Roger Scruton - Refutando a Teoria de Gênero

March 19, 2019 | Author: carlosslash7129 | Category: Feminism, Ethnicity, Race & Gender, Gender, Sexual Intercourse, Man
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Direita Realista domingo, 29 de dezembro de 2013 Refutando o radicalismo feminista e a ideologia de gênero O autor desse belíssimo artigo é o filósofo inglês Roger Scruton. Ele é um dos muitos decentes que orgulham essa categoria. De 67 anos, é presença constante nos debates r ealizados em seu país quando é preciso ter na mesa um pensador independente e corajo so. Autor de 42 livros de ensaios, é uma pedra no sapato da ideologia politicament e correta que predomina bovinamente na Europa. No artigo a seguir, com grande ho nestidade, expõe e divaga acerca da falácia do argumento feminista de "ideologia de gênero", segundo o qual o gênero seria uma mera construção cultural.

As feministas têm batido na mesma tecla em relação à posição das mulheres nas sociedades mod ernas. Mas e sobre os homens? As mudanças radicais nos hábitos sexuais, padrões de trabalho e vida doméstica, viraram sua vida de cabeça para baixo. Os homens agora não encontram as mulheres como sexo frág il, mas como concorrentes de igualdade na esfera pública, a esfera onde os homens c ostumavam comandar. E na esfera privada, onde uma antiga divisão do trabalho dava orientação para aqueles que cruzassem seu limite, não há conhecimento sobre qual estratégi a será a mais eficaz. Gestos viris  abrir uma porta para uma mulher, ajudá-la num automóvel, carregar suas malas  podem desencadear rejeição ultrajante; mostra de riqueza, poder ou influência po de parecer ridícula para uma mulher que tem até mais do que ele; e o desaparecimento  da modéstia feminina e da contenção sexual tornou difícil para um homem acreditar, quan do uma mulher recua aos seus avanços, que ela faz isso como uma homenagem especial  ao seu poder masculino, ao invés de uma transação do dia-a-dia, em que ele, como a últi ma, é dispensável. A revolução sexual não é a única causa da confusão dos homens. Mudanças sociais, políticas e ais têm diminuído a esfera masculina até o ponto do desaparecimento, redefinindo toda a atividade em que os homens um dia provaram que eram indispensáveis, de modo que agora as mulheres podem fazer o trabalho também, ou pelo menos parecem fazê-lo. As feministas têm farejado o orgulho masculino onde quer que ele tenha crescido e o arrancado impiedosamente. Sob pressão, a cultura moderna tem diminuído ou rejeitad o tais virtudes masculinas como a coragem, tenacidade e bravura militar em favor  dos hábitos mais suaves, mais socialmente inclusivos. O advento da fertilização in vitro e a promessa de clonagem criam a impressão de que o s homens não são nem mesmo necessários para a reprodução humana, enquanto o crescimento da s famílias monoparentais  nas quais a mãe é o único adulto, e o Estado é muitas vezes o únic  provedor  fez com que a infância órfã de pai se tornasse uma opção cada vez mais comum. Essas mudanças ameaçam fazer da masculinidade algo desnecessário, e agora muitas criança s já crescem sem reconhecer nenhuma fonte de amor, autoridade ou de orientação além da mãe , cujos homens vêm e vão como trabalhadores sazonais, vagando pelo reino matriarcal,  sem perspectiva de uma posição permanente. A infelicidade dos homens decorre diretamente do colapso de seu antigo papel soc ial como protetores e provedores. Para as feministas, este antigo papel social e ra uma maneira de confinar as mulheres à família, onde elas não concorreriam pelos ben efícios disponíveis lá fora. Sua destruição, elas afirmam, é, portanto, uma libertação não só lheres, mas dos homens, também, que agora podem escolher se querem afirmar-se na e sfera pública, ou se, pelo contrário, querem ficar em casa com o bebê (que pode muito bem ser bebê de outro alguém). Esta é a idéia central do feminismo, que os papéis de gênero são naturais, mas culturais, e que mudando tais papéis podemos derrubar velhas estru

