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December 8, 2018 | Author: harkomer | Category: Thelema, Aphrodite, Tantra, Love, Greek Mythology
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Revista...

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Revista da Loja Quetzalcoatl, Ordo Templi Orientis

EROS & PSIQUÊ: O EROTISMO DA ALMA O MITO DE ERO ROSS E PSIQUE DETALHA A INICIAÇÃO DA ALMA RUMO À BELEZA, ATRAVÉS DO ENTENDIMENTO DA SEXUALIDADE, DO DOSS MISTÉRIOS DO EROTISMO E DO AMOR. pág. 8

ÍNDICE Editorial

pág. 3 Notícias

pág. 3 Sexo & Sexualidade no Novo Aeon

pág. 4

Eros & Psiquê: o Erotismo da Alma

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Libido, um breve ensaio metafísico

pág. 15 Estudos Yoga na O.T.O. pág. 17 Biblioteca Thelêmica Liber DCCCXI, parte I pág. 20 Hooráculo pág. 24

ESCREVA  PARA  NÓS! Além de ajudar a melhorar nosso trabalho com sua opinião, aproveite nosso espaço de comunicação para tirar dúvidas, dar ideias e manter contato com os membros da O.T.O. no Brasil. E-mails para: [email protected]

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EDITORIAL

NOTÍCIAS

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Encerramento das atividades da Loja Quetzalcoatl para 2012 e.v.

ivemos em um mundo cada vez mais obcecado com rótulos, onde nada pode existir fora de um conceito de estrita

dualidade e onde o indivíduo não existe além dos módulos pré-aceitos pela grande massa da estrutura social. O Sexo continua a ser o centro da sociedade humana seja ele demonizado ou sacralizado e como tal nossa Sexualidade talvez seja aquele aspecto de nossa existência onde desde muito cedo nos é colocado um ‘numero de série’ que nos identifica para todos os outros como como heterossexuais, homossexuais, bissexuais, monogâmicos, poligâmicos, poliamorosos, homem, mulher, transexual, ou seja lá que novo nome se encontre para satisfazer esta neurótica obessão por controle.

A Loja Quetzalcoatl encerrou suas atividades para o ano de 2012 e.v. nos dias 15 e 16 de dezembro. Celebrando o término do ano, nós realizamos a Missa Gnóstica (Liber XV), além do encontro entre Irmãos, Irmãs e convidados. No começo de 2013 e.v., e.v., será divulgado o calendário das atividades ativi dades para o novo ano. Desejamos a todos um excelente fim de ano civil.

Solstício de Verão Somos muito mais que meros rótulos, estamos muito além dessa visão diminuta que procura nos castrar continuamente de nossa divindade. ‘Todo homem e toda mulher é uma estrela’, Somos feitos de átomos tal como o universo, a quintessência em cada um de nós tal como como o universo é a mesma. Entendendo isso podemos perguntar: entre nós dois onde deixo de ser eu e passo a ser você? Amor é União, e Sexo é o mais alto Sacramento quando o entendimento do mesmo é elevado ao nivel de Neshama. A capacidade de unir o sujeito com o objeto é apenas uma parcela das incontáveis possibilidades de experiêncoias relativas ao Amor.

Neste dia 21 de dezembro estamos celebrando o Solstício de Verão, marcando, no Hemisfério Sul, o dia mais longo do ano. Por mais uma vez, o Sol nos irradia com o meio-dia de sua Beleza e  Triunfo. Gozamos do auge de sua sua Luz e da consciência de que o Sol, de fato, nunca se ergue e nunca se põe: ele permanece contínuo, por mais que o experimentemos como fases, nutrindo e inspirando desde o centro de nosso Ser. A Loja Quetzalcoatl deseja um Verão de exaltação e do mais refinado regozijo para todos!

65 anos da morte de Aleister Crowley O dia 1 de dezembro marca a data de falecimento de Aleister Crowley. Há 65 anos, em Hastings, Inglaterra, o Profeta do Novo Aeon, aos seus 72 anos, partia para a realização de sua Grande Festa. Que a Obra do homem que ousou falar que Deus residia na liberdade do Humano possa florescer firme e continuamente nos tempos de hoje! Salve Profeta de Nu! Profeta de Had! Profeta de Ra-Hoor-Khu!

‘Amor é a lei, amor sob vontade.’

Iniciação a Grau da Tríade do Homem da Terra No dia 2 de dezembro de zembro foi realizada, na Loja Quetzalcoatl, a Iniciação a um Grau da Tríade do Homem da Terra. A Loja Quetzalcoatl dá os parabéns a todos aqueles que deram mais um passo em suas jornadas. Sucesso seja vossa prova!

FRATER APOLLÔN HEKATOS MESTRE DA LOJA QUETZALCOATL - RIO DE JANEIRO

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EXO&SEXUALIDADE NO NOVO AE NOVO AEO ON FRATER KIN-FO

HELEMA  E UM BREVE ESTUDO SOBRE MUDANÇAS E HERANÇAS PRESENTES EM T HELEMA E NAS PRÁTICAS THELÊMICAS DE PENSAR  PENSAR E E EXERCER  EXERCER O O SEXO E  A   A SEXUALIDADE SEXUALIDADE

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ivemos a chamada era da informação. A internet, a rede mundial de computadores, permeia diferentes pontos da nossa vida. Notícias, correio, contas e gerenciamento de empresas. Tudo passa pela internet. Estudos mostram que um terço do tráfego de informação pela internet, a grande rede mundial de computadores, seja de material pornográfico. O mesmo estudo mostra que enquanto um homem gasta em média de 3 a 6 minutos em uma visita a uma página de notícias,     l    t    a em uma página pornográfica esse tempo vai de 15 para 20 mi   o    c     l [1]    a    z    t nutos.    e    u     Q    a     j    o     L

  —    s     i    t    n    e     i    r     O     i     l    p    m    e     T    o     d    r     O

Pornografia. Sexo. Houve um tempo que a distribuição de pornografia era vista como uma afronta à sociedade e aos bons costumes. Larry Flynt, fundador da revista Hustler que o diga. Hoje em dia, não há “mulher fruta” que não se orgulhe da quantidade de vezes que foi clicada pelos fotógrafos de uma revista pornográfica.

Nas escolas de outrora, os alunos aprendiam sobre esperma, óvulos, sua união e a formação do zigoto, porém não aprendiam sobre o processo de cópula que desencadeava o processo. Hoje a educação sexual é matéria obrigatória nas escolas, tanto para auxiliar no combate a disseminação de DSTs quanto à gravidez indesejada e a falta de planejamento familiar que assombra as classes menos privilegiadas da nossa sociedade. Sexo. Fantasia. Erotismo e sexualidade. A mulata de nádegas avantajadas, vestida como passista na frente de uma escola de samba, ainda é o carro chefe da propaganda do carnaval carioca no exterior. Programas de televisão mostram corpos, desejos e fantasias. O photoshop, lipoaspiração e Viagra são a fonte da  juventude  juvent ude do século s éculo XIX. Ainda assim, mesmo com o sexo e a sexualidade tão presentes em nossa sociedade, sofremos em não podermos dizer que so-

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mos uma sociedade sexualmente consciente. O mestre taoísta Mantak Chia aponta que “a relação entre homens e mulheres tem desconcertado e confundido filósofos, cientistas e pensadores ao longo dos tempos. A sexualidade é uma dança que abarca as páginas da história de todas as sociedades. É um ritual que tem absorvido as atividades humanas através de eras e que ainda constitui um dilema para as culturas atuais. Diante de algo que existe há tanto tempo e que faz parte da vida e de toda criatura ao longo da história, poderíamos pensar que a raça humana já fosse especialista no tema da sexualidade. Entretanto, ainda hoje, os relacionamentos sexuais continuam ofuscando e confundindo profundamente o espírito das pessoas”.[2] Lidar com as questões da sexualidade ainda é um desafio que vem sendo paulatinamente trabalhado pela sociedade. No ano passado, uma pesquisa realizada durante a parada gay do Rio mostrou que 22% dos entrevistados já haviam sofrido algum tipo de agressão física, e 51% 51% alguma violência moral.[3] Se no âmbito civil a relação é ruim, a situação piora na esfera religiosa. Uma pesquisa realizada em 2010 com jovens entre 17 e 25 [4] , mostrou que 65% deles discordam das posições adotadas por sua religião a respeito de sexo, resultando em um alto índice de evasão. As críticas não são poucas, destacando-se principalmente a proibição do uso de métodos contraceptivos, condenação de relacionamentos relacionamentos homossexuais, a obrigatoriedade do matrimônio em um modelo ultrapassado e o machismo e subordinação da mulher dentro do relacionamento. A questão do casamento talvez seja uma das mais emblemáticas. O censo do IBGE de 2010 mostrou que houve um aumento das uniões estáveis de 28,6% para 36,4% e uma queda dos casamentos de 49,4% para 42,9%.[5] Nos primeiros séculos do cristianismo, cristianismo, a

união entre os esposos não dependia do sacerdote, sendo normalmente realizado através de uma festa pública promovida pelos pais dos noivos e o testemunho do seu primeiro intercurso sexual. A partir do século IX, a igreja católica romana passou a introduzir progressivamente a presença do sacerdote durante as festividades de núpcias, até que no século XII o ritual de casamento foi oficialmente estabelecido como rito eclesiástico. A presença sacerdotal se tornou obrigatória e a relação entre homem e mulher passou a necessitar de determinadas regras ditadas pela igreja. Sexo, religião e matrimônio. A psicóloga Bruna Amaral Dantas aponta em seu artigo que[6]  “a sexualidade (...) sempre exerceu fascínio sobre o cristianismo, que não cansou de comentá-la, discuti-la, normatizá-la, proibi-la e excitá-la. A Igreja cristã, mais especificamente a Igre ja católi c atóli ca, produzi pro duzi u tr atados ata dos com o propro pósito de convencer as mulheres a evitar o casamento e dedicar-se à castidade bem como redigiu documentos destinados a ensinar os monges a proteger-se dos desejos que ameaçavam a santidade da alma. Nos primeiros séculos da era cristã, o clero católico procurou combater o matrimônio, instituição laica e privada, recorrente entre os membros da aristocracia romana. Diante de sua permanência, a Igreja promoveu, com certa reticência, a sacramentalização do casamento, autorizando-se, desse modo, a penetrar no quar to do casal, vasculhar sua intimidade e estabelecer os limites entre o permitido e o proibido no âmbito da sexualidade. Homens que, em tese, se privavam de viver a própria sexualidade ficaram responsáveis por orientar a vida sexual de fiéis que não sabiam o que fazer com os próprios desejos e temiam suas manifestações. Tornar o matrimônio uma instituição pública e sagrada permitiu ao clero romano consolidar seu poder político e ampliar sua intervenção na vida íntima dos fiéis. O que pode gerar mais poder a uma instituição do que a capacidade de controlar a intimidade das pessoas e ter acesso a seus segredos? A Igreja desenvolveu

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 t  tecnologias de extração da verdade  r   i     g  o de si, como a prática da confissão, para descobrir o que cada sujeito esconde de sua sexualidade e, dessa forma, aumentar seu poder sobre os corpos dos fiéis. O clero estava interessado em conhecer a vida íntima dos cristãos para melhor controlá-la e aperfeiçoar os códigos de regulamentação dos desejos e da atividade sexual. (...) Além da ciência, o protestantismo e logo em seguida o pentecostalismo aprimoraram as técnicas de vigilância e observação da sexualidade, desenvolvidas pelo catolicismo medieval. Segundo Weber, a Reforma Protestante produziu uma forma de dominação e regulamentação da vida privada que se fazia sentir mais fortemente entre os fiéis, pois penetrava de fato nos espaços secretos da intimidade. A sexualidade tornou-se ainda mais central do que já era. Nas Igrejas protestantes e pentecostais, tudo gira em torno dos desejos e prazeres sexuais dos fiéis. As pregações, os documentos teológicos, as orientações doutrinárias e os códigos de conduta fazem constante constante referência à vida sexual. É preciso vigiá-la, obser vá-la e confessá-la para não perdê-la de vista. Os seus rastros devem ser seguidos. Nas cerimônias religiosas, ela aparece para ser simultaneamente cultuada e combatida. Desde suas origens, o cristianismo continua preservando o espaço da sexualidade em seus cultos, como se dela dependesse para permanecer vivo. A história da sexualidade ocidental (...) permite-nos constatar que o cristianismo sempre se incomodou com a sexualidade, intensificando gradativamente seu sistema de controle para mantê-la sob a tutela e orientação da Igreja”.

Sexo e religião. Rivais? Não necessariamente. Correntes de pensamento e estruturas religiosas orientais dizem exatamente o contrário, que sexo é religião. Um exemplo pode ser encontrado no taoísmo, onde o mestre Mantak Chia diz que “a energia sexual é o alimento para a totalidade do nosso ser: o corpo, a mente e o espírito. Ela é a água da vida que reabastece os jardins do templo humano. (…)”

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Na Índia, o Tantrismo também foi um grande difusor da união entre Sexo e Religião. A palavra Tantra admite diversas traduções, podendo significar difundir o conhecimento, libertar da ignorância e libertar a mente. Seu objetivo é libertar o ser do eterno ciclo de nascimento e morte e sua união com o princípio divino criador. Energia. Tantrismo e o Taoísmo trabalham com o conceito de energia. Na China, o Chi (ou Qi) é componente fundamental das escolas de medicina e de artes marciais. Uma definição clássica diz que o Chi é a raiz da vida. Ele é sentido através de uma série de sensações, e mensurado por uma série de substâncias químicas produzidas por nosso corpo, porém chi não se limita nem a um nem a outro. Na Índia encontramos o conceito de Prana, que durante muito tempo foi erroneamente interpretado como respiração ou ar, mas que em verdade é o “somatório de todas as energias ou forças do corpo”, sendo os exercícios de respiração (pranayana) apenas um facilitador. Para entendermos a importância que ambos os sistemas atribuem a questão da energia, precisamos ter algum entendimento a respeito da sua cosmogonia de cada sistema. Para os taoístas, o princípio de tudo é o Wu Chi, o princípio original, absoluto, vazio e não limitado. Dentro do Wu Chi há Li, uma noção-idéia, que gera ch´i, a realização. Ch´i faz surgir a primeira manifestação de existência que é o movimento, yang. Este evolui para o seu inverso, o repouso, chamado de yin. Movimento e repouso, yang e yin se interrelacionam criando o T´ai Chi, o grande limite que é a manifestação.

    l    t    a    o    c     l    a    z    t    e    u     Q    a     j    o     L   —    s     i    t    n    e     i    r     O     i     l    p    m    e     T    o     d    r     O

No Tantrismo, temos o conceito de Brahman, que é a suprema realidade, e a Sakti que é seu par criativo e criador. Essa dualidade é expressa através do Lingam, o símbolo fálico, e o Yoni, o grande ventre, que se unem na forma de Yugala para a criação do mundo material. Nas criaturas, Sakti se manifesta na forma de Kundalini, representada pela serpente enrolada a base da coluna vertebral.

