psicanalise freudiana
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esse é um documento sobre psicanalise onde encontramos todas as bases tecnicas para termos uma noção simples do que é es...
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PSICANÁLISE E A FORMAÇÃO DO PSICANALISTA
Unidade
2 Como se forma um analista? Como se dá a transmissão da psicanálise? Embora a formação seja um processo subjetivo que cada um assume em nome próprio, ela não é, todavia, um processo solitário. É da essência desse processo processo o endereçamento ao outro. As instituições psicanalíticas oferecem essa possibilidade de interlocução entre pares, fazendo avançar a psicanálise e fomentando sua transmissão. As diferenças no modo de conceber a formação do analista determinam diferenças no modo de propor a formação teórico-clínica, marcando diferenças profundas no modo de condução da clínica psicanalítica. Foram convidados para um Debate realizado em mesa redonda: RICARDO GOLDENBERG Psicanalista, licenciado em psicologia pela Universidad de Buenos Aires, mestre em filosofia pela USP e doutor em comunicação e semiótica pela PUC-SP. P UC-SP. Membro da Associação Psicanalítica de Porto Alegre (APPOA) e membro fundador de Percurso Psicanalítico de Brasília.
Sua posição sobre a formação do psicanalista. As posições adotadas por Lacan nas questões da formação de novos analistas, situamno num ponto radicalmente diverso das demais escolas. "Em algum lugar, o François Perrier disse que o problema não era como tornar-se psicanalista, mas que ter se tornado psicanalista criava o problema retroativamente. Esta observação não apenas é bem bolada como revela um clínico brilhante. Esta é minha questão: se deixarmos de lado o prestígio social, o encantamento com os textos ou o duvidoso juízo de um júri, o que nos faz reconhecer o psicanalista em alguns e por que não conseguimos percebê-lo em outros?" MARCO ANTONIO COUTINHO JORGE Psiquiatra, psicanalista e professor adjunto do Instituto de Psicologia / UERJ.
A estrutura da formação psicanalítica. Chega-se à conclusão de que há uma estrutura da formação psicanalítica inerente ao tripé clássico - análise pessoal, ensino teórico, supervisão clínica -, ao mostrar que Lacan não rompeu com a tradição a esse respeito, mas nele introduziu um rigor psicanalítico e renovou decisivamente decisivamente suas diferentes diferentes dimensões.
DURVAL CHECCHINATO Psicanalista, membro fundador da Associação Campinense de Psicanálise.
A formação do psicanalista é um projeto vivido, executado pelo próprio sujeito. A instituição, nem sempre necessária, nada mais que meio. E isto já é disruptivo como disruptiva é a contínua formação do sujeito psicanalista. De todo modo, o que a disrupção, específica às manifestações do inconsciente, nos expõe, no mínimo e no máximo, é que a segunda regra é essencial. Da primeira o próprio inconsciente se encarrega malgrado o psicanalista ou o psicanalisante. A segunda, porém, é sem excusas. Até os místicos já a tinham descoberto: o pior dos pecados é o “apego à propriedade”. Renúncia é o que ela nos impõe, mas radical. Houve até quem propusesse que o analista ouvisse com um terceiro ouvido. Prenúncio do grande Outro? Ou metáfora da radicalidade da escuta analítica? Em todo caso, o mais difícil da formação. E, pior, exigência absoluta da prática, já que análise não haveria. A descoberta do significante que a outro remete na história do sujeito foi um grande passo. Dele, invertendo o signo, Lacan fez o algoritmo da pratica psicanalítica. Eficaz eureka, viva e claramente nas obras primevas do Fundador. Mas assim formulada a regra segunda nos abre caminho. Uma nova ética, a do bem-dizer. Abstenção total do que é do analista, uma impiedade, diríamos consigo mesmo. Sublimação é seu nome. Essa ascese é a mais difícil de todas e não estranha que Lacan apreciasse tanto os místicos: Teresa de Ávila , João da Cruz, mestre Eckhart e sobretudo Ângelo Silesius, “O Peregrino Querubínico”. E o problema maior é que não se trata de uma vez, é programa de uma vida. Ser. Psicanalista... Fernando Pessoa, por incrível, fala dessas coisas: buscar “o micróbio da significação ou o estalido da diferença”. É um projeto da verdade. Do sujeito. Daí: analista é palha, o que sobra. Ele ainda adverte: “Com que confiança cremos no nosso sentido das palavras dos outros”. Porisso, recomenda: “Sê imprevenido por ti próprio”, já que “os não-incautos erram”. “Sinto-me nascido a cada momento
Para a eterna novidade do mundo”. (Fernando Pessoa) 1- A clínica psicanalítica Aquilo que especifica a prática psicanalítica é o reconhecimento de transferências inconscientes, da resistência e do auxílio que eles constituem para a análise e para o advento do sujeito que ela promove. A arte de praticar a análise se confunde com a arte de resolver "a neurose de transferência" presente na análise e que pode fazer com que, se for o caso, o analisando se torne analista. Uma vez que as transferências do analisando e o desejo do analista estão no início da experiência ( o lugar do "sujeito suposto saber" onde o analista vem se situar já é antecipado na história), o que se tornam as categorias nosográficas herdadas da psiquiatria?
