Resumo Crítico - A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo - Max Weber

April 10, 2019 | Author: Yuri Brito | Category: Max Weber, Capitalism, Calvinism, Protestantism, Religião e espiritualidade
Share Embed Donate


Short Description

Download Resumo Crítico - A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo - Max Weber...

Description

Sociologia I – I – Prof. Miriam Marcilio Yuri Santos de Brito – Brito – Ciências Sociais 2010.1

Resumo Crítico: “A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo” de Max Weber

Na introdução do seu livro, Max Weber explicita que, como filho de sua cultura e de seu tempo, acredita que, na Civilização Ocidental e só nela, apareceram fenômenos culturais que possuem um desenvolvimento universal em seu valor e significado. Ele segue listando fatores que apenas na cultura ocidental atingiram um estado “que reconhecemos como válido” (WEBER, 1920: 1), como a ciência, o direito, a arte, a organização acadêmica, o Estado e, finalmente, o capitalismo. Neste específico, ele argumenta que entende o Capitalismo como um sistema econômico baseado em ações racionalmente calculadas para obter um lucro continuado, ou seja, não é simplesmente dirigido pela ânsia pelo lucro, pela ganância. Essa definição exclui atitudes como a pilhagem de guerra da lista de ações capitalistas. Portanto, segundo seu entendimento, o capitalismo, assim como a ciência, o direito, a arte, a organização acadêmica e o Estado, não é exclusividade do mundo ocidental moderno; ações capitalistas seriam observáveis e relatadas em vários períodos e locais no mundo. No entanto, continua Weber, em nenhum período se registrou o capitalismo em tal grau de desenvolvimento quanto no ocidente moderno. Há, diz ele, uma atitude capitalista no mundo ocidental moderno que não houve em lugar algum; uma espécie típica de conduta característica do capitalismo moderno, racional e burguês. Então, explicita sua preocupação: as origens da conduta capitalista, capitalista , “desse sóbrio capitalismo burguês, com sua organização racional do trabalho” (WEBER, 1920: 9), que ele identifica com o desenvolvimento do protestantismo.

Capítulo I – I  – Filiação Religiosa e Estratificação Social O autor inicia este capítulo chamando atenção para a tendência (mostrando dados estatísticos) de predomínio protestante nos empreendimentos capitalistas, tanto em países de maioria protestante quanto quando em minoria. Ele identifica um racionalismo econômico como elemento fundamental para este fato, negando teorias que indicassem o predomínio protestante como gerado pelo fato de ser minoria ou pelo fato de já possuírem riquezas prévias, mas, no entanto, sem desprezar estes fatos como relevantes para a constituição do quadro apresentado; mas ele reafirma que a orientação racional tomada pelos protestantes frente às possibilidades econômicas é um fator central nesse processo.

Aqui, ele questiona a influência dos ideais puritanos no desenvolvimento do capitalismo e a atitude da igreja católica acerca das questões mundanas e econômicas. Ele identifica a atitude católica à uma atitude tradicionalista, que opta por uma vida segura ao invés de uma vida confortável; e traça um paralelo entre o estranhamento do mundo do catolicismo  – revelado no ascetismo e na despreocupação com as questões mundanas  – e a alegria de viver dos protestantes do seu tempo  – ressaltando os protestantes do passado, caracterizados  justamente pelo contrário –, de cunho materialista, que valoriza o sucesso profissional como uma vocação divina, confirmando o espírito capitalista dos protestantes. É essa diferenciação que interessa Weber: entre o velho protestantismo, que era hostil ao progresso, e a cultura capitalística, desenvolvida num ambiente protestante. Ele afirma que seria incorreto fazer a fácil ligação entre a alegria de viver e esse desenvolvimento, e mais correto ligar ele às características puramente religiosas do protestantismo. Ele finaliza mostrando que sua questão envolve compreender justamente essa transformação, mas que, para isso, é preciso compreender o fenômeno histórico estudado: o espírito do capitalismo, ao qual ele dedicará o próximo capítulo.

