Revista_Fitos v4 n1 - 2009

December 2, 2017 | Author: teradesign | Category: Economics, Science, Biodiversity, Knowledge, Intellectual Property
Share Embed Donate


Short Description

Download Revista_Fitos v4 n1 - 2009...

Description

Revista Fitos

Vol.4 Nº01 março 2009

Revista Fitos

Vol.4 Nº01 março 2009

ISSN 1808-9569 Diretor Presidente Carlos Alexandre Geyer (Geyer) Diretor Vice-Presidente: Assuntos Políticos Dante Alario Jr. (Biolab) Diretor Vice-Presidente: Assuntos Econ. e Com. Exterior Fernando Castro Marques (União Química) Diretor Vice-Presidente: Assuntos Regulatórios Álvaro Pires Zanella (Neo Química) Diretor Tesoureiro Manuel Ferreira Luis (Royton Química) Diretor Executivo Walter Figueira (ALANAC) Presidente Conselho Deliberativo Eduardo Gonçalves (Greenpharma) Vice-Presidente Conselho Deliberativo Josimar Henrique da Silva (Hebron) Conselheiros Alcebíades de Mendonça Athayde (Libbs) Antônio Benjamin Pereira (BUNKER) Carlos Eduardo Sanchez (EMS) Maurizio Billi (Eurofarma) Jorge Lages de Oliveira (Medquímica) Conselho Fiscal Heno Jácomo Perillo (Halex Istar) Jovan Rezende Costa (Nikkho) Thômaz Nunnenkamp (Saúde)

Editor e Presidente do Conselho Editorial Antônio Carlos Siani Coordenação Editorial Maria das Dores Dutra Behrens Lúcio Ferreira Alves Projeto Editorial Odisseu Agência de Informação e Editora André Resende Deborah Echeverria Vivianne Santos Projeto Gráfico Meios Comunicação Editor de Arte Cláudio Lira Assistente de Arte Deiverson Ribeiro Coordenadora de Operações Luciano Lemos Jr. Produção Gráfica Karlla Pontes

Apoio:

Produção:

www.odisseu.com.br Administração, redação e correspondência: Rua Sansão Alves dos Santos, 433, 8º Andar - Brooklin São Paulo - SP - Brasil - CEP 04571-090 Fone/Fax: 55 11 5506-8522 www.alanac.org.br [email protected]

Revista Fitos

Vol.4 Nº01 março 2009

Conselho Editorial Presidente do Conselho Editorial •Antonio Carlos Siani Coordenação Editorial •Maria das Dores Dutra Behrens •Lúcio Ferreira Alves Conselheiros •Adrian Martin Pohlit •Almir Gonçalves Wanderley •Angelo Roberto Antoniolli •Anibal Eusébio Faúndes Lathan •Benjamim Gilbert •Maria Bernadete de Sousa Maia •Davi Pereira de Santana •Domingos Tabajara de Oliveira Martins •Maria Aparecida Maciel •Maria Auxiliadora Kaplan •Maria Cristina Marcucci Ribeiro •Maria Elisabete Amaral de Moraes •Maria das Graças Lins Brandão •Mary Ann Foglio •Fernando Mauro Lanças •Fúlvio Rieli Mendes •Luís Carlos Marques •Luiz Gonzaga Granja Filho •João Ernesto de Carvalho •José Luiz de Lima Filho •Lauro Xavier Filho •Marçal de Queiroz Paulo •Nereide Stela Santos Magalhães •Nestor Schor •Newton Lindolfo Pereira •Manoel Odorico de Moraes Filho •Pedro José Rolim Neto •Roberto Fontes Vieira •Rui Oliveira Macedo •Túlio Flávio Accioly de Lima e Moura •Valdir Cechinel Filho •Valdir Florêncio Veiga Júnior •Wagner Luiz Ramos Barbosa 

Índice 6

Tópicos em Debate

O Conhecimento do Estudante e do Pesquisador Brasileiro sobre a Legislação do Conselho de Gestão do Patrimônio Genético – CGEN. Mendes, F. R.; Duarte-Almeida, J. M.; Mattos, P. E. O.; Pires, J. M.; Carlini, E. A.

18

Artigo Original

Simpósios de Plantas Medicinais do Brasil: 40 anos de História. Alves, L. F.

37

Artigo Original

Drogas e Extratos Vegetais Utilizados em Fitoterapia. Boorhem, R. L.; Lage, E. B.

56

Artigo Original

Elaboração de uma Cartilha Direcionada aos Profissionais da Área da Saúde, Contendo Informações sobre Interações Medicamentosas Envolvendo Fitoterápicos e Alopáticos.

Cardoso, C. M. Z.; Silva, C. P.; Yamagami, K.; Lopes, R. P.; Santos, F.; Bonassi, I.; Jesuíno, I.; Geres, F.; Martorie Jr., T.; Graça, M.; Kaneko, B.; Pavani, E.; Inowe, C.

70

Artigo Original

Novo Paradigma Produtivo: Utilização Racional dos Recursos Naturais para Obtenção de Fitoterápicos. Oliveira, M. B. S. C.; Frutuoso, V. S.

81

Artigo Original

Atividades Antimicrobiana e Antioxidante da Própolis do Estado do Ceará. Gutierrez-Gonçalves, M. E. J.; Marcucci, M. C.

87

Estado da Arte

Produtos Naturais Inibidores da Transcriptase Reversa do Vírus HIV. Gonçalves, R. S. B.; Barreto, M. B.; Gomes, C. R. B.; Souza, M. V. N.

108

Estado da Arte

Inibidores de Proteases Oriundas de Plantas: Uma Abordagem Útil para o Desenvolvimento de Novos Fármacos. Silva-Lopez, R. E.

120

Estado da Arte

Plantas Medicinais Brasileiras. . I. Achyrocline satureioides (Lam.) DC. (Macela). Barata, L. E. S.; Alencar, A. A. J.; Tascone, M.; Tamashiro, J.

126

Estado da Arte

Plantas Medicinais Brasileiras. II. Portulaca pilosa L. (Amor-crescido). Barata, L. E. S.; Alencar, A. A. J.; Tascone, M.; Tamashiro, J.

129

Estado da Arte

Plantas Medicinas Brasileiras. III. Heteropterys aphrodisiaca Machado (Nó-de-cachorro). Barata, L. E. S.; Alencar, A. A. J.; Tascone, M.; Tamashiro, J.

132

Estado da Arte

Plantas Medicinais Brasileiras. IV. Annona muricata L. (Graviola). Barata, L. E. S.; Alencar, A. A. J.; Tascone, M.; Tamashiro, J.

4

Revista Fitos

Vol.4 Nº01 março 2009

Contents 6

Debate

The Knowledge of Brazilian Students and Researchers About the Legislation of Conselho de Gestão do Patrimônio Genético – CGENMendes, F. R.; Duarte-Almeida, J. M.; Mattos, P. E. O.; Pires, J. M.; Carlini, E. A.

18

Original Article

The Symposium on Brazilian Medicinal Plants: 40 years of History. Alves, L. F.

37

Original Article

Herbal Drugs and Extracts Used in Phytoterapy. Boorhem, R. L.; Lage, E. B.

56

Original Article

Elaboration of a Primer for all Health Professionals, Containing Information on Interaction Between Drugs and Phytoterapics.

Cardoso, C. M. Z.; Silva, C. P.; Yamagami, K.; Lopes, R. P.; Santos, F.; Bonassi, I.; Jesuíno, I.; Geres, F.; Martorie Jr., T.; Graça, M.; Kaneko, B.; Pavani, E.; Inowe, C.

70

Original Article

New Productive Paradigm: The Rational Use of Natural Resources in Order to Obtain Phytotherapics. Oliveira, M. B. S. C.; Frutuoso, V. S.

81

Original Article

Antimicrobial and Antioxidant Activities of Própolis from Ceará State. Gutierrez-Gonçalves, M. E. J.; Marcucci, M. C.

87

State of the Art

Natural Products as HIV Reverse Transcriptase Inhibitors. Gonçalves, R. S. B.; Barreto, M. B.; Gomes, C. R. B.; Souza, M. V. N.

108

State of the Art

Proteases Inhibitors originated from Plants: Useful Approach for Development of New Drug. Silva-Lopez, R. E.

120

State of the Art

Brazilian Medicinal Plants. I. Achyrocline satureioides (Lam.) DC. (Macela). Barata, L. E. S.; Alencar, A. A. J.; Tascone, M.; Tamashiro, J.

126

State of the Art

Brazilian Medicinal Plants. II. Portulaca pilosa L. (Amor-crescido). Barata, L. E. S.; Alencar, A. A. J.; Tascone, M.; Tamashiro, J.

129

State of the Art

Brazilian Medicinal Plants. III. Heteropterys aphrodisiaca Machado (Nó-de-cachorro). Barata, L. E. S.; Alencar, A. A. J.; Tascone, M.; Tamashiro, J.

132

State of the Art

Brazilian Medicinal Plants. IV. Annona muricata L. (Graviola). Barata, L. E. S.; Alencar, A. A. J.; Tascone, M.; Tamashiro, J.

Revista Fitos

Vol.4 Nº01 março 2009



Tópicos em Debate/Debate

O Conhecimento do Estudante e do Pesquisador Bras�������������������������� ileiro sobre a Legislação do Conselho de Gestão do Patrimônio Genético – CGEN The Knowledge of Brazilian Students and Researchers About the Legislation of Conselho de Gestão do Patrimônio Genético – CGEN Mendes, F. R.; Duarte-Almeida, J. M.; Mattos, P. E. O.; Pires, J. M.; *Carlini, E. A. Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (CEBRID), Departamento de Psicobiologia, Universidade Federal de São Paulo Rua Napoleão de Barros, 925, Vila Clementino, 04024-002, São Paulo, SP, Brasil.

* Correspondência: E-mail: [email protected] Unitermos: CGEN; Conhecimento Tradicional, MP 2.186, Legislação de Fitoterápicos, Patrimônio Genético, Pesquisa da Biodiversidade. Key Words: CGEN, Traditional knowledge, MP 2186, Legislation on Phytotherapics, Genetic Resources, Biodiversity Research. 

Resumo A Convenção sobre a Diversidade Biológica estabeleceu que cada país deveria elaborar leis e mecanismos de conservação de sua biodiversidade, assim como regular o acesso e repartição de benefícios advindos de sua exploração industrial. A MP 2.186 estabeleceu normas para acesso aos recursos genéticos e conhecimento tradicional associado, porém sob altas custas da comunidade científica, devido ao grande número de exigências burocráticas para aprovação de projetos no Conselho de Gestão do Patrimônio Genético (CGEN). O objetivo deste trabalho foi verificar entre os autores de trabalhos apresentados no XX Simpósio de Plantas Medicinais do Brasil, o grau de conhecimento sobre a legislação; quantos destes trabalhos foram submetidos ao CGEN, e se obtiveram ou não autorização oficial. Dos 449 questionários respondidos, a grande maioria dos autores (84%) trabalhou com planta nativa. Metade dos trabalhos envolveu o acesso ao conhecimento tradicional (50%), sendo que a obtenção das plantas foi feita por coleta em 68% dos estudos. Por outro lado, apenas 9,6% dos trabalhos possuíam autorização do CGEN e 5,1% aguardavam autorização do órgão. Entre os graduandos, 54,7% declararam sequer conhecer o CGEN (número que cai para 27,3% dos pós-graduandos e 13,1% dos pesquisadores). Esta pesquisa confirma o grande desconhecimento da comunidade científica sobre a legislação brasileira de acesso aos recursos genéticos e conhecimento tradicional, especialmente entre estudantes de graduação.

Abstract The Convention on Biological Diversity established that each country should create laws and mechanisms to preserve its biodiversity, as well as regulate the access to it and the sharing of benefits that result from its industrial exploration. The MP 2.186 established norms for the access to the genetic resources and the associated traditional knowledge. However, this law had high fees to the scientific community due to the large number of bureaucratic requirements to pass projects in the Conselho de Gestão do Patrimônio Genético - CGEN (Council of Management of Genetic Resources). The objective of the present work was to evaluate, among the authors of posters presented in the XX Symposium of Brazilian Medicinal Plants, the level of knowledge they have regarding legislation. Revista Fitos

Vol.4 Nº01 março 2009

Tópicos em Debate/Debate

We also aimed at assessing how many of those works were submitted to the CGEN, and whether they were approved. Out of the 449 authors who answered the questionnaire, the great majority (84%) had worked with native plants. Half of the works (50%) involved access to traditional knowledge, and the plants were obtained by collection in 68% of the studies. On the other hand, only 9.6% of the works had been authorized by the CGEN, and 5.1% were waiting for authorization. Among the graduate students, 54.7% declared not even knowing the CGEN (a number that dropped to 27.3% among post graduates and to 13.1% among the researchers). This survey corroborates the thorough lack of knowledge the scientific community has on the Brazilian legislation regarding the access to genetic resources and traditional knowledge, mainly among graduate students.

Introdução O Brasil é um dos países com maior biodiversidade no mundo, possuindo pelo menos 5 grandes biomas definidos que, somados à sua diversidade cultural, contribuem com um enorme potencial para a descoberta de novos medicamentos de origem natural (CARLINI et al., 2007). Ainda hoje, cerca de ¼ dos medicamentos modernos são desenvolvidos a partir de plantas (LIU; WANG, 2008); um mercado de mais de 60 bilhões de dólares ao ano, com taxa de crescimento de 5 a 15% (KARTAL, 2007). Cerca de 80% da população dos países em desenvolvimento recorre ao uso de plantas medicinais para o tratamento de problemas primários de saúde, muitos possuindo apenas esta alternativa (VIGO, 2008). Diante deste quadro, a Organização Mundial de Saúde (OMS) reconhece o uso de plantas medicinais como prática complementar ou alternativa nos cuidados básicos de saúde e tenta incentivar políticas para regulação e registro de plantas medicinais assegurando a qualidade destes produtos (WHO, 1998). Uma recente valorização das plantas medicinais tem sido observada em todo o mundo seja o vegetal in natura, na forma de fitoterápicos tradicionais, ou como matéria prima e protótipo para o desenvolvimento de novas drogas. A Comunidade Européia é exemplo disto, com uma política que procura simplificar o registro de produtos tradicionais, dentro das garantias de eficácia e segurança (SILANO et al., 2004). A Convenção sobre a Biodiversidade Biológica (CDB) prevê que os seus países signatários devem elaborar normas e leis como mecanismos de Revista Fitos

Vol.4 Nº01 março 2009

O Conhecimento do Estudante e do Pesquisador Brasileiro sobre a Legislação do Conselho de Gestão do Patrimônio Genético – CGEN

conservação de sua biodiversidade, bem como regular sobre seu acesso e repartição de benefícios advindos de sua exploração industrial (LAIRD, 2002; VAN OVERWALLE, 2005; FERRO, 2006). A proposta da CDB era diminuir a exploração predatória das riquezas naturais, especialmente nos países megadiversos, estimulando o uso sustentável da biodiversidade, com benefícios diretos para as comunidades tradicionais. No Brasil, a proteção legal pertinente ao patrimônio genético já constava no artigo 225 da constituição de 1988, no entanto restava fazer uma lei definindo regras para instrumentar a proteção, a fiscalização e o uso da biodiversidade no país. Esta regulamentação foi primeiramente realizada por medida provisória (MP 2.052 de 29/06/2000) após a celeuma ocasionada por políticos e ambientalistas por causa das cláusulas do contrato firmado entre uma empresa farmacêutica estrangeira com uma associação local para fins de bioprospecção (BENTES, 2006). Em 2001 o Brasil editou uma nova medida provisória (MP 2.186 de 23 de agosto de 2001) estabelecendo normas para o acesso ao patrimônio genético e ao conhecimento tradicional associado, e criando o Conselho de Gestão do Patrimônio Genético (CGEN) como órgão encarregado de análise das solicitações de acesso. Esta MP foi elaborada basicamente no âmbito restrito do Ministério do Meio Ambiente (MMA), sem contar praticamente com a participação dos setores acadêmico e produtivo. O resultado desta ausência de diálogo foi uma legislação extremamente restritiva e impositiva; contendo normas praticamente impossíveis de serem seguidas. A MP 2.186 prevê que todo acesso a componente do patrimônio genético nacional ou conhecimento tradicional associado para fins de pesquisa científica, bioprospecção e desenvolvimento tecnológico, deverá ser previamente encaminhado ao CGEN para obtenção de autorização (uma norma geral posteriormente flexibilizado por resoluções internas do CGEN). A MP 2.186 e as resoluções posteriormente publicadas pelo CGEN tentam definir os critérios para classificação de cada tipo de acesso, assim como os trâmites para solicitação de licença; contudo o grande problema persiste no excesso de exigências para aprovação dos pedidos. Azevedo (2005) e Ferro et al. (2006) destacam que entre as principais críticas da comunidade científica sobre a MP 2.186 estão: • o período para análise dos projetos, que pode ser demasiadamente longo, com idas e vindas até que todas as exigências sejam cumpridas, 

Tópicos em Debate/Debate

o que termina por inviabilizar a realização de teses e projetos com cronogramas definidos; • a definição precisa de alguns termos, como acesso ao patrimônio genético e bioprospecção, entre outros; • a necessidade de indicar antecipadamente o local de coleta, o que nem sempre é possível prever, já que isto leva ao encarecimento da pesquisa, pela necessidade de idas adicionais ao campo (para certificar-se da existência da planta); • a necessidade de anuência prévia do titular da área de coleta, dado a dificuldade tanto em definir o local como seu titular e comprovação de posse (muitas vezes a autorização é verbal, dada por voto de confiança); • a exigência de depósito de amostra em instituição fiel depositária, embora muitas instituições não estejam preparadas para exercer esta função, e muitas vezes sequer demonstrem qualquer interesse em receber este material; • o contrato de repartição de benefícios com o proprietário ou detentor do conhecimento tradicional. Este é ponto crítico, pois embora a comunidade científica reconheça a importância de garantir benefícios para as comunidades tradicionais, raramente a pesquisa reverterá em benefícios financeiros; além disso, há um desconhecimento da comunidade científica sobre os moldes de um contrato de repartição de benefícios; este mais um ônus burocrático ao pesquisador, pois demanda tempo e recursos para tal. Quanto a este último ponto, pode-se ainda acrescentar como um evidente obstáculo a dificuldade que muitas vezes existe para definir o detentor do conhecimento tradicional, já que este conhecimento muitas vezes tem um caráter difuso. Mesmo quando uma pesquisa etnofarmacológica aponta uma comunidade tradicional como detentora de um conhecimento ainda não publicado (por exemplo, o uso de um chá de uma determinada planta para uma enfermidade), não se pode descartar que outros povos não pesquisados façam o mesmo uso, sendo, portanto, co-detentores tradicionais nos direitos de repartição de benefícios. Um dos grandes obstáculos para a legitimação destes direitos é que o conhecimento tradicional, diferentemente do conhecimento científico, é transmitido verbalmente de geração em geração, não existindo, portanto prova documental que ateste sua propriedade intelectual, como fazem a comunidade científica e o setor industrial. Vasconcelos et al. (2002) discutem que este é o proces

O Conhecimento do Estudante e do Pesquisador Brasileiro sobre a Legislação do Conselho de Gestão do Patrimônio Genético – CGEN

so pelo qual ocorre apropriação do conhecimento tradicional pela comunidade médico-científica e industrial. Classicamente, o conhecimento tradicional tem sido investigado e traduzido para a linguagem científica, sendo revalidado para obtenção de legitimidade. Em seguida, o conhecimento tradicional passa a ser marginalizado, transmitindo-se a idéia de que o produto industrial é puro, seguro, validado, enquanto a preparação popular é impura, insegura e ineficaz. Esse embate – conhecimento acadêmico x conhecimento popular – é conhecido pela sigla DIA, onde: D – Desqualificação do uso popular (“coisa de ignorante”); I – Ilegalização (torna ilegal o exercício da medicina popular); e finalmente A – Apropriação do conhecimento popular, isolando e agora comercializando um princípio ativo. Como se pode observar, a necessidade de políticas de valorização e proteção ao conhecimento tradicional é inquestionável. A questão que deve ser colocada é: como chegar a este objetivo sem prejudicar a pesquisa científica? Está claro para toda a academia, e mesmo para o governo, que os mecanismos de proteção do conhecimento tradicional e de repartição de benefícios previstos na MP 2.186 são ineficientes e equivocados. O fato é que a MP, ao exigir autorização de acesso e contrato de repartição de benefícios para a pesquisa acadêmica, ainda que o potencial econômico seja uma possibilidade remota, age como entrave e desestímulo para o estudo da nossa biodiversidade. Tanto isso é verdade, que novas resoluções têm sido publicadas seguidamente, no sentido de flexibilizar e desburocratizar as exigências para coleta de material biológico, especialmente nos casos onde não existe acesso ao conhecimento tradicional. Portanto, a regulamentação dos estudos envolvendo acesso ao conhecimento tradicional continua sendo o ponto crítico. Questões como o indivíduo ou a comunidade detentora de um conhecimento tradicional, ou quem deveria ser o favorecido de eventuais benefícios advindos de exploração econômica, têm sido amplamente debatidos sem que se observem opiniões consensuais para estes pontos. A carência de modelos adequados ou mesmo suporte legal para contrato de repartição de benefícios e pagamento de royalties para comunidades tradicionais, especialmente indígenas, são outros pontos cruciais a serem considerados. Há inclusive uma corrente, apoiada por boa parte da comunidade científica, que é favorável ao pagamento de royalties, quando cabível, a um “fundo administrado pelo governo” e que seria especificamente utilizado para projetos de valorização e preservação do conhecimento traRevista Fitos

Vol.4 Nº01 março 2009

Tópicos em Debate/Debate

dicional, investimento em educação, saúde e melhorias da condição de vida destas comunidades. À parte de toda esta discussão conceitual, o Brasil possui corpo científico e competência para estudar sua biodiversidade, faltando, entretanto apoio e “know-how” para o desenvolvimento de produtos (CALIXTO, 2005; VIGO, 2008). As políticas públicas brasileiras são contraditórias, pois ao mesmo tempo em que se desenvolvem programas de incentivo ao uso e pesquisa de plantas medicinais, como a Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos (PNPMF), o mesmo governo que a instituiu amordaça a própria pesquisa neste campo utilizando a ferramenta da MP 2.186. Criada para tentar coibir a biopirataria no país, esta MP acabou por transformar o cientista brasileiro em biopirata, uma vez que sua extrema burocracia tem levado os pesquisadores a trabalhar na clandestinidade. A legislação brasileira deveria ter postura justamente contrária, incentivando e valorizando a pesquisa de sua biodiversidade, como procura fazer o PNPMF, pois é sabido que só se pode proteger o que se conhece. Infelizmente, o que tem sido notado nos congressos, palestras e cursos na área de plantas medicinais, é que poucos estudantes, e mesmo pesquisadores, possuem conhecimento suficiente sobre a legislação em vigor e suas exigências para o estudo de plantas medicinais e conhecimentos tradicionais. O objetivo deste trabalho foi avaliar, entre os participantes que apresentaram seus trabalhos em painéis (pôsteres), no XX Simpósio de Plantas Medicinais do Brasil, realizado em 2008, o grau de conhecimento sobre o CGEN e a legislação vigente; pela medida inicial de quantos destes trabalhos foram submetidos ao CGEN e se obtiveram ou não autorização para pesquisa.

Material e Métodos Aplicação dos questionários Foram entregues questionários impressos com perguntas de múltipla escolha (Quadro 1) aos autores de painéis presentes no local de exposição do trabalho, durante a sessão de painéis do XX Simpósio de Plantas Medicinais do Brasil (SPMB), nos dias 17, 18 e 19 de setembro de 2008. A pesquisa foi realizada apenas com congressistas brasileiros. Os autores recebiam os questionários com a instrução de responder anonimamente às perguntas, em relação ao trabalho que estavam apresentando. Autores Revista Fitos

Vol.4 Nº01 março 2009

O Conhecimento do Estudante e do Pesquisador Brasileiro sobre a Legislação do Conselho de Gestão do Patrimônio Genético – CGEN

com dois ou mais trabalhos sendo apresentados receberam um questionário por painel, desde que estivessem presentes no local. Os questionários foram recolhidos depois de 10-30 minutos e foram separados de acordo com o setor onde foi feita a pesquisa, correspondendo aos setores do XX SPMB: 1. Agronomia; 2. Botânica / Etnobotânica; 3. Etnofarmacologia; 4. Saúde Pública; 5. Química de Produtos Naturais; 6. Farmacologia / Toxicologia; 7. Tecnologia Farmacêutica; 8. Registro, Legislação e Patentes. Não houve separação por dia de apresentação. Tabulação dos resultados Os dados obtidos nos questionários foram tabulados e analisados no programa Microsoft® Excel, utilizando-se códigos numéricos para cada resposta. Questionários com rasuras e aqueles cuja questão número 4 estava em branco foram eliminados (ao todo 12 questionários), já que o principal objetivo da pesquisa era avaliar a resposta dos participantes a esta questão (autorização do CGEN). Ao final da tabulação, foram contados os números de respostas de cada alternativa e em seguida cruzados os dados das principais questões. Os dados foram expressos em números absolutos ou porcentagem de resposta, dentro de cada categoria. Limitações da pesquisa Os questionários foram distribuídos durante as sessões de painéis do XX SPMB e recolhidos até o fim da sessão. Devido à curta duração destas sessões frente ao volume de trabalhos apresentados, não foi possível aplicar os questionários individualmente e tampouco responder as dúvidas dos participantes. Por se tratar de questionários de autopreenchimento, é possível que alguns participantes não tenham entendido algumas questões ou as tenham interpretado erroneamente. Ainda assim, espera-se que o resultado da pesquisa reflita, de maneira geral, o grau de conhecimento da população estudada quanto ao CGEN, servindo de amostragem quanto aos pedidos solicitados e aprovados naquele órgão.

Resultados e Discussão Foram entregues 449 questionários, sendo 192 respondidos por graduandos, 183 por pós-graduandos, 61 por pesquisadores ou profissionais e 13 por participantes que se declararam como “outra categoria” ou não responderam a questão. Do total de participantes, aproximadamente 80 % se declararam vin

Tópicos em Debate/Debate

culados a instituições públicas e 20% a instituições privadas. Estes números, embora surpreendentes pelo grande número de graduandos, refletem a participação da comunidade científica nos congressos da área básica, onde há um nítido predomínio de estudantes (graduação e pós-graduação), especialmente aqueles ligados a instituições públicas de ensino. Dado o seu caráter multidisciplinar, o tema “plantas medicinais” costuma ser abordado nos programas de pós-graduação das áreas de botânica, química, farmacologia, entre outras. A Tabela 1 traz um apanhado geral dos principais resultados obtidos, separados de acordo com o setor do Simpósio. A tabela mostra os setores com maior número de questionários respondidos, forma de obtenção do material botânico para os estudos, se utilizou planta nativa brasileira e se houve acesso ao conhecimento tradicional. Houve maior número de questionários respondidos nos setores de Química de Produtos Naturais e Farmacologia / Toxicologia, justamente por serem os dois maiores setores do SPMB. Do total de participantes pesquisados (última linha da tabela), a grande maioria dos autores

O conhecimento do estudante e do pesquisador brasileiro sobre a legislação do Conselho de Gestão do Patrimônio Genético – CGEN

(84%) trabalhou com planta nativa, e metade dos trabalhos envolveu acesso ao conhecimento tradicional (50%); porcentagem que foi maior no setor de Etnofarmacologia (75%), e menor no setor de Agronomia (35%). A forma predominante de obtenção das plantas (entre todos os setores) foi por coleta (68%), número que sobe para 81% no setor de Química de Produtos Naturais. A segunda principal forma de obtenção entre os trabalhos dos setores de agronomia, botânica e química foi por cultivo, enquanto no setor de farmacologia recorreu-se ao comércio. Cinco entrevistados do setor de etnofarmacologia (21%) responderam “não se aplica” à forma de obtenção do material botânico, provavelmente porque estes trabalhos não envolveram coleta. A Figura 1 mostra a relação entre o total de trabalhos apresentados no SPMB e a obtenção ou não de autorização do CGEN. Pode-se observar que apenas 9,6% dos trabalhos apresentados no SPMB possuem autorização do CGEN, enquanto 5,1% aguardam resposta à solicitação, ou seja, apenas 14,7% estão em situação legal. Ao se excluir da pesquisa os trabalhos cujos autores declararam que seu trabalho

Tabela 1 - Número de trabalhos (e respectivas porcentagens) que acessou ou não o conhecimento tradicional, utilizou planta nativa ou exótica, e forma de obtenção do material botânico, segundo os autores, entre os setores do SPMB com mais trabalhos. Setor e número de questionários

Houve acesso ao conhecimento tradicional?

Estudo com planta Forma de obtenção do material botânico: nativa?

Sim

Não

Sim

Não

Coteta

Cutivo

Comércio

Não sabe / não se aplica

Agronomia (51)

18 (35%)

33 (65%)

38 (75%)

13 (25%)

34 (69%)

10 (20%)

4 (8%)

1 (3%)

Botânica / Etnobotânica (34)

20 (59%)

14 (41%)

32 (94%)

2 (6%)

24 (73%)

4 (12%)

3 (9%)

2 (6%)

Etnofarmacologia (24)

18 (75%)

6 (25%)

18 (75%)

6 (25%)

17 (71%)

1 (4%)

1 (4%)

5 (21%)

Química de produtos naturais (127)

68 (53%)

59 (47%)

114 (91%)

12 (9%)

102 (81%) 19 (15%)

4 (3%)

1 (1%)

Farmacologia / Toxicologia (169)

79 (47%)

90 (53%)

142 (84%)

27 (16%)

104 (63%) 17 (10%)

39 (24%)

5 (3%)

377 (84%)

71 (16%)

297 (67%) 58 (13%) 65 (15%)

Total (inclui setores não mostrados)1

224 (50%) 225 (50%)

20 (5%)

Demais setores não mostrados: Saúde pública (12 questionários); Tecnologia Farmacêutica (18 questionários); Registro, Legislação e Patentes (3 questionários). O total inclui também 11 questionários onde o setor não foi especificado. Porcentagens (arredondamento) calculadas considerando cada questão do questionário (ver Quadro 1), descontadas as respostas em branco de cada questão. 1

10

Revista Fitos

Vol.4 Nº01 março 2009

O conhecimento do estudante e do pesquisador brasileiro sobre a legislação do Conselho de Gestão do Patrimônio Genético – CGEN

Tópicos em Debate/Debate

Tabela 2 – Solicitações de licenças ao CGEN, de acordo com a categoria acadêmica. Os valores representam o número de trabalhos com as respectivas porcentagens entre parênteses Graduando

Pós-graduando

Pesquisador ou Profissional

Outra categoria

Obteve

20 (10,4%)

16 (8,7%)

5 (8,2%)

2 (20,0%)

Solicitou e está aguardando

6 (3,1%)

10 (5,5%)

6 (9,8%)

1 (10,0%)

Não solicitou / Não obteve

42 (21,9%)

88 (48,1%)

34 (55,7%)

1 (10,0%)

Não sabe do que se trata / Desconhece o CGEN

105 (54,7%)

50 (27,3%)

8 (13,1%)

4 (40,0%)

Não se aplica ao trabalho

19 (9,9%)

19 (10,4%)

8 (13,1%)

2 (20,0%)

192

183

61

10

Licença do CGEN

Total

Dois entrevistados não assinalaram a categoria. não envolvia o estudo de planta brasileira observamse números semelhantes, com apenas 16,2% de trabalhos com autorização ou aguardando autorização do CGEN, segundo informação dos autores (dado não mostrado). No outro extremo, 36,8% dos participantes desconhecem o CGEN ou nem sabem do que se trata o assunto (Figura 1). Quando a categoria do entrevistado é levada em consideração (Tabela 2), observa-se que o desconhecimento sobre a legislação e o CGEN é maior entre os graduandos e pós-graduandos (54,7% e 27,3%, respectivamente; contra 13,1% entre os pesquisadores). Entretanto, o número de autores que conhece o órgão e não solicitou autorização possui freqüência inversa: 55,7% (pesquisadores / profissionais), 48,1% (pós-graduandos) e 21,9% (graduandos).

Estes resultados mostram que apesar da MP 2.186 ter sido criada em 2001, regulamentando as normas de acesso ao patrimônio genético e conhecimento tradicional, ela continua desconhecida por boa parte da comunidade científica envolvida com a pesquisa de plantas medicinais. Mais gritante é o fato de que mesmo entre os que conhecem a legislação, o número de trabalhos apresentados sem autorização do CGEN é enorme. Foram considerados nesta categoria os trabalhos cujos autores responderam a alternativa 3 da questão 4 da pesquisa (não obteve licença ou não submeteu o projeto), já que as alternativas 4 e 5 deveriam ser respondidas por quem não conhecesse a legislação do CGEN ou cuja questão não se aplicasse ao seu trabalho (ver Quadro 1).

Figura 1 – Total de trabalhos apresentados no SPMB e a autorização do CGEN

Figura 1: Situação dos trabalhos apresentados no XX SPMB quanto à obtenção de autorização do CGEN para o estudo em questão (em porcentagem). Revista Fitos

Vol.4 Nº01 março 2009

11

O Conhecimento do Estudante e do Pesquisador Brasileiro sobre a Legislação do Conselho de Gestão do Patrimônio Genético – CGEN

Tópicos em Debate/Debate

Quadro 1 – Pesquisa realizada com os autores de painéis no XX Simpósio de Plantas Medicinais do Brasil SETOR DO PAINEL: __________________________________________________________________ 1) O trabalho que você está apresentando envolveu acesso ao conhecimento tradicional (pesquisa com população tradicional) - SIM

- NÃO

2) O trabalho que você está apresentando envolve o estudo de planta brasileira? - SIM

- NÃO

3) Como você obteve o material para seu estudo? - Coletado por mim ou terceiros. - Proveniente de fonte cultivada. - Adquirido do comércio ou empresa fornecedora. - Não sei. - Não se aplica / não houve coleta neste estudo. 4) Você obteve autorização do CGEN (Conselho de Gestão do Patrimônio Genético) para acesso ao patrimônio genético (planta coletada) ou ao conhecimento tradicional referentes ao trabalho que está apresentando no Simpósio? - Sim, obtive licença para meu projeto de pesquisa. - Solicitei licença e estou aguardando a licença. - Não, não obtive licença / não submeti meu projeto de pesquisa. - Não sei do que se trata este assunto / desconheço o CGEN. - Não se aplica ao meu trabalho / não trabalho com plantas medicinais. 5) Assinale as opções que melhor se referem a você. 5.1 – Categoria: - graduando - pós-graduando - pesquisador / profissional -outro

5.2 – Instituição: - Pública - Privada

Oficialmente, os trabalhos com plantas brasileiras ou conhecimento tradicional sem autorização do CGEN (cerca de 77% do total) estão sendo conduzidos na ilegalidade, conforme protesta a comunidade científica desde a criação da MP 2.186 (RODRIGUES; CARLINI, 2005; MENDES et al., 2007). A ilegalidade dos trabalhos e o desconhecimento sobre a existência do CGEN e da legislação de acesso ao recurso genético mantém-se elevada, independente do setor do SPMB onde o trabalho foi apresentado. A 12

Tabela 3 mostra que mesmo entre os trabalhos apresentados no setor de Etnofarmacologia, que proporcionalmente são os que mais envolveram o acesso ao conhecimento tradicional, o número de autores que declarou não conhecer o CGEN é bastante elevado (41,7%). Agronomia foi o setor com a maior proporção de trabalhos com autorização do CGEN: 15,7%. Uma possível explicação é que neste setor muitos trabalhos são realizados em fazendas experimentais, sem a necessidade de coleta de campo Revista Fitos

Vol.4 Nº01 março 2009

O Conhecimento do Estudante e do Pesquisador Brasileiro sobre a Legislação do Conselho de Gestão do Patrimônio Genético – CGEN

Tópicos em Debate/Debate

Tabela 3 – Solicitações de licenças ao CGEN, de acordo com o setor onde o trabalho foi apresentado no XX SPMB. Os valores representam o número de trabalhos com as respectivas porcentagens entre parênteses. Setor do Simpósio1 Licença do CGEN

Agr

Bot

Etn

SP

QPN

Far

TF

Obteve

8 (15,7%)

3 (8,8%)

3 (12,5%)

1 (8,3%)

17 (13,4%)

9 (5,3%)

0 (0,0%)

Solicitou e está aguardando

3 (5,9%)

2 (5,9%)

2 (8,3%)

2 (16,7%)

9 (7,1%)

4 (2,4%)

1 (5,6%)

Não solicitou / Não obteve

11 (21,6%)

17 (50,0%)

6 (25,0%)

1 (8,3%)

49 (38,6%)

66 (39,1%)

11 (61,1%)

Não sabe do que se trata / Desconhece o CGEN

19 (37,3%)

10 (29,4%)

10 (41,7%)

4 (33,3%)

38 (29,9%)

78 (46,2%)

4 (22,2%)

Não se aplica ao trabalho

10 (19,6%)

2 (5,9%)

3 (12,5%)

4 (33,3%)

14 (11,0%)

12 (7,1%)

2 (11,1%)

51

34

24

12

127

169

18

Total

Setor: Agr (Agronomia); Bot (Botânica / Etnobotânica); Etn (Etnofarmacologia); SP (Saúde Pública) QPN (Química de Produtos Naturais); Far (Farmacologia / Toxicologia); TF (Tecnologia Farmacêutica). O setor de Registro, Legislação e Patentes não foi incluído, pois só teve três questionários. Outros 11 questionários não especificaram o setor. 1

em áreas particulares ou da União, o que facilitaria a obtenção de licenças. Tal suposição é reforçada pelos resultados apresentados na Tabela 1 (maior cultivo e menos acesso ao conhecimento tradicional nos trabalhos de agronomia) e na Tabela 4, onde se verifica a maior porcentagem de trabalhos com autorização do CGEN justamente no grupo onde o material botânico foi obtido de cultivo. Por outro lado, os dados da Tabela 4 também mostram que dos trabalhos onde houve coleta pelo autor do trabalho ou por terceiros apenas 10,4% possuem licença do CGEN, enquanto 5,4% aguardam resposta à solicitação. Este dado revela que, a coletas de plantas no território nacional e o acesso ao patrimônio genético estão ocorrendo à revelia da legislação, já que, em teoria, deveriam ser realizadas apenas após autorização do CGEN ou de órgão ambiental competente integrante do Sistema Nacional do Meio Ambiente (SISNAMA). Há, na realidade, muita confusão, principalmente entre os estudantes, no que se refere às definições de coleta e acesso ao patrimônio genético, e que órgão autoriza o quê. Segundo orientação técnica número 01 do CGEN, coleta é a obtenção de amostras de espécimes silvestres, seja pela remoção do indivíduo do seu habitat natural, seja pela colheita de amostras biológicas, enquanto o acesRevista Fitos

Vol.4 Nº01 março 2009

so é a atividade realizada com o objetivo de isolar, identificar ou utilizar informação de origem genética ou moléculas e substâncias provenientes do metabolismo dos seres vivos e de extratos obtidos destes organismos. De início, o CGEN era o órgão responsável por toda autorização de acesso ao patrimônio genético, enquanto cabia ao órgão ambiental competente integrante do SISNAMA emitir autorização de coleta. Posteriormente, foram editadas algumas resoluções na tentativa de facilitar o processo, prevendo que o próprio IBAMA autorizasse tanto a coleta como o acesso (pesquisa) de material botânico para fins de pesquisa científica sem potencial econômico. A coleta e o acesso ao patrimônio genético devem ainda distinguir-se do acesso ao conhecimento tradicional, sendo o conhecimento tradicional definido como informação ou prática individual ou coletiva de comunidade indígena ou de comunidade local, com valor real ou potencial, associada ao patrimônio genético. Segundo a legislação vigente, este acesso somente pode se dar após anuência prévia da comunidade tradicional e autorização do CGEN (http://www.mma.gov.br). Na presente pesquisa, observam-se porcentagens levemente superiores de autorizações do CGEN 13

Tópicos em Debate/Debate

O Conhecimento do Estudante e do Pesquisador Brasileiro sobre a Legislação do Conselho de Gestão do Patrimônio Genético – CGEN

Tabela 4 – Solicitações de licenças ao CGEN, de acordo com a forma de obtenção do material botânico. Os valores representam o número de trabalhos com as respectivas porcentagens entre parênteses. Coleta (própria ou terceiros)

Cultivo

Comércio / empresa

Não se aplica / Não houve coleta

Obteve

31 (10,4%)

9 (15,5%)

1 (1,5%)

1 (5,6%)

Solicitou e está aguardando

16 (5,4%)

3 (5,2%)

3 (4,6%)

1 (5,6%)

Não solicitou / Não obteve

117 (39,4%)

16 (27,6%)

22 (33,8%)

4 (22,2%)

Não sabe do que se trata / Desconhece o CGEN

111 (37,4%)

22 (37,9%)

28 (43,1%)

4 (22,2%)

Não se aplica ao trabalho

22 (7,4%)

8 (13,8%)

11 (16,9%)

8 (44,4%)

297

58

65

Licença do CGEN

Total

18 Dois entrevistados responderam não saber a origem do material estudado e nove não assinalaram nenhuma alternativa nesta questão. para os trabalhos que acessaram conhecimento tradicional (Tabela 5), quando comparados aos trabalhos que não acessaram conhecimento tradicional (11,6% contra 7,6%, respectivamente). Mesmo assim a proporção de trabalhos sem autorização do CGEN ou cujos autores desconhecem o órgão se mantém semelhantes. Os resultados desta pesquisa mostram que a atual legislação brasileira é ine-

ficiente em atingir seus objetivos, já que uma grande parcela da comunidade científica envolvida com a pesquisa de plantas medicinais desconhece sua existência, e mesmo entre os que a conhecem, apenas uma fração tem submetido seus projetos para aprovação pelo CGEN. Fica evidente, portanto, que o caminho escolhido pelo governo não tem sido o mais adequado.

Tabela 5 – Solicitações de licenças ao CGEN, entre os trabalhos que envolveram ou não o acesso ao conhecimento tradicional. Acessou conhecimento tradicional

Não envolveu acesso ao conhecimento tradicional

Obteve

26 (11,6%)

17 (7,6%)

Solicitou e está aguardando

13 (5,8%)

10 (4,4%)

Não solicitou / Não obteve

82 (36,6%)

83 (36,9%)

Não sabe do que se trata / Desconhece o CGEN

82 (36,6%)

86 (38,2%)

Não se aplica ao trabalho

21 (9,4%)

29 (12,9%)

224

225

Licença do CGEN

Total 14

Revista Fitos

Vol.4 Nº01 março 2009

Tópicos em Debate/Debate

Discussões sobre a necessidade de se controlar o acesso aos recursos genéticos e proteger o conhecimento tradicional vêm sendo recorrentes em todo o mundo, especialmente após a convenção da biodiversidade biológica (KING et al., 1996; AGUILAR, 2001; LAIRD, 2002; TIMMERMANS, 2003; VAN OVERWALLE, 2005; KARTAL, 2007). Além do Brasil, vários países já adotaram leis para regulamentar o acesso à sua biodiversidade e conhecimento tradicional. Entretanto, os mecanismos hoje adotados são pouco eficientes para reverter benefícios às comunidades tradicionais e para a conservação destes ecossistemas, apresentando ainda, como desvantagem, o risco de desestimular a pesquisa científica e o investimento de indústrias para o desenvolvimento de produtos relacionados com a biodiversidade e o conhecimento tradicional. É pertinente se lembrar do fato que a colocação de um bioproduto no mercado é uma tarefa extremamente complexa e demorada, e somente com muito incentivo, desde a bioprospecção até a produção e circulação é que essa via terá sucesso. Se por um lado hoje se aceita plenamente a proposta de que as comunidades detentoras de conhecimento tradicional devam receber benefícios pelas informações oferecidas, quando houver desenvolvimento de produto comercial; por outro lado, há obstáculos evidentes para se identificar o que é uma pesquisa com potencial econômico e qual a comunidade a ser beneficiada, assim como mecanismos apropriados de repartição. A exata separação do que é conhecimento tradicional e o que se tornou conhecimento difuso é um empecilho para determinar em que casos caberiam repartição de benefícios. Também é fundamental que sejam diferenciadas a pesquisa básica (acadêmica) da pesquisa aplicada (com interesse no desenvolvimento de um produto) (MARQUES et al., 2007; MENDES et al., 2007). Ainda assim, não se pode ignorar que uma pesquisa com potencial econômico que vise o desenvolvimento de um novo produto farmacêutico possa fracassar na geração de um produto final e, por conseguinte, não caberia repartição de benefícios neste caso. Esperase, portanto, que a nova legislação, considere estes casos, prevendo a possibilidade de contratos de repartição de benefícios darem em nada. Um dos maiores impasses para separar a pesquisa científica da bioprospecção ou pesquisa com potencial econômico é definir o ponto a partir do qual passa a existir uma viabilidade econômica, já que os estudos de química e farmacologia quase sempre apresentam potencial econômico. A exigência Revista Fitos

Vol.4 Nº01 março 2009

O Conhecimento do Estudante e do Pesquisador Brasileiro sobre a Legislação do Conselho de Gestão do Patrimônio Genético – CGEN

do contrato de anuência prévia e da repartição de benefícios, nestes casos, desestimula a realização do estudo. No caso das pesquisas visando o desenvolvimento de novos fármacos, talvez o início da pesquisa clínica fosse o ponto de corte, onde já existem dados pré-clínicos suficientes que apóiam a viabilidade do estudo clínico, e há um inegável interesse pelo desenvolvimento do produto final (caso contrário; não seriam conduzidas pesquisas clínicas, devido ao alto custo desta etapa). Outro problema continuamente levantado refere-se às dificuldades legais para garantir os direitos de propriedade intelectual do conhecimento tradicional associado. A lei de patentes não prevê mecanismos de proteção para o conhecimento tradicional, e mesmo os medicamentos tradicionais (preparações herbáticas) raramente são passíveis de patenteamento, já que é difícil atribuir a eles os conceitos de novidade, originalidade e utilidade industrial, que são os requerimentos básicos e condições para propriedade intelectual (KARTAL, 2007). Entretanto, existe a possibilidade de patente para diversos processos, tais como os métodos de extração, purificação, concentração, isolamento, ou modificação da formulação (dose, composição, etc.), assim como a obtenção de fórmulas com maior segurança ou eficácia, ou ainda para novas indicações (KARTAL, 2007). Após a CDB, alguns países, blocos ou organizações internacionais passaram a propor novas formas de garantir a propriedade intelectual e a geração de benefícios para os detentores de conhecimento tradicional. Entre estas propostas, destaca-se o chamado “sistema sui generis” que funcionaria como uma alternativa ao atual sistema de propriedade intelectual (AGUILAR, 2001; TIMMERMANS, 2003). Os mecanismos de proteção e geração de benefícios para o conhecimento tradicional poderiam se dar, entre outras formas, por (1) segredo comercial; (2) registro de direitos comunitários; (3) bancos de dados; (4) contratos; (5) licenças de conhecimento (para detalhes ver AGUILAR, 2001). Kartal (2007) sugere que cada país deveria ter seu banco de dados e o ideal seria que eles fossem interligados para que servissem como uma eficiente ferramenta para o exame de patentes sobre os produtos da biodiversidade, advindos do conhecimento tradicional. Neste contexto, é fundamental separar a pesquisa científica da exploração industrial e criar ferramentas para que o saber científico produzido pela academia não seja utilizado pela indústria como forma 15

Tópicos em Debate/Debate

de apropriação do conhecimento tradicional ou da biodiversidade, sem retorno para as nações ou povos detentores do conhecimento tradicional. Mas não se deve penalizar justamente o cientista brasileiro, criando burocracias incompatíveis com a realidade acadêmica, prejudicando o desenvolvimento de teses e o estudo de nossa flora. É importante considerar que o estudo acadêmico pode, antes de tudo, resgatar e preservar um conhecimento em risco de extinção. Di Stasi (2005) observa que o estudo etnofarmacológico pode contribuir para a recuperação e preservação do conhecimento tradicional sobre plantas medicinais, melhorando as condições econômicas e de saúde da população local, ao retornar informações e orientações sobre o valor medicinal e melhor forma de uso, extração, cultivo e comercialização destes produtos. Em longo prazo, o estudo científico de componentes da biodiversidade brasileira, principalmente aqueles associados ao conhecimento tradicional e um histórico de uso, pode levar ao desenvolvimento de novos produtos, tais como medicamentos, inseticidas e cosméticos, ajudando no desenvolvimento do país. Este modelo se apóia no triângulo dourado de Mashelkar, segundo o qual o conhecimento tradicional, a medicina e a ciência moderna convergem como uma eficiente ferramenta para a descoberta de novas terapias, mais seguras e efetivas (KARTAL, 2007; LIU; WANG, 2008). Como conclusão, esta pesquisa confirma o grande desconhecimento da comunidade científica sobre a legislação brasileira de acesso aos recursos genéticos e conhecimento tradicional, especialmente de estudantes de graduação, e mostra que a maioria dos estudos está sendo conduzida sem autorização dos órgãos competentes. Espera-se que a(s) nova(s) legislação(ões) contemple(m) os anseios da comunidade científica, facilitando a pesquisa da biodiversidade e do conhecimento das populações tradicionais brasileiras, e ao mesmo tempo garantindo mecanismos de proteção ao conhecimento tradicional. Espera-se ainda que a legislação possua uma linguagem simples e fácil de ser interpretada, que possa ser assimilada pelos profissionais e estudantes envolvidos com a pesquisa de plantas medicinais no Brasil.

Agradecimentos Os autores desta pesquisa agradecem aos estagiários e pós-graduandos do CEBRID, que ajudaram na aplicação dos questionários, e aos congressistas que participaram da pesquisa. 16

O Conhecimento do Estudante e do Pesquisador Brasileiro sobre a Legislação do Conselho de Gestão do Patrimônio Genético – CGEN

Referências AGUILAR, G. Access to genetic resources and protection of traditional knowledge in the territories of indigenous peoples. Environmental Science & Policy, v.4, p.241-256, 2001. AZEVEDO, C.M.A. A regulamentação do acesso aos recursos genéticos e aos conhecimentos tradicionais associados no Brasil. Biota Neotrópica, v.5, n.1, 2005. Disponível em http://www.biotaneotropica.org.br/v5n1/pt/abstract?point-ofview+BN00105012005 BENTES, G.M. Bioprospecção e propriedade intelectual: aspectos legais e práticos. Anais do XV Encontro Nacional do CONPEDI – Manaus, 2006. CGEN – Conselho de Gestão do Patrimônio Genético. Disponível em http://www.mma.gov.br CALIXTO, J.B. Twenty-five years of research on medicinal plants in Latin América. A personal view. Journal of Ethnopharmacology, v.100, p.131-134, 2005. CARLINI, E.A.; RODRIGUES, E.; MENDES, F.R.; NEGRI, G.; DUARTE ALMEIDA, J.M.; TABACH, R. Da planta medicinal ao medicamento. Scientific American Brasil, Ano 6, n.63, p.70-77, 2007. DI STASI, L.C. An integrated approach to identification and conservation of medicinal plants in the tropical forest – a Brazilian experience. Plant Genetic Resources, v.3, p.199-205, 2005. FERRO, A.F.; BONACELLI, M.B.; ASSAD, A.L. Uso da biodiversidade e acesso a recursos genéticos no Brasil: atual regulamentação dificulta pesquisa e desenvolvimento. Inovação UNIEMP, Campinas, v.2/2, p.16-17, 2006. FERRO, A.F.P. Oportunidades tecnológicas, estratégias competitivas e marco regulatório: o uso sustentável da biodiversidade por empresas brasileiras. Revista Fitos, v.2, p.30-35, 2006. KARTAL, M. Intellectual property protection in the natural product drug discovery, traditional herbal medicine and herbal medicinal products. Phytotherapy Research, v.21, p.113-119, 2007. KING, S.R.; CARLSON, T.J.; MORAN, K. Biological diversity, indigenous knowledge, drug discovery Revista Fitos

Vol.4 Nº01 março 2009

Tópicos em Debate/Debate

O Conhecimento do Estudante e do Pesquisador Brasileiro sobre a Legislação do Conselho de Gestão do Patrimônio Genético – CGEN

and intellectual property rights: creating reciprocity and maintaining relationships. Journal of Ethnopharmacology, v.51, p.45-57, 1996. LAIRD, S.A. (ed.) Biodiversity and traditional knowledge. Equitable partnerships in practice. London: Earthscan Publications Ltd, 2002. LIU, Y.; WANG, M.W. Botanical drugs: challenges and opportunities: contribution to Linnaeus Memorial Symposium 2007. Life Sciences, v.82, p.445449, 2008. MARQUES, L.C.; SOUSA, C.M.; MADUREIRA, M.T.; TADA, H.U.; SIANI, A.C. Política nacional de fitoterápicos e plantas medicinais: concepções do setor produtivo. Revista Fitos, v.3, p.7-13, 2007. MENDES, F.R.; KATO, E.T.M.; CARLINI, E.A. I Congresso da FEBRAPLAME. Revista Fitos, v.3, p.46-96, 2007. RODRIGUES, E.; CARLINI, E.L.A. Plantas Medicinais no Brasil. O pesquisador brasileiro consegue estudá-las? (Compilação) Revista Fitos, v.1, p.818, 2005. SILANO M.; DE VINCENZI, M.; DE VINCENZI, A.; SILANO, V. The new European legislation on traditional herbal medicines: main features and perspectives. Fitoterapia, v.75, p.107-116, 2004. TIMMERMANS, K. Intellectual property rights and traditional medicine: policy dilemmas at the interface. Social Science & Medicine, v.57, p.745-756, 2003. VAN OVERWALLE, G. Protecting and sharing biodiversity and traditional knowledge: holder and user tools. Ecological Economics, v.53, p.585-607, 2005. VASCONCELOS, A.G.; BRANQUINHO, F.B.; SÁNCHEZ, C.; LAGE, C.L.S. Fitofármaco, fitoterápico, plantas medicinais: o reducionismo e a complexidade na produção do conhecimento científico. Revista Brasileira de Farmacognosia, v.12 (Supl.), p.103-105, 2002. VIGO, C.L.S. Cadeia produtiva de fitoterápicos: do produto in natura ao fitomedicamento. Fármacos & Medicamentos, v.53, p.50-56, 2008. WHO – Regulatory situation of herbal medicines. A world review. World Health Organization, 1998. Revista Fitos

Vol.4 Nº01 março 2009

17

Artigo Original / Original Article

Simpósios de Plantas Medicinais do Brasil: 40 anos de História. The Symposium on Brazilian Medicinal Plants: 40 years of History. Alves, L. F.

*

Programa de Pós-Graduação e História da Ciência e das Técnicas Epistemológicas, Cidade Universitária, Centro de Tecnologia, Bloco G, Ilha do Fundão, Caixa postal 68501, 21945-970, Rio de Janeiro, RJ, Brasil

Resumo O valor terapêutico das as plantas medicinais nativas e aclimatadas no Brasil tem sido o tema de discussão em diversos Congressos científicos nacionais e internacionais. Dentre esses, destaca-se o Simpósio Brasileiro de Planta Medicinal, cuja ocorrência bi-anual. Nos últimos 40 anos, este Simpósio se consolidou como o mais importante encontro científico nacional nessa área. O objetivo deste trabalho é traçar um pouco da sua história, a partir, principalmente, de uma análise dos seus livros de resumos das comunicações ali apresentadas.

Abstract Therapeutic value of Brazilian medicinal plants has been discussed in many international and national congresses. Among them, The Brazilian Symposium of Medicinal Plants deserves special attention. In the last 40 years they have consolidated of the most important scientific national meeting in this area. The goal of this article is to trace a little of its history, through an analysis of the abstract on the subjects, published thereafter.

