Revista Pergunte e Responderemos - Ano XLIV - No. 490 - Abril de 2003

April 10, 2017 | Author: Apostolado Veritatis Splendor | Category: N/A
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P rojeto

PERGUNTE E

RESPONDEREMOS ON-LINE

Apostolado Veritatis Spiendor com autorizacáo de

Dom Estéváo Tavares Bettencourt, osb (in memoriam)

APRESENTAQÁO DA EDIQÁO ON-LINE Diz Sao Pedro que devemos estar preparados para dar a razáo da nossa

esperanca a todo aquele que no-la pedir (1 Pedro 3,15).

Esta necessidade de darmos conta

da nossa esperanca e da nossa fé hoje é mais premente do que outrora, visto que somos

bombardeados

por

numerosas

correntes filosóficas e religiosas contrarias á fé católica. Somos assim incitados a procurar

consolidar nossa crenca católica mediante um aprofundamento do nosso estudo.

Eis o que neste site Pergunte e

— ,' ', :

-"

Responderemos propóe aos seus leitores: aborda questdes da atualidade controvertidas, elucidando-as do ponto de vista cristáo a fim de que as dúvidas se dissipem e a vivencia católica se fortalega no Brasil e no mundo. Queira Deus abencoar este trabalho assim como a equipe de Veritatis Splendor que se encarrega do respectivo site.

Rio de Janeiro, 30 de julho de 2003.

Pe. Esteváo Bettencourt, OSB

NOTA DO APOSTOLADO VERITATIS SPLENDOR Celebramos convenio com d. Esteváo Bettencourt e passamos a disponibilizar nesta área, o excelente e sempre atual conteúdo da revista teológico filosófica "Pergunte e Responderemos", que conta com mais de 40 anos de publicagáo.

A d. Estéváo Bettencourt agradecemos a confiaga depositada em nosso trabalho, bem como pela generosidade e zelo pastoral assim demonstrados.

Ano xliv

Abril 2003

490

"Eu vim para que tenham a Vida" (Jo 10,10) "O Rosario da Virgem María" (Joáo Paulo II)

O Batismo de criancas e a Eucaristía

"O Jesús Histórico" por G. Theissen e A. Merz A autenticidade do ossário recém-descoberto Assembléia de Deus: origem e carismas Doencas e maravílhosas curas As surpresas da fecundacáo artificial

A nova face de Roberto Carlos Banalizacáo da Comunháo

Os países mais honestos. Os países mais corrup tos

ABRIL 2003

PERGUNTE E RESPONDEREMOS

NM90

Publica9áo Mensal

Diretor

.

,

SUMARIO

Responsavel

Estéváo Bettencourt OSB

"Eu vim para que tenham

publicada neste periódico

Carta Apostólica: "O Rosario da Virgem María" (Joáo

Autor e Redator de toda a materia

a Vida" (Jo 10, 10)

Diretor-Administrador:

Paulo II)

D. Hildebrando P. Martins OSB

Administracáo e

145

Distribuicáo:

seria pesquisa:

Edigóes "Lumen Christi"

"O Jesús Histórico" por G. Theissen

Tel.: (0XX21) 2291-7122-Ramal 327

Questionamento sobre:

Rúa Dom Gerardo, 40 - 5o andar-sala 501

Fax (0XX21) 2263-5679

Enderece

para

146

FalaoPapa: O Batismo de criancas e a Eucaristía... 153

e A. Merz

A autenticidade do ossário recémdescoberto

Correspondencia:

157

161

Religiosidade contagiante:

Ed "Lumen Christi" Caixa Postal 2666

Assembléia de Deus: origem e carismas

CEP 20001-970 - Rio de Janeiro - RJ

Como entender?

Doencas e maravilhosas curas

Visite o MOSTEIRO DE SAO BENTO

Como resolver?

na INTERNET: http://www.osb.org.br

Urna entrevista comentada:

CNPJ: 33.439.092/0003-21

Prática pastoral:

e"PERGUNTEERESPONDEREMOS"

165 172

As surpresas da fecundacáo artificial... 179

e-mail: [email protected]

A nova face de Roberto Carlos Banalizacáo da Comunháo

imprcssao

184 187

Espelho da realidade:

Os países mais honestos. Os países mais corruptos

190

COM APROVACÁO ECLESIÁSTICA CHARCA MARQUES SAkAIVA

.

.

NO PRÓXIMO NUMERO:

Urna pedra que confirma o texto bíblico. -A Igreja alguma vez admitiu a reencarnacáo? - A infalibilidade da Igreja. - "Os cristáos diante do divorcio", por Michel Legrain. - "Manual de Bioética": Transexualismo, por Elio Sgreccia. - Como os irmáos separados iludem os fiéis católicos. - "Que aconteceu comigo?". - A Biblia de Jerusalém, nova edigáo. PARA RENOVACAO OU NOVA ASSINATURA (ANO 2003,

DE JANEIRO A DEZEMBRO):

R$ 40,00.

NÚMERO AVULSO

R$ 4,00.

O pagamento poderá ser á sua escolha: 1. Enviar, em Carta, cheque nominal ao MOSTEIRO DE SAO BENTO/RJ. 2 Depósito em qualquer agencia do BANCO DO BRASIL, agencia 0435-9 na C/C 31.304-1 do Mosteiro de S. Bento/RJ OU BANCO BRADESCO, agencia 2579-8 na C/C 4453-9 das Edicóes Lumen Christi, enviando em seguida por carta ou íax comprovante do depósito,

para

nosso

controle.

3 Em qualquer agencia dos Correios, VALE POSTAL, enderezado ás EDICÓES "LUMEN CHRISTI" Caixa Postal 2666 / 20001-970 Rio de Janeiro-RJ

Obs.:

Correspondencia

para:

Edicóes Turnen Christi" Caixa Postal 2666 20001-970 Rio de Janeiro

RJ

"EU VIM PARA QUE TENHAM A VIDA..." (Jo 10,10) A Vida... Eis o presente de Jesús ressuscitado aos homens. Trata-se nao da vida meramente natural, sujeitas as intemperies e á morte, mas da vida plena de filhos adotivos do Pai. Essa vida, Jesús nó-la obteve matando a nossa morte no Calvario; com efeito, diz a liturgia do domingo de Páscoa: "A vida e a morte se defrontaram num duelo admirável; o Rei da Vida, tendo passado pela morte, reina vivo".

A dádiva de Jesús nao é meramente futuro; ela nos é outorgada no dia do nosso Batismo e tende a desabrochar-se aos poucos dentro da nossa corporeidade.

A presenca do dom da vida eterna em nos é, para Sao Joao, táo significativa que faz empalidecer a própria consciéncia da morte física pela qual todos passaráo; sim, diz Jesús:

"Quem eré em mim, aínda que morra, vivera. E quem vive e eré em

mim, jamáis morrerá" (Jo 11,25).

"Jamáis morrerá", isto é, jamáis perderá a vida, Sao Paulo, a seu modo, faz eco dizendo: "Para mim, viver é Cristo, e morrer é lucro" (Fl 1,21):

Eis, porém, que a experiencia ensina que a nocao do grande presente da Vida nao marca a existencia de muitos cristáos; mostram-se cabisbaixos, lerdos, desanimados em sua caminhada, em nada diferindo "dos que nao tém esperanca" (cf. 1Ts 4,13). Isto se explica, porque, como diz o apostólo, "trazemos este tesouro em vaso de argila" (2Cor 4,17). De fato, nosso corpo, sujeito a achaques, é um involucro espesso e pesado que dificulta a tomada de consciéncia da riqueza espiritual em nos existente. Dores de cabeca, preocupacóes, tribulacóes, parecem afetar a vida do cristáo mais do que a sementé de gloria depositada em seu íntimo.

Ora eis que Páscoa nos ajuda a dissipar esse paradoxo da nossa vida. Na Páscoa de Cristo também houve argila ou um corpo flagelado e crucificado; Jesús, porém, soube fazer passar através da sua argila um olhar de paz e vitória, que transfigurava todo o cenário do Calvario, disse Ele: 32).

"Quando eu for exaltado ácima da térra, atrairei todos a mim" (Jo 12 Jesús via no poste vertical da Cruz o eixo central da historia, o termo

de convergencia de todos os homens e todas as coisas.

Pois bem. Possa a Páscoa de 2003 comunicar aos cristáos esse olhar penetrante que atravessa a argila e descobre no fundo de cada um(a) o dom

de Páscoa ou a sementé de vida plena ai latente, para fazer déla o fator estimulante de urna caminhada certeira para a Casa do Pai! Santa e feliz Páscoa para todos os nossos leitores! E.B. 145

"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" Ano XLIV - NB 490 -Abril de 2003

Carta Apostólica:

"O ROSARIO DA VIRGEM MARÍA"

(Joáo Paulo II)

Em síntese: O Papa Joáo Paulo II escreveu urna Carta Apostólica sobre o Rosario a fim de incentivar os fiéis a praticar essa oragáo, que, bem entendida, é cristológica e contemplativa. Em nossos dias quando muitos fiéis católicos procuram ñas religióes orientáis o exercfcio da contemplacáo, faz-se necessárío lembrar-lhes que a Tradigáo crista conhece talprática e a vivencia no Rosario (entre outras formas). Já que o Rosario é um compendio do Evangelho, faltavam-lhe os misterios concementes a vida pública de Jesús, que Joáo Paulo II Ihe acrescentou, destinando-os á oragáo das quintas-feiras. •

*



Aos 16 de outubro de 2002, o S. Padre assinou a Carta Apostólica sobre o Rosario da Virgem María, que chamou a atencáo do grande pú blico por acrescentar aos quinze misterios convencionais cinco misterios da luz referentes á vida pública de Jesús.

O do*, jmento é rico em considerac.5es teológicas e exprime de maneira muito clara a experiencia de oragáo do S. Padre. Embora solici tado violentamente por problemas do mundo inteiro, o Papa revela culti var intensa vida de oracáo, muito marcada por filial piedade mariana.

Ñas páginas que se seguem, poremos em relevo os principáis tópi cos do documento, que consta de

Introducto (Justificativa da Carta Apostólica).

Cap. I: Contemplar Cristo com María (reflexóes sobre a oragáo contemplativa tal como a Virgem SSma. a pode ensinar aos homens). Cap. II: Misterios de Cristo - Misterios da Máe (passam-se em

revista os quinze misterios clássicos e acrescentam-se-lhes os misterios 146

"O ROSARIO DA VIRGEM MARÍA"

luminosos, "para que o Rosario possa realmente ser dito "um compendio

do Evangelho".

Cap. III: "Para mim, viver é Cristo" (cada prece do Rosario é analisada, pondo-se em relevo o seu significado teológico).

Conclusáo: apresenta o Rosario como oracáo da familia e prece

pela paz.

INTRODUCÁO O Papa menciona a estima que os Pontífices anteriores devotaram

ao Rosario e declara Ano do Rosario e que vai de outubro 2002 a outubro 2003, alias ano 25"do seu pontificado.

Sao tres as razoes principáis que levam Joáo Paulo II a se pronun ciar enfáticamente a favor do Rosario. Duas vém ocasionadas pela crise

desta oracáo. Ei-las:

1. O movimento litúrgico

"Pensam alguns que a centralidade da Liturgia, justamente ressaltada pelo Concilio Ecuménico Vaticano II, tenha como necessária conseqüéncia urna diminuigáo da importancia do Rosario". Ao que o Papa responde:

«Na verdade, como o afirmou Paulo VI, esta oracáo nao só nao se opóe a liturgia, mas serve-lhe de apoio, visto que a introduz e ressoa, permitindo vivé-la com plena participagáo interior e recolhendo seus fru tos na vida cotidiana» (§ 4).

Mais adiante, ou seja, no § 13, observa o Papa:

«Por isso, enquanto se reafirma, com o Concilio Vaticano II, que a Liturgia, como exercicio do oficio sacerdotal de Cristo e culto público, é 'a meta para a qual tende toda agáo da Igreja e a fonte de onde promana toda a sua forga', convém ainda lembrar que 'a participagáo na sagrada liturgia nao esgota a vida espiritual. O cristáo, chamado a rezar em comum, deve também entrar em seu quarto para rezar a sos ao Pai (cf. Mt 6, 6); mais, segundo ensina o Apostólo, deve rezar sem cessar (cf. 1Ts5, 17). O Rosario, com sua especificidade, situase neste cenário diversifi cado da oragáo 'incessante', e se a liturgia, agáo de Cristo e da Igreja, é agáo salvifica por excelencia, o Rosario, enquanto meditagáo sobre Cris to com María, é contemplagáo salutar. De fato, a insergáo de misterio em misterio, na vida do Redentor" faz com que tudo aquilo que ele realizou, e a liturgia atualiza, seja profundamente assimilado e modele a existencia». 2. O Ecumenismo

"Pode haver também quem recete que o Rosario possa revelarse pouco ecuménico pelo seu caráter marcadamente mañano". 147

"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 490/2003

Responde Joáo Paulo II:

«Na verdade, o Rosario situase no mais claro horizonte de um culto á Máe de Deus tal como o concilio delineou: um culto orientado ao centro

cristológico da fé crista, de forma que, 'honrando a Máe, melhorse conhega, ame e glorifique o Filho'. Se adequadamente compreendido, o Rosario é certamente urna ajuda, nao um obstáculo, para o ecumenismo!» (§ 4).

Alias o Papa afirma repetidamente que a oracáo do Rosario é cristológica, pois é a contemplacáo de Jesús Cristo em sua infancia, em sua vida pública, em sua Paixáo e em sua gloria; cf. §§ 7.15... Consciente disto, o teólogo protestante Dr. Stephan Tobler, da Universidade de Tübingen, terá declarado até mesmo que o Rosario poderá contribuir para a uniao dos cristáos (noticia recebida de Roma via internet): textualmente enuncia a noticia:

"Vevo dizer que eu a li de urna só vez', disse Tobler sobre a Carta

Apostólica. 'É urna Carta de profundidade espiritual e teológica que eu nao estava esperando - urna carta que respira urna dimensáo evangéli ca, que me surpreendeu muito'.

'A Carta diz que é necessário relangar o rosario como urna oracáo Cristológica', ele acrescentou: 'De fato, e/a faz isso, da primeira á última linha'.

'Pensó que as igrejas evangélicas podem redescubrir María como a imagem da pessoa completamente abena a Deus com seu 'fíat', com seu 'fazei tudo o que ele vos disser', com seu f¡carao pé da cruz, com sua presenga silenciosa entre os discípulos', disse o professor Tobler.

'Nesta Carta, o Papa enfatiza que o rosario, mais que urna oragáo de palavras, é urna contemplagáo do misterio', continuou. Tobler acrescentou urna nota de otimismo sobre o ecumenismo: 'Estou convencido de que, se os Católicos rezarem o rosario como proposto nessa Carta Apostólica, e se os evangélicos reconhecerem e

redescobrirem sem preconceitos esta nova forma de conceber o rosario, entáo será urna ocasiáo favorável. Mas devemos trabalhar nisso'".

O Prof. Tobler fala em nome do protestantismo europeu, que bem difere do latino-americano.

A terceira justificativa da Carta Apostólica é deduzida de um anseio do mundo contemporáneo, a saber: 3. A estima da contemplacáo

«O motivo mais importante, porém, para propor com insistencia a prática do Rosario reside no fato de este constituir um meio validíssimo para favorecer entre os que créem o compromisso de contemplagáo do 148

"O ROSARIO DA VIRGEM MARÍA"

misterio cristáo que propus, na carta apostólica Novo millennio ineunte,

como verdadeira pedagogía da santidade. 'Há necessidade de um cristi

anismo que se destaque principalmente pela arte da oragáo'. Enquanto na cultura contemporánea, mesmo entre tantas contradicóes, emerge urna nova exigencia de espiritualidade, solicitada inclusive pela influencia de outras religióes, é extremamente urgente que nossas comunidades cris tas se tornem 'auténticas escolas de oracáo'.

O Rosario situase na melhore mais garantida tradigáo da contemplagáo crista. Desenvolvido no Ocidente, é oragáo típicamente meditati va e corresponde, de certo modo, á 'oragáo do coragáo' ou 'oragáo de Jesús'germinada no humus do Oriente cristáo» (§ 5).

