Revista Múltipla
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A IST ves V E e TR Est EN lon i Od
Revista Laboratório do Curso de Jornalismo do Unibh
nº 31 • Dez/10 a Abr/11
MERCADO DO SEXO
Aumentam as opções para atender a demanda do público cada vez mais interessado no assunto. Locais como motéis, cabines eróticas e sex shops, cada vez mais diversifcados, são onte de lucro para empresários do setor
SIMPLES, ACESSÍVEL E DESCOMPLICADO.
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A MARCA DA EDUCAÇÃO
de ovo,
sempre Tudo novo de novo. E sempre. É esta a essência que permeia a idéia da experimentação. E é a experimentação que deve nortear qualquer veículo de comunicação produzido dentro das universidades. Criar, recriar, inventar e reinventar. Aventurar-se. Testar novos limites, novas possibilidades. Pois foi este o mantra que cadenciou nossos passos na elaboração desta edição da Múltipla. Não foi a primeira vez. Em momentos anteriores, a revista cresceu no formato, diminuiu, testou layouts, fontes, fotos e textos. Mudou de papel e, agora, vem toda prosa: cheia de cores, papel couchê fosco, novo formato (cresceu de novo!), nova fonte, novo layout e nova diagramação. O todo é o resultado da criação e deliberação coletiva de uma equipe corajosa que topou o desafio de fazer uma revista de cem páginas em pouquíssimo tempo. Contudo, a essência da publicação continua a mesma, até porque ela clama pela diversidade. É múltipla no nome, nas pautas, nas abordagens e nos textos. O carro chefe deste número é um dossiê que esmiúça os bastidores do lucrativo mercado do sexo em Belo Horizonte. O que se anuncia, o que se vende e o que se compra. Nossos repórteres visitaram shops, casa de swing, cabines eróticas e assistiram a apresentação desex gogo boys.motéis, Buscaram, também, desvendar de onde vem tanta criatividade na hora de elaborar slogans que prometem “o mais puro prazer”, e mais, quem está por trás destes anúncios. Falando de outro prazer, o da boa mesa, três reportagens exploram o tradicional sabor do fogão a lenha, a cozinha oriental, as delícias e os ossos do ofício da carreira de chef. Na editoria de tecnologia, o desenvolvimento de softwares que facilitam a acessibilidade na web; já em cidadania, abordamos a tecnologia que possibilita a inclusão social. Na editoria de cidades falamos dos locais que outrora acolheram velhos cinemas e muitas histórias e que, dentro em pouco, vão abrigar novos espaços multiculturais. Os problemas causados pela nefasta prática do bulliyng são discutidos na editoria de educação. A seção de turismo revela qual a melhor idade para descobrir o mundo e dá a dica de Francisco. uma viagem tempo,opelas águas do rio São Emnocultura, cinema trash do alto de seus 80 anos, as divas da música, a literatura infantil dos novos livros e a de gente grande no twiter. E tem mais, muito mais. Reinventamos a revista, agora, aventurese na leitura. Fernanda Agostinho múltipla
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EXPEDIENTE
REITORA Profª. Seli Maria Baliza Dias VIcE- REITOR Prof. Riardo caado PRó- REITOR DE GRADuAçãO Prof.Joha Amaral Lkes PRó- REITORA DE PóS-GRADuAçãO, PESquISA E ExTEnSãO Profª.Jliaa Salvador cuRSO: cOMunIcAçãO SOcIAL Ra Diamatia, 567 - Lagoiha BH - MG - cEP: 31110-320 TELEFOnE: (31) 3207-2811 cOORDEnADOR Prof. Liao Adrade Ribeiro
Revista Laboratório do Crso de Jornalismo do unibh
LABORATóRIO DE JORnALISMO IMPRESSO EDITOR Prof. Fabríio Mares MG 04663 JP
10 EnTREVISTA aele m
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TEcnOLOGIA efeito mgio 10 aessibilidade a iteret
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ESPEcIAL divlgao do prazer 18 seo: m merado lrativo 22 daa da sedo 28
PROFESSORA ORIEnTADORA Profª. Ferada Agostiho PREcEPTORA Aa Pala de Abre (Programação Visual e Projeto Gráco)
ESTAGIáRIOS Diagramação Vaessa Gerra Fotograa
Aderso Arélio Jliaa Vallim Palo Melo Texto Mariaa Medrao Aa Flvia Torelli
MOnITORES Diagramação Joo Palo Vale
cIDADES tritivo e barato 32 velhos iemas, ovos espaos
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cIDADAnIA a m lik da ilso soial
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SAúDE eles dizem ades
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Infograa
Isabella Barroso Texto
Liz Edardo Ladeira Maria célia Messias cOLABORAçãO Ilustrações e Capa Maros Viíis Pereira Anúncios LAcP - Laboratrio de criao Pbliitria
IMPRESSãO/TIRAGEM Grfa Label 500 eemplares
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cOMPORTAMEnTO bllyig o é briadeira
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TuRISMO a melhor idade para viajar vapor de mias 58
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GASTROnOMIA o sabor do saber 66 omida japoesa: ma igaria siglar tradiioal sabor do fogo a leha
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cuLTuRA as divas, os holofotes 80 respeitvel trash 84 o retoro dos gigates 88 a vez da twitteratra 92 dierso e vem dos livros 94 ESPORTE paio em ampo
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aeleum Teto de Liza Villarroel e Jlia Bialho Fotos: Liza Villarroel
O cativante Odilon Esteves, 32 anos, não é apenas um bom ator, é também ótimo para desatolar um carro. Quando nos recebeu na sede de sua companhia de teatro, Luna Lunera, que fica em uma ladeira do bairro Lagoinha, em Belo Horizonte, estacionamos o veículo em um banco de areia e só Odilon conseguiu retirá-lo de lá. Problema resolvido, nós entramos no galpão onde aconteceria a entrevista. Lá vários quadros com fotos de peças da companhia, cartazes, livros e os troféus que a Luna Lunera conquistou. Além de ser um importante ator da atualidade, Odilon é diretor e trabalhou no cinema, no filme Batismo de Sangue (2006), de Helvécio Ratton - no qual foi Frei Ivo. Também já esteve na TV, ao interpretar a travesti Cintia, na mini-série Queridos Amigos (2008), de Maria Adelaide Amaral. Para a conversa, Odilon quis sentar-se no tatame azul e macio da companhia, onde parecia se sentir à vontade. Exceto no momento das fotos, quando preferiu conversar ao invés de fazer poses. Com seu jeito contido e sarcástico, nos fez rir muito. Neste final de ano o ator está em cartaz com a peça Aqueles Dois, em turnê que faz parte do projeto “Palco Giratório”, do Sesc (Serviço Social do Comércio). Em 2010, a Cia. Luna Lunera levou o espetáculo a 44 cidades, em 14 estados do Brasil, dentre eles Distrito Federal, São Paulo, Bahia, Santa Catarina, Rondônia, Ceará e Rio de Janeiro. Em dezembro, o Teatro Dom Silvério recebe a peça em Belo Horizonte. múltipla
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Em Batismo de Sangue (2006) – lme baseado em livro de Frei Betto, que retrata a luta dos frades dominicanos contra o regime militar -, você interpretou o Frei Ivo. Como foi o laboratório para criação do personagem? Completamente diferente da peça. Tive contato com o Frei Ivo, conheci a pessoa que eu ia interpretar, tive acesso a documentos históricos, a documentários. Fui a conventos, tive contato com freis dominicanos, ao livro do Frei Beto que é o relato do que eles passaram na prisão e tivemos a preparação do Sérgio Penna que é preparador de dublês no cinema e trabalhou em filmes como Bicho de 7 cabeças (2000) e Carandiru (2003). A gente tentava entender o contexto da época. Não queríamos copiar a pessoa. O Sérgio sempre falava para vivermos a nossa emoção. O sentimento tem que ser verdadeiro e atual. Tivemos também uma preparação técnica que nos ensinava a apanhar nas cenas de tortura e como o corpo reage quando recebe um choque elétrico. No especial S ertão: Veredas (2008), como foi co nstruir Riobaldo? Qual a importância das obras de Guimarães Rosa para você? Eu nasci no nordeste de Minas, sou de Novo Cruzeiro e muitos dos personagens do Guimarães estão no imaginário da minha infância. Acho que Guimarães é um tesouro da cultura brasileira. Identifico-me na obra dele. No especial, tivemos um mês para fazer o recorte de meia hora de uma obra inesgotável e com foco preciso: a relação de amizade e amor entre Riobaldo e Diadorim. Eu nunca tinha lido o “Grande Sertão”. Quando me chamaram fiquei com medo porque o livro é um cânone da literatura. Muitas pessoas acham Guimarães muito difícil e o desafio foi fazer o texto soar cotidiano. Uma amiga me ligou e disse: “Conheço aquele velhinho que você fez. Ele mora lá perto de Novo Cruzeiro’’. Não era ele, mas uma coleção deles que estava na minha cabeça e na dela também. Na mini-série Queridos Amigos - exibida pela Rede Globo (2008), você interpretou Cíntia. O que você conheceu e estudou para construira otravesti personagem? Quando fiz o teste, a direção de elenco falou que não queria que eu pen-
O ator em ea omo Riobaldo; com Guilherme Weber; no lme
Odilo Esteves a sededa ia. La Lera, em BH: “o so ada fotogêio” 8
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Batismo de Sage; a miissérie qeridos Amigos
sasse como travesti, mas como mulher porque a Cíntia queria ser mulher. Cíntia acharia mulher a coisa mais linda do mundo. Conversei com duas travestis em Belo Horizonte, mas elas não me deram muita bola. Mas eu preferi o contato com a mulher, que seria minha inspiração, já que a Cíntia quer ser uma. Busquei uma mulher que tivesse uma feminilidade que as mulheres da década de 80 não buscavam mais. Essa mulher da década de 80 tentou se assemelhar ao homem no jeito de agir, nas tarefas, nas ombreiras para alargar o ombro. A Cíntia não. Ela quer usar o vestido delicado, tem como referência a bonequinha de luxo. Por todo o peso que ela já carrega por ser homem, ela busca a delicadeza. Tive contato com o documentário Rosário Miranda (2004) que fala de uma travesti camponês do interior da Espanha, que trabalhava no campo de saia, anéis e maquiada. Isso destruiu o meu imaginário de que travesti é só aquele que trabalha em boate ou com prostituição. Assisti também o curta documental brasileiro, Também sou teu povo (2006), que se passa no nordeste do Brasil e mostra travestis católicas devotas de padre Cícero. Essas travestis exigiam respeito e o direito em participar das missas e procissões do padre. A religiosidade das travestis é algo inovador para mim.
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“A contemporaneidade tende a nos convencer que as relações do mundo só se estabelecem por interesse sexual ou nanceiro. A afetividade humana é mais complexa que isso. A sexualidade é mais complexa que isso.”
Você teve medo de interpretar Cíntia? Quando me chamaram para o teste, fiquei com o pé atrás. No teatro besteirol, há o travesti esteriotipado. Nos programas de humor na televisão não é diferente. E isso eu não gostaria de fazer. Esse travesti existe na vida real, mas quando é levado para o teatro ele é ridicularizado. Reforça o preconceito. Tratar alguém de forma humanizada é mais importante para a arte. Até que ponto personagem e ator se misturam? Há instâncias na vida em que ator e personagem se misturam. Eu não sou o personagem, mas só de fazê-lo da maneira que faço, revelo como vejo o mundo e falo um pouco de mim. A não ser que eu faça um personagem muito externo a mim. Construir um repertório que não tem nada a ver com você é possível, mas nesse caso você não coloca sua opinião no personagem. Você faz o que o diretor pediu. com o gente Muita pé atrás vê em a TVdesenvolver como popular um trabalho e o teatro, naelitista. TV? Você cou Eu acho TV um meio extraordinário por oferecer programas para pessoas que não tem acesso ao cinema e teatro. Mas não basta a TV exibir um bom filme, porque a bagagem daquela pessoa é que vai definir em que canal ela vai deixar. TV tem coisa boa, ainda que os programas de maior audiência não sejam os melhores. Mas isso é um abismo cultural próprio do Brasil. No caso de Queridos Amigos (2008), vale observar a dificuldade da construção de uma teledramaturgia que consiga atingir grande parte da população e manter a qualidade. O tratamento da homossexualidade é desafio para as emissoras de TV. múltipla
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Em plena era digital, quem não pensa em fotos e vídeos tridimensionais? Efeitos de movimentação? Cores translúcidas? Cortes, transformações e edições de imagens de qualquer computador e equipamentos em tamanhos e pesos mínimos? Tudo isso é possível com a evolução da tecnologia. A imagem hoje pode ser modificada, melhorada e se distanciar do resultado inicial em tempo recorde. Os mais diferentes efeitos, luzes, proporções e posicionamentos estão cada vez mais acessíveis para os interessados: basta apenas um computador ou disposição para usar a imaginação e atuar. Tudo isso porque programas antes dominados somente por quem já tinha um conhecimento mais aprofundado estão cada vez mais simples e rápidos. E, equipamentos de auxílio para a captação e produção de conteúdos relacionados à imagem estão mais modernos e com menor 10
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custo, aumentando a chance de adquirilos. Os usuários envolvidos nas descobertas pela tecnologia fazem parte de todos os públicos. O fotógrafo Christiano Grohmam comenta que sua inserção no mercado se deu graças ao avanço no ramo fotográfico e a simplicidade dos programas de imagem que existem: “com o fácil acesso aos programas e máquinas cada vez mais modernas, meu trabalho é possível de ser executado apenas com a experiência de alguns cursos de imagem”, diz Christiano. “Em um só equipamento, é possível filmar e fotografar com uma excelente qualidade, e depois de gravados, os programas completam meu trabalho sem o esforço da edição que seria necessária antigamente”, acrescenta Christiano. Trajetória Quem não se lembra dos primeiros pro-
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com a teologia ada vez mais avaada, ametam as possibilidades de riaões e alteraões das images
efeito
mágico Teto de Fabíola Prado; Fotos: Aderso nape
gramas de computador para imagem, do primeiro Adobe Photoshop, do Paint e das câmeras analógicas com filmes? E quem se recorda que só em 1974 o Brasil, de maneira geral, assistiu à copa com uma TV em cores? O publicitário, designer e também coordenador da agência 381 Comunicações, Stefano Maglovsky, relembra que quando entrou na primeira agência para trabalhar, ainda utilizavam um estúdio de fotografia para criação de mockups (reproduções em tamanho natural de um produto ou projeto) e finalização das “bonecas”, fotolito para a impressão e as campanhas eram criadas e mostradas para o cliente por meio de desenhos feitos à mão. “Os diretores de arte e designers tinham que saber desenhar, além de tudo, fontes. Mas, de repente, estávamos trabalhando com enormes bancos de imagens virtuais”. A dinâmica, salienta Stefano, mudou completamente. “Antigamente fotografar
era uma coisa apenas para profissionais. Nos anos 80, com a entrada das câmeras automáticas, isso já mudou muito. Mas com a chegada das câmeras digitais, o mundo inteiro passou a fotografar tudo com o dedo em qualquer celular”, completa. Avanços Com a evolução tecnológica, as máquinas digitais como a D80 Skelton, da Nikon, lançada em 2006, marcaram o inicio de uma preocupação com o design. Novos tamanhos, visores em LCD móveis e duplos, um turbilhão de mega pixels, e câmeras à prova d’água. As câmeras profissionais hoje contam com funções inimagináveis em décadas anteriores. Nomes como Nikon, Canon e Sony, dentre outras, produzem máquinas de última geração, em que as fotos e vídeos podem ser feitos em versões diversas múltipla
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“O avanço das tecnologias democratiza as ferramentas e aprofunda o conhecimento especíco de cada estilo” Maros Loreiro
e, inclusive, em 3D. Mas, a evolução não parou na fotografia. Depois de lançar super máquinas, as marcas disponibilizaram também câmeras digitais embutidas nos celulares e projetos de imagem, programas de registro e edição de imagem, de praticamente qualquer função. capazes O conhecido programa de edição imagem Adobe Photoshop também acompanhou a evolução tecnológica. A quinta versão já está disponível, com mais funções de alteração e recorte. Além dele, programas diferentes, com efeitos mais modernos e que exigem menos dos computadores, estão por toda a parte no mercado, principalmente na internet. Programas como Topaz Adjust 4, PhotoScape, The Gimp, Magix FunPix, Photo Filtre Studio, Photo-Brush e Cartoonist, muitos deles gratuitos, estão disponíveis na internet.. Para colorir algumas ilustrações mais trabalhadas, Stefano recomenda o Painter, que é da Corel. “Já utilizei um algumas uma gosto mesa digitalizadora, tablet.vezes Mas ainda mais de desenhar à mão e depois tratar, se preciso, nos softwares. Para fazer música utilizo os programas da Sony, no PC. No Mac, estou migrando para o Live e para o Logic”, comenta o publicitário e designer. Já para desenvolver projetos e portais como os do Governo de Minas Gerais, o coordenador de criação da agência Aliás, publicitário e design gráfico, Marcos Loureiro, utiliza tecnologias como Iphone e pacote Adoble. Para a produtora de multimídia e pós graduada em cinema, TV e novas mídias, Dáila Souza Lima, a gama de programas é ainda maior. Segundo ela softwares como Adoble Premiere, para a captura e edição de vídeos; Adobe After Effects para finalização; Adobe Photoshop, para tratamento de imagens; Adobe Illustrator para criar ilustrações de capas, por exemplo; 3D Studio Max, para ilustrações e animações em 3D; Sony Vegas para edição de áudio; Adobe Encore e Flash são úteis no seu trabalho. Toda essa evolução sugeriu crescimentos em diferentes âmbitos de produção e atuação da imagem. “Os avanços tec12
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Prossionais da área, como Marcos Loureiro, buscam atualizações sempre
nológicos foram essências para a qualidade dos trabalhos, facilitaram os mesmos e permitiram maior agilidade em todos os processos. Ações que eram irreversíveis quando a edição era analógica, como por exemplo, tratar a imagem da película, hoje são reversíveis e permite que experimentemos várias opções. O barateamento nos projetos em geral também é outro ponto muito significativo, a começar pelo fato de o material usado na tecnologia ser o digital e não algo físico”, diz Dáila. Para Marcos Loureiro, o avanço das tecnologias democratiza as ferramentas e aprofunda o conhecimento específico de cada estilo ou linguagem. “A exigência no
mercado tornou-se extrema e a concorrência cada vez mais surreal para buscar retorno com os profissionais no mercado. É o momento de estudar muito e procurar conhecer novas habilidades porque as ferramentas nunca estiveram tão capazes de gerar soluções incríveis”, acrescenta Marcos. A evolução da tecnologia possibilitou inúmeros efeitos de produção, autonomia, registro e tratamento da imagem. E pode apostar, vem muito mais por aí!
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Tecnologia tridimensional tecnologia em 3D é de possível porque há Adiversos programas computação que juntam as imagens, em camadas sobrepostas, dando o efeito de profundidade. Com os óculos, cada olho enxerga uma camada - o mais comum é o vermelho para o olho esquerdo e o ciano para o olho direito. Uma busca na internet, por exemplo, pelo “3D photo maker” leva a uma série de links de download, muitos gratuitos, de programas que transformam imagens normais em 3D. O programa une as duas imagens feitas com poucos centímetros de distância e forma uma nova, como a foto abaixo. Considerada a primeira câmera digital 3D, a Fuji Real 3D W1 possui duas lentes, que em cada clique, duas imagens são capturadas ao
mesmo tempo. Um mecanismo interno se encarrega de combinar as imagens, resultando na fotografia 3D que o usuário confere no visor LCD.
Images em 3D so as ovas vedetes do merado
Da foto analógica à digital A trajetria da imagem omeo ado foi laada a âmera aalgia desartvel, a impresso era e a evolo atigira o pie, mas, srpreedetemete, foi apeas o iíio de ma era. A primeira âmera digital foi prodzida a déada de 70. Maras omo Kodak e Soy, lideraram os primeiros modelos. Porém, somete a Fji DS-1P, desevolvida em 1988 e a omerializada, tiha memria de 16MB. Mais tarde, em 1994, a Kodak lao a DSc200, mas se fioameto depedia da io om ma niko n8008s e prodzia images om ma resolo de 1.5MP, om armazeameto de até 80MB. no possía visor LcD e o tempo estimado etre as fotos era de 2,5 segdos. E se peso o era ada agradvel: 1,7kg. Também em 1994, a Apple, hoje reoheida pelos eipametos mltimídias ltramoderos omo Iphoe e Ipad,
fez uma incursão
no ramo da fotograa digital
e lao a Apple qikTake 100. Prodzida pela Kodak, a âmera prodzia até oito images om resolo VGA (640480) e foi a primeira âmera digital oloria a ter m sto redzido.
Em 1996, empresas omo cao e cassio etraram para o merado, jto om a Olymps, e lao o modelo sesso D-300L. no ao segite srgiram as primeiras niko coolpi e ovas âmeras da Olymps om maiores resolões. A Fji lao a DS-300 em 1997, om 1.3 MP e zoom de até 3. na époa era ma das teologias mais ovas, até e a Mavia e as cyberShot, ambas assinadas pela Sony zessem a cabeça dos interessados.Na virada do século, as máquinas pros -
sioais omearam a hegar o merado. Maras
como Nikon e Fujilm inseriram novos modelos
meores e mais prtios.
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Desde 2004, é obrigatrio e os portais relaioados ao Govero foream otedo e possibilite aesso a todos, inclusive decientes visuais e auditivos
aessibilidade a
internet Teto de Fbio Bastos
Se hoje já é difícil cobrar que nas vias urbanas os portadores de deficiência motora consigam ter acesso ou que os ônibus, que todos utilizamos diariamente, possuam formas de facilitar a entrada para eles, como esperar isso dos criadores de sítios para a Web? O desenvolvimento das tecnologias de informação e comunicação traz uma nova realidade quando pensamos em acessibilidade para deficientes. Agora, é necessário pensar na internet como um meio que precisa ter igualdade no acesso para todos, inclusive deficientes visuais, auditivos, motores e cognitivos. A construção de sítios acessíveis é uma exigência desde 2004, através do decreto 5.296, tornando obrigatória a acessibilidade nos portais e sítios eletrônicos da administração pública na rede mundial de computadores. O decreto visa à garantia do pleno acesso aos conteúdos disponíveis para pessoas com necessidades especiais. Segundo o designer de interação, Marcos
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Loureiro, a acessibilidade na Web é fundamental porque aproxima a informação de todo o tipo de usuário e deficiência. “Apesar dessa consciência coletiva para todos os desenvolvedores, apenas em projetos governamentais e grandes portais de informação existe uma legislação efetiva para a implementação de normativos de acessibilidade. Possivelmente pelo custo da pesquisa e acompanhamento, talvez o número de acessos de deficientes ainda não seja interessante para a maioria dos sites”, explica. Marcos diz que nos projetos e estudos que participou junto do Governo de Minas
Gerais na elaboração de websites, foram utilizadas duas ferramentas de análise: o ASES - Avaliador e Simulador de Acessibilidade de Sítios; e o e-MAG - Modelo de Acessibilidade de Governo Eletrônico. Também foram considerados os documentos das Diretrizes de Acessibilidade ao Conteúdo da Web (WCAG, na sigla srcinal em inglês). O ASES é um programa acessível, ou seja, pode ser utilizado por deficientes, a menos que a deficiência impeça o objetivo da ferramenta. Ele é gratuito e foi criado através de uma parceria entre o Departamento de Governo Eletrônico e a Organização da Sociedade Civil de Interesse Público – OSCIP Acessibilidade Brasil. O programa permite avaliar, simular e corrigir a acessibilidade de páginas, sítios e portais, ajudando os desenvolvedores e publicadores de conteúdo. Já o e-MAG consiste em um conjunto de recomendações a ser considerado para padronizar o processo de acessibilidade dos sítios e portais do governo brasileiro. Marcos esclarece que a primeira versão do e-MAG foi disponibilizada para consulta pública em 18 de janeiro de 2005 e a versão 2.0, já com as alterações propostas, em 14 de dezembro do mesmo ano. “Em 2007, a Portaria nº3, de 7 de maio institucionalizou o e-MAG no âmbito do sistema
mação contida em uma página ou uma aplicação, incluindo-se aí, textos, imagens, formulários, sons e correlatos”, explica Marcos.
de Administração dos Recursos de Informação e Informática – SISP, tornando sua observância obrigatória nos sítios e portais do governo brasileiro”, completa. Os documentos das Diretrizes de Acessibilidade ao Conteúdo da Web (WCAG) explicam como produzir conteúdos para a internet que sejam acessíveis às pessoas portadoras de necessi dade s especiais. “Genericamente, ‘conteúdo’ da Web refere-se à infor-
ficuldades de se pensar Rogério em acessibilidade para o desenvolvedor Zago Andrade. Deficiente auditivo, ele trabalha com Web Design há cerca de um ano e explica que a correria na hora de se criar o site, principalmente por parte do cliente, faz com que a acessibilidade seja deixada de lado. “Os contato são feitos com pressa, geralmente por telefone. O cliente quer uma página e temos que criá-la em um tempo muito curto”, conta. Mesmo assim, ele acredita que a acessibilidade deveria ser um requisito. “Espero poder mostrar aos clientes a importância de nos dar o tempo suficiente para produzirmos um material de qualidade”.