 Tantrismo e Taoísmo encar am que o tra balhar dessas energias é fundamental para que o ser possa atingir seu objetivo de libertação e iluminação. No Tantrismo, a Kundalini flui pelo corpo através dos Nadis, e se concentram em determinados pontos de energias chamados Cakras. No Taoísmo, o Chi flui através de vasos chamados meridianos, que são os mesmos da medicina chinesa, havendo determinados agrupamentos especiais com maior fluxo de Chi chamados de Tan  Tien.  Tie n. O fluxo de energia em ambos os sistemas inicia na área do períneo, passando pela região dos genitais, seguido por um circuito que varia de acordo com o trabalho que está sendo realizado. Todo o ser possui em si diferentes polaridades dessa energia fundamental, sendo o trabalho realizado através do ato sexual um potencializador, que aumenta na homem a energia feminina disponível, e o inverso na mulher. Pensando em termos de Thelema, vale relembrar a definição oferecida por John Ash Bowie que diz que [7]  “Thelema é um sistema filosófico, místico e cultural baseado em uma premissa aparentemente simples: que cada pessoa é uma projeção divina do Todo Universal e, como tal, tem dentro de si uma verdadeira vontade, que é a expressão do mais profundo íntimo. Esses atos quando genuínos estão em perfeita harmonia com toda a Natureza, e assim se faz necessário trabalhar para apreender e manifestar essa vontade, sendo capaz de viver uma vida de maior harmonia, satisfação e alegria. De muitas maneiras, Thelema é uma união perfeita de modos oriental e ocidental de pensamento. É Oriental na medida em que propõe uma forma harmoniosa de ser que flui de acordo com a natureza, muito próxima à idéia do Tao ou Wei Wu. É ocidental em que celebra o individualismo e promove a plena expressão do eu único (...) Thelema reconhece que a natureza fundamental do Universo é criativa, o que se reflete e incorpora no ato do sexo. Como tal, a relação sexual consensual é considerado um sacramento, e po-

dem mesmo ser usados para fins de devoção pessoal ou ritos de transformação. Por extensão, a liberdade absoluta para todos os adultos que consentem a praticar sexo como Vontade é um elemento cultural importante dentro de Thelema.” Aleister Crowley foi um grande estudioso dos sistemas orientais. Praticante de ioga, a partir de seu conhecimento sobre Tantrismo e Taoísmo, Crowley desenvolveu ferramentas para auxiliar o trabalho do thelemita na busca pela sua Verdadeira Vontade. Podemos citar como parte desse trabalho a tradução do Tao Te King, pérola do taoísmo, sob a figura do Liber CLVII; a busca pela significação dos trigramas do I Ching através do Liber Trigrammaton Sub Figura XVII; a descrição sobre o despertar da energia da Kundalini através do Liber LXV ou Liber Cordis Cincti Serpente. Ser thelemita é aceitar a Lei de Thelema, a lei do “Faze o que tu queres será o todo da Lei”, cuja melhor explicação é encontrada na sentença “Amor é a lei, amor sob vontade”, conforme expresso no Liber AL vel Legis. Descobrir e realizar a sua verdadeira vontade não é tarefa fácil e demanda energia, controle e persistência. O Liber AL vel Legis diz isso e deixa dicas do tipo de trabalho que precisa ser feito para alcançar esse fim. Não é preciso ser thelemita para enxergar isso. O cabalista Eric Yudelove escreveu em seu livro [8] : “Não é meu intuito analisar em profundidade O Livro da Lei. A questão é que Magick (...) tem um papel muito importante na Cabala Ocidental moderna. O Livro da Lei apresenta muitas analogias com os níveis mais elevados da Alqu imia do Tao.” A Missa Gnóstica (Liber XV) é o rito central da O.T.O. Nele, é possível encontrar heranças de diversos sistemas e culturas, incluindo o Tantrismo e o Taoísmo. Essa herança é assumida na 5ª Coleta, onde o Diácono enuncia os santos da E.G.C., sendo Lao Tsé, o escritor do Tao Te Ching, o primeiro nome a ser mencionado. Antes das Coletas, podemos ainda nos atentar à “Cerimônia de Abertura do Véu”



quando o Sacerdote conduz a Sacerdotisa ao leste e a entrona sobre o altar. Há nessa ação uma herança de uma antiga prática tântrica. De acordo com o professor Samyr Vasconcellos, “algumas linhas [do hinduísmo] também consideravam a mulher como inferior e com pouca inteligência, como os intocáveis, o que não acontece no Sakta Tantra onde a mulher é identificada com a Devi. As mulheres são respeitadas como encarnações da Deusa Mãe. Há cerimônias em que as me ninas (Kumaris Puja) ou as jovens noivas são adoradas no altar no lugar das imagens da Deusa (Sakti)”.[9]

Norte Americana, Americana,[11]  podemos encontrar um breve texto sobre usos e costumes dos thelemitas, que diz: “Embora cada  Thelemit  Thel emitaa deva dev a inter preta r o Lib er AL por p or si mesmo, a maioria dos Thelemitas considera (de acordo com a interpretação de Crowley) que cada pessoa tem uma verdadeira vontade divina, e que se cada pessoa soubesse que vontade é essa todos viveriam em harmonia”. O Liber OZ, ou Liber LXXVII, por sua vez diz que “o homem tem o direito de amar como ele quiser: “tomai vossa fartura e vontade de amor como quiserdes, quando, onde e com quem quiserdes”.

Ainda no Liber XV, é possível interpretar a consagração dos elementos feita pelo Sacerdote como uma prática herdeira do Panchamakara (Panca-Tattva), um conjunto de rituais tântricos conhecido também como “5 Ms”, devido aos seus nomes individuais: Madya, Matsya, Mamsa, Mudra e Maithuna. Cada ritual era associado a um determinado elemento, sendo o ápice o rito sexual simbólico e/ ou ritualístico como símbolo da quintessência através do Maithuna. O seu objetivo estava ligado ao objetivo original do  Tantra, o de liber tar a mente. Cada ação era realizada com vigor e força, de modo a permitir o praticante romper as amarras sociais que prendiam sua consciência – um processo semelhante ao desenvolvido na Abadia de Thelema, em Cefalú.

O thelemita tem o direito de escolher por si a melhor maneira de exercer seu sexo e sexualidade. O antigo Aeon criou rótulos que hoje causam problemas em nossa sociedade: heterossexual, homossexual, bissexual, assexual, monogâmico, polígamo, celibatário. Thelema e o Novo Aeon apostam na superação dos nomes, enxergando não uma etiqueta, mas um ser humano que exerce sua sexualidade de acordo com aquilo que sua jornada pela verdadeira vontade demandar, visto que “(...) não tendes direito algum senão fazer a vossa vontade” (Al I:42).

Sexo pode ser uma ferramenta para o desenvolvimento físico e espiritual. Thelema encara essa afirmação como herdeira de tradições antigas como o Taoísmo e o Trantrismo e, tal como estas, encara a questão do sexo como algo a ser tratado individualmente com liberdade e respeito. Todo aquele que ingressa na O.T.O. recebe a seguinte advertência: “Como expresso no Liber CI, a Ordem existe em parte para promover relações livres e alegres entre os seus membros. No entanto, a conduta sexual que não seja totalmente consentida entre adultos é contrária à liberdade e não é tolerada na OTO”. [10] Para Thelema, como fica a questão da sexualidade? Na página da Grande Loja

Mas e o casamento? Sendo o sexo e a sexualidade possíveis veículos para a espiritualidade, como Thelema entende o matrimônio? Nas palavras de Soror Helena e do Frater Apiryon: “em Thelema, o mistério do casamento é uma expressão mágica do processo divino de criação contínua do Universo, cuja fórmula é “amor sob vontade”. A cerimônia do casamento assim afirma a inerente natureza sacramental do sexo. Ela representa a devoção das energias mais poderosas da vida humana orgânica ao serviço do Amado: o revelador da verdadeira vontade.”[12]

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Referência Bibliográfica: [1] http://idgnow.uol.com.br/mercado/2012/04/

09/um-terco-do-trafego-na-internet-e-pornografia [2] Mantak Chia e W.U Wei. Reflexologia Sexual.

O Tao do Amor e do Sexo. Ed. Cultrix. [3] http://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-

-noticias/2011/11/24/pesquisa-feita-na-parada-gay-do-rio-mostra-que-maioria-nao-denuncia-violencia-contra-homossexuais.htm [4]

http://www.istoe.com.br/reportagens/60 http://www.istoe.com.br/ reportagens/60220 220  _SEXO+X+  _SEXO+ X+REL RELIGIA IGIAO O [5]

http://mulher.uol.com.br/casamento/noticia s/infomoney/2011/11/18/cresce-o-numero-de-unioes-consensuais-no-brasil-saiba-mais-sobre-a-uniao-estavel.htm [6] Bruna Suruagy do Amaral Dantas . Sexuali-

dade, cristianismo e poder . Estudos e Pesquisa Pesquisass em Psicologia da UERJ, ANO 10, 3° QUADRIMESTRE DE 2010 . [7] http://hermetic.com/eidolons/Thelema_101

[8]

Eric Steven Yudelove. O Tao e a Árvore da Vida. Ed Cultrix. [9] Samyr Vasconcellos. Curso Básico Sobre Filo-

sofia Védica & Tantra. AgBooks. [10] http://invisiblebasilica.blogspot.com.br/2012

 /09/non  /09 /non-con -consens sensual-s ual-sexual-c exual-conduct onduct.html  .html  [11] http://www.oto-usa.org/customs.html 

[12] http://her http://hermetic.com/s metic.com/sabazius/weddin abazius/wedding.htm g.htm

Bibliografia Geral:

Mantak Chia e Tao Huang. Porta Para Todas As Maravilhsas.s. Ed. Cultrix. Maravilhsa Robert C Sohn. So hn. O Tao e o T´ai Chi Kung. Ed. Pensamento.  Aleister  Aleis ter Crowley Crowley.. Magick. Magick.

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    8 FRATER  EROS

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    l    t    a    o    c     l    a    z    t    e    u     Q    a     j    o     L   —    s     i    t    n    e     i    r     O     i     l    p    m    e     T    o     d    r     O

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FRATER  EROS

: & P SIQUÊ O EROTISMO DA  ALM  ALMA  A  ROS

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 A  I  AL MA  RUMO RUMO À   À  O MITO DE EROS E PSIQUE DETALHA  A   INICIAÇÃO DA  ALMA  DA SEXUALIDADE SEXUALIDADE , DOS MISTÉRIOS DO BELEZA ,  ATRAVÉS DO ENTENDIMENTO DA  EROTISMO E DO DO AMOR   AMOR 

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mito de Eros e Psique foi imortalizado pelo autor romano Apuleio, atingindo um tom eficiente entre conto de fadas e imagens mitológicas. É nesse meio-termo entre simplicidade de romance e o peso de seu enredo, cheio de consistência arquetípica e, portanto, atemporal, que o drama d e Eros e Psique estuda a Iniciação da alma. Muitos modelos anteriores abordaram a Iniciação, ou a viagem do heroi, dentro da trajetória clássica da saída do lar da infância para, através dos perigos da  jornada,  jornad a, rumar à sabedoria sabe doria . A saga de Psique, embora embor a contenha todos os elementos dessa viagem, apresenta de modo singular a luta psíquica travada dentro da própria alma: a aspiração e os mo vimentos desta alma vistos a partir de sua relação com sua própria sexualidade e com o seu iniciador e amante, Eros, o próprio Amor, cujo crescimento também está expresso no mito. De mod o ímpar e emocionante – falando, por tanto, à linguagem da psique –, vemos os processos de transformação desta alma dentro de si mesma, através de degraus que alçam o erotismo (cuja etimologia remete, naturalmente, a Eros) ao nível da espiritualidade. Antes de tudo, é importante analisar a natureza de cada um dos personagens de nossa história, indo além da versão descrita por Apuleio. Afinal, as diversas versões de temas mitológicos não devem ser vistas como contradições, mas como pontos de vista que apenas acrescentam à essência de um conceito que, sendo arquetípico, não poderia ser contemplado totalmente por uma só pessoa ou versão, mas é passível de ser vivido por todos: a mesma força experimentada em diferentes circunstâncias. Toda mitologia, no fim, é um processo vivo que exprime nossa espiritualidade através de símbolos, sendo um desserviço para nós mesmos se a entendêssemos como histórias fixas, encerradas no passado.

