Saberes Locais No Pea de Geografia

April 12, 2023 | Author: Anonymous | Category: N/A
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SABERES LOCAIS NO PEA DE GEOGRAFIA 1. Saber Local

O term termoo sabe saberr si sign gnifi ifica ca ter ter conh conhec ecim imen ento to.. No se sent ntid idoo fe feno nome meno noló lógi gico co co conh nhec ecer er é te ter  r  consciência de alguma coisa, é apreender o objecto. É captar os fenómenos e as suas diversas manifestações. Os saberes são um conjunto de enunciados que carregam consigo mesmas noções de saber ser e estar, saber fazer, saber conhecer. É nessa abordagem que LYOTARD (1989:43), advoga que ̋os saberes se fundamentam na competência que excede a determinação e aplicação do mero critério da verdade”. Os saberes dizem respeito à eficiência, a justiça e felicidade, a normalidade. O autor acima, afirma que o Saber “é aquilo que torna qualquer   pessoa capaz de proferir bons enunciados avaliativos”. Isto é o saber é mais abrangente ele inclui enunciados científicos e culturais que de facto estes últimos são incorporados em saberes locais. O termo “Local” referido no contexto do saber local não se refere apenas ao espaço localizado geograficamente, mas aos discursos educativos produzidos por pessoas de uma determinada comunidade. Refere se aos discursos de pertença comunitária que desempenham uma função na educação dos jovens da mesma comunidade. Local tem um carácter regional e caracteriza os residentes de uma determinada comunidade, ou cultura situada no espaço. Desta forma, a selecção de conteúdos pode, pois, incluir a matéria que não sendo meramente local do ponto de vista geográfico, se afigura relevante a sua aprendizagem no contexto da comunidade. O saber local dá-se dentro do universal e vice-versa é por isso que LYOTARD (1989:43), relaciona o saber local com o saber científico. Ele entende que o saber científico não é só o conjunto de enunciados, mas também “o saber voltado à vida quotidiana e a escola tem a obrigação de ensinar esse saber. O saber escolar é abrangente e prático e diz respeito à vida da localidade”. O saber local corresponde ao conjunto de conhecimentos, práticas, atitudes, habilidades e experiências que se transmitem e se comungam num determinado grupo humano. São aqueles que que re refl flec ecte tem m a real realid idad adee vive vivenc ncia iada da pelo pelo al alun unoo no se seuu di dia-a a-a-d -dia ia na nass su suas as di dive vers rsas as actividades, nomeadamente: comercio, habitações, agricultura e pesca, sendo estes conteúdos que podem ser inseridos na escola produzidos localmente.

 

1.1. Processo de Ensino e Aprendizagem no Ensino de Geografia

A Geografia é uma Ciência que estuda, descreve e interpreta os fenómenos que   ocorrem na superfície terrestre. Pela sua natureza ela dedica-se à distribuição desses fenómenos no globo. Ela possui alguns conceitos chaves capazes de sintetizar o seu   objectivo, como ciência social a geografia tem como sua preocupação o estudo da   sociedade, englobando cinco conceitoschave num parentesco bem próximo modelando  a superfície terrestre em paisagem, região, espaço, lugar e território. “É uma ciência de  síntese, isto é, capaz de interpretar os fenómenos que ocorrem sobre a face da terra,   com a ajuda de um instrumental proveniente de umaa mu um mult ltip ipli lici cida dade de de ramo ramoss do  sa sabe ber. r.....”” SANT SANTOS OS ap apud ud MAPA MAPATS TSE, E, (2006:19). Desta forma, conhecer o aluno como   ser sócio-cultural, mapear os cenários exteriores da Geografia escolar com os quais os   alunos vivenciam seu tempo, seu espaço e seu mundo,  pensar sobre seus olhares em  relação à Geografia no espaço escolar, e comunitário são  proposições para se pensar   essa disciplina e ampliar as reflexões sobre as dimensões do currículo, conteúdo-forma  e o ensino-aprendizagem oferecidos aos alunos. Reflectir sobre o ensino da Geografia,   partindo da consciência consciência da época em que vivemos, significa pensar  também no aluno  que está em sala de aula como sujeito desse contexto histórico-cultural complexo e dinâmico. O saber geográfico busca abordar os conflitos entre a Geografia Física e a Geografia Humana. Esta disciplina é a única entre as ciências humanas a ter em conta os aspectos físicos do  planeta e analisar os processos que se desenvolvem desenvolvem na natureza e na sociedade individual e colectiva. Os conceitos que a utiliza sofrem mudanças ao longo do tempo onde seus interesses e raciocínios, e muitas vezes individualizados e contextualizados.  Na óptica de LIBÂNEO (1994:79), O “ensino é um processo que se caracteriza pelo desenvolvimento e transformação progressiva das capacidades intelectuais dos alunos em direcção ao domínio dos conhecimentos e habilidades, e sua aplicação” aplicação”..  Nessa perspectiva, perspectiva, o ensino permite o desenvolvime desenvolvimento nto das capacidades capacidades cognitivas dos alunos, tal cognição que se converte em mudança de atitude, e sob ponto de vista geográfico traz uma nova relação entre o aluno e o meio circundante. O conhecimento local é explorado  pelo professor na aula e o aluno é o fornecedor visto que é considerado elo de ligação entre a