turas de poder e conseguir formas novas e mais criativas de ser. O ponto de vista feminista é a ortodoxia em toda a academia norte-americana, e ele  é a premissa de todo o pensamento jurídico e político entre a elite esquerdista, cujo s dissidentes que se opõem colocam em perigo sua reputação ou carreiras. No entanto, u ma onda de resistência a ela está ganhando força entre os antropólogos e sociobiólogos. Típico é Lionel Tiger, que há três décadas inventou o termo vínculo masculino para designar go que todos os homens precisam, e que poucos agora têm. Não foi uma convenção social qu e ditou o papel tradicional do homem e da mulher, Tiger sugere; em vez disso, os  milhões de anos de evolução que formaram a nossa espécie fizeram-nos o que somos. Você po de fazer os homens fingirem ser menos dominantes e menos agressivos, você pode faz er com que eles finjam aceitar um papel submisso na vida doméstica e uma posição de de pendência na sociedade. Mas, no fundo, no fluxo da vida instintiva que é a masculini dade em si, eles irão revoltar-se. A infelicidade dos homens, Tiger argumenta, vem  deste profundo e inconfessado conflito entre faz-de-conta social e necessidade sexual. E quando a masculinidade finalmente explodir  como inevitavelmente aconte cerá  será em formas distorcidas e perigosas, como as gangues de criminosos da cidade  moderna ou a misoginia arrogante do malandro urbano. Tiger vê o sexo como um fenômeno biológico, cuja profunda explicação reside na teoria da s eleção sexual. Cada um de nós, ele acredita, age em obediência a uma estratégia integrada em nossos genes, que procuram a sua própria perpetuidade através do nosso comportame nto sexual. Os genes de uma mulher, que é vulnerável no trabalho de parto e necessit a de apoio durante os anos da educação infantil, chamam um companheiro que irá protegê-l a e sua prole. Os genes de um homem exigem uma garantia de que as crianças que pro vê são suas, senão todo o seu trabalho é (do ponto de vista dos genes) desperdiçado. Assim , a própria natureza, trabalhando através de nossos genes, decreta uma divisão de papéis  entre os sexos. Predispõe os homens para lutar por território, para proteger suas m ulheres, para afastar rivais, e lutar por status e reconhecimento no mundo público  o mundo onde os homens combatem. Isso predispõe as mulheres a serem fiéis, privadas  e dedicadas ao lar. Ambas as disposições envolvem o trabalho em longo prazo de estr atégias genéticas  estratégias que não cabe a nós as mudar, já que somos o efeito e não a ca  delas. As feministas, obviamente, não terão nada disso. A Biologia pode certamente atribuir -nos um sexo, na forma deste ou daquele órgão. Mas muito mais importante do que noss o sexo, elas dizem, é o nosso gênero  e gênero é uma construção cultural, não um fato biol O termo gênero vem da gramática, onde é usado para distinguir os substantivos masculinos  dos femininos. Ao importá-lo para a discussão do sexo, as feministas indicam que no ssos papéis sexuais são fabricados e, portanto, maleáveis como a sintaxe. O gênero inclu i os rituais, hábitos e imagens através dos quais nós representamos a nós mesmos aos out ros como seres sexuais. Não se trata de sexo, mas da consciência do sexo. Até aqui, di zem as feministas, a identidade de gênero das mulheres é algo que os homens impuseram sobre elas. Chegou a hora das mulheres forjarem sua própria identidade de gênero, pa ra refazer a sua sexualidade como uma esfera de liberdade, em vez de uma esfera de escravidão. Levado ao extremo  e o feminismo leva tudo ao extremo  a teoria reduz o sexo a uma  mera aparência, com o gênero como realidade. Se, depois de ter forjado sua verdadei ra identidade de gênero, você encontra-se alojado no tipo errado do corpo, então é o cor po que tem de mudar. Se você acredita ser uma mulher, então você é uma mulher, não obstant e o fato de você ter o corpo de um homem. Daí que os médicos, em vez de observar as op erações de mudança de sexo como uma violação grosseira do corpo e, na verdade uma espécie de  agressão, agora as homologa e, na Inglaterra, o Serviço Nacional de Saúde paga por el as. Gênero, na concepção radical que as feministas tem disso, começa a soar como uma per igosa fantasia, um pouco como as teorias de genética de Lysenko, o biólogo preferido  de Stalin, que argumentou que características adquiridas poderiam ser herdadas, p or isso o homem poderia moldar sua própria natureza, com plasticidade quase infini

