Rorschach Clinico # Manual Basico

April 3, 2017 | Author: hmsmbc | Category: N/A
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Rorschach Clinico # Manual Basico...

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Lucia Maria Salvia Coelho RORSCHACH CLÍNICO – MANUAL BÁSICO EDITORA DIDÁTICA LTDA.

Copyright © Lúcia Maria Sálvia Coelho Nenhuma parte desta publicação pode ser gravada, armazenada em sistemas eletrônicos, fotocopiada, reproduzida por meios eletrônicos ou outros quaisquer sem a autorização prévia da editora, do autor e colaboradores. Direção editorial: Liana Maria Salvia Trindade Projeto gráfico, editora ção: Raimundo Lopes Pereira Desenho da Capa: Flávia Aparecida Chammas Campos de Araújo Tiragem: 1.000 exemplares

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Rorschach clínico : manual básico / Lúcia Maria Sálvia Coelho organização. São Paulo : Terceira Margem 2.002. Vários colaboradores. 1. Teste de Rorschach 2. Teste de Rorschach - Prática 3. Testes psicológicos 1. Título. 00-0796 CDD-I 55.2842 Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) 1. Método de Rorschach : Técnicas projetivas: Psicologia 155.2842 2. Rorschach : Método : Técnicas projetivas Psicologia 155.2842 A. Ira, 79 40 Arod. Conj. 43B CEP 04082-000 — Moema - SP Teefone/Fax (Cxxii) 5042-4594 E-mau: [email protected]

COLABORADORES • Cana Anauate- Psicóloga formada pela Universidade Paulista, Especialista em Rorschach e Monitora do 2’ ano na Sociedade Rorschach de São Paulo.

• Flávia Aparecida Chammas Campos de Araújo- Psicóloga, Artista Plástica, Especialista em Rorschach e Profa. da Sociedade Rorschach de São Paulo, Mestranda em Arte-Educação. • Giseile B. Petri M. Costa Psicóloga, Especialista em Rorschach e Coordenadora de Cursos da Sociedade Rorschach de São Paulo. • Lilian Pasqualini Casado Psicóloga, Especialista em Rorschach. Membro da InternationalAcadeniy ofLaw and Mental Health Brazilian Branch. • Lúcia Maria Sálvia Coelho Psicóloga, Profa. Universitária Especialista em Rorschach, Profa. da Sociedade Rorschach de São Paulo, Mestre em Filosofia das Ciências e Doutora em Ciências Médicas. • Manoel Carlos Pinheiro Sálvia Engenheiro, Diretor Técnico Internacional da Indústria da Borracha (Goodrich), Responsável pela Análise Estatística das Pesquisas da Sociedade Rorschach de São Paulo, autor do livro: Controle Estatístico de Qualidade (Publ. interna Filipinas e México). • Maria Cristina Barros Maciel Pellini Psicóloga, Mestre em Psicologia, Especialista em Rorschach, Presidente e Profa. da Sociedade Rorschach de São Paulo e Profa. da Universidade São Marcos e Faculdade Paulistana. • Maria Inês Falcão Psicóloga, formada pela UNISA- Universidade de Santo Amaro, Especialista em Rorschach, Profa. da Sociedade Rorschach de São Paulo e Psicóloga encarregada do Serviço de Psicologia do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. • Simone Brunhani Psicóloga, Especialista em Rorschach e em Psicoterapia Psicanalítica e Profa. da Sociedade Rorschach de São Paulo. • Vanda Cianga Ramiro Psicóloga, Especialista em Rorschach, Mestre em Psicologia, 1° Secretária, Tesoureira e Profa. da Sociedade Rorschach de São Paulo e Profa. da Universidade São Marcos. —

















INTRODUÇÃO PROCURAMOS aqui

expor de modo claro e sucinto os critérios adotados no Sistema de Silveira para a análise e codificação dos processos psicológicos mobilizados durante a prova de Rorschach. O propósito deste manual é o de estabelecer os critérios e procedimentos técnicos indispensáveis à aplicação da prova e à classificação das respostas, que deverão compor o psicograma. Iniciamos o leitor na utilização de procedimento coerente e sistemático desde a colheita dos dados, durante a prova, até a análise e exposição dos resultados. Todo relatório de um protocolo individual, assim como toda pesquisa no campo clínico, deverá basear-se em um referencial teórico sobre a dinâmica psíquica normal, o qual será utilizado como critério para a construção da população normal de confronto. As condições para a utilização da prova de Rorschach em outras áreas profissionais como a Antropologia, a Psicologia Genética, Orientação Pedagógica ou Seleção Profissional e que implicam em metodologia e pressupostos teóricos específicos, serão examinadas em outras publicações. Exporemos em outro volume as questões fundamentais de ordem teórica e experimental sobre as concepções decorrentes do modelo sistêmico evolutivo do psiquismo humano que norteiam a sistematização e interpretação dos dados fornecidos pela prova de Rorschach. Portanto, o presente volume contém apenas os critérios básicos adotados para a aplicação do Rorschach e a classificação das respostas, os valores estatísticos encontrados para os diferentes fatores e índices da prova e a sistematização dos resultados para a elaboração de relatórios clínicos tal como são feitos no Sistema de Silveira. O Manual de Rorschach Clínico foi organizado em três partes, precedidas por um capítulo sobre as condições de aplicação da prova. O capítulo inicial de Maria Cristina B. M. Pellini apresenta as condições técnicas de aplicação da prova de Rorschach e o material para o registro dos dados da prova (folhas de distribuição e súmula —



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do psicograma). Além dos esclarecimentos sobre o modo de transcrever as respostas fornecidas na fase associativa de realização do Rorschach, a autora informa sobre o modo de encaminhar o inquérito, procedimento fundamental para a classificação correta das respostas. A PRiMEIRA PARTE Símbolos e Critérios de Classificação é composta por cinco capítulos que abrangem os diferentes componentes a serem codificados nas respostas aos estímulos do Rorschach: as —

modalidades de organização do campo perceptual, as categorias de fatores determinantes das respostas, o conteúdo verbal correspondente à diferentes tipos de categorização semântica das imagens e, quando for o caso, o registro da freqüência da resposta (Vulgar ou Popular). O capítulo 1— Localização das Respostas: Modalidades de Observação refere-se ao modo —

com que os examinandos percorrem o olhar, distribuindo sua atenção nas diferentes áreas que compõem os estímulos nas diferentes pranchas do Rorschach, durante a organização do campo perceptual. A autora, Vanda Cianga Ramiro, após esclarecer a distinção entre as categorias principais e secundárias de localização, expõe em seu texto os critérios para a classificação das diferentes modalidades de respostas, apresentando exemplos que facilitam a compreensão do leitor. Os capítulos II, III e IV abrangem as diferentes categorias de fatores determinantes, cada uma delas representando os processos psíquicos subjacentes ao modo com que o examinando mobiliza seus recursos subjetivos para a construção de diferentes imagens. Cabe aqui uma breve referência às concepções de Silveira na identificação de categorias de

determinantes como expressões paradigmáticas do processamento psicológico de experiências individuais, pela ativação dinâmica de diferentes sistemas e funções definidos por um modelo teórico de personalidade. No modelo de Silveira, as funções psíquicas organizam-se em sistemas dinâmicos e evolutivos que permitem a distinção teórica de três setores da personalidade: afetividade, conação e inteligência. No RORSCI-IACH CLiNico — MANUAL BÁSICO 15

Rorschach, cada série de fatores determinantes irá traduzir a expressão predominante de sistemas de uma ou mais esferas da personalidade (sistemas intrínsecos ou extrínsecos). Os fatores de cada série de categorias determinantes referem-se aos diferentes níveis de amadurecimento das funções psíquicas mobilizadas durante a prova (critério diacrônico) enquanto que cada categoria representa um setor específico da personalidade, na expressão da dinâmica atual do psiquismo (critério sincrônico). Assim, a série de respostas de forma indica o modo e a extensão com que o examinando mobiliza os recursos conativos ao examinar as condições do ambiente externo e a ele subordinar as próprias condições subjetivas e necessidades afetivas. Pelo fato de refletir a aplicação da inteligência ao exame da realidade, as respostas de forma exprimem dinâmismos de ordem conativa e extrinsecamente intelectuais. As séries de respostas de movimento e de perspectiva traduzem processos cognitivos de diferentes ordens: aqueles que correspondem à elaboração de concepções autônomas e criativas do indivíduo, desenvolvidas nas diferentes fases de amadurecimento psicológico (RM) e aquelas que dependem da experiência concreta relacionada à concepção subjetiva da posição espacial, tendo o corpo como parâmetro referencial (RPs). Enquanto as RM correspondem à processos de ordem basicamente cognitivos, as RPs implicam necessariamente a integração das funções cognitivas e conativas. Os determinantes das séries cromática e de luminosidade representam experiências de ordem afetiva. Enquanto as RC traduzem a expressão de impulsos afetivos primários ligados à sobrevivência e de sentimentos complexos decorrentes das experiências interpessoais, as RL decorrem de imagens suscitadas pelo interesse afetivo, mas que resultam de noções ou de concepções cognitivas que provocam intensa repercussão emocional: processo de ordem afetivocognitivo. A distribuição dos diferentes fatores, em cada série de categorias de determinantes do Rorschach, acha-se sintetizada na figura do tetraedro desenhado por Silveira. m ?1

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O capítulo II Determinante Formal (RF) examina a atuação das funções conativas que —

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presidem a estabilização da atenção para o julgamento das condições do ambiente externo e o controle coordenado dos impulsos subjetivos mobilizados durante o trabalho mental. Neste capítulo as autoras Carla Anauate e Maria Inês Falcão expõem os critérios adotados para a classificação das respostas determinadas pela forma dos estímulos selecionados nas manchas de Rorschach. Estabelecem ainda a distinção necessária entre diferentes propriedades no processo de estruturação

formal das imagens: qualidade formal (F+,F-,F), nitidez e precisão da forma percebida (precisa, esquemática, vaga) e tipos de atuação dos processos cognitivos e emocionais na expressão dominante do processo conativo responsável pelo reconhecimento dos padrões formais da resposta (concreta, especial e dinâmica). Os exemplos de RF elucidam a distinção entre estes diferentes tipos de RF. O capítulo III Determinantes Cognitivos abrange duas categorias distintas de fatores que correspondem à expressões diversas do processamento cognitivo das experiências. Assim, o ilem III.] Determinantes da Série Movimento (RM) refere-se ao processo cognitivo em que são evocadas imagens em movimento e que resultam da elaboração intrínseca de experiências fundamentais ao examinando durante o processo de desenvolvimento da autoafirmação nas relações interpessoais. Esse tipo de trabalho mental implica em maior grau de abstração e raciocínio dedutivo intimamente associado à concepção temporal das experiências. Neste texto, Flavia Aparecida Chammas expõe os critérios utilizados para a classificação das diferentes categorias de RM (M, m, m’) propondo exemplos que elucidam a expressão do processo cognitivo representado em cada tipo de imagem. A autora indica ainda a distinção entre dois tipos principais de movimento (extensor e flexor) e assinala a exigência da avaliação da qualidade formal das RM, como informação valiosa para a análise do processo mental examinado. Na parte final deste texto acha-se reproduzida a “Escala de Graus de energia de movimento”, adaptada por Silveira à partir da concepção de Piotrowiski. A avaliação do grau de energia mobilizado para a realização do movimento correspondente à imagem mental evocada pelo examinando apenas deverá ser interpretada quando, em um protocolo, houver um número superior à três RM, abrangendo pelo menos duas categorias diferentes —

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O item III. 2 Determinante Perspectiva- examina uma outra ordem de processos cognitivos: —

aqueles que expressam a concepção espacial das construções elaboradas pelo examinando. Nesse caso a coordenação dos elementos, distribuídos segundo uma vertente espacial, depende da intervenção conjugada das funções conativas, ou motoras, diretamente associadas na noção subjetiva de orientação espacial, e a elaboração cognitiva da imagem correspondente. Trata- se portanto de um processo cognitivo-motor, abrangendo sistemas de diferentes setores da personalidade. Neste texto, Giseile B. Petri M. Costa examina os diferentes níveis de construção da noção espacial (Ps, ps, ps’) indicando o critério para a classificação das respostas correspondentes à cada nível. De modo a distinguir a importância do fator espacial na elaboração de diferentes tipos de RPs, a autora se detém na análise dos exemplos por ela mencionados. O capítulo IV Determinantes Afetivo-emocionais abrange as duas séries de fatores determinantes que correspondem à expressão da afetividade: RC e RL. O item IV] Determinantes Cromáticos expõe os critérios adotados para a classificação de uma resposta como determinada pela qualidade cromática da área examinada. O fato das RC corresponderem à reações afetivas imediatas, coordenadas em maior ou menor grau pelo controle motor (FC, CF, C) faz com que as associações verbais do examinando sejam freqüentemente acompanhadas por comentários ou qualificações de valor sobre aquilo que foi percebido, o que facilita a distinção entre as RF e RC. Além de orientar o leitor sobre o critério distintivo dessas respostas, Simone Brunhani elucida, e fornece exemplos, sobre a natureza da estruturação das imagens que deverão ser codificadas como FC, CF ou C. A autora assinala ainda a possível ocorrência de mecanismos de reação desencadeados pela presença dos estímulos coloridos mas que não constituem respostas classificáveis. Examina particularmente o fenômeno da cor forçada ou condensação de cor, onde há uma interferência no —



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processo de integração da qualidade cromática à forma percebida [(F(C) )]. A utilização do significado semântico das diferentes RC e não da qualidade formal desta categoria de determinantes é explicada no final de seu texto. Ainda no interior do item IV 1 mas em um texto à parte, Lilian Pasqualini Casado analisa o confronto entre as RC e as RM —

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para o exame do Equilíbrio das Forças Subjetivas, designado por Rorschach como Erlibnislypus. Neste texto a autora explica o modo com que Silveira concebe os índices EQ e EQ’, fornecendo indicações para o cálculo e interpretação dos resultados do confronto. Distingue assim os diferentes tipos de equilíbrio das forças subjetivas. Considerando o fato de não se tratar de tipos opostos, mas diferentes, a autora distingue como “tendências” os valores obtidos no cálculo desses índices. O índice EQ’ de Silveira constitui uma variante do índice original de Rorschach, em que o confronto se faz entre a somatória ponderal das RM (M, m e m’) e a somatória ponderal das RC (FC, CF e C). A avaliação dos dois índices permite a informação sobre o modo do examinando se comportar, em relação à disposição afetiva, quando se considera o plano mais amadurecido e autônomo dos processos cognitivos (EQ) e quando são examinadas concepções imaturas habitualmente não exteriorizadas no comportamento explícito (EQ’). O item IV 2 Determinante Luminosidade refere-se à vertente emotiva da personalidade, cujos processos envolvem a integração das noções e concepções cognitivas e a repercussão afetiva que produzem. Por se tratar de uma categoria de respostas que oferece maior divergência entre os diferentes Sistemas de Rorschach quanto à codificação e interpretação dos processos subjacentes à sua produção, a autora deste texto, Giselle B. Petri M. Costa, tece algumas considerações iniciais de ordem teórica. Em seguida passa a examinar os tipos de elaboração das imagens codificadas como L, C’, 1 e 1’, detendo-se na análise dos exemplos por ela fornecidos. —

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O capítulo V Categorização Semântica das Imagens: Conteúdos das Respostas redigido por Giselle B. Petri M.Costa, —

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encerra a primeira parte do manual. SEqUNdA PARTE Elaboração do Psicograma Apresentamos neste capítulo os índices, proporções e correlações dinâmicas que compõem a súmula dos resultados do protocolo total e de cada conjunto principal de estímulos: monocromático e colorido. Indicando a seqüência a ser seguida para a organização dos dados do psicograma, distinguimos —



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os itens que abrangem o exame do Trabalho Mental e aqueles relativos à análise do Feitio de Personalidade. No exame do Trabalho Mental distinguimos os três níveis dos processos cognitivos mobilizados durante a prova de Rorschach:

observação (distribuição da atenção na definição do campo perceptual), elaboração (construção das imagens à partir dos fatores determinantes) e comunicação (categorização verbal das imagens). Além disso, definimos os Mecanismos Inusuais de Reação em função do modo que intervêm no processamento da resposta. No Feitio de Personalidade, os processos afetivo-emocionais, as disposições conativas e a dinâmica psíquica atual são analisadas de modo mais detido. Na parte final destacamos os critérios para a atribuição dos choques psicológicos afetivo (ChC) e emocional (ChL) e aqueles —



utilizados na construção das escalas dos sinais psicodiagnósticos de distúrbios psicógenos (escala de

Molly Harrower) e de alterações psíquicas associadas à lesões cerebrais (escala de Piotrowiski). TERCEiRA PARTE

Análise Estatística e Dados Normativos Nesta terceira parte do livro encontram-se todos os —

dados referentes ao estudo estatístico dos fatores e índices dos protocolos que compõem o grupo de examinandos normais ,utilizado como população de referência. Este capítulo inicia-se com a exposição do critério de normalidade adotado para a seleção dos examinandos da população normal. Em seguida, Manuel Carlos Salvia comenta a questão da distribuição estatística das variáveis do Rorschach, referindo-se a estudos atuais e justificando a sua utilização de técnicas específicas de avaliação dos resultados. No final do capítulo, encontram-se as tabelas e gráficos dos fatores do Rorschach no grupo de examinandos normais. Os resultados do estudo estatístico de cada fator e índice da prova permitiram o estabelecimento dos intervalos de variação, utilizados na elaboração do psicograma, tal como exposto na segunda parte do livro.

Lúcia Coelho

PREFÁCIO A elaboração de novos modelos científicos do psiquismo humano, nos quais os processos psicológicos articulam-se com fenômenos relacionados à atividade cerebral e à determinantes de ordem sócio-cultural, vem estimulando o desenvolvimento de estudos e investigações sobre atenção, memória, pensamento, consciência e mais recentemente, emoção. A partir desses modelos teóricos, o aperfeiçoamento de procedimentos experimentais para o exame de processos psíquicos evidencia a exigência de maior rigor metodológico e conceptual no campo da psicologia. Paralelamente a esse movimento da psicologia teórica e experimental, observa-se a influência crescente do pragmatismo norte- americano na psiquiatria e na psicologia clínica. O procedimento empírico, de comparação indutiva de sintomas comportamentais, passa a ser adotado como norma dominante na categorização dos fenômenos psicopatológicos. Em decorrência, conceitos da psicologia tradicional caráter, temperamento, traços de personalidade são reformulados, de modo preciso, à partir de definições operacionais, passíveis de verificação empírica mas não integrados em modelos teóricos mais amplos. Multiplicam-se as escalas e questionários como instrumentos de avaliação de expressões sintomáticas comportamentais: a quantificação dos fenômenos tem primazia sobre o exame direto das condições mentais do paciente. Na área clínica apenas afastam-se desse procedimento os exames neuropsicológicos, nos quais são valorizadas as modalidades qualitativas do processamento das experiências, de acordo com modelos neurológicos da atividade cerebral. Levando em conta o fato da psicologia clínica focalizar sua atividade no estudo de caso, ou seja, no exame do modo com que um distúrbio psicopatológico ou um conflito emocional afeta a dinâmica de personalidade e interfere na modalidade particular de integração do paciente ao ambiente fisico e social, consideramos indispensável a sistematização crítica dos conhecimentos que deverão ser utilizados -

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pelos profissionais dessa área. O exame de um caso clínico não exclui a utilização do procedimento rigoroso, que segue as diretrizes fornecidas por conhecimentos baseados na atividade prática, com a proposição de quadros nosológicos, mas que necessariamente implica a utilização de um modelo científico do psiquismo humano. Ao mesmo tempo que a construção de um conhecimento clínico supõe a síngularidade da existência de um ser humano, ele também deve possibilitar a realização de pesquisas que forneçam informações sobre a natureza dos desvios psicopatológicos e dos diferentes modos de enfrentamento dos conflitos individuais. Se os resultados dessas pesquisas possuem um menor poder explicativo que o das pesquisas experimentais, nem por isso elas são menos úteis e indispensáveis para levantar questões e fornecer sugestões aos modelos científicos. O projeto em que se baseia o presente trabalho situa-se nesse contexto atual da atividade clínica. Procuramos iniciar os psicólogos na utilização coerente e racional de um instrumento de exame psicológico de ordem mais complexa e sensível que a maioria das avaliações comportamentais que vêm sendo adotadas. A prova de Rorschach exige ao mesmo tempo a utilização racional de conhecimentos teóricos sobre o psiquismo humano e o procedimento sistemático e objetivo de identificação e codificação das variáveis envolvidas durante a realização da prova. Os dados fornecidos pela prova de Rorschach fornecem informações válidas sobre a estrutura da personalidade e os processos psicológicos por ela mobilizados. O uso do Rorschach na clínica amplia o conhecimento sobre a personalidade e a natureza dos distúrbios mentais do paciente examinado, fornecendo indicações sobre a natureza e a gravidade dos sintomas que apresenta, assim como sobre os recursos psicológicos que ele dispõe e as modalidades de tratamento ao qual ele deve ser submetido. Entretanto, o uso desta prova psicológica oferece inúmeras dificuldades devido à complexidade dos processos nela envolvidos. Assim, já é problemática a distinção dos fatores da prova e a construção de índices, uma vez que esse procedimento exige o conhecimento dos

processos psíquicos por ela mobilizados, assim como o exame dos resultados, pois as variáveis estudadas nem sempre se distribuem segundo uma curva normal, o que dificulta a avaliação estatística e o próprio confronto com uma população normal de referência. Além disso, a utilização do Rorschach por um clínico supõe competência teórica e experiência profissional consistente para a análise e interpretação do psicograma. RORSCHACH CLINIc0 — MANUAL CLINIc0 11

Apesar dessas dificuldades, o estudo da prova de Rorschach pode ser uma descoberta fascinante para o psicólogo. Na medida em que ele for aprendendo a utilizar os recursos que ela oferece, mais profundo e sensível será seu conhecimento sobre o ser humano, e é com o intuito de iniciá-lo nessa aventura que escrevemos o Manual de Rorschach Clínico.

Lúcia Coelho

SUMÁRIO COLABORADORES . 8 PREFÁCIO

Lúcia Maria Só/via Coelho 9 INTRODUÇÃO 13

TÉCNICA DE APLICAÇÃO DA PROVA Maria Cristina Barros Maciel l’e/lini 21 PARTE 1- SIMBOLOS E CRITÉRIOS DE CLASIFICAÇÃO 1 — LOCALIZAÇÃO DAS RESPOSTAS: Modalidades de Observação Landa Cianga Ramiro 37 Critérios dc Classificação 37 Modalidades Principais: G, P, p 37 Modalidades Secundárias: GE, F 42 Modalidades Secundárias Menos Frequentes: p’, PG, GP 45

2 - FATORES DETERMINANTES: SISTEMA CONATIVO DETERMINANTE FORMAL (RF) Maria Inês Falcão e Carla Anauate 49 Critérios de Classificação 49 Freqüência e Qualidade Formal (F+, F-, F) 50 Precisão das Imagens 55 Tipos de RF quanto ao modo de processamento das imagens 57

SISTEMA COGNITIVO DETERMINANTE DE MOVIMENTO (RM) Flávia Aparecida Chamnias Campos de ArazUo 61 Critérios de Classificação 61 Movimento Humano (M) 62 Movimento Animal (m) 68 Movimento Inanimado (m’) 71 Graus de energia segundo Piotrowski 76 DETERMINANTE DE PERSPECTIVA (RPS) Giseile B. Petri AI. Cosia 79 Critérios de Classificação 79 Perspectiva Tridimensional (Ps) 80 Perspectiva à partir da noção espacial (ps) 86

SISTEMA AFETIVO-EMOCIONAL DETERMINANTE CROMÁTICO (RC) Simone Brunhani 93 Critérios de Classificação 93 Integração Formal: FC 95 Predomínio Cromático: CF 96 Reação Imediata: C 97

AVALIAÇÃO DO EQUILÍBRIO DAS FORÇAS SUBJETIVAS (EQ e EQ’) Lilian Pasqualini Casado 103 Erlibnistypus (EQ) 103 Variante de EQ:EQ’de Silveira 106

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DETERMINANTE LUMINOSIDADE (RL) Giselie B. Pelri M. Costa 111 Critérios de Classificação III Integração emocional (L e C’) 112 Expressão inter-sensorial: relevo e tacto: (1) 125 Sensação Subjetiva: (1’) 131

3. CATEGORIZAÇÃO DAS IMAGENS CONTEÚDO DAS RESPOSTAS Giselie B. Petri M. Costa 135 Critérios de Classificação 135 Categorias de Conteúdo 136 Figura animal (A) Humana (H) 139 Areas de interesses 153

PARTE II- ELABORAÇÃO DO PSICOGRAMA

Lúcia Maria Sálvia Coelho 159 Tipo de Trabalho Mental 159 1. Capacidade Associativa (R) e Tempo de Resposta (T) 159 2. Observação da Realidade 161 2.1. Tipo de Percepção — Indice Perc 161 MODALIDADES PRINCIPAIS 161 Tabela 1—Resposta Globais (G) 161 Tabela 2— Pormenor Primário (P) 162 Tabela 3 — Pormenor Secundário (p) 162 MODALIDADES SEC(JNDÁRIAS 163 Protocolo Total 163 1. Espaço Primário: E 163 2. Global com Espaço (GE) e Outras Modalidades (GP, PG, p’) 163 Conjunto Monocromático 164 1. Espaço Primário E 164 2. Global com Espaço (GE) e Outras Modalidades (GP, Pg, p) 165 Conjunto Cromático 165 1. Espaço Primário 165 2. Global com Espaço (GE) e Outras Modalidades (GP, Pg, p) 166 2.2. Qualidade Formal das Modalidades Principais 166 3. Qualidade de Elaboração das Experiências 167 3.1. Exame das Condições Externas (%F) 167 Mobilização dos Recursos Subjetivos (Lambda) 167 3.2. Flexiblidade do Pensamento 168 3.3. Elaboração Intelectual lntrínseca(Z) 169 4. Nível da Comunicação Verbal 170 Faixa de Interesses. Categorias de Conteúdo 170 5. Processo de Adaptação à Realidade (R.M.1.) 171 a) Esfera Conativa — Julgamento da Realidade (%F+) 172 b) Esfera Afetiva — Ligação Emocional ao ambiente (%A) 172 c) Esfera Cognitiva — Assimilação Lógica (%V) 172 Construção do Índice e Intervalos de Variação 172 a) Setor Conativo: Julgamento de Realidade 172 b) Setor Afetivo: Ligação Emocional 173 c) Setor Cognitivo: Padrões Culturais 173 6. Mecanismos Inusuais de Reação 173 RORSCHACH CLÍNICO — MANUAL CLÍNIco 7 1. Nível de Expressão dos Ivíecanismos 173 1. Nível de Observação 173 11. Nível de Elaboração 177 III. Nível de Comunicação 182 II. Feitio de Personalidade 184 1. Condições Afetivo-Emocionais: AF 184 Equilíbrio das Forças Subjetivas Eq e Eq’ 185 Nível de Adaptação Emocional (L+C’): (1+1’) 186 Níveis de Expressão dos Afetos FC:CF:C (Conteúdos e Mecanismos) 186 2. Estudo do Self 187 3. Dinâmica Psíquica Atual 187 3.1. Direção em que Aplica a Ativação Psiquica (ou Energia Mental) 187 3.2. Confronto entre os Processos Cognitivos e as Condições Afetivo-Emocionais 188 a) No Plano Manifesto 189 b) No Plano Latente 190 e) Tipos de Confrontos: Exame da Dinâmica da Personalidade 190 4. Disposições Conativas 191 III. Sinais Psicodiagnósticos 194 1. Choques Psicológicos: Expressões Diversas da Ansiedade 194 Choques Afetivos (chC) 194 Choque Emocional 197 2. Sinais Psicodiagnósticos 200 1. Série de Molly I-Iarrower 201 2. Série de Piotrowski 203