Capítulo II – O Espírito do Capitalismo Segundo Weber, o espírito do capitalismo funciona como fenômeno importante para a consolidação de um modelo econômico baseado na busca racional pelo lucro continuado; ele é caracterizado como um conceito provisório, que descreve um comportamento, uma espécie de dever que tem o capitalista de aumentar seu capital à medida que o reinveste, vivendo com sobriedade: evitando gastos e priorizando investimentos. É uma espécie de vocação criada, um papel necessário para estimular pontualmente a cultura econômica capitalista. Essa nova vocação rompe com o tradicionalismo que envolvia a cultura econômica préexistente. O autor deixa claro que somente a racionalidade não bastou para construir o capitalismo moderno; também e principalmente essa reeducação que cria novos hábitos econômicos. Ele exemplifica seu pensamento com o caso dos trabalhadores que não aumentavam seu ritmo de trabalho por maiores salários, e algumas vezes diminuíam, visto que precisava trabalhar menos para manter seu estilo de vida. Foi necessária a criação de novas demandas, que só seriam supridas com o aumento do ganho. O dito espírito do capitalismo é fruto dessa reeducação, que insere os indivíduos numa nova perspectiva de vida na qual o trabalho não é um meio para manter um determinado estilo de vida ou de obter ganho pura e simplesmente; e sim “como um fim em si: como uma vocação” (WEBER, 1920:39). Nisso consiste o espírito do capitalismo, como dito por Weber. Esse espírito, imbuído no homem capitalista, contribui para uma vida que dá menos prioridade ao consumo, ao suprimento de necessidades, à diversão impulsiva, e mais ao trabalho disciplinado. Por essa razão, o espírito capitalista tem uma certa proximidade dos aspectos religiosos dos diferentes protestantismos, como o calvinismo, o pietismo, o metodismo e as seitas batistas; essas religiões, segundo Weber, contribuíram para a formação do espírito

capitalista ocidental moderno, através de sua ética, e principalmente pelo conceito de “vocação”. O autor ainda faz uma constatação, de que essa noção supostamente racional de vocação para o trabalho pode ser perfeitamente considerada irracional, levando em conta o ponto de vista do auto-interesse, do hedonismo, do eudemonismo; não é uma vocação que visa o bem-estar e o conforto material, e sim a busca de atendimento de uma vocação  – chamado – que não está sob controle do indivíduo. Assim, ele se coloca na tarefa de buscar o autor intelectual dessa perspectiva “racional” de vocação, ou seja, o elemento religioso e não-racional que se ausenta na vocação ascética e laica do capitalismo moderno.

Capítulo III – A Concepção de Vocação por Lutero Weber traça a origem do termo ‘vocação’ a partir de uma concepção religiosa de chamado. Esse ‘chamado’ é da ordem de “de um plano de vida, de uma determinada área de trabalho” (WEBER, 1920: 52). Afirma que nem os povos católicos nem os povos da antiguidade clássica tiveram um termo semelhante; no entanto, existe entre os povos predominantemente protestantes. Ao contrário do que se pode pensar, argumenta, isso não está relacionado a características étnicas, e sim a própria religiosidade protestante. Assim como seu significado, argumenta o autor, o pensamento subjacente ao termo é produto da Reforma, enquanto um novo momento histórico, e era nova “esta valorização do cumprimento do dever” (WEBER, 1920: 53). Tal pensamento se torna visível na noção de que o único modo aceitável, para deus, de viver não é a ascese monástica em detrimento das tarefas mundanas, e sim o cumprimento das tarefas seculares impostas ao indivíduo por sua condição no mundo. Isso é vocação. O autor indica as origens intelectuais dessa noção na primeira década reformista de Lutero. Inicialmente neutro em relação ao trabalho, Lutero desenvolveu a valorização religiosa do trabalho mundano como contraponto aos monges, que, segundo ele, tinham uma egoística falta de carinho, que os levava a se afastar das tarefas mundanas. Weber, no entanto, crê que Lutero não pode ser indicado como um pai do espírito do capitalismo, visto que sua própria doutrina tinha elementos de tradicionalismo econômico que repudiaria uma busca sóbria de lucro: as constantes manifestações contra a usura e o juro. Porém, a noção de vocação tem impactos significativos na vida não-religiosa. Cada vez mais, a profissão de cada indivíduo passa a ser encarada como um dom dado por deus. Assim, ao mesmo tempo em que indica a importância da noção luterana de vocação, Weber ressalta que seria tolo e doutrinário indicar o capitalismo como resultado do protestantismo ou da reforma. Ele coloca que sua preocupação é, portanto, não defender essa tese, e sim identificar o alcance das influências da religião, em especial da ética da vocação, no sistema econômico.

