Revista Boa Forma: análise semiótica da imagem da capa (Daiane Paula Leite de Almeida)

April 12, 2018 | Author: João Paulo Hergesel | Category: Image, Propaganda, Advertising, Communication, Semiotics
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Resumo: Os meios de comunicação de massa desempenham um papel importante na formação dos conceitos e na transmissão de v...

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UNIVERSIDADE DE SOROCABA PRÓ-REITORIA ACADÊMICA CURSO DE LETRAS PORTUGUÊS E INGLÊS

Daiane Paula Leite de Almeida

REVISTA BOA FORMA: ANÁLISE SEMIÓTICA DA IMAGEM DA CAPA

Sorocaba/SP 2012

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Daiane Paula Leite de Almeida

REVISTA BOA FORMA: ANÁLISE SEMIÓTICA DA IMAGEM DA CAPA

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como exigência parcial para obtenção do Diploma de Graduação em Letras Português e Inglês, da Universidade de Sorocaba. Orientador: Prof. Dr. Luiz Fernando Gomes

Sorocaba/SP 2012

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Daiane Paula Leite de Almeida

REVISTA BOA FORMA: ANÁLISE SEMIÓTICA DA IMAGEM DA CAPA

Trabalho de Conclusão de Curso aprovado como requisito parcial para a obtenção do Diploma de Graduação em Letras Português e Inglês, da Universidade de Sorocaba.

Aprovado em:

BANCA EXAMINADORA:

Ass. ______________________________ 1º examinador _______________________ Ass. ______________________________ 2º examinador ______________________ Ass. ______________________________ 3º examinador ______________________

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Dedico este trabalho ao meu esposo, Everson, que sempre esteve ao meu lado me apoiando, aos meus pais, Rosangela e Luiz, aos meus irmãos, Alexandre, Sergio e Diana, os quais amo muito e por acreditarem em mim no momento que mais precisei. Dedico também a todos os meus professores, colegas que me incentivaram e ajudaram em minha formação.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço, primeiramente, a Deus pela vida, por iluminar meu caminho e pelas oportunidades que tive na vida. Ao meu brilhante orientador, Luiz Fernando Gomes, que me inspirou, que me mostrou que ser professor vale a pena, que me ensinou a enxergar o mundo de uma forma bem diferente e que despertou em mim a dúvida e a curiosidade. Ao meu esposo, Everson, que, por inúmeras vezes, deu-me forças, ouviu-me reclamar, fez-me rir nos momentos de estresse, teve muita paciência comigo, sempre me incentivando a não desistir; o meu “muito obrigada!” por fazer parte da minha vida e deste sonho que estou realizando. Aos meus pais, Luiz e Rosangela que, mesmo estando longe, sempre me incentivaram a não desistir de meus sonhos. Aos meus irmãos, Alexandre, que é um exemplo de superação em minha vida, Sergio e Diana, irmãos que sempre me estimularam a nunca desistir, e sim a lutar pelos meus sonhos. Aos meus professores, que contribuíram cada um à sua maneira para a minha formação, especialmente: Roberto Samuel Sanches, Daniela Ap. Vendramini Zanella, Paulo Edson Alves Filho e Roberto Gill Camargo. E, por fim, gostaria de agradecer aos meus amigos e colegas de sala pelas risadas, pelas brincadeiras, pelo companheirismo e pela alegria que nos conduziu durante esses três anos de curso.

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Nem olhos viram nem ouvidos ouviram, nem jamais penetrou em coração humano o que Deus tem preparado para aqueles que o amam e seguem segundo o seu propósito. (BÍBLIA SAGRADA, I Co, 2: 9)

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RESUMO

Os meios de comunicação de massa desempenham um papel importante na formação dos conceitos e na transmissão de valores. Este trabalho procura fazer uma análise verbo-visual da capa da revista Boa Forma, destinada ao publico feminino do mês de agosto, setembro e outubro de 2012. Nesta pesquisa, discutem-se conceitos de imagem, tipos de propaganda e procura analisar a linguagem das imagens e os efeitos de sentidos que elas promovem. São também utilizadas a Semiótica Peirciana e a Análise do Discurso. Pelas análises das capas das revistas, foi possível perceber os discursos ideológicos e persuasivos utilizados nas imagens da capa. E pude perceber que a linguagem está em toda parte e que a propaganda se aproveita muito desta grande ferramenta para persuadir a venda da revista, a qual foi analisada por meio de imagens apelativas, promovendo, com isso, diversos sentidos ao leitor ou até mesmo a imaginação. Nas propagandas das imagens analisadas neste trabalho, pude ver os discursos persuasivos, ideologias capaz de prender a atenção do leitor para que ele venha ser um consumista da revista, pois as linguagem criadas pelas imagens, tiveram a finalidade de propagar uma ideia de forma rápida, sem que houvesse a necessidade de um raciocínio ou questionamento.

Palavras-chave: Linguagem. Imagem. Propaganda. Linguagem verbal e não verbal. Semiótica.

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ABSTRACT The mass media play an important role in the formation of the concepts and in the transmission of values. This paper attempts to perform a verbal-visual analysis of the cover of ‘Boa Forma’ magazine aimed at female audience of in August, September and October 2012. This research discusses concepts of image types of advertising, seeks to analyze the language of images and the effects of meaning that they promote. Peircean Semiotics and Discourse Analysis are also used. Through the analysis of magazine covers it was possible to perceive the ideological and persuasive discourses applied in the images used in the magazine cover. It was noticeable that language is everywhere and that advertising takes advantage of this great tool to induce the sale of the magazine which was analyzed through appealing images, thereby promoting various senses or even the reader's imagination. In the images in the advertisements analyzed in this work, I could see the persuasive discourses, ideologies capable of holding the reader's attention so that he or she will be drawn into consuming the magazine because of the language created by the images, aimed to propagate an idea quickly without there being a need for reasoning or questioning.

Keywords: Language. Image. Advertising. Verbal and nonverbal language and semiotics.