Eros Eros, deus grego do Amor, foi descrito através de diversas ge-

nealogias. Hesíodo, em sua Teogonia, o considera como filho do Caos, sendo, portanto, um deus pré-olímpico. Associado aos primórdios da criação, antecedendo mesmo os Titãs, sua força de coesão e união seria fundamental para a criação do cosmos. Já Platão descreve outra origem, ilustrada no bastante poético discurso de Sócrates. Numa festa suntuosa realizada no Olimpo, em honra à Afrodite, os d euses se embriagaram de néc tar, o licor divino dos imortais. Após o grande banquete, Poros, a Riqueza, acabou adormecendo. Pínia, a Pobreza, o encontrou nessa condição e, carente de tudo o que Poros representa, uniu-se a ele. Assim teria sido concebido Eros: uma síntese entre a saciedade e a carência, entre o muito e o pouco. Ainda no discurso de Sócrates, Eros também é mencionado como o “mais belo dos deuses” e como um “poderoso demônio”. Se Platão considerava o “Belo” como sendo o “Bom”, temos nesta Beleza uma impor tante marca de virtude. Já demônio, ou daimon, daimon, por sua vez, era entendido como toda força situada entre os deuses e a humanidade, entre o imortal e o mo rtal. Eros surge, então, como uma ponte que realiza a união entre o mais alto e o mais baixo. Por isso, ele é também o motivador da filosofia, levando os homens da ignorância até a sabedoria, graças à inspiração incitada pelo amor à Beleza. Sendo o Amor fruto da riqueza e da pobreza, ele integra em si a contradição de seus pais, tendo em si sempre a saciedade, mas estando também sempre em falta de algo. É exatamente esse paradoxo que motiva a busca dos filósofos – como também a dos Iniciados. Vale notar que esse discurso de Sócrates lhe foi transmitido pela sábia Diotima de Mantineia, o que, belamente, indica a Iniciação de Sócrates ao Amor através de uma companheira – não sendo apenas a indicação da Iniciação do homem pela mulher, mas também a Iniciação do indivíduo pelo “outro”, isto é, pelo espaço até então desconhecido. No conto de Apuleio, Eros é filho de Afrodite e de Ares: mais uma vez, princípios opostos. Vale notar que Afrodite também é uma

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deusa do amor, embora sua manifestação tenha diferenças daquelas de Eros. Afrodite é uma deusa altamente vinculada à fertilidade, sexualidade e lascívia. Um de seus aspectos, Afrodite Pândemos (“de todo o povo”) ou Pandemia, rege o amor como uma meretriz, dando-se à completa luxúria, suas sacerdotisas sendo prostitutas. Afrodite Urânia, por sua vez, rege um amor sublime e celestial, um amor ideal, além da carne. Temos pistas das diferenças do Amor representado por Afrodite e Eros em outros comentários sobre o deus. Visto como um jovem e astuto caçador, seu aspecto mercurial está constantemente em evidência. Além disso, a sua principal arma é a flecha, com a qual ele arrebata corações. Mais do que uma diversão romântica, seu poder seria temido não só pelos mortais, mas pelos deuses. Assim, temos Eros como o portador de um símbolo fálico: a flecha. Sendo o phallus uma representação de completude, totalidade e, p ortanto, poder, e sendo o ato de unir os apaixonados uma atitude trickster  ou mercurial – traiçoeiro, porém misteriosamente divino –, podemos facilmente identificar Eros como um mensageiro, aquele que realiza a união, e também um psicopompo (guia de almas). Não à toa, como logo veremos, sua gr ande amada é Psique, a alma. No começo, Eros é um agente de sua mãe, Afrodite. Não é coincidência que suas naturezas sejam tão próximas. Eventualmente, o desenvolvimento de Eros – para o qual Psique é imprescindível – o alça além do lar materno (o conforto, o lugar de origem) e estabelece sua individualidade. Embora o “erotismo” associado a Eros indique o tesão dos corpos, sua relação com Psique o eleva à espiritualidade. Mesmo para Sócrates, a busca pela Beleza começaria em objetos circunstanciais, como nos corpo de nossos amantes. Gradualmente, superado o deslumbre das formas, se alcançaria o entendimento da Beleza além de suas representações: a Beleza em si mesma, vinculada a um estado de sabedoria e êxtase do próprio observador. Do mesmo modo, Eros, com seu aspecto ativo, inquieto e dinâmico, indica essa progressão, representando mais um caminho entre as paragens da Beleza, em vez da lascívia deliciosa, mas sem rumos, de sua mãe. Uma das atribuições feitas por Crowley à influência de Vênus a define como “esplendor exterior e corrupção interior”. Nisso residiria a armadilha de Afrodite. Sendo Eros o direcionamento deste Amor, ele permite sua escalada, ou sua progressão rumo ao transcendente. Seu Amor está apontado na forma de flecha, e sua intenção tem sempre um alvo, sendo, portanto, um amor sob vontade.

Psique     l    t    a    o    c     l    a    z    t    e    u     Q    a     j    o     L   —    s     i    t    n    e     i    r     O     i     l    p    m    e     T    o     d    r     O

Chegamos, então, a Psique. Filha de um rei e de uma rainha, sua beleza era tão marcante que “a voz humana não tinha palavras para expressá-la nem ponderá-la adequadamente”. Sua fama se tornou célebre, e o povo peregrinava para adorá-la. Chegaram a tomá-la como uma deusa e eventualmente confundi-la com a própria Afrodite. Foi tal confusão que despertou a represália de Afrodite sobre Psique, atribuída à inveja. Esse começo de história  já no s sinali za algo a lgo impor tante: a conf usão dos adoradore ador adoress entre ent re Psique e Afrodite. No seu livro “Sobre Eros e Psique”, o psicólogo

Rafael López-Pedraza sugere que essa confusão se relaciona a um estado de consciência iniciante, que toma a alma (Psique) como exatamente idêntica à sexualidade (Afrodite). Psique representa uma beleza diferente daquela de Afrodite: a beleza da alma. No entanto, “é como se houvesse um altar a Psique, mas ao ver a imagem de Psique ela é confundida com a de Vênus”. Essa é uma relação interessante, pois ao mesmo tempo que o mito estabelece inegavelmente uma semelhança entre as duas, também estabelece que a confusão entre elas desencadeia a tragédia da atenção hostil de Afrodite sobre Psique. Esse drama, no entanto, é essencial para a Iniciação de Psique. Pedraza diz: “Veremos que Psique é esporeada por Vênus, como se o sexual estivesse constantemente mortificando o psíquico e aprofundando a confusão inicial. E, ao mesmo tempo, o contínuo e sistemático tormento de Vênus pode ser visto como motor de Psique, pois constantemente a impulsiona para aprender do psíquico”. Aqui entra a atuação de Eros, descrito i nicialmente como um pérfido e amoral garoto que atua sob os humores da mãe. Ele voa à noite, de casa em casa, incitando escândalos e perturbando matrimônios. Aparecendo exatamente como um direcionamento ou poder da intenção de Afrodite, sua mãe comanda que ele a vingue, fazendo com que Psique “se apaixone perdidamente pelo último dos homens (...) um ser abjeto que não possa achar no mundo inteiro outro desgraçado comparado a ele”. Ironicamente, é Eros quem se apaixona perdidamente po r Psique. Ainda desconhecendo os bastidores divinos, Psique vive uma situação melancólica. Ela não tem alegrias. É tão exótica que não pertence a este mundo. Chorosa em casa, ela vive mais vítima da incompreensão de sua própria beleza do qu e realmente gozando das adorações a ela dirigidas. Psique sofre porque espera, sem saber exatamente o quê. Enquanto o Amor não entrar em sua vida, ela está condenada à insustentável leveza de sua falta de sentido. A atenção do Amado lhe trará excitações e perigos, mas trará também sua própria Iniciação, o conhecimento da alma. De forma similar, nós encontramos Lola Daydream em “O mundo desperto”, de Aleister Crowley. Crowley. Ela, que é a Virgo Mundi, ou a Noi va arquetípica, no começo divaga entre sonho e realidade, num sonambulismo, até que comece a acordar mais e mais graças aos beijos do Amado, seu Príncipe. O pai de Psique, supondo que a situação da filha só poderia se dever a uma maldição divina, vai consultar o Oráculo de Apolo. A revelação e a recomendação recebidas são especialmente intrigantes: “Sobre um rochedo (...) da montanha, instale (...) um tálamo fúnebre e nele sua filha adornada com ricos trajes. Não esperes um genro de estirpe mortal, mas um monstro cruel com a ferocidade da víbora, um monstro que tem asas e voa pelo éter, que semeia inquietude por todas as partes, que destrói tudo metodicamente a sangue e fogo, diante de quem treme o próprio Júpiter, se acovardam atemorizadas as divindades e retrocedem horrorizados os rios infernais e as trevas

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do Estige”. Vemos que Eros mudou. Se antes ele foi apresentado como um menino traquina, agora ele é uma besta, uma força selvagem diante da qual tremem os deuses. O amor por Psique o transformou: do mesmo modo que o dragão que sequestra princesas, seu tom agora é de perigo monstruoso. Sua aparente frivolidade de outrora se tornou profundidade. Além disso, sua representação como serpente é de energia sexual em seu aspecto mais profundo. O erótico é vivido como uma fera diante da qual Psique será sacrificada.

 A Iniciação Iniciaç ão e o Palácio Psique precisa passar por um processo de morte, no alto de uma montanha, num tálamo fúnebre. Essa é uma alegoria iniciática clara. Psique está entregue à própria sorte, prometida a um estranho casamento: a Iniciação vivida como um rapto, ou abdução, que é a mor te da vida antiga. Essa situação se afina muito com os mistérios de Eleusis, onde Hades, o deus do submundo, sequestra Perséfone quando ela deseja a Beleza na forma de uma flor de narciso. Como veremos, a Beleza será importante em toda nossa história, e é crucial desde já para montar o cenário da Iniciação entre Eros e Psique: ele, encantado pela beleza da alma e ela, que sonhava na sua espera incerta, vítima de sua própria beleza. Entregue naquela rocha, ela está finalmente por conta própria, fora da esfera f amiliar. No tálamo, como uma oferenda queimada no turíbulo, Psique é a devoção que se dirige para o alto. Devidamente sublimada, é Zéfiro, o vento do Oeste (a terra dos mortos) que a transporta para o Palácio do Amado. A serventia do vento Zéfiro a Eros acentua, mais uma vez, seus domínios aéreos e mercuriais. Como o  pneuma grego,  pneuma  grego, ele sopra sem aparente origem, tudo penetrando, a tudo insuflando vida. Em linguagem alquímica, ele é o próprio espírito realizando sua união com a alma. Se Psique é a devoção que ascende para os céus, Eros é a graça que desce para receber a oferenda: juntos, eles formam o sagrado hexagrama, ou a união dos opostos. O Palácio do Amado é, então, descrito em termos idílicos, mas a felicidade do casal é realizada de forma inconsciente, sem que Psique jamais veja Eros. Ele vem visitá-la na escuridão da noite, onde gozam juntos, mas ele permanece sempre velado. Muitas vezes o deus se apresenta como uma voz sem forma, gasosa. Psique está num êxtase estático, onde tudo é vag o, etérico e ela não sabe o que se passa. Por um lado, ela está possuída pelo deleite, por outro, a relação inconsciente entre ela e Eros gradualmente faz com que ela se veja como prisioneira do luxo, privada, nessa estranha situação divina, de toda conversação humana, principalmente com sua antiga família. Por um lado, a melancolia de Psique retorna, por outro, a atitude de Eros, agindo como “poderoso demônio” nesse estado de inconsciência, só lhe agrava a depressão. O jogo dos amantes se complica entre prazer e incompreensão.

Encurtando esta parte narrativa da história, sabe-se que Eros permite o contato de Psique com o mundo mortal e as irmãs de Psique acabam invejando a situação dela, bem como a aparente riqueza de seu marido. Como nunca de fato o enxergara, Psique se deixa influenciar pelo ardil da sua sombra – sombra – apresentada na forma de suas irmãs –, de que o seu esposo seria de fato um monstro que a estaria alimentando apenas para devorá-la. Seduzida pela desconfiança, Psique toma uma lâmpada e uma faca, espreitando o leito escuro durante a noite, a fim de revelar o seu esposo e então matá-lo. Sua surpresa e descuido ao ver o “mais belo dos deuses” são tais que um pingo de azeite é derramado de sua lâmpada, caindo em Eros, queimando-o e o acordando. Ao mesmo tempo, numa cena muito poética, Psique tromba e se fere com uma das flechas do deus, apaixonando-se fatalmente pelo próprio Amor. Os dois enfim se veem e estão adoe cidos, cada um ao seu modo, pela “feri da do Amor”. De acordo com Pedraza: “Olhar-se um ao o utro, ferir-se e machucar-se: esse impacto (...) é demais para ambos e faz com que se separem dos laços inconscientes”.

 M  a  t   é    r   i    a  d   e  C  a   p  a

Geralmente se lê essa parte da história como uma tragédia: Eros, sentindo-se traído, voa para longe, o Palácio desaparece e Psique se encontra desolada. No entanto, a lâmpada, ou luz, foi a arma fundamental para Psique prosseguir em sua jornada de maneira consciente. A faca, como arma de corte ou análise, também foi fundamental para libertá -los dos “laços inconscientes”. inconscientes”. A visão de Psique, por um lado, a faz tomar ciência de seu amor, por outro realiza a separação. Em vez de tragédia, seria mais oportuno entendermos esse desencontro dos amantes pelo conceito hindu de “Līlā”, o jogo divino entre Shiva e Shakti: a cisão do Grande Casal, cujo objetivo é somente garantir o prazer do reencontro. Afinal, eles se dividem apenas por causa do amor, pela chance de união. O Palácio de Eros se assemelha muito ao Palácio do Graal. A experiência de qualquer heroi neste local, quando se dá de maneira inconsciente, é sempre incompleta e facilmente perdida. Parsifal, em sua primeira incursão ao Palácio do Graal, mata o Cisne, símbolo do êxtase. Psique também matou o seu êxtase: mas o que pode ser visto como erro grosseiro foi apenas um processo de sua inconsciência, e um passo essencial para que ela seguisse a sua viagem de maneira lúcida e, mais tarde, pudesse reatar com o Amor em escala ainda mais elevada. A presente etapa da história termina de maneira particularmente iniciática, com a revelação do próprio Eros a Psique de que e la estaria grávida. A alma está, afinal, gerando algo inteiramente novo em si mesma.

