April 10, 2017 | Author: Apostolado Veritatis Splendor | Category: N/A
Download Revista Pergunte e Responderemos - Ano XLV - No. 501 - Março de 2004...
Projeto
PERGUNTE E RESPONDEREMOS ON-LINE
Apostolado Veritatis Spiendor com autorizagáo de Dom Estéváo Tavares Bettencourt, osb (in memoríam)
APRESENTAQÁO DA EDIQÁO ON-LINE Diz Sao Pedro que devemos estar preparados para dar a razáo da nossa esperanga a todo aquele que no-la pedir (1 Pedro 3,15).
-
Esta necessidade de darmos conta da nossa esperanga e da nossa fé rtoje é mais premente do que outrora, visto que somos bombardeados por numerosas correntes filosóficas e religiosas contrarias á fé católica. Somos assim incitados a procurar consolidar nossa crenga católica mediante um aprofundamento do nosso estudo.
—
Eis o que neste site Pergunte e
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"
Responderemos propóe aos seus leitores: aborda questóes da atualidade
controvertidas, elucidando-as do ponto de vista cristáo a fim de que as dúvidas se dissipem e a vivencia católica se fortalega no Brasil e no mundo. Queira Deus abengoar
este trabalho assim como a equipe de Verítatis Splendor que se encarrega do
respectivo site.
Rio de Janeiro, 30 de julho de 2003. Pe. Esteváo Bettencourt, OSB
NOTA DO APOSTOLADO VERITATIS SPLENDOR Celebramos
convenio
com
d.
Esteváo
Bettencourt
e
passamos a disponibilizar nesta área, o excelente e sempre atual
conteúdo da revista teológico - filosófica "Pergunte Responderemos", que conta com mais de 40 anos de publicagáo.
e
A d. Estéváo Bettencourt agradecemos a confiaga depositada
em nosso trabalho, bem como pela generosidade e zelo pastoral assim demonstrados.
Ano xlv
Marco 2004
501
"Ávida inteira é desejo santo" (S. Agostinho) O homem do século XX, por H. Begliomini
"A ciencia tenta explicar a Biblia" (ÉPOCA) É fiel a historia dos patriarcas bíblicos?
'Todos os caminhos váo dar a Roma", por SC. e K. Hahn Casa mal-assombrada
Carta as familias do Brasil, por D. Rafael Cifuentes
PERGUNTE E RESPONDEREMOS
MAR £02004
Publicado Mensal
Diretor
N°501
SUMARIO
Responsável
Estéváo Bettencourt OSB
"A vida inteira é desejo santo"
Autor e Redator de toda a materia publicada neste periódico
Honra ao mérito: O homem do século XX, por H. Begliomini
Diretor-Administrador:
e
"A ciencia tenta explicar a
Biblia" (ÉPOCA)
Distribuicáo:
Edicóes "Lumen Christi"
Rúa Dom Gerardo, 40 - 5° andar - sala 501 Tel.: (0XX21) 2291-7122-Ramal 327 Fax (0XX21) 2263-5679
Enderezo
para
98
Ciencia e Fé:
D. Hildebrando P. Martins OSB Adm¡nistra9áo
97
Correspondencia:
104
Discute-se:
É fiel a historia dos patriarcas bíblicos? .. 111 Convertidos ao Catolicismo: "Todos os caminhos váo dar a Roma", por SC. e K. Hahn 117
Ed. "Lumen Christi"
Como explicar?
Caixa Postal 2666
Casa mal-assombrada
CEP 20001-970 - Rio de Janeiro - RJ
Carta as familias do Brasil, por D. Rafael Cifuentes 128
Visite o MOSTEIRO DE SAO BENTO
122
e "PERGUNTE E RESPONDEREMOS"
na INTERNET: http://www.osb.org.br e-mail:
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COM APROVACÁO ECLESIÁSTICA
GRÁFICA MARQUES SABAIVA
NO PRÓXIMO NÚMERO:
Paulo traiu Jesús? - "A origem do Novo Testamento". - Deus e o Mal no mundo. L. Boff: Que é Espirito? - Os cristáos nos países muculmanos. - As unióes homosse-
xuais. - Preservativo e países africanos. - "Nos bastidores do Reino". - "A Fé Católica".
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J
"A VIDA INTEIRA É DESEJO SANTO"
(S. Agostinho)
Num de seus sermóes, S. Agostinho toca numa fibra muito delicada do cora-
cáo humano- o desejo inato de algo maior e melhor do que os bens visíveis que cercam o homem, passageiros e fugazes como sao. A criatura humana foi ferta pelo Infinito e traz em si o selo do Infinito. - Eis as palavras do S. Doutor: "O que nos foiprometido? Seremos semethantes a ele porque nos o veremos como é A língua o disse como pode. O coragáo imagine o restante. Já que nao podéis ver agora, prenda-vos o desejo. A vida inteira do bom cristáo é desejo santo. Aquilo que desejas, aínda nao o vés. Mas, desejando, adquires a capacidade de ser saciado ao chegar a visáo. Se queres por exemplo, encher um recipiente e sabes ser muito o que tens a
derramar, alargas o bojo seja da bolsa, seja do odre, ou de outra coisa qualquer.
Sabes a quantidade que ali poras e vés ser apenado o bojo. Se o alargares, ele fícará com maior capacidade. Deste mesmo modo Deus, com o adiar, amplia o de sejo. Pordesejar, alargase o espirito. Alargándose, tomase capaz.
Desejemos pois, irmáos, porque havemos de ser saciados.
É esta a nossa vida: exercitamo-nos pelo desejo. O santo desejo nos exercita na medida em que cortamos nosso desejo do amor do mundo. Já talamos algum'as vezes do vazio que deve ser preenchido. Vais ficar repleto de bem, esvazia-te do mal.
Imagina que Deus te quer encher de mel. Se estás cheio de vinagre, onde por o mel? É preciso jogar fora o conteúdo do jarro e limpá-lo, aínda que com esforgo, esfregando-o, para servirá outro fim.
Digamos mel, digamos ouro, digamos vinho, digamos tudo quanto dissermos
e quanto quisermos dizer, há urna realidade indizível: chamase Deus. Dizendo Deus, o que dissemos? Esta única sílaba é toda a nossa expectativa. Tudo o que conse
guimos dizer, fica sempre aquém da realidade. Dilatemo-nos para ele, e ele, quando vier, encher-nos-á; seremos semelhantes a ele, porque o veremos como é" (Tratado sobre a 1a Joño 4, 6).
Este texto se resume em tres proposicóes:
1) Em todo ser humano existe o anseio ora mais, ora menos explícito de algo que responda as suas aspiracóes mais espontáneas. Tudo o que se vé é pouco demais para a capacidade do coracáo humano.
2) Quanto mais intenso for o desejo, tanto mais será saciado. Em linguagem
popular dir-se-á: quem apresentar a capacidade de um dedal, té-la-á preenchida, como preenchida será a capacidade de um copo, a de um jarro, a de um balde, a de um tonel...
3) Para que tal anseio se dilate, o Senhor Deus nem sempre atende na hora marcada pela criatura, mas protela a sua resposta ou adia a sua vinda, a fim de encontrar a criatura ainda mais desejosa.
Ora a Quaresma é precisamente o tempo oportuno para que se dilate mais e
mais o anseio do coragáo em demanda nao de mel nem de ouro, mas de DEUS, do Infinito e Absoluto...
"A vida inteira do bom cristáo é santo desejo". E.B. 97
"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" Ano XLV - N9 501 - Marco de 2004
Honra ao mérito:
O HOMEM DO SÉCULO XX por Helio Begliomini
E com prazer que PR publica o artigo do Dr. Helio Begliomini1 em homenagem ao Papa Joáo Paulo II, que aos 16/X/2003 completou vinte e cinco anos de pontificado. - Ao estimado autor do artigo seja consigna
da a gratidáo de PR.
O HOMEM DO SÉCULO XX
Recebeu em 1994 o título de "O Homem do Ano" pela revista Time. Quatro anos após, ao completar o vigésimo aniversario de seu magiste rio, dado á sua grande atuacáo e influencia no mundo contemporáneo,
Joáo Paulo II foi chamado "O Homem do Século".
Ainda permanece inolvidável aquele insólito 16 de outubro de 1978, raríssimo ano dos tres Papas. Quando a fumaca branca saiu pela chaminé da Cápela Sistina, já indicava que a Sé de Roma contava com um
novo sucessor de Pedro, advindo do último escrutinio do colegio cardinalício. Logo após o anuncio do camerlengo "Habemus Paparrf, surgía na fachada de Michelangelo, na Basílica de Sao Pedro, um ho mem que marcaria profundamente a historia do final do século XX e do
inicio do terceiro milenio da cristandade. Apesar do entáo recente falecimento de Albino Luciani, Papa Joáo Paulo I, o Papa do sorriso, que teve um dos mais breves pontificados da historia da Igreja, o anuncio do novo
Pontífice perdeu-se em meio a urna calorosa e continuada ovacáo pelo
povo reunido na praga de Sao Pedro.
O arcebispo de Cracovia - Polonia - iniciou solenemente seu mi nisterio aos 22 de outubro de 1978 com seus jovens 58 anos e constituiuse no 2649 sucessor de Sao Pedro. Poucos cristáos sabem que o vocá1 Membro da Academia de Medicina de Sao Paulo, Academia Crista de Letras, Sociedade Brasileira de Médicos Escritores e Academia Brasileira de Médicos Escritores. 98
O HOMEM DO SÉCULO XX
bulo Papa, além de ter o significado de pai e pastor, é um acróstico que quer dizer "Perros apostolus princeps apostolorum" ou "Pedro apostólo, primeiro dos apostólos".
Quem é o preclaro homem? 1. Familia e Formacáo
Karol Jósef Wojtyla nasceu aos 18 de maio de 1920. Seu pai Karol Wojtyla era operario e se tornou suboficial do exército. Sua máe chamava-se Emilia Kaczorowska. Foi o terceiro dos tres irmáos e seu apelido na infancia era ternamente "Lolek". Aos 9 anos perdeu a máe e, tres anos depois, também seu irmáo mais velho, Edmundo, que era médico. Seu pai faleceu quando tinha 21 anos e, doravante, se tornaría no único re presentante da familia.
Fez seus estudos fundamentáis em Wadowice. Em 1938 mudouse para Cracovia, matriculando-se na Faculdade de Letras. Desde os primeiros passos na escola destacou-se ¡ntelectualmente. Foi amante do teatro, das artes e da literatura, o que fortaleceu o lado humano de sua vocacáo. Suas pegas escritas e encenadas na juventude retratavam dra mas humanos e sociais da época e seus poemas eram recheados de espiritualidade. Participava de atividades esportivas como futebol (goleiro), esqui, canoagem e alpinismo.
Em 1942, em plena II Grande Guerra Mundial, sob a ocupacáo da Polonia pelas tropas de Adolf Hitler, entra no seminario clandestino no poráo do Arcebispado de Cracovia, sob a responsabilidade de Dom Stefan Sapihea, tendo ai, nesse contexto de resistencia ao nazismo e á cultura da morte de Deus, a argamassa do seu caráter. Por ter participado de
urna época em que a Igreja sobrevivía na clandestinidade, viveu urna experiencia rara entre os Papas: ser trabalhador bracal. A complementa-
cao de sua tempera dar-se-ia nos anos seguíntes após o término da guerra em 1945, urna vez que seu país, sob a influencia soviética, passaria a ser governado pelos comunistas até 1989. Ambas as ideologías, nazismo e comunismo pretendiam construir urna sociedade perfeita, prescindindo
de Deus e da experiencia crista. Sao suas palavras: "Os dois sistemas totalitarios que marcaran) trágicamente o nosso secuto, eu os pude conhecer, por assim dizer, por dentro. É fácil, portanto, compreendera minha sensibilidade pela dignidade de cada pessoa humana e pelo respeito para com seus direitos, a comegarpelo direito á vida".
Nao há dúvida de que Joao Paulo II é um dos maiores líderes mundiais se nao o maior do século XX na defesa da liberdade religiosa e dos
díreit'os humanos. Em visita a Cuba em 1998 declarou a bordo: "Os direi
tos humanos sao o alicerce de qualquer civilizagáo. Esta convicgáo te-
nho-a comigo desde a Polonia, desde o confronto com o regime soviético e o totalitarismo comunista".
"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 501/2004
Logo após a sua ordenacáo sacerdotal em 1Q de novembro de 1946,
foi para Roma onde, após dois anos, se doutorou em Filosofía e Moral" com tese sobre a Ética em Sao Joáo da Cruz. Em 1949, agora em
Cracovia, seguindo seus estudos, doutorou-se em Teología e em 1954 assumiu a cadeira de Filosofía na Universidade Católica de Lublín. A pro
pósito, Wojtyla é o primeiro Papa filósofo e o primeíro filósofo Papa. En-
quanto padre e bíspo, publicou cinco livros e escreveu maís de quinhen-
tos artigos.
2. Bispo e Papa
Foi nomeado Bispo auxiliar de Cracovia em 1958, Arcebispo em 1964 e Cardeal em 1967. No Concilio Vaticano II participou da Comissáo de redacáo do documento "Gaudium et Spes"- "Alegría e Esperanca", versando sobre a presenca da Igreja no mundo contemporáneo. Ade máis, participou do Sínodo dos Bispos em 1969 e, posteriormente, de todas as suas assembléías ordinarias, sendo eleito em 1971 seu Secretário-Geral.
Ao assumir o nome de Joáo Paulo II, a exemplo de seu ¡mediato antecessor, quis dar continuidade ao trabalho de Joáo XXIII (1958-1963) e Paulo VI (1963-1978) e estava predestinado a superar magistralmente varios obstáculos e marcas que se Ihe foram apresentando.
O último Papa náo-italíano a ocupar a cátedra de Sao Pedro foi o holandés Adriano VI (1522-1523). Karol Wojtyla é o primeíro Papa eslavo da historia da Igreja e o mais jovem desde 1846. Por sua grande veneracáo a Virgem María, Máe de Cristo, inseriu no seu brasáo a letra "M" e o
lema Totus Tuus" - "Todo Teu" - confiando a ela de modo sensível a protecáo de seu ministerio. Logo no seu discurso de posse aos 22 de outubro de 1978 exprimíu seu caráter pastoral ao dizer "Abram as fronteiras dos Estados, os sistemas, tanto o económico como o político, os vas tos campos da cultura, da civilizagáo, do desenvolvimento. Nao tenham medo! Cristo sabe 'o que se passa dentro do homem'. Só ele sabe! (...) Abram as portas para Cristo!". E esse vigor evangélico o tem acompa-
nhado ao longo dos anos. Apesar de suas limitacoes físicas, lancou um
desafio para o terceiro milenio: "Duc in altum!" - avanca mar adentro! - ou seja, cristianizar um mundo muito tecnocrata, antropocéntrico, materializa do, militarizado, repleto de miserias sociais e pobre em consciéncia ética.
Karol Wojtyla tem urna memoria singular. É eximio poliglota. Fala, além do polonés, latím, italiano, inglés, francés e alemáo. Apresenta inau dita facilidade para se expressar nos mais diversos idiomas; tenham-se em vista suas viagens apostólicas, suas saudac.5es públicas em audien
cias e por ocasiáo de Missas solenes como a do Natal.
Ao comemorar cinco lustros de ministerio, tomou-se o quarto Papa mais longo da historia, atrás apenas de Sao Pedro (25, 34 ou 37 anos, 100
O HOMEM DO SÉCULO XX
de acordó com diferentes referenciais dos historiadores); Pió IX (1846-
1878 ou seja, 31 anos, 7 meses e 17 dias) e Leáo XIII seu sucessor (1878-1903, ou seja, 25 anos e 4 meses e 17 dias). Mais do que ser salvo milagrosamente de um atentado a tiros em plena praca de Sao Pedro, no dia 13 de maio de 1981, festa de Nossa Senhora de Fátima, ficou explícito seu testemunho cristao ao perdoar e, posteriormente, visitar na cadeia seu agressor Mohamed Ali Agca. 3. Números
Apenas para citar algumas de suas facanhas, salienta-se que por
ocasiáo do Jubileu de Prata de seu pontificado, Joáo Paulo II havia cele brado 9 Consistorios criando 232 Cardeais; nomeou mais de 3300 dos mais de 4200 Bispos do mundo, além de reunir-se com cada um deles por ocasiáo da visita quinquenal "ad limina Apostolorum". Escreveu 14 encíclicas, 14 Exortacoes Apostólicas, 11 Constituicoes Apostólicas, 42
Cartas Apostólicas e 28 Motupróprio, além de centenas de mensagens e
cartas. Convocou e presidiu 15 Sínodos dos Bispos, o maior número até entáo realizado por um papa, sendo seis ordinarios, um extraordinario e oito especiáis. Publicou tres livros: "Cruzando o Limiar da Esperanca" (1994), "Dom e Misterio no 50B Aniversario de Minha Ordenacáo Sacer dotal" (1996) e "Tríptico Romano - Meditacóes" (2003). Além de acrescentar mais cinco Misterios para meditacáo, denominados luminosos, á recitacáo milenar do Rosario da Virgem Maria, proclamou 2003 como um Ano Santo Mariano ou o Ano do Rosario.
