Revista Do Núcleo de Estudos Estratégicos 3

October 25, 2018 | Author: Quixote Verde | Category: Communism, Vladimir Putin, International Politics, Love, Russia
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 REVISTA DE

ESTUDOS ESTRATÉGICOS Número 03 - Ano 01

Fevereiro/Março de 2012

Escatologia Revolucionária O Verdade Verdadeiro iro Havel Havel Desinformação e Tradução: Orelhada Ideológica

O Nazismo e Igreja Católica na Alemanha: Colaboração ou Resistência?  A Relig Religião ião glob global al da da URI UR I

Índice

 Artigos Escatologia e a Obsessão Revolucionária O movimento revolucionário revolucionário e a incapacidade para o transcendent transcendentee Tiago Venson

1

O Verdadeiro Havel Petr Cibulka, um real dissidente do regime comunista  Alex Pereira Pereira

14

Desinformação e Tradução: A Orelhada Ideológica Um novo estilo literário de falsiicação Hélio Angotti Neto

23

O Nazismo e Igreja Católica na Alemanha: Colaboração ou Resistência? Parte1: A ascenção do Nazismo e a Igreja alemã Henrique de Albuquerque

27

 A Religião global da URI A United Religions Iniciative, a religião biônica da ONU Cristian Derosa

44

Literatura Resenhas Literárias

Vidas Secas O brasileiro continua Fabiano Hélio Angotti Neto

37

 A Tragédia Tragédia da Redenção Inatingíve Inatingívell Hélio Angotti Neto

40

 A 1984: A Profecia Moderna de George Orwell Hélio Angotti Neto

42

Seção de Livros

60

Retirados de cena a alma e o Absoluto, resta apenas o combate de Leviatã e Beemoth: o espírito de rebelião autolátrica que comanda a História, o espírito de submissão cega e mecânica à natureza exterior  Olavo de Carvalho -  Jardim das Aições, p. 199

Editorial

Cartograa da desinformação

A

nova edição da Revista do Núcleo de Estudos Estratégicos do

Seminário de Filosoa vem com uma nova disposição do nome, atendendo agora como somente Revista de Estudos Estratégicos, o que procura melhor lembrar o tema de seus estudos. Da mesma forma, a imagem que ilustra a capa,  Man of war between two galleys, de Pieter Bruegel, representando os mares como a grande metáfora inaugural que, trazida da inspiração do mestre Olavo de Carvalho, nos reconstrói o espírito a cada edição, a cada ímpeto de investigação dispendido em sua forma, nas ondas dos mares mais bravos. Não por acaso, iniciamos as páginas com a imagem da serpente, essa eterna inimiga do homem e de Deus, monstro que  pode representar tanto a furtividade que engana a percepção humana quanto os monstros marinhos colossais obstáculos à toda navegação. Esta edição traz, em mais um ótimo texto losóco de Tiago Venson, uma importante reexão sobre o tempo, a  Eternidade na escatologia cristã, no contexto da perversão revolucionária de nossos dias. A edição conta também com os artigos de Hélio Angotti Neto, que traz a literatura como um dos grandes interesses do NEE em importantes meditações de certo modo essenciais para o suporte imaginativo e também reexivo dos que pretendem compreender a intrincada trama que o real nos oculta, seja no pantanoso universo brasileiro ou na caótica e por vezes incompreensível estrutura da realidade a qual nos dedicamos a decifrar. O artigo  Desinformação e tradução: a orelhada ideológica, também de Hélio, demonstra como é exercido o poder deformador dos intelectuais de esquerda na cultura brasileira, o que nos sugere uma realidade ainda mais acabrunhante quando pensamos na legitimidade que intelectuais como Emir Sader gozam no meio editorial e acadêmico do país. Um dos frutos desse tipo de desinformação acarretou erros de interpretação tais como o que é aqui demonstrado por Alex Pereira no artigo, O verdadeiro Havel , que  para tanto conta com as informações preciosas do dissidente tcheco Petr Cibulka, desmontando a farsa da Revolução de Veludo por meio da Carta 77, o que deu oportunidade para ascensão de intelectuais e políticos como Mikhail Gorbachev, George Soros, Fernando Henrique Cardoso, entre outros comunistas apresentados ao mundo como grandes democratas e libertadores. Somente em uma cultura lentamente anestesiada para qualquer  preocupação com a análise cuidadosa de qualquer assunto, tais técnicas  primárias de falsicação intelectual poderiam alcançar tamanho êxito. Juízossuperciaistornaram-se,aliás,a especialidadenãosó dobrasileiro.Emuma época em que cristãos são massacrados sicamente no Oriente Médio e África e

moralmente em todo o Ocidente, a Igreja Católica ainda sofre com velhas lendas e associações históricas bizarras. Henrique Albuquerque, na primeira parte da série O nazismo e Igreja Católica na Alemanha: colaboração ou resistência?, demonstra com ampla referência bibliográca a forte atuação do papa Pio XI e do cardeal Pacelli, desmisticando a lenda falaciosa do “Papa de Hitler”. Toda a imprensa e órgãos ociais governamentais engajaram-se na destruição e marginalização da Igreja Católica, mas não só dela. A Cristandade corre  perigo grave com a inltração comunista e gnóstica, dos quais grande parte da mesma imprensa segue ordens expressas. Os movimentos Nova Era, carregados por entidades como a United Religions Initiative, fecham a edição e fazem parte de uma série de artigos, resultado das pesquisas que se iniciaram com a leitura do livro False Dawn, de Lee Penn, levados a cabo por Cristian Derosa e Alex Pereira, dentro do que convencionou-se chamar Grupo de Estudos dos Movimentos Gnósticos. Assim como este grupo, outros grupos surgirão e têm surgido, fruto do interesse e do sentido de vida de cada membro, o que deve orientá-lo na  busca da verdade. E fruto igualmente do esforço no enfrentamento de todos os obstáculos prossionais, emocionais e de isolamento, de períodos de tempestades e calmarias, dúvidas e incertezas, o que certamente deve nos instigar ainda mais a juntar a força necessária para que alcancemos os  propostos objetivos, se Deus assim o quiser.

 REVISTA DE

ESTUDOS ESTRATÉGICOS Número 03 - Ano 01 - Fevereiro/Março de 2012

Publicação do Núcleo de Estudos Estratégicos do Seminário de Filosofa Edição dos Textos: Cristian Derosa , Edson Camargo e Tiago Venson Edição Gráfca: Alex Pereira Artigos: Tiago Venson, Alex Pereira, Hélio Angotti , Henrique Albuquerque e Cristian Derosa

Revisão Geral: Bruno Machado Coordenação do Núcleo: Jayme Neto E-mail: [email protected]

Tiago Venson

Movimento Revolucionário

Escatologia e a obsessão revolucionária

Os Sete Pecados Capitais - Ira

Santo Agostinho empreendeu esforços enormes para entender a Santíssima Trindade. Diz a lenda que seu empenho foi tamanho que o próprio Cristo, em forma de menino, veio mostrar-lhe que sua empreitada era tão impossível quanto transferir toda a água do mar para um buraco na areia usando uma concha1. A despeito do recado, o Santo não desistiu, mas entendeu que, tomando o estudo da Divindade como manifestação de seu amor por Deus, a inviabilidade de concluir a missão não era um empecilho, mas, ao invés, era a garantia de

Pieter Brueghel 

que a prova de amor se estenderia por toda sua vida. Ou seja, a irresignação agostiniana perante o impossível mostrou-se atestado de sabedoria e meio santiicação. Talvez como prêmio por sua valentia, o Doutor foi iluminado com a seguinte conclusão: A onipotência divina torna viável que os próprios conhecimentos e pensamentos de Deus façamse realidade. Sendo Deus onisciente, seria imperativo que tivesse ciência de si próprio. Tal conhecimento de sua própria natureza é o seu logos, ou verbo no sentido do entendimento de si

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Pai Espírito Santo

 Amor

Filho

próprio. Por fruto da onipotência, o logos manifesta-se como realidade da substância divina, compondo uma pessoa, Deus Filho. Deus Pai, olhando para seu entendimento de si mesmo, reconhece-se e vê que é bom, e o ama. O verbo, reconhecendo em si o Pai, e percebendo seu amor, o devolve, formando-se um enlace amoroso entre Pai e Filho, uma relação recíproca que, também por fruto da onipotência, consubstancia-se na terceira pessoa, o Espírito Santo2. Uma vez que a Santíssima Trindade tem sua existência no plano do eterno, a relação entre as três pessoas é imutável, ou seja, existe desde sempre e para sempre. A estrutura da eternidade pode ser condensada conforme  ig. 1. Mas Deus expande essa estrutura por meio da criação, formando uma segunda camada conforme narrado no Gênesis. Lá, as coisas são feitas e Ele vê que o que Ele criou é bom. Importante notar, partindo das conclusões de Santo Agostinho, e tendo em vista os atributos divinos da bondade, beleza e verdade, que se Deus Pai gera Deus Filho ao reconhecer-se, então na criação Deus Filho está 2

 ig. 1

presente em tudo que é bom, belo e verdadeiro, e incide sobre tais coisas o Espírito Santo. Por outro lado, a criação não estava mais na eternidade, pois o eterno não tem começo. Portanto, com o advento do mundo, iniciou-se uma nova estrutura da realidade, dessa vez com começo, mas sem im, denominada evo. A eviternidade caracteriza-se pela ausência de antes e depois, embora lhe sejam aplicáveis3. Pode-se imaginar o evo como tendo alguma semelhança com os pensamentos, que embora não estejam presos pelos limites temporais podemos nos lembrar de situações passadas ou planejar atos futuros podem seguir voluntariamente uma linha seqüencial, como quando pensamos em um diálogo. O evo é um intermédio entre o eterno e o tempo, aquele marcado pela absoluta imobilidade e simultaneidade, este, pela mutabilidade constante e transcurso progressivo de momentos. Eric Voegelin anota que:

“A estória da busca como o relato de um evento participativo

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[Criação] não se origina nem se desenrola na dimensão temporal dos objetos externos nem na dimensão de uma eternidade, de um tempo divino fora do tempo, mas em algum lugar no Intermediário de ambos, isto é, na dimensão simbolizada por Platão como a metaxy. A partir desse fator, abre-se no  paradoxo a visão sobre os problemas dos vários modos do tempo. O  fator é uma das razões experienciais que levaram Platão a simbolizar o tempo como o eikon móvel da eternidade.” 4

Eva comessem do fruto da árvore do conhecimento. No primeiro efeito, na história, da revolta dos anjos sobre os homens, nossos pais ancestrais desobedeceram a proibição e o mal entrou no mundo. Com a manifestação do mal, vêm ao ser os efeitos do mal, entre eles, a corrupção. A maldição de Deus pelo Pecado Original culmina na sentença: Pois tu és pó e ao  pó retornarás, ou seja, a partir de então, o homem não era mais imortal, mas sujeito à corrupção e desgaste até sua aniquilação com a morte.6

Ora, a corrupção é um fenômeno temporal, pois se caracteriza por uma corrosão que, depois, é maior do que imediatamente antes. Ou seja, a sucessão de momentos torna-se uma propriedade necessária da realidade onde o mal se manifesta, de modo que No evo é que aparece a dúvida surge uma terceira camada do ser, de alguns anjos sobre a bondade o tempo. de Deus e suas transmudações Note-se que o tempo não em demônios.5 Ali ocorre a guerra decorre diretamente dos planos entre os anjos, a luta entre Miguel de Deus, mas do mal, e é permitido e o Dragão, narrada em Apocalipse: por Deus apenas por respeito 12, 7 . Portanto, a batalha está fora ao livre arbítrio. A amplitude do do tempo, caracterizando uma evo, desse modo, é reduzida a tensão entre vontades obedientes uma sucessão de momentos de e rebeladas a Deus, tensão essa constantes e ininitas decadências. que tem relexos no nosso mundo. Em suas Conissões, Santo Também no evo se cria o Agostinho explicita a pequenez da primeiro casal, então em corpos extensão do tempo: gloriosos, à imagem e semelhança De modo que existem de Deus. Mas, para garantir a aqueles dois tempos o liberdade da inteligência, Deus impôs a proibição de que Adão e  passado e o futuro se o REVISTA DE ESTUDOS ESTRATÉGICOS

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 passado já não existe e o  futuro ainda não veio? Quanto ao presente, se  fosse sempre presente e não passasse para o  pretérito, já não seria tempo, mas eternidade.  Mas se o presente,  para ser tempo, tem necessariamente de  passar para o pretérito, como podemos armar

que ele existe, se a causa da sua existência é a mesma pela qual deixará de existir? Para que digamos que o tempo verdadeiramente só existe  porque tende a não ser? (...) O que agora claramente transparece é que nem há tempos futuros nem  pretéritos. É impróprio armar que os tempos são

três: pretérito, presente e futuro. Mas talvez  fosse próprio dizer que os tempos são três: presente das coisas passadas,  presente das presentes e presente das futuras. Existem, pois, estes três tempos na minha mente que não vejo em outra 4

 parte: lembrança presente das coisas passadas, visão presente das coisas  presentes e esperança  presente das coisas  futuras. Se me é lícito empregar tais expressões, vejo então três tempos e confesso que são três. 7  Ou seja, o tempo é um iapo de realidade atual que se mantém em constante e absoluta mutação. O tempo é, portanto, a antítese da eternidade. Ademais, o tempo, ao contrário da eternidade e do evo, tem princípio e im. O princípio do tempo ocorre com o pecado e o surgimento do mal. Seu im ocorrerá com o juízo inal, quando o mal será lançado em um lago de fogo, para ali sofrer a segunda morte, cessando seu efeito corruptor. A estrutura do ser, então, ica conigurada conforme a ig. 2. O Pecado Original, tendo provocado a queda de Adão e Eva para a dimensão temporal evento simbolizado pela expulsão do primeiro casal do Jardim do Éden tem por conseqüência que toda a geração humana nasce na dimensão temporal, tornando impossível seu retorno à eviternidade, dada sua natureza maculada pelo mal. Para abrir novamente essa possibilidade e resgatar o cosmos ao plano de Deus, é necessário que o próprio

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Pai  Amor

Espírito Santo Filho Criação

Eviternidade

Guerra entre os anjos Pecado Original

Tempo  ig. 2

logos divino se encarne no ventre de uma virgem imaculada para que exista, no mundo, um novo Adão absolutamente bom, imune à corrupção e, portanto, apto a ingressar novamente no evo. 8 Mas não bastava isso, pois todos os homens sendo já atingidos pelo mal, estariam condenados à degradação até a morte. Por isso, Cristo abre o caminho para o evo por meio de um mecanismo que acontece após a consumação da corrupção, com a reversão da morte via ressurreição gloriosa da carne. Os detalhes desse mecanismo, a visita à mansão dos mortos, a paixão e outros elementos, ainda que interessantes, não têm relação direta com o assunto deste artigo. Há, entretanto, que se enfatizar a impossibilidade de retorno do homem ao evo a princípio apenas como alma, e depois como corpo glorioso antes da purgação de todo o seu mal. Ou seja, se apenas o que é bom, belo e verdadeiro

pode adentrar o evo, e se o que é bom, belo e verdadeiro consiste em manifestação de Deus Filho sob o amor do Espírito Santo, somente quando os homens abandonam sua natureza pecaminosa e se tornam como Cristo é que podem ser admitidos nos Reinos dos Céus. Em outras palavras, para que o homem seja aceito nas proximidades do plano eterno, é necessário que ele diga, como São Paulo “já não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim” (Gálatas: 2, 20). Neste sentido, airmou o então Cardeal Ratzinger:

