Projeto de Mestrado

September 8, 2022 | Author: Anonymous | Category: N/A
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À Coordenadoria do Programa de Pós-Graduação em Filosofia Centro de Filosofia e Ciências Humanas Universidade Federal de Santa Catarina Da Seleção para o Mestrado em Filosofia (2011): PROJETO DE TRABALHO: Três Interpretações Heideggerianas da Crítica da Razão Pura

Candidato: Diogo Campos da Silva Área de concentração: Ontologia Orientadora pretendida: Profª. Drª Claudia Pellegrini Drucker 

pesquisa investigará as três inte interpretações rpretações da Crítica da Razão Pura que Heidegger Resumo: Nossa pesquisa nos ofereceu ofereceu ainda em vida: Kant e o Problem Problemaa de Mate Matefísca físca,, de 1929; 1929; O que é uma Coisa?  Doutrina de Kant dos Princípios Transcendentais Transcendentais  e A Tese de Kant sobre s obre o Ser , ambas

publicadas  pela primeira vez em 1962. Com o estudo daquela primeira obra se pretende abordar a semelhanças entre a reconstrução que Heidegger faz da Imaginação Transcendental kantiana e a sua própria noção noç ão de Temp empora oralid lidade ade ex expos posta ta em Ser e Tempo  (1927). A duas outras obras, por sua vez,  precisarão se caracterizar frente à essa primeira interpretação que nos foi legada. Elas ainda auxiliam Heidegger (mediante Kant) a nos aproximar da resposta à pergunta pelo ser dos entes,  porém, agora não mais tanto do ponto de vista do sentido inerente à estrutura finita do Ser-aí, Ser-aí, mas a  partir do des-velamento histórico do Ser. Depois dessa delimitação dos distintos campos em que se originaram as interpretações em questão, se poderá investigar o sentido da tese kantiana acerca do Ser: o ser enquanto posição. Pala Pa lavr vras as-c -cha have ve:: Ser Ser;; Ima Imagin ginaçã açãoo Tran ransce scende ndenta ntal; l; Fin Finitu itude; de; Tempo; empo; Esquem Esquema; a; Horizo Horizonte nte;;

Compreensão do ser do ente; Objeto; Ob-jetividade; Entendimento; Intuição; Matemático; Posição. 1. Justificativa

Ao justificar um tema de pesquisa se deve dizer a razão pela qual se entende ser ainda importante o assunto e a investigação. A pergunta inicial é: no quê aquilo que será investigado diz respeito a nós hoje? O tema da pesquisa fala de nós? Entretanto, a resposta exige, como se verá no que segue, que outras perguntas acompanhem acompanhem aquela questão: Kant diz algo do que agora vivemos?

 

E, se esse for o caso, por que Kant só diz isso se tomado desde a interpretação que Heidegger ofereceu do seu pensamento? Dentre os momentos da filosofia contemporânea dedicados ao pensamento de Immanuel Kant, as interpretações heideggerianas recebem, ainda hoje, um lugar de destaque. Isso evidentemente não se deve apenas ao caráter instigante e à profundidade da análise de inúmeras passagens daquele pensamento, sobretudo no tocante a um texto consagrado da tradição ocidental, a Crítica da Razão Pura, mas a importância dada a essas interpretações resulta também de um outro e duplo aspecto das mesmas, a que chamo: seu caráter radicalviolento. Acredito que, caso atentemos ao significado desse caráter, com ele poderemos  justificar a importância de, mais uma vez, investigar essas três interpretações da CRP   que foram publicadas durante a vida e sob a decisão de Heidegger 1.  Radical   tem, tem,

par paraa nós, nós, o me mesm smoo se sent ntid idoo de renovador . As interpretações que

Heidegger Heide gger nos oferec ofereceu eu da CRP   trazem, trazem, todas elas, para o âmbito da discussão filosófica contemporânea um pensamento decisivo da modernidade. Com elas faz sentido, mais do que nunca, retermos sempre e de novo a importância e o peso da filosofia kantiana de modo a entendê-la como algo que ainda não passou. Torna-se Torna-se claro, com as interpretações em questão, que o pensamento de Kant foi (e é) decisivo no nosso Ser-aí, i.e., na medida em que Kant atentou e buscou esclarecer em seus fundamentos um projeto de Ser, ou uma compreensão do ser dos entes, que ainda vigora na atualidade 2. As interpretações são renovadoras, portanto, enquanto nos mostram, ainda agora, a vitalidade daquela filosofia. Mas por que motivo devemos entender a renovação em consonância com a radicalidade? Para obter a resposta é necessário que prestemos atenção ao modo como Heidegger pôde deixar a vitalidade de Kant vir à tona. 1. Suas obras póstumas acerca de Kant não constituirão o objeto específico do nosso trabalho pela razão de confiarmos naquilo que diz Irene Borges Duarte (1995), profunda estudiosa da relação Heidegger-Kant: que com o apelo às três obras que escolhemos pode-se já construir uma visão ampla do debate de Heidegger com Kant, assim como apreender o essencial dos detalhes dessas interpretações. As obras póstumas, “no que se refere à interpretação propriamente dita de kant […] não oferecem nada de essencial, que não estivesse já na obra  publicada em vida de Heidegger” (DUARTE, (DUARTE, 1995, p. 220). Não obstante, conforme pensa a mesma autora, contribuam as obras póstumas para a elucidação de determinadas passagens das obras principais ou para um completo estudo histórico da interpretação. Considerando-se isso, elas poderão entrar em nossa pesquisa, no sentido de ressaltar e esclarecer certas ideias já expostas nas três interpretações fundamentais, desde que tenhamos acesso a essas obras. 2. É claro que aquilo a que Kant alcançou não permaneceu intacto e idêntico, sem variações, até hoje. Isso não se  poderia passar devido obviamente a tudo o que veio depois: o idealismo alemão, Nietzsche, o positivismo, o desenvolvimento ôntico das ciências. Heidegger tem ciência que o projeto de Ser tomou novas formas de manifestaçã manife staçãoo e ocultamento, ocultamento, o que exigiu outras investigaçõ investigações es ontológicas, ontológicas, novos modos de expor aquilo que historicamente nos determina. Contudo, Heidegger, é ainda o do cimo se pode alcançar, para trás, a determinação do ser como presençapara e, para frente, aKant determinação serdesde como onde vontade de vontade.