Introdução

*Correspondência: E-mail: [email protected] Unitermos: Plantas Medicinais Brasileiras, História. Key Words: Brazilian Medicinal Plants, History. 18

Para o cientista atuando em qualquer aspecto da pesquisa com plantas medicinais, a oportunidade mais adequada para a troca de informações é durante a realização dos Simpósios de Plantas Medicinais do Brasil (SPMB). A sua história já foi tema de uma tese de doutorado, na qual FERNANDES (2004) analisou detalhadamente cada um dos Simpósios realizados no período 1967-2002, avaliando o número de comunicações em cada encontro, as instituições presentes em cada um deles e produzindo uma série de entrevistas com 17 pesquisadores atuantes na área de plantas medicinais. Mais recentemente, Carlini e Siani (2007) relembraram o primeiro desses Simpósios. Assim, abordo algumas questões não levantadas naquele minucioso trabalho, como a presença das instituições estrangeiras, as atividades terapêuticas das plantas estudadas, e a questão da colaboração entre os pesquisadores das diferentes áreas que fazem parte do estudo das plantas medicinais. O 1º SPMB ocorreu em 1967, na Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. Organizado pelos professores J. R. Magalhães, E. A. Carlini e A. Kraemer, o Simpósio reuniu 103 pesquisadores, dos quais 12 apresentaram trabalhos nas áreas de Revista Revista Fitos Fitos Vol.3 Vol.4 Nº02 Nº01 junhomarço 2007 2009

Artigo Original/Original Article

farmacologia, fitoquímica e botânica. Esses 12 profissionais representavam oito instituições: a Escola Paulista de Medicina, o Instituto Biológico, o Instituto de Botânica e o Instituo Butantã, no estado de São Paulo, o Jardim Botânico, o Centro (atual Núcleo) de Pesquisas de Produtos Naturais da UFRJ e o Departamento de Química da UFRRJ, no Rio de Janeiro e o Departamento de Química Orgânica e Inorgânica da UFCE. Apesar de ter contado com apenas 7 trabalhos, 3 em farmacologia, 2 em botânica, 1 em fitoquímica e 1 misto (fitoquimica e farmacologia), esse primeiro encontro foi o ponto de partida para outros que vêm ocorrendo a cada dois anos em diferentes cidades do Brasil. Em alguns casos, a palavra ‘palestra’ talvez seja mais adequada do que ‘trabalho’ para explicar o que houve naquela reunião histórica, há quarenta anos, pois quatro deles estavam relacionados com os problemas enfrentados pelos pesquisadores de cada uma das áreas presentes. Assim, o professor Carlos Rizzini, do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, e Luiz Fernando Labouriau, do Instituto de Botânica de São Paulo, falaram, separadamente, sobre as dificuldades do ponto de vista da botânica. O primeiro se manifestou sobre a importância da identificação do material vegetal e sobre a ‘falta de interesse da juventude para esse trabalho’ (RIZZINI, 1968), enquanto que o segundo expôs a questão da cultura de plantas de interesse farmacológico (LABOURIAU, 1968). O professor Otto Gottlieb, do Instituto de Química da USP discursou sobre os problemas da química como a manutenção, a operação e a manutenção do equipamento necessário para o isolamento e a identificação das substâncias químicas de origem vegetal (GOTTLIEB, 1968). Os problemas enfrentados pelos farmacólogos foram apresentados pelo professor José Ribeiro do Vale, do Departamento de Farmacologia da Escola Paulista de Medicina (RIBEIRO DO VALE, 1968). Em sua palestra, ele lembrou do tempo em que trabalhava no Instituto Butantã (em 1936), que era, nas suas palavras: ‘um laboratório de química e farmacologia que causaria inveja mesmo aos pesquisadores de 1967’. Esse laboratório, entretanto, foi desmantelado ‘e transformado em laboratório de química do tempo de Lavoisier’ (RIBEIRO DO VALE, 1968, p. 37). Finalmente, o professor Raymond Zelnick, da Seção de Química do Instituto Butantã, proferiu uma palestra sobre as plantas utilizadas na medicina e nos rituais pelos índios da Amazônia (ZELNICK, 1968). O objetivo principal do Simpósio era ‘estabelecer um real espírito de colaboração entre os vários pesquisadores, nesse campo de pesquisa [plantas Revista Fitos

Vol.3 Vol.4 Nº02 Nº01 junho março 2007 2009

Elaboração de uma Cartilha Direcionada aos Profissionais da Área da Saúde, Contendo Informações sobre Interações Simpósios de Plantas Medicinais do Brasil: 40 anos de História Medicamentosas Envolvendo Fitoterápicos e Alopáticos

medicinais], um dos únicos talvez capaz de apresentar para a Indústria Brasileira conseqüências de monta, mesmo a curto prazo’ (MAGALHÃES et al., 1968, p. 7). Este ponto foi ressaltado por vários dos palestrantes. Por exemplo, no discurso de abertura o professor Moussatché, do Instituto Oswaldo Cruz disse (MOUSSATCHÉ, 1968, p. 9): “Temos uma flora tão vasta que o que resta ainda por fazer é quase tudo. Desse modo, é bastante oportuna a idéia de promover essa reunião, com o fim de coordenar os diversos núcleos já existentes e trabalhando isoladamente. Sabemos muito bem das dificuldades existentes para promover algum estudo coordenado, multidisciplinar. O objetivo principal desse Simpósio é exatamente o levantamento dessas dificuldades” Para o professor Gottlieb. ‘nós os químicos orgânicos vivemos sós dentro do nosso campo, enquanto o farmacológo não sai do dele. Nós não sabemos o que o farmacólogo faz e publica, e o farmacólogo não sabe o que nós fazemos. Essa situação, é claro, precisa mudar e já está mudando’. Entretanto, ele continua afirmando: ‘É minha opinião que a diferença de mentalidade entre o farmacólogo e o químico hoje, ainda é profunda demais para que uma medida oficial possa resultar em uma colaboração eficaz’ (GOTTLIEB, 1968, p. 19). Para ele, os esforços individuais deveriam ser tentados em primeiro lugar; pois em seguida, viria o apoio oficial. O professor Ribeiro do Vale referiu-se à qualidade dois trabalhos desenvolvidos pelos fitoquímicos, mas ‘a parte farmacológica é, ou falha, ou deficiente, ou mesmo inexistente’. E conclui: ‘tem que haver uma relação mais estreita entre o químico e o farmacologista, se possível até next-door’ (RIBEIRO DO VALE, 1968, p. 38; grifo no original). Os participantes do Simpósio adotaram as seguintes recomendações: 1. Publicação dos trabalhos do Simpósio. 2. Envio de sugestões e/ou planejamento para pesquisas específicas em Produtos Naturais de Interesse Farmacológico para a Comissão de Estudo de Produtos Naturais do CNPq e da FAPESP. 3. Levantamento das linhas de trabalho e das possibilidades imediatas de cooperação dos vários laboratórios, em equipamentos e pessoal. 4. Divulgação deste cadastro ainda em 1967. 5. Envio, pelos pesquisadores, à Comissão de Estudo de Produtos Naturais do CNPq, de todos os resultados de trabalhos, passados e futuros, que a Comissão deverá divulgar perio19

Artigo Original/Original Article

dicamente, a todos os interessados no uso dos resultados. 6. Estudar a possibilidade de agrupamento regional dos laboratórios. 7. Preocupação com a carência de núcleos autênticos de pesquisa em Farmacologia Clínica. 8. Estímulo à formação interdisciplinar de pesquisadores nesse campo. 9. Realização de um novo Simpósio, na sextafeira e sábado anteriores à XX Reunião anual da SBPC, em São Paulo, em local a ser determinado. As primeira e última recomendações se concretizaram já no ano seguinte. Um relatório, com as conclusões do Simpósio, também foi enviado ao CNPq. As outras recomendações ficaram no papel. Na discussão final, ‘Planejamento para a formação de futuros núcleos de pesquisa dedicados ao estudo da flora medicinal brasileira’, o Dr Walter Mors (1968), apresentou uma lista de 22 instituições públicas dedicadas ao estudo das plantas medicinais, opinando sobre a inconveniência da criação de novos grupos, por considerar aquele número suficiente. Os grupos mencionados foram os seguintes: 1. Departamento de Química da UFRRJ 2. Departamento de Química da UFMG 3. Centro de Pesquisa de Produtos Naturais da UFRJ 4. Instituto de Química da UFPE 5. Seção de química do Instituto Butantã 6. Instituto de Química e Tecnologia da UFCE 7. Instituto Biológico de São Paulo 8. Divisão de Química do INT-RJ 9. Cadeira de Química Orgânica da Faculdade de Farmácia e Bioquímica da USP 10. Instituto de Antibióticos da UFPE 11. Departamento de Ciências Fisiológicas da Faculdade de Ciências Médicas da USP 12. Departamento de Farmacologia da Escola Paulista de Medicina 13. Cadeira de Farmacologia da Faculdade de Medicina da UFRJ 14. Instituto de Biofísica da UFRJ 15. Jardim Botânico do Rio de Janeiro 16. Instituto de Botânica de São Paulo 17. Faculdade de Farmácia de Araraquara 18. Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto 19. Seção de Farmacologia do Instituto Oswaldo Cruz 20. Laboratório Central de Controle de Drogas e Medicamentos - RJ 20

Elaboração de uma Cartilha Direcionada aos Profissionais Simpósios de Plantas Medicinais do Brasil: 40 anos de História da Área da Saúde, Contendo Informações sobre Interações Medicamentosas Envolvendo Fitoterápicos e Alopáticos

21. Instituto de Biologia da UFMG 22. Instituto Nacional de Endemias Rurais – MG A predominância absoluta do eixo Rio-São Paulo, com 16 grupos é gritante. O professor Labouriau (DISCUSSÃO FINAL, 1968, p. 59) chamou a atenção sobre esse fato, salientando o problema da distância entre os laboratórios responsáveis pela publicação dos resultados das pesquisas com plantas medicinais, na sua maioria situados na região sudeste, e a matéria prima, que está a mil quilômetros de distância. Outra característica é o domínio das áreas de química e farmacologia. O professor J. R. Magalhães ressaltou o fato do ‘número irrisório, absolutamente ridículo de grupos de botânicos, atuando na área’ e ‘a falta acentuada de núcleos de pesquisa em Farmacologia Clínica, nem um grupo sequer figura na relação’ (DISCUSSÃO FINAL, 1968, p. 55). Na época em que o documento foi discutido e publicado (1968), a região nordeste compareceu com apenas uma instituição, o Instituo de Química da UFCE, que apresentou um único trabalho. Nesses quarenta anos a situação mudou quase que radicalmente. Foram criados diversos centros de pesquisa e pósgraduação em diversas cidades do país. A região sudeste (e São Paulo, em particular) continua à frente, mas o salto registrado com a presença dos grupos que foram sendo criados, é um fato indiscutível, em todos os congressos examinados neste trabalho. O II Simpósio ocorreu, como previsto no evento anterior, em 1968, no mesmo local, isto é, na Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo. Os professores J. R. Magalhães, E. Carlini e A. Kraemer foram mais uma vez os seus organizadores. Foram apresentados 20 trabalhos nas áreas de farmacologia, botânica, fitoquímica e toxicologia. Paulo Nóbrega, do Laboratório Central do Controle de Drogas e Medicamentos, proferiu uma palestra sobre a importância do controle de qualidade para a produção de fitoterápicos (NÓBREGA, 1970). Foram ainda apresentados Relatórios das Atividades do então CPPN (BROWN, 1970), do Laboratório de Produtos Naturais mantidos pela FAPESP no Conjunto das Químicas da USP (BRAZ FILHO, 1970a), do Instituto de Tecnologia Agrícola e Alimentar do Ministério da Agricultura (MORS, 1970a), do Departamento de Química da UFMG (ALVES, 1970) e da Escola de Pós-Graduação em Química da UFRRJ (BRAZ FILHO, 1970b). No seu relatório, Herbert Magalhães Alves, da UFMG observou que ‘não poderia tratar de plantas medicinais’, pois esta ‘não era a sua área principal de trabalho’. Ao mesmo tempo, segundo ele, Revista Fitos

Vol.4 Nº01 março 2009

Artigo Original/Original Article

Elaboração de uma Cartilha Direcionada aos Profissionais da Área da Saúde, Contendo Informações sobre Interações Simpósios de Plantas Medicinais do Brasil: 40 anos de História Medicamentosas Envolvendo Fitoterápicos e Alopáticos

‘o termo planta medicinal é um tanto vago, porque potencialmente toda planta pode ser usada em medicina’. Deste modo, os seus objetivos eram naquele momento ‘inicialmente e acima de tudo a formação de pesquisadores em química orgânica’. Entretanto, logo em seguida ele conclui: ‘nenhum dos nossos objetivos pode ser considerado secundário’ (ALVES, 1970, p. 30). Inexplicavelmente, não foi feito qualquer comentário a essas declarações. O tema da cooperação entre os cientistas foi novamente abordado, na longa conferência proferida por Luiz Gouveia Labouriau. Segundo ele, ‘há pouca cooperação porque há pouca gente’. Este fato levava as seguintes conseqüências: a) muitos trabalhos de fitoquímica e de farmacologia não são reproduzidos por falta de apoio botânico sólido; b) muitos trabalhos de botânica não alcançam maior precisão por falta de apoio da química; c) muitos trabalhos de farmacologia com plantas medicinais não são realizados por falta da droga em quantidades suficientes (LABOURIAU, 1970, p. 49). Ainda durante esse II encontro, na Discussão Final, Bernardo Guertzenstein propôs a instituição de um prêmio (na época no valor de NCr$ 10.000,00) para o melhor trabalho de fitoterapia. Foram feitas várias sugestões sobre a maneira de escolha do vencedor, mas o assunto não foi adiante.

Michler, João Batista de Lacerda, Rodolpho Albino, Adolpho Ducke, Carlos Hoehne João Geraldo Kuhlman, além, é claro, da importância do Instituto de Química Agrícola para o desenvolvimento da fitoquímica no Brasil (MORS, 1970b). Pela primeira vez, houve a participação de instituições estrangeiras; fato que viria a se repetir ao longo dos anos.

O III Simpósio teve lugar na Academia Brasileira de Ciências, no Rio de Janeiro em 1969, como um apêndice ao Simpósio sobre Produtos Naturais da América Tropical. O Simpósio foi dividido em quatro seções: fitoquímica, química de animais invertebrados, farmacologia de produtos naturais e plantas medicinais com 26, 9, 12 e novamente 12 trabalhos respectivamente, além de três conferências. Esta última seção, plantas medicinais, constituiu o SPMB propriamente dito, com trabalhos em botânica, farmacologia e fitoquímica. À parte a seção ‘química de animais invertebrados’, é difícil, senão impossível saber porque os trabalhos não fizeram parte do SPMB como um todo. Em Plantas Medicinais: Memória da Ciência no Brasil, FERNANDES (2004, p. 75), sugere ter se tratado de um encontro técnico científico, não havendo no programa a previsão de discussões plenárias com temas de política institucional’, fugindo assim, às propostas que haviam sido discutidas nos encontros anteriores.

1. a concretização efetiva e prioritária do Projeto FLORA do CNPq, inclusive com levantamento de linhas de trabalho e possibilidades imediatas de cooperação entre vários centros de pesquisas nacionais; 2. a realização, a cada dois anos, de simpósio sobre plantas medicinais do Brasil, de preferência na Semana da Pátria, em local a ser definido no simpósio anterior; 3. o apoio e o estímulo prioritários dos órgãos de amparo à pesquisa sobre plantas medicinais e produtos naturais para grupos que abordem o problema, de preferência de forma integrada; 4. o apoio prioritário à realização de convênios interinstituições a fim de estimular projetos multidisciplinares em plantas medicinais e produtos naturais; 5. que seja reiterada aos poderes públicos a recomendação nº 7 do I Simpósio de Plantas Medicinais, em 1967, que diz o seguinte: “preocupação com a carência de núcleos autênticos de pesquisa em farmacologia clínica”; 6. apoiar a formação de grupos muldisciplinares capacitados a realizar estudos pré-clínicos de inocuidade e eficácia de medicamentos; 7. que se faça veemente apelo aos poderes públicos a fim de permitir a reintegração às institui-

No discurso de abertura, o professor Walter Mors lembrou os nomes de diversos naturalistas que contribuíram para o conhecimento da história natural brasileira, tais como Piso, Marcgrave, Saint-Hilaire, Martius, Frei Velloso, Arruda Câmara, Frei Leandro do Sacramento, Peckolt, Domingos Freire, Wihelm Revista Fitos

Vol.4 Nº01 março 2009

O IV Simpósio, organizado por Carlini e Ribeiro do Vale, voltou a ser realizado em São Paulo, em 1972, e a partir daí a cada dois anos. Dos 29 trabalhos apresentados, 14 se referiam à química, botânica e farmacologia da Cannabis sativa. Como parte da Mesa Redonda sobre Drogas Alucinógenas de Origem Vegetal, parte integrante do encontro, o professor Richard Evans Schultes, do Jardim Botânico de Kew, apresentou uma longa palestra sobre drogas alucinógenas da América Tropical (SCHULTES, 1973), enquanto o professor Ribeiro do Vale relatou a excursão farmacológica ao Parque Nacional do Xingu, realizada no ano anterior (RIBEIRO DO VALE, 1972). O Simpósio seguinte só se realizou seis anos após, em 1978, e, mais uma vez, São Paulo foi a sede do encontro. Ao final foram aprovadas as seguintes propostas (DISCUSSÃO DAS RECOMENDAÇÕES, 1978):

21

Artigo Original/Original Article

ções científicas brasileiras dos cientistas afastados por atos de exceção; 8. apoio aos grupos de investigação sobre plantas medicinais destinadas a resolver os problemas de saúde da população; 9. interesse em se reeditar, revistas e ampliadas, obras úteis sobre plantas medicinais do Brasil. Como se vê; muitas dessas propostas são uma mera repetição daquelas que foram feitas no I Simpósio 11 anos antes. A palavra ‘nacionais’, referente ao Projeto Flora, não constava da proposta original, tendo sido introduzida na discussão final por proposta do professor Carlini, como forma de se excluir a cooperação com instituições estrangeiras. O Projeto foi realmente implantado para atuar em três áreas distintas, herbários, bibliotecas e campo, com os seguintes objetivos (TEIXEIRA e SPIGUEL, 1978): 1. Estabelecer competentes centros científicos no país sobre inventário e avaliação dos recursos naturais vegetais, sobre a utilização desses recursos, assim como sobre problemas ecológicos e de conservação dos recursos naturais e meio ambiente; 2. Produzir um inventário, o mais completo possível, dos recursos naturais vegetais do Brasil, estabelecendo os meios eficientes de consulta a esse inventário, de modo a tornar disponíveis as informações concretas sobre plantas nativas; 3. Promover treinamento e aperfeiçoamento científico de pessoal nas áreas de botânica e de sistemas de tratamento de dados botânicos, através de estágios intensivos e cursos de pósgraduação em níveis de mestrado e doutorado. Assim, o Projeto visava privilegiar a área de Botânica. Entretanto, estava também em fase de estudo um formulário para levantamento de informações sobre plantas tóxicas e medicinais, para a formação de um Banco Satélite de Dados sobre farmacologia de produtos naturais. Os representantes do CNPq afirmaram que até o final de 1978 o Banco de Dados do Projeto teria armazenado informações de 170.000 plantas da Amazônia e do Cerrado, e que num prazo de cinco anos esse número seria superior a 2.000.000 (TEIXEIRA e SPIGUEL, 1978). Durante a discussão que se seguiu, o professor Walter Mors defendeu a associação dos pesquisadores brasileiros com o professor Farnsworth, da Universidade de Chicago, responsável por um programa computadorizado de química e farmacologia de produtos naturais, uma vez que ‘o argumento contra isso é que há entrega de informações a um outro país’ (TEIXEIRA; 22

Elaboração de uma Cartilha Direcionada aos Profissionais Simpósios de Plantas Medicinais do Brasil: 40 anos de História da Área da Saúde, Contendo Informações sobre Interações Medicamentosas Envolvendo Fitoterápicos e Alopáticos

SPIGUEL, 1978, p. 56). Para ele, esse argumento era improcedente, pois só entrariam nesta coletânea as informações publicadas. Desta maneira o próprio Farnswoth não teria informação sobre uma planta se o autor não publicasse a respeito. O professor W. Ladosky, da Universidade Federal de Pernambuco, aceitou essa idéia, observando que o projeto era financiado e mantido pela OMS, e não por Chicago, assim ‘nós só temos a ganhar’ (TEIXEIRA; SPIGUEL, 1978, p. 57). O professor Carlini, por outro lado, se opôs, e perguntou: ‘quantos milhões o CNPq gasta neste projeto? Então, repentinamente, depois de tudo organizado, nós darmos isso em troca de outras informações!’, de mão beijada?’ (TEIXEIRA; SPIGUEL, 1978, p. 57). O Projeto Flora foi dividido em cinco áreas, de acordo com a região geográfica do país. No período 1976-1986, o projeto permitiu a contratação de 52 botânicos iniciantes que, sob a orientação de profissionais experientes proporcionaram a modernização dos herbários dessas regiões (FERNANDES, 2004; TEIXEIRA, 1984). Infelizmente, da mesma maneira do que a CEME, que o financiou, e como o IQA, o Projeto foi desativado. Quanto ao apoio à pesquisa com plantas medicinais de forma integrada (itens 3 e 4 das Recomendações), o professor Ladosky disse textualmente: “Temos o nosso Departamento e o Grupo de Antibióticos, de altíssima categoria. Agora, é difícil estabelecer um entrosamento entre estes dois grupos, pois nos dois casos há interesses específicos de pesquisa que não se misturam” (DISCUSSÃO DAS RECOMENDAÇÕES, 1978, p. 231). De acordo com Fernandes (2004), uma desavença no interior da Faculdade de Farmácia da UFCE, fez com que o grupo de pesquisas em plantas medicinais, coordenado pelo professor Francisco José de Abreu Matos, migrasse para o Departamento de Química, apesar de a sua proposta estar mais próxima da área da saúde e, portanto da Faculdade de Farmácia. Se esses problemas ocorrem entre os departamentos de uma mesma instituição, é possível imaginar os que pode ocorrer entre Universidades diferentes. O item 7 pedia a reintegração dos cientistas cassados pelo regime militar (ainda em vigor naquela época), A proposta original fazia menção direta às universidades e, especificamente, ao Dr. Haity Moussatché, que se encontrava na Venezuela. Francisco Paumgarten, da Escola Paulista de Medicina, sugeriu que a moção fosse de anistia ampla, geral e irrestrita, uma vez que ‘não foram apenas os cientistas atingidos pelos atos de exceção. Foi toda a sociedade brasileira’. Carlini disse que ‘como cidadão, Revista Fitos

Vol.4 Nº01 março 2009

Artigo Original/Original Article

eu até apoio muito do que foi dito’, mas ‘nós estamos em um ambiente científico e temos um caso específico que é o do Professor Moussatché. Eu acho que para não dar um tom carregado, político a este documento, eu sou contra a proposição do colega’ (DISCUSSÃO DAS RECOMENDAÇÕES, 1978, p. 232). A discussão se tornou acalorada, para dizer o mínimo, quando o Dr Orlando Gonçalves, representante da CEME, votou contra a proposta, fosse ela irrestrita ou não, pois ‘como funcionário do governo’ não poderia prejulgar os atos que levaram esse mesmo governo a adotá-los. Assim, ‘eu, infelizmente, embora aceitando em tese qualquer apelo nesse sentido, não posso subscrevê-lo’ (DISCUSSÃO DAS RECOMENDAÇÕES, 1978, p. 232). É claro que, como bem lembrou o professor Jorge Guimarães, da UFF, todos eram funcionários do governo. Entretanto, eles só poderiam ser afastados de suas funções por um ato de exceção, o que naquela época não era tão difícil assim, enquanto o Dr Orlando poderia ser dispensado a qualquer momento, qualquer que fosse o regime. O representante da CEME, sem o microfone, protestou, pois ‘fui convidado para tratar de plantas medicinais. Não vim tratar de ideologia’. Carlini lançou ‘um protesto em cima do protesto’, e instalou-se uma pequena discussão entre os dois (DISCUSSÃO DAS RECOMENDAÇÕES, 1978, p. 234). A proposta acabou sendo aprovada, com exceção do voto do representante da CEME, com a substituição da palavra ‘universidade’ por ‘instituições científicas brasileiras’, e com a retirada do nome do Professor Moussatché. A última recomendação dizia respeito sobre a reedição de obras úteis de plantas medicinais do Brasil. A única obra mencionada foi o Dicionário de Plantas Úteis do Brasil, de Pio Correa, mas não saiu do papel. Assim, passados 30 anos desde aquele encontro, a única recomendação realmente posta em prática foi a de que os Simpósios se realizariam a cada dois anos. O VI Simpósio teve lugar em Fortaleza onde, em tom de brincadeira, o professor Ribeiro do Vale disse que poderia passar 15 dias, em vez dos 3 ou 4 previstos para cada encontro. O XIII Simpósio também ocorreu naquela cidade. O Nordeste viria ainda a sediar mais quatro Simpósios; o XI em João Pessoa, em 1990, o XVI em Recife, em 2000 e o XIX, em Salvador, em 2006. Durante o II Simpósio, em 1968, o professor Herbert Magalhães Alves sugeriu Belo Horizonte como sede do IV encontro. Contudo, isso só veio a acontecer em 1982, quando a UFMG recebeu os integrantes do VII Simpósio. O Rio de Janeiro foi pela segunda vez o anfitrião de um desses Simpósios, o IX, realizado nas dependências do Núcleo de PesRevista Fitos

Vol.4 Nº01 março 2009

Elaboração de uma Cartilha Direcionada aos Profissionais da Área da Saúde, Contendo Informações sobre Interações Simpósios de Plantas Medicinais do Brasil: 40 anos de História Medicamentosas Envolvendo Fitoterápicos e Alopáticos

quisa de Produtos Naturais da UFRJ, em 1986. Os Departamentos de Farmacologia e Psicobiologia da Escola Paulista de Medicina promoveram o X Encontro, realizado em 1988. O XV Simpósio também teve lugar em São Paulo; desta vez em Águas de Lindóia, dez anos depois. Deste modo, a região sudeste abrigou 9 Simpósios, dos 19 realizados até agora, sendo 6 no Estado de São Paulo (cinco na capital), 2 no Rio de Janeiro e 1 em Belo Horizonte. Apesar da biodiversidade da região Amazônica, foi apenas em 1984, treze anos após o I Simpósio, que ali ocorreu um encontro dessa natureza, que foi o VIII, realizado em Manaus. A cidade receberia novamente os participantes do XVIII Simpósio em 2004. Os Simpósios só chegaram ao Sul do país em 1992. Curitiba foi o local escolhido. Quatro anos mais seria a vez de outra cidade do Sul, Florianópolis, sediar o XIV. A realização desses Simpósios só ocorreu na região centro-oeste uma única vez, foi o XVII, em Cuiabá, em 2002. A partir de uma sugestão realizada já nos dois simpósios iniciais (e constantemente iterada posteriormente), pelo principal idealizador do SPMB, Dr E. Carlini, a comunidade acadêmica acatou o compromisso da realização do evento no Estado de São Paulo, a cada ciclo de dez anos (ou seja, cada 5 simpósios), o que vem acontecendo regularmente (ver: http://www. plantasmedicinais.unifesp.br/hist.htm). Na Sessão de Abertura do VII Simpósio, ocorrido em Belo Horizonte em 1982, a professora Alaíde Braga referiu-se ao ‘pequeno número de projetos integrados em andamento no Brasil’ e à ‘falta de uma coordenação nacional que se faz necessária, sobretudo para evitar a duplicação de trabalhos’ (BRAGA, 1982) e, no seu discurso proferido na mesma ocasião, o professor Ribeiro do Vale lembrou como ele, Walter Mors e Elisaldo Carlini apresentaram, em 1977, ao CNPq, um projeto de estudo integrado das plantas brasileiras, com o objetivo de estimular a indispensável colaboração entre botânicos, químicos e farmacologistas, e lamentou que o projeto não tivesse ido adiante (RIBEIRO DO VALE, 1982). Os dados levantados neste trabalho mostram que as colaborações entre os departamentos e/ou institutos de uma mesma instituição foram, quando ocorreram, em número superior ao de colaborações entre instituições diferentes. O mesmo vale para a relação das colaborações entre as mesmas regiões ou regiões diferentes. Os textos dos trabalhos apresentados nos sete primeiros Simpósios foram publicados na íntegra nos Arquivos do Instituto Biológico (I e II), Anais da Academia Brasileira de Ciências (III), Ciência e Cultura (IV, V, e VI) e na revista Oreades (Revista do De23

Artigo Original/Original Article

partamento de Botânica da UFMG) (VII). Parte dos trabalhos do VIII Simpósio foi publicada em Acta Amazônica. Do X ao XVI e o XVIII, os trabalhos apareceram em livros de resumos e os dos XVII e XIX em forma de CDs. O XX Simpósio apresentou um livro apenas com os títulos das comunicações,e um CD com o resumo das mesmas. Em algumas ocasiões, como por exemplo durante os VIII, XIII, XIV, XV, XVI, XVII e XX foram organizadas conferências plenas, mini-conferências, mini-cursos, mesas-redondas e simpósios-satélites. Como também ocorreu com as reuniões da Sociedade Brasileira de Química (SBQ), a presença de pesquisadores estrangeiros nas palestras e nos simpósios-satélite tem sido relevante: • Ethnopharmacological conservation of Amazonian indians. VIII Simpósio. Richard Schultes, Museu Botânico da Universidade Harvard – Estados Unidos. • General aspects of phytopharmaceuticals use by pacients. VIII Simpósio. Helmut Sauer, Universidade de Colônia – Alemanha. • Ethnobotanicals studies of Amazonian indians. VIII Simpósio. Ghillean Prance. New York Botanical Garden Estados Unidos. • Why new studies of Brazilian Strychnos? VIII Simpósio. Luc Angenot – Faculdade de Medicina, Universidade de Liège Bélgica. • Botanical, chemical and pharmacological aspects of curare. VIII Simpósio. Norman Bissert – Departamento de Farmácia, Chelsea College – Universidade de Londres – Inglaterra. • The use of plant products as tools to study mechanisms of drug action. XIII Simpósio. F. J. Evans, Faculdade de Farmácia, Universidade de Londres – Inglaterra. • The use of plant products as tools to study mechanisms of drug action. XIII Simpósio. Charles Quiron, Universidade René Descartes – França. • Asymetric synthesis of biologically reactive substituted piperidines. XIII Simpósio. Michael Boyd, National Institute of Health – Estados Unidos. O programa CYTED para obtenção de fitoterápicos na Ibero-america. XIII Simpósio. Ceferino Sanchez, CYTED – Panamá. • Natural products drug Discovery: a systematic approach. XIII Simpósio. James D. McChesney, Universidade do Mississipi – Estados Unidos. • Production and marketing of phytomedicines in Europe. Possibilities for cooperation with Brazil. XIV Simpósio. Joerg Grunwald, Institut für Phytopharmaceuticals – Alemanha. • Present and future of phytopharmaceuticals in USA. XIV Simpósio. Michael Tempesta, LAREX 24

Elaboração de uma Cartilha Direcionada aos Profissionais Simpósios de Plantas Medicinais do Brasil: 40 anos de História da Área da Saúde, Contendo Informações sobre Interações Medicamentosas Envolvendo Fitoterápicos e Alopáticos

Inc. – Estados Unidos. • Efficacy and safety assessment of phytomedicines from published scientific literature. XIV Simpósio. Peter R. Bradley, Whitehall Labs. – Inglaterra. • Natural products for development of new drugs. XIV Simpósio. Franco delle Monache, Universitá Catolica Del Sacro Cuore – Itália. • Metabolic engeneering: new ways to biologically active compounds. XIV Simpósio. R. Verpoorte, Universidade de Leiden – Holanda. • Ginkgo biloba extracts: technology and quality control. XIV Simpósio. Reinhardt Neubert, Universidade Martin Luther – Alemanha. • Biodiversity in drug Discovery. The key role of Brazil and the importance of collaboration. XVI Simpósio. Gordon Gragg, Instituto Nacional do Câncer – Estados Unidos. • Approaching a new generation of novel phytotherapeuticals. XX Simpósio. Hildebert Wagner, Universidade de Munique – Alemanha. • Compuestos polifenolicos em la colitis ulcerosa. XX Simpósio. Julio Galvez, Universidade de Granada – Espanha. • Uses and abuses of in vitro test in ethnopharmacology and medicinal plant research. XX Simpósio. Peter Houghton, King’s College – Inglaterra. • The ethnopharmacology of south-Asian migrants in Northern XX Simpósio, Andrea Pieroni. Universidade de Bradford – England. • Urban ethnobotany of the Andean community in London: A reflection on cross-cultural adaptation. XX Simpósio. Melissa Ceuterick, Universidade de Bradford – England. • Can we identify metabolic diseases in ethnopharmacological field studies? XX Simpósio. Michael Heinrich, Universidade de Londres – England • Vision of the future of medicinal plants of the high plateau and central valleys of the Andes. Ricardo Seidl da Fonseca. XX Simpósio. Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial – Áustria. • Phyto-meaning: How the meaning of a plant might might influence its effectiveness. XX Simpósio. Daniel Moerman, Universidade de Michigan – Estados Unidos. • Comparative analysis in ethnopharmacology. XX Simpósio. Marco Leonti, Universidade de Cagliari – Itália. • Medicinal and food plants as modulators of the enocannabinoids system – evolution of an adaptomimetic mechanism. XX Simpósio. Juerg Revista Fitos

Vol.4 Nº01 março 2009

Artigo Original/Original Article

Gertsch, ETH Suíça. • Targeting inflammation by traditional phytochemical agents for prevention and therapy of cancer. XX Simpósio. Universidade do Texas – Estados Unidos. • The phytotherapy in Cuba. XX Simpósio. Milagros Garcia Mesa, Instituto Nacional de Angiologia e Cardiologia Vascular – Cuba. • The application of emerging Technologies to the analysis of plant extracts. Is this a way of accounting for synergism? XX Simpósio. Peter Hyland, Kiung’s College – Inglaterra. • The European experience with the use of Craetageus for the treatment of chroniuc heart failure. Hildebert Wagner, Universidade de Munique – Alemanha. • Traditional medicine in the public health discourse. XX Simpósio. Janna Weiss, Universidade do Tibet – China. • Education, ethnobotany, food habits and health in Cavilla-La Mancha (Spain). XX Simpósio. Jose Fajardo Rodriguez, Jardim Botânico de Cavilla-La Mancha – Espanha. • A public health research agenda for tradiutional medicine. XX Simpósio. Gerald Bodecker, Universidade de Oxford – Inglaterra. • The use of plant extracts to replace antibiotic feed additives in poultry production. XX Simpósio. Kobus Eloff, Universidade de Pretória – África do Sul. • Production, protection and profit: How can local livestock keep benefits from their ethnoveterinary knowledge? XX Simpósio. Evelyn Mathias, League for Pastoral Peoples and Endo-

Elaboração de uma Cartilha Direcionada aos Profissionais da Área da Saúde, Contendo Informações sobre Interações Simpósios de Plantas Medicinais do Brasil: 40 anos de História Medicamentosas Envolvendo Fitoterápicos e Alopáticos

genous Livestock Development – Alemanha. • The use of plants in control of gastrointestinal nematode parasites of small ruminants. XX Simpósio. John Githiori, ILRI Biotechnology -– Quênia. • A unique issue in the standartization of Chinese Matéria Medica: Processing. XX Simpósio. Zhonhzhen Zhao, Zhitao Liang e Guanghua Lu, Universidade Batista de Hong-Kong China. • Controlling obesity and metabolic disorders witn traditional medicine and life style. XX Simpósio. Anwar Gilani, Universidade Aga Khan Paquistão. Todas essas palestras foram importantes para consolidar os Simpósios. A questão constantemente levantada durante os eventos foi a sobre a colaboração entre os pesquisadores das diferentes áreas. Apesar de a cooperação entre as diversas disciplinas ser fundamental nas pesquisas multidisciplinares, como é o caso das plantas medicinais, as dificuldades em estabelecê-la tem sido mais exceção do que a regra. Prance (1991) relatou que, quando ele tentou estabelecer um programa de colaboração com o antropólogo Robert Carneiro para um estudo etnobotânico dos índios Kuikuru, o projeto foi recusado pela seção de biologia sistemática da Fundação Nacional de Ciências dos Estados Unidos por ser muito antropológico. Ao mesmo tempo, a seção de antropologia o considerou muito botânico. Nos Simpósios aqui analisados, esse panorama tantas vezes debatido, tem se mantido e as comunicações envolvendo uma única instituição e/ou área têm prevalecido, como ilustra a Tabela 1.

Tabela 1 - Número de trabalhos apresentados em colaboração nos SPMB SIMPÓSIO

1 INST

2 INST

3 INST

4 INST

5 INST

6 INST

TOTAL

I

6

1

0

0

0

0

7

II

19

3

0

0

0

0

22

III

6

3

1

2

0

0

12

IV

22

6

1

0

0

0

29

V

28

11

2

1

0

0

46

VI

17

17

2

0

0

0

38

VII

42

19

5

0

0

0

67

VIII

67

43

10

1

0

0

121

Revista Fitos

Vol.4 Nº01 março 2009

25

Artigo Original/Original Article

Elaboração de uma Cartilha Direcionada aos Profissionais Simpósios de Plantas Medicinais do Brasil: 40 anos de História da Área da Saúde, Contendo Informações sobre Interações Medicamentosas Envolvendo Fitoterápicos e Alopáticos

SIMPÓSIO

1 INST

2 INST

3 INST

4 INST

5 INST

6 INST

TOTAL

IX

58

39

7

2

0

0

106

X

106

37

17

3

0

0

166

XI

130

85

17

3

0

0

235

XII

163

103

27

3

0

0

296

XIII

200

144

26

4

3

0

377

XIV

299

213

68

16

0

0

596

XV

270

209

97

24

3

0

604

XVI

307

286

130

33

1

1

759

XVII

*

*

*

*

*

*

870

XVIII

200

186

105

29

3

1

531

XIX

*

*

*

*

*

*

766

XX

445

499

238

84

21

3

1294

* Indisponível. Em alguns casos (V, VI, VII, X, XV, XVI e XVIII Simpósios) existem trabalhos sem a menção a qualquer instituição. Daí a discordância com o número total de comunicações. No XX Simpósio houve uma comunicação com a participação de 7 institutos ou departamentos

A Tabela 1 mostra claramente que o número de comunicações isoladas tem sido sistematicamente superior àquelas apresentadas em colaboração em todos os Simpósios realizados até o momento. Deve-se notar ainda que essas colaborações foram com bastante freqüência realizadas entre áreas idênticas de instituições diferentes. A partir do VIII Simpósio, os livros de resumos foram divididos em diversas seções como farmacologia, fitoquímica, botânica, agronomia etnofarmacologia, toxicologia e farmacognosia, embora essas separações nem sempre tenham sido observadas. Além disso, não raro, essas áreas estão superpostas em uma mesma seção, como botânica junto com etnofarmacologia (XIV Simpósio) ou etnofarmacologia junto com farmacologia (XII Simpósio). A farmacognosia só teve a sua própria divisão em 3 simpósios (XVI, XVII, XIX), apesar de ter estado presente em vários outros simpósios, com resumos espalhadas pelas demais áreas. O mesmo pode ser dito para a toxicologia e para a etnofarmacologia. No XIV, XVI e XVII Simpósios, as seções de agronomia e botânica estão separadas, mas no XIX elas estão agrupadas na única área de ‘Agronomia’. No Livro de Resumos do XI Simpósio, os trabalhos de ‘síntese de produtos naturais’ e ‘quimiossistemática’ estão colocados à parte da26

queles referentes à ‘química de produtos naturais’. Existem ainda as comunicações abrangendo mais de uma área, aqui incluídos na coluna ‘multidisciplinar’, e aquelas que não puderam ser agrupadas em nenhuma dessas áreas, como controle de praga em plantas medicinais, algas, liquens, química de orquídeas, banco de dados, padronização, produção de fitoterápícos, aromas de frutas tropicais, a possível utilização de plantas medicinais por primatas, biotecnologia e plantas utilizadas em doenças de animais. É interessante, e surpreendente observar, que durante o XVIII Simpósio foi apresentado um trabalho sobre a ‘Arte do Pêndulo’. No Livro de Resumos correspondente ao XX Simpósio, realizado em 1008, em São Paulo, as comunicações de agronomia, botânica e etnofarmacologia foram separadas em áreas distintas e a toxicologia foi novamente incorporada à farmacologia. Tudo isso dificulta uma avaliação precisa sobre o número de comunicações apresentadas em cada sessão. Todavia, independente do critério utilizado na classificação dos trabalhos, o fato é que a área de farmacologia, seguida pela de química de produtos naturais, superaram, de maneira constante, as outras áreas, como pode ser visto na Tabela 2, na qual a coluna ‘outros’ engloba botânica, agronomia, etnofarmacologia, toxicologia, controle de quaRevista Fitos

Vol.4 Nº01 março 2009

Artigo Original/Original Article

lidade, padronização, biotecnologia, saúde pública, legislação, tecnologia farmacêutica, produção de fitoterápicos, etc. Este dado foi também constatado no trabalho de Fernandes (2004), e se repetiu nos XVIII, XIX e XX Simpósios. Seguindo o mesmo esquema adotado nos dois capítulos anteriores, a Tabela 3 mostra as instituições públicas de ensino e/ou pesquisas, com seus respectivos Departamentos ou Institutos e que participaram de pelo menos 50% dos 20 Encontros aqui considerados. Estão incluídos o CPQBA, a UENF, A EMBRAPA, o Instituto de Química e a Faculdade de

Elaboração de uma Cartilha Direcionada aos Profissionais da Área da Saúde, Contendo Informações sobre Interações Simpósios de Plantas Medicinais do Brasil: 40 anos de História Medicamentosas Envolvendo Fitoterápicos e Alopáticos

Ciências Farmacêuticas da UNESPAR, a UENF e a UNVALI/NIQFAR (a única instituição de caráter privado na relação) por terem comparecido à metade dos Simpósios a partir das suas próprias fundações. A instituição com maior número de comunicações foi o Laboratório de Tecnologia Farmacêutica da Universidade Federal da Paraíba, seguida pelo Departamento de Química Orgânica e Inorgânica da Universidade Federal do Ceará. Entretanto, o Núcleo de Pesquisas de Produtos Naturais, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, pioneiro na área, foi o único a estar presente em todos esses Simpósios (Tabela 3).

Tabela 2 – Número de Trabalhos apresentados nos SPMB (por área)

Revista Fitos

SIMPÓSIO

FARMACOLOGIA

FITOQUÍMICA

OUTROS

TOTAL

I

3

1

3

7

II

6

4

12

22

III

2

3

7

12

IV

14

3

12

29

V

14

9

23

46

VI

17

7

14

38

VII

23

13

29

67

VIII

66

31

24

121

IX

54

35

17

106

X

101

24

41

166

XI

86

89

60

235

XII

98

96

102

296

XIII

157

71

149

377

XIV

225

117

254

596

XV

255

166

183

604

XVI

322

122

315

759

XVII

414

133

323

870

XVIII

219

60

252

531

XIX

365

237

287

766

XX

472

372

450

1294

TOTAL

2406

1564

2498

6468

Vol.4 Nº01 março 2009

27

Elaboração de uma Cartilha Direcionada aos Profissionais Simpósios de Plantas Medicinais do Brasil: 40 anos de História da Área da Saúde, Contendo Informações sobre Interações Medicamentosas Envolvendo Fitoterápicos e Alopáticos

Artigo Original/Original Article

Tabela 3 – Instituições que participaram de pelo menos 50% dos SPMB com o respectivo nº de trabalhos (1967-2008) INSTITUIÇÃO*

I

II

III

IV

V

VI

VII

VIII

IX

X

XI

XII

1. FOC/CPRR

0

0

0

0

0

0

1

2

1

0

6

6

2

0

6

6

1

02

33

2. IBIO

1

11

2

2

5

2

0

1

3

1

1

2

2

3

4

1

6

02

49

3. IBOT

1

5

0

4

2

0

0

1

5

1

0

1

0

5

5

0

5

21

56

4. UENF/SQPN

0

0

0

0

0

0

0

0

0

0

0

0

0

6

10

14

0

9

39

5. UFBA/FF

0

0

0

0

0

0

1

0

3

2

1

3

2

2

2

11

4

03

34

6. UFCE/DF

0

0

0

0

0

0

1

2

1

1

0

0

2

5

5

16

8

04

45

7. UFCE/DFISIOLFCO

0

0

0

0

0

3

5

7

8

10

6

10

29

23

15

37

21

36

210

8. UFCE/DQOI

1

0

0

0

1

4

4

11

12

13

15

27

42

30

34

30

16

15

255

9. UFJF/ICB

0

0

0

0

0

0

2

2

2

4

0

2

0

4

4

9

8

13

50

10. UFMG /DQ

0

0

0

1

1

1

4

1

1

0

1

7

9

11

16

14

5

07

79

11. UFPA/DQ

0

0

0

0

0

0

1

2

3

1

0

4

2

6

9

7

2

05

42

12. UFPB/LTF

0

0

0

0

0

6

3

6

16

17

25

8

21

27

25

60

31

67

312

13. UFPE/DA

0

0

0

0

0

0

4

14

6

16

13

14

11

15

16

16

6

17

148

14. UFPE/DFISIOLFCO

0

0

0

0

0

1

2

1

0

0

2

3

4

9

12

13

9

12

68

15. UFPI/NPPM

0

0

0

0

0

0

0

2

1

2

6

2

3

0

1

9

7

10

43

16. UFPR/DF

0

0

0

1

0

1

0

0

3

3

2

14

2

11

7

4

19

03

70

17. UFRJ/DFCO

0

0

0

0

0

6

1

3

1

2

0

0

3

5

11

9

0

04

45

18. UFRJ/NPPN

1

1

2

4

6

6

2

1

5

1

8

27

21

31

41

35

8

26

226

19. UFRRJ/DQ

1

0

1

1

2

1

1

2

2

1

3

6

4

4

6

10

7

06

58

20. UFRS/FF

0

0

0

0

0

0

1

5

6

1

1

24

7

25

22

6

6

31

135

21. UFSC/DFCO

0

0

0

0

0

0

2

6

6

18

5

13

17

18

18

11

5

04

123

22. UFSC/DQ

0

0

0

0

0

0

1

4

3

13

7

12

14

35

35

12

8

16

160

23. UFSCAR/DQ

0

0

0

0

0

0

2

2

1

0

4

3

5

1

5

2

5

09

39

24. UNESPBOT/IBIOC

0

0

0

0

0

0

1

0

1

1

3

2

2

8

5

7

4

51

85

25. UNICAMP/CPQBA

0

0

0

0

0

0

0

0

0

0

0

11

16

13

15

17

23

28

123

26. UNICAMP/IB

0

0

0

0

2

0

1

3

0

2

0

1

7

12

15

18

6

15

82

27. UNICAMP/IQ

0

0

0

0

2

0

0

2

1

2

0

2

2

4

10

6

4

08

43

28. UNIFESP/DFCO

0

0

0

11

4

4

3

20

8

11

4

15

12

15

23

11

9

06

156

29. UNIFESP/ DPSICOB

1

0

0

2

5

2

1

0

0

8

0

0

1

7

7

12

1

15

62

30. UNIVALI/NIQFAR

0

0

0

0

0

0

0

0

0

0

0

0

0

31

47

11

4

29

122

31. USP/FCF

0

02

01

0

2

0

0

1

0

2

4

11

16

16

9

11

9

17

101

32. USP/IQ

0

0

1

0

7

0

2

6

7

4

11

0

5

9

6

2

10

20

90

TOTAL

6

19

7

26

39

37

46

108

468

456

257

641

106 137 136 248

XIII XIV

277 412

XV

XVI XVIII XX

Total

OBS: Os dados referentes aos XVII e XIX Simpósio não estão disponíveis * Instituições que participaram de pelo menos 50% dos SPMB após suas criações. 28

Revista Fitos

Vol.4 Nº01 março 2009

Artigo Original/Original Article

Elaboração de uma Cartilha Direcionada aos Profissionais da Área da Saúde, Contendo Informações sobre Interações Simpósios de Plantas Medicinais do Brasil: 40 anos de História Medicamentosas Envolvendo Fitoterápicos e Alopáticos

Tabela 4 – Número de trabalhos apresentados em pelo menos 50% do SPMB (por Estado)

ESTADO

NÚMERO DE TRABALHOS

NÚMERO INSTITUIÇÕES

SP

884

13

CE

510

3

SC

405

3

RJ

340

4

PB

312

1

PE

216

2

MG

160

3

RS

166

2

PR

70

1

PA

42

1

PI

43

1

BA

33

1

TOTAL

3181

35

Tabela 5 – Número de trabalhos apresentados em pelo menos 50% do SPMB (por região)

REGIÃO

NÚMERO DE TRABALHOS

NÚMERO DE INSTITUIÇÕES

SE

1384

20

NE

1114

8

S

641

6

NO

42

1

TOTAL

3181

35

A análise geográfica dos dados da Tabela 3 é mostrada nas Tabelas 4 e 5 e nos gráficos das Figuras 1 e 2. Entretanto, essa situação deve ser vista com cautela, quando se considera o número de Institutos ou Departamentos envolvidos nesse processo. A região Sudeste foi responsável por 1384 distribuídos por 20 Departamentos e/ou Institutos, enquanto a região Nordeste apresentou 114 comunicações, distribuídas por 8 Institutos e/ou Departamentos. Vale ainda notar que a região Norte, apesar de toda a riqueza da sua biodiversidade, se fez representar, nessas tabelas, apenas pelo Departamento de Química da Universidade Federal do Pará. A título de comparação, alguns dos Departamentos Revista Fitos

Vol.4 Nº01 março 2009

ou Institutos listados na Tabela 3 também participaram de pelo menos a metade das Reuniões da SBPC e da SBQ, na área de química de Produtos Naturais, apesar da grande diferença no número de comunicações apresentadas em cada uma delas, como mostra a Tabela 6. A participação do Departamento de Química Orgânica e Inorgânica da Universidade Federal do Ceará foi bastante equilibrada nos três Encontros analisados. Por outro lado, para os demais exemplos mencionados, houve uma tendência em se privilegiar um Encontro sobre os demais. Este fato é mais notável nos trabalhos apresentados pelo Departamento de Química da Universidade Federal de São Carlos, com apenas 30 comunicações nos SPMB, mas 376 nas Reuniões da SBQ. 29

Artigo Original/Original Article

Elaboração de uma Cartilha Direcionada aos Profissionais Simpósios de Plantas Medicinais do Brasil: 40 anos de História da Área da Saúde, Contendo Informações sobre Interações Medicamentosas Envolvendo Fitoterápicos e Alopáticos

Figura 1 – Variação no número de trabalhos apresentados em pelo menos 50% do SPMB (por Estado)

Figura 2 – Variação no número de trabalhos apresentados em pelo menos 50% do SPMB (por Região)

Tabela 6 – Total de trabalhos em Química de Produtos Naturais nas Reuniões da SBPC, SBQ e SPMB

0

INSTITUIÇÃO

SPBC

SBQ

SPMB

UFCE/DQOI

247

312

255

UFMG/DQ

224

153

79

UFPA/DQ

40

173

42

UFPB/LTF

55

101

312

UFRJ/NPPN

219

122

226

UFRRJ/DQ

185

209

58

UFSCAR/DQ

55

402

39

UNICAMP/IB

31

129

82

UNICAMP/IQ

102

167

43

UNIVALI/NIQFAR

0

21

122

USP/FCF

12

27

101

USP/IQ

538

311

90

Revista Fitos

Vol.4 Nº01 março 2009

Artigo Original/Original Article

Os Simpósios de Plantas Medicinais do Brasil também têm contado com a presença de instituições das três Américas, Europa, Ásia e Oceania, como

Elaboração de uma Cartilha Direcionada aos Profissionais da Área da Saúde, Contendo Informações sobre Interações Simpósios de Plantas Medicinais do Brasil: 40 anos de História Medicamentosas Envolvendo Fitoterápicos e Alopáticos

ilustra a Tabela 7, o que evidencia o seu grau de internacionalização.

Tabela 7 – Instituições estrangeiras com participação nos SPMB CENTRO DE INVESTIGAÇÕES BIOLÓGICAS

REPÚBLICA DOMINICANA

CENTRO NACIONAL DE PESQUISAS CIENTÍFICAS

FRANÇA

FACHHOCHSCHULE/COLONIA XIII

ALEMANHA

FACULDADE DE CIENCIAS EXATAS

ARGENTINA

FACULDADE DE CIÊNCIAS MEDICAS PINAR DEL RIO

CUBA

FACULDADE DE FARMÁCIA CHATENAY-MALABRY

FRANÇA

INSTITUTO DE QUÍMICA DE SARRIÁ

ESPANHA

INSTITUTO DE QUÍMICA ORGÂNICA DE SHANGAI

CHINA

INSTITUTO MEXICANO DE SEGURO SOCIAL

MEXICO

INSTITUTO NACIONAL DE SAÚDE

JAPÃO

INSTITUTO NACIONAL DO CÂNCER

ESTADOS UNIDOS

INSTITUTO PARA O DESENVOLVIMENTO DE PLANTAS MEDICINAIS

CHINA

INSTITUTO RECURSOS NATURALES

CHILE

INSTITUTO SUPERIOR DE SANITÁ

ITALIA

INSTITUTO VENEZUALANO DE INVESTIGAÇÕES CIENTÍFICAS

VENEZUELA

INSTITUTO WEISSMAN

ISRAEL

INSTITUTO DE FARMÁCIA BIOLÓGICA X

ALEMANHA

ISNTITUTO POLITÉCNICO DA VIRGÍNIA

ESTADOS UNIDOS

KEW BOTANICAL GARDEN

INGLATERRA

KING’S COLLEGE

INGLATERRA

MOUNTSINAI SCHOOL MEDICINE

ISRAEL

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL

FRANÇA

NEW YORK BOTANICAL GARDEN

ESTADOS UNIDOS

PONTIFICIA UNIVERSIDADE CATÓLICA

CHILE

QUEEN MARY COLLEGE

INGLATERRA

TIERARZTLICH HOCHSCHULE

ALEMANHA

UINIVERSIDADE DE LA LAGUNA

ESPANHA

UNIVERSIDADE AUTONOMA DO MEXICO

MEXICO

UNIVERSIDADE CATÓLICA DO SAGRADO CORAÇÃO

ITÁLIA

UNIVERSIDADE COMPLUTENSE DE MADRI

ESPANHA

UNIVERSIDADE DA CALIFÓRNIA BERKELEY

ESTADOS UNIDOS

UNIVERSIDADE DA COSTARICA

COSTA RICA

Revista Fitos

Vol.4 Nº01 março 2009

31

Artigo Original/Original Article

32

Elaboração de uma Cartilha Direcionada aos Profissionais Simpósios de Plantas Medicinais do Brasil: 40 anos de História da Área da Saúde, Contendo Informações sobre Interações Medicamentosas Envolvendo Fitoterápicos e Alopáticos

UNIVERSIDADE DA FLÓRIDA

ESTADOS UNIDOS

UNIVERSIDADE DE BERNA

SUIÇA

UNIVERSIDADE DE BUENOSAIRES

ARGENTINA

UNIVERSIDADE DE COIMBRA

PORTUGAL

UNIVERSIDADE DE CONCEPCIÓN

CHILE

UNIVERSIDADE DE CÓRDOBA

ARGENTINA

UNIVERSIDADE DE DUBLIN

IRLANDA

UNIVERSIDADE DE FRANKFURT

ALEMANHA

UNIVERSIDADE DE GENEBRA

SUIÇA

UNIVERSIDADE DE GIESSEN

ALEMANHA

UNIVERSIDADE DE GIFU

JAPÃO

UNIVERSIDADE DE GRANADA

ESPANHA

UNIVERSIDADE DE HANNOVER

ALEMANHA

UNIVERSIDADE DE HAVANA

CUBA

UNIVERSIDADE DE IBADAN

NIGÉRIA

UNIVERSIDADE DE ILLINOIS

ESTADOS UNIDOS

UNIVERSIDADE DE KENTUCKY

INGLATERRA

UNIVERSIDADE DE KIOTO

JAPÃO

UNIVERSIDADE DE LA PLATA

ARGENTINA

UNIVERSIDADE DE LA REPUBLICA

URUGUAI

UNIVERSIDADE DE LAUSANNE

SUIÇA

UNIVERSIDADE DE LEIDEN

HOLANDA

UNIVERSIDADE DE LIÈGE

BÉGICA

UNIVERSIDADE DE LISBOA

PORTUGAL

UNIVERSIDADE DE LONDRES

INGLATERRA

UNIVERSIDADE DE LYON

FRANÇA

UNIVERSIDADE DE MANCHESTER

INGLATERRA

UNIVERSIDADE DE MASSACHUSSETTS

ESTADOS UNIDOS

UNIVERSIDADE DE MISSOURI

ESTADOS UNIDOS

UNIVERSIDADE DE MODENA

ITÁLIA

UNIVERSIDADE DE MONTIVIDÉU

URUGUAI

UNIVERSIDADE DE MONTPELLIER

FRANÇA

UNIVERSIDADE DE MUNIQUE

ALEMANHA

UNIVERSIDADE DE MUNSTER

ALEMANHA

UNIVERSIDADE DE MYSORE

ÍNDIA

UNIVERSIDADE DE NAPOLES

ITALIA Revista Fitos

Vol.4 Nº01 março 2009

Artigo Original/Original Article

Revista Fitos

Elaboração de uma Cartilha Direcionada aos Profissionais da Área da Saúde, Contendo Informações sobre Interações Simpósios de Plantas Medicinais do Brasil: 40 anos de História Medicamentosas Envolvendo Fitoterápicos e Alopáticos

UNIVERSIDADE DE OHIO

ESTADOS UNIDOS

UNIVERSIDADE DE OKLAHOMA

ESTADOS UNIDOS

UNIVERSIDADE DE PARIS

FRANÇA

UNIVERSIDADE DE PAUA NOVA GUINÉ

PAPUA NOVA GUINÉ

UNIVERSIDADE DE PINAR DEL RIO

CUBA

UNIVERSIDADE DE PISA

ITALIA

UNIVERSIDADE DE PURDUE

ESTADOS UNIDOS

UNIVERSIDADE DE PUTRA

MALÁSIA

UNIVERSIDADE DE RAJASTHAN

ÍNDIA

UNIVERSIDADE DE REMNES

FRANÇA

UNIVERSIDADE DE RHODE ISLAND

ESTADOS UNIDOS

UNIVERSIDADE DE ROCHESTER

ÍNDIA

UNIVERSIDADE DE ROSARIO

ARGENTINA

UNIVERSIDADE DE ROUEN

FRANÇA

UNIVERSIDADE DE SALAMANCA

ESPANHA

UNIVERSIDADE DE SALERNO

ITÁLIA

UNIVERSIDADE DE SEVILHA

ESPANHA

UNIVERSIDADE DE SHERBROKE

CANADA

UNIVERSIDADE DE STRATHCLYDE

ESCÓCIA

UNIVERSIDADE DE TEHERAN

IRAN

UNIVERSIDADE DE TOKUSHIMA

JAPÃO

UNIVERSIDADE DE UPPSALA

SUÉCIA

UNIVERSIDADE DE VALPARAISO

CHILE

UNIVERSIDADE DE YAOUNDÉ

CAMARÕES

UNIVERSIDADE DEE GENOVA

ITÁLIA

UNIVERSIDADE DO MISSISSIPI

ESTADOS UNIDOS

UNIVERSIDADE DO PACIIFICO

ESTADOS UNIDOS

UNIVERSIDADE DO PORTO

PORTUGAL

UNIVERSIDADE ERLANGEN

ALEMANHA

UNIVERSIDADE HEBRAICA DE JERUSALÉM

ISRAEL

UNIVERSIDADE JADAVIPUR

ÍNDIA

UNIVERSIDADE JOSEPH FOURIER

FRANÇA

UNIVERSIDADE KOLKATA

ÍNDIA

UNIVERSIDADE MCGILL

CANADÁ

UNIVERSIDADE NACIONAL DE ASUNCIÓN

PARAGUAI

UNIVERSIDADE NACIONAL DE COLOMBIA

COLOMBIA

UNIVERSIDADE NACIONAL DE CORDOBA

ARGENTINA

UNIVERSIDADE NACIONAL DE COSTA RICA

COSTA RICA

Vol.4 Nº01 março 2009

33

Elaboração de uma Cartilha Direcionada aos Profissionais Simpósios de Plantas Medicinais do Brasil: 40 anos de História da Área da Saúde, Contendo Informações sobre Interações Medicamentosas Envolvendo Fitoterápicos e Alopáticos

Artigo Original/Original Article

UNIVERSIDADE NACIONAL DE JUJUY

ARGENTINA

UNIVERSIDADE NACIONAL DE LUJAN

ARGENTINA

UNIVERSIDADE NACIONAL DE ROSARIO

ARGENTINA

UNIVERSIDADE NACIONAL DE SAN LUIS

ARGENTINA

UNIVERSIDADE NACIONAL DO URUGUAI

URUGUAI

UNIVERSIDADE NELSON MANDELA

ÁFRICA DO SUL

UNIVERSIDADE NOVA DE LISBOA

PORTUGAL

UNIVERSIDADE PERUANA CAYETANO HEREDIA

PERU

UNIVERSIDADE PRAVARANAGAR

ÍNDIA

UNIVERSIDADE RANDAZAD

IRAN

UNIVERSIDADE RENE DESCARTES

FRANÇA

UNIVERSIDADE SAN CARLOS

GUATEMALA

UNIVERSIDADE SHAHED

IRAN

UNIVERSIDADE SZEGED

HUNGRIA

UNIVERSIDADE TARBIAT MODARES

IRAN

UNIVERSIDADE TECNICA DA DINAMARCA

DINAMARCA

Total = 122 instituições estrangeiras

A Tabela 8 e o gráfico da Figura 3 mostram de maneira resumida o vertiginoso, e quase constante, cresci-

mento do número de trabalhos apresentados nos Simpósios de Plantas MedIcinais ao longo de 40 anos.

Tabela 8 – Resumo histórico dos dezenove SPMB analisados neste trabalho

34

SIMPÓSIO

ANO

LOCAL

ORGANIZADOR

Nº TRABALHOS

I

1967

SÃO PAULO

J.R.MAGALHÃES, A.KRAMER, E.CARLINI

7

II

1968

SÃO PAULO

J.R.MAGALHÃES, A.KRAMER, E.CARLINI

22

III

1969

SÃO PAULO

J.R.MAGALHÃES, A.KRAMER, E.CARLINI

12

IV

1972

RIO DE JANEIRO

E.CARLINI, J.R.VALLE

29

V

1978

SÃO PAULO

E.CARLINI, J.R.VALLE

46

VI

1980

FORTALEZA

AFRÂNIO CARVALHO

38

VII

1982

BELO HORIZONTE

ALAÍDE BRAGA DE OLIVEIRA

67

VIII

1984

MANUAS

JOSÉ GUILHEREME S. MAIA

121

IX

1986

RIO DE JANEIRO

AFONSO PRADO SEABRA

106

X

1988

SÃO PAULO

E.CARLINI

166

XI

1990

JOÃO PESSOA

DELBY F. MONTEIRO

235

XII

1992

CURITIBA

EDUARDO A. MOREIRA

296

Revista Fitos

Vol.4 Nº01 março 2009

Elaboração de uma Cartilha Direcionada aos Profissionais da Área da Saúde, Contendo Informações sobre Interações Simpósios de Plantas Medicinais do Brasil: 40 anos de História Medicamentosas Envolvendo Fitoterápicos e Alopáticos

Artigo Original/Original Article

SIMPÓSIO

ANO

LOCAL

ORGANIZADOR

Nº TRABALHOS

XIII

1994

FORTALEZA

GLAUCE S. B. VIANA

377

XIV

1996

FLORIANÓPOLIS

JOÃO B. CALIXTO

596

XV

1998

ÁGUAS DE LINDÓIA

ANTÔNIO JOSÉ LAPA

604

XVI

2000

RECIFE

MARIA BERNADETE S. MAIA

759

XVII

2002

CUIABÁ

DOMINGOS T.O. MARTINS

863

XVIII

2004

MANAUS

JUAN REVILLA

531

XIX

2006

SALVADOR

JUCENI PEREIRA DAVID

766

XX

2008

SÃO PAULO

ELISALDO CARLINI (PRESIDENTE)

1294

TOTAL

6935

Figura 3 - variação no número de comunicações apresentadas nos SPMB

Pode-se constatar portanto, que, com exceção da queda no número de comunicações do XVII para o XVIII Simpósio, o seu aumento foi constante nas quatro décadas aqui consideradas. O crescimento é evidente sob qualquer ponto de vista. As 7 comunicações lidas em 1967, transformaram-se em 766 em 2006. Em praticamente 40 anos, a realização bianual do Simpósio de Plantas Medicinais do Brasil consolidou a sua importância. E, mais do que isso, a exemplo do que ocorreu com a SBQ, o interesse dos cientistas em conhecer o mecanismo de ação do princípio ativo responsável por uma determinada ação farmacológica também se tem tornado mais constante a partir do XIV Simpósio. Revista Fitos

Vol.4 Nº01 março 2009

Referências ALVES, H.M.1970. Relatório das atividades do Departamento de Química do Instituto de Ciências Exatas da Universidade Federal de Minas Gerais. II Simpósio de Plantas Medicinais do Brasil. Arquivos do Instituto Biológico, v.37, p.30-31, 1970. BRAGA, A.O. Sessão de Abertura. VII Simpósio de Plantas Medicinais do Brasil, p.11-12, 1982. BRAZ FILHO, R. Relatório das atividades do laboratório de produtos naturais.Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo/Universidade de São Paulo. 

Artigo Original/Original Article

Elaboração de uma Cartilha Direcionada aos Profissionais Simpósios de Plantas Medicinais do Brasil: 40 anos de História da Área da Saúde, Contendo Informações sobre Interações Medicamentosas Envolvendo Fitoterápicos e Alopáticos

II Simpósio de Plantas Medicinais do Brasil. Arquivos do Instituto Biológico, v.37, p.22-23, 1970a.

ra. II Simpósio de Plantas Medicinais do Brasil. Arquivos do Instituto Biológico, v.37, p.28-29, 1970a.

BRAZ FILHO, R. Relatório das atividades da escola de pós-graduação da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. II Simpósio de Plantas Medicinais do Brasil. Arquivos do Instituto Biológico, v.37, p.35-36, 1970b.

MORS, W. Prefácio. Simpósio sobre Produtos Naturais da América Tropical. Rio de Janeiro, Academia Brasileira de Ciências, 1970b.

BROWN. K. Relatório das atividades no Centro de Pesquisas de Produtos Naturais da Faculdade de Farmácia da Universidade Federal do Rio de Janeiro. II Simpósio de Plantas Medicinais do Brasil. Arquivos do Instituto Biológico, v.37, p.19-20, 1970. CARLINI, E.L.A.; SIANI, A.C. Memória do I Simpósio de Plantas Medicinais do Brasil. Revista Fitos, v.2, n.3, p.6-23, 2007.

MORS, W.B. Plantas medicinais: a visão de um químico. VII Simpósio de Plantas Medicinais do Brasil, Livro de Resumos, p.550-552, 1982. MOUSSATCHÉ, H. Abertura do Simpósio. I Simpósio de Plantas Medicinais do Brasil. Arquivos do Instituto Biológico, v. 35, p. 9, 1968. NÓBREGA, P. Controle de Produtos Fitoterápicos no Brasil. Arquivos do Instituto Biológico, v.37, p.87-89, 1970.

DISCUSSÃO FINAL. Planejamento para a formação de futuros núcleos de pesquisa dedicados ao estudo da flora medicinal brasileira. Arquivos do Instituto Biológico, v.35. p.53-67, 1968.