 One is in heaven when, and to the degree, that one is in Christ. It is by being with Christ that 9

we nd the true location

of our existence as human beings in God. Aqueles que se apegam à sua natureza temporal com a morte

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continuam no tempo e, assim, mantêm-se a degradar-se e corroer-se, até o dia do juízo. É possível imaginar o sofrimento de uma alma que, apegando-se durante a vida unicamente ao que é mutável e sensível, encontra-se após a morte carente do corpo, exatamente o fornecedor de todo estímulo sensorial. Nos vivos, a privação completa de estímulos provoca a insanidade em curto prazo. Nas almas, literalmente é o inferno. Outros, em sua vida não se moldam totalmente aos atributos eternos da bondade, beleza e verdade, mas mantém-se em um estado híbrido. Nesses casos, há um pouco de imutável, de Cristo, em seus seres, mas também há algum mal. Ora, o mal se corrói e se extingue a si mesmo se não for alimentado. Com a morte, tais homens permanecem no tempo até que sua parte não cristã se esgote e eles, no que resta de bondade, possam ascender ao evo. Esse tempo em que permanecem no tempo é a puriicação, ou o purgatório. A respeito, o Cardeal Ratzinger ensina:

However, Clement does not fall into the trap of the idea of timelessness (considered above). He lights upon a pro found anthropological concept of time which allows him to say that, 6

when the one who is “ascending”reaches the highest level of  pneumatic bodiliness, the pleröma, then at that moment he enters sunteleia, perfection,p and therewith the eschatological “Day of God”, the eternal Today. (…) The essential Christian understanding of Purgatory has now become clear. Purgatory is not, as Tertullian thought, some kind of supra worldly concentration camp where man is forced to undergo punishment in a more or less arbitrary  fashion. Rather is it the inwardly necessary  process of transformation in which a person becomes capable of Christ, capable of God and thus capable of unity with the whole communion of saints.10 Finalmente, aqueles que se desprendem do que é carnal, mundano e diabólico e se dedicam plenamente ao que é de natureza

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divina, eterna e imutável, são admitidos imediatamente no evo. Essa explicação do destino das almas mostra-se necessária para deixar evidente que a essência da salvação é o abandono do que é temporal/mutável, por meio de uma escolha consciente de amor a Deus e busca por algo que está no plano da eternidade/ imutabilidade. Essa constatação é bastante antiga. No diálogo Fedon - posto que contenha alguns raciocínios primitivos ou excessivamente simbólicos - vê-se que Sócrates já capta que o amor da alma pelo imutável é condição para sua felicidade após a morte. Diz-nos o ilósofo:

- Não dizíamos, ainda há pouco, que a alma utiliza às vezes o corpo  para observar alguma coisa por intermédio da vista, ou do ouvido, ou de outro sentido? Assim o corpo é um instrumento, quando é por intermédio de algum sentido que se faz o exame da coisa. Então a alma, dizíamos, é arrastada pelo corpo na direção daquilo que  jamais guarda e mesma  forma; ela mesma se torna inconstante, agitada, e titubeia como se estivesse embriagada: isso, por

estar em contato com coisas desse gênero. - Realmente. - Mas quando, pelo contrário nota bem! ela examina as coisas por si mesmo, quando se lança na direção do que é puro, do que sempre existe, do que nunca morre, do que se comporta sempre do mesmo modo - em virtude de seu parentesco com esses seres puros - é sempre junto deles que a alma vem ocupar o lugar a que lhe dá direito toda realização de sua existência em si mesma e por si mesma. Por isso, ela cessa de vaguear e, na vizinhança dos seres de que falamos, passa ela também a conservar sempre sua identidade e seu mesmo modo de ser: é que está em contato com coisas daquele gênero. Ora, este estado da alma, não é o que chamamos  pensamento? (...) - Suponhamos que seja  pura a alma que se separa

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do corpo: deste ela nada leva consigo, pela simples razão que, longe de ter mantido com ele durante a vida um contato voluntário, ela conseguiu, evitando-o, concentrarse em si mesma e sobre si mesma, e também pela razão de que foi para esse resultado que ela tendeu. O que equivale exatamente a dizer que ela se ocupa, no bom sentido, com a losoa,

e que, de fato, sem

diculdade se prepara

 para morrer. Poder-se-á dizer, pois, de uma tal conduta, que ela não é um exercício para a morte? - Sim, realmente é isso. - Ora, se tal é seu estado, é para o que se lhe assemelha que ela se dirige, para o que é invisível, para o que é divino, imortal e sábio; é para o lugar onde sua chegada importa para ela na posse da felicidade, onde divagação, irracionalidade, terrores, amores tirânicos e todos 8

os outros males da condição humana cessam de lhe estar ligados, e onde, como se diz dos que receberam a iniciação, ela passa na companhia dos Deuses o resto do tempo. É deste modo, Cebes, que devemos falar, ou cumpre-nos procurar outro? - Esse mesmo, por Zeus! - Segundo me parece,  pode-se também supor o contrário: que esteja  poluída, e não puricada,

a alma que se separa do corpo. Do corpo, cuja existência ela compartilhava; do corpo, que ela cuidava e amava, e que a trazia tão bem enfeitiçada por seus desejos e prazeres, que ela só considerava real o que é corpóreo, o que se pode tocar, ver, beber, comer e o que serve para o amor; ao passo que se habituou a odiar, a encarar com receio e a evitar tudo quanto aos nossos olhos é tenebroso e invisível, inteligível, pelo contrário,

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 pela losoa e só por ela

apreendido!11

De fato, se para a ascensão ao evo é necessário que o homem seja como Cristo, e sendo Deus imutável, o evo é uma dimensão caracterizada pela constância de beleza, bondade e verdade. Começa a se desenhar a natureza maléica e diabólica da mente revolucionária, na qual um dos elementos constante é a aversão e quase terror a qualquer imobilidade, harmonia duradoura, ixidez. Descrever a um revolucionário a felicidade de um casamento monogâmico que dure até o im da vida, ou a alegria de uma vida de estudos cujo im não é a transformação social, mas a simples contemplação da realidade, é semelhante a uma recitação fervorosa do hino da Segunda Carta aos Filipenses a um possesso: esgares e convulsões. 12 Também se vê que o amor pela mutabilidade é predominantemente revestido de soberba, de um sentimento de superioridade que leva a conclusão de que ele, o revolucionário, é capaz de mudar a própria estrutura da realidade. Coincidentemente, o orgulho foi justamente o pecado do primeiro anjo caído. Ainda, o revolucionário não admite a alteração sutil do mundo, com modiicações naturais mediante acúmulo de conhecimentos e técnicas contra

as quais nenhum conservador se oporia -, mas busca a ruptura do estado anterior por meio da completa inversão do objeto de sua ação. A revolta demoníaca, semelhantemente, não se contenta com a simples criação de símbolos e rituais próprios, mas prefere a inversão do que é sagrado, como a cruz, os nomes ou a missa. Mas o aspecto mais evidentemente demoníaco da mente revolucionária é sua característica de revolta que adquire ininitas facetas, todas elas tendo em comum buscarem se afastar da divindade. A imagem ica clara pelo simbolismo das catedrais, nas quais as iguras horrendas esculpidas nas gárgulas estão voltadas para fora, de costas para o altar (Deus), como que evitando contemplá-lo. Daí sua deformidade. Porém, enquanto o altar é único e localizado no centro, as gárgulas são inúmeras e cada uma delas voltada para uma direção.13 Do mesmo modo, as manifestações revolucionárias tentam voltar as costas para as esferas superiores da realidade, ou negando-as, ou airmando que os atributos da eternidade e do evo estão, na verdade, no tempo. Eric Voegelin descreve o fato do seguinte modo:

Neste ponto, quando a resistência à desordem se transforma numa revolta contra o próprio  processo da realidade e

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e refugiar-se no Além, ou com o propósito de impor a ordem do  ,AlémA à realidader. A  primeira das alternativas mágicas é preferida  pelos gnósticos da  Antiguidade; a segunda,  pelos pensadores  gnósticos modernos.14 sua estrutura, a tensão da existência formativa no movimento e no contramovimento divinohumano da metaxy pode ruir; a presença do Além, sua Parusia, não é mais experimentada como uma  força ordenadora ecaz,

e, conseqüentemente, o inquiridor da verdade não pode mais contar uma estória que fala  parte da estória contada  pela realidade-Isso. No extremo da revolta da consciência, a realidade e o Além se tornam duas entidades separadas, duas coisasc a ser magicamente manipuladas pelo homem sofredor com o propósito de abolir inteiramente a realidader 10

Realmente, observando os principais movimentos revolucionários, percebe-se que todos se concentram no plano temporal ao mesmo tempo em que negam tudo que estiver acima. Vejamos alguns exemplos. Para formar uma descrição mais esquemática de cada grupo, descrever-se-á a estrutura da eternidade como Deus, o evo como paraíso, e o tempo como mundo: O pensamento iluminista da tradição intelectual de Espinosa a Diderot se caracteriza pela rejeição às esferas superiores e airmação de todo o cosmos apenas no tempo, substituindo a divindade, os milagres e as revelações pela idéia de um bem maior atualizável por meio de leis que incorporam o bem comum. Segundo Jonathan I. Israel, “o que estava em jogo eram duas visões de mundo opostas, uma baseada na Revelação, religião e milagres e a outra rejeitando essa visão em favor de um determinismo ilosóico e um materialismo enraizado na idéia

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de que não havia um governo divino do mundo e nem existência após a morte”15. Ou seja, para o iluminismo, não há Deus e não há paraíso, há apenas mundo. O gnosticismo de Helena Petrovna Blavatsky, Alice Bailey e Rudolf Steiner não nega os atributos superiores, mas os trás para o plano temporal, seja enxertando nos homens os aspectos divinos, seja promovendo uma apologia ao plano temporal de existência, a im de convencer seus adeptos de que o paraíso ica neste patamar de realidade. São comuns citações como:

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Esoteric philosophy shows that man is truly the manifested deity in both its aspects – good and evil.16 We are all Gods, all the children of the One Father, as the latest of the  Avatars, the Christ, has told us.17 No one will ever dissuade me from thinking that the real divide, de real human conict today, is not

between democrats,  fascists, communists, and Christians, but between those who do

and do not believe that there is a Humanity to be constructed over and above man (to save and complete Man, to be  precise). It is a struggle between Stability and  Movement.18 Vê-se então que para essa vertente da gnose, há Deus, mas está no homem, e há paraíso, mas está no mundo. O comunismo marxista segue uma linha semelhante, porém nega a existência da divindade e põe ênfase na construção de um paraíso terrestre. Como resume Eric Voegelin, “Na raiz da ideia

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marxiana está uma doença espiritual, a revolta gnóstica de quem se fecha à realidade transcendente” .19 Há acentuada

apologia ao movimento, aversão à imobilidade e necessidade da revolução como um im em si mesmo: “O que vulgarmente se chama a inalidade derradeira do socialismo nada representa para mim; o movimento é tudo.”  20

Em resumo, o comunismo considera que não há Deus, mas que há paraíso, o qual é realizável no mundo por meio da revolução socialista. Em um último exemplo, vê-se a tentativa do cientiicismo moderno de encontrar leis ixas e imutáveis

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que permitam a exata previsão e total controle da realidade temporal, afastando os caracteres qualitativos dos objetos e airmando a existência pura das quantidades. Nega-se Deus, negase o paraíso, e busca-se atualizar a eternidade no mundo. O que resta claro é que há uma constante em todo movimento revolucionário, que é a incapacidade de vislumbrar a transcendência. Porém, como todo homem tem no coração uma consciência mais ou menos tênue da eternidade, resta aos revolucionários tentar trazer para seu alcance teórico - que se limita ao mundo - tais atributos. É necessário ressaltar que esse procedimento não é exclusivo da mentalidade revolucionária, não sendo, portanto, um critério distintivo. Os denominados libertarians, por exemplo, também não conseguem vislumbrar as esferas superiores e as negam. Entretanto, a negação dos estratos superiores, ou a tentativa de trazer seus caracteres para o mundo, é presente em toda mente revolucionária. Por im, é de se pensar: se a presença das esferas superiores do ser é perceptível em toda alma humana, e a atualização de seus caracteres no tempo é obstada pela própria estrutura da realidade, por que a mentalidade revolucionária continua a buscar novos meios para fugir de tais 12

constatações? A pergunta é tão irrespondível quanto a questão dos motivos que levaram o maior e mais belo dos anjos a topar uma briga cuja vitória é impossível. Nesses casos, apenas se pode responder que a irresignação perante o impossível mostrase nada mais que um atestado profano de estupidez. NOTAS

1 http://www.vatican.va/ holy_father/benedict_xvi/elezione/ stemma-benedict-xvi_po.html 2 AGOSTINHO, Santo. A trindade. Tradução: Frei Agustino Belmonte, O. A. R. São Paulo: Ed. Paulus, 1995, Livro VI, Cap. 5, p. 224. 3 AQUINO, Tomas de. Suma teológica. Tradução: José Martorell Capó. Madri: Biblioteca de Autores Cristianos, 2001. p. 158. 4 VOEGELIN, Eric. Ordem e História. Tradução: Luciana Pudenzi. São Paulo: Loyola, 2010. Vol. V. p. 50 5 Para uma descrição detalhada, ver: FORTEA, José Antônio.  Summa Daemoniaca. Editorial Dos Latidos, 2004. p. 13-18. 6 O mal parece agir como uma espécie de bloqueio à ação criadora de Deus, de modo que aquilo que foi criado, diante desse obstáculo, começa a perecer, em um movimento de “descriação”. De fato, os santos que se afastaram radicalmente do mal deixam a incorruptibilidade de seus corpos como prova, a contrario sensu, dos seus efeitos corrosivos. 7 AGOSTINHO, Santo. Conissões. Tradução: J. Oliveira Santos e A. Ambrósio de Pina. Petrópolis: Vozes, 1990. 10 ed. P. 278 e 284. 8 Cristo é concebido no seio da

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Virgem Maria por ação do Espírito Santo. Se o Espírito Santo é o amor entre Deus Pai que se reconhece no Deus Filho, conclui-se que Deus Pai vislumbrou-se tão intensamente naquele homem que iria nascer que a constituição de seu corpo e alma conformou-se totalmente com os atributos divinos - beleza, verdade e bondade - de modo que aquele homem, todo homem, foi inundado com o Espírito Santo sendo, portanto, hipostaticamente também todo Deus Filho. É de se notar também que a Santíssima Virgem, imaculada e concebida sem pecados, é quase totalmente composta de beleza, bondade e verdade, tendo como único defeitod ter nascido de uma relação entre pecadores, e não por meio da geração pelo Espírito Santo em um corpo imaculado. 9 RATZINGER, Joseph; AUER, Johann. Eschatology: Death and Eternal Life . Catholic University of America Press: 1988. O capítulo 7 pode ser obtido em: http://www.google.com.br/ url?sa=t&rct=j&q=ratzinger%20 eschatology%20ch%207&source= web&cd=2&ved=0CCkQFjAB&url= http%3A%2F%2Fwww.ldysinger. com%2F%40magist%2F2005_ Ben16%2FEschatology-Ch_7.doc&ei= GEP9TrSlI9Gctwfa2N3PBg&usg=AFQj CNE-w6IqLwblha2zZyebiUd7FjCfzA 10 Idem. 11 PLATÃO. Diálogos: O Banquete - Fédon - Soista - Político. Tradução: José Cavalcante de Souza, Jorge Paleikat e João Cruz Costa. São Paulo: Abril, 1972. P. 89-92. 12 A diferença é que o demônio, mais sincero, dobra o joelho ante a verdade, conforme relata o Pe. Gabrielle Amorth, em habla un

exorcista, na tradução de Juan Carlos Gentile Vitale, Ed. Planeta, 1997, p. 13. 13 Esse símbolo aparece também nos exorcismos. Nos exemplos contidos na summa daemoniaca, vê-se que, quando um demônio se apresenta como tristeza, o exorcista o expulsa confrontando-o com a felicidade que está em Deus. Se o demônio aparece como soberba, o exorcista lhe prega sobre a humildade de Deus que se fez homem. É como se o padre girasse a gárgula a força, compelindo a escultura a encarar o altar, de modo que o demônio, não suportando a visão, fosse obrigado a abandonar o ediício. 14 VOEGELIN, Eric. Ordem e História. Tradução: Luciana Pudenzi. São Paulo: Loyola, 2010. Vol. V. p. 5859. 15 ISRAEL, Jonathan I. Iluminismo Radical . Tradução: Cláudio Blanc. São Paulo: Madras, 2009, p. 113-114. 16 H. P. Blavatsky, apud PENN, Lee. False Dawn. Sophia Perennis, 2005, p. 249. 17 A. Bailey, apud PENN, Lee. False Dawn. Sophia Perennis, 2005, p. 262. 18 Pierre Teilhard de Chardin, apud PENN, Lee. False Dawn. Sophia Perennis, 2005, p. 292. 19 VOEGELIN, Eric. Karl Marx, em Estudos de Idéias Políticas - de Erasmo a Nietzsche, Lisboa: Ática, 1996.