PARTE III - ANÁLISE ESTATÍSTICA E DADOS NORMATIVOS Manoel Carlos Pinheiro Sálvia e Lúcia Maria Sálvia Coelho 211 1. Conceitos Elementares 211 2. População Normal 213 3. Tabelas 219

Tabela Geral 221 Tabela 1 — Modalidades 225 Tabela II — Modalidades Mono 228 Tabela III — Modalidades Color 231 Tabela IV — Adaptação â Realidade 234 Tabela V — Feitio de Personalidade 237 Tabela VI — Condições Afetivo-Emocionais em Disposição Conativa 240 Tabela VIl—Elaboração 244 Frequência Acumulada 245 Curvas de Frequëncia Acumulada 245 Distribuição dos Resultados: Grupo de Examinandos Normais 251

ANEXOS Diagramas: Modalidades Secundários 253 Diagramas: Conjunto Monocromático 253 Diagramas: Conjunto Cromático 254

TÉCNICA DE APLICAÇÃO DA PROVA DE RORSCHACH MARiA CRiSTINA BARROS MAciEI PEI[ir.i APROVA de

Rorschach envolve um processo de construção! elaboração interna e não meramente de identificação de imagens. A principal virtude do método de Rorschach é geralmente seu poder de fornecer um padrão integrado de personalidade global e, em seguida, articular este padrão de maneira quantitativa específica, em numerosas dimensões da personalidade. Este efeito, ainda único entre os processos de avaliação, tornou-se possível, até certo ponto, pela maneira que Rorschach definiu sua tarefa a partir de um ponto de vista sistemático. Seu interesse inicial era chegar à natureza das modalidades básicas de funcionamento subjacentes a toda atividade psíquica de um indivíduo. Ele foi bastante explícito enfatizando que seu alvo era descobrir “como”, antes de “o que” a pessoa experimenta. Isso significa procurar não só pelos conteúdos específicos das preocupações, esperanças e temores mas pela maneira através da qual estes eventos psíquicos vêm à tona, se expandem, com ressonâncias vivas da atmosfera ao redor, ou como reações racionalmente controladas. A preocupação é mais com o formal ou funcional do que os aspectos do conteúdo, substantivos da personalidade. Segundo Coelho (1980) “A capacidade do indivíduo de reproduzit associar, modficar combinar e expressar as imagens obtidas a partir de dez cartões que constituem o psicodiagnóstico de Rorschach está diretamente relacionada à sua imaginação e ao seu comportamento criador. A imaginação não resulta de uma faculdade única, mas da ação conjunta das funções afetivas, conativas e intelectuais” (p. 111). Na sucessão da apresentação dos dez cartões, verifica-se que os borrões de tinta são bastante diferentes entre si quanto ao nível de 22 RORSCHACH CLINICO



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homogeneidade, presença do vermelho, presença de tons pastéis, equilíbrio na disposição espacial da mancha no cartão, simetria, dispersão, participando todas estas características de maneira mais ou menos expressiva na elaboração das respostas. A apresentação de uma prancha na Prova estimula diretamente a visão que integra as experiências através dos outros sentidos e que, conjuntamente com a audição, nos oferece uma noção de como percebemos a realidade. Tudo o que acontecer a partir deste momento terá que ver com as disposições próprias, internas e externas, do examinando: condições psicológicas, ambiente, interesse e motivação. Inicialmente, devemos observar que a aplicação do RORSCHACH deve respeitar as condições básicas para a aplicação de uma prova psicológica, quanto ao ambiente físico (sala com pouca estimulação, tranqüila e bem iluminada), estabelecimento de um bom “rapporC’, privacidade, etc. Recomenda-se que as aplicações sejam feitas durante o dia, sob luz natural, mas caso não seja possível, que se disponha de boa iluminação, que não cause sombras ou altere a percepção de cores das manchas. Quanto à posição do examinador-examinando, recomenda-se que seja adequada às condições do ambiente de aplicação, desde que possibilite ao examinador visão do examinando e de suas reações corporais, bem como visão das pranchas e ainda, que o aplicador evite uma posição que cause maior constrangimento ao do examinando. Segundo Coelho (1980) “A sucessão das respostas à série de pranchas constitui a fase de

associação espontônea. Durante esta fase o examinador deverá registrar exatamente as

expressões verbais e mímicas do probando, o tempo que ele levou para enunciar a primeira resposta de cada prancha (Tempo de reação inicial Tr i.) e o tempo total (T T) despendidoporprancha. Após afase associativa passamos para a fase de inquérito durante a qual devemos apurar os dinamismos determinantes do conteúdo verbal comunicado pelo examinando” (p. 111). -

MATERiAl NECESSÁRiO Além das pranchas de RORSCHACH (organizadas em ordem de 1 a X), viradas sobre a mesa: 1 cronômetro; 2 folhas de localização; 2 canetas de cores diferentes; várias folhas de resposta em branco RORSCHACH CLÍNIco — MANUAL BÁSICO

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(em média 10 folhas). Este material deve ser organizado previamente pelo examinador. PROCEdiMENTO RARA ApLicAçÃo 

1. Contato inicial “RAPPORT” -

Antes da aplicação propriamente dita, faz-se necessário o contato inicial, também denominado “rapport” entre o aplicador e o examinando. Do “bom rapport” depende o sucesso da aplicação. O aplicador deve propiciar um ambiente e contato acolhedor, com o objetivo de diminuir a tensão inevitável frente à situação de prova. Deve-se deixar claro para o examinando: a natureza da prova que trata-se de uma avaliação de traços de personalidade e não mede, exclusivamente, inteligência ou qualquer outra habilidade específica; que pode ser aplicado em qualquer pessoa, de qualquer idade, grau de escolaridade, nível cultural ou sócio-econômico; o caráter sigiloso da prova; a finalidade pela qual o examinando está se submetendo à prova: para aprendizado do aplicador, pesquisa, diagnóstico psicológico, seleção profissional, solicitação de outro profissional, etc. no caso de situação de aprendizagem, explicar a função do observador e a função do espelho. 1.1. Coleta de Dados: Deve-se ser feita de modo descontraído pelo aplicador, pois faz parte do “rapport”, que só termina quando encerramos a aplicação. E importante pesquisar: dados do examinando: idade, data de nascimento, naturalidade, grau de escolaridade, curso, profissão; saúde: se o examinando faz uso de algum medicamento e, em caso afirmativo, verificar se, dependendo do motivo da aplicação, é importante pesquisar se o examinando faz uso de substâncias químicas, a freqüência e efeitos deste uso; —





— —







24 RORSCHACH CLíNico



MANUAL BÁSICO

disposição do examinando: indagar se está disposto, tem bom hábito de sono, se está bem alimentado. Caso o examinando esteja com muito sono ou fome, ou ainda indisposto ou muito tenso, apesar do rapport, deve-se adiar a aplicação. —

ApLicAçÃo PROpRiAMENTE DiTA:

A aplicação do RORSCHACH divide-se em duas fases: ASSOCIAÇÃO e INQUERITO.

AssociAçÃo:

É

a fase de associação e construção livre do examinando, frente aos estímulos (pranchas) que lhe são apresentados. Quando estiver claro para o aplicador, que coletou e forneceu todas as informações necessárias, estabelecendo assim um “rapport” satisfatório, dará as seguintes INSTRUÇOES: “Vou lhe mostrar algumas manchas de tinta e gostaria que você me dissesse o que você vê nelas, o que essas manchas parecem para você. Não se preocupe em acertar ou errar, porque não existem respostas certas ou erradas, as pessoas vêem coisas completamente dferenies umas das outras e, portanto, não há certo nem errado; o importante é que você se sinta à vontade para falar tudo aquilo que você vê nas manchas que vou lhe mostrar As manchas podem ser vistas em qualquer posição e vou anotar tudo o que você disser Anotarei também o tempo, mas não se preocupe com o tempo pois é um controle meu, você tem o tempo que achar necessário. Quando você terminar de ver, você me devolve a prancha”.

É

importante discutir alguns pontos destas instruções: 1. Manchas —preferimos o termo “manchas” porjulgá-lo mais ambíguo e de fácil compreensão para qualquer pessoa. Alguns autores usam termos como “cartões”, “manchas de tinta”, “lâminas”, “pranchas”; 2. Não existem respostas certas ou erradas normalmente as pessoas associam a Prova de Rorschach a testes de inteligência, que apresentam respostas certas ou erradas, —

RORSCHACH CLINICO



MANUAL BÁSICO 25

por isso, é importante ressaltar que não existem estes tipos de respostas. Dadas essas instruções, entrega-se a Pr. 1 na mão do examinando ou na mesa (caso ele(a) não a pegue), acionando o cronômetro. O aplicador deverá então: anotar a movimentação da prancha que o examinando fizer, usando o seguinte código: A posição “normal”- em que se entrega a prancha. v posição “invertida”- virada de “cabeça para baixo” > virada para a direita do examinando < virada para a esquerda do examinando quando o examinando dá um giro total na figura,de forma rápida anotar expressões fisionômicas, expressão corporal, comentários; anotar o T.R.I. (tempo de reação inicial) quando for dada a primeira resposta da prancha (não parar o cronômetro, apenas anotar, deixando o cronômetro ligado); anotar a verbalização do examinando de forma literal, embora por vezes tal procedimento seja difícil, mas não há qualquer problema em pedir ao examinando para repetir; em hipótese alguma devemos usar gravador, pois este recurso não foi padronizado para aplicação desta prova. caso após a primeira resposta para a Pr. 1 o examinando a devolva, o aplicador deve estimular mais respostas: —

— —







“Você gostaria de tentar ver mais alguma coisa nessa mancha”? Tal procedimento pode ser repetido até a Pr. III, denominado Estimulação, tem o objetivo de descartar a hipótese de que o examinando “imagine” que era para “achar” um único significado em cada mancha.

anotar o T.T. (tempo total da prancha) quando o examinando devolve a prancha após as associações feitas (espontaneamente ou após a estimulação Pr. 1, II e III), mesmo que não acrescentando nenhuma outra resposta; —

-

26 RORSCHACH CLÍNICO



MANUAL BÁSICO

colocar a prancha devolvida pelo examinando sobre a mesa, com a figura virada para baixo ou ainda sob a mesa se desejar (o examinando deve ficar com apenas um estímulo de cada vez) e entregar a Pr. II, do mesmo modo. O procedimento será o mesmo da Pr. 1 à Pr. X. —

ObsERvAção: Caso o examinando dê muitas respostas por prancha, ou fique um tempo demasiadamente longo de posse da mesma, podemos interrompê-lo, gentilmente, solicitando que passe para a prancha seguinte. Isso pode ser feito quando o sujeito der pelo menos dez respostas na prancha ou fique de posse dela por volta de dez minutos. Caso o examinando não consiga “ver nada”em qualquer uma das pranchas ou em mais de uma delas, passa-se para a prancha seguinte, sem insistir, pois houve uma INIBIÇAO frente ao estímulo (anotar na folha de respostas). Nestes casos, após a apresentação da Pr. X., será feita a REPASSAGEM, parcial ou total do teste, antes de iniciar a Segunda fase. Quando será feita a REPASSAGEM: l’ quando ocorreu Inibição em 1 ou até 3 pranchas: caso a Inibição tenha ocorrido frente às Prs. 1 a VII reapresentar apenas a(s) prancha(s) inibida(s), dando a seguinte instrução: —





-

“Vou lhe mostrar novamente essa(s) mancha(s) em que você não viu nada, quem sabe agora você vê algo nela(s) “.

caso a Inibição tenha ocorrido frente as Prs. VIII, IX ou X, repassar o teste todo, conforme justifica Coelho (1990): —

com o propósito de se restabelecer o ritmo associativo da série, o que irá facilitar a atenuação do bloqueio e a elaboração de respostas nos estímulos às pranchas finais” (p. 22). 2° quando ocorreu a Inibição em mais de três pranchas, independente de quais sejam elas, devemos repassar o teste todo: PORSCHACH CLÍNICO — MANUAL BÁSICO 27

“Vou lhe mostrar novamente as manchas para que você as observe outra vez, e quem sabe agora veja algo naquelas que você não viu nada anteriormente, e outras coisas naquelas que já viu antes, caso queira”. 3° quando o número total de respostas (nas 10 pranchas) for inferior a 15, também devemos repassar o teste todo:

“Vou lhe mostrar novamente as manchas para que você as observe outra vez e agora veja outras coisas além daquelas que já viu antes “.

(caso não aumente a produção, iremos trabalhar apenas com as respostas obtidas); 4° quando ocorreu perseveração acentuada de determinado conteúdo ou resposta (ex.: mais da metade das respostas dadas forem de anatomia, ou consistirem em um mesmo conceito, por exemplo “Borboleta”), devemos repassar todas as pranchas.

“Vou lhe mostrar novamente as manchas para que você as observe outra vez, e veja outras coisas além de...

Em todos os casos, as instruções da REPASSAGEM, quando necessária, devem ser dadas com tranqüilidade pelo aplicador, como se tratasse de um procedimento de rotina da prova; será anotado o T.R.I. e o T.T. da mesma maneira que na primeira associação (posteriormente, na avaliação quantitativa, serão somados apenas os tempos totais de cada pr. e será considerado como T.R.I. o tempo da la. associação). Quando apesar da REPASSAGEM, o examinando continuar não fazendo nenhuma associação à prancha(s) inibida(s), anotar na folha de respostas que houve REJEIÇÃO nas referidas pranchas, para posterior avaliação. INQUERiTO

Terminada a fase de associação (com a repassagem, caso necessário, ou não), inicia-se a fase denominada INQUERITO, quando serão reapresentadas todas as pranchas ao examinando (exceto 28 RORSCHACH CLÍNICO



MANUAL BÁSICO

alguma rejeitada) e lhe serão feitas algumas perguntas, sobre as associações feitas, com o objetivo de compreender o processo de percepção desenvolvido e a elaboração de cada resposta. Assim, após reorganizar as pranchas em ordem (de 1 a X), mudar a cor de caneta, para discriminar melhor esses dois momentos da prova, dar as seguintes instruções:

Vamos passar para uma nova etapa da prova. Agora eu vou mostrar-lhe novamente as manchas e vou pedir que você me explique cada uma das imagens que você viu. Vou fazer algumas perguntas para que eu possa entender como você foi construindo essas imagens em sua mente. Como que, através das manchas, você foi tendo essas idéias que você disse “

Mostrar para o examinando a folha de localização, dizendo que irá utilizá-la, mas deixá-la sob a mesa (ou no colo). Mostrar então para o examinando a Pr. 1: ‘Aqui você disse que viu um.. .mostre-me, contornando com o dedo em volta da mancha onde você viu um... Anotar no mapa de localização o contorno feito pelo examinando, obtendo-se assim a localização da resposta, ONDE o examinando concentrou a sua percepção (MODALIDADE DA RESPOSTA), que poderá ser na figura toda, ou em apenas parte dela. Passar então à pesquisa de “QUAIS” características da mancha determinaram a construção da imagem para o examinando

(DETERMINANTE DA RESPOSTA). E a parte mais delicada e dificil, principalmente para o iniciante em RORSCHACH e é preciso muito cuidado ao fazer as perguntas para não induzir o examinando tendo como exemplo de resposta: “uma borboleta”, na Pr. 1, perguntar: “O que na mancha te fez pensar em uma borboleta? “; ou “O que te fez lembrar uma borboleta nessa mancha? “; ou

“Quais características da mancha que te ajudaram a pensar nela como sendo uma borboleta? “; ou “Como você construiu, na sua cabeça, essa imagem de uma borboleta à partir dessa mancha? “.

Podem ainda persistirem dúvidas quanto à construção da imagem por parte do examinando ou ter-se ainda a hipótese de que RORSCHACH CLíNICO — MANUAL BÁSICO 29

outras características da mancha também ajudaram na percepção da

“.

imagem citada. Nesse caso, pode-se inquerir: “Descreva-me melhor essa borboleta”. “Além do(a) .o que mais te fez pensar em borboleta nessa mancha?” “Há alguma característica da mancha que te ajudou a pensar como sendo uma borboleta?” ..

ObsEnvAço todos os adjetivos utilizados pelo examinando, devem ser inquiridos: Como por exemplo: “uma borboleta muito bonita”. “O que, na mancha, te deu a idéia de ser uma borboleta muito bonita?” para “nortear” o INQUÉRITO, é necessário que o aplicador construa hipóteses sobre os determinantes utilizados pelo examinando, considerando: FORMA: quando ele utiliza o contorno das manchas; COR: quando considera as cores na construção de suas respostas; LUMINOSIDADE: as diferenças de tons no interior das manchas; MOVIMENTO: quando o examinando projeta cinestesia na mancha, ele “sente” movimento da mancha; PERSPECTIVA: quando há a sensação de profundidade, planos diferentes de construção da resposta. Evidentemente nenhuma pergunta deve ser feita de modo a induzir o examinando, por exemplo: ‘A cor da mancha também te ajudou a ver...?” Tais perguntas não devem ser feitas, pois elas irão intervir no modo pelo qual o examinando constrói a imagem. quando acontecer urna resposta vaga, ambígua ou não definida, como por exemplo: “monstro”, é preciso saber se é —





30 RORSCHACH CLiNICO



MANUAL BÁSICO

um monstro com características humanas ou de animal, pedindo-se para o examinando “explicar melhor”; o mesmo procedimento será feito quando na associação o examinando fala “uma pessoa” e no inquérito, faz referência apenas ao rosto, é preciso pedir-lhe que “explique melhor”; quando no inquérito o examinando acrescenta outras características que não havia dito na associação, exemplo: “uma borboleta” (na associação).. .está voando (no inquérito); perguntar se elejá havia percebido que estava “voando” antes, ou só no segundo momento (inquérito); caso o examinando veja outras coisas no Inquérito, anota-se da mesma forma e procede-se o inquérito na sequência; se, ao final do inquérito, o examinando não tiver dado nenhuma resposta de cor, ou seja, não tenha levado em conta nenhuma das cores (azul, verde, vermelho, amarelo, laranja, rosa e marrom) em nenhum momento, podemos ter uma hipótese de daltonismo ou cegueira às cores; nesse caso, ao final da aplicação, apresentamos a prancha X e solicitamos que ele nomeie as cores; o ideal é que a aplicação do RORSCHACH seja feita em uma única sessão, mas caso o tempo se prolongue demasiadamente, podemos interromper, após finda a associação e dar início ao inquérito pelo menos na prancha 1, e continuar em um outro dia (preferencialmente no dia seguinte). 1.2. Encerramento: Ao final do inquérito da Pr. X, proceder o encerramento com o examinando, de modo tranquilo, dando espaço para que o mesmo coloque suas impressões sobre a experiência vivida. Agradecer sua participação e acompanhar o examinando ao sair —







da sala. RORSCHACH CUNIc0 — MANUAL BÁSICO

REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS COELHO, L.M.S. Epilepsia e Personalidade: Psicodiagnóstico de Rorschach, entrevistas e anamnese heredológica em 102 examinandos. São Paulo, Atica, 1980. Questões e procedimentos na construção do Psico grama de Rorschach. In: Boletim da Sociedade Rorschach _______________

de S. Paulo. Edição Especial, São Paulo, 1990.

LocALizAçÃo DAS RESPOSTAS: MODALIDADES DE OBSERVAÇÃO VANdA CiANqA RAMiRO

MODALIDADE, a área da mancha onde o examinando percebeu um significado específico, a partir da observação intelectual, que lhe permitiu focalizar a atenção, influenciada pelas reações emocionais e pela capacidade de ação. Portanto, é “onde o examinando viu” a resposta, ou seja, o “campo perceptual”. No sistema de notações por nós utilizado, encontramos oito diferentes tipos de MODALIDADES, divididas em duas categorias: MODALIDADES PRINCIPAIS e MODALIDADES SECUNDÁRIAS, sendo que as principais caracterizam-se como as mais freqüentemente encontradas na população média, enquanto as secundárias apresentam freqüência menor ou até rara, pois segundo Silveira, 1985: “...as COMPREENDE-SE por

categorias de modalidades compõem dois grupos: umas, a que denominamos principais, porque na concepção de todos os autores, desde Rorschach, definem o modo de atender à realidade exterior, e outras menos encontradiças, cuja presença revela dinamismos peculiares do trabalho mental “(p. 35). 1. Modalidades Principais G P p -

São as mais freqüentes na população média, que correspondem a um dinamismo normal de percepção, demonstrando que o examinando é capaz de perceber a mancha de modo amplo (Resposta Global G), os aspectos mais evidentes (Respostas de partes pormenores primários P) e os detalhes (Respostas de partes pormenores secundários p). -

-

-

-

-

38 RORSCHACH CLíNico



MANUAL BÁSICO

1.1. Resposta Global G Serão classificadas como G, as respostas que compreenderem a -

mancha toda ou que exclui apenas porções (decorrente de “crítica à mancha”), mas sempre respeitando a Gestalt global da mancha.

Exemplos: Portanto, a associação do examinando deve abranger a figura toda, porém, há dois casos que consideramos como exceções a essa regra: na prancha II menos a parte inferior em vermelho, denominada P3 na prancha IV menos a parte denominada P1 continuará sendo G (global), desde que o examinado reconheça que as partes citadas fazem parte de sua resposta, ainda que não saiba o que é: — —





Exemplos: Deixará de ser G (Global), quando o examinando as excluir de sua resposta, quando então será classificada como um Pormenor Atípico (P atípico). Distinguimos dois tipos de Resposta Global, considerando-se o tempo que o examinando observa a figura e verbaliza sua resposta:

Prancha s 1

Borboleta, no desenho inteiro.

IV

Um gorila.

V

Um morcego, na figura toda.

VII

Nuvens.

X

O desenho todo me parece um jardim.

Prancha s Borboleta, na figura int parte da borboleta seria.

eira, emb

ora aqui

(P3) nã

Homem das neves, no seria isso (P1).

desenho

todo, mas não

o sei qual sei o que

ROSCHACH ClíNico — MANUAL BÁSICO 39

GLOBAL SIMPLES E GLOBAL COMBINADA. Neste último tipo distinguimos dois modos diversos de estruturação de imagem: imediata e sucessiva. a) Global Simples. reconhecimento imediato de uma única gestalt familiar, a partir da: observação concreta (processo indutivo do pensamento), produzindo respostas bem delineares, objetivas; -

Exemplos: —

da observação subjetiva, produzindo respostas vagas, pouco delimitadas.

b) Global Combinada: reconhecimento imediato de duas ou mais gestalts familiares, compondo o global. 1) GLOBAL COMBINADA IMEDIATA o examinando constrói sua resposta a partir da observação imediata da mancha, “olha e constrói”, uma resposta. -

Exemplos: Prancha s

1

Borboleta

IV

Um gigante

VI

Uma flor

Prancha s IV

O desenho todo parece algo macio.

VI

Essa figura lembra tristeza.

X

Uma festa, muito alegre e colorida.

Prancha s IV

Um gigante sentado em um tronco de árvore.

X

O findo do mar com seus vários elementos.

III

Ritual indígena, com as índias cozinhando e os enfeites da festa.

40 RORSCHACH CLJNIc0



MANUAL BÁSICO

2) GLOBAL SUCESSIVA construída de modo dedutivo pelo reconhecimento sucessivo de -

vários elementos que compõem uma cena percebida inicialmente, ou sei a, o examinando constrói sua resposta sucessivamente até compor o global.

Exemplos Não incluímos na modalidade G: 1. A resposta que incluía os espaços em branco (GE); 2. Quando apenas por coincidência, todas as áreas por serem interpretadas, mas sem que o examinando atribuía um conceito geral para o conjunto das interpretações.

Exemplos: Prancha VIII Dois felinos (P1), uma árvore (P8), uma flor colorida (P2)

Prancha s III

Um ritual indígena onde duas africanas estão batendo em um tambor (P1), aqui tem dois animaizinhos pendurados para o sacrificio (P2), e aqui um símbolo da tribo (P3),

VIII

São dois felinos (P1), estão atravessando de um penhasco para o outro (P2 e P8) para chegarem até o cume da montanha (P4).

Prancha s VIII

Dois ursos (P1), uma montanha em uma floresta (P4+P5), aqui (P2) um campo florido. Os ursos saem do campo para subirem a montanha.

X

Vejo siri (P1), caranguejos (P7), coral (P9), cavalos marinhos (P4), algas (P15), um casco de navio (P1 1), peixinhos (P12), plânctons, plantas marinhas, formando o fundo do mar.

RORSCHACH CLÍNIco — MANUAL BÁSICO 41

1.2. Resposta de Pormenor Primário P -

Serão classificadas como P (letra “P” maiúsculo), todas as respostas localizadas em partes da mancha, freqüentemente selecionadas pela população média, independente do tamanho da área selecionada. Para sabermos se a região selecionada pelo examinando tratase de uma região freqüente ou não, consultamos os Mapas de Localização, de cada prancha (ver tabela de Qualidade Formal). Observa-se que nos Mapas de Localização (Beck) os pormenores Primários (P), estão numerados de 1 a 15 (inclusive), o que significa que aparecem com freqüência de pelo menos 1:22(4,5%) na população estudada para a padronização. Convém ressaltar que o tamanho da parte selecionada ou sua posição na prancha, não são levados em consideração na avaliação dele como um Pormenor Primário (P). O critério é unicamente a freqüência. Portanto, todas as respostas, que não abrangem a mancha toda, e localizam-se nas áreas mais freqüentemente escolhidas e mapeadas, terão como Modalidade P (Pormenor Primário). Exemplos: -

Nota: teremos ainda, algumas respostas, localizadas em áreas menos freqüentes, não localizadas nos Mapas, que no entanto, ainda serão classificadas como Pormenor Primário Atípico. Estas serão encontradas na Tabela de Qualidade Formal de cada uma das pranchas. 1.3. Resposta de Pormenor Secundário p Serão classificados como Pormenor Secundário (letra “p” em minúsculo), as respostas localizadas em partes cuja freqüência de -

Prancha s 1

Mulher (parte central da mancha) P1

II

Rosto (parte vermelha superior)

VIII

Felino (parte lateral em rosa)

IX

Magos (parte superior em laranja)

X

Torre (parte superior em cinza)

42 ROPSCHACH CLíNico



MANUAL BÃsIco

escolha pela população média foi inferior que 1:22. Consultando os Mapas de Localização de Beck, observamos que são consideradas as áreas numeradas apartir do número 16. As respostas obtidas, localizadas em região que não constar no Mapa de Localização da prancha correspondente, também serão classificadas como Pormenor Secundário, considerando-se a reduzida frequencia dessa área selecionada. Observamos ainda, que o tamanho da área selecionada (reduzido), não determina que a resposta seja classificada como Pormenor Secundário, o critério adotado continua sendo o de frequencia.