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LISTA DE FIGURAS Figura 1

Triângulo semiótico de Odgen & Richards.......................................................17

Figura 2

Capa da revista Boa Forma — edição agosto/2012...........................................26

Figura 3

Capa da revista Boa Forma — edição setembro/2012......................................28

Figura 4

Capa da revista Boa Forma — edição julho/2012.............................................30

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SUMÁRIO INTRODUÇÃO.......................................................................................................................11

1. REVISTA BOA FORMA..................................................................................................12 1.1. Conceito de Imagem.........................................................................................................12 1.2. Propaganda Ideológica....................................................................................................13 1.3. Semiótica...........................................................................................................................16 1.4. Os signos e suas classificações.........................................................................................17 1.5. A imagem como signo Semiótico.....................................................................................18 1.6. A linguagem verbal e não verbal na comunicação........................................................19 1.7. Linguagem........................................................................................................................21 1.8. Análise do Discurso..........................................................................................................22 1.9. Efeitos de Sentido.............................................................................................................24

2. METODOLOGIA DE PESQUISA....................................................................................25

3. ANÁLISE DAS CAPAS DAS REVISTAS BOA FORMA..............................................26

CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................................................32

REFERÊNCIAS......................................................................................................................34

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INTRODUÇÃO O presente trabalho situa no papel determinante que as mídias exercem na sociedade midiática em que vivemos com o intermédio da disseminação de seus valores por meio de imagens que têm, atualmente, ocupado o lugar dos textos. Dentre as mídias existentes, tais como as impressas e as eletrônicas, minha pesquisa discutira os efeitos de sentidos que a linguagem verbo-visual promove, tendo como referência capas da revista Boa Forma, destinada ao publico feminino. Atualmente, a propaganda tem influenciado diversos setores da sociedade, causando, com isso, uma revolução na negociação de produtos e de ideais. Para discorrer sobre este assunto, é necessário entender que a propaganda será tratada nesta pesquisa como propaganda de caráter informativo e persuasivo por parte da revista Boa Forma. A linguagem semiótica da imagem é um dos elementos importantes que será analisado para compreendermos a influência de cada um deles no processo de divulgação. Vivemos numa sociedade em que falta de verossimilhança circula por meio das mídias, que ao usar suas técnicas, ícones e recursos em tais “verdades”, impõe suas ideologias para manipular as massas. Todas as informações presentes no nosso dia a dia, assim como valores morais e éticos, são midiatizados pelos meios de comunicação em massa. Devido à falta de conhecimento ou de interpretação, muitas pessoas não conseguem ter uma visão crítica para questionar sobre o que leem, ouvem ou assistem e, por isso, tornam-se receptores passivos. Essas mesmas pessoas sabem que, por trás de qualquer mensagem, de qualquer imagem, e de qualquer propaganda sempre há uma ideologia? Estudar as mídias, suas múltiplas funções de linguagem e suas técnicas variadas usadas para chamarem a nossa atenção é interessante, pois, além de analisá-las, poderemos estudar o fenômeno da comunicação em um mundo cheio de sentidos criado pelo homem.

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1. REVISTA BOA FORMA A revista Boa Forma é uma revista da editora Abril, uma editora brasileira, fundada em 1950, que tem sua sede na cidade de São Paulo e ficou conhecida como Grupo Abril, sendo atualmente um dos maiores e mais influentes grupos de comunicação da América Latina, pois fornece conteúdos de multiplataformas. A Abril publica revistas sobre turismo e indústria automobilística, como Quatro Rodas, Viagem & Turismo e Guia Quatros Rodas; revistas de futebol, como Placar; revistas masculinas, como Vip, Men’s Health e Playboy. Há também publicações voltadas somente para o mundo feminino, como Boa Forma, Capricho, Manequim, Claudia, Estilo e Nova. A revista Boa Forma traz vários assuntos voltados para o mundo feminino como, por exemplo: dietas, receitas culinárias, histórias de leitoras, dicas de malhação, dicas para emagrecer, dicas de beleza, dicas para penteados, dicas de esmaltes, histórias das famosas, dicas de comportamento, cálculos de calorias, guia de calorias, dicas de como aumentar a autoestima, dicas para parar de fumar, dicas para o sexo, dicas de saúde e vários outros assuntos que as mulheres adoram. A revista pode ser encontrada em todas as bancas, no Brasil inteiro, e também as matérias anteriores podem ser visualizadas por meio da página da revista, no portal da internet da revista, o qual possui o link: http://boaforma.abril.com.br.

1.1. Conceito de Imagem Segundo JOLY (2007), o termo imagem é tão utilizado, com tantos tipos de significados sem vínculo aparente, que parece bem difícil dar uma definição simples dele, que recubra todos os seus empregos. De fato, o que há de comum, em primeiro lugar, entre um desenho infantil, um filme, uma pintura mural ou impressionista, grafites, cartazes, uma imagem mental, um logotipo, “falar por imagens”, etc.? O mais impressionante é que, apesar da diversidade de significações da palavra, consigamos compreendê-la. Compreendemos que indica algo que, embora nem sempre remeta ao visível, toma alguns traços emprestados do visual e, de qualquer modo, depende da produção de um sujeito: imaginária ou concreta, a imagem passa por alguém que a produz ou reconhece. A autora ressalta que o emprego contemporâneo do termo “imagem” remete, na maioria das vezes, à imagem da mídia: a imagem invasora, a imagem onipresente, aquela que se

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critica e que, ao mesmo tempo, faz parte da vida cotidiana de todos é a imagem da mídia. A “imagem” torna-se, então, sinônimo de televisão e publicidade. Os termos não são, contudo, sinônimos. A publicidade encontra-se decerto na televisão, mas também nos jornais, revistas, nas paredes das cidades. Para Contrera e Hattori (2003), a imagem é um termo que comumente utilizamos para designar representações gráficas ou verbais de algo que existe ou poderia existir. Em outras palavras, é a representação de algo por semelhança. Segundo Barthes (apud PIETROFORTE, 1984, p. 32), toda imagem é polissêmica, implicando, implicando subjacente aos seus significantes, uma cadeia flutuante de significados, dos quais o leitor pode escolher uns e ignorar outros. A articulação da imagem com a palavra, portanto, torna-se um dos modos de orientar e restringir essas escolhas do leitor: quando as palavras explicam o que se passam nas imagens, como nas legendas das fotos jornalísticas, o verbal cumpre a função de ancoragem, quando entre palavra e imagem há uma relação complementar, que se resolve na totalidade da mensagem, como nos diálogos das histórias em quadrinhos, o verbal cumpre sua função de etapa.