Capítulo IV – Fundamentos Religiosos do Ascetismo Laico Weber coloca na sua categoria de “protestantismo ascético” (WEBER, 1920: 65) quatro principais vertentes do protestantismo: o calvinismo, o pietismo, o metodismo e as seitas batistas. Nenhum dos movimentos foi exatamente independente um do outro; e o metodismo, por exemplo, não se pretendia uma nova igreja até chegar ao seu desenvolvimento posterior na América. Aqui ele faz um breve resumo histórico de cada um dos protestantismos, levando em conta também as características doutrinárias e dogmáticas envolvidas na relação entre elas. Na sequência, indica que sua preocupação principal também não é a teoria oficial de cada uma, e sim na “influêicia (sic) daquelas sanções psicológicas que, originadas da crença religiosa e da prática da vida religiosa, orientavam a conduta e a ela prendiam o indivíduo” (WEBER, 1920: 67). Ele aponta que essas sanções eram fruto das peculiaridades religiosas dos protestantismos, e, portanto, é cabível uma análise parte a parte de cada uma das quatro vertentes, a que ele se dedica nas seções seguintes. Identificado como a fé predominante em países capitalisticamente avançados, como a França, a Inglaterra e os Países Baixos e as lutas culturas e políticas dos séculos XVI e XVII. Weber faz uma contextualização histórica do surgimento e desenvolvimento do calvinismo, mas o mais relevante é seu comentário sobre a predestinação; ele afirma que sua importância na doutrina é discutida, mas a sua posição de dogma característico é inegável. O Calvinismo:

Citando a Confissão de Westminster, Weber demonstra a essência da noção de predestinação e a sua relação com o conceito de vocação e a possibilidade de salvação. Segundo a doutrina calvinista, o ser humano já nasce predestinado por deus à salvação ou ao inferno, e nada, absolutamente nada pode interferir nessa predestinação. Ela é, também, impenetrável, ou seja, não há como saber o destino de ninguém. Nesse sentido, o mundo não é uma provação; é apenas um meio de glorificar a existência de deus. O conceito de vocação entra, então, não como um meio mágico de salvação (como o perdão católico), nem como um meio de descobrir qual o destino de um indivíduo, e sim como apenas um meio de glorificar a existência de deus, e nada que não sirva isso – daí a sobriedade da vida protestante calvinista – não merece atenção. Assim, a ética vocacional não se resume aos eleitos para a salvação; ela é uma obrigação para todos os seres humanos, pois assim eles estariam cumprindo seu desígnio na terra. É assim que o Calvinismo dá sua contribuição ao ascetismo laico, quando forja uma espécie de trabalho que não visa o lucro apenas, e sim um trabalho que mostre que aquele que o realiza está cumprindo honradamente suas obrigações, e o sucesso econômico é apenas um sinal disso. O calvinismo, assim, serviu de inspiração para outros movimentos ascéticos, tanto como foi usada como comparação no desenvolvimento de princípios divergentes; inclusive inspirando, como suscita o argumento da obra, o ascetismo laico burguês. O Pietismo é identificado por Weber como um movimento religioso interno da igreja reformada, que não se pretendia independente no início. A doutrina pietista buscava O Pietismo:

uma conexão entre o conceito de predestinação do protestantismo e a doutrina da prova através da prática religiosa; ou seja, de que era possível obter a salvação através da prática da adoração ao deus cristão. O pietismo valorizava o conhecimento empírico em detrimento da especulação filosófica, considerando esta um perigo para a fé. Através desses conceitos, argumenta Weber, o pietismo estabelece uma prática diária que tem como objetivo a comunhão com deus; através dessa prática, surge a Irmandade, uma grande empresa de negócios. Os métodos e as práticas da Irmandade encaminhavam os seus membros para um ascetismo secular, baseado num trabalho missionário de racionalização da vida. A Irmandade, portanto, é um fator decisivo na contribuição do pietismo para o racionalismo econômico e para o ascetismo laico que marca o típico burguês sóbrio analisado por Weber. Ele afirma, no entanto, que o pietismo pode ser considerado um movimento secundário em sua importância histórica e seu conteúdo de ideias. O Metodismo era uma religião reconhecida como próxima do Pietismo. Weber também indica que o Metodismo era também reconhecida como uma religião emocional, mas, ainda assim, ascética; como o nome sugere, métodos religiosos eram estipulados para gerir a conduta do crente, que, por sua vez, dependia do ato emocional do arrependimento para a sua efetiva conversão. O Metodismo:

