ISSN 1676-9589
SERVIÇO BRASILEIRO DE APOIO ÀS MICRO E PEQUENAS EMPRESAS
19 Agosto/Setembro
2006
Revista
SEBRAE Parceria é chave do sucesso no apoio aos pequenos negócios
Henrique Meirelles está otimista com economia
Programa ajuda dekasseguis abrir negócio
| SUMÁRIO
• Presidente do Conselho Deliberativo Nacional LUIZ OTÁVIO GOMES • Diretor-Presidente PAULO TARCISO OKAMOTTO • Diretor de Administração e Finanças CÉSAR RECH • Diretor-Técnico LUIZ CARLOS BARBOZA • Gerente da Unidade de Marketing e Comunicação LUIZ EDUARDO BARRETO • Coordenação Editorial INFORME COMUNICAÇÃO • Coordenação e Edição CÂNDIDA BITTENCOURT
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Entrevista O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, se mostra otimista com o futuro da economia brasileira
• Chefia de reportagem INDIARA OLIVEIRA • Redação ALESSANDRO SOARES, BEATRIZ BEATRIZ BORGES, CLARA FAVILLA, DENISON SILVAN, DILMA TAVARES, DULCE CALDAS, ELSIE QUINTAES, ELIZA CAETANO, PAULO ALVIM, REGINA MAMEDE, RENATO CAPORALI, RODRIGO RIEVERS E TATIANA ALARCON • Produção RUBENS SOUZA E JOANA PAULA • Projeto Gráfico e Diagramação CHICA MAGALHÃES • Ilustrações KLEBER SALES • Revisão CORINA BARRA SOARES • Fotolito e Impressão GRÁFICA BRASIL •Contato REVISTA SEBRAE SEPN 515, Bloco C, Loja 32. Cep: 70770-900 - Brasília-DF (61) 3348.7398
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Parceiros que dão certo Instituições parceiras contam como é interessante trabalhar em conjunto para obter bons resultados
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Prefácio
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Espaço do leitor Perguntas e respostas sobre gestão, empreendedorismo e o dia-a-dia das micro e pequenas empresas
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Artigo Renato Caporali escreve sobre as parcerias do Sebrae no campo internacional
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Artigo
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Parcerias com editoras
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Serviço Brasileiro de Respostas Técnicas
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Central de Negócios Parceria proporciona redução de custos na compra de insumos e melhores oportunidades de comercialização
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Central Fácil Parcerias entre órgãos públicos trazem facilidades para a abertura e fechamento de empresas
Dulce Caldas revela a importância das alianças estratégicas nas políticas públicas
Sebrae estimula o acesso ao conhecimento a partir do incentivo a novas publicações
Serviço entra em nova fase para ampliar consultas tecnológicas feitas por pequenas empresas
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Artigo
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Justa Trama
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Fitoterápicos
68
Prêmios
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Dekassegui Programa orienta e capacita brasileiros que migram para o Japão e sonham voltar para montar um negócio próprio
Paulo Alvim escreve sobre a estratégia para ampliar o acesso a novas tecnologias pelas micro e pequenas empresas
Como o trabalho com foco na economia solidária pode fazer a diferença no desenvolvimento sustentável
Parceria entre governo municipal, Sebrae e institutos tecnológicos dá destaque ao interior do Amazonas
Entidades se unem para premiar e destacar experiências de sucesso em diversos segmentos
Artigo Elsie Quintaes escreve sobre a essência do trabalho do Sebrae no apoio aos negócios de pequeno porte
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| EDITORIAL
Mais e muitos A
missão do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas vai muito além de capacitar e preparar os empreendedores para montar e operar o próprio negócio com segurança e sucesso, gerando ocupação e renda. Outro papel importante é fazer articulação, multiplicando parcerias.
PAULO OKAMOTTO Presidente do Sebrae
“
Uma andorinha só não faz verão. O Sebrae isolado não faz chover. Não somos e jamais seremos uma ilha
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Uma andorinha só não faz verão. O Sebrae isolado não faz chover. Não somos e jamais seremos uma ilha. É preciso, sempre, juntar outras competências e mais conhecimento, venham de onde vierem. É essencial somar. Sabíamos, evidentemente, da enorme quantidade de parceiros com que operamos. A implantação da GEOR, a Gestão Estratégica Orientada para Resultados, no entan to, não apenas permitiu contá-los um a um, mas sobretudo possibilitou medir a atuação de cada um conosco. A GEOR é a metodologia que afere, dá transparência e torna públicos, via internet, os efeitos práticos do trabalho do Sebrae e dos seus parceiros. Mostra onde acertamos e onde erramos. Faz gestão eficiente do conhecimento, prestando contas à sociedade, que sustenta a instituição. Permitiu contabilizar 2.800 parcerias, envolvidas em 14 mil variados tipos de ações, como promover capacitação e rodadas de negócios. Estamos investindo, todos, R$ 1,5 bilhão até 2008. Não se trata mais, como antes, de ter parceiros de forma burocrática, apenas assinando o con vênio. Com a GEOR, eles passam a dividir a construção e o acompanhamento do empreendimento. Temos hoje uma média de 3,8 parcerias por projeto na GEOR, com atuação e responsabilidades claramente definidas. É parceiro de toda ordem, de entidades de classe, empresariais e de trabalhadores, a universidades, passando por organismos internacionais, prefeituras, governos estaduais, governo federal, centros tecnológicos, ONGs. Juntos, ajudamos a construir um Brasil melhor. REVISTA SEBRAE | 7
Espaço do leitor Participe enviando comentários e sugestões para o e-mail: revista@ sebrae.com.br, ou SEPN 515, Bl. C, Loja 32., Cep: 70770-530 - Brasília-DF
marcar uma consultoria para a elaboração de um plano de negócios para sua empresa. O Sebrae também possui uma busca de fornecedores de matéria-prima e maquinário para todo tipo de empreendimento, por meio do Serviço de Resposta Técnica, que também pode auxiliá-la. Para mais informações, procure o posto de atendimento do Sebrae mais próximo de sua cidade. Eliane
[email protected]
CAPACITAÇÃO O que devo fazer para participar dos cursos que o Sebrae oferece?
Uma das principais atribuições do Sebrae é oferecer cursos de capacitação aos empreendedores. A Instituição não tem a fórmula mágica do sucesso, até porque ela não existe. Mas seus cursos contribuem para apontar caminhos mais seguros para o êxito. Para saber que habilidades você precisa desenvolver, visite o site do Sebrae, no item à esquerda: “Defina seu negócio”. Lá, você encontrará testes e dicas para empreender com mais segurança. Por meio de avaliação feita no mapa de competências, é possível saber qual curso é mais indicado para você. A relação de cursos do Sebrae pela internet está disponível no endereço www.educacao.com.br . Há também cursos presenciais em todas as unidades da Instituição. Procure o Sebrae para saber que cursos estão agora disponíveis. Damianne Leal
[email protected]
PLANO DE NEGÓCIOS Preciso de um modelo de projeto, para abrir uma empresa. Pode me ajudar?
O Sebrae tem, como principal atribuição, prestar auxílio aos micro e pequenos empresários. Você deve
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MAIS DINHEIRO Desejo informações sobre como obter crédito para minha empresa.
Embora o Sebrae não financie empresas, tem todas as informações necessárias para que o empreendedor possa obter financiamento ou buscar novos parceiros para começar seu negócio. Há várias alternativas para obter empréstimos: em um banco convencional, ou em entidades que oferecem crédito alternativo, como instituições de microcrédito e cooperativas de crédito disponíveis no site do Sebrae ( www.sebrae.com.br ), na coluna à esquerda, item “Como obter crédito”. Também procure informações no posto de atendimento do Sebrae da sua cidade ou estado. O Sebrae pode ajudá-lo a viabilizar um empréstimo. Wellington Smangorzewski
[email protected]
LANCHONETE Gostaria de fazer vários cursos no Sebrae, mas não tenho condições financeiras para tal. Meu sonho é abrir minha própria lanchonete. Por favor, me ajude.
O Sebrae possui uma publicação chamada “Como montar um bar e lanchonete”, da série “Comece certo”. Para conhecer seu conteúdo, basta acessar a biblioteca virtual no site www.biblioteca.sebrae .com. br. Você também pode marcar uma consultoria para a elaboração de um diagnóstico de sua empresa. O Sebrae também possui uma busca de fornecedores de matéria prima e maquinário para todo tipo de empreendimento, por meio de um Serviço de Resposta Técnica, que pode auxiliá-la. Procure o posto de atendimento mais próximo de sua cidade. ARTESANATO Trabalho com artesanato e gostaria de informações para divulgar e comercializar meu trabalho. Quero saber como dar destaque para minhas bonecas de cabaça.
Prezada Claudia, Você deve procurar informações e consultoria no serviço de atendimento do Sebrae da sua cidade ou estado. Claudia de Sousa Carvalho
[email protected]
PADARIA Meu namorado tem uma padaria e gostaria de algumas dicas para prosperar, para inovar em seu comércio. Como posso conseguir respostas a esta pergunta, sem recorrer à internet?
Você deve buscar informações e consultoria no posto de atendimento do Sebrae da sua cidade ou estado. O Sebrae possui um Serviço de Resposta Técnica, que faz uma busca de fornecedores de matéria prima e maquinário para todo tipo de empreendimento. Elidiana
[email protected]
Vânia Drazdauskas Silva
[email protected]
SEBRAE NOS ESTADOS UNIDADES FEDERATIVAS
DDD
0800-PABX
ACRE (AC)
68
3216-2100
ALAGOAS (AL)
82
3216-1600
AMAPÁ (AP)
96
3214-1400
AMAZONAS (AM)
92
2121-4900
BAHIA (BA)
71
3320-9600 3320-9605
CEARÁ (CE)
85
3255- 6600
DISTRITO FEDERAL (DF)
61
3262-1700
ESPÍRITO SANTO (ES)
0800-399192
GOIÂNIA (GO)
62
3250-2300
MARANHÃO (MA)
98
3216-6166
MATO GROSSO DO SUL (MS)
67
2106-5511
MATO GROSSO (MT)
65
3648-1200
MINAS GERAIS (MG)
31
3269-0180
PARÁ (PA)
91
3181-9120 - 3181-9000
PARAÍBA (PB)
83
0800-832477 - 3218-1000
CURITIBA (PR)???
41
3330-5757
PERNAMBUCO (PE)
81
2101-8400
PIAUÍ (PI)
86
3216-1300
RIO DE JANEIRO (RJ)
21
0800-782020 ou 2220-9451
RIO G. DO NORTE (RN)
84
0800 842020 ou 3215-4900
RIO GRANDE DO SUL (RS)
51
3216-5006
RONDÔNIA (RO)
69
3217-3800
RORAIMA (RR)
95
3623-1700
SANTA CATARINA (SC)
0800-483300
SÃO PAULO (SP)
0800 78 02 02
SERGIPE (SE)
79
3216-7765
PALMAS (TO)
63
3223-3300
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| ENTREVISTA
Henrique Meirelles • PRESIDENTE DO BANCO CENTRAL
Boas perspectivas para a economia e as finanças voltadas para os pequenos negócios TEXTO: CLARA FAVILLA FOTOS: MÁRCIA GOUTHIER
O
Brasil vive um momento econômico auspicioso, que alarga os horizontes de planejamento dos indi víduos e das empresas. Nesse contexto, destaca-se a expansão do crédito, favorecendo a produção de bens e serviços e o consumo. Os pequenos negócios mostram-se um nicho confiável e promissor para bancos, cooperativas de crédito e instituições de microcrédito. Toda a estratégia do Sebrae para a ampliação dos serviços financeiros ao segmento, acompanhada da redução da burocracia e de custos, baseia-se em soluções de mercado para que tenham as necessárias abrangência e eficácia. Por isso, dá extrema relevância às parcerias que vem construindo com o Sistema Financeiro. O Banco Central, nos últimos anos, tem-se revelado um parceiro importante para o Sebrae. Grandes avanços normativos podem ser constatados, principalmente na área do cooperativismo de crédito. Entusiasmados com os resul tados, Banco Central e Sebrae fazem uma nova aposta: já
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estudam com o Ministério da Fazenda na regulamentação do Sistema Nacional de Garantias, previsto na Lei Geral das Micro e Pequenas Empresas, em trami tação no Congresso Nacional. O Sistema, uma experiência bemsucedida na Itália, na Espanha e na Ar gentina, vai evitar que solicitações de empréstimos frustrem-se pela falta de contrapartidas, mesmo quando os empreendedores cumprem as demais exi gências bancárias, como as cadastrais e a comprovação de capacidade d e pagamento. Em entrevista exclusiva à Revista Sebrae, o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, faz uma avaliação otimista sobre as perspectivas da economia brasileira e os próximos passos da parceria com o Sebrae. Leia a entrevista: REVISTA SEBRAE - Como o senhor avalia a conjuntura econômica brasileira? HENRIQUE MEIRELLES - O Brasil passa por um período auspicioso. A economia está em expansão equilibrada. A política econômica de metas de inflação e câmbio flutuante, combinada a uma política fiscal adequada, vem permitindo ao País reduzir a inflação, com crescimento econômico.
| RETRANCA
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RS - Essa conjuntura favorável pode ser projetada para curto e médio prazos?
fatores dá ao Brasil condições de crescer de forma consistente por muitos anos. Este é o momento para o pequeno e o médio empresário investir e crescer.
HENRIQUE MEIRELLES - A es tabilidade econômica alcançada, bem como a perspectiva de manutenção dos ganhos obtidos nessa área, tem reduzido progressivamente a percepção de risco macroeconômico, com repercussões importantes sobre as decisões econômicas: alargam-se os horizontes de planejamento dos indivíduos e das empresas; caem os prêmios de risco cobrados nas operações financeiras; e criam-se condições para uma expansão sustentável do consumo e do investimento.
HENRIQUE MEIRELLES - Enquanto a inflação era reduzida nos últimos anos, o Brasil aproveitava os bons ventos da economia global para implementar também uma revira volta em seus indicadores de vulnerabilidade externa e in terna. Um processo amplo de redução das vulnerabilidades, desde 2003, colocou o Brasil hoje em posição de força para enfrentar os desafios da economia internacional, em particular as condições mais apertadas de liquidez internacional que vivenciamos no momento.
RS - O Brasil já estaria, então, vivendo um ciclo econômico virtuoso?
RS - Que mudanças o senhor considera mais importantes na economia brasileira nos últimos anos?
HENRIQUE MEIRELLES - Pela primeira vez na história, o Brasil está crescendo de forma sustentada com inflação na meta, crescimento do emprego, renda real em alta continuada, saldo positivo nas contas correntes do Balanço de Pagamentos, reservas internacionais elevadas e endividamento externo decrescente. Agora, temos uma combinação de demanda interna crescente e competitividade externa. Esse conjunto equilibrado de
HENRIQUE MEIRELLES - Entre as principais mudanças estão as que fortalecem o Brasil e lhe permitem enfrentar com maior tranqüilidade o futuro. Eu gostaria de enfatizar quatro: a redução consistente da inflação e o alinhamento das expectativas de inflação com os objetivos da política monetária; a forte reação da balança comercial do balanço de pagamentos, com o registro de superávits comerciais de expressivo valor; a recomposição das reservas internacionais do País; e a redução da dívida externa pública com os programas de pagamento antecipado e de recompra de dívida. Essas mudanças estruturais permitem ao País continuar
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RS - Pode-se, assim, concluir que o Brasil está economicamente menos vulnerável?
avançando, mesmo diante de um cenário internacional de maiores desafios pela frente. O ambiente de estabilidade econômica e a trajetória de expansão susten tável favorecem a evolução das pequenas e das médias empresas, que são as que mais sofreram os efeitos da instabilidade econômica e das crises do passado. A es tabilidade econômica é condição necessária para o sucesso dessas empresas. RS - O Banco Central é responsável pela normatização e pela fiscalização do Sistema Financeiro. Quais os avanços o senhor destacaria nessa área? HENRIQUE MEIRELLES - A regulação prudencial avançou significativamente na última década. O novo ambiente de maior estabilidade econômica permitiu ao Brasil avançar na elaboração de normas prudenciais, voltadas essencialmente para o desenvolvimento estrutural do Sis tema Financeiro Nacional (SFN). O enfoque da regulação passou da abordagem que tinha, como referência, a relação de alvancagem (passivo/patrimônio líquido) para uma abordagem apoiada no nível de risco gerado pelas operações ativas realizadas. Ou seja, a nova filosofia preconiza, por exemplo, que a maior garantia que os depositantes têm de que reaverão os recursos depositados em uma instituição financeira reside na qualidade dos ativos dessa instituição e na capacidade de ela absorver perdas.
Como esse novo ambiente regulatório favorece as finanças voltadas para os pequenos negócios? HENRIQUE MEIRELLES - Está nos permitindo avançar na estruturação e na melhoria do funcionamento do Sistema Financeiro Nacional (SFN), com avanços importantes na área de microfinanças. O Banco Central do Brasil e o Conselho Monetário Nacional têm envidado esforços para ampliar o acesso da população brasileira aos serviços bancários, entre
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Hoje, o Sebrae apóia programas a todos os sistemas organizados. Ainda no campo da capacitação e da divulgação, o Sebrae tem sido um parceiro importante em cursos de alto nível e também em eventos de microfinanças organizados pelo Banco Central para a disseminação do tema nas várias regiões do País.
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eles os instrumentos de poupança financeira e de crédito. Esse processo de ampliação do acesso aos serviços financeiros, conhecido como “bancarização”, tem desempenhado importante papel na dinamização de pequenos negócios, tradicionalmente carentes de capital e instrumentos de financiamento. A maior “bancarização” dos brasileiros amplia as oportunidades econômicas e permite maior desenvolvimento de nossos recursos. RS - Quais medidas o senhor destacaria como importantes para a ampliação dos serviços financeiros para a população de menor renda e para os pequenos negócios? HENRIQUE MEIRELLES - Nos últimos anos, várias medidas foram adotadas, entre as quais destaco três: a ampliação da atuação das instituições financeiras por meio dos correspondentes bancários; a criação e o aperfeiçoamento das sociedade de crédito ao microempreendedor; e a evolução na área das cooperativas de crédito. No caso dos correspondentes bancários, o Banco Cen tral estendeu a faculdade de contratação de corresponden te a todas as instituições financeiras e às demais instituições autorizadas. Atualmente, a população de todos os municípios brasileiros tem acesso aos serviços bancários, sendo atendida por pelo menos um correspondente bancário. As sociedades de crédito ao microempreendedor foram criadas em 2001, para conceder financiamentos a pessoas físicas, com vista a viabilizar empreendimentos de natureza profissional, comercial ou industrial de pequeno porte, bem como a pessoas jurídicas classificadas como microempresas. Elas foram aperfeiçoadas para permitir a possibilidade, mediante autorização do BC, de o controle societário ser exercido pelas Organizações da
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RS - O cooperativismo de crédito vem apresentando grande expansão e, para isso, foram necessários também avanços normativos. Esse processo terá continuidade?
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Tem sido também importante a participação do Sebrae no apoio à condução de projetos de constituição ou de transformação de cooperativas de crédito, mediante a troca de informações e de atividades de organização e formação de cooperados.
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Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP) especializadas em operações de microcrédito. Outro avanço permitiu a realização de operações por conta própria ou em nome de instituição legalmente autorizada a conceder empréstimos ao público, mediante contrato de prestação de serviços. Atualmente, existe um projeto para a atualização da regulamen tação, incluindo a revisão do limite de diversificação de risco por cliente, mas garantindo que a maior parte seja concentrada em operações de pequeno valor, e a possibilidade de receber depósitos dos sócios.
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HENRIQUE MEIRELLES - A regulamentação sobre o cooperativismo de crédito tem evoluído com a incorporação de requisitos prudenciais e regras operacionais similares às que vêm sendo empregadas no aperfeiçoamento das normas atinentes às demais instituições do Sistema Financeiro Nacional. Isso vem permitindo, ao longo do tempo, a abertura de possibilidades operacionais às cooperativas de crédito, especialmente quanto às operações ativas, passivas e de pres tação de serviços, e às condições de formação dos quadros de associados. Também estão em andamento estudos para a definição do melhor desenho para um fundo garantidor de crédito para o segmento. RS - Sebrae e Banco Central mantêm convênio de cooperação técnica. Que importantes resultados seriam induzidos por essa parceria? HENRIQUE MEIRELLES - A parceria entre as duas ins tituições tem gerado importantes resultados para o desenvol vimento do segmento de microfinanças no País, notadamen te quanto ao cooperativismo de crédito. Várias ações foram desenvolvidas na área da capacitação, de forma preventiva (para gerir negócios) e também corretiva, para quando se apresentarem problemas de gestão. Hoje, o Sebrae apóia programas a todos os sistemas or ganizados. Ainda no campo da capacitação e da divulgação, o Sebrae tem sido um parceiro importante em cursos de alto nível e também em eventos de microfinanças organizados pelo Banco Central para a disseminação do tema nas várias regiões do País. Tem sido também importante a participação do Sebrae no apoio à condução de projetos de constituição ou de transformação de cooperativas de crédito, mediante a troca de informações e de atividades de organização e formação de cooperados. RS - Qual a próxima grande aposta da parceria Banco Central/ Sebrae? HENRIQUE MEIRELLES - A Lei Geral das Micro e Pequenas Empresas, em tramitação na Câmara dos Deputados, incorpora, em seu texto, a criação do Sistema Nacional de Garantias. Nesse contexto, o Banco Central vem participando de discussões no sentido de buscar, juntamente com o Sebrae e o Ministério da Fazenda, um modelo para esse sistema, que objetiva reduzir o custo do financiamento (operação de crédito) para o segmento.
| PROJETO DEKASSEGUI
Emigrante tem apoio técnico para abrir negócio SEBRAE, ABD E BID ORIENTAM E CAPACITAM BRASILEIROS QUE MIGRAM PARA O JAPÃO E SONHAM VOLTAR AO BRASIL E AQUI MONTAR UM NEGÓCIO PRÓPRIO 16 | REVISTA SEBRAE
Textos: ASN/PR COM SANDRA MANFRINI Fotos: ASN/PR
H
á 98 anos, em 1908, desembarcavam no porto de Santos, no li toral paulista, 781 japoneses do navio Kasato Maru, em busca de trabalho nos cafezais brasileiros. Faziam parte do chamado movimento dekassegui, iniciado em 1883, que resultou na emigração japonesa para os quatro cantos do mundo. O termo “dekassegui” é formado pelas palavras japonesas deru (sair) e kasegu (ganhar dinheiro), designando qualquer pessoa que deixa sua terra na tal, temporariamente, para trabalhar. Os dekasseguis fugiam do desemprego e da amarga experiência vivida no Japão, que, no final do século XIX, dava os primeiros passos rumo ao capitalismo. Na bagagem, além do desejo de prosperar, traziam o sonho de retornar
o quanto antes para a terra natal. Os anos passaram e o sonho de retornar foi esquecido. Os japoneses instalaram-se no Brasil e fixaram raízes. Não podiam imaginar que, um dia, a crise econômica brasileira da década de 1980 reacenderia o movimento dekassegui, desta vez no sentido inverso. Com os mesmos ideais de 1908, filhos e netos descendentes dos japoneses instalados no Brasil passaram a buscar postos de trabalho nas fábricas do Japão, carentes de mão-de-obra especializada. Fluxo migratório que ainda não chegou ao fim. Dados do Ministério da Justiça do Japão revelam que em 1985 havia 1.955 nipo-brasileiros, devidamente regis trados, no Japão. Em 1989, 14.528, ou seja, houve um crescimento de 249,31% se comparado com 1988. Em 1997, a taxa de permanência saltou para 233.254. Em 2003, para 274.700. E em 2004, para 286.577. Hoje, estima-se que 300 mil dekasseguis saíram do Brasil para viver no outro lado do mundo. Ao contrário do que ocorreu com seus pais e avós, muitos têm a oportunidade de voltar ao seu país de origem, o Brasil. Dois levantamentos de peso, fei tos em 2004 e 2005, entre a comunidade nipo-brasileira que vive no Japão e no Brasil, confirmaram que o principal
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Paulo Okamotto participa de reunião no Japão
objetivo de 45% dos dekasseguis, ao desembarcarem no Brasil, é montar um negócio próprio. As pesquisas, realizadas pelo Ser viço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) Nacional, pela Associação Brasileira de Dekasseguis (ABD) e pelo Banco In teramericano de Desenvolvimento (BID) constataram, porém, um dado preocupante: a maioria dos negócios não decola e o índice de mortalidade dos empreendimentos, no primeiro ano de funcionamento, é elevado. Para modificar a situação e segurar as divisas que os dekasseguis trazem para o País, o Sebrae e a ABD deram um passo importante em 2003, ao lançarem o Dekassegui Empreendedor, um programa de apoio, valorização, orientação e capacitação aos nipo-brasileiros, que em 2005 passou a ter o apoio do BID.