Os Desafios Desa fios de Psique Como a consciência que padece de uma “noite escura da alma”, Psique desejou o suicídio. O suicídio não deve ser visto simplesmente como uma desistência infantil, mas como uma vontade de morrer – ou seja, de se transformar – em forma de urgência. Esse

E   s   t   r   e l     a R   u  b  i   

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impulso de morte é essencial para as transformações de Psique. Ela tenta se afogar se atirando num rio – sendo as águas o símbo lo da emoção – e, de maneira muito peculiar, é o deus Pan que eventualmente a socorre: exatamente o deus que povoava antigos pesadelos e que regia, naturalmente, o pânico. Psique precisa fazer uma aliança íntima com a selvageria vinda do desespero. É da presença primitiva e assustadora de Pan – a Natureza em seu aspecto todo criador, todo devorador – que ela recebe o conselho de ser humilde diante de Eros. Esse trecho tem sido muitas vezes entendido como uma apologia à submissão de Psique aos caprichos do Amor. No entanto, qualquer inteligência que enxergue em Psique mais do que suspiros e melancolias (modo este de vê-la que reflete um modo penitente de ver a própria alma), vai perceber que essa rendição é a paciência em prol daquilo que está sendo engendrado: tanto o filho que é fruto daquela relação, como o autoconhecimento da própria Psique – que são, na verdade, a mesma coisa. Falando por outra linguagem, em termos cabalísticos, Psique se afina muito com Nephesch, a alma sensorial, ligada às experiências no mundo material. Não à toa, seu êxtase com Eros era mais sensitivo que lúcido. Nephesch precisa conhecer a si mesma e estar equilibrada em seus elementos constituintes a fim de receber sem resistência a infusão de Ruach, o espírito, aqui representado por Eros. Por isso a paciência da alma, que é na verdade a sua elasticidade e capacidade de adaptação, é algo tão importante. Esse casamento realizado de modo perfeito eleva ambos além do que eles imaginariam. Mas Psique, para gerar o novo em si, vai precisar lutar para garantir as suas condições ideais, do mesmo modo que nós precisamos trabalhar para criar a partir de nosso estado caótico inicial.

Enquanto isso, Eros, ferido, retornou aos cuidados de Afrodite. Ela, diante disso, vocifera contra o filho, condenando seu amor por uma mulher que ela não aprova, chegando a ameaçá-lo de despojá-lo de seus equipamentos – asas, flechas e tocha – para dá-los a um escravo qualquer. Isso representa um retrocesso ao complexo materno. O retorno à mãe pode significar tanto uma fonte de nutrição como um conforto sufocante. Aqui, vemos a ameaça da castração, de ser despojado de seus poderes. O mais importante é que esse estado representa uma dissolução, de modo que no complexo materno não há possibilidade de psique, ou seja, de movimento no sentido de a alma se tornar consciente. A fragilidade de sua relação com Psique arrebatou o poder do Amor à escuridão materna. O poder fálico, ou a vontade direcio    l    t    a nada, está aqui diluída no inconsciente. Eros, temido pelo próprio    o    c     l    a    z    t Zeus, também passa por sua noite negra.    e    u     Q    a     j    o     L

  —    s     i    t    n    e     i    r     O     i     l    p    m    e     T    o     d    r     O

Psique vaga, realizando o conselho de Pan. É num templo de Deméter (mãe de Perséfone, que, como já vimos, tem uma história afinada a de Psique) que ela aprende sobre o metodismo do trabalho e sua sacralidade. Deméter é deusa da agricultura, o que nos indica que o esforço de Psique deve ser labo rioso e contínuo, como o trabalho do arado. Essa disciplina é tão impor tante que é

exatamente o meio pelo qual sua comunicação com os deuses é realizada. Graças a isso, Psique pode confrontar Afrodite. Graças à constância da disciplina, a alma pode iniciar-se adequadamente nos mistérios da sexualidade. A princípio, Psique é recebida por uma das escravas mais cruéis de Afrodite. Seu nome é Costume, e ela é a primeira a hostilizá-la. Não é raro, afinal, conhecer psiques escravas do costume. Tabus e obsessões sexuais escravizam dessa forma. Em seguida, Psique passa para as mãos de outras servas: Ansiedade e Tristeza. Não é raro, mais uma vez, encontrar psiques escravas de seus humores, mutantes como a maré da libido. Somado a isto, Afrodite debocha do filho que Psique espera, reduzindo-o a um bastardo. As humilhações culminam na designação de trabalhos encomendados especialmente para destruí-la. Os grãos:  Psique deve classificar e ordenar, no prazo de uma só

noite, uma montanha de diferentes grãos. Essa é uma imagem que evoca fragmentação e dissociação – um estado mesmo de loucura e improdutividade. O ímpeto consciente de Psique fica extenuado com a tarefa, e ela ado rmece. No entanto, um exército de formigas – símbolo c tônico e subterrâneo – surge para realizar devidamente a missão. Mais do que uma ajuda mágica a Psique, isso designa a função da alma apropriada à natureza da tarefa. Afinal, nossa psique de fato se organiza graças ao esforço racional do ego, ou à aspiração da vontade que jaz inconsciente, movendo nossas peças num esforço silencioso? A lã de ouro:   No seu segundo trabalho, Psique deve coletar

um tufo de lã do velocino de ouro. O velocino, ou carneiro, está associado a Áries, uma energia colérica e marcial. Se pensarmos nela como sexual, temos no velocino de ouro o enxofre em seu aspecto mais instável e explosivo. Afrodite pretendia destruir Psique pela exposição a essa energia. Áries está também associado ao início da Primavera, ou o raiar do Sol: ou seja, uma exposição à luz da consciência. No entanto, o aspecto destrutivo e árido da energia solar também é representado mitologicamente, como, por exemplo, na deusa egípcia em forma de leoa, Sekhmet. Exposta diretamente a essa energia – que pode ser entendida como a força da própria libido d e Psique –, ela seria consumida. Psique, a princípio, desespera-se. Períodos de desconsolo são naturais no processo iniciático, assim como são os momentos de expansão da consciência. O desespero de Psique, no entanto, continua representando uma chave. Assim como a sua primeira depressão suicida a fez se instruir diretamente com Pan, esse novo momento de desolação a permite ouvir a voz de Cana, que outrora foi a musa Syrinx, perseguida pelo amor de Pan e transformada em cana para ser salva das investidas do deus. Ou seja, a melancolia de Psique a habilita a ouvir uma suave voz interior: o som do mesmo material que foi eventualmente usado por Pan para fazer sua flauta encantadora. Mais uma vez, o mundo selvagem a instrui a respeito de sutileza. Essa voz lhe ensina que ela deve esperar “o sol perder sua força do meio-dia”, até que os

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carneiros descansem e ela possa recolher em segurança seus tufos presos em galhos de árvores. O melhor modo de Psique compreender o poder sexual é pela estratégia, esperando passar o auge de seu poder, relacionado ao meio-dia do Sol. Feito isso, ela consegue a lã de ouro. O rio Estige:  Não satisfeita, Afrodite ordena que Psique traga um

frasco das águas do rio infernal Estige, que são revoltosas e ameaçadoras. Em “Os deuses gregos”, Karl Kerényi relaciona a palavra Estige com “ódio”. Dessa vez, a exposição ao ódio é a ameaça a Psique. O rio Estige foi onde outro heroi antigo particularmente destrutivo, Aquiles, foi batizado. O cenário pantanoso também sugere a decomposição da mor te: isto é, Psique precisa aprender a usar a força mortal de seu ódio, através da incursão no brejo de si mesma. O interessante é que, petrificada pelo caminho íngreme, a sua ajuda vem do mais alto: a ave real de Júpiter, que devia gratidão a Eros, intervém diretamente pela esposa do deus. Esse trecho nos dá uma pista interessante: a presença de Eros, mesmo indireta – ou inconsciente – continua atuando por amor à sua esposa. A água é assim recolhida, e Afrodite precisa aceitar a consecução de Psique. A Beleza de Perséfone:   Como último trabalho, Psique deve

se dirigir ao submundo e, numa caixa, retornar com a beleza de Perséfone, esposa do sombrio Hades. Esse é um trecho muito interessante: Afrodite lhe designa essa função pois confessa que sua beleza estaria esgotada, tendo-a gastado para curar Eros. A Beleza, mais uma vez, surge como tema imprescindível, dessa vez vista como alimento ou medicina do próprio Amor. A Beleza, nesse contexto, apresenta-se quase como o néctar divino, o vinho dos deuses. E é exatamente no lugar mais sombrio que Psique deve obtê-la. Sem saber exatamente como descer aos infernos, Psique se dirige ao alto de uma torre. Ela pensa que se atirar dali seria a via mais direta para o submundo. O fato de termos aqui uma torre nos é especialmente interessante: é, mais uma vez, um símbolo fálico. O arcano de Tarô “A Torre” se refere exatamente à destruição de uma falsa completude: a ilusão de totalidade que erguemos, mas que em vez de glória se tornou um cárcere. É exatamente diante da intenção de morrer ali que a Torre lhe fala, advertindo-a que, se descer aos infernos dessa maneira, ela nunca po deria retornar. Já vimos que Eros é um deus fálico e com alguns atributos de psicopompo (guia de almas). A instrução da Torre se afina, mais uma vez, à atuação erótica indireta, como também a Hermes, o deus mensageiro, que também é fálico e psicopompo: seu talento de transitar entre os mundos pode instruir devidamente Psique sobre como realizar sua tarefa. As orientações recebidas são várias. Psique deve entrar no submundo por uma caverna – símbolo clássico da vagina e da entrada no inconsciente – e ir precavida: deve levar em cada mão um bolo de farinha com vinho e mel, além de duas moedas na boca. Ela é advertida de que irá encontrar um asno e um con-

dutor, ambos coxos, que vai lhe rogar que apanhe lenha, ela devendo ignorá-lo. Deverá passar o rio da morte, onde o Caronte deverá apanhar diretamente uma moeda da sua boca. Nas águas infernais, um velho morto irá implorar pela sua compaixão, mas Psique está proibida de se apiedar. Velhas fiandeiras lhe suplicarão que estenda a mão para tocar em seu trabalho, mas ela, novamente, não deve intervir. Todos esses são truques de Afrodite para que Psique perca de suas mãos um dos bolos d e vinho e mel que leva consigo, que são sua entrada e saída do submundo. Por último, ela encontrará Cérbero, o cão infernal, ao qual deve dar um dos bolos na ida e o outro na volta. Após isso, terá chegado à casa de Perséfone, que lhe oferecerá um banquete, mas Psique deve rejeitá-lo, sentar-se no chão e se contentar com um pão. Deve então requisitar a Beleza que veio buscar, guardá-la na caixinha e fazer o caminho de volta, sendo proibida de abrir a caixa para espreitar seu conteúdo.

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 Temos aqui aq ui uma série de temas impor tantes. A descida d escida ao mundo das trevas é um ponto crítico na viagem dos herois, e Psique, portanto, deve realizá-la. As instruções são precisas, como coordenadas para uma viagem segura num lugar perigoso. As moedas para o Caronte frisam como toda incursão ao submundo tem um preço e devemos estar precavidos dele, uma vez que ingressar na aventura sem pagá-lo seria trágico. Já os bolos de farinha, vinho e mel que ela leva consigo para saciar Cérbero – símbolo dos instintos mais primitivos – contêm elementos de doçura (mel) e de embriaguez (vinho), parecendo sugerir uma fórmula para lidarmos com os instintos. Curiosamente, os ingredientes também se assemelham às instruções passadas pelo Liv ro da Lei: “Para fazer perfume mistura farinha & mel & espessas sobras de vinho tinto” (...) “Isso queimai: disso fazei b olos e comei para mim” (Liber AL III:23,25). Na Missa Gnóstica – rito central da O.T.O. –, os Bolos de Luz são feitos desses ingredientes e podem simbolizar os óvulos da Sacerdotisa, isto é, o poder gerador da mulher. O trajeto de Psique já deixou claro que sua história é de descoberta sexual. Por fim, cada um pode arriscar por si só fazer analogias entre esses símbolos, refletindo como a viagem aos mundos infernais demanda um direcionamento do poder gerador. Além disso, temos o condutor e seu asno coxos, que, segundo Pedraza, são um símbolo de Saturno, refletindo um peso depressivo pelo qual Psique d eve passar sem se identificar. Também vale lembrarmos que o asno é uma forma d o deus egípcio Seth, associado tanto à destruição como à desolação d o deserto. Na travessia das águas da morte, um moribundo i mplora por piedade, mas os mortos devem ser deixados aos mortos. A fantasmagoria das lamentações deve ser ignorada. A se guir, temos as velhas fiandeiras do submundo, imagens clássicas das Moiras, ou Parcas, que fiam o destino dos homens e mesmo dos deuses. Não tocar no trabalho delas sugere como Psique deve permitir o fluxo natural das coisas, sem buscar controlá-lo. A possibilidade de interferir nessa fiação representaria uma espécie de “siddhi” de Psique, ou poder de interferir no destino. Ela deve, no entanto, entanto, abrir mão da tentação do poder para investir sua energia em seu único norte.

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Por fim, ela chega ao salão de Perséfone, que a recebe com hospitalidade suntuosa. Temos aqui um tema recorrente em outras histórias. O banquete oferecido deve ser recusado: render-se às delícias do submundo faria Psique se identificar com aquele local e se esquecer do seu objetivo. A própria Perséfone selou seu elo com o submundo quando consumiu sementes de romã dali. Podemos lembrar também dos tripulantes de Ulisses, transformados em porcos pela feiticeira Circe, tendo ela os seduzido pela embriaguez do banquete. A comida, em termos arquetípicos, estabelece uma ligação ou pacto com aquele que o oferece, muitas vezes sendo uma armadilha. Psique deve, po r isso, resistir às delícias oferecidas – ou seja, um sem número de estímulos diversos – e se concentrar no tesouro secreto, a Beleza. Em termos gerais, a atitude da jornada deve ser de simplicidade e concentração. Chegamos ao auge de nossa história. É entregue a Psique o tesouro de Perséfone, mas, no caminho de volta, sua curiosidade faz com que ela abra a caixa onde a Beleza estava contida, contrariando as instruções recebidas. Nesse momento, o vapor exalado da caixa faz com que ela caia num desmaio profundo. Alguns autores costumam acentuar a curiosidade pueril de Psique, que, prestes a consumar sua última tarefa, desperdiçou tudo o que havia conquistado. Mas, na verdade, a conquista dessa Beleza, ou do entendimento dela, é exatamente o ponto crucial de todo o enredo: Psique era vítima da incompreensão de sua própria beleza, e Eros, “o mais belo dos deuses”, é o seu amor. A sua descida aos infernos sempre foi a busca do reencontro com Eros e, ao mesmo tempo, uma jornada de compreensão da Beleza. E o tesouro de Perséfone, agora par te de Psique, é a consciência de sua maturidade: o vermelho daquela romã ingerida po r Perséfone, na verdade, refere-se ao conhecimento do ciclo menstrual, o ciclo de vida e morte dentro da mulher, de modo que ela, ao matar mensalmente vidas em potencial, tem neste derramar de sangue uma oblação ao deus oculto, Hades. Psique, assim, se torna realmente consciente de sua sexualidade, de seu erotismo, de seu poder como mulher, de si mesma. Podemos inferir que, com esse conhecimento, ela finalmente venceu as ameaças de Afrodite. Abrir a caixa foi, na verdade, o seu ato de vitória, o que garante o reencontro devidamente amadurecido com o Amado, que vem até ela.