Exemplos: -

Pranchas

2. Modalidades Secundárias São denominadas “secundárias”, as áreas selecionadas para construção das respostas, que apresentarem dois sentidos: raridade de ocorrência e por revelarem variações subjetivas menos acessíveis ao total estatístico. Atendendo este critério, encontramos: Resposta Global com Espaço, Resposta de Espaço, Resposta de Pormenor Inibitório, Resposta Global a partir de um Pormenor e Resposta Global com valor de Pormenor. 2.1. Modalidades Secundárias mais Freqüentes GE E -

2.1.1. Resposta Global com Espaço GE -

Serão classificadas como GE, as respostas que o examinando abranger toda a mancha e ainda incluir alguma região de espaço em branco (independente do tamanho ou da quantidade de espaços incluídos).

1

Cabeça de cachorro (parte inferior da região central da mancha) - p31.

1

Avião (considerando a parte central vertical Mancha e a metade superior horizontal conjunto

)

-

p sem

da

em

localização.

RORSCHACH CLINICO — MANUAL BÁSICO

Exemplos. 2.1.2. Resposta de Espaço E Classifica-se como Resposta de Espaço, quanto a modalidade, as respostas localizadas apenas nas partes em branco, não considerando-se as manchas de tinta, das pranchas, denominadas espaço ou fundo das figuras, resultado da inversão da “gestalt”perceptiva do examinando. -

Exemplos: Observamos que em nossa acepção teórica, não há divisão de respostas de Espaço primário e secundário, como é feito em relação às respostas de partes das manchas (pormenor primário e secundário). Nos mapas de localização de Beck, encontramos as regiões das pranchas classificadas como Espaço, mais frequentes, numeradas, no entanto, caso obtenhamos uma resposta de área em branco que não 43

Prancha s 1

‘‘Cabeça de raposa (em G), sendo que (E30) são os olhos e (E29) é a boca.

II

A4a.i

espacial subindo (E5) com fumaça em volta

(P6) e fogo (P2 e P3).

V

‘‘Borboleta (em G) voando no céu (toda porção em branco, constitui o fundo da mancha)

VII

v Abajur (sendo G a cúpula e (E7) a lâmpada)

VIII

t’Mapa (sendo G, a terra e vegetação e no fundo em branco, a água).

Prancha s 1

ANoivinhas (espaços em forma de ‘triâgulos no centro da mancha

-

E30)

II

ANave espacial (espaço central da mancha - E5)

VII

AUm vaso (espaço central da mancha - E7)

VIII

‘‘Asa deita (espaço entre parte inferior laranja e parte central verde - E32)

IX

ACálice (região central da mancha - E8)

44 RORSCHACH CLÍNIco MANUAL BÁSICO —

seja mapeada, esta continuará sendo classificada como Resposta de espaço. Nota: Encontramos respostas, onde o examinando combina espaço em branco com partes da mancha (pormenor primário ou secundário), não constituindo uma GE. Nestes casos, não temos uma notação de modalidade específica, mas consideramos, na classificação, a “combinação”feita.

Exemplo: Prancha II AJj caverna (onde P6 é a parede da caverna e E5 é a entrada) Neste exemplo, o examinando combinou um pormenor primário (P6) com um espaço em branco (E5); como neste caso a caverna é o elemento mais importante na construção da imagem, consideramos como modalidade principal o P e a modalidade E, será secundária, registrando-se: P(E). De forma inversa, poderíamos ter o espaço como elemento principal da resposta e um pormenor como secundário:

Exemplo: Neste caso, o espaço foi o elemento do percepto, enquanto o pormenor foi o elemento secundário, logo, será classificado: E(P). Podemos ainda, ter respostas combinando espaço com pormenor secundário, onde o procedimento é o mesmo: E(p) ou p(E). Exemplo: Pranch a

IX

‘‘Um violino (onde braço, enquanto P5 cordas).

E8 é o corpo

do vi

é denominado

como

olmo e sendo

o as

Prancha s 11

AFansma (onde o corpo é p27) - Classificação: E(p)

no ES e os olhos

1

“Tartaruga (onde o corpo e pés em E26) Classificação:

cabeça é no p24 e os p(E)

em

RORSCHACH CIJNIc0 — MANUAL BÁSICO 45

2.2. Modalidades Secundárias menos Freqüentes p’ PG GP 2.2.1. Resposta de Pormenor Inibitório p’ -

-

Serão consideradas p’- Pormenor Inibitório as respostas decorrentes de certa inibição do trabalho mental, levando o examinando a destacar apenas uma parte de uma resposta considerada como frequente como figura humana ou animal porém, não conseguindo perceber toda a imagem correspondente. Embora estas partes sejam pormenores primários ou secundários, devido a peculiariedade do dinamismo psicológico ocorrido, são classificados como p’: Esta modalidade reflete um modo não habitual de trabalho mental, portanto, ocorre com pouca frequencia na população média. Segundo Silveira, são exemplos de p’: -

-

-

Exemplos. Pranchas P2 ou P5 vistos como asa ou então só a metade superior do P4 atípico, como seios. p31 como pés, sem ver o corpo II p22 como pata de animal III P5, como pr. na posição normal, como perna humana, pontinhos claros em P6, vistos com olhos ou nariz (sem integrar a cabeça). IV P4 como braços, isoladamente. V P2 e P3 como antenas. VI Não há nenhum exemplo de p VII Pequenos pormenores em P1, percebidos como partes da face sem integrar o rosto. VIII Parte de P1 relativa à cabeça do animal IX Ápice P3 (parte superior) visto como cabeça do animal. p26 visto como nariz. X Não há nenhum exemplo de p’ -

46 RORSCHACH CLINIc0



MANUAL BÁSICO

Há algumas exceções na classificação de partes não integradas ao todo, que não serão considerados p’, devido a freqüência, relativamente alta encontrada:

Exemplos. 2.2.2. Resposta Global, a partir de um pormenor PG Serão classificadas como PG, as respostas resultantes de uma “generalização apressada” feita pelo examinando, levando-o a deduzir urna associação para a figura corno um todo, a partir da observação de uma parte da mesma, um pormenor. Neste caso, quando inquerido, o examinando mostra a figura toda como sendo sua resposta, mas -

justifica apenas a parte que reconheceu e desencadeou a “supergeneralização”, não conseguindo ver todo.

Exemplo: Pranchas Prancha s II

P4 como mãos.

III

P4 e P6 como cabeça humana

IV

P1 como cabeça humana ou animal

V

P1 como perna

VIII

P1 como corno cabeça humana

IX

P4 como cabeça humana

X

P5 como cabeça de coelho

1

Caranguejo. lnq. No todo (G); (o que te fez ver o caranguejo?) As garras, só isso; (o que mais você vê do caranguejo?)Não vejo mais nada, só as garras, como eu vi as garras, só podia ser um caranguejo.

IV

Gigante. Inq. É inteiro (G); (o que te fez ver um gigante?). Os pés, enormes, igual pé de gigante, então o resto só pode ser um gigante, senão não teria sentido: (descreva as partes do gigante que você vê) só os pés, o resto não vejo, mas só pode ser por causa dos pés.

RORSCHACH CLíNICO

(Continuação)



MANUAL BÁSICO

Este tipo de modalidade foi denominada por Hermann Rorschach e outros autores como “Global Confabulatória”, dado a frequência de ocorrência em examinandos com tendência a “fabulações” (delirantes ou não).

2.2.3. Respostas Global com Valor de Pormenor GP -

São respostas, resultantes da seleção de toda mancha(G), justificada como sendo uma parte de figura humana ou animal, desde que tal associação não seja frequente na população média. Para sabermos se a associação é frequente ou não na população média, é necessário consultar a tabela de Qualidade Formal. Caso a resposta não seja encontrada entre as respostas alistadas (em G), mesmo quanto uma gestalt semelhante, será classificada como GP. Segundo Silveira, 1985... “Este tipo de resposta aponta seguramente para dinamismo anormal epor isso raramente aparecerá em protocolos normais”(p. 139). Exemplos: Prancha ‘‘Uma pata de elefante. lnq. No todo (G), parece a pata de um elefante, o formato é igual da pata de um elefante. se procurarmos na Tabela de Qualidade Formal, não encontraremos “pata de elefante”em G, ou outra associação próxima, mesmo pela gestalt sugerida, então, a modalidade desta resposta será, GP. —

47

Prancha s VII

Índios, dois. lnq. (G) Tem pena de índio, então é índio. (descreva-me os índios?) Não sei, só estou vendo as penas uma de cada lado (mostraP5), então só podem ser índios.

VI

Vejo bigodes de gato aqui do lado, é um gato com certeza. Inq. (mostra bigodes em p26) é idêntico os bigodinhos do gato; (além dos bigodes o que te fez ver um gato nesta figura?) nada, só os bigodes, não poderia ser outra coisa com esses bigodes, é gato mesmo.

48 RORSCHACH CLÍNIco



MANUAL BÁSICO

BIBLIOGRAFIA COELHO, L.M.S. Epilepsia e Personalidade: Psicodiagnóstico de Rorschach, entrevistas e anamnese heredológica em 102 examinandos. São Paulo, Atica, 1975. SILVEIRA, A. Prova de Rorschach: Elaboração do Psico grama. São

Paulo, EdBras, 1985. Pranchas

III

IV

AJ sorriso.

Inq. É tudo (G), aqui é a boca sorrindo (P1), com o enrrugado que fica em cima do lábio (P3) e dos lados da boca (p2). ‘‘Tórax de um orangotango,. Inq. (mostra em G)

Só vejo o tórax e tem a textura do peito do macaco.

V

‘‘Um bigode. Inq. No geral parece um bigode, bem imponente.

VII

Chifre de touro. lnq. Parece inteiro com um chifre, igual das touradas, tem esse modelo.

DETERMINANTE FORMAL CíilA AN/\UATE E MARIA INS FALCÃO INTROdUÇÃO

TOMANDO-SE a própria publicação de Hermann Rorschach podemos observar que, no Psicodiagnóstico, o autor denominava a prova de “Interpretação de Formas Fortuitas” Nesse sentido, sua preocupação consistia em pesquisar os aspectos formais das respostas a fim de obter um “apanhado geral das funções de percepção e de concepção” (grifo do autor) (1)• Dito de outra forma, buscava-se (como ainda o fazemos) distinguir quais as características das manchas que se impõem à percepção do examinando: se relacionadas à forma apenas e/ou à outros fatores como cinestesia, cor, luminosidade ou perspectiva, uma vez que estas últimas também podem ter, em seu bojo, a participação da forma na construção da imagem assocjada. .

O QUE E FORMA? A forma é o aspecto mais importante do mundo visível, é o princípio ordenador do unjverso. E construtiva quando dá ordem e estrutura os borrões e destrutiva quando se torna estereotipada, não permitindo a flexibilidade. A visão reconhece as características peculiares de um objeto. A forma demanda um olhar ativo e seletivo, exige focalizacão, estruturação e atenção ativa. A percepção da forma é uma função da consciência relacionada a adaptação à realidade. A forma é o mais freqüente e o mais importante dos determinantes (2)• 50 RORSCHACH CLÍNIcO



MANUAL BÁSICO

FREQUÊNCiA dAS RESpOSTAS dE FORMA (RF)

Após a investigação iniciada com o criador do método, outros estudiosos da Prova de Rorschach também preocuparam-se em estabelecer critérios para a freqüência das respostas de forma, destacando-se os trabalhos de Beck (7) e Small (8)• Sabemos que as RF são as mais freqüentemente encontradas nos protocolos de Rorschach. “mesmo nos casos particulares” (1) e, como bem situa Coelho (4), “ela é inerente a toda e qualquer porção das manchas e comum a toda a série”. Este tipo de percepção representa, em média, mais da metade das associações frente às manchas (1,2, 3,4, 5,6, 7, 8) A Sociedade Rorschach de São Paulo, baseada na elaboração do psicograma tal como definido pelo seu fundador, o Prof. Aníbal Silveira (5), utiliza-se de critérios estatísticos para verificação da freqüência do determinante forma, obtendose dados atualizados no último estudo realizado pela Prof Lúcia Coelho (6) Devemos aqui assinalar uma distinção que nos parece fundamental para a classificação das RF. Trata-se da distinção entre qualidade formal, avaliada segundo a freqüência estatística com que determinadas áreas evocam conteúdos específicos, em função da pregnância formal neles encontrada, e a precisão formal, que correspondem ao grau de nitidez e da estruturação da imagem nas diferentes respostas produzidas pelo examinando. Qualidade e precisão formal correspondem a mecanismos perceptuais diversos, daí a necessidade de distingui-las.

OuANdo CLASSiFiCAR LiMA RESpOSTA COMO RF? Apenas o contorno da figura é levado em conta pelo sujeito e nenhuma outra característica é considerada. E o mais comum em um protocolo. Aparece em média em 64,8% das respostas do protocolo, com faixa normal de variação entre 59% e 71%. O inquérito é fundamental para constatar não haver outra característica presente. A resposta é classificada em F, F- ou F° conforme a freqüênc.: da resposta dada. Segundo pesquisas estatísticas constatamos o sinal + ou das respostas. Se a resposta não é encontrada na tabela, consideraremos F°. Usamos o termo forma —

estendida para falar a respeito de respostas que contêm uma resposta de forma porém há outro determinante junto, priorizando a resposta. Respostas M, m, Ps, FC, CF, C’, L necessariamente contém uma resposta de forma RORSCHACH CL1NIc0 — MANUAL BÁSICO 51

implícita, mas não classificamos como RF, uma vez que não se trata do mesmo processo psíquico. DisTiNçÃo ENTRE AS RF

A Prova de Rorschach é constituída de estímulos ambíguos e “as respostas dadas podem ser mais ou menos congruentes com a forma do estímulo” (4)• Desde Hermann Rorschach há um empenho no estabelecimento de critérios para distinguir respostas de forma bem vistas (F) das respostas de forma mal vistas (F) e das menos freqüentemente encontradas (F°), segundo nossos estudos (4, 5)• Tal como procedia Hermann Rorschach, outros autores procuraram estabelecer medidas objetivas, portanto, segundo critério estatístico (5,7) Isto eqüivale dizer que respostas mais freqüentemente associadas a uma determinada área serão consideradas F, ao passo que as menos freqüentes serão consideradas F; as respostas que têm freqüência tão rara que sequer puderam ser tratadas estatisticamente serão F°. Alguns autores consideram como forma bem vista aquela que se enquadra no critério subjetivo do aplicador, ou seja, um julgamento particular (10 1 porém, acreditamos que tal procedimento acaba por prejudicar a análise, urna vez que confundem precisão com qualidade formal. Para definição das respostas consideradas como F, F- ou F°, utilizamos, atualmente, a Tradução —

Adaptada e Atualizada das Tabelas de Localização de Beck e Small para Classificação da Prova de Rorschach (9)• OuANdo CLASSiFiCAR COMÕ F F OU F°? l Passo: Para objetivar, portanto, a classificação, procedemos a consulta da resposta na Tabela Atualizada de Qualidade Formal, citada anteriormente (9) Para cada prancha há uma folha de localização demarcando as áreas associadas e uma lista de respostas frente à elas, com indicação da qualidade formal da resposta de acordo com o ângulo de posição da prancha na qual a resposta foi associada (uma vez que a mesma pode variar, mudando, assim, a qualidade formal da resposta). Se nada consta na tabela sobre a —

52 ROPSCHACH CLINIc0 MANUAL BÁSICO posição, esta foi vista em posição normal. Localizando a resposta em si dada pelo sujeito na referida tabela, podemos classificá-la conforme a indicação encontrada: F ou F. 2° Passo: Quando não encontramos a resposta específica do sujeito para a área associada, devemos procurála, quando indicado, na(s) área(s) citada(s) à frente da localização original do sujeito e, encontrando a resposta em uma área alternativa, podemos classificá-la conforme a orientação da tabela, portanto, como F ou F-. 3° Passo: Se, ainda assim, não conseguimos encontrar a resposta dada, devemos procurar uma resposta —





que tenha uma gesta!t semelhante para classificarmos como F ou F. 4° Passo: Ao final, se não encontrarmos a resposta do sujeito nos passos anteriores, classificamos como F°. Ressaltamos que fica reservada a classificação F° somente para aquelas respostas que não constam da Tabela de Localização, nem por aproximação. —

EXEMPLOS DE F, F e F° (sendo todas F Ordinárias) Pranchas 1 (p22)” parecem os seios de uma mulher”

=

(p24) “tem tipo uma saia” P4 ampulheta (mesma gestalt de saia): F II (P 2) “Bota” F II (p31) “A boca de um camelo” F III (P 8) “Os pulmões” III (E24) “Um vaso” F (taça grande / tigela) IV (p 21) “Duas cabecinhas aqui de perfil” F IV (G) “cabeça de buldogue” V (P3) “Seta indicando direção a seguir” P3 palito de fósforo (mesma gestalt de seta) F+ V (PiO) “Duas cabeças de jacaré” F VI (p21) “As garras de uma aranha” F VII (G) “Parece um colar” F VII (E7: metade inferior) “Um Rato” F° =

=

=

=

=

=

=

=

=

=

=

(Continuação) ROPSCHACH CIJNIc0 — MANUAL BÁSICO

ANÁLiSE QUALiTATiVA dAs RF Uma vez que as respostas de forma ocupam lugar central no psicograma, as mesmas foram extensamente estudadas, notadamente por Schachtel (2) Além da distinção da freqüência na qual a resposta de forma é encontrada na população, ele também procedeu a uma análise qualitativa desse tipo de resposta, que podiam variar entre: 1) uma resposta imparcial, 2) uma resposta criativa e 3) uma resposta permeada de fatores dinâmicos. RESpOSTAS dE FoRI1A ORdiNÁRiA Schachtel (2) verificou que algumas pessoas fazem associações que envolvem apenas análise crítica entre a resposta dada e a configuração da mancha, com um caráter de “familiaridade fechada e, muitas vezes, estereotipada ou mesmo rígida”, resultantes da “rígida necessidade e da preocupação com a realização de uma meta estreitamente definida”, a qual denominava como F Ordinário. São respostas que carregam em si íntima semelhança com a forma das manchas, e o examinando apenas as reconhece como tal.

EXEMPLOS DE F ORDINÁRIO: Pranchas

“Uma borboleta. Inq.: Em tudo (G). A borboleta é assim: tem as asas, as anteninhas e o corpo no meio. Aqui está igualzinho: uma borboleta.” G F+AV A

53

Prancha s VIII

(p26) “No meio, o corpo de uma borboleta” F°

VIII

(p2’4) “Parece a boca de um jacaré” F°

IX

(E23: Invertida) “Parecem embriões” = F°

X

(P14) “Uma taça” P14 vaso (mesma gestalt de taça) = F+

X

(P3) “Parece uma boca” = F

X

(PIO) “As trompas de um ovário” = P4 esôfago (mesma de trompas) = F

gestalt

54 RORSCHACH CLÍNICO MANUAL BÁSICO (Continuação) Pranchas II A “Um avião. lnq.: Vejo ele nesse espaço (E5). Vejo o contorno dele, que é mais fino em cima e vai alargando para dar o formato da asa do avião. Bati o olho e logo vi.” E F+ obj III A “Um peixe. Inq.: Aqui nesse pedaço (P5). Dá para ver direitinho o corpo, a barbatana, o rabo.” P F+ A V A “Um morcego. lnq.: No todo (G). Porque tem as asas, o corpo e as patinhas dele bem desenhadas aqui, ó.” G F+ AV VII v “Um abajur. Inq.: No meio, nesse espaço em branco (E7). Olha: aqui é a cúpula do abajur e aqui em baixo é a base dele. Olhei e logo vi o contorno dele; igualzinho a um abajur, né.” E F+ obj VIII A “Uma árvore. lnq.: Aqui em cima (P5). Pelo jeito que tem essa parte, só pode ser uma árvore, com a copa dela que vai abrindo por causa dos galhos.” P F+ bt X A “Duas pessoas. lnq.: (P9) Elas estão aqui, nesse pedaço: vejo bem a cara delas: contorno do olho, do nariz e da boca.” P F+ H RESpOSTAS dE FORMA EspEciAL Em contraponto com as respostas de F+ Ordinário, existem respostas mais criativas, oriundas de uma oscilação entre a observação atenta da forma e a possibilidade de experimentar a sensação que a forma oferece. Schachtel (2) comenta sobre o processo empático do examinando com a forma, envolvido nesse tipo de resposta: “o observador reage ao ritmo e à melodia da forma”. Salienta-se nas respostas de forma especial a qualidade mais dinâmica e mais pessoal que o F+ Ordinário, porque o examinando experimenta relações outras com a forma, que podem vir combinadas com cinestesia, com cor ou qualquer outro determinante do psicograma. O que melhor caracteriza o F+ Especial é a riqueza e complexidade da resposta que, quando comunicada, “revela diretamente o interesse e o caráter vívido” (grifo nosso) na apreensão do percepto. Vale ressaltar que são as características da imagem associada ao borrão que prevalecem na comunicação da resposta, e —

RORSCHACH CLINICO — MANUAL BÁSICO 55

não aspectos relacionados ao próprio examinando; este consegue manter uma distância ótima entre si e a mancha. A riqueza da resposta é verificada através do conhecimento que o sujeito demonstra em relação à imagem associada àquele borrão, indicando maior criatividade.

EXEMPLOS DE FORMA ESPECIAL RESpOSTAS dE FORMA DNMiCA

Nas respostas dinâmicas, o que prevalece não é a freqüência com que tal associação ocorre. Nesse sentido, encontramos respostas dinâmicas relacionadas a F, F ou F° além de, como dito anteriormente, relacionadas à outros determinantes que não a forma das manchas. O que marca a diferenciação da resposta dinâmica com as demais respostas é que, como bem disse

Schachtel (2), “os objetos não são contemplados isoladamente, mas sim em uma relação dinâmica com o sujeito (...) o objeto é imaginado e percebido como algo com um significado real ou potencial vivo para o sujeito observador” (grifos nossos). Assim sendo, as respostas dinâmicas refletem uma ligação emocional do examinando com a forma percebida; dito de outra maneira, a carga emocional permeia o trabalho mental e a percepção é, portanto, parcial e diretamente relacionada ao sujeito, diminuindo a distância entre o que é observado (imagem associada à mancha) e o observador (examinando).

Prancha s

IV

v “Uma tocha alta com uma pira olímpica. Ela está no centro (P5) e ao redor dela tem uma fila de cavalos de cabeça abaixada (E24 e espaços externos), prestando reverência à pira, como se fosse um totem ou símbolo. E como uma cena mística: cavalos abaixados ao redor dela e a pira é um elemento artificial aí’. P (E) F+ art

IV

“Um monstro que está de costas segurando as folhas de uma palmeira e olhando a paisagem” . G F+ H

56 PORSCHACH CLíNico



MANUAL BÁSICO

EXEMPLOS DE FORMA DINÂMICA Pranchas IV Detalhe superior lateral: (P4) “Pequenos débeis braços, minúsculos e muito magros, fazem-me pensar em meus próprios braços...” P F+ pH VI Invertida, (PiO): “Dois homenzinhos carecas em um esconderijo, que os protege do perigo”. P FH 1 (P9): “Sentindo como se eu pudesse encontrar muitos portos, abrigos, no desenho que poderiam fornecer certa espécie de segurança, esconderijo talvez”. P F + pz IX Porção cor de rosa: (P “Uma das minhas fantasias na relação sexual: pênis entre os dois seios”. P F sx VII (O): “Uma espécie de pagode, mas o teto está faltando e um vale; se fosse inundado por uma carga d’água, seria impossível sair”. GF±arq VII (O): “Um porto, não muito protegido”. O F + ggr III “Um porto bem protegido, além dos quebra-mar em ambos os lados, a mancha vermelha central oferecia boa proteção”. P F + (C) ggr IX (P5) parte superior da prancha: “Esta é a coisa fálica, pouca obstrução à sua”. P F-sx VII “Parece uma passagem nessa figura, para escapar do centro”. PF + arq VIII (p21): “Uma espada penetrando no corpo de um animal”. PF-ml 1 (p22) “Seios de mulher, ânsia de rasgar a coisa entre eles, talvez eu não deseje mais olhar para isso, gostaria de cortar a linha central e dobrar essas partes.” p’ F+sx IV (O): “Impressão assim de uma pele de um animal, pele de urso estendida no chão. É meio impressionante, está morto, sem vida. É horrível este. Impressionante este, sabe que eu não consigo ter tapete de bicho no chão, dá uma sensação assim (faz cara feia).” OF+AV VI (P9): “Pênis em estado de recolhimento. “P F-sx

RORSCHACH CúNico — MANUAL BÁSICO 57

CLASSiFiCAR COMO FORMA ApESAR dE PARECER SER OUTRO DETERMiNANTE: Quando o movimento só aparece no inquérito perguntar ao sujeito se ele já havia visto antes; caso —

contrário, se a pessoa só viu no inquérito, classificar como F e colocar o M como resposta adicional. Prancha Associação: “Uma mulher”. Inq.: “Uma mulher. Tem os braços para o alto, ela está dançando, parece balé”. Classificação: F+(M) Quando se vê apenas partes de seres humanos ou animais, mesmo que estas partes estejam em movimento, classifica-se como F. Para ser resposta de movimento tem que se ver o ser humano ou animal inteiro. Prancha VIII “O braço de uma pessoa dando adeus”. Classificação: F+ Negação de cor o sujeito constrói a imagem pela forma mas não consegue ignorar a cor: esta se interpõe quase atrapalhando a percepção. Prancha VIII Associação: “Um rato”. lnq.: “Tem o formato de um rato. Embora aqui esteja cor de rosa e não existem ratos cor de rosa.” Classificação: F+ (C) Condensação de cor ou cor forçada- o sujeito força a participação da cor de forma arbitrária. Prancha X “Um caranguejo azul”. Classificação: F+ (C) —



-



58 RORSCHACH CL1NIc0 MANUAL BÁSICO Projeção de cor o sujeito coloca cor em uma figura monocromática —



-

Prancha

1 “Uma borboleta amarela”. Classificação: F+ (C) Determinante adicional que não se refere a figura como um todo. —

-

Prancha

II “Dois macacos de smoking”. Classificação: F+ (C’) Nota: A resposta é macaco, sendo o smoking apenas acessório e, portanto, não podemos juntar as duas respostas; não é o macaco que é preto, e sim o smoking. Qualidade acessória do tom monocromático quando as cores preto, branco ou cinza são descritas apenas como uma qualidade específica que complementa o percepto, deixando como determinante principal da percepção a forma. —

-

Prancha

V “Morcego, porque tem asas, perninhas, cabeça,... e é preto”. Classificação: F+ (C’)

CONCLUSÃO Pudemos ver que as Respostas de Forma, por tratarem-se do tipo de associação mais freqüentemente encontrado nos protocolos da Prova de Rorschach (seja em indivíduos normais, em deficientes ou doentes mentais) mereceu grande atenção dos que se dedicaram ao método. Fica patente, pois, a importância de um inquérito realizado adequadamente para a correta classificação desse tipo de resposta evitando-se, assim, índices mais altos do que os que deveríamos encontrar. Isso ocorre em virtude de existirem outras classificações e, consequentemente, outros —

dinamismos psicológicos que têm a forma implícita em seus próprios determinantes. —

RORSCHACH CLINIc0 — MANUAL BÁSICO 59

A importância da classificação correta dos diferentes tipos de Respostas de Forma reside no fato de estarmos tratando de dinamismos psicológicos que, embora relacionados ao grau de contato com a realidade, terão variações de significado de acordo com a freqüência da resposta (F, F ou F°) e com a análise qualitativa procedida nestas respostas (F Ordinário, F Especial ou F Dinâmico). Este capítulo visa minimizar erros de classificação destas respostas, a fim de traduzir o real dinamismo psicológico envolvido nas respostas de forma.