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Sebrae no Japão Em julho deste ano, o presidente do Sebrae, Paulo Okamotto, foi pessoalmente ao Japão para o lançamento do Projeto Dekassegui Empreendedor em território japonês. Okamotto foi acompanhado de uma pequena comitiva: do gerente da Unidade de Assessoria Internacional, Renato Caporali; do gerente de Atendimento Individual e diretor do projeto, Enio Pinto; e do consultor Eduardo Carneiro, funcionário do Sebrae no Pará, escolhido para ser o gestor do escritório do Sebrae no Japão, que será instalado brevemen te em Nagoya. Na visita ao Japão, Okamotto e os técnicos do Sebrae ti veram contato com representantes da comunidade dekasse gui e puderam sentir o interesse pelas ações planejadas pelo projeto. “A viagem foi muito importante. O sucesso desse projeto depende da sua divulgação ao público-alvo, para que as demandas possam surgir e nós possamos atendê-las, con tribuindo para a geração de negócios”, disse o presidente da Instituição. O projeto foi lançado tanto em Nagoya, no Consulado brasileiro, quanto em Tóquio, onde também foi assinado
um convênio com a Câmara de Comércio Brasileira no Japão (CCBJ), para que sejam desenvolvidas ações conjun tas em proveito do programa Dekassegui Empreendedor. Provisoriamen te, Eduardo Carneiro já está instalado em uma sala do Consulado brasileiro em Nagoya, realizando atendimentos e recebendo as primeiras demandas do público-alvo do projeto. O objetivo é que o consultor do Sebrae mobilize e estimule a comunidade de brasileiros no Japão a buscar informação, consul toria e capacitação.
O Programa O Programa Dekassegui Empreendedor consiste em cursos, palestras, treinamentos e dinâmicas de grupo, com o objetivo de reintegrar o nipo-brasileiro à economia do País, informando-o também sobre os riscos do mercado. O apoio do Sebrae a esse público é mais intenso nos estados do Pará, do Paraná, de Mato Grosso do Sul e de São Paulo, pois são essas as regiões de maior concentração de imigrantes japoneses em todo o Brasil. O programa dá dicas sobre a montagem do negócio próprio ou de um bom emprego e simula problemas comuns para estimular a busca de soluções. O dekassegui conta ainda com o planejamento empresarial para a concepção e a busca de um negócio que possa ser implementado no Brasil, facultando, assim, a transferência do conhecimento e da tecnologia que exis te no Japão. “Nosso trabalho ajuda o dekassegui a aplicar melhor o dinheiro que antes era mal empregado. O conhecimento do Sebrae na parte empresarial possibilita oferecer essa orientação e capacitação para os trabalhadores que re tornam do Japão. O projeto tem dado apoio por entender o lado dos dekasseguis, qual a realidade e suas necessidades”, explica Maria Helena Uyeda,
Portal Consultores do Sebrae já estão recebendo perguntas e dúvidas dos dekasseguis. Por intermédio do portal Dekassegui Empreendedor (www.dekassegui.sebrae.com. br), o candidato a empreendedor que pretende ir ao Japão, ou que já está morando naquele país, ou mesmo aquele que já retornou tem acesso a um atendimento personalizado do Sebrae, com orientações e informações necessárias para a abertura de um pequeno negócio. De acordo com o coordenador nacional do Projeto Dekassegui Empreendedor, Silmar Pereira Rodrigues, ao receber os questionamentos, o Sebrae Nacional faz uma triagem e redireciona as perguntas para os estados de origem do dekassegui. Paraná, Mato Grosso do Sul, São Paulo e Pará, regiões com maior concentração de dekasseguis, têm um consultor designado para atender a essas demandas. Para os dekasseguis procedentes de outros estados, o Sebrae Nacional já contratou um consultor que vai dirimir todas as dúvidas. Por aquele portal, também pode ser feita inscrição para os cursos a distância oferecidos pelo Sebrae. Aliás, todos os cursos de capacitação da Instituição, disponibilizados pela internet, estão disponíveis para os dekasseguis. São eles: Aprender a Empreender; Como Vender Mais e Melhor; Análise e Planejamento Financeiro; D’Olho na Qualidade; Iniciando um Pequeno Grande Negócio (IPGN). O gerente Enio Pinto destaca que as capacitações serão oferecidas em turmas mistas, formadas por dekasseguis e brasileiros que estão no Brasil, com o objetivo de permitir maior troca de informações sobre a realidade socioeconômica do País.
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Projeto piloto de consultoria
Abrir uma cafeteria foi a opção dos dois casais de Curitiba
presidente da ABD. Atualmente, os brasileiros que trabalham fora do País geram divisas de US$ 6,4 bilhões por ano. Do valor remetido anualmente ao Brasil, os nipo-brasileiros são responsáveis por cerca de US$ 2,2 bilhões. Perdem para os brasileiros que vivem nos Es tados Unidos (US$ 2,7 bilhões), mas proporcionalmen te geram mais riquezas. São 300 mil nipo-brasileiros no Japão e 1 milhão de brasileiros nos Estados Unidos. “Os nossos brasileiros que lá se encontram remetem ao Brasil bilhões de dólares por ano. Queremos ajudar a canalizar essas remessas para o setor produtivo, gerando emprego e renda”, afirma Paulo Okamotto. Segundo ele, é preciso que os brasileiros residentes no Japão tenham consciência de que estão vivendo em um país de Primeiro Mundo, cercado de novas tecnologias e de serviços altamente qualificados. Para Hélio Cadore, superintendente do Sebrae no Paraná, crescimento e sustentabilidade só são conquistados com a geração de empregos e renda de forma contínua. “Durante anos, os dekasseguis remeteram muito dinheiro para o Brasil, mas não conseguiam vislumbrar um ne gócio. Sem orientação, persistiria a situação de insucesso do passado, em que muitos eram enganados, abrindo ne gócios de maneira desorganizada, sem critérios técnicos e desordenados”.
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No Paraná, o Programa Dekassegui Empreendedor entrou em nova fase, e dois projetos marcam o início desse trabalho. Em maio deste ano, foi lançada, em Maringá, a ONG Tomodati de Cooperação Brasil, que tem como objetivo auxiliar os dekasseguis e ex-dekasseguis nos investimentos econômicos, na reinserção social e no provimento familiar. Em Curitiba, no início de junho, foi apresentada uma proposta de caráter experimental, que visa à adequação de programas técnicos oferecidos pelo Sebrae, para atender aos dekasseguis que, no Paraná, têm alta representatividade, principalmente em Maringá, Londrina e Curitiba. “Um dos objetivos é orientar e preparar o dekassegui para a realização do planejamento financeiro, para que aplique os ganhos de maneira correta e em investimentos seguros, usufruindo da melhor forma possível o período em que permanecer no Japão”, explicou Marcos Aurélio Gonçalves, coordenador do programa no Paraná. Para aquele que tem o propósito de viajar ao Japão, serão fornecidas ferramen tas que poderão auxiliá-lo no processo, já que serão abordados aspectos econômicos, como o planejamento financeiro e familiar, e aspectos sociais, que vão desde o conhecimento do idioma, da legislação, da cultura e dos valores, e até mesmo para colocá-los em contato com organizações japonesas de apoio a esse público.
Preparação e conhecimento são ingredientes indispensáveis para o sucesso do negócio
Planejamento orientado é sucesso certo O empreendedor Álvaro Oshiro passou 14 anos trabalhando no Japão com o firme propósito de investir em um ne gócio próprio quando voltasse ao Brasil. Enquanto estava fora, Álvaro pesquisou na internet informações sobre o con texto socioeconômico do País, sobre as oportunidades de negócios em vários es tados e sobre as entidades que poderiam auxiliá-lo a concretizar o sonho. Quando retornou ao Brasil, o empresário paulis ta optou por fixar residência em Campo Grande (MS). Após fazer uma análise de mercado, Álvaro identificou uma carência de mercado na área de conservação e limpeza. O próximo passo foi procurar o Sebrae
Livro reúne experiências bem-sucedidas Histórias de empreendimentos que deram certo, contadas por nipo-brasileiros, compõem a série de seis fascículos ‘Histórias de Sucesso – Dekasseguis Empreendedores’, lançada pelo Sebrae, ABD e BID, no último dia 29 de junho, em Campo Grande (MS), durante o 2º Congresso Brasileiro de Dekasseguis. A coletânea reúne depoimentos de seis empreendedores do Paraná, das cidades de Londrina, Curitiba e Maringá. Eles contam como, ao voltar para o Brasil, enfrentaram o desafio de montar o próprio negócio, desde a definição do empreendimento até a elaboração de um plano de negócios. As histórias têm sempre como pano de fundo as duras experiências vividas na condição de dekasseguis e as dificuldades enfrentadas por aqueles que retornaram ao País depois de uma longa temporada no Japão a trabalho. A série está disponível também pode ser acessada pelo portal Dekassegui Empreendedor (www.dekassegui.sebrae.com.br) .
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para a identificação do perfil empreendedor, e foi assim que montou sua empresa. O empresário, que no Japão trabalhava como empregado, conhece a importância da capacitação e procura sempre se manter atualizado, participando de cursos e capacitação, para oferecer o melhor serviço ao cliente. “Estamos fazendo tudo para que nossa empresa se torne sólida no mercado, e para isso estamos buscando parcerias com fornecedores, bancos e até mesmo com os clientes. Sem essa rede de contatos, é difícil tocar a empresa sozinho. O empresário precisa ter visão e estabelecer metas”. Abrir um negócio no qual pudessem trabalhar e se manter no Brasil também era o objetivo de Roberto Takashima e da sua mulher Simone Yamaguti, juntamente com Julio Yamaguti (irmão de Simone) e Cristina Yamaguti, sua mulher. Roberto chegou ao Japão em maio de 1992. Os irmãos Simone e Julio, em se tembro do mesmo ano, enquanto Cristina, três anos depois. Julio morava em um alojamento junto com Roberto, que pouco tempo depois começou a namorar Simone. Roberto e
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Simone retornaram ao Brasil em 1998 e ficaram quase um ano analisando áreas de atuação em que poderiam mon tar um negócio. Foi no ano seguinte, com a volta do outro casal ao Brasil, que, juntos, os quatro amigos optaram por abrir uma cafeteria em Curitiba, cidade onde Roberto tinha residência fixa. Os empresários participaram de vários cursos no Sebrae no Paraná e contaram também com a orientação para abrir a empresa e realizar o plano de negócios. Simone afirma que, sem esse auxílio, teria sido mais difícil. “Os cursos ajudaram em vários pontos, inclusive para identificar características empreendedoras, pra ver se queríamos mesmo ser empresários. Além de alertar que um negócio próprio exige muito trabalho, e que, mesmo assim, ganharíamos menos que no Japão. Isso ajudou para que não investíssemos o dinheiro sem planejamen to”, diz Simone. Na opinião da empresária, a nova proposta do pro grama vai trazer melhorias no atendimento aos dekasse guis. “Quem nunca viajou ao Japão tem outra visão, pois acha que só vai ganhar dinheiro; mas tem muitos gastos também, o custo para sobrevivência lá é alto”, afirma a empresária, que reconhece a importância de se manter capacitado e atualizado com o mercado. “A orientação dada pelo Sebrae vale não só para quem foi dekassegui ou está retornando do exterior. É impor tante para todo empresário que deseja montar ou aprimorar sua empresa.” O café oferecido pelos Takashima e Yamaguti foi eleito, por uma revista de circulação nacional, como o melhor de Curitiba, nos anos 2000-2001 e 2001-2002. A história dos quatro empresários nipo-brasileiros faz parte da coletânea ‘Histórias de Sucesso – Dekasseguis Empreendedores’, também uma parceria entre ABD, BID e Sebrae.
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RENATO CAPORALI *
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Destaque-se, ainda, a presença do Sebrae em fóruns e eventos internacionais, sempre comprometido com debates sobre questões do desenvolvimento ligadas ao fomento dos pequenos negócios.
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Parcerias no campo internacional
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tualmente, as ações do Sebrae no campo internacional pautam por ser variadas, densas, e sobretudo em rápido processo de crescimento. Por um lado, isso é a própria expressão do processo de globalização, que intensifica não só as trocas econômicas, o movimento de capitais e mercadorias, mas também os intercâmbios institucionais e de conhecimentos. Por outro, a intensidade desse processo de intercâmbio, que no Sebrae é percebido pelas contínuas demandas que nos são feitas por transferência de conhecimentos, intermediadas por programas de cooperação, bem como pela prontidão com que nossas próprias demandas são geralmente atendidas por instituições de outros países, confirma o fato de que as políticas de apoio ao pequeno negócio estão no centro dos novos modelos de desenvolvimento atualmente em gestação. Recebemos, com uma regularidade praticamente semanal, demandas do exterior, provenientes de instituições que querem conhecer nosso trabalho, nossas políticas, nossos programas, nossas metodologias. De nossa parte, também periodicamente buscamos instituições de outros países para conhecer melhores práticas, examinar soluções inovadoras, enfim, para mantermo-nos na vanguarda das políticas de apoio a pequenas empresas. Todo esse intenso processo de relacionamento internacional de instituições e governos é construído por meio de parcerias. Algumas delas nos colocam na posição de “doadores” de conhecimentos, em razão das metodologias e das técnicas de apoio que fornecemos aos pequenos negócios. Esse é o caso típico de nossa atuação no Peru, para onde disponibilizamos, já faz cinco anos, metodologias de programas de qualidade desenvolvidas pelo Sebrae.
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Também em Cuba, desta feita trabalhando em parceria com o Itamaraty, o PNUD e o Ministério cubano da Cooperação Estrangeira, temos orientado a forma de apreensão de metodologias de desenvolvimento local. Com efeito, dezenas de pequenos empreendimentos já foram organizados a partir do uso de nossas metodologias de orientação à criação de novos negócios. Na África do Sul, as instituições de apoio a pequenos negócios foram reorganizadas, segundo a formulação dos próprios dirigentes, com base nas lições aprendidas na observação das operações do Sebrae. Já somamos quase uma dezena de missões nos últimos anos, num processo que culminará no próximo mês de agosto, com a renovação de nosso Pro tocolo de Cooperação. Naquele, como em outros países, a Agência Brasileira de Cooperação do Ministério das Relações Exteriores é parceira sempre presente, tendo o papel fundamental de viabilizar nossas atividades de apoio e transferência de conhecimento aos países amigos do Brasil. Foi graças a parcerias articuladas com universidades e entidades empresariais de países diversos que foi possível levar, ao Chile, à Argentina, ao Uruguai, ao Para guai, à Colômbia e ao Peru, o Programa Desafio Sebrae, o qual tem obtido extraordinário sucesso e reconhecimento por conta de sua qualidade. O Programa já realizou a final “Mercosul”, oportunidade em que se reuniram as equipes vencedoras do Brasil com as daqueles países, num certame específico, pleno de emoções derivadas da integração entre os jovens dos países participantes. Com o Chile, em especial, temos uma tradicional relação de cooperação,
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configurada, por exemplo, pela Sercotec - Corfo, instituição chilena com a qual nos correspondemos em vários campos em que atua com excelência. Atualmen te, nossa relação adquiriu claramente o contorno de uma relação de mão dupla, num intercâmbio harmônico de técnicas e experiências. No mês de agos to, receberemos o diretor-executivo do Sercotec, Mario Ossandón Cañas, que passará dois dias entre nós, em reuniões de trabalho destinadas a absorver o que temos de melhor e mais avançado em nossos programas, e reconhecer, en trementes, as dificuldades enfrentadas, nossas falhas, os setores que requerem desenvolvimento, entre outros. A partir dessa visita, todo um programa de parcerias, provavelmente envolvendo terceiros países, será reestruturado. Com efeito, já incorporamos à nossa cultura institucional uma variedade significativa de conhecimentos e práticas de outros países. Da Alemanha, veio o Programa Empreender, hoje já em processo de internacionalização na América do Sul, depois de uma trajetória de sucessos em todo o País. Também foi realizado o Programa Competir, que teve intensa atuação no Nordeste. Da Itália, assimilamos práticas que se tornaram a base das metodologias de ação em arranjos produtivos locais. Essa me todologia ainda vem sendo aprimorada com uma nova safra de projetos a serem financiados pelo Fundo Multilateral de Investimentos (Fomin). Junto com a Comissão Econômica para América Latina (Cepal), talvez o maior think tank latino-americano sobre problemas do desenvolvimento, transformamos esse conhecimento em curso de pós-graduação de formação de quadros gestores desses projetos. Dos Estados Unidos, aprendemos uma série de políticas afirmativas por parte do Estado para a criação de um ambiente mais favorável aos pequenos negócios, processo que gerou a semente da criação de uma Lei Geral da Micro e Pequena Empresa.
Destaque-se, ainda, a presença do Sebrae em fóruns e eventos internacionais, sempre comprometido com debates sobre questões do desenvolvimento ligadas ao fomento dos pequenos negócios. Participamos tradicionalmente do Fórum da Micro e Pequena Empresa e da Assembléia-Geral de Governadores do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), instituição com a qual temos uma excelente relação e uma pauta diversificada de discussões e projetos. Além da iniciativa com a Itália sobre APLs, o Banco financia parcialmente nossa ação em prol dos brasileiros emigrados para o Japão, que procurará aumentar as chances de sucesso dos empreendimen tos estabelecidos no Brasil, procurando entender a forma como funciona a poupança acumulada naquele país. Temos participado ativamente do chamado Congresso das Pequenas Empresas das Américas, que reúne Ar gentina, Brasil, Chile, Costa Rica, Estados Unidos, México e Peru, em seminários. O objetivo primordial é discutir temas ligados ao acesso das MPEs aos mercados internacionais. Somos, também, membros da Organização La tino-Americana da Micro e Pequena Empresa (Olamp), para cujo revitalização temos contribuído, conscientes de que se trata do único fórum regional de instituições públicas e privadas de apoio aos pequenos negócios. Por meio de simpósios periódicos, podemos intercambiar políticas, melhores práticas e colaborar para a atualização técnica das mais de trinta entidades atualmente associadas à or ganização. Certamente, as parcerias mencionadas não esgotam tudo que o Sebrae tem feito nos últimos anos. Mas os exemplos mencionados são bastante eloqüentes para mostrar como tem sido rico esse processo. Importante é notar, mais uma vez, que tudo isso é feito por efeito de parcerias, sempre de forma graciosa, entre parceiros oferecendo o que têm para ofertar sem cobrar pelos conhecimentos disseminados, apenas tendo seus custos pagos, num movimento de intercâmbio que dignifica o processo de globalização, numa generosidade e solidariedade insti tucionais que revelam o imenso potencial da Humanidade quando coloca o ideal do desenvolvimento acima de egoísmo e interesses menores. Todos esses países, por toda parte e de forma sistemática, são unânimes em confirmar que o desenvolvimento dos pequenos empreendimentos será a base de sociedades harmônicas, num processo que ratifica que a “cultura dos pequenos” pode de fato gerar frutos significativos no futuro. * RENATO CAPORALI é Ph.D. em Desenvolvimento Econômico, pela EHESS de Paris, e responsável pela Assessoria Internacional do Sebrae Nacional.
