Resenha 1-América 3
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Resenha sobre o filme viva zapata...
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Este trabalho se trata de uma resenha acerca do debate historiográfico sobre a leitura dos capítulos 1 e 2 do livro “À Sombra da Revolução Mexicana: história mexicana contemporânea, 1910-1989”, 1910- 1989”, intitulados “No caminho de Madero: 1910 -1913” e “As revoluções revoluções são à revolução: 1913:1920”, respectivamente. O livro foi publicado em 1989 pelos autores Héctor Aguilar Camín que é historiador, romancista e jornalista, e diretor de Estudos Históricos do Instituto Nacional de Antropologia e História (INAH) e Lorenzo Meyer também é historiador e jornalista, e coordenador do programa de estudos Mexicanoamericano no Colégio de México. Em contraponto com o filme “Viva Zapata!” de 1952, dirigido por Elia Kazan¹ e roteiro de John Steinbeck que foi estrelado pelos atores Marlon Brando, como o líder revolucionário camponês da cidade de Morelos, Emiliano Zapata, é uma produção estadunidense. Um filme produzido numa época marcada pela Guerra Fria, onde a perseguição aos adeptos as ideologias políticas sociais comunistas no Estados Unidos corria à pelo vapor, uma década que ficou conhecido como “era macartista”². Ao levantarmos os pontos divergentes e convergentes acerca desta análise precisamos levar em consideração o contexto histórico, social, econômico e político em que vive o México antes à revolução que pôs fim ao regime ditador de Porfírio Díaz, que ficou no poder por mais de trinta anos, que tinha t inha um governo marcado pela fisiocracia, o caudilhismo e à corrupção e pelos grandes investimentos do capital estrangeiro, principalmente dos Estados Unidos, nas evoluções tecnológicas, tecnológicas, industriais e da expropriação do petróleo e ampliação do mercado externo, uma sociedade marcada por transformações impulsionadas pelo o avanço constante do capitalismo. Ao mesmo tempo em que as camadas sociais vinham se modernizando e se complexificando, surgindo uma nova burguesia industrial, urbana e mais liberal (e nada homogênea), e uma classe de trabalhadores operários e camponeses também surgem neste contexto, confrontando com um governo ainda enraizado nas tradicionais oligarquias agrárias e na constante intervenção estrangeira, principalmente na economia, e que insurge à Revolução Mexicana considerada à primeira revolução social do século XX. Em relação às causas causas da revolução se convergem convergem entre o texto de Camín e Meyer com relação ao filme de Kazan, no primeiro isso é retratado como sendo um descontentamento da burguesia advinda dessa nova configuração de sociedade industrial e econômica, que tem ideias liberais, que visa uma maior participação na política e dos camponeses que teve suas terras expropriada para a construção de ferrovias e à expansão industrial impulsionada pelo capital estrangeiro, e que teve como principal líder à figura do caudilho Francisco Madero, “a revolução desencadeada por Madero não foi filha da miséria e da estagnação, e sim da ¹ Diretor renomado na década de 1940, que foi bastante reconhecido por seus trabalhos no mundo do cinema e teatro, mas também por sua participação na política de delações na era macartista. ² Termo que foi cunhado para designar à política anti comunistas criados pelo Senador norte americano Joseph McCarthy na década de 1950.