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Aquilo que Kant pensou é o impensado de toda a metafísica. O que Kant pensou deve agora ser pensado se não quisermos mais correr o perigo de que nos alertam os filósofos e os poetas3. Parece contraditório: se o Ser foi pensado por Kant, por que seria ele o impensado por excelência desde sempre até hoje? Ora, Kant pensou aquilo pelo que ele não  pôde se decidir. decidir. Daí que o pensamento de Kant sobre o Ser não está na superfície do texto, nem é o que revela imediatamente o projeto e a arquitetura da Crítica, nem é o que se apanha depois de se conhecer toda a filosofia crítica e seu sistema. Pois o que Kant verdadeiramente  pensou permaneceu oculto no aspecto mais evidente de seu pensamento, e isso, em certo sentido, para o próprio Kant, mas principalmente para seus contemporâneos e para seus intérpretes posteriores. Para pensar e compreender Kant “melhor que ele mesmo” foi preciso aprofundamento e radicalidade. Foi preciso trazer à tona com força o que lá aparece ou se dá como impensado. Radicalidade que dizer alcançar um texto ou uma filosofia desde um horiz horizon onte te que que não não foi foi im imed edia iata tame ment ntee ofer oferec ecid idoo na naqu quel elee te text xto, o, mas mas um ho hori rizo zont ntee de compreensão que só contemporaneamente se tornou claro a partir de um filósofo que parece, com esse horizonte, ter muito a dizer sobre nós mesmos: o horizonte do sentido do Ser ou da história do Ser 4. Radicalidade não tem aqui, ainda, nenhum sentido de juízo de valor (negativo). E o que temos a dizer sobre a violências dessas interpretaçõ interpretações? es? É possível que nós que encontramos na filosofia de Heidegger a questão essencial do pensamento, a pergunta  pelo Ser, tenhamos muito pouco a dizer acerca da violência. Entretanto, a forte repercussão das interpretações heideggerianas de Kant e da CRP  não   não se deve apenas aos que aceitam e assumem a questão do Ser. Ela é motivada muito também pelos detratores dessa questão. E  para eles, as interpretações, e em particular aquela que se expôs em  Kant e o Problema da  Metafísica,

são resultado de imposições e transferências de temas e questões que não só não

dizem respeito ao pensamento genuíno de Kant, como tão pouco deveriam fazer sentido para todos nós. É possível que eles entendam a violência intrínseca às interpretações meramente como aniquilação de um pensamento a que devemos muito. Todavia, para nós, a violência é exigida pelo aspecto renovador das interpretações, tem a ver com a radicalidade necessária a uma interpretação que faça justiça ao grande pensador que é Kant, tem a ver com o próprio 3. “O deserto cresce, ai daquele que abriga desertos.”, Nietzsche. “Ali onde está o perigo, cresce também a salvação.” Hölderlin. 4. Fica a questão de saber até que ponto se fala de um ou dois horizontes completamente distintos. Trata-se das conexões entre o Heidegger I e o Heidegger II. O que, talvez, só possa por nós ser respondido depois de longo estudo da trajetória do pensamento de Heidegger.

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ocultamento do Ser e, além do mais, deve ser entendida conjuntamente ao que Heidegger chama desconstrução da Metafísica. Se, por um lado, estamos convencidos de que Kant tem o que dizer a respeito de algo que de certo modo permanece fundamental ao nosso Ser-aí atual, ou seja, que com a CRP  podemos  podemos pôr a descoberto um projeto de Ser que agora nos toca, e de que essa tarefa só

 pode ser atingida mediante aquelas interpretações que escolhemos investigar, então isso nos  parece suficiente para justificar a empreitada que desejamos iniciar em breve. Porém, por outro lado, ainda não podemos tornar totalmente claro o verdadeiro motivo pelo qual aquilo que com a CRP   se se descobre é ainda importante, pois não podemos afirmar nada ainda sobre em que consiste tal projeto de ser ou compreensão do Ser e por quais meios ele ainda nos diz respeito, que caminho histórico é esse que nos liga a Kant. Temos, de alguma forma, meditado um pouco sobre essas respostas a ponto de nos sentirmos a vontade para afirmar o que se disse nessa justificativa. Mas uma exposição completa e rigorosa dessas respostas não se pode oferecer aqui, pois para isso se precisa percorrer as interpretações, examiná-las, debruçar-se muitas vezes sobre elas. Em outras palavras, será necessário todo o caminho de uma pesquisa. Assim, as perguntas aqui pendentes se transformam, em seguida, em nosso objetivo principal. A direção em que o objetivo nos coloca deve se tornar um pouco mais transparente na breve discussão do tema que se oferecerá depois. 2. Objetivo Principal

Oferecer um panorama da trajetória da presença de Kant no pensamento de Heidegger por meio de um roteiro que nos permita acessar os momentos mais importantes deste diálogo: desde o primeiro encontro interpretativo de Heidegger com a CRP , no âmbiente de pen pensam sament entoo ori origin ginad adoo pel pelaa for força ça da dass ideias ideias e pro propos postas tas de SeT   (a tentativa de uma exposição do sentido do Ser partindo da fenomenologia hermenêutica da finitude) até a importância que Kant adquire a partir do trânsito do pensamento heideggeriano em direção a via aletheiológica que inaugura a “história do Ser”. 3. Objetivos Secundários

Quanto Quan to ao estu estudo do de  Kant e o Problema da Metafísica : investigar a reconstrução 4

 

operada por Heidegger da função e estrutura da imaginação transcendental na primeira versão da  Dedução Transcendental   da CRP . Isso deverá ser feito junto ao exame da Temporalidade Originária conforme apresentada em SeT . Quanto a O que é uma coisa? - Doutrina de Kant dos Princípios Transcendentais: Investigar a constituição do matemático nas ciências e na Metafísica modernas. Discutir o matemático como

o campo possibilitador da resposta kantiana à pergunta pelo ser da coisa.