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Parceiros que INSTITUIÇÕES PARCEIRAS EM PROJETOS DE APOIO ÀS MICRO E PEQUENAS EMPRESAS CONTAM PORQUE É INTERESSANTE TRABALHAR EM CONJUNTO PARA OBTER BONS RESULTADOS Texto: BEATRIZ BORGES, ELIZA CAETANO E REGINA MAMEDE Fotos: ARQUIVO ASN
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ma região rica e muito conhecida pela grande produção das indústrias de metal mecânico, têxtil e plástico também pode ser um bom local para a produção de flores e plantas ornamentais. Há cem anos, pequenos produtores da região norte de Santa Catarina in vestem na produção de plantas ornamentais. Com um relevo acidentado e marcado pela diversidade da Mata Atlân tica, a região é propícia ao plantio de espécies muito utilizadas em projetos de paisagismo. Mas os produtores sa-
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bem que não bastam os aspectos naturais para garantir uma boa produtividade. O velho ditado popular que diz “a união faz a força” retrata a realidade das pessoas engajadas nesse segmento, que garantiu sucesso ao empreendimento. Um exemplo é o trabalho conjunto de instituições que se uniram para apoiar o desenvolvimento das pequenas propriedades rurais. O projeto do Arranjo Produtivo de Flores e Plantas Ornamentais foi montado em 2004 e ganhou um reforço importante quando reuniu o trabalho da Associação de Produtores de Plantas Ornamentais de Santa Catarina (Aproesc), da Associação Mercaflor, da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri), do Senar e do Sebrae em Santa Catarina. Gilmar Germano Jacobowski, engenheiro agrônomo, responsável pelo Projeto de Desenvolvimento Local e Susten tável da Epagri e representante dessa instituição no projeto de plantas ornamentais, afirma que a parceria entre as insti tuições foi a “melhor coisa realizada em prol desse segmen to”. Para ele, depois que o projeto de arranjo produtivo de
dão certo flores e plantas ornamentais foi inserido na metodologia de Gestão Estratégica Orientada para Resultados (Geor), coordenada pelo Sebrae, as ações e os resultados mudaram seu rumo. Ele conta que, antes do compromisso firmado entre as instituições participantes, o projeto funcionava com base nos conhecimentos particulares com os quais participava cada representan te das instituições parceiras. “Aquela história de usar as amizades para conseguir passar pelas dificuldades e até burocracias enfrentadas no dia-a-dia acontecia”, disse. “Com o que a gen te chama de ‘contratualização’, que é o compromisso firmado entre as insti tuições parceiras no projeto, cada uma pode sentar à mesa e debater igualitariamente questões sobre como poderiam atuar melhor para que os empreendedores pudessem se desenvolver dentro daquele setor”, revelou. A Gestão Estratégica Orientada para Resultados é uma metodologia que ser-
ve como instrumento para gerenciar da melhor maneira os recursos empregados em projetos, avaliar os resultados alcançados e permitir o traço de perspectivas para o alcance de metas. Além disso, indiretamente, a Geor tem conseguido unir as diversas instituições e transformá-las em fortes parceiros em prol de um objetivo único. Implantada no Sebrae desde 2003, hoje ela agrega em torno de 800 projetos, que possuem participação do Sistema Sebrae em todo o País. Ao todo, são cerca de 2,5 mil entidades parceiras mobilizadas para a realização de quase 12 mil ações. Segundo dados da coordenação nacional da Geor, para cada real investido pelo Sebrae nos projetos, são aplicados outros R$ 3,00 pelas instituições parceiras. O engenheiro agrônomo da Epagri, Gilmar Germano Jacobowski, acredita que o fato de o projeto de plantas ornamentais no norte catarinense ter reunido os pon tos fortes de cada uma das instituições envolvidas abriu caminhos para vários mercados. Segundo Gilmar, a me todologia da Geor impulsionou o projeto e fortaleceu as ações para alcançar as metas preestabelecidas. Para o engenheiro agrônomo, o simples fato de aprender a tomar decisões conjuntamente, em comum acordo, assim como procede o Conselho Diretor do Projeto, “foi um exemplo fantástico de que, se agirmos juntos, con-
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seguimos bons resultados”. “Nós nunca imaginamos trazer compradores nacionais e internacionais para conversar cara a cara e entender qual era a real demanda deles. Isso aprendemos com as rodadas de negócio, inseridas pelo Sebrae”, citou o técnico da Epagri. A expertise trazida por cada um dos parceiros é um dos enfoques que os projetos na Geor enaltecem para dar um salto de qualidade no desempenho dos pequenos empresários, qualquer que seja o segmento atuado. No caso do projeto desenvolvido em Santa Catarina com plantas ornamen tais, atualmente estão registrados, em associações, 370 produtores de flores e plantas ornamentais dos mais diversos portes. Noventa por cento deles são pequenos empreendimentos. São famílias inteiras que já estão na sua terceira geração cultivando plantas ornamentais. Do projeto do APL de Flores e Plantas Ornamentais participam em torno de 90 pequenos produtores. O diretor da Mercaflor, Jordi Cas tan, que também é produtor de plantas ornamentais, diz que o dinamismo do projeto é a chave do seu atual sucesso. “Esse dinamismo quer dizer não apenas a experiência que se tem com o setor no qual se vai atuar, mas também a capacidade de agir ativamente, sem dependências, em que cada instituição assume o projeto como se fosse seu”, acredita. Também como empreendedor do meio rural, Jordi Castan sabe que é muito difícil para um pequeno produ tor, investindo sozinho, isoladamente, obter sucesso. Da mesma forma, atuando sozinhas, as instituições não conse guiriam atingir os resultados esperados. “Um parceiro complementa o outro. Pode ter certeza que não é só o empreendedor que sai ganhando. A troca de
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experiências e idéias é muito grande”, disse Jordi. Para ele, só o fato de as ações e as propostas do projeto não terem partido de cima para baixo, ou seja, impostas, já foi um passo importante de uma parceria que ultrapassa o limite institucional e funciona em todos os níveis – desde o produtor até o consumidor. É o que vem sentindo o produtor de plantas Marcelo Antônio Tomaselli, sócio-proprietário da Anthurium Plantas e Flores, de Joinville. Desde 2000, Marcelo trabalha com o cultivo de plantas ornamentais, mas foi em 2004 que sua empresa começou a crescer, quando ele entrou para o projeto do Arranjo Produtivo de Flores e Plantas Ornamentais. Ele lembra que, durante quatro anos, teve muita dificuldade em comercializar seus produtos porque não sabia como identificar e conquistar o mercado consumidor. “Depois que comecei a participar do projeto, percebi como o esforço de todos culmina no bem comum do setor”, disse. Marcelo Tomaselli revela que nunca teria obtido tantas informações sobre o segmento e a comercialização de seus produtos se não participasse do projeto. “Se fosse começar hoje, seria bem mais fácil, porque iria direto à fonte da informação. Para isso, a troca de experiências entre quem está na
lida e quem tem o conhecimento técnico é muito importante para o sucesso do empreendimento”, argumenta. O empresário afirma que, quando começou, há seis anos, ele investia na plantação de quase 80 espécies, mas não atentava para a produtividade de cada uma delas. Depois de se associar à Mercaflor e participar do projeto, ele reduziu seu foco a apenas 10 espécies, exatamente as que apresentavam maior produtividade. Com isso, a empresa An thurium Plantas e Flores passou a ter constância e pontualidade na entrega de suas encomendas, que seguem principalmente para Rio Grande do Sul, Paraná e São Paulo. “Antes, eu vendia só para Joinville mesmo”, disse. Com o aumento da produtividade, a empresa passou de dois para 10 funcionários e aumentou em doze vezes a receita em apenas dois anos atuando em parceria com as instituições e os produ tores que participam do projeto.
Branquinha conquista mercados No setor de cachaças artesanais de Minas Gerais, a parceria pode significar, para pequenos produtores, a oportunidade de produzir em boas condições e comercializar por preço justo. “A reunião de produtores para engarrafar a cachaça aumenta a escala e melhora a qualidade”, explica o coordenador dos projetos de cachaça do Sebrae em Minas Gerais, Rogério Galuppo. Foi assim em Guanhães, região nordeste do Estado, onde a atuação do Sebrae resultou na criação da cachaça Kamulaia, um blend das bebidas produzidas pelos participantes da Cooperativa dos Produtores de Cachaça de Alambique e Derivados de Cana-de-Açúcar do Cen tro Nordeste Mineiro (Coopercacen). “A entidade nasceu do grupo de empresários reunidos por um dos produtos do Sebrae, o Empreender. Decidimos fazer
a cooperativa e criar a marca para engarrafar, padronizar e comercializar a cachaça”, conta o presidente da Coopercacen, Ronaldo Ferreira de Miranda. Durante o projeto da Geor, os produtores recebem apoio em várias áreas: na comercialização, na participação em feiras, em contatos com representantes e na capacitação. O rótulo e a embalagem da Kamulaia foram feitos por um designer profissional, por meio do programa Via Design, da entidade, e se tornou um diferencial do produto. “Tínhamos um rótulo que não era muito profissional”, conta Ronaldo. A bebida é um pequeno kit formado por uma garrafa, uma embalagem plástica e uma etiqueta que exibe a receita da tradicional caipirinha. Atualmente, 25 dos 67 integrantes da cooperativa produzem cachaça para a marca da cooperativa. Os outros estão se adequando à legislação e às normas de qualidade para que a bebida que produzem também entre na mistura da Kamulaia. A Emater acompanha os produtores no alambique e na
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fazenda para fazer as adequações. “Eles têm a orientação desde o momento em que plantam a cana até a hora de fazer a cachaça, quando o produtor tem que investir para modificar o que está errado. Isso é muito importante para que ele não perca dinheiro”, explica Miranda. O potencial da Coopercacen é de produzir dois milhões de litros por ano. “À medida que abrirmos mercados, os produtores poderão fazer mais investimentos. A previsão é de que todos os alambiques fornecerão para a Kamulaia até os próximos quatro anos”, diz o presidente da cooperativa. Com o projeto da Geor, a entidade também ganhou o aprendizado da articulação. “O produtor sozinho não consegue fazer nada”, acredita Ronaldo. As prefeituras da região, a Emater e a Or ganização das Cooperativas do Estado de Minas Gerais (Ocemg) são grandes parceiros. “O que alavancou o setor em Guanhães foi o projeto que hoje é acompanhado pela Geor. Ele nos abriu a cabeça para muitas possibilidades”, reconhece o representante dos produtores. Entre as metas estipuladas para o projeto estão o aumento do faturamen to dos alambiques, legalizados em até 20%, e do volume de mão-de-obra ocupada em 10%, até o final de 2007.
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Imagem positiva atrai compradores De bebida inferior e atividade quase artesanal de fazendas do interior de Minas Gerais, a cachaça ganhou, nos últimos anos, status de um destilado a ser apreciado por todas as classes sociais. “Tivemos uma valorização do produto e uma formalização do setor nos últimos anos”, conta o superintendente do Sindicato das Indústrias de Cerveja e Bebidas em Geral do Estado de Minas Gerais (Sindibebidas), Cristiano Lamego. Uma garrafa de aguardente de cana artesanal pode atingir preços superiores aos de um bom vinho. A articulação de produtores mais profissionalizados fortaleceu o setor e mudou a imagem do produto. Hoje, sete projetos que o Sebrae apóia acompanham a metodologia Geor para o setor de cachaça em Minas Gerais, que pretende desenvolver indústrias, elevar vendas, aumentar a formalização e a produção nas regiões de Guanhães, Salinas, Araxá, Divinópolis, Ponte Nova, além das regiões do sul de Minas e do Triângulo Mineiro. “Temos parcerias locais nas regiões onde acontecem os projetos; e também estaduais, com instituições de apoio como o Sindibebidas, a Fiemg (Federação das Indústrias de Minas Gerais) e a Ampac (Associação Mineira de Produtores de Cachaça de Qualidade)”, explica Galuppo. Depois que o brasileiro aprendeu a apreciar o destilado e o mercado ganhou adeptos exigentes, como as mulheres, o setor não parou de crescer. “A média foi de 15% ao ano durante os últimos 15 anos”, diz Cristiano Lamego. Minas Gerais produz atualmente cerca de 200 milhões de litros de cachaça artesanal, metade do volume total feito no Brasil. São 500 empresas formais, numa indústria composta por micro e pequenos, que emprega cerca de 150 mil pessoas apenas em Minas. A rede tecida em torno do setor, que alguns anos atrás era em grande parte informal e cujo produto era desprezado pela sociedade, já acumula conquistas importantes que se refletem na qualidade da bebida e em melhores condições para os produtores. “Se não houver soma de esforços, os resultados não são alcançados”, acredita Rogério Galuppo. Agora, a meta da parceria entre Sindibebidas e Sebrae é certificar 15% do setor segundo o Programa Brasileiro de Avaliação da Conformidade da Cachaça, do Inmetro, e adequar a indústria a todas as normas ambientais.
Capital mundial Em Salinas, cidade considerada a “capital mundial da cachaça”, foi a união dos produtores que fez que quase 100% do setor se formalizasse. Os 22 associados da Associação dos Produtores Artesanais de Cachaça de Salinas (Apacs) de têm 34 marcas, entre as quais a Terra de Ouro, feita com a cana dos 109 agricultores ligados à Cooperativa dos Produ tores de Cachaça de Alambique da Microrregião de Salinas (Coopercachaça). São oito alambiques em quatro municípios que fabricam e engarrafam a produção que antes era vendida sem rótulo, em garrafas pet. “Sem a união, o pequeno não produz em boas condições”, afirma o presidente da Apacs, João Pena. Segundo ele, a organização dos produtores valorizou a bebida e fez de Salinas um dos grandes nomes da cachaça. “A cidade já tinha um marketing pronto, uma imagem difundida, mas os preços não condiziam com a qualidade do produto”, conta. A produção de aguardente hoje é a segunda atividade econômica da cidade da região norte de Minas e superou uma agricultura familiar marcada pela seca. Em Salinas, o projeto da Geor pretende aumentar as vendas em 50% e exportar 10% do total produzido até o final de 2007. “A região está um passo à frente em relação aos outros pólos produtores. O setor é formalizado e a qualidade do produto é muito boa. Por isso, o foco do projeto está na comercialização”, explica a técnica do Sebrae de Minas na região, Kênia Cardoso. Para este ano, a parceria também terá avanços importantes na integração dos produtores. “Vamos montar uma central de negócios para a compra de ma téria prima e a venda da cachaça”, conta Kênia.
Lucro certo à moda brasileira Comida caseira à moda antiga e com o gostinho de Por tugal. É assim que Antonio Souza Pinto define o seu negócio. Dono de dois estabelecimentos na Lapa, bairro boêmio do Rio de Janeiro, ele é um dos 75 empresários que fazem parte do Pólo de Gastronomia, Cultura e Lazer. “Arrumando a Própria Casa” é o nome desse projeto do Sebrae-RJ, concebido para revitalizar a área. Desde sua implantação, há um ano, os resultados têm superado as expectativas. Em parceria com a Prefeitura e diversas entidades, como o Senac, parte do centro antigo da cidade já ganhou obras de infra-estrutura, como esgoto e iluminação. “Só o meu movimento cresceu 30%, para mim que, estando aqui há mais de 40 anos, che guei a acompanhar sua decadência. Agora, vejo a freqüência aumentar, e o melhor é que muitos negócios novos estão
aparecendo nos casarões que antes estavam fechados e em ruínas”, resume, com entusiasmo, o empresário. A gastronomia é uma das ações mais importantes desse projeto que acontece em outros bairros da cidade e que envolve, além do Sebrae, parceiros como a Prefeitura, o Sindicato dos Bares, Hotéis e Restaurantes do Rio de Janeiro (Sindirio), a Fecomércio e o Senac. A opção jus tifica-se já que o setor tem números expressivos. Segundo dados da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), esse setor responde por 2,4% do PIB. O segmento é um dos que mais geram novos postos de trabalho, empregando cerca de seis milhões de pessoas. Em janeiro deste ano, por exemplo, dos 66 mil empre gos formais, 21 mil deles estão ligados ao turismo, sendo 60% em bares e restaurantes. A parceria entre entidades e os interessados na revitalização é uma das chaves para o sucesso dos proje tos. “Uma das grandes vantagens de se associar a outras entidades é que o trabalho fica mais organizado e conseqüente. A sistematização dos encon tros permite a identificação dos problemas de forma mais rápida e o peso dos parceiros facilita o atendimento das nossas reivindicações por parte dos órgãos públicos. Isso é particular-
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Comerciantes do Rio já estão de olho nos Jogos Pan-Americanos
mente importante porque agora discutimos os nossos problemas pessoalmente com os técnicos da Prefeitura. Dessa forma, eles sabem quais são as nossas prioridades e as reivindicações podem ser mais bem atendidas”, avalia Plínio Fróes, dire tor da Associação dos Comerciantes do Centro do Rio Antigo (Accra). A implantação dos pólos de gastronomia, cultura e lazer com a aplicação da metodologia Unir e Vencer é definida a partir da análise do potencial do local, a concentração de negócios e a vontade dos empresários de se integrarem às ações propostas. Em Botafogo, onde foi implantado o primeiro modelo, a união entre os 30 empresários já está bem consolidada. O roteiro já tem um calendário de festas e eventos, folhetos que são distribuídos aos visitantes com todas as opções e endereços do bairro. Motivado pela demanda dos próprios empresários, o Sebrae já está realizando o segundo curso de formação de auxiliar de cozinha para jovens de comunidades carentes. Segundo essa política de parcerias, foi fechado um acordo com o ba talhão da Polícia Militar de Botafogo, que cedeu a cozinha para os aprendizes. De
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olho nos Jogos Pan-Americanos, que acontece em 2007, os empresários também decidiram imprimir cem mil fôlderes com informações sobre o bairro, os pratos especializados de cada restaurante e o perfil de cada estabelecimento, para a distribuição em bares, hotéis e agências de viagem e editar um livro de receitas com estórias do bairro, que já foi um dos mais aristocráticos da cidade. A metodologia aplicada em todos os pólos inclui ações de capacitação e qualificação para empresários e funcionários. Explorando temas como atendimento ao cliente, manipulação correta de alimentos, gestão administrativa e financeira, são oferecidos cursos para que os estabelecimentos atinjam um padrão de excelência adequado às normas da Associação Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), e que estejam preparados para receber a apro vação do cliente, que é o crítico mais rigoroso. A atuação integrada, ao fornecer uma visão global e, dessa forma, permitir que os parceiros possam desenvol ver ações pontuais para aumentar o nível de qualidade dos estabelecimentos, é apontada como uma das grandes vantagens pelo Sindicato dos Bares, Hotéis e Restauran tes do Rio de Janeiro (Sindirio). “Percebo que a interação com Sebrae, Senac, Fecomércio e Prefeitura, entre ou tros, tem sido perfeita para a melhoria da qualidade em todos os níveis, tanto para o cliente final quanto para o funcionário. Ninguém, separadamente, conseguiria che gar aos mesmos resultados. Juntos, podemos atuar com mais força e competência”, afirma a diretora dos Pólos Gastronômicos do Sindirio, Rosana Santos.
Na Tijuca, o maior e o mais importante bairro da Zona Norte, a mudança começou pela praça Varnhagen. A Subprefeitura local buscou o Sebrae da região para montar um projeto de desenvolvimento local. O programa de capacitação empreendedora e associativa foi recebido pelos empresários como possibilidade concreta para o crescimento e o fortalecimento da região. Hoje, em apenas quase dois anos, o Pólo é formado por 15 associados, com visão total empreendedora e social, aumentou seu faturamento em 20%, desde sua criação e gerou mais de 15 empregos nos bares e restaurantes da região. As benfeitorias urbanas foram aceleradas pela associação dos empresários, que passaram a atuar mais aplicadamente para o cumprimento das metas do projeto da Prefeitura “Rio Ruas Comerciais”, de valorizar e fortalecer o comércio local. “A gastronomia é uma ação de impacto porque está ligada à cultura, ao resgate e à valorização do local. Es tamos trabalhando destinos de consumo para aumentar a visibilidade de forma a consolidar os negócios já existentes e atrair novos investimen tos. O Sebrae, quando entra com a qualificação e a capacitação, e fecha parcerias com entidades públicas e privadas, trabalha para que essas empresas possam ficar mais compe titivas, administrando melhor seus negócios e aumentando a oferta de trabalho”, diz a gerente da Área de Desenvolvimento Comercial do Sebrae no Rio de Janeiro, Mariângela Rosseto Champoubry. “Dá para conhecer uma cidade pelas vitrines. Por elas, você pode saber qual é o padrão de consumo dos seus habitantes e como anda a economia. Mas, pela gastronomia, você chega perto da alma de um povo. Através de um prato, você pode conhecer um pouco da estória do lugar
que está visitando”, resume Gilberto Cardoso, do Leblon. Ainda em fase de estruturação, o empresário não vê a hora da implantação dessas ações no bairro que, apesar de ser um dos mais nobres do Rio de Janeiro, sofre com problemas infra-estruturais, como iluminação, e falta de segurança, queixas, aliás, comuns a todos os pólos. Na avaliação do empresário Pedro Paula Machado, a ação conjunta só tem trazido bons resultados. “Já participei de di versas associações e era tudo semi-amador. Todas as ações eram feitas de forma empírica. Não tinha esse trabalho implantado pelo Sebrae de distribuir tarefas e fazer cobrança dos resultados. Outra grande vantagem dessa parceria é que o Sebrae é uma entidade que trabalha pela agregação e, com isso, nós ganhamos força para atuar entre os órgãos públicos. Essa união em torno dos mesmos objetivos é que faz as coisas caminharem”. “Ninguém melhor do que as pessoas que vivem o diaa-dia do lugar para identificar quais são os problemas mais urgentes”, resume a diretora do Plano Estratégico da Prefeitura do Rio de Janeiro, Cecília Castro. Por isso, esse tipo de metodologia de trabalho, segundo a diretora, representa um instrumento poderoso de aproximação entre os órgãos públicos e a população, permitindo a racionalização do inves timento do setor público. “A atuação conjunta entre todos os parceiros permite que a Prefeitura possa entender profundamente as questões locais e assim consiga articular de forma mais rápida e precisa as ações de desenvolvimento econômico e social. Muitas vezes, inter venções simples, como iluminação ou definição de uma área de estacionamento, podem fazer uma enorme diferença para o local. A evolução acontece porque todos se colocam diante do problema de forma unida, cada um com suas responsabilidades. Esse modelo está dando certo por causa disso”.
