resenha guiné bissau
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Se fosse necessário o uso de palavras chave nesta resenha e para esse lindo trabalho de Paulo Freire em Guiné Bissau, amor e força seriam palavras regentes desta experiência educacional. Percebe- se isso primeiramente pela destreza com que o mesmo faz o leitor notar essa experiência e a importância i mportância da colaboração mutua para este seguimento de atividades no país ocorrer. Introdutoriamente ele mostra, através de um dialogo que resume a experiência que foi educar à distância um país Eurocêntrico, que sofria tentando recuperar a identidade usurpada por ser uma colônia de exploração, dominada há muito tempo por seus invasores. Expondo, como a posição de condutor deste processo, em comunhão com seus aliados pode ser mais satisfatória, sabendo transmitir o conhecimento e também aprendendo com o povo da Guiné. Cita a importância de se ouvir mais e falar menos, fazendo “perguntas, apenas para o jovem militante recordar uma a outra coisa”. Daí, já na visita ao jovem diretor do internato, no segundo momento, percebe-se a dependência entre os momentos aparecendo, aparecendo, onde Paulo Freire observa, ouve e indaga depois, descrições características da análise no primeiro momento. Dividindo as vivencias naquele país em momentos, interligando os mesmos sempre, Freire faz quem ler o livro, compreender e sentir gradualmente o processo em torno da Guine Bissau acontecer, pois não há separação no que diz respeito ao sentimento que as idéias de cada momento querem passar. Lamentavelmente Lamentavelmente por conta da barbárie como os Guineenses são tratados pelos seus colonizadores, se é capaz também de despertar o sentimento de repulsa por tamanha crueldade, como na experiência narrada, no segundo momento, pelo militante sobre as camaradas mortas no pátio do internato i nternato e a forma como isso foi feito, as barrigas abertas e os “fetos varados por baioneta”. O que mais chama a atenção é que mesmo seu antagônico tendo agido desta forma, os ensinamentos aprendidos pelo camarada Amílcar Cabral os faz respeitar o inimigo e diferenciar “a violência dos opressores e a violência dos oprimidos”, esses só querem transformar a dura realidade em um contexto melhor para se viver, onde não exista violência. Ai esta o povo mais humilde que poucos já viram. Na independência do país, após um dos militantes desmaiar no palco, Elza Freire emocionada diz: “foi o momento mais bonito de nossa visita a este país. Temos realmente muito que aprender de um povo que vive tão intensamente a unidade entre palavra e gesto”. Se o Brasil vivesse a vida oficial, existente apenas em suas leis e discursos de igualdade, levando- as a realidade da vida vivida do povo que trabalha e que não recebe o quanto merece, e ao invés de se valer quem tem mais, valesse o que se é enquanto pessoa, se o patriotismo da nação vivesse todos os dias no cidadão da pátria amada, e não só na copa do mundo, se houvesse um pouco do amor e da contribuição vistas na Guiné, do respeito ao próximo e do sentimento de mudança de revolucionar que os militantes jovens deste país
têm, há muito tempo deixados para trás naquela nação nos anos do movimento estudantil dos caras pintadas, hoje a terra do “jeitinho brasileiro” teria uma identidade mais humanitária, se tornando um lugar melhor de se habitar. Para que ocorra tal mudança neste, ou em qualquer país o extermínio a grupos sociais deve ser iniciado, países que prezam a igualdade para começo de conversa não deve dicotomizar seus indivíduos unindo- os em pequenos grupos de iguais. Para que a mudança se efetue, o país deve ser múltiplo e sem classes. Com a união das diferentes formas de pensar e agir, e a contribuição de cada uma dessas mentes para o ensino aprendizagem acontecer, utilizando instrumentos já existentes no próprio país, necessários a reforma educacional podendo assim ascender uma nação, como foi feito com a nação guineense. Diante da mobilidade os seres humanos se unem, mas no caso da Guiné, as pessoas buscavam profundamente a mudança, como numa luta pessoal todos tentavam ser uteis em prol da educação do país, inclusive os jovens que não acreditavam na causa inicialmente. No terceiro momento, que é subdividido em duas partes Paulo Freire analisou os esforços anteriores, para poder assim criar nova síntese. “Um momento de análise, no sentido dinâmico a que antes me referi, e um momento de síntese, de que resultaria a necessidade de nova análise”. Pode- se perceber nesta citação que Freire que apesar de empregar todos os esforços numa educação a distância e abraçar uma causa de um povo que não era da sua terra natal, empenhou- se em adotar medidas para que trabalhando ao lado dos militantes e formando multiplicadores, não fizesse com que a motivação cessasse. Mesmo através de cartas, que é um meio de comunicação mais antigo e demorado do mundo, e poucas visitas, ele tentou e conseguiu obter os resultados esperados, que só foi possível tendo ao seu lado as próprias pessoas beneficiadas com a luta. Pois é imprescindível se ter no “produto final” do individuo que busca a luta, sua própria contribuição, pois tudo que é criado por si próprio, se tem mais cuidado. Um exemplo