NOTAS BIBLIOGRÁFICAS 1. RORSCHACH, H. Psicodiagnóstico. Método e Resultados de uma Experiência Diagnóstica de Percepção (Interpretação de Formas Fortuitas). São Paulo, Ed.Mestre Jou, 2 ed., 1974. 2. SCHACHTEL, E.G. Experimental Foundation ofRorschach Test. New York, Basic Books,

1966. 3. KORSCHIN, S.J. Form Perception and Ego Function, in: Rickers, Ovsiankina, M.A. Rorschach Psychology, New York, Wiewysons, 1960. 4. COELHO, L.M.S. Epilepsia e Personalidade. Psicodiagnóstico de Rorschach, entrevistas

e anamnese heredológica em 102 examinandos. São Paulo, Atica, 1975. 5. SILVEIRA, A. Prova de Rorschach: Elaboração do Psicograma. São Paulo, EdBras, 1985. 6. COELHO, L.M.S.; SALVIA, M. C. P. Estudo Estatístico dos Fatores do Rorschach em População Normal São Paulo -

-

(publicação interna da Sociedade Rorschach de São Paulo), 1997. 7. BECK, S.J. The Rorschach Experiment. Ventures em Blind Diagnosis. New York, Grune & Statton, 1960. 8. SMALL, L. Manual para la Local izacion y Classficacion del Test de Rorschach. Buenos Aires, Editorial Paidós, 1979. 9. SOCIEDADE RORSCHACH DE SAO PAULO. Tradução

Adaptada e Atualizada das Tabelas de Localização de Beck e Small para Classificação da Prova de Rorschach. Can-Editoração Produção Gráfica, 1998. 10. KLOPFER, B. Developments in the Rorschach Technique. New York, World Book Co., 1942. -

60 RORSCHACH CLíNico



MANUAL BÁSICO

11. RAPAPORT, D. Manual ofDiagnostic Psychological Testting. New York, Josiah Macy, Jr. Foundation, 1946. Testes de Diagnóstico Psicológico. Trad. de LOEDEL, E. Buenos Aires, Editorial Paidós, 1964.

DETERMINANTE DE MOVIMENTO



RM

FIÁviA APARECIdA C[IAMMAS CAMpos dE ARAÚjO As respostas de movimento são aquelas em que o sujeito atribui cinestesia às formas e cores que constituem os cartões de Rorschach. Referem-se a um fenômeno perceptual diferente e por vezes, dificil de descrever ou mesmo de identificar, pois contém tensões dirigidas sem o deslocamento fisico no espaço. Ou seja, o examinando experimenta diante de um estímulo estático uma sensação de movimento, e inclui em seu percepto o deslocamento. As respostas de movimento são de fundamental importância para a compreensão da personalidade e portanto, merecem especial atenção em sua classificação devendo ser apuradas com rigor. Assim sendo, ao classificarmos uma resposta como movimento devemos estar atentos, pois não é necessário a ocorrência de uma movimentação visível para que a resposta seja considerada cinestésica, e sim a sensação de movimento. Algumas vezes o examinando se utiliza do próprio corpo para explicar tais respostas, seja gesticulando ou assumindo uma postura corporal. E neste sentido que ressaltamos a importância da realização de um inquérito cuidadoso, pois é normalmente nesta etapa que esclarecemos se houve realmente cinestesia ou não na construção da resposta, já que a mera utilização de um verbo não indica necessariamente a sensação de movimento. Estas sensações cinestésicas podem ser atribuídas à figuras humanas, animais, ou à objetos inanimados ou abstratos, admitindo assim três classificações diferentes: M para o movimento humano m para o movimento animal — —

62 PORSCHACH CIJNIc0 MANUAL BÁSICO m’ para o movimento subjetivo Passemos então, a tratar da classificação e apuração de cada uma destas respostas. —



MOViMENTO HUMANO



M

As respostas de movimento humano referem-se a figuras humanas ou humanóides, realizando uma atividade explícita, como no exemplo citado por Silveira :

Protocolo 694 Prancha III “...Parece duas figuras meios macabras que estão tramando alguma coisa, mexendo nesse caldeirão [P1, P7] (1: ‘Abaixadas e conluiando...’) P M H V” Portanto, classificamos como M sempre que a resposta produzida pelo sujeito obedecer a condição fundamental de empatia cinestésica, e envolver: 1 Figuras humanas reais, percebidas de corpo inteiro, -

realizando alguma atividade espontânea. N° Pranchas 1. 1 “Uma mulher dançando.” Inq. (P4) “É uma mulher direitinho, tem as pernas, a cinturinha, o corpinho dela, igual de bailarina. Parece que tá girando assim (gestos), com as mãozinhas aqui para cima, igual uma bailarina, rodopiando, rodopiando (gestos).” P M H V 2. II “Dois anões brincando de pirulito que bate-bate.” Inq.: (G) É

tudo isso aqui, a impressão que eu tenho é que eles estão batendo as mãos assim (gestos), e cantando ‘pirulito que bate bate pirulito que já bateu...’ São anões por que tem umas perninhas curtinhas, uns bracinhos, até meio tortinho, igual de anão.” G M H V 4,5 3. III ‘Duas pessoas servindo uma mesa.” lnq.: (P1) “Olha aqui, a cabeça o corpo, tal, e estão se curvando aqui, (gestos) servindo a mesa que é essa parte aqui (P7).” P M H V 3,0 RORSCHACH CLINICO



MANUAL BÁsico

63 N° Pranchas 4. 5.

x x Nos exemplos 4 e 5, apesar de sugerir queda livre, existe uma intenção no movimento, por esse motivo é atribuído M. N° Prancha

Atenção: Partes do corpo vistas isoladamente, em movimento, não são consideradas como RM; pois segundo Aníbal Silveira5, referem-se apenas a uma interpretação ideativa, ou um modo de descrever o segmento interpretado. Assim sendo, quando este tipo de resposta aparecer classificamos como Forma. N° Prancha 7. V

Compare a diferença deste exemplo para com o exemplo 6, no qual apesar de o examinando referir-se apenas ao movimento da mão, o corpo da pessoa foi percebido em sua totalidade.

“Um homem caindo

de páraquedas.”

Inq.: “(PIO) Bem aqui,

no meio é o homem, olha só o corpinho dele,

aqui (P4) é o

pára-quedas...ele

está

caindo

assim,

quase

que

se

atirou do

precipício, ela

os bracinhos para cima,

flutuando...(gestos).” PMH

“Uma pessoa que

está

se

suicidando.”

lnq.: (P3) ‘

‘Aqui com o

ela pulou e

agora

está

caindo, não sei dizer...ela

suicidando.”

PM

H______________________________________

6. 1 “Uma pessoa dando adeus.” lnq.: (P4) “É uma pessoa aqui, as pernas, o corpo e aqui a mãozinha pra cima, acenando. É como aquelas pessoas que ficam paradas no porto acenando para o navio (gestos).” P M H

Uma pessoa com um chapéu estranho, Na realidade, eu vejo só a cabeça . . . engraçado, parece que ela

vira para um lado e para o outro, como se procurasse alguma coisa.” Inq.: (P6) “Olha aqui, a cabeça redondinha, com um chapéu tipo daqueles de ‘bobo da corte’, com duas pontas. E ela vira pra lá e pra cá, procurando alguma coisa. Só isso.” P F+ pH

está

se

64 RORSCHACH CLÍNIco MANUAL BÁSICO No entanto, algumas vezes o sujeito mesmo vendo apenas uma parte do corpo, acaba por incluir a gestalt de um corpo completo em sua percepção. Assim, se no exemplo 7o examinando dissesse : “vejo a cabeça de um bobo da corte, olhando para um lado e para o outro. E como se ele estivesse atrás de um muro, procurando alguma coisa.”, classificaríamos como: P M H. Aqui, o muro aparece como um recurso para completar a —

gestalt. Esta condição de figura percebida por inteiro é válida também para os itens que serão discutidos a seguir.

2 Seres humanos religiosos, fantásticos ou míticos, realizando uma atividade, mesmo que esta seja superior às capacidades do homem. -

N° Pranchas

8. 1 “Fantasminhas.” lnq.: (E26) “Aqui, eles estão com os braços assim esticados, como se estivessem indo assustar as pessoas juntos, (gestos).” E M H 9. II “Uma bruxa voando.” lnq.: (P2) “Olha ela aqui, é igualzinho, ela está na vassoura voando no céu, bem rapidinho. Aqui seria o cabo da vassoura e aqui ela, com chapéu e tudo, ela deve estar com muita pressa, por que ela voa muito rápido!” PM H 10. 111 “Dois gnomos saltitantes.” lnq.: (P2) “Aqui, um de cada lado. Aqui o chapéu comprido que eles usam. o corpinho e os bracinhos. São saltitantes por que eu tenho a impressão de que eles estão pulando e mexendo os bracinhos assim (gestos).” PMH 11. IV “Um monstrão correndo.” lnq.: (G) É isso tudo. Tem uma cabecinha, os bracinhos aqui, e as pernas enormes. E como se ele tivesse correndo com o pernão aberto, assim (gestos) meio desajeitado.” G M H V 2,0 Atenção: Para ser classificada como M, sempre que a resposta se referir a seres fantásticos ou mitológicos, a característica humana deve ser prevalente. “

RORSCHACH CLINICO — MANUAL BÁSICO 65

3 Seres humanos em alguma postura que exija tensão muscular para mantê-la. -

Nestes exemplos, mesmo em se tratando de posturas praticamente imóveis, estas só são conseguidas através de tensão muscular; por este motivo é que classificamos como M e não como Forma. Atenção: os exemplos 14 e 15, normalmente seriam classificados como F, sendo classificados como M somente quando o sujeito menciona espontaneamente a expressão de relaxamento, assim, computamos o movimento por que consideramos que existe uma expressão de relaxamento, envolvendo uma reação muscular e pela atitude de expectativa.

j



Prancha s

12.

III

(v) — “Duas bailarinas nas pontas dos pés, assim curvadas para frente.” lnq.: (P2) “ E aqui. Elas tão com as perninhas juntinhas (p25) e tão na pontinha dos pés. O corpo é essa parte, curvado para frente, assim, como quando elas agradecem ao público.” P M H

13.

X

“Duas pessoas agarradas numa rocha.” lnq.: (P6) “São estes azuis aqui. O corpo deles, as pernas e os braços. Eles estão agarrados na rocha para não cair, desse jeito assim (gestos).” PMH



Prancha s

14.

V

15 .

VI

“Uma pessoa relaxada numa encosta.” lnq.: (P4) “A pessoa é aqui, tem a cabeça, o corpo, e ela está assim bem relaxada, como se tivesse largadona assim.” P M H VI — “Um homem deitado numa cama de hospital.” Inq.: (P9) “Aqui seria a cama e aqui o cara, assim recostado, como

se ele estivesse esperando a sua recuperação, ele está esperando sua alta.” P M H

66 RORSCHACH ClíNico — MANUAL BÁSICO

4—Movimentos externos, porém controlados pelo indivíduo. No exemplo 16, o movimento da capa é conseqüência do movimento realizado pelo homem, sendo diferente deuma capa que balança ao vento, como veremos mais adiante, na classificação de movimento subjetivo, O mesmo vale para o movimento das fitas, no exemplo 17.

5 Animais realizando movimentos próprios de seres humanos. —

Note que nestes casos, para considerarmos M, o movimento realizado tem que ser necessariamente específico de seres humanos, e quejamais poderiam ser executados por animais. Nos exemplos citados,



Prancha s

16.

V

“Um homem correndo, com uma espécie de fantasia, uma capa.” Inq.: (G) “O homem é aqui no centro. A impressão que eu tenho é que ele tá correndo na minha direção, e a capa se abre, assim.” G M H - 1,0

17.

X

“Duas moças daquelas que animam torcida, não sei se tem um nome certo para isso.” lnq.:

(P9+P1) “As moças são aqui (P9), elas tem o corpo bem alongado, parece que elas tão pulando e mexendo isso aqui (P1). Não sei o nome disso... seria um monte de fitas juntas que elas estão balançando, pra lá e pra cá.” P M H



Prancha s

18.

II

Dois cachorros se beijando.” Inq.: (P1) “Os cachorros são aqui, o corpo, as patas , a orelha e a carinha deles. Tão se beijando, por que eles tão assim, como se tivessem esfregando a boca um no outro. E uma cena bem amorosa essa, como num beijo de despedida.” P M A V 3,0 “

“Dois ursos apostando uma corrida.”Inq.: “Os ursos são aqui (P1), estão com as patas assim (gestos) como se estivessem correndo para ver quem chega primeiro no topo desta montanha aqui (P4). A montanha é pelo formato... O que chegar primeiro lá em cima vai ser o vencedor.” P M A V 3,0 -

19.

VIII

RORSCHACH CLINIc0 — MANUAL BÁsico

os movimentos assumem uma conotação nitidamente humana pois cachorros não se beijam, assim como ursos não apostam corrida, ou pelo menos não têm essa intenção. Personagens tais como Tio Patinhas, Mickey, etc, quando em atividade, também são classificados como M, pois apesar de ser tratarem de animais, são totalmente humanizados. N° Prancha 20. 111

6 Expressões faciais, desde que não representem algo simbólico, e que sejam percebidas em figuras vistas como um todo. —

Neste caso, para manter a expressão facial percebida pelo examinando, é necessário tensão muscular, semelhante ao que já foi discutido no item 3. Porém, se a expressão facial representar uma força abstrata, classificamos como Forma. N° Prancha

Outra possibilidade, é o sujeito descrever uma expressão facial, sem o envolvimento de ação ou emoção por parte da figura percebida, ou seja, as figuras são descritas como ‘engraçadas’, ‘grotescas’, 67

“O pato Donald arrumando a mala dos sobrinhos dele.” lnq.: (P1) “Ele seria aqui nessa parte, a cabeça com o bico de pato, o corpo.. .e ele está mexendo aqui (P7), não sei parece um tipo de uma bolsa, por isso eu disse que era uma mala. Do outro lado seria um dos sobrinhos, o Huguinho, sei lá, eles estão arrumando uma mala para viagem.” P M A 3,0



21.

Pranch a

II

“Duas pessoas brigando.” Inq.: (G) “Aqui uma pessoa e do outro lado a outra. Tem a cabeça, o corpo e as pernas aqui dobradas. Elas estão brigando por que parece que elas estão olhando bravas uma para a outra, parece que elas estão franzindo a testa assim (examinando franze a testa). Então devem estar brigando.” G M H V 4,5

“É

22. II “Duas pessoas com

raiva

uma da outra.” lnq.: (G)

figura toda, uma de

cada 1

ado.

Aqui os bra

ços, o co rpo e a

cabeça. ..não sei....o

jeito

do

rosto me

lembra

na

raiva.”

G F+ HV4,5

68 RORSCHACH CLÍNICO MANUAL BÁSICO ‘desagradáveis’, devido aum detalhe. Neste caso também classificamos como Forma e não como M. —

MOViMENTO ANiMAl M Para classificarmos uma resposta como m, devemos obedecer às mesmas considerações de tensão muscular e cinestesia, porém atribuidas à animais em atividade. As condições de classificação são semelhantes àquelas exigidas pela categoria M, portanto, não nos estenderemos na discussão dos exemplos aqui apresentados. Os movimentos percebidos devem ser —

necessariamente típicos de animais, como ilustra o exemplo de Silveira5:

Protocolo 674: Prancha

V “Aqui parece um morcego, visto de assim, de cima, voando (1: Este me parece que está mesmo voando...) G m AV Podemos dizer então, que serão classificadas como m, todas as respostas referentes a: .“

1 Animais, reais ou fictícios, vistos de corpo inteiro, como agentes de uma ação. —

N° Prancha



23.

Pranch a

II

“Duas pessoas brincando.” lnq.: (G) “Elas estão aqui, a cabeça, o corpo, os braços...não sei explicar por que estão brincando, acho que é por eu vejo elas com uma cara engraçada, me lembra cara de palhaço. E isso.” G F+ H V 4,5

24. VIII “Dois ursos subindo

em

uma árvore.” lnq.:

ursos são estes (P1),

áa

impressão que eles estão

subindo

aqui (P4); parece que

vão

devagar, colocando

pata de

cada vez (gestos).”

(PI+P4) “Os

uma

P m AV

PORSCHACH CLÍNICO — MANUAL BÁSICO 69

Vale ressaltar aqui, a diferença para com o exemplo 19, pois subir em árvores é um movimento próprios de ursos. Note também aqui, a diferença para com o exemplo 11. São repostas muito parecidas. No primeiro as características humanas foram ressaltadas, enquanto que aqui, prevalecem as características de uma forma animal. N° Prancha

Neste último exemplo, atribuímos m, devido ao fato de que gatos possuem um controle do corpo enquanto caem, na medida em que eles são capazes de movimentarem durante a queda livre para caírem em pé.

2 Animais treinados em ação. —

Neste exemplo, temos um animal realizando uma atividade tipicamente humana, no entanto, esta pode ser aprendida pelo animal (geralmente macacos, animais circenses, etc.) através de treinamento;



25 .

Pranch a

IV

“Um monstro horrível, é assustador, parece que ele está correndo para matar alguém.” Inq.: (G) “E um monstro horroroso, aqui é a cabeça, as garras abertas assim (P4), prontas pra atacar alguém, as patas, e aqui em baixo, o rabo cheio de espinhos venenosos, olha aqui os espinhos. A minha idéia é que tá correndo, a procura de alguém, o primeiro que ele encontrar ele vai matar.” G m A 2,0

26. III “Um gato caindo.” Inq.: impressão de que ele está

(P2) “Nessa parte aqui, dá a em plena queda, com o rabo

para

cima, e se torcendo

todo,

Pm

A



27.

como

fazem

os gatos.”

Pranch a

IV

“Um macaco andando de bicicleta.” lnq.: (G) “Aqui seria o corpo, a cabeça, as patas da fernte aqui no quido, os pés e aqui (P1) seria bicicleta. Me parece que que ele está pedalando assim (gestos)” GmA 2,0

70 RORSCHACH CLíNICO MANUAL BÁSICO passando então a tratar-se de um movimento espontâneo daquele animal, porém o examinando precisa ressaltar a idéia de treinamento. Atenção: A atividade deve ser plausível ao animal percebido, ou seja, deve ser habitualmete observada no aminal. Partes animais vistas isoladamente, em movimento, não são classificadas como m, equivalentemente ao que já foi abordado com relação à M. Acreditamos que apresentar exemplos aqui, seria alongar demasiadamente nossa exposição. —

3 Animais em alguma postura que necessite de tensão muscular para mantê-la. —

4 Movimentos externos, porém como consequencia do movimento animal. —

5 Expressão facial animal, desde que não se refira a uma força abstrata. —



Pranch a

28.

II



Pranch a

29.

1



Pranch a

30.

VII

“Dois cachorrinhos assim de pé.” Inq.: (P6) “Sabe quando ele ficam sentadinhos assim nas patinhas de trás, esperando alguma coisa do dono? Então, é isso aqui seria o focinho, a orelha pequena, o corpo todo durinho, sentadinho aqui, assim (gestos).” P m A V

“Uma dela e pólen caindo

abelha voando.” lnq.: (G) “É tudo, aqui o corpo as asas. Parece que ela voa bem rápido e aqui é o (p23) que ficou grudado em suas patinhas, e vai enquanto ela voa.” G m A 6,0.

“Um cachorro muito bravo.” Inq.: (P3+PI0) “Aqui seria o corpo dele (Pio), bem peludo, por que no dá para ver as patas, o pelo cobre elas, por causa desse contorno aqui. E aqui seria a cabeça com a orelha levantada para cima. Ele está bravo por que está rosnando, mostrando os dentes assim (gestos).” P m A

RORSCHACH CLÍNICO



MANUAL BÁSICO 71

MOViMENTO SubjETivo



Para classificarmos o m’, como nos casos anteriores a empatia cinestésica deve estar presente e ser espontânea, sendo que o movimento projetado deve necessariamente, decorrer de um modo subjetivo de interpretar a prancha. O movimento subjetivo pode referir-se tanto ao movimento de seres inanimados, forças da natureza ou abstratas, como também pode ser atribuído à figuras humanas ou animais, que neste caso, deixam de ser os agentes ativos da ação e passam a agentes passivos, como ilustram os exemplos de Silveira4’5:

Protocolo 1166 Temos portanto dois momentos distintos para classificar o m’, quando o movimento referir-se a objetos inanimados ou forças abstratas, e quando o movimento subjetivo for atribuído à humanos ou animais. De acordo com Lúcia Coelho2, classificamos o primeiro como m’ e o segundo como m’2. Apesar de possuírem basicamente o mesmo significado, o m’ corresponde a uma atividade cognitiva, enquanto que o m’2 refere-se predominantemente a uma atitude emocional, com teor

ansioso. Assim sendo, classificamos como m’ sempre que houver:

Prancha VIII “...Alguma coisa se abrindo (P5), mas presa por ligamentos (P3); no sei o que. (Inq: E uma coisa que eu senti, como se estivesse acontecendo (espontaneamente). P m’ ab .“

Protocolo 964 Prancha IX “... 2 equivalência numérica entre

o M e RC, sendo ambos os índices > 2 A ocorrência numericamente elevada de ambos os componentes (intelectuais e afetivos) poderia ser interpretada como indicador de uma maior predisposição para contatos com pessoas e com o ambiente circundante, bem como, para a observação intelectual, introspecção e elaboração criativa a partir dos estímulos apreendidos. Porém, para interpretação mais precisa é necessário análise qualitativa das respostas cinestésicas e cromáticas. Nesta dinâmica há mobilização dos recursos afetivo-intelectuais ao experenciar as diferentes situações e no contato com os demais. RORSCHACH CLÍNICO — MANUAL BÁSICO 109

4.5. Tendência à coartação : M e Z RC < 1,5 Neste modo experencial, a ocorrência dos determinantes intelectuais (M) e afetivos (RC) da personalidade é escassa, traduzindo maior dificuldade no estabelecimento de vínculos, como também, na utilização de recursos intelectuais (Tipo F). O contato com o ambiente é formal e superficial. Neste tipo de adaptação prevalece controle conativo sobre as manifestações das tendências afetivo-intelectuais. 4.6. Coartado: Ausência de M e RC Neste modo experiencial os determinantes intelectuais (amadurecidos) e os afetivo-emocionais não são expressos no comportamento, ou seja, verifica-se retração destes recursos, o que poderá implicar em desinteresse no estabelecimento de vínculos e na utilização de concepções intelectuais. O contato com o ambiente seria extremamente empobrecido e restrito. O controle conativo também prevalece sobre a utilização dos outros recursos subjetivos. 5. EXEMPLOS:

5.1 Protocolo 669 Portanto: Verifica-se harmonia entre o que é expresso no comportamento e as tendências de personalidade latentes e menos conscientes.

R=22 M=1 m1 m’=O FC=0 CF =2 C=0 Cálculo Eq M: = 1,0 RC = O (0,5) + 2 (1,0) + O (1,5) = 2,0

Eg = 1 : 2,0 - Comportamento manifesto : Tendência à extroversão.

Cálculo de Eq’ : RM = 1 (0,5) + 1 (1,0) + O (1,5) 1,5 RC = O (0,5) + 2 (1,0) + O (1,5) 2,0 Eg’ = 1,5 2,0 - Tendência latente da personalidade: extroversão.

1 10 RORSCHACH CLÍNIco — MANUAL BÁSICO

5.2. Protocolo 22 / 98

BIBLIOGRAFIA: COELHO, L.M.S. Epilepsia e Personalidade: psicodiagnóstico de -

Rorschach, entrevistas e anameses heredológicas em 102 examinandos. São Paulo, Atica, 1980. COELHO, L.M.S. e SALVIA, M.C.P. Estudo Estatístico dos Fatores do Rorschach em População Normal Publicação Sociedade -



Rorschach de São Paulo, São Paulo, 1997. PIOTROWSKI, Z.A. Fere eptanalysis Philadelphia, Exlibris, 1965. SILVEIRA, A. Prova de Rorschach: Elaboração do Psico grama São Paulo, Edbras, 1985. —



-

R=22 M1 m1 m’=O FC=0 CF =2 C=0 CálculoEq = M:1,0 RC = 0 (0,5) + 2 (1,0) + O (1,5) 2,0 Eg = 1 : 2,0 - Comportamento manifesto : Tendência à extroversão.

Cálculo de Eq’ RM = 1 (0,5) + 1 (1,0) + O (1,5) = 1,5

-

RC = O (0,5) + 2 (1,0) + O (1,5) = 2,0

Eg’ = 1,5 : 2,0 - Tendência latente da personalidade : extroversão.