Reconstruir a resposta de Kant ao problema do ser do ente mediante um exame da análise que Heideg Hei degge gerr nos ofer oferece ece do ca capít pítulo ulo da CRP   entitula entitulado do Sistema de todos os Princípios do  Entendimento Puro. Puro.

Quan Qu anto to a  A Tese de Kant sobre o Ser : Mostrar como aí se consolida e a que corresponde a interpretação heideggeriana do Ser como posição. 4. Breve Desenvolvimento do Tema

Heidegger nem sempre se dirigiu a Kant da mesma maneira. A sua sua primeira busca  já pressupunha a CRP  como  como o terreno mais fértil em cuja profundidade algo a respeito do Ser se poderia encontrar encontrar.. Mas essa sua primeira visad visadaa em direção direção à Crítica lançava, desde o início, um ponto de vista, uma perspectiva única que viria a guiar toda aquela primeira interpretação, um horizonte específico que não mais se repetiu nas outras investidas de Heidegger no pensamento de Kant, mas que também nunca fora amplamente corrigido, ou totalmente negado. Perguntar se as suas interpretações posteriores são uma tentativa de aprimorar ou transformar aquele horizonte é o mesmo que perguntar sobre as proximidades e distâncias do primeiro Heidegger, aquele que se pergunta pelo sentido do Ser no âmbito da existência e da sua temporalidade originária, em relação ao segundo Heidegger, aquele  preocupado em pôr a descoberto as instâncias históricas do Ser. Ser. Pois aquela primeira ida a Kant aconteceu durante a década de 20 e se consolidou em 1929, com  Kant e o Problema da  Metafísica, dois anos após a publicação de Ser e Tempo. Ou seja, se deu em comunhão com o

 primeiro e decisivo momento momento do pensar pensar heideggeriano. O qque ue segue deve deve tentar responder, responder, em linhas gerais: Qual o horizonte projetado naquele momento e que permitira essa primeira investigação?  Naquela época, época, Heidegger afirmava que Kant fora o pprimeiro rimeiro e o único pen pensador sador a visualizar um nexo entre o Ser e o Te Tempo mpo (HEIDEGGER, 2009, p. 61). Heidegger encontrava 5

 

na filoso filosofia fia da CRP   um impulso para aquilo que ele próprio estava tentando fazer: uma interpretação do Ser no horizonte do Tempo, i.e., uma ontologia fundamental. E sabemos acerca disso que Heidegger dera, ele também, nessa direção, somente alguns passos, nunca o  passo final (a descoberta da temporaneidade  do Ser), mas certamente passos decisivos e fundamentais (a exposição do sentido próprio do ser do Ser-aí enquanto temporalidade originária). Mas, então, Kant teria vislumbrado a possibilidade daquele passo final – o que se fez notar, através de KPM , em algumas passagens da primeira edição da CRP , de 17815 – sem  poder, entretanto, desenvolvê desenvolvê-la -la nas “suas dimensões próprias e em sua função ontológica central” (HEIDEGGER, 2009, p. 62). Essa impossibilidade por parte de Kant resultou (1) da falta da questão do Ser e (2) da falta de um analítica do Ser-aí e de uma ontologia da finitude.  Não tivesse Kant em grande medida aceitado o pressuposto cartesiano do cogito e respeitado a concepção vulgar e tradicional do tempo (como sucessão ininterrupta dos agoras), teria, por fim, apresentado com maior evidência as estruturas essenciais do sujeito que são, no fim das contas e segundo Heidegger I, a tríplice estrutura ekstática-horizontal da Temporalidade apresenta apre sentada da em SeT . Se, todavia, Kant na sua Analítica Transcendental   (principalmente na versão de 1787) não evidenciou a importância do tempo como a raiz ontológica do sujeito lógico-transcendental, não conseguiu, porém, impedir que essa importância revindicasse seus direit dir eitos os e se fiz fizess essee manife manifesta sta em mui muitas tas passa passagen genss na primeira primeira versão versão da CRP   através, sobr sobret etud udo, o, do pape papell qu quee a Im Imag agin inaç ação ão Trans ransce cend nden enta tall de dese semp mpen enha ha na su suaa  Dedução Transcendental Tran scendental dos Conceitos Puros do Entendimento.

Haveria, portanto, um kantismo sútil no projeto de uma ontologia fundamental ligada à analítica existencial? Para nos acercarmos de uma resposta, seria imprescindível que antes tentássemos ao menos rememorar os aspectos principais que da filosofia presente na  primeira versão da Crítica importam a Heidegger. A CRP  possuíria, em primeiro lugar, uma clareza acerca da  finitude  do conhecimento humano como também do papel decisivo e privilegiado da intuição no interior dessa finitude. Segundo Heidegger, Kant sabia da facticidade. Ou seja, o homem é destinado ao ente que ele não cria, não é deus e por essa razão não conhece o ente desde o interior do  próprio ente, mas é e deve ser capaz, capaz, de certo modo, de alcançar o ente. “Sejam quais forem o modo e os meios pelos quais um conhecimento se possa referir a objetos, é pela intuição que 5. A passagem exclusiva da CRP A sobre a qual, fundamentalmente, se debruça Heidegger em KPM, abrange a  primeira e a segunda seção do capítulo “Da Dedução dos Conceitos Puros do Entendimento”, de A 95 a A 130. Outra passagem na interpretação Heidegger oferece consiste: de noAcapítilo Conceitos Puros crucial do Entendimento” que é que comum às duasnos versões da Crítica 137/B “Do 176 aEsquematismo A 147/B 187. dos