que pode ser apresentado é o da escola de Heliópoles, uma favela de São Paulo bastante violenta, que impediam os professores de irem trabalhar com segurança, permanecendo o tempo todo gradeada e os moradores não tinham acesso ao centro de educação. Até que a comunidade foi chamada para participar das atividades existentes naquela escola, podendo utilizar computadores e os espaços físicos como a quadra para ocupação e diversão de alguns jovens nos fins de semana. O próprio povo da favela entrou em acordo com os traficantes, começou- se a estabelecer regras no local, tirando, por conseguinte as grades da escola, fazendo com que um dos locais mais arriscados do Brasil passasse a ter um índice menor de assaltos, deixando de oferecer um risco excessivo aos professores, funcionários, moradores e alunos. Muitos cobram e exigem do governo, pondo a culpa apenas no mesmo; a grande parcela da culpa decai sobre a classe dominante sim, porem a classe operaria e trabalhadora do país, ou por acomodação ou falta de instrução, não busca usar dos artifícios que
possui para alterar a realidade. Portanto, é indispensável a participação ativa do cidadão nas decisões e movimentos de mudança do país, estimulando a solidariedade social e não o individualismo. *Em comunhão com tudo já dito acima, a relação dos professores com os alunos da Guiné foi muito importante, pois ambas as partes agiam em comum e em comum buscavam alargar as áreas de conhecimentos destas, aprofundando os conhecimentos dos docentes e os dos discentes, sem estabelecer uma hierarquia como muitas vezes acontece na relação professor/aluno. Os adolescentes que não se interessavam pela causa, viam outros jovens multiplicadores participando do ato, andando pelas ruas, estimulando seus colegas a unirem- se, passando a querer assumir o papel de sujeitos do processo educacional, criando novas formas de comportamento de acordo com a responsabilidade que tinham diante da comunidade. Se em todo o processo da luta de libertação, os educandos continuassem a ser como na educação colonial, meros recipientes de conhecimentos “empacotados”, a eles transferidos pelos educadores, não seria uma educação voltada para a proposta do PAIGIC. Os assuntos propostos nas matérias por Cabral quer preparar alunos para a vida depois da escola, fazendo- os criar instrumentos que ajudará na vida profissional de cada um deles. “Todo o projeto de transformação do sistema nacional de ensino não conduzirá a nada, se realmente não houver transformações também nos outros setores de atividade”. O ensino Polivalente comparado ao propedêutico oferece mais opções aos jovens de atuar em várias áreas, podendo ajudar a ascender o país, formando profissionais que são imprescindíveis na reforma do país. Intensificando e reforçando a formação dos níveis anteriores. Não formando apenas técnicos do nível médio, não tecnicistas perdidamente alienados numa visão estreita e focalizando somente sua especialidade. Outro aspecto fundamental no livro é o interesse visto não só na fala, na teoria, mas praticado pelo presidente Luiz Cabral e os militantes da causa que pretendiam mudar a educação de Guiné , quando no desfile da comemoração da independência do país todos estavam lá expressando a felicidade pelo caminho que estava sendo trilhado em beneficio da nação e as conquistas embutidas ai, a clareza com que o presidente falou às famílias, professores, funcionários e quem mais ali estivessem fazendo um resumo de tudo que acontecera no ano que findara, projetando tarefas e planos a seguir no próximo ano e abrindo espaço para essas pessoas falarem. “Os órgãos coletivos funcionariam dinamicamente” no Brasil se os cidadãos tivessem noção dos seus direitos e participassem melhor e mais ativamente dos assuntos que dizem respeito ao país. Porem não deve- se culpar totalmente a população, pois a mesma já aprendeu muito jovem a não buscar esses direitos, pois a
grande maioria não tem a tal da educação para tanto. Os indivíduos da nação brasileira não são esclarecidos ao ponto de estudar as leis e saber os seus direitos e deveres, criando, portanto, um ciclo vicioso, onde os culpados estão omitidos nas entrelinhas das leis formuladas. A educação na pátria da bandeira verde e amarela, ainda é muito dependente da política, esperando o tempo das eleições para se criar paliativos, prometidos e unicamente construídos por conta do jogo de interesses que impera sobre um problema que esta perdendo seu foco principal, que é fornecer um bom nível educacional as pessoas desta nação e não a grupos isolados que podem pagar pela obtenção de um ensino de qualidade. A educação não é um sistema econômico capitalista, ou pelo menos não deveria ser, onde se visa apenas o lucro. É o direito que todos que habitam o país deveriam ter. “Quando quem sabe, sabe, primeiro que o processo em que algo aprendeu é social, segundo, quando sabe que, ao ensinar o que sabe a quem não sabe, sabe também que dele ou dela pode aprender algo que não sabia. Espírito que move o PAIGC”. Nesta citação é permitido verificar que não existe hierarquia na Guiné e que todos aprendem juntos, tendo orientadores auxiliando o processo de ensino aprendizagem, ocorrendo desta maneira uma aprendizagem, do individuo, para