Portanto: Verifica-se convergência ou harmonia entre o expresso no comportamento e suas tendências profundas. 5.3. Protocolo 14 / 98 R59 M3 m1 m’=l(l) FC= 1 CF=1 C= O Cálculo Eq M = 3 RC = 1(0,5) + 1(1,0) + 1 ( 1,5 ) = 1,5 Eg = 3, O : 1,5 - Comportamento manifesto Tendência à introversão

Cálculo de Eq’ : RM = 3 (0,5 ) + 1(1,0) + 1(1,5 ) = 4,0 RC = 1 (0.5)+ l(1.0)+ 1(0)= 1.5 Eg’ = 4,0 1,5 - Tendência latente da personalidade: introversão

que é mais

DETERMINANTE LUMINOSIDADE GiSELLE B. PETRi M. COSTA

OCONJUNTO de manchas originais, elaboradas por Hermann Rorschach, eram uniformes quanto a sua tonalidade. Por esta razão, não há em sua obra nenhuma menção à diferença de tons como uma variável importante na construção das imagens. No entanto, o editor, ao reproduzí-las, borrou-as, fornecendo às manchas esta nova característica: as diferenças entre o claro e o escuro. Em virtude deste erro de impressão e das dificuldades na época de reproduzí-las novamente, Rorschach anexou ao seu livro dois estudos de caso (um de Oberholzer e outro de Schneider), onde aponta respostas “determinadas não pelos valores de cor e, sim, pelos valores de claridade e de sombra” (pág. 212 do livro Psicodiagnóstico) às quais denominou de F (C). Rorschach inicia a discussão às cegas do caso de Oberholzer reconhecendo a importância deste determinante: “Hoje gostaria de descrever-lhes, com o auxílio de um caso, primeiramente a técnica de levantamento de dados, depois o modo de interpretar e o estabelecimento do diagnóstico. Finalmente gostaria de pôlos em contato com uma nova faceta do teste, a qual parece vir a ser de grande importância para a psicanálise” (pág.205 do psicodiagnóstico). Nesta apresentação, Rorschach fez algumas afirmações a respeito deste efeito de claro e escuro nas manchas mas, reconhece que se fazia necessário mais pesquisas que elucidasse melhor seu alcance na interpretação da personalidade humana. Tendo morrido muito prematuramente, este determinante não foi suficientemente estudado por Rorschach, gerando muitas controvérsias entre os estudiosos que se sucederam. Muitos destes estudiosos do método de Rorschach computam, na classificação das respostas, um único determinante tanto para as respostas que se -

112 ROPSCHACH CUNIc0



MANUAL BÁSICO

baseiam nos diferentes tons da mancha, quanto para aquelas que projetam no borrão uma outra dimensão espacial. No entanto, Silveira aponta, com pertinência, as distintas atitudes mentais do examinando na construção de uma ou outra resposta. Na classificação das respostas no exame de Rorschach, é de vital importância observar o dinamismo psicológico presente na construção da imagem. As respostas que se utilizam das gradações de tons traduzem as reações particulares da esfera afetiva, enquanto que as respostas que contém perspectiva representam um tipo de contato com o meio externo mais intelectual. Silveira, em seu livro “Prova de Rorschach Elaboração do Psicograma” diz: “Nosso modo de ver é, pois, que os vários determinantes da -

associação devem ser distinguidos pelo caráter intrínseco de identificar áreas do mundo subjetivo não pela expressão variável, positiva ou negativa, como aquelas se exteriorizam”. No presente capítulo, vamos especificar apenas a classificação do determinante luminosidade -

-

que se refere aos diferentes empregos da tonalidade das manchas ou ao emprego das cores branca, preta e cinza. As respostas que se utilizam das gradações de tons traduzem as reações particulares da esfera afetiva que podem se dar em graus diversos de objetividade: L, C’, 1 ou 1’. Determinante E ou O modo mais comum da população média usar os tons monocromáticos e a gradação da luminosidade é dando-lhes uma forma. O uso dos diferentes tons na configuração de uma imagem, onde a realidade externa é considerada em primeiro plano, pode-se dar através do reconhecimento de experiências emocionais (resultante da adaptação cultural), como é o exemplo do C’ ou, através de uma construção intelectual individual, a partir de um estímulo afetivo, como é o caso do L, onde o trabalho psíquico será o de deduzir o significado oculto das situações. A título de ilustração, temos dois exemplos retirados da obra de Silveira (3): -

Protocolo 606

Pranch a P6: “Aqui torres”. VII velho, mei

parece uma igreja, não? (1: “Porque está caiada de o sujo”) P C’ arq

A capelinha com duas novo: outro lado já mais

RORSCHACH CLÍNICO — MANUAL BÁSICO 113

Neste exemplo, torna-se claro o reconhecimento concreto e imediato presente na construção desta resposta: a percepção da igreja em suas experiências está aqui representada, tal como foi apreendida. Trata-se, portanto, da repetição de uma aprendizagem sem um complexo processo de construção pessoal.

Protocolo 690 Prancha

p em P4 Descobri outra: seria o retrato de uma mulher, nua, vista de trás’. (1: “Aqui dentro (do P4, metade superior, isto é, P4-p24): estes tons mais clarinhos; as costas, uma parte do ombro; não isto (P3): uma pintura” p L pH Neste exemplo, é evidente o processo ativo de construção. Não houve reconhecimento passivo como a percepção da cor da igreja mas, ao contrário, um esforço de dedução sobre os diferentes matizes presentes na mancha. A resposta classificada como C’, portanto, representa sempre a aplicação de um aprendizado concreto na realidade externa. Esta classe de determinantes está representada pelo emprego das cores branca, preta ou cinza, como os exemplos a seguir atestam: -

Exemplos: Há, portanto, latente à construção destas respostas, um reconhecimento imediato tanto das características formais da figura como também de seu significado emocional. Assim, na elaboração destes perceptos, o papel da forma pode ocupar diferente importância, N °

Prancha s

1.

X

P8: “Aqui vejo uma pulga: com as pernas bem articuladas e sua cor preta “: P C’ A. A importância da cor é fundamental para o reconhecimento da pulga

2.

X

E29: “Parece aqueles anjinhos branquinhos que se coloca nas árvores de natal, tem cabecinha e mãozinhas e aquele corpinho cheinho e branquinho, lembro aqueles enfeites de natal” E C’ art

114 RORSCACH CUNICO — MANUAL BÁsico

a ser pesquisada durante o inquérito. Ou seja, existem respostas preferencialmente formais e acrescidas da cor (como mais um detalhe que a torna semelhante a sua correspondente na realidade externa) e, aquelas cuja forma fica secundária ao valor da cor como fator de reconhecimento.

Veremos alguns exemplos:

Exemplo: Esta resposta exemplifica a importância secundária da cor preta pois, se nao fossem os olhos pretos, a mosca ainda poderia ser identificada. O mesmo pode ser percebido nos exemplos a seguir:

Exemplos: N° Prancha 4. II P6” Dois frades, um de cada lado, fazem lembrar aquelas gravuras religiosas: os frades todos com aquelas roupas pretas “: P F (C’) H. 5. X P11” A torre Eiffel pelo formato e pela cor, O que mais me faz pensar em Torre Eiffel é a forma com esses vários tracinhos (aponta o contorno da figura), lembra a construção cheia de ferro e não maçiça da Torre Eiffel. A cor escura também ajuda a associar com construções como esta embora, não me lembro se a Torre Eiffel é cinza ou avermelhada”: P F+ (C’) arq 6. VII P3” Cabeça de elefante. O que mais me fez pensar em cabeça de elefante foi a tromba (p21). Depois vi que era cinza como um elefante e, conclui que de fato parece mesmo com a cabeça de um elefante”: P F+ (C’) pA. Porém, em outras ocasiões, a cor é primordial para o reconhecimento da imagem, como mostram os exemplos abaixo:

N °

Pranch a

3.

III

P1 (posição invertida)” Uma mosca, pelo aspecto de seu corpo bem forte, pelas patas (P5) para frente e, pelos olhos (P4) bem grandes e pretos”: P F (C ‘) A

RORSCHACH CLÍNICO — MANUAL BÁSICO 115

Exemplos: N° Pranchas 7. 111 P4” Uma bola de boliche porque é redonda e preta “: P C’ art. Se não fosse pelo fato dela ser preta, não seria uma bola de boliche. Neste caso, a forma tem um valor secundário ao reconhecimento da imagem. 8 IX E23” Um pinguim, pelo formato do corpinho com as costas pretas e a barriguinha branca “: E (p) C’ A. Igualmente neste exemplo, o pinguim foi reconhecido principalmente por sua característica fundamental, suas cores embora, o examinando possa ter checado a forma de seu corpo. 9. IX pequeno espaço lateral ao p30:” Um dente, porque lembrei, por ser comprido e branco, é um dente direitinho sem tirar, nem por”: E C’ pH. 10. 1 E29” Um montinho de neve. Eu já peguei neve na mão e fica assim mesmo, bem branquinho e esse jeito de montinho”: E C’ nat. Enfim, para a c1assificaço de F (C’) ou C’ puro, é necessário

proceder um inquérito cuidadoso onde fique clara a participaçAo das cores preta, branca e cinza na construção da figura. Por exemplo:

Exemplos: N °

li.

12.

Prancha s

V

G” Um morcego porque é bem parecido: aquela carinha de rato, mais ou menos nesta altura, assim enterrada no meio das asas, asas para baixo com seus radares aqui no alto e as perninhas aqui em baixo. Também pelo fato dele ser preto porque a maioria dos morcegos é preto”: G F (C’) A V

V

G “ Um morcego porque lembra bem, com essas asonas grandes e pretas. Lembra aquele morcego preto que o batmam projeta no céu”: G C’ A. Neste segundo exemplo, é evidente a participação fundamental da cor preta para a associação feita pelo examinando.

116 RORSCHACH CLíNICO



MANUAL BÁSICO

Esporadicamente, ainda, as cores branca, preta e cinza são utilizadas para um reconhecimento de um significado emocional na realidade externa de uma maneira muito básica e primitiva mas, não deixa por isso de se reportar ao C’, uma vez que se trata da aplicação de um processo de aculturação que se repete frente experiências novas. Neste sentido, o que importa é a relação de reconhecimento na construção da resposta e não a precisão da forma, como veremos nos exemplos a seguir:

Exemplos: Por fim, cumpre ainda lembrar que muitas pessoas usam a palavra escuro ou claro com a intenção de mencionar as cores enquanto, outras falam de preto ou branco para esclarecer o impacto da tonalidade das manchas em seu aparelho perceptivo, ficando mais uma vez ao encargo do inquérito esclarecer o real uso das tonalidades das manchas. Por exemplo:

Exemplo: O L, ao contrário, é sempre a construção de um significado na realidade objetiva a partir da percepção dos diferentes nuances. Esta resposta pode ser de qualquer natureza, vaga, abstrata ou definida. Veja as respostas a seguir:



Pranch a

13. III

P6 + p22”uma pessoa, o rosto (P6) e o corpo (p22). Esta cor branca ( p não localizado dentro de p22) é o bumbum que sempre é branco1’: P F (C’) H.

14. II

P1” Um pedaço de carvão, sei lá acho que pela cor, olhei e logo lembrei do carvão, assim

bem pretinho”: P C’ nat.



15 .

Pranch a

111

P1” Mulheres com roupa velório. São mulheres por parecem de coque”: P F

escura, devem causa dos seios, (C’) H V.

estar salto

em um e nuca,

Exemplo: RORSCHACH CLÍNICO



MANUAL BÁSICO

117

Exemplo.

N °

Pranch a

1.

VIII

N °

Prancha

2

VIII

p não localizado dentro de P5”Um esquema geométrico. Tipo aqueles esquemas de vetores. Sei lá, é meio esquisito mas, parece as flechas em diferentes direções aqui no mais escuro”: p L ab - apesar de ser um pouco vaga em sua forma, é uma construção pessoal elaborada na mancha.

p não localizado dentro de P5”Um anjo. Está bem definido. Aqui dentro, olha as asas, a cabeça, o corpo, as pernas”: p L ‘

Exemplo : N °

Prancha

3.

VI

p não localizado dentro de P Uma arara de lado, com a cabeça pequena e um rabo bem longo”: p L A

118

Exemplo. Prancha 4. RORSCHACH CLÍNLCO — MANUAL BÁsico

L

VI p

no vejo o

localizado contorno

dentro arredondado

P3” O sol, de

aqui no mais claro L nat. do sol’: p

Exemplo . N °

Prancha

5.

IX

dentro de E8, algumas nuances muito tênues podem ser utilizadas na construção da resposta” Castelos de contos de fada com a torre central mais alta e as laterais menores”: p L arq.

1

Exemplo : N °

Prancha

6.

IV p não formato

RORSCHACH CLÍNICO



localizado

dentro

de G “

Um

das folhas

sobrepostas”:

p

L ai

MANUAL BÁSICO



de

alface,

pelo

Estes exemplos mostram perceptos que ocorreram inteiramente em p não localizados, demarcados exclusivamente pela diferença de tons. No entanto, podem ocorrer casos onde há uma apreensão de uma área configurada por seu contorno externo, sendo complementada internamente por algum detalhe construído pelos diversos matizes. Neste caso, a classificação será em primeiro lugar a forma, ficando como adicional o L. Exemplo: Exemplo: 119

N °

Pranch a

7.

1

N °

Pranch a

8.

IV

parte superior de P4” Duas pessoas namorando numa rede. Estão com as cabeças juntas, olhando para o céu e apontando para as estrelas. A rede está aqui, neste mais escuro’: P F+ ( L) H.

P4 em posição lateral “ Um acróbata fazendo acrobacia com os olhos vendados. O corpo todo torto naquelas posições de acrobacia e dá para ver aqui no mais escuro um lenço amarrado na altura de seus olhos”: P M (L) H

RORSCHACH CUNICO — MANUAL BÁSICO

Muitas vezes, conforme os exemplos 7 e 8, a diferença de tons é aplicada de maneira bem definida dentro de uma área facilmente demarcada. Porém, outras vezes, a utilização das diferentes gradações de luz incrementa da mesma forma determinado percepto mas, com menor precisão, como atestam os exemplo 9 e 10: Exemplo. Exemplo: 120

N

Pranch

°

a

P9” Uma mulher carregando uma bolsa. aberta pois posso ver o forro por causa escura aqui”: P F (L) H V. 9.

III

N °

Pranch a

10.

VI

9

metade superior de P4, na posição lateral” Um tricô na agulha: aqui (p25) a ponta da agulha cheio de lã e aqui (borda logo abaixo com tons cinza claro e cinza escuro) a barra da futura blusa, dá para enxergar que são pontos maiores”:P F (L) art

RORSCHACH CLÍNICO

É

A bolsa (P4 ) está desta marca mais



MANUAL BÁsico

muito comum a utilização do claro e escuro para a demarcação de traços faciais:

Exemplo: Exemplo: 121

1 N°

Pranch a

11.

IX



Pranch a

P1 “ Um japonesinho sorrindo, ele tem uma camiseta estampada com letras japonesas. Tem uma espada em uma mão e na outra, uma toalha. Vejo pelo formato do rosto e do corpo até a cintura, O queixo e o sorriso, assim como a espada são bem visíveis por estarem em outra tonalidade. A toalha é o resto desta área, pelo formato irregulart: PF(L)H.

12.

P3” Um rosto maligno: tem um nariz pontudo e um topete na frente. Ele me parece maligno pelos olhos neste mais claro e, principalmente, pela boca cerrada com alguns dentes aparecendo nestes pontinhos mais clarostt: PF(L)pH.

VII

RORSCHACH

CLINICO — MANUAL BÁSICO

Obs. 1: Esta área mais clara correspondendo aos olhos não é considerada L dada a frequência com que ocorre. O L atribuído à resposta está em relação à percepção apenas da boca e dos dentes.

Exemplo: 122



Pranch a

13.

VI

P3” nari

Cristo z, bigod

com os braços e e barba”: P F (

abertos, vejo

aqui

seus

L) 1-1.

Obs. 2: Os espaços muito pequenos que complementam o percepto são considerados também como L por corresponderem mais a uma atitude de análise e dedução intelectual do que a uma atitude de oposição, representada pela resposta de espaço. Os exemplos a seguir poderão ilustrar melhor estes casos: Exemplo: N°

Prancha

14.

X p28” Uma pessoa bem magrinha. Lembra uma pessoa pelo formato do corpo com os bracinhos para o alto...parece de vestido e as perninhas embaixo. Estes branquinos aqui so

olhos,

os olhos”: p F (L) H.

RORSCHACH CUNIc0 — MANUAL BÁSICO

123

Obs. 3: Embora a maioria dos determinantes L puro acompanhe a modalidade p, é possível encontrar respostas de L em áreas correspondentes ao P. Ocasionalmente, a construção do percepto atinge o limite de uma área facilmente localizada mas, é preciso notar que não foi o feitio do contorno que determinou a resposta, como os exemplos a seguir vem testemunhar. N °

Pranch a

15

1

N °

Pranch a

16

IX

P4: “Uma pessoa de boca aberta. Pelo formato, parece uma mulher. As pernas juntas, a saia, os braços para cima e a boca aqui neste branquinho, ela parece que está de boca aberta” P F ( L) HV

p26: “Uma bota de cano alto, buraquinhos”: p F (L) vst.

dá para ver os botões nestes

124 RORSCHACH CUNIco — MANUAL BÁSICO

L

N °

Pranch a

17

VIII

P6: “Um perfil feminino: a testa, o nariz e o queixo aqui no contorno. Aqui dentro, nestes mais escuros, parecem as dobras do lenço que cobre sua a cabeça”: P L pH.

N °

Pranch a

18

X

N °

Pranch a

19

VII

P15: “ Um duende, olhando a paisagem ao longe, parece calmo...tem as mãos no bolso, o chapéu pontudo...Vejo o contorno de sua barba, o colete mais escuro, as calças guardadas dentro das botas. O jogo de tons dentro desta figura me permite visualizar cada detalhe”: P L H.

P4: “ Duas mulheres se beijando na boca. As cabeças delas estão aqui (PIO), não dá para definir direito, o que me está mais claro são os perfis delas com as bocas encostadas”: P L pH

ROPSCHACH CUNIc0 — MANUAL BÁSICO

125

Determinante 1 Quando as tonalidades de luz são percebidas mais em função de sensações subjetivas táteis e menos relacionadas à percepção na realidade externa, tabulamo-las de 1, sendo muito comuns as sensações de textura e de relevo. Desta forma, o determinante 1 refere-se a uma -

experiência tátil como demonstra o exemplo a seguir, retirado da obra de Silveira (3):

Protocolo 702 Prancha X P13: “ < Aqui um bicho polar porque é lanudo, esse pelo denso de animal polar “: P 1 A.

Da mesma forma que em C’ e em L, cumpre-se verificar através do inquérito, se o examinando conseguiu circunscrever sua sensação tátil dentro de uma forma objetiva ou se o 1 se mantém como uma sensação central no percepto. Na primeira condição computa-se F (1) e, na segunda, a notação indicada é o 1 como determinante principal. Alguns exemplos abaixo permitem o maior esclarecimento: N °

20

Pranch a

IX

P4: “Nessa bola aqui embaixo, não dá para ver direito mas parece um bichinho, ainda filhote comendo tipo uma fruta, é toda essa parte , vejo a parte de cima de uma fruta, sei lá... tipo maçã, o rostinho e talvez. ..uma patinha aqui. O resto faz parte dele, fica assim o geral dele, embora não me fica claro... Sei que é um filhotinho comendo algo.. .É isso”:

P L A.

126 RORSCHACH CUNiCO N° Pranchas



MANUAL BÁSICO

1. VI G: “Um tapete de pele, deve ser de felino. Parece tapete por causa de seu pelo bastante sedoso e, me lembra felino porque aqui parecem os bigodes (p26), a barba (P6) e as patas da frente e traseiras (p29)”: G F (1) A V. 2. VI G: “Uma raia. Para dizer a verdade não me lembro direito de uma raia, não sei nem se ela tem rabo ou não. O que me fez lembrar uma raia é essa pele cinza, bem lisinha e sem escama. Parece de borracha, dá a impressão de borracha úmida”: P 1 A. Note que apesar da examinanda referir-se a cor cinza, o que predomina é a sua sensação tátil, desprovida de uma percepção formal, sendo esta resposta classificada como 1. 3. VIII P1: “Um felino, não sei qual é. Lembra felino pelas quatro patas, pelo rosto afinalado e também pelo corpo bem musculoso. Acho que essas manchas aqui dentro dão a idéia de muitos músculos que cobrem seu corpo, é um corpo bem trabalhado”: P F (1) A. 4. IV área dentro de G: Uma radiografia de dentro da gente. Acho que estas diferenças de tons dão a idéia de vários tecidos que a gente tem dentro do corpo”: O 1 an.

Obs. 4: Da mesma forma que pelos, músculos e tecidos como de monstra os exemplos acima, a idéia de cheio ou sólido também aferem à sensação de textura. Vejam os exemplos 5, 6, 7 e 8. N°

Pranchas

5

X P11: Alvéolos e a artéria no meio. Lembra uma artéria “

porque está no meio e é mais compridinha. Dos lados, parecem dois alvéolos porque são redondinhos e porque parecem cheinhos. Dá a impressão de ter ar dentro P F (1) an. 6

II P2: “Algo inflado. Dá a impressão de ser algo que encheram de ar e ficou assim estufado. Parece que se eu

apertar faz assim (gesto), não parece nada muito definido...Também não seria uma bexiga, é mais a sensação de cheio de ar mesmo”: P 1 ab.

RORSCHACH CLíNICO



MANUAL BÁSICO 127

De igual maneira, a formação de uma imagem nas manchas do Rorschach pode vir acompanhada de uma percepção de uma área mais concentrada do que a outra. Esta observação revela também uma elaboração ligada a um contato íntimo com o estímulo, definindo, portanto, mais uma forma de experiência tátil, sendo classificada como 1. Observe o exemplo 9: Muitas vezes, a percepção de relevo se confunde com a idéia de perspectiva. Neste sentido, é importante que o inquérito confirme se houve a experiência subjetiva de um espaço, onde foi construída uma imagem em profundidade (determinante de perspectiva) ou a percepção dos diferentes tons permitiu uma associação relacionada ao relevo mas cuja imagem se mantém num mesmo plano (determinante luminosidade). Os exemplos 10, 11, 12 e 13 permitem maior esclarecimento: N °

Prancha s

VI

P4: “ Um navio de petróleo daqueles que ficam em alto mar. Pensei primeiro em navio pelo formato do casco e do mastro no meio mas, fiquei encasquetado com esse cinza, dá a impressão daqueles navios pesados que nem conseguem andar rápido. Então, lembrei desses navios que ficam em alto mar “:P F (1) obj.

8

VII

P6: “ Estatueta de bronze. Deve ser aquelas obras de arte que não parecem nada porque não tem forma de nada mas, é de bronze porque está mais escuro aqui no meio e isso faz eu ter a impressão de um material compacto, pesado P 1 art.

N °

Pranch a

9

IX

7

E8 + P5: “Uma fonte de água. Aqui no meio, é o eixo da fonte de onde brota a água porque aqui a tonalidade é mais escura e, portanto, a água está mais concentrada, aqui dos lados a água está dispersando no ar porque a tonalidade está bem leve”: E (P) F (1) arq.

10. VI P1: “ Uma cadeia de montanhas. A forma desta figura me fez lembrar aqueles mapas fisicos que a gente estuda na escola em geografia. O contorno irregular e estas diferenças de tons servem para indicar as características do relevo desta região: os dobramentos modernos, por exemplo, do Chile”: P F (1) mp. E diferente quando o examinando descreve uma vista aérea onde o espaço está presente, será uma resposta de perspectiva (ver capítulo sobre perspectiva, observação 3). 11. III P7: “ Uma caixa toráxica. Parece uma caixa toráxica pelo formato côncavo que os ossos fazem. Estes traços cinzinhas assim, pelo seu aspecto leve e voltado para trás dão uma sensação de ser côncavo o suficiente para abrigar aqui dentro, neste espaço, outro orgão, por exemplo, o ______ ptlmão”:P(E)F(l)an.

128 PORSCHACH CLINICO — MANUAL BÁSICO



12.

Pranch a

VI

O na posição invertida: “Uma ferramenta pendurada na parede. Esta forma, lembra bem uma ferramenta e o resto do cartão, aqui dos lados (referindo-se ao espaço), pode ser a parede. Essa diferença de tons aqui, em todo o contorno da figura, dá também a impressão da ferramenta sobressair em relação à parede, tipo holografia”: GE F (1) obj. Embora o examinando descreva a parede atrás da ferramenta, sugerindo uma visão em perspectiva, não houve o uso do espaço mas, apenas, uma percepção de relevo ao referir-se ao corpo da ferramenta.

RORSCHACH CLiNico — MANUAL BÁSICO

129

Neste exemplo, a diferença de tons não é usada como uma sensação tátil mas, dentro de uma construção intelectual e, portanto, não se trata do determinante 1 e sim do L. De qualquer maneira, o exemplo tem como objetivo apontar para a necessidade de muita cautela ao analisar as respostas onde o uso da diferença de tons pode ser confundido com a percepção de perspectiva. A idéia de tridimensão (classificação do determinante perspectiva) deve obrigatoriamente ocupar-se do espaço fisico, enquanto que a diferença de tons pode criar uma idéia de relevo ou de planos sobrepostos, sem o uso do espaço (ver capítulo sobre perspectiva). Enfim, o importante para a classificação do 1 é a experimentação tátil de uma imagem concebida no ambiente externo. Veja, a partir dos exemplos 14 e 15, o caráter tátil que permeia a formação da

imagem e que, portanto, reflete a natureza do contato com determinados aspectos da realidade externa:



Pranch a

P4: Um ser com as pernas abertas e o corpo debruçado para frente. Os pés aqui ( p 22), os ombros aqui no contorno superior. Na frente do corpo, vejo o topo da sua cabeça, projetada para frente. A cabeça dá para ver por este tom mais claro “: P F (L) H. “

13. VIII



14.

15.

Pranch a

II

P2: “ Chapéu de espuma. Parece chapéu pelo formato comprido e arredondado na ponta. A diferença de tons dá a impressão dele ser de espuma...olhando dentro dele até parece meio poroso como uma espuma de verdade”: P F (1) vst.

III

P4: “Protetor de orelha. Pelo formato um pouco ovalado, é bem parecido com aqueles protetores de orelha que se vende em países frios. Ele é bem quentinho, parece que é de lã. Estes mais clarinhos aqui dentro me lembram aqueles pelinhos que ficam um pouco em pé nos tecidos de lã pura P F (1) vst.

130 RORSCHACH CUNICO MANUAL BÁSICO Determinante 1’ O determinante 1’ é aferido sempre que a associação do examinando referir-se a uma sensação interna, predominantemente tátil mas extremamente subjetiva e independente dos parâmetros estruturais da mancha. Neste sentido, a ausência completa de estrutura à sensação descrita pelo examinando é um dado diferencial na classificação do 1’, como veremos no exemplo de Silveira (3): —

-

Protocolo 720 Prancha

VII G: Dá a impressão de algodão...podia ser lã...mas dá a sensação de muito macia, talvez lã, sei lá... (1: “O conjunto. São flocos, fofos, macios...’): G 1’ vst. A idéia de “macio” pode ser percebida pelo examinando de diferentes formas, por exemplo, o examinando pode referir-se à textura de macio dentro de uma resposta mais vinculada à estrutura da mancha (determinante 1) ou, simplesmente associar a uma sensação basicamente interna ( determinante 1’). Vejamos os exemplos: Assim como nos casos anteriores, o determinante 1’ pode ocupar o lugar principal na classificação ao participar de maneira predominante na construção do percepto (1’ ) ou, vir em adicional a uma -

-

percepção formal (F(l’)) ou a qualquer outro determinante mais preponderante na resposta (Det. (l’)), como os exemplos a seguir podem ilustrar:

N °

Prancha s

1.