São as modalidades da transferência, da resistência e da colocação do fantasma no seu lugar ( modos de ligar o sujeito ao objeto do desejo ) que esclarecem o curso da análise. A única "neurose" que o analista conhece é, segundo Freud, "a nova neurose artificial " (acrescentemos: ou "a nova psicose") que se manifesta através da transferência. Não seria mais conveniente dizer, hoje em dia: a nova relação do sujeito com o fantasma, com a realidade, com o real? Entre dois riscos, o da psiquiatrização da psicanálise e o da sua psicologização, existe uma possibilidade epistemológica de extrair uma autonomia da clínica psicanalítica em relação a qualquer concepção objetivante da relação à outra, emprestada de outros campos do saber? Em relação a essa possibilidade, quais são as variações do protocolo analítico que podem ser consideradas? Uma relação específica entre a tekné (a arte de analisar) e o "epistêmê" (o saber) resta a elucidar. 2- Transmissão da Psicanálise Como em toda disciplina, a especificidade da transmissão da Psicanálise, da qual Freud formulou (em "A Análise leiga") altas exigências para um Instinto ou uma Escola, requer que o saber esperado do psicanalista seja acrescido da experiência "em si" de uma análise, cujas modalidades de realização são reguladas por associações privadas. Cada uma delas tem uma relação particular com a herança de Freud, ou com a (herança) de um de seus sucessores, e uma relação de poder "sobre" esse saber do qual ela se atribui a guarda. Frente à preocupação real em preservar a herança do pensamento psicanalítico e em transmitir o seu saber ao modo tão singular da experiência de uma análise, susceptível de recolocar esse saber em questão, tendem a se perpetuar transferências não resolvidas que, ao mesmo tempo, regulam as relações entre colegas e impregnam a direção da análise, de um modelo justamente ali onde a necessidade de uma constante invenção se impõe. As relações cristalizadas do sujeito com o "fantasma" e com o objeto do desejo, mesmo quando não se trata do "atolamento" de um conflito de geração, são, desta forma, expostas a se transmitirem como tais. Se pudermos compreender historicamente que a relação analista/analisando se encontre em coalescência com a tradição mestre/aluno, não disporíamos então, hoje em dia, de um reflexão sobre a experiência que pudesse desprendê-la disso? Como aportar um suplemento de análise às modalidades atuais da transmissão e da validação dessa experiência? Como evitar que autonomia e a independência adquiridas pela análise se inverta na relação entre analistas? 3- As instituições analíticas Há dois modos de existência da Psicanálise: Um, como experiência singular no transcorrer da qual a sociabilidade interna do sujeito se move no espaço "privado" da situação analítica, na "neurose" ou na "Psicose" de transferência ou, em outros termos, na relação com o fantasma e com a realidade.
E o outro, no qual a psicanálise se manifesta no domínio "público" através da teoria, das instituições analíticas, na relação com o social e com o político. Esses dois modos de existência da psicanálise, são eles destinados à clivagem, ou pode-se colocar como possível a correspondência entre eles, levando em consideração problemas que pode apresentar a maneira pela qual eles se respondem, um ao outro? Qual seria o futuro dessa " co-respondência" para a psicanálise, como ela se inscreveria nas escolas de psicanálise, como poderia ela modificar o laço social em geral e o laço social entre analistas em particular? E como poderia ela resistir às derivas do sectarismo ou da standardização burocrática, respeitando as diferentes correntes de pensamentos que a animam submetendo-as ao rigor da razão analítica? 4- A relação da psicanálise com o social e com o político Diversos
exemplos
na
história
do
movimento
psicanalítico
testemunham
a
desconsideração da relação da psicanálise com o social e com o político, quaisquer que tenham sido as reflexões neste domínio extraídas por Freud e seus sucessores. Um a-politismo ostentado sempre cobriu políticas de Estado insustentáveis. Pode-se extrair um pensamento analítico do político, uma contribuição desse pensamento para a história social e para a evolução das sociedades, para a reflexão sobre os direitos do homem, para a concepção tradicional da ética? Mais precisamente, como julgar, diante de um tal pensamento, os diferentes modos de inscrição da prática da psicanálise em relação às regulamentações sociais ou profissionais variando segundo os países? Em relação às mudanças sócio-culturais, à crise generalizada do pensamento, à progressiva restrição do domínio privado? A psicanálise pode ater-se ao princípio de flutuabiliade universal das suas instituições em relação aos poderes políticos e frente às mudanças culturais profundas de nossa sociedade? A psicanálise das crianças, a presença dos analistas no domínio da educação ou nas instituições de cuidados, sua relação com o trabalho social e com as mudanças advindas da demanda de análise, o crescimento considerável do número de analistas, um número considerável de dados que modificaram a prática mais clássica. Como fica isso tudo? 5- A relação da psicanálise com a arte, com a literatura, com a filosofia Ao reconhecer-lhes "antecedentes" no conhecimento da realidade