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se relaciona imediatamente com estes e ela é o fim para o qual tende, como meio, todo o  pensamento” (KANT, A 19, B 33, grifo do autor). Se o acesso ao ente é possível, ele deve começar pela intuição. Conhecimento para Kant é intuição pensante. A matéria intuída é determinada pelo conceito, i.e., o pensamento chega sempre mais tarde. Mas, esse caráter empírico do pensamento, digamos, o fato da diversidade sensível poder ser determinada pelo conceito empírico, não é precisamente aquilo a que Heidegger quer conduzir nossa atenção. Pois tudo começa, na verdade, com a intuição pura. Finitude do nosso conhecimento ou intuição finita não quer dizer poder ou ter de receber o aspecto sensível do fenômeno aí diante de nós. Quer antes dizer: produção de um horizonte de sentido mediante o qual o ente pode vir ao nos nosso so enc encont ontro ro enqua enquanto nto mat matéri ériaa sen sensív sível el a ser det determ ermina inada da co conce nceitua itualme lmente nte.. A intuição pura, enquanto oferta desse horizonte, é possibilitadora da intuição empírica. Na há fenômeno no sentido estritamente kantiano sem que uma compreensão do ser do ente já não se tenha lançado. De modo mais heideggeriano: o ente só pode ser tomado naquilo que ele é (como instrumento na cotidianidade ou como objeto das investigações científicas) se uma totalidade já dada o sustenta, i.e., o mundo em sua mundanidade (no caso do ente manual) ou a própria desmundanização, a perda dos limites do mundo e da rede de significância a favor de um espaço e de um tempo absolutos, a objetividade propriamente dita (no caso do sersimplesmente-dado). Em ambos os casos, a totalidade deve ser oferecida a priori, e em SeT ela é resultado de uma temporalização da existência. Voltaremos Voltaremos a isso logo em seguida. Por ora, devemos pensar numa das possíveis objeções à essa interpretação de Heidegger. Pode-se alegar que Kant não se pronuncia acerca da intuição pura fundamental (o tempo) como horizonte de compreensão. E não se pode, obviamente, ignorar esse fato. Mas todo esse primeiro trabalho de Heidegger sobre a CRP  consiste   consiste em tentar mostrar que tais ideias se escondem por trás da letra kantiana, que o fenômeno do tempo como horizonte de compreensão do ser do ente, sobretudo do ente entendido enquanto objeto/ser-simplesmentedado, impôs-se como o limite do pensamento, limite este que Kant quis contornar e, ao que  parece, nunca tentara trazer à palavra com maior precisão. É do caráter do próprio Ser e,  portanto, também das estruturas existenciais que dão originariamente os modos da compreensão do ser do ente, permanecer oculto no pensamento daquela tradição que ainda não se decidiu pela questão fundamental. Com isso, nota-se que só se pode defender a violência da interpretação caso se assuma essa ambivalência do pensamento, essa oscilação entr entree o vela velarr e o desv desvel elar ar,, se seuu cará caráte terr apof apofân ânti tico co co como mo em emer ersã sãoo de desd sdee um ca camp mpoo 7

 

hermenêutico, pré-compreensível, e possibilitador do discurso filosófico. Nesse sentido, para Heidegger Heide gger,, a CRP  é   é completa ambivalência. E a interpretação que ele oferece consiste no esforço de trazer até a margem seus pressupostos pré-compreensivo pré-compreensivos. s. Continuem Conti nuemos os um pouc poucoo mais no exame da interpretaç interpretação ão oferecida oferecida em  KPM. A obra que Kant desejava fosse uma propedêutica para a Metafísica enquanto uma restrição dos seus conteúdos e interesses, revelou para Heidegger algo um tanto diferente: a Crítica seria, na verdade, uma fundamentação da Metafísica Metafís ica. Obviamente, Heidegger não se interessa pela Metafísica enquanto a ciência dos primeiros princípios de todo saber acerca dos entes na sua totalidade, mas pela Metafísica enquanto fenômeno da compreensão de ser que acontece na abertura, no Ser-aí. “Como é possível a Metafísica enquanto disposição natural?” (KANT , B

22). Fundamentar a Metafísica significaria investigar desde onde é possível a ontologia. Para Heidegger, é por meio da (pré)compreensão de ser, articulada na própria Cura, que o homem exerce seu existir fático e deixa que os entes lhe venham ao encontro. Se o modo de ser do Ser-aí é essencialmente finito como se expôs na analítica existencial de SeT , e se para Kant todo o conhecimento humano tem sua marca decisiva, sua essência, na intuição finita, então só a própria finitude pode liberar as possibilidades da ontologia. Fundamentar a Metafísica resolve-se, por fim, em revelar a possibilidade do sentido no interior da própria finitude, pois só ela, a partir e para ela mesma, dá o horizonte do sentido. Como, então, Heidegger vê em Kant esse desdobrar da finitude? Uma coisa é certa: não se poderá partir de um solo firme que priori, o entend despe des perte rte qua qualqu lquer er co confia nfiança nça.. O absolu absolutam tament entee a priori entendime imento nto puro puro en enqua quanto nto

faculd fac uldade ade que esp espon ontan taneam eament entee pro produz duz as uni unidad dades es últ última imass que dirige dirigem m toda toda síntes síntesee cognitiva, o sujeito lógico-transcendental e a apercepção não podem querer dizer finitude. A finitude é completamente fáctica, não pode trazer consigo conteúdos já dados que conduzam a experiênc expe riência, ia, sempre sempre,, em uma direç direção. ão. Pelo contrário contrário,, se é possível possível alcançar alcançar um suje sujeito ito a  priori regulador de toda experiência, antes ele deve mostrar sua origem na própria