desordem provocada pela expansão e mudança (...)”, à revolução foi o embate da burguesia em disputa pelo poder, tendo vários processos de rupturas e continuidades. Já no filme isso é retratado como sendo uma insatisfação social pela classe camponesa que teve suas terras tomadas pelo Estado, e que não tinham mais condições para fazer suas plantações e à população estava morrendo de fome. Enquanto no texto à fome e à falta de abastecimento de suprimentos são as consequências da revolução, no filme isso é mostrado como uma das principais causas ao Zapata a liderar as tropas revolucionárias de Morelos. Outro ponto a ser ressaltado, que não foi mostrado no filme, no contexto social do México pré-revolucionário são as populações flutuantes que migravam de uma parte do país para outro, buscando melhores condições de vida e oportunidades de trabalho, uma população já acostumada à fome e à miséria, foi fundamental para a formação dos exércitos de Libertação da Revolução, pois viam nestes ideais uma possível ascensão social e uma vida mais estável. À figura de Zapata no filme como representante da luta dos trabalhadores rurais por suas terras, assim como também dos indígenas e que tem afeição ao governo de Madero, ele representa à figura mítica de herói do povo, com o seu cavalo branco indomável, com papel fundamental na luta armada para depor Díaz do poder, sendo um dos principais adepto ao maderismo, é filho de uma ex elite agrária que também teve suas terras tomadas pelo porfiriato. No longa metragem hollywoodiano à figura de Zapata é vista como um homem simples e rude que sofreu com as injustiças do governo e que almeja conquistar o que lhe foi tirado, e também acredita nas mudanças sociais à partir das revoltas e dos levantes populares no texto ele não é retratado como o principalmente líder à pôr fim ao porfiriato, apenas como mais um dos tantos outros caudilhos que se unem aos ideias revolucionários de Francisco Madero como por exemplo Victoriano Huerta, Venustiano Carranza, Pancho Villa e Álvaro Obregón. No texto Camín e Meyer discorre sobre a vida e as relações entres os líderes da revolução com várias descrições de caráter bibliográfico detalhando cada revolta que desencadeou ao longo de 1910 à 1920, retratando, como foi dito anteriormente as rupturas e continuidades desde à tomada do poder por Madero até à presidência e à morte de Carranza. Francisco Madero era um rico proprietário rural inspirado pelos ideais liberais lança sua campanha para tirar Porfirio do poder, como principal slogan à “anti -reeleição” pautadas num governo democrático, que atenderá as demandas sociais assim como também restabelecer à Constituição e principalmente à defesa a propriedade privada. Em sua primeira tentativa não tem sucesso e acaba sendo preso por Porfírio e se exila no Texas (EUA) por um tempo, onde alia-se aos estadunidense, por representar essa nova burguesia em ascensão, enquanto os
movimentos de Villa e Zapata, entre outros também ganham forças e acaba com o regime ditatorial. Madero é eleito o líder da revolução e assume à presidência do México, o que não durará por muito tempo. Madero além de ir contra as velhas oligarquias do porfiriato durante o período insurrecional, quando assume o poder mantém os mesmo aparelhamento político do antigo regime se aliando principalmente com Huerta, ex-porfirista e mantendo intacto o exército federal, ele inicia o processo de desarmamento dos exércitos revolucionários, já temendo uma possível revolta contra o seu governo, os zapatistas não aceitam à desmobilização de seu exército antes de atenderem suas demandas de reforma agrária. Outra preocupação de Madero em relação aos exércitos armados eram as práticas do “banditismo camponês”, que não representava um risco só à ele, mas à toda à elite agrária do país, onde os camponeses armados e com fome saqueavam plantações e fazendas. Ao fazer isso ele desagrada aos seus aliados, que como foi mostrado anteriormente não se trata de um conjunto homogêneo, ou seja, nem todas as demandas políticas e caráter social são as mesmas. Com um governo estável entre essas camadas sociais em convergência, Madero não consegue se manter no poder e sofre um golpe de estado por Huerta, e é executado nos muros da penitenciária onde estava preso. Há controvérsias sobre a imagem de Madero construída ao longo do filme, onde eu o vi como sendo um homem ingênuo que tem afeição pelas causas do povo, mas que não tem à mentalidade de um governante firme e estável. Logo após tomar posse à presidência do país, ele procura Zapata para lhe conferir as honrarias de General, que irá aceitar sem hesitar, sua afeição ao movimento zapatista é o principal motivo que fará com que Huerta de o golpe de Estado matando-o e assumindo a presidência do país, à sua figura não é muito retratado no filme, apenas como um governante que mantém à situação como no governo de Díaz. Já os autores estudados o mostram como sendo um governante que tem apoiado pelo governo norte-americano, que tenta solucionar as tensões sociais com pequenas leis trabalhistas, à diminuição da jornada e aumento salariais e uma tímida reforma agrária, mas que principalmente favoreceu aos capitalista estrangeiros. No filme os movimentos que iram tirar o poder de Huerta são os liderados por Zapata e Villa, que representam o agrarismo mexicano, eles de certa forma representam essa sociedade faminta, bandoleira e mestiça, um México retrógrado baseado na plantação para a subsistência, em contraponto à uma México que busca no investimento exterior o avanço da modernidade tecnológica e industrial inserida na economia mundial. Ao tirarem Huerta do poder, Villa se abstém do poder, com a justificativa de que não é um homem ideal para
