PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO

July 8, 2019 | Author: Arlan Pinto | Category: Aprendizado, Pensamento, Paradigma, Psicologia e ciência cognitiva, Tempo
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1· César Coll Salvador Isabel Gómez Alemany Eduard Martí Teresa Mauri Majós Mariana Miras Mestres Javier Onrubia Goni Isabel Solé Gallart Enric Valls Giménez

ARlM:o

EDITORA



8 A interação professor/alunos no processo de ensino e de aprendizagem o estudo da interaçãoprofessor / alunos tem uma história muito ampla no âmbito da pesquisa sobre o ensino. Tal estudo priorizou, alternativamente, alguns aspectos em detrimento de outros. Assim, em um primeiro momento, as preocupações centravam-se em encontrar as características do professor "ideal"; mais adiante, os esforços dos pesquisadores foram direcionados a caracterizar o"ensino eficaz"; em um outro momento, as repercussões de "estilo de ensino" diferentes suscitaram interesse e até foram contrapostas aos rendimentos acadêmicos dos alunos. Essa evolução não é diferente da própria evolução da psicologia, dos parâmetros por meio dos quais se abordou a pesquisa empírica sobre o ensino e os distintos paradigmas teóricos e metodológicos que, desde o começo do século, foram sucedendo-se nos dois âmbitos. Neste capítulo, revisaremos os aspectos que, em nosso parecer, são mais importantes na pesquisa sobre a interação professor/alunos. Trataremos primeiro dos trabalhos que, a partir da perspectiva processo-produto, estudaram fundamentalmente o comportamento do professor e do seu deslocamento progressivo até os estilos docentes. A ampla difusão que tiveram e a sua repercussão na elaboração teórica e a indagação empírica irão conduzir-nos a centrar a atenção nos "sistemas de categorias", sem dúvida nenhuma os instrumentos mais utilizados e os que mais expectativas criaram para analisar a interação professor / alunos. As limitações desses instrumentos e a fragilidade de sua fundamentação teórica e conceitual, evidenciada pelo surgimento de outros paradigmas na explicação do comportamento humano, leva-nos a reconceitualizar os processos de interação dentro da sala de aula. São provas eficientes tanto na linha da pesquisa que aponta até a necessidade de considerar, além do comportamento, a anális~ das crenças ou o pensamento do professor para compreender a at\J.açãodentro. da aula, como a adoção do enfoque construtivista, que postula relações entre ospf'õcessos interativos ocorridos na sala de aula e os processos psicológicos subjacentes à aprendizagem dos alunos. Abordaremos, respectivamente, ambas essas perspectivas.

PSICOLOGIA

o estudo

do comportamento do professor e da interação alunos a partir da perspectiva processo-produto

professorl

As primeiras aproximações ao estudo da interação professor / alunos são as pesquisas sobre o comportamento do professor e as que tratam dos estilos de ensino; sob paradigma diferente, encontramos também as pesquisas sobre o penSamento do docente. Esses trabalhos, especialmente os que correspondem aos dois primeiros núcleos comentados, não se centram tanto na interação - ação recíproca, interdependente e mutuamente influente"": entre o professor e os seus alunos, mas, de modo específico, na ação do primeiro e na repercussão que essa ação acarreta no rendimento acadêmico dos segundos. São pesquisas que assumem "a existência de uma relação direta entre o comportamento do professor e aquilo que o aluno consegue" (Bennet, 1986, p. 272). Atividade 8 Antes de continuar, leia atentamente a afirmação que aparece na citação de Bennet e reflita um pouco sobre suas colocações. Escreva a sua opinião em relação ao que leu; se considera que é uma relação direta, coloque os seus argumentos por escrito; se considera que outros elementos intervêm, descreva-os.