VI

P1: “Dá a impressão exata de paina, sabe tipo aqueles algodões que nascem em paineiras? E mais pelo jeitão e, aqui dentro, nestas manchinhas, por estes pinguinhos mais escuros, lembra bem aquelas tramas entre os fios que deixa a paina macia e sedosa”: P 1 nat.

2.

VI

P1: “Me parece um casaco quente. É a forma de casaco, aqui as mangas e dá a impressão de ser aberto no meio, por causa da simetria. (7) Não sei porque ele me parece quente.. .parece aconchegante, macio.. .talvez esse tom, lembra algo quente”: P F (1’) vst.

VII RORSCHACH CLÍNICO



MANUAL BÁSICO

ES: “Um diamante. Parece aquelas pedras preciosas bem lapidadas: primeiro pelo formato assim triangular e depois porque este brilho é inconfundível “ : E F (1’) obj. A pedra preciosa foi percebida por seu aspecto formal e acrescida por uma sensação que independe das características estruturais da mancha, relacionando-se a uma sensação inteiramente subjetiva de brilho.

O: ‘Eu não vi nada além de uma coisa feia, talvez um bicho.. .É uma coisa preta, cinza escuro. ..uns contomos que saem .umas coisinhas para fora.. algo muito nojento “: O 1’ A P13: “Parece um caracol. Lembra um caracol pelo volume do corpo assim gordo com a cabecinha para fora. Também... o aspecto dessa cor.. .dá a impressão de um corpo mole, meio gosmento : P F(l’) A.

o

- “Algo molhado... caiu e molhou. Olha até respingou aqui (p23). Parece molhado, não sei te explicar porque. Dá vontade até de passar a mão assim. ..Ai, que esquisitol “ : O 1’ ab.

P3: ‘ Uma chama. Chama de um fogo qualquer: pode ser de fósforo, fogueira... sei lá. ..É mais a forma comprida com esse jogo de vários tons aqui dentro. Existe sempre um jogo de tonalidades dentro do fogo”: P F(l’) fg.

P4: “Um rosto com expressão de tristeza. É um rosto amorfo, não vejo traços. A sombra, esta coloração dá uma idéia de tristeza” P 1’ ab. O: “Um palhaço de festa de criança. Parece um palhaço principalmente pelo sapato com este bico comprido e também pelo rosto (P3) e pelos braços (P4). Eu associei a festa de criança, além lógico pela própria figura do palhaço, por causa da sua roupa com estas tonalidades diferentes. É uma roupa com muitos tecidos diferentes o que dá esta tonalidade diferente, um certo brilho, ficou legal! Não dá para ver os tecidos mas seu efeito” O F (1’) H V.

10. IV O: “Uma alga do mar. Pensei em alga do mar porque o que chama a atenção nelas é a sua tonalidade. Quase não dá para ver seu corpo e a sua forma porque 90% de seu corpo é água. O que faz sua presença é simplesmente a sua tonalidade, meio transparente” O 1’ A

11. IV O (na posição invertida): “Um pulmão doente. O formato lembra pulmão: arredondado nas pontas e simétrico dos lados.. .acho até que aqui no meio é a coluna do coitado Parece doente pela cor assim desbotada, parece que o pulmão está desmilinguindo.. .se desfazendo.. ele está em fase terminal’ O F (1’) an.

12. VIU O: ‘Fluidos de um corpo. Pelo aspecto destas figuras.. .parecem viscosas e tendem a se aglutinar pela aparência pegajosa mesmo delas, só’ O 1’ an. 13. VI O: ‘Sabe o que me parece? Quando a gente sai no meio do mato em noite de lua cheia. Não vejo nada especificamente, apenas a claridade d’o luar na noite’: O 1’ ab

O determinante 1’, muitas vezes, é computado para registrar alguma sensação interna bastante intensa que o examinando não é capaz de identificar como efeito dos diferentes matizes da mancha. 3. Prancha II

131 4. IV 5.

x 6. 1 7. IX 8. 9. IV

132 ROPSCHACH CLiNICO MANUAL BÁSICO N° Prancha 14 X P8: Ácaros. Lembram ácaros porque so esquisitinhos: tem corpinho arredondado e antenas. Também porque eles me parecem asquerozos, nojentos, horriveis...ô coisinha feia’: P F( 1’) A. 15 V G: Uma borboleta estranha, daquelas que traz azar. Borboleta pelo formato e traz azar porque é muito feia, desajeitada...desprovida de beleza...talvez porque seja assim sem cor”: G F (1’) A V. 16 II P1: “Uma carne prensada (P1 + P2). Porque é assim (gesto —



de amassado), algo que já morreu. Aqui (P2) ainda vai morrer...porque ainda no está com este aspecto de prensado” P 1’ an. Enfim, cumpre assinalar que os diferentes determinantes de luminosidade não podem ocupar uma mesma classificação. Ou seja, não é possível termos, por exemplo, o C’ como determinante principal e o L como adicional C’ (L) ou, ainda o L com o 1’ em adicional L(l’) Nestes casos devemos avaliar com cuidado a elaboração da resposta a fim de decidir a melhor opção: desmembrar a resposta ou classificar apenas o determinante que alude a um maior desenvolvimento na elaboração da imagem. -

-

-

Houve nesta resposta apenas uma classificação uma vez que o examinando suplanta a inicial percepção do 1 a partir de sua evolução para a percepção do C’. Os determinantes L e C’ indicam uma maneira mais amadurecida de reagir emocionalmente em função da maior participação do estímulo objetivo na utilização dos tons. Em contrapartida, os determinantes 1 e 1’ correspondem à reações emocionais mais imaturas. N °

17

Pranch a

VII

P6: ‘ Aqui no meio parece um fumegueiro, uma fumaça bastante encorpada. . .Na realidade, vendo melhor, parece uma ilha, ao longe, pegando fogo. Fica aquela imagem preta no fundo, como nos filmes de guerra. Isso é um incêndio nas casas simples de pescadores, como acontece nos filmes de guerra, quando a paisagem fica toda escura e queimada”: P Ps (C’) pz.

RORSCHACH CUNICO — MANUAL BÁsico 133

Desta forma, quando temos a partipação de dois determinantes, um mais primitivo e outro mais amadurecido, numa mesma elaboração, como no exemplo 17, consideramos apenas aquele mais amadurecido, concluindo uma integração do primeiro ao segundo. Ou seja, nesta resposta acima, o examinando descreve para o examinador cada fase da construção de sua imagem mental, de modo que podemos perceber claramente a passagem do 1, quando o examinador relata a percepção de algo encorpado (pois está referindo-se a uma percepção tátil baseada nas características da mancha), para o C’, quando o examinador faz sobressair a cor preta, presente nas queimadas vistas em filmes de guerra (referindo-se a um padrão emocional aprendido culturalmente). Existem, no entanto, respostas que seguem outra dinâmica onde, por exemplo, vários determinantes de luminosidade podem estar compondo um mesmo percepto, mantendo uma participação distinta e não compensada como o exemplo n°17 demonstra. Nestes casos devemos desmembrar a resposta a fim de preservar o mecanismo presente no trabalho mental do examinando. Veja o exemplo a seguir: N° Prancha

18. IX P3 + E8: “Dois magos (P3) em volta de uma lâmpada mágica (E8) assistindo ao futuro deles. Eles estão muito compenetrados. Penso em dois magos por causa dos chapéus pontudos e pelas mãos muito compridas segurando a lâmpada mágica. Dá até para ver a marca do braço junto ao corpo (L). Eles parecem compenetrados por causa da grossa sombrancelha franzida sobre os olhos (L), estão com os olhos fixos dentro da lâmpada. Disse lâmpada primeiro pelo formato e, depois por

causa do brilho que emite dela (1’). É um brilho misterioso que oculta muitos detalhes da vida dos magos”: P F (L) 1-1 V (para os magos) e E F (1’) obj (para lâmpada). Nesta resposta, os determinantes de luminosidade ocupam lugares diferentes embora participem de uma mesma elaboração. Por esta razão, utilizamos o artificio do desmembramento de resposta a fim de explicitar os diferentes dinamismos psicológicos presentes neste percepto. 134 RORSCHACH CLÍNICO



MANUAL BÁSICO

Nota: Os exemplos citados neste capítulo foram adaptados para terem como determinante adjunto apenas a forma (F) com o fim de facilitar nossa exposição. Foi feita apenas uma excessão no exemplo 17 onde achamos didática a incorporação do ps pelo Ps e do 1 pelo C’. Também ocultamos a qualidade formal das respostas de forma para termos a atenção centrada somente no esclarecimento da classificação do determinante luminosidade.

BIBLIOGRAFIA COELHO, L. M. 5. Epilepsia e personalidade ia ed. São Paulo, Ed. Atica, 1975. RORSCHACH, H. Psicodiagnóstico 8 ed. São Paulo, Ed. Mestre Jou, 1978. SILVEIRA, A Prova de Rorschach: elaboração dopsicograma ia ed. São Paulo, Ed. Brasileira Ltda, 1985. -



-

-

-

-

CONTEÚDO DAS RESPOSTAS GISEflE B. PETÍRi M.

CosiA

OEXAME de

Rorschach é antes de tudo um método de investigação da personalidade uma vez que retrata, através da percepção, o funcionamento dos processos mentais de modo amplo e profundo. Coelho, em Fundamentos Epistemológicos de uma Psicologia Positiva (pág. 169), sublinha que “a percepção representa a abertura do homem para o mundo”, lembrando exatamente que não se trata apenas do início de um processo de observação e captação das informações externas mas, de um trabalho psíquico dinâmico que envolve toda a personalidade. A percepção requisita desde o funcionamento cerebral até processos mentais inconscientes, além de modelar suas relações com o ambiente físico e social. H. Rorschach em sua obra (pág. 17) assinala: “Na medida em que a percepção possa ser considerada como uma integração associativa de engramas com complexos recentes de sensações, a interpretação das manchas pode ser considerada como uma percepção na qual o esforço de integração do complexo sensorial com o engrama é tão grande que se efetua conscientemente como um esforço integrativo”. Principalmente Piotrowski e Silveira desenvolveram uma análise deste método de exame psíquico pautada na compreensão sistemática dos processos mentais que participam da construção da imagem através da percepção. Portanto, a classificação, segundo o modelo de Silveira, deve registrar a dinâmica particular do psiquismo em cada percepto de modo que a construção do psicograma venha revelar uma estrutura sistematizada e integral da personalidade. Nestes termos, o conteúdo da resposta fornecida às manchas representa uma fase final do processo de percepção quando o sujeito categoriza sua imagem mental dentro de uma cadeia de significados adotada pela coletividade. Ou sej a, o conteúdo é uma codificação de uma experiência única e particular

li 136 RORSCHACH CLíNico — MANUAL BÁSICO

para um sistema verbal passível de comunicação interpessoal. Enquanto a modalidade corresponde à captação seletiva dos estímulos no ambiente e os determinantes representam as elaborações psíquicas, os conteúdos apontam para a utilização da linguagem na comunicação. Consequentemente, o conteúdo, dentro de uma classificação das respostas às manchas, é a categoria mais sujeita ao controle consciente. Por esta razão, na classificação de uma resposta no exame de Rorschach, o conteúdo corresponde à expressão verbal daquilo que o sujeito vê nas manchas. Ou seja, na classificação da resposta, o conteúdo assinalado é estritamente aquele comunicado verbalmente. Para tanto, servimo-nos de uma tabela de conteúdos onde encontram- se listadas as diversas categorias dentro das quais as respostas às manchas se agrupam. TABELA 1 Lista das categorias utilizadas na classificação das respostas de Conteúdo —

Abrev.

Conteúdo

Exemplos

A

Figura Animal

Cavalo, elefante, pulga, crustáceo

pA

Parte de fig. animal

Crina, rabo, pata

H

Figura Humana

Pessoa, mulher, Jesus Cristo, saci

pH

Parte da fig. Humana

Olho, cabelo, braço, cabeça

ab

Abstração

Emoções, números, letras, figuras geométricas

ai

Alimento

Frutas, carnes, pratos preparados, legumes

an

Anatomia

Ossos, músculos, órgãos internos, produtos produzidos pelo corpo como urina, fezes, saliva...

ant

Antiguidade

Seres ou objetos pré-históricos

arq

Arquitetura

Construções, casas, pontes, ninhos, formigueiros, viadutos

art

Arte

Pinturas ou esculturas, instumentos musicais ou notas

bt

Botânica

Árvores, plantas, folhas, madeira, pau

ci

Ciência

Lâmina de microscópio, átomos, bactérias, informações que exigem conhecimento científico

fg

Fogo

Fogo, fumo, fumaça, explosão

ggr

Acidente geográfico

Ilha, rio,montanha

mp

Mapa

Mapa do Brasil, da Europa

ml

Referência militar

Espada, faca, revólver, foguete

nat

Natureza

Agua, areia, pedra, sol

nv

Nuvem

Nuvem, bruma, neblina

obj

Objeto

Mesa, porta, vaso

pz

Paisagem

Sempre que a resposta envolva a construção de uma cena

ri

Religião

Crucifixo, hóstia, terço

sg

Sangue

Sangue

sx

Sexo

Orgãos genitais externos e internos desde que associados à reprodução

vst

Vestimenta

Saia, avental, chapéu, bota

RORSCHACH CLíNCO — MANUAL BÁsico 137

Apesar de contarmos com uma tabela como referencial, é importante, na classificação dos conteúdos, analisar o percepto dentro de seu contexto. Consequentemente, algumas dúvidas podem surgir pois, muitas vezes, o percepto pode ser entendido dentro de duas ou mais categorias, O inquérito, nestes momentos, deve pesquisar qual o sentido mais importante naquela associação para uma classificação adequada do conteúdo. Procuramos abaixo selecionar alguns grupos de categorias que podem trazer dúvidas, ilustrando, através dos exemplos, o conceito mais exato destes conteúdos. Lembramos, contudo, que sempre que as respostas às manchas trouxerem dúvidas quanto à classificação apropriada, o inquérito é o único e o melhor instrumento de que dispomos: Conteúdos A e ai (exemplos 1 a 3) Conteúdos A e an ou H e an (exemplos 4 a 11) Conteúdos A e pA ou H e pH (exemplos 12 a 18) Conteúdos A e ci (exemplos 19 e 20) Conteúdos A e H (exemplos 21 a 36) Conteúdos an e sx/ sx e pH (exemplos 37 a 44) Conteúdos an e sg (exemplos 45 a 47) Conteúdos an e ci (exemplos 48 a 51) Conteúdos pz/nat/ggr (exemplos 52 a 60) Conteúdos obj/ ml! art (exemplos 61 a 74) Conteúdos ggr e arq (exemplos 75 a 77) Conteúdos rl e ab (exemplos 78 a 83) Conteúdos ant e art (exemplos 84 a 87) Conteúdos vst e art (exemplos 88 a 90) — — — — — — — — — — — — — —

Conteúdos A e ai N °

Prancha s

1.

X

P2 — “Um peixe amarelinho, igual aqueles de aquário, com o rabo bipartido assim...e as branquias aqui dos lados...”: P FC A

2.

VI

P1 —“ Sardinha...é bem aquelas sardinhas que se vende em mercado, pelo formato assim aberto...”: P F+ ai V

3.

IX

P3 — “Um camarão...dessa cor mesmo, quando frito, fica assim dessa cor dourada...”: P FC ai

RORSCHACH CLÍNIco — MANUAL BÁSICO

Conteúdos A e an/ II e an Neste exemplo, o aspecto anatômico na percepção de “burro” está muito mais presente do que a percepção de animal. —

Quando, no entanto, a percepção de animal imperar, mesmo que de modo desvitalizado, o conteúdo deverá permanecer como A (Animal) veja os exemplos 6 e 7. —



N° Prancha

De maneira semelhante deve-se dar o raciocínio quando o impasse na classificação incluir pA ou an e H/pH ou an. Exemplos: N° Prancha 138

N °

Prancha s

4.

1

P2 — prancha na posição lateral - Um burrinho, pelas orelhas grandes, pelo porte, parece de quatro patas e o formato do corpo...”: P F+ A

5.

1

P2 — prancha na posição lateral — “Parece uma vez que eu estava passeando no campo e vi um burro jogado no mato

morto...ele estava assim...sem os olhos, buracos no lugar, os urubus deviam ter comido (refere-se às diferenças de tons na altura dos olhos) e sangue pisado pelo corpo todo nestes tons mais claros e mais escuros aqui dentro...”: P F+ (1) an

.

6.

VI

P3 — “...Uma borboleta...acho que ela está morta porque

está sem cor, sem vida...Tem o corpinho aqui no meio, as asas laterais...está intacta mas...parece morta, sem vida...”: P F+ (1’) A

7.

VI

8.

1

P4 — posição invertida — “...Parece um cachorro de pelúcia apoiado nas patas traseiras, é daqueles que dá corda e ele pula para trás, pelo formato principalmente e pela diferença de tons que faz lembrar os pelinhos...”: P F+ (1) A

1) para cima...”:

P4 — “...Uma pessoa com as mãos (P

P F+ H V 9.

1

P4 — “. ..Um cadáver que acabou de ser desfeito, só dá para ver as mãos aqui em

estado de putrefação...”: P F+ an

está em

desenterrado, está cima (P 1). Ele



ROSCHACH CLíNico MANUAL BÁSICO 139

Obs. 1: Ainda neste ítem, cabe discutirmos o conteúdo feto. A resposta de feto deve ser classificada como an e não como H uma vez que ainda não apresenta as característica humanas do interelacionamento que, de maneira breve, corresponde à interpretação das respostas humanas, a ser, em outro momento exaustivamente discutido. Nesta resposta, embora o conceito principal seja tapete, sendo portanto, de utilidade doméstica (obj), o conceito de animal encontra- se intrínseco, devendo-se manter, portanto, o conteúdo animal (A). O mesmo não se nota no exemplo 13 que, por perder as características animais, o conteúdo —

permanece como objeto ( obj):

N° Prancha 10. IX P4 + PIO Uma criançinha sentadinha com a lingua de fora...”: P F+ H V —

li. IX P4 + PIO — “...Parece direitinho um feto, cabeça grande, chupando o dedo, corpinho ainda miúdo e pouco definido...”:

P F+ an V

Conteúdos A e pAI H e Ph N° Prancha 12 VI G — “...Um tapete de pele...Parece tapete daqueles sítios de antigamente. ..dá para ver que é bem rústico. ..aqui seriam as patas e aqui a cabeça...”: O F+ A V



Pranch a

13.

VI

P1 — “...Um tapete...pelo formato, sabe aqueles antiderrapantes para chuveiro? E sempre assim com esse formato irregular, alguns até imitam pezinhos, outros sao como estes, apenas irregular...”: P F+ obj

14.

V

PIO — “...É

direitinho uma cabeça de jacaré, pelo formato...”:

P F+ pA

140 RORSCHACH CLiNICO



MANUAL BÁSICO

Nesta resposta, embora só uma parte do animal esteja sendo circunscrita na prancha, o sujeito o está concebendo de maneira integral, devendo ser, portanto, classificada com o conteúdo A (animal). N° Pranchas 16. VII P1 “...Parece o rosto de um índio porque dá para ver o perfil, a testa, o nariz e a boca com uma pena na cabeça...”: P F+ pH V 17. Vil P9 “...Uma mulher dançando: a cabeça (P1) com um grande coque, a mão virada aqui (p21), a cintura (entre P2 e PiO) e o resto do corpo dançando...”: P M+ H V 18. VIII Parte central de P4 “...Uma dançarina se preparando para entrar em cena atrás de uma porta tipo de bar, sabe aquelas que não vão até o final e abre no meio? Vejo o arranjo em seu cabelo aqui (p24) parece aqueles enfeites que espanhola usa no cabelo, seus pés estão aqui embaixo (p não localizado no final de P4) e aqui (lateral superior de P4) seus braços se arrumando. Aqui ( p30 é o lugar onde a porta vai se abrir...é só começar a música!...”: P M+ (Ps) H De maneira semelhante ao exemplo 15, a dançarina, no contexto da resposta, está sendo concebida de maneira integral, não sendo coerente notarmos pH. —





Conteúdos A e ci



Pranch a P4 + P6 — ‘.Parece um veado escondido dentro de umas folhagens ou talvez de uma moita. ..Imagino que ele está dentro porque vejo a cabeça com seus chifres aqui (P6), algo encorpado no meio que deve ser alguma planta e suas pernas aqui (Pio). Só falei folhagens ou moita porque não sei dizer que forma é essa...o corpo de veado não é assim.. .como imagino os veadinhos soltos na mata, penso que aqui está desta forma por causa das plantas, deve ter entrado dentro de alguma moita...”: P F+ A

15 .

V



Pranch a

19.

X

P8 — “...Uma pulga por ser preta e ter estas patinhas fininhas em um corpinho miúdo...”: P C’ A

20.

X

P15 “...Lembra bem uma ameba... é disforme, unicelular e eucariota. ..além de gelatinosa, lembra esta textura...”: P F+ (1’) ci

Conteúdos A e H RORSCHACH CLÍNICO

MANUAL BÁsico



Respostas como monstros, vultos, seres ou sincréticas (por exemplo, mistura de animal com humano) requerem um inquérito minucioso para que seja possível identificar as características, animais ou humanas, que mais fundamentam a resposta. Vejam os exemplos a seguir: Neste exemplo, o conteúdo mais apropriado é o humano (H) uma vez que a idéia de ameaça, da maneira descrita pelo examinando, está mais presente na relação interpessoal. —

Apesar do sincretismo presente na resposta, houve uma identificação com o percepto quanto à qualidade humana, prevalecendo o conteúdo H. -



Pranch a

21.

IV

G — “...Um monstro andando e arrastando o rabo (?) Ele é grande, muito peludo e pesadão. Tem um rabo bem grande e aquelas peles grossas e ásperas...”: G F+ (1) A V

22.

IV

G “...Um monstro andando e arrastando o rabo (?) Um pé grandão e os braços abertos vindo para cima de mim. Tem um rabo enorme, é um tipo de mutação genética e acho que não deu certo...EIe ficou muito agressivo...”: G F+ H V —

P2 — “...Um vulto...não sei...É quando a gente está em um lugar e vê uma

23.

1



Pranch a

24.

V

sombra se aproximando e foge antes de ver vulto de quê...(?) Não sei te dar nenhuma descrição, é uma sombra bem vaga...a cor e algum formato de ser...Humano ou animal, não sei...”: P C’ H

G — “...Um ser, meio homem, meio animal: Tem o corpo de homem (P7), a asas (P4), orelhas de coelho (P8) e pernas de antílope (P9). Tipo uma caricatura da decadência da

humanidade...”: G F+ H

142 RORSCHACH CLÍNICO



MANUAL BÁsico

Nesta resposta, ao contrário da anterior, não houve um identificação com o lado humano do monstro mas uma percepção ligada ao aspecto animalesco deste ser, ligando-o a um “monstro medieval”, sendo mais acertada a classificação A. Os conteúdos A e H ainda merecem alguns comentários por serem os mais frequentes na população média e apresentarem maior importância para a interpretação da personalidade. Por estas razões, também é o conteúdo mais valorizado em uma classificação, sendo, sempre que possível, enfatizado na notação da resposta. Vejam os exemplos:

N° Prancha 26. X metade de P6 Um cachimbo em madeira esculpida. Tem a forma de cachimbo com aquela parte mais gordinha na ponta e aquela mais comprida que vai à boca na extremidade. No cachimbo esculpiram o corpo de unia mulher. As pernas na parte coniprida e a partir dos braços fica mais largo e côncavo de modo a se colocar o fumo dentro, ficou bonito.., O cachimbo é a mulher inteira...”: PF + H 27. VIII P1 Parece aqueles brinquedinhos de plástico que vem dentro de ovos de páscoa, é comum vir estes bichinhos, por causa da forma e da cor : P FC A V 28. III P1 “...É o simbolo da união, uni desenho de um homem e uma mulher de mãos dadas : P F + H V 29. Vil P3 Unia nuvem com formato de cabra porque o jeito lembrava nuvem, mas depois vi que o fomiato é de cabeça de cabra...”: PF pA A classificação inicial seria” P ps nv mas durante o processo associativo , a imagem de nuvem foi transformada em uma imagem animal. Nestes casos o que prevalece é a imagem final e, portanto, parte animal (pA). — “...

—“...



— “...

-

-



25 .



Pranch a G — “...Bicho com um pé desproporcional, com o corpo em tripé. A cabeça é de naja (P3), o corpo (G) é de geléia, bem desfigurado e parece embolorado, meio pegajoso, os braços (P4) são cobras e os pés (P6) são humanos. Não sei explicar que ser é esse, um bicho tripé, um monstro medieval...”: G F+ (1’) A V

IV

RORSCHACH CUNIc0 — MANUAL BÁSICO

43

Enfim, as figuras humanas ou animais podem ser percebidas de forma real ou distorcida, podem ser fantásticas, idealizadas ou desfiguradas, podem ser desvitalizadas ou dinâmicas tendo sempre preservado seu conteúdo H ou A. Vejam alguns exemplos: N° Pranchas 31 III P1 “...Duas mulheres cozinhando em um tacho...”: P M+ H V (H realista) 32 III P3 “...Uma borboleta voando...”: P m+ A V (A realista) 33 1 G “...Tipo de um anjo com asas e mãos erguidas.. também pode ser uma fada fazendo magia com as mãos...”: G M+ H V (H fantástico) 34 X PIO posição invertida “...Um cavalo voador, vejo a frente do cavalo aqui (P5) correndo em minha direção...só —









que ele tem asas (P4) e, portanto, está voando em minha direção...”: P m- A (A fantástico) 35 1 P4 “...Uma boneca, pelo contorno do corpo, com aquelas saias bem redondas e os braços esticados assim para frente, parece aquelas bonecas que eu tinha quando criança...”: P F+ H V (H desvitalizado) 36 X P1 “...Parece o signo de câncer porque o símbolo dele é um caranguejo...Olhando ele assim...parece feito de estrelas no céu, distante...formando várias patinhas, é um caranguejo feito de estrelas...gosto muito de horóscopo...”: P ps A Conteúdos an e sxl sx e p11 —



(

Para o conteúdo anatomia an), notamos os órgãos internos do corpo, os produtos do corpo (tais como urina, fezes, saliva etc) e perceptos que incluem a percepção de doença ou ferimento. Para o conteúdo parte humana (pH), consideramos partes externas do corpo humano.



30.