1.2. A propaganda Ideológica Para falar sobre a propaganda, inicio com Debord (1997, p.14) que diz que “o espetáculo não é um conjunto de imagens, mas uma relação social entre pessoas, mediadas por imagens”. É necessário distinguir os termos “publicidade” e “propaganda”, pois é comum confundi-los e mesmo sendo diferentes. “Publicidade” é tornar público; é o “conjunto de técnicas de ação coletiva no sentido de promover o lucro de uma atividade comercial conquistando, aumentando e mantendo clientes”. (MALANGA apud MUNIZ, 2004, p. 3). O termo “publicidade” teve início em termos jurídicos e se referia “à publicação (afixação) ou leitura de leis, éditos, ordenações e julgamentos”. (MUNIZ, 2004, p. 2). Foi somente no século XIX que o termo “publicidade” perdeu seu sentido jurídico inicial, para ser usado para fins comerciais, ligado à venda e comercialização de produtos e bens por meio dos veículos de comunicação. A publicidade começou a partir da necessidade de se produzir em massa bens de consumo após a Era Industrial. Desde então, a publicidade deixou de informar (que era sua função primeira) e passou a persuadir e estimular o consumo, como afirma Muniz (2004), ao dizer que

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Com o advento da era industrial, a produção em massa e a consequente necessidade de aumentar o consumo dos bens produzidos, a técnica publicitária foi-se aperfeiçoando, passando a ser mais persuasiva nas suas mensagens e perdendo, quase que por completo, o seu sentido unicamente informativo. A concorrência desenfreada entre as várias marcas, praticamente obrigou o aparecimento de um tipo de publicidade mais agressiva, chamada publicidade combativa, com a tentativa de impor um produto, ao invés de sugeri-lo. Isto deu origem a muitos excessos que só foram barrados com a entrada em vigor da legislação que regulou a atividade publicitária. (MUNIZ, 2004, p. 2).

Já a propaganda, de acordo com sua origem do latim “propagare, significa propagar, multiplicar (por reprodução ou geração), estender, difundir” (MUNIZ, 2004, p. 5). Em outras palavras, propaganda é um meio de comunicação persuasivo que propaga produtos, ideias e valores para toda a sociedade. Gomes (2001) define propaganda como

[...] um processo de disseminação de ideias através de múltiplos canais, com a finalidade de promover no grupo ao qual se dirige os objetivos do emissor, não necessariamente favoráveis ao receptor; o que implica, pois, um processo de informação e um processo de persuasão. Podemos dizer que propaganda é o controle do fluxo de informação, direção da opinião pública e manipulação - não necessariamente negativa - de condutas e, sobre tudo, de modelos de conduta. (GOMES, 2001, p. 7). Numa sociedade de consumidores, com diversos produtos à venda, a propaganda é o meio de comunicação necessário para vender tais produtos, ideias além de fazer movimentar o capital. Há nove tipos de propagandas, e são elas: a propaganda ideológica, a propaganda política, a eleitoral, a governamental, a institucional, a corporativa, a legal, a religiosa e a propaganda social. Para este trabalho, explanarei apenas a propaganda ideológica. Segundo Garcia (apud MUNIZ, 2004, p. 5), a propaganda ideológica tem função de “formar a maior parte das ideias e convicções dos indivíduos e, com isso, orientar todo o seu comportamento social”. Assim sendo, a propaganda ideológica é aquela que vai propagar um conjunto ideias e valores para a sociedade, tornando-as verdades. Por ser um meio de comunicação persuasivo, a propaganda leva o outro à aceitação de uma dada ideia; ideia essa que pode não ser verdadeira, porém pode ser uma verossimilhança. Segundo Citelli (2004),

é, pois, aquilo que se constitui em verdade a partir de sua própria lógica. Portanto, segundo ele, é necessário se construir o “efeito de verdade”, da existência de

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argumentos, provas, perorações, exórdios, conforme certas proposições. (CITELLI, 2004, p. 14).

Para ele, persuadir “não é apenas sinônimo de enganar, mas também o resultado de certa organização do discurso que o constitui como verdadeiro para o receptor” (CITELLI, 2004, p. 14). Nas propagandas, como discursos persuasivos, faz-se presente a imagem, que é composta por signos que transmitem uma ideologia. Mas será que há signo sem ideologia? Primeiramente, é preciso definir os termos “signo” e “ideologia”, para que, então, possa se estabelecer a relação entre os dois. Peirce (apud GOMES, 1997, p. 48) diz que signo, ou representante, “é toda coisa que substitui outra, representando-a para alguém, sob certos aspectos e em certa medida”. Para Miotello (apud SOUZA, 2001, p. 6), foi Voloshinov, um dos intelectuais que fazem parte do currículo de Bakhtin, quem definiu ideologia como “[...] todo o conjunto de reflexos e das interpretações da realidade social e natural que tem lugar no cérebro do homem e se expressa por meio de palavras [...]ou outras formas sígnicas”. Em outras palavras, todo signo é composto por ideologia, e essa relação entres ambos é de dependência. Bakhtin (2006) afirma que

Um produto ideológico faz parte de uma realidade (natural ou social) como todo corpo físico, instrumento de produção ou produto de consumo; mas, ao contrário destes, ele também reflete e refrata uma outra realidade, que lhe é exterior. Tudo que é ideológico possui um significado e remete a algo situado fora de si mesmo. Em outros termos, tudo que é ideológico é um signo. Sem signos não existe ideologia. (BAKHTIN, 2006, p. 21).

As palavras, sem estarem contextualizadas, têm seu sentido neutro, mas, ao estarem contextualizadas e também associadas a outras imagens, impõem conceitos, valores e se tornam produtos ideológicos. Assim, “as palavras, no contexto, perdem sua neutralidade e passam a indicar aquilo a que chamamos propriamente de ideologias. Numa síntese: o signo forma a consciência que por seu turno se expressa ideologicamente”, afirma Citteli (2002, p. 41). Então, qualquer produto de consumo pode se tornar um produto ideológico. A comunicação é uma necessidade do ser humano que vive em sociedade, afinal é ela a responsável pela relação e interação entre eles. Atualmente, vivemos numa sociedade mediada por imagens e informações, além do crescente desenvolvimento tecnológico dos meios de comunicação. Segundo Sant’Anna

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Com desenvolvimento dos meios de comunicação atrela-se às atividades de divulgação comercial de produtos e serviços — a propaganda comercial (a publicidade). E com o advento da sociedade de consumo de massa, esse processo de divulgação tornou-se instrumento fundamental capaz de transformar o padrão de consumo. (SANT’ANNA apud FREITAS e TRINDADE, 2004, p. 5).