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Empresários de Mato Grosso uniram-se para facilitar a compra de matéria-prima, acesso à tecnologia e mesmo ao crédito
| CENTRAIS DE NEGÓCIOS
Cooperar para competir, ensina a sabedoria milenar Texto: TATIANA ALARCON Fotos: DIVULGAÇÃO
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ara sobreviver na guerra con tra grandes corporações, uma arma poderosa das micro e pequenas empresas no mercado é o comportamento organizacional. Nesse sentido, o pensamento do filósofo chinês Sun Tzu, no clássico milenar A Arte da Guerra, está mais vivo do que nunca. Segundo ele, agir em conjunto é fator determinante
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para a vitória. Milhões de anos depois, seus conhecimentos concretizam-se no mundo dos negócios. Hoje, com a aplicação de estratégias comerciais aliadas, as pequenas empresas figuram como as maiores participantes da economia brasileira. Na mesma linha da sabedoria oriental, o Sebrae, junto com entidades representativas do setor, criou as Centrais de Negócios, uma estratégia de parcerias entre empresários que proporcionam redução de custos na hora de compra de matérias-primas e insumos e melhores oportunidades de comercialização de seus produtos. Aplicado por grupos de empresas e pequenos produto-
ESTRATÉGIA DE PARCERIA ENTRE EMPRESÁRIOS PROPORCIONA REDUÇÃO DE CUSTOS NA HORA DE COMPRA DE MATÉRIAS-PRIMAS E INSUMOS E MELHORES OPORTUNIDADES DE COMERCIALIZAÇÃO res de várias regiões do País, esse sistema de inteligência competitiva, baseado nos ensinamentos do gênio militar da antiga China, já apresenta resultados bastante expressivos. Em Minas Gerais, a Central de Negócios dos produtores de ovinos e caprinos de Montes Claros, norte do Estado, tem dado o que falar. Desde a implantação do projeto, coordenado pelo Sebrae junto aos 120 produtores da Associação dos Criadores de Caprinos e Ovinos do Norte de Minas (Accomontes), os produtos já ganharam marca e selo de qualidade. O grande trunfo é a oferta dos pequenos e médios produtores da região para fechar carregamentos para todo o Brasil. “Já estamos no quinto lote de entrega e, a cada dia que passa, com mais profissionalismo”, comemora Idalina Almeida, presidente da associação. Desde o envol vimento dos produtores, a associação já fechou cinco lotes de encomendas com o Frigorífico Margem Cordeiro Nobre, de Rio Verde, Goiás. O quilo da carne foi negociado a R$ 2,50 para animais criados no pasto e a R$ 2,80 para animais confinados. Os preços são 33% superiores aos cobrados na região. No total, a média de lucro é de R$ 68,00 a arroba do carneiro, contra R$ 42,00 em média, da carne bovina no mercado. Para Idalina, com a parceria, o resultado é excelente, e os produtores ganham no preço e na certeza do mercado de compra. A força da união entre empresários alcança resultados capazes, até mesmo, de driblar o fantasma da alta carga tributária que ronda os empreendedores brasileiros. Uma das maiores vitórias alcançadas com o sistema da central foi a da Associação dos Supermercados do Vale do Itajaí (Assuvali), de Santa Catari-
Juntos nas centrais, aumenta o poder de barganha dos empresários
na, no mercado desde 2000. A associação conseguiu, em 2004, um regime de tributação especial que beneficia diretamente 18 associados, com 25 lojas no Estado. Paulo César Lopes, coordenador da associação, explica que a central compra um produto de outro estado, pagando o ICMS estipulado. Isso significa que, se a tributação for de 12%, ele entrará onerado em exatos 12% em Santa Ca tarina e será repassado ao associado com o mesmo valor, ainda que, no Estado, esse mesmo item seja tributado em 15%. “Com o regime especial, nossas compras não têm valor agregado e não acrescentam a diferença do imposto. No final, temos um custo de 0%”, afirma o coordenador. Um dos segmentos mais bem-sucedidos nessa estra tégia foram os supermercados, podendo os empresários do setor confirmar os bons resultados alcançados. Dados revelam que, das centrais de negócios de todo o País, cerca de 50% reúnem supermercadistas. Ainda em terras catarinenses, além da Mastervale, com sede em Rio do Sul, o Estado conta com a rede Smart, que já reúne mais de 800 estabelecimentos no Brasil. Juntos, esses supermercados faturam, por ano, cerca de R$ 3 bilhões. A bandeira foi criada há cinco anos pelo atacadista mineiro Martins, para garantir a sobrevivência dos próprios clientes que sofriam com a concorrência dos hipermercados. O modelo Smart, desenvolvido pela uni-
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Caminhos para o sucesso
As centrais de negócios proporcionam cursos técnicos e gerenciais
versidade corporativa do grupo, prevê compras conjuntas e a divisão das despesas em marketing. Já em Mato Grosso, 60 empresas do Arranjo Produtivo Local de Móveis de Cuiabá e Várzea Grande conseguiram uma redução de 25% no valor total da compra de matériasprimas, logo no primeiro ano de implantação do programa. “São dados que convencem até empresas que ainda não aderiram ao programa. O poder de barganha torna-se muito maior para empresários unidos, com vantagens financeiras, acesso a tecnologias, missões no exterior e acesso a crédi tos”, ressalta André Schelini, do Sebrae no Estado. Sem contabilizar as vendas e as compras conjuntas, as centrais de negócios proporcionam cursos e treinamentos técnicos e gerenciais em conjunto, visando ao beneficiamen to coletivo. Os Estados do Rio de Janeiro e do Espírito San to concentram 27 redes de pequenos supermercados que já participaram de diversos programas de treinamentos. Elas atuam em parceria para economizar em compras, marketing e outras situações para cada empresa, separadamente. Se gundo dados do Comitê de Redes e Associações de Negócios da Associação dos Supermercados do Estado do Rio de Janeiro (Asserj), existem 18 redes em operação no Rio. No Espírito Santo, há pelo menos cinco, algumas delas reunindo cerca de cem empresas. “Não existem mais dúvidas de que o conceito de associa tivismo é a solução mais eficaz para as pequenas empresas ganharem espaço e conquistarem novos clientes. Os empresários que passam a integrar essa prática, trabalhando em conjunto, conquistam novos horizontes operacionais e no mercado. O associativismo é essencial para dar chances de sobrevivência e sustentabilidade às pequenas empresas. Quando estão sozinhas, são frágeis, e juntas são uma organização de forças”, disse João Luiz Alevatto Junior, diretor de Marketing e Comunicação da Asserj.
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“A estratégia sem tática é o caminho mais lento para a vitória”, disse Sun Tzu. Respondendo ao ensinamento, muitos Estados caminham em direção às técnicas que levam ao sucesso. A Bahia está se mexendo rápido. De acordo com a Associação Baiana de Supermercados (Abase), existem, por enquanto, apenas duas iniciativas do gênero no Estado. Uma delas, a Rede Mix, em Salvador, já conta com sete lojas do total de quatro supermercados, desde a sua criação, há sete anos. Para um futuro não muito distante, os proprietários da rede pretendem inaugurar o próprio centro de distribuição, o que deve permitir o aumento de suas operações. Recentemente, Alagoas implantou a primeira Central de Negócios de Piscicultura na cidade de Penedo, formada por piscicultores do Arranjo Produtivo Local de Piscicultura Delta do São Francisco. Segundo a gestora do Programa Central de Negócios do Sebrae em Alagoas, Áurea Valéria de Andrade, as vantagens da parceria vão desde o aumento do poder de negociação com os fornecedores até a facilidade de obtenção de crédito e melhoria do processo de escoamento da produção. “Com integração e organização, o grupo terá melhores condições para comprar insumos, agregar valor ao seu produto e, assim, se tornará mais competitivo e terá acesso a novos mercados e pontos de venda”, afirma Áurea. A expectativa é de que a implantação da Central de Negócios do APL Piscicultura beneficie cerca de 350 famílias produtoras de peixes de 15 municípios que integram o arranjo.
Concorrente não é inimigo Ainda hoje, no Brasil, muitos empresários desenvolvem resistência a parcerias com empreendedores do mesmo setor. Mas, geralmente, essa resistência não diz respeito à Central de Negócios e, sim, à concorrência. Alguns empreendedores vêem no concorrente a figura de um inimigo, e assim pensando decidem que qualquer informação sobre mercado deve ser escondida a sete chaves. Uma aproximação entre eles é bem difícil. O que muitos não sabem é identificar o momento certo para cooperar e compe tir, transformando o possível ‘inimigo’ em uma oportunidade de crescimento. Para a coordenadora nacional do programa pelo Sebrae, Patrícia Mayana, a oposição à cooperação é uma questão cultural, e bem distorcida por todo o País. A coordenadora explica que o segredo é descobrir a medida exata entre as duas ações e entender que a parceria não implica uma cooperação e concorrência contínuas. “Formando parceria, o empresário lucra com custos menores e outras oportunidades. Já na hora da concorrência, o que sobressai são outras coisas, como atendimento, preço ou layout da loja. No final, cada empresa tem a própria política para atrair o cliente”, disse.
Vantagens em participar de uma Central de Negócios • Capacidade de concorrer com grandes empresas; • Redução de custos; • Possibilidade de desenvolver ações de compra e venda conjuntas; • Desenvolvimento de ações de promoção (marcas, catálogos e folhetos promocionais); • Obtenção de descontos. Para a sua implantação efetiva, a formação de uma Central de Negócios exige meses de reuniões, capacitações e esforços conjuntos. O principal papel do Sebrae é realizar acompanhamentos técnicos, baseados em consultorias, por um ano após a fundação da central, com o objetivo de promover o fortalecimento do grupo. De acordo com a empresa de consultoria GS&MD, es tima-se que, em todo o País, existam cerca de 250 centrais de negócios, que beneficiam diversos setores, como os de alimentação, móveis, padarias, papelarias e farmácias, entre outros. “As centrais de negócios são um formato de associativismo empresarial que concretamente gera negócios para seus participantes, e aumenta sua competitividade no mercado, ao proporcionar condições que as empresas individualmente não conseguiriam”, explica Patrícia.
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|| ARTIGO RETRANCA
DULCE CALDAS*
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É essencial que a organização estabeleça alianças estratégicas, isto é, assuma uma posição que lhe permita identificar os parceiros ideais, analisar os seus pontos fortes e fracos e e sua capacidade de colaboração.
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Alianças estratégicas resultam em parcerias de sucesso
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ecursos escassos, ritmo acelerado das mudanças tecnológicas, agressividade concorrencial, somados à in tensificação da competição, nos dias de hoje, impulsionam as organizações, públicas ou privadas, a buscar um novo modelo de relação entre si. Estamos falando de parcerias, termo bastante utilizado e difundido, que consiste em um modelo de interação entre organizações, que passam a atuar em conjunto para alcançar objetivos comuns. Essa troca ou complementaridade tem como pressuposto básico o cumprimento de objetivos compartilhados. A busca por parcerias e a construção de alianças têm sido necessárias para preencher a lacuna entre o que uma organização gostaria de realizar e o que, levando em consideração a realidade e os recursos próprios, pode realizar. Para formar uma parceria, convém, antes de tudo, que as organizações precisem qual o seu papel institucional, especifiquem seu objetivo precípuo e o que querem e precisam atingir para atender melhor a sua missão, para, só então, perceber quais relações devem ser ampliadas, intensificadas ou modificadas. Para exemplificar o conceito acima, contamos com vários casos bem-sucedidos, em que as alianças estratégicas resultaram em parcerias de sucesso. São bons exemplos os casos das Cortes de Conciliação e Arbitragem do Estado de Goiás e do Setor de Conciliação no Fórum João Mendes em São Paulo. O sucesso dessas parcerias concentra-se na quebra de paradigmas, fato bem entendido pelo Poder Judiciário de Goiás, quando buscou alternativas para solucionar controvérsias de forma ágil, simplificada e menos onerosa. Dessa forma, o juiz de 1ª instância, Victor Barboza Lenza, saiu em busca de
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para viabilizar sua permanente |parcerias RETRANCA
obstinação em desonerar a sobrecarga de entradas de processos na Justiça e proporcionar, aos pequenos negócios, oportunidades de solução de seus litígios de forma mais ágil e menos dispendiosa. É essencial que a organização estabeleça alianças estratégicas, isto é, assuma uma posição que lhe permita identificar os parceiros ideais, analisar os seus pon tos fortes e fracos e e sua capacidade de colaboração. Escolher parceiros é uma função difícel na criação de alianças, mas é uma das mais importantes. O desembargador Lenza, ao buscar as entidades classistas, identificou, nelas, um interesse comum: a necessidade de resolução ágil dos conflitos. A aplicação da conciliação, da mediação e da arbitragem foi o método que melhor atendeu à necessidade de solucionar tanto o acúmulo de processos no Judiciário como dar solução aos litígios dos pequenos negócios. Foi elaborado um Protocolo de Cooperação Técnica, Jurídico-Administrati va e Assistencial Mútua entre a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), seção de Goiás, a Associação Comercial e Industrial (Acieg) e o Tribunal de Justiça, todos do Estado de Góias. Coube à OAB-GO selecionar e indicar advogados para compor o quadro de árbitros; à Acieg, fornecer o aporte físico para o perfeito funcionamento; e ao TJ-GO, a indicação de magistrados, titulares de varas cíveis, para dar apoio às câmaras. Dessa forma, Goiás possui a maior estrutura arbitral, com o apoio da Justiça Estadual e da OAB. Essas parcerias já duram 10 anos e contam hoje com 23 cortes - oito na capi tal e outras 15 no interior - e já solucionaram 280 mil conflitos, com 82% de acordos firmados e nenhuma sentença dada fora do prazo. Entre os que procuraram o auxílio das Cortes, 70% eram de empresários de micro e pequenas empresas, e 65% das reclamações não ultrapassaram o valor de R$ 5 mil.
Para o sucesso das alianças estratégicas entre organizações, é necessário que se conciliem empresas com iguais propósitos. Não importa se elas são de porte diferente, de âmbitos distin tos (público ou privado), se uma é mais conhecida que a outra. O segredo do bom funcionamento reside quando cada parceiro reconhece que não pode evoluir sem a ajuda ou o aporte de recursos do outro, ou quando se deseja uma abordagem revolucionária ou dar início a um novo modo de atuação. Espelhando-se nas parcerias estabelecidas pelo Poder Judiciário de Goiás, a Confederação das Associações Comerciais do Brasil (CACB) levou proposta semelhante ao Poder Judiciário do Estado de São Paulo, que também inovou, com a abertura de um Setor de Conciliação. O êxito dessa iniciativa vem reafirmar a viabilidade dos procedimentos extrajudiciais na esfera do Judiciário e a factibilidade de alianças entre instituições de porte e origem diferentes. O Fórum João Mendes é o maior da América Latina, tanto em estrutura quanto em número de processos entrados e julgados. O Setor de Conciliação, sob a coordenação da juíza Maria Lúcia Pizzotti, que se dedica particularmente a esse setor sem se afastar de suas demais funções, comemora os excelentes resultados apresentados no período de janeiro de 2005 a maio de 2006, com relação aos expedientes extraprocessuais. Nesse período, foram realizadas 744 audiências, das quais foram homologados 302 acordos, o que corresponde a 41% do total dos procedimentos. Nos demais 442 procedimen tos, não foram concluídos acordos. A CACB, de posse das estatísticas do Setor de Conciliação do Fórum João Mendes, escolheu essa oportunidade para oferecer, à rede de Câmaras de Mediação e Arbitragem vinculadas à CACB, a oportunidade de trabalhar um conjunto de acordos nos quais a conciliação que não foi bem-sucedida, teve de recorrer, como último recurso, à arbitragem, antes de o processo retornar à Justiça. Nessa ação, todos saíram ganhando. Os exemplos mostram que o objetivo primordial nas parcerias é selecionar, construir e colocar em ação novas possibilidades, que possam deixar a marca da diferença. O desafio consiste em selecionar os parceiros, avaliar os riscos e identificar os fatores que justifiquem e levem a parcerias ou a alianças estratégicas. A Unidade de Políticas Públicas do Sebrae Nacional tem como uma das suas atribuições incentivar a construção e a gestão de relação de parcerias. Graças a essa capacidade, trabalha influenciando, convencendo, cooperando e mobilizando outros atores para atingir objetivos institucionais, ampliando, assim, o impacto e a abrangência de sua atuação. * DULCE CALDAS é consultora da Unidade de Política Públicas do Sebrae Nacional e responsável pelo projeto Meios Alternativos ao Acesso à Justiça do Sebrae.
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| CENTRAL FÁCIL
Parcerias trazem agilidade à abertura de empresas INSTALADA EM 1997, A CENTRAL FÁCIL DO DISTRITO FEDERAL FOI A PIONEIRA ENTRE AS QUE EXISTEM HOJE NO PAÍS
Texto: DILMA TAVARES Fotos: ARQUIVO ASN
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embro até hoje, porque pa guei só R$ 75,00 e abri a empresa em cerca de 15 dias, quando, com despachante, levaria mui to mais tempo e pagaria no mínimo R$ 700,00”. Assim, a empresária Ivana Stoimenof resumiu a vantagem de abrir sua microempresa, a Cibo Alimento Natural, por meio da Central Fácil do Distrito Federal, por meio do atendimento do Sebrae no DF. Instalada em 1997, a Central Fácil do Distrito Federal foi a pioneira dessa espécie, entre as que existem hoje no País por meio de parceria com o Departamento Nacional de Registro do Comércio (DNRC), o Ministério do Desenvol vimento, Indústria e Comércio Exterior,
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o Sebrae e outros órgãos de decisão no processo de abertura de empresa nos âmbitos federal, estadual e municipal. Assim, são reunidos em um único local – normalmente nas juntas comerciais – órgãos diversos, como Receita Federal, as Secretarias de Fazenda Estaduais e de Finanças Municipais, de Meio Ambiente e de Vigilância Sanitária, além do Corpo de Bombeiros, responsável pela inspeção e vistoria técnica do local de funcionamento da empresa. Em vários, também são agregadas entidades de orientação técnica, como do setor contábil, e instituições financeiras, como o Banco do Brasil. Entre os objetivos estão a simplificação e a redução de burocracia, e de custos e tempo para a abertura do empreendimento, facilitando a vida do empreendedor. Com efeito, para abrir uma empresa, o candidato a empresário tem que percorrer diversos órgãos e cumprir mais de 90 obrigações. A iniciativa originou-se no DNRC e foi apoiada pelo Sebrae, que se empenhou no processo de expansão desse tipo de atendimento aos empreendedores. Normalmente, a instituição dá orientações necessárias aos futuros empresários, como fatores de sucesso e insucesso do negócio, conhecimento de
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Entre os objetivos de uma Central Fá cil estão a simplificação de processo e a redução de custos e da burocracia
mercado e a necessidade de capacitação, especialmente sobre gerenciamento, para evitar a mortalidade que atinge cerca de 50% das micro e pequenas empresas nos dois primeiros anos de existência. Atualmente, existem no Brasil 16 Cen trais Fácil, e mais sete entidades com nomes diferentes, mas com o mesmo princípio, além de outras seis em processo de implantação. Há Centrais Fácil nas capitais de Ala goas, Amapá, Goiás, Paraíba, Piauí, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Roraima, Rondônia, Ceará, Paraná e Distrito Federal. No Paraná também há centrais no interior, em Maringá, Cascavel e Londrina. Com princípio semelhante ao das Centrais Fácil, também há o Núcleo de Apoio ao Empreendedor (NAE), no Amazonas; e o Minas Fácil, em Belo Horizonte, capital de Minas Gerais, estado
que também tem unidade congênere no município de Con tagem. Outros exemplos são a Casa do Empreendedor, em São Paulo, e o SAC (Serviço de Atendimento ao Cidadão) Empresarial, na Bahia. Cogita-se também da implantação de Centrais Fácil nas capitais do Espírito Santo, do Maranhão, de Pernambuco, de Tocantins e de Mato Grosso do Sul, sendo que, neste último Estado, também está em processo de implantação uma central em Dourados. Em Alagoas, também está em curso a implantação de uma central em Arapiraca. Há locais em que os trabalhos estão mais avançados, enquanto, em outros, as iniciativas ainda estão na fase de ajus tes. Por meio das centrais de Alagoas, Amapá, Ceará, Piauí, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Rondônia, Roraima, além do SAC na Bahia e do NAE no Amazonas, e do “Na Hora” do DF, já foram abertas mais de 79 mil empresas, a maioria micro e pequenas. Só na Central Fácil do Distrito Federal, desde a sua instalação, em 1997, até junho de 2006, foram registradas 53.043 empresas. Dessas, 65% são micro e 32% pequenas, segundo o gerente de Atendimento Individual do Sebrae local, Ary
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O tempo médio para abrir uma empresa via Central Fácil varia de 15 a 20 dias
Ferreira. Na Central Fácil de Maceió, instalada em 2001, foram 7.826. De acordo com o gerente de Polí ticas Públicas do Sebrae Nacional, Bruno Quick, os técnicos que trabalham nas Centrais Fácil são capacitados para orientar empreendedores e candidatos a empresários sobre a viabilidade do negócio pretendido. As empresas que deixam de ser abertas totalizam quase o dobro daqueles que são efetivadas, contribuindo assim para a redução do índice de mortalidade, que atinge cerca de 50% dos micro e pequenos negócios nos dois primeiros anos de existência. “A partir das orientações, há entendimento dos empreendedores sobre a inviabilidade do negócio, o que os levam a planejar melhor seu projeto” explica Quick.
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Mais agilidade De acordo com a consultora da instituição, Helena Maria Pojo do Rego, o tempo médio para abrir uma empresa via Central Fácil varia de 15 a 20 dias. Na Central Fácil do Distrito Federal esse prazo é de 20 dias. E há casos, como na Central Fácil de Alagoas, em que o tempo médio caiu de 90 dias para apenas seis dias e, dependendo da situação, a empresa pôde ser aberta até em 24 horas, segundo a gerente de Políticas Públicas local, Renata Fonseca. Só para se ter idéia da agilidade que isso representa, relatório do Banco Mundial, do período de 2003/2004 tendo como base São Paulo, aponta prazo médio de 152 dias para abertura de empresa. Número que se manteve em relatório da instituição divulgado em julho último. Pesquisa recente do MDIC, realizada no primeiro semestre de 2006, a partir das juntas comerciais e dos sindicatos regionais de contabilidade, registra que o tempo médio, no País, é de 39,57 dias.