psíquica, a psicanálise apoiou-se, com freqüência, na literatura e na arte para acentuar suas descobertas. A crítica literária e a crítica da arte encontram, hoje em dia, na psicanálise, uma nova fonte de reflexão. Quais são as novas avenidas para o pensamento que os seus encontros podem abrir? Para se inspirar e para se ilustrar, a leitura dos filósofos teria impregnado a obra de Freud e, a partir daí, a obra de Lacan, de mais de uma maneira para falarmos apenas desses dois. Muitos conceitos dos quais eles se servem pertencem à história da metafísica, são forjados na mesma matéria linguageira que eles herdaram. Em que medida eles se libertam desta história? Que estabilidade podem ter os conceitos em psicanálise? Como eles se renovam? Várias correntes da filosofia, hoje em dia, levam em consideração os avanços da psicanálise e a questionam de volta: sobre sua doutrina da verdade, sobre sua idealização da letra, sobre seus modelos interpretativos, sobre seus mitos de origem,
quando não é sobre a insuficiência de sua reflexão referente à violência social, ao direito e à justiça ou suas próprias instituições. Esse questionamento não acontece sem acarretar remanejamentos na teoria psicanalítica: sobre a relação da fala com a escrita, da marca com seu apagamento, sobre as questões da sexuação e do gozo. O mesmo se diz em numerosos aspectos da sua prática. 6- A relação da psicanálise com o direito, com as neurociências, com a biologia e com a genética Desde da Shoah, o crime primordial perpetrado em nome da violência mítica que instauraria a lei não é mais o parricídio mas o crime contra a humanidade que atinge até ao enraizamento biológico da realidade psíquica e da crueldade fundamental desprovido de toda consciência de culpabilidade. Esta violência mitológica tenta se apropriar querendo destruir a testemunha, uma violência divina cuja justiça seria irredutível ao direito. Einstein e Freud desejavam, já em 1933, submeter este crime primordial, ainda sem nome, a uma jurisdição supra-nacional. Qual é hoje, a nossa concepção do homem? Tem ela sua consistência na forma de um sujeito de um conjunto neruronal tornado sensível às suas experiências através das sinapses da dor ou do prazer ou como um sujeito da fala e da letra, do desejo e da lei? Em que atualmente, o progresso da biologia molecular e da genética podem recolocar em questão a teoria freudiana das pulsões? Como pensar então as diferentes etapas do salto que vai do dispositivo pulsional a uma combinatória do representante da representação? Os substratos moleculares não explicam-ou não ainda como o sujeito das exigências biológicas é capaz de tornar a sua servidão "voluntária" ou de querer libertar-se dela. A exclusão do sujeito do inconsciente do campo das ciências do vivente faz aparecer o espectro de um homem-máquina aos humores regulados quimicamente ou seu correlato puramente religioso.
A FORMAÇÃO DO PSICANALISTA Fonte mesa redonda fonte: www.interseccaopsicanalitica.com.br Por Priscila Fernandes Costa. Gostaria de agradecer, inicialmente, aos organizadores deste Simpósio e particularmente a Arlete Mourão, pelo convite para participar, enquanto membro do Percurso Psicanalítico de Brasília, desta mesa redonda sobre Psicanálise e Formação do Psicanalista Hoje. Trata-se de um tema complexo e que sempre ocupou a reflexão dos psicanalistas, sobretudo na atualidade, quando vemos surgir uma oferta crescente de enganosos cursos de “formação em psicanálise”. Quem deve ser encarregar da formação? Como dever ela proceder? Qual o papel da instituição na formação de analistas? Inúmeras são as questões que se apresentam, desde sempre, aos psicanalistas. Já é lugar comum ouvirmos dizer que a instituição psicanalítica é um mal necessário. A bem da verdade, os psicanalistas não conseguem se manter longe dos agrupamentos ou das instituições por muito tempo. O isolamento da prática de consultório e a necessidade de checar a autenticidade de nossos atos, obriganos a constituir pares de interlocução. Mas ocorre que um grande número de
vezes, à medida que os espaços de encontro de psicanalistas vão se constituindo, outro tipo de demanda começa a aparecer, a saber, a demanda de formação. As instituições das quais participei ou participo, se constituíram a partir de pedidos de formalização da formação, pedidos estes quase sempre acompanhados de uma expectativa de que, com a institucionalização, algo próximo do modelo de ensino formal pudesse ser ali ser oferecido. Acabamos por perceber, no entanto, que não podemos nos furtar a “responder” a tais pedidos. Os analistas de fato, nos vemos compelidos a fazer frente a essas demandas, embora não possamos jamais perder de vista que a formação do analista não tem nada a ver com a reprodução de um modelo, nem tampouco com a transmissão de um savoir faire. A formação em psicanálise, portanto, é algo bem mais complexo do que um curso de estrutura universitária, e, por isso mesmo, constituir e oferecer um espaço de formação de analistas torna-se um projeto bastante audacioso, sobretudo quando pensamos nas questões de garantia e nomeação. O que se observa, contudo, é que quando as instituições - sobretudo as de orientação lacaniana - oferecem formação, esta se refere, em princípio, ao ensino teórico. Questões relativas ao desejo do analista