Os meios de comunicação e seus usos são aliados da publicidade, pois são meios de vender produtos e incentivar o consumo. Dentre os meios de comunicação existentes, Sant´Anna (apud FREITAS e TRINDADE, 2004) os divide em quatro subgrupos, e são eles:

Veículos visuais (jornais, revistas, cartazes, painéis, luminosos, prospectos, folhetos, cartas, catálogos, displays, vitrines e exposições), veículos auditivos (rádio e altos falantes), veículos audiovisuais (televisão, cinema) e veículos funcionais (amostras grátis brindes e concursos), acrescenta-se a esse panorama os veículos multimidiáticos como a comunicação via Internet. (SANT’ANNA apud FREITAS e TRINDADE, 2004, p. 5).

Na sociedade atual, a mídia tem grande papel na difusão de informações, além de influenciar os indivíduos; por isso, é que somos, diariamente, bombardeados por inúmeras e diversas informações. Para concluir, “toda a vida das sociedades nas quais reinam as modernas condições de produção se apresenta como uma imensa acumulação de espetáculos. Tudo o que era vivido diretamente tornou-se uma representação.” (DEBORD, 1997, p. 13).

1.3. Conceito de Semiótica “Semiótica”, termo que vem do grego semeion, que quer dizer signo, e que teve Charles Sanders Peirce (1839-1914) como seu maior representante. A semiótica é a ciência que estuda as linguagens, os signos e a semiose – processo de significação. Santaella (1983) define a semiótica como “[...] ciência que tem por objeto de investigação todas as linguagens possíveis, ou seja, que tem por objetivo o exame dos modos de constituição de todo e qualquer fenômeno como fenômeno de produção de significação e de sentido.” (SANTAELLA, 1983, p. 13).

Segundo Pietroforte (2008), a semiótica estuda a significação, que é definida no conceito de texto. O texto, por sua vez, pode ser definido como uma relação entre num plano de expressão e um plano de conteúdo. O plano de conteúdo refere-se ao significado do texto, ou seja, como se costuma dizer em semiótica, ao que o texto diz e como ele faz para dizer o que diz. O plano de expressão refere-se à manifestação desse conteúdo em um sistema se significação verbal, não verbal ou sincrético.

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1.4. Os signos e suas classificações Como vimos, a semiótica é a ciência que estuda os signos, e eles são classificados por Peirce da seguinte maneira: Primeiramente, signo é uma coisa que representa outra; é aquilo que está no lugar do real; é algo que se refere a outra coisa. Um signo é “aquilo que, sob certo aspecto ou modo, representa algo para alguém. Dirige-se a alguém, isto é, cria, na mente dessa pessoa, um signo equivalente, ou talvez mais desenvolvido” (PEIRCE, 2005, p. 46). Podemos afirmar que um signo representa seu objeto proporcionando ao indivíduo uma referência a um tipo de ideia. Para exemplificar essa citação, uso o exemplo dado por Santaella (1996):

(...) palavra casa, a pintura de uma casa, o desenho de uma casa, a fotografia de uma casa, o esboço de uma casa, um filme de uma casa, a planta baixa de uma casa, a maquete de uma casa, ou mesmo o seu olhar para uma casa, são todos signos do objeto casa. Não são a própria casa, nem a ideia geral que temos de casa. Substituem-na, apenas, cada um deles de um certo modo que depende da natureza do próprio signo. (SANTAELLA, 1996, p. 12). Com esse exemplo, pudemos perceber que o signo cria, em nossa, mente uma ideia e uma imagem interna. Essa imagem interna pode ser chamada de signo, pois não é a casa (lugar físico) que está em nossa mente, mas sim uma noção/representação que temos dela. Sobre essa questão de signo, interpretante e referente que foi usado no exemplo acima, é interessante analisarmos o triângulo semiótico de Odgen & Richards (1996) para que possamos compreender melhor esses termos e a relação entre eles.

Interpretante (ou referência)

Signo

Objeto (ou referente)

Fig.1: Triângulo semiótico de Odgen & Richards

Segundo Coelho Neto (2003)

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[...] um signo (ou representante), para Pierce, é aquilo que, sob certo aspecto, representa alguma coisa para alguém. Dirigindo-se a essa pessoa, esse primeiro signo criará na mente (ou semiose) dessa pessoa um signo equivalente a si mesmo ou, eventualmente, um signo mais desenvolvido. Esse segundo signo criado na mente do receptor recebe a designação de interpretante (que não é o intérprete) e a coisa representada é conhecida pela designação objeto. Essa três entidades formam a relação triádica de signo. (COLEHO NETO, 2003, p. 56).

Então, é possível afirmar que um signo só pode representar seu objeto para um intérprete, pois é na mente desse interprete que um segundo signo, que está ligado ao primeiro, pode ser criado. Peirce propôs a existência de dez tricotomias e sessenta e seis classes de signos, mas para esta presente pesquisa, explicarei e usarei na análise dos dados, apenas a segunda tricotomia que é sobre as relações entre o signo e o objeto. Nessa segunda tricotomia, os signos são classificados em ícone, índice e símbolo, que são definidos da seguinte maneira: Ícone: “signo que tem alguma semelhança com o objeto representado. Exemplos de signo icônicos: a escultura de uma mulher, uma fotografia de um carro, e mais genericamente, um diagrama, um esquema” (COELHO NETO, 2003, p. 58). Índice ou Index: quando o signo “mantém uma relação direta com seu referente, ou a coisa que produz o signo” (GOMES, 2003, p. 48). Exemplos: chão molhado é indício que choveu, pegadas no chão são indícios de passagem, o termômetro indica a temperatura. Símbolo: este signo é assim definido “quando a relação com o referente é arbitrária, convencional” (GOMES 2003, p. 48). Exemplos: Uma pomba branca simboliza a paz, a cor branca simboliza a pureza, a cruz simboliza o Cristianismo ou Jesus, as palavras de uma língua.

1.5. A imagem como signo semiótico Ao pensarmos na imagem como um signo, podemos classificá-la como um signo do tipo ícone, devido à semelhança com os signos nelas retratados. Porém, esse conceito da imagem divide-se em dois campos: o das imagens diretas perceptíveis e o das imagens mentais. As imagens diretas perceptíveis podem ser definidas como as imagens existentes, já as imagens mentais são aquelas que são evocadas independente de estímulos, como modelos, ideias e sonhos. Como observado por Nöth & Gibson (apud SANTAELLA, 2005, p. 39):

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[...] a ideia de que as imagens se assemelham, de maneira geral, a seus objetos de referência (e atuam, por seguinte, como signos icônicos) é não somente senso comum, mas também foi compartilhada por filósofos desde Platão sem ser questionada por muito tempo.