Já se pode supor que um aspecto crítico do enfoque consiste, precisamente, na definição que porventura se faça do termo" eficácia", o qual pode variarnotave1mente, segundo o que se espera que os alunos aprendam - e a maneira como deverão aprender. Madley (1979) destaca que o conceito de eficácia docente foi variando de tal maneira que, no decorrer da sua evolução, aparece relacionado com as distintas conceitualizações que os pesquisadores atribuíram-lhe. Assim, ao longo da história, o professor eficaz foi definido de diferentes maneiras: a) Aquele que possui determinadas características de personalidade desejáveis (liderança, prudência, magnetismo pessoal, cooperação, etc.), consideradas requisitos para um ensino com bons resultados. Os trabalhos realizados sob esse ponto de vista, embora consigam alguns re~últados a respeito das características desejadas em um professor, não evidenciaram a relação entre essas características e os resultados alcançados pelos alunos na aprendizagem escolar. b) Aquele que é capaz de usar métodos de ensino eficazes. Isso implica encontrar os métodos não apená~,.,.eficazes,mas "mais eficazes" que outros. As pesquisas em que se aplicam diferentes métodos de ensino em classes formadas por grupos de alunos supostamente equiparáveis são produto dessa maneira de conceitualizar o bom ensino. Por diferentes razões, esses estudos oferecem resultados inconsistentes, muitas vezes contraditórios e impossíveis de generalizar; por isso, foram sendo abandonados progressivamente. c) Aquele que é capaz de criar um clima agradável dentro da sala de aula e domina um conjunto de competências de ensino implicadas na melhora do

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CÉSAR COLL SALVADOR

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Cals.

rendimento do aluno. Quando o professor eficaz foi assim definido, generalizou-se a idéia de queerá preciso centrar-se nos compQt'tamentos instrutivos ~ e nos seus efeitos sobre os alunos, o que conduziu à generalização das pesquisas processo-produto, com a finalidade e o efeito de identificar padrões de comportamento estáveis (os" estilos de ensino") e a popularizar os instrumentos de observação sistemática para analisar a interação, os conteúdos como" sistemas de categorias", aos quais nos referiremos mais adiante. d) Por último, aquele que domina um conjunto de competências (conhecimentos conêeituais, procedimentos, estratégias, atitudes, etc.)-que pe:rmitem um ensino eficaz; isso implicaria tanto o fato de possuir essas competências como o de saber atualizá-las adequadamente de acordo com as caracterÍsticas da situação de ensino. Por isso, a metodologia da pesquisa incorporou as medidas do comportamento do professor (obtidas por meio de intrumentos de observação sistemática) e do rendimento dos alunos (a partir dos quais se estabelecem medidas de eficácia do professor), outras medidas que permitiriam uma interpretação mais rica e matizada dos dados fenomênicos, como, por exemplo, as relativas às intenções do professor. '-,',

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l1filavez essa perspectiva (Edwards, 1990). 7',:·

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Interação professor/alunos:

conclusões e indicações para a pesquisa

A complexidade dos conceitos abordados no decorrer do item dedicado a estudar a interação professor / alunos e também a sua extensão favorece que nos encontremos diante de um aspecto fundamental para analisar o ensino e para compreender as mudanças que as pessoas experimentam ao participarem desse contexto. O estudo da interação professor / alunos está no núcleo do ensino, no núcleo dessas mudanças, e, por isso, não se deve estranhar nem a complexidade da análise nem a existência, no decorrer do desenvolvimento da pesquisa psicoinstrutiva, de diversas perspectivas a partir das quais se pode abordá-lo. A atual expansão do enfoque construtivista, que também se reflete, como vimos, nesse âmbito, não deveria levar, ao nosso parecer, à rejeição radical de enfoques e de estratégias diferentes para aproximar-se da análise da interação. Sem dúvida alguma, os conhecimentos atuais obrigam-nos a levar em consideração conceitos e métodos, porém o estudo do ensino aparece como uma tarefa tão difícil e variada, submetida à influência de tantas variáveis, que, comumente, as análises mais "micro", centradas em seqüências concretas para estudar mecanismos de influência educativa que aparecem na interação cara a cara, deveriam ser complementadas com estudos centrados em outras variáveis e em contextos mais amplos, que permitam detectar outros tipos de mecanismos. Isso implica que só pelo fato de serem diferentes não significa que estarão isentos de influenciar nesse processo contínuo de negociação de significados que é o ensino, sendo que a sua compreensão exige levar em conta a rede de relações que se estabelecem em sala de aula e as contribuições de todos os seus membros. Embora falte muito caminho a percorrer, as conclusões do estudo da interação, em uma perspectiva construtivista, que considera o caráter social e socializador da educação escolar, permitem reinterpretar alguns resultados obtidos com outras estratégias de pesquisa e a partir de postulados teóricos diferentes, que, ao mesmo tempo, proporcionam indicações úteis para ensinar na zona de desenvolvimento proximal. A interação professor/alunos

em uma perspectiva

construtivista

Onrubia (1993, p. 109-117) estabelece as principais características das situações de interação professor / alunos na perspectiva construtivista e insiste no fato de que sempre se trata de uma questão de nível- não sendo portanto uma questão de "tudo ou nada". '