Desenvolvimento O instrutor de programação e desenvolvimento web, Tiago Santos, acredita que a maioria dos sítios da rede mundial de computadores não é acessível por uma falta de percepção da visibilidade global que todo site tem. “Neste caso, é preciso tirar um pouco o foco do publico alvo do site (o que acontece na maioria dos casos) e focar no acesso ao site como principal requisito. Com estas mudanças o foco primeiro passa a ser atender requisitos de acessibilidade para depois se adequar às necessidades do cliente”. Tiago explica que não há cursos específicos que ensinem aos desenvolvedores Web como criar páginas acessíveis e que para isso é necessário que eles procurem a informação na internet ou em livros. Quanto ao interesse dos alunos, o professor diz que todos concordam sobre a importância da prática da acessibilidade em páginas Web, mas têm consciência que desenvolver esses suportes demanda mais tempo. Essa falta de tempo durante o desenvolvimento de sites implica também di-
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Perspectivas Atualmente, para ajudar deficientes visuais, existem programas de computador capazes de ler para os usuários as páginas
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Site espeializados dispoibilizam softwares e failitam a navegação de decientes
visais e aditivos
nas quais eles entram. Porém, para isso funcionar, é necessário que o conteúdo desta página esteja bem estruturado, dentro de um padrão semântico compreensível tanto para o software quanto para quem o está utilizando. Isso implica, genericamente, escrever títulos, subtítulos, navegação, listas e parágrafos nos lugares corretos, usando códigos (conhecidos como tags) para discrimina-los. Além disso, as imagens devem ter um texto alternativo, que, para o usuário sem deficiência não faz tanta diferença, mas que é lido para o deficiente pelo software em questão. Ana Borges é deficiente visual desde a infância e estudante de jornalismo. Para ela, a dificuldade na hora de acessar conteúdo em sites é uma realidade. Mesmo usando softwares avançados que lêem os sites para o usuário deficiente, muitas páginas têm o conteúdo tão mal construído que, para quem está recebendo a informação lida, vira uma bagunça. “Eu utilizo a internet principalmente para acessar informações no site da faculdade, ler emails e notícias. Mas existem sites que o programa tem dificuldade para ler e acaba ficando muito confusa a informação”, reclama. Essa confusão se dá porque a Web passou, nos últimos anos, por uma reformulação que necessita de uma separação entre a estrutura do site e sua apresentação. Para é como se a no estrutura fosse exemplificar, todo o conteúdo que está site, já citado como título, subtítulos, parágrafos, fotos, entre outros. Já a apresentação é o posicionamento desses elementos na tela, bem como suas cores, tamanhos, e é isso que faz os sites terem o seu formato. Porém, antigamente tudo era elaborado junto, com a definição de cores, tamanhos e posicionamentos no meio do conteúdo. 16
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Isso faz com que o leitor de tela transcreva informações desnecessárias para o usuário, como uma pausa no meio de uma frase porque o conteúdo criou uma quebra de linha abrupta, ou ler imagens que estão somente dando espaçamento entre tabelas, o que é inconcebível nos padrões atuais. Ana conta também que para navegar dentro das páginas ela utiliza a tecla tab do teclado, responsável por fazer com que as seções de conteúdo do site mudem à medida que o botão é acionado. Essa é a mesma técnica usada por deficientes motores, mas para funcionar é necessário que o desenvolvedor insira códigos que proporcionem essa hierarquia entre as seções que serão acionadas pelo usuário. O problema maior para os deficientes é que ainda hoje existem desenvolvedores O aesso a web para que não se atualizaram ou aprenderam em tem eessidades em escolas que até hoje ensinam da forma espeiais dispõe de como era feito no século passado. programas especícos
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Substituindo os antigos anúncios nos classicados de
jorais, portais a iteret so riados om oitito de ofereer servios de garotas de programa e travestis
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divlgao do
prazer
Teto de Liao Dias, Pedro Rotterda, Rafael Rebiti e Thiago Sapag Rii; Fotos: Aderso nape; Ilstrao: Maros Viíis Pereira “Ninfetinha ardente, rosto angelical e corpo de capetinha! Puro veneno”. “Mais do que uma mulher, ela é um avião buscando onde pousar”. Talvez incentivadas pela máxima “a propaganda é a alma do negócio”, as autoras dessas frases gastaram a criatividade para elaborar curiosos slo-
fotos e 263 videoclips. Para ter acesso a todos os recursos o interessado precisa pagar pelo menos R$ 33 por mês. Para manter o serviço, os donos do negócio têm que desembolsar em média R$4500. Nesse valor estão incluídos os serviços de programador/designer do portal, que saem por
de luxo,Conhecidas gans. as mulherescomo que trabalham acompanhantes nessa área fazem parte de uma rede de serviços cada vez mais profissional, organizado e divulgado. O trabalho, anunciado nos classificados de jornais, ganhou a internet e se tornou mais abrangente, tanto no alcance de clientes como em inovadoras possibilidades de promoção dos serviços. É o caso, por exemplo, do “Executivo Club” (www.executivoclub.com). O site, com design moderno, oferece serviços de mulheres, homens e travestis. Mas o que impressiona não é a variedade e sim a organização de como os acompanhantes são divulgados. Nas páginas pessoais dos profissionais do sexo são disponibilizadas diversas fotos em alta definição, vídeos e uma mensagem de voz, bastante receptiva, gravada pelo dono do perfil. Além disso, é possível mandar uma mensagem escrita para a (o) acompanhante. E o portal não se limita a Belo Horizonte. Profissionais de São Paulo, Curitiba, Porto Alegre, Rio de Janeiro, Garulhos e Campinas também são divulgados. O conteúdo do site agrega 422 modelos, e mais outros 89 que já posaram em revistas, 8.288
por R$1400 R$3000 e o por servidor mês. (Preços que hospeda aproximados, o site, dependendo do tipo de serviço). Já para as ofertas em jornais, o valor cobrado gira em torno de R$103 para divulgar por uma semana. Para anúncios com tamanho médio, são R$170 a mais pelo mesmo período. Os anúncios em tamanho grande possibilitam um detalhamento ainda maior do acompanhante. O preço para esse tipo de anúncio pode chegar a R$250, também por sete dias. A cobrança para acessar os sites ajuda a filtrar a clientela. Os anunciantes reconhecem a credibilidade do portal. “É o melhor site de todos. Pago R$300 mensais e recebo cerca de 10 ligações diárias, mas a segurança e o retorno financeiro são garantidos”, elogia Paloma Bracho. Com 22 anos, ela aproveita da relativa inexperiência – começou a fazer programas há cerca de dois anos – para se promover. Entretanto, existem também sites que recebem anúncios gratuitos. Entre eles está o “Garotas Pink” (www.garotaspink.com) que disponibiliza vídeos eróticos e informações sobre motel, boates, bares e artigos de sexo. Para anunciar o serviço no site, as acompanhantes devem fazer a solicitação múltipla
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O ã ç A G L u IV D
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Adryella Vedramie é ma das aiates do site “S Boeas”, elsivo para a divlgao de travestis e traseais. O mero de aessos hega a 10 mil por dia
por e-mail ou por telefone. Depois de realizado todos os procedimentos (contrato, fotos, documentos, informações...), a garota de programa estará no site em três dias. O cliente tem, até mesmo, a possibilidade de escolher o serviço que deseja. O site apresenta um verdadeiro cardápio. Idade (que varia entre 20 e 25 anos), peso, altura, dentre outras informações individuais das acompanhantes. Existe, inclusive, uma preocupação em oferecer orientações sobre a segurança e algumas dicas se- xuais. O número de acesso é grandioso. Segundo os responsáveis pelo site “Não Fique Só” (www.naofiqueso.com.br) e do “BH Vip” (www.bhvip.com.br), cerca de 3000 pessoas visitam a página por dia em busca de garotas para programas e/ou viagens. O valor do anúncio varia de R$100 a R$300, dependendo do destaque que a acompanhante contratar. Cada uma tem direito de inserir de 8 a 20 fotos, além de colocar quais tipos de serviço podem ser feitos. Promoção As frases de impacto ficam por conta das próprias acompanhantes. Em uma breve navegação, é possível encontrar desde convites apelos diretos. provocantes Algumas optam pela até objetividade: “Lorena, cada vez melhor” e “Clara, o encanto à flor da pele, alto-nível”. Há acompanhantes que recorrem a semelhanças com as famosas: “Melhor que “Vivi Fernandes” e “Japinha linda e provocante, fabricada no Brasil com tecnologia Japonesa! Estilo Sabrina Sato”. Foi justamente com essa estratégia 20
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que foi cria- d o o nome Milla Sales. Em fotos feitas com pequenas vestimentas de jogadora de futebol, a acompanhante revela o objetivo: “Inspirei-me na jogadora de futebol Milene Domingues, ex-esposa do atacante corintiano Ronaldo”. No ramo há três anos, Milla veio do interior de minas e logo se deslumbrou com os primeiros programas. “Em uma semana ganhei o que recebia em um mês na minha cidade. Juntar dinheiro sempre foi meu objetivo”, confessa. A acompanhante destaca que a maioria dos homens que a procura é casada e a idade é variada. Milla só deu uma pausa nos programas quando se apaixonou por um homem. Ela tem uma filha que mora com os avôs no interior. “Todo mês viajo para visitá-los e dar dinheiro para ajudar na criação dela”, conta. Assim como Milla, Paloma Bracho nasceu no interior, em Governador Valadares. Mãe solteira, ela começou a prestar serviços sexuais quando a segunda filha nasceu, há dois anos, para proporcionar
Para ter acesso a todos os conteúdos dos sites, como o “Executivo Clube”, é necessário
pagar pelo menos R$33 por mês melhores condições para as crianças. “Procurei emprego pelo jornal e todas as ofertas exigiam escolaridade e experiência. Não nenhuma duas. Foiser quando vi umtinha anúncio que sódasprecisava bonita”, esclarece. Homossexuais O carro-chefe dos sites de acompanhantes é, na maioria das vezes, a mulher. Exceção, por exemplo, do “Só Bonecas” (www.sobonecas.com.br), um site de anúncios internacionais, mas só para traves-
Os travestis são mais parecidos com homens, corpo mais forte e muito silicone. Já
os transexuais são mais delicados e se parecem mais com as mulheres
tis e transexuais brasileiros. O sistema é parecido com o “Executivo Club”. Os interessados que clicarem sobre as fotos dos travestis e transexuais, apenas terão acesso a uma foto e ao telefone de contato. Para ter acesso ao perfil completo é preciso ser sócio do site e pagar uma cota mensal de R$50. Já as anunciantes pagam entre R$150 e R$350 por mês. Como o site é internacional, o número de visitas ao dia chega a 10 mil. Entre as mais criativas chamadas, está “Everlyn, a única transexual com mestrado”. Com linguajar rebuscado, Everlyn revela que é transexual há três anos e sempre esclarece aos clientes a diferença para travesti. De acordo com ela, os travestis são mais parecidos com homens, corpo mais forte e muito silicone. Já os transexuais são mais delicados e se parecem mais com as mulheres. O “gosto” sexual também é diferente. Os primeiros são tanto passivos quanto ativos, enquanto os transexuais são somente passivos. Baiana de Salvador, Everlyn veio para Belo Horizonte há oito anos, quando passou para Psicologia na UFMG. “Minha família na Bahia sabia que eu era gay. Mas só após iniciar o mestrado e concluir minha tese, é que resolvi virar transexual”. Ela conta ainda que deseja dar seguimento aos estudos e que no final do ano tentará o doutorado pela UFMG. O objeto da pesquisa será o mesmo do mestrado: O livro “Herculine Barbi: Memórias de uma hermafrodita”, escrito por Michel Foucault. “Minha família ainda não sabe que me transformei. Desde que eu terminei o mestrado não vou a Salvador, converso com eles uma vez por semana”, conta E-
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Travestis “bate poto” a regio da Pamplha
verlyn, que foi criada pela avó, hoje com 90 anos. “A distância da família também ajudou para que eu fizesse as mudanças no meu corpo. Procurei um endocrinologista e comecei a tomar hormônio feminino, deixar o cabelo crescer e fazer um pouco de academia.” Sobre os programas ela afirma que prefere anunciar em sites porque é mais garantido que alguém ligue. “Os anúncios dos jornais me parecem falsos, não dá para assegurar que aquilo que está descrito é verdade. As fotos podem até ter photoshop, mas é certeza que a pessoa é realmente daquele jeito”, ressalta. Jornais Ariele, que se intitula como “Gatinha Pequena”, é uma das garotas que anunciam em jornais. Ela conta que veio do interior para a capital mineira buscando uma chance de melhorar de vida. “Quando saí da minha cidade no início deste ano, meu pai disse que era pra eu me cuidar e conseguir um bom emprego para pagar meus estudos. Não consegui o emprego e ser garota de programa foi minha última solução, para não ter que voltar pra casa derrotada”. atende somente no em centro local próprio, Ariele em um apartamento de Belo Horizonte que divide com mais três garotas, todas de programa. Seguir a carreira de médica faz parte dos ideais da menina. “Estou fazendo cursinho, quero casar e ter filhos. Toda menina sonha em ter um príncipe, e definitivamente não existe uma mulher que se deita com mais de três príncipes por semana”, observa. múltipla
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A veda de artigos ertios e espaos omo casas de swing, motéis e cabines eróticas guram
etre os grades egios do setor mieiro
sexo:
m merado lrativo Teto de Aa cristia nobre, cladio Marhiori, Daiara Baldoi, Iasmim Deslades e Joatha cotta; Fotos: Jliaa Valim; Ilstrao: Maros Viíis Pereira
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Dionísio, deus grego do vinho, orgias e do prazer, é quem abençoa nossa saga.
com estrutura para pole dance e, no centro, o tatame (cama gigante, onde vários
na porta,àso23h Sábado segurança chegamos pergunta: ao destino. “Primeira Logo vez de vocês?”, após a resposta afirmativa ele adverte: “Aqui é uma casa de swing”. A mansão, localizada na orla da lagoa da Pampulha, zona norte de Belo Horizonte, possui três andares e ambiente requintado. Na garagem, o primeiro ponto de estranhamento, mais carros populares que importados. Assim que entramos, a música que tocava era forró e vários casais dançavam. A iluminação era como em uma casa de shows convencional. Tudo à meia luz para proporcionar a atmosfera aconchegante e sensual. A recepcionista é quem nos apresenta a casa. No primeiro andar, sala com música ao vivo e espaço para dançar, mini sex shop, scoth bar e boate, onde mais tarde aconteceria o show de striptease. Já o segundo piso é o andar dos quartos, composto por duas acomodações privativas, nove quartos-aquário, um quarto treliça, um dark room, um banheiro feminino, um masculino e um misto. Já o último pavimento possui sala-aquário para vídeos pornográficos, outro dark room, scoth bar e uma grande sala com sofás, palco
taneamente). casais costumam manter relações simulO valor de R$ 80 por casal pode até parecer “caro” e a princípio seletivo se levarmos em consideração qualquer outra casa de shows. Mas o preço é compatível com a estrutura do local. O perfil dos freqüentadores se concentra nas classes B e C. Depois de apresentar os ambientes da mansão, a recepcionista anotou nossos dados e nos presenteou com cortesias que garantiam 50% da entrada para a próxima sexta-feira. No scoth bar muitos casais conversavam e tomavam seus drinks, para se sentirem mais à vontade em meio aquele ambiente. No cardápio, o valor mínimo dos drinks é de R$ 7. Nenhum dos clientes parou no primeiro copo. Por volta de meia noite, um funcionário passou de porta em porta comunicando o show de striptease na boate. Uma dançarina e mais dois homens subiram no palco e começaram a tirar peça por peça da pouca roupa que vestiam. Os homens estavam de camiseta e sunga e a mulher com lingerie branca (corpete e cinta-liga). Os quartos só começaram a serem uti-
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lizados após o show, e poucos eram os casais que se preocupavam em preservar sua intimidade. Um fato no mínimo curioso é a forma respeitosa como um casal aborda o outro. Quando a mulher está interessada no parceiro de outra, seu companheiro faz o convite e vice-versa. Porém, uma das regras da casa é que nada deve ser obrigado, e caso algum casal se sinta constrangido por algum motivo podem acionar um dos seguranças. Posicionado no segundo andar, um segurança fica atento a qualquer eventualidade. É função dele repreender pessoas que andam sozinhas, uma vez que também não é permitindo caminhar pelos corredores sem seu acompanhante. Outros seguranças ficam por conta de monitorar os demais cômodos. Ao todo, o estabelecimento é composto por uma recepcionista, um atendente para o cadastro dos clientes e chek in, três dançarinos, dois caixas, três funcionários no scoth bar do primeiro andar, dois no bar do último piso, além do pessoal que cuida da manutenção e limpeza da mansão. Sex shop e motel Outro ramo do mercado legalizado do sexo que é extremamente lucrativo são os sex shop. Na loja do sexo (tradução da
expressão artigos até encontrados vão desde inglesa), lingeriesossensuais produtos que volta e meia estão na moda, como, por exemplo, as bolinhas aromáticas. O comércio de apetrechos sexuais é bastante lucrativo. Alguns produtos podem chegar a R$ 800. Segundo Maria do Carmo Silva, gerente de um sex shop na região da Savassi, o tipo de público varia muito. “Recebemos homens e mulheres, sozinhos ou em casal, gays, lésbicas, jovens, idosos, ou seja, não há uma segmentação. Só não atendemos menores de 18 anos. As mulheres investem muito mais nesses tipos de artigos do que os homens. Elas adoram sair da rotina”, ressalta a gerente. Os preços dos produtos variam. Os mais baratos são as bolinhas aromáticas e os cosméticos, que vão de R$ 20 a R$ 50. Já os vibradores são mais caros. Alguns que possuem pulsações e dez níveis de intensidade podem custar R$ 700. Entretanto, os mais simples estão na faixa de R$ 150. As lingeries vão de R$ 200 até R$ 700 dependendo do modelo. Entre os produtos mais procurados estão os vibradores e cosméticos afrodisíacos (gel quente/frio, comestíveis, loções, 24
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Até lojas de ligiere apostam em artigos seais para ametar as vedas
óleos para massagens, etc). Ela afirma que quando a loja foi inaugurada, há 11 anos, o que mais se vendia eram lingeries. “Hoje as pessoas estão menos tímidas em relação a isso, e os produtos eróticos estão com força total”, comenta. Maria do Carmo ressalta que a demanda do consumidor varia de acordo com a moda. A estudante Dayse Honorato, 31 anos, já experimentou alguns produtos e só no seu aniversário de casamento che-
Os números provam que os motéis são um dos principais ramos do mercado legalizado do sexo gou a comprar R$ 200 em artigos. “Eu e meu marido fizemos cinco anos de casados e para comemorar comprei um gel, lubrificante, lingerie, e bolinhas aromáticas. Além dos artigos, fomos a um motel bem luxuoso”, conta. Outro lugar bem cobiçado pelos namo-
rados, casados, amantes, etc. é o motel. Seja ele simples ou luxuoso, é uma boa pedida para sair da rotina. Nos motéis, além do aluguel dos quartos, outros produtos são comercializados e ajudam a aumentar ainda mais o lucro do negócio. Em um estabelecimento localizado no bairro Arvoredo, em Contagem, o produto erótico mais vendido para os clientes, por exemplo, é o anestésico e o valor é cerca 50% maior do em uma farmácia. As 59 suítes que o local abriga são dividas em seis tipos: máster, temáticas, tropical, com hidromassagem, classic e standart. Os preços variam de R$ 24 a R$
80% utilizam o cartão fidelidade que dá direito a descontos.
130. Preço razoável se comparado aos mais luxuosos motéis da cidade. O público é, em geral, classe média e média baixa. “Começamos com as suítes mais simples e, até hoje são elas que enchem primeiro”, afirma o proprietário do motel, Diogo Campelo. Ele também
Lucro O empreendimento, inaugurado em 2002, teve investimento de, aproximadamente, R$ 3 milhões. De acordo com Campelo, o retorno é rápido. “Só nos finais de semana a média de ocupação varia em torno de 230 clientes por noite, e durante a semana, a média é de 130 ocupações”, comenta. O maior movimento no motel é no Dia dos Namorados, seguido do primeiro final de semana de cada e dorecebem mês de dezembro, período que asmês pessoas o décimo terceiro. “Porém, nos primeiros meses do ano o movimento cai cerca de 10% por causa das férias e dos feriados longos”, explica. Os números provam que os motéis são um dos principais ramos do mercado legalizado do sexo. Só em Belo Horizonte, são 150 espalhados pelas principais entradas e saídas das vias expressa e BRs. Alguns com quartos mais simples, sem luxo algum, outros requintados e que oferecem vários serviços aos clientes. Em um deles, a suíte mais simples tem cama redonda, TV, espelho no teto e na parede. Já na suíte master, os clientes contam com sauna, área externa com ducha, es-
ressalta que seu público é fiel e cerca de
preguiçadeira e mesa, ar condicionado,
“As mulheres investem muito mais nesses tipos de artigos do que os homens. Elas adoram sair da rotina” Maria do Carmos Silva
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Motéis omo o Le Mode, sitado em Belo Horizote, ivestem em artos losos para ateder os lietes mais eigetes múltipla
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frigobar, hidromassagem, cadeira e poltrona erótica, teto solar, cama king size, TV LCD, duas duchas, som com mp3 e garagem para dois carros. Existem, também, algumas suítes sem garagem para aquelas pessoas que vão a pé, e suítes com garagem para motos. Diversidade que agrada a todos os gostos e bolsos. Entre muitas situações curiosas, entretanto, há clientes que utilizam os serviços e, no fim, falta o dinheiro para pagar a conta. “Neste caso, pedimos para que o cliente deixe o celular ou carro como garantia de pagamento”, conta o proprietário. “Outro contratempo aconteceu quando um homem quis ensinar sua mulher a dirigir dentro do motel, mas ela não conseguiu engatar a ré para tirar o carro do box e derrubou a parede da suíte que eles tinham acabado de sair”, lembra Diogo, divertindo-se. O maior transtorno que ele vivenciou foi a descoberta de uma traição; literalmente um episódio policial. “O marido seguiu a mulher até aqui e a flagrou com o amante. Então, chamou toda a família dela para vê-la saindo do motel com o amante. Mas, na saída, o casal percebeu e tivemos que deixar o amante sair pelos fundos para evitar mais confusão. Como se não bastasse, o marido traído chamou a polícia para fazer uma ocorrência de
Ao todo são 29 cabines. Elas são fechadas como box. Seus vidros são de 10mm de espessura, o que garante a segurança e o sigilo das stripeers. Ao todo, o local possui cinco funcionários e doze stripeers. Todos possuem carteira assinada. As dançarinas possuem idade entre 18 a 25 anos. Segundo Ricardo, ele não contrata menores de 18, devido à lei, e nem maiores de 25, pois estão fora do padrão que agrada aos clientes.