facticidade,

onde sujeito algum é ainda presente. Logo, uma parte importante e extensa de  KPM  (1973,   (1973,  pp. 43-96) intenciona mostrar a fundamentação fundamentação das categorias categorias do entendimento na forma pura da intuição, o tempo. Em seguida (1973, pp. 100-165), o tempo é contestado quanto a seu caráter cará ter de intuiç intuição ão formal, que é ainda inere inerente nte à aprioridad aprioridadee do sujeito, para então então revelar revelar,, atrav atr avés és da fun funçã çãoo que a ima imagin ginaçã açãoo tra transc nscend endent ental al de desem sempe penha nha no capítu capítulo lo sobre sobre o esquematismo, sua dimensão eks-tática horizontal. Po Porr isso isso,, a “fun “funda dame menta ntaçã çãoo da Meta Metafí físi sica ca”” não não cons consis iste te em “pro “propo porc rcio iona narr fundamentos para um edifício já feito”, senão na “determinação concreta de sua

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essência”, de seu estar sendo o que é: um modo de comportar-se em relação ao ente em geral. Com isso, Heidegger, desloca o peso da investigação autenticamente “crítica”, que Kant, como é bem conhecido, situa no âmbito de um quid iuris, ao que dá forma a “Dedução Transcendental das Categorias”, em direção ao âmbito da “fenomenologia” pura desse comportar-se relacional, isto é, em direção à análise da articulaçã artic ulaçãoo dinâmica dinâmica do ser ser-no-mun -no-mundo do (enquanto (enquanto “Metafísic “Metafísica”), a”), que Kant também empreende, dentro de certos limites, no capítulo do esquematismo. Era, de fato, a imag imagin inaç ação ão tran transc scen ende dent ntal al a estr estrut utur uraa que, que, na CRP , exerc xercia ia a fu funç nçãão de  fáctica  da síntese cognitiva, unindo sensibilidade e entendimento,  possibilitação forma da intuição e forma categorial, na configuração esquemática de uma imagem “pura” “pu ra” (tempo (temporal ral)) das divers diversas as modali modalidad dades es de repres represent entaçã ação. o. A mediaç mediação ão imaginativa, enquanto determinação temporal, adquire pois, aos olhos de Heidegger,  para quem o tempo é a forma de ser do  Dasein, o lugar central da crítica ou discriminação kantiana das estruturas básicas do ser-no-mundo. (DUARTE, 1995,  pp. 226-227)

Em nos nosso so tra traba balho lho de con conclu clusão são de cu curso rso,, ten tentam tamos os dar conta conta do prim primeir eiroo movimento de KPM , a saber, a fundação das categorias na forma do tempo através do exame das passag passagens ens da CRP   onde Heidegger vê a exibição de uma origem comum (síntese da imaginação transcendental) das duas faculdades do conhecimento, até o instante em que o tempo, enquanto configuração da síntese ontológica (imaginação transcendental), começa a abandonar seu caráter de forma a priori da intuição do sujeito (enquanto sequência infinita dos agoras) para assumir seu caráter esquemático, ou seja, produtor do aspecto puro, do tempo enquanto horizonte de compreensão do ser. Nossa intenção, durante a pesquisa do Mestrado, não é ignorar ou passar por cima do que se alcançou naquele trabalho. Antes, ele será retomado, porém, na medida em que nos conduzirá adiante na compreensão de  KPM . O foco agora ago ra ser seráá exa exatam tament entee a dim dimens ensão ão ekstát ekstática ica-ho -horiz rizont ontal al do tempo tempo enquan enquanto to doador doadoraa de sentidos que possibilitam toda relação com o ente no interior do ser-no-mundo. Precisamente, deveremo deve remoss inve investiga stigarr como e onde Heide Heidegger gger encon encontra tra essa dimensão dimensão do tempo tempo na CRP . Certam Cer tament ente, e, ela não se encon encontra tra na  Estética Transcendental . Segundo Heidegger, ela se apresenta apre senta na segun segunda da seção da  Dedução Transcendental  Transcendental  que   que apareceu apenas na primeira ediç edição ão da CRP . Lá, Heidegger encontra a imaginação transcendental enquanto a tríplice estrut est rutura ura da tem tempor porali alida dade. de. Trat rata-s a-see da mes mesma ma estrut estrutura ura (por-v (por-vir ir,, vigorvigor-dede-ter ter-si -sido, do, e atualidade) que, em SeT , constituiu a Temporalidade Originária enquanto sentido da Cura. Por essa essa ra razã zão, o, Erni Ernild ldoo Stei Steinn (199 (1993) 3) po pode de dize dizerr qu quee os ex exis iste tenc ncia iais is sã sãoo es esqu quem emas as da temporalidade (são oriundos da síntese ontológica da imaginação produtiva). Investigar essa  proximidade entre a Temporalidade Temporalidade em SeT e a imaginação transcendental na CRP  será  será nossa  primeira tarefa. Cabe lembrar algo que os comentadores (sobretudo BLA BLATTNER, TTNER, 2006, nota 16) nos indicam: a intuição heideggeriana que o conduziu à exposição dos esquemas da