e até os impasses experimentados na pratica clínica, ficam adiados - quando não esquecidos - para um momento posterior. Embora a questão da formação do psicanalista seja um tema que desde a origem da psicanálise provoca polêmicas e discussões acirradas, engajando os grupos em fundamentações que chegam a ser antagônicas, um ponto se apresenta como de acordo entre os psicanalistas de diferentes linhas teóricas: a formação do psicanalista se baseia numa exigência tríplice: análise pessoal (ou didática), supervisão (também conhecida como análise de controle) e estudo teórico. Embora sustentada num tripé, o ponto fundamental e o lugar por excelência do tornar-se psicanalista são a análise pessoal. Já em l910 Freud a situa “como a única via de acesso do analisando para um saber sobre o inconsciente e a transferência”(1). Inconsciente e transferência são dois conceitos - fundamentais, para Lacan - que demarcam o campo psicanalítico, assegurando-o como distinto de todos os demais campos do saber. Com a entrada do ensino de Lacan no panorama psicanalítico, através de sua proposta de um retorno a Freud, as questões referentes à formação do psicanalista tomam um novo impulso. Seguindo as pegadas de Freud que evitou vincular a transmissão da psicanálise ao aprendizado do manejo técnico, Lacan convida os psicanalistas a darem continuidade à pesquisa iniciada por aquele; uma pesquisa que se dá ao nível da experiência, daquilo que se passa na situação analítica. Somente assim a teoria ganha um sentido, e não o contrário como ocorre normalmente em outros campos do saber. Na Proposição de 09 de outubro de l967 Lacan subverte mais ainda o status quo da formação em psicanálise, quando escreve que... “O psicanalista é autorizado apenas por si mesmo” (2). Tal “questão de princípio” além de reafirmar o lugar privilegiado da análise pessoal na formação do psicanalista, convoca aos analistas para que dêem conta de suas análises e do momento em que se tornaram suporte do discurso analítico. Desvincula a formação do psicanalista de qualquer controle ou normatização institucional, pois autorizar-se psicanalista “reside na capacidade do sujeito de usar seu próprio inconsciente como um instrumento” (3), e isto só é possível para quem já passou pessoalmente pela experiência do inconsciente.
O campo psicanalítico se marca pelo aparecimento do novo. Dessa forma, a “ciência” analítica deve ser colocada em questão com cada paciente. Por isso Freud considerou que “as vias da formação são as do inconsciente do analista às voltas com o inconsciente do analisando” (4). O desenvolvimento desse campo, pois, se liga ao aparecimento do inconsciente como ato - ato analítico - que inclui o próprio analista. Para Freud a dimensão da invenção deveria ser continuamente reencontrada, e isso através de uma experiência pessoal da qual não podemos nos poupar. É através da emergência do significante da transferência que a relação analítica se estabelece, instaurando, então, um primeiro advento do sujeito desejante. Em transferência, o analisando se dirige ao analista supondo-lhe um saber sobre sua verdade. É igualmente pelo significante da transferência que o sujeito poderá estruturar sua demanda de análise em relação ao desejo que o causa. É no campo da fala, portanto, que a psicanálise opera. O campo fala não é o da realidade objetiva, mas o da colocação em jogo da verdade produtora de uma fala que ultrapassa o sujeito falante. Lacan revoluciona mais uma vez a questão da formação do psicanalista quando nos aponta que o que está em jogo na formação do analista é o desejo do analista: “o desejo do analista é o operador decisivo para o engatamento do processo analítico” (5). Para o analisando, a possibilidade de dizer a verdade está presa ao desejo do analista. Colocado no lugar do sujeito-suposto-saber, o analista encarna o saber de seu analisando, o qual ele desconhece por completo, e com seu ato dirige o sujeito para o ponto do Real que o atravessa e determina - a castração, a falta-a-ser - e que é o ponto no qual o sujeito deve reconhecer o impossível de seu desejo. Reconhecer, pois, o caráter irredutível de tal impasse é o que caracteriza o fim de análise; poder ultrapassa-lo leva o sujeito ao tornar-se psicanalista. Fazer a experiência do inconsciente é emergir (entre dois significantes) enquanto sujeito faltoso, enquanto falta-a ser. Tal emergência é regida por uma Ética, nos diz Lacan: a Ética da psicanálise que não é outra coisa senão a Ética do desejo do analista, pois é dele que depende a direção do tratamento. Identificado com a causa de seu desejo - a falta o analisando completa seu percurso. Poderá ocupar então o lugar do analista e através de seus analisandos permanecer identificado ao desejo que o causa. Cada analista tem que encontrar o seu “estilo”, e este não deixa de ter efeito no trabalho que empreenderá com cada paciente. A cada vez, com cada paciente é preciso reinventar a psicanálise, deixar que um novo saber emerja e nos surpreenda. Diante de tais premissas podemos afirmar, então:
1) que a formação do