É possível a transmissão de ideologias, códigos e valores não somente pelo discurso verbal, mas também pelas imagens. Considerando as imagens e os elementos que a compõem como signos, devemos afirmar que todo signo é ideológico, ou seja, “tudo que é ideológico possui um significado e remete a algo situado fora da si” (CITELLI, 2002, p. 41). No caso das propagandas, por exemplo, fica bem clara essa relação entre signos e ideologia, pois as propagandas visam a vender seus produtos; para isso, é preciso explorar a relação entre os signos para chamar a atenção e persuadir seus potenciais consumidores.

1.6. A linguagem verbal e a não verbal na comunicação Com o passar dos anos e o aumento da tecnologia, somos diariamente bombardeados por informações, anúncios e imagens que são mediadas por diferentes tipos de linguagens e mídias. Podemos dizer que linguagem é o modo que nos expressamos, seja por meio da fala, da escrita, de gestos, de pinturas, desenhos, sinais, enfim, tudo o que usamos para nos comunicar. A comunicação é uma necessidade do ser humano e é por meio dela que os indivíduos podem conviver em sociedade e se expressarem. A comunicação estabelece um diálogo entre o emissor (aquele que emite a mensagem) e o receptor (aquele que recebe a mensagem), e temos que nos atentar que a comunicação se faz presente por diferentes tipos de linguagens, e não apenas da fala e da escrita. Comunicar-se, então, implica estabelecer relação entre dois elementos que interagem entre si, fazendo uso das diferentes linguagens existentes: a verbal e a não verbal. (SOUZA, 2001, p. 1). Sobre esse aumento de informações produzidas pelas diversas mídias, Santaella (1996) observa que

De dois séculos para cá (pós-revolução industrial), as invenções de máquinas capazes de produzir, armazenar e difundir linguagens da (fotografia, o cinema, os meios de impressão gráfica, o rádio, a TV, as fitas magnéticas etc.) povoaram nosso cotidiano com mensagens e informações que nos espreitam e nos esperam. (SANTAELLA, 1996, p. 2).

A comunicação humana se estabelece além da linguagem verbal e da linguagem não verbal, no entanto, ambas as linguagens são códigos pelas quais nos comunicamos.

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A linguagem verbal se dá por meio da escrita, da leitura, ou seja, faz-se necessário o uso da língua e das palavras. Já a linguagem não verbal se dá pelo uso de imagens, figuras e desenhos, como, por exemplo, placas, fotos, quadros, dentre outros. Santaella (1996) afirma que

(...) nos comunicamos também através da leitura e/ou produção de formas, volumes, massas, interações de forças, movimentos; que somos também leitores e/ou produtores de dimensões e direções de linhas, traços, cores... Enfim, também nos comunicamos e nos orientamos através de imagens, gráficos, sinais, setas, números, luzes... Através de objetos, sons musicais, gestos, expressões, cheiro e tato, através do olhar, do sentir e do apalpar. Somos uma espécie animal tão complexa quanto são complexas e plurais as linguagens que nos constituem como seres simbólicos, isto é, seres de linguagem. (SANTAELLA, 1996, p. 2).

Ambas as linguagens, a verbal e a não verbal, “são interpretadas de forma convencional e articulada”, porém a linguagem verbal “organiza-se com base na linguagem duplamente articulada, que forma a língua”, já a linguagem não verbal “envolve sentidos variados, como os visuais, auditivos, sinestésicos, olfativos e gustativos.” (GOMES, 2010, p. 78). Segundo a autora Vera Aguiar (2004), para falarmos das diferentes linguagens de que dispomos, verbais e não verbais, precisamos pensar que elas existem para que possamos nos comunicar. Por isso, antes de qualquer coisa, vamos definir uma prática tão necessária como a comunicação, quais suas concepções mais frequentes, em que ela consiste e como vem acontecendo através dos tempos. O dicionário nos diz que a palavra comunicação deriva do latim communicare, cujo significado seria “tornar comum”, “partilhar”, “repartir’, “associar”, “trocar opiniões, “conferenciar”. Portanto, historicamente, comunicação implica participação, interação entre dois ou mais elementos, troca de mensagens entre eles, um emitindo informações, outro recebendo e reagindo. Para que a comunicação exista, portanto, deve haver mais de um polo: sem o outro, não há partilha de sentimentos e ideias ou de comandos e respostas. (AGUIAR, 2004). Segundo Aguiar (2004), as linguagens organizam-se em sistemas, aceitos e conhecidos pela comunidade que se utiliza deles. Por sua vez, ao utilizá-los, os sujeitos adaptam-nos a seus interesses e necessidades e acabam por alterá-los, num processo comunicativo dinâmico. Esses sistemas são formados por elementos chamados signos, os quais foram estudados por Ferdinand de Saussure, professor suíço que inaugurou as pesquisas linguísticas modernas.

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Na linguagem verbal, o significante é a imagem acústica (os sons que formam a palavra “cadeira”, por exemplo) e o significado é o conceito (como concebemos a cadeira). As linguagens não verbais como a música, a pintura, o cinema, a moda, a cozinha e tantas outras também se valem dos signos, que se compõem dos significantes, os conceitos que são expressos . (AGUIAR, 2004). Enfim, segundo a autora, a escolha dos signos e sua distribuição constroem a mensagem que queremos enviar para um destinatário próximo ou distante, definido ou indefinido. O que fica claro, portanto, é que as situações comunicativas interferem nas combinações entre os significados e significantes que criamos. O processo de comunicação, entretanto, é bem mais complexo e outros aspectos contribuem para o seu funcionamento além de suas construções sígnicas. Qualquer conduta comunicativa tem uma finalidade, que determina os meios utilizados para conseguir os efeitos que desejamos dentro de um espaço específico de interação. Isso nos leva a concluir que a linguagem verbal e as linguagens não verbais compõem-se de códigos globais que abrigam inúmeros subcódigos relacionados entre si e responsáveis por tipos de comunicações diferentes, segundo as funções que queremos privilegiar. Logo, as linguagens devem ser estudadas em toda a variedade de suas funções.