O Papa aproveita a ocasiáo para referir-se ao recurso a métodos

de oracáo orientáis por parte de católicos:

«Recordé! na carta apostólica Novo millennio ineunte que há hoje, mesmo no Ocidente, urna renovada exigencia de meditagáo, que se vé as vezes promovida em outras religióes com modalidades cativarrtes. Nao

faltam cristáos que, porreduzido conhecimento da tradigáo contemplativa crista, se deixam aliciarpor tais propostas. Apesar de possufrem elemen tos positivos e ás vezes compatíveis com a experiencia crista, todavía

escondem freqüentemente um fundo ideológico inaceitável. Em tais ex periencias, é muito comum aparecer urna metodología que, tendo por objetivo urna alta concentragáo espiritual, recorre a técnicas repetitivas e simbólicas de caráter psicofísico. O Rosario colocase neste quadro uni versal da fenomenología religiosa, mas apresenta características próprías que correspondem ás exigencias típicas da especifícídade crista» (§ 28). Ver a propósito PR 392/1995, pp. 293.

Capítulo I: CONTEMPLAR CRISTO COM MARÍA

Neste capítulo I Joáo Paulo II insiste muito sobre o caráter

contemplativo do Rosario:

«O Rosario, precisamente a partir da experiencia de María, é urna oragáo marcadamente contemplativa. Privado desta dimensáo, perdería sentido, como sublinhava Paulo VI: "Sem contemplagáo, o Rosario é um

corpo sem alma e sua recítagáo corre o perigo de tornarse urna repeti-

gáo mecánica de fórmulas e de vir a achar-se em contradigáo com a ad vertencia de Jesús: 'Quando orardes, nao multipliquéis palavras como

fazem os pagaos; eles imaginam que pelo muito falar se faráo entender' (Mt 6, 7). Por sua natureza, a recítagáo do Rosario requer um ritmo tran quilo e urna certa demora, que favoregam, naquele que ora, a meditagáo dos misterios da vida do Senhor, vistos através do coragáo daquela que mais de perto esteve em contato com o Senhor, e que abram o acesso ás

suas insondáveis riquezas'» (§ 12).

149

"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 490/2003

No caso, porém, a contemplacáo é exercida com María, Máe e Mestra:

«Cristo é o mestre por excelencia, o revelador e a revelagáo. Nao se trata somente de aprenderás coisas que ele ensinou, mas de 'aprénde

lo'. Nisto, porém, que mestra é mais experimentada que María? Se, do lado de Deus, é o Espirito, o mestre interior, que nos conduz a verdade plena de Cristo (cf. Jo 14, 26; 15,26; 16, 13), dentre os seres humanos, ninguém melhor que ela conhece Cristo, ninguém como a Máe pode introduzir-nos no profundo conhecimento de seu misterio. O primeiro dos 'sinais' realizado por Jesús - a transformagáo da agua em vinho ñas bodas de Cana - mostra-nos precisamente María no papel de mestra, quando exorta os servos a cumprir as disposigóes de Cristo (cf. Jo 2, 5). E podemos imaginar que ela tenha desempenhado a mesma fungáo com os discípulos depois da ascensáo de Jesús, quando ficou com eles á espera do Espirito Santo e os animou na primeira missao. Percorrercom ela as cenas do Rosario é como freqüentara 'escola' de María para ler Cristo, penetrar em seus segredos, compreender sua mensagem» (§ 14).

O Rosario, embora cristológico, nao pode deixar de ser urna ora-

cáo mañana, que coloca o orante ao lado de María para contemplar a face de Cristo.

II. MISTERIOS DE CRISTO - MISTERIOS DA MÁE Este capítulo percorre os misterios do Rosario, aprofundando o conteúdo teológico dos mesmos, e explica o porqué do acréscimo de cinco novos misterios:

«Para que o Rosario possa ser mais plenamente considerado 'com

pendio do Evangelho', é conveniente que, depois de recordar a encarnagáo e a vida oculta de Cristo (misterios da alegría), e antes de se deternos sofrímentos da paixáo (misterios da dor), e no triunfo da ressurreigáo (misterios da gloria), a meditagao se concentre também em alguns momentos particularmente significativos da vida pública (misterios da luz). Esta insergáo de novos misterios, sem prejudicar nenhum aspecto essencial do esquema tradicional desta oragáo, visa fazer viver com reno

vado interesse na espiritualidade crista, como verdadeira introdugáo na profundidade do coragáo de Cristo, abismo de alegría e de luz, de dor e de gloria» (§ 19).

Os misterios da vida terrestre de Cristo devidamente contempla dos levam a intuicáo mais.profunda do misterio do próprio Cristo e, através deste, do próprio homem. "Quem contempla Cristo, percorrendo as

etapas de sua vida, nao pode deixar de aprender dele a verdade sobre o 150

"O ROSARIO DA VIRGEM MARÍA"

homem... Na realidade o misterio do homem só se esclarece verdadera mente no misterio do Verbo Encarnado" (§ 25).

III. "PARA MIM, VIVER É CRISTO" Este capítulo reflete sobre cada fórmula de oracáo aplicada pelo Rosario desde as preces introdutórias (Credo...) até a Salve-Rainha e a Ladainha de Nossa Senhora. Como dito, o Papa revela ai toda a sua experiencia de oracáo e sua profunda uniáo com Deus. O que ele diz, decorre de grande intimidade com Deus. No § 39 o S. Padre explica por que os misterios da luz sao coloca dos na quinta-feira e os gozosos da quinta-feira passam para o sábado (día dedicado a Nossa Senhora). Eis as suas palavras:

«Segundo a prática corrente, a segunda e a quinta-feira sao dedicadas aos "misterios da alegría", a terca e a sexta-feira aos "misteri os da dor", a quarta-feira, o sábado e o domingo aos "misterios da gloria". Onde se podem inserir os "misterios da luz"? Tendo em vista que os mis

terios gloriosos sao propostos em dois dias seguidos - sábado e domin go-e que o sábado é tradicionalmente um dia de intenso caráter mañano, parece recomendável deslocar para ele a segunda meditagáo semanal dos mistónos gozosos, nos quais está mais acentuada a presenga de Maña. E assim fica livre a quinta-feira precisamente para a meditagáo dos misterios da luz. Esta indicagáo, porém, nao pretende limitar urna certa liberdade de opgáo na meditagáo pessoal e comunitaria, segundo as exigencias espirítuais e pastarais e sobretudo as coincidencias litúrgicas que possam sugerir oportunas adaptagóes» (§ 38). Eis como ficam distribuidos os misterios do Rosario: Misterios da Alegría - (Segundas e sábados) 1o -No primeiro misterio contemplamos a Anunciacáo do Anjo a Nossa Senhora. A humildade. 2° -Visita da Virgem Maria á sua parenta Santa Isabel. A caridade para com o próximo. 3o - Nascimento de Jesús no estabulo de Belém. Desapego das riquezas e pobreza interior. 4o -Apresentacáo de Jesús no Templo. Pureza de corpo e alma. 5o - Encontró de Jesús no Templo ensinando aos doutores da Lei. A verdadeira sabedoria.

Misterios da Dor - (Tergas e sextas) 1 ° - Agonia de Jesús no Horto das Oliveiras. A contrigáo de nossos pecados. 151

"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 490/2003

2o - Flagelado de Jesús. Aceitacáo do sofrimento para participar da Paixáo de Cristo. 3o • Coroacáo de espinhos. Aceitacáo das humilhacóes. 4° - Jesús carrega a cruz ao Calvario. Aceitacáo da nossa Cruz. 5o - Crucificagáo e morte de Jesús. Conversáo dos pecadores, perseveranga dos justos e o alivio das almas do Purgatorio. Misterios da Gloria - (Quartas e Domingos) 1o -Ressurreicáo de Nosso Senhor Jesús Cristo. Alegría no amor de Deus e esperanca na nossa ressurreicáo. 2o - Ascensáo de Jesús Cristo ao Céu. Desejo do Céu e desapego da térra. 3° - Descida do Espirito Santo sobre María Santíssima e os Apostólos. Os dons do Espirito Santo em nossa alma: Inteligencia, Ciencia, Conselho, Fortaleza, Sabedoria, Piedade e Temor de Deus. 4° -Assuncáo de Nossa Senhora ao Céu. Perseveranca final e urna boa morte. 5o - Coroacáo gloriosa de Nossa Senhora no Céu. Terna devocáo á nossa Máe Celeste María Santíssima.

Misterios da Luz - (Quintas) 1° -O batismo de Jesús no Rio Jordáo. Valorize o seu batismo.

2o - Auto-revelacáo de Jesús ñas bodas de Cana. Siga as ordens de Jesús. 3o - A proclamagáo do Reino de Deus com o convite á conversáo. Comece a se converter. 4o -A transfiguracáo de Jesús Cristo. Jesús ilumina a sua vida. 5° - A Instituicáo da Eucaristía, expressáo sacramental do Misterio pascal. Una seu Rosario á sua Missa.

CONCLUSÁO O Santo Padre recomenda aínda o Rosario como prece em favor da paz e como oracao da familia. Por fim profere caloroso apelo: «Queridos irmáos e irmás! Urna oragáo táo fácil, e ao mesmo tempo

táo rica, merece verdadeiramente ser redescoberta pela comunidade crista. Pensó em vos todos, irmáos e irmás de qualquer condicáo, em vos, familias cristas, em vos, doentes e idosos, em vos, jovens: retomai confiantemente ñas máos o tergo do Rosario, fazendo sua descoberta á luz da Escritura, em harmonía com a liturgia, no contexto da vida cotidiana. Que este meu apelo nao fique ignorado!» (§ 43). Realmente a Carta de Joáo Paulo II merece todo o apreco de quem deseja progredir na vida de oracáo. 152

Fala o Papa:

O BATISMO DE CRIANZAS E A EUCARISTÍA Em síntese: Ao receber os Bispos do Maranháo aos 19/09/02, o Papa proferíu urna alocugáo em que incutía a necessidade de evitar dois defeitos pastorais: a rejeigáo radical do Batismo de criangas cujos país

nao sejam casados na Igreja (o que importa, é a esperanga de educagáo religiosa da crianga) e a praxe costumeira de nao celebrar a S. Missa mas apenas a Liturgia da Palavra, onde haja falta de clero; toca aos Bis pos distribuir os seus presbíteros de modo que periódicamente se cele bre a Eucaristía em cada cápela.

*

*



Aos 19 de outubro 2002 o Santo Padre Joáo Paulo II recebeu em audiencia própria os Bispos do Regional Nordeste-5 (Maranháo), aos quais dirigiu importante alocucáo, da qual seráo, a seguir, extraídos dois pon tos de relevo para todo o Brasil. O Batismo de criancas cujos pais nao estejam casados na Igreja, e a praxe costumeira de realizar paraliturgias da Palavra, e nao a Eucaristía, no dia do Senhor. 1. Batismo de criancas 1.1. Palavra do Papa:

«A este respeito, recomendo-vos vivamente os dois sacramentos fundamentáis da vida crista: Batismo e Eucaristía. Logo após ser elevado á Cátedra de Pedro, aprovei a Instrugáo sobre o Batismo das criangas,

na qual a Igreja confirmou a praxe batismal das criangas, em uso desde ó

inicio. Justamente ñas vossas Igrejas locáis se insiste sobre a exigencia de só administrar o Batismo no caso em que se tivera fundada esperan ga de que a enanca será educada na fé católica, de maneira que o sacra mento possa frutificar (cf. CDC, can. 868 § 2). Ás vezes, porém, as nor

mas da Igreja sao interpretadas de modo restritivo, descurando-se o bem mais profundo das almas. Acontece assim que, aos pais, é adiado ou até mesmo rejeitado, em determinadas circunstancias, o batismo dos filhos. E justo que pais e padrinhos sejam preparados de modo adequado para o Batismo das criangas, mas também é importante que o prímeiro sacra mento da iniciagáo crista seja visto sobretudo como um dom gratuito de Deus-Paí, pois 'quem nao renascer da agua e do Espirito nao poderá entramo Reino de Deus' (Jo 3, 7).

Com a exigencia, em si justificada, de preparar pais e padrinhos,

nao podem faltar a bondade e prudencia pastorais. Nao se pode exigir 153

10

"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 490/2003

dos adultos de boa vontade, aquiío para o que nao Ihes foi dada adequada motivagáo. Quando for requerido o Batismo, pode-se aproveitar para iniciar urna catequese dos pais, que os torne capazes de compreender melhoro Sacramento, e darassim urna educacao crista ao novo membro da familia - de qualquer forma, nao se deve jamáis extinguir a mecha que ainda fumega, mas criar novos processos de evangelizagáo adaptados ao mundo de hoje e as necessidades do povo. O Bispo é o primeiro responsável para que todos os presbíteros, diáconos e agentes de pastoral tenham todo o zelo necessário, e toda a bondade e paciencia com o povo menos instruido». 1.2. Comentando...

A problemática subjacente a estes dizeres é a seguinte:

A Igreja batiza criarlas, porque o Batismo é mais do que a matrí cula em determinada associacáo ou paróquia; é um renascer ou a infusáo de urna vida nova; é a insercáo em Cristo, que faz o cristáo "filho no FILHO". Diz Sao Paulo a propósito: "Porque sois filhos, enviou Deus aos nossos coracóes o Espirito de seu Filho, que clama Abba, Pai!" (Gl 4.6). Essa grande graca do Batismo concedida á crianca inconsciente

deve-se-lhe tornar manifesta mediante a catequese ministrada ao ado lescente; o Batismo tem que ser o principio inspirador de urna vida nova;

nao pode (icar sendo um ato ¡solado. Por isto a Igreja requer que, para

cada crianca a ser batizada, "haja fundada esperanca de que será educada na religiáo católica. Se essa esperanca falta por completo, o Batismo seja adiado segundo as prescricóes do direito particular. Os pais serao informados a respeito do motivo do adiamento" (Código de Direito Canónico, canon 868 § 1, n° 2).

Ora em algumas paróquias a crianga nascida de pais nao casados na Igreja é rejeitada ou nao recebe o Batismo na presuncáo de que tais genitores nao cuidaráo da instrucáo religiosa da crianca. Assim muitos pais, vendo-se recreados sumariamente pela sua paróquia, váo procu rar a Igreja Brasileira ou o protestantismo.

É contra esse procedimento radical dos agentes de pastoral que o

Papa se volta. É preconceituoso dizer que pais nao casados na Igreja nao daráo educac.áo religiosa aos filhos; muitos podem e querem fazé-lo. Se nao o podem ou querem, haja padrinhos e madrinhas que o facam ou ainda crie a paróquia um novo tipo de pastoral que atenda á ¡nstrucáo religiosa de tais criancas.

Em suma, a crianca tem direito ao Batismo e este nao Ihe deve ser

subtraído por causa do tipo de vida dos pais. Ao sacerdote que recebe

pais nao casados desejosos de batizar seu filho, compete tentar urna 154

O BATISMO DE CRIANgAS E A EUCARISTÍA

11

catequese junto a eles ou procurar fazer que os padrinhos sejam bons

católicos ou aínda de outro modo fundamentar a esperanca de cateque se para o neófito.

Alias já em 1981, a Exortacáo Apostólica Familiaris Consortio exortava os casáis nao casados na Igreja a educar os filhos na fé católica:

«Juntamente com o Sínodo exorto vivamente os pastores e a inteira comunidade dos fiéis a ajudar os divorciados, promovendo com caridade solícita que eles nao se considerem separados da Igreja, podendo, e melhor devendo, enquanto batizados, participar na sua vida. Sejam exortados a ouvira Palavra de Deus, a freqüentar o Sacrificio da Missa, a perseverar na oragáo, a incrementaras obras de caridade e as iniciati

vas da comunidade em favor da justiga, a educar os filhos na fé crista, a cultivar o espirito e as obras de penitencia para assim implorarem, dia a dia, a graga de Deus. Reze por eles a Igreja, encoraje-os, mostre-se máe misericordiosa e sustente-os na fé e na esperanga» (n° 84). 2. Paraliturgia dominical ou Missa? 2.1. Palavra do Papa

«Outra tarefa primordial do vosso ministerio sacerdotal consiste em reafirmar o papel vital da Eucaristía como 'fonte e centro de toda a vida crista' (Lumen gentium, 11). Na celebragáo do sacrificio eucarístico cul mina nao só o servigo dos Bispos e presbíteros, mas nele encontra o seu centro dinámico a vida de todos os demais membros do Corpo de Cristo. A falta de sacerdotes e a sua distribuigáo desigual, por um lado e, por outro, a redugáo preocupante do número de quantos regularmente freqüentam a Santa Missa dominical constituem um desafio constante para

as vossas Igrejas. É evidente que essa situagáo sugere urna solugáo

provisoria, para nao deixar a comunidade no abandono, com o risco de um progressivo empobrecimento espiritual. Porém, o incompleto caráter sacramental dessas fungóes litúrgicas, levadas a cabo porpessoas nao ordenadas (leigos ou religiosos), deveria induzir toda a comunidade paroquiala orarcom maior fervor a fim de que o Senhor envié trabalhadores para a sua messe (cf. Mt 9, 38)». 2.2. Comentando...

