QUINE, SOBRE O QUE HÁ

April 6, 2019 | Author: scher | Category: Ontology, Bertrand Russell, Word, Física e matemática, Physics
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Willard Van Orman Quine, nasceu a 25 de junho de 1908 nos Estados Unidos, Unidos , educado no Oberlain Colege, tendo obtido o título de doutor em Harvard, sob orientação de Alfred North Whitehead. Whitehead. Inicialmente tendo a lógica como seu principal campo de interesse e objetivando e aperfeiçoar em tal campo visitou Viena, Praga e estudou com Lógica com Rudolf Carnap. Carnap. Em 1936 tornou-se professor em Harvard. Morreu a 25 de dezembro de 2000, em seu país natal. Segundo Quine o problema ontológico pode ser formulado de uma forma muito simples - O que é que há? -, mas permite um desacordo total acerca dos casos, ou seja, a esta pergunta podemos responder de um modo muito vago, nas palavras de Quine: “Há tudo! Ou podemos responder de um modo pragmático: Com que é que uma teoria ontológica nos compromete?”. Afirmar que A e B diferem ontologicamente é afirmar que A defende que existe alguma coisa enquanto B defende defende que essa coisa coisa não existe, tomando tomando como exemplos, classes; números; números; mentes... O problema de quem defende o lado negativo numa disputa ontológica - x não existe - é o velho enigma platônico do não ser, que Quine chama de “a barba de Platão”. Surge então a indagação “Como é possível falar do que não existe?”. O enigma platônico do não ser pode levar-nos, equivocadamente, segundo Quine - a reconhecer existência em casos em que poderíamos ficar satisfeitos reconhecendo que não há nada e exemplifica-se “Falamos de Pégaso, logo Pégaso existe”. Uma hipótese acerca da existência de Pégaso é considerar que esta é uma existência enquanto idéia e não a existência de um particular espaço-temporal. Para Quine essa não é uma boa solução: basta comparar Pégaso com o Parténon. O Parténon real espaço-temporal é diferente da idéia de Parténon. Uma alternativa, atribuída a Sr. Y, é a de considerar que Pégaso tem o seu ser como possível não realizado. Ou seja, ao afirmar “Pégaso não existe” Estamos apenas a afirmar que ele não tem o atributo particular de ser real. Sr. Y admite entidades possíveis, e faz uma distinção entre Existência e Subsistência. De acordo com a perspectiva de Sr. Y, aquilo que há, inclui os possíveis e entre esses  possíveis existem os realizados e os não realizados. Assim, devemos dizer que coisas reais existem, mas muito mais coisas subsistem sem terem o atributo de existência. Destarte, Quine discorda discorda da ontologia apresentada apresentada por Sr. Y, já que basicamente acredita acredita que num universo cheio de possíveis, nem sequer é possível utilizar o conceito de identidade, e sem este conceito, o nosso pensamento é impossível. Faríamos melhor se simplesmente limpássemos a amálgama de Sr. Y e nos livrássemos dela. É este o principio metodológico da ontologia de Quine. Entre a "Barba de Platão" e a "Navalha de Ockam" Quine escolhe o minimalismo de Ockam, ou seja, a não proliferação de teorias e entidades desnecessárias. Quine vai buscar a Teoria das Descrições Definidas de Russell a solução para o problema do excesso excesso ontológico. ontológico. O mérito mérito da solução de Russell Russell consiste no fato de ela evitar o compromiss compromissoo com a existência de entidades nomeadas - Pégaso, cúpula quadrada/redonda do Berkley College...). Russell mostrou como se pode usar nomes aparentes sem daí se supor que existam as entidades por  ele nomeadas. O passo de Russell para Quine é o seguinte: a carga da referência objetiva das linguagens é transferida dos nomes ou expressões descritivas para aquilo que os lógicos chamam de variáveis ligadas, ou de quantificação, que têm como análogo palavras como, algo, tudo, nada, e que são uma parte básica da linguagem, dotadas de sentido. Afirma-se então que algo pode fazer sentido, meaningfull  e não ter sentido, meaning , isto é,