O metodismo também é caracterizado pelo autor como uma religião fortemente ligada à doutrina da graça, ou seja, diferentemente do Calvinismo, pregava que as obras terrenas dão sentido à vida humana; e que a execução de atividades seculares redimiria os seres humanos do seu pecado original. Além disso, a certeza emocional do perdão era necessária para essa regeneração, uma vez que a prova da obtenção da graça era ver-se livre do poder do pecado, ou seja, distante das atividades de caráter eudemonista ou hedonista  – como cita o autor quando explicita a irracionalidade do espírito capitalista: o trabalho para ter sucesso, mas não usufruto material dele. No entanto, para Weber, mesmo que sua intenção fosse a de renovar certos padrões do puritanismo inglês, o metodismo não acrescentou nada de relevante para uma nova leitura sobre o conceito de vocação original. Assim como o pietismo, é considerado um movimento secundário. As seitas batistas eram caracterizadas por um repúdio sincero do mundo e dos interesses mundanos, preferindo dar atenção à submissão incondicional ao seu deus. Weber coloca que a superação do impulsivo do irracional, das paixões, dos interesses subjetivos do “homem natural” eram fundamentais na crença das seitas batistas: como dito pelo autor, o “repúdio necessário de toda ‘deificação da carne’” (WEBER, 1920: 103)

 As Seitas Batistas:

Ainda nesse sentido, a doutrina batista colocava que a salvação depende do crente aceitar e ouvir deus, como sua consciência, e apenas aquele que seguisse os ditames dessa consciência poderia ser redimido. Para Weber, as seitas batistas “desenvolveram a mais radical desvalorização de todos os sacramentos como meios de salvação” (WEBER, 1920: 104) – como fizeram os seguidores da

doutrina da predestinação  – e por isso levaram a cabo a desmistificação religiosa do mundo. Assim, argumenta o autor, sem a magia do sacramento, o único curso psicológico possível era a prática do ascetismo laico. Portanto, a contribuição das seitas batistas é similar ao do calvinismo, na medida em que acaba com os intermediários entre o crente e seu deus, estimulando psicologicamente o seguidor da seita ao ascetismo não-religioso, que favorece o desenvolvimento capitalista. Capítulo V – O Ascetismo e o Espírito do Capitalismo Weber sintetiza o pensamento desenvolvido na obra e argumenta que, portanto, o trabalho, segundo os princípios protestantes, é uma das formas para: a) aperfeiçoar espiritualmente os homens; b) atingir os desígnios divinos e c) glorificar a existência de deus. É através da os princípios religiosos de valorização das atividades seculares que se reproduz uma mentalidade que valoriza o desenvolvimento das potencialidades práticas e ajuda a concretizar a sua vocação terrena. Os protestantes tinham objetivos diversos da implantação do capitalismo moderno; até por conta das pregações contra a usura e o lucro, isso deve ser ressaltado. No entanto, seus princípios favoreceram o acúmulo de capital – desde que adquirido de forma lícita e honesta e que contribua para o desenvolvimento da sociedade  – que passou a ser aceito como valor importante na vida de um indivíduo. Mesmo sem compactuar com o ideário capitalista, contribuíram para a criação de suas bases. O ascetismo, assim, acrescenta uma ética racional, onde o indivíduo se afasta voluntariamente do prazer espontâneo da vida para se dedicar à conduta que Weber chama de “espírito do capitalismo”; assim aumentando seus lucros e influenciando na dinâmica econômica, ou seja, Weber demonstra que a religião influencia a economia. Esse distanciamento entre a riqueza material e o pecado, que se deu ao longo do tempo, à partir da secularização do ideário religioso protestante, é empregado como uma reeducação para que velhos padrões tradicionais se adaptassem e movimentassem a nova ordem econômica capitalista. O lucro passou a ser apenas o fruto do trabalho, e o trabalho, a expressão divina da reconciliação do homem e seu deus. Weber finaliza sua obra ensaiando uma especulação sobre o futuro, mas rapidamente afirma que este já é “o campo dos juízos de crença e de valor, com os quais não deve ser sobrecarregada essa exposição puramente histórica”; e afirmando que sua análise foi sobre um ponto importante, mas não o único, e que um estudo do inverso  – como a economia influenciou a religião – também é importante para compreender a orientação racional para a ação capitalista.