psicanalista é permanente e não se deixa definir por um currículo fixo; 2) o tempo necessário para que o analisando passe a analista não pode ser determinado “a priori”, pois se trata de um tempo lógico e único para cada sujeito; 3) é a análise que produz o psicanalista; 4) o ensino da psicanálise deve incluir a dimensão da transferência, uma vez que a teoria analítica enraíza-se na experiência pessoal. Com isso já podemos concluir que tentar regulamentar a profissão de psicanalista só irá desvirtuar a proposta freudiana de busca da verdade do sujeito através da abertura do inconsciente, mantendo assim um espaço para a invenção. Mas e a instituição, que papel tem na formação do psicanalista, uma vez que essa se dá quase que totalmente no divã de outro psicanalista? Segundo Lacan a instituição psicanalítica deve-se constituir como lugar de garantia de circulação do discurso psicanalítico. Ao invés de oferecer certezas, a
Instituição analítica deve possibilitar interrogações sobre o que foi o processo de análise de cada um. Ela tem também o papel de assegurar a formação, mas não podemos jamais deixar de interrogar a maneira de faze-lo. Para concluir, não posso deixar de fazer um comentário sobre os diversos cursos de “formação psicanalítica” que tem surgido ultimamente. Basta uma olhada rápida no currículo que elas oferecem para percebermos o mais absoluto desconhecimento do campo da psicanálise. Parece-me que tais grupos se apropriaram do nome da psicanálise, presumindo tratar-se de uma “terra de ninguém” onde o primeiro que finca sua bandeira torna-se seu dono. O fato de não estar regulamentada pelo Estado não faz da psicanálise uma disciplina caótica. O saber que a psicanálise produz é de um rigor tal que, pelo fato de não poder ser ensinada acaba por ser transmitida. As instituições verdadeiramente psicanalíticas são as únicas apta para tomar nas mãos a questão da formação e da habilitação. Segundo M. Mannoni, “a psicanálise é a-social; a partir daí, o problema que se coloca não é tanto o de formar quando o de desfazer. A psicanálise para continuar atuante, parece ter que viver remando contra a correnteza. A partir do momento em que deixa uma posição de marginalidade, ela passa a alimentar as ciências anexas, ao preço de perder sua própria dimensão de verdade” (6). Referências Bibliográficas: (1) Mannoni, M. Um saber que não se sabe - a experiência analítica. Papirus, Campinas, 1989. (2) Lacan, J. Proposição de 9 de outubro de l967 sobre o psicanalista da escola, Psicanálise e Transmissão, Letra Freudiana, n.0, Rio de Janeiro, l983. (3) Ibid. (4) Mannoni, M. Da paixão do ser à “loucura” de saber - Freud, os anglosaxões e Lacan. Jorge Zahar Editor, Rio de Janeiro, 1988. (5) Lacan, J. Proposição de 9 de outubro de l967... (6) Mannoni, M. Da paixão do ser à “loucura” do saber.
Participaram da Mesa as seguintes Instituições: Expositoras: Associação de Psicanálise de Brasília, representada por Zalex Süffert. Espaço Psicanalítico, representado por Regina Ortiz Aragão. Percurso Psicanalítico de Brasília, representado por Priscila Fernandes Costa. Sociedade de Psicanálise de Brasília, representada por Carlos de Almeida Vieira. Debatedoras: Centro de Estudos, Pesquisa e Atendimento Global da Infância e Adolescência, representado por Marília Macedo Klotz. Centro de Estudos Psicanalíticos de Brasília, representado por Isabel Maria Vieira. Curso de Especialização em Teoria Psicanalítica da UnB, representado por Luiz Augusto Celes
Política de formação em psicanálise Alinhavando algumas anotações de leitura Regina Schnaiderman A política de formação em Psicanálise ou, o que é mais sério, o problema de formação de psicanalistas, ocupa e preocupa desde sempre a todos os que pretendem definir este campo de conhecimento e esta modalidade de prática. A história do movimento psicanalítico pode ser escrita em torno deste tema. Foi, no entanto, depois da Segunda Guerra Mundial que a discussão destes assuntos atingiu todas as instituições e mesmo o terreno da Filosofia da Ciência e da Epistemologia, abrindo um grande campo de debates. Temos hoje uma ampla bibliografia sobre o assunto. Todo este florescimento e questionamento foi fruto sem dúvida da grande difusão da Psicanálise e, principalmente, das derivações desta para outros campos de conhecimento, tais como a Filosofia, a Lingüística, a Antropologia, etc. Também o incremento de preocupações da ordem da política e do poder, da Psiquiatria, das questões de normatividade, adaptação, contracultura, etc., envolvem a revolução psicanalítica, seus limites e suas possibilidades. Lacan, cuja contribuição é inegável, embora sob muitos aspectos bastante discutível, propõe com muito alarde e violência este tema em vários artigos da década de 50, especialmente em "Situação da Psicanálise e formação de psicanalistas", 1956, e "O ensino da Psicanálise", 1957. Eis algumas indagações de Lacan: "O que se torna a Psicanálise em mãos de psicanalistas que somente o são em virtude de uma conformidade a um modelo institucional cujos princípios e fins visam reproduzir a fim de que possam subsistir?... "A que preço a Psicanálise, que é fundamentalmente da ordem da contracultura, pode tomar lugar na cultura para a qual ela contribui modificando certos aspectos, mas cuja pressão tende constantemente a recuperá-la e a reduzi-la?" J. P. Valabrega escreve: "É possível que, na sua forma relativamente pura 'o ouro puro' segundo a metáfora de Freud o exercício da Psicanálise desapareça, seja por decreto de um poder legal, seja