Menos custo Ainda de acordo com relatório do Banco Mundial, o custo médio para abrir uma empresa é de R$ 968,06. Na pesquisa do MDIC, é de R$ 395,68. Em uma Central Fácil, esse valor pode ser bem menor, incluindo redução com custos de deslocamentos, número de documentos e, dependendo do local, até de taxas. Na Central Fácil de Maceió, por exemplo, a taxa cobrada pelo Corpo de Bombeiros caiu de R$ 80,00 para R$ 17,00. E, para abrir uma microempresa, não é preciso pagar a taxa de abertura, atualmente de R$ 32,42. A simplificação e a desburocratização resultaram na redução de 28 documen tos antes exigidos. “Para simplificar o processo e reduzir custos, foram necessários decretos e legislações específicas”, explica Renata Fonseca. “Até estranhei a velocidade com que abri minha empresa”, testemunha o empresário Paulo Pereira de Carvalho Júnior que, em maio passado, em apenas dois dias, abriu, em Maceió, a Barros e Carvalho Ltda., uma empresa de representação de materiais de construção. “É um desvio que facilita e encurta o caminho”, garante. Na Central Fácil do Distrito Federal, segundo a coordenadora da Central pelo Sebrae local, Sindy Mageste, o custo para quem abre uma micro ou pequena empresa na forma jurídica de Sociedade Ltda. é de R$ 122,45. “Fora o alvará de funcionamento, que depende da metra gem do local, sendo que as microempresas são isentas da taxa de alvará referen te ao primeiro ano de funcionamento do negócio”, explica. “Via despachante, o custo vai de R$ 300,00 a R$ 2 mil”, completa o gerente de Atendimento Individual do Sebrae no DF, Ary Fereira. Segundo ele, a diferença em relação a custos na Central Fácil do DF justifica-se pelo fato de o empreendedor do segmento de micro e peque-
nos negócios contar com orientações necessárias, fornecidas pelo Sebrae. “Paguei pouco mais de R$ 100,00, quando fora da Central pagaria no mínimo R$ 400,00”, confirma a empresária Maria de Fátima Guedes, do Distrito Federal, que abriu uma microempresa de artesanato, a Berto Crochê e Arte Ltda., em Águas Claras. “O trabalho fica mais fácil”, completa Tarcísio Lúcio Pereira, contando que fez o plano de negócios com o Sebrae.
Sucesso Nas centrais, os novos empresários são orientados a buscar mais conhecimento por meio de treinamentos e cursos oferecidos pela Instituição, e que contribuem para o sucesso do negócio. Ivana Stoimenof, a dona da Cibo Alimento Natural, do DF, participou de cursos como o Empretec – desenvolvido pela ONU e administrado no Brasil pelo Sebrae, que reforça as características empreendedoras do indivíduo – e o Sebraetec (Programa Sebrae de Consultoria Tecnológica), que contribui para a competitividade do empreendimento. Começou produzindo feijoada ligth à base de soja. Vendia, em média, 400 pacotes congelados do produto apenas para pequenas lojas especializadas na área. Hoje também produz bobó e picadinho à brasileira, na mesma linha vegetariana, e comemora a expansão da comercialização para os chamados supermercados de vizinhança e para uma grande rede de hipermercados, com produção entre 1,2 e 1,8 mil pacotes ao mês. Ela explica que ainda não contabiliza lucros, mas garante que a empresa já se mantém, podendo assumir o pagamento de dois empre gados fixos. A empresária conta que lançará outros pratos brasileiros na versão vegetariana, e que negocia a exportação para mercados estratégicos, como Minas Gerais e Rio de Janeiro. De olho no mercado internacional, está investindo na produção de rótulos em inglês e espanhol. Atualmente, também ensina a produzir comida ve getariana em um programa de televisão local e tem reproduzido suas experiências em entrevistas, inclusive em programas de televisão de alcance nacional, como o “Sem Censura”, da TVE Brasil. “Falei muito da importância do Sebrae na minha vida e da minha empresa, porque as orientações da Instituição são fundamentais para quem quer abrir ou já tem um micro ou pequeno negócio, já que, sem conhecimento, não se passa da esquina”, afirma. Sobre a experiência de abrir sua microempresa a
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Ivana hoje comemora a abertura de sua empresa a partir da Central Fácil do DF
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“Falei muito da importância do Sebrae na minha vida e da minha empresa, porque as orientações da Instituição são fundamentais para quem quer abrir ou já tem um micro ou pequeno negócio, já que, sem conhecimento, não se passa da esquina”, IVANA STOIMENOF , dona da Cibo Alimento Natural
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partir da Central Fácil, lembra que, se tivesse de pagar cerca de R$ 700,00, no lugar dos R$ 75,00 gastos, teria que pedir o dinheiro emprestado, aumentando o volume da dívida familiar que contraiu para investimentos em infra-estrutura e equipamentos da sua microempresa. Sobre facilidades encontradas na entidade, resume: “Num mesmo lugar, se resolve tudo e de maneira eficiente”.
Contabilidade O gerente Bruno Quick chama a atenção para outro público que vem utilizando as Centrais Fácil: os donos de empresas de contabilidade. “Isso contribui para a redução do trabalho burocrático e a orientação ao cliente”, diz. Sua avaliação é de que esses profissionais podem funcionar como postos avançados das Centrais Fácil, com a “Rede Con tabilizando o Sucesso”. É um trabalho que está em negociação para ser a nova fase do programa “Contabilizando o Sucesso”. Esse programa é desenvolvido pelo Sebrae em parceria com o
Conselho Federal e Regional de Contabilidade (CFC/CRC) e promove a capacitação de profissionais da área para melhoria e ampliação do atendimento às micro e pequenas empresas. Por meio desse programa, já foram capacitados mais de 2 mil empresários do setor contábil. “Levando em conta que, em média, cada escritório de con tabilidade tabilida de atende a uma média de 65 micro e pequenas empresas, chega-se a 130 mil o número desses empreendimentos atendidos pela categoria”, exemplifica Quick. “É uma parceria de sucesso”, garante o presidente da Federação Nacional das Empresas de Serviços Contábeis e das Empresas de Assessoramento, Perícias, Informações e Pesquisas (Fenacon), Carlos José de Lima Castro. Segundo ele, as Centrais Fácil contribuem com o próprio trabalho das empresas de serviços con tábeis, “já que num único local é possível dar entradas em todos os processos”.
Evolução “As centrais evoluíram muito”, avalia Luis Augusto Pacheco, consultor do Sebrae Nacional que acompanhou o início das negociações para a formação dessas entidades, há cerca de 12 anos. Ele conta que o Sebrae ficou responsável pela mobilização dos parceiros. “Até se concretizar, foi um trabalho complexo, inclusive pela diversidade de parceiros”, lembra. “É uma parceria que tem dado mui to certo”, afirma o coordenador-ger coordenador-geral al dos Serviços de Registro Mercantil do DNRC, Rômulo Guimarães Rocha. “O próximo passo, agora, é aumentar o grau de informatização do processo”, diz, adiantando que o trabalho é previsto no Projeto de Lei que cria a Rede Nacional para a Simplificação do Registro e Legalização de Empresas e Negócios (Redesim), do governo federal, e que está em análise na Câmara dos Deputados.
A expectati expectativa va do governo é de que o projeto reduza para até 15 dias o prazo para a abertura de empresa, especialmente com a integração eletrônica dos órgãos participantes do processo. “A experiência da Central Fácil foi fundamental para a discussão do projeto RedeSim e a definição dos princípios contidos na Lei Geral das Micro e Pequenas Empresas (em análise na Câmara dos Deputados), que facilitam a vida desses empreendimentos”, reforça Bruno Quick. Para a consultora do Sebrae Nacional, Helena Rego – responsável, na Unidade de Políti Políticas cas Públicas, pelo projeto que trata das Centrais Fácil –, a agilidade no processo de abertura da empresa e as orientações dadas nas centrais são fundamentais para a competitividade dos micro e pequenos negócios. “Como a legislação atual dificulta esse processo, procuramos atenuar o problema via parcerias com órgãos públicos, materializadas nas Centrais Fácil”, explica. Na última edição do Prêmio Prefeito Empreendedor Em preendedor,, promovido pelo Sebrae, entre as ações municipais de apoio aos pequenos negócios, a Instituição premiou iniciativas voltadas ao tratamento diferenciado às micro e pequenas empresas na área de tributos e desburocratização. A instituiçã instituiçãoo vencedora foi a Prefeitura de Petrópolis (RJ), com a exposição de um pacote de iniciativas que compreendiam parcerias e legislações de incentivo e estímulos fiscais ao segmento, segmento, além de programas programas de desburocratidesburocratização no processo de abertura de empresa. O projeto de destaque, que pode ser acessado via Internet, Internet, lembra que, dependendo do caso, o alvará de funcionamento poderá ser expedido até na hora. “Imagine essa nova prática levada a todos os municípios brasileiros”, projeta, pensando no futuro, o gerente Bruno Quick.
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| PEQUENAS EDITORAS
Sebrae estimula o acesso ao conhecimento OS INVESTIMENTOS EM CONHECIMENTO GERAM OS MELHORES DIVIDENDOS. ESSE PENSAMENTO TEM MAIS DE 300 ANOS E É DO EDITOR, AUTOR, INVENTOR E CIENTIST CIENTISTA A AMERICANO BENJAMIN FRANKLIN FRANKLIN (17061790), UM DOS MAIORES EMPREENDEDORES DA HUMANIDADE. Texto: BETH MATIAS
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uem segue à risca os conselhos do gênio-inventor Benjamin Franklin tem sido bem-sucedido em seus empreendimentos, como revela uma pesquisa do Sebrae, realizada em 2004, sobre a mortalidade das micro e pequenas empresas. A pesquisa mostra que as habilidades gerenciai geren ciais, s, aque aquelas las que refl refletem etem a preparação do empresário para in teragir tera gir com o mercado mer cado em que q ue atua e a competência para bem conduzir o seu negócio, são fundamentais para a sobrevivência e o sucesso do empreendimento. O estudo confirma que, faz-se necessária, cada vez mais, a disseminação da informação, principalmen te para o pequeno empreend empreendedor edor,,
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em todos os meios disponíveis. A começar pelos livros, que hoje podem ser encontrados na rede mundial de compu tadores, meio pelo qual a informaçã i nformaçãoo pode po de correr c orrer a muito m uito mais de 1 bilhão de bits por segundo. Um bom exemplo do sucesso dessa oferta tecnológica de conhecimento é a Biblioteca On Line do Sebrae (http:// www.biblioteca www.bibli oteca.seb .sebrae. rae.com. com.br) br) que, q ue, em e m maio, ma io, compl c ompletou etou dois anos. Nesse período, segundo Geraldo Magela Souza, do Sebrae Nacional, o espaço dedicado à construção e ao compartilhamento de conhecimentos na área do empreendedorismo e dos pequenos negócios registrou mais de 1 milhão de visitas e mais de 2 milhões de downloads de títulos. títul os. “Em médi média, a, cad cadaa usuá usuário rio “ba “baixa” ixa” 1,5 docu documento mento por download, um dos principais indicadores de sucesso do projeto”, diz. A existência da Biblioteca On Line do Sebrae só foi possível porque cada vez mais autores autores passam a se inin teressar tere ssar pela inic iniciati iativa va e a coop cooperar erar com o tema da pequena empresa. Nasceu assim, em 2003, durante a Bienal do Livro, no Rio de Janeiro, o projeto Parceria com Edi torass (http: tora ( http://ww //www.sebrae w.sebrae.com .com.br/ .br/br/p br/progra rogramase maseproj projetos etos// programaseprojetos_1933.asp), do Sebrae Nacional, um
estímulo à produção editorial para o segmento da economia. O projeto é hoje um dos mais bem conceituados do mercado editorial. Pela parceria com pequenas e médias editoras, já foram lançados 12 livros, com tiragem de 36 mil exemplares, e cadastradas 25 editoras. O Conselho Edi torial, composto por oito representan tes do Sebrae Nacional e das unidades estaduais, já analisou 18 livros até o final de junho deste ano. Para o gestor do projeto Parceria com Editoras, da Unidade de Capacitação Empresarial do Sebrae Nacional, Oscar Ferreira da Silva Júnior Júnior,, o projeto facilita o acesso dos empresários de pequenos ne gócios à informação, informação, por meio de incen tivo para que os autores autores escrevam escrevam sobre assunto de interesse do segmento. “Nossa preocupação não é com a quantidade de livros editados e, sim,
com a qualidade dos produtos oferecidos ao mercado”. Oscar Ferreira explica que a parceria tem como meta editar em média 12 livros por ano. “Livro não é como pãozinho que sai a toda hora. É preciso critério”. Pelo projeto, cada publicação deve ter uma tiragem de três mil mi l exemplare exemp lares. s. O Sebrae Seb rae fica fi ca com mil m il exempla exe mplares res para distribuição a bibliotecas públicas e universidades, escolas técnicas e unidades estaduais do Sebrae. Ou tros dois mil exem exemplar plares es são vend vendidos idos pela pelass próp próprias rias editoras às melhores livrarias do País. Os livros editados pela parceria abordam os mais di versos assuntos de d e interesse das d as micro e pequenas empresas, tais como: gestão, marketing, criatividade, franquias, empresas de base tecnológica, e outros. Para a gerente da Unidade de Capacitação Empresarial, Mirela Malvestiti, o conhecimento gerado pela parceria cria uma sinergia entre o Sebrae e a editora. “Se o Sebrae fosse fazer os livros sozinhos, não teria condições, já que não é a sua expertise editar livros. Tenho certeza de que, ao analisarmos os originais e colocarmos o nosso ponto de vista, estaremos também levando conhecimen to a esses autores”.
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De acordo com a gerente, o projeto não é um patrocínio puro e simples. “Nós apoiamos apenas os conteúdos que acreditamos ser importantes para as micro e pequenas empresas. Cada original passa pelo crivo do Conselho Editorial, que sugere modificações e tem o poder de rejeitar temas que não estejam adequados ao segmento”.
Nas melhores casas do ramo O próximo livro a ser lançado pelo projeto “Parcerias com Editoras”, pela editora Campus-Elsevier, do Rio de Janeiro, é “Como transformar seu talento em um negócio de sucesso”, de Silvina Ramal. A Campus é uma das grandes parceiras do Sebrae nesse projeto. Já foram publicados pela editora ed itora dois livros – “Ad“Administração para profissionais liberais”, de Fábio Zugman, e “Como garantir três vendas extras por dia”, de Evaldo Costa. A Campus-Elsevier enviou outros quatro originais, que es tão sendo analisados pelo Conselho Editorial. “Essa iniciativa do Sebrae é fantástica, pois permite novas fontes de consulta e a preparação de empreendedores e pequenos empresários no País”, diz Igdal Parnes, diretor de marketing e comercial da Campus-Elsevier Campus-Elsevier.. Marcelo Borges, gestor de vendas especiais da editora, também ressalta a rapidez nas respostas respostas do Sebrae aos origioriginais enviados. “A editora recebe o original do autor autor,, analisa e envia ao Sebrae, que rapidamente nos responde sobre o in teresse ou não pelo livro. Segundo Parnes, a parceria foge do escopo meramente financeiro. “Unimos duas marcas fortes para produzir conteúdos aplicados à capacitação e à qualificação profissional. Por isso, desde o início, acreditamos no sucesso do projeto”. A Campus-Elsevier está no mercado brasileiro brasileiro há 30 anos. Com 110 funcionários, a editora coloca no mercado brasileiro cerca de 250 novos títulos dos mais diversos temas, com distribuição em todo o Brasil e em Portugal. Outro entusiasta do projeto é Daniel Zanetti, da Livraria do Maneco, de Caxias do Sul. De acordo com ele, a parceria ajudou a empresa a amadurecer a madurecer.. A editora lançou, junto com o Sebrae, o título “Confidencial: por dentro de uma franquia”, de João Ribas, durante a 19ª Bienal do Livro em São Paulo. “O processo todo foi muito rico. Tivemos sugestões do Conselho Editorial em algumas mudanças, mas a negociação sempre foi flexível e ponderada”. O gerente conta também que, depois do lançamento do livro, a editora passou a ser conhecida e procurada por pelo menos 10 novos autores, interessados em escrever para o segmento de micro e pequenas empresas. “Estamos analisando os originais. Só vamos enviar ao Conselho Edi-
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toria l o que for pertin torial p ertinente ente ao tema”. tem a”. A Livraria do Maneco tem mais de 150 títulos títul os lanç lançados ados no merc mercado ado nas área áreass de ficção, administração e infanto-ju venil.l. Distri veni Di stribui bui para p ara os três tr ês Estad E stados os do do Sul. Importa também livros, principalmente da Espanha. Proprietária da Editora Manole, de São Paulo, Daniela Manole diz que, graças ao Projeto de Parcerias com Editoras, abriu-se uma possibilidade para que autores conceituados, autores de bons livros, vissem seus projetos publicados. “Eles nos procuravam e, por dificuldades gerais do mercado editorial, não podíamos atender a eles”. A Manole lançou, em parceria com o Sebrae, o livro “Gestão de pequenas e médias empresas de base tecnológica”, de Antonio Valério Netto. Segundo Daniela, “a iniciativa do Sebrae fomenta a leitura, estimula o mercado editorial e o empreendedorismo de profissionais brasileiros, produzindo obras de valor valor,, com preços acessíveis”. A editora Manole, fundada em 1966, conta atualmente com mais de mil títulos, dos quais a maioria aborda temas científicos, voltados à formação de estudantes e profissionais.
No forno Além do livro que será lançado em breve, o Sebrae está analisando cincos originais de editoras. Segundo Oscar Ferreira, podem se cadastrar no projeto as empresas que tenham editado pelo menos três livros técnicos e estejam em dia com as obrigações fiscais. É preciso mandar um e-mail para
[email protected] ou fazer contato pelo telefone (0xx61) 33487241 para ter mais informações sobre o cadastramento. Uma vez realizado o cadastro, o processo a seguir é simples. A editora manda o original, que é distribuído para os oito conselheiros do Sistema Sebrae. É também designado um relator, responsável pela consolidação das opiniões e das mudanças. Esse processo dura cerca de um mês. “O livro pode ser aceito, recusado ou simplesmente pedidas modificações. Depois disso, segue para a Diretoria do Sebrae, para aprovação da parceria, e é feito um contrato coordenado pelo Departamento Jurídico”, diz o gestor. Saiba quem são os conselheiros do projeto: Oscar Ferreira, Márcia Mattos, Clarice Veras, Lucia Buson, Fernando Bandeira, Daniel Kaula dos Santos, Rogério Resende e Francisco Ferreira Filho. A editora tem, então, o prazo de 45 dias para entregar os exemplares. O Sebrae compra mil livros por um preço fixado pelo número de páginas e dá apoio na divulgação, com lançamentos em bienais e feiras de livros pelo Brasil. De acordo com Oscar Ferreira, a maioria dos originais enviados pelas editoras cadastradas tem “nível muito bom”, o que facilita a aprovação. As editoras interessadas em participar desse processo deverão propor termas nas seguintes áreas: administração e gerência; empreendedorismo; negócios; marketing; tecnologia da informação; inovação tecnológica; comércio exterior; crédito e microcrédito; meio ambiente; legislação empresarial; artesanato; turismo; associativismo; políticas públicas; e outras áreas de interesse dos pequenos negócios e dos futuros empreendedores.
LIVROS PUBLICADOS NO ÂMBITO DO PROJETO PARCERIAS COM EDITORAS Titulo
Autor
Editora
Planejamento do negócio – como t ransformar idéias em negócios
Armando Clemente (Organizador)
Editora Lucerna
Como ingressar nos negócios digitais
Eduardo Mayer Fagundes
Edições Inteligentes
Por dentro da bolha
Paulo Veras
Edições Inteligentes
Caminhos do desenvolvimento
Bruno Bezerra
Edições Inteligentes
Desenvolvimento includente, dustentável, sustentado
Ignacy Sachs
Garamond
Guia de referência do mercado financeiro
Luis Carlos Toscano Jr
Edições Inteligentes
A criatividade do rei: um método fácil para você se tornar mais criativo
Roberto Lima Netto
Ediouro
Administração para profissionais liberais
Fabio Zugman
Elsivier
Como garantir três vendas extras por dia
Evaldo Costa
Elsevier
A habilidade do rei
Roberto Lima Neto
Ediouro
Marketing para pequenas empresas
Gustavo Bernadez
Hermann Baumgarten
Confidencial – por dentro de uma franquia
João Ribas
Livraria do Maneco
Gestão de pequenas empresas e médias Empresas Antônio Valério Netto De Base Tecnológica
Editora Manole Ltda
Contribuição valiosa Tem sido grande a procura, por entidades e bibliotecas, pelos exemplares lançados pelo Projeto Parceria com Editoras. Segundo o gestor, as bibliotecas têm considerado o projeto uma valiosa contribuição à cultura e ao aperfeiçoamento do conhecimento. “Recentemente, recebi um e-mail da Biblioteca do Con gresso dos Estados Unidos, solicitando o envio dos livros para lá. É o reconhecimento de um trabalho sério desenvol vido pelo Sebrae”, diz Oscar Ferreira. Outro ponto importante do projeto foi o lançamento do livro do diretor do Centro de Pesquisas sobre o Brasil Con temporâneo da Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais (EHESS), da França, Ignacy Sachs, que escreveu “Desenvolvimento: includente, sustentável e sustentado”. O prefácio, de autoria do economista Celso Furtado, foi a última avaliação crítica feita por ele, que veio a falecer em 2004. Além disso, os livros editados em parceria com a editora Campus estão transpondo o oceano Atlântico e chegando ao mercado editorial português. “É a marca do empreendedorismo brasileiro chegando às terras de Camões”, finaliza Oscar Ferreira.
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Equipe de funcionários da Anjinho Lanches
RESULTADO DA PARCERIA ENTRE SETE INSTITUIÇÕES, SERVIÇO BRASILEIRO DE RESPOSTAS TÉCNICAS ENTRA EM NOVA FASE PARA AMPLIAR CONSULTAS TECNOLÓGICAS FEITAS POR PEQUENAS EMPRESAS Texto: RODRIGO RIEVERS Fotos: ANDRÉ TELES
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ono de um trailer de lanches e sanduíches no campus da Uni versidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Antônio Carlos Barbosa estava prestes a encerrar a venda de um dos produtos de maior saída: o sorvete tipo soft, aquele tirado de máquinas e conhecido por muitos brasileiros como ‘sorvete italiano’. O motivo estava nos constantes aumentos no preço do mix de preparo da massa, produto que, co-
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locado na máquina, transforma-se em sorvete. Quando ia encerrar as vendas do produto, um dos mais apreciados pelos clientes do ‘Anjinho Lanches’, apelido que Antônio ganhou dos universitários e emprestou ao seu trailer, o empresário resolveu pesquisar na internet receitas para produção de sorvete soft. Encontrou algumas, mas logo as descar tou por conta da elevada quantidade de gordura hidrogenada. “Sempre fui preocupado com a saúde dos meus clientes e, portanto, com o alimento que ofereço a eles”, justifica. Após refinar a pesquisa na rede mundial de computadores, Antônio, ou Anjinho, como preferem os universitários, encontrou a receita que precisava na página do Serviço Brasileiro de Respostas Técnicas (SBRT). “Fiz uma pesquisa, achei a receita, e fui atendido prontamente”, diz.
