RESENHA - A Sociedade de Risco

July 10, 2018 | Author: Rodrigo Lopes | Category: Sociology, Industrial Revolution, Society, Economic Inequality, Class & Inequality
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Resenha BECK, Ulrich. Sociedade de risco: rumo a uma outra modernidade. São Paulo: Ed. 34, 2010. Rodrigo de Macedo Lopes Ulrich Beck é um sociólogo alemão docente da Universidade de Munique e da London London School School of Economic Economics, s, diretor-fun diretor-fundado dadorr do centro centro de pesquisas pesquisas “Reflexive “Reflexive Modernisierung” [Modernização Reflexiva], na Universidade de Munique, financiado desde 1992 pela Deustsche Forschungsgemeinschaft [Fundação Alemã para a Pesquisa Cien Cientí tífi fica ca]. ]. De Dent ntre re as prin princi cipa pais is área áreass de pesq pesqui uisa sa dest destac acaa-se se:: glob global aliz izaç ação ão,, indi indivi vidu dual aliz izaç ação ão,, mode modern rniz izaç ação ão,, soci socied edad adee de risco risco,, prob proble lema mass ambi ambien enta tais is,, transformações no mundo do trabalho e desigualdades sociais. Em seus trabalhos, Beck desenvolve de forma coerente temas amplos como o  problema sobre os princípios do desenvolvimento. desenvolvimento. Como Giddens, defende uma sociologia reflexiva que não deixe de lado a análise crítica sobre os problemas da sociedade contemporânea. contemporânea. 1 Em “Sociedade de risco” afirma que os problemas da sociedade atual não são os mesmos que os descritos pela sociologia de momentos históricos anteriores. Nesse traba trabalho lho,, Beck Beck defend defendee a idéia idéia de que a modern modernida idade de desenv desenvolv olvida ida aprese apresenta nta-se -se atualmente em um estágio de desenvolvimento mais avançado em que emerge um novo tipo de destino paralelo em função do perigo. A obra tem como objetivo compreender  os conteúdos do desenvolvimento histórico da modernidade nas últimas duas, três décadas – especialmente na Alemanha Ocidental. Inicialmente o autor aponta uma passagem da lógica da distribuição da riqueza  para a lógica da distribuição dos riscos 2. Assim a questão sociológica desloca-se do  plano de problematizar a distribuição da riqueza para se pensar na distribuição dos riscos. Nas palavras de Beck: Como é possível que as ameaças e riscos sistematicamente coproduzidos no  processo tardio de modernização sejam evitados, minimizados, dramatizad dramatizados, os, canalizados canalizados e, quand quandoo vindos à luz sob a forma de “efeitos “efeitos cola colate tera rais is late latent ntes es”, ”, isol isolad ados os e redi redist stri ribu buíd ídos os de modo modo tal tal qu quee não não comprometam o processo de modernização e nem as fronteiras do que é (ecológica, medicinal, psicológica ou socialmente) “aceitável”? (BECK, 2010, p. 24)

Para tratar dessa questão é necessário inicialmente contextualizar as condições sociais de aparecimento do risco como um problema global e não mais pessoal ou individual. Nesse sentido, é preciso perceber que com o desenvolvimento do Estado de Bem-Estar que conhecemos no Ocidente um duplo processo ocorre: de um lado, o  problema da sobrevivência, sobrevivência, ou seja, as questões das lutas para suprir as necessidades necessidades imediatas de sobrevivência humana deixam de ter urgência para problemas de “excesso de peso” (p. 25), em outras palavras, o fundamento do processo de modernização perde legitimidade em função dos efeitos colaterais que emergem desse processo. De outro lado, os problemas das forças destrutivas advindos do processo de modernização se Estrato escrito com base em referências contidas no livro “Sociedade de risco” (2010) e no site: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ulrich_Beck , acessado em 12/06/2013. 2 Esse apontamento é possível pelo entendimento do autor de que ao produzir riqueza, conseqüentemente,  produz-se socialmente riscos advindos advindos do processo de modernização. modernização. 1

colocam em uma proporção que transcende o controle humano e como conseqüência a “imaginação humana fica desconcertada”. A tese defendida pelo autor se coloca da seguinte maneira: Argumentando sistematicamente, cedo ou tarde na história social começam a convergir na continuidade dos processos de modernização as situações e os conflitos sociais de uma sociedade “que distribui riqueza” com os de uma sociedade “que distribui riscos”. Na República Federal, encontramonos – esta é a minha tese –, pelo menos desde os anos setenta, no início dessa transição. Quer dizer: sobrepõem-se aqui ambos os tipos de temas e conflitos. (BECK, 2010, p. 25)