20 BERNSTEIN, Eduard, apud VOEGELIN, Eric. Karl Marx, em

Estudos de Idéias Políticas - de Erasmo a Nietzsche, Lisboa: Ática, 1996.

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 Alex Pereira

Desinformação

O Verdadeiro Havel O dissidente possui o maior arquivo particular, com ichas dos agentes e colaboradores do serviço secreto comunista da antiga Tchecoslováquia, e desmascara a maior operação de desinformação do século XX

Petr Cibulka em uma reunião com o governo de transição, em 1989

Em agosto de 1968, quando os exércitos do Pacto de Varsóvia invadiram a Tchecoslováquia e seus tanques massacraram a população nas ruas de Praga esmagando os protestos, o país virou um símbolo da luta contra o totalitarismo comunista no mundo. Jan Palach, estudante de 20 anos, em um ato de desespero, imolou-se pelo fogo e foi imortalizado como mártir da luta pela liberdade do país. Os anos se passaram, mas o regime pós 68 acabou colocando o país sob total inluência da URSS. Após 20 anos, houve a queda do comunismo, na chamada Revolução de Veludo, e o então prisioneiro e dissidente Václav Havel assume a presidência em um conto de fábulas repleto de

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mentiras. Petr Cibulka, jornalista e dissidente político tcheco, nasceu em 1950, na cidade de Brno, na província da Morávia. Foi preso cinco vezes pelo regime comunista, do período de 1979 a 1989, chegando a fazer uma greve de fome de 31 dias. Participou do movimento Carta 77, sendo um dos primeiros a assinar o manifesto. Libertado da prisão em 17 de novembro de 1989, em plena Revolução de Veludo, acreditou que com o im do comunismo, aconteceriam mudanças democráticas no país. Bastaram algumas semanas após a queda do regime, para perceber que tudo era um teatro armado

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pelos comunistas, e que o poder Ocidente. e o dinheiro continuariam nas Depois da anexação nazista mesmas mãos. em 1939, Beneš montou um A privatização ocorrida da noite governo de exílio em Londres, para o dia seguiu os preceitos junto com iguras como Jan russos de passar todo o Masaryk, Josef Korbel estado para os membros (pai da ex-secretaria de da KGB, StB e do partido estado norte-americana comunista. Sua história você é um Madeleine Albright) e de perseguido político, Pavel Kavan (pai do exsofrendo prisões secretário da Assembleia e interrogatórios, não havia Geral da Onu, Jan Kavan), terminado com o im do regime, todos membros do Comintern mas continuou no governo de (Internacional Comunista). seu ex-amigo, o então presidente Em 1943, o presidente Beneš e Václav Havel, o qual Cibulka representantes do governo foram chamou de “porco” e traidor, e que, até Moscou assinar um tratado de segundo ele, trabalhava para os cooperação e amizade com a URSS, comunistas. sob os termos unilaterais de Stálin. Após ser o único a divulgar uma Winston Churchill desaprovou lista com mais de 160 mil nomes de a atitude de Beneš, já prevendo oiciais e informantes do serviço os resultados catastróicos do secreto tchecoslovaco, a Státní acordo. bezpečnost, ou StB, através do Cibulka explica que o plano de seu website (www.cibulka.com), dissolução do comunismo na União sofreu perseguições e numerosos Soviética e no Leste Europeu foi processos judiciais. um grande embuste, planejado Atualmente é uma das poucas nos mínimos detalhes. Tudo isso vozes que denuncia a continuidade era parte de uma estratégia maior, dos comunistas no controle da que tem como objetivo a derrota República Tcheca. dos países livres do Ocidente, Segundo Cibulka, os últimos principalmente o maior inimigo do dois presidentes, Václav Havel e o comunismo, os Estados Unidos. atual Václav Klaus, são agentes de A iniltração maciça de agentes Moscou. e espiões nos altos escalões dos Ele lembra que as conexões governos, instituições de ensino e do governo tchecoslovaco com pesquisa, e organizações das mais os comunistas vêm de antes da variadas, possibilitou corroer o Segunda Guerra Mundial, quando sistema de dentro para fora. Os o então presidente Edvard Beneš já comunistas criaram uma série lertava com Stálin, na esperança de partidos, com denominações de criar uma alternativa ao variadas, como forma de manter o

“ Václav,

 porco” !

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controle político oculto da vista da população. Cibulka criou um partido conservador tcheco, chamado Bloco de Direita, mas vem conseguindo pouco espaço no cenário político, boa parte pela censura da mídia do país, e também pela total apatia dos tchecos após décadas sob o regime ditatorial socialista.  A infiltração comunista no Ocidente

Quando Cibulka cita o caso de Josef Korbel, percebemos a rede global de agentes e colaboradores comunistas, atuando iniltrados nos países democráticos. Ele não entende porque o governo americano aceitou Korbel, um agente do serviço secreto de Moscou, membro do Komintern, nos postos mais altos da faculdade de Ciências Políticas da Universidade de Denver. A ilha de Korbel, Madeleine Albright, seguiu a carreira do pai, sendo pesquisadora ‘sênior’

Os arquivos que Cibulka tem da STB contam com mais de 160.000 nomes

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de institutos de pesquisas dos Estados Unidos, especialista em Estudos Soviéticos. Trabalhou como analista para o governo norte-americano, e o ponto alto de sua carreira foi ter sido escolhida no governo Clinton, como a primeira mulher a ocupar o cargo de Secretária de Estado. Ele diz que as decisões do país foram profundamente comprometidas com a escolha de Albright. Também lembra da sobrinha de Korbel, Dagmar Simova-Deimlova, que morou com o tio em Londres na Segunda Guerra Mundial. Dagmar trabalhou durante 42 anos na agência de notícias do governo tchecoslovaco, a ČTK, no setor de notícias internacionais, um cargo de coniança. O fato de seu tio ser um professor universitário de renome na América, sua prima ter uma ascendente carreira política nos EUA, e Dagmar não sofrer nenhuma discriminação no país, seria algo impossível de acontecer sob circunstâncias normais. Korbel também foi o mentor da Secretária de Estado do governo George W. Bush, Condoleezza Rice. Ela pretendia estudar música na Universidade de Denver, mas foi incentivada por Korbel a ingressar na faculdade de Ciências Políticas. Cibulka diz que isso comprometeu todas as decisões

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da política externa e militar do governo Bush, principalmente em relação a Rússia. Tanto Madeleine como Condoleezza, segundo Cibulka, provam o alto grau de iniltração do serviço secreto comunista no governo norte-americano. A Rússia, segundo ele, inge atualmente ser uma parceira estratégica dos EUA em troca da ajuda econômica. Mas ela continua cumprir o seu velho papel de organizadora da frente mundial para destruição da América.  A Carta 77, Soros e Moscou

Em 1976, a prisão de membros do grupo de rock Plastic People of the Universe, serviu para o início do movimento cívico contra a repressão no país, chamado Carta 77. Entre os seus fundadores estavam o dramaturgo Václav Havel, intelectuais, personalidades entre outros. Das 217 pessoas que assinaram a declaração da Carta 77, 156 eram ex-membros do partido comunista. Durante os seus 13 anos de existência (1976-1992), o movimento nunca teve nenhuma inluência política na Tchecoslováquia. Em 1989, nas vésperas da Revolução de Veludo, o movimento chegou a ter 1.900 membros, a maioria sem saber os reais objetivos da organização. Contava com colaborações milionárias, coordenadas pela ONG sueca Fundação Carta 77. Um terço da organização era

inanciada por George Soros, que também colaborava na mesma época com o movimento polonês Solidarność. Documentos suecos entregues ao dissidente Miroslav Dolejsi indicam que a ONG era parte de uma operação controlada pela KGB e a GRU. A Carta 77 foi um fantoche nas mãos dos comunistas, que possibilitaram uma transição política pacíica do país, sem levantar suspeitas, com seus mártires fabricados, prontos para seguir a cartilha de Moscou. Após a queda do comunismo, Soros se tornou um dos maiores investidores no país, e instalou na capital várias organizações de sua Open Society, como o Project Syndicate, uma associação de 439 jornais de mais de 150 países, com um total de tiragens de 50 milhões de cópias, sendo a maior organização para comentaristas de mídia no mundo. Entre seus colaboradores estão Jimmy Carter, Mikhail Gorbachev, Fernando Henrique Cardoso, Václav Havel e diversos intelectuais e personalidades, homogeneizando a chamada opinião pública global. Václav Havel

O famoso dramaturgo foi o símbolo dos dissidentes no regime comunista. Filho de uma das famílias mais ricas de Praga, proprietária dos estúdios cinematográicos Barrandov, que colaboraram com a Gestapo na Segunda Guerra Mundial. Após

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Václav Havel, o porta-voz da Carta 77 e George Soros, inanciador do movimento

a guerra, sua família não foi acusada de colaboracionismo com os nazistas. Automaticamente passaram de lado, e começaram a trabalhar com a GRU e a KGB, sob proteção dos comunistas. Václav Havel cursou a faculdade de Economia em Praga de 1955 até 1957, e de 1962 até 1966 cursou dramaturgia na Academia de Teatro (DAMU). Em 1964, Havel encontrou em sua caixa de correspondências um panleto anticomunista, e como um bom cidadão socialista, denunciou, entregando a propaganda para o representante do governo no seu bairro, que repassou para a StB. Logo após isso, foi contatado por um oicial da StB que fez uma visita de cortesia. Durante a conversa, o oicial perguntou para Havel quais de seus amigos poderiam escrever o panleto, e ele entregou uma lista de vários conhecidos capazes disso. Václav Havel ingressou nos quadros da StB, sendo considerado um agente de grande credibilidade. Viajou em 1968 para a Europa Ocidental e para os Estados Unidos. Em 1969, escreveu um protesto 18

enviado ao Partido Comunista Tchecoslovaco. Foi o começo da criação do seu mito de dissidente. Em 1975, escreveu uma carta aberta para o Presidente Gustáv Husák, analisando a situação da sociedade e da política do país, e em 1º de janeiro de 1977, assinou a Carta 77, tornando-se o principal porta-voz do movimento. Isso provocou a sua prisão durante quase cinco meses nesse mesmo ano, e outras duas em 1978, sendo libertado em maio de 1983, por razões de saúde. Foi preso mais duas vezes em 1988, e em janeiro de 1989, foi condenado a nove anos de reclusão, saindo e voltando a cumprir alguns dias de prisão no inal de 89, em plena Revolução de Veludo. No inal de dezembro do mesmo ano, foi nomeado Presidente da Tchecoslováquia, com grande aclamação pública. As regalias de Havel na prisão são fortes indícios de suas conexões com o regime comunista. Pôde escrever seus livros no cárcere, como o best-seller Cartas para Olga, algo impensável para os prisioneiros do regime. Havel era aclamado nas

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ruas como um santo libertador, incorporando a mística de São Venceslau (Svatý Václav), padroeiro do país. A imagem de Havel criada pelo serviço secreto comunista foi a de um mártir, símbolo Putin condecorou Klaus com a Medalha Pushkin, da luta pela liberdade  por serviços prestados a cultura russa da nação. Menos para as mãos dos comunistas e russos seus conhecidos mais criou um mal estar entre os seus próximos. Descrito por amigos íntimos antigos companheiros dissidentes, como uma pessoa ingênua e provando tudo o que Petr Cibulka inluenciável, com personalidade havia dito. não combativa, extremamente individualista, incapaz de assumir Václav Klaus O atual presidente da República responsabilidades e de nunca ajudou ninguém na vida. Um Tcheca é o ex-primeiro ministro peril totalmente oposto do que se do governo Havel, Václav Klaus. Segundo Cibulka, existem rumores espera de um líder. Houve relatos como o do de que seu verdadeiro nome seja cineasta Stanislav Milota e o Václav Pruzhinskiy (de origem ativista político John Bok, que russa), sendo que isso nunca foi participaram das reuniões de desmentido por Klaus. É conhecido no Ocidente como Havel com agentes da KGB em 1989, deinindo o seu futuro e o um político conservador (ex-aluno do país. Ele foi conscientemente da Cornell University -1969), e manipulado, sempre sob as ordens crítico do aquecimento global e da inteligência comunista, que o da União Europeia, mas sempre colocou como líder do movimento serviu os interesses de Moscou. Iniciou sua carreira como dissidente. Negociou toda a transição agente da StB em 1962, aos 21 política do país, garantindo a total anos, quando era estudante de anistia aos comunistas, bem como Economia em Praga. Seu codinome continuidade do seus poderes era “Vodichka”, e espionava as políticos e econômicos. O repasse atividades políticas de seus colegas na privatização das propriedades, de classe. Em 1970, Klaus participou da bens e empresas do governo para REVISTA DE ESTUDOS ESTRATÉGICOS