Segundo um dos proprietários das cabines
eróticas, a média de frequentadores do estabelecimento varia de 1.000 a 1.200 por dia A faixa etária do público é de 20 a 40 anos. A principal divulgação se dá por meio de anúncios em jornais. De acordo com Ricardo, o final da tarde é o horário de maior movimento, uma vez que os clientes saem do serviço e vão direto para as cabines.
adultério Pese a contra tantas sua histórias, mulher”, a vantagem recorda. do setor é iminente. Só no motel localizado no bairro Arvoredo, no final de cada mês, a receita é de aproximadamente R$ 340 mil bruto. Cabines Eróticas No centro de Belo Horizonte existem várias casas que oferecem filmes eróticos e striptease ao vivo a preços populares. A partir de R$ 2 pode-se assistir um striptease de um minuto, ou pagar R$ 20 e ver 25 minutos. Mas valores baixos não significam baixa lucratividade. É o que afirma Ricardo (que não quis identificar seu sobrenome), dono de umas das cerca de 20 cabines eróticas existentes nos quarteirões das ruas São Paulo, Guaicurus e Santos Dumont. Ricardo afirma que a procura por este tipo de diversão é alta na capital, e que por esse motivo, o mercado é promissor. A média, segundo ele, de homens que frequentam seu estabelecimento varia de 1000 a 1200 por dia, sendo que já chegou a atender 4000 em apenas um dia. Na estrutura da casa, jogos eletrônicos e diversas bebidas para os clientes. 26
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As abies ertias eibem vídeos e striptease ao vivo pelo preo médio de R$10
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Shows de striptease maslio so promovidos em bo ates de BH omo opo de etreteimeto para mlheres e homes, além de ametar o lro das asas otras
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daa da
sedução Teto de Débora Izabela Gilherme Felipetto, Marelo Soares e Paola Amaral; Fotos: Gilherme Felipetto e Paola Amaral
Corpos masculinos sarados, acompanhados de uma boa ginga e sensualidade. Esses são alguns itens que caracterizam
dominais, óleo para o corpo e gel para o cabelo ficar impecável. Meia-noite é a hora do espetáculo
os gogo boys, que ganham a vida exibindo seus rapazes dotes físicos, dançando em festas e casas noturnas. O termo Go-Go é derivado da expressão francesa à gogo, significando “em abundância, abundância” que, por sua vez, deriva da antiga palavra francesa la gogue ( “alegria, felicidade”). Cada profissão tem seu preço e, por mais que muitos pensem que os gogo boys são garotos que apenas dançam em cima de um balcão, o ofício vai muito além disso. A rotina diária se resume a muita malhação e, para alguns, bronzeamento artificial, cuidados com a pele, depilação, além de horas de ensaios, necessários para que eles conheçam as músicas que irão utilizar em suas performances.
começar. A música altadeanima o público que incendeia a pista dança. Alguns homens na platéia se sentem tão a vontade que tiram as camisetas e dançam como se fossem as atrações da noite.Uma estudante de Administração identificada apenas como Carla, vai à boate acompanhada das amigas há mais de um ano. “Me divirto muito e venho aqui para admirar a beleza e sensualidade dos gogo boys”. Para a psicóloga Marina Guimarães, geralmente o público que assiste a uma apresentação de gogo boys é de homens homossexuais e de mulheres heterossexuais. O interesse pelo espetáculo gira em torno da libido e da sexualidade envolvida. Há um jogo de sedução em cena.
Asantes preparações começam cercaNadeboate uma hora de subirem ao palco. Josefine, localizada na região centro sul de Belo Horizonte, o figurino do show é composto por poucas peças: uma sunga, que desperta estimulo e empolgação do público. Nos pés, botas de cano alto preta e meias brancas. Os preparativos se resumem a aquecimento com flexões e ab-
Ainda a psicóloga, as apresentações dossegundo gogo boys estimulam sexualmente o público que os assiste, pois essa é a base de sustentação desta profissão. A explicação é simples: eles são bonitos, viris, sedutores e inatingíveis o que aguça o desejo impossível de satisfazer o prazer. O gogo boy Fernando Eustáquio, de 18 múltipla
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anos, se destaca em meio aos outros cinco garotos. Há seis meses, deixou seu antigo emprego de dançarino para dedicar todo o seu tempo ao novo ofício e diz não se arrepender da escolha. Ele possui características importantes para se dar bem na profissão: é desinibido, simpático e bom dançarino. Mas ele explica que existem outras exigências. “Meu trabalho além de dançar, é de seduzir o público que me assiste”. E isso ele consegue sem muito esforço. Culto ao corpo O culto ao corpo, hoje em dia, cresce de uma forma impressionante. Homens e mulheres buscam o físico perfeito, tratam de se cuidar e ter uma vida mais saudável, além de freqüentarem academias e centros de estéticas. O conceito de metrossexual surgiu a partir do momento em que os homens começaram a preocupar-se excessivamente com a aparência. O termo é srcinado da junção das palavras metropolitano e heterossexual, sendo assim considerados pelo fato de utilizar seu tempo e dinheiro com cosméticos, academias, acessórios e roupas de marca. Na indústria do sexo, homens que se
preocupam com pela o físico e possuem corpos desenhados malhação constante são muito desejados por outros homens e mulheres. Os gogo boys descendem de uma profissão bastante antiga: as stripper, com o diferencial em que não são garotas e, sim, homens dançando em boates e casas especializadas. O strip-tease baseiase essencialmente no ato de dançar e se despir, buscando assim seduzir o público. Para Marina Guimarães, há vários motivos que levam uma pessoa a se tornar gogo boy: o gosto pela dança, o culto ao próprio corpo, o histórico de freqüentar baladas, um convite inesperado de trabalho ou até mesmo o prazer de seduzir o outro. Jhonatam Gomes, de 26 anos, que exerceu profissão cincodeanos, decidiu sera gogo boy durante pelo prazer dançar e exibir seu corpo. Para ele, o cachê era apenas uma conseqüência. A psicóloga explica que “o ser humano precisa do olhar aprovador do outro. Só nos reconhecemos depois que o outro o faz. A profissão do gogo boy fascina porque ele se sente desejado e admirado, desperta inveja pelo seu corpo “perfeito” e sente-se no controle da 30
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situação, pois ninguém pode tocá-lo e nem tê-lo de fato”. Pelo fato de a profissão trabalhar com a exposição do corpo de forma sensual, em que muitas vezes os gogo boys ficam nus, o preconceito é algo que está presente no seu dia-a-dia. É o que afirma Fábio Broca, 21 anos, há seis meses no ofício. Apesar dos amigos aceitarem numa boa, seus pais, que moram no interior, não sabem da profissão noturna do filho e Fábio
“Me trabalho além de daar, é de sedzir o pblio e me assiste”, diz Ferado Estio, o gogo boy de 18 aos e se destaa as apresetaões
Os gogo boys descendem de uma prossão bastante antiga: a de stripper. Com o
diferencial de que não são garotas e, sim, homens dançando em boates especializadas prefere não contar, pois acredita que eles não entenderiam a forma como escolheu para ganhar a vida na capital. O relacionamento com as mulheres também é complicado. Namoro sério é praticamente impossível, já que algumas vezes eles são beliscados e ganham arranhões pelo corpo. Fernando conta que terminou o namoro logo quando começou a dançar na noite. “É impossível sustentar um namoro com essa profissão. O assédio é muito grande e o ciúme torna-se possessivo,” conta o gogo boy. A comparação
A srcem de tudo Engana-se quem pensa que ser gogo boy é coisa dos tempos modernos. O ofício, que existe desde os primórdios, foi iniciado por um homem das cavernas trajado com uma pequena tanga de pele de carneiro que durante uma caça a javalis desistiu de persegui-los, subiu em cima de uma pedra e começou a praticar uma esquisita dança tribal. Todos os presentes ficaram parados, admirando a dança. Daí nasce o primeiro gogo boy da História. Já na Grécia antiga, os homens que posavam
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para os gogo artistas esculturasé eram os boys produzirem da época. A diferença que não dançavam. Mesmo com toda sofisticação que ocorreu desde o surgimento dos gogo boys, a forma com que são feitas as apresentações permanece a mesma: um homem de corpo atraente, em cima do palco, dança de forma sensual exibindo seu corpo. Em meados dos anos 50, nos Estados Unidos, bares e boates gays clandestinas passaram a oferecer shows de gogo boys. A novidade agradou tanto, que durante as apresentações, os clientes colocavam notinhas de dinheiro dentro das tangas dos rapazes. A partir da década de 1960, os gogo começaram a tirar toda a roupa enquanto dançavam. Logo depois, surgem os chamados “Clubes das Mulheres”, local onde homens musculosos fazem strip tease para o público feminino.
Na Josene, famosa boate
voltada para o pblio gay sitada a regio Sl de BH, h apresetaões de Gogo Boys todas as itas
com garotos de programa também é inevitável. Fábio, por exemplo, já recebeu várias propostas durante as apresentações, porém, rejeitou todas por achar que a quantia não vale a pena. Por isso, assim que o show termina, todos os gogo boys são obrigados a saírem da boate para evitar o contato com o público.
Dupla jornada A maioria dos gogo boys exercem outras atividades paralelas à profissão. Tratase de uma carreira curta devido à idade, pois a medida que o tempo passa, fica mais difícil manter a atividade de gogo boy. Paulo Vaz, 24 anos é gogo boy, trabalha com marketing numa empresa de publicidade e comunicação, faz faculdade de Educação Física e pretende dar aulas. “Pretendo dançar por mais algum tempo e a partir do momento que eu começar a dar aula vou me dedicar só a isso,revela.
Paramuitos o gogo boy Brunoescondem Madeira, sua 24 anos, profissionais opção sexual temendo o preconceito por parte do público e também das casas noturnas onde atuam. Ele, que é homossexual assumido, afirma nunca ter sofrido preconceitos, mas procura ser o mais discreto possível para preservar sua imagem, seu ambiente de trabalho e até mesmo o público.
quemensais um gogotrabalhando, boy receba em de 1500Estima-se a 2000 reais média, quatro vezes por semana. “Trabalhando muito e fazendo ensaios fotográficos, praticamente dobro minha renda mensal”, diz Paulo. Além das apresentações em casas noturnas, são contratados para outros eventos como chás de panela e despedidas de solteiro que possuem cachês combinados conforme o evento. múltipla
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s e D A D i C
e barato
nutritivo
Moradores da apital mieira bsam alterativas para se alimetar de forma sadvel e a baio sto
Teto de Adília Melo, Ate Maria, Kézia Esteves e Vaessa Gerra; Fotos: Aderso nape
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A alimentação é uma necessidade básica à sobrevivência. De acordo com a OMS - Organização Mundial da Saúde -, para uma pessoa ter boa saúde é preciso uma ingestão diária de 2500 kcal, distribuídas em, no mínimo, três refeições/dia: café da manhã, almoço e jantar. Entretanto, nem todo mundo pode se dar a esse luxo. Falta de tempo, costumesfinanceiras alimentares inadequados e condições estão entre os maiores desafios diante de uma população crescente. Muitos compensam o corre-corre com lanches que não atendem aos requisitos de uma vida saudável. O problema mais sério, porém, é mesmo o bolso. Parte significativa da população convive diariamente com uma pergunta: vou comer hoje? Eles não têm sequer o
benefício da escolha do que comer. Alimentar-se está cada vez mais caro. De acordo com o Dieese - Departamento Intersindical e Estudos e Estatística -, há capitais nas quais o preço de uma cesta básica chega à metade do valor do salário mínimo, noutras ultrapassa 50% do vencimento padrão dos brasileiros. O mesmo órgão aponta que família para custear todaspesas despesas de uma de quatro soas, incluindo alimentação, os brasileiros precisariam de uma remuneração mensal superior a R$ 2 mil. Como alimentar os cidadãos das principais cidades do país, onde a pobreza é muito mais evidente? Parte da solução está nos restaurantes populares. Desde 1994, quando foi implantada a primeira unidade em Belo Horimúltipla
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no cetro de Belo Horizote, primo à rodoviria, fioa m dos Restarates Poplares da apital, e oferee três refeiões por dia
zonte, próxima à rodoviária da capital, eles servem alimentação balanceada a preços acessíveis, graças a subsídios da prefeitura. Nos quatro restaurantes populares (Barreiro, Venda Nova, Centro e Santa Efigênia) e no refeitório da Câmara de Vereadores da capital mineira são servidos café da manhã, almoço e jantar por R$ 0,50, R$ 2,00 e R$ 1,00, respectivamente, segundo informações da Secretaria Municipal Adjunta de Abastecimento. O maior deles é o restaurante do Barreiro. De acordo com o secretário adjunto de Abastecimento, Flávio Dufles, são investidos anualmente cerca de R$ 17 milhões nas quatro unidades. O volume é aplicado em reformas e aquisição de suprimentos e produtos alimentares. “Temos condições de atender perfeitamente a todos que procuram os restaurantes populares, desde moradores de rua e famílias humildes, até funcionários das regiões atendidas pelas unidades”, completa o gestor. Modelo O programa de restaurantes populares de Belo Horizonte é considerado modelo entre as principais cidades brasileiras. A capital mineira foi pioneira na iniciativa e, segundo Flávio Dufles, temos aqui o maior volume de atendimento, com média diária superior a 17 mil refeições servidas. “Somos modelo porque temos estruturas bem montadas, com corpo de funcionários especializados (nutricionistas e técnicos), equipamentos modernos que auxiliam na grande produção, higienização de todo espaço e vasilhames. Já alcançamos recon34
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hecimento internacional pelos cuidados que temos”, enfatiza Dufles. As quatro unidades do programa de Restaurantes populares de Belo Horizonte preparam 32 toneladas de alimentos por mês. O que é servido a quem procura os restaurantes populares de Belo Horizonte? De acordo com a nutricionista de um dos restaurantes, Beatriz Das Dores, cada prato contém arroz, feijão e uma porção
Segundo dados da PBH, atualmente são servidas 3.584.219 refeições por ano nos restaurantes
populares de Belo Horizonte de carne (bovina, suína, frango ou peixe), intercaladas entre os dias da semana, predominando a bovina. “Como opção, oferecemos ovos fritos ou cozidos e, em dia de dobradinha, geralmente omelete”, esclarece Beatriz. O cardápio também apresenta guarnição como canjiquinha, macarrão ou legumescom e, quando necessário, incrementado ovos, paio, bacon oué toucinho. Há também saladas , sobremesa, uma fruta, doce ou suco. A equipe de nutricionistas responsável pelas refeições elabora uma proposta alimentar seguindo padrões rígidos. “Tomamos o cuidado de balancearmos os macro e micronutrientes de uma dieta eficiente (carboidratos, proteínas, lipídeos, sais mi-
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nerais e vitaminas). Também aproveitamos os alimentos com casca quando há essa possibilidade, caso da abóbora moranga. Até a apresentação fica bonita por causa do contraste da casca verde e a polpa amarelada do produto”, explica Beatriz. Um dos freqüentadores assíduos do restaurante popular do Centro é o catador de material reciclável Francisco Pena, 42, ou Chico Pena, como gosta de ser chamado. Pena mora na região do Barreiro, mas trabalha na região central porque, segundo ele, é mais fácil para conseguir o material que precisa para seu trabalho. “Todos os dias, eu tomo café e almoço aqui porque não posso pagar pra comer em um lugar chique. Lá, eles nem deixam a gente entrar por causa das roupas e do cheiro. Nem sei entrar num lugar desses”, comenta sorri-
dente. Segundo Francisco Pena, o pessoal do restaurante o trata muito bem e alguns funcionários até guardam material pra ele de vez em quando. “Tem funcionário aqui que ficou amigo mesmo, porque eu venho todos os dias. Só não dá pra conversar muito porque a fila é grande”, completa. O restaurante popular do Centro é uma opção também para os funcionários do comércio local. Muitos deles preferem o “popular”, como ficou conhecido entre eles, por causa do preço, caso da atendente de loja de confecções Norma Barbosa, 32. “Venho sempre com minhas colegas do trabalho. A gente almoça, coloca o papo em dia e economiza. Comer em outro lugar ficaria muito mais caro e o salário precisa durar o mês todo senão não tem jeito de sobreviver”, justifica Norma. múltipla
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Drate a déada de 1980, Belo Horizote assisti à deadêia dos famosos iemas de ra e a trasformao desses espaos em ovos loais, omo lojas, igrejas e etros ltrais
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velhos
iemas, ovos espaos Teto e fotos de Ariae Gervsio, Gilherme Gimares e Kelly Aio O aposentado Pedro Ivo, que curte hoje o auge de seus 64 anos, foi um frequentador assíduo dos cinemas de rua. Ele conta que nas décadas de ouro das grandes salas de cinema, aquele que mais visitava era
Cinema Odeon e o Teatro Municipal, que depois deu srcem ao Cine Metrópole, compunham parte da rede cinematográfica da cidade. O crescimento populacional e a expan-
odaCine capital Metrópole, mineira.que “Eraficava um no marco Centro da época. O Cine Metrópole tinha tudo do bom e do melhor e todo mundo que ia até aquele estabelecimento ficava apaixonado pelo que via. Era a passarela de moda da época, e por lá desfilavam as mais belas mulheres da alta sociedade belo-horizontina”, afirma. Pedro lembra que alguns cinemas daquela época exigiam o requinte e glamour também por parte dos frequentadores. Nem só o estilo arquitetônico dava charme ao núcleo de filmes. “Roupas formais eram usadas por todos, no intuito de dar um ar sublime e gracioso ao ‘templo cinematográfico’”. Dos anos 20 até meados da década de 1970, os cinemas tiveram papel importante na vida social. As pessoas se arrumavam e saiam de suas casas não só para assistir a um filme, mas para se encontrar, namorar e socializar. Ir ao cinema não era apenas entretenimento, mas um acontecimento sócio-cultural. Assim, as primeiras salas se aglomeravam na Rua da Bahia, o cenário da efervescência cultural e social da época, tornando-se ponto de encontro do belohorizontinos. Ícones como o Cine Central,
que da são as salas cidade deaté exibição os anos se 40, popularizassem. fizeram com Nesta época, Belo Horizonte chegou a ter 110 cinemas espalhados em bairros do centro e da periferia. Neste contexto, surgiram o Cine Carlos e Cine São José no bairro Carlos Prates. Para José Eustáquio Silveira, frequentador dos Cines Pathé e Roxy, esse fator aumentou a debandada dos cidadãos mais ricos dos cinemas. “As pessoas mais ilustres da cidade diminuíram a intensidade de visitas, o que impulsionou a abertura das salas de exibição para o público de massa”, lembra o comerciante. Decadência A partir da década de 70, os cinemas em bairro começam a desaparecer. As salas de exibição se concentram novamente no centro, mas longe do glamour que tiveram no passado. Iniciou-se a decadência dos cinemas de rua. Salas que tinham capacidade para 2 mil pessoas passaram a ter sessões com 100 pessoas. Outras foram extintas, e outras tantas passaram a exibir pornô–chanchada, como foi o caso do Cine Candelária, na Praça Raul Soares. Para o historiador e professor de cinema, Ataídes Braga, a recessão econômica múltipla
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Projetor do atigo cie Art Palio aida é preservado o loal, e, agora, abriga ma loja de eletrodoméstios
O Teatro Miipal derrbado em 1942 de espao ao cie Metrpole
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vivida no país na década de 1980, o surgimento de televisão, além da popularização do vídeo cassete nos anos 90 culminaram para o descenso do império cinematográfico. Em seu livro O fim das coisas, ele destaca a trajetória das principais salas de exibição da cidade e explica o porquê
jetores de filmes, lá os projetores srcinais ainda continuam expostos na loja, fazem parte da decoração. “Trabalhar em uma loja tão bonita e que tem uma história igualmente maravilhosa é muito agradável”, completa. A jornalista Márcia França de Azevedo
zonte da decadência vivia umdesses momento cinemas. de “Belo decadência Horitotal, o centro estava esquecido e violento. Neste aspecto, as salas de exibição nos shoppings também tornam uma ameaça ao cinema de rua”, destaca. Diante deste fenômeno, os cinemas de rua tornaram-se pouco rentáveis. Muitos espaços foram demolidos, outros vendidos e transformados em estabelecimentos fora do ramo cinematográfico. Na Rua Curitiba, no Centro de Belo Horizonte, onde era o Cine Art Palácio, funciona desde 1997 uma loja de eletrodomésticos. O estabelecimento é tombado pelo Patrimônio Histórico Municipal e recebe fiscalização a cada seis meses. De acordo com o gerente da loja, Ronaldo de Melo Gonçalves, a conservação das estruturas é prioridade. “Preservamos o piso, as paredes, o trabalho de gesso e alguns maquinários da época. Nada sai da loja ou é alterado sem a autorização da Gerência de Patrimônio Histórico Urbano”, explica. O gerente lembra que, em 2003, um casal, que havia se conhecido em uma das sessões do cinema, pediu para rever as instalações do Cine Art Palácio. A sobreloja era onde funcionavam os camarotes e pro-
Palácio. Paraosela, frequentou bons estes tempos espaços do funcionaCine Art vam como referências culturais, de convivência e entretenimento para gerações de belo-horizontinos. “As salas de cinema da cidade pouco lembram hoje o charme do passado, dos amores dos encontros e desencontros”. Márcia lamenta o fim dos cinemas antigos. “Com a chegada dos grandes shoppings, as antigas salas de cinema de bairro, e do centro da foram perdendo seu valor”, afirma.
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Novos espaços No lugar do antigo Cine Palladium, localizado na rua Rio de Janeiro, no centro, será inaugurado um novo Centro Cultural. O Serviço Social do Comércio (SESC-MG) desenvolve o projeto de revitalização do Palladium Domus Artium, nos quais, cerca de 45 milhões de reais foram investidos. Segundo o engenheiro do SESC, Francisco de Assis Chaves, algumas características do antigo cinema serão mantidas, como a entrada pela Rua Rio de Janeiro e a plateia. “O Palladium era considerado um dos cinemas mais confortáveis de BH. Foram mantidas as passarelas laterais e o mesmo espaço entre as poltronas. Já a capacidade
“O Cine Metrópole tinha tudo do bom e do melhor e todo mundo que ia até aquele estabelecimento, cava
apaixonado
pelo que via.” Pedro Ivo
de pessoas ampliada para 1350 mil”, conta. O projeto ainda prevê a implantação de uma galeria de arte, biblioteca, café, teatro de bolso e um cine-arte com capacidade para 110 pessoas. O novo Centro Cultural terá o segundo maior teatro de Minas Gerais, ficando atrás apenas do Palácio das Artes. O engenheiro destaca que “todo o prédio tem isolamento acústico e acesso facilitado as pessoas com necessidades especiais”. Cravado na Praça Sete está o Cine Theatro Brasil ou, simplesmente, Cine Brasil. Inaugurado em 1932, o cinema foi fechado em junho de 1999 agora, também transformado em e, Centro Cultural.será A Fundação Sidertube – fundação de empregados da Vallourec & Mannesmann é que apadrinha o projeto. O prédio, tombado pelo Patrimônio Histórico, é considerado pioneiro dos chamados “ciclo do cimento armado”, que tornou marca da urbanização da capital. Segundo o Gestor de Negócios e Projetos da Sibertube, Luis Antônio Barbalho, o espaço “surgiu do desejo de democratizar arte e cultura para a população de Belo Horizonte, através de um local que fosse referência na cidade”, conta. A revitalização do Cine Brasil começou em 2006 e é estipulado que se invista na obra cerca de 40 milhões de reais.
na colorida e 400 cadeiras srcinais foram recuperadas. “Além do grande teatro, com capacidade para 1050 pessoas, haverá uma sala multimídia, galerias para exposições de quadros, fotos e esculturas, salas para formação cultural e artística, estúdios de gravação e edição de vídeo, espaços para apresentações musicais, teatrais e de cinema” completa Barbalho.
projetoe vai preservarcultural as característicasOsrcinais a finalidade do espaço. Os antigos elevadores serão transformados em cabines telefônicas, os vitrais da fachada foram reproduzidos em opali-
paço Usiminas Belas Artes e o Cineclub Unibanco Savassi. Vale à pena conferir algumas das últimas opções para quem deseja conhecer, ou simplesmente, rever um bom filme à moda antiga.