Nos lugares em que nao naja sacerdotes suficientes para celebrar

a Missa dominical, é recomendada a Liturgia da Palavra consoante o canon 1248 §2: «Por falta de ministro sagrado ou por outra grave causa, se a partícipagao na celebragáo eucarística se tornar impossível, recomendase

vivamente que os fiéis participem da liturgia da Palavra, se houver, na 155

12

"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 490/2003

igreja paroquial ou em outro lugar sagrado, celebrada de acordó com as prescrigóes do Bispo diocesano; ou entáo se dediquen) á oragao por tempo

conveniente, pessoalmente ou em familia, ou em grupos familiares de acordó com a oportunidade». Acontece, porém, que a repeticáo dessa Paraliturgia pode causar

serios prejuízos ao povo de Deus: nao somente o priva da Eucaristía, mas também pode sugerir-lhe que a Liturgia da Palavra equivale á Litur gia Eucarística. Daf a necessidade de que se distribuam os sacerdotes de cada regiáo de modo que possam atender periódicamente a todas as cápelas do setor, mesmo que isto implique a celebracáo de mais de duas Missas por domingo.

O Papa assim aborda um problema que pode existir em qualquer parte do Brasil e quer propor-lhe urna solucáo. 3. Conclusáo

Sao muito oportunas as duas intervencdes de Joáo Paulo II atrás comentadas nao só por seu conteúdo, mas também pela forma ou o es

tilo pastoral em que foram redigidas. Com efeito, diz o Santo Padre: "Nao se pode exigir dos adultos de boa vontade aquiio para o qual nao Ihes foi dada adequada motivacáo... Jamáis se deve "extinguir a mecha que ainda fumega". Fala aqui o pastor que se coloca do lado da gente simples e boa do interior do Brasil e sabe que tal tipo de fiéis nao tém a instrucáo religiosa necessária para corresponder as normas do Direito Canónico: tém fé, mas urna fé ainda infantil ou anémica, que corre o perigo de se extinguir, caso seja tratada com despropositada severidade. O bom pas tor olha para essas ovelhas com o olhar de Cristo e procura nao esmagar

o carneo rachado nem apagar o pavio ainda fumegante (cf. Is 42, 3), lembrado de que ele mesmo talvez nao tenha dado adequada motivacáo para as posturas religiosas de seus fiéis. A catequese nem sempre atin ge a todos e, se os atinge, nem sempre o faz como desejável. A respon-

sabilidade de Bispos, presbíteros e agentes de Pastoral é grande na formacáo ou na insuficiente formacáo dos fiéis.

REENCARNAQÁO: PROS E CONTRAS A Escola "Mater Ecclesiae" em parceria com a Ed. "Lumen Christi", lancou um CD que aborda a candente temática da reencarnacáo. Sao analisados os argumentos pró-reencarnacio e comprovados como inconsistentes. Este é o primeiro de urna serie de CDs que tém por título "Estai prontos a dar razáo da vossa esperanca" (1Pd 3,15). Pedidos sejam dirigidos á "Lumen Christi" ou á "Escola Mater Ecclesiae" (telefax 0 XX 21 2242-4552). 156

Seria pesquisa:

"O JESÚS HISTÓRICO" por Gerd Theissen e Annette Merz

Em nossos dias muito tém escrito sobre o Jesús Histórico (tal como Ele terá sido na Palestina) repórteres nao especializados no assunto: fazendo sensacionalismo, negam quase por completo a imagem clássica de Jesús em favor de outra imagem ou de um Jesús libertino; alguns chegam a dizer que quase nada se pode saber a respeito de Jesús, tal

seria a índole lendária dos Evangelhos.

Sobre este paño de fundo vem muito a propósito o livro ácima apresentado1. Deve-se a dois pesquisadores especializados que ¡nvestigaram a fidelidade histórica dos Evangelhos e a imagem de Jesús ai delineada concluindo em favor da credibilidade dos textos de Mt, Me, Le e Jo. A obra se apresenta em forma de manual, de modo que cada capí tulo termina com Sumario, Reflexóes e Tarefa a executar. Percorreremos a obra, que, após urna Introducao (Historia da Pes quisa sobre a Vida de Jesús), compreende tres densas partes: I. As Fontes da Vida de Jesús e sua Avaliacao; II. Estrutura da Historia de Jesús (geografía, historia geral, arqueología...); III. A Atuacáo e a Pregacáo de

Jesús.

Parte I. As Fontes

Os autores examinam as fontes cristas e as nao cristas, levam em conta a literatura apócrifa e, á guisa de conclusáo, propóem treze objecóes contra a historicidade dos Evangelhos acompanhadas de argumen tos que as contestam. Donde se vé que os dois autores, com pleno co-

nhecimento de causa, afirmam a fidelidade histórica dos evangelistas. Eis um espécimen desse confronto de razoes pro e contra a historicidade (procede do relativo silencio das fontes nao cristas [judaicas e pagas]

sobre Jesús).

1. O "silencio" das fontes náo-crístás

As fontes náo-crístás contemporáneas silenciam amplamente so bre Jesús. Mesmo em pontos em que esperaríamos urna nota sobre ele, nao encontramos nenhum relato a seu respeito. 1 Ed. Loyola, Sao Paulo 2002, 180 x 230 mm, 651 pp. 157

14

"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 490/2003

Filón de Alexandria (morte 42/50 d.C), contemporáneo de Jesús narra sobre Pilatos:

"Aquí poderíamos relatar sua corrupgáo, violencia, roubos, maustratos, ofensas, execugoes sem processos, assim como sobre sua crueldade interminável e intragável" (LegGai, 302). Sobre Jesús nao há nada.

Justo de Tiberíades, contemporáneo de Flávio Josefo, redigiu urna 'crónica dos reisjudeus' e urna 'historia da guerra judaica'. Segundo Fócio de Constantinopla (c. 820-886 d.C), que conhecia esta obra hoje perdi da ele também deixou de mencionar Jesús (Fócio, cód 13). Contra-argumentos:

1.1. Fontes antigás silenciam sobre muitas pessoas de cuja historicidade nao se pode duvidar.

Joáo Batista é citado em Josefo (Ant 18, 116-119) e em textos mandeus, mas nao em Filón, Paulo ou escritos rabfnicos.

Paulo de Tarso é testemunhado por cartas auténticas, mas nao é citado por Josefo nem por outros autores náo-cristáos.

O Mestre de Justiga só é conhecido dos próprios escritos de Qumran, mas nao há nenhuma noticia sobre ele nos antigos relatos so bre os essénios que chegaram até nos (Josefo, Filón, Plínio Velho). Rabbi Hillel, o fundador da tradigáo da escola dos hillelitas, nunca é citado por Josefo, apesarde este se confessar adepto do farisaísmo. Bar Kochba, o líder messiánico da guerra judaica contra os roma

nos de 132-135 d.C, é relegado ao silencio por Dion Cássio em sua narrativa sobre essa revolta.

1.2. As mengóes a Jesús em historiadores antigos rebatem as dúvidas sobre sua historicidade.

As noticias sobre Jesús em autores judeus e pagaos apresentadas no§ 3- especialmente em Josefo, na carta de Sarapiáo e em Tácito mostram que na Antiguidade a historicidade de Jesús era pressuposta, e

com razáo, como demonstram duas observagóes sobre as fontes supracitadas:

• As informagoes sobre Jesús sao independentes entre si. Tres autores,

de contextos distintos, utilizam informagoes sobre Jesús de maneira

autónoma: um aristócrata e historiador judeu, um filósofo sirio, e um homem de estado romano e historiador.

• Todos os tres sabem da execugáo de Jesús, aínda que de formas dife rentes: Tácito responsabiliza Pondo Pilatos, Mará bar Sarapion o povo 158

"O JESÚS HISTÓRICO"

15

judeu, o Testimonium Flavianum (provavelmente) urna cooperagáo entre a aristocracia judaica e o govemador romano. A execugáo foi chocante para qualquer 'jesulatria'; como 'escándalo', ela nao pode ter sido in ventada (cf. 1Cor 1, 18ss)".

O leitpr talvez nao esteja acostumado a este tipo de argumenta-

gao, mas póderá apreciar a seriedade e o acume científico de Theissen e Merz:

Passemos á Parte II. A Estrutura da Historia de Jesús Os autores da obra estudam as circunstancias históricas sociais, económicas e religiosas em que Jesús viveu. Procuram caracterizar os

elementos básicos do judaismo contemporáneo a Cristo; referem o surgimento dos partidos políticos judaicos. Consideram a vida pública de Jesús e discutem a data da morte dele.

Por fim, examinam o ambiente geográfico em que Jesús levou vida oculta e pregou (Galiléia) assim como o cenário de sua Paixáo, morte e ressurreicáo (Judéia e Jerusalém). E concluem frente ás novas hipóteses sobre a topografía da vida de Jesús, lembrando o testemunho das primeiras geracóes cristas: "Novas datagóes, novas descobertas, novas interpretagdes podem a todo momento por em questáo a imagem já estabelecida. Devemos

contar com o fato de queja num estágio bem inicial lugares e trajetos de Jesús foram identificados com determinados lugares e reliquias - prova velmente já no sáculo Id.C. Tais identificagóes nao precisam ser exatas, mas táo pouco necessariamente falsas" (p. 202). Assim os dois autores se apoiam na tradicáo iniciada pelos primei-

ros cristáos frente a hipóteses recentes menos ¿aseadas no concreto da arqueología.

Parte III. A Atuacio e a Pregacáo de Jesús

Urna vez afirmada a fidelidade histórica dos Evangelhos, a obra em foco volta-se para a figura de Jesús e analisa os diversos aspectos de sua vida pública e seu desenlace. Sao levados em conta o Jesús carismático (suas relacóes sociais), o Jesús Profeta, o Jesús que cura, o Jesús Poeta (autor das Parábolas), o Jesús Mestre, o Jesús Fundador de um Culto, o Jesús Mártir, o Jesús ressuscitado e os Primordios da Cristologia. Limitar-nos-emos a considerar o que dizem Theissen e Merz a respeito dos milagres e da ressurreicáo de Jesús: 159

16

"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 490/2003

a) Jesús Taumaturgo «Esse carísma de realizar milagres encontrase em muitas pesso-

as. Pódese lidar com ele de forma responsável ou irresponsável. Visto que aparece espontáneamente e permanece dependente de interacao e

confianga, é natural interpretá-lo em termos religiosos. Jesús possuía tais dons "para-normais" num grau extraordinario. Ele soube vinculá-los com o núcleo de sua mensagem e dar-lhes urna fascinante interpretagáo reli

giosa: via neles a irrupgáo do novo mundo. Em seus milagres anunciamse possibilidades que as pessoas terao em medida muito maiorse derem o passo rumo ao novo mundo a partir do velho. Para Jesús, sao exprés-

sao da vontade salvffica de Deus que ele próprio corporifica em sua atividade. Tal carísma de realizar milagres interpretado em termos religiosos também é socialmente condicionado. A tradigáo de Jesús mostra isso

varías vezes. O carísmático taumaturgo nao pode agirsem a "fé" do mun do circundante (Me 6, 5s)» (p. 337). b) Jesús Ressuscitado «A Páscoa é de central importancia para a compreensao de Jesús

e a auto-compreensño dos seres humanos. Paulo vincula ambas ao ob jetar aos que negam a ressurrelgáo: 'E, se Cristo nao ressuscitou, a vossa fé é ilusoria, estáis aínda em vossos pecados,... somos os mais dig nos de pena de todos os homens' (1Cor 15, 17.19). Segundo a concepgao de Paulo, a postura ante a ressurreigáo de Jesús é decisiva para o

sentido ou a falta de sentido da fé em Jesús, para a prísáo no pecado ou o perdáo dos pecados, para a miseria humana ou sua superagáo. De fato, com a fé pascal se decide se o individuo pode ver na historia de Jesús a razio de sua própría existencia. A Páscoa é o sim de Deus como o sim das discípulas e dos discípulos a Jesús - e isso Valeria mesmo se nao se compreendesse a fé pascal como razáo desse sim, mas como sua expressáo: como adesáo humana a causa de Jesús apesarda cruz e do fracasso. Com a fé pascal se decide a "autocompreensáo" humana. Se

na fé pascal (aínda que seja com base em "visóes subjetivas") se desvela

algo último, entáo a morte e a angustia nao tém a última palavra. Pois nao importa como se pensa sobre a Páscoa, ela é um protesto contra a morte,

em especial contra a morte violenta» (p. 502). Estes poucos dados bastam para evidenciar que crer na fidelidade histórica dos Evangelhos nao é atitude defasada ou ultrapassada, mas corresponde ao que meticulosas pesquisas póem em relevo. Nao há dúvida, mais vale seguir estudiosos especialistas e credenciados do que atender a repórteres cuja profissáo é propor aos leitores o "superinteressante".

160

Questionamento sobre

A AUTENTICIDADE DO OSSÁRIO

RECÉM-DESCOBERTO

Em sfntese: Cresce o número de estudiosos que levantam suspeitas contra a autenticidade do ossário recém-descoberto em Israel. As

razóes para duvidar sao principalmente: a) o fato de que a inscrigao do ossário está tragada com dois tipos diferentes de letras, que fazem pen sar em duas máos, das quais uma seria tardía e falsificadora; b) a origem do ossário comprado por um engenheiro israelense em um mercado de antiguidades após ter estado em poder de seqüestradores. - O debate está aberto entre os especialistas sob o patrocinio do Estado de Israel. *

*

*

Em PR 487/2003, pp. 1-6 foi comentada a descoberta recente de um ossário na térra de Israel, portador da inscricáo (assim traduzida pela

imprensa): TIAGO, FILHO DE JOSÉ, IRMÁO DE JESÚS. Muitos quise-

ram ver ai a confirmacáo da tese de que Jesús teve ¡rmáos. A teología católica fez entáo observar que a palavra aramaica traduzida por "irmáo" é'Ah, vocábulo que tem o significado de párente, familiar (nao excluido o de irmáo). Em conseqüéncia a descoberta da urna funeraria nao afeta a fé católica segundo a qual Jesús nao teve irmáos. Acontece, porém, que, com o passar do tempo, os estudiosos co-

mecam a levantar suspeitas sobre a autenticidade do ossário; e isto por duas razóes: a) a inscricáo parece ter sido redigida por duas máos, que usaram tipos de letra diferentes; b) nao se sabe claramente qual a ori gem remota do ossário; apenas se pode dizer que esteve em poder de saqueadores, que o venderam a um mercado de antiguidades.

Via internet a Redacáo de PR recebeu o artigo de John Noble Wilford publicado em The New York Times, que expóe a atitude dos pesquisadores neste setor. Abaixo vai transcrito o artigo em traducáo portuguesa como chegou a PR.

Cresce a desconfianza da autenticidade do ossário do "Irmáo de Jesús" John Noble Wilford The New York Times

É cada vez maior o número de estudiosos que levantam dúvidas

quanto á autenticidade da inscricáo em uma caixa de ossos que presu161

18

"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 490/2003

midamente conteria os ossos de Tiago, um suposto irmáo de Jesús. Este poderia ser o mais antigo vestigio arqueológico relacionado a Cristo. Quando, há cinco semanas, foi anunciada a existencia desta caixa

de pedra calcaría, ou ossário, um estudioso francés declarou que a inscric.áo - "Tiago, filho de José, irmáo de Jesús" - provavelmente era urna referencia ao Jesús do Novo Testamento. A caligrafía, ele afirmou, correspondía ao estilo do aramaico do século I d.C. Agora que diversos especialistas já analisaram fotografías da ins-

cri$áo ou a observaram em um museu de Toronto, eles admitem, de modo geral, a antigüidade do ossário, mas alguns deles suspeitam que urna parcela de inscricáo, senáo toda ela, tenha sido falsificada. Diferencas

visíveis de caligrafía, eles afirmam, indicam que a mencáo a Jesús pode ter sido acrescentada por um falsificador de tempos antigos ou moder nos.

Tenho, para dizer o mínimo, urna sensacáo muito ruim a respeito dísso", afírmou Eric M. Meyers, um arqueólogo e estudioso de questoes

judaicas na Universídade Duke, durante um recente encontró de pesquisadores bíblicos e arqueólogos em Toronto.

Meyers afirma ter "graves dúvidas quanto á sua autenticidade", sobretudo por conta do misterio que envolve a origem do ossário. Aparen temente ele teria sido encontrado por saqueadores em um sitio indeterminado e comprado em um mercado israelense de antigüidades. Arqueólogos profissionais nao costumam confiar em artefatos de prove niencia táo duvidosa.