pela integração num sistema qualquer de assistência médico-social. Existem exemplos deste tipo de acontecimento. Outros acham inelutável a sua evolução. Mas como o inconsciente não pode ser suprimido por um governo nem anexado numa nomenclatura, o mais provável é que as flutuações da História levem a Psicanálise a retornar periodicamente à situação marginal, ao isolamento, à quase clandestinidade das suas origens. O que não será forçosamente mau para o seu futuro, mas a fará renascer, periodicamente também, de suas degradações e de seus vestígios". O objetivo da Psicanálise é o sentido encarnado, a significação materializada. Esta é a definição da ruptura profunda de Freud com a ciência psicológica e psicopatológica de seu tempo. Mas a Psicanálise não é simplesmente a teoria do seu objeto ela é essencialmente a atividade que faz falar em pessoa. É nesta fala que a Psicanálise encontra sua origem e seus princípios. Lá onde os médicos da época não viam senão defeitos do funcionamento psíquico produzidos pela doença, Freud viu o sentido, e que esse sentido era o de um sujeito, que era o paciente, mas não era idêntico a este. Isso o levou a tratar os sujeitos como sujeitos e a interrogar seriamente o conteúdo do seu dizer, em lugar de dissolvê-lo no universal abstrato do anormal. A revolução copernicana consistiu em não mais colocar a razão do lado do médico e a desrazão do lado do doente, mas ver neste a manifestação de uma outra razão. Todo esse universo
não se originou numa teoria ou numa decisão. Freud recebeu o seu preparo na relação com os seus pacientes e realizou plenamente sua teoria quando entrou no projeto da sua chamada auto-análise, projeto que consiste em se compreender para se transformar. É este o projeto que funda a análise e a define como atividade, atividade de um sujeito como sujeito com outro sujeito como sujeito. Acho que se pode definir a atividade do analista como um projeto de transformação. O desejo do analista não torna possível a situação analítica. E se não é um desejo de saber, também não é a aplicação deste saber. O conhecimento da teoria não é suficiente para tornar ninguém analista. A maneira como a teoria intervém no processo analítico não tem nenhum outro modelo e nenhuma fórmula permite definir a sua função. Nenhum método geral permite encontrar a solução, que deve ser descoberta de cada vez. A teoria orienta, define classes infinitas de possíveis e impossíveis, mas não pode predizer nem produzir soluções. Que espécie de transformação é essa que constitui o projeto analítico? Essa transformação é a atualização de um poder ser, e é por isso que a análise é um processo de desalienação. A atividade analítica como processo de autotransformação é uma atividade prático-poética e que se realiza no processo de elucidação, que desde o começo é também um projeto de elucidação de seu objeto e dela mesma em termos universais, isto é, projeto de constituição de uma teoria. Essa teoria se pretende científica. Seu objeto é observável lapso, angústia, sintoma, etc. Mas, de fato, a sua realidade se constitui enquanto ele é um sentido, isto é, enquanto ele é de cada vez singular. A análise procura no individual, no singular, aquilo que o ultrapassa e representa o universal. Mas considerar o indivíduo como simples combinatória de elementos substituíveis e permutáveis é eliminar o objeto real da Psicanálise em nome de um sonho pseudoteórico. O paciente é irredutível. Trata-se na prática da desalienação do paciente uma verdade a construir através de um presente indefinido. A teoria é um momento da elucidação, sempre lacunar e fragmentária. A teoria assegurada em si não existe nem nas matemáticas. A atividade de elucidação necessariamente ultrapassa as teorias e não se submete simplesmente a seus critérios. Analisar é fazer, e fazer com um outro. Os pacientes não são materiais de análise a explorar como fontes de teorização ou a transformar em indivíduos normais. Os pacientes têm que se fazer, se auto-alertar, e pelo processo analítico criar um novo segmento que sua história e, no caso mais geral, aceder pela primeira vez explicitamente a uma historicidade ao mesmo tempo singular e coletiva. Isto é criação. O outro e os outros estão sempre presentes. É neste se fazer que o analista coopera é este o fazer do analista. Trata-se da ascensão à autonomia. É este o projeto do analista. Não é verdade que o analista não quer nada para o seu paciente. Ele não quer isso ou aquilo. Mas quer que o paciente se desaliene, que transforme a relação entre o seu inconsciente e a sua consciência, que leve o inconsciente à expressão e a consciência à lucidez e à atividade. A Psicanálise postula para todos os atos do indivíduo, e o mostra na prática, sem desconsiderar as demais determinações determinações inconscientes. Ninguém escapa a isso nem Sócrates, nem Hegel, nem Schreber e nem Freud. Todo discurso que se pretenda verdadeiro é conduzido por intenções inconscientes tanto quanto o crime e o delírio. Ensinar Psicanálise é um ato psicanalítico e é um projeto de desalienação. Desalienação desta vez não do sujeito analisando, mas desalienação do discurso que se tem sobre o saber psicanalítico. O que se ensina é de fato um modelo metodológico que subordina todo saber a uma interrogação e a uma colocação em questão.