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No entanto, Psique desfalece. Mais uma vez ela passa por uma situação mortal. Esse encontro de Eros com Psique através da morte vela a importante dinâmica de Thanatos, o deus da morte, e a forma como ele está implícito em Eros. O primeiro ritual do encontro entre Psique e Eros, no alto daquela montanha, foi numa cama funerária e, dessa vez, no coma de um abraço no inferno. Ao longo de sua jornada, Psique foi sempre instruída cada vez que desejou a Morte. Amor e Morte caminham juntos. Amar é permitir a morte do eu para iniciá-lo no espaço do “outro” – a morte é o método que p ermite o eu se abrir para o amor. O preço do Amor são bodas mortais. Psique seguiu o conselho inicial de Pan: ela entregou tudo de si mesma incondicionalmente e, graças a esse amor, se uniu a Eros.

O casamento Eros, devidamente curado de sua ferida, intercede por Psique diante do próprio Zeus. Vemos a progressão do Amor, não mais como menino, também não como besta vaga ou perigosa, mas como um deus ativo, resoluto e independente. Zeus aceita os termos e Psique é conduzida por Hermes até o Olimpo, onde é consagrada imortal, num banquete de casamento onde tod os os deuses são convidados, inclusive Afrodite, já pacificada. A Alma e o Amor têm, enfim, sua apoteose. A filha de ambos, enfim nascida, se chamou Voluptas, ou Volúpia: um daimon poderoso, como seu pai. Um de seus outros nomes é Hedonê, ou simplesmente Prazer. O Prazer é saciedade absoluta, tanto do corpo como do espírito. É a alma satisfeita pelo erotismo. O Prazer é o fruto da Alma unida àquela força que verdadeiramente a gera: o Amor. O Prazer é a Eucaristia produzida pelo equilíbrio desse casamento. Na carta Seis d e Copas do Tarô, “Prazer”, encontramos exatamente essa consumação, que é da vontade sexual num sentido de total realização emocional, o que Crowley descreve como “uma das chaves mestras para o Por tal da Iniciação”. A história de Eros e Psique é completa, isto é, pode ser aplicada em todos os campos de nossas vidas. Do mesmo modo, a Iniciação reside nos atos mais simples. Que a história desse casal possa nos inspirar sobre as mudanças da alma, a compreensão da Beleza e o consumo do Sacramento de Prazer obtido através do amor.

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SOROR VAJRA PADMA

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UM BREVE ENSAIO METAFÍSICO

 A  DUALIDADE E LHE PERMITE PERMITE A   A EXPERIÊNCIA  EXPERIÊNCIA  O ÊXTASE ERÓTICO REINTEGRA  A DUALIDADE DA UNIDADE DA  UNIDADE PRIMORDIAL NA  NA QUAL QUAL O HOMEM PERFEITO SE ENCONTRA .

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coração desempenha um papel fundamental na história das relações humanas, humanas, tendo sido sempre usado como símbolo do amor e, em especial, como sede da energia conhecida como Eros, força propulsora que desloca a nossa consciência da sede da individualidade, o coração, e a projeta no objeto de desejo. Esse deslocamento é consequência de uma ruptura nos muros que mantinham a nossa individualidade coesa e segura, ou seja, uma abertura do coração para a possibilidade da existência e participação do outro na nossa experiência de vida, afetando a nossa realidade que passa a funcionar não mais apenas em função do “Eu”, mas do “Nós”. Não é sem razão que o hieróglifo que representa o apaixonamento é um coração traspassado por uma flecha, do mesmo modo que não é sem razão que a arma de Eros é a flecha a ser lançada no coração daqueles que necessitam uma abertura e ampliação de seus níveis de consciência. consciência. Cada despertar do Eros concentrada no nível humano provoca uma saturação de energia a nível psíquico provocando provocando uma tensão traduzida como um sofrimento que acompanha o êx tase, uma força implacável

que arrasta a alma num desejo insaciável que ultrapassa até mesmo o estado de prazer. As grandes paixões humanas implicam implicam numa projeção simbólica do “Si mesmo” sobre uma outra pessoa, ou seja, a pessoa é amada como se fora um Deus, levando a uma idolatria que exige que o símbolo do absoluto se concentre na humanidade do ser amado. Nestes casos, o impulso de Eros deixa de ser uma ferramenta de transmutação para se concentrar num fenômeno fetichista que vampiriza os amantes e os leva a estados sexuais perigosos de escravização mútua. O que ocorre na paixão humana nada tem a ver com o objetivo que se procura alcançar nos ritos de sacralização sexual onde a libido dos parceiros é direcionada para os símbolos do homem e da mulher absolutos, estes sim, cadinhos potentes capazes de suportar a intensidade da fermentação libidinal onde o indivíduo adquire qualidades especiais em contato com realidades superiores de manifestação. Ao longo da construção cultural humana verificamos inúmeros roman-

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  o   g    i    t   r    A

ces literários em que a intensidade do amor leva os amantes a tragédias eminentes, eminentes, e em nossa rotina diária não são poucos os relatos que nos chegam de histórias de amor intensas que acabaram em crises agudas com consequente desmoronamento da relação. Isto se deve ao fato de que a idealização do parceiro foi de tal intensidade que exigiu dele valores que não pertenciam à sua constituição humana e, portanto, impossíveis de serem concretizados, dissolvendo-se a ilusão diante de qualquer fato traumático que venha a ocorrer. Os parceiros relatam então terem se desiludido com o outro, imaginaram algo que o outro não confirmou em atitudes. Eis aí o componente trágico do amor humano e um dos grandes motivos para o fluxo de dor e solidão que assola a humanidade e que vem se intensificando através dos séculos, culminando em nossos dias com o medo pandêmico dos relacionamentos, relacionamentos, pelo qual o indivíduo opta em permanecer sozinho ou desenvolver relações superficiais onde apenas as necessidades fisiológicas são saciadas. Pensando evitar uma tragédia, julgo que se penetra em outra ainda maior de consequências consequências ainda mais abrangentes, pois tende-se para uma neutralização da sensibilidade humana, um Eros não tensionado que leva à paralização. paralização. A grande tragédia humana é como sempre foi, a ausência de Entendimento Entendimento da sua própria natureza transcendental, leia-se aqui a ignorância do “Si Mesmo” que o leva a uma fragmentação. A força de Eros, porém, não se limita à manifestação do amor humano. Inúmeros são os casos de místicos e santos que sentiram a força de Eros como uma chama ardente que os consumia enquanto humanos e os transmutava alquimicamente no contato com os planos superiores, produzindo uma sutilização de seus componentes físicos e uma espécie de “corporização” de sua alma, fazendo-os alcançar verdadeiros estados divinos no enlevo do êxtase ê xtase erótico sem nisto estar implícita a projeção de suas essências individuais sobre um objeto de desejo detectável pelos sensos de percepção comum. Nestas pessoas, o Eros se direciona para o alto e elas experimentam uma tensão erótica contínua, um gozo interno que misturado ao fluxo de dor apropriado abre as suas mentes para planos de consciência mais profundos onde o amor universal e a compaixão se tornam a tônica de suas existências. existências. Elas experimentam a sexualidade metafísica, da qual o sexo genital é apenas um mui pálido reflexo. Dentre as diversas técnicas que utilizam a força erótica como meio para ampliação da consciência estão o Tantrismo Tantrismo e a Magia Sexual.

    l    t    a    o    c     l    a    z    t    e    u     Q    a     j    o     L   —    s     i    t    n    e     i    r     O     i     l    p    m    e     T    o     d    r     O

Ambas procuram despertar no adepto poderes latentes, percepções sutis não condicionadas pelo espaço-tempo, poderes espirituais e mágicos que não estão diretamente sob o controle do pensamento e da vontade vulgares. Utilizam as funções fisiológicas para alcançar funções superiores, a fim de controlá-las e ultrapassá-las, buscando a libertação e a aproximação do divino. Chegam ao amor divino utilizando o erotismo cuja base é a carne.  Tantr  Tantrismo ismo e Magia sexual consideram consideram o erotismo erotismo como um elo que une dois polos opostos e complementares. Quando orientado para a procriação, gerando filhos físicos ou bens materiais é o Eros inferio; quando orientado para a beleza universal sob todas as suas formas, ou

seja, puro, livre do desejo e da ânsia de resultado, é considerado um reflexo do divino, o Eros Superior. Num rito de sacralização sexual o homem se identifica com o princípio do absoluto masculino, enquanto a mulher se identifica com o princípio do absoluto feminino, sua união reproduz a do casal divino. Os princípios que na manifestação dual se apresentam como divididos irão ser reintegrados no momento do orgasmo, permitindo a experiência da unidade primordial, o andrógino, símbolo do homem perfeito. A união pelo êxtase suspende a lei da dualidade e no arrebatamento arrebatamento orgasmático que une os dois seres se provoca o estado de identidade una que proporciona a iluminação absoluta, a manifestação do Incondicionado que está muito além da ilusão da dualidade, livre de qualquer submissão a ela. A divindade primordial é essencialmente essencialmente bissexual, no divino os contrários coexistem e esta coexistência é expressa como volúpia. A volúpia é a realidade divina e suprema que, tendo gerado o mundo, o fez à sua imagem e semelhança. A realidade do mundo, portanto, não é outra senão a volúpia, a centelh centelhaa produzida pela união dos opostos e o dese jo secreto secreto em nossas nossas almas almas que nos nos leva leva a buscar buscar o retorn retorno o à unidade unidade primordial.  Como carecemos de entendimento sobre a nossa própria natureza, desconhecendo de onde viemos e para onde nos dirigimos, vivendo como perdidos no imenso universo estrelado criado para o prazer, nos sentimos atraídos por qualquer forma que insinue a complementação de nosso ser, que nos liberte da eterna solidão que nos assola a existência. Cegos pela possibilidade de uma redenção da dualidade confundimos os níveis e planos da manifestação e julgamos que a atração que sentimos é amor. Porém existe amor e amor, é necessário compreender a cada um em seu plano correto para que a experiência frutifique positivamente para todas as partes envolvidas e a tragédia não seja mais uma consequência natural em nossos caminhos. O estado de felicidade absoluta desaparece com a divisão e só pode ser recriado pela união dos opostos a ser alcançada através do amor, mas não qualquer tipo de amor. Faz-se necessário trabalhar conscientemente a força de Eros e direcioná-lo para o mais elevado, a fim de trabalhar os complementos absolutos que buscamos, apenas o absoluto pode nos resgatar da desilusão e sofrimento da alma em que nos encontramos, apenas apenas ele pode nos devolver o paraíso perdido. Isto não significa que o amor humano deva ser abandonado, o Eros inferior pode e deve ser concretizado se ele faz parte da nossa vontade, porém devemos cuidar e aprender a lidar com cada estrutura em seu próprio nível, reconhecendo os parâmetros e desenvolvendo a habilidade de construção em cada um deles. Somente esta organização interna que se reflete numa estruturação externa harmônica e equilibrada pode retirar o mundo da decadência abismal em que se encontra. Nenhuma caridade, lei moral, lei social, prêmio ou castigo, deus ou demônio, religião ou política podem resgatar o mundo. Esta é a Era em que cada homem e mulher deve aprender a ser o herói solitário que luta arduamente pela sua própria redenção.