Preocupado insistentemente com a familia e a vida, criou o Pontificio Conselho para a Familia e a Pontificia Academia para a Vida. Feito único na historia do papado foi ter realizado até o momento 102 viagens pastorais internacionais, sendo peregrino em mais de 610 cidades de mais de 130 nacóes, encontrando-se com milhóes de pessoas, além de diferentes personalidades do mundo religioso, cultural, cien tífico e político. Ademáis, protagonizou mais de 143 visitas pastorais no interior da Italia e quase 700 na cidade e diocese de Roma, onde se fez presente a 301 das suas 325 paróquias, sem contar as visitas a institutos religiosos, universidades, Seminarios, hospitais, casas de repouso, prisóes, escolas, etc. É eximio comunicador de modo que ao redor de sua
presenca, onde quer que esteja, tém-se constituido neo-areópagos de evangelizacao.
Ao pisar em solo estrangeiro até quando gozava de saúde satisfatória, deixou sua marca pessoal de amor, humildade, respeito e espirito de concordia ao oscular o chao onde pisava. No Brasil esteve quatro vezes. Em 1980 visitou 12 capitais em 12 dias e proferiu 51 discursos. Nessa ocasiáo recebeu o precioso epíteto de "Joáo de Deus". Em 1982 permaneceu apenas duas horas, pois esta101
"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 501/2004
va de passagem para a Argentina. Em 1991 esteve por dez días e pronunciou 31 discursos. Por fim, retornou em 1997, quando cumpriu igual mente urna extensa e diversificada agenda. Foi ¡ndelével a participacáo
de mais de dois milhóes de pessoas no Aterro do Flamengo. Ao despedir-se no Rio de Janeiro, comentou jocosamente: "Se Deus é brasileiro, o Papa é carioca".
Ñas suas 245 viagens pastorais dentro e além-ltália somaram-se 1.163.865 quilómetros, ou mais de 28 vezes a circunferencia da Térra ou tres vezes a distancia entre o nosso planeta e a Lúa. Em Roma costuma receber, em media, um milhao de peregrinos anualmente, além do que aparece ñas ocasióes especiáis como as missas de Natal, Páscoa, beatificacóes e canonizagóes. Até o momento já participou de 1.106 audiencias gerais, as quais afluiram mais de 17 mi lhóes de participantes de todo o mundo. Outras especialmente concedi das a Chefes de Estado e de Governo superani a cifra de 1500. Só por
ocasiáo do grande Jubileu do ano 2000, oito milhóes de fiéis estiveram na cidade eterna.
Elevou as honras dos altares mais do que todo o conjunto dos 263 pontífices que o precederam. Assim, beatificou 1325 servos de Deus em 140 cerimónias e canonizou 477 Bem-aventurados em outras 51. Embora tenha sofrido criticas por mais esse gesto inédito, nao se pode deixar de frisar que, só de mártires, o catolicismo conta com cerca de 40 milhóes, tendo mais da metade dos martirios (27 milhóes!) ocorrido no último século. No inicio de seu pontificado a Santa Sé mantinha relacóes diplo máticas com 85 países, sendo esse número elevado para 174 nacóes, assim como com a Uniáo Européia e a Soberana Ordem Militar de Malta. O Vaticano tem relacóes especiáis com a Federacáo Russa e a Organizagáo para a Libertacao da Palestina. 4. Rumo á Reconciliacáo
Para Wojtyla os meios de comunicacáo devem buscar a paz tendo como base a verdade, a justiga, a liberdade e a caridade, alias, como também foi ensinado por Joáo XXIII na encíclica Pacem in Terris. Em 1994 surpreendeu o mundo ao estimular que os cristáos pedissem perdáo pelos pecados cometidos e que estao discriminados na car ta preparatoria para o Jubileu do ano 2000, a Tertio millennio adveniente e que se sumariam na divisáo dos cristáos; no colonialismo e na opressao do Terceiro Mundo; na escravidáo de africanos e indios; e nos aten
tados contra a liberdade religiosa.
Tem trabalhado intensamente pelo ecumenismo entre os cristáos e pelo diálogo com outras religióes, tendo orado em varios idiomas e tem102
O HOMEM DO SÉCULO XX
píos Inéditos foram os dois macroencontros de oracáo pela paz em As-
sis (1986 e 1992) com aproximadamente 200 dos principáis líderes religi osos do planeta, além de Patriarcas, rabinos e ¡mames. Dignos de nota foram a reuniáo com os jovens muculmanos de Marrocos (1985), o en contró com o Rabino-chefe na sinagoga de Roma, bem como ter sido o primeiro Papa a visitar urna mesquita, feito este realizado em Damasco na Siria (2001).
5. Política Internacional
Com relacáo á política internacional teve duas fases. A primeira, de
1978 até 1989, quando predominou a denuncia do marxismo, suas estru-
turas e sua ideología da morte de Deus; nao hesitou em somar esforcos com os movimentos anti-soviéticos vigentes nos países do Oeste Europeu A segunda fase vai de 1989 e estende-se até os dias atuais. Em seus pronunciamentos destacam-se as denuncias contra a globalizagáo
excludente e o capitalismo selvagem, tendo o mercado e o excessivo
consumo como únicos paradigmas; defesa irrestrita da pessoa humana da concepcáo á morte e, portanto, combate á cultura do aborto e da eu tanasia; pedido de perdáo da divida externa para os países pobres; defe
sa da paz em oposigáo á guerra e autodeterminacáo dos povos com suas tradicóes e raízes culturáis.
Wojtyla contribuiu para que a contraposicáo dos dois blocos ideo
lógicos e geopolíticos que entáo existiam na Europa pelo Tratado de I ALTA se atenuasse progressivamente, até o feito impensável, poucos anos atrás,
da queda do muro de Berlim em 1989. Em 1990 foram restabelecidas as relacoes diplomáticas entre o Vaticano e a ex-Uniáo Soviética. Declarou padroeiros da Europa os santos Cirilo e Metódio, apostólos da Rússia, juntamente com Sao Bento, querendo enaltecer e aproximar valores reli giosos e culturáis do Ocidente e do Oriente. Infelizmente, nao pode ainda concretizar o convite que já Ihe fizera Mikail Gorbachev de visitar Mos cou, a "Terceira Roma". Assim como é defensor da "Grande Europa", a do Atlántico aos Urais, comungando entre si as tradicoes cristá-ocidental e a eslavo-ortodoxa, é também artífice da uniáo da "Grande América'. Por isso em 1997, convocou o Sínodo Especial da América e nao das Américas - Norte, Centro e Sul - ou das Américas de língua inglesa e de luso-hispánica, ou a América dos países abastados e a dos pobres. 6. Conclusáo
Nao há dúvida de qud Joáo Paulo II, personalidade estelar, tem
desempenhado um papel singular na historia contemporánea, constituindo-se numa das grandes figuras hodiernas e um dos grandes Papas da historia da Igreja. Nao é por acaso que alguns querem Ihe aditar mais o insigne título de "Magno", assim como foram reverenciados outros notaveis homens como Santo Alberto. Sao Gregorio e Sao Leáo. Entretanto, nao resta dúvida alguma de que o título que mais Ihe fará jus será o de Santo. 103
Ciencia e Fé:
"A CIENCIA TENTA EXPLICAR A BÍBLIA"
(ÉPOCA)
Em síntese: A revista ÉPOCA, 22/12/03, apresenta a reportagem de Marcelo Ferroni, que, á luz de escavagóes arqueológicas, atribuí á Biblia diversas imprecisóes e inverdades. - O artigo tem índole sensacionalista mais do que caráter científico objetivo, como se depreende do confronto da reportagem com obras de especialistas em arqueología e
historiografía bíblicas.
*
*
*
A revista ÉPOCA, de 22/12/03, pp. 84-93, publica a reportagem de
Marcelo Ferroni intitulada "A Biblia reescrita pela Ciencia" com o subtítu lo: "Pesquisas arqueológicas criam polémica ao desmentir as versoes mais aceitas dos relatos bíblicos". O artigo tem aparéncias científicas e pode suscitar dúvidas em seus leitores; daí a conveniencia de o abordarmos nestas páginas.
1. Os principáis traeos da reportagem
O repórter se refere tanto ao Antigo quanto ao Novo Testamento. 1.1. Antigo Testamento
Pág. 87: "Éxodo sem vestigios. Nao há indicios da existencia de
Moisés nem da travessia épica pelo deserto".
Pág. 91: "Conquista sem muralhas. Jericó... nunca chegou a ser
protegida por muros".
Pág. 88: "Nem tanto poder assim. Para arqueólogos, Davi existiu
de fato, mas nao chegou a unificar as 12 tribos israelitas".
"O templo de Salomáo, descrito na Biblia, tendo dimensóes inter nas de 10 metros de largura por 30 metros de profundidade, era de fato grande para os padróes do Oriente Medio, mas nao era o maior". 1.2. Novo Testamento
Pág. 84: "Em busca do Jesús histórico. Na época, fora dos livros religiosos, há somente duas mengoes ao nome de Jesús, filho de José". Pág. 91: Pouca coisa se sabe sobre o Jesús histórico.
Primeira capa: "A estrela de Belém pode tersido um cometa ou a
explosáo de urna supernova".
104
"A CIENCIA TENTA EXPLICAR A BIBLIA"
Deixando de lado o último tópico (que nao causa problemas), con sideraremos sucessivamente os pontos atrás indicados. 2. Repensando... 2.1. Antigo Testamento
No Brasil urna das mais recentes publicacóes sobre arqueología bíblica é a do Prof. Amihai Nazar, da Universidade Hebraica de Jerusalém, com o título "Arqueología na térra da Biblia (10.000-580 a.C.) . Este autor, profissional sabio e erudito, é muito mais moderado do que o re pórter de ÉPOCA. Alias a verdadeira ciencia é sempre cautelosa ao fazer suas afirmacóes, porque sabe que ulteriores pesquisas podem modificar o quadro dos conhecimentos presentes.
Percorramos os principáis pontos citados pelo repórter:
1) Moisés nao existiu? - Eis o que se lé no "Dicionário Enciclopé dico da Biblia" de A. van den Born, verbete "Moisés": "No conjunto de Ex 2, 10 - Jos 24, 5, M. é mencionado mais de 700 vezes (nos demais livros históricos, 51 vezes, nos livros proféticos ape nas 4 vezes; depois, 8 vezes nos Salmos e 2 vezes em Dn). No entanto, temos poucas informagdes certas sobre a sua pessoa. Ninguém mais nega a sua existencia histórica, mas um estudo crítico terá de distinguir entre aquilo que ele foi realmente, e aquilo que dele fizeram certas tradigóes, e, mais tarde, "a" tradigáo dos israelitas.
Para o judaismo posterior M.éa figura principal da historia da salvagáo no AT; um grande número de lendas é tecido em torno de sua
pessoa. No judaismo helenístico do século I a.C. surgiu um romance so
bre M., no qual ele é o mestre da humanidade, o homem genial ou o
piedoso ideal, e no qual a sua morte se torna urna apoteose (morreu em
gloría ou foi elevado ao céu). Por esse romance, que polemiza evidente mente com urna lenda egipcia antisemítica sobre M., nasceu urna imagem de M. notavelmente diferente da imagem bíblica. Também no judais mo palestinense M. é glorificado, nao porém na qualidade de herói, como entre os helenistas, mas na de mediador da revelagáo, o mestre de Israel por excelencia. Aqui, portanto, a figura de M. está mais perto dos dados bíblicos. No entanto, sáo-lhe aplicadas diversas nogoes soteriológicas. Isso, porém, nao tanto em escritos apócrifos, como ñas expectativas do povo. Ele entra na escatolcgia, tornándose provavelmente urna figura do Messias (cf. Dt 18, 15-18), o Messias é concebido como um segundo M., a libertagáo do Egito como prefiguragáo da redengáo messiánica (cf. p. ex. At 21, 38). Também esse segundo M. terá de sofrer. O judaismo posterior atríbui-lhe o livro dos Jubileus e a Assumptio Mosis". 1 Ed. Paulinas, Sao Paulo 2003, 150 x 230 mm, 554 pp. 105
"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 501/2004
Estes dados evidenciam como os próprios pesquisadores se sentem, por vezes, inseguros. Lembram também que nao se deve confundir a historicidade de alguém com os traeos ficticios que a posteridade Ihe
acrescentou.
2) As muralhas de Jericó. O arqueólogo Prof. Mazar observa:
"O material arqueológico é as vezes utilizado indiscriminadamente
nos estudos históricos. Temos de levar em conta que dados de escavagoes podem levar a diferentes interpretagoes; essas interpretagoes sao
frequentemente subjetivas e tendenciosas para com urna visáo histórica específica. Um exame geral da tradigao da conquista no contexto arque ológico ilustra a complexidade do tema e as varias possibilidades para a interpretagáo dos achados" (p. 323).
Á p. 324 o Prof. Mazar considera diretamente a campanha de Josué
contra Jericó e as cidades vizinhas:
"Existem diversas avaliagóes da narrativa literaria com relagáo á
conquista descrita em Josué 1-11. Enquanto alguns estudiosos encaram a narrativa como demonstrativa de urna campanha militar real sob a lideranga de Josué (Y. Kaufmann, Y. e outros), outros a véem como urna cnagao literaria de urna época muito posterior. Nao obstante, mesmo essa visao posterior nao excluí a possibilidade de que tais historias repercutam eventos históricos individuáis que podem ter acontecido no processo
de assentamento israelita".
3) O Templo de Salomáo 12m x 30m? - Escreve o Prof Mazar á
p. 363:
"As medigóes do edificio sao dadas em cubitos. Dois cúbitos-padráo eram empregados durante o período bíblico: o longo, ou regio, de 52,5 centímetros; e o cubito curto, de 44,5 centímetros. Muito prova'velmente, na construgáo do templo foi utilizado o primeiro. O templo era urna estrutura regular, medindo 50 x 100 cubitos, ou aproximadamente 25m x 50m - maior do que qualquer templo fenicio ou cananeu conhecido por nos. A altura também era excepcional, 30 cubitos (aprox. 15 metros) É dito das paredes que tinham 12 cubitos de espessura - urna medida que lembra a do templo da Idade do Bronza Medio em Siquém". Estes ensinamentos do mestre israelita mostram bem como sao discutíveis as afirmacoes do repórter Marcelo Ferroni. Passemos ao 2.2. Novo Testamento
1) "Na época, fora dos livros religiosos, há somente duas mengóes de Jesús". Estas seriam a de Flavio José, historiador judeu, e a de Plínio 106
"A CIENCIA TENTA EXPLICAR A BÍBLIA"
11_
o Jovem. - Em resposta observamos que, além da referencia de Flávio José, encontram-se os testemunhos (dos anos de 110 a 120) de tres escritores romanos, que váo, a seguir, apresentados. a)Tácito
Tácito foi um historiador que soube exercer espirito crítico e se mostrou honesto em seus relatos. Escreveu em seus Anais, por volta de 116, a respeito do incendio de Roma ocorrido em 64:
"Um boato acabrunhador atribuía a Ñero a ordem de por fogo a cidade. Entáo, para cortar o mal pela raíz, Ñero imaginou culpados e entregou ás torturas mais horríveis esses homens detestados pelas suas faganhas, que o povo apelidava de cristáos. Este nome vem-lhes de Cris to, que, sob o reinado de Tiberio, foi condenado ao suplicio pelo procura dor Póncio Pilatos. Esta seita perniciosa, reprimida a principio, expandiuse de novo nao somente na Judéia, onde tinha a sua origem, mas na própria cidade de Roma" (Anais XV 44). Tácito conta, a seguir, as horríveis torturas infligidas aos cristáos e se mostra contrario a esse desumano procedimento. As referencias pouco elogiosas aos cristáos mostram que só os conhecia por ouvir dizer e compartilhava as opinióes do seu tempo. Essa hostilidade mesma torna
mais valiosa a breve noticia que ele nos transmite a respeito de Cristo. b) Suetónio
Poucos anos depois, em 120, Suetónio, também hábil historiador, escreveu a Vida dos Doze Césares, em que cita duas vezes os cristáos: urna primeira vez para confirmar que eram perseguidos desde os tempos de Ñero. Na segunda vez, referindo-se ao reinado de Claudio (41-54), diz que este "expulsou de Roma os judeus, que, sob o impulso de Cresto, se haviam tornado causa freqüente de tumultos" (Vita Claudii XXV). A informacáo coincide com a de Atos 18, 2; a expulsáo deve ter ocorrido por
volta de 49/50. Chrestós é a forma grega equivalente a Christós, que traduz o hebraico Messias. Suetónio, mal informado, julgava que Cristo se achava em Roma, instigando as desordens. c) Plínio o Jovem
Em 111 chegou á Bitínia e ao Ponto, provincias da Asia Proconsular (Turquía de hoje), Plínio o Jovem, com o título de Legado Imperial. Era homem de letras, serio e inteligente. Em 112 enviou a Trajano urna carta minuciosa a respeito dos cristáos. Recebera denuncias contra eles, pren dera varios, submetera alguns a torturas, inclusive duas diaconisas; nada, porém, fora apurado que lesasse a boa ordem cívica. Ao contrario, podia dizer que os cristáos se difundiam cada vez mais e "estavam habituados 107
12
"PERGUNTE E RESPONDEREMOS' 501/2004
a se reunir em dia determinado, antes do nascer do sol, e cantar um
cántico a Cristo, que eles tinham como Deus" (Epístolas, I. X 96). Deste testemunho depreende-se que, desde os primeiros decenios do Cristia nismo, o Senhor Jesús era louvado como Deus. Plínio atestava que aquela boa gente crista se comprometía, com juramento, a nao roubar, nao mentir, nao cometer adulterio - o que nao podia ser passível de pena. Acontecía, porém, que os sacerdotes dos
deuses se queixavam: os templos se esvaziavam; os vendedores de car
ne destinada aos sacrificios deixavam de lucrar. Sendo assim, Plínio perguntava ao Imperador o que devia fazer frente aos cristáos; havia de puni-los somente por serem cristáos? - Vé-se que Plínio era, de certo modo, simpático aos discípulos de Cristo.