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temporalidade em SeT  se   se deve muito ao fato de, na época, Heidegger ter sido o responsável  pela edição da obra de Husserl “Fenomenologia da Consciência Interna do Tempo”. Na medida em que for possível, nossa pesquisa nessa sua primeira fase deve recorrer ao texto de Husserl para compreender a formulação e a importância que Heidegger deu à Temporalidade e seus esquemas. É bem sabido que, durante as três décadas que se seguiram à publicação de KPM , todos os pronunciamentos em obras de Heidegger em relação a Kant não acrescentaram nada à interpretação lá exposta, e isso apesar de todas as contextações que a obra recebeu na ocasião e que ainda hoje persistem. Heidegger fora veemente acusado de desrespeitar a linha mestra do pensamento de Kant que consistiria em estabelecer uma razão auto fundada e livre que,, no toc que tocant antee ao conhec conhecime imento nto teó teóric rico, o, tin tinha ha seu legisl legislado adorr máximo máximo na sua própri própriaa faculdade pura do entendimento. Ora, a imaginação transcendental teria, para esses críticos, apenas a função “técnica”, digamos assim, de mediar entre a máxima unidade de síntese (as categorias) e as formas puras da intuição. Em todo caso, ela não seria produtora de faculdade ou dime dimens nsão ão prév prévia ia e horiz horizon onta tall algu alguma ma e nã nãoo ha have veria ria na nada da qu quee in indi dica cass ssee o ca carát ráter er  predominantemente sensível (puro, temporal) temporal) da subjetividade subjetividade.. Só no início dos anos 60 6, com O que é uma coisa? e A Tese Tese de Kant sobre o Ser Heidegger Heide gger nos ofere ofereceu ceu uma outra imagem de Kant que coloca coloca este pensador pensador dentro de um novo conjunto de questões e assume a CRP  desde  desde uma perspectiva diferente. Nesse momento, só poderemos dar indicações acerca dessas interpretações. E faremos isso tentando fixar seu  possível contraste contraste frente a KPM . O que parece precisamente ter mudado é que as questões já não se fazem desde o mergulho direto na finitude do Ser-aí, ainda que Heidegger (1992, pp. 133-147) não deixe de repetir a definição kantiana do conhecimento humano como intuição finita. É que, agora, Kant apanhou (revelou), com a maior maestria possível, um acontecimento próprio do Ser num instante preciso de sua história, no advento da pergunta moderna pela coisa, i.e., pelo ser do ente. E ainda que a pergunta pela coisa pertença essencialmente ao homem que é finito, a re resp spos osta ta (o pr proj ojet etoo da com compr pree eens nsão ão do se serr do en ente te)) já nã nãoo po pode de se serr da dada da ao no noss aprofundarmos na finitude, como se a compreensão em questão fosse uma modalização 6. Na verdade, verdade,  Die Frage nach dem Ding  (O   (O que é uma coisa?) foi um curso que Heidegger ofereceu no semestre de inverno de 1935/36 na Universidade de Freiburg. Porém, só foi publicado em 1962, mesmo ano da  publicação de “A Te Tese se de Kant sobre seguimento o Ser”. Nós da entendemos, devem ser tomadas em conjunto, considerando-se a segunda primeira. por isso, que as duas obras devem

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(temporalização) da própria finitude, que doaria a si própria e a partir do nada, ou só da mera facticidade factic idade e enraíz enraízamen amento to no mun mundo, do, o horizonte horizonte de sentid sentidoo que se lança sobre sobre os ente entes. s. Uma prova disso é que a forma como Heidegger, nessas obras dos anos 60, pensa o conceito de tempo kantiano é completamente diverso da maneira que ele alcançou em  KPM : muito mais fiel à noção de intuição formal do que próxima da questão do horizonte-ekstático e da Temporalidade. Para Heidegger, o Ser que aconteceu na época da moderna ciência é algo entr entree o ho home mem m (a fini finitu tude de)) e o ente ente.. O Ser Ser qu quee Kant Kant de dess-co cobr briu iu es está tá pa para ra al além ém da subjetividade humana7 e da objetividade do sujeito, e pertence ao domínio da verdade do Ser e seu des-cobrimento, a-letheia. Escutemos o próprio Heidegger: Aquilo em que Kant se deteve e o que procurou constantemente compreender como acontecimento fundamental, foi o seguinte: nós homens, temos o poder de conhecer o ente que nós mesmos não somos, apesar de este mesmo ente não ter sido feito por nós. Ser ente, no interior de um frente-a-frente aberto de entes, eis o que é estranho e não foi ainda explicado. Na concepção kantiana, isto signfica: os objetos estão num frente-a-fren frente -a-frente, te, enquanto objetos, objetos, apesar apesar de ser através através de nós que o deixar vir-aovir-aoencont enc ontro ro aconte acontece. ce. Como Como tal coisa coisa é possív possível? el? É possív possível el soment somentee porque porque as condições de possibilidade da experiência (espaço e tempo, como intuições puras, e

O centro

as cat catego egoria rias, com comoo concei conceitos tos pur os dodaentend ent endime imento nto)) (HEIDEGGER, são, são, ao mesmo mesmo1992, tempo, tempo, condições dos, “estar-diante” dos puros objetos experiência. p. 230)   da interpretação de O que é uma coisa? é a análise da doutrina kantiana

dos princípios transcendentais desenvolvida na CRP  sob   sob a Analítica dos Princípios, capítulo que segue a exposição de Kant do esquematismo transcendental. Os príncipios “são regras de ac acor ordo do com com as quai quaiss se cont contró róii o ob-je ob-jeta tarr do ob obje jeto to,, pa para ra o re re-pr -pres esen enta tarr hu huma mano no”” (HEI (H EIDE DEGG GGER ER,, 19 1992 92,, p. 213) 213).. São São porta portant ntoo aq aqui uilo lo qu quee po poss ssib ibili ilita ta o ob obje jeto to de desd sdee a subjetividade. Porém, a objetividade que os princípios permitem é também sustentada pela  própria coisa, pela experiência no sentido daquilo que é experimentado, ou seja, é o ser da natureza. Pois os príncipios dizem respeito ao “em quê” e ao “quê” daquilo que se objeta, do que que está está dian diante te,, mas mas sem sem dar dar orig origem em ao próp próprio rio en ente te,, as assi sim m co como mo di dize zem m re resp spei eito to a  permanência daquilo que está-aí, à existência e efetividade do próprio objeto, i.e., apontam  pra uma dimensão que já não é meramente subjetiva. Há algo no objeto que é independente daquele que o percebe, mas que também alcança o sujeito: é a di dimensão mensão do entre, do Ser. Restringindo o horizonte de apresentação do ser à objetualidade, fica igualmente restringido o ângulo possível do enfoque cogntivo, que já não é determinado pelo mero pensar, como era habitual na tradição dogmática, senão desde a relação de nossa faculdade intelectual, enquanto intuição determinada segundo o pensar, às condições de possibilidade dos objetos, que em si mesma residem. (DUARTE, 1995, 7. Isso vale, sobretudo, se entendermos que o constructo Ser-aí, que é sempre em função de si mesmo, já não   entre. Ou dissolve a subjetividade já não é um passo adiante vale apenas se entendermos que SeT não resolve tudo aquilo aeque Heidegger se propôs. É, nesse com certeza, umaseja, pergunta em aberto.