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Operação Ratoeira, feita pela StB em conjunto com a KGB. Ele foi apontado como um anti-socialista descontente, sendo expulso do Instituto de Economia de Praga. O objetivo era colocar Klaus como um dissidente vítima do regime, para poder penetrar em círculos anticomunistas e espionar suas atividades. A operação foi bem sucedida, e Klaus monitorou as atividades da oposição. Nessa época, estabeleceu um contato secreto com o líder dissidente Václav Havel. Durante 15 anos, Klaus teve uma carreira no Banco do Estado (algo incomum para os dissidentes e críticos do regime comunista) e gozava do privilégio de poder viajar. Klaus foi oicialmente reabilitado pelo governo em 1987, quando ingressou no Instituto de Prognósticos Econômicos da Academia de Ciências, uma cópia da instituição com o mesmo nome em Moscou, fundado pelo general da KGB Michail Ljubimov, sob as ordens de Yuri Andropov. Klaus espionou as atividades dos membros para o serviço secreto, mantendo a reputação de subversivo. Em 1989, Klaus entrou na política como membro do Partido do Fórum Cívico, o futuro ODS (Partido Democrático Cívico), e foi nomeado ministro das Finanças. Três anos mais tarde ele se tornou primeiro-ministro do país. Amigo particular de Vladimir 20

Putin, presente no dia de sua posse na Presidência da República, foi condecorado com a Medalha Pushkin, pelos seus serviços prestados na divulgação da cultura russa. A opinião de Klaus contra o aquecimento global segue os interesses da gigante energética russa Gazprom, que inanciou a edição em russo do seu livro Planeta Azul e Algemas Verdes, uma crítica contra o movimento ambientalista e a tese do aquecimento global. No seu novo livro, Europa?, ele ataca a União Europeia, agradando a opinião do seu amigo Putin, da União Eurasiana. Klaus saiu em defesa da Rússia na guerra da Ossétia do Sul, e é pessoalmente contra o sistema de defesa antimísseis europeu proposto pelos Estados Unidos, contra futuras ameaças de mísseis intercontinentais vindos do Oriente. Bill Clinton

Cibulka acredita nos rumores de que Bill Clinton seja um agente comunista, recrutado pelo serviço secreto tchecoslovaco após sua viagem para URSS, em 1970. Também acredita no envolvimento do ex-vicepresidente Al Gore com a espionagem comunista. O fato de eles terem rejeitado a extradição de Osama Bin Laden do Sudão para os EUA, nos anos 90, demonstra, para Cibulka, o interesse russo em usar Bin Laden nos seus

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planos, que culminaram no 11 de setembro. Cibulka cita a viagem para Praga feita pelo senador republicano Alfonse D’Amato (NY) em 1992, investigando a passagem de Clinton nos países do bloco comunista em 1970. A investigação acabou não produzindo resultados positivos, por causa do então governo tchecoslovaco, que ocultou todas as informações sobre a passagem de Clinton pelo país. Segundo Cibulka, Moscou não icaria muito feliz se alguma informação vazasse. Vladimir Putin e o objetivo comunista

Putin é um coronel da KGB treinado para a manipulação e o engano, e tem a missão de destruir os Estado Unidos. É essa a visão de Cibulka, que estudou por mais de 30 anos o modus operandi dos serviços secretos comunistas. Para Putin e a KGB, não importam os meios necessários para alcançar esse objetivo, mesmo às custas da autodestruição da Rússia. O movimento comunista internacional domina o crime organizado. De acordo com alguns analistas, um quinto do dinheiro do mundo é propriedade de grupos criminosos sob controle de Moscou. Isso inclui

o mercado de drogas, de armas, a lavagem de dinheiro, prostituição, entre outras contravenções. São armas revolucionárias. Cibulka diz que milhares de prostitutas russas foram enviadas para os EUA, com o objetivo de prejudicar o espírito e a moral norteamericana. Esses são os velhos truques tomados emprestados de Sun Tzu. Eles trabalham para destruir seus inimigos por dentro, a partir dos seus valores, ideais e símbolos. Depois que o inimigo está enfraquecido, ele pode ser subjugado facilmente. Ele cita o livro de Victor Suvorov, Spetsnaz: A História Interna das Forças Especiais Soviéticas, sobre as operações de membros das Spetsnaz já operando nos Estados Unidos, e se preparando para uma guerra. Para a Rússia, se torna muito mais vantajoso lutar em território norte-americano, do que em solo russo. Cibulka diz que para se compreender esses fatos, você precisa ver através dos olhos do inimigo. A Rússia sabe que a China é um risco futuro, mas os EUA são um risco presente. Por isso, eles sabem da importância de superar essa ameaça, fortalecendo o pólo estratégico asiático, através da Eurásia, criando um cenário global multipolarizado e assegurando os interesses de russos.

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Cibulka pensa que os EUA terão motivo para se sentirem culpados por terem subestimado a ameaça do comunismo e abandonado aqueles que estão lutando contra a ideologia em todo mundo. Para ele, no inal, os EUA terão que pagar um preço muito alto pela sua negligência, e infelizmente, isso já está acontecendo. NOTAS -Spetsnaz: A História Interna das Forças Especiais Soviéticas de Victor Suvorov 

-http://www.jrnyquist.com/ cibulka_2005_0417.htm -http://www.tldm.org/news4/ cibulka.htm -http://www.freerepublic.com/ focus/f-news/1594744/posts

-And Reality Be Damned... Undoing  America: What Media Didn’t Tell You About the End of the Cold War and the Fall of Communism in Europe -

http://pdfcast.org/ paid/9781609111663 -The Velvet Philosophical Revolution http://frontpagemag. com/2010/02/15/the-velvetphilosophical-revolution/ Historical Deceptions: Fall of Communism. From the World Affairs Brief  http://www.worldaffairsbrief. com/keytopics/Communism. shtml -Dark secret of new EU president Vaclav Klaus Robert Eringer 22

http://cryptome.org/0001/ vaclav-klaus.htm -Václav Klaus a KGB… http://smrk.blog.idnes. cz/c/106155/Vaclav-Klaus-a-KGB. html -Pavel Žáček: CELOSTÁTNÍ PROJEKT RUSKO-ČESKÉHO KOMUNISTICKÉHO GESTAPA StB “KLÍN” NA INFILTRACI A ROZVRÁCENÍ OPOZICE!!! DODNES AKTUÁLNÍ! http://www.cibulka.net/ wp/?p=3066 -KGB Yesterday, Today, and Tomorrow http://frontpagemag. com/2010/07/06/kgb-yesterdaytoday-and-tomorrow-2/ -The Case Of George Soros http://www.rense.com/ general61/thecaseofgeorgesoros. htm -In Eastern Europe Things Are Not What They Seem -An interview with Petr Cibulka http://www.cibulka. net/petr0/view. php?cisloclanku=2005070204 -Prague Declaration on European Conscience and Communism http://www.sinagl.cz/phpbb2/ viewtopic.php?p=12287&sid= 36a6a59b9b12580a1925962d 6c126995 -Clash Of The Dissidents Posted: December 22, 1993 By Hider, James -http://www.praguepost.com/ archivescontent/11804-clash-ofthe-dissidents.html

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Hélio Angotti Neto

Desinformação

Desinformação e Tradução:  A Orelhada Ideológica Um novo estilo literário se aproxima: é a orelhada, uma falsiicação do conteúdo real do livro em sua própria orelha, e a técnica já possui representantes no Brasil. Em suma: mais uma forma gerada pela pior parte da esquerda brasileira (ou melhor?) para enganar tapados. Não é à toa que qualquer um dedicado à vida intelectual precisa recorrer aos originais. Deparei-me recentemente com um livro que despertou instantaneamente minha atenção. Escrito por Alain Besançon, a pequena obra intitulada “Infelicidade do Século” expunha os crimes e as razões de ser do nazismo e do comunismo, ressaltando o sofrimento judeu e um fato curioso, senão imoral: o excesso de atenção dada ao nazismo na mídia e nas discussões políticas, e o descaso absurdo com o comunismo e seus resultados ainda mais aterradores que os resultados do partido de Hitler. Besançon, num poder de síntese louvável, explica bem o caráter messiânico do comunismo, e como o mesmo se autoriza a praticar os maiores males com as melhores promessas, utópicas, certamente.

“Le Malheur du siècle”, um livro que critica o esquecimento dos crimes comunistas, e mostra como a carapuça de santidade  pode promover na  prática males muito maiores do que o nazismo. Mas não quero falar do livro em si. Basta o que foi dito como incentivo à leitura. O que me surpreendeu foram alguns detalhes editoriais e de tradução para o português. Estranhando os detalhes, descobri que o tradutor era ninguém mais, ninguém menos, que Emir Sader. Ele mesmo, o do Getúlio com “LH”.

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pelos professores de história por todo nosso país. Basta falar do século XX e o bigode de Hitler aparece. Os gritos histéricos e a gesticulação exagerada dos dicursos de Hitler despertam sem dúvida nenhuma muito mais No original, Alain Besançon repúdio do que o sorriso maroto descreve que ocorreu uma escondido pelo bigode de um amnésia em relação ao comunismo Stálin tão bem retratado pela (l’amnésie du communisme) e propaganda comunista. uma hipermnésia em relação ao nazismo ( l’hypermnésie Na memória das du nazisme). Hipermnésia, para massas o nazismo qualquer brasileiro alfabetizado de  permanece como um forma razoável, e que teve algumas  grande mal enquanto poucas aulas de etimologia, remete à “hiper” (muito) e o comunismo muitas “mnésia” (lembrança, recordação). vezes é exaltado como O nazismo está na mídia, está em utopia adequada e Holywood, está nas discussões digna de ser buscada. políticas e nos exemplos dados

Emir Sader, ele mesmo, aquele do Getúlio com LH! Agora fazendo mágica com etimologia de fundo de quintal.

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 Aí está o grande mal. Ideologias que  pregam ins um  pouco diferentes (o comunismo tem um cunho mais universalista), mas que empregam métodos  semelhantes. Só que a ideologia travestida de boas intenções tem um potencial de destruição incrivelmente maior  justamente pela camulagem que usa.

Na tortura mental que é a leitura das palavras do Emir, a explicação se inverte. Mas como o tradutor é um cara muito legal, ele concede um pouco de crédito à sua vítima, digo, ao autor do livro. Emir escreve que apesar de Besançon ser conservador, sem dúvida nenhuma uma qualidade que impede a racionalidade na maioria dos seres humanos, sua obra permanece como um libelo contra a opressão, ou alguma porcaria do tipo. Que bom que Sader gasta um pouco de sua misericórdia para com Besançon, não? Mas não é que o danado do Emir consegue jogar até mesmo um pouco de veneno contra os judeus na questão da Palestina no pouco espaço das orelhas do livro? É um prodígio!

E eis que Emir Sader, num passe de mágica, traduz hipermnésia como... Hiper-amnésia! Claro que qualquer leitor atento compreende logo o sentido proposto por Besançon, aliás, muito claro em sua exposição, mesmo após o prejuízo imposto pela má tradução. Mas ouso dizer que ler hiper-amnésia é tão contraditório que às vezes a concentração parece falhar. Ainal de contas, Sader transformou um excesso de recordação em um super-esquecimento! Ainda mais absurdo é o que se encontra na orelha do livro. Emir Sader comenta casualmente que o tema do livro é justamente não permitir que o nazismo seja esquecido. Isso mesmo! Não estou brincando, e nem li no local errado.

Nas orelhas do livro, Emir dá suas orelhadas. Ele fala de imperialismo, capitalismo, busca de  poder, um excesso de atenção aos crimes do comunismo, uma neutralização da memória dos crimes nazistas por causa das maldades que os  judeus fazem contra os  palestinos... Mas de que livro Sader está falando ainal?

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As conclusões desse iasco ao qual alguns imbecis deram o nome de tradução só podem estar incluídas entre as seguintes hipóteses:

algumas palavras é o mesmo que não contar com a leitura atenta do livro, ou contar com sua não compreensão. Resumindo Emir Sader só teria crédito em meio a alunos imbecilizados, preguiçosos e incapazes de ler e/ou apreender Emir Sader é uma pessoa o conteúdo de uma leitura honestíssima, mas além de não relativamente clara e fácil. saber interpretar textos, incluídos os que ele acaba de traduzir, Na verdade Emir Sader é também não compareceu às aulas honesto e traduziu correto. de etimologia. Resumindo: Emir O culpado é o responsável pela Sader pode até ser honesto, se for edição, um perigoso ideólogo escandalosamente burro ou mal que tentou destruir a carreira de preparado. Emir Sader esculhambando com sua obra na tradução do livro de Emir Sader errou de forma Besançon. consciente num ato de má-fé Considerando esse excelente evidente e inegável. Distorceu as t r ab a l h o a ut o - d if a m at ó r i o idéias e palavras de Alain Besançon realizado pelo Emir Sader, seria e dele fez pouco caso. Já que não necessário dizer pouco mais, mas conseguiu, ou não consegue, evitar ica a discussão da contra-capa a tradução de uma obra literária como um exemplo do nível baixo de de um conservador, o que resta desinformação à qual a juventude a ser feito é sabotar o mesmo, brasileira está submetida. distorcendo e deturpando sua Buscando mais informações obra, tentando usá-la para o im sobre a porcaria feita na tradução contrário desejado pelo autor. brasileira, respirei aliviado Se Emir Sader cometeu ao ver que outros já haviam tais atos movido por má- testemunhado sobre o absurdo. fé, considera que seus alunos e Abaixo, alguns links onde críticas seus leitores são incrivelmente excelentes e de maior mérito estúpidos, ou até mesmo podem ser encontradas: portadores de grave retardo www.olavodecarvalho.org/ mental ou de uma preguiça irresistível. Esperar obter algum convidados/0098.htm www.olavodecarvalho.org/ resultado ideológico prático operando erros grosseiros de semana/05272002globo.htm www.olavodecarvalho.org/ tradução e interpretação (como os que foram feitos) utilizando semana/080925dce.html as orelhas do livro e mudando

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Henrique de Albuquerque

Religião

O Nazismo e Igreja Católica na Alemanha: Colaboração ou Resistência? Parte 1: A ascenção do Nazismo e a Igreja alemã

A situação política e econômica da Alemanha no começo da década de 1930 era de uma gravidade crescente. As sucessivas crises econômicas da década de 1920, agravadas pela Grande Depressão de 1929, izeram cessar o luxo de investimentos inanceiros americanos. Embora o mundo inteiro sofresse com a crise, esta se apresentou particularmente grave na Alemanha, mais grave do que em qualquer outro país europeu. Além disso – e também por causa

disso –, o sistema democrático parlamentar alemão passava por uma crise sem precedentes: o povo faminto e desempregado, sem nenhuma perspectiva de vida, questionava-se sobre a utilidade de um sistema que não conseguiu, em pouco mais de uma década, tirar a Alemanha do buraco em que se achava desde o im da Guerra. Foi nesse ambiente social desgastado, terreno fértil para as aventuras totalitárias, no qual a pobreza e o desemprego reinavam e as