Nao há por que duvidar da fidelidade histórica dos tres escritores
romanos citados, ao contrario do que escreve Marcelo Ferroni.
Pergunta-se, porém: por que os escritores romanos falaram táo pouco a respeito de Jesús? - O fato deixa de ser estranho desde que se
pondere que Jesús viveu num rincáo do Imperio Romano (a Palestina). Ademáis a obra de Jesús pode, a principio, parecer nao ser mais do que um motim dos muitos que agitavam a Palestina no século I; assim o livro dos Atos dos Apostólos 5, 36s nos refere o levante de um certo Teudas e o de Judas Galileu, que foram frustrados. Somente quando o Cristianis mo penetrou no Imperio Romano e comecou a sacudir as populacóes e
mudar os costumes é que Jesús e os cristáos chamaram a atencáo do
grande público.
Vejamos o depoimento de Flávio José. Flávio José
O historiador judeu Flávio José (37-95) ñas suas "Antigüidades Ju
daicas" se refere a Jesús:
"Poressa época apareceu Jesús, homem sabio, se é que há lugar para o chamarmos homem. Porque efe realizou coisas maravilhosas, foi o mestre daqueles que recebem com júbilo a verdade, e arrastou mui
tos judeus e gregos. Ele era o Cristo. Por denuncia dos príncipes da nossa nagáo, Pilatos condenou-o ao suplicio da cruz, mas os seus fiéis nao renunciaram ao amor por ele, porque ao terceiro dia ele Ihes apa receu ressuscitado, como o anunciaram os divinos profetas junta mente com mil outros prodigios a seu respeito. Aínda hoje subsiste o grupo que, porsua causa, recebeu o nome de cristáos" (XVIII, 63s).
Este testemunho, táo elogioso em relacáo a Jesús, está sujeito as dúvidas dos críticos. Os louvores a Cristo podem ter sido interpolados 108
"A CIENCIA TENTA EXPLICAR A BÍBLIA"
13
por máos cristas, mas é certo que Flávio José assim atesta a sua conviccáo de que Jesús fora personagem histórico.
Na verdade, nao é de crer que o texto, como ele hoje é, seja da pena de Flávio José; se este tivesse escrito tais dizeres, ter-se-ia feito cristáo. Sabe-se, porém, que Flávio José, bajuladordo Imperador Roma no, escreveu que o verdadeiro Messias, aguardado por Israel, era incontestavelmente Vespasiano. Foi em homenagem a este que acrescentou ao seu nome judaico José o nome do Imperador Flávio.
2) "Muito pouco de concreto se pode dizer sobre a vida de Jesús" (P- 91).
A respeito da vida de Jesús somos informados pelos Evangelhos canónicos {Mt, Me, Le, Jo), que bem podem ser tidos como fidedignos pelas seguintes razóes:
a) Os Evangelhos nos apresentam particularidades históricas, ge
ográficas, políticas e religiosas da Palestina. Cf. Le 2, 1; 3, 1s (César Augusto e Tiberio imperadores, além dos governantes da Palestina: Póncio Pilatos, Herodes, Filipe, Lisánias, Anas e Caifas); Me 3, 6; Mt 22, 23 (os partidos dos fariseus, herodianos, saduceus); Jo 5, 2 (a piscina de Betesda); Jo 19,13 (o Lithóstrotos ou Gábata)... Ora tais peculiaridades supóem testemunhas que viveram antes do ano de 70 d.C, pois em 70 a térra de Israel foi invadida e transformada pelos romanos.
b) Os Apostólos e evangelistas difícilmente poderiam mentir, pois viviam em ambiente hostil, pronto a denunciar quatquer desonestidade da parte dos mensageiros da Boa-Nova.
Sem dúvida, a fantasía dos discípulos imaginou muitas lendas a respeito de Jesús. Todavía esses episodios fantasistas nao foram reco-
nhecidos pela Igreja, e por isso passaram a constituir a literatura apócrifa. Nesta nota-se a tendencia a apresentar um Jesús maravilhoso, que des de a infancia surpreende seus pais e amíguinhos pelos prodigios que realiza. O estilo dos Evangelhos canónicos é, ao contrario, muito simples e despretensioso, deixando mesmo o leitor diante de passagens que se
tornaram "cruz dos intérpretes" (cf. Me 3, 21; 6, 5; 10, 10...); tem-se a
impressáo de que os Evangelistas possuiam a certeza de estar transmitindo a verdade... verdade que nao precisava de ser artificialmente embelezada.
c) Os Apostólos e Evangelistas nunca teriam inventado um Messi as do tipo de Jesús. Com efeito, nao cabia na mente dos judeus o conceito de Deus feito homem,... e homem crucificado. Sao Paulo mesmo nota-
va que tal concepcao era escándalo para os judeus e loucura para os 109
"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 501/2004
gregos (cf. 1 Cor 1,23). Os judeus, através dos séculos, tendiam a exaltar cada vez mais a transcendencia de Deus, distanciando-o dos homens. d) A figura de Jesús é de tal dimensáo intelectual, moral e psicoló gica que seria difícil a rudes homens da Galiléia inventá-la. e) Quanto aos milagres em especial, se Jesús nao os tivesse rea lizado, nao se explicaría o entusiasmo do povo e dos discípulos, que sobreviveu á morte do Senhor na Cruz. Com efeito; a pregacáo de Jesús nao era apta a suscitar fácil entusiasmo: ao povo dominado pelos estran-
geiros, Jesús ensinava o amor aos inimigos; proibia o divorcio, que era habitual em Israel; incutia a abnegacáo e a renuncia... Difícilmente um tal
pregador teria sido endeusado se nao houvesse realizado sinais que se impusessem aos discípulos. Ao contrario, se admitimos a historicidade dos milagres de Jesús, compreendemos o fascínio exercido pelo Mestre... Em particular, a ressurreicáo corporal de Jesús sempre foi conside rada o milagre decisivo que autentica a pregacáo crista (cf. 1 Cor 15,14.17);
ora, se nao houve ressurreicáo de Jesús, o Cristianismo estaría b'aseado
sobre mentira, fraude ou doenca mental e alucinacáo de alguns poucos pescadores da Galiléia; tal conseqüéncia seria um auténtico portento,
talvez ainda mais milagroso do que a própria ressurreicáo corporal de"
Jesús.
3. Conclusáo
Nao existe confuto entre fé (mensagem bíblica) e ciencia. Quando tal parece ocorrer, diz-se sabiamente: ou a proposicáo da ciencia está mal formulada ou a proposicáo religiosa nao pertence ao patrimonio da fé. A pesquisa científica tem o valor de dar a conhecer melhor o mundo antigo com seus costumes e seus meios de comunicacáo (que os auto res sagrados adotaram). Os dados arqueológicos sao importantes, mas ambiguos; dependem da interpretado que o cientista Ihes queira dar, muitas vezes em funcáo de suas premissas filosóficas. Em conseqüén cia o mesmo fato arqueológico pode ser interpretado pro ou contra deter minada proposícáo bíblica.
É o que se depreende da leítura das páginas deste artigo. A IGREJA CATÓLICA OFERECE UM APROFUNDAMENTO DE SUA MENSAGEM ATRAVÉS DA ESCOLA "MATER ECCLESIAE"- 22 CURSOS POR CORRESPONDENCIA, DOS QUAIS O MAIS RECENTE E O DE DIREITO CANÓNICO, E 28 APÓSCULOS SOBRE "INQUISICÁO" 1"AS CRUZADAS", "IDADE MEDIA: TREVAS?", "A 'PAPISA1 JOANA" Dl-
RIJA-SE Á ESCOLA "MATER ECCLESIAE" PELO TELEFAX- 0 XX 21
2242-4552.
110
Discute-se:
É FIEL A HISTORIA DOS PATRIARCAS BÍBLICOS? Em síntese: A historícidade dos relatos concernentes aos Patriar cas bíblicos se depreende de certos tópicos: a) os Patriarcas seguem os hábitos dos povos nómades; b) observam normas jurídicas que, por seu
caráter primitivo, diferem das leis da Idade do Ferro ou da monarquía
israelita; c) sao apresentados com todas as falhas humanas, sem preo-
cupagáo de embelezamento artificial. É preciso reconhecer, porém, que
nem sempre a cronología desses relatos é exata, principalmente quando se trata da idade dos Patriarcas. *
*
#
Tem sido posta em foco a credibilidade dos relatos bíblicos concernentes aos Patriarcas Abraáo, Isaque, Jaco, José... Há quem os considere ficticios. O assunto é importante, e deve ser examinado com plena objetividade, posto de lado qualquer preconceito religioso.
Eis que cinco enfoques permitem afirmar a fidelidade histórica de tais relatos:
1. Aspecto geral
O Deus que salvou Israel da opressáo egipcia é constantemente
evocado como o Deus de Abraáo, Isaque e Jaco ou o Deus de nossos pais; cf. Gn 28, 13; 31, 42.53; Ex 3, 6.16. O zelo com que Deus cuida de Israel aparece sempre como a con-
tinuacáo de anteriores ¡ntervencóes do Senhor em prol do seu povo.
Ora estes dados depoem em favor da historicidade dos episodios concernentes "aos pais" ou aos Patriarcas anteriores a Moisés. 2. Aspectos históricos e arqueológicos A arqueología e a etnología mostram como os povos da Idade de Bronze (2000-1550) viviam. Ora os Patriarcas bíblicos apresentam os mesmos hábitos:
- vivem em tendas: "Abraáo armou sua tenda, tendo Betel a Oes te..." (Gn 12, 8)
"Jaco era um homem tranquilo, morando sob tendas" (Gn 25, 27) - procuram os pocos: "Rebeca correu ao poco para tirar agua" (Gn 35, 30). m
"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 501/2004
- emigram periódicamente para lugares de pastagem; "Viemos ha bitar nesta térra porque nao há mais pastagem na térra de Israel" (Gn 47,
4), disseram os irmáos de José.
- zelam para manter a pureza do sangue: "Eu te faco jurar que nao tomarás para meu filho urna mulher entre as filhas dos cananeus" (Gn 24, 3), disse Abraáo ao seu servo mais velho. - admitem responsabilidade coletiva: Simeáo e Levi dispóem-se a vingar a honra de sua irmá Dina violentada por Siquém (cf. Gn 34,1 -31). - seguem as normas jurídicas de Códigos antigos a nos conhecidos, como o de Hamurabi.
Os locáis percorridos pelos Patriarcas eram a regiáo montanhosa de Judá e a estepe do Negev (Palestina meridional). As cidades em cujas cercanías os Patriarcas acampam, sao as mais antigás que conhecemos: Siquém, Betel, Hebron, Ai; nenhuma das cidades mais recentes é mencionada na historia dos Patriarcas - o que denota a índole antiga das
respectivas tradicoes.
3. Religiosidade dos Patriarcas da "1:
As pp. 32s escreve Walter Vogels em seu livro "Abraáo e sua Len-
"Autores como Wellhausen, Thompson e Van Seters, que rejeitam todo valor histórico, afirmam que os relatos dos patriarcas nos informam únicamente sobre a época em que os textos foram redigidos. Isso é
contraditado pelo menos no que concerne á religiáo dos patriarcas. Se os autores bíblicos tivessem inventado as tradicoes dos patriarcas, inspi
rándose na religiáo que eles próprios praticavam, os relatos teriam sido
bem diferentes. Os patriarcas praticavam, segundo os textos bíblicos, urna religiáo pré-israelita, pré-mosaica. Alguns pontos podem mostrá-lo.
Nao existe antagonismo religioso entre os patriarcas e as pessoas
com as quais entram em contato. No restante da Biblia, a oposicáo entre
Yahweh, o Deus de Israel, e os Baals, os deuses dos cananeus, é habitu al. Nos relatos dos patriarcas, diríamos que todos adoram o mesmo Deus.
Melquisedec, reide Shalém, abengoa Abraáo em nome do 'DeusAltíssimo' (Gn 14, 18-20), e Abraáo levanta a máo em nome do 'DeusAltíssimo'(14 22). ' A Biblia distingue com freqüéncia Israel, o povo eleito, e as nagóes,
os povos pagaos. Tal distingáo nao se encontra nos relatos dos patriar
cas. Abraáo eré que nao existe temor algum de Deus em Guerar (20, 11), 1 Cf. PR 486/2002! pp. 445-448. 112
É FIEL A HISTORIA DOS PATRIARCAS BÍBLICOS?
17
mas o texto prova o contrario. O povo de Guerar é urna nagáo justa (20,
4), e seu rei Abimélek age com coragáo íntegro e máos inocentes (20, 56). Todos sao iguais diante de Deus; a perspectiva dos relatos dos patri arcas é mais universalista do que no restante da Biblia. As práticas sao bem diferentes. Nao há indicagáo alguma de que os patriarcas observassem o sabbat, ou as leis concernentes aos alimen
tos, o que era muito importante na época do exilio. Se as tradigóes patriarcais tivessem sido inventadas nessa época, os autores teriam muito provavelmente feito os patriarcas viverem segundo essas leis. O mesmo se aplica aos locáis do culto. Abraáo constrói altares onde quer (12, 7; 13, 18) e planta árvores sagradas (21, 33). Tais práticas eram proibidas pela lei mosaica, que prescreve o lugar do culto (Dt 12, 2-5) e condena essas árvores sagradas (Dt 16, 21).
A religiáo dos patriarcas nao conhece mediadores, sacerdotes ou
profetas. Os patriarcas nao se dirigem aos outros á maneira de Moisés ou dos profetas, e ninguém Ihes fala em nome de Deus. Eles estáo em
contato direto, pessoal com Deus (17, 1). Os patriarcas oferecem seus
próprios sacrificios (22, 13) e nao necessitam de sacerdotes que o fagam em seu nome.
Na religiáo de Israel, a lei ocupa um lugar bem central, sua obser vancia traz a béngáo; sua rejeigáo, a maldigáo. Na religiáo dos patriar cas, encontramos promessas e béngáos (12, 2-3), mas dadas sem mengáo de estipulagóes que os patriarcas deveriam observar para obté-las. Nao existe tampouco ameaga de julgamento, no caso de nao serem fiéis.