Outras pessoas que examinaram o ossário no Museu Real de Ontario ficaram mais impressionadas por terem notado que a inscricáo aparentemente foi feita por duas máos diferentes. A primeira parte - so bre Tiago, filho de José - teria sido escrita com tipos formáis, enquanto a segunda, referente a Jesús, possui um estilo cursivo mais livre.

"A ocorréncia de letras cursivas e formáis em duas partes diferen tes da ¡nscr¡9áo aponta, segundo creio, ser ao menos possível que haja urna segunda máo", afirmou P. Kyle McCarter Jr., um especialista em línguas orientáis da Universidade John Hopkins.

André Lemaire, o académico francés e estudioso do aramaico que indicou que a inscricáo está vinculada a Jesús, defendeu com conviccáo sua interpretado durante um encontró da Sociedade de Literatura Bíbli ca que também ocorreu em Toronto. Pesquisador da Sorbonne e especi alista respeitado em inscri$5es do período bíblico, ele publicou suas descobertas na mais recente edicáo da revista americana Biblical Archaelogy Review. 162

A AUTENTICIDADE DO OSSÁRIO RECÉM-DESCOBERTO

19

Lemaire novamente defendeu ser "muito provável" que a caixa de

ossos tenha guardado os restos de Tiago, um dos primeiros líderes do

movimento cnstáo em Jerusalém, e que a inscricao é urna referencia a

Jesús de Nazaré. Apenas muito raramente o nome de um irmáo era ins

crito em um ossário, ele afirma, e deste modo o Jesús mencionado deveria ser urna pessoa ¡lustre. Em urna entrevista Hershel Shanks, editor da revista que publicou o estudo de Lemaire, afirmou que havia ao menos duas razóes que refutavam a tese da falsificacáo.

"Caso tenha sido o trabalho de um falsificador moderno, por algu-

mas centenas de dólares ele teña adquirido um ossário sem inscrigáo

aiguma, e somente um falsificador pouco inteligente nao comegaria do

zero para que sua escrita fosse consistente", afirmou Shanks. "Além do

mais, devemos presumir que o falsificador soubesse como falsificar a pátina - algo que os outros desconhecem. Tudo isso é possivel, mas muitíssimo improvável".

Em Israel, geólogos que examinaram o ossário avaliaram que sua pátina - oxidacáo decorrente dos efeitos do tempo e do clima - seria consistente com a estimativa de que a caixa possui dois mil anos de ¡dade. Eles afirmaram ainda que nao foram detectados sinais de posteri ores adulteracoes na inscricáo. Josephus, um historiador judeu do século primeiro, atesta que Tiago foi executado em 62 d.C.

Shanks é um dos autores do livro "O irmáo de Jesús", que será publicado em marco pela HarperSanFrancisco. Ali ele narra a descoberta e a ¡nterpretacao do ossário de Tiago, e juntamente com seu parceiro Bern Witherington III, estudioso do Novo Testamento, discute as implica-

cóes da descoberta para a compreensáo de Jesús.

Mas a controversia nao deverá desaparecer táo cedo.

O dono do ossário, cuja identidade nao é revelada pelo artigo de Lemaire, veio a público. Ele é Oded Golan, um engenheiro de Tel Aviv e ávido colecionador de artefatos do período bíblico. Convocado para de-

por parante a Autoridade de Antigüidades de Israel, Golan afirmou ter adquirido o ossário há 35 anos, mas nao se lembrava do vendedor, se gundo informou recentemente o jornal israelense Há'aretz. Shanks afir mou que Golan nao compreendera a possivel importancia do ossário até

que Lemaire fosse visitá-lo no ano passado.

As autoridades ¡sraelenses afirmam que daráo seqüéncia á investigacao. O ossário será devolvido a Israel após o encerramento da exposicáo em Toronto, que se estende até o final do mes de Janeiro. Outros pesquisadores entraram na discussáo, e chamaram a atencáo para possíveis indicios de falsificacáo.

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"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 490/2003

Rochelle I. Altman, que coordena urna publícacáo virtual destinada a estudiosos de judaismo antigo e se apresenta como urna especialista em inscricóes, fo¡ urna das primeiras a notar a aparente discrepancia entre as caligrafías. "Há duas maos que claramente possuem diferentes graus de ¡nstrucáo e duas caligrafías diferentes", escreveu Altman. "A segunda parte da inscrícáo contém as marcas de urna adicáo posterior fraudulenta e é, para se dízer o mínimo, questionável". Daniel Eylon, um professor israelense de engenharia da Universidade de Dayton; examinou a questáo a partir de sua experiencia com investigacóes mal-sucedidas para a industria aeroespacial. Aplicando urna

técnica empregada para determinar se urna dísfuncáo de urna determi nada peca da aeronave ocorreu antes ou depois do acídente, ele exami nou fotografías das ¡nscricóes em busca de arranhóes causados pela friccao da caixa com outras caixas na caverna ou durante a escavacao:

"A ¡nscricáo estaría localizada sob estes arranhóes caso se encon-

trasse na caixa á época do enterro, mas a maíor parte déla está ácima dos arranhóes", afirmou Eylon. "E a nitidez de algumas letras nao caí nada bem: cortes nítidos nao resistem por dois mil anos". O debate está aberto. Nao se trata de um artigo da fé católica, mas da ¡dentíficacáo de urna peca arqueológica que interessa á mensagem do Evangelho.

Nossa Senhora. Invocacóes da Virgem Maria. - Editora Mar

ques Saraiva, Rio de Janeiro 2002 (2a edigáo), 160 x 250 mm. 75 pp.

O ¡ivro apresenta em poucos parágrafos a origem de cada um dos títulos com que a piedade católica invoca María Santíssima. Os textos

sao da autoría da Dra. Nilza Botelho Megale. As estampas provém do santuario de Nossa Senhora da Penha do Rio de Janeiro. A obra é muito interessante nao só porque enriquece a devogáo a María Santíssima, mas também porque ilustra os conhecimentos de historia e geografía do leitor. Como amostragem, citamos "Nossa Senhora da Ajuda". Este título era muito caro aos soldados e marinheiros de Portugal, que o trouxeram

para o Brasil. No Rio de Janeiro, foi construida urna cápela em sua hon ra, a qual foi derrubada para dar inicio á Av. Rio Branco no comeco do

s'éc. XX.

O leitor encontrará na obra a historia dos títulos mais belos atribu idos a Nossa Senhora: Nossa Senhora do Perpetuo Socorro, Nossa Se nhora dos Remedios, Máe tres vezes admirável...

164

Religiosidade contagiante:

ASSEMBLÉIA DE DEUS: ORIGEM E CARISMAS Em síntese: A Assembléia de Deus é urna denominagáo protes

tante neopentecostal que tem orígem nos Estados Unidos e conseguiu grande número de adeptos no Brasil. Caracterizase pela emotividade e a vivencia de carismas ordinarios e extraordinarios. *

*

*

A Assembléia de Deus fo¡, até poucos anos atrás, a denominado

protestante que mais cresceu no Brasil. Hoje em dia a lideranca é dispu tada por outras correntes neopentecostais.

Examinemos a origem da Assembléia de Deus e algumas notas

que a caracterizam.

1. Orígem do neopentecostalismo protestante Assembléia de Deus é urna modalidade do movimento neopen

tecostal norte-americano, que teve inicio nos seguintes termos:

1. O Pentecostalismo clássico é urna forma de reavivamento fundamentalista do protestantismo norte-americano. Está ligado com um tipo de reavivamento metodista chamado Holiness (Santidade), que se originou na segunda metade do século XIX. Os seus mentores julgavam que os metodistas negligenciavam a doutrina de seu fundador John Wesley (t 1791), concernente á "inteira santificacáo". Segundo esta, o cristáo que já tivesse feito a experiencia da conversáo (necessária para a salvacáo), devia aspirar a urna "segun da béncao", isto é, a urna nova e mais profunda experiencia religiosa; esta tornaría o cristáo apto á vida de perfeicáo moral, sem sentir perturbacáo proveniente de algum resquicio do pecado. Tal experiencia nova era tida como "batismo no Espirito Santo" ou também Holiness. Esta segunda experiencia teria índole meramente interior e subjetiva, ficando independente de qualquer sinal exterior que a denotasse.

Ora aconteceu no ano de 1900 que o pastor metodista Charles F. Parham aderia as concepcóes de Holiness. Tinha urna escola para estudos bíblicos em Topeka (Kansas, U.S.A.) com trinta alunos, de ambos os sexos. Adotava o método de propor urna pergunta, para a qual os estudantes tinham de procurar os textos bíblicos que pudessem servir de resposta. Certa vez, interrogou: "Quais sao os sinais que, na Biblia, ca racterizam o auténtico batismo no Espirito Santo?" - Na base de At 2,1165

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"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 490/2003

12; 10, 44-48; 19,17, Parham e seus discípulos concluíram que o único sinal seguro era o dom das línguas (glossolalia). Entáo grande entusias mo apoderou-se do grupo, que se pos a rezar ininterruptamente durante varios dias e noites, pedindo a vinda do Espirito Santo. A1 ° de Janeiro de 1901, urna das estudantes, Agnes Oznam, pediu a Parham que Ihe impusesse as máos sobre a cabeca enquanto orava; quando isto foi feito, ela experimentou o "batismo no Espirito" e comecou a falar línguas: "Sentía me como se rios de agua viva jorrassem do mais profundo do meu ser", declarou ela mais tarde. Dentro de poucos dias Parham e os outros membros do grupo fizeram a mesma experiencia.

Assim surgiu a primeira congregacáo pentecostal, distinta dos gru

pos Holiness pela conviccáo de que o genuino batismo no Espirito há de ser manifestado, como no primeiro Pentecostés, pelo dom das línguas; esse batismo nao visa apenas á santificacáo pessoal dos crentes, mas

também os fortalece para que possam dar público testemunho de Cristo

num apostolado eficiente, assinalado por outros dons do Espirito; entre

estes, o da cura dos doentes por imposicáo das máos de um pregador

tem importancia eminente.

O primeiro núcleo pentecostal de Topeka deu origem a outros; es-

palhou-se pelo Texas e em 1906 estava em Los Angeles, sob a direcáo de um pastor de cor chamado W. J. Seymour, o qual aderira anteriormen te á espiritualidade de Holiness.

A exaltacáo e o entusiasmo demonstrados por esses grupos fize ram que as comunidades batistas e metodistas tomassem distancia do movimento. Verdade é que Parham, Seymour e os outros iniciadores do

Pentecostalismo nao tencionavam fundar nova denominacáo crista, mas apenas suscitar um revival ou reavivamento no seio das comunidades protestantes. Quando, porém, se viram rejeitados por estas, passaram a

constituir congregares próprias, hoje conhecidas pelo termo genérico de "pentecostais", que nos Estados Unidos contam com um total de cer ca de dois milhóes de membros.

Nenhuma denominacáo protestante está sujeita a se dividir e subdividir tanto quanto a dos pentecostais. Isto se compreende, dado que as raízes e as torgas impulsoras do movimento sao assaz subjetivas e arbitrarias. Passemos á

2. Assembléia de Deus: origem

Tendo tido origem em 1900, o movimento pentecostal expandiu-se rápidamente até a Suécia, a india, a América Latina... Em 1914 organizou-se nos Estados Unidos com o nome de Gene ral Council (Assembléia Geral). 166

ASSEMBLÉIA DE DEUS: ORIGEM E CARISMAS

23

Naquele ano varios pastores pentecostais reuniram cerca de cem congregacóes diferentes em Hot Springs, Arkansas (U.S.A.), dando-lhes

o nome único de Assembléia de Deus.

O Pentecostalismo que originou a Assembléia de Deus no Brasil, foi trazido em 1910 (5 de novembro) por dois missionários suecos - Gunnar Vingren e Daniel Berg. O primeiro nasceu a 08/08/1879, de familia batis

ta; em 1903 foi para os Estados Unidos, onde recebeu "o Batismo do Espirito Santo" e comecou a falar em línguas; dizia que, juntamente com

outros companheiros, durante a oracáo "sentía o poder de Deus sobre si como urna pressáo". A decisáo de vir para o Brasil foi-lhe inspirada diretamente pelo Espirito Santo, como refere o pastor Lawrence Olson:

"Cremos que o Espirito Santo chama certas pessoas para realizar determinados trabalhos missionários. A chamada divina é essencial para

quem se langa ao trabalho no exterior e mesmo para os trabalhos missi onários dentro do país. Como o Espirito Santo chamou Paulo e Barnabé em Antioquia para sairem ao trabalho missionário, assim hoje também Deus chama seus servos, embora nem sempre em profecía, como na quele caso. Em 1910 o Espirito Santo chamou doisjovens suecos, por nome Gunnar Vingren e Daniel Berg, em South Bend, Est. Indiana, E.U.A.,

por mensagem em línguas estranhas, proferidas por um irmáo Úldin, em cuja casa estavam hospedados. Sendo repetida tantas vezes a paiavra

'Pará-Pará-Pará', entenderam que para algum lugarpor esse nome Deus os estava chamando. Verificaram entáo na Biblioteca Municipal que Para era o nome dum Estado do Norte do Brasil. Oraram a Deus. Sentiram que era o Brasil para onde Deus os chamara. O caminho abriu-se e em No vembro de 1910 chegaram a Belém do Para, onde inlciaram a obra das Assembléias de Deus no Brasil, obra conhecida de todos, de culto nacio nal, congregando hoje cerca de 1 milháo de membros" (Énfases do Movimento Pentecostal. O Espirito Santo e o Movimento Pentecostal Sao Paulo 1966, p. 28).

Na autobiografía de Daniel Berg, um dos fundadores da Assem bléia de Deus no Brasil, narram-se as circunstancias maravilhosas que marcam a sua vida, especialmente a sua vinda para o Brasil:

"A melhor forma de saber a vontade de Deus, era orar; foi o que

fizemos durante urna semana, día e noite.

Finalmente, Deus confirmou que devíamos ir para o Para. Se aínda houvesse qualquer dúvida, esta desaparecería dias mais tarde, quando o irmáo Vingren, durante um de seus longos passeios de meditacáo, ouviu claramente urna voz que Ihe falava ao ouvido dizendo:

'Se vos fordes, nada vos faltará'. Vingren voltou-se rápidamente para ver

quem falava táo claramente, porém nao viu ninguém. Era o Senhor a

confirmar a chamada.

167

24

"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 490/2003

Nao ficamos surpreendidos ao saber que havia dois lugares no

navio, que nao foram ocupados. O Senhor havia preparado todas as coisas e até aqueta hora, de modo que tínhamos a certeza de que ele cuidaría também dos lugares no navio. Compramos as passagens e embarcamos.

De repente, percebi, ao longe, dois objetos que vinham em diregáo ao barco, um atrás do outro, em grande velocidade. Quando se aproximaram, vi que eram doispeixes. O que vinha na frente era grande, maior que os peixes comuns, o que vinha a persegui-lo era aínda maior. Estávamos observando como ñadavam, rápidos como flexas, quando o pelxe perseguido deu um pulo e caiu no meio do barco. Era a resposta á oragao que fizemos ao Senhor, para que nos desse alimento para ojantar. Agra decemos a Deus, mesmo antes de o preparar para comer.

'Todos os tripulantes se alegraram e viram, com seus próprios olhos, como Deus prepara alimento para seus filhos. O peixe tinha excelente paladar. O cozinheiro declarou que aquela especie é rara naquela re-

giáo, o maior exemplar que vira desde muito tempo. Quando o Senhor dá alguma coisa, dá sempre o melhor. As suas béngáos, possibilidades, e querer, sao maiores do que podemos imaginar. E urna verdade que até mesmo ñas pequeñas coisas, nos acontecimentos diarios e na variada especie de problemas, sentimos a máo de Jesús dirigindo-nos pelo me lhor caminho" (D. Berg, O Enviado por Deus, Casa Publicadora das Assembléias de Deus, Rio de Janeiro, sem data, pp. 30-35.166s). Segundo os historiadores do Pentecostalismo protestante, "avisos", "revelacoes", "sonhos proféticos" sao alguns dos sinais carismáticos que acompanham a expansáo do movimento. Narra, por exemplo, Emilio Conde, encarregado pelos pentecostais de escrever a "Historia das As sembléias de Deus no Brasil", o seguinte episodio, que é típico do que aínda hoje freqüentemente acontece nos cultos pentecostais: "Para convencer um povo de coragáo duro, e confirmar urna Obra iniciada em meio táo hostil, o Senhor manifestou o Seu poder ante os olhares atónitos dos descrentes. Certa noite, em um culto realizado na Vita Coroa (Belém), apareceu um homem endemonlnhado que se retor cía com violencia sem que alguém o pudesse segurar. Os descrentes que assistiam, tentaram imobilizá-lo, porém nao conseguiram. Em dado momento a irmá Josina Galváo, comegou a profetizar e, cheia do poder de Deus, dirigiu-se para onde estava o homem endemoninhado. Em nome de Jesús impós-lhe as máos e ordenou ao demonio que se retirasse. Ante a admiragáo geral, o homem flcou imobilizado, de cócoras, domina do pelo poder de Deus; todos viram que algo como um ralo saiu pela janela e desapareceu. Os descrentes que estavam fora de casa, e a tudo assistiam, amedrontados, confessavam que Deus estava no meio daquele povo" (B. Muniz de Soares, A Experiencia da Salvagao, Sao Pau lo 1969, p. 33). 168

ASSEMBLÉIA DE DEUS: ORIGEM E CARISMAS

25

A Assembléia de Deus logo se expandiu para outras regioes do Brasil a partir de Belém, onde a primeira congregacáo contava dezoito pessoas. Já em 1913 o primeiro mensageiro brasileiro partiu para Portu

gal; em breve outros se Ihe seguiram.