ta. Talvez devamos substituir a velha pergunta que James Thurber colocou diante de nós no início da revolução sexual com um equivalente novo: não O Sexo é Necessário?, mas o é possível? Em certa medida, no entanto, as feministas têm razão em distinguir sexo de gênero e da r a entender que somos livres para rever as nossas imagens do masculino e do fem inino. Afinal, o argumento dos sociobiólogos descreve com precisão as semelhanças entr e as pessoas e os macacos, mas ignora as diferenças. Animais na selva são escravos d e seus genes. Os seres humanos na sociedade não são. Toda a questão da cultura é que ela  nos faz algo mais do que criaturas de simples biologia e nos coloca no caminho para a auto-realização. Onde na sociobiologia está o ser, suas escolhas e sua realização? Certamente os sociobiólogos estão errados ao pensar que os nossos genes por si só dete rminam os papéis sexuais tradicionais. Mas, assim como certamente as feministas estão erradas ao acreditar que estamos co mpletamente livres da nossa natureza biológica e que os papéis sexuais tradicionais surgiram apenas a partir de uma luta social pelo poder em que os homens saíram vit oriosos e as mulheres foram escravizadas. Os papéis tradicionais existem, a fim de  humanizar nossos genes e também para controlá-los. O masculino e o feminino eram id eais, através dos quais o animal foi transfigurado no pessoal. A moralidade sexual  foi uma tentativa de transformar uma necessidade genética em uma relação pessoal. Ela  já existia justamente para impedir os homens de dispersar suas sementes pela trib o, e para evitar que as mulheres aceitassem a riqueza e o poder, ao invés do amor,  como o sinal para a reprodução. Foi a resposta cooperativa a um desejo profundo, ta nto do homem quanto da mulher, para a parceria, que vai tornar a vida significativ a. Em outras palavras, homens e mulheres não são apenas organismos biológicos. Eles também são seres morais. A Biologia estabelece limites para o nosso comportamento, mas não determina isso. A arena formada por nossos instintos apenas define as possibilid ades entre as quais temos de escolher se queremos ganhar o respeito, aceitação e amo r um do outro. Homens e mulheres moldaram-se não apenas com a finalidade de reprodução, mas a fim de trazer dignidade e bondade para as relações entre eles. Com esta finalidade, eles têm criado e recriado  o masculino e o feminino, desde que eles perceberam que as relações entre os sexos devem ser concretizadas por meio de negociação e consenso, e não pela força. A diferença entre a moral tradicional e feminismo  moderno é que a primeira pretende reforçar e humanizar a diferença entre os sexos, en quanto o segundo quer reduzir ou até mesmo aniquilá-la. Nesse sentido, o feminismo é r ealmente contra a natureza. No entanto, ao mesmo tempo, o feminismo parece ser uma resposta inevitável para o colapso da moralidade sexual tradicional. As pessoas aceitam prontamente os papéis  tradicionais quando a honra e a decência os sustentam. Mas por que as mulheres de vem confiar nos homens, já que os homens são tão rápidos em descartar as suas obrigações? O casamento foi um dia permanente e seguro; ele oferecia à mulher status social e de  proteção, muito tempo depois que ela deixasse de ser sexualmente atraente. E fornec eu uma esfera na qual ela era dominante. O sacrifício que o casamento permanente e xigiu dos homens tornou tolerável para mulheres o monopólio masculino sobre a esfera  pública, na qual os homens competiam por dinheiro e recompensas sociais. Os dois sexos respeitavam o território do outro e reconheciam que cada um deve ren unciar a algo para benefício mútuo. Agora que os homens, na esteira da revolução sexual se sentem livre para ser polígamo em série, as mulheres não têm mais um território seguro próprio. Elas não têm escolha, portanto, senão captar o que elas podem do território que u m dia foi monopolizado pelos homens. Foi uma das grandes descobertas da civilização a de que os homens não ganham a aceitação d