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Cine arte Na contramão do fim dos cinemas de rua, alguns estabelecimentos sobrevivem ao ataque mercadológico dos filmes de
cunho comercial. Alexandre Guimarães, estudante de comunicação social, acredita que a existência deste tipo de cinema está diretamente ligada ao público fiel e também à diversidade oferecida pelo espaço. “Além de salas de exibição, boa parte desses locais ofertam aos expectadores uma livraria temática, um bom café expresso. Isso atrai o público, mesmo que de forma menos acentuada que o cinema de shopping.” Para restaurar uma parcela desse passado, grandes empresas do ramo metalúrgico e siderúrgico ainda impulsionam este tipo de cultura, mantendo acesa a chama do velho e bom cinema de rua. A região Centro-Sul de Belo Horizonte concentra os últimos cines-arte da cidade, como Es-
A joralista Mria Fraa sete falta dos atigos iemas de Belo Horizote
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a m lik da ilso
social
Avao da teologia otribi para e riaas portadoras de eessidades espeiais osigam veer sas limitaões Teto de Isabel Gimares, Pollyaa Samille e Tatiaa Oliveira
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No quarto, muitos brinquedos, alguns deles ainda na caixa ou no plástico, novinhos em folha. No cantinho, um com-
o computador, ler e escrever, o menino possui uma série de limitações. O corpo de Matheus, vítima de paralisia cerebral,
putador, realidade vez mais como regida pede pelos uma ditames digitais,cada essenciais para a inclusão social. A família não tem muito dinheiro, mas faz um esforço e garante boa educação para o filho de sete anos. Matheus Henrique Reis Alves, menino de Ribeirão das Neves, região metropolitana de Belo Horizonte tem um futuro inteiro pela frente. Inteligente, esperto, sorridente e carinhoso, ele passa horas no computador arranhando as primeiras palavras escritas, frutos da alfabetização da escolinha. Apesar de brincar, sorrir, usar
não consegue toda aesperta, atividade da menteacompanhar de uma criança que entende e sabe de tudo
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Do luto à luta Há oito anos, o namoro entre dois jovens, ele com 19 e ela com 20 anos, resultou em uma gravidez não planejada. Isac Silva Alves e Rosane Cleide Alves, assumiram a responsabilidade de pais e acompanharam cada momento da vida de Matheus, mesmo quando ele ainda nem
havia nascido. No dia do parto, Rosane acordou com dores e foi para o hospital. O médico disse que ainda não era hora e mandou a moça voltar. As dores persistiram e, um pouco mais tarde, pai e mãe voltaram para a maternidade. Porém, o médico, que atendia pelo convênio, julgou ainda não ser a hora do parto. Horas depois, na madrugada do dia seguinte, enfim, nasceria Matheus. Para o parto normal, foi necessária a utilização
“O Matheus nasceu roxinho e teve que car internado por uma semana. No hospital, me
falaram que se tratava de icterícia, mas depois descobrimos que era paralisia cerebral” Rosae cleide Alves do método fórceps, quando o bebê é retirado com o auxílio de um instrumento cirúrgico. “O Matheus nasceu roxinho e teve que ficar internado por uma semana. No hospital, me falaram que se tratava de icterícia, mas depois descobrimos que era paralisia cerebral”, conta a mãe. Nas inúmeras consultas, os médicos foram Matheus ficarmenino confinadocategóricos: para sempre. A vida iria de um com paralisia cerebral não poderia ser mais ampla que um quarto, uma cama e uma cadeira de rodas. “Uma médica chegou a desenganar o Matheus, disse que ele dependeria de mim para tudo”, desabafa a mãe, com lágrimas nos olhos. Seria hipocrisia por parte dos pais dizer que foi fácil aceitar a realidade. A mãe conta que, em várias situações, surpreen-
MATHEuS ALVES
deu a si mesma questionando a condição do filho. “Eu olhava para os meus sobrinhos, via todos espertos, andando, brincando e pensava: só o Matheus não anda... Mas eu guardava esses pensamentos para mim e pensava que era um plano de Deus”, reflete. Para Isac Silva, o nascimento do filho quebrou uma série de expectativas. “O mundo desaba na sua cabeça, é uma decepção muito grande”, relata. Mas a família decidiu não se render. Com toda inexperiência de um jovem casal diante de um desafio que, muitas
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vezes, nem a maturidade enfrentar, os dois, ou melhor, éoscapaz três e de tantos outros que estenderam as mãos, resolveram seguir em frente. Lutar por Matheus se tornaria um objetivo de vida, afinal de contas, a médica que chegou a dizer que o garoto viveria em estado vegetativo, não poderia ter razão. “A gente sempre pensou em correr atrás. Não somos ricos, mas, por exemplo, se falarem que existe um tratamento melhor para o Matheus em São Paulo, a gente faz uma força e vai. Sabe como é... filho único, nós queremos o melhor para ele”, garante Isac. Doença complexa Desde novinho, Matheus já passava por tratamentos. Fisioterapia, terapia ocupa-
cional alternativa ajudar eoqualquer garoto que, embora que tão pudesse esperto, sofre de uma doença complexa. A paralisia cerebral é uma lesão de ordem neurológica, que acontece de formas variadas e deixa sequelas distintas. Essa lesão pode acometer a criança antes do nascimento, durante o parto ou nos primeiros anos de vida. As causas mais frequentes da doença, antes do parto, são infecções maternas,
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traumas diretos no abdômen da mãe, exposição a raio x, desnutrição materna e uso de álcool e drogas. Já durante o nascimento, as condições do parto podem causar paralisia cerebral em uma criança que nasceria perfeita. A falta de oxigenação no cérebro, uma das causas da doença, pode vir de um parto demorado, pelo uso do método fórceps ou por enforcamento do cordão umbilical. E, ao longo dos três primeiros anos de vida da criança, infecções como meningite e encefalite também podem causar a paralisia cerebral. terapeuta ocupacional Loffi, queAtrata de Matheus desde Gláucia que o garoto tinha dois anos, conta que a parte motora do paciente foi a única afetada pela paralisia, por isso, o menino tem dificuldade de controlar movimentos das pernas e dos braços e de falar. Mas, segundo a especialista, a inteligência de Matheus é igual ou superior a de uma criança da idade dele. E nesse processo de estímulo ao crescimento cognitivo de Matheus, a tecnologia tem sido uma grande aliada. “A inclusão social de crianças portadoras de paralisia cerebral, na atualidade, está diretamente atrelada à tecnologia”, comenta a médica.
Inclusão digital Apesar dos escassos recursos financeiros de uma família que, atualmente, sobrevive com a bolsa de um salário mínimo que Matheus recebe do Governo Federal, os pais do menino compreenderam a importância da tecnologia para a vida dele e conseguiram um computador emprestado, que fica no quarto do menino. É, principalmente, por meio da máquina que Ma-
“A inclusão social de crianças portadoras de paralisia cerebral, na atualidade, está diretamente atrelada à tecnologia” Gláucia Lof
theus se comunica com o mundo, utilizando as primeiras palavras que já aprendeu na escola que, por sinal, não é para portadores de necessidades especiais. Bastou um software obtido no Hospital Sarah Kubitschek, onde Matheus também faz tratamento, e um mouse adaptado para
com m software espeializado e ma professora de apoio, as limitaões motoras de Mathes so speradas pela votade e ele tem de se omiar
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na esola, e o é espeializada, os olegas de lasse disptam em ca mais perto de
Mathes
ser utilizado com os pés, para que a inteligência presente na criança fosse compartilhada com outras pessoas. Desde 1997, o hospital Sarah Kubitschek, que pertence à Rede Sarah, com várias filiais no Brasil, implantou programas voltados para a inclusão de crianças portadoras de necessidades especiais. Assim, a equipe do Setor de Bioengenharia, instalada em Brasília, softwares quedos possibilitam a desenvolve comunicação alternativa pacientes. A filial de Belo Horizonte utiliza os programas desenvolvidos em Brasília. Entre as adaptações necessárias estão mouses que podem ser utilizados com os pés, programas para teclados, que permitem a utilização do computador com apenas uma tecla, além do software de edição de texto, que possibilita a alfabetização de crianças portadoras de necessidades especiais e viabiliza a comunicação escrita dos pacientes pela vida inteira. O ensino do funcionamento dos softwares, para familiares e pacientes, fica a cargo de pedagogos e fisioterapeutas. A pedagoga hospitalar, Vânia Loureira Silva, explica os programas de inclusão, pela mediante que a tecnologia, desenvolvidos Rede Sarah são destinados, principalmente, para crianças e adultos portadores de paralisia cerebral, lesão medular (como a tetraplegia, por exemplo), além de adultos que tiveram um Acidente Vascular Cerebral (AVC) e que, por esse motivo, têm limitações motoras e de fala. “O software empregado pela instituição possibilita a
inserção escolar e, para muitos pacientes, é a única possibilidade de comunicação. Mais que inserir o paciente na atividade escolar, esse tipo de programa permite a inserção social”, garante a pedagoga. Para famílias carentes como a de Matheus, o hospital, além do treinamento oferecido, doa o CD que contém o software e empresta o computador por um ano, prazo que pode ser renovado. Assim, com a ajuda desse programa, Matheus frequenta uma escola para crianças que não são portadoras de necessidades especiais. Na cadeira de rodas guiada pelos pais ou com ajuda dos colegas de classe, Matheus faz questão de entrar na fila de alunos que cantam o Hino Nacional todos os dias, antes do início das aulas. Na sala de aula, sobre a mesa de Matheus, um computador, com o mesmo programa aplicado no hospital e uma professora que oferece todo o suporte para o aluno. Com alguns clicks no mouse adaptado, ele participa de qualquer atividade proposta. Na avaliação da pedagoga Letícia Melo de Oliveira, o processo de aprendizado de Matheus é parecido com o de qualquer outra criança, mas, especialmente, no caso dele, o computador é fundamental. “Apesar de haver algumas formas de alfabetização não digitais, o computador dinamiza a educação de Matheus e garante mais agilidade no contato dele com o mundo”. Graças à tecnologia, crianças tão especiais mostram que também têm muito a contribuir e ensinar. múltipla
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eles dizem
adeus
A diculdade em lidar com a perda de alguém próximo
ado a deiso de partir vem da prpria pessoa Teto de Aleadre Ribeiro, Giovaa Ribeiro, Joaa nasimeto, José Liz campos, niole Barelos e Teai Freitas; Fotos: Aderso nape e Ferada Heloíza “Tristeza, desespero, vazio, vontade de ter feito as coisas diferente e, principalmente, a lembrança de que havia saído de casa sem me despedir”. Essas foram as primeiras sensações que o publicitário T.T.,
escolha de alguém próximo que decidiu interromper a própria existência. “Ninguém quer passar por uma experiência dessas e ser obrigado a aceitar que seu pai, mãe ou avó quer se matar e fugir da vida
suaanos, 22 avó, aos teve60quando anos. Esta soube nãodatinha mortesido de a primeira vez que ela tentara tirar sua vida. Em abril de 2008, ela conseguiu concretizar seu objetivo, ao ingerir veneno utilizado para matar ratos. O Brasil ocupa, segundo a Revista Brasileira de Psicanálise (RBP), publicada em 2009, a décima colocação no ranking da Organização Mundial da Saúde (OMS) dos países com maior índice de suicidas em números absolutos. O caso da avó de T.T. não é incomum: estudos da RBP mostram que a faixa etária com maior número de casos de morte voluntária é o grupo dos idosos. A OMS define como fatores ligados ao suicídio os seguintes itens: tentativas prévias; doenças mentais, como depressão ou abuso de drogas; ausência de suporte social; histórico de suicídios entre os familiares e características sociodemográficas (pobreza, mendicância e baixo nível de instrução). Ainda de acordo com a OMS, estima-se que até 2020 cerca de 1,5 milhão de pessoas vão tirar a própria vida.
Antestemos que de conseguir aqui”, confessa concretizar o publicitário. o suicídio, sua avó havia tentado outras três vezes. Por duas vezes, T.T. conseguiu salvála. Quando não teve a chance de tentar impedi-la novamente, ele descreve que a sensação foi de impotência. O que fica marcado dessa experiência, no final das contas, é a necessidade de se conformar, como desabafa o publicitário: “as feridas nunca serão cicatrizadas, mas como falei, tive que aprender a lidar com isso”. A psicóloga Cassiana Machado, graduada pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), explica que “questionar sobre o suicídio remete, primeiramente, à sua compreensão filosófica. O ato liga-se diretamente ao sentido da vida ou falta do mesmo. Deve-se, ainda, considerar que o suicídio sempre tem um significado próprio para seus autores, assim como qualquer ação e reação que o ser humano esboça”. Muitas correntes da psicologia consideram que o abuso de drogas é uma opção pelo suicidio crônico. Assim, a pessoa opta por utilizar substâncias que deterioram seu Sistema Nervoso Central (SNC) e, consequentemente, seu bem estar biofísico
Comportamento suicida Para quem fica, é difícil adaptar-se à
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Harakiri: rital de siídio eetado ado a hora do samrai o da família fosse mahada
e psicológico. É o que atesta Cassiana Machado, que trabalhou com viciados na Associação Brasileira Comunitária para Prevenção do Abuso de Drogas (Abraço). “Não é obra do acaso que 25% dos adolescentes que cometem suicídio entre 13 e 19 anos fazem uso abusivo de álcool e outras drogas. Não é seguro estabelecer relação de causalidade entre o abuso de drogas e o suicídio, mas certamente o prognóstico é agravado”, afirma. A psicóloga relata ainda que durante o período de abstinência, quando os efeitos
explica a psicóloga: “a depressão, melancolia e outros distúrbios psicológicos que levam ao suicídio são estados graves, mesmo quando não associados à dependência química”.
de uso ser podem dostãoentorpecentes, fortes quanto porém, no período não acompanhados com medicamentos, o indivíduo está propício a sucumbir psicologicamente, já que fica mais instável e
e a sociedade ontecer quandona os laços qual entre ele esta o indivíduo inserido estão enfraquecidos, assim, não há nada que impeça que ele se mate. Essa maneira de auto-extermínio foi considerada egoísta porque a pessoa não se preocupa com fatores externos, levando em consideração apenas aquilo que a aflige individualmente. Sendo assim, o suicida tira sua vida no intuito de acabar com algum tipo de sofrimento, por exemplo. O suicídio altruísta acontece quando, ao contrário do egoísta, os laços entre o indivíduo e a sociedade na qual ele vive são muito fortes. Assim, ele se mata em nome de um ideal, uma crença, um ritual, algo que pertence àquele grupo no qual ele está inserido. Neste caso, a pessoa crê que sua morte trará benefícios para sua sociedade. O suicídio altruísta pode acontecer de duas maneiras: a primeira delas é em culturas primitivas, onde a pessoa não é valorizada como um ser único. É dessa forma que acontece em regimentos militares, quando soldados, mesmo tendo a certeza do risco, vão para linha de frente, e sacrificam-se para a passagem do restante da tropa. O segundo ocorre em culturas onde um valor ideológico transcende aos
“Não é seguro estabelecer relação de
causalidade entre o abuso de drogas e o suicídio, mas certamente o prognóstico é agravado” cassiaa Mahado suscetível a impulsos. “Um indivíduo em depressão que faz uso de substâncias depressoras ao SNC pode potencializar seu estado psíquico e, fatalmente, terminar em tentativa de auto-extermínio”, conclui Cassiana. Porém, a constatação de tendências suicidas deve ser feita independente se há ou não abuso de drogas na situação, como 46
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Entendendo o suicídio Na obra “O Suicídio”, publicada em 1897, o sociólogo francês Émile Durkheim definiu três categorias para diferenciar os tipos de morte voluntária. A primeira delas é o suicídio egoísta. Durkheim constatou que este tipo de morte tende a ac-
indivíduos; é o caso dos homens-bombas, que se matam em nome de um ideal. Por fim, Durkheim classificou o suicídio anômico. O termo “anomia” significa ausência de lei; assim, o suicídio anômico ocorre quando há pouca regulação social. Nesse caso, a pessoa decide se matar porque as normas e leis daquela sociedade não correspondem às suas expectativas. A taxa deste tipo de suicídio é maior em tempos de crises financeiras ou sociais, quando a situação foge ao controle do governo. Aquele indivíduo que se vê abandonado ou à margem da sociedade, como mendigos, sem terras e desempregados, também podem acabar cometendo o suicídio do tipo anômico. Harakiri e o oriente Não é por acaso que a sociedade japonesa é regularmente associada ao suicídio. Historicamente, essa saga teve início com os guerreiros samurais, que se matavam ao ter a honra pessoal ferida ou o nome da família desonrado. É o ritual do Seppuku, popularmente conhecido como ha-
rakiri, que significa “cortar a barriga” (ou o estômago). Quando um samurai estava prestes a ser capturado ou se falhasse em proteger seu senhor em uma batalha e este acabasse sendo morto, ele deveria se matar através desse ritual. Apesar de ser extremamente doloroso, ao cometer o harakiri o samurai não poderia expressar nenhum tipo de dor ou medo, como previa o Bushido, código de honra destes guerreiros. Para realizar o harakiri o guerreiro deveria banhar-se para purificar o corpo e a alma, vestir uma roupa branca específica para o ritual, tomar uma xícara de saquê em dois goles, escrever um ou dois poemas de despedida, ajoelhar-se e, então, enfiar uma espada ou punhal no lado esquerdo da barriga, depois puxar para o direito e para cima, fazendo assim o desenho de uma cruz. Não muito distante dos samurais estão os kamikazes, soldados da esquadra aérea japonesa que se atiravam junto com suas aeronaves contra os aviões de seus inimigos durante a Segunda Guerra Mundial. Japoneses comuns, normalmente plebeus,
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A morte de Marat, de Davi
Jaes-Lois, em 1793, retratapitado o siídio
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Segdo a Orgaizao Mdial de Sade, até o ao de 2020 era de 15 milhões de pessoas vo tirar a prpria vida
cometem outro tipo de suicídio, conhecido como o Shinjyuu. No país existe ainda um termo específico para designar o suicídio de mãe e filho, o boshi-shinjyu. Outro tipo de suicídio, o ikka-shinjyu, diz respeito à morte voluntária de toda uma família. Já a China, de acordo com a OMS, registra cerca de 280 mil suicídios por ano, o maior índice de todo mundo. É a quinta maior causa de morte do país, porém a primeira em falecimento não natural. Mesmo assim, estes números são não atualizados, uma vez que não é um indicador que se tenha orgulho em alcançar. A Organização, porém, declara que em 50 anos
kheim, podem ajudar a identificar pessoas com tendência ao suicídio ou momentos em que o governo deve estar mais atento ao comportamento de seus cidadãos. Somente o próprio indivíduo, no entanto, pode se ajudar, e o sucesso no tratamento e na recuperação depende diretamente da autonomia na decisão de comprometer-se ativamente no processo. No caso do uso de drogas, quando a segurança da família e da sociedade em geral também está em perigo, Cassiana aconselha que pode ser requerido, judicialmente, a internação compulsória para tratamento médico e psicológico do sujeito. O amor e apoio da família em casos
omentou índice em de casos 60% em de todos morteosvoluntária continentes, auprincipalmente nos países em desenvolvimento.
paratendências de a recuperação suicidas do são indivíduo. fundamentais Assim, os familiares devem estar atentos à possíveis mudanças de comportamento, como irritabilidade, distúrbios alimentares e de imagem corporal, isolamento social e síndrome amotivacional. Mas é importante não se esquecer de que cada um possui seu direito constitucional de ir e vir – livre arbítrio. Afinal, quem foi que disse que viver é fácil?
Prevenir, não remediar Entender o que se passa na cabeça de um suicida só é possível através de muito estudo e ajuda profissional. Porém, alguns fatores como a depressão, o uso de drogas, e as três categorias explicadas por Dur-
Segdo espeialistas, a depresso e otros distrbios psiolgios levam ao síidio, mesmo sem o so de drogas 48
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De acordo com a Associação Mundial de Saúde, em 2005 a taxa de suícidios no Brasil, por 100.000 habitantes era: 7,5 para homens e 1,9 para mulheres.
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Jim Morrison – o voalista da
bada The Doors foi eotrado morto a baheira de sa asa em Paris, aps sofrer ma parada ardíaa idzida por heroía em eesso, em 3 de jlho de 1971.
Vincent van Gogh – mato-se o dia
27 de jlho de 1890 om m tiro o peito. O pitor, e j apresetava m estado depressivo, pioro aps semaas de itesa atividade riativa.
Elvis Presley – o ator foi eotrado
da Saúde) Dados da OMS mostram (Organização que ocorreMundial um suicídio em alguma parte do planeta a cada 40 segundos. Estima-se que de 10 a 20 milhões de pessoas tentem suicídio a cada ano.
iosiete o baheiro de se arto e levado para o hospital em Memphis em 16 de agosto de 1977. na oasio, os médicos armaram que a morte ocorre por atae ardíao idzido por barbitrios.
Marilyn Monroe – A atriz orte-ame-
riaa falee eato dormia, em
sua casa na Califórnia. A versão ocial
é de e a atriz sofre overdose pela igesto de barbitrios.
Kurt Cobain – em 5 de Abril de 1994 o líder da bada Nirvana se mato om
Carta de suicídio do músico Kurt Coubain
m tiro, a sa asa em Lake Washigto. Foram eotrados heroía e valim o orpo o ator, segdo o relatrio legista. múltipla
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o ã ç A C U D e
Psilogos, pais e edadores esto mais atetos ao omportameto das riaas para e atos de violêia otra os peeos o se torem oms
bullying o é briadeira
Teto de Gabriela Tioo, Jlio Vieira, Poliaa Abre e Viviae Arajo; Fotos de Aderso nape
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Jayme Borges, jornalista, foi gordinho dos 5 aos 15 anos de idade. Nesse período, era constantemente chamado de “baleia” e “rolha de poço” pelos colegas da escola, do inglês e da natação. Esse pode ser um caso típico de bullying, palavra oriunda da língua inglesa, do substantivo “bully”, que significa, literalmente, valentão. Entretanto, no meio acadêmico bullying quer dizer “todo o tipo de atitudes agressivas, verbais ou físicas, praticadas repetidamente por um ou mais estudantes contra outro aluno”, segundo a psicopedagoga Maria da Consolação Oliveira. Na época em que Jayme sofria com a violência psicológica, essas piadinhas e comentários podiam ser consideradas meras “brincadeiras” de criança. “Os professores muitas vezes me recriminaram especialmente os de educação física e os diretores e os inspetores não faziam nada, apartavam apenas quando estritamente necessário”, conta Jayme. Outra vítima de bullying foi o analista de sistemas André Coura. Além de gordinho, André era muito alto. A soma desses fatores fez com que ele se tornasse motivo de chacota para as demais crianças. Com a constante hostilização, André se tornou agressivo. Na escola, foi orientado pela direção a tentar dialogar antes de tomar qualquer providência contra os agressores. Mesmo contando com o apoio de seus pais, ele pelo e começou aalém evitar optou os locais nosisolamento quais era perseguido,
de ter passado a frequentar ambientes nos quais a sua altura e peso eram diferenciais, e não problemas. Segundo André, a dificuldade foi grande no início, mas, com o tempo, o problema foi reduzido. Hoje com 1,86m de altura e pesando 105kg, o analista de sistemas acredita que está perto do seu peso ideal.
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Dados Fato é que, recentemente, esses atos obtiveram destaque e passaram a ser encarados como forma de violência escolar, considerada extremamente prejudicial para o desenvolvimento psicológico e pedagógico de crianças e adolescentes. No Brasil, de acordo com pesquisa divulgada em abril desse ano pela organização não-governamental Plan Brasil, quase um terço dos estudantes brasileiros cursando entre a 5ª e a 8ª série do primeiro grau já sofreu maustratos. Ainda de acordo com a pesquisa, 28% dos 5.168 estudantes entrevistados foram agredidos em 2009. O mesmo estudo constatou, ainda, que a forma mais comum de bullying no Brasil é a cibernética, isto é, aquela cometida a partir do envio de emails ofensivos e difamatórios em sites de relacionamento como Orkut. Já de acordo com a psicóloga Kelly Azevedo, existem algumas pistas que podem ajudar a identificar tanto o agressor quanto a vítima do bullying. Ela afirma, por exemplo, que o agressor geralmente noção de respeito, se torna sarcásticoperde e passaa
criaas e adolesetes so as priipais vítimas do bllyig, pratiado pelos prprios olegas
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a não demonstrar nenhuma preocupação com o outro, enquanto a vítima se isola do convívio social ou se torna agressiva. Para a pedagoga e mestre em psicologia Maria da Consolação, o perfil do adolescente praticante coincide, normalmente, com o valentão que tenta constranger o outro, usando, para isso, relações de poder. Por outro lado, as vítimas são crianças que sofrem de baixa auto-estima, ou seja, pessoas que podem estar frágeis. Em seu consultório, a profissional atende adolescentes que começam a ser “zoados”, por meio de críticas ou frases depreciativas, devido a diversos motivos, como, por exemplo, ganho excessivo de peso, cabelo crespo, cor da pele, nível social, entre outros. Isto é, são aqueles que, geralmente, estão fora dos padrões culturalmente formatados e seguidos pela sociedade. Segundo a psicopedagoga Maria da Consolação, costuma ser difícil, para os professores, distinguir uma brincadeira inocente de um caso de bullying. Isso ocorre, principalmente, porque as vítimas têm muito medo de denunciar seus agressores. Já os pais apresentam dificuldade em aceitar que seus filhos sejam as vítimas ou agressores. A orientadora da Escola Municipal Frei Edgard Groot em Betim, no estado de Minas Gerais, Sandra Aníbal, conta um caso ocorrido na escola e que demonstra todas sores: as dificuldades “Havia umenfrentadas grupo de meninas pelos profesjá formado e bastante popular na escola. A líder impôs como desafio para outras meninas que quisessem participar do grupo, que elas andassem no período do intervalo com uma placa escrito ‘Chute-me’”. Os pais das meninas foram convocados para discutir a questão e propor soluções. No entanto, a mãe da líder argumentou que a filha não havia feito nada de errado. Causas O excesso de cobranças e responsabilidades impostas às crianças e adolescentes é, segundo a psicopedagoga, Maria da Consolação, um dos fatores que mais contribuem para a baixa auto-estima das crianças e adolescentes, tornando-os potenciais vítimas ou praticantes de bullying. Quem o pratica adota uma posição agressiva como forma de se sobressair, de sobreviver, enquanto quem o sofre são aqueles indivíduos mais frágeis, que não conseguiram criar instrumentos de defesa. A psicóloga Sônia Flores esclarece quais seriam os tipos mais comuns de atos praticados pelos bullys isto é, aqueles que praticam a ação , para ajudar pais e profes-
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sores a reconhecerem o problema: “Normalmente o agressor insulta a vítima com frequência e sem qualquer motivo, danifica sua propriedade, espalha rumores falsos, coloca a vítima em situação delicada frente a superiores, faz comentários depreciativos sobre a família da vítima, a isola socialmente, usa de chantagens
“Havia m grpo de meias j formado e bastate poplar a esola. A líder impôs como desao para outras
meias e isessem partiipar do grpo, e elas adassem o período do itervalo om ma plaa esrito ‘hte-me’” Sandra Aníbal ou ameaças, cria páginas falsas sobre a vítima em sites de relacionamento”. Sandra Prado afirma que para prevenir os casos de violência na escola são organizadas palestras com os pais. Porém, o mais eficaz tem sidoem orientar os próprios alunos e envolvê-los projetos de cidadania, mostrando e discutindo seus direitos e deveres no convívio social. Quando é constatado um caso como o relatado acima, a escola deve pedir aos pais que providenciem acompanhamento especializado para os filhos, pois infelizmente grande parte das escolas municipais não têm como oferecer tratamento psicológico para seus alunos.