1.7. Linguagem Segundo Bechara (2009), entende-se por linguagem qualquer sistema de signos simbólicos empregados na intercomunicação social para expressar e comunicar ideias e sentimentos, isto é, conteúdos da consciência. A linguagem se realiza historicamente mediante sistemas de isoglossas comprovadas numa comunidade de falantes, conhecidas com o nome de línguas, como veremos adiante. Tal conceituação envolve as noções preliminares do que seja sistema, signos símbolos e intercomunicação social. Sistema é todo conjunto de unidades concretas ou abstratas reais ou imaginárias que se encontram organizadas e que se ordenam para a realização de certa ou de certas finalidades {HCv.1,264 }. Entende-se por signos ou sinal a unidade, concreta ou abstrata, real ou imaginária, que, uma vez conhecida, leva o conhecimento de algo diferente dele mesmo: as nuvens negras e densas no céu manifestam ou são sinal de chuva eminente: o “-s” final dos livros é o signo ou sinal pluralizador, assim como, em “cantas”, há o signo da 2.ª pessoa do singular. Por isso mesmo se diz que tais unidades são simbólicas, já que se entende em geral por símbolo aquilo

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que por convenção, manifesta ou leva ao conhecimento de outra coisa, a qual substitui. (BECHARA, 2009). Por fim, há a intercomunicação social, porque linguagem é sempre um estar no mundo com os outros, não como um indivíduo particular , mas como parte do todo social, de uma comunidade. (BECHARA, 2009). Segundo Koch (2000), ao passo que o relacionamento entre o homem e a linguagem como representação do mundo é tratada a luz da Semântica, a interação social do homem na e pela linguagem constitui de estudos da Pragmática. A interação social por intermédio da língua caracteriza-se, fundamentalmente, pela argumentatividade. Como ser dotado de razão e vontade, o homem, constantemente, avalia, julga, critica, isto é, forma juízos de valor. Por outro lado, por meio do discurso — ação verbal dotada de intencionalidade — tenta influir sobre o comportamento do outro ou fazer com que compartilhe determinadas de suas opiniões. É por essa razão que se pode afirmar que o ato de argumentar, isto é, de orientar o discurso no sentido de determinadas conclusões, constitui o ato linguístico fundamental, pois a todo e qualquer discurso subjaz uma ideologia, na acepção mais ampla do termo. A neutralidade é apenas um mito: o discurso que se pretende “neutro”, ingênuo, contém também uma ideologia — a da sua própria objetividade. (KOCH, 2000).

1.8. A análise do discurso A comunicação é indispensável para os homens, já que vivemos em sociedade e precisamos nos comunicar; portanto, a linguagem é um instrumento que possibilita os seres humanos se comunicarem, interagirem e estabelecerem relações em sociedade. É bom ressaltar que a linguagem não é usada apenas para a comunicação, mas também para persuadir os outros indivíduos. Assim observa Sitya (1995, p. 15) ao dizer que a linguagem tem a função de “persuadir e convencer, o que significa desejo de interferir na opinião dos outros modificando suas convicções e julgamentos.” Ao falarmos em persuasão, convencimento e toda a intencionalidade nas linguagens, logo pensamos nas ciências que tem essas questões como objeto de estudo. Dentre a Semântica Linguística, a Retórica e a Filosofia da Linguagem, está a Análise do Discurso (que será a única estudada neste trabalho). A Teoria discursiva foi proposta por alguns linguistas e que tinha como propósito provar a necessidade de se conhecer e entender uma gramática anterior à construção do texto.

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A Análise do Discurso veio para mostrar que é a partir do processo de produção do significado que se constrói a unidade do texto. Com base na explicação dos caminhos da criação dos significados e também na interpretação de textos é que a Análise do Discurso atua. Segundo Sitya (1995):

A Análise do Discurso procura interpretar o sentido das instruções para explicar as intenções que afloram nos enunciados. Para que seja apreendido o significado de um discurso, articulam-se mecanismos em que se consideram as intenções das instruções como um anúncio na descoberta do sentido. Articula-se o modo de organização textual, considerando o espaço do sujeito, o momento da enunciação e a história do interlocutor. (SITYA, 1995, p. 20-21).

Conhecer os conhecimentos contextuais e históricos e também elementos linguísticos é algo necessário, pois apreender o sentido de um texto com base apenas nas palavras é impossível. Temos falado em Análise do Discurso e sua atuação, mas afinal, que é discurso? Um discurso é de caráter argumentativo ou ideológico e, por ser um ato de linguagem, visa a determinados objetivos, sejam eles argumentativos ou ideológicos. “Para a Análise do Discurso, o discurso postula concepções ideológicas que se instalam anterior ao texto” (SITYA, 1995, p. 77). A significação do discurso é dada pelas condições de produção, objeto definido por Sitya (1995) como

[...] avaliação dos fatores pragmáticos do ato da produção discursiva, ou seja, avaliação da instância verbal da produção do discurso como situcionalidade como intencionalidade, aceitabilidade, intertextualidade e informatividade. Avalia o contexto histórico-social dos interlocutores. (SITYA, 1995, p. 77).

É possível afirmar que o discurso está inserido numa teoria crítica da sociedade, e por isso, pode-se refletir sobre as condições que em determinado momento histórico dela, devido a isso, as palavras desse discurso assumam diferentes significações. As palavras, quando estão contextualizadas perdem sua neutralidade e adquirem valores ideológicos; por isso, é que o sentido de uma palavra é “determinado pelas condições ideológicas e também pelo processo sócio-histórico” (SITYA, 1995, p. 27). Então, é possível dizer que os sentidos das palavras mudam “segundo às posições sustentadas por aqueles que as utilizam, isto é, adquirem sentido conforme as formações ideológicas nas quais essas posições se inscrevem”.

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Sabemos que, no discurso publicitário, todas essas questões explicadas acima, estão presentes; por isso, é essencial analisar a formação dos discursos, os objetivos e as condições de produção. É importante saber também, qual a função das propagandas em uma sociedade. Sitya (1995) diz que

[...] depois da afirmação de Vestergaard & SchØder sobre as necessidades materiais e sociais, tentou-se esboçar a Formação Discursiva das publicidades: pessoas pertencentes a quaisquer grupos sociais estão envoltos pelo consumismo. Esse consumismo é o objetivo das propagandas, que além da venda de um produto, procuram persuadir pessoas a adotar e incorporar determinados padrões de necessidades. (SITYA, 1995, p. 48).

A autora ainda destaca que, ao pensarmos nas condições de produção, é importante considerar que “a propaganda envolve aspectos linguísticos reinantes no momento da enunciação, assim como os aspectos psicológicos, efeitos que a propaganda produz no enunciatário — ato ilocucional e também o contexto histórico social dos interlocutores.” (SITYA, 1995, p. 48).