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instituições eram corroídas pela crise e pelas disputas políticas, que o Partido Nacional-Socialista de Adolf Hitler foi paulatinamente crescendo na preferência popular. “Nacionalistas, banqueiros, industriais e o eleitor comum estavam todos convencidos, durante os anos de 1931 e 1932, que o partido nazista era o único que poderia impor ordem às coisas do estado e resolver o problema dos desempregados, que somavam já mais ou menos 3 milhões, por volta de 1930. Este número aumentaria para 8 milhões em 1932, muitos deles ingressando nas ileiras das SA1, para ter algo que fazer”2. Nas eleições de 14 de setembro de 1930, os nazistas conseguiram seis milhões e meio de votos, um total de 107 cadeiras no Reichstag, o parlamento alemão, contra as doze que tinham adquirido nas eleições de 1928. Nas eleições presidenciais de 1932, Hitler obteve onze milhões de votos contra dezoito milhões do presidente eleito Paul Von Hindenburg, mas sua posição se tornou bem confortável para o futuro. Nas eleições de julho de 1932, os nazistas conseguiram 230 cadeiras. Em novembro, perderam 37 dessas vagas, mas através de manobras e conchavos políticos, Hitler conseguiu ser nomeado chanceler em 30 de janeiro de 1933. Acusando os comunistas de conspirarem contra o novo governo, e dando como prova o incêndio do prédio do Reichstag, atribuído a eles, Hitler assinou, 28

em 23 de março, a Lei de Exceção que concedia ao governo o poder de governar por decretos, Lei que o parlamento acatou por meio de ameaças e pressões. Todo o processo estaria completo com a supressão do cargo de presidente, quando Von Hindenburg falecesse, o que ocorreu em agosto de 1934. Nascia, assim, a ditadura hitleriana. Foi nesse ambiente que os acertos inais para uma Concordata do Reich com a Igreja foram tomados3. A necessidade da Concordata tornou-se ainda mais premente diante do novo governo que, se não promovia abertamente uma perseguição contra os católicos, permitia sub-repticiamente que tal acontecesse a nível local pela ação dos grupos paramilitares nazistas. A Concordata foi assinada em 20 de julho de 1933, em Roma, pelo Cardeal Secretário de Estado Eugenio Pacelli, representando a Santa Sé, e pelo vice-chanceler do Reich, Franz Von Papen, representando a Alemanha. Pelo acordo, icavam reconhecidas as Concordatas anteriores assinadas com os estados alemães (Baviera, Prússia, Baden), a Igreja Católica gozaria de plena liberdade religiosa no Reich, as faculdades de teologia seriam mantidas nas universidades estatais, assegurava-se a educação religiosa nas escolas, mesmo as não-confessionais, possibilitava-se a ação pastoral nos hospitais e no Exército e prometia-se a proteção das associações católicas com inalidades religiosas, culturais,

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educativas e proissionais 4. Em contrapartida, o episcopado deveria reconhecer a legalidade do novo regime, os bispos nomeados pelo Papa deveriam prestar juramento ao Estado antes de assumirem suas dioceses e o clero não poderia envolver-se em qualquer tipo de política. Esta última exigência praticamente obrigava a dissolução do Zentrum, o partido católico de centro, que constituía uma signiicativa oposição ao governo, uma vez que aquele tinha ampla participação do clero, inclusive tendo um padre como presidente do partido, Monsenhor Ludwig Kaas, o qual era também estreito colaborador do Cardeal Pacelli. Mas a relação entre a assinatura da Concordata e a dissolução do Zentrum, dada como certa por John Cornwell no livro O papa de Hitler 5  ainda é discutida entre os historiadores6. Desde muito cedo a Igreja Católica na Alemanha tinha percebido o caráter anticristão do Partido Nazista. Os católicos foram terminantemente proibidos de se ailiarem ao Partido 7, cujos membros não podiam participar dos sacramentos nem tampouco serem sepultados nos cemitérios da Igreja. A postura era a mesma da Santa Sé. Mesmo o hostil Cornwell admite que “o Vaticano não era absolutamente favorável ao Partido nazista. A Santa Sé não endossava o racismo implícito ou explícito do nacional-socialismo. Alertava para o seu potencial de instituir

um credo idólatra, baseado em fantasias pagãs e uma história folclórica espúria”8. Os nazistas, por sua vez, reclamavam da oposição católica que encontravam em todos os lugares da Alemanha por parte dos iéis, dos intelectuais, do clero e do episcopado. A primeira condenação formal dos bispos aconteceu na Baviera em 1931. Logo outras dioceses importantes como Colônia e Padeborn juntaram-se às condenações. Depois das eleições de julho de 1932, com a vitória dos nazistas, todos os bispos alemães, reunidos em Fulda para a sua Conferência Geral, denunciaram os nazistas por suas doutrinas pagãs e seus métodos violentos e hostis à fé e à moralidade. Mesmo depois da subida de Hitler ao poder, os bispos ainda mantinham uma condenação geral, que foi aos poucos declinando. Diante da assinatura da Concordata e da linguagem adocicada acompanhada de lisonjas e garantias que Hitler oferecia à Igreja, alguns bispos se viram em dúvida a respeito do regime e foram obrigados a atenuar as condenações e deixar ao clero o juízo de casos especíicos. Hitler tinha proibido os nazistas de exporem publicamente suas opiniões a respeito da religião já em 19279 e promovia uma política de boa vizinhança e colaboração entre a Igreja e o novo Estado alemão. É verdade que alguns caíram na demagogia do Führer, como o abade beneditino Alban Schachleitner,

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mas Hitler sabia que um confronto direto com a Igreja Católica poderia desencadear uma forte oposição ao nacional-socialismo, como aconteceu durante a repressão católica conhecida como Kulturkampf durante o I Reich de Otto Von Bismarck, no século anterior. Internamente, todos os membros do Partido tinham o cristianismo como um inimigo em potencial. Alfred Rosenberg, o ideólogo do Partido, dizia: “Catolicismo, protestantismo e judaísmo deverão deixar campo livre a uma nova concepção de mundo, de modo que destes não ique nem a lembrança”10. A revista nazista D e u t s c h e Volkskirche escreveu: “Toda acomodação entre a Igreja Romana e o Nacional-Socialismo é impossível; apenas pode haver um conlito para vitória ou derrota” 11. No Mein Kampf (Minha Luta), seu livro programático e de memórias, Hitler tinha escrito que eliminaria o cristianismo logo depois do judaísmo; ele tencionava criar uma religião nazista, baseada no mito da raça e do sangue e tendo como objeto de culto ninguém menos 30

do que ele próprio 12. Na verdade, “Hitler pretendia a total extinção da fé tradicional dos cristãos, por meio de restrições e de um terror em escala crescente” 13. Apesar disso, ele tentava evitar toda e qualquer confrontação aberta com o catolicismo, que era uma força importante dentro da sociedade alemã. Dentro dessa lógica, Hitler empenhou-se ao máximo para ter um acordo concordatário com a Santa Sé em moldes semelhantes ao que Mussolini conseguiu com os Pactos de Latrão14. Ele achava – ou pelo menos se gabava disso publicamente – que a Concordata era um endosso moral da Santa Sé ao novo Reich. Logo após Papa Pio XI  a assinatura da Concordata, Hitler disse que “o fato de o Vaticano estar concluindo um tratado com a nova Alemanha signiica o reconhecimento do Estado nacional-socialista pela Igreja Católica. Esse tratado comprova para o mundo inteiro, de maneira clara e inequívoca, que a insinuação de que o nacionalsocialismo é hostil à religião não passa de uma mentira” 15. A visão

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do Cardeal Pacelli era muito diferente. Para começar, ele negou categoricamente que o acordo fosse um endosso ao regime nazista em um artigo publicado no L’Osservatore Romano (jornal oicioso da Santa Sé). Para ele, a Concordata constituía uma base jurídica para defender os católicos das eventuais perseguições que, com certeza, adviriam no futuro. De fato, houve 34 protestos da Santa Sé contra violações da Concordata desde que esta foi assinada até 1937, quando a situação se tornou insustentável e obrigou a uma condenação enérgica por parte do Pio XI. No decorrer dos anos 1930, a Igreja na Alemanha se viu amplamente perseguida. A perseguição não era nem aberta nem sistemática; cá e lá, em diversas partes do Reich, as autoridades locais ou os milicianos nazistas eram incentivados desde as altas esferas do governo – mas sem comprometê-lo – a cometer pequenos e médios atos contra os católicos. Assim, por exemplo, “cinco dias após sua assinatura [da Concordata do Reich] foi aprovada a lei de esterilização; e após mais cinco dias o líder da Ação Católica Alemã, Dr. Erich Klausener, foi assassinado. Em quatro anos centenas de padres católicos foram presos, sendo que pelo menos 127 foram enviados para campos de concentração; propriedades da Igreja foram coniscadas; a imprensa católica foi

gradativamente sendo suprimida; as escolas católicas foram sendo fechadas16; a juventude foi afastada da família e da Igreja, pois as reuniões dos ramos da Juventude Hitlerista (praticamente todos os adolescentes a elas pertenciam, por livre vontade ou sob pressão) eram feitas nas manhãs dos domingos, única oportunidade, naquela época, de cumprir o preceito de missa dominical”17. “Uma intensa campanha difamatória foi feita por radiofonia, revistas e periódicos; os católicos eram caluniados e declarados inimigos do Reich. Entre as calúnias estava a que airmava que as sacristias viraram bordéis e os monastérios locais de homossexualidade. Católicos foram proibidos de organizarem reuniões públicas, mesmo que para ins estritamente religiosos. Conventos foram declarados excessivos, e mais de 600 freiras professoras foram excluídas do ensino e intimadas a encontrarem empregos civis. Só na Baviera, foram 367 as freiras excluídas do ensino nas escolas; também não podiam trabalhar em creches e jardins de infância. (...) Os sacerdotes e religiosos icavam sob vigilância constante, mesmo dentro das igrejas e durante os cultos. Eram denunciados à Gestapo se apresentassem a doutrina católica de um modo que não fosse do agrado dos nazistas”18. Alguns se insurgiam e criticavam o governo de maneira bastante incisiva, como o jesuíta Josef Spieker, o primeiro sacerdote enviado a

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um campo de concentração por ter dito numa homilia da festa de Cristo Rei, em 28 de outubro de 1934, que o único Führer da Alemanha era Cristo19. Também o padre Bernhard Lichtenberg foi condenado a dois anos de prisão por ter rezado pelos judeus na Catedral de Santa Edwiges em Berlim depois da Kristallnacht 20 e o jesuíta Rupert Mayer foi condenado a seis meses de prisão, em 1937, por pregar contra o antissemitismo nazista21. Alguns bispos corajosos também se pronunciaram contra o regime, como Konrad Von Preysing de Berlim, Clemens August Von Galen de Münster e o cardeal arcebispo de Munique Michael Von Faulhaber, que chegou a dizer num sermão: “Não podemos jamais esquecer: não somos salvos pelo sangue alemão. Somos salvos pelo sangue precioso de Nosso Senhor cruciicado”22. A maior parte do episcopado, no entanto, preferiu não bater de frente com Hitler enquanto ele não fosse abertamente contra o cristianismo e promovesse uma perseguição sistemática. Hitler negava todas as acusações de perseguição e para os que protestavam lembrava a sorte dos católicos nos países comunistas. De fato, nos países do chamado Triângulo Vermelho (por causa do comunismo ou de sua inluência), Rússia, Espanha e México, a Igreja era vítima de uma perseguição anticristã declarada e brutal. No imenso território soviético, 32

a Igreja Ortodoxa sofria as mais sérias restrições, mesmo sendo subserviente ao Estado. O ateísmo era ensinado nas escolas e propagado por todos os meios culturais possíveis; clérigos e bispos católicos e ortodoxos eram presos e enviados a gulags (campos de trabalho forçado) na Sibéria. Muitos foram assassinados. Tentativas de negociação entre a Santa Sé e o Estado soviético malograram depois que o bispo jesuíta francês Michel d’Herbigny, que tinha sido enviado pelo Papa para consagrar bispos em segredo na União Soviética, foi descoberto e expulso do país, e os bispos sagrados presos 23. Antes, o próprio cardeal Pacelli tinha mantido contato, entre os anos de 1924 a 1928, quando ainda era núncio apostólico na Alemanha, com representantes soviéticos no intuito de estabelecer melhores relações com o governo de Stalin para fazer cessar a perseguição à Igreja. As negociações, porém, não foram adiante24. O anticlericalismo na Espanha vinha de longa data. Desde o século XIX ele foi crescendo, sobretudo nos meios intelectuais, até atingir um ponto perigoso com a instituição da república em 1931, cuja Constituição transformava a Espanha num Estado laicista que diicultava a vida da Igreja. A partir daí, multiplicaram-se os atos de violência anticlericais em meio à indiferença dos poderes públicos, e a perseguição religiosa continuou

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crescendo até que, em 18 de julho de 1936, uma parte do exército sob as ordens do General Francisco Franco iniciou uma guerra civil contra as forças governamentais. Nesta guerra, o fator religioso foi preponderante: uma perseguição brutal foi levada a cabo na zona controlada pelo governo, onde 6.832 sacerdotes foram massacrados, sobretudo no período de julho a dezembro de 1936; em agosto havia uma média de setenta mortes por dia. O historiador italiano Giacomo Martina assevera: “O ataque à Igreja e a seus sacerdotes não era obra casual de determinadas pessoas exaltadas: ele foi organizado sistemática e abertamente pela polícia e pelas autoridades, foi aprovado e comemorado em artigos, discursos, escritos diversos”25. A perseguição só viria a terminar com a vitória de Franco, em abril de 1939. A postura da Santa Sé no conlito foi de condenação da perseguição através de inúmeros pronunciamentos do Papa. Mas o apoio a Franco, mesmo implícito, só tomou forma depois do im da Guerra Civil, através do reconhecimento do governo26. No México a onda anticlerical também se iniciou no século XIX e aprofundou-se a ponto de chegar à perseguição durante o reinado de Pio XI. Entre os anos de 1917 e 1929 “assiste-se no México ao esforço de uma minoria (composta de altos militares e de advogados ou juristas) em erradicar do país, em sua grande maioria profundamente

católico, se não a própria fé cristã, ao menos toda inluência social da Igreja”27. O endurecimento começou com a Constituição de 1917, que proibia qualquer inluência religiosa nas escolas, os votos religiosos, a fundação de mosteiros (e, posteriormente, de todo tipo de ordem religiosa), mandava coniscar os bens imóveis eclesiásticos, não reconhecia o matrimônio religioso e não permitia que o clero fosse estrangeiro nem possuísse mais os direitos políticos tradicionais, além de não poder mais receber herança a não ser de parentes próximos. Uma lei posterior, de 1926, proibia o uso de hábito eclesiástico e o culto religioso fora das igrejas. O episcopado mexicano, com o apoio do Papa, entrou em rota de colisão com o governo, proibindo o culto dentro das igrejas e fazendo que toda a ação pastoral, incluindo o culto, passasse a ser clandestina. Uma parte do povo organizouse num exército paramilitar de cerca de trinta ou quarenta mil combatentes, conhecidos como cristeros, na sua maioria camponeses que lutavam pela liberdade religiosa e por melhorias sociais. A crise foi mais ou menos contornada por vias diplomáticas em 1929, não sem deixar um saldo de oitenta mil mortos dos dois lados do conlito. Pio XI dedicou quatro encíclicas à questão mexicana: Paterna sane sollicitudo e Iniquis aflictisque (ambas em 1926), Acerba animi magnitudo

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(1932) e Firmissimam constantiam (1937), nesta última admitindo a legitimidade de uma resistência armada quando houvesse violação da justiça e da liberdade28. Diante de toda a onda de perseguições comunistas (ou inspirada por eles, como no México após 1930 – o México foi o segundo país do Ocidente a reconhecer o Estado soviético29) pode-se entender a política defensiva da Igreja alemã e da Santa Sé com relação ao nazismo. Como dito, Hitler, embora fosse o mentor de um partido anticatólico, fazia reiteradas declarações de boas intenções para com a Igreja, o que era muito diferente do que faziam os comunistas que, não somente pregavam contra o cristianismo, mas o perseguiam implacavelmente onde quer que estivessem no poder. Assim, muitos católicos alemães, inclusive no episcopado, aprovavam a retórica antibolchevique do regime 30. Mantinha-se em suspenso um juízo condenatório acerca de um governo hostil à religião, mas que, naquele momento, não podia destruí-la. NOTAS

