Ricardo Reis - Não tenhas nada nas mãos
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Agrupamento de Escolas de Seia – Secundária de Seia
Ricardo Reis Ricardo Reis é um dos três principais heterónimos de Pessoa. Nasce no Porto, a 1887, onde estudou num colégio de Jesuítas. Doutorou-se em medicina, embora nunca tenha exercido. Dos três é o mais pragmático e o que escreve mais correctamente. Tem uma personalidade analítica, formal, fria e racionalista, abstraindo-se das emoções. É sempre objectivo e exacto, no seu pragmatismo. Por causa das suas convicções monárquicas, exilou-se no Brasil. Este exílio dá-se desde o ano de 1919. É preciso ainda denotar que Reis é um discípulo de Caeiro – outro dos três principais heterónimos de Pessoa. Este não deu uma data para a morte de Ricardo, ficando a sua biografia oficial sem este dado. No entanto, Saramago situa a sua morte em 1936, no seu livro “O ano da Morte de Ricardo Reis”.
Características temáticas A nível de características temáticas, Reis tem uma em principal, o Classicismo que, no fundo engloba todas as outras. O Classicismo tem com grande influência a Antiguidade Clássica, utilizandoa como padrão de excelência do sentido estético. Os artistas que se regem por este estilo procuram alcançar a pureza formal e o rigor. Dentro desta temática podemos dizer que Reis baseia-se ainda pelo Horacianismo, pelo Helenismo e pelo Paganismo para escrever os seus poemas. O Horcianismo é uma filosofia de vida, começada por Horácio (daí o nome), com uma forte influência romana. Esta filosofia centra-se no Estoicismo e no Epicurismo. Sendo que o Estoicismo é uma doutrina filosófica, fundada por Zenão de Cítio, centrada no ser e na razão, excluindo tudo o que lhe é externo. Procura assim, viver de acordo com a natureza e atingir a harmonia interior.
Português Trabalho realizado por: Bárbara Gonçalves e Diana Duarte
Agrupamento de Escolas de Seia – Secundária de Seia Já o Epicurismo, filosofia de Epicuro, procura atingir a tranquilidade, vivendo dos prazeres modestos, libertando-se dos medos e do sofrimento corporal. Adopta a filosofia Carpe diem (aproveita o dia). O poeta é um semi-helenista autodidáctico, e ao contrário de Horácio, tem uma influência grega e não romana. É por causa destas duas correntes (horacianista e helenista), que se encontre na poesia de Ricardo Reis tantas referências a figuras mitológicas. Ele tem ainda uma preferência pelo paganismo, relacionado com a mitologia, a fé tradicional ou histórica. A religião pagã acredita em diversos deuses, como as culturas greco-romanas acreditavam.
Características estilísticas Monólogos estáticos. Dramatização de pensamento. Uso regular de hipérbatos, latinismos, assonâncias, rima interior, aliteração, metáforas, eufemismos e comparações. Rigor formal. Ritmo como unidade de sentido. Irregularidade métrica. Utilização do gerúndio, do imperativo e das frases subordinadas. Estilo laboriosamente construído, pensado.
Poema: “Não tenhas nada nas mãos” Este poema não tem um título dado pelo autor, pelo que adquire como titulo o primeiro verso do poema: “Não tenhas nada nas mãos”. Assim, o título do poema chama-se Incipit, devido a esta pequena particularidade.
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Agrupamento de Escolas de Seia – Secundária de Seia
Glossário Para que não haja dúvidas na interpretação do poema: Óbolo último – moeda dada aos mortos para poderem pagar a passagem para outro mundo. Átropos – (do grego, “sem retorno”)é uma figura mitológica que regia os destinos conhecida como “Morta” , “Inevitável” e “Inflexível”. Minos – rei da ilha de Creta, filho de Zeus e Europa, quando morreu tornou-se o juiz dos mortos, ouvindo as suas confissões e atribuindo a pena conforme a sua culpabilidade.
Duplicidade Na poesia as palavras nem sempre adquirem um significado comum ou único, por isso colocámos aqui as palavras com duplo sentido para que na análise do poema possam dar importância aos seus sentidos ocultos. Trono – conquistas Louros – gloria de outros tempos Sombra – lembrança do homem morto Noite e fim de estrada – morte Flores – sentimentos do leitor Sol – a vida Abdica – ideia de recusa Rei – tomar as próprias decisões
Análise a nível semântico •
Recursos estilísticos presentes são: metáfora e eufemismo.