com a vida, alterando o pensamento e a forma de ver o mundo tornado- o mais critico acerca de diversas situações e auto-realizados. A escola profissionalizante de Có, em Guiné Bissau, formava multiplicadores com este intuito de afetar suas vidas e fazê-los afetar outros jovens para militar pela causa. Como toda a experiência narrada em torno deste país, a palavra não é só palavra. É gesto. Diferentemente do Brasil, onde se há muito discurso e pouca ação, os guineenses têm a capacidade de pensar na sustentabilidade, na maneira de trabalhar para ver os resultados em longo prazo. A mudança era pensada para os filhos e netos que viriam, ao contrário de outros países que pensam o recurso como fonte de exploração e uso imediato e inadequado, não se preocupando com gerações futuras, querendo ascender economicamente e destruir com o planeta, como é o caso do aquecimento global, que é um problema em grande parte dos países desenvolvidos e subdesenvolvidos. Se todos unidos buscassem alterar o cenário de desigualdade social existente em seu bairro, sua escola, sua cidade, contribuindo com a difusão do que se sabe o resultado viria mais veloz e duraria enquanto fossem ensinadas as gerações seguintes os mesmos conceitos e metodologias. Pois é importante se ter equilíbrio da paciência de se ensinar, dialogar teoricamente sobre, movendo- se gradativamente em prol da causa desejada e da rapidez e ação que tal objetivo demanda e “nunca fazer menos do que podemos e devemos fazer, mas não pretender, em nenhum caso, fazer coisas que realmente não estamos ainda em condições de fazer”. “A melhor maneira de fazer amanhã o impossível de hoje é realizar hoje o possível de hoje”
Concordo com o autor no que se refere aos treinamentos dos militantes contribuintes da reforma, na educação Guineense. Nos dias atuais, na maior parte dos países, o individuo não se forma para ser um ser social, transformando- se em números para estatísticas formados para atuar no mercado de trabalho, agindo de maneira mecanizada e passiva, ignorando os seus sentidos, sendo um ser reprodutor de conhecimento prontos, não criativo. Almicar Cabral é feliz na sua afirmação: “os erros que cometemos não devem desanimar- nos assim como as vitórias que alcançamos não devem fazer- nos esquecer os erros”.Ele encerra falando dos esforços para melhoramento da educação em Guiné Bissau e na reconstrução do país, onde ele como parte integrante do comissariado não se via na posição de somente avaliar o que foi feito, incluindo- se no processo, inserindo- se como instrumento para a transformação do país. Falando inclusive da saudade dos anos em que se dedicou a tal causa. Paulo Freire em alguns momentos deste livro lembra as idéias de Karl Marx; que dizem respeito a não dicotomia de educação e produção, convencendo os estudantes do continente Africano a notar o valor das relações entre trabalho e estudo. Ao longo do texto ele retoma a importância do equilíbrio entre impaciência e a paciência. “Isto não tem nada que ver, porém, diga- se de passagem, com a “unidade” entre trabalho e estudo que se realiza nas sociedades capitalistas, nos chamados “centros de aprendizagem industrial”, ligar trabalho ao estudo, trabalho este, “socialmente útil, fecundo e criador”. Capacitando a minoria dos jovens, que se uniriam à causa e transformar os mesmos em reprodutores das idéias, instigando a vontade dos outros jovens a participar do trabalho produtivo. Nas cartas pude perceber que havia repetições e textos remetendo o que foi dito anteriormente. As primeiras cartas, onde Paulo Freire fala sobre a carta recebida de uma pessoa em Guine Bissau, convidando- o a participar do esforço para mudar este país e outra onde introdutoriamente este narra a alegria de ser chamado para participar da luta a favor da causa de um país que não lhe parecia desconhecido, que era como uma pintura em tela, onde ele se sentia em casa e tão bem. O autor demonstra na segunda carta a vontade de educar com os instrumentos existentes naquele lugar em que fora recrutado a doar seu trabalho libertário e envia ao comissário de educação um texto que inclui a seguinte citação: “Desta forma, a prática realizada ou realizando-se no contexto A só se torna exemplar ao contexto B se os que atuam neste a recriam, recusando, assim, a tentação dos transplantes mecânicos e alienantes”. E é percebida na última carta analisada e exposta no livro a democracia utilizada por Freire ao não aderir à postura de líder e sim de militante que atua junto à causa: “Como tenho sempre sublinhado, ao escreverlhes não tenho outra intenção senão a de propor questões, jamais a de oferecer soluções, mesmo quando sugiro certo tipo de ação”.
Paulo fecha o livro deixando claro que a experiência a que se refere prossegue e é notável a ligação que o autor continuaria a ter e o quanto ele ainda faria por estas pessoas. Portanto, ler este livro foi de suma importância para esperança de que o sentimento da mudança, da reforma, da luta, ainda não é totalmente extinto. Que a educação pode muito e basta cada professor fazer a sua parte em sua sala, como os jovens de Có, tentando assim trazer mais militantes à marchada a favor da educação.
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