1 SA: Sturmabteilung, as tropas de assalto de Hitler. 2 MANVELL, Roger. Göring. Rio de Janeiro: Renes, 1974, p. 40. 3 Existiam três tipos de acordos que a Santa Sé assinava com os Estados nacionais: o Modus Vivendi, a Convenção e a 34

Concordata. Os dois primeiros eram acordos simples que regulavam algumas questões particulares, que variavam de nação para nação, como por exemplo, a nomeação dos bispos, os limites das circunscrições eclesiásticas, a salvaguarda de associações católicas. Acordos como estes foram assinados com a França (em 1926), com Portugal (1928 e 1929), com a Tchecoslováquia (um Modus Vivendi, em 1927). Já as Concordatas eram acordos mais amplos e que envolviam vários aspectos que regulavam a convivência entre a Igreja e o Estado. Os acordos dividiam-se em três grupos, cada qual com suas peculiaridades: os assinados com Estados predominantemente católicos (Baviera, 1924; Polônia, 1925; Lituânia, 1927; Itália, 1929; Áustria, 1933), onde se buscava, em síntese, conseguir para o catolicismo o status de religião oicial; os irmados com Estados com forte e signiicativa presença católica (Tchecoslováquia, 1927; Baden, 1932; Prússia, 1929; Alemanha, 1933), tinham por objetivo adquirir certas facilidades mais ou menos importantes quanto às questões de educação católica e subvenção econômica; inalmente, os assinados com países com minorias católicas (Letônia, 1922; Romênia, 1927 e 1932), reivindicavam o princípio da liberdade religiosa e reconhecimento do catolicismo em par de igualdade com as outras religiões. O que havia de comum a todos esses acordos era a faculdade

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de livre escolha dos bispos pela Santa Sé, podendo o Estado objetar o escolhido por motivos políticos; o clero e os responsáveis pelas ordens e congregações religiosas deveriam ser cidadãos do país e deveriam estar afastados da militância política. Cf. VERUSO, Danilo. Il Pontiicato di Pio XI. In: GUASCO, Maurilio et. Al. Storia della Chiesa. Vol. XXIII: I Cattolici nel Mondo Contemporaneo (1922-1958). 3 ed. Milano: San Paolo, 1996, p. 56-58). 4 MARTINA, Giacomo. História da Igreja – De Lutero a nossos dias. IV: A Era Contemporânea. São Paulo: Loyola, 1997, p. 174. 5 CORNWELL, John. O papa de Hitler: A História Secreta de Pio XII. Rio de Janeiro: Imago, 2000, p. 122-174. 6 Cf. MARTINA, op. cit., p. 173-174. 7 Esta proibição foi imposta pelo episcopado já em 1932 e revalidada em 1933, sendo reiterada nos anos de 1934, 1935, 1936 e 1938. Cf. BLESSMANN, Joaquim. O Holocausto, Pio XII e os Aliados. Porto Alegre, EDIPUCRS, 2003, p. 166. 8 CORNWELL, op. cit, p. 132. 9 Cf. CORNWELL, op. cit, p. 121. 10 GASPARI, Antonio. Los judíos, Pio XII y la Leyenda Negra. Citado em BLESSMANN op. cit., p. 121. 11 RYCHLAK, Ronald J. Hitler, the war, and the Pope. Citado em BLESSMANN, op. cit., p. 122.

12 O Doutor Felix Kersten, médico pessoal de Heinrich Himmler (o famigerado chefe das SS (Schutzstaffeln – Tropas de Proteção) e da GESTAPO (Geheimestaatspolizei – Polícia Secreta do Estado), e homem mais poderoso do Reich depois de Hitler), disse que Himmler tinha lhe dito em certa ocasião, pouco antes da ocupação da França (junho de 1940): “Depois da vitória do III Reich (...) o Führer abolirá o cristianismo em toda a Grande Alemanha, isto é, na Europa, e levantará sôbre (sic) as ruínas a fé germânica. Conservaremos a idéia (sic) de Deus mas de maneira vaga e indistinta. O Führer substituirá o Cristo como Salvador da Humanidade. Assim, milhões e milhões de pessoas só professarão o nome de Hitler em suas preces e daqui a 100 anos nada se conhecerá senão a nova religião” (KESSEL, 1966, p. 82-83). 13 BLESSMANN, op. cit., p. 123. 14 Sobre os Pactos de Latrão, conira, entre outros: MELO, Carlos Veloso de. Pio XII. São Paulo: Três, 1974, p. 34; FORTY years after the Lateran Pacts. L’Osservatore Romano: Weekly Edition in English. 20 Feb. 1969. Disponível em: . Acesso em: 15 jan. 2012, 11:39.; VERUSO, op. cit., p. 58-63. 15 SCHOLDER, Klaus. The Churches and the Third Reich. Citado em CORNWELL, op. cit., p. 147.

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16 As escolas confessionais católicas na Alemanha eram mais de 15 mil (MARTINA, op. cit., p. 176; ZAGHENI, Guido. A Idade Contemporânea: Curso de História da Igreja – IV. São Paulo: Paulus, 1999, p. 289). 17 BLESSMANN, op. cit., p. 77. 18 BLESSMANN, op. cit., p. 123-124. 19 No sentido de que Cristo era o único chefe (Führer) da Alemanha, e não Hitler. 20 Em 9 de novembro de 1938, uma explosão de violência antijudaica que icou conhecida como Kristallnacht (Noite dos cristais, em alusão aos estilhaços de vidro das lojas depredadas) tomou conta das ruas de toda a Alemanha, deixando um saldo de 851 lojas destruídas, 191 sinagogas incendiadas e 76 demolidas, 91 judeus mortos e 20 mil presos em campos de concentração (cf. BLESSMANN, op. cit, p. 118). 21 Cf. CORNWELL, op. cit., p. 206. 22 CORNWELL, op. cit., p.180. Faulhaber também fez uma série de cinco célebres sermões, durante o Advento, defendendo o Antigo Testamento das acusações nazistas. Em outra ocasião, diante das críticas de Rosenberg à sua pessoa, o Cardeal declarou que Rosenberg “escreveu que não estima o Arcebispo de Munique, porém o Arcebispo deveria envergonhar-se até desaparecer se homens de tal índole o estimassem” (GASPARI, op. cit., citado em BLESSMANN, op. cit., 36

p. 166). 23 McBRIEN, Richard. P. Os Papas: Os Pontíices: de São Pedro a João Paulo II. São Paulo: Loyola, 2000, p. 367. 24 Cf. ZAGHENI, op. cit., p. 306; CORNWELL, op. cit., p. 296. 25 MARTINA, op. cit., p. 185186. 26 Cf. uma análise do problema espanhol em MARTINA, op. cit., p. 183-189. 27 MARTINA, op. cit., p. 147. 28 Para uma boa análise do problema mexicano, cf. MARTINA, op. cit., p. 146-152. 29 Cf. CORNWELL, op. cit., p. 129. 30 É verdade, no entanto, que a retórica nazista com relação ao Estado soviético era puro engodo, ao menos até 1941, quando a Alemanha invadiu a Rússia. Hoje, sabe-se das origens comuns de nazismo e comunismo e da colaboração estreita que mantiveram até antes de se enfrentarem no front. Por exemplo, foi Stalin quem forneceu matéria-prima para o rearmamento alemão em meados da década de 1930 e documentos comprovam que muitos agentes da SS e da Gestapo eram treinados na URSS nas práticas de tortura e na organização dos campos de concentração. Cf. o documentário The Soviet Story (Direção e roteiro de Edvins Snore, Produção: Kristaps Valdnieks, Riga, Letônia: SAI ,,Labvakar”, DVD, 85 min).

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Hélio Angotti Neto

Resenha Literária 

Vidas Secas O brasileiro continua Fabiano

Fabiano e sua família (sinha Vitória, os dois ilhos e a cadela Baleia) começam vagando na terrível seca. O livro de Graciliano Ramos abre sua história numa luta desesperada contra a morte. Na hora do aperto, os pensamentos humanos são como os dos animais. Sonha-se com a comida, com o básico, com apenas mais um dia de vida. A salvação chega ao depararem com uma propriedade abandonada. O dono da terra ressurge com a melhora do clima e contrata Fabiano, e embora as agruras da terrível e mortal seca que os assolara tenham ido embora, suas vidas permanecem secas. A diiculdade em se comunicar, a falta de palavras para expressar sentimentos, visões ou trocas de experiências, é acachapante. A linguagem dos pobres personagens é reduzida ao mínimo, e eles mal conseguem transmitir o que se passa em suas almas. A constante presença da cachorrinha Baleia e a descrição que Graciliano Ramos faz de seus “pensamentos”, semelhantes aos pensamentos de Fabiano e sua família, criam um paradoxo interessante. O homem sem linguagem torna-se quase como um animal, enquanto o animal na convivência com o homem torna-se menos animal.

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“Livres dos nomes as coisas ficam distantes, misteriosas. Não tinham sido feitas por gente.  E os indivíduos que mexiam nelas cometiam imprudência. Vistas de longe eram bonitas.  Admirados e medrosos, falavam baixo para não desencadear as forças estranhas que elas  porventura encerrassem” (acerca das coisas que os personagens viam na cidade). Durante a leitura, o sentimento de incapacidade que ronda a falta de linguajar dos personagens chega ao ponto de se tornar angustiante. Desejos não conseguem ser transmitidos. Palavras não ditas expressamse com onomatopéias, chutes e “Ans”. Fabiano até deseja elaborar palavras complicadas como fazia o conhecido Tomás da bolandeira, homem de muitos livros, mas falha seguidamente. Na seca, de que vale a erudição? Assim pensa Fabiano. Perante a autoridade do Estado, Fabiano sente medo e uma terrível coniança. O “Estado não pode falhar”, “Governo é Governo”; e as 38

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injustiças do soldado amarelo, que covardemente abusa de Fabiano, seguem impunes. Fabiano reproduz o temor do simples homem brasileiro perante a autoridade. E Graciliano Ramos deixa aparecer um interessante paralelo entre a servidão de Fabiano à autoridade, e a obediência da pequena Baleia aos seus donos, mesmo quando Fabiano a sacriica por conta de uma doença grave e debilitante. O Brasil permanece Fabiano! Verdades, hoje em dia, aos poucos são soterradas por uma falsa linguagem de chavões e slogans políticos; enquanto a alta cultura e o legado milenar da língua portuguesa, ilha do latim e do grego, se dissipa carregando consigo a capacidade de expressar sentimentos quase inexprimíveis. Nosso povo não consegue se comunicar, tampouco pensar fora dos moldes medíocres da atualidade. A ideologia se apodera de nossas mentes e reproduz em larga escala a sequidão descrita por Graciliano Ramos. Antes preiro a ausência de palavras e uma busca sincera por expressão do homem simples do que um falso grupo de palavras que escraviza a mente do seu usuário e passa uma ilusão de falso conhecimento. O brasileiro “simples” permanece atônito diante da autoridade. Até mesmo quando contesta, não passa de um militante mobilizado por uma autoridade partidária, encarnada como o Príncipe Gramsciano da modernidade. Assim como Fabiano, que passa a integrar as posses do dono da fazenda, o homem torna-se gado. Somos contados por cabeças, a quantidade escraviza a qualidade, e os homens viram massa, viram armas, viram bichos num curral. Nossos intelectuais materialistas bradam que o homem não pode almejar o transcendental, não pode buscar a Deus em espírito enquanto a carne padece. Na visão marxista que nos doutrina, Fabiano para sempre permanecerá Fabiano, e sua vida para sempre permanecerá seca, imanente, pobre do verdadeiro Espírito ou recheada de um falso espírito, supersticiosa. Para que pensamentos? Para que comunicar algo que não seja a matéria? Melhor manter o brasileiro na seca, preocupado com a carne, do que permitir algum vôo. E se alguém ousar um vôo de Espírito, que seja dentro do molde de palavras permitidas, pois aquilo que você não pode expressar e traduzir em palavras, você diicilmente consegue pensar. Graciliano Ramos já declarava o valor das palavras que George Orwell enxergava bem. Palavras libertam, mas podem escravizar, seja pela ausência, seja pelo molde ideológico.

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Resenha Literária

Hélio Angotti Neto

 A Tragédia da Redenção Inatingível Lendo o livro “O Lobo da Estepe”, de Hermann Hesse, é impossível não perceber as múltiplas interpretações que brotam a cada página. A história, de cunho psicológico, intimista e auto-biográico, nos conta dilemas, conlitos e contradições da agitada alma de um intelectual que lerta com a idéia de seu suicídio. O personagem principal, Harry, veio de uma cômoda, pacata e bem planejada situação burguesa. Situação essa que o protagonista despreza, e ao mesmo tempo lamenta ter perdido. A segurança, o conforto, a tranquilidade, os bons modos, as conveniências, as conversas rasas e inócuas. Enfim, a promessa mundana de uma vida sem vôos altos do espírito e, consequentemente, sem as terríveis quedas rasantes no Vale da Morte. A vida morna... Sofrendo ao ser abandonado por sua esposa, Harry assume uma carrancuda aparência de “lobo”. Selvagem e inimigo de toda civilidade burguesa. Mas dentro dele, ao lado do animal, se encontra ainda o homem, e um homem culto. Ele provou do sublime. Ele vivenciou as grandes obras de arte da civilização. Escutou as sinfonias de Bach e Mozart. Leu os clássicos. Estudou as religiões. Como conciliar o homem e o lobo?

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Harry segue adiante lertando com uma possível solução libertadora: o suicídio. O personagem ictício estudara as doutrinas místicas orientais, já o escritor viera de uma família protestante e passara por um seminário teológico para depois se desiludir e buscar o orientalismo. Harry sabe que existe o sublime mas, incapaz de alcançá-lo, sofre a tentação de se rebaixar anestesiado à vida burguesa de aparências vãs. A idéia do suicídio parece trazer uma certa libertação das coisas pequenas que prendem o homem medíocre, e Harry estipula uma data para seu im: 50 anos. No desile de sua personalidade cada vez mais fragmentada, o protagonista passa da desilusão da redenção que lhe escapa para o hedonismo e a ilusão das drogas. Mergulhado na otimista e boêmia sociedade alemã de sua época, Harry desfruta de todas as experiências que consegue, e aos poucos termina na destruição de sua própria personalidade. O autor, Hermann Hesse, fala que sua obra é, acima de tudo, a descrição da busca pela redenção, embora mostre os conlitos e os sofrimentos da vida de um homem de meia idade. Mas o que se vê é o desespero de uma redenção inatingível, porém vislumbrada nos dias de juventude. O protagonista mergulha numa fragmentação de sua própria personalidade por meio dos prazeres sensuais e alucinógenos que a sociedade oferece, alienado e afastado cada vez mais do sentido que uma vez pudera contemplar. O livro é a trágica estrada percorrida pela modernidade que abandonou a fé que lhe dava sentido para cair no iluminismo racionalista e ateísta. Desiludida do mesmo, incapaz de encontrar a unidade na própria alma, partiu para o relativismo, o niilismo e a entrega ao subjetivismo escapista. A história é o trágico retrato do homem que se vê incapaz de reunir sua alma fragmentada e alcançar a sublime redenção na antiga fé, caindo na destruição de seu próprio ser, de sua personalidade. E no desespero inal, ao se entregar ao mundo corruptor, receberá em troca de sua alma uma triste e vazia ilusão anestésica.