Programa trabalha conscientização Milene Thomas, psicóloga e coordenadora do programa “Seja a Mudança. Lidando com o Bullying e Assédio Moral”, trabalha desde 2006 na prevenção do bullying nas escolas, universidades, empresas e grupos familiares. Ela explica como funciona o programa e quais são as suas maiores conquistas. O programa “Seja a Mudança” não lida somente com questões ligadas à prática do bullying. Fundado em 1987 nos EUA pelo e Yvonne St John, elecasal é um Rich trabalho voltadoDutra para o resgate de valores. A psicóloga atua sozinha no Brasil e diz sofrer muita resistência para obter investimento para o programa.
Milee Thomas, psiloga, oordeadora do projeto Seja a Mudança e espeialista o aompahameto e tratameto de asos de bllyig
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mitindo que jovens e adultos saiam do programa inspirados e capacitados para se tornarem líderes positivos em suas escolas e comunidades.
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Quais são as principais características do trabalho? Ele pode ser desenvolvido em qualquer lugar onde existam grupos de pessoas interagindo. É realizado com grupos de no mínimo dez pessoas e máximo
de Pode capacitar e adultos. As 30. atividades podemjovens ser implementadas durante o ano todo para que o espírito de união que se forma entre os participantes não se perca. As oficinas podem ter duração de seis, nove ou doze horas.
Revista Múltipla: Como você dene o programa “Seja a Mudança”? Milene: O programa tem como objetivo resgatar a aproximação entre as pessoas, utilizando-se de oficinas interativas, em que jovens, professores e membros da comunidade entendam que a compaixão e conexão são realmente possíveis. Temos jogos provocativos e discussões, o que permite fornecer aos participantes as ferramentas
Quais são as áreas e formas de abordagem utilizadas pelo programa? Os temas que trabalhamos no programa vão de opressão, o aluno novo, trabalho em equipe, poder, imagem corporal, sexualidade, à relacionamentos entre pais e filhos, fórmula da mudança, respeito, amizade, cooperação, união, resolução de conflitos e inclusão.
necessárias para que possame quebrar as barreiras de eles separação isolamento e construírem novos níveis de respeito e comunicação entre si. Para isso, criamos um ambiente de segurança, confiança e aceitação, per-
A abordagem dá abertaou e honestamente seja emseconversas debates, utilizando-se de recursos de vídeo, imagens e vivências, que são utilizados como estímulos para o grupo. O que é necessário por parte dos professores para o que o programa seja ecaz? O ideal é que o corpo docente já tenha sido capacitado pelas oficinas antes que elas sejam feitas com os alunos nas escolas. Se não for o caso, é necessário que todos queiram conhecer o trabalho, participem das oficinas com os alunos e continuem o trabalho dentro da escola. E para os alunos, o que é nece ssário para o que o programa seja ecaz? A participação dos jovens é o que o programa precisa para ser eficaz. Uma vez que eles têm a oportunidade para falar sobre as questões que os oprimem, e participar do programa “Seja a Mudança”, eles naturalmente se tornam agentes multiplicadores do programa.
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cRIAçãO: ISABELLA BARRROSO
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a melhor idade para
viajar
Idosos deiam para trs o sedetarismo e a solido para ivestir em atividades de lazer Teto de Gilherme Leo, Hélio Leo e Jlia câdido; Fotos: Jlia câdido 54
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Em uma quinta feira chuvosa, trinta idosos trocam gargalhadas e passos de dança ao som da dupla sertaneja Rony e Roniele. Nesse ambiente, no centro de Belo Horizonte, também há uma mesa repleta de frutas, bolachas, bolo de chocolate e refrigerante. Ingredientes de uma receita deliciosa: a amizade. Regada a descontração e passeios, a amizade é o sentimento que motiva as reuniões semanais do Grupo de Convivência Amigos Melhor Idade. “Nossos passeios são diferenciados, por isso os especiais são lotados. A gente brinca, tem pagode, uma programação cultural intensa. Ninguém gosta de ficar parado!”, exalta um dos fundadores do grupo, o senhor Ilmar Costa, que já vendeu quase todas as vagas da excursão de carnaval para o litoral do Espírito Santo. Para a atriz e dançarina Arlete Luiz de Barros, 60, o Amigos é uma família. A artista começou a carreira aos 40 anos e atualmente é voluntária no grupo. Com um sorriso animador e um semblante tranquilo, Arlete conta que seu trabalho é distrair e divertir os outros, além de ajudar. Tudo com muito amor e carinho. “Se todo mundo tivesse carinho com as pessoas, não só com os idosos, o mundo seria melhor”, observa a atriz. Arlete de Barros revela que várias pessoas do grupo nunca tinham entrado em
e a angústia, por isso a animada dançarina “pretende levantar muita gente”. A solidariedade entre os idosos é uma característica desta faixa etária. “É interessante ver como eles se preocupam uns com os outros e ajudam no nosso trabalho, pois avisam se alguém não está presente ou se não se sente bem”, destaca a guia turística Cássia Amormino Rocha. Para a guia, a pontualidade, o respeito com o profissional e o interesse que os idosos demonstram em aprender sobre a história do local e as peculiaridades das regiões são algumas das vantagens de trabalhar com estas pessoas. Bengala, cama, solidão e sedentarismo não são termos associáveis a estes idosos. Nos últimos anos, a terceira idade tem se consolidado como uma faixa etária ativa que, mesmo com alguma limitação, tem plena capacidade de realizar atividades interativas. A expectativa de vida saltou de 30 anos em 1900 para 73 anos em 2009. Mas essa longevidade nem sempre é perfeita e sem dificuldades. Ainda há o estigma de que o idoso deve ficar enclausurado em casa, sem autonomia e, muitas vezes, infantilizado pela família. É nesse ambiente que as atividades de lazer entram em cena e contradizem velhos conceitos. Segundo a gerontóloga Marília Oliveira Santos, 38, as atividades
um ônibusdedeirviagem agoraetêm a oportunidade para aepraia dançar ao som de música ao vivo. “As viagens são muito tranquilas, os mais ‘novos’ e fortes ajudam os outros. Se forem dançar e o salão estiver muito cheio a gente abre para o mais idoso dançar”. Para a atriz, o que faz uma pessoa ficar velha é a tristeza
recreativas um dos fatores responsáveis pela são sociabilização, auto-estima, saúde física e psicológica dos mais velhos. A depressão, vista por muitos especialistas como o “mal do século” para a terceira idade, pode ser amenizada com as atividades de lazer. A participação em viagens insere este
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Itegrates do Grpo de covivêia “Amigos Melhor Idade”: eviages, lazer, diverso sade
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público em um meio em que se sentem capazes, tornando-os mais seguros em suas atividades cotidianas. Grande parte dessas pessoas apresenta melhoras sob males comuns à terceira idade como, por exemplo, a depressão. É o que relata a senhora Maria das Mercês Silva Ferreira, 81, que, após uma viagem com uma empresa especializada em turismo para a terceira
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“Gosto de car livre, de bate-papo e das reuniões de dança” Lordes Sataa idade, livrou-se da depressão. “Por dentro, todos nós que temos acima de 60 anos, temos é 16. Sentimos uma alegria que não tivemos a oportunidade de sentir no passado”, enaltece Maria. A professora de português Maria Morais, conhecida como Naná, esbanja um olhar encantador, formado por belos olhos azulados. “Eu viajo somente nos passeios de curta duração. Quando é para dormir eu não vou, pois não gosto de passar a noite fora de casa”. Já sua vizinha Clarice Mafra Macedo é extremamente vaidosa. Com
Oportidade de viajar ajdo Maria das Merês a se livrar da depresso 56
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joias e maquiagem a tiracolo, apresenta um vasto currículo de viagens, já que não tem outras preocupações. “Viajamos para o Brasil todo, de Norte a Sul. Fomos de avião para Porto Alegre, Gramado, Santa Catarina e Camboriú”. Cuidados especiais Apesar de serem organizadas e trazerem benefícios, as viagens normalmente são feitas sem a presença de um profissional de saúde. A maioria das agências de turismo alega que a contratação inviabilizaria o preço da viagem. A ausência desse serviço é sentida por alguns idosos, como a dona de casa Maria das Dores Perdigão, 74, integrante do grupo Amigos. Ela viaja, normalmente, de 5 a 6 vezes por ano e conta que esses passeios algumas vezes são marcados por acontecimentos imprevisíveis: um amigo dela faleceu na volta de Aparecida do Norte. Eles estavam próximos à cidade de Oliveira e não havia nenhum profissional da saúde. Entretanto, é comum empresas terem fichas que apresentam um histórico de saúde dos idosos. Assim, alguns cuidados são peculiares ao convívio com esse público: evitar quedas, passeios por lugares planos, prática de alongamentos, uso de bonés, sapatos leves, ter sempre uma garrafa de água por perto e lembretes referentes a medicamentos com hora marcada. O público da terceira idade possui uma notória carência afetiva. Por este motivo, as empresas devem estar preparadas para ter sempre atendentes disponíveis para um bate-papo antes, durante e depois do fechamento de algum negócio. Conversar é realmente uma das atividades com que o idoso mais se identifica. A aposentada Lourdes Conceição Santana, 74, mora no bairro João Pinheiro, em Belo Horizonte, e para conviver com pessoas da mesma faixa etária freqüenta, em Contagem, o grupo Bem Viver. “Sempre viajo com o pessoal da terceira idade. Aparece uma oportunidade e vou embora”, comenta dona Lourdes, que não dispensa novas amizades e ambientes diferentes. “Gosto de ficar livre, de bate-papo e das reuniões de dança”. A sorridente senhora, que sempre gostou de seresta e forró, está ligada às atividades proporcionadas nas viagens. “Uma vez participei de um bingo que tinha três celulares e eu ganhei um. E olha que era de uma operadora boa”, comemora. Em uma das viagens, Lourdes se lembra de uma co-
Os idosos aproveitam a itesa programao ltral elaborada pelo Grpo “Amigos” para os passeios
incidência prazerosa. Conheceu um simpático senhor de 94 anos, que ao contar as histórias sobre a cidade de Contagem, descobriram que a mãe de Lourdes era prima dele. Assim como Lourdes, existem 15 milhões de brasileiros que estão na melhor idade, o que equivale a 8,6% da população. Segundo estatísticas, este número poderá dobrar daqui a 20 anos.2 milhões Em Minas Gerais, aproximadamente de indivíduos já se encontram na terceira idade, ou seja, têm mais de 60 anos. Além de Caldas Novas, as estâncias minerais, Aparecida do Norte e Holambra, na época da festa das flores, são alguns dos destinos mais visitados. Locais como hotéis fazenda, museus, igrejas e cachoeiras também recebem a atenção dos idosos. Normalmente as empresas de viagens dividem essas pessoas em dois grupos: os que têm idade entre 65 e 70 anos, que preferem atividades que requerem movi-
“É interessante ver como eles se preocupamnouns comtrabalho” os outros e ajudam nosso cssia Amormio Roha mento como caminhadas, hidroginástica, passeios, danças; e o outro grupo, entre os 70 e 90 anos que, muitas vezes, querem apenas tranqüilidade.
Condições nanceiras A prática de viajar entre os idosos deve-se a uma série de fatores como, por exemplo, disponibilidade de tempo e de capital, uma vez que grande parte desse contingente já encerrou ou diminuiu os gastos que antes destinavam a outros setores da economia. Outro ponto importante é a maior conscientização por parte desse público no que se refere à importância da atividade física e do lazer como fatores que contribuem para uma melhor qualidade de vida. Cada vez mais, a inatividade e o sedentarismo são criticados pelos especialistas e médicos. Isso permite que o turismo se destaque como uma alternativa não somente de lazer, mas também, de saúde. Entretanto, nem todos os idosos possuem condições financeiras para viajar. “Tem muito aposentado que está atolado por causa de dívidas com viagens”, alerta a diretora do sindicato dos pensionistas Luiza Martins. Para ela, é inadmissível que a lei federal do estatuto do idoso forneça descontos para viagem somente para quem ganha um salário mínimo. “Por isso faço constantemente viagens de manifesto. Toda vez que eu tiver uma oportunidade vou fazer pressão, senão os governantes não fazem nada”, desabafa Luiza. Já para a atriz Arlete de Barros,
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opara grupo Amigos“Eles oferece mais condições os idosos. se preocupam com o pessoal que tem uma renda menor. Já as agências de turismo não”, destaca. A indústria do Turismo tem o que comemorar. De acordo com dados disponibilizados pela Embratur, a receita acumulada no Brasil até setembro de 2010 é 14% maior do que a referente ao mesmo período de 2009. Este crescimento é parte de uma tendência de segmentação do mercado. Hoje, especialistas em marketing abordam a importância das empresas não se voltarem somente ao lançamento de pacotes turísticos. Alertam também para a necessidade de criarem novas opções de relacionamento com seus clientes e oferecer um serviço diferenciado voltado às reais necessidades de um público específico. As agências de viagens já atentaram para esta realidade. Atualmente, oferecem pacotes especializados ao atendimento das expectativas referentes ao público da melhor idade, que tem se mostrado bastante apto ao turismo. Assim, quem ganha são os idosos, que podem viajar e aproveitar esse momento da vida de forma descontraída e prazerosa. múltipla
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vapor de
minas uma viagem as gas do rio So Fraiso a bordo do ltimo baro movido à leha o mdo Teto de Igor Frais, Lis Herie Evagelista, Pedro Amério, Poliae Alves e Raphael Roha
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caldeira iagrada em 2006, prodz o vapor e move o baro
Em Pirapora tudo é contraste. Ao chegar ao pequeno município situado a 350 km de Belo Horizonte, rumo ao norte de Minas na região do médio São Francisco, é possível perceber como uma terra que nunca foi alvo de investimentos públicos de grande porte se posiciona diante de uma nova realidade econômica proporcionada pelo turismo. As casas e a gente simples do lugar contrastam com o grande
Após um breve tour seguimos para o local onde fica aportado o Benjamim Guimarães, atualmente o único barco a vapor em funcionamento no mundo. O barco é responsável por fazer boa parte da fama da cidade e, também, pelo movimento de turistas que vão até lá somente para conhecê-lo e viajar pelo velho Chico.
todo país e até movimento de do turistas exterior. e carros vindos de Situada em uma região central onde a temperatura fica em torno de 38 graus diariamente, a cidade faz com que os moradores busquem formas de amenizar o calor. Essa tarefa se torna menos complicada pelo fato de Pirapora ser cortada pelo Rio São Francisco, que de uma margem a outra possui cerca de 250 metros de água corrente. Nas margens do rio existe uma espécie de “Piscinão de Ramos”, onde a população se esbalda nas águas geladas do São Francisco. O lugar tem pequenas quedas d’água que se transformam em um play center para a garotada, que dá cambalhotas enquanto solta gritos de alegria e satisfação. Às dez horas de um sábado a cidade já estava acordada e cheia de gente nas ruas, como em qualquer grande centro urbano, o que é de se estranhar, já que o município tem população que não ultrapassa 52 mil habitantes. Talvez seja o calor, que não deixa ninguém ficar dentro de casa, o responsável por tanta movimentação.
tados O barco Unidos foi construído e, inicialmente, em 1913navegava nos Esno rio Mississipi, localizado no estado de mesmo nome naquele país. Trazido para o Brasil na segunda metade da década de
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História Poplao observa o ltimo baro a vapor em fioameto o mdo
FOTOS: ARquIVO PESSOAL O m IS R u T
A embarao se prepara para mais ma viagem pelo Rio So Fraiso, levado em média de 120 a 150 passageiros à bordo
1920, pela empresa Júlio Guimarães, a embarcação navegou na região amazônica e depois foi desmontada e transportada para o rio São Francisco. Montado no porto de Pirapora, o barco recebeu o nome de “Benjamim Guimarães”, homenagem ao pai do proprietário da empresa que o adquiriu. Na região, o Benjamim Guima-
perguntas que, certamente, não é a primeira vez que ouve. O senhor. Cassiano será nosso guia dentro da embarcação. Ele possui experiência de 48 anos como navegador e há quatro, está no comando do Benjamim Guimarães. Atualmente, o Benjamim vai de Pirapora até São Romão, passando por Barra
passaram, rães, bem como são conhecidos outros vapores popularmente que por ali como “gaiolas”. Em 1985, o barco foi tombado pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha) e recebeu a primeira reforma. Em 1997, o Benjamim foi incorporado ao patrimônio histórico do município de Pirapora e ficou parado por sete anos no porto da cidade. Somente em 2004 o Vapor voltou a navegar em passeios de curta distância.
ga, Guaicui, do no total de Ibiaí 169equilômetros. Cachoeira doEsses Manteipercursos são os mais longos e duram cinco dias. Nessas viagens a tripulação é de 16 pessoas, enquanto nas de menor duração são apenas 12 pessoas para administrar e cuidar de todos os detalhes. O vapor faria uma viagem no dia seguinte ao de nossa visita. Iria de Pirapora até Barra do Guaicui, com duração média de duas horas, mas toda a equipe cuidava para que nenhum detalhe fosse esquecido. Passeios curtos custam R$ 30 por pessoa e estão em conta, ao considerar que são servidas refeições e bebidas ao longo do percurso. Começamos nossa visita pela casa das máquinas, no primeiro convés, onde fica estocada a madeira para a queima da fornalha. O comandante mostra todos os detalhes da renovada embarcação. Ele aponta a nova caldeira responsável por produzir o vapor, implantada em 2006. O vapor do Benjamim é provocado por uma fornalha, que é alimentada por eucaliptos de reflorestamento e consome cinco metros da madeira por hora de funcionamento. Indagamos ao comandante sobre uma
O Benjamim Guimarães é responsável
por fazer boa parte da fama da cidade e, também, pelo movimento de turistas Subimos a bordo e quem nos recebe é o comandante, Cassiano José de Castro. Ele está bem disposto e animado com nossa visita. Apesar de já estar acostumado ao assédio da imprensa, ele nos trata com toda a atenção e se dispõe a responder
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Sala de estar, ode so servidas bebidas drate a viagem pelo rio So Fraiso
grande placa na margem do rio com o número 1982. Segundo ele, a placa indica o quilômetro exato do São Francisco em que o Benjamim está ancorado. Cassiano mostra ainda os camarotes, que contam com beliches, uma vez que são proibidas camas de casal. Vamos a uma sala de estar com sofás feitos de madeira e acolchoados com confortáveis almofadas. No local há um bar onde são servidas as bebidas durante a viagem. Em um cantinho, não muito escondido, estão os coletes salva-
para a coleta seletiva do que for descartado pelos passageiros. Do outro lado, na proa, está o restaurante com 12 mesas para o momento das refeições. No terceiro convés, o Sr. Cassiano nos apresenta o “bambuzinho”, local onde as pessoas dançam e ouvem música, uma espécie de boate a bordo. Somos levados da popa à proa do navio, que ostenta vigor e durabilidade em suas estruturas. O cuidado com a limpeza é uma exigência a mais da tripulação que trabalha com es-
vidas para o caso das emergências depois da reinauguração do barco, que, não aconteceram. A administração tem uma preocupação especial com a natureza. Por todo o segundo convés existem tambores
paraespecialmente a recepção dospara turistas, que vãoo àmero cidade conhecer último vapor em funcionamento no mundo. Saímos do barco para que a tripulação pudesse continuar com os preparativos da
comadate cassiao José de castro est h atro aos o omado do baro
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viagem, e no dia seguinte voltaremos para acompanhar o barco zarpando. Estórias Após desembarcarmos do Benjamim, saímos pela cidade para apreciá-la um pouco mais e descobrir o que tem a oferecer aos visitantes. Na região central, onde ficam localizados vários bares e restaurantes, conhecemos o garçom Edson Laureano Souza, que durante 17 anos viveu fora por não encontrar emprego no município. Ele voltou a viver em Pirapora porque esperava encontrar condições melhores das de quando comoE por exemplo, emprego e bonssaiu, salários. ele acredita ter encontrado. Na opinião de Souza, o grande responsável pelo crescimento econômico da cidade é o turismo, em grande parte, motivado pelas visitas ao Vapor Benjamin Guimarães. A população da região não tem a exata noção do quanto depende do rio para a sobrevivência. Allan Marcelo Ribeiro Sasdelli, gerente de relacionamentos do maior hotel da cidade e região, atribui 60% do faturamento ao funcionamento do barco. Em 35 anos de existência, o Canoeiros consegue manter uma média de 100 hóspedes, em função do turismo gerado pelo Benjamim. O dono de um dos restaurantes mais
badalados da cidade, Egnaldo de Araújo Júnior, acredita que é Barbosa necessario
“informar melhor os turistas”. Para ele, falta informação e um ponto de apoio ao turista na cidade. Egnaldo, eleito vereador nas últimas eleições, pretende criar um plano de divulgação midiática que atraia mais turistas para o município. O proprietário atribui cerca de 10% do faturamento ao movimento gerado pelo barco e, nos finais de semana, esse fluxo é responsável por 50% dos rendimentos do restaurante, “o que poderia ser melhor se houvesse uma melhor divulgação da cidade e seus atrativos”, acredita.
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“Estou muito ansiosa para embarcar e saber qual é a sensação de se andar em um barco desses” Maria da Graa Em outro ponto, na Praça São Pedro, conhecemos um antigo morador, senhor. Pedro Adalberto Santos, que nos contou sobre outros vapores que navegaram em épocas passadas no São Francisco. Segundo ele, a maior embarcação era o Raul Soares, que não sobreviveu ao tempo e foi desativada. Ele explica que os barcos transportavam de tudo, pessoas e cargas para a região norte de Minas e nordeste do Brasil. O pai dopor senhor Pedro era foguista, o responsável controlar a fornalha, FOTOS: ARquIVO PESSOAL
Plaa idiado o ilomêtro eato do Rio So Fraiso, o orte de Mias,em e o baro, Bejamim Gimares, est aorado múltipla
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onde é queimada a madeira que aquece a caldeira e gera o vapor. Na época, por ser criança e ter que estudar, ele não podia passear por muito tempo com o pai a bordo do navio, salvo nas férias, quando toda a família se reunia para uma viagem. O senhor Pedro, atualmente com 12 netos, pretende reunir todos e fazer um passeio como nos velhos tempos. Conversamos também com uma moradora que reside há 26 anos em frente ao cais onde o Benjamim Guimarães está aportado. Maria Emília Malladeli, funcionária do Ibama (Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis) na região, informa que o rio sofre com o assoreamento das margens devido ao desmatamento das matas ciliares, e que tem perdido a profundidade do leito. Ela se mostrou contra a transposição do São Francisco. Na opinião dela, os responsáveis deveriam acabar com o desmatamento e aumentar a profundidade do rio para depois pensar em transposição. “Primeiro se deve molhar as mãos para depois passar o sabão, e eles estão fazendo justamente o contrário”, comenta. No dia seguinte, às dez horas da manhã, voltamos ao porto. Dessa vez, encontramos o comandante já devidamente far-
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dado, somente aguardando o momento da partida. Maria da Graça, de São Paulo, veio somente para conhecer o barco. Ela conta que já tinha ouvido falar muito sobre o Benjamim e resolveu conhecê-lo pessoalmente. Ao subir na pequena passarela que leva à embarcação, confessa: “estou muito ansiosa para embarcar e saber qual a sensação de se andar em um barco desses”. O Benjamin começa a soltar no ar o vapor e o singular apito que informa a partida. O responsável por guiar os turistas que chegam à cidade através de uma agência, Delin Brasil, que também é o diretor de museus e eventos culturais da Secretaria Municipal de Cultura, informa que pessoas do mundo inteiro já visitaram o barco. No dia da entrevista havia uma família de suíços visitando-o. Delin explica que a cada passeio embarcam, em média, 120 a 150 passageiros, dos quais pelo menos 100 vão à cidade somente para conhecer o Benjamin. A embarcação começa a se mover lentamente rio acima para realizar uma manobra e, depois, descer o rio em direção ao município de Barra do Guaicuí. Soltando o sonoro apito, o comandante leva o barco rumo a mais uma viagem.
