Relatorio - Livro a Cor No Processo Criativo

April 13, 2017 | Author: Robson Moulin | Category: N/A
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A Cor no Processo Criativo – Um estudo sobre a Bauhaus e a teoria de Goethe

Introdução A Cor no Processo Criativo de Lilian Ried, trás como tema a escola de arte Bauhaus e quatro mestres que lecionavam estudos sobre cores e formas, Johannes Itten, Paul Klee, Wassily Kandinsky e Josef Albers, e consolidando este estudo a teoria de Goethe sobre as cores também é tratado com muita importância.

A Escola Bauhaus A Bauhaus foi uma escola de arte que surgiu no inicio do século XX, fundada em 1919 e extinta em 1933 devido ao governo nazista considerar a arte degenerada pela política cultural do partido. Esta escola estava a frente do seu tempo, a Bauhaus tinha como objetivo a democratização da arte, por meio da produção industrial. Os quatro mestres que serão tratados no decorrer deste texto eram professores da Bauhaus cada um com teorias semelhantes, mas com características didáticas diferentes, enquanto Itten e Albers ocupavam-se com o desenvolvimento de metodologias de ensino, Kandinsky e Klee desenvolviam verdadeiras teorias sobre a composição plástica e seus elementos. Apesar de esses mestres lecionarem na Bauhaus não se restringem apenas a isso eles também já deram aulas em outras escolas e tiveram outras ocupações. A Bauhaus acabou assumindo metodologias de trabalho propostas por esses grandes mestres, essas metodologias despertava nos alunos uma transcendência na arte, a libertação de conceitos estabelecidos por outras entidades de ensino.

Johannes Itten (1888-1967) Johannes Itten nasce em Thun, na Suiça, em 1888. Entre 1904 e 1908 estuda em Berna para formar-se professor de ensino elementar. Em 1909, inicia seus estudos de arte na Escola Superior de Arte em Genebra. Em 1913, vai para Stuttgard estudar pintura. Em 1919 é convidado para lecionar na Bauhaus. Em 1961, Itten publica seu livro “A arte da cor”, onde ele aborda toda a sua experiência com as cores. Itten estabelece três metas para ensinar na Bauhaus: • • •

Libertar as forças criativas para o trabalho genuíno e autônomo. Incentivar a orientação vocacional por meio de exercícios. Integrar os princípios objetivos e subjetivos dos elementos do design.

Esses três métodos segundo Itten era fazer com que os alunos estivessem ligados a suas próprias percepções, e deixar a padronização ensinada por outras escolas de artes, aquilo que ele chama de trabalho genuíno.

Itten propunha diversos exercícios para seus alunos dentre eles estavam exercícios de contraste, que era a base fundamental em seus ensinamentos, exercícios de visualização de cenas imaginarias fazendo com que os alunos tomassem consciência de três fases no decorrer: experiência, percepção e habilidade. Itten identifica o temperamento do alunos através dos trabalhos desenvolvidos em sala de aula, a partir de preferências cromáticas. Os impressivo-naturalistas apresentavam um desenho preciso nos mínimos detalhes, os construtivointelectuais construíam os objetos do desenho tentando conter e geometrizar tudo de forma clara, os espiritual-expressivos eram aqueles que se guiavam por sentimentos intuitivos. O ensino das cores de Itten recebe uma introdução sobre a natureza física da cor. Itten chama de agente da cor o pigmento e também fala do efeito cromático da cor. O efeito cromático é o efeito que a cor tem em nós é a realidade psicofisiológica da nossa percepção. Itten também aborda o efeito que as cores causam sobre nós quando sobrepostas em outras cores, onde existe uma alteração em nossa percepção. Um exemplo que podemos mostrar é um quadrado cinza claro parece mais escuro num fundo branco do que num fundo preto, e maior no fundo preto do que no branco. As cores para Itten também são um grande agente de temperamento na personalidade do artista levando a uma forma de orientação vocacional. Itten chama essas paletas de individuais de timbre subjetivo. Itten também desenvolve quatro palhetas de cores e intitula de primavera, verão, outono, inverno onde o artista cria uma relação entre elas e a partir delas desenvolve com mais harmonia seus trabalhos. A harmonia cromática para Itten era a avaliação da justaposição de duas ou mais cores, a harmonia deve buscar a satisfação do olho humano, evitando que este produza as cores que estão faltando na composição, a harmonia é um estado de equilíbrio psicofisiologico. Itten também descreve a importância do circulo cromático em seus estudos, e desenvolve a teoria dos sete contrastes cromáticos: • • •