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Parceria multiplica e dinamiza atendimento aos pequenos negócios E as vantagens para o empresário não pararam por aí. Além de poder manter a venda do sorvete, Anjinho conseguiu reduzir os custos em 75% a partir do momento em que deixou de comprar o mix industrializado para preparo e passou a fazer a receita indicada na resposta técnica enviada pelo SBRT. “Fiquei muito satisfeito com esse serviço, porque ele me possibilitou ultrapassar uma das mui tas barreiras para o desenvolvimento do meu pequeno negócio”, afirma Anjinho. Criado em novembro de 2004, a partir de um incentivo do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), o SBRT (www.sbrt.ibict.br) é um ambiente no qual micro e pequenas empresas podem encontrar conhecimento para solucionar problemas tecnológicos de baixa com-
plexidade. A criação desse serviço só foi possível graças à ampla parceria estabelecida com sete instituições de pesquisa que fornecem o conteúdo, o próprio ministério e o Sebrae, além dos representante das micro e pequenas empresas. “A construção dessa parceria foi um processo de aprendizado para todas as instituições que, juntas, puderam ampliar o atendimento aos pequenos empreendimentos, com retorno não apenas para os empresários, mas também de conhecimento tecnológico para todos os integrantes”, assinala Vera Lúcia Harcar, da Rede de Tecnologia do Rio de Janeiro (Rede tec), uma das sete instituições pro??? Para Vera Harcar, que além de representar a Redetec, também coordena o SBRT, um dos grandes desafios para elaborar a ferramenta de atendimento tecnológico foi justamen te o de reunir, num único ambiente, competências que es tavam distribuídas em diferentes instituições, harmonizando interesses e diferenças culturais de cada um dos parceiros. “As individualidades de cada instituição foram superadas para formar, de fato, uma parceria, e uma parceria que traz retor-
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| RETRANCA
“Trata-se de uma importante ferramenta para o desen volvimento tecnológico das micro e pequenas empresas brasileiras, que agrega valor e cujo resultado confere competitividade crescente ao segmento”, assinalou.
Retorno institucional
Antônio acessou o SBRT a partir da Internet
no para essas instituições”, avalia. Opinião compartilhada por Elizabeth Urban, gerente da Unidade de Serviços Tecnológicos do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial no Rio Grande do Sul (Senai-RS), uma das sete insti tuições que fornecem conteúdo para o SBRT. “Essa complementaridade que se criou entre as instituições é o que realmente dá uma identidade de rede para esse projeto do Serviço Brasileiro de Respostas Técnicas”, aponta. Com ampla experiência na atuação em redes, o Senai-RS participa, entre outras, da Rede Gaúcha de Design e da Rede Latino-Americana de Produção Mais Limpa (P+L). Elizabeth Urban vê, no Serviço Brasileiro de Resposta Técnica, uma oportunidade para a instituição em que atua disponibilizar as informações colhidas e concentradas nas 22 Unidades de Informação do Senai espalhadas pelo Rio Grande do Sul. Trata-se, conforme informa Elizabeth Urban, de núcleos de inovação tecnológica, nos quais são produzidos os conteúdos disponíveis para consulta no SBRT. O diretor de Administração e Finanças do Sebrae Nacional, César Rech, avalia que as parcerias em torno do Ser viço Brasileiro de Respostas Técnicas (SBRT) viabilizaram um instrumento de atendimento eficaz às demandas tecnológicas das micro e pequenas empresas.
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Se o esforço para efetivar a parceria que deu origem ao Serviço Brasileiro de Respostas Técnicas teve como objetivo atender às demandas por inovação tecnológica em micro e pequenas empresas, esse mesmo serviço também dinamizou o atendimento das instituições que dele participam. “Certamente houve um ganho de tempo no nosso atendimento ao cliente”, diz Marisa Gurjão Pinheiro, coordenadora do Setor de Informação Tecnológica da Fundação Centro Tecnológico de Minas Gerais (Cetec), que também fornece respostas técnicas ao SBRT. Um outro ganho proporcionado ao Cetec, segundo avalia Marisa Pinheiro, está relacionado à metodologia e aos recursos utilizados no Serviço Brasileiro de Respostas Técnicas. “Foi uma metodologia muito bem estruturada e que certamente agrega valor ao serviço de produção de conteúdo tecnológico que o Cetec sempre prestou, já que houve uma capacitação do corpo técnico de todas as instituições participantes e isso certamente tem retorno para cada uma dessas organizações”.
Extensão tecnológica Para o presidente do Instituto de Tecnologia do Paraná (Tecpar), Mariano de Matos Macedo, um dos grandes méritos do Serviço Brasileiro de Respostas Técnicas é funcionar como um efetivo instrumento de extensão tecnológica. “Essa ferramenta possibilita aproximar a demanda de modernização por parte das empresas, principalmente as pequenas e médias, da oferta de soluções existentes nos institutos de tecnologia e nas universidades”, diz. Para Mariano, está provado que a interação entre empresas e instituições que detêm conhecimento tecnológico é uma das formas de fomentar a competitividade brasileira. “Experiências de outros países mostram que, cada vez mais, esse link entre demandas das empresas e conhecimento dos institutos e universidades é de fato um diferencial em prol da competitividade nacional”, avalia. Mariano ressalta, no entanto, que a excelência desse tipo de serviço está diretamente vinculada à construção de uma interação efetiva entre as instituições participantes. “Num país tão heterogêneo como o Brasil, e com demandas empresariais tão distintas, não é possível imaginar apenas uma
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As indústrias correspondem a 14% do número de consultas que chegam ao SBRT
instituição atendendo a todos de forma isolada”, assinala. “E o fator de sucesso do Serviço Brasileiro de Respostas Técnicas está relacionado justamente ao fato de essas instituições estarem trabalhando em conjunto suas competências, com objetivos, estratégias e métodos bem definidos e, acima de tudo, com um espírito de governança comum a todos”, acrescenta. Além do Sebrae, do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), por meio do Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (Ibict), do Redetec, do Senai-RS, do Cetec e do Tecpar, também integram e contribuem com conteúdo para o Serviço Brasileiro de Respostas Técnicas (SBRT) o Centro de Desenvolvimento Tecnoló gico (CDT) da Universidade de Brasília (UnB), o Núcleo Regional Baiano do Instituto Euvaldo Lodi, por meio da Rede de Tecnologia da Bahia (Retec) e o Disque-Tecnologia da Universidade de São Paulo (USP).
Agricultura e pecuária lideram consultas Do fim de novembro de 2004, quando entrou em operação, até o início de julho de 2006, data de fechamento desta matéria, o Serviço Brasileiro de Respostas Técnicas (SBRT) publicou 2.720 respostas técnicas, atendendo a mais de 6.418 demandas. Segundo Vera Lúcia Harcar, da Rede de Tecnologia do Rio de Janeiro (Redetec) e coordenadora do SBRT, 25% das respostas técnicas publicadas já existiam no banco de dados. O restante foi produzido para atender às solicitações encaminhadas pelos empresários com base em consultas feitas no site do SBRT (www.sbrt.ibict.br). A maior parte das consultas foi referente a demandas de empresários do setor de agricultura e pecuária, com 24%. Em seguida, vieram consultas de empreendedores dos setores de alimentos e bebidas (21%), serviços industriais (14%), produtos químicos (10%), plásticos e borracha (5%), equipamentos e máquinas (5%), meio ambiente e reciclagem de resíduos (4%), têxteis e vestuário (4%), calçados (2%) e construção civil (2%). “As outras demandas foram diluídas entre diversos outros setores”, informa Vera Harcar. Um dos empresários atendidos pelo SBRT foi Cristóvão Carvalho Rocha. Engenheiro químico, com ampla experiên-
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| EXTENSÃO TECNOLÓGICA
cia no setor de petróleo e derivados, ele buscava informações sobre como extrair a essência do capim-vetiver, utilizada na produção de perfumes, principalmente masculinos. “Fiz uma pesquisa na internet e encontrei o Serviço Brasileiro de Respostas Técnicas. Em menos de uma semana, já tinha em mãos um trabalho pronto sobre a extração do óleo essencial do capim-vetiver”, diz. Cristóvão, que ainda não iniciou a plantação do capim-vetiver em sua propriedade, em Paraíba do Sul, no Rio de Janeiro, planta atualmente pimen ta-longa, cujo óleo essencial é bastante utilizado na indústria química. Antes de iniciar a plantação de pimenta-longa, ele fez uma pesquisa em outra instituição. “Naquela época, ainda não pensava no capim-vetiver”, explica. Segundo Cristóvão, a pesquisa sobre a pimenta-longa foi bem mais, digamos, custosa. Tanto em tempo quanto em recursos. “A diferença comparativa en tre a pesquisa que fiz nessa instituição e a pesquisa do serviço de resposta técnica é enorme. Na pesquisa do SBRT, ganhei tempo e, porque não, economizei recursos com deslocamento e hospedagem”, frisa.
Democratizar conhecimento Para Cristóvão, o maior mérito do Serviço Brasileiro de Respostas Técnicas é democratizar o conhecimento existen te em diversas instituições de pesquisa tecnológica. “Ter acesso a isso sempre foi uma das principais dificuldades de quem está empreendendo”, assinala o empresário. “Tenho certeza de que esse serviço vai acelerar o empreendedorismo no País”, acrescenta.
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Pequena indústria gaúcha, a Portoflex se beneficiou do serviço
Outro empresário beneficiado pelas respostas técnicas foi o gaúcho Andreas Luiz Knorr, proprietário da Portoflex, uma pequena indústria de artefatos de borracha e termoplás ticos, em Porto Alegre. O contato com o Serviço Brasileiro de Respostas Técnicas deu-se após o empresário receber uma demanda de um cliente. “O preço para o desenvolvimento dessa peça não compensava, mas eu também não queria perder o cliente; então fui buscar apoio e encontrei esse serviço”, diz. Feita a provocação de demanda, a equipe do SBRT elaborou uma resposta técnica e a enviou ao empresário gaúcho. Segundo ele, os métodos de produção sugeridos pela resposta técnica eram menos onerosos e, por isso mesmo, mais acessíveis. “Encontrei todas as dicas na literatura e eu confesso que estou muito contente. Estou colhendo resultados por essa grande oportunidade que a Portoflex está recebendo de participar desse serviço”, diz Andreas.
Como consultar Assim como os empresários Cristóvão Carvalho Rocha e Andreas Luiz Knorr, qualquer empresário pode fazer consultas na página do Serviço Brasileiro de Respostas Técnicas na internet. Para isso, basta acessar o endereço eletrônico (www.sbrt.ibict.br) e cadastrar-se.
Se o consulente não encontrar a resposta que procura, ele pode entrar em contato com a equipe do SBRT e lhe fazer a demanda. A pesquisa será feita pelos técnicos e encaminhada ao empresário, que assim terá acesso a uma resposta técnica personalizada, elaborada sob medida para atender às suas necessidades.
Atendimento será ampliado Integrante do Serviço Brasileiro de Respostas Técnicas (SBRT) desde a sua elaboração e entrada em operação, em novembro de 2004, o Sebrae renovou, em dezembro de 2005, seu apoio, por meio de um convênio para ampliar a capacidade de atendimento do SBRT. Pelo convênio, a Instituição vai aportar R$ 2,5 milhões, recursos que terão contrapartida R$ 1,6 milhão das sete instituições execu toras, e outros R$ 1,2 milhão do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT). Segundo Vera Harcar, coordenadora do SBRT pela Redetec do Rio de Janeiro, a partir da renovação do convênio, a meta é fazer que o Serviço Brasileiro de Respostas Técnicas (SBRT) tenha capacidade para 6,7 milhões de respostas técnicas por demanda, além de contar com três mil respostas técnicas customizadas, 330 dossiês técnicos e 12 estudos sobre gargalos tecnológicos em diferen tes setores. “É um projeto ousado e que vai estimular o auto-atendimento dos empresários por meio do serviço”, diz. Para Vera Harcar, um dos méritos dessa expansão é o investimento na produção de dossiês técnicos. Isso porque esse material extrapola as respostas técnicas, ou seja, além das respostas técnicas, oferece um estudo bem mais abrangente de setores que necessitam de inovação tecnológica. “É algo mais robusto que a resposta técnica e servirá para antever demandas de setores por tecnologia”, explica.
A meta é ampliar significativamente o atendimento do SBRT
Mesma avaliação faz Ednalva Fernandes Costa de Morais, vice-diretora do Centro de Desenvolvimento Tecnológico (CDT) da Universidade de Brasília (UnB). “Essa parceria com o Sebrae e com o Ministério da Ciência e Tecnologia é mui to importante nesse processo de maturação e consolidação do SBRT porque vai criar soluções tecnológicas amplas, tornando o serviço uma ferramenta de gestão do conhecimento sobre as necessidades de inovação tecnológica dos empreendedores do País, facilitando a construção de uma política mais adequada nessa área”, afirma.
Atendimento Ednalva diz que, mesmo antes de consolidar essa nova etapa do Serviço Brasileiro de Respostas Técnicas, o atendimento às demandas tecnológicas dos empreendedores já foi ampliado. Ela cita o caso do CDT/UnB, que, por meio do Disque-Tecnologia, já realizava esse serviço. “Antes do SBRT, cerca de 60% das demandas atendidas pelo Disque-Tecnologia já eram referentes a respostas técnicas. Agora, esse volume quase dobrou e isso é fundamental para o CDT, que foi criado com a missão de transferir a tecnologia da universidade para as empresas”, frisa. Apesar da demanda ter quase dobrado, Ednalva diz que o atendimento é feito quase com o mesmo número de pessoas. Isso só foi possível, segundo explica a vice-diretora do CDT, graças à racionalização do processo após o início da operação do SBRT. “Foi a soma de competências de diversas instituições que resultou num processo padrão; e esse é um dos méritos dessa parceria”, conclui.
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| ARTIGO
PAULO ALVIM*
“
A necessidade tecnológica deve vir prioritariamente das indicações e das sinalizações de mercado, seja pela demanda dos consumidores, seja pela pressão da concorrência.
”
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Parcerias: estratégia de acesso à tecnologia para as MPE A
questão tecnológica nas micro e pequenas empresas (MPE) é assunto que, inicialmente, precisa ser desmistificado. O que é, afinal, tecnologia para as MPE? É a utilização de recursos que tanto podem estar embu tidos na capacidade de máquinas e ferramentas, quanto na própria matéria-prima que compõe a essência do produto final. Com certeza, no processo de concepção do produto ou do serviço, seja ele novo ou em fase de melhoria, muito conhecimento tecnológico precisa ser aplicado. A necessidade tecnológica deve vir prioritariamente das indicações e das sinalizações de mercado, seja pela demanda dos consumidores, seja pela pressão da concorrência. E onde está esse conhecimento tecnológico tão relevante para as empresas? Esse conhecimento está presente tanto nas próprias ins tituições de ciência e tecnologia (ICTs), como também nas organizações públicas e privadas que têm a capacidade de desenvolver, difundir e transferir conhecimento tecnológico, por disporem, para tanto, de recursos humanos qualificados, geralmente pesquisadores, e de infra-estrutura laboratorial e computacional – condições propícias para a pesquisa e o desenvolvimento de produtos e serviços, bem como de ensaios e calibração. Considerando que investir em tecnologia implica riscos financeiros e tecnológicos, e que, em alguns casos, demanda investimentos significativos em recursos humanos e capacidade laboratorial, torna-se difícil, para a maioria das MPE,
manter estruturas de pesquisa, desen volvimento e engenharia (PD&E). Daí o caminho natural das parcerias tecnológicas entre ICTs e MPE, com o propósito de desenvolver ações do tipo de PD&E compartilhado, pesquisa cooperativa e uso de laboratórios para ensaios de especificação e calibração, por exemplo. Essa prática, exercício efetivo da in teração entre empresa e instituições de ciência, tecnologia e inovação (CT&I), é um dos caminhos concretos de acesso à tecnologia para as MPE, no esforço de aumentar a produtividade, melhorar a qualidade e diferenciar produtos e ser viços, para que se tornem competitivas e sustentáveis. A experiência do Sistema Sebrae no processo de parcerias tecnológicas remonta aos anos 80, em iniciativa conjunta com a Financiadora de Estudos e Proje tos (Finep), agência de apoio à inovação do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), por meio do Programa de Apoio Tecnológico às Micro Empresas (PATME), que apoiava trabalhos dos ICTs na solução de problemas tecnológicos das MPE, iniciativa que atuava de forma a complementar as ações de consultoria de gestão e de processo, desenvolvidos pelos técnicos do Sistema Sebrae, conhecidos na época como CEAGs. Essa iniciativa serviu complementarmente para aproximar as ICTs da realidade produtiva das MPE e facilitar seu acesso ao conhecimento e aos serviços tecnológicos disponíveis na infra-estru tura de conhecimento instalada no País. Na década de 90, no esforço de incrementar a competitividade das empresas brasileiras em decorrência da aber tura de mercado, a questão tecnológica tomou outro vulto, pois incrementos tecnológicos tornaram-se essenciais para a competitividade empresarial. Esse novo contexto, de maior competição empresarial, ampliou o leque de ações de apoio e difusão de tecnologia, incorporando-se às questões de ecoefi-
ciência, serviços de tecnologia industrial básica nas áreas de metrologia, normalização e avaliação de conformidade, design, entre outras. A diversidade de temas tecnológicos, somada à hetero geneidade da realidade das MPE (setor de atuação, estágio tecnológico e capacidade de gestão e produção), levou o Sis tema Sebrae a constituir redes de apoio tecnológico, acessí veis em todo o território nacional, com capacidade de pres tar serviços e construir soluções tecnológicas para as MPE, destacando-se as seguintes redes: • Rede de consultoria tecnológica do Sebraetec; • Rede do via design; ???? • Redes metrológicas estaduais; • Redes de incubadoras de empresas; • Redes de organismos certificadores; • Rede do serviço brasileiro de resposta técnica (SBRT); • Rede de propriedade intelectual, entre outras. E há também a rede constituída por agências de fomento, regulação e formulação de políticas de desenvolvimento da atividade produtiva e de CT&I, nos âmbitos federal, estadual e, em alguns casos, municipal. É uma rede que envolve e mobiliza um conjunto de cerca de mil instituições, públicas e privadas, que prestam ou facilitam o acesso à tecnologia às MPE, que colaboram, somando-se ao esforço do Sistema Sebrae no cumprimento de sua missão institucional de promover a competitividade e a sustentabilidade das MPE. Com isso, garante seus resultados de incremento de faturamento e maior taxa de sobrevivência e desenvolvimento, com ganhos para a sociedade, por meio de geração de renda e de postos de trabalho. * PAULO ALVIM é Gerente da Unidade de Acesso à Inovação e Tecnologia do Sebrae Nacional.
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| ECONOMIA SOLIDÁRIA
Parceria é pano de fundo para sucesso da Justa Trama NASCIDA DA UNIÃO DE CINCO COOPERATIVAS E UMA EMPRESA DE AUTOGESTÃO, A JUSTA TRAMA É UM DOS PRINCIPAIS EXEMPLOS DE COMO O TRABALHO COM FOCO NA ECONOMIA SOLIDÁRIA PODE FAZER A DIFERENÇA NO DESENVOLVIMENTO DAS MAIS DISTINTAS LOCALIDADES. 60 | REVISTA SEBRAE
Texto: RODRIGO RIEVERS, COM CLARA FAVILLA Fotos: DIVULGAÇÃO
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que une as cidades de Tauá, no Ceará, Porto Velho, em Rondônia, Nova Odessa e Santo André, em São Paulo, Itajaí, em Santa Catarina, e Porto Alegre, no Rio Grande do Sul? A cadeia produtiva do algodão agroecológico, que deu origem à Justa Trama, marca de roupas e acessórios que já caiu no gosto dos consumidores mais engajados, que apreciam as tendências da moda sem deixar de lado o cará ter social e ecológico que está por detrás da produção de cada peça. Nascida da união de cinco coopera tivas e uma empresa de autogestão, a Justa Trama é um dos principais exemplos de como o trabalho com foco na economia solidária pode fazer a diferença no desenvolvimento das mais distintas localidades. Na economia solidária, a produção, o consumo e a distribuição de riqueza têm caráter associativista e cooperativista, carac terizando-se pela gestão feita pelos próprios trabalhadores, que assumem a frente de um negócio e tornam-se empreendedores. Foi exatamente o que ocorreu com mulheres e homens que participam das cooperativas que integram a Justa Trama. Hoje, eles são responsáveis pela gestão e definem metas e estratégias a serem alcançadas, tomando as rédeas do processo de desenvolvimento que visa, em última análise, a inclusão social. “Devagar, estamos construindo nossa independência e garantindo acesso a mercados”, diz Francisco das Chagas Loiola Maia, tesoureiro da Associação de Desenvolvimento Educacional e Cultural (Adec), que reúne 250 produtores de al godão agroecológico da região de Tauá, no Ceará. É de Tauá que sai o algodão que mais tarde é transformado em fios e tecidos por duas cooperativas de trabalhadores
paulistas: a Cooperativa Nova Esperança (Cones), de Nova Odessa; e a Cooperativa de Trabalhadores em Fiação, Tecelagem e Confecções (Textilcooper), de Santo André. Neste ano, a associação de Tauá, no Ceará, já enviou 2,6 toneladas de plumas de algodão, que é o algodão já sem o caroço, para a cadeia produtiva da Justa Trama. E a expectativa é que os produtores de Tauá mandem outra remessa ainda neste ano, já que a qualificação deve elevar a produção de pluma de algodão de 6 toneladas para 10 toneladas na atual safra, cuja colhei ta está prevista para terminar em agosto. “O acompanhamento técnico da produção e a conscientização dos produtores deve ampliar a produção para 10 toneladas de algodão em pluma, o que corresponde a 30 toneladas de algodão em rama, que é o algodão com caroço”, diz Chagas Maia. Para Nelsa Fabian Nespolo, da Cooperativa de Costureiras Unidas Venceremos (Univens), de Porto Alegre, a união em torno de um projeto comum deu mais fôlego a todos os empreendimentos que inte gram a Justa Trama. É na Univens que é realizada a última etapa da cadeia produtiva do algodão agroecológico, com a transformação de tecidos e fios em camisetas e acessórios. “A economia solidária, a união de esforços en tre trabalhadores e trabalhadoras que formaram todas essas cooperativas, é sem dúvida nenhuma um forte instrumento de desenvolvimento local, de desenvolvimento do País”, avalia Nelsa, costureira que hoje está à frente da cooperativa que reúne 25 mulheres e dois homens e está localizada na zona norte de Porto Alegre. Além da Associação de Desenvolvimento Educacional e Cultural (Adec), da Cooperativa Nova Esperança (Cones), da Cooperativa de Trabalhadores em Fiação, Tecelagem e Confecções (Textilcooper) e da Cooperativa de Costureiras Unidas Venceremos (Univens), participam da cadeia solidária da Justa Trama a Cooperativa Açaí de Porto Velho, em Rondônia, e a empresa Fio Nobre, com sede em Itajaí, Santa Catarina. As parcerias de apoio à Justa Trama também envolvem a Agência de Desenvolvimento Social da Central Única dos Trabalhadores (ADS/CUT), o Centro de Pesquisa e Assessoria (Esplar), a Fundação Banco do Brasil (FBB), o Fórum Brasileiro de Economia Solidária (FBES) e a Secretaria Nacional da Economia Solidária do Ministério do Trabalho e Emprego (Senaes/MTE).