Restarate do Bejamim possi doze mesas dispoíveis aos viajates
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Estdates e hefs apresetam os rsos de gastronomia, além dos prazeres e diculdades da prossão de cozinheiro
sabor
o saber do
Teto de Ferado Jeira, Gabriel Ribeiro, Gabriela Sthefaia e Tiago Alves Fotos: Tiago Alves
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O mercado de trabalho se torna cada dia mais seletivo e exigente. Essa constatação, ligada a dois prazeres e necessidades da vida - comer e beber -, ajuda a explicar porque instituições de ensino,
essa decisão, as pessoas tinham vergonha de afirmar que faziam o curso de cozinheiro. “Hoje, os conceitos mudaram, falar que se faz culinária é um glamour, inclusive mudou-se o perfil dos alunos, a maior
gastronômico em todo o país,para têm criado formarcursos profissio-nais no setor capacitados e qualificados para exercer sua função com presteza e excelência. A gastronomia, ao contrário do que o senso comum imagina, não trabalha apenas com alimentos, mas abrange todos os aspectos culturais e técnicos a eles associados. Para romper alguns mitos em torno da cozinha, o mestre em gastronomia Jackson Cabral, coordenador de Turismo e Hospitalidade, do curso de MBA em gastronomia do Senac Minas, apresenta alguns elementos que diferem a gastronomia da culinária. De acordo com Jackson, correspondem à culinária as técnicas e processos da preparação dos alimentos. Já a gastronomia envolve o todo: o alimento, a bebida, o ambiente, a apresentação do prato, a forma como se come, a nutrição, a higienização e os serviços prestados pelos restaurantes. Enfim, toda a gestão e a preparação dos alimentos e bebidas. Jackson, que é formado, também em administração de empresas, conta que há 12 anos decidiu mudar o rumo de sua vida e deixou o escritório, onde trabalhava na área financeira, para dedicar-se à cozinha. Ele diz que, na época em que tomou
O mestrehoje procura emégastronomia de pessoas deafirma classe ainda alta”. que “isso aconteceu porque antes o cozinheiro era considerado um mero executor de suas tarefas. Ao longo dos anos, os clientes ficaram exigentes e, então, estes ‘executores’ procuraram se capacitar”. “O glamour é uma constante na cozinha, mas por trás dele existe uma rotina pesada. Só quem gosta verdadeiramente do ofício consegue levar à frente essa profissão. Não existe prazer melhor do que fazer as pessoas sentirem prazer ao se alimentarem”, afirma a coordenadora do curso tecnólogo em gastronomia, de uma faculdade da capital, Nádia Lúcia Antunes do Carmo. Com o objetivo de capacitar profissionais para a gestão de negócios, desenvolvimento estratégico e controle de alimentos e bebidas, o curso tecnólogo em gastronomia chama a atenção por sua grade curricular. Os alunos adquirem senso crítico de maneira a acompanhar as novidades da gastronomia mundial. E para quem achava que esses estudantes ficavam apenas na cozinha, saiba, leitor, que matérias como ‘introdução à economia’, ‘língua portuguesa’ e ‘história’
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também fazem parte da grade curricular, como informa a coordenadora Nádia. “O curso tecnólogo em gastronomia tem a duração de cinco semestres e é bastante requisitado. As turmas estão sempre lotadas, antes somente por profissionais que já estavam engajados no ramo.”, E continua: “atualmente os leigos também têm procurado as instituições para aprenderem o ofício
cozinhar. Por acaso tive a oportunidade de conhecer o curso superior em gastronomia e me apaixonei.”. A estudante conta ainda que para ser tecnólogo exige-se estudo, requer saber lidar não só com a cozinha, mas também com conceitos e aplicações de administração, logística, história de alimentação; isso se torna um diferencial. Matérias como marketing e finanças
da O gestão professor dos alimentos e instrutor e bebidas”. do curso de cozinheiro do Senac Minas Caetano Sobrinho é graduado em gastronomia e, segundo ele, o aluno não pode parar de estudar nunca. “Muitos estudantes pensam que o curso demanda apenas aulas práticas. A pessoa que quer se dedicar ao curso tem que se manter informada e estudar. Afinal, existem muitas escolas de gastronomia e a concorrência no mercado de trabalho é acirrada”, lembra Caetano.
mercado em capacitam os expansão. gastrônomos Segundo a lidar dados comdao Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), em Belo Horizonte existem aproximadamente 12 mil estabelecimentos do setor de alimentação fora do lar restaurantes, bares, cafeterias, lanchonetes, buffets, casas noturnas - que empregam mais de 72 mil profissionais na área da gastronomia, que envolve desde os chefes de cozinha aos garçons, o que totaliza um movimento financeiro em torno de 216 milhões de reais a cada mês. “Tudo na cozinha é técnica, porém, é necessário que o estudante compreenda noções empresariais para que possa apreender todos os passos da boa e completa gastronomia”, afirma a coordenadora do superior tecnólogo, Nádia Antunes. Ela relata também que alunos proprietários de restaurantes e buffets procuram o curso para se aprimorarem e descobrirem novas oportunidades dentro da gastronomia. Já os leigos, porque são apaixonados por cozinha e têm a profissão como um sonho. Na visão de Nádia, não saber cozinhar não os impede de entrar no curso. Só no Senac Minas existem cerca de 30 a 40 cursos de capacitação na área gas-
Cursos José Ricardo está no último ano de faculdade e conta que, no início, muitos colegas abandonaram o curso quando perceberam que o embasamento teórico era primordial ao gastrônomo. Além disso, o aluno, empresário na área de buffet da capital mineira, atribui algumas características ao ofício gastronômico: ter aptidão na prática da cozinha e gostar de exercer a ocupação. Com 19 anos, a aluna Lorena Leroy se enquadra nesse novo perfil de profissional da gastronomia. “Sempre gostei de estar em uma cozinha, assim como sempre fui comunicativa e queria ir além de apenas 68
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Da eserda para a direita: a ala Lorea Leroy prepara os alimetos; o istrtor e hefe de oziha Adriao Satos e alos do rso de oziheiro do Sea Mias
“Só quem gosta verdadeiramente do ofício consegue levar à frente essa prossão” Nádia Lúcia do Carmo
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Curso básico
O curso de Cozinheiro básico tem a proposta de capacitar prossionais em procedimentos básicos de
cozinha, de forma a atender à legislação vigente e as normas de segurança.
O prazer em ozihar é reisito fdametal para igressar os rsos
tronômica, que habilita desde garçons a chefes de cozinha. Os cursos mais procurados são o de cozinheiro, MBA e primeiros passos na culinária. Segundo diagnóstico do coordenador do Senac Caetano Sobrinho, o cargo mais alto que um profissional da área pode alcançar em uma empresa, por exemplo, é o de gerente de alimentos e bebida. Já em um restaurante, é o de chefe cozinha. primordial para um O de pré-requisito aluno ingressar na vida gastronômica tem que ser o prazer em lidar com a função. Afinal, a gastronomia é uma manifestação cultural, é uma forma de se expressar. Saber fazer o sabor não é tarefa fácil, demanda tempo, vontade e dom. Os profissionais da gastronomia se envolvem com uma arte nobre e só com vontade conse-guem passar sabor ao saber que possuem.
O curso envolve disciplinas como Organização e manutenção de cozinha, fundamentos de turismo, saúde e segurança no trabalho, noções de nutrição, elaboração de cardápios, dentre outros. Ter 18 anos ou mais, 6ª
série completa e aprovação em processo seletivo são as exigências básicas para ingressar no curso. Carga horária: 400h Investimento: R$ 2.800,00 Site: www.mg.senac.br
Culinária na TV paga Para em o er gastar om rsos de gastroomia, a dia é aompahar os programas de Jamie Oliver e nigella. Jamie Oliver
nigella Lawso
O hef mais famoso da Iglaterra é oheido o Brasil por se programa o aal de TV paga, GnT. Jamie esreve diversos livros, detre eles The naked chef, The return of the naked chef, Happy days with the naked chef, The naked chef
Joralista britâia e hef de oziha, nigella esia reeitas aseiras e tres de oziha em se programa de liria, semaalmete, o GnT. nigella é atora de livros omo o Ni-
takes off, Jamie´s kitchen.
gella Kitchen e Nigella Bites.
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comida japonesa: ma igaria siglar
Os pratos gaham adeptos pelo sabor e alidade araterístios da gastroomia do sol asete Teto: carolia Ferades, Jliaa Sieira e Lara nassif; Fotos: carolia Ferades
Rica e saudável, a culinária japonesa é reconhecida internacionalmente como
imentos. Sendo assim, eles estão presentes, praticamente, em todos os pratos. Por este
umatodos cozinha quecomponentes. prima pela Os harmonia de os seus profissionais que fazem o preparo das iguarias japonesas, os chamados sushimans, dão prioridade a ingredientes frescos, além de servir todos os pratos e apresentá-los em quantidades limitadas, com muita sensibilidade e um cuidado todo especial. A comida japonesa possui a característica de ser leve e quase sem temperos, visto que, desta forma, as pessoas podem apreciar o gosto real dos alimentos. De acordo com o sushiman Guilherme Michelan, os sabores dos pratos japoneses são feitos à base de sal e o sushi feito com vinagre e açúcar – tempero do arroz, ou melhor, “gohan”. “Também é interessante como os japoneses utilizam e preparam alimentos à base de soja. Como, por exemplo, o tofu, que seria um ‘queijo’ de soja e, também, o shoyu, que é aquele líquido escuro e salgado à base, é claro, de soja, que serve para substituir, muitas vezes, o sal”, ressalta Guilherme.
motivo, muitas cardápio é feito pessoas somenteacreditam à base de que peixeo cru. Mas o proprietário de um restaurante japonês, Rafael Perdigão, desmente o mito. “Além de peixes crus, há muitas peças que são grelhadas, fritas, com frutas e peças com frutos do mar cozidos. Então, nem toda comida é crua. Mas a grande sensação dos amantes da comida japonesa é o sashimi de salmão e atum, que é uma das peças que mais saem na casa e que exige um paladar acostumado a esse tipo de comida”, afirma Rafael. Assim como o proprietário, o sushiman Guilherme acredita que o campeão de vendas também é o sashimi de salmão e atum, além do Temaki, que é um sushi em forma de cone. Ele ainda afirma que, com estas iguarias, geralmente, as pessoas costumam pedir como prato de entrada o shimeji na chapa, que é um tipo de cogumelo muito saboroso e bastante leve. No que diz respeito aos pratos crus e frios, há opiniões diversas. “Muitas pessoas, principalmente as mulheres, não gostam muito desses pratos, porque dizem que a comida é gelada. Então, eu descobri que os brasileiros gostam mesmo é do hot hoou, que é um sushi frito”, observa
Além do peixe As algas e os frutos do mar são elementos de destaque na cozinha oriental, pois é do mar que o Japão retira os principais al70
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o sushiman. E quem concorda com ele é a cliente Stephane Guimarães. Para ela, o que mais lhe atrai na cozinha oriental são os pratos grelhados, fritos e cozidos. Já para Nilda Maria da Silva, os pratos que mais lhe chamaram atenção desde a primeira vez que os saboreou foram os pratos frios, como os sushis e sahimis. “Eu gosto muito porque é bastante diferente do que a gente come, na maioria das vezes, em casa como o arroz, feijão, batata frita e bife. São pratos que se diferenciam tanto no tempero quanto no modo de fazer os pratos ocidentais”, afirma a cliente. Quanto ao modo singular de preparo dos pratos, o sushiman Guilherme Michelan se diz fascinado com a arte de trabalhar com as mãos, juntamente com os cortes perfeitos e precisos, além da combinação de cores, a delicadeza, o sabor diferenciado e especialmente com a imagem belíssima de cada peça. E foi por estes e outros motivos, como a questão de serem escassos os restaurantes japoneses na região de Contagem, em Minas, que o proprietário Rafael, decidiu investir no ramo há cerca de três anos e descobriu
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nesta culinária um grande negócio. “Eu vi uma necessidade em abrir um restaurante em Contagem por não ter nenhum aqui. Eu adoro comida japonesa e era cliente de vários restaurantes em Belo Horizonte. Mas a minha grande dificuldade era a de ter que ir a BH para comer, pois enfrentava trânsito e ainda tinha a questão da falta de vagas em estacionamentos”, ex-
“Na época em que meu mestre foi atrás para aprender o ofício, foi difícil conseguir um lugar ao sol” Gilherme Mihela plica Rafael. Quanto ao mercado de trabalho, o sushiman acredita que é bastante competitivo por ser um ramo do alto padrão da gastronomia, embora ele acredite que só tem lugar nele quem é realmente apaixonado pelo que faz.
Menu oriental completo Sushi Prato da culinária japonesa que se srcinou a partir de uma antiga técnica de conservação da carne de peixe em arroz temperado com molho de vinagre, açúcar e sal. Ele pode ser combinado com alguma espécie de peixe, frutos do mar, vegetais, frutas ou ovo.
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Sashimi Iguaria que contém peixes e frutos do mar muito frescos, fatiados em pequenos pedaços e servidos apenas com algum tipo de molho. Ele é quase sempre o primeiro prato em uma refeição formal japonesa.
Simeji É um cogumelo rico em vitaminas B-12, cultivado em países orientais. Tem duas variações, popularmente conhecidos como shimeji preto e shimeji branco. Pode ser encontrado fresco ou desidratado e é consumido em pouca escala no Brasil. A liria japoesa é famosa por ses pratos frios, omo sshis, mas também tem diversos pratos etes mito saboros, espeialmete algs tipos de are
Shoyu Nome dado ao molho, que contém proteínas e vitamina B, de srcem chinesa feito a partir da fermentação de grãos de soja e utilizado na preparação de pratos como yakisoba, por exemplo.
Hashi ou f achi São os pauzinhos ou palitinhos utilizados como talheres pelos orientais. Eles são feitos, geralmente, de madeira, bambu, marfim, plástico ou metal. O par de varetas é manueado com a mão direita, entre o dedo polegar e os dedos anelar, médio e indicador. múltipla
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ciêia eplia o e difereia o gosto das omidas feitas os típios foros das fazedas dos alimetos preparados em foros oms
tradicional sabor do fogo a leha
Teto de Federio Müller, Igor Daiel, Prisila Robii e Rbes Ferades; Fotos:Aderso nape e Prisila Robii No domingo, a cozinha é o ponto de encontro da família inteira. O grande fogão a lenha é aquecido e as panelas de ferro colocadas em seus devidos lugares. A colher de pau que vovó Marly usa para misturar o feijão é a mesma que dosa o tempero. Enquanto isso, o tio Marcelo vai colocando mais lenha no forno para cozinhar o frango. Em um tacho de cobre, pedaços suculentos de goiaba vão se desfazendo em meio ao açúcar cristal. A sobremesa já está quase no ponto. Depois de algumas horas de conversas e “causos” de família, ao som de música sertaneja, o banquete está pronto. A vovó usa com destreza os panos de prato, segura nas alças das panelas e põe a mesa. A toalha bordada em ponto cruz está cercada pelos filhos, netos e marido, todos aguardando para saborear as maravilhas da gastronomia mineira. Dona Marly não é a única. Dados de uma pesquisa do Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Gás de Cozinha (Sindigás) apontam que 38% dos brasileiros ainda cozinha em fogões a lenha. Uma visita ao interior mineiro, onde há uma profusão desses equipamentos, pode
fazer parecer que o fogão a lenha seja brasileiríssimo. Em grandes fazendas ou até mesmo em casa de barro no Vale do Jequitinhonha, o fogão a lenha ocupa lugar de destaque nas cozinhas. Ele pode ser construído de vários materiais diferentes e é bastante comum no formato de alvenaria. Mas, apesar de aparentar ser uma invenção dos interiores desse Brasil, o fogão a lenha foi, na verdade, uma criação estrangeira do final do século XVIII. O cientista norte-americano Benjamin Thompson (1753-1814) desenvolveu importantes estudos sobre o calor que, na época, apesar de bem conhecido, era mal explicado. Na Baviera, estado alemão onde residiu por algum tempo, deparou-se com o grande problema da escassez de madeira, combustível indispensável à sobrevivência, sobretudo nos invernos rigorosos da Europa. Em 1798, na cidade de Munique, enquanto colaborava com o exército alemão na Baviera, Thompson observou que a manutenção dos soldados alemães nas casernas ou nos acampamentos exigia grande quantidade de madeira para o preparo da comida, aquecimento de água e calefação. múltipla
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Os europeus usavam para cozinhar grandes caldeirões de ferro, sustentados em tripés sobre fogo aberto. Isso inspirou o cientista a “fechar o fogo”, para melhor aproveitá-lo. Foi assim que Thompson projetou o fogão a lenha: um bloco de tijolos e uma base de ferro com aros concêntricos eram usados para sustentar os caldeirões, um forno para assar o pão e uma canalização de cobre, onde passava a água que era aquecida. Tudo isso era feito ao mesmo tempo, gastando menos madeira e aproveitando melhor o calor do fogo. Por essa contribuição, ele recebeu do governo da Baviera o título de Conde, tornando-se, então, Conde de Rumford. Ciência do sabor Mas o que faz o feijão da vovó Marly, caprichosamente cozido em fogão a lenha, cheirar e ter um sabor tão diferente de todos os outros? O chef executivo de cozinha Hyvane Ruiz, formado pela Universidade de Gastronomia de Caxias do Sul, aponta quatro principais elementos responsáveis por esse sabor diferenciado: a gordura usada no preparo da comida, a panela, o tipo de cozimento e a fumaça. A gordura de porco, que em muitos lugares ainda fica guardada em um pote na despensa escura, substitui o óleo de cozinha, aquele das prateleiras de supermer-
nos produtos fogões elétricos acados gás. que Entreé usado esses dois há umae pequena alteração química que faz toda a diferença. De acordo com a professora do Departamento de Química da Universidade Federal de Minas Gerais, Maria Eliza Dai de Carvalho, gordura e óleo pertencem à classe dos lipídios. A diferenciação se
dá apenas pelo estado físico. Se for sólido é gordura, se for líquido é óleo. O gosto diferente que a gordura animal confere à comida vem das moléculas lipossolúveis (solúveis em lipídios) que acabam sendo incorporadas pela gordura, mas que srcinalmente faziam parte dos músculos do boi ou do porco. O segundo fator apontado pelo chef, que proporciona o sabor diferenciado da comida do fogão a lenha, são as panelas. Aquela de ferro que a dona Marly guarda no armário, debaixo da pia da cozinha, pode ser a explicação para o gostinho do feijão. Ruiz explica que, para cozinhar a comida no fogão a lenha, é necessário manter o calor da panela, já que mais tempo é gasto para atingir a temperatura de cozimento. Para isso, a panela de ferro
Os principais elementos responsáveis pelo
sabor diferenciado da comida feita no fogão a lenha são: a gordura, a panela, o tipo de cozimento e a fumaça é a melhor opção. Ao contrário de quando se cozinha em um fogão elétrico ou a gás, no fogão a lenha não é possível regular a intensidade dasde chamas e a temperatura. Como a panela ferro retém o calor, ela possibilita a pessoa acompanhar o cozimento da comida, que acaba acontecendo lentamente. Maria Eliza diz que essa característica da panela de ferro tem uma explicação científica. Quimicamente falando e comL A O S S E P O IV u q R A
De desedêia espahola, o chef Hyvae Riz ressalta as vatages do fogo a leha, e também é de srcem eropéia.
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parando uma panela de ferro com uma de alumínio, existe uma diferença entre os materiais que condiciona toda essa discussão. Cada substância tem algumas propriedades que são intrínsecas. Uma delas é o Calor Específico, ou Cesp. Quanto
stâncias químicas, o ferro contido na panela participa de várias reações. A maioria dos alimentos contém ácidos orgânicos que podem reagir com o ferro (Fe) do qual a panela é feita. Um dos produtos dessa reação é o Fe2+ ou o Fe3+.
A paela de pedra ajda a reter o alor das hamas do fogo a leha. As reaões ímias desse proesso proporioam m
demorafora se maior o Cesp, aquecer mais e resfriar. tempo oOmaterial Cesp do ferro é duas vezes menor que o Cesp do alumínio. Dessa forma, a comida demora muito mais para cozinhar. “No fogão a lenha, o alimento cozinha lentamente. O tempo para se atingir a temperatura ideal de cozimento é maior e os alimentos perdem menos propriedades”, conta Ruiz. Maria Eliza atesta esse fato, explicando que “durante o cozimento, acontecem muitas reações químicas que resultam em inúmeros novos compostos. As reações químicas levam intervalos de tempo diferentes para acontecer e aquelas que levam um tempo maior acabam gerando compostos mais palatáveis”. Falando em ferro, há uma crendice popular que diz que ele pode se soltar da panela ou de um prego e dar um gosto diferente para o alimento. Muitas vovós por aí já colocaram um preguinho no meio do feijão ou usaram uma panela de ferro para cozinhar os grãos como a dona Marly. Segundo a professora, realmente o ferro se desprende da panela, mas não altera muito o sabor. Na verdade, quando aquecido e em contato com outras sub-
no Osangue, Fe2+ é oassim, mesmo eleferro configura que secomo encontra um bom nutriente e pode prevenir a anemia. Já a espécie Fe3+ é o que se conhece como ferrugem, que gera um sabor desagradável aos alimentos. Por último, vem a fumaça. Imagine aquele frango assando no forno a lenha que dá água nas bocas dos familiares de dona Marly. A fumaça resultante da queima da madeira no fogão acaba impregnando em alguns pratos. Maria Eliza ex-
sabor bem mais agradvel ao alimeto
“O tempo para se atingir a temperatura ideal do cozimento no fogão a lenha é maior e os alimentos perdem menos propriedades.” Hyvae Ruiz plica que uma boa técnica de defumação, lenta e controlada, acrescenta um sabor agradável ao alimento. Já uma exposição em excesso pode ser extremamente desagradável ao paladar. “Dois compostos da fumaça são os responsáveis pelo sabor ‘defumado’: o guaiacol e o siringol. Esses múltipla
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ARquIVO PESSOAL A I m O N O R T S A g
Saboreado o mometo o sítio, em Esmeraldas, a Grade BH, os paretes de doa Marly formam a típia família mieira
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compostos são extraídos da fumaça para serem usados em salgadinhos e carnes defumadas artificialmente”.
grande espaço nas cozinhas comercias. Hyvane Ruiz destaca que, atualmente, grandes restaurantes preferem usar o for-
Evolução Os fogões, assim como outros utensílios e eletrodomésticos, se beneficiaram do desenvolvimento de novas tecnologias. Com a Revolução Industrial, eles começaram a adquirir uma aparência muito semelhante aos fogões domésticos de hoje, mas continuavam sendo alimentados pela lenha ou pelo carvão. Depois disso, a evolução se deu em torno dos combustíveis: primeiro a nafta, seguida pelo petróleo, e depois o gás de cozinha e a eletricidade. Todos os dias, cientistas procuraram, ao longo dos anos, uma maneira de se preparar os alimentos de forma mais saborosa e nutritiva. E foi assim que nos anos de 1970 foi criado na Alemanha o forno combinado, que surgiu como um aperfeiçoamento dos fornos que trabalham com o ar quente e seco para cozer os alimentos e dos steamers ou vaporizadores, aqueles fornos que utilizam apenas o vapor. Com sua capacidade de produzir diversos pratos ao mesmo tempo, dispensar o uso de panelas na preparação dos alimentos e permitir o controle do tempo e da temperatura, este “superfogão”, não demorou muito tempo para conquistar
no ele, combinado ao fogão industrial. Segundo o alto valor do utensílio é compensado pela qualidade dos pratos e agrada mais os fregueses. Porém, o forno combinado não é uma boa opção para quem, assim como dona Marly, gosta de receber toda a família nos almoços de domingo, já que o preço do equipamento é salgado, variando de 10 a 70 mil reais.