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 p. 224)

O objeto é sempre posto em relação ao sujeito e, não obstante, o objeto é contínuo e subsitente. À essa doação do ser do ente em conexão com o sujeito e seus princípios e juízos sintéticos sinté ticos a priori, Hiedeg Hiedegger ger cham chama, a, co com m mai maiss exa exatid tidão ão em  A Tese de Kant sobre o Ser , determ dete rmin inaç ação ão do se serr do ente ente como como  posição. A po posi siçã çãoo pr pres eser erva va o se sent ntid idoo de Se Serr da antiguidade, o ser-subsistente, pois o ente que é tomado enquanto objeto é sempre um ente que perdura e existe independentemente. independentemente. Porém, a novidade desse acontecimento histórico do Ser reside em seu caráter matemático. Por matemático, Heidegger entende aquilo que acerca das coisas é conhecido antecipadamente e que não advém delas mesmas, embora a elas  pertença, mas que nós levamos a cada vez até elas. Com o matemático, o a priori se insere na configuração do ser do ente e passa a determinar a compreensão do ser da natureza desde os  primeiros passos da da ciência moderna. moderna. Kant afirma (A 598, B 626) que o ser não se diz no sentido de um predicado real – ou ôntico, como bem quer Heidegger – não é portanto algo acerca de um objeto já dado, mas um predicado ontológico; ser diz a posição absoluta. Posição absoluta, por sua vez, não indica a mera “realidade empírica”, a existência material, a efetividade das coisas no mundo, mas diz da sua sua po posi sibi bili lida dade de de desd sdee a inst instân ânci ciaa do  pôr   e da daqu quel elee qu quee põ põee (o su suje jeit itoo ló lógi gico co transcendental). Não é, portanto, a mera afirmação do absolutamente posto, do que aí está, senão a afirmação da legalidade e da justesa do pôr aí nessa posição. Legalidade quer dizer que, na posição, o que é trazido a priori e posto enquanto objetividade, de alguma forma consegue pertencer às coisas elas mesmas. A conclusão de O que é uma coisa? poderá oferecer um resumo amplo desse novo direcionamento interpretativo de Heidegger: Procurávamoss avançar Procurávamo avançar em direção direção à doutrina doutrina dos princípios, princípios, porque é neste ponto central da Crítica da Razão Pura que a questão acerca da coisa é posta e respondida de modo novo. Dissemos, no início, que a questão acerca da coisa era uma questão histórica; vemos agora, com mais clareza, de que modo isso é assim. A interrogação kantiana acerca da coisa pergunta pelo intuir e pelo pensar, pela experiência e pelos seus princípios, quer dizer, pergunta pelo homem. A questão “Que é uma coisa?” é a questão “Que é o homem?”. Isto não significa que as coisas se reduzam a um resultado da atividade humana, mas, pelo contrário, quer dizer que o homem deve conceber-se como aquele que, desde sempre, ultrapassa as coisas, mas de tal modo que este ultrapassar somente é possível na medida em que as coisas vêem ao encontro enco ntro e, deste modo, permane permanecem cem justame justamente nte elas próprias, próprias, na medida medida em que nos remetem para aquém de nós mesmos e da nossa superfície. Na questão kantiana acerca da coisa, abre-se uma dimensão que se encontra entre a coisa e o homem e cujo domínio domínio se estende estende para além das coisas e aquém do homem. (HEIDEGGER,

1992, p. 231, grifo nosso)

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5. Bibliografia

5.1 Obras já estudadas:

BLATTNER, William. Laying the Ground for Metaphysics: Heidegger´s appropriation of BLATTNER, Kant. In: GUIGNON, Charles B. (Org.). The Cambridge companion to Heidegger. 2ª ed. Cambridge: Cambridge University Press, 2006. p. 149-176. CASSIRER, CASSIR ER, ERNST ERNST.. Las Gra Grande ndess Ide Ideas as Cen Centra trales les.. In: _____. _____. Kan Kant, t, Vida Vida y Doctrina Doctrina. Tradução de Wenceslao Roces. México: Fondo de Cultura Econômica, 1948. DELEUZE, Giles. A Filosofia Crítica de Kant. Lisboa: Edições 70.  _____. Cuatro Lecciones sobre Kant.1978. Disponível em: www.philosophia.cl / Escuela de  Filosofía Universidad ARCIS . Acesso em 14 de mai. 2010. DUARTE, Irene Borges. A Imaginação na Montanha mágica. Kant em Davos, 1929. In: SANTOS, L. Ribeiro dos (Org.). Kant: Actualidade e Posteridade. Lisboa: C.F.U.L., C.F.U.L., 2006. p. 557-568.  _____. O tempo do cuidado e o tempo do mundo mundo.. Um núcleo conc conceptual eptual heidegge heideggeriano.In: riano.In: C.F.U.L., .U.L., 2009, p. 1391Razão e liberdade. Homenagem ao Prof. Carmo Ferreira, Lisboa, C.F 1405.  _____. ¿Recepción ¿Recepción o interceptac interceptación? ión? Aspectos de la mirada heidegge heideggeriana riana sobre Kant. Anales del Seminario de Historia de la Filosofía , Madrid, v. 12, p. 213-232, 1995. DRUCKER, Cláudia. Significado e certeza em Kant. O que nos faz pensar, PUC-Rio, Rio de Janeiro, v. 2, p. 17-31, 1990. FAGGION, Andrea rea Luisa Bucchile ile. De Deduç dução ão Transc ranscend endent ental al e esque esquemat matis ismo mo transcendental : o problema da possibilidade e da necessidade da constituição de objetos em Kant. 2007. 315 f. Tese (Doutorado em Filosofia) – Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2007. FREIRE, Sônia Barret FREIRE, Barreto. o. Da Semântica Transcendental à Semântica existencial:  Kant e Heidegger.. 2005. 245f. T Heidegger Tese ese (Doutorado em Filosofia) – Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2005. HEBECHE, L. A. A imaginação imaginação em Descartes e Kant. Veritas: Porto Alegre, v.50, nº2, p. 99110. 2005. HEIDEGGER. Martin. A Tese de Kant sobre o Ser. In: HEIDEGGER, Martin. Conferências e Escritos Filosóficos. Tradução, Tradução, introduções e notas de Ernildo Stein. 2ª ed. São Paulo: Abril Cultural, 1983. p. 230-254.(Coleção Os Pensadores).