PRANCE, G. T. What is ethnobotany today? Journal of Ethnopharmacology, v.32, p.209-216, 1991.

DISCUSSÃO DAS RECOMENDAÇÕES. Ciência e Cultura, Supl. p.228-236, 1978.

RIBEIRO DO VALE, J.R. Problemas relacionados com o estudo da farmacologia de plantas medicinais brasileiras.. I Simpósio de Plantas Medicinais do Brasil. Arquivos do Instituto Biológico, v.35, p.36-42, 1968.

FERNANDES, T.M. Plantas Medicinais: Memórias da Ciência no Brasil. Rio de Janeiro, Editora da Fundação Oswaldo Cruz, 2004. GOTTLIEB, O.R. Problemas relacionados com o isolamento e caracterização química dos princípios ativos estudo das plantas medicinais brasileiras.. I Simpósio de Plantas Medicinais do Brasil. Arquivos do Instituto Biológico, v.35, p.15-22, 1968. LABOURIAU, L.G. Problemas relacionados com a cultura de novas plantas de interesse farmacológico ou de plantas até agora apenas cultivadas. I Simpósio de Plantas Medicinais do Brasil. Arquivos do Instituto Biológico, v.35, p.23-30, 1968. LABOURIAU, L.G. Análise da situação da botânica no Brasil e uma programação de atividade que dela resulta. Arquivos do Instituto Biológico, v.37, p.46-78, 1970. MAGALHÃES, J.R.; CARLINI, E.A.; KRAEMER, A Introdução. I Simpósio de Plantas Medicinais do Brasil. Arquivos do Instituto Biológico, v.35, p.7, 1968. MORS, W.B. Discussão final.. I Simpósio de Plantas Medicinais do Brasil. Arquivos do Instituto Biológico, v.35, p.53-67, 1968. MORS, W. Relatório das atividades do Instituto de Tecnologia Agrícola e Alimentar do Ministério da Agricultu36

RIBEIRO DO VALE, J.R. Excursão farmacológica ao Parque Nacional do Xingu. Ciência e Cultura, v.23, p.561-563, 1972. RIBEIRO DO VALE, J.R. Palestra Inaugural. VII Simpósio de Plantas Medicinais do Brasil, p.13-14, 1982. RIZZINI, C.T. Problemas relacionados com o estudo da distribuição geográfica e identificação das plantas medicinais brasileiras. I Simpósio de Plantas Medicinais do Brasil. Arquivos do Instituto Biológico, v.35, p.10-14, 1968. SCHULTS, R.E. Tropical American hallucinogens: where are we and where are we going? Ciência e Cultura, v.25, p.543-560, 1973. TEIXEIRA, A.R. Banco de dados do Programa Flora do CNPq sobre plantas medicinais e farmacologia de produtos naturais. Ciência e Cultura, Supl. p.48-55, 1978. TEIXEIRA, A.R.; SPIGUEL, C.P. O “Programa Flora” do Brasil – História e situação atual. Acta Amazonica, v.14, p.31-47, 1984. ZELNICK, R. Plantas utilizadas na medicina e nos rituais dos indígenas da Amazônia. I Simpósio de Plantas Medicinais do Brasil. Arquivos do Instituto Biológico, v.35, p.31-35, 1968. Revista Fitos

Vol.4 Nº01 março 2009

Artigo Original / Original Article

Drogas e Extratos Vegetais Utilizados em Fitoterapia Herbal Drugs and Extracts Used in Phytoterapy *1Boorhem, R. L.; 2Lage, E. B.

Resumo A fitoterapia é uma prática normalmente dificultada pela insuficiência de informações confiáveis sobre diversas drogas vegetais e seus respectivos extratos que estão disponíveis no mercado brasileiro. No sentido de orientar os prescritores na formulação e prescrição de receitas, foi realizado um levantamento das informações úteis a esta prática, contidas em dois bancos de dados informatizados e em fontes bibliográficas especializadas e organizadas em tabelas para consultas rápidas e imediatas.

Instituto Brasileiro de Plantas Medicinais, IBPM, Rua General Urquiza 128, 22431-040, Leblon, Rio de Janeiro, RJ, Brasil. 1

Rua Vice-Governador Rubens Berardo 65, Bloco 2, ap. 604, 22451-070, Gávea, Rio de Janeiro, RJ, Brasil. 2

Abstract Phytotherapy is a therapeutic practice which is usually obstructed due to the insufficiency of reliable information on diverse vegetal drugs and their respective extracts that are available in the Brazilian market. In order to help the correct driving of the receipts formulation and prescription by the physicians, a compilation of useful information on this theme, by collecting data in two data base and in specialized bibliographic sources, were accomplished and organized aiming quick and immediate accesses.

Introdução

*Correspondência: E-mail: [email protected]

Unitermos: Drogas Vegetais, Extratos, Farmacologia,Dose Diaria, Fitoterapia.

Key Words: Vegetal Drugs, Extracts, Pharmacology, Daily Dosage, Phytotherapy. 37 Revista Fitos

Vol.4 Nº01 março 2009

Com a crescente utilização da fitoterapia por profissionais de saúde, impulsionada pela grande produção científica, principalmente nas duas ultimas décadas, a cada dia mais drogas e extratos vegetais são colocados no mercado e introduzidos na terapêutica. Nesse processo de validação de inúmeras drogas vegetais de uso tradicional, nem sempre se dispõem de ensaios clínicos para definição das doses seguras e eficazes, obrigando freqüentemente o profissional prescritor a levantar os dados sobre o uso tradicional das espécies, tanto no que diz respeito às indicações quanto às doses, que, nesse caso, são sempre definidas como dosagens diárias. Neste aspecto, as informações costumam ser dispersas e discrepantes nas diversas fontes disponíveis, não só no que diz respeito à posologia, mas também na confirmação das atividades atribuídas ao uso tradicional. A essas indefinições ainda se somam as diferenças de padronização dos diferentes extratos desenvolvidos e disponíveis, dificultando sobremaneira o trabalho de farmacêuticos e prescritores na manipulação e utilização daqueles, acarretando erros de dosagem, com resultados negativos para os pacientes e para a credibilidade da fitoterapia como terapêutica. Revista Fitos

37 Vol.4 Nº01 março 2009

Artigo Original/Original Article

Material e Métodos Foram selecionadas 138 drogas vegetais disponíveis no mercado farmacêutico brasileiro, nas formas farmacêuticas mais comumente utilizadas na prática clínica dos médicos ligados ao Instituto Brasileiro de Plantas Medicinais (IBPM), na cidade do Rio de Janeiro. Desse elenco foram compiladas as informações consideradas mais relevantes para a caracterização e utilização dos produtos, iniciando pela revisão da nomenclatura botânica das espécies medicinais das quais derivam, respectivas partes utilizadas, padronizações, dosagens diárias, principais ações farma-

Drogas e Extratos Vegetais Utilizados em Fitoterapia

cológicas, indicações, efeitos adversos, precauções e contra-indicações. Foram escolhidas 17 fontes de informação, incluindo literaturas nacionais e internacionais de autores de reconhecido valor, além de duas bases de dados informatizadas internacionais, listadas ao final do trabalho. As informações foram referenciadas para permitir o rastreamento; e organizadas em tabelas, para facilitar a consulta.

Resultados e Discussão As informações selecionadas e respectivas referências estão listadas nas Tabela 1.

Tabela 1 – Relação de fitoterápicos compilados Nome científico / Farmacêutico / vulgar

Forma farmacêutica

Dosagem diária

Ações farmacológicas / indicações

Efeitos adversos/ Precauções/ Contra-indicações

Achillea millefolium

Tintura 20%

2,5 a 7,5 mL (1) 4 a 15 g (1)

Antitérmica, analgésica, expectorante, antidiarréica, anti-hipertensiva, antiinflamatória, hemostática e cicatrizante (1)

Contra-indicada na gravidez e em dispepsias hipersecretoras. Pode causar dermatite de contato, cefaleia e vertigem (1)

3 a 6 g (2)

Antiespasmódica, carminativa, sedativa (1),(2)

Não relatadas

Venotônica, adstringente, hemostática. Indicada para varizes, insuficiencia venosa dos membros inferiores e hemorróidas (1),(14)

Não é recomendado o uso em crianças com idade inferior a 10 anos, em gastrite, insuficiência renal ou hepática, gravidez e lactação, e tratamento com anticoagulantes (1),(3)

Imunoestimulante, anti-mutagênico, antitumoral, reduz a resistencia a insulina. Indicado na prevenção e como auxiliar no tratamento da diabete tipo 2 e do câncer (9)

Pode ocorrer diarréia temporária no início do tratamento. Como todo imunoestimulante não deve ser utilizado em patologias autoimunes ou em tratamento com imuno-supressores. Pode interagir com drogas hipoglicemiantes (9)

Herba Achillea Millefolii Mil-folhas

Rasurado

Aquileia Achyrocline Satureoides

Rasurado

Flos Achyrocline Satureoides

Tintura 20%

(1)

a 2 mL (2)

Marcela Ext. seco pad. em 20 a 22% de saponinas (aescina)

200 a 600 mg (1)

2,5 a 15 mL (1)

Castanha da Índia

Tintura 10% Uso ext.: Creme ou gel c/ 20% de extrato fluido ou glicólico

Agaricus blazei

Rasurado

Recomenda-se o consumo de 5 g diárias como prevenção.

Aesculus hippocastanum Semen Aesculi Hippocastani

Recomenda-se o consumo de 20 a 40 g para pacientes com câncer (SRC).

Cogumelo do Sol

Allium sativum

Planta fresca

4 a 6 g (11)(17)

Bulbus Allii Sativi



Alho

Óleo em cáps

0,5 a 1 g (1) (Eq. a 6 a 10 mg de aliina) (8) 0,1 a 0,4 mL (11) 4 a 15 mL (1)

Tintura 20% 38

Expectorante, anti-séptica, Contra-indicado em gastrihipotensora e hipocolestero- te, úlcera gastroduodenal lêmica, antioxidante, parasiti- e na lactação. Potencializa cida (oxiuros e trichiuros) a ação da varfarina e ouIndicado em gripes, restros anticoagulantes (1)(17) friados, verminoses, como antioxidante em dislipidemias e arteriosclerose (1)(17) Revista Fitos

Vol.4 Nº01 junho 2009

Artigo Original/Original Article

Aloe vera



Drogas e Extratos Vegetais Utilizados em Fitoterapia

Babosa

Gel mucilaginoso (uso externo)

20 a 100 mg como carminativo, 100 a 500 mg/dia como laxativo 500 a 1500mg/dia como purgativo (4)

Alpinia zerumbet

Rasurado

4 a 6 g (5)

Follium Alpiniae zerumbet

Tintura

20 a 30 mL (5)



0,5 a 1,5 g Tomar meia hora antes das refeições com 2 copos de água (1)

Efeito sequestrante, retarda a absorção de lipídeos e glicídeos, produz sensação de saciedade gástrica; reduz níveis de colesterol e triglicerídeos, laxante (1)

Contra-indicada em estenose esofágica ou pilórica (1)

Rasurado

2 a 5g (4)

Adstringente, antidiarreico, anti-inflamatório, hipoglicemiante, anti-hemorrágico(4)

Cuidado com super dosagem devido ao alto teor de taninos (5)

Cajueiro

Tintura 20%

5 a 25 mL (4)

Anemopaegma arvense

Rasurado

2 a 10 g (4)

Não relatadas

Radix Anemopaegmae Arvense Catuaba

Vasodilatadora, estimulante do SNC, atividade muscarínica(4),(6)

Tintura 20%

10 a 50mL (4)

Angelica archangelica

Rasurado

1 a 3 g (1)

Radix Angelicae Archangelicae

Tônica, emenagoga, carminativa e antiespasmódica, emoliente, anti-reumática (1),(14)

Tintura 10%

4 a 8 mL (1)

Contra-indicada na gravidez e diabetes. Pode causar fotossensibilidade e interagir com anticoagulantes (1),(14)

Ext. seco pad. mín. 1% de ligustilídeo

450 a 900 mg (SRC)

Dong quai ou Angelica chinesa

Rasurado

4,5 a 9 g (7)

Antiespasmódica uterina, reguladora da menstruação e antidismenorreica. Ações no metabolismo lipídico e na aterogênese. Antianêmica, anti-inflamatória e sedativa suave (13)

Gravidez e lactação Uso cuidadoso em pacientes com fluxo menstrual abundante e utilizando medicação anticoagulante e antiplaquetária (13)

Arctium lappa

Rasurado

2 a 10 g (4)

Radix Arctii Lappae

Tintura 10%

10 a 50 mL (4)

Antiinflamatória, antibacteriana, hipoglicemiante e diurética (3),(4)

Evitar uso na gravidez, lactação e em crianças, por insuficiencia de informações. Pode causar reações alérgicas e sintomas anticolinérgicos (9)

Rasurado

4,5 a 12 g (3) Equiv. a 400 a 840 mg de arbutina (8)

Anti-séptica urinária, antibacteriana e antiinflamatória (1)

Gravidez, lactação. Não utilizar por períodos prolongados devido ao alto teor de taninos (3)

Herba Aloe

Carminativa, laxativa e purgativa em uso interno, dependendo da dose Gel mucilaginoso é indicado para queimaduras dérmicas de varias etiologias em uso externo (1)(3)(14)

Uso interno contra-indicado na gravidez e lactação, durante a menstruação, hemorróidas, doenças renais, obstrução intestinal e em crianças menores de 10 anos (3)

Hipotensora, diurética, expectorante, sedativa. Indicada para hipertensão leve a moderada (5)

Não relatadas

Colônia Amorphophallus konjac Rhizoma Amorphophalli Glucomanan Anacardium occidentale Cortex Anacardii Occidentale

Angélica Angelica sinensis Radix Angelicae Sinensis

Bardana Arctostaphylos urva ursi Folium Arctostaphyli Uvae Ursii Uva Ursi

Revista Fitos

Extratos pad. em arbutina

Vol.4 Nº01 março 2009

39

Artigo Original/Original Article

Drogas e Extratos Vegetais Utilizados em Fitoterapia

Antiinflamatoria, analgésica, cicatrizante, antiséptica, antimicrobiana antifúngica, antihistamínica (1)

Uso externo pode produzir reações alérgicas cutâneas. Contra-indicada para uso interno devido a toxicidade (1)

Tintura 10%

2-4 % em forma de compressas embebidas (1) 5 a 25% em água, cremes, géis (1)

Artemisia vulgaris

Rasurado

1 a 6 g (4)

Folium Artemisae Vulgaris

Emenagoga, carminativa, antiespasmódica, anti-helmíntica, adstringente (1)

Contra-indicada na gravidez, lactação e em crianças (1)

Tintura 10%

5 a 30 mL (4)

Rasurado

9 a 30 g (7)

Imunoestimulante, adaptogênica, antibacteriana, hepatoprotetora, aumenta o débito cardíaco. Coadjuvante no tratamento do cancer, insuficiencia cardíaca e hepatopatias crônicas (9)

Não está determinada a segurança na gravidez e lactação Contra-indicado em pacientes transplantados em uso de imunossupressores e em patologias autoimunes (1) Contra-indicada na gravidez (14)

Arnica montana

Uso externo

Flos Arnicae Montanae

Infuso

Arnica

Artemísia Astragalus membranaceus

4 a 7 g (1)

Radix Astragali Astrágalo

Bacharis trimera

Rasurado

1 a 5 g (4)

Herba Bacharis

Tintura 20%

5 a 25mL (4)

Colagoga, hepato e gastroprotetora, hipoglicemiante e diurética (6)

Rasurado

5 a 20 g (6)

Hipoglicemiante, diurética (4)

Não relatadas.

Rasurado

(SRC)

Antiinflamatoria, hepatoprotetora antibacteriana (6)

Não relatadas

Ext. seco pad. mín. de 60% de ácidos boswelicos

600 a 1200mg

Antiinflamatória, analgésica, imunomoduladora Indicada no tratamento da artrite reumatóide, artrites crônicas, asma e condições broncoconstritivas (9)

Não relatadas

Carqueja Bauhinia forficata Folium Bauhiniae Forficatae Pata de Vaca Bidens pilosa Herba Bidens Pilosae Picão preto Boswelia serrata Bosvelia

Uso tópico: 5 a 8%

Creme

Bupleurum sinensis

Rasurado

3 a 9 g (7)

Hepatoprotetora, hipocolesterolemiante, antitérmica, analgésica, antiinflamatoria, colagoga, colerética, gastroprotetora, sedativa (10)

Não relatadas

Tintura 20%

2 a 10 % em gel, creme ou pomada (11)

Uso externo: antinflamatoria, reepitelizante, cicatrizante (1)(9)

Não relatadas

Ext. seco pad. Polifenóis totais 50 a 97%

240 a 320 mg de polifenóis (9)

Antioxidante, antineoplásica, gastroprotetora, hipolipemiante, termogênica

Evitar uso noturno. Pode causar constipação intestinal em consumidores habituais. Reduz a absorção de ferro e outros nutrientes (6),(14)

Radix Bupleuri Chai Hu Calendula officinalis Flos Calendulae Calendula Camellia sinensis Folium Camelliae Sinensis Chá verde 40

(12)

Revista Fitos

Vol.4 Nº01 junho 2009

Artigo Original/Original Article

Casearia sylvestris

Rasurado

Folium Caseariae Sylvestris

Drogas e Extratos Vegetais Utilizados em Fitoterapia

Gastroprotetora. Cicatrizan1 colher de chá folhas secas duas vezes te e hemostática em traumas (uso local) (6) ao dia (6)

Não relatadas.

Guaçatonga Cassia angustifolia C. Senna

Ext. seco 5,5 a 8 % de senosídeos

250 a 500 mg (15 a 30 mg de senosídeos) (9) 0,5 a 2 g (3)

Ação laxativa ou purgativa conforme a dose (1),(14)

Uso prolongado pode causar dependência; lesões no IG; dor abdominal, diarréia. Contra-indicada em obstrução intestinal, enterites e hemorroidas (1),(14)

Extrato pad. mín. 8% de fenóis

200mg a 600mg divididos em 3 tomadas antes das refeições (SRC)

Ação inibidora da enzima lipase com redução da absorção de gorduras. Auxiliar nas dietas de perda de peso. Reduz a pressão arterial e os niveis séricos de colesterol e ácido úrico (SRC)

Contra-indicada na gravidez e lactação. Pode inibir a absorção das vitaminas lipossolúveis como A, E, betacaroteno e outras. Recomenda-se uma suplementação das mesmas, incluindo a vitamina D Tomar pelo menos duas horas antes ou após o uso dos inibidores da lipase (SRC)

Rasurado

7 a 20 g (6)

Hipotensora, diurética, antiinflamatória (6)

Não relatadas



3 a 6 g (7)

Tônico tradicional da MTC Promove a regeneração tecidual e estimula a libido, a disposição geral (13)

Não relatadas

Ext. seco pad. 5% de asiaticosideos Rasurado

130 a 270 mg (11)

Uso externo: reepitelizante, adstringente, antiséptica e antipruriginosa Uso interno: venotônica, ativadora da microcirculação

Contra-indicada na gravidez e lactação Uso cuidadoso em gastrite, úlcera gastroduodenal (1),(14)

Folium Sennae

Rasurado

Sene Cassia nomame Fructus Cassiae Nomame Cassiolamina

Cecropia sp Folium Cecropiae Embaúba Cervus nippon Colla Cornu Cervi Gelatina de chifre de cervo Centella asiatica Herba Centellae Asiaticae

0,6 g a 1,8 g (3)

Centela

Creme ou pomada

Preparações 1 a 2 % do extrato (11)

Chlorella sp



1 a 10 g (14)

Alga Chlorellae Clorela Cimifuga racemosa

40 a 320 mg, corresp. a 1 a 8 mg do marcador (8)

Cinnamomum cassia

Rasurado

1 a 4,5 g (7)

C. zeylanicum



Black Cohosh

Cortex Cinnamomii canela da China e canela do Ceilão

Revista Fitos

Suplemento nutricional estimulante do sistema imune Auxilia controlar o peso ao produzir plenitude gástrica

Hipersensibilidade ao produto (14)

(14)

Ext. seco pad. mín. 2,5% de glicosídeos triterpênicos expressos como 27 – deoxiacteína Rasurado Tintura 10%

Rhizoma Cimicifugae Racemosae

(1),(14)

Tintura 20%

Vol.4 Nº01 março 2009

0,3 a 2 g (3) 2 a 4 mL (3)

250 a 1500 mg (1) 5 a 20 mL (SRC)

Age na hipófise reduzindo os picos de LH (14), antiinflamatória (14), auxiliar na osteopenia. Indicada em Síndrome Climatérica (9)

Antibacteriana, antifungica, antialérgica, antitérmica, carminativa, analgésica e antiespasmódica (3), (9), (14)

Evitar o uso em crianças menores de 12 anos, na gravidez e lactação (14) Uso cuidadoso por tempo prolongado (9)

Gravidez (14)

41

Artigo Original/Original Article

Citrus aurantium Folium Citri Aurantii Fructus Citri Aurantii Imaturus

Rasurado Tintura 20% Ext. seco mínimo 6% de sinefrina

Drogas e Extratos Vegetais Utilizados em Fitoterapia

2 a 8 g (4) 10 a 40 mL (4) 400mg a 1200mg (SRC)

Laranja da terra ou laranja amarga

Expectorante, antibacteriana, antiviral, antifúngica, antialérgica, carminativa (1) Ação adrenérgica e termogênica. Promove perda de peso pelo aumento da lipólise (9)

O extrato é contra-indicado para pacientes hipertensos, grávidas, lactantes, diabéticos e em tratamento com inibidores da MAO (9)

Obs. Pericarpium Citri Reticulatae, casca de tangerina, é utilizada na MTC para os mesmos fins que Folium Citri Aurantii, com componentes e atividades similares e dosagem diária de 3 a 9 g (7),(13) Coix lachryma- jobi

Rasurado

9 a 30 g (7)

Diurética, antiinflamatória, indicada em edema e artrite (7)

Não relatadas

Ext. seco pad. 10% forskolin

500 mg *src

Ativa a adenilato-ciclase, AMP cíclico e os canais de calcio, com efeitos cardiotônicos e relaxantes da musculatura lisa (9)

Possível interação com drogas vasoativas (9)

Reduz a secreção gáastrica, ação antidispéptica e antiúlcera (5)

Não relatadas

Semen Coicis Lágrima de Nossa Senhora Coleus barbatus Folium Coleus Barbati Falso Boldo

Commiphora wightii

Rasurado

3 a 9 g (5)

Ext. seco pad. min. 2,5% de gugulsterois

2 a 6 g (9)

Inibe a sintese de colesterol, anti-lipoperoxidante, antiinflamatoria, indicada em hipercolesterolemia e acne nódulo-cística (9)

Pode causar cefaleia, nausea, vômitos, diarreia e dermatite. Possível interação com drogas antiadesivas plaquetárias (9)

Cordia verbenacea

Rasurado

3 a 9 g (6)

Não relatados

Herba Cordiae Verbenaceae

Tintura 20%

Antiinflamatória, gastroprotetora, cicatrizante (6)

15 a 45 mL (SRC)

Pó Tintura 20%

3 a 5 g (1),(14) 4,5 a 7,5 mL divididos em 3 tomadas após refeições (1),(14)

Carminativa, antiespasmódica, antiflatulenta, estrogênica (1),(14)

Contra-indicada na gravidez, lactação e crianças abaixo de 2 anos (1),(14)

Rasurado Tintura 20%

2,5 a 10 g (4) 10 a 50 mL (4)

Tradicionalmente propriedades atribuídas: diurética, tônica, depurativa, adstringente (6)

Não relatadas

Ext. seco pad. 2% de vitexina e 20% de procianidinas

250 a 900 mg (9),(11)

Disturbios gastro-intestinais, palpitações, cefaleia e vertigens (9)

Tintura 10%

3 a 6 mL (11)

Cardiotônica, vasodilatadora coronariana, antiarrítmica, hipotensora, hipocolesterolemiante, antioxidante, sedativa leve (9)

Rasurado

1 a 3 g, divididas em 3 tomadas (6)

Tradicionalmente considerada hipotensora, antiaterosclerótica; anticolinesterásica e hipotensora (6)

Não relatadas

Guggul

Erva Baleeira Coriandrum sativum Fructus Coriandri Sativi Coentro Costus spp Folium Costi Spicati Cana do brejo Crataegus laevigata C. monogyna Folium, Fructus e Flos Crataegi Crataego Cuphea carthagenensis Herba Cupheae Carthagenensis Sete sangrias

42

Revista Fitos

Vol.4 Nº01 junho 2009

Artigo Original/Original Article

Curcuma longa



Rhizoma Curcumae Longae

Drogas e Extratos Vegetais Utilizados em Fitoterapia

3 a 9 g (7) 500 a 3000mg (9)

Antiinflamatória, antiagregante plaquetária, antioxidante, hepatoprotetora, hipocolesterolemiante, antidispéptica, antitumoral (9)

Contra-indicada na gravidez e lactação. Cuidado na associação com anticoagulantes e na litíase biliar (1),(9)

Curcuma Curcuma zedoaria

Pó Tintura

1 a 5 g (4) 5 a 25mL (4)

Carminativa, colagoga, colerética, anti-inflamatoria, citotóxica, antifungica (9)

Contra-indicada na gravidez e lactação (6)



0,5 a 5 g meia hora antes de cada refeição com 1 a 2 copos de água (1)

Dimimue a absorção de lipídeos e glicideos, prolonga a sensação de saciedade e laxante suave (1)

Contra-indicada para crianças até 10 anos, gravidez e lactação e nas estenoses esofágica, pilórica e intestinal. Reduz em 25% absorção intestinal de glibenclamida, fenoximetilpeni-cilina e igoxina (1)

Rasurado das folhas frescas

7 a 30 g (15)

Expectorante, antiespasmódica, sedativa leve, antimicrobiana, diurética leve (15)

Ausência de efeitos mutagênicos e carcinogênicos. Pode bloquear o efeito do retinol (Vit. A) (15)

Ext. seco pad. 2% de cinarina

375 a 625 mg (11)

Alcachofra

Rasurado

3 a 12 g (3)

Cyperus rotundus

Rasurado

Rhizoma Curcumae Zedoariae Zedoária Cyamopsis tetragonolobus Gomma Cyamopsis Tetragonolobi Goma guar

Cymbopogum citratus Folium Cymbopogonis Capim-limão Cynara scolymus Folium Cynarae

6 a 9 g (7)

Relaxante da musculatura uterina, estrogênica; carminativa, estimula a secreção gástrica e salivar; indicada em dismenorreia e cólicas menstruais (13)

Contra-indicado em metrorragias, gravidez e mioma uterino devido a ação estrogênica (13)

250 a 750 mg (SRC)

Sensibiliza positivamente os receptores estrogênicos. Eficácia na Síndrome Climatérica não comprovada clinicamente (9)

Contra-indicada na gravidez e lactação (9)

Imunoestimulante em resfriados e infecções respiratórias; bacteriostática, antiviral (3)

Contra-indicada na gravidez, lactação e hepatopatias, tuberculose, colagenopatias, esclerose múltipla, síndrome de imunodeficiência adquirida e outras desordens imunológicas, e em uso prolongado (8),(17)

Rhizoma Cyperi Rotundi Tiririca Dioscorea villosa

Ext. seco pad.

Rizoma Dioscoreae Villosae

mín. 6% de diosgenina

Inhame mexicano Echinacea purpurea

Colerética, colagoga, redutoGravidez e lactação ra do colesterol e trigliceríde- (reduz a secreção do leite). os, hepatoprotetora, laxativa, Uso contra-indicado em obsdiurética (3) trução das vias biliares. (11)

Rasurado

1 a 5 g (16)

Ext. seco pad. 4% ac. chicórico

250 a 750 mg (11)

Echinodorus macrophyllus Herba Echinodori Macrophylli Chapéu de couro

Rasurado

2 a 10 g (4)

Diurética, depurativa, antiinflamatória, hepatoprotetora (4)

Não relatadas

Eclipta alba

Rasurado

6 a 12 g (7)

Imunomoduladora hepatoprotetora (4)

Não relatadas

Herba Echinaceae Purpureae Equinácea

Herba Elipta Albae Erva botão Revista Fitos

Vol.4 Nº01 março 2009

43

Artigo Original/Original Article

Ephedra sinica

Rasurado

1,5 a 9 g (7)

Herba Ephedrae Efedra

Drogas e Extratos Vegetais Utilizados em Fitoterapia

Sudorífica, antitérmica, Contra-indicada em hiperantiviral, diurética, agonista tensão arterial, cardiopatias, adrenérgica, vasoconstritora diabetes, hipertiroidismo, periférica, hipertensora, bron- glaucoma, gravidez, lactacodilatadora, cardiotônica (13) ção, HBP Não associar com cardiotônicos, simpaticomiméticos, simpaticolíticos e IMAO (13),(14)

Equisetum arvensis

Rasurado

2 a 4 g (1)

Diurética, remineralizante, adstringente (13)

Contra-indicada na gravidez e lactação, gastrite e úlcera gastro-duaodenal (1),(13)

Rasurado

1 a 4 g (4)

Sedativa, hipotensora, antiarrítmica, indicada em insônia, ansiedade e palpitações (6)

Não relatadas. Não utilizar as sementes, pois são tóxicas (6)

Rasurado

1 a 5 g (4)

Expectorante e mucolítica, anti-séptica, antitérmica 1,6

Contra-indicada na gravidez, lactação e crianças menores de 2 anos (1),(14)

Rasurado

1 a 2 g (4)

Antiespasmódica, carminativa, galactagoga, estrogênica, indicada em amenorreia e dismenorreias (1),(14)

Contra-indicada na gravidez (1)

Rasurado

10 a 20 g (1)

Remineralizante, diurética, estimulante da tireoide. Produz sensação de plenitude gástrica, hipolipemiante (1),(3)

Hipertiroidismo, gravidez, lactação (3)

Ext. seco pad. mín. 50% de AHC (ácido hidroxicítrico)

1 a 3 g (9)

Teoricamente reduz a síntese de gorduras (9)

Pode causar náusea, desconforto gastro-intestinal e cefaleia. Não há dados seguros sobre o uso na gravidez e lactação (9)

Ext. seco pad. 75% de ácidos gimnêmicos

150 a 400 mg (9)

Hipoglicemiante, reduz a absorção intestinal de glicose e estimula as cels. beta e a secreção de insulina (9)

Gravidez Uso cuidadoso com hipoglicemiantes (9)

Ext. pad. mín. 24% de glico-flavonóides e 6% de terpenos

80 a 240mg (1),(9)

Neuroprotetora, vasodilatadora periférica, protetora capilar (aumenta a resistencia e diminui a permeabilidade), venotônica, antiagregante plaquetaria (1),(9)

Contra-indicada na gravidez e lactação Evitar uso concomitante com vasodilatadores, aspirina, varfarina, diuréticos tiazídicos, trazodona. Pode reduzir a ação de diversas drogas, devido a indução hepática. (1),(9)

Herba Equiseti Arvensi Cavalinha Erythrina mulungu Cortex Erythrinae Mulungu Mulungu Eucalyptus globulus Folium Eucalypti Globuli Eucalipto Foeniculum vulgaris Fructus Foeniculi Vulgari Funcho Fucus vesiculosus Alga Fuci Vesiculosi Fucus Garcinia camboja Fructus Garciniae Cambojae Garcínia Gimnema sylvestris Folium Gymnemae Sylvestris Gimnema Ginkgo biloba Folium Ginkgo Bilobae Ginko biloba

44

Revista Fitos

Vol.4 Nº01 junho 2009

Artigo Original/Original Article

Glicyne max

Ext. seco pad. 40% de isoflavonas

Semen Glycine Max

Drogas e Extratos Vegetais Utilizados em Fitoterapia

Moduladora de estrogênio, 100 a 250mg Deve ser tomado pela antioxidante, antiproliferativa manhã, em jejum; ou e antimutagênica. Protetora vascular e óssea. Imunoentre refeições (9)

Evitar o uso em pacientes utilizando tamoxifeno (9)

estimulante, redutora do colesterol (9)

Soja Glycyrrhiza glabra ou G. uralensis

Rasurado

1,5 a 9 g (7)

Radix Glycyrrhizae

Imunomoduladora, adaptogênica, antialérgica, antitussígena. Estrogênica suave, antiinflamatória, gastro e hepatoprotetora, antitóxica (1),(3),(13)

Alcaçuz



Gelidium amansii Agar-Agar Harpagophytum procumbens Bulbus Harpagophyti Procumbi Garra do diabo

Ext. seco pad. 5% de harpagosídeos (iridóides glicosilados)



Humulus lupulus

Uso prolongado em altas doses pode aumentar a pressão arterial, e causar efeitos adversos semelhantes aos dos corticóides. Gravidez e lactação. Uso cuidadoso em hipertensão arterial, hiperestrogenis-mo, diabetes (1),(3),(13)

2 a 30 g dependendo Laxante suave, absorve água da fonte pesquisada. para a luz intestinal,(9)estimula a peristalse Deve ser tomada com (9) 2 copos de água

Contra-indicada em obstrução intestinal (9)

1 a 2 g (correspondente a 50 a 100 mg de harpagosídeos) (9)

Antiinflamatória e analgésica leve Utilizado na osteoartrite e outras condições inflamatórias (9)

Contra-indicada na gravidez, lactação. Pode causar diarréia, náusea, vômitos, dor abdominal e reações alérgicas na pele

Sedativa e anafrodisíaca. Indicado em insônia, inquietude, cefaléia tensional, colite mucosa, priapismo, ejaculação precoce, ansiedade

Contra indicado na gravidez, lactação e depressão

500 a 1500mg (1),(3)

Strobulus Lupuli Lúpulo

(9),(14)

(3),(14)

(1),(3),(14)

Huperzia serrata

Ext. pad. mín. 1% de huperzine A

40 mg divididos em 2 tomadas (9)

Potente inibidor da acetilcolinesterase; melhora a memória e a cognição. Indicado para quadros de demência (9)

Pode ter efeito aditivo com drogas inibidoras da colinesterase e antagônico com drogas anticolinérgicas(9)

Ext. seco pad. min. 0,3% de hipericina

600 a 900mg divididos em 2 a 3 tomadas (11)

Antidepressiva, levemente ansiolítica e reguladora do sono Antiviral Ativadora de sistemas hepáticos de metabolização de drogas (citocromo P450)

Contra-indicado na gravidez e lactação. Pode reduzir as concentrações plasmáticas de varfarina, ciclosporina, teofilina, contraceptivos orais, antidepressivos tricíclicos, anti-retrovirais e outras drogas metabolizadas por essa via (11)

Radix Huperziae Serratae Huperzia Hypericum perforatum

Herba Hyperici Perforati Hipérico

Illicium verum

(3),(11)

Rasurado

1 a 2 g (1)

Fructus Illicii Verae

Carminativa, eupéptica, antiespasmódica e galactagoga (1)

Contra-indicada na gravidez, lactação e hiperestrogenismo (1)

Anis estrelado Leonurus sp. Herba Leonuri Erva Macaé Revista Fitos

Vol.4 Nº01 março 2009

Rasurado

2 a 6g (9),(17)

Tônica, reguladora uterina, antiagregante plaquetária e antitumoral, cardiotônica (9),(17)

Usar cautelosamente em pacientes com alterações cardiovasculares. Pode interagir com cardiotônicos. Contra-indicada na gravidez e lactação (9),(17)

45

Artigo Original/Original Article

Drogas e Extratos Vegetais Utilizados em Fitoterapia



1,5 a 3g (9)

Tônica e afrodisíaca (9)

Não relatadas

Semente

10 a 40 g (9)

Em altas doses pode causar diarréia. Contra-inidcada em estenose esofágica e pilórica ou obstrução intestinal e abdome agudo. (1),(9)

Linhaça

Óleo da semente

15 a 30 mL (9)

Reduz os níveis sanguíneos de colesterol e triglicerídeos. Hipoglicemiante leve. Antioxidante. Leve atividade estrogênica, indicada para Sindrome Climatérica e osteoporose. Constipação intestinal (1),(9)

Malpighia glabra

Ext. seco 26,5% de Vit. C

De acordo com as doses usuais de vit.C

Fonte natural de vitamina C, antioxidante (6)

Não relatadas.

Malva sylvestris

Rasurado

5 g (17)

Não relatadas

Folium Malvae

Decocção p/ uso externo

30 a 50 g/L em compressas e cataplasmas (1)

Demulcente, antiinflamatória das mucosas, antitussígena (1)

Matricaria chamomilla

Rasurado

3 a 12 g (4), (11)

Flos Matricariae Chamomillae

Infuso p/ uso externo

50 a 60 g/l em compressas e cataplasmas (1)

Deve ser usada com cautela por gestantes, possui ação emenagoga. Em indivíduos sensíveis pode causar náuseas e dermatite de contato (1),(3),(11)

Camomila

Tintura 20%

10 a 30 mL (4)

Carminativa, antiespasmodica, sedativa leve, ansiolítica, antiinflamatória, gastroprotetora. Indicada em dispepsias, patologias inflamatorias e espasmódicas do sistema digestório, ansiedade (1),(6),(8),(11) Antiulcerogênica, antibacteriana, antitumoral, analgésica, aumenta o volume e o ph do suco gástrico (6)

Contra-indicada na gravidez, lactação e crianças menores de 6 anos (11)

Carminativa, eupéptica, espasmolítica, antiséptica, sedativa, anti-herpes em uso tópico (11),(17)

Contra-indicada no hipotiroidismo, gravidez e lactação (11)

Antiséptica, espasmolítica, colerética, colagoga, carminativa, mucolítica, expectorante, descongestionante (1)

Contra-indicada na gravidez, lactação e em crianças menores de 6 anos. Pode causar transtornos digestivos em indivíduos sensíveis e portadores de dispepsias. Em uso tópico pode causar dermatite de contato (1)

Lepidium meyenii Radix Lepidii Meyenii Maca Linum usitatissimum Semen Lini Usitatissimi Oleum Lini

Fructus Malpighia Glabrae Acerola

Flos Malvae Malva

Maytenus ilicifolia M. aquifolium Folium Mayteni Espinheira Santa

Ext. seco pad. em % de 60 a 90 mg de taninos (8),(11) taninos Rasurado

5 a 20 g (4)

Melissa officinalis

Ext. seco 5:1

330 a 900 mg (14)

Herba Melissae Officinalis

Rasurado

1,5 a 4,5 p/ xícara, de 1 a 3 x/dia (17)

Melissa Mentha piperita

Herba Menthae Piperitae Hortelã-pimenta

46

Rasurado

3 a 6 g (17)

Tintura 20%

2-3 mL, 3 x/dia (1)

Óleo essencial

Uso int. 0,2-0,4 mL 3 x/dia- Síndrome de intestino irritável: 0,2-0,4 mL, 3 x/dia, cáps ou comprimidos entéricos (1). Uso ext. 3 a 4 gotas do O.E. em água fervente p/ inalação (1) Preparações líquidas ou semisólidas: 0,11% do O.E. (1)

Uso tópico: analgésica, antipruriginosa (1)

Revista Fitos

Vol.4 Nº01 junho 2009

Artigo Original/Original Article

Mentha pulegium

Rasurado

Herba Menthae Pulegii

Drogas e Extratos Vegetais Utilizados em Fitoterapia

500mg a 2g (4)

Expectorante, antigripal, antibacteriana, antifúngica (1),(6)

Contra-inidicada na gravidez, lactação, e crianças menores de 6 anos. Contra-indicada a inalação e o uso prolongado, devido a toxicidade da pulegona (1),(6)

Broncodilatadora, expectorante, antitussígena, antinflamatória, antibacteriana (6),(15)

Não relatadas

1 a 10 mL (4)

Poejo

Tintura 10%

Mikania glomerata

Rasurado

1 a 4 g (4)

Guaco

Tintura 20%

5 a 20mL (4),(15)

Monascus purpureus

Ext.seco pad. a 0,4% de monacolinas

2,4 a 3,2 g (12)

Nasturtium officinalis

Planta fresca

20 a 30 g (17)

Herba Nasturtii Officinalis

Planta seca Sumo

4 a 6 g (17) 60 a 150 g (17)

Ocimum basilicum O. gratissimum O. selloi Herba Ocimi Alfavaca

Rasurado

Oenothera biennis

Folium Mikaniae Glomeratae

Red Yeast Rice

Pode causar irritação gástriReduz as concentrações ca, desconforto abdominal totais de colesterol. e elevação das enzimas Reduz os níveis de colesterol hepáticas. LDL e triacilglicerol. Teoricamente pode causar os Eleva o nível de colesterol mesmos efeitos adversos que HDL (12) a lovastatina (dor, fraqueza muscular); contra-indicada na gravidez, hepatopatias e menores de 18 anos (12) Antioxidante, inibe carcinogênicos do tabaco (6) Tradicionalmente indicado para afecções catarrrais do trato respiratorio (6), (17)

Excesso pode causar irritação do estomago e vias urinárias (1); contra-indicado em úlceras gástricas e intestinais e para crianças abaixo de 4 anos (17)

1 colher de sobremesa das folhas e inflorescencias frescas p/ 1 xícara 2 a 3 x/dia (6)

Antiespasmódica, carminativa, galactogênica, anti-séptica pulmonar (6), (14)

Contra-indicada na gestação (17)

Óleo pad. 8% de GLA

3 a 8 g p/ adultos 2 a 4 g p/ crianças (3)

Tensão pré-menstrual, mastalgia cíclica, endometriose, eczema atópico, neuropatia diabética, hiperatividade em crianças (3)

Contra-indicado em epilépticos. Uso cuidadoso durante a gravidez (3)

Rasurado

6 a 12 g (17)

Ostrea sp Concha Ostreae in Pulvis Pó de ostras



1 a 2 g em caps. src 9 a 30 g em decocção

Panax ginseng

Ext. seco pad. mín. 5% de ginsenosídeos

Oleum Oenotherae Biennis Prímula Orthosiphon spicatus Folium Orthosiphonis Chá de Java

Radix Ginseng

Ginseng

Revista Fitos

(7)

Rasurado (decocto)

100 a 600mg (8) 3 a 9 g (7) 1 a 2 g (17) 2,5 a 10 mL (1)

Tintura 20%

Vol.4 Nº01 março 2009

Diurética, antiespasmódiContra-inndicado em insuca. Indicada em processos ficiencia renal ou cardíaca (17) inflamatórios e infecciosos do sistema urinário. Aumenta eliminação de acido úrico (1),(17) Fonte de sais de cálcio, antiácida (inibidora da secreção gástrica) (13)

Não relatadas

Evitar o uso na gravidez e Adaptôgenica, tônica, reguladora do SNC, aumenta a lactação por falta de dados (3) resistencia inespecífica às Uso cuidadoso em pacientes enfermidades. com disturbios cardiovasculaLevemente hipoglicemiante e res, usuários de IMAO e em hipocolesterolemiante, esticasos de antecedentes de mulante dos sistemas imune úlcera gastroduodenal. e hematopoiético, antianêInterage com hipoglicemianmica, antifadiga, anti-cancer, tes, anticoagulantes (aumenantienvelhecimento, eleva o ta o TP e o TPT), imunossunumero e a motilidade dos pressores, diuréticos (9) (13) espermatozóides 47

Artigo Original/Original Article

Drogas e Extratos Vegetais Utilizados em Fitoterapia

Passiflora incarnata P. alata

Ext. seco pad. a 3,5% de isovitexina

200 a 300mg (11)

Folium Passiflorae

Rasurado

4 a 8 g p/ P. Incarnata

Passiflora

Tintura (1:8 em alcool 45%)

Paullinia cupana



0,5 a 2 g (8)

Semen Paulliniae Cupanae

Ext. seco pad. em cafeína

15 a 70 mg de cafeína

Guaraná

Tintura 10%

2,5 a 10 mL (8)

Persea americana

Rasurado

2 a 10 g (4)

(17)

1,5 a 6 mL em 3 tomadas (3),(11)

(8)

Folium Persae Americanae

Sedativa, ansiolítica, hipnótica suave, miorrelaxante e espasmolítica, estabilizadora do SNC (3),(12)

Evitar o uso na gravidez e lactação e a associação com depressores do SNC (3)

Estimulante do sistema nervoso central, antioxidante, relaxante muscular, antiagregante plaquetaria, antidiarreica (6)

Pode causar insônia, nervosismo, inquietude, irritação gástrica, náuseas, vômitos, taquicardia, tremores, delírios, convulsões, e diurese, bem como potencializar a ação de drogas estimulantes do SNC e simpaticomiméticas (9) Contra-indicada em hipertensão arterial, gastrite, úlcera péptica, hiper-tireoidismo (1)

Diurética, colagoga e emenagoga (4)

Não relatadas

Abacateiro Peumus boldus

Ext. seco pad. em alcalóides totais expressos como boldina

Correspondente a 2 a Colerética, colagoga, antiespasmódica, aumenta a 5 mg de boldina (8) secreção gástrica (3),(17)

Contra-indicado em hepatites, obstrução das vias biliares, gestação, lactação, crianças e uso contínuo e prolongado. Devido a ação antiplaquetária, pode interagir com varfarina. Pode potencializar drogas hepatotóxicas e, em altas doses ser nefrotóxico por conter ascaridol no O.E. (3),(9),(17)

Folium Peumi Boldi

Rasurado

3 g (17) .

Boldo do Chile

Tintura 20%

1,5 a 6 mL (3),(9)

Pfaffia paniculata P. glomerata

Rasurado

1 a 2 colheres de sobremesa (6)

Tônica, adaptogênica, imunoestimulante, antitumoral (9)

Não relatadas. Não está estabelecido o uso seguro na gravidez e lactação.

Ext. seco

250mg a 1000mg/dia de faseolamina, sempre 30 minutos antes das refeições (SRC)

Inibe a enzima alfa-amilase bloqueando a absorção de parte dos carboidratos ingeridos na dieta, na forma de glicose. Reduz a absorção de gorduras. Levemente hipolipemiante e hipoglicemiante (9)

Pode interagir com hipoglicemiantes (9)

Phyllantus spp. P. niruri, P. Amarus, P. Tenellus, P. urinaria

Rasurado (infusão)

10 a 20g/ lt

Uso cuidadoso na gravidez devido às ações purgativa e abortiva em altas doses (15)

Herba Phyllanthi

Planta fresca (Infusão)

30 a 40g/ lt (6),(15)

Quebra pedra

Tintura 20%

5 a 20 mL (4)

Tem ação diurética, antibacteriana, analgésica, relaxante dos ureteres, antiinflamatória. Aumenta a filtração glomerular e a eliminação de ácido úrico, antiviral p/ hepatite B (6),(15)

Piper methysticum

Ext. seco pad. 30% de kavalactonas

200 a 700mg, divididos em 3 x ao dia

Sedativa, ansiolitica, analgésica, antinflamatoria e antiespasmódica. Reduz o quadro de abstinencia de benzodiazepínicos (9)

Contra-indicada na gravidez e lactação e hepatopatias. Interações com álcool, benzodiazepínicos e outros depressores do SNC (9)

Radix Pfaffiae Fafia, Ginsng Brasileiro Phaseolus vulgaris Faseolamina

Rizoma Piperis Methystici Kava kava 48

(6),(15)

(9)

Revista Fitos

Vol.4 Nº01 junho 2009

Artigo Original/Original Article

Drogas e Extratos Vegetais Utilizados em Fitoterapia

Rasurado

3 a 6 g (15)

Tintura 20%

6 a 12 mL (3)



Psidium guajava Folium Psidii Guajavae

Plantago major P. lanceolata

Antimicrobiana, antiviral, antiinflamatória, analgésica, hepatoprotetora, imunoestimulante (15)

Uso cuidadoso na gravidez. Podem ocorrer efeitos laxativo e hipotensivo em doses elevadas e reações alérgicas devido a elevação da IgE (15)

10 a 30 g divididos em 2 ou 3 doses com bastante líquido (9)

Laxativo mecânico suave, emoliente e demulcente. Levemente hipoglicemiante e hipolipemiante, pois reduz a absorção de glicídeos e lipídeos (9)

Pode causar flatulência, potencializar a ação de hipoglicemi-antes orais, e reduzir a absorção de lítio; ferro, carbamazepina e digoxina; contra-indicado em cólicas abdominais de origens desconhecidas, estenose esofágica ou intestinal (9)

Rasurado

5 a 10g (15)

Tintura

10 a 50mL (4)

Antidiarréica, espasmolítica, antimicrobiana, antiviral, hemostática, hipoglicemiante, antiinflamatória analgésica, protetora da mucosa intestinal (15)

Não utilizar por mais de 30 dias, nem na gravidez e lactação (15)

Rasurado

0,5 a 2 g (4)

Estimulante da libido e da ereção (6)

Não relatados

Tintura 20%

2,5 a 10mL (4)

Rasurado

15 a 20 g (1)

Adstringente, antidiarréica, antibacteriana (6)

Contra-indicada na gravidez e lactação em uso interno. Doses equivalentes a 80 g ou mais produzem grave intoxicação do SNC, com parada respiratoria (6)

Herba Plantaginis Tanchagem Plantago psyllium Semen Plantaginis Psyllii Psyllium

Goiabeira Ptycopetalum olacoides Radix Ptycopetali Marapuama Punica granatum

Uso ext. em gargarejos, bochechos e compressas – 1 colher de sopa p/ 1 xícara em decocção (6)

Pericarpum Punicae Granatii Romã Pygeum africanum Cortex Pruni Africanae Pigeum

Ext. seco pad. mín. de 13% de esteróis

75 a 200mg (15)

Atividade antiinflamatória antiproliferativa, estimulante da secreção prostática (9)

Evitar o uso na gravidez e lactação. Pode causar náuseas e dores abdominais (15)

Rasurado

9 a 15 g (7)

Hipoglicemiante, imunoestimulante, antitumoral, hepatoprotetora, cardiotônica, diurética, antiinflamatória, antianêmica, antibacteriana

Não está estabelecido o uso seguro na gravidez e lactação

Rehmannia glutinosa Radix Rehmanniae Preparatae

(13)

Shu Di Huang

Cortex Rhamni Purshianae

Ext. seco pad. mín. 8% de heterosídeos antracênicos (cascarosideo A)

250 a 375mg 20 a 30 mg de cascarosídeo A (8),(17)

Cáscara Sagrada



250 a 750 mg (1)

Rhamus frangula



0,5 a 2,5 g ao dia, como laxante, e 4 a 5 g como purgante (1),(3)

Rhamnus purshiana

Cortex Frangulae Frangula Revista Fitos

Vol.4 Nº01 março 2009

Laxante em doses baixas, purgante em altas doses (1)

Gestantes, lactantes e crianças menores de 12 anos e na obstrução intestinal. Não utilizar em períodos prolongados, mais de 1 a 2 semanas, nem para tratamento de constipação intestinal crônica. Uso prolongado pode causar lesões no intestino grosso (1),(17)

Laxante ou purgante (1),(3)

Mesmos efeitos adversos, precauções e contra-indicações da cáscara sagrada, apesar de ser considerada um pouco menos tóxica (1),(17) 49

Artigo Original/Original Article

Rheum palmatum R. officinale



Radix et Rhizoma Rhei Ruibarbo

Drogas e Extratos Vegetais Utilizados em Fitoterapia

Adstringente tônico e digestivo: 30 a 300 mg/dose Laxante: 200-500 mg/dose. Purgante: 1-4 g/dose (1),(13)

Rosmarinus officinalis

Em doses acima de 300 Em doses baixas mg apresenta os mesmos (30 a 300 mg) predomiefeitos adversos dos lana a ação adstringente e xantes com antraquinonas. antidiarreica dos taninos; e em doses mais altas, a ação Administração crônica pode causar alterações no fígado, purgativa das antraquinotireoide e estômago (1),(13) nas. Efeitos: hipotensor e hipolipemiante, indicado para Síndrome Metabólica (1),(13)

Rasurado

4 a 6 g (17)

Carminativa, antiespasmódic a,antioxidante, anti-inflamatoria, bactericida e fungicida. Estimula a circulação periférica em uso externo (3),(17)

Uso cuidadoso na gravidez devido a suposta ação emenagoga. Em uso externo, preparações tópicas contendo o óleo essencial podem causar irritação da pele (3),(17)



4 a 10 g (1)

Orexígena, digestiva, regeneradora da flora bacteriana intestinal; indicado após o tratamento com antibióticos; utilizado tradicionalmente para acne e furunculoses

Não relatadas

Folium Rosmarinii Officinali Alecrim Saccharomices cerevisiae Levedo de cerveja

(1),(17)

Salix alba

Rasurado (decocto)

3 a 9 g (3)

Cortex Salicis Albae

Extratos pad.

60 a 120 mg de salicina (17)

Rasurado

9 a 15 g (7)

Vasodilatadora coronariana, Pode causar trombocitopeprotetora do miocárdio, nia desconforto gástrico, antianginosa, hipolipemiante, prurido e redução do apetite (9) antiagregante plaquetaria, fibrinolítica e anticoagulante, sedativa, antitumoral. Indicada em aterosclerose cerebral, obstrução das coronarias, insônia, irritabilidade e síndrome pré-menstrual (13)

Rasurado

4 a 6 g (17)

Carminativa, antisudorífica, antioxidante, hipoglicemiante, estrogênica, antibacteriana, anticolinesterásica, ativadora da memória (3),(17)

Contra-indicada na gravidez e lactação, insuficiência renal e tumores mamários estrógeno-dependentes(14). Pode causar nauseas, vomitos, dor abdominal, tonteiras, agitação. Pode elevar a PA em pacientes hipertensos. Por conter tujona e cânfora pode ser neurotóxica e hepatotóxica e causar convulsões em altas doses (9)

Rasurado

1,5 a 6 g (7)

Adstringente, antioxidante, anti-PAF, cardiotônica, hepatoprotetora, detoxificante, interfere com a metabolização hepática de drogas Combinada ao Ginseng beneficia a consolidação da memoria, estimulante do centro

Contra-indicada na gravidez e lactação (13)

Analgésica, antitérmica, antiinflamatória (3)

Salgueiro branco

Salvia miltiorrhiza Radix Salviae Miltiorrhizae Salvia vermelha, Salvia chinesa, Dan Shen

Salvia officinalis Folium Salviae Officinalis Salvia

Schisandra sinensis Fructus Schisandrae Chinensis Wu Wei Zi

50

Hipersensibilidade aos salicilatos. Evitar a prescrição a pacientes com úlceras gastroduodenais, , hemorragias ativas ou em tratamento com derivados do ácido acetil salicílico ou outros anticoagulantes (1),(9)

Revista Fitos

Vol.4 Nº01 junho 2009

Artigo Original/Original Article

Drogas e Extratos Vegetais Utilizados em Fitoterapia

respiratorio, antitussígena e expectorante. Estimula a contração uterina e a produção do esperma. Indicada para hepatites crônicas e tradicionalmente para tosse, gripe, neurastenia, disenteria, dispepsia e fraturas ósseas (13)

Rasurado

Scutellaria baicalensis

Antibacteriana, antitérmica, detoxicante, antinflamatória, antitumoral, anti-HIV-1, antioxidante, diurética, hipotensora, antialérgica. Indicada em infecções das vias aéreas superiores, como amigdalites e laringo-faringites, escarlatina, hepatites virais, nefrites e anexites (13)

Contra-indicada na gravidez

Antiandrogênica, antiproliferativa, anti-inflamatoria, inhibitoria das 5 alpha-redutases 1 e 2 e preventiva da conversão da testosterona para dihidrotestosterona (DHT) in vitro (9)

Contra-inidcada na gravidez e lactação. Tonteiras, cefaleia, e alterações gastrointestinais como nauseas, vômitos, constipação e diarreia, são os efeitos adversos mais frequentes (9)

Indicado para tonteiras, visão turva, acúfenos e constipação intestinal (7)

Sem relatos de efeitos adversos e contra-indicações na literatura consultada.

Hepatoprotetora, detoxicante, colagoga. Indicada para hepatites tóxicas (6),(14)

Contra-indicado com IMAO(14)

Antibiótica, anti-sifilítica, anti-lepromatosa, diurética, laxativa, antinflamatoria, hepatoprotetora (6),(9)

Contra-indicada para crianças, na gravidez e lactação (9)

Afecções do figado: icterícia, hepatite, insuficiência hepática (4)

Não relatadas.