  .      A      O   .      G      T   .      O      O      Y 1  7 

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UM ESTUDO SOBRE COMO OS DIVERSOS RAMOS DO Y OGA PODEM OGA  PODEM SER  APLICADOS  APLICADOS NUM CONTEXTO CERIMONIAL, EM T HELEMA E HELEMA  E DENTRO DA  O EMPLI ORIENTIS.  ORDO T EMPLI

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oga, como disciplina iniciática, surgiu na Índia e constelou práticas físicas, éticas e mentais para a consecução espiritual de seus adeptos. O termo surgiu primeiramente na escritura hindu “Katha Upanishad”, um dos primeiros Upanixades, há cerca de 400 a.C., designando o controle dos sentidos como meio para atingir a libertação – a consciência de Brahman, ou do Ātman, em todas as coisas. Poucos séculos mais tarde, os Yoga Sutras de Patañjali definiriam um sistema de divisão mais próximo ao que conhecemos, com o Mantra Yoga, Laya Yoga, Hatha Yoga e Raja Yoga, este último considerado “o Caminho Real”, o mais nobre ou o mais elevado. De todo modo, milênios antes dessas compilações e do próprio surgimento do termo “Yoga”, os ascetas védicos já se evadiam para as florestas a fim de controlar o tapas (“calor”), isto é, sua energia vital, através de intensa disciplina corporal. O Yoga não poderia ser estudado ignorando o milenar universo hindu e, assim, o seu sistema de

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treino foi edificado em função daquela cultura. Aleister Crowley considerava que faltava ao ocidental o estilo de vida que tornava natural ao indiano a prática pr ática do Yoga como caminho de Iniciação. Em “O Porquê & o Como do Êxtase”, ele descreve: “Para o oriental, cuja mente é, por assim dizer, estática, a meditação oferece o melhor caminho, um caminho que a nós parece (e realmente é) intolerável, enfadonho e tedioso. Para o ocidental, não há melhor caminho que o cerimonial”. Crowley, com isso, não desmerece o Yoga (do qual era estudioso) ou a meditaçã o – que é, naturalmente, treino imprescindível dentro do sistema de Magick –, mas absorve seus conceitos e elenca suas práticas de maneira que possam ser universalmente usadas: o sumo da proposta transcendendo a circunstância cultural em que ela nasceu. Afinal, aquele que treina o Hatha Yoga, na Índia, é suposto iniciar ainda quando criança, para na maturidade partir para as práticas avançadas. Se esse estilo de organização é completamente discrepante ao nosso modo de vida, cabe-nos entender a essência do seu método para, consequentemente, entender como aplicá-lo à nossa realidade. Entendendo o conteúdo, a forma se torna fluida e dinâmica. Foi nesse estudo que Crowley se empenhou ao correlacionar os ramos do Yoga com as consecuções da Magia Ocidental.  No Equinox (vol I., Num. II – “Carta aos Probacionistas”), nos é proposto o seguinte modelo de divisão e comparação:

Yoga

Consecução

Correspondência mágicka

Gnana

União pelo Conhecimento

A Santa Qaballah

Raja

União pela Vontade

Alta Magia

Bhak ti

União pelo Amor

Adoração

Hatha

União pela Coragem

Ordálios

Mantra

União pela Fala

Invo cações

Karma

União pelo Trabalho

Atos de Ser viço

Esses Seis métodos estão unidos pelo método supremo do Silêncio. O objetivo de todo ramo do Yoga é sempre “União” – a mesma ideia contida em “Religião”. Compreendido o caminho de cada uma dessas formas de união, elas foram edificadas dentro do sistema de Magick. Consequentemente, nós podemos perceber seus traços componentes em Rituais e também no método de trabalho da O.T.O. Uma breve análise nos permite identificar o seguinte:

    l    t    a    o    c     l    a    z    t    e    u     Q    a     j    o     L   —    s     i    t    n    e     i    r     O     i     l Gnana Yoga:  Sendo uma abordagem filosófica, esse ramo do    p    m    e Yoga se preocupa com o Conhecimento do Absoluto. Mais que     T    o     d    r uma proposta de distanciamento mental de tudo aquilo que é     O

transitório para, consequentemente, fincar-se naquilo que é real, o interessante é percebermos como esse modelo intelectual é imbuído da análise de como se processa o Conhecimento: isto é, a relação entre sujeito e objeto e as diversas interações entre essa aparente dualidade que, por fim, produz o mundo. Um grande expoente de Gnana Yoga no contexto de Thelema é o Liber 777: a série de correlações cabalísticas em mitologia comparada permite o treino mental em associações que conduzem, enfim, à consciência da unidade, e então sua dissolução. Mapeando os processos do Conhecimento, numa espécie de epistemologia mágicka, nos habilitamos a tr anscender a dualidade entre sujeito e objeto – ou usá -la magicamente da maneira que nos convenha, como, por ex., compondo Ritos específicos, com uma simbologia eficiente. Raja Yoga: Descrita como a “União p ela Vontade”, Vontade”, sua importân-

cia em Thelema – cuja grande proposta é a descober ta da Verdadeira Vontade – se torna evidente. Raja Yoga se trata do “Caminho Real” e, portanto, sua correlação é com a Alta Magia. Suas técnicas são puramente mentais e, por isso, o treino físico do Hatha Yoga pode ser entendido como purificação prévia para a correta prática do Raja, que é também conhecido como Ashtānga Yoga. Seu grande objetivo é aprender e transcender as diversas oscilações mentais. Os oito membros de Raja Yoga, amplamente descritos em livros como “Oito Lições em Yoga” e na primeira parte do Liber ABA (Book 4), são: Yama (código ético de conduta) – Niyama (estudo, compromisso com a prática, devoção) – Āsana (integração do corpo com a mente através de posturas) – Pranayama (controle da energia vital através da respiração) – Pratyahara (introversão dos sentidos, retirando-os dos objetos materiais) – Dharana (concentração num único ponto) – Dhyana (meditação) – Samādhi (integração com o infinito). infinito). Crowley entendeu esses pontos como o treino essencial para o progresso do adepto de Magia. É interessante repararmos que o Raja Yoga é descrito como um caminho de renúncia a tudo aquilo que nos é supérfluo. Facilmente identificamos essa proposta com o enunciado em “A Mensagem de Mestre Therion”: “Faze o que tu queres – então não faças nada mais. Não permitas que nada desvie a ti desta austera e sagrada tarefa. A Liberdade é absoluta para fazer tua vontade; mas procure fazer outra coisa qualquer e instantaneamente obstáculos deverão surgir”. O caminho é, portanto, de concentração absoluta na Verdadeira Vontade. O mais iniciante thelemita na O.T.O. O.T.O. já está familiarizado com essa realidade. Bhakti Yoga: Esse é o caminho de União com o Amado – uma

das referências ao Sagrado Anjo Guardião – através da devoção. Essa fórmula de amor e entrega está presente nas falas de Nuit, no Livro da Lei, e inflama corações quando reproduzidas na Missa Gnóstica: “Eu vos amo! Eu anseio por vós! Pálido ou púrpura, velado ou voluptuoso, eu que sou toda prazer e púrpura, e a embriaguez do sentido mais profundo, vos desejo. (...)” (Liber AL I:61). I:61). Um dos Graus descritos no Livro da Lei – o dos “Amantes” – é uma das  Tríades da O.T.O., O.T.O., de modo m odo que q ue fica sugerido sugeri do o marcante m arcante tr abalho

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em Bhakti Yoga. Essa relação de devoção, por sua vez, pode se dar de divermaneiras, como descritas no Liber Astarte vel Berryli: de um escravo para seu Senhor, de um vassalo para seu soberano, de uma criança para seus pais, de um sacerdote para seu Deus, de um Irmão para seu Irmão, de um Amigo para seu Amigo e mesmo de um Amante para sua Amante. Todas Todas são estr atégias de adoração da divindade, culminando no êxtase da união com ela. Cabe reparar que, quando falamos de devoção, não poderíamos reduzi-la a uma forma romântica de amor. Há relatos de personagens hindus que atingiram a iluminação através do intenso ódio que nutriam por uma divindade. Toda a sua vida era, portanto, dedicada àquele ódio, o que paradoxalmente culminou num êxtase libertador. “O próprio Ódio é quase como o Amor!” (A Mensagem do Mestre Therion). Estamos, portanto, falando de investimento total de energia, independente da forma como a chamemos. De fato, nós acabamos nos tornando um pouco dos nossos entes amados ou odiados. Devoção absoluta implica, portanto, em identificação absoluta, e então dissolução nos beijos do Bem Amado. Hatha Yoga:  O Hatha Yoga está associado à União através da

Coragem e, portanto, aos Ordálios. Primeiramente, é preciso pontuar que seria um retrocesso entendermos os “ordálios” como uma penitência – ou mesmo sofrimento – que a vida nos coloca. Sendo, na verdade, formas de desafio (criadas, não raro, por nossa própria resistência), a função do “ordálio” é unicamente purgar e alinhar aquilo que está em desarmonia, consequentemente revitalizando a força de nossa devida natureza. “A mim vinde através da tribulação do ordálio, que é felicidade” (Liber AL vel Legis III:62). As práticas do Hatha Yoga visam exatamente a purgação ou preparação do corpo para estados de me ditação profundos – para o que a integração do corpo com a mente é essencial. Além disso, entre os yogues e também entre os tantristas havia a crença em um “Corpo de Diamante” (similar ao ocidental “Corpo de Luz”): um corpo sutil a ser desenvolvido, transubstanciado, que veicularia decentemente a substância divina – crença esta, por sinal, bastante afinada com os ideais da Alquimia ocidental. A série de técnicas trabalhadas pelo Hatha Yoga perpassa os āsanas, os dhautis (técnicas de purificação corporal, que contemplam desde dietas a outros métodos qu e podem ser encontrados no Hatha Yoga Pradīpikā), os bandhas (movimentos que travam certas partes do corpo, a fim de estimulá-las com energia vital), além de uma intensa disciplina moral. Desde o início, o estudo dessas práticas é encorajado dentro da O.T.O. “Venera, e não negligencies o corpo físico, que é tua conexão temporária com o mundo externo e material. Portanto, que teu Equilíbrio mental esteja acima dos distúrbios trazidos por eventos materiais; vigora e controla as paixões animais, disciplina as emoções e a razão, alimenta as Aspirações Mais Elevadas” (Liber Librae). Esse regime de conduta e a maestria das práticas físicas estimulam o despertar da Kundalini, que acarreta em completa revitalização físico-espiritual.

Mantra Yoga: Deve ser compreendido que Mantra não é a sim-

ples repetição de palavras consideradas sagradas, mas, sim, a representação sonora de uma divindade. Associado cerimonialmente com as Invocações, podemos intuir a sua importância na injunção de Magick: “Invoca constantemente” constantemente”.. Mantra, em tertermos etimológicos, vem de Manana (pensamento) e Tra, de Trana (libertação). Ou seja, a libertação do pensamento. Podemos pensar no pensamento como um som, e a forma de entendê-lo nos levaria à libertação. É importante visualizarmos a relação entre respiração, mente e palavra. O modo que respiramos influencia o modo que pensamos, ou como nos sentimos. E a fala, por sua vez, é uma manifestação da respiração. A palavra como ato Criador – o Logos – está presente em diversas culturas. A língua, assim, é um símbolo fálico, análogo à Baqueta do Magista. Tal é o poder do Prana na forma de nossa Voz. Crowley, no Liber ABA (Book 4), descreve: “O mantra ideal deve ser rítmico, alguém poderia dizer até musical; mas deve haver suficiente ênfase em uma sílaba, para auxiliar a f aculdade da atenção. Os melhores mantras são o de tamanho mé dio, enquanto se considera um iniciante. Se o mantra for muito longo, a pessoa tende a esquecê-lo, a não ser que pratique muito intensamente por uma quantidade grande de tempo”.

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Em nossos Rituais, usamos fartamente os mantras e de palavras de poder. Alguns deles podem ser encontrados no Liber ABA, Parte I (Misticismo), Cap. II, inclusive o mais sagrado mantra para os thelemitas, inscrito na Estela da Revelação: “A ka dua / Tuf Tuf ur biu / Bi aa chefu / Dudu ner af an nuteru”. Karma Yoga: Significando K arma “ação”, o Karma Yoga disciplina

seu adepto no desapego aos frutos de suas ações, o que conduz ao regozijo do trabalho em si mesmo, livre por não ansiar um resultado. Todo fruto surge com naturalidade, passa e não aprisiona. Gradualmente, o praticante se liberta da obsessão oriunda da expectativa, unindo-se ao seu id eal através da doação incondicional do seu serviço – ou, posto de outra maneira, a entrega do Sangue de seu investimento àquele propósito. O Liber CXCIV (“Uma Intimação com Referência à Constituição da Ordem”) deixa claro: “(...) e, conosco, Governo é Serviço, e nada mais”. Progredir dentro da estrutura da O.T.O., desde o início, implica no mesmo gênero de compromisso que se deve ter para com a própria Grande Obra. É, afinal, essa realização propiciada pela “União pelo Trabalho” e pelas ferramentas que são os atos de ser viço. Estes são alguns exemplos de como Magick sintetiza elementos do Yoga, embora não tenha a proposta ou a pretensão de formar mestres yogues. Do mesmo modo, na O.T.O., apresentamos recursos que o Magista deve descobrir como podem atender o seu universo. Sobremaneira, tal versatilidade jamais poderia ser tomada como uma adaptação leviana. O método de Magick exige devoção e disciplina, mais ainda por abrir um leque que elenca tantos métodos quanto o indivíduo possa descobrir, encorajando o estudo de tudo aquilo que possa ser útil para a descoberta e realização da Verdadeira Vontade.

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  a   c    i   m    ê    l   e    T   a   c   e    t   o    i    l    b    i    B

NTUSIASMO EENERGIZADO

Muitas e muitas vezes eu tenho notado que a assim chamada satisfação sexual me deixara insatisfeito e incansável, e desprenderam a enchente de poemas que desgraçaram minha carreira.

LIBER  DCCCXI

Ainda assim, por outro lado, um período de castidade algumas vezes me fortificou para um grande esforço. Mas isto está longe de ser o caso invariável. À conclusão da expedição ao K2, após cinco meses de castidade, eu não realizei trabalho de qualquer tipo, exceto por algumas poucas estranhas poesias líricas, durante meses após.

SUB FIGUR  DCCCXI  DCCCXI

Eu posso mencionar o ano de 1911. Naquele tempo eu estava vivendo, em excelente estado de saúde, com a mulher que eu amava. A saúde dela era, no entanto, variável, e nós dois estávamos constantemente preocupados. O tempo estava continuamente bom e quente. Por um período de cerca de três meses eu dificilmente perdia uma manhã; sempre ao acordar, eu explodia com uma nova ideia que precisava ser escrita. A energia total de meu ser estava muito alta. Meu peso era de sessenta e seis quilos, que tinha sido meu peso de lutador quando eu era dez anos mais jovem. Nós andávamos algumas vinte milhas diárias através da montanhosa floresta. A quantidade real de manuscritos escritos nesta época é assombrosa; sua variedade ainda mais; de sua excelência eu não irei falar.

PARTE I UMA NOTA

SOBRE T  EURGIA

I I A O, a suprema Unidade dos Gnósticos, o verdadeiro Deus, é o Senhor deste trabalho. Vamos nós, portanto, invocá-Lo por aquele nome que os Companheiros do Arco Real blasfemam, para nos auxiliar neste ensaio a declarar os meios que Ele derramou sobre nós!