1.9. Efeitos de Sentido Para Sonia Mariza Martuscelli (2010) o uso de certos elementos na formação de palavras, em dados contextos, produz efeitos de sentido: - efeitos de subjetividade – denunciam o envolvimento pessoal do falante em relação ao que ele diz; - efeitos de objetividade – acobertam o envolvimento do falante, criando a ilusão de imparcialidade e de objetividade deste diante do que diz; - efeitos de humor – revestem de um sentido cômico o que foi dito. (MARTUSCELLI, 2010)

Para melhor entender, os efeitos de sentido podem estar presentes em um texto ficcional apoiado em imagens ilustrativas que dialogam com o texto verbal de diferentes linguagens. Assim, podemos ver os textos complementados pelas imagens. Em muitos casos, as imagens são esclarecedoras e mais impactantes, porém não são autoexplicativas. O texto auxilia a imagem quanto na intensificação do sentido, e também contribui para um melhor entendimento, interpretação e referenciação das imagens.

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2. METODOLOGIA DE PESQUISA Neste capítulo, explicarei e descreverei os procedimentos usados para a coleta e para a análise de dados, com base na fundamentação teórica apresentada e também de acordo com as questões que norteiam este trabalho. Inserido na linha de pesquisa da Semiótica e na análise do discurso verbo-visual da imagem e da propaganda, a presente pesquisa foi desenvolvida em função dos efeitos de sentidos que a linguagem da imagem promove por meio da mídia impressa, tendo como corpus de referência capas da revista Boa forma do mês de julho, agosto e setembro de 2012. A seleção das capas recentes se fez buscando relacionar com a realidade mais próxima que estamos inseridos, ou seja, no contexto de globalização e das relações econômicas e culturais que lidamos atualmente. Para a análise proposta, procurei fazer leituras de pelo menos três autores de cada palavra-chave, o que me auxiliará de maneira mais profunda na análise da imagem e de suas linguagens utilizadas. Pude perceber, com este estudo, que, segundo os autores, a composição da página impressa, o posicionamento dos elementos visuais que o acompanham determinam os sentidos desejados, e podem ser ideologicamente manipulados. Portanto, procuraremos entender, por meio das análises que serão feitas no próximo capítulo, como uma imagem torna-se visível com apoio no trabalho de interpretação e de efeito de sentido, que se instituem entre a imagem e o olhar de cada leitor da determinada imagem. Isso, pois, segundo Joly (2007), o mais impressionante é que, apesar da diversidade de significações da palavra consigamos compreendê-la. Compreendemos que indica algo que, embora nem sempre remeta ao visível, toma alguns traços emprestados do visual e, de qualquer modo, depende da produção de um sujeito: imaginária ou concreta, a imagem passa por alguém que a produz ou reconhece. Para realizar este trabalho, foi preciso achar o problema, ou seja, a razão pela qual estou desenvolvendo esta pesquisa. As questões levantadas são: 1. Como analisar a linguagem das imagens? 2. Como analisar os efeitos de sentidos promovidos pelo visual em capas de revista?

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3. ANÁLISE DAS IMAGENS DAS CAPAS DA REVISTA BOA FORMA Neste capítulo, analisarei as imagens das capas da revista Boa Forma, das edições do mês de julho, agosto e setembro de 2012, utilizando a semiótica Peirciana e os estudos que obtive no referencial teórico do capítulo 1.

3.1. Capa de agosto de 2012 Inicio a análise com a capa da revista Boa Forma — edição agosto de 2012:

Fig. 2: Capa da revista Boa Forma — edição agosto/2012.

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A capa da revista é o primeiro contato que temos com ela, e ela tende a nos chamar a atenção e, normalmente, relata um resumo do que vem a ser tratado em seu interior. Como, em maioria, “julgamos um livro pela capa”, com a revista acontece isso também; por esse motivo, a mídia visa à apelação, utilizando uma pessoa famosa, com um corpo e rosto bonitos. Ao olharmos essa imagem, percebemos que é um ícone, pois possui semelhança com o objeto representado: uma mulher. Vemos que a revista tenta ser harmoniosa, colocando a cor de fundo da capa em branco e letras em amarelo para harmonizar com imagem da mulher estampada na capa. As capas carregam vários sinais e significados em que estas devem trazer algo atrativo que chame a atenção do receptor. No caso dessa revista que irei analisar, a modelo e atriz é a Isis Valverde, uma pessoa muito bonita e que está em seu auge de sucesso, pois acabou de interpretar uma bela moça chamada Suellen em uma telenovela brasileira da emissora Globo chamada Avenida Brasil, cujo personagem era sensual, persuasivo e tinha dois homens “aos seus pés”. A escolha da modelo utilizada não vem a ser à toa, já que o receptor, quando vir essa revista, irá querer ficar com o corpo da atriz, seguindo suas recomendações. A revista não só utilizou uma modelo muito bonita, como já falamos, mas também utilizou roupas sensuais, a fim de mostrar o corpo da atriz; utilizou também letras amarelas, a fim de chamar a atenção do leitor no momento da escolha da revista, e utilizou números sobre salientes, a fim de prender a atenção do leitor no breve resumo da matéria, como, por exemplo, o número 20, em letras amarelas e salientes. Quando olhamos a capa, podemos perceber esse número maior e tendemos a ler o que está escrito — a revista nos prende a atenção no que ela quer destacar; nesse caso, a matéria é sobre lipoaspiração. Outro exemplo claro disso é o número 4, que está em amarelo e saliente do restante das palavras — ele nos chama muito a atenção para aquele local em que está inserido, no qual lemos “BARRIGA CHAPADA: -4 kg em 1 mês”. Quando o receptor recebe essa mensagem, ele tende a se atrair pela praticidade de perder o peso. Essas letras estão em baixo de um corpo estrutural, mas será mesmo que, perdendo apenas 4 kg, ficaríamos com esse corpo deslumbrante? De acordo com a análise semiótica Peirciana, podemos perceber que, nessa imagem, a modelo pode ser classificada como um índice, sendo um índice de felicidade pelo seu sorriso, que nos dá a entender que é muito fácil emagrecer; ela nos encara de um modo persuasivo de frente, a fim de nos atrair na escolha dessa revista, e não de outra. A revista carrega consigo muitos significados, muitos apelativos para quem quer um corpo sarado, um cabelo bonito, um rosto lindo. Outro fato que não podemos deixar de

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visualizar é o mais importante na maioria dos casos: o que nós, consumidores, olhamos — o preço. O preço da revista, diferente do número 20, do 4 e das letras em negrito, o preço está na vertical, em um canto, em tamanho tão pequeno que muitas vezes nem conseguimos visualizar. A revista faz uma apelação com a autoestima da mulher, apela de tal forma que, quando adquirimos esta revista, almejamos ficar parecida com a modelo. Utilizo as palavras de Joly (1996): “Quanto mais se vê imagens, mais se corre o risco de ser enganado, manipulado.” Portanto nessa imagem da capa, pudemos perceber um discurso persuasivo promovido pelo visual estimulando o consumidor a comprar a revista fazendo uso da propaganda ideológica.

