Resumo A História na América Latina: ensaio de crítica historiográfica. Rio de Janeiro

January 14, 2019 | Author: Gutemberg de Queirós | Category: Historiography, Marxism, Latin America, Sociology, State (Polity)
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Malerba, tendo em mente uma dissertação heurística, estabelece como tema de seu texto a busca por apresentar um panorama...

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Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-brasileira Instituto de Humanidades e Letras Curso de Licenciatura em História História e Historiografia da América

Docente: Prof. Dr. Rafael da Cunha Scheffer Discente: Gutemberg de Queirós Lima

RESUMO: MALERBA, Jurandir. A História na América Latina: ensaio de crítica historiográfica. Rio de Janeiro: FGV, 2009, p. 13-48.

Jurandir Malerba é Doutor em História Social pela USP, tendo lecionado como professor visitante em Oxford, Inglaterra e em Georgetown, Estados Unidos, sendo também Titular Livre da UFRGS, atuando em pesquisas com Brasil, teoria e história da historiografia. Malerba, tendo em mente uma dissertação heurística, estabelece como tema de seu texto a busca por apresentar um panorama da produção historiográfica da América Latina, e em paralelo fornecer a trilha histórica dessa produção, de forma que seja possível compreender as mudanças ocorridas nesse processo. Malerba começa seu texto chamando atenção para o drástico desenvolvimento historiográfico latino-americano que se de seu em 30 anos. E que com tal desenvolvimento, se faz necessário uma demanda organizada e contínua de avaliação e crítica dessa produção. O autor destaca constantemente a década de 1960 como de fundamental importância, sendo caracteriza como um período de crise e desvios, onde se estabelece um influxo de paradigmas na historiografia latino-americana, favorecendo uma postura de analise não de um "todo", mas das pequenas partes. Além disso, o autor destaca a intrínseca relação que essa história detém com outros centros culturais. Em seguida, Malerba, se propõe a avaliar a historiografia pré anos 1960, afim de compreender os elementos que levaram as mudanças citadas anteriormente, assim como se dispõe analisar a contribuição do marxismo nesse mesmo cenário. É válido ressaltar que Malerba alerta quanto as prováveis generalizações que podem decorrer de sua análise, em virtude da ampla dimensão que se mostra a América Latina. Assim, o autor se põe da tarefa de evidenciar o que ele chama de tendências majoritárias. O autor segue a subsequente linha argumentativa: em primeira instância ele avalia os processos antes dos anos 1960; analisa a grande transição de paradigmas da história; disserta a questão dos centros culturais na historiografia latino-americana e a importância do marxismo nessa mesma historiografia. Em uma síntese, Malerba concebe parte da historiografia latinoamericana como fruto dos processos das mudanças de 1968, sendo essa historiografia

relacionada com as instituições culturais que circundam seu espaço, além de ter sido largamente influenciada pelo marxismo e ideias sucessoras. Iniciando o período pre-1960, Malerba alerta para a atenção dada as práticas e resultados inovadores. Sendo esse período marcado pela produção de uma história tradicional, feita por não profissionais, se prevalecia os paradigmas históricos do positivismo e historicismo, no caso mexicano e em outros da América latina, no qual se elaborada a História oficial do Estado. Trazendo estudos de Francisco Falcon, Malerba mostra como a historiografia brasileira concebia uma história acrítica perante a teoria, e de base empirista positiva. O interesse na instituição cultural, dentre outros aspectos, causou uma mudança estrutural no fazer histórico. Cabe aqui citar, mesmo que Malerba não o faça, o surgimento dos estudos culturais liderados por Stuart Hall, quase contemporâneos a esse período trabalhado. Malerba destaca que a desconfiança nas posturas de progresso e modernização geram questionamentos durante os anos 1960. E quando se iniciam os estudos sobre grupos marginalizados, onde são reavaliados os sujeitos antes ignorados. Dentro dessa explanação, creio valer a pena ressaltar que é nesse mesmo período dos anos 1960 que se desenvolve de forma mais concreta o estudo da história africana, antes excluída do processo histórico. A crença abalada nas ideias progressistas e estatais abre espaço para a "nova história cultural", as relações entre indivíduos são postas em evidência para além da estrutura. Essas noções influenciaram o estabelecimento do pós-modernismo. E crítica à razão e evolução que perpassam no pós-modernismo gerou impactos na teoria historiográfica. Malerba chama atenção para a questão da linguagem nesse contexto de ideias do pósmodernismo, e como seus teóricos se preocupam com a noção de uma "história normal" e objetiva. E que em tantas interpretações da história, os hegemônicos silenciaram os restantes. Essa percepção pós-moderna de que não há uma verdade absoluta na história, mas diferentes perspectivas, acaba por penetrar no que se estabelece como "nova história cultural". Malerba afirma que com essa postura de conceber a história como uma gama de discursos conflitantes, o conhecimento dessa área seria reduzido ao discurso, com histórias especificas, em sua maioria, de grupos antes marginalizados. Com tais noções, reflexo da sociedade individualista, se buscam não mais objetivos coletivos e totalizantes. Em seguida, Malerba se abre para discutir a relação da historiografia da América latina com outros polos culturais. O pensamento ocidental, destacado pelo autor, invadiu os parâmetros culturais da América, como fica nítido pelas línguas oficiais. Quanto ao Estados Unidos, sua atenção para América Latina somente se dá após a Revolução cubana. Nesse período da década de 60, o interesse norte americano era levar seu modelo democrático a essas nações. Malerba, porém, desconsidera a noção de um imperialismo cultural e científico por parte dos Estados Unidos na América latina, mas diz ser perceptível um colonialismo cultural. Malerba, seguindo o pensamento de outros autores, defende que 1968 tra z grandes efeitos para a historiografia, colocando o presente imediato como objeto histórico. A aproximação com o âmbito social seria um elemento marcante nesse contexto para a historiografia. Malerba ainda chama atenção para o fato das instituições américas estarem formando os historiadores latinoamericanos.