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| RETRANCA
Foco em resultados A Justa Trama é um dos empreendimentos solidários atendidos pela parceria mantida, desde 2002, entre a União e a Solidariedade das Cooperativas Empreendimentos de Economia Social do Brasil (Unisol Brasil) e o Sebrae. Ao todo, 99 cooperativas de empreendimentos solidários são atendidas pelas ações de estruturação, capacitação e de acesso a mercados; esta última por meio da participação em feiras e eventos. “A parceria com o Sebrae é a mais importante que temos”, afirma o presidente da Unisol Brasil, Cláudio Domingos da Silva. Pela parceria, estão sendo realizados cursos sobre cooperativismo e associativismo, de autogestão de empreendimentos solidários. Na área de divulgação comercial, as principais ações estão na participação dos empreendimentos em feiras e eventos e no apoio à construção de
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websites para 28 empreendimentos que ainda não possuem uma página na internet para a divulgação dos produtos. Apesar de não integrar oficialmente a carteira de mais de 700 projetos incluídos na Gestão Estratégica Orientada para Resultados (Geor), a parceria com a Unisol foi construída com base nos preceitos da metodologia adotada pelo Sebrae e por parceiros para monitorar projetos apoiados pela Instituição e identificar se os resultados definidos em comum acordo com os empresários atendidos estão sendo alcançados. Com base na metodologia, a meta é ampliar a renda média real dos empreendedores cooperados em 7,5% até se tembro de 2006, e em 15% até setembro de 2007. E também elevar o faturamento dos empreendimentos solidários em 7,5% até setembro de 2006, e em 12,5% até setembro de 2007. “Uma das bases da parceria é justamente alcançar os resultados definidos pelos próprios empreendedores e esses resultados estão relacionados à competitividade desses empreendimentos e ao aumento da receita dos empreendimentos solidários”, diz Newman Maria da Costa, da Unidade de Agronegócios e Territórios Específicos (Uagro) do Sebrae Nacional.
Suplementos alimentares Outro empreendimento solidário apoiado pela parceria entre Unisol Brasil e Sebrae é a Cooperativa de Produção de Suplementos Naturais de Campina Grande, que produz uma linha de farinhas e suplementos alimentares. Fundada em agosto de 2000 por um grupo de mulheres da Pastoral da Criança, o empreendimento ganhou impulso a partir do projeto entre Unisol Brasil e Sebrae. “Unisol e Sebrae nos ajudaram muito na formalização da cooperativa e ainda trou xeram cursos e oficinas”, lembra a presidente da Coopernut, Avani de Araújo Beltrão. Hoje, a Coopernut produz e comercializa, nos mercados de Campina Grande (PB) e em cidades de Pernambuco, farinhas à base de gergelim, linhaça, fibra de trigo, soja e aveia. Além disso, fabrica as linhas ‘Supenut’ e ‘Multimais’, misturas de diversos componentes naturais que estão sendo usadas como complemento alimentar para gestantes, bebês e crianças e esportistas. A cooperativa, constituída por 32 filiados, cresceu e já di versificou as atividades. Passou a realizar eventos, montando toda a estrutura e oferecendo bufê próprio. “Quem vê a gen te hoje pode não se lembrar de quando e como começamos. E ainda bem que conseguimos evoluir, porque tinha gente no nosso grupo que passava necessidade e hoje tem uma renda mensal garantida, dinheiro que vem de um empreendimento que é de todos nós”, diz Avani.
Representatividade Hoje, a Ecosol congrega 23 cooperativas em nove estados brasileiros (Pará, Ceará, Pernambuco, Bahia, Paraná, Minas Gerais, São Paulo, Rio Grande do Sul e Santa Catarina), tendo sete mil associados. O volume de empréstimos em 2005 foi de R$ 5,9 milhões, enquanto os depósitos a prazo foram da ordem de R$ 3,6 milhões. A parceria com o Sebrae envolve forte interação com duas unidades da Instituição, a de Acesso a Serviços Financeiros (Uasf) e a de Agronegócios e Territórios Específicos (Uagro). No início de julho, em Brasília, durante encontro promovido pela União Nacional das Cooperativas da Agricultura Familiar e Economia Solidária (Unicafs), o gerente da Uasf, Carlos Alberto dos Santos, defendeu o cooperativismo de crédito familiar e solidário como diferencial para alcançar populações rurais e urbanas com renda variável e de difícil comprovação. Carlos Alberto disse ainda que as cooperativas precisam ter eficiência operacional para ampliar o volume das operações de crédito de pequenos valores em favor de milhares de empreendedores aptos a gerar ocupação e renda. “Este é o grande desafio e também a grande oportunidade: estar onde os bancos não estão porque não compensa. Eficiência e escala vão dar a relevância econômica e social que hoje falta ao cooperativismo de crédito”, apontou.
Crédito solidário é outro pilar para o desenvolvimento O apoio do Sebrae ao desenvol vimento da economia solidária também está em outra frente, a das cooperativas de crédito solidário, com foco na expansão das microfinanças. A Instituição mantém parceria com o Sistema Nacional de Cooperativas de Economia e Crédito Solidário (Ecosol). Primeiro sistema cooperativo de crédito criado após a autorização para funcionamento de cooperativas de li vre admissão, a Ecosol atua na oferta
de crédito para trabalhadores de baixa renda e para empreendimentos solidários. Atualmente, a Ecosol representa cooperativas espalhadas por nove estados. Para seu presidente, Gilmar Carneiro, a Ecosol, junto com a Unisol, desempenha um papel fundamental na organização dos trabalhadores da economia solidária. “Uma estimula o desenvolvimento local pelo lado da produção e comercialização, que é o caso da Unisol, e nós, da Ecosol, contribuímos para a oferta de crédito a esses empreendimentos solidários”, assinala. Gilmar Carneiro avalia que a parceria com o Sebrae foi fundamental para a organização do processo de cooperativas solidárias no País. “Junto com a Pastoral da Criança, o Sebrae é a instituição que realiza o maior trabalho social deste País, capacitando empreendedores e sensibilizando-os para a importância do cooperativismo como instrumento de competi tividade para os pequenos negócios”, assinala.
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| BIODIVERSIDADE
Barreirinha aposta em fitoterápicos PARCERIA ENTRE GOVERNO MUNICIPAL, SEBRAE E INSTITUTOS TECNOLÓGICOS DÁ DESTAQUE AO INTERIOR DO AMAZONAS
Texto e fotos: DENISON SILVAN
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om 26 mil habitantes, Barreirinha é um típico município da região de várzea conhecida como Médio Amazonas. Fica distante 331 quilômetros em linha reta de Manaus. A vocação econômica do município é a pecuária extensiva, com um rebanho de búfalos e bois de cerca de 50 mil cabeças, criado nas férteis pastagens de várzea formadas ao longo da calha do rio Amazonas e seus afluentes. Os aspectos pitorescos do município são divulgados em todo o mundo por seu filho mais ilustre, o poeta Thiago de Mello, autor do Estatuto do Homem. Mas, desde abril, o município também é destaque por causa da vitória de Gilvan Seixas, ganhador do Prêmio Sebrae Prefeito Empreendedor, o “Oscar” do empreendedorismo municipal brasileiro.
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Entre as ações que levaram o prefeito Gilvan Seixas a ganhar o prêmio máximo pela Região Norte estão uma fábrica de brinquedos, chamada de Unibrima; a Associação de Cos tureiras; e o projeto de Fitoterápicos, uma ousadia que conta com o apoio técnico e operacional do Sebrae no Amazonas. A opção por fitoterápicos do prefeito se mostrou acertada, pois em maio o Ministério da Saúde assinou a portaria número 971, oficializando a Política Nacional de Práticas Integrati vas e Complementares (PNPIC) no Sistema Único de Saúde, que incluiu esta terapêutica. A aposta em fitoterápicos por parte da prefeitura teve como principal motivo o fato de que as pessoas já usavam remédios caseiros elaborados a partir da matéria-prima da rica biodiversidade encontrada na Floresta Amazônica. Como fitoterapia, entende-se o uso de plantas medicinais vinculado ao conhecimento tradicional, fundamentado no acúmulo de informações por sucessivas gerações, e tecnológico, este mais recente, embasado por pesquisas acadêmicas. Aliás, nas comunidades interioranas amazonenses ainda é tradição combater os males mais comuns com ervas, ungüentos e óleos medicinais. Para aproveitar a extensa lista de plantas
medicinais, tanto nativas como de outras regiões do Brasil e do mundo, já devidamente adaptadas à Amazônia, o Sebrae Amazonas mantém dois projetos: o de Desenvolvimento de Fitoterápicos de Barreirinha e o de Fitoterápicos e Fitocosméticos de Manaquiri, um muncípio distante 60 quilômetros de Manaus.
Parcerias garantem sucesso A idéia dos projetos de Fitoterápicos de Barreirinha e Manaquiri, segundo a diretora-técnica do Sebrae no Amazonas, Maria José Alves da Silva, é proporcionar à população interiorana e da Capital a matéria-prima necessária para a elaboração das receitas de remédios caseiros e, também, resgatar esse rico
conhecimento tradicional das comunidades amazonenses. A diretora destaca que o sucesso desses projetos depende das parcerias firmadas com as duas prefeituras e do apoio indispensável do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), que permitiu a participação do pesquisador Juan Re villa, um cientista que há 30 anos estuda as plantas medicinais amazônicas. Doutor em Botânica pela Universidade Federal do Amazonas, Revilla é um entusiasta do uso dos fitoterápicos. “A participação das prefeituras, com apoio logístico e envolvimento intenso, e de um instituto de credibilidade internacional como o Inpa é indispensável para obtermos resultados positivos”, avalia a diretora. Em Barreirinha, 350 produtores rurais de dez comunidades participam do projeto de Fitoterápicos, em um processo contínuo que envolve produção de sementes, cascas e raízes de plantas medicinais e educação ambiental. O gestor do projeto, economista Marcionei Oliveira, revela que parte da matéria-prima vem da floresta, ressaltando que essa retirada é feita de maneira ordenada, obedecendo às regras de manejo florestal. Toda essa preocupação é para que o ecossis tema não seja alterado, garantindo, assim, a sustentabilidade
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do negócio. A outra parte é oriunda de hortas e plantios caseiros, para os quais o projeto já distribuiu, gratuitamente, 70 mil mudas e conta com mais 60 mil pron tas para o embarque para as comunidades rurais participantes. São 40 espécies, numa lista que inclui árvores como o uxiamarelo; cumaru; tamarindo; e jatobá, e arbustos e ervas como crajiru; babosa; pata-de-vaca; e mangarataia (gengibre).
Fátima Botelho atende no centro de saúde de Barreirinha
Fitoterápicos curam mioma uterino Estima-se que 50% das mulheres em idade reprodutiva desenvolvam mioma uterino, um tumor benigno cujo único tra tamento existente até bem pouco tempo era a cirurgia, que extirpa os nódulos ou o útero inteiro. Moradora de Barreirinha, a auxiliar de enfermagem Melice Maia, de 38 anos, enfrentou e venceu o problema sem recorrer à cirurgia. Ela conta que por quatro anos sofreu com ciclos menstruais irregulares e hemorragias constantes, de vido a 11 nódulos uterinos, diagnosticados em ultra-som. Com a implantação do projeto de Fi toterápicos no início de 2004, resultado da parceria entre o Sebrae e a prefeitura de Barreirinha, Melice resolveu se submeter ao tratamento com uxi-amarelo e unha-de-gato proposto pela médica Fátima Botelho, do corpo clínico do Centro de Saúde Giovanna Galli, de Barreirinha. O uxi-amarelo (Endopleura uchi) é uma árvore da Floresta Amazônica, que atin ge mais de 30 metros de altura. Para fins medicinais são utilizadas as cascas, que produz um chá de coloração avermelhada, indicado para combater inflamações. A unha-de-gato (Uncaria tomentosa) é um cipó endêmico da Amazônia, do qual são extraídas as cascas para a elaboração do chá. É indicado para fortalecer o sis tema imunológico. Em março de 2004, Melice Maia começou a tomar meio litro de chá de uxiamarelo ao longo da manhã e meio litro de
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Juan Revilla é um entusiasta dos fitoterápicos
unha-de-gato pela parte da tarde, como se fosse água para saciar a sede. No quinto mês de tratamento, Melice já estava com a menstrução regularizada. Em março de 2005, após um ano de tratamento, um novo ultra-som do útero de Melice comprovou o desaparecimento dos miomas. “O tratamento demorou um pouco, mas o resultado foi bom demais”, festeja a paciente. A médica Fátima Botelho participa do projeto desde seu início, em 2004. A idéia de se utilizar plantas medicinais no sistema municipal de saúde pública de Barreirinha teve acei tação imediata tanto por ela mesma como por outros cinco médicos do município. A médica credita sua própria aceitação ao fato de ter nascido em Barreirinha, onde se costumava usar plantas medicinais para remediar os males mais comuns. Sob a orientação do pesquisador Juan Revilla, Fátima Botelho indica aos pacientes as quantidades exatas para o tratamento de diversas doenças. Ela salienta que o tratamento de mioma uterino costuma ter ótimos resultados, mesmo em pouco tempo, com casos de cura a partir de três meses. “A fito terapia é uma tradição da nossa gente que, aliada ao estudo científico, merece ser levada a sério”, avalia a médica.
| RECONHECIMENTO
Finalistas do Prêmio Mulher Empreendedora
ENTIDADES SE UNEM PARA PREMIAR E DESTACAR EXPERIÊNCIAS DE SUCESSO EM DIVERSOS SEGMENTOS
Texto: BEATRIZ BORGES Fotos: MÁRCIA GOUTHIER
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omo utilizar a criatividade nacional para promover o desen volvimento de pequenos negócios, a criação de postos de trabalho, a geração de renda e até a promoção do bem-estar social? É dessa forma que os prêmios, promovidos ou apoiados pelo Sebrae, voltados para empreendedores, pretendem fortalecer os pequenos ne gócios e despertar a atenção de novos futuros empreendedores para o investimento em uma pequena empresa. Essas experiências muitas vezes funcionam como o pontapé inicial para que novos produtos e serviços sejam lançados no mercado como soluções inova-
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Prêmios fortalecem pequenos negócios no País doras e que sirvam como base para futuros negócios, principalmente para quem não tem uma renda fixa. É o que acontece com o Prêmio Técnico Empreendedor, fruto de uma parceria do Sebrae com o Ministério da Educação, por intermédio da Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica (Setec). O Prêmio foi desenvolvido em 2002 para atender a alunos de cursos técnicos e tecnológicos, de Instituições Federais de Educação Tecnológica (IFETs) e de Centros de Educação Profissional atendidos pelo Programa de Expansão da Educação Profissional (Proep). O objetivo do Prêmio é divulgar e incentivar a produção de soluções técnicas e tecnológicas por meio desses estudantes, que possam se tornar reais negócios e que contribuam, inclusive, para o desenvolvimento socioeconômico de suas comunidades. O gestor central da Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica do MEC e representante do prêmio, Franclin Nascimento, afirma que a parceria com o Sebrae foi vital para o desenvolvimento não só do prêmio como da própria
Cerimônia de premiação do Prêmio Técnico Empreendedor em 2005
relação pedagógica que se tem em sala de aula. Ele explica que, para instituições de ensino como aquelas, que visam principalmente à educação e à formação do discente, com foco no mercado de trabalho, o Prêmio trouxe uma outra ver tente de atuação para o ambiente escolar. “É apostar não somente na educação para formar um profissional, e, sim, mudar a cultura de contentar-se em ser um empregado de uma grande empresa, para ambicionar criar o próprio negócio e contribuir para o desenvolvimento do País”, destacou Franclin. A formação de empreendedores, ao invés de empregados, fazendo uso do recurso de incentivo da produção de produtos ou de serviços que possam
se tornar efetivamente negócios, foi a curva de nível que as IFETs tiveram depois que passaram a participar do Prêmio Técnico Empreendedor. Segundo Franclin, antes da criação do Prêmio, a Setec trabalhava com o incentivo da promoção da cultura empreendedora entre esses jovens, mas seu trabalho não passava de um contato pequeno com incubadoras de empresas e hotéis de projetos, muitas vezes vinculados às próprias IFETs ou às universidades públicas. “Eram ações pontuais que aconteciam em 20 escolas, das 151 que temos. Depois do Prêmio, nossa visão de educação mudou e passamos a focar também a educação empreendedora”, disse. Além de um apaixonado pela formação de empreendedores, Franclin Nascimento é um empreteco. O gestor da Setec participou do curso Empretec, da Unesco, ministrado no Brasil pelo Sebrae, que desperta características empreendedoras em cada participante. Com esse acúmulo de informações sobre empreendedorismo e pequenos negócios, Franclin afirma, categoricamente, que a rede educacional
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| RETRANCA
Primeira edição do Prêmio Mulher Empreendedora tem cerimônia em Brasília
técnica e tecnológica não deve orientar os alunos somente para o mundo produtivo, para atuar em alguma coisa que gere renda. “Temos agora um viés empreendedor na nossa rede, o que nos torna mais fortes porque a gente já tinha a melhor escola, os melhores alunos, os melhores professores; mas agora con tamos com o melhor encaminhamento para o mundo produtivo, que é pela via do empreendedorismo”, acredita. Hoje, o Prêmio Técnico Empreendedor movimenta o ambiente criativo nas 151 Instituições Federais de Educação Tecnológica, que abrangem os 220 mil alunos que estão nessas escolas, “além, é claro, da própria comunidade, a que muitas vezes atendemos”. O Prêmio, explica Franclin, chegou mesmo a se tornar um atrativo, já que as escolas são centros de referência em diversas áreas, como laboratórios e quadras poliespor-
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tivas. “É uma forma de inclusão social. No Prêmio do ano passado, coincidentemente ou não, os vencedores apresen taram projetos que tinham como foco a promoção do bemestar social de deficientes físicos, o que já mostra uma preocupação social anterior à econômica”, disse. Além de promover o empreendedorismo entre os alunos e de provocar o tema de formação empreendedora na seara escolar, o Prêmio também está formando professores para atuarem com o empreendedorismo em suas disciplinas. De 2000 a 2004, já foram capacitados 10 mil professores e técnicos das IFETs; e o propósito é formar, até dezembro deste ano, outros cinco mil professores para atuar nessa nova vertente.
Qualidade para melhorar competitividade Nos dias atuais, falar em competitividade é falar de mundo globalizado, o que necessariamente não se restringe somente às médias e às grandes corporações. Os pequenos negócios estão se inserindo cada vez mais no mercado mundial, seja vendendo, seja comprando, ou até mesmo multiplicando os contatos.
Apresentação de jovens durante cerimônia de premiação do Prêmio Técnico Empreendedor, em Brasília
Foi com essa intenção, isto é, de incluir as pequenas empresas no mercado mundial, que surgiu o Prêmio Nacional da Qualidade, uma ação realizada pelo Sebrae em parceria com várias instituições, como o Movimento Brasil Competitivo, o Grupo Gerdau, a Fundação Nacional da Qualidade e a Petrobras. O Prêmio foi instaurado como uma ação para reconhecer contribuições em prol da qualidade e da produtividade no Brasil. A intenção é promover e divulgar boas práticas entre as micro e pequenas empresas, dos mais diversos segmentos, para que sejam competitivas a ponto de conquistar novos mercados e consumidores mais exigentes. No ano passado, a iniciativa compu tou uma participação maciça de 20 mil empresas, em 22 estados da Federação. O objetivo era proporcionar que essas empresas tivessem um ganho de merca-
do tal que não mais as enquadrasse na taxa de mortalidade que, hoje, pode chegar aos 49% até o segundo ano de funcionamento. Cláudio Gastal, diretor do Movimento Brasil Competitivo, uma das entidades parceiras no projeto, disse que fortalecer quem mais emprega hoje no Brasil é um dever do governo e de instituições da sociedade civil. Para ele, quanto mais está veis e mais bem preparadas para enfrentar os percalços econômicos e as turbulências sociais elas estiverem, melhor será para a economia do País. “Os micro e pequenos negócios representam 98% das empresas no Brasil e são responsáveis por 52,7% dos empregos formais no País. Fortalecer esse segmento empresarial é torná-los mais competitivos, tanto para atender ao mercado interno quanto ao externo”, disse o diretor do MBC. Gastal acredita que, quando se divulga um prêmio como esse, que tem como parceiros grandes instituições que trabalham em prol dos pequenos negócios, como é o caso do Sebrae, a ação potencializa-se, torna-se consistente e com credibilidade suficiente para ser reconhecida e procurada em todo o País. “Se tivéssemos prêmios ou qualquer outra inicia tiva que reduzisse a burocracia e que investisse em legislação
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e redução da carga tributária para as micro e pequenas empresas, teríamos um salto qualitativo no mercado nacional”, avaliou. Para este ano, o Prêmio Nacional da Qualidade tem a meta de reunir cerca de 30 mil participantes. A ênfase na qualificação das micro e pequenas empresas é tão grande que já existem premiações estaduais em prol da competitividade desses negócios, similares às de nível nacional.