1 a 4 g (raiz) (4)

3 a 5 g (9)

Nutritiva, redutora do apetite, rica em proteínas e ferro biodisponível, antioxidante (9)

Normalmente bem tolerada. Quando contaminada por especies tóxicas de outras algas azuis, como Microcystis aeruginosa, pode causar forte hepatotoxicidade devido a microcistinas, com icterícia, dor e distensão abdominal, nauseas, vomitos, astenia, sede excessiva, pulso fraco e rápido, choque e morte (9)

3 a 9 g (7)

Radix Scutellariae Baicalensis Huang Qin Escutelaria Serenoa repens Fructus Serenoae Repens

Ext. lipofílico pad. 80 a 90% de acidos graxos(9)

320 mg, em dose única ou 160 mg 2x/dia (9)

Saw palmetto

Sesamum indicum Semen Sesami Nigrum

Sementes tostadas e rasuradas (7)

9 a 15 g (7)

Gergelim preto Silybum marianum

Rasurado

Fructus Cardui Marianae Cardo-mariano Smilax japicanga, S. brasiliensis, S. campestris, S. fluminensis e Herreria salsaparilha (6)

Rasurado

12 a 15 g ou preparações equivalentes a 200 a 400 mg de silimarina, calculada como silibinina (17) 3 a 12 g (9)

Radix Smilacis

(13)

Salsaparrilha Solanum paniculatum

Rasurado

Radix, Folium e Fructus Solani Paniculatae Jurubeba Spirulina sp Alga Spirulinae Espirulina

Revista Fitos

Vol.4 Nº01 março 2009



51

Artigo Original/Original Article

Stevia rebaudiana

Rasurado

Estévia Pó ou rasurado

Cortex Styphnodendri Adstringens Barbatimão

Tintura 20%

Symphytum officinale

Tintura 10%

Folium Synphyti Officinale Confrei

Ipê roxo Tanacetum parthenium

Esteviosídeo pode causar efeitos adversos como plenitude abdominal e nauseas, cefaleias, tonteiras, mialgia e parestesias (9)

Adstringente, antidiarréica, hemostática, cicatrizante e anti-séptica. Indicado em leucoreias, hemorragias, inflamações e feridas (4),(6)

Cuidado no uso interno devido ao alto teor de taninos (4),(6)

Cicatrizante, reepilizante, hidratante, antiinflamatória, antibacteriana (6)

Hepatotóxico em uso interno, Proibida no Brasil a utilização por via interna (6)

Lapachol possui atividade antiinflamatória, antimalárica, antibacteriana, antifúngica, antiparasitária e imunomoduladora (9)

Contra-indicada na gravidez e lactação e em tratamentos prolongados. Evitar a utilização de altas doses devido ao risco de sangramentos (9)

Analgésica, antiinflamatória, inibidora da PAF, da produção de leucotrienos e tromboxano, antigregante plaquetária (3)

Contra-indicada na gravidez Uso cuidadoso em pacientes em uso de anticoagulantes. Pode causar ulceras bucais e dores abdominais (3),(11)

Colerético, orexígeno, antidispéptico. Laxante suave e diurético. Indicado tradicionalmente para furunculos, abscessos, psoríase (1),(3)

Oclusão das vias biliares (1)

Aplicar 2 vezes ao dia sobre as lesões (11)

Uso externo, hemorroidas, condilomas, papilomas, verrugas (11),(14)

Deve ser utilizada preferencialmente por via externa, devido ao alto teor de tuionas (11)

2 a 4 g (3)

Diaforética, antiespasmódica, sedativa (3)

Contra-indicada na gravidez e lactação e em doenças cardíacas (3)

(6),(9)

Styphnodendron adstringens

Cortex Tabebuiae

Edulcorante . Ligeiramente hipoglicemiante e hipotensora, diurética (6),(9)

3 a 6 g ou preparações contendo 250 a 500 mg de esteviosídeo 3 vezes ao dia

Folium Steviae Rebaudianae

Tabebuia avellanedae

Drogas e Extratos Vegetais Utilizados em Fitoterapia

1 a 5 g (4) 5 a 25 mL (4)

Exclusiva-mente para uso externo. 10 a 15% em pomadas, 2 a 3 aplicações/ dia (1),(6)

Rasurado Tintura 10% Obs. Diluir a 50% com água para uso externo Ext. seco pad. a 0,2% de partenolídeo

Herba Tanaceti Parthenii

1 a 4 g (9) 1 a 3 colheres de sopa (6) 100 a 500 mg como preventivo das enxaquecas (8)

Tanaceto Taraxacum officinalis Herba Taraxaci cun Radici Dente de leão

Rasurado Tintura 10%

2 a 10 g

(1),(4)

2,5 a 15 mL (1)

Thuja occidentalis Ramulus Thujae Occidentalis Tuia

Tintura 20%

Tilia cordata Flos Tilia Cordata Tília

Rasurado

Tribullus terrestris Fructus Tribuli Terrestris Tribulus

Ext. seco pad. a 40% de saponinas esteroidais

750 a 1500 mg (SRC)

Estudos clínicos não demonstraram ações hormonais ou adaptogênicas (9)

Contra-indicada na gravidez e lactação (9)

Trifollium pratensis

Ext. seco pad. mín. de 8% de isoflavonas totais

40 a 80 mg de isoflavonas (9)

Estrogênica, antioxidante, utilizada na Síndrome Climatérica para controle dos fogachos e sudorese (11)

Contra-indicada na gravidez, lactação e em crianças pacientes que fazem uso de anticoagulantes Usar com cautela durante a terapia de reposição hormonal (9),(11)

6 a 12 g (3)

Anti-séptica urinaria, antiespasmódica, Antibacteriana (3),(14)

Contra-indicada na gravidez e lactação. Dosagens acima das recomendadas podem ser tóxicas. Pode inteferir com hipoglicemiantes e com absorção de ferro e outros minerais (3),(14)

Folium Triflori Pratensi Trevo vermelho, Red clover Turnera difusa Herba Turnera Difusae Damiana

52

Rasurado

Revista Fitos

Vol.4 Nº01 junho 2009

Artigo Original/Original Article

Uncaria tomentosa U. guianensis

Ext. seco pad. min. de 1,3% de alcaloides totais

Drogas e Extratos Vegetais Utilizados em Fitoterapia

Ação antiinflamatória, antioxidante, imunomoduladora antiviral, antitumoral. Indicada para o tratamento de osteoartrites, incluindo artrite reumatoide e outras colagenoses (11),(15)

Contra-indicada na gravidez, lactação e em crianças menores de 3 anos, e em pacientes candidatos a ou transplantados ou em uso de imunossupressores (11),(15)

Ação antiproliferativa, antiinflamatória. Indicada em associação com outros fitoterápicos na HBP (9)

Pode causar distúrbios gastrintestinais ocasionais e rash cutâneo (9),(14)

Antioxidante, vasculoprotetora, protetora da retina (14)

Não relatadas

Sedativa, hipotensora, anticonvulsivante, antiespasmódica (9), (14)

Gravidez e lactação. Não administrar em conjunto com álcool e outros depressores do SNC por potencialização dos seus efeitos (9),(14)

Expectorante empregada nas tosses, gripes, bronquites e pneumonias (6)

Não relatadas

de 1 a 2 mg de agnusídeos (3)

Redutora da secreção de prolactina, dopaminérgica. Indicada em hiperprolactinemia, mastalgia e Síndrome de Tensão Pré-menstrual (9)

Contra-indicado na gravidez e lactação. Pode causar nausea, cefaleia, disturbios gastrointestinais, desordens menstruais, acne, prurido e eritema (9)

Antioxidante, antilipoperoxidante, antiadesiva plaquetária, vasoprotetora, antiinflamatória (9)

Não relatadas

150 a 300 mg de proantocini-dinas (9)

Diurético e hipotensor leve

Não deve ser utilizado na gravidez e lactação, por provável ação ocitócica (3),(14)

750 a 3000 mg (11)

Cortex Uncariae Unha de gato Urtica dioica

Rasurado (Herba) 8 a 12 g (17)

Radix Urticae Dioicae Herba Urticae Dioicae Urtiga

Rasurado (Radix)

Vaccinium myrtillus Fructus Vaccinii Myrtilli Mirtilo

Ext. seco pad. min. de 22 % de antocianidinas

Valeriana officinalis

Rasurado

Radix Valerianae Offcinalis

Ext seco pad. 0,8 a 1% de ac. valerênico Tintura 20%

4 a 6 g (17) 12,5 a 20 mg de antociani-dinas (SRC)

1 a 3 g (3) 200 a 800mg (11) 3 a 12 mL (17)

Valeriana Rasurado

Vernonia polyanthes

3 a 9 g (6) Folium Vernoniae Polyanthi Assa-Peixe Vitex agnus castus Fructus Viticis Agni-Casti

Rasurado 1,5 a 3 g (3) Ext. seco pad. em agnusídeos

Agnus castus Vitis vinifera sp. Semen Vitis Viniferae Semente de uva

Ext. seco pad. em proantocianidinas

Zea mays

Rasurado 12 a 24 g (3)

Stigma Maydis

(13)

Cabelo de milho Zingiber officinalis Rhizoma Zingiberis Officinale Gengibre

Rasurado 2 a 4 g (17) Doses de 250 a 1000 mg da droga pulverizada têm sido utilizadas para nauseas da gravidez (9)

Carminativa, estimulante da secreção gástrica e da digestão, gastroprotetora, colagoga, espasmolítica, antioxidante, antinflamatoria, hipolipemiante, hipoglicemiante, cardiotônica, expectorante, antitussígena, antipirética, antiemética (3) (9)

Pode ocorrer desconforto abdominal, pirose, diarrhea, irritação da mucosa da boca e faringe, principalmente em doses acima das recomendadas (9)

Os (números) na tabela referem-se às: (1) GARCÍA, 1998; (2) MATOS, 1994; (3) NEWALL et al., 1996; (4) COIMBRA, 1958; (5) MATOS, 2000; (6) LORENZI; MATOS, 2002; (7) FARMACOPÉIA CHINESA, 1992; (8) BRASIL, 2004; (9) MEDICINA NATURAL, 2007; (10) OFFERMANN, et al., 1996; (11) ROCHA et al., 2005; (12) HANSEL et al., 2002; (13) HUANG, 1999; (14) ALONSO, 1998; (15) GILBERT et al., 2005; (16) ROTBLATT; ZIMENT, 2002; (17) BLUMENTHAL et al., 1998. [ver seção ‘Referências’]. SRC = Sem Referencias Científicas. Revista Fitos

Vol.4 Nº01 março 2009

53

Artigo Original/Original Article

Dentre as 138 drogas abordadas, 45 (32,6%) delas dispunham de extratos padronizados, e somente 30 (21,7%) possuíam posologias definidas em ensaios clínicos. É freqüente o fato dos extratos utilizados nos estudos pré-clínicos e clínicos não estarem padronizados; além do que, muitas vezes, a padronização de extratos disponíveis no mercado difere da utilizada nos estudos. Para a maior parte das amostras pesquisadas, foi necessário recorrer ao cruzamento de informações de duas ou mais fontes utilizadas na pesquisa para seleção das informações e inclusões na tabela. As maiores dificuldades foram encontradas com as drogas derivadas de espécies nativas do Brasil, devido à escassez de informações científicas sistematizadas, obrigando a utilização freqüente de informações de uso tradicional, alem do reduzido numero de extratos disponíveis, principalmente os secos padronizados. Na definição das apresentações, foram privilegiadas as amostras representadas pelo maior nível de validação científica, e com padronização quantitativa de marcadores; enquanto que, para aquelas que não dispunham de extratos padronizados, optou-se pela droga vegetal e respectivas doses, permitindo o calculo das doses dos diferentes extratos disponíveis através da relação extrato:droga (E:D). De forma geral, as apresentações em forma de tintura não foram incluídas no trabalho, devido às freqüentes incoerências na posologia, quando comparadas às das drogas vegetais correspondentes. A consulta a alguns laudos de qualidade dos extratos fornecidos pelos fabricantes resulta geralmente insuficiente em informações relevantes, como por exemplo, quanto ao método de extração utilizado e à relação E:D, que influenciam diretamente a atividade, e que, quando presentes, contribuem para orientar a manipulação e a prescrição dos mesmos. Apesar dos inúmeros recursos terapêuticos à disposição para a fitoterapia, as dúvidas e incoerências permanecem, principalmente naquelas drogas e extratos com processo de validação científica incompleto para as diversas formas farmacêuticas e indicações propostas. Adicionalmente, não há estudos suficientes sobre biodisponibilidade para as diferentes formas farmacêuticas de fitoterápicos, principalmente nas diferenças entre infusão/decocção, formas mais tradicionais de uso, e drogas pulverizadas e tinturas. Por outro lado, o cruzamento de informações tradicionais e científicas acerca das drogas vegetais em 54

Drogas e Extratos Vegetais Utilizados em Fitoterapia

diferentes fontes, de forma geral, apresenta alto índice de coerência quanto à segurança e eficácia das mesmas, propiciando sua utilização racional, desde que respeitados os limites internacionalmente aceitos para drogas vegetais de uso tradicional.

Referências ALONSO, J. Tratado de Fitomedicina - Bases clínicas y farmacológicas. ISIS Ediciones S.R.L. Argentina, 1998, 1039 pp. ARRECHE GARCÍA, A. Fitoterapia. Vademecum de prescripción. Plantas medicinales. Ed. Masson, S.A., 1998, 1148 pp. BLUMENTHAL M.; BUSSE, W.R.; GOLDBERG, A. (eds). The Complete German Commission E Monographs: Therapeutic Guide to Herbal Medicines. Austin: American Botanical Council and Boston: Integrative Medicine Communications, 1998, 684 pp. BRASIL. Resolução RDC ANVISA/MS nº. 89, de 16/03/2004. Determina a publicação da Lista de registro simplificado de fitoterápicos. Diário Oficial da União, Brasília, 2004. Disponível em: http://e-legis.bvs.br/leisref/public/showAct.php?id=10241. COIMBRA, R. Notas de Fitoterapia. Ed. Laboratorio Clínico Silva Araujo S.A., 2ª ed., 1958, 429 pp. FARMACOPÉIA CHINESA. Pharmacopoeia of the People’s Republic of China. English edition. Chemical Industry Press, Beijing, China, 1992, 886 pp. GILBERT, B.; FERREIRA, J.L.P.; ALVES, L.F. Monografias de Plantas Medicinais Brasileiras e Aclimatadas, Ed. ABIFITO, 2005, 250 pp. HANSEL, R.; TYLER, V.; SCHULZ, V. Fitoterapia Racional (trad.); 4ª ed. Ed. Manole, Barueri, 2002, 386 pp. HUANG, K.C. The Pharmacology of Chinese Herbs. 2nd ed., CRC Press, Lincoln, 1999. 512 pp. LORENZI, H.; MATOS, F.J.A. Plantas Medicinais no Brasil: nativas e exóticas cultivadas. Instituto Plantarum, 2002, 544 pp. MATOS, F.J.A. Farmácias Vivas: sistema de utilização de plantas medicinais projetado para peRevista Fitos

Vol.4 Nº01 junho 2009

Artigo Original/Original Article

Drogas e Extratos Vegetais Utilizados em Fitoterapia

quenas comunidades, 2ª ed.. Ed. UFC, Fortaleza, 1994, 222 pp. MATOS, F.J.A. Plantas medicinais: Guia de seleção e emprego de plantas em fitoterapia no Nordeste do Brasil, 2ª ed.. Fortaleza, IU, 2000, 344 pp. MEDICINA NATURAL. Natural Medicines Comprehensive Database. Ed. Therapeutic Research Faculty, Stockton, CA, 2007, 1200, pp. NEWALL, C.A.; ANDERSON, L.A.; PHILLIPSON, J.D. Herbal Medicines: A Guide for Health-Care Professionals. London: The Pharmaceutical Press, 1996, 296 pp. OFFERMANN, F.; WAGNER, H.; BAUER, R.; PEIGEN, X.; JIANMING, C. Radix Bupleuri (Chaihu) Fritillariae (Beimu). Chinese Drugs Monographs and Analysis, v.1, n.1, 1996, 11 pp. ROCHA, L.; D’HYPPOLITO, J.; SILVA, R. Fitoterapia Magistral – Um guia prático para manipulação de fitoterápicos. Publ. ANFARMAG, São Paulo, 2005; 194 pp. ROTBLATT, M.; ZIMENT, I. Evidence-Based Herbal Medicine. Hanley & Belfus, Inc., Philadelphia, 2002, 464 pp.

Revista Fitos

Vol.4 Nº01 março 2009

55

Artigo Original / Original Article

Elaboração de uma Cartilha Direcionada aos Profissionais da Área da Saúde, Contendo Informações sobre Interações Medicamentosas envolvendo Fitoterápicos e Alopáticos Elaboration of a Primer for all Health Professionals, Containing Information on Interaction Between Drugs and Phytoterapics

*Cardoso, C. M. Z.; Silva, C. P.; Yamagami, K.; Lopes, R. P.; Santos, F.; Bonassi, I.; Jesuíno, I.; Geres, F.; Martorie Jr., T.; Graça, M.; Kaneko, B.; Pavani, E.; Inowe, C.

Projeto Farmácia Verde, Faculdade de Ciências Farmacêuticas e Bioquímicas Oswaldo Cruz, Rua Brigadeiro Galvão 540, 01151-000, São Paulo, SP, Brasil.

* Correspondência: E-mail: [email protected]

Unitermos: Interações Medicamentosas; Fitoterápicos; Plantas Medicinais; Chás.

Key Words: Drug Interaction; Phytomedicines; Medicinal Plants; Teas. 56

Resumo O uso de medicamentos fitoterápicos sem orientação adequada de um profissional da área da saúde pode ser um risco. Esses medicamentos podem sofrer interação com outros fitoterápicos e/ou alopáticos. O objetivo desta cartilha é disponibilizar aos profissionais da área da saúde e à população, um material com as possíveis interações medicamentosas entre fitoterápicos e alopáticos. O levantamento bibliográfico foi realizado no Chemical Abstracts desde 1986, nos anais de eventos sobre plantas medicinais, Scielo, Bireme, Google Acadêmico e na Base EBSCO. Observou-se que existem poucos estudos (apenas 38 citados nesse trabalho) relacionados à interação medicamentosa envolvendo fitoterápicos.

Abstract The use of phytomedicines whithout medical orientation can be a health risk. These medicines can interact with other phytomedicines and/or drugs. The objective of this primer is to dispose to all health professional information of possible medicine interaction between drugs and phytomedicines. The data were organized based on Chemical Abstracts since 1986, and in Scielo, Bireme Library, Academic Google, EBSCO. There were not many papers (about 38 only) related to medicine interaction with phytoterapics.

Introdução Fitoterápicos são medicamentos obtidos a partir de plantas medicinais. Eles são obtidos empregando-se exclusivamente derivados de droga vegetal (extrato, tintura, óleo, cera, exsudato, suco, e outros) (ANVISA, 2004). Estes, assim como todos os medicamentos, Revista Revista Fitos Fitos Vol.3 Vol.4 Nº02 Nº01 junhomarço 2007 2009

Artigo Original/Original Article

devem oferecer garantia de qualidade, ter efeitos terapêuticos comprovados, composição padronizada e segurança de uso para a população. A qualidade deve ser alcançada mediante o controle das matérias-primas, do produto acabado, materiais de embalagem, formulação farmacêutica e estudos de estabilidade (ANVISA, 2003a; 2003b; PDAMED, 2007) Erroneamente acredita-se que um fitoterápico ou uma planta medicinal, por ser natural e não ter sido industrializado está livre de componentes químicos e efeitos colaterais. Isto faz com que as pessoas adotem a automedicação. No entanto estes compostos, como outros quaisquer, produzem reações no organismo, positivas ou negativas (ZANCANARO, 2007). Usar medicamentos fitoterápicos sem orientação adequada de um profissional da área da saúde, principalmente os médicos, pode ser um risco. Isto ocorre porque esses medicamentos podem sofrer interações com outros fitoterápicos e/ou alopáticos. Esta interação pode ocorrer de três formas: um pode potencializar a ação de outro, pode ocorrer também perda de efeitos por ações opostas, ou ainda, a ação de um medicamento pode alterar a absorção, transformação no organismo ou a excreção de outro fármaco (FUTURO et al., 2004). O presente trabalho procurou como objetivo listar as possíveis interações medicamentosas encontradas na literatura com a finalidade de informar e conscientizar, principalmente os médicos, das conseqüências da administração e uso concomitantes de diferentes fitoterápicos ou destes com medicamentos alopáticos

Metodologia Os levantamentos bibliográficos foram realizados nas bases de dados do Chemical Abstracts (desde 1986), Scielo, Bireme, Google Acadêmico e na Base EBSCO, assim como nos anais de eventos sobre plantas medicinais. Os resultados encontrados foram organizados numa tabela com cinco colunas: a primeira destinada ao nome popular, a segunda ao nome científico, a terceira com as substâncias com as quais ocorrem interações, a quarta coluna cita os efeitos e a última está destinada a observações complementares (Tabela 1). Revista Fitos

Vol.4 Nº01 março 2009

Elaboração de uma Cartilha Direcionada aos Profissionais da Área da Saúde, Contendo Informações sobre Interações Medicamentosas Envolvendo Fitoterápicos e Alopáticos

Resultados Como resultado, a Cartilha constitui-se das seguintes seções: Título, Introdução, Apresentação, Perguntas e Respostas simples e de fácil entendimento, finalizando com a Tabela 1, que apresenta os dados objetivos relativos às plantas medicinais e interações entre elas e outros fármacos, conforme transcritos a seguir. Observa-se que existem poucos estudos (apenas 32 citados nesse trabalho) relacionados à interação medicamentosa envolvendo fitoterápicos. Em seguida apresenta-se a Cartilha, na forma como se pretende sua divulgação. TÍTULO “Interações Medicamentosas Com Fitoterápicos E Plantas Medicinais”

INTRODUÇÃO Nesta seção, a Cartilha reproduzirá as informações contidas na Introdução do presente artigo, conforme acima exposta. APRESENTAÇÃO Segundo a OMS, 80% da população mundial fizeram ou fazem uso de medicamentos derivados de plantas medicinais (NICOLETTI et al., 2007). No Brasil, pesquisas demonstram que 91,9% da população já fizeram uso de alguma planta medicinal, sendo que 46% da população mantêm um cultivo caseiro dessas plantas (VEIGA JÚNIOR et al., 2005). A partir dessas estatísticas, os integrantes do projeto Farmácia Verde da Faculdade de Ciências Farmacêuticas e Bioquímicas das Faculdades Oswaldo Cruz elaboraram a presente cartilha “Interações Medicamentosas com Fitoterápicos e Plantas Medicinais”. O objetivo dessa apresentação é disponibilizar aos profissionais da área da saúde as possíveis interações medicamentosas entre fitoterápicos e alopáticos (medicamentos sintéticos), visando evitar complicações geradas a partir do uso incorreto e concomitante dos mesmos, uma vez que como qualquer outro medicamento, o fitoterápico apresenta efeitos curativos e colaterais (NICO57

Artigo Original/Original Article

Elaboração de uma Cartilha Direcionada aos Profissionais da Área da Saúde, Contendo Informações sobre Interações Medicamentosas Envolvendo Fitoterápicos e Alopáticos

LETTI et al., 2007). O papel do profissional da área da saúde é orientar o paciente e a população quanto às possíveis interações e riscos que os fitoterápicos possam oferecer, e a Cartilha é uma ferramenta de fácil entendimento e rápida consulta, e ainda, a parte anterior à tabela pode ser distribuída à população.

tema médico completamente diferente daquele alopático ou fitoterápico que conhecemos. Ele estabeleceu a teoria em que a energia vital dos indivíduos poderia ser recuperada, por diluições homeopáticas, a partir de substâncias que causassem os mesmos sintomas no homem (SILVA, 2007).

As interações medicamentosas são apresentadas em forma de tabela, para facilitar o esclarecimento do conteúdo, e essa contém o nome da planta (popular e científico), interações, forma farmacêutica, efeitos relatados e algumas observações. Espera-se que o uso dessa cartilha possa contribuir significativamente no tratamento dos pacientes que fazem uso de fitoterápicos a partir das informações aqui apresentadas.

4. Medicamento natural não faz mal? O uso indiscriminado de plantas no tratamento de doenças deve ser visto com mais atenção pelas pessoas. Plantas aparentemente inofensivas e utilizadas como medicamento são comprovadamente perigosas dependendo da forma com que são administradas. Esse perigo está mais presente quando a pessoa concilia o uso com remédio indicado pelo médico para tratamento de doenças (FUTURO et al., 2004; VEIGA JÚNIOR et al., 2005; LONDRINA, 2006).

PERGUNTAS MAIS FREQUENTES 1. O que é um fitoterápico? São medicamentos obtidos a partir de plantas medicinais, empregando-se exclusivamente derivados de droga vegetal (extrato, tintura, óleo, cera, exsudato , suco e outros) (VEIGA JÚNIOR et al., 2005). 2. Chá é fitoterápico? Erroneamente acredita-se que um chá, por ser natural e não ter sido industrializado esta livre de componentes químicos e efeitos colaterais, porém, muitos deles apresentam princípios ativos com ação farmacológica que produzem reações no organismo, positivas ou negativas. Existe uma certa confusão quando se fala a respeito de chá, já que são encontrados facilmente em mercados, estes são considerados alimentos que através do processo de industrialização já não mais apresentam ação farmacológica. Entretanto, chás preparados a partir da planta seca (droga vegetal) ou fresca, continuam com seus princípios ativos inalterados (VEIGA JÚNIOR, 2005). 3. Produto fitoterápico é diferente de produto homeopático? A fitoterapia é a terapêutica baseada em plantas medicinais. Ela tem o mesmo principio da alopatia, no qual usa-se a droga para a cura da doença. A homeopatia é outra modalidade médica baseada nos postulados de Hahnemann, médico alemão do século XVIII, que desenvolveu um sis58

5. Vantagens do uso do fitoterápico. Os fitoterápicos podem apresentar efeitos terapêuticos, às vezes, melhores aos dos medicamentos alopáticos, podendo ter seus efeitos colaterais minimizados, quando administrados corretamente. Tem um custo mais acessível à população e aos serviços públicos de saúde, por serem obtidos de fontes naturais e não precisarem ser industrializados, o que acaba por encarecer o medicamento (FUTURO et al., 2004). 6. O que é interação medicamentosa? Interações medicamentosas são respostas farmacológicas, em que os efeitos de um ou mais medicamentos, são alterados pela sua administração concomitante. Essas interações não são observadas somente com substâncias químicas sintetizadas (medicamentos alopáticos), mas também com aquelas presentes em plantas que são empregadas na preparação de chás, xaropes caseiros e medicamentos fitoterápicos (FUTURO, 2004). 7. Interação de fitoterápicos com drogas convencionais (alopáticas) afeta o tratamento? Sim, as respostas decorrentes destas interações podem resultar na potencialização do efeito terapêutico, redução de sua eficácia ou ainda aparecimento de reações adversas (IZZO; ERNST, 2001; FUTURO et al., 2004; VEIGA JÚNIOR et al., 2005; LONDRINA, 2006). Revista Fitos

Vol.4 Nº01 março 2009

Artigo Original/Original Article

Elaboração de uma Cartilha Direcionada aos Profissionais da Área da Saúde, Contendo Informações sobre Interações Medicamentosas Envolvendo Fitoterápicos e Alopáticos

Tabela 1 – Drogas vegetais e interações medicamentosas entre si e com outros alopáticos Nome popular (Ref.)*

Nome científico

Interação

Efeitos

Observações

Acônito crua (9)

Aconitum napelus L.

Pinellia crua

Reações tóxicas / efeitos colaterais

-

Agrimonia eupatoria L.

Varfarina

Propriedades coagulantes da agrimonia neutralizam a varfarina

-

Agrimonia (9)

Espironolactonas

Antagonismo de efeito diurético

-

Sargassum

Reações tóxicas / efeitos colaterais

-

Anestésicos

Extrato do rizoma pode provocar hipertensão arterial, edema, hipocalemia e alteração plaquetária

Os efeitos ocorrem por inibição do metabolismo do cortisol e da aldosterona

Varfarina sódica cristalina

Aumenta as propriedades antiplaquetárias.

-

Hortelã-pimenta

Óleo de hortelã interfere no sistema enzimático hepático citocromo P450.

Como conseqüência, a concentração do alcaçuz utilizado concomitantemente, poderá se elevar no sangue promovendo intensificação dos efeitos ou potencializando reações adversas sérias.

Anti-hipertensivos

Alterações cardiovasculares

-

Contraceptivos orais

Aumento da pressão arterial e diminui os níveis de potássio

-

Laxantes

Causa perda de potássio

-

Insulina

Aumenta os efeitos adversos da insulina

-

Corticosteroides

Aumenta os efeitos dos corticosteroides

Deve–se ter cuidados ao ingerir quaisquer tóxicos/ esteróides concomitantemente ao alcaçuz.

Digoxina

Aumenta perigosamente o risco dos efeitos tóxicos da digoxina

-

Aspirina

Reduz irritações estomacais, assim como o risco de ulceras no estômago.

-

Inibidores da ECA e diuréticos (não poupadores de potássio)

Interferem na efetividade da medicação

-

Diuréticos de alça e tiazídicos

O volume sanguíneo poderá diminuir drasticamente, gerando queda de pressão arterial por hipovolemia, incluindo a grande excreção de potássio (alcachofra também é diurético)

-

Alcaçuz (3,9,10,12,30,22)

Alcachofra (22)

Revista Fitos

Glycyrrhiza glabra L.

Cynara scolymus L.

Vol.4 Nº01 março 2009

59

Artigo Original/Original Article

Elaboração de uma Cartilha Direcionada aos Profissionais da Área da Saúde, Contendo Informações sobre Interações Medicamentosas Envolvendo Fitoterápicos e Alopáticos

Nome popular (Ref.)*

Nome científico

Interação

Efeitos

Observações

Alecrim-pimenta (23)

Lippia sidoides Cham.

Antibióticos (Ampicilina, Cefalotina e Cloranfenicol)

Ação potencializadora pelo óleo essencial do efeito antibacteriano

Destaca-se o efeito sinérgico exercido pelo óleo essencial de L. sidoides sobre cefalotina na interação com S. aureus. (bactéria Gram positiva)

Anticoagulantes orais como a varfarina; e antiplaquetários

Aumento do tempo de sangramento

Dose: medicamentos contendo alho

Clorpropamida

Hipoglicemia

-

Expectorantes

Potencializa efeitos dos expectorantes

Dose: maceração dos bulbos em água, infusão ou in natura

Hipoglicemiantes (Insulina e Glipizida)

Intensificação do efeito - diminuição excessiva dos níveis de açúcar no sangue

-

Saquinavir (empregado no tratamento de infecção por HIV) e outros anti-retrovirais

Diminui os níveis plasmáticos daquela droga tornando seu efeito terapêutico menos eficaz (tanto o alho quanto os inibidores de proteases atuam na mesma via metabólica do citocromo P450)

-

Medicamentos para problemas de tireóide/ disfunção na tireóide

Afeta a tireóide

Dose: suplementos com alho

Varfarina

Sangramento

-

Paracetamol

-

-

Alho (9,20,16,22,30)

Allium sativum L.

(Aprenavir, Nelfinavir, Ritonavir)

Aloe (9)

Aloe ferax Miller

Glicosídeos cardioativos e agentes antiarrítmicos

Potencialização pela redução dos níveis de potássio ia laxativa

-

Angélica chinesa (30)

Angelica sinensis Avé-Lall.

Varfarina e outros inibidores da agregação plaquetária

Aumento da protombina e dos valores internacionais normalizados (INR), aumento de hemorragias

-

Aristolochia (18,30)

Astragalus (9)

Babosa (18)

60

Nefropatia intestinal subaguda, neoplasmas no rim e na uretra (Existem pelo menos 14 diferentes ácidos aristolóquicos, que são potentes agentes nefrotóxicos e carcinogênicos: câncer na uretra)

Aristolochia fangchi Y. C. Wu ex L. D. Chow & S. M. Hwang

Fitoterápicos

Astragalus membranaceus Moench.

Ciclosporina, Azathioprine, Methotrexate

Enfraquece os efeitos imunosupressores

-

Glicosídeos cardioativos (Digoxina)

Por provocar a perda de potássio pode aumentar a toxicidade do medicamento

-

Medicamentos que provocam perda de potássio (esteroides e diuréticos)

Aumenta o potencial a perda de potássio

-

-

Aloe barbadensis Miller

Revista Fitos

Vol.4 Nº01 março 2009

Artigo Original/Original Article

Elaboração de uma Cartilha Direcionada aos Profissionais da Área da Saúde, Contendo Informações sobre Interações Medicamentosas Envolvendo Fitoterápicos e Alopáticos

Nome popular (Ref.)*

Nome científico

Interação

Efeitos

Observações

Boldo do Chile (22)

Peumus boldus Molina

Anticoagulantes

Boldina causa inibição da agregação plaquetária

-

Bupleurum (9)

Bupleurum falcatum L.

Sedativos

Potencialização

-

Buva (13)

Conyza bonariensis L.

Antibióticos

Efeito sinérgico com o óleo essencial

A alcoolatura desta planta tem sido usada topicamente no tratamento de dermatoses

Antiplaquetário e anticoagulantes

Aumento do risco de hemorragia

Chá das folhas contém constituintes derivados de cumarina.

Aspirina

Aumento do risco de hemorragias

Chá das folhas

Ferro

Matricaria chamomilla L.

Camomila (3,9,18,22)

Castanha da índia (22)

Redução dos níveis do mineral

Chá das folhas

Sedativos (benzodiazepina, álcool, entre outros)

Aumenta o efeito sedativo dos medicamentos

Chá das folhas

Têucrio (Teucrium chamaedrys)

Hepatite (a origem do efeito tóxico foi atribuída a diterpenos do tipo neoclerodano, transformados pelo citocromo P450 em metabólitos hepatotóxicos, que apresentavam uma subunidade epóxido)

Tratamentos hormonais

Efeito antiestrogênico

Varfarina e outros inibidores da agregação plaquetária

Aumento do risco de hemorragias por aumento da pró-trombina e dos valores internacionais normalizados (INR)

Diuréticos tiazídicos

Perda excessiva de potássio, podendo causar hipocalemia

Chá ou cápsulas

Glicosídeos cardiotônicos

Potencializarão do efeito do medicamento, devido a desequilíbrio de eletrólitos

Chá ou cápsulas

Medicamentos administrados por via oral

Afeta a absorção por intensificar o transito gastrintestinal

Chá ou cápsulas

Ácido acetilsalicílico, Varfarina, Heparina, Clopidogrel e antiinflamatórios com Ibuprofeno ou Nanoproxeno

Aumenta o risco de sangramento

Não mencionada

Antiácidos

Diminuir a eficácia já que essa planta é irritante do TGI

-

Insulina

Hipoglicemiante

-

Revista Fitos

Rhamnus prushiana DC.

Aesculus hippocastanum L.

Vol.4 Nº01 março 2009

Chá das folhas

Lítio

Chamomilla recutita L.

Cáscara sagrada (22)

A camomila pode interferir com a absorção de ferro durante tratamentos orais comeste mineral, ou mesmo na alimentação

-

Essa interação foi sugerida a partir de pesquisas em animais -

61

Artigo Original/Original Article

Nome popular (Ref.)*

Nome científico

Interação

Centela (22)

Centalla asiatica L.

Dexametasona

Elaboração de uma Cartilha Direcionada aos Profissionais da Área da Saúde, Contendo Informações sobre Interações Medicamentosas Envolvendo Fitoterápicos e Alopáticos

Salvia miltiorrhiza

Chá verde (11,13,18,21,25)

Cimicifuga (22)

Cravo-da-Índia (9)

62

Camellia sinensis (L.) O. Kuntz

Cimicifuga racemosa L.

Syzygium aromaticum (L.) Merr. et Perry

Efeitos

Observações

Efeitos antagônicos (a dexametasona exerce função de agente supressor no processo de cicatrização)

-

Antitumoral; associada também com baicalin, age inibindo a proliferação do câncer de mama

-

Varfarina

Antagonista do efeito anticoagulante

-

Teofilina e derivados da xantana

Aumentam os efeitos estimulantes

-

Lítio

Pode diminuir os níveis de lítio

-

Adenosina

Inibição da produção de adenosina

-

Antibióticos beta-lactâmicos

Aumento da efetividade

-

Benzodiazepínicos

Reduz os efeitos sedativos dos benzodiazepínicos

Propranolol e Metoprolol, bloqueadores beta 2

Aumenta a pressão sanguínea

-

Efedrina

Causa agitação, tremores, insônia e perda de peso

-

Inibidores do monoamino oxidase (IMAOs)

Aumento severo de pressão (chamada de “crise hipertensiva”); exemplos de IMAOs incluem fenelzina e tranilcipromina, são usados no tratamento de depressão

-

Contraceptivos orais

Pode prolongar a quantidade de cafeína no sangue circulante, e portanto aumentar os efeitos estimulantes.

-

Fenilpropanolamina

A combinação de fenilpropanolamina com cafeína pode causar obsessão e um severo aumento de pressão

O FDA publicou em novembro de 2000 um artigo para informar as pessoas do risco ao cérebro que essa medicação pode causar; exigindo que as indústrias os retirassem das prateleiras

Estrógeno e contraceptivos orais

Seus princípios ativos ocupam receptores estrogênicos, onde, seletivamente, suprimem a secreção de LH

-

Anti-hipertensivos (Tamoxifeno)

Potencializa a ação

-

Dissulfiram ou Metronizadol

Pode causar náusea ou vômito

-

Cúrcuma

Reduz o efeito da Cúrcuma

-

Revista Fitos

Vol.4 Nº01 março 2009

Artigo Original/Original Article

Elaboração de uma Cartilha Direcionada aos Profissionais da Área da Saúde, Contendo Informações sobre Interações Medicamentosas Envolvendo Fitoterápicos e Alopáticos

Nome popular (Ref.)*

Nome científico

Interação

Efeitos

Observações

Dente-de-Leão (30)

Taraxacum officinale G. Weber ex. Wigg

Diuréticos sintéticos

Potencializa a atividade de diuréticos

-

Imunossupressores (ciclosporina, azatioprina e tacrolimus)

Reduz efeitos imunossupressores: mecanismo desconhecido

-

Esteróides anabolizantes

Risco aumentado de hepatotoxicidade

-

Teofilina e derivados de xantana

Aumenta efeitos estimulantes do sistema nervoso

Glicosídeos cardioativos

Arritimia cardíaca

Inibidor da MAO

Hipertensão

-

Cafeína

Intensifica efeitos colaterais cardiovasculares

-

Echinacea

Echinacea sp.

(18,22)

Efedra sinica Stapf.

Efedra (9,29)

Espinheira-santa

(30)

Eucalipto-citriodora (23)

Maytenus ilicifolia Mart. ex. Reiss.

Eucalyptus citriodora Hook.

Fenotiazidas

Efedrina, um componente da Efedra, pode causar estimulação

hipotensão e aumento dos Fenotiazinas podem bloquear batimentos cardíacos diminui os efeitos estimulantes alfa a estimulação e energia. da Efedra.

Agentes hipertensivos

Aumento potencial para a pressão sanguínea

Efedrina pode opor os efeitos farmacológicos dos betabloqueadores

Esteróides anabólicos, metotrextrato, amiodarona, cetoconazol

Hepatotoxicidade

-

Imunossupressores

Efeitos antagonistas

-

Agentes hipoglicêmicos

“Controlam” o nível glicêmico, diminuindo níveis de glicose

Pode interagir com fármacos administrado por via oral que são agentes hipoglicemiantes e insulinas

Ampicilina, Cloranfenicol

Efeito sinérgico com o óleo essencial da planta para S. epidermidis

-

Ampicilina, Cloranfenicol e Gentamicina

O óleo essencial diminui da atividade inibitória quando usado para S. aureus

-

Tetraciclina

Sinergismo com o óleo essen- Bactérias onde a associação cial da planta nas interações foi sinérgica: Gram positivas com bactérias (S. aureus e S. epidermidis) e Gram negativas (P. aeruginosa)

Eucalipto (22)

Eucalyptus globulus Labill.

Medicamentos que atuam no SNC

Pode intensificar os efeitos

-

Funcho (20)

Foeniculum vulgare Mill.

Barbitúricos

Pode potencializar o sono induzido por barbitúricos

Infusão das folhas ou decocção das sementes

Agentes hiperglicêmicos

-

-

Antiplaquetária e anticoagulante (Aspirina, Heparina, antiinflamatórios não esteroidais, Clopidogrel, Eptifibatide, Tirofiban, Ticlopidine, Dipyridamole e inibidores da COX-2)

Contém constituintes da cumarina, que aumenta potencial para hemorragia

-

Gengibre

Revista Fitos

(16,18,22)

Zingiber officinalle Roscoe

Vol.4 Nº01 março 2009

63

Artigo Original/Original Article

Nome popular (Ref.)*

Gingko (16,22,30)

Ginseng (9,17,30,22)

64

Nome científico

Gingko biloba L.

Panax ginseng C.A. Meyer

Elaboração de uma Cartilha Direcionada aos Profissionais da Área da Saúde, Contendo Informações sobre Interações Medicamentosas Envolvendo Fitoterápicos e Alopáticos

Interação

Efeitos

Observações

Sedativos (benzodiazepina, álcool, barbitúricos, nonbenzodiazepina)

Aumenta o efeito sedativo por mecanismo desconhecido

-

Insulina administrada via oral

Causa diminuição dos níveis de açúcar

-

Sucralfato, Ranitidina ou Lansoprazol

Estimula a produção de ácido clorídrico estomacal, comprometendo determinados medicamentos

Sulfaguanidina

Potencializa absorção

-

Varfarina e outros inibidores da agregação plaquetária

Aumento da pró-trombina e dos valores internacionais normalizados (INR)

-

Tiazida

diurético

-

Trazodona

Pode causar estado de coma

-

Varfarina e outros inibidores da agregação plaquetária

Aumento da pró-trombina e pode causar hemorragia

-

Ibuprofeno e Naproxeno

Ativa a ação desses medicamentos

-

Anticonvulsionantes

Diminui a ação

-

Antidepressivos

Intensifica a ação farmacológica, além de intensificar seus efeitos colaterais

-

Agentes hipoglicemiantes e insulinas

Sinergismo

-

Analgésicos e Anticoagulantes

Potencializa a ação de analgésicos e anticoagulantes aumentando o risco de sangramento

Trimetilxantinas (cafeína) [dose diária: 15 a 70 mg de cafeína]

Fenilzina

Cefaléia, tremores

-

Estrogênio e corticoesteróides

Efeitos aditivos

-

Insulinas, sulfaniluréias

Alteração dos níveis de glicose sangüínea

-

Antidepressivos inibidores da MaO

Pode causar tremores, cefaléias e insônia

-

Morfina

Inibe a ação do ginseng

-

Pteropus

Reduz os efeitos da planta Pteropus

-

Raphanus

Inibe os efeitos do ginseng

-

Sargassus

Efeitos tóxicos ou colaterais

-

Varfarina

O anticoagulante diminui os níveis de INR sanguineos e aumenta a ação psicoativa do ginseng, causando insônia e dores de cabeça. O ginseng pode interagir com a cafeína causando hipertensão. Isso pode diminuir a eficácia da varfarina

-

Revista Fitos

-

Vol.4 Nº01 março 2009

Artigo Original/Original Article

Nome popular (Ref.)*

Guaraná (22)

Hidraste (18)

Nome científico

Paulinia cupana Mart.

Hydrastis canadensis L.

Elaboração de uma Cartilha Direcionada aos Profissionais da Área da Saúde, Contendo Informações sobre Interações Medicamentosas Envolvendo Fitoterápicos e Alopáticos

Interação

Efeitos

Observações

Marapuama, catuaba e fáfia

A associação destes apresenta atividade antidepressiva

-

Analgésicos

Potencializa sua ação

-

Anticoagulantes

Aumenta o risco de sangramentos

-

Varfarina, aspirina, heparina, HSAIDS, clopidogrel, dipiridamol, ticlopidina, inibidores da COX-2, Benzodiazepina, álcool, entre outros, (digoxina).

Diminui efeito anticoagulante; aumenta efeito sedativo; pode aumentar ou reduzir pressão sanguínea; aumenta ou diminui efeitos cardíacos

Imipramina

Sistema dopaminérgico

-

Benzodiazepínicos; cetamina

Inibe o flumazenil

-

Nomifensine e Fluoxetina

Hiperforina inibe a captação de dopamina, serotonina e noradrenalina;

Hiperforin atua como duplo inibidor de 5-LO e COX-1

Varfarina, Digoxina, Teofilina, contraceptivos orais, nevirapina e indinavir

Potencializa certas subenzimas do citocromo P450

A nevirapina aumenta depuração oral e o indinavir inibe protease que combate o HIV (vacina contra HIV possui aminoácidos de Hypericum perforatum)

Digoxina, nifedipina, digitoxina diltiazem e beta-bloqueadores

São metabolizados na mesma via de metabolização Redução dos níveis sanguíneos da droga com risco para a perda do controle do ritmo cardíaco

-

Antidepressivos triciclicos (amitriptilina), contraceptivos orais (etinilestradiol e desogestrel) e loperamida

Inibem paroxetina e nefazodona

-

Ciclosporina

Produz queda dos níveis plasmáticos, causando rejeição dos tecidos

possui interações farmacodinâmicas com a seletiva serotonina

Antitumorais

Antiproliferativa sobre os efeitos destes fármacos

-

Amitriptilina, ciclosporina, digoxina, fexofinadine, indinavir, metadona, midazolam, nevirapina, fenoprocumon, sinvastatina, tracolimos, teofilina, varfarina

Diminui a concentração do sangue

a varfarina aumenta a tendência de hipoglicemia

Ciclosporina, Rapamicina E Tacrolimus Hipérico (1,4,5,6,7,8,9,14,15,16, Hypericum perforatum L.

Redução dos níveis sanguíneos da droga com possível perda da supressão do HIV

-

Etil-estradiol Inibidores da MAO

17,24,27, 28,29,31,32)

Ciclofosfamida, Tamoxifen, Taxol e Etoposídeo Imipramina, Amoxapina E Amitriptilina

Revista Fitos

Vol.4 Nº01 março 2009

65

Artigo Original/Original Article

Nome popular (Ref.)*

Kava-kava (16,30)

Licorice (9)

Nome científico

Piper methysticum G. Forst.

Glycyrrhiza uralensis Fisch.

Elaboração de uma Cartilha Direcionada aos Profissionais da Área da Saúde, Contendo Informações sobre Interações Medicamentosas Envolvendo Fitoterápicos e Alopáticos

Interação

Efeitos

Observações

Inibidores de transcripase reversa não-nucleosídicos (Delavirdina, Efavirenze E Nevirapine)

Perda da resposta virológica, desenvolvimento de resistência ou resistênciacruzada, pois ambos são metabolizados na mesma via de metabolização

-

Varfarina

Diminuição dos níveis plasmáticos de varfarina e do efeito anti-goagulante por indução de enzimas hepáticas

-

Anestésicos

Prolonga os efeitos anestésicos

-

Anfetaminas

Aumentam a biodisponibilidade

-

Anticonvulsivantes (Carbamazepina, Fenobarbital, Fenitoína)

Redução dos níveis do fármaco, podendo gerar ataques convulsivos

-

Contraceptivos orais

Reduz os níveis da droga

Pode ocasionar gravidez

Digitoxina, Teofilina e contraceptivos orais (Etil-estradiol/ Desogestrel)

Diminui biodisponibilidade, interrupção do sangramento menstrual por indução de enzimas hepáticas

Teofilina - Redução dos níveis sanguíneos da droga com perda do controle da asma

Fotossensíveis

Aumenta sua biodisponibilidade

-

Inibidores de antivirais, ativos da recapturação de serotonina e de loperamida e de proteases

-

-

Sedativos

Aumenta sua biodisponibilidade

-

Alho, antiagregantes plaquetários, simbastina, estatina, anti-hiperglicemiantes

-

-

Levodopa

Aumenta biodisponibilidade deste fármaco

-

Alprazolam, benzodiazepínicos

Pode causar estado de semicoma

-

Antibióticos

Diminui absorção

-

Corticoesteróides e diuréticos de tiazida

Potencialização

-

Glicosídeos cardioativos

Aumenta sensibilidade

-

Efeito sinérgico

Sinergia observada, principalmente, na interação com S. epidermidis

Malvarisco (23)

Plectranthus amboinicus (Lour.) Spreng

Antibióticos (ampicilina, cefalotina e cloranfenicol)

Maracujá (30)

Passiflora incarnata L.

Hipnóticos e ansiolíticos

Marapuama (19)

Ptychopetalum olacoides Bentham.

Anfetamina

66

A combinação entre ambas aumentaria a toxicidade da anfetamina Revista Fitos

-

Vol.4 Nº01 março 2009

Elaboração de uma Cartilha Direcionada aos Profissionais da Área da Saúde, Contendo Informações sobre Interações Medicamentosas Envolvendo Fitoterápicos e Alopáticos

Artigo Original/Original Article

Nome popular (Ref.)*

Nome científico

Mirtilo (9)

Vaccinium myrtillus L.

Quebra pedra (20)

Phyllantus niruri L

Salgueiro (30)

Salix alba L. Salvia miltiorrhiza Bunge

Sálvia (9,18)

Ruibarbo (9)

Interação

Efeitos

Observações

Guaraná, catuaba e fáfia

A associação destes apresenta atividade antidepressiva.

-

Antiplaquetários e anticoagulantes (varfarina, aspirina, heparina, HSAIDS, inibidores da COX-2, entre outros)

Anticianosídeos podem reduzir a excessiva agregação plaquetária, potencializando hemorragias

Diuréticos

Potencializa efeitos dos diuréticos

Varfarina

Como o AAS, potencializa o efeito anticoagulante

Varfarina e outros inibidores da agregação plaquetária

Aumento da protombina e dos valores internacionais normalizados (INR)

Mirabilitum

Aumenta efeito purgativo por natureza similar da droga

Glicosídeos cardioativos e agentes antiarrítmicos

Potencialização por reduzir os níveis de potássio por causa dos efeitos laxativo

Hipnóticos e ansiolíticos; sedativos (ex: benzodiazepina, barbitúricos, álcool, entre outros)

Potencializa o efeito dos sedativos

O ácido valerênico atua no receptor GABA, responsável pelo efeito hipnótico e ansiolítico

Barbitúricos

Sedação excessiva

-

Scrophularia

Reações tóxicas / efeitos colaterais

-

-

O quebra-pedra é indicado para litíases do trato urinário, auxiliar nas cistites -

Rheum rhabarbarum L.

Valeriana officinalis L

Valeriana (18)

Veratro album L.

Veratro (9)

Os (números) na tabela referem-se às referências: (1) ALBERT, 2002; (3) ARAÚJO et al., 2007; (4) BAUREITHEL et al., 2007; (5) BIFFIGNANDI et al., 2000; (6) BUTTERWECK et al., 1997; (7) BUTTERWECK et al., 2001; (8) DE MAAT et al., 2001; (9) DHARMANANDA, 2000; (10) ERNEST , 2008; (11) FRANECK et al., 2005; (12) FUTURO et al., 2004; (13) HECK et al., 2000; (14) HENDERSON et al., 2002; (15) IOANNIDES, 2002; (16) IZZO; ERNST, 2001; (17) JENSEN et al., 2001; (18) LAMBRECHT et al., 2000; (19) LIMA et al., 2005; (20) LONDRINA, 2006; (21) MARYLAND; 2008; (22) NICOLETTI, 2007; (23) OLIVEIRA et al., 2006; (24) RODRIGUEZ et al., 2003; (25) SANTANA, 2006; (27) SINGH, 2005; (28) SPARREBOOM et al., 2004; (29) VALE, 2002; (30) JUNIOR et al., 2005; (31) WADA, 2002; (32) WINTERHOFF et al., 1995.

Referências ALBERT, D. Hyperforin is a dual inhibitor of cyclooxygenase-1 and 5-lipoxygenase. Biochemical Pharmacology, v.64, n.12, p.1767-1775, 2002. ANVISA: AGÊNCIA NACINAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA. Glossário da ANVISA: Bula, 2003a. Disponível em http://e-glossario.bvs. br/glossary/public/scripts/php/page_search. php?lang=pt&letter=B ANVISA: AGÊNCIA NACINAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA. Bulário eletrônico da ANVISA, 2003b. Disponível em http://www.anvisa.gov.br/medicamentos/bulas/index.htm Revista Fitos

Vol.4 Nº01 março 2009

ANVISA - Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução RDC nº 48, de 16 de março de 2004. Dispõe sobre o registro de medicamentos fitoterápicos. Disponível em http://e-legis.anvisa.gov.br/ leisref/public/showAct.php?id=10230. ARAÚJO, E.C.; OLIVEIRA, R.A.G.; CORIOLANO, A.T.; ARAÚJO, E.C. Uso de plantas medicinais pelos pacientes com câncer de hospitais da rede pública de saúde em João Pessoa (PB). Revista Espaço para a Saúde, v. 8, n. 2, p. 44-52, Jun. 2007. Disponível em: . Acesso em 22/10/2007. BAUREITHEL, K.H.; BÜTER, K.B.; ENGESSER, 67

Artigo Original/Original Article

A.; BURKARD, W.; SCHAFFNER, W. Inhibition of benzodiazepine binding in vitro by amentoflavone, a constituent of various species of Hypericum Pharmaceutica. Acta Helvetiae, v.72, n.3, p.153157, 1997. BIFFIGNANDI, P.M.; BILIA, A.R. The growing knowledge of St. John’s wort (Hypericum perforatum L.) drug interactions and their clinical significance. Current Therapeutic Research, v.61, n.7, p.389394, 2000. BUTTERWECK, V.; WALL, A.; LIEFLANDERWULF, U.; WINTERHOFT, H.; NAHRSTEDT, A. Effects of the total extract and fractions of Hypericum perforatum in animal assays for antidepressant activity. Pharmacopsychiatry, v.30 (Suppl.2), p.117-124, 1997. BUTTERWECK, V.; KORTE, B.E.; WINTERHOFF, H. Pharmacological and endocrine effects of Hypericum perforatum and Hypericin after repeated treatment. Pharmacopsychiatry, v.34 (Suppl.1), 2001. DE MAAT, M.M.R.; HOETELMANS, R.M.; MATHT, R.A.;VAN COPR, E.C.; MEENHORST, P.L.; MULDER, J.W.; BEIJNEN, J.H. Drug interaction between St. John’s wort and nevirapine. Official Journal of the International AIDS Society. v.15, n.3, p.420421, 2001. DHARMANANDA, S. The significance of traditional pulse diagnosis in the modern practice of Chinese medicine. Institute for traditional medicine, Portland, Oregon, Agosto, 2000. In: Acesso em Dez/2008. ERNEST B.; HAWKINS, M.S. Health Education Resources; private practice specializing in complementary and alternative medicine. Possible Interactions with: Licorice. University of Maryland Medical Center (UMMC). Disponível em . Acesso em Dez/2008. FRANECK, K.J.; ZHOU Z.; ZHANG, W.D.; CHEN, W.Y. In vitro studies of baicalin alone or in combination with Salvia miltiorrhiza extract as a potential anti-cancer agent. International Journal of Oncology, v.26, n.1, p.217-224, 2005. FUTURO, D.O.; FIORINI, F.S.; CASTILHO, S.R. 68

Elaboração de uma Cartilha Direcionada aos Profissionais da Área da Saúde, Contendo Informações sobre Interações Medicamentosas Envolvendo Fitoterápicos e Alopáticos

Interações entre Plantas e Medicamentos. Informativo CEATRIM, n. 3, 2004. Disponível em HECK, A.M.; DEWITT, B.A.; LUKES, A.L. Potential interactions between alternative therapies and warfarin. American Journal of Health-System Pharmacy, v.57, n.13, p.1221-1230, 2000. HENDERSON, L.; YUE, Q.Y.; BERGQUIST, C.; GERDEN, B.; ARLETT, P. (Hypericum perforatum): drug interactions and clinical outcomes. Journal of Clinical Pharmacology, v.54, n.4, p.349-356, 2002. IOANNIDES, C. Pharmacokinetic interactions between herbal remedies and medicinal drugs. Xenobiotica, v.32, n.6, p.451-478, 2002 IZZO, A.A.; ERNST, E. Interactions between herbal medicines and prescribed drugs: A systematic review. Drugs, v.61, n.15, p.2163-2175, 2001. JENSEN, A.G.; HANSEN, S.H. E NIELSEN, E. Adhyperforin as a contributor to the effect of Hypericum perforatum L. in biochemical models of antidepressant activity. Life Sciences, v.68, n.14, p.1593-1605, 2001. LAMBRECHT, J.E.; HAMILTON, W.; RABINOVICH, A. A Review of Herb Drug Interactions: Documented and Theoretical. Pharmacist, v.25, n.:8, 2000. Disponível em: . Acesso em 05/09/2007. LIMA, L.M.; AVILA, A.A.L.; FERREIRA, M.S.; PERAZZO, F.F.; CARVALHO, J.C.T. Ação de uma associação de fitoterápicos - extratos secos de guaraná, catuaba, marapuama e fáfia - sobre modelos comportamentais pré-clínicos. Jornal Brasileiro de Fitomedicina, v.3, n.1, p.22-29, 2005. LONDRINA: MUNICÍPIO DE LONDRINA-PR. Fitoterapia: Protocolo da Prefeitura do Município de Londrina, PR. Autarquia Municipal de Saúde. 1 ed., Londrina, PR: [s.n.], 2006. MARYLAND: UNIVERSITY OF MARYLAND MEDICAL CENTER (UMMC). Possible Interactions with: Green Tea. Disponível em . Acesso em Dez/2008. Revista Fitos

Vol.4 Nº01 março 2009

Artigo Original/Original Article

NICOLETTI, M.A.; OLIVEIRA-JÚNIOR, M.A.; BERTASSO, C.C.; CAPOROSSI, P.Y.; TAVARES, A.P.L. Principais interações no uso de medicamentos fitoterápicos. Infarma, Brasília, v.1/2, n.19, p.32-40, 2007. Disponível em: . Acesso em 29/10/2007. OLIVEIRA, R.A.G.; LIMA, E.O.; VIEIRA, W.L.; FREIRE, K.R.L.; TRAJANO, V.N.; LIMA, I.O.; SOUZA, E.L.; TOLEDO, M.S.; SILVA-FILHO, R.N. Estudo da interferência de óleos essenciais sobre a atividade de alguns antibióticos usados na clínica. Revista Brasileira de Farmacognosia, v.16, n.1, p.78-82, 2006. PDAMED: CONTEÚDO EM COMPUTADORES DE MÃO PARA A ÁREA MÉDICA, 2007. Disponível em http://www.pdamed.com.br/bulanv/pdamed_0001_ 00488_01800.php. Acesso em Dez/2008.

Elaboração de uma Cartilha Direcionada aos Profissionais da Área da Saúde, Contendo Informações sobre Interações Medicamentosas Envolvendo Fitoterápicos e Alopáticos

Plantas medicinais: cura segura? Química Nova, v.28, p.519-528, 2005. WADA, A. Effects of St. John’s Wort and hypericin on cytotoxicity of anticancer drugs. Drug Metabolism and Pharmacokinetics, v.17, n.5, p.467-474, 2002. WINTERHOFF, H.; BUTTERWECK, A.; NAHRSTEDT, A.; GUMBINGER, H.; SCHULZ. V.; ERPING, S.; BOβHAMMER, F.; WIELIGMANN, E. Pharmacological study of the antidepressive effect of Hypericum. Phytopharmaka, p.39-56, 1995. ZANCANARO, V. Fitoterápicos: Automedicação com fitoterápicos, seus efeitos adversos e colaterais, 2007. Disponível em: . Acesso em Out/2007.

RODRIGUEZ, J.F.; LANDA; A.C.C.M. A review of clinical and experimental observations about antidepressant actions and side effects produced by Hypericum perforatum extracts. Phytomedicine, v.10, n.8, p.688699, 2003. SANTANA, A.P. Avaliação de pacientes ambulatoriais em uso de anticoagulantes orais. 87 p. Dissertação (Mestrado) – Pós Graduação em Ciências Farmacêuticas. Universidade Federal de Santa Maria. 2006. Disponível em < http://cascavel.cpd.ufsm.br/tede/tde_arquivos/19/TDE-2006-09-12T064414Z-121/Publico/ 2006%20SANTANA,%20Ana%20Paula%20Bagesteiro. pdf >. SILVA, J.B.G. da.Fitoterapia X Homeopatia. Disponível em: . Acesso em 15/12/2008. SINGH, Y.N. Potential for interaction of kava and St. John’s wort with drugs. Journal of Ethnopharmacology, v.100, n.1-2, p.108-113, 2005. SPARREBOOM, A.; COX, M.C.; ACHARYA, M.R.; FIGG, W.D. Herbal remedies in the United States: potential adverse interactions with anticancer agents. Journal of Clinical Oncology, v.22, n.12, p.2489-2503, 2004. VALE, N.B. A Farmacobotânica, ainda tem lugar na moderna Anestesiologia? Revista Brasileira de Anestesiologia, v.52, n.3, p.368-380, 2002. VEIGA JUNIOR, V.F.V.; PINTO, A.C.; MACIEL, M.A.M. Revista Fitos

Vol.4 Nº01 março 2009

69

Artigo Original/Original Article

Novo Paradigma Produtivo: Utilização Racional dos Recursos Naturais para Obtenção de Fitoterápicos New Productive Paradigm: The Rational Use of Natural Resources in Order to Obtain Phytotherapics

Oliveira, M. B. S. C.; 2 *Frutuoso, V. S.

1

Laboratório de Educação Profissional em Saúde (LATEC), Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio, Fundação Oswaldo Cruz, Avenida Brasil 4365, Manguinhos, 21040-900, Rio de Janeiro, RJ, Brasil. Departamento de Imunofarmacologia, Instituto Oswaldo Cruz, Fundação Oswaldo Cruz, Avenida Brasil 4365, Manguinhos, 21040-900, Rio de Janeiro, RJ, Brasil 2

Correspondência. E-mail: frutuoso@ ioc.fiocruz.br

Resumo A utilização das plantas como alimentos, medicamentos e cosméticos está relacionada à própria existência humana. O presente trabalho discute como um país que detém quase um terço da flora mundial, com atividade medicinal presente em inúmeras plantas, pode utilizar esse arsenal terapêutico para produção de medicamentos fitoterápicos, dentro da filosofia do desenvolvimento sustentável. Através de levantamento bibliográfico foram identificados os diversos passos da produção deste tipo de medicamento com o objetivo de analisar o fluxograma, utilizando como ferramenta a Produção mais Limpa. Dessa forma, postula-se que a utilização racional dos recursos naturais passa pela necessidade de se evitar o desperdício, melhorar o aproveitamento, e diminuir a geração de resíduos.

Abstract The use of plants as food, medicine and cosmetics is related to the human existence itself. Our project lies on how a country that holds nearly one-third of the world’s natural resources, with medicine application present in a great variety of plants, can use this therapeutical arsenal to produce phytotherapical drugs, within the sustainable development philosophy. Throughout the bibliographical research, many different steps to produce this type of drug were identified in order to analyse the fluxograma itself, using cleaner production as a tool. By doing so, we believe that the rational use of natural resources lies on the need to avoid disposals, excel improvement and diminish the generation of waste.

Introdução Unitermos: Medicamentos Fitoterápicos, Produção mais Limpa, Desenvolvimento Sustentável. Key Words: Phytotherapic, Cleaner Production, Sustainable Development 70

Bases Conceituais Ao longo de toda história, percebe-se que, através da intuição e da observação, o homem se apropriou dos princípios ativos das plantas e passou esse conhecimento de geração em geração. Após a descoberta dos antibióticos e seus derivados sintéticos, e com o avanço do desenvolvimento tecnológico, principalmente na indústria farmacêutica, o uso de plantas como medicamentos foi delegado a um segundo Revista Fitos

Vol.4 Nº01 março 2009

Artigo Original/Original Article

plano, mas começou a ser recuperado na década de 70. Isso se deu, por vários motivos, mas podemos destacar dois pontos importantes. O primeiro foi o surgimento de uma tendência popular em substituir os remédios alopáticos, que produzem muitos efeitos colaterais, por medicamentos mais “naturais”; e o segundo foram as iniciativas institucionais e os incentivos governamentais na área da fitoterapia, o que induziu a um aumento da confiança dos usuários, dado o suporte científico oferecido pela ciência e tecnologia, principalmente aquele voltado para o controle de qualidade das drogas e medicamentos de origem vegetal (MIGUEL; MIGUEL, 2004). Planta medicinal, segundo definição de Ferreira (1998) é qualquer vegetal que tem atividade biológica possuindo um ou mais princípios ativos úteis à saúde humana. Fitoterápicos são medicamentos que só podem ter vegetais em sua composição, como substância ativa à qual pode ser, entretanto, adicionado um corante, solvente ou adoçante, mas nunca poderá estar misturado com princípios ativos sintéticos, conforme a Resolução 17 da Anvisa (ANVISA, 2006). Nesse contexto, em junho de 2006, o Governo Federal lançou a Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos (PNPMF, Decreto 5.813) (BRASIL, 2006) que estabeleceu diretrizes e linhas prioritárias para o desenvolvimento de ações pelos diversos parceiros envolvidos na garantia do acesso seguro e uso racional de plantas medicinais e fitoterápicos no país. Segundo o Decreto, pouco se investe nas potencialidades do uso das plantas medicinais, o que é um descompasso dentro da filosofia produtiva baseada nos novos paradigmas de desenvolvimento econômico e social sustentado. Villas Boas e Gadelha (2007) vão além, apontando que o Brasil possui quase um terço da flora mundial apresentada em dez diferentes biomas, sendo o detentor da maior parcela da biodiversidade, em torno de 15 a 20% do total mundial e pouco tem sido feito para transformar esse potencial em vantagem competitiva, uma vez que esse desenvolvimento poderia gerar uma forma de proteção e manutenção desses ecossistemas. O documento do Ministério da Saúde ressalta que a implementação desta política transcende os limites do setor saúde, e depende de uma articulação intersetorial “em virtude da abrangência da cadeia produtiva de plantas medicinas e fitoterápicos” (MS Decreto 5.813/2006, p.33). Entre as Instituições que fazem parte desta rede, estão: a Casa Civil da Revista Fitos

Vol.4 Nº01 março 2009

Novo Paradigma Produtivo: Utilização Racional dos Recursos Naturais para Obtenção de Fitoterápicos

Presidência da República; Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento; Ministério da Ciência e Tecnologia; Ministério do Desenvolvimento Agrário; Ministério do Desenvolvimento Social e Combate a Fome; Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior; Ministério da Integração Nacional; Ministério do Meio Ambiente e Ministério da Saúde. Ao Ministério do Meio Ambiente caberia como responsabilidade principal a elaboração de parcerias com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, tendo como foco o cultivo e o manejo sustentável das plantas medicinais. Ao mesmo tempo, colaboraria com outros órgãos afins, no sentido de subsidiar a elaboração de regras e regulamentos relacionados ao manejo sustentável de plantas medicinais nativas da flora brasileira e estabelecer ações conjuntas, visando promover o uso sustentável da agrobiodiversidade.O Ministério da Saúde, além de coordenar o processo de acompanhamento e avaliação da Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos, deve promover a articulação intersetorial e interinstitucional para o fomento à pesquisa e ao desenvolvimento de plantas medicinais e fitoterápicos; assim como a criação de redes de pesquisa desenvolvimento tecnológico, produção de bens e serviços, com vistas à incorporação de novas tecnologias. Diante dessas ações, é necessário ressaltar que a industrialização e comercialização de diversas espécies de plantas devem obedecer a critérios técnicos baseados principalmente nos teores quantitativo e qualitativo de princípio(s) ativo(s). Nesse aspecto, convém mencionar que, dada a dimensão territorial do nosso país, a diversidade de sua flora sofre diretamente os efeitos das “variáveis edafoclimáticas” (MIGUEL; MIGUEL, 2004); o que obriga, no processo de desenvolvimento de produtos a partir de matéria-prima vegetal, que haja uma padronização e normalização das tecnologias envolvidas no plantio de espécies medicinais, assim como na produção de fitoterápicos. Nesse sentido, para que um princípio ativo extraído de um vegetal seja transformado em fitoterápico são necessárias várias etapas. O presente estudo procurou detalhar cada uma delas, desde o plantio, passando pela comprovação da bioatividade, até a produção do medicamento observando-se neste fluxograma de atividades, a proposta de se utilizar a ferramenta da Produção mais Limpa. A Produção mais Limpa (P+L) é definida como sendo a utilização contínua de uma estratégia técnica, ambiental e econômica integrada aos processos, 71

Artigo Original/Original Article

produtos e serviços, com a finalidade de aumentar a eficiência no uso de matérias primas e recursos naturais, reduzir a geração de resíduos, promovendo a produção de benefícios ao meio ambiente, à área da saúde e, finalmente, para a economia do país. A P+L passa pelo conceito de ecoeficiência, que significa “a real necessidade de produzir mais com menos recursos, ou seja, o importante não é apenas re-utilizar ou reciclar, e sim reduzir o consumo dos produtos naturais de origem extrativista, e assim, o impacto negativo ao meio ambiente externo” (BARATA, 2006). Segundo Silva e Medeiros (2006) a P+L pode ser implantada em qualquer setor de produção e constitui uma importante ferramenta para uma análise técnica, econômica e ambiental do processo produtivo com vistas a identificar oportunidades que possibilitem melhorar a eficiência, sem aumentar os custos para a empresa. Sendo assim, a P+L embute basicamente uma abordagem preventiva de gestão ambiental, evitando o desperdício, melhorando o aproveitamento, e impedindo ou minimizando os impactos ao meio ambiente.