II A consciência divina, que está refletida e refratada nos trabalhos do Gênio, alimenta-se de uma certa secreção, como eu presumo. Essa secreção é análoga ao sêmen, mas não idêntica a ele. Há apenas alguns poucos homens, e ainda menos mulheres, estas mulheres sendo invariavelmente andróginas, que possuem isto a qualquer tempo e em qualquer quantidade.

    l    t    a    o    c     l    a    z    t    e    u     Q    a     j    o     L   —    s     i    t    n    e     i    r     O     i     l    p    m    e     T    o     d    r     O

 Tão intimamente está essa secreção conectada com a economia sexual que ela me p arece às vezes como se pudesse ser um subproduto daquele processo que gera o sêmen. Que alguma forma dessa doutrina tem sido geralmente aceita está exposto nas proibições de todas as religiões. A santidade foi assumida como dependente de castidade, e castidade quase sempre foi interpretada como abstinência. Mas eu duvido que a relação seja tão simples como isso implicaria; por exemplo, eu descobri em mim mesmo que as manifestações da força criativa mental sempre concorrem com alguma condição anormal dos poderes físicos de geraçã o. Mas não é o caso que longos períodos de castidade, por um lado, ou o excesso de orgias, pelo outro, são favoráveis para sua manifestação ou mesmo para sua formação. Eu me conheço, e em mim isto é extremamente forte; seus resultados são assombrosos. Por exemplo, eu escrevi “Tannhauser” completo, desde sua concepção à execução, em sessenta e sete horas consecutivas. Eu estava inconsciente da queda das noites e dos dias, mesmo depois de acabar; tampouco havia qualquer reação de fadiga. Esse trabalho foi escrito quando eu tinha vinte e quatro anos, imediatamente após o término de uma orgia que normalmente teria me esgotado.

Aqui segue, de memória, uma lista aproximada; está longe de estar completa: (1) Algumas dúzias de livros de instrução da A∴ A∴, incluindo Li-

ber Astarte e o Templo do Rei Salomão, para o “Equinócio VII”. (2) Contos: O Lenhador. Seu Pecado Secreto. (3) Peças: O Violinista de Sua Majestade O Velho Eel. Adonis, escrita diretamente, uma após a outra, Os Ghouls, Mortadello. (4) Poemas: O Sacramento Sétuplo Um Aniversário. (5) Fundamentos da Cabala Grega (envolvendo o recolhimento e análise de vários milhares de palavras). Eu creio que esse fenômeno seja único na história da literatura. Eu posso ainda me referir à minha segunda viagem para a Algéria, onde a minha vida sexual, embora estivesse cheia, fora insatisfatória. Deixando Biskra, eu estava tão cheio de ideias que eu tive de descer do trem em El-Kantara, onde eu escrevi “O Escorpião”. Cinco ou seis poemas foram escritos no caminho de Paris; “O Ordálio de Ida Pendragon” durante minhas vinte quatro horas em Paris, e “Tempestade de Areia” e “O Silêncio Elétrico” imediatamente ao meu retorno à Inglaterra. Para resumir, eu posso sempre traçar uma conexão entre minha con-

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dição sexual e a condição de criação artística, que é tão estreita quanto uma aproximação da identidade, e ainda assim tão frouxa que eu não posso predicar uma única proposição importante. São essas considerações que me trazem dor quando eu sou repreendido pelo ignorante, ao desejar produzir o gênio de modo mecânico. Eu posso falhar, mas minha falha é mil vezes maior do que o seu máximo sucesso. Eu devo, portanto, basear meus apontamentos não tanto na observação que eu mesmo fiz, e nos experimentos que eu tentei, mas sobre os métodos clássicos aceitos sobre como produzir esse entusiasmo energizado, que é a alavanca que move Deus.

III Os Gregos dizem que há três métodos de descarregamento da secreção genial da qual falei. Eles talvez pensassem que seus métodos tendiam a secretá-la, mas nisto eu não creio inteiramente, ou sem ressalva. Pois a manifestação de força implica em força, e esta força precisa ter vindo de algum lugar. Mais fácil acho eu dizer “subconsciência” e “secreção” do que postular um reservatório externo, mais fácil estender minha conotação de “homem” do que inventar “Deus”. De todo modo, parcimônia à parte, eu descobri por minha experiência que é inútil açoitar um cavalo cansado. Há épocas em que estou absolutamente desprovido de uma gota sequer deste elixir. Nada vai restaurá-lo, nem descansar na cama, nem drogas, nem exercício. Por outro lado, às vezes, quando após um severo período de trabalho eu estive desfalecendo de fadiga física, talvez estendido ao chão, tão cansado para mover uma mão ou pé, a ocorrência de uma ideia me restaurou à perfeita intensidade de energia, e o desenvolvimento da ideia realmente se livrou da fadiga física em questão, embora tenha envolvido um grande labor adicional. Exatamente paralelo (sem coincidir em nenhum ponto) está o caso da mania. Um louco pode lutar por horas contra seis atletas treinados e não mostrar nenhum sinal de fadiga. Então ele de repente irá entrar em colapso, mas um segundo aviso da ideia irritável vai retomar a luta, tão fresca como sempre. Até que tivéssemos descoberto a “ação muscular inconsciente” e seus efeitos, era racional supor que tal homem estivesse “possuído por um demônio”; e a diferença entre o louco e o gênio não está na quantidade, mas na qualidade de seu trabalho. O gênio é organizado, o louco é caótico. Frequentemente a organização do gênio ocorre em linhas originais, e médicos ignorantes e desequilibrados tomam isso como desordem. O tempo mostrou que Whistler e Gauguin “mantinham regras”, assim como os mestres que eles supostamente estavam aborrecendo.

IV  Os Gregos dizem que há três métodos de descarregamento da Garrafa de Leyden do Gênio. Estes três métodos eles atribuem a três

Deuses. Estes três Deuses são Dioniso, Apolo, Afrodite. Em português: vinho, mulher e música. Agora, seria um grande engano imaginar que os Gregos estivessem recomendando uma visita a um bordel. Do mesmo modo que condenar a Missa Solene na Catedral de São Pedro na força de termos testemunhado uma reunião de avivamento Protestante. Desordem é sempre uma paródia da ordem, porque não há nenhuma desordem arquetípica à qual ela pudesse se assemelhar. Owen Seaman pode parodiar um poeta; ninguém pode parodiar Owen Seaman. Um crítico é uma trouxa de impressões; não há ego por trás disso. Todas as fotografias são essencialmente iguais; as obras de todos os bons pintores, essencialmente diferentes.

 B   i    b   l    i    o  t   e  c  a  T  e  l    ê    m  i    c  a

Alguns escritores supõem que nos antigos ritos de Eleusis o Sumo-Sacerdote copulasse publicamente com a Sumo-Sacerdotisa. Fosse assim, isto não seria mais “indecente” do que é “blasfemo” para o padre transformar pão e vinho no corpo e sangue de Deus. Realmente, os Protestantes dizem que isso é blasfemo; mas um Protestante é alguém para quem todas as coisas sagradas são profanas, cuja mente, sendo puro lixo, não pode ver nada no ato sexual além de um crime ou uma zombaria, cujos únicos gestos faciais são o desprezo e a malícia. O Protestantismo é o excremento do pensamento humano e, em acordo com isso, em países Protestantes a arte, se sequer existe, apenas existe para revoltar. Retornemos dessa alusão desagradável para nossa consideração dos métodos dos Gregos.

 V  Concordemos, então, que não procede o fato de que vinho, mulher e música fazem a taverna do marinheiro que esses ingredientes necessariamente preparem uma sopa infernal. Há algumas pessoas tão rudimentares para pensar que, quando elas provaram o instinto religioso como mera florescência do instinto sexual, teriam destruído a religião. Nós devíamos, sobretudo, considerar que a taverna do marinheiro dá a ele seu único vislumbre do céu, assim como a crítica destrutiva dos falicistas apenas provou o sexo como um sacramento. A consciência, diz o materialista, com o machado em riste, é uma função do cérebro. Ele apenas reformulou o velho dizer: “Seus corpos são os templos do Espírito Santo.”! Agora, o sexo é justamente sagrado neste sentido, por ser o eterno fogo da raça. Huxley admitiu que “alguns dos animalculae mais inferiores são, em certo sentido, imortais” porque eles seguem se reproduzindo eternamente por fissão, e não importa com que frequência você divida “x” por 2, sempre restará alguma coisa. Mas ele nunca percebeu que a humanidade é imortal exatamente nesse mesmo sentido, e segue reproduzindo a si mesma, com características similares, através das eras, de fato mudada pelas circunstâncias, mas sempre

E   s   t   r   e l     a R   u  b  i   

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  a   c    i   m    ê    l   e    T   a   c   e    t   o    i    l    b    i    B

idêntica em si mesma. Mas a flor espiritual deste processo é que, no momento do descarregamento um êxtase físico ocorre, um espasmo análogo ao espasmo mental conferido pela meditação. Além disso, no uso sacramental e cerimonial do ato sexual, a consciência divina pode ser obtida.

 VI O ato sexual sendo, portanto, um sacramento, resta considerar em que medida isso limita o emprego dos órgãos. Primeiramente, é obviamente legítimo empregá-los para seu propósito físico natural. Mas, se é permitido usá-los cerimonialmente para propósito religioso, descobriremos o ato resguardado por muitas restrições. Neste caso, os órgãos se tornam sagrados. Importa muito pouco para a mera propagação que o homem seja vicioso; o mais debochado roué pode e certamente iria gerar crianças mais saudáveis que um puritano semi-sexual. Portanto, as assim chamadas restrições “morais” não estão baseadas na razão; portanto elas são negligenciadas. Mas admita a função religiosa do ato sexual, e o indivíduo pode imediatamente estabelecer que o ato não deve ser profanado. Isso não deve ser tomado levemente e tolamente sem desculpa. O ato sexual pode ser tomado com o objetivo direto de continuar a raça. O ato sexual pode ser tomado em obediência à paixão real; pois paixão, como o nome implica, é antes inspirada por uma energia de força e beleza divina que pela vontade do indivíduo, frequentemente mesmo contra ele. É o seu uso casual ou habitual – o que Cristo chamou de “ocioso” – ou ainda abuso dessas forças que constituem sua profanação. Mais adiante ficará óbvio que, se o ato em si mesmo deve ser o sacramento numa cerimônia religiosa, este ato deve ser realizado apenas por amor a Deus.  Todas  Todas as considerações considerações pessoais devem ser totalmente totalmente banidas. Da mesma forma que qualquer padre pode executar o milagre da transubstanciação, assim pode qualquer homem, possuindo as qualificações necessárias, executar esse outro milagre, cuja natureza deve constituir o tema de uma discussão posterior.

    l    t    a    o    c     l    a    z    t    e    u     Q    a     j    o     L   —    s     i    t    n    e     i    r     O     i     l    p    m    e     T    o     d    r     O

Objetivos pessoais sendo destruídos, é “a fortiori” necessário negligenciar considerações sociais e outras similares. Força física e beleza são necessárias e desejáveis por razões estéticas, a atenção dos adoradores estando passível a distração se os celebrantes forem horríveis, deformados ou incompetentes. Eu dificilmente preciso enfatizar a necessidade do mais estrito autocontrole e concentração da parte deles. Assim como seria blasfêmia desfrutar do gosto grosseiro do vinho do sacramento, do mesmo

modo o celebrante precisa suprimir mesmo a mínima manifestação de prazer animal. Dos testes qualificadores não é necessário falar; é suficiente dizer que os adeptos sempre sabem como assegurar eficiência. Desnecessário também insistir sobre a similar qualidade da congregação; a excitação sexual precisa ser suprimida e transformada no seu equivalente religioso.

 VII Com estas preliminares estabelecidas a fim de nos guardar contra críticas previstas daqueles Protestantes que, Deus os tendo feito um pouco abaixo dos Anjos, fizeram a si mesmos inferiores às bestas por sua constante interpretação bestial de todas as coisas humanas e divinas, podemos considerar primeiramente a natureza trina desses antigos métodos de entusiasmo energizado. A música tem duas partes; tom ou altura, e ritmo. A última qualidade associa a música com a dança, e a parte da dança que não é ritmo, é sexo. Agora, a parte do sexo que não é uma forma de dança, movimento animal, é intoxicação da alma, que a conecta com o vinho. Mais identidades vão ser sugeridas por si mesmas ao estudante. Pelo uso dos três métodos em um, todo o ser do homem pode, portanto, ser estimulado. A música irá criar uma harmonia geral do cérebro, guiando-o em seus próprios caminhos; o vinho disponibiliza um estímulo geral da natureza animal; e a excitação sexual eleva a natureza moral do homem por sua próxima analogia com o mais alto êxtase. Resta, no entanto, sempre para ele realizar a transmutação final. A não ser que ele possua a secreção especial sobre a qual eu postulei, o resultado será senso comum.  Tão consonante consonante é este sistema com a natureza do homem que ele é exatamente parodiado e profanado não apenas na taverna do marinheiro, mas no baile da sociedade. Aqui, para as naturezas mais baixas, o resultado é embriaguez, doença e morte; para as naturezas medianas, um embotamento gradual dos sentimentos mais finos; para as mais elevadas, uma alegria resultando, em seu melhor, na fundação de um amor para toda a vida. Se esses “ritos” sociais são propriamente executados, não deveria haver exaustão. Após um baile, o indivíduo deveria sentir necessidade de uma longa caminhada no jovial ar da manhã. O cansaço ou o tédio, a dor de cabeça ou a sonolência são alertas da Natureza.