Pranch a P14 — “...Aqueles troféus que é uma estátua de figura humana...E bem comprido e tem uma forma definida de corpo humano, parece os troféus do óscar, não perco um...”:

X

P F+ H

144 ROPSCHACH CLÍNICO

(



MANUAL BÁSICO

Para o conteúdo sexo sx), referimos aos órgãos sexuais ou qualquer percepção que envolva a idéia de procriação ou interesse sexual. Assim sendo, os órgãos internos ligados a um destes interesses deve ter seu conteúdo mais ligado a sx do que a an, assim como os órgãos ligados à sexualidade tem seus conteúdos ligados a sx e não a pH. N° Pranchas 37. X P11 “...Um pênis ereto (P14) e os testículos (P8) dos lados, pelo formato...”: P F- sx 38. IX P3 “...Olhando assim, lembra bem os pulmões, pelo formato e um de cada lado...”: P F- an 39. IV G “...Um útero (G) com as trompas aqui (P6)...Lembra bem a parte interna da mulher...”: G F- sx 40. IV p30 “...Aqui parece o ánus, só pela aparência...”: p F+ sx 41. VIII P2 “...Parece o tórax de uma mulher, os peitos aqui (P6), bem opulentos...”: P F- sx 42. VI P1 “...0 peito de uma pessoa muito magra, aqui (eixo central) o osso esterno e aqui (refere-se às diferenças de tons) as peles sobrando, por isso eu disse que é uma pessoa muito magra...”: P F- (1) pH 43. X P3 “...Parece a campainha na garganta e as amígdalas dos lados...E igualzinho quando a gente abre a boca e enxerga —













lá no fundo...Aqui também parece fundo, não sei porque...Acho que é porque é pequenininho...Parece amígdala e a campainha por causa do formato e da cor também...”: P FC pH 44. X P3 “...Me faz lembrar quando minha filha tirou as amígdalas.. .0 médico pôs um negócio parecido com esse num vidrinho e mostrou para a gente...Não lembro do formato direito, lembro que era vermelho e me deu calafrios na espinha...”: P CF (1’) an Conteúdos an e sg Embora o sangue seja um produto interno corporal, seu significado raras vezes aponta para uma preocupação ou interesse proprioceptivo, estando mais ligado aos impulsos mais básicos da personalidade. Nestes termos é importante, discriminarmos o contexto onde o conteúdo sangue aparece. Os exemplos a seguir ilustrarão esta diferença: —

RORSCHACH CLÍNICO — MANUAL BÁSICO 145

N° Pranchas 45. 11 P2 “...Parece uma mancha de sangue, parece que caiu no —

chão e ficou esta marca espirrada...”: P CF sg 46. X P9 - “...Sangue coagulado, parece alguma doença grave, tipo o Ebola que estoura tudo por dentro, deve ficar assim esse sangue coagulado, por ser vermelho e ter umas áreas mais escuras mostrando onde está coagulado...”: P CF(l) an 47. II P1 + P2 - Uma pessoa caída ao chão, deve estar ferido, deve ter sido um acidente de moto (?) pela posição dele

no chão com o corpo largado e os braços esticados (P4) Aqui (P2) é o sangue saindo da cabeça dele por ser vermelho e quando eu olho tenho até a sensação da poça estar crescendo, aumentando de volume...”: P F+ H P CF ( m’) sg Obs. 2: Independentemente de anatomia, a resposta ciência é assinalada sempre que, para sua elaboração, o sujeito se valer de um conhecimento específico. Veja o exemplo a seguir: N° Pranchas

Conteúdo an e N°

Prancha s

48.

VIII

ci

P3 — “...É

certinho uma coluna vertebral com as costelas aqui dos lados...”: P

F+ an V metade superior de P5 P6 — “...Um mesencéfalo. (?)

49.

V

Porque tem quatro colículos aqui. Se você fizer um corte na altura da emergência do nervo óculo-motor e olhar o mesencéfalo no sentido rostral-caudal, a gente vê assim. ..os quatro colículos. O local exato do mesencéfalo é mais ou menos aqui, é impreciso. Mas a semelhança com esta figura é incrível, o formato, a disposição e a distância entre eles...”: P Fo ci

50.

VII P4 “...Uma roda hidráulica. As turbinas são movidas a —

água ou a vapor e estão conectadas a um gerador para produzir a energia elétrica. Nesta composição de máquinas tem uma roda hidráulica parecida com esta...”: P F- ci P14 “...Um tubo de ensaio, pelo formato comprido e pela largura, é direitinho...”: P F+ ci —

51. X

146 ROSCHACH CUNCO



MANUAL BÁsico

Conteúdo pzlnatlggr Consideramos o conteúdo paisagem (pz) sempre que houver uma construção de uma cena. Esta cena pode incluir aspectos da natureza ou não. Veja os exemplos: N° Prancha Nesta resposta a fumaça (ps) está integrada na construção de uma perspectiva maior e com forma definida (Ps), não sendo necessário computá-la. O conteúdo natureza implica a percepção de fenômenos ou propriedades comuns ao habitat natural como areia, terra, água, enchente, eclipse e assim por diante. Destes, isolamos como uma categoria à parte os conteúdos bt, fg, nv em função da peculiaridade dos interesses a eles correspondentes. N° Pranchas 53. VII G “...Parecem pedras, umas sobre outras. Pelo formato principalmente do modo como estão sobrepostas...”: G F+ nat 54. VI G “...Eu me lembro de quando morava no Canadá...às vezes vazava na garagem um pouco de gelo, derretia e depois endurecia de novo e ficava assim, com essa tonalidade. A gente pegava uma pá e descolava ela do chão, era muito legal...”: G 1 nat 55. IX P5 “...Parece água, tipo torneira aberta, fica escorrendo água assim direto, um desperdício...por ser assim comprido e sugere o movimento da água, não vejo a torneira, só a água...”: Pm’nat —







--

52 G prancha na posição lateral Aqui parece um gordão de moto (P1), andando numa estrada de terra (P3) porque é —

-

comprida e laranja, cor de terra mesmo, à beira de um rio de

forma que aqui (na parte debaixo) reflete a imagem toda. Aqui é a fumaça que sai da moto dele. Deve estar frio e a fumaça (P4) aparece mais...”: G Ps pz P M+ H P CF nat

RORSCHACH CUNICO — MANUAL BÁSICO 47

O conteúdo geográfico (ggr) aponta para uma percepção mais ligada aos acidentes físicos da natureza. Neste sentido, enquanto água é categorizado como nat, rio é compreendido entre os conteúdos ggr, diferenciando ambos de pz. Compare os exemplos de nat acima com os de ggr abaixo: Apesar desta resposta referir-se a uma visão geográfica, houve uma construção de elementos diferentes compondo uma cena e, portanto, predomina o conteúdo paisagem (pz). —

Obs. 3: Quanto à percepção dos acidentes geográficos, os mapas ocupam uma categoria à parte, como demonstra o exemplo.



Pranch a

56 .

VI

N °

Prancha s

57

VII

P3 — “...Geysers, sabe aqueles furos que se formam no chão e sai aqueles vapores fervendo do subsolo? Então, eu vi muitos desses no noroeste dos Estados Unidos, no estado de Wyoning em um parque chamado Yellow Stone, é muito legal. Este aqui está espirrando água fervendo por causa destas pontas e todo o movimento que ele sugere. Quando espirra também sai muito vapor (P3) por causa do tom desta figura que envolve o jato de água aqui no meio (eixo central)...”: P m’(ps) nat

GE — posição invertida — “...A entrada de uma caverna. Um buraco (E) cavado em pedras fortes e antigas como estas...”: GE F+ ggr

5 8

VI



Prancha

59.

IX



Pranch a

60.

VII

P1 — “...O Grand canyon. O vale muito profundo lá embaixo (P12) e as rochas altíssimas aqui em cima. A diferença de tons aqui no meio (P12) me ajudou a ter a idéia de que era um vale...”: P Ps pz

E8 — “...Um azuizinha e qu



P1 P F -

lago ase tr

por ansp

ser aren

arredondado e ter essa água te...”: p CF (1’) ggr

“...Parece o mapa da América do Sul, pelo formato...”:

mp

148 POPSCHACH CiJNIc0 MANUAL BÁSICO Conteúdos obj/ mil art Embora estes três conteúdos possam trazer dúvidas no momento da classificação, seus significados são bastante distintos: O conteúdo obj (objeto) diz respeito a uma categoria de utilitários práticos e rotineiros como lápis, panela, travesseiro. O conteúdo ml (referência militar) demarca instrumentos de agressão ou de ordem militar O conteúdo art (arte) reporta-se a objetos que não tem um valor prático mas que são adornados pelo Homem. Podem ser percebidos como feios ou bonitos pelo sujeito. Os exemplos a seguir esclarecerão estas diferenças: N° Pranchas 61. IX P4 “...Uma âncora. Pelo formato e pelas marcas de ferrugem que dá essa diferença de tons...”: P F+ (1) obj 62. IX P4 .Uma ancora. Pelo formato, me faz lembrar aqueles enfeites náuticos. Acho bonito tudo que se refere ao mar, aqueles nós de marinheiro, navios super detalhados e âncoras deste tipo. ..Tenho vontade de decorar minha casa inteira assim...”: P F+ art 63. P5 “...Uma fac a...parece um punhal e uma lâmina acima...só pelo formato...”: P F- ml 64. VII P5 “...Urna faca, meu pai fazia sempre churrasco nos fins de semana e tinha uma faca que gostava mais do que outras, era mais adequada para cortar carne, era parecida com esta...”: P F- obj 65. II ES “...Um foguete da NASA, está subindo alcançando o espaço...”: E m’ ml 66. II ES + P6 “...Um avião de passageiros (E) voando no meio das nuvens (P...”: E (P) m’ (ps) obj 67. II ES “...Um abajour aceso. Pelo formato da cúpula e pela luz que irradia...”: E F+ (1’ ) obj —



— —



— ..













68. II ES “...Um leque aberto, é a forma direitinho, daqueles espanhóis que se pendura na parede, decorativa..”: P F+ art 69. VIII P5 —“...Uma bandeira verde balançando ao vento...”: P m’ (FC)art 70. IX E8 “...Aqueles vasos rústicos que os índios fazem, assim circular e bem artesanal, pela forma...”: P F+ art —



PORSCHACH CLINICO — MANUAL BÁSICO 149

Obs. 4: Na categoria art muitas vezes encontramos a resposta “máscara”. No entanto, é necessário que o inquérito revele realmente a percepção de um adorno e não uma forma de se referir a uma expressão mais marcante. Veja os exemplos:

Conteúdos ggr e arq O conteúdo arq (arquitetura) diz respeito a toda construção que requeira habilidades especiais por parte do construtor, ou seja, não é encontrada pronta na natureza. Desta forma, enquanto baía é conteúdo ggr, um canal para navios passarem é conteúdo arq. Igualmente, é considerado conteúdo arq construções feitas por animais como ninho, teia ou similares. N° Pranchas



Prancha s

71.

VIII

G — “...Um escudo, pelo formato e pelas cores. Não estou pensando naquelas armas defensivas de antigamente. Estou pensando naquelas figuras em forma de escudo mas que servem de brasão, representando uma família ou um clube sabe? Geralmente estes escudos são bastante coloridos e tem letras simbolizando algo. Tenho a impressão de letras aqui (p sem localização dentro de P5) por serem mais escuras..,”: G FC (L) art

72.

VIII

G — “...Um escudo. Aquelas armas de antigamente. Tinha a lança e o escudo. Hoje a gente só vê em museu e é bastante decorativa...”: G F+ art



Prancha s

73. 1

GE “...Uma máscara. É uma máscara de carnaval. Aqui (P7) as cordinhas para amarrar atrás e na frente ela tem quatro olhos para assustar os outros. ..Acho que está mais para Halloween do que para carnaval...”: GE F+ art

74. 1

GE “...Uma máscara. Tem cara de malvado...Acho que por causa destes olhos assim para cima e uma boca com um sorriso malévolo. Deve ser uma pessoa ruim...”: GE F-F pl-I





75. IV G — prancha na posição invertida - “... Uma fonte. Aqui (P1) é a

água espirrando para cima, aqui (P6) são os adornos em volta da fonte e o resto é a fonte de pedra escura por isso disse granito...”: G Ps (m’) arq

150 RORSCHACH CLENICO — MANUAL BÁSICO

Conteúdos ab e ri O conteúdo ab (abstração) refere-se a conceitos construídos como forma de representação genérica, quer envolvam sinais, como conceitos matemáticos, números ou figuras geométricas, quer sentimentos e emoções. No conteúdo ri (religião) inclui-se objetos utilizados na prática religiosa qualquer que seja. Por esta razão, figuras religiosas como Cristo, por exemplo, são consideradas como conteúdo humano (H). A idéia de Deus, por outro lado, é entendida dentro da idéia de conteúdo abstrato (ab). Vejamos os exemplos: N° Pranchas 78. 1 E30 “...Nossa Senhora caminhando meio de costas com seu manto branco, vejo os seus pés aqui na frente...”: E M (C’)H 79. VI G “...Um andor, aqueles suportes de transportar imagens de santas nas procissões, pelo formato. Aqui nas pontas as pessoas pegam e colocam sobre os ombros...”: G Fo ri 80. IX E8 “...Uma benção divina...Não sei por que...acho que essa tonalidade azul brilhante parece um banho de tranquilidade sobre nossas cabeças, parece a presença de Deus...”: E C (1’) ab 81. II P3 “...Uma mancha de tinta caída no chão, pelo vermelho e pelo formato assim espirrado...”: P CF ab 82. X P3 “...Parece a letra “V” pelo formato...”: P F- ab 83. VIII G “...A paz pelas cores... eu acho que o que faz falta na vida das pessoas é um pouco de cor. Se todos pudessem ver o colorido das próprias vidas, teria mais paz e as pessoas não precisariam perturbar a vida dos outros...”: G C ab —











Prancha s

76.

IV

G — “...Uma montanha e aqui (P5) uma queda d’água. A água cai com fúria apesar de estreito, cai de alto porque é fino na ponta e largo embaixo dando uma impressão de altura...”: G m’ ggr (ângulo de visão)

77

IV

G — prancha na posição invertida “...Uma casinha de João de barro porque fica assim tipo uma montanhinha e é escuro sugerindo terra...”: G C’ arq

RORSCHACH CLÍNICO



MANUAL BÁSICO 151

Conteúdo ant e art

O significado fundamental da categoria “antiguidade” (ant) é o interesse por realidades pré-históricas, correspondendo assim a conteúdos tais como dinossauros, fósseis, utensílios comuns na pré- história, como por exemplo na época da idade da pedra lascada e assim por diante. Secundariamente, podemos incluir nesta categoria alguns conteúdos que expressam interesse pela cultura da Antiguidade como é o exemplo do pergaminho. Deve-se tomar cuidado com protocolos de crianças onde a resposta dinossauro tem uma outra conotação dada a frequência destes animais em desenhos ou histórias infantis. Neste caso, seu significado aproxima-se mais do conteúdo animal (A) do que antiguidade (ant). N° Pranchas 84. 1 P4 “...Nossa! Lembra tanto uma Trilobita. As Trilobitas foram um dos primeiros seres vivos a habitar a Terra, lá pelo período cambriano. Parece pelo formato e também pela cor porque a gente só tem notícia dela pelos fósseis né? E, fóssil é, em geral, dessa cor...”: P C’ ant 85. VIII metade de P5 “...Um papiro, pelo formato de papel só que com as bordas irregulares e... estas diferenças de tons me fazem lembrar aquelas tramas que ficam impressas na superfície do papiro, daqueles originais, é claro porque hoje em dia tem muita falsificação...”: P F+ (1) ant 86. VII PIO “...Aqueles achados pré-históricos...pontinhas de lança, pedras para corte...sabe o que eu quero dizer? Esta parte aqui (PIO) parece aquelas pedras dos homens préhistóricos que a gente vê em museu, pelo formato...”: P F+ ant No entanto, objetos antigos que guardam atualmente um valor decorativo tem seu conteúdo ligado a arte. —





N °

Pranch a

87

IV

P4 + E — “...Aqui me faz lembrar uma harpa, sabe aquele instrumento de cordas triangular super usado na idade média? Então aqui (P4) é a moldura e dentro (E) imagino as

cordas...”: P (E) Fo art

152 RORSCHACH CLÍNIco



MANUAL BÁSICO

Conteúdos vst e art O conteúdo vestimenta (vst) implica a designação genérica de peças do vestuário. No entanto, não raras vezes, o examinando faz menção a uma representação artística das roupas, merecendo, nestes casos, o conteúdo arte (art). N° Pranchas 88 III P3 “...Um laço de fita vermelho, pelo fomato com o nózinho no meio e as laterais uniformes...”: P FC vst 89 II P2 “...Um turbante daqueles que os árabes usam na cabeça. Estes traços aqui no meio mais escuros e mais claros dá a impressão que é onde os tecidos se encontram...”: P F+ (1) vst 90 X P9 + P6 “...Parecem aquelas roupas majestosas dos reis...Um manto vermelho todo bordado. Como gostavam de roupas trabalhadas! O cinturão azul no meio. E daquelas roupas que a gente vê em filmes de reis e rainhas ou em —







museus, cheios de... talvez de pedrarias no cinturão. Tenho a impressão de bordado pela diferença de tons aqui no vermelho e, pensei em pedrarias no cinturão porque é mais carregado de azul de um lado do que do outro, penso que na parte que dobra para fechar atrás não pode ter tantas pedras, devem ser safiras azuis, lindíssimas...”: P FC (1) art Em função da riqueza do método de Rorschach é impossível agruparmos todas as possíveis discussões que possam surgir na escolha do conteúdo mais adequado na resposta. Agrupamos aqui aquelas mais comuns, procurando conceitualizar de maneira mais rigorosa o seu significado. Contudo, gostaríamos, mais uma vez de lembrar a importância do inquérito para tirar as dúvidas de classificação no momento da aplicação. Gostaríamos ainda de sublinhar que na notação do conteúdo é importante atentarmos para os dois valores que se cruzam em dinâmicas muito peculiares, o valor da linguagem na comunicação interpessoal fundamental na classificação e análise quantitativa (tabela 1) e o valor do estímulo afetivo delimitando as áreas de interesse importante na análise qualitativa (tabela 2): • O valor da linguagem na comunicação interpessoal está implícito em cada categoria de conteúdo. Os conteúdos listados na tabela 1 —





RORSCHACH CLíNico — MANUAL BÁSICO

resumem os interesses expressos na linguagem comum, específico da codificação grupal. A função primordial da linguagem é a comunicação e, para tanto, o conteúdo deve destacar a idéia ou o conceito a que determinada resposta refere-se.

O valor do estímulo afetivo delimitando as áreas de interesse. Para tanto, devemos nos reportar à construção da imagem em cada associação, abstraindo um campo de interesses mais particular. Coelho (2) assinala que” o estabelecimento da noção, a partir da captação dos dados externos, sofre a necessária interferência de um determinado tipo de expectativa que nos leva a formular uma ou mais hipóteses sobre o significado ou a categoria daquilo que percebemos”. Deve-se, para tanto, verificar a especificidade de cada resposta no tocante à qualidade do interesse afetivo inscrito na motivação do trabalho mental: mais ligados às necessidades afetivas primárias, socialmente mais diferenciados, de caráter intelectual culturalmente diferenciados ou concernentes às preocupações cotidianas ou vagas (tabela 2). Muito embora, a utilização, na categorização da resposta, de um rótulo socialmente estipulado diminua a ênfase da expressão pessoal, a adequada classificação nos permite caracterizar os tipos de interesses conscientes que o sujeito dispõe. A classificação dos conteúdos na Escola de Silveira atém-se, assim como já propunha Hermann Rorschach, à verbalização manifesta do examinando. Como, no entanto, a verbalização do sujeito alude à adaptação de um interesse pessoal a um sistema de codificação social, é fundamental que se tenha, no momento da atribuição de um conteúdo a uma resposta ao Rorschach, uma tabela de categorias cujas definições sejam bem claras e definidas. Ou seja, cada categoria deve em si representar um grupo de interesses delimitado ao qual a resposta pode ou não se enquadrar. Não basta termos uma estatística simples dos conteúdos mais fornecidos se várias destas respostas encerram o mesmo o grupo de interesses. Neste sentido, a multiplicidade de conteúdos ao nosso ver torna-se redundante. Por exemplo, a resposta de raio X tantb pode se enquadrar no conteúdo de anatomia (an) representando uma preocupação somática quanto referirse a um interesse científico, devendo ser notado como ciência (ci). Da mesma maneira, não —



fazemos, no momento da classificação, diferença entre o H ( figura humana) ou o A (figura animal) real ou fantasioso, como muitos autores defendem, 153 154 PORSCHACH CUNICO — MANUAL BÁSICO

pois todos os conteúdos, depois do cálculo e no momento da interpretação, merecem uma análise

mais cuidadosa e em relação ao resto do psicograma e na sua peculiaridade. Esta análise deve ser cuidadosa e atenta ao contexto do psicograma de um modo geral pois embora cada conteúdo represente um grupo específico de interesses, as suas relações com a estrutura e a dinâmica da personalidade em questão guarda importante singularidade. Conteúdos de igual valor no sistema de codificação grupal, por exemplo religião (ri), pode representar diferentes níveis de interesse afetivo. Assim sendo, apesar de apresentarmos por hora uma tabela para fins didáticos (tabela 2), a interpretação dos interesses de cada um deve seguir outros cuidados e critérios que serão melhor discutidos em um outro trabalho dirigido à interpretação dos resultados. Nosso objetivo no presente momento encontra-se centrado no trabalho de classificação e este tipo de análise deve ser feita qualitativamente. Tabela 2 Distribuição dos conteúdos em grupos específicos de interesse —

A compreensão mais profunda e singular de cada conteúdo só pode ser alcançada correlacionando-o com as modalidades e determinantes que participaram do processo de percepção. O significado latente do conteúdo explícito deve ser revelado através do estudo de suas relações com os dados gerais do psicograma. Entretanto, é digno de nota assinalar que na Escola de Silveira não se estuda isoladamente o conteúdo verbal que ignora o processo de percepção e elaboração da imagem. Silveira concorda com os preceitos de Piotrowski e Mucchielli entre outros, entendendo a interpretação simbólica dos conteúdos das respostas arbitrária e muito perigosa, apesar de não negar o seu valor projetivo. Assim como não tem sentido interpretar os sonhos baseado em um dicionário de sonhos, é descabida a atribuição abusiva de significados simbólicos a cada categoria de conteúdos ou a cada prancha.

Grupos de interesse

Conteúdos

Expectativa

Interesses centrais

1-1 + pH + A + pA + an

75% .

Necessidades afetivas primárias

an, fg, sg, mi, sx

Socialmente mais diferenciados

ri, ant, art

Preocupações cotidianas e vagas

vst, obj, pz, nat, bt

PORSCHACH CLÍNICO



MANUAL BÁSICO

25% distribuídas em

categorias

155

BIBLIOGRAFIA COELHO, L.M. S. Ed. Atica, 1975. COELHO, L. M. S.



Epilepsia e personalidade ia ed. São Paulo, -

Fundamentos Epistemológicos de uma Psicologia Positiva ia ed. São Paulo, Ed. Atica, 1982. RORSCHACH, H. Psicodiagnóstico 8 ed. São Paulo, Ed. Mestre —

-



-

pelo menos três

Jou, 1978. SILVEIRA, A. Prova de Rorschach: elaboração ia ed. São Paulo, Editora Brasileira Ltda, 1985. —

do psico grama

-

ELABORAÇÃO DO PSICOGRAMA LuciA MARiA SÁLviA COELhO

DE modo a sistematizar os resultados da prova, distinguimos, para o

protocolo total e, separadamente, para os conjuntos de pranchas monocromáticas e cromáticas, três áreas principais: TIPO DE TRABALHO MENTAL, FEITIO DE PERSONALIDADE E CATEGORIZAÇÃO VERBAL DAS EXPERIÊNCIAS no caso, o CONTEUDO deverá ser examinado em função dos dados das áreas anteriores.

1 TIPO DE TRABALHO MENTAL A análise do tipo de trabalho mental abrange os dinâmismos presididos pelas funções cognitivas, -

nos diferentes níveis de processamento das experiências, tal como se apresentam na construção das imagens durante a prova de Rorschach. 1 Capacidade Associativa e Tempo de Produção das Respostas A capacidade associativa corresponde ao número total de respostas classificadas: no protocolo total (R), no conjunto monocromático (Riu) e no conjunto cromático (Rc). Portanto, R indica a quantidade dos processos mentais mobilizados durante a prova para a elaboração de cada uma das respostas. Nesse caso devemos distinguir entre o número de imagens suscitadas pela percepção das pranchas do Rorschach, (1) baseadas na evocação subjetiva de experiências em função de diferentes propriedades estruturais dos estímulos (memória, percepção e atenção) e a quantidade dos processos psíquicos codificáveis para a classificação da —

160 RORSCHACH CLiNICO



MANUAL BÁSICO

resposta ( R). Uma mesma imagem poderá envolver mais de um processo psíquico, exigindo o uso da técnica de desdobramento, de modo a se obter mais de uma classificação, ou resposta, ou então, diferentes imagens poderão ser fundidas em uma única classificação. Portanto, o número de imagens evocadas (1) não coincide necessariamente com o número de respostas (R) No presente manual, apenas será considerado o número total de respostas, uma vez que análise específica das imagens, exige um nível de conhecimento mais avançado sobre os processos psíquicos superiores, sendo apenas útil no quadro de pesquisas experimentais sobre memória e imagem mental (Coelho, 1980).

VALORES ESPERADOS: R total do protocolo: Faixa de variação:28 —62 Rmonocromáticas: Faixa de variação: 12—26 Rcromáticas: Faixa de variação: 16-36 O tempo de produção das respostas, para cada prancha,indica a rapidez do processo mental. Neste caso, distinguimos o tempo de reação inicial, para a expressão da primeira associação (TRI) e o tempo decorrido para a produção do total das respostas, em cada prancha (T). Deste modo avaliamos dois aspectos temporais do trabalho mental. No caso, apenas é relevante a alteração do ritmo associativo no exame de cada prancha quando TRI e/ou TT sofrem acentuada variação nas diferentes pranchas: reação imediata (TRI demasiadamente curto, isto é inferior à 18 segundos) ou demasiadamente lento (TRI 1 minuto). Na prova de Rorschach, a avaliação do tempo de produção fornece informações sobre o ritmo associativo espontâneo do examinando ao efetuar um trabalho mental, e não propriamente a habilidade em produzir com maior ou menor rapidez as respostas, aspecto apenas estudado nos psicotestes para avaliação do nível de inteligência (QI). Assim, o que deverá ser avaliado é: a) a estabilidade no ritmo temporal do trabalho mental no protocolo total, e em separado, nos conj untos monocromático e colorido; b) o tempo médio transcorrido para a —

elaboração das respostas do protocolo (T/R), incluindo o exame diferencial entre os T/R do conjunto monocromático e colorido. Neste aspecto não há qualquer interesse em se estabelecer intervalos normais de variação.