Metodologia O estudo proposto é uma pesquisa descritiva, com abordagem qualitativa, apoiada em estudos teóricos da produção de fitoterápicos, desde o plantio até a produção do medicamento, e foi realizado através de levantamento bibliográfico e documental e está fundamentado no conhecimento aprofundado do que já se produziu a respeito do tema da pesquisa. A pesquisa descritiva tem como característica o levantamento de componentes de um processo e elementos já conhecidos. Guba e Lincoln (1981 apud LUDKE; ANDRÉ, 1986) destacam como vantagens do uso de documentos na pesquisa, o fato de que esses constituem uma fonte estável e rica, além de poderem ser consultados várias vezes, inclusive servindo de base para diferentes estudos, o que segundo os autores dá mais estabilidade aos resultados obtidos. Para a projeção dos resultados, utilizou-se um fluxograma do processo de produção de medicamento fitoterápico, detalhando as matérias primas e recursos naturais utilizados, resíduos e geração de poluentes emitidos; e por fim, o impacto que cada etapa do processo, teoricamente, pode causar ao meio ambiente. A subseqüente e detalhada análise técnica, econômica e ambien72

Novo Paradigma Produtivo: Utilização Racional dos Recursos Naturais para Obtenção de Fitoterápicos

tal deste encadeamento do processo produtivo, foi realizada, à luz dos parâmetros que definem a Produção mais Limpa (P+L). Os resultados foram discutidos à luz do referencial teórico, utilizando a análise de conteúdo que, segundo Triviños (1987, p.162), trata-se de aprofundar a análise desvendando o “conteúdo latente” que os documentos possuem. O autor coloca ainda, a importância de se ter presente na análise, o contexto e o momento político e econômico, em que os documentos foram produzidos.

Resultados e Discussão Como toda atividade produtiva, a produção de medicamentos fitoterápicas passa por um conjunto de atividades que envolvem diferentes profissionais, que vão desde técnicos de nível médio até profissionais altamente especializados da esfera acadêmico-científica. Entretanto, a presente proposta não visa abordar a rede de trabalhadores que participa de todas as etapas do processo produtivo, mas sim se limitar a analisar o fluxograma da produção, tendo como enfoque o sistema de P+L, detalhando as etapas com seus desdobramentos, e os possíveis impactos ambientais por eles produzidos. Figura 1 – Quadro que aponta as três Áreas Mestras disciplinares envolvidas no desenvolvimento e produção de fitoterápicos

B

Levantamento

Botânico-agronômica Coleta Manejo

Químico-farmacêutica

Química

Formulação

Biomédica

Farmacologia Tecnologia

Clínica

Produto

Fonte: Siani, 2003.

Revista Fitos

Vol.4 Nº01 junho 2009

Artigo Original/Original Article

1. Área Mestra: BOTÂNICO-AGRONÔMICA 1.1. Levantamento A primeira etapa para a produção de um medicamento fitoterápico é obter e garantir a identidade botânica da matéria prima vegetal. Nesse processo, o pesquisador lança mão da confecção de uma exsicata, feita em uma cartolina de tamanho padrão (45 x 30 cm), onde a parte do vegetal é de preferência costurada (podendo ser, também, colada) acompanhada de uma etiqueta com dados sobre o nome científico (nomenclatura binária de Lineu); descrição da planta; local e ambiente de coleta; coletor e data de coleta (OLIVEIRA; AKISSE,1989). Dessa forma, podemos dizer que a exsicata é a unidade básica de coleção de um herbário, pois constitui material testemunho referencial para futuros estudos. Ela deve ser registrada e numerada antes de ser incorporada ao acervo e é preciso ter cuidados especiais em termos de uniformidade de secagem como a perfeita exposição das folhas, frutos e/ou flores porque deste procedimento vai depender a qualidade da futura exsicata. Esta etapa pode gerar resíduos, como papelão, cartolina, barbante que, no entanto, podem ser reduzidos quase a zero, se um trabalho bem realizado utilizar a filosofia do reaproveitamento e da reciclagem. Deve-se evitar a utilização de plásticos, optando sempre por produtos biodegradáveis. Figura 1 – Esquema para herborização de material vegetal (preparação de exsicata)

Fonte: Di Stasi, 1996 apud Pascarelli, Rocha e Frutuoso, 2006

Revista Fitos

Vol.4 Nº01 março 2009

Novo Paradigma Produtivo: Utilização Racional dos Recursos Naturais para Obtenção de Fitoterápicos

A coleta inclui várias etapas. São elas a coleta para herborização, para propagação, coleta de amostra e coleta para material genético (SIANI, 2003), observando-se ainda que alguns autores incluem a coleta dentro da etapa de levantamento. Entretanto, ressaltando a importância de se fazer um inventário de plantas medicinais utilizados em todo país, e optando pelo esquema de Siani (2003) na coleta para propagação é importante avaliar as informações provenientes do ecozoneamento da espécie e de bancos de germoplasma, enquanto na coleta para material genético a ferramenta utilizada é a identificação por marcadores genéticos. A atividade que Siani (2003) denomina de Manejo Sustentado prioriza a preocupação com o meio ambiente, ao mesmo tempo em que promove importantes estudos sobre a freqüência e intensidade das espécies, além das relações ecológicas dos vegetais. Isso vai se refletir de maneira direta na domesticação e cultivo, de maneira a não ferir as exigências legais relativas à exploração da biodiversidade e obter matéria prima vegetal de qualidade. Dessa forma, segundo Siani (2003, p.38) “as informações históricas, a condição cultural e os hábitos ambientais dessas comunidades, integrados aos dados de fenologia, das características morfológicas e da possibilidade de manejo das espécies são extremamente relevantes, quando se objetiva a obtenção de matéria prima de qualidade uniforme”. 1.2. Plantio Como atividade subseqüente, o plantio é um ponto nevrálgico na produção de medicamentos à base de princípios ativos vegetais. Como já foi ressaltado anteriormente, existe a necessidade de se obter uma matéria prima de qualidade e sob essa ótica, as condições do solo, boa disponibilidade de água, necessidade de luz solar, umidade e outros fatores agronômicos devem ser avaliados segundo o tipo e a espécie de planta. Na agricultura, devem ser considerados diversos aspectos do plantio, como a maneira de cultivar, a época correta para o cultivo, a adequabilidade do vegetal ao clima e solo da região e a própria vegetação vizinha ao plantio da espécie em questão. Miguel e Miguel (2004) advertem de que nada adiantaria conhecer os efeitos farmacológicos de uma planta, se não se detêm as suas tecnologias de cultivo. Nesse ponto, o que causaria menos impacto ambiental, seria o aproveitamento natural do habitat do vegetal, de forma racional e ecoeficiente. Segun73

Artigo Original/Original Article

do esses autores (ibid, 2004, p.30) à luz da ética e valorização moral, não seria possível admitir “estilos e formas de desenvolvimento que prejudiquem segmentos sociais e ou áreas geográficas, no intuito de exploração e esgotamento de recursos naturais”. Para se evitar o menor impacto possível ao meio ambiente, seguimos o modelo de cultivo de Matos (1998). • O solo deve ser revolvido de modo que possibilite a penetração de uma vareta de madeira em aproximadamente 40 cm de profundidade. O espaçamento utilizado normalmente é de 20 cm entre as plantas de espécies de porte baixo e de 30 cm entre sulcos. Para plantas mais altas, que atinjam 1 m de altura, deve-se usar 35 cm entre as plantas e 50 cm entre as linhas. Para as plantas que chegam a 2 m de altura, usar 50 cm entre as mesmas e 70 cm entre sulcos. • Antes do plantio, cada m2 solo deve ser tratado com uma xícara (tipo de chá) de calcário agrícola, uma colher (do tamanho das de sopa) de NPK, e um quilo de esterco bem curtido e solto ou húmus de minhoca. Molha-se toda terra tratada, sem precisar encharcar, o suficiente para umedecer toda terra e depois de um dia, faz-se o plantio. • Deve-se manter o horto bem regado e livre de ervas daninhas, de formigas cortadeiras e de lagartas. É importante fazer um cultivo orgânico, evitando-se agrotóxico e, periodicamente, adubar com esterco curtido ou, preferencialmente, com húmus de minhoca ou composto vegetal preparado no próprio horto. O solo é a base do trabalho orgânico e é preciso ter cuidado, uma vez que vários resíduos vão ser reintegrados ao solo. Esterco, restos de verduras, folhas, aparas, etc., são devolvidos aos canteiros para que sejam decompostos e transformados em nutrientes para as plantas. Essa fertilização ativará a vida no solo e os microorganismos além de transformar a matéria orgânica em alimento para as plantas, tornarão a terra porosa, solta, e permeável à água e ao ar. O grande valor da horticultura orgânica é promover a melhoria do solo. Ao invés de mero suporte para a planta, o solo será sua fonte de nutrição. Utilizando a Produção mais Limpa, o plantio deve priorizar os procedimentos mais próximos daqueles que ocorrem naturalmente evitando-se o adubo artificial, os agrotóxicos e os ambientes artificialmente construídos. 74

Novo Paradigma Produtivo: Utilização Racional dos Recursos Naturais para Obtenção de Fitoterápicos

Segundo Scheffer (1992 apud MIGUEL; MIGUEL, 2004) na etapa do plantio alguns fatores são fundamentais e requerem monitoramento constante, dentre eles, destacam-se as necessidades nutricionais do vegetal, a ocorrência de pragas e enfermidades, a densidade das plantas e interações específicas entre elas. O plantio orgânico implica na não utilização de agrotóxicos e fertilizantes químicos. São utilizados fertilizantes naturais, como o adubo orgânico, e pode ser feita uma cobertura de palha sobre os canteiros, para evitar que a luz solar chegue até as ervas invasoras, impedindo assim, o seu desenvolvimento excessivo. É uma preocupação atual a contaminação das substâncias químicas provenientes da agricultura que, do solo, migram para rios e mares, causando sérios prejuízos tanto para os ecossistemas quanto para o homem. Em pesquisa divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2002), o uso de agrotóxicos e fertilizantes é apontado como a segunda causa de contaminação da água no país. Na pesquisa sobre o perfil dos municípios brasileiros (IBGE, 2002) a poluição dos rios e enseadas já foi detectada em 38% das cidades brasileiras e em 77% das do Rio de Janeiro, o estado mais atingido. A P+L considera então, a preocupação com os recursos naturais utilizados, a redução de resíduos e a minimização dos impactos ambientais, objetivando, nesse contexto, atender o paradigma do desenvolvimento sustentável. 1.3. Coleta e Manejo O cuidado com o manejo na hora da colheita possui relação direta com a qualidade do medicamento fitoterápico (MIGUEL; MIGUEL, 2004). O manejo inadequado dos vegetais, freqüentemente carreia contaminantes como fragmentos de madeira, restos de outros vegetais e insetos. Dessa forma, deve-se fazer desde o momento da coleta, a triagem dos fragmentos que possam proceder de outras plantas e não coletar plantas ou partes de plantas que não estejam rigorosamente limpas. Outra preocupação é o treinamento básico periódico dos operadores quanto à higiene pessoal (op. cit., 2004), e o cuidado de não permitir a entrada de animais no horto. Pode-se coletar como matéria prima de uma planta as raízes, o caule e/ou folhas. Todas as espécies devem ser identificadas por canteiros, para que não haja o risco de se coletar outra planta, uma vez que existem muitas plantas tóxicas que são nocivas ao homem. Outro cuidado é o de coletar dentro do período cíclico do vegetal, sendo assim uma colheita das folhas é feita antes da fase de floração, as floRevista Fitos

Vol.4 Nº01 junho 2009

Artigo Original/Original Article

res ou as sumidades floridas devem ser recolhidas no início da floração; e as raízes devem ser retiradas do solo quando o talo murchar, ou no começo da primavera, antes que haja rebrotado. Um cuidado relativo a minimizar o impacto ambiental produzido por este procedimento é o de não retirar todas as folhas de um mesmo ramo para permitir que a planta continue seu crescimento e nem retirar a raiz principal, para não comprometer a sobrevida do vegetal (GONSALVES, 1989). Após a coleta é feita a secagem que tem por objetivo retirar água do vegetal, sem modificar as propriedades farmacológicas da planta. A secagem pode ser feita de maneira natural, quando o vegetal é secado sem utilização de nenhum equipamento, podendo ser feito no sol ou na sombra e de maneira artificial, utilizando estufas. Entretanto, quando o processo é feito de maneira natural, deve-se cuidar para que não aconteça em presença de calor excessivo e nem de umidade muito alta. Em relação à secagem em estufas, Melo e colaboradores (2004) postulavam como paradigma de temperatura ideal, valores até 40o C, entretanto no mesmo trabalho (ibid, 2004, p.8) os autores concluíram que as “temperaturas do ar de secagem entre 50 e 60oC mostram-se viáveis para secagem de grande numero de plantas medicinais estudadas”. Nesse ponto, vale a pena observar se realmente há necessidade de se elevar a temperatura de 40o C para 60o C, uma vez que esse procedimento aumentará o gasto de energia, no caso de se manter o mesmo tempo para a secagem do mesmo material. Uma preocupação válida, nessa etapa é que, uma vez coletados, folhas, caules e raízes devem ser dessecados separadamente. O processo de secagem deve ser feito com muita atenção, pois se for feito de maneira imprópria, a matéria prima pode perder qualidade ou ser contaminada por fungos, prejudicando dessa maneira a qualidade do medicamento fitoterápico. Dentro dessa fase, ainda há poucos estudos sobre a relação da velocidade do ar de secagem com o princípio ativo. Na pesquisa de Melo (2004), os autores recomendam o valor de 0,5 ms-1 como valor de partida em dimensionamento de secadores. Numa produção dentro da filosofia P+L procura-se, dentro do possível, utilizar a secagem natural com intuito de economizar recursos naturais, aproveitando a energia solar. Outro ponto importante é o cuidado com o meio ambiente, evitando, assim, que se espalhem pedaços de vegetais para outros locais, impedindo o crescimento de noRevista Fitos

Vol.4 Nº01 março 2009

Novo Paradigma Produtivo: Utilização Racional dos Recursos Naturais para Obtenção de Fitoterápicos

vos vegetais em canteiros de espécies diferentes ou que se alastrem pragas por conta de excesso de restos de folhas. 2. Área Mestra: QUÍMICO-FARMACÊUTICA 2.1. Química A primeira análise a ser feita visa à comprovação da matéria prima, isto é, verifica-se se houve troca de mercadoria na remessa. A análise morfológica é feita pelas caracterizações macroscópica, microscópica, e organoléptica (propriedade que pode ser percebida com os sentidos humanos) (MIGUEL; MIGUEL, 2004). Analisa-se também a presença de contaminantes, como bactérias, fungos, ovos de helmintos e resíduos de inseticidas. Existem limites estabelecidos para contaminantes, dentro das normas internacionais para testar o material botânico. Caso este limite seja excedido, o lote da planta é descartado. Aqui, deve-se cuidar para que amostras vegetais não se tornem lixo, impactando o meio ambiente, e sejam corretamente descartadas. Dessa forma, o reaproveitamento deve estar previsto, inclusive utilizando-o como adubo orgânico. A utilização de meios de cultura para cultivo de bactérias e fungos deve ser feita de maneira racional, evitando desperdícios e geração de resíduos para descarte. Após o período de incubação, havendo crescimento de bactérias patogênicas ao homem, o lote deve ser descartado (MIGUEL; MIGUEL, 2004). Outra preocupação é com o material contaminado proveniente das técnicas, que deve seguir o procedimento de descarte de resíduos, proposto e validado pela Instituição. Depois de aprovado pela análise, o material vegetal é moído para o processo subseqüente de extração do(s) princípio(s) ativo(s). Nessa fase são levados em consideração as características do material vegetal, o seu grau de divisão, o meio extrator (solvente) e a metodologia (SIMÕES, 2000). As principais técnicas de extração são: maceração, infusão, decocção, percolação, soxhlet e microondas. Todas elas utilizam solventes, sendo que, em algumas delas, o único usado é a água. A escolha do solvente está relacionada à sua seletividade já que o poder de penetração do solvente depende, principalmente, da consistência dos tecidos que formam o material vegetal a ser extraído devendo possuir a capacidade de retirar apenas a(s) substância(s) que se procura, e na maior quantidade possível (SIMÕES, 75

Artigo Original/Original Article

2000). Em outros testes, as extrações de princípios ativos estão associadas a um gradiente de polaridade, e de um modo geral, são utilizados solventes de baixa polaridade, como o hexano. Já as substâncias polares são extraídas mais facilmente com solventes, como o metanol (PARCARELLI, 2006). Segundo Simões (2000, p.167), na escolha de um solvente, além da disponibilidade e do custo do solvente, existem outros fatores relacionados a uma boa qualidade do processo extrativo. Ainda devem ser considerados “a toxicidade e/ou riscos que seu manuseio representa, e a estabilidade das substâncias extraídas”. Em relação à toxicidade e/ou riscos do solvente devem-se observar o problema por três ângulos. O primeiro se refere ao produto, que deve cumprir os critérios científicos e metodológicos para assegurar a qualidade das preparações. O segundo tem como foco o trabalhador que o manipula, e está relacionado aos fatores de riscos e toxicidade que desencadeiam as doenças ocupacionais. Por último, mas não menos importante, existe a preocupação com o meio ambiente, uma vez que resíduos e poluentes provenientes da fase de extração podem ocasionar contaminações no solo, na água e no ar, às vezes de maneira irreversível. No processo de extração através da Produção mais Limpa, este último item deve ser levado em consideração, além do custo dos solventes, e a utilização racional de recursos naturais. 2.2. Formulação Após o processamento de extração, começa-se a fase de isolamento e purificação do princípio ativo. Nesta fase são utilizadas metodologias complexas, com equipamentos de última geração, tais como cromatografia gasosa, HPLC (High Performance Liquid Cromatograph) e Cromatografia Líquida acoplada ao Espectrômetro de Massas. Em relação a essas metodologias, devem-se avaliar dois pontos importantes: o preço e o impacto ambiental. No trabalho de Rodrigues e colaboradores (2006) os autores apontam as preocupações nas etapas de extração e separação por cromatografia em coluna, concluindo que algumas técnicas de extração e purificação, descritas em literatura, são simples, contudo utilizam solventes caros (como acetonitrila), ou agressivos ao meio ambiente (como diclorometano). Nesse sentido para se determinar o melhor solvente, testaram os seguintes solventes: tolueno, diclorometano, tetracloroetileno, metanol, hexano e etanol, e afirmaram que, quando se levam 76

Novo Paradigma Produtivo: Utilização Racional dos Recursos Naturais para Obtenção de Fitoterápicos

em conta “os aspectos de segurança, eficiência extrativa, toxicidade, agressão ao meio ambiente e seletividade, constata-se que o poder extrativo varia muito pouco de um solvente para outro” (ibid, 2006, p.370). Ainda nesse trabalho, sobre a otimização do processo de extração e isolamento do princípio antimalárico artemisinina, os autores concluem que o hexano empregado para extração do princípio ativo eleva em muito o conteúdo de impurezas apolares; e por isso o substituem por etanol, uma vez que, este se revelou ter um poder extrativo comparável aos demais, porém com menor toxicidade e custo. Também foi testado o emprego da tradicional sílica gel para purificação dos extratos, e o resultado mostrou que esta utilização se tornou incompatível pelo custo, uma vez que se visava à escala industrial. Uma solução encontrada neste estudo foi a aplicação do Zeosil em substituição à sílica gel tradicional. Dentro desse raciocínio, verifica-se que os autores fizeram uma avaliação simultânea entre a obtenção de matéria prima de qualidade, custo e impacto ambiental. Este exemplo ilustra como a P+L deve ser utilizada, apontando que dentro de cada etapa, esses três parâmetros devem ser identificados e avaliados de modo a evitar o desperdício, melhorar o aproveitamento e impedir ou minimizar os impactos ao meio ambiente. Outro ponto importante, a ser abordado na etapa de isolamento e purificação é o do consumo de recursos naturais, uma vez que a maioria dos equipamentos utiliza energia elétrica. Segundo Di Stasi (1996) não existe uma técnica única capaz de resolver todos os problemas envolvidos durante a separação de componentes de uma mistura e, por isso, deve-se combinar duas ou mais técnicas cromatográficas para se obter um melhor resultado. 3. Área Mestra: BIOMÉDICA 3.1- Farmacologia Os estudos toxicológicos e farmacológicos compõem o estudo de verificação da atividade, aplicabilidade terapêutica e grau de toxicidade do vegetal (MIGUEL; MIGUEL, 2004). Isso é muito importante, uma vez que muitas plantas medicinais apresentam substâncias que podem desencadear reações adversas, seja por seus próprios componentes, seja pela presença de contaminantes nas preparações fitoterápicas, exigindo um rigoroso controle de qualidade desde o cultivo, coleta da planta, extração de seus constituintes, até a elaboração do mediRevista Fitos

Vol.4 Nº01 junho 2009

Artigo Original/Original Article

camento final (TUROLLA; NASCIMENTO, 2006). Sendo assim, quando chega nessa fase, já foram realizados estudos farmacológicos e toxicológicos de extratos brutos e de substâncias ativas isoladas e purificadas. Aqui, deve-se proceder segundo os protocolos listados pela Portaria nº 116 da Secretaria Nacional de Vigilância Sanitária (SNVS, 1996) e pela Resolução nº 90 da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA, 2004 – Anexo 1) para os ensaios pré-clínicos. Os bioensaios farmacológicos e toxicológicos realizados in vivo e in vitro vão definir a eficácia, mecanismos de ação e potencial toxicológico de determinado medicamento fitoterápico objetivando contribuir para a validação da droga vegetal e do fármaco. “A etapa pré-clínica deve ser realizada em três espécies de animais de laboratório, uma das quais não deve ser roedor” (MIGUEL; MIGUEL, 2004, p.37). Nesse contexto, a equipe desempenha um papel fundamental, visto que, mesmo seguindo a Legislação Sanitária e a Farmacopéia Brasileira existe sempre a possibilidade de se escolher a melhor alternativa em termos de custo e cuidado com o meio ambiente (RODRIGUES, 2006) sem perder o rigor técnico e consequentemente a qualidade do produto. Outro ponto importante diz respeito ao uso de animais em experimentações científicas, que ora suscita um debate ético, onde se apregoa a substituição por testes in vitro, sempre que possível, sem perder a qualidade e descumprir a legislação sanitária vigente. As plantas medicinais são muito importantes como fonte natural de fármacos, pois contêm o complexo fitoterápico, que é um aglomerado de substâncias naturais que atuarão em conjunto, desta maneira existirá uma grande chance de obter-se uma molécula protótipo devido à diversidade de constituintes presentes nestas (NOLDIN, 2003). No entanto, inúmeras plantas que são usadas em preparações fitoterápicas precisam “de um maior controle de qualidade, uma vez que a literatura científica indica que muitas destas podem apresentar substâncias tóxicas ou composição química variável” (ibid, 2003, p.332). Para isso, são feitos testes de bioatividade e toxicidade em laboratórios de farmacologia, com a finalidade de avaliar a atividade biológica do princípio ativo vegetal e identificar e avaliar os efeitos tóxicos relacionando-os com a dosagem utilizada, respectivamente. Sendo assim, “os testes de toxicidade geral devem guardar relação dose-efeito satisfatória e permitir estabelecer relação causa-efeito” (SIMÕES, 2000, p. 189). Outros fatores que os autores (Ibid, 2000) consideram extremamente Revista Fitos

Vol.4 Nº01 março 2009

Novo Paradigma Produtivo: Utilização Racional dos Recursos Naturais para Obtenção de Fitoterápicos

relevantes são, a experiência da equipe executora, as condições dos laboratórios, a qualidade dos animais e a definição clara dos objetivos dos testes. Para a avaliação de bioatividade são utilizados dois tipos de testes. O primeiro conhecido como bioensaio faz uma análise comparativa através de sistemas-teste com a atividade biológica de uma substância já conhecida, que é denominada de padrão. A utilização de bioensaios para o monitoramento da bioatividade de extratos, frações e compostos isolados de plantas tem sido frequentemente incorporada à pesquisa fitoquímica (NOLDIN, 2003). O outro tipo é o ensaio clínico; que representa a eficácia em seres humanos, e onde se compara, de maneira objetiva, os resultados de um grupo teste com os do grupo controle, sendo que neste tipo de teste não se pode quantificar a potência da substância e nem obter um gráfico em relação à dose-resposta (PASCARELLI, 2006). Nessa etapa do fluxograma, a preocupação em relação a P+L é em relação aos produtos químicos utilizados. A equipe deve listar todo procedimento dos testes de bioatividade com o objetivo de substituir, dentro das normas da farmacopéia, os solventes e reagentes que apresentam comprovado efeito de poluição ambiental. Caso isso não seja possível, deve-se proceder corretamente o ou verificar a possibilidade de reciclagem dos solventes. Para isso, o departamento ou a Instituição deve instituir Normas de Coleta e Tratamento de Resíduos, dentro de protocolos devidamente padronizados e validados. Dentro dessa visão, Calia e Guerrini (2006) concluíram em seu trabalho, que o líder de projeto, juntamente com a sua e equipe, devem fazer um diagnóstico das causas da poluição e dos desperdícios, visando definir soluções e novos procedimentos. Em relação aos testes de toxicidade, estes complementam a eficácia do fitoterápico, e devem dar aos experimentadores as provas sobre a segurança das doses a serem administradas, para o sucesso na terapêutica sem riscos de danos aos pacientes. Estes estudos podem ser divididos em: Dose Letal 50% (DL50); Toxicidade aguda – doses simples; Toxicidade aguda – doses repetidas; Toxicidade subcrônica e Toxicidade Crônica (Di Stasi, 1996). Vale ressaltar que os testes de toxicidade são feitos in vitro e in vivo, o que acarreta, logo de início, dois problemas. O primeiro está relacionado aos testes em animais e, conseqüentemente, aos problemas levantados pelos Comitês de Ética em Experimentação Animal; e o segundo envolve a percepção das 77

Artigo Original/Original Article

indústrias do setor farmacêutico no que se refere à gestão ambiental, os problemas com efluentes e resíduos gerados no desenvolvimento, e a produção dos medicamentos. Apresentam-se assim os temas que, na atualidade, constituem os maiores desafios para o setor farmacêutico, a substituição do modelo animal nos testes farmacológicos e a minimização do impacto ambiental, gerado pelos produtos químicos envolvidos nas análises. Poder-se-ia listar diversos ensaios toxicológicos, entretanto cada estudo possui várias possibilidades de métodos. Por exemplo, Noldin (2003) utiliza a técnica de Meyer 17, onde 2mg/ml dos extratos hexânico, diclorometano, butanólico, acetato de etila, e também dos compostos cinarosídio e cinaropicrina e do controle positivo (sulfato de quinidina), preparados em solução aquosa de sal marinho sintético (38g/L) com 1% DMSO (v/v), são incubados em placas “multiwell” durante 48 h com Artemia salina (n=10) a 30o C. Os solventes orgânicos de baixa polaridade como o diclorometano e o acetato de etila apresentam um alto índice de impacto ambiental, uma vez que não são miscíveis em água e não são biodegradáveis. Por sua vez, por serem facilmente dissolvidos em gordura, são altamente tóxicos, pois ultrapassam a membrama plasmática. A maioria é neuro-tóxica. Em relação ao ensaio in vivo, o uso da Artemia salina apresenta um problema irreversível ao meio ambiente, uma vez que é uma espécie em vias de extinção. Não há aqui a pretensão de entrar no mérito e detalhamento de cada técnica, nosso objetivo ao colocar esse exemplo é apresentar a dificuldade e complexidade que uma equipe vai enfrentar ao utilizar a ferramenta da P+L nessa etapa do processo produtivo. Essa constatação, não deve ser encarada como um obstáculo ou uma visão pessimista na implantação dessa filosofia de produção, mas sim, como um desafio e principalmente um olhar de esperança, na possibilidade de se obter medicamentos de qualidade que causem menos impactos ao meio ambiente. Os ensaios clínicos constituem uma ferramenta importante para a avaliação de produtos para a saúde. Todo medicamento que vai ser colocado no mercado passa por diversas etapas de pesquisa, produção e testes, até ser aprovado pelo órgão competente do país de origem do fabricante que, no caso do Brasil, é o Ministério da Saúde. A avaliação clínica é a ponta final do fluxograma, 78

Novo Paradigma Produtivo: Utilização Racional dos Recursos Naturais para Obtenção de Fitoterápicos

como abordado ao longo do trabalho, e o processo produtivo de qualquer medicamento é complexo, rigoroso e tecnicamente muito especializado. Os ensaios clínicos têm como objetivo identificar efeitos colaterais e caracterizar toxicidade dos produtos fitoterápicos, assim como de quaisquer outros medicamentos. Segundo Miguel e Miguel (2004, p.43) “o protocolo clínico deve atender a Resolução 08/88 do Conselho Nacional de Saúde (CIPLAN, 1988), bem como ao princípio ético, científico, com padrões internacionais de aceitação para ensaios desta natureza”. Os ensaios devem seguir as Diretrizes Internacionais Ética e Pesquisa em Seres Humanos (WHO, 1993), que apresentam os princípios gerais – condensados em quinze diretrizes – com a finalidade de proteger os direitos e o bem estar dos voluntários que participam da pesquisa (MIGUEL; MIGUEL, 2004). Segundo os mesmos autores (ibid, 2004, p 48) está prevista ainda no protocolo, a execução de “dois tipos de ensaios, definidos como ensaios agudos e ensaios subagudos ou crônicos. Todos os produtos fitoterápicos serão testados no mínimo em ensaios agudos”. Em relação, aos testes laboratoriais adotados, a mesma filosofia da Produção mais Limpa, discutida ao longo do trabalho, deve ser seguida.

Considerações Finais O presente estudo não inclui a parte final do fluxograma, denominada Produto, devido à complexidade das atividades realizadas nessa etapa, tais como: tratamento e purificação de água para injetáveis; lavagem, secagem e esterilização dos frascos e rolhas utilizados para envase; envasamento (líquido ou comprimido); liofilização (quando necessário), recravação, rotulagem e acondicionamento do produto final. A aplicação da P+L nessa etapa, merece considerações aprofundadas, principalmente no uso de recursos naturais e na produção de resíduos e poluentes. Estes temas serão abordados num trabalho posterior. Outro ponto a ser destacado é a falta da práxis nesta pesquisa, que se propôs a ser um estudo basicamente teórico dos procedimentos, técnicas e testes aplicados neste processo produtivo. Entretanto, nesse momento impõe-se uma reflexão sobre a necessidade de se incluir aspectos práticos da rotina de produção, com o objetivo de enriquecer as discussões em relação à Produção mais Limpa. E finalmente, mais do que apresentar Revista Fitos

Vol.4 Nº01 junho 2009

Artigo Original/Original Article

soluções, este estudo procurou levantar questões visando à sensibilização dos envolvidos com a pesquisa e desenvolvimento de fitoterápicos com este problema. Nesse sentido, o medicamento fitoterápico não é uma novidade; entretanto, sua produção industrial abriga ainda o um desafio de alinhar-se com os preceitos de desenvolvimento sustentável e proteger o meio ambiente, mantendo-se compatível com a legislação ambiental vigente, e alcançando qualidade internacional para os produtos.

Novo Paradigma Produtivo: Utilização Racional dos Recursos Naturais para Obtenção de Fitoterápicos

arquivos/pdf/Decreto_Fito.pdf. CALIA, R.C.; GUERRINI, F.M. Estrutura Organizacional para a difusão da produção mais limpa: uma contribuição da metodologia seis sigma na contribuição de redes intraorganizacionais. Gestão & Produção, São Carlos, v.13, n.3, 2006. DI STASI, L.C. Plantas medicinais: arte e ciência – um guia de estudo interdisciplinar. Editora da Unesp, São Paulo, 1996.

Referências

FERREIRA, S.H. Medicamentos a partir de plantas no Brasil. Editora da Academia Brasileira de Ciências, Rio de Janairo, 1998.

BARATA, M.; KLIGERMAN, D.C.; COHEN, S.C. A ecoeficiência aplicada no setor público no Brasil: sua contribuição no setor de saneamento. Cadernos de Estudos Avançados. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2006.

GONSALVES, P.E. (org). Medicinas alternativas: os tratamentos não convencionais. Editora IBRASA, São Paulo, 1989.

CIPLAN. Comissão Interministerial de Planejamento e Coordenação. Normas e diretrizes para o atendimento em homeopatia, acupuntura, termalismo, técnicas alternativas de saúde mental e fitoterapia . Resolução CIPLAN 8/88, de 1988; DOU 48/1988. Disponível em: http://galiza.multiply. com/market/item/27/27. SNVS. Secretaria Nacional de Vigilância Sanitária, Ministério da Saúde. Portaria 116/ MS/SNVS de 08/08/1996. Norma para Estudo da Toxicidade e da Eficácia de Produtos Fitoterápicos. Disponível em: http://www.ibama.gov.br/flora/portarias/116_96.pdf. ANVISA. Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), Ministério da Saúde. Guia para Estudos da Toxicidade Pré-Clínica de Fitoterápicos, Resolução 90 de 16/03/2004. Disponível em: http:// e-legis.anvisa.gov.br/leisref/public/showAct. php?id=10242 ANVISA. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), Dispõe sobre o registro de medicamentos fitoterápicos. Resolução 17, 24/02/2000. Disponível em: http://www.anvisa.gov.br/legis/resol/2000/17_00rdc.htm. BRASIL. Aprova a Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos e dá outras providências. Decreto Interministerial no. 5.813 de 22/06/2006. Disponível em: http://portal.saude.gov.br/portal/ Revista Fitos

Vol.4 Nº01 março 2009

IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. IBGE investiga o meio ambiente de 5.560 municípios brasileiros. Disponível em: http: //www. ibge.gov.br/home/presidência/noticias/noticia. Acesso em 05/07/2007. LUDKE, M; ANDRÉ, M.E.D.A. Pesquisa em educação: abordagens qualitativas. Editora EPU, São Paulo, 1986. MATOS, F.J. Farmácias vivas: sistema de utilização de plantas medicinais projetadas para pequenas comunidades. Editora da EUFC, Fortaleza, 1998. MELO, E.C.; RADUNZ, L. L.M..; Alvarenga, R.C. Processo de secagem na qualidade das Plantas Medicinais – Revisão. Engenharia na Agricultura, Minas Gerais: Viçosa, v.12, n.4, 2004. MIGUEL, M.D.; Miguel, O.G. Desenvolvimento de Fitoterápicos. Editora Tecmedd, São Paulo, 2004. NOLDIN, V.F.; CECHINEL-FILHO, V.; DELLA-MONACHE, F.; BENASSI, J.C.; CHRISTMANN, I.L.; PEDROSA, R.C.; YUNES, R.A. Composição química e atividades biológicas das folhas de Cynara scolymus L. (alcachofra) cultivada no Brasil. Química Nova, v.26 n.3, 2003. OLIVEIRA, F.; AKISSUE, G. Fundamentos de Farmacobotânica. Atheneu Editora, São Paulo, 1989. PASCARELLI, B.M.O.; ROCHA, M.E.N.; FRU79

Artigo Original/Original Article

Novo Paradigma Produtivo: Utilização Racional dos Recursos Naturais para Obtenção de Fitoterápicos

TUOSO, V.S. Plantas Medicinais: da natureza ao medicamento. Iniciação Científica na Educação Profissional em Saúde: articulando trabalho, ciência e cultura. EPSJV/Fiocruz: Rio de Janeiro, v.2, 2006. RODRIGUES, R.A.F.; FOGLIO, M.A.; BOAVENTURA JR.; S.; SANTOS, A.S.; REHDER, V.L.G. Otimização do processo de extração e isolamento do anti-malárico artemisina a partir de Artemísia annua L. Química Nova, v.29, n.2, 2006. SIANI, A.C. (org.). Desenvolvimento Tecnológico de Fitoterápicos: Plataforma Metodológica. Editora Scriptorio, Rio de Janeiro, 2003, 99pp. SILVA, G.C.S.; MEDEIROS, D.D. Metodologia de checkland aplicada à implementação da produção mais limpa em serviços. Gestão & Produção: São Carlos, v.13, n.3, 2006. SIMÕES, C.M.O.; SCHENKEL, E.P.; GOSMANN, G.; MELLO, J.C.P.; MENTZ, L.A.; PETROVICK, P.R. Farmacognosia: da planta ao medicamento. Editora da UFSC e Editora da UFRGS, Porto Alegre/Florianópolis, 2000. TRIVIÑOS, A.N.S. Introdução à pesquisa em Ciências Sociais: a pesquisa qualitativa em Educação. Editora Atlas, São Paulo, 1987. TUROLLA, M.S.R.; NASCIMENTO, E.S. Informações toxicológicas de alguns fitoterápicos utilizados no Brasil. Revista Brasileira de Ciências Farmacêuticas, vol.42, n.2, 2006. VILLAS BÔAS, G.K.; GADELHA, C.A.G. Oportunidades na Indústria de medicamentos e a lógica do desenvolvimento local baseado nos biomas brasileiros: bases para a discussão de uma política nacional. Cadernos de Saúde Pública, v.23, n.6. 2007. WHO/CIOMS. World Health Organisation/Council for International Organizations of Medical Sciences. International Ethical Guidelines for Biomedical Research Involving Human Subjects. Geneve, 1993.

80

Revista Fitos

Vol.4 Nº01 junho 2009

Artigo Original / Original Article

Atividades Antimicrobiana e Antioxidante da Própolis do Estado do Ceará Antimicrobial and Antioxidant Activities of Própolis from Ceará State

Gutierrez-Gonçalves, M. E. J.; *Marcucci, M. C.

Programa de Mestrado Profissional em Farmácia, Universidade Bandeirante de São Paulo, UNIBAN, Rua Maria Cândida 1813, 02071-013, São Paulo, SP, Brasil

Resumo A própolis de Apis mellifera L. é um produto da colméia, elaborado a partir de exsudatos de resinas que as abelhas recolhem de determinadas plantas. A composição química da própolis é complexa e relacionada à diversidade vegetal encontrada em torno da colméia. Embora a própolis seja utilizada em medicina popular por milhares de anos, a falta de padrões que avaliem de maneira precisa suas atividades farmacológicas, dificulta a padronização de produtos comerciais que garanta sua eficácia e segurança terapêutica para humanos e outros animais. No presente trabalho, avaliamos a composição química e a atividade antimicrobiana e antioxidante de própolis do Estado do Ceará. Os conteúdos de flavonóides e de fenóis totais foram mensurados empregando-se cloreto de alumínio e o reagente de Folin-Ciocalteau, respectivamente. Os resultados encontrados indicam que existe uma correlação entre o conteúdo fenólico e a atividade antioxidante. Uma das amostras apresentou atividade antimicrobiana contra S. aureus e C. albicans.

Abstract

*Correspondência: E-mail: [email protected]

Unitermos: Própolis do Ceará, Fenóis, Flavonóides, Atividade Antioxidante. Key Words: Propolis from Ceará State, Phenols, Flavonoids, Antioxidant Activity. 81 Revista Fitos

Vol.4 Nº01 março 2009

Propolis from Apis mellifera L. is a product of the beehive, elaborated from exudates of resins that bees collect from different plants. The chemical composition of propolis is complex and is related to the vegetal source around the beehive. Although the propolis is used in popular medicine for thousand years, the lack of standards to evaluate its quality control is necessary and its pharmacology activities, turn to be difficult the standardization of commercial products that guarantees its effectiveness and therapeutic security for human and animal uses. In the present work, we evaluated the chemical composition and the antimicrobial and antioxidant activities of propolis from Ceará State. The content of flavonoids and total phenols was measured using aluminum chloride and Folin-Ciocalteau reagent, respectively. The results indicated that there is a correlation between phenolic content and the antioxidant activity. One of the samples showed antimicrobial activity against S. aureus and C. albicans.

Introdução O consumidor tem se tornado cada vez mais exigente e mais criterioso com a qualidade do produto que consome. É crescente a sua preocuRevista Fitos

81 Vol.4 Nº01 março 2009

Tópicos em Debate/Debate

pação em fazer uso de produtos menos agressivos, de origem natural, ou o mais próximo possível desta origem. Por tal motivo, remete-se à pesquisa de produtos extraídos de plantas medicinais e outros produtos naturais com valor conhecido, comprovado ou não, que são ofertados à indústria. Um dos melhores exemplos, são produtos que contenham em seus constituintes, flavonóides, como é o caso das própolis (BURDOCK, 1998). Os flavonóides são compostos polifenólicos naturais largamente distribuídos principalmente nos vegetais superiores (angiospermas). Muitos deles apresentam atividade biológica como, por exemplo, podem-se citar as atividades antioxidante, antiinflamatória, antibacteriana que têm um grande potencial de exploração na área cosmética (PIETTA, 2000). A própolis é utilizada popularmente no tratamento de infecções, em problemas de pele e, também, como antiviral e antiúlcera (DOBROWOLSKI et al., 1991). Estimula o sistema imunológico, é cicatrizante em escaras de decúbito e apresenta atividade antibiótica frente às bactérias gram positivas (MIORIN et al., 2003). A própolis possui também atividades, como anti-séptica, antifúngica, antipirética, adstringente e antiinflamatória; e também possui ação comprovada frente ao Bacillus subtilis e Candida albicans (SALOMÃO et al., 2008). Foi descrita a sua ação contra bactérias endodônticas (FERREIRA et al., 2007). Krol e colaboradores (1993) relataram o efeito sinérgico da própolis associada a antibióticos, contra Staphylococcus aureus. Tais informações serviram como estímulo para desenvolver um processo de controle de qualidade deste produto, já que o melhor indicador da origem botânica da própolis é a análise da sua composição química comparada com a provável fonte vegetal. A determinação da origem geográfica e, principalmente, a origem vegetal aliada às suas características fisico-químicas, se faz importante no controle de qualidade e até mesmo na padronização das amostras de própolis para uma efetiva aplicação terapêutica (MARCUCCI, 1995). Recentemente, Marcucci (2006a) mostrou a tipificação da própolis brasileira. A principal característica desta tipificação é que possibilitará a agilização do mercado deste produto apícola, desde o campo até à indústria farmacêutica e cosmética, favorecendo a estas utilizarem a tipificação para a confecção dos seus medicamentos e cosméticos, com controle de qualidade estabelecido, já que os marcadores principais dos diferentes 82

Atividades Antimicrobiana e Antioxidante da Própolis do Estado do Ceará

tipos foram separados, identificados e quantificados por faixas de concentração. Isto é, a classificação é quantitativa. Todos os dados relatados sobre o teor dos marcadores empregando-se a cromatografia líquida de alta eficiência (CLAE), foram comprovados por CLAE-EM (espectrometria de massas) empregando-se também uma análise por fingerprint de massas (SAWAYA et al., 2004). O outro fator importante da tipificação é que será possível confeccionar produtos farmacêuticos, cosméticos e de higiene oral, conhecendo-se o tipo de própolis empregada e as quantidades dos componentes bioativos presentes, características não relatadas anteriormente em publicações e patentes sobre própolis. O objetivo deste estudo foi o de verificar a atividade antimicrobiana e antioxidante, e analisar a composição das própolis coletadas nos municípios de Beberibe, Crato e Parambú, localizados no Estado do Ceará, região nordeste do Brasil, nunca antes estudadas para a sua inclusão na tipificação.

Material e métodos Própolis As amostras de própolis utilizadas neste trabalho foram coletadas em três diferentes regiões do estado do Ceará, a saber: Beberibe, Crato e Parambú localizadas, respectivamente nas microrregiões: Litoral de Fortaleza, Cariri e Inhamuns. As amostras cedidas pelo SEBRAE/Ceará e foram armazenadas em sacos plásticos na geladeira. Processo de extração A própolis em estado bruto foi extraída em soxhlet, acoplado a manta aquecedora para balão de fundo redondo, contendo 250 mL de álcool etílico (Ecibra). Um cartucho de papel de filtro foi preparado e pesado, onde foram adicionados 8 g da amostra, que por sua vez permaneceu no soxhlet até sua total extração pelo solvente. Após esta etapa foi realizada uma filtração simples para a retirada da cera. As amostras foram transferidas para rotaevaporador, até que todo solvente se evaporasse, restando apenas a própolis pura, denominada de “extrato mole”. Em seguida, foram preparados extratos etanólicos na concentração de 10% (m/V). Determinação do teor de sólidos solúveis Para cada um dos extratos, foi determinado o teor de sólidos solúveis, pesando-se um becker e noRevista Fitos

Vol.4 Nº01 março 2009

Tópicos em Debate/Debate

tando-se o seu peso. Foram pipetados 5 mL do extrato obtido em soxhlet no becker levando-o à estufa a 60 ºC até a secura. Retirou-se o becker, deixando-o atingir a temperatura ambiente em dessecador. Em seguida, este foi pesado, repetindo-se a operação até se obter um peso constante. Desta forma, foi possível calcular a quantidade de sólidos solúveis no extrato. O procedimento foi realizado em triplicata. Atividade antioxidante A atividade antioxidante foi analisada pelo método de seqüestro de radicais de DPPH (radical difenilpicrilidrazila) (HATANO et al., 1989; BANSKOTA et al., 2000) que se baseia em uma reação de óxido-redução. Os extratos etanólicos de própolis foram diluídos a 0,01% (V/V). Em seguida, 8 tubos foram enumerados de 0 até 7. Adicionaram-se os volumes de etanol (Ecibra), correspondentes às diluições do teste. Em seguida, foram adicionados os volumes de própolis para se obter as concentrações finais desejadas. Um volume de 1000 μL de DPPH (radical difenilpicrilidrazila, Sigma, St.Louis, USA a 60 mM) foi adicionado no 1º tubo e o cronômetro ligado, desligando-o depois de um minuto. O mesmo volume de DPPH foi adicionado nos outros tubos a cada 1 minuto. A leitura foi realizada em espectrofotômetro (Cary 50 da Varian, EUA) em 517 nm após 30 minutos da adição do DPPH no 1º tubo. Foi construído um gráfico (em %) de DPPH versus concentração de própolis (mg/ mL) e calculada a CE50 (concentração de própolis que elimina 50% dos radicais livres) pela planilha, empregando-se o método dos mínimos quadrados.

Atividades Antimicrobiana e Antioxidante da Própolis do Estado do Ceará

A figura 1 mostra um exemplo de cinética de descoloração do DPPH, empregando-se a própolis de Beberibe. Análise de fenóis totais em própolis bruta Foram pesados 0,1 g do extrato seco (mole) de própolis obtida na determinação de teor de sólidos solúveis. Dissolveu-se com um pouco de etanol, em seguida, transferiu-se para um balão volumétrico de 50mL, completando-se o volume com água destilada (solução estoque). A partir deste ponto o procedimento foi realizado em triplicata. Transferiu-se uma alíquota de 200 mL da solução estoque de própolis, para um balão volumétrico de 10mL, contendo aproximadamente 5mL de água destilada. Foram adicionados 800 mL do reagente Folin-Ciocalteau (Merck, Darmstadt, Alemanha) agitando-se o balão por alguns segundos em um intervalo de 1 a 8 minutos. Em seguida, foram acrescentados 1,2 mL da solução de Carbonatotartarato de sódio (Carbonato de sódio e Tartarato de sódio da Ecibra) completando-se o volume com água destilada até próximo ao menisco. A solução foi mantida em banho-maria a 20 °C por 2 horas. Decorrido este tempo, acertou-se o volume final. A leitura foi realizada em espectrofotômetro em 760nm. Este método foi validado pela empresa Natural Labor (2007a). Análise de flavonóides na amostra bruta própolis Foram utilizados 0,05 g do extrato mole de própolis, onde se adicionou uma pequena quantidade de

Figura 1 – Cinética da atividade antioxidante da amostra de própolis de Beberibe empregando-se o radical DPPH.

Revista Fitos

Vol.4 Nº01 março 2009



Tópicos em Debate/Debate

metanol em um balão volumétrico, acertando-se o volume final para 25 mL. A partir deste ponto, o procedimento foi realizado em triplicata. Foram pipetados 200 mL desta solução em um balão de 10 mL, com aproximadamente 5 mL de metanol. Em seguida, acrescentaram-se 200 mL da solução a 5% de cloreto de alumínio (AlCl3 Reagen), completando os 10 mL do balão volumétrico com metanol até próximo ao menisco, agitando-se por alguns segundos. A solução foi mantida a 15 °C por 30 min. Decorrido este tempo, o menisco foi acertado e a leitura da absorbância efetuada em 425 nm. Este método foi validado pela empresa Natural Labor (2007b). Padronização do inóculo Inóculos dos microrganismos Staphylococus aureus (S. aureus; ATCC 29213), Escherichia coli (E. coli, ATCC 25922) e Candida albicans (C. albicans, ATCC 10231) foram preparados através da suspensão direta de colônias em 5,0 mL de solução salina a 0,85%, com turvação equivalente a 0,5 da escala de McFarland. Em seguida, diluiu-se à proporção de 1/10 para se obter uma concentração de 107 UFC/mL. Cada inóculo (1 μL) foi distribuído na superfície do ágar, sendo que a concentração final foi de aproximadamente 104 UFC/mL. Atividade antimicrobiana-difusão em disco Os extratos obtidos na análise de sólidos solúveis foram empregados na preparação de soluções diluídas a 2% para ser usada no teste de difusão em disco. Foram utilizados os meios de cultura Ágar Nutriente e Agar Saboraud (ambos da Merck, Darmstadt, Alemanha, este último especificamente para C. albicans). Os microrganismos testados foram: E. coli (ATCC 25922) S. aureus (ATCC 29213) Bacillus cereus (B. cereus, ATCC 11778), Staphylococcus epidermidis (S. epidermidis, ATCC 12228) e C. albicans (ATCC 10231). Para cada disco do teste antimicrobiano, foram impregnados 30 µL da concentração de 2% das própolis.

Atividades Antimicrobiana e Antioxidante da Própolis do Estado do Ceará

Atividade antimicrobiana empregando a diluição em ágar A atividade antimicrobiana foi avaliada pelo método de diluição em ágar, conforme o procedimento descrito a seguir: em um erlenmeyer foram pesados 0,68 g de ágar Müller Hinton (Merck, Darmstadt, Alemanha), aos quais foram adicionados 20 mL de água destilada. Em seguida, o meio foi aquecido com uma manta elétrica. Após total solubilização, o meio foi esterilizado em autoclave por 20 minutos a 121 °C. Em seguida, foram pipetados os volumes respectivos das amostras de própolis, no meio de cultivo distribuído em placas de Petri, conforme as diluições desejadas. Todas as placas foram incubadas a 37 °C por 24 h. A concentração inibitória mínima (CIM) foi determinada a partir da placa em que não se observou crescimento bacteriano. Como controle, foram utilizadas placas, contendo apenas o meio de cultura e os inóculos bacterianos. O procedimento foi realizado em triplicata.

Resultados e Discussão Embora muitos esforços estejam sendo realizados para os estudos da atividade biológica da própolis tipificada, muito pouco ou quase nada se sabe sobre a própolis do Ceará. A própolis denominada de verde (BRP, Marcucci, 2006a) foi exaustivamente estudada e muitas de suas propriedades biológicas e farmacológicas foram estabelecidas. Com respeito à própolis do Ceará, foram realizados estudos preliminares mostrando um potencial de amostras de algumas regiões como antioxidantes e antimicrobianas (MARCUCCI, 2006b) Os resultados apresentados a seguir mostram um perfil do teor de flavonóides, fenóis, atividade antioxidante e antimicrobiana das própolis analisadas. A tabela 1 mostra os resultados obtidos na análise de fenóis e flavonóides totais. A legislação vigente (MAPA, 1998) indica que o padrão de qualidade requer um teor mínimo de flavonóides e fenóis totais para a própolis bruta com valores de 0,5 % (m/m) e 5,0% (m/m) respectivamente.

Tabela 1 – Concentração de fenóis e flavonóides totais (% m/m) e atividade antioxidante (DPPH, CE50 mg/mL) para as própolis estudadas. Própolis Beberibe Crato Parambú 84

Fenóis totais % (m/m) 5,17 0,18 9,49 0,26 3,71 0,03

Flavonóides totais % (m/m) 8,09 0,30 6,68 0,23 1,17 0,05

DPPH (CE50 mg/mL) 14,83 15,53 56,29 Revista Fitos

Vol.4 Nº01 março 2009

Tópicos em Debate/Debate

Figura 2 – Parâmetros analisados para as três própolis do Ceará.

Atividades Antimicrobiana e Antioxidante da Própolis do Estado do Ceará

Figura 3 – Correlação entre a atividade antioxidante e o teor de flavonóides nas própolis do Ceará.

Tabela 2 - Concentração inibitória mínima (CIM) em mg/mL das própolis estudadas. Própolis Beberibe Crato Parambú

S. aureus CIM (mg/mL) 400 -

E.coli CIM (mg/mL) 600 -

C. albicans CIM (mg/mL) 550 -

Tabela 3 - Halos de inibição (mm) para as amostras de própolis. S. aureus 9 mm -

Própolis Beberibe Crato Parambú

E.coli -

B. Cereus 9 mm 8 mm -

S. epidermidis -

C. albicans -

(-) não houve inibição

A própolis Beberibe apresentou uma CIM (concentração inibitória mínima) de 400 μg/mL contra S. aureus e de 550 μg/mL para C. albicans. A bactéria E. coli não foi inibida por nenhuma própolis, como já constatado na literatura (FERNANDES JR. et al., 1995). A própolis não tem ação antimicrobiana sobre bactérias Gram negativas. As própolis de Crato e Parambú não inibiram os microrganismos em nenhuma das concentrações. Todos os resultados foram negativos. A própolis de Beberibe apresentou os melhores resultados para a atividade antioxidante e a antimicrobiana, inibindo S. aureus e C. albicans. Portanto, Revista Fitos

Vol.4 Nº01 março 2009

os apicultores do Estado do Ceará, podem agregar valor a essas própolis, investindo em aplicações de melhores técnicas de manejo, de tal forma a produzi-las em escala comercial, conquistando mercado nacional e internacional, gerando aumento no número de empregos e melhoria na qualidade de vida da população cearense.

Agradecimentos As autoras agradecem ao SEBRAE-CE na pessoa do Sr Vandi Matias Gadelha pelo envio das amostras e aos apicultures do projeto Apis-CE (SEBRAE). 

Tópicos em Debate/Debate

Referências BANSKOTA, A.H., TEZUKA, Y., ADNYANA, I.K., MIDORIKAWA, K., MATSUSHIGE, K., MESSAGE, D., HUERTAS, A.A.G., KADOTA, S. Journal of Ethnopharmacology, v.72, p. 239-246, 2000. BURDOCK, G.A. Review of the Biological Properties and Toxicity of Bee Propolis (Propolis). Food and Chemical Toxicology, v.36, p.347-363, 1998. DOBROWOLSKI, J.W., VOHORA, S.B., SHARMA, K., SHAH, S.A., NAQVI, S.A.H., DANDIYA, P.C. Antibacterial, antifungal, anti-amoebic, antiinflammatory and anti-pyretic studies on propolis bee products. Journal of Ethnopharmacology, v.5, p.77-82, 1991. FERNANDES JR., A.; SUGIZAKI, M.F.; FOGO, M.L.; FUNARI, S.R.C., LOPES, C.A.M. In vitro activity of propolis against bacterial and yeast pathogens isolated from human infections. Journal of Venomous Animals and Toxins, v.1C, p.63-69, 1995. FERREIRA, F.B.A., TORRES, S.A., ROSA, O.P.S., FERREIRA, C.M., GARCIA, R.B., MARCUCCI, M.C. Antimicrobial effect of propolis and other substances against selected endodontic pathogens, Oral Surgery, Oral Medicine, Oral Pathology, Oral Radiology and Endodontics, v.104, p.709716, 2007. HATANO, T., EDAMATSU, R., MORI, A., FUJITA, Y., YASUHARA, T., YOSHIDA, T., OKUDA, T. Chemical and Pharmaceutical Bulletin, v.37, p.20162021, 1989. KROL, W, SCHELLER, S, SHANI, J, PIETSZ G, CZUBA Z. Synergistic effect of ethanolic extract of propolis and antibiotics on the growth of Staphylococcus aureus, Arzneimitel-Forschung Drug Research, v.43, n.5, p.607-609, 1993.

Atividades Antimicrobiana e Antioxidante da Própolis do Estado do Ceará

Caminho Para a Elaboração de Medicamentos de Origem Natural, Contendo este Produto Apícola, Revista Fitos, v.1, n.3, p. 36-46, 2006a. MARCUCCI, M.C. Diagnóstico científico da própolis do Ceará M.C. Conferência apresentada em 03-05/07/2006 no X Seminário Nordestino de Pecuária – Pecnordeste, Fortaleza, CE, 2006b. MIORIN, P.L., LEVY JUNIOR, N.C., CUSTODIO, A.R., BRETZ, W.A., MARCUCCI, M.C. Chemical composition and antibacterial activity of honey and propolis from A. mellifera and T. angustula bees against Staphylococcus aureus. Journal of Applied Microbiology, v.95, p.913-920, 2003. NATURAL LABOR ANÁLISES E PESQUISAS LTDA. Validação de método analítico: determinação do teor de flavonóides em própolis, documento confidencial, 2007a. NATURAL LABOR ANÁLISES E PESQUISAS LTDA. Validação de método analítico: determinação do teor de fenóis em própolis. Documento Confidencial, 2007b. PIETTA, P.G. Flavonoids as antioxidants. Journal of Natural Products, v.63, p.1035–1042, 2002. SALOMÃO, K., PEREIRA, P.R.S., CAMPOS, L.C., Borba, C.M., CABELLO, P.H., MARCUCCI, M.C., DE CASTRO, S.L. Brazilian propolis: correlation between chemical composition and antimicrobial activity. e-CAM: Evidence Based Complementary and Alternative Medicine, v.5, p.317-324, 2008. SAWAYA, A.C.H.F., TOMAZELA, D.M., CUNHA, I.B.S., BANKOVA, V.S., MARCUCCI, M.C., EBERLIN, M.N. Electrospray Ionization Mass Spectrometry Fingerprinting of Propolis. Analyst, v.129, n.8, p.739-744, 2004.

MAPA (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento) Instrução Normativa no. 3 de 19 de janeiro de 2002 (Portaria Ministerial nº 574, de 8 de dezembro de 1998). MARCUCCI, M.C. Propolis: chemical composition, biological properties and therapeutic activity. Apidologie, v.26, 83-99, 1995. MARCUCCI, M.C. Própolis Tipificada: Um Novo 86

Revista Fitos

Vol.4 Nº01 março 2009

Estado da Arte / State of the Art

Produtos Naturais Inibidores da Transcriptase Reversa do Vírus HIV Natural Products as HIV Reverse Transcriptase Inhibitors Resumo Gonçalves, R. S. B.; Barreto, M. B.; Gomes, C. R. B.; *Souza, M. V. N.

Instituto de Tecnologia em Fármacos, Far-Manguinhos, Fundação Oswaldo Cruz, Rua Sizenando Nabuco 100, Manguinhos, 21041-250, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.

Atualmente, os fármacos disponíveis no combate ao vírus da AIDS podem ser classificados em seis categorias: (a) inibidores da transcriptase reversa análogos de nucleosídeos (ITRNs), (b) inibidores da transcriptase reversa não nucleosídeos (ITRNNs), (c) inibidores de protease (IPs), (d) inibidores de fusão (IFs), (e) inibidores de entrada (IEs) e (f) inibidores da integrase (IIs). Devido à rápida disseminação do vírus HIV resistente aos diversos fármacos disponíveis no mercado, é necessário e urgente o desenvolvimento de novos fármacos na luta contra a AIDS. Neste contexto, o objetivo desse artigo é destacar promissores produtos naturais capazes de atuar na enzima trascriptase reversa, a qual é essencial para a replicação do vírus HIV.