Exemplos de mulher A história de vidas marcadas por dificuldades e sacrifícios, sucedidas pela consagração de esforços traduzidos em pequenos negócios, os quais começaram tímidos,mas geram, hoje, empregos para diversas famílias, movimentam comunidades e até mudam a vida de muitas pessoas. Esse é o perfil de muitos projetos que se inscrevem ao Prêmio Sebrae Mulher Empreendedora, promovido pelo Sebrae, em parceria com a Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres, vinculada à Presidência da República, e a Federação das Associações das Mulheres de Negócios e Profissionais do Brasil (BPW Brasil). O relato da experiência de vida dessas mulheres que participam do Prêmio sempre emociona. São ba talhadoras que começaram a lutar pela sobrevivência da própria família e progrediram. São experiências de empreendedorismo que servem como modelo para muitos empreendedores do País. Há três anos, as instituições parceiras promovem o Prêmio que, na última edição, recebeu quase 1.300 inscrições, o que significou um aumento de 84,52% em relação à primeira versão. Esse salto no número de inscritos significa, para a diretora da Secretaria Especial de Política para
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Karla Cristina Paiva (PB), uma das vencedoras da primeira edição do prêmio
as Mulheres, Márcia Leporatto, um avanço para o incentivo à autonomia das mulheres no mercado de trabalho. Para ela, a discriminação de gêneros é clara e inequívoca quando se trata das relações trabalhistas, discriminação esta que se dá há séculos. “É importante que as mulheres tenham seu espaço reconhecido pela sociedade produtiva, não apenas como ‘mulher do lar’, mas principalmente como provedora de família”, disse. Para enfatizar e reconhecer esses trabalhos, completa Marcia Leporatto, é que o Prêmio se faz importante. Para a diretora da Secretaria, o Prêmio Sebrae Mulher Empreendedora é uma ação que vem ao encontro de todo o trabalho que a SEPM vem realizando para fortalecer o novo papel da mulher no mercado de trabalho. “Essa é uma das vertentes que atuamos entre as muitas que dizem respeito ao
Izolda Viriato (RJ) recebe prêmio das mãos de Etel Tomaz, do Sebrae
enfoque ‘mulher’”, explicou. Segundo ela, só as ações de capacitação e de apoio às mulheres não eram suficien tes para fixá-las no mercado, principalmente as que estavam à margem da sociedade por terem baixa escolaridade ou por motivo de racismo, por exemplo. “Quando entramos como parceiros no Prêmio, percebemos o quanto seria importante para nós, já que conseguimos inserir noções empreendedoras numa seara em que só se falava, basicamente, em treinamentos e cursos”, disse. Muitas vezes, acrescenta a representante da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres, quando a mulher tem acesso ao mercado de trabalho, ela não está qualificada para disputar grandes postos,mesmo que receba muito apoio dentro de casa. “Não adiantava, para nós, só capaci tar as mulheres como boleiras, doceiras, costureiras, artesãs; elas pre-
cisavam de mais: associada a seu talento, precisavam de uma formação empreendedora, para que deixassem de ser meras operárias, e se tornassem em profissionais que competem no mercado de trabalho”, afirmou. Para Márcia Leporatto, o Prêmio veio fortalecer a ação da Secretaria, que buscava um programa de trabalho que aliasse a autonomia da mulher como uma via para seu desenvolvimento como profissional e empreendedora. A primeira vice-presidente da Federação das Associações das Mulheres e Profissionais de Negócio do Brasil (BPW Brasil), Arlete Carminatti Zaggo, afirma que um trabalho como o realizado pelo Prêmio dá uma visibilidade nacional à Insti tuição. “Essa parceria é um grande passo para a implantação de ações de políticas públicas com o foco empreendedor no público feminino. Atuamos em todo o território brasileiro e isso fortalece nossa relação com o público e, claro, com o próprio Sebrae”, completou. Arlete está segura plenamente de que o Prêmio Mulher Empreendedora é um movimento que altera a vida de quem se inscreve e participa do processo de desenvolvimento do trabalho. “É um retorno muito gratificante em dar o reconhecimento que essas mulheres merecem, por toda uma vida de luta e trabalho, e sentir, também, que nossa ação é reconhecida por elas”, conclui.
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| ARTIGO
ELSIE QUINTAES MARCHINI*
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A relação do Sebrae com espaços locais é fundamentada nos diversos desafios compartilhados, na possibilidade de enxergar os sistemas interdependentes, convivendo e cultivando o que é “diferente”
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Quem somos nós O
Sebrae, ao longo de sua existência, seja com S seja com C, sempre buscou despertar valores essenciais ao empreendedorismo, como comprometimen to, compartilhamento e respeito para transformar a si e à sociedade. A Instituição sabe que necessita co-inspirar para cooperar e co-existir com todos os seus parceiros e clientes. A inspiração surge, entre outras formas, da cultura, traduzida como modo de vida, que precisa ser potencializada nos locais, sejam eles regiões, cidades, bairros ou ruas. Tendo abraçado o desenvolvimento local como estratégia adequada para a sustentabilidade, o Sebrae busca ajudar a criar um senso “de pertencer” aos habitantes, ou seja, a consciência da responsabilidade sobre o próprio destino, gerando inquietudes emocional e intelectual para que todos tenham coragem de inovar e energia para realizar. A relação do Sebrae com espaços locais é fundamentada nos diversos desafios compartilhados, na possibilidade de enxergar os sistemas interdependentes, convivendo e culti vando o que é “diferente”. Excluir possibilidades, portanto, não é a sua “praia”. O modelo usado não é o de repetição, mas o da inovação, pois ousa criar espaços e formas novas de buscar uma sociedade sustentável. Os exemplos são incontestáveis, na sua atuação de busca dos resultados, querendo testar a si próprio para fazer o certo, com responsabilidade para com a sociedade que o apóia. O Sebrae busca oportunidades para as empresas de micro e pequeno porte em sua atuação setorial e territorial. E os desafios não são poucos.
Na Cadeia Têxtil e Confecção são muitos os obstáculos com os quais se confrontam, principalmente as empresas de pequeno porte, acomo o Custo Brasil, a competição agressiva da China, a existência de plataformas de alto desempenho em outros países, as dificuldades da indústria têxtil nacional, resultando em fusões internacionais, e, finalmente, a fragilidade do elo de confecções (no qual estão presentes as MPE). Nos locais onde existem projetos desse setor, o Sebrae aporta ações de consultoria, capacitação e mercado para educar e transformar. Design, modelagem, produção, marketing, finanças, todos esses aspectos das empresas são avaliados. Para exemplificar, citamos projetos de confecção em Curitiba, Colatina, Teresina, Ca xias do Sul, que planejam, com seus parceiros e clientes, ações estruturantes que possibilitam o aumento da competitividade das empresas. Na busca da sustentabilidade, atuando em cada local individualmente, fomenta-se um fazer diferente por meio da incorporação da cultura ao produto; aproximam-se estilistas, ar tesãos, costureiras, designers, como já aconteceu no PA, ES, RJ, RS, GO, DF. Capacitam-se empresas pertencentes a arranjos produtivos locais entre Estados, na esperança de criar condições para o estabelecimento de plataformas brasileiras de alto desempenho no futuro. Tal é o empenho que já se vislumbra o dia em que, al tamente capacitadas, as empresas de pequeno porte farão parcerias com grandes tecelagens para a produção de marcas em larga escala. O Sebrae atua localmente e pensa globalmente (Naisbitt já defendia esse pensamento há anos). Promove a criação da identidade, faz esforços de gestão e operação, define desafios compartilhados e estratégias, trabalha com tecnologias de convivência, como o diálogo. Em
Apucarana, exemplo de governança que lidera, discute e se posiciona, tudo isso foi feito. E isso é cultura. Um modo de ser que provoca imediatos resultados nos projetos do território. É transversal e a cultura impacta fortemente com ele. Resultados devem ser buscados em todos os setores e territórios, lembrando que o conceito de território é trans versal e tem um componente muito forte de cultura. E a cul tura de um grupo é o seu maior patrimônio, quando fundamentada em valores humanos de alta valia, como respeito, confiança, integridade e eqüidade. Ao analisar o potencial de crescimento de cada setor produtivo, como o da economia criativa, por exemplo, que inclui o artesanato, a música, o teatro, o cinema, entre outros, o Sebrae está dando seu maior apoio à sociedade. Ao conferir maior dimensão à cultura, acaba por perceber espaços onde a pequena empresa tem condições de atuar com vantagem competitiva. Ter conhecimento, afinal, é também saber, com calma feminina, usar a intuição e, com alma masculina, ser prático para lidar com as surpresas do futuro. É preciso olhar além, pois “os copos nunca estão vazios. Estão sempre cheios de ar” (Gilberto Gil). * ELSIE QUINTAES é consultora da Unidade de Atendimento Coletivo Indústria do Sebrae Nacional e gestora da Carteira de Têxtil e Confecções.
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Muito além da Escrava Isaura Texto: ALESSANDRO SOARES Fotos: DIVULGAÇÃO
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seriado Sapo Xulé já está na lis ta das exportações brasileiras. Criado pela produtora paulista Cinemas Animadores, o personagem do sapo, baseado na velha cantiga de roda infantil, despertou o interesse da canadense FRV. Juntas, as produtoras estão rodando o programa em 13 capítulos
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de 22 minutos cada um, para as TVs do Canadá, da França, da Inglaterra e da América Latina, com lançamento previsto para o segundo semestre de 2008. E a parceria não pára aí. As duas também vão lançar o Indiozinho sem Nome, um longa metragem de 70 minutos, tendo como cenário a Floresta Amazônica, que, além de ser divulgado em emissoras de TV, também será veiculado em salas de cinema naqueles países. Cada projeto custa R$ 5 milhões, envolvendo técnicas de animação que unem o tradicional formato de 2D à tecnologia de 3D, como nas grandes produções da Walt Disney.
PEQUENAS E MÉDIAS PRODUTORAS DE TV INDEPENDENTES EXPORTAM 24 MILHÕES DE DÓLARES EM SERIADOS, FILMES DE ANIMAÇÃO E DOCUMENTÁRIOS
O sucesso dos desenhos ilustra bem os resultados de um convênio coordenado pela Associação Brasileira dos Produ tores de TV (ABPI-TV). Feito em parceria entre o Apex-Brasil, o Ministério da Cultura (Minc) e o Sebrae, o projeto abrange capacitação, participação em feiras internacionais e estímulo à expor tação de programas de TV. A previsão inicial de gerar seis milhões de dólares com a exportação foi surpreendentemente substituída por novas negociações que ultrapassaram 24 milhões de dólares, de 2004 para cá. Sinal de que a televisão brasileira não precisa mais ficar se escorando em recursos já esgotados, como a novela Escrava Isaura, para dar o seu recado lá fora. Ao contrário. O movimento atual nada tem a ver com Rede Globo, SBT ou Record, que não conseguem vender mais do que telenovelas. O fôlego é o mesmo das pequenas e médias produtoras de TV independente, que realizam seriados, documentários,
Cinemas Animadores Atualmente, o principal destino das recentes negociações internacionais tem sido o Canadá. É o que acontece com a Cinemas Animadores. Associada da ABPI-TV e há oito anos no mercado, a produtora faz filmes publicitários, videoclips, curtas-metragens e conteúdo para telefonia celular. O faturamento anual é de R$ 1 milhão, em média. “Neste momento estamos captando metade dos recursos para os projetos do ‘Sapo’ e do ‘Indiozinho’. A outra parte será bancada pela FRV. Mas vejo o quanto a nova etapa é reflexo do que aprendi com a ABPI-TV, seja participando de eventos internacionais, seja recebendo consultoria internacional”, afirma a diretora e sócia da produtora, Silvia Prado, que criou seus personagens tipo exportação junto com o animador e roteirista Paulo José. Silvia chama a atenção para o sofisticado grau de exigência do mercado externo, em relação à forma como o produtor de animação aproveita seu desenho em vários produtos, a exemplo dos games e aparelhos de telefone celular. É fundamental ter também um bom plano arquitetado antes de oferecê-lo. E, para isso, é necessária a ajuda de um consultor especializado.
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| CULTURA
Peixonauta Outra boa demonstração de que filmes de animação do Brasil andam encantando o mercado internacional é a história do Peixonauta (um peixe que usa roupa especial, que lhe permite habitar dentro e fora d’água), da TV Pingüim, co-produzida pela Nelvana, a maior empresa canadense de animação. Orçado em 4,8 milhões de dólares, o projeto consiste em 52 capítulos de 11 minutos e será veiculado pela Discovery Kids, com público preferencial de crianças entre quatro e sete anos. A parceria com a Nelvana começou em outubro de 2005, mas o namoro entre as duas remonta à edição 2004 da Mipcom (a maior feira de conteúdo audiovisual do mundo, realizada em Cannes). Na ocasião, a TV Pingüim integrava o grupo de produtoras independentes brasileiras que participou do evento, no contexto do projeto de exportação de conteúdo criado pelas instituições ABPITV, Apex-Brasil, Minc e Sebrae. Há 16 anos no mercado, a TV Pingüim tem faturamento anual de R$ 700 mil, mas a expectativa atual é de multiplicá-lo depois do lançamento do Peixonauta. Comenta Kiko Mistrorigo, dono da produtora, junto com Célia Catunda, que é curiosamente mais fácil buscar parceria para projetos grandes no exterior do que no Brasil. Apesar de desenvolver produtos para TV Cultura, Futura e Cartoon Network, como vinhetas e séries de um minuto, as emissoras brasileiras não têm a cultura da co-produção, o que inviabiliza a realização de projetos maiores.
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Silvia Prado (à esq) comemora o sucesso do S apo Xulé
filmes de animação e outros conteúdos para serem exibidos em canais estrangeiros. Boa parte dos programas pode ser visto no Brasil em canais a cabo, como Discovery e National Geographic.
Top models Toda essa animação do mercado não se restringe, porém, aos desenhos. Uma gama de documentários, seriados e pro gramas de TV engrossa a lista de parcerias. A Nset Produções está negociando três projetos com o Canadá. Um deles é a série de documentários Portrait, em parceria com a Viva Vision, com dezenas de episódios de 60 minutos cada um, mostrando a vida e a carreira de top models brasileiras e estrangeiras de renome internacional. A segunda série chama-se Focus e aborda a história das invenções dos produtos utilizados no dia-a-dia, como cosméticos, alimentos, vestuário e automóveis. Os episódios têm duração de três minutos e atraem o público jovem. Por último, vem a série de animação Ipsis & Litteris – Os Neurônios, com a mesma temática do Focus, mas voltada ao público infantil. Maurício Delman, à frente da Nset Produções, junto com Rosaura Pessetti, afirma que as negociações com as produtoras internacionais também começaram depois de sua associação à ABPI-TV. “Com eles, participamos de vários eventos, missões e feiras internacionais, na China, no Japão e nas feiras de TV, como Mipcom e MIPTV”.
Nelson Mota grava para a série “Sete Vezes Bossa Nova”, da Giro Produções
Câmara indiscreta para animais De fato, o cenário atual é bem mais favorável do que anos atrás, quando pouquíssimas produtoras conseguiam expor tar. Um dos pioneiros é Luiz Antônio Sil veira, da Giros Produções, que realizou e assinou a primeira parceria internacional em 1999, com Ecoaventura, exibido no Discovery. Gravado na Amazônia, o pro grama mostra um grupo crianças urbanas em aventuras no mato. Outro destaque da Giros é o “Sete Vezes Bossa Nova”, composto de sete capítulos de 60 minu tos, formando o maior inventário sobre o gênero musical em TV, transmitido em 2005 na Direct TV. Atualmente, a Giros realiza com a francesa Gedeon um reality show na Amazônia, chamado Animal Zipcode. Será uma espécie de “Big Brother”, com câmeras indiscretas flagrando o dia-a-dia da floresta e dos bichos nas imediações do Rio Negro. O projeto está avaliado em R$ 250 mil dólares e será realizado entre janeiro e fevereiro de 2007. Feliz com seus planos, Luiz Antônio
Silveira louva o atual momento, mas quer mais. “Os produtores independentes chegam lá fora desolados, sem apoio das emissoras brasileiras. Temos de mostrar às TVs abertas daqui que viajar é um bom negócio. Não é possível que meus programas sejam exibidos em 140 países, mas que eu não consiga espaço nas emissoras do meu próprio país”. Exportar, na verdade, representa a sobrevivência de muitas produtoras. Como as emissoras brasileiras produzem tudo o que exibem e não dão chance às independentes, é grande o número de programas que mofam nos arquivos sem direito a veiculação.
Anomalia do mercado brasileiro Segundo o diretor-executivo da ABPI-TV, Luiz Alber to César, o Brasil é o único país a cometer essa injustiça. “Nos Estados Unidos, as emissoras de TV veiculam 40% do que produzem. O restante é preenchido com outras produções. Já na Colômbia, o percentual chega a 100%. O mesmo acontece com o canal franco-germânico Arté, que também transmite somente produções de terceiros. No Brasil, a TVE é a única a abrir a grade para nossa produção, mesmo assim com pouco espaço”, compara. Apesar de manter o tom crítico com relação ao desinteresse das emissoras abertas, o presidente da ABPI-TV, Fernando Dias, sugere que as produtoras acompanhem o
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interesse das TVs e vice-versa. Um caso feliz é o concurso Documenta Brasil, fruto da parceira entre ABPI-TV, Minc, Petrobras e SBT. Dos 267 projetos de documentários inscritos até junho passado, quatro terão produção financiada em R$ 550 mil cada um. A partir de 2007, os quatro documentários serão exibidos pelo SBT e em salas de cinema digital. Infelizmente, isso não passa de um caso isolado. Ainda é muito difícil exibir no Brasil. Quem conhece bem todo esse processo é a veterana Canal Azul, produtora carioca de médio porte, cujo grande produto diferencial são documentários sobre a na tureza e a natureza subaquática. “O Continente Gelado”, de Amyr Klink, e “Tartaru gas Marinhas Sobreviventes em Extinção”, veiculados pela National Geographic, são exemplos de sucesso da produtora. A mais nova empreitada é o documentário “Rebelião dos Tubarões”, filmado durante um ano no Recife, que estreou na Discovery em agosto. E o próximo programa, a ser executado em março de 2007, abordará o boto da Amazônia, em co-produção com a francesa Bonne Pioche. Para o sócio-diretor da Canal Azul, Ricardo Aidar, não há receitas para exportar, mas é fundamental se preparar. “As produtoras mais novas agora podem contar com as capacitações e as missões da ABPI-TV, que estreitam o relacionamento com emissoras internacionais”.
Capacitação para o mercado brasileiro A ABPI-TV atua em três eixos: capaci tação para o mercado interno, capacitação para o mercado internacional e participação em feiras e festivais internacionais. O papel do Sebrae na parceria consiste na oferta de cursos. E o primeiro passo é participar do 1º Programa de Capacitação MAIS, que aborda Gestão, Leis de Incen tivo à Cultura e Alianças nos Negócios. O curso é gratuito e se estende a 12 capitais, com média de 60 participantes
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Cursos para exportar programas de TV
Compositor e instrumentista, Marcos Valle grava série da Bossa Nova
por local, tendo passado por Rio, São Paulo, Brasília, Goiás, Salvador, Recife, Fortaleza, Belo Horizonte, Porto Alegre e Florianópolis. O cronograma fecha com Curitiba e Belém, que acontecem até o final do ano. Da programação constam ferramentas de gestão para o dia-a-dia das empresas, como fluxo de caixa e logística de produção. Um exemplo clássico de desafio administrativo é o famoso “processo sanfona”, quando o dono da produtora tem apenas um empregado e, de repente, é levado a contratar 30 profissionais para atender a demandas de projetos específicos. Após entregar o produto, é preciso saber lidar com a dificuldade de restringir o pessoal a apenas um empregado. Outro tema discutido no curso é o licenciamento de programas. É que muitos produtores vendem todo o seu patrimônio para as emissoras. Ficam apenas com o direito autoral, o que, do ponto de vista empresarial, é desvantajoso. “É bom lembrar que o desenho do ‘Pica-Pau’ tem apenas 54 episódios. Imagina o prejuízo para os herdeiros dos autores do desenho se o tivessem vendido?“, exemplifica Luiz Alberto César, da ABPI-TV. O presidente da associação, Fernando Dias, lembra que o convite para participar das capacitações nos estados pode ser feito não só às produtores de TV, mas também aos profissionais de emissoras abertas locais. Ressalta ainda que o ponto básico para ampliar mercado é estudá-lo. “O papel do Sebrae é fundamental porque, sem os cursos e as palestras, seria muito difícil aventurar no exterior sem a base de conhecimento que nossos associados estão adquirindo”.
No âmbito internacional, o destaque são as capacitações ministradas por consultores, como o havaiano Ryan Shiotani, o indiano Ravi Chaudhry e o chinês Kenjie Wong. Cada encontro rendeu de um a dois dias, auxiliando principalmente as produtoras de São Paulo, do Rio, da Bahia e do Distrito Federal. Atualmente, Ryan Shiotani é contratado da ABPITV e vem regularmente ao Brasil para dar consultorias aos associados, além de acompanhá-los nos eventos internacionais articulados pela ABPI-TV, como os da França (Mipcom, MIPTV, MIPDOC e Sunny Side of The Doc) e o Festival Internacional de Animação de Ottawa, no Canadá. Para a gestora de Cultura do Sebrae Nacional, a capacitação tem sido fundamental para a abertura de novos mercados, tanto no Brasil como no exterior. “Esse convênio tem um caráter de atuação em cadeia produtiva inovadora, porque a produção independente de TV influencia a cultura brasileira com recursos que podem atrair vários projetos para diversas empresas, no campo do turismo, do artesanato, da música”. De acordo com o gestor dos projetos de entretenimento da Apex Brasil, Christiano Braga, o projeto permite a organização do setor para o mercado internacional. “O caso do Canadá é exemplar porque agora aquele país se interessa muito pelo conteúdo da TV brasileira. Conjectura-se, até mesmo, que o Brasil seja o país homenageado do Festival Internacional de Animação de Ottawa, que acontece em setembro”. E o melhor: o valor das exportações deverá crescer muito. Só com o Canadá, a expectativa para 2007 é de 20 milhões de dólares. Com notícia tão auspiciosa, quem sabe se nossas emissoras brasileiras se animem e comecem a investir nos talentos nacionais daqui para frente?!!!
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