Esses poucos exemplos, entre outros, ilustram a diferenga entre a
religiáo descrita nos relatos dos patriarcas e a religiáo do restante do Pentateuco. Os patriarcas tinham certas práticas religiosas condenadas pela lei. É difícil, portanto, imaginar que essa religiáo tivesse sido inven tada por um autor que era um fieljavista. Se ele houvesse 'inventado'a historia de Abraáo, tena escrito urna historia mais 'ortodoxa'. Os textos testemunham urna forma de religiáo antiga pré-javista". Tais observares deram ensejo aos comentarios de bons autores, como sao:
Roland de Vaux, Professor da École Biblique de Jerusalém: "Se,
como se afirmou por muito tempo, (os autores bíblicos) tivessem reconstruido o passado segundo o que viam e ¡maginavam, eles teriam
obtido um quadro diferente do que possuímos, e que teria sido falso" ("Les patriarches hébreux et les découvertes modernes", Revue biblique 56 (1949), pp. 5-36, citacáo p. 36). 113
18
"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 501/2004
A. Parrot: "A vida, tal como aparece nos relatos do Génesis que
sao consagrados, encaixa-se perfeitamente com o que hoje sabemos, por outras vías, sobre o inicio do segundo milenio, mas imperfeitamente com um período mais recente" (Abraham et son temps, "Cahiers
d'archéologie bíblique" 14, Neuchatel, Delachaux et Niestlé, 1962, p. 11).
W. F. Albright: "Abraáo, Isaque e Jaco nao parecem mais, doravante, figuras ¡soladas, quanto menos reflexos da historia hebraica posterior; parecem atualmente verdadeiros filhos de sua época, trazendo os mesmos nomes, deslocando-se sobre o mesmo territorio, visitando as mesmas cidades (especialmente Harran e Nahor), submetidos aos mes mos costumes que seus contemporáneos. Em outros termos, os relatos dos patriarcas tém de cabo a rabo um fundo histórico". 4. Narracóes realistas
As tradicóes populares ficticias apreciam o maravilhoso e a ornamentacáo de seus personagens. Bem diferente, porém, é o estilo dos relatos concernentes aos Patriarcas bíblicos; apresentados com todo o realismo da vida humana. Assim:
-Abraáo tem medo de ser raptado e recorre a urna restricáo men
tal, pela qual é censurado; cf. Gn 12,18s; 20, 9-13.
- Sara assume atitude ciumenta e maldosa para com Agar, que o anjo de Deus consola duas vezes; cf. Gn 16,7-12; 21, 10-19. - Jaco engaña seu pai Isaque, fazendo-se de primogénito que ar rebata a béncáo devida a Esaú e, por isto, deve fugir; cf. Gn 27,1-46. - Jaco, por sua vez, é engañado pelo tio Labáo; cf. Gn 29, 20-25.
- Rubén perdeu o direito de primogénito por causa de um incesto praticado com Bala, concubina de seu pai; cf. Gn 36, 22 e 49, 4. - Simeáo e Levi foram punidos por sua crueldade homicida; cf. Gn
34, 25-30; 49, 5-7.
É de notar que Abraáo, esposando urna filha de seu pai (Gn 20,
12), e Jaco, unindo-se em casamento a duas irmás (Gn 29, 23-28), nao observaram leis matrimoniáis que mais tarde a Lei de Moisés (Lv 8,8-18;
Dt 27, 22) havia de promulgar, punindo a respectiva infracáo com pena de morte. Isto abona a historicidade dos relatos em foco: parecem des-
crever fatos ocorridos antes da época de Moisés.
As tradicóes históricas eram fielmente guardadas na memoria dos povos antigos através de sucessivas geracóes, visto que a transmissáo
escrita era rara e difícil; além do qué, o estilo de vida dos pastores, repetitivo e tranquilo, favorecía a tenacidade da memoria. 114
É FIEL A HISTORIA DOS PATRIARCAS BÍBLICOS?
19
5. Historiografía antiga
Compreende-se que as narracoes concernentes aos Patriarcas, embora sejam fidedignas, carecem da precisáo da historiografía moder na. O historiador semita outrora recorría a procedimentos estranhos. Assim, por exemplo, o historiador da época dos Patriarcas refere muitos coloquios em discurso direto, que nao foram gravados, mas sao reproduzidos de maneira aproximativa. Mais claramente aínda aparece o genio do historiador quando trata de números e, em particular, de números de anos de vida; sejam considerados os seguintes casos (de suposto sim bolismo?):
- a duracáo da vida de Abraáo parece construida sobre o número 25. Com efeito; Abraáo tinha passado 75 (3 x 25) anos na Mesopotámia antes de emigrar para Canaá (cf. Gn 12, 4); tinha cem (4 x 25) anos quando gerou Isaque (cf. Gn 21, 5), e morreu com 175 (= 7 x 25) anos (Gn 25, 7).
-A Isaque sao atribuidos 180 anos de vida, ou seja, 4 x 40 + 20 ou também 3 x 60 (cf. Gn 35, 28).
-A Jaco... 147 anos (cf. Gn 47, 28), o que equivale a 3 (7 x 7) ou tres vezes um período jubilar (cf. Lv 25, 10) ou ainda equivale a duas vezes 70 mais 7.
Maís ainda chamam a atencáo as ponderacóes seguintes:
Idade de Abraáo: 175 = 7 (5 x 5) anos, sendo 17 a soma dos fatores 7 + 5 + 5.
Idade de Isaque: 180 anos, isto é, 5 (6 x 6), sendo 17 a soma dos fatores 5 + 6 + 6.
Idade de Jaco: 147 anos, ou seja, 3 (7 x 7), sendo 17 a soma dos fatores 3 + 7 + 7.
A título de exercício mental, poder-se-iam dissecar outros números bíblicos, sem que isto tenha algum significado para a mensagem sagra da.
6. Urna objecáo: os Anacronismos Continua o Prof. Vogels:
"Um versículo do ciclo de Abraáo diz que 'Abraáo residiu por muito tempo na térra dos filisteus' (21, 34), mas esses filisteus só se instalaram em Canaá depois de 1200 a.C. O nome da cidade da qualpartiram Terah e sua familia 'Urdos caldeus'(11, 31), também constituí problema. A cida de de Ur é conhecida e muito antiga, mas o termo 'Caldéia' é problemáti115
20
"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 501/2004
co. Os caldeus só surgem nos textos assírios no século IX a.C. Além disso, referirse a 'Ur dos caldeus' pressupde a ascensáo ao poder dos caldeus, ou seja, babilónicos, que só ocorre no final do século Vil a.C. No inicio do segundo milenio, talvez se dissesse 'Urdos sumarios'. Tais dificuldades nao perturbam aqueles estudiosos, eles as explicam por meio de anacronismos que nao afetariam o fundo verdadeiramente histórico dos textos. Os autores dos relatos dos patriarcas substituiram os nomes antigos pelos nomes em uso na época em que escreviam. Outra dificuldade para a hipótese do inicio do segundo milenio é o costume dos patriarcas, como Abraáo, de se servir de camelos (12, 16). Aceitase, em geral, que o camelo só foi domesticado e utilizado no Orí-
ente Próximo antigo depois de 1200 a.C. É verdade que se conhecem
alguns casos raros um pouco antes do segundo milenio. Poderíamos,
assim, recorrerá tais casos excepcionais e afirmar que os patriarcas faziam um uso restrito de camelo. Mas preférese, em geral, explicar essas
referencias aos camelos como anacronismos. Chegase a sugerir que o texto, de inicio, falava de jumentos, substituidos posteriormente por ca
melos.
Explicar tais dificuldades como anacronismos nao é, em si, urna solugáo absurda. Todos nos tendemos, ainda hoje, a introduzir semeIhantes anacronismos em nossos textos. Um dos suburbios da cidade de Ottawa se chamava, outrora, Eastview. Esse nome foi alterado, em 1969, para Ville de Vanier. Se escrevo em 1996: 'Em minha chegada no Cana dá, instalei-me em Vanier', cometo um anacronismo. Quando cheguei ao
Canadá, em 1960, a cidade se chamava ainda Eastview. Meu texto, cien tíficamente talando, nao é exato, mas o leitor comum compreende mais fácilmente, pois muitas pessoas nao sabem mais nada a respeito dessa mudanga de nome. Mas o leitor que se baseasse em meu texto para
concluir que devo ter chegado ao país depois de 1969 se engañaría. É certo, em contrapartida, que o texto deve ter sido escrito após 1969. Urna
frase que afirmasse 'Livingstone morreu no Zámbia' seria outro exemplo de anacronismo. O país, que sob o regime británico se chamava Rodésia do Norte, tomouse Zámbia no momento de sua independencia, em 1964. Isso me indica que a frase deve ter sido escrita depois de 1964. Mas concluir, a partir dai, que Livingstone tería morrido depois de 1964 seria um erro histórico. Esse explorador británico morreu em 1873 na regiáo
da África que hoje se chama Zámbia" (pp. 28s).
Assim fala o professor universitario, á diferen?a dos jornalistas.
116
Convertidos ao Catolicismo:
"TODOS OS CAMINHOS VÁO DAR A ROMA"
por Scott e Kimberly Hahn
Em síntese: O livro vem a ser a autobiografía de um casal presbiteriano que se converteu ao Catolicismo mediante atento estudo das Escrituras e da Tradigáo. Verificaram que muitos preconceitos os mantinham afastados da Igreja Católica; averiguaram outrossim que as duas pilastras do protestantismo - Somente afee Somente a Escritura - care-
cem de fundamento na própria Biblia. - O marido se converteu em primeiro lugar, ficando a esposa desolada; a seguir, ela, devidamente con victa, também abragoua fé católica. *
*
#
Nos últimos decenios tém-se registrado numerosas conversóes do protestantismo para o Catolicismo, geralmente devidas a graca de Deus e ao estudo das Escrituras Sagradas. A nossa revista tem publicado o relato de algumas dessas conversoes, as quais se acrescenta nesta edicáo a autobiografía do casal Scott e Kimberly Hahn; também recém-convertidos, referem sua historia na obra "Todos os caminhos váo dar a Roma"1, cujos principáis traeos váo expostos a seguir. 1. As etapas de urna conversáo
Como foram as principáis etapas da conversáo de Scott. 1.1. Preconceitos
Como geralmente acontece entre os protestantes, sao marcados por profundos preconceitos contra a Igreja Católica. Assim era Scott: "No Seminario encontrei um colega chamado GerryMatatics. Entre os alunos presbiterianos, nos dois éramos os únicos suficientemente inflexíveis no nosso anticatolicismo para defender que a Confissáo de Westminster devia conservar urna tese que a maioria dos reformados estava disposta a abandonar: o Papa era o Anticristo. Embora os protes
tantes - Lutero, Calvino, Zwingli, Knox e outros - tivessem muitas diferengas entre si, todos eram unánimes na conviegáo de que o Papa era o Anticristo e que a Igreja de Roma era a rameira da Babilonia" (p. 41). Scott e sua esposa se colocaram no rol daqueles que odiavam urna falsa imagem da Igreja Católica e nao a verdadeira imagem (que eles ignoravam): 1 Ed. DIEL, Lisboa 2002, 140x210 mm, 206 pp. 117
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"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 501/2004
"O falecido arcebispo Fulton Sheen escreveu um dia: 'Talvez nao haja nos Estados Unidos urna centena de pessoas que odeiem a Igreja Católica;mas há milhóes de pessoas que odeiam o que erróneamente
supoem que é a Igreja Católica'" (p. 13). 1.2. Somente a fé
Scott Hahn era ministro presbiteriano casado com Kimberly, também ela presbiteriana. Em virtude das suas funcóes de pregador, Scott teve que estudar com afinco os grandes principios do Credo protestante, a comecar pela primeira pilastra: "Somente pela fé" somos salvos.
"...se era correto ou nao afirmar que nos salvamos exclusivamente
pela fé.
Pouco a pouco chegamos a ter o convencimento de que Martinho Lutero deixou que as suas convicgóes teológicas pessoais contradissessem a própria Biblia, á qual supostamente tinha decidido obedecer em vez de obedecerá Igreja Católica. Tinha declarado que a pessoa nao se justifica pela fé atuando no amor, mas que se justifica apenas pela fé. Chegou mesmo a acrescentara palavra 'somente'depois da palavra 'jus tificado' na sua tradugáo alema de Romanos 3, 28, e chamou a Epístola de Santiago 'epístola falsificada'porque Santiago diz explícitamente: 'Ve des que pelas obras se justifica o homem e nao apenas pela fé'. Urna vez mais, e por muito estranho que nos parecesse, a Igreja Católica tinha razao num ponto fundamental da doutrina: ser justificado significa serfeito filho de Deus e ser chamado a vivera vida como filho de Deus mediante a fé com obras no amor. Efésios 2, 8 esciarecia que a fé - que temos que ter - é um dom de Deus, nao por causa das nossas
obras, peto que ninguém se pode vangloriar, e que a fé nos torna capazes de realizar as boas obras que Deus quer que realizemos. Afééao mesmo tempo um dom de Deus e a nossa resposta obediente a miseri cordia de Deus" (p. 58).
A rigor, deve-se distinguir entre "ser justificado" e "ser salvo". "Ser justificado" é tornar-se justo, amigo de Deus, passando do estado de pecado para o estado de graca. - E o que Sao Paulo tem em
vista ñas suas cartas.
"Ser salvo" é perseverar na graca recebida até o fim da vida terres tre. Esta perseveranca nao é possível se o fiel cristáo nao manifesta a sua fé
através de boas obras. - É o que Sao Tiago tem em vista na sua carta. 1.3. Somente a Escritura
A outra importante pilastra do Credo protestante é o principio "So-
mente a Escritura"; é regra de vida. Também esta foi desmoronando, como narra o próprio Scott: 118
"TODOS OS CAMINHOS VÁO DAR A ROMA"
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"Professor Hahn ensinou que a doutrína da sola Vides nao é bíblica, e que esse grito de guerra da Reforma nao tem qualquer fundamento quando se confronta com a Carta de Paulo. Como bem sabe, o outro grito de guerra da Reforma foi a sola Scriptura: que a Biblia é a nossa única autoridade, em lugar do Papa, os Concilios ou a Tradigáo. Professor, onde é que a Biblia ensina que 'a Escritura é a nossa única autoridade'? Fiquei a contemplá-lo e comecei a sentir um suor frío. Disse-lhe:
- Vejamos primeiro Mateus 5, 1T e depois 2 Timoteo 3, 16-17: 'Toda a Escritura inspirada por Deus é útil para ensinar, para rebater, para corrigir e para formar na justiga, de modo que o homem de Deus seja perfeito, e preparado para toda obra boa'. E depois podemos ver também o que diz Jesús acerca da tradigáo em Mateus 15?. A sua resposta foi cortante:
- Mas, professor, Jesús nao estava a condenar toda a tradigáo em Mateus 15, mas só a tradigáo corrupta. Quando 2 Timoteo 3, 16 mencio na 'toda a Escritura'nao diz 'só a Escritura' é útil. Também a oragáo, a evangelizagáo e muitas outras coisas sao essenciais. E o que dizer de 2 Tessalonicenses 2, 15?
- Ah, sim... Tessalonicenses... - balbuciei débilmente - o que é que se diz ai?
- Paulo diz aos Tessalonicenses: 'Portanto, irmáos, mantende-vos firmes e guardai as tradigdes que haveis aprendido de nos, de palavra ou por carta'. Sai pela tangente:
- Ouve, John, estamos a afastar-nos do tema. Avancemos um pou-
co mais e já voltaremos a falar sobre isto na próxima semana. Posso assegurar que ele nao ficou satisfeito. Nem eu. Quando voltei a casa naquela noite, contemple'! as estrelas e mur-
murei: 'Senhor, o que é que está a acontecer? Onde é que a Escritura ensina a doutrína da sola Scriptura?'
Foram duas as colunas sobre as quais os protestantes basearam a
sua revolta contra Roma. Umajá tinha caído, e a outra estava a cambalear. Sentí medo.
1 Mt 5, 17: "Nao penséis que vim revogar a Lei e os Profetas. Nao vim revogá-los, mas dar-lhes pleno cumprimento".
2 Mt 15, 3: Disse Jesús: "Porque violáis o mandamento de Deus por causa da vossa tradigáo?". 119
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"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 501/2004
Estudei toda a semana. Nao cheguei a nenhuma conclusáo. Telefonei entáo a varios amigos. Sem éxito. Finalmente, telefonei a dois dos melhores teólogos da América, e também a alguns dos meus ex-professores.
Todos aqueles que consultava se surpreendiam de que Ihes fizes-
se essa pergunta. E sentiam-se aínda mais perturbados ao verem que nao ficava satisfeito com as respostas que me davam. A um professor disse-lhe:
- Taívez esteja a sofrer de amnesia, mas esqueci-me das simples razoes pelas quais os protestantes eremos que a Biblia é a nossa única autoridade" (pp. 70s).