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a) Inserir a atividade concreta do aluno no âmbito de objetivos ou contextos mais amplos em que tal atividade possa adquirir um significado adequado. b) Possibilitar a participaçãq de todos os alunos nas tarefas, mesmo que o seu nível de competência, ou o seu interesse, seja, a princípio, insuficiente ou inadequado. c) Estabelecer um clima relllcional, afetivo e emocional baseado na confiança, na segurança e na aceitação mútua, no qual tambéth haja lugarpara a curiosidade, para a surpresa e para o interesse pelo conhecimento. d) Introduzir modificações e ajustamentos tanto no planejamento como no desenvolvimento "sobre o andamento" da própria atuação, de acordo com a normalização obtida a partir das atuações dos alunos. e) Promover a utilização dos conhecimentos que estão sendo aprendidos e a necessidade de aprofundá-los de maneira autônoma. f) Estabelecer relações constantes e explícitas entre os novos conteúdos de aprendizagem e os conhecimentos prévios dos alunos.

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• g) Utilizar a linguagem da maneira mais clara e explícita possível, evitando e controlando pºsstl'~iSID~I-en!~1}dLdos Qufalta cie compree~são. . h) Usar a linguagem para recontextuatizar e re~opceituar a experiência. Essas indicações não são "receitas" infalíveis para assegurar o sucesso acadêmico. Trata-se de orientações por meio das quais as atividades de ensino articulam condições favoráveis para que a atividade intelectual construtiva dos alunos se oriente em um determinado sentido, devendo ser reinterpretadas e recontextualizadas em cada caso concreto.

Além das mudanças experimentais nesse âmbito de pesquisa e conceituação, o momento atual pode representar um salto qualitativo importante na medida em que, na perspectiva construtivista, este estudo não pode ser feito à margem dos esforços mais gerais para compreender a natureza das mudanças educativas e a sua relação com os processos de aprendizagem e de desenvolvimento. Por ter tanta transcendência e ser tão interessante é que em âmbitos disciplinares diferentes surge uma certa convergência em tomo da interpretação dos fenômenos interativos, dimensão funda-. mental para compreender o comportamento humano. Atividade 13 Atividade de síntese. A partir dos objetivos e do sumário do módulo, elabore um resumo em que apareçam as idéias fundamentais relativas à análise da interação professor I alunos. Preste atenção aos aspectos que considere que não estejam entendidos ou trabalhados o suficiente e também às dúvidas que possam ter ficado após a redação do resumo. Processos interativos em sala de aula: leituras recomendadas A análise dos processos interativos que se estabelecem durante as situações escolares de ensino e de aprendizagem têm uma história longa e variada. Uma revisão dos traços principais, tanto da interação professor I alunos como da interação entre alunos, pode ser consultada nos trabalhos de C. Coll e I. Solé, "La interacción profesor I alumno en el proceso de ensenanza y aprendizaje" (p. 335-333) e de C. Coll e R Colomina, "Interacción entre alumnos y aprendizaje escolar" (p. 335-352) In: C. Coll; J. Palacios; A Marchesi (1990). Desarrol/o psicológico y educación. II. Psicología de la educación. Madrid: Alianza Universidad. O fato de que a evolução da pesquisa nesses âmbitos seja analisada e valorizada a partir de um marco conceitual comum facilita a visão de conjunto necessária para uma aproximação às relações interpessoais na educação. A leitura dos capítulos mencionados pode reforçar os conteúdos trabalhados neste módulo. É igualmente recomendável a leitura de Interacción entre iguales, organizado por C. Col1, que inclui contribuições desse autor, de Forman e Cazden e de Webb (In/ancia yaprendizaje, 1984, p. 27-28). Os diferentes artigos desse trabalho permitem aprofundar outras perspectivas de análise e conceitualização das relações entre alunos e do seu potencial educativo, já que podem contribuir para entender melhor os conteúdos tratados neste no módulo e os diversos enfoques com que se abordou as interações entre alunos. Também em relação à interação entre alunos, é recomendável a leitura do trabalho de M.A Melero Zabal e P. Femández Berrocal, "EI aprendizaje entre iguales: el estado de la cuestión en &tados Unidos", e o de G. Echeita, "El aprendizaje cooperativo. Un análisis psicosocial de' s~s ventajas respecto.a otras estructuras de aprendizaje", inclusos em um livro compilado por Melero Zabal e Femández Berrocal (La inte~acción social en contextos educativos. Madrid: Siglo XXI, 1995).

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