 VIII Agora, o propósito de um baile como este, a atitude moral ao entrar, parece-me de suprema importância. Se você vai com a ideia de matar tempo, você estará antes matando a si mesmo. Baudelaire fala sobre

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o primeiro período do amor, quando um garoto beija as árvores de uma floresta, preferível que não beijar coisa alguma. À idade de trinta e seis anos eu me encontrei em Pompeia, beijando apaixonadamente aquela grande estátua séria de uma mulher na avenida das tumbas. Mesmo agora, quando eu acordo pela manhã, eu às vezes beijo meus próprios braços. É com um sentimento como este que alguém deveria ir a um baile, e com este sentimento intensificado, purificado e exaltado que alguém deveria sair dele. Se isto for assim, quanto mais seria se alguém fosse com o reto propósito religioso queimando em seu inteiro ser! Beethoven rugindo ao nascer do sol não é um espetáculo estranho para mim, que grito em alegria e maravilha quando eu compreendo (sem o que ninguém pode realmente ter dito que enxergou) uma folha de capim. Eu caio sobre meus joelhos em adoração sem palavras pela lua; eu escondo meus olhos em sagrado terror de um bom Van Gogh. Imagine então um baile no qual a música é o coro celestial, o vinho, o vinho do Graal, ou aquele do Sabbath dos Adeptos, e o parceiro de alguém o Eterno e Infinito, o Verdadeiro e Mais Alto Deus Vivente! Vá até mesmo a um baile comum – o Moulin de la Galette servirá mesmo ao menor de meus magistas – com toda a sua alma inflamada dentro de você, e toda a sua vontade concentrada nessas transubstanciações, e diga-me que milagre ocorre! É o ódio contra, o desgosto pela vida que leva alguém ao baile quando se está velho; mas o amor de Deus, que é o único verdadeiro amor, não diminui com a idade; ele cresce profunda e intensamente com cada satisfação. Parece que nos homens mais nobres essa secreção constantemente aumenta – o que certamente sugere um reservatório externo – de modo mo do que a idade perda toda sua amargura. Encontramos o “Irmão Lawrence”, Nicholas Herman de Lorraine, aos oitenta anos, em contínuo desfrute da união com Deus. Buddha, na mesma idade, subia e descia os Oito Grandes Transes como um acrobata numa ladeira; histórias não tão dissimilares são contadas de um Bispo Berkeley. Muitas pessoas não atingiram nenhum tipo de união até a meia-idade, e então raramente a perderam. É verdade que o gênio, no sentido ordinário da palavra, tem quase sempre se revelado no jovem. Talvez Talvez devêssemos atribuir tais casos, como o de Nicholas Herman, como casos de gênio adquirido. Agora, estou certo da opinião de que o gênio pode ser adquirido, ou, alternativamente, que ele é quase uma propriedade universal. Sua raridade pode ser atribuída à influência esmagadora de uma sociedade corrompida. É raro encontrar um jovem sem ideais sublimes, pensamentos generosos, um sentido de sacralidade, da sua própria importância que, sendo interpretada, é da sua própria identidade com Deus. Três anos no mundo, e ele é um bancário ou mesmo um oficial do governo. Apenas aqueles que intuitiv amente perceberam desde a tenra juventude que devem se destacar, e que tiveram a incrível coragem e perseverança de fazê-lo diante de toda a tirania, insensibilidade e o escárnio dos inferiores podem fazê-lo; apenas estes chegam à idade adulta não-contaminados.

 Todo pensamento pensamento sério ou espiritual é alvo de galhofa; poetas são encarados “mansos” e “covardes”, aparentemente porque eles são os únicos garotos com vontade própria e coragem para resistir contra toda a escola, meninos e mestres coligados, como uma vez estiveram Pilatos e Herodes; a honra é substituída por conveniência, sacralidade por hipocrisia. Mesmo onde nós encontramos perfeitamente boas sementes brotando em terreno favorável, frequentemente há um desperdício das forças. O fácil encorajamento de um poeta ou pintor é muito pior para ele que qualquer quantidade de opressão.

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Aqui novamente a questão sexual (assim chamada pelos Tolstoianos, monges-da-castidade, monges-da-castidade, comedores-de-nozes e o tipo de pessoa que não fala e não pensa em outra coisa) intromete sua cabeça horrível. Eu acredito que todo garoto é originalmente consciente do sexo como sagrado. Mas ele não sabe o que é isso. Com infinita timidez, ele pergunta. O mestre replica com horror sagrado; o menino com um malicioso olhar baixo, uma risada furtiva, talvez pior. Estou inclinado a concordar com o Diretor de Eton que paixões pederastas entre garotos na escola “não causam nenhum dano”; além disso, eu creio que elas sejam o único atributo redentor da vida sexual em escolas públicas. Os Hindus são mais sábios. Na bem assistida hora da puberdade, o garoto é preparado como que para um sacramento; ele é levado para um templo devidamente consagrado e lá, por uma mulher santa e sábia, habilidosa na arte e devotada a este fim, ele é iniciado com toda solenidade no mistério da vida. O ato é portanto declarado religioso, sagrado, impessoal, totalmente à parte de amorismo e erotismo e animalismo e sentimentalismo e todas as outras vilanias que o Protestantismo fez disso. A Igreja Católica, creio eu, preservou em alguma medida a tradição Pagã. O casamento é um sacramento. (É claro que houve uma escola de anandros diabólicos que sustentaram que o ato em si é “Maligno”. Que mais nenhuma palavra seja dita sobre tais blasfemadores da Natureza). Mas, na tentativa de privar do ato todos os acréscimos que iriam profaná-lo, os Padres da Igreja adicionaram, apesar de si mesmos, outros acréscimos que o profanaram ainda mais. Eles o ataram à propriedade e herança. Eles quiseram que o ato servisse tanto a Deus quanto a Mammon. Virtuosamente restringindo o sacerdote, que deveria empregar toda sua energia no milagre da Missa, eles tomaram seu conselho como um conselho da perfeição. A tradição mágica foi em parte perdida; o sacerdote não pôde fazer o que era esperado dele, e a porção inutilizada de sua energia se tornou amarga. Daí o porquê do pensamento de padres, assim como o pensamento de gurus modernos, revolver eternamente em torno da Questão Sexual. Uma Missa Secreta e especial, uma Missa do Espírito Santo, uma Missa do Mistério da Encarnação, a ser realizada em intervalos regulares, poderia ter salvo tanto monges como freiras, e dado à Igreja o domínio eterno do mundo.

E   s   t   r   e l     a R   u  b  i   

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HOORÁCULO HOOR 

Por que há tantas referências a Magia Sexual nas na s obras de Crowley? Ela é essencial para Telema? Em primeiro lugar é necessário esclarecer que Magia Sexual não é um termo que se limite ao ato sexual em si. Existem não só várias fórmulas de Magia sexual que incluem o ato sexual entre parceiros ou solitário, como também muitas práticas que não incluem estimulação genital de qualquer tipo. O ponto chave aqui está no conceito que se tem sobre a sexualidade. Um conceito que se tornou limitado a fatores biológicos e fisiológicos a partir do advento do Iluminismo. Precisamos superar o Iluminismo e aprender a unir os mundos conscientes e racionais com aqueles que consideramos inconscientes e irracionais. É na união destes opostos que se encontra a nossa integralidade, a única que pode nos oferecer uma visão fidedigna das nossas Verdadeiras Essências, a pedra fundamental de nossa existência, a cura cura real de nossas angústias, o remédio universal que devolverá a nós e ao mundo o equilíbrio almejado, o paraíso perdido com que tanto sonhamos. A sexualidade é uma manifestação da energia vital e, como tal, expressa-se através de múltiplas formas no decorrer da nossa vida, não há sequer um aspecto da nossa natureza e da sua manifestação em que não esteja incluído um aspecto da nossa energia sexual. Sendo assim, enquanto comemos, dormimos, nos relacionamos, pensamos, trabalhamos, fazemos escolhas, brincamos, nada mais estamos fazendo do que expressando a nossa sexualidade refletida em nossa individualidade. Uma energia vital e absoluta, passando pelo filtro pontual e único formado por influência de uma constelação que se estrutura e cria condicionamentos com a finalidade de manifestar algo que reconhecemos como um indivíduo, uma forma aparentemente isolada do Todo.

    l    t    a    o    c     l    a    z    t    e    u     Q    a     j    o     L   —    s     i    t    n    e     i    r     O     i     l Deus é incognoscível intelectualmente falando, nossos intelectos    p    m    e podem apenas captar uma centelha do infinito que Deus é. A cap    T    o     d    r tação desta centelha é feita através do ato de observação que só     O

pode alcançar o seu fito em relação a Deus através da observação cautelosa da sua criação. criação. O ato de criação de Deus, ou seja, o aparente movimento daquilo que é imutável, se dá através da volúpia expressa em termos de energia sexual criadora. Criam-se estrelas, criam-se mundos, cria-se o ser humano. Sendo a sexualidade a semente da criação ela se reflete em absolutamente tudo aquilo que reconhecemos como realidade e é através da observação e experimentação detalhada e isenta desta realidade interna e externa que chegamos não só ao reconhecimento das múltiplas faces de Deus, como alcançamos também a união com Ele, tornando-nos partícipes da Volúpia Divina. Abdicando do nosso eu condicionado e limitado passamos então a refletir Deus na carne e sua Volúpia regenera então o mundo através de seu Filho Único, único não pela ausência de semelhantes, mas pela raridade do fenômeno alcançado, único enquanto qualidade e não enquanto conceito absoluto. Desta feita, cada Ser Humano é um Filho Único de Deus em potencial, uma centelha divina que após milhares de anos de evolução chegará à realização do fito que verdadeiramente une a toda a humanidade, o objetivo que qu e torna cada homem e mulher neste mundo um membro da Grande Fraternidade Universal, a Assunção do Deus na carne que, de modo ímpar e próprio para cada Era, regenerará o mundo através da Sagrada Volúpia que o une ao Pai Absoluto, Deus. Na essência real e que verdadeiramente lhe é própria a M agia Sexual é um processo de auto-conhecimento poderosíssimo e o único que pode levar o homem à transcendência. Sendo Thelema uma filosofia e método que procuram elevar o ser humano à sua condição divina, sim, a Magia Sexual é essencial não só para Thelema como para o próprio mundo.

O Hooráculo é a resposta a uma pergunta. A cada edição, a pergunta de um leitor da Estrela Rubi será selecionada e a resposta a ela será dada  por um ou mais membros da Loja Quetzalcoatl. Caso queira submeter submeter sua pergunta de cunho mágicko ou thelêmico ao Hooráculo, a envie  para [email protected]. [email protected]. Nossa equipe editorial vai avaliar a pergunta mais inteligente e instigante e, se selecionada, vamos estudá-la, respondê-la e publicá-la na próxima edição. O Hooráculo só terá olhos – ou melhor, Olho – às perguntas mais desafiadoras e que  possam ser de de interesse interesse geral.

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S AIBA  M  M AIS SOBRE ...  A ORDO T EMPLI EMPLI ORIENTIS

UETZALCOATL  A LOJA  Q   Q UETZALCOATL

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Ordo Templi Orientis foi fundada em 1904, na Alemanha, por Karl Kellner e Theodore Reuss — seu primeiro líder —, que buscavam estabelecer um Academia para maçons de altos Graus onde estes pudessem ter contato com as revelações iniciáticas descobertas por Kellner em suas viagens ao Oriente. A entrada de Aleister Crowley, em 1912, veio a alterar profundamente a Ordem, até que, naquele mesmo ano, a O.T.O. rompe seus laços com a Maçonaria e assume–se como uma organização independente e soberana.

A principal mudança trazida por Crowley para a ordem foi a implantação da Lei de  Thelema, conforme definida no Livro da Lei – Liber AL vel Legis, e o alinhamento da O.T.O. com as energias no Novo Eon, tornando esta Ordem a primeira nascida no Velho Eon a migrar para o novo. Em 1922 Crowley, com a morte de Reuss, assumiu a liderança da O.T.O.. Seu sucessor indicado foi o alemão Karl Germer, que governou a Ordem de 1947 a 1962. Como Germer não indicou um sucessor, após sua morte vários membros e não membros da Ordem tentaram assumir o controle da O.T.O. o que colocou a Ordem em sério risco de extinção. Assim, Grady McMurtry lançou mão de um documento expedido por Crowley que o autorizava a tomar o po der da O.T.O. caso esta se visse ameaçada. Assim, McMurtry tornou-se líder da Ordem em 1969, posição onde permaneceu até sua morte, em 1985. Após isso, por meio de um processo eleitoral levado a cabo pelos altos Graus da Ordem, foi empossado o atual Frater Superior, Hymenaeus Beta. Atualmente a O.T.O. está presente em mais de 70 países. No Brasil, a O.T O.T.O. .O. encontra–se desde 1995, com o antigo Acampamento Sol no Sul, substituído em 2000 pelo Oásis Quetzalcoatl, atual Loja Quetzalcoatl. Dando continuidade ao trabalho, em fevereiso de 2010 ev foi aberto em Minas Gerais o Acampamento Opus Solis.

Loja Quetzalcoatl é um corpo oficial da Or Ordo do Templi Orientis Internacional, nacional, fundado fundado em 23 de maio

ORDO TEMPLI ORIENTIS INTERNACIONAL Frater Superior: Hymenaeus Beta

de 2000 2000 e.v. na cidade do cidade do Rio de Janeiro.

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Somos Somos uma comunidade comunidade de homens e mulheres lheres livres que se dedicam dedicam ao processo do auto-conhecimento e auto-conhecimento e sua consequente expansão de consciência consciência através dos princípios de Vida, Luz, Amor Amor e Liberdade, pilares essenciais da Lei de d e Thelema. Thelema.

Grande Secretário Geral: Frater Aion

 Temos como um de d e nossos principa principais is ob jetivos auxiliar no desenvolvimen desenvolvimento to de uma sociedade verdadeiramente livre livre da superstição, tirania e opressão onde onde o ser humano possa expressar a sua Verdadeira Ve rdadeira Vontade em plena harmonia com a com a essência divina que nele habita.

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Acreditamos que cada ser humano humano é uma estrela individual e eterna que possui sua própria órbita e que o objetivo objetivo primordial primordialde de sua encarnação não é outr outro o senão descobrir descobrir as coordenadas dessa órbita e cumprir a sua a sua Verdadeira Vontade, realizando a Grande Grande Obra e alcançando a Felicidade Perfeita. Perfeita. Nossos objetivos são alcançados alcançados através de um conjunto de Ritos Iniciáticos Iniciáticos que visam despertar e ativar os chakras, chakras, propiciando a ascenção da kundalini e o acesso a estados mais elevados de consciência. Realizamos Realizamos também o estudo teórico e prático prático da Filosofia de Thelema, Magia, Alquimia, Alquimia, Cabala,  Tarot,  Tar ot, Tantra, e demais ciências ciências herméticas que possam colaborar colaborar com o caminho de auto-iluminação dos nossos iniciados. Caso deseje informações informações sobre nossas atividades ou sobre a afiliação afiliação à O.T.O., consulte nosso site no endereço www.quetzalcoatloto.org ou entre em contato conosco.

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