 

comunidade e a escola, desta forma a aula é definida por PIMENTA e LIMA (2004:159), como sendo “a célula que representa o todo da escola. 1.2. Currículo Local Vs Saber Local

Relativamente ao currículo local, este serve-se como base para a sua integração e autoafirmar-se como parte integrante no PEA. O currículo local resulta de conteúdos recolhido recolhidoss na comunidade através de entrevistas dirigidas aos intervenientes da educação. Nesta linha de  pensamento,, CASTIANO (2003:5), diz que “o imperativo de introduzir os conteúdos locais  pensamento foi expresso por diferentes grupos sociais com objectivo de eliminar o deficit epistemológico oferecendo ferramentas ao aluno para a leitura e interpretação dos fenómenos naturais, sociais da região”. O INDE (2003:1), (2003:1), por sua vez, define currícul currículoo loca locall como sendo: sendo: “Uma component componentee do currículo nacional correspondente a 20% do total do tempo previsto para a leccionação de cada disciplina. Esta componente é constituída por conteúdos definidos localmente como sendo relevantes, para a integração da criança na sua comunidade”. A intenção com o currículo local é, sem dúvidas, abrir mais espaço para os saberes locais entrar ent rarem em na escola escola.. Ne Nesta sta per perspe specti ctiva, va, CAS CASTIA TIANO NO (2005: (2005:192 192)) volta volta a referi referirr que “o Currículo local é um critério de ensino que facilita o aluno a viver os seus usos e costumes, aprender a fazer e conservar os ensinamentos que a sociedade oferece, sobretudo ajudar a obter prática e aplicação”. O currículo local tem como principal objectivo a formação de cidadãos capazes de contribuir   para a melhoria da sua vida, da vida da sua família, da sua comunidade e do seu pais, tendo em conta as necessidades e potencialidades locais. O currículo tem sido o meio pelo qual as sociedadess têm determinado ontologicamente sociedade ontologicamente o tipo de homem que pretendem. O local centraliza-se mais em actividades praticadas na comunidade, e estas actividades têm sempre uma ligação prática não meramente teórica mas prática. O que implica que cada comunidade determina o que deve e não deve ser ensinado, pois os conteúdos ensinados  permitirão à criança o enquadramento na comunidade. comunidade. “Mas o currículo local veicula consigo mesmo os saberes locais e desta forma a introdução do currículo local implica um desafio aos  paradigmas ocidentais de cientificidade. Pois os saberes locais são saberes aplicados na comunidade e é esta quem legitima a própria validade desse conhecimento, daí que o autor  volta a revelar que:

 

O currículo tem sido o meio pelo qual as sociedades têm determinado ontologicamente o tipo de homem que pretendem. A Intenção do currículo local é dar o espaço para os saberes locais de forma a transcende tr anscenderr a coexistência coexistência silenciosa entre o saber local e o científico, visto que ela não é uma discipl disciplina, ina, mas sim um conj conjunto unto de cont conteúdo eúdoss determina determinados. dos. A introduçã introduçãoo do currículo local nas escolas permite, por outro lado a compreensão identitária afim de não deixar que a produção do conhecimento careça apenas de uma validação ocidental, mas nas  próprias localidades localidades possa ser validado validado esse me mesmo smo conhecim conhecimento ento e se encontre uma uma utilidade  para todo o Moçambique. Moçambique. Contud Contudoo no plano de ensino espe espera-se ra-se que o professor professor use 20% para para ensinar o currículo local. 2. Saberes Locais no Processo de Ensino Aprendizagem de Geografia

O paradigma educacional educacional tende a adaptar-se às co condições ndições concreta concretass da vida das pessoas. Na actualidade, a escola interessa separa sustentar a sua prática educativa, pela inserção na comu comuni nida dade de e pelo pelo reco reconh nhec ecim imen ento to de sa sabe bere ress lo loca cali liza zado doss ne nela la..