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 ______. Kant y el Problema de la Metafísica . Tradução de Gred Ibscher Roth. México: Fondo de cultura económica, 1973.  ______. Que é uma Coisa?. Tradução de Carlos Morujão. Lisboa: Edições 70, 1992. (Coleção Biblioteca de Filosofia Contemporânea). Contemporânea).  ______. Ser e Tempo. Tradução de Márcia de Sá Cavalcanti. 4ª ed. Petrópolis: Vozes, 2009. (Coleção Pensamento Humano). HENTZ, HEN TZ, Mar Marcel celee Est Ester er Kle Klein. in. Natureza e papel dos esquemas dos conceitos puros do entendimento, entendime nto, na Crítica da Razão Pura . 2005. 121 f. Dissertação de Mestrado. (Filosofia). Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, 2005. JR., Wanderley J. Ferreira. A Desconstrução Heideggeriana do Processo de Objetificação na Metafísica e na Ciência Moderna. 2005. 157 f. Tese (Doutorado em Filosofia) – Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2005. KANT, Immanuel. Crítica da Razão Pura. Tradução de Manuela Pinto dos Santos e Alexandre Fradique Morujão. 2ª ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1989. LOPARIC, Zeljko. AHumana linguagem dejan/jun. Kant e2004. a linguagem não-objetificante de Heidegger. Natureza , v. objetificante 6, nº 1, p. 9-27, STEIN, Ernildo. A questão do método na filosofia: um estudo do modelo heideggeriano. São Paulo: Duas cidades, 1973.  ______. Compreensão e finitude: estrutura e movimento da interrogação heideggerianna. Ijuí (RS): UNIJUI, 2001.  ______. Diferença e metafísica: ensaios sobre a desconstrução. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2000.  ______. Pensar é pensar a diferença: filosofia e conhecimento empírico. Ijuí (RS): UNIJUI, 2002.  ______. Seis estudos sobre "Ser e tempo": comemoração dos sessenta anos de Ser e tempo de Heidegger. 2a ed. Petropolis, Rio de Janeiro: Vozes, 1990.  ______. Seminário sobre a Verdade. Lições preliminares sobre o parágrafo 44 de Zein und Zeit. Petrópolis: Vozes, 1993. TERROS TER ROSA, A, Cec Cecília ília Noe Noemi mi Rearte Rearte.. Im Imagi aginaç nação ão e Sí Sínte ntese se na Crítica da Razão Pura  de Kant. 2006. 106 f. Dissertação (Mestrado em Filosofia) – Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, RS, 2006. 5.2 Bibliografia a ser investigada:

ARISTÓTELES. Metafísica. Tradução, Tradução, textos adicionais e notas Edson Bini. Bauru (SP): EDIPRO, 2006. 14

 

CAPUTO, John D. Desmitificando Heidegger. Lisboa: Instituto Piaget, 1993. (Pensamento e filosofia; 36) DESCARTES, Rene. Discurso do método; Meditações; Objeções e respostas; As paixões da alma; Cartas. 2. ed. São Paulo: Abril Cultural, 1979. (Coleção ( Coleção Os Pensadores). DECLÉVE, Henri. Heidegger et Cassirer Interprètes de Kant. La Revue Philosophique de Louvain. Louvain, Belgica, 1969. DUARTE, Irene Borges. La presencia de Kant en Heidegger. Dasein, Transcendencia y Verdad. 1994. 424 f. Tese de Doutorado. (Filosofia). Faculdade de Filosofia da Universidade Complutense de Madrid. Madrid, 1994. Galileu; NEWTON, Isaac. O ensaiador. Traduç Traduções ões de Helda Barraco ... [et al.] São Paulo:  Nova Cultural, 1987. 1987. ( Coleção Os Pensadores). Pensadores). .

HEIDEGGER, Martin. Sobre a essencia do fundamento. São Paulo: Duas Cidades, 1971. HUSSERL, Edmund. The phenomenology of internal time-conscieness. Bloomington: Indiane University Press, 1973. KANT, Immanuel. Crítica da Faculdade do Juízo. Tradução de Valério Rohden Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1993.  ______. Critica da Razão Prática. Rio de Janeiro: Edições de Ouro, 1970 MORRISON, Ronald P. Kant, Husserl, and Heidegger on Time and the Unity of "Consciousness”. Philosophy and Phenomenological Research, Vol. 39, nº 2, p. 182-198, dec. 1978. Disponíve Disponívell em: . Acesso em: 27 out. 2010. ROCKMORE, TOM (Org.). Heidegger, German idealism, and neo-Kantianism. Nova York: Humanity Books, 2000. REALE, Giovanni. Introdução a Aristóteles. Lisboa: Edições 70, 1997.   REY PUENTE, Fernando. Os sentidos do tempo em Aristóteles. São Paulo: Loyola, 2001.

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