2 Nível da Observação da Realidade —

2.1 Tipo de Percepção: Índice Perc —

61

Este índice indica o estilo perceptual do examinando, ou seja, o modo com que habitualmente ele distribui sua atenção na observação dos diferentes eventos do ambiente. Cada uma das modalidades principais e secundárias registradas no psicograma em estudo deverá ser reduzida ao valor percentual correspondente ao total das respostas. Portanto, G x 1 OO/R; P x 1 OO/R; p x 100/R; etc., o mesmo procedimento deverá ser adotado para os conjuntos monocromáticos e coloridos, em função do número de respostas de cada um deles (Rm e Rc). Em seguida é suficiente consultar as tabelas construídas para cada modalidade para o registro no índice de Perc. Nota: As modalidades G e P se distribuem segundo uma curva estatística normal (ver tabela pág. 225) enquanto que para as demais utilizaremos avaliação não paramétrica (freqüência acumulada ver tabela pág. 251). Cabe notar que essas tabelas apenas devem ser utilizadas psrs protocolos com número de respostas pelo menos igual ao valor mínimo da faixa de valor normal: R total = 28 (ou +); R mono = 12 (ou +) e R cromático = 16 (ou +). Quando os valores de R forem inferiores, a análise deve ser aproximada e qualitativa. MODALIDADES PRINCIPAIS TABELA 1- RESPOSTAS GLOBAIS (G) RORSCHACH CUNICO — MANUAL BÁSICO

Protocolo Total Valores (%)

Símbol o

ou igual à 1 minuto em uma das pranchas IV, V e VII. Associado à redução no número de respostas (Rm < 12). b) Tipo excitação: Redução do tempo total de respostas das monocromáticas ou da TRM (de pelo menos 20% menor que o das cromáticas) ou resposta imediata em uma das pranchas IV, V e VII associado à elevação no número de respostas (Rm>26). —

200 POPSCHACH CLíNICO



MANUAL BÁSICO

10. Restrição das Categorias como em CHC Escassez de categorias na faixa de conteúdos, quer devido ao aumento do conteúdo A, quer à perseveração de conteúdos primários. Ou redução da faixa de conteúdo quando comparada à do conjunto cromático. Desvios associados à de restrição na faixa de determinantes como em CHC. SOMATÓRIA TOTAL: 16 pontos A ocorrência de 8 ou mais pontos será considerada como “Choque emocional”. 2. SINAIS PSICODIAGNÓSTICOS A configuração de conjuntos particulares de desvios dos fatores de Rorschach, considerados como específicos a determinados tipos de alterações psicopatológicas, tem sido objeto de inúmeras investigações desde a criação da prova. A maioria das pesquisas parte do estudo de protocolos de indivíduos com diagnóstico de distúrbios mentais, como depressão, esquizofrenia, neurose, personalidade psicopática, epilepsia, buscando encontrar no psicograma do Rorschach carapterísticas exclusivas a cada um destes distúrbios, e ausentes em protocolos de indivíduos normais ou de pacientes com outros quadros clínicos. Trata-se de um procedimento indutivo, de valor explicativo e preventivo reduzido, mas útil para a exploração dos distúrbios mentais tais como eles se expressam no grupo de pacientes examinados, possibilitando o levantamento de questões e hipóteses teóricas interessantes. Não cabe aqui a exposição de outro tipo de método de investigação: o método do hipotético- dedutivo, mais rigoroso e de maior poder explicativo, pois ele é raramente adotado no campo clínico. Atualmente, devido ao predomínio do procedimento empírico e da avaliação quantitativa dos distúrbios mentais, a busca de “sinais psicodiagnósticos” no Rorschach tomou-se ainda mais freqüente, junto com a criação de novas escalas e questionários psicológicos. A pesquisa dessas configurações significativas de sinais deve prosseguir, entretanto devemos utilizar com muita prudência os resultados numéricos dessas escalas psicodiagnósticas, eles apenas permitem levantar a suspeita da ocorrência possível de um distúrbio psicopatológico. Apenas a análise específica dos fatores envolvidos nessas escalas poderá trazer maior esclarecimento sobre a natureza do distúrbio examinado. —

.

PORSCHACH CUNIc0 — MANUAL BÁSICO 2O

Por não considerarmos ainda como suficientemente testado o valor dos sinais de ansiedade (Coelho, L. e Costa L., 1987-1988) e o de agressividade ( Fazzani, R e Coelho, L., 1993) exporemos aqui apenas duas séries de sinais: os Sinais Psicógenos de Molly Harrower e os Sinais Lesionais de Piotrowiski. Estas séries são sistematicamente incluídas na elaboração do psicograma do Rorschach clínico, por terem se revelado úteis para o diagnóstico diferencial e sobretudo para expressar dinamismos psicopatogênicos peculiares. 1. SÉRIE DE MOLLY HARROWER: Distúrbios Psicógenos (Adaptação de Anibal Silveira em 1942 e reavaliação empírica de Coelho, em 1999.) A Série de Harrower, com as ligeiras modificações sugeridas na época por outros autores, consiste nos seguintes sinais, designados segundo a nomenclatura original (MH) e na nomenclatura de

Silveira (AS). Na última coluna encontram-se os valores ponderais atribuídos por Molly Harrower e aqueles sugeridos por Coelho, com base em sua pesquisa (Boletim da Sociedade Rorschach de São Paulo -2000). Total 17 16 * Valor mínimo de somatória de sinais para consideração de distúrbios psicógenos no Critico 8 7 protocolo de Rorschach examinado.

SINAIS (MII) (AS)

-

CONDIÇÕES INICIAIS

MODIFICAÇAO (Outros A utores)

VALOR PONDERAL

M.II.

COELhO

R M

R M

Rou50%

ou%F ou = 50%

1

0,5

% Anat

% an

% anat > ou = 50%

1

0,5

CS

CHC

Choque à Cor (Rejeiçâo, inibição ou aItL)

2

3

SS

CHL

Choque de Som breado (o mesmo, em IV e VI)

3

3

202 RORSCHACH CL1NIc0

ou %A + anta > ou =65%



MANUAL BÁSICO

Molly Harrower atribuiu valores ponderais aos sinais de modo a distinguir o valor discriminativo de cada um deles: os sinais Fa, FC e SS receberam peso 3; os sinais M e CS receberam peso 2; os sinais %F, %A, %Anat e R receberam peso 1, e foi dado o peso de 0,5 pontos para o sinal FM. Sendo a somatória total igual a 17,5. Ainda nesse mesmo trabalho, a autora levanta a questão sobre o valor de sua Série de Sinais para o diagnóstico diferencial entre pacientes neuróticos, psicóticos e orgânicos. E, de fato ela verificou a possibilidade de ocorrência de cinco sinais em pacientes com alterações lesionais ou funcionais do Sistema Nervoso Central: R, M, %F, Fa e %A. Porém nesses protocolos, o diagnóstico diferencial tornava-se possível devido a alterações típicas , além de apresentarem igualmente um número elevado de sinais da Série de Piotrowiski, concebida pelo autor em seu estudo sobre esse tipo de

transtornos orgânicos. Em relação aos protocolos de pacientes psicóticos, Harrower encontrou igualmente a possibilidade de ocorrência de cinco ou mais sinais de sua Série, sendo que os sinais FM e CS eram aqueles cuja ocorrência oferecia maior poder de discriminação, pois raramente ocorriam em psicóticos. Além disso, a população psicótica se distinguia pela ocorrência de mecanismos típicos, tais como contaminação, respostas bizarras, discrepância entre a qualidade das formas, etc. Feitas tais considerações, concluiu-se pela aceitação da validade desses sinais como indicadores da intervenção, total ou parcial, de fatores psicógenos na etiologia dos casos clínicos, com a importante ressalva de que nenhum dos sinais, considerados isoladamente, eram patognomônicos. Desde 1943, Anibal Silveira introduz em seu sistema de avaliação da prova de Rorschach os sinais de Molly Harrower. Entretanto, seu critério para a classificação das respostas e para a avaliação dos choques psicológicos, por serem mais rigorosos, permitiram maior fidedignidade à série original dos sinais psicógenos. Convém ainda mencionar o comentário final de nosso artigo (Coelho 2000): “embora útil, como

elemento de pesquisa, o agrupamento dos resultados, em conjuntos significativos de desvios em fatores espec(ficos da prova de Rorschach, de modo a correlacioná-los aos distúrbios mentais examinados pelo clínico, não autoriza a atribuição de um diagnóstico psiquiátrico. A dinâmica psíquica, normal ou patológica, tal como ela é apreendida através da Prova de Rorschach, é de ordem mais profunda e espec(flca que os desvios psicopatológicos codificados pela nosologia psiquiátrica. Portanto, a ocorrência signfl cativa de sinais de Harrower em um protocolo de Rorschach RORSCHACH CUNIco — MANUAL BÁSICO

203

indica a presença de distúrbios psicógenos que interferem, de modo particulai na dinômica de personalidade de cada examinando, mas em si mesmos, esses sinais não são patognomônicos de um quadro clínico, tal como ele é codificado na classificação das doenças mentais (pg. 64) 2. SÉRIE DE PIOTROWISKI “.

Segundo a experiência de Piotrowiski (1937), a ocorrência de cinco ou mais sinais desta série é indicativa de desorganização mental decorrente de lesões cerebrais. Portanto, o que estes sinais indicam é a presença de distúrbios mentais decorrentes de alterações orgânicas do sistema nervoso central, e não simplesmente o diagnóstico de lesões cerebrajs, efetuado pelo neurologista.

1 NO.

SÍMBOLO

SIGNIFICADO

1.

R

Total de respostas inferior a 15.

2.

T

Tempo médio de reação por resposta superior a 1 minuto

3.

M

Uma única resposta M, ou menos

4.

nC

Uma resposta nC, ou mais de uma, como determinante: o examinando considera a nomeação de

cor como resposta satisfatória, sem necessidade de explicação. 5.

%F+

%F+ inferior a 70% ( ou 75%, para Silveira)

6. 7.

Aut

Resposta automática: frases esteriotipadas, de preenchimento. Foram observadas originalmente por Oberholzer, o paciente responde com uma frase habitual, não pertinente, como uma reação mecânica diante de situações não familiares.

Lib

Liberação de respostas inadequadas, por incapacidade de reprimi-las, apesar de reconhecê-las como tais. Os examinandos as consideram como absolutamente incorretas pois. esses pacientes supõem que existam respostas certas ou erradas no Rorschach. Nesse caso eles se dão conta de que pelo menos uma de suas respostas é absurda, mas não consegue inibi-Ia. Este mecanismo decorre do fato dos pacientes com lesões cerebrais terem a capacidade de autocrítica conservada, mas de não conseguirem corrigir seus erros. Sentem-se impotentes no controle da expressão verbal., apesar de estarem firmemente convictos de cometerem um engano. A Lib pode ocorrer em um protocolo de adulto normal, mas neste caso, isto se deve à consciência do examinando das inúmeras possibilidades de interpretação oferecidas pelos estímulos do Rorschach, e dele ter se precipitado na escolha de sua resposta.

204 PORSCHACH CLíNICO



MANUAL BÁSICO

Para Piotrowiski (1937) os sinais mais significativos são: nC, Ppl, Aut; e, a ocorrência de cinco dos sinais da Série seria suficiente para se diagnosticar lesão cerebral como causa de alterações mentais. Silveira valorizatambém aocorrênciado sinal %F+. Pretendemos investigar essa série de sinais, tal como fizemos com a série de Harrower, mas no caso, será necessária a utilização conjunta de alguns testes neuropsicológicos para o exame dos pacientes O estudo de várias das Séries de Sinais Psicodiagnósticos propostas pelo Sistema Compreensivo de Exner nos parece igualmente interessante. Mas no caso, será preciso identificar previamente as implicações teóricas de cada índice da série considerada, de modo a tornar possível a transposição dos fatores envolvidos para o nosso sistema de classificação das respostas. NO.

SÍMBOLO

SIGNIFICADO

PpI

Perplexidade, falta de confiança na própria capacidade. Corresponde à uma atitude de surpresa diante da dificuldade apresentada pelo estímulo , quando o examinando solicita alguma ajuda ou esclarecimento. Esses pacientes sentem-se inseguros quanto à capacidade cognitiva, necessitam do apoio do examinador, e mesmo quando tentam dar alguma resposta, ficam perguntando se ela é ou não correta. Portanto a Ppí se revela através das expressões verbais e reações comportamentais do examinando.

9.

Rpt

Repetição da mesma resposta em pelo menos três diferentes pranchas, por perseveração de um tipo especial. Corresponde à simples reutilização, em estímulos dilbrentes, de uma resposta que pareceu , ao examinado, adequada para uma situação .A primeira , desta série de respostas, pode até ser precisa e de boa qualidade formal, mas as demais são geralmente arbitrárias e mal definidas.

10.

%V

Percentagem de respostas vulgares inferior à 25%, indicando certo grau de dificuldade de apreensão dos padrões de pensamento, que compõem o consensus social.

8.

RORSCHACH CúNico — MANUAL BÁSICO 205

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-

-

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“.





-



206 RORSCI-IACH CLÍNIco



MANUAL BÁSICO

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“-







In.. Boletim da Sociedade Rorschach de São Paulo, Vol. X n 1 Publica ção Anual JanDez/1 999 /Jan-Dez/2 000. COELHO, L.M.S. e BRUNHANI, S. Análise de mecanismos perceptuais e associativos, observados em pacientes com bulimia e anorexia. In: Boletim da Sociedade Rorschach de São -







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PORSCHACH CLíNico — MANUAL BÁSICO 207

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.











ANÁLISE ESTATÍSTICA E DADOS NORMATIVOS

MANUEL CARLOS PINhEiRO SÁLVIA E LÚCiA MARiA SÁLviA COELhO

GRUPO DE REFERÊNCIA: POPULAÇÃO NORMAL Critério de Seleção dos examinandos EM trabalho publicado

em 1997 pela Sociedade Rorschach de São Paulo, acham-se referidos os critérios adotados para a construção de nossa população normal de examinandos. Basta aqui lembrar que a seleção dos 100 protocolos de Rorschach de indivíduos normais obedeceu a um critério teórico do conceito de normalidade. Segundo esse conceito, a normalidade psíquica não corresponde à uma realidade estatística, ela não se define com uma média correlacionada a um grupo social. Não decorre de uma acomodação aos padrões dominantes de comportamento, mas ela é concebida como uma noção limite que define o máximo da capacidade mental do indivíduo para a adaptação às condições do ambiente. Nesse caso, os pacientes com distúrbios psíquicos não se diferenciam tanto da maioria quanto eles se afastam das suas condições habituais de existência, pela alteração, ou mesmo ruptura, da harmonia da dinâmica de personalidade. Não cabe aqui a discussão do conceito de normalidade psíquica, reportamos o leitor para a consulta do livro de G. Canguilham: “Le normal et lepathologique” e do artigo de Ruy B. Mendes Filho:” O conceito de normalidade em Psiquiatria”, onde o autor expõe as concepções de Silveira. Portanto, a população aqui estudada não representa a população média brasileira, mas é composta por brasileiros cujo comportamento foi observado por Silveira ou Coelho no decorrer de pelo menos dez anos 212 PORSCHACH CLÍNICO



MANUAL BÁSICO

sendo que dentro desse período foram submetidos à prova de Rorschach e que apresentaram integração harmônica ao ambiente, sem desvios graves de conduta ou de personalidade, quer de ordem dinâmica quer de ordem estrutural, Critério semelhante foi adotado por II Rorschach (1932) e por S. Beck (1950) para a composição de seus grupos normais de referência, apesar destes autores não terem observado o comportamento dos examinandos durante um período mais prolongado. Mais recentemente, Exner (1994) incluiu em sua população normal examinandos “sem história psiquiátrica conhecida” e que se apresentaram como voluntários para serem submetidos à prova de Rorschach. Reuniu assim urna amostra de “setecentos (700) adultos não pacientes, estratificados por distribuição geográfica e parcialmente pelo nível sócio- econômico”. A idade média destes examinandos é a de 32 a 36 anos, com amplitude de 19 à 70 anos, sendo 50% de cada sexo. (Exner, 1994, pgs 199-200). E interessante observar que, apesar do critério rigoroso de seleção estatística para a obtenção de protocolos de Rorschach de uma população média norte —americana, Exncr não encontrou diferença significativa em relação às variáveis demográficas (estado civil, educação, faixa etária, raça, local de residência e nível sócio econômico), com exceção do nível nove da Escala de Hollingshead e Redlich de classe social. O nível 9 corresponde à indigentes, que entretanto puderam ser incluídos no grupo geral “sem afetar signfIcativamen1e nem as médias, nem os desvios padrões” dos fatores do Rorschach (Ibid,pg 201). E, mesmo desdobrando os fatores do Rorschach em inúmeras categorias, definidas empiricamente pelo confronto indutivo de tipos de — -

respostas e comportamentos observáveis, Exner verificou que grande parte dos resultados estatísticos foi de ordem “não-paramétrica” Pudemos também constatar que parte dos fatores e índices dos protocolos de Rorschach de nossos examinandos não se distribuíram segundo urna curva de Gauss, sendo que alguns apresentaram elevado desvio padrão. Este fato se deve sobretudo aos modos variáveis com que os processos psíquicos se articulam, em diferentes indivíduos, na integração harmônica da personalidade. Este fato deverá ser levado em conta em um trabalho futuro, com maior número de protocolos de Rorschach, onde procuraremos distinguir os principais estilos de integração psicológica, de modo a formar subgrupos de examinandos normais. Desde que a distinção dos fatores do Rorschach, e a construção de índices, se pautem em conceitos teóricos bem definidos, consideramos RORSCHACH CUNiCO — MANUAL BÁsico 213

indispensável a utilização de um grupo de protocolos de Rorschach de examinandos normais que sirva de referência no estudo de casos individuais, em condições normais ou com distúrbios psicopatológicos. Entretanto, é preciso ressaltar que os resultados estatísticos e as faixas normais de variação, estabelecidas para cada índice do Rorschach, possuem apenas valor relativo. Os resultados numéricos apenas fornecem indicações gerais sobre as condições atuais do processo psíquico em exame. Como nos testes de exame neuropsicológico, é indispensável a análise dos elementos que compõem os índices, a intensidade com que intervém no resultado, e a interação que mantém com os outros fatores do psicograrna. 2. Características da população Dentre os 100 examinandos, 47 são do sexo feminino e 53 do sexo masculino. A idade média do grupo é 28,3 com amplitude de 19 a 60 anos, Todos os examinandos pertencem à classe média, 44% são estudantes (medicina, psicologia, pedagogia, filosofia, curso secundário); 38% exercem profissão liberal (médicos, psicólogos, assistentes social, engenheiros e advogados); 8% são técnicos e professores secundários, 2% são comerciantes, 1% militar e os 7% restantes exercem atividades domésticas. Em relação ao grau de escolaridade: 82% com curso universitário completo ou em andamento; 12% com curso secundário e 6% completaram cursos técnicos. Dentre os protocolos de Rorschach, 49 foram aplicados e avaliados por Anibal Silveira, e os 51 restantes aplicados e avaliados por Lucia Coelho (40 protocolos) ou aplicados por psicólogos especialistas no Rorschach (11 protocolos) formados pela Sociedade Rorschach de São Paulo. A classificação e elaboração dos 100 protocolos foram revistas por Coelho de modo a garantir a fiabilidade dos resultados.

ESTUDO ESTATISTICO DOS FATORES DO RORSCHACH Normalização dos Resultados Além do critério teórico utilizado para a seleção de examinandos “normais” para comporem um grupo de referência, devemos levar em conta as possibilidades e a pertinência da utilização de testes estatísticos,. paramétricos ou não-pararnétricos. 214 RORSCHACH ClíNico MANUAL BÁsico As variáveis do Rorschach que permitem a utilização de testes estatísticos paramétricos são aquelas cujos valores se distribuem segundo uma curva de Gauss, ou curva normal. As curvas normais são aquelas que preenchem as seguintes —

características. a. Curto sis igual a três (3). b. Assimetria igual a zero ,ou seja é simétrica ,em relação a média. e. O Desvio Padrão é igual a zero no ponto da curva em que fica a média. d. Desvio.Padrão igual a Área da Curva abrangida pelo desvio padrão +1 ou 1 desvio padrão 68,26% +2 ou —2 desvio padrão 95,46% +3 ou 3 desvio padrão 99,73% zz Nota: a = desvio X média As curvas normais, ou de Gauss, são teóricas, na prática as curvas que se aproximam destas condições são consideradas normais. O problema para os pesquisadores em ciências humanas consiste em determinar o grau de aproximação considerado. Este critério é variável de um autor para outro e também em relação ao tipo de variável considerada. De modo a indicar os valores que serão adotados para considerar que um conjunto de dados tende a formar uma curva normal ,vamos rever os comentários de alguns autores sobre o assunto. D.J.Viglione em seu artigo Basic Considerations Regarding Data Analysis (page 198) no livro Personalily and Clinical Psychology Serie (editado por Irving B. Weiner.,1995 )Afirma: —



“Ifa distribution isfound to be reasonable normal,parametric approaches to data analysis may be appropriated “.

Entretanto o autor não mencionou nenhum campo numérico de variação considerado por ele como “reasonable”, possivelmente porque este valor depende do grau de complexidade da variável estudada. Assim no campo da psicologia a tolerância deve ser maior que no campo das —3a —2a —la X +la +2a +3a ROSCHACH CUNCO — MANUAL BÁSICO 215

Ciências Exatas. O mesmo autor (página 201) observa: “...parametric statistics are routilely

employed because the data are transformed into a normal curve. Na tabela dos resultados dos fatores e índices do Rorschach na população nonnal apresentada no livro “The Rorschach: A Comprehensive System” de J.E Exner (1994), o autor assinala com parênteses, as variáveis que se afastam da distribuição normal (variáveis não-paramétricas) Embora Exner não explicite o critério adotado para considerar uma distribuição de variáveis como normal., ele aceita as variáveis como tendendo para curva normal desde que seus resultados estatísticos variem dentro do seguinte campo: Média / D.P * de 0,24 a 5,3; Curtosis** de 2,16 a 11,87; Assimetria de -1,11 à 1,28.

Notas *A **

média dividida pelo desvio padrão (D.P) indica quantos D.P de variação foram aceitos.

o sistema de Curtosis adotado por Exner estabelece o valor zero

para o ponto maior da curva normal ,esta é a razão dos números negativos que aparecem na suas tabelas .0 outro sistema usado em estatística atribui para este ponto o valor igual a 3 (três),eliminando portanto números negativos, este segundo sistema éo usado neste nosso trabalho. Exner usou uma combinação dos diversos dados estatísticos para estabelecer se a curva tendia para normal ou não E , com razão, o autor considera que o conjunto de oito medidas:— média, desvio padrão, mediana, moda, amplitude, freqüência, assimetria e curtosis deve proporcionar uma medida muito mais exata sobre as proporções e índices do Rorschach que qualquer uma delas considerada isoladamente. .

Outro aspecto a ser considerado é aquele relativo ao tamanho da amostra que se pretende estudar. Em seu livro “Estatística”, P.L de Oliveira Costa Neto, observa: “....se a distribuição da

população não for normal, mas a amostra for suficientemente grande, resultará, do teorema do limite central, que no caso de população infinita ou amostragem com reposição, a distribuição da amostra de x será aproximadamente normal sendo aproximada essa conclusão é extensível ao caso amostragem sem reposição se populações finitas porém razoavelmente grandes pag.48 .“

216 RORSCHACH CUNCO MANUAL BÁsico De um modo geral, os estatísticos consideram 40 como um número mínimo razoável para a composição de urna amostragem., sendo 1000 valor ideal. —

CRITÉRIOS ADOTADOS PARA A NORMALIZAÇÃO DOS RESULTADOS Conforme constatamos, não existe um critério absoluto que permita determinar quais os valores estatísticos que deveriam ser adotados para se considerar que a distribuição de urna variável tende, ou não, para uma curva normal, o que permitiria o uso de testes estatísticos pararnétricos. Decidimos então adotar um critério mais conservador para estabelecer os parâmetros básicos para aceitação de uma curva como passível de ser considerada corno normal. Dentre as medidas estatísticas utilizadas, atribuímos maior peso as seguintes: VARIAÇÃO Dentre os 100 protocolos de Rorschach de indivíduos normais utilizados para elaboração da obra “Estudos Estai ísticos dos Fatores do Rorschach em população Normal” (publicação interna da Sociedade Rorschach de São Paulo 1997), noventa e quatro (94) protocolos obedeceram os critérios aqui estabelecidos. Os resultados obtidos para essa população acham-se descritos nas tabelas e gráficos anexos. —

TABELAS ESTATÍSTICAS PARAMÉTRICA inclui índices com distribuição normal. NÃO PARAMÉTRICA tabelas de freqüência acumulada de todos os índices, considerados —



“não pararnétricos” colocados em ordem crescente. Para informações adicionais e para visualizar os intervalos que se deseja estabelecer, consulte os onze gráficos, relaciona os índjces com os valores acumulados em porcentagens (Exceto para %p’, que apenas ocorreu em um protocolo). -

de

até

Curtosis

2,10

3,90

Assimetria

0,90

+0,90

MédiaJD.P.

>oul,20

11,0 0

RORSCHACH CUNICO — MANUAL BÁSICO

217 TABELAS 11 III IV V VI VII Obs.: Modalidades — Conjunto monocromático Obs.: Modalidades — Conjunto Cromático

Adaptação à Realidade Adaptação à Realidade (Monocr. e Cromático) Cond. Afetivo Emocionais e Disp. Conativas. ZI, relação entre ELAB/R

BIBLIOGRAFIA CANGUILHEM, G. Le normal et lepathologique Paris, PUF. 1972. COELHO, L e Salvia,M.C. Estudo Estatístico dos Fatores do -

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Rorschach em população Normal (Pubi Interna Sociedade Rorschach de São Paulo). 1997. EXNER, J. Em The Rorschach A comprehensive system vol 1 (trad para o espanhol: de M.E.Ramírez El Rorschach: Un sistema comprehensivo. Madrid, ed. Psimática. 1993 MENDES Filho, R.B. sobre o conceito de normalidade em psiquiatria. -

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In.: Boletim da Sociedade Rorschach de São Paulo, Vol. 1 no 2 Agosto-Dezembro. 1982. OLIVEIRA Costa Neto, P.L. Estatística São Paulo,ed Edgard Blücher. 1977. VIGLIONI, D. J. Basic Considerations regarding data analysis In Weiner, I.B (Ed), Personality and Clinical Psychological Series (pp 195-226). Hilisdale, NJ.: Lawrence Erlbaum Associates. 1995. —

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Obs.

Intelectual e adaptação à realidade — Modalidades

dos 9

4 casos.

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