Resumo - Teorias Explicativas Do Conhecimento (Descartes e Hume)

March 16, 2019 | Author: Carlos | Category: David Hume, Knowledge, René Descartes, Ciência, Truth
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DESCARTES 

Fundador da filosofia moderna, dá importância á teoria do conhecimento ou gnosiologia.



Procura construir um sistema científico de bases ou princípios firmes e indubitáveis.



Filósofo tipicamente racionalista, inspirou-se no modelo matemático.



Defendia que a ciência se devia basear em princípios metafísicos a partir dos quais todos os restantes conhecimentos seriam deduzidos com rigor e ordem.



O objectivo fundamental do pensamento de Descartes é a reforma profunda do conhecimento humano, uma vez que, na sua época, havia falta de confiança na razão e dependência desta em relação à experiência.



Descartes pretende aplicar o modelo matemático a domínios como a metafísica e a física.



Atitude de Descartes em relação ao saber tradicional: t radicional: o

O conjunto dos conhecimentos, que constituem o sistema do saber ou o edifício científico tradicional, está assente em bases frágeis.

o

Esse edifício científico é constituído por conhecimentos que não estão devidamente ordenados.



O saber tradicional padece de 2 defeitos: a falta de organização ou sistemacidade e a falta de solidez das bases em que assenta.



Descartes considera que os fundamentos do sistema dito científico não são verdadeiros e que, embora haja conhecimentos verdadeiros nesse sistema, eles não estão colocados por ordem, não foram descobertos de uma forma ordenada ou racional. A fundamentação do saber e a sua ordenação são as 2 exigências essenciais da crítica cartesiana ao saber do seu tempo.



Para constituir a ciência em bases firmes é necessário partir de um princípio que cumprirá 2 exigências, sem as quais será eu pseudoprincípio: o

Deve ser de tal modo evidente (claro e distinto) que o pensamento não possa dele duvidar.

o

Dele dependerá o conhecimento do resto, de modo que nada pode ser conhecido sem ele, mas não reciprocamente.

DÚVIDA COMO INSTRUMENTO DA PROCURA DA VERDADE 

Descartes elaborou um conjunto de regras que o orientassem na procura da verdade, constituindo essas 4 regras o seu método.



A 1ª regra é a regra da evidência , que nos diz para não aceitarmos como verdadeiro aquilo que não for absolutamente indubitável: é verdadeiro o que resiste a toda e qualquer dúvida.



A dúvida é catártica ou purificadora, porque quer libertar a razão dos falsos princípios, quer evitar que se considerem princípios do saber conhecimentos que não merecem esse nome.



Um edifício com um fundamento absolutamente verdadeiro tem de passar pela prova rigorosa da dúvida. A prova da dúvida é tão rigorosa que esta assume um aspecto hiperbólico, excessivo.



O carácter hiperbólico da dúvida significa que vamos duvidar: o

Considerando como absolutamente absolutamente falso o que for minimamente duvidoso;

o

Considerando como sempre enganador aquilo que alguma vez nos enganar.

OS NÍVEIS DE APLICAÇÃO DA DÚVIDA 

1º Nível  –  Dúvida em relação aos sentidos. A dúvida vai aplicar-se em primeiro lugar às informações dos sentidos e como estes nos enganam algumas vezes, ao aplicar o princípio hiperbólico da dúvida concluímos que: se devemos considerar como sempre enganador aquilo que nos engana algumas vezes, então os sentidos não merecem qualquer confiança. Assim Descartes rejeita um dos fundamentos principais do saber tradicional: a crença em que o conhecimento começa com a experiência, com as informações dos sentidos.



2º Nível  –  Dúvida dos objectos. Descartes vai pôr em causa outro dos fundamentos essenciais do saber tradicional: a convicção ou crença imediata na existência das realidades física ou sensíveis. Descartes considera que se não existe uma maneira clara de diferenciar o sonho da realidade, então podemos desconfiar de que os acontecimentos e as coisas que julgamos reais não são mais do que figurantes de um sonho.