Crítica à Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo A proposta de Weber é fantástica: a sociologia da compreensão, a responsabilidade e a liberdade do indivíduo nas suas ações, a influência dos ideais nas ações materiais. Colocada como foi – não em oposição ao materialismo marxista e ao funcionalismo durkheimiano, e sim em complementaridade a eles  –, essa proposta é aparentemente indefectível. É um argumento forte e simples, ao afirmar que várias interpretações são possíveis, e que a dele é apenas mais uma interpretação. E uma boa interpretação, pelo que se nota no livro. No entanto, a minha leitura da obra mostrou que, como todo pioneiro de um pensamento, Weber comete deslizes que depõem contra a sua própria proposta. Mesmo levando em conta que o autor era um homem de seu tempo, ainda assim certas ideias são sustentadas por argumentos duvidosos, até do ponto de vista de sua própria proposta. Surgem afirmações categóricas, como quando, ao analisar a divisão da colônia americana da Inglaterra, argumenta que o fato do norte, povoado por pregadores, graduados, pequenoburgueses, artesãos e agricultores, por motivos religiosos, ter se desenvolvido mais que o sul, exploradas por motivos comerciais por grandes capitalistas, e diz: “ Neste caso, a relação causal é, certamente, inversa daquela sugerida pelo ponto de vista materialista” (WEBER, 1920: 35). Tais afirmações depõem contra o intuito de Weber de oferecer um novo ponto de vista e funcionam como tentativa de desconstrução do argumento de outras escolas recorrendo à falácia do espantalho  – que consiste em atribuir ou sugerir a uma posição oposta um argumento fraco e em seguida refutá-lo. Faço essa crítica por que pareceu curioso que, num livro repleto de notas que sustentam o argumento do autor, não haja uma nota sequer para explicar o argumento que ele ataca; talvez apenas um descuido, talvez por não se preocupar com isso, Weber faz parecer que os materialistas sugeriam algo absurdo: que o sul deveria se desenvolver simplesmente por ser propriedade de capitalistas; e, especialmente, levando em conta que o materialismo histórico surge depois da independência americana. E cai, então, no erro que propôs superar: a defesa exagerada de seu próprio ponto de vista, desconsiderando ou desprezando as mesmas análises que ele diz, no fim da obra, serem necessárias. Assim, sua teoria – assim como a de Durkheim e Marx, por exemplo  – é repleta de arestas malaparadas. Mas tais erros são perfeitamente compreensíveis, dado que Weber, assim como os outros dois, era pioneiro na sua escola de pensamento. Sua teoria é matéria bruta, embora bem mais refinada que a teoria durkheimiana, especialmente nas suas primeiras obras; mas o núcleo de seu argumento é impecável. Ressalto aqui que a postura relativista de Weber é fundamental para a solidez de seu argumento. Se ele não constrói essa belíssima perspectiva de que sua explicação é só uma das possíveis, seu argumento seria visivelmente frágil. Essa é a grande vantagem de sua proposta teórica sobre as propostas mais robustas e densas  – até quantitativamente: ao que parece Weber publicou pouco em comparação à Marx, e aproximadamente o mesmo que Durkheim; ou pelo menos a comparação é válida em número de obras relevantes. Esses, na minha leitura, são os maiores méritos e problemas da argumentação de Weber. As demais percepções estão contidas no corpo do resumo.

View more...

Comments

Copyright ©2017 KUPDF Inc.
SUPPORT KUPDF