TURMA:

DATA: ________

GRUPO I Apresente as suas respostas de forma bem estruturada. A

Leia o seguinte excerto do conto «Sempre é uma companhia», de Manuel da Fonseca. António Barrasquinho, o Batola, é um tipo bem achado. Não faz nada, levanta-se quando calha, e ainda vem dormindo lá dos fundos da casa.

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É a mulher quem abre a venda e avia aquela meia dúzia de fregueses de todas as manhãzinhas. Feito isto, volta à lida da casa. Muito alta, grave, um rosto ossudo e um sossego de maneiras que se vê logo que é ela quem ali põe e dispõe. Pois quando entra para os fundos da casa, vem saindo o Batola com a cara redonda amarfanhada num bocejo. Que pessoas tão diferentes! Ele quase lhe não chega ao ombro, atarracado, as pernas arqueadas. De chapeirão caído para a nuca, lenço vermelho amarrado ao pescoço, vem tropeçando nos caixotes até que lá consegue encostar-se ao umbral da porta. Fica assim um pedaço, a oscilar o corpo, enquanto vai passando as mãos pela cara, como que para afastar os restos do sono. Os olhos, semicerrados, abrem-se-lhe um pouco mais para os campos. Mas fecha-os logo, diante daquela monotonia desolada. Dá meia volta, enche a medida com o melhor vinho que há na venda, coloca-a sobre o balcão. Ao lado, um copo. Puxa o caixote, senta-se e começa a beber a pequenos goles. De quando em quando, cospe por cima do balcão para a terra negra que faz de pavimento. Enterra o queixo nas mãos grossas e, de cotovelo vincado na tábua, para ali fica com um olhar mortiço. Às vezes, um rapazito entra na venda:

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— Tio Batola, cinco tostões de café.

O chapeirão redondo volta-se, vagaroso: — Hã?...

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[...] a vida do Batola é uma sonolência pegada. Agora, para ali está, diante do copo, matando o tempo com longos bocejos. No estio, então, o sol faz os dias do tamanho de meses. Sequer à noite virá alguém à venda palestrar um bocado. É sempre o mesmo. Os homens chegam com a noitinha, cansados da faina. Vão direito a casa e daí a pouco toda a aldeia dorme. Está nestes pensamentos o Batola quando, de súbito, lhe vem à ideia o velho Rata. Que belo companheiro! Pedia de monte a monte, chegava a ir a Ourique, a Castro, à Messejana. Até fora a Beja. Voltava cheio de novidades. Durante tardes inteiras, só de ouvi-lo parecia ao Batola que andava a viajar por todo aquele mundo. ENTRE NÓS E AS PALAVRAS • Português • 12 .o ano • Material fotocopiável • © Santillana

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Mas o velho Rata matara-se. Na aldeia, ninguém ainda atina ao certo com a razão que levou o mendigo a suicidar-se. Nos últimos tempos, o reumatismo tolhera-lhe as pernas, amarrando-o à porta do casebre. De quando em quando, o Batola matava-lhe a fome; mas nem trocavam uma palavra. Que sabia agora o Rata? Nada. Encostado à parede de pernas estendidas, errava o olhar enevoado pelos longes. Veio o verão com os dias enormes, a miséria cresceu. Uma tarde, lá se arrastou como pôde e atirou-se para dentro do pego da ribeira da Alcaria. Manuel da Fonseca, «Sempre é uma companhia», in O fogo e as cinzas, Lisboa, Caminho, 1998.

1. Demonstre de que forma a caracterização do Batola contrasta com a da mulher. 2. Identifique o recurso expressivo presente na passagem «O chapeirão redondo

volta-se» (l. 21), comentando o efeito produzido. 3. Explicite a importância da figura do Rata para a caracterização do Batola e da aldeia

em que este vive.

B

Leia o soneto «O palácio da Ventura 1», de Antero de Quental. Consulte as notas apresentadas. Sonho que sou um cavaleiro andante. Por desertos, por sóis, por noite escura, paladino2 do amor, busco anelante 3 O palácio encantado da Ventura! 5 Mas já desmaio, exausto e vacilante, Quebrada a espada já, rota a armadura…

E eis que súbito o avisto, fulgurante Na sua pompa e aérea formosura! Com grandes golpes bato à porta e brado: 10 Eu sou o Vagabundo, o Deserdado… Abri-vos, portas d'ouro, ante meus ais! Abrem-se as portas d'ouro, com fragor 4… Mas dentro encontro só, cheio de dor, Silêncio e escuridão — e nada mais! Antero de Quental, Sonetos, organização, introdução e notas de Nuno Júdice, Lisboa, IN-CM, 1994.

ENTRE NÓS E AS PALAVRAS • Português • 12 .o ano • Material fotocopiável • © Santillana

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(1) ventura: felicidade, fortuna próspera. (2) paladino: cavaleiro andante, defensor obstinado. (3) anelante: ansioso, que deseja ardentemente. (4) fragor: estrondo medonho.

4. Delimite os diferentes momentos em que o soneto se organiza, tendo em conta o

estado de espírito do sujeito poético. 5. Explicite a forma como o Ideal é apresentado no soneto.