as mulheres pela exibição impetuosa de sua masculinidade em gestos agressivos e viol entos. Mas eles ganham aceitação sendo cavalheiros. O cavalheiro não era uma pessoa co m o gênero feminino e o sexo masculino. Ele era inteiramente um homem. Mas ele tam bém era gentil em todos os sentidos desta palavra brilhante. Ele não era agressivo, mas corajoso, não possessivo, mas protetor, não agressivo com outros homens, mas ous ado, calmo, e pronto para concordar com os termos. Ele era animado por um senso de honra, que significava assumir a responsabilidade por suas ações e proteger aquel es que dependiam dele. E o seu atributo mais importante era a lealdade, o que im plicava que ele não iria negar as suas obrigações apenas porque ele estava em posição de l ucrar com isso. Grande parte da raiva das mulheres com relação aos homens surgiu porque o ideal do c avalheiro está agora tão perto da extinção. O entretenimento popular tem apenas uma imag em da masculinidade para apresentar aos jovens: e é uma imagem de agressividade de senfreada, na qual armas automáticas desempenham um papel importante e em que a ge ntileza, sob qualquer forma aparece como uma fraqueza e não como uma força. Até que po nto isso é distante daqueles épicos do amor cortês, que colocaram em marcha uma tentat iva europeia de resgatar a masculinidade da biologia e remodelá-la como uma idéia mo ral, não precisa de elaboração. Não foram apenas a classes superiores, que idealizaram a relação entre os sexos ou mor alizaram seus papéis sociais. Na comunidade da classe trabalhadora a partir da qua l a família de meu pai veio, a velha reciprocidade era parte da rotina da vida domés tica, encapsulada em mostras de reconhecida força masculina e feminina. Um desses era o ritual do envelope de salário da sexta-feira. Meu avô chegava em casa e coloca va na mesa da cozinha o envelope fechado contendo o seu salário. Minha avó pegava o envelope e o esvaziava passando o conteúdo para sua carteira, devolvendo para meu avô duas moedas para ele beber. Meu avô, então, ia ao bar e bebia em um estado de auto -afirmação orgulhosa entre seus pares. Se as mulheres chegassem ao bar elas permanec iam na porta, comunicando-se através de um mensageiro com as salas cheias de fumo no interior, mas respeitando o limiar dessa arena masculina, como se fosse guard ada por anjos. O gesto do meu avô, quando ele colocava o envelope com o salário na mesa da cozinha,  estava imbuído de uma graça peculiar: era um reconhecimento da importância da minha a vó como uma mulher, do seu direito à sua consideração e do seu valor como mãe de suas cria nças. Da mesma forma, a sua espera fora do bar até o momento final, quando ele estar ia demasiado inconsciente para sofrer esta humilhação, antes de transportá-lo para cas a num carrinho de mão, era um gesto repleto de consideração feminina. Era sua maneira de reconhecer a sua soberania inviolável como um assalariado e um homem. Cortesia, boas maneiras, e fazer a corte eram muitas portas até a corte do amor, o nde os seres humanos se moviam como em um desfile. Meus avós foram excluídos pelo se u modo de vida do proletariado de todas as outras formas de cortesia, razão pela q ual esta era tão importante. Era a sua abertura para um encantamento que eles não po deriam obter de outra maneira. Meu avô tinha pouco de si para recomendar a minha a vó, além de sua força, boa aparência e comportamento viril. Mas ele respeitava a mulher nela e desempenhou o papel de cavalheiro da melhor maneira possível, cada vez que ele a acompanhava para fora de casa. Daí a minha avó, que não gostava dele intensament e,  pois ele era ignorante, complacente, e bêbado, e manteve-se entre o limiar de s ua vida como um obstáculo inamovível para o avanço social  no entanto, o amava apaixona damente como homem. Este amor não poderia ter durado se não fosse o mistério do gênero. A masculinidade do meu avô o separou de uma esfera de soberania própria, assim como a feminilidade da minha avó a protegia de sua agressividade. Tudo aquilo que eles conheciam como virtude havia sido aplicado a tarefa de permanecer de algum modo misterioso ao outro. E nisso eles foram bem sucedidos, como foram bem sucedidos em algumas coisas mais. Uma divisão similar de esferas ocorreu em toda a sociedade, e em cada canto do glo bo. Mas o casamento era a sua instituição central, e o casamento dependia da fidelid