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Hélio Angotti Neto

Resenha Literária

1984:

 A Profecia Moderna de George Orwell A segunda Guerra terminou! E o totalitarismo se expande e é levado até suas últimas consequências. Assim acontece no livro de George Orwell, icção feita como aviso ao futuro sobre os males que o autor identiicara na sua ideologia prévia, no momento de sua desilusão com o comunismo. Lá no livro está o Partido Socialista Inglês, o super-partido que é a razão última da existência e agente coletivo do poder. Gramsci se sentiria em casa, pois o seu príncipe partidário e maquiavélico é facilmente reconhecível no Grande Irmão Orwelliano. Não se honra o país, a família, a religião; se vive e se honra somente o partido. O partido de 1984 é eterno, onisciente, onipotente e onipresente numa caricatura porca da Divindade renegada pelos homens. É o fechamento do ser humano à transcendência como Voegelin bem notara em sua época. Lá está o duplipensar, caracterizado por aceitar contradições óbvias e acabar num emburrecimento completo, tornando-se incapaz de enxergar o óbvio perante o nariz. O Estado laico proíbe cristianismo nas escolas, mas ao mesmo tempo estimula o ensino das religiões africanas. O Estado não permite pena de morte, mas estimula a morte maciça de crianças no abortamento. O Estado prega a igualdade de direitos, mas favorece minorias declaradamente. O Estado prega a distribuição de renda, mas na verdade acumula poder num partido que engloba e afunda a noção de país soberano. O Estado proíbe drogas, mas está aliado a narcotraicantes terroristas de outros países. Em 1984 encontramos o controle dos pensamentos, um politicamente 42

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correto de nossos dias levado às últimas consequências. Lá o indivíduo é uma ilusão, e somente o coletivo do partido existe e é eterno. Lá está a novafala (ou novilíngua), com seus conceitos que proíbem pensamentos. E aqui temos as palavras que são imbuídas de preconceitos paralisantes e dementes. O reacionário, a direita, o católico, o crente, o religioso, o certinho, e tantas outras palavras que são muitas vezes assumidas ou ditas com um pedido encoberto e covarde de desculpas. Lá está o subjetivismo moderno e a recusa de uma realidade objetiva, subjetivismo este que motiva nossa política e nossa iletrada classe letrada. O’Brien, o terrível agente da Polícia das Idéias e carrasco do Ministério do Amor (onde se encontram os presos políticos), hoje é visto nos nossos intelectuais subjetivistas e niilistas, que apóiam partidos e desconstroem o passado e a realidade. Como Viktor Frankl dizia, a culpa dos campos de concentração está nos ilósofos niilistas ganhadores de prêmios internacionais. O passado no 1984 inclemente de Orwell é um brinquedo na mão do partido. Fatos são reescritos e a memória se perde num emaranhado de anseios políticos de dominação. Hoje nossos livros de história são porcamente escritos com propagandas descaradas que elogiam genocidas brutais e desumanos como Stalin e Mao. Orwell captou bem o objetivo da elite pensante por trás das ideologias de massa: acumulação do poder, da força. Criar uma nova elite brutalmente poderosa. Controlar são só a economia, mas a mente e o coração. O núcleo do partido deixou de ser composto por guerreiros e nobres, tornando-se uma elite de burocratas intelectuais. O resto do partido se enquadra no que Lênin chamava de inocentes úteis, passíveis de serem eliminados uma vez que se tornassem inconvenientes. O proletário continua proletário, mais pobre e mais oprimido, achando que melhorou, manobrado pelas idéias de seus governantes. Os inocentes úteis são os nossos intelectuais de segunda ordem, os professores e sociólogos que acham fazer um bem ao pregar suas ideologias ultrapassadas. Ainda bem que Orwell não viveu para ver o Brasil de hoje! Ele morreria muito preocupado, percebendo que suas palavras foram jogadas ao vento. E no im, o herói morre aprendendo uma severa lição: quando inalmente o ser humano se dobrar de corpo e alma à tirania, seu prêmio irremediavelmente será a aniquilação... REVISTA DE ESTUDOS ESTRATÉGICOS

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Cristian Derosa

Nova Era

 A religião global da URI

“da mesma forma que as Nações Unidas não são uma nação, as Religiões Unidas não serão uma religião” Bispo Wiliam Swing, fundador da URI  Em outubro de 2010, em Florianópolis, aconteceu o Seminário Internacional de Tecnologia para a Mudança Social, promovido por diversas organizações nacionais e regionais, entre elas o ICom (Instituto Comunitário Grande Florianópolis), além de grandes empresas como o Grupo RBS, Fundação Social Itaú, Fundação Maurício Sirotsky Sobrinho, UN Volunteers,

entre outras. Sob o slogan “Together is better”, o evento propunha-se a:

“construir uma  presença digital relevante e aproveitar os meios tecnológicos disponíveis para  propagar

 As Revelações de S.João  Albrecht Dürer

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sua causa

social. As organizações da sociedade civil devem utilizar as tecnologias como um meio de mobilizar recursos, atrair e  gerenciar voluntários e  prestar contas para todos os seus públicos.  A internet é hoje o meio mais rápido e efetivo de estabelecer relacionamentos e  formar redes sociais”. A causa social, neste caso, é o grande mote. A mensagem do evento é um resultado da apropriação empresarial da proposta da mudança social e promoção de uma nova cidadania com ênfase na utilização da tecnologia para melhorar as relações sociais e, com isso, angariar mais negócios dinamizando a economia. Este é um perfeito exemplo de ação positiva de empresas, ongs e instituições públicas, unidas para uma causa aparentemente única e benéica para todos. A mensagem principal da campanha, dessa forma, aparenta não só uma proposta inofensiva mas algo

natural e de um elevado grau de boa intenção. É necessário, porém, que analizemos profundamente as relações por trás de toda essa benevolência apostolar. Não há novidade nenhuma nesta retórica. Toda essa argumentação está presente na maioria dos movimentos sociais inluenciados pela ilosoia humanista e os seus descendentes, mais precisamente pelo novo humanismo promovido por intelectuais e políticos globalistas como Salvatore Puledda e Michail Gorbachev. O destaque do seminário foi a presença de um palestrante internacional, o professor Emmet D. Carson, presidente e fundador da Sillicon Valley Community Foundation, considerado uma das principais lideranças do terceiro setor (ongs) nos Estados Unidos. Carson é responsável pela gestão de mais de 1500 fundos de investimento social de empreendedores da área de tecnologia e de empresas como eBay, Google e Sun Microsystems. A Sillicon Valley Community tem publicado a lista das doações que faz em seu Relatório Anual. Eis um

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O Bispo William Swing, idealizador da URI 

dado revelador, descoberto pelo jornalista americano Lee Penn: no ano de 2000, consta a doação de cerca de US$1 milhão para uma organização chamada United Religions Initiate (URI). A Sillicon Valley Community não é a única organização empresarial que faz doações à URI. Descendo ainda mais os degraus do intrincado mundo oculto das inanças e ongs, encontramos enim, o fundo falso que há no subterrâneo das relações institucionais vigentes, até nos depararmos com o sinistro signiicado por trás das belas palavras ditas nas palestras do Sr. Carson. É possível que Emmett Carson nem desconie, mas a organização que ele preside faz anualmente doações milionárias para uma

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organização com objetivos macabros e, como mostrarei a seguir, realmente satânicos. Muitos dizem que a URI busca ter o status da ONU. Ora, mas ela é parte dessa grande rede de ongs que formam a mais cara das ongs, nas palavras de Heitor de Paola. As ideias difundidas pela URI vêm se espalhando pelo mundo desde o século XIX, mas só na década de 1990 é que surgiu como entidade jurídica. Desde então a organização tem arrecadado todos os anos somas milionárias por meio de 72 organizações diretas e mais de 500 Círculos de Cooperação ixados em 167 países. No livro False Dawn, ainda não publicado no Brasil, o jornalista Lee Penn desmembra toda a teia de relações envolvendo essa

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grande Ong. Essa organização gigantesca tem entre seus objetivos públicos o relacionamento e a integração entre as várias religiões aim de criar uma “cultura de paz, justiça e igualdade para todos os seres vivos”. Entre as ações propostas pelo grupo para chegar a esse objetivo, Lee Penn lista as seguintes:

Limitar a evangelização cristã em nome da  promoção interreligiosa da paz;  Marginalizar os cristãos conservadores como intolerantes e  fundamentalistas; Preparar o caminho para uma nova espiritualidade  global que possa acomodar  formas mais domésticas das atuais religiões e movimentos espirituais; Promover uma nova “ética global” coletivista;  A idéia de que o principal objetivo da religião é a reforma social a serviço de Deus;  A idéia de que todas as religiões e movimentos espirituais são iguais,

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verdadeiros, e igualmente ecazes como caminho para a

comunhão com Deus; Controle populacional – especialmente no Terceiro  Mundo; Elevar a respeitabilidade de cultos como ocultismo,

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bruxaria, theosoa, e outras

 formas discriminadas de religião;

A URI foi fundada pelo Bispo episcopal da Califórnia William Swing, em 1995, e suas idéias têm atraído um número gigantesco de grupos ativistas dos mais diversos. Por mais diversos que sejam, entretanto, têm demonstrado uma impressionante capacidade de desarmar conlitos entre eles em prol de objetivos comuns. Entre os tipos de grupos apoiadores da URI estão:

•Dalai Lama e religiosos apoiadores do regime chinês; •pró-gay e anti-gay seguidores da Revolução Chinesa; •muçulmanos radicais e  feministas radicais; •fundações capitalistas e  partidos comunistas; •entidades de George Soros e George W. Bush.

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Não é preciso dizer que grupos como estes diicilmente se entendem em suas zonas de inluência. Mas a URI tem uma estranha capacidade para agregar acólitos dos mais díspares. Essa propensão à “diversidade para a unidade” demonstrada pela URI, é fruto de uma articulação e conciliação entre diferent diferentes es objetivos em comum. Trata-se de um grupo que vê a multiplicidade de religiões como um fator de exclusão e de divisão dos seres humanos. Para minimizar os efeitos nocivos da separação entre as pessoas, a URI milita em uma causa que, em última instância, promove uma religião internacional, uma fé única e

Madame Blavatsky foi uma das mentoras do movimento

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universalista a ser imposta para universalista todo o Planeta. A forma mais fácil de fazer isso, segundo a maioria dos religiosos que pertencem a entidades ligadas a este grande grupo, seria mesclar os conhecimentos adquiridos pelas várias religiões de modo que se crie um “conhecimento único”, uma “multi-fé”, sem dogmas e de um certo modo planetária, que una os homens em uma cultura de paz independente de denominações religiosas. A URI não prega somente um sincretismo religioso tal como o Brasil conhece, nomeadamente, entre catolicismo e umbanda. Busca uma mudança muito mais profunda no entendimento do que seja religião. Mostraremos Mostraremos como por diversos motivos a URI trabalha para a extinção de todas as religiões atuais, mediante o esvaziamento esvaziam ento do seu conteúdo simbólico, descaracterização de dogmas e desvinculação das almas aos seus lugares de origem, para enim criar dentro do espírito humano uma necessidade vazia de fé, cuja mais nobre forma reside em uma crença relativ relativista ista na universalidade universa lidade e multiplicidade do cosmos. A origem, porém, deste pensamento, está longe de ter motivações pacíicas e de união das religiões. Entre os

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principais teóricos orientadores e fundadores de grupos pertencentes a URI estão ocultistas e satanistas como Helena Blavatsky, Alice Bailey, Aleister Crowley, entre muitos outros. E seus continuadores têm relacionamentos tão promíscuos com sociedades secretas (ou meramente discretas) que aliamse desde a poderosas organizações capitalistas a perigosos grupos revolucionários rev olucionários e comunistas; em todos os países do mundo, sua causa é compartilhada tanto entre partidos de direita quanto de esquerda. Um claro exemplo dessa multiplicidade unitária da URI e de seus tentáculos está na relação próxima que têm com acionistas majoritários das Organizações Ford e exdirigentes da KGB, políticos do partido republicano dos EUA e militantes socialistas na América Latina. Essa teia de relações, como veremos, verem os, é um emaranhado de convivências tenebrosas entre o pior do conhecimento que o homem já produziu e a tentativa de perpetuação dos maiores erros da humanidade.

ORIGEM DA URI A United Religions Initiate foi fundada oicialmente pelo bispo episcopal da Califórnia, William Swing, em 1995. A iniciativaa da organização existia iniciativ já há cinco anos e seus primeiros fundadores foram não mais do que 55 pessoas. Mas o fundamento principal, motivo verdadeiramente impulsionador da URI teve início ainda no século XIX, no I Parlamentoo Mundial das Religiões, Parlament um encontro que ocorreu na cidade de Chicago, em setembro de 1893. O evento marcou o início do diálogo entre as religiões de todo o mundo e deu origem a uma agenda que iria ter continuidade pelos próximos séculos. Cem anos depois, em 1993, o Parlament Parlamentoo reuniu-se novamente, também na cidade de Chicago, quando já havia sido formado o Conselho do Parlamento das Religiões. Em 1993, o evento contou com cerca de 8 mil pessoas e tem sido organizado sem periodicidade certa, em diversas cidades pelo mundo. O principal objetivo desse

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parlamento fora a elaboração da Declaração das Religiões para a Ética Global. Em uma introdução explicativa à sua proposta para essa declaração, o teólogo ecumênico holandês Hans Küng, autor do livro Projeto de Ética Mundial, escreveu em 1992:

 pelo fato de que a  pobreza, a fome, a mortalidade infantil, o desemprego, a miséria e a destruição da natureza, em âmbito mundial, não diminuíram, mas aumentaram.  Muitas pessoas estão ameaçadas pela ruína econômica, desordem social, marginalização  política e pelo colapso nacional.