No co cont ntex exto to do

desenvolvimento do presente capítulo, vários conceitos foram analisados, nomeadamente: “Saber Local, Processo de Ensino Aprendizagem, Aprendizagem Significativa, bem como alguma alg umass aborda abordagen genss de aut autore oress com comoo CA CASTI STIANO ANO “Curríc “Currículo ulo local local Vs Sa Saber ber Local” Local” e VYGOTSKY aprendizagem aprendizagem significativa a partir do local e ainda o enquadramento enquadramento teórico no contexto da Geografia Humanista com vista a confrontar as diversas opiniões em volta do saber local. A geografia física, tão valorizada na geografia tradicional, foi esquecida durante um bom tempo durante a renovação e o surgimento da Geografia Crítica. Hoje percebemos um retorno de seu seu ensi ensino no,, inic inicia ialm lmen ente te pe pela la ne nece cess ssid idad adee de se di disc scut utir ir a qu ques estã tãoo ambi ambien enta tal, l, e  posteriormente com uma perspectiva da integração e conhecimento real e profundo da realidade na qual os alunos estão inseridos (AFONSO, 2009). É preciso cada vez mais repensar os conteúdos na sala de aula, buscar essa visão integrada do espaço. O conhecimento adquirido na vida extra-escolar deve ser incorporado e organizado  pelo professor de forma coerente e relevante para que seja possível melhorar cada vez mais a relação professor-aluno e, logicamente, o processo de ensino-aprendizad ensino-aprendizado. o. Diante das diversas realidades presentes no quotidiano escolar percebemos a importância de analisarmos e reavaliarmos constantemente as práticas em sala de aula. A formação do  profissional ligado à educação tem de ser continuada, prolongada por toda a vida de trabalho,

 

se forma a se construir e internalizar saberes relacionados com a formação humana e ampliar  os processos de ensino/aprendizagem por meio da reflexão de suas práticas e conceitos aprendidos por meio de experiências. Torna-se cada vez mais importante que o professor seja capaz de transitar de forma crítica e criativa na sua área de conhecimento específico e seja capaz de dialogar com as demais áreas do conhecimento, isto é, respeitando as especificidades disciplinares, porém pensando de maneira conjunta numa totalidade dinâmica e respeitando o seu objecto de estudo: sociedade e natureza (AFONSO, 2009). 3. Categorias dos Saberes Locais

O enfoque dos saberes locais deve se as duas razões: a primeira, revitalizar o valor intrínseco dos saberes locais, e o segundo eles, favorecem a inserção do aluno na sua comunidade. comunidade. A par  da categorização, um autor contemporâneo escreve sobre a tipologia dos saberes locais, tratase de: DELORS (1996: 78), expôs quatro categorias: 

Aprender a conhecer;



Aprender a fazer;



Aprender a viver juntos ou aprender a viver com os outros;



Aprender a Saber.

A grande preocupação do autor ao referir estes tipos de saberes é desenvolver a educação educação para a vida e para o mundo de trabalho. Daí que refere que: (i) Aprender Aprender a conhecer conhecer

oferece ao aluno a estrutura lógica que lhe permite ler e interpretar 

o mundo. Com este saber o aluno lança se a descoberta, isto leva a compreender o ambiente que lhe rodeia. Sob ponto de vista local os mais velhos ensinam os mais novos a interpretar os fenómenos como a chuva, doenças, falta de chuva, origem dos lugares míticos e os rios mais importantes da comunidade. O aumento de saberes sob diversos aspectos leva a compreender  melhor o ambiente, favorece o despertar da curiosidade intelectual, estimula o sentido crítico e compreende o real mediante a aquisição de autonomia na capacidade de discernir. (ii) Aprender a fazer responde à questão como se faz algo, é um saber prático. Responde a questão de como se faz algo e está ligado ao profissionalismo. O saber fazer bem tem uma dimensão técnica: a do saber e do saber fazer, isto é do domínio dos conteúdos de que o