ade e da contenção sexual. Os casamentos não duraram apenas porque o divórcio era reprov ado, mas também porque o casamento era precedido por um longo período de namoro, em que o amor e a confiança criavam raízes antes da experiência sexual. Este período de nam oro era também o de exibição, no qual os homens mostravam sua masculinidade e as mulhe res sua feminilidade. E é isso que significa, ou deveria significar, a construção socia l do gênero. Por encenação, os dois parceiros preparavam-se para os seus papéis futuros, aprendendo a admirar e valorizar a separação de suas naturezas. O homem cortês deu gla mour ao personagem masculino, assim como a mulher cortês deu mistério para o feminin o. E algo desse glamour e mistério permaneceu depois, um tênue halo de encantamento que fez com que um encorajasse o outro ao distanciamento que ambos tanto admirav am. O casamento não se limita a servir às estratégias reprodutivas dos nossos genes, que a tendem a necessidade de reprodução da sociedade. Serve também ao indivíduo em sua busca de uma vida e satisfação própria. Sua capacidade de ordenar e santificar o amor erótico vai além de qualquer coisa exigida pelos nossos genes. Como a nossa moralidade ilu minista corretamente insiste, nós também somos seres livres, cuja experiência é completa mente qualificada por nosso senso de valor moral. Nós não respondemos uns aos outros  como animais, mas como pessoas, o que significa que, mesmo no desejo sexual, a liberdade de escolha é essencial ao objetivo. O objeto de desejo deve ser tratado, nas famosas palavras de Kant, não apenas como  um meio, mas como um fim. Daí o verdadeiro desejo sexual é o desejo por uma pessoa,  e não pelo sexo, concebido como um produto generalizado. Nós cercamos o ato sexual com restrições e proibições que não são de maneira alguma ditados pela espécie, precisamente e modo a concentrar os nossos pensamentos e desejos sobre o ser livre, ao invés de  concentrar no mecanismo corporal. Nisto somos imensamente superiores aos nossos  genes, cuja atitude em relação ao que está acontecendo é, por comparação, mera pornografia. Mesmo quando a visão sacramental do casamento começou a minguar, a humanidade ainda mantinha os sentimentos eróticos à parte, como as coisas demasiado íntimas para discus são pública, que só podem ser maculadas por sua exibição. A castidade, a modéstia, a vergonh a e a paixão eram parte de um drama artificial, mas necessário. O erotismo foi ideal izado a fim de que o casamento devesse perdurar. E o casamento, entendido como n ossos pais e avós entendiam, era uma fonte de realização pessoal e a principal forma p ela qual uma geração passou seu capital social e moral para a próxima. Foi essa visão do casamento como um compromisso para a vida existencial, que estav a por trás do processo de construção de gênero nos dias em que homens eram domados e as mu lheres eram idealizadas. Se o casamento não é mais seguro, as meninas são obrigadas a procurar outro lugar para a sua realização. E outro lugar significa a esfera pública  p ois é uma área dominada por estranhos, com regras e procedimentos claros, na qual vo cê pode se defender contra a exploração. A vantagem de habitar este espaço não precisa ser  explicada a uma menina cuja mãe abandonada está sofrendo em seu quarto. Nem as suas  experiências na escola ou faculdade irão ensiná-la sobre a confiança ou o respeito pelo  personagem masculino. Suas aulas de educação sexual a ensinaram que os homens devem  ser utilizados e descartados como os preservativos que os embrulham. E a ideolo gia feminista incentivou-a a pensar que só uma coisa importa  que é descobrir e reali zar a sua verdadeira identidade