"Dr. Gerstner, creio que a questáo principal é o que a Biblia ensina sobre a Palavra de Deus, já que em nenhum lugar reduz a Palavra de Deus apenas á Escritura. Pelo contrario, a Biblia diz-nos em muitos luga
res que a autorizada Palavra de Deus deve buscarse na Igreja: na sua
Tradigáo (2 Tes 2, 15; 3, 6), assim como na sua pregacao e ensino (1Pe 1, 25; 2Pe 1, 20-21; Mt 18, 17). Por isso pensó que a Biblia apoia o principio católico de solum verbum Dei, 'só a Palavra de Deus', em vez do principio protestante sola Scriptura, 'só a Biblia'" (p. 95). 1.4. O Governo da Igreja
Completando sua afirmacáo de que as Escrituras nao bastam, Scott
apresenta a seguinte imagem:
"Desde a época da Reforma, foram surgindo mais de vinte e cinco mil diferentes confissóes protestantes, e os especialistas dizem que na atualidade surgem cinco novas por semana. Cada urna délas afirma se guir o Espirito Santo e o sentido auténtico da Escritura. Deus sabe que devemos precisar de algo mais.
O que eu quero dizer, Dr. Gerstner, é que quando os fundadores da nossa Nagáo nos deram a Constituigáo, nao se contentaram só com isso. Imagine o que teriamos hoje se a única coisa que nos tivessem dado
foss'e um documento, pormuito bom que fosse, junto com a recomenda-
cáo 'Que o espirito de George Washington guie cada cidadáo'? Teriamos
a anarquía, que é precisamente o que temos os protestantes no que se
refere á unidade da Igreja. Em vez disso, os nossos país fundadores de-
ram-nos algo mais do que a Constituigáo; deram-nos um Governo - for
mado por um Presidente, um Congresso e um Senado - todos eles necessáríos para aplicar e interpretar a Constituigáo. E, se isso é necessário para governar um país como o nosso, o que é que será necessário
para governar urna Igreja que abarca o mundo inteiro? 120
"TODOS OS CAMINHOS VÁO DAR A ROMA"
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Éporisso, Dr. Gerstner, que comeco a acreditar que Cristo nao nos
deixou apenas com um Hvro e o Seu Espirito. Alias, no Evangelho nao diz urna única palavra aos apostólos acerca de escreverem; além disso, só menos de metade deles escreveram livros que foram incluidos no Novo
Testamento. O que Cristo disse realmente a Pedro, foi: 'Sobre esta pedra edificarei a Minha Igreja... e as portas do inferno nao prevaleceráo contra ela'. Por isso parece-me mais lógico que Jesús nos tenha deixado junta mente com a Sua Igreja - composta por um Papa, Bispos e Concilios tudo o que é necessário para administrar e interpretar a Escritura" (pp. 94s). 1.5. A Eucaristía
Scott se refere as aulas que dava sobre Joáo 6, 22-66:
"Comecei ¡mediatamente a por em causa o que os meus professores me tinham ensinado - e o que eu próprio andava a pregar á minha congregagáo - acerca da Eucaristía como um mero símbolo, um símbolo profundo, certamente, mas apenas um símbolo. Depois de multa oragáo e de muito estudo, acabei por reconhecer que Jesús nao podía estara falar simbólicamente quando nos convidou a comeraSua carne e a beber o Seu sangue. Osjudeus que O ouviam nao
teriam ficado ofendidos nem escandalizados com um mero símbolo. Ali as, se tivessem interpretado mal Jesús, tomando as Suaspalavras a letra
- quando Ele quería que as palavras fossem tomadas em sentido figura do _ feria sido fácil ao Senhor esclarecer esse ponto. Na verdade, já que muitos dos discípulos deixaram de O seguir por causa deste ensinamento
(vers. 60), teña estado moralmente obrigado a explicar que falava ape nas em termos simbólicos.
Mas nunca o fez" (p. 68). 2. Conclusáo
Em conseqüéncia das conviccoes adquiridas pelo estudo sincero e
sistemático, Scott houve por bem abracar o Catolicismo, mesmo á revelia de sua esposa, a qual só mais tarde se converteu.
É muito interessante observar a caminhada dos convertidos até a fé católica: a graca os impele a superar hesitacoes, obstáculos, comen tarios.
Os pontos abordados por Scott interessam a todo cristáo desejoso de encontrar a Verdade religiosa. A experiencia de Scott vem a ser esco
la para outros. Os argumentos sao claros. O protestante que afirma serem 66 os livros da Biblia, nao o pode provar pela Biblia; recorre á tradicjio dos judeus de Jámnia, embora diga que segué somente a Biblia. 121
Como explicar?
CASA MAL-ASSOMBRADA
Em síntese: A imprensa deu noticia de casa mal-assombrada no Rio Grande do Sul; os moradores abandonaram a residencia, julgando haver ai um demonio ou urna alma do outro mundo. - Na verdade, o fenómeno se explica pela presenga, na casa, de urna pessoa que sofra de urna "tempestade (trauma) interior" e projete esse tumulto psicológico
para fora de si mediante a telergia. *
*
*
O jornal ZERO HORA, de Porto Alegre, edicáo de 13/5/03 publicou a noticia de urna casa mal-assombrada que provocou grande tumulto na regiáo de Novo Hamburgo (RS). Tal caso, do qual existem similares peri
ódicamente, será analisado ñas páginas seguintes. 1. A noticia
Eis o que se lé no jornal ZERO HORA de Porto Alegre, edicáo de 13/5/03, p. 30:
Familia foge de casa com medo de supostos fenómenos paranormais Urna serie de acontecimentos paranormais em urna casa de Novo Hamburgo, no Vale dos Sinos, obrigou urna familia de seis pessoas a abandonar o local ao entardecer de ontem e atraiu a atengao de dezenas de pessoas.
Crucifixos quebrados, facas voando, armarios despencando no chao e sobre pessoas sao listados como o saldo de fatos que estariam ocorrendo dentro de urna moradia de madeira na Rúa Quarai, bairro Boa Vista. A desempregada Rosali Delly, 37 anos, deixou a casa as 18h le
vando algumas roupas, o bebé de oito meses e outros dois filhos, genro e ñora. Ñas duas últimas semanas, conforme relata, objetos estariam voando pelas pegas da casa e se chocando contra as paredes. Alguns desses possíveis fenómenos teriam ocorrido na tarde de ontem, na pre
senga de vizinhos de Rosali. Á noite, em frente á casa, havia pedagos de movéis quebrados.
- Quando tudo isso comegou, pensamos que fosse bríncadeira de algum dos meus filhos. Nem dei muita atengao - conta Rosali, sem conter as lágrimas.
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CASA MAL-ASSOMBRADA
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No sábado passado, urna faca teña se movido sozinha contra a adolescente Jaqueline Clarice Pereira, 17 anos, ñora de Rosali. O mesmo jornal apresenta casos semelhantes:
1987 - Leonice Fitz, á época com 13 anos, assombrou os morado res de Santa Rosa. Durante quatro meses, na casa onde vivía, paredes eram arranhadas, batidas eram ouvidas sem que houvesse ninguém do outro lado, objetos voavam porta afora e se espatifavam no chao e lám padas estouravam sozinhas, entre outros fenómenos. A jovem chegou a ser analisada por especialistas, e os fenómenos deixaram de acontecer pouco tempo depois.
1993 _ ciair Lopes, entáo com 17 anos, despertou a atencao da
comunidade de Anchieta (SC). Na presenca déla, objetos se moviam sozinhos e aparelhos eletrodomésticos ligavam e desligavam. 2. Como explicar?
Muitos casos semelhantes aos que transcrevemos tém sido analisados pelos estudiosos, que chegaram á seguinte conclusáo: A "assombracáo" nao se deve a espíritos do além, mas tao somen-
te ao aquém, isto é, a urna pessoa adolescente ou jovem (muitas vezes, do sexo feminino) que traz em seu íntimo um confuto psíquico. Este con futo interior, em nao poucos casos, se traduz em confuto exterior, isto é, em choques físicos, que atingem movéis, quadros, lámpadas; a desor dem exterior, física, visível que assim se origina, nao é senáo a imagem
da desordem que existe no íntimo do paciente. Os golpes físicos na casa
sao causados diretamente pela chamada teiergia da pessoa confutada.
Com efeito, verifica-se que certas pessoas emitem urna energía
dirigida pelo seu inconsciente... energía que agride o ambiente no qual
elas se acham; tal energía se chama telergia (tele = longe; ergon = trabalho, em grego). A telergía realiza aportes, ou seja, o transporte de certos objetos através de paredes ou outros objetos sólidos. Mediante a telergia, urna pessoa muito dotada, do ponto de vista parapsicológico, pode efetuar o transporte (aporte) de objetos situados num raio de 50m ao redor. A telergia pode também produzir pancadas - fenómeno este que se chama "tiptologia" (typto = bater, em grego). Mais ainda: confor me muitos estudiosos, a telergia pode transformar-se em energía lumi nosa (é o caso dos insetos chamados "vagalumes" ou "pirilampos), em energía elétrica (como no peixe "raía"), em energía térmica, mecánica, etc.
Verifica-se que, retirando-se da "casa mal-assombrada" a pessoa
que sofra de conflitos psicológicos, deixam de ocorrer as "assombracóes" 123
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"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 501/2004
e o ambiente volta á paz. Por conseguirte, torna-se desnecessária ou ilusoria a explicacáo do fenómeno mediante espíritos do além. Examinemos agora mais atentamente o que sao a telergia e o
aporte.
3. Telergia e aporte 3.1. Telergia
A telergia já era conhecida no sáculo passado pelo nome de "mag netismo animal". A fundamentacáo científica da teoria da telergia é a seguinte:
Hoje em dia julga-se que as nossas atividades nervosas e muscu lares, assim como a concepcáo de idéias e as emocoes, sao acompanhadas por atividades elétricas; há mais de trinta anos, diz-se que o or ganismo produz correntes elétricas. Ora pela Física sabe-se que toda
corrente elétrica produz um campo magnético. É lógico pensar que, numa pessoa normal, esse magnetismo seja imperceptível, mas que, em esta
do de transe, certas pessoas dotadas do ponto de vista parapsicológico manifestem esse magnetismo e a correspondente telergia. Em 1947, o
paciente (dotado parapsicologicamente) Angelo Achule foi estudado pela Societá Italiana di Metapsichica sob a direcao do Dr. Maurogordato;
comprovou-se entáo, por meio de um elétrodo posto em cada máo do
paciente com um medidor, que Angelo Achule, ao realizar fenómenos parapsicológicos, manifestava um potencial elétrico de 200 mil volts, ao
passo que este ñas pessoas normáis oscila entre vinte e quarenta.' Ao
contrario, experiencias realizadas com a máo de um cadáver nao deram
efeito algum de ordem telergética. Alguns estudiosos admitem que se poderia fazer a psicanálise do sujeito que emite telergia e produz os res pectivos aportes (locomocáo de corpos); sim, julgam que tais fenómenos podem significar o desejo de chamar a atencáo, o de vinganca, o de
comunicar urna noticia desagradável ou um perigo ¡mínente; podem tam-
bém exprimir carencia efetiva (como, talvez, tenha sido no caso de Rosali
citado atrás).
3.2. Aporte
O fenómeno do aporte parece mais difícil de ser explicado pois consiste no transporte de corpos sólidos através de paredes, o que impli ca na interpenetracáo de corpos.
O problema assim levantado é esclarecido á luz da Física moder na. Com efeito; a Física atómica afirma nao existirem corpos totalmente
opacos - o que significa que a materia nao é toda compacta nem imper-
meavel. Observa-se, alias, que as ondas do radio e da televisáo tanto 124
CASA MAL-ASSOMBRADA
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em preto e branco como em cores, atravessam as paredes, embora sejam ondas físicas.
Eis urna tentativa de explicacáo do fenómeno do aporte:
1) Trata-se de um fenómeno físico, pois supóe um corpo quantitativo posto em movimento no espaco e no tempo e através de obstáculos físicos.
2) A extensáo dos corpos visíveis é devida á velocidade do movi
mento circulatorio das partículas que os constituem (em funcáo de tres variáveis: massa, energía e vetor velocidade).
3) Pela maior ou menor velocidade das suas partículas os objetos sao mais ou menos extensos e nos dao a ilusáo da continuidade. 4) Na sua realidade profunda, porém, os corpos sao como redes de partículas microscópicas (massa-energia). 5) A massa é mínima em relacao á energía e á velocidade.
6) Ora todo corpo é permeável a qualquer forma de energía e velo cidade superiores á sua. Por exemplo, no magnetismo a energía que se desprende do campo eletromagnético atravessa qualquer campo, por
que tem a velocidade da luz (300.000 km/s), que é superior á velocidade molecular (27.000 km/s) dos corpos atravessados. Além disto, devemos notar:
7) A massa dos corpos em movimento varia com a velocidade, se gundo a teoría da relatividade de Einstein. 8) Também está demonstrado por experiencia de laboratorio que a massa se pode transformar em energía. 9) Se a velocidade de um objeto supera a velocidade molecular,
esse objeto se desintegra, porque vence a forca de atracáo das partícu las que o constituem.
Na base destes principios, podem-se formular tres hipóteses para explicar como urna pessoa parapsicologícamente dotada pode exercer o fenómeno do aporte:
a) O sujeito dotado imprime ao objeto do aporte velocidade superi or á das partículas que constituem determinada área do obstáculo; em conseqüéncia, o objeto atravessa tal área do obstáculo.
b) O sujeito transforma a massa do objeto em energía; tal energía atravessa entáo qualquer obstáculo. c) O sujeito exerce o influxo em determinada área do obstáculo,
diminuindo ou neutralizando (durante um décimo de segundo) a veloci125
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"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 501/2004
dade molecular; essa área do objeto flcarla praticamente sem massa ou permeável.
Qualquer destas hlpóteses delxa dúvidas ao estudioso. Perguntase, além do mais: como é que o homem consegue emitir a telergia? Como é que a telergia consegue imprimir e neutralizar a velocidade? As perguntas resultam do próprio fato de que um corpo sólido atravessa outro sólido. Elas persistem mesmo para quem admita a irrisoria e absurda hipótese de que um espirito do além mova os corpos confutantes ñas "casas mal-assombradas".
Vé-se quao profunda é a realidade do ser humano. Possam os futuros estudos penetrar um pouco mais dentro desse misterio, a fim de explicar as suas manifestacóes mais raras e surpreendentes! 4. Como resolver o problema de assombracáo?
Se vocé algum dia tiver noticia de urna casa mal-assombrada, nao tenha medo, mas vá visitá-la com tranqüilidade para tentar solucionar o
problema.
Que fazer ao chegar lá?
1) Procure reunir todos os moradores e freqüentadores da casa
(sem faltar ninguém) e peca que Ihe contem minuciosamente tudo o que
está acontecendo nesse lar.
2) Pergunte: quem esteve sempre presente por ocasiáo dos fenó menos de assombracáo? Talvez um adolescente ou urna jovem na faixa dos onze aos vinte anos. Raramente poderá vir ao caso urna pessoa de mais idade. Observe bem a fisionomía dessa(s) pessoa(s) sempre presente(s) aos acontecimentos: é gente magra, pálida, nervosa, subnu-
trida?
3) Anote bem as características da pessoa que finalmente pareca
ser suspeita de sofrer de um confuto interior: nome, endereco, idade, religiáo (se é espirita ou médium, ainda mais fácilmente se explica o fe nómeno); grau de cultura e instrucáo...
4) Indague se essa pessoa sofre de algum problema serio em casa:
odio, raiva, ciúme... com os pais, irmáos, namorado, esposo ou esposa... 5) Pergunte se os pais trataram com rigor ou descaso tal pessoa...,
se sofre de disritmia, trauma ou outro mal semelhante.
6) Peca aos pais que criem um ambiente familiar favorável, marca do por amor e carinho, a fim de que os filhos, para o futuro, nao padecam novos traumas psíquicos (se os houver). 126
CASA MAL-ASSOMBRADA
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7) Oriente científicamente a familia, fazendo-lhe ver que nao há intervencáo do além (demonio, exu, espirito desencarnado...), mas que se trata de fenómeno explicável pela Parapsicología: num dos morado res ou visitantes da casa existe um confuto interior...; como essa pessoa
é parapsicologicamente dotada, tal confuto se traduz em batalha exterior de movéis, quadros, lámpadas que apavoram os presentes.
8) Por conseguinte, a solucáo é possível, desde que a familia per ca o medo, recupere a calma e procure colocar amor e carinho onde faltam, ou seja, no relacionamento com o individuo suspeito de estar so-
frendo um trauma íntimo. Muitas vezes será necessário afastar, por algum tempo, tal pessoa ou o adolescente confutado, levando-o para a casa de tios ou amigos a fim de que se recupere do seu estado nervoso desequilibrado. O afastamento fará cessar a assombracáo e proporcio nará a cura ao enfermo. Este em alguns casos poderá precisar de exame médico e tratamento mais prolongado.
9) Mostre-se firme ao ministrar essas orientacóes. Apele para a absoluta confianca em Deus, que permite provacoes para o nosso bem, mas "nunca permitiría o mal, se nao tivesse recursos para tirar do mal bens ainda maiores" (S. Agostinho).