Abstract Currently available anti-HIV drugs can be classified into six categories: (a) nucleoside analogue reverse transcriptase inhibitors (NRTIs), (b) non-nucleoside reverse transcriptase inhibitors (NNRTIs), (c) protease inhibitors (PIs), (d) fusion inhibitors (IFs), (e) entry inhibitors (EIs) and (f) integrase inhibitors (IIs). Due to the rapid spread of HIV strains resistant to all the major anti-HIV drugs on the market, we urgently need to develop new drugs to fight against AIDS. In this context, due to the importance of nature in the development of new drugs, the aim of the present review is to highlight a series of new and promising anti-HIV agents derived from natural products virus acting on reverse transcriptase enzyme, which are essential for HIV replication.

Introdução A síndrome da imunodeficiência adquirida (AIDS, em inglês) é uma doença infecciosa que tem como agente etiológico o vírus da imunodeficiência humana (HIV, em inglês), pertencente à classe dos retrovírus (vírus que contêm RNA, sendo esse material convertido em DNA no interior da célula do hospedeiro). A infecção com este vírus resulta em debilidade do sistema imunológico do organismo, pois ele ataca especialmente um grupo de células sanguíneas, os linfócitos T (ou células T). Como o número dessas células no organismo diminui, a pessoa se torna suscetível a uma série de infecções oportunistas, como a pneumonia e a tuberculose (UNAIDS, 2008). *Correspondência : E-mail: [email protected] 87 Revista Fitos

Vol.4 Nº01 março 2009

De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), estima-se que 33 milhões de pessoas estejam infectadas pelo vírus Revista Fitos

87 Vol.4 Nº01 março 2009

Estado da Arte/State of the Art

HIV em todo o mundo (WHO, 2008). No Brasil, desde a identificação do primeiro caso de AIDS em 1980, até junho de 2007, já foram identificados aproximadamente 474 mil casos da doença (DST/AIDS, 2008). Atualmente, esta síndrome alcançou proporções epidêmicas, especialmente na África Subsaariana, onde o número de infectados chega a 22 milhões, e no Sul e Sudeste da Ásia, com cerca de 4 milhões de casos (WHO, 2008). O quadro mundial da AIDS torna-se ainda mais complexo quando levamos em consideração as altas taxas de mutação do vírus HIV, produzindo em média um mutante a cada três gerações (CHEN et al., 2004), bem como as dificuldades que os pacientes encontram no tratamento atualmente utilizado. Na maioria das vezes, essa terapia é agressiva e apresenta uma série de efeitos colaterais como hepatotoxicidade, efeitos gastrintestinais, alterações pancreáticas e cardíacas, dentre outras (GIR et al., 2005). Diante desses fatos, o desenvolvimento de novas terapias anti-retrovirais é uma necessidade premente. O presente artigo tem como objetivo apresentar produtos naturais relatados na literatura, que possam auxiliar no desenvolvimento de novos fármacos contra a AIDS, por serem capazes de inibir a atividade da transcriptase reversa (TR); uma importante enzima do ciclo de replicação do HIV.

Produtos Naturais Inibidores da Transcriptase Reversa do Vírus HIV

A Terapia Anti-Retroviral O tratamento da AIDS baseia-se na terapia anti-retroviral combinada (TARV), aprovada desde 1996. Essa terapia consiste na utilização de diferentes classes terapêuticas para o tratamento da doença e tem como principais objetivos (i) a redução da morbidade relacionada ao HIV, (ii) o aumento do tempo de sobrevida dos pacientes, (iii) melhorias na qualidade de vida dos mesmos, (iv) a restauração e preservação das funções imunológicas e (v) a prevenção da transmissão vertical do HIV. Em geral, o início da terapia é recomendado para pacientes sintomáticos ou assintomáticos que apresentem uma contagem de células CD4 abaixo de 200 células/mm3. O esquema preferencialmente aplicado para terapia inicial em adultos e adolescentes utiliza dois nucleosídeos inibidores da TR e um não-nucleosídeo inibidor da TR; embora as recomendações possam variar em função do perfil e do histórico do paciente, como por exemplo, para crianças e mulheres grávidas (WHO, 2008; DST/AIDS, 2008). Atualmente, existem 24 medicamentos aprovados pela Food and Drug Administration (FDA, 2008) que podem ser utilizados no combate ao HIV. Esses são divididos em 6 subclasses e atuam inibindo etapas específicas do ciclo viral, suprimindo assim a replicação do vírus e impedindo a infecção de novas células (FDA, 2008). A Tabela 1 ilustra as substâncias atualmente utilizadas na TARV e os seus respectivos alvos farmacológicos.

Tabela 1 – Fármacos atualmente utilizados no combate ao HIV Classe terapêutica Inibidores da transcriptase reversa análogos de nucleosídeos (ITRNs)

88

Nome

Nome Comercial

Data de Aprovação pelo FDA

Zidovudina, AZT

Retrovir

03/1987

Didanosina, ddI

Videx

10/1991

Zalcitabina, ddC

Hivid

06/1992

Stavudina, d4T

Zerit

06/1994

Lamivudina, 3TC

Epivir

11/1995

Abacavir, ABC

Ziagen

12/1998

Tenofovir, TDF

Viread

10/2001

Emtricitabina, FTC

Emtriva

06/2003

Nevirapina

Viramune

06/1996

Delavirdina

Rescriptor

04/1997

Efavirenz

Sustiva

09/1998 Revista Fitos

Vol.4 Nº01 março 2009

Estado da Arte/State of the Art

Produtos Naturais Inibidores da Transcriptase Reversa do Vírus HIV

Nome

Nome Comercial

Data de Aprovação pelo FDA

Mesilato de saquinavir

Invirase

12/1995

Indinavir

Crixivian

03/1996

Ritonavir

Norvir

03/1996

Nelfinavir

Viracept

03/1997

Saquinavir

Fortovase (no longer marketed)

11/1997

Amprenavir

Agenerase

04/1999

Fosamprenavir cálcico

Lexiva

10/2003

Atazanavir

Reyataz

06/2003

Tipranavir

Aptivus

06/2005

Darunavir

Prezista

06/2006

Enfuvirtida, T-20

Fuzeon

03/2003

Inibidores de entrada (IE)

Maraviroc

Selzentry

08/2007

Inibidores da integrase (II)

Raltegravir

Isentress

10/2007

Classe terapêutica Inibidores da protease (IP)

Inibidores de fusão (IF)

Produtos Naturais no Desenvolvimento de Fármacos Durante milhares de anos, as plantas vêm sendo utilizadas pelo homem com fins medicinais, aliviando sintomas e auxiliando no tratamento de doenças. Relatos históricos mostram que nos primórdios de nossa civilização, no antigo Egito, doenças de pele já eram tratadas com a ingestão de macerados de plantas seguida por exposição ao sol (GALINIS et al., 1996). Hoje, sabe-se que a substância ativa tratase de um psoraleno (Figura 1), uma furanocumarina que ainda é utilizada no combate a doenças de pele como a psoríase e o vitiligo. A psoríase é uma doença bastante freqüente, ocorrendo na mesma proporção em homens e mulheres e caracterizada pelo aparecimento de lesões avermelhadas e descamativas na pele (CESTATI et al., 2001). Já o vitiligo é uma doença não contagiosa que atinge de 0,5% a 2,0% da população mundial e caracteriza-se pela perda da pigmentação da pele (STEINER et al., 2004). Figura 1 – Esqueleto básico dos psoralenos para o combate às doenças de pele

Revista Fitos

Vol.4 Nº01 março 2009

Até o início do século XX, 80% dos medicamentos utilizados eram obtidos a partir de raízes, folhas e sementes (McCHESNEYet al., 2007), e ainda hoje esses produtos representam uma das principais ferramentas no desenvolvimento de novas moléculas bioativas. Isso é devido à imensa diversidade estrutural e a enorme variedade de grupos funcionais e centros estereogênicos presentes nestas moléculas, bem como pela capacidade de interagir com diferentes alvos terapêuticos (VIEGAS et al., 2006; PINTO et al., 2002). O planejamento de novos fármacos a partir de produtos naturais pode ser feito de diferentes maneiras. Essas substâncias podem ser utilizadas diretamente, como são encontrados na natureza, como é o caso da daunorubicina (Figura 2), uma naftoquinona que apresenta atividade antineoplásica, extraída do fungo Streptomyces peucenticus (FERREIRA et al., 2003). Também podem servir como protótipos, como os exemplos dos nucleosídeos espongouridina, espongotimidina, de origem marinha (Figura 3), isolados a partir da esponja Cryptotethya crypta (=Tectitethia crypta) (BERGMANN; BURKE, 1955), que resultaram em fármacos de grande importância clínica, para o tratamento de infecções virais, tais como AraA (vidarabina), Ara-C (citarabina), ACV (aciclovir) e AZT (zidovudina) (Figura 4) (DE CLERCQ, 

Estado da Arte/State of the Art

2001a). Outra abordagem é a identificação de grupos farmacofóricos nas moléculas de origem natural, como é caso da penicilina G (Figura 5), extraída do fungo Penicillum nonatum, que teve sua ação antibacteriana descoberta em 1930 por Sir. Alexander Fleming. O anel β-lactâmico presente nessa substância é o responsável pela atividade dos antibióticos sintéticos contendo o mesmo anel. Os produtos naturais podem ainda dar origem a derivados semi-sintéticos, como por exemplo, o irinotecan e o topotecan, derivados da camptotecina (Figura 6), um alcalóide quinolínico extraído da Camptotheca acuminata por Wall e colaboradores em meados da década de 60, e que teve seus primeiros registros de atividade antineoplásica no início da década de 70 (WALL et al., 1966).

Produtos Naturais Inibidores da Transcriptase Reversa do Vírus HIV

Figura 4 – Fármacos de grande importância clínica

Figura 2 – Daunorubicina, naftoquinona utilizada no combate ao câncer

Figura 3 – Substâncias de origem marinha que contribuíram como protótipos para o desenvolvimento do AZT

Figura 5 – Estrutura da Penicilina G

0

Revista Fitos

Vol.4 Nº01 março 2009

Estado da Arte/State of the Art

Produtos Naturais Inibidores da Transcriptase Reversa do Vírus HIV

Figura 6 – Irinotecan e topotecan, derivados semi-sintéticos da camptotecina

No trabalho publicado por Newman, Cragg e Snader (2003), é possível verificar a relevância do estudo de produtos naturais para a descoberta de novos fármacos. Dentre as substâncias lançadas no mercado no período entre 1981 e 2002, mais da metade eram de origem natural ou derivaram dessas fontes de alguma forma. Desses, 5% eram produtos naturais sem sofrer nenhuma modificação, 23% eram derivados semi-sintéticos, 4% sintéticos, mas com grupos farmacofóricos baseados em produtos naturais, e 20% eram produtos naturais “mimetizados” (BUTLER, 2004) . No ranking dos 35 fármacos comercializados sob prescrição médica em 2000, 40% eram produtos

naturais; já em 2001 houve uma queda para 24%, e em 2002 este patamar se manteve em 26%. Apesar da queda nesses dois últimos anos, o primeiro e o terceiro lugares foram ocupados por derivados de produtos naturais em 2001, sendo esses a atorvastatina e a sinvastatina (Figura 7) (BUTLER, 2004), utilizadas no combate ao colesterol (AINSWORTH, 2007). Já em 2002, a atorvastatina manteve-se na primeira posição e a sinvastatina ocupou o segundo lugar. Em 2007, a atorvastatina continuou a liderar o ranking, gerando um lucro de 13,5 bilhões de dólares para a empresa que detém sua patente (FORTI; DIAMENT, 2004).

Figura 7 – Atorvastatina e sinvastatina, fármacos utilizados no combate ao colesterol, desenhados a partir de protótipos naturais

Revista Fitos

Vol.4 Nº01 março 2009

1

Estado da Arte/State of the Art

O desenvolvimento de novas tecnologias vem contribuindo ainda mais para o destaque da química de produtos naturais no âmbito farmacêutico. Estas permitem contornar determinadas dificuldades como a de obter produtos puros, altos rendimentos, e suficiência para atender à demanda do mercado. Alguns exemplos de avanços nesta área são listados abaixo: • O desenvolvimento de técnicas analíticas como a cromatografia líquida de alta eficiência (CLAE), que permite a separação de substâncias orgânicas com rapidez e eficiência; • Os avanços nas técnicas espectroscópicas, como a ressonância magnética nuclear (RMN) uni e bidimensional, que permite a elucidação estrutural em curto espaço de tempo; • O aperfeiçoamento das fontes utilizadas para a obtenção de novos produtos naturais, como por exemplo os microorganismos, os quais são fontes renováveis e podem ser cultivados mais facilmente, quando comparados a plantas e animais; • O avanço da síntese orgânica, que permite a síntese de substâncias complexas com altos rendimentos e em um número reduzido de etapas; • Desenvolvimento da biossíntese combinatorial, que permite a modificação estrutural de substâncias obtidas a partir de microorganismos e a introdução de novos grupos funcionais a essas substâncias, que normalmente não é possível a partir da síntese orgânica tradicional; • Inovações no seqüenciamento de moléculas de DNA e em tecnologias de bioinfomática, que auxiliam na identificação de genes responsáveis pela produção de substâncias bioativas. Dessa forma, é possível identificar espécies com o potencial de produzir substâncias de interesse farmacológico e predizer a estrutura de determinadas substâncias (McCHESNEY et al., 2007; LAM, 1007). Produtos Naturais Inibidores da Transcriptase Reversa Como qualquer retrovírus, o HIV replica-se transformando seu material genético, uma fita simples de RNA, em uma fita dupla de DNA, que posteriormente é incorporada ao genoma da célula hospedeira. Esse processo, denominado transcrição reversa, é catalisado pela enzima viral conhecida como transcriptase reversa (TR), um heterodímero, 92

Produtos Naturais Inibidores da Transcriptase Reversa do Vírus HIV

formado por duas subunidades: a p66, onde estão localizados os sítios responsáveis pela atividade enzimática; e a p51, que não contribui diretamente para as funções catalíticas. Essas subunidades juntas são semelhantes a uma mão direita e seus diferentes subdomínios são conhecidos como dedos, palma e polegar (SALA; VARTANIAN, 1998; GÖTTE; WAINBERG, 2000). A transcrição reversa é o primeiro passo do ciclo de replicação do HIV após o conteúdo do capsídeo viral ser liberado na célula hospedeira. Durante esse processo, a TR realiza diferentes funções. Inicialmente, essa enzima atua como uma DNA-polimerase dependente de RNA. A TR utiliza o RNA viral como molde para a síntese de uma fita de DNA, chamada de fita “menos” e o primer utilizado pela enzima para a síntese dessa fita é uma seqüência de RNA transportador da célula hospedeira. Na segunda etapa, a TR desempenha a função de RNAse H, degradando a fita molde de RNA. Entretanto, determinados segmentos conhecidos como segmentos de polipurina (PPT da sigla em inglês) são mantidos. Esses segmentos apresentam uma seqüência não usual que os protege da degradação, e servem como primer na etapa seguinte do processo, onde a TR funciona como uma DNApolimerase DNA-dependente, então sintetizando uma segunda fita de DNA - a fita “mais”, que tem como molde a fita “menos” (Figura 8). Por fim, a dupla fita de DNA é incorporada ao genoma da célula hospedeira a partir da ação de outras enzimas virais (DE CLERCQ, 2001b; ARNALD; SARAFIANOS, 2008). A importância da TR no ciclo de replicação do HIV tornou essa enzima um dos principais alvos farmacológicos explorados no combate a esse vírus. Dentre os 24 anti-retrovirais disponíveis no mercado, 11 são inibidores da TR, dentre eles o AZT, um análogo de nucleosídeo descoberto na década de 60, que foi o primeiro fármaco aprovado para o combate à AIDS. O desenvolvimento desse composto foi uma importante contribuição da natureza que forneceu o protótipo utilizado para o seu desenho (BERGMANN; BURKE, 1955; ARNOLD; SARAFIANOS, 2008). Atualmente inúmeras substâncias isoladas de plantas, fungos e organismos marinhos que apresentam atividade anti-retroviral são descritas na literatura. Muitas delas ainda são pouco exploradas, demonstrando que a química de produtos naturais tem muito a contribuir para o desenvolvimento de novas terapias contra essa doença. A seguir, são listadas diferentes classes de Revista Fitos

Vol.4 Nº01 março 2009

Estado da Arte/State of the Art

metabólitos secundários que apresentaram resultados expressivos frente ao HIV e foram capazes de inibir a atividade da TR em ensaios in vitro. Figura 8 – (a) Síntese da fita “menos” de DNA tendo como molde a fita de RNA viral. (b) A TR atua como RNAse H degradando a fita molde de RNA, porém, os segmentos de polipurina (PPT) são mantidos. (c) Síntese da fita “mais” de DNA. A enzima utiliza os PPTs como primer

Produtos Naturais Inibidores da Transcriptase Reversa do Vírus HIV

O xantohumol (Figura 10) é uma prenilchalcona, isolada do Humulus lúpulos, constituinte presente na cerveja, que contém uma vasta fonte de flavonóides. Além de apresentar atividade antineoplásica em linhagens de células de câncer de mama, colum e ovário; antioxidante e inibitória frente à proliferação dos vírus HSV-1 e HSV-2, causadores do herpes, o xantohumol demonstrou resultados bastante sugestivos em concentrações não-tóxicas em relação ao HIV-1, com um EC50 igual a 3,21 μM e inibindo a produção de TR em linfócitos C8166 com um EC50 de 1,22 μM (WANG et al., 1994). Isolados da Rhus Succedanea, os compostos amentoflavona, agatisflavona, robustaflavona e hinokiflavona, apresentaram os repectivos IC50 de 119, 100, 65 e 62 μg/mL. Já o composto moreloflavona, isolado da Garcinia multiflora, apresentou o resultado mais expressivo frente ao vírus, com um EC50 igual a 6,9 μM, entretanto sua atividade em relação à TR foi moderada com um IC50 igual a 116 μg/Ml (LIN et al., 1997) (Figura 10).

Flavonóides: Constituem uma classe de compostos naturais amplamente encontrados em todo o reino vegetal, principalmente em angiospermas. Esses compostos são bastante conhecidos por suas propriedades antioxidantes, e comumente encontrados em inúmeros alimentos consumidos pelo homem; dentre eles frutas, chás e vinhos. A estrutura básica dos flavonóides consiste em um núcleo flavano, constituído de quinze átomos de carbono arranjados em três anéis (C6-C3-C6), sendo dois fenólicos substituídos (A e C) e um pirano (cadeira heterocíclica B) acoplado ao anel A. (DI CARLO et al., 1999). De acordo com a posição do anel B, 2 ou 3, e o estado de oxidação da unidade C3 na molécula, podem-se ter diferentes subclasses, como flavona, isoflavona, flavanona, chalcona, diidrochalcona, flavanonol, flavan-4-ol, aurona (Figura 9). Figura 9 – Anel cromano

Revista Fitos

Vol.4 Nº01 março 2009

A baicalina (Figura 10), extraída da Scutellariae radix, é um inibidor competitivo da trascriptase reversa (TR), interferindo na ligação da enzima com o RNA viral. Esse composto inibiu a replicação do HIV-1 em células mononucleares periféricas do sangue com um IC50 igual a 2 μg/mL. Uma importante característica que difere a baicalina de outros flavonóides inibidores da TR é o fato de esse composto não inibir as DNAs polimerases humanas (KITAMURA, 1998). A Chamaesyce hyssopifolia é uma erva utilizada em países da América Central como diurético (LIM, 1997). A partir dessa planta, isolou-se a 3-O-β-D-glicopiranosídeoquercetina (Figura 10), que inibiu a atividade da TR com um IC50 referente a 50 μM (PADUCH, 2007). Terpenóides: Constituem uma classe variada de hidrocarbonetos produzidos por uma diversidade de plantas e de alguns animais e encontrados abundantemente em frutas, verdura e flores. São substâncias biossinteticamente derivadas do ácido mevalônico, e constituídas de unidades de isopreno com a fórmula molecular (C5H8)n, em que “n” é o número de unidades de isopreno ligadas. De acordo com o número de carbonos presentes na molécula, os terpenóides são classificados em: monoterpenóides, que consistem em dez átomos de carbonos (duas unidades de isopreno), podendo ser lineares, como o mirceno, o geraniol ou podem conter anéis como o timol, o mentol, que atuam na atração de polinizadores; sesquiterpenóides, que consistem em quinze átomos de carbonos (três unidades de isopreno), podendo ser acíclicos, 

Estado da Arte/State of the Art

Produtos Naturais Inibidores da Transcriptase Reversa do Vírus HIV

Figura 10 – Flavonóides capazes de inibir a TR.

4

Revista Fitos

Vol.4 Nº01 março 2009

Estado da Arte/State of the Art

como o farnesol ou conter anéis, que apresentam atividade antimicrobiana. Os diterpenos consistem em vinte átomos de carbonos (quatro unidades de isopreno) como o cembreno e o retinal, que dão origem aos hormônios de crescimento vegetal, e os triterpenos consistem em trinta átomos de carbonos (seis unidades de isopreno), como os esteróides, e apresentando inúmeras funções biológicas. O ácido nigranóico (Figura 11) é um triterpeno isolado da Schisandra sphaerandra, uma planta distribuída pelo sul da China utilizada pela medicina tradicional chinesa no tratamento de distúrbios estomacais, seu IC50 foi igual a 99,4 μg/ml frente ao HIV-1 e 76,7 μg/mL frente ao HIV-2 (SUN et al., 1996). O gênero Excoecaria é conhecido pela produção de metabólicos tóxicos. Dados históricos reportam a utilização de suas folhas e látex como veneno de flechas utilizadas para a pesca por povos da Malásia, da Caledônia, uma possessão francesa na Oceania, e de Goa, um estado da Índia na Costa do Mar da Arábia. No Paquistão, plantas desse gênero eram utilizadas como purgativo, abortivo e no tratamento de úlceras, reumatismo e lepra. O 13-(3E, 5E-decadianoato)-12-deoxiforbol (Figura 11), extra-

Produtos Naturais Inibidores da Transcriptase Reversa do Vírus HIV

ído da planta E. agallocha, mostrou-se um potente inibidor da TR com IC50 igual a 6 μM (ERICKSON et al., 1995). Obtidos a partir do extrato da raiz da Maprounea africana, os triterpenos pentacíclicos: ácido 1-β-hidroximaprounico 3-p-hidroxibenzoato e o ácido 2α-hidroximaprounico 2,3-bis-p-hidroxibenzoato exibiram IC50 igual a 3,7μM (PENGSUPARP, 1994), já os triterpenos ácido betulínico, lup-20(29)ene-3β,30-diol e o ácido-3β -hidroxi-up-20(29)-en30-óico (Figura 11), isolados das folhas e galhos de Cratoxylum arborescens, apresentaram valores de IC50 8,7 e 8,9 μg/mL (REUTRAKUL et al., 2006). Diferentes sesquiterpenos inibidores da TR foram isolados a partir do Eucalyptus globulus. Essas substâncias são denominadas como macrocarpais, e caracterizam-se pela presença de unidades floroglucinol em sua estrutura. O macrocarpal B apresentou o resultado mais expressivo, com um IC50 de 5,3 μM. Os macrocarpais A, C, D e E (Figura 11) apresentaram os respectivos IC50 de 10, 8, 12 e 8 μM (NISHIZAWA et al., 1992). Os garciosaterpenos A e C (Figura 11), triterpenos isolados da Garcinia speciosa, apresentaram os significantes IC50 de 15,5 e 12,2 mg/mL (RUKACHAISIRIKUL et. al, 2003).

Figura 11 – Terpenos inibidores da Transcriptase Reversa

Revista Fitos

Vol.4 Nº01 março 2009



Estado da Arte/State of the Art



Produtos Naturais Inibidores da Transcriptase Reversa do Vírus HIV

Revista Fitos

Vol.4 Nº01 março 2009

Estado da Arte/State of the Art

Xantonas: As xantonas (dibenzo-γ-pironas) (Figura 12) são heterociclos oxigenados, encontradas na natureza em fungos, liquens e plantas superiores, sendo amplamente distribuídos na flora brasileira. Na literatura, é possível observar inúmeros efeitos biológicos associados a xantonas, entre os quais destacam-se os efeitos hipertensivos, vasodilatadores, antioxidantes e antiinflamatórios.

Produtos Naturais Inibidores da Transcriptase Reversa do Vírus HIV

Figura 13 – Xantona inibidora da Transcripace Reversa

Figura 12 – Estrutura básica das xantonas

Swertifrancheside (Figura 13), uma flavona-xantona isolada da Swertia franchetiana, apresentou inibição da TR com EC50 referente a 30,9 μg/mL. Seu modo de ação se caracteriza pela ligação a sítios do DNA, inibindo também outras enzimas como a DNA polimerase. As plantas do gênero Swertia são bastante usadas na medicina tradicional chinesa para o tratamento de doenças hepáticas, cólera e inflamações (WANG et al., 1994). Revista Fitos

Vol.4 Nº01 março 2009

Fenólicos: Os compostos fenólicos possuem em comum um anel aromático rodeado por um ou mais grupos hidroxila. A maioria é solúvel em água e ocorrem na forma de glicosídeos. Eles são originados a partir da via do ácido chiquímico e acumulamse nos vacúolos das células vegetais. Isolados do Mallotus japonicus, os compostos malotojaponin e malotocromeno (Figura 14) são inibidores não competitivos da TR. No estudo realizado com esses compostos, o primeiro inibiu 67% da atividade dessa enzima com uma concentração de 10 μg/mL 

Estado da Arte/State of the Art

Figura 14 – Fenólicos inibidores da Transcriptase Reversa

Produtos Naturais Inibidores da Transcriptase Reversa do Vírus HIV

e o segundo inibiu 75% na mesma concentração (NAKANE et al., 1991). Os compostos corilagina e o 1,3,4,6-tetra-O-galoil-β-D-glicopiranose (Figura 14), isolados da Chamaesyce hyssopifolia, inibiram a atividade da TR com os respectivos IC50 de 20 e 86 μM, respectivamente. Ao serem testados frente a DNA polimerase I, ambos mostraram-se inativos, mesmo em altas concentrações (LIM et. al., 1997). Alcalóides: A principal característica dos alcalóides é a presença de um nitrogênio como heteroátomo. Esses compostos correspondem aos principais agentes terapêuticos naturais, com ações anestésica, analgésica, psicoestimulante e neurodepressoras, destacando-se como componentes ativos de inúmeras drogas, como a cafeína, a nicotina, a cocaína e a morfina (Figura 15). Figura 15 – Exemplos de alcalóides



Revista Fitos

Vol.4 Nº01 março 2009

Estado da Arte/State of the Art

A michelamina B extraída da Ancistrocladus abbreviatus, uma planta nativa do parque nacional de Korup, no Camarões, demonstrou atividade inibitória da TR com IC50 igual a 1 μM (MANFREDI et al., 1991); já a nitidina (Figura 16), extraída da Toddalia asiática, apresentou IC50 igual a 10 μM (TAN et. al., 1991). Figura 16 – Alcalóides inibidores da Transcriptase Reversa

Produtos Naturais Inibidores da Transcriptase Reversa do Vírus HIV

Figura 17 – Esqueleto dibenzilbutano, estrutura básica das lignanas

As anolignanas A e B (Figura 18), isoladas da Anogeissus acuminata, demonstraram atividade inibitória da TR com os respectivos IC50 de 64,4 μg/mL e 1072 μg/mL. Quando testados juntos, esses compostos demonstraram agir em sinergismo. A anolignana A apresentou atividade frente a TR do HIV-2, com um IC50 de 156,9 μg/mL e frente a TR de formas resistentes do HIV 1, com IC50 de 106 μg/mL (RIMANDO et al., 1994). Isolada das raízes e rizomas de Ligularia kanaitzensis (Asteraceae), a lignana do tipo pinoresinol, 9α-angeloiloxipinoresinol (Figura 18), apresentou atividade inibitória da RT (LI et al., 2005). Figura 18 – Lignanas inibidoras da Transcriptase Reversa

Lignanas: As lignanas descrevem um grupo de dímeros de fenilpropanóides, em que as unidades de fenilpropano estão ligadas por um átomo de carbono central (C8) do propil de suas cadeias laterais (UMEZAWA, 2003). São derivadas da fenilalanina, por meio de uma reação catalisada por enzimas oxidativas, onde ocorre a dimerização de álcoois cinâmicos substituídos, conhecidos como monolignóis, levando à formação do esqueleto dibenzilbutano (Figura 17). Na dieta humana, as lignanas podem ser encontradas em sementes de abóbora, centeio, grãos de soja, brócolis, feijão e em diversas frutas. Revista Fitos

Vol.4 Nº01 março 2009



Estado da Arte/State of the Art

Cumarinas: São substâncias caracterizadas pela presença de anéis 1,2-benzopironas. Esses compostos podem ser obtidos a partir de diferentes fontes naturais como bactérias e fungos, porém a ocorrência é mais freqüente nas espécies vegetais, destacando-se as famílias das Apiaceae, Rutaceae, Fabaceae e Hyppocastanaceae. São produzidas na forma de metabólitos secundários que desempenham importantes funções fisiológicas na planta, como a regulação de seu crescimento, a absorção de radiação ultravioleta protegendo as plantas jovens, ação antioxidante e a proteção desses vegetais contra distúrbios causados por vírus. As cumarinas podem dividir-se em cumarinas simples, que incluem a cumarina e seus derivados hidroxilados e metoxilados; as furanocumarinas, que possuem um anel diidrofurano ligado ao anel benzênico; e as piranocumarinas (HOULT; PAYÁ, 1996; XU et al., 2004) (Figura 19).

Produtos Naturais Inibidores da Transcriptase Reversa do Vírus HIV

Figura 20 – Cumarinas inibidoras da Transcriptase Reversa

Figura 19 – Diferentes classes de cumarinas

A calanolida A e seu isômero calanolida B (Figura 20) foram isolados pela primeira vez em 1992, a partir da Callophyllum lanigerum. Ao serem testadas contra o HIV-1, apresentaram excelentes resultados; a primeira com EC50 igual a 0,1 μM e a segunda 0,4 μM. Em outros estudos realizados, as duas substâncias inibiram vários tipos de HIV-1 adaptados em laboratório. Atualmente, a Sarawak MediChem Pharmaceuticals, na Malásia, possui a licença da classe de compostos da calanolida. Estudos em fase I/II com a calanolida A em terapia combinada foram completados com sucesso, verificando-se que o aumento da quantidade de calanolida no sangue de voluntários humanos não levou a efeitos adversos sérios. Estudos em fase II já foram iniciados, com o objetivo de avaliar a atividade da calanolida A em combinação com outros agentes anti-HIV (AIDSINFO, 2008; BUCKHEIT et. al., 1999; McKEE et. al., 1998; KASHMAN et. al, 1992; SOUZA et. al, 2008). 100

Derivados de Quinolonas: As quinolonas constituem uma importante classe de antibióticos utilizados no combate às infecções causadas por bactérias Gram-positivas. O mecanismo de ação baseia-se na inibição da síntese do DNA bacteriano, promovendo a quebra do DNA no complexo DNA-enzima com a DNA girase e a topoisomerase, levando à morte da bactéria. A primeira quinolona, o ácido nalidíxico (Figura 21) , foi introduzido no mercado em 1962, e atualmente existem 4 gerações de quinolonas, destacando-se as fluoroquinolonas utilizadas no combate às diferentes bactérias resistentes (WANG et al., 2007). Figura 21 – Ácido nalidíxico, primeira quinolona introduzida no mercado farmacêutico

Revista Fitos

Vol.4 Nº01 março 2009

Estado da Arte/State of the Art

A buchapina e a 3-(3-metil-2-butenil)-4-[(3-metil-2butenil)-oxi]-2(1H)-quinolinona, extraídas da Euodia roxburghiana, são derivadas de quinolona que apresentaram atividade anti-HIV (Figura 22) . A primeira apresentou um EC50 igual a 0,94 μM e a segunda 1,64 μM. Quanto à inibição da TR os respectivos IC50 foram 12 μM e 8 μM (McCORMICK et. al., 1996). Figura 22 – Quinolonas inibidoras da Transcriptase Reversa

Proteínas e Peptídeos: Purificados a partir de extratos da Vigna sesquipedalis, o sesquin, um peptídeo com massa molecular de aproximadamente 7 KDa, e uma lectina com massa molecular de aproximadamente 60 KDa apresentaram capacidade de inibir a TR. O primeiro apresentou um IC50 igual a 100 μM. Já o IC50 do segundo foi de 73 μM (WONG; NG, 2005; H-REVES et. al.; 2004). Isolado do cogumelo Russula paludosa, o SU2, um peptídeo com uma massa molecular de aproximadamente 4,5 KDa, apresentou um expressivo IC50 de 11 μM (WONG; NG, 2003). Uma lectina com massa molecular igual a 62 KDa, isolada do feijão-pinto (Phaseolus vulgaris), inibiu a TR do HIV-1 com um IC50 igual a 3 μM (WANG; WANG; NG, 2007). A partir do cogumelo Pleurotus citrinopileatus, foi isolada uma lectina homodimérica com massa molecular 32,4 KDa. Seu IC50 frente a TR foi de 0,93 μM (WONG; WONG; NG, 2006). A Rosa rugosa é uma espécie nativa da Ásia, cujas flores são utilizadas na medicina tradicional chinesa para o tratamento de diferentes perturbações, como Revista Fitos

Vol.4 Nº01 março 2009

Produtos Naturais Inibidores da Transcriptase Reversa do Vírus HIV

diarréias e gastrites. A partir do seu extrato aquoso, isolou-se um peptídeo complexado a um polissacarídeo, que apresentou uma potente atividade frente a TR, inibindo a atividade dessa enzima com um IC50 referente a 23,7 μg/mL (LI et. al, 2008). A MAP30 é uma proteína isolada da Momordica charantia, popularmente conhecida como melão amargo (FU et.al, 2006). Além de inibir a atividade da TR com um EC50 de 0,3 nM, essa proteína apresentou a habilidade de converter o DNA viral em formas topologicamente inativas, interrompendo a função do DNA. Outra propriedade importante da MAP30 é a capacidade de inibir a atividade da HIV-1 integrase (BASCH et al., 2003). Outra proteína, também isolada da M. charantia, é a MRK29, que inibiu 50% da atividade da TR em uma concentração de 18 mg/mL (HUANG et. al., 1995). Um peptídeo antifúngico isolado de plantas do gênero Fagopyrum, com a massa molecular de aproximadamente 4 kDa, inibiu a TR com um IC50 de 5,5 μM. Esse peptídeo também inibiu o crescimento micelial em Fusarium oxysporum e Mycosphaerella arachidicola (JIRATCHARIYAKUL et. al., 2001). Extratos: Mais recentemente, a literatura vem reportando a capacidade de alguns extratos de plantas de inibir a atividade da TR. Entretanto, as substâncias ativas não tiveram suas estruturas determinadas. Em um estudo realizado com diferentes plantas da região de Venda na África do Sul, os extratos em n-butanol de 6 diferentes plantas foram capazes de inibir a TR do HIV-1. Dentre elas destacaram-se a Mucana coriacea com um IC50 igual a 12,6 μg/mL e a Bridelia micrantha, que apresentou o resultado mais expressivo, com um IC50 igual a 7,3 μg/mL (LEUNG; NG, 2007). O extrato em hexano da Calophyllum brasiliense apresentou um IC50 referente a 29,6 μg/mL, e o extrato em CH2Cl2-metanol, da Clusia quadrangula inibiu a atividade da TR com IC50 igual a 42 μg/mL (H-REVES et. al., 2004). Inibidores da TR obtidos a partir de organismos marinhos Cerca de 2/3 da crosta terrestre é recoberta pelo mar, abrigando uma variedade de plantas e animais que produzem inúmeras substâncias utilizadas em sua comunicação, defesa, predação, inibição do desenvolvimento de competidores, reprodução, ou simplesmente como produto de seu metabolismo. Desde seu início na década de 60, época em que houve um maior investimento por parte das indústrias farmacêuticas nesse setor; cerca de 10.000 substâncias já foram isoladas, muitas delas com atividade farmacológica (PINTO et. al., 2002), indicando o potencial dos produtos naturais marinhos no desenvolvimento de novos fármacos. 101

Estado da Arte/State of the Art

Os florotaninos, oligômeros formados de unidades floroglocinol (Figura 23), ligadas através de ligações carbono-carbono ou carbono-oxigênio, apresentam inúmeras atividades biológicas: como antibacteriana, antialgal, antilarval e antifitológica (CARVALHO; ROQUE, 2000). O 8,8’- bieckol e o 8,4’’’-dieckol (Figura 24), derivados de florotaninos, extraídos da alga Ecklonia cava, mostraram-se forte inibidores da TR, o primeiro com IC50 igual a 0,51 μM e o segundo 5,31 μM (AHN et. al.; 2002). Figura 23 – Estrutura do floroglucinol

Produtos Naturais Inibidores da Transcriptase Reversa do Vírus HIV

O poliacetilenotriol, isolado da esponja Petrosia sp., é um potente inibidor da TR do HIV e de DNAs polimerases, apresentando um IC50 igual a 0,95 μM (LOYA et. al, 2002). Diversos derivados de avaróis e avaronas isolados da espoja vermelha Dysidea cinereia apresentaram atividade inibitória da TR, destacando-se a avarona A com IC50 igual a 6,8 μg/mL e o avarol F, com IC50 igual a 7,0 μg/mL (LOYA; HIZI, 1990). A illimaquinona, isolada da esponja Smenospongia sp., inibiu a atividade da RNase H, associada a TR em concentrações de 5-10 mg/mL (LOYA; KASHMAN; HIZI, 1990). O clathesterol, é um esterol sulfatado obtido a partir da esponja Clathria sp. Essa substância inibiu a atividade da TR em concentrações próximas a 10 μM (RUDI et. al.; 2001) (Figura 24) .

Figura 24 – Produtos naturais marinhos inibidores da Transcriptase Reversa

102

Revista Fitos

Vol.4 Nº01 março 2009

Estado da Arte/State of the Art

Produtos Naturais Inibidores da Transcriptase Reversa do Vírus HIV

Conclusão

Referências

Desde que foi reconhecida pelo CDC (Centers for Disease Control and Prevetion – Centro de Prevenção e Controle de Doenças), de Atlanta, EUA, em 1981, a AIDS se espalhou rapidamente, sendo considerada uma epidemia mundial já no final da década de 1980. Infelizmente, em nossos dias, essa doença infecciosa continua ceifando a vida de milhares de pessoas no mundo, sendo considerada como uma das doenças que mais matam no mundo. Neste contexto, a busca por novos fármacos, estratégias e tratamentos que apresentem maior potência, menores efeitos colaterais, amplo espectro de ação contra diferentes variações do vírus e custo reduzido, faz-se necessário. Tendo em vista a importância dos produtos naturais no desenvolvimento de novas terapias e a quantidade de produtos naturais com atividade anti-retroviral que vêm sendo isolados e estudados, essas substâncias podem ser consideradas como promissores candidatos na descoberta de novos tratamentos para a AIDS.

AHN, M-J.; YOON, K-D.; MIN, S-Y.; LEE, J.S.; KIM, T. G.; KIM, S. H.; KIM, N-G..; HUH, H.; KIM, J. Inhibition of HIV-1 Reverse Transcriptase and Protease by Phlorotannins from the Brown Alga Ecklonia cava. Biological & Pharmaceutical Bulletin, v.27, p.544-547, 2004.

Revista Fitos

Vol.4 Nº01 março 2009

AIDSINFO: Offering information on HIV/AIDS Treatment, Prevention and Research. Available in: . Access in 20/11/2008. AINSWORTH, S.J. Firms invent new strategies to deflect generic competition and stem growing safety concerns, Pharma adapts. Chemical & Engineering News, v.85, p.13-24, 2007. ARNOLD, E.; SARAFIANOS, S.G. An HIV secret uncovered. Nature, v.453, p.169-170, 2008. BASCH, E.; GABARDI, S.; ULBRICHT, C. Bitter 10

Estado da Arte/State of the Art

Produtos Naturais Inibidores da Transcriptase Reversa do Vírus HIV

melon (Momordica charantia): A review of efficacy and safety. American Journal of Health-System Pharmacy, v.60, p.356-359, 2003.

PASSO, F. Flavonoids: old and new aspects of a class of natural therapeutic drugs. Life Science, v.65, p.337-353, 1999.

BERGMANN, W.; BURKE, D.C. Marine products. XXXIX. The nucleosides of sponges. III. Spongothymidine and spongouridine. The Journal of Organic Chemitry, v.20, p.1501-1507, 1955.

ERICKSON, K.L.; BEUTLER, J.A.; CARDELLINA, J. H. II; MCMAHON, J. B.; NEWMAN, D. J.; BOYD, M. R.A Novel Phorbol Ester from Excoecaria agallocha. Journal of Natural Products, v.58, p.769772, 1995.

BESSONG, P.O.; ROJAS, L.B.; OBI, L.C.; TSHISIKAWE, P.T.; IGUNBOR, E. O. Further screening of venda medicinal plants for activity against HIV type 1 reverse transcriptase and integrase. African Jounal of Biotechnology, v.5, p.526-528, 2006.

FDA: U.S. FOOD AND DRUG ADMINISTRATION: Offering information on drugs used in treatment of HIV infection. Available in . Access in 20/11/2008.

BUCKHEIT, R.W.J.; WHITE, E.L.; BOLTZ, E.V.; RUSSELL, J.; STUP, T.L.; KINJERSKI, T.L.; OSTERLING, M.C.; WEIGAND, A.; BADER, J. P. Unique Anti-Human Immunodeficiency Virus Activities of the Nonnucleoside Reverse Transcriptase Inhibitors Calanolide A, Costatolide, and Dihydrocostatolide. Antimicrobial Agents and Chemotherapy, v.43, p.1827-1834, 1999.

FERREIRA, V.F.; SOUZA, M.C. B.V.; SILVA, M.N. Um panorama atual da química e da farmacologia de naftoquinonas, com ênfase na β-lapachona e derivados. Química Nova., v.26, p.407-416, 2003.

BUTLER, M.S. The Role of Natural Product Chemistry in Drug Discovery. Journal Natural Products, v.67, p.2141-2153, 2004.

FU, M.; NG, T.B.; JIANG, Y.; PI, Z.F.; LIU, Z.K.; LI, L.; LIU, F. Compounds from rose (Rosa rugosa) flowers with human immunodeficiency virus type 1 reverse transcriptase inhibitory activity. Journal of Pharmacy and Pharmacology, v.58, p.1275-1280, 2006.

CARVALHO, L.R.; Roque, N. F. Fenóis halogenados e/ou sulfatados de macroalgas marinhas. Química Nova, v.23, p.757-764, 2000. CESTATI, T.F.; DIAS, M. C.S.; FERNANDES, E.I.; CORREIA, R.; ALBANEZE, R. Estudo comparativo entre dois psoralenos na fototerapia tópica do vitiligo. Anais Brasileiros de Dermatologia, v.76, p. 683-692, 2001. CHEN, L.; PERLINA, A.; LEE, C.J. Positive selection detection in 40,000 Human Immunodeficiency Vírus (HIV) type 1 sequences automatically identifies drug resistance and positive fitness mutations in HIV protease and reverse transcriptase. Journal of Virology, v.78, p.3722-3732, 2004. DE CLERCQ, E. Antiviral drugs: current state of the art. Journal of Clinical Virology, v.22, p.73-89, 2001a. DE CLERCQ, E. Molecular Targets for Antiviral Agents. The Journal of Pharmacology and Experimental Therapeutics, v.297, p.1-10, 2001b. Di CARLO, G.; MASCOLO, N.; IZZO, A.A.; CA104

FORTI, N.; DIAMENT, J. Vastatinas na prevenção da doença aterosclerótica. Arquivos Brasileiros de Cardiologia, v.83, p.264-271, 2004.

GALINIS, D.L.; FULLER, R.W.; McKEE, T.C.; CARDELLINA, J.H. II; GULAKOWSKI, R.J.; McMAHON, J.B.; BOYD, M.R. Structure-activity modifications of the HIV-1 inhibitors (+)-calanolide A and (-)-calanolide B. Journal of Medicinal Chemistry, v.39, p.4507-4510, 1996. GIR, E.; VAICHULONIS, C.G.; OLIVEIRA, M.D. Adesão à terapêutica anti-retroviral por indivíduos com HIV/AIDS assistidos em uma instituição do interior paulista. Revista Latino-Americana de Enfermagem, v.13, p.634-641, 2005. GÖTTE, M.; WAINBERG, M.A. Biochemical mechanisms involved in overcoming HIV resistance to nucleoside inhibitors of reverse transcriptase. Drug Resistance Updates, v.3, p.30-38, 2000. H-REYES, M.; BASUALDO, M.C.; LOZADA, L.; J-ESTRADA, M.; SOLER, C. CHILPA, R.R. HIV-1 Inhibition by Extracts of Clusiaceae Species from Mexico. Biological & Pharmaceutical Bulletin, v.27, p.916-920, 2004. Revista Fitos

Vol.4 Nº01 março 2009

Estado da Arte/State of the Art

HOULT, J.R.S.; PAYÁ, M. Pharmacological and biochemical actions of simple coumarins: natural products with therapeutic potential. General Pharmacology, v.27, p.713-722, 1996. HUANG, S. L.; HUANG, P. L.; CHEN, H-C.; HUANG, P. L.; BOURINBAIAR, A.; HUANG, H. I.; KUNG, H-F. Anti-HIV and anti-tumor activities of recombinant MAP30 from bitter melon. Gene, v.161, p.151-156, 1995. JIRATCHARIYAKUL, W.; WIWAT, C.; VONGSAKUL, M.; SOMANABANDHU, A.; LEELAMANIT, W.; FUJII, I.; SUWANNAROJ, N.; EBIZUKA, Y. HIV inhibitor from thai bitter gourd. Planta Medica, v.67, p.350-353, 2001. KASHMAN, Y.; GUSTAFSON, K.R.; FULLER, R.W.; CARDELLINA, J.H. II; MCMAHON, J.B.; CURRENS, M.J.; BUCKHEIT, R.W.; HUGHES, S.H.; CRAGG, G.M.; BOYD, M.R. The Calanolides, a Novel HIV-Inhibitory Class of Coumarin Derivatives from the Tropical Rainforest Tree, Calophyllum lanigerum. Journal of Meicinal Chemistry, v.35, p.2735-2743, 1992.

Produtos Naturais Inibidores da Transcriptase Reversa do Vírus HIV

LIN, Y-M.; ANDERSON, H.; FLAVIN, M.T.; PAI, Y-H.; M-GREENWOOD, E.; PENGSUPARP, T.; PEZZUTO, J.M.; SCHINAZI, R.F.; HUGHES, S.H.; CHEN, F-C. In vitro anti-HIV activity of biflavonoids isolated from Rhus succedanea and Garcinia multiflora. Journal Natural Product, v.60, p.884-888, 1997. LOYA, S.; HIZI, A. The inhibition of human immunodeficiency virus type 1 reverse transcriptase by avarol and avarone derivatives. FEBS Letters, v.269, p.131-134, 1990. LOYA, S.; RUDI, A.; R.; KASHMAN, Y.; HIZI, A. Mode of inhibition of HIV-1 reverse transcriptase by polyacetylenetriol, a novel inhibitor of RNA- and DNA-directed DNA polymerases. Biochemical Journal, v.362, p.685-692, 2002. LOYA, S.; TAL, R.; KASHMAN, Y.; HIZI, A. Illimaquinone, a selective inhibitor of RNase H activity of human immunodeficiency virus type 1 reverse transcriptase. Antimicrobial Agents Chemotherapy, v.34, p.2009-2012, 1990.

KITAMURA, K.; HONDA, M.; YOSHIZAKI, H.; YAMAMOTO, S.; NAKANE, H.; FUKUSHIMA, M.; ONO, K.; TOKUNAGA, T. Baicalin, an inhibitor of HIV-1 production in vitro. Antiviral Research, v.37, p.131-140, 1998.

MANFREDI, K. P.; BLUNT, J.W.; CARDELINA, J.H. II; MCMAHON, J. B.; PANNELL, L.; CRAGG, G. M.; BOYD, M. R. Novel Alkaloids from the tropical plant Ancistrocladus abbreviatus Inhibt cell killing by HIV-1 and HIV-2. Jounal of Medicinal Chemistry, v.34, p.3402-3405, 1991.

LEUNG, E.H.W.; NG, T.B. A relatively stable antifungal peptide from buckwheat seeds with antiproliferative activity toward cancer cells. Journal of Peptide Science, v.13, p.762-767, 2007.

McCHESNEY, J.D.; VENKATARAMAN, S.K.; HENRI, J.T. Plant natural products: Back to the future or into extinction. Phytochemistry, v.68, p.2015-2022, 2007.

LI, Y. R.; LIU, Q. H.; WANG, H. X.; NG, T. B. A novel lectin with potent antitumor, mitogenic and HIV-1 reverse transcriptase inhibitory activities from the edible mushroom Pleurotus citrinopileatus. Biochimica et Biophysica Acta, v.1780, p.5157, 2008.

McCORMICK, J.L.; McKEE, T.C.; CARDELINA II, J.H.; Boyd, M. R. HIV-Inhibitory Natural Products. 26. Quinoline Alkaloids from Euodia roxburghiana. Journal of Natural Products, v.59, p.469-471, 1996.

LI, Y-S.; WANG, Z-T.; ZHANG, M.; LUO, S-D.; CHEN, J-J. A new pinoresinol-type lignan from Ligularia kanaitizensis. Natural Product Research, v.19, p.125-129, 2005. LIM, Y.A.; MEI, M. C.; KUSUMOTO, I.T.; MIYASHIRO, H.; HATTORI, M.; GUPTA, M.P.; CORREA, M. HIV-1 reverse transcriptase inhibitory principles from Chamaesyce hyssopifolia. Phytotherapy Research, v.11, p.22-27. Revista Fitos

Vol.4 Nº01 março 2009

McKEE, T.C.; COVINGTON, C.D.; FULLER, R.W.; BOKESCH, H.R.; YOUNG, S.; CARDELINA, J.H. II; KADUSHIN, M.R.; SOEJARTO, D.D.; STEVENS, P.F.; CRAGG, G.M.; BOYD, M.R. Pyranocoumarins from tropical species of the genus Calophyllum: a chemotaxomic study of extracts in the National Cancer Institute collection. Journal of Natural Products, v.6, p.1252-1256, 1998. NAKANE, H.; ARISAWA, M.; FUJITA, A.; KOSHIMURA, S.; ONO, K. Inhibition of HIV-reverse trans105

Estado da Arte/State of the Art

criptase activity by some phloroglucinol derivatives. FEBS Letters, v.286, p.83-85, 1991. NEWMAN, D.J.; CRAGG, G.M.; SNADER, K.M. Natural Products as Sources of New Drugs over the Period 1981-2002. Journal of Natural Products, v.66, p.1022-1037, 2003.

Produtos Naturais Inibidores da Transcriptase Reversa do Vírus HIV

RUDI, A.; YOSIEF, T.; LOYA, S.; HIZI, A.; SCHLEYER, M.; KASHMAN, Y. Clathsterol, a novel antiHIV-1 RT sulfated sterol from the sponge Clathria species. Journal of Natural Products, v.64, p.4511453, 2001.

NISHIZAWA, M.; EMURA, M.; YUKIKO, K.; YAMADA, H.; OGAWA, K.; HAMANAKA, N. Macrocarpals: HIV-RTase inhibitors of Eucalyptus globulus. Tetrahedron Letters, v.33, p.2983-2986, 1992.

RUKACHAISIRIKUL, V.; PAILEE, P.; HIRANRAT, A.; TUCHINDA, P.; YOOSOOK, C.; KASISIT, J.; TAYLOR, W.C.; REUTRAKUL, V. Anti-HIV-1 protostane triterpenes and digeranylbenzophenone from trunk bark and stems of Garcinia speciosa. Planta Medica, v.69, p.1141-1146, 2003.

OLIPHANT, C.M.; GREEN, G.M.; Quinolones: A Comprehensive Review. American Family Physician, v.65, p.455-464, 2002.

SALA, M.; VARTANIAN, J-P. HIV 1 reverse transcriptase: an out-of-the-ordinary enzyme. Bulletin de L’ Institute Pasteur, v.96, p.49-63, 1998.

PADUCH, R.; KANDEFER−SZERSZEN, M.; TRYTEK, M.; FRIEDUREK, J. Pentacyclic Triterpenes Derived from Maprounea africana are Potent Inhibitors of HIV-Reverse Transcriptase. Archivum Immunologiae et Therapiae Experimentalis (Warszawa), v.55, p.315–327, 2007.

SOUZA, M.V.N.; CARVALHO, S.A.; GONÇALVES, R.S.B.; DA SILVA, E.T.; KAISER, C.R.; PINHEIRO, A. C. (+)-calanolida A, um promissor produto natural no combate à replicação do vírus HIV e da bactéria Mycobacterium tuberculosis. Revista Brasileira de Farmácia., v.89, p.129-134, 2008.

PENGSUPARP, T.; CAI, L.; FONG, H. H.S. ; KINGHORN, A. D. ; PEZZUTO, J. M.; WANI, M. C.; WALL, M. E. Pentacyclic triterpenes derived from Maprounea Africana are potent inhibitors of HIV-1 reverse transcriptase. Journal of Natural Products, v.57, p.415-418, 1994.

STEINER, D.; BEDIN, V.; MORAES, M.B.; VILLAS, R.T; STEINER,T. Vitiligo. Anais Brasileiro de Dermatologia, v.76, p.335-351, 2004.

PINTO, A.C.; SILVA, D.H.S.; BOLZANI, V.S.; LOPES, N.P.; EPIFANIO, R.A. Produtos naturais: atualidade, desafios e perspectivas. Quimica Nova, v.25, p.45-61, 2002. DST/AIDS: PROGRAMA NACIONAL DE DST E AIDS: Offering information on HIV/AIDS Treatment, Prevention and Research. Available in . Access in 20/11/2008.

SUN, H-D.; QIU, S-X.; LIN, L-Z.; WANG, Z-Y.; LIN, Z-W.; PENGSUPARP, T.; PEZZUTO, J.M.; FONG, H.H.S.; CORDELL, G. A.; FARNSWORTH, N.R. Nigranoic Acid, a Triterpenoid from Schisandra Sphaerandra That Inhibits HIV-1 Reverse Transcriptase. Journal of Natural Products, v.59, p.525-527, 1996. TAN, G.T.; PEZZUOTO, J.M.; KINGHORN, A.D.; HUGHES, S.H. Evaluation of Natural Products as Inhibitors of Human Immunodeficiency Vírus Type 1 (HIV – 1) Reverse Transcriptase. Journal of Natural Products, v.54, p.143-154, 1991.

REUTRAKUL, V.; CHANAKUL, W.; POHMAKOTR, M.; JAIPETCH, T.; YOOSOOK, C.; KASISIT, J.; NAPASWAT, C.; SANTISUK, T.; PRABPAI, S.; KONGSAEREE, P.; TUCHINDA, P. Anti-HIV-1 constituents from leaves and twigs of Cratoxylum arborescens. Planta Medica., v.72, p.1433-1435, 2006.

UMEZAWA, T. Diversity in lignan biosynthesis. Phytochemistry Reviews, v.2, p.371–390, 2003.

RIMANDO, A.M.; PEZZUTO, J.M; FARNSWORTH, N.R.; SANTISUK, T.R.V.; KAWANISHI, K. New Lignans from Anogeissus acuminata with HIV- 1 Reverse Transcriptase inhibitory activity. Journal of Natural Products, v.57, p.896-904, 1994.

VIEGAS, C.JR; BOLZANI, V.S.; BARREIRO, E.J. Os produtos naturais e a química medicinal moderna. Quimica Nova, v.29, p.326-337, 2006.

106

UNAIDS: Offering information on HIV/AIDS Treatment, Prevention and Research. Available in . Access in 20/11/2008.

WALL, M.E., WANI, M.C., COOK, C.E., PALMER, Revista Fitos

Vol.4 Nº01 março 2009

Estado da Arte/State of the Art

Produtos Naturais Inibidores da Transcriptase Reversa do Vírus HIV

K.H., McPHAIL, A.T.; SIM G.A. Plant antitumor agents. I. Isolation and structure of camptothecin, a novel alkaloidal leukemia and tumor inhibitor from Camptotheca acuminata. Journal of the American Chemical Society, v.88, p.3888-3890, 1966. WANG, J-L.; HOU, C-Y.; LIU, Y-L.; LIN, L-Z; GIL, R.R.; CORDELL, G.A. Swertifrancheside, an HIVReverse Transcriptase Inhibitor and The First Flavone-Xanthone Dimer, From Swertia franchetiana. Journal of Natural Products, v.57, p.211-217, 1994. WANG, J.; WANG, H.X.; NG, T.B.A peptide with HIV-1 reverse transcriptase inhibitory activity from the medicinal mushroom Russula paludosa. Peptides, v.28, p.560-565, 2007. WHO: WORLD HEALTH ORGANIZATION: Offering information on HIV/AIDS Treatment, Prevention and Research. Available in . Access in 20/11/2008. WONG, J.H.; NG, T.B. Purification of a typsin-stable lectin with antiproliferative and HIV – 1 reverse transcriptase inhibitory activity. Biochemical and Biophysical Research Communications, v.301, p.545-550, 2003. WONG, J.H.; NG, T.B. Sesquin, a potent defensinlike antimicrobial peptide from ground beans with inhibitory activities toward tumor cells and HIV-1 reverse transcriptase. Peptides, v.26, p.1120–1126, 2005. WONG, J.H.; WONG, C.C.T.; NG, T.B. Purification and characterization of a galactose-specific lectin with mitogenic activity from pinto beans. Biochimica et Biophysica Acta, v.1760, p.808-813, 2006. XU, Z-Q; BARROW, W.W.; SULING, W.J.; WESTBROOK, L.; BARROW, E.; LIN, Y-M.; FLAVIN, M.T. Anti-HIV natural product (+)-calanolide A is active against both drug-susceptible and drug-resistant strains of Mycobacterium tuberculosis. Bioorganic & Medicinal Chemistry, v.12, p.1199-1207, 2004.

Revista Fitos

Vol.4 Nº01 março 2009

107

Estado da Arte / State of the Art

Inibidores de Proteases Oriundas de Plantas: Uma Abordagem Útil para o Desenvolvimento de Novos Fármacos Proteases Inhibitors Originated from Plants: Useful Approach for Development of New Drug

*Silva-Lopez, R. E.

Laboratório de Química de Produtos Naturais, Instituto de Tecnologia de Fármacos, Far-Manguinhos, Fiocruz, Rua Sizenando Nabuco 100,21042-250, Manguinhos, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.

*Correspondência: Email : [email protected]

Unitermos: Inibidores de Proteases de Plantas; Peptídeos; Serino-Proteases Key Words: Protease Inhibitors; Peptides, Serine Protease 108

Resumo As proteases e seus inibidores estão amplamente distribuídos em todos os organismos vivos. São enzimas que desempenham funções crucias para a manutenção da vida e sua atividade é mantida sob estrito controle por mecanismos que incluem os inibidores e, se esta atividade não for controlada, pode acarretar doenças e até mesmo a morte do organismo. Os inibidores de ocorrência natural são peptídeos de tamanho variável e são classificados de acordo com o tipo de proteases que inibem. Os inibidores de serino-proteases são os mais importantes da natureza e também os mais expressos em plantas, e será o foco desta revisão. São classificados como inibidores canônicos, não-canônicos e Serpinas, de acordo com a estrutura e mecanismo de ação. As plantas expressam estes inibidores constitutivamente ou são induzidos por algum agente externo. Estes inibidores aumentam a resistência da planta a parasitos, insetos, larvas, microorganismos, pragas e patógenos em geral. São expressos geralmente nas sementes e grãos e levam a morte ou repelem o organismo invasor. Diversas pesquisas estão sendo conduzidas para purificar, caracterizar e avaliar o efeito de inibidores de serino-proteases em plantas no tratamento de diversas patologias humanas, inclusive alguns inibidores, como no caso dos inibidores de BBI de soja, já estão em estudos clínicos de fase II.

Abstract Proteases and their inhibitors are found in all living organisms. These enzymes have crucial functions and their activities are regulated by many mechanisms, including inhibitors, but if their activities are not under control they can develop diseases and ultimately death. Natural inhibitors are variable sized peptides and are classified by the inhibited protease type. Serine protease inhibitors are among the major and most important inhibitors expressed in plants, and will be the focus of this revision. They are classified as: canonical inhibitors, non-canonical and Serpins, according to their structure and mechanism of action. Plants can express inhibitors constitutively or are induced by external stimuli and they confer resistance against parasites, insects, larval, microorganisms, plagues and pathogens. They are mainly expressed in seeds and grains, killing or repelling invader organisms. Many investigations are been conducted in orRevista Fitos

Vol.4 Nº01 março 2009

Estado da Arte/State of the Art

der to purify, characterize the plant serine protease inhibitors and to evaluate their effects on the treatment of a large number of human pathologies. In addition, some inhibitors have already been tested in phase II clinical studies, such as soybean BBI.

