Resenha do filme "Cisne Negro"

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Resenha do filme "Cisne Negro"...

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Cisne Negro

 Ângela Beatrizi Gabriel Aleksander ii

O filme Cisne Negro foi lançado no ano 2010 pela direção de Darren  Aronofsky e retrata a história da personagem Nina que é interpretada pela consagrada atriz Natalie Portman (ganhadora do Oscar e do Globo de Ouro por essa atuação). A trama expõe a trajetória da jovem bailarina em busca de ascensão profissional dentro da academia de dança da qual faz parte e contempla vários aspectos de sua vida, como as pressões e expectativas ao que tange sua mãe e o seu professor, o medo e os desafios por interpretar um papel de destaque, as pressões internas pela busca da perfeição, a relação de rivalidade com as colegas de dança, a repressão sexual sofrida por ela e mais uma gama de fatores psicológicos que acabam por desencadear em uma desordem emocional e psíquica. Por esse prisma o filme nos permite uma visão crítica e analítica sobre a história de Nina, e através destes aspectos posteriormente apontados podemos nortear a compreensão sobre as características peculiares apresentadas por ela e a partir disso trazer para a cena a Psicologia como elemento presente. Os fatores psicossociais que estão em foco na história são fundamentais para a análise dos fatos. A relação com a mãe que se dá de forma bastante conflituosa é um exemplo dessas influencias externas, Nina passa a ser o alvo em que sua mãe projeta todos os desejos pessoais e isso colabora com toda a sua sobrecarga mental, que acaba sendo expressa por meio de sintomas de ordem fisiológica (como coceiras e feridas no corpo) e psíquico (como as paranoias, delírios e devaneios). Durante todo o filme, a protagonista lida com essa série de questões sem qualquer tipo de suporte, seja ele profissional ou de amigos e familiares, e isso ajuda a compreender o rumo agravante em que as coisas se dão. A ajuda do psicólogo (nesse caso pela abordagem Cognitivo Comportamental) poderia ser essencial para lhe ajudar a racionalizar todos as suas percepções e

sentimentos distorcidos pela mente, fazendo com que Nina olhe mais claramente para os fatos de sua vida e assim amenize significativamente os seus sofrimentos. Nina Sayers apresenta durante a narrativa do filme, uma relação de dependência com sua mãe que a faz permanecer em sua fase psíquica infantil, regida pela sua submissão e sexualidade reprimida. Tal relação é regida pela frustação da mãe que ao ter o seu sonho de se tornar uma grande bailarina interrompido projeta na filha seus desejos e pulsões. E é justamente sob o prisma dessa relação castradora que o filme é desenvolvido, nos permitindo notar a evolução de traços esquizofrênicos na personagem. Levando em conta esses constructos trabalhados na Psicanálise como base, pode-se construir uma análise da relação de Nina com o outro e consigo. Em uma nítida alusão a constituição do aparelho psíquico que Freud estabelece em sua teoria, o Cisne Negro e o Cisne Branco representam, respectivamente, o id e o superego da personagem. O Cisne Negro, enquanto Id representa as pulsões primitivas da personagem, o seu ”lado obscuro”, como explicado por Bock (2002): “O id constitui o reservatório da energia psíquica, é onde se “localizam” as pulsões:   a de vida e a de morte. As

características atribuídas ao sistema inconsciente, na primeira teoria, são, nesta teoria, atribuídas ao id. É regido pelo princípio do prazer.”

Em contrapartida, o Cisne Branco, posto como seu superego, que tem origem social, sendo alimentado pelas normas e valores sociais. O superego protagoniza a luta pela perfeição ao se contrapor as vontades do id. Bock (2002) disserta sobre esse conceito psicanalítico analisando-o como: “O superego origina -se com o complexo de Édipo, a partir da

internalização das proibições, dos limites e da autoridade. A moral, os ideais são funções do superego. O conteúdo do superego refere-se a exigências sociais e c ulturais.”

 Ao entrar em contato com esse fragmento de sua personalidade a personagem sofre uma ruptura e a partir daí desenvolve duas identidades diferentes atreladas ao desencadeamento da esquizofrenia. Essa doença tem

em seu histórico científico um caminho bastante variado, onde as suas causas foram atribuídas a diversos fatores, passando pelo modelo médico de Kraepelin (1856  – 1926) e depois reestruturadas por Bleuler (1857  – 1939) onde recebeu o nome de “esquizofrenia” e teve seus sintomas divididos em duas categorias,

a de sintomas fundamentais (ou primários) e sintomas acessórios (ou secundários), como esmiuçado por Da Silva (2006) em seu texto. Elkis (2000) define a transição do conceito da doença por Kraepelin e Bleuler como: “Semelhantes ou diversos, os dois conceitos levaram a uma

situação paradoxal: Kraepelin descreveu uma entidade clínica sem definir qualquer sintoma patognomônico; Bleuler, ao contrário, preocupou-se em definir tais sintomas, porém não falava em uma entidade clínica única, mas em um “grupo das esquizofrenias”

Durante o filme, a personagem apresenta claramente alguns sintomas comuns a Esquizofrenia Paranoide, definida na CID  – 10 através da seguinte conceituação: “ A esquizofrenia paranoide se caracteriza essencialmente pela

presença de ideias delirantes relativamente estáveis, frequentemente de perseguição, em geral acompanhadas de alucinações, particularmente auditivas e de perturbações das percepções. As perturbações do afeto, da vontade, da linguagem e os sintomas catatônicos, estão ausentes, ou são relativamente discretos.”

 Ao buscar demonstrar ao espectador a perspectiva de como as dinâmicas sociais atreladas a possíveis traços hereditários podem desencadear doenças de cunho psicológico e ao mesmo introduzir conceitos psicanalíticos como ferramentas para atingir tal objetivo, a obra demonstra uma magnificência em causar um desconforto e apreensão que fluidamente desencadeia na curiosidade regida por determinadas reflexões sociais essenciais para uma maior compreensão da doença e do outro de uma maneira mais empática e humanizada.

Referências: BOCK,

Ana

Mercês

Bahia;

FURTADO,

Odair;

TEIXEIRA,

Maria

de

Lourdes

Trassi. Psicologias: uma introdução ao estudo de psicologia. Saraiva, 2002. DA SILVA, Regina Cláudia Barbosa. Esquizofrenia: uma revisão. Psicologia USP, v. 17, n. 4, p. 263-285, 2006. ELKIS, Helio. A evolução do conceito de esquizofrenia neste século. Revista brasileira de Psiquiatria, v. 22, p. 23-26, 2000.

ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde  – CID-10. Disponível em: . Acesso em: 08 maio. 2016.

i

Acadêmica do curso de Bacharelado em Psicologia, 5° período, Universidade Federal do Piauí- UFPI, Campus Ministro Reis Velloso - Parnaíba. ii Acadêmico do curso de Bacharelado em Psicologia, 5° período, Universidade Federal do Piauí- UFPI, Campus Ministro Reis Velloso - Parnaíba.

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