Formar um psicanalista como entender este programa? A palavra "formação" é sempre carregada de positividade e normatividade; ela conota um projeto e um processo. A noção de formação analítica comporta uma contradição nos próprios termos, já que a Psicanálise não é feita para instituir modelos de pensamento ou de comportamento. A Psicanálise não pode ser ensinada como as outras ciências. As pesquisas e os debates apontam a inexistência de um consenso ou mesmo algum acordo no que diz respeito à formação, critérios de seleção, importância da teoria, etc. Ao que parece, o maior acordo diz respeito à formação tripartida do analista. Ela se compõe de: 1) uma análise pessoal de efeito necessariamente didático, graças à qual se experimenta a teoria pela experiência da transferência e do inconsciente; 2) uma aproximação teórica das obras de Freud e dos pós-freudianos e eventualmente aberturas para outras ciências humanas (Etnologia, Mitologia, História das Religiões, etc.); 3) prática de curas ditas supervisionadas, através das quais o analista em formação dá conta das primeiras curas que ele conduz, a um outro analista experimentado e suposto saber. De um modo geral, o analista se forma no quadro de um grupo científico ou ideológico, fora de toda lei reguladora externa; as universidades não são reconhecidas como podendo responder pela formação de psicanalistas. De fato sabemos que:
1) o saber do analista tem como objeto o estudo do
funcionamento psíquico; 2) a particularidade deste saber consiste na necessidade, tanto para o analista quanto para o analisando, de, a cada vez, reencontrá-lo in vivo; 3) isto o diferencia do que seria, por exemplo (Castoriadis), o saber matemático frente a um triângulo retângulo, posso sempre afirmar que o quadrado da hipotenusa é igual à soma dos quadrados dos catetos; face a um sujeito, não posso sustentar nenhum teorema deste tipo: "Em todo sujeito histórico, posso deduzir, a priori, que fatores históricos determinaram seu destino"; a respeito deste sujeito particular com quem me enfrento eu não conheço nada o que eu sei é o caminho para fazê-lo chegar a este conhecimento; 4) donde se conclui que o saber do analista se resolve num saber analisar, isto é, ser capaz de levar um outro sujeito à decifração do seu texto inconsciente; analisar é um fazer saber e não um saber fazer. Qual é a fonte do saber psicanalítico? 1) Os textos de Freud; sim mais isto não basta; 2) o fato de ter sido analisado; sem dúvida, mas isto também não basta; 3) o fato de ser analista, o fato de analisar. Esta terceira origem do saber coloca o que é de demonstrar como já demonstrado. Este é um dos paradoxos da Psicanálise. Além do mais, o conhecimento e a competência de um futuro analista não lhe asseguram por si só nenhuma identidade. Só um outro, um terceiro, pode reconhecêlo, instituí-lo, garanti-lo. Ser analista envolve não só o reconhecimento do desejo, mas o desejo de reconhecimento. Ser analista implica uma prática e uma prática teórica. Granoff afirma que para que isto se realize basta ter um paciente e um amigo e que o problema do reconhecimento e da prática teórica não precisa ser resolvido através de complexas instituições ou escritos muito originais sobre teoria psicanalítica. Mas todos esses são problemas muito complexos, inerentes à especialidade da Psicanálise. Há duas vertentes na formação psicanalítica uma vertente científica e uma vertente iniciática. Estas duas vertentes são fontes de conflitos de referência e, portanto,
conflitos identificatórios. O destino desses conflitos e a sua resolução dependem daquilo que atua inconscientemente no momento privilegiado da habilitação, da qual todo o grupo tem um modelo ou um trajeto que sanciona ou valida a formação. Esta formação não é jamais adquirida na inocência, pois ela é marcada para idéia que o grupo tem de análise e de analista e sempre há explícita ou implicitamente avaliações e juízos deduzidos, efeitos interpretados como didáticos que fazem com que alguém seja reconhecido como analista pelos seus pares. Para enfrentar esta realidade é que se torna necessário todo um trabalho de desidealização e todo um trabalho de luto. Cada etapa de formação exige uma reelaboração dos jogos identificatórios implicados na: 1) análise pessoal tornada retroativamente didática seqüela da identificação com o analista; 2) relação com a teoria, que se torna apoio do pensamento e instrumento de reflexão seqüela da identificação com o mestre e com o discurso dogmático; 3) prática psicanalítica seqüela da identificação com as posses e emblemas da função psicanalítica. Sabemos que os problemas fundamentais dizem respeito à transferência à filiação e origem. Conrad Stein fala de um "setor reservado da transferência" que não é analisável e que diz respeito ao ideal comum no projeto manifesto da análise. É possível que este setor tenha de permanecer, mas