Vejamos algumas características do neopentecostalismo protes

tante em geral.

3. Assembléia de Deus. Emotividade

A quem entra num templo pentecostal, muito impressiona o entusi asmo com que os crentes rezam, cantam e gesticulam. Isto atrai muita

gente necessitada de ser reanimada; é capaz de produzir um frenesí contagiante, que faz bem a muitos, ao menos momentáneamente. A li turgia católica, ao contrario, é mais sobria e contida (hierática), sendo, por causa disto, as vezes censurada.

Em resposta a esta observacáo, notamos que a emocáo faz parte integrante da personalidade humana e, por isto, nao pode ser menospre-

zada. Mas a reta ordem manda que ela esteja subordinada á inteligencia, pois o homem é, antes do mais, um ser racional, cujo intelecto deve reger todo o seu comportamento. A emotividade é algo de subjetivo (cada indi

viduo reage a seu modo no plano emocional), ao passo que a inteligen cia concebe referenciais objetivos duradouros, capazes de estruturar o comportamento de todos os homens; ora a inteligencia afirma que, dian te de Deus, o fiel tem que assumir urna atitude de reverencia e respeito, que nao se coaduna com expressoes demasiado livres e subjetivas. Alias, varias denominacóes protestantes mais tradicionais rejeitam o caráter emocional do Pentecostalismo. Entre os próprios pentecostais, alguns chegam a desaprovar a excessiva descontracáo de seus irmáos ñas assembléias de culto.

Acontece, porém, que, para compreender o valor de atitudes sobri as e hieráticas na Liturgia, é necessário um tanto de cultura ou de formacáo doutrinária; é preciso saber apreciar o silencio, valorizar a meditacao, intuir os valores invisíveis... Ora estas atitudes se tornam dificéis nao somente pelo pouco cultivo intelectual de boa parte da populacáo, mas também por causa de um certo anti-intelectualismo derivado de Lutero e Calvino e transmitido as geracóes protestantes em geral. A Igreja Católica, em sua sobriedade (que nao deixa de falar viva mente quando a Liturgia é bem executada), vai mais ao fundo do ser humano; ela toca as instancias básicas da pessoa e oferece a possibili-

dade de urna fé mais sólida, mais consciente, mais abrangente. Mas pre cisamente por causa disto a Igreja sofre e sofrerá desvantagens em relacáo aos múltiplos grupos pentecostais, que improvisam suas manifesta res e podem chegar a obcecar ou fanatizar seus membros. A unidade 169

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"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 490/2003

da Igreja se prende ao seu amor pelos valores objetivos ou á Verdade e ao Bem objetivos, ao passo que o subjetivismo solapa o protestantismo e o esfacela cada vez mais. 4. O Dom das línguas

Nao há dúvidas de que o Espirito Santo pode conceder dons extra

ordinarios, inclusive o das línguas, aos seus fiéis. Todavía diante do ex traordinario impóe-se urna posigáo de sobriedade, para que nao se con-

fundam fenómenos psicológicos e parapsicológicos com as gracas de Deus.

O psiquismo humano guarda no seu inconsciente noticias e expe

riencias latentes, que podem vir á tona de maneira imprevista e confusa quando a pessoa perde o habitual controle de si mesma: um forte empolgamento emocional, urna viva excitacao religiosa podem levar o individuo a pronunciar palavras estranhas ou mesmo de outro idioma (percebido em conversas de colegas, de companheiros de viagem, de amigos estrangeiros...). Isto acontece ainda mais fácilmente se o fiel está sugestionado e acredita que val receber o dom das línguas associado ao "Batismo no Espirito Santo". A sugestao move o inconsciente a funcionar mais rápida e generosamente.

Com isto, nao queremos negar a possibilidade de urna efusáo es pecial do Espirito Santo, doador de gracas, mas desejamos chamar a atencáo para o risco de se confundirem fenómenos heterogéneos e dar valor (= autoridade e importancia) descabido a manifestacóes do sujeito, que, sob a capa de inspiracáo divina, pode estar impondo seu modo de ver pessoal. 5. As Doencas

Um dos fatores que mais contribuem para a propagacáo das correntes pentecostais, sao as curas de doencas tidas como milagrosas. A propósito convém apresentar a mentalidade segundo a qual os pentecostais freqüentemente consideram as molestias. A doenca é, muitas vezes, tida como punicáo... punicáo do pecado.

Eis os depoimentos oriundos dos labios de crentes pentecostais: "A doenga é um castigo de Deus. Embora Ele nao envié a doenga, permite que o Diabo a envié para o mau crente como castigo, ou, até mesmo, para aquele crente que Deus querprovara sua fé. Assim como Deus abengoa até mil geragóes aos que fazem a Sua vontade. Ele também castiga, através do Diabo, até a terceira geragáo. Porisso os filhos ficam as vezes doentes por causa dos pecados dos pais, ou para glorifícagáo de Deus pela fé" (ob. til, p. 167). 170

ASSEMBLÉIA DE DEUS: ORIGEM E CARISMAS

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"A doenga vai do pecado, até do pecado original. Se urna pessoa ou seus antepassados conheceram a verdade e depois cometeram mal perante Deus, sao castigados por Ele. Deus só castiga aqueles que creram e pecaram. Nos estamos aquí para orar em vigilia, para nao cair e ficar aleijados, para nao terum cáncer. Para ir para Cristo, temos de orar todos os días, com muita fé, para que Jesús nos livre dos ataques do Diatoo, que traz as doengas" (oto. cit., p. 168). Se tal é a origem das doengas, entende-se que a cura há de ser obtida, antes do mais ou talvez até exclusivamente, através da oracáo. Eis outro testemunho: 'Todas as doengas vém do Diabo, mas podem ser evitadas pelo asseio e pela abstinencia. Na vida eterna, nao existimo mais doengas e provagóes. O médico, com a permissáo de Deus, pode curar. Quando eu fico doente, oro e pego a Deus para ser curado. Nao sendo curado, pro curo aumentar minha fé; nao conseguindo, apelo para a medicina". Os crentes mais extremados afirmam envergonhar-se de recorrer

ao médico ou tomar remedios, pois "este pode ser um dos meios de que se vale Satanás para enfraquecer nossa fé na cura de Jesús". Um fiel entrevistado concluiu, de modo convicto: "Quem nao tem fé, pode ser curado pelo médico. Os crentes novos as vezes sao fracos, duvidam da cura. Por isto váo ao médico, mas depois se convencem de que só Oeus é quem cura". Eis outro depoimento: "O crente, quando tem muita fé e eré firmemente em Jesús, nao procu ra médicos. Ele ora para o Senhor, que é o médico dos médicos. Agora, quando o crente nao tem fé suficiente, nao é capaz de orar com conviegáo; ele pode procurar a ciencia da tena, pode tomar remedio" (ob. cit, p. 143). As pretensas curas obtidas no espiritismo sao tidas como "curas engañadoras, de que se vale o diabo para conquistar as almas". Tendo procurado terreiros de umbanda e sessóes espiritas antes de conhecer o Pentecostalismo, um dos informantes, adepto da seita, declara: "A cura do Espiritismo é a cura do corpo, mas a alma se perde. Satanás também tem o dom de fazer milagres, mas faz para o mal. O demonio é urna criatura desesperada. Faz curas, mas a diferenga está

em que a pessoa curada pelo Espiritismo nao eré em nada, a pessoa nao muda porque nao eré, continua urna pessoa do mundo. Eu mesmo fui

curado pelo Espiritismo, antes de me converter. Fui ao centro espirita, tomei o remedio que mandaram e sarei. O mal, porém, continuou dentro de mim, pois nao acreditava em nada. Agora sou diferente porque estou salvo por Jesús" (ob. cit, pp. 169s). Continua no próximo artigo. 171

Como entender?

DOENQAS E MARAVILHOSAS CURAS

Em síntese: Muitas pessoas sao atraídas pelas correntes religio sas que prometen) e "realizam"curas maravilhosas de doengas graves. -

Para explicar os portentos assim efetuados, é oportuno lembrarque existem molestias funcionáis devidas a um bloqueio do psiquismo do pacien te; tais doengas podem ser, ao menos aparentemente, curadas pelo desbloqueio do enfermo provocado por sugestáo ou por impacto; tenhamse em vista os placebo. A Teología católica reconhece o milagre, mas só o faz após rigoroso exame de cada caso a fim de averiguar se nao há explicacáo natural para o mesmo. Em linguagem católica, quando se diz que "a fé cura", entende-se que a fé predispóe o paciente abrindo-o para a graga; só Deus pode realizar milagres. *

*



Um dos fatores que muita gente atraem ao Pentecostalismo, sao as propaladas curas de doengas que a medicina nao consegue debelar, ou para tratar das quais o paciente nao tem recursos financeiros. De resto a prática da medicina nao científica, mas "mística", sempre esteve em voga, constituindo o que se chama "o curanderismo". Para entender o fenómeno, é preciso considerar um preliminar im portante.

I. Doencas e "doengas"

Toda doenca é psicossomática, isto é, afeta o físico (soma) e o psíquico do paciente. Há, porém, doengas mais acentuadamente ligadas ao psíquico (sao as doengas ditas "funcionáis") e outras mais fortemente ligadas ao físico (sao as doencas orgánicas).

As doengas funcionáis estáo muito relacionadas com fatores emotivos, que causam certo bloqueio do sistema nervoso e, conseqüentemente, disfungáo ou paralisia de órgáos ou sistemas do organismo.

Tais sao certas molestias da pele (eczema, verrugas, urticaria), furunculose, asma, úlcera do estómago, angina do peito, insuficiencia hepáti ca, colite, hemorragias... Visto que a causa destas doengas é freqüentemente um bloqueio psíquico, basta eliminar esse bloqueio pela suges

táo, pela transmissáo de otimismo e confianga, para que a molestia desaparega.

As doengas orgánicas sao as que decorrem de urna lesáo ou agressáo ao físico: o cáncer, a cegueira por perda do ñervo ótico, as 172

DOENgAS E MARAVILHOSAS CURAS

29

fraturas... Estas nao dependem tanto de sugestáo; por isto nao sao cura das por vias "místicas", ao passo que as primeiras o podem ser. Além disto, observemos que há doencas ilusorias... Certas pessoas de boa fé apresentam todos os síntomas de doencas funcionáis ou mesmo orgánicas. Na verdade, porém, nao sofrem senáo dos efeitos de sua sugestionabilidade. Em tais casos, o curandeiro pode produzir "cu ras maravilhosas".

Há também doencas mal diagnosticadas tidas como graves, quando na verdade nao o sao. Após a cura, proclama-se a ocorréncia de milagre, quando na realidade nao o houve.

Feita esta observacáo preliminar, passamos a estudar as diversas

modalidades da medicina nao científica.

2. As curas do Pentecostalismo

a) Se alguém vai a urna igreja acreditando que o demonio Ihe está causando tal ou tal enfermidade, é submetido a um "exorcismo" e recebe a béncáo do pastor. Em conseqüéncia, passa a se sentir bem ou curado. Ora nesses casos pode-se dizer que, de modo geral, nao há mais do que psicoterapia baseada na sugestáo: auto-sugestáo, hétero-sugestáo, su gestáo coletiva do ambiente, sugestáo hipnótica, contagio mental. O pastor e a assembléia aplicam ao paciente gestos e ritos que o desbloqueiam; se o doente acredita que esses gestos e ritos tém poder de curar, ele há de se sentir aliviado ou pretensamente curado.

É conhecido o funcionamento dos placebo (= agradarei). Sao re

medios aparentes, inoperantes, que produzem efeito benéfico, porque excitam a sugestáo positiva do paciente. Sim, a psicología ensina que um órgáo humano pode entrar em atividade tanto sob influencia de seus excitantes naturais (remedios adequados) como sob a excitacáo de esti

mulantes que sao meramente convencionais. Por conseguinte, caso se diga a alguém que determinado objeto ou determinada fórmula ou deter minado tratamento é benéfico para o corpo, pode acontecer que, embora tais objetos ou fórmulas... sejam de todo indiferentes e inoperantes, a pessoa que, impressionada ou sugestionada, os aplique a si, experimen te um beneficio corpóreo. Tal "estímulo-sinal" terá produzido verdadeira

reacáo biológica favorávei a cura, por causa da confianca e da conviccao do paciente; será oportuno até para recolocar em atividade um órgáo parausado do organismo do paciente.

Estas reacóes, ditas "reflexos condicionados", elucidam a eficacia atribuida a certos processos da "medicina" supersticiosa: trata-se de agen tes inocuos em si, mas transformados em fatores benéficos por causa da conviccáo que o paciente, após haver sido (consciente ou inconsciente mente) doutrinado, nutre a respeito de sua "eficacia". 173

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"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 490/2003

Em conseqüéncia, vé-se que nao há dificuldade em admitir o bom éxito da seguinte receita dos curandeiros: quem queira curar-se de verru gas, procure um osso no campo, friccione a verruga com a parte do osso que estava voltada para o chao, coloque de novo o osso no lugar e vá-se embora ás carreiras... O tratamento pode dar resultado, pois afirmam os médicos que a verruga pode ser combatida pela sugestáo (cf. Dr. A. da Silva

Mello, Misterios e Realidades deste e do outro Mundo. Rio 1950,421).

b) Pergunta-se, porém: se a acáo do curandeiro cura por sugestáo, por que a agáo do médico nao tem a mesma forca sugestionante? Na verdade, há pacientes que passam pelos médicos sem obter resultados, mas sob os cuidados do curanderismo se dizem sanados. A resposta nao é difícil: a acáo do médico é freqüentemente muito objetiva; ele nao trata o doente, mas a doenca. Ao contrario, a acáo do

curandeiro é essencialmente subjetiva; ela se exerce sobre o doente, e

nao sobre a doenca. Diante do médico, o doente toma urna atitude tímida e fechada, pois a superioridade fria do médico o assusta. Ao invés, entre o curandeiro e seu cliente há um relacionamento de intensa afetividade: "ele é o grande homem, o milagreiro que já curou tantos, o único que aínda poderá salvar o paciente!".

Levemos em conta a aura de misterio que cerca o curandeiro benfazejo: o próprio local de atendimento onde reina concentracáo anor mal ou o frenesí coletivo de urna massa fanatizada; as conversas sobre casos maravilhosos já ocorridos e que os clientes váo recordando duran te o tempo de longa espera do seu atendimento; os meios mirabolantes dos passes, dos toques, das ¡nsuflacóes ou os berros e as exclamacóes daqueles que "esconjuram o demonio", e daqueles dos quais saem os maus espíritos; a ansia de recuperar a saúde, custe o que custar... Isto tudo contribuí para suscitar no paciente a mais inabalável certeza de que

será curado, se se entregar sem resistencia á acáo do curandeiro (ou do pastor "exorcista"). Se a doenca nao for orgánica (como parece que, de

fato, nao é em 83% dos casos), o curandeiro conseguirá resultados que o médico seria incapaz de obter.

Também é de notar que freqüentemente os médicos dizem ao hi pocondríaco que ele nao tem doenca, mas imagina té-la. Muitos pacien tes, com isto, sentem-se incompreendidos e ofendidos. O curandeiro, porém, já pelo fato de ter pouca instrucáo, nao fala assim. Em vez de negar a doenca, promete ao cliente que será curado ou já está curado.

