Projeto Mestrado Rafael Miranda
August 24, 2022 | Author: Anonymous | Category: N/A
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RESUMO Esta pesquisa tem como intuito analisar, compreender e refletir sobre alguns conceitos, práticas e valo valore ress soci sociai aiss ex exis iste tent ntes es na so soci cied edad adee ub uber erla land nden ense se entr entree as déca década dass de 1940 1940 e 1960 1960;; estabelecemos como nosso recorte cronolgico o per!odo entre os anos de 1944 a 1964" #ara tal fim, analisaremos alguns processos criminais tipificados pelo artigo 1$9 %les&o corporal' do (digo #enal )rasileiro de 1940, mais precisamente fic*amos todos os $+ processos existentes nesta tipifica-&o" (om isso, trabal*aremos qualitativamente com aproximadamente . processos de cada ano dos $0 totais selecionados para a pesquisa ou o mesmo que 100 processos" /ais processos est&o dispon!veis para os pesquisadores no (23 %(entro de ocumenta-&o e #esquisa em istria' da niversidade 5ederal de berlndia %5'" 7creditamos que o estudo desses processos poderá poderá nos a8udar a compreend compreender er n&o apenas problematia-:es problematia-:es do passado, mas também quest:es do nosso cotidiano atual, assolado por problemas de seguran-a pblica" se entre 1944 e 1964" 3&o vários os motivos que 8ustificam a escol* esc ol*aa desse desse per per!od !odo" o" #ri #rime meiram irament ente, e, podem podemos os ap apont ontar ar o enorme enorme co contr ntrole ole midiát midiático ico cara caract cter er!s !sti tico co da époc épocaa qu quan anto to Ms qu ques est: t:es es qu quee en envo volv lvia iam m a vi viol ol=n =nci ciaa na ci cida dade de,, principalmente da m!dia m!dia impressa % 8ornais da parte policial da época' que, m muitas uitas vees, est&o est&o ainda anexadas aos processos estudados" 3egundo, o limite do recorte é o ano de 1964 pelo fato de que aps a mudan-a do regime pol!tico brasileiro, os militares que ocuparam o poder passaram a atuar de maneira diferenciada em rela-&o ao controle das práticas criminosas e violentas da sociedade" (om isso, nessa pesquisa ser&o analisados os tr=s tipos mais frequentes de tipifica-&o de les&o corporal" #rimeiramente, iremos compreender a tipifica-&o que está enquadrada em sua forma fundamental, ou se8a, a forma simplificada e que está redigida no caput do artigo 1$9 do (digo #enal" /ambém iremos abordar a forma grave, descrita no inciso primeiro do mesmo artigo e, por fim, a denominada grav!ssima descrita no inciso segundo" 7 escol*a por trabal*ar com estas tr=s tipifica-:es 8ustifica>se devido M abundante quantidade de processos criminais 8á pré>catalogados que s&o caracteriados por estas formas de les&o arquivados no (23" 7 cataloga-&o dos processos foi iniciada por ns *á aproximadamente tr=s anos, por 6
ocasi&o da feitura da monografia exigida para o término do curso de gradua-&o em istria na 5" Entendemos que nossa pesquisa e estudo contribuir&o para o est!mulo ao debate sobre a *ist *istr ria ia da viol viol=n =nci ciaa de noss nossaa cida cidade de"" /ent ntar arem emos os de demo mons nstr trar ar po porr meio meio de da dado doss quantitativos e qualitativos perspectivas, muitas vees, veladas ou deixadas a margem pelo senso sen so comum comum e pel peloo se sensa nsacio cional nalism ismoo das gra grande ndess forma formass mid midiát iática icass co conte ntempo mporn rneas eas"" /entaremos /entaremos escrever outra istria berlandense, longe da ideia ufanista e progressista que se tem da cidade" Essa istria buscará abordar a aus=ncia do Estado em algumas esferas da sociedade, na qual a autogest&o e as normas e práticas sociais espec!ficas substituem um poder regulador r egulador oficial do Estado" /e /entaremos ntaremos identificar, mediante os dados qualitativos do trabal*o, quais valores realmente foram defendidos pela popula-&o berlandense, estudando e analisando processos de les& les&oo corporal, tentamos identificar qual era o @pano @pano de fundoA que motivava os agressores cometer tais transgress:es" 7 rela-&o entre istria e ireito n&o é novidade" L *istoriador italiano (arlo Finburg %19C9, p" 1C+' di que a tarefa entre distinguir o @realA e o @poss!velA é o que pode caracteriar a diferen-a entre a tica do trabal*o do 8ui de direito com o trabal*o