governar deixando para Zapata à liderança do país. No entanto, Zapata, ao assumir o poder se mostra incapaz de fazer o que tanto almejava, que era devolver as terras aos seus antigos donos, e acaba por se incorporar ao aparelho de Estado, sob a influência de Fernando Aguirre, um ex maderista que representa no filme à ideia dos EUA como sendo uma nação democrática, com total participação popular na política e um molde à ser seguido. Aguirre por sua vez, não deixa que Zapata na presidência faça suas vontades o que o leva a desistir do cargo e o culpa por ser ele o verdadeiro traidor dos ideais da revolução empenhado por Madero, e o manda atrás de outros possíveis chefes de Estado, citando Carranza e Obregón, e esse é o único momento no filme em que este dois líderes são citados. Logo após isso, Aguirre motivado pelo ódio e à cobiça, se alia aos outros caudilhos para dar fim em Zapata e consequentemente ao zapatismo, armando uma emboscada e o matando. Neste momento do filme, que são os momentos finais, vale ressaltar à questão da estética fotográfica da cena e da dramaticidade presente na obra, que se inicia com um silêncio mórbido, entrecortado apenas pelas rezas das mulheres beatas que estão sentadas numa escadaria, com à sombra de uma cruz logo atrás, e o reencontro de Zapata com o seu fiel cavalo branco, com closes em seu comportamento agitado e arredio como que se pressentisse algum mau, o que ocorre minutos depois quando aparecem os soldados armados que dispararam em direção à
Zapata, sob o comando de Aguirre e na frente de vários
companheiros de Zapata. Em seguida, seu cadáver e deixado em praça pública, e as mulheres logo correm para vê-lo, colocando flores envolta de seu corpo e fazendo orações, só momentos depois que alguns camponeses aliados à causa zapatista vão ao encontro do morto para confirmar o que já sabiam, Zapata havia morrido. Não querendo me ater apenas nas questões estéticas do filme em si, embora seja assunto de grande relevância para entendermos como à imagem do Zapata como um camponês que não sabia ler, mas que ansiava em ascender socialmente e de possuir terras, que se casa com Josefa Espejo que faz parte de família rica e tradicional na cidade de Morelos, simplesmente por interesse, porém no primeiro momento o pai de Josefa recusa seu pedido de casamento, alegando que ele não tinha bens e muito menos honrarias, não passava de um bandoleiro sem causa, isso antes Díaz cair. Após à deposição do ditador o Senor Espejo vê as honrarias de General, como foi tratado anteriormente, que são atribuída a Zapata e acaba o aceitando para desposar sua filha. Evidenciando aqui como as tradições de fisiocracia, mesmo após à revolução liberalistas ainda estavam presentes na sociedade mexicana, mostrando que mesmo após as rupturas no Estado, no social ainda permanecem as continuidades de um antigo regime.
Voltando ao momento final do filme, logo após Zapata morrer, alguns camponeses viram ali também os seus sonhos de mudanças acabadas, mas não à suas esperanças. E é nesse momento em que ao fundo, no cume de uma montanha aparece à imagem do cavalo de Emiliano Zapata com sua natureza indomável, e com a fala dos camponeses desalentados por sua perda que se solidifica à imagem mítica e romântica do herói popular que foi para as montanhas, e quando se fizer necessário voltará para salvar o povo. Em um todo as leituras à partir dos protagonistas da revolução mexicana se divergem em relação ao texto e ao filme, como por exemplo Pancho Villa e à sua falta de interesse em assumir o poder, como foi dita anteriormente, no filme, já no texto “ Villa, por sua vez, era o impulso incontrolável de um exército popular em movimento, cada vez mais auto-suficiente e organizado. Seu propósito mais estreito era alcançar a vitória…”, enquanto que Zapata não tinha tantos inclinações para disputar o poder. Outro ponto que também chamou atenção e à falta de presença dos movimentos empenhados por Carranza e Obregón, para à retirada de Huerta do poder, e à conseguinte presidência de Carranza e não de Zapata. Um dos motivos que me levam à crer sobre ausência deste dois caudilhos no filme, e que como foi abordado pelos autores, estes quando ascenderam ao poder não mantiveram as boas relações com o governo norte americano, cobrando-lhes altas taxas de impostos com à economia voltada para os meios nacionais. O que não quer dizer que o governo de Carranza tenha sido de cunho popular, na verdade não o foi nem um pouco, ele acaba nomeando os antigos da elite conservadora, assim como Madero. E acaba morto tentando fugir, a mando de Obregón, e este assume a presidência do México. À história da revolução mexicana não se encerra por aí, os processos de rupturas, no sentido da disputa constante da elite agrária e industriosa do país, frente às continuidades com que os seus protagonistas após assumirem o comando optaram por acatar como políticas em seus governos, e em meio à tudo isso à insatisfação das classes trabalhadoras e camponesas, que mesmo tendo apoiado, em dado momento as causas da revolução não se sentem por ela representados e ambicionam pelas reformas agrárias e sociais.
Referências Bibliográficas:
AGUILAR CAMÍN, H.; MEYER, L. À sombra da Revolução Mexicana: histórica mexicana contemporânea, 1910-1989. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2000. p. 13-95. FILME: Viva Zapata! (EUA). Diretor: Elia Kazan, 113 minutos. 1952.
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