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O forno combinado surgiu na Alemanha em 1970. Ele é um aperfeiçoamento dos fornos
que trabalham com o ar quente e seco e dos que utilizam apenas vapor para o cozimento Segredo A gastronomia e a ciência sempre andaram juntas. Após a Revolução Industrial, no início do século XIX, a população se concentrou nas cidades em torno das fábricas e usinas, longe das áreas rurais onde os alimentos eram produzidos. Este fenômeno alavancou as pesquisas científicas em busca de métodos de conservação
dos alimentos e produção de embalagens, cujos primeiros exemplares foram as latas. Mas, mesmo antes de a ciência se ocupar das transformações químicas que ocorrem durante o preparo dos alimentos, cozinheiros dotados de refinada sensibilidade construíram uma coletânea de sabores. A palavra gastronomia refere-se à arte de extrair o máximo de prazer de um alimento. O que significa despertar ou produzir o máximo de sensações: gosto, olfato, visão, audição e tato. A professora Maria Eliza explica que tudo isso pode ser feito pela combinação de ingredientes e, principalmente, pelo controle da tempe-
ratura e adequação do modo de preparo, gerando inúmeras possibilidades. O mistério da comidinha deliciosa que a família da dona Marly saboreou durante o almoço de domingo foi revelado. Mas, como em qualquer outra atividade, o prazer está contido em pequenos detalhes. Depois de ver todos muito satisfeitos, dona Marly apaga o fogo e bate uma foto, afinal, não é todo mundo que consegue reunir uma grande família. Na verdade, o real segredo não deve estar muito ligado a reações químicas ou explicações gastronômicas, talvez apenas a dona Marly saiba explicar.
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A atora Regia Soza, e j se apreseto omo Regia Spsito, é m dos destaes da MPB prodzida em Mias 80
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De chiiha Gozaga a cé, as mlheres deiam sa mara a histria da MPB
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nas divas, os holofotes Teto de Mariaa Deslades
Elas sempre fizeram parte da história da música brasileira, seja como intérpretes, compositoras ou nas duas atividades simultaneamente. A MPB (Música Popular Brasileira) – mistura de vários estilos com srcens que vão das erudições europeias a tradições indígenas e africanas – tem seu momento de maior destaque no século XX. Segundo o professor, jornalista e músico Maurício Guilherme Silva, é na virada para os anos 1900 que surge uma das figuras mais importantes da MPB, Chiquinha Gonzaga. “Ela popularizou o piano, sofisticou o chorinho e abriu espaço para o samba”. A música popular brasileira cresce ainda mais com a popularização do rádio, entre as décadas de 1920 e 1930, com seus programas de auditório e shows de calouros. Nesse período, segundo Maurício, se destacam nomes como Ângela Maria e Elizeth Cardoso.“Ela [Elizeth] gravou um disco intitulado Canção do Amor Demais, que é considerado o lançamento da Bossa Nova”, afirma. Já Flávia Moreira, produtora e apresentadora do programa Plugue,
MPB. Conseguiam atingir o povo, que se sentia meio co-participante desse sucesso, participando dos festivais, dos programas de rádio”. Maurício Guilherme reforça que a televisão fez surgir sucessos como “Elis Regina, Nara Leão, Gal Costa e outras da não-tradicional MPB, como Wanderléia, Dona Ivone Lara e Clara Nunes”. Porém, o professor destaca que “o Brasil não é um país de divas, como acontece nos EUA, por exemplo. Maria Betânia é mais próximo que temos disso”. Dando um salto para os recentes anos 1990, Maurício chama atenção para o destaque internacional que muitas cantoras brasileiras conquistam. Algumas, segundo ele, chegam até mesmo a ter mais prestígio no exterior do que no Brasil. “Mônica Salmaso, por exemplo, sofisticou a música”. Mas ele também destaca nomes conhecidos pela maioria dos brasileiros, como Marisa Monte e Cássia Eller. Para Flávia Moreira, Marisa Monte já é consagrada, mas não deve ser deixada de lado quando pensamos nas atuais divas da MPB. Porém, o público jovem pode até
da rádio do Inconfidência e coordenadora de pauta programa Agenda, da Rede Minas, destaca: “não podemos esquecer as grandes divas da época de ouro do rádio, entre elas Dolores Duran e Maysa”. Entre as décadas de 1960 e 1970, a televisão ganha espaço nos lares brasileiros. Segundo Flávia Moreira, nesse período “os meios de comunicação de massa eram grandes responsáveis pelos sucessos da
desconhecer o trabalho de algumas cantoras que marcaram a história da música brasileira, mas sempre houve espaço para o surgimento de novas divas. Elas são sucesso de crítica e público, são constantemente assediadas pela imprensa e jovens compositores sonham em ver suas músicas consagradas na voz de uma dessas estrelas. É assim com Marisa Monte, Vanessa da Mata, Maria Rita, Zizi Possi, múltipla
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entre tantas outras. Atualmente, a situação não é diferente. Enquanto algumas vozes gravam seus nomes na história da MPB, outras desaparecem com o passar dos anos e novas estrelas surgem. Atualmente é fácil sintonizar uma rádio que toque música popular brasileira e se deparar com as vozes das novas revelações. Segundo Maurício Guilherme, os atuais destaques ficam por conta de “Maria Gadú, as meninas do Cansei de ser Sexy, que têm uma proposta experimental, além de Mariana Aydar, Roberta Sá, Ana Cañas e Céu, que hoje é
público. “A maior ferramenta de divulgação dessas novas cantoras é a internet. O mercado musical vem sofrendo grandes mudanças nos últimos anos. A democratização das tecnologias de produção fez com que artistas e produtores se tornassem os principais responsáveis pela viabilização, elaboração e distribuição de suas obras”, afirma. Minas é o berço de algumas dessas novas cantoras, que podem não ser muito conhecidas pelo grande público, mas têm seu trabalho reconhecido por críticos e admiradores da MPB. Entre elas, Flávia
alguém que está buscando uma nova forma de experimentação”. Porém, segundo Flávia Moreira, atualmente a MPB perdeu um pouco do alcance popular. “Hoje, a MPB não fala para todo mundo como na década de 1960, tornouse um segmento de mercado.” Fator que, para ela, contribui para que boas cantoras tenham dificuldade para chegar ao grande
destaca e Marina Machado. MasFernanda também Takai é possível citar nomes como Mariana Nunes, Erika Machado, Júlia Ribas, Juliana Perdigão, Aline Calixto e Regina Souza.
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Marina Machado – Ela já fez turnês com Milton Nascimento, gravou com Samuel Rosa e agora,
A televiso foi a grade resposvel pelo sesso de Elis Regia
FOTOS: DIVuLGAçãO
Ao lado: Maria Mahado s er saber de fazer boa msia. Abaio: cé teta ma proposta eperimetal a partir da MPB
aos 38 anos, vive o momento de maior reconhecimento público da sua carreira,
sobrenome Souza. “Estava vindo de várias transformações internas, pessoais, vári-
rádiosmúsicas com especializadas constantemente em MPB. tocadas “Acho que, em talvez, as músicas que gravei nesse último CD, Tempo Quente, tenham agradado as rádios e público por serem leves e consistentes”, afirma Marina. Para a cantora, Minas Gerais tem ótimas representantes entre as jovens cantoras, como Érika Machado, Fernanda Takai e Juliana Perdigão. “Acho que Minas se destaca como sempre se destacou desde quando a música feita no Brasil recebeu essa sigla, MPB. O nosso sotaque pega bem na música popular brasileira”. Bem humorada, ela ainda brinca: “nós temos esse pedigree que o Clube da Esquina nos deixou”. Julgando-se tímida demais para aparições em TV e muita exposição na mídia, Marina Machado garante: “nunca me interessei por isso, só me preocupo com o que vou apresentar, o que quero passar para o público em termos de mensagem e estética musical”.
motivos os questionamentos. para a troca, Posso como listar homenagear vários a minha mãe, Zilah Souza Spósito, me aproximar do lado feminino da minha família, das minhas tias, mulheres fortes, engraçadas, alegres, ou simplificar o meu nome. Mas, o principal, foi fazer disso um rito de passagem. Gosto de rituais, a espiritualidade tem muita importância pra mim, então, essa mudança foi um pouco de tudo isso”, afirma. Para Regina, atualmente os músicos têm uma gama de possibilidades de divulgação do próprio trabalho que devem ser exploradas. “Antigamente quem não estava ligado a uma grande gravadora tinha uma grande dificuldade para divulgar o seu trabalho. Com a internet, os canais a cabo, as rádios comunitárias, a profissionalização das redes públicas e tantas outras mídias, a MPB pode circular muito mais facilmente no mundo”. Quanto à música mineira, Regina Souza concorda com Marina Machado. “Acho que Minas está num momento muito criativo e o Brasil tem absorvido bem a nossa música. Temos nossas raízes, uma cultura muito rica e antenas para o mundo”, completa.
Regina Souza Ela já se apresentou como Regina Spósito, mas durante a preparação do segundo CD (Outonos) optou por adotar o
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Grandes nomes do rock mundial, que zeram
sesso etre as déadas de 1980 e 1990, voltam à ea em shows histrios para feliidade dos fs
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o retoro dos
GIGANTES Teto de Mariaa Medrao e najela Brk; Fotos: Mariaa Medrao, Divlgao, Arivo Pessoal A pedagoga Cibeles Ribeiro tinha 12 anos quando descobriu o som vibrante das bandas de hard rock que, com integrantes cheios de estilo e uma atitude muito exuberante, levavam os adolescentes à loucura. Principalmente as meninas apaixonadas pelos vocalistas, que seduziam as fãs com interpretações marcantes em videoclips e também nos palcos. Um dos grupos que fazia a cabeça de Cibeles também conquistou a estudante de terapia ocupacional Adriana Hermont que, aos 14 anos, conheceu os riffs estridentes das guitarras dessa banda em uma de suas aulas com o instrumento. Mas a paixão se concentrava com mais intensidade no vocalista, que sempre muito performático fazia questão de desfilar de shorts pelo palco enquanto emitia seus agudos em alto e bom som, em músicas como “Don’t Cry”, “You could be mine” e “Yesterdays”. 84
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A banda californiana, que nasceu em 1984, contou com oito formações diferentes e, depois de fazer um imenso sucesso nas décadas de 1980 e 1990, sofreu as desventuras que a fama traz. Aos poucos, o Guns N’ Roses perdeu alguns de seus principais integrantes, como o guitarrista Slash, que deixou a banda alegando desentendimentos com o vocalista Axl Rose. Conflitos internos fizeram com que o grupo fosse se desintegrando e passando por crises, o que diminuiu o número das apresentações e as chances de músicas inéditas. Em 1997 começam as gravações do novo álbum da banda, intitulado Chinese Democracy. O
cente, Cibeles conta que não presenciou o tão esperado espetáculo dos caras: “Não tive vontade de ir ao show pois, na verdade, nem fiquei sabendo do ocorrido”. O gosto pelas mesmas músicas e a veneração pela mesma banda é o ponto em comum entre as duas mineiras. A diferença é a época em que o grupo entrou na vida de cada uma delas. A pedagoga conheceu o Guns em 1989, quando a banda tinha apenas cinco anos de estrada, mas já eram tidos como rock stars. “A música era boa, extravasava as emoções contidas, e os clips eram muito bem produzidos. Tudo isso junto causava uma adrenalina
trabalho levou onzemundial anos para até ao público. A turnê do chegar Guns continua em andamento, levando os clássicos da banda e os sons de Chinese Democracy aos quatro cantos do planeta. Em março deste ano, a banda fez sua passagem pelo Brasil. Com uma nova formação e após anos de espera dos fãs, o Guns N’ Roses realizou shows em vários estados, incluindo em sua rota o Mineirinho, que recebeu cerca de 15 mil pessoas para a apresentação. Na multidão estava Adriana, que confessa ter esperado ansiosamente pelo evento. “A minha intensa paixão por eles, sem nunca poder ter visto um show pessoalmente, foi o que me mais me motivou a ir assisti-los. Além, é claro, de poder ouvir aquela voz fantástica
na galera”, relembra. Passadosao12hard anos,rock em 2001, Adriana foi apresentada comandado por Axl Rose. Nesse período o grupo estava parado, a ponto de anunciar um fim a qualquer momento. Foram várias “idas e vindas” até o lançamento do disco de inéditas. A estudante, que assistiu à banda em Belo Horizonte, acredita que o retorno pode ter ocorrido mais como uma tentativa de ganhar dinheiro: “Eles sabem que os fãs fiéis estarão lá, independentemente da decadência. Mas acho também que anos de convivência desgastam o relacionamento e a banda acaba optando por dar um tempo. Passado o intervalo, o grupo resolve tentar novamente. Mas nem um bom tempo foi suficiente para reatar
ecomenta tambéma os estudante. riffs de guitarra Por sua históricos”, vez, sem a mesma empolgação de quando era adoles-
acitário relação Otávio entreAndrade, eles”. O28músico anos, concorda e publicom a opinião de Adriana, dizendo que “a
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Adriaa foi ao show do Gs ‘n Roses e osegi ma foto om se otro ídolo dos aos 1980, Sebastia Bah da etita bada Skid Row
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no show e aotee em BH o iíio do ao, o craberries osegi reir os atigos fs atado sigles da bada
intenção [de voltar] é válida apenas para manter o saudosismo dos fãs e aumentar a conta bancária dos integrantes. O que já foi, já foi”. E ainda completa: “gosto muito da banda, mas eu só iria num show deles com essa nova formação caso me fosse oferecido gratuitamente um ingresso”. Outros retornos Não foi só o Guns N’ Roses que incluiu a capital mineira na tentativa de voltar à ativa. A banda irlandesa The Cranberries também marcou presença em BH na sua turnê de retorno. Assim como o Guns, o Cranberries teve o seu auge de sucesso na década de 1990. Em 2003, os músicos resolveram dar um tempo e concentrar atenções na carreira solo de cada um. Sem CD novo, mas com muito ânimo e empolgação, os roqueiros que apresentam um estilo mais alternativo do ritmo surpreenderam os fãs pela performance em palco. Com sua voz potente, a vocalista Dolores O’Riordan emocionou o público relembrando vários singles, entre eles “Ode to my family”, “Zombie”, “Dreams” e “Animal Instinct”. A estudante de odontologia Ana Paula Vilar, 23 anos, fez parte da plateia que assistiu a Dolores e companhia. Mesmo não sendo fã de carteirinha, ela conta que ficou emocionada ao assisti-los e acredita
que a chance de ir pelo ao show sido única. “Fui vê-los fatopode de aterbanda nunca ter vindo ao Brasil, pelo menos não que eu me lembre ou que eu pudesse ir. E, principalmente, por não saber se terei uma nova oportunidade, já que eles podem decidir pelo encerramento do grupo a qualquer momento”, observa. Outra banda que ressurgiu e passou por terras latinas, dessa vez no ano passado, 86
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foi o Faith No More. Separados desde 1998, o grupo estourou em 1989 com o hit “Epic”, que esteve presente na parada de clips da MTV Brasil por vários anos consecutivos. As composições e estilo da banda foram influência para tantas outras como, por exemplo, o Red Hot Chili Peppers, outros que andam sumidos dos palcos. A iniciativa de reunião do Faith No More surgiu em janeiro de 2009, inicialmente como uma turnê somente pela Europa, mas logo veio a notícia de shows pela América do Sul. A notícia agradou os fãs, que estavam há 17 anos esperando por uma nova apresentação de Mike Patton e sua trupe. Mesmo sem de- “Fui vê-los pelo fato de a banda clarar encerramento, nunca ter vindo ao Brasil. E, os integrantes do AC/DC, Aerosmith, principalmente, por não saber se Metallica, Placebo, entre outros, tamterei uma nova oportunidade” bém ficaram algum tempo sem fazer Aa Pala Vilar turnês mundiais e sem lançar material inédito. O AC/DC veio ao Brasil no ano passado e se apresentou para um público de 70 mil pessoas no estádio do Morumbi, em São Paulo. Já o Metallica decepcionou muitos fãs, quando cancelou a tão esperada turnê de 2003 que passaria pelo país. A justificativa foi afase de que os integrantes estavam dada em uma de esgotamento físico e mental. Mas em 2010 eles vieram e lotaram os estádios de Porto Alegre e São Paulo, onde se apresentaram. Os últimos a fazerem a alegria dos fãs foram os caras do Aerosmith. Com mais de 40 anos de banda, Steven Tyler, Joe Perry, Brad Whitford, Tom Hamilton e Joey Kramer voltaram à ativa após rumores sobre a saída do
de adorar as músicas de um grande nome que está prestes a fazer shows no Brasil, mesmo no caso de quem volta depois de anos em inatividade”. Com a maioria de acessos feitos por um público de homens e mulheres entre 18 e 25 anos, Morais diz que nomes como Legião Urbana, The Beatles e Cazuza nunca deixaram de figurar entre os 50 artistas mais visitados no site, em um universo que contempla mais de 100 mil artistas publicados. Outros cantores, como Bon Jovi e Chico Buarque, que não se apresentam mais com tanta frequência, dividem
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ranking Beyoncé, com novos do pop, como ao cantora pornomes exemplo.
vocalista Tyler, devido ao envolvimento com drogas. No entanto, depois de meses em uma clínica de reabilitação, o líder, já recuperado, em boa forma e com muita disposição, incendiou os 35 mil espectadores que fizeram a festa nas apresentações dos músicos pelo país. Em busca do ídolo O gerente de conteúdo dos sites de música Cifra Club, Letras.mus.br e Palco MP3, Gustavo Morais, conta que os shows das bandas internacionais que retornaram aos palcos, exerceram influência significativa nos acessos às páginas. “Sempre quando acontece algo relacionado a um determinado artista, a procura por suas canções no site tende a aumentar”, explica. Ele acrescenta que o perfil das pessoas que procuram por essas bandas não é específico: “O acesso é feito por um público em geral. Sempre existe quem se lembra
Antes do Fim Na contramão da alegria dos fãs que veem suas bandas favoritas retornarem ao topo do sucesso, estão aqueles que se entristecem pelo fim da carreira dos ídolos. No Brasil, os fãs da banda carioca Los Hermanos vivenciaram os dois lados deste tipo de história. O grupo, que em 1999 estourou com o hit “Ana Júlia”, evoluiu nas composições e melodias, porém fez uma pausa indeterminada, como eles mesmos descreveram, em abril de 2007. A separação inesperada causou susto nos fãs. Mas, no início de 2009 uma chama de alegria reacendeu nos admiradores do grupo, que ouviram falar do retorno da banda aos palcos. A volta aconteceu, porém, somente para abrir os shows de Radiohead e Kraftwerk, no festival Just a Fest, que aconteceu no Rio de Janeiro e São Paulo naquele ano. De lá para cá, ficou apenas a saudade dos shows de Marcelo Camelo e companhia e a incerteza de uma volta.
na foto aima, agora om o ome de Tok Rok, a atiga bada carmagia reprodz os sessos de Rok ‘ Roll das déadas de 60 e 70 . na foto ao lado, o msio Otvio Adrade diz e gosta de msias atigas e rte ir a shows des badas overs
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respeitvel
Teto de Isabella Barroso
com era de 80 aos de eistêia, esse gêero se matêm vivo a iteret om o apoio dos fs 88
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O ã ç A G L u IV D : S O T O F
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Cartaz do lme Tarântula,
Junte zumbis, vampiros, múmias reanimadas, serial killers imortais, donas de casa com apetite canibal, monstros abissais, tomates assassinos, extraterrestres que querem a dominação mundial - com uma sexy donzela em perigo. Adicione (de)efeitos especiais, baixo orçamento e muita
dadeiros clássicos do cinema trash, como dirigido por Jak Arold, os filmes produzidos por Roger Corman, em 1955 que se tornaram praticamente um estilo” salienta o blogueiro. Em geral, os filmes trash não são exibidos nos cinemas. A razão, segundo os donos das salas, é que não existe demanda.
que compõem groselha. Esses asão receita os ingredientes de um bombásicos filme trash. A palavra trash é inglesa e significa lixo em português. Com temática sempre bizarra e ritmo narrativo próprio, os filmes trash emergiram no cenário cinematográfico norte-americano nos anos de 1930, com as produções de vários estúdios independentes da época, e na década de 40 adquiriram o formato existente até hoje. Mas foi nos anos 50 que as temáticas de horror, com toque de sensualidade e grande dose de ficção, tomaram forma. Para o crítico de cinema e dono do blog Cinematório, Renato Silveira, a principal característica dos longas metragem trash é o exagero, seja na abordagem dos temas, seja na forma como a violência é retratada. Em relação às produções ele diz que, geralmente, o elenco é formado por atores pouco conhecidos, mas que são sempre reaproveitados. O custo é parte fundamental do processo caracteristicamente trash. De acordo com Silveira, são sempre produções de baixo orçamento, resultando na má qualidade de cenários e figurinos. “É importante dizer que ser trash não significa ser ruim. Existem ver-
efeitos especiais Enquanto um filme high tech hollywoodiano e de orçamento com milionário vende por si só, o trash não atrai o grande público, logo, não paga o custo da exibição na sala de cinema. Em um mercado de entretenimento competitivo como o de Hollywood, as produtoras de longas metragens underground não podem contar com o lucro de milhões de dólares arrecadados nas bilheterias para se manterem fora do vermelho. É a venda de mercadorias como t-shirts, canecas, action figures (bonecos), DVDs e pôsteres estampados com imagens/personagens dos filmes que alimenta essa indústria. O nicho de mercado cinematográfico underground representado pelos filmes trash é o outro lado do mundo dos espetáculos. Em uma ponta estão os megaestúdios, como Fox, Universal, Disney e WarnerBros, que lideram o mercado mundial de distribuição e produção de longas, faturando cerca de 10 bilhões de dólares anualmente somente com bilheteria nos EUA (dados da biblioteca de análise de trends da indústria de cinema americana, The Numbers). Do outro lado estão os estúdios independentes, que contam com a múltipla
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demanda insistente dos fãs para que seus filmes cheguem aos cinemas. O Troma Entertainment é um estúdio americano que triunfa nesse meio. A empresa produz filmes trash e ostenta o título de estar há mais tempo operando de forma independente no mercado cinematográfico mundial, desde 1974. Nesses 36, o Troma foi o palco de entrada de nomes conhecidos, como o dos atores Kevin Costner, Samuel L. Jackson, da cantora Fergie (The Black Eyed Peas) e da atriz Marisa Tomei. Atualmente, para conseguir chegar às telonas, o estúdio incentiva os seguidores, através do site, a ligarem para os cinemas e requisitarem os filmes. A intenção é indicar para os exibidores que existe um público disposto a pagar pelos filmes trash. As novas tecnologias de gravação e distribuição proporcionadas pela Internet e por novos dispositivos tecnológicos abriram novos mercados para os pequenos estúdios de cinema. O custo de distribuição foi reduzido, ao ser possível disponibilizar o download dos filmes no site das próprias empresas, o que tornou obsoleto o uso de intermediários nesse processo. Ao mesmo tempo, a propaganda necessária para “espalhar” os filmes e seus produtos tomou uma dimensão global e igualmente barata. Nada de parques temáticos, pro-
“A Hora do Pesadelo” (2010). Se a distinção do que é ou não é trash é feita somente pelo orçamento e estúdio de produção, “Zumbilândia” (2009) deixa em dúvida os fãs. Esse filme trata de um mundo pós apocalíptico em que um vírus transforma as pessoas em zumbis sedentos por sangue humano e aqueles que são imunes ao vírus tentam sobreviver. A temática, a narrativa, o roteiro e os elementos de cena indicam um filme trash. Porém certos pontos indicam que se trata de um filme comercial, como a qualidade da filmagem, o orçamento milionário e os atores “É importante dizer que ser famosos (Abigail Breslin, de “A pequena trash não signica ser ruim. Miss Sunshine”, e Bill Murray, de “Os caçaExistem verdadeiros clássicos fantasmas”). do cinema trash” O terreno fica ainda mais difícil Roger corma de definir quando o diretor de cinema Quentin Tarantino entra em cena: em seus filmes impera o absurdo, a violência, o excesso de sangue e a sensualidade. A descrição é semelhante à dos filmes trash. Porém, seus orçamentos, em longas como a trilogia “Kill Bill” e “Bastardos Inglórios” (2009) são milionários. O estudante de publicidade Luiz Gus-
moções escala mundial os filmesquee divulguem nada, nadaem mesmo, de orçamentos milionários. Tudo é feito de boca a boca e de link a link.
tavooShenk, 22 longas anos, ééfão exager de filmes que atrai nos o dastrash. cenas,O o excesso de sangue falso e as temáticas de ficção científica. Shenk consome os filmes trash pela internet. “Participo de fóruns, vejo os vídeos no You Tube e sempre que posso compro alguma coisa. Acredito que o trash seja um estilo de fazer cinema”, diz. Para o estudante, filmes como “Zumbielândia” e “Bastardos Inglórios” são, ao mesmo tempo, trash e uma homenagem a esse estilo bizarro.