Para Malerba, a abundância de objetos passíveis de investigação histórica reflete o momento de mudança dos anos 60, além de uma certa sujeição latino-americana a produção intelectual hegemônica. A diversidade temática de investigação é que fez desenvolver a produção história latinoamericana nos Estados Unidos. A inserção de sujeitos marginalizados, reforça Malerba citando John Johnson e Thomas Skidmore, gerou um refinamento dos processos metodológicos. E o que se observa nessa produção de história é a preponderância da história social, seguida da "nova" história cultural. Todavia, Malerba se atenta em denunciar que essa produção sobre a América Latina fora da América Latina, negligenciava elementos em favor de onde se produzia. As temáticas em foco refletiam a necessidade do lugar do pesquisador. Malerba evidencia como os conflitos entre pesquisadores do Norte e Sul era pautada pela importância que dados temas poderiam ter para a própria América Latina. Dessa forma, o que Malerba busca pôr em cheque nessa discussão específica, é a definição dos temas de pesquisas, e a quem atenderia. Em seguida, Malerba se põe a apresentar o avanço do marxismo na historiografia, que por sua vez se desenvolve no pós-Segunda Guerra Mundial, inserindo elementos socioeconômicos na escrita da história latino-americana. Ainda assim, Malerba destaca alguns trabalhos importantes de vertente marxista na primeira metade do século XX, mas Rafael Pedrueza do México e Caio Prado Junior no Brasil ganham destaque por suas analises com base na estrutura socioeconômica e no conflito de classes. Outro autor de importância é o argentino Sergio Bagu, que defendia a existência de um capitalismo colonial. Malerba se abre a discutir as mudanças e abalos no marxismo após 1968, e o que viria a ser o pós-marxismo em meio ao pós-modernismo. Esse novo marxismo segue as ideias dos anos 70 e 80, com socialismo democrático, aberto a se adequar as necessidades capitalistas e tendo como objetivo a democracia. Visto que o pós-modernismo traria o fim das grandes narrativas, e teorias generalizantes, a historiografia latino-americana teria como escopo as unidades culturais. Malerba expõe alguns autores que criticam a postura dita "pós-marxista" de Ernesto Laclau, visto que uma busca por fragmentos do marxismo é impotente, e relembra que mesmo antes dos pós-marxismo, a analise marxista já havia garantido um certo espaço nas pesquisas históricas, como é o caso da história social britânica, que influenciou a história social na América Latina dos anos 1970, assim como também o fez a Escola dos  Annales. O autor encerra afirmando que historiadores marxistas tendem a produzir uma história elaboradora de questões, que concebe a sociedade em sua totalidade e que evidencias os mecanismos estruturais dessa sociedade. E com bases nessas noções foi que se deu as melhores produções da história socioeconômica da América Latina.

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