 Depois de duas  guerras mundiais, do colapso do fascismo, nazismo, comunismo e colonialismo, e do  m da guerra fria, fria, a humanidade entrou numa nova fase de sua história. Ela Em outro ponto, ele sustenta tem hoje sucientes ainda: recursos econômicos, culturais e espirituais  Nosso planeta  para instaurar uma uma continua a ser ordem mundial melhor. impiedosamente  Mas novas tensões  pilhado. Um colapso étnicas, nacionais, dos ecossistemas sociais e religiosas nos ameaça. ameaçam a construção  Repetidamente, vemos  pacíca de um mundo líderes e membros assim. Nossa época de religiões incitar a experimentou um agressão, o fanatismo,  progresso tecnológico o ódio e a xenofobia – e nunca antes ocorrido, até inspirar e legitimar e, no entanto ainda conitos violentos e somos confrontados sangrentos. A religião 50

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O primeiro Parlamento das Religiões Mundiais aconteceu em setembro de 1893, em Chigago

é muitas vezes usada apenas para ns de poder político, incluindo a guerra. O Parlamento Mundial das Religiões, ou das Religiões do Mundo, defende, portanto, a coexistência entre as religiões e a paz entre os seres humanos. Propõe que o mundo caminha para uma época próspera, devido os avanços cientíicos e tecnológicos, e que esta nova era seria incompatível com antigas visões de mundo que mais separam os homens do que unem. Daqui para frente, as soluções para os novos problemas devem ser, por sua vez, igualmente novas. Novamente temos airmações claramente bem intensionadas e, em certa medida, acalentadoras para a humanidade. Mas, como já disse antes, a mensagem verdadeira está oculta entre verbos e adjetivos, entre nomes e

sobrenomes, dilemas e soluções. O parágrafo anterior bem que poderia ser dito de outra forma, sem tantas beneses ou agrados ao gênero humano. No jargão acadêmico e cientíico de nosso tempo, a expressão “mudança de paradigma”, possivelmente tirada de Thomas Kuhn, ganhou uma nova feição, esotérica, mística e existencial. Tal expressão cabe perfeitamente na crença alegada pelos teóricos do Parlamento das Religiões de que um novo período se aproxima e de que as antigas soluções não podem mais resolver os supostos novos impasses. Nem o mundo empresarial icou livre desse jargão que em toda parte ecoa, como um mantra, nos corredores das corporações, órgãos públicos, terceiro setor, etc. Poucos atêm-se, porém, a origem desse termo, ou ainda, a origem da idéia que o termo enceta. Há muitos escritores que admitem que o começo

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disso tudo está no esoterismo de inspiração oriental que tão rapidamente tem tomado de assalto o mundo cultural do Ocidente. O chamado Movimento Nova Era, do qual a URI apropria o conteúdo, constitui-se hoje de um emaranhado de seitas e grupos esotéricos que creem em uma mudança astral que daria início à Era de Aquário. Esse novo período, segundo a profecia astrológica, irá trazer paz e prosperidade à humanidade como nunca houve. A Nova Era e todas as suas subdivisões, é uma fusão de crenças e teorias metaísicas que misturam inluência oriental, teológica, crenças espiritualistas, animistas e paracientíicas. Sua

Dalai Lama assim como colaboradores do regime comunista da China apoiam a URI 

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proposta é a criação de um modelo de consciência moral e social, mediante orientações psicológicas, resultando no amálgama entre Natureza, Cosmos e o Homem. Não é coincidência o fato de que muitos princípios dos movimentos Nova Era tenham íntima concordância com as idéias propostas pelo Parlamento das Religiões que culmina com a fundação da URI já que ambos defendem uma nova ética global e universalista. Além de reunir as principais religiões do mundo, o Parlamento, assim como o Conselho das Religiões formado por ele, integrou, desde sua origem, teóricos fundadores das principais seitas esotéricas e ocultistas do século XIX. Não podemos esquecer que muitas dessas seitas participantes, ainda hoje ativamente dos movimentos que orientam o Conselho das Religiões e a URI, objetivavam em seu início a inversão das crenças cristãs. A URI não cessa de trabalhar para implantar a sua religião global. Desde o início de suas atividades, tem arrecadado dinheiro e acólitos no serviço que se propos. Já em fevereiro de 1996, o bispo William Swing iniciou uma longa jornada ao redor do mundo, onde se encontrou com lideranças religiosas que incluem

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a Madre Teresa de Calcutá, o Dalai Lama, o arcebispo anglicano de Canterbury, o arcebispo Fittzgerald, o cardeal Arinze do Conselho Pontiício para o Diálogo Inter-religioso e o próprio papa João Paulo II. Vejamos então, o que mais diz a URI sobre sí mesma:

 Em junho de 1996, aconteceu a I Conferência Mundial da URI, com 55  pessoas. A partir daí, seu crescimento tem sido vertiginoso.  Hoje, está presente em mais de 167  países. Um mutirão de líderes religiosos dos cinco continentes escreveu sua Carta  Fundacional. Em  julho de 2000, a Carta da Iniciativa das  Religiões Unidas  foi assinada, com  peregrinações de caminhadas e celebrações da paz entre as religiões, nas vilas, cidades e

metrópoles em todo o mundo, marcando o início ocial da URI. A Iniciativa das Religiões Unidas é uma rede global dedicada à promoção  permanente da cooperação interreligiosa. Seu objetivo é colocar um m à violência por motivos religiosos, cultivar culturas de paz e cura para a Terra e todos os seres vivos.  A cura da terra traz em si todo o desao da questão ecológica, da necessidade do uso sustentável dos recursos do planeta, ameaçados pelo mau uso. Diz respeito, também, às relações injustas entre países e  povos e à distribuição desigual das riquezas. Sendo “uma iniciativa global  por mudanças, a

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URI é um convite à participação de todos, procurando trazer as religiões e as tradições espirituais a uma mesa comum, a um encontro  global permanente e cotidiano, no qual, a partir das  peculiaridades de cada um, seja  possível buscar a  paz entre as religiões e trabalhar juntos  pelo bem de toda a vida e para a cura do mundo”.  Ela não quer se tornar uma espécie de nova religião mundial ou a portavoz única das religiões. Faz parte de seus princípios, estimular cada  pessoa a enraizarse profundamente em sua própria identidade religiosa. O seu fundador argumenta que, “da

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mesma forma que as  Nações Unidas não são uma nação, as  Religiões Unidas não serão uma religião”.  Dela podem fazer  parte todas as  pessoas e grupos que aceitam o Preâmbulo, o Propósito e os  Princípios da Carta de Fundação, assinada no Encontro  Estadual de URI dia 01/06 2000, por meio um Círculo de Cooperação (CC) que a partir do Preâmbulo, do Propósito e dos Princípios, tem autonomia e responsabilidade de condução e escolha de atuação.  As condições de criação de um CC são, ao menos, reunir sete membros, representando no mínimo três religiões, expressões

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espirituais ou tradições indígenas. Como a URI é autoorganizativa, cada CC pode escolher a forma de agir na sociedade e determinar o que quer fazer. Há grupos que trabalham

a sociedade civil, o setor privado e o  governo, com foco na promoção do desenvolvimento social e na redução da violência urbana.

das mais variadas

 formas e na mais diversas atividades:  AIDS, mulheres, direitos humanos, meio-ambiente,  justiça e paz... tudo o que contribua  para a segurança, a  felicidade e o bem estar de toda a vida. Uma das organizações associadas à URI, no Brasil, é a ong VivaRio, que entre outras coisas, atuou ativamente na Campanha pelo Desarmamento, em 2006. Em seu site oicial, a ong dispõe sobre sua missão e seus objetivos:

 Integrar a cidade  partida através da cultura de paz, trabalhando com

O Viva Rio é uma organização não governamental, com sede no Rio de  Janeiro, engajada no trabalho de campo, na pesquisa e na formulação de  políticas públicas com o objetivo de promover a cultura de paz e o desenvolvimento social.  Fundado em

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dezembro de 1993,  por representantes de vários setores da sociedade civil, como resposta à crescente violência no Rio de Janeiro, o Viva Rio desenvolveu e consolidou uma ampla gama de atividades e estratégias bem sucedidas.  Através de  pesquisa, elaboração e teste, as soluções  propostas pelo Viva  Rio são, inicialmente, realizadas em  pequena escala.  Atingindo resultados  positivos, essas ações podem ganhar  grandeza e se tornarem políticas  públicas reproduzidas  pelo Estado, pelo mercado e por outras ONGs.  Apesar do trabalho do Viva Rio ter se iniciado em

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resposta a problemas locais, com os quais permanece  profundamente comprometido, a natureza multifacetada da segurança o conduziu ao envolvimento internacional. Assim, as soluções precisam ser simultaneamente  globais e locais. Assim como diversas outras ongs atuantes no Brasil e no mundo, a Viva Rio possui uma série de parceiros internacionais que inanciam programas de assistência social em diversos países do mundo. Muitas vezes, porém, estas organizações se envolvem ativamente em campanhas de âmbito nacional como é o caso do Desarmamento, uma das principais bandeiras da Viva Rio. A lista de parceiros da Viva Rio é dividida em dois grupos: Parceiros nas Ações Comunitárias e Parceiros Institucionais. Dentre os primeiros, como o próprio nome já diz, estão as organizações locais de moradores, etc. Parceiros da ong Viva Rio, maior representante da URI no Brasil:

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Direitos Humanos e Segurança Pública •Clínica da Violência •Coca-Cola •Conselho Mundial de Igrejas •Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro •FIRJAN - Federação das Indústrias do Rio de Janeiro •Fundação Ford •Fundação Roberto Marinho •IANSA - International Action Network on Small Arms Igreja da Noruega •INSS - Instituto Nacional de Seguridade Social •Instituto Ayrton Senna •Instituto Noos •IPUR - Instituto de Psiquiatria da UFRJ •Ministério da Justiça •Ministério da Justiça / Secretaria de Estado de Direitos Humanos Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro •OAB/ RJ - Ordem dos Advogados do Brasil / Seccional Rio de Janeiro PNUD – Plano das Nações Unidas para o Desenvolvimento •Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro •Secretaria de Estado de Ação Social, Esporte e Lazer, RJ •Secretaria de Estado de Segurança Pública, RJ •Secretaria de Estado de Trabalho, RJ •Secretaria Municipal de

Desenvolvimento Social , RJ Secretaria Municipal de Trabalho, RJ •SESI- Serviço Social da Indústria, RJ •SUDERJ - Superintendência de Desportos do Estado do Rio de Janeiro •Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro / Vara de Execução Penal •Unesco

Educação •AMESIA - Associação Missionária de Educação Social para Infância e Adolescência •Banco do Brasil •Casas Sendas •Comissões Municipais de Emprego •Comunidade Solidária •DETRAN •Escola Técnica Federal de Química •FIESP - Federação das Indústrias do Estado de São Paulo •FIRJAN - Federação das Indústrias do Rio de Janeiro •Fundação Roberto Marinho •FUNENSEG - Fundação Escola •Nacional de Seguros •Grupo Ipiranga •Hemorio •Instituto Moreira Salles •Mercadinho Bom Pastor •Ministério da Ciência e Tecnologia •Ministério de Educação e Cultura /

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FNDE •Ministério da Justiça / Secretaria de Estado de Direitos Humanos, RJ •Ministério do Trabalho e Emprego / FAT - Fundo de Amparo ao Trabalhador •Ministério do Trabalho e Emprego / Secretaria de Políticas Públicas e Emprego •Museu de Astronomia / CNPq •Nova Riotel Empreendimentos •Hoteleiros LTDA •Petrobrás •SEBRAE •Secretaria de Estado de Educação, RJ •Secretaria de Estado de Trabalho, RJ •Secretaria Municipal de Habitação, RJ •Secretaria Municipal de Trabalho, RJ •SENAC - Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial , RJ •SENAI - Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial, RJ SESI - Serviço Social da Indústria, RJ Desenvolvimento Comunitário •BNDES - Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social •Banco Bozano Simonsen •British Petroleum •BID - Banco Inter-Americano de Desenvolvimento •C&A •CDI - Comitê pela Democratização da Informática •Comunidade Solidária •Consulado dos Estados Unidos da América •Consulado da França

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•FININVEST •FIRJAN - Federação das Indústrias do Rio de Janeiro •Fundação Doen da Holanda •Fundação Roberto Marinho •Fundação Rui Barbosa •Furnas Centrais Elétricas •Globo.com •Hype Babilônia Eventos e Produções •IBM •International Newcomers Club Knoll •Organizações Globo •Rabo de Saia •Riotur •Santista Alimentos S.A. •Secretaria de Estado de Saúde, RJ •Secretaria Municipal de Habitação, RJ •Secretaria Municipal de Meio Ambiente/Fundação Parques e Jardins, RJ •Secretaria Municipal de Saúde, RJ •Secretaria Municipal de Trabalho, RJ •SESC/Departamento Nacional Serviço Social do Comércio, RJ •SESI - Serviço Social da Indústria, RJ •Shering •União Européia •USAID - United States Agency for International Development  •Wella

Meio Ambiente •Unibanco Ecologia •Programa de Voluntariado BP Almoco •Conselho Britânico •Consulado da Suécia

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•Embaixada Britânica •Igreja Menonita •Ministério da Família, Terceira Idade, Mulheres e Jovens do Governo Alemão •NSC/USA - National Safety Council •Rede Globo de Televisão •Volkswagen Brasil A URI não se encontra nesta lista, é claro. E navegando pelo site, é quase impossível estabelecer uma ligação entre as duas organizações a não ser por um detalhe óbvio: o site da URI no Brasil é hospedado pelo da ong (www.vivario.org/ uri). Mas por que isso acontece? É estranho pensarmos em um grupo como o Viva Rio, que está presente em todas as campanhas aparentemente humanitárias, mas que oculta (ou não preocupase em divulgar) uma relação tão íntima com uma organização internacional tão poderosa e inluente no mundo todo, o que seria uma ótima publicidade para eles. Talvez a resposta seja a mesma para todas as outras seccionais da URI pelo planeta. O site que abre na url: www. vivario.org/uri, chama-se Iniciativa das Religiões Unidas, América Latina e Caribe. Neste site há informação suiciente para quem queira ingressar no

que chamam de “ativismo interreligioso pela paz”, um tipo de militância claramente diícil de deinir. Todos os mais de 300 círculos de cooperação da URI pelo mundo respeitam e obedecem às Cartas da URI, dispostas em seu site oicial cujo link se encontra em todos os sites locais em diversos idiomas.  Mas lendo e relendo os sites deste emaranhado de relações entre ongs nacionais e internacionais, passando por esta ininidade de entidades e grupos privados, já é possível compreendermos o tamanho do problema. Ocorre que, por trás das belas palavras, encontramos o alçapão que permeia todo o fundamento ou os fundamentos que regulam as Cartas da URI e, por meio delas, milhares de mentes pelo mundo.

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Seção de Livros

René Guénon& Les Sept Tours du Diable

 Jean-Marc Allemand

Este livro fornece uma análise histórica com base no papel da contra-iniciação. O autor utiliza como roteiro as indicações de René Guénon quando do exame do culto dos Yezidis, em “O reino da quantidade e os sinais dos tempos”, para estudar o cenário que possibilitou a construção de cada uma das sete torres do diabo. Em um texto repleto de cruzamentos entre as referências simbólicas das mais diversas culturas, o autor fornece um texto que capta o interesse do leitor desde as primeiras páginas.

Número de páginas: 226 Editora: Maisnie Tredaniel Língua: Francês ISBN-10:285707347X

Shadow World: Resurgent Russia, The Global New Left, and Radical Islam

Robert Chandler 

Indispensável para a análise política da atualidade, Robert Chandler examina a ação de três grupos na política mundial: 1) “O quadrângulo”, composto por Rússia, China, Irã e Venezuela, que tem como objetivo a redução do poderio americano e multipolarização do mundo; 2) Os Salaistas/Wahhabistas Islâmicos inanciado pela Arábia Saudita, cujo im é a implantação do Califado Universal; 3) A Quinta Coluna Socialista, inluenciada pela teoria de Antônio Gramsci e emergente na América Latina. Embora com estratégias e objetivos Número de páginas: 645 diversos, as três vertentes convergem em um Editora: Perseus Distribution ponto comum: a necessidade de eliminação Língua: Inglês dos Estados Unidos como pré-requisito para o ISBN: 1596985615 avanço de seus planos. 60

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