Revival Apesar de não serem considerados filmes trash, por se tratarem de longas produzidos por grandes estúdios, na última década foram refilmados clássicos do terror como “Jason X” (2002), “O Massacre da Serra Elétrica” (2003) e recentemente
Liz Gstavo Shek, 23 anos, fã de lmes trash
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Novas ideias para você transformar as suas. www.unibh.br/convergencia
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Na era digital a literatura se rende ao formato sucinto de mais uma ferramenta de comunicação, mas sem abandonar as folhas de papel
aTwitteratura vez da Teto de Adreza Barelos e Stephaie Gomes; Fotos: Stephaie Gomes
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A moda agora é twittar. Esse é o termo usado para designar as postagens feitas na rede social do momento, que já contabiliza mais de 11 milhões de usuários, o Twitter. Lançado em 2006, o microblog é identificado atualmente como uma importante ferramenta de mobilização so-
em documentos digitais, a editora norteamericana Penguin Books irá publicar clássicos e best sellers sob a forma dos tweets. Com essa tendência muitos escritores, principalmente os iniciantes, como o jornalista Vinícius Magalhães, enxergam o microblog como uma possibilidade
fugindo cial. A rede do aspecto é muito meramente abrangente subjetivo e acabou da pergunta que aparece na página principal: o que você está fazendo? Grandes eventos se intensificaram e ganharam visibilidade mundial com o uso dessa nova mídia, como a campanha de Barack Obama à presidência dos Estados Unidos; o Oscar, que foi comentado em tempo real pelos usuarios; e a eleição no Irã, que se tornou uma das notícias mais populares do Twitter em 2009. Novos movimentos surgiram na rede social a partir dessa popularidade que a plataforma ganhou. Não se restringindo somente a fatos de grandes proporções, temas de todos os aspectos foram ganhando espaço de discussão no site. Um desses assuntos é a literatura, que, adequada ao meio digital agora é conhecida como Twitteratura. Cada nova postagem no Twitter que envolva histórias da literatura universal ou de novos escritores pode ser considerada como Twitteratura. A idéia, que surgiu de dois estudantes da Universidade de Chicago, vai trilhar o caminho inverso e se transformar em livro. Quando o mais comum nos dias de hoje é presenciar antigos e novos livros de papel serem convertidos
publicação de transposição impressa: de seus“Penso pensamentos tambémpara na chance de uma editora, já que sigo várias, gostar do que escrevo e me convidar para a publicação de um livro, seja de minicontos, crônicas ou poesias”. Mas uma série de fatores deve ser considerada por quem deseja ver seus twittes publicados fora do ambiente digital, para que não se torne somente uma versão impressa daquilo que está na web. “O livro se justifica se há um conceito por trás, se há algo ligando aqueles textos específicos. Também pede uma programação visual criativa e específica, que não tente replicar a lógica visual do twitter, ou seja, um projeto visual criado especificamente para o meio impresso”, explica o jornalista e escritor Leonardo Cunha. Outro desafio para os escritores que se submetem aos preceitos do microblog – como o próprio nome já diz é o treino da
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concisão, já que o espaço para a escrita se resume a 140 caracteres. “Gosto da idéia de brevidade e leveza que este limite traz para o texto. Desde o início me impus, como regra, nunca fazer um texto dividido em dois tweets, se o que eu quero escrever não cabe nos 140, tento uma versão mais curta. Se não consigo, prefiro deixar pra lá”, conta Leonardo. Mas para os twitteiros que preferem escrever além do que é imposto na página, há uma alternativa. “Gosto de escrever crônicas, poemas e contos mais longos, mas deixo isso para o blog e faço uma chamada para meus seguidores no Twitter. Ou seja, de qualquer forma consigo divulgar meu trabalho, seja ele extenso ou breve”, diz Vinícius. Leonardo Cunha atribui muitos benefícios ao uso do Twitter como meio de expressão literária. Entretanto, o jornalista demorou um pouco para reconhecer o potencial da ferramenta. Ele conta: ”já tinha lido algumas coisas interessantes postadas nos twitters de alguns amigos e escritores, mas realmente só me empolguei a participar durante um seminário sobre Jornalismo Cultural em que fui no ano passado. Ali me veio a idéia de encarar o Twitter não como espaço para falar da minha vida particular, o que estou fazendo ou deixando de fazer, mas sim para publicar pequenos poemas, haicais, aforismos, palíndromos, pensamentos sobre alguns a atualidade. também paracurtos republicar poemasE meus já disponíveis em livros”. Já o escritor Vinícius Magalhães sempre considerou as redes sociais como excelentes plataformas de expressão. “Já sou um panfletário literário há algum tempo. Sempre que posso divulgo a literatura em qualquer meio, como no Orkut, Facebook e no meu blog. E por isso, sempre digo: Aos náufragos olhos, a literatura é o farol e o porto”, considera. Tendência A grande adesão da twitteratura chamou a atenção da Academia Brasileira de Letras (ABL), que lançou pelo Twitter um concurso nacional de microcontos. O coordenador executivo da ABL, Raphael Pinheiro, conta que o principal objetivo do concurso foi “promover o novo mecanismo de disseminação de informação da Academia, bem como incentivar a produção literária do público geral, principalmente os jovens”. O tema foi livre, no entanto houve um grande número de contos inspirados na própria ferramenta, ou seja, muito uso de metalinguagem, afirma Pinheiro. Além disso, o que também comprova que a li-
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teratura no Twitter é coisa séria e feita por pessoas entendidas do assunto, o critério de avaliação dos contos pela Academia é feito pela criatividade, estrutura, coesão e coerência, além do correto uso das normas gramaticais. Participante do concurso, Vinícius Magalhães considera bastante positiva a
O professor e joralista ltral Leoardo cha demoro para reoheer a tilidade do twitter; hoje assme ser m twitteiro de plato
ação damais Academia: iniciativa, ainda por vir“Excelente de uma instituição renomada. Creio que o apoio para com a twitteratura só vem engrandecer este ‘novo modelo’ de literatura. A ABL, percebendo o crescimento da micro-narrativa, se assim podemos dizer, dá a chance de mostrarmos que podemos fazer literatura com pouco espaço”.
Cada nova postagem no Twitter que envolva histórias da literatura universal ou de novos escritores pode ser considerada como Twitteratura A Academia Brasileira de Letras está no Twitter desde o final de 2009 e, de acordo com Rafael Pinheiro, o número de seguidores triplicou durante o concurso. O resultado foi tão satisfatório que a Academia já tem pretensões de realizar outro concurso no mesmo estilo. “Estamos pensando em um novo concurso, com uma abordagem bem diferente. Mas, por enquanto, estamos tratando em segredo”, revela o coordenador. múltipla
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Segmeto ifatil do merado literrio rese om grade poteial imagiativo das riaas
diverso e vem dos
livros
Teto de Aa Flvia nes Ferreira e Otvio Oliveira
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“Depois de andar muito, eles encontram uma casinha. Muito curiosos, eles se aproximam e percebem que ela é toda feita de chocolate. As paredes são de biscoito e as janelas, de bala”. Bocas abertas
bre o incidente. Para Gledes, as histórias fantásticas são sua realidade. Mais conhecida como Guegué, ela possui um extenso currículo como contadora de histórias infantis em livrarias de Belo Horizonte,
enoolhos rostinho atentos. das crianças Um sorriso que, sentadas largo surge no chão da Livraria Nobel, começam a imaginar uma cena tão fantástica. “De repente, apareceu uma velhinha muito feia. Entrem, crianças. Não tenham medo. Vejo que têm fome e aqui dentro tem muito mais para vocês. Lá, eles comeram muito e acabaram dormindo felizes em caminhas macias. Mas os coitadinhos não sabiam que a velhinha era uma bruxa comedora de criançinhas”. Alguns cobrem a boca com as pequenas mãos. Outros, não conseguem se conter e levantam-se aos gritos ao descobrir o desfecho daquele história, que antes lhes parecia tão maravilhosa. A interpretação da educadora musical e atriz Gledes Gualberto, que se encurvava, mancava e fazia uma voz estridente para se passar pela terrível bruxa de João e Maria, é interrompida pelo tapa de um dos pequenos espectadores. “É uma reação comum. As crianças são muito espontâneas e não tem como saber como elas irão interagir com a história. Tem aqueles que intrometem e contam o final, ou até o inventam. Tem os que não gostam e vão embora e os que preferem bater na ‘bruxa’”, ela comenta e ri so-
Megastore. como a extinta Hoje,Planeta ela é uma Letra dase principais a Leitura integrantes da “Hora da História”, evento promovido pela Livraria Nobel todos os sábados a partir das 18h30. A escritora belo-horizontina Branca Maria de Paula, que publicou seu primeiro livro infantil em 1985, acredita que a infância é decisiva na formação do leitor. “O interesse das crianças pela leitura tende a aparecer quando ainda são bem pequenas, pois essa é a fase em que elas estão descobrindo o mundo a sua volta”, explica. Escritor de obras recomendadas pela Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil e selecionadas para o catálogo da Biblioteca de Munique, na Alemanha, o premiado Ronaldo Simões Coelho concorda com Branca. “Visito escolas de BH e do interior do estado periodicament e e nunca me deparei com uma criança que não gostasse de livros e dos universos criados pela literatura. O interesse delas é muito grande”, conta Ronaldo.
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Incentivo A professora Andréa dos Santos, que trabalha com crianças de três anos, reforça que é necessário oferecer aos peque-
FOTOS: ARquIVO PESSOAL
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nos leitores oportunidades de leitura de forma convidativa e prazerosa. “É possível investir na formação dessas crianças através das rodas de leituras, oferecendo para elas a oportunidade de escolher e manusear seus livros e contar do seu modo as histórias”, exemplifica. E, para a surpresa da proprietária da livraria Nobel, Ana Paula Von Kruger, a “Hora da História” deu tão certo que alguns dos pais, que costumavam deixar os filhos na Nobel para curtir um bate-papo com os amigos nos bares do Woods Shopping, que fica no bairro Luxemburgo, decidiram mudar de lado. Agora, eles também integram a plateia dos contadores de história, como conta a bancária Eliana Maria Caldas Braga, mãe de Manuella, uma das pequenas espectadoras : “É muito divertido e até a gente acaba entrando no clima, de tão empolgados que eles ficam”. As editoras também já parecem ter percebido a necessidade deste empurrãozinho. Nas prateleiras, o que não faltam são atrativos. Encartes especiais repletos de personagens e cenários interativos, figuras em 3D, espaço para colorir e até CDRoom com jogos virtuais. “O contato com bons modelos literários não só desperta a imaginação, mas também facilita a expressão de idéias e a expressão corporal”, afirma a educadora Andréa, lembrando
tar os personagens das histórias. Segundo a gerente da Livraria Nobel, Jaqueline Souza, a tática das editoras tem dado certo. “Os livros infantis mais vendidos não são aqueles que possuem longas histórias, mas aqueles que, de alguma forma, conseguem despertar o desejo pela leitura através de brincadeiras”, conta a funcionária, segurando o livro “Guia de Aventura: Pirata”, da Editora Ciranda Cultural, como exemplo das obras mais procuradas na Livraria. Mas as livrarias também usam de vários artifícios encantadores para atrair o jovem público. Nas principais lojas do ramo da cidade, os livros infantis são disponibilizados em setores especiais, que atraem as crianças e contribuem para o aumento nas vendas. Porém, a escritora Branca lembra que não são somente essas chamativas novidades que irão despertar o prazer pela leitura nas crianças, deve haver o estímulo vindo dos seus tutores. “Os hábitos dos pais influenciam bastante os gostos de seus filhos, assim os adultos devem ter a consciência de que, se o livro não estiver ao alcance da criança, será impossível fazer com que ela passe a gostar de ler depois de crescida. Isto precisa ser parte da sua cultura, algo que cresceu com ela”, indica. Concorrentes
que as crianças buscam imitar e represen-
A dona-de-casa Janete Oliveira sempre
Dicas de Leitura O Salo do Livro da Fdao naioal do Livro Ifatil e Jveil (FnLIJ) para criaas e Joves é m eveto e promove a leitra literria etre leitores, atores e editores. Desde 1968, a FnLIJ ietiva a formao de através da leitra apoiada pela Lei Roaet. A ada ao, o Salo homeageia diferetes países. Em 2010 a coréia do Sl foi a prestigiada. Essas so algmas sgestões de livros ifatis e foram apresetados em jho de 2010 o Rio de Jaeiro, o 12º Salo FnLIJ: Fugindo das garras do gato
choi Y-Jeog e Kim SYeog um grpo de ratihos, e preisa fgir das garras de m gato malvado, so persoages e esiam para as crianças noções visuais e grácas de
atidades.
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Como o mundo acorda
Um dia longe de casa
Cultura, matemática e geograa são tra-
O plaejameto das atividades otidi-
Ye Shil Kim e Hee J Kag balhadas pelos atores de forma ldia e didtia. O oeito de fraões é esiado através de ilstraões de afés da mah típios de diversos países do mdo.
Lee Mi-Ae e choi Yag-Sk anas é retratado por mãe e lha, que
passam m dia iteiro separadas e otam ma para otra, em pesameto, o e fazem de mah até a oite.
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Das sooras gargalhadas aos gritos de pavor, provoados pela bra de Joo e Maria; so imeras as reaões das riaas diate das histrias otadas por Gledes Galberto, a Gegé
presenteou as filhas Fernanda e Raphaela com livros educativos. Clássicos como A Bela Adormecida e Chapeuzinho Vermelho fizeram parte do arsenal utilizado por Janete, que promovia momentos de leitura com as filhas para estimular a imaginação das garotas. “A impressão que eu tenho é que as duas cresceram mais tranqüilas e com mais facilidade para os estudos”, avalia a dona-de-casa. No entanto, apesar de crescerem em constante contato com a literatura, Janete afirma que, atualmente,
zada em 2009 pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), o segmento infanto-juvenil foi responsável por cerca de 20% do exemplares lançados no ano passado. Em 2007, chegaram ao mercado 3491 títulos infantis, já em 2009 a produção alcançou a marca de 4057, e com as reedições, os números subiram para 5664. “Os livros comunicam com as crianças em um nível que a televisão e computadores não conseguem”, explica Ronaldo Simões. Para a professora Andréa dos Santos, “o livro é
pectivamente, Fernanda e Raphaela, se interessam de 12 e 15menos anos, respor livros. “Acho que houve uma substituição e elas passaram a valorizar outras coisas, como celulares, máquinas fotográficas, roupas e computadores”, reconhece. Lucas Nunes, de 18 anos, é o outro exemplo de adolescente que abriu mão da leitura para usufruir do universo de diversão eletrônica. Ele cresceu rodeado por aparelhos tecnológicos e nunca se interessou por livros. “Quando lembro da minha infância, lembro dos jogos de vídeo game. Depois veio o computador e, hoje, tem o celular e os MP3 players”, conta Lucas, que sempre deu um “jeitinho” de se esquivar da obrigação de ler as obras literárias exigidas pela escola. Mas, mesmo ameaçado pela avançada tecnologia à qual as crianças possuem acesso, o mercado de literatura infantil vive um conto de fadas. Em outubro, a Câmara Brasileira do Livro (CBL) e o Sindicato Nacional dos Editores de Livros (Snel) divulgaram dados de 2009, ano da última pesquisa realizada, sobre os resultados atingidos por 105 editoras nacionais e os números não poderiam ser melhores. Segundo dados da última pesquisa, reali-
possibilidades uma fonte riquíssima, para a criança que abre compreender infinitas através da fantasia e da imaginação o que acontece ao seu redor”. Preço Apesar de muitos educadores recomendarem a leitura infantil e de várias editoras investirem neste segmento, um fator que não contribui para a inserção das crianças no mundo literário é o alto preço dos livros, que chegam a custar até R$ 60. Assim, muitas crianças acabam não tendo acesso às obras e sentem falta de exercitar o hábito da leitura. Como é o caso de Pablo, de 5 anos, e Paulo Henrique, de 17, filhos da dona-de-casa Adriana Morais, que somente tiveram contato com livros na escola. “Os livros infantis são muito caros e eu não tenho condições de gastar dinheiro com isso”, afirma a dona-de-casa. Porém, para Andréa existem outras maneiras de apresentar a leitura à criança que vão além de exemplares encantadores. A professora ensina que o interesse pela leitura pode e deve ser estimulado a partir de diferentes textos, revistas, jornais, encartes e por todas as formas de linguagem que sejam portadoras de sentido. múltipla
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Futebol amador abre um leque de oportunid
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Teto de Ailto do Vale, Bro carvalho,
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des e promove a interação entre acionados
Davi Roha, Patrik Vaz e Welligto Satos
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FOTOS: LIGA MunIcIPAL DE DESPORTOS DE nOVA LIMA
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A prática de atividades físicas sempre é apontada como uma das formas mais recomendadas de cuidar da saúde do corpo e mente. Mas não é só no esporte, a disciplina desenvolve ainda mais as relações humanas. E no futebol amador não é diferente. Nas várzeas não há barreiras sociais, econômicas ou de ordem política, o que existe são diversas oportunidades, desde momentos de descontração até mesmo a possibilidade de alcançar um objetivo maior: tornar-se um profissional da bola. A construção de laços afetivos, o respeito pelo ser humano, a inserção social e a formação de cidadãos são valores que as entidades e clubes procuram intensificar. Em Minas Gerais, os principais eventos são planejados pelas ligas municipais de desportos, presentes em 110 municípios mineiros e filiadas à Federação Mineira de Futebol (FMF), entidade responsável pelo desenvolvimento e incentivo da prática do futebol profissional e amador. Responsável pelo departamento de futebol amador de Belo Horizonte, Marcos Artur Mendonça ressalta que o trabalho realizado pela entidade na capital proporciona a interação entre as pessoas. “Alguns torneios são realizados com intuito de valorizar a integração social, como Copa Itatiaia, Centenário e Kaiser, além do Torneio Corujão”, ainda acrescenta que explica. parte dosMendonça recursos financeiros é oriunda da Secretaria Estadual de Esportes. Um exemplo é o trabalho da Liga Municipal de Desportos de Nova Lima, localizada na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH). Existente há 68 anos, a ilga é a terceira mais antiga de Minas Gerais. Por meio de um planejamento realizado com o quadro de funcionários, a cada fim de ano, a entidade elabora um calendário a ser seguido na próxima temporada. As competições, que ocorrem durante o ano, proporcionam aos atletas a oportunidade de participar em mais de uma categoria. O presidente da Liga Municipal de Desportos de Nova Lima, Abílio Couto, que atua há 34 anos no futebol define a prática esportiva como amador, um momento de divertimento. “Ao término de cada partida cria-se muitos vínculos através de bate-papos, acompanhados de cerveja e refrigerante, somados a muita descontração. Nosso objetivo é proporcionar a interação entre as pessoas, afastar os jovens das drogas e trabalhar a conscientização de uma sociedade amistosa”, pontua.
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As eipes do Retiro e Assoiao caad deidem títlo do ampeoato ifatil
Em Belo Horizonte, duas competições se destacam pelo incentivo de grupos de comunicação em parceria com a Federação. A Copa Itatiaia é considerada um grande marco na difusão do esporte e é realizada de dezembro a janeiro, período em que o futebol profissional está de férias. Trinta e duas equipes da capital mineira e Região Metropolitana entram em campo para disputar o título de melhor agremiação. ano, a competição chegou à sua 49ª Este edição. Outro exemplo é o Torneio Corujão, realizado nos meses de maio a junho, com o incentivo da TV Globo Minas. As partidas acontecem somente à noite, durante a semana, nos campos da Grande Belo Horizonte. Em sua sétima edição, o evento reúne 16 equipes vinculadas às ligas de Contagem, Betim, Ribeirão das Neves, Sabará, Rio Acima, Nova Lima, Raposos, São José da Lapa, Confins, Igarapé, Brumadinho e Santa Luzia. Cuidados essenciais Como em qualquer outro esporte, o futebol proporciona benefícios, mas, se praticado incorretamente, pode acarretar
riscos àfísico saúde. O trabalho mento é feito atravésde da condicionasensibilização de cada atleta, pois, no futebol amador, não existe uma estrutura específica para a realização da atividade. Diferente dos moldes profissionais, em que há um acompanhamento realizado por médicos e especialistas para a prevenção e tratamento de possíveis lesões, na várzea não há esse auxílio. Por isso, para evitar complicações, iniciar os exercícios
“Alguns torneios são realizados com intuito de valorizar a integração social” Marcos Artur Mendonça
Calendário do futebol amador em Minas Gerais
de ocorrer lesões é grande”, conclui o preparador físico.
Data
campeoatos
31/01 a 5/04 21/02 a 20/06 28/02 a 27/06 11/04 a 4/06 2/05 a 27/06 18/06 a 31/10 25/07 a 31/10 18/07 a 31/10 8/08 a 28/11 12/12 a 16/01
Copa BH de futebol Feminino Divisão Especial Amador - Módulo I Divisão Especial Amador - Módulo II Primeira Divisão Amador Torneio Corujão Rede Globo Minas Copa Kaiser BH Divisão Especial de Futebol Junior Categoria Básica de Futebol Juvenil Categoria Básica de Futebol Infantil
Várzea O futebol amador é praticado por quem tem paixão pelo esporte. Segundo o presidente da Liga de Desportos de Nova Lima, Abílio Couto, “o futebol amador é feito por gente que usa o dinheiro do próprio bolso para colocar o time em campo”. Hugo Resende, aposentado, torcedor e dirigente do Resplendor Futebol Clube, reforça as palavras de Abílio Couto. “É um vício que proporciona prazer e angús-
Copa Itatiaia de Futebol Amador
tia”. Ele ainda relembra: “Mesmo sem condições financeiras, paguei uma caixa de cerveja para meus atletas que venceram uma partida decisiva no campeonato adulto, na temporada 2009 em Nova Lima. A emoção de ver meu Resplendor campeão novamente me levou às lágrimas. Só Deus sabe como batalhamos e sofremos ao longo do ano para conquistar o título”. O ex-zagueiro da Seleção Brasileira de 1982, com passagens por Villa Nova, Atlético, Cruzeiro e Sporting de Portugal, Luís Carlos Ferreira, conhecido popularmente como “Luisinho”, destaca a importância do futebol amador em sua carreira. “Iniciei a prática do esporte nos campos de terra com o objetivo de alcançar um futuro melhor. Isso foi fundamental em minha
com alongamentos e aquecimento é importante para preparar o corpo de forma adequada. Afinal, ele terá que suportar a movimentação e esforço que o futebol exige. O preparador físico Gabriel Moraes faz um alerta aos praticantes do esporte. “O adequado é, em primeiro lugar, procurar um médico especialista para realizar uma avaliação física. Por meio de exames clínicos, ele poderá concluir se a pessoa encontra-se apta para desempenhar a atividade”, adverte. Para Moraes, qualquer atividade esportiva exige preparação específica, sendo que o atleta deve estar ciente da necessidade de exercícios regulares e monitorados. “A partir daí, inicia-se de forma lenta e gradual todos os trabalhos orientados pelo profissional para condicionar o corpo ao desempenho da função. Sem seguir esses passos, a possibilidade
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bol amador vida.” Luizinho contribui ainda afirma na interação que “o entre futepessoas, na vivência em sociedade, além de formar seres humanos melhores. Mesmo não sendo fácil, ele pode proporcionar ao praticante a oportunidade de conquistar espaço no mercado profissional, assim como eu consegui”.
O Palmeirihas foi o ampeo da edio de 2007 da copa dos campeões
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Cachorro em Dores do Indaiá - MG Foto: Mariaa Medrao
“É UMA AULA MUITO DINÂMICA. OS ALUNOS SÃO MUITO QUESTIONADORES.” Marco Antônio
Coordenador do Curso de Marketing Digital
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