 Nesse sentido, o risco que marca a era industrial difere dos riscos existentes em épocas anteriores fundamentalmente por escaparem a percepção sensorial ficando resguardados sob as esferas físico-químicas, ou por serem decorrência da superprodução industrial, ou ainda por não estarem vinculados ao lugar onde foram produzidos. Assim, a emergência do risco como um problema global tenciona as categorias do pensamento nos quais eram guia para o pensamento e a ação dos homens (espaço e tempo, trabalho e ócio, empresa e Estado Nacional, fronteiras entre blocos militares e continentes), em outras palavras, as categorias que organizam a vida social começam a mostrarem-se insuficientes para pensar as novas demandas sociais em decorrência dos riscos civilizatórios.  Na primeira parte do livro, Beck, além de colocar as questões que marcam suas  preocupações, traça os contornos das sociedades onde o crescente processo de industrialização palatinamente apagou – ou pelo menos colocou em segundo plano – as questões sobre as necessidades de subsistência, por estas serem equacionadas pelo Estado de Bem-Estar, e as preocupações sobre as ameaças à existência humana se tornaram mais presentes. Nesse sentido, dois elementos são destacados, de um lado as diferenças entre a lógica de produção e distribuição da riqueza e a lógica de produção e distribuição de riscos e, por outro, uma teoria política do conhecimento da sociedade de risco. As marcas que diferenciam estas lógicas então apoiadas em cinco teses: 1- A produção da riqueza se diferencia da produção dos riscos. Nos riscos, pelo fato das ameaças serem intangíveis e basearem-se numa previsão interpretativa, o conhecimento assume importância na definição e delimitação do que é um risco, sendo assim, eles podem ser alterados, diminuídos ou aumentados. Dessa maneira, alteram-se as posições dos instrumentos no contexto sociopolítico passando a ocupar maior relevância áreas que definem os riscos. 2- A lógica distributiva distinta. Os riscos produzidos pelo desenvolvimento industrial conhecido na modernidade, cedo ou tarde, atingem quem os  produziu, é o que Beck chama de efeito bumerangue. Como conseqüência  principal, os riscos produzem novos desníveis internacionais que não se fundamentam na acumulação da riqueza socialmente produzida por Estados  Nação, mas transcendem as barreiras geográficas, uma vez que a preservação de determinados locais passa a depender de fatores externos assegurados, por  exemplo, por acordos internacionais. 3- A produção dos riscos representa um novo estágio da lógica capitalista. O  problema de necessidades de subsistência podem ser saciadas, mas os riscos civilizatórios são um barril de necessidades sem fundo, ou seja, as ameaças são uma realidade permanente, infinita e autoproduzível.

4- Enquanto a riqueza é determinada pela posse, os riscos se determinam pela afetação, ou seja, a existência do risco é determinada pela consciência que se tem dele. Nesse contexto o conhecimento assume grande relevância política, uma vez que dele depende a existência dos riscos. 5- Riscos socialmente reconhecidos tomam relevância política. Nesse sentido, Beck destaca uma alteração no registro do que é relevante politicamente ser  discutido, questões que ocupavam segundo plano no processo de industrialização passam ao centro das preocupações, é o caso do desmatamento, por exemplo. Assim, é importante notar que a disputa para definir o que é risco abrange não apenas os problemas para a saúde ou o ser  humana, mas também os efeitos sociais, políticos e econômicos que essas definições podem acarretar, perda de mercados, por exemplo. Após definir as principais diferenças entre a lógica de produção e distribuição das riquezas e dos riscos, Beck passa a tratar do potencial social e político da sociedade de risco. Como ponto que articula a problemática sobre o potencial social e político da sociedade de risco parti-se da constatação de que não é possível precisar se os riscos aumentaram ou se a percepção dos riscos, através da ciência, tornou-se mais patente. O importante a se destacar é que como a ciência se torna o lócus de produção e interpretação do risco, a implementação da sociedade de risco coloca a produção e o consumo a um novo patamar, diferentemente da sociedade industrial onde a produção e consumo tinham como marco necessidades preestabelecidas – a fome, por exemplo –, na sociedade de risco se desdobra o risco como elemento autofabricável. Em contextos de riscos, ao mesmo tempo em que a ciência define os marcos –  referência, taxas, parâmetros etc. –, a percepção dos riscos por parte da população integra o quadro referencial do socialmente perigoso. Assim, defende Beck, a conscientização dos riscos precisa ser construída como uma luta entre pretensões de racionalidade concorrentes, em parte contrapostos, em parte sobrepostos (p. 71). O quadro teórico-metodológico se desdobra da seguinte maneira: Racionalidade Científica

Racionalidade Social Conflito de interesses

Conveniência com os negócios

Danos

Distintas suscetibilidades A consciência do risco, nesse contexto, nem é tradicional nem laica, e sim uma consciência no fundo determinada e orientada cientificamente. Assim, a lógica do  pensamento cotidiano é afetada e invertida: a lógica experiencial sede lugar aos juízos  baseados em conhecimentos gerais independentes da experiência. A partir disso, Beck constata com a sociedade de risco uma era especulativa da  percepção e do pensamento cotidianos. A consciência do risco libertou o pensamento e as representações cotidianos das amarras no mundo das coisas visíveis (p.90). As

ameaças que regem na sociedade onde o risco alcança tal conteúdo, são elementos invisíveis em que o olhar cotidiano não vê: os poluentes, a radioatividade etc. O reconhecimento do risco cria novos elementos que pressionam as estruturas sociais, políticas e econômicas no sentido de reestruturar-se. Segundo Beck: Quanto mais enfática for a ampliação dos perigos no processo de modernização, quanto mais conspícua for a ameaça aos valores básicos do  público geral e quanto mais evidente isto passar a ser na consciência de todos, tanto mais profundamente é abalada, na relação entre economia,  política e esfera pública, a estrutura funcional de poder e de competências  baseada na divisão do trabalho, e é tanto mais provável que, sob a égide do  perigo iminente, responsabilidades sejam redefinidas, competências de atuação centralizadas e todos os pormenores do processo de modernização cobertos por controles e planejamentos burocráticos. (BECK, 2010, p. 96)