de gênero, deixando de lado a falsa identidade de gênero que a cultura patriarcal tem impingido a ela. Assim como os meninos se tornam  homens sem tornarem-se viris, as meninas se tornam mulheres sem tornarem-se fem ininas. A modéstia e castidade são descartadas como politicamente incorretas; e em c ada esfera onde elas se deparam com os homens, as mulheres encontram-nos como co ncorrentes. A voz que acalmou a violência da masculinidade  ou seja, o chamado femi nino para proteção  tem sido remetida ao silêncio. Assim como as virtudes femininas existiam, a fim de tornar o homem gentil, a vir ilidade existia a fim de quebrar a reserva que fazia com que as mulheres retives sem seus favores até que a segurança estivesse à vista. No mundo do sexo seguro, os velh os hábitos parecem tediosos e redundantes. Em consequência, surgiu outro fenômeno marc

ante na América: a litigiosidade das mulheres para com os homens com quem elas dor miram. Parece que o consentimento, oferecido de modo livre e sem levar em conta as preliminares, uma vez assumido como indispensável, não é realmente consentimento e pode ser retirado com efeitos retroativos. As acusações de assédio ou até mesmo de estupr o no encontro ficam sempre na reserva. O tapa na cara que é utilizado para limitar os avanços importunos é agora oferecido após o evento, e de forma muito mais letal  uma  forma que não é mais privada, íntima e remediável, mas pública, regulamentada, e com a ob jetividade absoluta da lei. Você pode tomar isto como uma mostra de que o sexo segu ro é realmente o sexo em sua forma mais perigosa. Talvez o casamento seja o único sexo seguro que nós conhecemos. Quando Stalin impôs as teorias de Lysenko sobre a União Soviética como a base científica d o seu esforço para remodelar a natureza humana e transformá-la no Novo Homem Soviético, a economia humana continuou escondida sob os imperativos loucos do Estado stalin ista. E uma economia sexual paralela persiste na América moderna, que nenhum polic iamento feminista ainda conseguiu eliminar. Os homens continuam tomando conta da s coisas, e as mulheres continuam a postergar para os homens. As meninas ainda q uerem ser mães e obter um pai para seus filhos, os meninos ainda querem impression ar o sexo oposto com sua valentia e seu poder. As etapas para a consumação da atração po dem ser curtas, mas são passos em que os papéis antigos e os antigos desejos pairam no limite das coisas. Assim, não há nada mais interessante ao antropólogo visitante que as palhaçadas dos estudantes universitários americanos: a menina que, no meio de alguma diatribe fem inista de baixo calão, de repente, começa a enrubescer; ou o menino que, andando com  sua namorada, estende um braço protegê-la. Os sociobiólogos nos dizem que esses gesto s são ditados pela espécie. Devemos vê-los, sim, como revelações do senso moral. Eles são o sinal de que há realmente uma diferença entre o masculino e o feminino, para além da d iferença entre o macho e a fêmea. Sem o masculino e o feminino, na verdade, o sexo p erde seu significado. E aqui, certamente, reside a nossa esperança para o futuro. Quando as mulheres  forjam sua própria identidade de gênero, na forma como os feministas recomendam, elas  deixam de ser atraentes para os homens  ou são atraentes apenas como objetos sexua is, e não como pessoas individuais. E quando os homens deixam de ser cavalheiros, eles deixam de ser atraentes para as mulheres. O companheirismo sexual então conti nua pelo mundo. Tudo o que se precisa para salvar os jovens dessa situação é que moral istas antiquados passem despercebidos pelas guardiãs feministas e sussurrem a verd ade em ouvidos ansiosos e surpresos Na minha experiência, os jovens ouvem com susp iros de alívio que a revolução sexual pode ter sido um erro, que as mulheres estão autor izadas a ser modestas, e que os homens podem acertar o alvo ao serem cavalheiros . E é isso que devemos esperar. Se somos seres livres, então é porque, ao contrário do s nossos genes, podemos ouvir a verdade e decidir o que fazer sobre isso.

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