Ora a psicología reconhece que o procedimento do curandeiro é mais eficaz do que o do médico, no caso.

c) Em conseqüéncia, impóe-se urna observacáo: nao se deve dar fácil crédito á proclamacáo de fenómenos portentosos (especialmente 174

DOENCAS E MARAVILHOSAS CURAS

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curas médicas e cirúrgicas), mas, antes de procurar-lhes a explicacáo é necessano investigar exatamente se houve algum fato extraordinario e

em que consistiu propriamente. Portante a quem anuncia urna cura é

preciso pedir:

1) urna declaracáo médica a respeito da doenca ou do estado de saude da pessoa em foco antes de passar pelo "tratamento".

2) urna declaracáo médica atestando a cura total e duradoura da

molestia por via inexplicável aos olhos da ciencia.

Sem estes atestados, poderíamos estar procurando as causas de milagres que nunca houve, embora o paciente se diga curado Quem deve dizer se houve realmente cura, é o médico, após fazer os devidos

exames científicos. A seriedade e honestidade científica é imprescindí-

vel em tais casos.

4. A explicacáo dada atrás vale para as doencas funcionáis nao para as doencas orgánicas ou para as doencas que dependem nao de lesáo física, mas de perturbacáo do sistema nervoso.

As doencas funcionáis ou nervosas ou mesmo as doencas orgáni cas de origem nítidamente psíquica ou nervosa nao vém ao caso, quan

do se trata de milagre na apologética ou na teología. Ao contrario inte-

ressam as lesoes orgánicas nítidamente diagnosticadas e tidas como incuráveis pela medicina contemporánea. Caso sejam curadas em um contexto de fé e prece puras, pode-se admitir ai urna ¡ntervencáo extraor

dinaria de Deus ou um milagre.

Verifica-se, porém, que ñas comunidades pentecostais nao se rea liza o exame médico-científico do paciente antes da cura e depois da

cura, para saber se houve, de fato, a eliminacáo radical do mal ou ape nas um paliativo. Os dirigentes e os fiéis aclamam "o milagre", que geralmente e ilusorio, se se trata de doenca orgánica. Um dos grandes in convenientes do curanderismo consiste em fazer que o enfermo acredi te estar salvo de molestia, quando, na verdade, esta permanece incuba

da; por causa do alivio momentáneo, o paciente deixa de se tratar entrementes o mal progride em seu organismo de tal modo que, quando

o paciente dá por ele, já se encontra muito mais atacado do que antes de pretensa cura.

3. Circunstancias que abonam ou desabonam

Todo milagre é um sinal ou urna palavra de Deus aos homens Ora

para que essa palavra possa ser reconhecida e utilizada como testemu-

nho válido para todos os homens, é necessário que ela tenha certas ca racterísticas. Estas podem ser negativas e positivas. 175

"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 490/2003

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3.1. Criterios negativos

Nao sao reconhecidos como milagres fenómenos realizados em contexto indigno de Deus:

a) Tais seriam, em primeiro lugar, os ambientes de irreverencia a

Deus imoralidade ou deboche de costumes, charlatanismo ou ilusionismo,

cobica de lucros materiais ou aceitacáo de lucro financeiro por parte do pretenso taumaturgo, ocasiáo de satisfazer ao orgulho, á vaidade oua sensualidade das pessoas envolvidas no portento... O Senhor Deus nao pode ser incoerente ou contraditório; Ele nao realiza sinais ou palavras portentosas que de algum modo possam sugerir a confirmacao do debo che, da fraude ou da imoralidade...

b) Ambientes de sensacionalismo e alarde levam igualmente a

desconfiar da autenticidade do "milagre". - Na verdade, as obras de Deus costumam ser discretas, mesmo quando derrogam ao curso natural dos

acontecimentos. Um portento exageradamente sensacional ja nao seria

sinal pois nao levaría os espectadores a procurar outra realidade invisivel a'ssim assinalada. Alimentaria a fantasía e a curiosidade profanas mais do que a inteligencia, a fé e a reverencia a Deus. c) O espirito de arrogancia e de dominio com que alguém trate as coisas de Deus e os fenómenos prodigiosos, também resulta em desabono do pretenso milagre.

Quem iulga ter direito a algum milagre, porque possui ciencia e receitas ou porque é virtuoso e sempre foi fiel a Deus, já se coloca fora das disposicóes necessárias para ser atendido pelo Senhor Deus. O au téntico milagre é sempre sinal gratuito, nunca é devido por Deus ao homem O homem nao "encomenda" milagres a Deus. Somente quando assume urna atitude de humildade e disponibilidade, pode o homem es perar receber a graca e a condescendencia de Deus. 3.2. Criterios positivos

Urna vez enunciadas as características que, no sentido teológico e

apologético, desabonam o milagre, importa averiguar as que o recomendam e autenticam aos olhos do observador.

Para que urna cura de enfermidade venha a ser levada em conta como possível resposta de Deus aos homens, deve, segundo a jurispru dencia da Igreja, preencher as cinco seguintes condicoes: 1) Trate-se de urna doenga orgánica grave, consistindo em alteracoes anatómicas (modificacáo, perda ou hiperproducáo de tecidos .). Essa doenca terá sido diagnosticada pelos métodos mais seguros e haverá sido considerada totalmente incurável aos olhos da medicina con temporánea. 176

DOENCAS E MARAVILHOSAS CURAS

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2) Tenham sido ineficientes todos os meios terapéuticos devida-

mente aplicados.

3) Verifique-se a restauracáo dos órgáos ou tecidos lesados em espaco de tempo táo breve que possa ser considerado instantáneo.

4) Nao se tenha registrado o prazo ordinariamente necessário para a recuperacáo gradual da funcáo lesada (a pessoa curada conseguiu logo caminhar ou comer e digerir com toda a normalidade...). Ou, em outros casos, nao se tenha verificado o prazo necessário

para a reabsorcáo dos edemas, dos derrames de pleura ou para a des-

truicáo das massas de tumores -o que nao excluí ritmo progressivo (mas rápido) do estado geral de saúde da pessoa curada (aumento de peso,

de forcas, etc.).

5) Seja a cura duradoura, capaz de ser comprovada por exames sucessivos, feitos a intervalos regulares durante longo espaco de tempo.

É importante frisar que o quadro mais normal dentro do qual o mi-

lagre se insere, é o da prece humilde, destituida de crendices ou artifici

os supersticiosos. O prodigio aparece entáo como a resposta de Deus ao

apelo da miseria do homem. Este nao é capaz de comprar ou de forcar o favor de Deus; nao há preces ou ritos de efeito infalível; a oracáo agradável a Deus é a que procede de um coracáo filial, voltado para o Pai do céu em confianca e amor, sem "receitas" previas "garantidas". 4. A fé que salva

A expressáo "a tua fé te salvou", freqüente nos labios de Jesús (cf. Mt 8, 13; 9, 2.22.15, 28; 17, 20), nao quer dizer que os milagres sejam projecóes do psiquismo subjetivo do paciente (faith healing, la foi qui guérit). Há, sem dúvida, casos de cura por auto-sugestáo; tenham-se em vista as molestias funcionáis que sao criadas e extintas por sugestáo

do próprio paciente.

A fé, de resto, nao é sugestáo subjetiva. A fé que Jesús louva nos Evangelhos como penhor de salvacáo, significa abertura para Deus cheia de entrega e confianca. Está claro que urna tal disposicáo acalma o sis

tema nervoso do paciente, mas é incapaz de explicar a cura radical do mesmo, quando afetado de certas lesóes orgánicas. A auténtica fé, ade máis, é precedida por um juízo da razáo; longe de ser cega ou sentimen

tal, ela supóe o conhecimento dos motivos de credibilidade: por que posso crer?... por que crer precisamente em Jesús de Nazaré?... por que crer na Igreja Católica, e nao em outra comunidade religiosa? O estudo de tais perguntas exige o funcionamento da razáo e da lógica, contribuindo assim para emancipar da sugestáo, do sentimentalismo e do fanatis mo a auténtica fé crista.

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"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 490/2003

De resto, a fé nao dispensa o homem de serv¡r-se dos recursos

que Deus Ihe dispensa para livrar-se de seus males. Se Deus deu ao homem inteligencia, nao pode deixar de querer que o ser humano a utilize para atingir seus fins legítimos. Omitir-se neste setor, esperando que Deus faca milagrosamente o que o homem pode fazer inteligentemente, é tentar a Deus; é falsa devocáo. A S. Escritura mesma elogia o médico e recomenda o recurso ao médico, ao mesmo tempo que reconhece que Deus é a fonte de todo o saber e de toda a pericia do médico; veja-se Eclo38, 1-12:

"Rende ao médico as honras que Ihe sao devidas, por causa de seus servigos, porque o Senhor o criou. Pois é do Altíssimo que vem a

cura, como um presente que se recebe do reí. A ciencia do médico o faz trazer a fronte erguida, ele é admirado pelos grandes... O Senhor é que deu a ciencia aos homens, a fim de que se gloriem com suas obras pode rosas. Por eles, Ele curou e aliviou; o farmacéutico fez com eles mistu ras... e por ele a saúde se difunde sobre a térra.

Filho, nao te revoltes na tua doenga, mas reza ao Senhor, e Ele te

curará... Dá lugar ao médico, porque o Senhor também o criou; nao o

afastes de ti, porque dele tens necessidade. Há ocasláo em que a saúde está entre suas máos".

Sobre o milagre e seu auténtico significado, ver outrossim nosso Curso sobre Ocultismo, Módulos 5, 6 e 21.

Os Evangelhos Apócrifos. Tradugáo e Introdugáo de UrbanoZilles, EDIPUCARS, Porto Alegre 2001 (2a edigáo revista e ampliada); 130 x 240mm,247pp.

Os apócrifos estáo muito em voga nos dias atuais; a imprensa ilus trada os tem utilizado para apresentar "um Jesús diferente", baseando-se nos apócrifos de origem gnóstica, dualista. O teólogo Pe. Urbano Zillea teve a feliz iniciativa de publicar ao menos os Evangelho Apócrifos de origem crista; sao nove livros de pouca extensáo acompanhados de vali osa introdugáo em cada um; mostram como pensavam os cristáos dos primeiros séculos no tocante a ¡acunas deixadas pelos evangelhos canónicos; há aímuitas narrativas ficticias ao lado de episodios e notici as que interessam ao teólogo e historiador; veja-se especialmente o Protoevangelho de Tiago, que explica quem eram os "irmáos" de Jesús

assim como propóe a virgindade de María no parto. - Épara desejar que

o Pe. Zilles continué a publicagáo dos apócrifos, passando aos Atos apócrifos.

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Como resolver?

AS SURPRESAS DA FECUNDAQÁO ARTIFICIAL

Em síntese: Tém-se verificado casos inesperados resultantes da fecundagáo artificial: comercializagáo do ventre feminino, máe e irmá ao mesmo tempo, incesto sem contato sexual... Essa revolugao vai diluindo cada vez mais o conceito de familia, que na verdade deveria ser preser vada como o bergo em que se forma a personalidade do individuo. O

presente artigo apresenta os casos mais significativos da perniciosa reviravolta da sociedade. Por "fecundagáo artificial" entendemos todo processo reprodutivo que foge as leis da natureza; esta proporciona dois sexos que se devem completar espiritual e corporalmente, de tal modo que sao inaceitáveis a fecundacáo em proveta, a barriga de aluguel, a clonagem... De modo especial a clonagem fere as leis da natureza. Distinguem-

se a clonagem reprodutiva (produz "copia carbono" do(a) doador(a) da

materia genital) e a clonagem terapéutica, que produz embrioes a ser manipulados em favor de adultos enfermos e, posteriormente, destruidos. A clonagem terapéutica é condenável porque nao leva em conta o fato de que o embriáo é verdadeiro ser humano, cuja vida deve ser respeitada como a do adulto. Quanto á clonagem reprodutiva, embora se Ihe apontem varios in convenientes (nula a identidade do(a) clonado(a), velhice precoce, nova

forma de escravidáo...), continua a ser experimentada por grupos (clan destinos ou nao clandestinos), movidos pela volúpia da conquista cientí fica. Em particular, a seita Raeliana, fundada pelo "Reverendíssimo Rael", com sede ñas proximidades de Montréal (Canadá), tem-se empenhado

por tentar clonar personagens famosos, inclusive Jesús Cristo: alega faltar-lhe dinheiro para custear as despesas de táo ousado (e utópico) empreendimento e, por isto faz pedidos de doagóes vía internet. A seita raeliana,

alias, em Janeiro 2003 anunciou (sem apresentar provas) o nascimento de dois bebés clonados pela Clonad ("braco científico" dessa seita religi osa). Outras seitas fanáticas alimentam semelhantes projetos. A ¡mprensa tem dado noticias dos problemas - em parte imprevis tos - que tém origem na fecundacáo artificial e suas modalidades. Mere ce atencao o quadro apresentado pelo jornal O GLOBO de 12/01/03, Caderno da Familia, p. 2. 179

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"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 490/2003

1. Surpresas que fazem pensar

Sao extraídos do citado jornal O GLOBO os seguintes episodios:

EMBRIÓES ÓRFÁOS Urna clínica na Australia mantém dois embrides congelados de um casal de milionários morto num acídente de carro em 1983. Ao saber da fortuna em jogo, numerosas mulheres ofereceram-se para gerar os be bés. Mas a justica da Australia decidiu manter os embrides congelados. O dinheiro pesa mais do que as criancas.

NINGUÉM QUER ESTES BEBÉS No meio de 2001 faltavam apenas tres meses para a máe de aluguel inglesa Helen Beasley ter um casal de gémeos e ela aínda procurava alguém para adotá-los. Beasley alugou o útero por US$ 20 mil a um casal americano submetido a fertilizagao in vitro. Mas o casal quería ape nas um filho e desistiu dos bebés. Ela se negou a fazer aborto porque a gravidez estava adiantada. O ventre humano seria incubadora que se alugue? E as criancas seriam mercadoria que se pode encomendar e, se nao agrada pode devolver?

BRIGA POR EMBRIÓES Um casal disputa a guarda de sete embrides na Justiga dos EUA. Submetido a fertilizagao in vitro em 95, o casal, hoje separado, teve im plantados quatro dos 11 embrides obtidos. Os dois tiveram um filho e agora o ex-marido querque os embrides sejam implantados em sua nova

mulher.

É o caso de perguntar: quem é quem? Quem é o pai? Quem é a máe?

tía e máe ao mesmo tempo A menina Elizabetta nasceu em Roma, em 1995, dois anos depois de sua máe biológica morrer. A menina foi gerada pela irmá de seu pai biológico, que serviu de máe de aluguel, recebendo um embriáo congela do da cunhada e do irmáo. Elizabetta vive com a sua tía, e também máe. Mesmas perguntas...

DOIS PAÍS E UMA SÓ MÁE O casal homossexual inglés Barrie Drewitt e Tony Barlow alugou o útero de urna mulher para receber dois embrides, concebidos com os espermatozoides deles e os óvulos vendidos por urna americana. Os 180

AS SURPRESAS DA FECUNDAQÁO ARTIFICIAL

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bebés, cada um de um pal, mas com a mesma máe, nasceram em Janei ro.

Quem fará as vezes de máe para essas crianzas?

MÁE-VIRGEM Em 1987, a pastora americana Lesley Northrup foi máe-virgem. Ela teve um óvulo fertilizado com um espermatozoide de um doador desconhecido. O embríáo foi implantado em Northrup, virgem e solteira, sem a necessidade do ato sexual. Crianza educada sem pai INCESTO SEM SEXO

Urna francesa deu a luz há dois meses um filho de seu irmáo nos EUA. Jeanine Salomone, de 62 anos, pagou quase US$ 100 mil para ter urna menina, que nasceu há cinco semanas. O espermatozoide foi doado pelo seu irmáo. A clínica confessou que nao pediu a certidáo de casa mento dos dois.

Pai e tio!

COM ESPERMATOZOIDE DO MARIDO MORTO Em 1999, a viúva americana Gaby Vernoffdeu á luz nos EUA a um filho gerado a partir de seu óvulo e do espermatozoide congelado de seu

marido, moño em 1995. Foi o primeiro caso do tipo no mundo.

Fecundacáo despersonalizada.

SÓ SERVE SE FOR SURDO As americanas Sharon Duchesneau e Candace McCullough usaram a inseminacáo artificial para ter dois filhos surdos como elas. Para gerar Jehanne, de 5 anos, e Gauvin de 5 meses, o casal lésbico contou

com a a]uda de um amigo da familia, também surdo, depois que varios bancos de esperma se recusaram a colaborar com seus planos.

Planejamento familiar! E com isto váo-se alterando os conceitos... 2. Os conceitos se modificam

As novas práticas genéticas alteram conceitos e realidades bási cas da sociedade contemporánea.