do *istoriador" #ara o 8ui, estar diante de uma margem de incerteas pode possuir um caráter puramente negativo, pois sua a-&o, muitas vees, determinará o destino de seu semel*ante" #or sua ve, o *istoriador n&o se preocupa em 8ulgar ninguém, pelo contrário ele deve tentar ao máxi máximo mo se is isen enta tarr de emiti emitirr qual qualqu quer er tipo tipo de 8u 8u! !oo de va valo lor, r, mesm mesmoo sa sabe bend ndoo da impossibilidade da realia-&o de tal a-&o" 7ssim, ao lidar constantemente com a dvida, o *istoriador sempre trabal*a no campo da verossimil*an-a e atua na esfera das possibilidades, n&o n&o das das certe certea as" s" Ge Gesm smoo com com es essa sa late latent ntee di dist stin in-& -&oo en entr tree as du duas as t tic icas as,, o ca camp mpoo *istoriográfico e o campo 8ur!dico sempre andaram de m&os dadas na esfera epistemolgica, ao passo que as fontes de seus estudos e análises possuem, na maioria das vees, a mesma origem, tais como os testemun*os orais, documentos, documentos, ind!cios, entre outros" 7o se usar processos criminais como fonte principal de um trabal*o *istrico, é preciso tomar um enorme cuidado" abaixoA, um umaa série de medida medidass foram tomadas em em sua gest&o @190$>1906A, um programa de sade pblica foi instaurado, obrigando os moradores a tomarem vacinas, fato esse que ocasionou uma revolta popular denominada @revolta da vacinaA, além de demolir muitos corti-os dando espa-o a alargamentos de ruas e avenidas" /udo foi muito influenciado, pela organia organia-&o -&o de modernia-&o da cidade 5rancesa de #aris" ma ve que #ereira #assos se encontrava na cidade Iu, naquele per!odo" C
seguinte afirma-&o de (arlos 7ntDnio (osta Hibeiro %199.', a qual exemplifica a 8un-&o epistemolgica Ls processos criminais s&o uma constru-&o espec!fica dos funcionários 8ur!dicos>burocráticos, que revelam cren-as e valores vigentes na sociedade" 3eria 8ustamente no curso de elabora-&o destes des tes proces processos sos que estes estes funcio funcionár nários ios lan-ar lan-ariam iam m&o de ide ideias ias e valore valoress vigent vigentes es na sociedade, atribuindo significados Ms @*istriasA que ser&o 8ulgadas 8ul gadas nos tribunais" #ode>se dier que os processos s&o feitos pelo mundo social 8á que s&o elaborados pelos funcionários 8udiciais e s&o @*istriasA nas quais s&o expressos determinados valores vigentes na sociedade" ma ve aceitos como vers:es ver!dicas da realidade, os valores e as ideias que os comp:em passam a ser retificados publicamente" publicamente" %H2)E2HL, 199."# 199."#"$4' "$4'
Em outras palavras, ao estudar o direito na sociedade, descobre>se que ele n&o é apen apenas as um re refl flex exoo dela dela,, ma mass tamb também ém um co cond ndic icio iona nado dorr so soci cial al,, o qu qual al ge gera ra no novo voss compor com portam tament entos os e val valore oress su sub8e b8etiv tivos os aos indiv! indiv!duo duoss so socia ciais" is" 7o se 8ulgar 8ulgar um pro proces cesso so criminal, além de 8ulgar um tipo de crime, 8ulga também @tipos de indiv!duosA" (itando Gax Seber Se ber %19.C', (arlos (osta Hibeiro %199.', afirma que a @previsibilida @previsibilidadeA deA e a @calculabilida @calculabilidadeA deA do @direito formalA residem residem na constncia constncia e na regularidade da atitudes dos funcionários burocráticos do sistema 8ur!dico que s&o responsáveis pela transforma-&o dos conflitos correntes em confronta-:es 8ur!dicas" L trabal*o dos funcio fun cionár nários ios do sistem sistemaa 8ur 8ur!di !dico co consis consiste te exatam exatament entee na selesele-&o &o de alguns alguns aspec aspectos tos da realidade que devem ser traduidos nos autos" Gas é 8ustamente essa sele-&o que revela as ideiass e os valores dos representan ideia representantes tes 8ur!dicos" 8ur!dicos" 7o selecionar selecionar o que deve constar constar dos autos, autos, policiais, magistrados, advogados e etc, acabam revelando do que é bom ou mal no mundo social, suas ideologias" 7 c*amada @racionalia-&o das normasA possibilitaria a @ob8etividadeA ou a imparcialidade das decis:es 8ur!dicas, mas a sele-&o dos fatos, que devem constar ou n&o dos processos 8udiciais, seria um momento sub8etivo e de parcialidade na elabora-&o dos autos" %SE)EH, 19.C apud Hibeiro, Hibeiro, 199., p" $.'