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De Cores Puras – contraste entre cores vivas, puras e saturadas, tem destaque especial quando o brando e o preto participam da composição. Claro-escuro – este contraste explora o uso de luminosidade o valor tonal das cores. Quente-frio – alcança seu efeito mais intenso quando a oposição se faz entre as cores laranja-vermelho e azul-verde. Mas as cores podem variar por exemplo um roxo pode representar frio ao lado do vermelho mais quente ao lado do azul. Complementar – ocorre ao juntarmos os matizes diamtralmente opostos no circulo cromático. A mistura dessas cores fazem com que elas se anulem formando um tom acinzentado. Simultâneo – seu efeito deriva do efeito das cores complementares. De Saturação – trata-se do contraste entre cores vivas e cores acizentadas. De quantidade/extensão – o contraste de extensão refere-se às áreas ocupadas por duas ou mais cores.

Paul Klee (1879-1940) Paul Klee nasce em Munchenbuchsse, Suiça em 1879, inicia sua formação musical, tornando-se membro logo cedo, como violinista. A partir de 1898 inicia se sua carreira artística em artes plásticas. Muda-se pra Munique e se casa com Lily Stumpf pianista. 25 de novembro de 1919 Klee é convidado a se a juntar aos mestres da Bauhaus e desenvolve sua teoria elementar da criação. Diferente de Itten e Albers, Klee não teve formação de pedagogo e a partir de suas experiências artistas desenvolve sua metodologia de ensino na Bauhaus. A teoria da criação proposta por Klee foi a menos dogmática dentro da Bauhaus, sua preocupação principal era a criação de formas, por meio da interpretação das forças geratrizes da natureza. A teoria de cores também proposta por Klee teve algumas influências de outros mestres como Kandinsky e Goethe, para Klee o arco-íris é o ponto de partida de sua teoria um fenômeno excepcional em sua concepção. No arco-íris pode se ter as sete cores do circulo cromático. O arco-íris é uma representação linear das cores. Klee também relaciona as cores do circulo cromático como pares de cor verdadeiros os pares das complementares e de pares falsos aqueles cuja mistura não resulta num cinza absolutamente neutro. Os pares de cores verdadeiras são verde – vermelho, amarelo – violeta e azul – laranja, esses três pares se ligam por linhas diametrais que passam pelo centro do circulo, onde esta o cinza. Os pares de cores falsas são as que não se encontram diametralmente, se traçarmos uma linha reta entre essas cores elas não passam pelo meio do circulo onde esta o cinza. Klee assim como Itten também ensina aos alunos a totalidade cromática e demonstra a importância das três cores primarias em equilíbrio para a satisfação visual.

Wassily Kandinsky (1866-1944) Nasceu em 1866, em Moscou, na Rússia. Sua primeira vontade foi ser músico. Entretanto, formou-se em direito e economia política na Universidade de Moscou. Aos 30 anos, encantado com um quadro de Monet, abandonou a carreira jurídica. Em 1900, em Munique, formou-se pela Academia Real. Mergulhado nessa intensa atividade cultural de Munique Kandinsky elabora sua primeira obra teórica, o livro Do espiritual na arte. Nesta obra Kandinsky concebe sua teoria das cores, atribuindo a estas propriedades simbólicas. Nessa mesma época funda o movimento artístico Der Blaue Reiter (“O cavalo Azul”), onde representa a primeira manifestação do expressionismo abstrato. Em 1922 Kandinsky é convidado a lecionar na Bauhaus, sempre procurando adicionar princípios místicos a ilusão da infinidade cósmica no plano bidimensional, sempre levava a abstração como uma expressão da síntese da natureza em suas obras. Kandinsky desenvolve sua teoria das cores e ela se apresenta em primeiro lugar nas aulas da Bauhaus, Kandinsky analisa as cores e descreve a cada uma com um significado único, primeiro ele divide as cores em dois grandes grupos as cores frias e quentes, ou calor e frieza do tom colorido. No livro Do espiritual da arte cada cor tende a uma temperatura e movimento como um som musical, segue um resumo de sua narrativa:

Amarelo Movimento: o amarelo possui um movimento irradiante e excêntrico e representa um salto para alem de todo limite, a dispersão da força em torno de si mesma. Simbolismo: uma cor essencialmente material e terrestre, uma cor fascinante e extravagante, uma explosão de energia, um desperdiçar das forças. Temperatura: Kandinsky caracteriza como a cor mais quente de todas. Som Musical: sons extremos agudos. Estado de Espírito: a cor da loucura e delírio, uma explosão emocional, um acesso de fúria. Uma cor que possui uma forte intensidade e atormenta o homem.

Azul Movimento: o azul possui um movimento de distanciamento do homem físico, possui um movimento concêntrico. Simbolismo: uma cor imaterial, capaz de despertar no ser humano um profundo desejo de pureza e de contato com o divino. Temperatura: é considerada a cor mais fria de todas. Som Musical: sons graves. Estado de Espírito: o azul trás consigo a paz e a calma, mais também detecta um estado de tristeza a medida que se escurece na direção do preto.

Branco Movimento: o branco possui um movimento excêntrico mais não tão ativo quanto ao amarelo. Simbolismo: esta cor simboliza pureza, a alegria, o inicio e a eterna possibilidade, a esperança, um nada antes de todo nascimento, antes de todo começo. Temperatura: o branco assim como o preto não é nem quente nem frio. Som Musical: o branco assim como o preto significa o silêncio. Estado de Espírito: representa o momento de expectativa ou de dúvida diante de uma possibilidade imprevisível.

Preto Movimento: o preto realiza um movimento concêntrico, é a ausência de resistência. Simbolismo: esta cor simboliza a morte e a um “nada sem possibilidades”. Temperatura: o preto assim como o branco não é nem quente nem frio. Som Musical: assim como o branco o preto significa o silencio absoluto.

Estado de Espírito: cor associada a morte, assim como um cinza que vai adquirindo ao escurecer, o desespero e a sufocação e a profunda tristeza presente no azul.

Verde Ausência de Movimento: o verde é o ponto de equilíbrio entre as forças do amarelo e do azul, e por uma cor ter o movimento concêntrico e a outra movimento excêntrico as duas se anulam. Simbolismo: é a cor mais calma entre todas as cores. Representa passividade saudável, repleta satisfação, é tonificante e representa a cor da natureza em seu movimento de maior vitalidade e exuberância. Temperatura: não é quente nem fria, está em equilíbrio. Som Musical: o verde soa como um violino, tocando em escalas medianas, sem extremos de graves ou agudos. Estado de Espírito: representa um estado de satisfação e realização pleno, sem desejos, portanto, imóvel e passivo, tedioso.

Vermelho Movimento: o movimento do vermelho não possui direção, parece mais um borbulhar em si mesmo, Kandinsky vê nessa cor uma imensa e irresistível potência. Simbolismo: o vermelho é a cor autoconfiante, transbordante de vida, ardente, agitada, efervescente, ao misturar-se com o preto o vermelho adquire a cor marrom, que se classifica como uma cor dura, estagnada, quase sem vida. No entanto, também considera o marrom uma cor potente, na sua sonoridade interior, capaz de expressar uma beleza interior que não pode ser traduzida em palavras. Temperatura: é também uma cor quente, embora também tenha potencialidades para se tornar uma cor fria. Som Musical: representa o som impertinente de uma fanfarra, com instrumentos como a trombeta, com sua potencia e seus agudos. Estado de Espírito: com uma mistura ao amarelo o vermelho evoca força, impetuosidade, energia, decisão, alegria, triunfo. Já em um tom médio o vermelho representa um estado de alma no qual há paixão, um vermelho mergulhado no azul representa uma paixão abafada, uma brasa que se apaga na água.