10) Se necessário, veja se pode contribuir para a reconciliacáo de ánimos melindrados, dissolucáo de ciúmes, inveja, desconfianza, ressentimento..., coisas que podem ser a causa dos assustadores fenóme nos. Seja "o bem-aventurado artesáo da paz" de que fala o Evangelho (Mt 5, 9).
11) Mostré muito interesse, caridade, bom senso, a fim de conquis tar a confianca dos moradores das casas mal-assombradas... Se conve niente, volte á mesma casa urna segunda, urna terceira vez... Nao tenha pressa em suas visitas. As pessoas assustadas tém que ser reconduzidas ao seu normal com muita paciencia e bondade.
12) Encerré suas visitas com urna oracáo a Deus Pai, pedindo-lhe a solucáo do problema em foco e entregando-lhe confiantemente o futu ro da familia atribulada.
Assim vocé poderá ajudar grandemente os seus semelhantes, fazendo-os passar de estados emocionáis um tanto irracionais para um comportamento lógico e sereno, inspirado pela fé.
Ver Edvino A. Friederichs S. J., Casas mal-assombradas. Ed. Loyola, Sao Paulo, 1980.
Estéváo Bettencourt O.S.B 127
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CARTA AS FAMILIAS DO BRASIL D. Rafael Llano Cifuentes
Caríssimos irmáos e irmás: hoje gostaria de ter com voces urna
conversa amigável. Somos urna familia. Urna familia mais unida do que julgam aqueles que nao nos conhecem. E na familia há esses momen tos gostosos de conversa depois do almoco, na varanda, no quintal ou na
sala tomando um cafezinho. Desejaha, agora, se voces me permitissem, entrar no seu lar, familiar, ir falando preocupacáo e de si, os pais com os
sentar-me ao lado de voces e, num cálido ambiente
daquilo que me preocupa e que pensó ser motivo de
perplexidade para voces, como fazem os irmáos entre
filhos, os filhos com os pais e os amigos de verdade. Os Questionamentos
Alguns meios de comunicacáo questionam: como é possível que a Igreja nao recomendé o uso dos preservativos? Nao é este o método mais eficaz para deter o avanco dessa doenca que se está convertendo numa verdadeira epidemia endémica de ámbito planetario?: "A Igreja nega o obvio", apregoa a mánchete de um importante jornal paulistano... Talvez nos, que amamos a Igreja, nos sintamos constrangidos quando o Ministerio da Saúde, ou a Organizacao Mundial da Saúde (OMS) expressa opinioes semelhantes.
Vamos por isso raciocinar juntos num ámbito familiar. Muitos de nos já enviamos a diferentes jomáis artigos e cartas que tentavam escla
recer o problema. Mas ou nao os publicam ou os publicam fracionados ou incluidos num contexto que os desfigura. E é por isso que sinto necessidade de abrir o coracáo e falar agora, sem entraves, á nossa queri da familia crista. Esta é a razáo de ser desta carta familiar. Num clima sereno, sem polémicas, deixaremos fluir os nossos pensamentos, procu
rando que prevaleca o bom senso e a ponderacáo.
A OMS parte de um fato: os costumes atuais nao seguem as nor mas tradicionais, ñas quais as relacoes sexuais estáo destinadas a con sumar um amor estável dentro do matrimonio em que, como fruto desse amor, háo de vir os filhos, criados e educados dentro desse ámbito fami liar. Isto, porventura, poderia ser considerado como o "ideal" mas - argumenta-se - nao podemos viver de "idealismos" e sim de realidades. E a realidade é bem diferente. Os jovens comecam a ter relacóes sexuais antes do matrimonio; muitos nao se casam, e manlém relacóes eventu128
CARTA AS FAMILIAS DO BRASIL
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ais e transitorias; as mocas com freqüéncia deixam-se levar pelos seus impulsos e sentimentos, nao se vive a fidelidade conjugal... Há, enfim, em nao poucos ambientes um clima de permissividade ou até de promiscuidade, bem diferente de um eventual e teórico "ideal". E é preciso encarar essa realidade, deixando de lado certos principios, que estáo sendo ultrapassados pelo progresso das ciencias, das descobertas dos
fármacos, anticoncepcionais e dos preservativos. A verdade é que a Igreja está fora da realidade.
Continua-se argumentando: Qual é o método mais seguro, barato e de fácil divulgacáo? - O preservativo. Mas o preservativo nao tem
falhas? Alguns representantes do Ministerio da Saúde e da OMS dizem
taxativamente que nao. Outros, contudo, admitem que elas existem, mas
argumentam deste modo: admitamos que os preservativos tém 10% de ineficacia, mas este risco é muito maior quando eles nao sao usados; entao o risco é de 100%. É por esta razáo que recomendamos o pre servativo. Um cientista, num importante jornal do Rio de Janeiro, alega que as vacinas contra o sarampo e a polio também nao imunizam 100%. E nem por isso se pensa na possibilidade de nao as usar ou de fazer campanhas chamando a atencáo para isso, sob pena de incentivar a rejeicáo das vacinas que praticamente erradicaram aquelas doencas. Estes argumentos parecem táo contundentes que nao poucos ca
tólicos ficam perplexos. Talvez nao cheguem a contradizer abertamente
a posicáo da Igreja, mas ficam com dúvidas ou acuados ou pelo menos
fragilizados.
Esclarecimentos necessários
Devemos, contudo, ponderar que a Igreja - a única instituicáo duas vezes milenar - tem razoes muito serias para recomendar que nao se usem os preservativos. Convido-os, por isso, novamente, a continuar refletindo juntos com toda calma e serenidade.
Falando-lhes como um irmáo, preocupado como estou, que se deteve a estudar esse assunto em profundidade, a fim de trazer-lhes um posicionamento seguro a respeito destes questionamentos, quero dizerIhes que a argumentacao antes apresentada - que compara as falhas do preservativo com as das vacinas do sarampo ou da polio, por exemplo -
nao é consistente, por duas razoes: a primeira, porque os virus da polio
e do sarampo nao se podem evitar: atacam em qualquer momento, trans-
mitem-se pelo ar que se respira, pela agua que se bebe, pelo alimento que se come ou pelo contato habitual do relacionamento social... A AIDS, nao: transmite-se fundamentalmente pelas relacóes sexuais. E ninguém é obrigado a praticá-las com urna pessoa que nao se conhece em pro
fundidade, da mesma maneira que é obrigado a comer, a beber, a respi129
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"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 501/2004
rar ou a relacionar-se socialmente... A segunda, porque, no caso dos preservativos, a propaganda recomenda o uso como se as relacoes pro
miscuas fossem "normáis", inocuas, inevitáveis, ou até recomendáveis. Essa é a feicáo que tém as propagandas que as vezes aparecem: "aproveite o carnaval, mas use 'camisinha'". Aceita-se um pressuposto inadequado - a promiscuidade - e inclusive incentiva-se a mesma: "nao se iniba, divirta-se, mas - cuidado! - use 'camisinha'".
A propaganda, em geral, nao faz advertencias, nao entra em sutile zas, simplesmente incita a usar a "camisinha", fomentando o que este uso traz consigo: urna relacáo eventual e insegura. É um meio que, sem
dúvida, convida ao desregramento sexual. Desregramento sexual este
que traz consigo muitos inconvenientes: o enfraquecimento da saúde e
da forca de vontade, a perda de um comportamento social e profissionalmente correto, a falta de respeito á pessoa humana e, sobretudo, a infidelidade conjugal e a gravidez precoce, da qual nao poucas vezes deriva o aborto.
A mentalidade permissivista pode-se aceitar teóricamente, porém, Pode-se defender o "sexo livre", mas ninguém aceita que a sua esposa, ou o seu marido, tenha relacoes com um terceiro. Pode-se, intelectualmente, ser favorável as relacóes sexuais pré-matrimoniais, mas ninguém gosta de quando na prática nos afeta pessoalmente, é bem diferente.
que urna filha de quinze anos fique grávida, ou um filho de quatorze anos
seja pai. O fim bom nao justifica utilizar meios perversos. Quem aceita ría montar urna escola para ensinar aos pivetes de rúa a roubar sem matar? Alguém alegaría que o fim é excelente: evitar muitas mortes. Mas os meios utilizados sao péssimos.
Evitar o pior nao justifica consentir no que é mau. Evitar a AIDSé ótimo, mas fomentar a promiscuidade é péssimo. Nao estaremos utili zando um inibidor para a AIDS - o preservativo - que, em última análise,
pode se tornar causa desta mesma doenca? Descuida-se a educacáó dos adolescentes para a afetividade e a vida sexual sadias, lamenta-se o
uso precoce do sexo e a gravidez das adolescentes e de repente, "a toque de caixa", poe-se ñas máos dos menores um pacote de preserva
tivos como que dizendo: "fique bem á vontade, a 'camisinha' garante". É o mesmo que querer apagar um incendio com gasolina!
mam de irresponsável a quem dá um grito de alerta.
E depois cha-
O "slogan" da "camisinha" que foi anunciado num conhecido pro
grama de televisao é este: "Pecado é nao usar camisinha". É difícil in ventar urna táo ardilosa falacia. "Pecado é nao usar 'camisinha'", mas nao é pecado trair a esposa usando camisinha; nao é pecado o
desregramento sexual porque se usa "camisinha"; nao é pecado deflorar urna menina porque se usa "camisinha"; nao é pecado perverter meno130
CARTA AS FAMÍLIAS DO BRASIL
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res incitando-os a usar "camisinha"; nao é pecado desfigurar a imagem do Brasil, que tem tantos valores, apresentando-o como o país da libertinagem, das mulheres facéis, dos bacanais de carnaval... Se urna campanha gastou tempo para inventar esta "sutileza", que poderemos esperar no desenvolvimento da mesma campanha? A Igreja simplesmente aconselha a ter um comportamento decente- porque, nao
o esquejamos, a questáo consiste em ser simplesmente decente - e deixa liberdade para que as pessoas tomem a atitude que desejarem: nao faz campanha. Nao tem milhóes para fazer propaganda. Nao pressiona a opiniáo pública dessa maneira.
Mas tem que suportar o peso
fabuloso que representam para a opiniáo pública programas de televisáo caríssimos. Nos peguntaríamos: quem realmente comete o pecado? Por que esse interesse em denegrir a imagem da Igreja? Nao será por medo de que a atitude transparente d'Ela desperté a consciéncia dos cidadáos? Será necessário gastar milhóes para tentar convencé-los: "Nao, nao há pecado quando se usa 'camisinha'". A Igreja nao pretende susci tar admiracáo. A Igreja o que pretende é respeito. As agóes que facilitam a propagacao de urna doenca sao eticamente reprováveis. E os atos que desumanizam o sentido da sexualidade sao igualmente reprováveis. Joáo Paulo II assim se expressou: "O
uso dos preservativos acaba estimulando, queiramos ou nao, urna prática desenfreada do sexo".
Podemos inibir-nos ás vezes, queridos irmáos e irmás, mas é pre ciso ter a coragem de dizer as verdades aos filhos, á sociedade e ao Estado: nao existe sociedade estável, sem familia bem constituida; nao há familia bem constituida sem fidelidade conjugal; e nao há fidelidade conjugal sem a educacáo da afetividade e do sexo, sem auto-controle. E, quando nao há auto-controle, o que fazer? A OMS e o Ministerio da Saúde advertem: Nao é para se preocupar: use a "camisinha"! A "camisi nha" soluciona todos os problemas... Perguntamos: a "camisinha" prote ge contra as crises conjugáis, contra o sexo prematuro táo perturbador para tantos menores de idade, contra a delinqüéncia juvenil e as conseqüéncias naturais da desestruturacáo do lar? Sabemos muito bem que a questáo nao consiste em curar os efeitos; é preciso suprimir as causas.
Nao se soluciona o problema profilático da agua colocando um filtro em cada torneira, mas purificando a agua na fonte, no reservatório. Nao se encontra o remedio na "camisinha", mas na mudanca de atitude: um verdadeiro trabalho educativo no qual a Familia, o Estado e a Igreja tém que envidar os mais vigorosos esforcos.
Nao, nao é com preservativos que se solucionaráo os problemas do desregramento sexual, mas com um trabalho profundo que venha a 131
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"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 501/2004
colocar no lugar que merece o valor da vida, do amor, do sexo, do matri monio e da familia.
E é nessa empreitada que está metida a Igreja. A Igreja nao nega o obvio. A Igreja reconhece o obvio - a realidade - mas esforga-se por superá-la. Talvez seja a única entidade, a nivel mundial, que tenha a coragem de chamar as coisas pelo seu verdadeiro nome. E talvez seja
por essa razao que é táo duramente criticada: a luz alegra os olhos sadios e fere os que estáo doentes. O fundamento da posicáo da Igreja
Mas, caríssimos amigos e amigas, voltemos a um ponto concreto destas nossas reflexóes. Há quem diga: que tem a ver a Igreja com a eficacia técnica e profilática dos preservativos? E nos poderíamos res ponder com toda a certeza: em realidade ela nao tem nada que ver com isso, como nao tem nada que ver com a eficacia da estreptomicina, enquanto o assunto estiver no ámbito científico. A Igreja defendería a mesma opiniao de sempre, aínda que os preservativos fossem absolutamen te seguros. Com efeito, o fundamento da posicáo da Igreja é muito mais profundo: a mesma natureza humana. O eminente descubridor do HIV, Luc Montagnier, nao se recusou a comprometer-se a fundo ao indicar como deveriam ser as campanhas contra a AIDS: "sao necessárias campanhas contra práticas sexuais con
trarias a natureza biológica do homem. E, sobretudo, há que educar a juventude contra o risco da promiscuidade e o vagabundeio sexual". Nóte se que nao é o padre que fala no confessionário, mas o cientista-descobridor do HIV.
A lei natural determina que existe um vínculo indissolúvel entre a relacao sexual e a transmissáo da vida. Romper artificialmente essa uniáo - como acontece no uso do preservativo - representa urna grave
infracao dessa mesma lei natural.
A Igreja reafirmou este principio em repetidos documentos. Apre-
sentamos aqui apenas um texto da Humanae Vitae, de Paulo VI: "Adou-
trina da Igreja está fundamentada sobre a conexáo inseparável que Deus quis e que o homem nao pode alterar por sua iniciativa, entre os dois significados do ato conjugal: o significado unitivo e o significado procriador"(n. 12).
A mesma encíclica esclarece: "É de excluir, como o Magisterio da Igreja repetidamente declarou, a esterilizacáo direta, tanto perpetua como temporaria, e tanto do homem como da mulher; é, ainda, de excluir toda 1 Luc Montagnier. "AIDS Natureza do Virus", emAtas da IV Reuniáo Internacional da
AIDS. 1989, p.52.
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CARTA AS FAMÍLIAS DO BRASIL
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acáo que, ou em previsáo do ato conjugal, ou durante a sua realizacáo, ou também durante o desenvolvimento das suas conseqüéncias naturais, se proponha, como fim ou como meio, tornar impossível a procr¡acáo"(n. 14).
Nao se pode mudar a ordem natural em funcáo de urna solucáo imediatista e inadequada, que, além de nao solucionar o problema da proliferacáo da AIDS, propicia e incentiva a prática desregrada do sexo. Se a Igreja nao tem por que dar um diagnóstico técnico sobre a
eficacia do preservativo, contudo - como qualquer pai ou qualquer máe muito se importa quando se pretende engañar os seus filhos com afirmacoes pouco transparentes ou falaciosas. Nos artigos que tém aparecido recentemente nos jomáis, infectologistas afirmam que "nao conhecem qualquer estudo confirmando que o virus da AIDS passa pelos poros da
camisinha". Urna afirmacáo como esta só tem duas explicacóes: ou, por um lado, há um desconhecimento das múltiplas pesquisas verificativas existentes nesse sentido (ignorancia que nao se pode desculpar num
verdadeiro cientista); ou, por outro, existe má fé: ocultam-se dados im portantes para nao tirar torca a urna campanha que envolve milhóes de reais, alimenta a próspera "industria do sexo" e enriquece os laboratorios. A eficacia dos preservativos
Com efeito, existem numerosos trabalhos que demonstram a inefi cacia dos preservativos. A nossa conversa familiar está-se prolongando
demais. Nao a quero tornar mais cansativa e pesada, com a repeticáo enfadonha do laudo de dezenas de pesquisas existentes nesta materia. Por isso pediría o seu consentimento para citar apenas alguns exemplos. "A Food and Drug Administration (FDA)" - entidade do governo dos Estados Unidos encarregada de aprovar medicamentos, próteses, aditivos alimentares, etc. - estudou 430 marcas com 102.000 preservativos {165 marcas fabricadas nos EUA com 38.000 preservativos e 265 marcas es
trangeiras com 64.000 preservativos). O resultado da pesquisa verificou que 12% das marcas estadunidenses e 21 % das estrangeiras nao tinham nivel suficiente de qualidade"1. "Aceitando essa taxa de defeitos, a probabilidade de falha no caso do preservativo seria de 20,8% anual se mantivessem relacóes urna vez por semana e de 41,6% se fossem duas vezes por semana"2.