algo pode fazer sentido sem com isso implicar que as nossas variáveis tenham uma realização, um sentido. Não é, portanto, necessária uma referência objetiva para que um termo faça sentido, ao contrário do que pensa o hipotético filósofo McX, para quem Pégaso tem de alguma forma de existir, para que a palavra tenha sentido. A proposta de Quine quanto a termos singulares é de que é sempre possível uma análise à maneira de Russell, ou seja, não é necessária uma referência objetiva para que um termo faça sentido. O problema mais difícil não são os termos singulares, mas os universais, que são mais resistentes a uma explicação nominalista. Mesmo assim, graças a Russell já não precisamos ser vítimas da ilusão de que o fato de que uma frase declarativa com um termo singular ter sentido pressupõe uma entidade nomeada pelo termo. Não é necessário que um termo singular nomeie para ter sentido. O problema dos universais é o seguinte: será que existem entidades, tais como classes, números, funções, relações ou atributos? Note-se que sem estas entidades não é possível o conhecimento cientifico do mundo natural. Segundo a posição nominalista de Quine acerca dos universais é possível admitir que haja rosas vermelhas, maçãs vermelhas, casas vermelhas, etc., sem admitir que essas rosas, maçãs e casas tenham algo em comum que subsiste por si, a vermelhidão, sendo referendado por Quine que o fato de rosas, maçãs e casas serem vermelhas, isto surge como fato último e irredutível. Para lucubrar, isto poderia levar-nos a declarar que os universais são sentidos, mas Quine  pensa que os sentidos não são uma perspectivação real da natureza. A base da recusa quineana dos universais é precisamente a recusa dos sentidos. Isto não significa que Quine defenda que as palavras e as frases não têm sentido; significa apenas que Quine defende que não existem entidades abstratas a mais, paralelas ao comportamento lingüístico dos seres humanos, que seriam os sentidos. Como vimos, existe um hiato entre ter sentido e nomear. Não é necessário que algo exista, ou seja, nomeado - objeto ou conceito abstrato - para que uma palavra tenha sentido. O sentido de uma palavra não é o objeto nomeado. No exemplo de Quine, o hipotético filósofo McX insiste em atribuir ao sentido certa entidade abstrata. Quine defende que uma frase ou  palavra pode ser significativa e não ter sentido, enquanto que se entenda por sentido uma qualquer  entidade. McX confundiu o alegado objeto nomeado Pégaso com o sentido da palavra Pégaso, concluindo assim que Pégaso tem que existir para que a palavra tenha sentido. A ontologia de uma pessoa é básica relativamente ao esquema conceptual através do qual ela interpreta todas as experiências, mesmo as mais vulgares. (...) Julgada noutro esquema conceptual, uma frase declarativa que é axiomática para o espírito de alguém que se inscreva nessa ontologia (há o universal vermelhidão) pode, com igual imediatez e trivialidade, ser  declarado como falso. Os argumentos de Quine, até ao momento foram:  prima - Como demonstrou Bertrand Russell na sua Teoria das Descrições Definidas, os termos singulares podem ter significado - no sentido de serem significantes e não no sentido de  possuírem eles mesmos um significado-, sem se pressupor que existam as entidades que esses termos têm o propósito de nomear;  secunda - Podemos usar termos gerais, sem ser preciso admitir que eles sejam nomes de entidades abstratas - universais; tertia - Aquilo que normalmente se chama dar sentido a uma elocução, consiste simplesmente em empregar um sinônimo, ou seja, não é necessário aceitarmos um domínio de