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Sinónimos: tirar/fanar
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Antónimos: sol/noite; sombra/sol; colher/largar
Português Trabalho realizado por: Bárbara Gonçalves e Diana Duarte
Agrupamento de Escolas de Seia – Secundária de Seia Este poema tem como tema a morte/a passagem para outro mundo. Não se divide em partes lógicas, uma vez que é um todo , sendo que o conteúdo das estrofes se interligam. O sujeito poético agarra-se à ilusão, escrevendo este poema para tentar afastar a dor do inevitável, acreditando sempre na sua liberdade enquanto sujeito. Esta liberdade é uma liberdade espiritual e emocional, não interferindo com a crença que o destino é imutável. Apenas acredita que por mais que o destino esteja traçado, tudo o que o sujeito pensa e quer ou não sentir é da sua responsabilidade. “Não tenhas nada nas mãos Nem uma memória na alma, Que quando te puserem Nas mãos o óbolo último, Ao abrirem-te as mãos Nada te cairá.” Neste excerto, Ricardo Reis mostra a sua personalidade moralista, ao dizer que o momento da morte deve ser a encarado sem apoio, resistindo à dor e ao sofrimento. Acreditando que se nada possuirmos, nada nos podem tirar. “Que trono te querem dar Que Átropos to não tire? Que louros que não fanem Nos arbítrios de Minos?” O sujeito poético acha que tudo o que o leitor tem na vida, desde objectos pessoais, as conquistas profissionais, pessoas queridas e o dinheiro que possuí, é lhe retirado na hora da morte.
Português Trabalho realizado por: Bárbara Gonçalves e Diana Duarte
Agrupamento de Escolas de Seia – Secundária de Seia Por isso, segundo ele deve-se renunciar em vida a tudo para no fim da estrada nada perder. Este acto deve ser encarado com nobreza. A efemeridade da vida e a inevitabilidade do destino emerge através de interrogações retóricas presentes. “Que horas que te não tornem Da estatura da sombra Que serás quando fores Na noite e ao fim da estrada.” Evidencia-se, nestes dísticos, a presença de palavras com sentido conotativo, sendo a sombra a lembrança do homem morto (sombra do homem que foi), já a noite e o fim da estrada são um eufemismo metafórico para a morte. “Colhe as flores mas larga-as, Das mãos mal as olhaste. Senta-te ao sol. Abdica E sê rei de ti próprio.” O poeta apela à moderação das emoções renunciando ao prazer, ao desejo e à vontade, através da abordagem às flores, baseando-se nos seus ensinamentos da filosofia epicurista. A passagem “senta-te ao sol”, traz consigo o conselho para a vivencia de uma vida em plenitude, adquirindo uma atitude contemplativa. Segundo a filosofia horaciana devemos aproveitar o momento presente, evitando perturbações.
Português Trabalho realizado por: Bárbara Gonçalves e Diana Duarte
Agrupamento de Escolas de Seia – Secundária de Seia Análise a nível fónico Estrofes constituídas por dois versos (dísticos). Métrica: Irregular. Rima: Livre/ verso solto ou branco (versilibrismo). Presença de imensas anáforas ao longo do poema nomeadamente repetição “nê” e “que”.
Análise a nível morfossintático Predominam os nomes evidenciando o seu estilo de escrita (classicismo e paganismo), fazendo a ligação a essas culturas com referências a personagens e símbolos gregos e pagãos. As figuras de sintaxe presentes são: anáforas, paralelismos, hipérbato, transporte e interrogações retóricas. Impacto do Poema nos elementos do grupo Numa primeira análise achamos o poema confuso, pois as suas referências literárias eram-nos desconhecidas. Numa segunda análise, conseguimos apreender o sentido, no entanto, achamos que é rebuscado e antiquado, não se enquadrando nos nossos gostos literários. O tema em si não apela à nossa sensibilidade, contudo consideramos que está bem redigido, denotando o seu rigor formal e o seu sentido de ritmo, nunca fugindo às correntes literárias com as quais se rege o poeta.
Conclusão Com este trabalho aprendemos muita coisa, nomeadamente:
Estilo e vida de Ricardo Reis
Interpretação de poemas
Conhecimento de outras correntes literárias
Trabalhar em grupo
Identificar a articulação de recursos a nível semântico, fónico e
morfossintático. Português Trabalho realizado por: Bárbara Gonçalves e Diana Duarte
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