1. Especialmente a nocáo e a realidade da familia sao postas em xeque.

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"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 490/2003

A familia clássica é a célula que resulta da uniáo de um homem e urna mulher cujo amor recíproco se espelha na prole. Os genitores sao também os educadores de seus filhos, que Ihes responden» com seu afeto filial. - Pois bem...

O primeiro golpe infligido á familia ocorre quando o marido ou a mulher tém relacóes extra-conjugais, das quais nasce urna prole. Ouve-

se entáo o filho dizer: "A máe do meu irmáo..." ou "o irmáo do meu irmao...". Em nossos días a legislacao brasileira equipara entre si filhos legítimos e ilegítimos.

O segundo golpe desferido contra a familia é o da fecundacáo arti ficial. Entra em jogo um(a) desconhecido(a) responsável, de algum modo,

pela prole. Nem sempre se pode falar de pai e máe, mas se fará mencáo "daquele ou daquela que exerce as funcóes de pai ou máe". A figura do pai genético cede á figura do pai funcional; o mesmo acontece com a máe.

O terceiro golpe que a familia sofre é o das legalizadas unióes homossexuais e lésbicas, algumas das quais pleiteiam o direito de adotar e educar urna crianca.

Caso se dé a clonagem humana, estará totalmente destruida a fa

milia, pois, em vez da relacáo paternidade, matemidade e filhos, haverá fraternidade ou o relacionamento do original com sua copia carbono: poder-se-á perguntar: qual será a ¡dentidade do individuo clonado? Re sultaría do seu teste de DNA? Mas este seria igual ao do teste do indivi duo original. O mesmo se diga das impressóes digitais. E que parte de heranca Ihe tocará, visto que será filho dos seus avós (ou dos que na sociedade passam por seus avós)?1 2. Alias o novo Código Civil Brasileiro, que entrou em vigor no mis de Janeiro 2003 também fere a familia nos seguintes termos: a) para que se possa falar de "uniáo estável" com direitos de espo so e esposa, já nao se requerem dois anos de convivencia sob o mesmo teto, mas basta que "a uniáo seja pública, continua e duradoura" mesmo sem coabitacáo;

b) para que um dos cónjuges possa pedir divorcio, basta-lhe alegar "falta de amor";

1A propósito notam os autores que nao se deve exagerara semelhanga do individuo clonado com o clonante; as influencias do meio ambiente poderáo ter repercussáo sobre o físico e o psíquico do clone. 182

AS SURPRESAS DA FECUNDAgÁO ARTIFICIAL

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c) quem alega este ou outro motivo de separacáo, pode estar

tranquilo (ao contrario do que acontecía outrora), pois nao perderá o dire ¡to á pensao;

d) a "plena comunháo de vida" sem contrato matrimonial é equipa rada á uniáo conjugal: Sao dados aos parceiros os mesmos direitos e deveres que a esposo e esposa.

Todavía continua vigente a cláusula que confere ao casamento re ligioso efeitos civis: O casal deverá levar ao Cartório o registro da cerimónia religiosa devidamente realizada.

Frente a essas invectivas a Igreja se empenha por manter viva na sociedade contemporánea a consciéncia de que a familia, tal como sempre foi concebida, é o esteio das estruturas sociais e a escola de formacao das personalidades. Sao palavras do Concilio do Vaticano II na Constituicáo Gaudium et Spes n° 52:

«A familia, na qual conviven) varias geragoes que se ajudam mutu amente em adquirirmaiorsabedoria e em harmonizaros direitos pessoais com as outras exigencias sociais, constituí o fundamento da socieda de. Por isso todos aqueles que exercem influencia ñas comunidades e nos grupos sociais devem trabalhar eficazmente para a promogáo do matrimonio e da familia. O poder civil deve considerar como sua fungao sagrada reconhecer, proteger, cultivara sua verdadeira natureza, defen der a moralidade pública e favorecer a prosperidade dos lares. Deve-se

garantir o direito dos país de procriar filhos e educá-los no seio da familia. Os que, infelizmente, nao tém o beneficio da familia sejam também prote gidos por urna legislagáo prudente e iniciativas variadas e socorridos por urna ajuda adequada».

ATUALIZANDO... O mesmo jornal O GLOBO, em sua edicáo de 9/02/03, tem como

encarte urna revista que propóe: "um mes depois como a vida dos brasileiros está mudando". Eis dois exemplos típicos: "Albena Alinne Ribeiro da Silva, de 18 anos, declara: 'Quem tem 18 anos, vai poder assinar documentos como o de liberagáo de imagem para TV no lugar dos país e participar de eventos patrocinados por marcas de cigarro... Gilson Rangel Pessa Filho, de 18 anos, embarcou semana passa-

da para a Australia, onde vai fazer um curso de inglés por tres meses, e pretende viajar: 'Irei para a Nova Zelandia, Bali e Unas Fidji para surfar.

Se eu aínda precisasse da autorizagáo dos meus país, seria mais compli cado... É legal ficar mais independente, mas sei que vou ter de aprender a ser mais responsável'". 183

Uma entrevista comentada:

A NOVA FACE DE ROBERTO CARLOS

Em síntese: Aos 18/12/02 Roberto Carlos deu entrevista ao jornal O GLOBO, mostrándose relativista no tocante á fé e avesso á idéia de que somos culpados dos males ocorrentes na face da térra. Sao posi-

góes inconsistentes derivadas do trauma que o cantor sofreu com a perda de sua esposa María Rita. O artigo, a seguir, comenta os dizeres de Roberto Carlos.

O jornal O GLOBO, edicáo de 18/12/02, publicou uma entrevista do famoso cantor Roberto Carlos, que impressionou varios leitores e, por isto, merecerá comentarios da nossa parte. 1. A Entrevista

Sao tres os pontos que interessa salientar nessa entrevista: - o declínio da fé de Roberto Carlos pelo falecimento de sua espo sa María Rita, cuja recuperacáo ele tanto pediu a Deus. Diz a repórter Sirena: "Roberto nao acredita mais em milagres... Ele agora lé a Biblia com espirito crítico, nao mais com fé cega". - repulsa da acusacáo de que somos todos culpados dos males que acontecem sobre a face da térra (crítica á doutrina do pecado origi nal mal entendida?); - relativizacáo da religiáo. Os queixumes do cantor estáo expressos na letra de nova peca

por ele composta com o título "Seres Humanos":

"Que negocio é esse de que somos culpados / De tudo que há de errado na face da térra?/Buscamos apoio ñas religióes /Eprocuramos verdades em suposicóes. / Católicos, judeus, espiritas e ateus / Somos maravilhosos. /Afinal somos filhos de Deus. / Somos seres humanos. /

Só queremos a vida mais linda. /Nao somos perfeitos. /Ainda/Só quero a verdade, /Nada mais que a verdade. /Nao adianta me dizer/Coisas que nao fazem sentido". Analisemos o primeiro ponto dos tres ácima salientados.

2. O declínio da fé Roberto Carlos mostrou-se muito devoto durante a molestia de sua esposa, pedindo a Deus a cura milagrosa. Era, porém, animado por uma 184

A NOVA FACE DE ROBERTO CARLOS

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fé "socorrista" ¡nteresseira, que nao resistiu ao golpe da recusa de milagre. Muitos sao os católicos superficiais, que fazem da religiáo um servi50 ao homem e se deixam abater com facilidade. O que se requer do fiel

católico é que tenha urna fé adulta, amadurecida, que ame a Deus por causa de Deus mesmo e Ihe sirva sem preco marcado; desse servico mesmo redundará a plena realizacáo do orante e servidor.

Alias - vale a pena repeti-lo - nenhuma oracao feita em uniáo com Cristo é perdida (nem a oragáo do cantor foi estéril). O Senhor promete atender as nossas preces (Jo 16,23s, Le 11, 9s); se o Senhor nao conce de aquilo mesmo que Lhe pedimos, concederá algo de mais condizente

com a nossa salvacáo. É o que se depreende do caso mesmo de Jesús:

prevendo as cruciantes dores de sua Paixáo, Ele pediu ao Pai que o

dispensasse de beber o cálice. Ora, apesarde ter Jesús sofrido e morrido injustamente, diz o autor sagrado em Hb 5 que Ele foi atendido por causa de sua reverencia. Como atendido? - Pelo fato de ter subordinado sua prece á vontade do Pai: "Faca-se, porém, a tua vontade e nao a minha" (Me 14, 36). A vontade do Pai era dar a Jesús mais do que um fim de vida

tranquilo; quería fazé-lo (como o fez) Senhor dos vivos e dos mortos

mediante a sua morte e ressurreicáo. Assim todo cristáo que reza pode ter certeza de que nao está perdendo tempo...; receberá resposta da parte do Senhor, mas faca do atendimento a este ou aquele anseio a condicáo para continuar a ter fé. 3. Culpados de todos os males

Roberto recusa a imputacáo de culpa. E com razáo, talvez seja urna falsa versáo do pecado original que lhe foi passada. Na verdade, todo pecado propriamente dito supóe conhecimento de causa (sei que o ato proposto é mau ou pecaminoso) e vontade de liberada (quero cometé-lo). Ora a maioria dos homens ignora todo o al cance da maldade existente no mundo e está longe de querer consentir-

Ihe. Por conseguinte nao "somos culpados de tudo que há de errado sobre a face da térra".

Dirá alguém: e o pecado original...? Respondemos: o pecado origi nal só é propriamente pecado nos primeiros pais; estes, sim, cometeram um ato consciente e voluntario contra a lei de Deus também dito "pecado

original originante". Os descendentes trazem o pecado original origina do, que nao é propriamente pecado, mas é a ausencia dos dons paradisíacos de que gozavam os primeiros pais. Donde se vé mais urna

vez que nao existe a culpabilidade geral. -Acontece, porém, que o peca do dos primeiros pais, ocasionando a perda da harmonía paradisíaca, acarretou a desordem para este mundo, inclusive a morte violenta com seus precursores.

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"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 490/2003

4. "Ecuménico"

Diz a ¡mprensa que "Roberto Carlos voltou ecuménico"... "Ecumé nico" porque se abre a judeus, espiritas e ateus, que sao todos "filhos de Deus". A propósito vale observar:

1) O vocábulo ecumenismo, em linguagem teológica, é reservado para designar o diálogo entre cristáos separados (católicos, ortodoxos e

protestantes); visa superar preconceitos e mal-entendidos, que distanciam uns dos outros os irmáos. Para significar as relacóes entre católicos e nao cristáos, utiliza-se o termo "diálogo inter-religioso". Seria este o caso apontado por Roberto Carlos.

2) As boas relacóes nao devem implicar relativismo ou traicáo á verdade. - Católicos e nao católicos, sem dúvida, todos somos filhos de Deus. Há, porém, dois tipos de filiacáo divina:

- a que resulta de sermos todos criados á imagem e semelhanca de Deus; queiram ou nao, todos os seres humanos sao conseqüentemente irmáos entre si;

- outro tipo de filiacáo divina é o que tem origem no Batismo. A pessoa é entao elevada a urna comunháo de vida mais íntima com Deus.

Diz o Apostólo: "Recebestes o Espirito pelo qual clamáis Abbá, pai!" (Rm

8, 15). O cristáo validamente batizado pode nao ter um comportamento

ético adequado, mas certamente em seu coracáo ele traz o que Sao Paulo chama "um tesouro em vaso de argila" (2Cor 4,7). Isto deve ser dito para evitar o escamoteio da verdade.

Sao estas algumas reflexóes que a entrevista de Roberto Carlos sugere. Queira Deus conceder-lhe urna fé viva e madura para que conti nué sua caminhada sem amargura nem ceticismo!

As Imagens na Biblia e na Igreja, pelo Pe. Vieslau Moravsky Ed. Pao e Vinho, Guarapuava 2002, 135x215mm, 55 pp. Este é um livro de caráter popular, quepropóe a clássica tese; Deus

proibiu confeccionar imagens para adorá-las, mas nao as prolbiu quando dirigidas á edificagáo dos fiéis. Para ilustrá-lo, recorre a urna compara-

gao: quando olhamos para urna faca lembrando que com ela foram assassinados milhares de pessoas, digo que é urna ferramenta ruim. Mas, se olho para ela lembrando que com ela descascam batatas e se corta pao, digo que é urna ferramenta útil e até necessária. - O mesmo aconte ce com as imagens: para uns, podem ser pedra de tropeco, mas, para

outros, sao subsidios para a sua espirítualidade. A Lei de Deus $ó proibiu as imagens, ídolos, nao as imagens edificantes. Cf. p. 11 do livro em foco. 186

Prática pastoral:

BANALIZAQÁO DA COMUNHÁO

Vai a seguir, publicado um artigo do Sr. Cónego Antonio M. da Cruz (arquidiocese de Juiz de Fora, MG), experimentado pastor, cujas ponderacoes merecem atencáo, pois abordam problemas que freqüentemente sao comentados em ambientes pastorais. - Ao sr. Cónego A. da Cruz seja consignada a gratidáo de PR pela valiosa colaboracáo.

BANALIZAQÁO DA COMUNHÁO "A partir da publicagáo da instrucáo 'Memoriale Domini', portante, de há tres anos para cá, algumas Conferencias Episcopais pediram á Santa Sé para permitir que os ministros da Sagrada Comunháo, quando distribuem estas aos fiéis, possam depor as Especies Eucaristicas ñas máos dos mesmos fiéis". Assim se inicia a quarta parte da Instrucáo Immensae Caritatis", da Sagrada Congregacáo para o Culto Divino, de 29/01/73. Por sua vez a Instrucáo "Inaestimabile Donum", de 03/04/80, da mesma Sagrada Congregacáo, diz no n° 11: "Quanto ao modo de se apresentar á Comunháo, esta pode ser recebida pelos fiéis tanto dejoeIhos como de pé, de acordó com as normas estabelecidas pela Confe rencia Episcopal". O modo de o fiel comungar de pé está autorizado também pela Nova Instrucáo sobre o Missal Romano, que diz no n° 160,

conforme nos informa o liturgista Frei Alberto Beckháuser, OFM, em seu recente livro "Novas Mudancas na Missa": "Os fiéis comungam ajoelhados ou de pé, conforme for estabelecido pela Conferencia dos Bispos". Quanto á comunháo recebida na máo ou diretamente na boca, a Notifi-

cacáo da Sagrada Congregacáo para o Culto Divino, de 03/04/85 diz: "Os fiéis jamáis seráo obrigados a adotar a prática da Comunháo na máe; ao contrario, ficaráo plenamente livres para comungar de um ou de outro modo", isto é, recebendo a sagrada Eucaristía na máo ou diretamente na boca. Com base, portanto, em documentos da Sagrada Congregacáo para o culto Divino, ficou praticamente instituida a comunháo em forma processional, de pé e recebida na máo. A comunháo recebida dessa ma-

neira tem sem dúvida seu significado e seu simbolismo. Seus efeitos, porém, foram desastrosos, como veremos a seguir.

A comunháo feita em fila, de pé e recebida na máo produziu urna sensível banalizacáo da mesma a partir da década de 70, o que resultou em um rápido aumento do número de comunh5es e também, como fruto da mesma banalizacáo, um notável decréscimo do número de confissóes, produzindo-se assim urna falsa conviccáo de que afinal nao seria 187

44

TERGUNTE E RESPONDEREMOS" 490/2003

necessário ter tanta preocupacáo com o estado da alma, se em estado de graca ou nao, para receber a Eucaristía e que bastaría "se confessar com Deus". Preocupado com essa situacáo o entáo bispo de Petrópolis, Dom Manuel Pedro da Cunha Cintra, emitiu na época urna circular deno minada "Comungar dignamente". O principal inconveniente causado pela comunhao feita em forma processional e recebida na máo e de pé é o caso de pessoas que, divorciadas e recasadas ou casadas com divorcia dos, se apresentam para receber a Eucaristía. Segundo comentarios que se ouvem freqüentemente, isso dá a conviccáo de que pelo menos ñas Missas dominicais de maíor afluencia sempre haverá urna ou mais co

munhóes feítas ¡ndevidamente. Outras pessoas nao cumprem o preceito dominical, mas vém a Missa de vez em quando e fazem a comunhao com o pecado de nao terem cumprido aquele preceito. Outras, ainda (inclusive, embora raramente, bébados) entram na fila porque outras pes soas entraram e as vezes nem sabem como receber a comunhao na

máo, dando a nítida impressáo de nao estarem em condicóes de recebéla. Outra conseqüéncia da banalizacáo da comunhao é o fato de entrarem na fila pessoas com vestes reduzidas, com evidente falta de respeito para com o Ssmo. Sacramento. Há também o perigo de pessoas que, virando as costas com a partícula sagrada na máo, possam ocultá-la para ser levada para finalidades sacrilegas. Nao so a comunhao de pé e recebida na máo produz os inconvenientes ácima referidos, mas a própria forma processional de receber a comunhao de pé e na máo faz com que a pessoa seja menos notada e facilitada assim a comunhao indevida. Concorre também um pouco para a banalizacáo da comunhao, a meu ver, a comunhao feita com as próprias máos, por parte de "ministros" que se acham no presbiterio, molhando a sagrada partícula no Preciosíssimo Sangue, como se fossem concelebrantes, o que é expressamente reprovado pela Instrucáo Interdícasterial da Santa Sé, de 15/8/97 (art. 8o, pa rágrafo 2), e ainda a distribuicáo da comunhao por ministros leigos quan

do o número de comungantes nao "é táo elevado que o obrigaría a pro longar excessivamente o tempo da celebragáo da Missa", condícáo pos ta pela Instrucáo "Immensae Carítatis", ácima citada, para que o ministro leigo possa exercer sua funcáo, o que é igualmente exigido pela mesma Instrucao Interdicasterial ácima referida (art. 8o, parágrafo 2°). Por tudo isso o ideal é que, a meu ver, a fila fosse abolida pela CNBB e até pela Santa Sé, e que os comungantes se ajoelhassem um ao lado do outro no

primeiro degrau do presbiterio, o sacerdote com os ministros leigos iriam passando e dando a comunhao. Tenho a conviccáo de que dessa forma o número de comunhóes feitas sem as disposicóes necessárias diminui ría bastante. (Todas as vezes que falo sobre essas disposicóes necessá rias, noto urna diminuicáo do número de comunhóes).