#odemos ainda citar #ierre )ourdieu %19C9', para quem o ireito além de ser uma representa-&o de cren-as e valores vigentes, também possui a @for-a oficial de nomina-&oA" #or meio dos veredictos dos 8u!es fica estabelecido publicamente que certas pessoas s&o culpadas e outras s&o inocentes, o que fa do ireito possuir o poder de criar certas @verda @ve rdades desA" A" Seber %19 %19.C' .C' afirma afirma que o @di @direi reito to racion racionalA alA é um pro produt dutoo da socied sociedade ade capitalista moderna, um produto da modernidade, mas pode>se dier que o ireito também é um agente formador desta sociedade determinando a perpetua-&o de certas cren-as e de certos valores" #ode>se dier qu quee o estudo das das a-:es sociais permeadas pela influ=ncia influ=ncia do ireito, nos leva M epistemologia do paradoxo, uma ve que na base legal formal, ou se8a, no con8unto das leis positivadas e escrita estaria a possibilidade da ob8etividade e imparcialidade, por outro lado, na sele-&o dos elementos constituidores dos autos ou dos processos criminais %dos 9
fatos a serem 8ulgados' estaria o espa-o para a sub8etividade e parcialidade" eve>se sempre ter em mente a exist=ncia destas duas esferas ao se trabal*ar com processos crimes e com o ireito" 7pesar da necessidade de selecionarmos alguns trabal*os para embasar nosso pro8eto, uma bibliografia vasta e rica se tem sobre o assunto em nosso pa!s" Já em berlndia e nos trabal*os produidos na 5, o uso de processos criminais enquanto fonte principal para um trabal*o *istrico acad=mico n&o é t&o usual" á poucos trabal*os acad=micos usando tal aparato e a maioria enfoca as tens:es ou as temáticas relacionadas ao g=nero, tais como a viol=ncia contra a mul*er, muitas vees, por meio do estudo de processos criminais do c*amado @crime de sedu-&o$A" /rabal*os /rabal*os como o de (ésar (oel*o %%$004', $004', 7na #aula (antelli %1999', Kera Icia #uga %199C' e (laudia Fuerra %199C', utiliaram processos crimes como fontes primárias de seus trabal*os" 3obre nossa temática, no 2nstituto de istria da 5, até o momento foi encontrado apenas um trabal*o" /rata>se do trabal*o monográfico de Feraldo Keiga, em que realia>se uma análise quantitativa usando dados estáticos de gráficos e mapas dos crimes de les&o corporal ocorridos entre 1960 e 19C0" #or fim acreditamos que contribuiremos com nosso trabal*o tr abal*o para enriquecer tal debate local, uma ve que a viol=ncia é inerente ao ser *umano, o mel*or é nos esfor-amos para tentarmos entend=>la"
+. OE!"&OS +.1 Obe Obeivo ivo /eral /eral
$ L crime de sedu-&o foi revogado pela lei 11"106 de $00." Ele foi revogado devido a um n!tido anacronismo que o caráter da lei possu!a, demonstrando assim, que o direito deve ter respaldo social para que este ten*a validade e vice>versa" L crime de sedu-&o constitu!a em se seduir uma 8ovem que estivesse entre seus 14 e 1C anos e mantivesse com ela algum tipo de rela-&o carnal" a>diaA"
+.+ Obe Obeivos ivos Espec Espec0ico 0icoss > #roblematiar as especificidades de cada caso, uma ve que as motiva-:es para o crime de les&o corporal s&o mltiplas" > 7pontar em que medida os processos crimes expressam valores e práticas dos técnicos burocráticos do ireito ireito e n&o da popu popula-&o la-&o como um todo" > 7nalisar o material da imprensa escrita da época, bem como verificar o modo como a imprensa representava esse tipo de criminalidade por meio de seu viés sensacionalista" > (ompreender a dinmica social entre os diferentes agentes sociais atuantes nesses processos crimes" > (ontribuir para o debate sobre a viol=ncia na regi&o do /ringulo Gineiro e no estado de Ginas Ferais"
+.2 Pro Problem3 blem3ica ica 7 produ-&o *istoriográfica que analisa a viol=ncia e a criminalidade brasileira é demasiadamente dicotDmica pela perspectiva epistemolgica" (omo 8á dito anteriormente, na maior parte dos trabal*os ou se opta por uma abordagem estritamente quantitativa, usando programas e dados estat!sticos ou se fa um c*amado estudo de caso, ou se8a, limita>se bastante a análise circunscrita para que se consiga algum resultado mais abrangente 11