Introdução As proteases, melhor denominadas de peptidases, catalisam reações de hidrólise de diferentes ligações peptídicas em proteínas e em peptídeos de todos os organismos vivos. Tais reações estão envolvidas em processos fisiológicos de extrema importância para a sobrevivência destes organismos, tais funções incluem: digestão e assimilação das moléculas alimentares, degradação de protéinas nos lisosomas e nos proteasomas, cascatas de coagulação, complemento e as de sinalização intracelular, fibrinólise, degradação de moléculas da matriz extracelular, dentre outros processos (NEURATH, 1989). Além da sua relevância fisiológica, as proteases podem ser potencialmente nocivas para o ambiente protéico de uma célula ou de um organismo, logo suas atividades requerem um controle preciso, visto que a hidrólise de uma ligação peptídica é um evento irreversível. Quando a atividade das proteases torna-se descontrolada ou esta controlada de maneira inapropriada, processos patológicos podem se instalar num organismo e até mesmo levá-lo à morte. Enfermidades como enfisema pulmonar, epilepsia, síndrome de Netherton, doenças hepáticas, cânceres, doenças reumáticas, doenças degenerativas, doenças auto-imunes, dentre outras estão relacionadas a um descontrole da atividade das enzimas proteolíticas (BERG, 2008; HEAL et al., 2008; KUESTER et al., 2008). O nível básico de controle da atividade de uma protease é a regulação da sua expressão gênica, da sua secreção, da sua síntese sob forma de zimogênio – que é um precursor inativo com maior massa molecular do que a protease ativa - ou ainda, o direcionamento da enzima para sua degradação. Já o segundo nível de regulação, e o mais importante, é a inibição da atividade através da interação direta da protease com inibidores específicos (KROWARSCH et al., 2003). Estes inibidores, sintéticos ou naturais, têm sido utilizados, por administração oral, com grande êxito no tratamento de algumas enfermidades. A excessiva proteólise observada em um número de condições, como as citadas anteriormente, pode ser tratada por terapia gênica, introduzindo-se a Revista Fitos

Vol.4 Nº01 março 2009

Inibidores de Proteases Oriundas de Plantas: Uma Abordagem Útil para o Desenvolvimento de Novos Fármacos

maquinaria gênica para a síntese do inibidor da referida atividade proteolítica. No campo da agricultura, algumas plantas geneticamente modificadas, expressando inibidores de enzimas proteolíticas digestivas de insetos, pragas e pestes, têm sido introduzidas em culturas; e os resultados obtidos apontam para um aumento considerável na resistência destas plantas aos agentes agressores em questão (RAWLINGS et al., 2004). Inibidores de Proteases Os inibidores de proteases podem ser genericamente classificados de acordo com sua estrutura em dois grandes grupos: inibidores de baixo peso molecular e inibidores peptídicos com uma ou mais cadeias polipeptídicas. Quase todos os inibidores de proteases de ocorrência natural são polipeptídeos; apenas alguns microorganismos secretam pequenos compostos não-peptídicos que bloqueiam a atividade das proteases de seus hospedeiros (POWERS ET AL., 2002). Estes inibidores ainda podem ser classificados de acordo com o tipo de protease que inibem: inibidores de serino, cisteíno, aspártico, treonino e metaloproteases. É bem verdade que alguns inibidores interferem com mais de um tipo catalíco de protease com diferentes afinidades de ligação, ou seja, possuem distintos valores de constantes de inibição (Ki) para os diferentes tipos de proteases (FEAR et al., 2007). Um exemplo deste comportamento é observado para o inibidor do tipo Kunitz encontrado em anêmonas do mar da espécie Stichodactyla helianthus, que é um potentíssimo inibidor da atividade de serino-proteases, com valores de Ki entre 10-9 a 10-7M, embora iniba outros tipos de peptidases com menor afinidade de ligação, ou seja, apresentam maiores valores de Ki do que aqueles observados para as serino-proteases (DELFÍN et al., 1996). Este inibidor demonstrou expressivo efeito inibitório na atividade das serino-proteases de Leishmania amazonensis, e em promastigotas de cultura induziu importantes alterações morfológicas e a formação de vacúolos autofágicos, o que levou o parasita à morte, fazendo deste peptídeo uma molécula com grande potencial na terapêutica anti-Leishmania e atribuindo às suas serino-proteases importantes alvos terapêuticos (SILVA-LOPEZ et al., 2007). As maneiras pelas quais os inibidores interagem com suas enzimas-alvo variam enormemente, mas existem dois mecanismos gerais e distintos de inibição enzimática representados pela inibição irreversível e pela inibição reversível de forte ligação. 109

Estado da Arte/State of the Art

A inibição irreversível é específica para as endopeptidases, pois é dependente da clivagem enzimática de uma ligação peptídica no interior da cadeia do inibidor. Este então se liga covalentemente à enzima, disparando uma importante alteração na sua estrutura tridimensional, que leva ao desalinhamento dos aminoácidos catalíticos do sítio ativo da peptidase levando assim a sua desnaturação (LASKOWSKI; KATO, 1980). Este tipo de cinética, ou seja, a clivagem de uma ligação peptídica do inibidor, é exclusiva para os inibidores peptídicos, que é o grupo mais importante, mas existem também aqueles inibidores de baixo peso molecular que não sofrem hidrólise e se ligam a diferentes sítios da enzima levando a desnaturação da mesma. As três famílias de inibidores que exibem este tipo de cinética de inibição são I4, I39 e I50 (Tabela 1). A maioria dos inibidores de ocorrência natural utiliza o mecanismo de inibição reversível de forte ligação, pois interagem com grande afinidade com o sítio ativo da protease de um modo semelhante ao da ligação enzima-substrato. Este inibidor pode ser clivado ou não durante o processo de inibição, e ser liberado do sítio ativo da enzima não modificado ou íntegro. Este mecanismo padrão de inibição tem sido demonstrado conclusivamente apenas para as serino-proteases. Foram reconhecidas 19 famílias de inibidores de acordo com este padrão de inibição (LASKOWSKI; QASIM, 2000). A figura 1 esquematiza a interação dos aminoácidos catalíticos (S) do sítio ativo da enzima com os aminoácidos que sofrerão hidrólise no peptídeo (P). É importante ressaltar que a clivagem da ligação peptídica ocorre entre os aminoácidos P1 e P1´ (SCHECHTER; BERGER, 1967).

Inibidores de Proteases Oriundas de Plantas: Uma Abordagem Útil para o Desenvolvimento de Novos Fármacos

A importância dos inibidores de protease As pesquisas na área de inibidores de proteases têm gerado um grande e rápido fluxo de informações, mas o grande problema de lidar com tais informações reside na enorme dificuldade de nomenclatura deste grupo tão diversificado de substâncias. Tais inibidores são geralmente descobertos pela sua atividade inibitória contra enzimas que estão disponíveis no mercado. Entre elas, as mais comuns são tripsina, quimiotripsina ou subtilisina, que são serino-proteases; e com isso os inibidores passam a denominar-se de acordo com o organismo ou o tecido de origem, como por exemplo: inibidor de subtilina de Streptomyces ou inibidor de tripsina pancreático. Tais denominações não oferecem informações relevantes sobre a relação entre os inibidores e ainda torna difícil o esclarecimento sobre os aspectos do seu mecanismo de ação. Portanto, as informações sobre a estrutura destes inibidores é essencial para entender melhor sua atividade, bem como para sua classificação. Através de um estudo minucioso e inovador, com o objetivo de melhor organizar os inibidores de proteases e propor uma nomenclatura mais adequada, Rawlings e colaboradores utilizaram bancos de dados de estruturas primárias – seqüências de aminoácidos e a localização das pontes de enxofre de proteínas e peptídeos – apoiados em algoritmos computacionais. Por intermédio deste estudo, os inibidores foram agrupados em 48 famílias, de acordo com a similaridade de sequência, estrutura tridimensional, bem como do mecanismo específico de inibição. Atualmente, esta lista foi aumentada para 68 famílias

Figura 1 – Diagrama esquemático de um modelo de interação entre um inibidor (cinza escuro) e sua serino-protease alvo (cinza claro) de acordo com a nomenclatura de Schechter e Berger (SCHECHTER; BERGER, 1967).

110

Revista Fitos

Vol.4 Nº01 março 2009

Inibidores de Proteases Oriundas de Plantas: Uma Abordagem Útil para o Desenvolvimento de Novos Fármacos

Estado da Arte/State of the Art

segundo o banco de dados MEROPS (versão 7.6), contém informações de proteases, suas estruturas, características cinéticas e bioquímicas; assim como seus inibidores (RAWLINGS; MORTON, 2008). A Tabela 1 é uma compilação de todas as famílias de inibidores de proteases com seqüências peptídicas depositadas em bancos de dados, como SWISSPROT, TrEMBL e PDB. Uma família é um conjunto de inibidores com sequências homólogas e esta é dada por uma significante similaridade da estrutura primária com um exemplar de uma família. Uma família pode conter um ou vários inibidores, e um simples produto gênico pode possuir diversos domínios inibitórios. Cada família é denominada pela letra “I” e pode ainda ser dividida em subfamílias quando existir ancestral divergente na família. O representante mais

característico de cada família é o que dá o nome a ela; este inibidor é via de regra o melhor caracterizado bioquímica, cinética e estruturalmente, e geralmente é o primeiro membro descoberto (RAWLINGS; MORTON, 2008). Estas famílias são ainda agrupadas em grandes clãs. O clã designa uma linha evolucionária de inibidores que é definida pelo tipo de enovelamento. Um clã contém uma ou mais famílias completas, desde que todos os membros destas famílias assumam o mesmo tipo de estrutura tridimensional (RAWLINGS; BARRET, 1993). A maior família de inibidores são as Serpinas (I4) com mais de 500 inibidores com sequências determinadas, resolvidas e depositadas em banco de dados, Por outro lado existem famílias como I5, I24, I34, I36, I40, I44 e I46, que são representadas por apenas um único inibidor (RAWLINGS et al., 2004).

Tabela 1 - Famílias dos inibidores de peptidases Família

Nome

I1

Kazal

I2 I3A§

Inibidor representante típico

Família de peptidase inibida*

Unidade 3 ovomucóide (Meleagris gallopavo)

S1

Kunitz (animal)

Aprotinina (Bos taurus)

S1

Kunitz (vegetal)

Inibidor triptico da soja (Glycine max) Inibidor de protease B (Sagitaria sagittilolia)

I3B I4

Serpina

I5

Ascidiana

I6

α 1-antitripsina (Homo sapiens)

S1, C1 e A1 S1 S1, S8, C1 e C14

Inibidor tríptico de ascidia (Halocynthia roretzi)

S1,

Cereal

Inibidor de a amilase (Eleusine coracana)

S1

I7

Squash

MCTI-1 inibidor tríptico (Momordica charantia)

S1

I8

Ascaris

Inibidor anticoagulante nematoda (Ascaris suum)

S1 e M4

I9

YIB

Inibidor de protease B (Saccharomyces cerevisiae)

S8

I10

Marinostatina

Marinostatina (Alteromonas sp)

S1

I11

Ecotina

Ecotina (Escherichia coli)

S1

I12

Bowman-Birk

I13

Inibidor tríptico de planta (Glycine max)

S1 e C1

Pot 1

Eglina C (Hirudo medicinalis)

S1 e S8

I14

Hirudina

Hirudina (Hirudo medicinalis)

S1

I15

Antistatina

Antistatina unidade 1 (Haementeria officinalis)

S1

Revista Fitos

Vol.4 Nº01 março 2009

111

Estado da Arte/State of the Art

Inibidores de Proteases Oriundas de Plantas: Uma Abordagem Útil para o Desenvolvimento de Novos Fármacos

Família

Nome

I16

SSI

Inibidor subtilisina (Streptomyces albogriseolus)

S1

I17

Elafina

Inibidor de proteinase do muco (Homo sapiens)

S1

I18

Mostarda

Inibidor tríptico da mustarda (Sinapis alba)

S1

I19

Pacifascina

Inibidor de proteinase LCMI (Locusta migratoria)

S1

I20

Pot2

Inibidor de proteinase II (Solanum tuberosum)

S1

I21

7B2

Secretogranina V (Homo sapiens)

S8

I24

pinA

Inibidor de endopeptidase La (bacteriofago T4)

S16

I25A

Cistatina 1

Cistanina A (Homo sapiens)

C1

I25B

Cistaina 2

Ovocistatina (Gallus gallus)

C1 e C13

I25C

Cistatina 3

Inibidor de metaloproteases (Bothropus jararaca)

M12 e S8

I27

Calpastatina

Família de peptidase inibida*

Calpastatina 1 (Homo sapiens)

C2

Antígeno α2 T citotóxico (Mus musculus)

I29

112

Inibidor representante típico

I31

Tiropina

I32

IAP

I33

Ascaris PI3

I34

Equistatina (Actinia equina)

C1

Proteína BIRC (Homo sapiens)

C14

Inibidor PI3 de pepsina (Ascaris suum)

A1

IA3

Inibidor sacaropepsina (Saccharomyces cerevisiae)

A1

I35

Timp

Timp-1 (Homo sapiens)

I36

SMI

Inibidor de metaloprotease (Streptomyces nigrescens)

M4

I37

PCI

Inibidor de carboxipeptidase do tomate (Solanum tuberosum)

M14

I38

Aprina

Inibidor de metaloprotease (Erwinia chrysanthemi)

M10

I39

α2M

I40

Bombyx

I42

α2-macroglobulina (Homo sapiens)

M10 e M12

Várias S, C, M e A

Inibidor de subtilisina bombyx (bombyx mori)

S8

Chagasina

Chagasina (Trypanosoma cruzi)

C1

I43

Oprina

Oprina (Didelphis marsupialis)

M12

I44

ICA

Inibidor de carboxipeptidaseA (Ascaris suum)

M14

Revista Fitos

Vol.4 Nº01 março 2009

Estado da Arte/State of the Art

Inibidores de Proteases Oriundas de Plantas: Uma Abordagem Útil para o Desenvolvimento de Novos Fármacos

Família

Nome

I46

LCI

I47

Latexina

I48

Clitocipina

Clitocipina (Lepista nebularis)

C1

I49

proSAAS

proSAAS (Homo sapiens)

S8

I50

p35

Inibidor de caspase p53 (Spodoptera litura)

C14

I51

IC

Inibidor de carboxipeptidase Y (Saccharomyces cerevisiae)

S10

I52

TAP

Peptídeo anticoagulante (Ornithodonus moubata)

S1

I53

Madanina

Madanina 1 (Haemaphysalis longicornis)

S11

I57

Estafostatina B (Staphylococcus aureus)

C1

I58

Estafostatina A (Staphylococcus aureus)

C1

Triabina (Triatoma pallidipennis)

S1

Proteína básica de eosinófilo (Homo sapiens)

S3

Trombostasina (Haematobia irritans)

S1

Bromeína (Ananas comosus)

C1

I59

Triabina

I63 I64

Trombostasina

I67

Bromeina

I68 I71

Falstatina

I72

Chimadanina

Inibidor representante típico

Família de peptidase inibida*

Inibidor de carboxipeptidase (Hirudo medicinalis)

M14

Latexina (Homo sapiens)

M14

Inibidor de Carboxypeptidase (Rhipicephalus bursa)

M10

Falstatina (Plasmodium falciparum)

C13

Chimadanina (Haemaphysalis longicornis)

S1

I73

Inibidor tríptico de Veronica (Veronica hederifolia)

S1

I74

Variegina (Amblyomma variegatum)

S8

I75

Proteína CIII (“bacteriophage lambda”)

A1

I76

Inibidor de Trombin (Glossina morsitans)

S1

Anofelina (Anopheles albimanus)

S1

Inibitor de elastase (Aspergillus fumigatus)

S1

I77

Anofelina

I78

*As famílias S referem-se às serino-proteases, C cisteíno-proteases, A aspártico-proteases e M metaloproteases. As linhas sombreadas correspondem aos inibidores de proteases provenientes de plantas.

Revista Fitos

Vol.4 Nº01 março 2009

113

Estado da Arte/State of the Art

Inibidores de proteases de plantas Os inibidores de proteases de plantas são polipeptídeos de baixo peso molecular, com a capacidade de inibir uma grande variedade de enzimas proteolíticas, incluindo proteases digestivas de mamíferos, insetos, bactérias e fungos, e estão também envolvidos na regulação do metabolismo de proteínas endógenas das plantas (CLEMENTE; DOMONEY, 2006). Os inibidores de proteases exibem importantes funções na regulação da proteólise em diversos organismos e em plantas de modo especial, constituindo importantes estratégias de defesa contra predadores e patógenos, visto que as plantas não possuem um sistema imune (ZHANG et al., 2008). Tais inibidores podem ser sintetizados constitutivamente ou a síntese ser induzida em resposta ao ataque de agentes externos. Estes inibidores peptídicos de proteases são encontrados em plantas de vários grupos sistemáticos, com particular ênfase nas espécies da família Fabaceae (uma das maiores famílias botânicas e mais conhecidas como Leguminosae). A maioria dos inibidores é estável à variação de temperatura e de pH; e além de sua função biológica natural, podem ser utilizados no tratamento de determinadas patologias (YOSHIZAKI et al., 2007). Inibidores de serino-proteases É importante chamar atenção sobre o fato das serino-proteases serem as mais abundantes e as mais bem estudadas enzimas proteolíticas da natureza; conseqüentemente seus inibidores também o são. Como se pode observar na Tabela 1, aproximadamente 57 % das famílias de inibidores atuam positivamente sobre as serinoproteases. Tais inibidores peptídicos apresentam estruturas distintas e podem inibir suas enzimas alvo tanto por inibição reversível, que é o mecanismo mais comum observado; quanto por inibição irreversível, e são ainda classificados como inibidores canônicos, não-canônicos e Serpinas (KROWARSCH et al., 2003). Os inibidores de plantas de outras classes de proteases não são menos importantes, mas aparentemente são menos numerosos e não estão tão bem caracterizados quanto os inibidores de serino-proteases. De um modo geral, as plantas expressam de maneira significativa quantidades muito maiores de inibidores de serino-proteases do que os outros inibidores, e por este motivo os inibidores de outras classes de proteases não serão discutidos nesta revisão. 114

Inibidores de Proteases Oriundas de Plantas: Uma Abordagem Útil para o Desenvolvimento de Novos Fármacos

Os inibidores canônicos representam o maior grupo de inibidores de serino-proteases e estão distribuídos essencialmente em todos os grupos de organismos, compreendendo polipeptídeos de 14 a 200 aminoácidos. Não formam um simples grupo de moléculas, mas são dividos em várias famílias, ou seja, várias famílias constituem inibidores do tipo canônico. Em plantas, eles se acumulam em grandes quantidades nas sementes. Estes inibidores apresentam como característica cinética marcante uma ligação forte, mas não covalente com o sítio ativo da protease, não induzindo alteração na estrutura tridimensional da enzima. Esta ligação se assemelha ao complexo de Michaelis na interação enzima-substrato (OTLEWSKI, et al, 2005). O sítio reativo do inibidor tem a ligação peptídica P1-P1’ localizada numa curvatura externa (loop) do peptídeo, denominado de RCL (Reactive Center Loop), e a reação de inibição se processa em pH alcalino, que é o pH ótimo das serino-proteases. Embora a estrutura tridimensional dos inibidores como um todo seja diferente, a região de ligação com a enzima (ou seja, a região de inibição) é quase idêntica e, portanto, o mecanismo de ação é muitíssimo parecido. As famílias de inibidores de serino-proteases canônicos de plantas incluem: Kazal, Tomate 1 e 2, Cereal, Inibidor de tripsina da soja, Squash, Bowman-Birk, Batata 1 e 2, Semente de Colza (KROWARSCH et al., 2003). Existem inibidores de plantas que por conta da sua estrutura primária e tridimensional podem estar alocados em famílias juntamente com inibidores de outros organismos. Inibidores da família Bowman-Birk (BBI) podem ser encontrados em muitas famílias botânicas, mas são particularmente abundantes nas sementes de leguminosas, quando comparados com os outros orgãos do legume e também com outras famílias de plantas (CLEMENTE; DOMONEY, 2006). São também abundantes na família Poaceae (gramíneas como trigo, aveia, cevada, arroz, milho e canade-açúcar) (QI et al., 2005). Seus representantes mais importantes e mais bem estudados são encontrados nas sementes de soja (Glycine max) e de ervilha (Pisum sativum) e inibem fortemente a atividade de diversas tripsinas e quimiotripsinas (LOSSO, 2008). A síntese destes é induzida por infecções ou por lesões, sugerindo um amplo papel na defesa e na resistência nas plantas contra pestes e patógenos. Estes inibidores são estáveis à temperatura de cozimento e também aos valores de pH do sistema digestivo humano e de outros animais. Isto se deve à presença das sete pontes Revista Fitos

Vol.4 Nº01 março 2009

Estado da Arte/State of the Art

de enxofre na sua estrutura primária (Figura 2) e, por conta desta grande estabilidade, os BBI demonstram possuir grande potencial de aplicação clínica (QI et al., 2005). São utilizados em plantas transgênicas para conferir defesa contra insetos e para o tratamento de enfermidades humanas. As larvas de Diatraea saccharalis alimentam-se das folhas de cana-de-açúcar e crescem sobre ela. Experimentalmente, quando se introduzem os genes do BBI e Kunitz da soja nesta gramínea, o crescimento da larva é drasticamente reduzido, e a produção de cana bastante aumentada (FALCO; SILVA-FILHO, 2003).

Inibidores de Proteases Oriundas de Plantas: Uma Abordagem Útil para o Desenvolvimento de Novos Fármacos

mama, cérvix, cabeça, pescoço, pulmão, de suprimir o crescimento de tumores enxertados em camundongos, de bloquear a tumorigênese induzida por estrogênios em células de mama, dentre outros efeitos em outras linhagens tumorias e em tumores sólidos (CLEMENTE; DOMONEY, 2006). Estudos in vivo mostraram que os BBI previnem e suprimem o desenvolvimento de cânceres como adenocarcinoma anal e de cólon, esôfago, pulmão, linfosarcoma e carcinoma oral, em diferentes modelos animais induzidos por distintos agentes carcinogênicos (LOSSO, 2008). É importante ressaltar que muitos BBI naturais ou modificados como

Figura 2 – Estrutura primária do inibidor Bowman-Birk da soja. A estrutura primária mostra as sete pontes de enxofre em preto. Os dois “loops” reativos com nove resíduos cada e os respectivos aminoácidos que se ligam ao sítio ativo das serino-proteases estão ressaltados em cinza claro e cinza escuro respectivamente. (QI ET AL., 2005)

Os BBI de leguminosas possuem uma importante atividade anticarcinogênica e radioprotetora. Adicionalmente, tem sido observado que as populações com dietas ricas em leguminosas e em gramíneas apresentam baixa incidência de cânceres de cólon, próstata, orofarígeo, mama e pele (KENNEDY, 1998). Este efeito possivelmente é resultante da inibição da proteólise provocada pelas células transformadas já que necessitam das proteases para os eventos de metástase, angiogênese, crescimento tumoral e proliferação (DELL’AICA, 2007). Estudos in vitro têm demonstrado que os BBI, em concentrações nanomolares, são capazes de suprimir a transformação de células malignas induzidas por raios-X, de inibir a produção do radical livre ânion superóxido por células humanas leucêmicas de linhagem de pro-mielócito, de potencializar a morte induzida por radiação e cisplatina em vários cânceres humanos como de Revista Fitos

Vol.4 Nº01 março 2009

seqüências ativas do BBI, resultantes da hidrólise da sua estrutura primária, como os loops que se ligam diretamente à enzima, já se encontram em estudos clínicos de Fase I e II para o tratamento de vários tipos de neoplasias (CLEMENTE; DOMONEY, 2006; LOSSO, 2008). Os BBIs também demonstraram grande potencial de aplicação em dengue, pois foi reportado um importante efeito inibitório na protease viral NS3, essencial na replicação do vírus do Dengue (SAMPATH; PADMANABLAN, 2008). Além disso, os BBIs e seus respectivos esqueletos canônicos (porção estrutural do inibidor responsável pela inibição; ver Figura 2) são inibidores potentíssimos da atividade das serino-proteases humanas Triptase, Matriptase e Elastase leucocitária – que são enzimas envolvidas em várias desordens inflamatórias, alérgicas e degenerativas como asma, esclerose múltipla, artrite reumatóide, enfisema pulmonar, fibrose 11

Estado da Arte/State of the Art

cística, bronquite e síndromes respiratórias (QI et al., 2005). Outra importante família de inibidores canônicos de plantas, isolados inicialmente em espécies da família Cucurbitaceae e com promissor potencial terapêutico é a família de inibidores Squash. São polipeptídeos pequenos, com 27 a 34 aminoácidos e seis resíduos de cisteínas envolvidas em três pontes de enxofre, formando três alças peptídicas de tamanhos variados, resultando assim numa estrutura tridimensional com aspecto de laços (Figura 3). É importante destacar que existem pequenas proteínas denominadas knotinas ou ciclotinas que compartilham semelhanças estruturais com os inibidores squash devido à topologia das suas pontes de enxofre e sua estrutura tridimensional em laços, e é bem provável que em plantas, estes inibidores sejam provenientes do metabolismo destas knotinas (CHICHE et al., 2004). Os inibidores Squash apresentam constantes de associação com várias serino-proteases na ordem de 10-12 M e, portanto, são considerados os mais potentes inibidores de proteases da natureza. Na planta, estes inibidores participam de mecanismos envolvidos na defesa conferindo resistência a pragas e pestes (OTLEWSKI; KROWARSCH, 1996). A estrutura “macrociclitizada”, por conta das pontes de enxofre, confere a estes inibidores uma grande resistência à ação das exopeptidases e também a altas temperaturas, possibilitando assim, sua administração oral e a permanência de suas atividades inibidoras de proteases (GÖRANSSON et al., 2004). São potentes inibidores de serinoproteases de interesse médico como a Elastase de neutrófilo envolvida na patogênese de diversas enfermidades como enfisema, fibrose cística e artrite reumatóide, a Trombina também denominada de Fator II da cascata de coagulação, e a enzima Matriptase, envolvida na destruição tecidual observada em vários tipos de neoplasias (CRAIK et al., 2004). Os representantes mais estudados desta família são MCoTI-I e II, ambos isolados das sementes de Monocardia cochinchinensis, uma Cucurbitaceae comum do Vietnã. Diversos estudos estão sendo conduzidos no sentido de modificar a estrutura primária destes inibidores por mutagênese induzida e, por modelagem molecular induzir a obtenção de inibidores mais potentes e mais específicos, reforçando assim a idéia de que estes peptídeos são moléculas promissoras no desenvolvimento racional de fármacos para o tratamento de inúmeras patologias humanas (CHICHE ET AL., 2004). 11

Inibidores de Proteases Oriundas de Plantas: Uma Abordagem Útil para o Desenvolvimento de Novos Fármacos

Figura 3 – Modelo da estrutura tridimensional do inibidor de tripsina II de Ecballium elaterium (Curcubitaceae vulgarmente denominado de pepino-selvagem), da família Squash. As setas representam as β-hélices e em preto as três pontes de enxofre. A sequência de aminoácidos e as pontes de enxofre estão representadas abaixo do modelo (CHRISTMANN ET AL., 1999).

Os inibidores não-canônicos exibem uma estrita especificidade para uma determinada protease, pois, além da ligação do inibidor com a enzima assemelhar-se ao complexo enzima-substrato (como observado para os inibidores canônicos), o inibidor também se liga a um sítio na superfície da protease, aumentado muitíssimo a seletividade da inibição (FARADY et al., 2008). Este tipo de inibidor está envolvido na regulação de mecanismos como apoptose, sinalização intracelular, embriogênese, angiogênese, neurogênese e em eventos relacionados à resposta imune (WOODS et al., 2008). Até o momento, ainda não foi reportado nenhum tipo de inibidores não-canônicos em plantas; contudo as investigações sobre estes peptídeos são bastante recentes. É importante destacar que os inibidores não-canônicos apresentam um enorme potencial de aplicabilidade no tratamento de determinadas patologias devido à altíssima especificidade que demonstram. As Serpinas compreendem uma superfamília de proteínas com estruturas muito semelhantes, e são inibidoras de serino-proteases, de onde seu nome deriva (serine protease inhibitors). Os primeiros representantes estudados foram a antitrombina Revista Fitos

Vol.4 Nº01 março 2009

Estado da Arte/State of the Art

e a antitripsina, que são proteínas plasmáticas essenciais na regulação das cascatas de coagulação e de inflamação e suas deficiências resultam em tromboses e em enfisema pulmonar, respectivamente (RAWLINGS et al., 2004). Enquanto que a grande maioria das Serpinas controla cascatas proteolíticas, outras não inibem a atividade enzimática, mas exercem uma diversidade de funções. São armazenadoras de proteínas, como a ovalbumina; proteínas de transporte de hôrmonios, como as globulinas de ligação da tiroxina e do cortisol; ou são supressoras de genes tumorais com a maspina (ROBERTS; HEJGAARD, 2008). São proteínas de médio tamanho (cerca de 400 aminoácidos), cuja estrutura terciária consiste de três β-hélices (A, B e C), nove α-hélices e um loop central reativo que é exposto na superfície do inibidor (RCL), com cerca de 25 resíduos entre as A e C (Figura 4). Ao reagir irreversivelmente com o sítio ativo da enzima através do RCL, a enzima cliva o inibidor e esta clivagem induz uma profunda alteração conformacional tanto do inibidor quanto da enzima. De um modo geral, as Serpinas são inibidoras irreversíveis das serino-proteases da família quimiotripsina, mas outras enzimas são também inibidas como tripsina, trombina, elastase, fatores da coagulação, e também algumas cisteíno-proteases (OTLEWSKI et al., 2005). As Serpinas estão distribuídas em animais, plantas, bactérias, archaea, e em certos vírus, e constitui a maior família de inibidores de proteases. A primeira Serpina estudada em plantas, foi uma proteína de 43 kDa, denominada de proteína Z, obtida de grãos de cevada. Diversas Serpinas foram purificadas de outras gramíneas como aveia, arroz, trigo, milho, cana e bambu. Embora sejam expressas principalmente em gramíneas, são também encontradas na soja, algodão, tomate, maça dentre outros (ROBERTS; HEJGAARD, 2008). Como são particularmente abundantes nas sementes, aparentemente desempenham um importante papel na defesa do estoque protéico contra as enzimas digestivas de insetos e fungos. Genes que codificam Serpinas têm sido introduzidos em culturas de alfafa, batata, algodão e tabaco, aumentando significativamente a resistência destes ao ataque de insetos e predadores (CHRISTELLER; LAING, 2005). Estes inibidores garantem a integridade de peptídeos sinalizadores envolvidos na apoptose, que é a morte celular não seguida de autólise que ocorre de forma ordenada e demanda energia para a sua execução. Está relacionada ao equilíbrio interno dos organismos e com sua regulação fisiológica. O termo Revista Fitos

Vol.4 Nº01 março 2009

Inibidores de Proteases Oriundas de Plantas: Uma Abordagem Útil para o Desenvolvimento de Novos Fármacos

é derivado do grego, que se referia à queda das folhas das árvores no outono - um exemplo de morte programada fisiológica (WILLIAMS; DICKMAN, 2008). É importante destacar que a apoptose participa da diferenciação dos órgãos da planta, desde a senescência à resposta ao estresse como hipóxia, temperaturas extremas e oxidação (ROBERTS; HEJGAARD, 2008). As Serpinas de origem humana e de outros animais têm sido utilizadas com grande sucesso na terapêutica de muitas patologias. Plantas transgênicas que carregam genes que codificam Serpinas são amplamente utilizadas na agricultura, mas apenas recentemente os estudos de Serpinas de plantas apontam para uma aplicabilidade clínica. Um exemplo disto é a expressão de um Serpina de um arroz trangênico que se mostrou bastante efetiva na redução e no controle da pressão arterial (YANG et al., 2006). Figura 4 – Modelo de estrutura tridimensional de uma Serpina. O inibidores são formado por três β-hélices (em setas), nove α-hélices (espiral) e um “loop” na porção superior que é a RCL (OTLEWSKI J et al., 2005).

Considerações finais As proteases desempenham funções vitais nas plantas e seus inibidores também participam destes processos regulando suas atividades. Além disso, estes inibidores protegem as plantas de modo bastante eficiente do ataque de agentes externos, como parasitos, insetos, larvas e microorganismos, inibindo preferencialmente suas enzimas digestivas. Devido à alta especificidade, estabilidade aos extremos de pH, temperatura e alta hidrossolubili11

Estado da Arte/State of the Art

dade, estes inibidores são facilmente administrados oralmente. A observação de que são eficientes contra microorganismos e parasitos, apontam estes inibidores de proteases de plantas com um enorme potencial para o desenvolvimento de novos fármacos, sugerindo uma maior eficiência e efeitos adversos menos agressivos para o hospedeiro. No entanto, as pesquisas sobre os inibidores de proteases provenientes de plantas são relativamente recentes, e é necessário que as investigações nesta área sejam intensificadas para a melhor compreensão destas estruturas. O entendimento do funcionamento destas moléculas com certeza tem muito a contribuir com o desenvolvimento racional de medicamento.

Referências BERG, T. Small-molecule inhibitors of protein-protein interactions. Current Opinion in Drug Discovery Development, v.11 p.666-74, 2008. CHICHE, L.; HEITZ, A.; GELLY, J.C.; GRACY, J.; CHAU, P.T.T.; HA, P.T.; HERNANDEZ, J.F.; LENGUYEN, D. Squash inhibitors: From structural motifs to macrocyclic knottins. Current Protein Peptide Scence, v.5, p.341-349, 2004. CHRISTELLER, J.T.; LAING, W. Plant serine proteinase inhibitors. Protein Peptide Letter, v.12, p.439-447, 2005. CHRISTMANN, A.; WALTER, K.; WENTZEL, A.; KRÄTZNER, R.; KOLMAR, H. The cystine knot of a squash-type protease inhibitor as a structural scaffold for Escherichia coli cell surface display of conformationally constrained peptides. Protein Engineering, v.12, p.797-806, 1999. CLEMENTE, A.; DOMONEY, C. Biological significance polymorphism in legume protease inhibitor the Bowman-Birk family. Current Protein Peptide Scence, v.7, p.201-216, 2006. CRAIK, D.J.; DALY, N.L.; MULVENNA J.; PLAN, M.R.; TRABI, M. Discovery, structure and biological activities of the cyclotides. Current Protein Peptide Scence, v.5, p.297-315, 2004. DELFÍN, J.; MARTÍNEZ, I.;ANTUCH, W.; MOREIRA, V.; GONZALÉZ, Y.; RODRÍGUEZ, R.; MÁRQUEZ, M.; SAROYÁN, A.; LARIONOVA, N.; DÍAZ, J.; PADRÓN, G.; CHÁVEZ, M. Purification, characterization and immobilization of proteinase inhibi118

Inibidores de Proteases Oriundas de Plantas: Uma Abordagem Útil para o Desenvolvimento de Novos Fármacos

tors from Stichodactyla helianthus. Toxicon, v.34, p.1367-76, 1996. DELL’AICA, I.; CANIATO, R.; BIGGIN, S.; GARBISA, S. Matrix proteases, green tea, and St. John’s wort: Biomedical research catches up with folk medicine. Clinical Chimical Acta, v.381, p.69–77, 2007. FALCO, M.C.; SILVA-FILHO, M.C. Expression of soybean proteinase inhibitors in transgenic sugarcane plants: Effects on natural defense against Diatraea saccharalis. Plant Physiology Biochemistry, v.41, p.761–766, 2003. FARADY, C.J.; EGEA, P.F.; SCHNEIDER, E.L.; DARRAGH, M.R.; CRAIK, C.S. Structure of an Fab-protease complex reveals a highly specific noncanonical mechanism of inhibition. Journal of Molecular Biology, v.380, p.351-360, 2008. FEAR, G.; KOMARNYTSKY, S.; RASKIN, I. Proteases inhibitors and their peptidomimetic derivates as potential drugs. Pharmacology and Therapeutics, v.113, p.354-368, 2007. GÖRANSSON, U.; SVANGAND, E.; CLAESON, P.; BOHLIN, L. Novel strategies for isolation and characterization of cyclotides: the discovery of bioactive macrocyclic plant polypeptides in the Violaceae. Current Protein Peptide Scence, v.5, p.317-29, 2004. HEAL, W.P.; WICKRAMASINGHE, S.R.; TATE, E.W. Activity based chemical proteomics: profiling proteases as drug targets. Current Drug Discovery Technology, v.5, p.200-212, 2008. KENNEDY, A.R. Chemopreventive agents: Protease inhibitors. Pharmacology and Therapeutics, v.78, p.167–209, 1998. KROWARSCH, D.; CIERPICKI, T.; JELEN, F.; OTLEWSKI, J. Canonical protein inhibitors of serine proteases. Cellular Molecular Life Science, v.60, p.2427-2444, 2003. KUESTER, D.; LIPPERT, H.; ROESSNER, A.; KRUEGER, S. The cathepsin family and their role in colorectal cancer. Pathology Research Practise, v.204, p.491-500, 2008. LASKOWSKI, M.J.; KATO, I. Protein inhibitors of proteinases. Annual Review of Biochemistry, v.49, p.593–626, 1980. Revista Fitos

Vol.4 Nº01 março 2009

Estado da Arte/State of the Art

Inibidores de Proteases Oriundas de Plantas: Uma Abordagem Útil para o Desenvolvimento de Novos Fármacos

LASKOWSKI, M.J.; QASIM, M.A. What can the structures of enzyme-inhibitor complexes tell us about the structures of enzyme substrate complexes? Biochimica et Biophysics Acta, v.1477, p.324–337, 2000.

arch, v.81, p.124-132, 2008.

LOSSO, J.N. The biochemical and functional food properties of the bowman-birk inhibitor. Critical Revision of Food Science Nutritional. v.48, n.1, p.94118, 2008.

SILVA-LOPEZ, R.E.; MORGADO-DÍAZ, J.A.; CHÁVEZ, M.A.; GIOVANNI-DE-SIMONE, S. (2007) Effects of serine protease inhibitors on viability and morphology of Leishmania (Leishmania) amazonensis promastigotes. Parasitology Research, v.101, p.1627–1635, 2007.

NEURATH, H. Proteolytic processing and physiological regulation. Trends Biochemistry Science, v.14, p.268-271, 1989. OTLEWSKI J.; JELEN, F.; ZAKRZEWSKA, M.; OLESY, A. The many faces of protease-protein inhibitor Interaction. The EMBO Journal, v.24, p.13031310, 2005. OTLEWSKI, J.; KROWARSCH, D. Squash inhibitor of serine proteinases. Acta Biochimica Polonica, v.43, p.431-444, 1996. POWERS, J.C.; ASGIAN, J.L.; EKICI, O.; JAMES, K.E. Irreversible inhibitors of serine, cysteine and threonine proteases. Chemical Reviews, v.102, p. 4639-4750, 2002. QI, R.F; SONG, Z.W.; CHI, C.W. Structural Features and Molecular Evolution of Bowman-Birk Protease Inhibitors and Their Potential Application. Acta Biochimica and Biophysics Sinica, v.37, p.283292, 2005. RAWLIINGS, N.D.; BARRET, A.J. Evolutionary families of peptidases. Biochememistry Journal, v.290, p.205–218, 1993. RAWLINGS, N.D.; TOLLE, D.P.; BARRETT, A.J. Evolutionary families of peptidase inhibitors. Biochemistry Journal, v.378, p.705–716, 2004. RAWLINGS, N.D.; MORTON, F.R. The MEROPS batch BLAST: A tool to detect peptidases and their non-peptidase homologues in a genome. Biochimie, v.90, p.243-259, 2008.

SCHECHTER I.; BERGER, A. Biochemistry and Biophysics Research Communications, v. 27, p.157-160, 1967.

WILLIAMS, B.; DICKMAN, M. Plant programmed cell death: can’t live with it; can’t live without it. Molecular Plant Pathology, v.9, p.531-44, 2008. WOODS, S.; FARRALL, A.; PROCKO, C.; WHITELAW, M.L. The bHLH/Per-Arnt-Sim transcription factor SIM2 regulates muscle transcript myomesin2 via a novel, non-canonical E-box sequence. Nucleic Acids Research, v.36, p.3716-27, 2008. YANG, L.; TADA, Y.; YAMAMOTO, M.P.; ZHAO, H.; YOSHIKAWA, M.; TAKAIWA, F.A Transgenic rice seed accumulating an anti-hypertensive peptide reduces the blood pressure of spontaneously hypertensive rats. FEBS Letters, v.580, p.33153320, 2006. YOSHIZAKI, L.; TRONCOSO, M.F.; LOPES, J.L.S.; HELLMAN, U.; BELTRAMINI, L.M.; WOLFENSTEIN-TODEL, C. Calliandra selloi Macbride trypsin inhibitor: Isolation, characterization, stability, spectroscopic analyses. Phytochemistry, v.68, p.26252634, 2007. ZHANG, Y.; KOUZUMA, Y.; MIYAJI, T.; YONEKURA, M. Purification, characterization, and cDNA cloning of a Bowman-Birk type trypsin inhibitor from Apios americana Medikus tubers. Bioscience Biotechnology and Biochemistry, v.72, p.171-178, 2008.

ROBERTS, T.H.; HEJGAARD, J. Serpins in plants and green algae. Function and Integrative Genomics, v.8, p.1-27, 2008. SAMPATH, A., PADMANABHAN, R. Molecular targets for flavivirus drug discovery. Antiviral ReseRevista Fitos

Vol.4 Nº01 março 2009

119

Estado da Arte / State of the Art

Plantas Medicinais Brasileiras. I. Achyrocline satureioides (Lam.) DC. (Macela) Brazilian Medicinal Plants. I. Achyrocline satureioides (Lam.) DC. (Macela)

*1Barata, L. E. S.; 2Alencar, A. A. J.; 2 Tascone, M.; 3Tamashiro, J.

Laboratório de Pesquisa e Desenvolvimento de Produtos Naturais, Instituto de Química, Universidade Estadual de Campinas, UNICAMP, Cidade Universitária Zeferino Vaz, C.P. 6154, 13083970, Campinas, SP, Brasil.

1

2 Curso de Farmácia, Instituto de Química, Universidade Estadual de Campinas, UNICAMP, Cidade Universitária Zeferino Vaz, C.P. 6154, 13083970, Campinas, SP, Brasil.

3 Departamento de Botânica, Instituto de Biologia, Universidade Estadual de Campinas, UNICAMP, Cidade Universitária Zeferino Vaz, Rua Monteiro Lobato 255, 13083-862, Campinas, SP, Brasil.

*Correspondência: E-mail: [email protected]

Unitermos: Achyrocline satureioides, Asteraceae, Produtos Naturais, Planta Medicinal, Cosméticos. Key Words: Achyrocline satureioides, Asteraceae, Natural Products, Medicinal Plant, Cosmetics, Macela, Marcela. 120

Resumo Este estudo se baseia na literatura científica convencional, e nas fontes dos principais congressos e simpósios brasileiros na área de plantas medicinais e aromáticas. Fez-se a revisão da literatura nos aspectos botânicos da composição química, seus principais usos populares e experimentos científicos para a espécie Achyrocline satureioides (macela). Os principais aspectos científicos desta espécie foram compilados com o objetivo de evidenciar seu potencial como matéria-prima para as indústrias farmacêuticas e de cosméticos.

Abstract This study presents a literature review on the botanical aspects, chemical composition, and the main popular as well as experimentally proven uses up to now, on the species Achyrocline satureioides (macela). The main scientific aspects on the species were compiled aiming to bring about its potential as raw material for the pharmaceutical and cosmetic industries. Moreover the conventional scientific journals there were included the information collected from the main Brazilian congresses and symposiums, in the field of medicinal and aromatic plants. Família: Asteraceae. Botânica: Planta herbácea de aproximadamente 1 m de altura; caule, ramos e folhas cobertos por pelos esbranquiçados; folhas lineares com largura de até 1,5 cm e 10 a 15 cm de comprimento; flores em número de 5 a 10, reunidas em inflorescência do tipo capítulo, de coloração amarela-clara; e estes estão reunidos nos ápices dos ramos. Fruto do tipo aquênio de aproximadamente 0,5 cm (BAKER, 1967; PRUSKI, 1997; LORENZI , 2000). É planta invasora comum em terrenos baldios, pastos e campos agrícolas abandonados. As inflorescências secas são utilizadas na medicina caseira e também no enchimento de travesseiros almofadas e colchões (LORENZI , 2000) pelo aroma suave e agradável. Distribuição Geográfica: América tropical. Uso etnomédico: As inflorescências secas são utilizadas na medicina caseira e também no enchimento de travesseiros almofadas e colchões (LORENZI , 2000) pelo aroma suave e agradável. A infusão das inflorescências da macela (Achyrocline satureioides) é popularmente Revista Fitos

Vol.4 Nº01 março 2009

Estado da Arte/State of the Art

empregada como sedativa, antiinflamatória, antiespasmódica e contra desordens intestinais (LORENZI , 2000; ROCHA et al., 1989). Na forma de chá, as inflorescências também são utilizadas contra náuseas, cólicas e dores epigástricas (LANGELOH; SCHENKEL, 1982). O extrato das flores apresenta atividade antibacteriana e analgésica (POLI et al., 1988). A planta tem ações anti-séptica, digestiva (SONAGLIO et al., 1992) e é usada em casos de bronquite, dor de barriga e para facilitar o parto (MARQUESINI, 1996). No Paraguai é utilizada como agente antiinfeccioso (LIMA et al., 1990). O extrato aquoso de folhas e caules de Achyrocline satureioides é usado na medicina popular para o tratamento de distúrbios gastrointestinais (KREIN et al., 1996; MORS et al., 2000), epilepsia, reumatismo, nevralgias, dores articulares e musculares (LORENZI; MATOS, 2002). As partes aéreas da macela produzem um chá aromático e amargo, estomáquico e antidesentérico, muito usado para má digestão e gastrites (MORS et al., 2000). Uso em cosméticos: Pedidos de patentes sugerem que Achyrocline satureioides tem potencial para diferentes usos em cosméticos. A planta possui propriedades que permitem sua utilização como clareador vegetal para cabelos em formulações cosméticas (MARQUES, 2005). O extrato das folhas, galhos, raízes, sementes ou da planta inteira, é utilizado para prevenir a oxidação dos componentes lipídicos e para desordens oxidativas da pele, atuando como um agente antioxidante na composição de preparações de uso tópico. Essa extração pode ser feita utilizando um álcool de baixo peso molecular (WADA et al., 1998). A macela é utilizada em formulações para os cabelos. A empresa Ecologie Cosméticos utiliza a planta em xampus, visando o seu poder de redução da fragilidade dos fios (ECOLOGIE COSMÉTICOS, 2008). A sua capacidade de clareamento de cabelos é aproveitada pela Amend Cosméticos em formulações de complexos iluminadores da cor (AMEND COSMÉTICOS, 2008). Já a sua ação antiinflamatória e calmante é utilizada em tônicos capilares da Daasz Cosméticos Orgânicos (DAASZ COSMÉTICOS, 2008). Farmacologia e Atividade biológica: O interesse clínico da macela é recente, seus usos na medicina natural têm sido avaliados desde 1980. Estudos da macela em animais demonstraram propriedades analgésicas, antiinflamatórias e relaxantes, podendo explicar seu uso em problemas gastrointestinais, e problemas respiratórios como a asma (LORENZI; MATOS, 2002). O extrato aquoso das folhas e cauRevista Fitos

Vol.4 Nº01 março 2009

Plantas Medicinais Brasileiras. I. Achyrocline satureioides (Lam.) DC. (Macela)

les (SIMÕES et al., 1984) e alcoólico das inflorescências (LANGELOH; SCHENKEL, 1982) apresentam atividade antiespasmódica, que pode justificar seu uso no tratamento de certos distúrbios do trato gastrointestinal (SIMÕES et al., 1984; LANGELOH; SCHENKEL, 1982). Esta característica pode ser atribuída, pelo menos em parte, à presença de quercetina (II) e 3-metoxiquercetina (SIMÕES et al., 1986). A quercetina também é um dos componentes majoritários nos extratos hidroetanólicos de comprovada ação antiinflamatória (SONAGLIO et al., 1986). O extrato etanólico de suas folhas e flores promove a lise das formas sanguíneas do Trypanosoma cruzi (ROJAS DE ARIAS et al., 1995). Sua propriedade antitumoral foi verificada, mostrando que o extrato de flores de macela inibe in vitro o crescimento de células carcinogênicas em 67% (LORENZI; MATOS, 2002). A atividade antiviral dos flavonóides da Achyrocline satureioides pode ser identificada frente à replicação do poliovírus e de alguns vírus herpéticos. Já outros compostos similares aos flavonóides são inibidores da replicação do vírus da influenza (gripe), do vírus do HIV, do citomegalovírius e do rinovírus (SIMÕES et al., 1990; AMOROS et al., 1992; CHE, 1991). Pesquisadores americanos demonstraram que o extrato aquoso quente de suas flores secas apresentou propriedades antivirais in vitro contra células T-linfoblastóides infectadas com HIV(13). Estudos realizados revelaram que o extrato etanólico da semente de Achyrocline satureioides apresenta capacidade inibitória significativa contra Bacillus subtilis e Staphylococcus aureus (MARTINS et al., 1988). O extrato diclorometano da folhas de A. satureioides apresentou também componentes bioativos distintos contra Bacillus subtilis (UCHIMA et al. 1999), já o óleo volátil obtido das sumidades floridas por arraste a vapor, apresenta ausência de atividade antimicrobiana contra Staphylococcus aureus, Escherichia coli e Candida albicans, sugerindo que as atividades antissépticas e antibióticas observadas pelo uso popular e em testes farmacológicos, seja proveniente de outros compostos presentes nas partes aéreas das plantas e que não são destiladas por arraste à vapor (SONAGLIO et al., 1992). O extrato de suas flores apresenta significativa atividade repelente (98,5%), sugerindo, segundo os autores, possibilidades de seu uso como repelente de insetos (DAL MAGRO et al., 1998). Outras pesquisas corroboram o uso do extrato de A. satureioides como inseticida (ROJAS DE ARIAS et al., 1995). Extratos aquosos apresentam atividade genotóxica em organismos procarióticos. Essa atividade está relacionada com a presença de quercetina e ácido cafeico no extrato (VARGAS et al., 1990; FACHINETTO et al., 2007). O extrato metanó121

Estado da Arte/State of the Art

lico revelou atividade contra carcinoma hepatocelular humano, porém há necessidade de estudos complementares (RUFFA et al., 2002). Diferentes extratos, com diferentes composições de ativos, obtidos das inflorescências da A. satureioides, apresentam grande potencial antioxidante, porém extratos com altas concentrações de flavonóides revelaram um efeito pró-oxidante em estudos realizados com culturas de células de Sertoli, induzindo aumento na peroxidação de lipídeos (efeito citotóxico) (POLYDORO et al., 2004). Na investigação da propriedade sedativa da macela em camundongos, usando o extrato aquoso (chá) de macela, verificou-se a redução da locomoção dos camundongos e o aumento da porcentagem de quedas, sugerindo que o extrato de macela apresenta efeitos característicos de substâncias depressoras do sistema nervoso central (POLI et al., 1988). Foram isoladas frações polissacarídicas de extratos aquosos ou alcalinos aquosos de A. satureioides que conforme testes em granulócitos (WAGNER et al., 1984), apresentaram uma significante atividade imunoestimuladora (MORS et al., 2000; WAGNER et al., 1984), porém, de acordo com outros estudos, o extrato aquoso da Achyrocline satureioides apresentou propriedades inibidoras da ativação linfocitária, sendo demonstrada pela diminuição da secreção de IL-2 (SANTOS et al., 1996). Estudos farmacológicos de A. satureioides mostraram que os extratos aquosos a frio e a quente e o extrato etanólico a frio, apresentam atividade antiinflamatória, reduzindo significativamente o edema da pata do rato induzido por carragenina. Este efeito antiinflamatório poderia estar vinculado à presença de compostos flavonoídicos (SIMÕES; BAUE, 1984). Dados pré-clínicos indicam que a planta possui potencial no controle de condições associadas à obesidade, como altos níveis de glicose sangüínea, indicando uma possível utilidade para o tratamento de certas obesidades, contudo, os dados científicos encontrados são insuficientes para garantir a eficácia e segurança da

Plantas Medicinais Brasileiras. I. Achyrocline satureioides (Lam.) DC. (Macela)

planta no tratamento da obesidade, merecendo então estudos posteriores (DICKEL et al., 2007). Extratos aquosos da A. satureioides têm um potente efeito contra a oxidação do LDL humano in vitro. A capacidade antioxidante é dependente da concentração do extrato, indicada como 4 μg/ml. Até agora a hipótese é de que esse efeito antioxidante ocorreria in vivo (GUGLIUCCI; MENINI, 2002). Segundo um pedido de patente, o extrato da A. satureioides possui efeito neuroprotetor in vivo que é obtido principalmente por mecanismos antiapoptóticos. O extrato pode ser usado na prevenção e no tratamento de isquemia vascular, doenças neurodegenerativas e lesões cerebrais causadas devido ao envelhecimento (HEIZEN; DAJAS, 2003). A macela pode ainda servir como “bioindicador” revelando contaminação ambiental por metais pesados, como o zinco e chumbo (PIVA; PORTO, 1998). Composição química: A análise fitoquímica da macela mostra que é fonte rica de flavonóides singulares. Muitas de suas atividades são atribuídas aos flavonóides, assim como aos terpenos (mono e sesquiterpenos) isolados da planta (LORENZI; MATOS, 2002). As partes aéreas da planta contêm óleo essencial com alfa e beta-pineno, flavonóides e outros compostos fenólicos, além de polissacarídios (MORS et al., 2000). Os extratos são também ricos em compostos fenólicos não flavonóicos como o ácido caféico e ácido clorogênico e flavonóides como flavonas, luteolina (I) e quercetina (II) (GUGLIUCCI; MENINI, 2002; SAITO et al., 2005). Do extrato acetônico das folhas secas de A. satureioides, foram isolados três flavonóides, que já haviam sido obtidos de fontes naturais ou de síntese (LIMA et al., 1990) (Figura 1). Os componentes responsáveis pelo gosto amargo e pela adstringência característica do chá da marcela são os glicosídeos e os flavonóides (FERNANDES et al., 1996).

Figura 1 - Flavonóides isolados de extratos de Achyrocline satureioides (marcela).

122

Revista Fitos

Vol.4 Nº01 março 2009

Estado da Arte/State of the Art

Referências AMEND COSMÉTICOS. Disponível em: . Acesso em 08/11/2008. AITSU, Y.; WADA, M.; INOMATA, S.; YANO, K.; YOKOGAWA, Y.; TANAKA, N.; YAGI, E.; SAKAMOTO, O. Preparation for external use for skin. Japanese Patent JP09095436. Publication 04/08/1997. AMOROS, M.; SIMÕES, C.M.O.; GIRRE, L.; SAUVAGER, F.; CORMIER, M. Synergistic Effect of Flavones and Flavonols Against Herpes Simplex Virus Type 1 in Cell Culture. Comparison with the Antiviral Activity of Propolis. Journal of Natural Products, v.55, p.1732-1740, 1992. BAKER, J.G. Compositae. In: Flora Brasiliensis. C.F.P. Martius & A.W. Eichler Eds., F. Fleischer, Lipsiae, v.6, pars 3, p.1-115, 1882-1884. CHE, C.T. Plants as a source of potential antiviral agent. In: Economic and Medicinal Plant Research, Wagner, H., Hikino, H. and Farnsworth, N.R. eds. vol 5, chapter 7, p.167-251, 1991. DAL MAGRO, J.; RENK, M.H.; GARCIA, F.R.M.; YUNES, R.A.; MAGRO, D. Eficiência de repelentes à base de extratos de Achyrocline satureioides e Cucurbita pepo sobre simulídeos. XV Simpósio de Plantas Medicinais do Brasil, Águas de Lindóia, Anais do Congresso, p.163, 1998. DICKEL, M.L.; RATES, S.M.K.; RITTER, M.R. Plants popularly used for loosing weight purposes in Porto Alegre, South Brazil. Journal of Ethnopharmacology, v.109, p.60-71, 2007. DAASZ COSMÉTICOS. Disponível em: . Acesso em 08/11/2008. FACHINETTO, J.M.; BAGATINI, M.D.; DURIGON, J.; DA SILVA, A.C.F.; TEDESCO, S.B. Efeito antiproliferativo das infusões de Achyrocline satureioides DC (Asteraceae) sobre o ciclo celular de Allium cepa. Revista Brasileira de Farmacognosia, v.17, p.49-54, 2007. FERNANDES, L.C.; SCHENKEL, E.P.; SPITZER, V. Identificação das substâncias responsáveis pelo Revista Fitos

Vol.4 Nº01 março 2009

Plantas Medicinais Brasileiras. I. Achyrocline satureioides (Lam.) DC. (Macela)

amargo característico de preparação de Achyrocline satureioides. XIV Simpósio de Plantas Medicinais do Brasil, Florianópolis, Anais do Congresso. p.189, 1996. ECOLOGIE COSMÉTICOS. Disponível em: . Acesso em: 08/11/2008. GUGLIUCCI, A.; MENINI, T. Three different pathways for human LDL oxidation are inhibited in vitro by water extracts of the medicinal herb Achyrocline satureioides. Life Sciences. v.71, n.6, p.693-705, 2002. HEIZEN, H.; DAJAS, F. Utilization of Achyrocline satureioides (marcela) extracts and liposomal preparations of natural and semi-synthetic flavonoids for the prevention and treatment of the consequences of stroke and neurodegenerative diseases. U.S. Patent application 10/190440. Protocolo nº 2003055103-A, Estados Unidos da América, 20/03/2003. KREIN, A.; AMARAL, K.; BASSANI, V.L.; LANGELOH, A. Estudo dos efeitos de extratos de Achyrocline satureioides (LAM.) D. C. sobre a reprodução em ratas. 1996. XIV Simpósio de Plantas Medicinais do Brasil, Florianópolis, Anais do Congresso. p.115, 1996. LANGELOH, A.; SCHENKEL, E.P. Atividade antiespasmódica do extrato alcoólico de Marcela (Achyrocline satureioides, D.C., Compositae) sobre a musculatura lisa genital de ratos. VII Simpósio de Plantas Medicinais do Brasil, Belo Horizonte, v.8, p.454-458, 1982. LIMA, C.S.; BIEBER, W.L.; MELLO, J.F. Constituintes antimicrobianos de Achyrocline satureioides DC. XIX Simpósio de Plantas Medicinais do Brasil, João Pessoa, Anais do Congresso, p.205, 1990. LORENZI , H.; Plantas Daninhas do Brasil, 3ª ed., Ed. Instituto Plantarum de Estudos da Flora, Ltda., Nova Odessa, p.116, 2000. LORENZI, H.; MATOS, F.J.A. Plantas Medicinais do Brasil Nativas e Exóticas, Ed. Instituto Plantarum de Estudos da Flora Ltda., Nova Odessa, 2002, p.131-132. MARQUES, T. Clareador vegetal para os cabelos. 123

Estado da Arte/State of the Art

Patente Brasil, INPI protocolo nº PI0400397-7, Depósito 2004-06-01. MARQUESINI, N.R. Plantas usadas como medicinais pelos índios do Paraná e Santa Catarina, Sul do Brasil. 1995. 290 p. Dissertação (Mestrado em Botânica) Setor de Ciências Biológicas, Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 1995. MARTINS, D.G.; SANTOS, E.R.; MACIEL, G.G.M.; DIV, M.B.S.; NASCIMENTO, S.C. Estudos toxicológicos, microbiológicos e in vitro de Achyrocline satureioides. X Simpósio de Plantas Medicinais do Brasil, São Paulo, Resumo 29, Anais do Congresso, p.719, 1988.

Plantas Medicinais Brasileiras. I. Achyrocline satureioides (Lam.) DC. (Macela)

ROJAS DE ARIAS, A.; FERRO, E.; INCHAUSTI, A.; ASCURRA, M.; ACOSTA, N.; RODRIGUEZ, E.; FOURNET, A. Mutagenicity, insecticidal and trypanocidal activity of some Paraguayan Asteraceae. Journal of Ethnopharmacology, v.45, p.3541, 1995. RUFFA, M.J.; FERRARO, G.; WAGNER, M.L.; CALCAGNO, M.L.; CAMPOS, R.H.; CAVALLARO, L. Cytotoxic effect of Argentine medicinal plant extracts on human hepatocellular carcinoma cell line. Journal of Ethnopharmacology. v.79, p.335-339, 2002.

MORS, B.W; RIZZINI, T.C; PEREIRA, A.N. Medicinal Plants of Brazil. Reference Publications, Inc., EUA, p.289, 2000.

SAITO, E., FURLAN, C., LOPES, G.C., MELLO, J.C.P.A. cromatografia líquida a vácuo na análise qualitativa e quantitativa de flavonóides em Achyroline satureioides. Revista Fitos, v.1, n.1, p.57-59, 2005.

PIVA, G.G.S.D.; PORTO, M.L. Avaliação de metais pesados na composição química e atividade farmacológica em diferentes ecótipos de Baccharis trimera e Achyrocline satureioides – Compositae: Parte II. XV Simpósio de Plantas Medicinais do Brasil, Águas de Lindóia, Anais do Congresso, v.1, p.171, 1998,

SANTOS, A.L.G.; PERES, A.; RIPOLL, D.; NARDI, N.; BASSANI, V.L. Efeito de extrato aquoso de Achyrocline satureioides (Marcela) sobre a proliferação de linfócitos e secreção de interleucina-2 (IL-2). XIV Simpósio de Plantas Medicinais do Brasil, Florianópolis, Anais do Congresso, p.115, 1996.

POLI, A.; NICOLAU, M.; SIMÕES, C.M.O.; RIBEIRO, R.M.; ZANIN, M.; SCHIMIDT, E.M.; BUSS JR., A.; SANTOS-LOPES, A.C. Efeitos comportamentais do extrato bruto aquoso de Macela. X Simpósio de Plantas Medicinais do Brasil, São Paulo, Anais do Congresso, p.13, 1988.