3º Nível  –  Dúvida do conhecimento matemático. O facto de Deus ser omnipotente e de nos ter criado leva-nos a suspeitar de que Deus, ao criar o nosso entendimento, ao “depositar” nele as “verdades” matemáticas, pode tê -lo criado “virado do avesso” sem

disso nos informar. Ou seja, o nosso entendimento pode estar radicalmente pervertido, tomando como verdadeiro verdadeiro o que é falso e vice-versa. RESULTADO DA APLICAÇÃO DA DÚVIDA: ACABA POR NOS CONDUZIR À PRIMEIRA E ABSOLUTA VERDADE, AO PRIMEIRO PRINCÍPIO DO SISTEMA DO SABER 

Como resultado da aplicação da dúvida, pôs-se em causa toda a dimensão dos objectos, quer sensíveis quer inteligíveis. Foi tudo posto em causa, ou seja, reina o cepticismo: tudo é falso, nada é verdadeiro, isto é, nada resiste à dúvida. Contudo, quando a dúvida atinge o seu ponto máximo, uma verdade indubitável vai impor-se.



A dúvida é um acto do pensamento que só é possível se existir um sujeito que o realize. A condição de possibilidade do acto de duvidar é a existência do sujeito que pensa, ou seja, duvidar é um acto que tem de ser exercido por alguém. Logo, a existência do sujeito que duvida é uma verdade indubitável: “Penso, logo existo.”, ou

seja, eu duvido de tudo, mas não posso duvidar da minha existência como sujeito que, neste momento, duvida de tudo. “Duvido, logo existo.” 

Esta verdade, “Eu penso, logo existo”, vai ser o critério ou o modelo de toda e

qualquer verdade ou evidência posterior. 

O “cogito” é a primeira verdade. O sujeito sabe que existe como condição de

possibilidade radical do acto de duvidar e isso é verdade porque vê muito clara e distintamente que é impossível falar do acto de duvidar sem supor como sua possibilidade a existência de um sujeito que duvida. 

O “cogito” vai funcionar como modelo de verdade: serão verdadeiros todos os conhecimentos que forem tão claros e distintos (evidentes) como este primeiro conhecimento.



Este princípio indubitável é racional, porque no momento em que o descobrimos, nenhuma realidade sensível merece crédito, ou seja, trata- se da “raiz da árvore do saber”, não sendo um conhecimento sensível ou matemático, mas sim uma realidade

metafísica: o sujeito puramente racional. 

A generalização e radicalização da dúvida foi motivada pelo desejo de pôr em evidência o carácter único e privilegiado do conhecimento que nenhuma dúvida pode abalar.

PROVA DA EXISTÊNCIA DE DEUS COMO SER PREFEITO (NÃO ENGANADOR) 

Sei que sou imperfeito, porque duvido e só considero que duvidar é uma imperfeição, porque tenho a noção de perfeição.



Só comparando as qualidades que eu possuo com o que penso ser a perfeição é que posso dizer que eu que duvido e não conheço tudo, sou imperfeito. A ideia de um ser perfeito corresponde à ideia de um ser que não duvida, que tudo sabe (omnisciente). (omnisciente).



Como só o que é perfeito pode ser a causa da ideia de perfeito, Descartes conclui que Deus existe.

TIPOS DE IDEIAS 

A ideia de alma e de Deus são ideias inatas  –  estão na mente desde o nascimento e serão desenvolvidas pela razão sem o apoio da experiência. Só as ideias inatas são claras e distintas.



As ideias adventícias (ideia de Sol ou maçã) são ideias que procedem da experiência.



As ideias factícias são ideias forjadas pelo sujeito como é o caso da ideia de sereia ou unicórnio.

FUNDAMENTAÇÃO METAFÍSICA DO SABER: DEUS COMO GARANTIA DAS VERDADES MATEMÁTICAS E DAS VERDADES RACIONAIS EM GERAL 

No terceiro nível de dúvida, Descartes apresenta a suspeita de que um Deus omnipotente podia fazer tudo, inclusive enganar. Contudo, Descartes vai chegar à conclusão de que essa suspeita não faz sentido, pois se Deus é omnipotente e perfeito e enganar é sinónimo de fraqueza, porque só a fraqueza e a imperfeição podem levarnos a utilizar a arma da mentira, então Deus não nos engana, não perverte o nosso entendimento.