 

sujei sujeito to neces necessit sitaa para para desem desempe penha nharr o seu papel, papel, aquilo aquilo qu quee se quer quer deste deste socia socialme lmente nte articulado com o domínio com a técnica, das estratégias que permitem que ele ‘dê conta do seu recado em seu trabalho.  No contexto geográfico, este tipo de saber materializa-se na medida em que o aluno antes de aprender na escola, tem conhecimento de técnicas de combate à erosão na sua comunidade (usa sacos, planta relva abre canais de circulação de água entre outras), conhece e cuida das florestas e lugares sagrados da sua comunidade, pratica a agricultura, sabe quando e como colocar a semente na agricultura, todavia lhe falta saber o porquê de colocar a semente naquele lugar e não noutro; porque é que um solo produz e outro não; saber quando e quais os sinais da chuva, mas não sabe porque é que chove mais num momento e noutro não; enfim conhece os objectos e não os conceitos, desta forma o papel dos educadores deve ser de conciliar o objecto conhecido pelo aluno com o conceito contido nos programas de ensino, ou seja, no saber escolar criando, deste modo, um “espaço de coexistência. (iii)  Aprender a viver junto  para

levar o aluno a tomar consciência das semelhança semelhançass e da

interdependência entre os seres humanos e o meio onde vive, este saber do ponto de vista geográfico, leva ao reconhecimento do aluno como um ser social e que deve respeitar as dinâmicas populacionais com os recursos que o meio disponibiliza para a sobrevivência, sob  ponto de vista local, portanto, leva o aluno a aprender e ocupar de forma sadia o espaço geográfico e os outros elementos espaciais como partes integrantes do mesmo sistema e que  precisa-se respeitar e reconhece reconhecerr os seus atributos diante de todo um conjunto, vivendo em harmonia com a natureza e os outros seres. A educação tem por missão, por um lado, transmitir conhecimento sobre a diversidade da espécie humana e, por outro, levar as pessoas a tomarem consciência das semelhanças e da interdependência entre os seres humanos do  planeta. (iv) Aprender a ser para que o

aluno desenvolva os juízos de valor para agir com prudência

na sociedade. Trata-se do conhecimento ético comportamental do reconhecimento do valor  das pessoas e das coisas, por exemplo, dentro de uma comunidade que encontramos florestas tradicionais ou mesmo uma árvore sagrada é um mito indicativo que leva a conservação de uma determinada espécie. Dentro de uma comunidade encontramos um leque de saberes que tem como finalidade cultivar um comportamento socialmente aceitável. Aqui o aluno aprende a desenvolver juízo de valor para agir com prudência na sociedade. Estes saberes categorizados pelo autor levam-nos aferir que para a formação de um cidadão

 

íntegro e participativo de uma determinada socieda sociedade de é preciso explorar os saberes veiculados localmente em consonância com os escolares de forma a contribuir para a resolução dos  problemas e melhoria da vida das comunidade comunidades, s, visto que onde está o problema lá está a solução do mesmo, só basta explorar os respectivos mecanism mecanismos os de resolução. 4. Relação dos Saberes Locais com os Conteúdos Escolares

A relação entre os saberes escolares e locais é estabelecida na escola à medida que estes se cruzam. Esse cruzamento é necessário porque os saberes escolares são o eixo do sistema de educação universal formal e os saberes locais são a base da educação informal, estes últimos atravessam os primeiros e pela sua relevância são indispensáveis para a aprendizagem,  portanto esta é uma relação de complementa complementaridade. ridade. Para explicitar a relação entre os saberes locais e escolares apresenta-se um quadro baseado na tipologia de Delors (Tabela 1). Aprender a fazer

Localização geográfica da região, factores da  produção agrícola. Interpretação local sobre dos fenómenos de

Saber fazer

Saber ser

Reconhecimento Plantar mais árvores da importância do como forma de ambiente. mitigar a erosão, Responsabilidade conservar os ambiental; alimentos, conservar   preservar o ambiente ambiente as plantas em canteiros, adaptaçã adaptaçãoo aos adventos ambientais

Saber conviver

Relações sociais; Bons modos. Convivência saudável com ambiente (recursos faunísticos e florísticas da região)

fenómenos atmosféricos Fonte: autor & tipologia de DELORS (1996) Para posicionar os saberes locais no conhecimento escolar dado que a criança deve atender a cultura local e os grupos sociais eliminando a distância entre o local e o universal, é nessa senda que LYOTARD (1989:93), relaciona o saber local com o saber científico. Ele entende que “o saber científico não é só o conjunto de enunciados, mas também o saber voltado à vida quotidiana e a escola tem a obrigação de ensinar esse saber. O saber escolar é abrangente e  pratico e diz respeito respeito a vida da localidade”. localidade”. A relação que o autor acima referido faz entre o saber local e o saber científico é legítima  porque o saber se auto-afirma como saber científico recorrendo ao saber local, por isso ele advoga também que “o saber científico não pode saber e fazer saber que ele é verdadeiro

 

saber sem recorrer a outro saber, narrativo, que é para ele o não saber, cuja ausência ele é obrigado a pressupor-se a si mesmo, Caindo assim no que condena, a repetição do próprio, o  preconceito”..  preconceito”

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