GRUPO II Nas respostas aos itens de escolha múltipla, selecione a opção correta. Escreva, na folha de respostas, o número do item e a letra que identifica a opção escolhida. Leia o excerto seguinte, do Diário de Miguel Torga. Se necessário, consulte as notas. São Martinho da Anta, 26 de dezembro de 1960 — Consultas e mais consultas a

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esta pobre gente, que parece guardar as mazelas durante o ano para quando eu venho. Ausculto, apalpo, dou os remédios e prometo a cura. Mas acabo por me sentir o verdadeiro beneficiário do bodo 1 clínico. Reencontro nele o gosto do ofício, que a cidade tem progressivamente amortecido. Há um lance no exercício da profissão que sempre me apaixonou: a anamnese 2. O relato dos padecimentos feito pelo doente à cordialidade inquisidora do médico. É ele o grande momento humano do ato clínico. O instante em que o abismo se abre ou não abre, a verdade vem à tona ou não vem, se realiza ou não o encontro da aflição com a piedade. A civilização tornou quase impossível esse rasgar de trevas, essa entrega total e confiada da alma dorida ao desvelo hipocrático3. A conjugada ação de mil forças inibidoras invalida a instintiva ânsia reveladora do sofrimento. Cada palavra diz outra coisa, cada queixume vem mascarado. As conveniências sociais, a covardia, a suspicácia 4 e o hábito arreigado da hipocrisia impedem qualquer sinceridade. E o infeliz facultativo 5 cansa-se e degrada-se no consultório a interrogar clientes de má-fé. Nenhum talento, nenhuma cultura, nenhuma autoridade, nenhum ardil conseguem desfazer a ambiguidade da confissão, que acaba sempre por ser uma longa mentira premeditada. Ora, no camponês tudo se passa doutra maneira. Dono dum campo de consciência restrito, virgem ainda nas reações, quando adoece todo ele se concentra na observação dos sintomas do mal que o rói, e descreve-os depois objetivamente, com a candura dum primário e a precisão dum cientista. Sem falsos pudores, sem perturbadoras interferências, faz um relato leal e rigoroso da enfermidade. E é uma aventura emocionante e dignificadora acompanhá-lo pelas veredas6  da angústia, o apelo e a solicitude de mãos dadas, fraternos, a caminho da desilusão ou da esperança. Miguel Torga, Diário, vols. IX-XII (1960-1977), Lisboa, Publicações Dom Quixote, 1995. ENTRE NÓS E AS PALAVRAS • Português • 12 .o ano • Material fotocopiável • © Santillana

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(1) bodo: distribuição de alimentos, dinheiro e vestuário aos pobres. (2) anamnese: informações que o paciente dá ao médico sobre o seu passado e a

história da sua doença. (3) hipocrático: relativo a Hipócrates (alusão ao juramento efetuado pelos médicos,

aquando da sua formatura, em que juram praticar a medicina honestamente). (4) suspicácia: desconfiança. (5) facultativo: técnico. (6) vereda: caminho estreito.

1. Uma marca do género diarístico que pode ser encontrada neste excerto é (A) o respeito pela ordem cronológica dos acontecimentos. (B) o pendor introspetivo e a reflexão sobre acontecimentos do quotidiano. (C) o recurso a testemunhos que comprovam a veracidade dos factos narrados. (D) a preocupação em divulgar conhecimentos. 2. O autor considera que é «o verdadeiro beneficiário do bodo clínico» (l. 5) (A) porque a atividade clínica é financeiramente muito compensadora. (B) porque tratar pessoas que estão doentes é muito gratificante. (C) quando dá consultas na cidade, que são bem remuneradas. (D) quando dá consultas a pessoas pobres, na aldeia. 3. Segundo o autor, (A) as pessoas da cidade são tão sinceras como as do campo. (B) as pessoas da cidade são menos sinceras do que as do campo. (C) as pessoas da cidade são mais complexas do que as do campo. (D) tanto o camponês como o citadino são pouco sinceros durante as consultas. 4. A referência ao «apelo» e à «solicitude» (l. 24) (A) reporta-se à atitude do médico. (B) reporta-se à atitude do doente. (C) remete para o paciente e o médico, respetivamente. (D) remete para o médico e o paciente, respetivamente. 5. Em «O relato dos padecimentos feito [...] à cordialidade inquisidora do médico.»

(ll. 7-8), encontramos (A) uma sinédoque. (B) uma personificação. (C) uma metáfora. (D) um pleonasmo.

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6. Na expressão «virgem ainda nas reações» (ll. 19-20), encontramos (A) uma hipérbole. (B) uma metáfora. (C) um eufemismo. (D) um oximoro. 7. O complexo verbal «tem [...] amortecido» (l. 6) tem um valor aspetual (A) perfetivo. (B) imperfetivo. (C) genérico. (D) iterativo. 8. Indique o tipo de coesão assegurado pela palavra «Ora» (l. 18). 9. Classifique a oração «que a cidade tem progressivamente amortecido» (ll. 5-6). 10. Identifique a função sintática desempenhada pelo constituinte «pelo doente» (l. 7).

GRUPO III «Não vale a pena viver uma vida sem desafios.» Sócrates, filósofo grego (séculos V-IV a. C.)

Elabore um texto de opinião bem estruturado, com um mínimo de duzentas (200) e um máximo de trezentas (300) palavras, no qual defenda um ponto de vista pessoal sobre a ideia exposta na citação acima apresentada. Fundamente o seu ponto de vista recorrendo, no mínimo, a dois argumentos e ilustre cada um deles com, pelo menos, um exemplo significativo. Planifique o texto antes de o redigir e reveja-o no fim. Observações: 1. Para efeitos de contagem, considera-se uma palavra qualquer sequência delimitada por espaços em branco, mesmo quando esta integre elementos ligados por hífen (ex.: /opôs-se-lhe/). Qualquer número conta como uma única palavra, independentemente dos algarismos que o constituam (ex.: /2016/). 2. Relativamente ao desvio dos limites de extensão indicados — entre duzentas e trezentas palavras — há que atender ao seguinte: —  um desvio dos limites de extensão indicados implica uma desvalorização parcial (até 5 pontos) do

texto produzido; — um texto com extensão inferior a oitenta palavras é classificado com zero pontos.

ENTRE NÓ

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