O papel da veracidade divina (não enganar e ser fonte de todo o saber) é duplo: o

É garantia da validade das evidências actuais, isto é, das que estão actualmente presentes na minha consciência. Com efeito não há razão para duvidar das ideias que estão presentes na minha consciência como claras e distintas, uma vez provado que Deus não engana e não perverte o meu entendimento. entendimento. Provado que Deus não é enganador, uma determinada evidência

não pode ser posta em causa enquanto está presente no meu espírito e atentamente a considero. o

É garantia das minhas evidências passadas, isto é, não actualmente presentes na minha consciência. É Deus quem vai garantir que aquilo que é válido para mim num certo momento seja válido objectivamente, isto é, independentemente de mim e sempre. O saber firme, seguro e constante que Descartes ambiciona só pode ser assegurado pela veracidade e imutabilidade divinas. As evidências às quais dei o meu assentimento continuam a ser evidências, mesmo quando já nelas não penso.



Deus acaba por ser a verdadeira “raiz da árvore do saber” porque só a sua veracidade

garante a verdade dos conhecimentos que o sujeito pensante (a primeira realidade a ser conhecida, mas não a realidade verdadeiramente fundamental) vai constituindo. DAVID HUME 

Encarregou-se de uma profunda investigação sobre a origem, possibilidade e os limites do conhecimento.

IMPRESSÕES E IDEIAS SÃO O CONTEÚDO DO CONHECIMENTO 

Para David Hume todo o conhecimento começa com a experiência, sendo os dados ou impressões sensíveis as suas unidades básicas.



Divide o conteúdo do conhecimento em 2 espécies de estados de consciência ou percepções:

Percepções Impressões (actos originários do nosso conhecimento, correspondendo aos dados da experiência presente ou actual. Imagens ou sentimentos que derivam imediatamente da realidade. São percepções vivas e fortes.)

Simples (a percepção de uma caneta azul

Complexas (a visão global de um povoado a partir de um ponto alto)

Conhecimentos de facto – física  – física

Ideias (são representações ou imagens debilitadas, enfraquecidas, das impressões no pensamento. Marcas deixadas pelas impressões no pensamento, uma vez desaparecidas.)

Simples (a recordação da caneta azul)

Complexas (a recordação do povoado)

Relações de ideias –  matemática, lógica



A diferença entre impressões e ideias é simplesmente de grau e não de natureza.



Não existem ideias inatas, pois, segundo Hume, elas só aparecem após a impressão que lhes deu origem e não ao contrário: “ as impressões simples precedem sempre as ideias correspondentes e nunca aparecem na ordem contrária”. “As impressões são as causas das nossas ideias e não as nossas ideias das nossas impressões.”

TIPOS DE CONHECIMENTO 

A distinção entre impressões e ideias diz respeito aos elementos do conhecimento. conhecimento.



A distinção entre os modos ou tipos do conhecimento: o

Conhecimento de ideias ou Relação entre ideias  –  proposições cuja verdade pode ser conhecida por simples análise lógica do significado das ideias que as compõem. A verdade das proposições que consistem em relações entre ideias é independente da experiência: são verdadeiras ou falsas a priori , embora todas as ideias tenham o seu fundamento nas impressões, podemos conhecer sem necessidade de recorrer às impressões, isto é, ao confronto com a experiência. As definições e proposições lógico-matemáticas são exemplos. (Ex.: o triângulo tem 3 lados.) Tais conhecimentos são tautológicos, ou

seja, as proposições lógicas e matemáticas não dão novas informações porque o predicado diz, implicitamente, o mesmo que o sujeito. o

Conhecimento de factos – proposições cuja verdade só pode ser conhecida mediante a experiência, isto é, temos de observar o mundo dos factos para verificar se elas são verdadeiras ou falsas. Ex.: “Este martelo é pesado.” É um

 juízo cujo valor de verdade não pode ser decidido pela simples inspecção a priori ,

ou seja, temos de a confrontar com uma verificação experimental

elementar, isto é, a sua verdade ou falsidade só pode ser determinada a posteriori .



Além da forma de determinar a sua verdade (a priori num caso; a posteriori noutro), há uma diferença importante entre a relação r elação entre ideias e os conhecimentos de facto: ao contrário das relações de ideias, não há qualquer contradição na negação de um conhecimento de facto. As proposições de facto podem ser verdadeiras mas é possível que venham a revelar-se falsas.