Alguém poderia objetar que, sendo a Eucaristía um sacramento em forma de alimento, nao deveria ser recebida de joelhos porque nin188

BANALIZAgÁO DA COMUNHÁO

45

guém se alimenta ajoelhado. Essa comparacao nao se rege porque também ninguém se alimenta de pé, mas sentado, nem que seja de cócoras, como fazem os bóias-frias. A questáo é preservar a honra e o respeito devidos ao Ssmo. Sacramento e prevenir, enquanto possível, as comunhóes feitas sem as necessárias disposicóes. Alias, quando eu era pároco, percebendo os inconvenientes da fila, pedi que os comungantes ficassem um ao lado do outro, embora de pé. Se naquela ocasiáo eu tivesse tido a oportunidade de adquirir a Instrucáo "Inaestimabile Donum", da

Sagrada Congregacáo para o Culto Divino, de 3/4/80, teria pedido também aos fiéis que se ajoelhassem para fazer a comunháo. Pelos motivos aqui apontados, há grupos de leigos que preconizam a comunháo dessa forma, o que alias é mais piedoso e respeitoso para com o Ssmo. Sacra

mento. É claro que em grandes concentracóes, principalmente ao ar li-

vre, a comunháo de joelhos nao seria possível. Por outro lado, se o sa cerdote fizer questáo, embora indevidamente, de só dar a comunháo na máo, na prática é necessário obedecer. Urna vez eu estava hospedado em urna casa paroquial e o pároco teve que se ausentar. Viria outro sacerdote celebrar urna Santa Missa de

formatura. No sacrário havia urna ámbula contendo hostias até a metade. Pensei comigo: "Em missa de formatura poucas pessoas comungam"; e nao providenciei outro ciborio. Ledo engaño: Na hora da comunháo, estando a Igreja repleta, quase todo mundo entrou na fila. Há pessoas que em urna ocasiáo como essa acham que é chique comungar! Quando até pouco após o Concilio a comunháo era feita de joelhos, quem nao tinha

um mínimo de piedade nao se aproximava para fazé-la. É verdade que co-

munhóes sacrilegas sempre houve, mas nao tanto como atualmente, ao que tudo indica. Sao Paulo, na 1a Carta aos Corintios, já lamentava isso. Educar, a Arte das Artes, pelo Pe. Joáo Rocha. - Ed. Pao e Vinho; Guarapuava 2002, 140 x 210 mm, 72 pp.

Eis outro livro feito para a penetragáo na populagáo mais simples. Estuda as carencias do educando e as atitudes correspondentes do edu cador, mostrándose perito na respectiva arte. Na conclusao do livro é citado um episodio que bem o ilustra: certa vez Dom Bosco langou um desafio: "Sede santos, porque é possível e fácil. Com a graga de Deus, alcangaremos a meta". Um adolescente ouviu o desafio e o assumiu. Domingos Sávio é um modelo para todos os educandos e Dom Bosco é um mestre para todos os educadores.

Temos táopoucos Sao Domingos Sávio porque temos poucos Dom Bosco" (p. 72).

O livro tem valor para a difusáo dos aspectos essenciais da "Arte das Artes". 189

Espelho da realidade:

OS PAÍSES MAIS HONESTOS OS PAÍSES MAIS CORRUPTOS

O periódico ¡NTERPRENSA, em sua edigáo de outubro 2002, p. 3,

publicou a noticia que, com a devida permissáo, vai, a seguir, transcrita: No dia 28 de agosto, a Organizacáo Náo-Governamental Transpa

rencia Internacional (TI), publicou o índice de percepcáo da corrupcáo (IPC). Incluindo 102 países, já que em muitos nao há dados disponíveis para um levantamento, o estudo revelou que 70 países obtiveram urna pontuacáo menor do que cinco pontos de um total máximo de dez (ver quadro).

Lancado pela primeira vez em 1995, o IPC se baseia ñas percepgóes de empresarios e analistas, tanto de residentes no país como de pessoas que vivem no exterior. A própria ONG define o índice como urna

pesquisa de pesquisas, pois a base para os dados foram quinze pesqui sas realizadas por nove instituicóes independentes, como a Columbia University, World Bank e a Princewaterhouse Coopers.

A TI aponta que os países desenvolvidos tem urna responsabilidade especial na luta contra a corrupcáo. Segundo o Banco Mundial, "há

provas de que os níveis altos de corrupcáo tém estreita relacáo com o crescimento económico lento e os baixos níveis de renda per capita de muitos países". Inversamente, foi observado que a entrada de investimento estrangeiro está relacionada com os baixos índices de corrupcáo. O Chile (17) e a Estonia (29), por exemplo, atraem mais capital estran geiro do que o Panamá (67) e a Venezuela (84), de riqueza similar, mas nao vém classificados pelo IPC.

O IPC completa o índice de Fontes de Suborno, que mediu a propensáo das empresas estrangeiras ao suborno nos países de economía emergente. Publicado em maio deste ano, revelou níveis altos de subor no realizados por empresas da Rússia, da China, de Taiwan, da Coréia do Sul, seguidos de perto pela Italia, Hong Kong, Malasia, Japáo, Esta dos Unidos e Franca. Apesar desse fato, a maioria das empresas gostaria de acabar com a corrupcáo. Estima-se que, na Uganda, o pagamento

de subornos aumenta em 8% o gasto das empresas. Ou seja, reduz os seus beneficios. O suborno continua a ser pago porque muitos acreditam ser o único modo para fazer negocio em alguns países. 190

OS PAÍSES MAIS HONESTOS OS PAÍSES MAIS CORRUPTOS

47

Tunku Abdul Aziz, vice-presidente da TI, declarou durante o lanca-

mento IPC 2002, que "O índice confirmou mais urna vez que a corrupcáo é um mal que atinge nao somente os países em desenvolvimento, mas também os desenvolvidos. A corrupcáo nao diz respeito as nacoes, gran des ou pequeñas, ricas ou pobres. E algo mais crítico, portante», que tan to o Norte quanto o Sul devem enfrentar mais vigorosa e decisivamente". Mais informacóes: www.tilac.org/download/ipc_2002.pdf Ranking Países IPC 2002 Os 10 mais honestos 1 Finlandia 2 Dinamarca

9.7 9.5

3 Nova Zelandia 4 Islándia

9.5

5 Cingapura

9.3

6 Suécia

9.3

7 Canadá

9.0

8 Luxemburgo

9.0

9.4

9 Holanda

9.0

10 Reino Unido

8.7

uns Países sul-a merici 17 Chile 7.5 32 Uruguai

5.1

45 Brasil

4.0

Perú

4.0

57 Colombia

3.6

70 Argentina

2.8

89 Bolívia

2.2

Os últimos da lista 95 Azerbaijáo

2.0

96 Indonesia

1.9

Quénia

1.9

98 Angola

1.7

Madagascar

1.7

Paraguai

1.7

101 Nigeria

1.6

102 Bangladesh

1.2

Como se vé, dentre 102 países o Brasil é o 45° em materia de corrupcáo com a nota 4.0 sobre 10. Estes dados fazem pensar...

Estéváo Bettencourt O.S.B. 191

48

"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 490/2003

LIVROS EM ESTANTE A Igreja, organizagáo de Felipe Aquino. - Ed. Cléofas, Lorena G.p. 100, CEP 12600-970, 2001, 140x210mm, 213 pp.

O livro é urna coletánea de 51 catequeses proferidas sobre a Igreja pelo Papa Joáo Paulo II nos anos de 1991 a 1995. Abordam o tema em seus diversos aspectos, oferecendo urna síntese de Eclesiologia para o grande público. A penúltima catequese versa sobre a "Igreja do nosso século, sinal de contradigáo", referíndo-se aos mártires do secuto XX. Em suma, as catequeses exprimem vivamente afee o zelo apostólico muito ardentes

de Joáo Paulo II, cuja capacidade de trabalho é de todo supreendente. Falsas Doutrinas. Seitas e Religides, por Felipe Aquino. - Ed. Cléofas, Lorena, 2002, 140 x210 mm, 209 pp.

Eis urna pequeña enciclopedia das correntes religiosas que Ínterpelam o cidadáo de hoje. Apresenta urna centena de denominagoes reli giosas em estilo simples enunciando o essencial de cada urna e acrescentando urna palavra de avaliagáo que ajuda o leitor a se situar no pa norama "místico" da atualidade.

Teologia da Libertagáo, organizagáo de Felipe Aquino. - Ed. Cléofas, Lorena, 2002, 140x210mm, 127 pp.

Este livro contém o texto de documentos da Igreja sobre a forma extremada da Teologia da Libertagáo, que vem a ser urna modalidade de marxismo mesclado com Cristianismo. Embora o marxismo tenha fracassado no Oriente europeu, continua seduzindo muitos cristáos, especial mente quando toma a aparéncia de urna entre outras correntes teológi cas. Faz-se oportuno ao fiel católico saber reconhecer o que naja de auténtico e o que há de falso na Teologia da Libertagáo. "SEI EM QUEM ACREDITEI" (2Tm1,12)

AMIGO(A), CONHECA MELHOR SUA FÉ. A ESCOLA "MATER ECCLESIAE" OFERECE-LHE 20 CURSOS POR CORRESPONDENCIA

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LIVROS Á VENDA NA LUMEN CHRISTI: UM MONGE QUE SE IMPÓS A SEU TEMPO - pequeña Introducto com antología á vida

e obra de SAO BERNARDO DE CLARAVAL. - Pe. Luis Alberto Rúas Santos O. Cist. Musa e Edicóes Lumen Christi. 2001. 200 pp R$ 26,00. ORACÁO E TRABALHO - Organizacáo: Mosteiro Nossa Senhora da Paz. e llustragóes: Claudio Pastro. "Este livro pretende evocar Deus nos ambientes de trabalho. Suas oragoes nos proporcionaráo momentos de louvor, alegría e graca. De coracáo aberto, poderemos, entáo. refletir sobre nosso relacíonamento com os companheiros de jorna da". Saga Editora e Mosteiro Nossa Senhora da Paz. 2001. 160 pp R$ 19,00.

O EFÉMERO E O ETERNO - poemas de sóror mínima.

Trecho da apresentacáo de Irma Eugenia Teixeira O.S.B.: "Com muita alegría, queremos partilhar com os irmáos e as ¡rmás um dos nossos preciosos tesouros de familia: as poesías de Ir. Inés, esta coluna de nossa comunidade..." Mosteíro da Vírgem - Petrópolís - RJ. 2001. 170 pp R$ 19,00.

TRATADO SOBRE A ORACÁO: TERTULIANO, S. CIPRIANO, ORÍGENES.

Tres grandes mestres da espírítualidade crista dos primeíros séculos, comentam magistralmente o Pai-nosso.

Ed. Mosteíro da Santa Cruz de Juiz de Fora - MG. 2001. 2a ed. 216 pp

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POEMAS E ENSAIOS - RAÍSSA MARITAIN. TRADUCÁO E COMENTARIOS DE CESAR

XAVIER BASTOS. Edigáo CXB - Juiz de Fora - MG. 2000. 200 páginas

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SAO BENTO, UM MESTRE PARA O NOSSO TEMPO, D. Gregorio Paixáo, OSB. Edicoes Sao Bento - Salvador - BA- 1996. 112 págs R$ 11,00. Trecho da introducáo: "...Assim, além do texto inicial sobre a atualidade de Sao Bento,

acrescentamos outros, especialmente selecionados, de sua Regra e de sua Vida, com urna traducáo facilitada, aproximando o texto do leitor de primeira viagem...".

DIÁLOGO COM DEUS. INTRODUCÁO A "LECTIO DIVINA". D. García M. Colombás, MB. Traducáo: Monges do Mosteíro da Ressurreícáo. Paulus. 1996, 128 págs. .R$ 12,70. Trecho da apresentacáo: "...O presente texto, como lemos no prólogo da edigáo espanhola reúne conferencias originariamente dirigidas a auditorios monásticos. Podem, entretanto, por sua símplicídade, aliada ao dominio seguro e profundo do tema, orientar leígos e religiosos na prática frutuosa da lectío divina...".

Este livro é todo vazado ñas Sagradas Escrituras,

manancíal fecundo de uniáo com Deus.

O Autor destas páginas, monge do Mosteiro de S. Bento do Rio de Janeiro, tem-se dedicado á pregagáo de

Retiros Espirituais, com grave proveito para os fiéis. Daí pedirem-lhe que redigisse algumas reflexóes sobre temas

de espiritual ¡dade a fim de alimentar a vida de oragáo dos leitores. E soube fazé-lo com maestría como ocorre no presente livro.

Edicáo/Impressáo: Mosteiro de Santa Cruz Formato: 21 x 14 cm 145 págs.

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- JESÚS CRISTO NOS SEUS MISTERIOS, Dom Columba Marmion, OSB. - Conferenci as Espirituais. 3a edicáo portuguesa pelos monges de Singeverga. 540 págs

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- JESÚS CRISTO VIDA DA ALMA, Dom Columba Marmion, OSB. Quarta edicáo portu guesa pelos Monges de Singeverga, Portugal. 1961, 544 págs

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- MAGISTERIO EPISCOPAL, (Escritos Pastorais) de D. Clemente José Carlos Isnard,

OSB. Bispo emérito de Nova Friburgo/RJ. Coletánea dos mais variados temas vividos durante os seus trinta anos de vida episcopal. Volume de 540 págs R$ 12,50.

- RIQUEZAS DA MENSAGEM CRISTA, por Dom Cirilo Folch Gomes OSB. Reimpressáo da 28 edicáo (Jan. 1989). Curso completo de Teología Dogmática. Comentario ao "Credo do Povo de Deus", de Paulo VI. Especialmente para curso superior em Seminarios e Faculdades. 691 págs R$ 30,00.

- O MISTERIO DO DEUS VIVO, Pe. Albert Patfoort, OP, tradupáo e notas de D. Cirilo Folch Gomes, OSB. Tratado de "Deus Uno e Trino", de orientacáo tomista e de índole

didática. 230 págs

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- GRANDE ENCONTRÓ, Dom Hildebrando P. Martins, OSB. Semana da Missa na Paróquia para melhor comppeensáo do povo. 109 págs R$ 6,50.

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claros e levando-nos a compreender que todas as palavras de Cristo sao de aplicacáo perene e universal), 2- edicáo. 1993, 47 págs RS9.00.

- COLETÁNEA - Tomo I - Obra organizada por Dom Emanuel de Almeida, OSB e Dom Matías de

Medeiros, OSB. Publicacáo da Escola Teológica da Congregacáo Beneditina do Brasil. Esta obra foí feita em homenagem a Dom Estéváo. Além do esboco bio-bíbliográfico de Dom Estéváo, encontram-se artigos de amigos e admiradores de Dom Estéváo. Sao professores da Escola Teológica, do Pontificio Ateneu de Santo Anselmo em Roma, que ministraram varios cursos nesta e outros que o estímam. Sumario: Historia, Bíblica, Hístórico-Dogmática, Dogmática,

Canónica, Litúrgica, Pedagógica, Literaria e Noticias Biográficas. 1990. 315 págs. ... R$ 14,50.

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