Para finalizar a argumentação da primeira parte de seu trabalho, Beck justifica o conceito de sociedade de risco pela transformação de ameaças civilizacionais à natureza em ameaças sociais, econômicas e políticas sistêmicas. Segundo ele, a partir das questões já colocadas o fim do século XX apresenta-se como o fim da contraposição entre natureza e sociedade enquanto instâncias separadas. A conceituação sobre a sociedade de risco destaca que destruições à natureza passam a ser um elemento constitutivo da dinâmica social, econômica e política (p. 98). A conseqüência disso é que os “problemas ambientais” são integrados à civilização.  Na segunda parte do livro, nomeada “Individualização da desigualdade social: sobre a destradicionalização das formas de vida da sociedade industrial”, Beck expõe algumas das principais transformações ocorridas após o pós-guerra que permitiram a mudança no registro de produção e distribuição das sociedades industriais para a sociedade de risco. Nas palavras do autor: ... na virada para o século XXI, o processo de modernização desencadeado não apenas superou a suposição de uma natureza contraposta à sociedade, como também fez desmoronar o sistema intrassocial de coordenadas da sociedade industrial: sua compreensão da ciência e da tecnologia, os eixos entre os quais se estende a vida das pessoas: família e profissão, a distribuição e a separação entre política democraticamente legitimada e subpolítica (no sentido de economia, tecnologia e ciência) (BECK, 2010, p. 107)

As formas sociais características da sociedade industrial perdem força explicativa pelo fato das pessoas encontrarem-se libertas dessas chancelas, é o caso, por  exemplo, do conceito de classe. Com o longo desenvolvimento do pós-guerra na Alemanha as condições de vida da população se alteraram radicalmente (p. 114), apesar  das desigualdades existentes, é notório a elevação do padrão de vida material dando  possibilidades de alterar as condições de vida das pessoas. É o que Beck conceitua como efeito elevador, assentado em três componentes – tempo de vida, jornada de trabalho e renda assalariada.  No cômputo geral, mais tempo de vida, menos tempo de trabalho e maior  margem de manobra financeira – são essas as vigas mestras em que se sustenta o “efeito elevado” no talhe biográfico das pessoas. (BECK, 2010,  p. 116)

Apesar das desigualdades existirem, e Beck não afirma o contrário, a emergência de condições de vida que liberam, em parte, as pessoas das amarras das necessidades de

subsistência fazem com que surjam estilos de consumo desiguais que descartam os atributos culturais de classe. É nesse contexto que ganha força a tendência à individualização. Apesar deste  problema já ser tratado por Marx e Weber, por exemplo, Beck destaca que o desenvolvimento do pós-guerra pôs em movimento na Alemanha uma dinâmica socioestrutural que torna questionável as categorias tradicionais de grandes grupos –  estamentos, classes ou camadas sociais. Segundo Beck, Em oposição a isso [ao pensamento segundo categorias de classe e camada social], o crucial aqui é que as relações de desigualdade social e o caráter de classe socialmente definido se possam modificar independentemente umas do outro: mantendo-se constantes as distâncias em termos de renda etc., as classes sociais foram destradicionalizadas e diluídas no curso dos processos individualizatórios do período de desenvolvimento e de bem-estar do pósguerra. E vice-versa: sob outras condições (como o desemprego em massa), a diluição das classes (camadas) sociais pode ser acompanhada por um agravamento das desigualdades sociais. (BECK, 2010, p. 132-3)

Está é apenas uma parte da exposição que Beck faz sobre a mudança no registro dos agrupamentos sociais sobre o trabalho e consumo, no entanto o autor ainda destaca as alterações nas relações entre o estatuto de gênero para homens e mulheres, família e o  problema do trabalho assalariado 3. Com isso, a tese central da segunda parte do trabalho que afirma existir uma transformação dos padrões das sociedades industriais, a partir do desenvolvimento e intensificação do processo de modernização, para novas formas de organização social que ele sintetiza sob o nome de sociedade de risco aponta para outro nível do desenvolvimento da modernidade.

Não iremos nos alongar na exposição sobre os apontamentos que Beck faz das transformações que colocaram novas pressões sobre a categoria classe, também não aprofundaremos as questões sobre família, gênero ou trabalho assalariado devido ao caráter deste trabalho, além disso, acreditamos que ao citar alguns elementos tratados por Beck sobre o problema das classes, tocamos na tese defendida pelo autor. 3

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