Laranja Movimento: o movimento em si mesmo, que caracteriza o vermelho, transforma-se, com a adição do amarelo, em irradiação e expansão. Simbolismo: na junção dessas duas cores, a simbologia do vermelho e do amarelo se unem, resultando numa cor menos acida que o amarelo, material, ativa, que não tende para a profundidade. Temperatura: é uma cor quente.

Som Musical: soa como uma poderosa voz de contralto, ou como um sino. Estado de Espírito: o laranja representa a saúde e a força.

Violeta Movimento: o violeta possui um movimento concêntrico, característico do azul. Simbolismo: segundo Kandinsky, tanto o violeta como o laranja possuem um equilíbrio precário, a determinação dos limites dessas duas cores é imprecisa. Até onde um laranja pode ser considerado laranja e não amarelo? Qual é o limite do violeta entre o vermelho e o azul? Temperatura: é uma cor fria. Som Musical: o violeta é comparado as vibrações surdas do corne inglês. Estado de Espírito: o violeta representa um vermelho sem energia, apagado, triste e doentio.

Josef Albers (1888-1976) Josef Albers antes de estudar arte atuou como professor do ensino elementar na Alemanha. Aos 25 anos inicia seus estudos na Real Escola de Arte. Em 1920 a 1923 freqüenta a Bauhaus como aluno e em 1928 assume a responsabilidade pela direção do curso preliminar na Bauhaus. A metodologia de Albers explora o aprendizado por meio da percepção direta, e não por teorias do sistema cromático. Albers coloca a pratica na frente da teoria. Albers propõe diversos exercícios para a sensibilização do aluno. Cada exercício é explicado e ilustrado, não para fornecer uma resposta especifica, mas para sugerir uma forma de estudar. O objetivo de Albers é, portanto enxergar o que acontece entre as cores, ou seja, entender a interação cromática. Albers adota os exercícios com recortes de papel por razões praticas e fazendo um paralelo com a sensações tátil de temperatura, Albers introduz a noção das falsas sensações que o nosso corpo pode nos transmitir. Albers abrange muito em seus estudos a essas falsas sensações e faz vários experimentos colocando cores sobre fundos de outras cores, para perceber essas diferenças.

Johann Wolfgang Von Goethe (1749-1832) Goethe nasce em Frankfurt, filho de uma rica família burguesa. Estuda direito mais sempre teve interesse em varias áreas. Em 1790, com 41 anos, Goethe olha de forma decidida através do prisma, para começar suas investigações sobre as cores. Goethe cria sua teoria sobre as cores, teoria que vem a ser contraditórias as teorias de Newton, teorias que muitas vezes não foram aceitas mais como ele mesmo disse, mesmo que as suas tentativas não fossem um sucesso fez com que outras pessoas pudessem estudar mais sobre o assunto.

A teoria das cores de Goethe, intitulada Doutrina das cores, continua sendo até hoje, como bem argumentada Israel Pedrosa, um livro incomodo. Se tornou um ponto de partida para todo o aprofundamento do fenômeno cromático.

Conclusão Este livro não apenas mostra os significados das cores mais também aborda assuntos muito importantes, desde o surgimento de diversas teorias de cores desenvolvidas por esses 5 grandes mestres até a forma como aplicavam suas teorias na escola Bauhaus com exceção de Goethe. A forma como é tratado as cores, desde nossa percepção até fenômenos psicológicos que elas nos causam é abordado, revelando para nós algo que pode ser incorporado ao design trazendo satisfação e harmonia as peças a serem criadas.

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