1 CDC. "Preservativos for prevention of sexually transmitted diseases". MMWR. N.
37,1988, pp. 133-134, cit. por Ernesto Aguilar-Alvarer Bay, "Campañas que matan", ISTMO, México-DE, Margo-Abril 2003, p. 35.
2 F. Guillen, I. Aguinaga., "Efectividad de los preservativos em la prevención de la infección por HIV em casáis de pessoas soropositivas". Méd. Clin. N. 105, 1995, p. 542, cit. Por Ernesto Aguilar, loe. Cit. 133
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"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 501/2004
"Em 1992 o Dr. Ronald F. Carey, pesquisador da FDA, introduz microesferas de poliestireno do diámetro do HIV em preservativos que trnham superado positivamente o teste da FDA e os submeteu a variacoes de pressáo similares as que se produzem numa relacáo sexual: um terco deles perdeu entre 0,4 e 1,6 nanolitros. Numa relacáo sexual de dois minutos, com um preservativo que perde um nanolitro por segundo passariam 12.000 virus de HIV"1. Como se observa, a porosidade do látex pode permitir a passagem de milhares de virus da AIDS, com toda a sua carga mortífera, apenas numa breve relacáo. Este virus é 450 vezes menor que o espermatozoide.
O Centro de Controle de Doencas de Atlanta (EEUU), o que mais informacoes possui na luta contra AIDS, reconhece que "o uso apropriado do preservativo em cada ato sexual pode reduzir, mas nao eliminar, o risco de doencas de transmissáo sexual" e acrescenta: "a abstinencia e a relagáo sexual com um parceiro(a) mutuamente fiel e nao infectado(a) sao as únicas estrategias preventivas totalmente eficazes". Nestes mes-
mos termos, a OMS, paradoxalmente, em algum momento já afirmou
que "só a abstinencia ou a fidelidade recíproca perdurável entre os parceiros sexuais nao infectados elimina completamente o risco de infecgáo do virus HIV2. Se tornássemos a ler, novamente, esta última frase, pare cería estarmos escutando um aconselhamento da Igreja. Mas nao, é a própria OMS que o afirma. Criticando a Igreja, essa organizacáo está,
sem perceber, contestando afirmacoes feitas por ela mesma.
Urna fonte da Internet subscreve: "Em maio de 2003, um estudo realizado na Franca pelo "Instituto da Saúde e da Pesquisa Médica" poe os cábelos em pé, ao indicar que a metade dos preservativos usados se rompem ou se utilizam mal: há, portanto, segundo esse estudo, somente
uns 50% de eficacia prática dos preservativos. A eficacia teórica, realiza da no laboratorio em condicóes ideáis, é bem diferente da eficacia alcancada no uso prático dos preservativos.
Esta mesma fonte acrescenta: "Toda sociedade se fundamenta na confianca que os cidadáos tém nos responsáveis políticos, escolhidos democráticamente ñas urnas, por isso mesmo nao há nada mais
decepcionante que a queda dessa confianca. Confiamos em que os res ponsáveis políticos haveráo tomado nota destes importantes estudos que se acabam de citar, para agir em conseqüéncia, já que nao se pode brin
car com a saúde dos cidadáos"3.
Nao se poderia aplicar esse apelo a algumas autoridades brasilei-
ras e a certos meios de comunicacáo social? Por que culpar o Cardeal 1 Cit. por Ernesto Aguilar Alvarez Bay, loe. cit. 2 OMS., 20 de Janeiro de 1992, n". 17.
3 José Javier Ávila Martínez., www.piensaunpoco.com 134
CARTA ÁS FAMÍLIAS DO BRASIL
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López Trujillo das suas afirmacóes e nao o Instituto da Saúde e da Pes quisa Medica da Franca? Alias, referindo-nos ao Cardeal López Trujillo, acrescentaremos a resposta que ele mesmo deu á BBC de Londres depois das suas declaracoes táo mal interpretadas, no que diz respeito á «seguranca» do uso do preservativo. Jacques Suaudeau, doutor em
Medicina, que seguiu de perto o debate e problema da AIDS na África,
tem importante artigo em nosso «Lexicón» cheio de anotagóes bibliográ ficas acerca do tema. Nos recebemos também noticias de um relatório de grupos que representam 10.000 médicos que acusam o «Center for Disease Control» (CDC) nos Estados Unidos de ocultar a pesquisa do próprio governo, a qual mostrava a «ineficacia dos preservativos para prevenir a transmissao de doengas sexualmente transmissíveis». Este informe do «Catholic Family and Human Rights Instituí (um grupo em Nova York que controla os temas da ONU em relagao á familia e á vida)
manifesta além disso que a rejeigáo do CDC de reconhecer este fato «contribuiu para propagar a epidemia de doengas sexualmente transmissíveis»". Infelizmente do equívoco da BBC se fizeram eco urna muito conhecida revista brasileira e aquele programa de televisáo de táo grande audi encia a que nos referimos antes. Nao é só a imatura superficialidade de ambas as reportagens que nos causa espanto, mas a irresponsabilidade com que se acusa, sem provas, (ai sim é que nao apresentam pravas!) urna autoridade da Igreja digna de crédito. Poderíamos prosseguir citando dúzias de pesquisas até esgotar a sua paciencia, queridos irmáos e irmás. Limitamo-nos apenas a fazer constar algumas délas a mais, citando-as no fim desta carta.
Depois de tudo o que foi dito, perguntamos: como é possível que um pesquisador, professor de urna renomada Universidade do Rio de Janeiro, possa afirmar que "nao existe qualquer estudo mostrando que a "camisinha" é ineficaz na prevengáo da AIDS"? Como se explica que as críticas dirigidas a quem desaconselha o uso do preservativo e propoe urna educagáo afetiva e sexual mais de acordó com a natureza humana, tenham como único destinatario a Igreja Católica? O descobridor do HIV, o Centro de Controle de Doengas de Atlanta,
o Instituto da Saúde e da Pesquisa Médica da Franga, nao falam fundamentando-se numa norma religiosa, mas baseando-se nos resultados
orientados por um estudo científico serio e consciencioso.
Entáo, como é possível dizer que a "Igreja nega o obvio"? Nao seria melhor asseverar que a Igreja afirma o que toda pessoa com um mínimo de informagáo e de consciéncia ética também afirmaria, seja esta hindú, budista, maometana, crista ou espirita; quer seja parte do povo comum do Brasil, quer integre um governo que diz querer representar os
sentimentos desse povo? 135
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"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 501/2004
Voltamos a insistir em algo fundamental: a Igreja nao rejeita o uso de preservativos somente porque estes nao sao eficazes. Continuaría afirmando o mesmo se estes fossem 100% perfeitos, em todo momento e em todas as circunstancias. Mas, levando em conta as falhas da "camisinha", é natural que, como faria qualquer máe responsável, advirta os seus filhos a respeito dos riscos que correm. Há momentos em que calar-se representa uma grave omissáo. Por que faz isso o Ministerio da Saúde? Como já afirmamos em outro momento, nao é transparente uma propaganda de difusáo indiscriminada do uso do preservativo sem cha mar a atencao sobre os seus perigos? Se todo laboratorio tem a obriga-
cáo legal de indicar na bula dos remedios os efeitos colaterais dos mesmos, e os fabricantes de cigarros alertar, em cada mago, as doencas que o fumo provoca, o Ministerio da Saúde tem também a obrigacáo de pre venir a populacáo a respeito do risco no uso dos preservativos. Coisa que ele sistemáticamente nao faz: fala-se sempre de "sexo seguro". A atitude da Igreja dissemina a AIDS?
A Igreja nao está impedindo o combate á AIDS, pelo fato de nao concordar com o uso da "camisinha". Quem afirmar o contrario, está difundindo uma inverdade insidiosa, que muitos aceitam passivamente sem ulteriores verificacóes. Como uma pequeña mostra disto que aca bamos de afirmar, copio um artigo de ISTMO, uma conhecida e prestigi osa revista cultural mexicana, - nao de uma revista religiosa - escrito por um especialista na materia e nao por um moralista: "Se analisarmos a
AIDS na África, devemos pensar que a influencia da Igreja Católica se
circunscreve a 15,6% da sua populacáo total. Alguém se-atreveria a afir mar que a AIDS prejudica em maior medida os católicos do que os muculmanos ou animistas? Nao seria possível fazer isto, já que diversas estatísticas demonstram que a comunidade católica sofre em medida bem
menor a praga da AIDS: é lógico que o ensinamento em favor da monogamia e da castidade tenham os seus efeitos positivos em ambien
te de promiscuidade generalizada.
"Entáo entre que grupos humanos a atitude da Igreja poderia con tribuir para disseminar AIDS? Entre os católicos sem prática religiosa, nem vivencia dos seus principios moráis? Seria sensato supor que quem
é infiel a sua esposa, vira a respeitar a orientacáo da Igreja que desaconselha o uso do preservativo? Nestas condicóes correría, por acaso, o risco de contaminar-se para ser fiel as orientacoes de uma religiáo que nao pratica? Seria um absurdo. Evidentemente quem nao tem escrúpulos de ter relacóes com uma mulher fácil ou uma prostituta, nem se colocará a questáo da licitude moral do preservativo. Portanto acusar a Igreja Católica na difusao da AIDS por esse motivo é, mais do que um absurdo, uma manobra para negarse a reconhecer a realidade contrá136
CARTA AS FAMÍLIAS DO BRASIL
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ría: sem a moral católica a sociedade sería mais promiscua e, em conseqüéncia, a AIDS estaría muito mais estendidá'S The Wall Street Journal, no 14 de outubro último, deixou claro que
25% dos doentes de AIDS no mundo sao atendidos por instituicoes cató licas. E, igualmente, afirmou que os estudos científicos - um deles a cargo do Servico de Saúde dos Estados Unidos e outro sob a responsa-
bilidade da Universidade de Harvard - coincidiam em alertar sobre os decepcionantes resultados da prevencáo da AIDS baseados no preser vativo. Menciona-se o caso de Uganda, que em 1991 contava com urna
taxa de infeccáo de 20%, enquanto no ano de 2002 tinha descido aos 6%, em virtude de urna política sanitaria centrada na fidelidade e na abs tinencia, nao no preservativo (á diferenca de Botsuana e Zimbábue que ainda ocupam os primeiros lugares nos contagios)2. Chama a atencáo que estes fatos sao sistemáticamente silencia dos. Por baixo das realidades verdadeiramente científicas desliza urna
correnteza estranha e anticientífica, que silencia estas realidades positi vas. A agencia LifeSite e a agencia ACI, por exemplo, denunciaram re-
centemente que a maioria dos informes sobre a AIDS na África ignoram sempre os éxitos conseguidos em Uganda, por haver apostado, na sua
política sanitaria, na promocáo da abstinencia sexual, da fidelidade e da castidade.
Muitas autoridades, incluindo o Secretario de Estado norte-ameri cano Colin Powell, louvaram e reconhecéram o éxito de Uganda em reduzir a taxa de infeccáo uns 50% desde 1992. Inclusive a CNN informou
que no ano 2000 foi o país "com maior sucesso na luta contra a AIDS". No entanto a LifeSite adverte que por urna razáo desconhecida "o éxito de Uganda poucas vezes é mencionado"3.
Questionamo-nos se essas razóes, desconhecidas e estranhas, sao as que levam alguns cientistas brasileiros a dizer que "desconhecem a existencia de pesquisas sobre falhas nos preservativos" e os levam a
formular críticas maldosas dizendo que a Igreja "desconhece a realidade" e "nega o obvio".
O jornal espanhol La Gaceta de los Negocios (16/12/02) comenta nesse sentido: "Os patrocinadores do preservativo, como principal instru mento de prevencáo da AIDS, em lugar de aceitar esta evidencia - o
grande sucesso de Uganda - se obstinam ñas políticas de extensáo do
uso do preservativo, que leva inevitavelmente consigo o implícito convite
a promiscuidade sexual sob a mentirosa promessa do 'sexo seguro". O 1 Ernesto Aquilez -Alvarez Bay. "Istmo". México, DF, Margo a Abril de 2003, p. 38. 2 Aceprensa. Madrid, 22 de outubro 2003, p.3.
3 Vil Congreso Nacional Sobre el SIDA, maio de 2003, Bilbao, Espanha. 137
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"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 501/2004
resultado é o que temos diante dos olhos. Há loucos dispostos a tudo antes de propor o dominio sobre as paixoes". A afirmacáo está feita por um jornal comercial, nao por um boletim paroquial.
O governo Bush procura, agora, incorporar um treinamento de abs tinencia ao Programa Internacional Americano para a AIDS. Este plano questiona a efetiva prevencáo da AIDS por preservativos1. Há evidencias de que o chamado "sexo seguro" nao tem contido a expansáo da doenca. Por exemplo, conduzida por Nelson Mándela, a
África do Sul abracou firmemente a estrategia do "sexo seguro", e o uso de preservativo aumentou. Mas a África do Sul continua a liderar mundialmente os casos de infeccáo por AIDS com 11,4% de sua populacao atualmente infetada. Há noticias do Mercury News de Miami de que a Fundacáo Bill e Melinda Gates gastará US$ 28 milhóes para estudar o potencial dos preservativos no controle da natalidade e no combate á
AIDS na África. Porém, as mesmas noticias de Mercury News obser-
vam que "as bases científicas para a prevencao da AIDS através de pre servativos sao mais teóricas que clinicamente provadas"2.
Insistimos: nao entendemos como, depois de tantos questionamentos de táo alto nivel, algum professor universitario brasileiro e algum representante do Ministerio da Saúde afirmem, sem fazer a ressalva, "a
seguranca absoluta dos preservativos". Perguntamos reiteradamente: é
ignorancia ou urna versáo nova da "conspiracáo do silencio"? A solícita preocupacáo da Igreja pela AIDS
Nao podemos deixar de notar que a Igreja se preocupa enorme mente com a AIDS. Mas ainda é urna das entidades que, de maneira
efetiva, luta contra a AIDS. O Cardeal Claudio Hummes, chefe da delegacao da Santa Sé na ONU, no dia 22 de setembro de 2003, também proclamou que "a Santa Sé, gracas as suas instituicoes no mundo inteiro, prové a 25% da atencáo total que se dá as vítimas do HIV/AIDS, e assim ela se sitúa entre os principáis atores nessa materia, particular mente entre os mais assíduos e melhores provedores de atencao as víti mas
A Igreja no Brasil já assumiu o servico de prevencáo do HIV e da assisténcia a soro-positivos e, sem preconceitos, acolhe, acompanha e defende o direito á assisténcia médica e gratuita daquelas e daqueles 1 LifeSite Daily News (
[email protected]) 1 LifeSite Daily News (
[email protected])
3 "Intervengáo de Sua Eminencia Cardeal Claudio Hummes, Chefe da Delegagáo da Santa Sé na Reuniáo Plenária de Alto Nivel da Assembléia Geral Dedicada ao Seg mento dos Resultados do Vigésimo Sexto Período Extraordinario de Sessóes" ONU Nova York, 22 de setembro de 2003.
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CARTA ÁS FAMÍLIAS DO BRASIL
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que foram infectados pelo virus da AIDS. Faz também um trabalho de
prevencáo pela conscientizacáo dos valores evangélicos, sendo presenca misericordiosa e promovendo a vida como bem maior (cf. Diretrizes Gerais da Acáo Evangelizadora da Igreja no Brasil, nB 123 - Doc. 71, 2003).
Evidentemente, ninguém dedicaría tamanho esforco para atender solicitamente e curar, na medida do possível, os doentes da AIDS, se, ao mesmo tempo, estivesse facilitando a propagacáo da mesma doenca de maneira irresponsável, como maldosamente já disse algum meio de comunicacáo Em todas as questóes é preciso olhar, de diferentes ángulos, para todas as facetas de um problema a fim de obter a respeito dele um diagnóstico equilibrado e certeiro. Este criterio nao é certamente o que seguem os que estáo criticando a Igreja agora por desaconselhar o uso do preservativo.