todos sabem da importância da análise da transferência negativa, da transferência narcísica e da transferência apaixonada e alienante. Nem todos levam isto muito a sério e nós sabemos que a nãoanálise destes aspectos é que pode levar a uma idealidade da análise e do analista, a uma encarnação da análise no analista e a uma identificação alienante e alienada. O saber sobre a Psicanálise pode ser adquirido em livros ou na universidade, mas sabemos que este saber não tem valor de formação. A formação teórica, reconhecida como tal, é fornecida intramuros por analistas sob a forma de seminários, grupos de pesquisa, aulas, etc. Estes analistas são supostos saber e este suposto saber é um dos móveis da transferência. É a chamada "transferência lateral", que é tanto mais perigosa quanto a pedagogia institui uma relação forte/fraco, grande/pequeno etc., o que leva a uma hipervalorização do mestre que exaspera a inveja e acentua a hierarquia; tais tipos de relações têm componentes sadomasoquistas e induzem formas de identificação várias na linha da identificação com o agressor. Ainda bem que nem toda sedução é um roubo e nem todo saber engendra sua utilização abusiva. No entanto, toda formação contém essa potencialidade identificatória onde a adesão ao discurso do mestre e a um corpo de doutrina toma valor de identidade, sem qualquer processo de crítica ou metabolização. A passagem pela supervisão corre os mesmos riscos, embora seja algo da máxima importância. Não é fácil manter a dimensão analítica e que o supervisor saiba lidar não só com o material que lhe é trazido mas com as posições identificatórias e as manifestações transferenciais e contratransferenciais que se mobilizam. O problema da filiação e das origens se inaugura na relação com Freud, pai fundador único, antepassado do qual todo analista reafirma e promete, na sua iniciação, conservar e fazer frutificar a herança. As pessoas em geral querem saber por quem um analista foi analisado, quem foram os seus supervisores. Isso sucede porque a Psicanálise tem uma origem datada, encarnada na pessoa de um homem genial cuja biografia não pode ser dispensada quando se quer compreender as engrenagens da teoria. André Green considera que tudo isto faz parte da originalidade da Psicanálise. Todo analista nasce numa sociedade endogâmica de vocação incestuosa. Mas o que é preciso ressaltar é que a formação analítica só merece este qualificativo a partir do momento em que se põem em questão todas estas posições identificatórias, filiais ou parentais, em que o analista traçará o seu caminho como entender, sem precisar
recorrer sempre a fontes de referência e certezas e a mestres identificatórios. Será somente então que se poderá julgar se nos encontramos em presença de uma reprodução idêntica, de um duplo partenogenético ou de um outro que soube conquistar o que seus pais e pares lhe legaram. Existe como vemos uma diferença que não é puramente retórica entre ensino de Psicanálise e formação em Psicanálise. Na formação, há sempre o risco de se constituírem redes de analistas formadores e analisandos alunos, redes que têm por função a devoção ao mestre por um lado, e o fornecimento de clientes e postos de poder por outro, e nas quais o critério é a pertinência. Trata-se, pois, de tentar criar uma organização na qual, em primeiro lugar, a pertinência seja estudada pelos seus efeitos, submetida a uma análise contínua e na qual a pertinência não seja nem exigida, nem imposta e nem proposta, quer de modo autoritário, quer de modo tácito ou por insinuação. Acho que, num assunto tão difícil e tão amplo, reuni algumas poucas considerações gerais e sugeri alguns cuidados. O assunto merece mais tempo e mais trabalho. No entanto, introduzindo a dúvida metódica e crítica, o trabalho de permanente alerta e análise de todos os fatores que podem levar à alienação transferencial e à dogmatização do conhecimento, abrimos acesso para um conhecimento que não seja simples repetição e para uma formação analítica que não passe exclusivamente por mecanismos cegos de identificação.
Bibliografia: 1. C. Castoriadis, Les Carrefours du Labyrinthe, Paris, Éd. du Seuil, 1978. 2. M. Enriquez, "On Forme un Analyste", in Nouvelle Revue de Psychanalyse, Nº 20, Paris, Éd. Gallimard, 1979. 3. Estudios Freudianos, Nºs. 1, 2, Buenos Aires, Ed. Corregidor, 1974. 4. Études Freudiennes, Nºs. 5, 6, Paris, Éd. Denoël, 1972. 5. L'Inconscient - Revue de Psychanalyse, Nº 8, Paris, Presses Universitaires, 1968. 6. F. Roustang, Un destin si funeste, Paris, Éd. Minuit, 1976. 7. Topique - Revue Freudienne, Nº 19, Paris, Éd. EPI, 1977. 8. J.P. Valabrega, La Formation du Psychanalyste, Paris, Éd. Belfond, 1979. 9. R.S. Wallerstein, "Perspectives on Psychoanalytic training around the world", in International Journal of Psychoanalysis, Nº 59, 1978.
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