PROBLEMA DA CAUSALIDADE 

Todas as nossas ideias derivam de uma impressão sensível. A toda e qualquer ideia tem de corresponder uma impressão porque as ideias são imagens das impressões. Do que não há impressão sensível não há conhecimento.  – Conhecimento de factos. 1. Observação de um facto: duas bolas de bilhar chocam. (conjunção constante entre (A) e (B), que (B) sucede a (A). 2. Análise do Fenómeno: 

Como consequência da conjunção constante ou sucessão regular de (A) e (B) nasce na nossa mente a ideia de relação causal ou conexão necessária. Dizemos então: Sempre que se dá (A) acontece (B).

Assim, pensamos que acontecendo (A) não poderá deixar de acontecer (B). Quando dizemos isto estamos a falar de um facto futuro. É aqui que Hume diz que ultrapassamos o que a experiência  – a única fonte de validade dos conhecimentos de facto  – nos permite. Para Hume o conhecimento dos factos reduz-se às impressões actuais e passadas. Não podemos ter conhecimento de factos futuros porque não podemos ter qualquer impressão sensível ou experiência do que ainda não aconteceu. 

A ideia de relação causal, de uma conexão necessária entre dois fenómenos (“sempre foi assim, sempre será assim”), é uma ideia da qual

não temos qualquer impressão sensível. Como o critério de verdade de um conhecimento factual é que a uma ideia corresponda uma impressão sensível, não temos legitimidade para falar de uma relação causal entre dados da nossa experiência.

3. Conclusões: 

Nós inferimos uma relação necessária entre causa e efeito pelo facto de nos termos habituado a constatar uma relação constante entre factos semelhantes ou sucessivos. É apenas o hábito ou costume que nos permite sair daquilo que está imediatamente presente na experiência em direcção ao futuro.



A constante relação de contiguidade espacial e de prioridade temporal entre os fenómenos A e B levam a razão a inventar uma conexão que ela julga necessária, mas da qual nunca teve experiência.



A crença na ideia de causalidade tem um fundamento não racional. Tal ideia não deriva da razão, mas de factores psicológicos  –  a vontade de que o futuro seja previsível e, logo, controlável.



O principio de causalidade, considerado um princípio racional e objectivo, nada mais é do que uma crença subjectiva, o produto de um hábito, o desejo de transformação de uma expectativa em realidade.



Ideia de causa  –  a ideia de que há uma conexão necessária entre dois ou mais eventos. o

Não há nenhuma impressão sensível da qual derive a ideia de causa.

o

Contudo, observamos: 1. a contiguidade espacial; 2. a sucessão temporal e; 3. a conjunção constante entre dois fenómenos e chamamos causa ao que precede e efeito ao que sucede.

o

Ao observar que algum evento (A) tem até agora sido sempre sucedido pelo evento (B), acreditamos que da próxima vez que ocorrer (A) sucederá (B). Acreditamos que o futuro será igual ao passado.

o

Da observação desta constante conjunção como formamos a ideia de causa? 1. Há um poder secreto na causa que faz com que o efeito lhe

suceda? Talvez, mas não o podemos observar. 2. A memória só nos dá informações sobre os acontecimentos

particulares que recordamos. Não nos diz que podemos esperar que a mesma coisa aconteça outra vez. 3. Utilizando o raciocínio dedutivo? Não, porque não é contraditório que (B) não suceda a (A). 4. O raciocínio indutivo? Não podemos afirmar que o futuro será como o passado utilizando o raciocínio indutivo porque este assume que o futuro será como o passado. Seria dizer que sabemos que o futuro será como passado porque no passado o futuro era como o passado.

o

A ideia de causa não deriva da observação de algo nos fenómenos, mas do desenvolvimento desenvolvimento de um costume ou de um hábito mental (desenvolvemos o hábito de esperar que (B) aconteça mal vemos acontecer (A)).



O cepticismo de Hume não é total, absoluto. Temos a faculdade (razão) de conhecer verdades a priori  –  matemáticas e lógicas  –  e as faculdades (memória e percepção sensível) que nos permite conhecer factos presentes e passados. Mas, não temos nenhuma faculdade que nos permita conhecer factos futuros. A razão não é capaz de formular leis da Natureza. Segundo Hume, um cientista nunca pode prever que uma hipótese seja verdadeira.

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