O Programa de Distribuicáo de Preservativos
Capítulo á parte constituí o programa de distribuicáo de preservati vos iniciado pelos Ministerios da Saúde e da Educacáo. Tencionam en tregar cerca de 235 milhóes de preservativos por ano para 2 milhoes e meio de estudantes das escolas fundamentáis. Voltamos a repetir o que já dissemos em outro lugar: no ámbito de urna populacáo estudantil for
mada por adolescentes, o perigo de que a distribuicáo de preservativos
venha a ser um incentivo para a prática do sexo precoce, é algo claro e evidente de per si. Porque, sob a capa de evitar urna doenga, parece que,
subliminarmente, se está insinuando com pedagogía mdireta: "Transar, nao há nada de mais". "se vocé senté esse impulso, por que nao o satisfazer? O importante - isso sim! - é usar a "camisinha". E isto, por ventu ra o mais importante para um paí e urna máe responsáveis? Que pai responsável pensa: se minha filha se deita com qualquer coleguinha para se divertirem nao tem importancia, o que tem importancia e que nao se esquecam de usar a "camisinha"?
Por outro lado, sendo a educacáo afetiva e sexual urna tarefa que compete primordialmente aos pais, a propaganda macica, iniludivel e impositiva sobre o uso dos preservativos entre menores significa urna interferencia abusiva num direito inalienável do patrio poder.
Poder-se-ia também ponderar que os país nao estáo preparados para oferecer urna educacáo afetiva e sexual aos filhos. Isto, porém, nao
eleve levá-los á culpável omissáo. Sao os pais que devem, com respon-
sabilidade própria e intransferívei, ir, gradativamente, adqumndo esses conhecimentos para passá-los, na sua devida hora, aos filhos. O Estado nao pode instigar a um tipo de educacáo sexual sem abrir opcóes aos pais para que possam escolher, com liberdade, entre 139
"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 501/2004
urna solucáo ou outra. Será que as autoridades públicas dáo á Igreja e a outras instituicoes nao governamentais- formadas porcidadáos brasileiros - de forma proporcional, os recursos educacional semelhantes aos
que o governo, unilateralmente, gasta em um programa millonario como
a campanha dos preservativos?
Nesse terreno o caráter subsidiario do Estado na educacáo dos filhos deveria oferecer esses recursos, a fim de que os pais venham a
dispor de novas perspectivas e opcoes.
Para nos nao cabe a menor dúvida de que um programa de distribuicao massica de "camisinhas" pode ser o estopim para desencadear um novo processo de perversao de menores, paradoxalmente amparado por lei.
Conclusáo
Finalizando a nossa conversa, caríssimos irmáos e irmás reconheco que a minha confidencia foi longa demais. Entretanto, estendi-me bem alem do que desejaria pensando que voces, apoiando-se nessas ideías, poderiam transmití-las, em primeiro lugar, dentro do seu ámbito familiar e, depois, fora dele a outros, e estes por sua vez a outros em ondas sucessivas - como a pedra que cai no lago formando círculos
concéntricos cada vez mais ampios -, para que a verdade a respeito da
Doutnna da Igreja fique no seu verdadeiro lugar e se expanda com os seus benéficos efeitos a todas as pessoas. Pensó que é anseio de todos nos que estas verdades nao se detenham no nosso reduzido círculo mas se espalhem com toda a forca e a ressonáncia de que estáo dota-
uds
Nao é nossa intencáo fomentar um confuto entre as autoridades
governamentais, a Igreja e a instituicáo familiar. Pelo contrario tentamos
harmonizar o desejo inegável, de reconhecido valor, do Estado de evitar
a propagacao da AIDS, com os direitos e deveres da Igreja na transmis-
sao de sua Doutrina e com os direitos e deveres das familias de serem devidamente informadas e de fazerem valer as suas prerrogativas no que diz respeito á educacáo sexual dos filhos.
Tomara que estas consideracóes contribuam de alguma forma para que se estabeleca um diálogo respeitoso, construtivo e enriquecedor entre o Estado, a Igreja e as familias.
Nos amamos a Igreja - nossa Máe - e a nossa familia - Igreja domestica -. Esse amor deve levar-nos a protegé-las dos ataques feitos multas vezes por ignorancia e outras vezes por intencoes escusas e menos nobres. E por isso que a minha conversa se alongou demais: pude alar140
CARTA AS FAMÍLIAS DO BRASIL
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gar o coracáo, em confidencia de irmáo, ou de pai, ao lado de voces, em quem, por constituírem a minha familia, confio ilimitadamente. Brasilia, 12 de novembro de 2003.
Dom Rafael Llano Cifuentes
Presidente da Comissáo Familia e Vida
Depoimentos e pesquisas sobre a eficacia do preservativo no combate
e na prevencáo da aids
O presidente da Cruz Vermelha Mexicana, José Barroso Chávez,
reabriu o debate no país sobre a eficacia dos preservativos na luta contra
a AIDS, reconhecendo que nao sao 100% seguros contra o virus. Barro so criticou a campanha do governo lancada para combater a doenca a
partir da distribuicáo de preservativos. Barroso Chávez explicou que va
rios estudos científicos em nivel internacional provam que, em 40% dos casos, os preservativos falham, tornando-se, assim, um método ineficiente para evitar o contagio do virus HIV, e argumentou que todas as campanhas de prevencáo da doenca deveriam proclamar "a verdade completa e nao a mentira" (Cidade do México, 11 fev 1998 - SN) "A abstinencia é a única maneira eficaz e infalível de eliminar o risco de infeccáo por HIV, doencas de transmissáo sexual e gravidez indesejada.
"A abstinencia nao somente quer dizer nao; implica em dizer sim a um futuro mais saudável e feliz. A abstinencia é 100% segura, 100% eficaz e em 100% do tempo". (Presidente Bush aos participantes do En contró Internacional sobre Abstinencia em Miami, 26-28 de julho de 2001). Segundo informe da ONU, os preservativos nao sao a resposta para a AIDS. As mudancas de conduta tendem á monogamia.
Nova York, 28 de junho de 2002 (ZENIT.org). - Segundo informe das Nacóes Unidas, publicado no ultimo 23 de junho, o esforco massico da ONU para prover o mundo de preservativos, com o intento de frear a expansáo do HIV/SIDA, fracassou. Depois de exaustiva análise dos da dos dos países em desenvolvimento em todo o mundo, a Divisáo de Populacáo do Departamento da ONU para Assuntos Económicos e Sociais chegou á conclusáo de que a disponibilidade atual dos preservativos nao alterou significativamente a conduta sexual.
"Favorecer o uso de preservativos se revelaría um erro, porque só aumenta os comportamentos arriscados, exatamente como por seringas 141
"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 501/2004
á disposicáo dos toxicodependentes". (William BLATTNER, Diretor do Departamento de Epidemiología Viral de Bethesda, E.E.U.U • Reuniáo Internacional em Roma, 13-15/X/1989)
"Tenho tratado a muitos pacientes que padecem de AIDS, que haviam utilizado preservativos. Provavelmente, se nao os tivessem usado, nao teriam essas relacoes sexuais e agora nao teriam AIDS". (Dr. Aquilino Polaino, catedrático de Psiquiatría, em Ver. Palabra, Madrid, IV/90, p. 33).
O Dr. Ronald F. Carey, investigador na FDA (Administracáo de Ali
mentos e Drogas), pos a prova 89 preservativos em urna máquina simu ladora da relacáo sexual, e encontrou que pelo menos 29 deíxaram passar partículas do tamanho do virus da AIDS. A falha foí de 33%(Ronald F.
Carey, William A. Hermán, Stephen M. Retta, Jean E. Rinaldí, Bruce A. Hermán e T. Whit Eficacia dos Preservativos de Látex corno Barreira a Partículas do Tamanho de Athey -A um Virus da Imunodeficiéncia Hu mana sob condicóes de Uso Simulado - Doencas Sexualmente
transmissíveis, julho-agosto, 1992, pp. 230-234).
Vale lembrar que os poros da camisinha sao de 50 a 500 vezes maiores que o virus da AIDS. (Rubber Chenústry & Technology, Washing ton, D.C., junho de 1992): o virus passa por esses poros com tanta facilidade como passaria um gato pela porta de urna garagem. Quando enchemos um baláo e depois de poucos días ele já está bem vazio, nao é porque foi mal amarrado e sim porque o látex tem poros por onde passa o ar.
A Dra. Susan C. Weller, da Escola Médica de Galveston, Universidade do Texas, depois de 11 estudos sobre a efetividade do preservativo, encontrou urna falha de 31 % na protecáo contra a transmissáo da AIDs! Diz ela: "Estes resultados indicam que os usuarios do preservativo teráo
cerca de um terco de chance de se infectar em relacáo aos individuos praticando sexo 'desprotegido1... O público em geral nao pode entender a diferenca entre 'os preservativos podem reduzir o risco de' e 'os preser vativos impediráo' a transmissáo do HIV. Presta desservico á populacáo quem estimula a crenca de que a camisinha evitará a transmissáo sexual do HIV. A camisinha nao elimina o risco da transmissáo sexual; na ver-
dade só pode diminuir um tanto o risco." (Susan C. Weller, "AMeta'-analysis ofCondom Effectiveness in Reducing Sexually Transmitted HIV Soc Sci
Med 36:12 -1993, pp. 1635-1644.
Percentagem de Falha da "Camisinha" para evitar a gravidez a) 9.8-18.5%: Harlap et al. "Preventig Pregnancy, Protecting Health"
Alan Guttmacher Institute, 1991, p.35.
b) 14-16%: Jones & Forrest. "Contraceptive Failure ¡n the United States" Family Planning Perspectives 21(3): 103-109. 1989. 142
CARTA AS FAMILIAS DO BRASIL
47
c) 12%: U.S. Dept. HHS. "Your Contraceptive Choices For Now, For later", Family Ufe Inforrnation Exchange, Bethesda, MD. d) 18.4%: Mulher menor de 18 no primeiro ano de uso do preserva
tivo. Grady et ai. "Contraceptive Failure in the U.S." Family Plannig Perspecfives 18(5): 204-207. 1986.
e) IQ-20%: McCoy & Wibblesman. The New Teenage Body Book. The Body Press, Los Angeles, 1987, p.210.
f) 10%: Seligman & Gesnell. "A Warning to Women on AIDS" Newsweek, 31 de agosto, 1987, p. 12.
g) 3-15%: Kolata. "Birth Control" New York Times Health, 12 de Janeiro, 1989.
índice de falha do preservativo em homossexuais
a) de 26%: 11% se rompe, 15% se solta. Wegersna & Oud. "Safety and Acceptability of Condoms for Use by Homosexual Man as a Prophylactic Against Transmission of HIV During Anogenital Sexual Intercourse". British Medical Joumal. 1 1 de julio, 1987, p.94.
b) 30%: Pollner. "Experts Hedge on Condom Valué" Medical World News, 28 de agosto, 1988, p.60.
Percentagem de falha do preservativo em usuarios habituáis:
10%: 1/10 esposas de portadores de HIV que reportam o uso habi tual do preservativo ficaram infectadas. Fischl. "Evaluation of Heterosexual Partners, Children and Household Contacts of Adults with AIDS" Journal of the American Medical Association 257: 640-644, 1987, h) 17%: Goerdent. "What Is Safe Sex?" New England Joumal of Medicine.316 (21): 1339-1342, 1987.
Impacto da estrategia nos adolescentes, segundo olsen & weed, Instituto de Pesquisa e Avaliagáo, Salt Lake City.
a) Aumento de 50-120 gravidezes/1000 atendidas em programas
de "Educación anticonceptiva" aumenta a freqüéncia de sexo em adoles centes.
b) Em 14 anos: aumento de 1.5%. Em nenhuma clínica se obtiveram menores índices de gravidez.
Se a "camisinha" falha para prevenir a AIDS em 10% e se expóem
ao perigo 100.000 adolescentes, temos 10.000 infectados. Se a propa ganda para o uso do preservativo aumenta o índice de atividade sexual
em 15%, se exporáo ao perigo 115.000 adolescentes: 11.500 infectados 143
1?
"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 501/2004 A distribuicáo de preservativos gera um falso sentido de seguranca:
a) Jovens que créem que sao eficazes: 43% tiveram atividade
genital.
b) Os que nao créem que sejam muito eficazes: 30% a tiveram
(American Teens Speak. 1986).
A campanha pró-camisinha aumenta a pressáo social sobre os jo
vens para ter sexo e as possibilidades de contagio. Assim afirma urna pesquisa feita entre jovens:
a) 61% dizem que a pressáo social é a razáo pela qual os meninos
nao esperam para ter relacóes sexuais.
b) 80% dos adolescentes sexuaimente ativos afirmam que foram
"iniciados" muito cedo.
c) 84% das meninas de 16 anos para baixo querem que em suas escolas Ihes ensinem a dizer "nao" á relacáo sexual sem ferir os sentimentos da outra pessoa. (The Parents' Coalifion for Responsible Sex Education, Marco de 1991).
K. Abril e W. Schreiner e colaboradores indicaram urna percentagem de 8% de falhas no uso dos preservativos. "Quale é il grado effetivo diprotezione dalHIV?1 in Medicina e Morale, 44 (1994) 5, 903-904. Differences in HIV Spread in four sub-Saharar African Cities
UNAIDS, Lusaka, 13 setembro 1999.
L. M. Wen - C. S. Estcourt - 3. M. Simpson - A Mindel, "Risk Factors forthe Acquisition of Genital Warts: Are Condoms Protective?" in Sexuallv
Transmitted Infections 75(1999)5, 312316.
Scientific Evidence of Condom Effectiveness for Sexuaily Transmited Desease (STD) Prevention, 12-13 de junho 2000, Hyatt Dulles Airport Herndom, Virginia, Summary Report, National Institute of Alergy and Infections Deseases, National Institutes of Heaith, 20 de iulho de 2001
http://www.niaid.nih.gov/dmid/stds/ condomreprot.pdf
A. Mitchei - A. Smidt. "Safe Sex Messages for Adolescents Do They Work?" in Australian Family Physician 29(2000)1, 31-34.Evaluating Safe Sex Efforts1, in JAMA 286(2001 )2, 159.
R.S. Hannenberg- W Rojanapithayakorn - P. Kunasol - D.C Sokal Impact of Thailand s HIV Control Programme as Indicated by the Decline
of Sexuaily Transmitted Diseases", in Lancet 344 (1994) 8917 144
NOVIDADES Testemunhos de ex-pastores e leigos que voltaram a Igreja Católica. "O livro do professor Jaime Francisco de iMoura é simplesmente magistral. É o resultado de urna pesquisa minuciosa que recolhe auto-testemunhos escritos com lágrimas e com sangue que descrevem com simplicidade a acao do Espirito reconduzindo tantos fiéis ao redil da verdadeira Igreja. E com profunda emocao que o leitor acompanha o itinerario por vezes
doloroso dessas pessoas que por caminhos diversos, tiveram, a alegría de descobrir a Igreja Católica..." (Dom Joao Evangelista Martins Térra, Bispo auxiliar de Brasilia)
Por que estes ex-Protestantes se tornaram Católicos -Jaime Francisco de Maura Formato: 14 x 21 cu - 256págs. - R$ 22,00
Este livro, aprésenla centenas de santos oriundos do clero diocesano tenham sido eles papas, bispos ou párocos, homens de Deus e de virtudes, mártires ou confessores da fe. Percebc-se que o autor,
antes de fazer propriamente urna hagiografía, está preocupado com a historia da Igreja, procurando scmpre situar todos estes santos dentro de seu respectivo século, que, na abertura de cada capítulo, vem caracterizado por suas peculiaridades, tanto positivas quanto negativas,
que realmente dao destaque aos personagens, que depois serao
apresentados, como também farao entender atitudes e realizares destes santos que, em muitos casos, viveram para modificar os rumos da historia. Trata-se de urna obra redigida com multo amor a Igreja que, por vezes, passava por situacóes extremamente difíceis.
Santoral do clero Secular - Mons. Arlindo Rupert Formato: 16x23cm- 799págs. - R$ 45,00
Esta obra procura transmitir, em forma de ensaios, reflexóes sobre a
vida monástica em geral. Edson Nery da Fonseca é um conhecido intelectual
católico pernambucano, fascinado pela vida monástica. Também traz
recordares de abades(D. Inácio, D. Timoteo, D. Basilio, D.Beda) mongesfentre des Thomas Merton) e oblatos (como Alceu Amoroso Urna). Dedica algumas belas páginas ao canto gregoriano. O volume incluí aínda
comentarios em torno de motivos monásticos - possilvelmente nunca antes
estudados - ñas obras do poeta simbolista portugués Antonio Nobre (1867-
1900) e de poetas brasileiros do romantismo a nossos días, como Junqueira
Freiré Raimundo Correia, Olavo Bilac, Augusto dos Anjos, Guilherme de
Almeida e Jorge de Lima, Dom Marcos Barbosa e Bruno Tolentino. O autor demonstra sua vasta cultura literaria e também religiosa, escrevendo de forma extremamente agradável.
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