entidades chamadas sentidos. O problema dos universais - de nos comprometermos ou não nos comprometermos ontologicamente com as entidades abstratas que são os universais - é ultrapassado se na nossa teoria ontológica escolhermos comprometermo-nos com entidades (rosas vermelhas, maçãs vermelhas, casas vermelhas), mas não necessariamente com entidades abstratas como a "vermelhidão". O problema dos universais é ultrapassado quando escolhemos uma ontologia de entidades abstratas. Isto se consideramos que quando nos referimos a entidades abstratas, fazemo-lo porque essa é simplesmente a nossa maneira de falar. Uma teoria está comprometida com uma ontologia quando as variáveis dessa teoria se referem às entidades ontológicas de um modo tal que as afirmações feitas nessa teoria sejam verdadeiras. Muitos problemas filosóficos surgem devido a confusões acerca de qual o domínio de entidades às quais se deve permitir que as teorias se refiram. Os medievais tiveram três abordagens ao problema dos universais: a realista, a conceitualista e a nominalista, aliás, abordagens que correspondem na filosofia do sec. XX, respectivamente à abordagem logicista, intuicionista e formalista. O realismo é a doutrina dos universais platônicos - entidades abstratas que subsistem independentemente da consciência -, Doutrina a que no sec. XX corresponde o Logicismo de Frege, Russell e Carnap. O conceitualismo, da mesma forma que o intuicionismo atual, defende que há universais, mas que esses universais são produtos da nossa consciência e já os formalistas, como os antigos nominalistas, objetam de todo a admissão de entidades abstratas, mesmo que produzidas pela consciência, ou seja, o gênero de ontologia que se adotar - realismo, conceptualismo, nominalismo, logicismo, intuicionismo, formalismo... - tem consequências nas teorias que caem debaixo do seu manto ontológico. Surge então a questio: Mas como é que se pode decidir entre ontologias rivais? Quando olhamos para uma teoria, que atua dentro de determinada ontologia, não  procuramos saber o que é que há. Procuramos, antes, saber o que é que essa ontologia diz que há. Mas o que é que há é outra questão. A discussão acerca do que há deve ser tratada, antes de mais nada, ao nível semântico, pois uma vez que eu adira à minha ontologia não posso autorizar que as minhas teorias se refiram a entidades que pertençam a outra ontologia e não há minha. Posso, no entanto discutir o desacordo entre duas ontologias. Apesar de alguns desacordos básicos entre ontologias, há por vezes pontos de convergência em níveis mais superiores que possibilitam o diálogo. Enquanto for possível esclarecer  linguisticamente ambas as posições ontológicas, o diálogo é desejável. Como tal, uma controvérsia ontológica deve tender para uma controvérsia acerca da linguagem, o que não quer dizer que o que há dependa de palavras, mas apenas que o que há é traduzível linguisticamente. Então o que é que há? Há aquilo que nos convém - em termos de simplicidade e operacionalidade - que haja. Segundo Quine, adotamos uma ontologia da mesma forma que adotamos uma teoria cientifica. Adotamos o esquema conceptual mais simples no qual os fragmentos desordenados da experiência em estado bruto possam ser ajustados e ordenados. Quine chama a este método de adotar uma ontologia, a regra da simplicidade. A regra da simplicidade é segundo Quine, a nossa máxima condutora ao fazermos corresponder dados sensíveis e objetos.

A seguir Quine apresenta-nos dois esquemas conceituais, duas ontologias, portanto, distintas: o fisicalismo e o fenomenalismo. Qual dos dois deve permanecer? Cada um tem, à sua maneira, a sua simplicidade específica. Um é epistemologicamente fundamental, fenomenalismo, enquanto que o outro é fisicamente fundamental, fisicalismo. O fisicalismo é a tese de que o mundo real nada mais é que o mundo físico, como tal, simplifica a nossa explicação da experiência, associando os inúmeros acontecimentos sensoriais a objetos únicos. O fisicalismo contemporâneo considera que a física é o questionário básico, o mais  básico acerca da natureza. Como tal a ontologia tem de se virar para a física. O fenomenalismo desenvolve a idéia segundo a qual os objetos são as possibilidades  permanentes da percepção, e como tal não é de todo provável que cada frase acerca de objetos físicos possa ser traduzida na linguagem fenomenalista. Os objetos físicos unificam e simplificam a nossa explicação do fluxo da experiência. Quine procurou mostrar que alguns argumentos a favor de algumas ontologias são falaciosos, Além disso, propôs um padrão explícito por meio do qual se decide quais os compromissos ontológicos de uma teoria. Entretanto, a questão acerca da ontologia que se deve adotar permanece em aberto, já que devemos manter, quanto a esta questão, um espírito crítico, tolerante e experimental. É, no entanto, diz-nos Quine, uma exigência natural seguir com a física. O que há, defende Quine, deve ser procurado pela física. Por outro lado, para aqueles que decidiram adotar um ponto de vista fenomenalista, que exige prioridade epistemológica, as ontologias fisicalistas não passam de mitos. Todavia, a qualidade do mito é relativa. Neste caso, relativa ao ponto de vista epistemológico, que é apenas um, entre muitos, e ao qual corresponde um entre muitos dos nossos interesses e objetivos.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA QUINE, W. V. Sobre o que há? , Tradução na Coleção Os Pensadores (versão original em Quine 1969). Original “On what there is”, de 1948 em Review of Metaphysics, 2, 21-38. Reimpressão em From a Logical Point of View , 2nd ed. (Cambridge. Mass., Harvard University Press, 1980).

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