SIMÕES, C.M.O.; BAUER, L. Ação antiinflamatória e toxicidade de extrato de flores Achyroclines satureioides. VIII Simpósio de Plantas Medicinais do Brasil, Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia, Manaus, Anais do Congresso, p.47,1984.

POLYDORO, M.; DE SOUZA, K.C.B.; ANDRADES, M.E.; DA SILVA, E.G.; BONATTO, F.; HEYDRICH, J.; DAL-PIZZOL, F.; MOREIRA, J.C. F. Antioxidant, a pro-oxidant and cytotoxic effects of Achyrocline satureioides extracts. Life Sciences, v.74, p.28152826, 2004.

SIMÕES, C.M.O.; RECH, N.; LAPA, A.J. Investigação farmacológica do extrato aquoso de folhas/ caule de Achyrocline satureioides (Lam.) D.C. Compositae (marcela). Caderno de Farmácia (Porto Alegre), v.2, p.37–54, 1986.

PRUSKI, J.F. Asteraceae. In: Flora of the Venezuelan Guyana. Eds. Steyemark, J.A; Berry, P.E.; Yatskievych, K. & Holst, B.K. The Missouri Botanical Garden Press, St. Louis, v.3 p.200, 1997. ROCHA, M.J.A.; FULGÊNCIO, S.F.; RABETTI, A.C.; NICOLAU, M.; POLI, A.; SIMÕES, C.M.O. Effects of Portulaca pilosa L. and Achyrocline satureioides Compositae extracts of urinary excretion of water and electrolytes. Simpósio Brasil-China de Química e Farmacologia de Produtos Naturais, Fiocruz, Rio de Janeiro, 1989. 124

SIMÕES, C.M.O.; SCHENKEL, E.P.; ANICET, C.; NORA, K.; LANGELOH, A. Estudo da atividade antiespasmódica da Achyrocline satureioides (LAM.) D.C. Compositae (marcela) e de seus flavonóides sobre jejuno de rata in vitro. VIII Simpósio de Plantas Medicinais do Brasil, Manaus, Anais do Congresso, p.45, 1984. SIMÕES, C.M.O.; AMOROS, M.; GIRRE, L.; GLEYE, J.; FAUVEL, M-Th. Antiviral Activity of Ternatin and Meliternatin, 3-Methoxyflavones from Species of Rutaceae. Journal of Natural Products, v.53, p.989-992, 1990. Revista Fitos

Vol.4 Nº01 março 2009

Estado da Arte/State of the Art

Plantas Medicinais Brasileiras. I. Achyrocline satureioides (Lam.) DC. (Macela)

SONAGLIO, D. ; PETROVICK, P.R. ; BASSANI, V. L. . Padronização de extratos hidroalcoólicos de Achyrocline satureioides (Lam) DC. Caderno de Farmácia (Porto Alegre), v.2, n.1, p.55-74, 1986. SONAGLIO, D.; SCHAPOVAL, E.S.E.; FARRA, D.P.; FRATINI, M. Verificação da atividade antimicrobiana do óleo volátil de Achyrocline satureioides. XII Simpósio de Plantas Medicinais do Brasil, Curitiba, Anais do Congresso p.295, 1992. UCHIMA, A.S.; DUARTE, P.C. M.; MAGALHÃES, M.P.; FIGUEIRA, M.G.; JÚNIOR, M.L.; QUEIROGA, C.L. Avaliação do potencial antimicrobiano de Achyrocline sp. contra Bacillus subtilis. 22ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Química, Poços de Caldas, Anais do Congresso, v.2, 1999. VARGAS, V.M.; MOTTA, V.E.; LEITÃO, A.C.; HENRIQUES J.A. Mutagenic and genotoxic effects of aqueous extracts of Achyrocline satureioides in prokaryotic organisms. Mutation Research, v.240, p.13-18, 1990. WAGNER, H.; PROKSCH, A.; RIESS-MAURER, I.; VOLLMAR, A.; ODENTHAL, S.; STUPPNER, H.; JURCIC, K.; LE TURDU, M.; HEUR, Y.H. Immunostimulant action of polysaccharides (heteroglycans) from higher plants. Preliminary communication. Arzneimittelforschung, v.34, n.6, p.659-661, 1984.

Revista Fitos

Vol.4 Nº01 março 2009

125

Estado da Arte / State of the Art

Plantas Medicinais Brasileiras. II. Portulaca pilosa L. (Amor-crescido) Brazilian Medicinal Plants II. Portulaca pilosa L. (Amor-crescido)

*1Barata, L. E. S.; 2Alencar, A. A. J.; 2 Tascone, M.; 3Tamashiro, J.

Laboratório de Pesquisa e Desenvolvimento de Produtos Naturais, Instituto de Química, Universidade Estadual de Campinas, Cidade Universitária Zeferino Vaz, UNICAMP, C.P. 6154, 13083-970, Campinas, SP, Brasil. 1

Curso de Farmácia, Faculdade de Ciências Médicas, Universidade Estadual de Campinas, Cidade Universitária Zeferino Vaz, UNICAMP, Rua Tessália Vieira de Camargo, 126, 13083-887, Campinas, SP. Brasil.

Resumo Este estudo se baseia na literatura científica convencional, e nas fontes dos principais congressos e simpósios brasileiros na área de plantas medicinais e aromáticas. Fez-se a revisão da literatura nos aspectos botânicos da composição química, seus principais usos populares e experimentos científicos para a espécie Portulaca pilosa L. (amor-crescido). Os principais aspectos científicos desta espécie foram compilados com o objetivo de evidenciar seu potencial como matéria-prima para as indústrias farmacêuticas e de cosméticos.

Abstract

2

Departamento de Botânica, Instituto de Biologia, Universidade Estadual de Campinas, Cidade Universitária Zeferino Vaz, UNICAMP, Rua Monteiro Lobato 255, 13083-862, Campinas, SP, Brasil. 3

This study presents a literature review on the botanical aspects, chemical composition, and the main popular as well as experimentally proven uses up to now, on the species Portulaca pilosa L. (amor-crescido). The main scientific aspects on the species were compiled aiming to bring about its potential as raw material for the pharmaceutical and cosmetic industries. Moreover the conventional scientific journals there were included the information collected from the main Brazilian congresses and symposiums, in the field of medicinal and aromatic plants. Família: Portulacaceae.

*Correspondência: E-mail: [email protected]

Botânica: Erva com muitos ramos prostrados com pêlos longos e esbranquiçados. Folhas cilíndricas, suculentas de aproximadamente 2 cm. Flores localizadas nos ápices de ramos, rodeadas por pêlos longos. As pétalas são de coloração púrpura à amarelada. Frutos maduros arredondados de cor marrom, abrindo-se por uma fenda circuncisa e com muitas sementes (BAILEY, 1949; STEYEMARK, 2004). Espécie com muitas subespécies, variedades e formas devido a sua plasticidade fenotípica. Utilizada também como ornamental (BAILEY, 1949).

Unitermos: Portulaca pilosa, Portulacaceae, Produtos Naturais, Planta Medicinal, Cosméticos, Amor-crescido

Distribuição Geográfica: América tropical e subtropical (STEYEMARK, 2004).

Key Words: Portulaca pilosa, Portulacaceae, Natural Products, Medicinal Plant, Cosmetics, Amor- crescido. 126

Introdução A Indústria Brasileira de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos apresentou um crescimento médio deflacionado de 8,2% nos últimos 5 Revista Fitos

Vol.4 Nº01 março 2009

Estado da Arte/State of the Art

anos, tendo passado de um faturamento líquido de impostos sobre vendas de R$ 6,6 bilhões em 1999 para R$ 13,1 bilhões em 2004 e US$ 8,1 bilhões em 2006. Entre as quase 1.500 indústrias de Cosméticos apenas 15 são consideradas grandes, na sua maioria empresas multinacionais que faturam 2/3 de todo o mercado, as outras, 1.485 empresas são médias, pequenas e, sobretudo micro empresas. São nestas pequenas e micro-empresas, principalmente aquelas do Norte e Nordeste, que as plantas brasileiras, muitas delas medicinais, têm sido crescentemente utilizadas, e que as tornam competitivas. Outros fatores têm contribuído para o excelente crescimento do setor de cosméticos, principalmente, a participação crescente da mulher brasileira no mercado de trabalho e o aumento da expectativa de vida, que traz a necessidade de conservar uma impressão de juventude. Uso Etnomédico: O amor-crescido (Portulaca pilosa) é uma planta utilizada popularmente por todo o Brasil, principalmente no Norte, como estomáquica, diurética, cicatrizante, analgésica, em casos de doenças hepáticas, malária, úlceras (DA SILVA et al., 1998), diarréia, disenteria, cólica, nas hemoptises, nefrites e como vermífugo (REVILLA, 2002). As folhas são usadas em compressas para serem aplicadas topicamente no tratamento de queimaduras, erisipelas (MORS et al. 2000), feridas, eritemas e icterícia (REVILLA, 2002). O chá das folhas de amor-crescido pode ser usado para desinfetar chagas e fortalecer o sangue (MORS et al. 2000). Seu uso tópico como cicatrizante, no tratamento de queimaduras, em erisipelas, feridas e eritemas, e desinfetante tópico, lhe indica como candidata ao uso em Cosmética. Uso em cosméticos: No norte do Brasil esta planta é empregada em xampus para queda de cabelo e como fortalecedor de crescimento capilar (MORS

Revista Fitos

Vol.4 Nº01 março 2009

Plantas Medicinais Brasileiras. II. Portulaca pilosa L. (Amor-crescido)

et al. 2000) e por isso encontrado nas boticas e feira do Ver-o-Peso em Belém na forma de cremes e loções. Segundo o fabricante Artesanato Juruá, o xampu de Amor-crescido apresenta propriedades para o fortalecimento das raízes do cabelo, estimulando seu crescimento, além de conferir brilho e maciez ao cabelo, o que facilita a escovação (NATURELE COSMÉTICOS, 2008). A Universidade Federal do Pará possui uma formulação de xampu contendo Amor-crescido, produto utilizado como tônico capilar, e o condicionador com extratos desta planta, utilizado para desembaraçar os cabelos (UFPA, 2008). O extrato da Portulaca pilosa promove a inibição in vitro da tirosinase de cogumelo a níveis acima de 90%. Esta característica pode direcionar o desenvolvimento de agentes para o clareamento da pele e preparações antiescurecimento, sendo necessário porém estabelecer testes em melanócitos humanos (BAURIN et al., 2002). Farmacologia e Atividade Biológica: A Portulaca pilosa é usada pela medicina popular como diurético. Entretanto, estudos verificaram que os extratos hidroalcoólicos desta planta possuem efeitos renais, aumentando a excreção de potássio, mas não apresentam ação diurética ou mudança na excreção de sódio como acreditado pela população (ROCHA et al., 1994). A atividade de inibição da tirosinase de cogumelo in vitro pode vir a ser aplicada contra melanomas, se realizados os testes em melanócitos humanos para a confirmação dessa atividade (BAURIN et al., 2002). Composição Química: Foram isolados da parte aérea da Potulaca pilosa os diterpenos majoritários pilosanona A, B (OHSAKI et al. 1987), e o diterpeno minoritário pilosanona C (OHSAKI et al. 1995). Da raiz foram isolados pilosanol A, B, C (OHSAKI et al., 1991).

12

Estado da Arte/State of the Art

Referências BAILEY, L.H. Manual of Cultivated Plants. New York. The Macmillan Co. Inc., p.1116,- 1949. BAURIN, N.; ARNOULT, E.; SCIOR, T.; DO, Q.T.; BERNARD, P. Preliminary screening of some tropical plants for anti-tyrosinase activity. Journal of Ethnopharmacology, v. 82, p.155-158, 2002.

Plantas Medicinais Brasileiras. II. Portulaca pilosa L. (Amor-crescido)

P.E.; Yatskievych, K. & Holst, B.K. The Missouri Botanical Garden Press, St. Louis, p.874, 2004. UFPA: Universidade Federal do Pará, site oficial. Disponível em: Acesso em: 08/11/2008.

DA SILVA, F.A.; LANGELOH, A.; GONZALEZ O.G.; PETROVICK, P.R. Obtenção e caracterização de extratos de Portulaca pilosa (Amor-crescido). XV Simpósio de Plantas Medicinais do Brasil, Águas de Lindóia, Programa e Resumos p.185,1998. MORS, B.W; RIZZINI, T.C; PEREIRA, A.N. Medicinal Plants of Brazil. Reference Publications, Inc., EUA, p.289, 2000. NATURELE COSMÉTICOS. Disponível em: < h t t p : / / w w w. n a t u r e l e . c o m . b r / p ro d u t o s . asp?produto=47>. Acesso em 08/11/2008. OHSAKI, A.; KASETANI, Y.; ASAKA, Y.; SHIBATA, K.; TOKOROYAMA, T.; KUBOTA, T.A diterpenoid from Portulaca pilosa. Phytochemistry, v.40, p.205207, 1995. OHSAKI, A.; KASETANI, Y.; ASAKA, Y.; SHIBATA, K.; TOKOROYAMA, T.; KUBOTA, T. Clerodane diterpenoides from de roots of Portulaca pilosa L. Phytochemistry, v.30, p.4075-4077, 1991. OHSAKI, A.; SHIBATA, K.; TOKOROYAMA, T.; KUBOTA, T. Structure of pilosanones A and B: novel diterpenoides with a bicyclo[5.4.0]undecane skeleton from Portulaca pilosa L. Journal of the Chemical Society, Chemical Communication, v.3, p.1511533, 1987. REVILLA, J. Plantas Úteis da Bacia Amazônica. Ed. SEBRAE-AM/INPA, Manaus, p.532, 2002. ROCHA, M.J.A.; FULGENCIO, S.F.; RABETTI, A.C.; NICOLAU, M.; POLI, A.; SIMÕES, C.M.O. Effects of hidroalcoolic extract of Portulaca pilosa L. and Achyrocline satureioides on urinary sodium and potassium excretion. Journal of Ethnopharmacology, v.43, p.179-183, 1994. STEYEMARK, J.A. Portulacaceae.In: Flora of the Venezuelan Guayana. ed. Steyemark, J.A; Berry, 128

Revista Fitos

Vol.4 Nº01 março 2009

Estado da Arte / State of the Art

Plantas Medicinas Brasileiras. III. Heteropterys aphrodisiaca Machado (Nó-de-cachorro) Brazilian Medicinal Plants. III. Heteropterys aphrodisiaca Machado (Nó-de-cachorro)

*1Barata, L. E. S.; 2Alencar, A. A. J.; 2 Tascone, M.; 3Tamashiro, J.

1 Laboratório de Pesquisa e Desenvolvimento de Produtos Naturais, Instituto de Química, Universidade Estadual de Campinas, Cidade Universitária Zeferino Vaz, UNICAMP, C.P. 6154, 13083-970, Campinas, SP, Brasil. 2 Curso de Farmácia, Faculdade de Ciências Médicas, Universidade Estadual de Campinas, Cidade Universitária Zeferino Vaz, UNICAMP, Rua Tessália Vieira de Camargo, 126, 13083-887, Campinas, SP. Brasil. 3 Departamento de Botânica, Instituto de Biologia, Universidade Estadual de Campinas, Cidade Universitária Zeferino Vaz, UNICAMP, Rua Monteiro Lobato 255, 13083-862, Campinas, SP, Brasil.

*Correspondência: E-mail: [email protected]

Unitermos: Heteropterys aphrodisiaca, Malpighiaceae, Produtos Naturais, Planta Medicinal, Cosméticos, Nó-de-cachorro. Key Words: Heteropterys aphrodisiaca, Malpighiaceae, Natural Products, Medicinal Plant, Cosmetics, Nó-de-cachorro. 129 Revista Fitos

Vol.4 Nº01 março 2009

Resumo Este estudo se baseia na literatura científica convencional, e nas fontes dos principais congressos e simpósios brasileiros na área de plantas medicinais e aromáticas. Fez-se a revisão da literatura nos aspectos botânicos da composição química, seus principais usos populares e experimentos científicos para a espécie Heteropterys aphrodisiaca Machado (nó-de-cachorro). Os principais aspectos científicos desta espécie foram compilados com o objetivo de evidenciar seu potencial como matéria-prima para as indústrias farmacêuticas e de cosméticos.

Abstract This study presents a literature review on the botanical aspects, chemical composition, and the main popular as well as experimentally proven uses up to now, on the species Heteropterys aphrodisiaca Machado (nó-de-cachorro). The main scientific aspects on the species were compiled aiming to bring about its potential as raw material for the pharmaceutical and cosmetic industries. Moreover the conventional scientific journals there were included the information collected from the main Brazilian congresses and symposiums, in the field of medicinal and aromatic plants. Família: Malpighiaceae. Botânica: Arbusto com ramos longos e pendentes, folhas com disposição opostas, flores dispostas em inflorescências terminais. Suas pétalas amarelas tornam-se vermelhas quando velhas. Frutos arranjados geralmente em três frutículos, com a semente na porção basal e uma asa na terminal. O nome popular é proveniente de suas raízes que são engrossadas e semelhantes a um colar ou pênis canino (POTT; POTT, 1994) Distribuição Geográfica: Ocorre nos cerradões de Mato Grosso e Goiás em solos distróficos. Uso etnomédico: As raízes da Heteropteris aphrodisiaca são Revista Fitos

Vol.4 Nº01 março 129 2009

Estado da Arte/State of the Art

utilizadas pela população matogrossense tendo, como veículo, bebidas alcóolicas. A planta é usada no tratamento de ácido úrico, debilidades nervosas, doenças venéreas, males uterinos, antidisentérica, tônico e como afrodisíaco (ARRUDA; CAMARGO, 2000a; 200b). Benzedeiras, parteiras e raizeiras utilizam partes desta planta, como as folhas, em chás e banhos. Estas formas de uso são indicadas para males e enfermidades como: depurativo do sangue, diarréia, reumatismo, estimulante sexual (MACEDO; FERREIRA, 2000; NETO et al., 2000), estimulante do SNC e energético. No cerrado do Mato Grosso, a raiz e folhas jovens da planta são utilizadas para irritação e inflamação ocular, assim como para agravos da catarata (MACEDO et al., 2004). Utiliza-se o cálice das flores na forma de chás, e estes tem ação antiespasmódica, diurética, digestiva, laxante suave e aromatizante. A planta é também empregada na indústria alimentícia; para a fabricação de geléias, licores, vinhos e molhos picantes (GALVÃO et al., 1998). A planta é sobretudo utilizada com fins medicinais e a sua importância é refletida pelas três patentes solicitadas ao INPI (CARLINI, 2003; BIOSINTETICA; UNIFESP, 2000) duas sobre processos de obtenção, uma delas por uma empresa farmacêutica e outra que indica suas propriedades farmacológicas de ação virucida, antifúngica e antibacteriana Farmacologia e Atividade Biológica: Foi verificado que H. aphrodisiaca, após tratamento agudo em camundongos, apresentou efeito estimulante por via oral, não alterando a coorde-

Plantas Medicinas Brasileiras. III. Heteropterys aphrodisiaca Machado (Nó-de-cachorro)

nação motora e o tempo de sono, demonstrando uma possível ausência de efeito tóxico (GALVÃO et al., 1998). Estudos mostraram que o extrato das raízes de H. aphrodisiaca apresenta propriedade antioxidante cerebral, sendo usada como protetora de lesões oxidativas em cérebros de ratos jovens, por inibir a interação dos radicais livres com as biomoléculas presentes no cérebro (MATTEI et al., 2001). Este mesmo extrato foi capaz de melhorar a memória e o aprendizado de ratos idosos (GALVÃO et al., 2002). Pesquisas revelaram que o nitrocomposto 2,3,4,6-tetra-O(3-nitropropanoil)-ß-D-glicopiranose obtido do extrato BST-0402 das raízes de H. aphrodisiaca, possui atividade antibacteriana contra Staphylococcus aureus e Bacillus subtilis, atividade antifúngica contra Candida albicans, C. parapslosis, C. krusei e C. tropicalis e atividade antiviral contra o Poliovírus Hep2 (ROMAN JR., 2003; DE MELLO et al., 2005). A partir do extrato BST0298 também se obteve um nitrocomposto com atividade antiviral contra o Poliovírus e contra o BHV-1 (herpes bovino tipo 1), além de uma fração aquosa com atividade virucida, por inibir a formação de plaques (MELLO, 2004). Composição Química: Em H. aphrodisiaca foi detectada a presença de flavonóides, antracenos, polifenóis, taninos e cardiotônicos. O isolamento de substâncias fenólicas do extrato total de H. aprodisiaca foi feito por cromatografia em coluna, onde foram isoladas três substâncias identificadas como sendo dihidroflavonóides astilbina, neoastiobina e isoastiobina (Tabela 1) (PIERI et al., 2000; MARQUES et al., 2007).

Tabela 1 – Diidroflavonóides de Heteropterys aphrodisiaca

10

Revista Fitos

Vol.4 Nº01 março 2009

Estado da Arte/State of the Art

Referências ARRUDA, J.B.; ALBUQUERQUE, M.C.F.; CAMARGO, I.P. . Efeito de substratos sobre a germinação de sementes de nó-de-cachorro. In: 40º Congresso Brasileiro de Olericultura; 1º Simpósio Latino-Americano de produção de plantas medicinais, aromáticas e condimentares, São Pedro. Horticultura Brasileira, v.18. p.891-892, 2000. ARRUDA, J.B.; CAMARGO, I.P. O efeito da temperatura sob a germinação de sementes de nó-decachorro. XVI Simpósio de Plantas Medicinais do Brasil, UFPE, Recife, Anais do Congresso, p.80, 2000. BIOSINTÉTICA; UNIFESP: Lab. Biosintética Ltda.; Universidade Federal de São Paulo. Extratos hidroalcoólicos da Heteropteris aphrodisiaca (nóde-cachorro). Patente Brasil, Protocolo INPI nº 98035518-A, 08/02/2000. CARLINI, E.A. Modo de obtenção de um extrato seco nebulizado de H. aphrodisiaca. Patente Brasil, Protocolo INPI nº 200103316-A, 13/05/2003. DE MELLO, P.J.C.; CARDOSO M.L.C.; NAKAMURA C.V.; ROMAN W.A.; LINHARES R.E.C. Processo de isolamento e obtenção de uma nova substância com ação virucida, antifúngica e antibacteriana a partir da Heteropteris aphrodisica. Patente Brasil, Protocolo INPI nº 200302921-A, 12/04/2005. GALVÃO, S.M.P.; OLIVEIRA, M.G.M.; MARQUES, L.C.; CARLINI, E.A. Avaliação Farmacológica Preliminar de Nó-de-cachorro. XV Simpósio de Plantas Medicinais do Brasil, Águas de Lindóia, Anais do Simpósio, p.68, 1998. GALVÃO, S.M.P.; MARQUES, L.C.; OLIVEIRA, M.G.M.; CARLINI, E.A. Heteropteris aphrodisiaca (extract BST0298): a Brazilian plant that improves memory in aged rats. Journal of Ethnopharmacology, v.79, p.305-311, 2002. MACEDO, M.; FERREIRA, A.R. Nó-de-cachorro: Uma espécie usada na medicina popular em Mato Grosso, Brasil. 2000. XVI Simpósio de Plantas Medicinais do Brasil, UFPE, Recife, Anais do Simpósio, p.90, 2000.

Plantas Medicinas Brasileiras. III. Heteropterys aphrodisiaca Machado (Nó-de-cachorro)

A.R. Heteropteris aphrodisiaca Machado usada no tratamento oftálmico em área de cerrado, Mato Grosso Brasil. XVIII Simpósio de Plantas Medicinais do Brasil, Manaus, Anais do Simpósio, p.419, 2004. MARQUES, L.C.; DE PIERI, C.; ROMAN-JÚNIOR, W.A.; CARDOSO, M.L.C.; MILANEZE-GUTIERRE, M.A.; MELLO J.C.P. Controle farmacognóstico das raízes de Heteropteris aphrodisiaca O. Mach. (Malpighiaceae). Revista Brasileira de Farmacognosia, v.17, p.604-615, 2007. MATTEI, R.; BARROS, M.P.; GALVÃO, S.M.P.; BECHARA, E.J.H.; CARLINI, E.L.D. Effects of extract BST 0298 on the oxidative stress of young and old rat brains. Phytotherapy Research, v.15, p.604607, 2001. MELLO, F.L. Avaliação da atividade antiviral de compostos isolados de Heteropteris aphrodisiaca O. MACH (Malpighiaceae). Tese (Mestrado), Universidade Estadual de Londrina, Londrina, PR, 51 pp., 2004. NETO, G.G.; PASA, C.M.; RAMOS, L.P.E.M.; SILVA, B.V.J. Garrafadas afrodisíacas do cerrado de Mato Grosso: II. Nó-de-cachorro. XVI Simpósio de Plantas Medicinais do Brasil, UFPE, Recife, p.89, 2000. PIERI, D.C.; RABELO, E.P.; MUNDO, R.S.; BORGES, C.J; CARDOSO, C.L.M.; MARQUES, C.L.; MELLO, P.C.J. Análise Farmacognóstica e Identificação de Dihidroflavonóides em liofilizado de H. aphrodisiaca. XVI Simpósio de Plantas Medicinais do Brasil, UFPE, Recife, p.183, 2000. POTT, A.; POTT, V.J. Plantas do Pantanal. Ed. EMBRAPA, Agropecuária do Pantanal, Corumbá, MS, 320 pp., 1994. ROMAN JR., W.A. Identificação de nitrocomposto de di-hidroflavonóis, atividade antibacteriana, antifúngica e antiviral de substâncias isoladas dos extratos liofilizados das raízes de Heteropteris aphrodisiaca O. March., Malpighiaceae, Nó-de-cachorro. Tese (Mestrado), Universidade Estadual de São Paulo, Araraquara, p.32-33, 2003.

MACEDO, M.; GUARIM NETO, G.; FERREIRA, Revista Fitos

Vol.4 Nº01 março 2009

131

Estado da Arte / State of the Art

Plantas Medicinais Brasileiras. IV. Annona muricata L. (Graviola) Brazilian Medicinal Plants. IV. Annona muricata L. (Graviola)

*1Barata, L. E. S.; 2Alencar, A. A. J.; 2 Tascone, M.; 3Tamashiro, J.

Laboratório de Pesquisa e Desenvolvimento de Produtos Naturais, Instituto de Química, Universidade Estadual de Campinas, Cidade Universitária Zeferino Vaz, UNICAMP, C.P. 6154, 13083-970, Campinas, SP, Brasil. 1

Curso de Farmácia, Faculdade de Ciências Médicas, Universidade Estadual de Campinas, Cidade Universitária Zeferino Vaz, UNICAMP, Rua Tessália Vieira de Camargo, 126, 13083-887, Campinas, SP. Brasil.

Resumo Este estudo se baseia na literatura científica convencional, e nas fontes dos principais congressos e simpósios brasileiros na área de plantas medicinais e aromáticas. Fez-se a revisão da literatura nos aspectos botânicos da composição química, seus principais usos populares e experimentos científicos para a espécie Annona muricata L. (graviola). Os principais aspectos científicos desta espécie foram compilados com o objetivo de evidenciar seu potencial como matéria-prima para as indústrias farmacêuticas e de cosméticos.

Abstract

2

Departamento de Botânica, Instituto de Biologia, Universidade Estadual de Campinas, Cidade Universitária Zeferino Vaz, UNICAMP, Rua Monteiro Lobato 255, 13083-862, Campinas, SP, Brasil. 3

This study presents a literature review on the botanical aspects, chemical composition, and the main popular as well as experimentally proven uses up to now, on the species Annona muricata L. (graviola). The main scientific aspects on the species were compiled aiming to bring about its potential as raw material for the pharmaceutical and cosmetic industries. Moreover the conventional scientific journals there were included the information collected from the main Brazilian congresses and symposiums, in the field of medicinal and aromatic plants. Família: Annonaceae.

*Correspondência: E-mail: [email protected]

Unitermos: Annona muricata, Annonaceae, Produtos Naturais, Planta Medicinal, Cosméticos, Graviola. Key Words: Annona muricata, Annonaceae, Natural Products, Medicinal Plant, Cosmetics, Graviola. 132

Botânica: Árvore de aproximadamente 6 m de altura, copa pequena e poucos ramos, folhas com disposição alternada, e arranjadas em um único plano (filotaxia alterna dística) de tamanho 12-16 de comprimento por 4-8cm de largura, com presença de pêlos de cor ferrugíneos e brilhantes. Flores de aproximadamente 6 cm, de cor amarelada, sépalas em número de três e pétalas disposta em duas séries de três de coloração amarelada. Os estames e os carpelos numerosos dispostos em um receptáculo hemisférico, sendo os estames localizados na porção basal e os carpelos na apical (PRANCE; SILVA, 1976; CAVALCANTE, 1976; STEYEMARK et al., 1997). Frutos grandes, normalmente chegando a pesar até 8 kg (CAVALCANTE, 1976). É consumido in natura e também é muito apreciado na forma de sorvete, sucos e compotas. Distribuição Geográfica: Antilhas como sendo sua origem e atualmente cultivada na região amazônica (STEYEMARK et al., 1997). Revista Fitos

Vol.4 Nº01 março 2009

Estado da Arte/State of the Art

Uso etnomédico: A eficácia e segurança das preparações populares com a Annona muricata não foram ainda comprovadas cientificamente, apesar das folhas, ao contrário da fruta, serem consideradas potencialmente tóxicas para o homem. O decoto das folhas é muito utilizado contra diarréia e espasmos, e o chá é empregado como agente emagrecedor e como medicação contra alguns tipos de câncer. Suas sementes são usadas com função emética e adstringente, e suas cascas como antidiabéticas e espasmolíticas (LORENZI; MATOS, 2002). As flores e também as folhas são utilizadas para tosse e problemas no trato respiratório inferior (MORS et al., 2000). As folhas da A. muricata são utilizadas na medicina popular por possuírem ações parasiticida, anti-reumática, antinevrálgica, adstringente e emética (DE CARVALHO et al., 2000). O chá das folhas de graviola é utilizado como sedativo, expectorante e broncodilatador (QUEIROZ et al., 1988). Emprega-se a fruta na indústria alimentícia para a elaboração de sucos, sorvetes e doces (MAUL et al., 2000). O suco da fruta é utilizado como diurético. Acredita-se que ele melhora males do fígado e lepra. Seus frutos imaturos, por serem adstringentes, são utilizados contra disenteria. A raiz da planta é utilizada como vermífugo (MORTON, 1987). Na América Central é utilizada pela medicina tradicional como anti-séptico, cicatrizante, contra dermatose e febre da malária (WÉLÉ et al., 2004). Uso em cosméticos: Pedidos de patentes sugerem que a Annona muricata tenha uso em cosméticos. A graviola foi selecionada, juntamente com outras plantas como Calophyllum brasiliense Cambess., Cleome hassleriana Chodat e Myrcia sphaerocarpa DC, para a obtenção de um produto que previna a degeneração e diminuição do colágeno, ou seja, um produto com atividade inibidora da colagenase, enzima esta que influencia no envelhecimento da pele (KOBAYASHI; UMISHIO, 2001). Outra formulação cosmética, baseada nesta mesma ação biológica da planta (inibição da atividade da colagenase) sugere uso contra o envelhecimento da pele atuando na diminuição das rugas e no aumento da firmeza da pele (NONOGAWA, 2001). Pesquisas também revelam que um produto de uso externo, obtido da mistura de Annona muricata com outras plantas como Calophyllum brasiliense Cambess., Quassia amara L., Fleurya aestuans (L.) Gaud., Myrcia sphaerocarpa DC e Hyptis crenata Pohl ex Benth, possuem atividade inibidora da gelatinase, promovendo também a prevenção do envelhecimento da pele (KOBAYASHI; UMISHIO, 2001). Farmacologia e Atividade Biológica: A Annona Revista Fitos

Vol.4 Nº01 março 2009

Plantas Medicinais Brasileiras. IV. Annona muricata L. (Graviola)

muricata é rica em compostos bioativos que apresentam atividades antitumoral, antifúngica, antiviral e de inibição de enzimas, cujas funções estão intimamente relacionadas com a conformação molecular destes ciclopeptídeos (WU et al., 2007); além de outras atividades como antibacteriana, antiparasitária, antiespasmódica, citotóxica, hipotensiva, vasodilatadora (DE CARVALHO et al., 2000), imunossupressora (KIM et al., 1998) e pesticida (KIM et al., 1998; ABDULLAH; SINA, 2003). A lectina, uma glicoproteína isolada das sementes da A. muricata, é capaz de aglutinar eritrócitos humanos e inibir o crescimento de alguns fungos, como Fusarium oxysporum, Fusarium solani e Colletotrichum musae (DAMICO et al., 2003). O extrato etanólico das folhas da Annona muricata possui uma potente atividade antioxidante in vitro, o que lhe confere um importante papel na captação de radicais livres, aumentando o seu efeito terapêutico (BASKAR et al., 2007). Em experimentos realizados com camundongos e suínos, avaliou-se o efeito tóxico do chá das folhas de graviola, administrado por via oral, sobre parâmetros sanguíneos, urinários e histopatológicos. No que se refere ao hemograma, constatou-se um grande aumento na porcentagem de linfócitos nos animais, o que poderia sugerir a presença de substâncias capazes de induzir a síntese ou inibir a degradação de hormônios tireoidianos ou ainda deprimir a produção hormonal da adrenal. Nos camundongos os resultados ainda revelaram uma diminuição significativa dos níveis séricos de proteínas, diminuição do volume de urina e diminuição da eliminação de creatinina (QUEIROZ et al., 1988). A. muricata apresenta atividade citotóxica sobre células tumorais de diversos tipos de câncer, demonstrando um efeito citotóxico 10.000 vezes maior que a adriamicina, usada como fármaco de referência. O extrato da A. muricata foi capaz de produzir supressão dosedependente no crescimento de colônias de precursores hematopoéticos para granulócitos/macrófagos, o que permite sugerir que a A. muricata possui potencial mielotóxico in vitro (MINAMI et al., 2004). São principalmente as acetogeninas que possuem este potencial antineoplásico (YU et al., 1997; LI et al., 2001). As acetogeninas, muricoreacina e murihexocina C, ambas isoladas das folhas, mostraram-se citotóxicas contra adenocarcinoma de próstata. A murihexocina C também revelou citotoxidade contra o carcinoma pancreático (KIM et al., 1998). Já as acetogeninas anocatacina A, anocatacina B (CHANG et al., 2003), anocatalina, muricina I (LIAW et al., 2002), muricinas (A-G), longifolicina, corossolina, corossolona e uma mistura de muricatetrocina A e B (CHANG; WU, 2001) apresentaram citotoxidade seletiva in vitro frente ao hepatoma celular humano (CHANG et 133

Estado da Arte/State of the Art

al., 2003; LIAW et al., 2002; CHANG; WU, 2001). Algumas patentes solicitadas requerem as acetogeninas isoladas da A. muricata como citotóxicas para várias linhagens de células tumorigênicas humanas (WU, 2003). A anonacina, uma acetogenina contida na A. muricata, é um inibidor lipofílico do complexo I da cadeia respiratória mitocondrial. Em estudos realizados em camundongos, esta acetogenina provocou lesões cerebrais similares às lesões presentes em pacientes com o Mal de Parkinson atípico. Estes dados são compatíveis com a teoria de que acetogeninas de anonáceos podem implicar na etiologia do Mal de Parkinson de Guadalupe e suportar a hipótese de que algumas formas desta doença podem ser induzidas por toxinas ambientais (CHAMPY et al., 2004; CHAMPY et al., 2005). Como indicação do potencial de toxicidade, um adulto que consuma uma fruta de Graviola por dia, em um ano ingere uma quantidade de anonacina equivalente à que foi capaz de induzir lesões cerebrais em camundongos que receberam esta substância por via intravenosa (CHAMPY et al., 2005). Outro estudo realizado demonstra que a anonacina promove a morte de neurônios dopaminérgicos, por diminuição da produção de energia, sendo também ressaltado neste artigo seu possível papel na etiologia de algumas formas do Mal de Parkinson atípico de Guadalupe (LANNUZEL et al., 2003; LANNUZEL et al., 2003). O pedido de patente relativo à obtenção de um extrato útil para o tratamento de insuficiência cardíaca com alta segurança, devido à sua baixa influência na pressão sanguínea, por extração das folhas da A. muricata L, sugere sua utilidade em problemas cardíacos (KOUBOU; NIIJIMA, 1981). O extrato de acetato de etila do pericarpo da Annona muricata revelou uma interessante atividade antileishmania, sendo mais efetivo que a Glucantime®, usada como fármaco de referência (JARAMILLO et al., 2000).O extrato etanólico possui capacidade para inibir o efeito citopático do HSV-1 (Herpes sim-

14

Plantas Medicinais Brasileiras. IV. Annona muricata L. (Graviola)

plex vírus-1) em células vero (linhagem de células experimentais de rim de macaco), em uma concentração mínima de 1 mg/mL (PADMA et al., 1998). Extratos etanólicos das folhas de Annona muricata foram ensaiados com o caramujo Biomphalaria glabrata adulto e sua desova. A atividade moluscicida apresentada pelo extrato foi bastante significativa, com DL50 11,86 (DE CARVALHO et al., 2000; DOS SANTOS et al., 1998a) e de DL90 inferior a 20 ppm para o molusco adulto, indicando a faixa de atividade dentro do preconizado pelas normas da Organização Mundial de Saúde (WHO, 1995) (DOS SANTOS et al., 2000). Esta atividade é devida às seguintes acetogeninas: anonacina (90 %), isoanonacina (6%) e goniotalamicina (4%) encontradas no extrato (LUNA et al., 2006). O extrato etanólico bruto das folhas de Annona muricata também se revelou tóxico para larvas do mosquito Aedes aegypti (LUNA et al., 2003) e efetiva nos bioensaios com larvas de Artemia salina (LUNA et al., 2006; LUNA et al., 2003; DOS SANTOS et al., 1998b). Composição Química: No fruto da A. muricata são encontrados açúcares, taninos, ácido ascórbico (vitamina C), pectinas e vitaminas A (beta-caroteno) e do complexo B. O óleo obtido do fruto contém ésteres e compostos nitrogenados como as substâncias responsáveis pelo aroma. Estudos fitoquímicos revelam que as folhas contêm até 1,8% de óleo essencial rico em gama-cadineno e alfa-elemeno (LORENZI; MATOS, 2002). Foram identificados como componentes voláteis liberados pelos frutos da graviola três ésteres: hexanoato de metila, 2-hexenoato de metila e 2-hexenoato de etila (SILVA et al., 1997). Nas folhas, casca e raiz; encontram-se diversos alcalóides como reticulinas, coreximina, coclarina e anomurina. Nas sementes são encontrados ciclopeptídeos como anomuricatina B (LI et al., 1998), hexapeptídeos cíclicos como anomuricatina A (WU et al., 2007) e C (WÉLÉ et al., 2004) e diversas acetogeninas que também são encontradas nas folhas, casca e raízes (LORENZI; MATOS, 2002).

Revista Fitos

Vol.4 Nº01 março 2009

Estado da Arte/State of the Art

As acetogeninas são uma série de derivados de ácidos graxos C35/C37. Essas são classificadas em cinco tipos principais de acordo com a posição dos anéis tetrahidrofurano (THF), como non-THF, mono-THF, adjacente bis-THF, non-adjacente bisTHF e tri-THF (WU et al., 2007). A anonacina é a acetogenina majoritária (CHAMPY et al., 2004) e também a mais ativa presente na planta (LORENZI; MATOS, 2002). Além disso, as sementes da graviola são ricas em ácidos graxos neutros, o que

Plantas Medicinais Brasileiras. IV. Annona muricata L. (Graviola)

dificulta a extração de acetogeninas e outros princípios ativos pelo processo clássico de extração por solventes. A extração por CO2 supercrítico pode ser uma alternativa para a obtenção de extratos lipídicos de acetogeninas das sementes de graviola, porém estudos ainda estão sendo realizados para que esta extração tenha aplicabilidade farmacológica (MAUL et al., 2000). As estruturas químicas das acetogeninas farmacologicamente ativas estão na Figura 1 (*).

Figura 1 – Acetogeninas que apresentam atividade farmacológica

(*) Desenhos de estruturas: fontes utilizadas (Acesso em 13/02/2008): http://dnp.chemnetbase.com/dictionary-search.do;jsessionid=58ABBE26762E1CFF591FC69D5F648B4B?method=view&id=6311 01 http://books.google.com/books?id=U_Mdo_NjAHUC&pg=PA409&lpg=PA409&dq=muricatetrocin+A+structure&source=web& ots=MOjuqdNmjw&sig=d1ZMD1ysIM3bMBGi-VXpLW3IeJg Revista Fitos

Vol.4 Nº01 março 2009

1

Estado da Arte/State of the Art

• A muricina B é 4-epímero da muricina A. • A anocatacina B é 18,19-diepímero da anocatacina A. • A murehexocina C é diasteroisômero da murihexocina A. • A longifolicina é 4-deoxi-goniothalamicina. • A corossolona é 4-deoxi-10-cetona-anonacina. • A corossolina é 4-deoxi-anonacina. • A isoanonacina é 20-epímero da isoanonacina A. 1

Plantas Medicinais Brasileiras. IV. Annona muricata L. (Graviola)

Referências ABDULLAH, F.; SINA, I. The potential of soursop seed extract Annona muricata Linn as a biopesticide against aphids Aphis gossypii glover (Homoptera: Aphididae) on chilly. Malaysian Journal of Science, v.22, n.2, p.11-16, 2003. BASKAR, R.; RAJESWARI, V.; KUMAR, T.S. In vitro antioxidant studies in leaves of Annona speRevista Fitos

Vol.4 Nº01 março 2009

Estado da Arte/State of the Art

cies. Indian Journal of Experimental Biology, v.45, p.480-485, 2007. CAVALCANTE, P.B. Frutas comestíveis da Amazônia, 2ª ed. Ed. Museu Paraense Emilio Goeldi, Belém, p.24-26, 1976. CHAMPY, P.; HÖEGLINGER, G.U.; FEGER, J.; GLEYE, C.; HOCQUEMILLER, R.; LAURENS, A.; GUERINEAU, V.; LAPREVOTE, O.; MEDJA, F.; LOMBES, A.; MICHEL, P.P.; LANNUZEL, A.; HIRSCH, E.C.; RUBERG, M. Annonacin, a lipophilic inhibitor of mitochondrial complex I, induces nigral and striatal neurodegeneration in rats: Possible relevance for atypical parkinsonism in Guadeloupe. Journal of Neurochemistry, v.88, p.63-69, 2004. CHAMPY, P.; MELOT, A.; GUÉRINEAU, E.V.; GLEYE, C.; FALL, D.; HÖGLINGER, G. U.; RUBERG, M.; LANNUZEL, A.; LAPRÉVOTE, O.; LAURENS, A.; HOCQUEMILLER, R. Quantification of acetogenins in Annona muricata linked to atypical parkinsonism in guadeloupe. Movement Disorders, v.20, n.12, p.1629-1633, 2005. CHANG, F.R.; LIAW, C.C.; LIN, C.Y.; CHOU, C.J.; CHIU, H.F.; WU, Y.C. New adjacent bis-tetrahydrofuran annonaceous acetogenins from Annona muricata. Planta Medica, v.69, p.241-246, 2003. CHANG, F.R.; WU, Y.C. Novel cytotoxic annonaceous acetogenins from Annona muricata. Journal of Natural Products, v.64, n.7, p.925-931, 2001. DAMICO, D.C.; FREIRA, M.G.; GOMES, V.M.; TOYAMA, M.H.; MARANGONI, S.; NOVELLO, J.C.; MACEDO, M.L. Isolation and characterization of a lectin from Annona muricata seeds. Journal of Protein Chemistry, v.22, p.655-661, 2003. DE CARVALHO, J.M.; DOS SANTOS, A.F.; SANT’ANA, A.E.G. Estudo da atividade moluscicida da Annona muricata. XXIII Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Química, Poços de Caldas, Anais do Congresso, QB-028, 2000. DOS SANTOS, A.F.; DIAS, R.C.; DE CARVALHO, J.M.; DO NASCIMENTO, R.R.; DE LIMA, I.S.; SANT’ANA, A.E.G. Atividade Moluscicida de Plantas da Família Annonaceae. XV Simpósio de plantas Medicinais do Brasil, Águas de Lindóia, Anais do Congresso, p.118, 1998a. Revista Fitos

Vol.4 Nº01 março 2009

Plantas Medicinais Brasileiras. IV. Annona muricata L. (Graviola)

DOS SANTOS, A.F.; DIAS, R.C.; DE CARVALHO, J.M.; SANT’ANA, A.E.G. Estudo da Toxicidade de Plantas Medicinais frente a Artemia salina. XV Simpósio de Plantas Medicinais do Brasil, Águas de Lindóia, Anais do Congresso, p.118, 1998b. DOS SANTOS, A.F.; FRANÇA, A.K.R.; DIAS, R.C.; PEREIRA, S.S.; SANT’ANA, A.E.G. O Potencial Moluscicida das Anonas. XXIII Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Química, Poços de Caldas, Anais do Congresso, PN-131, 2000. JARAMILLO, M.C.; ARANGO, G.J.; GONZÁLEZ, M.C.; ROBLEDO, S.M.; VELEZ, I.D. Cytotoxicity and antileishmanial activity of Annona muricata pericarp. Fitoterapia, v.71, p.183-186, 2000. KIM, G.S.; ZENG, L.; ALALI, F.; ROGERS, L.L.; WU, F.E.; SASTRODIHARDJO, S.; MCLAUGHLIN J.L. Muricoreacin and murihexocin C, mono-tetrahydrofuran acetogenins, from the leaves of Annona muricata in honour of professor G.H. Neil Towers 75th birthday. Phytochemistry, v.49, p.565-571, 1998. KOBAYASHI, K.; UMISHIO, K. Collagenase activity inhibitor. Japan Patente Application 03/07/2001, Protocolo nº 2001181129-A, Japão. KOBAYASHI, K.; UMISHIO, K. Gelatinase activity inhibitor and anti-aging skin preparation for external use. Japan Patent Application 26/06/2001, Protocolo nº 2001172157-A. KOUBOU, N.; NIIJIMA, K. Preparation of crude extract containing cardiac active substance. Japan Patent Application 11/11/1981, Protocolo nº 56145219-A. LANNUZEL, A.; MICHEL, P.P.; HÖGLINGER, G.U.; CHAMPY, P.; JOUSSET, A.; MEDJA, F.; LOMBES, A.; DARIOS, F.; GLEYE, C.; LAURENS, A.; HOCQUEMILLER, R.; HIRSCH, E.C.; RUBERG, M. The mitochondrial complex I inhibitor annonacin is toxic to mesencephalic dopaminergic neurons by impairment of energy metabolism. Neuroscience, v.121, p.287-296, 2003. LI, C.M.; TAN, N.H.; ZHENG, H.L.; MU, Q.; HAO, X.J.; HE, Y.N.; ZOU, J. Cyclopeptide from the seeds of Annona muricata. Phytochemistry, v.48, p.555-556, 1998. LI, D. Y.; YU, J. G.; ZHU, J.X.; YU, D.L.; LUO, X. Z.; 137

Estado da Arte/State of the Art

SUN, L.; YANG, S.L. Annonaceous acetogenins of the seeds from Annona muricata. Journal of Asian Natural Product Research, v.3, p.267-276, 2001. LIAW, C.C.; CHANG, F.R.; LIN, C.Y.; CHOU, C.J.; CHIU, H.F.; WU, M.J.; WU, Y.C. New cytotoxic monotetrahydrofuran annonaceous acetogenins from Annona muricata. Journal of Natural Products, v.65, n.4, p.470-475, 2002. LORENZI, H.; MATOS, F.J.A. Plantas Medicinais do Brasil Nativas e Exóticas. Ed. Instituto Plantarum de Estudos da Flora Ltda., Nova Odessa, p.6061, 2002. LUNA, J.S.; BIEBER, L.W.; SANT’ANA, A.E.G. Estudo fitoquímico do extrato etanólico das folhas da Annona muricata guiado por bioensaios. XXVI Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Química, Poços de Caldas, Anais do Congresso, p.26, 2003. LUNA, J.S.; DE CARVALHO, J.M.; DE LIMA, M.R.; BENTO EDE, S.; FRANCK, X.; SANT’ANA, A.E.G. Acetogenins in Annona muricata L. (Annonaceae) leaves are potent molluscicides. Natural Products Reserach, v.20, p.253-257, 2006. MAUL, A.A.; COUTINHO, C.B.M.; BRAZZACH, M.L.; SILVA, C.M. Extração super crítica das sementes de graviola. XVI Simpósio de Plantas Medicinais do Brasil, UFPE, Recife, Anais do Congresso, p.174, 2000. MINAMI, K.P.; VALADARESM M.C.; QUEIROZ, M.L.S. Efeitos do fitoterápico Annona muricata sobre o crescimento e diferenciação de células hematopoéticas normais. XII Congresso Interno de Iniciação Científica, UNICAMP, Campinas, Anais do Congresso, B-137, 2004. MORS, B.W.; RIZZINI, T.C.; PEREIRA, A.N. Medicinal plants of Brazil. References Publications, Inc., p.13, 2000. MORTON, J.S. In: Fruits of warm climates. Ed. Julia F. Morton, Miami, FL, p.75–80, 1987. NONOGAWA, S.K.K. Cosmetic as anti-aging agent for skin, comprises plant extract having collagenase inhibitory action and fish originated collagen. Japan Patent Application 27/12/2001, Protocolo nº 2003192565-A.

Plantas Medicinais Brasileiras. IV. Annona muricata L. (Graviola)

KHOSA, R.L.; Effect of the extract of Annona muricata and Petunia nyctaginiflora on Herpes simplex. Journal of Ethnopharmacology, v.61, p.81-83, 1998. PRANCE, G.T.; SILVA, M.F. Árvores de Manaus. Ed. INPA, Manaus, p.44-48, 1975. QUEIROZ, N.A.; ALESSI, A.C.; SANT’ANA, A.E.; ZAMBIANCHI, A.R. Avaliação toxicológica do chá de graviola. 1988. X Simpósio de Plantas Medicinais do Brasil, São Paulo, Anais do Congresso, 5/ P52, 1988. SILVA, L.C.N.; MENDONÇA, S.M.L.; NASCIMENTO, R.L.; LIMA, I.S.; SANT’ANA, AE.G. Isolamento dos constituintes voláteis dos frutos da Annonaceae, Annona muricata (graviola). XX Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Química, Poços de Caldas, Anais do Congresso, PN-126, 1997. STEYEMARK, J.A; MAAS, P.J.M.; BERRY, P.E.; JOHNSON, D.M.; MURRAY, N.A; RAINER, H. Annonaceae in Flora of the Venezuelan Guayana. Ed. Steyemark, J.A; Berry, P.E.; Yatskievych, K. & Holst, B.K. The Missouri Botanical Garden Press, St. Louis, vol 2, pp.423, 1997. WÉLÉ, A.; ZHANG, Y.; CAUX, C.; BROUARD, J.P.; POUSSET, J.L.; BODO, B. Annomuricatin C, a novel cyclohexapeptide from the seeds of Annona muricata. Comptes Rendus Chimie, v.7, n.10-11, p.981-988, 2004. WHO: WORLD HEALTH ORGANIZATION. Moluscicide screening and evaluation. World Health Organization, v.33, p.565-581, 1995. WU, L.; LU, Y.; ZHENG, Q.T.; TAN, N.H.; LI, C.M.; ZHOU, J. Study on the spatial structure of annomuricatin A, a cyclohexapeptide from the seeds of Annona muricata. Journal of Molecular Structure, v.827, p.145-148, 2007. WU; Y.C. Cytotoxic annonaceous acetogenins from Annona muricata. U.S. Patent Application 31/07/2003, Protocolo nº 2003144348-A1. YU, J.G.; GUI, H.Q.; LUO, X.Z.; ZHU, P., YU, Z.L. Studies on the chemical constituents of Annona muricata. Yao Xue Xue Bao, v.32, n.6, p.431-437, 1997.

PADMA, P.; PRAMOD, N.P.; THYAGARAJAN, S.P.; 138

Revista Fitos

Vol.4 Nº01 março 2009

Instruções para os autores A Revista FITOS é um periódico dedicado à publicação de trabalhos científicos originais, e artigos de divulgação, revisão e atualização, de trabalhos científicos em Fitoterapia com aproveitamento da biodiversidade brasileira. A Revista custeará integralmente os trabalhos de até 15 páginas, incluindo tabelas e figuras. Acima deste número de páginas, as despesas correrão por conta do(s) autor(es). Não serão aceitas fotografias coloridas, a não ser que o(s) autor(es) custeiem sua publicação, independente do número de páginas do trabalho. 1. Normas Gerais 1.1 Os trabalhos enviados deverão ser inéditos, não sendo permitida a apresentação simultânea para outros periódicos. Reservam-se os direitos de publicação, inclusive de tradução, permitindo-se publicações posteriores com transcrição e a devida citação da fonte. 1.2 A Revista FITOS receberá para publicação trabalhos científicos originais e artigos de divulgação, revisão e atualização, redigidos em Língua Portuguesa. O conteúdo dos textos é de inteira responsabilidade dos autores, não refletindo obrigatoriamente a opinião do Editor-chefe e dos membros do Conselho Editorial.

de fotografias ou desenhos feitos a mão livre, estes deverão ser colocados em envelopes à parte, em perfeito estado e devidamente identificados no verso, a lápis. 2.3 As tabelas e os quadros deverão ser apresentados em folhas separadas e numerados consecutivamente em algarismos arábicos. As tabelas (dados numéricos) não podem ser fechadas por linhas laterais. As respectivas legendas deverão ser claras, concisas, sem abreviaturas e localizadas na parte superior dos mesmos. Deverão ser indicados os locais aproximados no texto, onde as tabelas e os quadros serão intercalados, preferentemente, logo após sua citação no corpo do trabalho. 3. Formatação do Texto e Conteúdo do Trabalho

1.3 A Revista FITOS reserva o direito de submeter todos os manuscritos à apreciação de consultores ad hoc, cujos nomes permanecerão em sigilo absoluto, e que dispõem de plena autoridade para decidir sobre a pertinência de sua aceitação, podendo, inclusive, reapresentá-Ios aos autores com sugestões para que sejam feitas as alterações necessárias e/ou para que os mesmos sejam adequados às normas editoriais da Revista. Os trabalhos que não forem selecionados para publicação serão devolvidos aos autores. 1.4 Qualquer conceito emitido nos trabalhos publicados serão de responsabilidade exclusiva dos autores, não refletindo obrigatoriamente a opinião do Editor-chefe e do Conselho Editorial. 1.5 Todos os trabalhos que envolvam estudos em humanos ou animais deverão estar acompanhados dos Pareceres dos Comitês de Ética de Pesquisa em Seres Humanos ou em Animais das instituições a que pertencem os autores, autorizando tais estudos. 2. Normas para Elaboração das Contribuições 2.1 Os autores deverão manter uma cópia dos manuscritos em seu poder, em caso de eventual extravio daquele enviado à revista. 2.2 As figuras (fotografias, gráficos, desenhos etc.) deverão ser apresentadas em folhas separadas e numeradas consecutivamente em algarismos arábicos. As respectivas legendas deverão ser claras, concisas, sem abreviaturas e localizadas abaixo das figuras. Deverão ser indicados os locais aproximados no texto, onde as figuras serão intercaladas, preferentemente, logo após sua citação no corpo do trabalho. No caso

Revista Fitos

Vol.4 Nº01 março 2009

3.1 Os originais deverão ser redigidos na ortografia oficial e digitados em folhas de papel tamanho A4, espaço duplo, fonte tipo Times New Roman, tamanho 12, com texto justificado, margem de 2 cm em cada um dos quatro lados, e perfazendo o total de, no máximo, 15 e, no mínimo, 5 páginas, incluindo figuras, tabelas e quadros. 3.2 Título e subtítulo: deverão estar de acordo com o conteúdo do trabalho, levando em conta o âmbito da Revista. Estes deverão estar escritos em caixa alta, negritados, fonte tipo Times New Roman, tamanho 14. Providenciar também versão do título para a língua inglesa. 3.3 Autores: os nomes dos autores devem vir abaixo do título, centralizados. O sobrenome deve ser por extenso seguido de todas as iniciais dos outros nomes (ex. Pereira, L.N.A.). No caso de vários autores, seus nomes deverão ser separados por ponto e vírgula. 3.4 Filiação dos autores: após o nome de cada autor deverá constar um número arábico, sobrescrito, que indica seu local de procedência, e deverá aparecer logo abaixo da nominata dos autores, também centralizado. Deve-se assinalar o nome do autor principal com um asterisco sobrescrito, para o qual toda correspondência deverá ser enviada. O endereço completo (com CEP e endereço eletrônico) do autor principal deverá vir no final do artigo. 3.5 Resumo em português: deverá apresentar concisamente o trabalho, destacando as informações de maior importância, expondo metodologia, resultados e conclusões. Permitirá avaliar o interesse pelo artigo, prescindin

139

do de sua leitura na íntegra. Dever-se-á dar destaque ao Resumo como tópico do trabalho, (máximo de 200 palavras).

Citação textual: colocar, também, a página. Ex. (SILVA, 1999, p.24)

3.6 Unitermos: deverão identificar/representar o conteúdo do artigo. Observar o limite máximo de 6 (seis). São importantes para levantamentos em banco de dados, com o objetivo de localizar e valorizar o artigo em questão. Deverão vir separados por ponto e vírgula.

4.2 As Referências seguirão as normas da ABNT (NBR 6023/agosto de 2002), e serão ordenadas alfabeticamente pelo sobrenome do primeiro autor, em caixa alta e em ordem crescente de data de publicação. Deve-se levar em consideração as seguintes ocorrências:

3.7 Abstract: versão do resumo para a Língua Inglesa. Evitar traduções literais. Quando não houver domínio deste idioma, consultar pessoas qualificadas. Providenciar também versão do título para a língua inglesa.

4.2.1 Livro com um autor (nome do livro em itálico): COSTA, A.F. Farmacognosia. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1996.

3.8 Key words: unitermos em inglês. Também em número de 6 (seis) e separados por ponto e vírgula. 3.9 Introdução: deverá estabelecer com clareza o objetivo do trabalho e sua relação com outros trabalhos na mesma área. Extensas revisões da literatura deverão ser substituídas por referências à publicações mais recentes, onde estas revisões tenham sido apresentadas. 3.10 Materiais e Métodos: a descrição dos materiais e dos métodos usados deverá ser breve, porém suficientemente clara para possibilitar a perfeita compreensão e a reprodução do trabalho. Processos e técnicas já publicados, amenos que tenham sido extensamente modificados, deverão ser referenciados por citação. 3.11 Resultados: deverão ser apresentados com o mínimo possível de discussão ou interpretação pessoal e, sempre que possível, ser acompanhados de tabelas e figuras adequadas. Os dados, quando pertinentes, deverão ser submetidos a uma análise estatística. 3.12 Discussão: deverá ser restrita ao significado dos dados obtidos e resultados alcançados, evitando-se inferências não baseadas nos mesmos. Obs.: Eventualmente, Resultados e Discussão poderão ser apresentados num único item. 3.13 Agradecimentos: este item é opcional e deverá vir antes das Referências. 4. Referêcias 4.1 Referência dentro do texto: No início da citação: autor em caixa baixa, seguido do ano entre parênteses. Ex. Pereira (1999) No final da citação: autor em caixa alta e ano -ambos entre parênteses. Ex. (SILVA, 1999) ou (SILVA; SOUZA, 1998) ou (SILVA; SOUZA; DIAS, 2000) ou (SILVA et al., 1999) ou (SILVA et al., 1995a,b)

140

4.2.2 Livro com dois autores (nome do livro em itálico): SANTOS, I.F.; PEREIRA, F.L. Criando um novo mundo. São Paulo: Atheneu, 1995. 4.2.3 Capítulo de livro (nome do livro em itálico): FARIAS, C.R.M.; OURINHO, E.P. Restauração dentária.ln: GOLDAMAN, G.T. (org.) A nova odontologia. 5.ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, p.95-112, 1999. 4.2.4 Tese ou Dissertação (nome da tese ou da dissertação em itálico): LIMA, N. Influência da ação dos raios solares na germinação do nabo selvagem. Campinas, 755p. Tese (Doutorado) - Faculdade de Ciências Agrárias, Universidade Estadual de Campinas, 1991. 4.2.5 Artigo de periódico (nome do periódico em itálico): VARGAS, T.O.H. Fatores climáticos responsáveis pela morte de borboletas na região sul do Brasil. Revista Brasileira da Associação de Entomologistas, v.11, n.4, p.100-105,1996. 4.2.6 Citação de citação (nome das fontes em itálico, por extenso): WAX, E. T. Antimicrobial activity of Brazilian medicinal plants. Journal of Brazilian Biological Research, v.41, p. 77-82, 1977 apud Natural Products Abstracts v.23, n.8, p.588- 593, Aug., 1978. 5. Encaminhamento dos Artigos Os trabalhos deverão ser enviados, inicialmente, em duas cópias impressas, utilizando-se o programa Word for Windows. Quando da aceitação do trabalho, após as devidas correções, deverão ser enviados um disquete contendo o arquivo do trabalho e uma cópia impressa. Toda correspondência deverá ser enviada ao Coordenador de Edição, cujo endereço encontra-se na primeira página. 6. Encaminhamento dos Gráficos e Imagens Gráficos e imagens devem ser enviados desvinculados do arquivo do artigo, nos formatos TIFF ou JPEG com resolução de 300 dpi. Porém, os mesmos devem compor o arquivo no programa Word for Windows, na resolução de 96 dpi, para que seja feita a leitura completa do trabalho.

Revista Fitos

Vol.4 Nº01 março 2009

Revista Fitos

Vol.4 Nº01 março 2009

141

View more...

Comments

Copyright ©2017 KUPDF Inc.
SUPPORT KUPDF