3.2. Capa de setembro de 2012

Fig. 3: Capa da revista Boa Forma — edição setembro/2012.

Assim como na capa da revista anterior, ao olharmos essa imagem, percebemos também que é um ícone, pois possui semelhança com o objeto representado: uma mulher. Um

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fator que não podemos deixar de notar é que a modelo da capa é a Débora Nascimento, atriz que também interpretou uma personagem, Tessália, que também era sensual, deslumbrante, utilizava roupas justas e tinha dois homens “aos seus pés”, na telenovela Avenida Brasil. A revista, com intenção de persuadir o consumidor, utiliza modelos em seu auge de sucesso. Nessa capa, de acordo com a semiótica peirciana, a modelo é considerada um índice, como na capa anterior analisada, por estar sorrindo passando-nos a ideia de estar feliz. A modelo utiliza um biquíni diferente da outra capa analisada; essa modelo abusa da sensualidade e do corpo em forma. A cor azul do plano de fundo da capa da revista nos dá a ideia de um céu pela sua similaridade com a cor azul, fazendo-nos lembrar de praia, juntamente com o biquíni utilizado pela modelo. Nessa capa de revista, como na anterior, foram utilizadas letras coloridas em destaque e números sobre saliência, bombardeando-nos com sua propaganda ideológica,chamado-nos a atenção para a matéria destacada. Podemos notar, na capa da revista que o que nos prende a atenção também é o número 40 em saliência, na cor rosa, na matéria sobre cabelo, a qual abrange quarenta possibilidades de produtos para seu tipo de cabelo e cita o valor de 4 reais para cada produto, que, no entanto, não conseguimos notar, tanto pelo seu tamanho menor e pela cor apagada. Não podemos deixar de notar o numero 3, que aparece em destaque, em letra saliente, na cor rosa; porém, ele está negativo nos dando uma leitura mais rápida e a impressão de perda de peso. Podemos notar também que algo que nos chama atenção nessa capa é a pergunta, instigando o consumidor a adquiri-la para obter as respostas — por exemplo, na pergunta: “Parar de menstruar vale a pena?”

3.3. Capa de julho de 2012

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Fig. 4: Capa da revista Boa Forma — edição outubro/2012.

Um fato curioso nessa capa que podemos perceber é que a modelo já não está tanto em destaque na mídia e já não chama tanto a atenção como nas outras capas analisadas anteriormente. Nessa capa, de acordo com a semiótica peirciana, a modelo é considerada um índice como nas capas anteriores analisadas, mas, diferente das outras, a modelo não está sorrindo, não nos passando um índice de felicidade. Sua roupa já não é tão apelativa comparada às outras capas analisadas anteriormente, pois está com um vestido mais fechado, impossibilitando-nos de ver seu corpo sarado, embora ela não exiba sua forma — confrontando a que o nome da revista (Boa Forma) diz —, deixando de ser tão apelativa quanto as outras capas. Esta revista já não chama tanto a atenção pelo fato de serem utilizadas cores neutras. Seu plano de fundo florido retrata uma similaridade com o mês de julho que, por ser inverno, as cores estão neutras e o vestido da modelo um pouco mais fechado, retratando a estação. No entanto, mesmo sem letras coloridas, a revista faz o uso de números salientes como o número 7, chamando a atenção do leitor na quantidade de quilos que irá perder. Essa revista,

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apesar de ser menos apelativa, não deixa de usar a propaganda ideológica e as tendências da moda.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS Após discorrer sobre a linguagem que a imagem promove, os efeitos de sentido que o visual pode promover e os tipos de propaganda pude mostrar que existe na linguagem, em todos os aspectos da vida das pessoas, vi que não podemos nos limitar apenas à linguagem escrita e falada, pois, segundo Santaella (1983), o uso da língua falada e escrita em nossas vidas é algo natural, evidente e profundamente integrado ao nosso próprio ser, mas a língua nativa, materna ou pátria, como costuma ser chamada, não é a única e exclusiva forma de linguagem que somos capazes de produzir, criar, reproduzir, transformar e consumir para que possamos nos comunicar uns com os outros. Seguindo o raciocínio de Santaella (1983, p. 2), quando afirma que “as linguagens estão no mundo e nós estamos na linguagem”, a Semiótica tem como objeto de investigação todas as linguagens possíveis, ou seja, tem por objetivo o exame dos modos de constituição de todo e qualquer fenômeno como fenômeno de produção de significação e de sentido entrando nesse sentido da imagem. Este trabalho apresentou não apenas as linguagens que a imagem promove mais também os efeitos de sentidos que podem acontecer, dependendo da interpretação do leitor e o tipo de propaganda que tem sido utilizado nas mídias impressas, que foi o caso das capas da revista Boa Forma que eu analisei e que pude perceber que a propaganda utilizada é a propaganda ideológica. Nas propagandas das imagens analisadas neste trabalho, pude ver os discursos persuasivos, ideologias capazes de prender a atenção do leitor para que ele venha a ser um consumista da revista, pois as linguagens criadas pelas imagens têm a finalidade de propagar uma ideia de forma rápida, sem que haja a necessidade de um raciocínio ou questionamento; por isso, as imagens têm que ser impactantes para chamar a atenção. Portanto, é possível afirmar que a publicidade dá à sociedade aquilo que ela quer ou que ela precisa; então, digo que a sociedade vive de imaginário — por exemplo: a imagem da capa da revista é uma modelo, uma mulher muito bonita, com sorriso largo e radiante, mas tudo isso para dizer que ela estava feliz por ter aquele corpo sarado e o leitor, após o primeiro contato, já se começa a imaginar a ter aquele corpo e ser feliz como ela; com isso, acabando comprando a ideia do que a capa da revista quer passar, e não a revista em si. Enfim, ao final deste trabalho, pude, então, responder às questões que, desde o começo, norteiam esta pesquisa, com a qual pude aprender que as linguagens estão em toda

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parte e o que basta é saber interpretá-las e tomar cuidado para não se deixar ser levado pelo bombardeio de informações emitido pelas propagandas.

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Outras Referências DICAS GRÁTIS BRASIL. Disponível em: . Acesso: 30 nov. 2012.

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