comportamental da popula-&o como um todo" iante disso, buscaremos trabal*ar com as duas metodologias, acreditando que elas n&o s&o contraditrias, de modo que se complementam e nos a8udariam a criar um panorama mais complexo sobre a quest&o enquanto um todo" Guito se di a respeito da cidade de berlndia quanto a ser uma cidade ordeira e guardi& dos bons *ábitos e da moral" /entaremos desconstruir e problematiar essa máxima, demonstrando até que ponto alguns valores sociais como a *onra e a boa fama podem ser afetadas e regulamentadas pelo ordenamento 8ur!dico" Uuestionaremos até que o ponto os ordenamentos 8ur!dicos e os valores sociais estabelecem uma *armonia e uma conviv=ncia coletiva pac!fica entre seus integrantes, e até que ponto estas normas s&o respeitadas por sua comunidade" 7demais, buscamos entender por que estes valores s&o adotados e praticados pela popula-&o e outros n&o" Uuais seriam as especificidades das caracter!sticas da popula-&o uber uberla land nden ense se em rela rela-& -&oo M viol viol=n =nci ciaa no pe per! r!od odoo se sele leci cion onad adoo se será rá no noss ssoo pr prin inci cipa pall questionamento e nossa principal busca"
2. #U')%ME'!%45O "("O/R6#"$% determinadas, mas analisam o caso em sua especificidade" Este modelo é c*amado de direito consuetudinário consuetudiná rio ou prático" + Vvonne Gaggie é antroploga da niversidade 5ederal do Hio de Janeiro %5HJ', muito respeitada no meio acad=mico e considerada por muitos, uma vo ativa e influente na quest&o da desigualdade social e racial, termo que desagrada a autora, uma ve que o conceito de ra-a foi criado no século R2R, pelos médicos geneticistas, mas que *o8e em dia pela mesma classe, ele é totalmente refutado" 14
esse modo, de certa maneira, para Hibeiro, os representantes do direito, possuem sim uma margem social representativa dos valores vigentes no seu tempo e no seu espa-o, eles n&o est&o r!gidos a um ordenamento ou ao poder dominante" e maneira mais complexa, ou se8a, considerando n&o s a margem de atua-&o dos su8eitos sociais, mas descrevendo>as, temos a tese de doutorado e disserta-&o de mestrado do professor da niversidade 5ederal de berlndia, eivQ 5erreira (arneiro, bem como o trabal*o da *istoriadora Jeanne 3ilva" Eles descrevem, em seus respectivos estudos, toda trama, toda rela-&o e variedade de intensidades de poderes que podem *aver em determinados lit!gios, caracteriando assim uma espécie de 8ogo social e ao mesmo tempo *istrico, pois se estabelece ao longo do tempo com a institui-&o de perdas e gan*os entre os agentes a todo o instante" iante dessa afirma-&o temos o seguinte posicionamento de 3ilva %$00.' 7ssim constatamos que o centro de gravidade do direito n&o está situado na parte expl!cita das regras, mas antes de tudo no processo *istrico" #rocesso porque n&o se trata de um *istrico narrativo ou *istrico positivo" epende da articula-&o da trama *istrica" epende do enredo" E o enredo pode seguir inmeras variantes, pode ser contado de diversos modos" se uma compreens&o n&o s contextual, pois, muitas vees, tais situa-:es n&o est&o expostas Ms claras com a simples leitura dos processos" (omo ensina o *istoriador italiano (arlo Finburg %1990', no texto 2inais! $aízes de um paradi.ma indici"rio
Ge Gesm smoo qu quee o ist istor oria iado dorr n&o n&o po poss ssaa deix deixar ar de se re refe feri rir, r, exp xpl! l!ci cita ta ou implicitamente, a séries de fenDmenos comparáveis, a sua estratégia cognoscitiva assi assim m como como os seus seus cdi cdigo goss exp xpre ress ssiv ivos os perm perman anec ecem em in intr trin insi sica came ment ntee individuali indiv idualiante antess %mesmo %mesmo que o indiv!duo indiv!duo se8a um grupo social ou uma sociedade sociedade inteira'" 14"
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)7H/, 5redriZ" 7nt*ropological models and social realitQ" 2n ;rocess and orm in social lie" Iondon Houtledge egan #aul,
19C1"
" " Godels of social organiation 2 2ntroduction" /*e analQtical importance of transactionA" 2n ;rocess and orm in social lie" Iondon Houtledge egan #aul, 19C1" )7/7I7, )7/ 7I7, (láudio " G" 5orma-&o da (lasse operária e pro8etos de identidade coletiva" 2n O tempo do liberalismo ecludente
da #roclama-&o da Hepblica M Hevolu-&o de 19+0
%Lrgania-&o Jorge 5erreira e Iuc!lia de 7lmeida
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